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Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)Núcleo de Educação à Distância - Universidade de Pernambuco - Recife

Paiva, Adriana Rodrigues de

História da educação / Adriana Rodrigues de Paiva. - Recife: UPE, 2010.

56 p. il. col.

1. História da educação. 2. História da escrita. 3. Educação – Antigas civilizações. I. Universidade de Pernambuco – UPE. II. Título.

CDU 37(091)

P149h

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REITORProf. Carlos Fernando de Araújo Calado

VICE-REITOR

Prof. Rivaldo Mendes de Albuquerque

PRó-REITOR ADMINISTRATIVOProf. José Thomaz Medeiros Correia

PRó-REITOR DE PLANEJAMENTOProf. Béda Barkokébas Jr.

PRó-REITOR DE GRADUAÇÃOProfa. Izabel Christina de Avelar Silva

PRó-REITORA DE PóS-GRADUAÇÃO E PESqUISA Profa. Viviane Colares Soares de Andrade Amorim

PRó-REITOR DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL E ExTENSÃOProf. Rivaldo Mendes de Albuquerque

COORDENADOR GERALProf. Renato Medeiros de MoraesCOORDENADOR ADJUNTO

Prof. Walmir Soares da Silva JúniorASSESSORA DA COORDENAÇÃO GERAL

Profa. Waldete ArantesCOORDENAÇÃO DE CURSO

Profa. Giovanna Josefa de Miranda Coelho

COORDENAÇÃO PEDAGóGICAProfa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

COORDENAÇÃO DE REVISÃO GRAMATICALProfa. Angela Maria Borges Cavalcanti

Profa. Eveline Mendes Costa LopesProfa. Geruza Viana da Silva

GERENTE DE PROJETOSProfa. Patrícia Lídia do Couto Soares Lopes

ADMINISTRAÇÃO DO AMBIENTEIgor Souza Lopes de Almeida

COORDENAÇÃO DE DESIGN E PRODUÇÃOProf. Marcos Leite

EqUIPE DE DESIGNAnita Sousa

Gabriela CastroRafael Efrem

Renata MoraesRodrigo Sotero

COORDENAÇÃO DE SUPORTEAfonso Bione

Prof. Jáuvaro Carneiro Leão

EDIÇÃO 2010Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplares

Av. Agamenon Magalhães, s/n - Santo AmaroRecife / PE - CEP. 50103-010

Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664

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HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO Profa. Adriana Rodrigues de Paiva Carga Horária | 60 horas

Objetivo geral

Apresentação da disciplina

Ementa

Introdução ao estudo da historiografia e da his-tória da educação: seus conceitos e correntes. Análise do processo educativo, articulando-o com as relações sociais, estabelecidas nos diversos mo-mentos da história da sociedade ocidental.

Oportunizar estudo relativo à história da educa-ção, quanto à compreensão dos fenômenos edu-cacionais, em sua relação com a dinâmica social, a diversidade étnico-racial, as questões de gênero e de classes sociais; analisando os principais fatos ocorridos em cada período, a fim de compreender com maior profundidade a realidade dos processos educacionais nos dias de hoje.

A História da Educação é a parte da ciência histórica que estuda as mudanças no fenômeno educativo ao longo do tempo. Vários são os objetos de estudo da História da Educação. Alguns desses são: História das Práticas Educativas, História da Profissão Docente, História das Idéias Pe-dagógicas e História das Instituições Educativas. Como podemos ver, trata-se, de um vasto campo de estudo, inviabilizando um aprofundamento maior em todos os aspectos que permeiam essa disciplina e, assim, buscando otimizar a organização dos conteúdos a serem estudados. Vamos, inicialmente, lembrar um pouco como os períodos históricos são divididos, como também, uma breve descrição das principais características da cada lugar, considerando seu tempo histórico. A partir desse momento, devidamente situados, trataremos de conhecer melhor a história das instituições educativas e da História das Ideias Pedagógicas dos períodos mais relevantes. Dessa forma, pretendemos desenvolver nosso estudo para a compreensão da história como elemento vivo e dinâmico, e para a ação do homem ao transmitir ou modificar a herança cultural em um determinado contexto e/ou período histórico por meio da educação.

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capítulo 1 7

Profa. Adriana Rodrigues de Paiva

Carga Horária | 15 horas

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Desenvolver,combasenoestudoenapesquisa referentes aos aspectos his-tórico-educativos, condições do aluno refletir acerca de seu cotidiano, do meio social onde vive e de sua prática como mediador do processo educati-vo.

• Promover aprofundamento teórico

sobre os problemas socioculturais e educacionais da sociedade brasileira contemporânea.

• Identificarosprincipaiselementosque

as concepções de: educação, traba-lho, cidadania, infância e família são socialmente produzidas ao longo da história, visando à realização de uma análise crítico-reflexiva.

O COnHECImEnTO, A ESCOlA E O

HOmEm nA COnSTRUÇÃO DA

HISTÓRIA

INTRODUÇÃO

Em nosso primeiro contato, nesta disciplina, pretendemos apresentar uma visão panorâmica da história da educação através do tempo, iniciando por lembrar como os períodos históricos são divididos, como também uma breve descrição das suas principais características. Posteriormente veremos as sociedades primitivas até a origem da escrita e seus desdobramentos.

É válido salientar que, compreender a educação é estudar a história da humanidade; é trilhar o caminho dos acontecimentos em muitas de suas vertentes, em que a educação será um espelho do movimento de cada povo em sua época, localidade, cultura, política, religião, condição ge-ográfica e tantos outros elementos que influenciam a construção da proposta educacional de cada civilização, determinando sua estruturação no passado, no presente e, consequentemente, em seu futuro. A nós, educadores, cabe conhecer essa história, a fim de sabermos como atuar em nossa ação docente, pois, sendo personagens de destaque na história, exercemos papel fun-

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damental como colaboradores, para a perpe-tuação dos modelos educacionais ou para as transformações que indiscutivelmente passam pela educação.

Então, é isso. Vamos viajar?

1. PARA INÍCIO DE CONVERSA, Um POUCO DE HISTóRIA. qualquer estudo científico começa com a deli-mitação daquilo que se vai estudar, pois não é possível estudar tudo ao mesmo tempo. Mui-tos historiadores dividem o vasto domínio do conhecimento a que se dedicam em pré-his-tória e história. A pré-história é o mais longo dos períodos, pois vai desde o surgimento do homem até o aparecimento da escrita. Se o homem surgiu por volta de 50 mil anos a.C. e as primeiras sociedades letradas firmaram-se em torno de 3200 anos a.C, só as partes da pré-história correspondentes à existência da nossa espécie contêm um período que durou 47 mil anos. Se incluirmos nesse período os nossos mais antigos ancestrais, esse número salta para mais de três milhões de anos. A his-tória, que compreende apenas as sociedades que tinham o domínio da escrita, estende-se por um período bastante modesto, cinco mil anos (em termos históricos, é claro), o que re-presenta, mais ou menos, 1% da história total da nossa espécie.

Muitos manuais de nível superior subdividem a história em Idade Antiga, Média, Moderna e Contemporânea. A Idade Antiga começa por volta de 3200 (a.C.), no Egito e na Mesopotâ-mia, e termina em 476 (d.C), com a queda de Roma. Tem início aí a Idade Média, que perdu-ra até 1453 (ano da tomada de Constantino-pla pelos turcos otomanos).

Inicia-se, então, a Idade Moderna, que vai até a eclosão da Revolução Francesa, em 1789. O período que se estende desse acontecimento até os nossos dias constitui a Idade Contem-porânea.

Essa periodização vale somente para a histó-ria ocidental. Ela não tem aplicação universal e não pode ser entendida como periodização da história do mundo. Mesmo para muitas socie-dades que integram o mundo ocidental, como a brasileira, tal periodização deve ser vista com reserva, pois, a rigor, ela diz respeito à História da Europa.

A Antiguidade subdivide-se em Antiguidade oriental e Antiguidade clássica. A oriental re-fere-se a uma situação no espaço geográfico que diz respeito aos povos do oriente próximo: Ásia Menor e Ásia Oriental. As civilizações do Egito, da Mesopotâmia, dos Fenícios e dos He-breus desenvolveram-se no oriente próximo; as civilizações dos Hititas e dos Persas, na Ásia menor; as civilizações da Índia e da China, na Ásia oriental.

O fato de haver uma antiguidade oriental leva--nos a pensar na existência de uma antiguida-de “ocidental”, que diria respeito à Grécia e a Roma. Entretanto, para as civilizações gre-ga e romana, adotou-se o termo antiguidade clássica, que indica não um lugar geográfico, mas uma qualidade. O vocábulo “clássico” ti-nha, em latim (língua falada pelos romanos), o significado de “excelente”, empregado, por exemplo, para qualificar um escritor “exem-plar”, “de alta qualidade”. Portanto, Antigui-dade clássica é uma designação valorativa eu-rocêntrica, uma vez que Antiguidade oriental pode ser entendida como antiguidade “não--clássica”.

A qualificação do vocábulo “clássica”, confe-rido às civilizações grega e romana, data do século xVII. Ao adotá-la, os europeus tinham em vista não só exaltar a qualidade das reali-zações greco-romanas, mas também atribuir a si próprios a condição de legítimos herdeiros daquelas realizações. Portanto, a divisão da Antiguidade em oriental e clássica exprime um ponto de vista europeu, e não universal.

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a França como centro propagador de revolu-ções, gerando um novo modelo de organiza-ção social. Nesse contexto, surge a necessida-de de se fazer referência a esse novo período, a Idade Contemporânea, aumentando de três para quatro os períodos históricos.

Compreender o mundo contemporâneo do ponto de vista histórico é uma tarefa bastante complicada. Nesse período que se inicia no sé-culo xIx e vem até os dias de hoje, o historia-dor se depara com um fluxo de acontecimen-tos muito mais intenso do que em qualquer outro momento da História. De fato, tem-se a nítida impressão que a história começa a ficar mais acelerada e a função de refletir sobre os acontecimentos acaba ficando bastante com-plexa.

2. OLHAR O PASSADO PARA ENTENDER O PRESENTE E CONSTRUIR O FUTURO.

2.1. COmUNIDADES PRImITIVAS

Não é fácil caracterizar as comunidades pri-mitivas, a princípio, pelas múltiplas diferenças que cada uma apresenta; outro risco que cor-

Devemos observar, contudo, que a utilização do termo “clássico” nem sempre se relaciona a um ponto de vista eurocêntrico. quando fala-mos, por exemplo, em feudalismo clássico ou em revolução burguesa clássica, estamos nos referindo à forma modelar do feudalismo ou da revolução.

O período que se seguiu à queda de Roma (476) recebeu a denominação Idade Média. O emprego do termo “média” constitui outro problema na periodização histórica. Os res-ponsáveis por essa designação foram estudio-sos italianos do século xVI, os quais supunham que, então, se vivia um período de renasci-mento da Antiguidade clássica. Segundo seu ponto de vista, a cultura greco-romana havia sido desprezada e esquecida pelos bárbaros (germânicos), que destruíram Roma e ocupa-ram os domínios romanos ocidentais (Europa ocidental). Vista como idade do “meio”, obs-cura, entre duas idades “brilhantes”, a Idade Média foi tida, desde o principio, como um longo período dominado pela ignorância e pela superstição – uma espécie de idade das “trevas”. A denominação Idade Média expres-sa, portanto, uma visão depreciativa precon-ceituosa. As bases da moderna civilização oci-dental foram lançadas, na verdade, ao longo dos mil anos que constituem a era medieval, destacando-se, entre as realizações de maior impacto desse período, o desenvolvimento co-mercial e urbano.

Ao dividir a História Ocidental em três “ida-des”, a antiga, a medieval e a moderna, os es-tudiosos italianos imaginavam que essa última representava o auge e a finalização de uma história que havia começado na Grécia antiga. De acordo com esse esquema tripartido, fazia algum sentido o nome Idade Média. Mas, no final do século xVIII, um grande acontecimen-to alterou novamente a face da Europa - a Re-volução Francesa (1789-1799). Os revolucio-nários franceses tinham a mesma sensação de novidade experimentada outrora pelos italia-nos do século xVI. Tanto assim que eles deram o nome Antigo Regime ao sistema social que acabavam de destruir. Os italianos do século xVI eram renascentistas, enquanto os france-ses do século xVII eram revolucionários. Até meados do século xIx, a Europa passou por um período de intensas transformações, tendo

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remos é de avaliá-las considerando nossos pa-drões de cultura. Assim, devemos estar atentos para estudar essas comunidades não pelo que lhes falta, mas pelas suas diferenças e parti-cularidades. As sociedades tribais são míticas, sua essência é o sagrado, que se manifesta na explicação da origem divina da técnica, da agricultura, dos males; tudo gira em torno do divino, como se o homem imitasse os deuses. Um exemplo são as danças antes da guerra, que representam a antecipação mágica daqui-lo que se pretende alcançar. Nesse caso, a ga-rantia do sucesso, como também os desenhos realizados antes de uma caçada como forma antecipada de apropriação da caça e como forma de restituir os animais à natureza, ou, ainda, como forma rudimentar de registrar a ação bem sucedida à espera de que ela se re-pita.

A organização social das tribos baseia-se numa estrutura que mantém homogêneas as relações, sem a dominação de um ou de ou-tro segmento; mesmo exercendo funções di-ferentes, o trabalho e seu produto são sempre coletivos.

O PODER

As relações de poder se estabelecem de uma forma diferente da que estamos acostumados a ver em nossa sociedade. Senão, vejamos, al-gumas pessoas especiais possuem mais pres-tígio, o chefe guerreiro, o feiticeiro. São eles objetos de consideração e de respeito, no en-tanto, não se aproveitam disso para estabe-lecer uma relação de superioridade sobre os demais integrantes da tribo. O chefe é o porta--voz do desejo da comunidade como um todo.

EDUCAÇÃO Nas comunidades tribais, não há necessida-de de escolas nem de uma pessoa que esteja especialmente destinada a tarefa de ensinar. As crianças aprendem imitando os gestos dos adultos nas atividades diárias, e o conheci-mento transmitido, fundamentalmente, pela oralidade. É por essa comunicação que a tra-dição se impõe, permitindo a coesão grupal e repetindo os comportamentos considerados desejáveis, em que os adultos são tolerantes em relação aos enganos dos mais jovens res-peitando o ritmo de cada um. Resumidamen-te, podemos dizer que a educação primitiva é difusa, integral e universal. É difusa pelo fato de a aprendizagem ocorrer a qualquer mo-mento nas cerimônias, nos rituais; aprende-se para a vida em um cotidiano estável quando as mudanças acontecem lentamente. É integral porque todos participam do processo de edu-cação dos mais jovens; e universal, pela sua forma abrangente de lidar com o conhecimen-to em que todos da tribo têm acesso ao saber e ao fazer, apropriados pela comunidade.

2.2. ANTIGUIDADE ORIENTAL: EDUCAÇÃO TRADICIONALISTA

Nas civilizações orientais, não existiam propos-tas propriamente pedagógicas. As preocupa-ções com a educação apareceram nos livros sagrados, que determinavam regras, ideais de conduta e enquadramento das pessoas nos rí-gidos sistemas religiosos e morais.

Criando segmentos privilegiados, a popula-ção, composta por lavradores, comerciantes e artesãos, não tinha direitos políticos garanti-dos nem acesso ao saber da classe dominan-te, como o conhecimento da escrita, que, em razão do seu caráter sagrado e esotérico, era restrito a um determinado grupo da socieda-de, destinando um tipo de ensino para cada grupo social. A grande massa, excluída da es-cola, ficava restrita à educação familiar infor-mal, instaurando-se,então, o dualismo escolar.

A Mesopotâmia situava-se entre o Tigre e o Eufrates. Essa região foi o berço de variadas civilizações que contribuíram de forma decisiva para o desenvolvimento cultural do futuro.

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os métodos pedagógicos utilizados datam da segunda metade do milênio seguinte.

Destaca-se a cultura da poderosa classe sacer-dotal, bem como a extrema dificuldade que a escrita cuneiforme oferece aos escribas, in-cumbidos de ler e de copiar os textos religio-sos, por isso, o aprendizado é longo, minucio-so e voltado para a preservação desse língua, que sofreu apenas alterações insignificantes durante três milênios. Os babilônicos constru-íram bibliotecas, tinham amplo conhecimento de astrologia, não descuidavam das aplicações do conhecimento assim como os egípcios. Os estudos científicos babilônicos vinham sempre mesclados com magia e adivinhação.

Os exemplos mais antigos de um sistema de escrita devem-se aos Sumérios, povo que vi-veu na Mesopotâmia (à volta de cidades como Ur, Uruk, Lagashe Nippur) entre 3500 e 2000 a.C. Os registros eram feitos em tabuinhas de argila, com um estilete. Esse tipo de escrita é conhecido por cuneiforme.

Desses registros, constam diversos tipos de

2.3. BABILÔNIA

A Babilónia dominou a região e atingiu o seu apogeu no reinado de Hammurabi (c. 1750 a C). Esse rei foi imortalizado pelo código com o seu nome. O código está inscrito na sua estela (placa de pedra), descoberta pelos franceses (1902), Como curiosidade, vejamos algumas das regras registradas: se alguém enganar a outrem, difamando essa pessoa, e esse outrem não puder provar, então, aquele que enganou deve ser condenado à morte; se alguém rou-bar a propriedade de um templo ou de uma corte, ele deve ser condenado à morte, e tam-bém aquele que receber o produto do roubo do ladrão deve ser igualmente condenado à morte; se alguém arrombar uma casa, ele de-verá ser condenado à morte na frente do local do arrombamento e ser enterrado; se um es-cravo disser a seu patrão “Não és meu mes-tre”, e for condenado, seu mestre deve cortar--lhe a orelha.

SISTEMA ESCOLAR

Sabe-se que havia escolas de dois tipos: em al-gumas, só se aprendia a ler e a escrever; em outras, também se estudava linguística, teolo-gia, medicina, astronomia e matemática, eram as escolas de educação superior. De-senvolveu-se na Suméria a partir de me-ados do 3º milênio a.C., mas os regis-tros escritos sobre a or-ganização e

“Sala de aula” preservada das pri-meiras escolas da Mesopotâmia (Palácio em Mari)

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exercícios. Entre eles, alguns que constituíam parte da tarefa cotidiana dos alunos. A maior parte das placas de conteúdo matemático data do período de 1800 a 1600 a.C.

Babilônia foi a capital da antiga Suméria e Acá-dia, no sul da Mesopotâmia (hoje, o moderno Iraque, localizado, aproximadamente, a 80 km ao sul de Bagdá). O nome (Babil ou Babilu em babilônico) significa “Porta de Deus”, mas os judeus afirmam que vem do Hebraico Antigo Babel ( לבב ), que significa “confusão”. Essa palavra semítica é uma tradução do sumério Kadmirra.

O Império da Babilônia, que teve um papel significativo na história da Mesopotâmia, foi provavelmente fundado em 1950 a.C. O povo babilônico era muito avançado para a sua épo-ca, demonstrando grande conhecimento em arquitetura, agricultura, astronomia e direito. Iniciou sua era de império sob o amorita Ha-murabi, por volta de 1730 a.C. e se manteve assim por pouco mais de mil anos. Hamurabi foi o primeiro rei conhecido por codificar leis, utilizando, no caso, a escrita cuneiforme, es-crevendo suas leis em tábuas de barro cozido, o que preservou muitos desses textos até ao presente. Então, descobriu-se que a cultura babilônica influenciou, em muitos aspectos, a cultura moderna, como a divisão do dia em 24 horas, da hora em 60 minutos e daí por diante.

2.4. ÍNDIA

A importância da tradição hindu está no fato de ter permanecido viva até os dias de hoje, por meio da herança de duas das principais re-ligiões do mundo, o bramanismo e o budismo. Fundamenta-se nos livros sagrados dos Vedas à Rig-Veda, o livro mais antigo talvez do tercei-ro milênio a.C. Upanishads, textos mais recen-tes entre 1500 e 500 a.C. compreende que os seres e os acontecimentos são manifestações de uma só realidade chamada Brahman, alma ou essência de todas as coisas.

Enquanto nas civilizações orientais as divisões de classe são marcantes, na Índia, a popula-ção é dividida em castas fechadas, ficando no topo da pirâmide os brâmanes, sacerdotes, os xátrias, guerreiros nobres, os vaicias, agricul-tores e comerciantes, e os sudras, servos dedi-cados ao serviço mais humilde.

Graças à crença de que todos saíram do corpo do deus Brahma, os brâmanes são considera-dos mais importantes por terem sido gerados da cabeça do deus. No outro extremo, os pá-rias, por sequer terem origem divina, não per-tencem a qualquer casta e, por isso, são into-cáveis e reduzidos a uma condição miserável.

A educação hindu privilegia os brâmanes, que são encaminhados por mestres e aprendem os textos sagrados dos Vedas e dos Upanishads. As outras castas podem receber educação ele-mentar, com exceção dos sudras e dos párias.A educação na Índia foi influenciada, também, pelo Budismo, religião fundada no século VI

ACESSEhttp://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&langpair=en|pt&u=http://ethemes.missouri.edu/themes/1562

Buda não é o nome de uma pessoa, mas um tí-tulo: significa “aquele que sabe a verdade” ou “aquele que despertou”, aplicado a alguém que atingiu um nível superior de entendimento. Des-sa forma, houve vários budas na história do bu-dismo. De todos, o primeiro, Sidarta Gautama, é considerado o mais brilhante e também o funda-dor do budismo, no século 6 a.C., isto é, há mais de 2.600 anos.

Para saber maishttp://educacao.uol.com.br/biografias/ul-t1789u634.jhtm

Saiba mais:

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clássicos, ainda que burilada por interpreta-ções posteriores de outros sábios.

LIVROS CANÔNICOS OU CLÁSSICOS

O mais antigo I Ching, o livro das mutações, remonta ao terceiro milênio a.C, quando os sá-bios buscam inspiração e conceitos, como é o caso de Lao Tsé e Confúcio, século VI a.C. Lao Tsé fundou o taoísmo com base na noção do Tão, que, originalmente, significa o caminho e dos princípios opostos yin e yang; mais que opostos, representam a união dos contrastes um todo de duas metades, a harmonia que forma o Universo.

Kung Futsé (Confúcio) segue uma orientação mais conservadora que Lao Tse. Como sábio e professor, se ocupa com especulações voltadas para a aplicação prática na vida humana e, nesse sentido, exerce importante influência na formação moral dos jovens chineses.

Na China, os letrados não são os sacerdotes, mas os mandarins, altos funcionários de estri-ta confiança do imperador e responsáveis pela máquina administrativa do Estado. O sistema de seleção para esse ensino superior é extre-mamente rigoroso, baseado em exames ofi-ciais que distribuem os candidatos nas diversas atividades administrativas.

A educação elementar visa à alfabetização, muito difícil e demorada. Em razão do caráter complexo da escrita chinesa, também é ensi-nado o cálculo e oferecida a formação moral por meio da transmissão dos valores dos an-cestrais. Tudo é feito de maneira dogmática, com ênfase nas técnicas de memorização.

a.C., por Sidarta Gautama, o Buda . A doutri-na budista tem caráter mais espiritualizado e valoriza, sobretudo, a relação entre mestre e discípulo. Expandiu-se para inúmeras regiões da Ásia, atingindo China e Japão.

EDUCAÇÃO NA ÍNDIA HOJE

Por isso, reformas são vistas como chave para a Índia, sobretudo em áreas como educação – o acesso dos mais pobres a ela é considerado es-sencial para que um número, cada vez maior, de indianos seja incluído no crescimento eco-nômico do país.

“A Índia precisa de reformas para continuar crescendo, sobretudo as que diminuam a dis-paridade de renda entre os diferentes setores da sociedade e regiões do país”, afirma Evan Feigenbaum, analista do Council on Foreign Relations, instituto de pesquisas com base em Nova York.

O perigo, segundo ele, é que o ritmo lento de algumas destas reformas ponha em xeque o desenvolvimento da Índia como potência.

O modelo de desenvolvimento escolhido pela Índia se baseia na aposta da expansão da eco-nomia e no fato de o país ter uma população de 1,3 bilhão. Combinados, esses dois fatores formariam um dos maiores mercados consu-midores do mundo, consolidando a posição do país como potência num futuro próximo.

No entanto, não há garantias de que a Ín-dia conseguirá manter até 2020 seu elevado índice de crescimento – 8% em média – so-bretudo com o país dando sinais de que está sendo afetado pela crise econômica mundial. Para muitos analistas, o sucesso da Índia como potência dependerá de reformas de inclusão, promovidas pelo governo, e da velocidade com que a democracia conseguirá entregá-las.

2.5. CHINA

A história da China revela uma das mais tradi-cionais culturas que se mantiveram sem gran-des mudanças, mesmo até tempos recentes. É inevitável que a educação também reprodu-zisse esse caráter conservador, voltado para a transmissão da sabedoria contida nos livros

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capítulo 114

EDUCAÇÃO PARA TODOS NA CHINA: UMA PERSPECTIVA OCIDENTAL

“A inclusão é um sinal da nossa prosperidade, civilização e perspectiva científica da investiga-ção”.

As campanhas internacionais do início dos nos 80 alertaram a consciência para o direito das crianças e das pessoas com deficiência. Tive-ram lugar na ocasião em que abriam as portas entre a China e o Ocidente. A tarefa da recons-trução da educação, após a Revolução Cultural de 1966-76, foi, assim, iniciada no contexto de um debate e de uma consciência política mais vasta. Ao longo dos últimos doze anos, têm-se observado algumas das formas como os educadores chineses respondem a esses de-safios.

Como consequência da lei de 1986, sobre a educação obrigatória, milhões de crianças e de jovens que eram excluídos do sistema educati-vo estão, agora, inscritos nas escolas e os edu-cadores tentando desenvolver cursos adequa-dos para o desenvolvimento dos professores. No entanto, mantêm-se diversas barreiras para uma participação total, as quais são de ordem geográfica, econômica e cultural.

As oportunidades educativas na China, como em todos os outros países, dependem de um conjunto de fatores não educativos, tais como as atitudes sociais e as mudanças dos mode-los de emprego e de prosperidade. No entan-to, as atitudes tradicionais e os compromissos marxistas, destinados a fixar os papéis sociais e as identidades coletivas, proporcionam um enquadramento muito diferente das recentes tendências para um sistema educativo mais inclusivo. Os valores ocidentais tais como in-dividualismo, autopromoção e a diversidade podem não encontrar equivalência na China.

No entanto, tem havido uma considerável transferência de crianças e de jovens das ins-tituições assistenciais residenciais e dos lares para escolas especiais e também para escolas regulares. Em alguns casos, isso deu lugar a um aumento, em vez de uma diminuição, das ca-tegorias de deficiências em educação. Na Chi-na, as escolas regulares são altamente seletivas e competitivas. As classes têm muitos alunos. A organização, o pessoal e o tipo de atividade variam muito pouco entre as escolas primárias e secundárias. Os problemas que uma maior diversidade coloca tendem a ser considerados como inerentes às próprias crianças, em vez de decorrerem do sistema.

Os colegas chineses traduzem, muitas vezes, o seu conceito de “educação” como “cultura”.

Não tem sido considerado necessário reconhe-cer as dimensões pessoais e sociais da vida nas instituições educativas. Nas escolas chinesas, não se encontram atividades não culturais, tais como currículos vocacionais ou religiosos. A ideia de “uma boa escola” é aquela que não exige estruturas de apoio - quer sejam sob a forma de diferenciação curricular, quer sob a forma de colaboração entre professores nas salas de aula.

Os professores enfrentam uma série de pres-sões. São encorajados a desenvolver a criati-vidade dos alunos, pensamento autônomo e competências na resolução de problemas. Isso parece indicar um conceito mais alargado de educação. No entanto, os educadores não têm autoridade nem experiência para mudar o cur-rículo, a avaliação ou os estilos de ensino.

Apesar disso, a formação inicial e contínua de professores está mudando rapidamente. O ob-jetivo consiste em aumentar e atualizar o ní-vel da qualificação dos professores primários e do ensino especial. Há exemplos da tomada de medidas de teor mais social, capazes de garantir o apoio educativo nas escolas regu-lares. Verifica-se ainda a tendência para abolir os exames entre o ensino primário e o médio. Essas medidas deverão aumentar significati-vamente a capacidade de as escolas regulares garantirem uma educação para todos.

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transmitido de pai para filho e do mestre es-criba para o discípulo, ocorrendo uma conti-nuidade da transmissão do ensino de geração em geração. A autoridade dos adultos era in-questionável.

A educação do Egito se dá de uma forma mne-mônica, repetitiva, sempre baseada na escrita, o ensinamento é voltado para a formação do homem político, sua educação é direcionada para o falar, depois, ser obediente e, enfim, sa-ber valorizá-la.

A obediência traz outra arte, que é o saber co-mandar, saber subordinar-se para não sofrer castigos.

3. A ORIGEm DA ESCRITA

3.1. A HISTóRIA ANTES E DEPOIS DA ESCRITA

Os historiadores consideram a invenção da escrita um acontecimento da maior importân-cia. Segundo uma visão tradicional, o seu sur-gimento assinala a passagem da pré-história para a história propriamente dita. São chama-das de históricas as sociedades que deixaram documentos escritos, mediante os quais são estruturadas, ao passo que são pré-históricas as que desconheciam a escrita e deixaram, apenas, restos ou vestígios materiais. Portanto, a escrita é utilizada como critério para distin-guir a história da pré- história.

Podemos dizer que uma das grandes “inven-ções” da humanidade até hoje foi a escrita, que surge da necessidade de o homem criar registros, armazenar dados; mais tarde, a es-crita foi utilizada para registrar os dias do ano (calendário), posteriormente, começou-se a

2.6. HEBREUS

Estão impregnados da religiosidade e da ação dos profetas, seus primeiros educadores. De início, as sinagogas servem como local para a instrução religiosa, em que se dizem as verda-des da Bíblia.

Os documentos bíblicos têm inevitável interes-se histórico. Não somente nos fazem conhecer os valores morais e jurídicos do povo hebreu, como ajudam a compreender as raízes judai-co-cristãs da cultura ocidental.

O que distingue os hebreus dos demais povos antigos?

A superação da concepção politeísta, admitin-do a existência de um só Deus, Javé ou Jeo-vá, a introdução da noção de individualidade enquanto as outras civilizações não destacam propriamente a individualidade. Por estarem seus membros mergulhados nas práticas co-letivas, os hebreus desenvolveram uma nova ética, voltada para os valores da pessoa e para a interioridade moral, a importância de todo e qualquer ofício e o reconhecimento do va-lor da educação. . Manacorda nos apresenta a seguinte citação a esse respeito: “A mesma obrigação tens de ensinar a teu filho um ofício como a de instruí-lo na lei é bom acrescentar a teus estudos o aprendizado de um ofício; isso te ajudará a livrar-te do pecado”.

2.7. EGITO

A memória histórica do Egito tem seus primei-ros registros datados por volta do ano 4.000 a.C., quando caçadores nômades fixaram-se no Vale do Nilo. Foi no ano 3.100 a.C., po-rém, que os egípcios coroaram seu primeiro Faraó, Menes, que, posteriormente, foi quem unificou as duas regiões do país: o Baixo Egi-to (também designado o Delta) e o Alto Egi-to (desde Giza até Aswan, ao Sul). A história egípcia pode ser resumida da seguinte forma:Egito Pré-dinastia: de 5.000 a 3.200 a.C - Perí-odo Arcaico – 3ª dinastia – séc xxVII a.C.

Podemos verificar que, no antigo Egito, se dava muita importância às conveniências so-ciais, em que havia regras morais e compor-tamentais bem rigorosas. O ensinamento era

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usar a escrita para registrar grandes feitos, ba-talhas, tratados, proclamações de governan-tes, casamentos, empréstimos, orações, e as-sim por diante. Enfim, de preservar a história.

Os vestígios mais antigos da escrita são origi-nários da região baixa da antiga Mesopotâmia e datam de mais 5500 anos. Primeiramente a escrita era formada por ideogramas que re-presentavam uma palavra. Assim sendo, eram necessários diversos signos pictóricos para representar tantos quantos objetos ou ideias fossem necessários. Numa segunda fase, a es-crita passa a adquirir valores fonéticos e menos signos são necessários para exprimir as ideias de um idioma.

O alfabeto surge com base na decomposição da palavra em sons simples. O primeiro povo a decodificar as palavras em sons e a criar signos para representá-los foram os fenícios. A escrita, então, evolui e passa a ser alfabé-tica. Foi o alfabeto fenício arcaico que surgiu pela primeira vez em Biblos, que deu origem a todos os alfabetos atuais. O alfabeto fenício expandiu-se até o Egito pelas colônias fenícias, fundadas em Chipre e no Norte da África e do Egito, expandido-se para as regiões que não sofriam influências fenícias diretas. O alfabeto fenício arcaico foi o mais perfeito e difundido do mundo antigo e é anterior ao séc. xV a.C. Ele era constituído de 22 signos que permitiam escrever qualquer palavra. Sua expansão foi rá-pida graças à sua simplicidade.

Um fato importante para a nossa civiliza-ção foi a adoção desse alfabeto pelos gregos aproximadamente, no séc. VIII a.C. Os gregos incorporaram nele alguns sons vocálicos, já o alfabeto Grego clássico que conhecemos é composto de 24 letras, vogais e consoantes. Desse alfabeto origina-se o alfabeto etrusco,

que, junto com o alfabeto Gótico da Idade Média (também originário do Grego clássico) dá origem ao nosso alfabeto latino, que domi-nou o mundo ocidental em razão da expansão do Império Romano.

3.2. O PODER E A ESCRITA

São muitos os vestígios de que a escrita nas-ceu, de fato, como instrumento para registro da contabilidade dos bens dos templos e dos palácios. Os templos recebiam as oferendas dos fiéis, enquanto os palácios habitados pe-los reis recebiam os impostos pagos pelos seus súditos. A concentração de riquezas e a neces-sidade de administrá-las de certa forma con-duziram à invenção da escrita.

Entretanto, seu aprendizado demandava, grande esforço do aprendiz, por isso o domí-nio da escrita permaneceu restrito a um pe-queno grupo de pessoas e tornou-se fonte de prestigio.

Num antigo documento Egípcio, um pai dá o seguinte conselho ao filho, “Decide-te pela escrita, e estarás protegido do trabalho árduo de qualquer tipo; poderás ser um magistrado de elevada reputação. O escriba está livre dos trabalhos manuais, é ele que dá ordens, não tens na mão a palheta do escriba? É ela que estabelece a diferença entre o que és e o ho-mem que segura um remo”.

Não era necessário que pessoas comuns do-minassem a escrita, pois seu ofício não exigia tal conhecimento. Mais tarde, obras literárias começavam a ser registradas e pessoas de clas-se mais alta também aprendiam a ler para ter acesso a tal conhecimento. Ainda assim, domi-nar ou não dominar a escrita não fazia diferen-ça para a maioria das pessoas.

No final do século xVIII, ocorrem mudanças drásticas em nossa sociedade. A revolução in-dustrial e seus avanços tecnológicos diminuem as pequenas oficinas e dão lugar a produtos fabricados em massa, acabando com a clas-se de artesãos e trabalhadores rurais e dando lugar a uma classe de operários, que eram ex-plorados até o fim da vida. Numa tentativa de melhorar a situação e o perfil da população, no final do século xIx, é instaurada a escola-

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mem de se perpetuar através do registro de sua produção cultural, onde os processos rela-tivos à educação seja ele primitivo ou realizado através da escola, e o docente se constituem como elementos imprescindíveis para o desen-volvimento social.

Outro aspecto que merece destaque é a in-venção da escrita, sua inicial função social, seu desenvolvimento ao longo do tempo e sua im-portância na sociedade contemporânea.

Caros alunos, fiquem atentos. Nossa viajem apenas começou, cuidado para não perderem o trem.

REfERênCIASARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

LOPES, Eliane Marta Teixeira. Perspectivas His-tóricas da Educação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2006.

MANACORDA, M. A HISTóRIA DA EDUCAÇÃO São Paulo: Cortez, 2004.

MARTINS, Jose. Educação Antiga: Educação no Egito, Grécia e Roma http://www.webart.com – acesso 01/09/2010

ridade obrigatória e é a partir desse momento que a aquisição da escrita passa a ser sinônimo de sucesso.

Até o final do século xIx e início do século xx, a sociedade possuía uma hierarquia social bem definida, e o não conhecimento da escrita (o analfabetismo) não era considerado uma defi-ciência, pois todos podiam ter acesso a ofícios que permitiam que a pessoa tivesse uma vida bem sucedida, gerando conforto para si e sua família.

3.3. ESCOLA, LEITURA E ESCRITA

Em geral, a primeira coisa que criança apren-derá, ao ingressar na escola, será ler e escre-ver, e este será o enfoque durante os primeiros anos de sua vida escolar, uma vez que, para desenvolver-se no ambiente de ensino, neces-sita dominar o código escrito. É importante salientarmos a importância da alfabetização na vida social do indivíduo. Para a sociedade atual, porém, não basta que o indivíduo re-conheça e reproduza os signos que formam a palavra, porque, isoladas e fora de contex-to, não bastam. É necessário que a criança e o adolescente sejam capazes de compreender e interpretar textos, bem como produzir textos próprios.

RESUmO Em nossa primeira viajem através da história atravessamos mares, séculos “desrespeitando” a qualquer lógica temporal. Isso obviamente, graças aos registros produzidos pelo homem de seu cotidiano, dos acontecimentos, da his-tória. Assim, conseguimos resgatar o passado para tentarmos compreender o presente e se possível projetar o futuro. Neste capitulo, fica clara a necessidade do ho-

1. Como sabemos, a escrita e a leitura são os canais principais da aquisição do conhecimento. Sendo assim, como os professores devem pro-ceder para estimular os alunos a compreender textos, interpretá-los, desenvolver seus próprios textos e a levantar hipóteses sobre eles?

Atividades:

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Siteshttp:/ /www.youtube.com/watch?v=sMH-MzOKbzq -

http://www.youtube.comwatch?v=2ZwfBBeHMAq&feature=fvw

O vídeo retrata a história da Educação Infantil na Idade Média e na Idade Mo-derna.

Saiba mais:

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Profa. Adriana Rodrigues de Paiva

Carga Horária | 15 horas

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Promover aprofundamento teóricosobre a Grécia da Antiguidade, rela-tivo à herança de sua cultura para o ocidente nas diversas áreas do conhe-cimento (filosofia, educação, artes, arquitetura, teatro) ideias e conceitos que deram origem às atuais ciências humanas, exatas e biológicas.

• Realizar análise comparativa entre:

a herança cultural da Grécia antiga, mais especificamente quanto à edu-cação e seus desdobramentos, socio-culturais e educacionais da sociedade brasileira contemporânea.

• Identificarosprincipaiselementosque

norteavam as concepções de educa-ção, trabalho, cidadania, infância e família da sociedade Grega, visando à realização de uma análise crítico-refle-xiva.

GRECIA AnTIGA: CUlTURA E

EDUCAÇÃO nA SOCIEDADE OCIDEnTAl

INTRODUÇÃO

O estudo da história da educação e da pedagogia é imprescindível ao conhecimento da educação atual, pois esta é um produto histórico. A educação presente é, ao mesmo tempo, fase do passa-do e preparação do futuro. A história da educação estuda o passado como explicação do estágio atual, ou seja, o conhecimento do passado é apenas uma chave para entender o presente. Assim, o estudo da história da educação, irá nos servir para encontrar o caminho de uma educação real-mente voltada para o desenvolvimento pleno do homem e sua realização como cidadão.

A Educação na Grécia Antiga: a Paidéia faz uma contextualização histórica do mundo antigo, evidenciando as características do modo de produção escravista e a organização social e política, preparando para iniciar um estudo em que caracterizamos e refletimos sobre o ideal de educação grega, ou seja, a Paidéia.

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1. CONTEXTO HISTóRICO DO mUNDO ANTIGOAntes de adentrarmos pela história da educa-ção na Grécia, convém fazer uma breve con-textualização histórica, sobretudo, localizando o nosso objeto de estudo, com o intuito de melhor compreendermos a evolução da edu-cação e da cultura grega.

Geograficamente, a Grécia está localizada a leste do mar Mediterrâneo, na Península Bal-cânica, apresentando relevo acidentado e um litoral recortado por golfos, banhado pelo mar Egeu e pelo mar Jônio.

O território grego é cortado ao meio pelo gol-fo de Corinto. Ao norte desse golfo localiza-se a Grécia continental; ao sul, a Grécia penin-sular. Devido ao relevo marcadamente monta-nhoso, a prática da agricultura releva-se difícil na Grécia, registrando-se um quinto das ter-ras. Assim, o comércio tornou-se a atividade econômica básica. Como a superfície contínua da Grécia era bastante limitada, os gregos, passaram a habitar também as ilhas próximas, bastantes numerosas. A ilha de Eubéia ficava separada do continente pelo estreito de Euri-pes. Ítaca, Cefanônia, Córcira e Zaquintos loca-lizavam-se no mar Jônico. Ao sul do Pelopone-so, ficava Cítara, que representava uma etapa para a ilha de Creta, a mais extensa de todas. As Cícladas (Andros, Delos, Paros, Nexos) loca-lizavam-se no Egeu como as Espóradas (Rodes, Samos, quios, Lesbos). Essas ilhas constituíam a Grécia colonial, constituída por terras mais distantes da Grécia: Ásia Menor (Eólica, Jôni-ca, Dória); Sul da Itália (Magna Grécia); Costa Egípcia (Náucratis).

Desde o período neolítico é que se tem notícia da presença do homem na península Balcâni-ca. Os pelasgos foram seus primeiros habitan-tes, possivelmente, de origem mediterrânea. Os cretenses, porém, foram mais importantes como civilização, predominando em toda a região do Egeu. Tantos os pelasgos como os cretenses, geralmente são considerados povos anteriores aos gregos (povos pré-helênicos). A história egeana teve suas origens na ilha de Creta, irradiando-se daí para a Grécia conti-nental e também para a Ásia Menor. Cerca de 1.800 a.C., Cnossos e Faístos, na ilha de Creta, atingiram o seu apogeu. O palácio de Cnos-sos foi destruído entre cem e duzentos anos mais tarde. Formou-se uma nova dinastia, à qual se devem diversas transformações, inclu-sive o tipo de escrita. Os chamados “povos do mar” surgiram pelos fins do século xV a.C., e por certo foram os predecessores dos povos gregos. Eram os aqueus, povos de origem in-do-européia. Da miscigenação de cretenses e aqueus originou-se a civilização Miceniana.

Duzentos anos mais tarde, os dórios, os jônicos e os eólios, outros povos helênicos, se transfe-riram para Grécia. Os invasores venceram os aqueus, e substituíram as cidades pelas suas. Tais cidades viram transformar-se nas grandes representantes da Grécia Antiga: Atenas, Te-bas, Esparta e outras.

Devidamente localizados, vejamos de forma resumida é claro, o que esse povo da região sul da Europa, habitante de uma região ensolara-da e banhada pelo mar Mediterrâneo, legou à sociedade ocidental.

• Oidealesportivo-Osistemadeeducaçãodos gregos interessava-se tanto pelo corpo quanto pelo espírito. A beleza do corpo e a harmonia dos gestos eram procurados através de exercícios diários.

• Oidealcívico-Emboranãotivessemche-

gado à idéia de uma pátria unificada, os gregos amaram ardentemente as suas ci-dades e chegaram a morrer por elas.

• O regime democrático - Os atenienses co-

nheceram e transmitiram à posteridade um regime político que chamaram de de-mocracia e que se caracteriza pelo governo do povo pelo povo ou através de represen-tantes do povo;

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Vamos ficar de nos períodos Clássico e Hele-nístico:

• Clássico (500-338a.C.):operíododees-plendor da civilização grega, ainda que discutível. As duas cidades consideradas mais importantes desse período foram Es-parta e Atenas, além disso, outras cidades muito importantes foram, Tebas, Corinto e Siracusa.

• Helenístico (338-146 a.C.): crise da pólis

grega, invasão macedônica, expansão mi-litar e cultural helenística, a civilização gre-ga se espalha pelo mediterrâneo e substi-tuí e se funde a outras culturas.

1.1. A TRADIÇÃO GREGA: Esportes, Cultura, Vida Familiar e Vaidades

Na Grécia Antiga, aos homens cabiam as res-ponsabilidades públicas, isso fazia com que ficassem muito tempo longe de casa. Entre suas principais atri-buições estavam a política, a pro-dução agrícola, o comércio ma-rítimo, a caça e o artesanato. Para se diverti-rem, eles gostavam de praticar certos esportes como a luta livre, andar a cavalo e a partici-pação nos jogos olímpicos. A população mas-culina grega também se juntava para comer e beber vinho, em reuniões onde não admitiam a presença de mulheres.

As mulheres estavam restritas ao ambiente do-

• Odesenvolvimentodasciências -Osgre-gos desenvolveram as ciências puras, tais como a matemática, fizeram progredir igualmente as ciências experimentais e aplicadas.

• A influência literária - Os gregos criaram

o teatro, a tragédia e a comédia. Criaram também uma nova forma de ver a História, que até então não passava de uma lista de nomes e de datas aproximadas.

• A influência artística - A arte grega pro-

duziu monumentos cuja beleza nos emo-ciona, mesmo quando parcialmente em ruínas, como o Partenon da Acrópole de Atenas. O ideal de beleza dos gregos ainda hoje é sinônimo de perfeição plástica.

A história da Grécia não é pequena, nem cro-nologicamente, nem tão pouco a cultura de-senvolvida em cada período. Assim, antes de analisarmos a educação na Grécia, vejamos como se costuma dividir por razões meramen-te didáticas os períodos vividos pela civilização Grega, logo a seguir conheceremos um pouco do seu povo, seus hábitos, sua forma de viver e conceber os diversos elementos presentes em sua sociedade.

• Homérico (1150-800 a.C.): chegada dosaqueus, dórios, eólios e jônios; formação dos génos; ausência da escrita.

• Arcaico(800-500a.C.):formaçãodapólis;

colonização grega; aparecimento do alfa-beto fonético, da arte e da literatura além de progresso econômico com a expansão da divisão do trabalho do comércio, da in-dústria e processo de urbanização.

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capítulo 222

A base da sociedade grega antiga era constitu-ída pelos escravos. Eram eles que tinham que fazer o trabalho mais pesado nos campos, no artesanato, nas lojas, nos barcos e também na mineração. Suas vidas não eram muito dife-rentes daquela que levavam os cidadãos po-bres das polis gregas. Aos escravos eram proi-bidas muitas coisas como ir à escola, participar da vida política ou mesmo usar seus próprios nomes. Seus nomes eram dados pelas pessoas que os possuíam. Eles eram considerados bens (ou mercadorias) e como tal pertenciam aos cidadãos gregos.

As pessoas que se tornavam escravos eram pri-sioneiros de guerras, alguns filhos de escravos que adquiriam essa condição por heredita-riedade. Crianças abandonadas a sua própria sorte nas cidades da Grécia Antiga acabavam sendo resgatadas por algumas famílias e, para viver em suas casas tinham que traba-lhar como escravos. As cidades gregas tinham quantidades elevadas de escravos, muitas ve-zes equivalente ou mesmo superior ao número de cidadãos.

1.2. CARACTERÍSTICAS DO mODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA

A escravidão aparece na Grécia como institui-ção social. Segundo Aristóteles, o fundamento da escravidão era a diferença das raças. O meio de conseguir escravos era fazer prisioneiros de guerra: a pirataria, as corridas sobre os mares do sul davam-lhes grande soma de cativos. Desde então o tráfico era muito praticado. A população da época, pelos cálculos de Letron-ne, era de 110.000 escravos e 130.000 livres. Como se vê havia duas raças, uma exterminan-do a outra, como acontecia com as hilotas na

méstico (exceto no caso das espartanas). A elas era permitida a participação em alguns rituais religiosos, enterros, casamentos e visitas rápi-das a vizinhas e amigas. Em suas casas, as mu-lheres gregas tinham que cuidar do trabalho doméstico e criar os filhos. Muitas mulheres gregas tinham escravas que cozinhavam, lim-pavam e trabalhavam nas plantações. Escravos eram comprados para garantir a segurança das casas. Esposas e filhas não eram admitidas nos Jogos Olímpicos, pois os atletas não usa-vam roupas, participando pelados das provas.

quando nasciam as crianças gregas, os pais realizavam um ritual doméstico em que car-regavam seus filhos, dançando pela casa, to-talmente nus. Amigos e parentes mandavam presentes. A família decorava a entrada da casa com galhos de oliveiras (se a criança fosse um menino) ou um pedaço de lã (em caso de meninas).

As meninas só deixavam de morar nas casas de seus pais depois de se casarem (exceto em Esparta). Como suas mães, era-lhes permitido participar de alguns rituais, enterros e visitar parentes e amigos por períodos de tempo mui-to curtos. Seu trabalho era ajudar a mãe nas tarefas domésticas ou mesmo no trabalho nos campos, quando preciso.

Na maior parte das cidades-estado gregas, os meninos ficavam em casa ajudando nos cam-pos, velejando ou ainda pescando. quando completavam seis ou sete anos iam às escolas.As crianças possuíam animais de estimação e brinquedos de uso corriqueiro. Entre os bichos domésticos prevaleciam tartarugas, bodes, ca-chorros, ratos e pássaros. Os brinquedos mais populares eram os ioiôs, bonecas feitas de ter-racota, cavalos (com rodas nas bases) puxados por cordas, animais feitos com massinha e chocalhos.

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centeio, a cevada ou ainda a aveia. Cultivavam e comiam regularmente azeitonas (e o azeite de oliva), uvas e figos. Criavam bodes, ovelhas e cabritos dos quais extraíam a carne, o leite e as peles (além dos chifres, usados para con-feccionar vários acessórios). O leite de ovinos e caprinos permitia aos gregos a produção de queijos variados e de grande qualidade. Nas ci-dades localizadas em regiões costeiras tinham ainda a possibilidade de usar e abusar do con-sumo de peixes e frutos do mar, muito comuns na mesa dos gregos. O consumo de carnes era mais comum em festividades religiosas ou em ocasiões especiais como celebrações de casa-mentos ou nascimento de filhos.

O vestuário dos gregos era simples e compu-nha-se, basicamente, de roupas de linho no verão e de lã no inverno. Essas peças podiam ser compradas na ágora, o local onde se estru-turava o comércio nas pólis gregas, mas essas peças custavam muito caro, por esse motivo a maior parte das famílias pobres produzia suas próprias vestimentas. Uma boa parte dessas roupas mantinha a cor original da lã ou do li-nho, algumas passavam por um processo de colorização com tinturas.

Eram feitas pelas mulheres das casas, algumas peças confeccionadas pela esposa ou pelas filhas, a maioria pelas escravas. Ornamentos que representavam a cidade-estado de origem dessas pessoas eram produzidos e colocados junto com as roupas ou ainda pintados nas mesmas. A utilização de brincos, anéis, cor-rentes, gargantilhas ou qualquer outra espécie de jóias estava restrita as famílias mais ricas e tradicionais das pólis. Era comum que homens e mulheres usassem perfumes feitos a base de flores e ervas.

Lacônia. 20 A escravidão na Grécia era, toda-via, mais branda que a de Roma e era muito espalhada nas cidades, onde cada um para se entregar aos negócios do Estado utilizava o trabalho de um escravo. Nessa civilização eminentemente artística, havia na escravidão certos detalhes, que salvavam a dignidade do homem, assim, a avaliação dos seus talentos, cuja manifestação era plenamente permitida.

As casas gregas (entre os séculos VI e V a.C) eram construídas com dois ou três cômodos, tendo ao seu redor um grande jardim, sendo feitas basicamente com pedras, madeira ou ainda tijolos. Casas maiores ainda possuíam cozinhas, um espaço para banhos, uma sala de jantar para homens e, talvez, uma área onde as mulheres podiam sentar-se e conversar. Os jardins eram utilizados para que homens e, es-pecialmente as mulheres, pudessem receber amigos ou apenas apreciar uma boa conversa sem sair de casa. Era comum que as mulheres costurassem ou tecessem malhas no jardim de suas casas.

Os gregos da Antiguidade gostavam muito de contar e ouvir histórias e fábulas. Uma de suas atividades favoritas consistia em reunir a famí-lia no jardim para que as crianças pudessem escutar as histórias contadas pelo pai ou pela mãe. Entre as histórias mais populares conta-das pelos gregos estavam as fábulas de Esopo e os contos da mitologia grega, derivados das sagas de Homero, “A Ilíada” e “A Odisséia”. Outra atividade comum nos jardins gregos era cozinhar e apreciar parte de suas refeições em seus belos e bem cuidados jardins.

Como parte de sua alimentação, os gregos costumavam consumir cereais como o trigo, o

Figura 5As fábulas de Esopo, como aquela em que a raposa desdenha as uvas, estavam entre as mais tradicionais histórias contadas entre as famílias gregas ao lado dos relatos mitológi-cos derivados da produção de Homero.

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A vaidade e os cuidados com a beleza faziam parte do cotidiano de homens e mulheres da Grécia Antiga. O uso de espelhos e escovas de cabelo era corriqueiro entre pessoas de ambos os sexos. Diferentes penteados, com destaque para os cabelos encaracolados e arranjos fei-tos com ceras e loções eram muito comuns. As mulheres mantinham seus cabelos longos. A utilização de presilhas de metal ou fitas co-loridas nos cabelos femininos era popular. Ha-via uma admiração muito grande por cabelos loiros, por isso as mulheres costumavam pintar seus cabelos.

Os homens mantinham cortes curtos e, a não ser que fossem soldados, cultivavam barbas e/ou bigodes. Uma parte da vida social dos ho-mens gregos acontecia nas barbearias, onde se reuniam para cuidar de sua aparência (cortar os cabelos e aparar barba e bigodes) e tam-bém para discutir política, filosofia, artes, es-portes e para conversar de assuntos diversos.Os gregos gostavam muito de dançar. Eles acreditavam que ao dançar melhoravam sua condição física e emocional. As danças rara-mente reuniam pessoas de sexos diferentes, restringiam-se a encontros de homens ou de mulheres. Existem registros de aproximada-mente 200 tipos diferentes de danças gregas tradicionais do período antigo, variando das danças cômicas as danças de guerra, atléticas ou religiosas e ainda aquelas relacionadas a casamentos, funerais ou demais celebrações. Essas danças eram acompanhadas por músicas provenientes de instrumentos como liras, flau-tas, tamborins, tambores e castanholas.

1.3. ORGANIZAÇÃO SOCIAL E POLÍTICA

As colônias foram o meio utilizado pelos gre-gos para disseminarem a sua religião e seus hábitos por toda a extensão do Mediterrâneo. A fundação de colônias gregas não era de ini-ciativa do Estado. Um grupo de elementos, obedecendo à chefia de um, encarregado de levar o fogo sagrado, saía da mesma cidade à procura de um local onde pudesse se estabele-cer e construir cidades independentes, ligadas apenas pela religião à cidade de origem. Essa modalidade e o aparecimento da moeda foi outro fator da revolução da econômica. Rique-zas móveis se constituíram e, houve descon-tentamento entre as classes sociais inferiores. As lutas políticas sucediam-se. Como solução, foi promulgada leis para regulamentar as rela-ções de classes.

Tanto Esparta como Atenas mantiveram cons-tantes lutas pela hegemonia grega. Atenas teve o seu apogeu no transcorre da época de Péricles (463-529 a.C.). Péricles foi o principal representante do partido democrático, que su-biu ao poder em 463 a.C. No fim do governo de Péricles, eclodiu a luta entre Esparta e Ate-nas, que seria uma das mais longas e violentas guerras do mundo antigo.

EDUCAÇÃO NA GRÉCIA

A visão que os gregos tinham do mundo os distinguia de todos os demais povos do mun-do antigo. Os gregos colocaram a razão aci-ma dos seus mitos e a utilizaram como ins-trumento a serviço do próprio homem. Os gregos glorificavam o homem como o ser mais importante do universo. Podemos dizer que a origem dessa atitude se encontra na realidade sócio poética da Grécia, processo que se rea-liza entre 1200 e 800 a.C. Trata-se do período pré-Homérico que recebeu esse nome, devido ao que se conhece da interpretação das lendas contidas nos poemas; “Ilíada” e “Odisséia”, que a tradição atribui a Homero.

CARACTERÍSTICAS

Os atenienses acreditavam que sua cidade-es-tado iria tornar-se a mais forte se cada menino desenvolvesse integralmente as suas aptidões.

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perior. Tanto a Ilíada como a Odisséia nos re-metem, através dos mitos, a grandes feitos do passado. As recordações dessas ações exem-plares representadas nos mitos já têm em si um conteúdo educativo. Os mitos, no entan-to, não devem ser vistos como uma forma de comparação com a vida do homem comum, e sim analisados pela sua própria natureza.

Na Ilíada está presente o ideal heróico do ho-mem corajoso, guerreiro, combativo, enquan-to na Odisséia é valorizada a cultura e a moral aristocrática, a moral dos maiores (a origem do termo “aristocrático” é aristoi, que signifi-ca os melhores, os chefes, os mais corajosos, os mais honrados). Os heróis homéricos lutam para obter a honra no decorrer da vida e não para serem considerados honrados apenas de-pois da morte.

O homem vulgar não tem areté, que é um atri-buto da excelência humana que orienta a prá-xis, a ação cotidiana do homem para o Bem. O texto épico busca narrar o mundo ideal; por-tanto, tudo aquilo que é baixo, insignificante e falho é varrido dele. Apesar disso, na épica homérica deparamos com situações semelhan-tes às vividas pelo homem comum, como, por exemplo, uma pessoa recebendo conselhos de outra. Em um trecho da Ilíada, Fênix, o edu-cador do jovem Aquiles, herói-protótipo dos gregos, recorda-lhe a finalidade para a qual foi educado: “proferir palavras e realizar ações”. Passagens como essa tinham caráter normati-vo, eram passos a serem seguidos.

Com o tempo, a educação grega foi se modi-ficando e deixou para trás o sentido inicial. A busca pela areté decorrente de uma formação mais ética acabou dando lugar a um tipo de educação mais utilitarista, que preparasse o aluno para a vida privada e pública.

O governo não controlava os alunos e as es-colas, um garoto ateniense entrava na escola aos seis anos e ficava sob os cuidados de um pedagogo que ensinava aritmética, literatura, música escrita e educação física; o aluno deco-rava muitos poemas e aprendia a fazer parte dos cortejos públicos e religiosos. As meninas não recebiam qualquer educação formal, mas aprendiam os ofícios domésticos e os traba-lhos manuais com as mães. O principal objeti-vo da educação grega era preparar o menino para ser um bom cidadão. Os gregos antigos não contavam com uma educação técnica para preparar os estudantes para uma profis-são ou negócio.

A ARETÉ

A educação grega era voltada para a formação de uma individualidade perfeita e indepen-dente. A palavra Paidéia significa “criação de meninos”; antes dela, porém, apareceu outro termo ainda mais essencial à formação grega: a areté, que pode ser traduzido por virtude.As principais obras do helenismo vêm desde a idade heróica de Homero até o Estado do-minado pelos filósofos, idealizado por Platão. Como representantes da Paidéia grega estão os poetas, músicos, filósofos, retóricos, isto é, todos aqueles que mexem com as palavras. Mas foram os textos homéricos, Ilíada e Odis-séia, as grandes fontes inspiradoras do desen-volvimento da educação grega baseada no modo de vida virtuoso.

Atualmente existem dúvidas sobre a autoria dessas obras, se foram escritas por um só au-tor, e se são pertencentes à mesma época. Isso se dá porque as características históricas da Ilíada a colocam como um poema bem mais antigo que a Odisséia. Na prática, porém, con-tinuamos agrupando-as sob o nome de Home-ro. Além de haverem tido grande influência na educação do homem grego, tais poemas são considerados os testemunhos mais remotos daquela cultura, em que estética e ética anda-vam juntas. Talvez por isso essas obras de arte se prestem ao papel de mestres da juventude.

Se por um lado Platão criticava a falta de ver-dade existente nos poemas épicos, por outro é inegável que nesses textos estejam manifestos a riqueza humana e o espírito do homem su-

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1.4. A PAIDÉIA - O IDEAL DE EDUCAÇÃO GREGO

Durante os séculos V e VI a. C à cultura gre-ga, impulsionada pelas transformações sociais e econômicas, sofre mudanças. Surgem novos grupos sociais ligados ao comércio, estes recla-mam uma maior participação na vida política da Grécia. Ao lado disso, surge uma cultura mais crítica em relação ao saber religioso e mí-tico, que exalta a razão pessoal de cada indiví-duo e é capaz de submeter à análise qualquer crença ou tradição. Para transmitir essa nova cultura, nasce um novo ideal de educação na Grécia, conhecido como Paidéia, que busca a formação do homem em suas várias esferas (social, política, cultural e educativa), ou seja, é uma educação mais antropológica e que con-sidera o homem como um ser racional. Essa educação atribui ao homem, sobretudo, uma identidade cultural e histórica.

Nasce à pedagogia como saber autônomo, sis-temático e rigoroso; nasce o pensamento da educação como episteme; e não mais como ethos e como práxis apenas.

1.5. OS DOCENTES

Na Grécia, o mestre geralmente é uma pessoa humilde, mal paga e sem prestígio. O ofício de mestre era o ofício de quem caíra em desgra-ça, era visto como mendigo e recebiam um sa-lário de miséria. Sofriam perseguições políticas por cobrarem por seu trabalho. Neste contexto começa o processo de estatização da escola, onde haverá uma melhoria das condições eco-nômicas e do prestígio social dos mestres. A Paidéia é entendida como uma formação ge-ral que dará ao homem a forma humana, ou seja, que o construirá como homem e como cidadão. Assim, ela significou a educação do

homem de acordo com a verdadeira forma hu-mana e que brota da idéia.

O termo Paidéia não pode ser traduzido sim-plesmente como educação, significa muito mais que isso, significa também cultura, instru-ção e formação do homem grego. Este termo começou a ser utilizado no séc. IV a.c. e nesta época significava apenas a criação dos meni-nos. Mas o seu significado se alargou e passou a designar também o conteúdo e o produto dessa educação. Torna-se claro, porque, a par-tir do séc. IV os gregos deram o nome de Pai-déia a toda a sua tradição.

Enfim, a Paidéia, é a busca do conhecimento do homem, de forma individual, para que este possa interferir na organização política e social da pólis, a idéia principal é colocar o homem a par de todo o conhecimento necessário para a harmonia consigo próprio e com a comunida-de ao seu redor.

1.6. A EDUCAÇÃO NO PERÍODO HELENÍSTICO

No final do século IV a.C., se inicia a decadên-cia das Cidades-Estados gregas e a cultura he-lênica se mistura com as das civilizações que dominam a Grécia. Desta forma a antiga Pai-déia torna-se enciclopédia, ou seja, “educação geral” que consistia na formação do homem culto diminuindo ainda mais o aspecto físico e estético. Neste período cresce o papel do pe-dagogo com a criação do ensino privado e o desenvolvimento da escrita, leitura e o cálculo.

Inúmeras escolas se espalham e da união de algumas delas (Academia e Liceu) é formada a Universidade de Atenas, lugar de importante desenvolvimento intelectual que dura inclusive até o período de dominação romana.

1.7. PERÍODO CLÁSSICO

Atenas havia se tornado o centro da vida so-cial, política e cultural da Grécia, em virtude do crescimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares. Atenas vivia seu momento de maior florescimento da de-mocracia. A democracia grega possuía duas características de grande importância para o futuro da filosofia.

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ca da ação pedagógica. Essas reflexões vão in-fluenciar por séculos a educação e a cultura do ocidente. Os povos orientais acreditavam que a origem da educação era divina, o co-nhecimento deles se resumia aos seus próprios costumes e crenças. Tudo isso impedia uma re-flexão mais profunda sobre a educação, pois, esta era fruto de uma organização social teo-crática. Contudo, na Grécia Clássica, a razão se sobrepõe ao conhecimento puramente religio-so e místico.

Nessa época a concepção dos gregos de edu-cação se resume à inteligência crítica e à liber-dade de pensamento do homem. O nascimen-to da filosofia grega foi um fator de grande importância para o desenvolvimento de uma nova concepção de educação da Grécia. Os períodos em que a filosofia grega se divide são:

• Períodopré-socrático(SéculoVIIeVIIa.C.);os filósofos das colônias gregas iniciam o processo de separação entre a filosofia e o pensamento mítico.

• Períodosocrático(SéculosVeIVa.C.)Só-

crates, Platão e Aristóteles. Os sofistas são contemporâneos de Sócrates e alvos de suas críticas. Isócrates também é desse pe-ríodo.

• Períodopós-socrático(SéculosIIIeIIa.C.)

época helenística, após a morte de Alexan-dre. Fazem parte desse período as corren-tes filosóficas: o estoicismo e o epicurismo.

• O Período pré-socrático se inicia no final

do século VI a.C., quando aparecem os primeiros filósofos nas colônias gregas da Jônia e na Magna Grécia. Esse período caracteriza-se como uma nova forma de analisar e ver a realidade. Antes esta era

O indivíduo somente se torna cidadão quan-do exerce seus direitos de opinar, discutir, deli-berar e votar nas assembléias. Dessa forma, o novo ideal de educação é a formação do bom orador, ou seja, aquele que saiba falar em pú-blico e persuadir os outros na política. Para dar esse tipo de educação aos jovens, surgem os sofistas que foram os primeiros filósofos do Período.

Os sofistas não tinham uma origem bem defi-nida, eles surgiram de várias partes do mundo. Sofista significa “sábio”, “professor de sabe-doria”, no sentido pejorativo passa a significar “homem que emprega sofismas”, ou seja, ho-mem que usa de raciocínio capcioso, de má-fé com intenção de enganar. Os sofistas contri-buíram muito para a sistematização da edu-cação. Eles se julgavam sábios e possuidores da sabedoria. Eles ensinavam à retórica, que é a arte da persuasão, mas, vale ressaltar que não ensinavam de graça, os sofistas cobravam por seus ensinamentos. E por cobrarem e se julgarem possuidores da sabedoria, foram bas-tante criticados por Sócrates e seus seguidores, pois, para Sócrates o verdadeiro sábio é aque-le que reconhece sua própria ignorância. Para combater os sofistas, Sócrates desenvolve dois métodos que são bastante conhecidos até os dias de hoje: a ironia e a maiêutica. O primeiro consiste em questionar o ouvinte a respeito do que ele considera como verdade e tentar fazer o ouvinte entender que ele realmente não sabe tudo. Depois que o ouvinte se convencia disto, Sócrates passava a utilizar o segundo méto-do que é a maiêutica, que significa dar luz às idéias. Nesse momento o ouvinte consciente de que não sabe tudo busca saber mais, bus-cando respostas por si próprio.

1.8. A PEDAGOGIA GREGA OS PERÍODOS DA FILOSOFIA

O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra “paidagogos”, nome que era dado aos escravos que conduziam as crianças à es-cola. Somente com o tempo, esse termo pas-sou a ser utilizado para designar as reflexões que estivessem relacionadas à educação.A Grécia clássica pode ser considerada o ber-ço da pedagogia, até porque é justamente na Grécia que tem início a primeira reflexão acer-

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analisada e entendida, que anteriormente era analisada e entendida apenas do pon-to de vista mítico. Vale ressaltar que a filo-sofia não vem para romper radicalmente com o mito, mas sim utilizar o uso da ra-zão no esclarecimento da origem do mun-do. Os antigos mitos sobre a origem do mundo que foram transmitidos oralmente e depois transformados em poemas por Homero e Hesíodo são questionados pelos pré-socráticos com o objetivo de explicar a origem do mundo. Outra diferença que podemos notar entre a filosofia nascente e as concepções míticas é que esta não ad-mitia reflexões ou discordância. A filosofia nascente por sua vez deixa o espaço livre para reflexão, daí cada filósofo surgir com uma explicação diferente para a origem do mundo.

Assim, todas as antigas afirmações a respeito da natureza (phisys) são questionadas, ou seja, os filósofos passam a exigir fatos que justifi-quem as idéias expostas. Toda essa mudança de pensamento é de fundamental importância para o enriquecimento das reflexões pedagó-gicas em busca de um novo ideal de educação.

O Período Socrático (séculos V a IV a C.) é mar-cado pela influência de três grandes filósofos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Sócrates (470 – 399 a. C) tomou como ponto de partida o princípio básico da doutrina sofista. “O ho-mem é a medida de todas as coisas” (CHAUÍ, p. 37). Se o homem é a medida de todas as coisas, é obrigação de todo homem procurar

conhecer a si mesmo. Para ele, o homem de-veria procurar conhecer a si mesmo. Para ele, o homem deveria procurar os elementos deter-minantes da finalidade da vida e da educação. Porém, a consciência individual deveria deixar de se fundamentar por simples opiniões, para poder guiar-se por idéias de valor universal.

Platão nasceu em Atenas (428 -347 a.C.) de família nobre. Foi discípulo de Sócrates. A obra de Platão apresenta uma grande preocupação política com o seu país (que havia saído de uma tirania. Suas principais obras são: A República e As Leis. Para Platão até os 20 anos, todos merecem a mesma educação, nesta, ocorre o primeiro corte e se define que são os grosseiros que devem se dedicar a agricultura, comércio e ao artesanato. Depois devem estudar mais 10 anos e se dar o segundo corte, e se define daqueles que têm a virtude da coragem, esses serão os guerreiros que cuidarão da defesa da cidade. Os que sobrarem desses cortes serão incluídos na arte de dialogar e preparados para governar.

O conhecimento, para Platão, é resultado do lembrar daquilo que a alma já contemplou no mundo das idéias, sendo assim, ela consiste em despertar no indivíduo o que ele já sabe e, não se apropriar de um conhecimento que está fora. Outro aspecto da pedagogia platô-nica é a crítica que ele faz aos poetas. Na sua época a educação das crianças era baseada em palmas heróicas da época, mas ele diz que a poesia deveria ficar limitada ao mundo artísti-co e não ser usada na educação.

Em Aristóteles (384-332 a.C.) podemos perce-ber um outro importante aspecto da pedago-gia grega. Apesar de ser discípulo de Platão, ele desenvolveu uma teoria voltada para o real, onde procurava explicar o movimento das coi-sas e a imutabilidade dos conceitos, ou seja, para Aristóteles tudo tem um devir, um mo-vimento, uma passagem. Ele também desen-volveu um conceito de educação partindo da idéia de imitação:

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aos superiores, o ódio à covardia, o antiindi-vidualismo e a coragem extremada. Vejamos a seguir algumas etapas da educação espartana: Até os sete anos, os meninos eram educados em casa, com a família, aprendendo os valores de sua classe e a história de seus antepassados;

A partir dos sete anos, os meninos começavam a ser educados pelo Estado nos ideais de civis-mo, bravura, patriotismo, sacrifício. Também aprendiam cálculo e as primeiras letras.

A partir dos 12 anos começava a educação militar propriamente dita em grandes acampa-mentos onde aprendiam a ser duros, resisten-tes, frios e corajosos. Começavam a participar de operações militares, cultivando a força físi-ca e a coragem.

Após 17 anos nos acampamentos, os meninos passavam pelo ritual da kriptia onde teriam que provar sua coragem e habilidade caçando escravos pelas terras espartanas.

Aos 30 anos os espartanos adquiriam o direito à cidadania e podiam participar da assembléia. Finalmente aos 60 anos, os espartanos podiam entrar para a reserva.

Era o fim do serviço militar, e o início da parti-cipação na Gerúsia, a assembléia dos anciãos. Esparta admitia e fazia pleno uso dos castigos físicos quando seus meninos não cumpriam com o que se esperava deles, sendo tristemen-te célebres os espetáculos de auto-flagelação pública. Ao contrário de Atenas, a educação em Esparta estava voltada para a conservação da tradição. Nesse sentido, podemos compa-rar Esparta com todos os regimes totalitários que lhe sucederam e que buscaram utilizar a educação para incutir idéias refratárias a mu-danças e ao novo, algo bem distante do verda-deiro espírito da educação.

1.9. AS TRANSFORmAÇÕES DA mENTALIDADE: DO mITO À RAZÃO.

A Emergência da Consciência Racional

O surgimento da filosofia na Grécia não é na verdade, um salto realizado por um povo pri-vilegiado, mas a culminância de um processo que se fez através de milênios e para o qual concorreram diversas transformações.

A escrita gera uma nova idade mental fixando a palavra, e consequentemente, o mundo para além daquele que o profere.

E o advento da lei escrita? Drácon, Sólon e Clís-tenes são os primeiros legisladores que mar-cam uma nova era.

A invenção da Moeda desempenha um papel revolucionário. Muito mais do que um metal precioso que se troca por qualquer mercado-ria, a moeda é um artifício racional, uma con-venção humana, uma noção abstrata de valor. A pólis se faz pela autonomia da palavra: não mais a palavra mágica dos mitos, concedida pelos deuses e, portanto, comum a todos, mas a palavra humana do conflito, da discussão, da argumentação.

Decorre disso tudo uma nova concepção de virtude (areté), diferente da virtude do guer-reiro belo e bom. Se antes a virtude era ética, aristocrática, agora é política, voltada para o ideal democrático da igual repartição do po-der.

A filosofia, “filha da cidade”: a filosofia surge como problematização e discussão de uma re-alidade antes não questionada pelo mito.

1.10. A EDUCAÇÃO ESPARTANA

A educação em Esparta era responsabilidade do Estado e uma palavra define bem o espí-rito da educação em Esparta: agogê (agoge), “adestramento”, “treinamento”.

Dentro dessa mentalidade, os meninos espar-tanos eram preparados para defender o Esta-do e morrer pela sua cidade. Seus valores mais importantes eram a disciplina, a obediência

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Não encontrávamos em Esparta o valor dado ao indivíduo em Atenas. Ao contrário: em Es-parta o importante era o grupo e a extrema obediência ao seu líder que, por sua vez, cum-pria cegamente as ordens dadas pelo governo de sua cidade. Para muitos, a inflexibilidade de Esparta era sua principal fraqueza, pois, ao educar homens apenas para obedecer e lutar, seus cidadãos não conseguiam viver em tem-pos de paz nem administrar cidades diferen-tes, já que só conseguiam ver o mundo através de um único prisma: sua cidade e seu modo de pensar.

As mulheres aprendiam a ler e escrever, ao contrário das mulheres em Atenas. As tarefas domésticas, como tecer, costurar e cozinhar ficavam a cargo dos hilotas, enquanto elas re-cebiam uma educação muitas vezes tão brutal quanto dos homens. Afinal, as mulheres em Esparta tinham que saber se defender sozi-nhas. Para isso recebiam treinamento militar e educação física. Participavam de eventos esportivos nos quais corriam, atiravam peso e arco e praticavam luta livre.

Na verdade, o que os legisladores espartanos queriam formar eram mulheres fisicamente fortes capazes de gerar os bravos guerreiros que a cidade tanto prezava e de zelar pelas suas propriedades quando seus maridos fica-vam longe nas longas campanhas militares promovidas pelos espartanos. A necessidade de contar com o apoio das mulheres em caso de insurgência numa sociedade altamente re-pressiva e conservadora fazia com que os ho-mens espartanos dessem a elas treinamento militar, participação em atividades políticas e maior liberdade para participar das atividades do cotidiano da pólis (inclusive dos esportes).

A valorização da mulher em Esparta existia em linha direta com sua capacidade de gerar a prole saudável e expulsar os invasores que por-ventura se aventurassem por suas terras, além de reprimir as revoltas dos escravos, os hilotas.

EDUCAÇÃO ATENIENSE

• Até os sete anos, osmeninos eram edu-cados em casa na convivência dos seus. A partir daí, começavam a receber educação elementar composta de música e alfabeti-zação. Essa educação era dada pelos tuto-res, mestres que transmitiam conhecimen-to aos filhos das famílias mais ricas.

• Apartirdos trezesanos,osmais riosco-

meçavam a ser educados em grandes gi-násios, locais nos quais os meninos eram reunidos para estudar, entre outras áreas, a matemática e a filosofia. Aí também re-cebiam educação cívica e educação física. Para os menos abastados, a idade de tre-ze anos marca o início do aprendizado de uma profissão.

• Dosdezesseisaosdezoitoanos,osjovens

atenienses recebiam treinamento militar. • Apósofinaldotreinamento,aeliteconti-

nuava seus estudos nas academias, como a de Platão, e refinavam ainda mais seus conhecimentos em filosofia, oratória e po-lítica.

As mulheres de Atenas, quando comparadas com as espartanas, dispunham de pouquís-simo prestígio, estando a apenas um degrau dos escravos na escala social. Por conta disso, ninguém esperava que uma menina ateniense aprendesse a ler ou escrever, muito menos re-ceber educação como os meninos. Chegava-se a dizer em Atenas que ensinar uma mulher a ler e escrever era como dar mais veneno a uma víbora.

Elas deveriam se doar ao máximo a seus ma-ridos e filhos e, dessa forma, abdicar quase que totalmente de seus interesses e vontades. Cuidar do lar, monitorar o crescimento de seus filhos e devotar integral fidelidade ao marido passava a ser a vida de qualquer mulher grega.

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RESUmOComo vimos, à Grécia clássica pode ser consi-derada o berço da Pedagogia.

A palavra paidagogos significa aquele que conduz a criança, no caso o escravo que acom-panha a criança à escola. Com o tempo, o sen-tido se amplia para designar toda a teoria da educação. De modo geral, a educação grega está constantemente centrada na formação in-tegral – corpo e espírito – mesmo que, de fato, a ênfase se deslocasse ora mais para o preparo esportivo ora para o debate intelectual, con-forme a época ou lugar. Nos primeiro tempos, quando não existia a escrita, a educação é mi-nistrada pela própria família, conforme a tra-dição religiosa. Apenas com o advento das pó-leis começam a aparecer as primeiras escolas, visando a atender a demanda.

Divididas em três classes, a elas restavam às tarefas de escravas, esposas dos cidadãos e cortesãs. As escravas eram as responsáveis pe-las tarefas da casa de sua dona e ajudavam a cuidar das crianças da casa. As esposas dos cidadãos repetiam após o casamento a mesma submissão ao marido que dedicaram aos pais e irmãos. Deviam ser dóceis e humildes, sempre a disposição dos seus esposos. Eram respon-sabilidades dessas esposas, além da criação de seus filhos, que cuidassem da casa com o auxí-lio dos criados (para isso tinham que averiguar o serviço doméstico e orientar os empregados quanto à forma como esse trabalho deveria ser feito), a confecção de tecidos para a criação de peças de vestuário que seriam utilizadas pelos seus próprios familiares, a produção de tapetes e cobertas e a manutenção e embele-zamento da casa.

No caso das famílias humildes, a diferença consistia na inexistência de criados para a exe-cução dos serviços domésticos, o que acarre-tava a necessidade de que esses trabalhos fos-sem realizados pela própria esposa, inclusive cozinhar, lavar e limpar a casa.

Já as cortesãs aprendiam a ler e escrever e tam-bém podia freqüentar espaços públicos, algo impensável para as esposas dos cidadãos, que viviam recolhidas em casa, no gineceu (parte da casa destinada às mulheres), mas apenas porque tinham a função de entreter os pode-rosos.

A PEDAGOGIA GREGA

O termo pedagogia é de origem grega e deriva da palavra paidagogos, nome dado aos escravos que conduziam as crianças à escola. Somente com o tempo, esse termo passa a ser utilizado para designar as reflexões feitas em torno da educação. Assim, a Grécia clássica pode ser considerada o berço da pedagogia, até porque é justa-mente na Grécia que tem início as primeiras reflexões acerca da ação pedagógica, reflexões que vão influenciar por séculos a educação e a cultura ocidental.

Na Grécia Clássica, pelo contrário, a razão autônoma se sobrepõe às explicações puramente religiosas e místicas. A inteligência crítica, o homem livre para pensar e formar os juízos a cerca da sua realidade, preparado não para submeter-se ao destino, mas para influenciar e ser agente de transformação como cidadão, eis no que se resume a revolucionária concepção grega da educação e seus fins.

Dentro dessa mentalidade, surgem várias questões cuja reflexão visa enriquecer os fins da educação. Como por exemplo:

1. O que é melhor ensinar?

2. Como é melhor ensinar?

Atividades:

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quanta coisa vimos até agora de um tempo tão distante e ao mesmo tempo tão presente em nossa sociedade, em especial na docência e em nossa formação como mestres e peda-gogos.

REfERênCIASARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.

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MARTINS, Jose. Educação Antiga: Educação no Egito, Grécia e Roma Disponível em: http://www.webart.com – acesso em:01.set.2010.

Vimos que Esparta tinha como filosofia edu-cacional formar guerreiros dispostos a matar e morrer pela sua cidade. Para isso, educava tanto homens e mulheres nas artes da guerra e dentro do mais rigoroso patriotismo e espírito de sacrifício e obediência.

No caso de Atenas, a própria organização so-cial da cidade exigia de seus cidadãos algo mais que apenas obedecer e lutar. Como berço da democracia, Atenas exigia de seus cidadãos o mínimo preparo necessário para dar conta das demandas que um regime democrático impõe aos seus cidadãos, que é o debate e a tomada de decisões. Para isso, os atenienses davam aos seus filhos uma educação bem mais flexível que a espartana na qual buscavam desenvolver nos seus cidadãos as mais diversas habilidades num conjunto afinado de conhecimentos ar-tísticos, intelectuais e sensoriais.

MULHERES DE ATENAS

“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasVivem pros seus maridos, orgulho e raça de Atenasquando amadas se perfumam, se banham com leite, se arrumamSua melenasquando fustigadas não choram,Se ajoelham, pedem, imploramMais duras penas, CadenasMirem-se no exemplo daquelas mulheres de AtenasSofrem pros seus maridos, poder e força de Atenas”

Holanda, Chico Buarque. Mulheres de Atenas. Ál-bum- Meus Caros Amigos, 1976.

3. qual a relação que podemos fazer entre a música Mulheres de Atenas e a vida das mulheres no Egito antigo?

SUGESTÃO DE FILMES

300 - http://www.youtube.com/watch?v=11YGVwGm3LU

A Odisséia - http://www.youtube.com/watch?v=Pq6nyTJGOYk

SITES

http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/cadernos/grecia/patrick.pdf

http://greek.hp.vilabol.uol.com.br/

Atividades:

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capítulo 3 33

Profa. Adriana Rodrigues de Paiva

Carga Horária | 15 horas

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Compreenderatravésdoestudoedapesquisa o processo de educação vi-venciado em Roma.

• Identificar, após estudo e análise os

elementos culturais que caracteriza-ram a civilização romana nos princi-pais períodos estabelecidos historica-mente.

• Estabelecerconceitoconclusivosobre

o papel docente na sociedade romana e seus reflexos na sociedade contem-porânea ocidental.

EDUCAÇÃO Em ROmA

INTRODUÇÃO

Em busca de conhecermos um pouco sobre a história da Roma do passado, vamos inevitavel-mente fazer relações com o presente, em especial com a educação, devido a nossa profissão. Essa Roma tão distante, mas que ao mesmo tempo está tão presente em nossa vida através da sua herança cultural nas diversas áreas do conhecimento, em nosso comportamento, conceitos e idéias, nos leva a conclusão de que a história sempre se encontra independentemente da lógica cronológica estabelecida os fatos históricos sempre se cruzam. Trocando em miúdos: “todo ca-minho vai dar na VENDA” - todo caminho nos leva a construção e reconstrução de uma única e grande história: A NOSSA.

A origem da sociedade romana não tem uma evidência concreta baseia-se numa lenda contada pelo poeta romano Virgílio, que alimentou a fantasia de seu povo ao contar que Roma teria sido fundada por dois irmãos Rômulo e Remo, os dois haviam sido abandonados pelo pai ao nascer e só sobreviveram por terem sido alimentados por uma loba.

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capítulo 334

A idéia de que todo cidadão de Roma deve es-tar pronto para a guerra a qualquer momento.Outro aspecto também nos chama atenção, trata-se de um lema “Pax para Bellum” (Guer-ra para a paz) o qual mostra bem o quanto este povo valorizava a disciplina militar. Foi em Roma que surgiu a idéia de um exército cen-tralizado pelo Estado, sendo este responsável por formar os jovens e dar a eles as noções de cultura romana e o conhecimento bélico ne-cessários para auxiliar o Império Romano na manutenção de suas colônias e/ou na tomada de novas.

Além da disciplina militar os romanos apren-diam noções de retórica, oratória e filosofia (inspirado na filosofia grega). O ideal romano quanto à formação da juventude estava colo-cado na idéia de que o jovem deveria ter amor ao Império e ao mesmo tempo saber se ex-pressar bem o suficiente para liderar as massas caso necessário.

quanto ao domínio das massas (o povo) pela palavra, oratória, discurso... Você percebe al-guma semelhança com o comportamento dos políticos da sociedade atual?

1. Um POUCO DA HISTóRIA DE ROmAComo vimos em nossa introdução não temos dados concretos sobre a data precisa da fun-dação de Roma assim vamos começar a contar um pouco da história dos Romanos a partir de 753 a.C., provável data de sua fundação.

A história de Roma pode ser dividida em três períodos (veja quadro):

Períodos Datas

Monarquia

de 753 a.C. (data tradicional da fun-dação de Roma) a 509 a.C. (derrota dos Tarqüínios).

República

de 509 a. C. (proclamação da Repú-blica) a 27 a. C. (Otaviano recebe o Senado o título de Augusto)

Impériode 27 a.C. a 476 d.C. (queda do Im-pério romano do Ocidente)

Reza a lenda que os irmãos cresceram, vinga-ram-se do pai e receberam a missão de fundar uma cidade no local onde foram encontrados pelo animal., criando consequentemente a data exata do “nascimento” de Roma: os ir-mãos teriam fundado a cidade em 753 a.C. O próprio nome dessa localidade derivou do nome de um deles (Rômulo), que acabou ma-tando seu irmão Remo devido a disputas po-líticas.

Embora o Império romano fosse muito mais expansionista e imperialista do que as nações gregas. É bom lembramos que antes da Idade Média o Império Romano cobria praticamen-te toda a Europa e boa parte da Ásia, e que, em sua expansão territorial invadiram a Grécia transformando-a em mais uma de suas colô-nias.

Em Roma o que mais se destacava no que se refere aos objetivos da educação pode-se dizer que era o sentimento de cidadania, os principais objetivos da educação em Roma se convertiam em especial: Na idéia de que o co-nhecimento da língua romano (Latim) era im-portante para se definir quem era cidadão; O respeito aos ancestrais e aos deuses romanos (inspirados em grande parte na religião grega);

Virgílio - Filho de um agricultor, Virgílio chegou a ser considerado como um dos maiores poetas de Roma. Sua obra mais conhecida, Eneida, pode ser considerada um épico de Roma e tem sido extremamente popular a partir da sua publica-ção até os dias atuais. Foi considerado ainda em vida como o grande poeta romano e expoente da literatura latina. Seu trabalho foi uma vigo-rosa expressão das tradições de uma nação que urgia pela afirmação histórica, saída de um perí-odo turbulento de cerca de dez anos, durante os quais as revoluções prevaleceram

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Virg%C3%ADlio

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contra os cartagineses ( séculos II e II a. C.), aos poucos são ocupadas as mais diversas regiões até que no século I a. C., o Mar Mediterrâneo torna-se conhecido como o Mare Nostrum ( Nosso Mar).

Com as conquistas militares de novos terri-tórios, os generais do Exército acumularam muitos poderes políticos e para deterem as revoltas dos povos dominados, resolveram concentrar o poder. Júlio César era general e havia conquistado a Gália em 60 a.C. Depois disso, deu um golpe em Roma, atacando-a no ano de 49 a.C. e proclamando-se ditador per-pétuo (ou seja, governaria com poderes ilimi-tados até a sua morte). Foi nesse mesmo ano que conseguiu dominar o Egito. No entanto, nem ele nem seu governo tiveram vida longa, foi assassinado pelos próprios romanos em 44 a.C.

Com a morte de Júlio César, três líderes políticos governariam jun-tos, entretanto, um deles, Otávio derrotou os ou-tros e foi o pri-meiro imperador romano em 31 a. C., recebendo do senado os títulos de Princeps (pri-meiro cidadão), Augustus (divino) e Imperador (su-premo). Passou para a história

Na Monarquia ou Realeza (753 a 509 a.C.), a economia deixa de ser baseada no pastoreio, desenvolve-se a agricultura que passa a ser o principal meio de subsistência do povo. Roma se expande comercialmente e começa a se transformar em urbs, “cidade”.

A posse comum da terra é substituída pela propriedade privada, surgindo a divisão de classes composta de quatro grupos: os patrí-cios, plebeus, clientes e escravos classificados segundo a posição política, econômica e social de cada pessoa.

A palavra “patrício” (do latim pater, pai) indi-cava o chefe da grande unidade familiar ou clã. Esses chefes, os patrícios, seriam descendentes dos fundadores lendários de Roma e possuíam as principais e maiores terras. Eles formavam a aristocracia, esse grupo tinha direitos políticos em Roma e formavam o governo.

Os plebeus eram descendentes de populações imigrantes, vindas das conquistas romanas, dedicavam-se ao comércio e ao artesanato, eram livres mas não tinham direitos políticos. (não podiam participar do governo e estavam proibidos de casar com patrícios).

Também forasteiros, os clientes trabalhavam diretamente para os patrícios, numa relação de proteção (jurídica) e submissão econômica, mantendo com os patrícios laços de clientela, que eram considerados sagrados além de he-reditários, ou seja, passados de pai para filho. Por fim, os escravos que inicialmente eram aqueles que não podiam pagar suas dívidas e, portanto, tinham que se sujeitar ao trabalho forçado para sobreviver. Posteriormente com as guerras e conquista, a prisão dos vencidos gerou novos escravos, que acabaram se tor-nando a maioria da população.

1.1. REPÚBLICA

A expansão romana iniciou-se na República por meio das lutas contra os povos vizinhos para obterem escravos, essa política expansio-nista inicia-se no século V a.C. e já no século III a.C. toda a península encontra-se em poder dos romanos. Após as três Guerras Púnicas,

Figura 01Gaius Julius Caesar foi um lí-der militar e político da Repú-blica. As suas conquistas na Gália estenderam o domínio romano até o Oceano Atlân-tico: um feito de consequên-cias dramáticas na história da Europa.

No fim da vida, lutou numa guerra civil com a facção con-servadora do senado romano, cujo líder era Pompeu. Depois da derrota dos optimates, tor-nou-se ditador (no conceito romano do termo) vitalício e iniciou uma série de reformas administrativas e económicas em Roma.

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A criança grega freqüentava dois tipos diferen-tes de escolas: a escola de música. A música tem um significado mais amplo, como o canto em forma de coral e a declamação de poesias, tendo também como expressão a dança que seria a ligação entre o exercício físico e a mú-sica. A escola de ginástica, era considerada de grande importância, pois vinha acompanhada de uma preocupação moral e estética.

1.2. A HERANÇA GREGA

Como sabemos os acontecimentos históricos “obedecem” uma ordem cronológica - Ok? Mas isso é apenas um detalhe, a história está em constante movimento os acontecimentos estão sempre se entrelaçando em um processo de constante interação. Assim, nada mais rele-vante que lembremos um pouco da educação grega, no sentido de posteriormente verificar-mos com mais propriedade as influencias que a educação romana recebeu dessa civilização.É inestimável a herança grega na educação inclusive na origem da pedagogia. Tanto no conceito quanto no significado de sua ação, a pedagogia nasceu na Grécia Antiga com a palavra paidagogos, que deu origem a peda-gogia. Primeiramente, o termo significava lite-ralmente “aquele que conduz a criança” (ago-gôs, “que conduz”) e se aplicava ao escravo que acompanhava a criança à escola. Com o tempo, o conceito passou a abranger toda te-oria sobre a educação.

Durante muito tempo a leitura e a escrita me-recia menor atenção, dando maior ênfase as práticas esportivas e musicais. À medida que aumenta a exigência de melhor formação in-telectual, começa a surgir três níveis de educa-ção: a elementar, a secundária e superior.

Na educação elementar surge a figura do gra-mático, que costuma reunir um grupo de alu-nos, a quem ensina leitura e escrita, usando como método o recurso da silabação, repeti-ção, memorização e declamação, escrevem em tabuinhas enceradas e fazem cálculos com o ábaco ou com o auxílio dos dedos.

A educação superior só aparece com os sofis-tas, onde se ensina principalmente a retórica e a filosofia.

com o nome de Augusto, embora essa deno-minação acompanhasse todos os imperadores que o sucederam. Roma teve 16 imperadores entre os séculos I e III d.C. A partir daí, come-çou a desagregação do Império e o descontro-le por parte de Roma dos povos dominados.

Entre os séculos III e IV d.C., o imperador Dio-clesiano dividiu o Império Romano numa par-te ocidental e noutra oriental. Constantino, o imperador seguinte, tomou duas importantes medidas: reunificou seus domínios, tornando a capital do Império Romano Bizâncio (depois chamada de Constantinopla e, hoje, Istambul, na Turquia), localizada na parte oriental dos domínios romanos e legalizou a prática do cristianismo.

Finalmente, Teodósio, um dos últimos impera-dores, tornou o cristianismo religião oficial de todo o Império e dividiu-o novamente em duas partes, sendo as capitais Roma e Constanti-nopla. A primeira foi dominada pelos povos germanos em 476 e marcou o fim do Império Romano do Ocidente. A segunda foi domina-da em 1453 pelos turcos e marcou o fim do Império Romano do Oriente.

Em Atenas a educação da criança de até 7 anos se restringe em casa, a cargo da família, muitas vezes aos cuidados de amas e escra-vos, neste momento surge a figura do “ pe-dagogo”, designa em sua origem o condutor de meninos; por isso eram chamados de pe-dagogos os escravos encarregados de guiar as crianças à escola.

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des de algumas profissões fossem ensinados em escolas. Um costume que os patrões “mais empreendedores” praticavam para melhor ex-plorar o trabalho servil fornecendo escravos mais qualificados para serem empregados em suas propriedades, as “escolas profissionali-zantes” da época permitiam utilizar o ensino como investimento “de capital” na medida em que possibilitava vender ou alugar os mesmos escravos a um preço bem mais alto.

PROGRAMA EDUCATIVO ROMANO

O Programa educativo romano privilegia uma aprendizagem sobretudo literária, em detri-mento da ciência, da educação musical e do atletismo. Porém, é aos romanos que se deve o primeiro sistema de ensino, como um orga-nismo centralizado que coordena uma série de instituições escolares espalhadas por todas as províncias do Império. O carácter oficial das escolas e a sua estrita dependência relativa-mente ao estado constituem, não apenas uma diferença acentuada relativamente ao modelo de ensino na Grécia, como também uma novi-dade importante.

O sistema educacional implantado tende a pri-vilegiar uma minoria que, graças aos estudos superiores, ascende àquilo que os romanos consideram ser a vida adulta simultaneamente ativa e digna ou seja, uma elite, com uma ele-vada formação literária e retórica.

Na Roma imperial, os mestres gregos são pro-tegidos por Augusto, assim como César já havia feito. Também a criação de bibliotecas, como a do Templo de Apolo, no Palatino, e a do Pórtico de Octávio, é ilustrativa de uma política imperial de cultura.

1.3. EDUCAÇÃO Em ROmA

Na Roma antiga, o primeiro educador é o “pa-ter familiae”. desde a fundação da cidade, a autonomia da educação paterna é uma lei do Estado pela qual o pai é dono e artífice de seus filhos. A antiga monarquia romana, de fato, é uma república constituída pelos proprietários das terras e dos núcleos rurais (familiae), dos quais fazem parte as mulheres, os filhos, os escravos, os animais e qualquer outro bem, o pai-proprietário (pater) exerce sobre eles um poder soberano que, entre outras coisas, lhe permite matar os filhos anormais, prender, fla-gelar, condenar aos trabalhos agrícolas força-dos, vender ou matar os filhos rebeldes, mes-mo quando, já adultos, estes ocupam cargos públicos.

A educação no seio dessa família visa basica-mente o ensino das letras do direito, o domínio da retórica e das condições para desempenhar as atividades políticas típicas das classes domi-nantes. Ainda que o desenvolvimento histórico imponha mudanças nos costumes e nas insti-tuições que se dedicam à educação dos jovens, a organização do Estado romano impede o li-vre acesso do povo simples à arte da palavra. As poucas escolas existentes tornam-se cada vez mais um meio para a capacitação de um grupo restrito de indivíduos, como burocratas, no poder do Estado.

Neste contexto, feita exceção pela agricultura que é um aspecto e uma fonte de domínio do pai-proprietário, todas as atividades produtivas são consideradas indignas de um homem livre exercidas pelos escravos ou pelos estrangeiros que migram para Roma, seu ensino é reserva-do aos membros dessas classes sociais. Neste aspecto a diferença encontrada entre Egito e Roma e que em Roma existia a necessidade de fazer com que os conhecimentos e as habilida-

Artíficie - aquele que se faz o mecanismo de efetivação de um ato ou ação, por meio de quem, ou por meio do que se faz acontecer algo. O advogado é o artífice da justiça.A legislação é o artífice da justiça.

Comentário:

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costumavam hospedar, em suas casas, mes-tres gregos chamados de “ pedagogus”, para educarem seus filhos, os quais lhes ensinavam as lições. O ano letivo durava de oito a nove meses.

O ensino primário compreendia a leitura, a escrita e a aritmética. Os alunos tinham que aprender os nomes e sua ordem antes de sa-berem a forma das letras, depois conhecerem as combinações silábicas e, posteriormente, as palavras isoladas; os alunos eram divididos con-forme o nível de aprendizagem demonstrado, do processo de leitura das palavras, seguia-se à de frases, e pequenos versos, também havia um professor especializado em aritmética.

Na escola prezava-se pela disciplina e rigidez por parte dos professores, o que fez com que muitos romanos recordassem o tempo escolar, associando-o ao tempo das pancadas.

As escolas secundárias surgiram por volta do século III a.C. este “atraso” relativamente às escolas secundárias gregas não é merecedor de espanto, se reflectirmos sobre a inexistência de uma literatura romana propriamente dita, e sabendo-se à partida que o ensino secundá-rio clássico na Grécia se baseava na explicação das obras de grandes poetas, em particular de Homero. No entanto, é somente no tempo de Augusto (século I a.C.), que o ensino secundá-rio assume a sua forma definitiva, rivalizando em valor educativo com o grego.

O ensino superior, predominantemente retóri-co, surge em Roma por volta do século I a.C.. A primeira escola de retórica latina foi aberta no ano de 93 a.C. por L. Plócio Galo , e pouco tempo depois encerrada em virtude da censura levada a cabo por alguns sectores da aristo-cracia romana que se inquietavam perante o “novo espírito” que a animava e que conside-ravam contrário ao costume e à tradição dos antepassados.

Uma primeira iniciativa de políticas escolares inovadoras é da autoria de Vespasiano , que intervém directamente a favor dos professores, ao reconhecer-lhes uma utilidade social. Com ele se iniciam uma extensa série de retribuições e de imunidades fiscais, atribuídas a gramáti-cos e retóricos. Segue-se a criação de cátedras de Retórica nas grandes cidades, bem como o favorecimento e promoção da instituição de escolas municipais de gramática e de retórica nas províncias.

Os romanos vão pouco a pouco organizar o proceso de educação em três graus distintos e sucessivos: a instrução primária, o ensino se-cundário e o ensino superior, aos quais corres-pondem três tipos de escolas, confiadas a três tipos de Mestres especializados.

As escolas primárias datam provavelmente dos séculos VII e VI a.c., as secundárias surgem no século III a.c. e das superiores somente há co-nhecimento da sua existência a partir do sé-culo I a.c.. A data em que surgiram as primei-ras escolas primárias permanece controversa. Pensa-se que o ensino elementar das letras terá surgido em Roma muito antes do século IV a.c., provavelmente remontando ao período etrusco da Roma dos Reis.

A escola primária, formada por instituições particulares possibilitando maior confiança aos pais, que sabiam a quem entregavam seus filhos. Nas famílias mais abastadas, os pais

Vespasiano

ACESSEhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Vespasiano

L. Plócio Galo

ACESSEwww.revistafenix.pro.br

Saiba mais: Saiba mais:

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o polegar logo que tenha terminado a tarefa, para que assim possa reproduzir as letras na tabuleta.

Os livros são feitos com folhas coladas late-ralmente e enroladas à volta de uma varinha. Para ler, a varinha é mantida na mão direita e com a outra mão desenrola-se a folha única.Associada à leitura e à escrita encontra-se a declamação. A criança é incentivada a memo-rizar pequenos textos à semelhança do que ocorria na Grécia.

Recorre-se frequentemente à emulação e mais ainda à coerção, e aos castigos. O primus ma-gister apoia a sua autoridade na férula, instru-mento a que recorre para infringir os castigos nas crianças. “Estender a mão à palmatória”, manum ferulae subducere, é na verdade para os Romanos sinónimo de estudar.

Marco Fábio quintiliano foi o primeiro pro-fessor pago pelo estado, no mpério de Vespa-siano, e teve como alunos Plínio o Môço e o próprio Imperador Adriano. quintiliano alerta para a necessidade de se identificar os talentos das crianças e chama a atenção para a necessi-dade de reconhecer as diferenças individuais e de adoptar diferentes formas de procedimento perante elas.

Recomendava que se ensinassem simultanea-mente os nomes das letras e as suas formas, devendo a eventual imperícia do aluno ser cor-rigida obrigando-o a reproduzir as letras com o seu estilete na placa dos modelos, previa-mente gravada pelo professor. É contrário aos castigos físicos, e portanto ao uso da férula . Recomenda a emulação como incentivo para o estudo e sugere que o tempo escola seja perio-dicamente interrompido por recreios, já que o descanso é, na sua opinião, favorável à apren-dizagem.

O ensino superior, também designado por en-sino retórico, tinha início por volta dos quinze anos de idade, altura em que o jovem recebe a toga viril, sinónimo da sua entrada na vida adulta. Estes estudos superiores duravam até cerca dos vinte anos, podendo no entanto prolongar-se por mais tempo. Tinham como finalidade formar Oradores, já que a carreira política representava o ideal supremo.

Tal como na Grécia, também as crianças ro-manas se faziam acompanhar à escola por um escravo, designado segundo a terminologia grega por Paedagogus. Este poderia, em de-terminadas circunstâncias, ascender ao papel de explicador ou até mesmo de mentor, arcan-do assim com a educação moral da criança. O Paedagogus conduzia o seu pequeno senhor à escola, designada por ludus litterarius, e aí permanecia até ao final da lição. O ensino é colectivo, as meninas também frequentavam a escola primária, embora para elas o precep-torado privado pareça ter sido a nota domi-nante.

A jornada escolar da criança romana tinha iní-cio muito cedo e durava até ao pôr-do-sol. As aulas apenas eram suspensas durante as festas religiosas, nas férias de Verão (dos finais de Ju-lho a meados de Outubro) e também durante as nundinae que semanalmente se repetiam no mercado.

Além da leitura, o programa compreende a escrita em duas línguas (latim e grego) e um pouco de cálculo no qual se inclui a aprendiza-gem do ábaco e do complexo sistema romano de pesos e medidas. Para a aprendizagem do cálculo recorria-se vulgarmente à utilização de pequenas pedras - calculi - bem como à mími-ca simbólica dos dedos.

O ensino da escrita é simultâneo ao da leitura. A criança escreve em sua tabuleta as letras, pa-lavras ou textos cuja leitura deverá posterior-mente efectuar. Empregam-se a princípio dois métodos alternados: um que remonta às ori-gens da escola grega e que consiste em guiar a mão da criança para lhe ensinar o ductus, e outro mais moderno, em que se utilizam letras gravadas em concavidades na tabuleta que a criança retraça usando o estilete de ferro e se-guindo o sulco através da cera, alisada com

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que tenha escapado das outras que considera-mos suplícios.” (De republica, III, 22).

Tradução da obra LA REPUBLICA, Marco Túlio Cicerón, edición española, Aguilar S A, 1979, Libro III, xxII, pág. 100.

Marco Túlio Cícero, advogado, orador, filósofo estóico, senador e escritor romano. O maior dos oradores e pensadores políticos romanos.

Ele nasceu numa antiga família da classe eqüestre, duma povoação do interior do Lácio, a quem tinha sido dada a cidadania romana somente em 188 a.C., e que nunca tinha por isso participado na vida política de Roma.

O pai proporcionou aos dois filhos, Marco, o mais velho, e quinto, uma educação muito completa, sendo que Marco Túlio Cícero, após ter aprendido na escola pública e ter chegado a maioridade, passando a vestir a toga virilis, foi entregue aos cuidados do célebre senador e jurista romano Múcio Cévola que o pôs a par das leis e das instituições políticas de Roma.

Durante a Guerra Social do princípio do século I a.C., 91 a 88 a.C., Cícero passou brevemente pela vida militar, passo necessário para poder participar plenamente na vida política romana, tendo estado presente numa campanha militar sob o comando do cônsul Pompeu Estrabão, pai de Pompeu Grande.

Regressado a vida civil, começou a estudar filo-sofia com Filão, o Acadêmico, mas a sua aten-ção centrou-se na oratória que estudou com a ajuda de Molo, o principal retórico da época, e de Diodoto, o Estóico.

Cícero é considerado o primeiro romano que chegou aos principais postos do governo com base na sua eloquência, e ao mérito com exer-ceu as suas funções de magistrado civil.

“que as armas cedam à toga, o triunfo militar à glória cívica.”

O primeiro caso importante que aceitou foi a defesa de Amerino, um escravo liberto, acusa-do de parricida por um favorito de Sila, nessa época ditador de Roma.

A LEI NATURAL

“A verdadeira lei é a reta razão em harmonia com a natureza, difundida em todos os seres, imutável e sempiterna, que, ordenando, nos chama a cumprir o nosso dever, e, proibindo, nos aparta da injustiça. E não obstante, nem manda ou proíbe em vão aos bons, nem orde-nando ou proibindo opera sobre os maus. Não é justo alterar esta lei, nem é lícito derrogá-la em parte, nem ab-rogá-la em seu todo. Não podemos ser dispensados de sua obediência, nem pelo Senado, nem pelo povo. Não neces-sitamos de um Sexto Aelio que no-la explique ou no-la interprete. E não haverá uma lei em Roma e outra em Atenas, nem uma hoje e ou-tra amanhã, ao invés, todos os povos em to-dos os tempos serão regidos por uma só lei sempiterna e imu-tável. E haverá um só Deus, senhor e gover-nante, autor, árbitro e sancionador desta lei. quem não obede-ce esta lei foge de si mesmo e nega a na-tureza humana, e, por isso mesmo, sofrerá as maiores penas ainda

Férula - (do latim Férula: cana, haste, varinha) é uma cruz com haste usada pelo papa no lugar do báculo, todas as vezes que a função litúrgica exige. O papa nunca usou o báculo pelo fato de sua voluta significar limitação de poder, o que, obviamente, não se aplica ao Sobe

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Figura 02 - Orador – Marco Túlio Cícero, séc. II a.C

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capítulo 3 41

esta com o tempo esqueceu) é que a educação existe em toda parte, e que vai muito além da escola convencional, que são as pequenas re-lações sociais existente entre vários membros da sociedade é que vai construído a educação.quando fazemos um paralelo entre a educa-ção grega e a educação romana, que a iniciação das crianças e dos adolescentes era aprender os valores dos antepassados, que chamavam de educação doméstica, que se aprendia em casa, com intuito de chegar à formação de uma consciência moral. No inicio da formação da cidade de Roma não existia um cuidado na educação física e intelectual de seus cidadãos ociosos que pensavam primeiramente somen-te em governar e guerrear.

Com enriquecimento da nobreza romana, essa se afasta do labor da terra e se ocupa somente pela política. E dessa maneira pouco a pouco o ensino que era pastoril camponês passa a ser a formação para ser guerreiro, e ai surge uma oposição entre o ensino dos pais e dos mestres--pedagogos que convivem com os educandos e os acompanham durante um determinado período de sua vida para a formação de seu sa-ber. E conclui que a educação romana influen-ciada em parte pelo espírito grego vai ajudar os filhos dos soldados e funcionário romanos a controlar os vencidos e impor sobre eles a vontade, e a visão de mundo do dominador.

A esta altura, espero que você já não tenha dú-vidas quanto ao fato de que a educação numa sociedade dividida em classes não se manifesta como um fim em si mesmo, e sim como um instrumento de manutenção ou transforma-ção de uma determinada ordem social. orien-tada pelas elites, a escola não tem apenas a tarefa de preparar os indivíduos para um de-terminado tipo de trabalho, mas também a de fazer com que eles incorporem valores, idéias,

Esta ação corajosa levou-o a sair prudente-mente de Roma, após a conclusão do pleito, tendo viajado durante dois anos, oficialmente para se restabelecer de uma doença.

Em Atenas reencontrou o seu colega de esco-la Pompónio Ático, com quem estabelecerá a partir daí uma longa, e muito célebre, Corres-pondência.

No Oriente concluiu a sua formação filosófica e retórica.

1.4. ESCOLAS CRISTÃS

Paralelamente às escolas pagãs, a partir dos séculos II e III da nossa era, surgem escolas cristãs, criadas inicialmente com o intuito de formar os futuros homens da Igreja dos co-nhecimentos necessários à compreensão da mundividência Biblica.

É o caso da escola cristã fundada em Alexan-dria, escola de ensino superior para a inteli-gência da fé e das escrituras, onde, entre ou-tras, se estudavam a filosofia, a geometria, a aritmética com a finalidade de melhorar o conhecimento das Escrituras Sagradas.

Com legitimação político-religiosa do cristia-niosmo sob o Império de Constantino, os cris-tãos começam a deprecir a retórica e a cultura pagã e a acusar as escolas que dizem trans-mitir uma literatura contrária ao espírito cris-tão, orientadas para valores diferentes dos do evangelho.

quando cai o Império Romano, só a estrutu-ra religiosa se mantém de pé e, apenas no seu seio, o frágil brilho da ideia de escola vai apesar de tudo encontra alguma continuida-de. Desaparecidas as escolas públicas pagãs, caberá agora aos monges, hábeis defensores de todo um património cultural, a tarefa de ensinar e conservar acesa na noite barbárica a chama da cultura clássica.

RESUmODiante do que estudamos até agora verifica-mos que a contribuição que a civilização gre-ga deixou para a civilização ocidental (e que

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critérios de análise da realidade e formas de comportamento capazes de garantir que as coisas até mudem. para que o essencial (a ex-ploração) possa continuar. Por isso, para a pró-pria classe dominante, é importante que todos freqüentem as salas de aula e que a educação escolar de um certo nível seja até mesmo obri-gatória e paga pelo Estado.

REfERênCIASARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.

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BRANDÃO. Carlos Rodrigues. O que é Educa-ção. 41°Ed. São Paulo, Brasiliense 2007. ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

LOPES, Eliane Marta Teixeira. Perspectivas His-tóricas da Educação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2006

MANACORDA, M. A História da Educação São Paulo: Cortez, 2004.

MARTINS, Jose. Educação Antiga: Educação no Egito, Grécia e Roma Disponível em: http://www.webart.com – acesso em:01.set.2010.

FILME

Gladiador (Gladiator, EUA, 2000)DIREÇÃO: Ridley Scott

ELENCO: Russel Crowe, Joaquin Phoenix, Richard Harris, Connie Nielsen, Oliver Reed, Derek Jacobi, Ralph Moeller, Spencer Treat Clark; 154 min.RE-SUMO O ano é 180 e o general romano Máximo (Russel Crowe), servindo ao seu imperador Marco Aurélio (Richard Harris), prepara seu exército para impedir a invasão dos bárbaros germânicos. Du-rante o combate, Máximo fica sabendo que Mar-co Aurélio, já velho e ciente de sua morte, quer lhe passar o comando do Império Romano. A trama onde Cômodo (Joaquin Phoenix), filho do imperador, mata o pai, assumindo o comando do Império, não é historicamente verídica. Na ver-dade, Cômodo assumiu quando seu pai morreu afetado por uma peste, adquirida durante uma nova campanha no Danúbio.

Brandão, (2007), diz que a educação é uma práti-ca social, em que o fim desta é determinado pelas pessoas que estão a sua frente, por isso está pode ser usada como um mecanismo de dominação por determinados grupos sociais.

1. Sendo a educação um bem coletivo resultado de uma consciência vivida por uma determina-da comunidade, como nós professores podemos colaborar para que a educação seja usado não como mecanismo de dominação mas de liberta-ção das massas através do conhecimento?

2. Diante do que estudamos até agora, você considera que - a educação ainda é feita como uma maneira de camuflar os interesses de uma determinada classe social que tem o poder eco-nômico e político?

Saiba mais:

Atividades:

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capítulo 4 43

Profa. Adriana Rodrigues de Paiva

Carga Horária | 15 horas

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Reconhecer,peloestudo,osprincipaiselementos que caracterizaram a edu-cação na Idade Média.

• Identificarospilares teóricosdaedu-

cação na Idade Média, considerando o contexto: político, cultural, em es-pecial, o papel exercido pela Igreja no direcionamento da proposta educa-cional adotada no período.

• Possibilitaraoalunoascondiçõesne-

cessárias para que ele seja capaz de compreender os aspectos estruturais da educação na Idade Média.

IDADE mÉDIA: CUlTURA E EDUCAÇÃO

nA CHAmADA IDADE DAS TREVAS

INTRODUÇÃO

O que devemos entender quando dizemos “Idade Média”? O termo refere-se a uma divisão do tempo que engloba praticamente 1.000 anos de história do continente europeu; essa classifica-ção (Média) para o período foi uma forma de os homens dos séculos 14 e 15, dos reinos italianos, mostrarem que eram inovadores, modernos, transformadores.

Esses homens - pintores, artistas e pensadores do chamado Renascimento - achavam que estavam rompendo com um período culturalmente atrasado do mundo ocidental, dominado pelo pen-samento da Igreja católica (de certa forma, não deixa de ser verdade). Assim, os renascentistas classificavam-se como “modernos” e acreditavam que estavam fazendo renascer o esplendor da cultura grega e da cultura romana da Antiguidade.

Entre a Idade Moderna e a Idade Antiga, havia, portanto, uma idade intermediária, considerada a média entre esses dois períodos. Assim nasceu o conceito de Idade Média. Essa classificação, na verdade, é uma simplificação preconceituosa, pois classifica uma cultura como inferior a outra e

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resume a história de diversos povos que viviam na Europa como uma só. De qualquer forma, o estudo desse período é extremamente im-portante, para podermos entender diversos aspectos da história do mundo ocidental.

Na Idade Média, a religião surge como ele-mento singular, que, exposto à racionalidade, acentua a preocupação incontestável da fé cristã, em que os parâmetros da educação se estruturavam na concepção do homem como criatura divina de passagem pela terra, tendo como preocupação principal cuidar da salva-ção da alma.

Nesse contexto, caso ocorresse contradição entre fé e razão, ou melhor, entre igreja e ciên-cia, o recomendado seria respeitar o princípio da autoridade, delegado aos sábios e intérpre-tes autorizados pela igreja sobre a leitura dos clássicos e dos textos sagrados (se o sujeito desconsiderasse essa orientação? bem...).

Essa centralização tinha como objetivo maior evitar a pluralidade de interpretações manten-do-se a coesão da igreja. Também predomina a visão teocêntrica, Deus como fundamento de toda a ação pedagógica e como finalidade da formação do cristão.

Divide-se a educação, na Idade Média, basica-mente em duas tendências: a educação Patrís-tica e a Escolástica, cujos representantes prin-cipais eram Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino, respectivamente.

Em geral, o que sabemos sobre a Idade Média chegou de maneira informal até nós, pela con-tação de histórias infantis, com direito a con-tos de fada, princesas, castelos, dragões e reis, retratando esse período de forma fantasiosa, sendo uma fonte de histórias e lendas, que de-

ram origem a muitas de nossas fantasias. Ain-da ouvimos falar da bravura dos cavaleiros das cruzadas, que atravessaram o Oriente Médio e a Europa para lutar contra os infiéis.

Entretanto, devemos ter a clareza de separar a realidade do nosso imaginário, pois a histó-ria construída nesse período se compôs fun-damentalmente de fatos, considerando, que temos uma visão idealizada desse passado, que foi recriado no imaginário da humanidade durante os últimos séculos, por exemplo, os contos de fada que foram escritos por auto-res românticos do século 19, tendo como base histórias do folclore que eram contadas por di-versos povos ao longo dos séculos.

Desse modo, os autores românticos inventa-ram um passado medieval, cercado de ricos castelos e belas princesas. Isso estava dentro de um ideal artístico, que, no entanto, estava longe de espelhar a realidade da maioria da população que...

Ficou curioso? Fique tranquilo! Pois estamos só iniciando. Mais adiante será possível acom-panhar detalhes das principais características da Idade Média, seu processo de Educação, e as influências desse período presentes até os dias de hoje. Então! Prepare-se para descor-tinar, por meio da luz do conhecimento, esse período da história tão misterioso.

1. Um POUCO DE HISTóRIACom a queda do Império Romano (séc. V), deu-se a formação de inúmeros reinos bárba-ros; pouco a pouco, os chefes desses reinos foram se convertendo ao cristianismo, conse-quentemente, surge uma soberana influência da Igreja na educação do mundo ocidental.

O predomínio da temática religiosa, da de-fesa da fé cristã e do trabalho de conversão dos não-cristãos, em que o “crer para compre-ender e compreender para crer” fez a cultura greco-romana praticamente desaparecer, prin-cipalmente no período feudal, mas os monges conseguiram conservá-la nos mosteiros.

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Como já vimos, chama-se Idade Média o pe-ríodo da história europeia, compreendido aproximadamente entre a queda do Império Romano do Ocidente e o período histórico, determinado pela afirmação do capitalismo sobre o modo de produção feudal, o flores-cimento da cultura renascentista e os grandes descobrimentos.

A Idade Média divide-se em duas etapas bem distintas: a alta Idade Média, que vai da forma-ção dos reinos germânicos, a partir do século V, até a consolidação do feudalismo, entre os séculos Ix e xII; e a baixa Idade Média, que vai até ao século xV, caracterizada pelo cres-cimento das cidades, a expansão territorial e o florescimento do comércio.

Considerada desde o Renascimento como pe-ríodo obscurantista e decadente, só em mea-dos do século xIx a Idade Média passou a ser entendida como etapa necessária da história da civilização ocidental. Na verdade, durante cerca de um milênio, a Europa medieval pas-sou por lentas mudanças econômicas e políti-cas que, no entanto, prepararam o caminho da modernidade.

2. IDADE mÉDIA E EDUCAÇÃOA Idade Média se inicia no Século Ix. Pode-mos dizer que os fundamentos da educação, como a conhecemos hoje, no ocidente, foram formulados nessa época, sendo a participação da igreja bastante expressiva, e é com base no seu olhar que a filosofia e os demais conhe-cimentos que viriam a ser construídos fossem organizados.

Roma, Ocidente e Oriente

A Idade Média tem como marcos de seu come-ço e de seu fim duas datas que se referem ao Império Romano. Seu início é marcado pela to-mada de Roma pelos germanos: a derrubada do Império Romano do Ocidente ocorreu no ano de 476. O fim da era medieval é dado pelo ataque de Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente, tomada pelos turcos em 1453.

Os senhores feudais eram nobres que viveram na época da Idade Média (século V ao xV). Possuíam muito poder político, militar e econômico. Eram proprietários dos feudos (unidades territoriais) e possuíam muitos servos trabalhando para ele. Cobravam vários impostos e taxas desses servos, pela utilização das terras do feudo. Viviam em castelos fortificados e eram protegidos por cava-leiros. Os senhores feudais faziam e aplicavam as leis em seus domínios.

Saiba mais: Saiba mais:

Os primeiros processos educativos organizados são criados pela Igreja, e esta constrói escolas para formar sacerdotes e transmitir, assim, a doutrina da Igreja ao longo do tempo. (lem-brando que estamos tratando de registros his-tóricos que se referem à Europa) A sociedade era feudal e agrária, significa dizer que todas as pessoas viviam no campo, pois ainda não havia cidades conforme as conhecemos hoje; essa vida no campo era dura e difícil para os camponeses, que trabalhavam muito e eram obrigados a partilhar boa parte do que ga-nhavam com a Igreja e com os donos da terra (senhores feudais ). Nessa época, grande parte da população camponesa (talvez toda ela) era analfabeta e não recebia nenhum tipo de ins-trução que não fosse a do catecismo nas Igre-jas; as únicas pessoas que estudavam eram os religiosos e alguns nobres.

Os documentos que se referem aos séculos 9 ao 1 mostram que mulheres e crianças não possuíam os mesmos direitos que os homens, os quais, em se tratando de camponeses, eram muito reduzidos.

As transformações sociais na Idade Média eram muito lentas; o fato de que somente após dois séculos de Idade Média começam a surgir as

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primeiras cidades, construídas em torno dos castelos e delimitadas por altos muros (se liga no filme O Nome da Rosa).

VOLTANDO A FITA

Nesse ponto, é necessário que se faça uma breve parada no sentido de favorecermos uma análise mais coesa dos principais acontecimen-tos que antecedem à Idade Média.

No III capítulo, vimos que a educação roma-na recebeu forte influência grega, tanto que, após as conquistas de Roma no Mediterrâneo, foi absorvida a cultura helênica e adotada como princípio para a educação dos patrícios, sendo difundida por todo o reino latino. Surge no império a figura do pedagogo remunerado, mas a educação continua sendo elitista.

A educação romana segue duas linhas, avir-tutes (moral, civismo e religiosidade) de base românica e a doctrinaeou, cultura (instrução escolar técnica em especial as letras) esta qua-se que totalmente grega. quando o Impé-rio Romano do Ocidente aproxima-se de sua desintegração, nas portas da Idade Média, o mesmo ocorre com a educação clássica.

Nessa situação de total destruição, em cuja descrição se percebe a mão de um funcioná-rio saído das escolas de retórica, num império desolado e invadido por populações inteiras de bárbaros armados, é impossível falar de orga-nização da vida civil e menos ainda de difusão de uma escola. Para a maioria, já não se trata-va de educar os filhos, mas de arrancá-los da morte e da fome. O que pode sobreviver da velha escola senão ilhas esporádicas de instru-ção familiar ou privada.

2.1. O CURRÍCULO mEDIEVAL

A base do currículo educacional medieval tra-tou, sobretudo, das “Sete Artes Liberais”, dis-tinguidas já por Platão, no que chamou de trivium (gramática, retórica e dialética) e qua-drivium (aritmética, música, geometria e astro-nomia). As artes liberais eram assim chamadas por compreenderem não somente o conheci-mento, mas também uma produção que de-corria imediatamente da razão.

Desenvolveu-se, então, um novo conceito de educação, em que acreditavam os pensado-res dessa época, as palavras possuíam em si a possibilidade de resgatar a experiência huma-na esquecida.

A teologia ainda não fora organizada num sis-tema filosófico, e essa foi a grande obra da Idade Média. As artes liberais representavam um legado da velha educação romana, e seu escopo era mais amplo que sugerem seus no-mes na modernidade. A gramática incluía o estudo do conteúdo e da forma literária; a dia-lética restringia-se à lógica formal; a retórica compreendia o estudo das leis e dos métodos de composição literária em prosa e verso. A geometria correspondia ao que se compreen-de modernamente por geografia, história na-tural e botânica. A aritmética consistia apenas em cálculos práticos exigidos pela vida cotidia-na. A música não passava de um conjunto de regras relativas a canções sacras, teoria do som e conexões entre a harmonia e os números.

No que concerne particularmente ao campo da instrução, verificam-se dois processos pa-ralelos: o gradual desaparecimento da escola clássica e a formação da escola cristã, na sua dupla forma de escola episcopal (do clero se-cular) nas cidades, e de escola cenobítica (do clero regular) nos campos. Mas, não obstan-te as exceções, o nível cultural é muito baixo, quer entre os bárbaros, quer entre os homens da Igreja, quer entre os representantes do im-pério.

A nova educação cabe à família e à Igreja, que abarca características bíblicas; nasce então o modelo de escola cristã. A Igreja passa a ser a controladora e mantenedora da educação, criam-se mosteiros e formam-se distintas or-

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capítulo 4 47

dens religiosas, em que os nobres passam a ser instruídos e doutrinados, juntamente com al-guns eleitos que formarão o alto clero, culto e dominador. Devemos destacar a ignorância da maioria dos indivíduos do baixo clero, que, até mesmo casos de analfabetismo total podiam ser presenciados.

De forma resumida, podemos dividir a Idade Média em duas tendências fundamentais re-lativas à educação: a Educação Patrística, que auxilia a exposição racional da doutrina reli-giosa, e a Escolástica, dominante nas escolas durante o Renascimento carolíngio, quando se pretende promover uma especulação filosófi-co-teológica.

2.2. A EDUCAÇÃO PATRÍSTICA

A patrística auxilia a exposição racional da doutrina religiosa, preocupando-se principal-mente com a relação entre fé e ciência, com a vida moral, com a natureza de Deus e da alma. Seus principais representantes foram Clemente de Alexandria, Orígenes e Tertuliano, destacan-do-se entre estes Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona. Ele defendia uma iluminação pela qual a verdade é infundida no espírito hu-mano por Deus e seguindo a tradição platôni-ca, que via sempre o Perfeito por trás de todo o imperfeito e a verdade absoluta por trás de todas as verdades particulares.

2.3. A EDUCAÇÃO ESCOLÁSTICA

A especulação filosófico-teológica, que se de-senvolve do séc. Ix até o Renascimento, é de-nominada escolástica, assim designada por ter sido dominante nas escolas surgidas durante o Renascimento carolíngio.

O Imperador Carlos Magno (séc. VIII), com o intuito de incrementar a cultura, fundou as es-colas monacais, nos mosteiros, nas catedrais, nas igrejas e nas palatinas, nas cortes. Contra-tou diversos sábios, como o inglês Alcuíno de York, que foi diretor da escola instalada no pa-lácio do próprio Imperador.

As universidades surgiram a partir do séc. xI, destacando as de Paris, Bologna e Oxford, tor-nando-se focos fecundos de reflexão filosófica.A Igreja condena, a princípio, o pensamento

aristotélico, que, traduzido, a partir do séc. xII, chegava deformado à Europa, adquirindo con-tornos panteístas, pois era traduzido do grego para o sírio, do sírio para o árabe, do árabe para o hebraico e do hebraico para o latim me-dieval.

Santo Tomás de Aquino consulta a tradução de Aristóteles feita diretamente do grego, re-cupera o pensamento original, faz as devidas adaptações à visão cristã e escreve a “Suma Te-ológica”, em que as questões de fé são abor-dadas racionalmente e coloca a filosofia como instrumento de auxílio ao trabalho da teologia. Aristóteles assim é cristianizado e surge então a filosofia aristotélico-tomista.

O mais destacado dos escolásticos, Santo To-más de Aquino (1225-1274), dividia as verda-des em duas categorias: crenças cuja veracida-de podia ser provada com a razão, e crenças cuja verdade ou falsidade não podia ser pro-vada. Considerava que a razão não era inimi-ga da revelação, e que, quanto mais racional a humanidade se tornava, também se tornava mais cristã.

A partir do século xIV, posturas dogmáticas contrárias à reflexão, obstruem as pesquisas e a livre investigação. Assim, a escolástica sofre um processo de autoritarismo, o “princípio da autoridade”, a aceitação cega das verdades dos textos bíblicos. Esse período, denominado de a fase do magister dixit, que em latim significa “o mestre disse”, é marcada por um rigoroso controle, feito pelo Santo Ofício (Inquisição), órgão da Igreja que examinava o caráter he-rético das doutrinas. As obras julgadas proibi-das eram colocadas numa lista, o Index. Caso considerassem o caso muito grave, o próprio autor era julgado e, se condenado, queimado vivo. Se a leitura fosse permitida, recebia a nihi obsta (nada obsta) e podia ser divulgada.

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Uma das figuras pouco enquadradas à esco-lástica com mais expressão foi o padre fran-ciscano Roger Bacon (séc. xIII), pertencente à Escola de Oxford. Bacon foi perseguido em vá-rias ocasiões, por gerar desconfiança ao tentar aplicar às ciências métodos matemáticos e de experimentação.

O esquema de instrução era estruturado de modo que os estudos especiais baseavam-se em ampla cultura geral. Das quatro faculdades que compunham a universidade, a de artes funcionava como preliminar às de teologia, di-reito e medicina. Os métodos de instrução fun-damentavam-se na leitura ou no comentário de textos e na emulação, pela qual os estudan-tes se adestravam no uso dos conhecimentos absorvidos. Essa evolução do ensino superior foi acompanhada pelo aumento do número de escolas elementares.

Além do ensino espiritual, o sistema social da época mantinha um tipo de educação própria da classe feudal, que consistia na preparação de pajens e senhores na arte da cavalaria; tal educação não se opunha à religião, pois a ca-valaria era santificada pelos clérigos, seu obje-tivo era tornar os jovens da classe nobre dig-nos da admiração dos servos, justos, sábios e prudentes no trato das coisas do estado.

A unificação dos conhecimentos existentes e a sistematização da teologia completaram a obra dos escolásticos. As manifestações do sentimento nacional, no entanto, minaram lentamente o sistema feudal. Generalizou-se o desejo por novos estilos de vida. A educa-ção europeia, ameaçada de se transformar em retórica vazia, foi salva pelo renascimento dos estudos clássicos, iniciados ainda nas primeiras décadas do século xIV.

2.4. IDADE mÉDIA E EDUCAÇÃO INFANTIL

A primeira herança da Antigüidade não é nada boa; a vida da criança no mundo romano de-pendia totalmente do desejo do pai. O poder do pater familias era absoluto: um cidadão não tinha um filho, o tomava. Caso recusasse a criança - e o fato era bastante comum - ela era enjeitada. Essa prática era tão recorrente que o direito romano se preocupou com o des-tino delas.

O papel da criança sempre foi definido pelas expectativas dos adultos, e esse anseio mudou bastante ao longo da história, embora a famí-lia elementar e o amor tenham existido em to-das as épocas. Vejamos então o caso medieval.

A segunda herança que a Idade Média herda da Antiguidade, a cultura bárbara, foi-nos pas-sada especialmente por Tácito. Ele nos conta que a tradição germânica, em relação às crian-ças, era um pouco melhor que a romana. Os germanos não praticavam o infanticídio, as próprias mães amamentavam seus filhos e as crianças eram educadas sem distinção de po-sição social. O povo germânico era composto por um conjunto de lares, com dois poderes distintos: o matriarcal, exercido no seio da fa-mília, e o patriarcal, predominante na política e na organização social . No entanto, o destino das crianças naqueles clãs, como na cultura ro-mana, também dependia da vontade paterna (direito de adoção, de renegação, de compra e venda). A criança aceita ficava aos cuidados dos parentes paternos (agnatos) e o destino dos bastardos, dos órfãos e dos abandonados era entregue aos parentes maternos, especial-mente a tios e a avós maternos.

Dessas duas tradições culturais que se mescla-ram e fizeram emergir a Idade Média, o sta-tus da criança naquelas sociedades antigas era praticamente nulo, sua existência dependia do poder do pai: se fosse menina ou nascesse com algum problema físico, poderia ser rejeitada; seu destino, caso sobrevivesse, era abastecer os prostíbulos de Roma e o sistema escravista. Até o final da Antiguidade, as crianças pobres eram abandonadas ou vendidas; as ricas enjei-tadas - por causa de disputa de herança - eram entregues à própria sorte.

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Nesse contexto histórico-cultural, é que se compreende a força e o impacto do cristianis-mo, que rompeu com essas duas tradições.A tradição cristã abriu, portanto, uma nova perspectiva à criança, uma mudança revolucio-nária. No entanto, foi um processo bastante lento, um processo civilizacional levado a cabo pela Igreja. Primeiro, por força das circunstân-cias.

Fora do mundo secular, um espaço social len-tamente impôs uma nova perspectiva à educa-ção infantil: o monacato. Os monges criaram verdadeiros “jardins de infância” nos mostei-ros, recebendo indistintamente todas as crian-ças entregues, vestindo-as, alimentando-as e educando-as, num sistema integral de forma-ção educacional .

As comunidades monásticas célticas foram as que mais avançaram nesse novo modelo de educação, pois se opunham radicalmente às práticas pedagógicas vigentes das populações bárbaras, que defendiam o endurecimento do coração já na infância. Pelo contrário, ao in-vés de brutalizar o coração das crianças para a guerra e para a violência, os monges o abriam para o amor e para a serenidade.

2.5. Um POUCO DO CONTEXTO SOCIOLóGICO A VIDA DO COLONO NA IDADE MÉDIA

Nas regiões próximas a Roma, a origem do co-lono é o antigo plebeu ou ainda o ex-escravo, enquanto nas áreas mais afastadas é normal-mente o homem de origem bárbara, que, ao abandonar o nomadismo e a guerra, é fixado na terra.

O colono é um homem livre, por não ser escra-vo, está preso a terra. A grande propriedade passou a dividir-se em duas grandes partes, ambas trabalhadas pelos colonos; uma utili-zada exclusivamente pelo proprietário, a outra dividida entre eles mesmos. Cada colono tinha a posse de seu lote de terra, não podendo abandoná-lo nem ser expulso dele, devendo trabalhar na terra do senhor e entregar parte da produção de seu lote. Dessa maneira, per-cebe-se que a estrutura fundiária desenvolve--se de uma maneira que pode ser considerada como embrionária da economia feudal.

É importante notar que, durante todo o perío-do de “gestação” do feudalismo, ainda serão encontrados escravos na Europa, porém em pequena quantidade e com importância cada vez mais reduzida.

A VIDA DA MULHER NA IDADE MÉDIA

Na Antiguidade, a sociedade era matriarcal, ou seja, o nome e os bens de família eram pas-sados de mãe para filha. A mulher era quase uma figura divina, admirada; pois seu ventre era capaz de gerar a vida, e isso era algo es-petacular para os homens primitivos. Com o passar do tempo, porém, a figura do homem começou a se relevar, até o momento em que se proclama ser superior em relação à mulher.Isso se torna bastante evidente no período de-nominado Idade Média, também conhecida por “Idade das Trevas”. Essa época foi marcada pela consolidação e expansão da fé cristã pelo Império Romano, dando à Igreja Católica um poder extremamente grande que controlava a vida e a mentalidade das pessoas, principal-mente os simples camponeses, grandes mas-sas de pessoas que tinham uma “fé cega”, que viviam temendo o inferno e o diabo.

A vida das mulheres medievais não era fácil. De acordo com a classe social a que pertenciam, suas funções variavam. Nas classes mais altas, as mulheres tomavam conhecimento em polí-tica, economia e até em disputas territoriais. As mulheres dos senhores feudais eram responsá-veis pela organização do castelo; supervisio-navam tudo, desde a cozinha até a confecção de vestimentas. Elas tinham que saber como preservar a carne e alimentos e também co-ordenavam todos os empregados. Além disso, tinham que estar preparadas para defender o castelo na ausência de seu marido. As campo-nesas trabalhavam junto com seu marido nas

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terras do senhor feudal e, além disso, ainda tinham que cuidar dos afazeres domésticos.

As mulheres não tinham muita opção: ou se casavam, ou iam para o convento. Entretanto, o convento não era para qualquer pessoa, e sim para uma minoria da alta classe que tinha que pagar uma taxa bastante cara para se tor-nar uma freira. A maioria, porém, estava desti-nada ao casamento e a uma vida submissa ao marido. As meninas eram educadas somente para esse fim: serem boas esposas.

Como se tudo isso não fosse o suficiente, du-rante a era das fogueiras, o Tribunal do Santo Ofício condenou milhares de pessoas à morte, a maioria mulheres inocentes. Estas eram acu-sadas de bruxaria, muitas vezes, por inveja de outros ou por serem mulheres solteiras e soli-tárias. O livro Malleus Maleficarum, de 1486, escrito por inquisidores alemães, dizia que as bruxas armavam uma conspiração para domi-nar o mundo. A obra também explicava como localizar a presença de bruxas e identificar fei-tiços. Como as mulheres tinham que saber um pouco sobre a cura, muitas delas, além de par-teiras e cozinheiras, também foram acusadas de bruxaria e condenadas à fogueira.

Para provar a propensão natural da mulher à maldade, não faltavam argumentos aos auto-res do Malleus. A começar por uma falha na formação da primeira mulher, por ser ela criada a partir de uma costela recurva, ou seja, uma costela no peito, cuja curvatura é, por assim dizer, contrária à retidão do homem. A própria etimologia da palavra feminina confirmava essa fraqueza original: segundo eles, femina, em latim, reunia em sua formação as palavras fide e minus, o que quer dizer menos fé. De-fender ideias assim não era exclusividade dos dois inquisidores alemães. A aversão à mulher

como ser mais fraco e, portanto, mais propen-so a sucumbir à tentação diabólica era moeda corrente em todas as regiões da Europa - dos pequenos vilarejos camponeses aos grandes centros urbanos. Nos sermões de padres por toda a Europa, proliferava a concepção de que a bruxaria estava ligada à cobiça carnal insaci-ável do “sexo frágil”, que não conhece limites para satisfazer seus prazeres. Com seu “furor uterino”, para o homem, a mulher era uma ar-madilha fatal, que podia levá-lo à destruição, impedindo-o de seguir sua vida tranquilamen-te e de estar em paz com sua espiritualidade.

A mulher, apesar de trabalhar tanto quanto o homem, estava sempre em grau de inferiori-dade. A identidade do pecado original, prin-cipalmente na história do cristianismo, foi um fardo pesado para a mulher até o século xVIII. Desde os primeiros cristãos, a busca da aus-teridade religiosa tornou-se não só uma regra para o aprimoramento espiritual, mas também consagrou o papel da mulher como a principal tentação mundana, capaz de afastar o homem do caminho da purificação. Uma norma que na Europa, a partir do século VI, quando São Bento de Nursia fundou o mosteiro de Mon-te Cassino na Itália, deu início ao movimento monástico beneditino que marcaria profunda-mente a atitude religiosa do continente.

2.6. SANTA INQUISIÇÃO

Durante a atuação da Santa Inquisição em toda a Idade Média, a tortura era um recurso utilizado para extrair confissões dos acusados de pequenos delitos, até crimes mais graves. Diversos métodos de tortura foram desenvolvi-dos ao longo dos anos. Os métodos de tortura mais agressivos eram reservados àqueles que provavelmente seriam condenados à morte.

Além de aparelhos mais sofisticados e de alto custo, utilizavam-se também instrumentos simples como tesouras, alicates, garras metáli-cas que destroçavam seios e mutilavam órgãos genitais, chicotes, instrumentos de carpintaria adaptados, ou apenas barras de ferro aqueci-das. Há ainda, instrumentos usados para sim-ples imobilização da vítima. No caso específico da Santa Inquisição, os acusados eram, geral-mente, torturados até que admitissem ligações com Satã e práticas obscenas. Se um acusado

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denunciasse outras pessoas, poderia ter uma execução menos cruel.

Os inquisidores utilizavam-se de diversos re-cursos para extrair confissões ou “comprovar” que o acusado era feiticeiro. Segundo regis-tros, as vítimas mulheres eram totalmente depiladas pelos torturadores que procuravam um suposto sinal de Satã, que podia ser uma verruga, uma mancha na pele, mamilos exces-sivamente enrugados (nesse caso, os mamilos representariam a prova de que a bruxa “ama-mentava” os demônios) etc. Mas esse sinal po-deria ser invisível aos olhos dos torturadores. Nesse caso, o “sinal” seria uma parte insensível do corpo, ou uma parte que, se ferida, não verteria sangue. Assim, os torturadores espe-tavam todo o corpo da vítima, usando pregos e lâminas, à procura do suposto sinal.

No Liber Sententiarum Inquisitionis (Livro das Sentenças da Inquisição) o padre dominica-no Bernardo Guy (Bernardus Guidonis, 1261-1331) descreveu vários métodos para obter

confissões dos acusados, inclusive o enfraque-cimento das forças físicas do prisioneiro. Den-tre os descritos na obra e utilizados comumen-te, encontra-se tortura física por intermédio de aparelhos, como a Virgem de Ferro e a Roda do Despedaçamento; mediante humilhação pública, como as Máscaras do Escárnio, além de torturas psicológicas como obrigar a vítima a ingerir urina e excrementos.

De uma forma geral, as execuções eram reali-zadas em praça pública e tornava-se um even-to em que nobres e plebeus deliciavam-se com a súplica das torturas e, consequentemente, a

Figura 1

Castelos Medievais: residências fortificadas da Idade Média

Durante a Idade Média (séculos V ao xV), a Eu-ropa foi palco da construção de milhares de cas-telos. Nessa época da história, as guerras eram muito comuns. Logo, os senhores feudais, reis e outros nobres preocupavam-se com a proteção de sua residência, dos bens e dos familiares. Du-rante os primeiros séculos da Idade Média (até o século xI, aproximadamente), os castelos eram erguidos de madeira retirada das florestas da re-gião. Seu interior era rústico e não possuía luxo e conforto. A partir do século xI, a arquitetura de construção de castelos mudou completamen-te. Eles passaram a ser construídos de blocos de pedra. Tornaram-se, portanto, muito mais resis-tentes. Esses castelos medievais eram erguidos em regiões altas, pois, assim, ficava mais fácil visualizar a chegada dos inimigos. Um castelo de-morava, em média, de dois a sete anos para ser construído.

Em volta do castelo medieval, geralmente, era aberto um fosso preenchido com água. Essa estratégia era importante para dificultar a pe-netração dos inimigos durante uma batalha. Os castelos eram cercados por muralhas e possuíam torres, onde ficavam posicionados arqueiros e ou-tros tipos de guerreiros. O calabouço era outra área importante, pois nele os reis e senhores feu-dais mantinham presos os bandidos, marginais ou inimigos capturados.

Como o castelo medieval era construído com a intenção principal de proteção durante uma guerra, outros elementos eram pensados e ela-borados para esses momentos. Muitos possuíam passagens subterrâneas para que, num momento de invasão, seus moradores pudessem fugir.

O castelo era o refúgio dos habitantes do feudo, inclusive os camponeses (servos). No momento da invasão inimiga, todos corriam para buscar abrigo dentro das muralhas do castelo. A ponte levadiça, feita de madeira maciça e ferro, era o único acesso ao castelo e, após todos entrarem, era erguida para impedir a penetração inimiga.

Por dentro, o castelo medieval era frio e rústico, ao contrário do luxo mostrado em muitos filmes sobre a Idade Média. Os cômodos eram enormes e em grande quantidade. O esgoto produzido no castelo era, geralmente, jogado no fosso.

Grande parte desses castelos medievais ainda existem na Europa, foram transformados, po-rém, em hotéis, museus ou pontos turísticos. Em cidades do interior da França, Itália, Alemanha, Portugal, Espanha e Inglaterra, podemos encon-trar vários exemplos desses interessantes tipos de construção antiga.

Saiba mais:

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execução das vítimas. Atualmente, há dispos-tos em diversos museus do mundo, ferramen-tas e aparelhos utilizados para a tortura.

ADIANTANDO O TEMPO:UM POUCO DA EDUCAÇÃO NO RENASCIMENTO

O final do século xVII presenciou um verda-deiro renascimento da vida universitária em Cambridge, sobretudo por meio da obra de Isaac Newton e da crescente atenção dedicada às ciências físicas e às matemáticas, ainda que o número de estudantes continuasse bastante reduzido. Também na Alemanha inaugurou-se nova era para a educação, com a fundação das universidades de Halle, em 1694, e de Göttin-gen, em 1737, nas quais se combateu a velha concepção de que a função da universidade era transmitir conhecimento completo, o que proporcionou o advento de uma nova cultura, atraiu numerosos estudantes e espalhou sua influência para outras universidades alemãs.

Em Halle, iniciou-se um movimento em favor da educação dos filhos dos pobres. Campa-nhas do mesmo estilo foram realizadas na França e na Inglaterra. Os resultados, porém, não foram compensadores: as amplas massas do povo permaneceram, em toda a Europa, afastadas da cultura.

RESUmOA escola, como nós conhecemos, é um pro-duto da Idade Média. A sua estrutura ligada à

presença de um professor que ensina a muitos alunos de diversas procedências e que deve responder pela sua atividade à Igreja ou a ou-tro poder (seja ele local ou não); as suas práti-cas ligadas à lectio e aos auctores, à discussão, ao exercício, ao comentário, à arguição etc.; as suas práxis disciplinares (prêmios e castigos) e avaliativas vêm daquela época e da organiza-ção dos estudos nas escolas monásticas e nas catedrais e, sobretudo nas universidades. Vêm de lá também alguns conteúdos culturais da escola moderna e até mesmo da contemporâ-nea: o papel do latim; o ensino gramatical e re-tórico da língua; a imagem da filosofia, como lógica e metafísica.

Reforça-se a ideia de que a educação se dá fora do poder de controle do sistema escolar, e que é preciso reinventar a educação no dia a dia, algo que as pequenas comunidades sa-bem fazer, se reunir para reinvidicar seus direi-tos que, muitas vezes, o Estado ignora. ques-tionar a estrutura escolar dos pedagogos, que dizem que a educação só se dá pela escola, e se esquecem de que a educação é vida, está muito além da escola.

AJUDANDO A ORGANIZAR AS IDEIAS

Caros alunos, isso de estudar a História não é fácil, é um tal de juntar datas, fatos, ontem, hoje, fulano que é filho de beltrano... E por aí vai. Mas nós sabemos o quanto é importante entender a história, afinal de contas, de uma forma ou de outra, é a nossa história. Foi pen-sando assim que resolvi organizar nossos prin-cipais temas de estudo em ordem cronológica, apresentando os principais fatos ocorridos em cada período. Espero que ajude.

PRÉ-HISTóRIA

Do surgimento dos primeiros hominídeos até a invenção da escrita (cuneiforme /mesopotâmia / Egito)

IDADE ANTIGA - SÉCULO V

Egito – escribasMesopotâmiaFenício – Alfabeto com vinte e dois caracteresHebreus – Torá decálogo / religiãoPersas – Sátradas

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Grego – berço da filosofia e conhecimento do mundo ocidental e da autocrítica, do conheci-mento de si e do outro social, da democracia e da razão “O homem é a medida de todas as coisas” Homero Ilíada e Odisséa.Roma - Latim – Português, Francês, Espanhol, Italiano. Berço do direito do mundo ocidental.Invasão dos povos bárbaros / germânicos.Nascimento do cristianismo na Judeia / Israel / Oriente médio / Ásia.

IDADE MÉDIA OU MEDIEVAL

Reinos Bárbaros, Império Carolíngio, Carlos Magno, incentivo à literatura e à arte sacra; a população continua leiga à igreja.

ALTA IDADE MÉDIA

Monopoliza o conhecimento nos monastérios, abadias e proibição da leitura por parte da po-pulação / índex (Lista de livros proibidos pela igreja).

BAIxA IDADE MÉDIA

Feudalismo, cultura nas mãos da igreja por causa do isolacionismo territorial dos feudosGrande produção literária cultural no mundo muçulmano.

Poucas universidades, educação estática nor-matizada através de rígidos e inflexíveis pa-drões.

REfERênCIAS ARANHA, Maria Lúcia. História da Educação e da Pedagogia: Geral e Brasil. 3. ed. rev. e ampl. São Paulo: Moderna, 2006.

Um dado curioso diz respeito, por exemplo, à pa-lavra professor quando ela começa a ser utilizada (Século 8). Esse dizia, a respeito do sacerdote, que, ao professar a sua fé, irá fazer que outros também possuam (ou professem) essa fé.Agora responda:

1. Essa ideia permanece até os dias atuais, quando comparam a profissão de professor ao sacerdócio?

SUGESTÃO DE FILMES

Joana D’arc. Ano: 1999. Direção: Luc Besson. Gênero: Biografia / guerra / histórico. Temática: guerras e revoluções.

Coração Valente. Ano: 1995. Direção: Mel Gibson. Gênero: guerra. Temática: revolução, conquista territorial, luta pela independência da Escócia.

O nome da rosa. Ano: 1986. Direção: Jean-Jacques Annaud. Gênero: Suspense / Drama. Temática: religião, Igreja na Idade Média, vida dos monges.

Atividades:

Saiba mais:

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC, 1981.

BRANDÃO. Carlos Rodrigues. O que é Educa-ção. 41°Ed. São Paulo, Brasiliense 2007.

DEDIEU, Jean-Pierre. A Inquisição. Editorial Es-tampa, Lisboa: s.d.

ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da Educação no Brasil. Petrópolis: Editora Vozes, 2001.

LOPES, Eliane Marta Teixeira. Perspectivas His-tóricas da Educação. 4 ed. São Paulo: Ática, 2006

MANACORDA, M. A História da Educação São Paulo: Cortez, 2004.

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