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VÍTOR POMARKarmamudra
SETEMBRO A OUTUBRO DE 2012
“UMA PÁTRIA ASSIM…”: A TRILOGIA
São três as exposições realizadas entre Junho e Outubro 2012, todas elas constituídas quase exclusivamente por pintura recente (2006-2012).
Desta feita completa-se uma trilogia coroada por um título que invoca uma visão abrangente da verdadeira pátria que é o quadro de referências em que nos apoiamos, e que se manifesta no conhecimento de si próprio que cada um persegue. A desestabilização que não deixará de surgir nos momentos de crise, pode levar à descoberta de valores profundos supostamente garantidos. Sabe-mos que são inúmeros os conceitos inquestionados que formam o palco em que evolui a nossa passagem pela existência sempre misteriosa, inter-agindo com uma realidade de incalculáveis dimensões. O conhecimento deste universo referencial pode dar lugar a um posicionamento lúcido perante as opções que constantemente actualizamos e que vão definindo a órbita em que cada um imperceptivelmente se situa. É este o sentido que transpira e transparece através dos diversos elementos conjugados na trilogia “UMA PÁTRIA ASSIM…”.
“OS ATRIBUTOS DO AR” (14 de Junho a 30 de Julho, Galeria Bloco 103, Lisboa), é dedicada a todas as culturas nativas, prenhes de sabedoria e em profunda ligação com a natureza, toma o seu título de empréstimo a um texto do poeta peruano César Calvo que descreve a magia dos sons da floresta, por onde podemos aceder a uma visão do mundo tanto mais real quanto bem para além do senso comum.
Entre Julho e Setembro, sob o título “UMA PÁTRIA ASSIM…”, uma série de 21 pinturas de grande formato, algumas constituindo dípticos e trípticos, ocupa (5 Julho a 16 de Setembro) o grande espaço expositivo do Museu da Electricidade, Central Tejo, Lisboa. A 21 de Agosto, uma renovada montagem permite a substituição parcial dos quadros expostos e abre a oportunidade para um encontro (15 de Setembro) com a professora Raquel Henriques da Silva. Em complemento, um depoimento em vídeo, de cerca de uma hora de duração, editado para a exposição mas registado em 2009, procura esclarecer o quadro de referências que suportam a prática criativa, posicionamento pessoal em relação ao processo criativo, bem como à função da cultura e sentido da existência em geral. É precedido por um curto documentário realizado em 1985 mas só agora tornado acessível: “Portugal Revisitado, vencer o bem e o mal” permite descobrir semelhanças profundas e uma certa continuidade com a situação que se vive actualmente no país.
Finalmente, KARMAMUDRA é a designação que convém à exposição que a Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda acolhe entre Setembro e Outubro 2012, onde se invoca a dimensão simbólica que está presente em toda a actividade humana e em parti-cular nos relacionamentos e união de energias.
Vítor PomarAssentiz, 10 de Junho de 2012
O OLHAR PACIFICADO
Por pouco que o mental se tranquilize, assim a visão se torna penetrante e penetrada, aberta.
Foi o que me aconteceu quando um dia estava sentado na sala de meditação onde mantenho um altar (que coabita com alguns quadros encostados às paredes) e onde procuro passar diariamente alguns momentos de liberdade dos afazeres que nos preenchem a vida que se esvai (?).
Ao pousar o olhar sobre um quadro que tinha sobrado da selecção feita dias antes para esta exposição, qual não foi o meu espanto quando aquele que me tinha parecido dispensável no conjunto dos quadros escolhidos, se me revelou como sendo “o melhor deles todos”!
É assim, o olhar com os seus requisitos.
Chama-se ‘mente de principiante’, rara e preciosa que permite ver sem interferência dos circuitos pensantes que apenas permitem ‘tratar informação’ o que nos deixa muito aquém da pura presença.
Uma outra peça aqui presente junta fotografias e notas de leitura.
Leva o título “La ferveur des choses”; “Comparada com o fervor das coisas, a sua pintura deixava-o insatisfeito.” (Van Gogh referido em “O homem sem qualidades”, de Robert Musil).
Assim se completa um percurso sem percurso, em que a totalidade parece estar presente em cada instante e em cada coisa em que tropeçamos, bêbados que nós somos.
Vítor PomarAssentiz, 23 de Junho de 2012
Exposições individuais (selecção) / Solo exhibitions (a selection)
2012
“Karmamudra”, Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guarda, Setem-bro-Outubro
“Os Atributos do Ar / The Attributes of Air”, Galeria Bloco 103, Lisboa, Junho-Agosto
“Uma Pátria Assim.../ Such a Homeland...”, Pintura, EDP, Museu da Elec-tricidade, Lisboa/Lisbon
2011 “Nada para fazer nem sítio aonde ir/Nothing to do nowhere to go”, CAM
– Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa/Lisbon
2008 Só Acredito em Milagres/I Only Believe in Miracles, Centro Cultural de
Cascais, Cascais (Portugal). (Cat.) Texto de/Text by Delfim Sardo, «Há um abismo entre dois frames»
2007 Ilha do Tesouro 1977-2007/Treasure Island 1977-2007, Galeria Antiks
Design, Lisboa/Lisbon (Maio/May). Curadoria de/Curated by M. Céu Baptista. (Cat.) Texto de/Text by M. Céu Baptista, «Isto não é o que parece»/“It is not what it looks like”
2006 Nada de Especial, Casa da Cultura de Rio Maior, Rio Maior (Portugal).
Texto VP: “Nada de Especial”. Tirar Daí o Sentido, Galeria A H, Viseu (Portugal). (Cat.) Textos de/Texts
by M. Céu Baptista, «O que está aqui está algures», e/and Vítor Pomar, «A vida em queda livre»
Deitar as mãos à cabeça, pintura, Galeria das Antas, Porto
2005 Álbum de Família – I love my photos 3, Galeria Municipal TREM, Faro
(Portugal) Micropráticas, LISBOAPHOTO, Museu Nacional de Arte Antiga, Lisboa/
Lisbon. Comissário/Curator Sérgio Mah. (Cat.) Texto de/Text by Nuno Faria, «Objectos do acaso de passagem como o vento»
2004 I love my photos, primeira parte 1990-1994, Índia, Sikkim, Butão, Nepal,
Galeria Neupergama, Dezembro/December 2004. (Cat.) Textos de/Texts by Eglantina Monteiro, “I love my photos-Poema contemplativo” e/and Vítor Pomar
New York City Blues – Fotografia 1982, Lagar de Azeite, Oeiras (Portu-gal). Comissário/Curator Nuno Faria: “Passagens”
Vítor Pomar, Fidelidade-Mundial Chiado 8 Arte Contemporânea, Lisboa/Lisbon. (Cat.) Texto de/Text by Raquel Henriques da Silva, «A redenção pela pintura»
2003 Vítor Pomar – My Own Battlefield (O Meu Campo de Batalha), Museu de
Arte Contemporânea de Serralves, Porto. (Cat., Museu de Arte Contempo-rânea de Serralves/Edições ASA). Vol. I – Textos de/Texts by: João Fer-nandes, «Vítor Pomar: notas sobre a constante interrogação do ser através da criação»/“Vítor Pomar: notes on the constant questioning of being through creatiioon”; Maria Filomena Molder, «Depósitos de pó e folha de ouro»/“Dust and gold leaf deposits”; Delfim Sardo, «Reconhecimento de campo»/“Reconnaissance”. Vol. II – Vítor Pomar, antologia de textos/Anthologie of texts
Coincidência auspiciosa: Vítor Pomar 1965-2002/Auspicious coincidence: Vítor Pomar 1965-2002, António Henriques – Galeria de Arte Contempo-rânea, Viseu (Portugal). (Cat.) Texto de/Text by Delfim Sardo, «Uma razão intuitiva»/“A rational intuition”. Contém uma brochura com entrevista realizada por Alexandre Melo no programa «Os dias da arte» (RDP1, 14 de Novembro de 2002)
2000 Vive la France, Vítor Pomar, Cooperativa Árvore, Porto. (Cat.) Texto de/
Text by Jorge Calado, «As coisas e as sombras» Slow Motion: Vítor Pomar, Art Attack + Estgad, Caldas da Rainha (Portu-
gal). Comissário/Curator Miguel Wandschneider. (Cat.) Texto de/Text by Miguel Wandschneider
1999 Vítor Pomar: Foro Íntimo, Câmara Municipal de Loulé, Loulé (Portugal)
1998 Vítor Pomar. Fotografia 1970/1974, CAM – Fundação Calouste Gul-
benkian, Lisboa/Lisbon
Últimas exposições colectivas / Latest group exhibitions
2012 Entre Espaços, 22 artistas da colecção do CAM, F. C. Gulbenkian, 31 Maio
a 26 Agosto
Presenças, Obras da Colecção de Arte da Fundação EDP no Museu Muni-cipal Amadeu de Souza-Cardoso em Amarante
2009 Serralves 2009, a Colecção, Museu de Arte Contemporânea de Serralves,
Porto.
2007 Transfert. Obras do CAMJAP em Itinerância, CAM – Fundação Calouste
Gulbenkian, Palácio da Galeria/Museu Municipal de Tavira, Tavira (Portu-gal)
2006 Residências, Museu do Caramulo (Portugal) Vídeo: Sebastião e Ágata texto VP (comunicação) : “Residir”
2005 BESphoto, Centro Cultural de Belém, Lisboa/Lisbon. (Cat.) Texto de/Text
by Anabela Mota Ribeiro, «I love my world»
2002 Arte Contemporânea: Colecção Caixa Geral de Depósitos – Novas Aquisi-
ções, Culturgest, Lisboa/Lisbon Zoom 1986-2002: Colecção de Arte Contemporânea Portuguesa da Funda-
ção Luso-Americana para o Desenvolvimento, Uma Selecção, Fundação de
Vítor Pomar
Nasceu em 1949, em Lisboa.Vive e trabalha em Assentiz, Rio Maior (Portugal).Born in 1949, in Lisbon.Lives and works in Assentiz, Rio Maior (Portugal).
Serralves, Porto EDP.Arte: Prémio Desenho, Prémio Pintura, Sociedade Nacional de Belas-
Artes, Lisboa/Lisbon Caravelas, Art et Littérature du Portugal Aujourd’hui, Centre d’Art et
d’Échanges Culturels de Pignans, Pignans (França/France) Na Paisagem: Colecção da Fundação de Serralves, Museu Almeida Moreira,
Viseu (Portugal)
2001 Autoportraits, œuvres sur papier de la collection du Centre d’Art Moderne
José de Azeredo Perdigão de la Fondation Calouste Gulbenkian, Centre Cul-turel Calouste Gulbenkian, Paris
1999 Auto-Retratos da Colecção, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa/
Lisbon Circa 1968, Museu de Arte Contemporânea de Serralves, Porto Linhas de Sombra, CAM – Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa/Lisbon
Prémios
2002 Prémio de Pintura EDP. Arte
Filmografia / Filmography
“R” (A film in 3 episodes), 1974-78 16 mm, p/b, som, 91’ 22” | 16 mm, b/w, sound, 91’ 22”
My Education, 1974-80 16 mm, p/b, som, 36’36” |16 mm, b/w, sound, 36’36”
Musicians’s Portrait, 1979 16mm, p/b, som, 44’31” |16 mm, b/w, sound, 44’31”
Portugal Revisited, kwaad en goed overwinnen / Portugal Revisitado: Vencer o mal e o bem, 1983, 16 mm, cor, som, 13’54’’
Fotografia: Ruud Molleman Vozes: Harry Hoogstraten, Synco van Keulen, Gernt Pasman, V. Pomar, Tia
Pstma, Jan Verbung, Marijke Zijlstra Textos: Agustina Bessa LuÌs, LuÌs de Camões, Sophia de Mello Breyner An-
dersen, Fernando Pessoa, Aquilino Ribeiro e António José Saraiva
Zen Sermon I, 1984, performer: Annelies van Dooren, voz/voice Eduardo Sotillo, texto/text: Manzan (1635-1714)
Super 8, cor, som, 25’ 22’’ | Super 8 mm, colour, sound, 25’ 22”
Zen Sermon II , 1972-2003 MiniDV, cor, som, 95’ | MiniDV, colour, sound, 95’ Texto/text: “Folhas caem, um novo rebento / Falling leaves, a shooting
sprout”, Hogen Yamahata, Ed. Assírio e Alvim.
Life Story, 1996-2001 V8, cor, som, 74’ 14’’ | V8, colour, sound, 74’ 14’’ Transferido para DVD | Transferred to DVD
Sebastião e Ágata, 2005 MiniDV, cor, som, 22’ 19’’ | MiniDV, colour, sound, 22’ 19’’ Transferido para DVD | Transferred to DVD MahaKaruna. Daniel Odier au Portugal, 2004 Mini DV, cor, som, 51’ 10”
As Doze Risadas Vajra ou o Riso do Heruka, 2004-08 MiniDV, cor, som, 106’ 11’’ Transferido para DVD Keith Dowman comenta Tesouro da Perfeição Natural de Rabjam
Longchenpa Kokoni, Grécia 2004
“Micropráticas...NADA DE ESPECIAL...” MiniDV, cor, som, 30 min.
Flores: quatro curtas, 2003-10 VF Show 2003, 3’44” In Memoriam LCP, 10’48” Júlio Pomar, Visita ao Atelier, 15’25” Flores, 36’17” MiniDV, cor, som Realização e montagem: Vítor Pomar Edição vídeo: Max Rosenheim
O Lago da Consciência e a Montanha dos meios hábeis. Notas duma Peregrinação a Locais Sagrados do Tibet, 2008 MiniDV, cor, som, 56’ 43’’ Director da expedição: Keith Dowman
Vote for OKC Monastery, 1994-2011 V8, cor, som, 67’ | V8, colour, sound, 67’
Dharma Life, 1994-2011 V8, cor, som, 77’ 53’’ | V8, colour, sound, 77’ 53’’
Uma Pátria assim… o depoimento / Such a homeland… the statement, 2009-2012
Mini DV, cor, som, 58’ 54’’
Sinais e semelhança, 2012, 13’ Graça Costa Cabral na galeria Giefarte, Lisboa.
Vídeo digital
150 x 220 Cm | 2010 | Acrílico sobre tela
148 x 220 Cm | 2010 | Acrílico sobre tela
Signless | 110 x 160 Cm | 2009 | Acrílico sobre tela
160 x 110 Cm | 2009 | Acrílico sobre tela
O lago, d’après Coubert | 150 x 352 Cm | 2009 | Acrílico sobre tela
Effortless | 96 x 156 Cm | 2007 | Grafite sobre tela
Karmamudra | 100 x 135 Cm | 2007 | Acrílico e pastel sobre tela
Playground | 150 x 150 Cm | 2006 | Acrílico sobre tela
Sky/Mind dance | 150 x 185 Cm | 2005 | Acrílico sobre tela
155 x 145 Cm | 2005 | Acrílico sobre tela
Duas figuras (Anunciação?) | 145 x 170 Cm | 2005 | Acrílico sobre tela
Ornamento de Sabedoria | 145 x 145 Cm | 2002 | Acrílico sobre tela
La ferveur des choses
Abandonar: o pensamento discursivo, os três venenos, o espírito convencional, a ilusão mental, a vacuidade, a virtude e o erro. Quando o espírito olha o espírito, o pensamento dis-cursivo cessa e a iluminação é alcançada.
O olhar pacificado.
La ferveur des choses
Todos os fenómenos sem excepção. Nenhuma técnica! Uma técnica é apenas memória. A vontade bloqueia a criatividade. Quando deixamos de pensar, recebemos algo que nos ultrapassa. O criador é aquele que se cala. A obra é a sua própria razão. Todos os projectos são medíocres. Cada instante é criativo: há célu-las que nascem, outras que morrem, tudo é criatividade. A transposição da metafísica deve ser de um absoluto rigor quanto ao fundo e duma total liberdade quanto à forma. Um único pensamento e o círculo quebra-se.
La ferveur des choses
Coberto de neve, o caminho montanhoso que ondula à volta das rochas, chegou ao fim; aqui está uma cabana, o mestre está só; não tem visitas, nem são esperadas.
O objectivo do desenvolvimento psíquico é o SI. A evolução não é linear; há apenas uma circum-ambulação do ser. Tudo aponta para o centro.
La ferveur des choses
Comparada com o fervor das coisas, a sua pintura deixava-o insatisfeito.
O risco da experiência interior, a aventura do espírito, é em todo o caso, estranha à maioria dos seres.
La ferveur des choses
O tantrismo é a arte de explorar o pressentimento da vida, continuamente. A atitude tântrica é uma maneira de se aproximar das regras cósmicas, uma maneira de sentir os laços de unidade entre todos os seres. …O tantrismo é a arte de celebrar o sublime na vida quotidiana. O budismo tântrico é uma aproximação dualista camuflada sob conceitos não dualistas oriundos do shivaísmo da Índia. Se vivemos na memória, o espírito é demasiado lento para responder à novidade do momento. No instante, um ego nunca é possível, porque o ego não existe na fruição do momento. (…) O ego faz-nos viver na memória, totalmente separado da vida. A natureza da vida é vibração, contracção, expansão, criação, destruição. Só quem pressentiu um silêncio não objectivo, pode reconhecer aquele que está verdadeiramente em silêncio.
VÍTOR POMARKarmamudra
Exposição patente na Galeria de Arte do Teatro Municipal da Guardade 8 de Setembro a 28 de Outubro de 2012
TEATRO MUNICIPAL DA GUARDA / CULTURGUARDARua Batalha Reis, Nº 12, 6300-668 Guarda, Portugal
www.TMG.COM.PT
DIRECÇÃO ARTÍSTICAAMÉRICO RODRIGUES
CATÁLOGOCoordenação e grafismo SÉRGIO CURRAIS
Textos VÍTOR POMARFotos da série “La ferveur des choses” MAx ROSENHEIM
Impressão TIPOGRAFIA BEIRA ALTATiragem 300 ExEMPLARESISBN 978-989-8354-20-4
EXPOSIÇÃO Assistente de Programação SÍLVIA FERNANDES
Produção LUCINDA GOMESMontagem ALCIDES FERNANDES, ARMANDO NEVES
Patrocinador da Galeria de Arte