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A educação tem o poder de agregar, de transformar, de fazer ver além. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) propõe o exercício à cidadania a partir da inclusão de um público que antes não vislumbrava possibilidades de crescimento intelectual e/ou profissional, onde seus educandos se diferem dos demais por apresentarem um histórico de vida que se insere numa realidade em que a interrupção dos estudos tenda a ser um fator de desmotivação sócio-inclusivo. De acordo com Paiva, 2006, “a Educação de Jovens e Adultos se faz para recuperar o tempo perdido daqueles que não aprenderam a ler e a escrever; passando pelo resgate da dívida social, até chegar à concepção de direito à educação para todos e do aprender por toda vida”. Para se alcançar diferentes grupos de educandos, na EJA presume-se a necessidade em se criar um currículo que subjective dar condições de progresso sócio-educativo, bem como propiciar oportunidades de desenvolvimento para estes indivíduos. Lidar com a realidade do aluno pressupõe trabalhar a teoria com representatividade na prática social dos mesmos, e neste contexto, a realidade da Mulher como ser social é a de um indivíduo que desempenha um acúmulo de funções, sendo essencial o aproveitamento do tempo desprendido à educação, convergindo à sua real efectivação. A educação de uma maneira geral é um processo constituinte da experiência humana, por isso se faz presente em toda e qualquer sociedade. A escolarização, em específico, é um dos recortes do processo educativo mais amplo. Nesse processo, marcado pela interação contínua entre o ser humano e o meio, no contexto das relações sociais, é que construímos nosso conhecimento, valores, representações e identidades. (Ministério da Educação - Secretaria de Educação Básica. Indagações sobre currículo. Diversidade e Currículo. Brasília, 2007). FIGURA 2. Distribuição das dificuldades de mulheres da EJA em Linhares, ES. TABELA 1. Principais dificuldades no percurso da vida estudantil das mulheres entrevistadas. A metodologia se caracteriza por uma Pesquisa Qualitativa Exploratória baseada em entrevistas junto às educandas de três escolas de Educação de Jovens e Adultos no município de Linhares, ES. O estudo proposto se estabelece por meio de uma conversa informal (Grupo Focal) e um questionário avaliativo com as seguintes questões acerca do percurso de vida estudantil: 1)O que motivou à procura pelos estudos?; 2)Quais foram as dificuldades em permanecer e/ou concluir os estudos no período regular de ensino?; 3)A família e/ou a vida profissional são agentes incentivadores ou desmotivadores neste processo?; 4)A oferta de escolas que atendam o público de jovens e adultos é satisfatória?; 5)Quais as expectativas após a conclusão dos estudos?, propondo uma reflexão sobre o processo educativo destas mulheres da EJA, bem como compreender a transformação social que as envolve. Foram entrevistadas no total 50 educandas em 03 escolas da EJA no município de Linhares, ES, dentre as quais 35 eram provenientes da Zona Rural e 15 da Zona Urbana. As educandas apresentaram histórico diferenciado em relação a acessibilidade às escolas, tendo em vista que fatores como local de habitação e realidade cotidiana foram decisivos para que pudessem concluir seus estudos no período regular. As educandas procedentes da Zona Rural discursaram a respeito do descaso da comunidade onde viviam em relação à inserção e permanência da mulher no mundo letrado, onde fatores culturais como discriminação, atribuições domésticas e desinteresse familiar, as impediram de dar prosseguimento aos estudos. Diferente das educandas da Zona Urbana, em que a maioria teve como maior entrave o pouco aproveitamento no ensino regular, resultando em recorrentes reprovações, percebendo a EJA como uma modalidade de ensino vantajosa pois acreditavam ser mais rápido e fácil recuperar o tempo perdido, pressupondo uma possível descaracterização do público da EJA, o qual a princípio busca novas chances de desenvolvimento sócio-educativo. Dificuldades concomitantes no período regular de ensino % Mulheres Zona Rural % Mulheres Zona Urbana Apoio familiar insuficiente 91 5 Segurança instável 14 0 Transporte precário 71 0 Rendimento escolar insuficiente 5 80 Pouca oferta de escolas na comunidade 5 0 Por apresentarem motivações distintas na interrupção do processo educativo no período regular, as dificuldades analisadas denotam maior complexidade na permanência e conclusão dos estudos por parte das mulheres oriundas da Zona Rural, onde das 35 mulheres entrevistadas com faixa etária entre 29 a 70 anos: 32 declararam apoio familiar insuficiente; 5 segurança instável; 25 transporte precário; 2 rendimento escolar insuficiente; 2 pouca oferta de escolas na comunidade. Contrapondo com a realidade das jovens entrevistadas com faixa etária entre 17 e 20 anos, onde 12 educandas mostraram dificuldades relacionadas ao aproveitamento escolar e apenas 2 das 15 entrevistadas não tiveram apoio familiar devido ocorrência de gravidez na adolescência. O retorno aos estudos, segundo todas entrevistadas, tem tido resultados positivos, uma vez que as educandas relataram satisfação devido à melhora na qualidade de vida proporcionada pela EJA, ressaltando o apoio da família nesta nova etapa educativa, bem como criando expectativas de desenvolvimento e crescimento social. A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino de grande importância no contexto sócio-inclusivo. De acordo com Freire “O saber se faz através de uma superação constante” sendo esta um fator que impulsiona as educandas frente aos desafios do cotidiano, de forma que o acúmulo de funções que elas exercem são transpassados com o decorrer do tempo, mesmo que haja dificuldade na permanência de mulheres no processo educativo, estas, independente de seus atributos sociais e familiares, almejam o desenvolvimento e a construção social. Agradeço a Deus por me permitir crescer profissionalmente, à minha filha Bruna e meu filho Isaac pelo carinho, ao meu marido Karlos pelo apoio, à Sirlei pela amizade e comprometimento. FREIRE, Paulo., Educação e Mudança, Paz e Terra, 12ª Edição, 1979. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica., Indagações sobre currículo, Diversidade e Currículo, Brasília, 2007. PAIVA, Jane., Tramando concepções e sentidos para redizer o direito à educação de jovens e adultos, Revista Brasileira de Educação, p. 522, v. 11, n. 33, set./dez. 2006. FIGURA 1. Vista aérea do município de Linhares, ES. AS DIFICULDADES NO PERCURSO DA VIDA ESTUDANTIL DE MULHERES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM LINHARES - ES

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Page 1: A educação tem o poder de agregar, de transformar, de fazer ver além. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) propõe o exercício à cidadania a partir da inclusão

A educação tem o poder de agregar, de transformar, de fazer ver além. A Educação de Jovens e Adultos (EJA) propõe o exercício à cidadania a partir da inclusão de um público que antes não vislumbrava possibilidades de crescimento intelectual e/ou profissional, onde seus educandos se diferem dos demais por apresentarem um histórico de vida que se insere numa realidade em que a interrupção dos estudos tenda a ser um fator de desmotivação sócio-inclusivo. De acordo com Paiva, 2006, “a Educação de Jovens e Adultos se faz para recuperar o tempo perdido daqueles que não aprenderam a ler e a escrever; passando pelo resgate da dívida social, até chegar à concepção de direito à educação para todos e do aprender por toda vida”. Para se alcançar diferentes grupos de educandos, na EJA presume-se a necessidade em se criar um currículo que subjective dar condições de progresso sócio-educativo, bem como propiciar oportunidades de desenvolvimento para estes indivíduos. Lidar com a realidade do aluno pressupõe trabalhar a teoria com representatividade na prática social dos mesmos, e neste contexto, a realidade da Mulher como ser social é a de um indivíduo que desempenha um acúmulo de funções, sendo essencial o aproveitamento do tempo desprendido à educação, convergindo à sua real efectivação.

A educação de uma maneira geral é um processo constituinte da experiência humana, por isso se faz presente em toda e qualquer sociedade. A escolarização, em específico, é um dos recortes do processo educativo mais amplo. Nesse processo, marcado pela interação contínua entre o ser humano e o meio, no contexto das relações sociais, é que construímos nosso conhecimento, valores, representações e identidades. (Ministério da Educação - Secretaria de Educação Básica. Indagações sobre currículo. Diversidade e Currículo. Brasília, 2007).

FIGURA 2. Distribuição das dificuldades de mulheres da EJA em Linhares, ES.

TABELA 1. Principais dificuldades no percurso da vida estudantil das mulheres entrevistadas.

A metodologia se caracteriza por uma Pesquisa Qualitativa Exploratória baseada em entrevistas junto às educandas de três escolas de Educação de Jovens e Adultos no município de Linhares, ES. O estudo proposto se estabelece por meio de uma conversa informal (Grupo Focal) e um questionário avaliativo com as seguintes questões acerca do percurso de vida estudantil: 1)O que motivou à procura pelos estudos?; 2)Quais foram as dificuldades em permanecer e/ou concluir os estudos no período regular de ensino?; 3)A família e/ou a vida profissional são agentes incentivadores ou desmotivadores neste processo?; 4)A oferta de escolas que atendam o público de jovens e adultos é satisfatória?; 5)Quais as expectativas após a conclusão dos estudos?, propondo uma reflexão sobre o processo educativo destas mulheres da EJA, bem como compreender a transformação social que as envolve.

Foram entrevistadas no total 50 educandas em 03 escolas da EJA no município de Linhares, ES, dentre as quais 35 eram provenientes da Zona Rural e 15 da Zona Urbana. As educandas apresentaram histórico diferenciado em relação a acessibilidade às escolas, tendo em vista que fatores como local de habitação e realidade cotidiana foram decisivos para que pudessem concluir seus estudos no período regular. As educandas procedentes da Zona Rural discursaram a respeito do descaso da comunidade onde viviam em relação à inserção e permanência da mulher no mundo letrado, onde fatores culturais como discriminação, atribuições domésticas e desinteresse familiar, as impediram de dar prosseguimento aos estudos. Diferente das educandas da Zona Urbana, em que a maioria teve como maior entrave o pouco aproveitamento no ensino regular, resultando em recorrentes reprovações, percebendo a EJA como uma modalidade de ensino vantajosa pois acreditavam ser mais rápido e fácil recuperar o tempo perdido, pressupondo uma possível descaracterização do público da EJA, o qual a princípio busca novas chances de desenvolvimento sócio-educativo.

Dificuldades concomitantes no período regular de ensino

% Mulheres Zona Rural % Mulheres Zona Urbana

Apoio familiar insuficiente 91 5

Segurança instável 14 0

Transporte precário 71 0

Rendimento escolar insuficiente 5 80

Pouca oferta de escolas na comunidade 5 0

Por apresentarem motivações distintas na interrupção do processo educativo no período regular, as dificuldades analisadas denotam maior complexidade na permanência e conclusão dos estudos por parte das mulheres oriundas da Zona Rural, onde das 35 mulheres entrevistadas com faixa etária entre 29 a 70 anos: 32 declararam apoio familiar insuficiente; 5 segurança instável; 25 transporte precário; 2 rendimento escolar insuficiente; 2 pouca oferta de escolas na comunidade. Contrapondo com a realidade das jovens entrevistadas com faixa etária entre 17 e 20 anos, onde 12 educandas mostraram dificuldades relacionadas ao aproveitamento escolar e apenas 2 das 15 entrevistadas não tiveram apoio familiar devido ocorrência de gravidez na adolescência. O retorno aos estudos, segundo todas entrevistadas, tem tido resultados positivos, uma vez que as educandas relataram satisfação devido à melhora na qualidade de vida proporcionada pela EJA, ressaltando o apoio da família nesta nova etapa educativa, bem como criando expectativas de desenvolvimento e crescimento social.

A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino de grande importância no contexto sócio-inclusivo. De acordo com Freire “O saber se faz através de uma superação constante” sendo esta um fator que impulsiona as educandas frente aos desafios do cotidiano, de forma que o acúmulo de funções que elas exercem são transpassados com o decorrer do tempo, mesmo que haja dificuldade na permanência de mulheres no processo educativo, estas, independente de seus atributos sociais e familiares, almejam o desenvolvimento e a construção social.

Agradeço a Deus por me permitir crescer profissionalmente, à minha filha Bruna e meu filho Isaac pelo carinho, ao meu marido Karlos pelo apoio, à Sirlei pela amizade e comprometimento.

FREIRE, Paulo., Educação e Mudança, Paz e Terra, 12ª Edição, 1979.MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, Secretaria de Educação Básica., Indagações sobre currículo, Diversidade e Currículo, Brasília, 2007.PAIVA, Jane., Tramando concepções e sentidos para redizer o direito à educação de jovens e adultos, Revista Brasileira de Educação, p. 522, v. 11, n. 33, set./dez. 2006.

FIGURA 1. Vista aérea do município de Linhares, ES.

AS DIFICULDADES NO PERCURSO DA VIDA ESTUDANTIL DE MULHERES NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM LINHARES - ES