a proteção jurídica do consumidor - 7ª edição

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  • Sumrio

    AberturaCrditosDedicatriaSIGLAS UTILIZADASINTRODUO 7 EDIOINTRODUO 1 EDIOPREFCIO 1 EDIOAPRESENTAO DA 2 EDIOAPRESENTAO DA 1 EDIO CAPTULO 1 - As Relaes de Consumo

    1.1. AS RELAES DE CONSUMO: CONCEITO E EVOLUO1.2. O SURGIMENTO DA TUTELA DO CONSUMIDOR1.3. A PREOCUPAO INTERNACIONAL1.4. O TEMA EM OUTROS PASES1.5. O PROBLEMA NO BRASIL1.6. POLTICA NACIONAL DE RELAES DE CONSUMO

    CAPTULO 2 - A Justificativa da Tutela

    2.1. A VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR2.2. A INTERVENO DO ESTADO2.3. O ENQUADRAMENTO COMO INTERESSE DIFUSO OU COLETIVO2.4. A BUSCA DO EQUILBRIO

    CAPTULO 3 - A Tutela do Consumidor

    3.1. O MICROSSISTEMA DO CDC E SUA INCIDNCIA3.2. CONCEITOS3.3. NATUREZA JURDICA DA TUTELA3.4. PRINCPIOS ESPECFICOS APLICVEIS3.5. DIREITOS BSICOS DO CONSUMIDOR3.6. COMPETNCIA PARA LEGISLAR3.7. INSTRUMENTOS DA DEFESA DO CONSUMIDOR

    CAPTULO 4 - Os Vrios Campos da Tutela

    4.1. A TUTELA GENRICA4.2. TUTELA ESPECFICA

    CAPTULO 5 - Tutela Civil

    5.1. GENERALIDADES SOBRE A TUTELA CIVIL5.2. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO FORNECEDOR5.3. DAS PRTICAS COMERCIAIS5.4. DA PROTEO CONTRATUAL

    CAPTULO 6 - Tutela Administrativa

    6.1. INTRODUO6.2. LEGISLAO PROTETIVA6.3. O SISTEMA NACIONAL DE DEFESA DO CONSUMIDOR6.4. AS PRTICAS INFRINGENTES6.5. A FISCALIZAO6.6. SANES ADMINISTRATIVAS6.7. A APLICAO DAS SANES ADMINISTRATIVAS6.8. O FUNDO DE DEFESA DOS DIREITOS DIFUSOS E SEU CONSELHO GESTOR

  • 6.9. O PROCESSO ADMINISTRATIVO CAPTULO 7 - Tutela Penal

    7.1. INTRODUO7.2. O CDIGO DO CONSUMIDOR7.3. NOVOS CRIMES CONTRA AS RELAES DE CONSUMO7.4. O CDIGO PENAL7.5. A LEI DE ECONOMIA POPULAR7.6. A LEGISLAO EXTRAVAGANTE7.7. OS JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS

    CAPTULO 8 - Tutela Jurisdicional

    8.1. GENERALIDADES SOBRE TUTELA INDIVIDUAL E COLETIVA8.2. OS PROVIMENTOS ANTECIPATRIOS8.3. A AO POPULAR8.4. A AO CIVIL PBLICA8.5. A AO CIVIL COLETIVA PARA A DEFESA DOS INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGNEOS8.6. AO CIVIL PBLICA E AO CIVIL COLETIVA: AFINIDADES E DISTINES8.7. AO DE RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR8.8. OUTRAS AES: MANDADO DE SEGURANA COLETIVO, JUIZADOS ESPECIAIS CVEIS E ...8.9. A ATUAO DO MINISTRIO PBLICO

    CAPTULO 9 - Consideraes acerca da Efetividade da Tutela do Consumidor

    9.1. INTRODUO9.2. A QUESTO DA EDUCAO DO CONSUMIDOR9.3. A REPRESSO AO ABUSO DO PODER ECONMICO9.4. A INSTRUMENTALIZAO DO SETOR9.5. A INTERIORIZAO DA DEFESA DO CONSUMIDOR9.6. O ESTADO E O CONSUMIDOR9.7. INICIATIVAS NA REA PRIVADA9.8. NECESSIDADE DE LEGISLAO ADEQUADA

    APNDICE I - JurisprudnciaAPNDICE II - Smulas do STF, Vinculantes do STF e STJ Aplicveis Defesa do ConsumidorBIBLIOGRAFIA

  • ISBN : 9788502104990

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP) (Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Almeida, Joo Batista deA proteo jurdica do consumidor/Joo Batista de Almeida. 7. ed. rev. e atual. So Paulo : Saraiva, 2009. 1. Consumidor Leis e legislao Brasil 2. Consumidores Proteo Brasil 3. Contratos Brasil 4. Responsabilidade (Direito) I. Ttulo. 08-11439

    CDU-347.51:381.8(81 )

    ndices para catlogo sistemtico:1. Brasil : Defesa do consumidor e responsabilidade civil

    347.51:381.8(81 )2. Brasil : Responsabilidade civil e defesa do consumidor

    347.51:381.8(81 )

    Diretor editorial Antonio Luiz de Toledo Pinto

    Diretor de produo editorial Luiz Roberto Curia

    Assistente editorial Rosana Simone Silva

    Produo EditorialLigia Alves

    Clarissa Boraschi Maria Coura

    Estagirio Vinicius Asevedo Vieira

    Preparao de originaisMaria Lcia de Oliveira Godoy

    Evandro Lisboa Freire

    Arte e diagramaoCristina Aparecida Agudo de Freitas

    Claudirene de Moura Santos Silva

    Reviso de provasRita de Cssia Queiroz Gorgati

    Mair de Ftima Costola

    Reviso de provas Maria Cndida Machado

    Servios editoriaisKarla Maria de Almeida Costa

    Carla Cristina Marques

    Servios editoriais Ana Paula Mazzoco

    Capa Know-how Editorial/Victor Bittow

    Data de fechamento da edio: 26-2-2009

    Dvidas?Acesse www.saraivajur.com.br

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva.A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

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    PAR/AMAP Travessa Apinags, 186 Batista Campos Fone: (91 ) 3222-9034 / 3224-9038 Fax: (91) 3241-0499 Belm

    PARAN/SANTA CATARINA Rua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado Velho Fone/Fax: (41) 3332-4894 Curitiba

    PERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE/ALAGOAS Rua Corredor do Bispo, 185 Boa Vista Fone: (81) 3421-4246 Fax: (81) 3421-4510 Recife

    RIBEIRO PRETO (SO PAULO) Av. Francisco Junqueira, 1255 Centro Fone: (16) 3610-5843 Fax: (16) 3610-8284 Ribeiro Preto

    RIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTO Rua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila Isabel Fone: (21) 2577-9494 Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565 Rio de Janeiro

    RIO GRANDE DO SUL Av. A. J. Renner, 231 Farrapos Fone/Fax: (51) 3371-4001/3371-1467 / 3371-1567 Porto Alegre

    SO PAULO Av. Marqus de So Vicente, 1697 Barra Funda Fone: PABX (11) 3613-3000 So Paulo

  • Ana Maria, companheira e cmplice de todos os momentos e todas as lutas, e aos nossos filhos, Leonardo eRafaela, pela compreenso e pelo estmulo.

  • SIGLAS UTILIZADAS

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AC ou APC Apelao Cvel

    ACP Ao Civil Pblica

    ADCT Ato das Disposies Constitucionais Transitrias

    AMS Apelao em Mandado de Segurana

    BRASILCON Instituto Brasileiro de Poltica e Direito do Consumidor

    CADE Conselho Administrativo de Defesa Econmica

    CC Cdigo Civil

    CCom Cdigo Comercial

    CCR Cmara de Coordenao e Reviso (MPF)

    CDC Cdigo de Defesa do Consumidor

    CF Constituio Federal

    CFDD Conselho Federal Gestor do Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (MJ)

    CLT Consolidao das Leis do Trabalho

    CNDC Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (extinto)

    Codid Coordenadoria de Defesa dos Direitos Individuais e dos Interesses Difusos (extinta)

    Comdecon Comisso Municipal de Defesa do Consumidor

    Conar Conselho Nacional de Auto-Regulamentao Publicitria

    Conmetro Conselho Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    CP Cdigo Penal

    CPC Cdigo de Processo Civil

    Deacon Departamento de Assistncia ao Consumidor (dos clubes de diretores lojistas)

    Decon Departamento Estadual de Polcia do Consumidor

    DPDC Departamento de Proteo e Defesa do Consumidor (MJ)

    FCVS Fundo de Compensao de Variaes Salariais

    FDD Fundo de Defesa dos Direitos Difusos (MJ)

    IDEC Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor

    Inmetro Instituto Nacional de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial

    IOCU International Organization of Consumers Union, atual Consumers International

    Ipem Instituto Estadual de Pesos e Medidas

    JEC Juizados Especiais Cveis

  • JEPC Juizados Especiais de Pequenas Causas

    LACP Lei da Ao Civil Pblica

    MEC Ministrio da Educao e Cultura

    MJ Ministrio da Justia

    MP Ministrio Pblico

    MPF Ministrio Pblico Federal

    MPU Ministrio Pblico da Unio

    novo CC novo Cdigo Civil

    OAB Ordem dos Advogados do Brasil

    ONU Organizao das Naes Unidas

    PNUD Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

    Procon Grupo Executivo de Proteo e Orientao ao Consumidor

    RDC Revista de Direito do Consumidor

    RE Recurso Extraordinrio

    RT Revista dos Tribunais

    SDE Secretaria de Direito Econmico (MJ)

    Secodid Secretaria de Coordenao da Defesa dos Direitos Individuais e dos Interesses Difusos (extinta)

    Serasa Centralizao de Servios dos Bancos S. A.

    SFH Sistema Financeiro da Habitao

    SNDC Sistema Nacional de Defesa do Consumidor

    SPC Servio de Proteo ao Crdito

    STF Supremo Tribunal Federal

    STJ Superior Tribunal de Justia

    TACivSP Tribunal de Alada Cvel de So Paulo (1 e 2)

    TACrimSP Tribunal de Alada Criminal de So Paulo

    TFR Tribunal Federal de Recursos (extinto)

    TJ Tribunal de Justia

    TRF1 Tribunal Regional Federal da 1a Regio

    TRF2 Tribunal Regional Federal da 2a Regio

    TRF3 Tribunal Regional Federal da 3a Regio

    TRF4 Tribunal Regional Federal da 4a Regio

    TRF5 Tribunal Regional Federal da 5a Regio

  • INTRODUO 7a EDIO

    Lanada em 1993, e resultante de dissertao no Curso de Mestrado da UnB, esta obra chega sua 7a edio, para oque foi revista e atualizada.

    No Captulo 1 foi introduzida a alterao do CDC pela Lei n. 11.785, de 22-9-2008, que deu nova redao a uma dasnormas relativas aos contratos de adeso, acrescentando-se a nova Lei do Sistema de Consrcios no tpico 1.5.3.

    J no Captulo 5, foram inseridas informaes marcantes sobre o julgamento, em outubro de 2008, do tema DireitoBancrio, no mbito do 2 Recurso Repetitivo, e comentados os aspectos relevantes do novel contrato de consrcio(ver 5.4.7.3 e 5.4.7.5).

    No item normas especiais, transformado em contratos em espcie (5.4.7), foram inseridas informaes sobre ojulgamento do 2 Recurso Repetitivo, pelo STJ, sobre Direito Bancrio, bem como comentados os aspectos maissignificativos da Lei do Sistema de Consrcio. A partir da 6a edio foram includos subsdios, inclusivejurisprudenciais, acrescentando-se mais trs novas modalidades contratuais: leasing ou arrendamento mercantil,contrato bancrio e carto de crdito. Foi tambm acrescentado confronto entre o CDC e o novo Cdigo Civilrelativamente reviso dos contratos (5.4.10.6).

    Ainda a partir da 6a edio grandes alteraes foram levadas a efeito no Captulo 8, atinente tutela jurisdicional,envolvendo temas como: litisconsrcio nas aes civil pblica e coletiva e termo de ajustamento de conduta (TAC). Noitem 8.9 A atuao do Ministrio Pblico foi reescrito o texto do inqurito civil e alterado o do litisconsrcio entreMPs.

    Por fim, no Captulo 9, tratou-se da necessidade de legislao especfica e adequada para carto de crdito,superendividamento e overbooking.

    No Apndice I foi revista e ampliada a jurisprudncia dos Tribunais, com a insero de novos temas, a saber: carronovo, plano de sade para o idoso, caracterizao de relao de consumo, Defensoria Pblica, ao coletiva,legitimao das associaes privadas, capitalizao mensal de juros remuneratrios, medida cautelar para impedir oregistro do nome do consumidor em bancos de proteo ao crdito, seguro de vida etc.

    Foram atualizadas as smulas do STJ (Apndice II), suprimidos os elencos de clusulas abusivas, j incorporados notpico especfico (Apndice III), e inseridas as 3 primeiras Smulas Vinculantes do STF relacionadas ao direito doconsumidor. Foi, tambm, complementada a bibliografia.

    Mais uma vez, agradeo a receptividade desta obra pelos meios acadmicos e jurdicos do pas, procurandocorresponder altura, com atualizaes constantes, indicao de novos julgados e supresso daqueles que ficaramobsoletos em face de novos pronunciamentos do Poder Judicirio.

    Braslia, novembro de 2008.

    O Autor

  • INTRODUO 1a EDIO

    A defesa do consumidor ganhou grande impulso na ltima dcada, em todo o mundo, em face do posicionamento daONU e da adoo de medidas protetivas nas legislaes modernas.

    Surgida no Brasil em 1977, com a criao do Procon paulista, a proteo do consumidor a partir dessa data se faziabasicamente na esfera administrativa, com base em legislao desatualizada e regulamentao deficiente.

    Em 1985 essa proteo foi reforada com o advento da Lei n. 7.347, instituidora da ao civil pblica para a tutelados interesses difusos e coletivos, e a criao do Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, no mbito daAdministrao Federal.

    A grande tomada de conscincia, no entanto, ocorreu em 1988, quando o tema recebeu tratamento constitucional,assumindo o Estado a obrigao de promover a defesa do consumidor. Em termos legislativos essa promessa foicumprida com a edio do Cdigo de Defesa do Consumidor, por meio da Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990,vigente a partir de maro de 1991.

    Ao idealizarmos este trabalho, moveu-nos o desafio de estudar um tema atual, pouco versado entre ns e novo nocenrio jurdico, em face de seu recente tratamento constitucional e legal e da ausncia de sistematizao na doutrinanacional. Alm de importante, posto que ligado aos direitos e garantias individuais e coletivos e tendo por escopo orespeito dignidade, sade e segurana e a melhoria da qualidade de vida do cidado.

    Certamente no foi nosso intuito o esgotamento de assunto to amplo, cujos captulos, isoladamente, j ofereceriamcampo para ampla investigao.

    Preocupou-nos sobremodo o tratamento conjunto do tema, no sentido de realizar uma verdadeira radiografia quepermitisse, a um s tempo, a viso panormica e o estudo interdisciplinar do sistema protetivo atual em comparaocom o direito anterior, sob o enfoque das tutelas outorgadas pela nova legislao. Da a anlise, em separado, dastutelas civil, administrativa, penal e jurisdicional preocupao central de nosso trabalho.

    Procuraremos, dentro de nossas limitaes e dos objetivos declarados do trabalho, analisar o surgimento da tutelado consumidor no Brasil e no mundo, sua fundamentao histrico-filosfica e os aspectos gerais como conceitos,natureza jurdica, princpios aplicveis, competncia para legislar, direitos bsicos e instrumentos a serem utilizados.

    Em seguida, buscaremos sistematizar e estudar os vrios campos da tutela do consumidor, demonstrando asmudanas ocorridas e respectivas razes, bem como as inovaes do direito posto.

    Para encerrar, procederemos a uma avaliao crtica da tutela quanto ao aspecto de sua efetividade, indicando ospontos vulnerveis e as vias corretivas, em ordem a contribuir para a efetiva implementao da nova lei.

    Braslia, maio de 1992.

  • PREFCIO 1a EDIO

    A defesa do consumidor princpio constitucionalmente expresso como de observncia obrigatria pela ordemeconmica nacional (art. 170, V, da CF) e direito individual e coletivo que o Estado tem o dever de promover (art. 5,XXXII).

    Para tornar efetiva tal defesa previu, ainda, o texto constitucional da Repblica Federativa do Brasil, promulgado em5 de outubro de 1988, que o Congresso Nacional elaboraria, dentro de cento e vinte dias, o Cdigo de Defesa doConsumidor (art. 48 do ADCT), que, entretanto, s se fez presente entre ns pela Lei n. 8.078, de 11 de setembro de1990, com vigncia depois de cento e oitenta dias de sua publicao.

    ele que define como consumidor toda pessoa fsica ou jurdica que adquire ou utiliza produto ou servio comodestinatrio final e, por equiparao, a coletividade de pessoas, ainda que indeterminveis, que haja intervindo nasrelaes de consumo (art. 2 da Lei n. 8.078/90).

    V-se, pois, que o Cdigo de Defesa do Consumidor o instrumento jurdico de proteo de cada pessoa, querindividualmente considerada, quer como integrante da coletividade. , em suma, um instrumento de exerccio dacidadania.

    No cabe, aqui, analis-lo, sequer genericamente, mas permito-me a referncia ao Ministrio Pblico, como rgolegitimado a exercitar a defesa coletiva do consumidor em juzo.

    Com efeito, compete a essa instituio, segundo preceito constitucional, promover o inqurito civil e a ao civilpblica, para a proteo dos interesses difusos e coletivos e, dentre estes, os interesses do consumidor.

    Talvez seja neste mister que o Ministrio Pblico se mostre mais claramente como defensor da sociedade eestimulador do exerccio da cidadania de cada brasileiro.

    Sem dvida, o Ministrio Pblico o agente, por excelncia, de proteo ao consumidor, e sua atuao neste campotem, preponderantemente, carter pedaggico. Afinal, ao ingressar em juzo com ao civil pblica atinente a relaode consumo, o Ministrio Pblico no s estimula o surgimento de novas associaes de defesa do consumidor, mastambm faz com que o cidado se conscientize da importncia do papel do Poder Judicirio na soluo dos conflitos dequalquer espcie, como convm a toda sociedade democraticamente organizada.

    Por isso e por muito mais, o meu entusiasmo em apresentar A proteo jurdica do consumidor, de autoria do paulistade Queluz, Joo Batista de Almeida, antes de tudo, membro do Ministrio Pblico Federal, desde outubro de 1984.

    Com ela o Autor obteve o ttulo de Mestre pela Universidade de Braslia, em 20 de agosto de 1991.Embora se trate de labor jurdico de coroamento de curso de ps-graduao, seu carter cientfico est em harmonia

    com sua inquestionvel utilidade prtica, no constituindo vaticnio a afirmao de que ser obrigatoriamente citadanos trabalhos forenses, doravante.

    A proteo jurdica do consumidor apresenta, tambm, o nosso Cdigo de Defesa do Consumidor, disperso em toda aobra e, a, o seu valor mpar, j que o Autor foi Presidente do Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, de janeiroa agosto de 1989, perodo em que participou dos debates e da redao final do anteprojeto que resultou no Cdigo.

    livro, pois, de especialista, que tornar o Cdigo de Defesa do Consumidor mais conhecido e praticado,contribuindo para que desaparea o mau vezo brasileiro de elaborar leis socialmente avanadas, mas sem a devidaaplicao cotidiana.

    Esta obra , sem dvida, o testemunho de que a bela retrica legal pode e deve ser eficientemente posta em prtica,com a conseqente mutao scio-cultural. Para melhor, claro!

    Por tudo isso, o meu orgulho, como Chefe do Ministrio Pblico da Unio, em figurar como signatrio do seuprefcio.

    Se, por isso, agradeo ao Autor, creio que o agradecimento inevitvel ser de todos quantos a conhecerem e dela,fatalmente, se beneficiarem.

    Braslia, 7 de maro de 1992.

    ARISTIDES JUNQUEIRA ALVARENGAProcurador-Geral da Repblica

  • APRESENTAO DA 2a EDIO

    No ano em que o Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) completa dez anos, aparece a segunda edio de Aproteo jurdica do consumidor, de autoria de Joo Batista de Almeida.

    A promulgao do CDC foi e, hoje, ningum mais duvida disso um daqueles grandes momentos da histrialegislativa brasileira neste sculo. Antes de ser uma lei limitada a regrar a estreita superfcie do relacionamentofornecedor-consumidor, o Cdigo acabou por transformar-se, na doutrina e na prtica jurisprudencial, em verdadeiroinstrumento de modernizao do nosso Direito Privado. Representou o fim do domnio do pensamento jurdico dosSculos XVIII e XIX, que compe a essncia do nosso Cdigo Civil.

    Interessante tal fenmeno, de todo inesperado. Excludas incurses tpicas anteriores, principalmente no campodas relaes trabalhistas, foi pelas mos do CDC, lei especial, que o Direito Privado brasileiro ajustou-se, finalmente,aos tempos e aspiraes do Welfare State, hoje constitucionalizado.

    Matria recente no cenrio jurdico nacional, o Direito do Consumidor j conta com um invejvel grupo deespecialistas, respeitado tanto aqui, como nos principais centros mundiais de produo doutrinria, da Frana,Alemanha e Blgica aos Estados Unidos e Canad. Organizados em volta do BRASILCON Instituto Brasileiro dePoltica e Direito do Consumidor, esses doutrinadores conseguiram, em poucos anos, a notvel faanha de deixar paratrs a fase do aprendizado e do esforo legislativo, rapidamente passando a gerar, aperfeioar e lecionar a novamatria, fazendo do Brasil um centro de irradiao modernizadora e de conhecimento especializado, em particular nocontexto da Amrica Latina. Hoje, chega-se mesmo a falar em uma Escola Brasileira de Direito do Consumidor.

    , portanto, em boa hora que reaparece o livro de Joo Batista de Almeida, que, quando de sua primeira edio,significou o primeiro estudo amplo, srio e metdico do microssistema codificado, indicando, naqueles primeiros edifceis momentos de aplicao (e questionamentos) do CDC, uma linha firme a ser seguida pelos implementadores.

    As credenciais do autor so as melhores possveis. Procurador da Repblica respeitado, ex-Presidente do CNDC Conselho Nacional de Defesa do Consumidor, rgo antecessor da atual SDE Secretaria de Direito Econmico, doMinistrio da Justia, Secretrio-Geral do Ministrio Pblico Federal por mais de oito anos, Mestre em Direito pelaUniversidade de Braslia, diretor do BRASILCON Instituto Brasileiro de Poltica e Direito do Consumidor e festejadoconferencista, em eventos nacionais e internacionais.

    A obra no poderia ser mais atualizada e abrangente, analisando, em profundidade e com rigor cientfico, osgrandes temas que desafiam o aplicador e o estudioso do CDC. Transita, com fluncia e facilidade, entre as diversasdimenses e domnios do Direito do Consumidor, dos conceitos e direitos bsicos responsabilidade civil dofornecedor, do controle das prticas e clusulas abusivas ao tratamento da publicidade, do acesso justia criminalidade de consumo. Nada, realmente, escapa ao crivo atento e profissional de Joo Batista de Almeida.

    No se trata, porm, de livro que v interessar somente ao especialista em Direito do Consumidor e aosformuladores da doutrina nacional. Escrito em linguagem escorreita e clara, o trabalho ser, com certeza, leituraobrigatria nas Faculdades de Direito, mais ainda agora que vrias delas incluram, em seu currculo, o estudo dadisciplina.

    O Direito do Consumidor no Brasil, com a segunda edio do livro A proteo jurdica do consumidor, d uma slidademonstrao de maturidade. Estamos todos de parabns. O autor, pela magnfica obra que a Saraiva publica. AEscola Brasileira de Direito do Consumidor, pela sofisticada produo jurdica, aqui to bem representada por estetrabalho de um dos seus mais destacados membros. Enfim, os brasileiros, pela certeza de que, como consumidores,esto mais protegidos do que nunca.

    ANTNIO HERMAN BENJAMINProcurador de Justia em So Paulo, um dos redatores do CDC, Professor das Universidades do Texas e Illinois, ex-

    Presidente do BRASILCON e Fundador da Revista de Direito do Consumidor

  • APRESENTAO DA 1a EDIO

    O Brasil acordou tarde para a necessidade de conferir adequado tratamento jurdico s relaes de consumo e,nesse contexto, assegurar eficaz proteo figura do consumidor.

    Diferentemente de outros pases, que, na esteira da Organizao das Naes Unidas, h mais de trs dcadasinseriram o tema entre as suas preocupaes relevantes, aqui somente a partir dos anos 70 passamos a dar atenoao problema, inicialmente et pour cause no Estado de So Paulo, onde, em 1978, surgiu o primeiro rgo de defesado consumidor e, bem mais tarde, em mbito nacional, j no ano de 1985, com a criao do Conselho Nacional deDefesa do Consumidor.

    Durante muito tempo, apenas marginalmente ou de forma indireta a legislao protegeu o consumidor; por via deconseqncia, nenhuma obra doutrinria de flego foi dedicada ao tema, pelo menos at o incio da dcada de 80,quando comearam a surgir os primeiros trabalhos tericos de real importncia sobre essa relevante matria.

    Nesse novo ambiente que aparece o estudo de Joo Batista de Almeida A proteo jurdica do consumidor , quepode ser considerado, sem qualquer favor, uma das mais expressivas contribuies, entre as que conhecemos, para oadequado exame da disciplina jurdica das relaes de consumo, na especial vertente da tutela do consumidor.

    Sem pretender se constituir em obra de comentrios ao recente Cdigo de Defesa do Consumidor porque se tratade legislao recente, quaisquer consideraes desse tipo sobre os dispositivos dessa lei no passariam decomentrios vazios e rasteiros, daqueles a que, infelizmente, vez por outra, se dedicam alguns juristas brasileiros,movidos pelo desejo do lucro fcil e imediato, que faz a alegria dos editores e a tristeza dos estudiosos , mesmo semalimentar essa pretenso hermenutica, o trabalho de Joo Batista de Almeida possibilita uma compreensosistemtica do Cdigo, na medida em que fornece seja-nos perdoada a expresso preciosas dicasinterpretativas para o esclarecimento dos princpios e conceitos prprios desse nascente ramo da enciclopdiajurdica, que o chamado direito das relaes de consumo.

    Trata-se, assim, de um trabalho que, nem por ser de origem e inspirao acadmicas afinal de contas suadissertao de mestrado, apresentada e aprovada no curso de ps-graduao da Universidade de Braslia , nem porisso deixa de possuir o maior interesse, tambm do ponto de vista prtico.

    que seu Autor, sobre ser um estudioso dos fundamentos da tutela jurdica das relaes de consumo o quedemonstra, saciedade, pelo domnio do tema, tanto no mbito restrito da legislao e da doutrina ptrias, como novasto campo do direito comparado , tambm membro do Ministrio Pblico Federal, onde ocupa posio de relevoentre os integrantes da carreira devotados defesa dos interesses difusos e coletivos, militncia exemplar a servioda qual vem dedicando o melhor das suas energias e do seu talento, tendo, inclusive, exercido a presidncia doConselho Nacional de Defesa do Consumidor, mnus pblico da maior relevncia, que lhe proporcionou fecundaexperincia no trato da matria.

    O trabalho procura e efetivamente consegue abordar o tema em perspectiva bem ampla, que vai desde aanlise de sua localizao em sede constitucional at ao exame dos diferentes tipos de tutela civil, administrativa,penal e jurisdicional de que dispe o consumidor para essa at hoje desigual competio, a que est exposto, nodia-a-dia das relaes com o fornecedor, relaes que so tanto mais sofridas quanto travadas num pas como o nosso,onde, infelizmente, ainda no se desenvolveu, na plenitude, a conscincia de que o respeito e a defesa dos direitosindividuais, sociais, coletivos ou difusos coincide com o interesse pblico e geral de garantir, objetivamente, aregularidade do ordenamento jurdico e a prpria realizao constitucional.

    Se conseguir colaborar para essa conscientizao o que certamente acontecer , o trabalho de Joo Batista deAlmeida ter cumprido papel social do maior relevo, no marco do desenvolvimento da nossa sociedade, que no podeaspirar ao ingresso na almejada modernidade enquanto o homem comum de que exemplo o consumidordesprotegido no for respeitado em todas as dimenses de sua personalidade.

    INOCNCIO MRTIRES COELHO

  • CAPTULO 1

    As Relaes de Consumo

    1.1. AS RELAES DE CONSUMO: CONCEITO E EVOLUO1.2. O SURGIMENTO DA TUTELA DO CONSUMIDOR1.3. A PREOCUPAO INTERNACIONAL1.4. O TEMA EM OUTROS PASES1.5. O PROBLEMA NO BRASIL1.6. POLTICA NACIONAL DE RELAES DE CONSUMO

    1.1. AS RELAES DE CONSUMO: CONCEITO E EVOLUO

    O consumo parte indissocivel do cotidiano do ser humano. verdadeira a afirmao de que todos ns somosconsumidores. Independentemente da classe social e da faixa de renda, consumimos desde o nascimento e em todosos perodos de nossa existncia. Por motivos variados, que vo desde a necessidade de sobrevivncia at o consumopor simples desejo, o consumo pelo consumo.

    As relaes de consumo so bilaterais, pressupondo numa ponta o fornecedor que pode tomar a forma defabricante, produtor, importador, comerciante e prestador de servio , aquele que se dispe a fornecer bens eservios a terceiros, e, na outra ponta, o consumidor, aquele subordinado s condies e aos interesses impostos pelotitular dos bens ou servios, no atendimento de suas necessidades de consumo.

    Alm disso, as relaes de consumo so dinmicas, uma vez que, contingenciadas pela prpria existncia humana,nascem, crescem e evoluem, representando, com preciso, o momento histrico em que esto situadas.

    Neste Captulo sero estudados o surgimento da tutela do consumidor como decorrncia das modificaes dasrelaes de consumo, bem como a posio do tema no foro internacional, em vrios pases e no Brasil, os objetivos eprincpios da Poltica Nacional de Relaes de Consumo.

    Caracterizam relao de consumo, por exemplo: contratos bancrios, financeiros, seguro, carto de crdito, leasingou arrendamento mercantil, fornecedor de servios em geral, inclusive os pblicos, compra e venda e a respectivapromessa, seguro-sade, plano de sade, hospedagem, depsito, estacionamento, turismo, transporte, viagem,poupana, programa de milhagem, previdncia privada, administrao de imveis e locao de automveis.

    fato inegvel que as relaes de consumo evoluram enormemente nos ltimos tempos. Das operaes de simplestroca de mercadorias e das incipientes operaes mercantis chegou-se progressivamente s sofisticadas operaes decompra e venda, arrendamento, leasing, importao etc., envolvendo grandes volumes e milhes de dlares. De hmuito as relaes de consumo deixaram de ser pessoais e diretas, transformando-se, principalmente nos grandescentros urbanos, em operaes impessoais e indiretas, em que no se d importncia ao fato de no se ver ouconhecer o fornecedor. Surgiram os grandes estabelecimentos comerciais e industriais, os hipermercados e, maisrecentemente, os shopping centers. Com a mecanizao da agricultura a populao rural migrou para a periferia dasgrandes cidades, causando o inchao populacional, a conturbao e a deteriorao dos servios pblicos essenciais.Os bens de consumo passaram a ser produzidos em srie, para um nmero cada vez maior de consumidores. Osservios se ampliaram em grande medida. O comrcio experimentou extraordinrio desenvolvimento, intensificando autilizao da publicidade como meio de divulgao dos produtos e atrao de novos consumidores e usurios. Aproduo em massa e o consumo em massa geraram a sociedade de massa, sofisticada e complexa.

    Como era de se esperar, essa modificao das relaes de consumo culminou por influir na tomada de conscincia deque o consumidor estava desprotegido e necessitava, portanto, de resposta legal protetiva.

    1.2. O SURGIMENTO DA TUTELA DO CONSUMIDOR

    Era natural que a evoluo das relaes de consumo acabasse por refletir nas relaes sociais, econmicas ejurdicas. Pode-se mesmo afirmar que a proteo do consumidor conseqncia direta das modificaes havidas nosltimos tempos nas relaes de consumo, representando reao ao avano rpido do fenmeno, que deixou oconsumidor desprotegido ante as novas situaes decorrentes do desenvolvimento.

    Estudando o tema, Camargo Ferraz, Milar e Nelson Nery Junior1 concordam com a afirmao supra de que a tutelados interesses difusos em geral e do consumidor em particular deriva das modificaes das relaes de consumo eevidenciam que: O surgimento dos grandes conglomerados urbanos, das metrpoles, a exploso demogrfica, a

  • revoluo industrial, o desmesurado desenvolvimento das relaes econmicas, com a produo e consumo de massa,o nascimento dos cartis, holdings, multinacionais e das atividades monopolsticas, a hipertrofia da interveno doEstado na esfera social e econmica, o aparecimento dos meios de comunicao de massa, e, com eles, o fenmeno dapropaganda macia, entre outras coisas, por terem escapado do controle do homem, muitas vezes voltaram-se contraele prprio, repercutindo de forma negativa sobre a qualidade de vida e atingindo inevitavelmente os interessesdifusos. Todos esses fenmenos, que se precipitaram num espao de tempo relativamente pequeno, trouxeram a lumea prpria realidade dos interesses coletivos, at ento existentes de forma latente, despercebidos.

    A seu turno, Cappelletti2 identificou os chamados interesses difusos e coletivos, que, sem serem pblicos ouprivados no sentido tradicional da palavra, demandavam uma nova definio da legitimao ativa para a sua defesa.Alm do que, ao reconhecer que um interesse pode pertencer muito mais coletividade ou a um grupo social do que aum de seus membros individualmente, caracterizou-se sensvel avano no entendimento do termo interesse, com issobeneficiando, em termos de tutela, ao consumidor difusa e coletivamente considerado.

    Mas ressalta Othon Sidou o que deu dimenso enormssima ao imperativo cogente de proteo ao consumidor,ao ponto de impor-se como tema de segurana do Estado no mundo moderno, em razo dos atritos sociais que oproblema pode gerar e ao Estado incumbe delir, foi o extraordinrio desenvolvimento do comrcio e a conseqenteampliao da publicidade, do que igualmente resultou, isto sim, o fenmeno conhecido dos economistas do passado a sociedade do consumo, ou o desfrute pelo simples desfrute, a aplicao da riqueza por mera sugesto consciente ouinconsciente3.

    Importante salientar, a seu turno, que o consenso internacional em relao vulnerabilidade do consumidor nomercado de consumo representou fator importante para o surgimento da tutela no nvel de cada pas. Oreconhecimento de que o consumidor estava desprotegido em termos educacionais, informativos, materiais elegislativos determinou maior ateno para o problema e o aparecimento de legislao protetiva em vrios pases.

    Afirma-se, em concluso, que as profundas modificaes das relaes de consumo, a identificao dos interessesdifusos e coletivos, a nova postura em relao legitimao ativa e o reconhecimento da hipossuficincia doconsumidor conduziram, no conjunto, ao surgimento da tutela respectiva.

    1.3. A PREOCUPAO INTERNACIONAL

    A proteo jurdica do consumidor no tema que diga respeito a um nico pas; ao contrrio, tema supranacional,pois abrange todos os pases, desenvolvidos ou em vias de desenvolvimento. A relevncia do tema, as repercussessentidas nos segmentos sociais dos vrios pases, a sensibilidade para os problemas sociais e os direitos humanos, emsuma, toda essa modificao nas relaes de consumo, acabaram levando a ONU a se preocupar com a defesa doconsumidor, alis atitude esperada do organismo internacional, caixa de ressonncia dos grandes temas que envolvema melhoria da qualidade de vida dos povos.

    Anteriormente, em 1969, ao aprovar a Resoluo n. 2.542, de 11 de dezembro, foram dados os primeiros passosnesse sentido, ao ser proclamada a Declarao das Naes Unidas sobre o progresso e desenvolvimento social.Depois, em 1973, a Comisso de Direitos Humanos da ONU, dando outro passo significativo, enunciou e reconheceu osdireitos fundamentais e universais do consumidor4.

    Mas foi em 1985 o avano mais importante. Pela Resoluo n. 39/248, de 16 de abril, a ONU baixou normas sobre aproteo do consumidor, tomando clara posio e cuidando detalhadamente do tema. Ao faz-lo, reconheceuexpressamente que os consumidores se deparam com desequilbrios em termos econmicos, nveis educacionais epoder aquisitivo.

    Tais normas, segundo as Naes Unidas, teriam os seguintes objetivos:a) auxiliar pases a atingir ou manter uma proteo adequada para a sua populao consumidora;b) oferecer padres de consumo e distribuio que preencham as necessidades e desejos dos consumidores;c) incentivar altos nveis de conduta tica, para aqueles envolvidos na produo e distribuio de bens e servios

    para os consumidores ;d) auxiliar pases a diminuir prticas comerciais abusivas usando de todos os meios, tanto em nvel nacional como

    internacional, que estejam prejudicando os consumidores;e) ajudar no desenvolvimento de grupos independentes e consumidores ;f) promover a cooperao internacional na rea de proteo ao consumidor; eg) incentivar o desenvolvimento das condies de mercado que ofeream aos consumidores maior escolha, com

    preos mais baixos (Res. n. 39/248, item 1).Citada resoluo cuida, ainda, dos princpios gerais, exortando os governos a desenvolver, reforar e manter uma

    poltica firme de proteo ao consumidor, objetivando o atendimento das seguintes necessidades:a) proteger o consumidor quanto a prejuzos sua segurana;b) fomentar e proteger os interesses econmicos dos consumidores;c) fornecer aos consumidores informaes adequadas para capacit-los a fazer escolhas acertadas de acordo com as

    necessidades e desejos individuais;d) educar o consumidor;e) criar possibilidades de real ressarcimento do consumidor;f) garantir a liberdade para formar grupos de consumidores e outros grupos ou organizaes de relevncia e

    oportunidades para que estas organizaes possam apresentar seus enfoques nos processos decisrios a elas

  • referentes.Em seguida, convoca os governos a prover ou manter infra-estrutura adequada para desenvolver, implementar e

    orientar a poltica de proteo ao consumidor, procurando engajar nesse movimento as empresas, as universidades eas entidades de pesquisas pblicas e privadas.

    A resoluo conclama, ainda, os governos a editar normas aplicveis tanto a bens como a servios, domsticos eexportveis, observando o cuidado para que os mtodos e regulamentos para proteo ao consumidor no setransformem em barreiras ao comrcio internacional. Tais normas devem abranger os seguintes itens:

    1) Segurana fsica.2) Promoo e proteo dos interesses econmicos do consumidor.3) Padres para a segurana e qualidade dos servios e bens do consumidor.4) Meios de distribuio de bens e servios essenciais para o consumidor.5) Medidas que permitam ao consumidor obter o ressarcimento.6) Programa de informao e educao.7) Medidas referentes a reas especficas, como alimentos, gua e medicamentos.A resoluo da ONU trata, por fim, da cooperao internacional, na expectativa de que as diretrizes baixadas

    encorajem tal cooperao na rea de proteo ao consumidor, especialmente no que tange troca de informaesquanto a normas e programas, implantao de normas, cadeia de informaes referentes a produtos que tenham sidobanidos, retirados do mercado ou severamente restringidos, alm de procedimentos de uniformizao relativos aqualidade dos produtos e informaes, evitando-se, assim, grande variao de pas para pas.

    Ressalte-se, neste passo, que as normas no so imperativas, sendo, portanto, prerrogativa de cada governoimplement-las como achar apropriado, de acordo com suas prioridades e necessidades.

    Secundando a deliberao da ONU, de 9 a 11 de maro de 1987, foi realizado em Montevidu o Seminrio RegionalLatino-Americano e do Caribe sobre Proteo do Consumidor, em que se reconheceu ter a regio desenvolvidoprogramas no setor, existindo ainda objetivos importantes a serem alcanados nesse campo, reafirmando-se, naocasio, em detalhes, as recomendaes das Naes Unidas.

    A ONU mantm, como rgo consultivo de segunda categoria, a CI Consumers International (antiga IOCU), quecongrega mais de 150 entidades de vrios pases, com sede em Haia e escritrio regional em Santiago-Chile.

    1.4. O TEMA EM OUTROS PASES

    O elogivel trabalho da ONU no constitui, todavia, iniciativa isolada e pioneira, mas resultado de constanteverificao dos problemas que afligiam os consumidores e de como se processavam os mecanismos de proteo nosvrios pases, notadamente os da Europa. Antes mesmo da manifestao da ONU, diversos pases j cuidavam do tema,quer elaborando legislao pertinente, quer criando rgos que pudessem garantir efetivamente a proteo.

    Segundo relata Othon Sidou5, nos Estados Unidos, a proteo ao consumidor teve seu advento legislativo com a leide 1872, que, genericamente, tachava os atos fraudulentos do comrcio, sendo que a esfera foi ampliada em 1887,com a criao, por lei federal, da Comisso do Comrcio entre Estados, encarregada de regulamentar e fiscalizar otrfico ferrocarril. Outro passo importante foi dado em 1914, com a criao e o aperfeioamento da Federal TradeCommission, com o objetivo fundamental de aplicar as leis antitruste e proteger os interesses do consumidor, dotadade amplos poderes investigatrios e acesso a todos os documentos e livros contbeis, com atuao destacada emfraudes envolvendo publicidade enganosa.

    Alm da Federal Trade Commission, rgo mximo do sistema federal de proteo do consumidor norte-americano,outras quatro agncias governamentais especializadas podem ser citadas:

    Consumers Education Office, com a incumbncia de promover e administrar programas educacionais voltados paraa formao e o treinamento de pessoal especializado em educao e orientao do consumidor;

    Food and Drug Administration, encarregada da fiscalizao de produtos comestveis, farmacuticos, cosmticos edrogas;

    Consumer Product Safety Commission, que cuida das normas e padres de segurana dos produtos e fiscaliza suaaplicao;

    Small Claim Courts, que correspondem aos nossos Juizados de Pequenas Causas, atendendo reclamaes deconsumidores e desobstruindo a justia comum6.

    Mas foi em 1962 que o tema ganhou grande impulso nos Estados Unidos, quando John Kennedy assumiu a bandeirada defesa do consumidor em plena campanha eleitoral para a Presidncia da Repblica, e, uma vez eleito, j em suaprimeira mensagem ao Congresso cuidava do assunto, consagrando os direitos bsicos do consumidor, que, maistarde, viriam a ser encampados pelas Naes Unidas.

    De ressaltar que l, ao lado dos rgos oficiais, as entidades privadas, como associaes e organizaes deconsumidores, exercem importante papel na orientao e proteo dos consumidores e defesa de seus direitos,citando-se como exemplo o notvel trabalho do advogado Ralph Nader frente de uma dessas associaes.

    Tambm na Europa o tema defesa do consumidor sempre esteve presente em praticamente todos os pases. RelataOthon Sidou7 que, a partir de 1971, o Comit Europeu de Cooperao Jurdica, por intermdio de um Subcomit deProteo Legal ao Consumidor, realizou ampla investigao sobre o assunto, chegando concluso de que todos ospases demonstraram estar dele cuidando legislativa e administrativamente, havendo organizaes privadas e rgospblicos legitimados a atuar em juzo em defesa dos consumidores. Com o surgimento da Comunidade Econmica

  • Europia o direito comunitrio europeu conheceu as Diretrizes 84/450 (publicidade) e 85/374 (responsabilidade civilpelos acidentes de consumo), fontes de inspirao do Cdigo brasileiro.

    J os pases escandinavos conhecem, de algum tempo, a figura do Ombudsman do Consumidor, que se dedica proteo dos interesses coletivos do consumidor. De incio, o ombudsman tinha a funo de exercer o controle daAdministrao Pblica, sem jurisdio, e s depois, com o sucesso da experincia, teve paulatinamente ampliadas asatividades, de modo a atender interesses coletivos e difusos, como consumidor, liberdade econmica, imprensa, sadepblica etc. Originrio da Sucia, onde foi instalado em 1809, foram criados posteriormente, semelhana do modelosueco, o da Finlndia (1919), o da Dinamarca (1954) e o da Noruega (1950).

    1.5. O PROBLEMA NO BRASIL

    1.5.1. Evoluo legislativa

    Como tema especfico, a defesa do consumidor no Brasil relativamente nova. So de 1971 a 1973 os discursosproferidos pelo ento Deputado Nina Ribeiro, alertando para a gravidade do problema, densamente de naturezasocial, e para a necessidade de uma atuao mais enrgica no setor. Em 1978 surgiu, em nvel estadual, o primeirorgo de defesa do consumidor, o Procon de So Paulo, criado pela Lei n. 1.903, de 1978. Em nvel federal, s em 1985foi criado o Conselho Nacional de Defesa do Consumidor (Decreto n. 91.469), posteriormente extinto e substitudo pelaSNDE.

    Como tema inespecfico, no entanto, constata-se a existncia de legislao que indiretamente protegia o consumidor,embora no fosse esse o objetivo principal do legislador. A primeira manifestao de que se tem notcia, nessa rea, o Decreto n. 22.626, de 7 de abril de 1933, editado com o intuito de reprimir a usura. De l para c, passando pelaConstituio de 1934, surgem as primeiras normas constitucionais de proteo economia popular (arts. 115 e 117). ODecreto-Lei n. 869, de 18 de novembro de 1938, e depois o de n. 9.840, de 11 de setembro de 1946, cuidaram doscrimes contra a economia popular, sobrevindo, em 1951, a chamada Lei de Economia Popular, at hoje vigente. de1962 a Lei de Represso ao Abuso do Poder Econmico (n. 4.137), que reflexamente beneficia o consumidor, alm dehaver criado o Conselho Administrativo de Defesa Econmica CADE, na estrutura do Ministrio da Justia, aindaexistente, subordinado, porm, Secretaria Nacional de Direito Econmico. Em 1984 foi editada a Lei n. 7.244, queautorizou aos Estados institurem Juizados de Pequenas Causas, revogada pela Lei n. 9.099, de 26 de setembro de1995. Com a Lei n. 7.492, de 16 de junho de 1986, passaram a ser punidos os crimes contra o Sistema FinanceiroNacional, denominados crimes do colarinho branco.

    Passos importantes, no entanto, foram dados a partir de 1985. Em 24 de julho foi promulgada a Lei n. 7.347, quedisciplina a ao civil pblica de responsabilidade por danos causados ao consumidor, alm de outros bens tutelados,iniciando, dessa forma, a tutela jurisdicional dos interesses difusos em nosso pas. Na mesma data foi assinado oDecreto Federal n. 91.469, alterado pelo de n. 94.508, de 23 de junho de 1987, criando o Conselho Nacional de Defesado Consumidor, que tinha como funo assessorar o presidente da Repblica na formulao e conduo da polticanacional de defesa do consumidor, com competncia bastante extensa, mas sem poder coercitivo. Tal rgo colegiadoveio a ser extinto no incio do Governo Collor de Mello e substitudo por outro singular, o Departamento Nacional deProteo e Defesa do Consumidor, subordinado SNDE, na estrutura do Ministrio da Justia. Ganhou-se em termosde agilidade e de uniformidade de procedimento em relao rea de defesa econmica; perdeu-se emrepresentatividade no que se refere participao dos rgos estaduais e municipais, das entidades privadas dedefesa do consumidor e da sociedade civil (Conar, OAB, Confederaes do empresariado: indstria, agricultura ecomrcio), que integravam o extinto Conselho.

    A vitria mais importante nesse campo, fruto dos reclamos da sociedade e de ingente trabalho dos rgos eentidades de defesa do consumidor, foi a insero, na Constituio da Repblica promulgada em 5 de outubro de 1988,de quatro dispositivos especficos sobre o tema. O primeiro deles, mais importante porque reflete toda a concepo domovimento, proclama que O Estado promover, na forma da lei, a defesa do consumidor (art. 5, XXXII). Em outrapassagem, atribuda competncia concorrente para legislar sobre danos ao consumidor (art. 24, VIII). No captulo daOrdem Econmica, a defesa do consumidor apresentada como uma das faces justificadoras da interveno do Estadona economia (art. 170, V). E o art. 48 do Ato das Disposies Constitucionais Transitrias anunciava a edio do toalmejado Cdigo de Defesa do Consumidor, que se tornou realidade pela Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, apslongos debates, muitas emendas e vrios vetos, tendo por base o texto preparado pela Comisso de Juristas eamplamente debatido no mbito do CNDC.

    Pode-se adiantar que hoje o consumidor brasileiro est legislativamente bem equipado, mas ainda se ressente deproteo efetiva, por falta de vontade poltica e de recursos tcnicos e materiais. Mesmo assim, h que ser festejado ogrande avano experimentado nos ltimos anos, que alou o Pas, nessa rea, e em termos legislativos pelo menos, nonvel das naes mais avanadas do Planeta.

    1.5.2. As alteraes do CDC e a legislao complementar

    Desde a sua vigncia, em 1991, o CDC foi alterado por nada menos que cinco leis e vrias medidas provisrias. So

  • elas:a) Lei n. 8.656, de 21 de maio de 1993, que alterou a redao do art. 57, bem como determinou que o Poder

    Executivo (a) regulamentasse o procedimento das sanes administrativas em quarenta e cinco dias, e b) atualizasseperiodicamente o valor da pena de multa, respeitando os parmetros vigentes poca da promulgao do CDC;

    b) Lei n. 8.703, de 6 de setembro de 1993, que deu nova redao ao pargrafo nico do art. 57, determinando que amulta ser em montante no inferior a duzentos e no superior a trs milhes de vezes o valor da UFIR, ou ndiceequivalente que venha a substitu-lo. O valor mnimo passou a ser duzentos e no trezentos, e o BTN foi substitudopela UFIR;

    c) Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994 (transforma o CADE em autarquia e dispe sobre a preveno e represso sinfraes contra a ordem econmica), que alterou o art. 39, tornando exemplificativa a relao das prticas abusivas(dentre outras), e inserindo nessa categoria as condutas de recusar a venda de bens ou a prestao de servios,diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto pagamento, ressalvados os casos de intermediaoregulados em leis especiais (inciso IX) e elevar sem justa causa o preo de produtos ou servios (inciso X). Essa leialterou tambm a Lei n. 7.347/85, arts. 1, V, e 5, II.

    d) Lei n. 9.008, de 21 de maro de 1995 decorrente da converso da Medida Provisria n. 683, de 31 de outubro de1994, reeditada sucessivamente at a de n. 854, de 26 de janeiro de 1995 , que cria o Conselho Federal Gestor doFundo de Defesa dos Direitos Difusos (CFDD), corrige defeitos de redao dos arts. 4, 82 e 98 e inclui como prticaabusiva, no art. 39, a conduta de deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigao ou deixar a fixaode seu termo inicial a seu exclusivo critrio (inciso XII).

    e) Lei n. 9.298, de 1 de agosto de 1996, que alterou o 1 do art. 52 do CDC, que passou a ter a seguinte redao:As multas de mora decorrentes do inadimplemento de obrigaes no seu termo no podero ser superiores a dois porcento do valor da prestao.

    f) Lei n. 9.870, de 23 de novembro de 1999 (converso em real das mensalidades escolares), resultante da conversoda Medida Provisria n. 550, de 8 de julho de 1994, e sucessivas reedies, que alterou o art. 39 para inserir mais umaprtica abusiva, qual seja, a aplicao de ndice ou frmula de reajuste diverso do legal ou contratualmenteestabelecido (inciso XI). Foi tambm atribuda legitimao s associaes de alunos, de pais de alunos e responsveispara a propositura das aes previstas no CDC para a defesa dos direitos assegurados na citada medida provisria.

    g) Lei n. 11.785, de 22 de setembro de 2008, que definiu tamanho mnimo da fonte em contratos de adeso, que,desse modo, no ser inferior ao corpo doze, de modo a facilitar a sua compreenso pelo consumidor.

    As alteraes legislativas, de modo geral, beneficiaram o consumidor, caracterizando-se ora por correo de texto,ora por ampliao de suas garantias, ora por tratamento mais severo dado s prticas abusivas, ao tipificar outrastrs condutas.

    Em termos de legislao complementar, dois decretos foram editados com o objetivo de propiciar a efetivaimplementao do Cdigo do Consumidor:

    1) Decreto n. 2.181, de 20 de maro de 1997, que regulamentou aspectos do CDC, dispondo sobre a organizao doSistema Nacional de Defesa do Consumidor e estabelecendo as normas gerais de aplicao das sanesadministrativas previstas no CDC. Revogou o de n. 861, de 9 de julho 1993.

    2) Decreto n. 1.306, de 9 de setembro de 1994, regulamentando o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos, dispondosobre sua finalidade, definio dos recursos, composio e competncia do Conselho Gestor, alm de outrasprovidncias. Esse decreto revogou o anterior, de n. 407, de 27 de dezembro de 1991, sobre o mesmo assunto.

    Ambos os decretos eram necessrios aplicao do CDC nos seus aspectos administrativos, mas ainda noproduziram os frutos esperados. A regulamentao das sanes passou a ser seguida pelos Procons, superando-se,dessa forma, a dificuldade de operacionalizao e a complexidade do procedimento administrativo, notadamente noque tange ao conflito vertical e horizontal de competncias e ao equivocado sistema recursal. O Sistema Nacional deDefesa do Consumidor passou efetivamente a existir. Os rgos, at ento isolados, passaram a atuar de formacoordenada. O Fundo dos Direitos Difusos precisou ser reformulado. O Conselho Federal Gestor s recentementepassou a existir, sendo a sua primeira composio designada pela Portaria n. 832, de 18 de dezembro de 1998, doMinistro da Justia.

    Dignos de meno tambm: a) o Decreto n. 4.680, de 24 de abril de 2003, publicado no DJU de 25 de abril de 2003,regulamentando o direito do consumidor informao quanto aos alimentos e ingredientes alimentares destinados aoconsumo humano ou animal que contenham ou sejam produzidos a partir de organismos geneticamente modificados; eb) o Decreto n. 3.871, de 18 de junho de 2001, publicado no DOU de 19 de julho de 2001, que disciplinou a rotulagemde alimentos embalados que contenham ou sejam produzidos com organismos geneticamente modificados; e c)Portaria n. 789, do Ministro da Justia, de 24 de agosto de 2001, regulando o procedimento para a comunicao dorecall ao DPDC e a outros rgos pblicos.

    1.5.3. Legislao correlata aps 1990

    Aps 1990 importantes diplomas legais foram editados, citando-se, dentre eles: 1) Lei n. 8.002, de 14 de maro de1990, que dispe sobre a represso de infraes atentatrias contra os direitos do consumidor; 2) Lei n. 8.137, de 27de dezembro de 1990, que define os crimes contra as relaes de consumo e d outras providncias; 3) Lei n. 8.158, de8 de janeiro de 1991, que institui normas para a defesa da concorrncia; 4) Decreto n. 407, de 27 de dezembro de 1991,que regulamenta o Fundo de Defesa dos Direitos Difusos; 5) Lei n. 8.884, de 11 de junho de 1994, que transforma oConselho Administrativo de Defesa do Consumidor CADE em autarquia e dispe sobre a preveno e a represso s

  • infraes contra a ordem econmica; 6) Lei n. 8.918, de 14 de julho de 1994, que dispe sobre a padronizao, aclassificao, o registro, a inspeo, a produo e a fiscalizao de bebidas e autoriza a criao do ConselhoIntersetorial de Bebidas; 7) Lei n. 8.926, de 9 de agosto de 1994, que torna obrigatria a incluso, nas bulas demedicamentos, de advertncias e recomendaes sobre seu uso por pessoas de mais de sessenta e cinco anos; 8) Lein. 9.099, de 26 de setembro de 1995, que dispe sobre os Juizados Especiais Cveis e Criminais, em substituio aosJuizados Especiais de Pequenas Causas, institudos pela Lei n. 7.244, de 7 de novembro de 1984, que foi revogada; 9)Lei n. 9.307, de 23 de setembro de 1996, sobre a arbitragem; 10) Lei n. 9.656, de 3 de junho de 1998, que dispe sobreos planos e seguros privados de assistncia sade; 11) Lei n. 9.677, de 2 de julho de 1998, que altera dispositivos doCP, incluindo na classificao dos delitos considerados hediondos crimes contra a sade pblica; 12) Lei n. 9.695, de 2de agosto de 1998, que inclui entre os crimes hediondos o de falsificao, corrupo, adulterao ou alterao desubstncias ou produtos alimentcios; 13) Lei n. 9.782, de 26 de janeiro de 1999, que dispe sobre o Sistema Nacionalde Vigilncia Sanitria e cria a Agncia Nacional de Vigilncia Sanitria; e 14) Lei n. 9.787, de 10 de fevereiro de 1999,que altera a Lei n. 6.360, de 23 de setembro de 1976 (sobre a vigilncia sanitria), estabelece o medicamento genricoe dispe sobre a utilizao de nomes genricos em produtos farmacuticos; 15) Lei n. 9.790, de 23 de maro de 1999,que dispe sobre a qualificao de pessoas jurdicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizaes daSociedade Civil de Interesse Pblico; 16) Lei n. 9.791, de 24 de maro de 1999, que dispe sobre a obrigatoriedade deas concessionrias de servios pblicos estabelecerem ao consumidor e ao usurio destas opcionais para ovencimento de seus dbitos; 17) Lei n. 10.167, de 27 de dezembro de 2000, que altera dispositivos da Lei n. 9.294/96,que dispe sobre as restries ao uso e propaganda de produtos fumgenos, bebidas alcolicas, medicamentos,terapias e defensivos agrcolas; 18) Lei n. 10.504, de 8 de julho de 2002, que dispe sobre a criao do Dia Nacional doConsumidor; 19) Lei n. 10.671, de 15 de maio de 2003, Estatuto de Defesa do Torcedor, outorgando-lhe proteosimilar do consumidor; 20) Lei n. 10.674, de 16 de maio de 2003, que obriga a que os produtos alimentcioscomercializados informem sobre a presena de glten, como medida preventiva e de controle da doena celaca; 21)Emenda Constitucional n. 40, de 29 de maio de 2003, que alterou a redao do caput do art. 192 da CF e revogou todosos seus incisos e pargrafos, inclusive o 3, cujo texto dizia que as taxas de juros reais no poderiam superar 12% aoano; 22) Lei n. 10.702, de 14 de julho de 2003, que altera a Lei n. 9.294/96, que dispe sobre as restries ao uso e propaganda de produtos fumgenos, bebidas alcolicas, medicamentos, terapias e defensivos agrcolas; 23) Lei n.10.962, de 11 de outubro de 2004, que dispe sobre a oferta e as formas de afixao de preos de produtos e serviosao consumidor; 24) Lei n. 11.105, de 24 de maro de 2005, estabelecendo normas de segurana e mecanismos defiscalizao de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados OGM e seus derivados, alm decriar o CNBS, reestruturar a CTNBio; 25) Lei n. 11.265, de 3 de janeiro de 2006, que regulamentou a comercializao dealimentos para lactantes e crianas de primeira infncia e tambm a de produtos de puericultura correlatos; 26) Lei n.11.795, de 8 de outubro de 2008, que dispe sobre o Sistema de Consrcio. Ver comentrios no item 5.4.7.3.

    1.6. POLTICA NACIONAL DE RELAES DE CONSUMO

    O Cdigo de Defesa do Consumidor, antes de cuidar da Poltica Nacional de Proteo e Defesa do Consumidor, cuidada Poltica de Relaes de Consumo, dispondo sobre os objetivos e princpios que devem nortear o setor. J se disse,acertadamente, que a defesa do consumidor no pode ser encarada como instrumento de confronto entre produo econsumo, seno como meio de compatibilizar e harmonizar os interesses envolvidos.

    1.6.1. Objetivos

    Nesse contexto, tal Poltica deve ter por objetivos, em primeiro plano, o atendimento das necessidades dosconsumidores objetivo principal das relaes de consumo , mas deve preocupar-se tambm com a transparncia eharmonia das relaes de consumo, de molde a pacificar e compatibilizar interesses eventualmente em conflito. Oobjetivo do Estado, ao legislar sobre o tema, no ser outro que no o de eliminar ou reduzir tais conflitos, sinalizarpara a seriedade do assunto e anunciar sua presena como mediador, mormente para garantir proteo parte maisfraca e desprotegida.

    Objetivo importante dessa Poltica tambm a postura do Estado de garantir a melhoria da qualidade de vida dapopulao consumidora, quer exigindo o respeito sua dignidade, quer assegurando a presena no mercado deprodutos e servios no nocivos vida, sade e segurana dos adquirentes e usurios, quer, por fim, coibindo osabusos praticados e dando garantias de efetivo ressarcimento, no caso de ofensa a seus interesses econmicos.

    1.6.2. Princpios

    Por isso, a Poltica Nacional de Relaes de Consumo deve estar lastreada nos seguintes princpios:a) Vulnerabilidade do consumidor. a espinha dorsal da proteo ao consumidor, sobre o qual se assenta toda a linha

    filosfica do movimento. induvidoso que o consumidor a parte mais fraca das relaes de consumo; apresenta elesinais de fragilidade e impotncia diante do poder econmico. H reconhecimento universal no que tange a essavulnerabilidade. Nesse sentido j se manifestou a ONU e sob esse enfoque o tema tratado em todos os pases

  • ocidentais. No Brasil, a Constituio Federal reconhece claramente essa situao de hipossuficincia, ao declarar queo Estado promover a defesa do consumidor (art. 5, XXXII), de um lado assumindo a postura de garantidor, e, deoutro, outorgando tutela legal a quem, adrede e filosoficamente, reconhece carecedor de proteo.

    Nessa sorte de idias, no h como questionar a inspirao central do movimento, sob pena de afastar-se daconscincia universal, negando-se aquilo que reconhecido por todos.

    b) Presena do Estado. O princpio da presena do Estado nas relaes de consumo , de certa forma, corolrio doprincpio da vulnerabilidade do consumidor, pois, se h reconhecimento da situao de hipossuficincia, de fragilidadee desigualdade de uma parte em relao a outra, est claro que o Estado deve ser chamado para proteger a partemais fraca, por meios legislativos e administrativos, de sorte a garantir o respeito aos seus interesses. No Brasil, esseprincpio vem sendo rompido, quer em nvel legislativo com a edio da Constituio Federal, em que foi asseguradaa defesa do consumidor pelo Poder Pblico (art. 5, XXXII), e com a promulgao do Cdigo de Defesa do Consumidor(Lei n. 8.078/ 90) , quer com a criao e manuteno dos rgos administrativos oficiais de defesa do consumidor.

    c) Harmonizao de interesses. Como se disse, o objetivo da Poltica Nacional de Relaes de Consumo deve ser aharmonizao dos interesses envolvidos e no o confronto ou o acirramento de nimos. Interessa s partes, ou seja,aos consumidores e fornecedores, o implemento das relaes de consumo, com o atendimento das necessidades dosprimeiros e o cumprimento do objeto principal que justifica a existncia do fornecedor: fornecer bens e servios.Colima-se, assim, o equilbrio entre as partes. Por outro lado, a proteo do consumidor deve ser compatibilizada coma necessidade de desenvolvimento econmico e tecnolgico, em face da dinmica prpria das relaes de consumo,que no podem ficar obsoletas e entravadas, em nome da defesa do consumidor. Novos produtos e novas tecnologiasso bem-vindos, desde que seguros e eficientes. Tambm por esse motivo que se assegura como princpio a serseguido o estudo constante das modificaes do mercado de consumo (art. 4, VIII).

    d) Coibio de abusos. A Poltica de Relaes de Consumo no ser completa se no dispuser sobre a coibio dosabusos praticados no mercado de consumo. Deve garantir-se no s a represso aos atos abusivos, como a punio deseus autores e o respectivo ressarcimento, mas tambm a atuao preventiva tendente a evitar a ocorrncia de novasprticas abusivas, afastando-se aquelas que podem causar prejuzos aos consumidores, como a concorrncia desleal ea utilizao indevida de inventos e criaes industriais. A coibio preventiva e eficiente dessas prticas representaro desestmulo dos potenciais fraudadores. A contrario sensu, a ausncia de represso, ou mesmo o afrouxamento,representar impunidade, e, pois, estmulo.

    e) Incentivo ao autocontrole. Apesar de o Estado interpor-se como mediador nas relaes de consumo, procurandoevitar e solucionar os conflitos de consumo, no deve, por outro lado, deixar de incentivar que tais providncias sejamtomadas pelos prprios fornecedores, mediante a utilizao de mecanismos alternativos por eles prprios criados ecusteados. Essa a soluo ideal e significa modernizao das relaes de consumo. De trs maneiras pode-se dar oautocontrole. Em primeiro lugar, pelo eficiente controle da qualidade e segurana de produtos defeituosos nomercado, o que refletir na diminuio ou eliminao de atritos com o consumidor. Em segundo lugar, pela prtica dorecall, ou seja, a convocao dos consumidores de bens produzidos em srie e que contenham defeitos de fabricaoque possam atentar contra a vida e a segurana dos usurios, arcando o fornecedor com as despesas de substituiodas peas defeituosas. H o reconhecimento do defeito, mas ao mesmo tempo ele sanado pelo prprio fabricante,sem prejuzo ou custo para o consumidor8. A indstria automobilstica utilizou-se largamente do recall, notando-seque, a partir de 1991, cresceu enormemente no Pas o nmero de convocaes dirigidas aos consumidores, pormontadoras nacionais e estrangeiras9, o que pode ter ocorrido tanto pela maior conscientizao do fabricante comopelo efeito da vigncia do CDC. Outras indstrias dos ramos de eletrodomsticos e computadores seguiram o mesmocaminho10. E, em terceiro lugar, pela criao, pelas empresas, de centros ou servios de atendimento ao consumidor,resolvendo o fornecedor diretamente a reclamao ou queixa apresentada contra seu produto ou servio. Em 1991assim j se comportavam, por exemplo, a Rhodia, a Johnson & Johnson, a Kibon etc., inclusive utilizando esse servioprestado ao consumidor como garantia de seu produto, o que positivo em termos de marketing. De l para c,cresceu enormemente o nmero de empresas com servios de atendimento ao cliente, inclusive bancos econcessionrias de servios pblicos.

    f) Conscientizao do consumidor e do fornecedor. Se o que se busca o equilbrio nas relaes de consumo, para queatendam as necessidades do consumidor e o interesse do fornecedor, sem grande conflituosidade, natural que amaior conscientizao das partes no que toca aos seus direitos e deveres conduzir fatalmente a esse objetivo. Pode-se adiantar que, quanto maior o grau de conscientizao das partes envolvidas, menor ser o ndice de conflito nasrelaes de consumo. Por conscientizao entende-se a educao, formal e informal, para o consumo, bem como ainformao do consumidor e do fornecedor.

    g) Melhoria dos servios pblicos. No apenas a rea privada est obrigada a prestar servios eficientes e seguros aoseu usurio. Tambm a rea pblica, oficial, deve ter o compromisso de prestar servios pblicos igualmente segurose eficientes, que no atentem contra a vida, a sade e a segurana do consumidor. Ante o reconhecimento da altaprecariedade com que so prestados os servios pblicos, notadamente os de transportes e sade, feitarecomendao aos governos no sentido de racionaliz-los e de melhor-los, o que se enquadra no objetivo maior deproteger o consumidor e melhorar-lhe a qualidade de vida.

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