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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA TANIA APARECIDA LOPES Memorias de vidas negras: um estudo sobre 0 cotidiano do bairro Boqueirao, de Curitiba, a partir da memoria de antigas moradoras negras do bairro. CURITIBA 2008

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANA

TANIA APARECIDA LOPES

Memorias de vidas negras: um estudo

sobre 0 cotidiano do bairro Boqueirao, de

Curitiba, a partir da memoria de antigas

moradoras negras do bairro.

CURITIBA

2008

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Memorias de vidas negras: urn estudo

sobre 0 cotidiano do bairro Boqueirao, de

Curitiba, a partir da memoria de antigas

moradoras negras do bairro.

CURITIBA

2008

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TANIA APARECIDA LOPES

Memorias de vidas negras: urn estudo

sobre 0 cotidiano do bairro Boqueirao, de

Curitiba, a partir da memoria de antigas

moradoras negras do bairro.

Trabalho apresentado como conclusao do

curso de especializat;ao (Lato Sensu) em

Histaria e Cullura Africana e Afrobrasileira,

Educa~ao e Acoes Afirmativas no Brasil, da

Universidade Tujuti do Parana

coordenado perc 'PAD Brasil - Instituto de

Pesquisa da Afrodescendemcia, para

obtenc;ao do titulo de especialista.

Orientador; ProF' Dr. Henrique Cunha Jr.

,r'

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TERMO DE APROVAc;:Ao

TANIA APARECIDA LOPES

Memorias de vidas negras: um estudo

sabre a cotidiano do bairro Boqueiriio, de

Curitiba, a partir da memoria de antigas

moradoras negras do bairro.

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenty<lo do titulo de especialista em Hist6ria eCullura Africana e Afrobrasjleira, EducayclO e A<;:Oes Afirmativas no Brasil, no Programa de P6s·Graduavao da Universidade Tuiuti do Parana.

Curitiba, _ de Abril de 2008.

Hist6ria e Cultura Africana e Afrobrasileira, Educatyao e AyOes Afirmativas no BrasilUniversidade Tuiuti do Parana

Orientador: Professor Doutor Henrique Cunha Jr. I UFC

Professor

Professor

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A minha mae Zezita e a todas as mulheres

negras que fazem parte da minha vida, que

mesmo muitas vezes nao cientes, foram e

sao muito importantes para a minha

afirma9ao como mulher negra, diante de

todas as adversidades de nossas vidas.

A todas (os) nossas (os) antepassadas (os)

negras (os), que diante de suas lutas

podemos hoje, dar continuidade a sua

resistencia, na busca constante por uma

sociedade equanime diante de toda a sua

diversidade.

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AGRADECIMENTOS

Agrade~o a todD 0 corpo docente do curso de especializa~ao em Hist6ria e

Cultura Africana e Afrobrasileira, Educa9ao e A90es Afrrmativas no Brasil:

Augusto Sergio Sao Bernardo

Dagoberto da Fonseca

Dora Lucia Berttllio

Eduardo David de Oliveira

Eliane dos Santos Cavalleiro

Evandro Piza

Geraldo Silva

Helio Santos

Henrique Cunha Jr.

Iya Guna Dalzira Maria Aparecida

Jurandir de Souza

Luiz Carlos Paixao da Rocha

Marcia Graf

Marcilene Garcia de Souza

Marcos Cordiolli

Marcos Rodrigues da Silva

Maria Ines da Silva Barbosa

Marlei Malinoski

Paulo Vinicius Baptista da Silva

Petronilha Seatriz Gon9alves

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Ao meu orientador 0 professor Dr. Henrique Cunha Jr., pelo companheirismo e

cumplicidade na escolha do tema de pesquisa e durante toda a elabora9fjo do

trabalho. E agrade,o intensamente a grande oportunidade de conhecer urn

pouco sobre as riquezas das religioes de matriz africana no terreiro da lalorixa

Yaguna Dalzira Maria Aparecida.

Agrade,o ao IPAD Brasil - Instituto de Pesquisa da Afrodescendencia pelo

empenho e dedicac;ao, na figura da professora Me. Marcilene Garcia de Souza,

pela sua constante e incansavel busca por parcerias, para a efetivac;ao deste

curso, que tanto nos contribuiu enos enriqueceu, de forma a entenderrnos a

rica participac;ao negra, na formac;ao cultural, economica e social da sociedade

brasileira.

A todas (os) colegas de curso, que gra,as a uniao, apesar de todas as nossas

diferenc;as, conseguimos criar urn "centuriao", on de todas (os) ficamos presas

(os) e livres para aprendermos sobre nos.

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SUMARIO

1. IINTRODUCAO, 10

1.1.0 CAMINHO ESCOLHIDO, 14

2. RELACOES RACIAIS NO BRASIL, 18

2.1. REFLETINDO SOBRE 0 PRECONCEITO E A DISCRIMINA<;AO RACIAL

NO BRASIL, 19

2.2. A MISCIGENA<;AO E A IDEOLOGIA DO BRANQUEAMENTO, NO

CONTEXTO DAS RELA<;OES RACIAIS NO BRASIL, 23

2.3. AS "GENTES" NEGRAS NA CIDADE DE CURITIBA, 27

2.4. NEGROS NO BAIRRO DO BOQUEIRAO, 33

3. AS MEMCRIAS NEGRAS, 36

3.1. INTERPRETANTO AS MEMORIAS NEGRAS, 43

3.2. CONSIDERA<;OES FINAlS, 46

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS, 48

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RESUMO

Este trabalho tern 0 objetivo de investigar a participayao do grupo racial

negro no processo de consoljda~o da formac;ao do bairro do Boqueirao,

localizado em Curitiba-PR, entendo que este trabalho se mostra importante, na

medida em que podera apontar outras possibilidades de se demonstrar a

importancia da participac;ao de diferentes grupos raciais para a construyao

social, politica, econ6mica e cultural do bairro Boqueirao, no seu processo

historico. Sendo que para a elaborayao deste trabalho pensou-se em

entrevistas com sujeitos negros, moradores antigos do bairro do Boqueirao,

que tenham parte da sua hist6ria de vida relacionada ao processo de

construyao da historia do bairra do Boqueirao. Sendo que 0 periodo proposto

aqui como importante para a hist6ria do bairro do Boqueirao, sera entre 1933,

quando ocorreu a fundac;ao da "Companhia Territorial Boqueirao" empresa

responsavel pelo loteamento da Fazenda Boqueirao, que deu inicio ao bairro

Boqueirao, ate a decada de 1970, quando S8 iniciou 0 processo de urbanizayao

do bairro, como a construc;ao de escalas e pastas de saude, entre Qutros.

Palavras chave: mem6ria; bairro Boqueirao; negro; educa9ao; hist6ria oficial.

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1. Introdu~ao:

A partir de algumas lembran9as da minha infancia e pensando 0 espa90

escolar que contribuiu tanto para 0 meu crescimento intelectual, como tambem

reproduziu au refoflyou as desigualdades vivenciadas no meu convivio social

entre as diferentes grupos raciais pertencentes ao bairro em que vivi esta fase

da minha vida, e que apresento este estudo na area da educaC;:8o escolar,

como trabalho de conclusao do curso de especializac;:ao em Historia e Cultura

Africana e Afrobrasileira, Educa9ao e A90es Afirmativas no Brasil, coordenado

pelo IPAD Brasil - Instituto de Pesquisa da Afrodescendencia e pela

Universidade Tuiuti do Parana, com 0 tema Memorias de vidas negras: urn

esfudo sabre 0 cotidiano do bairro Boqueirao, de Curitiba, a partir da memoria

de antigas moradoras negras do bairro.

Assim, atraves de depoimentos da Hist6ria de vida de duas mulheres

negras moradoras antigas do bairro do Boqueirao pretendo investigar a

participa9ao do grupo racial negro no processo de consolida9aO da forma9ao

do bairro do Boqueirao, localizado em Curitiba-PR.

Para 0 estudo parto da hip6tese que dependendo do pertencimento

racial, alguns grupos socia is poderao ter valorizado ou nao, a sua participayao

pelo discurso oficial, quanto a Historia coletiva da sua comunidade em uma

determinada sociedade.

Nasci em Curitiba e mora no bairro do Boqueirao desde os meus cinco

anos de vida. Da minha primeira infancia guardo algumas lembranyas, entre

elas do meu convlvio com algumas crianyas de familias vizinhas, que eram

crianyas brancas e pouquissimas negras, entre as brancas, aquelas que

pertenciam ao grupo das "alemas".

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II

A "rua" era 0 local da minha convivencia, com essas crianc;as, durante as

nassas brincadeiras. Existia para mim, algo como S8 fosse uma hierarquia

entre esses diferentes grupos de criangas, onde na minha concepc;c3o de

crian<;:8, as crianc;as "alemas" estavam numa POSiC;c30 privilegiada, po is sabiam

lalar 0 portugues e 0 alemao, e tambem sempre estavam bem agasalhadas

durante 0 inverno, com seus cachec6is, blusas de "gola olimpica", galochas

(um tipo de bota de borraeha), que em dias de ehuva dava a impressao que

seus pes estavam sempre secos e quentes.

Esta minha ideia de "superioridade" das crianC;8s brancas alemas era

reforc;ada na escola, dUrante as aulas e durante as conversas que ouvia dos

mais velhos, vizinhos au da minha familia.

Nas Eseolas da Rede Estadual, onde fiz 0 meu Ensino Fundamental,

durante a deeada de 1970, as prolessoras diziam durante as aulas de Historia

que 0 bairro do Boqueirao devia a sua formaC;8o populacional, economica e

social a imigrac;ao dos alemaes.

Em casa ouvia de meus pais ou de vizinhos que os alemaes tin ham

vindo para ea lugidos da guerra, se relerindo a Segunda Guerra Mundial, e que

tinham com prado suas terras bem barato do "Governo".

Talvez essas explicac;6es sobre as hist6rias da imigraryao alema 1, para

mim enquanto crianc;a nao tivesse muita importancia, S8 nao fosse 0 caso das

professoras inferiorizarem os negros, durante as aulas. Durante as aulas de

hist6ria, as professoras diziam que os negros no passado tinham side

escravizados, po is eles eram acostumados com a condic;ao de escravos.

I Neste texto usarei a cxpressilo "alemiJ.",pois e assim que sao idemificadas as ramiJias dos imigrantesalernlles no bairro, mesmo entendendo que sao conhecidos larnbem como "menonilas", grupo de uJcmaesque vierarn da Russia, oode suus lerras foram confiscadas peto govemo durante 0 periodo do regimecomunista. Ou seja, podem ser idenlificados como aJcmaes-russos, tambcm.

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(...) as processos de educa~o e transmissao da cultura nacionaldeveriam estar assentados nos conhecimentos da hist6ria indlgena,africana e europeia ( ... ) fentretantoJ sao eliminadas do conhecimentocivilizado as informacOes africanas, reduzindo 0 africano [e seusdescendentesj a urn estere6tipo de selvagem e primitiv~ C .. )(CUNHA, 1999, p.61).

Assim essas exp!icar;oes me deixavam muito envergonhada de ser

negra, e tinha muita vontade de me esconder em algum canto da sala de aula,

principalmente durante as explicayOes sobre os "ciclos economicos" do Brasil

Colonia ate 0 final do Brasil Imperio. Ficava olhando para os lad os, ja

esperando alguma piadinha de meU5 colegas relacionada a minha cor, que

indicava a minha condir;ao de descendentes daqueles que "nasceram" para

serem escravQs, na concep9Bo das professoras.

A forma que 0 tema do escravismo no Brasil e introduzido banaliza 0crime contra a humanidade realizado pelo sistema de prodUl;:aoescravista. 0 Iratamento dado ao lema sempre conslrui ideias queabsolvem os culpados e beneficiados pelo escravismo. Dada apobreza de jnforma~ao e os erros de enfoque nao e de se estranharque as estudantes passem a detestar as aulas de hisl6ria que fa/amde escravidao, (CUNHA, 2007, p. 1)

Ja entre as poucas crian9as negras que fizeram parte da minha pequena

hist6ria de crian9a, existia um tipo de "codigo secreto", que nao precisava ser

verbalizado, somente sentido atraves de alguns olhares cumplices, que ao

mesmo tempo em que indicava que nos reconheciamos como pertencentes

aquele grupo inferiorizado durante as aulas, em outros momentos por vezes,

faziamos de conta que nao nos reconheciamos como iguais.

Por mais que no meu intima e em atitudes eu me sentia forte e naa me

reconhecia como uma pessoa submissa, esta postura era fragilizada, diante do

discurso das professoras. As professoras eram muito respeitadas, elas eram as

"autoridades", as "donas do saber". Entao, eu comecei a entender que

realmente existia uma hierarquia entre nos, e que eu estava na base, ou seja,

as crian9as brancas eram melhores que eu e as outras crian9as negras, e que

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talvez um dos motivos fosse 0 fato que elas naD S8 sentiam envergonhadas

quando se falava de seus antepassados.

Esta foi a mesma linha adotada pelos meus professores tanto do Ensino

Media como os da minha formac;;c3o superior, onde os grupos raciais europeus

sempre tiveram a sua contribuiyao refon;:ada de forma positiva em detrimento

dos grupos negros e indigenas, dentro dos conteudos escolhidos para as

explicac;:6es sabre a formac;:ao da identidade social, politica, econ6mica e

cultural da sociedade brasileira.

Assim, ao investigar a participac;:ao do grupo racial negro no processo de

consolida(:ijo da forma~aodo bairro do BoqueirM, localizado em Curitiba-PR,

entendo que este trabalho S8 mostra irnportante, na medida em que podera

apontar outras possibilidades de se demonstrar a importancia da participa~ao

de diferentes grupos raciais para a constrw;:ao social, politica, economica e

cultural do bairro Boqueirao, no seu processo hist6rico. Como tambem 0

importante papel da Escola na constru~ao de uma identidade positiva dos

sujeitos descendentes de diferentes grupos raciais, responsaveis pela

constrw;:ao da sociedade brasileira.

Desta forma, no primeiro capitulo deste trabalho alem de indicar a

origem do interesse sobre 0 tema, aponta a rnetodologia escolhida para 0

desenvolvimentodesta pesquisa.

No segundo capitulo, esta uma abordagem sobre as Rela~5es Raciais

no Brasil, e tam bern em para tanto utilizou-se algumas teorias como a

sociologia, a psicologia social, a antropologia e a historia.

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o terceiro capitulo, esta reservado aos depoimentos dcs nassos

sujeitos, bern como a interpreta~ao e as considerac;6es sabre esses

depoimentos.

A inten9ao deste trabalho, e que ele possa proporcionar uma

contribui980, no sentido de apontar uma forma, entre tantas Qutras, de que a

diversidade racial seja efetivamente, orgulho para todos em nossa sociedade.

1.1. 0 CAMINHO ESCOLHIDO.

Aqui S8 pretende uma abordagem em torna do caminho percorrido para

que 0 objetivo proposto fosse atingido, ou seja, investigar a participa9ao do

grupo racial negro no processo de consolidaC;:8o da formac;:ao do bairro do

Boqueirao, localizado em Curitiba-PR, a partir de entrevistas com sujeitos

negros, moradores antigos do bairro do Boqueirao.

Entendendo neste momento que a historia e dinamica, au seja, nao e

estatica e pode ser (re) interpretada, (re) escrita, de acordo com os interesses

que estao ligados as perguntas feitas pelo sujeito pesquisador as suas fontes

de pesquisa. Essas perguntas dependeram dos interesses politicos, socia is,

econ6micos e culturais, do sujeito pesquisador. E as interesses do sujeito

pesquisador dependeram da forma como 0 sujeito pesquisador se entende e se

sente inserido em uma determinada sociedade. (POLLAK, 1992)

Entao, para a eiabora9aO deste trabalho pensou-se em entrevistas com

sujeitos negros, moradores antigos do bairro do Boqueirao, que tenham parte

da sua hist6ria de vida relacionada ao processo de constru98:0 da hist6ria do

bairro do Boqueirao. Sendo que 0 periodo proposto aqui como importante para

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a hist6ria do bairro do Boqueirao, sera entre 1933, quando oeorreu a funda9ao

da "Companhia Territorial Boqueirao" empresa responsavel pelo loteamento da

Fazenda Boqueirao, que deu inlcio ao bairro Boqueirao, ate a decada de 1970,

quando se iniciou 0 processo de urbanizac;ao do bairro, como a construc;ao de

escolas e postas de saude, entre Qutros.

A esse proposito, nao S8 pade negar, por menor que seja a proximidade

da pesquisadora com os sujeitos das entrevistas, e 0 seu interesse em apontar

urn alhar a partir do seu pertencimento racial sabre a Historia do bairro do

Boqueirao, portanto este trabalho nao S8 pretende neutra, mas tambem nao S8

pretende um trabalho eonformista na reproduvao da mesmiee diante de

situa90es eompletamente diversas (OLIVEIRA, 1998). Mesmo porque os

sujeitos entrevistados tern as suas hist6rias de vidas diferentes entre si, e entre

as outros sujeitos da sociedade na qual estao inseridos.

Sendo que a escolha dos sujeitos negros entrevistados para a prodw;:ao

deste trabalhado, se da devido a sua importaneia enquanto sujeitos eonheeidos

pela sua popularidade entre varias pessoas do bairro e de uma grande

admirac;:ao e afetividade da pesquisadora, como tambem se da pela sua

presenc;:a no bairro do Boqueirao, no periodo proposto, au seja, suas Hist6rias

de Vida estao relacionadas a Hist6ria Oficial do Bairro do Boqueirao, mesmo

que possam ter sid a excluidas par esta.

Ao privilegjar a analise dos exctuidos, dos marginalizados e dasminorias, a hist6ria oral ressaltou a importancia de mem6riassubterraneas que, como parte integrante das culturas minoritarias edominadas se opOem a "mem6ria ofjcial~ (...) (POLLAK, 1989, p.4).

Assim, a metodologia eseolhida e a da Hist6ria Oral, ou seja, a partir de

depoimentos de Hist6ria de Vidas, dos sujeitos negros, moradores do bairro

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Boquein3o, e que S8 pretende investigar a participayao do grupo racial negro no

processo de consolidayao da formayao do bairro.

A pesquisadora coube a sensibilidade de aceitar uma dinamica de

depoimentos livres, procurando nesta, "identificar a dina mica proficua, que

resguardasse a integridade da maneira de ser dos sujeitos pesquisados"

(OLIVEIRA, 1998), pois que foram os sujeitos que escolheram a forma e 0

momento para seus depoimentos, a partir de seu tempo, das limita90es de seu

corpo e de sua memoria. 8em como, conscientes dos motivDs da pesquisa,

autorizaram as registros de suas mem6rias.

Entende-se, que os depoimentos obtidos nas entrevistas, tanto podem

ser de acontecimentos vividos individualmente pelos sujeitos, como tambem,

algumas lembran~as que podem estar ligadas a algum fato muito importante,

que marceu tada au grande parte da comunidade a que S8 esta inserida,

tomando-se um fato muito importante e podendo ser entendida como parte da

memoria individual dos sujeitos entrevistados. (POLLAK, 1992).

Da mesma forma que se entende que a memoria pode nao ser somente

construida, como reconstruida, diante da distancia que "separa a momenta

rememorado do momento do relato" (LE GOFF, 1999), diante da postura do

sujeito com suas experiemcias de vida, com 0 mundo de suas diferentes e

diversas rela~oes.

Neste sentido ao mesmo tempo em que a historia oral privilegia 0

pesquisador pela proximidade com 0 sujeito, LE GOFF faz 0 alerta que

( ... ) A memOria como fonte para 0 historiador [OU outrospesquisadores] {... } e insubstitufvel em muitos casos, mas eJa etambem geradora de erros, de mitos, de mitologia e, evidentemente,o historiador tern muito 0 que fazer para corrigir e desmistificar. (LEGOFF, 1999, p.107)

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Entretanto, se a memoria e as lembran9as de uma fonte oral pode S8r

urn fen6meno socialmente construido, a documenta9ao escrita au a tonte

escrita tambern 0 e (POLLAK, 1992). Ou seja, [os) livres de historia que

registram [...) fatos sao tambern urn ponto de vista, uma versao do acontecido,

nao raro desmentidos por outros livres com outros pontos de vista. (BOSI,

2006, p.37)

Sendo assim, este trabalho de pesquisa naD S8 pretende uma outra

"verdade", a partir dos depoimentos de Historia de Vidas dos sujeitos negros

entrevistados, em oposi9ao a "Hist6ria Oficial" do bairro Boquein'3o, mas sim a

intenyc30 deste trabalho e propor Dutra forma entre muitas Qutras, para uma

abordagem Historica que contemple a diversidade da popula9ao deste bairre,

que assim como a sociedade brasileira tern a sua formayao a partir da

participa9ao de diferentes grupos raciais.

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2. RELACOES RACIAIS NO BRASIL'.

Acredita-se que a construgao da identidade da populagao de uma

determinada sociedade, esta vinculada as rela~6es entre as diferentes grupos

que compoem esta sociedade. Neste sentido. este texto propoe algumas

reflex6es, sabre as relavoes as Relac;6es Raciais no Brasil, pensando no

preconceito e discriminac;:ao racial, que a populac;:ao negra esta sujeita, no

contexto das relac;6es entre negros e brancos no Brasil. Ou seja, este texto tern

a finalidade de justificar 0 recorte racial deste trabalho.

Entende-se que quando os sujeitos nascem 0 mundo ja esta em pleno

funcionamento, dividido em varios "mundos" (familia. comunidade, bairro,

eseela, cidade, universidade), cada qual interagindo entre si e com 0 Dutro,

com suas similaridades e especificidades de relacionamentos, normas e

regras, as quais sao construidas e modificadas constantemente na

cotidianidade e sao apresentadas ao novo sujeito. (HELLER, 1985)

Essas regras sao apresentadas 80 novo ingresso, 0 qual deve assimilar

essas regras de relacionamento, para a sua convivencia e sobrevivencia no

interior do grupo do qual fara parte, por urn periodo ou por toda a sua vida.

Assim, para a formayao de sua identidade 0 sujeito necessita de

referencias que sao transmitidas, assim que nasce a partir da interayao com os

diversos sujeitos e ambientes socia is que 0 sujeito interage e transita em toda a

sua vida, pois estara sempre inserido em algum grupo, em uma determinada

sociedade. Sao leis, normas ou regras prontas - nao fixas, mas mutaveis - de

comportamento e relacionamento entre os sujeitos e seu grupo, e outros

grupos distintos do seu. (HALL. 2000).

1 Estc capitulo e partc do tcxto apresentado a banca de qualifica~i1o de pesquisa cm desenvolvimento noPrograma de P6s-Gradurrllo em Educarrllo, da UFPR em 2008.

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Desta forma, a partir da necessidade de conv;vio social entre as sujeitos

dos diferentes grupos sociais, cria-se a identifica,ilo do "nos" pertencentes, e 0

grupo dos "outrosn, as que naa pertencem politicamente do "nos50" convivio

social. Muitas vezes cria-S8 urn sentimento de negaf):ao, da participayao do

"outro", em rela,ao a vida do "n6s", neste sentido Cunha (2006), aponta a

nega,ao na Historia do Brasil, da participa,ao do negro no processo de

formayao da nayao brasileira; naD apenas no papel de escravizado, mas 0

detentor do conhecimento capaz de produzir as riquezas materias, culturais da

sociedade brasileira.

2.1. REFLETINOOSOBRE 0 PRECONCEIROE A OISCRIMINA~Ao RACIAL

NO BRASIL.

Aqui naa existe a pretensao de uma discussao minuciosa, aprofundada

sabre as conceitos: preconceito e discriminaC;;2Ioracial. E sim, uma reflexao de

suas (inter) relac;;oes, quando 0 tema e sabre as relac;;oes entre negros e

brancos, po is que neste sentido, estao intrinsecarnente relacionados.

Discutir relac;6es raciais, rna is especificamente as desigualdades raciais

existentes nas rela90es socia is do Brasil, se mostra urn tanto quanto

contradit6rio se pensarmos nos sujeitos, a partir da biologia, ja que para esta

ciencia nao existem rac;as humanas, pais nao existe urna delimitac;ao exata das

ra,as. (O'AOESKY,2001)

Tambern as estudos da genetica reforc;arn que cada individuo e unico e,

que nao existe urna "rac;a pura", que serviria como parametro classificat6rio e

hierinquico de urna suposta superioridade au inferioridade entre os diferentes

individuos e, que as diferen,as fisiol6gicas sao muitas, ja que as popula,oes

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20

humanas sao resultadas de seus constantes encontros, como nos aponta

D'ADESKY (2001)

A hist6ria da humanidade confirma a inconsjst~ncja da noeao de racapura. Misturas biol6gicas sao a constante. Do ponto de vista dagenetica, nao existe raca branca au negra. N.ao existe raca ariana aulatina. Tambem naD existe raCa brasileira. Os pavos nunca cessaramde se misturar uns aos outros. Oaf a evidente diversidade dos tiposfisicos que formam a popular;;:.3o mundial. (p.45)

Entretanto, sao as pessoas comuns, em sua maioria, que fazem parte

desses grupos humanos ou sociedades e que em suas relac;:6es socia is nao

levam em considerac;:ao as produyoes te6ricas cientlficas na formaC;8o da

identidade de "nos" e dos "outros". Dai ainda a necessidade do emprego do

conceito rac;:a, para entendermos as classificar;6es e hierarquizar;oes socials

produzidas entre os diferentes grupes sociais.

( ... ) a n:!io-cientificidade da nOC:!io de rac;a n:!io e, de forma algurna,urn obstaculo a seu ernprego. EJa pode rnuito bern ser encontradatanto nas areas ideol6gicas e politicas, nos estudos sociol6gicos eantropoJ6gicos, como em seu uso na lingua corrente. E que a ideia derac;a, rninimizada como criteria cienUfrco pela biologia, mantem-secomo categoria de referencia e de hierarquizar;::ao na sociedadecontemportmea. Ela remele simboJicamente, fantasmagoricamente,as obscuras forcas do instinto, do sexo e do sangue. Ela alimenta aspaixoes, as preconceitos dos indivlduos, dal estar sujeita asmanipulac;Oes e ao casulsmo dos discursos ideoJ6gicos. (D'ADESKY,2001, p.13)

Neste sentido, Baibich (2001) aponta que a forma9ao da identidade traz a

afirmar;ae da diferenr;a, a existencia do "outro" e, assim "(...) para reafirmar a

identidade e a perten9a a seu grupo e atribuido ao outro (alter) caracteristicas,

tambern grupais, supergeneralizadas sebre seu comportamento au

constitui9ao" (BAIBICH, 2001, p.20).

Assirn, as diferentes caracteristicas fisicas como cor da pele, textura dos

cabelos, formato dos labios e nariz, sao tambem consideradas na

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hierarquizayao dos sujeitos e, em suas relac;:oes grupais na realidade dessas

sociedades. Acionados as mecanismos ideol6gicos preconceituDsoS e racistas,

dependendo das caracteristicas fenotipicas, as sujeitos desses grupos

ocuparao determinadas posi96es socia is na sociedade.

Acima de tudo, 0 imaginario racista alimenta-se das semerhanc;:as edas diferen/yas fenotJpicas da cor da pete ate diversas caracteristicasmorfo\6gicas (... ) Porque araya, queira-se au nac, permanece sendourn elemento maior da realidade social, na medida em que emprega,a partir de caracterlsticas flsicas vislveis, formas coretivas dediferenciac;::!Io classifical6ria e hierarquica que podem engendrar, asvezes, comportamentos discriminat6rios individuais ou coletivos.(D'ADESKY, 2001, p,46) 3

Entao, 0 preconceito alimentado pela ignorancia e falta de conhecimento

pode segregar 0 dilerente, 0 "outro", aquele nao desejavel. J<i que "0

preconceito pode ser considerado primariamente injustificado, por envolver

uma generalizac;:8.o incorreta, tratando individuos em termos de membros de

seu grupo, ao inves de referir-se a eles como individuos unicos como

realmente 0 sao". (BAIBICH, 2001, p.21).

Neste sentido, 0 preconceito, nao e urn sentimento imutavel ou fix~, ja que

surge da lalta de conhecimentos, da ignorancia, entao, 0 inverso desta situayao

pode ser 0 remedio, uma "ac;ao educativa e persuasiva pode contribuir para

diminuir 0 preconceito e revisar os estere6tipos, levando a valorizac;ao das

dilerenyas e da diversidade". (BENTO, 2002, T, p.11)

Em algumas das sociedades contemporaneas, como e 0 caso da

brasileira, a migrac;:ao de diversos grupos, vindos de diferentes continentes na

condic;:ao de escravizados ou de trabalhadores livres, traz na formac;ao

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fenotipica de seu grupo social, formas distintas e diversas de caracteristicas

fisicas.

Entretanto, a existencia de mecanismos ideol6gicos racistas segrega em

suas praticas sociais os grupos que apresentam caracteristicas fenotipicas nao

desejaveis na formayao de sua identidade, a diversidade passa a ser 0 suporte

das desigualdades.

Assim, discriminayao racial e a efetivayao do racismo, que nas relac;oes

socia is divide sociaImente os diferentes grupos, onde um dos grupos esta em

posiyao de inferioridade em relac;ao ao outro e, diante das relayoes desiguais

entre negros e brancos no Brasil, sao as negros as vitimas da discriminac;ao

racial.

Desta forma, 0 racismo, quando pensamos nas relayoes entre negros e

brancos na sociedade brasileira, age como urn mecanisme de wdominayaoe de

desqualifica9ao social" 4 da popula9ao negra. (CUNHA, 2006). Ou seja,

determina a populayao branca uma posiyao de privilegio, nas relac;oes socia is,

jii que "(...) teria como motor a manutenc;ao e a conquista de privilegios de urn

grupo sobre outro, independente do fato de ser intencional ou apoiada em

preconceito". (BENTO, 2002, p.28).

4 Conceilos ulilizado5 por Henriquc Cunha Jr., em seus tC:<IOS: ··A Poplllar;:iio Negra tinha /ormar;:iioproJis.~iolJall1a abolir;:(io" e ··Os lIegros mio se deixaram escravizar".

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2.2. A MISCIGENAi;AO E A IDEOLOGIA DO BRANQUAMENTO, NO

CONTEXTO DAS RELAi;OES RACIAIS NO BRASIL.

o tema das Relac;;oes raciais no Brasil e urn tema camplexo, que

atualmente tern presen9a constante, nos debates dos movimentos socia is

negros, sindicais; nas instituic;;oes de ensina publieas e privadas, principalmente

diante das politicas de a,oes afirmativas, como por exemplo, a politica de

reserva de vagas nas universidades publieas, para alunos negros e alunos

oriundos de escolas publicas e a Lei 10.639/03 que altera a Lei de Diretrizes e

Bases - LDB 9394/96, que torn a obrigatorio 0 en sino da Historia e Cultura Afro-

Brasileira, no curricula da Rede de Ensino de todos as niveis.

Sendo importante lembrar, que tais politicas sao frutos da resistencia e

persiste!ncia do Movimento Negro organizado brasileiro, no combate

permanente contra 0 racismo, preconceito e a discrirnina9ao racial, que sofre a

popula,ao negra no Brasil.

Acredita-se que um possivel fator de complexidade para se discutir

rela,oes raciais no Brasil, seja a cren,a de uma grande parcela da popula,ao

brasileira - entre negros e brancos - de que vivemos em uma sociedade

mestic;a, on de nao se leva em considera~ao a cor/ra~a das pessoas para sua

jnser~ao e mobilidade social, e a cren~a no milo da democracia raciar

S Vcr: MUNANGA (2004); D'ADESKY (2001); BERNARDINO (2004); SKIDMORE (1991).7 Cinco sistemas de classifica~i!.o de cor predominam no Brasil: 0 sistema do IBGE. usado no ccnsodemografico. com as categorias branco, pardo, preto, [indigcna] c amarelo; 0 sistema branco, negro eindio, rcfercnte ao milo fundador da civiliza~i'io brasileira;, segundo dados da Pesquisa Nacional porAmOSlra de Domicilios (PNAD) realizada pelo !BOE em 1976; 0 sistema bipolar branco e nao-branco,utilizado por grande nUmero de pesquisadores de ciencias humanas; 0 sistema de classifica~ilo bipolarbronco c negro, proposto pelo Movimenlo Negro (D'ADESKY, 2001, p.135) (grifo meu).

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Criado por elites brancas e laboriosamente inserito no imaginanosocial, com a contribuityao de eminentes cientistas sociais, 0 mito dademocracia raciar que se sup6e existir no Brasil fOi, provavelmente,um dos rnais poderosos mecanismos de dominacao ideol6gica japroduzidos no mundo. (GONCALVES e SILVA, 2002, p.73)

Varios estudiosos contemporaneos tern tratado deste mito que S8 constitui

em uma ilusao de harmonia racial, que tern na miscigenaltao, a tanya que

alirnenta a ideologia de que constituimos todos, urn unico pavo: mesti90s,

descendentes da uniao entre negros, brancos e indigenas, mas, urn unico

pav~, 0 pav~ brasileiro, sem conflitos, sem diferen9as raciais.

o mito de democracia racial, baseado na dupla mestiyagem biol6gicae cultural entre as tr~s rac;:asoriginarias, tern uma penetrac;:aomuitoprofunda na sociedade brasileira: exalta a ideia de convivenciaharmoniosa entre os indivlduos de todas as camadas sociais egrupos etnicos, permitindo as elites dominantes dissimular asdesigualdades e impedindo os membros das comunidades nao-brancas de terem consci€!Ociados sulis mecanismos de exclusao daqual sao vllimas na sociedade. (Munanga, 2004, p.89).

Assim, a ilusao do mito da democracia racial consiste em um dos mais

importantes entraves, para se pensar nas profundas desigualdades raciais na

sociedade brasileira de acesso ao mercado de trabalho, a saude, a educa9ao,

a habita9ao, a seguran9a e outros, existentes entre brancos e negros.

A miscigena9ao age como urn elemento operacionalizador e

manipulador das consciencias negras e brancas, pois e irnportante para se

manter a ideologia criada pela elite dominante, de uma unica identidade

nacional, e evitando desta forma quaisquer conflitos entre os diferentes grupos

raciais, pela assimila9ao, refor9ando 0 mito da democracia racial. (MUNANGA,

2004).

Ou seja, {encobre] os conflilos raciais {abertos], possibWlando alodos se reconhecerem como braslleiros e afastando dascomunidades suballernas a lomada de consciencia de suascaracleristicas culturais que leriam contribuldo para a construr;:aoeexpressao de uma identidade pr6pria. Essas caracterlsticas sao

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-expropriadas·, Mdominadas·e Mconvertidas·em simbolos nacionaispelas elites dirigentes. (Munanga, 2004, p.89).

Apesar desta suposta desconsiderayao da raya, quando se pensa nas

relac;6es socia is, oficialrnente e utilizada uma classificac;ao de identifrcac;ao

racial no Brasil, como para as dados coletados nos censas, pelo IBGE, na qual

e utilizado 0 quesito "cor ou raya", (branca, preta, parda e amarela e indigena),

Esta classificac;ao racial permite S8 pensar contraditoriamente que existe uma

hierarquia, que diferencia racialmente aS sujeitos na sociedade brasileira.

(BERNARDINO,2004),

o resultado desta classificac;ao na priltica e peueD confiavel, dado que

historicamente a populac;ao brasileira tende a identificar-se 0 mais pr6ximo

passive I da cor branca criando outras categorias classificatorias7.Pois que

neste sentido, a miscigena«;c3o vem de encontro aos interesses almejados pel a

ideologia do branqueamento, que neste processo da miscigenayao a ra«;8

negra desapareceria, vencendo a mais forte no caso, a ra«;a branca.

Entao, dialeticamente pensando, a miscigenayao, opera na sua forma

positiva, quando leva a pensar, a partir do mito da democracia racial, na

riqueza da diversidade e pluralidade biol6gica e cultural do povo brasileiro,

porem esta mesma miscigenayao contem a ideofogia do branqueamento9, que

da mistura das diferentes ra9as, ° grupo branco subjuga aos demais.

o idear do branqueamento, que se apresenta por meio damiscigenar;ao com anti-racismo, revera na reafidade um racismoprofundamente heter6fobo em rerar;aoao negro. De fato, ere ocurtauma integrayao distorcida, marcada par um racismo que pressup6euma concepyao evolucionista da caminhada necessaria dahumanidade em direcao ao melhor, isto e, em direcao a umapopulayao branca, perc menos na aparencia. (D'ADESKY, 2001,p,69)

'v", MUNANGA (2004); O'AOESKY (2001); BERNARDINO (2004); SKIDMORE (1991),

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Neste processo da miscigena.;ao a populag8o negra, excluida dos

mecanismos de poder politico, econ6mico e social, e biologicamente e

culturalmente consumida progressivamente pera ideologia do grupo mais forte,

no casa a branca, levan do-a a negay30 de sua identidade.

A politica e a ideologia do branqueamento exerceram [e exercemJuma pressao psicol6gica muito forte sabre as africanos e seusdescendentes. (Que] foram, pela coacao, for~dos a alienar suaidentidade, transformando-se, culturalmente e frsicamente embrancos. (Munanga, 2004, p. 102)

Ocorre assim, urn processo de assimila9ao dos valores identitarios do

grupo dominante, atraves da ideologia de branqueamento, por uma parcela da

popula9ao negra brasileira, "visto que busca ser aquilo que supoe que 0 outro

{no caso, 0 brancoj desejaria que ele fosse deixando para lanlo de ser 0 que IY'

(BAIBICH, 2001, p. 01), 0 que contribui para que 0 objetivo da elite, 0 da

unidade nacional, seja gradualmente alcan9ado. (D'ADESKY, 2001).

No mesmo sentido, Baibich (2001), identifica a assimila9ao, como um

mecanisme de defesa para fugir, ainda que incenscientemente, do preconceito

que Ihe ancora a um destino de dor e sofrimento.

( ... ) individuos pertencentes ao grupo que e vitima do preconceito eda perseguiyao identificam·se com os indivlduos do grupo dominante,assimilando inclusive valores relativos a visao deturpada de seupr6prio grupo, passando a manifestar, em diferentes nlveis,sentimentos e condutas deste mesmo preconceito. (BAIBICH, 2001,p.19)

Nota·se que, essas ideologias de branqueamento atraves da

miscigena.yao sobre (e para) a sociedade brasileira articuladas aos interesses

politicos e econ6micos das elites brancas sao util;zadas como estrategias para

o silenciamento das injustic;:asmateria is e simb6licas, e imp uta seus fracassos

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ao Dutro naD branco, no casa a propria vitima das injustit;:as, 0 negro. (BENTO,

2002, p.35)

Neste mesmo sentido, CUNHA JR. (2006) aponta que tambem 0 siiloncio

sabre a importancia dos africanos e seus descendentes tern sido neg ado pela

hist6ria oficial, funciona como parte dos mecanisrnos de domina\=ao que

mantem a desigualdade s6cio-economica desta em rela,ao a popula,ao

branca.

Oiante desses pressupostos, admite-se que existe a medo de assumir

que 0 racisrno esta presente na sociedade brasileira quando sao verificadas as

desigualdades raciais, entre negros e brancos para a sua mobilidade social. 0

medo que atinge a negro, po is que tambem aprendeu que todos sao iguais, e

ao assumir 0 racismo entendera que naD e igua/ e sentirc3 uma dar de perda. a

mesma medo que atinge 0 branco, pois que ao assumir a racismo, assumira

tambem que nao e igual, que tera que prestar contas pelos ganhos socia is, dos

quais foi privilegiado pela sua brancura, e tambem sentira a dor de perda.

2.3. AS "GENTES" NEGRAS NA CIDADE DE CURITIBA.

Diante deste contexte das relac;6es raciais do Brasil, este item prop6e

reflexoes sabre as relac;oes raciais em Curitiba, pais que S8 entende que seu

alcance S8 da em todas as regioes do Brasil, sendo assim, Curitiba a capital do

estado do Parana, tambem esta inserida.

"Curitiba, a cidade da gente", este e 0 logotipo slogan da capital do

estado do Parana, que S8 encontra nos carras oficiais da prefeitura da cidade,

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no portal eletronico 10 I e outros meios de comunicag8o. Esta representayao

gn,fica da cidade de Curitiba remete a ideia de uma cidade de "tados os

pavos", remete a ideia de uma acolhedora integrayao entre todos "nos", mesmo

que dilerentes entre si. E 0 cartao postal de Curitiba, para 0 Brasil e para 0

mundo, como jil loram outras como "Capital ecologica", "Capital de Primeiro

Mundo".

Entretanto SOUZA (2003) nos aponta que existe na cidade de Curitiba

uma valoriza98o de grupos etnicos europeus e asiilticos em detrimento do

grupo racial negro, quando se trata da representagao da participag80 historica

desses diferentes grupos, ocorrendo 0 que a autora chama de uma

"invizibilizay80" dos negros, como em seu exemplo:

Em Curiliba, existem pracas grandiosas, parques, basques, bairros,portais que homenageiam as descendentes de imigrantes, formandoum dos cart6es postais da cidade. No entanto quando nos referimos apopulacao negra, enconlramos apenas uma praca num bairroperiferico chamada: "Praca Zumbi dos Palmares", freqOenlada perpessoas que nao sabem 0 nome da praca, mUlto menDs a quem apra~a queria hemenagear. Essa praCa nao e cartao postal. (SOUZA,2002, p.29)

Assim, pode-se entender que existem alguns grupos etnicos que

combinam com os slogans que identificam positivamente a cidade e outros

grupos que nao. Faz-se de conta, que nao fazem parte de sua hist6ria oficial,

portanto nao merecem ser homenageados com esses simbolos que fazem

parte da memoria oficial da cidade.

Como continua SOUZA, ao nos apontar que

nos festivals folcl6ricos da cidade, a presenca da comunidade negraau dos chamados uafro-brasileiros~ e invisibilizada , bern como, nospontos lurfsticos em destaque da cidade, ou ainda na arquiletura, epasslvel perceber que 0 mito de "Capital Europeia-, ou ·Capital dosImigrantes", ou "Capital de Todas os Povos~ a verdade privilegiaalgumas "etnias· e invisibiliza outras. Por tras deste ideario de·Capital de todas as gentes· onde lodos conviveriam na mars perfeita

10 Portal Eletronico da Prefeitum Municipal de Curitiba: www.curitiba.pr.gov.br

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harmonia, chega, por vezes a mascarar as desigualdades politicas,sociais, econ6micas e culturais, entre 05 diferentes grupos deimigrantes (por exempl0, e facit observarmos que "alemaesK

entendem-se como superiores a ~poloneses"), e entre eles apopular;:a.o negra. (SOUZA, 2002, p.l)

Entretanto, por mais que a hist6ria oficial tente "invisibilizar" este grupo

racial, e inegavel a presen,a de negros na cidade de Curitiba.

Mesma parque, nao S8 pode pensar na hist6ria de Curitiba, sem pensar

o contexte da historia do estado do Parana e do Brasil, e como nos aponta

IANNI (1962, p.?), verifrca-se que em todas as regioes brasileiras, durante todo

o period a de escravidao, que S8 entende do periodo colonial ate 0 final do

periodo imperial, mesmo que tivessem organizado a estrutura de suas

economias de formas diferentes, podendo muitas vezes este sistema

economica, baseado na mao-de-obra escrava se mostrarem mais dominante

em algumas regioes do que em outras, mas nunca ausente, em nenhuma das

regioes brasileiras.

Neste sentido IANNI (1962), nos indica que a economia paranaense ao

encerrar 0 seculo XIX, tinha passado por tres ciclos economicos principais,

sendo que os mesmos foram "interpenetrados reciprocamente, afetando-se,

estimulando-se, fecundando-se uns aos outros" (IANNI, 1962, p.131), a saber:

No securo XVII, a minera<;:floabsorveu a maior parte das capitais erecursos humanos disponlveis. (...) Assim se instituiu a escravidao doaborigine e do africano e descendentes em Curitiba. (...) A pecuariapraticou-se por lodo 0 seculo XVIII, entrando pero seguinte. (...) Estaeconomia, nitidamente induzida pela economia colonial mais vigorosade outras areas, apoiou-se principalmente do trabalhadorescravizado, presente tanto na lida do gada como nos serviyosdomeslicos, islo e, infiltrando-se em lodos as nlveis do mundo socialali criado. (...) Vinda do seculo anterior, a atividade ervateira serapreponderante no seculo XIX, mobilizando a maior parte dostrabalhadores e capita is. (IANNI, 1962, p.131)

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Assim, a titulo de exemplo apontam-se alguns dad os de 1882, seis anos

antes da aboli,ao da escravidao no Brasil, sobre a forte presen,a da popula,ao

escravizada do estado do Parana e da cidade de Curitiba:

Tabela 1. Popula,ao escrava do Parana - 1882.

Urbana Rural

941

Invalidos

Residencia Profissoes

Curitiba

Lavoura Domesticos OficioS

433 962 446

352Parana 1.349 6.286 4.670 2.609

(Apud, IANNI, 1962, p. 122)

Diante do exposto pade-s8 entender, que como em toda a economia do

Brasil, a riqueza produzida no estado do Parana, e por extensao em Curitiba,

durante mais de tn35 seculos foi baseada numa estrutura de produg8:o escrava,

eu seja, as escravizados desempenharam todas as func;6es nos processos de

produ,ao do estado do Parana, seja para a produ,ao de subsistencia como

para 0 mercado.

Como no dizer de CUNHA (2007):

A realidade da hist6ria do Brasil e que a popula/ya:o escravizadarealizou um numero enorme de profissoes e atividades sociais.( ... )Allam dos escravizados das grandes propriedades existiram diversasoutras maneiras de ser escravizado. Mesmo musicos, artistas eintelectuais foram escravizados. Profissionais e artistas da area deconstrUl;ao de igrejas e monumentos foram escravizados.Vendedoras de comidas, quilandejras e comerciantes em feirapublicas foram escravizados de ganho. (... ) (CUNHA, 2007, p.4)

Sendo assim, a estado do Parana e por extensao a cidade de Curitiba,

nao esteve fora deste processo instituldo de produc;ao economica, social e

cultural baseado na escraviza,ao, que determinou 0 modo de organiza,ao da

vida em sociedade entre os negros e os brancos. (IANNI, 1962, p.9).

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E a presen,a da populayao negra permanece, mesmo ap6s 0 periodo da

escravidao, como nos indicam as dad as sobre a composic;ao da populac;ao do

estado do Parana e de Curitiba, em relayao il populayao do Brasil, no final do

seculo XIX:

Tabela 2. Composiyao da Populayao - 1890 (FreqOencias absolutas e

percentuais).

Brancos Negros Mutatos Caboclos Tolais

Estado do 159.181 12.897 46.565 30.848 249.491

Parana (64) (5) (19) (12) (100)

MunicIpio de 19.027 997 3.194 1.335 24.553

Curitiba (78) (4) (13) (5) (100)

Par6quia 17.837 948 2.816 1.093 22.694

N.S. da Luz (79) (4) (12) (5) (100)

de Curitiba

Brasil 6.302.198 2.097.426 4.638.495 1.295.796 14.333.915

(44) (15) (32) (9) (100)

(Apud, IANNI, 1962, p.127)

Desta forma, ao "camuflar" a existencia de descendentes de

escravizados na cidade, ao negar a participaC;<3o do grupo racial negro do

contexto de sua hist6ria e da hist6ria de toda a sua populay8o, Curitiba nega

tambem, tada a hist6ria de seu pova.

Sendo que esta tendencia de negayao da participayao da populayao

negra, na formac;ao da cidade de Curitiba, permanece ate a presente. Pais,

quando sao verificadas as informac;6es sobre a hist6ria e 0 perfil da cidade, no

site11 de informac;6es da prefeitura da cidade, ainda encontra-se que

liStie: www.curitiba.pr.gov.br

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No final do secura XIX, com 0 cicio da elVa-mate e da madeira emexpansao, dois acontecimentos fcram bem marcantes: a chegada emmassa de imigranles europeus e a constrw;ao da Estrada de FerroParanagua-Curitiba, liganda 0 Literal ao Primeiro Planaltoparanaense.( ... )Os imigrantes - europeus e de oulros conlinentes ., aD 10ngodosecura XX, deram nova conotayflo ao cotidiano de Curitiba. Seusmodos de ser e de fazer se incorporaram de tal maneira a cidade quehoje sao bem curitibanas festas c[vicas e religi05a5 de diversasetnias, danga, musica, culinaria, expressOes e a mem6ria dosantepassados. Esta e representada nos diversos memoriais daimigrayao, em espa9Ds publicos como parques e bosquesmunicipais.( ... ) (www.curiliba.pr.gov.br. acesso em 15.02.08)

Entende-se, como se a cidade devesse a sua formayao apenas aos

grupos imigrantes europeus, 0 "orgulho"da cidade, negando-se a presenya e a

participa~aoda popula~aonegra. Mesmo quando e citada a grande obra, que ea Estrada de ferro, que liga Curitiba ao litoral paranaense, em nenhum

momento citam-se os negros engenheiros Andre e Antonio Rebouyas, os

irmaos responsaveis pelo projeto e execuyao da grande Estrada. Ao mesmo

tempo em que se fazem referencia, inclusive visual, aos simbolos de

homenagens, aos imigrantes de outras etnias/ra~as que participaram do

processo de formayao economica, social e politica da cidade, como os

memoriais construidos: Memorial Arabe, Memorial Japones, Memorial

Ucraniano, Memorial da Imigra~ao Polonesa (Bosque do Papa) e Bosque

Alemao.

Neste sentido, entende-se que ha uma "preferencia" em identificar a

cidade de Curitjba com os europeus, do que com a populayao negra, que faz

lembrar 0 passado escravista na construyao da cidade de Curitiba, como do

estado do Parana, como do Brasil.

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2.4. NEGROS NO BAIRRO DO BOQUEIRAO

Como que por extensao da hist6ria de Curitiba, a historia do bairro do

Boqueirao indica tambem que caminha nesta "via de mao (mica", quando 0

assunto e relacionado a participayao do grupo racial negro, ou seja, da

exclusao do negro e de sua partjcipa~ao na hist6ria do bairro.

A origem do nome Boqueirao foi devido a sua situayao topogn;fica e das

condiyoes geograficas da regiao em que S8 encontrava 0 bairro no passado.

( ... ) Boqueirao e uma palavra utilizada para representar uma cavagrande e profunda OU um terrene umido e aiagadico. E quem viveu auconheceu 0 Boqueirao do passado, a Boqueirao antes de ser loteadopela Companhia Territorial sabe que ele era justamenle isso, umimenso descampado com muitas regioes de banhado ( ... )(FENIAN OS, 2000, p.5)

A Vila de Nossa Senhora da Luz e Bom Jesus dos Pinhais, hoje Curitiba,

foi fundada oficialmente em 29 de mar90 de 1693, entretanto as regi6es do

bairro Boqueirao, Alto Boqueirao e Hauer, sao mencionadas a partir de meados

do seculo XIX. Data de 1856 a primeira referencia a fazenda Boqueirao, entao

de propriedade de Manoel Antonio Ferreira. Ap6s a morte do proprietario, as

terras foram divididas entre seus tres herdeiros, que venderam suas partes na

fazenda em 1910 it Victor Ferreira do Amaral, Homero Ferreira do Amaral e

Alexandre Harthey Gutierrez.(FENIANOS, 2000, p.18-21).

Entao, em 1933, as familias Amaral e Gutierrez, fundaram a Companhia

Territorial Boqueirao, e come9am 0 loteamento da fazenda em 1934, quando

os primeiros lotes foram vendidos. Bem como doaram parte das terras aos

militares, 0 que ocasionou a transferencia do quartel militar do Bacacheri para 0

bairro do Boqueirao, em 1938. (FENICIANOS, 2000, p.22).

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Neste sentido, a partir das analises de FENICIANOS (2000) pode se

entender que a formaltao oficial do bairro se da a partir do processo de

loteamento da antiga fazenda Boqueirao, em 1934. Entretanto, em seu trabalho

FENICIANOS (2000), sem indicar em nenhum momenta a participa9ao dos

negros no inicio da formac;ao do bairro Boqueirao, em 1934, aponta com

evidencia somente a influencia dos menonitas na hist6ria do bairro, como na

construc;ao da Escola Boqueirao, a primeira do bairro; e da Sociedade 5 de

Julho.

(...) membros de um grupo de protestantes, que influenCiariaprofunda mente a hist6ria do bairro e arredores, estabeteceram-se emuma fazenda vizinha a 8oqueirao. Conhecidos como menonitas, eleshaviam chegado da Russia, onde suas propriedades foramconfiscadas peta governo depots da impJantacao do regimecomunista em 1917. ( ... )(p.22) (grifo do autor).

A medida que VaG se passando as decadas, 0 autor vai apontando com

maior evid€mcia a participayao alema no processo de modernizayao do Bairro

Boqueirao, como:

Em 1945, as memonitas fundavam a Cooperativa Mista 8oqueirao.Era 0 inicio das leiterias que se tornariam uma das marcas da regiao.(...) Em 1959, outro ponto comercial fai canstruldo no 8oqueirao, aCasa Blumenau, de propriedade da familia menonita Heinrichs. (...)Tambem no final da decada foi proibida a venda de leite cru emCuritiba. 0 fato levou ao surgimento, na regiao, da Cooperativa deLaticlnios de Curitiba, alual Crac, un ida as leiteiros da cidade. (...)(FENICIANOS, 2000, p.24-2S)

Entende-se que a valorizayao da participayao dos alemaes, para a

historia do bairro Boqueirao, tornou-se como a (mica verdade, sendo que, as

informac;6es no site oficial da prefeitura de Curitiba, apontam na mesma linha

de raciocinio quanto a hist6ria do bairro

Sua hisI6ria e marcada pelo povoamento inicial de nlSSOS mcnonitasque, vindos de Santa Catarina, fundaram em 1933 a Colonia

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Boqueiriio, a 12 km do ccnlro de Curitiba, dedicando-sc a criayao degada leiteiro. 12

E assim, na continuidade, as fentes da historia do bairro do Boqueirao,

apontam que 0 processo de modernizayao do bairro se da a partir da decada

de 1970, quando a partir das reivindica,oes da popula,ao, surgem obras de

saneamento, constrU!;:ao de escolas, pastas de saude, visando urn melhor

atendimento a sua popula,ao, ate entao esquecida pelas autoridades da

cidade.

Na decada de 70, as coisas come9aram a mudar, quando urn grupode moradores 5e uniu atraves da Associar;a.o Comunitaria SantoInacio para exigir, da prefeitura, melhorias para 0 bairro. Ate enta.o, aurbanizar;.3o alcanr;8va apenas 0 Hauer. 0 Boqueirao ganhou, entaD,escolas, posta de saude e outr05 beneficios, como a canalizar;Ao doBelern e a abertura da continuidade da Marechal Floriano.(Classificados R.P.C., 2008)

Sendo assim, entende-se que esse processo de moderniza9ao, como a

urbaniza,ao do bairro, continuara nas decadas de 1980 e 1990, com a

implanta9ao do eixo de transporte coletivo, que ira diminuir a distancia com 0

centro da cidade. A cria,ao do Polo das Malhas, complexo de IOjasde cal,ados

e vestuarios. A constru,ao da Rua da Cidadania, onde a popula(:iio encontra

servi90s da Prefeitura, Secretarias Municipais, Sancos e outros. Agora,

valorizando os grupos que tem 0 poder economico no bairro e que

possivelmente em sua grande nao sao negros.

Sobre infonnayllo dos bairros de Curitiba, acessar 0 sitehttp://ippuenct.ippuc.org.brfBancodedadoslCuritibaemdadosiCuriliba em dados Pcsquisa.aspem 20.01.08.

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3. AS MEMORIAS NEGRAS

Neste capitulo a intenyao e apresentar as depoimentos das moradoras

antigas negras do bairro Boqueirao, bern como as interpretayoes e

considerac;oes a respeito dos depoimentos dessas personagens negras,

buscando identificar a participac;:aodas mesmas no processo de format;130do

bairro do Boqueirao, ou seja, investigar a participayao do grupo racial negro no

proceSSD de consolidac;:ao da formayao do bairro do Boqueirao, localizado em

Curitiba-PR.

Essas personagens, mesmo diante de seus esquecimentos, das suas

dificuldades proporcionadas pelo tempo de suas vidas, de uma forma tao

simples e alegre, cederam as suas lembranyas.

Assim, como ja foi mencionado anteriormente, a pesquisadora coube a

sensibilidade de aceitar uma dinamica de depoimentos livres, procurando

nesta, "identificar a dinamica proficua, que resguardasse a integridade da

maneira de ser dos sujeitos pesquisados" (OLIVEIRA, 1998), pois que fcram os

sujeitos que escolheram a forma eo momento para seus depoimentos, a partir

de seu tempo, das limita96es de seu corpo e de sua memoria. Bem como,

conscientes dos motivos da pesquisa, autorizaram os registros de suas

mem6rias.

Desta forma, entende-se que os depoimentos obtidos nas entrevistas,

tanto podem ser de acontecimentos vividos individualmente pelos sujeitos,

como tambem, algumas lembran9as pod em estar ligadas a algum fato muito

importante, que marcou toda ou grande parte da comunidade a que se esta

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inserida, tornandO-S8 urn tato muito importante e podendo ser entendida como

parte da mem6ria individual dos sujeitos entrevistados. (POLLAK, 1992).

Entretanto, para este trabalho, a importancia e apontar a participa,ilo

direta ou indireta da popula,ao negra, na forma,ao do bairro do Boqueirao, a

partir do depoimento dessas personagens negras:

Dona Ana.

Mora no bairro Boqueirao desde: nao lembra.

Origem: Rio Grande do Sui (Igrejinha ou Carazinho)

"Minha filha, quando eu vim pra ca, nilo tinha nada, nada. Nilo tinha nem 0

quartel. S6 tinha piquete. S6 tinha uma leiteria, nilo tinha nem onde comprar

urn pac. Nao tinha nem impasto. Fui casada, nao me lembro do ano. Eu

trabalhava nas casas como domestica. Trabalhava na casa de urn medico e urn

juiz, desde antes de casar. Nao tinha onibus. Vim do Rio Grande do SuI, com 0

Sr. Joao, que quando chegou aqui largou da mulher a dona Angela e das duas

filhas, nos naD tinhamos dinheiro. Eu fui procurar emprego. Entao, fui trabalhar

na casa do Dr. Eufrasio, que era medico, no Jardim das Americas. Eu ia a pe,

as vezes final de semana meu patree me trazia de carro ate urn pedac;o do

caminho. As vezes eu voltava, mas as vezes eu ficava no trabalho, minha filha.

Meu marido? Ele nao trabalhava. S6 com a meu s09ro, 113na Vila Guair13.Meu

sogro tinha uma f13bricade "coisas" de cozinha de madeira: cabo de vassoura,

tabua de carne. Depois meus sogros foram embora para os Estados Unidos.

Para Chigaco. Nao, eu nao sou benzedeira, s6 fayo orarrao, s6 falo com Deus.

Como pode, ne comadre, pagou tilo caro no cachorro, pra deixar 0 coitado sem

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cuidado? 0 cachorro tern que dorm;r como a gente. Nos queremos dormir no

limpo, 0 animal tambem. Precisa ver 0 travesseiro dele como esta sujo. Eu,

quando lavo roupa, eu coloco os trap os dos meus cachorros (agora sao 04) de

molho e lavo tudo 0 que e trapo deles. Nao e certo, ne? Nos queremos dormir

no limpo? 0 animal tambem. Precisava ver a fome dele, quando eu pus a rac;ao

Nero - que tern carne e vitamina - como ele gostou, comeu tudinho. Quando

eu vim do Rio Grande, eu naD tinha nada, 56 a roupa do corpo. Quem me deu

o terreno foi meu s09ro. Eu vim pra ca, e tui morar numa pensao na Vila

Oficinas, era a pen sao do Sr. Jose Ferreira. Nao tinha documento. 0 casal que

eu morava, brigava muito. Eu dormia no chao. Eu arrumei urn namorada, e

ganhei uma carna, que chegou de "charreta". a nome do meu sogro era

Geraldo Roberto e da minha sogra era Marieta. Ele tinha uma marcenaria na

Vila Guaira, que fazia tabua de carne, colher de pau, tudo de madeira. 0 meu

s09ro comprou a chckara da Fazenda Boqueirao. Oepois ele comec;:ou a

vender os lotes e eu fiquei com este. Nao tinha nada aqui, s6 a leiteria da Anita,

que era alema. Ela chegou antes de mim e criava vaca, e saia pra vender leite

ape, por af. a terreno aqui era vinte centavos e ninguem queria comprar, pois

era tudo banhado, era tudo a9ude de agua. Se nan saisse daqui para trabalhar

fora, a gente passava fome, porque nao tinha nada. Se voce nao comesse no

centro, passava fome. As vezes eu chorava de fome, pois tinha alguns patr6es

que nao faziam comida, dai eu ficava com fome, e chegava em casa nao tinha

o que comer. E tinha que esperar 0 Dutro dia pra trabalhar, e comer no servic;:o,

se tivesse comida. Eu aprendi com a minha mae que nao podia mexer em nada

que e dos outros. Entao, se nao me dessem com ida eu nao mexia em nada, e

ficava com fome. As vezes eles saiam pra trabalhar e naD faziam compra.

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Minha filha, eu cornia na casa do patrao. Quando era domingo, eu cornia 0 que

o patn30 me dava. Tinha urn caminhao velho que levava a gente ate 0 centro.

Nao, eu nao te talei, era urn caminhao velho, caindo as pedac;os, que levava a

gente para 0 centro. As vezes eu trabalhava ate de noite, ai as patr6es trazia a

gente, aqui, ate 0 piquete. E tinha que trabalhar, por que senao nao tinha nada.

Eu e que limpei tudo aqui, fiz cerca e tudo. 0 piquete ia ate onde hoje e a Rua

Marechal Floriano Peixoto, mais au menas. Eu nao lembro de muita coisa, pais

e muita coisa, pra gente, pensar. Tern que pensar em trabalhar, em viver, em

cuidar de homem. Com 0 tempo a gente esquece tudo. Nao tinha dinheiro pra

fotografias. Quem tern dinheiro, sao esses, como 0 seu Henrique. Ele deve ter

fotografias desse tempo. Eu cuide; da Janaina desde pequenininha, ela me

mandou uma foto dela, toda de branco, guarda-p6 branco, sapato branco, tudo

branco. Hoje ela e dentista. 0 pai dela e um 6timo medico, 0 Dr. Artur. Eu vim

do Rio Grande do Sui, para fugir da ro9a. A gente colhia bata-doce, vinha um

caminhao e levava tudo. A gente plantava feijao, vinha 0 tal do caminhao e

leva va tudo. Tudo 0 que a gente plantava eles levavam. Meus pais trabalhavam

na ro9a e a gente tinha que trabalhar tambem. Nao tinha nem roupa, naquele

frio. A gente carpia gelo. Nao sei, pOis era 0 meu pai quem plantava e cuidava

da r09a. N6s nao perguntava. Era um frio, um frio. Que eu nao agOentei e vim

pra ca. Minha filha, eu nao me lembro muito das coisas. Lembro que meu irmao

mais velho fazia algumas brincadeiras, com a gente. A gente trabalhava 0 dia

todo na ro9a, chegava em casa e dormia de tao cansado. Ele acendia um palito

de f6sforo no pe da gente, s6 de brincadeira. Olha, aqui nao tinha nenhum

escuro, s6 eu. La pra cima vieram depois, mais muito depois de mim."

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Dona Sofia

Mora no bairro desde: quando se casou, quando tinha em torno de 16 anos.

Origem: Jabuti ou Jundiai.

Ocupa9ao: Aposentada

"Lembro de uma senhora bern velha que andava de cadeira de rodas, que era

filha do Sr. Arlindo, do Manuel. Depois morreu 0 marido dela, depois 0 marido

dela tambern morreu. Conhe90 a familia daquela que morreu, 0 marido dela e 0

Sr. Santos, que casou de novo. Faz anos que conheyo. 0 Sr. Santos casou de

novo a mulher morreu de novo. Eu nao conheyo ninguem da minha cor, 56 uma

irma minha que trabalhou com n6s la no Batel, depois foi embora e eu nunca

mais vi. Aquela e irma legitima, foj a (mica que conheci que trabalhava com nos

no Bate!. Com minha mae adotiva. Eu vim de Jundiai, nao, de Jabuti, onde eles

me pegaram pra criar, nei sei onde fica, nem sei, 56 sei que e Jabuti, que eu

morava. Quando eu fiquei sem pai. sem mae, eles me pegaram para criar, eu

morava em Jundiai. Oepois mudaram pra Cornelio Procopio, rnudaram pra

"Congoinhas", mudaram para Santo Antonio da Platina, mudaram pra

Ourinhos. Tinham negados, tin ham 8yougue. Depois Mudaram pro Batel e

depois mudaram pra Cuiabc3. Minha mae morreu com 80 anos, meu pai morreu

com 93 anos, porque mataram eJe na cama. Tres ladr6es entraram na mansao

dele. Tava fechada ate hoje a mansao. Sao nove irmaos legitimos, e eu de

adotiva. Eram quatro homens e cinco mulheres, sels comigo, s6 eu que sou

morena. Mas eu os chamava de paL Eles me pegaram pra criar. Eles tinham

casa no Batel, na Rua XV, tern casa na praia de Matinhos - PR e em Cuiaba -

MT, todos as nove, todos os oito. Fui visitar meus pais uma vez quando ainda

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eram vivo, eles morava em CUiaba. Quando eu vim morar aqui nao t1nha nada.

S6 tinha a minha casa, tinha outra casa 103em baixo. Voce conheceu 0

compadre Ouvidio, 0 alfaiate? D. Ana, compadre Amadeu, a D. Ana morreu.

Agora antiga s6 eu e comadre Ouvidia. Quando eu morava no Batel ja tinha 0

quartel, meu irmao serviu no quartel, 0 falecido Ailton, sofreu acidente de carro

e morreu urn dos irmaos. Agora tern tres 0 Bento, Weslei e 0 Dutro irmao. Tinha

mercado, mas era Iii em baixo, eu comprava 181embaixD, no mercado do Jorge,

na esquina da minha rua com a Marechal. Comprei em 40 mercados fiado,

agora estou comprando no mercado do Nogueira. Era uma rua, rua bern

pequena de terra aqui, passava boiada. 0 quartel tinha cerca de arame. A rua

Marechal Floriano Peixoto era bem estreita. Eu pegava 6nibus la embaixo,'

tinha que ir a pe ate a Marechal. Era agua de p090. Medico s6 tinha na cidade.

Pra cima da Pra9a Tiradentes tinha um posto, tinha outro ali na Rua Getulio

Vargas. Quando levava as crian98s no posta. Quase nunca tui aD medico, com

crianya com nada, dava remedio em casa. Em casa dava qualquer remedio,

eM. Qualquer coisa, nao me lembro mais que remedio. Antes tinha bastante

remedio, agora aqui nao tern mais. Eu dava cha pra eles, quando eles ficavam

doentes. Eram oito, urn, morreu pequeno. 0 pequeno estava doente, nunca

tinha ficado doente, ficou doente de noite, piorou de repente, quando foi de

madrugada, ele morreu 0 Jonas. Nem ficou de cama. Eu sei a doen9a que ele

morreu, mas nao me lembro. Depois morreu 0 falecido Roberto Paulo, se

matou em casa, la embaixo. Oepois foi 0 falecido Carlos Antonio, mais velho,

morreu de tanta bebida, s6 tinha uma filha. 0 falecido Roberto Paulo era

solteiro. Agora tem Joao, Jose, Joaquim 0 ca9ula. 0 falecido Roberto Paulo se

matou, queria se fazer na vida, ele era muito quieto, morreu com uns 23 anos

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mais ou menos. Oai depois dele agora tern a mais velho, a Joao que e

formado, no Senai. Ele de manhil ia por Senai, de tarde pra firma, e de noite

pro colegio. Viveu uns tres anos com isso, comerto trabalhar com 14 anos,

parou com 43 anos. Mudava muito de firma, mudava de firma. Ele trabalha esta

trabalhando. Trabalha com coisa que nunca trabalhou, ele s6 trabalhou com

mecanica industrial. 0 c81(ula naD se formou, trabalhou 56 seis meses, 56, nao

quis trabalhar, naD quis se formar. Trabalha como ajudante de caminhao, mas

de ajudante, nao quer registrar, perdeu a carteira de documentos, faz muitos

anos. S6 ele serviu a exercito. Dos cinco 56 0 ultimo serviu 0 exercito. Saiu do

quartel, come,ou trabalhar, trabalhou s6 uns dias, registrado, depois saiu.

Trabalhou com 0 Jose antes de ir pro quartel, quando era pequeno. Antes de ir

pro exercito. 0 Jose trabalhou no Inga, ele tambem, trabalhou tres, quatro

anos, antes de ir pro exercito. Depois saiu do quartei. Come,ou trabalhar.

Depois trabalhou em diversas firmas sem registro, ate hoje. Nunca registrou.

Tenho duas filhas. Dava qualquer cM, plantava bastante ervas. Nao me lembro

mais, quase nao me lembro. Eu plantava bastante. Dava cM carqueja, losna,

hortela. Depois meus filhos casaram todos e nao plantei mais. Hoje eu fa,o as

vezes carqueja e cha de boldo miudo, que tem a folha como hortela. Nao

trabalha fora, meu marido nao deixava eu trabalhar fora, mas eu trabalhava, as

vezes. Trabalhava na Igreja do Carma, mas naD ganhava mais, trabalhava na

casa das freiras, trabalhava no Posto. Trabalhava com 0 padre Amancio.

Ajudava a limpar, arrumar a casa, lavar a roupa. As vezes recebia. Pegava

comida, quando precisava. Para mim, e para os outros que precisava.

Trabalhava com a assistente social na Igreja do Carmo. Trabalhei na Igreja das

Vit6rias. Hoje eu ainda trabalho nas Vit6rias. Trabalhei numa panificadora, la eu

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recebia. Trabalhava de dia, e meu marido trabalhava a noite. Nao sei com

quantos anos tui registrada. Hoje eu estou com uns 65-70 anos. 0 Titulo de

Eleitor, eu fiz depois que meu marido mafreu,"

3.1. INTERPRETANTO AS MEM6RIAS NEGRAS

Neste item da pesquisa, busca-se apontar as interpretayoes a partir das

entrevistas, procurando naD S8 utilizar das tecnicas da metodologia como mera

instrumento para construir as informac;:oes para pesquisa, como se "pudesse

disport independente de suas concepc;oes aeerca do mundo e das relac;oes

entre 0 sujeito e objeto de pesquisa" (OLIVEIRA, 1998, p.21), mas sim de

indicar urna, entre outras formas de apontar a participayao dessas

entrevistadas negras, durante 0 periodo de formayao do Bairro Boqueirao.

A primeira entrevistada, a Dona Ana, indica que a sua presenC;8 no

bairro Boqueirao, se da desde 0 periodo apontado pela hist6ria oficial como 0

inicio da formayao do bairro, ou seja, desde a decada de 1930: "Minha filha,

quando eu vim pra ca, nao tinha nada, nada. Nao tinha nem 0 quarte!".

Na continuidade mesma sugere que passau par todas as adversidades,

a que a populat;ao do bairro estava sujeita principalmente as pessoas que nao

tinham candit;ao financeira, que e a seu casa, como por exempto, 0 fato de que

nao tinha acesso facit a alimentac;ao, e que tinha que dormir muitas vezes nas

casas de seus patr6es, onde trabalhava como domestica.

C..) As vezes eu chorava de f~me, pais tinha alguns palr6es que naofaziam comida, dal eu ficava com f~me, e chegava em casa nao tinhaa que comer.( ...) Tinha um caminMo velho que levava a gente ate 0centro. Nc1o,eu nao Ie farei. era um caminhao velho, caindo ospedacos, que revava a genie para 0 centro. As vezes eu trabalhavaate de noite, al os patroes trazia a gente, aqui, ate 0 piquele.( ...)

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Tambem, pede-s8 entender que naD deveria existir uma grande

solidariedade entre as habitantes do bairro, ja que a mesma necessitava dos

patroes para garantir a sua alimentac;ao.

(...) Entao, 5e nao me dessem comida eu nao mexia em nada, eficava com fome. As vezes e\es saiam pra trabalhar e nao faziamcompra. Minha filha, eu cornia na casa do patrao. Quando eradomingo,eu cornia0 Que 0 patraome dava (...)

Mesmo sendo esposa, do filho de um proprietario de uma fabrica de

utensilios de madeira, sua condiC;8o social era de subordinaC;8o aqueles que

tinham recursas financeiros, au seja, trabalhava para 0 seu sustento.

Entretanto, para a D. Ana, aparentemente nao existe uma indigna,ao,

diante da sua condi,ao de negra pobre, dando a impressao de que sua

situac;ao no bairro do Boqueirao era e e melhor do que a sua vida, durante 0

perfodo que vivia com sua familia no interior do Rio Grande do Sui, quando diz:

"(...) Meus pais trabalhavam na ro,a e a gente tinha que trabalhar tambem. Nao

tinha nem roupa, naquele frio. A gente carpia gelo (...)".

Mesmo diante de suas dificuldades, ela esta sempre alegre e acolhe atodos com muito carinho e alegria, em sua casa. Tern for9as para ajudar a

todos que a procuram para curar alguns males, como "peito aberto", "cobreiro",

"quebrante" e outros, que s6 a sabedoria popular pode identificar. Entretanto,

faz questao de afirmar: "(...) Nao, eu nao sou benzedeira, s6 fa,o ora,80, s6

falo com Deus (...)".

Dona Sofia a segunda entrevistada, provavelmente veio morar no bairro

Soqueirao, num periodo mais recente, po is afirma que jtt existia 0 Quartel do

Exercito, quando veio para 0 bairro.

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Mesma assim, entende-s8 que a mesma tambem passou par varias

necessidades e dificuldades de acesso a servi90s, como saude, Iransporte e

alimentaf:(80.

Sendo a que chamou a alen980, foram as problemas de saude, que

levaram a morte tn§s dos seus oito filhos

(...) 0 pequeno estava doente, nunca tinha ficado doente, ficoudoente de noite, piorou de repente, quando foj de madrugada. elemorreu a Jonas ( ... ) Depois morreu 0 falecido Roberto Paulo, sematou em casa, la embaixo. Depois foi 0 falecido Carlos Antonio,mais velho, morreu de tanta bebida (... )

Neste sentido, a entrevistada aponta que a saude de seus filhos

dependia de seus conhecimentos com remedios caseiros, devido a dificuldade

existente para ir ao medico, que ficava no centro de Curitiba

( ... ) Medico 56 tinha na cidade. Pra eima da Praca Tiradentes tinhaum posta, tinha outro ali na Rua Getulio Vargas ( ... ) Em casa davaqualquer remedio, cM. Qualquer coisa, nao me lembro mais queremedio. Antes tinha bastante remedio, agora aqui nao tem mais. Eudava cha pra eles, quando eles fieavam doentes ( ... ) Dava eMcarqueja, 105na, hortela ( ... )

Tambem, D. Ana, faz parte de uma familia de pessoas que

aparentemente possuem uma condi~ao frnanceira estavel, pela rela~ao de

posses de im6veis que a mesma informou. Entretanto, em nenhum momento

da pesquisa ela nos indica alguma indigna~ao, diante das suas possibilidades

desiguais de acesso a bens materiais, em rela~ao aos seus irmaos adotivos

brancos.

Isto posta, pode-se sugerir, que as entrevistadas participaram da

forma98o do Bairro do Boqueirao. Diferentes em suas formas de vida, mais

iguais em seu pertencimento racial, cada uma com suas dares, cada qual com

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suas alegrias, ambas participaram do processo de formayao do bairro, assim

como participaramos grupos de imigranteseuropeus.

3.2. CONSIDERA<;OES FINAlS.

Este trabalho teve como objetivo mostrar a participac;ao do grupo racial

negro no processo de consolida,ao da forma,ao do bairro do Boqueirao,

localizado em Curitiba-PR, apesar de 0 discurso oficial valorizar e levar em

considerayao apenas a imigraC;ao europeia para a sua formaC;8o social, politica

e economica.

Neste sentido, as analises levaram a conclusao, que mesmo naD se

tendo condic;6es financeiras, que pudessem proporcionar urn registro da

hist6ria de suas vidas, como com fotografias, au mesma nao pertencendo a urn

grupo social, que tenham registros de suas histarias de vidas, no bairro do

boqueirao, essas entrevistadas negras a partir da doac;ao de suas memorias,

nos indicaram sua participaC;8o no bairro do Boqueirao.

Nao utilizaram uma ordem cronol6gica, mas nos deram pistas, que

viveram em quase todos os momentos importantes, citados pela hist6ria oficial

do bairro, sejam os mais dificeis ou naqueles momentos em que a vida no

bairro jil nao era tao dificil.

Teve-se a oportunidade de saber que os ricos conhecimentos dessas

negras moradoras antigas do bairro do Boqueirao, fizeram a diferen98 para a

sobrevivencia de suas familias, qui9a de outras familias, que tambem estavam

em condi90es pr6ximas das suas, pois que se mostraram muito solid arias aos

vizinhos e amigos.

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Neste sentido, suas historias de vidas, S81V8rn como exemplos de

resistencia diante de todas as adversidades que sofreram durante suas vidas.

Que suas historias estao muito pr6ximas, senaa iguais a muitas familias

negras, que tiveram as seus separados, martas, diante da necessidade de

sobrevivencia, neste pais.

Suas histarias de vidas e a historia do povo negro brasileiro, desde 0

primeiro negro, que chegou ao territorio brasileiro, durante 0 periodo de

escraviz8yc30 deste pais. Que S8 nao fazem parte da historia oficial do bairro,

naD e par falta de merecimento, mas sim que esta ausencia da historia oficial

do bairro Boqueirao, faz parte de um processo historico racista de toda a

historia do Brasil.

Assim, que este trabalho seja uma pequena contribui,ao social, nao um

modelo, mas um pequeno exemplo, de que podemos buscar nossos "herois",

entre as naSSQs. Que negros e brancos tenham orgulho de serern

descendentes de pessoas que participaram de diferentes form as, mas

efetivamenteda forma,ao deste bairro do Boqueirao. Talvez, muitas vezes com

maiores meritos de serem homenageados, diante de suas subvidas. Que

possam sentir orgulho dessas mulheres que "carpia gelo", ou que salvou a vida

de seus cinco filhos, grayas ao seu conhecimento com ervas, pais que medico

nao era um servic;o dispensado a sua familia.

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