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EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA EMPRESARIAL DA COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO - RJ NÚCLEO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - NUDECON, órgão de atuação da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro, integrante da administração pública direta do Estado do Rio de Janeiro, sem personalidade jurídica, especificamente destinado à defesa dos interesses e direitos protegidos pela Lei n° 8.078/90, na forma do art. 82, inciso III do Código de Defesa do Consumidor, CNPJ 31.443.526/0001-70, com endereço na av. Marechal Câmara, 314, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com fulcro nos art. 82, III, 83 e 84 do CDC, vem, propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO LIMINAR 1

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Page 1: Web viewAquele dispositivo constitucional garante a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. ... Direito do consumidor,

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA EMPRESARIAL DA

COMARCA DA CAPITAL DO RIO DE JANEIRO - RJ

NÚCLEO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - NUDECON, órgão de

atuação da Defensoria Pública Geral do Estado do Rio de Janeiro,

integrante da administração pública direta do Estado do Rio de Janeiro, sem

personalidade jurídica, especificamente destinado à defesa dos interesses e

direitos protegidos pela Lei n° 8.078/90, na forma do art. 82, inciso III do Código

de Defesa do Consumidor, CNPJ 31.443.526/0001-70, com endereço na av.

Marechal Câmara, 314, Centro, Rio de Janeiro, RJ, com fulcro nos art. 82, III,

83 e 84 do CDC, vem, propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

COM PEDIDO LIMINAR

em face de LIGHT - SERVIÇOS DE ELETRICIDADE S.A., com sede na Av.

Marechal Floriano, n0 168, Centro, Rio de Janeiro/RJ, CEP 20.080-002, e

AMPLA ENERGIA E SERVIÇOS S/A, CNPJ sob o número 33.050.071/0001-

58, localizada na Praça Leoni Ramos, 01, São Domingos, Niterói, CEP.

24.210-205, pelos fatos e fundamentos adiante externados:

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Page 2: Web viewAquele dispositivo constitucional garante a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. ... Direito do consumidor,

I - DA LEGITIMIDADE

O Núcleo de Defesa do Consumidor da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro está incluído no rol de legitimados do art. 82, III,

da Lei nº 8.078/90, tratando-se de órgão da administração pública direta, criado

para a defesa dos interesses e direitos protegidos pelo Código de Defesa do

Consumidor, conforme a Resolução nº 204/2002 da DPGE.

O papel de proteção do consumidor pela Defensoria Pública

também está previsto na legislação específica de sua organização, sendo uma

de suas funções institucionais “patrocinar os interesses do consumidor lesado”,

como previsto no inciso XI do art. 4º da Lei Complementar nº 80/94.

Na legislação estadual há disposições no mesmo sentido. A

Constituição do Estado do Rio de Janeiro prevê, entre suas funções

institucionais o patrocínio “os direitos e interesses do consumidor lesado, na

forma da lei” (art. 179, § 2º, V, alínea f). No mesmo sentido o disposto no art.

22, § 3º, da Lei Complementar Estadual nº 6/77: “aos Defensores Públicos

incumbe também a defesa dos direitos dos consumidores que se sentirem

lesados na aquisição de bens e serviços”.

É também no art. 5º, inciso XXXII, da Carta Maior que está

prevista a defesa do consumidor pelo próprio Estado, como também constitui

esta um dos princípios da ordem econômica, conforme o inciso V do art. 170.

Voltando-se para o Código de Defesa do Consumidor, a

redação do art. 83 torna clara a certeza da legitimidade da Defensoria Pública

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para a propositura da ação coletiva na defesa dos consumidores: “para a

defesa dos direitos e interesses protegidos por este Código são admissíveis

todas as espécies de ações capazes de propiciar sua adequada e efetiva

tutela”.

Ainda é preciso ressaltar que a Defensoria Pública “é

instituição essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a

orientação jurídica e a defesa, em todos os graus, dos necessitados, na forma

do art. 5º, LXXIV”, nos termos do caput do art. 134 da CRFB/88. Aquele

dispositivo constitucional garante a assistência jurídica integral e gratuita aos

que comprovarem insuficiência de recursos.

Deve, contudo, ser observado que necessitado, hodiernamente, NÃO

MAIS VEM SENDO CONSIDERADO UNICAMENTE COMO HIPOSSUFICIENTE

ECONÔMICO, conforme bem anotou a Ministra Nancy Andrighi, no julgamento do

REsp 555.111-RJ (STJ, rel. Min. Celso Filho, j. 05.05.2006, DJ 18.12.2006), verbis:

“(...) não é pelo fato de os seus consumidores terem adquirido automóveis que não

podem ser considerados necessitados para fins do art. 134 da CF; porquanto o conceito jurídico de necessitado, contido no parágrafo único do art. 2º da Lei 1060/50 é mais amplo do que de ‘pobre’ ou ‘miserável’, não está vinculado a determinado limite de valor de renda mensal ou de patrimônio e, sim, à impossibilidade de pagamento das despesas processuais em prejuízo do próprio sustento ou da família”. (GRIFEI)

Não reconhecer a legitimidade ativa da Defensoria Pública para

propor ação civil pública seria inviabilizar o próprio acesso à justiça daqueles que não

têm condições econômicas ou organizacionais de representar-se em juízo.

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Não por acaso, a renomada processualista Professora ADA

PELLEGRINI GRINOVER afirmou, em parecer gratuito que exarou para contestar a

pretensão veiculada na ADI da CONAMP (que questiona no STF a legitimidade ativa

da Defensoria Pública para a tutela coletiva):

“A exegese do texto constitucional, que adota um conceito jurídico indeterminado, autoriza o entendimento de que o termo necessitados abrange não apenas os economicamente necessitados, mas também os necessitados do ponto de vista organizacional, ou seja os socialmente vulneráveis”.

“Ainda que se entenda que função obrigatória e precípua da Defensoria Pública seja a defesa dos economicamente carentes, o texto constitucional não impede que a Defensoria Pública exerça outras funções, ligadas ao procuratório, estabelecidas em lei”.

Neste sentido, destacamos entendimento do insigne doutrinador,

Fredie Didier Jr, verbis:

“(...) Não é necessário, porém, que a coletividade seja composta exclusivamente por pessoas necessitadas. Se fosse assim, praticamente estaria excluída a legitimação da Defensoria para a tutela de direitos difusos, que pertencem a uma coletividade de pessoas indeterminadas. Grifos nossos (in Curso de Direito Processual Civil – Processo Coletivo, vol. 4, 4ª edição, editora Podivm: 2009, p. 212).

Ainda que com todo este arcabouço jurídico autorizador da

legitimidade da Defensoria Pública para esta ação, o tema não admite mais

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qualquer dúvida a seu respeito por força da nova redação do art. 5º da Lei nº

7.347/85 após a edição da Lei nº 11.448/2007:

“Art. 5º. Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:I – o Ministério Público;

II – a Defensoria Pública;

III – a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;

IV – a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de

economia mista;

V - a associação que, concomitantemente:

a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei

civil;

b) inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência ou ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.”

Acerca da entrada em vigor da norma jurídica acima transcrita, cabe

trazer à baila comentário definitivo de Humberto Dalla Bernardina de Pinho, membro

do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, tecido em artigo publicado na

Revista de Direito da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, abaixo selecionado,

verbis:

“A LEI FEDERAL Nº 11.418, DE 15 DE JANEIRO DE 2007 É, A UM SÓ TEMPO, UM MARCO HISTÓRICO E A CORREÇÃO DE UMA INJUSTA DISCRIMINAÇÃO COM UMA DAS MAIS IMPORTANTES E RESPEITADAS INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS.” (in “A Legitimidade da Defensoria Pública para a Propositura de Ações Civis Públicas: Primeiras Impressões e Questões Controvertidas 07”. Revista de Direito da Defensoria Pública do Rio de Janeiro, ano 20, nº 22, 2007)

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Em arrimo aos arrazoados retro expostos, trazemos à baila escorreita

exposição da lavra da insigne consumerista, a Desembargadora Cristina Tereza

Gaulia, a qual assim se manifestou acerca da legitimidade da Defensoria Pública,

verbis:

“Sublinhe-se, ainda que a CF /88 (arts.134, caput c/c 5º, LXXV) impões a Defensoria Pública o dever de prestar assistência jurídica integral e gratuita aos necessitados. Deve-se, portanto, conferir a estes dispositivos a maior amplitude possível, de modo a lhes assegurar a efetividade que o legislador pretendeu implementar, afastando qualquer interpretação restritiva , tendo em vista estarmos no campo das garantias fundamentais. Entretanto, e mesmo que assim fosse, a Lei nº 11.448/07 veio a lume para, e de uma vez por todas, finalizar a discussão reinante em controvertida jurisprudência sobre a legitimidade ativa da Defensoria Pública para as ações civis públicas. Confira-se seu art.2º, in verbis:

‘Art.2º O art. 5º da Lei nº7347, de julho de 1985, passa a vigorar com a seguinte redação:

Art.5º Têm legitimidade para propor ação principal e ação cautelar:

(...)II- a Defensoria Pública;(...)’

Registre-se, por oportuno que a Lei nº 11.448/07 é lei que trata de questões relativas á processo e, por conseguinte, sendo de ordem pública, se implementa de imediato, inclusive para as ações em andamento de modo que, mesmo que antes da referida legislação se pudesse fundamentar a ilegitimidade ativa da Defensoria Pública, burlando o entendimento da melhor jurisprudência, inequívoca a legitimação párea a propositura da presente ação civil pública por parte da instituição.” GRIFOS NOSSOS (apud Apelação Cível nº 2007.001.65339. Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia, Juíz Dr. Eduardo Gusmão Alves de Brito Neto, Apelante: Ministério Público do ERJ, Agravados. Município do Rio de Janeiro; 18ª Câmara Cível)

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Ressalte-se que as opiniões acima foram exaradas antes da novel

modificação na Lei Complementar 80/94, que organiza as Defensorias Públicas de

todo o país, a qual acrescentou, verbis:

Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:

VII – promover ação civil pública e todas as espécies de ações capazes de propiciar a adequada tutela dos direitos difusos, coletivos ou individuais homogêneos quando o resultado da demanda puder beneficiar grupo de pessoas hipossuficientes; (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

VIII – exercer a defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos e dos direitos do consumidor, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal (Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

(...)

XI – exercer a defesa dos interesses e coletivos da criança e do adolescente, do idoso, da pessoa portadora de necessidades especiais, da mulher vítima de violência doméstica e familiar e de outros grupos sociais vulneráveis que mereçam proteção especial do Estado(Redação dada pela Lei Complementar nº 132, de 2009).

Como se vê, a norma acima destacada não se limita a conceder

legitimidade ao Defensor Público para patrocinar Ação Civil Pública apenas em

benefício exclusivo de pessoas hipossuficientes, mas, ao revés, deixa bem claro que a

atuação coletiva pode se dá desde que se vislumbre a possibilidade de beneficio a um grupo de pessoas nestas condições. Assim é que, ainda que somente uma parte

(mínima que for) dos beneficiados pela tutela coletiva for hipossuficiente, legítima é

atuação da Defensoria Pública.

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Não obstante, a demanda presente diz respeito a tutela de

consumidores, os quais, por natureza, são consideráveis vulneráveis, portanto

beneméritos de especial proteção do Estado, avultando-se a atuação da Defensoria

Pública, na forma do inciso XI, acima destacado.

Ademais de tudo até aqui exposto, segundo recente julgado do

STJ, a Defensoria Pública passa agora a atuar em qualquer demanda coletiva,

ainda que não seja relativa ao consumidor, mesmo que beneficiando pessoas não-hipossuficientes, senão vejamos, verbis:

Acordão Origem: STJ - SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇAClasse: RESP - RECURSO ESPECIAL - 912849Processo: 200602794575 UF: RS - Órgão Julgador:

PRIMEIRA TURMA - Data da decisão: 26/02/2008 - Documento: STJ000322153

Fonte DJE DATA: 28/04/2008

Relator(a) JOSÉ DELGADO

Decisão Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Primeira Turma do Superior Tribunal de Justiça prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Teori Albino Zavascki, por unanimidade, negar provimento aos recursos especiais, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Francisco Falcão (voto-vista), Teori Albino Zavascki (voto-vista) e Denise Arruda votaram com o Sr.

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Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Luiz Fux.

Ementa PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO COLETIVA. DEFENSORIA PÚBLICA. LEGITIMIDADE ATIVA. ART. 5º, II, DA LEI Nº 7.347/1985 (REDAÇÃO DA LEI Nº 11.448/2007). PRECEDENTE.

1. Recursos especiais contra acórdão que entendeu pela legitimidade ativa da Defensoria Pública para propor ação civil coletiva de interesse coletivo dos consumidores.

2. Este Superior Tribunal de Justiça vem-se posicionando no sentido de que, nos termos do art. 5º, II, da Lei nº 7.347/85 (com a redação dada pela Lei nº 11.448/ 07), a Defensoria Pública tem legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar em ações civis coletivas que buscam auferir responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valorartístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e dá outras providências.

3. Recursos especiais não-providos.

Indexação (VOTO VISTA) (MIN. TEORI ALBINO ZAVASCKI) CABIMENTO, MANUTENÇÃO, ACÓRDÃO, TRIBUNAL A QUO, RECONHECIMENTO, LEGITIMIDADE ATIVA, DEFENSORIA PÚBLICA, PARA, AJUIZAMENTO, AÇÃO CIVIL PÚBLICA, PRETENSÃO, DEFESA, INTERESSE COLETIVO, CONSUMIDOR, ENERGIA ELÉTRICA / HIPÓTESE, ACÓRDÃO RECORRIDO, FIXAÇÃO,

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COMO, LIMITE, BENEFICIÁRIO, SENTENÇA JUDICIAL, AÇÃO COLETIVA, APENAS, CONSUMIDOR, COMPROVAÇÃO, INSUFICIÊNCIA, RECURSOS FINANCEIROS OBSERVÂNCIA, FUNÇÃO INSTITUCIONAL, DEFENSORIA PÚBLICA, PREVISÃO, EM, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, E, PRINCÍPIO DA MÁXIMA EFETIVIDADE, PARA, INTERPRETAÇÃO, CONSTITUIÇÃO FEDERAL; OBSERVÂNCIA, PRECEDENTE, STF, E, STJ.

Data

Publicação28/04/2008

Doutrina OBRA : PROCESSO COLETIVO, 2ª ED., SÃO PAULO, REVISTA DOS TRIBUNAIS, P. 77

AUTOR : TEORI ALBINO ZAVASCKI

Assim é que a atuação da Defensoria Pública não se trata de uma

faculdade. Ao contrário, reveste-se a atuação de um poder-dever do Defensor Público

que, tendo a sua disposição o ordenamento jurídico, deverá utilizá-lo de todas as

formas para alcançar o escopo constitucional delineado.

Por todo o exposto, restou cabalmente demonstrada a legitimidade

extraordinária deste Núcleo de Defesa do Consumidor, para a propositura da presente

demanda coletiva, objetivando tutelar os interesses dos consumidores lesados pela

conduta ilícita adiante relatada.

II – DA COMPETÊNCIA

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A primeira ré possui endereço na capital, não havendo portanto,

qualquer discussão acerca da competência deste juízo para processar e julgar

a presente causa.

Não obstante, com relação à segunda ré, alguma dúvida pode

pairar, já que se trata de empresa estabelecida na comarca de Niterói, e cuja

prestação de serviços não se dá na cidade do Rio de Janeiro.

A despeito da informação retro, há que se consignar que a ré

AMPLA distribui energia para 66 municípios do Estado do Rio de Janeiro, o que

equivale a 73,3% do território estadual, prestando serviços a uma gama de

pessoas próxima a casa dos 2 (dois) milhões

(fonte:WWW.ampla.com/principal.htm).

Assim, é que tem perfeita aplicação do dispositivo erigido no art.

93 do CDC, verbis:

“Art. 93. Ressalvada a competência da Justiça Federal, é competente para a causa a justiça local:

(...)

II – No foro da Capital do Estado ou no do Distrito Federal, para os danos de âmbito nacional ou regional, aplicando-se as regras do Código de Processo Civil aos casos de competência concorrente.”

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Assim é que o foro da capital é o competente para causa, ante a

amplitude dos danos causados pela segunda ré, conforme abaixo explicitado.

III – DOS FATOS

Conforme vem sendo rotina junto à mídia - escrita e

televisiva – as concessionárias de serviços de energia elétrica, ora

demandadas, vêm submetendo a população carioca a imensos transtornos.

Os serviços não vêm sendo prestados de forma eficiente,

adequada, contínua e segura, tal qual preconizado por diversos estatutos

legais, inclusive de ordem pública, tal qual o Código de Defesa do Consumidor.

As chuvas de verão, episódio esperado e recorrente todos

os anos, têm causado transtornos à população que vão além das já tradicionais

enchentes. Agora, além das velhas e já trágicas agruras, a população

fluminense vem convivendo com apagões constantes.

As concessionárias, de forma patente, vêm demonstrando

total despreparo para lidar com situações de emergência, relegando a

população a desarrazoadas horas de espera pelo retorno da energia elétrica,

ressaindo nítido o apego das rés ao lucro, em detrimento do bem estar da

população, já que nitidamente não investem o suficiente em infra-estrutura.

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Assim é que, tanto na área de atuação da LIGTH, quanto na

da AMPLA, inúmeros consumidores têm sido submetidos, repise-se, a

intervalos sem energia que têm alcançado, em muitos casos, 48 horas, o que

se afigura absurdo.

Não bastasse a longa espera pela atuação das morosas,

insuficientes e ineficientes equipes de emergência, os consumidores vêm

amargando problemas de inutilização de equipamentos, já que as

concessionárias não cuidam para que, quando do restabelecimento do

fornecimento de energia, o sistema não retorne de forma sobrecarregada,

impedindo assim a ocorrência de danos materiais a seus consumidores.

Os problemas acima referidos foram especialmente

agravados após as fortes chuvas ocorridos no dia 14 de março de 2010. Na

área de atuação das duas companhias os prejuízos materiais, não só

decorrentes da falta de energia por longo lapso de tempo, mas bem como em

razão do retorno sobrecarregado da energia, ocasionou uma série de danos à

população, os quais não podem restar ignorados, devendo as companhias ser

devidamente responsabilizadas, de molde a garantir a devida reparação dos

prejuízos impingidos à população.

Os fatos narrados são públicos e notórios, e já amplamente

disseminados na imprensa. Não obstante, o autor colacionou à inicial inúmeros

recortes de periódicos, os quais narram com detalhes inúmeros episódios que

deixam entrever de forma patente a incúria das concessionárias quando da

prestação do serviço de energia elétrica.

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IV- DO DIREITO

IV.1 – DA OBRIGAÇÃO LEGAL DE PRESTAR SERVIÇOS ADEQUADOS EFICIENTES E CONTÍNUOS

As concessionárias de serviço público, como é cediço, estão

submetidas aos cânones erigidos pelo artigo 37 da Constituição Federal, dentre

os quais, o princípio da eficiência.

Por sua vez, a lei 8.987 de 13 de fevereiro de 1995 (Leis das

Concessões Públicas) estabelece, verbis:

“Art. 6º. Toda concessão ou permissão pressupõe a prestação de serviço adequado ao pleno atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.

§1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de regularidade, continuidade, eficiência, segurança, atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e modicidade nas tarifas.

§2º A atualidade compreende a modernidade das técnicas, do equipamento e das instalações e a sua conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.”

O Código de Defesa do Consumidor também deitou preocupação

quanto a qualidade dos serviços públicos concedidos, havendo previsão

específica acerca do tema, destacando-se a disposição quanto a necessidade

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de serem os serviços essenciais prestados de forma contínua. Senão

vejamos, verbis:

“Art. 6º – São direitos básicos do consumidor:

...........................................................................

X- A adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em geral

“Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, permissionárias ou sob qualquer outra forma e empreendimento, são obrigados a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos.

Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste Código”.

Não obstante todos os comandos legais acima descritos e dos

instrumentos postos à sua disposição, conforme é público e notório, impera no

Estado do Rio de Janeiro um festival de incúria no fornecimento de energia

elétrica, o que vem deixando a população literalmente às escuras, dado os

apagões constantes, e com duração completamente desarrazoada.

Conforme alhures explicitado, a interrupção do serviço de energia

tem durado, em determinadas localidades, mais de 24 horas, às vezes

chegando a inaceitáveis intervalos de 48 horas sem o fornecimento de energia.

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Nem se objete que tais acontecimentos estão ligados a

fenômenos da natureza, tais como chuvas ou tempestades elétricas. Tais

intempéries são comuns no verão, e se repetem todos os anos, sendo certo

que cabe às concessionárias a obrigação de - eficientemente - se

programarem para as já rotineiras dificuldades advindas das chuvas de verão,

investindo em equipamentos e mão de obra especializada para reparos de

emergência, diminuindo assim o tempo de interrupção dos serviços.

O caso fortuito apenas pode justificar a interrupção, mas não a

longa duração a que se tem observado, sendo certo que este último caso nada

tem haver com fenômeno da natureza, mas está diretamente ligado à falta de

investimentos, ou seja, diretamente ligado a atividade da empresa e dentro do

risco do empreendimento.

Também nada tem a ver com intempéries da natureza o retorno

sobrecarregado da energia, causando danos em aparelhos eletrônicos dos

consumidores. As concessionárias devem ter meios de evitar tal evento,

estando tal episódio totalmente dentro do risco do empreendimento.

Demais, a interrupção do serviço, ainda que em razão de

fenômenos da natureza, por óbvio, deve durar um tempo razoável, não

podendo o consumidor ficar, repise-se, submetido a horas (24, 48 ou mais)

sem energia elétrica, amargando toda sorte de prejuízo material, e até mesmo

riscos à sua vida e de seus entes queridos, em inúmeros casos de

equipamentos vitais instalados em residências.

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Há que se estabelecer um limite, de molde a que o direito à

continuidade do serviço essencial seja efetivamente garantido. Assim é que,

buscando-se um parâmetro dentro da razoabilidade, verifica-se que a própria

ANEEL, quando a interrupção do fornecimento de energia não se dá por culpa do consumidor, dignou-se a estabelecer limite máximo para restabelecimento,

conforme Resolução abaixo selecionada:

“Art. 91. A concessionária poderá suspender o fornecimento, após prévia comunicação formal ao consumidor, nas seguintes situações: (*) Incluídos os parágs. 3º, alíneas “a” e “b” e o parág. 4º, no art. 91, pela RES ANEEL 614 de 06.11.2002, D.O de 07.11.2002, seção 1, p. 91, v. 139, n. 216.

I - atraso no pagamento da fatura relativa a prestação do serviço público de energia elétrica; II - atraso no pagamento de encargos e serviços vinculados ao fornecimento de energia elétrica, prestados mediante autorização do consumidor; III - atraso no pagamento dos serviços cobráveis estabelecidos no art. 109; IV - atraso no pagamento de prejuízos causados nas instalações da concessionária, cuja responsabilidade tenha sido imputada ao consumidor, desde que vinculados à prestação do serviço público de energia elétrica; V - descumprimento das exigências estabelecidas nos arts. 17 e 31; VI - o consumidor deixar de cumprir exigência estabelecida com base no disposto no parágrafo único do art. 102; VII - quando, encerrado o prazo informado pelo consumidor para o fornecimento provisório, nos termos no art. 111, não estiver atendido o que dispõe o art. 3º, para a ligação definitiva; VIII - impedimento ao acesso de empregados e prepostos da concessionária para fins de leitura e inspeções necessárias.

§ 1º A comunicação deverá ser por escrito, específica e de acordo com a antecedência mínima a seguir fixada:

a) 15 (quinze) dias para os casos previstos nos incisos I, II, III, IV e V; b) 30 (trinta) dias para os casos previstos no inciso VI; e c) 3 (três) dias para os casos previstos nos incisos VII e VIII.

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§ 2º Constatada que a suspensão do fornecimento foi indevida a concessionária fica obrigada a efetuar a religação no prazo máximo de até 4 (quatro) horas, sem ônus para o consumidor.”

Tem-se assim que o prazo máximo de 4 (horas) pode

perfeitamente ser utilizado como parâmetro a pautar as concessionárias rés, de

molde a que as interrupções do fornecimento de energia decorrentes de panes

no sistema elétrico de sua responsabilidade ou intempéries climáticas, não

ultrapassem 4 quatro horas consecutivas – ressalvando-se apenas as

programadas e previamente avisadas e para manutenção, bem as advindas de

problemas com a geração

Tal prazo é mais que razoável e suficiente para que, através da

esperada proficiência da atuação de equipes de emergência, solucione-se

eventuais problemas advindos, seja de pane do sistema, seja de estragos

decorrentes de eventos da natureza, providenciando o célere restabelecimento

de energia.

Nem se objete, também, que já existe o estabelecimento de

compensação financeira ao consumidor por parte da ANEEL, em razão de

transgressão dos indicadores de continuidade. Tais compensações financeiras,

além de não se mostrarem capazes melhorar os índices médios de

continuidade das concessionárias rés, também não têm o condão de substituir

ou sublimar as garantias do sistema de proteção do consumidor, consolidadas

no CDC.

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Ora, a continuidade dos serviços essenciais é direito básico do

consumidor, não podendo a concessionária banalizar tão grave e deletério

acontecimento, relegando o consumidor a intervalos tão grandes de privação

de energia, sendo certo que o que o consumidor almeja é a efetiva prestação do serviço, e não a aferição de qualquer compensação, a qual, na

maioria das vezes, é dada em valores irrisórios e que não cobrem os prejuízos

suportados.

Apenas a título de ilustração, suponhamos que um consumidor

pague uma conta de R$100,00 (cem reais), dos quais R$30,00 (trinta reais)

correspondam ao custo de distribuição. Se os limites da chamada FEC

(Frequência equivalente de interrupção por unidade consumidora) for

ultrapassado em duas horas. Nesse caso, dividindo-se o custo da distribuição

pelo número de horas do mês (R$30/730 horas) obter-se-ia o valor da hora,

que é seria de R$ 0,41 (quarenta e um centavos). Tal valor, segundo fórmula

estabelecida pela ANEEL, deve ser multiplicado pelo número de horas

excedentes, que no nosso exemplo seria de 2 (dois). Alcançaríamos o valor de

R$ 0,082. Nesse valor, aplicar-se-ia o índice de majoração, que é de 15, e o

valor de desconto na próxima fatura seria de R$ 1,23 (R$ 0,082 x 15).

Assim é que ainda que não haja disposição expressa limitando o

tempo máximo de intervalo de privação de energia elétrica, um limite há que se

buscado, de molde a que a garantia da continuidade seja efetivamente

observada.

Não sendo assim, o comando estabelecido no Código de Defesa

do Consumidor restaria inócuo, sendo certo que até mesmo pelas regras do

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bom senso, sem adentrar na seara do direito, não se pode falar em

continuidade do serviço quando se observam intervalos tão grandes de falta de

energia.

Em razão de todo exposto, impõe-se a obrigação de fazer ora

evocada, erigindo-se um limite de tempo para as interrupções de fornecimento

de energia, de forma a se fazer materializar prestação positiva imposta pelas

normas acima citadas e, antes mesmo, pela própria Constituição, no sentido de

que os anseios da população, de um serviço digno e de qualidade seja

atingido.

IV.2 – DA RESPONSABILIDADE CIVIL PELOS DANOS CAUSADOS AOS CONSUMIDORES

IV.2.a) DOS DANOS MATERIAIS (PATRIMONIAIS)

A violação de um dever jurídico configura um ilícito. Se da

violação de um dever jurídico advier dano, surge, como é de sabença trivial, um

novo dever jurídico, que é o de reparar o dano.

O professor Sérgio Cavalieri, em sua célebre obra, Programa de

Responsabilidade Civil, leciona, verbis:

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“Há, assim, um dever jurídico originário, chamado por alguns de primário, cuja violação gera um dever jurídico sucessivo, também chamado de secundário, que é o dever de indenizar o prejuízo.” (in Programa de Responsabilidade Civil, 8ª edição, Editora Atlas: São Paulo, 2008, p. 2)

Assim é que do descumprimento de um dever jurídico originário

surge então a responsabilidade civil, ou seja, o dever de compor o prejuízo

causado pelo descumprimento da obrigação.

O Novo Código Civil faz distinção entre obrigação e

responsabilidade no art. 389, o qual transcrevemos, verbis :

“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mas juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.”

Ora, as concessionárias rés têm a obrigação de prestar serviços

eficientes, adequados, com regularidade, contínuos..., enfim, devem prestar

serviços com qualidade, de molde a satisfazer as expectativas do consumidor.

Assim, não cumprida a obrigação primária, imposta por lei, não há como fugir

da responsabilidade (obrigação secundária) de indenizar todos os danos

causados.

Não se pode considerar serviço adequado aquele que, quando

interrompido, seja por intempéries da natureza, seja por problemas técnicos do

sistema de responsabilidade da concessionária, demore até 48 para o

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restabelecimento. É óbvio que tal acontecimento está dentro da esfera de

responsabilidade da empresa, a qual não pode ser afastada.

Também não é adequado o serviço de fornecimento de energia

se, diante de uma tão longa interrupção, o retorno da energia venha

sobrecarregado, causando queima de aparelhos eletro-eletrônicos. Como já

dito alhures, às companhias rés devem desenvolver meios para impedir tal

acontecimento e, em não o fazendo, arcam com todas as conseqüências

deletérias impostas aos consumidores.

Não garantindo a qualidade dos serviços prestados e, pior,

fornecendo serviço defeituoso, respondem às rés independentemente de culpa,

nos termos da norma contida no art. 14 do CDC, verbis:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua função e riscos.

§1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I – o modo de seu fornecimento;

II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III – a época em que foi fornecido.”

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Repise-se, a interrupção do serviço em razão de uma tempestade

decerto se dá por caso fortuito externo. Não obstante, a demora exagerada para o restabelecimento do serviço, bem como a eventual sobrecarga do sistema quando do retorno da energia devem ser entendidos como sendo caso fortuito interno e, portanto, imprestáveis para se afastar o nexo de

causalidade e com isso, isentar as empresas da responsabilidade de indenizar

os consumidores dos prejuízos.

Neste particular, colham-se, mais uma vez, as lições do insigne

Sergio Cavalieri Filho, verbis:

“Cremos que aquela distinção entre fortuito interno e externo, feita quando tratamos da responsabilidade do transportador (item 93.1), é totalmente pertinente no que respeita aos acidentes de consumo. O fortuito interno, assim entendido o fato imprevisível e, por isso, inevitável ocorrido no momento da fabricação do produto ou da realização do serviço, não exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz parte da sua atividade, liga-se aos riscos do empreendimento, submetendo-se à noção geral de defeito de concepção do produto ou de formulação do serviço. Vale dizer, se o defeito ocorreu antes da introdução do produto no mercado de consumo ou durante a prestação do serviço, não importa saber o motivo que determinou o defeito; o fornecedor é sempre responsável pelas suas conseqüências, ainda que decorrente de fato imprevisível e inevitável.” GRIFOS NOSSOS (in Programa de Responsabilidade Civil, 8ª edição, Editora Atlas: São Paulo, 2008, p. 490)

Portanto, os danos advindos do chamado “apagão” do dia 14 de março de 2010, em razão das fortes chuvas ocorridas, devem ser suportados

pelas demandas, as quais devem arcar com todos os prejuízos comprovados

individualmente em liquidação de sentença.

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IV.2.b - DOS DANOS EXTRAPATRIMONIAIS (DANO MORAL COLETIVO)

As condutas das concessionárias rés, de submeter os usuários de seus serviços a verdadeiras vias crucis, prestando serviços ineficientes, descontínuos, inseguros, enfim, desrespeitando de forma sistemática as mais comezinhas disposições imperativas do Código de Defesa

do Consumidor, e até mesmo da Constituição Federal, tem o condão de ofender à massa de seus consumidores, o que, por si só, caracteriza a existência de danos morais a serem reparados. No caso, danos morais coletivos, tal como admitido pela Lei nº 7.347/85:

“Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados (...)

“II – ao consumidor”(...)

No mesmo sentido, o Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 6º. São direitos básicos do consumidor (...)

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos” (...)

Ora, aquele que viola a ordem jurídica e que, consequentemente, comete um ato ilícito, fica obrigado a proceder a devida reparação, nos termos da norma contida nos arts. 186 e 927 do CC/2002.

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A ordem jurídica pátria é clara ao impor aos concessionários de serviços públicos a obrigação originária de prestar serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos (vide art. 22 do Código de Defesa do Consumidor).

Não atendido o comando da norma, por óbvio, surge uma obrigação secundária, que a responsabilização civil dos responsáveis pelos danos causados à sociedade.

Tratando-se de uma sociedade de massa, o sujeito passivo do ato ilícito também pode ser uma coletividade, disso não se tem dúvidas. A coletividade também possui valores extrapatrimoniais que devem ser preservados. Sua violação, repise-se, caracteriza ilícito que ofende à própria coletividade e, como previsto na legislação, o ofensor pode, e deve, ser condenado à reparação ou amenização, assumindo tal medida o relevante caráter preventivo de condutas semelhantes, dissuasório de novas violações, com caráter exemplar.

Neste sentido, cumpre destacar o auspicioso entendimento doutrinário abaixo, verbis:

“No dano moral coletivo não se cogita de compensação ou satisfação de alguma dor ou de algum sofrimento de um sujeito individualizado, como resultado de ofensa a algum direito subjetivo extrapatrimonial. Como observa André de Carvalho Ramos: “O ponto-chave para a aceitação do chamado dano moral coletivo está na ampliação de seu conceito, deixando de ser o dano moral um equivalente da dor psíquica, que seria exclusividade de pessoas físicas”. Sobressai a finalidade dissuasória ou exemplar do montante indenizatório, que atua como fator de desestímulo de comportamentos lesivos semelhantes por parte do réu ou de terceiros” (ANDRADE, André Gustavo Corrêa de. Dano Moral e indenização Punitiva, Rio de Janeiro, Forenses, 2006, p.66).

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Da mesma obra, colacionamos o seguinte trecho:

“A indenização punitiva surge, no sistema jurídico vigente, não apenas como reação legítima e eficaz contra a lesão e a ameaça de lesão a princípios constitucionais da mais alta linhagem, mas como medida necessária para a efetiva proteção desses princípios. Com efeito, não é possível, em certos casos, conferir efetiva proteção à dignidade humana e aos direitos da personalidade senão através da imposição de uma sanção que constitua fator de desestímulo ou dissuasão de condutas semelhantes do ofensor, ou de terceiros que pudessem se comportar de forma igualmente reprovável. Não é possível contar apenas com a lei penal e com penas públicas para prevenir a prática de atentados aos direitos da personalidade. A lei tipicamente penal não tem como prever, em tipos delituosos fechados, todos os fatos que podem gerar danos injustos, razão pela qual muitas ofensas à dignidade humana e a direitos da personalidade constituem indiferentes penais e, por conseguinte, escapam do alcance da justiça criminal. Além disso, por razões diversas, nem sempre a sanção propriamente penal, oriunda de uma sentença penal condenatória, se mostra suficiente como forma de prevenção de ilícitos. Nesse contexto, a indenização punitiva constitui instrumento indispensável para a prevenção de danos aos direitos personalíssimos” (p. 169).

Conforme explicitado no capítulo anterior, a atuação

administrativa não vem sendo suficiente para coibir a violação à ordem jurídica.

Assim é que o valor a ser arbitrado a título de danos morais deve ter finalidade

intimidativa, situando-se em patamar que represente inibição à pratica de

outros atos abusivos por parte das demandadas.

É imperioso que a Justiça dê aos infratores resposta eficaz

ao ilícito praticado, sob pena de se chancelar e estimular o comportamento

infringente. É a chamada utilização da “técnica do valor de desestímulo”.

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A respeito desse tópico, vale trazer à colação os

apontamentos de Carlos Alberto Bittar, verbis:

"Com efeito, a reparação de danos morais exerce função diversa daquela dos danos materiais. Enquanto estes se voltam para recomposição do patrimônio ofendido, através da aplicação da fórmula danos emergentes e lucros cessantes, aqueles procuram oferecer compensação ao lesado, para atenuação do sofrimento havido. De outra parte, quanto ao lesante, objetiva a reparação impingir-lhe sanção, a fim de que não volte a praticar atos lesivos a outras pessoas. É que interessa ao direito e à sociedade que o relacionamento entre os entes que contracenam no orbe jurídico se mantenha dentro dos padrões normais de equilíbrio e respeito mútuo. Assim, em hipóteses de lesionamento, cabe ao agente suportar as conseqüências de sua atuação, desestimulando-se - com a atribuição de pesadas indenizações - atos ilícitos tendentes a afetar as pessoas. (...) Essa diretriz vem, de há muito tempo, sendo adotada na jurisprudência norte americana, em que cifras vultuosas têm sido impostas aos infratores, como indutoras de comportamentos adequados, sob os prismas moral e jurídico, nas interações sociais e jurídicas. Nesse sentido é que a tendência manifestada, a propósito pela jurisprudência pátria, de fixação de valor de desestímulo como fator de inibição a novas práticas lesivas. Trata-se, portanto, de valor que, sentido no patrimônio do lesante, o possa conscientizar-se de que não deve persistir na conduta reprimida, ou então, deve afastar-se da vereda indevida por ele assumida, ou, de outra parte, deixa-se para a coletividade, exemplo expressivo da reação que a ordem jurídica reserva para infratores nesse campo, e em elemento que, em nosso tempo, se tem mostrado muito sensível para as pessoas, ou seja, o respectivo acervo patrimonial”

Vê-se, pois, que a condenação pleiteada tem caráter

eminentemente punitivo. O pedido de condenação por dano moral coletivo

nada mais é do que a pretensão de se estabelecer uma sanção de natureza

civil por ofensa a direitos coletivos ou difusos.

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Conclui-se que, embora a afetação negativa do estado

anímico da massa de consumidores lesados possa ocorrer, em face dos mais

diversos meios de ofensa a direitos difusos e coletivos, a configuração do

chamado dano moral coletivo é absolutamente independente desse

pressuposto.

Em se tratando de direitos difusos e coletivos, a

condenação por dano moral (rectius: extrapatrimonial) se justifica em face da

presença do interesse social em sua preservação. Trata-se de mais um

instrumento para conferir eficácia à tutela de tais interesses, considerando

justamente o caráter não patrimonial desses interesses metaindividuais.

Nem se objete que condenações de tal jaez, qual seja, de

função punitiva, gere enriquecimento sem causa, já que o valor pleiteado não

se reverterá em benefício do autor coletivo ou seus representados, mas será

convertido em benefício da própria comunidade, posto que será destinado ao

Fundo referido pelo art. 13 da LACP.

No sentido dos arrazoados acima expostos, colham-se as

recentes decisões do E. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, verbis:

“AÇÃO CIVIL PÚBLICA. AGÊNCIA BANCÁRIA. INEXISTÊNCIA DE CAIXA CONVENCIONAL NO ANDAR TÉRREO, PARA ATENDIMENTO PRIORITÁRIO DE PESSOAS IDOSAS, PORTADORAS DE DEFICIÊNCIA FÍSICA E GESTANTES. DESCUMPRIMENTO DA LEI 10.098/2000 E DA LEI ESTADUAL 4.374/04. O MINISTÉRIO PÚBLICO, POR FORÇA DOS ARTIGOS 127 E 129, III, DA CF, 81 E 82, DA LEI 8.078/90 (CDC) E DO ARTIGO 1º, DA LEI 7.347/85, TEM LEGITIMIDADE

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PARA ATUAR NA DEFESA DE DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS, QUE SE CARACTERIZAM COMO DIREITOS TRANSINDIVIDUAIS, DE NATUREZA INDIVISÍVEL, ASSIM COMO DOS INTERESSES OU DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS, DECORRENTES DE ORIGEM COMUM. PRESENTE O INTERESSE JURÍDICO, CONSUBSTANCIADO NO BINÔMIO NECESSIDADE – UTILIDADE DO PROVIMENTO JURISDICIONAL. A RELEVÂNCIA SOCIAL DO BEM JURÍDICO EM DISCUSSÃO, QUE INTERESSA A TODA COLETIVIDADE, E ESPECIALMENTE ÀQUELES GRUPOS DE PESSOAS, TORNA INDISPONÍVEIS OS INTERESSES INDIVIDUAIS. DANO MORAL COLETIVO CONFIGURADO, INDEPENDENTEMENTE DA PROVA DA CULPA, BASTANDO A VIOLAÇÃO DE DIREITOS DIFUSOS E COLETIVOS. A SANÇÃO PECUNIÁRIA TEM CARÁTER PUNITIVO. O SEU VALOR DEVE SER ARBITRADO MODERADAMENTE, PROPORCIONALMENTE ÀS CIRCUNSTÂNCIAS DO FATO. INDENIZAÇÃO A SER REVERTIDA AO FUNDO ESTADUAL PREVISTO NO ARTIGO 13, DA LEI 7.347/85. DANO MORAL REDUZIDO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CIVEL, entre as partes acima mencionadas. ACORDAM os Desembargadores que compõem a 7ª Câmara Cível, por UNANIMIDADE de votos, em negar provimento ao agravo retido, rejeitar as preliminares e dar parcial provimento ao recurso.” GRIFEI (SÉTIMA CÂMARA CÍVEL - APELAÇÃO CÍVEL Nº 2008.001.64608 - RELATOR: DES. CARLOS C. LAVIGNE DE LEMOS – Julgamento: 19/08/2009)“Apelações cíveis. Ação coletiva de consumo movida pelo Ministério Público. Publicidade enganosa em empréstimo pessoal consignado para aposentados e pensionistas do INSS. Omissão de informe sobre a taxa de juros praticada e outros encargos. Garantia de acesso ao Judiciário. Direito do consumidor, considerado vulnerável, de amplo acesso à Justiça representado pelo MP (inteligência dos arts. 4º I c.c 6º VII e 82 I CDC). Violação dos princípios da informação, da transparência, e dos deveres anexos à boa-fé objetiva. Publicidade enganosa por omissão. Mídia televisiva, impressa e radiofônica. Percentual da taxa de juros e demais encargos, valor total do empréstimo e periodicidade do pagamento que deveriam constar na publicidade de forma clara, objetiva e em igual destaque às demais informações relativas ao contrato de empréstimo. Inteligência do art. 31, dos parágrafos 1º e 3º do art. 37 e dos parágrafos 3º e 4º do art. 54 CDC. Sentença que determinou que a informação sobre a taxa de juros venha em destaque da mesma forma que as demais informações concernentes ao contrato de empréstimo consignado. Correção. Indenização por danos materiais e morais individuais e danos morais

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coletivos. Pedido regular e legalmente feito na vestibular. Possibilidade à inteligência do art. 3º da Lei 7347/85 e dos arts. 6º VI e VII da Lei 8078/90, na forma dos arts. 95 e 97 desta última. Dano material individual a ser apurado em liquidação ocasião em que o consumidor deverá comprová-lo. Dano moral individual que, na mesma senda, é devido em função da angústia e sofrimento impostos aos aposentados pela enganosidade, ludíbrio e abusividade gerados pela publicidade enganosa. Dano moral coletivo, a ser revertido para o Fundo de Reconstituição de Bens Lesados, que, de caráter preventivo-pedagógico, visa a banir da sociedade mal formada e mal informada, comportamentos antiéticos. Inteligência do Dec. 92302/86, Dec. 1306/94 e Lei 9008/95. Responsabilização do fornecedor pelos danos material e moral individuais. Condenação em valor certo pelo dano moral coletivo. Desprovimento do primeiro apelo. Provimento do recurso do MP. Vistos, relatados e discutidos estes autos das apelações cíveis referidas em que são partes as acima indicadas, ACORDAM os Desembargadores da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, em NEGAR PROVIMENTO ao primeiro apelo e DAR PROVIMENTO ao segundo, na forma do voto do Relator.” GRIFEI (5ª Câmara Cível - Apelação Cível nº: 2009.001.05452 - Relator: Des. Cristina Tereza Gaulia – Julgamento:24/06/2009)

A tese supra vindicada é tão séria e incisiva que o Superior

Tribunal de Justiça vem modificando seu entendimento, senão vejamos, verbis:

DANO MORAL COLETIVO. PASSE LIVRE. IDOSO. A concessionária do serviço de transporte público (recorrida) pretendia condicionar a utilização do benefício do acesso gratuito ao transporte coletivo (passe livre) ao prévio cadastramento dos idosos junto a ela, apesar de o art. 38 do Estatuto do Idoso ser expresso ao exigir apenas a apresentação de documento de identidade. Vem daí a ação civil pública que, entre outros pedidos, pleiteava a indenização do dano moral coletivo decorrente desse fato. Quanto ao tema, é certo que este Superior Tribunal tem precedentes no sentido de afastar a possibilidade de configurar-se tal dano à coletividade, ao restringi-lo às pessoas físicas individualmente consideradas, que seriam as únicas capazes de sofrer a dor e o abalo moral necessários à caracterização daquele dano. Porém, essa posição não pode

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mais ser aceita, pois o dano extrapatrimonial coletivo prescinde da prova da dor, sentimento ou abalo psicológico sofridos pelos indivíduos. Como transindividual, manifesta-se no prejuízo à imagem e moral coletivas e sua averiguação deve pautar-se nas características próprias aos interesses difusos e coletivos. Dessarte, o dano moral coletivo pode ser examinado e mensurado. Diante disso, a Turma deu parcial provimento ao recurso do MP estadual. REsp 1.057.274-RS, Rel. Min. Eliana Calmon, julgado em 1º/12/2009.(grifos nossos)

Não sendo aceita a tese de existência de dano

extrapatrimonial tal como afirmado no presente pleito, decerto toda a sociedade estaria gravemente ameaçada. Explica-se: nos dias coevos, as

relações de consumo são de massa, sendo certo que algumas práticas

abusivas, do ponto de vista individual, são economicamente insignificantes, o

que - é fato! - desmotiva o consumidor a buscar reparação dos danos. Assim,

sem o instrumento ora invocado, em função do baixo número de pessoas

buscando individualmente a reparação dos seus direitos, se consolidaria a

absurda situação de que, para os fornecedores, seria vantajoso perpetuar a

incúria de seu atuar, o que se afigura inadmissível.

Os danos morais à coletividade causados neste caso

concreto, portanto, restam evidentes, devendo, ser emitido provimento

jurisdicional à altura da repercussão social alcançada pelo teor depreciativo das

condutas empreendidas pelas demandadas, sendo o que se espera e se

requer.

VI – DO PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA

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Por todo o exposto, devem ser as demandadas, liminarmente,

compelidas a que, em situações de interrupção ocasionada por intempérie da

natureza (chuvas, raios, ventos, etc.) ou por panes e falhas no sistema de

responsabilidade das rés – sejam os serviços restabelecidos num prazo máximo de 4 (quatro) horas - ressalvando-se apenas os problemas com a

geração e as interrupções programadas com prévio aviso aos consumidores -,

sob pena de multa por hora excedente a ser estabelecida de acordo com o

prudente critério de V. Exa.

Para tanto, afirma-se que os requisitos ensejadores dos pedidos

liminares acima delineados se encontram presentes, a saber, o fumus boni iuris

e o periculum in mora (art. 84, §§ 3º e 4º do CDC).

O fumus boni iuris caracteriza-se pela imposição legal, erigida

por lei de ordem pública e de interesse social, de que as rés prestem serviços

eficientes, adequados, contínuos e seguros.

O periculum in mora também se encontra presente, diante do

notório caos que vem se observando no território fluminense, de modo que

inúmeros consumidores vêm amargando até 48 horas de interrupção do

serviço de energia elétrica, circunstância esta que pode ensejar prejuízos

irreversíveis à saúde, à segurança e em última instância até à vida dos

consumidores (mormente aqueles fazem utilização de equipamentos vitais), o

que se afigura inadmissível.

VII – DO PEDIDO

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Por tudo, vem requerer e pedir:

1 – A concessão liminar da tutela pretendida, nos termos do art. 84 e seus

parágrafos do CDC, para que:

a) Sejam as rés compelidas a que em situações de interrupção ocasionada

por intempérie da natureza (chuvas, raios, ventos, etc.) ou por panes e

falhas no sistema de responsabilidade das rés - ressalvados os

problemas com a geração e as interrupções programadas para

manutenção da rede -, sejam os serviços restabelecidos num prazo máximo de 4 (quatro) horas ou outro prazo razoável, sob pena de

multa por hora excedente a ser estabelecida de acordo com o prudente

critério de V. Exa;

b) sejam determinadas, ex ofício e nos termos dos arts 1º e 84, caput e §

5º do CDC, quaisquer outras medidas que, em substituição ou em

complemento as aqui pleiteadas, assegurem o resultado prático da

demanda;

2 – Seja concedida a dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros

encargos, desde logo, à vista do que dispõem o artigo 18 da Lei nº 7.347/85 e

o artigo 87 da Lei nº 8.078/90;

3 – A citação das demandadas para, se o desejar, apresentar resposta, sob

pena de produção dos efeitos da revelia;

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4 – Seja decretada a inversão do ônus da prova, nos termos do inciso VIII do

art. 6º do mesmo diploma legal;

5 – Sejam julgados procedentes os pedidos, confirmando os efeitos da antecipação tutela pretendida, para:

a) Emitir preceito condenatório compelindo as rés a indenizarem os

consumidores fluminenses de todos os danos materiais ocorridos em função

da longa interrupção de energia ocorrida após as chuvas do dia 14 de março

de 2010 (em alguns casos até 48 horas sem luz), ou em razão da sobrecarga

de energia quando do restabelecimento do serviço, os quais deverão ser

apurados, individualmente, em liquidação de sentença;

b) Emitir preceito condenatório às concessionárias compelindo-as ao

pagamento de indenização por danos extrapatrimoniais (chamados de danos

morais coletivos), a serem arbitrados pelo prudente arbítrio desse MM. Juízo

em valor não inferior a R$ 1.000.000,00 (hum milhão de reais) para cada uma

das rés, a ser revertido ao Fundo Estadual de Defesa do Consumidor ou, caso

este não tenha sido criado até a data do provimento final desta, seja o valor

revertido ao Fundo Nacional de Defesa do Consumidor;

c) sejam as rés condenadas à obrigação de publicar, às suas custas, em

três jornais de grande circulação do Estado do Rio de Janeiro, em três edições

consecutivas, em tamanho mínimo de 20 x 20 cm, a parte dispositiva de

eventual sentença condenatória, a fim de que os consumidores tomem ciência

da sentença;

d) Sejam condenadas todas as rés ao pagamento das custas processuais

e honorários advocatícios, estes no percentual máximo previsto em lei em favor

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do Centro de Estudos Jurídicos da DPGE, nos termos da Lei Estadual nº

1146/87;

6 – Requer seja publicado o edital a que se refere o art. 94 do CDC;

7 – Requer a intervenção do Ministério Público para acompanhar o presente

feito na condição de custos legis ou, querendo, na condição de litisconsorte

ativo;

8 – Requer, ainda, sejam as intimações dirigidas ao NUDECON – Núcleo de

Defesa do Consumidor, com endereço na Av. Marechal Câmara, 314, centro,

Rio de Janeiro;

Requer, por fim, a produção de prova documental, documental

suplementar e pericial, se necessária.

Dá à causa o valor de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais)

P. deferimento.

Rio de Janeiro, 22 de março de 2010.

FÁBIO SCHWARTZ MARCELLA L.C. PESSANHA OLIBONI Defensor Público Defensor Público Matr. 860.771-5 Matr. 860.692-3

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