variação linguística

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FACULDADE LOURENÇO FILHO Disciplina: Língua Portuguesa online Variação linguística Depois de termos entendido a importância da comunicação para a sociedade humana e como a linguagem e a língua contribuem para a interação social, passemos agora a refletir sobre as mudanças que a língua portuguesa sofreu ao longo do tempo de seu uso. Tópico 1: O que é variação linguística É muito comum ouvirmos expressões do tipo: não sei falar e nem escrever português; o português é uma língua muito difícil; ele comete muitos erros de português, ela não sabe falar português direito etc. Mas será que realmente não sabemos falar português? Então, como é possível compreendermos a maioria das sentenças produzidas nas interações sociais? Se já sabemos falar português, qual o papel do ensino de língua materna na faculdade? No decorrer desta aula, vamos tratar dessas e de outras questões. Como já vimos anteriormente, a língua é compreendida como fator social. Por isso, podemos dizer que a língua é tão multiforme quanto às diversas relações sociais dos indivíduos que a utilizam para interagirem. Embora desde o princípio do século XX, com o advento da linguística, a língua seja compreendida como um fato social, só nos últimos anos as relações entre língua e sociedade passaram a ser caracterizadas com maior precisão. A língua passou a ser percebida como um “megainstrumento” de comunicação social, maleável e diversificado em todos os seus aspectos, meio de expressão de indivíduos que vivem em uma sociedade também diversificada social, cultural e geograficamente. Assim, a língua é tão multiforme quanto às diversas relações sociais dos indivíduos que a utilizam.

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Variação linguistica e suas caracteristicas

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  • FACULDADE LOURENO FILHO

    Disciplina: Lngua Portuguesa online

    Variao lingustica

    Depois de termos entendido a importncia da comunicao para a sociedade humana e

    como a linguagem e a lngua contribuem para a interao social, passemos agora a refletir sobre

    as mudanas que a lngua portuguesa sofreu ao longo do tempo de seu uso.

    Tpico 1: O que variao lingustica

    muito comum ouvirmos expresses do tipo: no sei falar e nem escrever portugus; o

    portugus uma lngua muito difcil; ele comete muitos erros de portugus, ela no sabe falar

    portugus direito etc. Mas ser que realmente no sabemos falar portugus? Ento, como

    possvel compreendermos a maioria das sentenas produzidas nas interaes sociais? Se j

    sabemos falar portugus, qual o papel do ensino de lngua materna na faculdade? No decorrer

    desta aula, vamos tratar dessas e de outras questes.

    Como j vimos anteriormente, a lngua compreendida como fator social. Por isso, podemos

    dizer que a lngua to multiforme quanto s diversas relaes sociais dos indivduos que a

    utilizam para interagirem.

    Embora desde o princpio do sculo XX, com o advento da lingustica, a lngua seja

    compreendida como um fato social, s nos ltimos anos as relaes entre lngua e sociedade

    passaram a ser caracterizadas com maior preciso. A lngua passou a ser percebida como um

    megainstrumento de comunicao social, malevel e diversificado em todos os seus aspectos,

    meio de expresso de indivduos que vivem em uma sociedade tambm diversificada social,

    cultural e geograficamente. Assim, a lngua to multiforme quanto s diversas relaes sociais

    dos indivduos que a utilizam.

  • Basta observarmos os falantes de um lngua que percebemos que nem todos falam da mesma

    maneira. H pessoas que falam diferente por serem de outra cidade ou regio do Brasil, ou por

    terem idades diferentes, ou por pertencerem a um determinado grupo ou classe social. Essas

    diferentes formas de uso da lngua constituem a variao lingustica. Assim, a variao inerente

    ao sistema da lngua, pois ela est condicionada dentro de cada grupo social e parte integrante

    da competncia lingustica.

    Na compreenso dessa relao to complexa entre lngua e sociedade, os estudos da

    sociolingustica, ramo da lingustica que estuda a lngua como fenmeno social e cultural,

    tiveram um papel fundamental. Para a sociolingustica, a lngua, por ser um fato social, no

    possui um sistema lingustico unitrio, mas um conjunto de sistemas lingusticos, no qual se

    inter-relacionam diversos sistemas e subsistemas.

    Condicionada dentro de cada grupo social e parte integrante da competncia lingustica, a

    variao inerente ao sistema da lngua, ocorrendo em todos os nveis: fontico, fonolgico,

    morfolgico, sinttico, semntico etc.

    Assim, podemos dizer que uma lngua apresenta, pelo menos, quatro tipos de diferenas

    internas, ou seja, de variaes (Medeiros, 2003). Estas so:

    Variaes diacrnicas: ocorre entre perodos de tempo.

    Variaes diatpicas: diferenas no espao geogrfico (falares regionais)

    Variaes diastrticas: diferenas relacionadas s camadas socioculturais.

    Variaes diafsicas: entre tipos de modalidades expressivas, ou seja, entre diferentes

    geraes.

    Para aprofundar, vejamos alguns exemplos de variao lingustica:

  • TEXTO 1

    Fonte: www.diariodoverde.com

    TEXTO 2:

    Fonte: www.tirinhasdaturmadamonica2012.blogspot.com

    Na criao do personagem Chico Bento, Maurcio de Sousa representa a criana matuta,

    que vive no interior que representa uma variao diatpica. J o personagem Cebolinha

    representa uma variao fonolgica tpica da infncia, em que h a troca do fonema grafado com

    a letra R pelo fonema grafado com a letra L, ou seja, variao diafsica.

    Com isso, percebemos que a diversidade ou uniformidade de uma lngua est condicionada

    por fatores extralingusticos (MEDEIROS, 2003, p. 61). Esses fatores podem ser: (i)

    sociolgicos: variaes originadas por idade, profisso, nvel de estudo, classe social e raa; (ii)

    geogrficos: variaes regionais; e (iii) contextuais: que envolvem assunto, tipo de interlocutor,

    lugar em que a comunicao ocorre.

    Considerando o que foi dito, importante entendermos que todas as variantes lingusticas so

    adequadas, desde que cumpram com eficincia o papel fundamental de uma lngua, o de permitir

    a interao verbal.

    Apesar disso, observamos que em nossa sociedade h variantes que so mais privilegiadas do

    que outras, por exemplo, a lngua padro, embora seja uma entre as muitas variedades de um

  • idioma, sempre a mais privilegiada, porque, em nossas escolas, ainda atua como modelo, como

    norma de uma comunidade.

    Segundo Possenti (2006), a variao lingustica um reflexo da variedade social e, como em

    todas as sociedades existe alguma diferena de status ou de papel entre os indivduos ou grupos,

    estas diferenas se refletem na lngua. Assim, a lngua sempre ter variaes, no existindo

    nenhuma sociedade ou comunidade na qual todos falam da mesma forma. Por isso, no existe

    uma variedade certa, pois cada variedade tem seus domnios prprios.

    No entanto, no queremos defender a afirmativa de que no se deve mais estudar ou conhecer

    o lngua padro, mas esta deve ser ensinada de uma forma que permita que o aluno crie

    condies de se adequadas nas diferentes situaes de uso dessa variedade da lngua. Porm, no

    podemos simplesmente ignorar as outras variedades da lngua, estimulando, assim, o preconceito

    lingustico (Bagno, 2002).

    Assim, ressaltamos, mais uma vez, a importncia de conhecermos bem as variaes de nossa

    lngua para que desta forma possamos ser melhores comunicadores, pois estaremos aptos a nos

    adequar a qualquer situao de comunicao, gerando uma melhor interao.

    Entendido que o uso adequado da lngua depende do contexto social em que estamos

    inseridos e de cada situao de comunicao, passemos a entender como identificamos a melhor

    variante da lngua para ser usada gerando melhor interao.

    Tpico 2: Nveis de linguagem

    Diante de tantos usos diferentes de nosso cdigo, para sermos bons usurios da lngua e

    bons comunicadores, importante adequarmos nossa fala ou escrita ao contexto social que

    estivermos inseridos numa determinada interao, para isso, devemos considerar os nveis de

    linguagem.

    Os nveis de linguagem dizem respeito ao uso da fala e da escrita em uma determinada

    situao comunicativa. vital conhecermos esses nveis, pois, para que haja pleno entendimento,

    emissor e o receptor devem estar em concordncia, cada ocasio exige uma linguagem diferente.

    Assim sendo, o que determinar o nvel de linguagem empregado o meio social no qual os

    indivduos se encontram.

  • Portanto, para cada ambiente sociocultural h uma medida de vocabulrio, um modo de se

    falar, uma entonao empregada, uma maneira de se fazer as combinaes das palavras, e assim

    por diante.

    Vejamos cada nvel, para isso observe as imagens e tente perceber que situao comunicativa

    observada:

    Na primeira imagem, podemos dizer que tal interao ocorre em um ambiente de trabalho, ou

    seja, num espao sociocultural que formal. Imagine que se refira a uma entrevista de emprego,

    o candidato geraria uma boa impresso se desconsiderasse a norma padro da lngua?

    Provavelmente no. Assim, em situaes de formalidade, nas quais h o predomnio da norma-

    padro e que por isso exige um comportamento lingustico mais refletido, geralmente mais tenso,

    ns temos o nvel culto ou formal de linguagem.

    J na segunda imagem, ns observamos uma situao comum de interao bem conhecida

    por ns que a consulta mdica. Ser que no consultrio mdico temos a mesma preocupao

    com o uso da norma-padro quanto numa entrevista de emprego? Provavelmente no. Na

    verdade, temos uma situao que, de certa forma, foge s formalidades e aos requintes

    gramaticais, ou seja, temos o nvel comum de linguagem.

    Finalmente, na terceira imagem, ns temos um grupo de amigos reunidos em um momento

    de diverso. Assim, pense em como voc fala com seus amigos nos encontros de um sbado

    noite, ser que durante a conversa voc preocupa-se com as normas gramaticais? Provavelmente

    no. Temos, portanto, situaes familiares ou de menor formalidade que permitem um

    comportamento lingustico mais distenso, uso das grias, de uma linguagem afetiva, ou seja, o

    nvel coloquial ou popular.

  • ATIVIDADE 11:

    1. Baseado nas consideraes de nossa aula, faa uma pesquisa e conceitualize preconceito

    lingustico e a influncia dele nas relaes sociais.

    2. Sabendo que a variao diatpica refere-se s diferenas no uso da lngua que sofrem

    influncia pela regio geogrfica, faa um dicionrio com 5 palavras que so prprias do

    falar cearense.

    3. Descreva situaes do seu cotidiano em que voc usa cada um dos nveis de linguagem

    apresentados.

    1 Esta atividade apenas para aprofundar os conhecimentos. No vale ponto de AV1.