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Pág. 30 Jorge de Brito Pereira, sócio da PLMJ Problemas do sistema judicial não se resolvem num mandato Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano IV n N.º 39 n Junho de 2013 n 15 euros Jean-Marie Burguburu, presidente da União Interna- cional de Advogados (UIA), esteve em Lisboa para participar num encontro sobre a reforma da Contra- tação Pública e conversou com o Advocatus sobre o estado atual da advocacia e do mundo e também acerca do próximo congresso a instituição, que se re- aliza em Macau, de 31 de outubro a 4 de novembro. Independência foi uma das palavras que mais usou durante a entrevista. Em determinados nichos de mercado, no sector da energia, Portugal oferece muitas oportunidades a companhias que se queiram instalar no País. Também há oportunidades na melhoria de qualidade de serviços e de di- versificação da oferta de produto para as que já estão instaladas. Esta é a convicção de Rui Mayer, o mais recente sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. O valor da independência dos advogados Rui Mayer, sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira Oportunidades na energia 12 06 www.advocatus.pt O agregador da advocacia

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advocatus, 39

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Page 1: advocatus, 39

Pág. 30

Jorge de Brito Pereira, sócio da PLMJ

Problemas do sistema judicial não se resolvem

num mandato

Diretor: João Teives n Diretor Editorial: Hermínio Santos n Mensal n Ano IV n N.º 39 n Junho de 2013 n 15 euros

Jean-Marie Burguburu, presidente da União Interna-cional de Advogados (UIA), esteve em Lisboa para participar num encontro sobre a reforma da Contra-tação Pública e conversou com o Advocatus sobre o estado atual da advocacia e do mundo e também acerca do próximo congresso a instituição, que se re-aliza em Macau, de 31 de outubro a 4 de novembro. Independência foi uma das palavras que mais usou durante a entrevista.

Em determinados nichos de mercado, no sector da energia, Portugal oferece muitas oportunidades a companhias que se queiram instalar no País. Também há oportunidades na melhoria de qualidade de serviços e de di-versificação da oferta de produto para as que já estão instaladas. Esta é a convicção de Rui Mayer, o mais recente sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira.

O valor da independência dos advogados

Rui Mayer, sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira

Oportunidades na energia 1206

www.advocatus.pt O agregador da advocacia

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www.lpmcom.pt

a influenciar desde 1986

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Junho de 2013 3O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Destaques

Paulo Marinho, advogado in house da Ascendi, fala da sua experiência e como se tem mantido um baixo nível de litigiosidade no grupo. Isso tem muito a ver com o envolvimento em grande parte das decisões estratégicas.

Vasco Salgueiro, manager da Michael Page Tax & Legal, afirma que a procura por especialistas em Direito Laboral está a aumentar.

testemunho

traBalho

Envolvimento nas decisões estratégicas

Direito Laboral em alta

22

24

Kenneth Standard, ex-bastonário da New York State Bar Association, esteve em Lisboa para participar numa conferência sobre multidisciplinaridade organizada pelos Conselhos Distritais de Lisboa e Coimbra e falou sobre a sua experiência nesta matéria.

multIDIsCIPlInarIDaDe

A experiência dos EUA14

João Afonso Fialho, sócio da Miranda Correia Amendoeira & Associados, Francisco Proença de Car-valho, sócio de contencioso da Uría Menéndez-Proença de Carvalho, e Paulo Farinha Alves, sócio da PLMJ, dão a sua opinião sobre as relações entre Justiça e Media.

DossIÊ

Quando a Justiça é primeira página16

ComunICação, DesIgne multIméDIa

Av. Marquês de Tomar, 44-71050-156 Lisboa Tel: 217 957 030

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(12 edições; oferta de voucher Odisseias)[email protected]

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editoraEnzima Amarela - Edições, Lda

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Diretor-geralJoão David Nunes

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DiretorJoão Teives

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Diretor editorialHermínio [email protected]

editora executivaFátima de Sousa

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Diretora de marketingMaria Luís

Telf. 961 571 [email protected]

Rua Luz Soriano, 67-1º E Bairro Alto1200-246 Lisboa - PORTUGAL

www.who.pt// [email protected]

Na edição de maio 2013, no diretório Diretores Jurídicos, a informação sobre o Diretor Jurídico da empresa AFAVIAS – Engenharia e Construções está errada. A diretora jurídica desta empresa é Elizabeth Nunes.

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O agregador da advocacia4 Junho de 2013

www.advocatus.ptCortar a direito

João teivesdiretor

O EngenhoNão deixa de ser irónico que a atual governação, que nunca teve qualquer preocupação em qualificar os seus funcionários, agora queira qualificá-los para depois despedi-los.

“Entre a poética do amor e a prosa da Justiça, entre o hino e a re-gra formal” será possível lançar uma ponte que as relacione? Amor e Justiça é o tema desta luminosa conferência que Paul Ricoeur (1913-2005), filósofo, proferiu ao receber, em 1989, o prémio Leo-pold Lucas. De acordo com John Rawls o aumento da vantagem do mais fa-

vorecido deve ser compensado pela diminuição da desvantagem do mais desfavorecido. É o se-gundo princípio da justiça, maximizar a parte mi-nimal. Ricouer relaciona este segundo princípio da justiça com o mandamento do amor e propõe-nos que só a poética deste pode evitar o utilitarismo daquele.

Amor e Justiça

lIVro

particulares, a que o Simplex não é alheio. Na Administração pres-tadora continua a ser ímpar o ser-viço prestado pelo SNS.Muito certamente há que ser feito, mas há que reconhecer que muito já foi feito, e que se encontravam lançadas as bases para uma Ad-ministração Pública ágil, moder-na e eficiente. O discurso de uma Administração Pública totalmente ineficiente, com gorduras exces-sivas nos gastos intermédios, jul-go que não cola, decididamente, com a realidade. O que, como é óbvio, não significa que tudo está bem e nada deva ser alterado. Deve. O sistema deve ser alvo de constante qualificação e avalia-ção. Mas não será esse o objetivo des-ta nova proposta de lei do gover-no, de requalificar os funcionários públicos? Temo, infelizmente, que não e que estamos perante um caso cristalino em que o discur-so e objetivos políticos são dis-sonantes do discurso jurídico da proposta apresentada. Em traços gerais, o que se propõe? A colo-cação de um funcionário no sis-

tema de mobilidade leva a que, caso não seja reafetado, se inicie um processo, com o prazo de doze meses, de requalificação. Findo esse prazo, e caso não tenha obtido colocação, é pra-ticado um ato de cessação do vínculo, ou seja, o funcionário é despedido, com o direito a uma compensação calculada nos ter-mos do código do trabalho. Será esta solução má, inaceitável? Não seria se não existisse, à par-tida, um objetivo quantificado e comunicado de redução de des-pesa do Estado por esta via. O que, na realidade, acaba por tor-nar todo este procedimento uma encenação, com um fim escrito à partida. Não vale a pena ter ilusões, mas também acho que ninguém as tem, a casa ganha-rá sempre. O processo termina-rá com os atos de cessação dos vínculos. Não deixa de ser irónico que a atual governação, que nunca teve qualquer preocupação em qualificar os seus funcionários, agora queira qualificá-los para de-pois despedi-los. Belo engenho.

dial ou automóvel que duravam meses, sim meses, a serem rea-lizados. Hoje em dia, sendo certo que existem menos registos por transcrição, quando a realização de um ato de registo demora mais de 48 horas já achamos estranho. Nos tribunais, por muito que pos-sa criticar a arquitetura do siste-ma, o Citius traduz uma avanço formidável no desenvolvimento do processo e um aumento inex-pugnável na transparência com que são conduzidos os mesmos. Os exemplos podiam multiplicar--se, quer na desburocratização do programa Simplex, quer na qualidade da Administração pres-tadora, de que o SNS continua a ser impar. Aliás, não deixa de ser sintomático que a Ministra da Justiça tenha vindo recentemente reconhecer que os mercados pú-blicos representam cerca de 20% do PIB europeu, sendo a contra-tação pública eletrónica uma fator essencial de promoção do cresci-mento sustentável. Ocorreu assim, numa década, uma autêntica revolução no rela-cionamento entre o Estado e os

No passado dia 6 de junho, o Go-verno apresentou duas propostas de lei na Assembleia da Repúbli-ca (153/XII/2ª e 154/XII/2ª) que visam o aumento do tempo de trabalho dos trabalhadores com funções públicas, por um lado, e a cessação do respetivo vínculo, por outro.Inserem-se tais diplomas na pro-clamada reforma do Estado e na alegada necessidade de reduzir mais de quatro mil milhões de eu-ros na despesa pública.Antes de mais, cumpre referir que o discurso sobre a função públi-ca, e muitas vezes sobre a própria Justiça, encontra-se eivado de uma poluição turva que por vezes torna difícil um diagnóstico justo e correto.Basta recuar não mais do que uma década para percebermos que muito mudou, e para muito melhor, na Administração Públi-ca, no seu funcionamento e no relacionamento com os particu-lares.Dou pequenos exemplos na Jus-tiça. Quem não se recorda de actos do registo comercial, pre-

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O agregador da advocacia6 Junho de 2013

www.advocatus.pt

Rui Mayer é o mais recente sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. Transita da Galp, onde era diretor jurídico, para liderar a nova área de prática da sociedade, vocacionada para os sectores de Energy, Oil & Gas. A sua experiência de mais de 30 anos permite-lhe afirmar que o mercado português oferece, em determinados nichos, oportunidades para novos operadores de energia. Contudo, ressalva que é um mercado que irá sofrer profundas alterações nos próximos anos, principalmente ao nível dos valores.

Energia: Há oportunidades no mercado nacional

ser capaz de fazer outras coisas, de ter energia para isso. Apareceu aqui este projeto - que é muito interes-sante. É uma start up e consiste em começar com uma nova área. Um departamento do zero. Esse desafio foi, de facto, aliciante e achei que era uma boa altura para tentar algu-ma coisa nova.

Depois tem que se comportar como alguém que é um parceiro estratégi-co das unidades de negócio. Com a função de conhecer o negócio - o fundamental - como qualquer outro quadro da empresa. Tem a responsabilidade de contribuir para identificar os riscos da atividade, conhecer muito bem o que se passa

advocatus I Fez praticamente toda a sua carreira como advoga-do in house. agora vai mudar um pouco. Como descreve a experi-ência como advogado in house? Quais as principais diferenças?rm I Primeiro que tudo, um advo-gado in house é um quadro da em-presa. Tem que se assumir como tal.

advocatus I até há pouco tempo era diretor dos serviços jurídicos da galp energia, agora ingressou numa sociedade. o que o levou a tomar esta decisão?rui mayer I Há momentos em que nos apetece fazer outras coisas e olhar para desafios que podem aparecer. Uma vontade de ainda

Ram

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Entrevista

rui mayer, sócio da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira

ana Duarte

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Junho de 2013 7O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

com os projetos e, de um modo ge-ral, aconselhar os responsáveis das unidades de negócios na tomada de decisão. Sem, no entanto, criar um obstáculo. Contribuindo para a cria-ção de valor, para o desenvolvimen-to da vida da empresa e dando-lhes a confiança de que, se alguma coisa correr mal, lá estará para os ajudar a enfrentar as dificuldades no mo-mento. Há que saber pesar e avaliar os riscos e assumi-los. O advogado externo tem talvez uma função mais virada para a especialidade, para o complementar das competências do advogado interno. Tem uma postura mais independente. Pode fazer uma avaliação diferente das circunstân-cias dos negócios, dos casos em concreto. Tem uma outra atitude de descrever as circunstâncias, as lega-lidades jurídicas sem se imiscuir de algum modo nos processos internos da empresa, que são processos de tomada de decisão. Fornece infor-mação, análise e input para a toma-da de decisão, mas afasta-se desse processo. Nesse aspeto mantém uma atitude mais independente.

advocatus I não acha que essa visão dos advogados in house se aplica cada vez mais dentro das sociedades, uma vez que estas se afirmam cada vez mais como empresas?rm I Evidentemente que tem al-gumas semelhanças. Aproxima-se mais do modelo, embora mantenha a deontologia típica característica da profissão de advogado. O facto de estar dividido por departamentos ou áreas de especialidade é exata-

>>>

Energia: Há oportunidades no mercado nacional

“aqui claramente a aposta é em

diversificar, em crescer, em oferecer uma

nova área de prática aos clientes. não

é necessariamente uma reação a uma

situação conjuntural. é ter identificado um potencial específico

para oferecer qualquer coisa de diferente

relativamente aquilo que existia”

“Apareceu aqui este projeto - que é muito interessante. É uma start up e consiste em começar com uma nova área. Um

departamento do zero. Esse desafio foi, de facto, aliciante e achei que era uma boa

altura para tentar alguma coisa nova”

Quando Rui Mayer ingressou no curso de Direito na Universidade de Lisboa tinha como objetivo a carreira diplomática. Era isso que se imagina a fazer. Contudo, a vida trocou-lhe um pouco as voltas. A necessidade de começar a trabalhar le-vou-o para a advocacia. Nunca mais a abando-nou. Se se arrepende de não ter ido para a car-reira diplomática? Responde, convicto, que não.

“Tive a sorte de conseguir sempre apaixonar-me por aquilo que faço. Nas várias “encarnações” que tive na minha carreira profissional sempre consegui retirar um grande prazer naquilo que estava a fazer”, acrescenta. Do seu percurso profissional fazem parte em-presas com a Partex – Companhia Portuguesa de Serviços, a empresa finlandesa Neste Oy ou

a Galp Energia. Sempre que tinha de tomar de-cisões recolhia a informação, pedia conselhos, refletia e decidia. Mas nunca olhou para trás. Aprendeu por experiência própria que não valia a pena fazer planos a longo prazo, pois a vida “mete-se pelo meio e transforma tudo”. Agora enfrenta mais este novo desafio… sem olhar para trás.

As voltas da vida

PerFIl

mente para proporcionar uma maior especialização. Dentro da empre-sa, tendencialmente, o advogado é mais um generalista. Numa socieda-de de advogados - sendo um agru-pamento de profissionais do mesmo ofício - podemos olhar muito mais para a especialização, em concre-to, e portanto ter um outro tipo de intervenção. É o complementar, na vertente da especialidade, as com-petências internas da empresa e be-neficiar do facto de haver grupos de pessoas que têm esse potencial de uma forma mais desenvolvida.

advocatus I Veio para a Cuatreca-sas para criar a área de oil, gas & mining. o que levou a sociedade a decidir criar esta área? rm I Claramente é uma área em crescimento no conjunto de mer-cados em que a Cuatrecasas, Gonçalves Pereira está presente. É uma área com grande potencial de desenvolvimento de negócio, de atividade. A sociedade sentiu a ne-cessidade de complementar a oferta de serviços aos clientes nestes mer-cados criando esta área. É uma área em que reconhecidamente a socie-dade não tinha ainda uma compe-tência específica. Há clientes? Há clientes com certeza. Há potência nos mercados locais, há oportuni-dades nos mesmos e houve clientes da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira que chamaram à atenção para a necessidade de a sociedade poder oferecer este serviço doutra ma-neira. É um passo que me parece lógico, tendo em conta o que a so-ciedade é e pretende vir a ser.

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O agregador da advocacia8 Junho de 2013

www.advocatus.ptEntrevista

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advocatus I a atuação irá cen-trar-se mais fora de Portugal?rm I Isto é uma atividade funda-mentalmente internacional. A atua-ção poderá centrar-se em mercados em que a Cuatrecasas, Gonçalves Pereira está presente: Portugal e ou-tros países, nomeadamente Angola, Moçambique, Brasil. Mas também em mercados onde os nossos clien-tes pretendam a nossa colaboração e aí não temos limitações específi-cas, poderemos ir com os clientes para outras áreas geográficas.

advocatus I Quais os objetivos da Cuatrecasas ao criar esta nova área de prática?rm I É basicamente afirmar esta va-lência na oferta da sociedade. Colo-carmo-nos à disposição dos nossos clientes, alavancarmos esta ativida-de com a experiência já adquirida noutras áreas de prática e comple-mentarmos também com o que ou-tras áreas oferecem relativamente a esta indústria. Portanto, será come-çar gradualmente a ganhar “quota de mercado”, digamos assim, nesta área de atividade.

advocatus I Conhece bem o mer-cado energético em Portugal. é nesse sentido que lhe pergunto que mais-valias retira do conheci-mento que adquiriu ao longo dos anos e que poderá aplicar agora na Cuatrecasas?rm I Eu julgo que é toda a experiên-cia do facto de estar a trabalhar há 30 anos ligado a temas da indústria de petróleo e gás. E nos últimos 12 anos com responsabilidade muito incisivas na área jurídica de uma empresa petrolífera que se desen-volveu e cresceu e se veio a afirmar como uma empresa integrada e em desenvolvimento. Penso que é um capital de experiência adquirida que é valioso.

advocatus I esta decisão da Cua-trecasas é também uma forma de a sociedade reagir ao mercado, funcionando com um contrapeso à situação atual?rm I Eu julgo que é evidente que o mercado nacional está a atravessar algumas dificuldades, felizmente a sociedade não se ressentiu muito

dessa dificuldade. Evidentemente, que terá havido necessidade de fa-zer alguma adaptação mas aqui cla-ramente a aposta é em diversificar, em crescer, em oferecer uma nova área de prática aos clientes. Não é necessariamente uma reação a uma situação conjuntural. É ter identifi-cado um potencial específico para oferecer qualquer coisa de diferente relativamente aquilo que existia.

advocatus I a equipa foi criada de raiz. Procuraram aproveitar dentro da sociedade alguns dos recursos já existentes ou decidiram procu-rar advogados de fora?rm I Claramente houve a preocupa-ção de identificar talentos dentro da sociedade e, portanto, de identificar algumas pessoas que estivessem num momento adequado no desen-volvimento da sua carreira para co-meçarem a tomar contacto com esta temática. Poderia já haver algum co-nhecimento incipiente, mas agora vamos trabalhar de facto na criação de um núcleo de competências e de excelência. E temos uma equipa para isso. Temos jovens promisso-res. É mesmo começar do zero.

advocatus I atualmente qual a análise que faz do mercado ener-gético nacional?rm I Parece-me que é um mercado em que temos a presença de alguns operadores que estão preparados para um salto qualitativo muito gran-de e que têm uma ambição clara de se desenvolverem e crescerem. Estão-se a preparar para isso. Por-tanto, vamos assistir à internaciona-lização evidente destes operadores, porque o mercado português não é suficiente para sustentar essa von-tade de crescimento. Por outro lado, julgo também que, em determinados segmentos, nichos, o mercado por-tuguês oferece muitas oportunida-des a outro tipo de operadores e a outras companhias que se queiram instalar de novo e portanto puderem alavancar aqui, também, alguma ati-vidade. Acho que é um mercado que vai necessariamente sofrer algumas alterações estruturais nos próximos anos. Vamos assistir a uma conso-lidação de algum tipo de operado-res, que estão presentes de alguma

“é uma área em crescimento no

conjunto de mercados em que a Cuatrecasas, gonçalves Pereira está presente. é uma área com grande potencial

de desenvolvimento de negócio, de atividade”

“é um mercado em que temos a presença de

alguns operadores que estão preparados para

um salto qualitativo muito grande e que têm uma ambição clara de se desenvolverem e

crescerem”

“Acho que estou numa posição de poder colaborar, de poder continuar a contribuir para a Galp e continuar a colaborar com eles no sentido de desenvolver a empresa”

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Junho de 2013 9O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

“eu julgo que é evidente que o

mercado nacional está a atravessar algumas

dificuldades, felizmente a sociedade não se

ressentiu muito dessa dificuldade”

“Vamos assistir a um agregar de valor às ofertas de valor das

companhias através da inclusão de serviços, de produtos. há aqui

a possibilidade de fazer parcerias, de

dialogar com o cliente numa outra perspetiva oferecendo mais valor

àquilo que são os produtos clássicos”

maneira mas ainda em crescimento. Assim como a alterações regulató-rias. Vamos assistir a um aumento de preocupação para determinado tipo de valores, que estavam relativa-mente seguros se pensássemos em outro tipo de situações. Assim como a uma crescente tomada de consci-ência do papel do consumidor, dos valores de ambiente, de boa cor-porate governance, da necessidade dos operadores se apresentarem de forma transparente e de comunica-rem de uma forma mais aberta com os seus clientes.

advocatus I refere a internacio-nalização dos sectores. acha que isso pode ser positivo para Portu-gal ou por outro lado poderá colo-car o País em segundo plano?rm I Acho que haverá uma mistura das duas coisas. Haverá claramen-te um ganho. Um aumento do peso dos mercados externos na compo-sição das receitas das empresas, de outras empresas e sectores. Não creio que isso signifique um esqueci-mento ou um abandono do mercado português, que é um mercado onde há uma base de sustentação forte e consistente, que vai com certe-za continuar a ser trabalhada. Acho que há oportunidades no mercado nacional.

advocatus I Quais?rm I Há oportunidades de melhoria de qualidade de serviço, de melhoria de diversificação da oferta de pro-duto. Vamos assistir a isto na Galp – com a passagem do bifuel para o trifuel, na EDP com o incrementar da oferta de gás em paralelo com a de eletricidade, vamos assistir a outro tipo de operador a querer ter uma intervenção diferente, os ope-radores mais locais, mais regionais, de outros segmentos de mercado. Vamos assistir a um agregar de valor às ofertas de valor das companhias através da inclusão de serviços, de produtos. Há aqui a possibilidade de fazer parcerias, de dialogar com o cliente numa outra perspetiva ofere-cendo mais valor àquilo que são os produtos clássicos.

advocatus I Isso seria também positivo para o cliente?

rm I Com certeza. Isto é dinâmico, é positivo para o consumidor, para as empresas, para os outros pequenos operadores do mercado que se irão agregar aqui. Acho que é uma mu-dança estrutural do mercado. Isto é o resultado normal da concorrência, da evolução da postura dos con-sumidores, da regulação, etc. Que cria a consciência de que há aqui a necessidade de ter uma outra pos-tura. Não basta ser-se incumbente, é necessário fazer-se mais e lutar por firmar os seus galões.

advocatus I o atual quadro legis-lativo nacional está adequado a todas estas transformações ou não? rm I Acho que o enquadramento legislativo vai refletir a necessidade de fazer adaptações. A todas as mu-danças, a uma maior integração, a nível ibérico no caso de Portugal, a nível europeu no caso da Península Ibérica como um todo. Acho que tem muito a ver também com as perspe-tivas políticas e com objetivos que se traçarem. E aí é que eu acho que não tem havido suficiente cuidado com a correta articulação dos muitos obje-tivos e dos muitos programas que se criam, que acabam por chocar uns contra os outros e revelarem-se in-coerentes.

advocatus I se a galp pedisse as-sessoria à Cuatrecasas sentir-se--ia numa posição difícil ou não?rm I Não, de modo nenhum. Clara-mente, conheço muito bem aquela casa, conheço muito bem as pesso-as, conheço muito bem o negócio. Acho que estou numa posição de poder colaborar, de poder continuar a contribuir para a Galp e continuar a colaborar com eles no sentido de desenvolver a empresa. A Galp é uma grande empresa nacional, com valor, com potencial. É uma empre-sa na qual eu me orgulho muito de ter trabalhado, da qual gosto muito e gostaria muito de poder continuar a trabalhar com a Galp e a ajudá-la. Acho que é uma empresa com mui-to potencial, com muito futuro. Com excelentes quadros, com projetos, com dinamismo, com ambição. Como português é uma empresa que me orgulha.

“Vamos assistir (…) a uma crescente tomada de consciência do papel do

consumidor, dos valores de ambiente, de boa corporate governance, da necessidade dos operadores se apresentarem de forma

transparente e de comunicarem de uma forma mais aberta com os seus clientes”

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O agregador da advocacia10 Junho de 2013

www.advocatus.ptMedia

O desafio consiste em procurar um equilíbrio entre os meios de comunicação tradicionais e os novos meios de comunicação multimédia, em nome da preservação dos valores da democracia e da cidadania.

“emergem fortes contrariedades para os meios de comunicação

social tradicionais, como o problema da sua própria sustentabilidade

económica, desencadeado por vários

fatores, como a queda da venda de jornais e

revistas e o facto de os anunciantes começarem

a preferir as novas plataformas multimédia”

A comunicação social tradicional e os novos desafios multimédia

Os tradicionais meios de comuni-cação social (v.g. imprensa, rádio, televisão e cinema) reinventaram--se em consequência da emer-gência de novas tecnologias mul-timédia, que, numa só plataforma e num contexto de interatividade, permitem combinar texto, ima-gem, vídeo e áudio, englobando ainda as telecomunicações e as redes sociais (v.g. Twitter e Fa-cebook). Neste âmbito, verifica--se uma convergência de meios de comunicação social, que se cruzam e se combinam, fazendo emergir versáteis plataformas de comunicação, como o tablet, o ipad, o smartphone ou o iphone que agregam, em simultâneo, vá-rias alternativas de comunicação, permitindo telefonar, aceder à in-ternet, ler livros, jornais e revistas online, receber e enviar emails, ver filmes, ouvir rádio e música ou ver televisão. Mas a conversão para este novo modelo multimédia tem constituí-do uma revolução que está a meta-morfosear os meios de comunica-ção social e a agitar violentamente as águas em que tradicionalmente navegava o jornalismo. O desafio consiste em procurar um equilí-brio entre os meios de comunica-ção tradicionais e os novos meios de comunicação multimédia, em nome da preservação dos valores da democracia e da cidadania. Embora aqueles procurem correr para alcançar os novos modelos emergentes, nomeadamente dis-ponibilizando versões online de jornais e revistas, é certo que este processo evolutivo está longe de se poder afirmar estabilizado pelo que ainda não é possível adivinhar

é certo que a esfera de discurso público é reforçada, refletindo-se muito positivamente nas liberda-des da comunicação. Todavia, como reverso da medalha, emer-gem fortes contrariedades para os meios de comunicação social tradicionais, como o problema da sua própria sustentabilidade eco-nómica, desencadeado por vários fatores, como a queda da venda de jornais e revistas e o facto de os anunciantes começarem a pre-ferir as novas plataformas multi-média. O modelo de negócio dos órgãos de comunicação social tra-dicionais sofre, assim, graves re-percussões, não se conseguindo evitar mesmo alguns despedimen-tos de jornalistas e o encerramen-to de jornais.A debilidade económica dos meios de comunicação social fra-giliza ainda o jornalismo de inves-tigação, que constitui a pedra de toque do jornalismo compreendi-do como “cão-de-guarda” (wa-tchdog) da democracia, desem-penhando um papel essencial no controlo da atividade governativa e dos poderes públicos.Neste grave contexto de proble-mas, têm sido ensaiados novos modelos e diferentes soluções, que partilham de um mesmo ob-jetivo: preservar uma estrutura policêntrica de comunicação na qual o pluralismo de opiniões e o jornalismo de qualidade possam sobreviver e ser reforçados. Esta é uma finalidade que se reveste da maior importância jurídico-consti-tucional, considerando que estão em causa os pilares da democra-cia, do Estado de direito e do plu-ralismo político e social.

Jónatas machado Professor de Direito da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra,

autor Wolters Kluwer

Iolanda rodrigues de BritoMestre em Direito, autora Wolters

Kluwer

o futuro dos meios de comunica-ção social clássicos. A disponibilização online de notí-cias por empresas como a Google também não deixa de despoletar inconvenientes de relevo, pois as notícias divulgadas online (v.g. na Google News) são retiradas de jornais e revistas, que assentam em estruturas empresariais que dependem das vendas para poder manter o funcionamento da em-presa e pagar aos vários sujeitos envolvidos no processo informa-tivo.Numa época em que o acesso à informação conhece novas carac-terísticas, em que se procuram as notícias na internet e em que os próprios cidadãos também se assumem como emissores no pro-cesso de comunicação, nomeada-mente pela via das redes sociais,

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Junho de 2013 11O agregador da advocacia

www.advocatus.pt In Memoriam

Numa sociedade cada vez mais dominada pela ditadura da quantificação e do efémero, há homens que trilham outros caminhos e fazem outras escolhas. Homens para quem o cerne da existência é uma vida que respeite as suas possibilidades individuais, os seus afetos, os seus valores. Um desses homens era o Gustavo Andresen.

“o gustavo deixou-nos num dia frio do último

Inverno. Com ele finou--se o escritório da rua do alecrim, que, nos

últimos anos, apenas a presença do gustavo

animava.”

Gustavo Andresen, um Advogado de Valores

Num tempo em que a amizade não conhecia interesses, a mão generosa da Nató abriu-me a por-ta do mais prestigiado escritório da advocacia lisboeta nos finais dos anos 70: na Rua do Alecrim 75 tinham banca o Francisco Sou-sa Tavares, o Daniel Proença de Carvalho, o Manuel Luís Gomes e o Sebastião José de Lorena.Uma tarde por semana eu juntava--me ao Miguel Sousa Tavares e ao Gustavo Andresen, os jovens ad-vogados de serviço aos Mestres. Nos outros dias acolhia-me um minúsculo escritório em Vila Fran-ca de Xira, onde eu, só e atrevido, aprendera a iludir as subtilezas do Direito Administrativo e a defender com convicção o mais recente réu cigano acusado de homicídio. O Gustavo adorava as estórias de Vila Franca. Os meus clientes eram invariavelmente pobres, in-tensos e agressivos. Muito distan-tes dos clientes do Tio Francisco ou do Dr. Daniel. E o Gustavo, tão curioso e afetivo como sempre, queria saber pormenores, ouvir o relato dos meus julgamentos e rir--se das inevitáveis gafes do pouco experimentado colega.O Gustavo deixou-nos num dia frio do último Inverno. Com ele finou--se o escritório da Rua do Alecrim,

que, nos últimos anos, apenas a presença do Gustavo animava. É uma daquelas imagens que valem por mil palavras. O advogado so-litário, de guarda ao que foi uma praça-forte da advocacia portu-guesa; o profissional corajoso que serve até ao último dos seus dias os clientes que durante decénios o procuraram no mesmo local; o homem sensível que não vai em modas e se mantem fiel aos sítios, às rotinas e aos amigos.De par com a família e os clientes, os amigos eram a âncora do quo-tidiano do Gustavo. Tinha sem-pre tempo para nós. Nos últimos anos, depois de ter ganho o pri-meiro round ao cancro que o ha-via de vencer, o Gustavo assumia uma atitude estoica ainda mais vincada. O seu olhar de menino raramente empalidecia. Não pare-cia temer a morte. Numa sociedade cada vez mais dominada pela ditadura da quan-tificação e do efémero, há ho-mens que trilham outros cami-nhos e fazem outras escolhas. Homens para quem o cerne da existência é uma vida que res-peite as suas possibilidades in-dividuais, os seus afetos, os seus valores. Um desses homens era o Gustavo Andresen.

agostinho Pereira de miranda

sócio presidente da Miranda Correia Amendoeira & Associados

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O agregador da advocacia12 Junho de 2013

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advocatus | Como presidente da uIa quais são as grandes tendên-cias que verifica atualmente na carreira de advogado?Jean-marie Burguburu | A UIA foi fundada em 1927, depois da I Guer-ra Mundial. Na altura, um dos objeti-vos era contribuir para a paz com os advogados e a lei. Hoje não é ape-nas esse o objetivo e defendemos a profissão e os advogados que se sentem ameaçados no seu exercício pelos governos, como na Turquia ou na Colômbia, por exemplo. Gostaria de salientar alguns problemas espe-

Entrevista

“É impossível ser um bom advogado se não for independente dos Estados, dos juízes, dos tribunais, dos clientes”, afirma Jean-marie Burguburu, presidente da União Internacional de Advogados (UIA). De passagem por Lisboa, onde participou num encontro sobre reforma da Contratação Pública, falou com o Advocatus sobre os problemas que afetam hoje os advogados e também sobre o próximo congresso da instituição, que será em Macau.

Advogados têm de ser independentes

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cíficos sentidos atualmente. O pri-meiro é a independência – os advo-gados têm de ser independentes. É impossível ser um bom advogado se não for independente dos Estados, dos juízes, dos tribunais, dos clien-tes. O segundo é económico – os advogados, tal como outras pesso-as no mundo e na Europa, estão a ser atingidos pela crise económica. Porquê? Porque os clientes estão relutantes em pagar o que pagavam noutros tempos. Até as empresas abrem concursos para terem a pres-tação de serviços de um advogado

e optam pelo mais barato. Os jovens advogados não encontram traba-lho nas sociedades de advogados. Saem da escola e depois é difícil arranjar um emprego a sério. Uma terceira questão tem a ver com os ataques de governos a advogados quando não estão satisfeitos com a independência destes. Uma última palavra sobre o apoio judiciário. Nas nações democráticas temos esse apoio mas ele não existe em todo o mundo. À medida que as pessoas vão tendo menos dinheiro há cada vez mais solicitações para este tipo

de apoio, pelo qual os advogados não recebem qualquer remuneração especial. Claro que recebem uma verba do Estado mas é diminuta.

advocatus | Qual é a região do mundo mais crítica para ser advo-gado?J-mB | Na Europa existe a tradição familiar na profissão – o meu pai foi advogado, o meu avô também, a minha mulher é advogada, assim como as minhas duas filhas. Mas há outras formas de ser advogado, não apenas a tradição familiar. Nalguns

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Junho de 2013 13O agregador da advocacia

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Advogados têm de ser independentes

países ser advogado é uma forma de ascender socialmente, passar de uma classe baixa para outra supe-rior. Em África ou no Extremo Oriente alguns chegam a advogados porque sabem ler ou escrever, debatem, têm capacidade para falar com as em-presas e o pessoal administrativo. Nestes países, um advogado é um link social entre várias pessoas que não compreendem documentos le-gais, por exemplo.

advocatus | a uIa vai ter um con-gresso em macau, em novembro. Quais serão os grandes temas em debate?J-mB | Na maior parte das vezes há três tópicos principais nestes con-gressos. Eu decidi apenas ter um único tópico principal, com vários grupos de trabalho a funcionarem. O tópico é: advogados contra a cor-rupção. Não deixa de ser curioso o congresso acontecer em Macau, uma parte da China, país que tem um novo presidente que, no primeiro discurso, fez da luta contra a corrup-ção uma prioridade.

advocatus | o que se pretende com esse tópico?J-mB | Explicar que os advogados não são cúmplices da corrupção, podem lutar contra ela e evitá-la. Temos 40 comissões que funciona-

trarmos e debatermos os assun-tos que nos preocupam.

advocatus | Como advogado e cidadão europeu que leitura faz da actual crise europeia? está otimista ou pessimista?J-mB | Viajo muito e posso dizer que fora da Europa o sentimento é muito melhor. Uma das minhas filhas tem vivido em Xangai nos últimos três anos e um dos filhos nasceu lá. Quando lá vamos ve-rificamos que têm melhores con-dições do que em Paris. Estamos a assistir a uma mudança de um mundo velho para um mundo novo. Daqui a 50 anos olhar-se--á para esta época e dir-se-á que foi nesta altura que essa mudan-ça foi feita, é isso que os livros de História dirão. Mas nós estamos a viver esta época agora e as coi-sas não são fáceis. A Europa dei-xou de ser o centro do mundo. A China, os países do Médio Orien-te, Tailândia, Malásia, Indonésia, Birmânia, os BRIC, todos eles es-tão a mudar o mundo.

advocatus | Qual será o papel da europa nesse mundo em mu-dança?J-mB | Continua a ter um papel a desempenhar. Não o de líder para tudo e em todo o lado, mas em as-

petos como o modo de vida, a to-lerância, educação, respeito pe-las pessoas, liberdade individual, independência. Veja, por exem-plo, a questão da legislação para os casamentos homossexuais. A Europa tem de passar de um pe-ríodo industrial para um período de serviços e tecnologia. É óbvio que vai ser difícil porque muitas pessoas não têm competências para essa mudança. Eu não que-ro ser um pessimista, procurou afirmar-me como otimista.

advocatus | Qual a sua opinião sobre os advogados portugue-ses e a Justiça portuguesa?J-mB | Há em Portugal um ex-cesso de advogados – em termos comparativos há mais advogados do que em França - mas é impos-sível fechar a porta. É uma pro-fissão independente, onde qual-quer um pode entrar desde que passe no exame. Claro que isso não basta pois depois é preciso arranjar um trabalho e isso é di-fícil. Pode optar por trabalhar por conta própria mas onde é que estão os clientes? Mas, tal como em outros países, os advogados são inteligentes e penso que en-contrarão uma saída para estes problemas.

advocatus | esteve em lisboa para falar num seminário so-bre procurement. Como é que os governos podem financiar obras públicas em tempos de difícil acesso ao crédito?J-mB | Estive presente na con-dição de presidente da União In-ternacional dos Advogados (UIA) e tenho uma visão generalista sobre o assunto. O procurement continua a ser uma boa forma de os governos financiarem gran-des projetos de obras públicas e é normal que se mantenha um controlo público sobre a sua exe-cução. Como vivemos numa era global qualquer país pode procu-rar financiamento para esses pro-jetos noutros países.

rão no congresso durante três dias, de manhã e à tarde, com os vários ramos do Direito, desde o Fiscal até ao Imobiliário. Trata-se de um congresso internacional, que reú-ne advogados de todo o mundo. A UIA representa mais de 3 milhões de advogados. Foi fundada há 85 anos mas não é uma “velha se-nhora”, mantém a sua vitalidade e o seu presidente é eleito para um mandato de um apenas um ano e não pode ser reeleito – portanto eu vou sair da presidência logo a seguir ao congresso de Macau. Já sei quem são os meus próximos sucessores: um é advogado de New Jersey, nos EUA, e o outro será do Uruguai.

advocatus | Quais foram os ob-jetivos do seu mandato na uIa?J-mB | Um deles era ter mais membros do sexo feminino na UIA - em França, cerca de 50 por cento dos advogados são mulhe-res e na geração mais jovens essa percentagem é de 75 por cento. Um outro era chamar os advo-gados mais novos e um outro foi melhorar a representação da UIA a nível internacional, recorrendo às novas tecnologias, por exem-plo. Temos uma sede em Paris mas podemos usar ferramentas como o Skype para nos encon-

A Union International des Avocats (UIA) promove o 57º congresso em Macau (China), entre 31 de outubro e 4 de novembro. Esta é a primeira vez que a asso-ciação organiza um congresso neste território chinês. “Corrupção, segurança jurídica e livre mercado” será o tema principal do encontro, que segundo a organi-zação contará com a presença de vários portugue-ses. Neste encontro está já confirmada a presença dos advogados da SRS José Moreira da Silva, Pedro Rebelo de Sousa e Gonçalo Reis Martins, do advoga-do da Vieira de Almeida & Associados Tiago Marreiros

Moreira, presidente do ILMAI (Instituto de Mediação e Arbitragem Internacional) Fernando Tonim e o só-cio da Abreu Advogados e diretor de Comissões da UIA, Pedro Pais de Almeida. José Moreira da Silva dirige o debate sobre Direito da Concorrência, en-quanto Tiago Marreiros Moreira, Pedro Rebelo de Sousa e Gonçalo Reis Martins são oradores no pai-nel “Direito Financeiro, Fiscal, Fusões & Aquisições, Investimento Estrangeiro”. Por fim, Fernando Tonim participará no painel dedicado ao investimento es-trangeiro.

Macau será ponto de encontro de advogados de todo o mundo

Congresso

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O agregador da advocacia14 Junho de 2013

www.advocatus.ptSociedades

O advogado norte-americano Kenneth Standard, ex-bastonário da New York State Bar Association, esteve em Lisboa para participar na conferência “A multidisciplinaridade no exercício da advocacia”, organizada pelos Conselhos Distritais de Coimbra e Lisboa. Ao Advocatus explicou por que nos EUA há cuidados especiais com este tema.

Os riscos da multidisciplinaridade

advocatus | em Portugal, há um intenso debate sobre a multidis-ciplinaridade. o que pensa so-bre este assunto?Kenneth standard | O tema da multidisciplinaridade é digno de um extenso debate. Temos debatido

intensamente o assunto nos EUA e concluímos, em cada um dos nos-sos 50 estados, que há uma falta de evidência, neste momento, de que que o público e a profissão jurídica obteriam benefícios significativos com uma mudança.

advocatus | Que conselhos que daria aos advogados portugue-ses sobre o assunto? Ks | Além das 50 jurisdições dos estados dos EUA, temos o Distrito de Columbia, onde está situada a capital, Washington. Aí, há alguns advogados que estão organizados de uma forma que podemos con-siderar próxima da multidisciplina-ridade. Aconselho os portugueses a continuarem a fazer o que têm feito: estudar e debater a questão e apresentar e dar a conhecer as suas observações da forma mais ampla possível. Isso foi o que os advogados fizeram aqui.

advocatus | Que tipo de proble-mas é que a multidisciplinarida-de pode colocar à independên-cia dos advogados?Ks | Entre os receios manifestados pelos opositores das práticas jurí-dicas multidisciplinares está a per-da de controlo da sociedade pelos seus membros advogados para acionistas que não são advoga-dos, levando à perda de tradições jurídicas como, por exemplo, o inabalável dever de lealdade para com o cliente mesmo à custa de interesse pessoal do advogado.

advocatus | Imagina um dia as sociedades de advogados virem a ser cotadas em bolsa? Quais serão as consequências?Ks | Aparentemente já existem al-gumas sociedades de advogados no Reino Unido que têm acionis-tas não-advogados. Teremos que esperar para ver quais as conse-quências para o sistema britâni-co. Nos EUA, exceto o já referido exemplo do District of Columbia, optámos por não correr o risco de

ter os acionistas ou outros pro-prietários de escritórios de advo-cacia que não são advogados.

advocatus | Quais serão as grandes tendências para as sociedades de advogados nos próximos anos?Ks | Normalmente seria de es-perar que as sociedades de ad-vogados nos principais centros financeiros simplesmente conti-nuassem a tendência recente de se tornarem cada vez maiores, a fim de servir os seus clientes, também cada vez maiores e mais dispersos. No entanto, a revolução digital pode servir como um contrapeso a essa consolidação e tendência e reduzir a necessidade de advo-gados em geral, pois um modelo inteiramente novo de clientes, in-cluindo o aumento do self-service, pode tornar-se forte e causar uma enorme perturbação no profissão. advocatus | trabalhou no setor público e privado. Quais são as principais diferenças?Ks | Cada sector tem seus pontos bons e menos bons. A principal diferença é que no setor público não é preciso preocupar-nos em trazer clientes à porta. Existe uma fonte interna de clientes. Além disso, pode haver uma tendência no setor público para ser arrogante no tratamento dos clientes, pois pode não haver al-ternativa para estes a não ser trabalhar com o advogado de-signado pelo governo para tratar do assunto. No entanto, a minha experiência diz-me que todos os bons advogados tratam os clien-tes da mesma forma.

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Junho de 2013 15O agregador da advocacia

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O agregador da advocacia16 Junho de 2013

www.advocatus.ptJustiça e Media

Qual é a fronteira entre o segredo de justiça e o direito de informar? Que limites devem existir, se é que devem existir, à mediatização dos casos judiciais? Como se devem os agentes da justiça relacionar com os jornalistas? Três advogados dão a sua opinião sobre as relações entre a justiça e os media.

Inimigos íntimos?

A discussão acende-se sempre que os contor-nos de casos judiciais transbordam para as pá-ginas dos jornais ou para os noticiários televi-sivos. E quando esses casos envolvem figuras públicas, por si só mediáticas e mediatizáveis, a discussão inflama-se ainda mais. E são mais audíveis as vozes que reclamam maior regula-ção do segredo de justiça. Mas deverá a justiça manter-se exclusivamente dentro de portas ou deverá pautar-se por critérios de transparência e, assim sendo, permitir que os jornalistas in-formem o público? O sócio da Miranda Correia Amendoeira & Associados João Afonso Fialho escreve sobre “os (justos) limites da mediati-zação” para defender que a justiça deve ser o mais transparente possível, mas que não de-vem ser os próprios agentes da justiça os fau-tores da notícia, muito menos manipulando ou aproveitando oportunidades para a autopromo-ção. Já o sócio da Uría Menéndez-Proença de Carvalho Francisco Proença de Carvalho sus-tenta que a abertura do meio judicial à socieda-de é um caminho irreversível, pelo que ignorá-lo ou tentar travá-lo é uma atitude sem correspon-dência com a realidade. Ainda assim critica a permanente permanente gestão da informação e contrainformação que, nos casos mais sensí-veis, se transmite à opinião pública, com vista à obtenção de decisões apriorísticas na praça pública. Também o sócio da PLMJ Paulo Fari-nha Alves partilha da opinião de inevitabilidade quanto à relação entre justiça e media, assinan-do para o Advocatus uma parábola sobre os diversos tempos do relacionamento entre ad-vogados e jornalistas.

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Junho de 2013 17O agregador da advocacia

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A justiça deve ser o mais transparente possível e operar de forma a permitir que os media informem adequadamente o público do que na vida judiciária se vai passando. O que não deve suceder é serem os próprios agentes da justiça – advogados, juízes, procuradores, funcionários judiciais, etc. – os fautores da notícia, como tantas vezes vemos acontecer.

“mas não serão os juízes, procuradores e as próprias instituições

a quem compete administrar a justiça,

influenciados ou influenciáveis pelos pré-julgamentos da opinião

pública? não será essa uma forma nada

democrática de pressão sobre os tribunais, só ao

alcance de quem tem poder, seja qual for a

sua natureza, sobre os media?”

Os (justos) limites da mediatização

É impossível falar da relação entre a justiça e os media sem pensar nos processos judiciais mediáticos, que prendem a nossa atenção em estilo telenovelístico. Contudo, a relação está longe de ser unidimensional, cobrindo desde a política de justiça, às interações entre os agentes da justiça – individual ou corporativa-mente considerados – e a opinião pública, a intervenção dos advoga-dos nas mais diversas transações comerciais e, claro está, o patrocínio judicial.No plano dos princípios, entendo que a justiça deveria ser administra-da à margem dos meios de comuni-cação social. Os agentes da justiça não deveriam abordar publicamente temas que não fossem exclusiva-mente de política de justiça e a re-serva, assim conseguida, deveria permitir aos clientes a tranquilidade de que necessitam – e, o mas das vezes, exigem – e aos tribunais faze-rem o seu trabalho de forma serena, com o mínimo de perturbação exter-na. Não quer isto dizer que a justiça seja algo de sacrossanto, insuscetí-vel de “sindicação” pela opinião pú-blica. Pelo contrário, a justiça deve ser o mais transparente possível e operar de forma a permitir que os media informem adequadamente o público do que na vida judiciária se vai passando. O que não deve suce-der é serem os próprios agentes da justiça – advogados, juízes, procu-radores, funcionários judiciais, etc. – os fautores da notícia, como tantas vezes vemos acontecer.Mas o puro plano dos princípios é raras vezes compaginável com a re-alidade de uma sociedade cada vez mais sedenta de notícias e, acres-

julgamentos paralelos? No rigor da lei a resposta é simples, deveriam não proferir quaisquer declarações e deixar os tribunais tramitar normal-mente os processos. Mas não serão os juízes, procuradores e as próprias instituições a quem compete admi-nistrar a justiça, influenciados ou in-fluenciáveis pelos pré-julgamentos da opinião pública? Não será essa uma forma nada democrática de pressão sobre os tribunais, só ao al-cance de quem tem poder, seja qual for a sua natureza, sobre os media? Claro que sim! Como tal, o único recurso nestas situações – para além das soluções mais sofisticadas de lançamento de livros ou tentar nivelar o terreno com as mesmas armas, o que não está ao alcance de todos – é fazer uma interpretação atualista da lei no sen-tido de permitir ao advogado defen-der o seu cliente perante a opinião pública. No entanto, este exercício deve ser efetuado com cautela, dis-cernimento e sentido da proporção, o que desde logo deve afastar a ten-tação de substituir os tribunais pelas televisões e jornais. Utilizar os media para informar e put the record strai-ght não é o mesmo que manipular ou aproveitar oportunidades para autopromoção – o mais das vezes em prejuízo ou sem qualquer vanta-gem tangível para o cliente –, o que deve ser combatido e sancionado pela Ordem de uma vez por todas, sem olhar ao agente de tais atos.Quanto a todas as demais situações, deve continuar a prevalecer a reser-va na relação, nem sempre fácil, com os meios de comunicação social, tendo a defesa dos interesses do cliente como único objetivo.

João afonso Fialho

Sócio da Miranda Correia Amendoeira & Associados. É licenciado pela

Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

cente-se, conscienciosa e legitima-mente preocupada com os temas da justiça. É exatamente a conjugação destes fatores que torna a justiça um tema aliciante os media, gerando no-vas necessidades que os agentes da justiça não podem ignorar.O exemplo máximo do que acima ficou dito são as regras deontoló-gicas que impõem aos advogados o dever de ser absterem de co-mentar publicamente os processos pendentes em juízo. Contudo, não raras vezes, vemos cidadãos e ins-tituições serem alvo de julgamentos jornalísticos, quase invariavelmente com base em relatos parciais e nada cuidados. Como devem então rea-gir os advogados – a quem incum-be em primeira linha a defesa dos seus constituintes – perante estes

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O agregador da advocacia18 Junho de 2013

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Fechar-se a Justiça aos media é uma solução impossível na sociedade actual. A abertura do meio judicial à sociedade é um caminho irreversível, pelo que ignorá-lo ou tentar travá-lo parece-me uma atitude naive sem correspondência com a realidade.

“nos casos mediáticos e sensíveis, há uma

permanente gestão da informação e contra-informação que se transmite à opinião pública, com vista à

obtenção de decisões apriorísticas na praça pública, sem qualquer

hipótese de defesa decente para os visados”

Uma relação íntima e obscura

A relação entre o meio judicial e os media é muito íntima. Tão íntima que, geralmente, ocorre na “es-curidão”, nas cumplicidades pe-rigosas entre agentes da Justiça e jornalistas, nas meias verdades sobre processos em curso, pros-seguindo objectivos mais ou me-nos ocultos. Nos casos mediáticos e sensíveis, há uma permanente gestão da informação e contra-in-formação que se transmite à opi-nião pública, com vista à obtenção de decisões apriorísticas na praça pública, sem qualquer hipótese de defesa decente para os visados. Essas condenações populares acabam por ser, não raras vezes, revogadas pelos tribunais, mas tardiamente e já com o linchamen-to público consumado. O que fica para sempre na cabeça das pes-soas é a visão do acusador, inde-pendentemente do resultado judi-cial. Há uma alimentação mútua entre media e uma parte relevante do sistema judicial. Os agentes da Justiça dão informação e os jorna-listas criam a opinião que convém a quem constrói os processos. Simultaneamente, fazem uma pro-moção mediática que tem levado ao nascimento de super estrelas judiciais, que ganham um tama-nho poder popular que os torna praticamente irremovíveis do seu posto pelos órgãos competentes, afastando um princípio de rotati-vidade funcional, que é essencial para o bom funcionamento de uma Justiça democrática, de pen-samento diversificado e sem pre-conceitos. Num mundo que é cada vez mais de informação e imagem em tempo real, na internet, nas re-des sociais, sem grandes filtros, o princípio da obscuridade continua a imperar no mediatismo judicial. Isto não é aceitável, ainda para

aos media é uma solução impos-sível na sociedade actual. A aber-tura do meio judicial à sociedade é um caminho irreversível, pelo que ignorá-lo ou tentar travá-lo parece-me uma atitude naive sem correspondência com a realidade. No entanto, por um lado, exige-se maior formação dos intervenien-tes (de um lado e de outro) para lidarem com o mediatismo e tecni-cidade dos assuntos; por outro, é imperioso promover a transparên-cia nesta relação, de modo a que a notícia sobre matérias judiciais deixe de ser através de fugas de informação criteriosas e parciais, de fonte oculta e com uma agen-da própria, para passar a existir maior igualdade de armas entre as partes, e com acesso mais directo do público ao que se passa den-tro dos corredores do mundo ju-dicial. Obviamente, para que esta solução não transforme Portugal na república judicial das bananas, exigem-se regras claras de inter-venção e responsabilização dos diferentes agentes, de divulga-ção de documentos processuais, de debate público de argumen-tos, de transmissão mediática de julgamentos, como sucede, por exemplo, nos Estados Unidos da América. Tenho presente que o nosso meio judicial é conservador e que não se muda facilmente um paradigma vigente há vários anos que, ainda por cima, tantos pode-res absolutos tem ajudado a criar e a manter confortavelmente sem o devido escrutínio democrático. Mas tenho esperança que num mundo que, para o bem e para o mal, é cada vez mais aberto e exigente, também um espírito de abertura mediática regulada e transparente chegue à Justiça portuguesa.

Francisco Proença de Carvalho

Sócio de Contencioso da Uría Menéndez-Proença de Carvalho.

Licenciado em Direito, Universidade Católica Portuguesa, conta também

com uma pós-graduação em Direito e Gestão de Empresas, na Universidade

Nova de Lisboa.

mais num tempo em que o inte-resse dos cidadãos por matérias judiciais é cada vez maior. Raro é o dia em que casos judiciais não fazem manchete, normalmente com notícias tendenciosas e sem rigor, que prejudicam a verdade, a dignidade das pessoas e a realiza-ção da Justiça. Perante este estado de coisas, há um longo caminho a percorrer para a promoção de uma relação transparente e equilibrada entre os diversos intervenientes do sistema e os meios de comunicação so-cial. A realização da Justiça deve ocorrer no local próprio e com se-renidade, mas fechar-se a Justiça

Justiça e Media

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Junho de 2013 19O agregador da advocacia

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Antes falava o jornalista e depois o advogado. Fala agora o advogado pelo jornalista, o jornalista pelo juiz, o advogado é jornalista e o jonalista é advogado. Um por todos e todos por um.

“um belo dia, porém, os clientes do jornalista

– entre os quais o próprio advogado – amanheceram com

muita necessidade de informação e ela cresceu

de forma exponencial”

O jornalista e o advogado. Histórias de pimenta e refresco

Era uma vez, há muitos anos, um advogado e um jornalista. Trabalha-vam ambos na mesma cidade gran-de mas pouco se conheciam. Cada um ocupava-se dos seus afazeres. Não nutriam, um pelo outro, grande amizade. Nas poucas vezes que se encontravam o advogado interrom-pia sempre a conversa. O pouco que aquele podia contar e que podia ul-trapassar as estreitas fronteiras do si-gilo era revelado numa linguagem de tal forma cifrada que o jornalista não parecia compreender. E com isso, fazendo o seu papel, repetia o jorna-lista as mesmas perguntas utilizando outras formas e outras abordagens. Enfadado e limitado nos seus de-veres profissionais o advogado ter-minava abruptamente a conversa sem que o jornalista compreendesse verdadeiramente o motivo. E mesmo quando o jornalista pretendia ir um pouco mais além, procurando assis-tir às vivências profissionais do ad-vogado, ou não encontrava motivos de interesse ou perdia-se nas her-meneuticas da tal linguagem cifrada. E durante muito tempo foi assim: o advogado lá ia advogando entre o seu escritório, os tribunais e os seus clientes e o jornalista ia jornalando, recolhendo matérias para a edição do dia seguinte. Um belo dia, porém, os clientes do jornalista – entre os quais o próprio advogado – amanhe-ceram com muita necessidade de informação e ela cresceu de forma exponencial. Foram criados meios de comunicação que não existiam e os que existiam cresceram e multi-plicaram-se. Deixou de ser notícia o homem que mordeu o cão porque as pessoas passaram a querer também saber o nome do cão e a conhecer a casa do homem. A sociedade criou e multiplicou regras e o advogado passou a ter mais trabalho. E surgi-

dos e passou a escrever mais sobre o mundo dos advogados e sobre as teias da justiça que o advogado ur-dia juntamente com os magistrados nos seus encantados tribunais. Ou-trora lugares frios e desconfortáveis estes locais tornaram-se destinos de romaria e objecto de notícia. Os jornalistas passaram a opinar sobre tudo o que mexia, mesmo que sobre movimento nada soubessem. O ad-vogado passou a dar-se melhor com o jornalista. Aliviou o seu segredo, aliviaram-lhe o seu segredo. Alguns passaram a desconhecer a palavra “segredo”. Antes falava o jornalista e depois o advogado. Fala agora o advogado pelo jornalista, o jornalista pelo juiz, o advogado é jornalista e o jonalista é advogado. Um por todos e todos por um. Não raras vezes ao mesmo tempo. A notícia também mudou. O homem continuou a mor-der o cão mas o homem tem agora gravata e colarinho branco e o cão passou a chamar-se Estado. E não raras vezes morde também no ho-mem. E isso é também notícia. Cria-ram-se reguladores do homem e do cão, regulações de reguladores. Su-pervisões de regulação e regulado-res de supervisão. Nomes finos para quem pouco faz. Mas tudo é notícia ou consumido como se tal fosse.Um dia destes, nos novos tempos, o jonalista encontrou-se com o ad-vogado. Queria mudar-lhe os hábi-tos, os ritmos e as Leis. Tinha opi-nião sobre a justiça e sobre a forma como ela devia funcionar. Sobretudo a justiça para os outros. Reclamou resultados com avidez e veemência. Manifestou incompreensão. O ad-vogado deteve-se e depois de uma pequena pausa olhou longamente a paisagem e contou-lhe uma história antiga com pimenta, fundo das cos-tas e refresco.

Paulo Farinha alves

Sócio da PLMJ. Licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade

Católica de Lisboa, é pós-graduado em Contabilidade e Assessoria

Jurídica de Empresas pela mesma instituição.

ram mais jornalistas para alimentar os meios, e mais advogados para criar regras e para defender a sua aplicação. Tudo muito. Tudo mais. Da janela do escritório do advogado e do local de trabalho do jornalista passou a ver-se mais mundo. Pas-sou a ver-se o mundo. Era, por isso, inevitável que se reencontrassem mais vezes, que os seus caminhos se cruzassem com mais frequência. Na primeira vez em que se reencon-traram neste novo mundo, os dois profissionais olharam-se com des-confiança. O advogado queria con-tinuar a viver no seu escritório, con-templando a placa com o seu nome que ostentava orgulhosamente a sua profissão. O jornalista, por seu lado, queria saber coisas dos clientes do advogado incluindo os seus segre-

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O agregador da advocacia20 Junho de 2013

www.advocatus.ptOpinião

Para internacionalizar há que arriscar e para se arriscar é essencial ir bem preparado e bem acompanhado, caso contrário será uma aventura que conduzirá ao fracasso. O parceiro certo, no mercado certo, é a combinação ideal, mas não surge de forma imediata.

As três etapas vitais para a internacionalização

Conhecer os mecanismos de apoio

Dados recentes apontam para continuação da recessão da eco-nomia portuguesa nos próximos anos e para a queda do consu-mo privado em cerca de 6% este ano. Porém, os empresários que pretendam desenvolver a sua ac-tividade fora do território nacional, podem recorrer a instrumentos de apoio à internacionalização das empresas no QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional, nomeadamente no Sistema de Incentivos à Qualificação e Inter-nacionalização de PME (SI Quali-ficação PME).Este sistema prevê como sus-ceptíveis de apoio as tipologias de investimento em factores di-nâmicos da competitividade – a internacionalização –, incluindo acções de prospecção e presença em mercados externos, participa-ção em concursos internacionais, em certames internacionais nos mercados externos, acções de promoção e contacto directo com a procura internacional, acções de promoção e marketing internacio-nal.Outro instrumento financeiro a considerar pelos empresários é a linha de crédito PME Crescimento 2013, que disponibiliza até 2000 milhões de euros. Esta linha é constituída pelas linhas específi-cas (micro e pequenas empresas, 400 milhões de euros) e geral (tem um montante específico destinado às empresas exportadoras de 900 milhões de euros). Uma novidade deste instrumento consiste no fac-

to de 10% dos valores globais da dotação se destinarem exclusiva-mente ao sector primário (agricul-tura e pesca).No entanto, sublinhem-se quatro requisitos para atribuição de finan-ciamento: a certificação electróni-ca junto do IAPMEI das micro, pe-quenas e médias empresas (PME); a sua localização em território na-cional; a situação tributária (Fisco e Segurança Social) regularizada ou a regularizar com recurso a fi-nanciamentos bancários intercala-res; e a inexistência de incidentes não justificados ou incumprimen-tos junto da banca.

a importância do diagnóstico

Quanto ao diagnóstico sobre a capacidade e preparação da em-presa, muitos empresários consi-deram a internacionalização como uma saída para a sua actividade, com consideráveis dificuldades a nível financeiro e fiscal e ao nível do próprio escoamento dos pro-dutos no mercado interno. Muitos pretendem apenas exportar, ou-tros procuram um agente, neste ou naquele mercado. Esta é a pri-meira fase, a fase de “percepção”, do conceito internacionalizar ou exportar. Segue-se o momento de real capacidade para concretizar os dois primeiros caminhos e in-dicações/sugestões de estratégia para a própria empresa, nomeada-mente a informação sobre merca-dos/países em que os produtos/serviços poderão ter maior e me-lhor aceitação.Outra questão a analisar nesta

leonor guedes de oliveira

Advogada da JPAB – José Pedro Aguiar-Branco & Associados

“Conhecer os mercados, os sectores de actividade

mais carenciados, os concursos que são

lançados, as condições para apresentar

candidaturas/propostas são condições

essenciais”

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Junho de 2013 21O agregador da advocacia

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As três etapas vitais para a internacionalização

fase é a noção de escala. Mer-cados como os da Colômbia ou Moçambique têm, respectivamen-te, uma dimensão de 46 e de 24 milhões de habitantes e taxas de crescimento económico de 4% e de 8%. Estas economias são elei-tas por empresários portugueses que procuram oportunidades em sectores como a construção, imo-biliário, infraestruturas públicas nos sectores energéticos, teleco-municações, transportes (ferroviá-rio e rodoviário), entre outras, mas que, comparativamente, são mui-to pequenos e pouco competitivos em termos de preço de produto/serviços.Há, no entanto, um ponto a des-tacar: o know-how das empre-sas portuguesas, concretamente na área da construção/projecto, comprovado e reconhecido e que não pode ser desvalorizado.

a singularidade dos mecanismos jurídicos

Decidida a estratégia de interna-cionalização de uma empresa, escolhido o(s) mercado(s) alvo, segue-se todo um processo que compreende a prestação dos ser-viços jurídicos que decorram do mandato outorgado, neles se in-cluindo as acções necessárias à representação junto dos diversos agentes, nacionais e internacio-nais, que para o efeito se conside-rem como relevantes para o objec-tivo pretendido – empresariais ou institucionais.A vertente legal compreende, por um lado, a análise dos principais aspectos que caracterizam os or-

denamentos jurídicos locais (em matéria de relações institucionais, com os mercados, parcerias, in-vestimento estrangeiro, fiscali-dade) e com os instrumentos de apoio à internacionalização que o ordenamento jurídico português prevê (financeiros e fiscais, entre outros). Por outro, essa mesma vertente engloba a identificação, avaliação e gestão do risco da internacionalização, que deve ter abordagens jurídica, económico--financeira e técnica, atenta a ne-cessidade de minimizar ou mesmo eliminar aquele risco. A participa-ção em diferentes ordenamentos jurídicos, em novos mercados e em novos processos a isso obriga.Para internacionalizar há que arris-car e para se arriscar é essencial ir bem preparado e bem acompa-nhado, caso contrário será uma aventura que conduzirá ao fracas-so. O parceiro certo, no mercado certo, é a combinação ideal, mas não surge de forma imediata. Co-nhecer os mercados, os sectores de actividade mais carenciados, os concursos que são lançados, as condições para apresentar candidaturas/propostas são con-dições essenciais. Também nesta fase, a condução, acompanha-mento, preparação e execução de todo o processo de constituição de sociedades, tanto em Portugal com capitais estrangeiros, como no estrangeiro com recurso a ca-pitais portugueses, ou outras for-mas de associação jurídica devem ser analisadas ao pormenor.

Texto escrito segundo as regras

do anterior acordo ortográfico

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O agregador da advocacia22 Junho de 2013

www.advocatus.ptTestemunho

Paulo Marinho é um advogado in house convicto. Independentemente da sua vocação pessoal, encontra na assessoria jurídica interna uma mão cheia de vantagens para as empresas. “Mesmo esquecendo a vertente financeira, relevante na decisão empresarial de manter um advogado e/ou um corpo de advo-gados internos, a disponibilidade permanente de uma assessoria jurí-dica é hoje considerada uma mais--valia, especialmente se associada a um conhecimento mais aprofundado do negócio que é exigível aos advo-gados internos”, sustenta.Para a Ascendi, certamente. “A ges-tão dos contratos de concessão, dos contratos financeiros associa-

Assessoria jurídica permanente e conhecimento mais aprofundado do negócio. Estas são duas mais-valias que Paulo marinho, responsável pela direção jurídica da Ascendi, encontra na advocacia in house. O que, no seu caso, se traduz num envolvimento em grande parte das decisões estratégicas, uma intervenção que qualifica como criativa. E que tem redundado num baixo nível de litigiosidade.

Intervenção criativa

dos e o especial enquadramento le-gal da atividade de operação rodovi-ária implicam uma especialização de conhecimentos que não é exigível a prestadores externos, ou então que o será a um custo insuportável”, afir-ma, a propósito da empresa de que é há oito anos diretor jurídico.A estas outras razões se somam, em particular, “as situações quotidia-nas que não se compadecem com os normais tempos de espera que decorrem da consulta de um pres-tador externo, que pode não estar disponível de imediato, que pode não ter nunca analisado uma situ-ação semelhante, que não está tão próximo dos interlocutores internos quanto o necessário para esclarecer

as questões colocadas”. Um advo-gado in house possui, por definição, um conhecimento mais próximo e aprofundado do negócio da empre-sa a que presta assessoria. E na As-cendi, assegura Paulo Marinho, essa proximidade é uma realidade, com o envolvimento do diretor jurídico em grande parte das decisões estratégi-cas. Uma intervenção que acontece em vários passos do processo de-cisório e que – sublinha – gosta de qualificar como criativa, na busca da solução, na procura da inovação, na consubstanciação da proposta de decisão, na verificação da sua lega-lidade e enquadramento contratual.E aqui reside – enfatiza – uma das mais-valias de um corpo jurídico in-

“a gestão dos contratos de concessão, dos

contratos financeiros associados e o especial enquadramento legal da atividade de operação

rodoviária implicam uma especialização de

conhecimentos que não é exigível a prestadores

externos, ou então que o será a um custo

insuportável”

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Junho de 2013 23O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Intervenção criativa

terno: “Conhecedores das caracte-rísticas e envolvimento da atividade, podemos ir além das consultas que nos são dirigidas e agir proativamen-te na procura de soluções e cenários mais adequados”.Não significa, porém, que o recurso a assessoria externa seja excluído. Nem poderia ser, dada a complexi-dade do enquadramento legal e con-tratual da Ascendi. “Orgulhamo-nos de contar com as mais prestigiadas sociedades de advogados entre os nossos prestadores e interlocutores, o que faz com que o desafio da in-teração com qualquer delas torne a função de diretor jurídico muito interessante, um desafio quotidia-no”, afirma, para acrescentar: “O dimensionamento da equipa jurídica interna é a pedra de toque a este ní-vel, isto é, ela tem que ser capaz de responder ao que cada organização define como seu escopo e limites, mas com a versatilidade para se ren-dibilizar quando não é necessária, a humildade de reconhecer os seus li-mites e a ambição de se ultrapassar constantemente”.Tendo em conta a amplitude da ati-vidade da Ascendi, da conceção e projeto à cobrança de portagens nas concessões, são igualmente di-versas as questões jurídicas que se colocam e os ramos do Direito que as contemplam. Daí – explica Pau-lo Marinho – a necessidade de um equilíbrio tendencialmente perfeito

entre a prestação interna e a exter-na: “Direito Administrativo, Civil, ex-propriações e acidentes de viação, contencioso tributário e contraor-denacional, em tudo tocamos, com maior ou menos profundidade – sendo que o mero encaminhamento para prestadores externos exige um conhecimento suficiente para fa-zer o primeiro enquadramento das questões e o acompanhamento do desenvolvimento das prestações”.Ao gerir infraestruturas rodoviárias, a Ascendi está naturalmente expos-ta ao escrutínio público, nomeada-mente dos utentes das concessões. Mas a litigiosidade não é elevada. O que o diretor jurídico atribui a uma atitude de “transparência” adota-da pela empresa: “Gosto de dizer que, se uma questão chega à fase de litígio, é porque alguém não con-seguiu desempenhar bem o seu pa-pel. Isto é, um litígio surge quando uma pergunta ou reclamação não foi suficientemente bem respondi-da, não logrou esclarecer devida-mente quem a colocou. Daí que na Ascendi se aposte na transparência no relacionamento com os utentes, se invista no seu esclarecimento em caso de dúvidas ou divergências. Enquanto responsável pelo jurídico na casa, tento que, mesmo quando reclama, o nosso utente continue a ser visto como cliente e não como reclamante. Resultado desta pos-tura, diria que temos um nível de

contenciosidade muito baixo”. Nem sempre, contudo, se consegue evi-tar a via judicial: “É claro, porém, que uma não assunção de respon-sabilidade ou de pagamento, por exemplo, por muito bem justificada que seja e honesta a sua fundamen-tação, gera sempre uma reação ne-gativa, e redunda em acionamentos judiciais, mas estamos satisfeitos com os resultados conseguidos em sede judicial, no sentido em que, e mesmo considerando o relativo desfavor da nossa atividade, gene-ricamente vemos as nossas teses confirmadas”.E como se comporta a litigiosidade numa conjuntura económica desfa-vorável? O diretor jurídico da Ascen-di reconhece que há mais reclama-ções, mas ressalva que os custos envolvidos num acionamento judicial levam a que o saldo seja muito pró-ximo de anos anteriores.O esforço de racionalização de cus-tos está, aliás, subjacente a toda a estratégia da empresa, e aplica-se também ao relacionamento com a assessoria jurídica externa. Não obstante, Paulo Marinho sublinha que, “temas há que, pela sua espe-cialização e/ou pela relevância es-tratégica, carecem de um acompa-nhamento que se não compadece com uma lógica de crise”. Usando uma expressão popular, resume: “Não podemos poupar na farinha para gastar no farelo”.

Ser advogado in house foi uma escolha. Paulo Marinho ainda manteve durante alguns anos a atividade liberal, mas não era, “definitivamen-te”, a sua vocação. “Gosto do trabalho de ga-binete, da preparação da fundamentação, do argumentário, gosto muito da negociação, mas a barra, com o seu pendor processualista, as marcações, os adiamentos, os atrasos, confli-tuam dramaticamente com a minha obsessão pela pontualidade, com o conforto da plani-ficação. Na atividade diária os imprevistos, as urgências, abundam, mas na vida de empresa sinto-me mais confortável”, explica. Aquilo que

assume como “uma total falta de vocação para a advocacia tradicional” levou-o a, depois de, por muitos anos, ter mantido a inscrição na Or-dem, ter optado por cancelá-la. “É para mim definitivo que não serei nunca advogado – sou um jurista que coordena advogados, quer inter-nos quer externos”.O contacto com a advocacia de negócios co-meçou cedo, logo no estágio findo o curso de Direito da Universidade Católica do Porto. E confirmado ao longo dos anos que antecede-ram a sua entrada na Ascendi, em 2011, quan-do ainda era AENOR. Começou como respon-

sável pela gestão da carteira de seguros das concessionárias, beneficiando da experiência adquirida numa seguradora de proteção jurí-dica, assumindo, três anos depois, a tutela da direção jurídica. Com uma pós-graduação em Direito da Banca, Bolsa e Seguros, pela Universidade de Coim-bra, Paulo Marinho lecionou a disciplina de Teoria Geral dos Seguros, no âmbito da Asso-ciação Portuguesa de Seguradores, tendo tido ainda a oportunidade de fazer uma formação no INSEAD/Fontainebleu, sobre técnicas de nego-ciação.

In house por vocação

PerFIl

“Gosto de dizer que, se uma questão chega à fase de litígio, é porque alguém não conseguiu desempenhar bem o seu

papel. Isto é, um litígio surge quando uma pergunta ou reclamação não foi

suficientemente bem respondida, não logrou esclarecer devidamente quem a

colocou”

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O agregador da advocacia24 Junho de 2013

www.advocatus.ptTrabalho

O recrutamento de profissio-nais na área legal está a mudar em Portugal. A crise económica não parece repercutir-se negati-vamente na procura de advoga-dos, mantendo-se, pois, a oferta de emprego. É, antes, indutora de uma alteração no perfil de recrutamento. Estas são as con-clusões que emanam da análise que a Michael Page Tax & Legal efetuou aos seus próprios pro-cessos de recrutamento.

A procura por especialistas em Direito Laboral está a aumentar exponencialmente. É a conclusão que resulta da análise dos processos de recrutamento da Michael Page Tax & Legal. Razão: o aumento das restruturações de empresas e as alterações à legislação laboral. Outra tendência é a procura por advogados in house. Razão: a relação custo- -benefício para as empresas. De uma forma ou de outra, a advocacia parece estar em contraciclo com a economia.

Laboral em alta

Os advogados continuam a ser os profissionais da indústria le-gal mais requisitados, corres-pondendo a 90 por cento do to-tal. Todavia, e contrariando uma tendência de anos anteriores, a procura centra-se sobretudo em especialistas nas áreas proces-suais e laborais. E aqui, sim, é possível identificar uma relação direta com o atual contexto eco-nómico do país, assim explicada por Vasco Salgueiro, manager

da consultora: “No contexto atu-al, caracterizado por uma forte retração económica, surgem de forma massiva reestruturações empresariais que originam gran-des necessidades de consultoria jurídica que justificam a tendên-cia expansiva do Direito Labo-ral. Adicionalmente, as recentes alterações à legislação laboral vêm acentuar as necessidades de recorrer ao apoio nesta área”.Vasco Salgueiro concretiza a ne-

na michael Page, assistiu-se nos

primeiros meses deste ano a um incremento

de 25 por cento na procura de advogados

especializados em Direito do trabalho.

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Junho de 2013 25O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Laboral em alta

cessidade deste recrutamento: os especialistas nas áreas la-borais e processuais são indis-pensáveis para assegurar uma permanente conformidade das empresas à lei laboral, para pre-venir a ocorrência de litígios la-borais ou assegurar a sua eficaz e célere resolução e para as au-xiliar na definição das políticas de recursos humanos. A verdade é que, na Michael Page, se assistiu nos primeiros meses deste ano a um incremen-to de 25 por cento na procura de advogados especializados em Direito do Trabalho. Por oposi-ção à quebra de 70 por cento, no mesmo período, no recrutamento de especialistas em operações de fusão e aquisição. A procura cresceu, mas não ape-nas nas sociedades de advoga-dos: as empresas estão, também elas, a recrutar, tendo absorvido cerca de 40 por cento dos profis-sionais legais empregados pela divisão Tax & Legal da Michael Page. A crise ajuda a explicar, mas não em exclusivo. Diz Vas-co Salgueiro que esta tendência já se verifica há algum tempo, atribuindo-a a duas ordens de fatores: por um lado, a importân-cia de cada vez mais compaginar custos e benefícios e, por outro, a mais-valia que o conhecimento do negócio pelo diretor jurídico aporta para a empresa.“Na relação custo-benefício da contratação de serviços jurídicos externos muitas vezes a decisão económico-financeira tende para a contratação de um advogado interno: os custos são compara-velmente menores e muitas das vezes o facto de o advogado interno ter uma aproximação ao negócio acaba por ser uma van-tagem competitiva importante. A assessoria jurídica enquadrada e adaptada ao negócio da empre-sa é cada vez mais valorizada”. Isto não significa – ressalva - que não se continue a necessi-tar de recorrer a sociedades de advogados em determinados domínios. A verdade é que as firmas de advocacia estão em contraciclo, crescendo apesar

de não estarem imunes à reces-são. Foram, é certo, forçadas a um exercício de contração de honorários, mas isso – acredita o manager da Michael Page Tax & Legal - não se reflete no de-sempenho. Antes pelo contrá-rio: “Esta contração implica uma alteração de paradigmas, as-sim como reestruturações nas equipas de trabalho para que a qualidade do serviço prestado se mantenha. Maior eficiência e otimização na gestão de equipas passam a ser prioridades. A per-ceção de qualidade de serviços prestados pelas sociedades é uma condição fundamental para a sua sobrevivência”.Vasco Salgueiro vê como positi-va esta evolução no recrutamen-to de advogados, considerando mesmo que se assiste a uma dupla janela de oportunidades: “Quando um candidato sénior sai de uma sociedade de advo-gados para assumir um cargo de direção jurídica numa empresa, esta situação pode deixar em aberto uma oportunidade de re-crutamento na sociedade. Adi-cionalmente, a passagem para o lado do cliente é uma tendên-cia natural e recorrente de quem está nas sociedades de advo-gados (e para aqueles que não querem ou não podem fazer car-reira nestas estruturas)”.A oportunidade estende-se aos estagiários. Grandes empresas e sociedades de advogados con-tinuam a apostar na formação, recrutando “jovens talentos” que ajudam a dar continuidade ao volume de trabalho gerado. Um recém-licenciado pode, nestas circunstâncias, auferir um rendi-mento mensal entre os 1000 e os 1400 euros brutos. Já um advo-gado com mais experiência pode receber na ordem dos 7000 euros brutos.Vasco Salgueiro conclui que “os bons advogados continuam a ter excelentes oportunidades de tra-balho, em Portugal e no estran-geiro, e continuam a ter upgrades salariais interessantes nessas mu-danças profissionais. São as leis de mercado que assim o ditam”.

“na relação custo--benefício da

contratação de serviços jurídicos

externos muitas vezes a decisão económico-

financeira tende para a contratação de um advogado

interno: os custos são comparavelmente menores e muitas

das vezes o facto de o advogado interno

ter uma aproximação ao negócio acaba por

ser uma vantagem competitiva importante”

Vasco salgueiroManager da Michael Page Tax & Legal

“Os bons advogados continuam a ter excelentes oportunidades de trabalho, em

Portugal e no estrangeiro, e continuam a ter upgrades salariais interessantes nessas

mudanças profissionais”

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O agregador da advocacia26 Junho de 2013

www.advocatus.pt

Assiste-se atualmente a uma proliferação de diretórios internacionais refe-renciando sociedades de advogados. Embora alguns desses diretórios se limitem a indicar os contactos das socie-dades de advogados, outros há que recolhem informações sobre as socieda-des de advogados fazendo uma verdadeira avaliação sobre sua performance. Uma vez recolhida essa informação, em geral junto de outras sociedades de advogados e dos próprios clientes, esses diretórios elegem as sociedades de advogados que se destacaram numa área do direito, durante um de-terminado período. São estabelecidos rankings entre as várias sociedades de advogados, por área de atuação, e, nalguns casos, atribuídos prémios àquelas que foram consideradas as sociedades de advogados que mais se destacaram.Não obstante, há que estar prevenido: muitos desses diretórios interna-cionais não efetuam nenhuma pesquisa sobre as atividades desenvolvidas

pelas sociedades de advogados. Limitam-se atribuir relevância a determinadas sociedades de advogados, apenas com o intuito de poste-riormente tentar obter dividendos quanto à pu-blicitação dos prémios que foram atribuídos.Em qualquer caso, a referência das socieda-des de advogados ou advogados em diretó-rios internacionais, para além constituir um elemento de credibilização, em especial, em matérias que requerem um elevado grau de especialização, acaba também por se traduzir, em geral, numa poderosa ferramenta de marketing, que exponencia a reputação das sociedades de advogados e dos advogados que as integram.

Rankings

Meros instrumentos de marketing ou espelho do reconhecimento das sociedades de advogados? O que valem os diretórios internacionais, que peso têm no negócio e no sucesso das firmas? Advogados de seis sociedades apresentam a sua visão sobre a importância dos rankings regularmente divulgados por publicações internacionais do sector. Transversal às várias opiniões, o entendimento de que estes diretórios devem ser olhados com alguma prudência, de certa forma relativizando mas sem ignorar as hierarquias que estabelecem. Em comum também o reconhecimento de que, embora no limite sejam os clientes a escolher, ficar bem posicionamento num destes rankings constitui um cartão de visita credibilizador.

O que valem os diretórios internacionais?

Paulo monteverde Sócio

Credibilização e marketing

BaPtIsta, monteVerDe & assoCIaDos

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Junho de 2013 27O agregador da advocacia

www.advocatus.pt

Os diretórios de advogados são, na minha opinião, uma ferramenta bastante útil, se bem que, da ótica do leitor/usuário, é preciso ter alguma prudência ao consultar os mesmos e saber, de antemão, quais as suas limitações. São uma ferramenta importante, pois funcionam para os respetivos leitores como o primeiro ponto de contacto com o nosso setor e, muitas vezes, como uma autêntica cábula para uma primeira seleção ou uma primeira filtragem, já que dão alguma garantia de qualidade em relação aos profissionais que marcam presença nos diretórios. E se pensarmos bem, a sua importância é ainda maior num setor que tradicionalmente tem muitas limitações na sua publici-dade e ainda mais importante numa lógica recente de internacionalização. É preciso não esquecer que muitos dos diretórios são absolutamente globais, ou seja, oferecem uma informação a número de players que de outra forma

dificilmente eram rastreáveis. É verdade que es-tes diretórios têm algumas lacunas. E também é verdade que funcionam melhor em determinados países do que em outros. Além de muitas vezes oferecerem uma visão incompleta do panorama da nossa classe, a informação disponível é tam-bém superficial e insuficiente. No entanto, desde que se tenha consciência de que os diretórios não podem ser entendidos como um autêntico espe-lho da realidade da nossa profissão, julgo que ser-vem perfeitamente o propósito para o qual foram criados.

No atual contexto económico de recessão e de angústia financeira os diretórios internacionais vêm assumindo um papel de cada vez maior relevância devido ao interesse que a advocacia de negócios vai desper-tando nos media e na sociedade.Os diretórios internacionais funcionam através de rankings onde as So-ciedades de Advogados são avaliadas, podendo ser ou não escolhidas. Escolha essa que assenta inicialmente num processo de análise e inves-tigação que, como todos os processos, é naturalmente falível. O que não quer dizer que os rankings estejam errados. Significa apenas que lhes deve ser dado, como aos prémios atribuídos por publicações especia-lizadas, o seu devido valor. Nem mais, nem menos. Por exemplo, é evi-dente que os rankings e os prémios tendem a favorecer os incumbentes de cada sector, privilegiando as sociedades de advogados mais antigas face às mais jovens e as com mais advogados face às menores.

Inegável é que os diretórios internacionais constituem uma mais-valia para as Sociedades recomendadas na medida em que estas pas-sam a ter uma maior visibilidade face ao públi-co providenciando assim informação adicional aos seus clientes e potenciais clientes das suas áreas de atuação bem como da sua expertise. Na Caiado Guerreiro, sentimos que os prémios e distinções que temos recebido são tidos em conta pelos nossos clientes e por aqueles que seguem as sociedades de advogados de ne-gócios. Nesta área, a advocacia vai-se parecendo com a banca de in-vestimento, onde aparecer nos rankings e ganhar prémios – goste-se ou não- se torna cada vez mais importante.

Quando falamos de Diretórios Internacionais de Advogados, uma ques-tão prévia que deve ser abordada é a sua credibilidade e se de facto fazem uma boa pesquisa para elaborar os seus rankings. Nos últimos tempos têm-se multiplicado os diretórios e literalmente “bombardeiam” os Advogados de e-mails propondo a participação nos mesmos com alguma contrapartida financeira, outras vezes anunciando que o advoga-do ganhou um suposto prémio cuja divulgação fica dependente de uma participação paga em determinado suplemento, na reserva e pagamento de mesa na cerimónia da entrega dos prémios, ou qualquer outro estrata-gema para conseguir algum lucro. Este tipo de propostas coloca em cau-sa a credibilidade e parcialidade destes editores e os respetivos rankin-gs. Há também casos em que os diretórios quase não fazem pesquisa, repetindo-se os mesmos rankings ano após ano. Sem embargo, temos ainda algumas honrosas exceções de diretórios que se esforçam por fazer uma pesquisa imparcial e de qualidade, merecendo reconhecimen-

to pelos advogados e também pelos potenciais clientes. É pois importante para as sociedades e os advogados fazerem por estar presentes e bem colocados nos rankings dos diretórios de referência, submetendo as suas candidaturas de forma que melhor demonstrem o seu traba-lho, uma vez que essa presença significa um reconhecimento público da sua competência e qualidade dos seus serviços. Este facto ga-nha ainda mais relevância no caso de socieda-des e advogados que prestam ou ambicionam prestar serviços a clientes internacionais, uma vez que, não tendo estes clientes o conhecimento local do mercado ou outras referências, é natural que tenham em conta os diretórios da sua confiança no processo de escolha de advogados nacionais.

Bernardo reynolds de Carvalho

Sócio

João Caiado guerreiroManaging Partner

Jorge tavares d’ almeidaMarketing & Business

Development Manager

Uma ferramenta útil

Uma mais-valia

Há diretórios e diretórios

CCa ontIer

CaIaDo guerreIro & assoCIaDos

Cms ruI Pena & arnaut

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O agregador da advocacia28 Junho de 2013

www.advocatus.ptSociedades

Os rankings que diretórios internacionais di-vulgam são um misto de investigação sobre as sociedades de advogados e respetivos ad-vogados nos diversos setores da advocacia e de negociação de espaços publicitários e de eventos pagos. Os diretórios não prestam um serviço aos decisores da contratação jurídica, mas sim às sociedades de advogados, já que o acesso aos rankings é gratuito. A investigação, quando existe (casos há em que as nomeações são simplesmente compradas), depara-se com o sigilo profissional e com a dificuldade em classificar um trabalho jurí-dico. Ela é, de um modo geral, feita à distância e baseia-se em recolhas junto das sociedades (umas mais sérias que outras) e de opiniões junto dos clientes. É, pois, natural que os resultados não sejam reflexo da re-alidade. Acontece que os redatores dos diretórios acabam por confiar mais no volume de transações e na dimensão dos clientes, que em cri-térios de avaliação do trabalho jurídico. Os rankings que ordenam as sociedades pelo valor das transações (onde as sociedades portuguesas aparecem esporadicamente) são mais fidedignos que os rankings que pretendem ser o resultado de uma análise do mercado. Quer isto dizer que os rankings não têm utilidade? Não creio que existam decisores a fa-zer escolhas em função da classificação dos rankings. Mas, estar ou não estar nos rankings pode influenciar uma escolha. Já as sociedades de advogados fazem um grande uso publicitário dos rankings. A Advocatus é, aliás, exemplo pela divulgação que faz destas classificações. Trata-se, mais que tudo, de um fenómeno de marketing.

Há anos um dos vários Diretórios que por aí circulam dignou-se cotar-me como advogado highly recommended no SHIPPING. Sendo cer-to que tinha como cliente uma agência de na-vegação a quem prestava uma diversidade de serviços, mesmo assim e sem falsa modéstia o afirmo, a citação embaraçou-me por nunca ter notado a minha “excelência” na referida área e, sobretudo, por não ver referidos no “ranking” alguns colegas que, eles sim, eram referências pelo seu saber, experiência e mérito incontes-tado. Dito isto gostaria, no entanto, de salientar que não descarto em absoluto a importância que pode ter a referência ao nosso perfil em certos Dire-tórios e a mais-valia que daí possa resultar. Há, no entanto, Diretórios e Diretórios e em alguns, provavelmente poucos, só se aparece depois de ter sido cuidadosamente ponderado o currículo, de ter tido lugar uma entrevista rigorosa e de serem ouvidas as opiniões de colegas e clientes. Diria, então, que tanto quanto sei a referência nestes Diretórios poderia constituir elemento, provavelmente não exclusivo, de ajuda na escolha de advogado.Em qualquer caso, diz-me, também, a experiência que mais importante para nos afirmarmos na profissão é a opinião dos clientes para quem trabalhamos e que estando satisfeitos com o nosso desempenho cons-tituem uma rede sólida e, certamente, mais justa de referências. E tal cir-cunstância até nos faz acreditar que não há “promoção” ou “influência” que resista à qualidade dos serviços que por nós é prestado.

João Vitorino Sócio fundador

César Bessa monteiroSócio

Um fenómeno de marketing Opinião dos clientes é que vale

maCeDo VItorIno & assoCIaDos PBBr & assoCIaDos

“os diretórios não prestam um serviço

aos decisores da contratação jurídica,

mas sim às sociedades de advogados, já que o acesso aos rankings é

gratuito”

“em qualquer caso, diz-me, também, a experiência que

mais importante para nos afirmarmos na

profissão é a opinião dos clientes para quem

trabalhamos e que estando satisfeitos com

o nosso desempenho constituem uma rede sólida e, certamente,

mais justa de referências”

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Junho de 2013 29O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Crédito

Opinião dos clientes é que vale

O Regime Extraordinário de Protecção de Devedores de Crédito à Habitação em Situação Económica Muito Difícil, consagrado na Lei n.º 58/2012, de 9/11, é aplicável às situações de incumprimento de contratos de mútuo celebrados no âmbito do sistema de concessão de crédito à habitação.

“Durante a vigência do plano de reestruturação a instituição de crédito não poderá resolver o contrato de crédito à

habitação nem intentar acções judiciais, declarativas ou

executivas, tendo em vista a satisfação do

seu crédito”

Restruturação da dívida

O Regime Extraordinário de Pro-tecção de Devedores de Crédito à Habitação em Situação Económica Muito Difícil, consagrado na Lei n.º 58/2012, de 9/11, é aplicável às situ-ações de incumprimento de contra-tos de mútuo celebrados no âmbito do sistema de concessão de crédito à habitação.O agregado familiar em causa tem de se encontrar em situação eco-nómica muito difícil. Para preencher este requisito a lei estabelece vários critérios cumulativos, tais como: a) situação de desemprego ou uma redução do rendimento anual bruto igual ou superior a 35%; b) aumento da taxa de esforço superior a 45% ou 50%; c) valor total do património financeiro inferior a metade do ren-dimento bruto anual do agregado familiar. Será ainda necessário que o crédito à habitação esteja garantido por hi-poteca que incida sobre imóvel que seja a habitação própria, permanen-te e única do agregado familiar. Os mutuários que estiverem interes-sados em aceder a este novo regime devem apresentar um requerimento junto da instituição de crédito com quem tenha celebrado o contrato.Este requerimento poderá ser apre-sentado até ao final do prazo para a oposição à execução relativa a cré-ditos à habitação e créditos cone-xos garantidos por hipoteca ou até à venda executiva do imóvel sobre o qual a hipoteca do crédito à habita-ção, caso não tenha havido lugar a reclamação de créditos por outros credores. Com a apresentação deste reque-rimento a instituição de crédito fica impedida de promover a execução da hipoteca que constitui garantia do crédito à habitação até que cesse a aplicação das medidas de protecção previstas na presente lei.

pela instituição de crédito, o mutuá-rio dispõe de 30 dias para negociar e acordar alterações ao plano pro-posto.Durante a vigência do plano de re-estruturação a instituição de crédito não poderá resolver o contrato de crédito à habitação nem intentar ac-ções judiciais, declarativas ou exe-cutivas, tendo em vista a satisfação do seu crédito. b) Medidas substitutivas da execu-ção hipotecáriaEstas medidas são subsidiárias às anteriores e apenas se aplicam quando se verificarem uma das se-guintes situações: i) a instituição de crédito não apresentar uma propos-ta de plano e reestruturação; ii) o mu-tuário recusar ou não formalizar uma proposta de plano; iii) as partes não tenham chegado a um acordo sobre a adopção de medidas complemen-tares, dentro do prazo estipulado. Caso estejam preenchidas estas cir-cunstâncias o mutuário deverá apre-sentar à instituição de crédito, no prazo de 30 dias, um requerimento escrito solicitando a aplicação des-tas medidas. As medidas substitutivas previstas são: dação em cumprimento do imó-vel hipotecado; alienação do imóvel a FIIAH; permuta por uma habitação de valor inferior, com revisão do con-trato de crédito e redução do capital em dívida pelo montante da diferen-ça de valor entre as habitações. c) Medidas complementares ao pla-no de reestruturaçãoEstas medidas são de aplicação vo-luntária. A Lei entrou em vigor no dia 10/11/12 (com excepção do prazo de respos-ta da instituição de crédito) e vigora-rá até ao dia 31/12/15.

*artigo escrito segundo as regras

anteriores ao atual acordo ortográfico.

mariana Polido de almeida

Advogada na BPO Advogados, é licenciada pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e possui

uma pós-graduação em Direito Comercial Internacional, pela mesma

instituição.

A instituição de crédito dispõe de 15 dias para, por escrito e de forma fun-damentada, comunicar ao mutuário o deferimento/indeferimento do seu pedido. As medidas de protecção, que po-derão ser aplicadas isoladamente ou em simultâneo, são: a) Plano de Reestruturação das dívidas emergentes do crédito à habitaçãoNa hipótese da instituição de crédi-to deferir o pedido do mutuário, esta fica obrigada a apresentar uma pro-posta de plano de reestruturação, a suspender automaticamente o pro-cesso de execução e ainda a comu-nicar esse deferimento ao tribunal. Relativamente ao plano de reestru-turação, poderão ser aplicadas uma ou várias das seguintes medidas: concessão de um período de carên-cia; prorrogação do prazo de amor-tização do empréstimo; redução do spread aplicável durante o período de carência; concessão de um em-préstimo adicional autónomo.Após a apresentação da proposta

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O agregador da advocacia30 Junho de 2013

www.advocatus.ptSociedadesEntrevista

A justiça é “claramente uma desvantagem competitiva” em relação a outros países quando os investidores olham para Portugal como potencial destino dos seus investimentos. Quem o diz é Jorge de Brito Pereira, sócio da PLMJ, que defende um pacto de regime no sector. Financeiro e Bancário, Mercado de Capitais e Privatizações são as áreas de prática de um advogado que é um maratonista convicto, músico e, desde 1990, professor universitário.

Justiça é desvantagem competitivaJorge de Brito Pereira, sócio da PLMJ

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advocatus | Que avaliação é que faz das privatizações feitas em Portugal por este governo?Jorge de Brito Pereira | Sem responder numa perspetiva ideo- lógica, parece-me incontestável que o programa de privatizações levado a cabo nos últimos dois anos é um sucesso. A capaci-

dade de, num momento compli-cado como aquele que a econo-mia portuguesa atravessa, atrair investidores com a qualidade e capacidade dos que acorreram aos vários processos conduzidos nos últimos anos e, mais ainda, o facto de estes investidores te-rem proposto pagar prémios mui-

to significativos para adquirir as participações sociais em causa, é um dos maiores sinais de con-fiança no futuro de Portugal a que temos assistido. Note ainda dois factos adicionais. O primeiro, que em mais que uma ocasião o Go-verno teve na sua mão a difícil es-colha entre opções estratégicas

diferentes, todas de elevada qua-lidade e atratividade. Ser spoiled by choice num momento destes é verdadeiramente notável. O segundo, que só as três mais re-centes privatizações – EDP, REN e ANA – geraram um encaixe que é cerca de 800 milhões de euros superior àquilo que o Programa

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Junho de 2013 31O agregador da advocacia

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Justiça é desvantagem competitiva

“Qualquer análise de ciclos económicos não nos deixa dizer que as

coisas nunca voltarão a ser o que eram há cinco anos, mas parece claro que, no curto prazo, o sistema sairá da crise com um perfil muito

diferente”

“a cultura empresarial portuguesa não é muito diferente da

europeia continental, sobretudo daquela que encontramos na europa

mediterrânica. mas esta é muito diferente da norte-americana.

Profundamente diferente”

Jorge de Brito Pereira, sócio da PLMJ

de Ajustamento previa para todo o processo, o que nos dá uma boa perspetiva sobre a forma como os resultados superaram as previsões.

advocatus | a banca tem sido um dos sectores mais fustiga-dos pela atual crise europeia. Como é que o sector vai sair desta crise: mais fortalecido ou diferente?JBP | Ainda é cedo para res-ponder a essa pergunta; apenas podemos tentar adivinhar. A ban-ca sofreu nos últimos anos um conjunto de alterações de con-sequências imprevisíveis. É im-portante tentar por as coisas em perspetiva para tomarmos cons-ciência da magnitude do terramo-to – este foi o tempo da primeira corrida aos depósitos em quase século e meio em Inglaterra; o tempo de transferências massi-vas de créditos e ativos para bad banks em sistemas que estáva-mos habituados a ver como fortes e estáveis como, por exemplo, Espanha, a Alemanha e vários países do centro e norte da Euro-pa; o tempo de uma redução de liquidez no sistema sem exemplo; o tempo de um nível de desinter-mediação financeira como nunca tinha sido visto. A lei, como sem-pre acontece, reage a posteriori e assim, entre a implementação do que ficou acordado em Basel 3 e um forte movimento reformista ao nível da União Europeia, tudo está a mudar. Qualquer análise de ciclos económicos não nos deixa dizer que as coisas nunca voltarão a ser o que eram há cin-co anos, mas parece claro que, no curto prazo, o sistema sairá da crise com um perfil muito di-ferente.

advocatus | o Direito Finan-ceiro e Bancário e o mercado de Capitais são duas das suas áreas de prática. Que avaliação é que faz da regulação destes sectores em Portugal?JBP | Em termos de qualidade técnica, tenho uma apreciação francamente positiva. Sabendo que existiram algumas exceções

“A banca sofreu nos últimos anos um conjunto de alterações de consequências imprevisíveis”

de intervenções verdadeiramente desastradas, é inquestionável a qualidade geral da legislação fi-nanceira produzida em Portugal nas últimas décadas mas, sobre-tudo, desde a aprovação em 1999 do Código dos Valores Mobiliá-rios. Já em termos de estabilida-de, de rumo, de previsibilidade, tenho uma apreciação menos po-sitiva. As sucessivas reformas do sistema, na maior parte dos casos a reboque da iniciativa europeia, produziram uma instabilidade que é prejudicial a um funcionamento eficiente do sistema financeiro.

advocatus | as bolsas dos eua estão a bater recordes, as eu-ropeias têm ganhos mínimos. Como se explica esta diferen-ça?JBP | Não é fácil explicar a dife-

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O agregador da advocacia32 Junho de 2013

www.advocatus.ptwww.advocatus.pt

“só as três mais recentes privatizações

– eDP, ren e ana – geraram um encaixe que é cerca de 800 milhões de euros superior àquilo

que o Programa de ajustamento previa

para todo o processo, o que nos dá uma

boa perspetiva sobre a forma como os

resultados superaram as previsões”

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“O mercado de fusões e aquisições não está adormecido. Está, infelizmente, animado pelo sell side, ou seja, é um mercado em que há muitos a querer vender e poucos a querer comprar”

Entrevista

rença e eu não serei certamente a pessoa indicada para o fazer. Admito no entanto que uma par-te importante da resposta a essa questão passe pelo programa de estímulo à economia que tem vindo a ser aplicado nos Estados Unidos e que é favoravelmen-te avaliado pelos investidores, sobretudo quando comparado com a forma bastante desastrada como a Europa tem lidado com a crise nos últimos anos. A recen-te reação violenta dos mercados norte-americanos ao rumor se-gundo o qual a Reserva Federal vai abrandar a compra de dívida pública permite sustentar a vali-dade desta resposta.

advocatus | a cultura empre-sarial portuguesa é muito dife-rente do resto da europa ou da norte-americana?JBP | A cultura empresarial por-tuguesa não é muito diferente da europeia continental, sobretudo daquela que encontramos na Eu-ropa mediterrânica. Mas esta é muito diferente da norte-america-na. Profundamente diferente. Um grande professor norte-america-no que muito admiro – Mark Roe – tem uma explicação provocadora para as grandes diferenças entre os dois sistemas de corporate go-vernance – os ventos políticos eu-ropeus não são compatíveis com um sistema económico e empre-sarial como o norte-americano. Numa parte, a diferença passará por aí. Mas acaba por se traduzir em tanta coisa em que somos di-ferentes – as estruturas acionistas das sociedades cotadas são mui-to diferentes, com maior concen-tração na Europa continental e maior fragmentação nos Estados Unidos; os problemas básicos da relação entre os administradores e os acionistas são diferentes; a forma como o sucesso e o fracas-so são encarados não tem nada a ver.

advocatus | espera alguma rea-nimação do mercado de fusões e aquisições em Portugal? Para quando?JBP | O mercado de fusões e

aquisições não está adormecido. Está, infelizmente, animado pelo sell side, ou seja, é um mercado em que há muitos a querer ven-der e poucos a querer comprar. Quando assim acontece, há uma grande pressão sobre o preço e sobre as próprias condições da transação; por outro lado, o perfil do comprador muda, surgindo in-vestidores especializados, nome-adamente fundos de reestrutura-ção e investidores com acesso a fontes de financiamento que não estão ao alcance dos investido-res nacionais. Mas, com estas diferenças, o mercado de fusões e aquisições está a funcionar de pode mesmo dizer-se que está animado – note, aliás, que nos úl-timos dois anos a média de tran-sações não tem sido inferiores àquela que existia uns anos antes. advocatus | Portugal é atraente para o investimento estrangei-ro?JBP | A atratividade não é uma categoria absoluta. Temos de nos comparar, como destino de investimento, com outros; com aqueles que são alternativas vi-áveis a Portugal. E aí qualquer avaliação, mesmo que superficial, terá que concluir que, tendo per-dido muito investimento estran-geiro nas últimas décadas, isso será resultado do facto de nos termos transformado num desti-no menos atrativo. Várias razões concorrerão para isso – umas são-nos imputáveis – e eram até bastante previsíveis - e outras re-sultam do facto de outras econo-mias terem conseguido aumentar a sua capacidade de atração de investimento estrangeiro. Existem em Portugal, apesar de tudo, al-gumas exceções – o turismo será uma das mais importantes. Mas, como tendência de médio e longo prazo, estamos num processo de perda de atratividade e será pre-ciso fazermos muito para inver-termos essa tendência.

advocatus | a atual Justiça por-tuguesa “atrapalha” ou “facili-ta” os negócios?JBP | A justiça é claramente uma

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“não tendo conseguido melhorar a eficiência do nosso sistema de justiça –

muito pelo contrário –, hoje, como destino

de investimento, comparamo-nos com países com

sistemas judiciais muito mais eficazes que o nosso e, claro, perdemos duas vezes

na comparação – perdemos por

goleada”

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“Como tendência de médio e longo prazo, estamos num processo de perda de

atratividade e será preciso fazermos muito para invertermos essa tendência”

desvantagem competitiva. É importante ter presente que as-sistimos nas últimas décadas a uma grande alteração de para-digma na forma como o mercado nacional é olhado pelos investi-dores. Durante anos, como destino de investimento, comparávamo-nos com países cujos sistemas judi-ciais eram ainda mais ineficien-tes que o nosso; o nosso era lento, pesado e burocrático, mas mantinha uma imagem de siste-ma sério e respeitado, o que fa-zia com que, no fim de contas, não funcionasse como verda-deira desvantagem competitiva. Ganhávamos na comparação. Não tendo conseguido melhorar a eficiência do nosso sistema de justiça – muito pelo contrário -, hoje, como destino de inves-timento, comparamo-nos com países com sistemas judiciais muito mais eficazes que o nosso e, claro, perdemos duas vezes na comparação – perdemos por goleada.

advocatus | tem uma opinião positiva sobre a atual ministra da Justiça?JBP | Tenho uma opinião muito positiva sobre a atual ministra da Justiça, sendo certo que acho que a avaliação do mandato deve ser feita tendo em conside-ração as condições que a atual ministra tem para o cumprir que, pela negativa, são inéditas. A verdade é que as dificulda-des que o país atravessa são dificilmente compatíveis com um mandato notável. E, apesar disso, muito tem sido feito. É importante perceber que os pro-blemas de que o sistema judicial padece nunca poderão ser re-solvidos por um ministro ou num mandato. É preciso um programa de ação; um plano que atravesse Gover-nos e diferentes partidos. Infeliz-mente a nossa tradição partidá-ria pouco passa por esse tipo de pactos de regime o que faz com que todas as reformas que não sejam coerentes com os ciclos políticos fiquem por fazer.

advocatus | se fosse convidado para ministro da Justiça aceitava o cargo?JBP | Confesso que nem consigo imaginar esse cenário.

advocatus | entre a austeridade e o crescimento qual a “recei-ta” que escolheria para reformar Portugal?JBP | Essa opção, que monopoliza parte importante do nosso debate político, é uma profunda falácia e equivale a dizer que é melhor ser rico, bonito e com saúde do que pobre, feio e doentinho. Por diferen-tes palavras: ninguém no seu juízo perfeito, podendo escolher entre a austeridade e o crescimento, opta pela primeira, e o que se passa em França é disso sinal - mais de um ano depois da eleição de François Hollande, vivemos um momento em que as previsões da OCDE para a economia francesa apontam para não crescimento em 2013 e para crescimento inferior a 1% em 2014. A austeridade não é, evidentemen-te, uma opção em si mesma, sendo antes a decorrência de uma opção maior que passa pela nossa per-manência no euro. Existem, claro, opções a tomar dentro da austeri-dade que vivemos e, infelizmente, muitas delas não têm sequer sido debatidas, o que equivale a dizer que as despesas públicas foram nos últimos anos cortadas de forma transversal e sem qualquer critério que não seja o da redução percen-tual. E isso é mau porque significa que não tomamos opções. A des-pesa é, no essencial, a mesma sob o ponto de vista qualitativo, mas como gastamos menos onde antes gastávamos mais somos piores, menos eficientes e ainda menos assistenciais. advocatus | este ano há eleições para a ordem dos advogados. Costuma seguir o dia a dia da or-dem?JBP | Tenho uma relação difícil com a Ordem dos Advogados e não sou muito visto por lá – creio que a úl-tima vez entrei na sede da Ordem foi na noite em que o José Miguel Júdice, meu Patrono, foi eleito Bas-tonário. Reconheço que a Ordem

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O agregador da advocacia34 Junho de 2013

www.advocatus.ptEntrevista

“tenho uma opinião muito positiva sobre a atual ministra da

Justiça, sendo certo que acho que a

avaliação do mandato deve ser feita tendo em consideração as

condições que a atual ministra tem para

o cumprir que, pela negativa, são inéditas”

“A austeridade não é, evidentemente, uma opção em si mesma, sendo antes a decorrência de uma opção maior que passa pela nossa permanência no euro”

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dos Advogados foi durante muito tempo um notável instrumento de defesa dos direitos, liberdade e garantias dos cidadãos e de pro-moção do acesso ao direito. Re-conheço também que foi veículo de promoção da função social, dignidade e prestígio da profissão de Advogado. Hoje, infelizmente, já não é nada disso - a Ordem foi-se despojando dos seus no-bres papéis e funções para se transformar no que hoje mais a define, ou seja, numa barreira no acesso à profissão que defende quem está no mercado e afasta ou atrasa quem quer nele entrar. Um produto do corporativismo, que se justificou ao longo de dé-cadas por todas as boas razões para além do mero corporativis-mo, acaba como o pior exemplo do corporativismo na atual socie-dade portuguesa. Nunca me revi na Ordem e por tudo isto cada vez me revejo menos.

advocatus | Como é que avalia hoje a formação dos advoga-dos?JBP | A formação dos jovens li-cenciados é profundamente de-sigual; provavelmente mais de-sigual do que alguma vez foi. As boas universidades portuguesas têm um nível de formação técnica cada vez melhor (o que, aliás, a Ordem não reconhece, agarrada que está a uma filosofia de for-mação de juristas com cinquenta, setenta anos e que ainda é por muitos defendida). As más Uni-versidades têm no entanto um nível de formação técnica cada vez pior, mantendo-se agarradas a um estilo de ensino ultrapassa-do que, além do mais, é levado a cabo de forma deficiente. Ensino, como sabe, na Universidade Ca-tólica – a minha escola – e não tenho qualquer dúvida em afirmar que, em regra, um jovem licen-ciado tem hoje melhor formação do que tinha nos anos 80 ou 90. No que ao estágio respeita, essa desigualdade de nível agrava--se mais. Um conjunto de jovens estagiários, por sorte, talento ou vocação consegue fazer exce-cionais estágios; os que não têm

essa sorte fazem estágios mise-ráveis. E a formação institucional da Ordem pouco ou nada ajuda a corrigir essas assimetrias.

advocatus | o que é que o levou a ser advogado?JBP | É difícil responder a essa pergunta. Foi um processo bas-tante natural que, no momento da escolha final, acabou por não me deixar grandes dúvidas no espíri-to.

advocatus | Porque é que esco-lheu as áreas financeiras?JBP | Essa foi uma escolha muito conduzida pelos acasos. Sempre fui curioso e, no estágio, trabalhei em várias áreas completamente diferentes. É provável que a ajuda que dei ao José Miguel Júdice, em 1991, na assessoria à Finantia na OPA concorrente à Sofinloc te-nha sido uma das mais marcantes e tenha ajudado a definir o cami-nho. Daí veio muito trabalho sub-sequente num mercado que esta-va bastante quente, veio a minha tese de Mestrado sobre OPAs uns anos depois, a coordenação da área de mercado de capitais em PLMJ, a docência na Faculdade em várias cadeiras da área do Di-reito Financeiro, etc. Tenho no en-tanto perfeita consciência que as coisas podiam ter sido completa-mente diferentes se as marés me tivessem atirado para outro lado da praia. São processos pouco lineares que por vezes se iniciam com uma mera opção que muda tudo o que lhe sucede.

advocatus | Qual a importân-cia de lecionar? Qual o “valor acrescentado” ao seu dia-a--dia?JBP | Dou aulas ininterruptamen-te desde o 5º ano do curso, em 1990, primeiro na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e agora na Universidade Católica – são quase 25 anos a dar aulas. É uma paixão que me realiza mui-to e que é parte fundamental da forma como vejo a minha vida profissional. Equilibra-me, obriga--me a trabalhar com o Direito de forma mais sistemática e menos

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Junho de 2013 35O agregador da advocacia

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“o gosto pela música vem de sempre e é uma paixão que se reflete no meu dia a dia. Dito isto,

deve ser salientado que a música é uma atividade para a qual tenho muito pouco

talento, o que só abona a favor do luís Pais

antunes e dos outros membros da banda”

“Desde há cerca de seis anos que corro duas maratonas por ano, sempre no

estrangeiro, uma na primavera e outra no outono”

advocatus | Que maratonas é que vai fa-zer este ano?JBP | Desde há cerca de seis anos que corro duas maratonas por ano, sempre no estran-geiro, uma na primavera e outra no outono. Este ano, em março, já corri a Maratona de Paris e no outono, pela primeira vez, vou apostar em Lisboa e no projeto de termos uma grande maratona internacional na ci-dade de Lisboa. É um projeto que tem tudo para dar certo.

advocatus | Como é que alguém que nun-ca tinha corrido começa a correr aos 39 anos e fica fã?JBP | Nem lhe sei bem explicar. A primei-ra maratona resultou de duas motivadoras conversas em momentos diferentes – uma com um aluno e outra com um cliente – em que ambos me diziam que uma maratona é apenas, ou sobretudo, um exercício de força de vontade. Acabei por me impor o desafio

de correr uma maratona antes dos 40 anos, naquilo que foi provavelmente um efeito da crise dos 40. A verdade é que podia ter sido pior. A segunda foi por amizade ao meu cunhado e um grupo de amigos que prome-ti acompanhar na sua primeira maratona. A partir daí ficou o gosto e a vontade de cum-prir a disciplina que me imponho duas vezes por ano.

advocatus | Porque é que chamou à sua banda de música “Fora da lei”? Quando é que a fundou?JBP | O nome da banda foi dado pela Mada-lena Aguiar e, claro, tem a ver com o facto de sermos todos Advogados. Gosto muito do nome, mas teria preferido aquela que era a minha primeira proposta – “37 graus não é febre”. Falando mais a sério, é uma brinca-deira de vários amigos que gostam muito de música e de outros que são nossos amigos e por isso nos ouvem e que começou há cerca

de cinco anos para o Rock & Law. Diverte--nos muito.

advocatus | Qual a sua inspiração para as letras das canções?JBP | Tenho muitas dúvidas que as minhas letras sejam inspiradas ou seriam certamente melhores.

advocatus | Como é que nasceu o gosto pela música?JBP | O gosto pela música vem de sempre e é uma paixão que se reflete no meu dia a dia. Dito isto, deve ser salientado que a música é uma atividade para a qual tenho muito pouco talen-to, o que só abona a favor do Luís Pais Antunes e dos outros membros da banda que, ao atu-rar-me, estão a fazer um enorme investimento na probabilidade de alcançarem o Paraíso. Mas também por isso tenho mais vontade de tocar. Dá-me mais trabalho que aos outros para fazer o mesmo, mas dá-me muito prazer.

Das maratonas aos fora da lei

hoBBIes

parcial em relação ao resultado, desafia-me e traz-me um con-junto de realizações que a minha vida como Advogado, por si só, não traria. Acho que este contri-buto para a minha felicidade é o verdadeiro “valor acrescentado”.

advocatus | Como se interes-sou por escrever um livro com o título “Contratos de organiza-ção Comercial no Direito ango-lano”?JBP | Em 2003, meses após o fim da guerra em Angola, atravessei Angola num pequeno Suzuki Vi-tara com dois amigos, dois por-tugueses e um angolano. Come-çamos em Luanda, atravessamos o Bengo e boa parte do Cuanza Norte e do Cuanza Sul e daí fo-mos até à ponta Sul do país, perto da Namíbia. Escuso de lhe dizer que foi uma viagem muito emocionante - a Angola que exis-

tia em 2003 era muito diferente da Angola dos dias de hoje; as mar-cas da guerra estavam presentes de forma muito vívida por todo o lado, das pessoas à paisagem; o estado das estradas estava para lá de qualquer descrição e a desminagem ainda era muito insuficiente; inexistiam muitas infraestruturas básicas fora das grandes cidades. Quando re-gressei a Lisboa quis deixar uma marca dessa viagem e foi daí que veio a ideia do livro. Tenho pena de não saber pintar ou escrever um romance; se o soubesse era isso que provavelmente teria fei-to. Note que, apesar de ter um enorme fascínio por África, não tenho qualquer ascendência afri-cana nem tinha na altura qual-quer relação profissional com Angola. A minha relação subse-quente com Angola acabou por ser uma outra coincidência.

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O agregador da advocacia36 Junho de 2013

www.advocatus.ptJet Advocatus

Dar a conhecer a oferta da Faculdade de Direito da Universidade Católica Portuguesa (Escola de Lisboa) e da Católica Global School of Law ao nível dos mestrados e LL.M foram os objetivos da edição de 2013 do Open Day. Trata- -se de um espaço de diálogo e conhecimento que envolve alunos, advogados e professores e que conta com a parceria de várias sociedades de advogados.

Mestrados e LL.M em Open Day

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Junho de 2013 37O agregador da advocacia

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Mestrados e LL.M em Open Day

Passaporte

Um pouco de paciência, polivalência q.b. e vontade de saber mais sobre o país: esta é a fórmula que a associada da Vieira de Almeida & Associados nadia Crujeira da Costa recomenda para quem quer exercer a profissão em Timor-Leste.

Advogar num país jovem

Poderia dizer-se que advogar em Dili é pratica-mente igual a advogar em qualquer outro país de língua portuguesa, mas estaríamos a resumir a experiência a muito pouco. Advogar em Dili é um exercício de paciência, polivalência, vontade de conhecer a cultura do país e de ser parte activa na sua educação para o desenvolvimento. Timor-Leste é um país em crescimento e áreas como o petróleo e as infra-estruturas afirmam--se como motores de um desenvolvimento que se espera florescente. Também outros sectores registam uma enorme evolução. Em 2012, o mercado das telecomunicações viu-se liberali-zado, o que permitiu a uns poucos juristas privi-legiados (como eu própria) participar num mun-do novo de concorrência e regulação. Tal como muitos outros países de expressão portuguesa, a legislação timorense tem muito da nossa, embora haja um esforço admirável na busca por um sistema legal próprio, adequado e independente. A maior diferença assentará nos mecanismos que – como também seria de espe-rar – não são os mesmos e, mais importante ain-da, no mindset comum em Timor-Leste que está

muito longe do dos países do mundo ocidental. Antes de mais, Timor é um país jovem, dos mais jovens do mundo, e tão jovem quanto o país é o seu sistema judicial. Aquando do final da ocu-pação indonésia, o sistema judicial instalado en-contrava-se totalmente em ruínas e Timor-Leste via-se a braços com a inexistência absoluta de juízes, procuradores ou advogados – funções vedadas aos cidadãos timorenses durante a ocupação –, e com uma legislação rejeitada pela população local e em choque com os Direitos Humanos internacionalmente reconhecidos. Em 10 anos pode ver-se nascer um sistema que, embora resultante de um louvável esforço, se depara com obstáculos diários de concre-tização. Se a falta de experiência dos agentes judiciais locais, a inexistência de juízos especia-lizados em razão da matéria (com raras excep-ções), a inexistência de determinados tribunais embora referidos na lei (o caso do Supremo Tribunal de Justiça no Código de Processo Ci-vil) e a necessidade de apoio intenso e contí-nuo de especialistas internacionais constituem atualmente um problema, maior problema é a

relação difícil que o povo timorense tem com a justiça como a conhecemos e como a pre-tendemos. Este é um povo habituado à justiça tradicional e imediata – sucedem-se casos de “justiça pelas próprias mãos”, o que não pode-mos estranhar num país onde mais de metade da população não está familiarizada, sequer, com o conceito de tribunal. Não é por acaso que a prisão preventiva em vez de excepção, se tornou regra. A capacitação do sistema judi-cial impõe-se e constitui, felizmente, uma prio-ridade do Governo. Na verdade, e em súmula, para advogar em Timor-Leste é necessário ser mais do que um advogado. É necessário ser abrangente, proac-tivo, entender em pleno o negócio das empre-sas que se representa e o seu posicionamento neste país. É também e ainda assumir-se como responsável por ensinar, por mostrar que mais do que um bom, há o melhor caminho. E pode ser deles.*

*Artigo escrito segundo as regras do anterior acordo

ortográfico.

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O agregador da advocacia38 Junho de 2013

www.advocatus.ptwww.advocatus.pt

antónIo VItorIno é o novo sócio res-ponsável pela coordenação do departa-mento de Di-reito Europeu e da Concorrên-cia da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira. O advogado, ex-ministro e ex-comissário europeu, detém uma longa experiência e reco-nhecimento nestas matérias. A nomeação é apresentada como representando mais um passo na aposta do desenvolvimento da área de Direito Europeu e Con-corrência.

luís gonçalVes Da sIlVa é o novo consultor da Abreu Ad-vogados. Mes-tre em Direito e fundador dos Institutos de Direito do Trabalho e de Direito do Consumo da Faculdade de Direito de Lisboa (FDUL), o jurista integrará a área de prática de Direito do Trabalho.

JoaQuIm FreItas Da roCha é o novo reforço da equipa da TLCB Advoga-dos. O jurista irá integrar o departamento de Direito Fiscal, como consultor. Atualmente, é professor univer-sitário da Escola de Direito da Universidade do Minho.

oCtáVIo Castelo Paulo (SRS Advogados) foi eleito le-ading adviser na área de TMT (Telecomunicações, Media e Tec-nologia), na edição de 2013 do Global Leading Advisers 100. A distinção foi atribuída pela publi-cação internacional DealMakers, que elege anualmente os 100 melhores consultores em várias áreas de prática.

Firmas de advocacia recrutam para áreas processuais e laborais

TLCB Advogados reforça equipa de Direito Fiscal

A relevância da perícia psicológica na avaliação do dano cor-poral

Linklaters elege novo sócio para escritório de Lisboa

Processo de Inventário 2.0 beta

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Esta é a principal mais-valia que o sócio presidente da Miranda, Agostinho Pereira de Miranda, retira da recente distinção da so-ciedade nos prémios UK Trade Investiment. A firma foi reconhe-cida pelo governo britânico com o prémio “Business Internationa-lization”, sendo a única socieda-de de advogados a conquistar este galardão. Em declarações ao Advocatus,

Agostinho Pereira de Miranda re-feriu que a sociedade pode ago-ra ser escolhida como “o parcei-ro de primeira escolha para as empresas britânicas”. O Business Internationalization Award é atribuído anualmente pelo governo britânico às empre-sas que escolhem o Reino Unido como mercado chave nas suas estratégias de expansão interna-cional.

miranda “certificada” para ser parceira de empresas britânicas

TLCB Advogados reforça equipa de Direito Fiscal

Miranda reconhecida pelo governo britânico

Garrigues eleita firma fiscal do ano pela quarta vez consecutiva

Ministério da Justiça não consegue diminuir pendências

Pecados de uma reforma

manuel Barrocas publica obra sobre arbitragem

O advogado e sócio fundador da Barrocas Advogados, Manuel P. Barrocas, é o autor da obra com o título “Lei da Arbitragem Comentada”, uma edição da Livraria Al-medina. O especialista nesta área analisa e comenta a Nova Lei Portuguesa da Arbi-tragem Voluntária (LAV).Este livro junta-se ao “Manual de Arbitra-gem” publicado em 2010 pelo advogado e que constituiu a primeira obra do género em Portugal. Este trabalho foi também pu-blicado no Brasil.

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Junho de 2013 39O agregador da advocacia

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team genesis, a nova equipa da mlgts

A Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados (MLGTS) lançou a Team Ge-nesis, uma nova equipa multi-disciplinar vocacionada para o aconselhamento jurídico na área da inovação e do em-preendedorismo. O grupo irá assessorar start-ups e Peque-nas e Média Empresas (PME), aconselhar business angels e ainda empresas capital de risco institucional (venture capital e private equity). A Team Genesis será constituída por advogados especializados em diferentes áreas do Direito, com o intuito de poder respon-der a clientes de qualquer sector de atividade, inclusive desde o início do projeto, nomeadamente na preparação e apresentação de candidaturas a financiamen-tos públicos e privados, nacio-nais e comunitários.Os clientes da Team Genesis te-rão acesso às plataformas e re-des de contactos internacionais da sociedade, em que incluem os escritórios que constituem a MLGTS Legal Circle (Angola, Moçambique e Macau) e a rede internacional Lex Mundi.

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O agregador da advocacia40 Junho de 2013

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A Garrigues voltou a ocupar a pri-meira posição do ranking “The Lawyer’s European 2013 – Euro 100”, elaborado pela publicação in-ternacional The Lawyer. A firma foi novamente designada como líder do mercado na Europa Continental, tendo conquistado uma faturação de 337,6 milhões de euros em 2012. A sociedade mantem-se como maior firma legal da Europa Conti-nental, quer em faturação, quer em número de colaboradores. Entre as áreas do escritório que mais se de-senvolveram no ano passado, des-

taque para os departamentos de Fiscal, Laboral e Reestruturações & Insolvências.Numa análise geral, a Alemanha continua a ser o maior mercado legal da Europa Continental com uma faturação agregada dos escri-tórios alemães presentes no “Euro 100” a somar os 1.500 milhões de euros.Contudo, a Garrigues (1º lugar) e o escritório francês Fidal (2º) são as únicas firmas independentes que apresentam uma faturação supe-rior a 300 milhões de euros.

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garrigues consolida posição de liderança na europa

srs apoia projeto de inclusão social CDI Portugal

PlmJ e FDuCP firmam parceria em prol da formação

A Faculdade de Direito da Univer-sidade Católica Portuguesa (FDU-CP) – Escola de Lisboa e a PLMJ estabeleceram um protocolo de co-laboração na área da formação es-pecializada a cargo da Católica Glo-bal School of Law (CGSL). A parceria visa a formação dos advogados da PLMJ pela CGSL e o apoio da so-ciedade à edição de 2013-2014 do mestrado em Direito Fiscal da UCP. O protocolo irá interligar o Centro de Formação Excelentia PLMJ com a Universidade Católica Portuguesa (UCP), prevendo a colaboração em matérias de formação e apoio a programas específicos da FDUCP e da CGSL.Os advogados da PLMJ terão acesso a um programa exclusivo

de formação, conduzido por pro-fessores da CGSL, que contempla profissionais de universidades in-ternacionais.No âmbito desta parceria, foi já elaborado um programa de forma-ção feito à medida dos advogados e que terá a duração de um semes-tre, com seis módulos, sob o tema: Global Business Programme.O acordo prevê ainda o apoio ao mestrado de Direito Fiscal por PLMJ, único parceiro da edição 2013-2014, que arranca em Setem-bro. Este programa contará com a colaboração da sócia de Direito Fis-cal Serena Cabrita Neto.A sociedade terá ainda um sócio como representante no Advisory Board da CGSL.

A SRS Advogados é uma das en-tidades que apoia o lançamento do projeto CDI Portugal – Centro de Inclusão Social, da Microsoft, ao qual irá prestar assessoria ju-rídica. Esta iniciativa tem como missão mobilizar e transformar comunidades, em particular com jovens provenientes de contextos socioeconómicos desfavorecidos, através da utilização da tecnologia. O CDI pretende criar uma rede na-cional de centros de inclusão digi-

tal beneficiários. O centro piloto si-tua-se no Bairro da Bela Vista, em Setúbal, e está já a ser preparado o lançamento do segundo piloto, em Vale de Cambra, Porto.A ambição do CDI é vir a gerir, com metodologia própria, uma rede de centros de inclusão digital em Por-tugal, expandindo-a para escolas, prisões e outros locais onde a tec-nologia possa reconverter e abrir novas oportunidades para os mais jovens.

Italian Desk será plataforma para investimentos em áfrica

Melhorar o serviço aos clientes italianos em Portugal e dar-lhes acesso à PLMJ Network são os principais objetivos da PLMJ ao lançar a Italian Desk. A coorde-nadora do projeto, a sócia fiscalista Sere-na Cabrita Neto, referiu ao Advocatus que esta desk poderá servir como plataforma para os investimentos italianos em países como os da África lusófona.A equipa será também composta pelas advogadas Marta Costa e Célia Vieira de Freitas, do escritório da PLMJ em Lisboa e por Renata Valenti, advogada de origem italiana que trabalha no escritório asso-ciado de PLMJ em Angola – GLA - Gabi-nete Legal Angola.

César Bessa monteiro preside a grupo português da aIPPI O sócio fundador da PBBR, César Bessa Monteiro, foi o escolhido para desempenhar o cargo de presidente da direção do grupo português da Associação Interna-cional para a Proteção da Proprie-dade Intelectual (AIPPI). O grupo português da AIPPI foi criado em 1975 e conta atualmente com cer-

ca de 100 membros. A AIPPI é a organização não governamental dedicada ao desenvolvimento e estudo da Propriedade Intelectu-al, no qual se incluem as patentes, as marcas e os Direitos de Autor. Congrega cerca de nove mil mem-bros, que representam mais de 100 países.

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Junho de 2013 41O agregador da advocacia

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A gestão das sociedades de advogados, a responsabilidade dos administradores ou a aplicação da multidisciplinaridade foram temas em debate, em maio, no Direito a Falar, com o contributo de vários advogados. Lugar ainda para uma entrevista de vida, com José Carlos Soares Machado.

Atualidade em debate

Televisão

O excesso de advogadosO excesso de advogados é, atualmente, o maior problema da advocacia em Portugal, na perspetiva do sócio da SRS José Carlos Soares Machado. O advogado, que conta com mais de 35 anos de carreira, decidiu agora enve-redar por um novo desafio – candidatar-se à presidência do Conselho Geral da Ordem dos Advogados. Uma decisão que tomou por considerar que este é um órgão muito importantes para os advogados. Relativamente às eleições para bastonário, o sócio da SRS acredita que o número de candidatos reflete a falta de pacificação que tem existido nos últimos anos. E espera que, com um novo bastonário, o futuro seja diferente, de preferência mais pacífico.

Gestão em tempo de criseNo ano em que a JPAB – José Pedro Aguiar-Branco & Associados comemora uma década, o sócio fundador Pedro Botelho Gomes e a associada Joana Silva Aroso abordaram como se gere uma sociedade em época de crise. Pe-dro Botelho Gomes considerou essencial o foco no cliente e na defesa dos seus interesses, defendendo, numa perspetiva económica, que as firmas de advocacia devem ter as mesmas cautelas que outras empresas. Já Joana Silva Aroso afirmou que a principal mudança se registou no tipo de clientes, que deixaram de ser essencialmente empresas para predominarem os parti-culares.

Responsabilidade pessoal dos administradores A responsabilidade pessoal dos administradores de empresas esteve em de-bate, com os contributos dos advogados da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira José de Freitas e Pedro Sousa Machado. Os juristas apresentaram situações em que os administradores podem ser chamados a responder pessoalmente, a nível penal, civil, ambiental e fiscal, devido às decisões que tomam quando dirigem o destino de uma empresa. Na perspetiva de José de Freitas, os ad-ministradores não têm plena consciência da atividade que desempenham e das responsabilidades que isso acarreta: Já Pedro Sousa Machado acredita que os administradores sempre estiveram bem informados, principalmente a nível fiscal. Isso leva-os a tentarem precaver-se.

Consequências da multidisciplinaridade na advocaciaA multidisciplinaridade na advocacia integra a proposta de revisão do Estatuto da Ordem dos Advogados. Direito a Falar ouviu Vasco Marques Correia, presi-dente do Conselho Distrital de Lisboa da Ordem dos Advogados, Jaime Mar-tins, vice-presidente do mesmo organismo, Jorge de Abreu, sócio fundador da Abreu & Marques e Associados, e o advogado em prática individual Luís Paulo Relógio. Vasco Marques Correia classifica a multidisciplinaridade como o “cancro da advocacia”, considerando-a algo “perigoso”, pois – sustenta - a advocacia tem uma lógica que a distingue das outras atividades, isto é, não é mercantilista. Visão partilhada por Jaime Martins, que acrescenta que os advogados têm um conjunto de incompatibilidades como forma de manter a independência. Luís Paulo Relógio acredita que o que está em causa é, acima de tudo, o “interesse público”. Sendo um dos pilares da advocacia o segredo profissional, o conflito ético e na relação com o cliente poderá colocá-lo em causa. Por fim, Jorge Abreu alertou para o facto de os advogados não pode-rem trabalhar “paredes meias” com aqueles que praticam profissões que não estão sujeitas às mesmas regras.

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O agregador da advocacia42 Junho de 2013

www.advocatus.ptO livro de…

O tema que me é proposto “o livro da sua vida” é nuvem ciclópica para quem já com a minha idade tem na leitura um dos seus maiores prazeres. Seria fácil indicar uns quantos do universo das minhas leituras, destacando: o Quarteto de Alexandria, os Maias, o Livro do Desassossego, Garcia Lorca, Jorge Amado, Graham Greene, Faulkner, Fitzgerald, Steinbeck, Hemingway, So-merset Maugham, Camus, Russel, Coetzee, Mishima, Garcia Marquez, Vargas Llosa, Bolaño e Phillipp Meyer. Porém, a escolha que me impus busco-a somente em recentes ficções, afastan-do as biografias e o atinente a áreas específicas por as entender fora do proposto.Desse crivo, mas sempre hesitante, opto por “As velas ardem até ao fim”, de Sándor Marai, es-critor húngaro emigrado nos Estados Unidos após a chegada do regime comunista.Porquê? Cultivando a amizade como forma segura da tranquilidade do espírito e da necessida-de de vivermos muito para e no sentimento dos outros, não podia deixar de me sentir envolvido, ao viver neste fascinante romance a tão sensível reflexão sobre a amizade, num mundo que poderá não regressar mais, encerrando-se, por vezes, com a simples perda de um amigo.É um verdadeiro poema que abarca também as paixões que jamais se lhe sobrepõem.O diálogo fascinante, cheio e saudoso de dois velhos amigos de personalidades bem diferentes que se reencontram para jantar e questionar ao fim de inúmeros anos, após uma juventude vivi-da como irmãos, enche, pela sua profundidade, a esperança a que todos aspiramos de um dia podermos ter essa reflexão, superando paixões, falsidades e afastando a implícita vontade de agredir quem muito amamos. Só ao recuperar toda uma vida, que não o ato isolado que a não mostra, bem como ao senti-la nos factos que a constituem encontram a resposta às dúvidas persistentes de quarenta anos, renovando a alma, o coração e a vida para o que dela resta. Um diálogo/monólogo imortal.

João Nuno Azevedo Neves

João nuno azevedo neves

Sócio da ABBC & Associados.Licenciado pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Trabalha

principalmente nas áreas de Contencioso e Arbitragem.

sándor marai: “As velas ardem até ao fim”

editora: Dom Quixote – 2001

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Junho de 2013 43O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Office with a view

Com o mar no horizonte

Sempre que olha pela janela, Sara Castro Tavares tem o privilégio de poder observar a praia. Por vezes, acaba por se perder a descobrir a imensidão do mar, cortada pelos barcos que navegam rumo ao porto de Leixões. Para a advogada da Azevedo, Brandão & Associados (ABA) é “impossível ficar indiferente a esta vista”. O mar é o elemento que destaca, pois “representa um infinito inatingível” e permite que cada um se lembre da pequenez e da fragilidade do ser humano perante a força deste elemento. Os advogados trabalham largas horas, por isso Sara considera a vista que tem da janela uma aliada. “É a nossa maior aliada em momentos de maior tensão e stress, assim como quando necessitamos de redescobrir a nossa inspiração e concentração”, afirma.A vista foi preponderante na escolha da localização do escritório no Porto. Na perspetiva de Sara, consegue reunir tudo o que a sociedade pretendia, pois, apesar de estar longe da “azáfama do centro da cidade”, está próximo do que a equipa necessita, tendo a “tranquilidade” como mais--valia. “Quando estamos a trabalhar e sentimos “necessidade” de olhar pela janela, normalmente, es-tamos a apelar à inspiração, na medida em que o mar e a natureza representam o expoente máximo da liberdade que se transpõe, muitas vezes, para o nosso trabalho, ao nível da liberdade intelectual que deverá caracterizar o trabalho de um advogado”, explica.Como vista ideal não consegue imaginar uma melhor do que a do litoral português. Para Sara, as praias e as esplanadas são os melhores sítios para apreciar o melhor que a natureza de Portugal tem para dar.

sara Castro tavaresAdvogada da Azevedo, Brandão &

Associados

nFac

tos

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O agregador da advocacia44 Junho de 2013

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manuel Falcãodiretor-geral da Nova Expressão

Restaurante

Assumidamente carnívoro

Durante uns anos Kiko e Maria Mar-tins dedicaram-se à viagem e des-coberta e foram provando petiscos pelo mundo fora. Das suas viagens e experiências deram testemunho no Expresso e no site eattheworld.com - mais tarde passado a papel no livro “Comer o Mundo”. Desde há pouco tempo a experiência dos dois passou da escrita para a prática e abriram “O Talho”, na rua que sai do largo de São Sebastião da Pedreira, ao Quartel General, e sobe para fren-te ao El Corte Inglés. Kiko Martins é um cozinheiro com provas dadas, passou pelo Eleven e pelo Estufa Real e aperfeiçoou a sua arte em Pa-ris. A páginas tantas apaixonou-se pelas várias formas de cozinhar car-ne, desde o Brasil à Ásia, e essa foi a razão de ser deste seu novo projeto, assumidamente carnívoro. Em mar-ço passado abriu finalmente o seu restaurante, “O Talho”, de seu nome completo “O Talho, Parte & Reparte”.Primeiro uma descrição do local - à entrada está verdadeiramente um talho, onde se pode comprar carne para levar para casa, desde rolos temperados até rosbife asiático - mas também salsichas frescas e várias outras qualidades e cortes das melhores carnes. No balcão um talhante está pronto a satisfazer os seus pedidos especiais. Nas pra-teleiras vários acompanhamentos preparados (como um puré de ba-tata com manteiga noisette), azeites, molhos, batatas fritas estaladiças, queijo de Azeitão e vinho. Desta par-te do talho pode levar para casa uma

refeição - que pode incluir petiscos como croquetes de cozido à portu-guesa ou empadas de cabidela, que, em querendo, também lhe serão da-dos a provar no restaurante.Logo a seguir entra no restaurante, uma bela sala muito simpática, com uma decoração simples e criativa que inclui paredes de garrafas vazias e pratos sortidos, mas também má-quinas de picar carne manuais (está uma bela coleção logo à entrada) ou fiambreiras domésticas antigas. Descendo por uma escada forra-da a tampas de caixas de madeira dos melhores vinhos portugueses, chega-se à garrafeira, onde se pode

escolher o vinho para a refeição - ou aceitar a sugestão da casa, em vi-nho a copo, que é boa. Na sala há duas mesas grandes que podem receber grupos de dimensão variável - de dois a doze. O serviço é muito simpático e atencioso. A dimen-são das mesas é boa, as cadeiras são invulgares e muito confortáveis, com uma clara influência asiática, e a luz é adequada. Pormenor muito importante: a acústica é ótima, não há sons estridentes e não se ouve a cacofonia infelizmente habitual nos restaurantes. Existe um menu de almoço a preços mais módicos (e destaco o hambúr-

o talhoRua Carlos Testa 18

www.otalho.pt ou no FacebookTelefone 213 154 105

Encerra ao domingo, aberto de segunda a sábado entre as 10H30 E

AS 24H

Jamie Cullum - momentum

BanDa sonora

Ao seu sexto disco Jamie Cullum largou a onda do jazz mais tradicional e atirou-se com a melhor das poucas vergonhas ao pop mais descarado. Neste disco Cullum passa dos clássicos do jazz vocal para um território que fica entre os sons dos Cold-play e algumas incursões descaradas no hip hop e no funk - como se percebe pela sua versão de um clássico de Cole Porter, “Love For Sale”, onde in-troduz um sample da voz de Roots Manuya, tudo pontuado pelo solo do próprio Collum num Fender Rhodes - aliás a sonoridade dos sintetizadores dos anos 70 é parte integrante do conceito de pro-dução do disco. Jamie Cullum passa de uma faixa para outra com uma energia que nalguns momen-tos evoca os bonecos da publicidade das pilhas

Duracell. Esta música é inevitavelmente feita para ser dançada e é garantido que este disco fica desde já eleito como a banda sonora ideal para cocktails de fim de tarde - evocando aqueles momentos em que o jazz não tinha vergonha de ser pop e dançável. É justo destacar temas como “The Same Things”, logo a abrir o disco, baseada em sonoridades de Nova Orleães, mas também a percussão de “Edge of Something”, ou “Anyway” e “Take Me Out (Of Myself). Para rematar sugiro uma balada arrasa-dora que dá pelo nome de “Save Your Soul”.

guer nas várias variedades que a casa proporciona). À noite guia-mo-nos pela carta que está em evolução e que em breve incluirá leitão Ah...- e esquecia-me de dizer que os talheres são negros. Invulgares e curiosos.A minha experiência, ao almoço e jantar, correu sempre bem. O almoço é naturalmente mais mo-vimentado, mas à noite, mesmo num dia de semana, a casa é ani-mada q.b. Ao almoço experimen-tei o novo burguer manjerico (feito em honra ao mês de junho), mas ao jantar a coisa foi mais séria. Começámos por um foie gras, que estava magnífico na forma como foi servido e muito bem acom-panhado por um branco Quinta do Romeu, a copo. A seguir veio um rosbife asiático com algas e cebola e uma posta alta e sucu-lenta de vitela maronesa, acom-panhada de salada e batata frita - tudo isto na companhia de um tinto Quinta do Mouro, também a copo, e boa sugestão da casa. A rematar, a sobremesa foi um bolo de chocolate com gelado de pistachio. Devo ainda confessar que o miminho que o chefe ofe-receu logo no início da refeição ajuda e bem a entrar no ambien-te da casa. Bem vistas as coisas o jantar para duas pessoas ficou cerca dos setenta euros e o al-moço, solitário, andou um pouco abaixo dos 20 euros.

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Junho de 2013 45O agregador da advocacia

www.advocatus.pt Montra

Branco, para horas mais clarasÉ o primeiro relógio da Officine Panerai com um mostrador branco. Des-

portivo, o Luminor Marina 1950 3 Days Automatic mantém a caixa em aço inoxidável. Sobre o branco, sobrepõem-se números pretos de grande di-

mensão que permitem a máxima claridade e legibilidade. Resistente à agua, apresenta-se com uma correia castanha em pele de crocodilo com fecho de

aço escovado e é fornecido com uma ferramenta especial para substituir a correia e uma chave de parafusos de aço.

um perfume para usar ao sol

O uso de produtos solares bem sempre é compatível com a utilização habitual de um perfume clássico. Não era, pelo menos, porque a Lancaster concebeu um perfume inédito, exclusivamente para o verão e que se pode usar ao sol. Eau de Toillete Sum-mer Splash é a resposta para quem quer tirar partido do sol sem abdicar de um toque perfumado.

escrita de luxo

A visão noturna e mística do lago Léman, situado na fronteira entre a França e a Suíça, serviu de inspiração ao mais novo elemento da “família” Caran

d’Ache – a coleção Léman Noir Matte. Disponível em caneta, roller, esfero-gráfica e lapiseira, combina o preto fosco com o prateado banhado a ródio e a assinatura Caran d’Ache. Esta coleção vem reforçar, assim, a qualidade

suíça e a sua pormenorizada produção nos ateliers de Genebra.

Vintage progressivo

Cor e um revivalismo vintage. Estas são as tendências que inspiram a coleção feminina primavera-verão da Fly London. Interpretadas numa perspetiva pro-gressiva e nunca convencional, são transpostas para sapatos e malas em que predominam as combinações de cores - laranja, verde-musgo, branco, azul petróleo e turquesa – num design revivalista.

Clássicos reiventados

Entre o retro e o futurista, a Ray-Ban acaba de relançar o Clubmaster, o modelo mais icónico da marca agora em duas edições exclusivas: uma em alumínio e outra dobrá-vel. Com origens entre os anos 50 e 60, surgem agora com novos materiais e um de-

sign mais contemporâneo, em que é dada maior atenção aos detalhes técnicos

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O agregador da advocacia46 Junho de 2013

www.advocatus.ptOs filmes de ...

Sócio da área de TMT da PLMJ

Manuel Lopes Rocha

O sócio da PLMJ Manuel Lopes Rocha é um apaixonado por cinema. Os filmes antigos que retratam histórias de vida ocupam o top cinco das escolhas cinematográficas do especialista em Propriedade Intelectual.

título: A Terra Treme (La Terra Trema), 1948realizador: Luchino ViscontiProtagonistas: Luchino Visconti, Antonio Pietrangelihistória: Aci Trezza é uma pequena aldeia, no sul da Sicília, em que os pescadores são forçados a vender o fruto do seu trabalho a grossistas sem escrúpulos. Até ao dia em que António se revolta e decide iniciar um negó-cio por conta própria. No entanto, a “nova vida” não irá ser mais fácil que a anterior…

01título: O Mundo a seus pés (Citizen Kane), 1941realizador: Orson WellesProtagonistas: Agnes Moorehead., Dorothy Co-mingore, Joseph Cotten, OrsonWelleshistória: Charles Foster Kane é um magnata da im-prensa que começou do zero mas conseguiu construir um império e tornar-se multimilionário. Ao morrer, a última palavra que profere é “Rosebud”. Um jovem jornalista acredita que pode ser a pista para um gran-de mistério e não descansa enquanto não o descobre.

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título: Rocco e seus irmãos (Rocco i suoi fratelli), 1960realizador: Luchino ViscontiProtagonistas: Alain Delon, Claudia Cardinale, Renato Salvatorihistória: Uma família siciliana à procura de uma vida melhor decide mudar-se para Milão. No entanto, a sor-te teima em não sorrir para a viúva Rosaria e os cinco filhos Rocco, Ciro, Luca, Simone e Vincenzo na “grande cidade”. Apesar de todas as dificuldades, o que vai ditar a destruição da família é a luta de dois dos irmãos pela mesma mulher.

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título: Juventude Inquieta (Rumble Fish), 1983realizador: Francis Ford CoppolaProtagonistas: Diane Lane, Matt Dillon, Mickey Rou-rke, Nicolas Cagehistória: É a história de dois irmãos que mantêm uma relação complicada e seguem uma vida de delinquên-cia. O mais novo tenta estar à altura da reputação do irmão, líder de um gangue motard já extinto. Ambos procuram encontrar sentido para as suas vidas, num filme que retrata a adolescência urbana em Oklahoma.

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título: Gente de Dublin (The Dead), 1987realizador: John HustonProtagonistas: Anjelica Huston, Dan O’Herlihy, Donal McCannhistória: A hospitalidade característica do povo irlan-dês está plasmada neste filme, que conduz o espeta-dor numa viagem pela sociedade de Dublin no início do século XX. A música e a atmosfera da cidade são mostradas ao longo do filme, que é uma reflexão so-bre a vida e a morte, tendo como ponto de partida um conto de James Joyce.

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