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30 DIOGO LEóNIDAS ROCHA, PARTNER DA GARRIGUES EM PORTUGAL O PAÍS TEM GERIDO COM INTELIGÊNCIA A VENDA DE ATIVOS 06 RUI MAYER A CUATRECASAS EM ANGOLA 10 JURISPRUDêNCIA UMA DECISãO INOVADORA Diretor: João Teives | Diretor Editorial: Vítor Frias | Mensal | Ano V | N.º 57 | dezembro de 2014 | 15 euros O mercado angolano é muito exigente Post no Facebook dá despedimento confirmado na Relação www.advocatus.pt O agregador da advocacia

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30Diogo LeóniDas Rocha, paRtneR Da gaRRigues em poRtugaL

O país tem geridO cOm inteligência a venda de ativOs

06Rui mayeRa cuatRecasas em angoLa

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o mercado angolano é muito exigente

post no Facebook dá despedimento confirmado na Relação

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www.ft.com/lawschools

Agradecemos este reconhecimento aos nossos parceirosAbreu Advogados · Cuatrecasas, Gonçalves Pereira · Linklaters · Miranda Correia Amendoeira & Associados · Morais Leitão, Galvão Teles, Soares da Silva & Associados · Serra Lopes, Cortes Martins & Associados · Vieira de Almeida & Associados · Fundação Millennium BCP

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DiRetoR eDitoRiaLVítor Frias

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www.advocatus.pt O agregador da advocacia

23pRoFissão

O que preOcupa Os jOvens advOgadOsos recém-eleitos presidentes do iaJa e da anJap dizem de sua justiça.

16socieDaDe

a tlcB a caminhO dO Brasil

18Dossiê

advOgadOs e redes sOciaisDevem as sociedades de advogados estar presentes nas redes sociais? e em que moldes? avogados de quatro firmas dão a sua opinião.

36DiReito a FaLaR

O direitO dO despOrtOas linhas com que se cose a assessoria jurídica no desporto por Fernando veiga gomes, sócio da abreu advogadosLuís amorim teixeira traça os

objetivos da estrutura binacional que está a construir no Brasil.

40JoBshop

O que leva as sOciedades a recrutar na universidade?

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advocatus.ptCortar a Direito

Constrangimentos e roturas

Uncompromising expressionLIVRO

teriais que permitissem a aplicação digna da reforma. talvez das ima-gens mais simbólicas desta reforma são os contentores às portas dos tribunais. é a destruição total da representação da justiça aos olhos dos cidadãos. é uma justiça sem valor, sem dignidade, sem valor institucional. uma justiça precária, uma justiça de contentores. e esse é talvez dos piores legados para a Justiça de sua excelência a ministra da Justiça. na obra e sobretudo nas palavras. para quem propala aos quatro ventos que a impunidade tem de acabar, é absolutamente demo-lidor que quando a culpa bateu à porta, com o falhanço clamoro-so da implementação da reforma, resolva-se escorraçá-la recorrendo à prática da imolação. “Receberá da comunidade dos filhos de Isra-el dois bodes para o sacrifício pelo pecado” (Levítico 16.5).o ano ficou ainda marcado pela tomada de posse da Bastonária eleita, Dra. elina Fraga. não foi um ano fácil. se é verdade que se empenhou numa batalha à partida perdida, a de travar a reforma da organização judiciária, que contou, inclusive, com manifestações de advogados à porta do parlamento, é justo referir que contribuiu para

há um processo que marca indele-velmente o ano de 2014 e os que hão de vir certamente.o decretamento da prisão preventi-va do antigo primeiro-ministro engº José sócrates é um facto de tal for-ma relevante que constitui um mar-co absoluto na Justiça do pós 25 de abril. Digo isto de uma forma tudo menos positiva ou triunfal. Bem pelo contrário. é péssimo para portugal e para o regime político, a prisão de um antigo primeiro-ministro e, pelo que se tem vindo a assistir, temo que seja péssimo para a Justiça em si.mas se tivesse que escolher uma palavra para definir os equívocos da Justiça em 2014, a palavra seria constrangimentos. efetivamente, aquele processo não nos pode fazer olvidar o facto mais marcante de 2014 e que foi o rotun-do falhanço na operacionalização da reforma da organização judiciária.tudo correu mal. e não foi só o citius. há uma enorme diferença entre uma reforma no papel e uma reforma aplicada e executada. as reformas são boas se eu tiver meios para as fazer e as tornar eficazes. o que se passou foi precisamente o contrário. temos menos oferta ju-diciária, temos meios humanos em falta para preencher os quadros das secretarias e não temos meios ma-

se tivesse que escolher uma palavra para definir os equívocosda Justiça em 2014, a palavra seria constrangimentos

JOãO TEiVEsDirETOr

tornar clara a situação calamitosa de paralisia dos tribunais com o crash do citius. a par dos demais atores judiciários, a ordem contri-buiu decisivamente para desmasca-rar a teoria dos constrangimentos.o próximo ano perspetiva-se como de mudanças mas exigirá para os advogados e para a ordem um de-safio imediato.no passado dia 19 de dezembro, o governo apresentou na assembleia da República uma proposta de Lei 266/xii, que “estabelece o regime jurídico da constituição e funciona-mento das sociedades de profissio-nais que estejam sujeitas a associa-ções públicas profissionais”.entre outras das soluções propug-nadas, as sociedades profissionais poderão constituir-se sob a forma comercial, exceto como socieda-des unipessoais, poderão existir sócios de capital não profissionais, poderá uma sociedade participar noutras sociedades. trata-se de uma revolução na for-ma como entendemos e percecio-namos a advocacia. também aqui do ponto de vista simbólico esta-mos perante uma solução de rotu-ra nas representações tradicionais da profissão.ao advocatus resta desejar a to-dos um feliz ano novo.

para quem gosta de jazz, sobretudo dos anos 40-60, anos do bop, hard-bop e do free, há uma editora absolutamente incontornável, a Blue note. a ascensão do nazismo fez com que alfred Lion e Frank Wolf emigrassem para os estados unidos.

e aqui, como no cinema, a face da edição de jazz mudou radicalmente. para celebrar este feito impar do século xx a thames & hudson editou um magnífico “uncompromising expression”, de Richard havers. a não perder.

“É péssimo para Portugal e para o regime político, a prisão de um antigo primeiro--ministro e, pelo que se tem vindo a assistir, temo que seja péssimo para a Justiça em si. Mas (…) aquele processo não nos pode fazer olvidar o facto mais marcante de 2014 e que foi o rotundo falhanço na operacionalização da reforma da organização judiciária”

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Entrevista

Rui mayer ingressou na cuatrecasas, gonçalves pereira em 2013 para criar e coordenar a área de oil, gas & mining. um ano depois coordena também o escritório da firma em Luanda, um mercado onde, diz, os clientes são muito exigentes e requerem um serviço de qualidade como em Lisboa ou em qualquer outro ponto do mundo.

O mercado angolano é muito exigente

Advocatus | Ingressou na Cua-trecasas, Gonçalves Pereira em 2013 para criar a área de Oil, Gas & Mining. O que implicou criar uma área de raiz e que balanço faz des-te primeiro ano?Rui Mayer | o desafio de criar uma área de raiz é precisamente isso: é partir de algo que não existe de for-ma organizada e tentar dar-lhe corpo, coerência para constituir uma base de negócio estável, para o futuro. mas, neste período, portugal não

rui Mayer, coordenador do escritório de Luanda da Cuatrecasas, Gonçalves Pereira

Paulo Alexandrino

foi particularmente rico no desen-volvimento de projetos neste setor. Foi mais pausado do que, eventual- mente, se poderia estar à espera. Fomos procurando anunciar a nos-sa existência, divulgar junto do mercado a existência deste de-partamento e desta competência e tivemos alguns sinais de interes-se e mesmo resultados positivos. além disso, o facto de esta ser uma sociedade de advogados interna-cional, de matriz ibérica, deu-nos

a hipótese de desenvolvermos al-gum trabalho fora das fronteiras portuguesas. aproveitou-se a es-trutura multinacional da firma para começarmos a desenvolver alguns projetos em África e na américa Latina. é o caso de uma situação que surgiu no equador, de asses-soria à negociação de um contrato de pesquisa e produção de óleos pesados. uma empresa internacio-nal estava interessada em fazer o aproveitamento de reservas e esti-

Angola “é um país que cria, naturalmente, uma enorme apetência pela prestação de serviços jurídicos de qualidade”

Pau

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advocatus.pt

vemos a apoiar o governo. Foi mui-to interessante.

Advocatus | A propósito de Áfri-ca, assumiu entretanto a coorde-nação da presença da Cuatreca-sas em Angola. Como aconteceu esta derivação das suas funções originais?RM | aconteceu que, nesta área de atividade do oil & gas, o mer-cado de angola e o de moçambi-que estão muitos mais dinâmicos do que o português, e uma grande parte da atividade foi direcionada para esses dois países. acabei por estar muito mais concentra-do em angola, porque é o país onde o setor é o mais importante do ponto de vista da contribuição para o piB. e porque tínhamos lá um escritório que era importante desenvolver. De modo que, atual-mente, sou também o coordena-dor do escritório de Luanda. não é exatamente o projeto que estava desenhado no início, mas tratou--se de aproveitar a oportunidade para alavancar o negócio. o resul-tado tem sido muito interessante do ponto de vista pessoal e profissional.

Advocatus | Mas, independente-mente do contexto, a área de oil & gas tem expressão no mercado nacional?RM | na indústria do petróleo, pode-mos considerar três grandes grupos: o upstream, que é a exploração e produção, o midstream, que é a ativi-dade de transporte e algumas aces-sórias da produção, e o downstream, que é a refinação e a distribuição. no upstream em portugal praticamente não aconteceu nada. houve redu-ção da atividade porque a petrobrás saiu da concessão que tinha com a galp e a galp está agora a anunciar a recomposição do consórcio, com a entrada da eni. o consórcio que estava a fazer exploração onshore terminou e agora há uma companhia que está a candidatar-se à explora-ção desses blocos e que estamos a assessorar. no midstream também não houve nada de especial, porque a situação económica portuguesa continua complexa. no downstre-am, podemos considerar algumas iniciativas do governo no sentido de capturar os benefícios que a galp teve na comercialização do gás natural, mas é uma questão polé-mica que estamos a acompanhar. há também iniciativas do governo de procurar interferir na formação do preço dos combustíveis, isto é, questões de concorrência do setor e em que estamos a dar apoio à galp.

necessidades e as mesmas exigên-cias e espera a mesma qualidade. Advocatus | Concorda com este modelo, digamos assim, prote-cionista? RM | num mundo ideal, todos po-deríamos exercer a profissão em qualquer parte do mundo, inde-pendentemente da profissão. o que estamos a assistir em angola e moçambique isto é, estas iniciativas de fechar um pouco o exercício da profissão jurídica, visam, no fim de contas a defesa dos profissionais locais. Que, se não fosse assim, te-riam muita dificuldade de aceder ao exercício da profissão. transitoria-mente, poderá esperar-se que haja alguma dificuldade na prestação do serviço localmente, mas, em termos de futuro, penso que haverá ten-dência para a situação se equiparar. não consigo criticar este modelo de

“O nosso escritório em Luanda é praticamente full service. É uma estrutura ainda pequena mas que está em desenvolvimento e que se tem vindo a afirmar no apoio a firmas estrangeiras que pretendem investir em Angola”

“Não é exatamente o projeto que estava desenhado no início, mas tratou-se de aproveitar a oportunidade para alavancar o negócio. O resultado tem sido muito interessante do ponto de vista pessoal e profissional”

como temos esta ligação à galp, temos dificuldade em apoiar outras empresas. o que estamos a fazer é prestar algum serviço a empresas mais pequenas que estão a operar só no setor da distribuição e quan-do não estão em jogo interesses de clientes nossos.

Advocatus | Voltando a Angola, quais são os objetivos da Cuatre-casas nesse mercado?RM | aproveitar a oportunidade de desenvolver a atividade num país que está em franco crescimento, que é recetor de investimento e que está a desenvolver a sua base produtiva. é um país que cria, naturalmente, uma enorme apetência pela prestação de serviços jurídicos de qualidade, até porque a oferta desses serviços ain-da é relativamente reduzida. sem di-ficuldade nenhuma, entendemos que há muito espaço para trabalhar, muita capacidade para apoiar esse esforço de desenvolvimento. temos uma prá-tica diversificada, o nosso escritório em Luanda é praticamente full servi-ce. é uma estrutura ainda pequena mas que está em desenvolvimento e que se tem vindo a afirmar no apoio a firmas estrangeiras que pretendem investir em angola, mas também a empresas que já lá estão instaladas, quer angolanas, quer estrangeiras. temo-las apoiado na organização do trabalho jurídico, na vertente so-cietária, laboral, de contencioso. Advocatus | Qual foi o modelo que escolheram para estar presentes em Angola, sabendo que o exer-cício da profissão é vedado a não nacionais?RM | há duas maneiras de o fazer. uma é quando já existem na firma pessoas que reúnem as condições necessárias para exercer a advocacia em angola – basicamente cidadãos angolanos que se possam inscrever na ordem – e depois a firma apoia a instalação e o desenvolvimento do trabalho, beneficiando o escritório de toda uma estrutura de retaguarda. outra maneira é procurar escritórios locais e estabelecer uma parceria. nós tivemos a possibilidade de tra-balhar com os nossos próprios re-cursos. neste momento, são sete advogados e a ideia é continuar a crescer, de forma ponderada mas aproveitando as oportunidades e sempre tendo em atenção que existe apoio de retaguarda que permite ser flexível nos objetivos. o mercado angolano é muito exi-gente relativamente à presença e à garantia de que o serviço é pres-tado lá. o cliente tem as mesmas

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Entrevista advocatus.pt

desenvolvimento porque visa fazer crescer as competências locais. é um dever de qualquer estado fazer todo o possível por desenvolver as competências dos seus nacionais. Advocatus | E quanto ao recruta-mento, é fácil?RM | não. a profissão de advogado liberal não é muito apetecível, não é vista como algo que garante um rendimento que permita subsistir de forma regular. há uma componente de risco e daí alguma dificuldade de entendimento da capacidade de um profissional liberal. Que há licen-

ciados em Direito há e alguns mui-to bons. mas os melhores tendem a ser recrutados pelas petrolíferas, que oferecem possibilidade e de-senvolvimento em angola e fora de angola, e pelos bancos, pelas finan-ceiras e pelo próprio estado. são os grandes concorrentes que temos. Advocatus | A sociedade em Luan-da é full service. Isso significa que o negócio do oil & gas já não é do-minante?RM | a apetência do mercado é muito grande, há muitos setores económicos em desenvolvimento

acelerado. e a uma empresa que se quer instalar em angola e nos procura não podemos dizer que não fazemos. somos advogados e estamos lá para ajudar a resolver os problemas dos nossos clientes. o mercado de oil & gas em angola está maduro, mas ainda vai crescer, ainda há intenção de fazer aumentar a produção. o que acontece é que há uma quantidade de outros seto-res que estão a crescer. na indústria, na agricultura, nos serviços. há um potencial de desenvolvimento muito grande e isso vai fazer alterar a com-posição do piB.

Advocatus | Em relação aos servi-ços jurídicos não há maior procura do que oferta? E isso não arrisca gerar conflitos de interesses?RM | há maior procura do que oferta e ainda bem. Quanto ao conflito de interesses é uma questão muito delicada e que pode arrasar a reputação de uma sociedade de advogados. o que se procura é evitar ao máximo o desenvolvimento de situações que possam dar origem a este tipo de conflito, tornando as coisas o mais transparentes possíveis. Já nos aconteceu termos de recusar si-tuações por conflito de interesses, mas nunca nos aconteceu encon-trar uma situação em que o cliente nos diga que não há alternativa.

“A apetência do mercado é muito grande, há muitos setores económicos em desenvolvimento acelerado. E a uma empresa que se quer instalar em Angola e nos procura não podemos dizer que não fazemos”

Um negócio global que fala portuguêshá mais de 30 anos que Rui mayer se dedica a esta área. o que o diferencia e motiva não são as competências hard – porque, essas, aprendem-se – mas as soft, o óbvio domínio da língua inglesa, a capacidade de adaptação fácil a culturas e ambientes diferentes, a capaci-dade de gerir essas diferenças, o gosto por questões de rela-cionamento interpessoal. afi-

nal, é a maior indústria do mundo. e é uma indústria onde se fala por-tuguês, por via de as mais recen-tes descobertas de petróleo e gás terem acontecidos em geografias lusófonas – Brasil, angola, moçam-bique e timor. é natural – diz – que, a dada altura, a administração pú-blica exija que os instrumentos da negociação sejam em português. portugal esta fora desta história recente. há registos de pesquisa

de petróleo desde 1910 e até há algumas evidências na zona de torres vedras. na costa têm-se feito sondagens, mas o risco é altíssimo porque não houve até agora qualquer descoberta. mas Rui mayer recorda que na bacia geológica do canadá, de que existe um prolongamento no mi-nho, foram precisas 250 sonda-gens até à primeira descoberta. e compensou.

“Há maior procura do que oferta e ainda bem. Quanto ao conflito de interesses é uma questão muito delicada e que pode arrasar a reputação de uma sociedade de advogados”

“O mercado angolano é muito exigente relativamente à presença e à garantia de que o serviço é prestado lá. O cliente tem as mesmas necessidades e as mesmas exigências e espera a mesma qualidade”

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Jurisprudência

até agora os portugueses pareciam poder comentar o que quisessem nas redes sociais sem que daí adviessem consequências. a situação modificou-se entretanto: pela primeira vez publicações e ofensas no Facebook estiveram na origem de um despedimento, cuja decisão na primeira instância o tribunal da Relação do porto confirmou. um acórdão, que, certamente, virá a criar jurisprudência. é essa a convicção dos advogados da vieira de almeida & associados que asseguraram a defesa da empresa ofendida.

O Facebook e uma decisão inovadora

Foi proferido, este ano, um acór-dão inédito no primeiro caso que implica o uso das redes sociais em portugal. o tribunal da Relação do porto confirmou a sentença do tri-bunal do trabalho de matosinhos de despedimento, por justa cau-sa, de um trabalhador por ofen-sas publicadas no Facebook con-tra a esegur.Datado de 8 de setembro, o acór-dão confirmou, na íntegra, e por unanimidade, a sentença da pri-meira instância e deu razão ao

empregador. “a decisão foi total-mente inovadora no panorama da jurisprudência”, afirma o advogado da vieira de almeida & associados (vda) tiago piló, que foi, a par de Benedita gonçalves, responsável pela defesa da empresa de segu-rança. Já a decisão da primeira ins-tância tinha sido “inédita”. “pela primeira vez em portugal discutiu-se a admissibilidade da valoração, para efeitos disciplina-res, de posts publicados na rede social Facebook”, nota o advoga-

do. a vitória da área laboral da vda teve “um significado muito especial para o cliente esegur, não só por-que impediu a reintegração de um trabalhador, mas também porque criou jurisprudência nacional so-bre o tema das publicações nas redes sociais”. num acórdão, “verdadeiramente pioneiro e inovador”, a Relação do porto considerou não ser aceitável que um empregador fique impedi-do de tomar em consideração os posts publicados num grupo do

“Pela primeira vez em Portugal discutiu-se a admissibilidade da valoração, para efeitos disciplinares, de posts publicados na rede social Facebook”

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sOFiA DUTrA,[email protected]

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Facebook com 140 membros (im-pede a afirmação de que existe um laço de confiança estreito en-tre os membros e uma expectativa de privacidade), cujo conteúdo se mantém online por um período in-determinado de tempo”, diz Bene-dita gonçalves. a Relação do porto considerou que, não havendo essa expectativa de privacidade, e estando o traba-lhador ciente de que publicações com eventuais implicações de natureza profissional (designada-mente porque difamatórias para o empregador) podem extravasar as fronteiras de um grupo criado no Facebook, não lhe assiste o direi-to de invocar o carácter privado do grupo e a natureza pessoal das pu-blicações. assim, “não pode con-siderar-se abusivo o conhecimento tido pelo empregador, nem nulas as provas obtidas com base nesse conhecimento”, refere a advogada.“este acórdão veio, pela primeira vez em portugal, admitir como pro-va um ato tão corriqueiro como a publicação de posts no Facebook, permitindo aos empregadores ins-truir um processo disciplinar com

“A Relação do Porto considerou não ser aceitável que um empregador fique impedido de tomar em consideração os posts publicados num grupo do Facebook com 140 membros, cujo conteúdo se mantém online por um período indeterminado de tempo”

o que este acórdão ilustra, ao considerar uma actividade difa-matória, no Facebook, como in-tegrando, entre outros, os con-ceitos de justa causa e licitude no despedimento, é que um novo ramo de Direito nasceu e se consolida, o Direito das Re-des sociais.

Manuel Lopes Rocha, sócio da PLMJ

Um novo ramo do Direitoa história da internet demons-tra que a uma fase libertária, de Woodstock electrónico, deixando agora os seus primórdios milita-res, sucede-lhe uma fase “regu-latória”, venha ela da iniciativa do legislador, venha ela dos tribunais. primeiro, o caos, como na vida da estrelas, depois, a pouco e pouco, a normatização, a padronização ou a rejeição do ciberespaço como um wild side. tudo fazendo lem-brar aquela personagem de victor hugo que tinha ficado sem uma perna na batalha de Waterloo. a história passara e roubara-lhe um membro inferior. por isso, aqueles que pensavam que as redes so-ciais seriam um refúgio libertário, começam a perceber que novos ventos da história sopram na sua direcção. a velha historieta de que ninguém sabe que um cão, não o é no mundo das redes, deixou de ter graça, deixou de ter atualidade. também a ideia de que as redes

teriam forjado um novo direito ao anonimato acabou. a partir do momento em que as redes, incluindo as sociais, deixam de ser clubes de amigos em bus-ca uns dos outros, e passam a ter um conteúdo cada vez mais comercial, entre outros, o tem-po do pays de cocagne tem os dias contados. como este caso bem demonstra.outro problema, ligado com este, é a linha de fratura que ameaça instalar-se nos nossos tribunais, num fenómeno não exclusivamente local. há ma-gistrados que conhecem, do-minam, entendem, estudam e aplicam o Direito neste mundo das redes, e muito bem. outros, persistem em tentar analisar este “brave new world” com fer-ramentas gastas. eis um tópico que deveria preocupar muito a comunidade jurídica. vai ser crucial nos próximos anos.

“O tema das publicações nas redes sociais é transversal a várias áreas e este acórdão analisa pormenorizadamente o fenómeno das redes sociais e a linha ténue que demarca a liberdade de expressão dos trabalhadores e dos limites do direito à reserva quanto à intimidade da vida privada, o que pode ter relevância a vários níveis”, afirma Tiago Piló da Vieira de Almeida & Associados

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Jurisprudência

base naquelas publicações, res-tringindo, em determinados con-textos, o direito à liberdade de ex-pressão”, adianta tiago piló.o advogado considera que as con-sequências jurídicas deste acórdão “extravasam claramente o âmbito laboral”. “o tema das publicações nas redes sociais é transversal a várias áreas e este acórdão ana-lisa pormenorizadamente o fenó-meno das redes sociais e a linha ténue que demarca a liberdade de expressão dos trabalhadores e dos limites do direito à reserva quanto à intimidade da vida pri-vada, o que pode ter relevância a vários níveis”, acrescenta.este acórdão produz efeitos na vida do trabalhador fora do horário de trabalho. Benedita gonçalves argumenta que “sempre foi difícil a demarcação de uma clara linha divisória entre o campo da vida pessoal e profissional e a internet – mais concretamente o fenómeno das redes sociais – veio dificultar ainda mais a delimitação dessa

no acórdão proferido a 8 de se-tembro de 2014, o tribunal da Relação do porto entendeu ser admissível a utilização de in-formações partilhadas por um

Pedro Madeira de Britosócio da BAS

Pistas importantes

trabalhador, num grupo criado no Facebook, para efeitos de ação disciplinar, contra aquele, por ofen-sa ao bom nome e imagem do seu empregador. no cerne da decisão está a questão da privacidade do trabalhador no ambiente cibernéti-co das redes sociais, enquanto di-reito de personalidade. para aferir da eventual violação à aludida pri-vacidade, o acórdão viu nas publi-cações efetuadas em redes sociais a necessidade de identificar a res-petiva natureza (se pessoal ou se profissional) e o grau de expecta-tiva de quem as publica na manu-tenção das mesmas em confiden-cialidade, estando tal identificação sujeita a apreciação casuística.o acórdão deixa importantes pis-tas para ulteriores situações ao

A dificuldade está na delimitação da fronteira que separa a esfera profissional (em que o empregador se pode mover) da esfera privada (em que não pode entrar)

propor a valoração do caso con-creto com base – embora não restringindo – em cinco fatores, a saber: o tipo de serviço utilizado, a matéria sobre que incidem as publicações, a parametrização da conta, os membros da rede social e suas características e o número de membros. com a ponderação dos referidos fato-res, o intérprete é convidado a perquirir da tutela da expectati-va da confidencialidade de uma informação relativamente à qual o tutelado abriu mão na rede in-formática, sendo que a decisão claramente aponta para que tal tutela tende a enfraquecer na medida em que enfraquece, tam-bém, a possibilidade de controlo da informação publicada.

“Independentemente do tipo de definição de privacidade que um utilizador dá aos conteúdos, desde o momento em que faz publicações, numa página de uma rede social aberta, de acesso generalizado, em que os membros dessa página, que têm acesso autorizado, podem copiar os conteúdos e enviá-los a terceiros que podem utilizar a informação como bem entenderem, o direito à liberdade de expressão deve ser restringido”, sublinha Benedita Gonçalves, da Vieira de Almeida & Associados

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13 advocatus dezembro 2014

advocatus.pt

fronteira”. “ao abrir-se uma conta numa rede social aceita-se à par-tida que parte da vida privada vai ser exposta, pelo menos aos nos-sos supostos amigos, podendo, eventualmente, vir mesmo a tornar--se pública”, entende. “perante a previsão dos artigos 22.º e 16.º do código do trabalho, o empregador não pode aceder ao conteúdo de mensagens de natureza pessoal ou comunicações de carácter não profissional do trabalhador, não podendo igualmente aceder e servir-se de aspetos relativos à vida privada do trabalhador, mes-mo através de rede social de livre acesso. a dificuldade está na de-limitação da fronteira que separa a esfera profissional (em que o em-pregador se pode mover) da esfera privada (em que não pode entrar)”.“é cada vez mais frequente o uso por parte dos trabalhadores de blo-gs pessoais e de redes sociais para exprimirem as suas opiniões ou até para divulgarem informações sobre a empresa e criticarem posições desta. nestes casos, tem que se fazer uma ponderação casuística, atendendo aos diversos fatores em presença e às circunstâncias con-cretas da situação a analisar, se as publicações em rede social efetua-das pelo trabalhador se devem con-siderar situadas aquém, ou além, da fronteira que protege a reserva de confidencialidade”, garante.para a advogada, “situam-se evi-dentemente aquém desta fronteira todas as informações relativas a gostos pessoais, vida familiar, op-ções políticas. mas sempre que se trate de textos, fotografias ou outras formas de expressão não abonató-rios ou mesmo difamatórios do em-pregador, colegas de trabalho ou su-periores hierárquicos, publicados em meio de acesso público, nomeada-mente com a potencialidade de par-tilha das redes sociais, o seu autor passa a correr o risco de as mesmas poderem vir a ter consequências no plano laboral, e não só”.mas o que estabelece o limite en-tre publicação privada e pública? segundo tiago piló, “havendo diversos tipos de redes sociais e sendo várias as possibilidades que oferecem e as características con-cretas de que cada uma se reveste só casuisticamente é possível aferir se o comportamento do trabalha-dor prosseguido na rede online é passível de ser conhecido pelo em-pregador e censurado disciplinar-mente, sendo necessário analisar inúmeros fatores”. na sua opinião, “um primeiro fator a atender é o tipo

no recente acórdão da tRp de 08/09/2014, discutiu-se a rele-vância e as consequências jus-laborais de alguns publicados numa página do que pertencia

Pedro Rica Lopes, advogado na SASLBM

Liberdade de expressão em causa?a um grupo fechado, com cerca de 140 membros, os quais tinham em comum o facto de serem ou terem sido trabalhadores de uma empresa com cerca de 2.200 trabalhadores.o acórdão conclui ser muito fácil um utilizador perder o controlo dos dados que coloca na sua página pessoal e, como tal, um facto que, à partida, seria enquadrável na sua esfera privada deixa de o ser por se tratar de algo susceptível de ser partilhado e, nessa medida, não beneficia da tutela da confidencia-lidade legal e constitucionalmente consagrada.note-se que, pelos conteúdos dos publicados, o trabalhador em ques-tão denotava alguma desconfiança em relação a alguns elementos do grupo pois chegou a enviar “reca-dos” para o seu empregador atra-vés das publicações que fazia.ao (poder) extravasar os membros

do grupo, tais publicações são aptas a ter reflexos e a compro-meter o normal funcionamento da empresa, pelo que, caso as mesmas integrem infracção dis-ciplinar, serão provas legítimas a atender pelo empregador no âm-bito do procedimento disciplinar. como tal, embora o acórdão em análise defenda a necessidade de uma avaliação casuística em cada situação concreta, o facto é que, do mesmo, em nosso entender, in-fere-se que quaisquer publicações poderão extravasar o grupo onde estão inseridas e comprometer o normal funcionamento da empre-sa e, como tal, susceptíveis de gerar consequências disciplinares, o que poderá incutir nos trabalha-dores em geral um efeito de auto--censura, com consequências pessoais e sociais negativas ao nível da liberdade de expressão.

de serviço da rede social utilizada”. particularmente ao nível do Face-book, considera “essencial a dis-tinção entre perfil pessoal, página e grupo”. “o Facebook possibilita às pessoas a opção de escolha entre a criação de um perfil, uma página ou um grupo, havendo regras para cada um deles. Qualquer deles é, em princípio, de acesso livre, mas o seu titular pode definir parâmetros de privacidade diversos”.“um segundo fator a atender são os próprios membros de cada rede social – que podem ser verdadeira-mente amigos, como se intitulam, podendo, contudo, também ser amigos de amigos, conhecidos ou até mesmo desconhecidos”, alerta o advogado.“é também importante atender à parametrização da conta: se o seu titular restringiu o acesso aos denominados amigos, pode entender-se que existe um grau acrescido de privacidade e que os dados partilhados podem ser con-siderados como englobados no

conceito de esfera privada, mas se o conteúdo é marcado como públi-co e visível online para todos, não há sequer qualquer expectativa de privacidade”.“naturalmente que o número de amigos ou membros do grupo também deve ser atendido”, diz. “se o grupo é grande, ou pode abranger pessoas desconhecidas do administrador (no presente ou no futuro, pois o que é publicado fica na rede)”, tiago piló crê que “dificilmente se poderá dizer que as pessoas se sentem em círcu-los privados e fechados, em que acreditam que o que publicam só é visto por destinatários relativamen-te aos quais existe um mínimo de confiança no relacionamento que se estabelece”.por último, considera também “re-levante analisar a matéria sobre que incidem as publicações, de-signadamente se se limitam a as-petos atinentes à esfera íntima e pessoal dos trabalhadores ou se se relacionam antes com a sua esfera

“Não tendo esta questão sido discutida anteriormente, admitia-se que os trabalhadores pensassem que o que publicavam nas redes sociais estaria protegido pelos referidos princípios constitucionais”

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Jurisprudência

profissional e com o quotidiano da atividade das empresas. o direito à reserva da intimidade da vida priva-da tutelado no código de trabalho abrange apenas a esfera da vida de uma pessoa que seja íntima e pes-soal e não a profissional”, entende.por sua vez, Benedita gonçalves chama a atenção para o facto de “estes comportamentos dos tra-balhadores, para além de consti-tuírem violação dos seus deveres laborais, poderem, naturalmente, integrar igualmente ilícitos previs-tos e punidos na lei penal, nome-adamente os crimes de difamação e injúria, abrindo por conseguinte a possibilidade de condenações no pagamento de indemnizações que visem compensar os lesados pelos danos resultantes da violação ilícita dos seus direitos”.“o direito à liberdade de expressão e o direito de opinião, também con-

o acórdão parte de um tema laboral, o despedimento com justa causa de um trabalhador por declarações publicadas no Facebook, e confronta-nos com questões actuais de enorme re-levância como sejam: a utilização de novas tecnologias e da infor-mação constante de redes so-ciais, torna possível a extensão

Luís Almeida CarneiroEspanha e Associados

Novas fronteiras do Direito do Trabalho

do controlo do empregador sobre os seus trabalhadores? as decla-rações proferidas no Facebook, têm relevância jurídica para fundar um despedimento? Quando essas declarações são proferidas no seio de um grupo criado no Facebook é legítimo ao trabalhador invocar a privacidade das comunicações emitidas no seio desse grupo para beneficiar da confidencialidade re-lativamente aquilo que é dito? po-dem as organizações exercer o seu poder disciplinar e reagir perante declarações realizadas pelos seus trabalhadores em redes sociais?os tribunais foram chamados a pronunciarem-se sobre a relevân-cia laboral de factos que ocorreram fora da empresa. o trabalhador é despedido por declarações reali-zadas numa rede social. verifica--se um esbater das fronteiras entre a vida no trabalho e a vida fora do trabalho. as novas tecnologias ul-trapassam os limites geográficos e temporais, sendo cada vez mais frequentes as situações em que o direito do trabalho é chamado a in-tervir em situações que ocorreram

fora das organizações. as redes sociais, que começaram por ser uma forma de comunicação e partilha entre as pessoas, evoluí-ram e actualmente existem cada vez mais empresas que aí procu-ram promover as suas marcas. é dificilmente defensável a existên-cia de um direito à privacidade e confidencialidade das opiniões e comentários nas redes sociais, ainda que se esteja inserido em grupos fechados.a liberdade de expressão – em redes sociais ou em blogues –não constitui um valor absoluto. tem que existir sempre um limi-te às declarações e comentários publicados na rede social. esse limite encontra-se no direito dos outros – pessoas e organizações – ao bom nome, à imagem e à honra.este acórdão tem a virtualidade de transmitir que não há zonas, no caso o ciberespaço, onde o direito esteja ausente e que as redes sociais ou a blogosfera, não são sítios onde a comunica-ção seja privada.

sagrados no artigo 14.º do código do trabalho, têm dois limites ao seu exercício: o respeito pelos direitos de personalidade da outra parte e pelo normal funcionamento da empresa. todos os trabalhadores têm direito a exprimir livremente as suas ideias e pontos de vista, inclu-sivamente sobre a empresa onde trabalham. todavia, estas críticas devem que ser feitas de um modo construtivo e não podem pôr em causa a dignidade e os direitos dos interlocutores”, afirma a advogada. “admitir o contrário equivaleria a aceitar que todos os comentários colocados na página do Facebook relativos a questões conexas com a prestação de trabalho e que são suscetíveis de vir a ser conhecidos por qualquer pessoa, por mais gra-ves que fossem, estariam imunes ao poder disciplinar das empresas, o que não pode admitir-se”, sustenta.

na sua opinião, “independente-mente do tipo de definição de pri-vacidade que um utilizador dá aos conteúdos, desde o momento em que faz publicações, numa pági-na de uma rede social aberta, de acesso generalizado, em que os membros dessa página, que têm acesso autorizado, podem copiar os conteúdos e enviá-los a tercei-ros que podem utilizar a informa-ção como bem entenderem, o di-reito à liberdade de expressão deve ser restringido”.por seu turno, tiago piló acredita que este acórdão vai “produzir al-terações em termos de comporta-mentos nas redes sociais”. “não tendo esta questão sido discutida anteriormente, admitia-se que os trabalhadores pensassem que o que publicavam nas redes sociais estaria protegido pelos referidos princípios constitucionais”, nota.Face a estas recentes decisões, o advogado pensa que, “no que diz respeito à esfera profissional e ao quotidiano da atividade das empre-sas, passe a existir alguma conten-ção e ponderação nas publicações que são feitas nas redes sociais”.o advogado sugere bom senso na utilização das redes sociais. “é muito fácil um utilizador perder o controlo dos dados que coloca nas redes so-ciais (mesmo que seja na sua página pessoal)”. aconselha, assim, os uti-lizadores a pensarem “duas vezes antes de dizer mal da empresa onde trabalham nas redes sociais”.

Este acórdão vai “produzir alterações em termos de comportamentos nas redes sociais”

“Não tendo esta questão sido discutida anteriormente, admitia-se que os trabalhadores pensassem que o que publicavam nas redes sociais estaria protegido pelos referidos princípios constitucionais”

advocatus.pt

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no passado dia 30 de maio foi pu-blicada a Lei nº 31/2014 que veio estabelecer as bases da política pública de solos, ordenamento do território e urbanismo. esta Lei vem proceder à revisão da Lei dos solos e delimitar o teor das alterações a serem introduzidas nos Regime Ju-rídico da urbanização e edificação (RJue) e Regime Jurídico dos instru-mentos de gestão territorial (RJigt). Refira-se que na presente data as alterações ao RJue foram já publi-cadas através do Decreto-Lei n.º 136/2014, de 9 de setembro.correndo o risco de não focar algum ponto importante, entendo destacar os aspectos que me parecem mais relevantes nesta Lei, a saber:1) Simplificação da “Rede de Pla-

nos Urbanísticos” passando a não ser possível, para o mesmo território, uma regulação urbanís-tica por mais que um plano mu-nicipal. De igual forma, apenas os planos municipais e intermunici-pais passam a ser directamente vinculativos dos particulares. os planos especiais passam a me-ros “programas” sem eficácia in-tersubjectiva;

“Criticávelo facto de os Planos se circunscreverem a questão urbanísticas perdendo alguma da componente ambiental e de sustentabilidade agora dispersa por outros diplomas”

Advogado da Boino & Associados

A Nova Lei de Bases da Política Pública de solos,

de Ordenamento do Território e de Urbanismo

a Lei nº 31/2014 vem proceder à revisão da Lei dos solos e delimitar o teor das alterações a serem introduzidas nos Regime Jurídico da urbanização e edificação (RJue) e Regime Jurídico

dos instrumentos de gestão territorial (RJigt).

MANUEL ALExANDrE HENriqUEs

2) Centralização no PDM da in-formação relevante em ter-mos urbanísticos, permitindo uma transformação do uso do solo mais célere e adequada às necessidades da economia. cri-ticável aqui o facto de os planos se circunscreverem a questão urbanísticas perdendo alguma da componente ambiental e de sus-tentabilidade agora dispersa por outros diplomas;

3) Excesso de Intervencionismo Governamental no Planeamen-to Municipal com a previsão de sanções aos Municípios que não actualizem os Planos (em situações, por exemplo, de incompatibilidade com progra-mas territoriais que prossigam objectivos de interesse nacional ou regional). a não actualização acarreta a suspensão imediata e automática dos planos (ou parte deles) e a imposição de restri-ções à utilização de financiamen-tos/fundos comunitários pelos municípios. a compressão dos poderes municipais operada pela Lei de Bases levanta sérias dúvidas de constitucionalidade;

4) como objectivo da política de urbanização erige-se também como Princípio a Reabilita-ção e Regeneração Urbanas e não, como no passado, a ex-pansão urbana;

5) Simplificação da Classificação do Uso do Solo (entre Rústico e urbano). é eliminado o con-ceito de área urbanizável por se entender que o mesmo não se adequa às necessidades urba-nísticas e de planeamento onde se verifica, no todo nacional, ex-cesso de área urbanizável mas

e com aplicabilidade, por exem-plo, em matéria de regeneração e reabilitação urbana;

8) como aspectos relevantes do “urbanismo económico” realço a consagração como princípio a necessidade de uma prévia demonstração do interesse económico e sustentabilidade financeira de qualquer infra--estrutura urbanística a criar;

9) De notar também a introdução, já concretizada no Decreto-Lei n.º 136/2014, de 9 de setembro (RJue), do Procedimento de Legalização de Operações Urbanísticas. este procedi-mento cria uma sistematização (simplificada) para a legalização de edificações existentes mas não licenciadas;

10) ainda no RJue destaca-se o Regime Simplificado de Co-municação Prévia onde são eliminados os prazos para o início dos trabalhos após a submissão dos requerimentos, sempre que a situação urba-nística se apresente definida ou consolidada;

11) por último, realço também a consagração de instrumentos de intervenção no edificado pelos Municípios como se-jam, a venda e o arrendamento forçados de prédios urbanos cujos proprietários não cum-pram os deveres a que estão obrigados pelos planos, repli-cando soluções já previstas na Reabilitação urbana.

“A compressão dos poderes municipais operada pela Lei de Bases levanta sérias dúvidas de constitucionalidade”

Urbanismoadvocatus.pt

não edificada. Da mesma forma, estabelece-se que o solo urbano retornará à condição de solo rús-tico se não for urbanizado após decorridos 10 anos;

6) A valorização do solo por via do Plano passa a ser objecto da tributação das mais-valias daí resultantes, terminando a ditadura do planeador que o sistema vigente nos últimos 20 anos estimulou (enriquecimento dos particulares pela via regula-mentar, tanta vezes desrespei-tando critérios de igualdade). estas mais-valias passam para um fundo municipal de susten-tabilidade urbanística e ambien-tal que poderá financiar, por exemplo, as operações de rea-bilitação urbana;

7) Refira-se também a criação de um mecanismo de transferên-cia de edificabilidade intra-pla-no, a inscrever no registo predial

15 advocatus dezembro 2014

Artigo escrito segundo o anterior acordo ortográfico.

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Entrevista

a amorim teixeira, couto, Borgas & associados (tLcB advogados) está a preparar o reforço da presença no Brasil, através da criação de uma “estrutura comum binacional” com a brasileira amaral & Barbosa advogados. o projeto foi anunciado pelo sócio da sociedade portuguesa Luís Amorim Teixeira em entrevista ao advocatus.

TLCB reforça presença no Brasil

Advocatus | Quais os fatores que têm impulsionado o crescimento da TLCB Advogados?Luís Amorim Teixeira | em primei-ro lugar, talvez a nossa dinâmica e agilidade concorram para que con-sigamos afirmarmo-nos num setor cada vez mais concorrencial.a tLcB advogados alia a sua “le-veza” em termos de estrutura a uma permanente busca de oportu-nidades, e isso, apesar das dificul-dades, marca a diferença.aliás, este ano ocorreu uma refor-mulação da equipa, tendo a tLcB passado a contar com o impor-tante contributo de isabel sousa, economista e jurista, com mais de doze anos de experiência em mer-cado de capitais, e que assume a qualidade de consultora. assim, re-forçamos o Departamento de Direi-to Financeiro, mercado de capitais e Banca, que representa hoje uma fatia importante da atividade da fir-ma, como já é público.a par disso não posso deixar de referir a dedicação e competência técnica da nossa equipa, que con-tas feitas, são os fatores-base do trabalho desenvolvido e do suces-so dos projetos que abraçamos.a tLcB advogados, prosseguindo, aliás, a sua estratégia de cresci-mento e incrementando uma polí-tica de maior proximidade com os seus clientes está, desde o passa-do dia 6 de outubro, sedeada em novas instalações, no business dis-trict da cidade do porto.

Advocatus | Como é que a crise económica tem afetado as áreas core da sociedade?LAT | a crise mostrou-nos duas fa-ces: uma, a mais óbvia, materiali-zada na perda de clientela, fruto do encerramento de algumas empre-sas ou da muito importante dimi-nuição de atividade.outra, a de que existem “nichos” nos quais temos mais-valias inve-

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advocatus.pt

TLCB reforça presença no Brasil

jáveis. Daí que, apesar de algumas dificuldades nos setores mais tra-dicionais e do acréscimo de dificul-dade na cobrança, que é comum a todos os escritórios, vemos cres-cerem algumas áreas de prática, sobretudo ligadas às empresas tecnológicas e financeiras, quer nacionais, quer internacionais.

Advocatus | Que relevância têm os mercados externos na ativi-dade da TLCB?LAT | efetivamente, a tLcB tem uma faceta “internacionalista” in-questionável e sempre em desen-volvimento. no Brasil, que é nosso principal mercado internacional, temos uma fortíssima ligação com a amaral & Barbosa advogados, firma com es-critórios no centro financeiro de são paulo e na cidade industrial de Juiz de Fora, no estado de minas gerais, que comemora este ano 30 anos de existência, com muito prestígio no mercado e cerca de 120 elementos de elevadíssima competência técni-ca. a firma conta nos seus quadros, inclusive, com juristas com relevan-te atividade académica em várias faculdades de Direito.a amaral & Barbosa atua principal-mente na assessoria às empresas e municípios, possuindo os depar-tamentos de Direito administrativo, tributário, societário e trabalhista um peso muito importante na firma.o nosso trabalho tem passado muito por assessorar investimen-

tos portugueses no Brasil, sejam eles diretos ou em parcerias com empresas locais, bem como acom-panhar os investidores institucio-nais, corporate ou particulares que se interessam pelo nosso país.Fruto do trabalho conjunto, ambas as firmas são fundadoras da LWB – international Law alliance (à qual se juntou mais tarde a espanhola verez asociados - abogados y consulting empresarial), que, com o lema law without borders, é uma mais-valia na assessoria nos mercados internacionais, pre-tendendo-se que se agreguem a este projeto escritórios de outras jurisdições.nesse sentido, estamos, neste mo-mento em conversações com uma firma luxemburguesa de grande prestígio, que possui escritórios também em França e na china, tendo, em outubro, sido convida-dos para uma parceria com uma sociedade de são tomé e príncipe.aproveito para anunciar, em primei-ra mão, o reforço da nossa presen-ça no Brasil e, consequentemente, o upgrade na sua capacidade de resposta naquele mercado, pois a colaboração com a amaral & Bar-bosa advogados evoluiu para outro patamar, estando as duas firmas em pleno processo de criação de uma estrutura comum, binacional.a tLcB advogados, no âmbito deste projeto binacional, conta presentemente na sua equipa com a advogada associada da amaral & Barbosa, isabella Ribeiro Liquer, que atua preferencialmente nas áreas de Direito administrativo, tributário e internacional, e que se revela um inestimável ativo na as-sessoria à internacionalização, de-signadamente para o mercado bra-sileiro, das empresas portuguesas suas clientes, seja por via da expor-tação, seja por via do investimento direto, em todos os setores de ativi-dades, realizando a “ponte” entre as estruturas de portugal e do Brasil.

Advocatus | A advocacia que praticam no Porto é diferente da exercida em Lisboa?LAT | em alguns aspetos, sim, é claramente diferente. o norte, e em especial o porto, como é sabido, tem perdido grande parte dos cen-tros de decisão para a capital.acrescente-se o facto de estarem também em Lisboa concentrados os poderes públicos do país, o que faz com que os escritórios de Lis-boa tenham uma maior proximida-de com esses centros de decisão, quer ao nível empresarial, quer ao

“Apesar de algumas dificuldades nos setores mais tradicionais e do acréscimo de dificuldade na cobrança, que é comum a todos os escritórios, vemos crescerem algumas áreas de prática, sobretudo ligadas às empresas tecnológicas e financeiras, quer nacionais, quer internacionais”

“O nosso trabalho tem passado muito por assessorar investimentos portugueses no Brasil, sejam eles diretos ou em parcerias com empresas locais, bem como acompanhar os investidores institucionais, corporate ou particulares que se interessam pelo nosso País”

nível institucional. um dos resulta-dos mais visíveis é que o esforço de angariação é maior, a atenção dada e esta área tem que ser maior, ao que acresce a impossibilidade de praticar honorários ao mesmo nível. no entanto, o “mercado da advo-cacia” no norte do país tem poten-cialidades, pois aqui se encontram instaladas numerosas empresas em setores chave para a econo-mia nacional, como o calçado, os têxteis, as tecnologias de ponta, o turismo, entre outras, que repre-sentam excelentes “oportunidades de negócio”, e que temos que po-tenciar, considerando o esforço de internacionalização que essas em-presas estão a empreender, que vai de encontro à preocupação que a tLcB tem tido em criar condições para acompanhar os seus clientes nesses movimentos.acresce que queremos ser parte ativa na recuperação económica do norte do país, e essa retoma dependerá do contributo das em-presas desta região.

“O mercado da advocacia no norte do país tem potencialidades, pois aqui se encontram instaladas numerosas empresas em setores chave para a economia nacional, como o calçado, os têxteis, as tecnologias de ponta, o turismo, entre outras, que representam excelentes oportunidades de negócio”

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Redes Sociais

as redes sociais são uma inevitabilidade no mundo da comunicação, pessoal e profissional. mas deverão as sociedades de advogados aderir? e em que moldes? Quatro advogados dão a sua opinião nas páginas seguintes.

Social q. b.

as redes sociais ainda são vistas no mundo da advocacia nacional com alguma desconfiança. as aborda-gens tendem a ser conservadoras e demasiado cautelosas. mas pedro cabral, advogado da macedo vitori-no & associados, olha para o exterior para cimentar a sua convicção de que advogados e redes sociais estão numa relação séria e duradoura. De-fende que as redes sociais não são apenas espaços de apresentação da firma, mas que devem ser utilizadas de forma consistente para partilhar conhecimento e transformar esse conhecimento em reconhecimento. também João Laborinho Lúcio, só-cio da pedro Raposo & associados, não tem dúvidas de que as redes sociais digitais são um excelente desafio para as sociedades de ad-vogados quanto à forma como se relacionam com o exterior. mas ad-verte que não devem ser o veículo de ligação privilegiado com os clientes, por muito que os perfis de comuni-cação associados às entidades cole-tivas que ali navegam assim o ditem. na mesma linha, Rui moreira de Resende, sócio da Raposo subtil e associados, entende que as redes sociais não devem servir para as sociedades de advogados publi-carem estados de alma ou fazer publicidade para captar clientes ou muito menos dar consultas. na sua opinião, o rigor e sobrie-dade impostos a qualquer advo-gado na divulgação de informa-ção deverão sempre sobrepor-se. na RFF & associados reclama-se algum vanguardismo no uso das redes sociais entre as sociedades de advogados. o sócio fundador, Rogério m. Fernandes Ferreira, e a responsável pela comunicação, mafalda sampaio soares, especi-ficam que as usam para dar a co-nhecer a firma a potenciais clientes, aumentando a notoriedade, e, bem assim, aproximar-se e aumentar o engagement com os clientes e par-ceiros. sublinham, contudo, que a sua utilização se deve fazer sempre no respeito pelos códigos que re-gem a profissão no que toca a ética e a deontologia.

Advogados e redes sociais atualizaram o seu estado: estão numa relação séria

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advocatus.pt

mais do que meras agendas de contactos em funcionamento per-manente, as redes sociais passa-ram a ser um dos principais meios de receber informação, criar novos contactos e desenvolver oportuni-dades. a informação partilhada em rede propaga-se tão rapidamente que passámos a dar um novo signi-ficado ao adjetivo viral. o interesse suscitado pela informação partilha-da passou a ser medido pelo núme-ro de pessoas que a viram ou leram e a divulgaram para outros. tudo ficou mais rápido. o contraponto é que tudo ficou mais perecível. o que foi viral hoje pode ser esqueci-do com mais facilidade amanhã. ainda recentemente, o instituto na-cional de estatística divulgou dados sobre a utilização das redes sociais por empresas: 39% das empresas portuguesas com mais de dez pes-

“Esta utilização das redes sociais faz--se, naturalmente, dentro dos limites éticos impostos pelo estatuto da Ordem dos Advogados. Mas será que faz sentido utilizar as redes sociais apenas como locais de apresentação?”

Advogado da Macedo Vitorino & Associados

Advogados e redes sociais atualizaram o seu estado: estão numa relação séria

as redes sociais ainda são vistas por cá com alguma desconfiança. a maior parte das abordagens tendem a ser conservadoras e demasiado

cautelosas. mas quando vemos o que fazem grande parte das sociedades de advogados por esse mundo fora, não duvidamos que os advogados e as

redes sociais estão numa relação. séria e duradoura.

PEDrO CABrAL

soas utilizam as redes sociais como estratégia de ligação a clientes, for-necedores ou parceiros de negócio. tendo em conta que o tecido em-presarial português é constituído por muitas empresas familiares, es-tes números são bastante significa-tivos. as ferramentas utilizadas são sobretudo o Facebook, o Linkedin, o twitter, o youtube e blogues. a advocacia não podia ficar indife-rente e passou a viver com as redes sociais. embora não tenha passado a viver nas redes sociais. hoje em dia, é imprescindível que uma so-ciedade de advogados esteja pre-sente e ativa nas principais redes. o objetivo é informar, comunicar e divulgar conhecimento com valor para os seus clientes. mas não só. o carácter aberto das redes sociais faz com que o conhecimento par-tilhado possa e deva ser utilizado por todos os que se interessarem. esta utilização das redes sociais faz-se, naturalmente, dentro dos limites éticos impostos pelo es-tatuto da ordem dos advogados. mas será que faz sentido utilizar as redes sociais apenas como locais de apresentação?o grande desafio que se coloca agora é saber como utilizar as redes sociais de forma mais envolven-te. como passar de uma presença comunicadora para uma presença dinamizadora. como deixar de ser apenas um contacto e passar a ser também uma fonte útil de conheci-mento. como não ser apenas um mero emissor de informação, entre tantos que existem, e passar a ser uma referência respeitada. a resposta já começou a ser dada. as redes sociais só serão verda-deiramente úteis e eficazes para as

sociedades de advogados se forem utilizadas de forma consistente e re-gular, se o conhecimento partilhado tiver qualidade e utilidade e se se transformar em reconhecimento. por um lado, não faz sentido parti-lhar informação esporadicamente. na avassaladora onda de informa-ção que nos submerge todos os dias, só sobrevive quem for capaz de informar e disponibilizar conhe-cimento com regularidade. as redes sociais são exigentes. mas, se pen-sarmos bem, ninguém liga muito a quem numa longa conversa só fala uma vez. por outro lado, divulgar informação é muito diferente de partilhar conhe-cimento. a informação é divulgada a todo o momento das mais varia-das formas e feitios e não permite nenhuma utilização. o que não é tão frequente é a partilha de conhe-cimento prático que seja verdadei-ramente útil e compreensível por quem não fale linguagem jurídica. é esse conhecimento que permite que a sociedade de advogados se torne numa referência. aliás, a par-tilha de conhecimento pode e deve ser participada e interativa, tirando todo o partido das ferramentas de discussão disponibilizadas por al-gumas redes sociais, como, por exemplo, o Linkedin.é certo que as redes sociais ain-da são vistas por cá com alguma desconfiança. a maior parte das abordagens tendem a ser conser-vadoras e demasiado cautelosas. mas quando vemos o que fazem grande parte das sociedades de ad-vogados por esse mundo fora, não duvidamos que os advogados e as redes sociais estão numa relação. séria e duradoura.

“As redes sociais só serão verdadeiramente úteis e eficazes para as sociedades de advogados se forem utilizadas de forma consistente e regular, se o conhecimento partilhado tiver qualidade e utilidade e se se transformar em reconhecimento”

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Redes Sociais

Trabalhar com @ redeas redes sociais digitais, não sendo uma realidade nova, são e continuarão a ser um excelente desafio para as sociedades de advogados quanto à forma como estas se relacionam com o exterior.

JOãO LABOriNHO LúCiO

Sócio da Pedro Raposo & Associados

“É bem verdade que a informação partilhada nas redes sociais, mesmo por entidades historicamente mais tradicionais, nem sempre tem o conteúdo que habitualmente alimenta as sociedades de advogados, mas tem o condão de nos manter a todos mais ligados”

cedo nesta envolvente profis-são de advogado se aprende que pouca rede existe por baixo do trapézio. a dedicação que se lhe empresta alimenta-se também da noção de que a vertigem de cada passo se agarra à segurança que lhe atribuímos.a sociedade globalizada e do co-nhecimento, arriscando fechar as portas dos cemitérios de livros, abre janelas de informação que cuida filtrar, tratar e saber parti-lhar em abono da segurança que as rotinas diárias teimam em fa-zer perigar. todo este processamento de in-formação cria novos desafios à comunicação, peça chave na rela-ção dos advogados com os seus colaboradores, clientes e parcei-ros. em paralelo com os métodos tradicionais, mais face-to-face, surgem novos caminhos menos direcionados mas de alcance po-tencialmente mais abrangente, pela colocação à disposição dos eventuais leitores de informação considerada relevante.as redes sociais oferecem uma vasta gama de escolhas de comu-nicação pela variedade de opções existentes, umas mais profissionais e reservadas, outras mais sociais e alargadas, surgindo, assim, como uma oportunidade para manter aberta a via do diálogo informal que deve também nortear a relação com aqueles que se interessam pelo percurso que vamos trilhando

e que, no final do dia, nos engran-dece e nos leva a uma sociedade mais esclarecida. é bem verdade que a informação partilhada nas redes sociais, mesmo por entida-des historicamente mais tradicio-nais, nem sempre tem o conteúdo que habitualmente alimenta as so-ciedades de advogados, mas tem o condão de nos manter a todos mais ligados.as sociedades de advogados não divergem das demais entidades de relevo da comunidade quanto à importância das relações huma-nas, que são na sua essência o seu motor, pelo que as redes so-ciais permitem tornar mais visível a “normalidade” da vida interna, dos momentos de menor incidên-cia profissional, sem que de algum modo se agrida a ética e deontolo-gia profissionais.aqui chegados, importa clarificar o sentido da comunicação atra-vés das redes sociais digitais para uma sociedade de advogados, mesmo com as características da pedro Raposo & associados, que procura sempre estabelecer linhas informais de diálogo com os seus clientes. não nos parece que as redes sociais, mesmo as mais pro-fissionais, sejam, ou devam ser, o veículo de ligação privilegiado com os seus clientes, por muito que os perfis de comunicação associados às entidades coletivas que ali nave-gam assim o ditem. podem, antes, ser um repositório de informação,

“Não nos parece que as redes sociais, mesmo as mais profissionais, sejam, ou devam ser, o veículo de ligação privilegiado com os seus clientes, por muito que os perfis de comunicação associados às entidades coletivas que ali navegam assim o ditem”

“que interessa a quem interessar”, que reflita um pouco o dia a dia de uma organização com as idiossin-crasias de uma sociedade de ad-vogados.sem prejuízo do que vem de expor--se, não podemos deixar de dizer que as redes sociais digitais, não sendo uma realidade nova, são e continuarão a ser um excelente de-safio para as sociedades de advo-gados quanto à forma como estas se relacionam com o exterior.

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advocatus.pt

21 advocatus agosto 2014

as redes sociais são estruturas so-ciais virtuais compostas por pessoas e/ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações, que partilham valores e objetivos comuns na internet. nos últimos anos têm vindo a conquistar dimensão e im-portância no dia-a-dia das pessoas e organizações.um estudo recente da marktest refe-re que 66% dos utilizadores de redes sociais em portugal segue marcas nas redes sociais e 17% considera que o facto de seguir ou ser fã de uma empresa ou marca nas redes sociais tem muita influência nas op-ções de compra da marca. apesar de as sociedades de advo-gados serem um nicho de mercado com muitas especificidades, a pre-

“Manter uma página activa e actualizada aumenta a proximidade do cliente com a sociedade e contribui para a reputação da marca sem nunca violar o código deontológico pelo qual os advogados se regem”

Responsável de Comunicação da RFF & Associados

Sócio fundador da RFF & Associados

Aumentar a notoriedade e o

engagementa RFF & associados decidiu marcar presença

nas redes sociais, estando porventura na vanguarda de outras sociedades de advogados,

para se dar a conhecer a potenciais clientes. aumentando a notoriedade, e, bem assim,

aproximar-se e aumentar o engagement com os seus clientes e parceiros.

MAFALDA sAMPAiO sOArEs

rOGériO M. FErNANDEs FErrEirA,

sença nas redes sociais aumenta a notoriedade e o envolvimento com os clientes e tem-se vindo a tornar num importante apoio à comunica-ção tradicional. manter uma página activa e actualizada aumenta a pro-ximidade do cliente com a socieda-de e contribui para a reputação da marca sem nunca violar o código deontológico pelo qual os advoga-dos se regem.segundo um parecer publicado no site da ordem dos advogados em Dezembro de 2010, é explicado que “os advogados não poderão ser ex-cluídos das virtualidades de publici-dade lícita que as redes sociais pro-porcionam. mas só delas poderão usufruir no escrupuloso cumprimen-to das regras respeitantes ao sigilo profissional (incluindo a identificação dos clientes e casos em que interve-nha) e ao princípio da não solicitação de clientela”. é ainda mencionado que “a informação a disponibilizar em rede deverá ser, exclusivamente, aquela que poderá ser incluída em sites de acesso livre”.partindo para a nossa experiência, a RFF & associados, à semelhança do que tem sucedido na generalida-de das sociedades de advogados, tem reunido esforços no sentido de optimizar a sua presença na web. com efeito, criámos páginas corpo-rativas em algumas redes sociais, designadamente no linkedin (rede de âmbito profissional e em que os utilizadores estão à procura de informações produzidas por pro-fissionais), no twitter (rede mais di-nâmica e na qual a informação tem um prazo de validade mais curto), no google+ (rede em expansão nal-

artigos). cumpre sublinhar que a es-colha das redes sociais acima men-cionadas foi feita em conformidade, não só com a estratégia de comuni-cação, mas também com os objec-tivos e características do escritório.por outro lado, para além de comu-nicarmos para os clientes envolven-do-os nos assuntos da nossa socie-dade, a RFF & associados mantém parcerias em todos os países de lín-gua portuguesa (angola, moçambi-que, Brasil, cabo-verde, são tomé, timor, macau) e também na china e França, pelo que a presença nestas diversas redes encurta a distância geográfica entre a RFF e os seus parceiros permitindo a partilha de artigos, noticias e publicações de forma mais rápida e eficiente.paralelamente, para efeitos de co-municação interna, as redes sociais também têm um papel importante considerando, não só a facilidade com que se partilha a informação, mas ainda, também o papel que os advogados e colaboradores de ou-tros departamentos da sociedade podem vir a ter, tornando-se embai-xadores da marca, usando as suas contas para a partilha de informação da sociedade.em resumo, a RFF & associados decidiu marcar presença nas redes sociais, estando porventura na van-guarda de outras sociedades de advogados, para se dar a conhecer a potenciais clientes. aumentando a notoriedade, e, bem assim, apro-ximar-se e aumentar o engagement com os seus clientes e parceiros.

Artigo escrito segundo o anterior acordo ortográfico.

“Para efeitos de comunicação interna, as redes sociais também têm um papel importante considerando, não só a facilidade com que se partilha a informação, mas ainda, também o papel que os advogados e colaboradores de outros departamentos da sociedade podem vir a ter, tornando--se embaixadores da marca”

guns países), no youtube (a partilha de informação através de pequenos vídeos permitem não só informar e transmitir informações de interesse, bem como facilitam a apresentação dos profissionais da sociedade e a sua exposição como especialistas nos diversos ramos do direito em que a RFF trabalha), no xing (rede profissional escolhida no segui-mento da criação da german desk) e na artigonal (rede agregadora de

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advocatus.pt

rigor e sobriedade impõem-sesem prejuízo de o ritmo frenético da sociedade da informação impor o afastamento de preconceitos sobre os meios de divulgação da informação, o rigor e sobriedade impostos a qualquer advogado na divulgação de informação deverão sempre sobrepor-se.

rUi MOrEirA DE rEsENDE

Sócio da Raposo Subtil e Associados

“As redes sociais são uma importante ferramenta na comunicação das sociedades de advogados, principalmente no que concerne à dinâmica própria da comunicação das novidades como sejam o caso dos artigos e obras publicadas pelos seus advogados, conferências e outras, para as quais a estática inerente a um site de Internet o torna ineficiente”

The only thing worse than being talked about is not being talked about (Oscar Wilde). Ou talvez não…a constante atualização de infor-mação a divulgar, bem como o im-perioso cumprimento das normas estatutárias sobre informação e publicidade aplicáveis aos advo-gados e às respetivas sociedades, tem originado a proliferação de departamentos de comunicação no seio das mesmas, integrando personagens diferentes das que formavam a habitual narrativa do dia a dia de uma sociedade de advogados. costuma-se dizer que da discus-são nasce a luz. neste caso, a luz resultante da interação destes novos membros com os advoga-dos deu origem a regras de boas práticas que devem ser seguidas criteriosamente por aqueles depar-tamentos de comunicação. na verdade, nem sempre é fácil conciliar os ritmos próprios da co-municação com os ritmos próprios da advocacia, estes tendencial-mente mais ponderados e refle-xivos do que aqueles. como boa prática deve sempre seguir-se a máxima de que na dúvida não se divulga.a interatividade entre estes mun-dos quase opostos dificilmente te-ria resultado não fosse o advento da sociedade da informação ter unido os mesmos no ritmo frenéti-co com que a informação circula e na avidez por informação dos no-vos públicos criados. hodiernamente, a presença na in-ternet das sociedades de advoga-dos não passa apenas pela criação e manutenção de um site institu-

riais resultantes das participações e iniciativas dos seus advogados, como sejam publicações, confe-rências, obras e outras no site pró-prio, mas igualmente partilhar tais materiais via redes sociais, nomea- damente, Facebook e Linkedin. e não duvidamos de que esta parti-lha do saber produzido acaba por ter um alcance muito maior do que se aqueles mesmos materiais ape-nas estivessem disponíveis para download no site. as redes sociais são assim uma importante ferramenta na comu-nicação das sociedades de ad-vogados, principalmente no que concerne à dinâmica própria da comunicação das novidades como sejam o caso dos artigos e obras publicadas pelos seus advoga-dos, conferências e outras, para as quais a estática inerente a um site de internet o torna ineficiente.neste sentido, a Rsa não prescin-de, para comunicar, do uso dos dois sites que gere (Rsa e Rsa Lp – Rede de serviços de advoca-cia de Língua portuguesa), como também do recurso ao Facebook, uma das redes sociais mais po-pulares, e ao Linkedin, rede mais vocacionada para o ambiente bu-siness-to-business. nestes casos, as páginas são atualizadas com regularidade.as redes sociais não devem servir, no entanto, para as sociedades de advogados publicarem estados de alma ou fazer publicidade para captar clientes ou muito menos dar consultas. não devem servir, na verdade, para qualquer outro propósito que não seja o da mera, e muito importante, partilha do sa-ber produzido junto de pessoas

“As redes sociais não devem servir, no entanto, para as sociedades de advogados publicarem estados de alma ou fazer publicidade para captar clientes ou muito menos dar consultas”

interessadas que de forma livre decidiram seguir as actualizações da página daquela sociedade de advogados. sem prejuízo de o ritmo frenético da sociedade da informação im-por o afastamento de preconceitos sobre os meios de divulgação da informação, o rigor e sobriedade impostos a qualquer advogado na divulgação de informação deverão sempre sobrepor-se, não se fazen-do aqui valer como válida a afirma-ção de oscar Wilde que serviu de título a este artigo.

Redes Sociais

cional, que apresente a sociedade, os serviços que promove e as reali- zações que concretiza, disponibi-lizando-as, mas também, e cada vez mais, pela presença das socie-dades nas redes sociais, nas quais a informação circula e prolifera.as sociedades podem assim optar pela partilha de todos os mate-

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advocatus.pt Profissão

o principal desafio que os jovens advogados enfrentam é comum aos demais profissionais de advo-cacia: afirmarem-se “num mercado cujo crescimento não foi propor-cional ao crescimento do número de profissionais que o integra”. a afirmação é do presidente da direção da associação nacional dos Jovens advogados portu-gueses (anJap), José costa pin-to, que constata, porém, que é uma tarefa “mais difícil para quem chega de novo”.

acresce que, “ao contrário do que acontece com os demais ad-vogados, os jovens advogados enfrentam especiais dificuldades resultantes do contexto da regula-mentação do acesso à profissão, que os prejudica e fragiliza no iní-cio da sua atividade; do contexto da falta de regulamentação da prática profissional junto de outros colegas, que permite situações de verdadeira mercantilização de ad-vogados por outros advogados e de mecanismos de captura de va-

os jovens advogados enfrentam especiais dificuldades resultantes do contexto da regulamentação do acesso à profissão, que os prejudica e fragiliza no início da sua atividade

lor do trabalho dos mais jovens; do contexto de instalação em prática independente, que se caracteriza por custos crescentes de insta-lações adequadas para o efeito e dificuldades de cobrança de hono-rários profissionais; e, finalmente, do contexto de falta de controlo da prestação de serviços jurídicos por terceiros não habilitados para o efeito, que permite uma concorrên-cia desigual de terceiros em áreas que potencialmente poderiam ser ocupadas pelos mais jovens”.

a falta de regulamentação da prática profissional causa situações de mercantilização dos jovens advogados. a convicção é do presidente da direção nacional da associação nacional dos Jovens advogados portugueses, José costa pinto, que aponta também como problemas destes profissionais o exercício da profissão de forma gratuita e a “crescente e cada vez mais desavergonhada procuradoria ilícita”. a presidente do instituto de apoio aos Jovens advogados, tânia mota, acrescenta as dificuldades decorrentes da implementação do novo mapa judiciário.

Jovens advogados sofrem mercantilização

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José costa pinto salienta ainda ou-tros problemas que, a par destes, são “verdadeiras feridas abertas” na profissão, “com efeitos perigo-sos no curto, médio e longo pra-zo para a advocacia portuguesa. a saber: “o exercício da profissão de forma gratuita ou similar por muitos jovens advogados”, a “es-cassez de apoios à maternidade” e “a crescente e cada vez mais de-savergonhada procuradoria ilícita”.para minimizar os problemas de entrada na profissão, o advogado sugere “criar plataformas que per-mitam uma valorização profissional dos mais novos, não só no senti-do da sua formação, mas também da criação de oportunidades” para que demonstrem “o seu valor e a sua preparação”. “por outro lado, temos também que assegurar que o contexto geral de acesso e exer-cício da profissão excessivamente penalizador para os jovens advo-gados que a pretendem integrar seja objeto de uma profunda aná-

Advocatus | Considera que a frequência do estágio de ad-vocacia, que permite aceder à Ordem dos Advogados, é compatível com a frequência de um estágio de emprego?José Costa Pinto | mais do que saber se a frequência do está-gio de advocacia é compatível com o estágio de emprego, o

José Costa Pinto,presidente da ANJAP

“A agregação à OA tem que voltar a ser uma honra”que temos definitivamente que nos interrogar é, de facto, se faz algum sentido que em 2014 alguém tra-balhe em portugal durante três anos sem receber qualquer retri-buição pelo seu trabalho. a pergunta central que os advoga-dos se devem colocar a si próprios enquanto classe profissional é a de saber se podem, em consciência, viver bem com esta situação. Da nossa parte, não vemos como. Do nosso ponto de vista, saber se o início desta mudança se faz com recurso a incentivos como os pro-movidos pelo “estágio emprego” ou outro qualquer é o menos rele-vante. o que é fundamental é mu-dar esta realidade que é a todos os títulos inconcebível e que deve me-recer um amplo e urgente debate entre os advogados portugueses.

Advocatus | Como observa a ne-cessidade dos estagiários faze-rem vários exames de aferição durante o estágio da Ordem?JCP | Qualquer cidadão que con-

sulte um advogado tem que es-tar absolutamente seguro de que este tem todas as condições para prestar os serviços que necessi-tam, quer sob o ponto de vista técnico, quer sob o ponto de vista deontológico.afirmado este princípio basilar, somos da opinião de que a ava-liação dos advogados-estagiários e os processos que lhes estão subjacentes devem merecer um acompanhamento permanente que garanta que os mesmos são pre-parados e executados no estrito limite do necessário para garantir a qualidade técnica e deontológica dos advogados admitidos à ordem dos advogados.Do nosso ponto de vista, esta obrigatoriedade não decorre só da necessidade de se cumprir a lei nacional e comunitária, mas também da imperiosa necessida-de de se estabelecer entre todos os advogados portugueses um espírito de união e de colabora-ção que em muito é prejudicado

pelas insuficiências do atual sis-tema de acesso à profissão.a agregação à ordem dos advo-gados tem que voltar a ser uma honra e um orgulho para todos e não o fim de um “injustifica-do pesadelo” ou de um “ciclo interminável”, como já por ve-zes ouvi designarem o atual estágio e os primeiros anos de exercício da advocacia.

Advocatus | Na sua opinião, os estagiários devem fazer apoio jurídico?JCP | Desde cedo que a an-Jap se pronunciou contra a exclusão dos nossos colegas advogados-estagiários do apoio jurídico e a verdade é que até à data a mesma não se encontra substancialmente justificada. Do nosso ponto de vista, esta exclusão baseia-se numa as-sociação injusta entre “juven-tude” e “incompetência”, que não podemos aceitar.

lise e alterado em conformidade”, diz. “a verdade é que ninguém é, nem ninguém pode ser, dono de uma profissão liberal como a nos-sa, muito menos pela lógica do ‘quem chega primeiro ganha’, pelo que é urgente estabelecer-se uma nova abordagem ao fenómeno do número crescente de advogados em portugal que não privilegie nin-guém em particular, mas que privi-legie sim os cidadãos e o estado de Direito”, afirma.por seu turno, a presidente do instituto de apoio aos Jovens advogados (iaJa), tânia mota, considera que compete aos jo-vens advogados trabalharem para serem “profissionais altamente qualificados e competentes, pro-movendo uma aproximação efe-tiva dos cidadãos à justiça, o que se revelará tanto mais necessário quanto o estado promova políticas de afastamento das populações da justiça e dos operadores judiciários que a promovem e realizam, como

Os jovens profissionais “enfrentam especiais dificuldades resultantes do contexto da regulamentação do acesso à profissão, que os prejudica e fragiliza no início da sua atividade”

Compete aos jovens advogados trabalharem para serem “profissionais altamente qualificados e competentes, promovendo uma aproximação efetiva dos cidadãos à justiça”

Profissão

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manifestamente aconteceu com a aprovação do novo mapa judiciá-rio e políticas de encarecimento do acesso aos tribunais que transfi-ram, quase na totalidade, o custo da justiça para os cidadãos e para as empresas”.a presidente do iaJa acredita que “os jovens advogados terão um papel determinante” no exercício e na promoção da função social da advocacia e que devem “con-tribuir ativamente para a dignidade e prestígio da profissão e colabo-rar nas mudanças de paradigma do exercício da advocacia, impos-tas por lei ou pela própria evolu-ção social”. “a confiança na advocacia será outro dos desafios a que os jovens advogados não deixarão de poder estar atentos”, declara. “mais do que um dever de carácter deonto-lógico, a confiança dos cidadãos na advocacia deverá ser, para to-dos nós, um objetivo diário, pre-sente constantemente no nosso

“A agregação à OA tem que voltar a ser uma honra”“A verdade é que ninguém é, nem ninguém pode ser, dono de uma profissão liberal como a nossa, muito menos pela lógica do ‘quem chega primeiro ganha’, pelo que é urgente estabelecer-se uma nova abordagem ao fenómeno do número crescente de advogados em Portugal que não privilegie ninguém em particular, mas que privilegie sim os cidadãos e o Estado de Direito”

desempenho profissional e nas qualificações que procuramos. os jovens advogados devem, ainda, contribuir para o desenvolvimento de uma cultura social que revele as mais-valias da advocacia pre-ventiva, alertando para os perigos decorrentes do recurso a um ad-vogado apenas quando o litígio já existe”, acrescenta. na sua opinião, “a prossecução destes objetivos possibilitará aos jovens advogados serem consi-derados e reconhecidos como profissionais preparados, deposi-tários da confiança dos cidadãos e das empresas”.sobre as oportunidades de os jo-vens integrarem as sociedades de advogados nacionais, José costa pinto crê que “existirão sempre” possibilidades. “acreditamos tam-bém é que é tempo – e já vai tar-de – de os advogados portugueses discutirem e estudarem um enqua-dramento adequado que regule as relações entre os advogados que colaboram com outros advogados ou com sociedades (regulares ou irregulares) de advogados”, enten-de. “infelizmente e incompreen-sivelmente, este tema parece ter sido esquecido pela classe, que aceita passivamente que milhares de advogados colaborem com ou-tros sob uma falsa e desadequada noção de prestação de serviços in-dependente”. para o advogado, este é um dos aspetos “fundamentais”. “é ur-gente os advogados portugueses fazerem este debate internamente com a maior urgência, sob pena de corrermos o risco de a breve trecho terceiros menos habilitados virem estabelecer regras a este propósi-to”, alerta.por sua vez, tânia mota assegu-ra que existem oportunidades nas sociedades de advogados para os jovens. prova disso é “que as so-ciedades de advogados nacionais estão atentas e tantas vezes proce-dem ao recrutamento de estudan-tes finalistas de Direito diretamente nas universidades”, além de recru-tarem “através da divulgação de ofertas para jovens advogados”. na opinião da presidente do iaJa, “este interesse das sociedades de advogados revela o reconhecimen-to da qualidade e capacidade dos advogados estagiários e dos futu-ros jovens advogados. Revela, no fundo, a importância dos jovens advogados nos quadros das socie-dades de advogados nacionais”. “como forma de clarificar a relação entre as sociedades de advogados

buem muito negativamente para afastar os cidadãos e empresas da realização da justiça”. tânia mota espera que a retoma económica, “conjugada com a necessidade de redução das taxas de justiça, con-tribuirá para aliviar os efeitos da recessão económica no exercício da profissão, possibilitando a inde-pendência, autonomia e afirmação dos jovens advogados”.por sua vez, o presidente da dire-ção nacional da anJap sustenta que a crise se traduz na “falta de trabalho e, no caso dos advoga-dos, muitas vezes na incapacida-de dos clientes pagarem a tempo e horas – por vezes, nem a tempo, nem a horas” – os “honorários pro-fissionais”. pensa que a jovem ad-vocacia sofre “especialmente com a recessão económica” tendo em consideração que “os cidadãos com menos recursos recorrem – e bem – a um sistema de acesso ao

nacionais que recrutam os serviços dos jovens advogados, pensamos ser necessário e relevante debater e regular o exercício da advocacia por parte dos jovens nas socieda-des de advogados, especialmente nas de maior dimensão, de modo a garantir a autonomia e indepen-dência técnica e mesmo financeira dos jovens advogados”, diz.a advogada encara a recessão económica como uma “preocu-pação de todos os portugueses, e, por isso também de todos os advogados, com especial impac-to sobre os jovens”. afirma que a “carência de recursos financeiros dos cidadãos portugueses afasta--os do recurso à Justiça, o que tem um impacto direto sobre os servi-ços que são solicitados aos jovens advogados, dificultando a sua afir-mação no meio profissional”. con-sidera, por isso, “premente, como forma de aliviar o custo do acesso à Justiça, a redução das respetivas taxas que, elevadíssimas, contri-

“Os jovens advogados devem, ainda, contribuir para o desenvolvimento de uma cultura social que revele as mais-valias da advocacia preventiva, alertando para os perigos decorrentes do recurso a um advogado apenas quando o litígio já existe”

“Pensamos ser necessário e relevante debater e regular o exercício da advocacia por parte dos jovens nas sociedades de advogados, especialmente nas de maior dimensão, de modo a garantir a autonomia e independência técnica e mesmo financeira dos jovens advogados”

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Profissãodireito que tem tratado muito mal os advogados que nele ativamente e com muito esforço participam”.“escuso-me a comentar as polé-micas das supostas fraudes em grande escala que se criaram à volta deste tema e que se revela-ram pífias e desajustadas, mas é impossível não falar dos inaceitá-veis atrasos no pagamento dos ho-norários profissionais dos advoga-dos que tem sido uma verdadeira

Advocatus | Considera que a fre-quência do estágio de advoca-cia, que permite aceder à Ordem dos Advogados, é compatível com a frequência de um estágio de emprego?Tânia Mota | o estágio de advoca-cia é regulado por regras próprias que nunca perdem de vista o inte-resse público e o assento constitu-cional desta profissão, até porque os advogados são um garante da defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.Devemos analisar a questão, não só sob o ponto de vista dos direi-tos e interesses dos advogados estagiários, mas especialmente do ponto de vista dos cidadãos que acedem à justiça, que con-fiam na ordem dos advogados como entidade reguladora do acesso à profissão, sendo que o estágio de advocacia é o úni-co que garante a habilitação dos advogados estagiários para

Tânia Mota,presidente do IAJA

“O estágio é um enriquecimento para os futuros advogados”

serem futuros advogados. a com-patibilização da frequência de um estágio emprego, nos termos em que se encontra legalmente previsto, durante o estágio de advocacia, seria suscetível de perigar a independên-cia e a autonomia a que um advo-gado está sujeito, mesmo enquanto advogado estagiário. na verdade, o modelo de estágio emprego prevê uma dependência funcional e remu-neratória que, desde cedo, se deve evitar. é verdade que temos uma for-te preocupação social resultante das dificuldades de cariz económico-fi-nanceiro que afetam os advogados e especialmente os advogados esta-giários, mas, no entanto, pensamos que os valores da independência, au-tonomia e emancipação dos advoga-dos estagiários merecem uma preo- cupação que se sobrepõe à eventua- lidade abstrata, e mesmo concreta, de fazer perigar estes valores, o que pode resultar da frequência de um estágio emprego em substituição de um estágio de advocacia. assim, por todas estas razões, pensamos que o estágio de advocacia não é compa-tível, nem pode ser substituído, pela frequência de um estágio emprego, pelo menos até a uma eventual alte-ração da legislação em vigor relativa aos estágios emprego, coadunando--os com as exigências próprias do estágio de advocacia.

Advocatus | Como observa a ne-cessidade dos estagiários fazerem vários exames de aferição durante o estágio da Ordem?TM | o estágio promovido pela or-dem dos advogados constitui um verdadeiro e efetivo enriquecimen-to para os advogados estagiários.

assim é, porque durante o período de frequência do curso de Direito nas universidades (sendo certo que apreendemos um conjunto de co-nhecimentos sem os quais não nos seria possível aceder ao estágio de advocacia, e por isso essenciais ao exercício da atividade dos advoga-dos estagiários), não nos habilita, por si só, ao exercício da advocacia. o contacto com a prática forense apenas se inicia de forma plena no momento do estágio de advocacia. como fazer e a que regras obedece a elaboração de articulados, requeri-mentos, abordagem aos colegas, às partes, às testemunhas, a própria es-tratégia processual, são noções que apenas conhecemos durante o es-tágio de advocacia e aperfeiçoamos ao longo da nossa carreira enquanto advogados. os formadores da or-dem dos advogados são advogados de reconhecida competência e méri-to, que partilham o seu conhecimen-to com os advogados estagiários. uma preocupação premente e diária dos advogados é a contabilização de prazos processuais, que apenas com o contacto e conhecimento da realidade prática se consegue ver-dadeiramente apreender. o estágio de advocacia é uma fase de forma-ção e, nessa medida, entendemos como essencial a avaliação dos co-nhecimentos das várias disciplinas do Direito que nos são ministradas. naturalmente que em tudo é possível melhorar, mas pensamos que o está-gio de advocacia na medida em que dota os advogados estagiários das ferramentas práticas que os qualifi-cam para o exercício da advocacia é uma fase relevantíssima para a for-mação dos futuros advogados.

Advocatus | Na sua opinião, os estagiários devem fazer apoio jurídico?TM | pensamos que o regime atual se adequa à relevante função da defesa dos cidadãos economicamente carenciados. isto não significa que os advo-gados estagiários não possam estar preparados para essa incumbência, mas não pode-mos olvidar que os mesmos se encontram ainda em fase de formação e que não são ainda advogados. o acesso ao Direi-to e aos tribunais é um direito complexo e que alcança vários elementos, designadamente a informação jurídica, a consulta jurídica, o direito à proteção ju-diciária e o direito de assistência por advogado nas diligências perante qualquer autoridade pú-blica, incluindo os tribunais. a dignificação do sistema de acesso ao direito exige que ao cidadão mais carenciado seja nomeado um advogado, a quem a ordem dos advogados, já re-conheceu, com a atribuição da cédula profissional, a qualifi-cação necessária para o pleno exercício da advocacia.a nomeação de um advogado estagiário, por mais preparado e qualificado que este pudesse ser, traduziria sempre a imposi-ção, já que a escolha do patrono ou defensor não está ao alcance do beneficiário do apoio judiciá-rio, de um profissional que ainda não completou a sua formação e minaria, por isso mesmo, a confiança no próprio sistema do acesso ao direito.

chaga neste sistema de acesso ao direito e que muito tem prejudica-do os advogados portugueses e os jovens advogados em particular que nele participam”, acrescenta o advogado. neste contexto, a saída de jovens advogados para trabalhar no es-trangeiro é inevitável? José costa pinto admite que, embora existam sempre oportunidades em portu-gal, muitos advogados têm pro-

curado alternativas no exterior. Já tânia mota aponta “a aposta no Direito internacional e europeu, de forma a capacitar os jovens advo-gados a intervir nessas áreas dos Direito”, como uma “oportunidade que não deve ser esquecida”. e acredita que tal não implica a saída de jovens advogados de portugal, mas antes permite-lhes “o exercí-cio globalizado e mais qualificado da advocacia”.

É impossível não falar dos inaceitáveis atrasos no pagamento dos honorários profissionais dos advogados que tem sido uma verdadeira chaga neste sistema de acesso ao direito

advocatus.pt advocatus.pt

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Telecomunicações

“O estágio é um enriquecimento para os futuros advogados”

advocatus.pt

em 24 de outubro foi publicado o De-creto-Lei n.º 158/2014, o qual define as novas regras de localização de iva das prestações de serviços de tele-comunicações, radiodifusão ou tele-visão e dos serviços por via eletróni-ca, quando efetuadas a não sujeitos passivos, transpondo para o orde-namento jurídico as regras comuni-tárias existentes sobre esta matéria. De acordo com as novas regras, as prestações de serviços acima men-cionadas passam a ser tributadas, a partir de 1 de janeiro de 2015, no lugar onde o destinatário está esta-belecido / domiciliado, ao invés de a respetiva tributação ocorrer no lugar da sede ou estabelecimento estável do prestador (regras atuais).

“De acordo com as novas regras, as prestações de serviços acima mencionadas passam a ser tributadas, a partir de 1 de janeiro de 2015, no lugar onde o destinatário está estabelecido / domiciliado, ao invés de a respetiva tributação ocorrer no lugar da sede ou estabelecimento estável do prestador (regras atuais)”

Associada principal da CMS Rui Pena & Arnaut

Sócio da CMS Rui Pena & Arnaut

O Mini Balcão único e as novas regras de localização de

iVA para 2015o moss representa um avanço significativo a nível europeu no sentido da simplificação das

obrigações de iva e da harmonização das regras entre prestadores comunitários e não-comunitários.

rAqUEL MONTEs FErNANDEs

PATriCk DEwErBE

para o efeito, foram criados meca-nismos de simplificação das obriga-ções declarativas e de pagamento do iva devido nos vários estados--membros (mini balcão único ou moss, na sua sigla em inglês).as novas regras abrangem os pres-tadores de serviços de telecomuni-cações, radiodifusão ou televisão e serviços por via eletrónica prestados a pessoas estabelecidas ou domi-ciliadas na comunidade que não sejam sujeitos passivos, indepen-dentemente de tais prestadores estarem sedeados ou estabeleci-dos na comunidade (Regime da união) ou em países terceiros (Re-gime extra-união).tendo em vista evitar que estes pres-tadores de serviços, comunitários e não-comunitários, tenham de se re-gistar em sede de iva (e aí cumprir com obrigações declarativas e de pagamento) em cada um dos países de residência dos seus clientes (não sujeitos passivos), foi adotado um re-gime especial que permite:• OregistocentralizadodeIVAnum

único estado-membro (o estado--membro de identificação);

• A entrega de uma declaraçãode iva referente às prestações de serviços efetuadas a clientes domiciliados noutros estados--membros (estados-membros de consumo), discriminando os elementos necessários ao apuramento e pagamento do imposto em cada um desses estados;

• O pagamento centralizado doiva devido em cada um dos es-tados-membros de consumo, à taxa de iva desses estados.

a inscrição no moss é facultativa e pode ser feita a todo o tempo

pelos prestadores de serviços por ele abrangidos, através do registo na página especialmente criada para o efeito.após a submissão pelo prestador da declaração (centralizada) de iva, a qual deverá ocorrer até 20 dias após o fim de cada trimestre civil (prazos harmonizados no seio da comunidade), o estado-membro de identificação fica incumbido do seu reencaminhamento para os es-tados-membros de consumo (está prevista uma comunicação estreita, por via eletrónica, entre todos os estados-membros).o pagamento devido pelos servi-ços efetuados no âmbito do moss deverá ser realizado no mesmo prazo da declaração de iva, pelo montante global (correspondente às várias taxas de iva devidas), sendo posteriormente repartido pelos estados-membros de con-sumo (pagamentos fora de prazo ficam fora do moss). as regras de faturação aplicáveis são as do estado-membro de consumo.o moss representa um avanço sig-nificativo a nível europeu no sentido da simplificação das obrigações de iva e da harmonização das regras entre prestadores comunitários e não-comunitários. no entanto, também comporta cus-tos de contexto acrescidos para as empresas, na medida em que obriga à verificação criteriosa da residência dos seus clientes, à adaptação (mais uma!) das suas regras contabilísti-cas, declarativas e de faturação, e à exposição às várias administrações fiscais, que podem proceder a audi-torias a sujeitos passivos de outros estados-membros.

“Também comporta custos de contexto acrescidos para as empresas, na medida em que obriga à verificação criteriosa da residência dos seus clientes, à adaptação (mais uma!) das suas regras contabilísticas, declarativas e de faturação, e à exposição às várias administrações fiscais, que podem proceder a auditorias a sujeitos passivos de outros Estados--membros”

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Televisão advocatus.ptEstante

leituras internaciOnaisnesta edição, apresentamos as sugestões de leitura de obras internacionais jurídicas publicadas pelo grupo Wolters Kluwer e disponíveis na biblioteca digital smarteca.

european civil procedure Autor: paolo BiavatiFornece uma análise abrangente da legislação e normas que determinam o procedimento e prática civil na união europeia.

international contractingAutor: Larry a. Dimatteoa terceira edição da obra descreve minuciosamente as novas leis de contratação internacional, bem como conceitos e procedimentos que continuam a redefinir a pesquisa, elaboração e execução de contratos internacionais.

concise european patent lawAutores: Richard hacon, Jochen pagenberga segunda edição da obra tem como objetivo oferecer ao leitor uma compreensão rápida de todas as disposições da lei de patentes em vigor na europa que tenham sido decretadas a nível europeu e internacional.

concise european trademark and design law Autores: charles gielen, verena von Bomhardnum mercado cada vez mais globalizado e diversificado, a importância das marcas é cada vez maior. no final do século passado e início deste século, a propriedade intelectual começou a tornar-se um tema jurídico europeu.

international tax lawAutor: andrea amatucciesta coleção completamente atualizada oferece uma análise comparativa por parte de peritos, realizada por uma amostra dos melhores estudiosos em Direito tributário internacional, debruçando-se sobre a teoria fundamental do direito fiscal e das perspetivas no futuro próximo dos sistemas legislativos fiscais a nível internacional.

towards a european civil codeAutores: váriosa quarta edição da obra reflete o estado atual do debate sobre o futuro do direito privado europeu, trazido à luz por um grande número de especialistas em direito privado europeu.

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a garrigues é a maior firma de advogados da europa continental, mas está muito concentrada em espanha. e porque o mercado espanhol está saturado tem ambições de internacionalização: a américa Latina é o primeiro passo na construção de uma sociedade global. Diogo Leónidas Rocha é o principal rosto da sociedade em portugal e, em entrevista, partilha o estado atual do mercado – com um olhar particular para as recentes operações de vendas de ativos – e a estratégia da firma.

Diogo Leónidas rocha, partner da Garrigues em Portugal

Queremos ser uma sociedade global

Entrevista

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Fátima de sousa, [email protected]

Advocatus | Estamos no fim do ano e a pergunta impõe-se: como correu 2014 para a Garri-gues?Diogo Leónidas Rocha | correu bem. nalguns aspetos, este foi um ano muito rico em eventos que, obviamente, também beneficiam os advogados. e nós, em particu-lar, estivemos envolvidos em vários desses eventos, pelo que tivemos um acréscimo de trabalho. estou a falar das privatizações, mas tam-bém dos ativos que foram coloca-dos à venda, nomeadamente do Banco espírito santo e que impul-sionaram o mercado de fusões e aquisições. e, apesar de as razões poderem ter sido menos positivas, as consequências foram positivas, pois notou-se que há um grande interesse no mercado internacional pelas empresas portuguesas. por vezes, diz-se que as empresas chi-nesas e angolas se estão a apro-veitar do mercado, mas eu acho que o mercado português tem ex-celentes profissionais que fizeram excelentes empresas. e, ao contrá-rio do que se tem dito, as empresas não foram vendidas ao desbarato, os preços foram bastante eleva-dos. Daqui retiro duas conclusões: primeiro, os ativos eram interes-santes e depois o valor foi criado com grande profissionalismo e cativou o interesse internacional. Advocatus | Mas diria que, no fi-nal, ficou uma imagem positiva de Portugal como destino de in-vestimento?DLR | acho que sim. é evidente que pode sempre ficar a ideia de que estamos a vender portugal aos bocadinhos. mas eu prefiro a parte positiva da história, a atratividade que os ativos portugueses mere-ceram no mercado internacional. ninguém compra algo que não in-teressa, ninguém paga demais se o ativo não interessa.

Advocatus | De que geografias veio esse interesse?DLR | notou-se muito investimento por parte da china e também de angola. mas há sempre inúmeros concorrentes e de origens geográ-ficas bastante distintas. não acho que seja propriamente um movi-mento chinês ou angolano. tive-mos investimentos da alemanha e dos estados unidos, por exemplo. penso que temos conseguido fa-zer com inteligência a gestão da concorrência, seja nos ativos que foram colocados e vendidos atra-vés de opa, seja nas operações de

conflitos de interesse foram bru-tais e parecia difícil encontrar uma sociedade que estivesse livre. são tantas as áreas envolvidas e tantos os players envolvidos em todas as transações. neste caso notou--se, mas de resto acho que o mercado pode ter tendência para a consolidação. Advocatus | E temos firmas à altura da complexidade destes casos?DLR | temos profissionais muito bons. mas somos um país relativa-mente pequeno para competir ao nível da especialidade que existe lá fora. nas grandes firmas ingle-sas e americanas o nível de es-pecialidade é excessivo. em por-tugal o advogado é bastante mais abrangente, embora, obviamente, à medida que se caminha para a consolidação também se caminha para a especialização. as socie-dades tornaram-se maiores, o que permite maior especialização. e é

“As sociedades de advogados têm uma vantagem: somos prestadores de serviços e ganhamos sempre, mesmo quando o cliente não ganha”

privatização. sempre conseguimos que fossem vendidos num merca-do aberto, não discriminatório e em concorrência, maximizando o valor de venda.

Advocatus | Daí que para a Gar-rigues, com áreas de prática pre-ferenciais como M&A, Bancário ou Financeiro, o balanço seja positivo…DLR | as sociedades de advogados têm uma vantagem: somos pres-tadores de serviços e ganhamos sempre, mesmo quando o cliente não ganha. preparamos o proces-so, fazemos auditoria legal do ativo que se vai comprar, preparamos a documentação para a oferta não vinculativa e depois a vinculativa… se calhar, 80 por cento do nosso trabalho é feito antes de se decidir quem é o comprador. e, ganhando ou não, o nosso trabalho está aí. Às vezes a advocacia portuguesa até parece curta. em casos ex-cecionais como este do Bes os

“Ao contrário do que se tem dito, as empresas não foram vendidas ao desbarato, os preços foram bastante elevados”

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Entrevista

também uma decorrência própria dos meios de tecnologia que exis-tem hoje em dia. Quando comecei a trabalhar, respondíamos por fax. um dia, dois dias dava tempo ao advogado para estudar a questão. hoje, a advocacia é um bocadinho online. o advogado ou sabe ou não sabe e isso requer, necessariamen-te, especialização. é lançada uma opa e imediatamente é chamado o advogado para responder às perguntas que estão em cima da mesa. é uma tendência normal do mercado – a consolidação para permitir a especialização.

Advocatus | Mas consolidação em que medida? No sentido da fusão entre sociedades?DLR | entre sociedades grandes não. a fusão de pessoas é com-

plicada. Diria que é mais fácil a integração de pessoas em socie-dades que já têm a sua estratégia e os seus valores, algo como um contrato de adesão. no caso da garrigues, qualquer pessoa que se junte à firma junta-se a uma estratégia. mas no caso das so-ciedades mais pequenas isso não acontece e acredito que há muitas sociedades com cinco, seis, sete advogados de grande qualidade que poderão, num movimento de consolidação do setor, juntar--se a grandes sociedades. é um bocadinho como a pequena loja de comércio que vai resistindo e depois cede ao grande centro comercial. mas também acredito que essas sociedades continuem a existir autonomamente e te-nham viabilidade.

Advocatus | Se a tendência é de consolidação, como ex-plica as cisões de equipas de grandes sociedades para criação de projetos próprios? DLR | não são movimentos con-traditórios. cada caso terá as suas razões, mas parece-me que essas cisões resultam mais de desalinhamento do que de estra-tégia de mercado. a advocacia é um negócio de pessoas e não de capital, pelo que não há propria-mente uma estratégia definida que possamos utilizar como com-paração, não há um benchmark. Advocatus | Mas há lugar no mercado para realidades tão dis-tintas?DLR | são mercados diferentes. as pequenas sociedades de advoga-

“Acredito que há muitas sociedades com cinco, seis, sete advogados de grande qualidade que poderão, num movimento de consolidação do setor, juntar-se a grandes sociedades”

“Temos conseguido fazer com inteligência a gestão da concorrência, seja nos ativos que foram colocados e vendidos através de OPA, seja nas operações de privatização. Sempre conseguimos que fossem vendidos num mercado aberto, não discriminatório e em concorrência, maximizando o valor de venda”

“As pessoas continuam a contar, mas há uma institucionalização das regras com que a sociedade funciona. Os advogados que entram na Garrigues procuram uma carreira, uma marca”

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dos e a advocacia individual não são concorrentes das grandes so-ciedades. a garrigues, por exem-plo, não presta serviços jurídicos individuais, pelo que não con-corremos com essa prática nem essa prática concorre connosco. a melhor advocacia individual, no âmbito do Direito da Famí-lia, das sucessões, do arrenda-mento, por exemplo, é prestada em pequenos escritórios e em prática individual, sem dúvida. acho que portugal vai continuar a ser um mercado de advocacia individual e de pequena empresa na assessoria normal e recorrente. mas também há sociedades que estão no meio, de 15, 20 advoga-dos, e que fazem muita advocacia empresarial e muito competente. conseguem grandes operações. e é aí que acredito que possa haver algum movimento de consolidação. o mercado provou que 200 advo-gados já é excessivo. Quando se chega e esse limite, as sociedades tendem a parar ou a reduzir a di-mensão. até porque, sendo um mercado pequeno, uma dimensão excessiva pode criar conflitos de interesses que são difíceis de gerir.

Advocatus | Como é que a Garri-gues faz essa gestão?DLR | a legislação é clara em ter-mos dos conflitos que existem, o jurídico e o comercial. o comercial depende da própria sociedade, de como se quer posicionar mesmo não havendo conflito jurídico. na garrigues gerimo-lo de forma bas-

“O mercado já não é de pergunta-resposta, é de encontrar soluções para os problemas que vão surgindo. O advogado tem de ajudar a empresa a criar valor”

“O mercado provou que 200 advogados já é excessivo. Quando se chega e esse limite, as sociedades tendem a parar ou a reduzir a dimensão. Até porque, sendo um mercado pequeno, uma dimensão excessiva pode criar conflitos de interesses que são difíceis de gerir”

tante restritiva, a portugal como a nível global. Já têm aconteci-do transações em que temos um cliente de um lado e outro cliente do outro e preferimos não estar. temos uma relação de longo prazo com os clientes, de fidelidade e de defesa do interesse dos clientes, pelo que privilegiamos esse rela-cionamento em vez de uma transa-ção momentânea.

Advocatus | Mencionou a Garri-gues internacional. Em que me-dida os escritórios em Portugal beneficiam das sinergias de uma firma global?DLR | Beneficiamos em três as-petos fundamentais: os clientes, o suporte documental e tecnológico e o know how – por exemplo, em espanha, com a dimensão que

tem, a garrigues é muito mais es-pecializada – e a nível dos recursos humanos, isto é, conseguir ter um plano de carreira internacional para todos os profissionais da firma, que é igual em todo o lado. este aspeto faz com que a sociedade seja uma verdadeira partnership. aprendíamos na universidade que as sociedades de advogados são sociedades civis em que o capital é o cérebro dos profissionais que atuam, enquanto as empresas, como sociedades comerciais, ti-nham como capital o dinheiro e vi-savam o lucro. esta dimensão mu-dou. a garrigues é uma verdadeira sociedade comercial. é evidente que presta serviços. e que há um contrato que gere uma relação de sócios que define os princípios da firma, mas a sociedade perdura

“Os clientes, muitas vezes, já não escolhem a Garrigues pela qualidade do profissional A ou B, mas pela qualidade que a firma assegura devido aos seus valores e à sua história. É um selo de qualidade”

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Entrevista

Advocacia ativa e criativa

para além do fundador ou do só-cio momentâneo. isto faz com que exista um branding forte. Faz com que a sociedade tenha determina-dos valores com que os clientes se identificam. e os clientes, muitas vezes, já não escolhem a garrigues pela qualidade do profissional a ou B, mas pela qualidade que a firma assegura devido aos seus valo-res e à sua história. é um selo de qualidade. as pessoas continuam a contar, mas há uma institucio-nalização das regras com que a sociedade funciona. os advoga-dos que entram na garrigues pro-curam uma carreira, uma marca.

Advocatus | E há um investimen-to assumido na promoção da marca?DLR | a ideia não é fazer marke-ting para vender produto e angariar clientela. usamos o branding para tentar transmitir aos clientes um selo de qualidade e de prática dos advogados que temos. a nossa ideia é ter os princípios de quali-dade e de profissionalismo bem definidos e associá-los à marca, para que os clientes saibam que, com esse selo, são bem servidos em qualquer parte do mundo. aliás, este movimento da garrigues, de passar de uma rede de afinitas, com parcerias locais, para escritó-rios próprios tem muito a ver com isso, com imprimir o selo de qua-lidade em todos os escritórios que abre. e os clientes apreciam isso. a decisão dos clientes é diferente. notamos uma grande diferença.

Advocatus | A Garrigues tem--se destacado nos diretórios também pela inovação. Como se aplica a inovação a uma sociedade de advogados? DLR | a advocacia mudou mui-to. Quando comecei a trabalhar, o cliente pedia informação que hoje é perfeitamente gratuita, está na internet. antigamente, a advocacia era mais passiva, o cliente fazia a pergunta e o ad-vogado respondia. o cliente vi-nha ao escritório do advogado, todos os clientes vinham, mes-mo os estrangeiros. hoje é uma advocacia ativa. o cliente rara-mente vem ao escritório do ad-vogado, o advogado vive mas dentro da empresa do cliente e tenta perceber as necessidades do cliente. é aí que tem de ser inovador, criativo. o mercado já não é de pergunta-resposta, é de encontrar soluções para os problemas que vão surgindo. o advogado tem de ajudar a em-presa a criar valor.

Advocatus | Mas esse novo papel decorre de um movi-mento que é externo, decorre nomeadamente das tecnolo-gias de informação…DLR | as necessidades são no-vas. Dou-lhe um caso típico – a fusão da pt com a oi. a socieda-de que resultar dessa fusão vai ser cotada simultaneamente no Brasil, em portugal e em nova

iorque. nunca foi feito. não está no código. a lei não diz, só dá peque-nos indícios. e, como é a primeira vez que se faz, precisa de criativida-de, o que vai para além do Direito. as tecnologias de informação fi-zeram muito isso, a realidade está à frente da lei. hoje é muito difícil que uma lei esteja décadas sem ser mudada. por um lado, dizemos que não há estabilidade jurídica, mas, pelo outro, estamos sempre a reclamar que a lei é retrógra-da e não prevê as situações. há um equilíbrio difícil entre a esta-bilidade do normativo jurídico e a necessidade de estar a atualizá--lo para responder às necessida-des. e a inovação é isso. pede--se ao advogado algo que não se pedia, que tenha papel ativo na criação de valor da empresa. Advocatus | E onde é que ficam os diretores jurídicos dos clien-tes nessa equação?DLR | são duas realidades de ad-vocacia distintas. o conhecimento da atividade da empresa está den-tro da empresa e nisso os advoga-dos da empresa são muitas vezes melhores do que as sociedades de advogados. a advocacia inter-na é de elevada qualidade. Depois precisa de assessoria em áreas es-pecíficas e para as quais não tem equipa. são duas realidades que cada vez mais trabalham juntas. Razão pela qual muitos advogados de sociedades vão para a direção

jurídica de empresas. os advo-gados de empresa querem ad-vogados que conheçam bem a realidade da empresa. e cada vez mais a advocacia externa não é de resposta jurídica, é de solução, o cliente não per-gunta qual o regime jurídico, não quer saber a lei, quer sa-ber qual é a solução. Quando comecei a trabalhar, sempre que dávamos um parecer havia muita fundamentação jurídica por trás. hoje o cliente não quer saber de códigos, quer saber se pode ou se não pode. o advo-gado alerta para o risco só com a fundamentação necessária. Advocatus | Na empresa, há essa especialização no negó-cio. Mas numa sociedade de advogados até onde pode ir a especialização?DLR | até onde a dimensão per-mite. aqui há uns anos fui tirar um curso em Londres e havia um ad-vogado que era especializado só em restrição de venda de valores mobiliários nos estados unidos. Daquilo sabia muito, mas só sabia daquilo. é um nível de especiali-zação que é impossível termos em portugal. mas começamos já a ter especialização em áreas. a especialização só é necessária porque a resposta é pedida num minuto e num minuto não temos tempo para estudar. o advogado ou sabe ou não sabe.

“No mercado ibérico, a expansão é muito para a América Latina, não só pelas sinergias da língua, mas pelos próprios investimentos. Queremos ser uma empresa líder nesses mercados”

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“Há um equilíbrio difícil entre a estabilidade do normativo jurídico e a necessidade de estar a atualizá-lo para responder às necessidades. E a inovação é isso”

Advocatus | O que determinou a mudança?DLR | a garrigues está a apostar muito na internacionalização. a garrigues é a maior sociedade da europa continental, mas está muito concentrada em espanha e o mer-cado espanhol está muito satura-do. sentimos necessidade de in-ternacionalização e sentimos essa necessidade por parte dos clien-tes. o movimento não é só na ad-vocacia, há um movimento global de internacionalização das empre-sas e os advogados acompanham os clientes para onde eles vão. é evidente que, no mercado ibé-rico, a expansão é muito para a américa Latina, não só pelas siner-gias da língua, mas pelos próprios investimentos. Queremos ser uma empresa líder nesses mercados, não queremos ter um escritório de representação ou uma em-presa pequena, a nossa intenção é concorrer mesmo nesses mer-cados e, para isso, chegámos à conclusão de que era melhor ter presença própria.

Advocatus | Estamos a falar de que mercados?DLR | começou-se pelo méxico, colômbia, peru e seguem-se ou-tros, podemos chegar à argentina ou ao chile. a ideia é prosseguir este tipo de investimento com es-critórios próprios, não esquecendo a europa: como disse, a garrigues está muito concentrada em espa-nha, por que não entrar noutros países, por que não concorrer em mercados sofisticados?

Advocatus | E a África lusófona interessa à Garrigues?DLR | interessa, embora seja um mercado diferente. tem de ser estu-dado. angola é um mercado que re-quer uma presença local forte, não dá para trabalho cross border. há muito trabalho, mas requer presen-ça constante. por outro lado, exige um grande investimento. Luanda não é uma cidade barata. o risco de retorno é maior. o que eu noto no mercado angolano é que exige um investimento de longo prazo, é um mercado cujos clientes sabem o que querem, querem confiança e essa confiança vai sendo asse-gurada ao longo dos anos. há um grande movimento de fidelidade. a garrigues não está lá, já fez al-guns trabalhos nessa lógica de cross border, o que tem algumas limitações, mas é um merca-do que não afastamos no futuro, como é óbvio.

Advocatus | E quanto a outros mercados europeus, mais sofis-ticados, como disse? É possível a uma sociedade ibérica concor-rer com uma anglo-saxónica?DLR | há um posicionamento di-ferente das sociedades espanho-las e das inglesas. as espanholas têm uma presença estratégia, a das inglesas é financeira. Daí que as sociedades inglesas não vejam portugal como país estratégico. têm um nível de rentabilidade brutal e não sei se portugal con-segue acompanhar isso. a garrigues está cá, não pro-priamente indexada ao lu-cro que possa tirar da práti-ca portuguesa, mas porque é uma presença estratégica. a grande diferença é, de facto, o nível de rentabilidade. e isto por-que é nos mercados financeiros que se centraliza boa parte da

“Angola é um mercado que requer uma presença local forte, não dá para trabalho cross border. Há muito trabalho, mas requer presença constante. Por outro lado, exige um grande investimento”

economia global. Daí que Londres tenha um mercado de advocacia se calhar anormal para a dimen-são do país. mas não vejo razão para que uma firma não inglesa não possa concorrer com uma in-glesa. e o projeto garrigues é isso mesmo. Fazer uma sociedade a nível global e internacionalizar-se. mas é mais difícil para a garrigues começar com a sua marca própria no mercado anglo-saxónico. para já, não está nos horizontes. a estratégia tem sido ter um es-critório em Londres e outro nos estados unidos, mas que fun-cionam como ponto de ligação para sociedades anglo-saxónicos que precisem de serviços onde a garrigues está presente ou para quando a garrigues precisa de serviços nesses países. são mais de representação do que de ativi-dade própria.

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Televisão

ETV/Advocatus | O que é o Direi-to do Desporto?Fernando Veiga Gomes | o Direi-to do Desporto é, antes de mais, uma área nova do Direito. é uma área que toca com uma série de assuntos relacionados com o des-porto, com a atividade desportiva e com os agentes envolvidos nessa mesma atividade. e que envolve variadíssimas modalidades e onde vai beber a outros ramos do Direi-to, com quem tem relações próxi-mas em termos de conhecimentos, seja o laboral, o administrativo, o processual e o fiscal. portanto, vai buscar alguma dessa experiência e, além disso, tem a regulamenta-ção específica: os regulamentos, os estatutos, as instituições.

ETV/Advocatus | As regulamen-tações das federações. Tudo isso entra no Direito do Desporto? FVG | tudo isso, porque isso exige um conhecimento específico, não só dessa regulamentação, mas do desporto em si e da indústria asso-ciada a esse mesmo desporto. De-pois cada atividade desportiva tem a sua própria indústria, umas mais reguladas outras menos reguladas, instituições nacionais, instituições internacionais e tudo isso é uma área muito abrangente e que requer dedicação específica.

ETV/Advocatus | Em Portugal, que modalidades é que dão mais tra-balho aos advogados hoje em dia?FVG | o futebol domina naturalmen-

“Temos tido muita experiência de aconselhamento de agentes, de clubes, de investidores, na aquisição e na estruturação desse tipo de investimentos em compra de percentagens de direitos económicos dos jogadores”

te a área, é óbvio. e nomeadamente em termos daquilo que é o desporto profissional, em portugal absorve a maioria do trabalho. e nós não fu-gimos a essa regra e a maioria do trabalho que temos também é rela-cionada com o futebol. temos procu-rado diversificar, trabalhando outras áreas do desporto, não só o futebol. inclusive, assinámos recentemente um protocolo com a confederação do Desporto de portugal, que é uma associação que reúne todas as fede-rações desportivas que não tenham o tal protocolo profissional.

ETV/Advocatus | Prestam um con-junto de serviços aos atletas e aos clubes?FVG | nós prestamos via confedera-

os protagonistas do mundo do desporto carecem de aconselhamento jurídico especializado de modo a poderem antecipar as consequências das suas decisões. Quem o afirma é o sócio da abreu advogados Fernando veiga gomes, em entrevista ao Direito a Falar, uma parceria televisiva entre o etv e o advocatus.

Desporto beneficia de aconselhamento jurídico especializado

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Desporto beneficia de aconselhamento jurídico especializado

“A mentalidade dos clubes e dos agentes desportivos ligados aos clubes, que é quem decide contratar ou não determinados serviços jurídicos, tem de mudar”

ção, não temos relação direta com os clubes. as questões são colocadas à confederação, que as reencaminha para nós e, através dos nossos ad-vogados e tendo em conta, natural-mente, a questão colocada, damos o aconselhamento jurídico neces-sário. não representamos nunca nem os atletas, nem as federações, contra a confederação ou contra as próprias federações. isso está fora do âmbito desse protocolo. mas consideramos que isso vai ser útil para nós, para começarmos a en-trar numa realidade de desportos diferentes, de federações diferen-tes, de novas regulamentações, estatutos, enfim. penso que, antes de mais, irá alargar o nosso co-nhecimento e o conhecimento das pessoas que lá trabalham.

ETV/Advocatus | E alarga a vossa clientela também. FVG | sim. tendo o conhecimen-to, depois poderemos explorar, de acordo com as vias lícitas de angariação de clientela, mas que não têm diretamente a ver com o protocolo. como disse, as coisas são separadas. nós vamos prestar este serviço à confederação, que, por sua vez, vai receber pedidos de consulta jurídica.

ETV/Advocatus | Questões fis-cais, laborais, disciplinares até? FVG | tudo. Questões que tenham a ver com a prática desportiva dos atletas ou das federações, questões que tenham a ver, por exemplo, com casos de acon-selhamento jurídico, saber ver a uma determinada federação ou a determinado atleta quais são os seus direitos, como é que poderá recorrer de uma determinada situ-ação. são coisas que esperemos que resultem, mas estamos muito confiantes.

ETV/Advocatus | Quantos advo-gados têm nesta equipa? FVG | nós temos 12 advogados na nossa área prática de desporto. e somos, junto com uma outra so-ciedade de advogados, as únicas duas que têm uma área prática de Direito do Desporto individualiza-da, com clientes próprios e com um conjunto de pessoas dedicadas a essa área. não são todas essas pessoas que eu referi dedicadas a 100% ao Direito do Desporto até porque, como disse logo de início, é uma área multidisciplinar por-que necessita muitas vezes, para aconselhar determinada situação, ir buscar outros especialistas.

ETV/Advocatus | A sua área é a societária. E isso também tem a ver com o desporto, nomeada-mente com as questões dos fun-dos de investimento. FVG | eu comecei a minha atividade na área do Direito comercial. mui-to recentemente temos tido muito trabalho na área de constituição de sociedades anónimas desportivas e aquisições de clubes de futebol ou constituição de sociedades anóni-mas para esses clubes. portanto, por essa via a experiência em Direito co-mercial ajuda. a questão dos fundos, sim, fazemos também muitas vezes (e isso daria um programa quase, a questão dos fundos), mas fazemos muitas vezes aconselhamento a agentes desportivos, sejam clubes, sejam investidores.

ETV/Advocatus | É uma área onde faz falta uma melhor regulamenta-ção? FVG | sim. os fundos no futebol não

são regulados. o que existe é uma regulamentação genérica da FiFa sobre a propriedade de terceiros de direitos económicos sobre jogado-res de futebol. aí a regulamentação é escassa. mas temos tido muita experiência de aconselhamento de agentes, de clubes, de investidores, na aquisição e na estruturação desse tipo de investimentos em compra de percentagens de direitos económi-cos dos jogadores. temos tido muito trabalho nessa área.

ETV/Advocatus | E em termos de clientela, quem é que vos procura mais? Isto fora estes acordos que têm com a confederação. FVG | nós trabalhamos com agentes e com vários clubes de futebol. exis-te margem de crescimento, mas a mentalidade dos clubes e dos agen-tes desportivos ligados aos clubes, que é quem decide contratar ou não determinados serviços jurídicos, tem de mudar. têm de pensar, como em

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“Esta área não se compadece com decisões tardias, não pode estar à espera da Justiça portuguesa, que nem sempre funciona bem”

qualquer área do Direito, nas con-sequências que o aconselhamento jurídico que não seja antecipado pode ter na carreira de um atleta, no resultado desportivo de uma equipa. portanto, aqui eu julgo que existe algo que tem que mu-dar em termos de mentalidade, para que as pessoas recorram, seja a nível nacional, seja a nível internacional, a serviços jurídicos especializados, para se poderem aconselhar e para que, no fundo, as consequências das decisões que tomam possam ser as melho-res possíveis.

ETV/Advocatus | Neste momen-to são 12 advogados nesta área, mas com o protocolo vão ter que reforçar a equipa?FVG | esperemos que sim. nós ainda agora reforçámos a nossa equipa com o antigo secretário de estado do Desporto alexandre mestre, que é um reforço impor-tante, não só pelos conhecimen-tos e pela capacidade de trabalho,

mas também pelos contactos que tem a nível nacional e a nível inter-nacional. é uma pessoa altamente considerada a nível do desporto.

ETV/Advocatus | | A nível de forma-ção em Portugal acha que es-pecialização nesta área?FVG | há sempre conhecimento adquirido e é óbvio que à medi-da que o trabalho for aumentan-do é necessário conhecimento específico. o Direito do Despor-to é considerado especial, até a nível europeu. mas é necessário e são bem--vindas cada vez mais pós-gra-duações e não só. também para os advogados que trabalham na área, mas para as pessoas que estão no meio, portanto inclusi-ve para os dirigentes, para terem conhecimento do meio em que se movem e das decisões que to-mam e das consequências que as decisões que tomam podem ter. é muito importante que haja forma-ção nessa área.

ETV/Advocatus | Nos órgãos disciplinares do futebol, por exemplo, acha que é precisa ainda mais formação em al-guns aspetos, por exemplo ju-rídicos, em termos de decisões disciplinares?FVG | está em processo de cons-tituição o tribunal arbitral do des-porto, onde considero que, pela análise sucessiva de determina-dos casos sobre matérias relacio-nadas com esta área, possa haver uma maior especialização e uma maior qualidade.

ETV/Advocatus | Quando é que esse tribunal entra em funciona-mento?FVG | está em processo de ins-talação, portanto estima-se que durante o ano que vem já possa entrar em funcionamento.

ETV/Advocatus | Vai facilitar bastante em termos de rapidez de alguns processos. FVG | eu julgo que sim. esta área

“Uma possibilidade que os clubes portugueses terão sinceramente que considerar é a abertura do capital ou perda da maioria do capital para investidores estrangeiros que lhes possam dar maior capacidade financeira”

Televisão

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A crescer para Angola e MoçambiqueETV/Advocatus | A Abreu tam-bém é uma firma que tem uma forte presença internacional. Nesta área do desporto também podem internacionalizar-se? FVG | é uma área em que estamos a começar a dar os primeiros passos, nomeadamente em angola e em moçambique. em angola fizemos, no ano passado, a primeira confe-rência ligada ao Direito do Despor-to. Levámos, inclusive, o treinador do Benfica, o Jorge Jesus. Foi um sucesso, um sucesso incrível. e fomos imediatamente contacta-dos por diversos players na área

do desporto. estamos inclusive já a trabalhar com algumas entida-des e clubes. em angola há muito para fazer nesta área, em termos de regulamentação, boas práticas. moçambique está um pouco mais atrasado, mas também já temos al-guns contactos, não só a nível de investidores, mas também a nível das entidades. é uma questão de tempo, na medida em que, se a economia for crescendo, natural-mente que os políticos vão querer fazer obra e obra necessária. é pro-vável que, feitos os investimentos prioritários, infraestruturas básicas,

se queira fazer algum investimento na área do desporto. Já nos esta-mos a posicionar.

ETV/Advocatus | Angola e Mo-çambique são países que ain-da estão muito ligados em ter-mos desportivos a Portugal. FVG | sim, naturalmente. não nos podemos esquecer disso. temos um passado inclusive de tradições ligadas a esses países e tivemos grandes atletas. o eusébio, o vi-cente e muitos outros que eram desses países. acho que isso deve continuar.

“Está em processo de constituição o tribunal arbitral do desporto, onde considero que, pela análise sucessiva de determinados casos sobre matérias relacionadas com esta área, possa haver uma maior especialização e uma maior qualidade”

não se compadece com decisões tardias, não pode estar à espera da Justiça portuguesa, que nem sempre funciona bem. um atleta não pode estar dois ou três anos à espera de uma decisão, porque a carreira naturalmente é limitada, é num período da vida mais jovem, a não ser alguns desportos onde isso não faz diferença, mas tam-bém não são assim tantos.

ETV/Advocatus | E não há o risco de também esses árbitros serem questionados por dirigentes des-portivos?FVG | as pressões existirão sempre. Depois veremos naturalmente as de-cisões quando entrarem os grandes interesses, principalmente no fute-bol, em disputa. Quando estiverem clubes grandes uns contra os outros, aí os juízes do tribunal arbitral terão, naturalmente, que estar preparados para lidar com essas situações. mas julgo que é útil. é uma matéria que estou confiante que vai resultar.

ETV/Advocatus | Pelo contacto que tem com as forças vivas do desporto, como é que acha que será 2015 em termos económi-cos? Ou seja, tendo em conta que alguns dos principais pa-trocinadores dos grandes clu-bes tiveram problemas este ano, como é que espera que vá correr o próximo ano em termos de fi-nanças para o setor?FVG | os clubes portugueses têm estado no vermelho já há muitos anos consecutivos. vamos ver com a nova direção da Liga o que é que poderão fazer para dar condições ao futebol português para que seja sustentável, como indústria, e para que os clubes que participam e fa-zem parte dessa indústria, que são sociedades desportivas, possam ser rentáveis e funcionar dentro da-quelas que são as regras normais, que cumpram os pressupostos fi-nanceiros da Liga e que cumpram aquilo que são as regras de fairplay financeiro, a nível europeu. é isso que se pretende na indústria do futebol português. mas há um lon-go caminho a percorrer, inclusive relativamente a essa matéria dos patrocínios. segundo sabemos, a Liga portuguesa neste momen-to não tem patrocínios, a meio da época será muito difícil arranjar, ou seja, já não vão de modo nenhum cobrir o orçamento e pode chegar a uma altura em que tenham que ser os próprios clubes, juntamente com a federação, a ter que susten-tar as competições.

ETV /Advocatus| Acha que esta conjuntura dá ainda mais força à tendência de criação de SAD e de compra das equipas por investi-dores?FVG | sim, eu acho que é uma solu-ção. uma possibilidade que os clu-bes portugueses terão sinceramente que considerar é a abertura do ca-pital ou perda da maioria do capital para investidores estrangeiros que lhes possam dar maior capacidade financeira.

ETV/Advocatus | E acha que há in-teresse de estrangeiros?FVG | há. eu tenho tido bastante, no último ano e meio, tenho percebido isso pelos contactos que tenho tido, de muito interesse também até rela-cionado com o anúncio que a FiFa fez da proibição da detenção de di-reitos económicos por terceiros, o que levará ao fim dos fundos de in-vestimento em direitos de jogadores. e tenho notado nos últimos tempos uma tendência de investidores, por-que isso poderá ser uma via de dar a volta ao problema. e portugal é um país onde comprar um clube de fu-tebol ainda é relativamente barato, principalmente quando comparando com outras ligas europeias.

ETV/Advocatus | Em termos de geografias, esse interesse vem de onde? FVG | estados unidos, médio orien-te, a europa sempre. tem havido vá-rios contactos nessa área que são interessantes e acho que são úteis

“Quando estiverem clubes grandes uns contra os outros, aí os juízes do tribunal arbitral terão, naturalmente, que estar preparados para lidar com essas situações”

para a indústria do futebol português entrar numa nova era, mais empre-sarial, mais profissional. o futebol português tem tudo para poder ser a sexta melhor Liga, atrás das cinco grandes. mas tem um longo caminho a percorrer.

ETV/Advocatus | E para isso é pre-ciso uma gestão mais profissional e capital. FVG | claro que sim. e bons advoga-dos de direito do desporto também.

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JobShop

Recrutadores e estudantes da escola de Lisboa da Faculdade de Direito da universidade católica portuguesa (FDucp) reuniram-se, a 26 de novembro, na Jobshop, para saber o que procuram as sociedades num advogado.

O que procuram as sociedades num advogado?

cultura jurídica, coragem, determi-nação e capacidade de trabalho em equipa são algumas das caracterís-ticas que, de acordo com os res-ponsáveis de algumas das maiores sociedades de advogados nacio-nais, um advogado deve reunir. no debate sobre o acesso às profis-sões jurídicas, o managing partner da sérvulo & associados, paulo câmara, salientou a “importância de cuidar da preparação técnica continuamente” e das soft skills. por sua vez, o co-managing partner da cuatrecasas, gonçalves perei-ra Diogo perestrelo, acrescentou

como novas exigências da advoca-cia a “especialização em áreas jurí-dicas”, tanto em ramos, como em sectores, o conhecimento em áreas não jurídicas, como contabilidade e gestão, e a capacidade de comuni-car. “é importante que um advoga-do saiba ler um balanço”, notou.mas há advogados a mais? para o sócio presidente da uría menéndez - proença de carvalho (um-pc), Daniel proença de carvalho, não, até porque as mudanças na profis-são criam a necessidade de profis-sionais “muito preparados”. “não há advogados a mais. Lamento

dizer que a ordem dos advogados tem contribuído para essa ideia”, declarou. o antigo bastonário da ordem dos advogados e fundador da Rogério alves & associados, Ro-gério alves, concorda e disse a uma plateia composta essencialmente por alunos da católica: “não liguem a essa conversa dos advogados a mais. não é problema vosso. não devemos deixar que as barreiras do politicamente correto nos impeçam de seguir o nosso querer”, adiantou.sobre a advocacia, proença de carvalho afirmou que “é uma pro-fissão que exige total dedicação,

esforço, entusiasmo, determinação e coragem”. Já o managing partner da vieira de almeida & associados, João vieira de almeida, aconselhou os estudantes a fazerem o mesmo que ele: “sigam o vosso coração, porque ser advogado implica estar de corpo e alma na profissão”.este ano, o Jobshop reuniu “35 oradores, 42 sócios de sociedades, 450 representantes no recruiting lounge e mais de 200 alunos inscri-tos em cada um dos dois dias do evento”, revelou o diretor da escola de Lisboa da Faculdade de Direito da ucp, Jorge pereira da silva.

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Recruiting lounge

a vda também esteve presente

a aBBc no recruiting lounge o stand da Kennedys

Jorge pereira da silva, Joana marques vidal, José Fernando de salazar casanova e Daniel proença de carvalho

estudantes à conversa com recrutadores

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advogados da pLmJ à conversa com estudantes da católica

Joana marques vidal à conversa com Daniel proença de carvalho e José Fernando de salazar casanova

o antigo bastonário da ordem dos advogados Rogério alves o managing partner da vieira de almeida & associados, João vieira de almeida

Jorge pereira da silva, maria da glória garcia e Luís Barreto xavier na sessão de abertura

a adesão foi grande

JobShop

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Wwwadvocatus.pt

a cuatrecasas, gonçalves pereira (cgp) assinou dois acordos com o go-verno espanhol comprometendo-se em atingir 25% de representação feminina no seu conselho de administração em 2020 e 33% em 2024, bem como em aumentar a liderança feminina na sociedade. “o nível de participação das mulheres nos lugares executivos

Cuatrecasas assume compromisso pela igualdade de género

continua a ser muito baixa, embora 60% dos licenciados na europa sejam mulheres”, constituindo “uma perda de talento que a sociedade não se pode permitir” diz o presidente executivo da cgp, Rafael Fontana, em comunicado. os acordos foram assinados com o ministério espanhol da saúde, serviços sociais e igualdade.

PLMJ na transação bancária da Blackstone

a pLmJ prestou assessoria à tran-sação de aquisição de dez ativos imobiliários da espírito santo acti-vos Financeiros (esaF), por parte do fundo de investimento americano Blackstone. em causa estão cinco imóveis de retalho e cinco instalações logísticas, sendo que estas últimas serão integradas na plataforma eu-ropeia de logística da Logicor. De acordo com sofia gomes da costa, a sócia da pLmJ que liderou a equi-pa de advogados responsável pela assessoria, esta foi uma “operação extremamente desafiante”. esta aquisição permitiu à Blackstone a detenção de uma área superior a 825 mil metros quadrados na pe-nínsula ibérica.

Ontier é a sociedade mais presente na América Latina

a ontier (em portugal cca ontier) vai entrar no chile, tornando-se na sociedade de advogados com maior

NOTÍCiAs

a garrigues assessorou o grupo chinês haitong se-curities na sua aquisição do Banco espírito santo de investimento (Besi), por 379 milhões de euros, com a Linklaters a prestar assessoria jurídica ao novo Banco, que detinha o Besi. além da garrigues, a assessoria jurídica ao grupo financeiro asiático esteve também a cargo de um dos cinco maiores escritórios de ad-vogados britânicos, a clifford chance. a garrigues terá participado na operação a equipa de fusões & aquisições, liderada pelo sócio Diogo Leónidas Rocha. na Linklaters terá participado a área de corporate finance do escritório de Lisboa, dirigida pelo sócio antónio soares.

presença na américa Latina, avan-çou o jornal espanhol expansión. a firma passou, assim, a ter 11 es-critórios em oito países na região: méxico, venezuela, colômbia, perú, Bolívia, paraguai, Brasil e chile. pre-vista está também a abertura em itália, fruto de um “fluxo de inves-timento neste país para a américa Latina”. a sociedade, que foi conce-bida como “uma sociedade global, com alma local”, nasceu há dois anos, sob a presidência de adolfo suárez illana, através da união de vários escritórios de portugal, es-panha e Reino unido.

Garrigues e Linklaters assessoram aquisição do BEsi

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Www

>> mLgts integRa nove associaDos

>> WoLteRs KLuWeR pRemeia cRiativiDaDe De Jovens aDvogaDos

>> cuatRecasas com nova DiRetoRa De maRKeting em poRtugaL

>> séRvuLo ReFoRça eQuipa De DiReito FiscaL

>> FDuL pRemeia meLhoRes aLunos

páginas vistas As mais PArTiLHADAs>> Docentes Da catóLica Lançam coLetânea De DiReitos aDuaneiRos

>> WoLteRs KLuWeR pRemeia cRiativiDaDe De Jovens aDvogaDos

>> anJap tem novos DiRigentes

>> DiRetoR Do ceJ: é pReciso RenovaR a FoRmação De magistRaDos

>> anJap RecoLhe pRopostas paRa pLano De ação

o site do advocatus em novembro

a sérvulo & associados desenvol-veu um serviço integrado de apoio jurídico à economia digital, voca-cionado para retalhistas, institui-ções de crédito e outras entidades com competências administrativas. a equipa responsável pelo apoio é constituída por Francisco mendes correia, David silva Ramalho, Duar-te Rodrigues silva e miguel gorjão-

-henriques. a sociedade explicou que o uso de dispositivos móveis e computadores no processo de consumo levantam questões ju-rídicas de Direito Bancário e de Direito de proteção de Dados e das tecnologias de informação. estas dúvidas surgem também em matéria de homebanking e mobile banking.

sérvulo criou serviço de apoio jurídico à economia digital

A feitura das leis em estudo

“Feitura das Leis. portugal e a europa” é o título de um estudo publicado pela Fundação Francis-co manuel dos santos, da autoria de João caupers, marta tavares de almeida e pierre guibentif. o trabalho foi realizado no âmbito de um estudo para a Fundação Francisco manuel dos santos, com a colaboração do centro de

wolters kluwer apostou no digital

a Wolters Kluwer lança a smarte-ca, uma biblioteca jurídica digital, preparando-se para fazer a tran-sição das edições do formato de papel para o digital. a solução per-mite adquirir, ler, pesquisar, anotar e atualizar publicações digitais, além de elaborar relatórios sobre o seu conteúdo. o principal objetivo

da edição digital é “melhorar os benefícios das obras”, garante a diretora-geral da Wolters Kluwer portugal. a smarteca é compatível com ios, android e Windows, per-mitindo a sincronização automáti-ca entre diferentes dispositivos, já que o conteúdo está hospedado na “nuvem”.

investigação e Desenvolvimento sobre Direito e sociedade (ce-Dis) da Faculdade de Direito da universidade nova de Lisboa e a participação do Dinâmia/cet do iscte-iuL. segundo os autores, a publicação resulta das críticas frequentes à má qualidade material e formal da legislação, por parte da sociedade portuguesa.

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SIM, desejo assinar o jornal Advocatus com o custo total de 180 euros (12 edições).

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assinaturaa oferta será entregue após boa cobrança.

www.advocatus.pt O agregador da advocacia

TiAGO DOs sANTOs MATiAs

TiAGO MACHADO GrAçA

PessoasFoi eleito presidente da união dos advogados europeus (uae) para o biénio 2015-2016. o advogado é sócio da morais Leitão, galvão teles, soares da silva & associados, cuja equipa de Direito europeu e da con-corrência coordena. é membro fundador da uae, associação sem fins lucrativos que visa promover a harmonização do estatuto jurídico e deontológico da profissão de advogado nos estados-membros da união.

transitou da miranda, correia, amendoeira e associados para a cms Rui pena & arnaut (cms Rpa), tornando-se o associado principal no reforço da área de assuntos ligados à África lusófona. Desempenhou funções de assessoria jurídica na área de consultoria tributária nacional e internacional, em questões de tributação direta e indireta, planeamento tributário internacional e fiscalidade do sector petrolífero.

é a mais recente contratação da Rogério Fernandes Ferreira & associados (RFF) para refor-çar a área de “tax Litigation”. a advogada é licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da universidade de coimbra e tem duas pós--graduações em Direito Fiscal das empresas e em gestão Fiscal. esta é a sexta integra-ção da sociedade desde a sua constituição.

é o novo associado sénior da pLmJ, integrando a equipa de private equity da sociedade. Licenciado pela Faculdade de Direito da universidade cató-lica portuguesa, o advogado transita do grupo Banif, onde desempenhava as funções de diretor adjunto na direção de assessoria jurídica. Foi tam-bém consultor fiscal na ernst & young e na Kpmg.

CArLOs BOTELHO MONiz

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os dados recolhidos são processados automaticamente pela newsengage – media, conteúdos e comunidades, sa e destinam-se à gestão do seu pedido e à apresentação de futuras propostas. o seu fornecimento é facultativo, sendo-lhe garantido o acesso à respetiva retificação. caso não pretenda receber propostas comerciais de outras entidades, assinale aqui

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sofisticação no femininovalencia é a nova gama de relógios da Lacoste, que segue as tendências da estação, no feminino. um modelo maior, disponível em ouro amarelo ou ouro rosa e com uma pulseira de malha em aço inoxidável, que se adapta na perfeição ao pulso feminino e conjuga a elegância e sofisticação inerentes à marca.

Para ocasiões especiaisa morellato apresenta as coleções Luci e Le chicche, que incluem um conjunto de pulseiras, anéis, brincos e colares. Luci caracteriza-se pelos detalhes, associando as pérolas a estrelas de aço cravejadas de cristais brancos. Já Le chicche liga os traços minimalistas da modernidade, como flores, estrelas e corações à intemporalidade e classe das pérolas, estando disponível em prateado e rosa.

Aventura no inverno

a cerruti 1881 divulgou os novos modelos da coleção santiago. um relógio com uma pulseira em bege natural, caixa em aço inoxidável, em preto e prateado e ainda um movimento multifunções conjugado com o logotipo da marca, na bracelete e no mostrador. esta é uma coleção que desafia todos os homens a saírem do escritório e a procurarem um momento de lazer aventureiro e cheio de estilo.

Formato de luxouma original “gaiola” vintage é a embalagem do champanhe rosé da Laurent-perrier. guarda não só este vinho, mas também um presente de colecionador: uma rolha em forma de gaiola em miniatura, que, além de decorativa, reflete os valores de exigência, qualidade, criatividade e audácia da marca. a originalidade da “gaiola” valeu à Laurent-perrier o prémio “Forme de Luxe”, no mónaco.

Montra

Fan di Fendi apresenta uma edição limitada e exclusiva da fragrância Leather essence, um

tributo a uma das matérias mais icónicas dos perfumes Fendi: o cuoio romano. um couro nobre, com nuances de pimenta, tangerina da sicília, rosa damascena, baunilha e fava

tonka da venezuela são os elementos-chave deste perfume.

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