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Especialistas contradizem Cavaco Silva PRESIDENTE CHAMOU MASOQUISTAS AOS QUE DEFENDEM INSUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA AQUILES PINTO Cavaco Silva não tem razão quando chama masoquistas aos que defendem que a dívida pública portuguesa é insustentável de acordo com os economistas ouvidos pela Vida Econó mica Recorde se que o Presidente da República afirmou na visita que fez à Suécia na sema na passada ser masoquismo dizer que a dívida pública portuguesa não é sustentável uma opi nião entretanto corroborada pela ministra das Finanças Surpreende me que em Portugal existam analistas e até políticos que digam que a dívida pública não é sustentável disse o chefe de Es tado aos jornalistas durante a visita oficial que fez Cavaco Silva referiu ainda que a própria troika considera a dívida pública nacional sustentável e questionou por que são os próprios portugueses os devedores a dizerem que esta não é sustentável uma palavra para definir esta atitude masoquismo atirou o Presidente da República Ricardo Arroja Uma questão de imagem externa Nenhum dos seis especialistas contacta dos pelo nosso jornal concorda com a qua lificação de masoquistas que Cavaco Silva fez Ricardo Arroja da Pedro Arroja Ges tão de Patrimónios considera que defender que a dívida portuguesa não é sustentável e que será difícil de pagar nos moldes atuais é realista Existem dois critérios frequente mente utilizados para aferir da sustentabi lidade da dívida pública Primeiro o rácio juros pagos receitas fiscais obtidas igual ou superior a 20 estamos no limiar da sustentabilidade E um segundo critério mais importante ainda que é o PIB no minal maior do que o custo médio sobre o stock de dívida pública ora neste critério estamos numa situação de manifesta insus tentabilidade disse o economista à Vida Económica Ricardo Arroja interpreta por isso que as palavras de Cavaco Silva como o discurso do Chefe de Estado que despindo as suas vestes de economista procura salvaguardar a ima gem externa do país Filipe Garcia Palavras com pouco eco Filipe Garcia economista e presidente da IMF não acredita que as palavras de Cavaco tenham tido uma repercussão muito forte nos mercados nem na troika O especialista revê se na opinião do gover nador do Banco de Portugal Carlos Costa para quem a dívida é sustentável a partir do momento em que fica sob controlo e a partir do momento em que a economia começa a crescer Ou seja se o caminho traçado nos úl timos anos se mantiver dívida a subir e PIB a cair ou a crescer pouco a dívida não será sustentável Porém é algo sobre o qual se pode agir e por isso é uma pergunta com resposta em aberto em função do que for sucedendo em termos de crescimento e défice considera o presidente da IMF Salvador Nobre da Veiga Realismo e não masoquismo Salvador Nobre da Veiga account manager da XTB refere se em declarações à Vida Económica a realismo Masoquismo é pensar que a dívida pública é sustentável aos atuais níveis e sobretudo aliado ao facto de as várias medidas necessárias à diminuição do peso dessa mesma dívida de forma a torná la sustentável serem constantemente rejeitadas por um número restrito de pessoas enviesadas refiro me aos juízes Tribunal Constitu cional considera A mesma fonte considera que com uma dívida pública de 130 do PIB sensivel mente e com défice constante na casa dos 57 é impossível fazer com que a dívida diminua nos moldes atuais Nobre da Vei ga defende por isso que ou existe algum tipo de reestruturação ou uma desvaloriza ção da moeda o que nos levaria a ter que sair do euro Vida Económica 40 a 41 S/Cor 525 26000 Nacional Economia/Negócios Semanal Página (s): Imagem: Dimensão: Temática: Periodicidade: Classe: Âmbito: Tiragem: 11102013 Economia

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EspecialistascontradizemCavacoSilva PRESIDENTE CHAMOU MASOQUISTAS AOS QUE DEFENDEM INSUSTENTABILIDADE DA DÍVIDA PÚBLICA PORTUGUESA

AQUILES PINTO

Cavaco Silva não tem razão quando chamamasoquistas aos que defendem que a dívidapública portuguesa é insustentável de acordocom os economistas ouvidos pela Vida Económica Recorde se que o Presidente da Repúblicaafirmou na visita que fez à Suécia na semana passada ser masoquismo dizer que a dívidapública portuguesa não é sustentável uma opinião entretanto corroborada pela ministra dasFinanças

Surpreende me que em Portugal existamanalistas e até políticos que digam que a dívidapública não é sustentável disse o chefe de Estado aos jornalistas durante a visita oficial quefez Cavaco Silva referiu ainda que a própriatroika considera a dívida pública nacionalsustentável e questionou por que são os própriosportugueses os devedores adizerem que esta nãoé sustentável Só há uma palavra para definiresta atitude masoquismo atirou o Presidenteda República

RicardoArroja Uma questãode imagem externa

Nenhum dos seis especialistas contactados pelo nosso jornal concorda com a qualificação de masoquistas que Cavaco Silvafez Ricardo Arroja da Pedro Arroja Gestão de Patrimónios considera que defenderque a dívida portuguesa não é sustentável eque será difícil de pagar nos moldes atuais

é realista Existem dois critérios frequentemente utilizados para aferir da sustentabilidade da dívida pública Primeiro o ráciojuros pagos receitas fiscais obtidas igualou superior a 20 estamos no limiar dasustentabilidade E um segundo critériomais importante ainda que é o PIB nominal maior do que o custo médio sobre ostock de dívida pública – oranestecritérioestamos numa situação de manifesta insustentabilidade disse o economista à VidaEconómicaRicardo Arroja interpreta por isso que as

palavras de Cavaco Silva como o discurso doChefe de Estado que despindo as suas vestesde economista procura salvaguardar a imagem externa do país

Filipe Garcia Palavras compouco eco

Filipe Garcia economista e presidenteda IMF não acredita que as palavras deCavaco tenham tido uma repercussãomuito forte nos mercados nem na troikaO especialista revê se na opinião do governador do Banco de Portugal Carlos Costapara quem a dívida é sustentável a partirdo momento em que fica sob controlo ea partir do momento em que a economiacomeça a crescer

Ou seja se o caminho traçado nos últimos anos se mantiver – dívida asubirePIB a cair ou a crescer pouco –adívidanão será sustentável Porém é algo sobre oqual se pode agir e por isso é uma perguntacom resposta em aberto em função do quefor sucedendo em termos de crescimento e défice considera o presidente da IMF

Salvador Nobre daVeiga Realismoe não masoquismoSalvadorNobre daVeiga accountmanager

da XTB refere se em declarações à VidaEconómica a realismo Masoquismo épensar que a dívida pública é sustentável aosatuais níveis e sobretudo aliado ao facto deas várias medidas necessárias à diminuição dopeso dessa mesma dívida de forma a torná lasustentável serem constantemente rejeitadaspor umnúmero restrito de pessoas enviesadas– refiro me aos juízes doTribunalConstitu

cional consideraA mesma fonte considera que com uma

dívida pública de 130 do PIB sensivelmente e com défice constante na casa dos5 7 é impossível fazer com que a dívidadiminua nos moldes atuais Nobre da Vei

ga defende por isso que ou existe algumtipo de reestruturação ou uma desvalorização da moeda o que nos levaria a ter quesair do euro

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Âmbito:Tiragem:11­10­2013

Economia

Albino Oliveira Dívida portuguesainferior à grega

Albino Oliveira analista demercados da Fincor

Albino Oliveira analista de mercados daFincor não refere diretamente se concordacom as palavras do Presidente da Repúblicamas recorda que a dívida pública é inferior àgrega e semelhante às belga e italiana Apósa conclusão da recente avaliação por parte datroika é agora previsto que a dívida públicaem percentagem do PIB atinja um máximopróximo dos 127 8 este ano para nos anos

seguintes baixar gradualmente Uma estabilização da dívida junto dos atuais patamarescompara favoravelmente com a situação quea Grécia apresentava junto dos 160 doPIB quando o país foi sujeito a um processode reestruturação na sua dívidapública disseà Vida Económica

Adicionalmente se os nossos parceiroseuropeus considerassem a dívida pública portuguesa insustentável nos 127 8 do PIBpoderemos perguntar nos qual seria o efeitocontágio em países como a Bélgica ou a Itália Recorde se que em Itália o orçamentode Estado para 2014 antecipa que este ráciopossa situar se junto dos 132 9 no final de2013 antes de baixar para 120 1 do PIBem 2017 salienta Albino OliveiraNa opinião do analista de mercados da

Fincor a sustentabilidade da dívida pública portuguesa irá depender essencialmentede quatro fatores crescimento da economiaportuguesa evolução da execução orçamental evolução das taxas de juro em mercadosecundário e progressos no processo de integração europeu Os dois primeiros pontosrepresentam preocupações mais importantesno curto prazo enquanto o terceiro pontodeverá ver a sua importância crescer no próximo ano com o final do atual programa datroika e o pretendido regresso de Portugalaos mercados explica

Alexandre Mota Uma questão de perceçãoda verdade

Alexandre Mota diretor executivo da GoldenBroker discorda totalmente das palavrasde Cavaco Silva Dizer aquilo que é a nossaperceção da verdade não é masoquismomas sim o primeiro passo para ultrapassar osproblemas indicou nosA nossa fonte explica que a dívida éinsustentável quando é impossível de ser pagaou refinanciada conduzindo à bancarrotaA bancarrota pode consubstanciar se numdefault explícito ou num default implícito Odefault explícito passa por uma reestruturaçãoda dívida que pode envolver perdão de jurose ou capital alargamento de prazo ou umacombinação de ambos O default implícitopassa pela impressão monetáriaA realidade é que o quociente referido nãotem parado de crescer nos últimos anos antese depois da troika e isso não pode durar parasempre Nesse sentido é claro que a trajetóriade crescimento da dívida é insustentável Istonão é masoquismo é aritmética simplessustenta Alexandre Mota O especialista refereque matematicamente é possível dizerque a trajetória pode ser invertida se houvercrescimento que permita que o denominadorcresça mais rápido que o numerador Tendoem conta um stock de dívida de 120 do PIBe uma inflação de 2 precisamos de crescer3 ao ano mas na realidade aquilo que o

mercado exige está intimamente ligado comperceção que omercado tem sobre a nossacapacidade de crescimento Se percecionarque vamos crescer bem exige menos jurose se percecionar que não vamos crescer vaiexigir mais garantias leia se juros mais altos

É verdade que há sinais de recuperaçãomas estão muito longe do break even indicao diretor executivo da Golden Broker Averdade é que a única hipótese de tornarmosa nossa dívida sustentável é provarmos aosnossos credores que conseguimos inverter atrajetória insustentável do rácio referido Naminha opinião já não há forma de o fazer sempassar por uma renegociação da dívida Essaé a única forma de extirpar o cancro destemovimento circular remata Alexandre Motapara quem a opinião do Sr Presidente daRepública é legítima numa tentativa de elevaras expectativas e influenciar os mercados

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João Pereira Leite Trajetória da dívida pública é insustentávelJoão Pereira Leite diretor de investimentos doBanco Carregosa acedeu a comentar o tema àVida Económica mas sublinhou não estar areferir se em concreto às palavras de CavacoSilva pois realça que a entidade nunca seenvolve em disputas políticas A nossa fontedefende ainda assim que ninguém temdúvidas que a trajetória da dívida públicaportuguesa é insustentável pois o país já estácom um rácio dívida PIB de 127 Sabemosque a dívida sobe a um ritmo próximo de4 ao ano que o PIB continua a cair e quecontinuaremos a acumular défices públicos nospróximos anos Ou seja o rácio continuará adeteriorar se nos próximos tempos afirmaO especialista avisa por isso que algo teráde mudar Para evitar uma reestruturação dadívida só há uma de duas saídas produzirmais ou gastar menos ou ambas Teremos quecrescer mais do que 4 ao ano e ou ajustar asdespesas do Estado às suas receitas As duasestão interligadas mas a intervenção do Estadoé mais urgente e de efeitos mais rápidos nasegunda via através da redução da despesa edo défice salienta João Pereira LeiteO diretor de investimentos do Carregosa

recorda que nos últimos 15 anos Portugalteve um défice público médio PIB superiora 3 5 ou seja é dos países europeus commaior desequilíbrio orçamental Acumularmais défice tal como fizemos nos últimosanos não só não ajudou o país a crescer comoo fez acumular mais dívida o que significamais impostos no futuro Ajustar pelo ladoda receita começa a atingir o limite do queé suportável por isso a despesa terá que serajustada avisaIsto não significa que seja o devedorPortugal a ameaçar com o incumprimentoda dívida ou a ameaçar com a necessidadede um segundo resgate Os agentes políticostêm o dever de falar verdade mas devem aomesmo tempo ser agentes de confiança ehonradez perante os credores Sobretudo numasituação como a de Portugal em que aindafalta libertar tranches de um empréstimo jácontratado não fará muito sentido serem osresponsáveis políticos do país os primeiros afalar em incumprimento segundo resgate oureestruturação defende João Pereira LeitePorém se não invertermos rapidamente adinâmica da dívida a verdade dos números vai

retirar toda a credibilidade a qualquer sinal deesperança alerta o especialista

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