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6a. Reunião Científica A internacionalização das empresas brasileiras e a expatriação de trabalhadores: quais são as repercussões sobre as práticas da Medicina do Trabalho Marcia Bandini 1

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6a. Reunião Científica

A internacionalização das empresas brasileiras e a expatriação de trabalhadores:

quais são as repercussões sobre as práticas da Medicina do Trabalho

Marcia Bandini 1

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Imagine… não poder comer um “big mac”

Marcia Bandini 3

… ou ter de trocar seu espetinho de camarão?

Marcia Bandini 4

Imagine “desaprender” a ler

Marcia Bandini 5

Ou precisar dirigir do “lado errado”

Marcia Bandini 6

Imagine chamar a atenção de todos

QUEM SÃO OS EXPATRIADOS OU INDIVÍDUOS QUE PASSAM

LONGOS PERÍODOS EM VIAGENS DE TRABALHO?

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• (Sinangril & Ones, 2001) - são indivíduos que deixam seus países para cumprir uma meta relacionada ao trabalho e, por isso, são expostos a fatores estressores e situações conhecidas como “choque cultural”.

• Estes profissionais precisam adquirir adequado conhecimento, informação e habilidades para desempenhar efetivamente sua nova função.

• Condições relacionadas ao trabalho expatriado podem também ser aplicadas a outros grupos como mudanças regionais dentro do mesmo país, imigrantes, refugiados, populações submetidas a mudanças sociais radicais, estudante e short/long international assignements.

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Expatriados

• Cultura é a somatória de crenças, valores e comportamentos de uma determinada sociedade. É o software da mente (Hofstede, 1998) . Choque cultural é definido como a ocorrência de estresse e ansiedade produzidos pelo contato com uma nova cultura, com subsequentes sentimentos de perda e confusão (Oberg, 1954).

• Segundo Oberg (1960), o choque cultural envolve 6 aspectos:

1. Esforço extra para se adequar a situações não familiarizadas

2. Sentimento de perda/privação de pessoas, status, coisas, etc

3. Rejeição bilateral, relacionada a cultura de origem e destino

4. Conflitos de identidade, valores, sentimentos e papéis

5. Reação negativa após se dar conta da diferença entre culturas

6. Sensação de impotência para lidar com a nova cultura

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A importância da cultura

• É o processo pelo qual o(a) expatriado(a) obtém conforto e familiaridade com o trabalho, incluindo valores, expectativas e padrões no novo ambiente.

• Para isso é preciso: 1. Aprender novos papéis

2. Compreender novos padrões de desempenho

3. Identificar expectativas da liderança

4. Estabelecer relações com novos subordinados

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Adaptação ao Trabalho

• Micro-ambiente: envolve aspectos individuais incluindo fatores biológicos, história psico-afetiva e experiências de vida.

• Macro-ambiente: envolve os aspectos mais próximos como família, amigos, sociedade local, vizinhança, escola.

• Mega-ambiente: envolve aspectos relacionados a cultura do país/região.

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Estressores estão presentes em 3 níveis

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Excitação

Incubação

Crise

Recuperação

Recuperação Plena

* Adaptado de (Oberg e Lysgaard)

Aculturação/Adaptação*

• Efeitos psicológicos: ansiedade, agressividade, apatia, tédio, depressão, fadiga, solidão e frustração.

• Efeitos físicos: asma, precordialgia, lombalgia, doenças cardiovasculares e gastro-intestinais, dentre outras.

• Efeitos comportamentais: aumento da ocorrência de acidentes, alterações de apetite, humor explosivo, abuso de álcool e drogas (?).

• Efeitos organizacionais: absenteísmo, redução da capacidade de trabalho/produtividade, comprometimento das relações de trabalho, aumento da taxa de acidentes, aumento do turnover.

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Efeitos gerais da síndrome de adaptação

• O uso abusivo de álcool e drogas é comum em todas as sociedades

• Apesar do relato de vários casos, não há evidências que validem a relação entre o uso abusivo de álcool e drogas e a expatriação.

• Mesmo assim, recomenda-se que os expatriados tenham acesso a programas de assistência ao empregado, incluindo a possibilidade de tratamento para dependências químicas.

• Muitas empresas adotam políticas sobre o assunto, incluindo testes para detecção de álcool e drogas – o que pode ser controverso.

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Uso abusivo de álcool e drogas

• Características pessoais: idade, nível sócio-econômico, conhecimento e tolerância com outras culturas, background político e cultural.

• Capacidade de/preparo para: 1. Manejar mudanças

2. Ser flexível e criativo

3. Ter fortes habilidades de negociação

4. Estabelecer relacionamentos inter-pessoais

5. Ter sensibilidade e habilidade de cooperação

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Fatores que influenciam a adaptação

O QUE PODE SER FEITO?

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• Hazard (“perigo” ou fator/fonte de risco) – qualquer coisa que tenha potencial de causar dano

• Dano – impacto indesejado resultante de um “perigo” não controlado

• Risco – probabilidade de ocorrência de dano

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Minimizando o Risco – Bow Tie

• Desenvolvimento de habilidades de idioma, incluindo linguagem não verbal

• Desenvolvimento de habilidades sensitivas, incluindo padrões de comportamento, valores, atitudes, interação com a sociedade local – expatriados que interagem com pessoas locais apresentam menor dificuldade e frustração do que aqueles que vivem em comunidades especiais para expatriados.

• Habilidades de coping – conhecer a curva-U de adaptação, reconhecer sinais precoces de estresse, em especial no primeiro ano. Suporte social no trabalho, programas de assistência ao empregado e dependentes, treinamentos, etc.

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Potenciais Controles

COMO AS QUESTÕES REFERENTES AO TRABALHO EXPATRIADO SE RELACIONAM COM OS FATORES

PSICOSSOCIAIS RELACIONADOS AO TRABALHO?

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• São definidos, pela Organização Internacional do Trabalho (OIT, 1986) como interações entre o conteúdo do trabalho, a organização e o gerenciamento do trabalho, e outras condições ambientais e organizacionais, de um lado e, de outro lado, as competências e necessidades dos trabalhadores.

• Fatores de risco psicossociais caminham lado a lado com o estresse relacionado ao trabalho, que é a resposta que as pessoas apresentam quando as demandas de trabalho e as pressões dele vindas não são compensadas pelo conhecimento e habilidades das pessoas em lidar com isso (coping) (OMS, 2003).

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Fatores de Risco Psicossociais

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AFINAL, DO QUE ADOECEM OS TRABALHADORES

EXPATRIADOS?

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ALÉM DA ADAPTAÇÃO, O QUE DETERMINA O PERFIL DE

ADOECIMENTO DE TRABALHADORES EXPATRIADOS?

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• Destino – Ex: Indonésia, América Latina, Estados Unidos, África

• Duração do trabalho expatriado – Longos períodos merecem acompanhamento

• Propósito do trabalho expatriado – Ex: executivos, trabalhadores da saúde, técnicos

• Padrões de acomodação e assistência médica – Ex: condomínios x inserção local

• Comportamento – “Síndrome do anonimato”

• Condições prévias de saúde

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Fatores que Determinam Saúde/Doença

• Foreign and Commonwealth Office (FCO) – 4000 indivíduos (expatriados e familiares), em 190 países, com média de 3 anos.

• No grupo pesquisado, houve maior incidência de eventos de saúde – (OR 1,4 com IC 95% - 1,1-1,9) comparados com trabalhadores locais. Expatriados solteiros tiveram mais eventos de saúde (OR 1,3 com IC 95% 1,0-1,7) e lesões traumáticas (OR 2,3 com IC 95% 1,3-4,3) quando comparados com expatriados casados/acompanhados.

• Principais eventos: trauma (incidência 5%), distúrbios músculo-esqueléticos (incidência 4%) e doenças infecto-contagiosas (incidência 3%). Transtornos mentais acometeram apenas 1% dos pesquisados, mas a ocorrência foi maior quando comparada com trabalhadores locais (OR 5,9 com IC 95% 1,0-34,1).

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Estudo de Coorte – Reino Unido*

* Ver referência 7

• Relacionadas a alimentos e água: – Diarréia do viajante, hepatite A, febre tifóide, cólera

• Transmitidas por vetores: – Malária, febre amarela, Encefalite Japonesa

• Zoonoses: – Raiva, tularemia, brucelose, leptospirose, febres hemorrágicas virais

• Sexualmente transmissíveis – Hepatite B, HIV/AIDS e sífilis

• Transmitidas pelo sangue: – Hepatite B e C, HIV/AIDS e malária.

• Transmitidas pelo ar: – Tuberculose, sarampo, varicela, doença meningocócica

• Transmitidas por contato: – Antrax, tétano, certas parasitoses, infecções fúngicas

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Doenças Infecto-Contagiosas a Considerar

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1. Mudanças no sistema de competição global 2. Formação de alianças estratégicas globais 3. Integração global versus resposta local 4. Urgência na construção de redes organizacionais

globais 5. Crescente diversidade da força de trabalho

local/global 6. Crescente convergência de competências mínimas

requeridas para níveis gerenciais 7. Aumento dos assignments estrangeiros para

progressões de carreira

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Expatriação é Necessária?

CONCLUSÃO – É PRECISO CONHECER/COMPREENDER PARA AGIR/INTERVIR E MINIMIZAR OS

IMPACTOS À SAÚDE FÍSICA/MENTAL DESTES

TRABALHADORES

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• A OMS estima 880 milhões de viagens internacionais no mundo, em 2009 – 61 milhões apenas nos EUA.

– 15% viajam a trabalho ou negócios

– 53% das viagens são aéreas e este número tem aumentado

• Em 2020, 1,6 bilhões de viagens no mundo (Fonte: CDC)

• Emigrantes: Ministério das Relações Exteriores calcula 2,5 milhões de brasileiros trabalhando fora do país (principais destinos são Estados Unidos e Japão)

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O Trabalhador Viajante e o Emigrante

1. A Promoção da Saúde e a Prevenção de Doenças Focadas nos Trabalhadores Viajantes e Expatriados. Bandini M, Alves JR. Patologia do Trabalho/Rene Mendes. São Paulo. 3a Edição. Ed. Atheneu, 2013.

2. Health impact of psychosocial hazards at work: an overview / Stavroula L, Aditya J. World Health Organization, 2010.

3. Stress prevention in the offshore oil and gas exploration and production industry. International Labour Organization, 1996.

4. Stress in expatriates. Lei L, Liang YX, Krieger GR. Clin Occup Environ Med. 4 (2004) 221– 229.

5. The Effectiveness of Expatriate Coping Strategies: The Moderating Role of Cultural Distance, Position Level, and Time on the International Assignment. Stahl GK, Caligiuri P. Journal of Applied Psychology. 2005, Vol. 90, No. 4, 603–615

6. The Role of Goal Orientation During Expatriation: A Cross-Sectional and Longitudinal Investigation. Wang M, Takeuchi R. Journal of Applied Psychology. 2007, Vol. 92, No. 5, 1437–1445

7. Morbidity in expatriates – a prospective cohort study. Patel D, Easmon at al. Occup Med (Lond) (August 2006)56 (5): 345-352.

8. Glamour e sombras na expatriação de executivos e executivas globais: intercorrências no trabalho e na família. Tese de Doutorado. Spanger, MAFC. Universidade Tecnológica Federal do Paraná, 2012.

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Referências