via - vivenciando interaprendizagem
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CONHEÇA O VIA: origem, descrição e planejamento do projeto.TRANSCRIPT
Apresentação
O projeto visa proporcionar ao aluno do ensino público conhecimentos e
experiências que distem das propostas curriculares de praxe e do aspecto tecnicista
exigido pelo vestibular. Através de discussões, oficinas criativas e eventos que
intervenham no meio escolar, perspectivar indissociabilidade entre a aquisição de
conhecimento e sua aplicação na realidade, observando os âmbitos histórico,
cultural e sociopolítico.
Justificativa
Pesquisas realizadas pelas grandes universidades públicas paulistas nos últimos
anos questionam o baixo número de inscritos originários da rede pública. Os
pesquisadores concluíram que há um fenômeno de “autoexclusão” por parte dos
alunos, ou seja, eles deixam de se inscrever por falta de perspectiva. Essa tal falta de
perspectiva muito mais que uma causa individual, é uma causa social.
É o conceito que Mori (2003) chama de "cultura eliminatória" da escola,
disseminada no contexto educacional brasileiro, que ocasiona evasão, sobretudo do
ensino médio. Essa cultura tem grande papel na exclusão, contribuindo para “forçar” a
desistência dos jovens em idade escolar que têm que trabalhar para sua
sobrevivência, situação que os transforma em mão-de-obra semiqualificada. Soma-se
a isso as dificuldades impostas para o acesso ao ensino superior público de qualidade
(poucas vagas, muitos candidatos), a concorrência com os alunos da rede particular
que usufruem de amplas vantagens infraestruturais, a falta de estímulo, o pouco
esclarecimento e divulgação das políticas públicas concernentes a esses alunos e etc.
O ensino médio público é historicamente problemático, sendo um ambiente −
enquanto espaço físico − pouco estruturado (edificação, falta de material e tecnologias
e, por vezes, falta de profissionais) gera um ambiente − enquanto convivência −
desgastante e pouco produtivo. É esse desgaste que propicia o derrotismo e o
desinteresse.
A prática do ensino é comumente vista de maneira objetiva, vertical e
hierarquizante, onde o aluno é limitado ao papel de ouvinte e aprendiz. Acreditamos
em uma educação na qual, em verdade, o processo de aprendizagem é mútuo e
também em um conhecimento aplicável, que seja instrumento de interpretação e
construção da realidade em que estamos inseridos.
Descrição
Em setembro de 2013 uma ex-líder do Partido dos Panteras Negras (EUA),
Ericka Huggins fez uma visita à USP, onde deu uma palestra inspirada em sua
experiência pessoal na luta por direitos civis dos negros nos Estados Unidos.
Ela apontou a educação como quesito de maior importância na mudança social
– e em especial para seu próprio movimento, que tinha como ação estratégica a
criação de escolas para as crianças negras, marginalizadas quanto ao processo de
escolarização.
"Nas escolas, ensinávamos as crianças a pensar e não o que pensar, mesmo
que isso pudesse se voltar contra nós mesmos mais tarde", disse antes de fazer um
apelo emocional: pediu que os universitários ali presentes, futuros professores em sua
maioria, terminem suas especializações, mas não se esqueçam de voltar os frutos do
ensino às suas raízes.
Nesta ocasião, o grupo de amigos na plateia que hoje compõe parte do VIA,
decidiu criar o projeto. Nós, assim como Ericka, acreditamos que a responsabilidade
pelas mudanças locais está nas mãos daqueles que vivem ou vieram de tal realidade.
Assim, em outubro de 2013, foi realizada uma oficina de redação (vide anexos),
na escola estadual Senador João Galeão Carvalhal, em Santo André, onde alguns
realizadores do projeto já haviam cursado. A oficina foi realizada às vésperas da
aplicação do Enem, com o intuito de fazer um trabalho pontual, que tentasse ajudar os
alunos quanto aos processos seletivos para o ensino superior e que também os
auxiliasse na realização da prova. Em um primeiro momento, foram tiradas as dúvidas
quanto às provas, oportunidades por ela proporcionadas etc. Em seguida, foi tecida
uma discussão sobre a importância da implementação das cotas nas faculdades
federais. A partir desse debate, os alunos foram orientados a produzir textos (Anexo 2)
aos moldes do que é solicitado pelo Enem, que lhes é tido como uma grande
oportunidade, pela gama de opções que os oferece (ProUni e Sisu, entre outras) e
pelas cotas destinadas à rede pública.
Esses três momentos (o esclarecer das dúvidas, as discussões e as produções
de texto) são as bases da continuação do projeto. O intuito é que o projeto cresça, se
faça mais presente e leve também outras atividades culturais, ressaltando o diálogo
como um instrumento de transmissão e aquisição de conhecimento, e a importância
de traduzir a aprendizagem em algo concreto. A produção textual ganha importância à
medida que muito além de meio de avaliação (seja no vestibular, por exemplo, seja
para sintetizar o assunto debatido na atividade), é um constante exercício de
criticidade e interpretação da realidade, ou seja, é um veículo para exposição de
ideias, que não se limita ao âmbito acadêmico. É um meio que permite ao indivíduo
expressar-se – e fazer-se ouvido.
O grupo é constituído por recém-egressos do ensino médio, que por haverem
passado por essa experiência há pouco tempo, não são apresentados na autoridade
distante de um profissional da educação, mas como alguém que sabe como é passar
pelas mesmas dúvidas e anseios. Dessa proximidade, espera-se estabelecer uma
relação de confiança e fomentar discussões produtivas. Os métodos utilizados distam
da abordagem de praxe. O ambiente informal propicia a comunicação e estimula a
criatividade, substituindo a “erudição” pela cultura popular, aproximando da realidade
do público através de uma linguagem que ele conhece: a arte de rua, a poesia, a
música popular.
Os temas escolhidos para serem abordados ao longo da realização, tal como as
atividades planejadas, serão trabalhados relacionando sua dimensão histórica e sua
expressividade atualidade. O papel ocupado pela mulher, a trajetória histórica dos
movimentos sociais, o passado e o presente de escravidão, a desigualdade social e o
processo de marginalização, e muitos outros temas que passam desapercebidamente
pelo currículo escolar, mas estão tão presentes na realidade em que se está inserido.
Pesquisas realizadas pela equipe acerca do tema serão disponibilizadas, haverá
sugestões de leituras através do veículo escolhido para estabelecer contato com o
público. No encontro presencial, o tema será apresentado através de aulas
expositivas, documentários, filmes e outros meios que propiciem argumentações para
o estabelecimento dos debates, que são, enfim, o foco do projeto: intercâmbio de
conhecimentos. Após as discussões estão programadas atividades culturais, tais como
oficina de grafitti, sarau, oficina de criação poética, mostras audiovisuais, que
proponham interação entre a temática e outras linguagens, como já destacado acima.
A realização do projeto está programada para acontecer quinzenalmente, aos
sábados, durante o período de fevereiro a setembro de 2014.
Objetivos
Objetivo Geral
Propiciar e instigar o intercâmbio de vivências entre os presentes, buscando
alcançar conhecimentos não priorizados no currículo escolar.
Objetivos Específicos
Auxiliar e assessorar os alunos em suas dúvidas sobre o egresso do
ensino médio;
Alcançar conhecimentos não priorizados pelo currículo de praxe;
Estimular a criatividade através de oficinas artísticas;
Desenvolver habilidades retóricas através das discussões tecidas;
Incentivar a autonomia na busca pelo conhecimento tal qual a relevância
de seu intercâmbio;
Promover vínculo indissociável entre o conteúdo proposto e sua inserção
na realidade.
Principais metas a atingir
Data
Prevista Atividade Duração Público Observação
1ª semana
de fev
Aula expositiva:
esclarecimento sobre os
vestibulares
1 aula
(50 min.)
p/ cada
terceiro
ano
Todos os
terceiros anos
separadament
e
apresentação do
projeto e convite
Fevereiro 1
Oficina de Redação e
debate sobre a estrutura
educacional do país
4 horas Ensino Médio expectativas e
possíveis intervenções
Fevereiro 2
Ressignificação da noção
de cultura: identidade e
cultura popular
+ oficina de grafitti
5 horas
(2h30min
+
2h30min)
Ensino Médio
e comunidade
levar música, poesia,
artes plásticas
(sala multimídia e
espaço para a oficina
de grafitti)
Março 1
Mês da Mulher: imagem
da mulher através dos
tempos
4 horas
Ensino Médio
e comunidade
(mulheres)
publicidade, artes e
literatura
Março 2
Mês da Mulher: a
violência que gera
resistência
4 horas
Ensino Médio
e comunidade
(mulheres)
notícias, dados
estatísticos
Abril 1
Cinquentenário da
Ditadura: poder através da
imposição
4 horas Ensino Médio notícias
Abril 2 População Indígena e a
questão agrária 4 horas Ensino Médio notícias e doc
Maio 1 Copa pra quem? + Ensaio
da Fanfarra 4 horas
Ensino Médio
e comunidade instrumentos musicais
Maio 2 Movimentos Sociais:
história e presente de luta 4 horas Ensino Médio notícias
Junho/Julh
o (pausa
nas
atividades)
Proposta de
leituras/filmes/músicas:
Capitães da Areia,
Cortiço, rap, samba e funk
1 mês
Ensino Médio
(terceiros
anos)
orientação sobre datas
dos vestibulares
Agosto 1
Estar à margem: quem é o
marginal? [rap, samba,
funk, literatura e poesia ]
5 horas
(3h + 2h)
Ensino Médio
e comunidade
leitura de poemas,
letras, etc. pré do
sarau
Agosto 2 Sentimento do Mundo +
Sarau e oficina criativa
5 horas
(2h+3h)
Ensino Médio
e comunidade
poemas sorteados,
declamação e criação
Setembro 1 Negro no Brasil: história
de luta e resistência 4 horas
Ensino Médio
e comunidade
Castro Alves, Rufino
dos Santos
Setembro 2
Negro no Brasil: hoje –
democracia racial? +
Despedida
5 horas
(4h + 1h) Ensino Médio
rediscussão de cotas,
finalização do projeto,
autoavaliação,
despedida
Cronograma de Ação
Pré-produção:
Criação de página no Facebook e outros meios para divulgação e canal de
contato com o público (fim de jan);
Reunião com a direção da escola para definição do calendário;
Preparação de material: pesquisas e estudos para exposição, elaboração e
impressão de roteiros, resumos e propostas de produção textual (contínuo);
Contatar apoiadores para oficinas, exposições e apresentações (contínuo);
Divulgação:
Colocar material multimídia nas redes sociais (contínuo)
Exposição do calendário do projeto nas redes sociais (contínuo)
Convidar pessoalmente os alunos, apresentar as propostas do projeto,
conversa para retirar dúvidas sobre vestibular, Enem, etc. (de 3 a 7 de fev)
Produção:
Aula expositiva e convite: esclarecimento sobre os vestibulares; convite
pessoalmente aos alunos e apresentação das propostas (de 3 a 7 de fev,
uma aula de 50min para cada terceiro ano);
Oficina de redação e debate: A estrutura educacional do país (primeira aula
de fevereiro, 4 horas de duração);
Debate e oficina: Ressignificação da noção de cultura: identidade e cultura
popular + oficina de grafitti (segunda aula de fevereiro, 2h30 min de duração
para cada etapa, totalizando 5 horas);
Exposição e debate: Mês da Mulher: imagem da mulher através dos tempos
(primeira aula de março, 4 horas de duração);
Conversa e debate: Mês da Mulher: a violência que gera resistência (segunda
aula de março, 4 horas de duração);
Aula expositiva e debate: Cinquentenário da Ditadura: poder através da
imposição (primeira aula de abril, 4 horas de duração);
Aula expositiva e debate: População indígena e questão agrária (segunda
aula de abril, 4 horas de duração);
Debate e oficina musical Copa pra quem? + Ensaio da Fanfarra (primeira aula
de maio, 2 horas de debate e 3 horas de oficina);
Aula expositiva e debate: Movimentos Sociais: história e presente de luta
(segunda aula de maio, 4 horas de duração);
Proposta de leituras/filmes/músicas: Capitães da Areia, Cortiço, músicas,
poemas etc. (durante os meses de junho e julho);
Debate, intervenção e exposição: Estar à margem: quem é o marginal?
(primeira aula de agosto, totalizando 5 horas de duração);
Aula expositiva, oficina criativa e sarau: Sentimento do Mundo – Sarau
(segunda aula de agosto, totalizando 5 horas de duração);
Aula expositiva e debate: Negro no Brasil: história de luta e resistência
(primeira aula de setembro, 4 horas de duração);
Aula expositiva, debate e encontro de fechamento: Negro no Brasil: hoje –
democracia racial? (segunda aula de setembro, 5 horas de duração).
Pós-produção:
Divulgação de registros fotográficos e audiovisuais das atividades (contínuo)
Pesquisa de opinião para verificação de resultados/satisfação/críticas
(out/2014 e jan/2015)
Manutenção de contato com o público através dos meios estabelecidos, troca
de informações, proposta de adesão e continuação do projeto pelos antigos
participantes (contínuo)
Avaliação dos resultados
Após cada atividade, será solicitada a entrega de uma produção textual durante
a semana, rediscutindo o tema apresentado, como forma de exercício de escrita e
criticidade e, enfim, avaliação do impacto do projeto.
Na última atividade, será entregue um formulário para os alunos a fim de
levantar comentários, sugestões e críticas sobre o projeto.
Serão também utilizados clipagem (se o houver), entrevistas e registros
audiovisuais dos eventos.
Público alvo
Estudantes do ensino médio da rede pública; também o corpo docente e a
comunidade local, quaisquer que venha com o intuito de trocar ideias e prestigiar os
trabalhos.
Plano de Mobilização
O projeto é amplo e irrestrito. Apesar de estar direcionado aos estudantes do
ensino médio da rede pública, nos é interessante que os profissionais da escola, os
pais e outras pessoas da comunidade e convivência dos alunos participem das
atividades e prestigiem os eventos promovidos.
A mobilização será feita constantemente através das redes sociais e em convites
presenciais na escola. O fato das atividades ocorrerem num lugar de comum acesso
(a própria escola) propicia a presença do público. Fatores como a constância das
atividades, a gama de assuntos abordados, o caráter lúdico das intervenções e o
comprometimento da equipe em assistir os alunos, transmitem confiança e consegue-
se, assim, gradualmente, a conquista do público.
Todas as atividades são gratuitas e num espaço público. A promoção de
debates, oficinas culturais e saraus são feitas com a intenção de proporcionar
intercâmbio de conhecimentos entre os realizadores e participantes.
Referências Bibliográficas
MORI, Josete. O Processo de Exclusão na Educação: O Ensino de Segundo
Grau. In, BONETTI, Lindomar Wessler (coord.) Educação, exclusão e cidadania. 3 ed.
– Ijuí: Ed. Unijuí, 2003, p. 107 a 115.
USP aponta auto-exclusão de estudantes carentes. Folha de São Paulo,
(29/mar/2004). Disponível em:
<http://www1.folha.uol.com.br/folha/educacao/ult305u15278.shtml> Acesso em
(20/jan/2014, 22h15).
Organizadores e Realizadores
Danielle Takase Queiroz
Matheus Santos Dias
Bianca Figueiredo Silva
Fernando Cesar Pereira Junior
Felipe Morales Simões
Natalia Sabino da Silva
Samuel de Souza Antunes
Luíza Ribeiro Xavier
Lucas Mendes Ribeiro
Carlos Vinicius de Lima
Renan Gustavo Magalhães
Matheus Jorge dos Reis
Victor Augustus Manfredini Vital Bessa
Mariana Silva Zancanaro
Thais Andrea Furigo Novaes
Renan Rocha de Paiva
Gabriela Zanini
Apoio
E. E. Senador João Galeão Carvalhal
Anexos
Anexo 1: Imagens – Oficina de Redação, realizada dia 19/out/2013 na Escola
Estadual Senador João Galeão Carvalhal, Santo André – SP, (disponível em: https://www.facebook.com/events/1432321906994075/)