a melhoria da qualidade de vida para a cidadania … · cerebral, estabelecendo parceria com a sua...

31
A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA DO EDUCANDO COM PARALISIA CEREBRAL E SUA FAMÍLIA ATRAVÉS DE UMA INTERVENÇÃO DESAFIADORA ANGELA REGALIO FILIPAKI 1 ANIZIA COSTA ZYCH 2 RESUMO O objetivo do artigo consiste em contribuir com a família do educando com Paralisia Cerebral para que, juntamente com o próprio educando, se reconheça a importância da educação escolar na sua formação, buscando potencializar ao máximo as expectativas de êxito, tanto do educando paralisado cerebral como de sua família. Para tanto, o artigo apresenta propostas para uma intervenção desafiadora a ser realizada com estes educandos em parceria com a sua família, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seu filho através da educação escolar, investindo numa interação cooperativa e partilhada que possibilite potencializar ao máximo os resultados do processo de ensino e aprendizagem. Trata-se de uma metodologia participativa, envolvendo atividades propostas como: hidroginástica na piscina da Apae Rural, aulas de informática no laboratório da escola e visitas e passeios por alguns pontos turísticos do município de Irati, sempre realizadas em conjunto: educando, família, escola. Os resultados obtidos foram constituídos a partir de um embasamento teórico acerca da Paralisia Cerebral com informações para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com Paralisia Cerebral, considerando de fundamental necessidade a mobilização familiar para a realização de um trabalho conjugado à escola e sociedade. Palavras-chave: Paralisia Cerebral, Qualidade de Vida, Educando Paralisado Cerebral, Família, Escola. 1 Professora da APAE Nossa Escola. Especialista em Educação Especial e Ensino Religioso. 2 À professoraDrª Anizia Costa Zych, UNICENTRO-Campus de Irati-PR,pela colaboração durante as atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE e na elaboração deste artigo.

Upload: phungtuyen

Post on 21-Jan-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA

DO EDUCANDO COM PARALISIA CEREBRAL E SUA FAMÍLIA

ATRAVÉS DE UMA INTERVENÇÃO DESAFIADORA

ANGELA REGALIO FILIPAKI1

ANIZIA COSTA ZYCH2

RESUMO

O objetivo do artigo consiste em contribuir com a família do educando com Paralisia Cerebral para que, juntamente com o próprio educando, se reconheça a importância da educação escolar na sua formação, buscando potencializar ao máximo as expectativas de êxito, tanto do educando paralisado cerebral como de sua família. Para tanto, o artigo apresenta propostas para uma intervenção desafiadora a ser realizada com estes educandos em parceria com a sua família, com o intuito de contribuir para a melhoria da qualidade de vida de seu filho através da educação escolar, investindo numa interação cooperativa e partilhada que possibilite potencializar ao máximo os resultados do processo de ensino e aprendizagem. Trata-se de uma metodologia participativa, envolvendo atividades propostas como: hidroginástica na piscina da Apae Rural, aulas de informática no laboratório da escola e visitas e passeios por alguns pontos turísticos do município de Irati, sempre realizadas em conjunto: educando, família, escola. Os resultados obtidos foram constituídos a partir de um embasamento teórico acerca da Paralisia Cerebral com informações para a melhoria da qualidade de vida das pessoas com Paralisia Cerebral, considerando de fundamental necessidade a mobilização familiar para a realização de um trabalho conjugado à escola e sociedade. Palavras-chave: Paralisia Cerebral, Qualidade de Vida, Educando Paralisado Cerebral, Família, Escola.

1 Professora da APAE Nossa Escola. Especialista em Educação Especial e Ensino Religioso.2À professoraDrª Anizia Costa Zych, UNICENTRO-Campus de Irati-PR,pela colaboração durante as atividades do Programa de Desenvolvimento Educacional-PDE e na elaboração deste artigo.

Page 2: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

ABSTRACT The aim of the paper is to contribute to the family of the student with Cerebral Palsy so that, together with the very educated, we recognize the importance of school education in their training, seeking to increase the maximum expectation of success, both in educating as cerebral palsy of his family. Therefore, the article presents proposals for a speech challenging to be held with these students in partnership with his family in order to improve the quality of life for her son through school education, investing in a cooperative interaction and shared which allows the maximum increase the results of the process of teaching and learning. This is a participatory approach involving proposed activities as: Hidro in the pool of APAE Rural, classes in computer lab at the school and visits and trips by some sights of the council Irati, always performed together: learning, family, school. The results were made from a theoretical basis about the Cerebral Palsy with information to improve the quality of life of people with Cerebral Palsy, considering the crucial need to mobilize family to the realization of a work together to school and society.

Key words: Cerebral Palsy, Quality of Life, Educating cerebral palsy, Family, School

INTRODUÇÃO

O presente artigo apresenta encaminhamentos para uma proposta

de intervenção desafiadora a ser realizada com educandos com Paralisia

Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de

contribuir com a melhoria da qualidade de vida através da educação

escolar, investindo numa interação cooperativa e partilhada que

possibilite potencializar ao máximo os resultados do processo de ensino-

aprendizagem.

A experiência com o trabalho realizado enquanto professora,

atuando com educandos paralisados cerebrais na escola de Educação

Especial ‘Nossa Escola’, mantida pela Apae de Irati, permitiu um

aprofundamento em relação à rotina vivenciada por este alunado, tanto

em seus lares, como na própria escola.

Sabemos que todas as crianças necessitam de diversificados

contatos sociais para a descoberta da sua própria valorização e aceitação

individual. É nesse sentido que todos os envolvidos com uma criança com

Paralisia Cerebral, principalmente a família e a escola, devem

proporcionar-lhes oportunidades estimuladoras, fazendo com que sintam-

Page 3: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

se membros verdadeiramente integrantes daquela família, daquela

escola, daquela comunidade, enfim, fazendo parte da vida.

A articulação desta proposta de estudo, constitui-se numa

reflexão, construção e intervenção em busca da melhoria da qualidade de

vida das pessoas e, em especial, do educando com Paralisia Cerebral. As

atividades planejadas envolvendo as famílias vêm de encontro às

necessidades deste educando contemplando os princípios políticos-

educacionais orientados pela SEED, ou seja, defendem o direito do aluno

ao acesso, à permanência e ao sucesso de todos eles na escola, bem

como, o atendimento e respeito à diversidade. Seguem, também, o

mesmo processo democrático de construção das Diretrizes Curriculares

para a Educação Pública do Estado do Paraná, quando refere-se ao

processo de aprendizagem e participação social do alunado.

Observando-se a necessidade de informação relacionada à

Paralisia Cerebral, por parte da família do educando paralisado cerebral, o

trabalho conjunto com a mesma representa um fator que muito poderá

colaborar para o êxito da intervenção proposta.

Portanto, torna-se imprescindível à escola investir esforços no

sentido de mobilizar ações capazes de contribuir para resgatar princípios

e valores que auxiliem na inclusão da família do aluno com Paralisia

Cerebral na sociedade, participando de seu contexto sócio-econômico-

cultural, proporcionando ações educativas para que os mesmos sintam-se

acolhidos e mais felizes, como cidadãos participativos.

A partir do exposto, a Apae estará incorporando uma nova

concepção educativa ampliando o contexto interacional dos alunos com

Paralisia Cerebral, apoiando ações de interdisciplinaridade, envolvendo a

equipe multiprofissional, professores e equipe pedagógica. Assim, a

família, mais diretamente as mães, poderão observar que os desafios

para o sucesso educativo de seus filhos serão compartilhados e as

dificuldades discutidas e analisadas. Desta forma, os problemas poderão

se tornar menos árduos por estarem sendo enfrentados em conjunto:

escola-família e educando.

A partir do que foi exposto, realizou-se então, a intervenção

pedagógica que possibilitou criar o vínculo entre família e escola, através

da diversificação de atividades, incluindo aulas de informática,

Page 4: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

hidroginástica e aulas-passeio com visita a pontos turísticos da cidade

com a participação de alunos que possuem Paralisia Cerebral juntamente

com suas mães, professora, terapeuta ocupacional e fisioterapeuta.

Para a realização da intervenção pedagógica seguiu-se o

calendário e programação descritos no quadro abaixo:

DIAS FEVEREIRO C.H.07-08 Semana pedagógica – Explicações sobre a intervenção pedagógica. 2 h

21 Reunião com as mães – Explicações sobre a intervenção pedagógica.

2 h

27 Aula de hidroginástica com os alunos, mães, fisioterapeuta e professora.

4 h

MARÇO

05 Aula de hidroginástica com os alunos, mães, fisioterapeuta e professora. 4 h

12 Aula de hidroginástica com os alunos, mães, fisioterapeuta e professora. 4 h

27 Informática com os alunos, mães, professora.e terapeuta ocupacional. 4 h

ABRIL

02Passeio à Colina Nossa Senhora das Graças com alunos, mães, professora, motorista e um funcionário da Apae. 4 h

09Caminhada na trilha da Apae Rural com alunos, mães, professora, motorista e um funcionário da Apae. 4 h

MAIO

07Caminhada, ginástica e piquenique no Parque Aquático com alunos, mães, professora, motorista e um funcionário da Apae. 4 h

14 Passeio com visita e lanche ao Restaurante Anila com os alunos, mães, professora, motorista e um funcionário da Apae. 4 h

21Aula de informática com os alunos, mães, professora e terapeuta ocupacional. 4 h

JUNHO

25 Passeio com visita ao IBAMA com os alunos, mães, professora, motorista e um funcionário da APAE. 4 h

JULHOFÉRIAS

AGOSTO

13Passeio ao cinema com sessão cinematográfica referente ao filme ‘A menina e o porquinho’ com os alunos, pais, professora, motorista e um funcionário da APAE.

4 h

SETEMBRO

17 Passeio ao Hotel Fazenda Virá com os alunos, mães, professora, motorista e um funcionário da APAE. 4 h

TOTAL 52 h

Page 5: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

PARALISIA CEREBRAL

A Paralisia Cerebral é considerada uma doença crônica, muito

presente em nosso meio. Ela possui vários conceitos e definições, porém

muito diferentes entre uns e outros, alguns com limites de idade e outros

não, mas todos trazem em comum como sendo uma grave agressão ao

cérebro, seja intra-útero, durante o parto ou acometimento perinatal ou

na primeira infância (CÂNDIDO, 2004). Foi descrita pela primeira vez, em

1860, pelo Dr. William Little.

O termo Paralisia Cerebral é usado para distinguir qualquer

desordem caracterizada por alteração do movimento secundária a uma

lesão não progressiva do cérebro em desenvolvimento, no entanto,

segundo a autora, este termo é inadequado, sendo considerado desta

forma por diversos autores, de modo que significa a parada total de

atividades físicas e mentais, mas que não corresponde com a realidade.

No entanto, também se pode utilizar o termo Encefalopatia Crônica Não

Progressiva ou Não Evolutiva, que dá clareza à sua caracterização

persistente, mas não evolutiva, apesar de que as manifestações clínicas

podem sofrer mudanças com o desenvolvimento da criança. Além disso, o

termo se faz útil porque diferencia a Paralisia Cerebral de Encefalopatias

crônicas Progressivas, resultantes de patologias com degeneração

contínua.

E todos aqueles que possuem alguma deficiência, no caso a

Paralisia Cerebral, merecem e devem ter acesso à reabilitação, onde

encontra-se o conjunto de ações que possibilitam o desenvolvimento

integral do indivíduo – bio-psico-social e afetivamente – a fim de facilitar

sua inserção no meio social em que vive, de modo que ela apresenta uma

gama de complexidades, e a pessoa que possui esse distúrbio terá que

conviver com ele para sempre, resultando da necessidade de bastante

apoio, tanto por parte da família, como no aspecto clínico e educativo.

Portanto, a ajuda da família é imprescindível, pois ela se apresenta

Page 6: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

como fundamental no processo de desenvolvimento e, também, como a

mediadora da inclusão, intervindo na integração e socialização da pessoa

paralisada cerebral em seu meio.

Por isso, é importante que as instituições que prestam

atendimento a essas pessoas realizem trabalhos que possibilitem criar

um vínculo com a família, para que esta possa contribuir no processo de

desenvolvimento das atividades realizadas pela escola, no lar para

facilitar a inserção no meio em que vive a pessoa com Paralisia Cerebral.

PARALISIA CEREBRAL E SUA DEFINIÇÃO

“A busca de definição da Paralisia Cerebral tem uma longa história.

Encontram-se relatos da existência da Paralisia Cerebral em civilizações

muito primitivas” (TABITH, 1980, p.23).

Em Esparta (Grécia Antiga), crianças com deficiência física e

mental, eram consideradas sub-humanas, sendo eliminadas ou

abandonadas. Esta prática era coerente com os ideais atléticos e

clássicos daquela organização sócio-cultural (PESSOTI, 1984,

p.23).

O surgimento da expressão Paralisia Cerebral se deu por Freud, em

1897, quando este estudava a Síndrome de Little – hoje conhecida como

Diplegia Espástica – sendo a expressão generalizada por Phelps (apud

CÂNDIDO, 2004) com o intuito de diferenciá-la de outras expressões

como Paralisia Infantil ou Poliomelite, que consiste em paralisias flácidas.

Seus distúrbios têm origem por uma lesão cerebral que incide

antes ou durante os primeiros dias após o nascimento da criança, não

prejudicando os músculos quanto menos os nervos que os conectam à

medula espinhal, no entanto, atinge uma parte do cérebro que tem por

responsabilidade o controle dos movimentos musculares. E, dependendo

do local onde ocorreu a lesão, podem acometer o surgimento de outros

problemas como a deficiência mental, convulsões, distúrbios de

linguagem, transtornos de aprendizagem, problemas de audição e visão

(GERSH, in GERALIS, 2007).

Page 7: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

Um conceito específico sobre a Paralisia Cerebral não existe, tanto

pela variada etiologia, quanto pelas múltiplas manifestações clínicas, mas

se alude a um grupo de condições crônicas que têm como denominador

comum a anormalidade na coordenação de movimentos, ou seja,

transtorno do tônus postural e do movimento (CÂNDIDO, 2004).

Nesse viés, para Gersh (in GERALIS, 2007, p. 15), a “Paralisia

Cerebral é uma expressão abrangente para diversos distúrbios que

afetam a capacidade infantil para se mover e manter a postura e o

equilíbrio”. Sua maior causa é a anóxia neonatal, que ocorre por um

trabalho de parto anormal ou muito prolongado, seguido da

prematuridade como a segunda maior causa e com menor ocorrência

encontram-se as infecções como a rubéola, o citomegalovírus, a

toxoplasmose e a sífilis, assim como, as meningites e a icterícia também

podem ser citadas como causadora da Paralisia Cerebral.

A Paralisia Cerebral também é conhecida como uma ‘deficiência

ou distúrbio do desenvolvimento’, já que tem influência no modo como as

crianças se desenvolvem. Crianças com Paralisia Cerebral leve

conseguem se recuperar em idade escolar, no entanto, terão que

conviver com ela para sempre, pois essa deficiência durará a vida toda.

Além disso, o modo como ela afeta a criança depende de vários fatores,

influenciando no que irá aprender e fazer no decorrer de sua vida. Cabe

aos pais, portanto, ajudar seu filho que tem Paralisia Cerebral a alcançar

um potencial para poder obter a melhor qualidade de vida possível

(Ibidem).

Paralisia cerebral e seu diagnóstico

A Paralisia Cerebral não é composta apenas por uma patologia,

mas se compõe de um grupo de enfermidades diversas com diferentes

etiologias e prognósticos, dependendo da extensão e do grau de

comprometimento causado, sendo presente a existência do transtorno de

movimento (CÂNDIDO, 2004).

Seu diagnóstico deve ser baseado em uma história clínica

completa, na avaliação física e neurológica da criança, ou seja, nas

manifestações motoras que constituem sua principal característica

Page 8: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

clínica. São comuns os achados de retardo no desenvolvimento, presença

de reflexos arcaicos, anormalidades tônico-posturais, hiperreflexias e

sinais patológicos (Ibidem),.

Segundo o Manual Merck (2007, seção 23, capítulo 270) a Paralisia

Cerebral, geralmente, não tem como ser diagnosticada na primeira

infância. Diversos fatores podem ser observados como fraqueza, falta de

coordenação, desenvolvimento insatisfatório, entre outros, como sinal de

possível Paralisia Cerebral. Um médico deve fazer acompanhamento

dessa criança para poder dizer se a causa pode ser de Paralisia Cerebral

ou de outro distúrbio progressivo, que pode ser tratado. Quanto ao tipo,

não há como diferenciar, geralmente, antes de a criança completar um

ano e meio de vida, já que exames laboratoriais não conseguem

identificá-la. Mas é preciso que outros tipos de distúrbios sejam

descartados, devendo, o médico, solicitar exames de sangue,

eletromiografia, tomografia ou ressonância magnética do cérebro, ou até

mesmo, uma biópsia muscular (Ibidem). Estes exames ajudarão a

esclarecer a causa da Paralisia Cerebral ou confirmar o diagnóstico de

outras doenças.

Tipos clínicos da Paralisia Cerebral, segundo a AACD (2007):

- Espástico

É o mais comum, sua incidência chega a 75% dos casos. Neste

tipo de Paralisia Cerebral há um aumento do tônus muscular, onde é

possível sentir o grau de tensão através da palpação ou do alongamento

ou encurtamento passivo do músculo, sendo comum, também, o

surgimento de contraturas musculares;

- Extrapiramidal

A lesão se situa nos núcleos da base gerando movimentos

involuntários, mas não ocorrem deformidades. Normalmente, aqui o

intelecto da criança fica preservado, dentro da normalidade;

- Atáxico

É considerado raro, onde não existe a coordenação dos

movimentos de origem cerebelar. Fazer seu diagnóstico não é tarefa fácil,

pois o déficit motor atrapalha as provas de coordenação axial e

apendicular, além de o déficit cognitivo, geralmente, ser acentuado;

Page 9: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

- Misto

Ocorre quando se encontram características de mais um tipo,

como, por exemplo, a espasticidade associada à movimentação

involuntária.

Os tipos de Paralisia Cerebral podem sofrer variações ao longo do

tempo, modificando-se com a idade da pessoa. O mais comum acontecer

é com o tipo extrapiramidal, onde distonias mais severas tendem a

ocorrer quando se aproxima a adolescência, aliada a uma transformação

do quadro de espasticidade para a rigidez na idade adulta. Enfatiza-se,

ainda, que a Paralisia Cerebral não tem possibilidade de cura, porém

existem chances de ocorrer alterações para atenuar seus sinais e

sintomas(Ibidem).

Convulsões, estrabismo, baixa acuidade visual, dificuldade de

atenção, hiperatividade, surdez, anartria ou disartria, sialorréia intensa,

alterações de sensibilidade, déficit cognitivo em grau variável, alteração

das funções corticais superiores, pneumonias de repetição, incontinência

esfincteriana, entre outros, podem acompanhar a Paralisia Cerebral. Por

isso, uma clínica que atenda pessoas com Paralisia Cerebral, deve ser

constituída de uma gama variada de profissionais, ou seja, de uma

equipe multiprofissional, tais como: médicos fisiatras, ortopedistas,

neurologistas, neurocirurgiões, oftalmologistas, além de outras

especialidades de apoio, técnicos das áreas de fisioterapia, terapia

ocupacional, fonoaudiologia, psicologia, pedagogia e serviço social

(Ibidem).

Depois da realização da primeira consulta, onde o médico

estabelece o diagnóstico com o grau de comprometimento, o paciente

passará por uma avaliação global, onde vários profissionais farão sua

avaliação a fim de determinar os rumos do tratamento, delineando um

programa de tratamento individualizado, com metas específicas que

devem ser alcançadas através dos mais variados exercícios. Através

desse programa, ocorre periodicamente a avaliação do paciente pela

equipe que irá observar sua evolução motora e cognitiva traçando novas

metas e objetivos sempre que preciso (Ibidem).

Page 10: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

Paralisia cerebral e suas causas

Freud, em 1897, caracterizou o termo Paralisia Cerebral que,

abreviadamente – PC – foi universalmente aceito, chamando a atenção

para a importância dos demais tipos de prejuízos associados aos prejuízos

motores na Paralisia Cerebral (LEITÃO, 1983).

Para Cândido (2004) as causas da Paralisia Cerebral podem

incluir agressões no período pré-natal, perinatal ou pós-natal, conforme

tabela:

FATORES CAUSAISPRÉ-NATAIS

Genéticas e/ou HeretitáriasCausas Maternas

Infecções congênitas (Toxoplasmose, Rubéola, Citomegalovírus, Sífilis, HSV)Drogadição materna, uso de medicamentos (Tabaco, Álcool, Maconha, Cocaína)Complicações obstétricas

Eclampsia/Pré-eclâmpsiaDescolamento PlacentárioPlacenta préviaHemorragias/ameaça de abortoDiabetes/Desnutrição maternosMá posição do cordão umbilical

Malformações congênitasExposição a radiações (raios X)

PERINATAISPrematuridade e Baixo peso

Distócias (Asfixia perinatal, Trauma cerebral)Infecções (Menigites, Herpes)Hiperbilirrubinemia (hemolítica ou por incompatibilidade)HipoglicemiaDistúrbio Hidroeletrolíticos

PÓS-NATAIS Infecções

MeningitesEncefalites

Trauma cranianoAcidente cérebro-vascular

Cardiopatia congênita cianóticaAnemia FalciformeMalformações vasculares

Encefalopatias desmielinizantes (pós-infecciosas ou pós-vacinais)Anóxia cerebral

Acidente por submersãoAspiração de corpo-estranhoInsuficiência/parada respiratória

Síndromes epilépticas (West e Lennox-Gastaut)Status epilepticusDesnutrição

Fonte: modificada de DIAMENT, A Encefalopatias crônicas da Infância (Paralisia Cerebral) Em DIAMENT, A, CYPELS, Neurologia Infantil, 3ed, 1996

Page 11: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

Paralisia cerebral e seus principais problemas

As crianças com Paralisia Cerebral têm muitos problemas, nem

todos relacionados às lesões cerebrais. Todos eles podem surgir

associados ou isoladamente na dependência da forma clínica que a

criança apresentar. A seguir relacionam-se algumas (NACPC, 2007):

- Convulsões

Com incidência entre 30 a 40% dos pacientes, onde a freqüência e

o tipo podem sofrer variações conforme o estado clínico apresentado,

não influenciando no prognóstico, podendo ser facilmente tratada

através de medicamentos e, em outras, ocorre freqüentemente várias

vezes ao dia, sendo difícil o tratamento clínico;

- Distúrbios da fala

Ocorrem freqüentemente, não somente pelo comprometimento

motor, o que dificulta a articulação, mas também pelo déficit de audição

que pode vir associado;

- Deficiências visuais

São encontradas as mais diversas formas de deficiências visuais, a

mais comum, o estrabismo, podendo levar também à catarata, glaucoma,

microftalmias e lesões do nervo óptico;

- Deficiências auditivas

Por dificuldade diagnóstica em crianças com distúrbios motores e

dificuldade na comunicação, podem passar despercebidas, sendo mais

comum entre grupos mais distintos descendentes de patologias como a

hipebilirrubinemia;

- Dificuldades de aprendizagem

As crianças necessitam de acompanhamento pedagógico

específico e aprimorado de Educação, já que precisam de um maior

tempo para a aquisição de conhecimentos, devido aos diversos fatores

que dificultam o seu desenvolvimento e que afetam também seu

intelecto. Por isso, a educação dessas crianças deve acontecer numa

linguagem adaptada, aliada a recursos tecnológicos sob uma busca

Page 12: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

efetiva de novos meios de comunicação;

Além dos problemas relacionados, podem ainda surgir outros

como: odontológicos, salivação incontrolável, escoliose, contraturas

musculares, posturas incorretas, entre outros.

Paralisia cerebral e seu tratamento

Estatisticamente, a Paralisia Cerebral afeta uma ou duas crianças

em cada 1000, no entanto, é dez vezes mais comum em recém-nascidos

prematuros, particularmente nos lactentes em início de vida. Ela não se

caracteriza como uma doença, não é progressiva e também não tem

cura. Seus problemas duram a vida toda. As partes do cérebro

responsáveis pelo controle dos músculos são vulneráveis à lesão em

recém-nascidos prematuros e nas crianças pequenas (MANUAL MERCK,

2007).

Em virtude de a Paralisia Cerebral causar múltiplos

comprometimentos, o tratamento exige uma gama variada de

profissionais, onde o princípio fundamental de cada especialidade é

atingir as necessidades específicas de cada criança, que precisa ser

conhecida, assim como seu ambiente familiar, para juntamente com a

família, possam ser bem planejadas as terapias passo a passo (CÂNDIDO,

2004).

Segundo o Manual Merck (2007) como tratamento, a fisioterapia,

assim como, a terapia ocupacional, a utilização de coletes e intervenções

cirúrgicas para correções ortopédicas ajudam no controle muscular como

no caminhar. Também, a fonoterapia, conhecida como terapia da fala,

ajuda a criança a melhorar sua fala, além de colaborar com problemas de

alimentação. Ainda, através de medicamentos anticonvulsivantes, pode-

se prevenir as convulsões.

O tratamento não significa somente fisioterapia, fonoaudiologia ou

terapia ocupacional, pois tão importante quanto essas sessões, deve-se

levar em conta a influência do desenvolvimento físico no mental. Milani

Page 13: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

(1960, in BOBATH, 1993) reforçou: tratamento significa o uso de todos os

métodos médicos, psicológicos e educacionais possíveis que nós temos,

para encaminhar o desenvolvimento da personalidade. Egg-Benesch

(apud KUNERT, 1964, in BOBATH, 1993) diz: tratamento é o dia inteiro da

criança, a soma de tudo o que aconteceu a partir do primeiro ‘bom dia’

ao último ‘boa noite’. O objetivo do tratamento deve ser favorecer o

desenvolvimento físico e mental da criança ao máximo de suas

potencialidades (Ibidem).

Apesar de possuírem a Paralisia Cerebral, muitas crianças têm seu

crescimento normal freqüentando escolas normais, claro que, desde que

não apresentem grandes déficits intelectuais e físicos. No entanto, outras

precisam ser tratadas com fisioterapia intensiva e ter educação especial,

devido às grandes limitações para enfrentar seu cotidiano, precisando

sempre de assistência e tratamento diferenciado durante o decorrer de

sua vida (Ibidem).

No entanto, apesar de todas as dificuldades, aqueles que mesmo

tendo sido afetados de maneira mais grave pela Paralisia Cerebral podem

ser beneficiados com a educação escolar. E, para isso, na busca pela

compreensão do problema e do potencial de seus filhos, os pais devem

ser informados e aconselhados sobre os procedimentos a serem tomados

à medida que ocorrerem, com o intuito de ajudá-los a adquirir seu

potencial máximo. Assim, os pais sendo atenciosos e carinhosos com eles

e mantendo-se aliados às instituições que prestam atendimento a essas

pessoas, contribuirão significativamente para o desenvolvimento e

sucesso de seus filhos (Ibidem).

Dependendo do tipo de Paralisia Cerebral e de sua gravidade, será

feito o prognóstico apropriado. Cerca de 90% das crianças que têm

Paralisia Cerebral chegam à vida adulta, porém aquelas afetadas mais

gravemente têm uma expectativa menor por serem incapazes de realizar

seus cuidados pessoais (Ibidem).

Segundo a autora Cândido (2004) para os casos irrecuperáveis

estes podem e devem ser encaminhados para centros especiais, onde o

acesso for mais viável, onde serão cuidados, recebendo assistência de

manutenção. Como exemplos desses centros especiais pode-se citar a

AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), fundada em 1950

Page 14: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

pelo Dr. Renato da Costa Bonfim que desenvolve um trabalho sem fins

lucrativos, visando reabilitar e incluir socialmente crianças, adolescentes

e adultos portadores de deficiência física. Neste local são realizadas

cirurgias ortopédicas, plásticas e odontológicas, com o funcionamento do

centro de diagnóstico e tratamento fisioterápico e fonoterápico.

Outro centro especializado é a Rede SARAH de Hospitais do

Aparelho Locomotor, de referência nacional e internacional, constituída

por cinco unidades hospitalares localizadas em Brasília (DF), Salvador

(BA), São Luis (MA), Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG) que prestam

serviços de ortopedia e de reabilitação (Ibidem)

PARALISIA CEREBRAL E A AUTO-ESTIMA

É normal proteger alguém que tem algum tipo de ‘problema’, mas

é preciso que se deixe conhecer suas forças e limitações, pois através da

superproteção a auto-estima pode ser prejudicada.

Souza e Herrera (2008) defendem o desenvolvimento da auto-

estima dizendo que o mesmo deve ter início na infância. Não existe

pessoa que não se pergunte o quanto foi ou é amado pelos pais, segundo

os autores. Sendo assim, caso por algum motivo a criança não cresça

num ambiente acolhedor duvidando do sentimento de seus pais, esta tem

muita chance de sofrer algum problema de auto-estima no futuro.

Com a pessoa que tem Paralisia Cerebral é a mesma coisa. Muitos

pais não querendo que o filho fracasse fazem as coisas por ele, no

entanto, isso pode criar barreiras que afetarão sua auto-estima e auto-

aceitação. Ele pode interpretar mal esses atos achando que é um

fracasso e que não pode fazer nada sozinho, prejudicando sua educação

e desenvolvimento tornando-se uma pessoa tímida, envergonhada,

medrosa, isolada, imatura e até mesmo mimada e exigente. Por isso, a

importância de deixar experimentar fazer algo novo, pois dessa maneira,

conhecendo suas limitações e forças se torna mais fácil a aceitação.

Geralis (2007) comenta que, as pessoas que têm Paralisia

Cerebral, por mais complicado que seja para elas deve-se deixar que

experimentem novos desafios, mesmo enfrentando dificuldade,

alimentar-se, vestir-se, jogar bola, brincar, comunicar-se, assim como,

Page 15: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

fazer suas escolhas. Ou seja, é preciso deixar que levem uma vida normal

dentro de suas possibilidades. Elas devem experimentar a dor e a

frustração como todos.

É importante que o paralisado cerebral estabeleça contatos sociais

para aprender a enfrentar o externo, ou seja, o que está fora de sua casa,

sabendo que com esse tipo de estímulo ele crescerá tanto dentro como

fora dela.

Geralis (2007, p. 116) diz que,

Pode ser mais fácil manter seu filho com paralisia cerebral em um

ambiente protegido, em casa com seus familiares que o amam e

compreendem. Entretanto, lembrem-se das palavras de um velho

ditado: devemos abraçar bem de perto nossos filhos e deixá-los

partir. Deixem seu filho experimentar suas asas e aprender a

voar.

Deve-se ajudar a pessoa com Paralisia Cerebral a expressar-se, a

fazer perguntas, dar opiniões, fazer observações, pois se ele tiver sua

comunicação limitada, sua família assim como seu professor, irão fazer

interpretações, que podem ser algumas vezes incorretas, de seus

pensamentos e temores na tentativa de dar uma explicação ou

significado.

Por isso, é importante que a família e o professor do paralisado

cerebral o ajudem na aceitação de sua deficiência e no desenvolvimento

de sua auto-estima, pois através de uma comunicação franca é possível

fazer o auxílio para aprender a lidar com os sentimentos.

Além disso, é importante que se estabeleçam objetivos para o

paralisado cerebral, pois através deles, damos sentidos à vida e

avaliamos nosso sucesso, o que é importante para a auto-estima. Para

Geralis (2007), é importante que sejam colocados objetivos para a pessoa

com Paralisia Cerebral para que desenvolva seu potencial, mas para que

tenha sucesso e alcance sua auto-estima esses objetivos devem ser

colocados dentro do seu alcance.

Ainda, para se alcançar a auto-estima do paralisado cerebral, é

preciso ensinar-lhe a disciplina, que lhe ajudará a construir a consciência

de ser respeitado e cuidado. Mas ela deve ser ensinada com paciência,

Page 16: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

estabelecendo limites e fazendo observar as regras, tratando-o como

uma pessoa normal.

Geralis (2007), coloca que tanto o educador quanto a família

devem se orgulhar de seu educando e filho com Paralisia Cerebral e o

estar sempre incentivando: “Esta foi uma grande tentativa, você quase

conseguiu”. “Todos nós cometemos erros”. “É assim que aprendemos

novas coisas”.

Souza e Herrera (2008) dão algumas dicas para evitar o problema

da auto-estima com os filhos:

- Sempre que seja possível, dizer à criança o quanto ela é amada.

Ainda que ela não tenha sido planejada, pensar que ela não tem culpa

disto e, como todo ser humano, precisa do seu amor e carinho em

qualquer situação;

- Avaliar seu grau de exigência, pois existem pais que criam os

filhos como se sempre estivessem a dever. Deve-se tomar cuidado;

- Evitar se colocar como modelos de perfeição. Os filhos crescerão

com o sentimento de que nunca estarão à altura dos pais;

- Cumprir a missão de pai ou mãe, mas não transformando os

filhos em devedores emocionais. A paternidade e a maternidade

responsáveis exigem o cumprimento de determinados deveres e o filho

não tem 'culpa' disto;

- Elogiar o filho sempre que ele merecer. São palavras que, na hora

certa, validam e dão todo o apoio que ele precisa para seguir adiante e

tornar-se um adulto equilibrado e feliz.

Portanto, fazer elogios à uma pessoa com Paralisia Cerebral é

muito importante para que desenvolva sua auto-estima

É preciso que se aceite a pessoa com Paralisia Cerebral como ela

é; sua família, assim como, toda a comunidade escolar. Com isso, ela

consegue desenvolver relações de afetividade e amizade e usufruir de

uma convivência normal tanto na família como na escola.

PARALISIA CEREBRAL E A EDUCAÇÃO

A freqüência em uma escola regular de uma criança com Paralisia

Cerebral vai depender do seu aspecto cognitivo, isto é, da capacidade

Page 17: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

para aprender, podendo estar até uma classe de faixa etária compatível

com a sua idade, isto porque, muitas vezes, a criança que tem Paralisia

Cerebral não é acometida por disfunção cognitiva, no entanto, apresenta

limitações físicas, como, por exemplo, não conseguir ficar sentada por um

longo período, como não se comunicar ou escrever da forma

convencional. Para isso, normalmente são utilizadas ajudas técnicas como

mobiliário e material adaptados, podendo estudar em uma escola regular.

Em nosso país existem vários Centros de Educação Especial

administrados pelo Governo, tanto de caráter filantrópico como privado,

que prestam atendimento às crianças com Paralisia Cerebral. Algumas

dessas instituições possuem atendimento especializado para atender

modalidades específicas como a deficiência visual e auditiva. Aquelas que

possuem tetraplegia espástica que têm um comprometimento mais grave

como as que têm seu cognitivo afetado levemente ou moderadamente

podem freqüentar o ensino especial. No entanto, outras, que apresentam

capacidade para aprender também necessitam de educação especial por

possuírem alguns distúrbios sensoriais (Hospital Sarah, 2007).

A escola deve respeitar o ritmo de cada aluno devendo viabilizar

estratégias que facilitem a aprendizagem. Se for importante a capacidade

motora para a realização de atividades, deve-se respeitar a escrita lenta

ou a dificuldade da fala do aluno. As dificuldades motoras podem ser

minimizadas utilizando-se de recursos didáticos que tornem compatíveis

a aprendizagem e a dificuldade de movimentação ou de outros meios que

são oferecidos pela engenharia de reabilitação (Ibidem).

A garantia da escola pública para todos significa dar acesso

àqueles que a ela se dirigem, pois apenas a matrícula não garante a

permanência do aluno na escola. A cultura escolar deverá propiciar ao

educando com deficiência uma educação contínua e progressiva, com

resultados positivos de aprendizagem.

Deve-se respeitar o direito constitucional da pessoa com

necessidades educacionais especiais e de sua família, na escolha da

forma de educação que melhor se ajuste às suas necessidades,

circunstâncias e aspirações.

Paralisia cerebral e a educação especial

Page 18: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

O professor de Educação Especial deve propor-se a ajudar seu

aluno com Paralisia Cerebral a desenvolver tanto suas habilidades sociais,

como as de auto-ajuda, cognitivas e de resolução de problemas.

Primeiramente, o professor deve ter conhecimento de como o aluno é em

casa, o que ele faz, como é o seu cotidiano, para então, traçar uma meta

de ensino que atenda ao estilo do educando (GERALIS, 2007).

Gotti (2001, apud ALMEIDA, 2004), aponta para as competências

que professores de Educação Especial devem estar preparados para

exercer, sendo:

- Refletir sobre os determinantes filosóficos, políticos,

pedagógicos, históricos e legais da Educação Especial;

- Desenvolver práticas pedagógicas diversificadas, cooperativas,

centradas na aprendizagem e nos níveis de desenvolvimento

dos alunos;

- Avaliar, continuamente, os processos de desenvolvimento e

aprendizagem, a fim de identificar necessidades educacionais

especiais dos alunos visando seu atendimento;

- Implementar flexibilização e adaptações em qualquer dimensão

curricular, demandadas pelas necessidades educacionais

especiais dos alunos;

- Realizar trabalho em equipe, atuando com familiares,

professores do ensino regular, equipes de profissionais da

comunidade envolvidos no atendimento ao aluno com

necessidades educacionais especiais;

- Dar respostas educativas que permitam aos alunos desenvolver

conceitos, habilidades, atitudes e valores nas áreas de

linguagem, códigos e suas tecnologias, ciências da natureza,

matemática e suas tecnologias e em ciências humanas.

O ensino normalmente deve ser individual, já que a maneira como

cada educando aprende é diferente. Ele pode não ser deficiente mental,

mas por limitações causadas pelo mau desenvolvimento motor, poderá

necessitar de métodos e materiais de ensino adaptados de acordo com a

sua deficiência (GERALIS, 2007).

Como o professor faz parte de uma equipe que trabalha com

Page 19: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

pessoas com Paralisia Cerebral, ele deve levar em conta as informações

dos outros membros ou profissionais que também as atendem como o

fisioterapeuta, o terapeuta educacional, o fonoaudiólogo, enfim, que

ajudarão nos meios de adaptação do ensino através de sugestões, já que

ambos têm conhecimento dos problemas motores do educando,

contribuindo assim, para o seu desenvolvimento intelectual e pessoal

(Ibidem).

Valorizando as informações da equipe multiprofissional o professor

também estará fazendo o mesmo com as informações dos pais de seu

educando sobre os problemas especiais enfrentados por ele e suas

capacidades para administrá-los. Além disso, indicar atividades que o

educando pode realizar em casa com a ajuda dos pais é importante para

que ele continue a desenvolver habilidades.

PARALISIA CEREBRAL E A FAMÍLIA

Para o sucesso do desenvolvimento, socialização, e integração do

educando com Paralisia Cerebral a família se constitui como parte

essencial desse processo. Por isso, as instituições que prestam

atendimento a esses educandos devem realizar trabalhos que envolvam

a família para que a mesma possa fazer parte do desenvolvimento dos

trabalhos, dando continuidade em casa.

Rosana Glat (2008, apud GIL, 2008) faz a colocação de que a

influência da família no processo de integração social da pessoa com

Paralisia Cerebral deve ser avaliada levando-se em consideração os

seguintes pontos de vista: a facilitação ou impedimento que a família traz

para a integração da pessoa portadora de deficiência na comunidade e a

integração da pessoa com deficiência na própria família.

Nesse viés, quanto mais a pessoa estiver integrada em sua

família, mais a família vai tratá-la de maneira natural, deixando que, na

medida de suas possibilidades, participe das atividades de sua

comunidade. Como conseqüência, mais integrada à vida social ela será.

Além disso, participando das atividades da comunidade levando uma vida

considerada ‘normal’ equivalente às pessoas de mesma faixa etária, será

Page 20: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

vista pelos membros da família como igual aos demais (Cadernos da TV

Escola, apud GIL, 2008).

A Declaração de Salamanca (1997) coloca que a educação de

pessoas com necessidades educativas especiais não deve ser feita

apenas pelos profissionais, mas juntamente com os pais, pois através da

atitude destes poderão se encaminhar melhor na interação social e

escolar. Assim, também devem receber orientações por parte dos

profissionais para saberem como proceder e assumir suas

responsabilidades.

A família tem um importante papel no auxílio à socialização de

uma pessoa com necessidades especiais, pois ela é o primeiro universo

onde acontecem as primeiras relações sociais.

Ainda, Souza (in MARQUEZINE, 2003) coloca a possibilidade dos

pais como sendo os professores de seus filhos, bem como os benefícios

da integração entre a casa e a escola. No entanto, a essa integração,

segundo o autor, nem os pais nem os professores são eximidos da

responsabilidade de se questionarem sobre o seu papel ou de buscarem

métodos de ensino mais adequados. Ou seja, o que se quer dizer é que a

integração se mostra positiva quando concretizada, isto é, quando ocorre

a possibilidade de os pais terem maior envolvimento na vida escolar de

seus filhos.

É através da família que a pessoa com Paralisia Cerebral

conseguirá atingir seu maior desenvolvimento. Se ela manter o interesse

pela vida dessa pessoa aceitando-a como ela é, as chances de ter uma

vida normal são bem maiores.

Cabe à família, como foi visto anteriormente, deixar que o

paralisado cerebral conheça suas forças e seus limites, a dor e a

frustração, auxiliá-lo significa não o superproteger, deixar que

experimente suas energias dentro de suas possibilidades. Dessa forma,

poderão ter um desenvolvimento mais pleno em todos os sentidos, uma

boa auto-estima e uma vida praticamente normal.

A LEI E AS PESSOAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS

Sobre as pessoas com necessidades especiais e a lei o Decreto n.º

Page 21: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

3.298 de 20 de dezembro de 1999, dispõe sobre a Política Nacional para a

Integração da Pessoa Portadora de Deficiência e estabelece que

deficiência é toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função

psicológica, fisiológica ou anatômica que gera incapacidade para o

desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o

ser humano.

“Não nos devemos deixar que as incapacidades das pessoas nos

impossibilitem de reconhecer as suas habilidades” (HALLAHAM e

KAUFFMAN, 1994 in SENAC, 2007).

A educação é, sem dúvida, um direito da pessoa com deficiência,

considerando que, seja qual for sua limitação, ela não pode restringir sua

cidadania. A Constituição Federal, quanto ao direito à Educação Especial,

em seu Título VIII, Artigo 208, alínea IV, § 1.º, destacando o atendimento

educacional especializado às pessoas com deficiência, preferencialmente,

na rede regular de ensino, da mesma forma que aponta o ensino

obrigatório e gratuito como direito público e subjetivo.

Acompanhando o processo de mudanças as Diretrizes Nacionais

para a Educação Especial na Educação Básica, a Resolução CNE/CEB n.º

2/2001, no Artigo 2.º, determina que:

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos,

cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos

educandos com necessidades educacionais especiais,

assegurando as condições necessárias para uma educação de

qualidade para todos (MEC/SEESP, 2001).

Carvalho (2000) coloca ainda que 'especiais' devem ser

consideradas as alternativas e as estratégias que a prática pedagógica

deve assumir para remover barreiras para a aprendizagem e participação

de todos os alunos.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO

Para a realização de atividades de intervenção utilizou-se o

laboratório de informática para que os sujeitos envolvidos tivessem a

Page 22: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

oportunidade de interagir com os computadores, oportunizando aos

interessados condição para aprender a operacionalizar o computador.

A piscina da Apae Rural foi utilizada para os exercícios aquáticos,

com atividades de hidroginástica.

No sentido de proporcionar a interação sócio-cultural, foram

realizados com o grupo envolvido no projeto e, com os demais

participantes da instituição: passeios, visitas, caminhadas e piqueniques

na cidade de Irati.

Estas intervenções certamente atuaram como ações educativas

mediadoras de conteúdos da cognição, favorecedoras do

desenvolvimento da comunicação verbal e não-verbal com novos

contatos sociais, contribuindo para ampliar a visão de mundo e de vida

dos educandos com Paralisia Cerebral.

Através das mães pretendeu-se acolher e atingir também os pais e

demais membros da família para que pudessem conhecer melhor a

realidade de seus filhos, procurando contribuir com a escola para que,

unidos fizessem, acontecer o sucesso educativo e social desses

educandos, proporcionando-lhes uma melhor qualidade de vida.

AULA DE HIDROGINÁSTICA

Realizou-se exercícios aquáticos na piscina a Apae Rural durante o

calor, nos meses quentes do ano (fevereiro e março), interagindo através

de estudos, diálogo e planejamento de atividades, com a fisioterapeuta

da Apae e os educandos com Paralisia Cerebral..

As atividades aquáticas envolveram as mães dos educandos com

Paralisia Cerebral, que fizeram os exercícios conjuntamente com seus

filhos, dentro d’água.

Acreditando nos benefícios advindos de um trabalho aquático e

também, na expectativa de melhorar a qualidade de vida do educando

com Paralisia Cerebral e de sua família é que foram efetuados exercícios

na piscina da Apae Rural.

Reconhecendo a importância deste educando movimentar-se,

exercitar o equilíbrio, a força, a respiração e outros aspectos de sua

vitalidade é que se teve confiança no sucesso desta intervenção.

Page 23: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

Baseado na ANT (Associação de Natação Terapêutica - 1986),

muitos indivíduos com Paralisia Cerebral são beneficiados pelo

relaxamento relativo do espasmo muscular que ocorre durante as sessões

de natação, o que lhes dá prazer. Com a natação obtém-se uma melhora

do controle, velocidade e força em função do tempo em que

permanecerem na água. Este mecanismo foi utilizado com o objetivo de

melhorar a qualidade de vida do paralisado cerebral.

Nas atividades aquáticas, a natação e a hidroginástica,

proporcionaram resultados benéficos tanto para os deficientes como para

as demais pessoas, pois estudos confirmam que este é um dos esportes

mais completos, capaz de desenvolver o aspecto físico, a agilidade,

flexibilidade, força, equilíbrio, resistência, coordenação e respiração além

do psico-social, inteirando os participantes, através da descontração e

dinamismo.

Escobar (1985) diz que a exercitação dos dois lados do corpo nos

nados simultâneos e alternados e a manutenção do alinhamento postural

conferem simetria à musculatura, dando-lhe condições para manter a

postura estática e cinética adequadas, que é o caso dos paralisados

cerebrais. Segundo Reis (1982), Skinner e Thompson (1985) in

(Reabilitação de Portadores de Paralisia Cerebral, 2004) a temperatura da

água pode ser benéfica para algumas deficiências; a espasticidade e os

efeitos terapêuticos da imersão do corpo na água proporcionam

benefícios como: relaxamento, manutenção e aumento da amplitude das

articulações, reeducação dos músculos paralisados, fortalecimento dos

músculos e desenvolvimento da força e resistência; melhora das

atividades funcionais da marcha, aumento da circulação, confiança.

Escobar (1985) lembra que os exercícios aquáticos também

ajudam nas debilidades cardiovasculares, na capacidade respiratória e

músculos-posturais, evitando também atrofias musculares.

Juntamente com a fisioterapeuta, as aulas foram organizadas, com

exercícios de alongamento, relaxamento, adaptação, aprendizagem,

fortalecimento muscular e outros.

Para que as aulas se concretizassem com maior prazer, as

mesmas foram acompanhadas de músicas, com as mães, juntamente

com seus filhos, dentro d’água. Os materiais utilizados foram bóias,

Page 24: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

pranchas, espaguetes (de isopor flutuantes), bolas, arcos entre outros.

AULA COM PASSEIOS E VISITAS

Promoveu-se passeios juntamente com a família (mães), incluindo,

visitas, caminhadas, piqueniques e outros, a locais turísticos da cidade de

Irati como: Colina Nossa Senhora das Graças, Parque Aquático, Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), Hotel e Restaurante Anila, Hotel

Fazenda Virá, assim como a própria Apae Rural.

Segundo a teoria sócio-histórica de Vygotsky, o desenvolvimento

da inteligência é produto da convivência social e das condições biológicas

de cada ser humano. Esse meio, que estimula o desenvolvimento da

inteligência necessita ser intermediado pelas pessoas que convivem com

a criança, no caso a família e o professor.

É no seio familiar que se desenvolve, desde cedo, a autoconfiança,

e isso é de suma importância para todo o sucesso do ser humano, pois o

ambiente sócio-familar influencia sua forma de agir e de ser,

determinando o seu desempenho escolar, social e emocional.

É, também, de suma importância que as crianças tenham contatos

sociais diversificados para desenvolver suas aptidões, favorecendo a

descoberta de seus talentos. Nesse sentido, os pais precisam reconhecer

a importância de novos contatos como: levar seus filhos com Paralisia

Cerebral ao mercado, à praça, ao parque, à feira, à loja, ao jardim, à casa

dos amigos, à praia, à cidade grande, ao campo. A participação em

atividades de tempo livre e a convivência com a natureza devem ser bem

exploradas.

Durante as visitas e os passeios os alunos com Paralisia Cerebral

foram acompanhados e estimulados com conversas sobre as novas

experiências, explorando o contexto e os contatos estabelecidos.

Para Vygotsky (1994, in PERES, 2007) se a criança é excluída do

contexto coletivo, isso atrasará ou impedirá o desenvolvimento das suas

funções psíquicas superiores, pois o aprendizado ocorre à medida que a

criança vai exercitando seu intelecto, ou seja, quando as estruturas

físicas responsáveis por essa função são estimuladas pelos fatores sócio-

culturais.

Page 25: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

Para o autor a organização cerebral é dinâmica e pode modificar

constantemente o desenvolvimento das funções psicológicas superiores,

daí a importância do meio no qual a criança vive. Ele ainda destaca que

as relações interfuncionais do cérebro dependem das influências do meio

exterior.

O desenvolvimento e a aprendizagem são processos constituídos

na interação da criança com o meio em que vive, e o desenvolvimento

segue o processo de aprendizagem. Segundo o autor o professor deve

investigar o processo de desenvolvimento da criança e sua capacidade de

aprendizado.

Para este mesmo autor é nas relações com os outros que o ser

humano constrói o conhecimento, permitindo seu desenvolvimento

mental, assim, o desenvolvimento da inteligência é produto da

convivência social.

As pessoas que convivem com o paralisado cerebral devem

interagir com ele, estimulando-o sempre, promovendo assim a melhora

de seu desenvolvimento uma vez que isto ocorre em várias áreas que

estão interligadas: ambientais, maturacionais e orgânicas.

No sentido de elevar a qualidade de vida dos educandos com

Paralisia Cerebral organizou-se atividades (passeios e visitas) que

desenvolveram os estímulos sociais e as interações com o meio. Nessa

interação com o mundo, o Sistema Nervoso Central do ser humano

modifica-se constantemente para se adaptar ao meio. Este processo é a

aprendizagem (GONÇALVES, TONELOTTO; RAVANINI, 2000, in PERES,

2007).

Sabendo-se da importância da família como facilitadora da

interação criança-meio, a intervenção através de aula-passeio também

recebeu a contribuição da família do educando com Paralisia Cerebral que

participou junto com seu filho nos locais de visita e passeios. Assim,

também as mães foram estimuladas a realizarem passeios com seus

filhos paralisados cerebrais, podendo depois relatar às demais mães a

própria experiência. Segundo suas possibilidades, os alunos puderam

relatar, desenhar ou representar os fatos aos demais, numa

demonstração da vivência.

Page 26: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

AULA DE INFORMÁTICA

O computador está muito presente no cotidiano: escolas, lojas,

mercados, bancos, escritórios, bem como, em nossas casas. A educação

incorporou este instrumento ao seu cotidiano contribuindo para facilitar a

inclusão digital dos alunos através de novas experiências pedagógicas,

auxiliando e facilitando a vida do ser humano na sociedade.

Nesse sentido, o desenvolvimento do educando com necessidades

educativas especiais, também necessita se relacionar com as novas

tecnologias, sobretudo, a informática.

O computador é uma ferramenta de aprendizagem que pode

auxiliar as atividades de ensino. As aulas tornam-se dinâmicas,

viabilizando a descoberta e a aprendizagem de seu uso, oferecendo

condições para a construção do conhecimento.

Juntamente com as mães, os alunos paralisados cerebrais

participaram de aulas de informática no laboratório da escola, onde

desenvolveram atividades diversificadas como a busca da diversão, do

interesse e da aprendizagem.

O trabalho foi iniciado com o conhecimento e interação com as

peças componentes do computador às mães. Após, elas experimentaram

operacionalizar o mesmo e, depois, os alunos fizeram a mesma atividade.

Segundo Bautista (1997, in PEREIRA et. al., 2004) antes

considerava-se que a causa das dificuldades residia no próprio educando,

hoje, sabemos que a escola possui grandes responsabilidades e necessita

ir ao encontro das necessidades educativas de seus educandos.

Na busca de uma melhor qualidade de vida para o educando com

Paralisia Cerebral e de sua família, organizou-se a intervenção através de

atividades de lazer e recreação para ambos – mãe e aluno paralisado

cerebral, no laboratório de informática.

Os educandos e as mães puderam utilizar o teclado para escrever,

desenhar e colorir. A produção e ilustração de textos também ficaram

mais reais. Desenhar e ilustrar ficaram bem mais fáceis para o paralisado

cerebral.

O trabalho pedagógico que tem o apoio da informática tem uma

compreensão mais profunda da capacidade intelectual da criança por

Page 27: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

superar a deficiência através de uma produção mais estética.

Segundo Papert (1988, in SILVA, 2007), o computador por si

mesmo não pode mudar os pressupostos existentes. É importante refletir

que o computador não apenas fará o processo pedagógico acontecer de

modo diferente, mas também, de forma mais prazerosa.

É sabido que no processo de aprendizagem, o meio é de grande

importância ao ser humano, especial ou não. Portanto, se o meio é

informatizado, o computador representa mais um recurso para elevar a

qualidade de vida e estimular a cognição dos educandos paralisados

cerebrais e de suas famílias.

No laboratório de informática foram desenvolvidas diversas

atividades orientadas pela professora: histórias, brincadeiras, jogos,

músicas, pintura, desenhos e outras, estimulando a leitura, a escrita e a

criatividade dos educandos e suas mães.

Tanto as mães como os alunos interagiram diretamente com o

computador, para desmistificar o aspecto relacionado à dificuldade de

operacionalização da máquina.

O objetivo desta intervenção foi despertar no paralisado cerebral o

interesse e a motivação pela descoberta do conhecimento, observando

que muitas vezes a dificuldade apresentada por ele, esconde suas reais

possibilidades e manifestações. Assim, puderam superar o

distanciamento entre o computador e ele, descobrindo-se capaz de

enfrentar novos desafios.

As intervenções propostas para o ano de 2008 na Apae de Irati:

hidroginástica (atividades aquáticas) na piscina da Apae Rural;

informática, nos computadores do laboratório da Apae e, passeios e

visitas aos pontos turísticos da cidade de Irati, foram elaboradas a partir

da anuência das mães e entrevista com a família (mães) dos educandos

paralisados cerebrais, onde constatou-se que estes educandos viviam

bastante isolados, sem interagir socialmente na comunidade, sendo a

escola quase que seu único espaço social.

O trabalho foi fundamentado em bibliografia específica, cujos

autores, estudiosos do assunto, contribuíram para a análise, reflexão e

novas descobertas, que culminaram com a programação das três

intervenções propostas, distribuídas dentro dos 200 dias letivos do ano.

Page 28: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

As intervenções incluíram a participação das mães, acreditando

também que estariam sendo beneficiadas com a proposta, podendo

melhor compreender seus filhos e, ainda, contribuir para o aumento

qualitativo e quantitativo na interação com o meio social.

CONCLUSÃO

Diante das reflexões expostas neste artigo, pôde-se apreender que

a pessoa que possui a Paralisia Cerebral pode ter uma melhor qualidade

de vida, dependendo das oportunidades que lhe sejam oferecidas, assim

como, do tipo e como seu processo de desenvolvimento é estimulado

pelas pessoas que a cercam, principalmente pela família. A família exerce

um papel fundamental para a socialização e inclusão da pessoa com

Paralisia Cerebral, pois é através de sua aceitação, que poderá

desenvolver-se plenamente, dentro de suas possibilidades, com estímulo

para que se sinta bem e tenha uma boa auto-estima.

Os professores também têm um grande papel a desempenhar

como educador, desenvolvendo atividades que possam ser realizadas

tanto em sala de aula como em casa, com a colaboração dos pais e da

família toda, sendo este elo, muito importante para o desenvolvimento do

paralisado cerebral.

Com relação à intervenção pedagógica, o aproveitamento superou

as expectativas. Tanto os alunos como suas mães ficaram muito felizes

com o trabalho desenvolvido, o que é muito significativo, pois como se

sabe muitos ficam presos a uma rotina privando-se dos prazeres da vida

que podem ser conseguidos através de algum esforço, sem ônus

significativos, como os realizados nas intervenções, através de um

simples passeio pela cidade, não incluindo necessariamente o desgaste

que envolve uma viagem.

A contagiante alegria dos alunos e de suas mães significou a

melhor recompensa, pois nos relatos muitas delas afirmaram que nunca

tiveram a oportunidade de entrar em uma piscina, por exemplo.

As mães afirmaram que sentiam necessidade de sair da rotina e

conversar sobre assuntos familiares, trocar experiências, adquirir novas

idéias. Os passeios foram proveitosos, pois tanto as mães como os filhos,

Page 29: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

puderam conversar sobre assuntos relacionados a pessoas que passam

pelos mesmos problemas e, assim, desabafar, o que aumentou a auto-

estima de todos e a auto-confiança, gerando novas expectativas frente à

vida.

As mães notaram que agora seus filhos querem sair mais de casa,

que estão mais motivados e que, já sabem o que fazer para se divertir

com eles, pois compreenderam que as ações foram benéficas para os

seus filhos. Durante o passeio no Parque Aquático, uma mãe relatou que

desde a morte de seu esposo, há cerca de quatro anos, não conseguia

pisar no local, devido ser o lugar preferido do marido e que estava

superando o trauma.

O computador foi outra novidade auspiciosa, todos gostaram

muito e ficaram admirados com a função da máquina em mostrar o que

acontece no mundo através da internet.

Segundo os comentários das mães, nos dias em que foram

realizados os passeios e visitas, seus filhos iam dormir mais cedo (entre

seis e sete horas da noite), exaustos, mas felizes, pois não se cansavam

de comentar tudo o que viram, sentiram e viveram, reafirmando que

gostam muito da escola.

REFERÊNCIAS

AACD. Diagnóstico de paralisia cerebral. Disponível em:<http://www.aacd.org.br/centro_clinicas.asp?sublink2=38> Acesso em: 16 out. 2008.

ALMEIDA, M. A. Formação do professor para a educação especial: história, legislação e competências. In: Revista Centro de Educação, n. 24, ed. 2004.

ANT (Associação de Natação Terapêutica). Natação para deficientes. São Paulo: Manole, 1986.

THE BOBATH CENTRE. Centro de Recuperação Neurológica. Curso Básico de Tratamento Neuroevolutivo: Conceito Bobath. Londres, 1993.

BRASIL. Declaração de Salamanca e linha de ação sobre necessidades

Page 30: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

educativas especiais. Brasília-DF: UNESCO, 1994.

BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica. Secretaria de Educação Especial – MEC/SEESP, 2001.

CÂNDIDO, A. M. D. M. Paralisia cerebral: abordagem para o pediatra e manejo multidisciplinar. Brasília: [S.n.], 2004.

CARVALHO, R. E. Removendo barreiras para a aprendizagem. Rio de Janeiro: WVA, 2000.

ESCOBAR, M. O. Natação para portadores de deficiência. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1985.

GERALIS, Elaine. Crianças com paralisia cerebral: guia para pais e educadores. 2. ed. Porto Alegre-RS: Artmed, 2007.

GIL, M. Deficiência física e inclusão social. Disponível em: <HTTP://www.tvebrasil.com.br> Acesso em: 09 out. 2008.

GONÇALVES, M.; MONTEIRO, A. F. Proposta para uma família saudável ou apenas mais um exercício físico para crianças especiais? Jornal da Pestalozzi. Jun. 2007.

HOSPITAL SARAH. Educação. Disponível em:<http://www.sarah.br/paginas/doencas/po/p_01_paralisia_cerebral.htm> Acesso em: 09 out. 2008.

MANUAL MERCK. Saúde para a família. Tradução: Dr. Fernando Gomes do Nascimento. Disponível em:< http://www.msd-brazil.com/msd43/m_manual/mm_sec23_270.htm> Acesso em: 16 out. 2007.

MARQUEZINE, M. C. et. al. O papel da família junto ao portador de necessidades especiais. Londrina-PR: Eduel, 2003.

PARALISIA CEREBRAL. Disponível em: <http://www.nacpc.org.br/index2.html> Acesso em: 21 abr. 2007.

PEREIRA, E. et. al. Tecnologias de informação e comunicação adaptadas à uma criança portadora de deficiência motora. 2004. Disponível em:<http://www.escola-sec-cascais.net/prof/TrabalhoTIC.htm> Acesso em: 03 out. 2008.

PERES, R.C.N.C. Percepção de mães de crianças com paralisia cerebral sobre o desenvolvimento motor, cognitivo e social de seus filhos. Disponível em:<www.faeso.edu.br/horus/artigos/Percepção%20de%20%20mães%20%20de%20crianças%20com%20paralisia%20cerebr> Acesso em: 03 out. 2008.

Page 31: A MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA PARA A CIDADANIA … · Cerebral, estabelecendo parceria com a sua família, com a proposta de contribuir com a melhoria da qualidade de vida através

Reabilitação de Portadores de Paralisia Cerebral por Intermédio de AtividadesAquáticas (2004). Disponível em:<http://www.sld.cu/galerias/pdf/sitios/rehabilitacion-bal/borgespeb_et_al.pdf> Acesso em: 03 out. 2008.

SENAC. Deficiência e competência: programa de inclusão de pessoas portadoras de deficiência nas ações educacionais do senac. Rio de Janeiro: Editora SENAC Nacional, 2002.

SILVA, A. C. A educação especial frente às novas tecnologias. Disponível em:<http://www.niee.ufrgs.br/Icieep/ponencias/dos-6.htm> Acesso em: 09 out. 2008.

SOUZA, S. A. de; HERRERA, A. E. Desenvolvimento da auto-estima. Disponível em: <http://www.copacabanarunners.net/auto-estima.html. Acesso em: 24 out. 2008.

TABAQUIM, Maria de Lourdes Merighi. Paralisia cerebral: ensino de leitura e escrita. Cadernos de Divulgação Cultura. Bauru: Edusc, 1996.