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XADREZ ESCOLAR E O DESENVOLVIMENTO DA CONCENTRAÇÃO E DO

RACIOCÍNIO LÓGICO

Autor: Beatriz Torres Zaim1

Orientador: Vanildo Rodrigues Pereira2

RESUMO

Para que o aluno atual possa enfrentar os novos desafios cujo foco é a produção intelectual com intensiva utilização das tecnologias de comunicação e informação, a escola deve oferecer ferramentas que levem os mesmos a transpor estes desafios. E como forma de contribuir com estas ferramentas foi desenvolvido este projeto sobre o jogo de xadrez e a educação, pois o jogo quando bem utilizados vem a ser um instrumento pedagógico de extraordinária importância na educação escolar. E dentre os jogos que mais pode contribuem para este processo está o jogo de xadrez, pois através de sua prática podemos desenvolver e estimular a criatividade, concentração, memorização, paciência entre outras habilidades necessárias para que o processo de aprendizagem aconteça.

Palavras-chave: Ensino do Xadrez, raciocínio lógico, concentração.

1 Introdução

O xadrez, por suas propriedades, incentiva diversos aspectos, dentre os

quais se podem destacar a disciplina, a obediência à determinação de regras, a

rapidez de decisões e de pensamento, a observação, a concepção de estratégias, o

estímulo à memória, a persistência, a paciência, o respeito mútuo e o autocontrole,

minimizando ou eliminando o ócio e a agressividade, bem como o direcionamento de

1 Profª. Do Colégio Estadual Presidente Kennedy de Maringá – Pr.2 Prof. Dr. da Universidade Estadual de Maringá – UEM –Pr.

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certos conteúdos, oferecidos em caráter interdisciplinar. Tem-se no xadrez um

instrumento transformador e não apenas um “jogo mental”.

As dificuldades crescentes de aprendizagem, entre elas a falta de

concentração ou mesmo de estímulo ao raciocínio lógico, tem sido um motivo

preocupante e crescente principalmente entre os alunos do primeiro segmento do

Ensino Fundamental, levando os docentes a lançar mão de estratégias que

minimizem esse quadro em prol do desenvolvimento do aluno no processo ensino-

aprendizagem.

Uma das estratégias que o professor pode utilizar são os jogos, pois o seu

fator lúdico é um bom instrumento pedagógico facilitador. Dentre os jogos que o

professor pode utilizar está o jogo de xadrez, pois como afirma Rocha (2009, p. 02):

O xadrez seja ele considerado como lazer cultural, jogo, esporte ou instrumento pedagógico, pode ser estudado e praticado por qualquer pessoa, e por ser importante fator de complemento para a formação educacional, o xadrez é uma modalidade que tem sido valorizada por crianças e adolescentes de diversos estabelecimentos de ensino.

Grandes mestres do xadrez como o brasileiro Gilberto Milos Jr., a mestra

colombiana Adriana Salazar Váron e estudiosos do xadrez como Antônio Villar

Marques de Sá, Wilson da Silva e Sylvio Rezende, também colocam a importância

do xadrez como instrumento pedagógico, reforçando ainda a importância de ser

incluído na escola devido a sua gama variada de conteúdos, incluindo seus

benefícios sócio-educativos. O comportamento, a auto-estima, a tomada de

decisões, os valores éticos, o respeito, a humildade, a paciência, o saber ganhar e

perder e, principalmente, a interação entre os jogadores fazem parte do lado social

do jogo, fatores essenciais para a formação humana do aluno, (SÁ, 2002).

Além disso, o xadrez envolve também um grande número de habilidades

mentais, tais como: memória, concentração, pensamento lógico, atenção,

antecipação, planejamento entres outros.

A utilização dos jogos na educação é considerada um recurso riquíssimo

para desenvolver o conhecimento e habilidades, facilitando desta forma o processo

de ensino-aprendizagem e ainda pode ser considerado também um recurso

prazeroso, interessante e desafiante.

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Tal pressuposto pode ser confirmado por Lara(2004), ao referir que quando

os jogos são bem elaborados e explorados podem ser vistos como uma estratégia

de ensino, podendo atingir diferentes objetivos que variam desde o simples

treinamento, até a construção de um determinado conhecimento.

O uso de jogos na educação é também previsto nas Diretrizes Curriculares

da Rede Pública de Educação do Estado do Paraná - Educação Física (PARANÁ,

2008, p. 66), quando sugerem que:

Tanto os jogos quanto as brincadeiras são conteúdos que podem ser abordados, conforme a realidade regional e cultural do grupo, tendo como ponto de partida a valorização das manifestações corporais próprias desse ambiente cultural. Os jogos também comportam regras, mas deixam espaço de autonomia para que sejam adaptadas, conforme os interesses dos participantes de forma a ampliar as possibilidades das ações humanas.

Nota-se de fato que o xadrez vem ganhando espaço dentro das escolas está

o jogo de xadrez, pois o mesmo é um esporte que não faz diferenciação de sexo,

idade, condição social, raça nem biótipo, podendo ser praticado por alunos “ditos

normais”, ou com dificuldades de aprendizagem e ainda os alunos portadores de

Necessidades Educativas Especiais.

Neste caso, o jogo de xadrez pode ser um recurso a mais a ser explorado

com os alunos, vindo a somar positivamente no processo de ensino-aprendizagem,

pois quando utilizado de forma adequada e com mediações por parte dos

educadores, com certeza, acrescenta-se à educação mais um agente

transformador.

2 Fundamentação Teórica

2.1 Histórico do Xadrez

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Diversas histórias são associadas à origem do xadrez, tornando difícil datar-

la com exatidão. Horton (1973) refere que, apesar de muitas civilizações tais como o

antigo Egito e a China dinástica terem sido apontadas como o berço do xadrez,

atualmente muitos pesquisadores concordam que o jogo tenha se originado por volta

do Século V e VI da era cristã, no norte da Índia, sendo denominado de Chaturanga.

O Chaturanga era um jogo para quatro adversários. Cada oponente tinha

um rajaj (rei), um carro de combate (torre), um cavalo, um elefante (bispo) e quatro

soldados a pé (peões). Pode-se perceber que existe suficiente semelhança para

confirmar que o xadrez é derivado deste jogo que significa quanto angas ( exércitos).

Segundo Sá e Rocha (1997), o Chaturanga se difundiu basicamente em dois

sentidos, um em direção ao Oeste e o outro ao Leste, sendo que nas regiões

situadas ao Leste, o Chaturanga recebeu diversas denominações, tais como Siang

K’i – jogo do elefante – na China, Tjyang Keui na Coréia e Sho-gi no Japão, porem

ambos reconhecidos como – jogo do general.

Quanto à sua difusão na direção Oeste, na Pérsia, onde foi intencionalmente

desenvolvido, houve poucas e pequenas mudanças, e recebeu o nome de Shatranj

– jogo de xadrez.

A introdução do xadrez na Europa ocorreu entre os Séculos IX e X por duas

vias distintas. De acordo com Lauand ( 1988), na península Ibérica pelos árabes e

na península Itálica, pelos sarracenos, sendo que, só então se espalhou por todo o

continente Europeu até atingir os países nórdicos e a Rússia.

Para Kasparov (2007), o xadrez da era moderna tem suas bases teóricas

na Idade Média, pois foi nesta época, no solo europeu que foram introduzidas as

principais modificações no jogo, pela introdução do Bispo e da Dama, o que deixou o

jogo mais dinâmico.

Foi também na Europa que surgiram literaturas novas do jogo, bem como os

primeiros grandes jogadores patrocinados pela nobreza , que viajavam pelo

continente divulgando um novo conhecimento a respeito do jogo. O primeiro Torneio

Internacional de Xadrez aconteceu em 1851 na Inglaterra, seguido por eventos em

Berlim, Viena e Paris.

Foi no final do Século XX, com a era da informática o xadrez foi adaptado

esse contexto, através de softwares bem elaborados. O auxílio destes software tem

auxiliado na análise mais profundas de partidas, bem como na iniciação ao xadrez.

Deste modo contribuindo, para a crescente quantidade de novos enxadristas, no

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aprimoramento de treinamentos, na programação das etapas dos torneios entre

outros.

Analisando o desenvolvimento da história do xadrez, pode-se observar que

as mudanças sofridas por este jogo foi acompanhando as transformações das

sociedades que o adotaram, reforçando desta maneira seu caráter de elemento

cultural. Tal premissa foi confirmada por Lasker (1999), quando refere que a

influencia cultural para o desenvolvimento e valorização do xadrez é claramente

marcado pelas transformações sociais.

Em 20 de julho de 1924, é fundada em Paris a Federação Mundial de

Xadrez (Federation Internationale des Echecs,conhecido como FIDE de sua sigla em

francês) sendo reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional como a Federação

Internacional de Esportes em 1999.

2.2 O Xadrez no Brasil

Os registros do xadrez no Brasil começaram a ser feitos somente a partir de

1808, com a vinda de D.João VI e sua corte para o Rio de Janeiro, juntamente com

nobres comerciantes e negociantes da Europa, que trouxeram um exemplar do

primeiro trabalho impresso sobre o jogo, de autoria de Lucena.

Chaves (2001) refere que não se tem nenhum registro sobre a prática do

jogo no Brasil antes de Artur Napoleão sendo o mesmo chamado de o incansável

Propagandista do xadrez em nosso país. Criou em 1876 a 1ª Coluna de xadrez em

Jornais e Revistas, em abril de 1877; fundou o primeiro clube de xadrez do Rio de

Janeiro; dirigiu a secção de xadrez na "Revista Musical e de Belas Artes"; em 1886,

abre uma secção dominical no "Jornal do Comercio; realiza-se um pequeno torneio

enxadrístico em que tomam parte, entre outros, Caldas Viana e Machado de Assis.

Em 1883 e 1884, o "Club Beethoven" organizou um torneio no qual Caldas Viana

obteve o 1º lugar nos dois, sendo que no primeiro, jogou pela primeira vez no Brasil,

duas partidas simultaneamente.

Refere ainda que durante os 6 anos em que Artur Napoleão ficou fora do

Brasil o xadrez foi esquecido. Somente com a sua volta em 1890, é que foi fundado

um novo clube, cuja instalação deu-se na na rua do Ouvidor, no Rio de Janeiro. Em

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1898, publicou-se a famosa "Caissana Brasileira", primeiro livro brasileiro de

problemas, com mais de 500 composições selecionadas, além de regras do jogo,

código, anotações, notas históricas, bibliografia, etc.

Em 1925, iniciou-se por assim dizer, a verdadeira história do xadrez no

Brasil, com a disputa do primeiro campeonato nacional, cuja iniciativa coube ao

"Clube de Regatas Vasco da Gama".

2.3 O Xadrez e a Educação

São vários os personagens de nossa história que abraçaram o xadrez,

dentre eles a Rainha Isabel e Fernando, Rei da Espanha, Churchill, Napoleão,

Voltaire e Euler. Mas foi Benjamin Franklin em sua obra “A Moral do Xadrez”, um

dos primeiros a fazer uma relação entre o jogo de xadrez e o ensino de hábitos

virtuosos importantes à vida humana, ao afirmar “valiosas qualidades da mente,

úteis no curso da vida humana, que se tornam hábitos prontos para todas as

ocasiões... Porque a vida é uma espécie de xadrez...”, tendo enumerado as

seguintes qualidades: “1 – Previdência... 2 – Circunspecção... 3 – Cautela... e 4 –

Perseverança”. ( VIGNOLI, 2005, p.09)

Tomski (2005) esclarece que os russos dominaram o mundo do xadrez

desde o início do século 20, e que, apesar de terem indiscutível destaque mundial o

xadrez era considerado para eles uma arma política, a ser utilizado como um hobby

intelectual e treinamento mental da massa de trabalhadores, cansados do trabalho

diário. Para isto o governo soviético não poupou esforços, conseguindo ser líder

mundial na modalidade. O xadrez é para a Rússia como o futebol é para o Brasil,

sendo que a maioria dos adolescentes sabem as regras do xadrez.

Este mesmo autor refere que, somente em 1960, Adrian Goot realizou

pesquisas sobre os benefícios do Xadrez no processo pedagógico, mas segundo

Igor G. Sukhin (autor do único curso aprovado oficialmente do Xadrez Escolar na

Rússia) somente em 1994 é embutido no processo educacional, sendo que esta

atividade é apenas recomendada como disciplina facultativa. Embora

gradativamente algumas regiões adotem como obrigatória, não representa uma

obrigatoriedade governamental.

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Segundo Nikolaev (2009), o Xadrez Escolar está sendo introduzido muito

lentamente devido à mudança de mentalidade e ao fato de que a maioria dos

professores não estão familiarizados com as peculiaridades da psicologia da

criança.

Este autor explica que, na década de 70 do século 20, vários países como

Canadá, EUA, Inglaterra, Japão e Venezuela, buscavam novos métodos cognitivos e

de inteligência que contribuíssem para o desenvolvimento de habilidades de

pensamento entre os alunos. Na década de 80 e 90 novos projetos surgiram, entre

eles o xadrez escolar que vem de encontro aos objetivos fundamentais da educação

que é ensinar as pessoas a pensar e que, para estimular o pensamento e melhorá-lo

em sala de aula, é necessário o promover implementação de estratégias para

facilitar a linguagem e o raciocínio lógico.

Refere ainda que as transformações em decorrência de novas descobertas

que ocorrem nas ciências humanas, sociais e biológicas, trouxeram alguns

questionamentos quanto aos processos educacionais ideais, isto é, que aluno se

quer e se deve formar com as competências necessárias para resolver os problemas

com os quais poderão se confrontar no seu dia-a-dia?

Segundo Moraes (1997), Assman (1998), Perrenoud (1999) e Deval (2001),

a escola dos novos tempos tem um papel muito mais importante do que a uma

década atrás. Isto é, saber aprender e ensinar no século XXI é enfrentar o desafio

contextual de se estar em processo de construção de uma sociedade do

conhecimento que tem seu foco na produção intelectual, com intensiva utilização

das tecnologias da comunicação e informação.

Um dos maiores desafios, ao saber que somos invadidos cotidianamente

com inúmeras informações, é o de como lidar com esta nova sociedade, cuja

revolução, nos meios de tecnologia e de informação, remete nosso pensar, refletir e

agir sobre o como ensinar e aprender nesta nova sociedade.

Mediante tal realidade, a ação docente deve ser focada no ensinar para

aprender, visto que a maior demanda educacional contemporânea é formar sujeitos,

capazes de aprender de modo criativo, contínuo, crítico e autônomo. Delors, et al.

(2001) afirma que isto só poderá ocorrer com adoção de novas abordagens, de

novos modos de ensejar a capacidade de investigação e de “aprender a aprender”.

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Em resumo, o mundo mudou, uma multiplicidade de novas formas de

ensino surge a cada dia, trazendo uma revolução diária no cotidiano dos

profissionais da educação.

A educação moderna deve ser voltada cada vez mais, para encerrar o ciclo

do ensino por adestramento, organizando-se pela aprendizagem consciente, onde o

educando é estimulado continuamente, a aprimorar a sua capacidade de pensar.

Para tanto, os educadores não apenas devem se preocupar em transmitir

conteúdos, mas também em criar condições para que o educando desenvolva a

autonomia, o pensamento crítico e criador, a iniciativa e a capacidade de resolver

problemas.

Neste particular, o xadrez é uma atividade primordial por excelência, não só

por atender às características de desporto estimulando entre outros o espírito

competitivo e auto-confiança, como adequando-se sobremaneira, às exigências da

Educação moderna.

Pois, como afirma Delors, et al. (2001, p.97):

A transmissão de conhecimentos sobre diversidade da espécie humana, bem como levar as pessoas a tomar consciência das semelhanças e da interdependência entre todos os seres humanos do planeta é uma das missões fundamentais da educação e o xadrez nesse contexto, apresenta-se como um importante instrumento de tomada de consciência, pois ele é interativo e pode ser executado por qualquer pessoa, independentemente de quaisquer divergências.

Seguindo este pensamento, a prática educativa do jogo de xadrez, além de

atender a uma das mais importantes missões da educação, como mencionado

anteriormente, também potencializa o convívio das diferenças e de aprendizagens

recíprocas entre professor e aluno. Talvez este seja um dos maiores desafios da

educação: aprender a viver juntos, aprender a viver com os outros respeitando-se

mutuamente em meio as diferenças.

Também será preciso superar o conceito que envolve o xadrez como um

simples jogo e enfatizar o fato de que, usado como instrumento de educação, o

xadrez pode auxiliar no desenvolvimento de algumas características do pensamento

cognitivo, como: memorização, abstração, raciocínio lógico, dedução, indução e

concentração. Além disso, estimular a paciência, a vontade de vencer, o

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autocontrole, o espírito de decisão, motivação, a organização entre outros.

(MACHADO, 2010)

Tais características são reafirmadas por Neto (apud Machado 2010, p.01)

quando afirma que “o xadrez proporciona a um praticante criatividade, concentração,

memorização, paciência, disciplina, respeito a adversários, árbitros e leis e isso já é

o suficiente para formar um cidadão com o caráter que a sociedade exige e em

condições adequadas para ser bem sucedido na vida”.

O xadrez, por suas características, desenvolve a capacidade do jogador

ponderar, analisar e decidir cada lance, refreando, assim, os atos impulsivos. Desta

forma, constantemente, o jogador é obrigado a praticar a tomada de decisões que

serão fundamentais para o êxito na partida, ensinando a criança a investigar, a

prever e a planejar cada lance.

Sua prática proporciona uma grande variedade de problemas de diversas

qualidades. Desta forma representa é um grande manancial estimulador da pesquisa

e do conhecimento e se encaixa perfeitamente na concepção piagetiana a respeito

dos jogos (NEGRINE, 1994). Isso ocorre, segundo esse autor, por ser um jogo de

regras e, como tal, englobar características dos jogos de exercício e dos jogos

simbólicos.

Já na perspectiva do sociointeracionismo ou interacionismo cultural de

Vygotsky ( 1989), este refere que estudos demonstram a relevância dos jogos, entre

eles o jogo de xadrez como indispensáveis para a criação da situação imaginária.

Para Vygotsky (1989 p. 184), “Embora no jogo de xadrez não haja uma

substituição direta das relações da vida real, ele é, sem dúvida, um tipo de situação

imaginária”.

Segundo esse autor, o tabuleiro de xadrez e suas peças são imagens

culturais utilizadas nas situações interativas. Compreender as imagens é

fundamental para a construção do conhecimento e sua socialização.

Assim, ao proporem a introdução do jogo nas escolas, mostram quais são as

principais características que os jogos devem possuir para serem bons recursos

didáticos. De acordo com seus estudos, o jogo ideal a ser usado como auxiliar

pedagógico deve ser definido pelos seguintes critérios:

1) Devem ser conferidos aos objetos utilizados significados diferentes do que

normalmente eles possuem;

2) a situação deve ser imaginária;

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3) as ações realizadas devem representar interações presentes na

sociedade em que vivem os participantes;

4) respeito às regras que orientam o jogo.

O jogo de xadrez é um jogo completo, pois se encaixa perfeitamente nesses

moldes colocados por Vygotsky para o jogo ideal, por que:

1) por ser o xadrez jogado em um tabuleiro de 64 casas de cores alternadas

que representa um campo de batalha onde dois “exércitos” deverão se defrontar. As

peças constituintes do jogo representam reis, rainhas, cavalos, bispos, peões e

torres, confere significados diferentes aos objetos utilizados:

2) por apresentar uma situação de uma guerra onde o objetivo é a captura

do Rei adversário, oferece uma situação imaginária:

3) pelas suas ações consistirem em aumentar o auxílio mútuo entre suas

peças e diminuir o poder das peças do adversário, as ações são representativas da

sociedade. Em se tratando de uma competição, pode-se enfatizar os aspectos da

cooperação e da organização. A situação, embora imaginária, poderá, de acordo

com o tipo de orientação do professor, ser deslocada para exemplificar situações

vividas nas experiências comuns da vida cotidiana.

4) em decorrência de cada jogador ter que esperar sua vez de jogar e cada

peça possuir um tipo de movimento diferente, cuja obediência é necessária para que

o jogo possa se realizar, exige o respeito às regras.

Só por isso, o xadrez já se qualifica como um precioso coadjuvante escolar,

uma vez que os conhecimentos adquiridos ao estudar e aplicar as regras do jogo

pode ser transferido para o estudo e análise das situações concretas da vida

cotidiana.

Segundo o artigo “O jogo de xadrez no processo ensino aprendizagem”

(CRISTINE, 2011), o xadrez é também um excelente suporte pedagógico, visto que

se relacionam com diversas disciplinas, tais como: Matemática; Artes; História;

Geografia, além da Ética, e outros.

Quando relacionado à Matemática pode-se explorar inicialmente o tabuleiro

e a movimentação das peças associadas com a Geometria e suas dimensões. Já

nas Artes, pode-se explorar as formas das peças através do uso da argila, pintura,

técnicas com materiais recicláveis. Na História, é possível trabalhar a questão da

origem do xadrez, a cultura dos seus povos e a relação entre aspectos sociais e

políticos. Quando relacionado à disciplina de Geografia, explora-se a localização

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onde o jogo de xadrez era praticado. E finalizando, quando se refere referência à

Ética, seria valorizada a importância das regras e o respeito que deve existir para

com o parceiro de jogo.

Como se pode observar, o xadrez não é, em si, um instrumento de educação

formal, mas ao tornar as peculiaridades deste jogo e as projetar uma a uma, ao

campo educativo, pode-se constatar que suas características se convertem em

outras tantas funções educativas.

Tenha-se em conta ainda que o xadrez cria hábitos de estudo, estimula a

atitude de proceder com método e fomenta o desejo de superação mediante o

conhecimento.

Parece não restar dúvida que trata de um poderoso componente pedagógico

que catalisa várias disciplinas e desenvolve nos alunos o raciocínio lógico, a

concentração, o pensamento criador entre outras características já mencionadas.

2.4 Desenvolvimento do Raciocínio Lógico

Para fazer os alunos pensarem de forma mais crítica acerca dos conteúdos

das diferentes disciplinas, tornando-os desta forma mais argumentativos com base

em critérios e em princípios logicamente válidos, é necessário que os alunos

desenvolvam o raciocínio lógico.

O que se observa é que o ensino da lógica geralmente é tratado com mais

ênfase nas primeiras fazes da aprendizagem, onde o aluno deve aprender a

desenvolver o raciocínio lógico para auxiliar na resolução de problemas.

No entanto, acredita-se que o raciocínio lógico deva ser sempre estimulado.

Seguindo esta linha de pensamento Rauber et al. (2003), indicam que existem três

habilidades básicas que devem ser adquiridas pelo aluno no processo de

alfabetização: aprender a escrever, aprender a ler e aprender a resolver problemas.

No entanto, ainda segundo estes autores estes aspectos deveriam passar para um

nível mais avançado: aprender a escrever bem, aprender a ler bem e aprender a

resolver problemas bem, que podem ser alcançados através do desenvolvimento do

raciocínio lógico.

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Copi (1978) situa que quando se estuda a lógica, estudam-se os métodos e

princípios usados para distinguir o raciocínio correto do incorreto. Para Abar (2006),

o aprendizado da lógica auxilia os alunos no raciocínio, na compreensão de

conceitos básicos, preparando-os para um melhor entendimento do conteúdo mais

avançados.

Piaget (1975) em seu livro Gênesis das estruturas lógicas elementares

pondera que o conhecimento evolui progressivamente, por meio de estruturas de

raciocínio que substituem umas às outras, através de estágios. Isto significa que a

lógica e as formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da

lógica dos adultos. Em seus estudos Piaget identifica os estágios de

desenvolvimento da criança, sendo que para o autor, é no estágio operatório formal

que a criança começa a desenvolver seu pensamento como o de um adulto, assim

podendo desenvolver idéias abstratas e iniciar seu raciocínio lógico. Por isto, o

incentivo ao desenvolvimento do raciocínio lógico é muito importante neste estágio,

que é desenvolvido entre os 12 e 15 anos de idade.

As conseqüências do desenvolvimento não eficaz desta “capacidade”

poderão refletir futuramente, quando os estudantes passam a se deparar com níveis

cada vez mais elevados de situações em que precisam agir de forma lógica e

organizada.

De acordo com Rauber et al. (2003), é possível observar as conseqüências

deste desenvolvimento não eficaz em alguns alunos universitários, que encontram

dificuldades para interpretar o que estão lendo, por não terem sido alfabetizados

para entender o que está “por trás” daquilo que está escrito, ou seja, o real

significado e contexto.

Da mesma forma que na leitura ou escrita, o raciocínio lógico na resolução

de problemas é um fator de extrema importância. É fundamental que os alunos

compreendam e raciocinem sobre o que está sendo proposto.

Diante de todas estas dificuldades é necessário que o raciocínio lógico seja

desenvolvido desde as primeiras etapas, sendo que através de jogos educacionais,

entre eles o jogo de xadrez, este pode contribuir de forma motivadora para isto.

Trabalhos de pesquisa como o desenvolvido por Confortin et al (2009) que

tem o título de: “ Capacidade de raciocínio lógico entre praticantes e não praticantes

de xadrez na escola”, identificou que os alunos praticantes de xadrez possuem

melhor desempenho cognitivo do que os não praticantes. Esses resultados indicam

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que os jovens que procuram o xadrez como atividade escolar possuem um

desempenho cognitivo superior, porem ressaltam que o efeito dessa prática precisa

de maiores investigações.

Outro estudo, desenvolvido por Silva (2010), intitulado “Raciocínio lógico e o

jogo de xadrez: em busca de relações”, teve por objetivo pesquisar a possível

existência de correlação positiva entre os desempenhos no jogo de xadrez e na

Escala de Desenvolvimento do Pensamento Lógico (EDPL), cujos resultados

permitiram confirmar esta correlação positiva.

2.5 Desenvolvimento da Concentração

Pode-se explicar a Concentração, como uma intensa atividade mental,

dirigida a um setor delimitado da nossa atividade. A concentração permite ao aluno

atualizar as aprendizagens realizadas com antecedência, e “bloquear” aquelas que

não tem a ver com o objeto da atividade que se está desenvolvendo. (WEINBERG;

GOULD, 1999)

Segundo esses autores a concentração é a capacidade de estar com

atenção, permitida pela mente, para os quais, ela representa uma das

características mais importantes para o sucesso do aluno, porém tem-se observado

queixas constantes de professores sobre a falta de concentração dos seus alunos.

Vários são os fatores que levam à falta de concentração, entre eles

podemos citar, a ansiedade, a falta de auto-confiança, problemas familiares,

dificuldades de aprendizagem e a mais comum a falta de motivação( PEREZ, 2006).

Desta forma, quando tal situação acontece, a escola tem que encontrar

estratégias para melhorar a concentração dos seus alunos, dentre elas o jogo de

xadrez, pois como já se mencionou anteriormente, devido às suas características,

auxilia muito ao nível de desenvolvimento da concentração dos alunos. Pode-se

verificar tal contribuição através de estudo realizado por Oliveira e Castilho (2007), o

qual demonstra que a prática do xadrez auxilia os alunos de forma a desenvolver

habilidades nas quais eles têm mais dificuldades e que comprometem o seu

desempenho escolar, demonstrando assim a eficácia deste desporto para melhorar

o desempenho escolar.

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3 Problematização

A aprendizagem escolar é considerada um processo natural, que resulta de

uma complexa atividade mental, na qual o pensamento, a percepção, as emoções, a

memória, a motricidade e os conhecimentos prévios estão envolvidos e onde a

criança deva sentir o prazer em aprender.

Assim quando, nesse processo começam a aparecer “dissociações de

campo” e sabe-se que o sujeito não tem danos orgânicos, começam os problemas

de aprendizagem e, com eles, o baixo rendimento escolar, levando os alunos ao

fracasso escolar.

Souza (1996) refere que os fatores relacionados ao sucesso e ao fracasso

acadêmico podem ser divididos em três variáveis interligadas, denominadas de

ambiental, psicológica e metodológica. O contexto ambiental engloba fatores

relativos ao nível sócio-econômico e suas relações com ocupação dos pais, número

de filhos, escolaridade dos pais, etc. Esse contexto é o mais amplo em que vive o

indivíduo. O contexto psicológico refere-se aos fatores envolvidos na organização

familiar, ordem de nascimento dos filhos, nível de expectativa, etc, e as relações

desses fatores são respostas como ansiedade, agressão, auto-estima, atitudes de

desatenção, isolamento, não concentração. O contexto metodológico engloba o que

é ensinado nas escolas e sua relação com valores como pertinência e significado,

com o fator professor com suas estratégias metodológicas e com o processo de

avaliação em suas várias acepções e modalidades, sendo uma delas o xadrez, no

âmbito da disciplina Educação Física e no âmbito da interdisciplinaridade.

Com isso, acreditamos que seja possível que o xadrez quando organizado

em sequência metodológica na escola, vir a proporcionar melhoras importantes nas

capacidades de raciocínio lógico e concentração.

4 PROGRAMA

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O programa de ensino do xadrez foi aplicado durante 03 meses, em duas

sessões semanais, perfazendo um total de 21 sessões. Sendo que foram

trabalhados os seguintes conteúdos: história do xadrez (sua origem, as

transformações ocorridas com o jogo no transcorrer do tempo, curiosidades sobre o

jogo de xadrez); conhecimento do tabuleiro, jogos pré-enxadristicos (gato e rato,

quadrado mágico: batalha naval, duelo de monarcas, etc.), movimento das peças:

bispo, torre, dama, rei, peão e cavalo, noções de ataque, noções de captura, noções

de xeque, noções de xeque-mate, regras do jogo de xadrez, xadrez – Prática

dirigida, torneio de xadrez.

5 OBJETIVOS: GERAL E ESPECÍFICOS

Geral

- Investigar na prática do xadrez escolar o desenvolvimento do raciocínio

lógico e da concentração em escolares de 7ª série do Colégio Estadual Presidente

Kennedy de Maringá – Pr.

Específicos

- Identificar a capacidade de concentração por meio da prática do Xadrez

Escolar.

- Promover encontros para a troca de experiências no xadrez escolar.

– Comparar os resultados iniciais e finais em relação ao desenvolvimento

da atenção e concentração, de modo a indicar possíveis progressos.

6 Estratégia de Ação

Inicialmente foi selecionada uma turma de alunos (35 alunos) da sétima série

do Colégio Estadual Presidente Kennedy da cidade de Maringá-Pr. Feita essa

seleção, deu-se inicio ao desenvolvimento do projeto, foram proposta duas sessões

semanais, perfazendo assim um total de 21 sessões. Ao final das 21 sessões foi

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aplicado por um profissional da área de psicologia o teste D2 – Atenção

Concentrada de Brickenkamp (2000), com o objetivo de verificar se houve ou não

melhora da concentração.

7 Metodologia

Este projeto de pesquisa teve o intuito de observar e analisar se a prática do

xadrez poderia auxiliar no desenvolvimento escolar dos alunos da 7ª série do

Colégio Estadual Presidente Kennedy, quanto ao raciocínio lógico e a concentração.

Para tanto foi feita uma pesquisa do tipo descritivo-exploratória, que tem como

objetivo levar o pesquisador a familiarizar-se com um assunto ainda pouco

conhecido, pouco explorado. Sendo que ao final dessa pesquisa o pesquisador

conhecerá mais sobre aquele assunto e estará apto a construir hipóteses. Como

qualquer pesquisa ela depende também de uma pesquisa bibliográfica, pois mesmo

que existam poucas referencias sobre o assunto pesquisado, nenhuma pesquisa

hoje começa totalmente do zero. Haverá sempre alguma obra que oferecem

experiências ou análise com problemas semelhantes que estimulam a compreensão

Santos (2011 p.01) afirma que “a pesquisa descritivo-exploratória é utilizada

para realizar um estudo preliminar do principal objetivo da pesquisa que será

realizada, ou seja, familiarizar-se com o fenômeno que está sendo investigado, de

modo que a pesquisa em si possa ser concebida com uma maior compreensão e

precisão.”.

Sendo que um dos instrumentos utilizados para verificar se os objetivos

propostos foram alcançados foi à aplicação do teste D2: atenção concentrada. Neste

teste, a tarefa do aluno será o de riscar as letras d acompanhadas de dois traços,

que podem estar em cima embaixo ou um embaixo e outro em cima, conforme os

exemplos da folha de respostas. Primeiramente é feito um exercício de treino. Em

seguida a pessoa que for aplicar o teste explica quais os sinais que deveriam ter

sido marcados para que os próprios alunos façam à correção. Após virar a folha, o

examinador deverá riscar os mesmos sinais, sendo que o tempo limite é de 20

segundos para realizar cada linha, quando o examinador avisa para passar para a

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próxima linha. Os sinais a serem marcados estão misturados a outros semelhantes

distribuídos em 14 linhas.

Este teste é de avaliação fácil e rápida, onde o número de sinais

examinados nas 14 linhas constitui o resultado bruto (RB). Calcula-se a

porcentagem de erros (E%) em relação ao resultado bruto e o resultado líquido (RL),

que é a diferença entre o resultado bruto e o total de erros. É também avaliada a

flutuação do desempenho durante a execução do teste através da amplitude de

oscilação (AO). As normas fornecem percentis, para RB,RL,E% e AO.

8 Desenvolvimento do Projeto

Inicialmente foi feita uma explanação para os alunos sobre o projeto e logo

após foi aplicado o pré-teste, somente então foram iniciadas as sessões. Estas

sessões foram teóricas e práticas, onde foi apresentando a historicidade

do xadrez, sua importância, onde surgiu, a lenda de Sissa entre outros. A

iniciação começou através de apostilas e vídeos com a apresentação do

tabuleiro e suas características, a ordem de colocação das peças no

tabuleiro, torre, cavalo, bispo, dama, rei e peão e sua movimentação. Na

seqüência passamos para os jogos enxadrísticos de iniciação (ex: mina,

batalha naval, gato e o rato, etc.) para fixação de como as peças andam e

capturam. Para iniciação do jogo propriamente dito houve uma

explanação sobre movimentos especiais e outros fundamentos do xadrez:

xeque, xeque-mate, roque maior e menor, peão en-passant, casos de

empate, promoção, aberturas simples. Nesta fase os alunos passaram por

várias sessões práticas e dirigidas, sendo finalizadas com o Torneio de

Xadrez.

9 RESULTADOS E DISCUSSÃO

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Após o desenvolvimento do trabalho prático, foi aplicado o teste D2: atenção

concentrada, onde foram obtidos os seguintes resultados.

PERCENTIS

Antes RB TE RL E% Ao Depois RB TE RL E% AoAluno A 25 X 40 90 75 Aluno A 50 X 60 75 90Aluno B 50 X 60 75 50 Aluno B 70 X 75 90 75Aluno C 95 X 90 25 50 Aluno C 99 X 99 10 25Aluno D 50 X 90 25 50 Aluno D 99 X 99 75 90Aluno E 60 X 60 50 75 Aluno E X X X X XAluno F 40 X 50 75 75 Aluno F 80 X 90 75 75Aluno G 20 X 20 25 75 Aluno G 40 X 50 50 90Aluno H 60 X 70 75 90 Aluno H 90 X 95 90 75

* Teste aplicado pelo Psicólogo Ocimar Aparecido Dacome.Legendas: RB – Resultado Bruto / TE – Total de Erros / RL – Resultado Líquido – Desempenho total / E% - Porcentagem de Erros / Ao – Oscilação de Desempenho.

Segundo o psicólogo Ocimar Aparecido Dacome, colaborador na aplicação

do teste D2 deste estudo, quando se aplica um teste alguns fatores devem ser

levados em consideração tais como: como o aluno se encontra emocionalmente ao

se realizar o teste, bem como o local e o horário que o mesmo foi realizado.

De acordo ainda com ele o teste não analisa com certeza se o aluno

aprendeu ou deixou de aprender, após o desenvolvimento do projeto, para ele, o

profissional que poderá melhor diagnosticar será o professor de sala de aula ou o

que desenvolveu o projeto que esta com o aluno no seu dia a dia.

Para o presente estudo que visa quantificar a atenção concentrada, foi

utilizado o RL que especifica o “Resultado Líquido”. É importante enfatizarmos que o

resultado quantitativo referente à “Atenção Concentrada” não implica

necessariamente na qualidade desta atenção, para tanto deveria relativizar o

resultado cruzando com o E% (Porcentagem de erro). Assim poderíamos observar

se a rapidez é acompanhada da precisão.

Os resultados foram extraídos do teste D2 aplicado em oito alunos da turma

que participaram da pesquisa.

Ao observarmos os resultados percebe-se que ao comparar-se o antes e o

depois da prática do xadrez, que a prática elevou a atenção concentrada dos alunos,

ou seja, os mesmos mantém mais atenção nos trabalhos desenvolvidos.

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De acordo com Boujou e Quaireau (2000, p.08) “a eficácia e a rapidez da

atenção dependem do nível de vigilância ou de alerta no momento em que a

exercíamos, mas também de nossa capacidade de mantê-la.” Assim, podemos

colocar que a prática do xadrez influenciou nessas características.

No gráfico abaixo podemos observar o resultado líquido (RL) que se os

alunos apresentaram antes e depois da prática do jogo de xadrez.

Resultado Líquido - RL

0

20

40

60

80

100

120

aluno

A

aluno

B

aluno

C

aluno

D

aluno

E

aluno

F

aluno

G

aluno

H

antes

depois

Gráfico - Resultado Líquido (RL)

De acordo com Brickenkamp (2000), o resultado líquido indica a atenção

concentrada, que por meio da comparação percebe-se que os alunos obtiveram um

aumento na mesma.

BLANCO (2008) escreve que estudos desenvolvidos sobre o

desenvolvimento da concentração em adolescentes e crianças pode-se perceber

que o progresso mais acentuado do desenvolvimento da concentração aconteceu no

inicio do estudo e da prática do jogo de xadrez.

Segundo Dauvergne (2011) a concentração e a atenção são desenvolvidas

ou estimuladas pelo xadrez, devido a sua própria natureza que apresenta um

conjunto em constante mudança de problemas e, um deslize na concentração pode

conduzir a um erro simples, ou mesmo levar ao termino da partida.

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Outro autor que vem a afirmar a influencia do jogo de xadrez no estimulo ou

desenvolvimento da concentração e da atenção é Celone (2011), segundo ele são

fatores reconhecidos desenvolvidos pelo jogo de xadrez a concentração, a atenção,

o raciocínio abstrato entre outros, e decorrente de tais fatores que os educadores

estão acrescentando o jogo de xadrez entre as suas estratégias.

Pode-se concluir que essa melhora também pode ser ligada a uma possível

melhora no rendimento escolar, pois quanto mais concentrado o aluno, mais

facilidade ele poderá ter de aprendizagem, seno assim, podemos afirmar que o jogo

de xadrez pode vir a ser um rico instrumento pedagógico.

10 Considerações Finais

O xadrez devido as suas características e seus já comprovados benefícios

(tais como o desenvolvimento de habilidades cognitivas como: atenção,

concentração, imaginação, criatividade, entre outros), vem se destacando cada vez

mais no âmbito educacional. Basta saber explorar todas as possibilidades de utilizá-

lo nas aulas, buscando sempre extrair o conteúdo a partir do jogo.

Após a realização da pesquisa concluímos que quanto aos objetivos de

identificar a capacidade de concentração e do raciocínio lógico por meio da prática

do Xadrez Escolar, ele só foi alcançado parcialmente, isto é, quanto à identificação

da capacidade de concentração, que foi obtida através da aplicação do teste D2.

Quanto ao raciocínio lógico sua identificação não pode ser devidamente

identificada, pois além do teste aplicado não contemplar tal habilidade, também não

foi possível fazer à transferência dessa habilidade para outras disciplinas para

concluir sobre os efeitos reais que a prática do xadrez pode exercer.

Quanto à de promoção de encontros para a troca de experiência no xadrez

escolar, ele foi alcançado plenamente quando da realização dos jogos de xadrez

entre os alunos.

E quanto ao terceiro objetivo que era o de comparar os resultados iniciais e

finais em relação ao desenvolvimento da atenção e concentração, de modo a indicar

possíveis progressos, isso atingido, quando observarmos o gráfico 01.

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Diante do exposto, sugerimos que os professores se aliem, com o objetivo

de redimensionar a prática do jogo de xadrez no contexto escolar, afim de

proporcionarem experiências de aprendizagem enriquecedoras aos alunos.

Para finalizar, entende-se que, pelos resultados alcançados, é possível

afirmar que o jogo pelo jogo não faz milagre, possui quando utilizado corretamente,

torna-se uma valiosa ferramenta pedagógica, contribuindo para o enriquecimento

das habilidades que levam à melhoria do desempenho escolar.

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