universidade tuiuti do paranÁ -...

72
UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CLEUNICE DE FÁTIMA KLOUCK O DIREITO ROMANO E A HISTÓRIA DO DIREITO NAS OBRAS DO PROF. DR. ALOÍSIO SURGIK CURITIBA 2013

Upload: vohuong

Post on 19-Sep-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CLEUNICE DE FÁTIMA KLOUCK

O DIREITO ROMANO E A HISTÓRIA DO DIREITO NAS OBRAS DO PROF. DR. ALOÍSIO SURGIK

CURITIBA

2013

Page 2: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

CLEUNICE DE FÁTIMA KLOUCK

O DIREITO ROMANO E A HISTÓRIA DO DIREITO NAS OBRAS DO PROF. DR. ALOÍSIO SURGIK

Monografia apresentada ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Cláudio Henrique de Castro.

CURITIBA

2013

Page 3: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

TERMO DE APROVAÇÃO

CLEUNICE DE FÁTIMA KLOUCK

O DIREITO ROMANO E A HISTÓRIA DO DIREITO NAS OBRAS DO

PROF. DR. ALOÍSIO SURGIK

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do grau de Bacharel em

Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, _____ de _______________ de 2013.

______________________________________

Prof. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografias

Faculdade de Ciências Jurídicas

Orientador: ________________________________________

Prof. Cláudio Henrique de Castro

________________________________________

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

________________________________________

Prof.

Universidade Tuiuti do Paraná

Page 4: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

Dedico esta monografia, ao meu irmão Hans Egon

Klouck, que foi e sempre será uma pessoa especial

na minha vida, após muita tristeza por sua partida

percebi que por mais que o caminho esteja difícil e

doloroso, lá na frente me sentirei vitoriosa, com a

certeza de que você sempre esteve e estará ao meu

lado.

Page 5: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, professor Cláudio Henrique de Castro, pelo ensinamento e

dedicação dispensados no auxilio a concretização dessa monografia;

Ao professor Aloíso Surgik, quem admiro pela sua humildade como pessoa e

por sua perseverança na luta pela defesa da História do Direito Romano, e que

tenho a honra em homenageá-lo com essa monografia.

Aos meus familiares, pelo carinho e apoio incondicional que sempre tiveram

comigo, sempre me apoiando em todos os momentos, enfim por todos os conselhos

e pela confiança em mim depositada meu imenso agradecimento;

Por fim, gostaria de agradecer aos meus amigos, pelo carinho e pela

compreensão nos momentos em que a dedicação aos estudos foi exclusiva, a todos

que contribuíram direta ou indiretamente para que esse trabalho fosse realizado meu

eterno AGRADECIMENTO.

Page 6: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

"A sabedoria é um paradoxo. O homem que mais sabe é

aquele que mais reconhece a vastidão da sua ignorância."

F.Nietzsche

Page 7: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

RESUMO

O presente trabalho visa pesquisar as obras, congressos e artigos produzidos e artigos de jornais e periódicos, do professor Dr. Aloísio Surgik, para ressaltar a necessidade e a importância do estudo do Direito sob um ângulo histórico, onde ocupa-se da análise, da crítica e da desmistificação dos institutos, normas, pensamentos e saberes jurídicos do passado, que deve ser valorizado por todos os estudiosos do Direito, a fim de compreender as finalidades das normas. A História, por se tratar de uma ciência universal, atinge todas as modalidades de conhecimentos científicos, pois sem conhecer o passado não é possível acumular experiências e atingir a maturidade. Há uma necessidade de se aproveitar das lições do passado, verificando quais os modelos que deram certo e os que se mostraram inadequados para organizar a vida em sociedade. A luz da história, é possível compreender com mais acuidade os problemas atuais, sendo impossível ter o exato conhecimento de um instituto jurídico sem se proceder a seu exame histórico, pois se verifica suas origens, sua evolução, os aspectos políticos ou econômicos que o influenciaram. Assim, sem a compreensão da história do Direito, o conhecimento do jurista é inferiorizado e se torna superficial, sem fundamentação adequada.

Palavras-chave: Direito, História, Importância, Qualificação.

Page 8: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO........................................................................................................ 1. OBRAS PRODUZIDAS...................................................................................... 1.1 A ORIGEM DA CONCILIAÇÃO....................................................................... 1.2 TEMAS CRÍTICOS DE DIREITO Á luz das fontes.......................................... 1.2.1 A propósito do estacionamento pago na “área de estar” ............................... 1.2.2 Anotações históricos - críticos em torno do binômio direito público - direito privado..................................................................................................................... 1.2.3 Didaché.......................................................................................................... 1.2.4 Didascalia....................................................................................................... 1.2.5 Direito canônico............................................................................................. 1.2.6 Digesto .......................................................................................................... 1.3 COMPÊNDIO DE DIREITO PROCESSUAL CANÔNICO................................ 1.3.1 O processo canônico antes do decreto de graciano...................................... 1.3.2 O processo canônico no decreto de graciano................................................ 1.3.3 O processo canônico nas decretais de Gregório IX....................................... 1.3.4 O processo canônico no “ codex iuris canonic” de 1917............................... 1.3.5 O processo canônico no codex iuris canonici de 1983.................................. 1.3.6 Dos modos de evitar os juízos....................................................................... 1.4 LINEAMENTOS DO PROCESSO CIVIL ROMANO......................................... 1.5 GENS GOTHORUM: As raízes bárbaras do legalismo dogmático............. 1.5.1 Direito romano clássico.................................................................................. 1.5.2 Direito romano pós-clássico........................................................................... 1.5.3 Direito visigótico no ocidente......................................................................... 1.5.4 Direito justinianeu no oriente......................................................................... 1.5.4.1 A junção dos retalhos na costura e expansão do legalismo dogmático..... 1.5.5 Penetração iluminista em Portugal................................................................. 1.5.5.1 O legalismo sem razão na “lei da boa razão” ............................................ 1.5.6 Consequências.............................................................................................. 1.5.6.1 A penetração das raízes visigóticas no legalismo dogmático atual............ 1.6 VIAJANDO PELA HISTÓRIA DO DIREITO ROMANO AO DIREITO CONTEPORÂNEO................................................................................................. 1.6.1Da violação da liberdade na cobrança de pedágio Res extra commercium............................................................................................................ 1.6.2 A luta pela propriedade da terra na história de Roma e no Brasil: considerações críticas............................................................................................. 1.6.3 Da necessidade da boa-fé objetiva na ética profissional do advogado........ 1.6.4 A questão da responsabilidade civil do estado perante o direito romano.................................................................................................................... 1.6.5 O direito romano perante a tragédia da globalização................................... 1.6.6 Da fiducia cum creditore ao contrato de alienação fiduciária em garantia................................................................................................................... 1.7 O POVO ROMANO E O JULGAMENTO DE CATILINA.................................. 1.7.1 Quem foi Cícero............................................................................................. 1.7.2 Quem foi Salustio........................................................................................... 1.7.3 Quem foi Catilina............................................................................................

11 12 12 13 14 14 14 15 15 16 16 17 17 18 19 20 20 20 23 23 23 24 24 24 25 25 25 25 25 25 26 26 26 27 27 28 28 28 29

Page 9: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

1.7.4 Antecedentes históricos da crise republicana............................................... 1.7.5 Considerações críticas em torno do texto de Cícero..................................... 1.7.6 Considerações críticas em torno do texto de Salústio................................... 2. PARTICIPAÇÕES EM CONGRESSOS E ARTIGOS PRODUZIDOS................ 2.1. CONGRESSOS DO ANO 1983 à 1993........................................................... 2.1.1 Do tribunado da plebe e do conceito de justiça............................................ 2.1.2. O pensamento codificador de augusto Teixeira de Freitas em face da escravidão no Brasil................................................................................................ 2.1.3. Do conceito romano de imperium e seus desvios jurídicos – políticos................................................................................................................... 2.1.4. Anotações histórico-críticas em torno do binômio direito público – direito privado..................................................................................................................... 2.1.5 Considerações histórico-crítica em torno do binômio direito público-direito privado..................................................................................................................... 2.2. CONGRESSOS DO ANO DE 1993 A 2003..................................................... 2.2.1. Da violação da liberdade na cobrança de pedágio....................................... 2.2.2. A luta pela propriedade da terra na história de Roma e no Brasil................. 2.2.3 Das presunções como meios de prova de Roma à atualidade...................... 2.2.4 A questão da responsabilidade civil do estado perante o direito romano.................................................................................................................... 2.2.5 O direito romano perante a tragédia da globalização.................................... 2.2.6 Da fudúcia cum creditore ao contrato de alienação fiduciária....................... 2.2.7 A manus e o consensus no casamento romano........................................... 2.3 CONGRESSOS DO ANO DE 2004 A 2012...................................................... 2.3.1 O povo romano e o julgamento de Catilina.................................................... 2.3.2 A sucessão testamentária no direito romano e seu papel na gênese da pessoa jurídica........................................................................................................ 2.3.3 Res estra comércium: de Roma aos tempos atuais...................................... 2.3.4 Da crise do ensino do direito romano atualmente no Brasil........................... 2.3.5 Considerações críticas em torno do princípio “pacta sunt servanda”............ 2.3.6 Princípios consitucionais democráticos para um novo poder judiciário.................................................................................................................. 2.3.7 Considerações críticas em torno do princípio pact sunt servanda................. 2.4 ARTIGOS DO ANO DE 1974 A 1984............................................................... 2.4.1 Do condomínio edilício e suas fontes............................................................ 2.4.2 A influência da história na sucessão testamentária........................................ 2.4.3 Decretais........................................................................................................ 2.4.4 Condomínio edilício....................................................................................... 2.4.5 Decretalista.................................................................................................... 2.4.6 “Didachê”........................................................................................................ 2.4.7 Didascalia....................................................................................................... 2.4.8 Digesto........................................................................................................... 2.4.9 Doação “mortis causa”................................................................................... 2.4.10 “Eadem causa petendi”............................................................................... 2.4.11 Racionalismo................................................................................................ 2.4.12 Da iniciativa das provas e dos poderes do juiz no direito romano e na atualidade................................................................................................................ 2.4.13 O cristianismo e a formação do direito medieval.........................................

29 29 30 31 32 32 34 35 36 36 37 37 38 39 40 40 40 40 41 41 42 42 43 44 44 45 45 46 46 46 47 48 48 48 49 49 49 50 50 51 51 52

Page 10: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

2.4.14 A destruição do homem pela ganância do poder econômico....................... 2.5 ARTIGOS DO ANO DE 1984 A 1994............................................................... 2.5.1 Do tribunado da plebe e do conceito de justiça............................................. 2.5.2. Do conceito romano de imperium e seus desvios jurídicos-políticos............ 2.5.3 O pensamento codificador de augusto teixeira de freitas em face da escravidão no Brasil................................................................................................ 2.5.4 O judiciário e o povo...................................................................................... 2.5.5 Ensino, pesquisa e prática............................................................................. 2.6. ARTIGOS DO ANO DE 1995 Á 2005............................................................... 2.6.1. Presunção absoluta e relativa (teoria das provas)........................................ 2.6.2 A luta pela propriedade da terra na história romana e no Brasil.................... 2.6.3 Da violação da liberdade na cobrança de pedágio........................................ 2.6.4 O direito romano em face da tragédia da globalização.................................. 3. ARTIGOS EM JORNAIS E PERIÓDICOS.......................................................... 3.1 O ADVOGADO EM FACE DO JUIZADO DE PEQUENAS CAUSAS................ 3.2 É PROIBIDO DISCORDAR............................................................................... 3.3 O BOI................................................................................................................ 3.4 O VÍRUS DA GANÂNCIA.................................................................................. 3.5 A NOVA (E RENDOSA) INDÚSTRIA DA MULTA.............................................. 3.6 ATUALIDADE DO DIREITO ROMANO............................................................. 3.7 O PAPEL DA UNIVERSIDADE E DOS CURSOS SUPERIORES.................... 3.8 UM HERÓI DA RESISTÊNCIA DO DIREITO ROMANO................................... 3.9 CONGRESSOS NÃO LOCALIZADOS.............................................................. 4. CONCLUSÃO..................................................................................................... 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................. 6. ANEXOS............................................................................................................. 6.1. DADOS GERAIS FORMAÇÃO ATUAÇÃO......................................................

53 53 53 53 54 54 54 55 55 55 56 56 57 57 57 58 58 59 60 61 62 63 64 65 66 70

Page 11: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

INTRODUÇÃO

A história do Direito estuda o Direito como fenômeno histórico e cultural, que

se forma ao longo do tempo. Acrescente-se, que o objeto da História do Direito não

é apenas a descrição dos fatos passados, mas sobretudo uma visão crítica das

normas, códigos, leis, sentenças, obras jurídicas, bem como das instituições e

institutos jurídicos do passado, para que se possa estabelecer uma conexão com o

direito atual.

Conforme as obras analisadas, não é possível estabelecer uma única

definição lógica de Direito, mas sim diversas formas de conhecimento das leis.

Neste contexto, como é possível estudar o Direito sem conhecê-lo pois, uma

vez que, o Direito representa lei e ordem, não é possível que este seja desvinculado

de suas origens, não há legislação se não houver história.

Estudar Direito numa perspectiva histórica traz a origem desta disciplina, bem

como sua essência e evolução, sendo esta originária de usos e costumes ligados a

religião nas sociedades primitivas, influenciando várias e diferentes civilizações.

Assim, as crenças, usos e costumes, elementos do direito consuetudinário

(costumeiro), influenciaram as mais importantes regras jurídicas na história da

humanidade.

O direito não se exclui do estudo sob uma visão histórico. A história se mostra

importante para o Direito no momento em que serve como conhecimento e acúmulo

de experiências passadas, possibilitando uma ampliação das analises de situações

jurídicas e na interpretação dos textos normativos.

Nesse entendimento, é necessária a compreensão da importância da história

para o Direito, tendo em vista que a busca pela praticidade e celeridade não

pressupõe a valorização dos institutos e o conhecimento teórico.

Para tanto, à luz do professor Dr. Aloísio Surgik, este estudo, dividido em

capítulos versará a importância do estudo do Direito sob um ângulo histórico,

buscando a compreensão das finalidades das normas, pois sem esta compreensão,

o conhecimento do jurista é inferiorizado e se torna superficial, sem fundamentação

adequada.

Page 12: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

12

1. OBRAS PRODUZIDAS

1.1 A ORIGEM DA CONCILIAÇÃO

Papado e Império refletem inquestionavelmente as relações entre o direito

canônico e o direito romano, sendo imprescindível, para a correta compreensão da

origem da conciliação, como figura processual, distinguir com precisão o direito

canônico do romano, quanto aos seus respectivos escopos.

Cumpre ressaltar, antes de mais anda, que o direito canônico, na sua forma

original, constitui um corpo de cânones e de procedimentos que a Igreja Católica

Romana desenvolveu para seu próprio governo e para regular os direitos e

obrigações de seus adeptos1. Neste sentido, o processo canônico visa

primordialmente à salvação da alma, que é o escopo ultraterreno da Igreja2,

diversamente do processo civil romano, o qual, destinado a tutelar os direitos de

cada um, visando a resguardar a paz social na solução de litígios, tem uma

finalidade essencialmente privatística no período áureo do ordo iudiciorum

priuatorum, sendo dominado posteriormente por finalidades prevalentemente

publicísticas no período da extraordinária cognitio3.

Para se conhecer a verdadeira origem da conciliação, faz-se mister conhecer

o processo romano e o canônico, não fragmentariamente, mas numa ampla visão de

conjunto, de ambos e de cada um.

Na evolução histórica do direito ocidental, operou-se uma constante

interpenetração entre o processo romano e o canônico, com predominância deste

sobre aquele.

Contrariamente à afirmação dos autores que sustentam ser a conciliação de

origem romana, afirmamos que a origem de conciliação não é romana, mas

canônica, caracterizada pelo paternalismo que outrora exerceu a Igreja e que,

depois, se deslocou para o Estado, este fazendo, hoje, às vezes daquele.

A razão do equívoco em que muitos autores laboram, quanto à origem da

conciliação, esta no fato de que, não só existe um lamentável desconhecimento

1 Cf. JOH HENRY MERRYMAN, op. cit., p. 29.

2 Cf. FERNANDO DELLA ROCCA, Saggi di diritto processuale canônico, Padova, Casa Editrice Dott,

Antonio Milani, 1961, p.37. 3 Cf. EMILIO COSTA, Profilo Storico del processo civile romano, Athaeneum, Roma, MCMXIII, Introd.,

p. 3.

Page 13: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

13

histórico das nossas instituições jurídicas, como também a doutrina não tem

procurado estabelecer com clareza a distinção entre conciliação e a transação

(esta, sim, de origem romana).

A conciliação como figura estritamente processual, cuja origem remota aos

primórdios do cristianismo, insere-se num contexto histórico em que a tendência à

conciliação é muito mais ampla do que, à primeira vista, se poderia supor:

conciliação do judaísmo com o império romano, do judaísmo com o próprio

cristianismo, da razão com a fé.

Hoje, mais do que nunca fala-se em conciliação. Conciliação na política,

conciliação no direito. Para um sistema processual quase falido, cogita-se da criação

de um “conciliador” para os chamados juízos de pequenas causas.

Como em outras épocas, também agora, no Brasil, as elites vão arranjando

um jeito de “pacificar”, escamoteando a realidade duramente marcada pelas

desigualdades sociais, que, cada vez mais, se acentuam.

Protela-se a solução dos verdadeiros problemas, na busca da perpetuação

dos privilégios dos “iguais”. Assim, foi no Império, com a conciliação que instaurou a

paz do Segundo Reinado.

Assim, foi na Abolição, na República e na pranteada democracia de 1946,

fruto tardio da Revolução de 1930, aliás, devidamente adulterada pela ditadura de

1937.

Primeiro, é a crise; depois, a conciliação. Dos de cima, evidentemente, antes

que os de baixo possam reclamar.

Ao alimentarmos, pois, a convicção de que um povo suficientemente adulto e

plenamente consciente de seus direitos pode dispensar tutelas paternalistas,

também não será utópico nutrirmos a esperança de que, um dia, a justiça ainda volte

a ser popular, devolvendo-se, assim, ao povo, o que é do povo.

1.2 TEMAS CRÍTICOS DE DIREITO Á luz das fontes

Este livro reúne trabalhos dos mais variados assuntos jurídicos, submetidos á

luz das fontes. Dai o título: TEMAS CRÍTICOS DE DIREITO Á LUZ DAS FONTES.

Page 14: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

14

1.2.1 A propósito do estacionamento pago na “área de estar”

Estas considerações vem a propósito do eufemismo que se vem empregando

na tentativa de justificar o fenômeno “Estacionamento regulamentado” (na realidade,

estacionamento pago) nas vias e logradouros públicos de Curitiba abrangidos pela

“Área de Estar”, que se introduziu pela discutível Lei Municipal n.° 3.979 de 5.11.71,

regulamentada pelo Decreto n.° 569, de 20. 6. 80, sob o sedutor lema: “Mais espaço

para quem não tem tempo a perder”.

Entendemos, pois, que o debate e a auscultação da vontade popular, no caso,

é indispensável.

1.2.2 Anotações históricos - críticos em torno do binômio direito público - direito

privado

No tocante ao presente tema, argumenta-se geralmente que a noção

moderna de direito público, assim como a divisão do direito público e privado, tem

base no direito romano, segundo o famoso texto que se atribui a Ulpiano.

Perquirindo as fontes, não podemos afirmar que a divisão de direito em

público e privado, tal como se coloca hoje, tenha origem romana. O que se mostra

claro é que, uma vez propagada tal divisão, o direito privado caracterizado através

da historia como direito civil, vem sofrendo a avalancha da publicização cada vez

mais intensa, no interesse predominante do Estado

1.2.3 Didaché

Primeiro manual catequético, de liturgia e de organização da igreja,

descoberto em Constantinopla, em 1873 ou em 1875, de origem desconhecida.

Encontramos traços e influências da Didache na literatura canônica, com reflexos e

influências óbvios sob o nosso atual direito.

Page 15: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

15

1.2.4 Didascalia

Didascalia dos Apóstolos, ou seja, o ensinamento católico dos doze Apóstolos

e dos discípulos de Cristo, documento eclesiástico do III século da nossa era. O

escrito original da língua grega perdeu-se. São conhecidas principalmente duas

antigas versões: a latina e siríaca bem como duas versões mais recentes, já

interpoladas: a etíope e a árabe. Sua fonte principal é a Bíblia, que fornece

aproximadamente metade do conteúdo da obra.

É natural que se estabeleça como local de origem da Didascalia o país onde

ela aparece pela primeira vez e onde alcança seu maior sucesso, ou seja, a

Mesopotâmia. Aliás, foi na Mesopotâmia que foi feita a maior parte de suas

traduções do grego ao siríaco.

Nela se reflete, com toda a nitidez, o espírito da Igreja, e encontramos

delineados os principais institutos da disciplina processual então em vigor.

1.2.5 Direito canônico

O direito canônico constitui, no sentido objetivo, o conjunto de leis

promulgadas pela Igreja para o governo da sociedade eclesiástica e para a disciplina

das relações dos fiéis.

As grandes divisões do direito canônico baseiam-se nas suas origens e nos

seus principais caracteres. Distinguem-se principalmente: o direito divino e o direito

humano; o direito escrito e o não escrito. O direito comum e o particular ou local; o

direito das igrejas do Oriente e o direito das igrejas do Ocidente.

A Igreja até 313 era perseguida ou pelo menos ignorada oficialmente. Não

podia se desenvolver senão com prudência e dificuldade. Daí em diante, ela

manifesta-se abertamente. A partir de Constantino, é beneficiada pelo apoio do

Estado e por muitos privilégios.

As fontes de conhecimento do direito canônico anterior a codificação

costumam dividir-se, conforme os três grandes períodos: o do ius antiquum,

compreendendo o direto anterior a Graciano (entre 1140 e 1150); o do ius novum,

Page 16: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

16

referente ao período entre Graciano e o Concilio de Trento (1545-1563); e o do ius

novissimum, posterior ao Concilio de Trento.

Eis, para finalizar, algumas das conclusões de Jose V. Salazar Ariais4: A

recepção, não tanto dos dogmas, porém dos cânones eclesiástico na ordenação

imperial romana, enriqueceu sobremaneira o direito romano, abrindo uma era de

todo nova na historia do direito e dando pé a fenômenos jurídicos que haveriam de

se repetir sob as mais diversas formas através das legislações dos povos bárbaros,

primeiro, e dos direitos modernos, depois.

1.2.6 Digesto

Tornou-se célebre, todavia, a compilação do Imperador Justiniano, sob o titulo

Digesta Iustiniani August, ou, simplesmente, Digesto ou Pandectas, como dizemos

hoje, que constituiu parte da compilação geral de Justiniano (Corpus Iuris Civili).

Na elaboração do Digesto Justinianeu, entre as normas dadas para

compilação do Digesto, Justiniano ordenou a Triboniano e aos demais membros da

comissão que recolhessem tão-somente a matéria das obras dos jurisconsultos que

tinham autoridade conferida pelo Imperador no sentido de compor e interpretar o

direito.

Para fins práticos, adotou a comissão o critério da distribuição da matéria em

sete partes.

1.3 COMPÊNDIO DE DIREITO PROCESSUAL CANÔNICO

Não se pode ignorar que, durante séculos, além dos clérigos, também os

pobres em geral, as viúvas, os órfãos (personae miserabiles), assim como os

caminhantes, os mercadores e os navegantes (ratione pacis et securitatis)

sujeitavam-se ao foro eclesiástico e, ainda ( ratione materiae), todas as causas

espirituais e as anexas ás espirituais, particularmente todas as causas matrimoniais,

eram regidas pelo direito canônico, sendo permitido, ademais, o recurso do juiz

4 SALAZAR ARIAS, Jose V., Dogmas y cânones de la iglesia en el derecho romano, Madrid, Ed.

Reus, 1954, p. 308

Page 17: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

17

secular aos eclesiástico, mas não vice-versa, o que fez a jurisdição eclesiástica

expandir-se desmesuradamente ao longo da Idade Média, com profundas

repercussões até os nossos dias.

1.3.1 O processo canônico antes do decreto de Graciano

O juiz (um bispo), no inicio era escolhido pelo acordo das partes; depois,

quando se estabeleceram critérios de competência, a requerimento de uma delas.

Recusando-se a comparecer para julgar, era privado da comunhão eclesiástica.

Quanto às provas, não existindo nessa época teoria alguma, e o direito

romano, modelo seguido pelos bispos, sendo liberal ao extremo nesse ponto,

incumbia às partes fornecer suas respectivas provas, recaindo, em princípio, o ônus

probandi ao autor, de tal sorte que se, não pudesse provar seu direito, corria o risco

de perder a demanda. Tal critério, porém, não prevaleceu por longo tempo, uma vez

que decisões legislativas posteriores passaram a regular matéria, dando lugar à

chamada prova legal.

O falso testemunho punia-se com a excomunhão.

No século V, o papado afirma energicamente que suas sentenças são

irrecorríveis. De Zózimo a Gelásio, os testemunhos são abundantes. A manifestação

o primado.

O Papa, chefe da Igreja, intervém em todas as questões de disciplina, sendo

também o juiz supremo a quem todo recurso pode subir de última instância. Esta

arbitragem universal do Papa e a garantia da unidade da Igreja Cristã.

1.3.2 O processo canônico no decreto de Graciano

Dele não se conhece outra obra além do famoso tratado conhecido

comumente sob o nome Decretum e conhecido nos mais antigos manuscritos e nas

primeiras glosas sob a denominação de Concordantia discordantium cononum.

O Decreto de GRACIANO contém os cânones do segundo concilio de Latrão,

de 1139, e as últimas decretais que ele cita são, do papa INOCÊNCIO II (1130-

1148). Foi concluída entre os anos 1139 e 1148.

Page 18: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

18

A Panormia é o excerto metódico do Decretum de IVO DE CHARTRES. Sua

difusão, autoridade e influência são enormes, pelas seguintes razoes: a brevidade,

que lhe conferia a melhor recomendação, a ordem lógica e metodicamente perfeita,

não somente na disposição de toda coleção, mas também cada um dos livros, de tal

forma que a matéria desejada pudesse encontrar-se com facilidade.

Sem dúvida, o Decreto de GRACIANO não é uma simples compilação, como

as coleções procedentes. Assim, como fonte do direito canônico, o Decreto de

GRACIANO apresenta-se-nos sob dois aspectos: de um lado, ele é uma reprodução

dos princípios que governavam o processo na época de GRACIANO; de outro, é o

documento que consagra a existência de todos os elementos da época, constitutivos

de tais princípios, que se conservam ate se tornar parte integrante da atual disciplina

legislativa. Verifica-se no Decreto de GRACIANO acentuada influência romanística,

particularmente no que tange à parte específica do processo.

1.3.3 O processo canônico nas decretais de Gregório IX

Sob a denominação que se tornou famosa, DECRETAIS DE GREGÓRIO IX,

ou, simplesmente, DECRETAIS(56), a grandiosa obra constitui-se a fonte de

conhecimento por excelência do período clássico do direito canônico ( séculos XIII e

XIV). Prevaleceu o princípio do processo escrito, ou seja, de que todos os fatos,

afirmações e provas deviam, sob pena de nulidade, reduzir-se em atas, por pessoas

devidamente autorizadas para este fim: quod non est in actis, non est in mundo.

Além dos clérigos, os pobres, as viúvas, os órfãos ( personae miserabiles),

assim como os caminhantes, os mercadores e os navegantes ( ratione pacis et

securitatis).Tudo isto, aliado ao fato de que permitia o recurso do juiz secular ao

eclesiástico, mas não vice-versa, quando da iustitia denegata, fez com que a

jurisdição eclesiástica se expandisse enormemente ao longo da Idade Média.

Page 19: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

19

1.3.4 O processo canônico no “ codex iuris canonic” de 1917

A grande quantidade de leis eclesiástica levou a Igreja latina a elaborar seu

próprio código, à semelhança do que vinham fazendo muitos países, ao impulso do

amplo movimento codificador, após o Código de Napoleão.

A guerra de 1914-1918 e o falecimento de PIO X não retardaram a tarefa,

como seria temer. É que seu sucessor, BENEDITO XV, estimulou os trabalhos, e

antes que a guerra terminasse, no dia 27 de maio de 1917, com a Constituição

Prouidentissina Mater Ecclesia, promulgava o Codex Iuris Canonici, que haveria de

entrar em vigor no dia 19 de maio de 1918.

Abolido o rito sumário, o processo canônico é de rito ordinário, predominando

no contencioso, as regras “nemo iudex sine actore”, “ ne precedat iudex ex officio”,

consubstanciadas no cânone 1706.

Tanto a sentença definitiva como a interlocutória pode ser constitutiva,

condenatória, absolutória.

1.3.5 O processo canônico no codex iuris canonici de 1983

No documento com que o papa JOÃO PAULO II anunciou a promulgação do

novo CODEX IURIS CONONICI, em 25 de janeiro de 1983, acentuando-se que o

mesmo é absolutamente necessário à Igreja (“Ecclesiae omnino necesarius est”),

esclareceu que a novidade encontrada no Concílio Vaticano II, principalmente em

sua eclesiologia, constitui também a razão da novidade do novo Código.

A presunção é a conjectura provável de uma coisa incerta. Se estabelecida

pela lei, chama-se presunção iuris, se formulada pelo juiz, chama-se presunção

hominis. Quem tem a seu favor uma presunção de direito (iuris) fica livre do ônus da

prova, que recai sobre a parte contrária.

Page 20: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

20

1.3.6 Dos modos de evitar os juízos

“Para evitar contendas judiciais, emprega-se ultimamente a composição ou a

reconciliação, ou pode-se confiar a controvérsia ao juízo de um ou mais árbitros”,

determina expressamente o CÂN. 1713.

“No que se refere à composição, ao compromisso e ao juízo arbitral,

observam-se as normas escolhidas pelas partes, ou se as partes não tiverem

escolhido nenhuma, a lei dada pela Conferência dos Bispos, se houver, ou a lei civil

vigente no lugar onde se faz a convenção”. “Se a lei civil não reconhecer o valor da

sentença arbitral, a não ser que seja confirmada por juiz, para que uma sentença

arbitral sobre controvérsia eclesiástica tenha valor no foro canônico, necessita da

confirmação do juiz eclesiástico do lugar em que foi proferida. Mas, se alei civil

admitir a impugnação da sentença arbitral diante do juiz civil, a mesma impugnação

se pode propor no foro canônico diante do juiz eclesiástico competente para julgar a

controvérsia em primeiro grau” CÂN. 1716.

Como se pode ver, pela sistemática do novo código, a Igreja parece estar

abdicando, por assim dizer, de sua autonomia, em favor do Estado ou, pelo menos,

compartilhando de alguma forma com o mesmo, quando se trata de composição,

compromisso ou juiz arbitral, que o deixa transparecer que o direito da Igreja e o

direito estatal voltam a dar-se as mãos.

1.4 LINEAMENTOS DO PROCESSO CIVIL ROMANO

O que hoje chamamos de processo, os romanos, como diz JEAN

GAUDEMET5 , qualificavam de ius actionum.

Ao contrário do que sucede na atualidade, encarava-se então o direito antes

pelo aspecto processual do que pelo lado material, podendo-se, portanto, afirmar

que o direito romano era antes um sistema de ações do que um sistema de direitos

subjetivos, o que se verifica principalmente no direito clássico, quando a evolução

5 JEAN GAUDENET, Institutiones de I’antiquité, Paris, 1967, p.395

Page 21: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

21

dos institutos jurídicos romanos se faz, sobretudo pela autuação do pretor no

processo6.

Convém salientar que as leis romanas daquela época não necessariamente

escritas. Em número muito reduzido, conservavam-se na memória do povo e não se

revestiam de caráter imperativo da lei moderna. Por outro lado, o processo romano,

tanto o da legis actiones como o das formulae, era de caráter privado. Vigorava o

ordo iudiciorum priuatorum, que compreendia duas fases: a in iure (desenvolvida

diante do magistrado) e a apud iudicem (processada diante do iudex). O iudex por

sua vez era um particular; não, como em nossos dias, um funcionário do Estado7.

Com certeza, o ponto culminante em que se alcançou a melhor experiência, a

mais excelsa elaboração processual, a mais rápida e equânime distribuição da

justiça, é o do período clássico (ordo iudiciorum privatum). O caráter marcante do

poder judiciário nesta época, especialmente na republica, é a ausência completa da

unidade e hierarquia, embora o poder judiciário não esteja separado das demais

atribuições da soberania. Entretanto, a soberania é popular. Cada magistrado, eleito

pelo povo anualmente, é soberano em sua respectiva área de jurisdição. Não

somente não há um tribunal supremo a manter uniformidade da aplicação das leis,

como não há também esta gradação, que os modernos entendem necessária, e que

permite a um tribunal superior reformar a decisão de um tribunal inferior.

Muitas causas concorreram para que esta espécie de onipotência absoluta na

administração da justiça não degenerasse em abusos: de um lado, o fato, já

anteriormente aludido, de os magistrados serem eleitos apenas por um ano e, ao

final de sua gestão, poderem ser chamados a prestar severas contas; por outro, o

juiz prevaricador ou incapaz, ou aquele que fez sua a lide (qui litem suam facit), além

de incorrer em infâmia, é responsável com relação às partes por seu mau

julgamento.

6 JOSÉ CARLOS MOREIRA ALVES, Direito romano, Forense, Rio de Janeiro, 4.ª Edição, 1978, vol.

I, p. 245. 7 O estado não é conceito geral, valido para todos os tempos, mas conceito histórico concreto, que

surge quando nascem a ideia e a prática da soberania, na ordem espacial nova do século XVI. Aplicar a palavra Estado às formações políticas anteriores ao século XIII constitui anacronismo em sua própria essência tão pouco justificado como a designação, que a todos pareceria ridícula, de estrada de ferro ou tropas blindadas ( cf. MANUEL GARCIA PELAYO, Frederico II de Suábia e o nascimento do Estado Moderno, trad. de Amilcar de Castro, Ed. da Revista Brasileira de Estudos Políticos, Fac.de Direito da Univ. de Minas Gerais.1961. p. 93).

Page 22: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

22

Por outro lado, a liberdade de opção que permite às partes escolher

livremente o seu juiz torna-se incompatível com qualquer forma de recurso no

sentido de visar à reforma da sentença, pois as partes se comprometem a submeter-

se à sentença do juiz que livremente escolheram ressalvados sempre o direito da

reuocatio, em caso de sentença nula.

Esse quadro, todavia, altera-se profundamente no decorrer da época pós-

clássica, com a instauração da cognitio extra ordinem.

Sob o regime imperial, à medida que se acentua o poder arbitrário do

imperador e se consolida a organização hierárquica, com consequente multiplicação

das mais variadas funções burocráticas, em cuja maquina se insere também o juiz-

magistrado, subordinado ao imperador e à complexidade dos poderes eclesiásticos,

todo o processo se desfigura, tornando-se em geral prolixo e muito moroso, sujeito a

múltiplos recursos.

Entrementes, sob o impacto da ascensão dos povos bárbaros, acentua-se o

declínio e a queda do império romano8.

E assim, “do ponto de vista histórico o processo extraordinário constitui a

primeira forma do processo moderno” – como afirmaram ALEXANDRE CORREIA E

GAETANO SCIASCIA9.

Efetivamente, a cognitio extra ordinem é o ponto de partida da concepção

publicista do processo, dominante em nossos dias sob a égide estatal, o que está a

merecer a mais profunda revisão crítica, no sentido de se resgatar a dignidade

política do direito através das bases populares — única fonte legítima do poder e,

consequentemente, do próprio direito.

No plano político, a derrocada do regime imperial romano é um fato histórico

inconteste, acompanhado da decadência econômica.

No plano jurídico, especificamente no campo processual, o regime imperial

desfigurou totalmente as linhas sóbrias e claras do ordo iudiciorum priuatorum,

passando a reger o processo pela extraordinária cognitio.

8 Sobre a destruição do império romano se ter constituído num triunfo conjunto da barbárie e o

cristianismo, v. EDWARDE GIBBON, Declínio e queda do império romano, trad. de José Paulo Paes, Companhia das Letras/Circulo do Livro, São Paulo, 1989, p.23. 9 Op. Cit., Vol. I, p.109.

Page 23: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

23

A transição da república romana para o principado desviou o conceito de

imperium, subvertendo-lhe o sentido jurídico-popular para imprimir-lhe caráter

político-militar-econômico.

É claro que não podemos debitar totalmente o imperialismo dos nossos dias à

herança imperial romana. Contudo, não deixa de ser sugestivo ao estudioso de hoje,

obcecado muitas vezes pelos hábitos imperiais, atualmente consolidados no abusivo

poder estatal, um retorno ao passado, para se redimensionar o conceito de

imperium, restituindo-lhe o autêntico sentido jurídico-popular e fazendo com que o

processo retorne às suas legítimas bases populares.

1.5 GENS GOTHORUM As raízes bárbaras do legalismo dogmático.

1.5.1 Direito romano clássico

A grandeza na simplicidade da participação popular.

Época em que os romanos, por sua própria índole, não utilizavam

codificações, para os romanos o povo do Direito não foi povo das leis, evitavam

palavras raras de difícil compreensão, usavam a simplicidade e a clareza para se

expressar.

Para os romanos clássicos as codificações conduz facilmente a interpretação

literal, violenta a natureza das coisas, ou seja, as codificações e as multiplicações

das leis poderia aprisionar a sociedade numa espécie de camisa de força, assim

como as atividades dos juristas romanos, não tinham intervenções de caráter

Estatal.

1.5.2 Direito romano pós-clássico

No Período Pós-clássico, a partir do Imperador Diocleciano, o direito romano

começou a tomar feições típicas do chamado Dominato, aderindo a tendências as

grandes codificações. Época de triunfo Ocidente e Paganismo, já em Constantino

começa a dominar Oriente e Cristianismo, com o Edito de Milão em 313, o

Cristianismo que era considerado religião ilícita passou a ser licita, passando o

magistério da igreja de proibido a permitido e muito favorecido.

Page 24: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

24

Foi a partir de Constantino o ponto de partida de toda complexidade que se

criou, na parte civil misturou-se e confundiu-se as terminologias que os clássicos

souberam usar com clareza e precisão, assim como, as modificações do direito

penal e da próprio jurisdição apresenta-se como resultado de uma evolução unitária.

Ou seja, o período Pós-Clássico foi uma complicada fase de múltiplas ações e

reações em franca decadência sob o domínio imperial.

1.5.3 Direito visigótico no ocidente

O legalismo na simbiose entre o trono e o altar

Os visigodos penetraram no Império Romano, em pleno Dominato, onde a

política imperial fazia das leis instrumentos únicos de poder do imperador. Adotaram

como religião o arianismo, ligando-se a razoes eminentemente políticas, no sentido

de se firmar, na posição religiosa, a posição política veemente oposta ao domínio

romano.

Assim, após varias codificações criado em todo período visigótico, o legalismo

dogmático-religioso, transformou-se em legalismo dogmático-estatal. Sendo

profunda a transformação que os visigodo operaram no campo do direito, com

grande repercussão até o presente.

1.5.4 Direito justinianeu no oriente

1.5.4.1 A junção dos retalhos na costura e expansão do legalismo dogmático

Já no Dominato de Justiniano no Oriente, criou-se o Corpus Iuris Civilis, fonte

que em grande parte acabou constituindo a base das legislações hodiernas, levando

ao esquecimento quase total do que melhor a experiência romana criou, como a

simplicidade a clareza e a eficiência do período clássico.

Essas mudanças ocasionadas pelo domínio visigótico no Ocidente e pela

atuação bizantina no Oriente, resultaram na confluência desses dois elementos para

um destino comum, cujo, caráter dogmático assume peculiaridades próprias, a base

de um fundo comum, o domínio eclesiástico a enveredar posteriormente rumo ao

racionalismo atual, sob a égide do Estado.

Page 25: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

25

Ao tempo de Justiniano, o caudal normativo, direto ou transformado, chegou

ao extremo. Das sutilezas que se avolumaram e da prolixidade que passou a

dominar, estamos até hoje sofrendo as consequências.

1.5.5 Penetração iluminista em Portugal

1.5.5.1 O legalismo sem razão na “lei da boa razão”

Tal situação modificou-se finalmente no terceiro quartel do século XVIII, com a

difusão das ideias do jusnaturalismo e do usus modernus pandectarum e com sua

consagração pela Lei de 18 de agosto de 1769, que ficou conhecido na história do

direito lusitano por Lei da boa razão, em virtude do respetido uso que dessa

expressão se faz no respectivo texto.

Importa, antes de mais nada, considerar que esta famosa lei se insere na

corrente de pensamento da época, que é o racionalismo.

Convém, entretanto, lembrar que, antes da reforma pombalina, diversos

movimentos culturais fermentaram e prepararam o ambiente que culminou com a

promulgação da Lei da boa razão.

Entretanto, o Iluminismo, que serviu para deslocar o legalismo do âmbito

dogmático-eclesiástico, para o âmbito dogmático-estatal, com suposta base na razão

foi apenas uma das fases do processo evolutivo.

1.5.6 Consequências

1.5.6.1 A penetração das raízes visigóticas no legalismo dogmático atual.

O legalismo dogmático-religioso, assim originado do contacto dos visigodos

com o Império romano e a Igreja, transformou-se depois em legalismo dogmático-

estatal por obra, principalmente, do racionalismo jurídico.

A proliferação legal, como resultado da implantação do sistema legalista,

gera hoje funestas consequências, não só por parte do assim chamado macro-

legislador, com suas medidas provisórias e outras formas de legislação autoritária,

mas também do micro-legislador, o qual, através de portarias, regulamentos, normas

Page 26: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

26

ou disposições, nas diferentes instâncias do poder e da administração pública, torna

muitas vezes a vida dos indefesos cidadãos um verdadeiro suplício.

Ofuscadas as mentes hodiernas com o ilusório brilho do presente, pouca

importância costuma atribuir-se à história, ou, quando muito, encara-se a História e o

próprio Direito Romano com simples curiosidade, sem necessário juízo crítico no

sentido de corrigir muitas distorções de que hoje padecemos.

1.6 VIAJANDO PELA HISTÓRIA DO DIREITO ROMANO AO DIREITO

CONTEPORÂNEO

Este livro contém basicamente algumas das teses apresentadas e discutidas

em congressos internacionais de Direito Romano, de uns dez anos para cá.

1.6.1 Da violação da liberdade na cobrança de pedágio Res extra commercium

As rodovias e vias públicas, pela sua própria natureza, enquanto pertencente

ao povo, entram na categoria de res extra commercium, não podendo, portanto, ser

explorada comercialmente, nem mesmo através de cobrança de pedágio, sob

disfarce de “preço público”.

As rodovias e vias públicas não podem ser objetos de concessão para

exploração de pedágio, ainda que mediante promessas de melhoria de sua

qualidade, porque sua construção manutenção e conservação em boas condições

são de inteira responsabilidade do poder público, que já arrecada tributos para este

fim, cabendo-lhe garantir a cada cidadão o direito de ir e vir em plena segurança10.

1.6.2 A luta pela propriedade da terra na história de Roma e no Brasil: considerações

críticas

10 (Tese apresentada em las Palmas de Gran Canaria, durante o IX Congresso Ibereoamericano de

Direito Romano, em fevereiro de 2006).

Page 27: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

27

Nem todos os grandes proprietários de terra do Brasil fizeram algo por

merecê-la, muito menos pagaram o preço correspondente ao seu real valor para

adquiri-las, considerando-se a grande facilidade com que foram concedias outrora

as histórias Capitanias Hereditárias, cuja, denominação, por si só, já explica

literalmente o fenômeno.

O MST, é movimento político, sim, e tem que ser político, precisamente

porque falta vontade política por parte dos governantes para resolver problemas tão

grave, como é o da injusta distribuição de terras.

Seja como for, o exemplo do passado deve estimular-nos no presente.

Afinal, luta-se por um pedaço de terra, na busca de trabalho para a produção de

alimentos, que se resume na luta pela preservação da própria vida11.

1.6.3 Da necessidade da boa-fé objetiva na ética profissional do advogado

Ora, se o princípio da boa- fé objetiva, realmente se consolidou no âmbito

processual romano, a partir dos iudicia bonae fidei, daí se projetando até a

atualidade sem que seja possível negar seu valor, facilmente se pode deduzir que a

correta tramitação de um processo, para a obtenção, da justa sentença por parte do

juiz, há de supor também, necessariamente, a boa-fé objetiva por parte dos

operadores do Direito, com a integração do mesmo princípio da boa-fé objetiva na

ética profissional dos advogados.

Portanto, acima de tudo, hoje e sempre, impõe-se a necessidade da boa-fé

objetiva na ética profissional do advogado12.

1.6.4 A questão da responsabilidade civil do estado perante o direito romano

11 Trabalho apresentado no II CONGRESSO INTERNACIONAL e V IBEREOAMARICANO DE

DIREITO ROMANO, em Uenos Aires, Argentina, em agosto de 1999, e no VI COLÓQUIO ÍTALO-BRASILEIRO de direito Romano, realizado em Polotas –RS, em setembro de 1999. 12

Tese apresentada em Burgos –Espanha, durante o IV congresso Internacional Iberoamaricano de Direito Romano, em 2001.

Page 28: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

28

Não existiu em Roma o Estado como pessoa jurídica, sendo, portanto

absolutamente anacrônica e inadequada à expressão Estado Romano.

É inadmissível entender que, entre os romanos, tivesse existido uma pessoa

jurídica separada da pessoa física. Isso porque, longe de se imaginar que eles

fossem incapazes de abstrair, o que na verdade eles não admitiam era exonerar a

pessoa física, diluindo sua responsabilidade numa entidade abstrata como é a

pessoa jurídica.

Lamentavelmente, ao estuar a pessoa jurídica, a chamada ciência jurídica

moderna, mais preocupada em explicar sua natureza jurídica, nem sempre tem

demonstrado o mesmo empenho em investigar a pessoa jurídica como instrumento

de fraude.

1.6.5 O direito romano perante a tragédia da globalização

É necessário assimilar as lições históricas do Direito romano, que se expandiu

universalmente não tanto pelo caráter imperialista quanto, acima de tudo, por seu

valor cultural, imbuído que foi de profundo senso ético baseado nos mais sólidos

fundamentos da bona fides.

“Os bárbaros da atualidade, muito diferentes daqueles que outrora foram

chefiados por Odoacro e depuseram Rômulo Augústulo em 476, “são realmente

mais sutis e, portanto, mais perigosos”13.

Ao contrário do que já se disse a História não acabou; ela apenas começa. E

se quisermos realmente transformá-la em perspectivas de verdadeira esperança,

daqui para frente, cabe a nós fazer a História14.

1.6.6 Da fiducia cum creditore ao contrato de alienação fiduciária em garantia

13 GUTIERREZ, Ricardo Panero, ob. cit. p.53

14 Tese apresentada durante o XIII Congresso Latinoamericano de Direito Romano, na Universidade

de La Havana, Cuba, em agosto de 2001.

Page 29: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

29

Com a intensificação da criação de novas formas de garantias para crédito,

principalmente a partir do século XIX, o Brasil, por influência do mercado de capitais,

introduziu em sua legislação a alienação fiduciária em garantia pelo Decreto Lei

N°011/69.

Urge, pois, extirpar tal figura da nossa legislação, até porque, ao desfigurar

o conceito romano de fidúcia, constitui verdadeiro afronta ao Direito Romano.

Há setores que, por sua própria natureza e especificidade, jamais podem

ser entregues á atividade comercial, por serem claramente de exclusivo interesse da

coletividade (res communes omnium, ou res publicaer, portanto, res extra

commercium)15.

1.7 O POVO ROMANO E O JULGAMENTO DE CATILINA

A obra tem por objeto tentar resgatar, na medida do possível a verdadeira

imagem de Catilina e de Cícero, assim como os motivos que teriam impulsionado a

ambos para tomarem as atitudes que tomaram, iniciando com uma sucinta biografia

de cada um.

1.7.1 Quem foi Cícero

Marco Túlio Cícero, nascido em 106 e morto em 43 antes da nossa era. Aos

26 anos de idade passou a ser conhecido com o maior orador romano. Em 78,

retornou a Itália, onde iniciou a carreira da magistratura.

Foi eleito questor em 75, em 69 foi eleito edil curul, pretor urbano em 66,

chegando a ser eleito cônsul em 63, ocasião em que fez malograr a suposta

conspiração de Catilina. Em 58 foi exilado em Tessalônica, foi procônsul na Cicília

em 51 no ano seguinte, passou a dedicar-se a produção de importantes obras

Retóricas e Filosofia. No ano de 44, retornou á atividade pública, em 43 morreu

tragicamente aos 63 anos de idade, depois de preso onde teve as mãos e cabeça

decepadas e expostas por muito tempo no foro à vista de todos.

15 Trabalho apresentado durante o V Congresso Internacional e VIII Iberoamenricano de Direito

Romano, na cidade de Fortaleza- Ceará, em agosto de 2002.

Page 30: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

30

1.7.2 Quem foi Salústio

Caio Crispo Salústio, historiador romano, nasceu no ano 86 e morreu em 34

antes de nossa era. No ano 52, foi eleito tribuno da plebe, em 50, foi expulso do

Senado acusado de corrupção, porém no ano seguinte absolvido e reintegrado a

seu posto, chegando a ser questor.

No ano 46, foi eleito pretor, em 42, publicou sua primeira obra, “Coniuratione

catilinae”, porém ao discorrer sobre Catilina, revelou-se notoriamente parcial,

mostrando-o como se fosse um inimigo declarado da ordem e da moral, sem,

contudo apresentar provas suficientes de suas acusações.

1.7.3 Quem foi Catilina

Lúcio Sérgio Catilina nasceu no ano 108 antes de nossa era. Em 68, foi

pretor, em 67, governador da África e ao termino desta gestão, foi chamado a juízo

sob a alegação de abuso de poder. Em 66, apresentou sua candidatura para cônsul

em 65, porém, foi rejeitado por estar sub iudice.

Depois que Catilina foi absolvido da acusação de corrupção em 63,

novamente apresentou sua candidatura ao consulado, pelo partido popular e o

segundo candidato do mesmo partido foi Caio Antônio, figura quase desconhecida,

mas Catilina foi derrotado depois de uma luta acirrada.

1.7.4 Antecedentes históricos da crise republicana

A República Romana começou a sofrer profunda crise motivada por uma

infeliz reforma militar.

Caio Mário, um soldado altamente capaz, de origem humilde, foi elevado ao

consulado no ano 107, antes de nossa era, conservou-se no consulado por vários

anos, contrariando a prática republicana, que consistia em renovar o poder a cada

ano, pela escolha de todos os magistrados, através de voto popular.

Mário foi aclamado como salvador da pátria, no ano 100, entretanto, não

ocorreu a ninguém que, incidentemente, “Mario havia criado um exército profissional

Page 31: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

31

sem outro interesse de manter unido se não o do seu pagamento.”

Com essa reforma militar, criou-se “um novo tipo de legionário, um soldado

profissional sem pátria, sem nenhum outro interesse na vida salvo o do seu salário e

sem nenhum outro sentimento de lealdade senão o de lealdade ao general bem

sucedido e triunfante.”

Diante disso, pode se dizer que Catilina não foi aquela figura detestável e

perigosa, descrita com tanta veemência pelos ímpetos rancorosos de Cícero e

Salústio.

1.7.5 Considerações críticas em torno do texto de Cícero

Para entender a “ Conjuração de Catilina” basta uma leitura sobre a primeira

Catilinaria de Cícero, para perceber as motivações pessoais que, levaram o famoso

orador a desencadear os contundentes ataques deferidos contra o suposto

conspirador da República. Pode-se reconhecer que tais imputações de fato

procedem, percebe-se que o ódio de que se achava possuído Cícero foi por ele

mesmo atribuído a Catilina.

Em seu discurso invocando os costumes e o passado de Roma, insinuou que

ele, cônsul, sabia dos fatos, que o senado tinha conhecimento de tudo. Porém,

Cícero não tinha provas do que dizias, pois tudo não passava de grosseira delação

de uma tal de Fúlvia, amante de Quinto Cúrio. Recebendo assim tais “informações” e

partindo para um pré-julgamento, na suposição de que Catilina tivesse tramado até

mesmo o morticínio de cada um dos senadores, detonou seu inconformismo por

estar ainda vivo Catilina e presente no senado.

Contudo, Cícero, devia saber muito bem que, pelo direito romano, jamais se

poderia justificar a pena de morte na forma como vinha exigindo contra Catilina. E

mesmo que não fosse o caso de pena capital, mas pelo simples fato de se tratar de

crime político, ainda assim, só caberia ao povo julgar. Entretanto, com todo seu

conhecimento em direito, Cícero não hesitou em negar a Catilina o próprio direito de

defesa.

Page 32: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

32

1.7.6 Considerações críticas em torno do texto de Salústio

Embora inimigo de Cícero, sua estreita amizade com Júlio César fez com que

se preocupasse quase exclusivamente em excluir César dos planos de Catilina,

denegrindo a figura deste, tanto quanto o fez Cícero. Descrevendo a figura de

Catilina, sem que pudesse deixar de reconhecer seu vigor de espírito e de corpo, fez

questão, entretanto, de ressaltar nele o que chamou de caráter mau e depravado,

assim se expressando:

“Lúcio Catilina, nascido de nobre estirpe, foi de grande vigor de espírito e de

corpo, porém de caráter mau e depravado. Desde a adolescência, foram-lhe mais

agradáveis as guerras intestinas, as matanças, os roubos e a discórdia civil, e ali

exerceu sua juventude”.

Salústio ousou qualificar os amigos de Catilina como uma caterva de infames,

criminosos, impudicos, adúlteros, taberneiros, parricidas, sacrílegos, ladroes, etc:

Chegando a contradizer-se, depois de ter desencadeado as mais graves ofensas

contra os aliados de Catilina, Salústio admitiu, que a juventude engajada nesse

movimento contava, sobretudo, com a participação da própria nobreza.

Assim como, reproduziu os discursos de Catilina a seus companheiros, que

revelam suas qualidades e de seus seguidores. O próprio Salústio viu-se obrigado a

reconhecer que Catilina e aos seus seguidores demonstraram um valor excepcional.

Quanto a Catilina, foi morto em pleno combate e seu corpo encontrado longe

dos seus, entre os cadáveres dos adversários.

Page 33: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

33

2. PARTICIPAÇÕES EM CONGRESSOS E ARTIGOS PRODUZIDOS

2.1. CONGRESSOS DO ANO 1983 a 1993

2.1.1 Do tribunado da plebe e do conceito de justiça

Partindo do pressuposto de que o direito, como fenômeno social, não pode

explicar-se por si mesmo, isto é, por procedimentos meramente normativos, nem tão

pouco por uma ideia a priori, neste caso, a ideia da justiça, que encontraria sua

expressão concreta no direito em vigor, mas, pelo contrário seus fundamentos

descansam nas próprias condições de vida material da sociedade civil cuja

fisionomia ele expressa, é sumamente importante e rica de ensinamentos às

gerações modernas a experiência romana, particularmente no que tange à

instituição do tribunado da plebe.

Da concepção do direito e da justiça, que se formou e consolidou com a

participação direta do povo, na medida em que os prudentes, sem vínculo com o

poder, surgiam do seio do próprio povo, supõe uma longa trajetória de lutas seguidas

de vitórias.

Segundo o relato tradicional, a primeira grande luta social travou-se em 494

antes da nossa era, envolvendo patrícios e plebeus.

Desde então, sucessivas conquistas foram obtendo os plebeus, na medida

em que se tornavam mais numerosos. Assim, numericamente superiores e

conscientes de seus direitos, os plebeus foram conquistando gradativamente sua

posição na sociedade. Nesta cadeia incessante de conquistas, em que a plebe foi

conseguindo nivelar seus direitos com os direitos dos patrícios, há que se ressaltar a

admirável conscientização política dos plebeus.

Portanto, o exemplo romano, que culminou com a instituição do tribunado da

plebe, é particularmente sugestivo na atualidade, porque encerra uma grande lição:

hoje, mais do que nunca, tanto no âmbito individual, como no das relações

internacionais, muito mais importantes do que qualquer legislação é a

conscientização do próprio direito16.

16 Trabalho apresentado no IV Congresso Latino-Americano de Direito Romano, em Brasília-DF, em

1983.

Page 34: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

34

2.1.2 O pensamento codificador de Augusto Teixeira de Freitas em face da

escravidão no Brasil

A luta pela extinção da escravidão no Brasil inicia-se por volta de 1810 a

1888, foi precisamente neste cenário histórico que viveu Augusto Teixeira de Freitas,

nascido no dia, 19 de agosto de 1816 e falecido em 12 de dezembro de 1983.

Em 1859, iniciou o processo de codificação Civil no Brasil, Augusto Teixeira de

Freitas, foi escolhido para elaborar o Código civil, que por disposição constitucional,

deverá ser fundado nas sólidas bases da justiça e da Equidade. O esboço foi sendo

publicado, e as dificuldades tornaram-se cada vez mais demonstradas à face da

Comissão revisora.

Convenceu-se Teixeira de Freitas de que era impossível prosseguir na obra

em razão dos seus próprios pontos de vista;

“Temos mesmo, é verdade a escravidão entre nós; mas, se esse mal é uma

exceção, que lamentamos, condenado a extinguir-se em época mais ou menos

remotas façam também uma exceção, um capitulo avulso, na forma das nossas leis

civis; não as maculemos com disposições vergonhosas, que não podem servir à

posteridade; fique o estão de liberdade sem seu correlativo odioso. As leis

concernentes à escravidão( que não são muitas)serão classificadas à parte e

formarão o nosso Código Negro”.

Em 1867, encaminhando-se ao Ministério da Justiça, rejeitava os trabalhos

já impressos, declarava que suas ideias eram outras.

Assim, a postura corajosa de Augusto Teixeira de Freitas frente à

escravidão, opondo-se à renitente ideologia escravocrata de sua época, há de

encorajar o jurista de hoje a transpor as barreiras da estreiteza dogmática e lutar

pela liberdade, assumindo seu compromisso profissional como baluarte na defesa

da justiça17.

17 Trabalho apresentado durante o CONGRESSO INTERNACIONAL sobre “Augusto Teixeira de

Freitas e o Direito Latinoamericano”, realizado em Roma, de 12 a 14 de dezembro de 1983.

Page 35: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

35

2.1.3 Do conceito romano de imperium e seus desvios jurídicos – políticos

Por paradoxal que possa parecer e por mais que o vocábulo imperium nos

suscite desde logo a idéia de dominação e autoritarismo, seu verdadeiro sentido de

origem, na república romana, particularmente no âmbito processual, é de caráter

nitidamente popular. Sua deturpação veio a ocorrer somente com o advento do

principado e, de um modo especial, durante o império.

No campo do processo civil romano, em estreita ligação com a iurisdictio,

manifesta-se claramente o imperium, cuja própria razão de ser é a vontade popular.

A autoridade do magistrado aumentava na proporção de seu prestígio, e

este dependia do desempenho de suas funções, razão pela qual era muito

importante zelar pelo próprio nome atendendo aos anseios e interesse do povo, de

quem afinal dependia toda a carreira do magistrado. A investidura pelo voto popular

é que realmente conferia ao magistrado o poder indispensável não só para tornar

possível a execução das sentenças proferidas pelo iudex, como para garantir o

exercício de todas as suas funções. Não se trata, pois, de um poder discricionário,

ou de um autoritarismo arbitrário. Era na realidade o próprio poder do povo que se

delegava ao magistrado pelo voto das assembleias.

Sem mencionarmos outros tipos de regimes imperiais ao longo da História,

cumpre salientar desde logo que os desvios conceituais de imperium, que tiveram

início com o advento do principado, sob AUGUSTO, sofreram total degenerescência

no curso da História, culminando com o imperialismo econômico dos nossos dias.

A transição da república romana para o principado desvia o conceito de

imperium, subvertendo-lhe o sentido jurídico-popular e imprimindo-lhe caráter

político militar.

Assim, o tema em foco sugere ao estudioso de hoje um retorno ao passado,

para redimensionar o conceito de imperium, restituindo-lhe o autêntico sentido

jurídico-popular e com isto, contribuindo para que, no futuro, o direito da força dê

lugar à força do direito18.

18 Trabalho apresentado no V Congresso Latino americano de Derecho Romano, em Lima, 1985.

Page 36: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

36

2.1.4 Anotações histórico-críticas em torno do binômio direito público – direito

privado

Na modesta e despretensiosa dimensão do presente trabalho, tentaremos

apenas esboçar algumas notas histórico-críticas,com atenção voltada especialmente

à suposta origem romana da propalada divisão e ás vicissitudes histórico-politicas

em que se envolve.

O binômio direito público-direito privado é visto geralmente pela doutrina a

partir do célebre texto atribuído a Ulpiano.

A exemplaridade da jurisprudência clássica, porém, vai decaindo, na medida

em que as formas autoritárias de criação de normas jurídicas se consolidam,

constituindo o conduto da influência dos acontecimentos políticos-imperiais sobre o

direito.

O que conhecemos como direito público não despertou qualquer interesse

dos juristas romanos, a não ser o que chamamos direito processual, que por sua

vez, também integrava as matérias do direito privado.

É claro, portanto, que, em grande parte, a força motriz da divisão do direito

público em publico e privado, no pensamento jurídico da Europa moderna, é

ideológica, expressando as correntes de pensamentos econômico, social e político

que envolve os séculos XVII e XVIII e penetram nos Códigos Civis da França,

Áustria, Itália e Alemanha, com a consequente influência em nosso direito.

Perquirindo as fontes, não podemos afirmar que a divisão do direito em

público e privado, tal como se coloca hoje, tenha origem romana.

O que se mostra claro é que, uma vez propagada tal divisão, o direito privado,

caracterizado através da história como direito civil, vem sofrendo a avalancha da

publicização cada vez mais intensa, no interesse predominante do Estado.

2.1.5 Considerações histórico-crítica em torno do binômio direito público-direito

privado

Assunto abordado no ponto. 2.1.4.

Page 37: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

37

2.2 CONGRESSOS DO ANO DE 1993 A 2003

2.2.1. Da violação da liberdade na cobrança de pedágio

A cobrança de pedágio em rodovias e vias públicas pode até parecer, pelo

menos á primeira vista, revestida de formalidades legais. Todavia, é necessário

considerar, acima de tudo, que o Direito frequentemente é burlado pela manipulação

da própria lei, sendo necessário, pois, alertar sobre o fato de que nem sempre a lei é

o Direito, como também, nem todo Direito está na lei.

A injustiça na cobrança de pedágio em rodovias e vias públicas já se encontra

expressa na mais remota sabedoria romana:

“Quae publicae sunt mulluis uidentur in bonis esse, ipsius enim uniuersitatis

esse creduntur” (Gaio, 2,211) – As coisas públicas não podem ser destinadas a

beneficiar o patrimônio de quem quer que seja, pois são consideradas da própria

comunidade19.

Nesta linha de raciocínio, o direito de ir e vir, que é a própria expressão do

direito à liberdade, deve ser tomado como ponto de partida em qualquer analise

sobre a cobrança de pedágio, em rodovias e vias públicas.

Da mesma forma como ninguém deve ser compelido a pagar duas vezes a

mesma divida também não se pode constranger alguém a pagar mais de uma vez o

mesmo tributo para o mesmo fim, ou seja, pelo mesmo fato gerador, já que o tributo,

como prestação pecuniária que é, só pode ser cobrado mediante atividade

administrativa plenamente vinculada.

Infelizmente, na prática judiciária brasileira, com muita frequência, atribui-se

maior valor ao formalismo jurídico do que propriamente ao Direito.

As transformações sociais que vem ocorrendo hoje tornam manifesta a

necessidade cada vez mais premente de voltarmos aos princípios solidamente

assentados pelo Direito Romano acerca do autentico sentido de coisa pública.

19 Tese apresentada durante o XI CONGRESSO LATINOAMERICANO DE DIREITO ROMANO,

realizado em Buenos Aires, Argentina, em setembro de 1998.

Page 38: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

38

O que se pode observar hoje em dia é que os países de bases democráticas

tem uma noção mais coerente quanto ao sentido democrático das vias e rodovias

públicas, não onerando naquilo em que a mesma já foi onerada com tributos.

2.2.2 A luta pela propriedade da terra na história de Roma e no Brasil

A longa trajetória histórica de Roma, sobretudo o período Republicano,

oferece-nos as mais valiosas lições de aplicação concreta da função social da

propriedade.

Entretanto, a realidade do campo no Brasil é de uma, “absurda concentração

da propriedade”20.

Ninguém ignora que o Brasil é um dos países com maior quantidade de terras

agricultáveis do mundo, porem, concentrada nas mãos de poucos. É óbvio, pois, que

se impõe, com a máxima urgência, uma distribuição mais equitativa e justa, para

atender às mais clamorosas exigências sociais.

Em tais circunstâncias, enquanto a solução não vem, a pressão popular

aumenta cada vez mais, culminando com a ocupação de áreas rurais improdutivas

pelo Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST).

Costuma-se acusar o MST de ser um movimento político.

É movimento político, sim, e tem que ser político, precisamente porque falta

vontade política por parte dos governantes para resolver problemas tão grave como

é o da injusta distribuição de terra.

Argumenta-se também, para desautorizar o MST em sua luta pela reforma

agrária, que o movimento abriga elementos embutidos de interesse meramente

pessoais. Ora, tal fato, se realmente ocorre, não compromete o movimento como um

todo e resulta tão somente da inércia governamental em solucionar o problema.

Hoje, progredimos assombrosamente no campo tecnológico, porém,

regredimos no campo das conquistas do Direito, porque a tecnologia vem sendo

utilizada como instrumento de maior opressão.

20 Trabalho apresentado no II CONGRESSO INTERNACIONAL e V IBEROAMERICANO DE DIREITO

ROMANO, em Buenos Aires, Argentina, em agosto de 1999, e no VI COLÓQUIO ÍTALO-BRASILEIRO

de direito Romano, realizado em Pelótas –RS, em setembro de 1999.

Page 39: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

39

Seja como for, o exemplo do passado deve estimular-nos no presente. Afinal,

luta-se por um pedaço de terra, na busca de trabalho para a produção de alimento, o

que se resume na luta pela preservação da própria vida.

2.2.3 Das presunções como meios de prova de Roma à atualidade

Na admirável simplicidade do sistema romano clássico, parece que, com

exceção da chamada praesumptio muciana, não tiveram lugar outras presunções,

mas somente normas de interpretação, enquanto a praesumptio (geralmente

interpolada), no direito Justinianeu, está em íntima relação com a questão

processual da prova21.

No antigo direito lusitano, as presunções não tivera destaques, nas obras

legislativas e doutrinárias que procederam as codificações lusitanas, nem tão pouco

estas últimas, no Livro de Leis e Postura, apenas uma ou outra passagem se refere

eventualmente sobre elas. As Ordenações Afonsinas, assim como as Manuelinas e

as Filipinas, não trataram especificamente das presunções, a não ser indiretamente

ou de passagem.

Na verdade, foi no direito canônico o campo mais fértil e propício onde, no

terreno específico das provas, as presunções se desenvolveram e ramificaram nas

mais variadas modalidades.

No sistema processual civil brasileiro, embora concordemos com JOSÉ

CARLOS BARBOSA MOREIRA22 quando afirma que o Código de 1973 revela aqui e

ali notável progresso em relação ao anterior diploma legal, todavia, pelo menos no

que se refere especificamente às presunções como meio de prova23.

Afinal, ainda nos resta à lição romana clássica, que não contemplou as

presunções como meio de prova, para alimentarmos a esperança de que tal prática,

desenvolvida no âmbito canônico, sob a suposta justificativa da salvação das almas,

não venha hoje, no terreno penal, autorizar aos verdugos a prática da tortura e da

21 Tese apresentada no II Congresso Internacional e VI Congresso Iberoamericano de Direito

Romano, em Madri, em fevereiro de 2000 22

DEDEMANN,Justus Wilhelm, op.cit., p. 31-3. 23

Op.cit.,p.66.

Page 40: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

40

morte, ou no plano civil, levar a injustas condenações, sem o devido fundamento

probatório, mas por meras presunções.

2.2.4 A questão da responsabilidade civil do estado perante o direito romano

Tema já abordado no Livro VIAJANDO PELA HISTÓRIA DO DIREITO

ROMANO AO DIREITO CONTEMPORÂNEO24.

2.2.5 O direito romano perante a tragédia da globalização

Tema já abordado no Livro VIAJANDO PELA HISTÓRIA DO DIREITO

ROMANO AO DIREITO CONTEMPORÂNEO25.

2.2.6 Da fudúcia cum creditore ao contrato de alienação fiduciária

Tema já abordado no Livro VIAJANDO PELA HISTÓRIA DO DIREITO

ROMANO AO DIREITO CONTEMPORÂNEO26.

2.2.7 A manus e o consensus no casamento romano

Consensus, entendido como manifestação de vontade entre os nubentes;

manus, entendido como autoridade eventualmente exercida sobre a mulher.

Não a duvida de que a manus, era um instituto que servia para completar o

estado matrimonial do ponto de vista de sua unidade de funcionamento.

Durante muito tempo, a tradição doutrinária sustentou que em Roma havia

dois tipos de casamento: o casamento cum manu (que seria o mais antigo) e o

casamento sine manu, também conhecido como “livre”.

Nestas circunstâncias, alguns estudiosos começaram a insistir em uma

análise distinta do problema, no sentido de que o direito romano não teria conhecido

24 SURGIK, Aloísio. VIAJANDO PELA HISTÓRIA do Direito Romano ao Direito Contemporâneo,

ed. Livro é Cultura, Curitiba, 2010, p.99 a 128. 25

SURGIK, Aloísio. VIAJANDO PELA HISTÓRIA do Direito Romano ao Direito Contemporâneo, ed. Livro é Cultura, Curitiba, 2010, p.129 a 147 26

SURGIK, Aloísio. VIAJANDO PELA HISTÓRIA do Direito Romano ao Direito Contemporâneo, ed. Livro é Cultura, Curitiba, 2010, p.149 a 172.

Page 41: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

41

dois tipos de casamento, mas um só, baseado exclusivamente no consentimento

dos cônjuges, sem qualquer formalidade constitutiva.

O casamento e o consenus, ainda que a formalidade não fosse requisito

constitutivo do casamento romano, nem para validade do mesmo, pressupunha-se,

entretanto, a exigência de certa publicidade para a demonstração de sua existência.

Porém, que o casamento fosse verdadeiramente consensual é algo bastante

discutível ou, pelo menos, é algo que depende do sentido que se dê a este termo.

Só com descobertas mais recentes foi possível entender que o consensus no

casamento romano devia ser contínuo isto é, duas pessoas de sexo diferente,

convivendo como marido e mulher, assim o seriam, enquanto ambos continuassem

a consentir.

O casamento romano, que se caracterizou pela espontaneidade e liberdade

durante a República, enveredou depois para a submissão do homem e da mulher

ao poder político, até mesmo como instrumento de delação contra os opositores do

regime imperial.

Da Idade Média, até o século XVI, a Igreja legislou praticamente sozinha

nessa matéria, sob o pretexto de que o casamento é um sacramento e todos os

processos que, direta ou indiretamente, com ele se relacionassem deveriam ser de

absoluta competência da jurisdição eclesiástica, com o correr do tempo, a Igreja

perdeu este duplo privilégio em proveito do Estado27.

2.3 CONGRESSOS DO ANO DE 2004 A 2012

2.3.1 O povo romano e o julgamento de Catilina

Tema já abordado no ponto 1.7 do presente trabalho.

27 Tese apresentada na universidade de Huelva –Espanha, durante o VI Congresso Internacional e IX

Congresso Iberoamericano de Direito Romano, em fevereiro de 2003.

Page 42: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

42

2.3.2 A sucessão testamentária no direito romano e seu papel na gênese da pessoa

jurídica

A partir da direção política adotada pelo imperador Constantino, através do

Edito de Milão do ano 313, o poder do Império e o da Igreja passaram a dominar

amplamente os destinos da humanidade.

O testamento romano, passou a assumir caráter mais patrimonial,

especialmente quando se intensificou a prática dos testamentos em favor as “causas

pias”. É que não se podia facilmente evitar o perigo de uma desagregação

patrimonial em alguns bens não exatamente eclesiástico, nem resultava claro que

essas heranças e legados deixados ratione pietatis, pudessem ficar protegidos com

a inalienabilidade sacra, própria das coisas diuini iuris, estabelecendo-se assim os

primeiros fundamentos da separação entre as pessoas físicas e as corporações

religiosas.

Com o canonista Sinibaldus Fliscus, no século XIII, surgiu a “persona ficta”

para separar as pessoas físicas (presumível inocentes) do conjunto dos habitantes

de uma cidade (“persona ficta”), quando atingida pela pena da excomunhão.

A “persona ficta” abriu caminho para a concepção da “pessoa moral”, que por

sua vez, se transformou, por obra da Pandectística alemã, na atual figura da pessoa

jurídica, também fictícia.

Assim, a verdadeira essência da crise do direito atual reside na chamada

“ciência do direito”, ao desconsiderar, com sua postura dogmática e arrogante, o

significado e o valor dos estudos do direito romano, que simplesmente desconhece a

pessoa jurídica28.

2.3.3 Res extra comércium: de Roma aos tempos atuais

As res extra commercium sempre tiveram na prática judiciária e na doutrina

romana um tratamento claro e objetivo, no sentido de serem consideradas

insuscetíveis de apropriação ou alienação por particulares, assim como de qualquer

28 Tese apresentada em Las Palmas de Gran Canaria, durate o IX Congresso Internacional e XII

Congresso Iberoamaricano de Direito Romano, em fevereiro de 2006.

Page 43: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

43

relação jurídica visando lucro, vale dizer, eram entendidas como coisas

absolutamente fora do comércio.

A doutrina brasileira, pois, partindo do princípio de que um dos requisitos para

que a coisa, na acepção de bem, possa fazer parte da relação jurídico-patrimoniais,

tem sustentado que ela seja in comércio e não extra comercium, de acordo com que

já prescrevia o Código Civil Brasileiro de 1916.

Todas estas considerações levam-nos a ver com muita preocupação a

profunda decadência a que chegamos no mundo contemporâneo, constrangendo-

nos cada vez mais a sujeitar-nos a um verdadeiro processo de comercialização da

coisa pública.

Com base nas perenes lições da experiência romana, sedimentada nos mais

sólidos valores éticos e morais, que realmente orientaram a prática jurídica e social,

principalmente no período da República, não se pode admitir que o “progresso”

tecnológico a que chegamos atualmente justifique de alguma forma o retrocesso e

as distorções de tais valores.

Assim, não se pode aceitar simplesmente o argumento de que o serviço

público estaria sendo ineficiente e por isso mesmo certos setores do patrimônio

público deveriam ser vendidos em proveito da exploração privada29.

Há setores que, por sua própria natureza e especificidade, jamais podem ser

entregues à atividade comercial, por serem claramente de exclusivo interesse da

coletividade (res communes omnium, ou res publicae, portanto, res extra

comercium).

No caso do processo de privatização no Brasil, os fatos falam por si mesmos,

escancarando a evidencia a contradição, inclusive das próprias regras do jogo

capitalista.

2.3.4 Da crise do ensino do direito romano atualmente no Brasil

A preterição quanto ao ensino do direito romano faz surgir à necessidade de

reflexão. “E isso exige uma retrospectiva histórica brasileira em relação a esse

29 Tese apresentada em Coimbra-Portugal, durante o VIII Congresso Internacional e XI Congresso

Iberoamericano de Direito Romano, em fevereiro de 2005.

Page 44: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

44

descaso para com o direito romano”, ressaltando que o problema tem raiz ainda no

Império.

O primeiro curso jurídico no País foi criado em 1827. Nos países vizinhos,

colonizados pelos espanhóis, foi diferente. No Peru, por exemplo, a primeira

faculdade de Direito foi instalada em 1552; e na Argentina, em 1616.

Isso nos leva a refletir sobre o presente e o passado. Nos países em que os

cursos jurídicos foram implantados cedo, observa-se um clima favorável ao estudo

do direito romano. Não temos a tradição de outros países da América do Sul, em

razão desse longo atraso que aconteceu.

A formação da intelectualidade brasileira, claro, dependia da Europa. Na

medida em que estávamos subordinados à coroa portuguesa e não tínhamos uma

escola superior, era evidente que a mentalidade que os brasileiros obtinham era das

universidades européias. Não criamos uma mentalidade própria brasileira, mas

estávamos subordinados ao pensamento Europeu.

Diante da realidade que temos, a situação é grave. Com equívocos terríveis,

como uso de textos como sendo romanos quando não são, ou mesmo com erros de

tradução. Isso exige uma tomada de consciência de todos que estudam o direito

romano para distinguir essa área do direito bizantino30.

2.3.5 Considerações críticas em torno do princípio “pacta sunt servanda”

Na medida em que o conceito romano de pactum passou a identificar-se com

o conceito de contrato, isto é, quanto mais os pactos nus se tornaram vestidos, mais

se intensificou o dogma da autonomia da vontade.

Na mesma proporção, porém, em que o pacta sunt servanda produziu um

forte impacto ao identificar o pacto com o contrato, desenvolveu-se naturalmente a

cláusula rebus sic stantibus, por imperativo óbvio do próprio bom senso, pois seria

realmente absurda a exigência do cumprimento de qualquer obrigação, na hipótese

de as circunstâncias se modificarem profundamente por ocasião da sua execução.

30 Tese apresentada no XVI Congresso Latino Americano de Derecho Romano, em 2008.

Page 45: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

45

Nesta linha de evolução, a doutrina e a legislação brasileira avançam

significativamente, entre outras razões, levando em conta que grande parte dos

contratos atualmente é o dos chamados contratos de adesão, em que uma parte

estipula previamente as cláusulas (predisponente) e a outra (aderente)

simplesmente as aceita, sem qualquer possibilidade de as modificar, como seria de

sua vontade.

O que muito se viu e ouviu no Brasil ultimamente, até da boca de radialistas e

comentaristas econômicos de plantão, foi o uso abusivo e a instrumentalização do

pacta sunt servanda para justificar a perpetuação de contratos lesivos aos interesses

da sociedade, principalmente em processos de privatização de serviços públicos que

assolam o país (já conhecidos como “privataria”), essa política predatória do

patrimônio público que se alastra como praga, muitas vezes mais em proveito de

interesses privados e em detrimento do interesse público, não obstante a carga

tributária “pornográfica” que já onera os cidadãos.

Eis o panorama do mundo contemporâneo em que devemos engajar-nos na

busca da igualdade de todos perante o direito, em defesa da dignidade da pessoa

humana31.

2.3.6 Princípios constitucionais democráticos para um novo poder judiciário

O exemplo romano-clássico da participação popular no Judiciário, que

perdurou cerca de quatro séculos consecutivos, tendo por base a conscientização

popular, leva-nos a alimentar a convicção de que um povo suficientemente adulto e

plenamente consciente de seus direitos pode perfeitamente dispensar tutelas

paternalistas.

Assim, o primeiro passo para superarmos a atual crise do Judiciário há de ser

a efetiva participação popular em todos os níveis do Poder Judiciário. Por isso,

defendemos o princípio da elegibilidade dos juízes e membros do Ministério Público,

que devem ser eleitos diretamente pelo povo e substituídos periodicamente.

Democratizar o Judiciário é, portanto, acima de tudo abrir suas portas, abolir

as chaves falsas das abusivas custas, dos emaranhados percursos burocráticos, é

31 XI Congresso Internacional e XIV Congresso Ibero Americano de Direito Romano, 2009.

Page 46: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

46

não fazer discriminação entre “pequenos” e “grandes” em Juizados Especiais

baseados no critério de valor monetário e reduzindo-os muitas vezes a meros

“leilões de direitos”, como se a Justiça tivesse que ser “pequena” para os pequenos

e “grande” para os grandes32.

Assim sendo, o presente trabalho tem como proposta, pelo menos, suscitar a

reflexão e o debate sobre o tema, até por uma simples questão de coerência,

porque, de duas, uma: ou admitimos a participação popular, instituindo a eleição dos

magistrados e membros do Ministério Público diretamente pelo povo – e o Poder

Judiciário realmente será Poder -, ou optamos pela rejeição do povo e, neste caso, o

Judiciário jamais será Poder. A menos que se risque das constituições e das

declarações universais de Direitos a solene proclamação segundo a qual o poder

emana do povo e por ele deve ser exercido.

2.3.7 Considerações críticas em torno do princípio pact sunt servanda

Tema já abordado no ponto 2.3.5. - XI Congresso Internacional e XIV

Congresso Ibero Americano de Direito Romano, 200933.

2.4 ARTIGOS DO ANO DE 1974 A 1984

2.4.1 Do condomínio edilício e suas fontes

À primeira vista, o vocábulo edilício parece nascer diretamente das fontes

romanas. De fato, o vocábulo, em si, é indiscutivelmente de origem latina.

Entretanto, no contexto geral do direito romano, não encontramos suas raízes de

forma a podermos justificar seu emprego qualificando o condomínio. Este, no

sentido que lhe dá o Anteprojeto, supõe também edifício já construído, ao passo que

32 Tese sustentada durante VI Congresso CEISAL – Conselho Europeu de Investigações Sociais

sobre a América Latina - em 2/7/2010, na Université de Toulouse-Le Mirail, France, e publicada em suas atas eletrônicas – Collection HAL-SHS, CEISAL 2010: http://halshs.archives-ouvertes.fr/CEISAL2010/fr/) 33

XIV Congresso Internacional y XVII Ibero Americano de Derecho Romano. 2012.

Page 47: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

47

as atribuições dos edis às quais alude o professor Miguel Reale, referem-se à

fiscalização das construções dos edifícios34.

Assim, sob roupagens mais simples, sem, todavia, incorrer em qualquer

desdouro, a linguagem do Anteprojeto, que, de um modo geral, é tão fiel às fontes

romanas, seria também nesta matéria, ao que nos parece, mais condizente com o

próprio espírito do direito romano, digno ainda de ser acatado e adaptado às

circunstâncias do nosso tempo, eis que, em todas as fases de seu desenvolvimento,

primou sempre por uma linguagem técnica caracterizada pela clareza e

simplicidade, sendo esta uma das razões de sua perene atualidade.

2.4.2 A influência da história na sucessão testamentária

Dois momentos históricos sobressaem em importância no tocante a à

sucessão testamentária: a época do imperador Otávio Augusto (27 a. C a 14 d. C) e

o período que compreende a conversão de Constantino (313 d.C) até a morte de

Justiniano (565 d .C). O primeiro caracterizado por uma série de restrições à

liberdade de testar; o segundo marcado por importantes transformações em

consequência da irrupção do Cristianismo.

A história do direito e do direito romano têm merecido a atenção dos

estudiosos tanto do Ocidente como dos países socialistas.

O verdadeiro jurista não se coloca a serviço desta ou daquela corrente

doutrinária ou ideológica.

Sabemos que a História é um método para conhecermos o que somos, e que

o homem é e o que pode ser.

Realmente, limitar a função do jurista, na sociedade, à mera constatação do

que é o direito positivo, equivaleria a cercear-lhe por completo o relevante papel que

tem a desempenhar. Sua atividade compreende, é certo, a aplicação do direito

vigente, mas não é só. Além disso, cumpre-lhe aprofundar também o conhecimento

do direito que não visa à sua função normativa e, muito mais importante, propugnar

o direito que deve verdadeiramente ordenar a sociedade, hoje.

34 Revista da Faculdade de Direito, Curitiba, p. 125-133, 1974

Page 48: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

48

O jurista vê na lei e nos códigos uma expressão circunstancial e oportuna do

direito, Porém, longe de considera-los como expressão soberana à qual se deve

obediência e reverência irrestrita, sente-se chamado a um trabalho mais importante,

de aperfeiçoamento do direito, que cada dia o torne mais adequado à realidade

social e concretize plenamente a idéia de justiça35.

2.4.3 Decretais

Antigas cartas ou constituições pontifícias, em resposta a consultas

formuladas por bispos e doutores da Cristandade, sobre questões cuja solução

competia ao papa. As respostas a tais questões formam a maior parte dos antigos

atos pontifícios, denominados Litterae, Epistolae, Epistolae decretales, Epistolae

tractatoriae, ou Epistolae synodicae, enquanto eram deliberados no presbyterium da

Igreja romana ou concílio, e Responsiones, Rescripta, Commonitoria, Decreta,

Constitutiones, Auctoritates quando eram obra pessoal do soberano pontíficie.

As decisões dos concílios foram as que constituíram a mais importante fonte

do direito canônico, do século IV até a promulgação das Decretais de Gregório IX36.

2.4.4 Condomínio edilício e suas fontes

Assunto abordado acima ponto 2.4.137

2.4.5 Decretalista

Jurisconsulto versado em decretais. As famosas Decretais de Gregório IX

foram objeto de glosas e de comentários. Os primeiros glosadores ou comentaristas

desta compilação foram Vicente, que se aplicou sobre tudo à pesquisa das

35 SURGIK, A. A influência da História na sucessão testamentária. Revista de Direito Civil, São

Paulo, v. 4, p. 69-91, 1978. 36 SURGIK, Aloísio. Decretalista. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 22, p. 494-495,

1979.

37 SURGIK, A. Condomínio edilício. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 17, p. 421-429,

1979

Page 49: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

49

conotações com o direito romano, e Godofredo Trani, aluno de Azi e mais tarde

cardeal.

Sinibaldus Fliscus (Fiesco), que foi papa, sob o nome de Inocêncio II, um dos

mais celebres canonista de seu tempo, compôs sobre os cinco livros das Decretais

um Apparatus, de que seu capelão, Bernardo de Compostela, o jovem, fez um

resumo sob o título Margarida Compostellana, objetivando mais a aplicação prática

do dia-a-dia do que propriamente o entusiasmo nas escolas.

Depois dos glosadores, vieram os comentadores, dos quais os mais celebres

é Henrique de Susa ( H. de Segusia), escreveu sua Summa aurea, também

chamada Summa archiepiscop. Sua fama foi tão grande como canonista que

Hostiensem sequi( seguir o Hostiensis)significava estudar o direito canônico.

A partir do século XVI, as obras sobre as decretais tornam-se mais raras,

podendo citar-se Jean François A. Ripa(1534), professor de Paiva, o célebre Cujácio

(1590), Toulousain P. Grégoire (1597). No século XVII, André de Vaux ( Vlalensis),

professor em Louvain, falecido em 1636, Antônio Dadin (1682), Inocente Ciron

(1690), que ensinou em Toulouse, Prosper Fagnan, professor em Roma (1678), e

Emanuel Gonzales Tellez, professor em Salmanca (1649).

2.4.6 “Didachê”

Assunto abordado no livro. SURGIK, A. Temas críticos do direito à luz das

fontes. Livros HDV, Curitiba, 1986. p. 37-4338.

2.4.7 Didascalia

Assunto abordado no livro. SURGIK, A. Temas críticos do direito à luz das

fontes. Livros HDV, Curitiba, 1986. p. 45-5239.

2.4.8 Digesto

Assunto abordado no livro. SURGIK, A. Temas críticos do direito à luz das

fontes. Livros HDV, Curitiba, 1986. p. 65-7240.

38 SURGIK, Aloísio. "Didachê". Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 25, p. 13-17, 1979.

39 SURGIK, Aloísio. Didascalia. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 25, p. 18-23, 1979

40 SURGIK, Aloísio. Digesto. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 22, p. 32-35, 1979

Page 50: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

50

2.4.9 Doação “mortis causa”

Doação feita sob a condição de sobrevivência do donatário em relação ao

doador, baseada no princípio da revogabilidade, enquanto vivo doador.

O meio que em direito clássico é preferido para a doação por causa de morte

é a transmissão fiduciária da coisa à pessoa que se quer beneficiar (fidúcia cum

amico). A propriedade é adquirida imediatamente pelo donatário, porém sob o

pressuposto de que deve voltar ao transmitente, se sobrevive ao perigo em razão do

qual se realizou o ato. Tal convenção é garantida, para o caso de inadimplemento,

por parte do adquirente, pela parte adquirente, pela actio fiduciae. Remédios mais

seguros, todavia, resguardam o transmitente, se a convenção foi traduzida em

estipulação.

Já no direito clássico, a doação mortis causa como a que subtrai ao herdeiro

uma parte dos bens hereditários, ficava sujeita à aplicação analógica dos limites

imposto aos legados, e da quarta Falcidia, especialmente. Na época Justinianéia a

doação mortis causa é equiparada ao legado41.

2.4.10 “Eadem causa petendi”

A mesma causa de pedir. No direito romano clássico, a sentença proferida

pelo juiz, dentro dos limites das faculdades a ele atribuídas pelo magistrado,

constituía entre as partes, no tocante à controvérsia objeto do iudicium, a res

iudicata. Esta conferida ao autor vitorioso à faculdade de processar executivamente

o demandado sucumbente, para obter a prestação da condemnatio, como também

dava ao demandado absolvido o direito de opor uma exceção especial contra o

autor, se este tornasse à pretensão já repelida pela sentença (exceptio rei

iudicatae)42.

Realmente, conforme explica L.B. Bonjean (Traité des actions chez les

romains, Paris, 1845, t. 1, p. 514). A sentença é na instância perante o juiz o mesmo

41 SURGIK, A. Doação "mortis causa". Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 29, p. 181,

1979. 42

COSTA, Emílio. Profilo storico del processo civile romano. Roma, Atheneum, 1918, p.79

Page 51: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

51

que litis contestatio, e nos mesmos casos, a sentença produz uma novação que

extingue a relação legal preexistente, seja diretamente (ipso iure), quando a ação é

pessoal e se funda num egitimun iudicium, seja indiretamente (excepetione rei

iudicatae), quando a ação não reúne tais caracteres43.

2.4.11 Racionalismo

Sistema filosófico baseado na supremacia da razão humana. Tem grande

importância no conjunto de tendências que contribuíram para fixar as bases do

chamado Movimento Codificador Modernos.

Seu ponto de partida centra-se na influencia que o humanismo exerceu sobre

o ius commune, dando lugar a um sistema jurídico desvinculado o jusnaturalismo

teológico e escolástico. A consequência do impacto do humanismo neste campo é o

desenvolvimento das orientações lógicas e sistemáticas do direito.

Assim, os grandes Códigos modernos, inseridos dentro desta tendência do

racionalismo jurídico, segundo Wieacker, surgiram como produto da união do direito

natural com a planificação política da ilustração e como meio para conseguir, em

última instância, uma sociedade em civilizada convivência.

Entretanto acentua-se hoje uma forte corrente de jurista, os quais admitem

que as nações modernas poderiam viver sem extensos Códigos, não só em justa

ordem, mas também em elevada cultura jurídica44.

2.4.12 Da iniciativa das provas e dos poderes do juiz no direito romano e na

atualidade

Percebe-se que, no decurso da História, à medida que a atividade

jurisprudencial se concentra no poder pública, desenvolve-se também, e ganha certa

predominância, a chamada prova legal.

43 SURGIK, A. . "Eadem causa petendi". Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 29, p. 474-

475, 1979. 44

SURGIK, A. Racionalismo. Enciclopédia Saraiva do Direito, v. 63, p. 156-157, 1981.

Page 52: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

52

Embora a processualística moderna venha mostrando-se em geral favorável

ao fenômeno da publicização, propensa até, ao que parece, a aceitar como

irreversível a atual concepção publicística do processo, não nos parece que deva

desconsiderar-se toda uma experiência histórica anterior.

Sem qualquer vínculo estatal, o juiz romano, durante todo o período clássico.

atuava essencialmente à base de um contrato das partes. Simples cidadão do povo,

livremente escolhido pelas próprias partes, julgava a demanda na qualidade de

árbitro, sem qualquer caráter inquisitorial. Contudo, desfrutava de poderes

incomensuráveis: sua sentença era irrecorrível, pelo simples fato de que as partes.

plenamente livres em elegê-lo, assumiam o compromisso de acatá-la como

definitiva.

Sem discutirmos até que ponto o atual sistema publicista realmente confere

ou não poderes e autoridade ao juiz, ou em que medida o processo, hoje,

minuciosamente regulado, efetivamente atende aos interesses comuns da

sociedade, comparando-se ao regime da "ordo iudiciorum privatorum" dos romanos,

inquestionavelmente não podemos deixar de reconhecer que, em matéria de

processo e organização judiciária, o período clássico romano é ainda a grande fonte

de ensinamentos para os nossos dias45.

2.4.13 O cristianismo e a formação do direito medieval

Através das fontes ocidentais, herdamos muito do cristianismo, levando-se em

conta os longos séculos de vigência do Código Visigótico, todo ele impregnado do

cristianismo, em razão de sua própria formação histórica, com a participação dos

concílios de Toledo; através das fontes orientais, vale lembrar que o Direito romano

justinianeu, tão fortemente influenciado pelo cristianismo, foi a base o Direito comum

europeu, por sua vez base das legislações modernas.

45 SURGIK, Aloísio. Da iniciativa das provas e dos poderes do juiz no direito romano e na

atualidade. Estudos jurídicos, Curitiba, p. 56-73, 1982.

Page 53: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

53

Portanto, a influência do cristianismo não se restringe apenas ao direito

medieval, porém se estende, através deste, até os dias de hoje46.

2.4.14 A destruição do homem pela ganância do poder econômico

Poluição do Meio Ambiente, Venenos e Desemprego, entre outros.

Denúncia de estarrecer estampa o JORNAL DO MEIO AMBIENTE, em seu

número 17(abril de 83): “O saldo da última safra agrícola no Paraná, considerando-

se apenas período de outubro do ano passado a janeiro deste ano – é de 26 mortos

e 1.600 intoxicados”. A causa: pesticida.

Do exposto, podemos concluir que estamos diante de um conflito de

interesses: de um lado, o interesse de lucro imediato dos grupos econômicos ligados

á produção, exportação, importação e comercialização dos agrotóxicos; de outro, o

legitimo interesse da imensa maioria da população em assegurar as gerações de

hoje de amanhã condições básicas para a saúde publica: água potável, terra viva,

alimentos sem veneno.

É a ganância do poder econômico que ameaça levar a destruição a própria

espécie humana47.

2.5 ARTIGOS DO ANO DE 1984 A 1994

2.5.1 Do tribunado da plebe e do conceito de justiça

Assunto abordado no ponto 2.1.1- Trabalho apresentado no IV Congresso

Latino-Americano de Direito Romano, em Brasília-DF, em 198348.

2.5.2. Do conceito romano de imperium e seus desvios jurídicos-políticos

Assunto abordado no ponto 2.1.3. Trabalho apresentado no V Congresso

Latinoamericano de Derecho Romano, em Lima, 198549.

46 SURGIK, A. O Cristianismo e a formação do direito medieval. Revista de Direito “THEMIS”, n°.

3, CAHS, Curititba, 1980 e REVISTA DE DIREITO CIVIL, São Paulo, v. 26, p. 156-167, 1983. 47

SURGIK, A. A destruição do homem pela ganância do poder econômico. Revista da Faculdade de Direito, Curitiba, v. 21, p. 21-28, 1983. 48

SURGIK, A. Do Tribunado da Plebe e do Conceito de Justiça. Revista da Associação dos Magistrados do Paraná, Curitiba, p. 73-83, 1985

Page 54: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

54

2.5.3 O pensamento codificador de Augusto Teixeira de Freitas em face da

escravidão no Brasil

Assunto abordado no ponto 2.1.2. Trabalho apresentado durante o

CONGRESSO INTERNACIONAL sobre “Augusto Teixeira de Freitas e o Direito

Latino americano”, realizado em Roma, de 12 a 14 de dezembro de 198350.

2.5.4 O judiciário e o povo

O exemplo romano da participação popular no Judiciário, que perdurou cerca

de quatro séculos consecutivos, tendo por base a conscientização popular, leva-nos

a alimentar a convicção de que um povo suficientemente adulto e plenamente

consciente de seus direitos pode perfeitamente dispensar tutelas paternalistas.

Assim, o primeiro passo para superarmos a atual crise do Judiciário há de era

a efetiva participação popular em todos os níveis do Poder Judiciário. Por isso

defendemos o princípio da elegibilidade dos juízes e membros do Ministério Público,

que devem ser eleitos pelo voto e substituído periodicamente.

Em suma, numerosos são os problemas decorrentes da atual estrutura judiciária,

suscetíveis de uma profunda reavaliação crítica, que só é possível através dos

canais próprios da participação popular51.

2.5.5 Ensino, pesquisa e prática

Ensino e pesquisa entrelaçam-se estreitamente. Aliás, Uma das maneiras de

compreender a própria- História, consiste precisamente em estudar as origens da

ascensão, manutenção e mudança das ordens jurídicas e sua posterior derrubada,

juntamente com seus instrumentos de violência, no dizer de Tigar52. Admitindo-se

que nem toda lei é direito, nem todo o Direito está em lei; cumpre aos estudiosos

questionar profundamente os atuais ordenamentos jurídicos.

49 SURGIK, A. Do conceito romano de IMPERIUM e seus desvios jurídico-políticos. Revista

jurídica, Curitiba, v. 4, p. 17-32, 1985. 50

SURGIK, Aloísio. O pensamento codificador de Augusto Teixeira de Freitas em face da escravidão no Brasil. Revista do Instituto dos Advogados do Paraná, Curitiba, v. 7, p. 140-167, 1985.

51 SURGIK, A. O Judiciário e o povo. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados, São Paulo,

v. 39, p. 43-57, 1986. 52

TIGAR. O direito e a ascensão do capitalismo. p.15.

Page 55: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

55

O pensamento jurídico tradicional, depois de tomar a norma pelo direito e a

sanção pela norma, continua invertendo as coisas para dar como direito único o

chamado "direito positivo", isto é, o direito estatal e, mais as normas costumeiras

que ele tolere ou absorva, como se não houvesse normas jurídicas para ou supra

estatais conforme Lyra Filho, p. 13 apud Surgik53.

2.6 ARTIGOS DO ANO DE 1995 A 2005

2.6.1 Presunção absoluta e relativa (teoria das provas)

Dizem-se presunções absolutas, ou peremptórias, ou iuris et de Iuri, as que

não admitem prova contrária ao fato presumido, e presunções condicionais, ou

relativas, ou iutis tantum, as que admitem prova em contrário.

De fato, as presunções, perdendo sua natureza primitiva, no período

justinianeu, a transformar-se em normas legais.

Foi na verdade o direito canônico o campo mais fértil e propício onde, no

terreno específico das provas, as presunções se desenvolveram e ramificaram nas

mais variadas modalidades54.

2.6.2 A luta pela propriedade da terra na história romana e no Brasil

Tema abordado no ponto 2.2.2. II CONGRESSO INTERNACIONAL e V

IBEROAMERICANO DE DIREITO ROMANO, em Buenos Aires, Argentina, em

agosto de 1999, e no VI COLÓQUIO ÍTALO-BRASILEIRO de direito Romano,

realizado em Pelótas –RS, em setembro de 199955.

53 SURGIK, A. Direito - ensino, pesquisa e prática. Revista da Faculdade de Direito, Curitiba, v. 25,

p. 109-118, 1989. 54

SURGIK, Aloísio. Presunção absoluta e relativa (teoria das provas). Gênesis - Revista de Direito Processual Civil, Curitiba, v. 3, p. 747-762, 1996. 55 SURGIK, A. A luta pela propriedade da terra na história de Roma e no Brasil. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 32, p. 25-36, 1999.

Page 56: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

56

2.6.3 Da violação da liberdade na cobrança de pedágio

Assunto abordado no ponto, 2.2.1, XI CONGRESSO LATINOAMERICANO

DE DIREITO ROMANO, realizado em Buenos Aires, Argentina, em setembro de

1998)56.

2.6.4 O direito romano em face da tragédia da globalização

Tema já abordado no Livro: SURGIK, A. VIAJANDO PELA HISTÓRIA do

Direito Romano ao Direito Contemporâneo, ed. Livro é Cultura, Curitiba, 2010, p.129

a14757.

56 SURGIK, Aloísio. Da violação da liberdade na cobrança de pedágio -. Atualidades jurídicas, São

Paulo - Editora Saraiva, v. 2, p. 21-32, 2000. 57

SURGIK, A. O Direito Romano em face da tragédia da globalização. Revista da Academia Paranaense de Letras Jurídicas, Curitiba, v. 2, p. 17-30, 2003.

Page 57: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

57

3. ARTIGOS EM JORNAIS E PERIÓDICOS

3.1 O ADVOGADO EM FACE DO JUIZADO DE PEQUENAS CAUSAS.

Infelizmente, já se tornou habitual entre nós tentar resolver problemas, só

pelos ramos, não pela raiz, procurando remediar-lhes os efeitos, não as causas, e

que evidentemente, faz com que a verdadeira solução seja sempre adiada para um

futuro incerto, cada vez mais distante, para não dizermos inatingível.

Porém, a pretexto de criar uma “justiça para os pobres”, acabaria por

implantar uma “pobre justiça”, religada ao que ela houve por bem chamar de

“Juizado Especial de Pequenas Causas”.

Introduzir no sistema retoques meramente superficiais é o mesmo que fazer

“remendo de meia sola”, protelando cada vez mais a solução. O que realmente urge

é uma profunda reforma, que efetivamente possibilite a todos “grandes” e

“pequenos”, igual acesso ao judiciário, tornando-o acessível e eficiente.

Há que se levar em conta que o próprio Estatuto da OAB, em seu artigo 103,

VII, da ao advogado o direito de advogar “com fundamento na injustiça da lei”.

Consequentemente, se as medidas legais até agora impostas não condizem

com o sentido de justo, os advogados hão de continuar pregnando pela efetiva

participação popular na elaboração das regras jurídicas, sem alimentar privilégios

em favor dos poderosos.

Estabelece desde logo descriminação entre “grandes” e pequenos”, a ponto

de o próprio Poder Judiciário se estruturar à base de “pequenas” e “ grandes”

causas, com tratamento diferenciado para uns e outros, implica não só em agravar

cada vez mais o antagonismo de classe, com os problemas dai decorrentes, como,

por via de consequência, protelar indefinitivamente a concretização da verdadeira

justiça58.

3.2 É PROIBIDO DISCORDAR

58 SURGIK, A. O advogado em face do juizado de pequenas causas. Gazeta do Povo, Curitiba, p.

15, 23 jul. 1985.

Page 58: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

58

“Todo homem tem direito ao desemprego, à fome, à doença e à morte. Vista

da Lua, a Declaração Universal dos Direitos do Homem é irretocável”59.

O Decreto Nº 1.480, de 3 de maio de 1995, baixado pelo Sr. Presidente da

República, determinado, entre outras medidas, que as chefias imediatas dos

servidores públicos federais, paralisados por greve, transmitiam ao órgão de pessoal

repetível a relação dos servidores cuja falta se enquadram em tal decreto, sob pena

de imediata exoneração ou dispensa, em caso de inobservância, impondo também a

imediata exoneração ou dispensa dos ocupantes de cargo em comissão ou de

funções gratificadas constantes da relação, agride o direito universal de greve.

Curiosamente, o malfadado ato presidencial coincide com a comemoração da

primeira Constituição da Polônia (3 de maio de 1791) e a instalação solene da

Assembleia Brasileira Constituinte pelo Imperador D. Pedro I ( em 3/5/1823).

No Brasil, a “modernidade” neoliberal, entre outras formas de manifestação,

vem se expressando na proposta governista da reforma constitucional, que, em

grande parte, encobre os objetivos que empurram o país para a rota da dilapidação

do patrimônio nacional, em nome dos imperativos da economia globalizada.

Entrementes, são tidos como racionais e “modernos” os que aderem aos

dogmas neoliberais, enquanto são tachados como retrógrados os que a eles

resistem heroicamente, como se estivessem posicionando-se na contramão da

História60.

É o momento, pois, de interpelarmos, parafraseando CÍCERO: Até quando,

Senhores da República, abusareis da nossa paciência? Até quando continuareis a

fazer pouco da inteligência humana? Até quando...?

3.3 O BOI

No Brasil, sem tourada, passado o carnaval, vem à tona a “farra do boi”,

repetida anos após anos, principalmente na semana santa, em várias localidades do

Estado de Santa Catarina, sem que as autoridades demonstrem eficiência em

combater este espetáculo cruel, apesar da lei proibir e do Supremo Tribunal Federal

59 ANDRADE, Carlos Drumond de. O avesso das coisas. 1987, p. 47.

60 SURGIK, A. É proibido discordar. O Estado do Paraná, Curitiba - PR, p. 30, 11 jun. 1995.

Page 59: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

59

já ter proibido expressamente a “farra do boi”, (Recurso Extraordinário nº 153.531-

S/SC; RT735/101).

Na verdade, jamais poderemos de deixar de assumir nosso lado animal, em

razão da origem das espécies através da seleção natural, como já demostrou

Charles Darwin. Porém, nunca deveremos permitir que a parte animal prevaleça

sobre a racional, porque este é um imperativo da própria evolução e

aperfeiçoamento da espécie humana.

Merece, pois, todo nosso aplauso à manifestação popular de não ir ao Estado

de Santa Catarina enquanto ele tiver a “farra do boi”, até que o poder público se

mostre eficiente em extirpa-la a única forma de a população protestar contra esta

prática, que está muito longe da cultura que acredito ter a sociedade catarinense.

Afinal, se o boi já nasce programado para morrer, a fim de satisfazer a gula

humana, por que tortura-lo pelo simples prazer de vê-lo sofrer?

Enquanto vivo, deixem o boi em paz, pelo menos como pequena contribuição

de paz para este mundo já tão conturbado pelas guerras e pela violência61.

3.4 O VÍRUS DA GANÂNCIA

Entre outras considerações, ponderei então que, na preocupação de garantir

a sua saúde e a de seus familiares, o cidadão brasileiro paga mensalmente, pelo

menos, três vezes, sem alcançar, mesmo assim, o seu intento:

Ocorre que, hoje, o cidadão brasileiro vem desembolsando ainda mais para a

saúde, até mesmo mais do que o poder público, que já tem obrigação neste sentido.

Qual seria a causa dessas distorções?

Tudo aponta para a “onda” de privatizações dos serviços públicos que vem

assolando o Brasil a partir de 1995.

Atividades próprias e exclusivas do poder público, que nunca poderiam ser

privatizadas, foram rapidamente entregues a empresas privadas que lucram

avidamente, sem que a sociedade alcance os resultados desejáveis.

61 SURGIK, A. O boi. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 8 - 8, 26 fev. 2002.

Page 60: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

60

Evidentemente, não se pode afirmar que uma empresa apenas por ser

pública seja, necessariamente, ineficiente, enquanto a privada seja, sempre,

eficiente.

Os fatos demonstram exatamente o contrário. A começar pelo serviço de

comunicações, cujo setor de telefonia é hoje campeão de reclamações junto ao

PROCON, até os demais setores da infra-estrutura, já privatizados (energia,

transportes, rodovias, etc.): tudo se resume em verdadeiro comércio da coisa

pública.

O caso específico da saúde, indiscutivelmente, assume gravidade máxima,

até porque a carga tributária do cidadão brasileiro chega a ser “pornográfica”, eis

que paga por ano quatro meses de seu salário a título de impostos.

Afinal, por que a sociedade brasileira há de ficar à mercê de planos privados

de saúde, quando esta função já é de responsabilidade óbvia do poder público?62

3.5 A NOVA (E RENDOSA) INDÚSTRIA DA MULTA

Ninguém nega que os infratores das regras de trânsito, na medida em que

constituem risco para a sociedade, devem ser punidos, sim, e com muito rigor.

Porém, considerando-se que o poder de polícia é indelegável e cabe exclusivamente

ao poder público aplicar multas de trânsito, a questão agrava-se quando entra em

jogo o interesse privado, transformando estas multas em fonte de lucro.

Sem entrarmos no mérito da questão, constataremos graves irregularidades

na aplicação destas multas, não só pela deficiência da visualização das fotografias

tiradas por tais máquinas, mas também porque, entre outros requisitos, é

indispensável que o auto de infração seja lavrado pelo agente policial.

Permitir à máquina transformar o ser humano também em máquina (lucrativa)

é fazer pouco de sua inteligência e rebaixar demais a dignidade humana.

Espera-se, pois, que prevaleça o Direito, fazendo com que as coisas pública

seja devidamente preservada, para não servir aos apetites de grupos econômicos

privados. O cidadão brasileiro, obrigado a pagar altíssimos impostos, pode e deve

62 SURGIK, A. O vírus da ganância. Gazeta do Povo, Curitiba, 11 jan. 2001.

Page 61: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

61

exigir do poder público a segurança que já lhe é assegurado pela Constituição como

dever do Estado.

Ademais, deve-se exigir também a necessária transparência da coisa pública.

Na verdade, o cidadão brasileiro não tem acesso à informações básicas sobre a

arrecadação destas máquinas de multa e como foi autorizada sua instalação. No

mínimo, deveriam ser publicados mensalmente na Imprensa Oficial, os valores

auferidos, minuciosamente discriminados63.

3.6 ATUALIDADE DO DIREITO ROMANO

Em primeiro lugar, é necessário deixar bem claro que, em muitos países,

inclusive da América do Sul, ao contrário do que se verifica no Brasil, os estudos

nesta área vêm sendo cada vez mais valorizados, integrando-se o Direito Romano

como disciplina obrigatória nos cursos de Direito.

Basta lembrar que, desde o início dos anos setenta, vêm realizando-se nas

mais diversas localidades, congressos, seminários e encontros de Direito Romano,

com muita frequência e grande participação.

A Europa continua a manter a tradição de liderança neste campo.

Na Espanha, um fato muito significativo e digno de especial registro é o da

criação da ASOCIACIÓN IBEROAMERICANA DE DERECHO ROMANO, com sede

em Oviedo.

Esta entidade vem promovendo congressos internacionais e ibero-americanos

a cada ano. Seus trabalhos são publicados com exemplar regularidade,

conquistando grande repercussão no mundo jurídico.

É claro que os estudos histórico-jurídicos relacionados com Espanha e

Portugal sempre interessam diretamente ao Brasil, por suas origens históricas

comuns e por sua projeção até hoje64.

63 SURGIK, A. A nova (e rendosa) indústria da multa. Gazeta do Povo, 11 jan.

64 SURGIK, A. Atualidade do Direito Romano. O Estado do Paraná, Curitiba, p. 13 , 27 nov. 2005.

Page 62: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

62

3.7 O PAPEL DA UNIVERSIDADE E DOS CURSOS SUPERIORES

Não faz muito tempo, ouvi um conferencista de grande eloquência tentar

convencer o auditório de que a universidade não tem sentido algum se não produzir

dinheiro.

Ao final, perguntou: alguém dos presentes ainda tem alguma dúvida?

Levantei-me para dizer que não seria propriamente uma dúvida, porém, a

certeza que tenho é de que a finalidade imediata da universidade não é esta; seu

primordial papel é o de formar cérebros e fomentar o juízo crítico.

Se assim não fosse, que sentido teria, por exemplo, o curso de Filosofia?

O constrangimento inevitável por parte do palestrante motivou, por outro lado,

a ponderação de que o mundo capitalista especulativo, hoje, ao mesmo tempo em

que impõe dogmaticamente a supremacia do mercado, como se todos os valores

humanos devessem submeter-se ao dinheiro, subverteu também totalmente a

própria razão de ser da universidade.

Daí, em grande parte, a obsessão pela privatização do ensino e,

consequentemente, a baixa de seu nível.

Evidentemente, os alunos são as primeiras vítimas dessa distorção e,

consequentemente, a sociedade como um todo, sem falarmos nas graves

repercussões que se projetam para o futuro.

Evidentemente, na medida em que o fator lucro entra prioritariamente no

processo educacional, a qualidade intelectual dos alunos e, consequentemente, da

própria sociedade cai, enquanto a elitização do saber se concentra cada vez mais na

minoria dominante, pelo simples fato de que só tem acesso à educação quem pode

pagar.

Enquanto isso, a persistir tal situação, desenha-se para o futuro um quadro

muito sombrio e preocupante, formando uma geração que poderá chamar-se talvez

a geração “copiar-colar”.65

65 SURGIK, A. O papel da universidade e dos cursos superiores. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 10 -

10, 18 abr. 2006

Page 63: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

63

3.8 UM HERÓI DA RESISTÊNCIA DO DIREITO ROMANO

Herói da resistência, ele segue ensinando e transmitindo sua paixão pelo

Direito Romano a quem quiser ouvir – mesmo que a disciplina seja hoje matéria

optativa em cada vez menos instituições. “É de conhecimento geral que os romanos

foram geniais na criatividade do Direito, estabelecendo as bases da consciência

jurídica universal. Daí sua importância não só no Brasil, mas em toda a chamada

Civilização Ocidental. Como bem disse Pierre Grimal (historiador e latinista francês),

nada do que nos rodeia seria o que é se Roma não tivesse existido”.

Em que medida o Direito Romano ainda influencia o Direito Contemporâneo?

A influência mais marcante concentra-se no Direito Civil, em que, infelizmente,

ao longo da História, o Direito Romano sofreu deturpações, principalmente por

influência do Baixo Império, através das famosas interpolações de Justiniano. É aí

que hoje se faz necessário um intenso estudo, para o resgate do autêntico Direito

Romano popular da época da República, que foi de uma riqueza imensa. Já no

campo processual, a herança tipicamente romana manifesta-se abundantemente,

por exemplo, nas ações populares, no mandado de segurança, nas medidas

cautelares, no habeas corpus.66

66 SURGIK, A. Um herói da resistência do Direito Romano. Gazeta do Povo, Curitiba, 26 nov. 2010

Page 64: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

64

3.9 CONGRESSOS NÃO LOCALIZADOS67

II Congresso Interamericano de Direito Romano. Mensagem como

Coordenador, no Paraná, do II Congresso Interamericano de Direito Romano

realizado no México - DF. 1972

XII Congresso Latino Americano de Derecho Romano. O Direito Romano na

perspectiva do III Milênio e em face da globalização. 2000.

III Congresso Brasileiro de História do Direito. Do antigo regime à

modernidade jurídica. 2007.

Congresso Luso-Brasileiro de Cultura Jurídica. O Ensino do Direito Romano.

2008

XIII Congresso Internacional e XVI Congresso Iberoamericano de Direito

Romano em homenagem a Sílvio Meira e AgersonTabosa Pinto. Sílvio Meira:

Romanista e Artista. 2011

SURGIK, A. Em defesa dos 300 anos de Curitiba. Revista do Instituto dos

Advogados do Paraná, Curitiba, v. 22, 1993.

SURGIK, A. O EstaR que não deveria estar. Boletim informativo - Instituto de

Pesquisas Jurídicas BONI IURIS, Curitiba, v. 294, p. 3504, 1997.

SURGIK, A. O Direito romano e o Latim. InformaTA - Informativo Mensal do

Tribunal de Alçada do Paraná, Curitiba, v. 10, 2000.

Tentei de todas as formas e meios localizar os congressos e artigos acima

descritos, através de telefone, e-mails, pesquisas, mas, não foi possível. Uns não

foram escritos apenas apresentado oralmente conforme relato do próprio Prof. Aloíso

Surgik. Desloquei-me até os prováveis locais onde poderia encontra-los, como na

Biblioteca Pública, analisei os artigos lá arquivados e não encontrei, na sede da

Gazeta do Povo, fui informada que só possuem arquivos de publicações recentes,

também entrei em contato com o Instituto dos Advogados do Paraná, recebi a

informação que o artigo, Em defesa dos 300 anos de Curitiba, é disponível somente

em gravação.

67 SURGIK, A. O Direito Romano. Revista da Consultoria Geral do Estado, Belém, v. 2, p. 235, 1974.

Page 65: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

65

4. CONCLUSÃO

Diante do contexto apresentado é possível concluir que, o direito não é

apenas um conjunto de regras escritas (leis), ou instrumentos de aplicação e

atuação do direito, que se vale de outros componentes em sua configuração, pois ao

lado das leis, há a doutrina, a jurisprudência, os costumes, os princípios gerais, que,

somados, compõem o conceito de Direito, que busca atingir a obtenção da justiça.

Contudo, para que se estabeleça o Direito, cada sociedade tem suas próprias

regras, regidas de acordo com suas culturas, tradições e períodos históricos.

Assim, a história do direito problematiza o pressuposto implícito e acrítico das

disciplinas dogmáticas, ou seja, o de que o direito dos dias atuais tem de racional,

necessário e definitivo.

Conhecer a história do Direito é entender os pressupostos do Direito que

explicam a legitimidade das normas.

Portanto, é nítido quão importante é estudar a disciplina de História do Direito

nos cursos jurídicos, uma vez que direito e a história caminham juntos, ou seja, o

direito está indissociável da história, uma vez que ele surge junto com a história da

própria sociedade como um condutor de normas a serem seguidas para que a

sociedade possa viver em paz e harmonia.

Entender o Direito numa visão histórica vai descrever, revelar e contar todos

os acontecimentos ocorridos em uma determinada época e em um determinado

local e o seu processo de evolução, estudando-se a história do direito de várias

civilizações, faz-se necessário o estudo dos institutos jurídicos, a exemplo do

casamento, da propriedade, do direito penal entre outros, e também das suas fontes

do direito, isto é, tudo aquilo que pode ter ocasionado a criação de um direito.

Como afirma o Professor Aloísio Surgik, não há melhor época da história do

direito do que o período clássico, que deveria ser seguido pelos juristas de hoje.

Page 66: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

66

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SURGIK, A. A origem da conciliação, tese de doutorado não publicado. SURGIK, A. Temas críticos do direito à luz das fontes. 1. ed. Curitiba: Livros HDV, 1986. v. 1. SURGIK, A. Compêndio de direito processual canônico. 1. ed. Curitiba: Edições Livro é Cultura, 1988. v. 1. SURGIK, A. Lineamentos do processo civil romano. 1. ed. Curitiba: Edições Livro é Cultura, 1990. v. 1. SURGIK, A. GENS GOTHORUM - As raízes bárbaras do legalismo dogmático. 1. ed. Curitiba: Edições Livro é Cultura, 2002. v. 1. SURGIK, A. O povo romano e o julgamento de Catilina: reflexões críticas sobre os textos de Cícero e de Salústio. Curitiba: Edições Livro é Cultura, 2004. SURGIK, A. Viajando pela História - do Direito Romano ao Direito Contemporâneo. 1. ed. Curitiba: Edições Livro é Cultura, 2010. v. IV Congresso Latino-Americano de Direito Romano. Do tribunal da plebe e do conceito de justiça. 1983. Augusto Teixeira de Freitas e o sistema Jurídico latino americano. O pensamento codificador de Augusto Teixeira de Freitas em face da escravidão no Brasil. 1983. V Congresso Latino americano de Derecho Romano.Do conceito romano de IMPERIUM e seus desvios jurídico-políticos. 1985. I Congresso Ítalo-Brasileiro de Direito Romano. Anotações histórico-críticas em torno do binômio direito público - direito privado. 1987 VIII Congresso Latino Americano de Derecho Romano. Considerações histórico-críticas em torno do binômio Direito Público-Direito Privado. 1992. XI Congresso Latino Americano de Derecho Romano. Da violação da liberdade na cobrança de pedágio. 1998 II Congresso Internacional y V Congresso Ibero Americano de Derecho Romano. A luta pela propriedade da terra na História de Roma e no Brasil. 1999. III Congresso Internacional y VI Congresso Ibero Americano de Derecho Romano. Das presunções como meios de prova - de Roma à atualidade. 2000. IV Congresso Internacional y VII Congresso Ibero Americano de Derecho Romano. A questão da responsabilidade civil do Estado perante o Direito Romano. 2001. XIII Congresso Latino-Americano de Direito Romano. O Direito Romano perante a tragédia da globalização. 2002. V Congresso Internacional e VIII Ibero Americano de Direito Romano. Da fidúcia cum creditore ao contrato de alienação fiduciária. 2002. VI Congresso Internacional e IX Ibero Americano de Direito Romano. A manus e o consensus no casamento romano. 2003.

Page 67: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

67

VII Congresso Internacional e X Ibero-americano de Direito Romano. O povo romano e o julgamento de Catilina. 2004. VIII Congresso Internacional e XI Ibero-americano de Direito Romano. A sucessão testamentária no direito romano e seu papel na gênese da pessoa jurídica. 2005. IX Congresso Internacional XII Ibero americano de Direito Romano. Res extra commercium: de Roma aos tempos atuais. 2006. XVI Congresso Latino Americano de Derecho Romano. Da Crise do Ensino do Direito Romano Atualmente no Brasil. 2008. XI Congresso Internacional e XIV Congresso Ibero Americano de Direito Romano. Considerações Críticas em Torno do Princípio "Pacta Sunt Servanda". 2009. VI Congresso do CEISAL Conselho Europeu de Investigação sobre a América Latina. Princípios Constitucionais Democráticos para um Novo Poder Judiciário. 2010. XIV Congresso Internacional y XVII Ibero Americano de Derecho Romano. Considerações críticas em torno do princípio PACTA SUNT SERVANDA. 2012. SURGIK, A. O Direito Romano em face da tragédia da globalização. Revista da Academia Paranaense de Letras Jurídicas, Curitiba, v. 2, p. 17-30, 2003. SURGIK, A. Da violação da liberdade na cobrança de pedágio -. Atualidades jurídicas, São Paulo - Editora Saraiva, v. 2, p. 21-32, 2000. SURGIK, A. Da iniciativa das provas e dos poderes do juiz no direito romano e na atualidade. Estudos jurídicos, Curitiba, p. 56-73, 1982. SURGIK, A. Decretalista. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 22, p. 494-495, 1979. SURGIK, A. A influência da História na sucessão testamentária. Revista de Direito Civil, São Paulo, v. 4, p. 69-91, 1978 SURGIK, A. Do conceito romano de IMPERIUM e seus desvios jurídico-políticos. Revista jurídica, Curitiba, v. 4, p. 17-32, 1985. SURGIK, A. Racionalismo. Enciclopédia Saraiva do Direito, v. 63, p. 156-157, 1981. SURGIK, A. "Didachê". Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 25, p. 13-17, 1979. SURGIK, A. O pensamento codificador de Augusto Teixeira de Freitas em face da escravidão no Brasil. Revista do Instituto dos Advogados do Paraná, Curitiba, v. 7, p. 140-167, 1985. SURGIK, A. A destruição do homem pela ganância do poder econômico. Revista da Faculdade de Direito. Curitiba, v. 21, p. 21-28, 1983. SURGIK, A. Decretais. Enciclopédia Saraiva do Direito, v. 22, p. 492-493, 1979.

Page 68: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

68

SURGIK, A. O Judiciário e o povo. Revista Trimestral de Jurisprudência dos Estados. São Paulo, v. 39, p. 43-57, 1986. SURGIK, A. Digesto. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 25, p. 32-35, 1979. SURGIK, A. "Eadem causa petendi". Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 29, p. 474-475, 1979. SURGIK, A. Do tribunado da plebe e do conceito de justiça. Revista da Associação dos Magistrados do Paraná, Curitiba, p. 73-83, 1985. SURGIK, A. Didascalia. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 25, p. 18-23, 1979 SURGIK, A. Presunção absoluta e relativa (teoria das provas). Gênesis - Revista de Direito Processual Civil, Curitiba, v. 3, p. 747-762, 1996. SURGIK, A. Condomínio edilício. Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 17, p. 421-429, 1979. SURGIK, A. Do condomínio edilício e suas fontes. Revista da Faculdade de Direito. Curitiba, p. 125-133, 1974. SURGIK, A. A luta pela propriedade da terra na história de Roma e no Brasil. Revista da Faculdade de Direito da UFPR, Curitiba, v. 32, p. 25-36, 1999. SURGIK, A. Doação "mortis causa". Enciclopédia Saraiva do Direito, São Paulo, v. 29, p. 181, 1979. SURGIK, A. O Cristianismo e a formação do direito medieval. Revista de Direito Civil. São Paulo, v. 26, p. 156-167, 1983. SURGIK, A. Direito - ensino, pesquisa e prática. Revista da Faculdade de Direito. Curitiba, v. 25, p. 109-118, 1989. SURGIK, A. O advogado em face do juizado de pequenas causas. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 15, 23 jul. 1985. SURGIK, A. É proibido discordar. O Estado do Paraná, Curitiba - PR, p. 30, 11 jun. 1995. SURGIK, A. O boi. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 8 - 8, 26 fev. 2002. SURGIK, A. O vírus da ganância. Gazeta do Povo, Curitiba, 11 jan. 2001. SURGIK, A. A nova (e rendosa) indústria da multa. Gazeta do Povo, 11 jan. 2002.

Page 69: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

69

SURGIK, A. Atualidade do Direito Romano. O Estado do Paraná, Curitiba, p. 13 - 13, 27 nov. 2005. SURGIK, A. O papel da universidade e dos cursos superiores. Gazeta do Povo, Curitiba, p. 10 - 10, 18 abr. 2006 SURGIK, A. Um herói da resistência do Direito Romano. Gazeta do Povo, Curitiba, 26 nov. 2010.

Page 70: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

70

6. ANEXOS 6.1. DADOS GERAIS FORMAÇÃO ATUAÇÃO Aloísio Surgik Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/2786473105300196 Possui curso de graduação (equivalência) em Fiolosofia pela Universidade Federal de Santa Catarina (1974), graduação em Licenciatura em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (1969), graduação em Direito pela Universidade Federal do Paraná (1969) e doutorado em Direito pela Universidade de São Paulo (1985). Atualmente é professor adjunto da Universidade Tuiuti do Paraná, professor titular - Faculdades Integradas Curitiba, professor contratado da Universidade do Contestado - SC, professor contratado da Facinter e professor adjunto da Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Tem experiência na área de Direito, com ênfase em Direito Romano - História do Direito - Direito Processual Civil, atuando principalmente no seguinte tema: Direito Romano - História do Direito. Identificação Nome Aloísio Surgik Nome em citações bibliográficas, SURGIK, A. Sexo Masculino Endereço Endereço Profissional Livro é Cultura. Rua Cândido Lopes, 205 - Conj. 62 Centro- 80020-060 - Curitiba, PR - Brasil Telefone: (041) 32241615 Fax: (041) 32232071 URL da Homepage: http://sites.uol.com.br/aloisiosurgik Formação acadêmica/titulação 1964 – 1969 Graduação em Direito. Universidade Federal do Paraná, UFPR, Brasil. 1966 – 1969 Graduação em Licenciatura em Letras. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, PUC/PR, Brasil. 1976 – 1985 Doutorado em Direito (Conceito CAPES 6). Universidade de São Paulo, USP, Brasil. Título: A origem da conciliação, Ano de obtenção: 1985. Orientador: Moacyr Lobo da Costa. Setores de atividade: Educação Superior; Outro. 1974 – 1974 Graduação em Fiolosofia. Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Brasil. Formação Complementar 1960 – 1962 Curso de Alemão. (Carga horária: 100h). Instituto Cultural Brasileiro-Germânico. 1967 – 1967 Curso de Taquigrafia. (Carga horária: 60h). Pontifícia Universidade Católica do Paraná. 1967 – 1968 Curso de Formação de Estagiários do MP. (Carga horária: 60h). Procuradoria Geral da Justiça do Estado. 1978 – 1978 Curso de Língua italiana. (Carga horária: 60h). Centro Cultural Ítal1985 – 1987 Curso de Inglês. (Carga horária: 200h). Centro Cultural Brasil-Estados Unidos.o-Brasileiro Dante Alighieri.

Page 71: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

71

1989 – 1989 Curso de Língua Russa. (Carga horária: 60h). Centro Cultural Brasil-URSS. 1997 – 1998 Língua Polonesa. (Carga horária: 200h). Secretaria de Estado da Cultura do Paraná. Atuação Profissional Faculdade Internacional de Curitiba, FACINTER, Brasil. Vínculo institucional 2004 – Atual Vínculo: Celetista formal, Enquadramento Funcional: Professor, Carga horária: 8 Universidade do Contestado - SC. Vínculo institucional 1999 – Atual Vínculo: Contratado, Enquadramento Funcional: Professor contratado, Carga horária: 4 Outras informações, Professor em regime parcial. Universidade Tuiuti do Paraná. Vínculo institucional 1993 – Atual Vínculo: Regime integral, Enquadramento Funcional: Professor Adjunto Faculdades Integradas Curitiba. Vínculo institucional 1984 – Atual Vínculo: Enquadramento Funcional: Professor Titular, Carga horária: 8 Outras informações; Professor em regime parcial Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Vínculo institucional 1976 – Atual Vínculo: Enquadramento Funcional: Professor Adjunto, Carga horária: 4 Outras informações; Professor em regime parcial Universidade Federal do Paraná. Vínculo institucional 1971 – 1992-Vínculo: Professor Titular aposentado, Enquadramento Funcional: Professor Titular aposentado. Membro de corpo editorial 2008 – Atual- Periódico: Intersaberes (Facinter) 2007 – Atual- Periódico: Semina (Londrina) 2008 – Atual-Periódico: Revista EOS Áreas de atuação 1.Grande área: Ciências Sociais Aplicadas / Área: Direito / Subárea: Direito Romano - História do Direito - Direito Processual Civil. Idiomas Espanhol - Compreende Bem, Fala Bem, Lê Bem, Escreve Bem. Italiano - Compreende Bem, Fala Razoavelmente, Lê Bem, Escreve Razoavelmente. Francês - Compreende Bem, Fala Razoavelmente, Lê Bem, Escreve Razoavelmente. Inglês - Compreende Razoavelmente, Lê Razoavelmente.

Page 72: UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ - tcconline.utp.brtcconline.utp.br/wp-content/uploads/2014/02/O-DIREITO-ROMANO-E-… · termo de aprovaÇÃo cleunice de fÁtima klouck o direito romano

72

Polonês - Compreende Razoavelmente, Fala Razoavelmente, Lê Razoavelmente, Escreve Razoavelmente. Latim - Compreende Bem, Fala Bem, Lê Bem, Escreve Bem. Grego - Compreende Razoavelmente, Lê Razoavelmente, Escreve Pouco. Prêmios e títulos; 1974-Bolsa de estudos para curso de especialização em Direito Romano na Universidade de Roma - La Sapienza, Consolato Generale d'Italia - Curitiba - Paraná. 1983-Voto de Congratulações inserto em Ata "pelo brilhantismo e dinamismo no desempenho das funções de Coordenador Geral do Curso de Direito da UFPR", Câmara Municipal de Curitiba. 1985- Voto de Congratulações inserto em Ata pelo título de Doutor recebido pela USP, Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Paraná. 1985-Destaque como "Professor de Direito" em edição especial, Jornal Indústria & Comércio do Paraná. 1988- Título de Cidadão Honorário de Curitiba, Câmara Municipal de Curitiba. 1988-Título de Hóspede Ilustre da Cidade de Mérida, Conselho do Município Autônomo Libertador do Estado de Mérida - Venezuela. 1990- Voto de congratulações inserto em Ata pelo lançamento do livro Lineamentos do Processo Civil Romano, Câmara Municipal de Curitiba. 1991- Prêmio "Cidade de Curitiba", Câmara Municipal de Curitiba. 1996-"Homenagem pela combatividade em prol da democracia" prestada pelo corpo discente da PUCPR, Centro Acadêmico Sobral Pinto - PUCPR. 1998- Prêmio "Troféu Imprensa do Paraná", Jornal do Estado - Curitiba - Paraná. 1998-Homenagem "Personalidade do Ano 1998", "Realiza - Promoções e Eventos"- Curitiba - Paraná. 1999-Nome de Centro Acadêmico da UnC - Universidade do Contestado de Mafra - SC, CADAS - Centro Acadêmico de Direito Aloísio Surgik. 2002- Voto de congratulações e aplausos inserido em Ata "em reconhecimento ao árduo e profícuo trabalho desenvolvido ao longo dos anos na área do Direito", Câmara Municipal de Curitiba. 2002 -"Certificado de reconhecimento à dedicação aos alunos de Direito da PUCPR", Centro Acadêmico Sobral Pinto. 2002-"Visitante Ilustre de Cuba", Universidad de La Habana Cuba. 2003- Troféu Imprensa do Paraná 2003, International Press Jornalismo e Promoções do Brasil. 2010 - PROFESSOR EMÉRITO, CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA. 2011 - DOUTRINAS ESSENCIAIS (nova publicação em encadernação de luxo do conjunto de "preciosidades doutrinárias" resgatando os melhores artigos doutrinários já publicados), EDITORA REVISTA DOS TRIBUNAIS por ocasião das comemorações de seu centenário.