urinálise

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1 Urinálise Os rins formam urina continuamente como um ultrafiltrado de plasma. A função de reabsorção de água e substâncias essenciais ao organismo filtradas converte, aproximadamente, 170.000 mL de plasma filtrado para a média diária de 1.200 mL de urina final. Embora a produção diária normal de urina seja, em geral, de 1.200 a 1.500 mL, um intervalo de 600 a 2.000 mL é considerado normal. Composição da urina Em geral, a urina é constituída por ureia e outros produtos químicos orgânicos e inorgânicos dissolvidos na água. A urina é, normalmente, 95% de água e 5% de soluto, apesar de que consideráveis variações nas concentrações destes solutos possam ocorrer em razão da influência de fatores como ingestão alimentar, atividade física, metabolismo corporal, funções endócrinas e, até mesmo, a posição corporal. A ureia, um produto residual do metabolismo do fígado a partir da degradação de proteínas e aminoácidos, é responsável por quase metade do total de sólidos dissolvidos na urina. Outras substâncias orgânicas incluem, principalmente, creatinina e ácido úrico. O principal sólido inorgânico dissolvido na urina é o cloreto, seguido pelo sódio e pelo potássio. A ingestão dietética influencia, significativamente, as concentrações desses compostos inorgânicos, o que torna difícil estabelecer níveis normais. Outras substâncias encontradas na urina incluem hormônios, vitaminas e medicamento. Embora não sejam parte do plasma filtrado original, a urina também pode conter elementos formados, como células, cilindros, cristais, muco e bactérias. O aumento da quantidade desses elementos formados é, muitas vezes, indicativo de doença. Caso seja necessário definir se determinado fluido é urina, a amostra pode ser testada quanto ao teor de ureia e creatinina. Volume urinário O volume urinário depende da quantidade de água que os rins excretam. A água é importante constituinte corporal e, portanto, o volume excretado é, geralmente, determinado pelo estado de hidratação do organismo. Os fatores que influenciam o volume urinário incluem a ingestão hídrica, a perda não renal de fluidos, as variações na secreção do hormônio antidiurético (ADH) e a necessidade de excretar quantidades aumentadas de sólidos dissolvidos, como a glicose ou os sais. A oligúria, uma diminuição do débito urinário inferior a 1 mL/Kg/h em bebês, menos de 0,5 mL/Kg/h em crianças e menos de 400 mL/dia em adultos, geralmente é vista quando o corpo entra em estado de desidratação, como resultado da excessiva perda de água por vômitos, diarreia, suor ou queimaduras graves. A oligúria leva à anúria, que é a

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Page 1: Urinálise

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Urinálise

Os rins formam urina continuamente como um ultrafiltrado de plasma. A função de

reabsorção de água e substâncias essenciais ao organismo filtradas converte,

aproximadamente, 170.000 mL de plasma filtrado para a média diária de 1.200 mL de

urina final.

Embora a produção diária normal de urina seja, em geral, de 1.200 a 1.500 mL,

um intervalo de 600 a 2.000 mL é considerado normal.

Composição da urina

Em geral, a urina é constituída por ureia e outros produtos químicos orgânicos e

inorgânicos dissolvidos na água. A urina é, normalmente, 95% de água e 5% de soluto,

apesar de que consideráveis variações nas concentrações destes solutos possam

ocorrer em razão da influência de fatores como ingestão alimentar, atividade física,

metabolismo corporal, funções endócrinas e, até mesmo, a posição corporal. A ureia,

um produto residual do metabolismo do fígado a partir da degradação de proteínas e

aminoácidos, é responsável por quase metade do total de sólidos dissolvidos na urina.

Outras substâncias orgânicas incluem, principalmente, creatinina e ácido úrico. O

principal sólido inorgânico dissolvido na urina é o cloreto, seguido pelo sódio e pelo

potássio. A ingestão dietética influencia, significativamente, as concentrações desses

compostos inorgânicos, o que torna difícil estabelecer níveis normais. Outras

substâncias encontradas na urina incluem hormônios, vitaminas e medicamento.

Embora não sejam parte do plasma filtrado original, a urina também pode conter

elementos formados, como células, cilindros, cristais, muco e bactérias. O aumento da

quantidade desses elementos formados é, muitas vezes, indicativo de doença.

Caso seja necessário definir se determinado fluido é urina, a amostra pode ser

testada quanto ao teor de ureia e creatinina.

Volume urinário

O volume urinário depende da quantidade de água que os rins excretam. A água é

importante constituinte corporal e, portanto, o volume excretado é, geralmente,

determinado pelo estado de hidratação do organismo. Os fatores que influenciam o

volume urinário incluem a ingestão hídrica, a perda não renal de fluidos, as variações

na secreção do hormônio antidiurético (ADH) e a necessidade de excretar quantidades

aumentadas de sólidos dissolvidos, como a glicose ou os sais.

A oligúria, uma diminuição do débito urinário inferior a 1 mL/Kg/h em bebês, menos de

0,5 mL/Kg/h em crianças e menos de 400 mL/dia em adultos, geralmente é vista quando

o corpo entra em estado de desidratação, como resultado da excessiva perda de água

por vômitos, diarreia, suor ou queimaduras graves. A oligúria leva à anúria, que é a

Page 2: Urinálise

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cessação do fluxo de urina, pode resultar de qualquer dano grave ou de diminuição no

fluxo de sangue para os rins. A poliúria, aumento no volume de urina diário (superior a

2,5 L/dia em adultos e 2,5 a 3 mL/Kg/h em crianças) é, frequentemente, associada ao

diabetes mellitus e diabetes insipidus; contudo, pode ser artificialmente induzida por

diuréticos, cafeína ou álcool, os quais suprimem a secreção do ADH.

O aumento na excreção de urina noturna é denominado nictúria.

O diabetes mellitus e o diabetes insipidus produzem poliúria por diferentes razões e a

análise da urina é um passo importante no diagnóstico diferencial. O diabetes mellitus

é causada por um defeito, quer na produção pancreática de insulina quer na função da

insulina, o que resulta no aumento da concentração da glicose. Os rins não absorvem o

excesso de glicose, necessitando aumentar a quantidade de água excretada para

remover a glicose do organismo. Apesar de ser diluída, a urina de um paciente com

diabetes mellitus tem elevada densidade específica em razão do aumento do conteúdo

de glicose.

O diabetes insipidus resulta da diminuição da produção ou da função do ADH; assim, a

água necessária para a adequada hidratação corporal não é reabsorvida do filtrado

plasmático. Nessa condição, a urina é verdadeiramente diluída e tem densidade baixa.

Polidipsia => poliúria => gravidade específica diminuída => produção ou função de

ADH diminuído => diabetes insipidus

Polidipsia => poliúria => gravidade específica aumentada => produção ou função de

insulina diminuída(s) => glicose aumentada => diabetes mellitus

Exame físico da urina

COR: varia de quase incolor a preta. Essas variações podem decorrer de funções

metabólicas normais a atividade física, substâncias ingeridas ou condições patológicas.

A terminologia para descrever a cor normal da urina pode variar ligeiramente entre os

laboratórios, mas deve ser consistente. Descrições comuns incluem amarelo clara,

amarelo, amarelo escura e âmbar.

As cores anormais da urina são tão numerosas quanto as suas causas. Algumas cores,

no entanto, são vistas com mais frequência e tem maior significado clínico que outras.

Amarela escura/âmbar/laranja => A urina amarela escura ou âmbar nem sempre

significa um concentrado normal da urina, mas pode ser causada pela presença anormal

do pigmento bilirrubina. Se a bilirrubina estiver presente, ela será detectada durante a

análise química; no entanto, sua presença é suspeita se uma espuma amarela aparece

quando a amostra é agitada. A urina normal produz apenas uma pequena quantidade

de espuma quando agitada e que desaparece; uma grande quantidade de espuma

branca indica aumento da concentração de proteína.

A foto-oxidação de grandes quantidades de urobilinogênio excretado em urobilina

também produz uma urina amarelo alaranjada; no entanto, quando a amostra é agitada,

não aparece espuma amarela. Amostras amarelo alaranjadas também são

Page 3: Urinálise

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frequentemente encontradas em laboratório, o que é causado pela administração de

compostos fenazopiridina (Pyridium) ou azo-gastrisin para pessoas com infecções do

trato urinário. Esse pigmento laranja denso não só obscurece a cor natural da amostra,

mas também interfere com os testes químicos que são fundamentados na cor das

reações.

Vermelho/rósea/marrom => Uma das causas mais comuns de cor anormal da urina é

a presença de sangue. Vermelho é a cor normal que o sangue produz na urina, mas a

cor pode variar do rosa ao marrom, dependendo da quantidade de sangue, do pH da

urina, bem como do período de contato. Glóbulos vermelhos que permanecem em urina

ácida durante várias horas produzem urina marrom por causa da oxidação da

hemoglobina em metahemoglobina. Uma urina recente com a cor marrom, que contenha

sangue, também pode indicar hemorragia glomerular, resultante da conversão da

hemoglobina para metahemoglobina.

Além de glóbulos vermelhos, duas outras substâncias, hemoglobina e mioglobina,

produzem urina vermelha e fornecem resultado positivo na análise química para sangue.

Quando os glóbulos vermelhos estão presentes, a urina é vermelha e turva; no entanto,

se a hemoglobina ou a mioglobina estão presentes, a amostra é vermelha e límpida. A

distinção entre hemoglobinúria e mioglobinúria pode ser possível pelo exame do plasma

do paciente. A hemoglobinúria resultante da destruição in vivo dos glóbulos vermelhos

é acompanhada por plasma vermelho. A lesão de músculo esquelético produz

mioglobina. Esta é mais rapidamente depurada pelo plasma que a hemoglobina e,

portanto, não afeta a cor do plasma.

Urina vermelha => Amostras de urina que contêm porfirinas também podem ser

vermelhas como resultado de oxidação do porfobilinogênio em porfirina. Elas são muitas

vezes referidas como tendo a cor do vinho do porto.

Causas não patológicas da urina vermelha incluem contaminação menstrual, ingestão

de alimentos altamente pigmentados e medicações.

Castanha/preta => A melanina é um produto da oxidação do pigmento incolor,

melanogênio, produzido em excesso quando o melanoma maligno está presente. O

ácido homogentísico, um metabólito da fenilalanina, confere a cor negra à urina

alcalinadas pessoas portadoras de um erro inato do metabolismo, chamado de

alcaptonúria. Os medicamentos que produzem urina marrom/preta incluem levodopa,

metildopa, derivados de fenol e metronidazol (Flagyl).

Azul/verde => As causas patológicas da urina de cor azul/verde estão limitadas as

infecções bacterianas, incluindo a infecção do trato urinário por espécies de

Pseudomonas e de trato intestinal, resultando em elevação do indicana (produto das

bactérias do intestino quando interceptam o triptofano) urinário. Os medicamentos

metocarbamol (Robaxin), azul de metileno e amitriptilina (Elavil) podem causar a urina

de cor azul.

A coloração púrpura pode ocorrer em coletores com cateter e é causada pela

presença de indicana na urina ou por uma infecção bacterina, frequentemente

provocada por espécies de klebsiella e de Providencia.

Page 4: Urinálise

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ASPECTO: O aspecto é um termo geral que se refere à transparência/turvação de uma

amostra de urina. A terminologia comum utilizada para a descrição do aspecto inclui

límpido, opalescente, ligeiramente turvo, turvo e leitoso.

Aspecto Descrição

Límpido Partículas não visíveis, transparentes.

Opalescente Poucas partículas, texto impresso facilmente visualizado através da

urina.

Lig. Turvo Muitas partículas, texto impresso borrado através da urina.

Turvo Texto impresso não pode ser visto através da urina.

Leitoso Podem precipitar ou ter coágulos.

Aspecto normal => A urina recentemente expelida em geral, é clara, especialmente se

for uma amostra com coleta de jato médio, com assepsia. A precipitação de fosfatos e

de carbonatos amorfos pode causar uma ligeira opalescência branca.

Turvação não patológica => A presença de células epiteliais escamosas e muco,

especialmente em amostras de mulheres, pode resultar em urina ligeiramente

opalescente, mas normal.

As amostras mantidas em repouso ou refrigeradas também podem desenvolver

turvação não patológica. A má conservação de uma amostra resulta em crescimento

bacteriano, o que aumenta a turvação da amostra, mas não é representativo da amostra

normal.

As amostras refrigeradas, frequentemente, desenvolvem uma turvação espessa

causada pela precipitação de fosfatos, carbonatos e uratos amorfos. Os fosfatos e os

carbonatos amorfos produzem um precipitado branco na urina com pH alcalino e os

uratos amorfos produzem um precipitado que se assemelha ao pó de tijolo na urina

ácida em virtude da presença de uroeritirina.

Outras causas de turvação não patológica incluem sêmen, contaminação fecal, meio de

contraste radiográfico, talcos e cremes vaginais.

Turvação patológica => As causas mais comumente encontradas de turvação

patológica em amostras recentes de urina são os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos

e infecção causada por bactérias ou doença orgânica sistêmica. Outras causas menos

frequentes incluem quantidades anormais de células epiteliais não escamosas,

leveduras, cristais anormais, fluido linfático e lipídeos.

Urina límpida nem sempre é normal. No entanto, com o aumento da sensibilidade dos

testes químicos de rotina, a maioria das anormalidades na urina límpida será detectada

antes da análise microscópica.

Urina ácida: uratos amorfos Urina alcalina: fosfatos e carbonatos amorfos

Quando o pH for neutro e há presença de cristais, um teste de fácil utilização é aquecer um pouco da urina. Se solubilizar, os cristais presentes serão de uratos

amorfos.

Page 5: Urinálise

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GRAVIDADE ESPECÍFICA: A capacidade dos rins para reabsorver seletivamente as

substâncias químicas essenciais e água do filtrado glomerular é uma das mais

importantes funções do corpo. O intrincado processo de reabsorção é, muitas vezes, a

primeira função renal a tornar-se comprometida, portanto, a avaliação da capacidade de

reabsorver do rim é um componente necessário do exame de urina de rotina. Essa

avaliação pode ser realizada através da medição da gravidade específica da amostra.

A medida desta também detecta possível desidratação ou anormalidades do ADH e

pode ser utilizada para determinar se a concentração da amostra é suficiente para

garantir a precisão dos testes químicos.

A gravidade específica é definida como a densidade de uma solução, em comparação

com a densidade de um volume similar de água destilada, na mesma temperatura. Para

o exame de urina de rotina, a gravidade específica fornece valiosa informação preliminar

e pode ser facilmente realizada por métodos diretos, utilizando uridensímetro

(hidrômetro) ou densitometria da oscilação harmônica, e por métodos indiretos,

utilizando refratômetro ou tira reagente.

A refratometria, assim como a urodensitometria, determina a concentração de partículas

dissolvidas em uma amostra. Isso é feito pela medição do índice refratométrico. O índice

de refração é uma comparação da velocidade da luz no ar com a velocidade da luz em

uma solução. A concentração de partículas dissolvidas presentes na solução determina

a velocidade e o ângulo pelo qual a luz passa através de uma solução.

O refratômetro possui a vantagem de possibilitar a determinação da gravidade

específica utilizando pequeno volume de amostra. Correções para a temperatura não

são necessárias.

Ao utilizar o refratômetro, uma gota de urina é colocada sobre o prisma,

o instrumento é focalizado em uma boa fonte de luz e a leitura é feita

diretamente na escala de gravidade específica. O prisma e a sua

cobertura devem ser limpos depois de cada amostra ser testada.

A calibração do refratômetro é realizada utilizando-se água destilada (leitura deve estar

em 1,000). A calibração é, depois, conferida com uma solução de NaCl a 5%, a qual,

deve ler 1,022±0,001, ou solução de sacarose a 9%, que deve ter leitura de

1,034±0,001.

A gravidade específica do plasma filtrado que entra no glomérulo é 1,010. O termo

isostenúria é utilizado para descrever a urina com gravidade específica de 1,010.

Amostras abaixo de 1,010 são hipostenúricas e acima de 1,010 são hiperstenúricas.

Uma amostra aleatória normal pode variar de 1,003 a 1,035, dependendo do grau de

hidratação do paciente. Amostras com gravidade específica inferior a 1,003,

provavelmente, não são urinas.

Resultados anormalmente elevados – acima de 1,035 – são vistos em pacientes que

tenham realizado, recentemente, pielografia intravenosa (exame radiológico básico do

trato urinário). Isso é causado pela excreção do meio de contraste. Pacientes que estão

recebendo dextram ou outros fluidos de elevado peso molecular, por via intravenosa,

também produzem urina com gravidade específica anormalmente elevada.

Page 6: Urinálise

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Amostras com gravidade específica com leitura superior às escalas do refratômetro

podem ser diluídas e reanalisadas. Se isso for necessário, apenas a parte decimal da

leitura da gravidade específica é multiplicada pelo fator de diluição. Por exemplo, uma

amostra diluída 1:2 com leitura de 1,025 teria uma gravidade específica real de 1,050.

Exame químico da urina

TIRAS REAGENTES: As tiras reagentes permitem, atualmente, um meio simples e

rápido para a realização de análises químicas da urina, de parâmetros significativos,

que incluem pH, proteínas, glicose, cetonas, sangue, bilirrubina, urobilinogênio, nitrito,

leucócitos e gravidade específica.

Técnicas das tiras reagentes => A metodologia de análise inclui a imersão completa

e rápida da tira reagente em uma amostra bem homogeneizada, a eliminação do

excesso de urina raspando-se a borda da tira no recipiente quando retirá-la da amostra,

a espera do período especificado de tempo para as reações acontecerem, e

comparação das reações coloridas com a tabela do fabricante, usando uma boa fonte

de luz.

A técnica imprópria pode levar a erros. Elementos formados, como glóbulos vermelhos

e brancos, sedimentam na parte inferior da amostra e não serão detectados em uma

amostra não homogeneizada. Permitir que a tira permaneça na urina por período

prolongado de tempo pode provocar a saída de reagentes das almofadas. Do mesmo

modo, o excesso de urina na tira após sua retirada da amostra pode produzir uma

mistura entre produtos químicos das almofadas adjacentes, levando a distorções das

cores.

As amostras que foram refrigeradas devem voltar à temperatura ambiente antes das

análises pelas tiras reagentes, uma vez que as reações enzimáticas sobre as tiras

dependem da temperatura.

pH => juntamente com os pulmões, os rins são os principais reguladores do conteúdo

ácido-básico no organismo. Eles fazem isso pela secreção de hidrogênio sob a forma

de íons amônio, fosfato de hidrogênio, e de ácidos orgânicos fracos e pela reabsorção

de bicarbonato do filtrado nos túbulos contorcidos. Um indivíduo saudável costuma

produzir a primeira urina da manhã com pH ligeiramente ácido de 5,0 a 6,0; pH alcalino

é encontrado após as refeições. O pH das amostras aleatórias normais pode variar de

4,5 a 8,0.

A importância do pH urinário é, essencialmente, um auxílio na determinação da

existência e doenças sistêmicas ácido-básico de origem metabólica ou respiratória e na

gestão das condições urinárias que requerem que a urina seja mantida em determinado

pH.

A precipitação dos produtos químicos inorgânicos dissolvidos na urina forma cristais e

cálculos renais. Essa precipitação dependo do pH urinário e pode ser controlada através

da manutenção da urina em um valor de pH que seja incompatível com a precipitação

da substância química em particular.

Page 7: Urinálise

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A manutenção da urina ácida pode ser importante no tratamento de infecções do trato

urinário causadas por organismos que metabolizam a ureia, porque eles não se

multiplicam tão facilmente em meio ácido. Esses mesmos organismos são responsáveis

pelo pH altamente alcalino encontrado em amostras que permanecem em repouso por

longos períodos de tempo.

Pessoas em dietas com elevado teor proteico e alta ingestão de carnes tendem a

produzir urina ácida, enquanto a urina de vegetarianos é mais alcalina em razão da

formação de bicarbonato pela ingestão de muitos frutos e vegetais.

O pH da urina recentemente emitida não deve atingir 9 em condições normais ou

anormais. Assim, o pH urinário de 9 é associado à amostra preservada indevidamente

e indica que nova amostra deve ser obtida a fim de garantir a validade do exame.

Utilização de um sistema indicador duplo de vermelho de metila e azul de

bromotimol na almofada da tira reagente.

Proteínas => A presença de proteinúria é, frequentemente, associada com doença renal

crônica precoce, fazendo com que o exame de proteínas na urina seja parte importante

de qualquer exame. A urina normal contém muito pouca proteína: normalmente, menos

de 10mg/dL ou 100mg/24horas são excretadas. Em razão do baixo peso molecular, a

albumina sérica é a principal proteína encontrada na urina normal. Mesmo que ela esteja

presente em altas concentrações no plasma, o conteúdo normal de albumina urinária é

baixo, porque a maioria da albumina que passa pelo glomérulo não é filtrada, e muito

da albumina filtrada é reabsorvida pelos túbulos. Outras proteínas incluem pequenas

quantidades de microglobulina séricas e tubulares, proteínas de Tamm-Horsfall

produzida pelos túbulos e proteínas das secreções prostática, seminal e vaginal.

A demonstração de proteinúria no exame de rotina nem sempre significa doença renal;

no entanto, sua presença requer testes adicionais para determinar se a proteína

representa uma condição normal ou patológica. Proteinúria clínica é indicada por ≥

30mg/dL. As causas de proteinúria são variadas e podem ser agrupadas em três

grandes categorias: pré-renal, renal e pós-renal, com base na origem das proteínas.

Pré-renal: é causada por condições que afetam o plasma antes de atingir o rim e,

portanto, não é indicativo de doença renal. Proteína de Bence Jones, proteínas de

fase aguda, etc.

Como as tiras reagentes detectam, principalmente, albumina, a proteinúria pré-renal,

em geral, não é descoberta em um exame de urina de rotina.

Renal: proteinúria associada à verdadeira doença renal pode ser o resultado de dano

glomerular ou tubular. As causas de proteinúria não renal é a proteinúria ortostática

(postural) e a presença de microalbuminúria devido ao desenvolvimento de nefropatia

diabética.

Pós-renal: proteínas podem ser adicionadas à urina quando ela passa através das

estruturas do trato urinário inferior (ureteres, bexiga, uretra, próstata e vagina). Infecções

bacterianas e fúngicas e inflamações produzem exsudatos com proteínas do fluido

intersticial. A presença de sangue, como resultado de ferimentos ou contaminação

Page 8: Urinálise

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menstrual, contribui com proteína, assim como a presença de fluido prostático de grande

quantidade de espermatozoides.

Utilização na área para proteínas da tira reagente do azul de tetrabromofenol ou

3’,3’,5’,5’’-tetraclorofenol-3,4,5,6-tetrabomossulfonftaleína e um tampão ácido

para manter o pH em nível constante. Em pH 3,0, ambos os indicadores são

amarelos na ausência de proteínas; no entanto, quando a concentração

aumenta, a cor evolui para vários tons de verde.

Glicose => Em virtude de seu valor na detecção e no acompanhamento de diabetes

mellitus, o exame de glicose é uma das análises químicas realizada na urina de rotina.

Em circunstâncias normais, quase toda a glicose filtrada pelo glomérulo é reabsorvida

no túbulo contorcido proximal (por transporte ativo); consequentemente, a urina contém

apenas pequena quantidade de glicose. Caso os níveis sanguíneos da glicose se

tornem elevados (hiperglicemia), como ocorre no diabetes mellitus, o transporte tubular

de glicose cessa e aparece a glicose na urina. O nível sanguíneo no qual a reabsorção

tubular cessa para a glicose é de, aproximadamente, 160 a 180mg/dL.

A hiperglicemia que ocorre durante a gravidez e desaparece após o parto é chamada

de diabetes gestacional. O aparecimento de hiperglicemia e de glicosúria é,

normalmente, em torno do sexto mês de gravidez. Hormônios secretados pela placenta

bloqueiam a ação da insulina, resultando em resistência à insulina e hiperglicemia. A

detecção do diabetes gestacional é importante para o bem estar do bebê, porque a

glicose atravessa a placenta, mas a insulina não. O bebê desenvolve níveis elevados

de glicemia, fazendo com que o pâncreas produza mais insulina. O excesso de glicose

apresentado ao bebê é armazenado como gordura, resultando em um bebê grande, em

risco de obesidade e, mais tarde, diabetes tipo 2.

A hiperglicemia de origem não diabética é vista em uma variedade de transtornos e

também produz glicosúria. Muitas dessas doenças estão associadas às funções

hormonais e incluem pancreatite, câncer pancreático, acromegalia, síndrome de

Cushing, hipertireoidismo e feocromocitoma. Os hormônios glucagon, adrenalina,

cortisol, tiroxina e hormônio de crescimento, os quais estão aumentados nesses

distúrbios, atuam em oposição à insulina, produzindo, assim, hiperglicemia e glicosúria.

Considerando-se que a função primária da insulina é converter glicose em glicogênio

para armazenamento (gliconeogênese), a oposição desses hormônios causa a

conversão de glicogênio em glicose (glicogenólise), que resulta em níveis circulantes de

glicose elevados.

A glicosúria ocorre na ausência de hiperglicemia quando a reabsorção de glicose pelos

túbulos renais está comprometida. Isso é frequentemente referido como “glicosúria

renal” e é vista na fase final da doença renal, na cistinose e na síndrome de Fanconi.

As tiras reagentes empregam o método de glicose oxidase por impregnação da

zona de ensaio com uma mistura de glicose oxidase, peroxidase, cromógeno e

tampão para produzir uma reação enzimática dupla sequencial. Na primeira

etapa, glicose oxidase catalisa a reação entre a glicose e o ar ambiente para

Page 9: Urinálise

9

produzir ácido glucônico e peróxido. Na segunda etapa, peroxidase catalisa a

reação entre peróxido e cromógeno (iodeto de potássio e tetrametilbenzidina)

para formar um composto oxidado colorido que representa a presença de

glicose.

Cetonas => O termo cetonas representa três produtos intermediários do metabolismo

da gordura, ou seja, acetona, ácido acetoacético e ácido beta-hidroxibutírico.

Normalmente, quantidades mensuráveis de cetonas não aparecem na urina, porque

toda a gordura metabolizada é completamente decomposta em dióxido de carbono e

água. No entanto, quando a utilização de carboidratos disponíveis como a principal fonte

de energia se torna comprometida, estoques de gordura corporal devem ser

metabolizados para fornecer energia. Cetonas são, então, detectadas na urina.

Razões clínicas para o aumento do metabolismo lipídico incluem a incapacidade para

metabolizar hidratos de carbono, como ocorre no diabetes mellitus, aumento de perda

de carboidratos pelo vômito; e inadequada ingestão de hidratos de carbono associadas

com jejum e má-absorção.

Testes para cetonas urinárias são mais valiosas na gestão e no acompanhamento do

diabetes mellitus insulino dependente (tipo1). Cetonúria mostra deficiência de insulina,

o que indica a necessidade de regular a dosagem. O aumento no acúmulo de cetonas

no sangue leva a desequilíbrios eletrolítico, desidratação e, se não for corrigido, à

acidose e eventual coma diabético.

Os três compostos cetonas não estão presentes em quantidades iguais na urina. Tanto

a acetona quanto o ácido beta-hidroxibutítico são produzidos a partir de ácido

acetoacético.

Ácido beta-hidroxibutírico ↔ ácido acetoacético → acetona

As proporções de 78% de ácido beta-hidroxibutírico, de 20% de ácido acetoacético e de

2% de acetona são relativamente constantes em todas as amostras.

O acetoacético, em meio alcalino, reage com o nitroprussiato de sódio para

produzir uma cor púrpura.

O teste não mede o ácido beta-hidroxibutírico e é apenas pouco sensível à acetona

quando a glicina também está presente.

Sangue => O sangue pode estar presente na urina sob a forma de glóbulos vermelhos

intactos (hematúria) ou como o produto da destruição de glóbulos vermelhos do sangue,

a hemoglobina (hemoglobinúria). A hematúria produz uma turvação vermelha na urina,

e a hemoglobinúria aparece como uma amostra vermelha límpida.

O achado de um resultado positivo para sangue nas tiras reagentes indica a presença

de hemácias, hemoglobina ou mioglobina. Cada uma delas tem um significado clínico

diferente.

Hematúria: é mais estreitamente relacionada com doenças de origem renal ou

geniturinária nas quais o sangramento é resultado de trauma ou danos aos órgãos

Page 10: Urinálise

10

desses sistemas. As principais causas de hematúria incluem cálculos renais, doenças

glomerulares, tumores, traumatismos, pielonefrite, exposições a substâncias químicas

tóxicas e terapia anticoagulante. Hematúria de significado não patológico é observada

após exercícios extenuantes e durante a menstruação.

Hemoglobinúria: pode resultar da lise de glóbulos vermelhos produzida no sistema

urinário, especialmente em urina alcalina e diluída. Ela também pode resultar de

hemólise intravascular e da subsequente filtração de hemoglobina através do glomérulo.

Em condições normais, a formação de grandes complexos hemoglobina-haptoglobina

na circulação impede a filtração glomerular da hemoglobina. Quando a quantidade de

hemoglobina livre ultrapassa o conteúdo de haptoglobina, como ocorre me anemia

hemolítica, reações transfusionais, queimaduras graves, picada de aranha marrom,

infecções e exercícios extenuantes, a hemoglobina fica disponível para a filtração

glomerular. A reabsorção da hemoglobina filtrada também resulta no aparecimento de

grandes grânulos amarelo-castanhos de ferritina desnaturada, chamada de

hemossiderina nas células epiteliais tubulares renais e no sedimento urinário.

Mioglobinúria: a presença de mioglobina, em vez de hemoglobina, deve ser suspeitada

em pacientes com condições associadas à destruição muscular (rabdomiólise).

Exemplos dessas condições incluem trauma, síndrome de esmagamento, coma

prolongado, convulsões, doenças consumptivas musculares, alcoolismo, abuso de

heroína e esforço intenso. A porção heme da mioglobina é tóxica para os túbulos renais,

e concentrações elevadas podem causar insuficiência renal aguda.

Significado clínico da reação positiva para sangue:

Hematúria: cálculo renal glomerulonefrite, pielonefrite, tumores, traumas,

anticoagulantes, exercícios intensos.

Hemoglobinúria: reações transfusionais, anemia hemolítica, queimaduras graves,

infecções/malária, picada de aranha marrom.

Mioglobinúria: trauma muscular/síndrome do esmagamento, coma prolongado,

alcoolismo, abuso de drogas, medicação redutora de colesterol/estatina

Testes químicos para sangue utilizam a atividade de pseudoperoxidase da

hemoglobina para catalisar a reação entre peróxido de hidrogênio e cromógeno

tetrametilbenzidina para produzir um cromógeno oxidado, o qual ter cor verde

azulada.

Eritrócitos intactos são lisados quando entram em contato com a almofada e

liberam a hemoglobina, produzindo reação isolada que resulta em um padrão

pontilhado sobre a almofada.

Page 11: Urinálise

11

Bilirrubina => o aparecimento de bilirrubina na urina pode fornecer indicação precoce

de doença hepática. Muitas vezes, é detectada muito antes do desenvolvimento de

icterícia.

A hemoglobina liberada pela lise

das hemácias (após ± 120 dias) é

decomposta em seus

componentes: ferro, proteínas e

protoporfirina. O corpo utiliza o ferro

e as proteínas, e as células do

sistema reticuloendotelial

convertem a protoporfirina em

bilirrubina. Esta é, então, liberada

na circulação, onde se liga a

albumina (bilirrubina não conjugada

– insolúvel em água) e é

transportada para o fígado. No

fígado, a bilirrubina é conjugada

com o ácido glucurônico a forma

hidrossolúvel (bilirrubina conjugada (BC)). Normalmente, essa BC não aparece na urina,

pois é liberada diretamente do fígado para o ducto biliar e para o intestino. No intestino,

as bactérias intestinais reduzem a bilirrubina a urobilinogênio, que é, então, oxidado e

excretado nas fezes.

A bilirrubina conjugada aparece na urina quando o ciclo de degradação normal é

perturbado por obstrução do ducto biliar, ou quando a integridade do fígado está

danificada, o que permite o refluxo de BC para a circulação.

A icterícia, causada pelo aumento da destruição dos glóbulos vermelhos, não produz

bilirrubinúria. Isso porque a bilirrubina sérica está presente na forma não conjugada e

os rins não podem excretá-la.

Bilirrubina urinária e urobilinogênio na icterícia

Bilirrubina urinária Urobilinogênio urinário

Obstrução do ducto biliar +++ Normal

Dano hepático + ou - ++

Doença hemolítica Negativo +++

A bilirrubina se combina com o sal 2,4-dicloroanilina diazônio ou com 2,6-

diclorobenzeno-diazônio-tetrafluoroborato em meio ácido para produzir azodye,

com cores que variam em graus crescentes de castanho amarelado ou rosa até

violeta, respectivamente.

As reações coloridas das tiras reagentes para a bilirrubina são mais difíceis de

interpretar que as outras reações e são facilmente influenciadas por outros pigmentos

presentes na urina.

Page 12: Urinálise

12

Urobilinogênio => Quando a bilirrubina conjugada (BC) é excretada através dos ductos

biliares para o intestino, as bactérias intestinais convertem a bilirrubina em uma

combinação de urobilinogênio e estercobilinogênio. Algum urobilinogênio é reabsorvida

do intestino para o sangue, recircula no fígado (podendo ser filtrado pelos rins), e é

excretado de volta pra o intestino através do ducto biliar. O estercobilinogênio não pode

ser reabsorvido e permanece no intestino sendo excretado nas fezes.

O aumento do urobilinogênio urinário é visto na doença hepática e nos transtornos

hemolíticos. A diminuição da função hepática reduz capacidade do fígado de processar

o urobilinogênio recirculado do intestino. O excesso de urobilinogênio remanescente no

sangue é filtrado pelos rins e aparece na urina.

A icterícia clínica associada aos transtornos hemolíticos é consequência do aumento da

quantidade de bilirrubina não conjugada circulante. A bilirrubina não conjugada é

apresentada ao fígado para conjugação, resultando em acentuado aumento da

quantidade de BC que entra no intestino. Como efeito, quantidade aumentada de

urobilinogênio é produzida, e mais urobilinogênio e reabsorvido para o sangue e circula

através dos rins, onde ocorre a filtração. Além disso, o fígado sobrecarregado não

processa o urobilinogênio reabsorvido de maneira eficiente, e mais urobilinogênio é

apresentado para excreção urinária.

Embora não se possa determinar por tiras reagentes, a ausência de urobilinogênio na

urina e nas fezes também é significativa do ponto de vista diagnóstico e representa

obstrução do ducto biliar que impede a passagem normal de bilirrubina para o intestino.

A determinação de uroblinogênio pode ser de duas formas:

O urobilinogênio reage com p-dimetilaminobenzaldeido (reagente de Ehrlich)

para produzir cores que variam de rosa claro e rosa escuro; A outra forma

incorpora uma reação azo (diazo) acoplada, usando 4-metoxibenzeno-diazônio-

tetrafluoroborato que reage com o urobilinogênio, produzindo cores que variam

de branco ao rosa.

Esta última forma é mais específica para urobilinogênio que a reação de Ehrlich.

Nitrito => O teste das tiras reagentes para nitrito oferece um método rápido de triagem

para a presença de infecção do trato urinário (ITU). Acredita-se que muitas ITUs iniciam-

se na bexiga, como resultado de contaminação externa e, se não tratadas, evoluem

ascendentemente através dos ureteres aos túbulos, à pelve renal e aos rins. O teste de

nitrito é valioso para detectar infecção inicial da bexiga (cistite), porque, muitas vezes,

os pacientes são assintomáticos ou tem sintomas vagos que não levariam o médico a

solicitar urocultura.

O teste de nitrito também pode ser utilizado para avaliar o êxito da terapia antibiótica e

para exame periódico de pessoas com infecções recorrentes, pacientes com diabetes e

mulheres grávidas, os quais são considerados de alto risco para ITU.

O nitrito é detectado pela reação de Greiss, na qual o nitrito em pH ácido reage

com uma amina aromática (ácido para-arsanílico ou sulfanilamina) para formar

Page 13: Urinálise

13

um composto diazônio, o qual, então, reage com compostos de

tetrahidrobenzoquinolina para produzir um diazo róseo.

As bactérias que não produzem a enzima redutase não possuem a capacidade de

reduzir nitrato a nitrito. Redutase é encontrada nas bactérias gram-negativas que mais

frequentemente causam ITUs. Bactérias não redutoras de nitrito, bactérias gram-

positivas e leveduras, no entanto, causam um número significativo de infecções, porém

o teste de nitrito não detecta a presença desses organismos.

Bactérias capazes de reduzir nitrato devem permanecer em contato com o nitrito urinário

durante tempo suficiente para produzir nitrito. Portanto, os testes de nitrito devem ser

realizados com a primeira urina da manhã ou com amostras coletadas após a urina ter

se mantido na bexiga durante, pelo menos, 4 horas.

Outras causas de resultados falsos-negativos incluem inibição do metabolismo

bacteriano pela presença de antibióticos, grande quantidade de ácido ascórbico que

interfere com a reação do diazo, e diminuição da sensibilidade em amostras com

gravidade específica elevada.

Esterase leucocitária => Os valores normais de leucócitos baseiam-se na análise

microscópica do sedimento e variam entre 0 a 2 e 0 a 5 (mais comum) por campo de

grande aumento, e seu aumento é indicador de ITU. Devido a contaminação vaginal, as

mulheres tender a ter número mais altos de leucócitos do que os homens. O teste para

EL detecta a presença de esterase em glóbulos brancos granulocíticos e monocíticos;

a esterase também está presente em Trichomonas e em histiócitos.

Um resultado positivo para EL é mais frequentemente acompanhado de bactérias que,

como já discutido, podem ou não produzir reação positiva para nitrito. Infecções

causadas por Trichomonas, clamídia, leveduras e inflamação de tecidos renais (nefrite

intersticial) produzem leucocitúria sem bacteriúria.

Linfócitos, hemácias, bactérias e células do tecido renal não contêm esterases.

Uma vantagem adicional do teste químico para esterase leucocitária (EL) é que ele

detecta a presença de leucócitos que foram lisados, particularmente, em uma urina

alcalina e diluída, os quais não aparecem no exame microscópico.

A reação das tiras reagentes utiliza o recurso de EL para catalisar a hidrólise do

ácido indoxilcarbônico ester embebido na almofada reagente para produzir um

composto aromático (indoxil) mais o ácido indoxi. O composto aromático, em

seguida, combina-se com um sal diazônio presente na almofada e produz diazo

púrpura.

Resultados falso negativos podem ocorrer na presença de altas concentrações

de proteínas (> 500mg/dL), glicose (> 3g/dL), ácido oxálico e ácido ascórbico.

Page 14: Urinálise

14

Gravidade específica => A adição do teste para gravidade específica nas tiras

reagentes foi importante, porém, não é recomendado como substituto da osmometria

ou da refratometria para acompanhamento crítico de fluídos.

A reação das tiras reagentes baseia-se na mudança de pKa (constante de dissociação)

de um polieletrólito em meio alcalino. O polieletrólito ioniza, liberando íons de hidrogênio

na proporção do número de íons da solução. Quanto maior for a concentração a urina,

mais íons de hidrogênio são liberados, diminuindo assim o pH. A incorporação do

indicador azul de bromotimol à almofada reagente mede a variação de pH. Quando a

gravidade específica aumenta, o indicador muda de azul (1,000 [alcalino]), para tons de

verde até amarelo (1,030 [ácido]).

↑ H+ (alta gravidade específica) ↑ ligação COO-H+ ↑ reação H+ com azul de bromotimol

pH ácido

Elevadas concentrações de proteína aumentam, ligeiramente, as leituras, como

resultado dos ânions proteicos.

Exame microscópico da urina

VOLUME DA AMOSTRA: O volume fixo de urina, geralmente entre 10 e 15mL, é

centrifugado em um tubo cônico. Isso fornece um volume adequado a partir do qual se

obtém uma amostra representativa dos elementos presentes na urina. O volume de

12mL é, em geral, utilizado porque as tiras reagentes multiparamétricas são facilmente

imersas nesse volume e os tubos das centrífugas são, com frequência, calibrados para

esse volume.

Se não for possível obter uma amostra de 12mL, como ocorre com pacientes

pediátricos, o volume da amostra utilizada deve ser anotado no relatório impresso.

Alguns laboratórios optam por fazer a correção dessa situação antes de reportar os

resultados. Por exemplo, se 6mL de urina é centrifugada, os resultados são

multiplicados por 2.

CENTRIFUGAÇÃO: A velocidade da centrífuga e o tempo que a amostra é centrifugada

devem ser coerentes. Centrifugação durante 5 minutos a uma força centrífuga relativa

(RCF) de 400 produz uma ótima quantidade de sedimento com a menor chance de

danificar os elementos.

Para evitar perigo biológico aerossol, todas as amostras devem ser centrifugadas em

tubos tampados.

CONSTITUINTES DO SEDIMENTO: O sedimento da urina normal pode conter uma

variedade de elementos formados. Até o aparecimento de pequeno número de glóbulos

vermelhos, glóbulos brancos e cilindros, habitualmente de significado patológico, pode

ser normal.

Page 15: Urinálise

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Eritrócitos => na urina, os glóbulos vermelhos aparecem como disco bicôncavos, lisos,

não nucleados, que medem cerca de 7mm de diâmetro. A presença de hemácias na

urina está associada a danos à membrana glomerular ou lesão vascular dentro do trato

geniturinário. O número de células presentes é indicativo da extensão do dano ou da

lesão.

Quando a hematúria macroscópica está presente, a urina tem aspecto turvo e cor

vermelha a marrom e é, frequentemente, associada a lesões glomerulares avançadas,

mas também é vista em danos à integridade vascular do trato urinário causados por

trauma, infecção ou inflamação aguda e coagulopatias.

A presença não só de hemácias, mas também de cilindros hialinos, granulares e

hemáticos pode ser vista após exercício extenuante. Essas anormalidades não são

patológicas e desaparecem após repouso.

Leucócitos => os glóbulos brancos são maiores que os glóbulos vermelhos, medindo,

em média, cerca de 12mm de diâmetro. O leucócito predominantemente encontrado nos

sedimentos urinários é o neutrófilo. Os neutrófilos lisam rapidamente em urina diluída e

alcalina e começam a perder detalhes nucleares. O movimento browniano dos grânulos

dentro dessas células produz uma aparência espumante, e elas são referidas como

“células brilhantes”.

Embora os leucócitos, como as hemácias, possam entrar na urina através de trauma

glomerular ou capilar, eles também são capazes de migração ameboide através dos

tecidos para os locais de infecção ou inflamação. O aumento de leucócitos na urina é

chamado de piuria e indica a presença de infecção ou inflamação do trato geniturinário.

Infecções bacterianas, incluindo pielonefrite, cistite, prostatite e uretrite, são causas

frequentes de piuria.

Células epiteliais => Não é incomum encontrar células epiteliais na urina, pois são

derivadas do revestimento do aparelho geniturinário. Três tipos de células epiteliais são

observados na urina: escamosas, de transição (uroteliais) e tubulares renais

Células epiteliais escamosas: são as maiores células encontradas no sedimento

urinário. Contêm citoplasma abundante e irregular e um núcleo proeminente com

tamanho semelhante ao das hemácias.

As células epiteliais escamosas são provenientes do revestimento da vagina e da uretra

feminina e da porção inferior da uretra masculina. Representam a descamação celular

normal e não tem nenhum significado patológico. A única que está ligada a patologia é

a clue cell, o qual é indicativo de infecção vaginal pela bactéria Gardnerella vaginalis.

Células epiteliais transicionais (uroteliais): são menores que as células epiteliais

escamosas e aparecem em várias formas, inclusive esféricas, poliédricas e caudadas.

São provenientes do revestimento da pelve renal, do cálice, dos ureteres e da bexiga, e

da porção superior da uretra masculina. Eles estão, geralmente, presentes em pequeno

número na urina normal, representando descamação celular normal. Número

Page 16: Urinálise

16

aumentado, isoladas, em pares ou em aglomerações está presente após procedimentos

urológicos invasivos, como cateterismo e não tem nenhum significado clínico.

Células epiteliais tubulares renais: o citoplasma é grosseiramente granular e as células

tubulares renais, às vezes, se assemelham a cilindros. Elas devem ser cuidadosamente

examinadas para a presença de um núcleo, uma vez que o núcleo não está presente

em um cilindro.

Essas células são clinicamente as mais significativas das células epiteliais. A presença

de número aumentado é indicativo de necrose dos túbulos renais, com a possibilidade

de afetar a função renal global.

Bactérias => em regra, as bactérias não estão presentes na urina. No entanto, a menos

que as amostras sejam coletadas em condições estéreis, algumas bactérias estão,

geralmente, presentes como resultado de contaminação vaginal, uretral, da genitália

externa ou do frasco de coleta.

Para serem consideradas significativas para a ITU, as bactérias devem ser

acompanhadas por glóbulos brancos.

Fungos => as células de levedura aparecem na urina como estruturas pequenas, ovais,

refringentes, que podem ou não conter gemulação. Em infecções graves, elas podem

aparecer como formas micelianas ramificadas.

Parasitas => o parasita encontrado com maior frequência na urina é o Trichomonas

vaginalis. Este é um patógeno sexualmente transmissível associado, principalmente,

com inflamação vaginal, infecção da uretra masculina e da próstata sendo, nessas duas

últimas, assintomáticas.

Espermatozoides => são, ocasionalmente, encontrados na urina de homens e

mulheres após relação sexual, masturbação, ou ejaculação noturna. Eles raramente são

de relevância clínica, exceto nos casos de infertilidade masculina ou ejaculação

retrógrada na qual o esperma é expulso para a bexiga em vez de ser para a uretra.

Muco => é um material proteico produzido por glândulas e células epiteliais do trato

geniturinário inferior e pelas células epiteliais tubulares renais. Análises imunológicas

têm mostrado que a proteína Tamm-Horsfall é um dos principais constituintes do muco.

O muco está presente com maior frequência na amostra de urina de pessoas do sexo

feminino. Não tem nenhum significado clínico quando presente na urina, seja de homens

ou de mulheres.

Page 17: Urinálise

17

Cilindros => são os únicos elementos encontrados no sedimento urinário que são

exclusivos do rim. Eles são formados dentro da luz dos túbulos contorcidos distais e dos

ductos coletores, fornecendo uma visão microscópica das condições dentro do néfron.

O principal componente do cilindro é a proteína de Tamm-Horsfall. Outras proteínas

presentes no filtrado urinário, como albumina e imunoglobulinas, também são

incorporadas à matriz do cilindro.

Cilindros hialinos: é o tipo mais frequente, o qual é composto, quase inteiramente, de

proteína de Tamm-Horsfall. A presença de zero a dois cilindros por campo de 100x é

considerado normal, como é a constatação do aumento do número após exercícios

extenuantes, desidratação, exposição ao calor e estresse emocional. Os cilindros

hialinos são aumentados patologicamente em glomerulonefrite aguda, pielonefrite,

doença renal crônica e insuficiência cardíaca congestiva.

Os cilindros hialinos aparecem incolores sem sedimentos não corados e tem índice de

refração semelhante ao da urina, portanto, eles podem ser facilmente ignorados se a

amostra não for examinada sob luz difusa.

Cilindros hemáticos: considerando que o achado de glóbulos vermelhos na urina indica

sangramento de uma área dentro do trato geniturinário, a presença de cilindros

hemáticos é muito mais específica, mostrando hemorragia dentro do nefrón. Cilindros

hemáticos estão, principalmente, relacionados a danos causados ao glomérulo

(glomerulonefrite), que permitem a passagem de células através da membrana

glomerular, no entanto, qualquer dano à estrutura capilar do néfron pode causar a sua

formação. Cilindros hemáticos combinados com danos glomerulares estão,

normalmente, associados com proteinúria e eritrócitos dismorficos. Esses cilindros

também são observados em indivíduos saudáveis após a prática de esporte de contato

extenuante.

Por causa das graves implicações diagnósticas do cilindro hemático, a presença efetiva

de glóbulos vermelhos também deve ser verificada para evitar o relato impreciso de

cilindros hemáticos inexistente. É altamente improvável que cilindros hemáticos estejam

presentes na ausência de hemácias livres e de uma reação na tira reagente positiva

para sangue.

Na presença de hemoglobinúria ou mioglobinúria maciças, podem ser observados os

cilindros de cor laranja-vermelho ou vermelho-acastanhado homogêneos. Os cilindros

granulosos, que representam produtos de degradação da hemoglobina, como a

metemoglobina, podem também estar presentes. Eles estão associados a necrose

tubular aguda causada, muitas vezes, pelos efeitos tóxicos da hemoglobinúria maciça

que podem levam a insuficiência renal.

Cilindros leucocitários: seu aparecimento na urina significa infecção ou inflamação no

néfron. Com frequência associados à pielonefrite, são o principal marcador para

distinguir pielonefrite de ITU baixo. No entanto, eles também estão presentes em

inflamações agudas não bacterianas, como nefrite intersticial e podem acompanhar os

cilindros hemáticos na glomerulonefrite. A observação de leucócitos livres no sedimento

também é essencial.

Page 18: Urinálise

18

Cilindros leucocitários podem ter bordas irregulares. Essas estruturas devem ser

cuidadosamente examinadas para determinar se a matriz do cilindro está presente.

Glóbulos brancos frequentemente formam grumos e estes não têm o mesmo significado

do cilindro.

Cilindros bacterianos: que contêm bacilos, tanto dentro como aderidos à matriz proteica

são observados em pielonefrite. Eles podem ser cilindros bacterianos puros ou mistos

(com leucócitos).

A sua presença deve ser considerada quando cilindros leucocitários, muitos glóbulos

brancos livres e bactérias forem vistos no sedimento.

Cilindros de células epiteliais: cilindros que contêm células epiteliais tubulares renais

representam a presença de avançada destruição tubular, que produz estase urinária,

juntamente com a ruptura do revestimento tubular. De maneira semelhante, eles são

associados com metais pesados, substâncias químicas ou toxicidade induzida por

drogas, infecções virais e rejeição de aloenxerto.

Cilindros lipoídicos: são analisados em conjunto com corpúsculos ovais de gordura e

gotículas de gordura livre, em transtornos que causam lipidúria. Com grande frequência

eles são associados à síndrome nefrótica, mas também são observados em necrose

tubular tóxica, diabetes mellitus e em lesões por esmagamento.

Cilindros granulosos: a origem dos grânulos em condições não patológicas parece ser

os lisossomos excretados pelas células epiteliais tubulares renais durante o

metabolismo normal ou após períodos de exercícios extenuantes.

Em estados patológicos, os grânulos podem representar desintegração do cilindro

celular e de células tubulares ou agregados de proteínas filtradas pelo glomérulo.

Cilindros granulosos ocorrem como resultado da desintegração celular e podem conter,

ocasionalmente, uma célula reconhecível.

Cilindro céreos: são representativos da estase urinária extrema, que indica insuficiência

renal crônica. Eles são, em geral, vistos em conjunto com outros tipos de cilindros

relacionados à condição que tenha causado falência renal.

CRISTAIS URINÁRIOS => são muito encontrados na urina e raramente têm significado

clínico. São formados pela precipitação de solutos na urina, incluindo sais inorgânicos,

compostos orgânicos e medicamentos (compostos iatrogênicos). A precipitação é

sujeita a variações de temperatura, concentração do soluto e pH, os quais afetam a

solubilidade. À medida que a concentração de solutos na urina aumenta, sua

capacidade de permanecer em solução diminui, resultando em formação de cristais.

Em geral, compostos orgânicos e iatrogênicos cristalizam com mais facilidade em pH

ácido, ao passo que sais inorgânicos são menos solúveis em soluções neutras e

alcalinas. Uma exceção é o oxalato de cálcio que precipita em urinas ácidas e neutras.

Todos os cristais anormais são encontrados em urina ácida.

Assim como mudança na temperatura e no pH contribuem para a formação do cristal,

a reversão dessas mudanças pode causar a dissolução dos cristais. Uratos amorfos,

Page 19: Urinálise

19

que frequentemente se formam em amostras refrigeradas e obscurecem o sedimento,

podem se dissolver se a amostra for aquecida.

Principais características dos cristais urinários NORMAIS

Cristal pH Cor Solubilidade

Ácido úrico Ácido Amarelo-castanho Solução alcalina

Urato amorfo Ácido Tijolo Solução alcalina e

calor

Oxalato de cálcio Ácido/neutro Incolor HCl diluído

Fosfato amorfo Alcalino/neutro Branco-Incolor Ácido acético

diluído

Fosfato de cálcio Alcalino/neutro Incolor Ácido acético

diluído

Fosfato triplo Alcalino Incolor (tampa de

caixão)

Ácido acético

diluído

Biurato de amônio Alcalino Amarelo-castanho

(“maçãs

espinhosas”)

Ácido acético com

calor

Carbonato de

cálcio

Alcalino Incolor Forma gás com

ácido acético

Principais características dos cristais urinários ANORMAIS

Cristal pH Cor Solubilidade

Cistina Ácido Incolor Amônia, HCl

diluído

Colesterol Ácido Incolor Clorofórmio

Leucina Ácido/neutro Amarela Solução alcalina

quente ou álcool

Tirosina Ácido/neutro Incolor-amarela Solução alcalina

ou calor

Bilirrubina Ácido Amarela Ácido acético, HCl,

NaOH, éter,

clorofórmio

Sulfonamidas Ácido/neutro Variável Acetona

Contraste

radiológico

Ácido Incolor NaOH a 10%

Ampicilina Ácido/neutro Incolor Refrigeração

(forma feixes)

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