a nova classe mÉdia brasileira e suas percepÇÕes … · defesa do consumidor (cdc) no início...
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A NOVA CLASSE MÉDIA BRASILEIRA E SUAS PERCEPÇÕES E ATITUDES DIANTE DE UMA
INSATISFAÇÃO DE CONSUMO
Cintia Loos Pinto (UFV ) [email protected]
Kelly Carvalho Vieira (UFLA ) [email protected]
Emeline de Abreu Pereira Pinto (UFLA ) [email protected]
Camila Silva Freguglia (UFES ) [email protected]
Daniel Carvalho de Rezende (UFLA ) [email protected]
Este artigo busca identificar como se caracteriza, em termos de percepções e atitudes, o consumidor da Nova Classe Média Brasileira em relação à insatisfação com a qualidade de um bem ou prestação de um serviço. Foram pesquisados 182 consumidores pertencentes a esta classe social nas cidades de São Gonçalo do Sapucaí, Lavras,Juiz de Fora e Belo Horizonte. Os dados obtidos foram submetidos à análise de cluster e à análise discriminante. Constatou-se que os consumidores pesquisados pertencentes a Nova Classe Média apresentam baixa propensão a expor sua insatisfação para as empresas e possuem alta descrença na recuperação das falhas por parte das mesmas. Palavras-chaves: nova classe média; insatisfação do consumidor; qualidade
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Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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1. Introdução
O comportamento de reclamação do consumidor tem recebido atenção dos
pesquisadores desde a década de 1970 (Otto, 2005). Esse despertar de interesse tem como
uma das causas a constante verificação da flutuação dos níveis de qualidade de bens e
serviços ofertados pelo mercado em geral, o que gera transtornos incalculáveis para seus
consumidores e também para as empresas. Las Casas (2006) chama a atenção para o fato dos
prestadores de serviço do Brasil apresentarem “uma espécie de negligência generalizada”,
gerando variadas situações onde a qualidade não atende aos patamares devidos. Observam
Bastos e Borba (2007) que vários clientes são perdidos por conta de se sentirem insatisfeitos
pelos bens e/ou serviços oferecidos.No Brasil, o interesse pela insatisfação do consumidor e
seu comportamento de reclamação iniciou-se com maior vigor após a aprovação do Código de
Defesa do Consumidor (CDC) no início dos anos 1990 (Nunesmaia e Pereira, 2012). Para Dos
Santos (2000) o que ocorre no país é que apesar de algumas empresas estarem atentas às
reclamações e estabelecerem mecanismos que as estimulem, o conhecimento acerca das suas
conseqüências ainda é limitado.
Essa lacuna no conhecimento torna-se fator de atenção principalmente quando se
constata a modificação da composição das classes sociais brasileiras que vêm ocorrendo
desde o ano de 1990 quando o Brasil estabilizou a sua economia. Estes consumidores, agora
com novo poder aquisitivo, estão mudando seus gostos e exigindo outros níveis de qualidade
de bens e serviços. De acordo com Arancibia (2012), esta mudança social tem sido objeto de
pesquisas sociais, econômicas e de mercado, tornando-se o foco de interesse também da
imprensa e do comercio, sendo vista ainda como um desafio das políticas públicas. No ano de
2012, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) constatou
uma forte migração da classe baixa para a classe média, o que elevou essa classe a um total de
53% da população, aproximadamente 104 milhões de pessoas. Fazendo um recorte de dez
anos atrás, apenas 38% encontravam-se no mesmo patamar.
Informa Neri (2008) que a classe C, ou também chamada Nova Classe Média, é a
imagem mais próxima da sociedade brasileira, porém, de acordo com a SAE (2012), não
existe ainda um conhecimento profundo de seus interesses, percepções, valores, atitudes,
receios e anseios. Observa ainda a SAE (2012) que a expansão dessa classe social vem
gerando uma forte revolução no padrão de consumo brasileiro, chamando a atenção para o
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fato de que a ampliação do conhecimento sobre o perfil e os anseios deste grupo é primordial
para que as empresas possam traçar suas estratégias de atuação. Diante do exposto, o
problema de pesquisa que norteia este estudo é:“Como se caracteriza, em termos de
percepções e atitudes, o consumidor da Nova Classe Média Brasileira em relação à
insatisfação com a qualidade de um bem ou prestação de um serviço?”Assim, o objetivo geral
deste artigo é identificar quais são as percepções e atitudes do consumidor da Nova Classe
Média Brasileira no que diz respeito à insatisfação com a qualidade de um bem ou prestação
de um serviço. Como objetivo específico pontua-se a verificação da existência de padrões
distintos de opiniões dentro do grupo utilizado para estudo desta pesquisa.
2. Referencial teórico
2.1 A Nova Classe Média Brasileira
Ao longo da última década, a classe média cresceu de forma bastante acentuada.
Segundo a SAE (2012), pouco mais de 20% deste incremento pode ser atribuído ao
crescimento populacional do país e os quase 80%restantes foi devido à ascensão de pessoas à
classe.O mesmo órgão estima que essa parcela deverá abranger 57% da população brasileira
em 2022 se forem mantidas a taxa de crescimento e a tendência de queda na desigualdade dos
últimos 10 anos.
Essa mudança de cenário é atribuída a um conjunto de fatores que envolvem maior
estabilidade econômica do país, expansão do número de empregos ofertados, aumento de
renda e crédito às famílias e políticas governamentais de proteção social (Fecomércio,
2012).Esta revolução imprime mudança no comportamento do consumidor, que desde o início
dos anos 1990 vem de forma gradual demonstrando uma certa sofisticação nos hábitos de
compra, iniciada pelos itens básicos e atualmente, avançando para outras áreas de consumo.
O consumo da atual classe média cresceu a 2,7% ao ano, representando 38% no
consumo total das famílias, sendo que o crescimento médio para o conjunto das famílias
brasileiras foi de 2,4% (SAE, 2012). Estima-se que em 2015 esses valores sejam ainda mais
agressivos e o Brasil terá na classe C a força de sustentação de sua economia, que deverá
atingir 1,46 trilhão de reais de consumo familiar representando 51% sobre o total
(Fecomercio, 2012). Com o aumento da participação na economia, a classe média torna-se um
público importante, que deixa de escolher apenas pelo preço e passa a prezar também pela
qualidade dos produtos, serviços e atendimento.
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2.2 O consumidor insatisfeito
Os consumidores, através de um processo cognitivo, avaliam o desempenho de um
produto ou serviço e comparam essas avaliações com suas expectativas anteriores ao consumo
ou a compra (Almeida e Ramos, 2012; Tubenchlak, 2013), podendo se sentir satisfeitos ou
insatisfeitos. Embora, apenas um em cada vinte clientes insatisfeitos reclamem com as
empresas, as experiências negativas aparecem sempre como sendo mais disseminadas do que
as positivas (Almeida e Ramos, 2012; Beber & Rossi, 2006; Fernandes& Santos, 2008).Por
esse motivo, um cliente insatisfeito que não reclama à empresa gera uma série de
inconvenientes. Primeiro, a empresa perde a oportunidade de remediar o problema e reter o
cliente. Segundo, a reputação pode ser danificada por comunicação boca a boca negativa
(Almeida & Ramos, 2012), resultando em perda de clientes potenciais e correntes. Terceiro, a
organização é privada de informações valiosas sobre a qualidade de seus produtos e serviços,
impedindo a oportunidade de rever seu processo e realizar melhorias (Edison e Geissler,
2011).
Araujo, Primo e Araujo (2006) abordam também que quando o cliente se encontra
insatisfeito, existe a possibilidade de ocorrer duas situações: em uma delas o consumidor opta
em reclamar com a finalidade de obter uma solução que deverá ser tratada pelo departamento
de gerenciamento de reclamações da empresa. Obviamente o cliente cria uma expectativa de
que o problema será resolvido, contando com uma rapidez na recuperação dos serviços
(Téboul,1999; Fernandes & Santos, 2008).Porém, apesar da sua importância, o ato de
reclamar não é uma atitude muito comum por parte dos consumidores. Complementa
Battaglia e Borchardt (2010), que a reclamação em algumas ocasiões é vista pelo cliente como
perda de tempo.
2.3 A qualidade dos bens e serviços
O termo “qualidade” pode ser apropriado tanto para designar a qualidade dos bens
como a dos serviços. Uma das conceituações sobre o termo mais utilizada é a proposta por
Juran (1990), defendendo que qualidade é adequação ao uso. Porém, este mesmo autor
evidencia que o conceito continua não sendo claro o suficiente para nortear rumos de ação
dentro da empresa. Deming (1990) afirma que a qualidade só pode ser definida em termos de
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quem a avalia. Para o operário, significa bom desempenho e implica em orgulho de seu
trabalho. Já para o administrador, baseia-se em produzir o planejado e atender ao que foi
especificado. Para o consumidor, um mesmo produto ou serviço pode obter boa nota em
alguns aspectos e baixa nota em outros (Deming, 1990).
Outro autor tradicional no assunto é Crosby (1985),onde para ele é necessário entender
qualidade como conformidade com os requisitos. Assim, qualquer produto avaliado tem sua
qualidade mensurável, desde que se definam critérios em termos específicos. Além dos nomes
clássicos da disciplina, é possível encontrar definições mais recentes, como a proposta pela
NBR ISO 9000:2005 que diz “grau no qual um conjunto de características inerentes satisfaz a
requisitos” (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 2005, p 8). Garvin (1992) apresenta
uma evolução conceitual, no qual a visão da qualidade passou de um problema a ser
solucionado a uma oportunidade de concorrência, complementando Gil e Bogomoltz (2004)
que a qualidade não é determinada a partir do que as empresas têm condições de dar, mas sim
a partir do que os consumidores esperam.Bell et al. (2005) afirmam que os gerentes devem se
preocupar com a constante mudança de visão dos clientes sobre a prestação de serviço,
buscando um relacionamento de longo prazo com o consumidor.
3. Metodologia
Esta pesquisa enquadra-se em uma abordagem do tipo quantitativa, com objetivo
descritivo.O objeto de estudo desta pesquisa trata-se dos consumidores em geral pertencentes
à chamada Nova Classe Média Brasileira.A primeira etapa da coleta de dados foi constituída
pela elaboração de um questionário estruturado, de auto-preenchimento, o qual continha
quatro variáveis sócio-demográficas e quinze variáveis explicativas. Somente entraram na
amostra desta pesquisa os respondentes que declararam ter renda familiar per capita mensal
entre R$ 291 a R$ 1.019, faixa salarial esta que os enquadra como pertencentes à classe C,
também chamada classe média, conforme estabelecido pela Secretaria de Assuntos
Estratégicos do Governo. A coleta de dados foi feita entre os meses de junho e julho do ano
de 2013, e os questionários foram aplicados para um total de 182 consumidores nas cidades
de São Gonçalo do Sapucaí, Lavras, Juiz de Fora e Belo Horizonte, todas no estado de Minas
Gerais.O tamanho mínimo recomendado por Hairet al (2005) para a amostragem é de cinco
observações por cada variável independente. Nesta pesquisa o total de variáveis
independentes utilizadas foram de quinze, gerando assim uma proporção de doze
respondentes por variável, relação esta superior à recomendada por Hair et al (2005).A
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amostragem foi não-probabilística por conveniência. Após a tabulação dos dados no software
SPSS 17.0, foram realizadas análises multivariadas, destacando-se a análise de clusters
(conglomerados) e a análise discriminante.
4. Análise dos resultados
Conforme é apresentado na Tabela 1, o cluster 1 foi composto por 111 indivíduos e o
cluster 2 por 71 indivíduos. Observa-se que, enquanto o cluster 1 apresenta uma maior
freqüência de mulheres, com idade entre 18 a 24 anos e com ensino superior, residentes em
maior número na cidade de Lavras, o cluster 2 é formado predominantemente por homens,
também jovens com idade entre 18 a 24 anos, escolaridade relativa ao ensino médio, com
residência na cidade de São Gonçalo do Sapucaí.
Tabela 1- Perfil dos clusters dos consumidores pertencentes à classe média
Fonte: Dados da Pesquisa
A análise discriminante indicou que 86,1% dos consumidores pertencentes ao cluster 1
foram corretamente classificados como sendo do seu grupo original. Quanto aos
consumidores pertencentes ao cluster 2, verificou-se que 91,3% foram classificados
corretamente. Entende-se, portanto, que os consumidores pertencentes ao cluster 2
apresentaram características mais homogêneas em relação ao grupo que pertencem que os do
cluster 1. Assim, 88,1% dos consumidores pertencentes aos clusters originais que foram
submetidos à análise discriminante foram originalmente classificadas corretamente. O
coeficiente de correlação canônica encontrado foi de 0,839, indicando que 70,4% ([0,8392])
da variância podem ser explicados pelo conjunto das 6 variáveis encontradas pelo método
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stepwise. Tais resultados demonstram que, apesar da função discriminante possuir alto grau
de significância, o poder de ajuste aos dados é mediano. A Tabela 2 destaca,dentre as 15
variáveis utilizadas no estudo quais as variáveis que mais discriminaram os clusters 1 e 2. Os
resultados da análise discriminante revelam que a variável “Quando fico insatisfeito deixo de
comprar o produto ou de freqüentar o local” foi relevante elemento de distinção dos grupos
encontrados. Esta variável, conforme explica Hair et al (2005), foi a utilizada como forma de
comparação para todas as outras variáveis.
Tabela 2 - Resultados da análise discriminante, destacando a análise Lambda de Wilks, o Teste F e o nível
de significância
Fonte: Dados da Pesquisa
As variáveis que não contribuíram para a discriminação dos grupos estão descritas na
Tabela 3 a seguir.
Tabela 3- Relação das variáveis que não foram significativas na análise discriminante
Fonte: Dados da Pesquisa
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A partir da Tabela 4, percebe-se que os consumidores do cluster 2 deixam com maior
freqüência de freqüentar um local ou de comprar um produto quando estão insatisfeitos com o
mesmo ou com o serviço prestado (30,4%). Vale lembrar que os integrantes do cluster 2 são
predominantemente homens e que o cluster 1 tem grande número de mulheres como
integrantes.
Tabela 4 - Freqüência com que o consumidor deixa de comprar um produto ou de freqüentar um local
quando está insatisfeito com esse produto ou com o serviço prestado
Fonte: Dados da Pesquisa
Já a Tabela 5 informa que parcela considerável do cluster 2 (39,1%) tem a firme
opinião de que os consumidores sempre reclamam diante de uma insatisfação. Em
contraponto, 41,7% do cluster 1 acredita que raramente o brasileiro tem o hábito de fazer
reclamações. Pode-se perceber também através dos dados informados que praticamente
metade dos integrantes de ambos os clusters 1 e 2 (52,8% e 52,2%) acreditam que o
consumidor brasileiro oscila consideravelmente quanto a atitude de fazer uma reclamação.
Tabela 5 - Opinião entre os clusters sobre a crença de que o consumidor brasileiro tem o hábito de fazer
reclamações
Fonte: Dados da Pesquisa
Analisando os tipos de serviços que freqüentemente deixam o consumidor com uma
insatisfação muito forte, o cluster 1, de acordo com a Tabela 6, destaca a sua forte insatisfação
com os serviços de telefonia móvel (36,1%). O cluster 2 também destaca sua queixa com este
tipo de serviço, porém em menor proporção que o cluster 1 (26,1%). O cluster 2 apresenta,
quando comparado com o primeiro grupo, maior insatisfação com a prestação dos serviços
bancários (21,7%).
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Tabela 6 - Tipo de serviço o qual a insatisfação do consumidor é freqüentemente muito forte
Fonte: Dados da Pesquisa
A análise discriminante, segundo a Tabela 7, revela também que os consumidores
pertencentes ao cluster 1 estão propensos a acreditar que o consumidor brasileiro se sente
desmotivado em fazer uma reclamação para uma empresa porque acredita que a mesma não
resolverá seu problema. Essa é uma questão que remete à uma descrença na recuperação dos
serviços, evidenciando clientes frustrados no que diz respeito à sua expectativa de que diante
de um incidente, o prestador terá condições e resolverá o problema, oferecendo uma reparação
rápida (Téboul, 1999; Fernandes &Santos, 2008).
Tabela 7 - Crença sobre a desmotivação do consumidor em fazer uma reclamação quando se sente
insatisfeito com algum produto/serviço
Fonte: Dados da Pesquisa
De acordo com a Tabela 8, o cluster 2 apresenta insatisfação muito forte (73,9%)
concentrada em relação ao fato de terem que freqüentar estabelecimentos bancários, o que
evidencia uma recorrência na insatisfação com os serviços deste setor. Interessante relembrar
que o cluster 2 é composto principalmente por indivíduos do sexo masculino.
Já o cluster 1, basicamente formado por consumidores do sexo feminino, tem sua
insatisfação menos concentrada em um único estabelecimento, estando diversificada
novamente entre os bancos (36,1%), supermercados (25%) e lojas em geral (16,7%).
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Tabela 8 - Local freqüentado pelos consumidores o qual a insatisfação é freqüentemente muito forte
Fonte: Dados da Pesquisa
Expõe a Tabela 9 que o cluster 2 é formado por indivíduos fortemente convencidos
(69,6%) de que as empresas adotam uma postura de não se importar em conhecer as
insatisfações de seus clientes. Este fato se contrapõe à opinião de Bastos & Borba (2007), que
afirmam que algumas empresas procuram atentar para os critérios críticos de satisfação dos
clientes. Observa-se que nesse cluster não houve integrantes que declararam não ter opinião
sobre essa afirmação. O cluster 1 apresenta-se convencido parcialmente (66,7%) acerca desta
percepção, inexistindo indivíduos que discordem totalmente do fato.
Tabela 9- Percepção do consumidor quanto a atitude das empresas em buscar conhecer as insatisfações de
seus clientes
Fonte: Dados da Pesquisa
5. Considerações finais
Esta pesquisa identificou as percepções e atitudes de 182 consumidores da Nova
Classe Média Brasileira no que diz respeito à insatisfação com a qualidade de um bem ou
prestação de um serviço. O estudo permitiu observar a existência de diferenças entre os dois
grupos de consumidores formados a partir da análise de cluster e que tiveram suas diferenças
detectadas pela análise discriminante, grupos estes que se caracterizaram como tipicamente
feminino (cluster 1) e tipicamente masculino (cluster 2). Conveniente relembrar que a variável
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“Quando fico insatisfeito deixo de comprar o produto ou de freqüentar o local” foi o elemento
de distinção mais importante dos grupos encontrados.
O grupo 1, constituído predominantemente por mulheres jovens, de 18 a 24 anos, com
ensino superior e residentes na cidade de Lavras, apresentou-se como consumidores mais
maleáveis no sentido de não abandonarem sempre uma marca ou uma empresa quando se
sentem insatisfeitos com a mesma. Um dos aspectos também que merecem destaque para esse
cluster está na sua forte crença da inutilidade em se fazer reclamações para as empresas pois
estas nada farão para resolver os problemas. Já o grupo 2, majoritariamente masculino, de 18
a 24 anos, ensino médio e residentes em sua maioria na cidade de São Gonçalo do Sapucaí,
constituem consumidores muito propensos a deixar de freqüentar um local ou de comprar um
produto quando insatisfeitos. Apresentam-se também muito descrentes em afirmar de que o
consumidor brasileiro tem o habito de reclamar sempre que se sente insatisfeito com a
prestação de um serviço ou com a qualidade de um bem, entretanto é um grupo que tem maior
convicção de que vale a pena reclamar pois a chance do problema ser resolvido existe.
Notadamente esse grupo mostra-se mais enfático e rigoroso em suas convicções, tal
constatação sugere que os consumidores do sexo masculino integrantes desta pesquisa e
pertencentes à Nova Classe Média é um grupo menos tolerante às oscilações de qualidade dos
bens e serviços consumidos e contratados. Aliado ao fato de sua forte crença de que não faz
parte da cultura brasileira o hábito de fazer uma reclamação mas ainda assim discordarem de
que fazer uma reclamação é perda de tempo, os resultados encontrados com este grupo geram
subsídios para reflexões sobre a importância da empresa se esforçar em manter um alto nível
de qualidade de seus produtos e serviços a fim de não perder relevante número de clientes que
se recusam a compactuar com níveis de qualidade abaixo de suas expectativas e que se
mostram propensos a reclamar e expor sua insatisfação.
Numa análise comparativa dos grupos, verificou-se que os consumidores de ambos os
clusters mostram-se muito insatisfeitos com os serviços bancários e os serviços de telefonia
móvel, evidenciando assim a negligência generalizada exposta por Las Casas (2006) sobre a
prestação dos serviços prestados no país. Esse é um indicativo da necessidade por parte dos
responsáveis destes setores em melhorar a qualidade do serviço oferecido, principalmente
pelo fato de que este novo extrato social cada vez mais vem conquistando espaço e
representatividade na economia brasileira. A concordância também dos informantes de ambos
os grupos desta pesquisa de que as empresas não se importam em buscar conhecer as opiniões
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de seus clientes parecem evidenciar um problema muito maior do que pode estar sendo
constatado pelas pesquisas pois uma descrença deste sentido revela uma fragilidade na relação
empresa-consumidor, o que acaba gerando clientes menos fiéis e muito mais propensos a
trocar de fornecedor pelo mínino contratempo que vier à ocorrer.
A análise dos dados revelou consumidores da Nova Classe Média com baixa
propensão a expor sua insatisfação para as empresas e com alta descrença na recuperação das
falhas por parte das mesmas. Tal constatação sugere que o setor de prestação de serviços
assim como de produção de bens precisa atuar na criação de sistemas de qualidade mais
efetivos, devendo essa prática ser incorporada por empresas tanto de grande como de pequeno
porte, visto que estas últimas são o mercado natural desse estrato social.
Frente à escassez de informações mais pontuais sobre essa classe em ascensão no
Brasil, a presente pesquisa contribui, tanto para a academia como para o meio empresarial, no
sentido de diminuir o gap de conhecimento sobre os interesses, percepções, valores, atitudes,
receios e anseios desta classe, lacuna esta destacada pela SAE (2012).Ressaltam-se, também,
as limitações deste trabalho, uma vez que os respondentes da pesquisa foram
predominantemente jovens, o que não permitiu uma visão mais ampla sobre o perfil das
outras faixas etárias. Por fim, sugere-se que pesquisas futuras sejam realizadas com outras
classes sociais com o objetivo de estabelecer comparações com as variáveis utilizadas no
estudo, verificando se as variáveis que discriminaram esta amostra também são relevantes em
outros grupos e de outras classes. Sugere-se também realizar uma pesquisa focada ainda na
classe C, aprofundando conhecer melhor quais os tipos de insatisfações são mais comuns
dentro dos serviços bancários e de telefonia móvel, setores estes apontados pelo estudo como
os que mais geram descontentamento para os grupos estudados.
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