03 a 05 set 2011

11
03 a 05/09/2011 164 XIX * Mais tempo para planejar aula - p. 01 * Fraude judicial em rede p. 08 2ª Edição

Upload: clipping-ministerio-publico-de-minas-gerais

Post on 31-Mar-2016

219 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Clipping Digital 2ª Edição

TRANSCRIPT

Page 1: 03 a 05 Set 2011

03 a 05/09/2011164XIX

* Mais tempo para planejar aula - p. 01

* Fraude judicial em rede p. 08

2ª Edição

Page 2: 03 a 05 Set 2011

O TEMPO - P. 24 - 03.09.2011

01

Page 3: 03 a 05 Set 2011

cOnT... O TEMPO - P. 24 - 03.09.2011

02

Page 4: 03 a 05 Set 2011

Isabella Souto

Prefeitos, secretários e dirigentes de órgãos governa-mentais mineiros acumularam nos últimos 12 meses uma dívida de exatos R$ 7.993.120,31 com os cofres públicos. Condenados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) a devolver dinheiro gasto de maneira irregular ou multados por atos de má gestão, eles simplesmente não cumpriram o prazo de 30 dias para quitar o débito. E não deixaram outra opção ao estado senão recorrer ao Judiciário para obrigá-los a pagar o que devem – ações que levam, em média, cinco anos para serem concluídas. Ainda colocaram o poder públi-co diante de uma situação inusitada: cobrar dívidas abaixo de R$ 5 mil pode sair mais caro do que deixar de receber esse valor.

A dívida de quase R$ 8 milhões refere-se a 352 conde-nações de ressarcimento por desvio de dinheiro e 220 multas por irregularidades que não causaram dano ao Erário – todas elas aplicadas pelo TCE entre julho de 2010 e o mês passado. Deste total, 429 já viraram ações judiciais e 31 foram incluí-das na dívida ativa do município correspondente. Multas são sempre cobradas pela Advocacia Geral do Estado (AGE) e o valor é depositado no Tesouro Estadual. Já as condenações de devolução de recursos são executadas pela procuradoria do município onde houve o dano. Mas o caminho até a qui-tação da dívida é longo – e muitas vezes nem é percorrido.

“O sistema brasileiro torna essa execução morosa e complexa, o que favorece a impunidade e de certa forma prejudica o trabalho do Tribunal de Contas.

A punição final, que é a multa, fica lenta”, reconhece o presidente do TCE, conselheiro Antonio Carlos Andrada. O valor das multas varia de R$ 1 mil a R$ 25 mil, de acordo com o valor envolvido e o impacto do erro cometido pelo gestor. De acordo com Antonio Andrada, a maioria das con-denações trata de irregularidades praticadas em processos licitatórios e da má execução de contratos.

Como se não bastasse a dificuldade – e demora – para que o condenado pague sua dívida, o Estado ainda esbarra no alto custo para levar um ação de execução adiante. “Para desempenhá-la, o Estado necessita arcar com a remuneração de diversos agentes públicos, tais como advogados que irão ingressar com as ações de cobrança, juízes que apreciarão as

causas, oficiais de justiça, escreventes judiciais, entre outros. Isso sem falar nos gastos advindos da realização de ativida-des materiais, como transporte de processos e retirada de cópias”, observa o procurador-geral do Ministério Público de Contas, Glaydson Soprani Massaria.

Segundo ele, partindo de dados estatísticos, é possível estimar o custo médio de cada ação de execução. A partir desse gasto estimado, calcula-se o valor mínimo para que a cobrança judicial não resulte em prejuízo ao Erário. Dessa forma, somente débitos que ultrapassem essa cifra são co-brados judicialmente – critério que hoje é usado tanto pela Advocacia Geral da União (AGU) quanto pela Advocacia Geral do Estado (AGE).

No caso de dívidas inferiores a R$ 5 mil, o MP de Con-tas orienta que os gestores avaliem a viabilidade de uma co-brança judicial. Glaydson Massaria nega que a medida possa gerar impunidade para os infratores. “É um eficaz instru-mento de proteção do patrimônio público”, argumenta. Ele lembra que há outros mecanismos para coibir a inadimplên-cia dos devedores, como por exemplo a inscrição em débitos da dívida ativa.

Omissão O trabalho do TCE ainda esbarra na omissão de assessorias jurídicas de prefeituras e órgãos públicos, que preferem não cobrar a dívida – muitas vezes por se tratar de punição a apadrinhados políticos dos atuais gestores.

O Ministério Público já chegou a cumprir a tarefa, pres-sionando ou ajuizando eles mesmo as ações de execução, mas foi barrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Ao julgar um processo questionando o assunto, entendeu que o MP não pode atuar nesses casos, pois estaria atuando como “advogado” para o poder público.

Para fiscalizar o cumprimento das penalidades impostas pelo TCE, há pouco mais de um ano foi criada a Coordena-doria de Acompanhamento das Ações do Ministério Público de Contas (Camp).

O órgão tem a função de verificar se as ações judiciais foram ajuizadas. “Oficiamos os municípios para que, em um prazo de cinco dias, nos deem uma posição. Caso a orienta-ção do TCE não seja acatada, encaminhamos para o Minis-tério Público para que apure se houve crime ou improbidade administrativa”, explica o coordenador do Camp, Eric Ma-fra.

ESTADO DE MInAS - P. 3 - 05.09.2011 DInHEIRO PÚBLIcO

Cara inadimplência Multados pelo Tribunal de Contas ou condenados a devolver dinheiro desviado, gestores públicos devem R$ 8 milhões. Cobrar o valor na Justiça pode ser mais caro para o estado

03

Page 5: 03 a 05 Set 2011

OPERAÇÃO OURO BRANCOExame feito pelo Ministério da Agricultura nos lotes apreeendidos pela

polícia não encontrou o ingrediente no produto envasado em Minas

Leite sem soda cáustica

ESTADO DE MInAS - P. 14 - 03.09.2011

04

Page 6: 03 a 05 Set 2011

Gustavo WerneckCongonhas – Depois de padecer num purgatório de de-

gradação e descaso, um monumento barroco de Congonhas, na Região Central, ganha a redenção. Sem escoras, rachadu-ras profundas e outros pecados graves, a Igreja de Nossa Se-nhora da Ajuda, do século 18, no distrito de Alto Maranhão, está se preparando para entrar na terceira – e última – etapa de restauração. Um dos pontos altos da parte concluída da obra é a recuperação do altar da padroeira e o retorno, ao forro da capela-mor, de 24 painéis, cada um com 103cm x 84cm, recriando a ladainha de Nossa Senhora. A expectativa dos moradores é de que em 15 de agosto do ano que vem na festa da santa protetora, o templo seja reaberto com missa e outras celebrações religiosas.

Recuperada com recursos do Instituto Estadual do Pa-trimônio Histórico e Artístico (Iepha/MG), vinculado à Se-cretaria de Estado da Cultura, e da Prefeitura de Congonhas, a igreja já consumiu R$ 1,1 milhão em serviços de restauro e conservação. Além dos quadros do forro e altar-mor, foi feita a drenagem em volta da construção, consolidação da alvena-ria e troca da estrutura do telhado. A próxima fase vai incluir o restauro dos retábulos da nave, parte elétrica, equipamento contra incêndio, portas e janelas e troca do piso, atualmente em cerâmica e completamente em choque com o barroco, por madeira. “A igreja está salva”, diz, aliviado, o diretor de Patrimônio da prefeitura, Maurício Geraldo Vieira.

Vieira lembra que o teto esteve prestes a desabar e a fa-chada sofreu um deslocamento, também com risco de queda,

devido às infiltrações no interior das paredes. Para estabili-zá-las, explica, foram aplicadas injeções de microcimento a fim de preencher os vazios deixados pela infiltração na alve-naria e fundações.

Tombada há 33 anos pelo Iepha e fechada desde 2009 a pedido da comunidade de Alto Maranhão, a igreja teve transferida para o salão paroquial a celebração das missas, mas é sempre visitada pelos moradores. O coordenador do Conselho Comunitário da Pastoral, Paulo Pereira Pinto, en-volvido com os trabalhos da paróquia desde 1977, está en-tusiasmado e confiante: “Não podemos perder as esperanças de vê-la totalmente restaurada. A situação era muito ruim, por isso toda a comunidade fez pressão e se mobilizou. Pre-cisávamos chamar a atenção das autoridades para a urgência da intervenção”, afirma Paulo.

Durante os serviços, conforme especialistas do Iepha, a edificação teve recuperados os elementos artísticos do altar-mor, retábulo-mor, presbitério, arco cruzeiro, portas laterais, piso da capela e da nave, mesas do altar e uma imagem do Cristo Morto, que fica dentro de uma das mesas do altar. Os restauradores contam que a obra resultou em grandes surpresas, citando o camarim onde foram descobertas, por trás de pinturas com motivos florais, outras com cabeças de querubins circundando uma nuvem. Também foram achados pedaços de talha de madeira que, a princípio, poderiam per-tencer ao retábulo original, e uma assinatura, em uma tábua de cimalha, na qual se lê “Francisco Detrás”.

Em fevereiro de 2009, o Estado de Minas denunciou o

ESTADO DE MInAS - P. 23 - 05.09.2011 PATRIMÔnIO

Esperanças renovadas para relíquia do barroco Depois de décadas de degradação e descaso, templo do século 18 em distrito de Congonhas entra na última

fase de restauro e deixa aliviados moradores que lutaram pela recuperação

VERIDIANE MARCONDESO projeto que prevê o reajuste do salário dos servidores

municipais da capital passou ontem, em reunião extraordi-nária, pelas comissões de Legislação e Justiça, Adminis-tração Pública e Orçamento e Finanças. A previsão é que a proposição entre na pauta de votação, em segundo turno, já na próxima sexta-feira. Dezenas de servidores municipais compareceram à Câmara para acompanhar a tramitação da matéria nas comissões.

Os vereadores de Belo Horizonte aprovaram anteontem em reunião extraordinária, em primeiro turno, o projeto. Pelo texto, de autoria do Executivo, servidores da saúde e da edu-cação receberão reajuste de 20% e os demais, de 13,92%.

Marasmo. Ontem foi mais um dia de poucas votações na Câmara Municipal de Belo Horizonte. Os vereadores analisaram apenas cinco vetos que estavam na pauta, da se-gunda reunião ordinária do mês. Após muito bate boca entre petistas e o líder do governo na Casa, Tarcísio Caixeta (PT), parlamentares do PT declararam insatisfação quanto às de-cisões do representante do Executivo.

O motivo da polêmica foi um veto da prefeitura a emendas populares que determinavam ao Executivo o cum-primento de uma série de metas fiscais. Outra emenda que rendeu polêmica foi a que proibia o Executivo de reduzir a verba destinada à atenção às crianças e adolescentes do município.

Indignado com a decisão dos parlamentares de manter os vetos do prefeito, o vereador Adriano Ventura (PT) disse ser “uma vergonha a atitude do Executivo”. “É um absurdo esse veto”, afirmou Ventura. Já a vereadora Neusinha Santos (PT) disse que a bancada petista queria mais transparência da prefeitura. “Era só isso que a população de Belo Horizon-te almeja”, afirmou.

O líder do governo na Casa, Tarcísio Caixeta, rebateu os colegas. “A prefeitura já realiza a transparência solicitada e mantém investimentos em projetos voltados à infância”, garantiu.

Após votar apenas os vetos, Iran Barbosa (PMDB) so-licitou aos demais vereadores que esvaziassem o plenário, o que fez com que a sessão fosse encerrada.

O TEMPO - P. 6 - 03.09.2011 câmara

Reajuste de servidores vai a plenário na sexta-feira

05

Page 7: 03 a 05 Set 2011

Painéis de inspiração musical

Beleza nas alturas. Um dos des-

taques da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda é o forro decorativo da capela-mor, onde ficam os 24 painéis recupe-rados depois de 23 anos desmontados – apenas um dos quadros ficou sem a estampa. Segundo o coordenador do Conselho Comunitário da Pastoral, Paulo Pereira Pinto, as peças, repinta-das, foram retiradas e empilhadas num canto do adro, já estando prontas para trilhar o caminho da destruição. “Con-seguimos impedir essa perda”, orgu-lha-se.

A ex-presidente do Iepha Deise Cavalcanti Lustosa conta que passou pelo distrito exatamente no momento em que o forro estava sendo empilha-do dentro de uma carroça. “Foi muito importante ter salvado esse patrimônio de Alto Maranhão. Hoje, estaria tudo perdido”, afirma. Para o lugar do deli-

cado e precioso tesouro do século 18, um padre gaúcho, na época, já tinha encomendado pedaços de compensado com grosseiras pinturas azuis. No dis-trito de Alto Maranhão, alguns ficaram para ajudar a contar a história que, fe-lizmente, teve final feliz.

O conjunto de estampas tem ins-piração musical e recria a ladainha de Nossa Senhora, incluindo as ilustrações de espelho de justiça, sede da sabedo-ria, causa de nossa alegria, vaso espiri-tual, vaso honorífico, vaso insigne de devoção, rosa mística, torre de Davi, torre de marfim, casa de ouro, arca da aliança, porta do céu e estrela da ma-nhã.

Há também a ilustração de uma caravela, que intrigou a equipe de res-tauradores do Iepha. Vinte e um painéis foram restaurados no consistório (lugar de reuniões) da igreja por uma empresa contratada pelo Iepha e os demais ga-nharam vida nova na sede do instituto, na Praça da Liberdade, em BH.

A situação era muito ruim, por

isso toda a comunidade fez pressão e se mobilizou - Paulo Pereira Pinto, coor-denador do Conselho Comunitário da Pastoral

quadro de degradação da igreja. Pouco antes da reportagem, um episódio havia deixado os moradores em sobressalto: um ornamento de madeira se desprendeu do alto e só não foi ao chão por ficar seguro na mão de um anjo de trombeta. O medo dos fiéis era de que algo semelhante ocorresse em 15de agosto, data do jubileu da padroeira, quando milhares de devotos chegam ao local para suas homenagens e pre-ces.

Há dois anos e meio, era lamentável o estado de de-gradação da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, a seis qui-lômetros do Centro de Congonhas, conforme documentou o EM. Escorada por estacas, a impressão era de que estava

prestes a desabar e levar consigo parte da história e devoção dos moradores de Alto Maranhão. Logo depois da publica-ção da matéria, o Ministério Público estadual firmou termo de ajustamento de conduta com uma mineradora, para que fosse instalado um sismógrafo. O objetivo era verificar se a degradação decorria de explosões ou de outras fontes nas imediações. De acordo com informações da prefeitura, o problema maior estava nas infiltrações nas paredes. Na se-quência, começaram as obras de restauro. A última etapa, para alegria dos moradores, será a pintura da fachada, que representará a salvação do templo barroco.

Decadência e salvaçãoO Iepha e a prefeitura já investiram R$ 1,1 milhão na restauração da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Alto Maranhão, tombada há 33 anos

Publicação: 05/09/2011 04:00 MEMÓRIA

Também em processo de destruição, várias figuras artísticas em madeira foram salvas

Publicação: 05/09/2011 04:00

cOnT... ESTADO DE MInAS - P. 23 - 05.09.2011

06

Page 8: 03 a 05 Set 2011

ESTADO DE MInAS - P. 7 - 05.09.2011

07

Page 9: 03 a 05 Set 2011

ESTADO DE MInAS - P.6 - 05.09.2011

Alessandra MelloO esquema de venda de sentenças

investigado pela Polícia Federal (PF) e que tem entre os principais suspeitos o desembargador do Tribunal de Justiça de Minas Gerais Hélcio Valentim pode ser bem mais amplo. É o que aponta o rela-tório sigiloso de análise e inteligência da PF que deu origem à Operação Jus Postu-landi, deflagrada no final de junho depois da prisão do desembargador, do empresá-rio Tancredo Tolentino, acusado de inter-mediar as negociações, e do advogado e vereador em Oliveira (Centro-Oeste mi-neiro) Walquir Avelar (PTB), acusado de negociar sentenças para traficantes.

De acordo com o relatório, o advo-gado e vereador tinha também contatos na Polícia Militar, que repassavam a ele informações sobre traficantes presos na região, e contratava os serviços de outros colegas para apresentar na Justiça os pedi-dos de habeas corpus. Além das negocia-ções comandadas por Avelar, que levaram à soltura de pelo menos quatro traficantes – um deles detido com cerca de meia to-nelada de drogas –, a PF levanta suspeita sobre outros habeas corpus concedidos pelo desembargador durante seus plan-tões criminais no TJMG para advogados de outras bancas.

No mesmo domingo de maio em que determinou a soltura de Leandro Zarur de Maia, um traficante do Mato Grosso preso em Bom Despacho, também no Centro-Oeste de Minas, o desembargador liber-tou Delaine Cristina, condenada a 14 anos por tráfico e que estava presa em Belo Ho-rizonte desde agosto de 2010. A soltura de Leandro foi negociada por Avelar por R$ 96 mil, conforme revelam as escutas tele-fônicas e as interceptações de e-mails tro-cados entre ele e uma mulher identificada como Jaqueline Jerônimo. De acordo com a PF, ela era a responsável por discutir os detalhes da soltura não só de Leandro mas também de outros dois presos que teriam sido soltos por intermediação de Walquir.

A soltura de Delaine foi feita pelo advogado de Betim (Região Metropolita-na de Belo Horizonte) Jayme Guimarães Filho. Cinco dias depois de soltar Lean-dro e Delaine, durante um plantão notur-no de sexta-feira, o desembargador liber-tou também João Carlos Gonçalves, que

responde a processo por tráfico de drogas na capital mineira. O pedido de libertação partiu mais uma vez de Jayme Guimarães Filho. A soltura de João Carlos foi tão du-vidosa, afirma a PF, que o próprio TJMG cassou a liminar concedida por Valentim logo no dia seguinte, antes mesmo da ex-pedição do alvará de soltura. No caso de Delaine, o habeas corpus também foi cas-sado, mas ela já tinha sido solta e continua foragida até hoje.

Outro caso suspeito envolvendo o desembargador diz respeito à soltura, também em maio, no plantão de sexta-fei-ra, da advogada Eliane dos Santos Souza, de 47 anos, mais conhecida como “Rai-nha do Pó”, chefe de uma quadrilha de traficantes. Condenada a 16 anos em Ma-nhuaçu, Zona da Mata, ela foi presa mais de uma vez por tráfico e por manter um laboratório de refino e preparo da droga em seu escritório.

A concessão do alvará de Leandro, impetrada pelo advogado Endrigo Otávio da Silveira, foi dada em tempo recorde. O pedido de habeas corpus foi registrado no final da manhã de domingo, por volta das 11h. Antes das 17h, Avelar já havia li-gado para o escrivão de Bom Despacho, onde Leandro estava preso, para pedir a expedição do alvará de soltura. “Como o desembargador Hélcio conseguiu analisar e decidir no mesmo dia e com tanta agili-dade os dois habeas corpus protocolados em pleno domingo? No caso do habeas corpus de Leandro, a petição continha mais de 200 páginas de documentos”, questiona o relatório da PF.

O documento também levanta outras perguntas a respeito da concessão dessas liminares: por que Hélcio Valentim não remeteu a decisão ao relator competente e concedeu a liminar no plantão, já que os traficantes soltos por ele estavam pre-sos há muitos dias, portanto não era caso de urgência? “Como o advogado Walquir Alencar ficou sabendo que o desembar-gador responderia pelos habeas corpus protocolados no domingo dia 15, uma vez que pela internet essa informação não está disponível? “ é outra pergunta feita pela PF no relatório sobre o caso.PLAnTõES

A resposta para a questão está no de-poimento de Jussara Dias Teixeira, oficial

do TJMG, designada para o plantão do fim de semana em que o desembargador concedeu as liminares para Leandro e De-laine. Segundo ela, os desembargadores têm um acordo para dividir os processos que chegam durante os plantões de fim de semana. No plantão da soltura dos dois traficantes, o acordo era para que todos os procedimentos que chegassem no do-mingo fossem direcionados para Hélcio Valentim, e os de sábado para o desem-bargador Judimar Biber. Procurados pela reportagem, os advogados Endrigo Otá-vio e Jayme Guimarães não retornaram o pedido de entrevista deixado em seus es-critório em Raul Soares (Zona da Mata) e Betim. Walquir Avelar também não foi lo-calizado para comentar o relatório da PF.

MERcADO DE SEnTEnÇAS

Fraude judicial em rede Relatório da PF indica que esquema de habeas corpus vai além do trio desembargador,

empresário e advogado já apontado como suspeito. Policiais podem estar envolvidos

Flagrantes anunciados

Além do contato com pessoas in-fluentes, como o empresário de Claúdio (Centro-Oeste) Tancredo Tolentino e o próprio desembargador, o advogado e vereador Walquir Avelar (PTB) também tinha relações com policiais civis e mili-tares, aponta o relatório da Polícia Federal sobre a Operação Jus Postulandi. Segun-do a PF, o advogado, acusado de negociar com os traficantes a compra de liminares, era comunicado por policiais sobre trafi-cantes presos na região. “Existem vários registros de áudios em que policiais ci-vis e militares passam informações (para

08

Page 10: 03 a 05 Set 2011

cOnT... ESTADO DE MInAS - P. 6 - 05.09.2011Avelar) privilegiadas acerca, por exemplo, de flagrantes que ainda estavam sendo fei-tos na delegacia local”. Em um dos áudios, o vereador avisa um de seus clientes de que suas entregas de droga estavam sendo mo-nitoradas pela Polícia Militar. Na conversa, ele alega que essas informações estariam sendo repassadas pela PF para a Polícia Militar de Oliveira.

Em outro áudio, Avelar tenta conven-cer um policial da P2 (sigla usada para defi-nir os agentes secretos da corporação) a ex-torquir dois traficantes que estavam com ele em seu escritório. Segundo o relatório, no dia 11 de janeiro o advogado recebeu uma ligação de um policial militar identificado no relatório apenas pelo primeiro nome. Na conversa, Walquir Avelar diz ao policial para não aparecer em seu escritório, mas pede que ele passe na porta para pegar a placa do carro dos supostos traficantes que estariam fazendo um acerto de contas no local. O policial, ao ser informado sobre o nome de um dos homens, desiste de passar, pois é conhecido de um deles, apelidado de Neném Papelão. Minutos depois, segundo a PF, o vereador manda uma mensagem para o PM. “Cara, o Neném tá pagando ele na minha frente, nunca vi tanto dinheiro. Se der um pulão ele não explica o dinheiro? Tem como pegar para nós”, diz o texto en-viado pelo vereador para o policial.

De acordo com a PF, a extorsão não aconteceu, pois o PM preferiu comunicar o fato à Polícia Federal, que confirmou no relatório o recebimento dessa ocorrência. A Secretaria de Defesa Social disse que as in-formações sobre a abertura de procedimen-to para apurar o possível envolvimento de policiais nas fraudes investigadas pela PF

só poderiam ser repassadas pela corregedo-ria da PM e da Polícia Civil. A Polícia Civil disse que não poderia se manifestar sobre investigações a cargo da PF.

O vereador negou relações com poli-ciais civis e militares. “Desconheço e não é verdadeira a denúncia da PF de que eu tivesse informações privilegiadas da PM e Polícia Civil sobre pessoas presas por tráfico na região. Eu tinha informações específicas sobre meus clientes que me constituíram e com os quais eu tinha dever profissional de defesa”, alegou Avelar, por e-mail. Sobre a operação ele disse não ter “nada ainda a declarar”. A PM não quis se pronunciar sobre as informações do relató-rio da PF.

Empresário confessou propina

O empresário de Claúdio, no Cen-tro-Oeste mineiro, Tancredo Tolentino, 52 anos, conhecido como Quedo, confessou em depoimento à Polícia Federal ter repas-sado recursos para o desembargador Hélcio Valentim, acusado de envolvimento em um esquema de venda de sentença para a liber-tação de traficantes. Em depoimento ao de-legado federal Antônio Benício de Castro Cabral, no dia da Operação Jus Postulandi, Quedo disse ter recebido do advogado e vereador Walquir Avelar um envelope de papel pardo com R$ 45 mil. Ele disse que entregou R$ 40 mil ao desembargador em uma fazenda em Carmo da Mata, pouco antes da concessão do habeas corpus que liberou os traficantes do Mato Grosso pre-sos em Minas Gerais Braz Correa de Sou-za e Jesus Jerônimo Silva. O restante do dinheiro – R$ 5 mil – foi a parte dela na

negociação. Quedo, amigo de Walquir há cerca

de 10 anos e do desembargador há quatro, afirma que foi procurado pelo advogado para interceder a favor da libertação dos traficantes por causa de uma palestra dada por Valentim no Triângulo Mineiro. Segun-do o depoimento de Quedo, nessa palestra o desembargador teria dito que em casos de processo penal ele não admite excesso de prazo. Em todos os habeas corpus concedi-dos por ele e investigados pela PF, contudo, Valentim alegou que os presos estavam de-tidos além do prazo permitido pela legis-lação sem julgamento da causa. Ele infor-mou à PF ter intercedido junto a Valentim a favor dos clientes de Walquir “quatro ou cinco vezes no decorrer deste ano”. Ele também revelou que uma negociação para a libertação de dois traficantes – os irmãos Thiago e Ricardo Bucalon – não prosperou, pois os dois não teriam obtido o dinheiro para pagar pela sentença.

“O interrogado (Quedo) confirma que pediu vários favores ao desembargador Va-lentim e que ao obter sucesso lhe dava certa quantia em dinheiro apenas como forma de agradecimento’, diz um trecho do depoi-mento de Quedo. Durante o depoimento, ele confessou ter repetido o mesmo esque-ma usado para libertar os traficantes Braz Correa de Souza e Jesus Jerônimo Silva, para beneficiar Leandro Zarur Maia: teria dado R$ 40 mil ao desembargador, dinheiro repassado a ele por Walquir (Quedo ficou com R$ 5 mil). Ele contou que repassava ao desembargador cópia dos processos e pedia instruções sobre como redigir os pe-didos de soltura, dados que eram entregues a Walquir.

09

Page 11: 03 a 05 Set 2011

Leonardo Oliveira Soares, Procurador do Estado de Minas Gerais, mestre em direito processual pela PUC Mi-nas, professor na Faculdade de Direito de Ipatinga (Fadi-pa), membro da Academia Brasileira de Direito Proces-sual Civil

Tramita no Congresso Nacional projeto de novo Có-digo de Processo Civil (CPC). Ou seja, pretende-se mo-dificar o conjunto de regras segundo as quais todos nós, cidadãos brasileiros e estrangeiros em território pátrio, seremos julgados. Exceção feita à justiça penal, objeto de regramento específico, e que também se encontra prestes a ser alterada.

Em linhas gerais, eis a tramitação legislativa já per-corrida.

Em junho de 2010, foi encaminhado ao Congresso o Projeto de Lei 166/2010, resultado do trabalho de respei-tável comissão de juristas presidida pelo eminente jurista Luiz Fux, recentemente empossado no cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em dezembro, o Senado aprovou o texto de lei na forma do substitutivo apresentado pelo senador Valter Pe-reira. Em 12 de abril, o Poder Executivo federal, por inter-médio do Ministério da Justiça, realizou consulta pública para receber, no prazo de um mês, sugestões de emendas ao projeto do CPC. Para tanto, disponibilizou o endereço eletrônico www.participacao.mj.gov.br/cpc.

Atualmente, encontra-se o projeto sob análise da Câ-mara dos Deputados (Projeto de Lei 8.046/2010), tendo sido constituída, em 15 de junho, comissão especial para proferir parecer sobre o tema.

A origem política da iniciativa materializada no pro-jeto de lei em questão pode ser encontrada no chamado I Pacto Republicano, firmado em 2004 entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, preocupados em res-ponder à insatisfação da sociedade civil com o serviço pú-blico de prestação de justiça. Insatisfação, vale dizer, que não se restringe ao direito brasileiro como ingenuamente pode supor-se.

Bem, uma das premissas dos autores do projeto para combater a morosidade da Justiça é que o sistema recursal vigente deve ser reformulado. Premissa, saliento, com a qual estão de acordo a comunidade jurídica e a sociedade em geral.

No entanto, deu-se passo largo demais que merece maior reflexão. Realmente, pois uma das soluções apre-sentadas para combater a “demora” na solução de confli-tos consiste na instituição da denominada sucumbência recursal. Explico. Em cada processo, a parte derrotada suporta a condenação ao pagamento dos ônus sucum-benciais. Por ônus sucumbenciais deve entender-se basi-

camente a obrigação de pagar as custas processuais e os honorários ao advogado da parte contrária.

Com a positivação do instituto acima pontuado, que não será aplicado a todos os recursos, é bom que se diga, supõe-se que haverá sensível redução no questionamento de decisões judiciais. Isso porque o valor dos honorários devidos ao advogado da parte vencedora sofrerá acrés-cimo a cada nova derrota no processo daquele que, por assim dizer, ousou recorrer da decisão estatal.

Ora, ainda no plano da suposição, não parece afas-tada a possibilidade de ocorrer o inverso, ou seja, que a majoração dos honorários leve os recorrentes, que não se viram intimidados com a possibilidade de nova conde-nação, a apresentar novo recurso, agora para discutir o cabimento do acréscimo da verba sucumbencial.

Saindo do campo das suposições, afirmo que a pre-missa correta de que partiu a respeitável comissão de ju-ristas acima mencionada levou, contudo, a resultado que se apresenta de todo incompatível com o Estado demo-crático de direito brasileiro. Eis o porquê. A previsão de majoração de honorários advocatícios não impede que se pratique o ato de recorrer. De fato, a prévia e autorizada apresentação de recurso constitui-se em pressuposto lógi-co para a imposição do ônus (sucumbência recursal).

Como o núcleo do direito fundamental ao recurso será preservado, perguntará o atento leitor: por que não dotar o sistema processual de mecanismo que vise a coi-bir o exercício “abusivo” do direito de recorrer? Por que não valorizar o princípio constitucional da celeridade pro-cessual? Por que não introduzir no processo meio para se combaterem os efeitos nocivos do tempo, essa chaga que mais cedo ou mais tarde fulmina inclusive nossa existên-cia?

Bem, para a vida, vale o conhecido e sábio ditado: o que não tem remédio, remediado está.

Peço licença para transportar, ainda que com alguma adaptação, o ditado para o campo do processo e, dessa maneira, concluir a despretensiosa exposição. Com efeito, no plano lógico, a mesma relação de inevitabilidade pre-sente entre os termos morte e vida será encontrada quan-do se pense em recurso (a possibilidade de seu exercício) e processo jurisdicional de Estado, no caso, o brasileiro, cuja Constituição proclama democrático de direito. O re-paro vai para a certeza que, felizmente ou não, envolve a primeira parte da colocação, pois, no plano processual, haverá (a certeza) de limitar-se apenas à possibilidade do exercício do direito ao recurso.

Precisamente ao tempo em que as instituições demo-cráticas brasileiras se consolidam, o ponto merece maior reflexão

ESTADO DE MInAS - DIREITO & JUSTIÇA - 05.09.2011

Alterações no Código de Processo Civil Uma das premissas dos autores do projeto para combater a morosidade da Justiça é que o

sistema recursal vigente deve ser reformulado. Premissa, saliento, com a qual estão de acordo a comunidade jurídica e a sociedade em geral

10