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Leitura, Interpretação e Produção Textual Profa. Aline Nascimento da Silva HISTÓRIA

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Leitura, Interpretação e Produção Textual

Profa. Aline Nascimento da Silva

HISTÓRIA

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REITORProf. Pedro Henrique de Barros Falcão

VICE-REITORA

Profa. Maria do Socorro de Mendonça Cavalcanti

PRÓ-REITOR ADMINISTRAÇÃO E FINANÇASProf. Rivaldo Mendes de Albuquerque

PRÓ-REITORA DE DESENVOLVIMENTO DE PESSOASProfa. Vera Rejane do Nascimento Gregório

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E CULTURAProf. Renato Medeiros de Moraes

PRÓ-REITOR DE GRADUAÇÃOProf. Dr. Luiz Alberto Ribeiro Rodrigues

PRÓ-REITORA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA Profa. Maria Tereza Cartaxo Muniz

COORDENADOR GERALProf. Renato Medeiros de Moraes

COORDENADOR ADJUNTOProfa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

ASSESSORA DA COORDENAÇÃO GERALProfa. Waldete Arantes

Valéria de Fátima Gonçalves

COORDENAÇÃO DE CURSOProf. Dr Karl Schurster V. de Souza

COORDENAÇÃO PEDAGÓGICAProfa. Maria Vitória Ribas de Oliveira Lima

COORDENAÇÃO DE REVISÃO GRAMATICALProfa. Angela Maria Borges Cavalcanti

Profa. Eveline Mendes Costa LopesProfa. Geruza Viana da Silva

GERENTE DE PROJETOSValdemar Vieira de Melo

ADMINISTRAÇÃO DO AMBIENTEJosé Alexandro Viana Fonseca

COORDENAÇÃO DE DESIGN E PRODUÇÃOProf. Marcos Leite

EQUIPE DE DESIGNAnita Sousa

COORDENAÇÃO DE SUPORTEAfonso Bione

Bruno Eduardo VasconcelosSeverino Sabino da Silva

EDIÇÃO 2017Impresso no Brasil - Tiragem 180 exemplaresAv. Agamenon Magalhães, s/n - Santo Amaro

Recife / PE - CEP. 50103-010Fone: (81) 3183.3691 - Fax: (81) 3183.3664

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LEITURA, INTERPRETAÇÃO E PRODUÇÃO TEXTUAL

Profa. Aline Nascimento da Silva

Carga horária: 60 horas

Ementa

Concepções e estratégias de leitura e produção textual. Comunicação e interação: código e enunciação. Considerações sobre o texto e o contex-to. Produção e gêneros textuais. Linguagem e variação linguísticas.

Objetivo Geral

Compreender as noções de texto, os mecanismos de textualização, con-siderando diferentes gêneros e tipos de texto; compreender também os usos e funções sociais da leitura e da escrita; identificar estratégias de compreensão da leitura e da escrita e discutir os processos de variações da língua.

Apresentação da Disciplina

Nos capítulos desta disciplina, pretende-se promover uma compreensão dos elementos que constituem a língua portuguesa, as noções de texto, o processo de leitura, os tipos de texto e os diferentes gêneros textuais, além do processo de variação linguística. As ações didáticas envolverão habilidades de leitura e escrita, configuradas em videoaulas, estudos in-dividuais e reflexão, análise e discussão de textos, pesquisas e relatórios.

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CAP

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LO 1

Objetivos Específicos

1. Compreender as noções de texto e reconhecer as particularidades do uso em suas modalidades escrita e oral.

2. Compreender os fatores da textualidade, os pragmáticos e os semân-ticos, destacando os sete elementos responsáveis pela textualidade de um discurso.

3. Reconhecer o processo sociointerativo na produção de sentido do tex-to (contexto: produção e uso).

Introdução

Este capítulo inicia o estudo sobre as noções de texto, o processo de interação entre os falantes, as estratégias linguísticas que ocorrem na produção de sentido do texto. Será apresentado o processo de produção textual escrito e oral, de que forma ele acontece e as particularidades de cada modalidade. Apresentaremos as noções de textualidade, os ele-mentos estruturais dos textos, abordados no fascículo em dois blocos, os fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalida-de, informatividade e intertextualidade) e os fatores semântico/formal (coesão e coerência). Abordaremos também a produção de sentido do texto em seu contexto de produção e uso.

O que é texto?

A interação entre falantes não se dá de forma isolada, isto é, com base em palavras soltas e aleatórias. Para que haja comunicação entre falantes de uma língua1, faz-se necessário o uso de uma unidade que carregue

NOÇÕES DE TEXTO, TEXTUALIDADE E CONTEXTO

Profa. Aline Nascimento da Silva

Carga horária: 15 horas

1 A língua é uma atividade social, histórica e cognitiva, desenvolvida de acordo com as práticas so-cioculturais e, como tal, obedece a convenções de uso fundadas em normas socialmente instituídas. Marcuschi (2008: 64).

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CAP

ÍTU

LO 1 consigo as intenções de seus falantes em convergência com a própria

situação comunicativa. Essa unidade é o texto.

Nessa perspectiva, o texto é uma unidade de sentido que ativa estraté-gias, expectativas e conhecimentos tanto linguístico como não linguísti-co, possibilitando, assim, a seus interlocutores uma atividade interativa de grande complexidade. Segundo Marcuschi (2008, p. 72), “o texto pode ser tido como um tecido estruturado, uma entidade significativa, uma entidade de comunicação e um artefato sociohistórico”. Isso impli-ca que o texto é o resultado de uma interação entre o autor e o leitor/ouvinte, num dado contexto social e histórico.

Um texto é uma unidade que produz sentido, e este só existe com a par-ticipação do leitor/ouvinte; segundo Marcuschi (2008, p. 79), “o texto se dá como um ato de comunicação unificado num complexo universo de ações alternativas e colaborativas”. Todo texto apresenta uma linguagem, que pode ser verbal ou não verbal, A linguagem verbal é constituída por textos escritos ou orais. Os textos representados apenas por imagens, símbolos, gestos, etc... com ausência de palavras, constituem a lingua-gem não verbal. Quando a linguagem verbal e a não verbal se cruzam para a produção de sentido do texto, chamamos de linguagem mista.

Observe o texto a seguir:

Podemos perceber no texto acima que tanto a linguagem verbal quanto a não verbal contribuem para sua produção de sentido. A pergunta “Onde você tava?”, em consonância com o olhar da espiga de milho que está tricotando, demonstra uma ironia sobre o que é dito, enquanto a respos-ta dada pela outra espiga --- “RECIFE” --- analisada em conjunto com os elementos não verbais como o sol ao fundo da porta, o fato de ela estar toda pipocada e seu olhar, conferem ao texto seu valor humorístico. Vale

Fonte: https://in.pinterest.com/explore/funny-cartoon-pictures/

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CAP

ÍTU

LO 1ressaltar que, em textos cuja linguagem é mista, ambas se fazem ne-

cessárias para a construção do sentido, ou seja, eliminar alguma delas compromete completamente o sentido original do texto.

Texto Escrito

Pressupõe-se que a escrita faz uso de um conjunto de regras grama-ticais, uso de sinais de pontuação, concordância, regência, dentre ou-tros tópicos, de acordo com a norma padrão, quando um texto não está adequado a essas regras, entende-se que ele não está bem escrito. No entanto, podemos dizer que a escrita é um dos meios de representação do pensamento, nela são postas as experiências, o conhecimento, as intenções do escritor, e o leitor mobiliza várias estratégias para alcançar a informação veiculada. Para Koch e Elias (2011, p. 34), “A escrita não é compreendida em relação apenas à apropriação das regras da língua, tampouco ao pensamento e intenções do escritor, mas, sim, em rela-ção à interação escritor leitor”. Podemos dizer que a norma padrão nem sempre estará presente nos textos escritos, isso vai depender do gênero textual e da estrutura que este dispõe. Afirmamos, assim, que a formali-dade de um texto, seja oral ou escrito, vai depender do gênero textual a que ele pertence.

A escrita é um processo, e como tal, sofre mudanças, se adequa à si-tuação inserida “a escrita é uma atividade que envolve várias tarefas, às vezes sequenciais, às vezes simultâneas. Há também idas e vindas: começa-se uma tarefa e é preciso voltar a uma etapa anterior ou avançar para um aspecto que seria posterior” Garcez (2002, p. 14). Esse proces-so se concretiza na interação escritor-texto-leitor.

Texto Oral

Uma das modalidades da linguagem verbal é a oralidade, seu estudo é mais recente que o da linguagem escrita, a pouca sistematização dos textos orais, podemos dizer que, na construção de um texto falado, é comum que os interlocutores compartilhem conhecimentos comuns ao processo de comunicação. A linguagem oral abre espaço para gírias, ne-ologismos, palavras repetidas, rupturas na fala; nesse tipo de texto, a interação entre falante-ouvinte é imediata.

Os saberes linguístico, enciclopédico e interacional agem de forma si-multânea no processo comunicativo; as marcas empregadas na fala se ancoram nos costumes, na cultura e nas variações de cada espaço, seja ele geográfico, temporal ou etário. Os textos orais vão da linguagem for-mal à informal e se apresentam nos mais diferentes contextos de uso.

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CAP

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LO 1 Textualidade

Um texto representa uma unidade comunicativa, e esta deve obedecer a critérios de textualização, elementos estruturais e funcionais, pois um texto não é um conjunto aleatório, nem uma sequência sem ordem de frases. A textualidade é construída com base na interação verbal, de um lado os objetivos da comunicação, do outro as expectativas do interlocutor.

Para que você possa compreender melhor o processo da textualidade, vamos apresentar as teorias de Dressler e Beaugrande (1981) Apud Mar-cuschi (2008). Os autores apontam sete elementos responsáveis pela textualidade de um discurso, os quais se dividem em dois blocos: os fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e intertextualidade) e os fatores semântico e formal (co-esão e coerência)

Intencionalidade

A intencionalidade é um princípio da textualidade centrado no produtor do texto, são as intenções do autor, o texto é produzido com uma fina-lidade que deve ser captada pelo leitor/ouvinte. Segundo Fávero Apud Marcuschi (1986, p. 127), “a intencionalidade, no sentido estrito, é a intenção do locutor de produzir uma manifestação linguística coesiva e coerente, ainda que essa intenção nem sempre se realize na sua totalida-de, especialmente na conversação usual.”

A tirinha apresenta o seguinte enunciado “Temos uma filha que já vai para escola”, proferido no segundo quadro, pela mãe. Esse mesmo enun-ciado é repetido no quarto quadro, em caixa alta, tanto pelo pai quanto pela mãe tendo seu sentido modificado em relação à proferição anterior. A intencionalidade do autor se situa nos arranjos realizados para que o sentido inicial da enunciação do segundo quadro, que representa alegria pela filha que já vai entrar para escola, modifique-se no quarto quadro ao convergir com as expressões de surpresa na fisionomia dos pais, confe-rindo-lhe, dessa forma, a consciência cuja confirmação se dá no último quadro com a representação dos pais envelhecidos.

Fonte: http://beta-escoladepais.blogspot.com/2011/04/mafalda-filho-que-vai-para-escola.html

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CAP

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LO 1Aceitabilidade

O princípio da aceitabilidade está relacionado como o receptor (leitor/ouvinte) reage e aceita o texto, este precisa ter uma configuração acei-tável, em que os enunciados apresentam coesão e coerência, sendo in-terpretável e significativo. Em certos contextos nos quais os enunciados não contemplem em sua totalidade as regras gramaticais, podem lhes ser oferecidas alternativas estilísticas que sejam completamente aceitáveis, como nas obras de Guimarães Rosa. Este reinventa a Língua Portuguesa explorando estruturas sintáticas, utilizando neologismos, além de alite-rações e onomatopeias no intuito de criar sonoridade dentro da obra. Guimarães Rosa apresentou um vocabulário próprio do sertão nordesti-no, fruto de sua pesquisa, e os enunciados do texto são completamente aceitáveis na obra do autor.

A propaganda é um exemplo de texto que se encaixa perfeitamente na questão da aceitabilidade. A produção de uma propaganda leva em con-sideração se o público-alvo a aceitará e se reagirá bem aos seus sentidos. Observemos a peça publicitária a seguir:

Fonte: Disponível em: http://g1.globo.com/economia/midia--e-marketing/noticia/campanha-gente-boa-tambem-mata-do-

-governo-vira-alvo-de-processo-no-conar.ghtml

A campanha “gente boa também mata”, do Governo Federal, ao entrar em circulação foi alvo de muitas críticas entre o público e os meios de comunicação e pelo órgão regulador de propaganda, como podemos perceber no trecho de notícia a seguir:

Fonte: Disponível em: http://g1.globo.com/economia/midia-e-marketing/noticia/campa-nha-gente-boa-tambem-mata-do-governo-vira-alvo-de-processo-no-conar.ghtml

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CAP

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LO 1 A reação do público em geral demonstra para nós que os sentidos pro-

duzidos pela propaganda em questão não receberam boa aceitação, le-vando o Ministério dos Transportes a retirá-la do ar.

Situacionalidade

Refere-se à situação (cultural, social, ambiental, etc...) em que o texto ocorre, relaciona o texto ao seu contexto. Ao produzir um texto, é im-portante adequar a linguagem, a formalidade a depender do público ou da situação, é preciso saber as intenções do texto. Segundo Marcuschi (2008, p. 129), “O texto figura como uma ação dentro de uma situação controlada e orientada. A rigor, a situacionalidade é dada já pelo simples fato de que o texto é uma unidade em funcionamento”. O texto possui uma ação dentro de cada situação, a situacionalidade diz respeito ao funcionamento desse texto, ou seja, situacionalidade é quando o texto se adequa ao seu contexto e seus usuários.

Informatividade

É a capacidade do texto de apresentar informações; quanto mais pre-visíveis as informações, menos informatividade o texto produz, quanto menos previsível mais informativo. Ou seja, as expectativas, as incerte-zas, o conhecido e desconhecido do receptor estão relacionados com a informatividade do texto.

Observe o texto a seguir:

O Brasil - Descrição Física e Política O Brasil é um país maior que os menores e menor que os maio-res. É um país grande porque, medida sua extensão, verifica-se que não é pequeno. Divide-se em três zonas climáticas absolutamente distintas: a primeira, a segunda e a terceira, sendo que a segunda fica entre a primeira e a terceira. As montanhas são consideravel-mente mais altas que as planícies, estando sempre acima do nível do mar. Há muitas diferenças entre as várias regiões geográficas do país, mas a mais importante é a principal. Na agricultura faz-se exclusivamente o cultivo de produtos vegetais, enquanto a pecuária especializou-se na criação de gado. A população é toda baseada no elemento humano, sendo que as pessoas não nascidas no país são, sem exceção, estrangeiras. Na indústria, fabricam-se produtos industriais, sobretudo iguais e semelhantes, sem se deixar de lado os diferentes. No campo da exploração dos minérios, o país tem uma posição só inferior aos que lhe estão acima, sendo, porém, muito maior produtor do que todos os países que não atingiram o seu nível. Pode-se dizer que, excetuando seus concorrentes, é

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CAP

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LO 1

Pode-se perceber que o texto de Millôr Fernandes não é informativo, pois ao descrever o Brasil o faz com muitas obviedades. Logo no come-ço, é informado que “o Brasil é maior que os menores e menor que os maiores”; dizer que algo é maior que algo menor é uma condição óbvia principalmente que não há nada que se pressupor daí, posto que essa informação é de conhecimento de todos. Em seguida o autor classifica as zonas climáticas em primeira, segunda e terceira e explica que a segunda está distribuída entre a primeira e a terceira; mas uma vez a informação é irrelevante, por se tratar também de um conhecimento óbvio e parti-lhado por todos os enunciadores da língua. Ao ler o texto todo, observa--se que ele foi construído completamente em cima dessa inexistente ou pouca informatividade.

Um aspecto ainda interessante que se pode discutir neste texto é a ques-tão da intencionalidade, tendo em vista que o autor tinha intenções cla-ras de ser pouco informativo para fins humorísticos.

Intertextualidade

A intertextualidade pressupõe a presença de um texto em outro, é a inte-ração entre os textos, de acordo com as teorias de Bakhtin nenhum dis-curso é original, todo discurso refrata outros discursos. Segundo Bakhtin (2003, p. 298), “O enunciado está repleto dos ecos e lembranças de outros enunciados, aos quais está vinculado no interior de uma esfera comum da comunicação verbal”. É consenso hoje que todo texto tem aspectos da intertextualidade e é nessa perspectiva que se constrói a na-tureza dialógica da linguagem, pois estabelece a relação de sentido entre pelo menos dois enunciados, essa linguagem pode apresentar múltiplas possibilidades de criação e recriação.

Observe o texto abaixo:

o único produtor de minérios no mundo inteiro. Tão privilegiada é hoje a situação do país, que os cientistas procuram apenas descobrir o que não está descoberto, deixando para a indústria tudo que já foi aprovado como industrializável, e para o comércio tudo o que é vendável. Na arte também não há ciência, reservando-se esta ativi-dade exclusivamente para os artistas. Quanto aos escritores, são re-crutados geralmente entre os intelectuais. É, enfim, o país do futuro, sendo que este se aproxima a cada dia que passa. (Millôr Fernandes)

Canção do exílio Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá;As aves, que aqui gorjeiam,Não gorjeiam como lá.

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CAP

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LO 1

Esse poema é fonte de inspiração para vários outros textos, Canção do Exílio é um dos poemas mais parodiados da nossa literatura; poetas como Carlo Drummond, Oswald de Andrade e artistas contemporâneos voltam ao texto do século XIX ressignificando-o. Abaixo apresentamos o texto do modernismo brasileiro “Canto de regresso à pátria” de Oswald de Andrade:

Nosso céu tem mais estrelas,Nossas várzeas têm mais flores,Nossos bosques têm mais vida,Nossa vida mais amores. Em cismar, sozinho, à noite,Mais prazer eu encontro lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá. Minha terra tem primores,Que tais não encontro eu cá;Em cismar – sozinho, à noite–Mais prazer eu encontro lá;Minha terra tem palmeiras,Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra,Sem que eu volte para lá;Sem que desfrute os primoresQue não encontro por cá;Sem qu’inda aviste as palmeiras,Onde canta o Sabiá.

Gonçalves Dias

Canto de regresso à pátria

Minha terra tem palmaresOnde gorjeia o marOs passarinhos daquiNão cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosasE quase que mais amoresMinha terra tem mais ouroMinha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosasEu quero tudo de láNão permita Deus que eu morraSem que volte para lá

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CAP

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LO 1

É possível perceber que os versos de Oswald fazem uma paródia ao poema de Dia. “A intertextualidade é o processo de incorporação de um texto em outro, seja para reproduzir o sentido incorporado, seja para transformá-lo” (FIORIN, 1999 p. 30). Em Canção do exílio, o poeta se mostra saudoso da terra natal, apresentando uma valorização do Brasil, comum ao estilo literário da época. Já no segundo poema, o poeta substi-tui “Palmeiras” por “Palmares”, fazendo uma crítica ao período de escra-vidão do Brasil. “Canto do regresso à Pátria” apresenta um olhar crítico e busca evidenciar os problemas do Brasil que o texto de Gonçalves Dias, mesmo tendo vivenciado esse período, não faz nenhuma referência.

Não permita Deus que eu morraSem que volte pra São PauloSem que veja a Rua 15E o progresso de São Paulo

Oswald de Andrade

ATIVIDADE PROPOSTA

1. Há no texto a seguir uma relação de intertextualidade implícita. Identifique em que ponto do texto está presente o intertexto e comente sobre como ela contribui para a produção de sentido.

Fonte: http://exercicios.mundoeducacao.bol.uol.com.br/exercicios--redacao/exercicios-sobre-intertextualidade-explicita-implicita.htm

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CAP

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LO 1

Coesão textual

Para compreender melhor a textualidade vamos aprofundar os estudos da coesão e coerência textual. Esses dois elementos fundamentais da textualidade, a coesão é o sentido entre os enunciados, um elemento depende da interpretação de outro; por meio da gramática e também do léxico, identificamos a coesão de um texto. Coerência são processos cognitivos entre autor-texto-leitor, de certa, podemos dizer que a coesão está na superfície do texto e a coerência ao adentrá-lo.

Nas ideias de um texto, mais fortes, seus tópicos precisam ser conec-tados entre si; a essa conexão, dá-se o nome de coesão. A coesão é responsável pelas conexões gramaticais estabelecidas, por garantir a pro-gressão e continuidade do texto e, por conseguinte, uma lógica estrutu-ral-semântica. Ou seja, as marcas da coesão são facilmente encontradas no texto, no entanto as de coerência são construídas a partir dele.

Diante disso, a conexão sequencial do texto, coesão, constitui os pa-drões formais para transmitir conhecimento, ou seja, é a organização sintática da sentença que se dá por recursos conectivos ou referenciais. A coesão garante a disposição formal do texto.

Observe o texto abaixo:

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Não há dúvida que as línguas se aumentam e alteram com o tempo e as necessidades dos usos e costumes. Querer que a nossa pare no século de quinhentos é um erro igual ao de afirmar que a sua transplantação para a América não lhe inseriu riquezas novas. A esse respeito, a influência do povo é decisiva. Há, portanto, certos modos de dizer, locuções novas, que de força entram no domínio do estilo e ganham direito de cidade.

Mas isto é um fato incontestável, e se é verdadeiro o princípio que dele se deduz, não me parece aceitável a opinião que admite todas as alterações da linguagem, ainda aquelas que destroem as leis da sintaxe e a essencial pureza do idioma. A influência popular tem

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CAP

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LO 1

No texto, os termos em destaque conectam as partes e as ideias do texto internamente, conferindo-lhe progressão e referência (retomada). Esses conectores lhe permitem, também, valores semânticos entre as ideias conectadas. No primeiro parágrafo, a expressão igual a estabelece uma relação de comparação entre a ideia de erro de a língua parar no tempo e a negação de que a língua portuguesa não sofreu influências ao chegar à América. Ainda no primeiro parágrafo, a locução a esse respeito faz uma retomada e um resumo de tudo que foi dito anteriormente, e a conjun-ção, portanto, liga uma conclusão ao que foi dito e um fechamento para o parágrafo.

A expressão mas isto, que inicia o segundo parágrafo, liga-o ao anterior e faz uma referência à ideia global apresentada no parágrafo enquanto se nos traz uma condição para o que se apresenta em seguida; a condição de verdade é posta como pressuposto para a não aceitação da opinião “que admite todas as alterações da linguagem”. Ainda vem como acrés-cimo quanto a essas “alterações” comentadas pelo autor do texto. Por fim, a expressão pelo contrário estabelece um sentido de oposição às ideias anteriores.

Coerência textual

Se a coesão é a continuidade baseada na forma, podemos dizer que a coerência é a continuidade baseada no sentido. A coerência representa a relação de sentidos entre os enunciados, os elementos do conhecimento são ativados.

Sempre que lemos ou ouvimos algum texto, nos questionamos sobre a sua lógica, isto é, se isso ou aquilo faz sentido. Buscamos compreender o texto com nosso conhecimento de mundo atribuindo-lhe sentido no pro-cesso interativo autor-texto-leitor. Quando o processo é bem sucedido, dizemos que houve coerência.

um limite; e o escritor não está obrigado a receber e a dar curso a tudo o que o abuso, o capricho e a moda inventam e fazem correr. Pelo contrário, ele exerce também uma grande parte de influência a este respeito, depurando a linguagem do povo e aperfeiçoando-lhe a razão.

Feitas as exceções devidas, não se lêem muito os clássicos no Brasil. Entre as exceções, poderia eu citar até alguns escritores cuja opinião é diversa da minha neste ponto, mas que sabem perfeitamente os clássicos. Em geral, porém, não se lêem, o que é um mal. Escrever como Azurara ou Fernão Mendes seria hoje um anacronismo insu-portável. Cada tempo tem seu estilo.

(Machado de Assis)

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CAP

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LO 1 A coerência não pode ser identificada no texto, não é possível apontá-la

como um elemento palpável. Mas nós a construímos na interação com o texto e o autor com base nas pistas deixadas. “A Coerência não se en-contra no texto, mas constrói-se a partir dele em dada situação comuni-cativa com base em uma série de fatores de ordem semântica, cognitiva, pragmática e interacional.” (KOCH, 2007, p. 186).

Observe o texto abaixo:

PAUSA2

Quando pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitura de coisas feitas, ou na feitura de minhas próprias coisas, surpreendo--me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa.

Com algum inseto de grandes olhos e negras e longas pernas ou antenas?Com algum ciclista tombado?Não, nada disso me contenta ainda. Com que se parecem mesmo?

E sinto que, enquanto eu não puder captar a sua implícita imagem--poema, a inquietação perdurará.

E, enquanto o meu Sancho Pança, cheio de si e de senso comum, declara ao meu Dom Quixote que uns óculos sobre a mesa, além de parecerem apenas uns óculos sobre a mesa, são, de fato, um par de óculos sobre a mesa, fico a pensar qual dos dois - Dom Quixote ou Sancho? - vive uma vida mais intensa e portanto mais verdadeira...

E paira no ar o eterno mistério dessa necessidade da recriação das coisas em imagens, para terem mais vida, e da vida em poesia, para ser mais vivida.

Esse enigma, eu o passo a ti, pobre leitor.E agora?Por enquanto, ante a atual insolubilidade da coisa, só me resta citar o terrível dilema de Stechetti:“Io sonno un poeta o sonno un imbecile?”Alternativa, aliás, extensiva ao leitor de poesia...A verdade é que a minha atroz função não é resolver e sim propor enigmas, fazer o leitor pensar e não pensar por ele.E daí?- Mas o melhor - pondera-me, com a sua voz pausada, o meu San-cho Pança -, o melhor é repor depressa os óculos no nariz.

2 (A vaca e o hipogrifo. © by Elena Quintana. São Paulo, Globo.)

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19

CAP

ÍTU

LO 1Para a produção de sentido do texto, é preciso que o leitor entre numa

interação pactual na qual concorda ou discorda com as ideias propostas no texto.

Coerência e coesão estão diretamente ligadas nessa produção de senti-do. As conexões lógico-formais, conjunções, locuções conjuntivas, subs-tantivos, pronomes ao passo que dão progressividade lógica oferecem sentido ao texto e relações lógico-semânticas.

O quando no começo de Pausa além de conectar duas sentenças no inte-rior do texto (“surpreendo-me a indagar com que se parecem os óculos sobre a mesa” e “pouso os óculos sobre a mesa para uma pausa na leitu-ra de coisas feitas”) estabelece uma relação semântica em que “quando” é o momento de e para a reflexão, também indicado no título. Ou seja, o “quando” ainda se liga ao título para indicar a pausa.

Ao final, o texto nos leva ao sentido global, no qual se discute o papel de poeta com base na comparação entre “óculos” do narrador e “inseto de longas pernas” e um “ciclista tombado”, perpassando essas imagens por diálogos com os “eus” do poeta-narrador.

Observe o texto abaixo:

Burguesinha

Vai no cabeleireiroNo esteticistaMalha o dia inteiroVida de artista

Saca dinheiroVai de motoristaCom seu carro esporteVai zoar na pista

Final de semanaNa casa de praiaSó gastando granaNa maior gandaiaVai pra baladaDança bate estacaCom a sua triboAté de madrugada

Burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinhaSó no filéBurguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinhaTem o que quer

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CAP

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LO 1

A letra da canção acima não apresenta conjunções e alguns verbos que serviriam para estabelecer coesão, contudo é perceptível que, apesar dis-so, a letra em si é coerente; isso nos leva a concluir que a coesão não é necessariamente uma condição para a coerência, já que esta se dá valen-do-se das ideias e arranjos do próprio texto. A música de autoria de Seu Jorge, em parceria com Gabriel Moura e Pretinho da Serrinha, mesmo desprezando os padrões formais da língua, a continuidade semântico--cognitiva é garantida no texto.

Burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinhaNo croissantBurguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinhaSuquinho de maçãBurguesinha, burguesinha, burguesinha, burguesinha

ATIVIDADE PROPOSTA

2. Preencha as lacunas no texto a seguir com conectivos e ele-mentos coesivos:

Anúncios de escravos: os classificados da épocapor Carlos Roberto Saraiva da Costa Leite

Os anúncios de fuga, venda e aluguel de negros, no século 19, são considerados os primórdios dos atuais classificados impressos nos jornais ………... circulam no cotidiano dos brasileiros. Analisando sob o prisma econômico, o negro era considerado uma mercado-ria (um bem) da ………... seu proprietário fazia o uso ………... desejasse: a mão de obra escrava podia ser vendida ou alugada (escravos de aluguel).

Nossa economia, durante o período colonial e imperial, foi baseada no latifúndio monocultor e na mão de obra escrava, ………... o status social era proporcional à quantidade de escravos ………... o proprietário possuísse ………... servi-lo. A fuga ou morte de um escravo representava um prejuízo financeiro a seu dono, principal-mente após a Lei de Euzébio de Queirós (1850) ………... proibiu o tráfico de escravizados. Diante desta proibição, intensificou-se o comércio interno, entre as províncias, e o custo ………... comprar um escravo ficou ………... mais caro. Neste nefando mercado, o tráfico negreiro oferecia escravizados, com altas taxas de custo, vi-sando a suprir a falta de mão de obra que era adquirida, na “Mãe África”, por baixos valores ou pelo simples sistema de permuta.

O negro saudável, em boa condição física, tinha um valor mone-tário alto, e muitos enriqueceram praticando esta intermediação comercial, inclusive, com a participação, muitas vezes, de irmãos

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LO 1

Contexto: produção e uso

Discutimos anteriormente as noções de texto. Para entendermos um tex-to, é importante antes considerar o contexto, este depende de circuns-tâncias que envolvem o autor, leitor, momentos de produção e leitura e como as intenções de todos envolvidos no processo sociointerativo na produção de sentido do texto.

Entretanto, podemos distinguir dois tipos de contexto: aquele que en-volve o momento da produção do texto e aquele relacionado ao instante da leitura e perpassando o leitor em si. Nas interações face a face, isto é, comunicação em que os falantes se encontram cara a cara, os contextos de produção e uso coincidem.

Analisemos agora a relações do texto, a seguir, com seu contexto de pro-dução na contribuição para o sentido:

de etnia ………..., depois de comprarem sua liberdade (alforria), ganhavam dinheiro, participando do aprisionamento e transporte nos tumbeiros (navios) de escravizados, ………... serem comercia-lizados, a exemplo também de outros negros que, na condição de “capitães do mato”, perseguiam seus “irmãos de etnia” quando es-tes fugiam do cativeiro.

………… ………... paradoxal, é o fato de existirem jornais ………... defendiam um discurso abolicionista, ………..., devido a dificulda-des de ordem econômica, divulgavam esses anúncios. Em Pelotas (RS), A Discussão (1881), de acordo com o historiador, escritor e militar Souza Docca (1884-1945), foi o jornal pioneiro, no Brasil, ao deixar de publicar anúncios, nos quais estivesse presente a figura do escravizado.

(Adaptado de: http://www.geledes.org.br/anuncios-de-escravos--os-classificados-da-epoca/#gs.Q4fpiCI)

Cara Feia

Cara feia... pra mim é fomeE cara alegre é a cara de quem comeCara feia... pra mim é fomeE cara alegre é a cara de quem come

É, não me distraí, não me distraíMe deixa aproveitar a sensação um pouco maisA sensação de esperança que invadiu o meu peitoNão me envergonha com esse velho preconceitoNão me atrapalha agora não, por favor

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LO 1 Não me apavora com as notícias do terror

O seu terror psicológico e as previsões sinistras dos seus mapas astrológicosNão vão fazer o papai aqui fazer pipi na camaNão sou do tipo que tem medo de sair da lamaNós não somos covardesE nunca é tarde pra cuidar de quem a gente amaA gente sabe se amar, a gente sabe se amar, a gente sabe da vida

A gente sabe somar, e quer saborear a soma divididaA gente sabe se amar, a gente sabe se amar, a gente sabe da vidaA gente sabe sonhar, e desse sonho a gente não duvidaCara feia... pra mim é fomeE cara alegre é a cara de quem comeCara feia... pra mim é fomeE cara alegre é a cara de quem come

E quem não mata a fome, a fome mataQuem não mata a fome some; quem não mata a fome, a fome come(A fome não é só um nome)E tem também a outra fome, fora do abdômenCara feia... eu vi na cara de um cara que matou um homem, por causa dessa outra fomeFome de vingança, vingança do destinoE essa cara eu já vi na cara de um meninoE os meninos assassinos vão se renovandoE vão nascendo, vão morrendo e vão matandoÉ que eles pensam que o crime é o único caminhoPra chegar em qualquer tipo de comandoMas se os meninos forem mais malandrosVão saber que ser trabalhador não é ser otárioUm bom exemplo vem da nossa presidênciaPorque lá quem tá mandando é um operário

Não faça cara feia de barriga cheiaNão faça cara feia de barriga cheiaNão faça cara feia de barriga cheiaNem meta a colher em cumbuca alheiaQuem deixa um pé atrásNunca chega na frenteQuem tem medo do futuroVira escravo do presenteNão me enche com essa fome de derrotaNem me bota nesse time que defende o pessimismoAgora eu sei, cansei da linha burra que separa, desuneE empurra todo mundo pro abismoO caminho é mais pro altoNo mar e no sertão, na favela e no asfaltoTodo mundo sente fome, fome de futuro

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LO 1

As músicas de Gabriel, o Pensador, são conhecidas por serem polêmi-cas e por tecer críticas sociais, seja à esfera política, seja às outras su-perestruturas da sociedade: educação, religião, etc. A música Cara Feia apareceu, pela primeira vez, em 2003, no álbum MTV Ao Vivo. Em que contexto foi produzida Cara Feia? De que forma essa música dialoga com o autor (sua vida) e as condições histórico-sociais da época? Essas ques-tões são importantes para que se faça uma melhor compreensão da letra.

A música surgiu no ano de 2003, o contexto político que antecedeu a canção foram as eleições presidenciais de 2002, a música surge no mes-mo ano do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No final de 2002, ano de eleição, a atmosfera era de desconfiança, pois o partido ao qual pertencia o candidato à presidência partilhava de ideo-logias diferentes do partido até então vigentes. A desconfiança em rela-ção às ideologias partidárias era veiculada pela mídia, pelos partidos que se diferenciavam ideologicamente e que espalharam em seus discursos uma atmosfera de medo e desconfiança.

Levando em consideração esse contexto histórico em que a canção está inserida, podemos nos perguntar o que significa a primeira frase da mú-sica: “Cara feia pra mim é fome” e se perguntar de quem é a cara feia e a que ela se refere.

Cara feia... pra mim é fomeE cara alegre é a cara de quem comeCara feia... pra mim é fomeE cara alegre é a cara de quem come A frase “Cara feia pra mim é fome” pode expressar vários sentidos. Um deles pode ser identificado como direcionado aos opositores do então presidente. A expressão pode fazer referência à cara feia das classes me-nos privilegiadas da sociedade, que, na leitura de Gabriel, o Pensador, não foram beneficiadas pela gestão anterior, visto que não houve um incentivo a programas sociais que contemplam os principais problemas da classe baixa, dentre eles a fome.

É, não me distraí, não me distraíMe deixa aproveitar a sensação um pouco maisA sensação de esperança que invadiu o meu peitoNão me envergonha com esse velho preconceitoNão me atrapalha agora não, por favor

Pra que pichar, se eu posso derrubar o muro?Não é com tanque, nem com tratorNão é com ódio, nem com rancorNão é com medo, nem com terrorMinha campanha também é paz e amor.

(Disponível em: https://www.letras.mus.br/gabriel-pensador/72840/

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LO 1 Não me apavora com as notícias do terror

O seu terror psicológico e as previsões sinistras dos seus mapas astrológicos Como atestam notícias e livros de história “a eleição do ex-metalúrgico provocou uma onda de entusiasmo e de esperança em todo o país. Nas grandes cidades, quando a apuração dos votos entrava na fase final, e a vitória de Lula já estava definida, milhares de pessoas saíram às ruas para festejar.” (PILLET, 2006, p. 480)

O trecho citado dialoga com o trecho da música acima. Visto que as expectativas por parte do “povo” eram positivas, de esperança pelo fato de o presidente voltar seu discurso para as classes mais baixas, com pro-messas de igualdade e uma melhor condição de vida para todos. É o que atesta o trecho “Me deixa aproveitar a sensação um pouco mais [...] a sensação de esperança que invadiu o meu peito”. O trecho “Não me en-vergonha com esse velho preconceito” dialoga com as críticas dirigidas ao presidente, pelo fato de ele não possuir diploma universitário.

A música apresentada exemplifica a influência que o contexto tem na produção de um texto, o posicionamento político do artista, o contexto social da época, tudo isso contribuiu para a construção de sentido da música.

ATIVIDADES PROPOSTAS

3. Leia a música a seguir, de Paula Toller e Dunga:

Por que você é FlamengoE meu pai BotafogoO que significa“Impávido Colosso”?Por que os ossos doemEnquanto a gente dormePor que os dentes caemPor onde os filhos saemPor que os dedos murchamQuando estou no banhoPor que as ruas enchemQuando está chovendoQuanto é mil trilhõesVezes infinitoQuem é Jesus CristoOnde estão meus primosWell, well, wellGabriel...Por que o fogo queimaPor que a lua é brancaPor que a Terra roda

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LO 1Por que deitar agora

Por que as cobras matamPor que o vidro embaçaPor que você se pintaPor que o tempo passaPor que que a gente espirraPor que as unhas crescemPor que o sangue correPor que que a gente morreDo qué é feita a nuvemDo qué é feita a neveComo é que se escreveReveillónWell, well, well,Gabriel...

(Disponível em: https://www.letras.mus.br/adriana-calcanhot-to/91827/)

Comente como se dá o processo de coerência na música, apesar de elementos coesivos estarem ausentes.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4. Às vezes, confusões são estabelecidas entre interlocutores no uso da língua, em especial quando não compartilham das mes-mas experiências e usos linguísticos. Observe a seguir o diálogo extraído do site Buzzfeed:

Café?, por Nina PaduaniMeus pais e meus tios estão em Lisboa. Vão ao restaurante almoçar. No final, o garçom pergunta:—Café?Meu pai:— Um, por favor.Meu tio:— Dois!Minha tia:— Três!Passam alguns minutos e lá vem o garçom.Com seis cafés.(Em: https://www.buzzfeed.com/rafaelcapanema/historias-reais-de--portugal-mais-engracadas-que-piadas?utm_term=.phePeX0EM#.bm9Dm1Ljw)

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LO 1

Resumo

O texto é uma unidade de sentido que ativa estratégias, expectativas e conhecimento tanto linguístico como não linguístico, entendemos que os textos se manifestam em uma linguagem verbal, que pode ser escri-ta ou oral e não verbal em que se destacam imagens, símbolos, gestos etc. Destacamos, neste primeiro momento, o processo desenvolvido por cada uma dessas modalidades e as disposições linguísticas para cada uma delas.

Neste capítulo, compreendemos também as noções de texto, de que forma ele se constitui e os diferentes processos presentes na unidade textual. Pelas teorias de Dressler e Beaugrande, podemos identificar os elementos presentes na textualização de um discurso, destacando os fa-tores pragmáticos e os semântico/formal.

Discutimos também o texto como unidade de sentido, compreendendo o contexto em que é produzido, as intenções do autor e as disposições do receptor para a construção e compreensão de sentido.

Explique como o garçom capta a intencionalidade do pai e demais presentes à mesa e em relação à aceitabilidade.________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Saiba Mais

Silva, Priscilla Chantal Duarte. A intencionalidade discursiva: estraté-gias de humor crítico usadas na produção de charges políticas. Belo Horizonte, 2008.

http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Letras_SilvaPC_1.pdf

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Oralidade e Escrita. Revista SIGNÓTICA. Volume 9, n. 1. P. 119-145 Goiás, 1997. Disponível na Word Wide Web: < https://www.revistas.ufg.br/sig/article/view/7396/5262> ISSN 2316- 3690.

ZANI, Ricardo. Intertextualidade: considerações em torno do dialogismo.

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LO 2GÊNEROS TEXTUAIS:

CLASSIFICAÇÃO, ORGANIZAÇÃO E INTERAÇÃO SOCIAL

Profa. Aline Nascimento da Silva

Carga horária: 15 horas

Objetivos Específicos

1. Compreender os gêneros textuais (composição, conteúdo e estilo).

2. Entender a classificação dos gêneros discursivos.

3. Compreender a interação e comunicação na internet: Hipertexto e gêneros digitais.

4. Identificar nas tipologias textuais, de que forma se organizam e se apresentam nos textos.

Introdução

Este capítulo inicia o estudo sobre os gêneros discursivos tomando por base a concepção bakhtiniana, destacando a classificação desses gêne-ros, divididos em primário e secundário. Os gêneros discursivos se or-ganizam mediante conteúdo temático, estilo e estrutura composicional. Serão apresentados também os gêneros em suas novas formas de in-teração social: os hipertextos e gêneros digitais. Destacaremos a inter-genericidade ou intertextualidade no processo de construção do texto. Apresentaremos ainda uma visão geral dos tipos textuais, a natureza lin-guística de sua composição e como eles se evidenciam nos diferentes gêneros textuais.

Gêneros do Discurso

Composição, conteúdo e estilo

Para entendermos os gêneros textuais, adotaremos a concepção bakhti-niana de gênero e nos basearemos em sua ideia de enunciado.

O estudo de Bakhtin apresenta uma concepção de dialogismo, baseada no diálogo da interação face a face, isto é, a estrutura composicional do

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LO 2

Fonte: In: Martins e Zilberknop. Português Instrumental. São Paulo. Atlas: 2010)

diálogo servirá de metáfora para erguer a ideia acerca do dialogismo. Para Mikhail Bakhtin, as réplicas de um diálogo se estendem para as de-mais esferas da vida humana. Eles veem o dialogismo como “relações de sentido entre dois enunciados” (FIORIN, 2006, p.19).

Bakhtin aborda o enunciado como a unidade mínima do discurso, pos-tulando que a relação existente entre um enunciado e outro não é de natureza lógica. Para o filósofo russo, o enunciado se trata de algo aca-bado ou potencialmente acabado, suscetível de atividade responsiva. O enunciado vai desde réplicas do diálogo cotidiano ao grande romance, pois este “no seu conjunto... é um enunciado, como a réplica do diálogo cotidiano ou carta privada (ele tem a mesma natureza dessas duas), mas, à diferença deles, é um enunciado secundário (complexo)” (BAKHTIN, 2011, p. 264).

São características do enunciado a alternância dos sujeitos do discurso e sua conclusibilidade. A alternância entre os sujeitos num dado con-texto confere os limites do enunciado, proporcionando-lhe início e fim. Ligada a essa perspectiva, está a questão da conclusibilidade, dado que um enunciado somente será tido como tal quando o falante achar que disse tudo o quanto queria sob dadas condições contextuais. Segundo Bakhtin, o critério mais importante para a conclusão de um enunciado consiste em sua possibilidade à resposta, dito de outra forma, quando se tem abertura a uma atividade responsiva, uma réplica, o enunciado está acabado.

A completude do enunciado consiste em três fatores: o primeiro se volta para o esgotamento do sentido do tema enunciado. Esse acabamento do tema pode ser quase pleno quanto aos gêneros do discurso padroniza-dos, ausentando o elemento criativo, como em algumas esferas da vida cotidiana, das ordens militares e nos campos oficiais.

Observe o exemplo a seguir:

A declaração, por ser um gênero discursivo padronizado, tem seu acaba-mento praticamente pleno, pois não lhe sobra margem para a criativida-de. Quando comparamos com outras declarações, percebemos que seus termos são sempre quase os mesmos: o título declaração, assinatura e data ao fim, além dos termos “declaramos para os devidos fins” ou “declaramos que” no corpo do texto, seguido do beneficiado pela decla-

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LO 2ração e do que se trata o texto em questão. Significa que a declaração

e outros gêneros do discurso padronizados não possuem espaço para a criatividade ou qualquer flexibilidade em sua composição temática e estrutural.

Contudo, nas esferas da criação, tais como os discursos da literatura, há um mínimo de acabamento para que se possa dar margem a uma ativi-dade responsiva, uma relativa exauribilidade da enunciação.

O segundo elemento, íntima e inevitavelmente ligado ao primeiro, é o que Bakhtin (2011) chama de “vontade de discurso do falante”. Cada réplica, tanto no diálogo cotidiano quanto em textos científicos, expressa uma intenção ou vontade discursiva do sujeito enunciador, e que vai de-terminar o todo do enunciado, seus limites e suas fronteiras. É mediante a intenção que o sujeito interlocutor irá saber quando o enunciado estará concluso; quando se ouve alguém, de imediato, já se tem uma ideia do momento o qual será oportuno responder, pois também se perce-be a vontade discursiva deixada pelo falante, assim como este, baseado em sua própria intenção, dará conclusibilidade ao seu enunciado. Nesse caso, a enunciação revela uma apreciação a determinado objeto temati-zado em dada situação real. Bakhtin/Volochínov diz:

Toda palavra usada na fala real possui não apenas tema e significação no sentido objetivo, de conteúdo, desses termos, mas também um acento de valor ou apreciativo, isto é, quando um conteúdo objetivo é expresso (dito ou escrito) pela fala viva, ele é sempre acompanha-do por um acento apreciativo determinado. (BAKHTIN/VOLOCHÍ-NOV, 2009, p.137)

A palavra, quando utilizada em condições concretas, possui sentido completo, tema e significação, concomitantemente comporta entoações que revelam o tom valorativo do falante, sua posição em relação ao que foi enunciado. Tanto a palavra falada quanto a palavra escrita são pro-vidas de caráter apreciativo; um tom mais baixo ou mais alto, um falar acelerado ou compassado são alguns dos índices de valor mais claros, e o mesmo se dá com uma escrita em caixa alta, com a aspas, em itálico, em negrito, sublinhado.

O terceiro elemento é o que Bakhtin (2011) chamou de “formas relati-vamente estáveis de gênero do enunciado”, também ligado intimamente ao segundo, pois, para ele, a vontade discursiva do falante se realiza na escolha de um gênero de discurso, pois o sujeito adapta sua intenção ao gênero escolhido. O enunciado constitui-se e desenvolve-se em gênero discursivo, uma vez que só falamos e escrevemos por meio de gêneros discursivos. Dependendo da esfera social, à qual está inserida num con-texto da comunicação, lança-se mão de determinadas formas estáveis como o bate-papo livre, a carta pessoal e suas variações, a carta oficial, a piada, bilhete, mensagem de celular, relato pessoal, artigo científico, resenha, legenda, biografia e uma lista infindável.

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Como dissemos antes, o contexto de uma determinada esfera de comu-nicação determina o gênero discursivo adotado para a interação. Nesse sentido, em casa ou numa sala de aula, como ocorre na tirinha do Calvin, o bilhete é um enunciado comum para passar informações rápidas e curtas entre os falantes.

Bakhtin ainda definiu os gêneros do discurso como relativamente está-veis, uma vez que eles são suscetíveis à evolução e à adaptação. A es-trutura e o conteúdo temático de um classificado de hoje, por exemplo, não é o mesmo de um classificado do século XIX e como uma piada pode adquirir a forma de um poema, porquanto se mude o contexto imediato e a intenção do sujeito.

Classificação dos gêneros discursivos

No que concerne à classificação, Bakhtin dividiu os gêneros em primá-rios e secundários. Os gêneros da vida cotidiana são predominantemente orais, considerados pelo autor como primários, enquanto os secundários compõem as esferas da comunicação mais elaboradas, como a política, a religiosa, a jornalística, a artística, pedagógica e científica.

Observemos a carta a seguir:

Fonte: https://novaescola.org.br/conteudo/3621/calvin-e-seus-amigos

Querido filho,Como vai, você? Eu vou bem, apenas algumas linhas para desejar um feliz ano novo.Estou te mandando esta carta depois das festas para evitar que ela chegue atrasada.Também escrevo para que você saiba que ainda continuo viva. Eu estou escrevendo bem devagarzinho porque eu sei que você não sabe ler depressa.Quando você voltar de viagem não vai nem reconhecer nossa casa. Nós mudamos.Seu pai conseguiu um novo emprego maravilhoso. Tem mais de 500 pessoas embaixo dele. Ele agora é jardineiro do cemitério. Sua irmã Maria deu à luz hoje de manhã. Ainda não sei se é menino ou meni-na, então não posso dizer se você é titio ou titia.

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CAP

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LO 2

A carta se trata de um gênero primário por sua produção ser praticamen-te espontânea.

Os secundários formam-se com base nos primários, estes são absorvi-dos, digeridos e transformados por aqueles. O romance epistolar, como Drácula, de Bram Stoker, é um exemplo claro de um gênero secundário que absorveu um primário; nesse tipo de romance, as cartas e relatos pessoais são organizados de maneira a constituir a obra literária em sua complexidade orgânica.

É interessante ressaltar que os gêneros do discurso representam práticas sociais, isto é, modelos de interação em situações concretas de intera-

Outro dia seu cunhado caiu dentro um enorme barril de cachaça. Os bombeiros levaram uma semana para tirar ele de lá. Ele resistiu o mais que pode. Infelizmente bebeu tanto que morreu encharcado. A família resolveu cremar o corpo. Ele levou quinze dias para apagar. Falando em enterro, o funeral da Ismênia, aquela minha amiga que era artista de teatro, foi um sucesso. As pessoas aplaudiram tanto que os coveiros tiveram que subir o caixão umas quinze vezes. Estive no medico sexta feira e seu pai foi comigo. O doutor enfiou um canudinho cheio de marquinhas entre meus dentes, e disse para eu não falar por cinco minutos. Seu pai quis comprar o canudinho dele. Sua irmã está se separando do marido. Ela pegou ele em fla-grante num motel. Ele ia entrando e ela ia saindo.Apesar de não querer, a vizinha acabou tendo um filhinho. Parece que a empregada trocou a caixinha de pílulas com um frasco de ado-çante e ela teve o bebê mais doce do mundo.Essa semana só choveu duas vezes: de segunda a quinta e de sexta a domingo.Como sei que você está procurando emprego, li um anúncio no jornal que você não pode perder. O salário é alto e o cargo é de diretor de empresa. Não sei bem qual é o trabalho, mas estava escrito bem cla-ro em letras grandes: “INÚTIL SE APRESENTAR SEM REFERÊNCIA”. Como você sempre foi um inútil e nunca teve referência nenhuma, vai ser perfeito para você. Vou acabar de escrever esta carta porque o papel está acabando e o padeiro hoje não trouxe o pão embrulhado. Se mesmo assim você continuar lendo é que esta carta não é minha.

Beijos

da Mamãe.

PS. EU QUERIA APROVEITAR O COMEÇO DO ANO PARA MANDAR UM DINHEIRINHO PARA VOCÊ, MAS ACONTECE QUE JÁ FECHEI O ENVELOPE.

Fonte: (Adaptado de: http://www.bwnet.com.br/~luiz/mostra_tex-tos.php?piada=comecoano00)

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CAP

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LO 2 ção. Os gêneros também possuem suas próprias esferas de circulação,

nas quais atendem objetivos e propósitos comunicacionais específicos. Ou seja, para cada situação e contexto social, existe certo número de textos. Em Porto (2009), podemos encontrar uma classificação mais de-talhada de esferas de circulação e interação verbal e gêneros secundários e primários que circulam em tais esferas. Atente:

Tribunal de júri: discurso de defesa, discurso da promotoria, pe-tição, lei, intimação, mandado de segurança, etc.

Reunião de condomínio edital, convocação, ata, lista de presença, etc.

Aula plano de aula, tomada de notas, tarefa de casa, exposição oral, seminário, pesquisa, etc.

Universidade resumo, resenha, aula, artigo cientifico, seminá-rio, monografia, etc.

Publicidade propaganda e impressa, propaganda oral, panfle-to, outdoor, etc.

Religião sermão oral, ladainha, oração, encontro, canto de igreja, etc.

Direito petição, procuração, lei, intimação, mandado de segurança, etc.

Fonte: PORTO, Márcia. Mundo das ideias: um diálogo entre gêneros textuais. Curitiba: Aymará, 2009

De um modo geral, os gêneros discursivos se organizam por meio de conteúdo temático, estilo e estrutura composicional. O conteúdo temá-tico é um domínio no qual um gênero irá se encaixar. Desse modo, as crônicas, por exemplo, ocupam-se de assuntos do dia a dia, mas cada crônica abordará um assunto específico.

A construção composicional refere-se à forma que o gênero irá se orga-nizar. Um diário de bordo, por ser o relato dos acontecimentos de um navio, contará com data e hora de cada evento descrito em seu interior. À notícia não basta dizer o que aconteceu, nem quando nem onde, faz-se necessário, outrossim, descrever o acontecimento e como foi a participa-ção de cada indivíduo no fato transcorrido.

O estilo é a seleção de recursos linguísticos na composição do gênero escolhido. O uso de determinadas palavras, frases, predominância ou não de orações coordenadas ou subordinadas, a escolha da pessoa ver-bal, dentre outros, irão contribuir para o estilo.

Intergenericidade Um gênero de texto em sua composição pode assumir as formas de outros gêneros ou até absorver elementos de outros gêneros para se constituir. A isso damos o nome de intergenericidade ou intertextuali-dade intergênero. É o caso de um poema que assume as estruturas e as formas de organização de uma receita:

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Agora comparemos o poema a uma receita e verifiquemos suas semelhanças:

Receita para fazer um herói

Tome-se um homem,Feito de nada, como nós,E em tamanho natural.Embeba-se-lhe a carne,Lentamente,Duma certeza aguda, irracional,Intensa como o ódio ou como a fome.

Depois, perto do fim,Agite-se um pendãoE toque-se um clarim.

Serve-se morto.

(Reinaldo Ferreira. Um Voo Cego a Nada (1960)/ Disponível em: http://opoemaquehojepartilhariacomvoces.blogspot.com.br/2010/09/receita-para-fazer-um-heroi.html)

Molho Branco

Ingredientes2 colheres (sopa) de manteiga ou margarina;3 colheres (sopa) de farinha de trigo;3 xícaras (chá) de leite fervente;½ colher (chá) de sal.

Modo de preparo1.Coloque a manteiga ou a margarina numa caçarola e leve ao fogo. Quando derreter, polvilhe a farinha de trigo e cozinhe misturando até começar a dourar.2.Acrescente o leite pouco a pouco, mexendo bem após cada adi-ção.3.Tempere com sal e deixe ferver por mais alguns minutos.Nota: para um molho mais espesso, basta cozinhar por mais alguns minutos. Para um molho mais ralo, adicione mais leite.(BENTA, Dona. Comer bem. São Paulo: Companhia Editorial Nacio-nal, 2004.)

O poema de Reinaldo Ferreira, no título Receita para fazer um herói, já pressupõe que se baseia num receita para se compor. Os verbos empre-gados no imperativo, em que se dão orientações de como realizar ações, são recursos típicos do Modo de preparo; logo, sentenças as senten-

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LO 2 ças “Tome-se um homem” e “Embeba-se-lhe a carne” correspondem às

orientações “Coloque a manteiga”, “Acrescente o leite” e “Tempere com sal”.

Observemos, agora, a letra de canção a seguir:

Súplica Cearense Gordurinha & Nelinho

Oh! Deus, perdoe este pobre coitadoQue de joelhos rezou um bocadoPedindo pra chuva cair sem parar

Oh! Deus, será que o Senhor se zangouE só por isso o sol se arretirouFazendo cair toda chuva que há

Senhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinhoPedi pra chover, mas chover de mansinhoPra ver se nascia uma planta no chão

Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe, Eu acho que a culpa foiDesse pobre que nem sabe fazer oração

Meu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de águaE ter-lhe pedido cheinho de mágoaPro sol inclemente se arretirar

Desculpe eu pedir a toda hora pra chegar o invernoDesculpe eu pedir para acabar com o infernoQue sempre queimou o meu Ceará

(Disponível em: https://www.vagalume.com.br/luiz-gonzaga/supli-ca-cearense.html)

A intergenericidade na letra Súplica cearense é perceptível em suas sen-tenças, vocabulário e a quem ela se dirige. “Oh! Deus” nos diz quem é o interlocutor do texto e expressões como “Perdoe esse pobre coitado” e “Senhor, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe” nos mostram que se trata de uma oração, na qual a voz do enunciador pede perdão a Deus por ter pedido tanto por chuva.

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Hipertexto e Gêneros Digitais As novas tecnologias e a internet fizeram surgir novas formas de intera-ção e comunicação. Retomando Bakhtin (2011, p 262.), quando diz que as práticas de interação consistem em “formas relativamente estáveis de enunciado”, poderemos perceber que as novas tecnologias em comu-nhão com a internet nos proporcionam novas formas de interação, por-tanto, novas “formas relativamente estáveis de gênero de enunciado”.

ATIVIDADE PROPOSTA

1. Leia a letra de canção abaixo e explique como e por que se pode verificar a intergenericidade em sua composição e organização.

A CartaErasmo Carlos Escrevo-te estas mal traçadas linhas Meu amorPorque veio a saudade visitar meu coraçãoEspero que desculpes os meus erros, por favorNas frases desta carta que é uma prova de afeiçãoTalvez tu não a leias, mas quem sabe até daráResposta imediata me chamando de meu bemPorém o que me importa é confessar-te uma vez maisNão sei amar na vida mais ninguémTanto tempo fazQue li no teu olharA vida cor de rosa que eu sonhavaE guardo a impressãoDe que já vi passarUm ano sem te verUm ano sem te amarAo me apaixonar por ti não repareiQue tu tiveste só entusiasmoE para terminar amor assinareiDo sempre sempre teu

Fonte: (Disponível em: https://www.vagalume.com.br/erasmo--carlos/a-carta.html)____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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LO 2 Xavier (2009, p.103) afirma, sobre a internet, que “a web, como é mais

conhecida, consiste em uma aplicação dos recursos da hipermídia à Internet, combinando as mais variadas linguagens (palavras, imagens, animações, vídeos, sons) em cenários tridimensionais exibidos em ‘pá-ginas da web’”. A Internet e seu avanço possibilitaram que as diversas linguagens pudessem ser conjugadas para a enunciação, um único texto passou a comportar imagem, palavra, som, movimento, etc.

Em relação ao hipertexto e sua relação com o leitor, Marcuschi refere:

Diferentemente do texto escrito, que em geral compele os leitores a lerem numa onda linear – da esquerda para a direita e de cima para baixo, na página impressa – hipertextos encorajam os leitores a moverem- se de um bloco de texto a outro, rapidamente e não sequencialmente. Considerando que o hipertexto oferece uma mul-tiplicidade de caminhos a seguir, podendo ainda o leitor incorporar seus caminhos e suas decisões como novos caminhos, inserindo in-formações novas, o leitor-navegador passa a ter um papel mais ativo e uma oportunidade diferente da de um leitor de texto impresso. Dificilmente dois leitores de hipertextos farão os mesmos caminhos e tomarão as mesmas decisões.

MARCUSCHI, L. A. Cognição, linguagem e práticas interacionais. Rio: Lucerna, 2007.

Os hiperlinks se tornam caminhos de leitura, permitindo cada leitor fazer um percurso diferente, tornando-se cada vez mais ativo no processo de produção de sentido e ampliando o universo de interação do leitor.

Esses textos que estão à disposição na Internet não deixam de ser gêne-ros de texto, por isso, os denominamos gêneros digitais, pois necessitam de uma aparelho digital (computador, celular, tablet) conectado à rede. A web, como esfera de atividade e interação social, possibilita a circulação de diversos textos, muitos destes são, em verdade, evolução de gêneros produzidos em ambientes físicos, como é o caso do e-mail, que nasceu da carta.

Comentário, bate-papo (chat), e-mail, são exemplos de gêneros digitais, cada qual com suas características e peculiaridades.

O Chat e sua linguagem virtual

O significado da palavra chat vem do inglês e quer dizer “conversa”. Essa conversa acontece em tempo real e, para isso, é necessário que duas ou mais pessoas estejam conectadas ao mesmo tempo, o que chamamos de comunicação síncrona. São muitos os sites que ofe-recem a opção de bate-papo na internet, basta escolher a sala que deseja “entrar”, identificar-se e iniciar a conversa. Geralmente, as salas são divididas por assuntos, como educação, cinema, esporte,

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Tipologia Textual

Baseando-se nas discussões de Marcuschi (2008), toda comunicação verbal acontece por meio de algum gênero textual; no nosso cotidiano, utilizamos os mais diferentes gêneros textuais, cada um com uma fun-ção, um objetivo enunciativo. Esses gêneros são formados por sequên-cias diferenciadas, denominadas tipos de texto, é importante compreen-der que gêneros textuais são infinitos, procuram atender as necessidades comunicativas, cada gênero textual possui estrutura e estilos particulares que se diferenciam de outros.

Todo gênero textual vai trabalhar com uma ou mais tipologia textual, a forma como os textos se organizam, a “natureza linguística de sua com-posição {aspectos lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas, estilo}. O tipo caracteriza-se muito mais como sequência linguística (se-quências retóricas) que como textos materializados” Marcuschi (2008, p. 154). As tipologias textuais que abordaremos aqui: Dissertação/Ar-gumentação, Narração e Descrição, aparecem com mais frequência nos gêneros textuais acadêmicos, tipos de texto como Exposição e Injunção não abordaremos neste estudo. A seguir, uma breve apresentação da narração, argumentação, descrição.

Narrar/Relatar

Esse tipo de texto consiste na enunciação de fatos, apresenta persona-gens localizando-as no tempo e no espaço, predominam verbos de ação geralmente no passado. Assim como, provoca expectativa no leitor, apre-senta sucessão de fatos ou acontecimento, relação de causa e efeito. O narrar e o relatar tem em sua estrutura textual uma proximidade, a dife-rença entre eles é que o primeiro se atém aos acontecimentos fictícios, já o segundo conta fatos reais das experiências vivenciadas, são exemplos desses tipos de textos: notícia, lenda, conto, novela, reportagem, roman-ce, fábula, tirinha, biografia, carta pessoal, e-mail dentre outros.

A seguir, um exemplo clássico de um texto narrativo, a fábula.

música, sexo, entre outros. Para entrar, é necessário escolher um nick, uma espécie de apelido que identificará o participante durante a conversa. Algumas salas restringem a idade, mas não existe ne-nhum controle para verificar se a idade informada é realmente a ida-de de quem está acessando, facilitando que crianças e adolescentes acessem salas com conteúdos inadequados para sua faixa etária.

AMARAL, S. F. Internet: novos valores e novos comportamentos. In: SILVA, E.T. (Coord.). A leitura nos oceanos da internet. São Paulo: Cortez, 2003. (adaptado).

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Descritivo

Diferente dos textos narrativos, este possui estaticidade, ausência de ação, as formas verbais são no presente ou no pretérito imperfeito do indicativo, os textos descritivos apresentam traços e características do objeto referido. Essas descrições podem ser de natureza física ou psico-lógica (subjetiva ou objetiva). É comum que esse tipo de texto apareça dentro de textos narrativos, dissertativos, a descrição busca, por meio de detalhes, de elementos linguísticos colocarem o objeto/situação descrito na mente do leitor.

A seguir, um trecho da obra Sagarana, de Guimarães Rosa:

Fonte: In: FIGUEIREDO, Guilherme. Fábulas de Esopo. São Paulo: Ediouro, 2005

[...] O Major Saulo, de botas e esporas, corpulento, quase um obeso, de olhos verdes, misterioso, que só com o olhar mandava um boi bravo se ir de castigo, e que ria, sempre ria – riso grosso, quando irado; riso fino, quando alegre; e riso mudo, de normal [...].

Podemos perceber no trecho citado que Guimarães tenta colocar a ima-gem de Major Saulo na mente do leitor, os detalhes físicos e psicológi-cos apresentados pelo autor aproximam o leitor da personagem. Essa descrição permite ao leitor entrar no universo literário e consegue trazer à mente a fotografia da personagem, traduzida em palavras pelo autor.

Dissertativo/Argumentativo

Essa tipologia textual será uma das mais utilizadas pelo estudante dentro do universo acadêmico, simplificando a estrutura desse tipo de texto, podemos dizer que se divide em: introdução, desenvolvimento e conclu-são. Ampliando essa concepção básica da tipologia em destaque, pode-mos dizer que o texto dissertativo tem como característica apresentar o posicionamento do autor, este vai defender sua opinião por meio de uma argumentação lógica, coerente e coesa.

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LO 2A seguir, uma redação do ENEM 2011:

Redação de Isabela Carvalho Leme Vieira da Cruz, Rio de Janeiro (RJ).

O fim do Grande Irmão

Câmeras que gravam qualquer movimento, telas transmitindo notí-cias a todo minuto, o Estado e a mídia controlando os cidadãos. O mundo idealizado por George Orwell em seu romance 1984, onde aparelhos denominados teletelas controlam os habitantes de Ocea-nia vem se tornando realidade. Com a televisão e, principalmente, a internet, somos influenciados – para não dizer manipulados – todos os dias.

Tal influência ocorre, majoritariamente, através da mídia e da propa-ganda. Com elas, padrões de vida são disseminados a uma velocida-de assombrosa, fazendo a sociedade, muitas vezes privada de cons-ciência crítica, absorvê-los e incorporá-los como ideais próprios. Desse modo, deixamos de ter opinião particular para seguir os mo-delos ditados pelo computador, acreditando no que foi publicado, sem o devido questionamento da veracidade dos fatos apresentados.

Com isso, as novas redes sociais, surgidas nesse início do século XXI, se tornam os principais vetores da alienação cultural e social da população, uma vez que todos possuem um perfil virtual com acesso imensurável a todo tipo de informações. Por isso, diversas empresas e personalidades se valem da criação de perfis próprios, atraindo diversos seguidores, aos quais impõem sua maneira de agir e pensar. Esses usuários, então, se tornam mais vulneráveis e susce-tíveis à manipulação virtual.

Outro ponto negativo dessas redes, como o Facebook e o Twitter, é o fato de todo o conteúdo publicado ficar armazenado na internet, permitindo a determinação do perfil dos usuários e a escolha da melhor maneira midiática de agir para conquistá-los. Além disso, o uso indiscriminado de tais perfis possibilita a veiculação de imagens ou arquivos difamadores, servindo como ferramenta política e so-cial para aumentar a credibilidade de determinadas personalidades, como ocorre com Hugo Chaves em sua ditadura na Venezuela e comprometendo outras, com falsas denúncias, por exemplo.

Diante disso, é necessária a aplicação de medidas visando ao maior controle da internet. A implantação, na grade escolar brasileira, do estudo dessas novas tecnologias de informação, incluindo as redes sociais, e a consequente formação crítica dos brasileiros seria um bom começo. Só assim poderemos negar as previsões feitas por George Orwell e ter um futuro livre do controle e da alienação.

(http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/downloa-ds/2012/guia_participante_redacao_enem2012.pdf)

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LO 2 A construção do texto mostra que a autora conseguiu defender seu po-

sicionamento sobre o tema proposto para redação daquele ano: “Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado”, o tema trazia para discussão questões sobre redes sociais e a privacidade na rede. Isabela apresentou uma crítica destacando os pontos negativos das redes sociais, assim como apresentou estratégias para solucionar esses problemas. A redação em destaque revela um texto bem costurado e fundamentado. Sempre que formos escrever um artigo, resenha, disser-tação, dentre outros gêneros textuais solicitados na graduação, é preciso que tenhamos a preocupação em desenvolver um texto que apresente ideias claras, um pensamento organizado e bem fundamentado.

A tabela a seguir apresenta os tipos de textos, em situações sociais de uso, evidenciando os gêneros textuais orais e escritos:

Situações sociais de uso Tipos de Texto

capacidades de linguagem dominantes.

Gêneros orais e escritos

Cultura Literária FiccionalNarrar

Contar uma história ficcional diferente.

conto maravilhosofábulalendanarrativa de aventuranarrativa de ficção científicanarrativa de enigmanarrativa míticabibliografia romanceada

romanceromance históriconovela fantásticaconto crônica literáriaadivinhapiada,etc.

Documentação e memoriza-ção das ações humanas

RelatarContar fatos reais ou expe-riências vividas situando-os

no tempo e no espaço.

relato de experiência vividarelato de viagemdiário íntimotestemunhocasoautobiografiacurriculum vitaenotícia

reportagemcrônica socialcrônica esportivarelatório históricoensaio ou perfil bio-gráficobiografiaetc.

Discussões de problemas sociais controversos

Argumentarexpressar opinião, utilizando um argumento para expres-

sar um ponto de vista.

texto de opiniãodiálogo argumentativocarta de leitorcarta de reclamaçãocarta de solicitaçãodebate deliberativodebate regrado assembléia

discurso de defesa (advocacia)discurso de acusação (advocacia)resenha críticaartigos de opinião ou assinadoseditorial, etc.

Transmissão e construção de saberes

ExporApresentar diferentes for-

mas do conhecimento.

texto expositivo (em livro didático)exposição oralseminárioconferênciacomunicação oralpalestraentrevista de especialistaverbete

artigo enciclopédicotomada de notasresumo de textos ex-positivos e explicativosresenharelatório científicorelatório oral de experiência, etc.

Instruções e PrescriçõesInstruir

Orientar comportamentos.

instruções de montagemreceitaregulamentoregra de jogo.

instruções de usocomandos diversostextos prescritivos etc.

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LO 2ATIVIDADE PROPOSTA

2. Observe a pintura a seguir, de Salvador Dali, e faça uma descri-ção da imagem.

Fonte: (https://s-media-cache-ak0.pinimg.com/736x/59/84/cd/5984cda3ca3f6ed9e556056dab9bf94b.jpg)

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3. As notícias são textos da ordem do relatar, nas quais estão pre-sentes elementos que indicam ações, pessoas, lugares e tempo, etc. Leia a notícia a seguir:

Véspera de feriado tem estreia de “Joaquim” no RecifeFilme que narra trajetória de Tiradentes foi exibido para convidados no São Luiz

Por: Luna Markman, especial para o Portal FolhaPE em 20/04/17 às 22H49, atualizado em 20/04/17 às 23H37

Na véspera da comemoração do Dia de Tiradentes, recifenses pu-deram conferir a estreia de “Joaquim”, do cineasta pernambucano Marcelo Gomes, de “Cinema, Aspirinas e Urubus”. O filme narra os eventos que levaram Joaquim José da Silva Xavier, um dentista de Minas Gerais, a se tornar o importante herói e mártir nacional Tiradentes. A exibição ocorreu para convidados no Cinema São Luiz, no bairro da Boa Vista, área central do Recife, e, a partir desta sexta--feira (21), o filme estará em cartaz na mesma sala para o grande público [confira o horário das sessões].

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LO 2 Em entrevista ao Portal Folha PE antes da sessão inaugural, o diretor

contou que o roteiro buscou inspiração em vários textos históricos e acaba deixando uma lição para os dias atuais. “A gente vê que, na-quela época, Minas produzia muita riqueza que estava concentrada nas mãos de uma elite econômica. Eu acho que isso é uma coisa que podemos aprender muito: que momentos terríveis de injustiça social foram cometidos no passado pela falta de inclusão social e que devemos construir um país para todos”, disse.

Marcelo Gomes também chamou atenção para o traço que ele con-sidera mais revolucionário no perfil do Tiradentes, desconhecido por muitos. “Ele é um brasileiro comum, cheio de contradições, dúvidas, desejos, enfrentando situações de vida que o fazem mudar a cabeça e ter uma consciência política, tornando-se um rebelde. O que eu acho revolucionário é que, para cometer um ato heroico, não precisa ser alguém enviado pelos deuses, algo messiânico. Qual-quer brasileiro comum pode cometer ato heroico”, opinou.

Já o ator Julio Machado, que interpreta Joaquim, destacou que a obra serve como um espelho do caráter da nossa sociedade, mesmo falando sobre uma história que se passou há 200 anos. “O filme se debruça sobre um período colonial que é a gênese da nossa forma-ção enquanto sociedade, procura revelar, através dessa crônica do cotidiano, hábitos de comportamento que foram incorporados. É surpreendente notar que hoje nós padecemos das mesmas fraturas, dos mesmos hábitos, das mesmas crueldades”, comentou.

O filme foi rodado em quatro semanas, na cidade de Diamantina, Minas Gerais, em julho de 2015, com financiamento da Hibermídia, Edital Brasil-Portugal, Funcultura e Petrobras, num total de R$ 2,5 milhões. Ao todo, o longa será exibido em 33 salas de cinema no Brasil.

(Disponível em (adaptado): http://www.folhape.com.br/diversao/di-versao/diversao/2017/04/20/NWS,24973,71,552,DIVERSAO,2330--VESPERA-FERIADO-TEM-ESTREIA-JOAQUIM-RECIFE.aspx)

Com base na leitura da notícia, identifique nela os seguintes ele-mentos que lhe são constituintes:

O que: ___________________________________________________

Onde?____________________________________________________

Com quem?_______________________________________________

Quando?__________________________________________________

Por quê?__________________________________________________

Para quê?_________________________________________________

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CAP

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Resumo

Neste segundo fascículo, discutimos as tipologias textuais, apresentamos as principais características de cada tipo de texto, as particularidades que os envolvem. Adentramos ainda em uma discussão sobre gêneros tex-tuais, destacando as concepções bakhtiniana sobre enunciado, discurso e interação social. Os gêneros do discurso representam práticas sociais, ou seja, modelos de interação em situações concretas de interação.

Os gêneros textuais se organizam em composição, conteúdo e estilo, a composição do texto é a forma como cada gênero textual se organiza, o estilo diz respeito aos recursos linguísticos presentes na composição do gênero escolhido, por exemplo, a escolha das palavras e o tempo verbal contribuem para a construção do estilo.

Destacamos, neste segundo momento, os gêneros discursivos e de que forma eles se organizam e se apresentam. Essa discussão é importantís-sima, pois buscamos destacar as práticas sociais envoltas em gêneros discursivos, a interação social dos interlocutores.

Outro ponto importante destacado foram os hipertextos e os gêneros di-gitais, uma das maiores ferramentas comunicativas da atualidade. Abor-damos também o conceito de intergenericidade e de que forma ela se manifesta nos textos. Os gêneros também possuem suas próprias es-feras de circulação, que atendem os objetivos e propósitos comunica-cionais específicos. Ou seja, para cada situação e contexto social, existe certo número de textos.

Saiba mais

Sobre gêneros textuais acesse:http://www.estudopratico.com.br/generos-textuais/

Sobre intergenericidade acesse:http://portugues.uol.com.br/redacao/intergenericidade.html

Sobre a relação entre Gêneros de Texto e Tipos de Texto acesse:http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/textos/g00003.htm

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LO 3LEITURA: INTERAÇÃO,

COMPREENSÃO E PRODUÇÃO DE SENTIDO

Profa. Aline Nascimento da Silva

Carga horária: 15 horas

Objetivos Específicos

1. Entender o processo de leitura com foco na interação autor-texto--leitor.

2. Compreender os objetivos de leitura estabelecidos pelo leitor na pro-dução de sentido do texto e as hipóteses sobre o que se está lendo.

3. Reconhecer o processo de leitura como infinito e perceber as possi-bilidades de sentido de um texto.

4. Discutir o processo de construção de sentido por parte do leitor e sua capacidade de fazer inferências.

Introdução

Este capítulo aborda as concepções de leitura, como acontece esse pro-cesso na interação entre autor-texto-leitor. Apresentaremos ainda as es-tratégias de leitura que permitem ao leitor fazer uso de suas experiências e conhecimento preexistentes para a construção de sentido do texto. Outro ponto importante a ser abordado é a atividade sociointerativa de-senvolvida pela língua, o sentido do texto sendo construído na relação situacional com a participação do interlocutor. Abordaremos também a compreensão como ação que exige habilidade, interação e trabalho que estão além da compreensão linguística e cognitiva.

Leitura

O que é ler?

Quando falamos em texto, geralmente, somos remetidos a pensar na produção, na escrita. Esta, por sua vez, está intimamente ligada à leitura. Ler e escrever são dois lados de uma mesma moeda. Daí, perguntamo-

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CAP

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LO 3 -nos: o que é ler? O que pressupõe ler? Para responder a esse questio-

namento, devemos antes entender e diferenciar algumas concepções de sujeito, língua e texto, ou seja, concepções de leitura e escrita envolven-do esses três elementos.

Independentemente, porém, disso, podemos dizer que a leitura e a es-crita estão no bojo da forma que se dá a inter-relação entre autor, texto e leitor.

Leitura/escrita com foco no autor

Nessa concepção, temos um sujeito individual, senhor de suas vontades e intenções. A língua, aqui, entra como mecanismo de representação do pensamento ou de um esquema mental do autor. O sujeito cria uma imagem a ser captada pelo leitor/ouvinte passivamente.

O texto é o produto do pensamento do autor e, nesse sentido, a posição do leitor/ouvinte em relação ao autor ou ao próprio texto não é levada em consideração. O leitor/ouvinte se torna um decodificador das ideias do autor.

Observe o texto a seguir, retirado do portal Universia.com.br:

Melhorando a leitura: aprenda a identificar o objetivo do autor28 de Maio de 2014

Estudantes podem ter bastante dificuldade para identificar os obje-tivos de um autor a escrever um texto. Descubra como facilitar a identificação

Dependendo do texto, as motivações por trás do autor para escre-ver podem ser vitais ao entendimento completo da obra. Por isso, é importante que o estudante aprenda a identificar os objetivos dos escritores analisando certos trechos e aspectos dos textos. Vejam quais:

1 - CríticasSe o autor quer criticar de maneira negativa um tema ou um acon-tecimento, é provável que ele utilize muitos adjetivos e advérbios de conotação negativa, mesmo que ele não deixe isso de maneira explícita no texto.

2 - CompararO objetivo de muitos autores, ao escreverem um texto, principal-mente os acadêmicos, é mostrar as diferenças ou similaridades en-tre duas situações ou objetos. Se esse for o caso, a primeira coisa

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CAP

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LO 3

É possível perceber no texto que as orientações de leitura estão voltadas para mostrar aos estudantes como captar os pensamentos dos autores. Logo, as estratégias de leitura propostas são aquelas que visam única e exclusivamente ao auto, conforme se percebe quando é dito para que se faça um resumo das palavras do autor ou de se observar os advérbios e adjetivos usados para captar uma crítica deixada pelo autor.

Nesse tipo de foco, “trata-se de um sujeito visto como um ego que cons-trói uma representação mental, ‘transpõe’ essa representação para o papel e deseja que esta seja ‘captada’ pelo leitor da maneira como foi mentalizada.” (KOCH & ELIAS, 2011, p. 33)

Leitura/escrita com foco no texto Nessa concepção de leitura e escrita, os sujeitos da construção textu-al são assujeitados por um sistema, o linguístico. A língua é entendida como um código limitador tanto o que é dito/escrito quanto o que é lido/ouvido.

O sentido do texto está atrelado à capacidade do sujeito de conhecer e decodificar o material linguístico de que dispõe. A língua se torna instru-

que deve ser feita é descobrir se estão sendo discutidas as seme-lhanças ou as disparidades. Se for o primeiro caso, o autor usará palavra como: “assim como, também, bem como, do mesmo modo que”, etc. Agora, se ele quer destacar as diferenças, os termos utili-zados serão: “por outro lado, ao contrário, entretanto”, etc.

3 - ExplicaçãoAlguns autores ao escreverem seus textos querem explicar um con-ceito ou termo de um determinado assunto. Nesse caso, é impor-tante que você faça marcações das explicações mais importantes e, no fim de cada capítulo, escrever um pequeno resumo do que foi dito pelo autor. Se você conseguir fazer um resumo explicativo, isso é um sinal de que o texto foi bem aproveitado.

4 - ArgumentaçãoPrincipalmente em textos de revistas e jornais, é comum que os autores escrevam com o propósito de argumentar sobre um tema e tentar causar uma impressão nos leitores. Nesses textos, é comum que um tópico seja amplamente discutido e existam várias referên-cias de outros autores e situações passadas. Busque por esses as-pectos e você saberá se é um texto com argumentos.

(Disponível em (adaptado): http://noticias.universia.com.br/des-taque/noticia/2014/05/28/1097691/melhorando-leitura-aprenda--identificar-objetivo-autor.html)

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CAP

ÍTU

LO 3 mento de comunicação, um código, um sistema que determina o sujeito

autor/leitor. O leitor, nesse caso, entra como decifrador dos sentidos das palavras e das estruturas do texto.

A esse respeito Koch diz que:

Subjacente a essa visão [...], encontra-se uma concepção de lin-guagem como um sistema pronto, acabado, devendo o escritor se apropriar desse sistema e de suas regras. O princípio explicativo de todo e qualquer fenômeno e de todo e qualquer comportamento in-dividual repousa sobre a consideração do sistema, quer linguístico, quer social. (KOCH & ELIAS, 2011, p. 33)

O sujeito deve ser detentor do conhecimento do sistema tanto para ler quanto para escrever. Ler e escrever, nesse caso, condizem com ter do-mínio das regras gramaticais da língua.

Leitura/escrita com foco na interação autor-texto-leitor

Na concepção interacional, Koch (2007, p. 10) afirma que “tanto aquele que escreve como aquele para quem se escreve são vistos como atores/construtores sociais, sujeitos que - dialogicamente - se constroem e são construídos no texto”. O autor produz um texto para que entre em interação com o leitor, para que ambos possam contribuir na produção de sentido, pois o autor se coloca na posição do leitor, passa a considerá--lo como elemento ativo na construção do texto, assim como o leitor também aplica seu conhecimento na leitura do texto e tenta entender o autor colocando-se na posição dele.

A leitura e a escrita, nessa concepção, está voltada para as estratégias que levam em conta o conhecimento de mundo, a situação comunicati-va/contextual da interação, os objetivos e as intenções no processo, etc. É uma concepção muito voltada aos pressupostos bakhtinianos de dialo-gismo, isto é, os textos estão em constante diálogo; um texto nasce em resposta a um anterior já pressupondo um posterior, a noção de resposta e responsabilidade bem como de sujeitos ativos na interação é bastante presente nessa noção de leitura e escrita. O sentido do texto, a escrita e a leitura são produzidos para mim e para o outro, sujeitos ativos, em interação contínua.

Observe a tirinha abaixo do Maurício de Sousa:

Fonte: Disponível em: http://107.21.65.169/content/ABAAAextcAL/sequencia-didatica-doc

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CAP

ÍTU

LO 3O personagem Chico Bento, como leitor da placa “Proibido caçar!”,

atribui-lhe um sentido diverso, fazendo o lenhador também compreen-der esse sentido. Apesar de a placa se referir aos animais, Chico Bento entende as árvores como seres vivos e, nesse momento, ele é ativo na produção de sentido, ressignificando a relação entre “caçar”, “árvores” e “animais”.

Objetivos de leitura e levantamento de hipóteses

Quando lemos um texto, nós nos valemos, ora consciente ora incons-cientemente, de estratégias de leitura cujo intuito primordial é dar um sentido ao texto durante a leitura, isto é, compreendê-lo. Vários são os recursos acionados durante a leitura: seleção, antecipação, inferência, verificação, etc.

O leitor ainda faz seu conhecimento de mundo entrar em ação, fazen-do relações entre sua experiência de vida e o texto. Também estabelece objetivos para a leitura, os quais, com certeza, influenciarão o sentido do texto produzido pelo leitor. E dentro do campo da inferência e da verificação, o leitor no decorrer do texto tenta adivinhar o que vem em seguida ao ponto em que se encontra na leitura e verifica se suas supo-sições estavam certas ou erradas. Mas como um objetivo de leitura e hipóteses, durante a leitura, podem ajudar na produção de sentido do texto (compreensão)? Tomemos algumas colocações da linguista Ângela Kleiman sobre os objetivos de leitura:

Duas atividades relevantes para a compreensão de texto escrito, a sa-ber, o estabelecimento de objetivos e a formulação de hipóteses, são de natureza metacognitiva, isto é, são atividades que pressupõem reflexão e controle consciente sobre o próprio conhecimento, sobre o próprio fazer, sobre a própria capacidade (KLEIMAN, 2000, p. 43).

Objetivos e propósitos específicos na leitura estabelecem um caminho, ativo, a ser estabelecido pelo leitor na produção de sentido do texto, bem como as hipóteses sobre o que se está lendo.

[...] somos capazes de lembrar muito melhor aqueles detalhes de um texto que tem a ver com um objetivo específico. Isto é, compreende-mos e lembramos seletivamente aquela informação que é importan-te para o nosso propósito [...] (KLEIMAN, 2000, p. 30).

A forma do texto determina, até certo ponto, os objetivos de leitura: há um grande número de tipos de textos, como romances, contos, fábulas, biografias, notícias ou artigos de jornal, artigos científicos, ensaios, editoriais, manuais didáticos, receitas, cartas (KLEIMAN, 2000, p. 33).

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CAP

ÍTU

LO 3 O gênero de texto que nos propomos a ler influencia nos objetivos. Es-

tabelecer um objetivo de leitura para um artigo científico de certo não tem a mesma finalidade que objetivos criados na leitura de um editorial, por exemplo.

A formulação de hipóteses contribui no sentido de que criamos expecta-tivas durante a leitura que podem ou não ser confirmadas.

Vários autores considerem que a leitura é, em grande medida, uma espécie de jogo de adivinhação, pois o leitor ativo, realmente en-gajado no processo, elabora hipóteses e as testa, à medida que vai lendo o texto (KLEIMAN, 2000, p. 35).

Ao levantar hipóteses, o leitor terá, necessariamente, que postular conteúdos e uma estruturação para esses conteúdos, isto é, terá que imaginar temas e subtemas (KLEIMAN, 2000, p. 41).

Observe a tirinha abaixo:

Fonte: Disponível em: http://blog.estantevirtual.com.br/wp-content/uploads/peanuts_tirinha.jpg

O Snoopy, o Charlie Brown e seus amigos ao lerem, ainda que estejam lendo o mesmo jornal, estabelecem leituras de acordo com seus objeti-vos, criando sentidos e caminhos no ato da leitura. Essa noção, até certo ponto, está explícita na fala do Charlie Brown quando ele diz “Suponho que todos lemos aquilo que parece nos interessar mais, não?”, pois ler de acordo com seu interesse é, antes de tudo, um objetivo e parte daí uma relação de sentido com o texto. O mesmo fato pode se dizer quan-do lemos para uma determinada pesquisa, nossos olhos saltam o texto em busca das informações requeridas pela pesquisa, outras informações que sejam consideradas de pouca relevância para a pesquisa são deixa-das de lado. Logo, percebe-se que, para a compreensão de um texto, é importante que se tenha em mente um objetivo, pois é com base nele que se tem maior facilidade para lembrar as informações contidas no texto, a partir do momento que lemos, guardamos em nossa mente as informações relacionadas com o nosso objetivo de leitura.

E, também, para a compreensão do texto, devem-se formular hipóte-ses: o leitor estará tentando adivinhar o que está ocorrendo no texto e, ao mesmo tempo, testando se suas hipóteses condizem ou não com as

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CAP

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LO 3informações extraídas do texto. Essas adivinhações nos levam a um diá-

logo constante com o texto e seu autor.

Observe o texto a seguir, de Sérgio Porto:

Conto de mistério

Com a gola do paletó levantada e a aba do chapéu abaixada, ca-minhando pelos cantos escuros, era quase impossível a qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto. No local combinado, parou e fez o sinal que tinham já estipulado à guisa de senha. Parou debaixo do poste, acendeu um cigarro e soltou a fumaça em três ba-foradas compassadas. Imediatamente um sujeito mal-encarado, que se encontrava no café em frente, ajeitou a gravata e cuspiu de banda.

Era aquele. Atravessou cautelosamente a rua, entrou no café e pediu um guaraná. O outro sorriu e se aproximou:

Siga-me! - foi a ordem dada com voz cava. Deu apenas um gole no guaraná e saiu. O outro entrou num beco úmido e mal-iluminado e ele - a uma distância de uns dez a doze passos - entrou também.

Ali parecia não haver ninguém. O silêncio era sepulcral. Mas o ho-mem que ia à frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela. Logo uma dobradiça gemeu, e a porta abriu-se discretamente.

Entraram os dois e deram numa sala pequena e enfumaçada onde, no centro, via-se uma mesa cheia de pequenos pacotes. Por trás dela, um sujeito de barba crescida, roupas humildes e ar de agricul-tor parecia ter medo do que ia fazer. Não hesitou - porém - quando o homem que entrara na frente apontou para o que entrara em se-guida e disse: “É este”.

O que estava por trás da mesa pegou um dos pacotes e entregou ao que falara. Este passou o pacote para o outro e perguntou se trouxe-ra o dinheiro. Um aceno de cabeça foi a resposta. Enfiou a mão no bolso, tirou um bolo de notas e entregou ao parceiro. Depois, virou--se para sair. O que entrara com ele disse que ficaria ali.

Saiu então sozinho, caminhando rente às paredes do beco. Quando alcançou uma rua mais clara, assoviou para um táxi que passava e mandou tocar a toda pressa para determinado endereço. O moto-rista obedeceu e, meia hora depois, entrava em casa a berrar para a mulher:

- Julieta! Ó Julieta... consegui.

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CAP

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LO 3

No texto de Sérgio Porto, é inevitável que o leitor levante hipóteses acer-ca da leitura feita. A narrativa cria uma aura de mistério ao redor das ações do protagonista que são mostradas como de alguém que faz algo suspeito; já no início do texto o protagonista é apresentado como alguém que está se escondendo: “Com a gola do paletó levantada e a aba do cha-péu abaixada, caminhando pelos cantos escuros, era quase impossível a qualquer pessoa que cruzasse com ele ver seu rosto.” A partir desse mo-mento, o leitor já começa a se perguntar “porque ele está se esconden-do?”. O outro homem, com quem o protagonista se encontra, também é mostrado de forma “suspeita”: “Mas o homem que ia na frente olhou em volta, certificou-se de que não havia ninguém de tocaia e bateu numa janela”. E o pacote dado pelo agricultor, “que parecia ter medo do que ia fazer”, também é outro ponto no qual o leitor se questiona “mas o que é isso?”, “o que há nesse pacote?”, “porque eles têm medo?”.Ao fim, já em desespero, indo no táxi “a toda pressa para determinado endereço”, o leitor já tem uma série de hipóteses levantadas que foram sendo tes-tadas no decorrer da leitura e que se confirmam ou não ao seu término.

Sentido

Leitura e produção de sentido A leitura de um texto ativa a interação autor-texto-leitor, no entanto o grau que será estabelecido nessa interação vai depender do conheci-mento do leitor, são estes, as vivências, as relações com o outro, o lugar onde vive, a condição social a que está atrelado, dentre tantos outros que podem interferir na sua compreensão. Segundo KOCH (2007, p .21), “a leitura e a produção de sentido são atividades orientadas por nossa ba-gagem sociocognitiva: conhecimentos da língua e das coisas do mundo, (lugares sociais crenças, valores e vivências)”.

A leitura carrega infinitas possibilidades de sentidos de um texto e essa construção envolve fatores sóciocognitivos. Os textos, em geral costu-mam ser lidos seguindo uma estrutura que começa da esquerda para direita e de cima para baixo, apesar de ser a mais comum não é a única forma que possibilita ao leitor compreender o sentido do texto.

A mulher veio lá de dentro enxugando as mãos em um avental, a sorrir de felicidade. O marido colocou o pacote sobre a mesa, num ar triunfal. Ela abriu o pacote e verificou que o marido conseguira mesmo. Ali estava: um quilo de feijão.

Sérgio Porto - Stanislaw Ponte Preta(Disponível em: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/s/sergio20.htm)

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CAP

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LO 3Cálice

Pai, afasta de mim esse cálicePai, afasta de mim esse cálicePai, afasta de mim esse cáliceDe vinho tinto de sangue

Como beber dessa bebida amargaTragar a dor, engolir a labutaMesmo calada a boca, resta o peitoSilêncio na cidade não se escutaDe que me vale ser filho da santaMelhor seria ser filho da outraOutra realidade menos mortaTanta mentira, tanta força bruta

Como é difícil acordar caladoSe na calada da noite eu me danoQuero lançar um grito desumanoQue é uma maneira de ser escutadoEsse silêncio todo me atordoaAtordoado eu permaneço atento

Na arquibancada pra a qualquer momentoVer emergir o monstro da lagoa

De muito gorda a porca já não andaDe muito usada a faca já não cortaComo é difícil, pai, abrir a portaEssa palavra presa na gargantaEsse pileque homérico no mundoDe que adianta ter boa vontadeMesmo calado o peito, resta a cucaDos bêbados do centro da cidade

Talvez o mundo não seja pequenoNem seja a vida um fato consumadoQuero inventar o meu próprio pecadoQuero morrer do meu próprio venenoQuero perder de vez tua cabeçaMinha cabeça perder teu juízoQuero cheirar fumaça de óleo dieselMe embriagar até que alguém me esqueçaChico Buarque e Gilberto Gil.

Fonte: (Disponível em: https://www.vagalume.com.br/chico-buar-que/calice.html)

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CAP

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LO 3 A letra, de Chico Buarque e Gilberto Gil, foi escrita no período da dita-

dura militar brasileira e faz várias referências, buscando do leitor/ouvinte alguns conhecimentos acerca da história do Brasil e do posicionamen-to político dos artistas no período em destaque. O título da música já apresenta possibilidades de inferências distintas, Cálice, em seu sentido literal faz menção a uma taça utilizada para beber vinho, carrega uma ambiguidade em relação ao imperativo “cale-se”, remete à atuação da censura. Outra referência importante é a Paixão de Cristo onde se faz uma analogia ao sofrimento vivido pela população aterrorizada com o regime autoritário

Esse período proibia qualquer manifestação que contrariasse a ideologia imposta, sendo punido com violência física e psicológica qualquer um que fosse contrário ao regime.

Nos versos “Pai, afasta de mim esse cálice de vinho tinto de sangue”, os autores enviam pistas ao receptor, para que ele se aproxime da men-sagem enviada, o cálice de vinho na verdade, carrega sangue, este que foi tão derramado no período militar. Outra expressão que remete ao período militar é “Tanta mentira, tanta força bruta” este verso fala das mentiras pregadas pela ditadura que tinha que ser aceita pela população ou eles usavam a força bruta.

Era característica das músicas produzidas nesse período, o excesso de subjetividade, a mensagem tinha que vir nas entrelinhas, algumas infe-rências foram apresentadas aqui, mas a compreensão dessa música não se esgota por aqui. Escute a música, leia a letra e veja quantas inferências você pode fazer, quantas associações você consegue perceber.

Segundo Koch (2007, p. 28) “o texto, pela forma como é produzido, pode exigir mais ou exigir menos conhecimento prévio de seus leito-res.”. Na canção em destaque, a letra busca do leitor uma compreensão que envolve vários segmentos da sociedade, o conhecimento histórico, religioso e político.

O conhecimento de mundo, ou conhecimento enciclopédico, como denomina Koch (2011, p. 41), é um forte responsável pela compreen-são dos textos. O conhecimento de mundo diz respeito às informações sobre as coisas do mundo que mantemos guardadas em nossa mente, oriundas de outros textos que entramos em contato ou de nossas vivên-cias e experiências no mundo.

Para se chegar a um sentido comum, pressupõe-se que escritor e leitor compartilhem de um mesmo conhecimento enciclopédico acerca de um determinado aspecto abordado dentro do texto. Exemplifiquemos:

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CAP

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LO 3

Na interação entre a Rosinha e o Chico Bento, na tirinha de Maurício de Sousa, o termo passarinho é entendido de forma diversa de ambos. Rosi-nha refere-se a uma expressão comum ao se bater uma foto (“Olha o pas-sarinho!”) enquanto o Chico Bento detém o conhecimento de passarinho como o órgão genital masculino, fazendo com que ele olhe para seu próprio órgão. Do leitor da tirinha, espera-se que detenha esses dois conhecimen-tos para a compreensão do sentido pretendido no texto em questão.

Fatores de compreensão da leitura A discussão acima permite entender que a compreensão de um texto depende de vários fatores, destacamos os que envolvem autor e leitor, o processo de construção de sentido nem sempre é materializado na cabeça do autor, este apenas faz uso de seu conhecimento, de suas ex-periências na produção de um texto. O processo do leitor é ativar seus conhecimentos na busca de construir o sentido passado pelo autor, ou outros que lhe sejam possíveis.

Discutimos aqui os fatores de compreensão derivados do autor e do leitor. Vamos destacar agora alguns fatores derivados do próprio texto, dentre eles os materiais e os linguísticos. Quando se fala em aspectos materiais está referindo-se à estrutura do texto quanto a parágrafos cur-tos ou longos demais, excesso de abreviações, por exemplo, que podem acabar comprometendo o sentido do texto. Levantam-se também os as-pectos estéticos, de impressão, qualidade do material e formatação do texto. (KOCH 2007).

No que se refere aos aspectos linguísticos, discute-se a questão da co-esão do texto que, em muitas situações, comprometem o seu sentido, provocando assim a incompreensão do conteúdo apresentado no texto.

Compreensão

Fatores de compreensão de leitura A compreensão é uma ação que exige habilidade, interação e trabalho, nem sempre é possível ao leitor alcançar o sentido total de um texto. Segundo Marcuschi (2008), compreensão está além de uma ação linguís-

Fonte: Disponível em: http://www.satirinhas.com/wp-content/uploads/2013/05/satirinhas-nem-chico--bento-entende-as-mulheres.jpg

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CAP

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LO 3 tica e cognitiva, envolve também a relação do indivíduo com o mundo

e suas formas de interação cultural e social. O autor discute ainda a importância da compreensão na vivência cotidiana, nas relações comu-nicativas, e a relevância do estudo da compreensão, já que esta permeia todas as nossas atividades. Compreender é uma interação entre autor--texto-leitor ou falante-texto-ouvinte.

A compreensão é uma atividade social, nós somos produtores de senti-dos, por isso é importante que o indivíduo contribua para a construção mútua de sentido dos enunciados, podemos falar aqui, por exemplo, dos textos multimodais que utilizam mais de um modo de representa-ção num gênero discursivo. A Palavra não anda mais solitária dentro dos textos, é acompanhada de entonações, gestos, imagens, tipografias, den-tre outros artifícios permitidos pelo próprio texto. Esta construção mais ampla e diversificada permite ao receptor do texto o uso de mais de um sentido para a construção dos sentidos.

A multimodalidade busca as infinitas possibilidades de leitura de um tex-to. Buscam-se abordar as particularidades de cada modo semiótico, as regularidades de suas combinações e seus valores em contextos sociais específicos, ganhando cada vez mais espaço na sociedade contemporâ-nea. A importância dessa nova forma de leitura é ensinar as pessoas a lerem os textos não verbais em articulação com o conteúdo verbal.

Assim como a linguagem verbal, a não verbal têm desempenhado um papel importante no discurso e consequentemente na análise do discur-so, existem várias estratégias que contribuem para melhor compreender uma mensagem.

As estratégias linguística de um texto multimodal, por exemplo, envol-ve palavras, imagens, cores, padrões de entonação, dentre outros, es-ses elementos vão variar a depender se a linguagem for oral ou escrita. Quando falamos em compreensão, estamos falando de sentido e para que um texto ganhe sentido, vários elementos são ativados. A linguagem de um texto ganha sentido dentro de um contexto, como já discutimos anteriormente.

Fonte: Disponível em: https://www.facebook.com/malva-doshq/photos/a.181209315329627.38166.181129068670

985/1298798236904057/?type=3&theater

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CAP

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LO 3Para a compreensão da charge acima, é imprescindível que se faça uma

leitura da linguagem verbal e não verbal, na frase “- O jornal chegou, querida” se não carregasse junto a linguagem não verbal, representada pelo vermelho, simbolizando o sangue embaixo da porta, que faz uma referência a crescente onda de violência no país, a frase solta perderia ou ganharia outro sentido. Com a charge, podemos perceber que, em muitas situações, a leitura para ser completa precisa ativar várias áreas do conhecimento para a construção do sentido.

A charge representa um texto multimodal, ele é construído através de imagens, cores, palavras, todos esses elementos são fundamentais para construir o sentido idealizado pelo chargista.

O processo de compreensão, ainda de acordo com Marcuschi (2008), envolve texto, língua e inferência, vamos discutir um pouco sobre a infe-rência e de que forma ela é possível. Para construir o sentido de um texto é imprescindível que o leitor/ouvinte compreenda a língua para além dos seus aspectos pragmáticos, as palavras possuem seus significados e es-tes são ressignificados dentro dos textos. Por isso vamos discutir a seguir o sentido das palavras.

Muito se discute o sentido literal delas, mas a verdade é que existem muitas divergências entre os autores nessa discussão, trabalharemos, aqui, com a concepção adotada por Marcuschi (2008, p. 235) “o sentido literal nada mais é que um sentido básico que entendemos quando usa-mos a língua em situações naturais”. O sentido fala do funcionamento da palavra, do seu significado preferencial, a palavra armário, por exemplo, tem em seu sentido preferencial a ideia de um objeto em sua maioria grande, que serve para guardar coisas, como podemos observá-lo apli-cado na frase “o armário da cozinha chegou”, a esse sentido chamamos de literal.

Esse sentido literal se perde quando ressignificamos as palavras, quando elas ganham um sentido diferente do preferencial, como podemos ob-servar na frase “o segurança da loja é um armário” o substantivo é utili-zado para expressar a ideia de homem alto e forte, o sentido empregado aqui é um sentido não literal.

Mas é importante destacar que algumas palavras possuem mais de um sentido preferencial, é o velho caso da “manga” que pode representar a fruta em “a manga está verde” ou a parte da camisa em “a manga está rasgada”. Mas o leitor/ouvinte consegue identificar o sentido a depender da situação, as palavras em destaque, possuem o sentido literal.

A seguir, uma tabela apresentada por Marcuschi destaca outros aspectos do sentido literal e não literal.

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CAP

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LO 3

A tabela acima apresenta algumas características que ativamos para o sentido literal e não literal; nela podemos fazer algumas observações de que o sentido literal é aquele que adotamos automaticamente ao ouvir uma palavra, são as relações com o sentido de origem da palavra. Já o sentido não literal é quando se exige do leitor/ouvinte serem feitas as inferências para compreender o sentido que vai além do literal.

O livro de Marcuschi apresenta alguns exemplos em que o contexto não foi aplicado na hora de organizar os livros na estante das livrarias. • Numa livraria, o livro Raízes do Brasil estava classificado entre os

livros de botânica;

• Numa outra livraria, o livro Dialética do concreto estava colocado na estante dos livros de engenharia civil. (MARCUSCHI, 2008, p. 234).

Nos exemplos acima fica claro que o sentido literal foi aplicado pelos funcionários da livraria, Raízes do Brasil foi parar na parte de botânica porque se compreendeu seu sentido referencial. O mesmo se aplica para a obra Dialética do concreto que foi parar na seção de engenharia civil.

SENTIDO LITERAL SENTIDO NÃO LITERAL Automático Não automáticoObrigatório Opcional

Normal FortuitoNão Marcado MarcadoIndispensável DispensávelNão figurativo Figurativo

Indireto

ATIVIDADE PROPOSTA

1. Faça uma leitura dos elementos não verbais que compõem a imagem a seguir, desenvolvendo uma reflexão de como esses elementos produzem sentido à imagem:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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CAP

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LO 3

Compreensão e a atividade inferencial Marcuschi (2009) levanta duas hipóteses para discutir o processo da compreensão a primeira é “compreender é decodificar” e a outra “com-preender é inferir”. Pensando na primeira hipótese percebemos que ela se baseia na ideia da língua como código e compreende a ideia de apren-der a decodificar o código. Já a segunda noção entende o compreender como uma forma de inferir, esta é a que nos aprofundaremos nas dis-cussões. Língua, aqui, possui uma atividade sociointerativa e cognitiva e uma relação de texto sendo construída na relação situacional. Na com-preensão como inferência, a construção de sentido requer a participação do interlocutor.

A seguir um poema de Carlos Drummond de Andrade:

Fonte: Disponível em: https://www.facebook.com/AntigaBadLife/photos/a.380912622281043.1073741828.380774772294828/395508760821429/

?type=3&theater

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CAP

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LO 3 Balada do Amor através das Idades

Eu te gosto, você me gosta desde tempos imemoriais. Eu era grego, você troiana, troiana mas não Helena. Saí do cavalo de pau para matar seu irmão. Matei, brigamos, morremos.

Virei soldado romano, perseguidor de cristãos. Na porta da catacumba encontrei-te novamente. Mas quando vi você nua caída na areia do circo e o leão que vinha vindo, dei um pulo desesperado e o leão comeu nós dois.

Depois fui pirata mouro, flagelo da Tripolitânia. Toquei fogo na fragata onde você se escondia

da fúria de meu bergantim. Mas quando ia te pegar e te fazer minha escrava, você fez o sinal-da-cruz e rasgou o peito a punhal... Me suicidei também.

Depois (tempos mais amenos) fui cortesão de Versailles, espirituoso e devasso. Você cismou de ser freira... Pulei muro de convento mas complicações políticas nos levaram à guilhotina.

Hoje sou moço moderno, remo, pulo, danço, boxo, tenho dinheiro no banco. Você é uma loura notável, boxa, dança, pula, rema. Seu pai é que não faz gosto. Mas depois de mil peripécias, eu, herói da Paramount, te abraço, beijo e casamos.

Fonte: ANDRADE, Carlos Drummond de, Reunião, Rio de Janeiro. J. Olympio, 1969.p.22.

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CAP

ÍTU

LO 3O poema de Drummond é narrado em primeira pessoa e dividido em

cinco estrofes, a história de amor contada pelo autor adota um voca-bulário poético e apresenta uma viagem por vários períodos da histó-ria. As inferências se fazem necessárias para uma compreensão mais aprofundada do texto. É possível inferir que as aventuras de um casal de apaixonado atravessaram séculos desde tempos remotos (imemoriais), passando pela Grécia durante guerra de Troia, caminhando por Roma na representação dos soldados romanos, passando pela aristocracia quando apresenta a figura do cortesão de Versailles, dentre outras momentos histórico.

A última estrofe do poema que chega aos tempos modernos, em que a mulher ganha uma representatividade, como podemos observar nos ver-sos “remo, pulo, danço, boxo, tenho dinheiro no banco. Você é uma lou-ra notável, boxa, dança, pula, rema.”. A inversão das palavras estabelece também a inversão de valores, antes não havia uma relação de igualdade entre os sexos, a mulher nos tempos atuais pode fazer as mesmas ativi-dades que um homem. A mudança nos padrões sociais se evidencia tam-bém nos versos “Mas depois de mil peripécias, eu, herói da Paramount, te abraço, beijo e casamos”, a impossibilidade da união entre o casal sofreu várias influências das épocas, já na estrofe que finaliza o poeta diz: “Seu pai é que não faz gosto”, mas isso não foi impedimento para o final feliz. Aqui foram apresentadas algumas inferências baseadas na perspectiva do texto, este possibilitando ao leitor várias interpretações.

ATIVIDADE PROPOSTA

A ROSA DE HIROXIMARio de Janeiro , 1954

Pensem nas criançasMudas telepáticasPensem nas meninasCegas inexatasPensem nas mulheresRotas alteradasPensem nas feridasComo rosas cálidasMas oh não se esqueçamDa rosa da rosaDa rosa de HiroximaA rosa hereditáriaA rosa radioativaEstúpida e inválidaA rosa com cirroseA antirrosa atômicaSem cor sem perfumeSem rosa sem nada.Vinicius de Morais.

Fonte: Diponível em: (http://www.viniciusdemoraes.com.br/pt-br/poesia/poesias-avulsas/rosa-de-hiroxima)

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LO 3 2. O poema “A Rosa de Hiroxima” de Vinícius de Moraes faz refe-

rência à Segunda Guerra Mundial; com seu conhecimento deste período histórico, quais inferências você consegue fazer deste texto?

________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

3. Ainda sobre o poema de Vinicius de Moraes, quais leituras você consegue fazer dos trechos abaixo:

a) Rotas alteradas____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ b) A rosa com cirrose____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

c) Mudas telepáticas____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Saiba mais

Sobre competências leitora e escritorahttp://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/vol2a.pdf

Sobre interpretação de textos:http://www.lpeu.com.br/q/4su27

Sobre leitura e processo inferencial:http://www.scielo.br/pdf/pe/v9n3/v9n3a11.pdf

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LO 3

Resumo

No fascículo três, trabalhamos as concepções de leitura e escrita com foco na interação autor-texto-leitor, destacamos as estratégias de leitura, as experiências, as hipóteses levantadas por cada interlocutor. Este capí-tulo permitiu ser compreendido que cada texto possui objetivos, e estes estão relacionados com seu contexto de produção e uso, a leitura carrega infinitas possibilidades de sentido e o texto é uma unidade que carrega essas infinitas possibilidades de sentido.

Percebemos com isso que a compreensão de um texto depende de vá-rios fatores, e o processo de construção de sentido dos leitores/ouvintes podem vir tanto do texto quanto das experiências de cada interlocutor. Nem sempre é possível alcançar o sentido total de um texto, mesmo fazendo uso dos diferentes tipos de linguagem disponíveis pelo próprio texto.

Este capítulo permitiu compreender que a relação de sentido de um texto está além da relação com o escritor e leitor; envolve habilidades, vivên-cias e interação cultural, social na atividade comunicativa, o indivíduo é produtor de sentido.

Sobre multimodalidade:http://www.ceale.fae.ufmg.br/app/webroot/glossarioceale/verbetes/multimodalidade

Sobre gêneros multimodais:http://www.fflch.usp.br/dlcv/enil/pd

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LO 4VARIAÇÃO E MUDANÇA

LINGUÍSTICA

Profa. Aline Nascimento da Silva

Carga horária: 15 horas

Objetivos Específicos

1. Entender o que é variação linguística.

2. Compreender o processo de heterogeneidade da língua.

3. Reconhecer as diferenças entre variação padrão, variação culta e va-riação popular.

4. Entender e reconhecer os processos que contribuem para a constru-ção do preconceito linguístico.

Introdução

Este capítulo discute o que é variação linguística, suas mudanças e a im-portância de se estudá-la; levantaremos a distinção entre norma padrão e variações (culta e popular) utilizadas pelos falantes; destacaremos a heterogeneidade da língua e a heterogeneidade social, o uso da língua por diferentes grupos sociais, diferentes regiões. O estudo desses dife-rentes fatores contribui para compreender melhor o processo de varia-ção linguística. Outro importante ponto a ser abordado é o preconceito linguístico e as razões para sua existência em uma sociedade com tão grande riqueza referente às variações da língua.

Variação e Mudança Linguística

Por que discutir variação?

Em 1997, o Ministério da Educação publicou os Parâmetros Curricula-res Nacionais (PCNs), eles renovam as propostas de ensino nas escolas, dentre as disciplinas contempladas com as mudanças, a língua portu-guesa está incluída. A forma como a língua portuguesa era ensinada nas escolas já vinha sendo discutida nos espaços acadêmicos, pelo menos, vinte anos antes da publicação dos PCNs.

As escolas não respeitavam as variações existentes língua, nem falada nem escrita, os professores trabalhavam para corrigir “os erros” dos alu-

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LO 4 nos e adequar fala e escrita à norma padrão. Elas trabalhavam com a

ideia de uma forma correta de falar e escrever, a qual tinha de estar de acordo com a norma padrão.

Com os PCNs, essa crença começou a ser desmitificada, pois não com-preender e respeitar as variações presentes na língua era uma agressivi-dade com o aluno e uma desvalorização da comunidade, como se sua fala não correspondesse à língua.

O estudo das variações linguísticas, principalmente nas escolas, auxilia na melhor compreensão das formas como utilizamos a língua. As varia-ções presentes na língua portuguesa podem ser de diferentes naturezas, elas podem estar relacionadas à região geográfica, à escolaridade, ao social, até mesmo à idade. Só com o entendimento de como acontece esse processo é possível respeitar as diferenças.

Diante disso, fica fácil compreender a importância de se estudar as va-riações linguísticas; os estudos nessa área já avançaram bastante, no en-tanto, o livro didático precisa melhorar muito e a escola um espaço que desmistifique o preconceito linguístico, ela é a maior ferramenta para combater essa realidade tão marcante na sociedade.

Que é variação linguística?

A história da língua homogênea

Ao falarmos de nossa língua com as pessoas, em rodas de discussão ou conversa cotidiana, é comum que se entre na discussão do que é certo ou errado em língua portuguesa. Isso se dá por uma noção que vem de muito longe, nas gramáticas normativas e no ensino de língua materna em sala de aula, a de que a nossa língua é homogênea e que existe uma forma única de usá-la tanto para falar quanto para escrever.

A tradição gramatical e da escrita nos levou a pensar a língua como reali-dade exterior a nós mesmos, independente, linear, imutável e invariável. A supervalorização da escrita em detrimento da fala também contribuiu para a ideia de língua homogênea, por esse motivo, é comum encon-trarmos pessoas dizendo algo como “o certo é falar mÉninÓ, porque se escreve assim”.

Observe o texto a seguir:

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LO 4

O trecho do texto “Hoje em dia, a existência de erros na fala como os do Cebolinha, pode causar grande incômodo para as pessoas.” nos mostra essa noção de língua uniforme que necessita de ser seguida a todo custo. O autor estabelece uma relação entre o divergir do falar normativamente aceito e a prática de bullying justamente por subjazer uma consciência coletiva, o pressuposto de falar certo, ou seja, falar dentro de uma reali-dade uniforme.

Heterogeneidade linguística

Quando pensamos em língua portuguesa, rapidamente pensamos na norma padrão, nas regras no “jeito certo de falar e escrever”, assim ela se estabelece como produto homogêneo, composto por várias regras de utilização. A sociolinguística1 fala da construção heterogênea da língua por considerar as variações e todas as mudanças que a língua vivencia.

É comum pensar na língua como representação sólida, acabada, muitos trabalham com a ideia que as gramáticas e os dicionários são os livros que apresentam as regras da língua, quando na verdade eles não con-seguem dar conta das mudanças linguísticas que ela passa. A língua é falada por seres humanos, por isso é reflexo deles; a dinamicidade das relações vivenciadas em sociedade, os conflitos sociais fortalecem cada vez mais a ideia de uma língua heterogênea, pois é impossível uma so-ciedade tão cheia de multiplicidades, que está em constante mudança ter constituída sua língua como homogênea.

FALAR ERRADO PODE GERAR BULLYING

Desde muito tempo, já se sabe que trocar letras na fala tem limite! Vale lembrar o tão famoso personagem de histórias em quadrinhos, “Cebolinha”, de Maurício Sousa. O Cebolinha apresentava uma tro-ca constante de “r” por “l” nas palavras que pronunciava e, por vezes, não era compreendido pelos outros personagens. Hoje em dia, a existência de erros na fala como os do Cebolinha, pode causar grande incômodo para as pessoas. Crianças e adolescentes podem ser alvo de “bullying” e, então, gerar prejuízo que vai além da falha na comunicação, a exemplo de alterações psicológicas. Para isso, quanto mais precoce for a intervenção fonoaudiológica melhor o prognóstico. Muitos são os recursos da fonoaudiologia para tratar a troca de letras, auxiliar na leitura e na escrita. Procurem nossos profissionais especializados!

Fonte:Disponível em: http://www.nexusclinica.com.br/falar-errado--pode-gerar-bullying/

1 É um ramo da linguística que estuda a relação entre língua e sociedade

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Disso pressupomos que uma língua não pode ser tratada como um blo-co acabado e imutável, pois ao olharmos para seu uso constante pelos falantes, verificaremos que cada grupo de falantes adota uma maneira de falar a mesma língua. Peguemos, a título de exemplificação, os esta-dos brasileiros, cada um terá um vocabulário próprio, um sotaque, uma preferência por determinadas características sintáticas; em Pernambuco, para se referir às mães, fala-se mainha, mas em Minas Gerais, fala-se mãe ou mamãe; os pernambucanos falam em munguzá, prato em que se cozinham grãos de milho, contudo, em São Paulo, esse mesmo prato recebe o nome de canjica; os paraibanos pronunciam dia enquanto os cariocas falam djia. Essa possibilidade de uso e flexibilidade que a língua apresenta, mostrando-se plástica, em vez de rígida e dura, dá-se por causa da variação, caracterizando-se como uma realidade heterogênea.

A seguir, uma tabela que apresenta gírias antigas, é possível perceber que algumas dessas gírias permaneceram na fala do brasileiro.

Não são variedades linguísticas que constituem “desvios” ou “dis-torções” de uma língua homogênea e estável. Ao contrário: a cons-trução de uma norma padrão, de um modelo idealizado de língua é que representa um controle dos processos inerentes de variação e mudança um refreamento artificial das forças que levam a língua a variar e a mudar. (BAGNO, 2007, p. 37).

Gíria SignificadoÀ beça Pra caramba

Barato Excelente

Barra limpa Fora de perigo

Batuta Algo ou alguém legal

Beca Roupa elegante

Bicho Amigo

Boa pinta Pessoa de boa aparência

Bode Confusão

Broto Mulher jovem e atraente

Cafona Fora de moda

Carango Carro

Careta Pessoa conservadora

Chapa Amigo

Chato de galocha Pessoa muito irritante

Chocante Legal

Do arco da velha Algo antiquado

Dondoca Mulher da alta sociedade

É fogo! É difícil!

Estourar a boca do balão Arrasar, extrapolar

Fichinha Algo fácil

Gamado Apaixonado

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LO 4

Fonte: Tabela adaptada do Site Só Português.Disponível em: http://www.soportugues.com.br/secoes/curiosidades/girias_antigas.php.

Pão Homem bonito

Patavinas Absolutamente nada

Patota Turma, galera

Pé de valsa Indivíduo que dança bem

Pombas! Expressão que denota surpresa ou indignação

Pra frente Moderno

Quadrado Conservador

Sacou? Entendeu?

Tutu Dinheiro

A lista acima apresenta algumas gírias que surgiram décadas passadas e seus respectivos significados, algumas delas são familiares até hoje, outras só é possível entender com a ajuda de quem vivenciou a época, a geração que dominava essa variação linguística. Muitas dessas palavras se imortalizaram em canções como a palavra “broto” na canção Parei na contramão, de Erasmo Carlos e Roberto Carlos.

As gírias são um exemplo da dinamicidade da língua, as mudanças lin-guísticas são constantes. Por isso, é importante pensar na língua de for-ma heterogênea e mutável, ela é reflexo de seus falantes, a nascer das gírias reflete o comportamento de um determinado grupo, de uma deter-minado período, é uma identidade cultural que marca toda uma geração e uma história.

Relação entre heterogeneidade linguística e heterogeneidade social

Podemos verificar que os diversos usos de uma língua consistem, antes de tudo, em modos de existência social. As variedades linguísticas são usadas por grupos sociais específicos. Isso quer dizer que uma variedade da norma padrão, por exemplo, não é usada o tempo inteiro por todos os grupos sociais existentes. Os diferentes tempos e espaços sociais re-correm a diferentes usos linguísticos, nesse sentido, podemos dizer que uma língua como realidade histórica e social só é possível porque as sociedades são realidades histórica e social, mudam com o tempo e com o espaço, nas interrelações pessoais e levando às mudanças linguísticas.

Os papéis sociais ocupados nos mais diversos ambientes ou domínios sociais fazem os falantes recorrerem a variedades específicas, que se adequem tanto ao papel quanto ao ambiente ocupado.

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Conclui-se daí que a heterogeneidade linguística está intimamente ligada à heterogeneidade social (múltiplas possibilidades de organização social).

Língua: a variação linguística como cultura e identidade

No uso de uma determinada variedade linguística, sabendo-se que ela advém de grupos sociais em situações específicas de uso, podemos per-ceber que falar uma variedade linguística manifesta-se como uma forma de cultura, ou parte constitutiva de uma cultura.

Com isso se percebe que uma cultura linguística gera, também, uma identidade para o seu falante. Podemos perceber suas origens, suas ide-ologias e suas visões de mundo quando entendemos a relação entre a sua fala e seu grupo social. Observemos a imagem a seguir:

Um domínio social é um espaço físico onde as pessoas interagem assumindo certos papéis sociais. Os papéis sociais são um conjunto de obrigações e de direitos definidos por normas socioculturais. Os papéis sociais são construídos no processo da interação humana. Quando usamos a linguagem para nos comunicar, também estamos construindo e reforçando os papéis sociais próprios de cada domí-nio. (BORTONI-RICARDO, 2004, p. 23)

Fonte: Disponível em: https://www.facebook.com/bregabregosoo/photos/a.639143309531430.1073741827.638987882880306/1168013133311109/?type=3&theater

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LO 4O que podemos perceber na imagem acima, conhecida popularmente

na internet com “meme”, é que as expressões dadas consistem numa forma de falar na qual os pernambucanos, ou pelo menos parte deles, identificam-se e reconhecem nessas frases sua cultura linguística.

As frases apresentadas na imagem foram evidenciadas por fazer parte de uma comunidade de falantes, as expressões criam uma identidade de um determinado grupo que se reconhece ao ver o meme, a ideia do meme é provocar riso no falante ao perceber que realmente ele utiliza as expressões e que elas não são comuns a todos os usuários da língua portuguesa.

É particular a eles, ao grupo de falantes de Pernambuco, como o próprio título já indica “Quando um pernambucano tá invocado”, a construção da frase já destaca as particularidades da fala ao não estar de acordo com a norma padrão. Assim, como o sentido da frase, ao fazer uso da palavra “invocado” para dizer que o indivíduo está irritado, já faz uma referência à própria identidade do nordestino.

Níveis de variação A variação linguística ocorre em todos os níveis da língua, podendo ser:

1. Fonético-fonológica: diz respeito à variação dos sons.

2. Morfológica: quando há variação na formação de palavras.

3. Sintática: variação na estrutura sintática de frases, concordância ver-bal e nominal, regência.

4. Semântica: variação no significado das palavras.

5. Lexical: variação de vocábulos para expressar uma mesma ideia.

6. Estilístico-pragmática: variação de contexto e, por conseguinte, de uso e produção de sentido. (procurar definições em Bagno)

Questões extralinguísticas na variação

A variação linguística pode estar relacionada a diversos fatores que são exteriores à língua:

1. Origem geográfica: trata-se da variação linguística de uma região para outra. Um falante que nasce numa região ou noutra possui essa ou aquela forma de falar, este ou aquele vocabulário.

2. Status socioeconômico: as condições socioeconômicas do falante determinam que variedade ele vai usar.

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LO 4 3. Grau de escolarização: haver frequentado ou não a escola faz que o

falante use uma variedade mais prestigiada em relação às demais.

4. Idade: o falar de uma pessoa mais velha é, com certeza, diferente do falar de uma pessoa jovem. A geração a que o falante pertence também influencia em qual variedade linguística ele usará.

5. Sexo: ser homem ou mulher é um fator que faz o falante escolher uma variedade ou outra, de acordo com as convenções sociais.

6. Mercado de trabalho: cada profissão requer do falante um repertó-rio e um estilo no uso da língua.

7. Redes sociais: grupos de amigos, familiares, etc., fazem uso de ma-neiras específicas na forma de interagir linguisticamente entre si.

Classificação da variação

1. Variação diatópica: é a variação que observada com base em lugares diferentes;

2. Variação diastrática: trata-se da variação que se vê entre as classes sociais diferentes;

3. Variação diamésica: as duas modalidades da língua (língua falada e língua escrita) representam formas distintas de usar uma mesma lín-gua, por isso, apresentam diferenças substanciais. Observe o quadro a seguir, no qual podemos constatar as diferenças existentes entre fala e escrita

Fonte: Ingedore G. Villaça Koch. A inter-ação pela linguagem. 3. ed. São Paulo: Contexto, 1997. p. 68

Fala Escritanão planejada planejadafragmentária não fragmentáriaincompleta completapouco elaborada elaboradapredominância de frases curtas, simples ou coordenadas

predominância de frases complexas, com subordinação abundante

pouco uso de passivas emprego frequente de passivas

4. Variação diafásica: modo de falar, monitoramento estilístico: varia-ção no estilo do falante, a depender da situação. O falante, quando se encontra numa determinada situação comunicativa, faz uso de uma variedade, mas ao se deslocar para outra adota, consequentemente, outra variedade.

5. Variação diacrônica: ao olharmos para diferentes momentos na his-tória de uma língua poderemos perceber que ela apresentará diferen-

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LO 4tes formas a depender do momento ao qual se olha. Logo, a variação

diacrônica é a variação linguística no decorrer do tempo.

Variedade linguística

Se delimitarmos um grupo de falantes de Recife, do bairro de Casa Forte, cuja faixa etária é de 18 a 25 anos, poderemos perceber um conjunto de características e modos de usar a língua por esse grupo específico de falantes, ou seja, eles possuem uma variedade linguística que lhes é comum.

Variedade linguística é uma das diversas formas de usar a língua. Um conjunto de características no modo de falar e empregar as palavras por um determinado grupo de falantes é o que consiste numa variedade. Po-demos perceber isso quando falamos cotidianamente que tal pessoa fala “inglês britânico” ou “inglês americano” e “português brasileiro” versus “português de Portugal” ou “falar do Nordeste” versus “falar do Sudeste”.

Classificação da variedade

As variedades linguísticas podem ser classificadas em:

1. Dialeto: diz respeito ao modo de usar a língua num determinado lugar ou região geográfica;

2. Socioleto: trata dos falantes que compartilham as mesmas carac-terísticas socioeconômicas, tendo sua fala influenciada pela classe econômica;

3. Cronoleto: concerne à geração de falantes, isto é, grupos de falantes de mesma faixa etária;

4. Idioleto: designa o uso individual da língua, as escolhas individuais e estilísticas de cada falante.

ATIVIDADE PROPOSTA

1. O Rei do Baião sempre trouxe em suas canções a representação do homem sertanejo; a fala dele é uma marca registrada em suas canções. Analise a música e aponte os fatores extralinguísticos que estão presentes na canção de Luiz Gonzaga:

Asa Branca Luiz Gonzaga Quando “oiei” a terra ardendoQual a fogueira de São JoãoEu perguntei a Deus do céu, aiPor que tamanha judiação

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Distinção entre norma padrão, norma culta e norma popular

Marcos Bagno (2007) traz, em Nada na língua é por acaso, uma distin-ção entre norma padrão, norma culta e norma popular:

1. Norma padrão: modelo de língua definido e estabelecido. Diz res-peito ao que está nas gramáticas normativas.

2. Norma culta: a variedade linguística utilizada pelos falantes escolarizados.

Eu perguntei a Deus do céu, aiPor que tamanha judiaçãoQue braseiro, que fornaiaNem um pé de “prantação”Por farta d’água perdi meu gadoMorreu de sede meu alazãoPor farta d’água perdi meu gadoMorreu de sede meu alazãoInté mesmo a asa brancaBateu asas do sertão“Intonce” eu disse, adeus RosinhaGuarda contigo meu coração “Intonce” eu disse, adeus RosinhaGuarda contigo meu coraçãoHoje longe, muitas léguaNuma triste solidãoEspero a chuva cair de novoPra mim vortar pro meu sertãoEspero a chuva cair de novoPra mim vortar pro meu sertãoQuando o verde dos teus “óio”Se “espaiar” na prantaçãoEu te asseguro não chore não, viuQue eu vortarei, viuMeu coraçãoEu te asseguro não chore não, viuQue eu vortarei, viuMeu coração

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LO 43. Norma popular: as variedades mais distantes da norma padrão.

Em A língua de Eulália, Bagno (2006) nos mostra a seguinte imagem:

Fonte: BAGNO, Marcos. A língua de Eulalia: novela sociolinguística. 15. ed. São Paulo: Contexto, 2006.

Para Bagno (2007), a norma culta e a norma popular são formas reais de uso da língua, enquanto a norma padrão, cristalizada na gramática nor-mativa, configura-se num ideal em que a norma culta (os escolarizados) tenta alcançar constantemente.

A variação culta tem um prestígio social maior na sociedade que a norma popular, isso porque os falantes da norma culta possuem um status de prestígio na sociedade, por ser em sua maioria falantes escolarizados, pessoas de classe social privilegiada. A norma popular é a que está mais distante da norma padrão, os falantes dessa variação, muitas vezes são falantes não escolarizados e de classe social com menor prestígio na sociedade. Com base nas ideias de Carlos Alberto Faraco, Bagno levanta uma dis-cussão a respeito da oposição que se faz com as variantes culta e popu-lar. Relacionando a norma culta aos falantes providos de cultura, o que pode sugerir que a linguagem que se opõe a essa norma é inculta, ou seja, os falantes da variação popular são desprovidos de cultura. O pró-prio discurso de que os falantes da variação popular “falam errado” ou “não sabem falar” já evidencia essa diferenciação negativa.

InsensatezTom Jobim A insensatez que você fezCoração mais sem cuidadoFez chorar de dorO seu amorUm amor tão delicadoAh, porque você foi fraco assim

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LO 4

Na letra da música, observamos uma das canções mais conhecidas da Bossa Nova, Insensatez, composta por Tom Jobim e imortalizada na voz de Nara Leão; a canção possui uma construção que está dentro da norma culta, pela própria estrutura sintática, assim como pela escolha do voca-bulário. O artista em destaque pertencia a uma classe social de prestígio, o maestro Tom Jobim sempre foi muito respeitado no universo musical, e suas canções são reconhecidas e prestigiadas dentro da sociedade como músicas de qualidade.

Destacamos uma canção do universo linguístico privilegiado e aceito, mas essa não é a realidade de outros estilos musicais produzidos por classes economicamente desfavoráveis, como o Funk, brega e sertanejo, dentre tantos outros que, muitas vezes, são produzidos por pessoas de classes menos abastadas e para elas. Isso revela que o preconceito lin-guístico não tem a ver só com os falantes que não estão de acordo com a norma padrão, mas especialmente com a classe social, escolaridade, dentre outros, que estão relacionados com os falantes. Para compreender melhor esse processo, discutiremos o preconceito linguístico a seguir.

O Preconceito Linguístico As variações linguísticas são avaliadas de formas diferentes na socieda-de, fazendo uso das nomenclaturas utilizadas por Bagno; podemos dizer que vai da mais estigmatizada a mais prestigiada. E a reflexão que o autor faz sobre o estigma e o prestígio é que essa valoração positiva ou nega-tiva empregada nas variações linguísticas está relacionada às avaliações sociais feitas sobre os falantes.

Assim tão desalmadoAh, meu coração que nunca amouNão merece ser amado Vai meu coração ouve a razãoUsa só sinceridadeQuem semeia vento, diz a razãoColhe sempre tempestadeVai, meu coração pede perdãoPerdão apaixonadoVai porque quem nãoPede perdãoNão é nunca perdoado

Me dá tua mãoO teu desejo é sempre o meu desejoVem, me exorcizaDá-me tua boca

Fonte: Disponível em: https://www.letras.mus.br/tom-jobim/86218/

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LO 4O prestígio linguístico está interligado à escala socioeconômica e ao grau

de escolaridade dos falantes, quanto mais elevado for o nível do falante nessas classificações mencionadas, mais valorizadas e aceitas as varia-ções presentes serão.

As variações estigmatizadas estão situadas em grupos e espaços sociais aos quais são atribuídos juízo de valores negativos. Podemos fazer uma reflexão com base no pensamento de BAGNO (2007, p. 76):

Pense bem: quem são os falantes que empregam as formas PRAN-TA, TRABAIO, PREGUNTÁ, CUZINHA, etc.? Geralmente são pesso-as sem instrução formal ou residentes das zonas rurais ou perife-rias das grandes cidades, que exercem atividades profissionais mal remuneradas.

É nessa estrutura que se constitui o preconceito linguístico, vivemos em uma sociedade de classes em que os indivíduos são divididos por suas condições sociais, e os falantes que pertencem às classes sociais mais prestigiadas e os que possuem um grau de estudo maior são reconheci-dos como os interlocutores que melhor falam a língua. Isso porque eles se aproximam mais da norma padrão.

A norma padrão é o nome que se dá a variedade da língua que é ensinada nas escolas, ela é o modelo de organização oficial da nossa língua. Os grupos de maior poder aquisitivo são os que mais dominam essa norma, por isso ela acaba sendo a variedade de fala com maior prestígio social. Podemos perceber que o que determina uma percepção negativa para certa variação linguística é o fato de ela ser produzida por classes econo-micamente menos favorecidas.

O preconceito linguístico não permite, muitas vezes, que se compreen-da que muitas expressões verbais possuem uma organização gramatical perfeitamente compreendida pela linguística. Na obra, “Nada na língua é por acaso” Bagno explica que a transformação do L em R nos encontros consonantais já ocorreu em outros momentos da língua portuguesa.

EX:

Fonte:BAGNO, Marcos. Nada na língua é por acaso: por uma pedagogia da variação linguística. Edição 3º. São Paulo: Parábola Editora, 2009.

LATIM PORTUGUÊSblandu bravoclavu cravoduplo dobroflaccu fracofluxu frouxo

obligare obrigar

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LO 4 Na linguística, esse fenômeno tem o nome de Rotacismo, fenômeno que

troca o R pelo L ou vice-versa, ele é antigo na língua portuguesa, alguns livros antigos da língua portuguesa guardam registros desse fenômeno. Palavras que outrora tiveram prestígios hoje são discriminadas e ridicula-rizadas, por não fazerem mais parte da variante padrão em nossa língua. Na obra Os Lusíadas (1572), de Camões, palavras como Ingrês, Pranta estão presentes na construção do livro.

No entanto, convencionou-se na sociedade que essa organização gra-matical está associada apenas aos falantes socialmente desprestigiados (analfabetos, pobres) e, por isso, o preconceito linguístico se fortalece, porque o problema não está na fala, mas em seus falantes.

Uma das contribuições para a construção do preconceito linguístico é estabelecer a existência de certo e errado na língua. A noção de certo ou errado está presente em tudo na sociedade, comportamento, pensamen-to, crenças e também na fala, isso porque a sociedade agrega um juízo de valor para cada ação do indivíduo.

ATIVIDADE PROPOSTA

A seguir o poema “O Poeta da Roça” de Patativa do Assaré.

Sou fio das mata, canto da mão grossa,Trabáio na roça, de inverno e de estio.A minha chupana é tapada de barro,Só fumo cigarro de paia de mio.

Sou poeta das brenhas, não faço o papéDe argun menestré, ou errante cantôQue veve vagando, com sua viola,Cantando, pachola, à percura de amô.Não tenho sabença, pois nunca estudei,Apenas eu sei o meu nome assiná.Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,E o fio do pobre não pode estudá.

Meu verso rastero, singelo e sem graçaNão entra na praça, no rico salãoMeu verso só entra no campo da roça e dos eitoE às vezes, recordando feliz mocidadeCanto uma sodade que mora em meu peitoNão entra na praça, no rico salão,Meu verso só entra no campo e na roçaNas pobre paioça, da serra ao sertão.(...)

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LO 42. O poema de Patativa foi construído dentro da variação popular,

a forma como o texto foi escrito compromete o sentido da men-sagem? Faça um comentário, utilizando o que você aprendeu sobre a norma padrão e norma popular.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 3. Diante das discussões apresentadas no texto acerca do pre-

conceito linguístico, desenvolva um comentário sobre a tirinha de Chico Bento, considere os conhecimentos adquiridos nesta unidade.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Saiba mais

Sobre as origens da língua portuguesa:https://www.parabolaeditorial.com.br/blog/entry/quem-e-o-pai-da--lingua-portuguesa.html

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LO 4 Resumo

A linguística é uma ciência recente e muito importante para auxiliar na compreensão das variações linguística, esta última unidade dos nossos estudos voltou-se para entender a múltiplas expressões da nossa Língua Portuguesa. Percebemos que a região, a escolaridade, classe social, tudo isso são importantes fatores que contribuem para a construção da fala do indivíduo.

A língua portuguesa possui uma gramática normativa que indica como é sua estrutura, e qual a forma “correta” de ser usada é o que chamamos de norma padrão, mas os estudos da sociolinguística apontam que não existe o “jeito certo de falar e escrever”, e que não há uma homogenei-dade na língua, e sim uma construção heterogênea da língua, que leva em consideração as variações e todas as mudanças que a língua vivencia.

Neste capítulo, compreendemos também que o preconceito linguístico não está relacionado apenas a uma fala/escrita que se distancia da norma padrão, na verdade, os falantes das variações populares é que são alvo do preconceito, a maior parte dos falantes da variação popular são pessoas com baixa escolaridade, em situação socioeconômica desprestigiada.

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