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A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO ENSINO DE FRAÇÕES
Autora: Inez Marchinski1
Orientadora: Izabel Passos Bonete2
Resumo
O presente artigo tem por objetivo relatar sobre a implementação de uma proposta pedagógica, que buscou discutir o ensino de frações por meio da metodologia de Resolução de Problemas articulada ao uso de material concreto. Tal proposta foi idealizada e desenvolvida durante o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, 2010/2011 em uma turma de 6°ano do Ensino Fundamental, no Colégio Estadual João Negrão Júnior- Ensino Fundamental e Médio, na cidade de Teixeira Soares/Pr. A implementação foi realizada em contra turno, num total de 14 horas/aula. Para tanto, construiu-se uma unidade didática constituída de referencial teórico metodológico que subsidiou a proposta no que diz respeito à Matemática e seu ensino, a Resolução de Problemas articulada ao uso de material concreto como metodologia na abordagem de ensino de frações e a elaboração das atividades para serem discutidas em sala de aula. Buscou-se apresentar atividades contextualizadas a realidade dos alunos, de modo a amenizar as dificuldades que os aprendizes encontram em estabelecer conexões entre os conceitos abordados na escola e as suas aplicabilidades à vida prática. A proposta contribuiu para promover uma aprendizagem significativa do conteúdo proposto, pois os alunos demonstraram compreensão, motivação e curiosidade na realização das atividades. Além disso, proporcionou momentos de discussão e reflexão sobre a prática pedagógica, bem como aprendizado e novos conhecimentos que contribuíram para o autodesenvolvimento profissional e para a qualidade do ensino da Matemática no Paraná.
Palavras-Chave: Matemática; conceitos; frações.
1. Introdução
1 Professora do Ensino Fundamental e Médio do Colégio Estadual João Negrão Júnior -- Ensino
Fundamental e Médio, Teixeira Soares, PR. 2 Professora Mestre do Departamento de Matemática, Universidade Estadual do Centro-Oeste –
UNICENTRO/Campus Irati, PR.
A Matemática está presente em diversas situações do cotidiano das
pessoas e seu ensino é fundamental na formação do indivíduo, pois possibilita a
apropriação de conhecimentos essenciais para a tomada de decisões frente a
situações em que é necessário efetuar cálculos e interpretar resultados numéricos.
Assim, cabe ao professor criar estratégias, que permitam ao aluno atribuir sentido e
construir significado às ideias matemáticas, de modo que esse se torne capaz de
estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar. (PARANÁ, 2008).
Nesse sentido, o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE,
instituído como política educacional de Formação Continuada dos professores da
rede pública Estadual do Paraná tem por objetivo proporcionar aos professores
participantes do programa, oportunidades de discussão que reflitam sobre
mudanças na prática escolar. O programa possibilitou o desenvolvimento de uma
produção didático-pedagógica, como uma das atividades voltadas a integração
entre a teoria e a prática. Tal produção teve por objetivo fundamentar a
implementação de um Projeto de Intervenção Pedagógica na Escola para
implementação do professor PDE.
Assim, considerando a importância do conceito de fração e de sua
aplicabilidade em situações do cotidiano das pessoas, a presente produção
didático-pedagógica, no formato de unidade didática, teve por objetivo discutir o
uso da metodologia de resolução de problemas articulada ao uso de material
concreto na abordagem das frações, no 6°ano do ensino fundamental. Além disso,
buscou propor atividades contextualizadas que envolvessem frações para serem
discutidas em sala de aula durante a implementação da proposta na escola.
De acordo com Schoenfeld (1997) citado nas Diretrizes Curriculares da
Educação Básica do Paraná, “A resolução de problemas possibilita compreender
os argumentos matemáticos e ajuda a vê-los como um conhecimento passível de
ser apreendido pelos sujeitos do processo de ensino e aprendizagem”. (PARANÁ,
2008, p.63).
Como professora atuante no ensino fundamental, a percepção na prática
tem revelado dificuldades apresentadas por alunos de 6°ano, em relacionar o
conteúdo fração com a vida cotidiana, o que estimulou, ainda mais, o referido
estudo, na busca de melhoria da qualidade do ensino desta disciplina.
A proposta foi desenvolvida com alunos do 6°ano do Ensino Fundamental
do Colégio Estadual João Negrão Júnior – EFM através de 14 horas/aulas.
2. Desenvolvimento
Ao longo da história, a humanidade vem procurando explicações ou
respostas para diferentes situações, buscando diferentes formas de lidar com a
sociedade, a cultura e com a natureza. Assim, surgiram os mais diversos modos de
comunicação, entre os quais está a Matemática.
Para D‟Ambrósio (1998, p. 7) a Matemática surgiu como “uma estratégia
desenvolvida pela espécie humana ao longo da história para explicar, para
entender, para manejar e conviver com a realidade sensível, perceptível, e com seu
imaginário, naturalmente dentro de um contexto natural e cultural”.
Desde os primeiros anos de vida, a criança entra em contato com noções
de espaço, formas, contagens, entre outras atividades que envolvem o pensar
matemático e que respondem por uma série de questões práticas para a sua vida.
Aragão (2010) afirma que as crianças agem como produtoras de
conhecimento desde muito cedo, ao se depararem com situações que exijam delas
fazer escolhas, para tomarem decisões frente a situações-problemas do seu
cotidiano, e não raro, na escola elas se tornam apenas “executoras de instruções.”
Portanto, a escola deve contribuir para a formação de cidadãos autônomos,
capazes de pensarem por conta própria, que resolvam problemas, e assim, tenham
uma melhor compreensão do que se passa no contexto da sociedade em que está
inserido.
De acordo com Valera (2003) é importante que o aluno explique com suas
palavras “como pensou” para chegar a um determinado resultado, sendo essa
linguagem o melhor material para avaliar os conceitos prévios do educando e seu
nível de compreensão, e, a partir daí, mudar para uma linguagem específica. O
aluno precisa descobrir o sentido matemático e a compreensão dos conceitos
como resultado do seu esforço, para sentir-se motivado a pensar.
Lins (2005, p. 93) salienta que a matemática da escola está distante
daquela que os alunos observam nas ruas, do seu cotidiano e uma solução para
diminuir este distanciamento seria “trazer a vida real para as aulas de matemática”
e buscar fazer os alunos verem “a matemática na real”.
Para que os alunos compreendam e reconheçam a importância da
aprendizagem dos conceitos matemáticos em situações cotidianas, faz-se
necessário uma prática pedagógica que permita ao aluno a construção do
conhecimento.
As diretrizes curriculares para a educação básica do estado Paraná
(PARANÁ, 2008) foram construídas nesta perspectiva, apresentando uma
discussão sobre as concepções teórico-metodológicas que organizam o trabalho
educativo e orientam a prática pedagógica. A proposta está pautada no campo de
estudos da Educação Matemática, no intuito de promover uma formação
educacional e social aos alunos do ensino básico, considerando qual matemática e
ensino são relevantes para essa formação.
Para tanto, é fundamental que o professor se comprometa, agindo como
um educador matemático e um pesquisador em contínua formação. Além disso, é
imprescindível que busque abordar os conteúdos considerados essenciais para a
formação do seu aluno, através de tendências metodológicas sugeridas pela
Educação Matemática.
Uma das tendências que pode ser utilizada na abordagem de qualquer
conteúdo matemático é a resolução de problemas. E, considerando a faixa etária
dos alunos é conveniente que o professor promova a articulação entre a resolução
de problemas com o uso de material concreto, no intuito de possibilitar um ensino
mais motivador e uma aprendizagem mais significativa.
Segundo Dante (2005) a aceleração nas mudanças sociais e o crescente
aprimoramento das tecnologias tornam cada vez mais difíceis prever quais
habilidades, conceitos ou algoritmos ensinados hoje, terão importância para o
aluno, quando este estiver no auge da sua vida produtiva. Um caminho apontado
pelo autor é a preparação do aluno para lidar com situações novas, procurando
desenvolver nele a capacidade exploratória, a criatividade e a independência
através da resolução de problemas.
2.1 A metodologia da Resolução de Problemas
A Resolução de Problemas esteve presente na Matemática desde a
Antiguidade, porém, somente na década de 70, é que começou realmente a
ganhar espaço nos currículos escolares. Trata-se uma metodologia que permite a
construção de conceitos e o desenvolvimento do raciocínio, possibilitando um
melhor aprendizado se comparado à metodologia da exposição e repetição de
exercícios, que vigorou na prática escolar por muitos anos.
Para Aragão (2010, p. 18):
Fazer matemática é expor idéias próprias, escutar as dos outros, formular e comunicar procedimentos de resolução de problemas, confrontar, argumentar e procurar validar seu ponto de vista, antecipar resultados de experiências não realizadas, aceitar erros, buscar dados que faltam para resolver problemas entre muitas coisas.
Quando as operações e os conceitos matemáticos são utilizados em
situações-problemas vivenciados na prática, o aluno desenvolve com facilidade
uma postura positiva em relação à Matemática. Além de aplicar matemática ao
mundo real, a metodologia da Resolução de Problemas capacita o aluno “a
relacionar uma determinada ideia matemática a um grande número ou a uma
variedade de contextos”. (ONUCHIC, 1999, p. 208).
Dante (2005, p. 13) afirma que:
Uma aula de matemática onde os alunos, incentivados e orientados pelo professor, trabalhem de modo ativo – individualmente ou em pequenos grupos – na aventura de buscar a solução de um problema que os desafia é mais dinâmica e motivadora do que a que segue o clássico esquema de explicar e repetir. O real prazer de estudar matemática está na satisfação que surge quando o aluno, por si só, resolve um problema. Quanto mais difícil, maior a satisfação em resolvê-lo. Um bom problema suscita a curiosidade e desencadeia no aluno um comportamento de pesquisa, diminuindo sua passividade e conformismo.
Ensinar a resolver problemas é um dos tópicos mais difíceis no processo
de ensino, por não existir uma regra única e direta, como na resolução mecânica
de um exercício, cujo modelo já foi resolvido pelo professor. Exige que o professor
incentive e apoie o aluno de modo a favorecer o seu pensar matemático, utilizando
a sua criatividade e o seu espírito explorador. Além disso, um bom problema deve
ser desafiador, real e interessante, para que os alunos participem “fazendo
matemática” e não apenas “observando” a matemática “ser feita.” (DANTE, 2005).
Para desenvolver no aluno a capacidade de resolver problemas, é
fundamental que o professor instigue no educando o interesse por encontrar a
solução do problema. Entretanto, na Resolução de Problemas faz-se necessário
que sejam seguidas quatro fases para que a resolução possa ser de caráter
prático, ou seja, é essencial: compreender o problema; destacar as informações
importantes para ter a ideia de como resolvê-lo e assim estabelecer um plano;
executar esse plano de resolução e por último, analisar a resolução conferindo
resultados e discutindo-os. (POLYA, 2006).
O papel do professor nessa abordagem deve ser, de acordo Onuchic
(1999, p. 216),
o de um observador, organizador, consultor, mediador, interventor e incentivador da aprendizagem. O professor lança questões desafiadoras e ajuda os alunos a se apoiarem, uns nos outros, para atravessar as dificuldades. O professor faz a intermediação, leva os alunos a pensar, espera que eles pensem, dá tempo para isso, acompanha suas explorações e resolve, quando necessários problemas secundários.
As situações problemas propostas pelo professor devem favorecer a
reflexão por parte do aluno e permitir a apropriação do saber de forma construtiva.
Além disso, uma forma de proporcionar maior participação do aluno na resolução
do problema e facilitar o ensino e a aprendizagem da matemática é a utilização de
recursos alternativos metodológicos pelo professor, como calculadoras, jogos,
material reciclado, material concreto e outros.
Nesse sentido, para que o aluno aprenda é preciso que esteja
completamente envolvido com a atividade proposta. Para isso, o professor deve
levar em consideração o conhecimento que o aluno traz de suas experiências
práticas. Dessa forma, o aluno estará vivenciando a necessidade e importância do
conhecimento matemático na sua vida.
Onuchic (1999, p. 203) destaca que “hoje, a tendência é caracterizar esse
trabalho considerando os estudantes como participantes ativos, os problemas
como instrumentos precisos e bem definidos e a atividade na resolução de
problemas como uma coordenação complexa simultânea de vários níveis de
atividade”.
2.2 As frações e seu ensino
As frações apareceram na história da matemática no período em que
homem passou a sentir a necessidade de produzir os seus próprios alimentos,
medir terras, calcular partes de um todo, ou ainda, no exercício de outras
atividades como na produção de cerâmicas, por exemplo.
Boyer (1996, p. 4) menciona que:
O conceito de número inteiro é o mais antigo na matemática e sua origem se perde nas névoas da antiguidade pré-histórica. A noção de fração racional, porém, surgiu relativamente tarde e em geral não estava relacionada de perto com os sistemas para os inteiros. Entre as tribos primitivas parece não ter havido praticamente nenhuma necessidade de usar frações. Para necessidades quantitativas, o homem prático pode escolher unidades suficientemente pequenas para eliminar a necessidade de usar frações.
Com o advento da agricultura e a necessidade de novos modos de vida, o
homem procurou fixar moradia em lugares onde a terra era fértil, principalmente às
margens do Rio Nilo.
No período de chuvas, o rio inundava as terras levando parte das
marcações. A necessidade de refazer todo ano as marcações levou os egípcios,
chamados estiradores de corda a fazerem as medições esticando uma corda,
tomada como unidade de medida, ao redor do terreno e, verificavam quantas vezes
aquela unidade cabia no percurso a ser medido. Como dificilmente cabia uma
quantia exata de vezes, ora sobrava ora faltava corda, depararam-se com a
necessidade de criar uma unidade que fosse menor que o inteiro, surgindo “as
frações”.
As notações egípcias utilizavam em sua maioria as frações unitárias, isto é,
com numerador um, e eram representadas por inscrições hieroglíficas. Assim:
1/3 era representada por
1/21 era representada por
Os egípcios utilizavam muitas frações, porém, a fração 2/3 era considerada
como uma fração geral. Era utilizada como base para as operações fracionárias,
pois para obter um terço de um número, primeiramente encontravam os dois
terços, e em seguida, calculavam a metade do valor obtido.
Tais representações foram explanadas em importantes documentos,
chamados papiros, que contém registros das antigas civilizações. O mais antigo é o
Papiro de Rhind, o qual tem 32 cm de altura por 513 cm de comprimento e contém
oitenta e cinco problemas, todos resolvidos, dentre os quais muitos são
fracionários.
Do primeiro ao sexto problema são tratados sobre a repartição das
quantidades 1, 2, 6, 7, 8 e 9 pães por 10 homens. No primeiro problema mostra-se
que cada homem receberá um décimo de pão. Então, dois homens receberão 1/5 e
quatro receberão 2/5, ou seja, 1/3 + 1/15 de um pão. Oito homens receberão 2/3 +
2/15, ou 2/3 + 1/10 +1/30 de um pão e oito homens mais dois homens receberão
2/2 + 1/5 + 1/10 + 1/30. As frações egípcias eram desenvolvidas por meio de
“duplicações”.
Junto com a evolução das culturas, a notação utilizada para representar as
frações também evoluiu. A representação que se conhece hoje, data do século
XVI.
2.3 Proposta de implementação
A proposta foi implementada no Colégio Estadual João Negrão Júnior –
Ensino Fundamental e Médio, localizado no município de Teixeira Soares – PR,
durante o segundo semestre do ano letivo de 2011, contemplando o 6°ano B do
período da tarde, constituída por alunos oriundos da zona urbana e rural. A turma
era constituída por 32 alunos. O encaminhamento da implementação contou com o
acompanhamento da direção, equipe pedagógica do referido colégio e da
orientadora da IES.
Para a abordagem do tema foram desenvolvidas 04 (quatro) atividades,
sendo que cada atividade era composta por uma variedade de situações.
A maior parte das atividades foi desenvolvida em grupos, proporcionando a
oportunidade de trocas de ideias e experiências entre os participantes e
favorecendo aprendizagem do tema abordado.
Valera (2003, p. 58) assegura que:
A combinação do trabalho individual e do trabalho de grupo poderia ser uma alternativa para proporcionar aos alunos a oportunidade de conhecer ideias novas e diferentes, confrontá-las e discuti-las, relacioná-las com o seu entorno, evitando assim, o desinteresse devido ao tratamento rotineiro e mecânico em que freqüentemente o tema Números Racionais é abordado.
Em todas as atividades os alunos foram incentivados a relatarem os
procedimentos de resolução e os cálculos utilizados. Desse modo, promovia-se
uma discussão que permitia avaliar tanto o processo de aprendizagem do aluno
quanto a prática realizada.
Atividade 1: Origem e conceito de frações
Objetivo: debater sobre a importância do surgimento das frações, bem como
investigar o conhecimento prévio dos alunos sobre o tema e discutir o conceito de
frações.
Carga horária: 02 h/a
A Atividade 1 foi composta por um texto intitulado „Meu nome é
Fracionésia‟, seguido de 10 (dez) questões para serem respondidas pelos alunos, e
de um exercício apresentando uma situação problema, com uma possível solução
para que os alunos discutissem a solução dada e apresentassem outras formas de
resolução.
Para tanto, dividiu-se a atividade em duas partes. A primeira parte
apresentava o texto „Meu nome é Fracionésia‟ (Figura 1) e as 10 (dez) questões
sobre o texto (Figura 2). A segunda parte apresentava a situação problema (Figura
3).
A Atividade 1 foi impressa em uma folha de papel A4 e entregue aos
alunos para leitura e discussão. A leitura foi realizada em conjunto.
Figura 1 – Atividade 01, exercício 01 Fonte: Autoras, 2011
Figura 2 – Atividade 01, exercício 01 Fonte: Autoras, 2011
Figura 3 – Atividade 01, exercício 02 Fonte: Autoras, 2011
O texto utilizado na primeira parte da atividade buscou abordar, de forma
lúdica, a história do surgimento dos números fracionários e, estabelecer relações
entre os números fracionários com situações da vida prática das pessoas. Brito
(2005, p. 113), afirma que:
Ao ensinar um conceito o professor deve ter presente o fio condutor que a história propicia, pois desta forma não cometerá o abuso de uma sistematização prematura, permitindo que o tema seja abordado de uma maneira mais rica e significativa.
O texto foi utilizado como recurso motivador para provocar discussões
sobre o conhecimento prévio dos alunos. Para que os alunos pudessem
compreender a necessidade do surgimento das frações para a humanidade,
buscou-se demonstrar concretamente as situações que levaram a descoberta dos
números fracionários. Os alunos foram orientados a realizar, com o uso de
barbantes separados com nós, a medição de objetos existentes na sala de aula,
como carteiras, livros e portas. Com essa experiência, os alunos compreenderam
o que os egípcios perceberam na Antiguidade, que uma unidade inteira da corda
não cabia na medida ou que faltava um pedaço dela para completar a medição
correta, propiciando a compreensão do „porquê‟ da necessidade de criação de uma
medida menor que o inteiro.
Essa experiência prática e a leitura do texto motivaram uma discussão sobre
o conceito de fração, permitindo a investigação sobre o conhecimento prévio dos
alunos e a solução das 10 (dez) questões que acompanhavam o texto.
Inicialmente, procurou-se explorar a noção de fração sem o uso de
simbologia, apenas reconhecendo no texto os termos (meio, metade, um quarto),
para, posteriormente, utilizar a representação numérica. Para um melhor
entendimento das expressões utilizadas na linguagem de frações, foi utilizado
material concreto para representar as quantidades indicadas em cada questão. Ao
final dessa atividade os alunos relataram com entusiasmo que estavam
entendendo porque era preciso aprender frações.
Nessa atividade a importância do material concreto e o uso de atividades
diferenciadas foram fundamentais para o entendimento das questões, pois
proporcionaram motivação e curiosidade nos estudantes.
Valera (2003, p. 121) conclui:
O emprego do material concreto corresponde a uma estratégia para promover a reflexão sobre aspectos possíveis de um determinado conceito, que se quer desenvolver. O aluno necessita de experiências que utilizem materiais concretos para promover a construção dos conceitos referentes às frações. À medida que os conceitos se tornam mais complexos, mais difícil será apresentá-los por meio de materiais. Durante o ensino fundamental, encontra-se o aluno mais bem capacitado para compreender e explorar o conhecimento com o auxílio de recursos visuais.
2ª atividade: Caça – fração
Objetivos: abordar leitura e escrita de frações e representação de frações na
forma fracionária e na forma de figuras.
Carga horária: 02 h/a
Nesta atividade os alunos não tiveram dificuldades para resolver os
exercícios que compunham a atividade, todos relataram que estava fácil e
interessante.
A atividade 2 foi composta por 03 (três) exercícios que tinham por objetivo
abordar a leitura e escrita das frações e explorar a representação de frações na
forma fracionária e na forma de figuras.
O exercício 1, na forma de um „Caça-palavras‟ (Figura 4), escondia entre um
conjunto de letras, 16 expressões que correspondiam à leitura de números
fracionários, os quais os alunos deveriam encontrar e escrever abaixo na forma de
fração.
Figura 4 – Atividade 02, exercício 01 Fonte: Autoras, 2011
O exercício 2 e 3 da Atividade 2 (Figura 5) visava explorar a representação
de frações na forma fracionária e na forma de figuras.
Figura 5 – Atividade 02, exercício 02 e 03 Fonte: Autoras, 2011
Após todos os alunos demonstrarem compreensão do conceito de fração,
foram exploradas situações problemas do cotidiano do aluno envolvendo as quatro
operações com números fracionários. Brito (2005, p. 115) afirma que através de
problemas desafiadores, o aluno é levado a
descobrir e contar como é a parte referente ao todo em questão. Para desenvolver corretamente o conceito de fração, a criança precisa ser solicitada a refletir sobre as seguintes questões: qual é o todo? Quantos pedaços há no todo? São pedaços do mesmo tamanho?
3ª atividade: Explorando o uso de frações no cotidiano
Objetivos: discutir o significado parte-todo, representar e comparar frações através
de desenhos, abordar equivalência de frações e calcular parte do todo.
Carga horária: 04 h/a
A Atividade 3 constituiu-se por duas situações problemas. A primeira
situação apresentava um calendário referente ao segundo semestre de 2011
(Figura 6), a partir do qual os alunos resolveriam 08 questões, nomeadas de A a H,
conforme Figura 7.
Figura 6 – Atividade 03, exercício 01 Fonte: Autoras, 2011
Figura 7 – Atividade 03, exercício 01 Fonte: Autoras, 2011
A segunda situação (Figura 8) apresentava um problema relacionado ao uso
de frações na fabricação de guloseimas, apresentando a receita de um bolo de
coco e 06 questões, nomeadas de A a F, para serem respondidas pelos alunos,
após a leitura e interpretação do problema.
Figura 8 – Atividade 03, exercício 02 Fonte: Autoras, 2011
Os alunos foram incentivados a realizarem as questões individualmente no
sentido de investigar possíveis dificuldades de interpretação das situações
apresentadas e, desse modo, se promover intervenções e orientações individuais.
Percebeu-se que 11 dos 32 alunos tiveram dificuldades na interpretação. Faziam
muitas perguntas, queriam respostas prontas, e diziam: "dá preguiça de pensar".
Foi necessário intervir e orientar esses alunos a promoverem uma, duas ou até
mais leituras, até que compreendessem o problema, destacassem as informações
importantes, estabelecessem e executassem um plano de resolução.
Os alunos tiveram tempo para buscar uma possível solução para cada
exercício da Atividade 3. Quando todos já estavam com a atividade resolvida, foi
solicitado que formassem grupos de 4 alunos. A formação dos grupos foi produtiva,
pois, percebeu-se que discutiam as diferentes soluções, argumentavam os porquês
de terem utilizado um determinado plano de resolução e concluíam estar certos ou
errados, à medida que a discussão avançava.
Valera (2003, p. 58) assegura que:
A combinação do trabalho individual e do trabalho de grupo poderia ser uma alternativa para proporcionar aos alunos a oportunidade de conhecer ideias novas e diferentes, confrontá-las e discuti-las, relacioná-las com o seu entorno, evitando assim, o desinteresse devido ao tratamento rotineiro e mecânico em que freqüentemente o tema Números Racionais é abordado.
4ª atividade: Operações com frações
Objetivos: abordar situações problemas que contemplassem comparação, adição,
subtração, multiplicação e divisão de frações.
Carga horária: 06 h/a
A atividade constituiu-se da apresentação de 07 (sete) situações problemas
(Figura 9), as quais procuravam contemplar diversas situações do cotidiano dos
alunos relacionadas com operações de números fracionários. Além disso, buscou-
se elaborar situações com um crescente grau de complexidade, no sentido de
aprofundar o tema proposto.
Figura 9 – Atividade 04, exercício 01 a 07 Fonte: Autoras, 2011
Nessa atividade, 26 dos alunos conseguiram resolver as questões sem a
ajuda do material concreto. Para os demais, além do material concreto, foi
necessária a intervenção do professor.
2.4 Avaliação
A avaliação caracteriza-se como um instrumento de investigação do
processo de ensino e aprendizagem, além de constituir-se como uma ferramenta
para a investigação da prática pedagógica. Assim, a avaliação da presente
proposta, tanto com relação ao processo de ensino, quanto ao processo de
aprendizagem dos alunos, foi realizada continuamente no decorrer da
implementação da unidade didática na escola.
Com relação a avaliação dos alunos, buscou-se realizar as atividades em
sala de aula, no sentido de promover momentos em que os alunos eram
observados quanto ao desempenho e participação.
3. Discussões no grupo de trabalho - GTR
O desenvolvimento da implementação foi socializado através do Grupo de
Trabalho em Rede- GTR, num ambiente virtual, através da plataforma moodle. O
objetivo era atingir também, professores da rede pública estadual, que não
estavam participando do programa. Houve quinze inscritos e todos concluíram o
curso.
Essa atividade foi importante, pois possibilitou a interação e a troca de
experiências entre professores de todo o Estado, com diferentes realidades. Tal
experiência enriquece a prática docente de todos os envolvidos.
No início, os cursistas deram suas contribuições relatando a realidade de
cada escola, os desafios que encontram e a preocupação em encontrar um
caminho para tornar o ensino da matemática mais atraente e significativo. Pelos
relatos, foi possível constatar que para os professores, propor atividades
diversificadas, com nível crescente de dificuldades, articulada ao uso de material
concreto como apoio, pode tornar as aulas mais interessantes, motivadoras e
dinâmicas.
Segundo os cursistas, as atividades propostas na produção-didático
pedagógica “A resolução de problemas no ensino de frações”, induzem os alunos a
pensar, debater com os colegas, relatar os procedimentos de resolução e socializar
as conclusões.
Os professores relataram estar motivados a aplicar as atividades em suas
turmas, pois as mesmas são trabalhadas, de forma paralela, o concreto e as
atividades contextualizadas, o que estimula o aluno a querer realizá-las.
Alguns professores chegaram a implementar algumas atividades, as quais
foram muito produtivas. Os educadores estão de comum acordo que é fundamental
buscar metodologias que despertem a curiosidade dos alunos, proporcione a
participação concreta do aluno, fazendo com que o educando aproprie-se de
conceitos matemáticos, para dessa forma contribuir para a apreensão dos
conteúdos.
Esse momento do curso foi muito relevante, pois proporcionou aos
integrantes, além da troca de experiências, um aprimoramento da prática
pedagógica, evidenciando a preocupação dos docentes em buscar metodologias
que aprimorem o ensino aprendizagem.
4. Conclusão
O ensino de frações é um conteúdo presente no currículo escolar que,
normalmente, os alunos não acham interessante, pois apresentam dificuldades,
principalmente no que se refere a parte relacionada às operações com tais
números.
O uso de metodologias diferenciadas que incentivem os alunos, como a
manipulação de materiais concretos e a abordagem do conteúdo por meio de
atividades diferenciadas e contextualizadas, faz com que os alunos sintam-se
motivados, a curiosidade é despertada, maior interação entre os colegas da turma
é proporcionada, e a aprendizagem é estimulada.
O desenvolvimento do trabalho em grupos foi muito adequado. Percebeu-
se que, em grupos menores, houve um maior interesse em desenvolver as
atividades, pois discutiam diferentes estratégias de resolução dos exercícios. Esse
procedimento contribuiu para uma aprendizagem significativa na capacidade de
análise, reflexão e compreensão do conceito de fração.
O projeto contribuiu ainda para uma melhoria da prática pedagógica, o que
ficou evidenciado nas mudanças de posturas frente ao uso de uma metodologia
diferenciada e a promoção de discussões e reflexões sobre a prática realizada,
atitude que proporciona aprendizado, novos conhecimentos e o desenvolvimento
profissional do professor com ousadia de inovar e lutar pela melhoria da qualidade
do ensino.
Referências
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