4. educaÇÃo em saÚde na escola: uma campanha...

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Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.45-59, Jan -jun. 2014. 45 4. EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA: UMA CAMPANHA EXTENSIONISTAS CONTRA O ALICIAMENTO DOS JOVENS ÀS DROGAS HEALTH EDUCATION IN SCHOOLS : A WORKERS CAMPAIGN AGAINST GROOMING YOUTH TO DRUGS RESUMO O uso abusivo de substâncias psicoativas por indivíduos das mais variadas faixas etárias tem provocado uma grande comoção por parte da sociedade, autoridades, pesquisadores e estudiosos do assunto. Portanto, esta pesquisa tem como objetivo promover junto aos alunos do 6° ao 9° do Ensino Fundamental a educação em saúde mental no âmbito do uso/abuso indiscriminado de substâncias psicoativas. Trata-se de uma pesquisa-ação de natureza exploratória, descritiva, de abordagem qualitativa e quantitativa realizada por acadêmicos de enfermagem e farmácia do Instituto Superior de Teologia Aplicada como extensão Universitária. Ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2011 em uma escola municipal do Ensino Fundamental. Participaram dessa pesquisa 80 alunos do 6º ao 9º ano, de ambos os sexos, com faixa etária de 11 a 18 anos. Para coleta de dados utilizou-se um questionário anônimo, subjetivo, de autopreenchimento e múltiplas-escolhas, composto por 10 questões e o método da observação sistemática. Portanto, a pesquisa teve dois momentos, o da exploração diagnóstica do problema e o da intervenção onde foram realizaram três visitas para conclusão da pesquisa. Foi possível constatar que apesar do tema “Drogas” ser bastante difundido pelos meios didáticos, os jovens têm um conceito de Drogas insipiente. Portanto, esta pesquisa possibilitou uma maior discussão sobre o comportamento dos jovens diante do aliciamento a drogas, bem como a disseminação do conhecimento sobre o assunto. Palavras-chave: Drogas, Educação em Saúde e Programa Saúde na Escola. ABSTRACT The abuse of psychoactive substances by individuals from different age groups has caused a stir by society , authorities , researchers and academics . Therefore , this research aims to promote with the students from the 6th to the 9th of elementary school education in mental health in the use / indiscriminate substance abuse . This is an action research exploratory , descriptive , qualitative and quantitative approach performed by nursing students and pharmacy Applied Theology Institute and University Extension . Occurred in October and November 2011 in a municipal school of elementary school. Participated in this study 80 students from 6th to 9th grade , of both sexes , aged 11-18 years. For data collection we used an anonymous questionnaire , subjective, self-administered and multiple - choice , composed of 10 questions and the method of systematic observation . Therefore , the research had two moments , the diagnosis of the problem and the exploration of intervention which were made three visits to complete the search . It was found that despite the theme " Drugs " be widespread by educational means , young people have a concept Drug incipient . Therefore , our results allow further discussion on the behavior of young people on grooming the drugs as well as the dissemination of knowledge on the subject. Keywords: Drugs , Health Education and School Health Program. Dayane Parente Paulinos- INTA Josiane Lima Mendes Lidyane Parente Arruda Olindina Ferreira Melo

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Sobral, ano 3, v.1, n. 4, p.45-59, Jan -jun. 2014.

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4. EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA ESCOLA: UMA

CAMPANHA EXTENSIONISTAS CONTRA O

ALICIAMENTO DOS JOVENS ÀS DROGAS

HEALTH EDUCATION IN SCHOOLS : A WORKERS

CAMPAIGN AGAINST GROOMING YOUTH TO DRUGS

RESUMO

O uso abusivo de substâncias psicoativas por indivíduos das mais variadas faixas etárias tem provocado uma grande comoção por parte da sociedade, autoridades, pesquisadores e estudiosos do assunto. Portanto, esta pesquisa tem como objetivo promover junto aos alunos do 6° ao 9° do Ensino Fundamental a educação em saúde mental no âmbito do uso/abuso indiscriminado de substâncias psicoativas. Trata-se de uma pesquisa-ação de natureza exploratória, descritiva, de abordagem qualitativa e quantitativa realizada por acadêmicos de enfermagem e farmácia do Instituto Superior de Teologia Aplicada como extensão Universitária. Ocorreu nos meses de outubro e novembro de 2011 em uma escola municipal do Ensino Fundamental. Participaram dessa pesquisa 80 alunos do 6º ao 9º ano, de ambos os sexos, com faixa etária de 11 a 18 anos. Para coleta de dados utilizou-se um questionário anônimo, subjetivo, de

autopreenchimento e múltiplas-escolhas, composto por 10 questões e o método da observação sistemática. Portanto, a pesquisa teve dois momentos, o da exploração diagnóstica do problema e o da intervenção onde foram realizaram três visitas para conclusão da pesquisa. Foi possível constatar que apesar do tema “Drogas” ser bastante difundido pelos meios didáticos, os jovens têm um conceito de Drogas insipiente. Portanto, esta pesquisa possibilitou uma maior discussão sobre o comportamento dos jovens diante do aliciamento a drogas, bem como a disseminação do conhecimento sobre o assunto. Palavras-chave: Drogas, Educação em Saúde e Programa Saúde na Escola.

ABSTRACT The abuse of psychoactive substances by individuals from different age groups has caused a stir by society , authorities , researchers and academics . Therefore , this research aims to promote with the students from the 6th to the 9th of elementary school education in mental health in the use / indiscriminate substance abuse . This is an action research exploratory , descriptive , qualitative and quantitative approach performed by nursing students and pharmacy Applied Theology Institute and University Extension . Occurred in October and November 2011 in a municipal school of elementary school. Participated in this study 80 students from 6th to 9th grade , of both sexes , aged 11-18 years. For data collection we used an anonymous questionnaire , subjective, self-administered and multiple - choice , composed of 10 questions and the method of systematic observation . Therefore , the research had two moments , the diagnosis of the problem and the exploration of intervention which were made three visits to complete the search . It was found that despite the theme " Drugs " be widespread by educational means , young people have a concept Drug incipient . Therefore , our results allow further discussion on the behavior of young people on grooming the drugs as well as the dissemination of knowledge on the subject. Keywords: Drugs , Health Education and School Health Program.

Dayane Parente Paulinos- INTA

Josiane Lima Mendes

Lidyane Parente Arruda

Olindina Ferreira Melo

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INTRODUÇÃO

O uso abusivo de substâncias psicoativas por indivíduos das mais variadas faixas

etárias tem provocado uma grande comoção por parte da sociedade, autoridades,

pesquisadores e estudiosos do assunto. Sobretudo, quando se tratam de crianças e

jovens adolescentes em atividade escolar. Nesse contexto, abordaremos uma das

maiores preocupações da saúde pública, o uso de drogas na faixa etária escolar.

Segundo o Relatório Mundial sobre Drogas de 2008, o Brasil possui um grande

número de consumidores de cocaína, maconha e ecstasy, sendo o segundo maior

mercado das Américas. O país possui cerca de 870 mil usuários de cocaína, havendo

um acréscimo de 75% destes usuários com faixa etária entre 12 e 65 anos de idade

entre 2001 a 2004. Sendo um relevante mercado para o comércio ilegal destas e

outras substâncias psicoativas, a rota do tráfico, sobremaneira, alcança os mais

variados espaços, inclusive o educacional.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde - OMS (2001), a droga é

qualquer substância, natural ou sintética que, uma vez introduzida no organismo vivo,

pode modificar uma ou mais de suas funções. O termo droga presta-se a várias

interpretações, mas para o senso comum é uma substância proibida, de uso ilegal e

nocivo, que pode modificar funções orgânicas, as sensações, o humor e o

comportamento. Em sentido restrito, as drogas são substâncias químicas que

produzem alterações dos sentidos.

Entretanto, devemos salientar que o assunto em questão possui outras faces a

apresentar, como por exemplo, a busca pelo contato com as divindades, do seu uso

terapêutico e o uso para os fins festivos.

Para Spricigo (2004) o consumo de drogas é uma prática histórica cultural da

existência humana e encontrada em todas as civilizações. Os antigos gregos, por

exemplo, faziam uso do ópio e os gregos, do álcool. Atribui-se o uso das drogas a

diversas finalidades, indo desde a satisfação de curiosidade ingênua á busca intensa de

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prazer. Contudo, as mais comuns são reuniões, rituais, cultos religiosos, alivio de dor,

prazer e experiências até não vividas, conotam também ameaça, desregramento,

contestação e poder.

No que tange ao abuso de drogas, somados a influências históricas culturais,

encontramos outros problemas característicos da fase adolescente. Segundo a OMS

(2001), algumas situações são prioridades nesta fase, tais como depressão, suicídio e

psicoses. Além disso, também devem ser considerados os transtornos de ansiedade,

transtornos de conduta, abuso de substâncias, transtornos alimentares e as condições

médicas associadas, como diabetes e epilepsias.

Outro fator a ser considerado, de acordo com Marcondes (2002), é que as

drogas estão cada vez mais presentes na vida das crianças e adolescentes, pois o

mundo lhes oferece vários convites através de estímulos da mídia ou ainda pelo desejo

e busca de inserção e aceitação em grupos. A vulnerabilidade incidente das

características próprias dessa fase incita à experimentação das drogas pela

necessidade do inesperado e da busca por novas experiências e sensações.

Em vista dessa problemática, uma das medidas preventivas, junto a esfera

judicial, são as aplicações penais para jovens usuários que cometem o desvio de

conduta e, sobretudo, seu responsável legal. Quanto a este assunto, Brito (2007)

revela que, de acordo com a política tutelar do Código de 1979, as medidas mais

utilizadas para menores infratores são a advertência, a internação e a liberdade

assistida.

Pode-se afirmar que essas medidas penais denotam a fragilidade das forças de

combate ao uso de drogas quando esta conduta é julgada apenas como um ato

infracional. Assim, condiciona-se a problemática a questões subterfugias em prejuízo

de se focar os esforços para combater a origem aliciadora do problema. Todavia,

ensaiam-se estratégias para cercear o aliciamento dos jovens às drogas.

A partir de então, urge uma adequada atenção à prevenção, solução ou

amenização desses problemas como, por exemplo, o desenvolvimento de ações que

promovam a saúde mental da criança e do adolescente, ações baseadas na

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compreensão, na intervenção sobre as situações identificadas e na elaboração de

diretrizes políticas. Contudo, deve-se atentar, sobremaneira, aos aspectos acerca das

drogas que envolvem o adolescente: família, comportamentos de risco e tipos de

substância. Neste contexto, Silva F. A., Silva E. F. e Medina (2005) afirmam que para

prevenir o consumo de drogas, é preciso levar em conta diversos fatores, como:

conduta individual, natureza da substância e todo contexto social.

Conforme Santos (1997) a escola possui um papel fundamental no

desenvolvimento da criança e do adolescente, seres de busca do conhecimento e da

inserção social. Lembrando que o espaço escolar não se restringe ao desenvolvimento

da área cognitiva ou da transmissão de conhecimento. A dimensão educativa abrange

os aspectos afetivos e sociais que agregam a personalidade do individuo,

desenvolvendo a motivação e o senso crítico para que possa tomar decisões

responsáveis. Para isso é imprescindível uma aproximação da relação adolescente –

escola – família.

Desse modo, podemos realizar ações que propicie oportunidades de

conhecimento e entendimento da raiz do problema, envolvendo forças de combate

para prevenir os riscos de desenvolvimento destes agravos. Para tal ação é necessário

acompanhar de perto observando e planejando estratégias de ação e atenção aos

jovens em risco no âmbito escolar.

Dada a exposição do contexto acima, vislumbra-se com o presente trabalho

estabelecer um maior conhecimento em torno da prevenção ao uso de drogas por

adolescentes na escola, sob a perspectiva da facilidade do consumo de entorpecentes

por jovens em todas as faixas etárias; uma preocupação acadêmica perante o descaso

problematizado dentro das escolas, a grande difusão do tráfico e o risco de

dependência associados ao abuso das drogas.

O assunto tratado a seguir ressalta a relevância da execução deste

planejamento que é imposto por lei e direito que a população jovem tenha uma

atenção social de caráter igualitário e democrático, está cada vez mais articulada a

execução das estratégias que promovam o seu desenvolvimento. Contudo, mesmo

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com avanços significativos ainda há necessidade de pesquisar o tanger dos problemas

das drogas nas escolas.

De acordo com Areco et. al., (2011), a responsabilidade pela implementação de

estratégias deve ser compartilhada por poderes públicos federais, estaduais e

municipais, tendo a participação da sociedade. Sobre a articulação de ações públicas

jovens, a Constituição Federal, no artigo 224, prevê que "A política de atendimento dos

direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de

ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios" (ECA, 1990, p. 34). Assegurando a pertinência de ações em

relação às necessidades dessa população, com condições básicas para conhecimento e

o reconhecimento da demanda de crianças e adolescentes com relação aos fatores

que colaborem e protejam seu desenvolvimento, como saúde, educação, lazer,

moradia, entre outros.

Conforme Brusamarello (2008), nas ultimas décadas, a frequência do uso de

drogas aumentou de forma assustadora no mundo. O consumo passou de forma

ritualística em pequenas quantidades, para a produção, consumo e distribuição em

grande escala, como um produto comercial, essa situação tornou-se grave problema

de saúde pública, devido ás consequências danosas de seu uso. Os altos índices de

consumo e abuso de drogas têm despertado e sensibilizado autoridades, educadores,

profissionais da saúde e sociedade em geral para esse problema. A droga faz parte da

realidade social, e não deve ser ignorada como se não existisse ou não perturbasse, é

necessário que a sociedade, principalmente jovens, pais e educadores estejam bem

informados quanto aos efeitos e consequência de seu uso.

Após um estudo referente à visão de escolares sobre drogas, Rebello;

Monteiro; Vargas (2001) sustentam que: “Na perspectiva dos estudantes droga é tudo

aquilo que vicia, algo ‘ilusório’, uma coisa ‘ruim’.” Também revelaram que os jovens

enfatizam a dimensão negativa das drogas, mas não falam de suas implicações no que

tange ao consumo devido e indevido e, tampouco, de seus impactos econômicos,

políticos e socioculturais.

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Oliveira (2011) alerta que as crianças e adolescentes são um grupo que sucinta

bastante preocupação quanto ao consumo de drogas licitas e ilícitas e, portanto, deve-

se fazer grandes esforços em busca de conhecimento a respeito desse fenômeno. A

prevalência de consumo de drogas mostra-se significativa em âmbito mundial; assim,

têm sido valorizadas campanhas antidrogas direcionadas para as comunidade e

famílias, tendo a criança e o adolescente como foco principal.

No que se refere à valorização investigativa do problema, Carlini-contrim;

Gazal-Carvalho; Gouveia (2000) referem que na área da pesquisa ainda há uma

deficiência no que se refere ao comportamento de saúde entre os jovens e que, além

disso, a maioria dos dados brasileiros sobre comportamento de riscos de saúde

provêm de jovens que frequentam escolas públicas, devido à maior abertura deste

espaço para pesquisa.

Em contramão, a recusa dos estabelecimentos privados de ensino de permitir

atividades de investigação entre seus alunos acaba por implicar uma visão parcial da

situação dos jovens estudantes, na qual a classe média e a alta não são avaliadas.

Vale ressaltar que Assis et al., (2009), consideram que qualquer forma de

violência que a criança ou o adolescente se submete está diretamente relacionada as

formas de maus-tratos físicos e emocionais, abuso sexual, descuido ou negligência,

exploração comercial ou de outro tipo, que originem um dano real ou potencial para a

saúde da criança, sua sobrevivência, desenvolvimento ou dignidade, no contexto de

uma relação de responsabilidade, confiança ou poder no meio que ele vive. Sendo

assim, trata-se de uma larga discussão que envolve problemas de comportamento e

variáveis do ambiente familiar e a quantidade ou qualidade de eventos de vida

negativos provenientes da família vêm sendo apontados como particularmente

prejudiciais ao desenvolvimento infantil, sugerindo um fator predisponente a

problemas de comportamento (FERREIRA; MARTURANO, 2002).

Partindo do pressuposto que a saúde mental é fundamental para o

desenvolvimento humano em todas as suas faces e que a presença da família

equilibrada faz com que transtornos futuros sejam evitados, preconiza-se que a

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educação continuada de jovens seja estimulada com poder de sensibilização e

conscientização e que aconteça a união de poderes públicos, apoio familiar e atenção

social para facilitarem nesta postura de proteção a criança e ao adolescente.

Por tudo isso se torna evidente que toda soma de esforços é imprescindível

tanto para diagnosticar de que forma os nossos jovens foram e estão sendo aliciados

ao uso das drogas quanto para, junto a essa população, propor e implementar

estratégias de combate às drogas. Neste sentido, os graduandos de Enfermagem

podem contribuir promovendo a educação em saúde mental na fase da adolescência.

Tal temática é de grande interesse da sociedade, pois a partir do mesmo

poderemos agir como disseminadores de informações, replicadores deste

conhecimento adquirido. E assim, de uma forma mais clara e direta, garantir que a

população, com idade entre 11 e 18 anos, seja ela a mais abastada ou a mais carente,

possua o discernimento necessário para combater o uso excessivo de drogas lícitas ou

não. Gerando com isso um ciclo virtuoso de informação – ação nas residências,

instituições escolares, hospitais e etc.

Portanto, esta pesquisa teve como objetivo promover junto aos alunos do 6° ao

9° do Ensino Fundamental a educação em saúde mental no âmbito do uso/abuso

indiscriminado de substâncias psicoativas.

MATERIAIS E METODOS

Trata-se de uma pesquisa-ação de natureza exploratória descritiva, de

abordagem qualitativa e quantitativa.

A escolha deste tipo de pesquisa se deu pela perspectiva de interatividade

entre o pesquisador e o objeto pesquisado, que de acordo com Thiollent (2003), se

caracteriza pela ação que busca a resolução do problema coletivo de modo

cooperativo ou participativo. Cumpre informar que a pesquisa foi previamente

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planejada e pautada na resolução 466, de 12 de dezembro de 2012 do Conselho

Nacional de Saúde em que se preservaram os direitos e interesses de todos os sujeitos

participantes da ação educativa (BRASIL, 2012).

A pesquisa-ação foi realizada por acadêmicos de enfermagem e farmácia do

Instituto Superior de Teologia Aplicada como extensão universitária e ocorreu nos

meses de outubro e novembro de 2011 em uma escola municipal do Ensino

Fundamental da cidade de Coreaú (CE). A escolha da escola supracitada se deu pela

dificuldade encontrada pela direção da mesma em combater o aliciamento dos jovens

às drogas na faixa etária escolar. Participaram dessa pesquisa 80 alunos do 6º ao 9º

ano, de ambos os sexos, com faixa etária de 11 a 18 anos.

No que concerne à coleta de dados, utilizou-se um questionário anônimo,

subjetivo, de autopreenchimento e múltiplas-escolhas, composto por 10 questões e o

método da observação. Por isso pode-se dizer que a pesquisa teve dois momentos, o

da exploração diagnóstica do problema e o da intervenção.

Os acadêmicos realizaram três visitas para concluir a pesquisa. No primeiro

encontro ocorreu um prévio diagnóstico do conceito que os jovens têm sobre as

drogas e seus comportamentos diante do aliciamento ao uso delas. Nesse momento,

explicou-se o objetivo da pesquisa e, subsequentemente, distribuiu-se o questionário e

o termo de consentimento livre e esclarecido.

A segunda visita ocorreu 5 dias após a analise do diagnóstico. Realizou-se uma

palestra sobre Drogas. Cada acadêmico ficou responsável em apresentar uma droga

com seus efeitos e consequências. Ao final do encontro foi lançado um desafio aos

alunos: a formulação de frases de efeito para que concorressem ao slogan da

campanha escolar antidrogas. Por fim anunciou-se, para o próximo encontro, uma

gincana na escola com objetivo de compreender como os alunos absorveram todo o

conteúdo ministrado. A frase premiada seria divulgada em uma faixa exposta na

entrada da escola e publicada em panfletos informativos, os quais foram produzidos

pelos acadêmicos e distribuídos para os alunos na escola.

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No 3º encontro ocorreu a gincana onde os participantes foram divididos em

duas equipes, a verde (6º e 9º) e a vermelha (7º e 8º). Os professores da escola foram

os jurados e o material utilizado foi: balões verdes e vermelhos cheios de água,

cartolinas, pincéis, folhas de papel A 4, cartucho de tinta para impressora, impressora

e tinta guache.

Para a análise dos dados coletados utilizou-se a análise do discurso. As falas

foram divididas em categorias distintas e organizadas pela incidência das respostas e a

repetição de eventos.

DISCUSSAO

Diagnóstico do problema

O primeiro encontro foi imprescindível para se estabelecer um ciclo de amizade

e confiança entre os adolescentes e os acadêmicos. A partir de então, aplicou-se um

questionário anônimo, o que facilitou a aceitação dos alunos em participarem da

pesquisa. Esse questionário viabilizou a identificação do problema para um posterior

planejamento de intervenção.

Para a identificação dos problemas, utilizou-se a descrição conceitual ou

representativa das drogas, ou seja, o conceito que os jovens têm sobre as drogas e

seus comportamentos diante do aliciamento ao uso delas. Contatou-se o seguinte:

Conhecimento dos jovens acerca das drogas

Os participantes têm distintas representações acerca das drogas e as

conceituam através de associações. Associam drogas à morte (37,5%), ao perigo

(22,5%), a algo ruim (15%), a doenças (6,25%) e ao vício (5%). Todavia 13,75% dos

adolescentes que responderam ao questionário não souberam conceituar drogas.

Esse resultado corrobora com o estudo de Rebello; Monteiro e Vargas (2001),

pois mostra uma dimensão negativa das drogas, mas pouco elaborada no que diz

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respeito a suas implicações. Revelou-se também uma representação acerca das drogas

mais diversificada. No entanto, não se pode ignorar o fato de uma significativa parcela

dos adolescentes não expressar qualquer representação ou conceito a respeito das

drogas.

As drogas mais citadas pelos adolescentes obedeceram a seguinte ordem:

crack, álcool, cocaína, maconha, cigarro, cola, oxi, lança-perfume e comprimido. Em

algumas destas citações o crack e a cocaína incidia duas vezes na mesma resposta. “As

drogas que eu conheço é a pedra, cocaína, maconha, crack, tabaco, lança-perfume e

pó” (Menino, 14 anos).

Essa incidência de repetições denuncia uma instrução equivocada acerca das

drogas e, de acordo com Marques; Cruz (2000), por se tratar também de alienação e

um baixo aproveitamento escolar passa a ser um fator de risco para o uso de drogas.

Nesse sentido, Moreira; Silveira; Andreoli (2006) alerta sobre a importância de se

trabalhar os temas transversais com uma abordagem do cotidiano dos alunos.

Os tipos de comportamentos diante do aliciamento ao uso de drogas

Conforme as repostas dos pesquisados o aliciamento às drogas acontece mais

em festas, jogos de futebol, vizinhos e até em casa de familiares. Não obstante, há

quem experimente por curiosidade. “Eu tinha 7 anos quando bebi pela primeira vez, a

vizinha que me ofereceu” (Menino de 11 anos). “Bebi com 12 anos... numa festa... bebo

pra descontar a raiva” (Menino de 14 anos). “Quando eu tinha 10 anos, eu bebi por

curiosidade lá no jogo” (Menino de 11 anos). “Ninguém me ofereceu, eu bebi com 10

anos... é fraqueza mesmo” (Menina de 13 anos). Pôde-se evidenciar que 37,5% dos

alunos entre 11 e 14 anos de idade fazem uso de bebida alcóolica e 11,25% fumam

cigarro.

A adolescência é uma fase crítica para o desenvolvimento de competências e o

uso de drogas é uma forma de lidar com as situações problemáticas da vida

(SCHENKER, 2004). Todavia, são várias as finalidades de uso, uma satisfação de

curiosidade, a busca de prazer (SPRICIGO, 2004).

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Instrução sobre drogas

O segundo encontro foi um tira-dúvidas, onde ocorreram palestras ministradas

pelos os acadêmicos de enfermagem com o intuito de aguçar a curiosidade dos

adolescentes, daí sugiram diversos questionamentos. A pergunta mais discutida foi

com relação ao vinho, onde os adolescentes descobriram que o vinho possui um maior

teor de álcool do que a cerveja, o que gerou certa discussão.

Procurou-se desenvolver e aperfeiçoar a instrução que os jovens tinham sobre

drogas. Falou-se dos tipos de drogas mais citadas pelos jovens sempre ressaltando os

malefícios causados pelo uso e/ou abuso destas.

O foco foi a sensibilização destes jovens para aquisição do comportamento

seguro frente ao aliciamento. Fomentando interesses de combate as drogas como

forma de reduzir esta grande demanda de usuários, esperamos que as pessoas se

tornem mais conscientes dos prejuízos acarretados pelo abuso de drogas à saúde.

A Gincana

A gincana se sucedeu com a seguinte sequência de provas dinâmicas:

1. Quem sabe se dá bem – As duas equipes, cada equipe com seis participantes,

deviam escolher um integrante da própria equipe para se sentar abaixo de um balão

cheio de água sob a pena de se molhar caso a equipe não soubesse a resposta da

pergunta lançada sobre o tema em questão. Aquele que acertasse furava o balão do

outro.

2. A melhor paródia - O segundo momento foi a competição da melhor paródia

relacionada ao assunto escolhida pelo júri.

3. A ignorância aprisiona, o saber liberta – Cada equipe escolheu um colega que teve

que ter a boca, os pés e as mãos contidos por fita gomada. A tarefa era libertar o

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colega de cada contenção após responder corretamente as perguntas lançadas. O

objetivo desta dinâmica foi promover uma reflexão sobre as dificuldades das pessoas

que estão diretamente e indiretamente envolvidas com drogas.

4. Quem sabe, publica – Confecção do maior número de cartazes relacionada ao

assunto. Venceu a equipe com o maior número de cartazes informativos.

5. Balão surpresa – Cada equipe selecionou 5 componentes para o centro do pátio. Ao

som de uma música, o balão passou pelas mãos dos participantes até que esta

cessasse. Aquele que tivesse com o balão ao cessar da música estourava-o e respondia

a pergunta do balão, se não respondesse saia da roda. A equipe que o integrante

ficasse por ultimo ganhava a prova.

6. Falando sério - As equipes cumpriram a tarefa de trazer depoimentos da

comunidade sobre o envolvimento com drogas. O depoimento mais votado venceu a

prova.

7. Espelho meu – Encerrou a gincana com a dinâmica do espelho em que cada

adolescente ia à caixa e ao ver a sua imagem refletida no espelho descrevia um defeito

e uma qualidade relacionada ao seu relacionamento com o grupo de amigos. Tudo isso

sem revelar de quem estava falando. Enquanto isso, os pontos da gincana foram

somados para anunciar a equipe vencedora.

Os alunos que não participaram diretamente das provas ficaram na torcida

trajando uma blusa com a cor da equipe pela qual torciam.

A gincana possibilitou uma maior discussão sobre o comportamento dos jovens

diante do aliciamento a drogas, bem como a disseminação do aprendizado através dos

cartazes confeccionados e afixados em toda a escola. Houve, através dessa campanha,

a 1ª da escola, uma sensibilização para se promover a saúde dos jovens que fazem uso

de drogas. Dessa forma alcançamos o objetivo geral dessa pesquisa o de promover,

junto aos alunos, a educação em saúde mental no âmbito do uso/abuso indiscriminado

de substâncias psicoativas, e preconizar o comportamento seguro frente ao

aliciamento de drogas.

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CONCLUSÃO

A saúde mental do ser humano está intrinsecamente ligada aos conceitos

construídos e projetados por cada individuo através da forma particular de conhecer,

saber e ser dos elementos que nos cercam. A partir de então surge os mais variados

comportamentos.

A projeção resultante de conceitos equivocados ou incompletos, como, por

exemplo, os referentes a drogas, comprometem a qualidade de vida do indivíduo.

Quando essas projeções interferem de forma negativa na saúde coletiva, torna-

se indispensável o exercício da responsabilidade social, intervir sobre o problema que

ameaça o bem estar da sociedade. Sob este ponto de vista, entendemos que Schenker

(2004) está certo quando alerta que a fase da infância e da adolescência é propícia

para a formação pessoal, a qual é ideal para o desenvolvimento de competências

pessoais, aquisição de habilidades para atuar e tomar decisões.

Ao longo dessa pesquisa pudemos constatar que, apesar do tema “Drogas” ser

bastante difundido pelos meios midiáticos, os jovens têm um conceito de Drogas

insipiente que os torna vulneráveis ao aliciamento do uso de drogas. Portanto,

preconizamos que a informação é um instrumento, sobremaneira, relevante para

combater o aliciamento dos jovens às drogas, tanto pelo poder de formar

comportamentos seguros quanto pela possibilidade de disseminação do saber. Sobe

este prisma, a escola é um terreno fértil e receptivo para futuras campanhas de

conscientização contra ás drogas, pois acreditamos que, através da ação

implementada, conseguimos ampliar ou melhorar o conhecimento dos adolescentes

acerca das drogas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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