a importÂncia das interaÇÕes sociais no aprendizado...
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MMAARRIISSAA FFRRAANNCCHHII
AA IIMMPPOORRTTÂÂNNCCIIAA DDAASS IINNTTEERRAAÇÇÕÕEESS SSOOCCIIAAIISS NNOO AAPPRREENNDDIIZZAADDOO DDEE AADDUULLTTOOSS,, NNOO AAMMBBIIEENNTTEE DDEE TTRRAABBAALLHHOO
Trabalho acadêmico como exigência para obtenção do Título de Especialista em Educação
e Psicopedagogia, ao Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu, Especialização em
Educação e Psicopedagogia.
OORRIIEENNTTAADDOORRAA:: PPRROOFFEESSSSOORRAA MMAARRIIAA RREEGGIINNAA PPEERREESS
PPUUCC--CCAAMMPPIINNAASS
22000066
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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
Em primeiro lugar, aos mestres queridos, que tanta paciência tiveram para minhas crises, minha demora, meus altos e baixos, especialmente Maria Regina Perez e Silvia Moura, que tanto me ouviram, que tanto de mim pude compartilhar... A minha pequena-grande Sarah, fonte de amor e de alegria, de prazer e de perspectivas, o melhor que fiz em minha vida... A Miriã, que com sua boa vontade pode ser a "mãe" de Sarah, para que eu pudesse percorrer essa trajetória de ensino e de vida, Ao meu marido amado, Astor, pelo incentivo constante, por ocupar minhas responsabilidades para criar o espaço para meus anseios por um aprender constante, ao seu amor, ao nosso amor, A minha grande amiga e irmã, Angela, cuja colaboração, incentivo, força, em todos os momentos se fez presente, como uma verdadeira irmã, Não posso me esquecer de agradecer aos grupos, especialmente ao "Grupo B", que me oportunizaram perceber, refletir e tomar a ação de melhorias e assim, me permitiram aprender um pouco mais a respeito de grupos, de pessoas, de diagnóstico e de Psicopedagogia. A minha mãe, que a sua maneira, me dotou de um anseio por buscar respostas e não me aquietar, jamais....
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"Debulhar o trigo Recolher cada bago do trigo
Forjar no trigo o milagre do pão E se fartar de pão
Decepar a cana
Recolher a garapa da cana Roubar da cana a doçura do mel
Se lambuzar de mel
Afagar a terra Conhecer os desejos da terra
Cio da terra, a propícia estação E fecundar o chão"
Milton Nascimento
"Cio da Terra"
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RREESSUUMMOO FRANCHI, Marisa. A Importancia das Interações sociais no Aprendizado de Adultos, no Ambiente de Trabalho. Campinas, 2006, 53f. Trabalho de conclusão do curso de Especialização em Educação e Psicopedagogia para aprovação da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, 2006. Esta pesquisa pode retratar a trajetória para o desenho do papel do psicopedagogo nas organizações. Apresenta-se primeiramente informações sobre os conceitos de Cultura, Andragogia e Zona de Desenvolvimento Proximal. Considerou-se bibliografias básicas relacionadas ao assunto, identificando-se como se aplicam na prática organizacional e pode contribuir ou não de forma determinante no aprendizado de adultos. Através do relato de vivências de desenvolvimento de um programa de treinamento com um grupo de funcionários de uma organização, pode-se observar que existem elementos anteriores a estes três pilares considerados inicialmente na pesquisa: a própria visão e planejamento do Educador frente aos conceitos de aprendizagem de adultos, sua sensibilização a percepção do conhecimento, motivação de cada aprendiz e a integração e alinhamento deste e de todos como um grupo. Palavras Chaves: Aprendizagem de Adultos, Psicopedagogia Organizacional, Zona de Desenvolvimento Proximal.
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SSUUMMÁÁRRIIOO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................
2 MISSÃO E VISÃO ...................................................................................................
3 CONCEITOS DE ANDRAGOGIA: ARTE E CIÊNCIA DE ORIENTAR ADULTOS A
APRENDER ........................................................................................................
4 PROCESSOS DE APRENDIZAGEM SOB A PERSPECTIVA DE VYGOSTSKY ...................
5 O PSICOPEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES .............................................................
6 O PSICOPEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES: CONSTRUINDO UM PAPEL.......................
7 PROPOSTA PARA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ..............................................
8 METODOLOGIA ....................................................................................................
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................
ANEXOS .................................................................................................................
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1 INTRODUÇÃO
Este projeto tem por objetivo refletir sobre os aspectos de
aprendizagem em adultos, em ambiente de trabalho, considerando três pilares:
os programas de treinamento oferecidos no ambiente organizacional, a cultura
da empresa e sua assimilação como facilitador da aprendizagem, os
processos de aprendizagem propriamente dito, considerando o conceito de
zona proximal de desenvolvimento, citado por Vygotsky, com o qual faremos
um espelhamento projetando-o também como relevante na construção do
conhecimento em adultos.
Minha experiência em treinamento de pessoal - usarei o termo
"Desenvolvimento" de pessoal, para não reproduzir a conceituação de
adestramento, tão criticada por muitos e com os quais compartilho - em
diferentes níveis hierárquicos, ou seja, desde aplicado a operadores até níveis
gerenciais, tem mostrado desempenho variável, ao menos em termos do
envolvimento, da atividade do pensar, da assimilação de conceitos, bastante
variáveis.
Mesmo em níveis de instrução aquém do esperado para a idade,
não tem se revelado como restritor do aprendizado: mesmo com a escrita
deficitária, a linguagem incorreta, a simplicidade mostrada pela "socialização"
deficiente (ou seja, maneirismos, falta de postura, aspectos comportamentais,
"adotados" dentro de um padrão pré determinado como correto em nosso meio
social), revela um nível de assimilação, conhecimento e mesmo
transformação, no sentido de produção de insights produzidos durante as
vivências dos programas, que, efetivamente, a partir de comentários ou
questionamentos durante ou após os cursos me foram revelados ou por mim
observados.
Minha experiência também tem mostrado que o conhecimento,
compreensão e assimilação - por parte da maioria da organização - da missão,
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visão e, o mais difícil, as culturas organizacionais são muito pouco expressivos
ou nada expressivos.
Parto do pressuposto de que, para que haja aprendizado, há que
haver interesse, há que se criar formas, métodos, que mobilizem os
participantes a ponto de perceberem, eles próprios, o conteúdo como
necessário e que esse processo pode ser facilitado com a assimilação do todo
da organização, no sentido da Missão - porque existimos, da Visão - onde
queremos chegar, da cultura - qual a nossa identidade, valores, políticas de
relacionamento, e adiciono uma pergunta a mais - dentro de meus
pressupostos, de maior valor: "o que é que isso tem a ver conosco?" Essa
questão é muito ampla, abrangente, no sentido de colocar o trabalhador no
lugar de um sujeito que pensa, sonha, tem metas, quer envolver-se, quer
sentir-se útil, quer participar, quer ser co-laborador, e que, ao ter a
compreensão desta estrutura, pode identificar-se com a mesma,
compatibilizando seus ideais aos da organização e daí sim, aprender, no
sentido mais amplo da palavra.
Preocupa-me um outro aspecto bastante presente, que diz respeito
a nossa cultura e sociedade, no sentido da Evolução da era industrial para a
do Conhecimento. O homem era treinado - literalmente adestrado - para
aprender as suas atribuições, exclusivamente - quanto não se ouviu de chefes,
advertindo seus funcionários quando de uma idéia ou sugestão " você não é
pago para pensar!". Ocorre que, na medida em que o homem descobre que
seus semelhantes - não tão semelhantes assim, visto ocuparem as minorias
excluídas - é seu grande diferencial na produção ou na Qualidade - de novo -
em seu sentido mais amplo - passou a desenhar perfis - e hoje eu, como
profissional de recursos humanos também dou a mão a palmatória - embora
seja um exemplo vivo de alguém que veio das minorias e conseguiu ocupar
posições "do outro lado", mas sente as limitações de seu berço - visando
delimitar as responsabilidades dos cargos, pedindo trabalhadores com
iniciativa, participativos... um grande choque..." como eu, até ontem não podia
me manifestar e hoje tenho que ter idéias criativas e soluções", indaga o
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trabalhador, "era tão melhor só trabalhar... quero nada disso não... quero só
meu dinheiro no final do mês", indagam também outros trabalhadores.
Isso impede ou emperra o processo de envolvimento e
conseqüentemente de aprendizado. Isso tudo é uma séria contradição do
nosso sistema: que continua formando submissos e dominados. Mas isso é
uma outra história.
Mas há também uma contradição forte na própria decisão por
determinado perfil: ele tem iniciativa, mas quanto de iniciativa? Tem que ser
alguém que "canalize sua energia - a agressividade no sentido do tônus vital,
do empreendedorismo, de ambição, de ser focado em processos, apenas ao
que interessa à organização. Como se pudéssemos fragmentar os indivíduos -
e o olhar agora é para um indivíduo, ou pior, um elemento - que utilize,
digamos, 0,5% da sua libido aos interesses da empresa, o restante... "engula"
pois corre o risco, dado seu perfil, de ser alguém, vejamos, muito
questionador, que irá confrontar nossas normas, irá candidatar-se aos órgãos
de representação das classes operárias, etc... irá reivindicar....
Acredito ter feito divagações nesta introdução, talvez tentando tecer
para eu própria qual o foco tomarei.
Pretendo buscar compreender se a cultura da organização pode de
fato influenciar o aprendizado de adultos trabalhadores, em ambientes
organizacionais ou se outros fatores tem maior relevância - o contexto social
em que o sujeito se desenvolveu, por exemplo, ou suas caraterísticas
individuais.
Utilizando-se estratégias Kaizen como programas de Qualidade,
Patrícia Wellington afirma que este modelo se diferencia por ser um programa
de aprimoramento contínuo, em que se envolve efetivamente o trabalhador
para o conhecimento das causas que geram problemas e suas soluções, e
que, ao contrário de outras metodologias, este sistema promove resultados
duradouros, e visa "fornecer um guia prático para desenvolver, implementar e
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manter uma cultura voltada para a estratégia", ou seja, no desenvolvimento de
uma cultura interna, o investimento está na Educação das pessoas.
CARVALHO (1999, p. 132), em seu artigo "Treinamento e
Desenvolvimento Estratégicos”, menciona que
“na grande maioria dos casos, o treinamento executado nas empresas não guarda relação com os planos estratégicos da organização. Ou porque os que decidem não conseguem fazer a ligação ou porque o homem do RH não conhece os planos estratégicos (o que é de fato, conseqüência do primeiro). Na maioria as empresas, os ditos planos de treinamento acabam seguindo a inércia dos diagnósticos de deficiências individuais de desempenho. Para complicar, esses diagnósticos baseiam-se em pessoas existentes no momento do diagnóstico. Raramente existe um acompanhamento mais sistemático e objetivo do desempenho do indivíduo e das circunstâncias que o cercam.”(CARVALHO, 1999, P. 132)
Afirma, também, como um grande obstáculo
“a própria concepção de treinamento... nessa concepção, o homem a ser treinado não é levado em consideração, a não ser para verificar de alguma maneira sua capacidade de se adaptar ao que é demandado. Ele não é levado em conta nem com relação aos seus próprios objetivos pessoais nem com relação à sua totalidade como ser humano.(CARVALHO, L. C. F, 1999, p. 132,134).”
Tendo como verdadeira, a citação acima, acredito que a
psicopedagogia em muito vem contribuir com os programas de treinamento
nas empresas, pois considera, tanto tomando como referencia as concepções
de Vygotsky, que tem um olhar para o sujeito que aprende, a importância de
conhecer seu estágio de desenvolvimento e partir daí, orientando o educador,
independentemente de um cargo ou posição que ocupe, mediando para
permitir o aprendizado, como se tomarmos como referencial teórico Ausubel,
que entende os processos de aprendizagem a partir das estruturas cognitivas
do sujeito, focalizando no aprendizado que deixa de ser ou de seguir modelos
mecânicos, para valorizar o aprendizado por descoberta - nos primeiros ciclos
expandindo e integrando-se a processos de aprendizagem por recepção,
considerando também, portanto, a “bagagem” com que o aprendiz se
apresenta. Vai além, valorizando ainda, a utilização do cotidiano do aprendiz,
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ou seja, contextualizando os programas a partir da realidade vivenciada pelo
aprendiz. É com esta visão que o psicopedagogo pode expandir a
possibilidade de aprendizado também de grupos no contexto organizacional,
promovendo maior motivação e interesse pelos aprendizes frente aos
programas “instituídos” pela organização.
Finaliza afirmando acreditar que quando as ações de treinamento e
desenvolvimento seguem os objetivos estratégicos da organização e um
mínimo de ciência pedagógico é aplicado, os impactos destas ações são
facilmente percebidos. Mesmo ao se tratar de deficiências individuais do
trabalhador, o treinamento pode ter um tratamento científico com mais
possibilidade de mostrar resultados.
Tomo como primeira conclusão, considerados estes dois modelos,
que o conhecimento, mais que isso, a compreensão das estratégias da
organização, seu impacto na produção do trabalhador - de qualquer área - e a
convergência destas estratégias com suas metas pessoais, serão
determinantes no interesse, e, logo, no aprendizado nos programas de
desenvolvimento.
Por último, quero compreender melhor os conceitos de Vygotsky,
relativos a zona proximal de desenvolvimento e como se dá em adultos, como
identificá-las, no sentido de, além de oferecer recursos para a mobilização da
necessidade de aprender algo relativo a sua função-trabalhador, possa
receber tratamento respeitando-se seu nível de desenvolvimento e
promovendo o salto para o aprendizado, no sentido de possibilitar que, de fato,
o homem possa transformar a si mesmo e a natureza a partir da atividade
prática e de interação com outros, como defende Vygotsky.
Se, cabe a psicopedagogia dentro das organizações orientar ações
avaliando a aprendizagem profissional, através de propostas e de
coordenação de cursos de atualização que venham a atender as necessidades
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especificas da Instituição, mais que isso, deste espaço de trabalho e
aprendizagem, a partir de seus princípios técnicos e metodológicos, pode-se
chegar a identificação, através deste campo do conhecimento, ao tratamento
didático de programas da andragogia.
Conforme citado por Fagali (1998):
"não necessariamente trabalhamos o grupo na psicopedagogia Institucional. Há níveis de atuação e de trabalhos que podemos exercer através de supervisões individuais a um coordenador e a um diretor, por exemplo. Porém o grupo se torna um aspecto preponderante para trabalhar na Instituição, pois o foco principal desta é o coletivo, apesar do diálogo com o individual."(FAGALI, 1998)
1.1 CULTURA
Atualmente, e muito recentemente, as organizações são vistas como
"culturas - onde existe um sistema de convicções compartilhado por todos os
membros” (Robbins, 2002, p.496). Quando a organização apresenta uma forte
cultura, os funcionários podem ter uma compreensão da maneira como as coisas
acontecem ou são feitas na mesma, pois oferece estabilidade à organização.
As organizações são muito mais do que níveis verticais, departamentos.
Elas têm personalidades próprias, assim como as pessoas, tendo cada uma um
caráter e sentimento muito peculiar, que ultrapassam suas características
estruturais.
Pesquisadores acreditam que a cultura desempenha um importante papel
nas vidas de seus funcionários. Ao concebermos a cultura, como uma variável
independente que afeta as atitudes e comportamentos dos funcionários, estamos
acreditando que está se dando o seu processo de institucionalização. Quando
institucionalizada, assume, vida própria, independente de seus fundadores e de seus
membros, além de adquirir valor por si mesma, adquire, portanto, imortalidade.
Para Robbins (2002, p. 498), a institucionalização,
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[...] opera para produzir uma compreensão comum, entre os membros da organização, sobre aquilo que é o comportamento apropriado e, fundamentalmente, significativo. Assim, quando uma organização adquire uma permanência institucional, os modos aceitáveis de comportamento se tornam auto-evidenciados para seus membros. (ROBBINS, 2002, p. 498).
Como veremos abaixo (Robbins, 2002, p.515) os funcionários aprendem a
cultura organizacional de diversas maneiras: sendo que as mais potentes são as
histórias, os rituais, os símbolos e a linguagem.
1.2. Histórias
Circulam nas organizações, narrando eventos ocorridos com os
fundadores, quebras de regras, enormes sucessos, reduções de força de trabalho,
recolocações de funcionários, reações a antigos erros, enfim, situações
organizacionais.
Essas narrativas vinculam o presente com o passado, oferecendo
explicação e legitimidade às práticas atuais.
As histórias, na maioria das vezes, se desenvolvem espontaneamente,
porém, algumas organizações procuram administrar esse aprendizado da cultura.
1.3. Rituais São seqüências repetitivas de atividades expressivas e reforçadoras dos
valores da organização, apontando para os objetivos e pessoas mais importantes e
as dispensáveis. Assim, os funcionários irão procurar, por exemplo, para garantir sua
permanência na organização, descobrir quais são as atitudes e comportamentos
mais valorizados pelos colegas, chefes, enfim, pessoas que os avaliam, e buscar
oferecer a eles o que é desejável. Assim, ao impor certos comportamentos e
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atitudes, os funcionários de poder de decisão conseguem padronizar os candidatos
à permanência.
O que consideramos ritual, neste exemplo, é o processo de efetivação,
que se repete e propaga ou sedimenta os valores adotados para a permanência.
1.4 Símbolos e materiais
Os símbolos materiais, como o espaço físico das organizações, o tipo de
carro disponibilizado aos executivos, a forma como fazem suas viagens, o tamanho
da sede, a elegância do mobiliário, o vestuário dos executivos, sinaliza para os
funcionários quem é importante, qual o grau de igualdade desejada pelos dirigentes,
os comportamentos apropriados (assumir riscos, ser conservador, autoritarismo,
participação, individualismo, etc..).
1.5 Linguagem Muitas organizações utilizam a linguagem para identificar os membros de
sua cultura. Quando a aprendem, estão demonstrando que aceitaram-na e assim, a
estão preservando.
De início, os funcionários novos se perdem no meio de tantas siglas,
jargões, que as organizações vão desenvolvendo com o tempo, contudo, depois de
aproximadamente seis meses, tornam-se parte integrante de sua própria linguagem.
Quando assimilada, a terminologia passa a ser um denominador comum
que une membros distintos.
Estou tomando como abordagem a definição de cultura como uma
percepção comum, compartilhada pelos membros de uma organização, um sistema
de valores compartilhado.
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1.6 Relação da assimilação da Cultura com o Aprendizado
Acredito que esse processo se dá de modo informal, ou seja, esta cultura
está instituída e disseminada nas relações interpessoais, em meio às rotinas de
trabalho.
Acredito que, mesmo havendo a descrição de missão, visão, valores e
princípios, o que irá predominar é o que é construído no coletivo, através dessas
histórias, rituais, linguagem, própria da organização, e que pode ou não ser
assimilada, pode ou não promover a identificação e ou adequação dos novatos a
mesma, e daí sim favorecer o seu aprendizado: desde as tarefas rotineiras, até
mesmo a identificação e o envolvimento necessários para o aprendizado de
programas mais complexos ou mais subjetivos, no sentido de requerer se apropriar e
se sentir parte integrante e comprometida com o sucesso da organização.
Considero também, que essas formas de transmitir a cultura se dão, de
forma entrelaçada, ora mais explicitamente, ora, nem tanto. Há que se considerar
ainda os filtros realizados pelos membros, pessoas que são, vindas de histórias de
vida diferentes, com anseios, valores, princípios os mais variados, bombardeados
pelo medo de não serem empregáveis, de não serem aceitos na instituição.
Estes sentimentos podem ser amenizados com o processo de integração
e através da percepção e aceitação ou adaptação ao que se "lê" como cultura.
Podemos destacar os diferentes tipos de cultura, que tem sua origem em duas
dimensões por trás da cultura organizacional: sociabilidade e solidariedade.
Goffee e Jones (2002, p. 515 apud Robbins) salientam que as
combinações e as formas de mensurar cada uma delas, gera quatro tipos distintos
de cultura: “[...] cultura de trabalho em rede (elevada sociabilidade; baixa solidariedade) Essas organizações vêem seus membros como familiares e amigos. As pessoas se conhecem e gostam umas das outras. Elas sempre estão dispostas a ajudar e trocam informações abertamente. O principal aspecto negativo associado a essa cultura é que o foco na amizade pode levar à tolerância com o desempenho fraco e à criação de "panelas" políticas.
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Cultura mercenária (baixa sociabilidade; elevada solidariedade). Essas organizações são ferozmente focadas em seus objetivos. As pessoas são intensas e determinadas na conquista de suas metas. Elas têm fixação em realizar as coisas rapidamente e um poderoso senso de propósito. A cultura mercenária não pretende apenas vencer; ela quer destruir o inimigo. Esse foco sobre as metas e objetivos também conduz a um grau mínimo de política. O lado negativo dessa cultura é que ela pode levar ao tratamento quase desumano das pessoas cujo desempenho é avaliado como fraco. Cultura fragmentada (baixa sociabilidade; baixa solidariedade). Essas organizações são constituídas de individualistas. O comprometimento é primeiro - e quase exclusivamente - do indivíduo com suas tarefas. Existe pouca ou quase nenhuma identificação m a organização. Nas culturas fragmentadas, os funcionários são julgados apenas quanto à sua produtividade e á qualidade de seu trabalho. Os principais aspectos negativos dessa cultura são que ela é excessivamente crítica em relação às pessoas e não apresenta coleguismo algum. Cultura de comunidade (elevada sociabilidade; elevada solidariedade). Esta categoria final valoriza tanto a camaradagem quanto o desempenho. As pessoas têm a sensação de familiaridade, ao mesmo tempo em que existe um foco implacável sobre a conquista dos objetivos. Os líderes nesse tipo de cultura costumam ser inspiradores e carismáticos, com uma clara visão do futuro da organização. O lado negativo dessas culturas, é que elas consomem totalmente a vida das pessoas. Seus líderes carismáticos freqüentemente buscam criar discípulos em vez de seguidores, resultando em um clima de trabalho religioso. (Goffee e Jones, 2002, p. 515 apud Robbins).
Estou detalhando esses tipos de cultura, para que possamos lançar
minha pergunta novamente: "O que dificulta a compreensão da cultura da
organização? "Podemos perceber que este é um aspecto bastante complexo e difícil
de responder, mesmo porque eles podem acontecer simultaneamente, perpassando
um modelo pelo outro, ou ainda, refletir o próprio estilo do líder imediato ou dos
diferentes departamentos e áreas.
Pensando nos novatos, ou seja, naqueles mais recentemente contratados
e sua relação com a cultura e aprendizado pode acontecer dos valores não se
ajustarem aos da organização, resultando em funcionários com baixa motivação e
baixo comprometimento, insatisfeitos com o trabalho e com a própria organização.
Assim, é provável encontrarmos um alto índice de rotatividade com essa população,
ao contrário dos que se sentem bem-integrados.
Não podemos desconsiderar que a socialização terá reflexo direto no
desempenho dos funcionários, pois este irá depender daquilo que ele sabe que deve
ou não fazer. Portanto, a socialização adequada é um fator significativo na
influencia do desempenho e na maneira como o novato é percebido pelos demais.
Voltamos, portanto a mesma questão: qual a leitura real do modelo de cultura que
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predomina na organização? O quanto ela pode ser vista de forma distorcida? Onde
está a realidade? Sempre consideramos que a empresa é o que o funcionário vê e
não o que se diz ser. Será que, o conhecimento da missão e visão podem dar um
norte, trazendo a linha de interesse pelo aprendizado, já que esbarramos em
questões tão subjetivas como as vistas pela cultura?
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2. MISSÃO E VISÃO
Vamos compreender um pouco sobre Missão e Visão.
Toda organização deve ter objetivos e estratégias formuladas para
alcançar esses objetivos. Minha experiência mostra que quando os objetivos da
organização são, não somente conhecidos, mas, praticados e compreendidos dentro
de cada departamento e de cada cargo, o envolvimento do funcionário é maior.
Isto porque o funcionário consegue ver a finalidade e a importância do
seu trabalho no todo da organização.
Para Aldag (2002, p. 103), Visão é,
[...] descrição vívida das preferências quanto ao futuro de uma pessoa ou empresa. Uma visão pode ser simples ou complexa, concisa ou elaborada, mas é necessário que seja clara, engajada, instigante, sincera e ampla. (Aldag, 2002, p. 103).
O mesmo autor diz que, Missão é,
[...] foco e alvo comerciais de uma empresa, o âmbito de seus produtos e serviços, a área geográfica de suas ofertas e de seus propósitos. Ela responde às perguntas: " Em que negócio estamos?", " Qual é seu nicho de mercado?", "Quem são nossos clientes?", "Onde operamos?", como distribuímos nossos produtos/serviços?" e, a mais importante, "Por que existimos?". (ALADAG, 2002, p. 103).
Em minha experiência profissional estive envolvida com a divulgação do
Planejamento estratégico, que incorpora em seu detalhamento as definições de
Missão e Visão. Esta divulgação não se limita a mera divulgação, mas antes, a
compreensão de seus objetivos imediatos e futuristas, na medida em que traça um
caminho de onde se está para onde e quando se quer chegar, além da tradução
desses objetivos a cada um dos departamentos e cargos, especificamente, como
forma de mobilizar no funcionário a consciência de seu papel, consequentemente a
sua importância na organização, seu Valor e somente a partir daí, acredito, poderá
ocorrer sua identificação e o conseqüente interesse em capacitar-se e ou
desenvolver-se, tomando as metas como causas suas, próprias.
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Quando comparo o desempenho final, a participação, os "insigths"
produzidos durante os programas de capacitação, não posso deixar de destacar que
esse envolvimento ocorre com mais intensidade nos cargos de menor formação ou
escolaridade. Não sei se é regra geral, o que constato é que os profissionais de
posição gerencial, por exemplo, tem a tendência a se expor menos, talvez por se
sentirem "em avaliação", estando em muita evidência", inseguros nesta posição.
Tenho que considerar também que estou me referindo a uma experiência
com um grupo que pouco ou nada recebeu de instrução escolar, afoitos por
melhorar a condição de vida, e satisfeitos com a oportunidade conquistada na
posição e contexto em que conseguiram "se incluir".
O que quero dizer é que, trabalhando-se com a Missão e com a Visão,
podemos mobilizar mais os funcionários para o interesse em aprender através da
cultura, embora essa possa trazer suas contribuições, positivas ou negativas. Em
que sentido negativas? Quando ouvimos dos funcionários durante as reuniões: "A
senhora é mais uma que veio, mas nada vai mudar", " Ih! Aqui é assim mesmo,
estou aqui há 20 anos e sempre foi assim". Este tipo de sentimento e expressão
exige uma mudança de cultura, nem sempre motivada pelos dirigentes.
È importante acrescentar que, mesmo ao tratarmos da Missão e visão,
normalmente ela foi escrita por uma consultoria, com a colaboração de uma
comissão de gestores da organização, sem participação dos outros níveis
hierárquicos, ou seja, da base, aquela que está no nível no tático, e de cujos
resultados, quaisquer sejam os produtos ou serviços, se originam.
Muitas vezes é escrita de forma rebuscada, e muitas vezes não inclui os
funcionários em seu foco - a ênfase é destacada na Qualidade e nos clientes.
Assim, terei que pesquisar outros grupos para verificar em que grau a
cultura, Missão e Visão podem ser determinantes na mobilização pelo interesse em
aprender e pelo aprendizado, propriamente dito.
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3. CONCEITOS DE ANDRAGOGIA: ARTE E CIÊNCIA DE ORIENTAR ADULTOS A APRENDER
Falcão & Vila (2002) defendem que o método de ensino para adultos é
diferente por considerá-lo como um pensador, que trás consigo uma bagagem que
lhe é própria.
Diferentemente das crianças, que se mostram indefesas e dependentes e
quando em idade escolar continuam neste estado de dependência em que tem na
autoridade e orientação dos professores algo inquestionável, e dos adolescentes,
que iniciam uma mudança nesta postura, passando a não ver de forma tão absoluta
a autoridade e infalibilidade do professor, questionando o porque de se aprender
determinadas disciplinas, no adulto, teremos um sujeito independente, que
acumulou experiências de vida, que aprende com seus erros, que percebe o que
não sabe e o quanto esse não saber lhe faz falta.
Tem desprendimento suficiente para analisar criticamente as informações
que recebe estabelecendo uma classificação; se úteis, se inúteis.
Falcão & Vila continuam,
[...] o adulto aprende quando desequilibra o que tem como opinião formada e toma consciência de que, no que se refere àquele assunto especificamente, não tem a capacidade e o potencial que imaginava e que existem caminhos melhores que aqueles que já conhecia. Além disso, adultos querem aprender para a aplicação prática e imediata na vida diária.(FALCÃO & VILA, 2002, p.36).
Desta forma orientam que é importante utilizar-se de metodologias que
permitam aos treinandos o relato de suas vivências, o compartilhar de informações
de como solucionaram determinados problemas, que promova interações de tal
forma que permita comparar suas experiências extraindo assim novos caminhos.
Consideram que as contribuições dos treinandos, acerca de sua própria
bagagem, são uma rica fonte de aprendizagem e que, portanto, deve-se promover a
discussão e a utilização de forma ampla para solução de problemas em grupo.
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Em minha prática, utilizo jogos de empresa que permitam o fazer,
concreto, considerando que as populações com as quais tenho trabalhado, na
maioria, possuem baixa escolaridade, ou há muito deixaram os "bancos escolares”,
o que tenho observado um decréscimo na capacidade de raciocínio e de abstração
ou de fazer analogias.
Além de selecionar atividades de tenham em suas tarefas a execução de
algo concreto, ou o estudo de casos, ou ainda, a exibição de filmes que abordem o
mesmo contexto deles e que pretendo abordar, realizo todo o processo através do
CAV - Círculo de Aprendizagem Vivencial.
Trata-se de um exercício vivencial que fornece um referencial cujo
contexto facilitará seu processo.
Vamos detalhar seus estágios, conforme descritos por Gramigna (1993, p.
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Vivência: é o fazer, construir algo, fabricar produtos, criar objetos, elaborar
um caso, dentre outros. Pode ser individual, em subgrupos ou com todo o grupo.
Relato: trata-se de compartilhar reações e emoções vivenciadas. Pode ser
desenvolvido de maneiras variadas: uma roda com repentismos sobre os
sentimentos vividos em apenas uma palavra, relatos em subgrupos sobre
sentimentos e posterior apresentação dos sentimentos comuns, murais do desabafo,
colocando-se uma folha de papel grande, na parede, e cada indivíduo coloca ali o
que sentiu, ou ainda, a discussão livre sobre sentimentos.
Processamento: é a discussão do processo ocorrido durante o jogo,
padrões de desempenho e nível de interação entre os participantes. Pode ser de
diversas formas desde a colocação individual, como do subgrupo, ou mesmo do
grupo todo.
Generalizações: é a analogia do que ocorreu no real, no dia-a-dia
empresarial, institucional.
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Neste estágio, o facilitador pode acrescentar o conteúdo teórico sobre o
tema central do jogo ou outras necessidades observadas no desenrolar das
atividades anteriores.
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4. PROCESSOS DE APRENDIZAGEM SOB A PERSPECTIVA DE VYGOTSKY A abordagem histórico-social, e a concepção do homem numa relação de
interdependência entre, a natureza e o ambiente físico e social, constitui o suporte
deste projeto.
Assim, identifico-me com a visão de que o homem não poderá dissociar
as condições materiais de existência que constituirão a atividade e a consciência.
Conforme Zambotto & Castanho (2005),
"A aprendizagem pressupõe a relação de um indivíduo com o outro, que possui um conhecimento e possibilita sua transmissão através de signos, isto é, de representações que substituem os objetos, eventos ou situações do mundo real e permitem ao homem criar, imaginar, libertar-se do espaço e tempo presentes." (ZAMBOTTO & CASTANHO, 2005, p. 257)
Isto posto, conduzo-me por caminhos que me fazem tomar como hipótese
que o contexto em que o sujeito esta inserido, ou, mais que isso, esteve inserido em
sua infância e juventude, estará "na bagagem" que trará para os programas que irá
participar, e anterior a isso, ao trabalho que realizará - nem sempre uma escolha
deliberada, visto o aprisionamento e a domesticação a que foram e fomos
submetidos, e a sua identificação, que, acredito, poderá se dar mais em função da
mudança de nível econômico, às vezes sócio econômico a que se vê incluído
(mesmo que nos bastidores) e ou a sua ambição, ainda muito "colada" no
atendimento de suas necessidades básicas, conforme Maslow a hierarquiza.
Voltando a Vygotsky, e que considera o desenvolvimento humano em
uma perspectiva histórica, pretendo investigar até que ponto o adulto em seu
processo de aprendizagem dispõe do mesmo mecanismo que o das crianças: o
reconhecimento de uma zona de desenvolvimento proximal e sua distancia com o
desenvolvimento, desenhando uma trajetória a ser preenchida a partir do
reconhecimento desta e da utilização de recursos específicos para promover esse
aprendizado.
25
Considero que neste aspecto a psicopedagogia se diferencia, pois
diferentemente de se propor programas que atendam especificamente as
necessidades dos cargos para tornar a empresa ou organização mais competitiva,
essa área do conhecimento terá um olhar para o seu maior “patrimônio”, o capital
humano, como muitos consultores de Recurso Humanos vem citando e despertando
nossos executivos – a psicopedagogia irá permitir ou propiciar, a partir de suas
contribuições, para que esse ou esses aprendizes sejam não só ouvidos, mas, mais
que isso, escutados: em suas necessidades, em suas participações, em seus
relatos, em suas contribuições a partir do que enxergam da Instituição onde ela
acontece: na base, na produção, na relação com o cliente final e com seus
fornecedores.
Assim, a pirâmide pode ser invertida no sentido de permitir uma visão
ampliada da organização em que permitirá ao corpo estratégico realmente ter seu
foco no estratégico e permitir um maior acerto a respeito das reais necessidades
organizacionais e, seguramente, com menor investimento motivacional, ou no que se
acredita ser motivacional – têm se resumido em ganhos financeiros.
Acredito que no contexto atual, dentro das necessidades hierarquizadas
por Maslow, houve uma inversão muito significativa no que se refere às
necessidades básicas: hoje o ser humano quer Participar, sentir-se capaz,
colaborador, fazer parte das decisões, enfim, ser visto em suas competências e
poder atuá-las.
Existe portanto uma “ponte” para mudar a visão de nossos executivos, e
esta poderá ser percorrida, para mudar essa visão, com as contribuições, o olhar
das psicopedagogia frente ao ser humanos e a utilização de seus recursos.
Ao trabalhar com jogos, através do circulo de aprendizagem vivencial,
com inúmeros grupos e diferentes conteúdos e propósitos, tomo como
fundamentação o que preconiza Zambotto & Castanho (2005),
[...] a educação de adultos assoma como uma constante atualização e flexibilização dos conhecimentos e das habilidades frente à proliferação de
26
sentidos, o que exige cada vez mais da capacidade de assimilação psicológica do ser humano. (ZAMBOTTO & CASTANHO, 2005, p. 255)
Acredito que com essa projeção, ou seja, a compreensão de que os
processos no aprendizado na infância se dão da mesma forma nos adultos, apesar
de no primeiro caso haver uma passividade, onde as experiências são impressas
enquanto nos adultos há um mundo interno marcado por suas experiências e por
seu contexto sócio-econômico-político. Ao se utilizar jogos e o CAV, é como se
fosse viabilizado um processo de re-significação, em que novos caminhos de
conhecimento são construídos ou re-construídos.
Desta forma conduzirei esta pesquisa: com a perspectiva de que é
possível aprender sempre, reintegrando o homem através do seu trabalho. Ambiente
este em que se entrelaçam relações das mais rudimentares e ou transferenciais e do
qual pode-se desenvolver o homem, devolvendo-lhe o despertar para uma
consciência a respeito de si mesmo.
27
5. O PSICOPEDAGOGO NAS ORGANIZAÇÕES A psicopedagogia tem atuado em diversas Instituições com muito
sucesso, incluindo nas empresas.
Tem como papel, independentemente do segmento da Instituição:
analisar e assinalar fatores que podem favorecer, intervir ou ainda prejudicar os
processos de aprendizagem. Propõe ainda ajudar nos projetos de desenvolvimento
visando alcançar mudanças.
Assim, o psicopedagogo deve dirigir seu olhar sob a perspectiva de ser o
promotor de atividades com pessoas ou grupos que pode, mediante a incorporação
de informações e o desenvolvimento de experiências, promover modificações na
identidade individual e na dinâmica que se opera no grupo, como uma totalidade.
Sua intervenção parte da história da organização, respeitando-se as
características que lhe são próprias. Deve-se observar as mudanças que podem
estar ocorrendo, para partir daí. Há que se observar que os elementos sofrem
influencias do exterior e do interior, tendendo á transformar-se.
Com o objetivo de evitar a instabilidade do sistema, os componentes,
através da homeostase, tendem a regular a si mesmos, ou seja, são capazes de se
manter ou restaurar níveis fisiológicos, além de promover modificações nas
condições ambientais, para sobrepor os desafios enfrentados.
Considerado este cenário, a contribuição da psicopedagogia deve estar
centrada o empenho em levar a Instituição a um cenário que permita que seus
componentes possam dar-se conta da importância de seu trabalho e da manutenção
da saúde organizacional, nas relações de aprendizagem.
Temos como base, psicopedagogicamente, que o desenvolvimento
cognitivo do homem, que expressa uma mudança qualitativa em suas atividades e
desempenho.
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Assim, o psicopedagogo faz intervenções buscando otimizar espaços em
que os componentes possam aprender, através de novos pensamentos. Seu
trabalho estará focado na adequação do planejamento à ação pedagógica, além das
relações interpessoais que se estabelecem na Organização, com enfoque
preventivo. Há que se observar o sentido que essas alterações da aprendizagem do
sujeito e do grupo, buscando significado de dados que lhe dê sentido ao observado.
Para conquistar e expandir seu espaço cabe ao psicopedagogo ter
abertura, informação, conhecer o mercado e o segmento, para compreender que
conhecimentos deverá empreender como diferencial competitivo no sentido humano
do termo, não se restringindo a pensar novas formas de fazer as coisas, mas adquiri
conhecimentos em outras áreas para aperfeiçoar as habilidades no trabalho das
pessoas e para assim, agregar valor à organização e às atividades que
desempenha.
Stewart (1998) define o processo de aprendizagem organizacional como
uma continuação do processo individual, caracterizando-a como: “a capacidade de
gerar novas idéias multiplicada pela capacidade de generalizá-las por toda a
empresa".
Neste cenário, o psicopedagogo deverá acompanhar o ‘aprender a
aprender’ constante do ambiente organizacional, assumindo um papel significativo
ao lado dos demais profissionais de recursos humanos.
Sua ação deverá ser a de um facilitador na construção e
compartilhamento do conhecimento, incentivando novas formas de relacionamentos,
criando sinergia entre comportamentos de gestores e colaboradores.
29
6. Psicopedagogo nas organizações: construindo um papel...
Fui chamada a elaborar diagnóstico em uma instituição visando um
levantamento de necessidades de treinamento para o nível médio. No ano seguinte,
fui chamada para desenvolver dois dos programas que havia sugerido, embora
tenha tido a clareza de que a necessidade daquela instituição apontava, em primeira
instancia, para a revisão de seus processos. Tinha toda convicção de que aplicar o
programa, principalmente para o corpo de funcionários que atuavam com
atendimento ao cliente. Tinha toda segurança para afirmar que não teríamos
resultados de melhoria na performance deste corpo, visto que o diagnóstico
apontava direções contrárias: revisão de processos, critérios definidos,
transparentes e comunicáveis, plano de carreiras - neste aspecto, a urgência se
dava no âmbito Motivacional - haveria que se criar perspectivas, ou, ao menos,
critérios claros e igualitários no que se refere as admissões, demissões, promoções.
Neste aspecto, o primeiro pilar de minhas teses ou indagações - "caíram por terra"
pois a cultura não era algo tão fácil de reconhecer - minha constatação era a de que
numa empresa normalmente, em um ano conseguimos identificá-la, nesta
experiência - algo muito pouco tangível: na qual ou quais, transitam e perpassam
ações administrativas diversas - não há alinhamento da cúpula com os demais níveis
da instituição, ações políticas - o nomeado atua por afinidade ou confiança levando
consigo sua "tchurma", retirando de muitos o direito de participar de processos
internos e assim contemplar de forma igualitária promoções ou uma carreira, outras
forças.
Como cita Fagali (1998):
“O institucional diz respeito à instituição, que, do ponto de vista sociológico, consiste num complexo integrado por idéias e padrões de comportamento, relações inter-humanas, às vezes com equipamentos organizados em torno de um interesse social reconhecido, sustentado por leis e normas"
Assim, entendo que nosso papel, tal como de um consultor de recursos
humanos, tem como seu cliente central, a instituição, ou quem de direito responda pela
mesma - ou seja- quem contrata os serviços. Assim sendo, quando chamada a aplicar o
programa para esse grupo especificamente, tudo o que poderia fazer era "aplicar".
30
Mais uma vez, citando Fagali (1998):
"É freqüente entrarmos em contato com pedidos que posteriormente constatamos não serem exatamente o que a Instituição necessitaria trabalhar, para o seu crescimento."
Desta forma, fui orientada a iniciar dois dos os programas, para dez
turmas, cuja prioridade era destacada para a melhoria dos serviços de atendimento.
6.1 – O que mesmo estou ensinando? Munida de todo amparado tecnológico e slides “super produzidos”
considerava-me apta ou pronta para iniciar os programas.
O curso era destinado a funcionários que atuavam no atendimento ao
cliente. Tinha eu o propósito de atingir as áreas de interface, pois acreditava,após ter
feito o diagnóstico, que os problemas referiam-se ao fluxo, (processos) e ao
relacionamento com pessoas da mesma unidade que processavam os documentos
recebidos pelo pessoal da linha de frente, ou seja, do atendimento.
Percebia, nos grupos, mas especificamente em dois deles impaciência e
crescente desinteresse pelo tema.
Decidi então desenvolver novo formato, mudando o foco – de técnicas
para atendimento para temas como: formas de se relacionar, auto conhecimento,
inteligências múltiplas emocional – intra e inter pessoal. Percebi que o grupo
necessitava, prioritariamente de um espaço para compartilhar, para relaxamento.
Inclui técnicas de relaxamento ou vivencias mais introspectivas e participativas.
Nesta altura, minhas teses ou interesse em aprofundar como se
reconhece a zona de desenvolvimento proximal em adultos e mesmo a importância
da influencia da cultura no aprendizado já haviam sido abandonadas.
31
Passei a sentir-me impotente, por não conseguir em dois grupos, atingir o
envolvimento, interesse, motivação suficientes para qualquer terreno fértil para a
aprendizagem.
Perguntava-me: afinal, o que aconteceu com os grupos?
6.2 Afinal, onde está o psicopedagogo?
Acreditava que a aprendizagem só se dava mediante a mobilização do
sujeito despertado para a necessidade de assimilar aquele determinado conteúdo,
assim, processaria internamente e depois dessa “interação” estaria incorporada a
aprendizagem , mutável, visto permutar com o conhecimento que o sujeito já trazia
em sua constituição ou trajetória de desenvolvimento ou de aprendizagem,
conforme sugere Peter Sengel, em “A quinta disciplina”.
Pois bem. Assim, teríamos a motivação para aprender, cabendo ao
educador apenas (apenas?) ser capaz desta mobilização – através da metodologia,
do tema, do desenvolvimento do tema...
Estava fascinada com o conceito de ZDP e ávida por localizá-lo em
adultos.
Assim, iniciei as dez turmas.
6.3 Contextualizando... Os grupos foram montados pela administração, sem qualquer participação
dos supervisores. Os funcionários foram convocados a participar.
Elaborei a matriz pedagógica e seguia o roteiro preocupando-me
semanalmente, a cada encontro como conduzir, tecnicamente, cada tema em função
do que experimentava a partir da leitura que fazia do grupo.
32
Senti-me paralisada por não conseguir mobilizá-los despertando-lhes o
interesse, a motivação, ao contrário, sentia que não reagiam a qualquer mudança,
novidade, metodologia – mais lúdica ou mais técnica.
Senti-me impotente e comecei uma reflexão: onde estou errando? Perdi
minhas competências? Perguntava-me: “onde está o psicopedagogo?”.
Já havia abolido a crença na ZDP – muito distante – o que importa
localizá-la ou identificá-la em adultos se o que percebo como variável mais relevante
é a MOTIVAÇÃO em aprender e, para isso, outros elementos se apresentavam com
grande intensidade: a interação organização-funcionário no que se refere a
transparência nos critérios e a insegurança instalada devido essa carência. Assim
também pude obter uma resposta a pergunta: “que lugar ocupava?” Não poderia me
exigir um papel de psicopedagoga para responder a minha angústia/aflição pois
estava no lugar do Educador, portanto, não teria como ter esse olhar SUPERVISOR
para diagnosticar o processo grupal. Percebia que mesmo como Educador havia
falhado. Neste aspecto, senti ter “perdido” minhas competências para Ensinar.
Teria sido pela paralisação a que me submetia devido a minha angústia de “não ter
obtido êxito?”.
6.4 – Psicopedagogo na empresa: o que faz realmente? Realizei uma atividade de alinhamento, especificamente com o grupo-
problema, e pude somente então fazer algo que deveria ter feito no inicio: ouvir a
todos. O objetivo, ou “organizadores”, como chamaria Ausubel, foi de construirmos
juntos nosso COM-TRATO, redesenhando juntos um novo percurso.
Tinha agora clareza que, influenciada pelo que acreditava ser expectativa
da instituição, desconstrui meus conhecimentos relativos às metodologias
aprendidas informalmente nestes quinze anos de atuação em organizações, como
profissional de recursos humanos e vislumbrei identificar, de alguma forma, a ZDP
33
dos adultos, para assim, ser capaz de estimular neles, os sujeitos de aprendizagem,
a vontade e comprometimento em aprender e com os programas da Instituição.
A experiência com o grupo “B” me mostrou que há muitos elementos
envolvidos para se alcançar esse resultado; que esses elementos são muito
subjetivos e relacionam-se, a cultura da organização muito mais que a qualquer
outro elemento.
Esta experiência angustiante me mostrou que a pedagogia é essencial,
nos oferecendo metodologias que aproximam o conhecimento do aprendiz ao
conteúdo a ser exposto (segundo Ausubel, integração da aprendizagem por
descoberta a aprendizagem por recepção); considerando-se assim, também as
vivencias dos sujeitos, dos treinandos.
Distante do que comumente se aplica ou se sugere aplicar a andragogia,
tratava-se de jovens e adultos que não sentiram necessidade de aprimoramento em
técnicas, mas de vivencias em relacionamento interpessoal e na oportunidade da
criação de um espaço para compartilhar suas dificuldades relativas a Instituição e
não as suas atribuições, propriamente ditas.
“É mais fácil aprender a andar de bicicleta aos 5 anos do que aos 30
anos.”
Uma pesquisa mostra (T&D P 20) que:
“Verifica-se pela observação de crianças que não tiveram companhia humana nos 13 anos de vida e que por isso não aprenderam a falar, que as mesmas, obrigadas a realizar a tarefa fora do tempo oportuno, fazem-no com grandes dificuldades e, em geral, nunca a realizam integralmente. Assim, deslocada no tempo uma tarefa, as posteriores sofrem as conseqüências. Por exemplo, a criança que não tem a oportunidade de aprender a falar até o fim do segundo ano de vida terá dificuldades com as tarefas posteriores que dependem da linguagem”.
Assim, cabe ao educador de trabalhadores não desenvolver programas
que envolvam tarefas deslocadas no tempo, mas ter o desafio de enfrentar a
amplitude dos obstáculos – o que requer removê-los, contorná-los, superá-los ou
neutralizá-los.
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Quando o desenvolvimento tecnológico não é acompanhado pelo
crescimento intelectual e cultural, pode provocar impactos sociais, podendo
enfraquecer as estruturas de valores morais. Que repercutirá na queda da
motivação, produtividade, qualidade de serviços e de vida.
Isso mostra que o foco primordial para a atuação nas organizações
consiste na Educação e na Gestão da Inteligência.
Sabemos que a educação numa nação cuja população trabalhadora, em
grande parte, não domina habilidades básicas de escrita, leitura e calculo.
A educação é, portanto, um processo árduo, profissional e contínuo. A
Educação tem que se processar por toda a existência, se estendendo por todo o
espaço humano e por todos os tipos de organizações humanas.
Há que transformar o ser humano em artífice de sua própria educação,
assegurando a todos iguais possibilidades de êxito.
O ambiente de aprendizagem leva em conta todas as dimensões do ser
humano em conjunto com instrumentos de ensino para que cada um possa atingir
seu pleno desenvolvimento.
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7. - Proposta para uma Intervenção Psicopedagógica
Considerando minha "caminhada" em relação às indagações, proposta
inicial do projeto, e minhas constatações nas vivências durante essa trajetória,
considero muito pertinente a indicação para intervenção psicopedagogica que venha
a suprir justamente o caminho que não foi percorrido: o caminho da escuta junto aos
grupos, de conhece-los enquanto indivíduos, de criar um espaço em que eles
possam colocar suas expectativas e necessidades, desenvolvê-los enquanto grupo
de trabalho, integrando-os de tal forma que possam estar ambientados com os
colegas e possam assim ter um maior envolvimento com a proposta e com o grupo
como um todo.
Somente depois de dados esses passos, iniciar o programa de
treinamento, cujos temas seriam integrados as situações reais, relacionados as
rotinas e vivências deles, particularmente, mesclando-se operacional com
habilidades de relacionamento, se assim for apontado como necessidade, como
ocorreu no grupo "B", o grupo problema.
Utilizarei técnicas que permitam essa aproximação aos treinandos,
apresentadas em anexo.
"Linha da vida", para diminuir diferenças, considerando que em
subgrupos, estarão refletindo sobre a trajetória de vida e a composição das
identidades; "Roda da Vida", uma viajem através do tempo, das fases da vida, para
reconhecer as contribuições e sedimentação das escolhas e identidade.
O "Jogo do tabuleiro" será utilizado para desenvolver temas específicos,
relacionados a capacitação operacional, criado e desenvolvido pelos grupos, como
forma de aproveitamento das situações relacionadas a realidade de trabalho dos
aprendizes.
A "cápsula do Tempo" será utilizada como forma de avaliar o quanto
conhecem da cultura da instituição e como esta se lhes apresenta.
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Independentemente do grau de influencia que possa ter no aprendizado,
trará, acredito eu, parâmetros ou conscientização de que são eles que a constituem
e que, a partir daí, podem modificá-la.
Essas técnicas "adubarão o terreno" para que o programa de capacitação
seja de envolvimento, interesse e motivação para todos, inclusive para o Educador.
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8 - Metodologia
Utilizarei a técnica de observação participante para coleta de dados,
tomando como pressuposto o que afirma Minayo (1992) que o vinculo pesquisador,
atores, permite uma interação, um contrato psicológico que pode ser facilitador para
o registro das observações dos fenômenos e informações que se apresentarem nos
grupos.
É este o recorte que proponho com a pesquisa: da observação da
identidade dos sujeitos, a trajetória que os conduziu à escolha profissional e a
possível identificação com os valores, a cultura da instituição.
Feitas estas observações, pretendo apontar para o aumento, o
favorecimento dos processo de aprendizagem relacionados a posição, como
resultado deste entrelaçamento entre identidade & identificação - o eu indivíduo e o
social, suas interações e as relações com o aprendizado, como propõe Vygotsky.
A abordagem desta pesquisa será qualitativa, analítica e filosófica, ao
tomarmos como referencia o que cita Minayo (1992) , que a aponta como uma forma
de resgatar a vida dos sujeitos para encontrar o "fio condutor", ou seja, os fatos que
os moveram até onde chegaram e tendo havido identificação, se o processo de
aprendizagem foi facilitado em razão desta identificação, isto em virtude da
formação da identidade - dada pela trajetória, conhecimento, assimilação,
identificação com a Instituição ou o que se conhece como sua identidade.
Tomo por identidade, das instituições, o que cita Burkhard & Moggi (2005,
p.46):
"Esse nível inclui aspectos como, por exemplo, a biografia da empresa; sua cultura e seus valores; a missão e o sentido de sua existência; os objetivos empresariais; seus mitos e ritos; os princípios da ação; a atitude perante o mundo, etc. O nível da identidade nos revela uma outra qualidade de consciência. Ela não ocupa espaço, não decorre no tempo, não é sensível ou racional, mas é o nível em que trabalhamos com a consciência e a intuição. Em outras palavras, é a essência da organização."
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Será empírica, por tratar-se de coleta de informações, levantando dados
para se fazer analises a partir dos fatos observados, sentidos e registrados.
Portanto, é também, observacional: dar-se-a através da observação dos fenômenos
surgidos independentemente do pesquisador, ou seja, sem a sua interferência
direta.
O método utilizado será primeiramente a participação em uma vivência
que possibilita o resgate da trajetória e, portanto, do resgate dos processos que os
moveram no lugar profissional em que se encontram ("linha da vida"). Acredito que
com esta proposta é possível o conhecimento e ou conscientização dos sujeitos a
respeito da própria identidade profissional alcançada ou viabilizada.
Além deste fato, por se tratar de uma vivência coletiva, minha experiência
com grupos têm mostrado que o grupo alcança um nível de sensibilidade,
maturidade e confiabilidade a ponto de promover a identificação com e dentro do
próprio grupo. Assim se concretiza o contrato psicológico. As diferenças diminuem
quando têm um setting que permite a exposição, a identificação a troca e
acolhimento mútuo.
Neste aspecto, acredito que a relação se torne dialética, e ainda neste
aspecto não acredito na isenção do pesquisador, no sentido de que, mesmo
imbuído de um trabalho investigativo, a pesquisa por si só, interfere nos processos
internos dos sujeitos, transformando-os e promovendo transformações, no pensar,
sentir, agir de ambos. Tomo como referencia o que conhecemos como " as leis da
ressonância" , citado como "efeito borboleta", de Edward Lorenz (1960):
"pequenas mudanças em um sistema recursivo (algo que pode repetir-se um número indefinido de vezes) podem alterar drasticamente os resultados a longo prazo, ou seja, os eventos possuem sensível dependência das condições iniciais. ... o simples bater de asas de uma borboleta no brasil poderia causar um tornado no Texas."
Mais uma vez devo me reportar a Vygotsky em sua ênfase na mediação
através do social, campo este em que acredita se dê o aprendizado,
constantemente, numa dialética onde tanto o sujeito como o mediador interferem e
sofrem interferência no processo em si.
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Se quisermos aprofundar, podemos nos recorrer as teorias da semiótica,
em que através da comunicação, através de toda sorte de signos, também se
processa uma dialética em que, ocorre recíproca transformação nos sujeitos do
processo.
Voltando as questões do procedimentos, haverá um segundo momento,
em que os sujeitos participarão de um jogo de tabuleiro, composto por temas e
subtemas relacionados as questões problematizadas no projeto, visando a reflexão
e coleta de dados.
Estou optando por uma atividade lúdica, por acreditar que, segundo
Santos, (1999, p. 12):
" A ludicidade é uma necessidade do ser humanos em qualquer idade e não pode ser vista apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento."
O objetivo deste jogo é ..
" .. oportunizar a reflexão sobre aspectos que envolvam os temas e subtemas, a fim de que cada participante posicione-se sobre as alternativas apresentadas até que o grupo chegue a uma conclusão coletiva."
Os dois momentos da pesquisa, ou seja, na vivência "Linha da vida", em
que os sujeitos construíram através de material gráfico sua identidade, e na vivência
do jogo de tabuleiro, em que, de posse de temas e afirmativas estarão refletindo e
compartilhando suas posições frente aos conceitos que têm, por vivência,
experiência e ou aprendizado apresentarão posicionamento junto a todos os demais
subgrupos, o que justifica a utilização tanto de expressão verbal, gráfica e
comportamental.
Os sujeitos da pesquisa serão funcionários do corpo técnico
administrativo Pontifícia Universidade Católica de Campinas, especificamente do
Centro de ciências da vida, compreendendo dois grupos distintos, cada qual com
vinte membros, aproximadamente: um deles composto por funcionários contratados
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em até seis meses e sem qualquer vinculo com a instituição, direta ou indiretamente
(parentesco, familiaridade).
O segundo grupo, será também composto por um grupo misto, no que se
refere ao gênero e as posições, contudo em ambos a faixa etária será aproximada
entre todos os membros. Neste grupo, especificamente, incluirei funcionários com
mais de um ano na Instituição e ou com algum grau de familiaridade com a
Instituição. Isto porque o estudo terá como um dos pilares a influencia que o
conhecimento e assimilação da cultura pode ter no aprendizado dos adultos.
Os dados registrados graficamente pelos grupos, além graficamente pelos
grupos somados ao registro da expressão comportamental observada, possibilitará
uma visão da identidade de cada um dos sujeitos: seu desenvolvimento e influencias
recebidas no seio familiar, as influencias externas, ou seja, pessoas, fatos,
circunstâncias, e as influencias internas, enfim, o conhecimento de cada um frente
ao seu processo, as determinantes na escolha pelo ambiente profissional:
consciente ou não.
Nesta etapa acredito será possível saber o que entendem por identidade,
o quanto são conscientes deste processo.
Na segunda atividade, será possível também identificar o quanto
compreendem por cultura organizacional, o quanto conhecem ou identificam a
cultura da instituição em que atuam, se a percebem em sua rotina e trabalho, e por
fim, o quanto são identificados ou não com esta cultura, ou seja, se as identidades
dos sujeitos e da Instituição são convergentes.
Serão observadas e registradas suas respostas durante o "circulo de
aprendizagem vivencial", desde na fase da vivência, ou seja, o fazer propriamente
dito, até o relato, o processamento, e particularmente, na fase de generalizações,
onde se realizam as analogias com o dia a dia relacionadas ao que ocorreu na
vivência, o quanto essa conscientização a respeito da cultura organizacional
interfere ou não no processo de aprendizagem, aliás, o tema central desta pesquisa.
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9. Referências Bibliográficas
GRAMIGNA, Maria Rita Miranda. Jogos de Empresa, São Paulo, Makron Books, 1993, P. 20-34. Moggi, J. & Burkhard, Daniel. O espírito transformador: a essencia das mudanças organizacionais no século XXI. São Paulo, Antroposófica, 2005, P 46. ROBBINS, Stephen P. Comportamento Organizacional. São Paulo, Prentice Hall, 2002, P 512-516. SANTOS, Marli Pires. O Lúdico na formação do educador. Petrópolis, RJ, 1999, P. 12, 15-17. Vila, Magda & Falcão, Paula. Focalização de jogos em T&D. Rio de janeiro, Qualitymark, P. 35-36. Masini, Elcie F. Salzano. Psicopedagogia na Escola. Edições Loyola, SP, P25-30. MORENO, Luiz Carlos. "Do treinamento... a aprendizagem. Revista T&D Desenvolvendo pessoas - Fev/2000, Ano VIII - Edição 86, P20 -, Luiz Carlos Moreno. Sites consultados: http://sabio.org/ http://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_borboleta http://www.infomedgrp4.famerp.br/default.asp?id=6&mnu=6 http: www.sbpp.com.br http: www.ancorarh.com.br
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AANNEEXXOOSS
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ANEXOS
ROTEIRO PARA AVALIAÇÃO DO CONTRATO PSICOLÓGICO E FUNCIONAMENTO DO GRUPO
1 - O que estamos fazendo e devemos continuar a fazer.....
2 - O que estamos fazendo e devemos parar de fazer.....
3 - O que não estamos fazendo e devemos continuar a não fazer.....
4 - O que não estamos fazendo e devemos começar a fazer.....
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Técnica: “A linha da Vida” Objetivos: - Reconstruir o histórico de um lugar, processo, época. - Resgatar a percepção dos participantes sobre uma idéia, conceito ou etapa de
sua vida, formação ou trabalho. - Recuperar conhecimentos dos fatos ou conceitos, em diferentes momentos da
vida dos participantes. Instrução: O coordenador deve definir claramente que aspectos históricos quer recuperar
do tema que está sendo trabalhado com o grupo, por exemplo:
- Sobre o Trabalho:
O trabalho que eu aprendi a fazer,
O trabalho que eu gostaria de ter aprendido,
O trabalho que eu desenvolvo,
O trabalho que eu gostaria de desenvolver.
Tendo esta definição, o coordenador deverá confeccionar a matriz da linha da
vida. Sugere-se utilizar papel manilha pardo, devido a sua resistência. O
pedaço de papel que será trabalhado cada um dos aspectos do tema, deverá
ter, no mínimo, um metro e meio de comprimento. A linha é construída
segundo o modelo que se segue:
O ..que aprendi a fazer
Presente Futuro Passado
O ...que eu pratico
O ..que gostaria de praticar
O ..que eu gostaria de ter
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Continuação das Instruções: Fase de Aplicação: A técnica consiste, basicamente, na elaboração de murais em grupos, sobre cada um dos aspectos abordados na linha. Para a aplicação, divide-se a técnica em duas partes. Etapa Individual: O monitor deve providenciar quatro caixas vazias ou cadeiras. Nelas, deve afixar pedaços de papel onde estarão escritos cada um dos pedaços da linha, um de cada cadeira ou caixa. Deve, também, providenciar material para que sejam feitos os murais. Poderão ser utilizados sucata, recortes de papel coloridos, recortes de revistas, desenhos individuais, etc.. O coordenador deve solicitar aos participantes que observem cada uma das fases afixadas nas cadeiras ou caixas. Feito isto, cada participante deverá escolher ( ou produzir) um material que melhor expresse sua vivência/percepção ou conhecimento de cada uma das quatro fases. Desta forma, cada participante selecionará quatro materiais ou produzirá quatro desenhos. Os materiais/desenhos deverão ser colocados na cadeira/caixa correspondente à fase. ETAPA COLETIVA: O coordenador deve solicitar aos participantes que se dividam em quatro grupinhos. Cada grupinho receberá cadeira ou caixa correspondente a uma fase e o pedaço da linha da vida daquela mesma fase. O coordenador deve orientar os participantes para que produzam um mural que expresse a vivência/produzido por todos os participantes e que se encontra na caixa/cadeira que o grupo recebeu. Outras coisas poderão ser adicionadas, porém nenhum material poderá ser retirado. Terminados os murais de cada grupinho, o coordenador deve compor a linha completa, afixando a base e cada um dos murais na parede. Feito isto, cada grupinho apresenta o seu pedaço da linha e abre-se para plenária e discussão.
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Técnica: “Roda da Vida”
Resumo: Representação das pessoas importantes na vida.
Objetivos: Auto-revelação, formação de Equipes.
Materiais: Lousa ou folha de flipchart, papel e lápis ou canetas hidrográficas.
Tempo: 20 minutos.
Processo: 1. Comece explicando que cada um tem pessoas importantes na sua roda da
vida, e que essas pessoas podem ser consideradas como raios ( como numa
roda de bicicleta). Convide-os a escreveram os nomes das dez pessoas mais
importantes em suas vidas.
2. Peça para desenharem um diagrama começando por uma linha vertical,
formando o raio para um círculo com uma seta. (veja figura 1).
3. Explique que isso é o aro de uma roda para representar essas pessoas. A
distância, no sentido horário de rotação, pode representar o tempo na vida do
indivíduo, e o cumprimento das linhas pode representar a importância que a
pessoa citada teve naquela época. Desenhe um exemplo na lousa ( como na
figura 2).
4. Convide os participantes a formarem pares, e discuta como as decisões foram
tomadas, como se chegou a elas, o que gostariam que fosse diferente, o que
precisam para fazer essa mudança, e em quê a reunião (curso) pode ajudar.
5. Se for necessário, conduza um debate sobre o que as pessoas aprenderam
sobre si mesmas.
Variações: 1. As dimensões usadas podem ser variadas conforme necessário.
2. Pode-se pedir aos participantes que desenhem o diagrama como eram há
cinco anos, ou como gostariam que fosse.
3. As pessoas descritas podem ser escolhidas dentre os colegas de trabalho,
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num programa de formação de equipes.
Neste caso, o enfoque da discussão pode mudar.
Figura 1:
Figura 2:
. Lucy
Emprego Atual
Casamento
Faculdade
2a infância
1a infância
Chefe mãe Pai Mary Sr. Pedro Carl
susan
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Jogo do Tabuleiro Confecção do jogo MATERIAL: Papelão, Duplex preto, Duplex colorido, Papel contact transparente, Cola,
PROCEDIMENTO: 1- Tabuleiro: Cortar um quadrado de duplex preto com 40 cm de lado e colar num papelão
do mesmo tamanho, Colocar no entro um retângulo branco de 3x6, com o nome do TEMA do jogo, Circular o retângulo central com 6 (seis) cartões coloridos de 3x6 cm, com os
nomes dos SUBSISTEMAS a serem trabalhados, cada subtema é representado por uma cor.
Na extremidade do tabuleiro, colocar 3 (três) cartões brancos, com as alternativas VERDADEIRO, FALSO e ÁGUA ( esta corresponde à incerteza).
Ao final, plastificar o tabuleiro. 2- Dado: Confeccionar um dado de papelão com 2 cm de lado e forrar cada lado com
cores correspondentes às cores de cada subtema. Depois de pronto, forrar com contact transparente.
3- Cartas: Confeccionar 10 (dez) cartas (3x6cm) de cada cor correspondentes aos
subsistemas, onde estarão as afirmativas divididas em verdadeiras e falsas. Ao final, plastificá-las.
4 - Peparação do jogo: Colocar o tabuleiro no entro da mesa e distribuir as cartas no mesmo, conforme a cor indicada. Eleger um coordenador do grupo. 5- Regra: a) O primeiro jogador lança o dado, de acordo com a cor sorteada retira uma
carta, lê a afirmativa e posiciona-se escolhendo uma das alternativas; VERDADEIRO, FALSO ou ÁGUA. Os demais integrantes do grupo polemizam sobre o posicionamento. Após a discussão, o procedimento será colocar a carta sobre uma das alternativas que poderá ser:
VERDADEIRO - quando os participantes do grupo, após a discussão, concluíram que o conteúdo da afirmativa é verdadeira. FALSO: - quando os participantes do grupo concluírem que o conteúdo da afirmativa é falso.
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ÁGUA - quando após polemização, o grupo não entra em consenso sobre a alternativa escolhida, indicando que o conteúdo deve ser repensado, portanto esta alternativa corresponde à incerteza. b) o jogo prossegue até que todos os subtemas sejam sorteados e as cartas
posicionadas. c) ao final, o coordenador deverá analisar as alternativas VERDADEIRAS e
FALSAS. NESTE MOMENTO, O pesquisador poderá fazer algumas intervenções de ordem teórica a respeito dos posicionamentos, proporcionando mudanças nos resultados.
As cartas com conteúdo polêmico, colocadas na opção ÁGUA, poderão ser trabalhadas de duas maneiras: 1o - quando o assunto for finalizado no mesmo dia, deverão ser justificadas como VERDADEIRAS ou FALSAS, pelo pesquisador; 2º -se o assunto do jogo for trabalhado em um período mais longo, estes conteúdos deverão ser repensados em uma nova rodada do jogo, utilizando somente estas cartas. Observação: Caso haja mais de um grupo jogando, no momento do relato, adiscussão acontecerá entre os mesmos, com a coordenação do pesquisador.
iii
CÍRCULO DE APRENDIZAGEM VIVENCIAL
iv
Título: A cápsula do tempo
Objetivo: Introduzir o tema Cultura Organizacional, oferecendo a oportunidade para a discussão compartilhada.
Aplicações: Seminários gerenciais cujo conteúdo esteja focado no realinhamento estratégico e revisão de valores.
Duração: 1 hora.
N° Mínimo de Participantes 30
Material para Aplicação: - Uma cópia da folha individual de trabalho para cada participante. - Um lápis para cada participante - Uma cópia da folha de trabalho do time (para cada grupo) - Relógio/ cronômetro
Procedimento: Divisão do grupo em equipes de 5 participantes.
Cenário: Vocês foram indicados por sua empresa para preparar uma cápsula do tempo, que será colocada numa caixa dentro de um cofre, com instruções para ser aberta daqui a cem anos. Sua equipe deverá determinar o que deve ser colocado em sua própria cápsula, e os itens devem representar a cultura presente de sua organização. O tempo será de cinco minutos para selecionar três itens ou idéias que desejem incluir na cápsula.
Finalize a discussão depois de cinco minutos e distribua uma cópia da folha de trabalho individual para cada representante e um lápis. Entregue também uma cópia da folha de trabalho do grupo todo, para usarem mais tarde. Explique a cada participante, que eles terão que preparar uma declaração individual que dariam a um estranho, um retrato claro da cultura de sua organização. Cada declaração será limitada a vinte e cinco palavras, no máximo. Eles usarão a folha de trabalho individual. Eles terão dez minutos para trabalhar nessa tarefa.
v
FECHAMENTO: Sinalize para o começo. Cronometre a atividade em dez minutos, avisando-os cinco minutos antes do término. Então, paralise a atividade.
Explique que agora, cada time irá discutir as declarações individuais e chegar a uma conclusão sobre quais serão usadas para fazer a declaração da equipe, aquela que será colocada na cápsula do tempo. Um membro de cada time deverá ser selecionado para passar o relatório final do grupo para a folha de trabalho. Os times terão vinte minutos para completar a tarefa. Sinalize para o início da discussão. Cronometre a atividade. Pare a discussão. Cada grupo, um de cada vez, relatará o conteúdo de sua cápsula do tempo, lendo sua lista de itens e a declaração final. Estimular com aplausos. Após as apresentações de cada equipe, fixar as declarações à frente da sala e convidar o grupo para formar um círculo. Informar que todos vão participar de um fórum de discussão.
Em círculo, o facilitador estimula as pessoas a participar do painel, através de perguntas.
Sugestões: - Como foi o clima de trabalho nas suas equipes? - Que dificuldades vocês apontam na realização do exercício? - Como vocês conseguiram integrar as descrições individuais com a descrição do
grupo? - O resultado final representa realmente a cultura da empresa? - Que aspectos vocês julgam positivos na cultura vigente? - O que precisa ser repensado e melhorado na cultura empresarial? - Qual seu nível de comprometimento com estas melhorias?
Neste momento, o facilitador poderá fazer uma breve exposição sobre cultura empresarial e aplicar algum instrumento diagnóstico para reforçar o trabalho das equipes. Que sua fala seja clara, objetiva e com o aporte de referencial teórico e metodológico.
vi
MATERIAL PARA REPRODUÇÃO FOLHA DE TRABALHO INDIVIDUAL
Orientação: Liste os três itens que seu time decidiu colocar na cápsula do tempo. Em no máximo vinte e cinco palavras, descreva cada um desses itens de uma maneira que, daqui a cem anos quando a cápsula for aberta, qualquer pessoa terá uma visão clara da cultura de sua organização. Use bastante detalhes. Item 1: Item 2: Item 3:
FOLHA DE TRABALHO DO TIME Orientação:
Liste os três itens que seu time selecionou para colocar na cápsula do tempo. Em no máximo vinte e cinco palavras, decidam "como um time" o conteúdo da declaração a ser feita em cada item, de maneira que daqui a cem anos, quando a cápsula do tempo for aberta, qualquer pessoa terá uma visão clara da cultura de sua organização. Use bastante detalhes. Item 1: Item 2: Item 3:
Observações: Dividir em equipes com 5 pessoas.