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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Lorena Pinheiro Lopes da Silva REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Lorena Pinheiro Lopes da Silva

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL

CURITIBA

2015

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Lorena Pinheiro Lopes da Silva

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná como requisito parcial para a obtenção do grau de bacharel em Direito. Orientador: Prof. Dalio Zippin Filho

CURITIBA

2015

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RESUMO

O presente trabalho procurará abordar o debatido tema sobre redução da

maioridade penal no Brasil. Ao analisar o Código Penal e a Carta da República, verifica-

se que um indivíduo para responder criminalmente por seus atos, deve observar como

requisito a maioridade, ou seja, ele deve ele deve ser penalmente imputável , maior de

18 (dezoito) anos de idade. Neste sentido, percebemos que um adolescente não poderá

cumprir penalidade em presídios, como se adulto fosse, mas sim ser submetido à

aplicação de medidas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Contudo, a imputabilidade dos menores infratores, vem sendo

questionada devido aos crimes cometidos pelos mesmos, com repercussão incessante da

mídia.

Isto posto, o objetivo do trabalho é contribuir para a consciência crítica a

respeito da responsabilidade penal e social que o Estado deve ter perante os menores

infratores, o sistema prisional brasileiro e o Estatuto da Criança e do Adolescente, para

que os menores possam ser ressocializados.

Palavras-chave: ECA – Ressocialização – Punição – Imputabilidade.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................04

2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS....................................................05

2.1 ASPECTOS GERIAS...............................................................................................05

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS ESPECIAIS...........................................................05

2.3 DIREITO À VIDA E À SAÚDE..............................................................................06

2.4 DIREITO À ALIMENTAÇÃO.................................................................................06

2.5 DIREITO À EDUCAÇÃO.......................................................................................06

2.6 DIREITO À ESPORTE, CULTURA E LAZER.......................................................07

2.7 DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E PROTEÇÃO AO TRABALHO............07

2.8 DIREITO À LIBERDADE , AO RESPEITO E À DIGNIDADE............................08

2.09 DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA............................08

2.10 CLÁUSULA PÉTREA...........................................................................................09

3 ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE.....................................................12

3.1 ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE PARA ALTERAÇÃO DAS

CLÁUSULAS PÉTREAS...............................................................................................12

4.INIMPUTABILIDADE DOS MENORES DE 18 ANOS........................................12

4.1 CRITÉRIOS UTILIZADOS PARA AFERIÇÃO DA INIMPUTABILIDADE........13

4.2 RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL X MAIORIDADE PENAL................14

5. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE............................................15

5.1 CONTROVÉRSIAS SOBRE A IDADE...................................................................15

5.2 AS MEDIDAS SÓCIO EDUCATIVAS....................................................................16

6.MOTIVAÇÕES DA DEFESA DA REDUÇÃO DA IDADE MÍNIMA DA

IMPUTABILIDADE......................................................................................................17

6.1 COMBATE A VIOLÊNCIA......................................................................................17

6.2 USO DOS ADOLESCENTES POR CRIMINOSOS ADULTOS.............................18

6.3 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE É BRANDO COM OS

INFRATORES.................................................................................................................18

6.4 O ADOLESCENTE SÓ PODE SER PRIVADO DE LIBERDADE POR TRÊS

ANOS..............................................................................................................................19

6.5 AVANÇO DA SOCIEDADE LEVA Á MATURIDADE MAIS CEDO....................20

6.6 O VOTO AOS 16 ANOS...........................................................................................21

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7. CONTRA – ARGUMENTO......................................................................................21

8. MAIORIDADE PENAL EM OUTROS PAÍSES....................................................22

8.1MAIORIDADE PENAL NO BRASIL E EM PAÍSES AO REDOR DO

MUNDO..........................................................................................................................22

8.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS..................................................23

8.3 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA........................................................................23

8.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS.......................................24

8.5 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS............................................24

8.6 REGRAS MÍNIMAS DE BEIJING...................................................................................................24

8.7 DIRETRIZES DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A PREVENÇÃO DA DELINQUÊNCIA

JUVENIL .......................................................................................................................................................25

8.8 CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS........26

9. OS 9 PAÍSES MAIS SEGUROS DO MUNDO E SUA MAIORIDADE PENAL.....26

10. FAIXA ETÁRIA DOS DELITOS NO BRASIL...................................................35

11.SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO.................................................................36

11.1 POPULAÇAO PRISIONAL.............................................................................................42

12.BASE LEGAL E DOUTRINARIA SOBRE A REDUÇAO DA MAIORIDADE

PENAL...........................................................................................................................43

12.1 ASPECTOS DAS PRINCIPAIS PROPOSTAS DE EMENDA A CONSTITUIÇÃO

FEDERAL.......................................................................................................................45

12.2 A PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL 173/93.................................52

13.CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................53

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TERMO DE APROVAÇÃO

LORENA PINHEIRO LOPES DA SILVA

REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL NO BRASIL

Esta monografia foi julgada e aprovada para a obtenção do título de Bacharel no Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, ___ de ____________ de 2015.

________________________________ Prof. Dr. Eduardo de Oliveira Leite

Coordenador do Núcleo de Monografia Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: ______________________________________________________________

Prof. (a) Dalio Zippin Filho Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito _______________________________________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito _______________________________________________________________ Prof. Universidade Tuiuti do Paraná Curso de Direito

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Dedico este trabalho a meus pais José Luiz Lopes e minha mãe Ivanir Alves Pinheiro e minha irmã Rafaela Pinheiro Lopes.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me conduzir até aqui, e por todas as bênçãos e

realizações que ele proporciona, sendo esta conclusão de curso, uma das mais

importantes delas. A minha amada família, pelo apoio e incentivo ao longo deste

caminho, e por me ensinarem valores de justiça e ética dos quais, dentre vários outros,

foram incentivos para que eu me apaixonasse pelo Direito. De modo especial agradeço a

minha tia Maria de Lurdes, pela força nos estudos e suporte que desde o início me deu.

Mais que metade desta conquista deve-se ao esforço de vocês.

Agradeço também aos meus colegas de turma, pois levo comigo o

companheirismo e a garra de cada um, crescemos juntos nesses 5 anos, aprendemos a

conviver com as diferenças, ajudar o próximo nas adversidades e amadurecer como ser

humano (em especial a Sonia Carolina, companheira desde o primeiro até último dia de

aula).

Agradeço a todos os professores por compartilhar conosco seu

conhecimento, pela paciência e carinho com nossa turma e por tantas lições de vida

compartilhadas.

E por fim, agradeço ao meu professor, Dalio Zippin Filho, que tive a

honra de ter como orientador neste trabalho, um grande mestre no ramo criminal,

espelho para todos nós, no que concerne a luta pela aplicação dos Direitos Humanos e

em pról do justo andamento do sistema carcerário.

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1 INTRODUÇÃO

Todos os dias são divulgados vários atos infracionais cometidos por

menores, o que faz com que a população, diante de fatos graves noticiados pela mídia,

acharem que a reforma constitucional visando à redução da maioridade penal, seja a

solução.

Todavia, no artigo 228 da Constituição Federal, que trata da

inimputabilidade penal aos menores de 18 anos, pode-se afirmar que qualquer alteração

constitucional é impossível e inviável diante da natureza jurídica de cláusula pétrea, por

tratar-se de garantia individual da criança e do adolescente.

A Constituição Federal seguiu o critério da idade do autor do fato, sem

observar se o mesmo possui desenvolvimento mental completo ou capacidade de

discernimento no momento da ação ou omissão.

Assim, podemos dizer que a imputabilidade penal, começa aos 18 anos

completos e o menor de 18 anos não está sujeito à sanção penal, ainda que plenamente

capaz de entender o caráter ilícito do fato.

Embora as constituições sejam concebidas para durar no tempo, a

evolução dos fatos sociais pode reclamar ajuste e modificação no texto constitucional,

uma alteração posterior, visando ajustar as vontades do poder constituinte originário e

da sociedade.

A Constituição brasileira prevê a possibilidade a alteração de seu texto

mediante duas formas: Emenda e Revisão. A Emenda constitucional é a espécie

normativa que integra o processo legislativo, sendo seu objeto a reforma da

Constituição, uma vez aprovada, promulgada e publicada, a emenda passa a situar e ter

a mesma eficácia da Constituição, já a revisão é a ampla alteração do texto

constitucional, dedicando-se ao processo de mudanças constitucionais pelos processos e

conformidade aos limites estabelecidos na Carta Magna.

2 DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS

2.1 ASPECTOS GERAIS

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Os Direitos Fundamentais são o conjunto de direitos e liberdades

assegurados a todos os membros da família humana, assegurando o direito à vida, à

liberdade, à igualdade, à segurança, à propriedade, entre vários outros.

Porém, as limitações ocorrem apenas no sentido da supressão ou redução

dos direitos fundamentais. Isto quer dizer que alterações com vistas à ampliação de tais

direitos estão de acordo com a ordem constitucional. O direito peculiar de crianças e

adolescentes desenvolver sua personalidade humana adulta integra os direitos da

personalidade, o fato é que a efetivação dos direitos fundamentais de cidadania

pressupõe a criação de um Sistema de Garantia de Direitos, que atue na perspectiva da

promoção, da defesa e do controle. Este direito deve ser produzido na sociedade, onde

se experimenta um intenso processo de correlações de forças, considerando a histórica

postura de negligência e arbitrariedade com crianças e adolescentes no Brasil.

2.2 DIREITOS FUNDAMENTAIS ESPECIAIS

A Doutrina da Proteção Integral instaurou um sistema especial de

proteção, delineando direitos nos artigos 227 e 228 da Constituição brasileira, tornando

crianças e adolescentes sujeitos dos direitos fundamentais atribuídos a todos os cidadãos

e ainda titulares de direitos especiais, com base na sua peculiar condição de pessoa em

desenvolvimento.

Mas os direitos fundamentais de que trata o artigo 227 são direitos

fundamentais de uma pessoa humana de condições especiais, qual seja pessoa humana

em fase de desenvolvimento.

Os direitos fundamentais de crianças e adolescentes são especiais e

podem ser diferenciados do direito dos adultos por dois aspectos, sendo um

quantitativo, pois crianças e adolescentes são beneficiários de mais direitos do que os

adultos, e ainda podem ser classificados pelo seu aspecto qualitativo ou estrutural, por

estarem os titulares de tais direitos em peculiar condição de desenvolvimento.

2.3 DIREITO À VIDA E À SAÚDE

No artigo 7º do ECA, lê-se: “A criança e o adolescente têm direito a

proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas que permitam o nascimento

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e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência”.

O próprio ECA preceitua várias medidas de caráter preventivo, além de

políticas públicas que permitam desde o nascimento sadio até o tratamento igualitário

de todos os sujeitos, independentemente da condição social.

Pode-se dizer que o direito à vida abrange tanto o direito a vida, como

também o direito de ter uma vida digna, garantindo-se as necessidades vitais básicas do

ser humano, e proibindo qualquer tratamento indigno, como a tortura, penas de caráter

perpétuo, trabalhos forçados, cruéis, entre outros.

2.4 DIREITO À ALIMENTAÇÃO

O art. 227 da Constituição Federal inclui, logo após o direito à vida e à

saúde, o direito à alimentação no rol dos direitos fundamentais de crianças e

adolescentes, sendo esse um direito especial de crianças e adolescentes positivado,

levando em consideração a maior vulnerabilidade por estarem em peculiar condição de

pessoa em desenvolvimento.

2.5 DIREITO À EDUCAÇÃO

Conforme artigo 54 do Estatuto da Criança e do Adolescente, o Estado

buscará a efetivação do Direito à educação, assegurando o ensino fundamental gratuito

e universal a todos, com acesso a programas suplementares de material didático-escolar,

transporte, alimentação e assistência à saúde.

Ainda, sendo crianças e adolescentes sujeitos de direitos em processo de

desenvolvimento, a educação se tornou um direito indisponível, um requisito

indispensável para garantir o crescimento sadio, nos aspectos físico, cognitivo, afetivo e

emocional.

2.6 DIREITO À ESPORTE, CULTURA E LAZER

As crianças e adolescente necessitam de vários estímulos na sua

formação: emocionais, sociais, culturais, educativos, motores, entre outros. Assim, a

cultura estimula o pensamento de maneira diversa da educação formal. O esporte

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desenvolve habilidades motoras, socializa o indivíduo. Cabe aos Municípios, com o

apoio dos Estados e da União, estimular e destinar recursos e espaços para

programações culturais, esportivas e de lazer, voltadas para a infância e a juventude,

conforme art. 59 do ECA.

2.7 DIREITO À PROFISSIONALIZAÇÃO E PROTEÇÃO AO TRABALHO

Quando a criança ou o adolescente exercitam o trabalho não mais como

impulso de experimentação das suas potencialidades, mas, sim, como necessidade de

prover seu próprio sustento, o trabalho conflitua com outros interesses necessários ao

seu pleno desenvolvimento. O trabalho poderá retirar as forças imprescindíveis para o

acompanhamento das aulas regulares, limitando a capacidade de aprendizado e

prejudicando sua qualificação teórico-profissional. Ainda, o trabalho poderá representar

um esforço superior ao seu estágio de crescimento, comprometendo a saúde e o seu

desenvolvimento cognitivo.

Por estas razões, visando proteger crianças e adolescentes e, ao mesmo

tempo, assegurar-lhes o direito fundamental à profissionalização, o ordenamento

estabeleceu um regime especial de trabalho, com direitos e restrições.

O direito ao trabalho protegido, exercido por adolescente entre 14 a 18

anos, não pode ser confundido com o direito à profissionalização, já que o direito à

profissionalização objetiva proteger o interesse de crianças e adolescentes de se

preparem adequadamente para o exercício do trabalho adulto, do trabalho no momento

próprio; não visa o próprio sustento durante a juventude, que é necessidade individual

concreta resultante das desigualdades sociais, que a Constituição visa reduzir.”

2.8 DIREITO À LIBERDADE , AO RESPEITO E À DIGNIDADE

O direito à liberdade é mais amplo do que o direito de ir e vir. O art. 16

do ECA compreende a liberdade também como liberdade de opinião, expressão, crença

e culto religioso, liberdade de brincar, praticar esportes e divertir-se, participar da vida

em família, na sociedade e vida política, assim como buscar refúgio, auxílio e proteção.

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Já o direito ao respeito é descrito no art. 17 do ECA como a

“inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,

abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, idéias e

crenças, dos espaços e objetos pessoais.

2.9 DIREITO À CONVIVÊNCIA FAMILIAR E COMUNITÁRIA

Este direito tem por base a capacidade protetora da criança e do

adolescente na relação parental, sendo assim, o direito à convivência familiar deve ser

garantido tanto aos filhos, como também aos pais:

Como fatores que dificultam a manutenção de crianças e adolescentes em

suas famílias, são apontados as desigualdades sociais presentes na sociedade e a

crescente exclusão social do mercado formal de trabalho que incidem diretamente sobre

a situação econômica das famílias, inviabilizando o provimento de condições mínimas

necessárias a sua sobrevivência, desta forma, vivem na negligência e abandono, tanto

pais quanto filhos.

Para concretizar os direitos e contribuir para a efetivação da cidadania,

torna-se indispensável a implantação de políticas públicas, programas, atividades, ações

do cotidiano que atendam crianças e adolescentes nas demandas próprias do seu

desenvolvimento, atingindo de igual forma as suas famílias, não ficando apenas no

papel.

2.10 CLÁUSULA PÉTREA

Como em nosso país, a revisão constitucional foi feita em 1993, não

existe possibilidade de alteração por esse meio, somente sendo possível a alteração do

texto constitucional por meio de emenda.

As cláusulas pétreas são limites fixados ao conteúdo ou substância de

uma reforma constitucional e que operam como verdadeira limitação ao exercício do

poder constituinte reformador. Elas traduzem um esforço do constituinte para assegurar

a integridade da Constituição, impedindo que eventuais reformas provoquem a

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destruição, o enfraquecimento ou impliquem profunda mudanças de identidade.

O significado último das clausulas pétreas esta em

prevenir um processo de erosão da Constituição. A cláusula pétrea

não existe tão-só para remediar situação de destruição da Carta, mas

tem a missão de inibir a mera tentativa de abolir o seu projeto básico.

Pretende-se evitar que a sedução e de apelos próprios de certo

momento político destrua um projeto duradouro.

MENDES, COELHO E BRANCO (2008, p.218-

219).

O objetivo maior das cláusulas pétreas não é proteger a redação de uma

norma constitucional, mas evitar a ruptura com princípios e estruturas essenciais à

Constituição, sendo essas estruturas essenciais que se encontram ao abrigo de

imutabilidade pelo poder reformador.

Assim, a cláusula pétrea protege os princípios constitucionais modelados

na norma e não a norma em si.

Dispõe o artigo 60, §4, da Constituição Federal que:

Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I- a forma federativa de Estado;

II- o voto direto, secreto, universal e periódico;

III- a separação dos poderes;

IV- os direitos e garantias individuais.

Uma proposta de emenda que verse sobre a redução da maioridade penal

estipulada pelo Constituinte Originário em dezoito anos, estaria reduzindo a idade

imposta pelo poder originário, mitigando o direito de somente ser responsabilizado pela

Lei penal, a partir da idade mínima disposta no texto constitucional- dezoito anos.

Uma emenda que altere o texto constitucional no sentido de reduzir a

inimputabilidade penal, estaria suprimindo o direito de um determinado grupo, no caso,

menores de 18 anos, de somente ser imputável perante a lei penal ao atingir 18 anos,

antes, contudo estariam sujeitos a uma legislação especial.

José Afonso da Silva ( 2009, p.191), diz que:

Concebemo-los como direitos fundamentais do

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homem-indivíduo, que são aqueles que reconhecem autonomia aos

particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos

diante dos demais membros da sociedade política e do próprio

Estado.

Assim, a legislação especial é uma garantia, um direito individual do

menor de dezoito anos de ser responsabilizado pelos seus atos perante uma legislação

especial, devido a sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.

Sendo essa regra um direito individual, estaria no rol das cláusulas

pétreas, descrita no artigo 60, § 4, inciso VI, sendo, portanto, impossível a alteração ou

reforma, que implique na redução da regra estabelecida por meio de emenda.

Alexandre de Moraes (2005, P.2176) deduz que:

Assim, o artigo 228 da Constituição Federal

encerraria a hipótese de garantia individual prevista fora do rol

exemplificativo do art.5º, cuja possibilidade já foi declarada pelo STF

em relação ao artigo 150, III, b (Adin 939-7 DF) e consequentemente,

autentica clausula pétrea prevista no artigo 60, § 4.º, IV.

O mencionado autor também destaca que:

Essa verdadeira cláusula de irresponsabilidade penal

do menor de 18 anos enquanto garantia positiva de liberdade,

igualmente transforma-se em garantia negativa em relação ao Estado,

impedindo a persecução penal em Juízo (MORAES, 2005, p.2176).

Por ser cláusula pétrea, a redução da imputabilidade penal possui o

atributo de intangibilidade e são imunes a qualquer arremetida do poder constituinte

reformador. A reforma da Constituição não pode, chegar ao extremo de retirar-lhe a

identidade e seus postulados básicos.

A redução da imputabilidade penal é impossível por tratar-se de cláusula

pétrea. Assim, qualquer projeto que atente para esse fim é inconstitucional, sendo

vedado expressamente ao Congresso Nacional, de acordo com o art. 60, § 4º, inciso IV,

deliberar sobre proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias individuais.

Isso significa que o menor de dezoito anos, no Brasil não pode ter restringindo o direito

de se submeter ao tratamento da legislação especial devido a sua condição peculiar de

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pessoa em desenvolvimento.

No Direito Romano para se estabelecer se um jovem tinha ou não

responsabilidade penal pelos atos que praticara, era feita uma avaliação física para saber

se o jovem era ou não púbere, avaliação esta, precursora do critério do discernimento.

No Brasil, a Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 228, que a idade

penal inicia-se aos 18 anos e que o adolescente responde por seus atos na forma da

legislação especial. Entretanto, nem sempre foi assim.

Foram várias fases, desde a inimputabilidade absoluta até os 09 anos, até a

responsabilização especial do Estatuto da Criança e do Adolescente, atravessando a fase

do critério do discernimento.

Em 1988, a inimputabilidade penal é elevada à condição de garantia constitucional dos

adolescentes, por força do artigo 228 da Constituição Federal, que diz que as pessoas

com menos de 18 anos responderão na forma da legislação especial.

O posicionamento contrário a esta teoria pauta pela indagação que a

menoridade penal é assunto de política criminal, podendo ser alterada mediante Emenda

Constitucional. Além do mais, a legislação do menor vigente no país é muito efetiva,

desde que cumprida pelo Poder Público, possuindo princípios próprios, assegurando

integral proteção do menor.

3 ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE

3.1 ASSEMBLÉIA NACIONAL CONSTITUINTE PARA ALTERAÇÃO DAS

CLÁUSULAS PÉTREAS

Tramitam atualmente na Câmara dos Deputados três Propostas de

Emenda à Constituição que dispõem sobre a convocação de revisão constitucional: as de

n° 157, de 2003, e n° 447, de 2005, tramitam em conjunto; já a de n° 554, de 1997,

tramita isoladamente. Caso essas Propostas objetivassem a convocação de outra

Assembleia Constituinte para a elaboração de uma nova Constituição, elas se

caracterizariam num ato político e não jurídico, motivo pelo qual se deveria analisar a

sua legitimidade.

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Solução diversa acabaria resultando em verdadeiro desrespeito à

expressa vontade popular, manifestada por meio da Assembléia Nacional

Constituinte. Ademais, ainda segundo nossa opinião, alterações no rol das chamadas

cláusulas pétreas, mesmo que com aquiescência popular prévia, ao invés de conferir

efetividade ao princípio democrático, como afirmam alguns doutrinadores, poderia,

isso sim, colocá-lo em risco, por permitirem até mesmo a completa desfiguração da

Constituição, a depender do carisma do governante, desnaturando completamente a

vontade popular, manifestada por meio do poder constituinte originário que a

promulgou.

4.0 INIMPUTABILIDADE DOS MENORES DE 18 ANOS

4.1 ASPECTOS GERAIS

Considerou-os o Código Penal, no parágrafo único do art. 26 que assim

preceitua: Art. 26, parágrafo único: A pena pode ser reduzida de 1 (um) a 2/3 (dois

terços), se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento

mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito

do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento. A imputabilidade

diminuída, não indica ausência de responsabilidade, uma vez que o semi – imputável é

penalmente responsável, sendo submetido às conseqüências jurídico – penais da prática

do crime. Sendo, a redução da pena mera faculdade do juiz. O montante de redução um

a dois terços varia conforme a maior ou menor diminuição da capacidade de

autodeterminação do réu em relação ao crime cometido.

4.1 Critérios utilizados para Aferição da Inimputabilidade Três são os critérios que

buscam definir a inimputabilidade:

a) Critério biológico;

b) Critério psicológico;

c) Critério biopsicológico ou misto.

De acordo com o critério biológico, a inimputabilidade decorre da

simples presença de causa mental deficiente. Não há qualquer indagação psicológica a

respeito da capacidade de autodeterminação do agente. Estando presente uma das causas

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mentais deficientes (doença mental, desenvolvimento mental incompleto ou retardado e

embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior), exclui-se a

imputabilidade penal, ainda que o agente tenha se mostrado lúcido no momento da

prática do crime. Conforme o critério psicológico, a inimputabilidade só ocorre quando

o agente, ao tempo do crime, encontra-se privado de entender o caráter ilícito do fato ou

determinar se de acordo com este entendimento. Neste sistema, não há necessidade que

a incapacidade de entender ou querer derive de uma causa mental preexistente. E já o

biopsicológico, a inimputabilidade decorre da junção dos dois critérios anteriores. Senso

inimputável o sujeito que ao tempo do crime, apresenta uma causa mental deficiente,

não possuindo ainda capacidade de compreender o caráter ilícito do fato ou determinar-

se de acordo com este entendimento. Nosso Código filiou-se ao critério biopsicológico,

onde para a pessoa ser considerada inimputável, não basta à doença mental, devendo

ainda ao tempo do crime, a pessoa não se encontrar em uma situação de entender e

querer.

O menor de 18 anos sendo emancipado, ele continua penalmente incapaz,

pois, a capacidade civil é diferente da penal. O Código penal de 1890, determinava a

inimputabilidade aos 9 anos de idade completos, sendo que os maiores de 9 e menores

de 14 anos estariam submetidos à análise 5 do discernimento. O desenvolvimento

intelectual e o acesso há várias informações atuais, deixa evidente que qualquer jovem,

aos 16, 14 ou 12 anos de idade é capaz de compreender a natureza ilícita de

determinados atos, é sabido que uma criança de 6 anos entende perfeitamente por

exemplo, que machucar alguém é errado. O grande número de informações não faz com

que ninguém tenha sua personalidade completada, para isso acontecer é necessário

amadurecimento, o que se adquire com o tempo. Mas sabemos também que hoje em dia

este grande número de informações tem contribuído e muito para a formação da

personalidade dos jovens, assim como para sua capacidade de autodeterminação, pois,

se isso não fosse verdade, não teríamos tantos crimes cometidos por menores de 18

anos. É necessário distinguir a imputabilidade da impunidade, estas palavras possuem

significado distintos. A inimputabilidade, é causa de exclusão da responsabilidade penal,

não significa irresponsabilidade pessoal ou social. O significado da palavra “impune”,

segundo o Mini Dicionário Luft (1994, pág. 346), implica em: “Que escapou a

punição”. Existe, nas pessoas, um sentimento de que os menores de 18 anos podem

praticar qualquer ato ilícito, desde um simples furto até um homicídio e não lhe

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acontecerá nada, não será aplicado qualquer tipo de medida penalizadora, para

responsabilizá-los, pelo que fizeram, é o que se chama de sentimento de impunidade. O

menor de 18 anos é penalmente inimputável, a ele não é aplicado qualquer sanção penal,

mas em contrapartida, são aplicadas medidas sócio –educativas que são estabelecidas

pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que pode ser desde uma simples advertência

até a internação em estabelecimento adequado.

4.2 RESPONSABILIDADE PENAL JUVENIL X MAIORIDADE PENAL

Responsabilidade Penal Juvenil – É o dever jurídico de responder pela

ação delituosa que recai sobre o agente imputável”. Ao cometer um delito, um indivíduo

considerado responsável será submetido a uma pena. Ou seja, no Brasil, a

responsabilidade penal é de 12 anos. Caso uma criança que tenha acima dos 12 anos

cometa um crime, quem será responsabilizado é ele mesmo, caso considerado culpado.

Abaixo dos 12 anos os responsabilizados são os pais ou quem tiver a guarda legal do

mesmo. Nesses casos, os jovens entre 12 e 18 anos cumprem pena educativa.

Maioridade Penal ou maioridade criminal – Define a idade a partir da

qual o indivíduo responde pela violação da lei penal na condição de adulto, sem

qualquer garantia diferenciada reservada para indivíduos jovens. O indivíduo é, pois,

reconhecido como adulto consciente das consequências individuais e coletivas dos seus

atos e da responsabilidade legal embutidas nas suas ações. Ou seja, a partir dos 18 anos,

o cidadão é considerado adulto e não mais obedece as leis do Estatuto da Criança e do

Adolescente.

5.0 ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma lei federal (8.069

promulgada em julho de 1990), que trata sobre os direitos das crianças e adolescentes

em todo o Brasil. Trata-se de um ramo do direito especializado, dividido em partes geral

e especial, onde a primeira traça, como as demais codificações existentes, os princípios

norteadores do Estatuto. Já a segunda parte estrutura a política de atendimento, medidas,

conselho tutelar, acesso jurisdicional e apuração de atos infracionais.

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A partir do Estatuto, crianças e adolescentes brasileiros, sem distinção de

raça, cor ou classe social, passaram a ser reconhecidos como sujeitos de direitos e

deveres, considerados como pessoas em desenvolvimento a quem se deve prioridade

absoluta do Estado.

As medidas protetivas adotadas pelo ECA são para salvaguardar a família

natural ou a família substituta, sendo está ultima pela guarda, tutela ou adoção. A guarda

obriga a prestação de assistência material, moral e educacional, a tutela pressupõe todos

os deveres da guarda e pode ser conferida a pessoa de até 21 anos incompletos, já a

adoção atribui condição de filho, com mesmos direito e deveres, inclusive sucessórios.

O ECA tem regimes interessantes entre eles a orientação e apoio sócio-

familiar, para ajudar na instituição da politica de família. Portanto, o ideal é que os

dirigentes municipais, as pessoas que atuam no conselho tutelar que ao estruturarem

suas redes locais de atendimento, tenham sempre em mente que a família é a primeira e

a mais básica circunstância a concorrer para a sobrevivência, o desenvolvimento e a

integridade das crianças e adolescentes.

5.1 CONTROVÉRSIAS SOBRE A IDADE

A violência que ocorre no Brasil, além de alimentar o noticiário dos meios de

comunicação, periodicamente impulsiona discussões no congresso nacional no sentido

de endurecimento da legislação penal. A inimputabilidade penal é um destes temas

recorrentes.

O sistema de responsabilização do Estatuto da Criança e do Adolescente

tem algumas semelhanças e algumas diferenças em relação ao Direito Penal e

Processual Penal. O ECA faz uma distinção etária não prevista na legislação penal,

diferindo o tratamento a ser dado à criança infratora, definida como pessoa até 12 anos

incompletos e ao adolescente infrator, entre 12 e 18 anos.

A criança, no caso de cometimento de ato infracional poderá ser

submetida a medidas de proteção, cabendo o seu atendimento e a definição das medidas

a serem aplicadas ao Conselho Tutelar.

O adolescente pode ser submetido a uma medida de proteção ou a uma

medida socioeducativa, porém em procedimento perante o Poder Judiciário e com

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amplo direito de defesa. Neste caso a definição das medidas será feita por acordo com o

adolescente, no caso de remissão ou por sentença judicial.

5.2 AS MEDIDAS SOCIO EDUCATIVAS

Embora as medidas sócio educativas tenham também um caráter sancionatório, não

devem ser confundidas com as penas do direito penal. Por outro lado, como constituem

restrições concretas a direitos do adolescente, exigem que em sua aplicação sejam

adotados procedimentos que garantam os direitos individuais do adolescente acusado do

cometimento da infração.

No direito penal propõem-se funções reeducativas e retributivas à pena. A

função retributiva implica em que haja uma ponderação direta entre o fato típico, as

motivações do agente e a pena. No caso da medida socioeducativa o elemento

retributivo deve ser considerado secundário em relação ao elemento educativo. Por isso

o tipo de graduação existente nas leis penais, de pena máxima e mínima para

determinado fato deve ser desconsiderado. A gravidade do fato é um fator importante,

mas as circunstâncias pessoais do adolescente e o processo educativo também devem

ser levados em conta na escolha da medida e na sua graduação.

6. MOTIVAÇÕES DA DEFESA DA REDUÇÃO DA IDADE MÍNIMA DA

IMPUTABILIDADE

O debate e a apresentação de propostas para redução da idade mínima de

imputabilidade penal não são novos no Brasil. Na defesa da mudança da legislação

confundem-se argumentos de uma retórica emocional, frequentemente misturados com

supostos fundamentos técnicos.

6.1 COMBATE A VIOLÊNCIA

Uma das motivações mais frequentes para a defesa da redução da idade

mínima de imputabilidade é o aumento da violência. Segundo esta visão, a violência

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teria aumentado devido a um estímulo à criminalidade provocado pelas penas muito

brandas e pelos direitos excessivos dados ao acusado que dificultariam a punição. Entre

estes casos estaria o dos adolescentes, que seriam estimulados a delinquir por adultos

devido à expectativa de impunidade.

Há diversos equívocos nesta argumentação. O primeiro se refere à

associação entre aumento da violência e gravidade das penas. O exemplo de países que

adotam a pena de morte e a prisão perpétua para reincidentes demonstra que este

caminho não traz os resultados esperados. Em alguns casos inclusive tem o resultado

oposto, uma vez que o indivíduo que tem expectativa de pena máxima não tem nada a

perder se cometer outros crimes.

O segundo se refere à expectativa de diminuição da violência caso os

adolescentes passem a ser responsabilizados pelo sistema penal. Se isto fosse verdade,

não haveria criminalidade dos adultos. Porém esta é responsável pela maioria dos

crimes, que a aplicabilidade da legislação penal, inclusive com legislações de exceção,

como o conceito de "crime hediondo", foram incapazes de coibir. A falta de capacidade

do sistema penal de dar uma resposta efetiva, devido à estrutura deficiente tanto da

polícia judiciária como das varas penais e do sistema prisional seria apenas agravada se

ocorresse a transferência dos casos que hoje ficam na órbita dos juizados da infância e

juventude.

6.2 USO DOS ADOLESCENTES POR CRIMINOSOS ADULTOS

Segundo este argumento os criminosos adultos utilizariam a colaboração

de adolescentes baseados na possibilidade de impunidade destes casos sejam detidos. O

equívoco não está no fato, mas na justificativa da motivação. É verdade que um número

cada vez maior de jovens tem sido recrutado por grupos organizados, como os

responsáveis pelo tráfico de drogas, como auxiliares. Porém a maior motivação não é a

diferença entre o funcionamento do sistema penal e o do Estatuto da Criança e do

Adolescente, mas a facilidade de encontrar jovens desempregados, sem perspectivas de

futuro, que são atraídos pela expectativa de renda e poder.

A aplicação de penas nestes casos, tem se mostrado mais inefetiva entre

os adultos que entre os jovens, uma vez que muitos líderes condenados continuam

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dirigindo suas quadrilhas de dentro dos presídios. O combate a este tipo de situação não

passa pelo sistema penal, mas por políticas públicas que ofereçam educação e

perspectivas de emprego e renda aos jovens.

6.3 O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE É BRANDO COM OS

INFRATORES

Outro argumento muito utilizado é o de que as medidas sócio educativas

previstas no ECA são brandas e insuficientes para dar a resposta a crimes violentos. Este

argumento por um lado, tem equívocos e por outro funda-se em uma concepção arcaica

de direito penal, há muito superada.

As medidas socioeducativas permitem uma graduação que vai da

advertência á privação de liberdade, por meio da internação em estabelecimento

educacional. Neste sentido, as diferenças em relação às penas do direito penal estão

mais ligadas à aplicação e quantificação que à sua natureza. As medidas socioeducativas

ao mesmo tempo que não utilizam critérios de fixação do direito penal também não

comportam benefícios de progressão automática, como os previstos na Lei de Execução

Penal. Por isso, em muitos casos, é possível aplicar a um adolescente uma sanção mais

grave por um fato semelhante, principalmente naqueles em que a sanção penal seria

menor do que quatro anos, levando à aplicação de penas não privativas de liberdade. Por

outro lado, no ECA não existe a previsão de prescrição, impedindo que a morosidade

processual leve à impunidade.

Por exemplo, na vigência da redação atual da lei de tóxicos, não há

previsão de privação de liberdade para o usuário, incurso no artigo 16, caso seja um

adulto. No entanto, um adolescente, poderia vir a sofrer privação de liberdade em caso

igual, por exemplo, no caso de descumprimento de medida socioeducativa não privativa

de liberdade, podendo ser determinada a semiliberdade ou até a internação como

regressão da medida anterior.

O argumento da brandura das penas tem por principal fundamento uma

concepção vingativa do direito penal, em que a pena, mais do que retribuição, tem por

objetivo fazer com que o condenado sofra em consequência de seus atos. Segundo esta

visão a pena não busca ressocialização, mas expiação da culpa. Para os defensores desta

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visão, justificam-se as condições precárias dos estabelecimentos destinados à privação

de liberdade, pois não é considerada importante a condição dada ao detido como parte

de um processo de reorganização de sua vida. É uma atualização do "olho por olho,

dente por dente", que não se sustenta em uma sociedade moderna e racional. Isto nos

leva a outro argumento:

6.4 O ADOLESCENTE SÓ PODE SER PRIVADO DE LIBERDADE POR TRÊS

ANOS

O Estatuto da Criança e do Adolescente prevê um limite de 3 anos como

tempo máximo para a aplicação da medida de internação. Para muitos este tempo é

muito curto e deveria ser aumentado ou justificaria a inclusão dos jovens no sistema do

código penal. Há propostas em tramitação no Congresso Nacional, apresentadas como

uma alternativa à redução da idade de imputabilidade penal, que aumentam o tempo

máximo de privação de liberdade do adolescente de três para cinco ou mais anos.

Três aspectos devem ser analisados aqui: o que ela representa na vida do

adolescente, como ocorreria, comparativamente, se utilizado o código penal e a

responsabilidade do Estado na aplicação da medida.

Em primeiro lugar, o limite de três anos se refere à privação total da

liberdade, podendo após este período a medida ser substituída por outra, não privativa

de liberdade. Porém três anos na vida de um jovem de 15 anos, por exemplo,

representam 20% de toda a sua vida, no momento em que ele busca a autonomia. É

muito mais do que este período representará na vida de um adulto de 30 ou 40 anos, que

já teve a oportunidade de construir relações, ter uma vida sexual ativa, constituindo ou

não uma família.

Não bastasse este impacto, como não há um sistema de progressão no

ECA como o da Lei de Execuções Penais, que permite a mudança de regime como um

direito do preso, desde que cumpridos partes da pena, os três anos equivalem, na

verdade, a um tempo maior de uma pena criminal.

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6.5 AVANÇO DA SOCIEDADE LEVA Á MATURIDADE MAIS CEDO

Para muitas pessoas a limitação da idade de 18 anos para imputabilidade

foi definida em 1940. Para os que defendem este ponto de vista, as mudanças na

sociedade e na tecnologia permitem que nos dias atuais os jovens sejam melhor

informados e por isso poderiam assumir responsabilidades mais cedo.

Se por um lado é verdade que as transformações ocorridas nas últimas

décadas fizeram com que os jovens assumissem determinados comportamentos de

adultos mais cedo, como por exemplo, um início precoce da vida sexual ativa, por outro

lado há indicações vão em sentido contrário.

Principalmente nos segmentos das classes média e alta é comum que os

jovens dediquem-se exclusivamente aos estudos, vivendo sob a dependência da família

até os 24, 25 anos ou mais, de idade. Também tornou-se menos comum casar e

constituir família antes desta idade ou até mais tarde.

O maior acesso à informação não pode ser considerado sinônimo de

maturidade. Que os jovens tenham acesso à televisão, internet e outros meios digitais

não significa que tenha ocorrido uma mudança no processo de formação da capacidade

de discernimento e avaliação. Ao contrário, a miríade de estímulos a que são submetidos

torna ainda mais difícil fazer opções, que não são mais balizadas apenas pelas

instituições que no passado formavam os limites morais - família, igreja e escola. Por

outro lado, estas instituições tradicionais tem perdido sua capacidade de moldar os

valores que balizam o comportamento dos jovens. Esta constatação, porém, não justifica

que se considere que o direito penal é um substituto adequado para as deficiências do

processo educativo.

Tanto esta suposta aceleração da maturidade deve ser relativizada que, ao

mudar o Código Civil em 2001, a idade limite para alcançar a maioridade civil foi

diminuída de 21 anos para 18 e não para 16. E a idade em que se concede capacidade

relativa foi mantida aos 16 anos, conforme já constava no código anterior.

6.6 O VOTO AOS 16 ANOS

Geralmente quando se discute a maioridade penal aparece um contra-

argumento, que é a maioridade eleitoral. A Constituição de 1988 concedeu o direito de

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voto aos maiores de 16 anos. Se o indivíduo pode votar, por que não poderia ser

responsabilizado criminalmente, perguntam as pessoas.

A maioridade eleitoral aos 16 anos é relativa e não plena. O voto nesta

idade é facultativo e não dá direito à apresentação de candidatura. É necessária a idade

de 18 anos para ser candidato a vereador. Outros cargos exigem idades de 21 ou 35

anos. Portanto o direito concedido aos adolescentes não é igual ao dos adultos.

Por outro lado, a inimputabilidade penal não impede a responsabilização

dos jovens a partir dos 12 anos. Se esta idade é considerada adequada para que o jovem

possa responder a um procedimento judicial e receber uma medida sócio educativa,

poderia se argumentar que o direito de voto também deveria ser previsto a partir deste

momento.

7. CONTRA – ARGUMENTO

Além da fragilidade dos argumentos utilizados para defender a redução

da idade mínima de responsabilidade penal, há outros elementos a serem levados em

conta.

A campanha pela redução da idade é uma ação oportunista de alguns

políticos que se repete periodicamente, com o objetivo de conquistar espaço na mídia.

Assim como o deputado Amaral Neto manteve sua carreira às custas da defesa da pena

de morte, o discurso reducionista conquista facilmente os meios de comunicação e uma

população ávida por uma resposta fácil à violência cotidiana.

Este discurso é alimentado por argumentos emocionais, geralmente

utilizando a dor de famílias e o sangue das vítimas. Em praticamente todos os casos de

crimes violentos que envolvem adolescentes citados na mídia havia um ou mais adultos

envolvidos. Mas estes são deixados de lado, culpabilizando-se exclusivamente o

adolescente pelo fato.

Segundo os dados disponíveis, a maioria da população carcerária

brasileira é de jovens adultos, entre os 18 e os 30 anos, o que inclusive levou ao governo

federal a criar uma política específica para atendimento aos apenados que são adultos

jovens, buscando diminuir a reincidência. Se não há uma diferença radical entre um

adolescente de 17 anos e 11 meses e um adulto de 18 anos e 1 mês, a não ser uma regra

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de corte que foi definida pela lei de uma forma que é, se não totalmente, ao menos em

parte arbitrária, este fato deveria ser utilizado na defesa do jovem de 18 anos e não

contra o de 17. A lei penal prevê que ser menor de 21 anos é circunstância atenuante da

pena, mas isto não é suficiente.

Tendo em vista que se presume a imputabilidade do adulto e a

inimputabilidade da criança e do adolescente, somente são exigidos laudos nos casos em

que a defesa do adulto alega a inimputabilidade. Caso venha a ser aprovada a emenda

constitucional, este procedimento tornar-se-ia obrigatório para todos os jovens entre 16

e 18 anos que viessem a ser acusados de um delito.

8. MAIORIDADE PENAL EM OUTROS PAÍSES

8.1 MAIORIDADE PENAL NO BRASIL E EM PAÍSES AO REDOR DO MUNDO

Cada país tem uma opção diferente quanto pena aplicada a menores de

idade, dependendo não só de suas influências geográficas e religiosas, mas também suas

opções sociais, e a capacidade de a sociedade/estado lidar com as pessoas que pune.

Não existe uma tendência de diminuição ou aumento. Por exemplo, até

março de 2010 a maioridade penal na Escócia começava aos 8 (oito) anos mas até 1998

a menoridade penal na Inglaterra era 14 (quatorze) anos . No primeiro caso aumentou

em 4 anos. No segundo, diminuiu em 4 anos.

Na Carolina do Norte, a menoridade penal termina aos 6 anos. Suécia e Noruega, dois

países com longa tradição de proteção ao menor, estabeleceram a maioridade penal aos

15 anos. Os países da América do Sul são, em média, os com maior idade penal. Já os

asiáticos e africanos estão no outro extremo, países com forte influência católica

também tendem a ter a maioridade penal maior do que países com preponderância de

outras religiões como a protestante, hindu, muçulmana ou budista. Ou seja, não existe

idade padrão.

8.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Foi proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de

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dezembro de 1948, tendo o Brasil sido um dos países aderentes. Surgiu após a segunda

guerra mundial, na ocasião em que a Organização das Nações Unidas (ONU) viu-se

forçada a promover a criação de um tratado internacional que conseguisse firmar a paz,

a justiça, o respeito aos direitos dos homens, a dignidade e a garantia da vida humana.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos influenciou praticamente

todas as constituições posteriores à sua proclamação, inclusive as questões relacionadas

ao Direito da Criança e do Adolescente.

8.3 DECLARAÇÃO DOS DIREITOS DA CRIANÇA

A Declaração dos Direitos da Criança foi firmada em 26 de setembro de

1924 pela antiga Liga das Nações, hoje ONU, sendo adotada e proclamada décadas

mais tarde, mais precisamente em 20 de novembro de 1959 pela Assembleia Geral das

Nações Unidas. O Brasil foi um dos países signatários.

Wilson Donizeti Liberati leciona que a presente Declaração:

[...] firmou o pressuposto da peculiar condição de

pessoa em desenvolvimento da criança, em decorrência de sua

imaturidade física e mental, necessitando de proteção e cuidados

especiais, inclusive proteção legal apropriada, antes e depois do

nascimento.

O problema visualizado nesse documento internacional é o fato de que

suas disposições tinham conteúdo meramente programático, não impondo quaisquer

obrigações aos países signatários. Limitava-se a sugerir medidas, algumas delas de

caráter eminentemente moral, para que os Estados-Membros as adotassem ou não.

8.4 PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS CIVIS E POLÍTICOS

Esse documento também privilegiou a proteção dos direitos da criança e

do adolescente. Foi proclamado pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 16 de

dezembro de 1966 e ratificado pelo Brasil em 24 de janeiro de 1992, passando a ter

força normativa interna.

Consagrou a proteção à família, por meio da união conjugal, como

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núcleo natural e fundamental da sociedade. Além disso, dispôs que toda criança tem

direito a uma nacionalidade, a um nome, a um registro e a outras medidas de proteção

que sua condição de menor de idade requer por parte do Estado, da sociedade e de sua

família.

8.5 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS

O tratado internacional em comento foi firmado pelos países do

continente americano em 22 de novembro de 1969, sendo ratificado pelo Brasil em 6 de

novembro de 1992. Os países americanos que o assinaram reafirmaram a intenção de

consolidar no continente a garantia das instituições democráticas e um regime de

liberdade pessoal e de justiça social fundado nos direitos humanos fundamentais.

No que se refere ao Direito da Criança e do Adolescente, o art. 19 ratifica

o compromisso dos Estados signatários de proteger os menores de idade, afirmando que

toda criança terá direito às medidas de proteção que a sua condição de menor requer,

por parte da sua família, da sociedade e do Estado.

8.6 REGRAS MÍNIMAS DE BEIJING

As Regras Mínimas de Beijing surgiram após vários anos de trabalhos do

comitê permanente das Nações Unidas responsável por estudar a questão da prevenção

de práticas delituosas bem como o tratamento dos jovens infratores, vindo essas regras a

serem aprovadas em setembro de 1985. No Brasil, esse documento não traduz força

normativa, mas serviu de base para a elaboração do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) em matéria de política criminal, pois aglutinou princípios modernos

que privilegiam o respeito aos direitos fundamentais e à proteção social da criança e do

adolescente.

De acordo com Wilson Donizeti Liberati:

Esse documento enuncia os princípios para a

proteção aos direitos fundamentais de todo homem, inclusive do

jovem infrator. Essas regras representam, pois, a consideração das

condições mínimas para o tratamento dos jovens infratores em

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qualquer parte do mundo. Como signatários, os Estados devem

respeitá-las e integrá-las em suas leis internas.

As Regras Mínimas de Beijing propôs novos meios de se tratar o jovem

infrator, em particular meios que substituem a medida privativa de liberdade por outra a

ser cumprida em meio aberto. Após esse tratado, medidas privativas de liberdade

passaram a ser a exceção, devendo ser utilizadas apenas em casos extremos, enquanto

que utilização de medidas em meio aberto e com fins pedagógicos passou a ser a regra.

Esse documento jurídico internacional determina que os jovens sejam

submetidos a um sistema chamado de “Responsabilidade Penal”, que trabalha no

sentido de que não se deve inseri-los precocemente no sistema privativo de liberdade,

por causa da sua imaturidade emocional, mental e intelectual.

8.7 DIRETRIZES DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A PREVENÇÃO DA DELINQUÊNCIA

JUVENIL

Foram idealizadas durante a realização do 8º Congresso das Nações

Unidas sobre Prevenção do Delito e Tratamento do Delinquente, tendo como objetivo

estabelecer critérios e estratégias para prevenir a delinquência juvenil e para promover o

bem-estar da sociedade. O texto final, denominado de Diretrizes de Riad, se tornou

conhecido em 14 de dezembro de 1990.

Esse documento, apesar de também não ter força interna no Brasil,

contribuiu muito para se firmar que é no seio familiar que a recuperação e a

reintegração social do infrator ocorrem mais eficazmente, devendo ser adotadas

medidas que visem à proteção e à valorização da família dos jovens, sobretudo dos

menos favorecidos.

Em suma, as Diretrizes de Riad destacam o papel da comunidade no

enfrentamento do problema da criminalidade juvenil, sendo necessário colocar em

prática ações políticas progressivas para prevenir esse problema social.

8.8 CONVENÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS SOBRE OS DIREITOS DAS CRIANÇAS

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Foi aprovada por unanimidade pela Assembleia Geral das Nações Unidas

em 20 de novembro de 1989, tendo se tornado norma cogente no Brasil após ser

ratificada em 21 de setembro de 1990.

Essa Convenção foi fruto de 10 (dez) anos de trabalho de representantes

de 43 (quarenta e três) Estados-Membros da Comissão de Direitos Humanos das Nações

Unidas e foi proclamada coincidentemente no mesmo dia em que se celebravam os 30

(trinta) anos da Declaração dos Direitos da Criança de 1959.

A busca do bem-estar do menor passou a ser o maior objetivo do direito

juvenil, tendo os países pactuantes se comprometido a dispor de oportunidades e

serviços de modos variados para permitir que os jovens se desenvolvam física, mental,

moral, espiritual e socialmente, em liberdade e com dignidade.

9. OS 9 PAÍSES MAIS SEGUROS DO MUNDO E SUA MAIORIDADE PENAL

Segundo estudos, os países abaixo são os mais seguros do mundo todavia

com idade penal variável, sendo em sua maioria igual a faixa etária brasileira.

1 – Finlândia

A justiça é reconhecida pela população como honesta, além de que o policiamento é

funcional e eficaz. (Responsabilidade Penal Juvenil=15 anos – Maioridade Penal ou

maioridade criminal = 18 anos).

2– Áustria

O país está classificado também entre os mais ricos, sendo que o PIB per capita

ultrapassa os R$ 104 mil – no Brasil, esse valor é de pouco mais de R$ 22 mil. A

Áustria é considerada também um dos lugares mais saudáveis para se viver, sendo que a

capital Vienna atrai turistas de todo o mundo, que chegam à procura dos diversos tipos

de entretenimento disponíveis para toda a família.

(Responsabilidade Penal Juvenil=14 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 19 anos)

3– Suécia

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Apesar das condições climáticas extremas, o local ainda é considerado um dos mais

seguros, até mesmo porque a maioria dos turistas vai a Estocolmo durante a primavera

devido ao clima. É um dos países com menores riscos de morte do mundo.

(Responsabilidade Penal Juvenil=15 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 18 anos)

4– Austrália

O país tem muito mais fronteiras marítimas do que por terra, o que aumenta seu nível de

segurança.

(Responsabilidade Penal Juvenil=10 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 19 anos)

5 – Irlanda

O país tem vários costumes tradicionais, ocupando jovens com festividades locais.

(Responsabilidade Penal Juvenil=12 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 18 anos).

6– Dinamarca

Está entre os países mais seguros e protegidos do mundo. O policiamento é eficaz com

relação ao respeito a todo e qualquer tipo de leis, resultando na segurança máxima aos

cidadãos dinamarqueses, que praticamente não correm riscos de serem assaltados,

sequestrados ou mortos.

(Responsabilidade Penal Juvenil=15 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 18 anos).

7 – Noruega

Simplesmente não há índices de criminalidade na Noruega e o país tem questões

ambientais mais do que saudáveis, tornando-se um lugar recomendável para todos.

(Responsabilidade Penal Juvenil=15 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 18 anos).

8 – Islândia

Pesquisas recentes indicaram que assassinatos, sequestros, estupros e afins são ocasiões

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praticamente extintas.

(Responsabilidade Penal Juvenil=15 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 18 anos).

9 – Nova Zelândia

Não se encontra pessoas vivendo em condições extremas de pobreza, desempregadas e

desalojadas. A lógica é mais do que clara: com menos desigualdade, há muito menos

violência.

(Responsabilidade Penal Juvenil=15 anos – Maioridade Penal ou maioridade criminal

= 18 anos).

Abaixo, segue tabela para um comparativo entre outros países:

P

Países

Responsabilidade

Penal Juvenil

Maioridade

Penal ou

maioridade

criminal

Observações

A

Alemanha

14

1

8/21

De 18 a 21 anos o sistema

alemão admite o que se convencionou

chamar de sistema de jovens adultos, no

qual mesmo após os 18 anos, a depender

do estudo do discernimento podem ser

aplicadas as regras do Sistema de justiça

juvenil. Após os 21 anos a competência é

exclusiva da jurisdição penal tradicional.

A

Argentina

16

1

8

O Sistema Argentino é

Tutelar. A Lei N° 23.849 e o Art. 75 da

Constitución de la Nación Argentina

determinam que, a partir dos 16 anos,

adolescentes podem ser privados de sua

liberdade se cometem delitos e podem ser

internados em alcaidías ou

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penitenciárias. ***

A

Argélia

13

1

8

Dos 13 aos 16 anos, o

adolescente está sujeito a uma sanção

educativa e como exceção a uma pena

atenuada a depender de uma análise

psicossocial. Dos 16 aos 18, há uma

responsabilidade especial atenuada.

B

Bélgica

16

1

6/18

O Sistema Belga é tutelar e

portanto não admite responsabilidade

abaixo dos 18 anos. Porém, a partir dos 16

anos admite-se a revisão da presunção de

irresponsabilidade para alguns tipos de

delitos, por exemplo os delitos de trânsito,

quando o adolescente poderá ser

submetido a um regime de penas.

B

Bolívia

12

1

6/18/21

O artigo 2° da lei 2026 de

1999 prevê que a responsabilidade de

adolescentes incidirá entre os 12 e os 18

anos. Entretanto outro artigo (222)

estabelece que a responsabilidade se

aplicará a pessoas entre os 12 e 16 anos.

Sendo que na faixa etária de 16 a 21 anos

serão também aplicadas as normas da

legislação.

B

Brasil

12

1

8

O Art. 104 do Estatuto da

Criança e do Adolescente determina que

são penalmente inimputáveis os menores

de 18 anos, sujeitos às medidas

socioeducativas previstas na Lei.

B

Bulgária

14

1

8

C 1 A legislação canadense

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Canadá 12 4/18 (Youth Criminal Justice Act/2002) admite

que a partir dos 14 anos, nos casos de

delitos de extrema gravidade, o

adolescente seja julgado pela Justiça

comum e venha a receber sanções

previstas no Código Criminal, porém

estabelece que nenhuma sanção aplicada a

um adolescente poderá ser mais severa do

que aquela aplicada a um adulto pela

prática do mesmo crime.

C

Colômbia

14

1

8

A nova lei colombiana

1098 de 2006, regula um sistema de

responsabilidade penal de adolescentes a

partir dos 14 anos, no entanto a privação

de liberdade somente é admitida aos

maiores de 16 anos, exceto nos casos de

homicídio doloso, seqüestro e extorsão.

C

Chile

14/16

1

8

A Lei de Responsabilidade

Penal de Adolescentes chilena define um

sistema de responsabilidade dos 14 aos 18

anos, sendo que em geral os adolescentes

somente são responsáveis a partir dos 16

anos. No caso de um adolescente de 14

anos autor de infração penal a

responsabilidade será dos Tribunais de

Família.

C

China

14/16 1

8

A Lei chinesa admite a

responsabilidade de adolescentes de 14

anos nos casos de crimes violentos como

homicídios, lesões graves intencionais,

estupro, roubo, tráfico de drogas,

incêndio, explosão, envenenamento, etc.

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Nos crimes cometidos sem violências, a

responsabilidade somente se dará aos 16

anos.

C

Costa Rica

12

1

8

C

Croácia

14/16

1

8

No regime croata, o

adolescente entre 14 e dezesseis anos é

considerado Junior minor, não podendo

ser submetido a medidas

institucionais/correcionais. Estas somente

são impostas na faixa de 16 a 18 anos,

quando os adolescentes já são

considerados Senior Minor.

E

El Salvador

12

1

8

E

Escócia

8/16

1

6/21

Também se adota, como na

Alemanha, o sistema de jovens adultos.

Até os 21 anos de idade podem ser

aplicadas as regras da justiça juvenil.

E

Eslováquia

15

1

8

E

Eslovênia

14

1

8

E

Espanha

12 1

8/21

A Espanha também adota

um Sistema de Jovens Adultos com a

aplicação da Lei Orgânica 5/2000 para a

faixa dos 18 aos 21 anos.

E

Estados

Unidos

10

1

2/16

Na maioria dos Estados do

país, adolescentes com mais de 12 anos

podem ser submetidos aos mesmos

procedimentos dos adultos, inclusive com

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a imposição de pena de morte ou prisão

perpétua. O país não ratificou a

Convenção Internacional sobre os Direitos

da Criança.

E

Estônia

13

1

7

Sistema de Jovens Adultos

até os 20 anos de idade.

E

Equador

12

1

8

F

França

13

1

8

Os adolescentes entre 13 e

18 anos gozam de uma presunção relativa

de irresponsabilidade penal. Quando

demonstrado o discernimento e fixada a

pena, nesta faixa de idade (Jeune) haverá

uma diminuição obrigatória. Na faixa de

idade seguinte (16 a 18) a diminuição fica

a critério do juiz.

G

Grécia

13

1

8/21

Sistema de jovens adultos

dos 18 aos 21 anos, nos mesmos moldes

alemães.

G

Guatemala

13

1

8

H

Holanda

12 1

8

H

Honduras

13

1

8

H

Hungria

14

1

8

I

Inglaterra e

Países de

Gales

10/15

1

8/21

Embora a idade de início da

responsabilidade penal na Inglaterra esteja

fixada aos 10 anos, a privação de

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liberdade somente é admitida após os 15

anos de idade. Isto porque entre 10 e 14

anos existe a categoria Child, e de 14 a

18 Young Person, para a qual há a

presunção de plena capacidade e a

imposição de penas em quantidade

diferenciada das penas aplicadas aos

adultos. De 18 a 21 anos, há também

atenuação das penas aplicadas.

I

Irlanda

12

1

8

A idade de inicio da

responsabilidade está fixada aos 12 anos

porém a privação de liberdade somente é

aplicada a partir dos 15 anos.

I

Itália

14

1

8/21

Sistema de Jovens Adultos

até 21 anos.

J

Japão

14

2

1

A Lei Juvenil Japonesa

embora possua uma definição

delinqüência juvenil mais ampla que a

maioria dos países, fixa a maioridade

penal aos 21 anos.

L

Lituânia

14 8 –

M

México

11

8

A idade de inicio da

responsabilidade juvenil mexicana é em

sua maioria aos 11 anos, porém os estados

do país possuem legislações próprias, e o

sistema ainda é tutelar.

N

Nicarágua

13

18 –

N

Noruega

15

18 –

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P

Países

Baixos

12

18/21 Sistema de Jovens Adultos

até 21 anos.

P

Panamá

14

1

8

P

Paraguai

14

1

8

A Lei 2.169 define como

“adolescente” o indivíduo entre 14 e 17

anos. O Código de La Niñez afirma que os

adolescentes são penalmente

responsáveis, de acordo com as normas de

seu Livro V. ***

P

Peru

12

1

8

P

Polônia

13

1

7/18

Sistema de Jovens Adultos

até 18 anos.

P

Portugal

12

1

6/21

Sistema de Jovens Adultos

até 21 anos.

R

República

Dominicana

13

1

8

R

República

Checa

15

1

8

R

Romênia

16/18

1

6/18/21

Sistema de Jovens Adultos.

R

Rússia

14 /16

1

4/16

A responsabilidade fixada

aos 14 anos somente incide na pratica de

delitos graves, para os demais delitos, a

idade de inicio é aos 16 anos.

S

Suécia

15

1

5/18

Sistema de Jovens Adultos

até 18 anos.

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S

Suíça

7/15

1

5/18

Sistema de Jovens Adultos

até 18 anos.

T

Turquia

11

1

5

Sistema de Jovens Adultos

até os 20 anos de idade.

U

Uruguai

13

1

8

V

Venezuela

12/14

1

8

A Lei 5266/98 incide sobre

adolescentes de 12 a 18 anos, porém

estabelece diferenciações quanto às

sanções aplicáveis para as faixas de 12 a

14 e de 14 a 18 anos. Para a primeira, as

medidas privativas de liberdade não

poderão exceder 2 anos, e para a segunda

não será superior a 5 anos.

Obs. Países como a Holanda e a Suécia a cada ano fecham prisões e constroem mais

centros educacionais e de cultura, por aqui caminhamos o caminho contrário, atiramos

bombas em professores que buscam salários dignos, pois não falta muito para a classe

dos professores ser considerada a carreira menos promissora do país.

10. FAIXA ETÁRIA DOS DELITOS NO BRASIL

Segundo Ministério da Justiça, menores cometem menos de 1% dos

crimes no país. Os números da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do

Ministério da Justiça não confirmam a tese, alardeada por defensores da redução

da maioridade penal, de que menores são autores da maior parte dos crimes cometidos

no país.

A Senasp estima que os menores de 16 a 18 anos – faixa etária que mais

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seria afetada por uma eventual redução da maioridade penal – são responsáveis por

0,9% do total dos crimes praticados no Brasil. Se considerados apenas homicídios e

tentativas de homicídio, o percentual cai para 0,5%.

Levantamento feito pelo Ministério da Justiça em 2011 mostra ainda que

crimes patrimoniais como furto e roubo (43,7% do total) e envolvimento com o tráfico

de drogas (26,6%) constituem a maioria dos delitos praticados pelos menores que se

encontram em instituições assistenciais do Estado cumprindo medida socioeducativa.

Cerca de um décimo deles se envolveu em crimes contra a vida: 8,4% em homicídios e

1,9% em latrocínios (que ocorrem quando, além de roubar, o criminoso mata alguém).

Em pesquisas, o Globo, a Folha de S. Paulo, o Diário de S. Paulo,

a revista Exame, o Portal Terra, a edição impressa de Veja e quase todas as ONGs e

políticos contrários à redução disseram que menos de 1% dos homicídios no Brasil são

cometidos por adolescentes. Ocorre que os brasileiros entre 15 e 18 anos são, segundo

o IBGE, 8% da população.

11. SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO

Outro fator que merece atneção são os presídios que estão totalmente

superlotados, não conseguindo atender a demanda que a Justiça requer. A pena tem a

finalidade de ressocializar o indivíduo. Não se consegue ressocializar um menor ao

colocá-lo com outros criminosos experientes. O Estado ainda não é capaz de cumprir o

papel descrito na Constituição Federal, Código Penal, Lei de Execução Penal e muito

menos ainda o disposto no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Neste diapasão jurídico, esclarece Luiz Flávio Gomes:

Se os presídios são reconhecidamente faculdades do

crime, a colocação dos adolescentes neles (em companhia dos

criminosos adultos) teria como consequência inevitável a sua mais

rápida integração nas organizações criminosas. Recorde-se que os

dois grupos que mais amedrontam hoje o Rio de Janeiro e São Paulo

(Comando Vermelho e PCC) nasceram justamente dentro dos

presídios. (GOMES, Luiz Flávio, 2008).

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É importante ressaltar que existe sanção para o menor, sendo

denominadas medidas socioeducativas, elencadas no artigo 112 do Estatuto do Menor.

As medidas socioeducativas são decorrentes de um ato infracional análogo a crime e

poderão ser as seguintes: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de

serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação.

A polícia brasileira prende as pessoas erradas e a Justiça criminal é lenta:

o resultado é que grandes criminosos articulam seus negócios na rua enquanto pequenos

ladrões superlotam presídios. Para especialistas em segurança pública, essa é a principal

justificativa para que o número de presos provisórios equivalha ao déficit carcerário,

que só em 2012 cresceu 20%, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança

Pública, divulgado nesta terça-feira.

Ao todo, 550 mil pessoas foram presas em todo o Brasil no ano passado,

um crescimento de 7% na comparação com 2011. Enquanto isso, o número de presos

esperando julgamento saltou 13%, chegando a 195 mil pessoas, quase as 211 mil vagas

que faltam ao sistema prisional.

"As polícias enchem as cadeias com usuários de droga e

pequenos traficantes e deixam de investigar casos mais graves,

como latrocínio (roubo seguido de morte), homicídio, estupro,

que só crescem no Brasil, se prende muito. E muito mal”.

(Luis Flavio Sapori, ex secretário de segurança de Minhas

Gerais)

O Sistema Penitenciário é um assunto recorrente no Brasil, por causa de

todos os seus problemas. Os assuntos discorridos são a superlotação e a falta de higiene

que propiciam diversas doenças sendo as mais comuns a leptospirose e a tuberculose.

A decadência do Sistema Penitenciário Brasileiro atinge não somente os

apenados, mas também as pessoas que estão em contato direta e indiretamente com essa

realidade carcerária. Por mais que o senso comum acredite que com o encarceramento

dos delituosos tal questão será sanada, cada vez mais os próprios noticiários firmam que

a ressocialização não é um fato concreto perante a sociedade atual.

Outro fator característico do contexto prisional é a má remuneração dos

agentes penitenciários. Em consequência, existem poucos profissionais atuando na área,

coordenando um elevado número de presos. Por esses motivos, os agentes acabam por

se aliar aos presos que têm condições financeiras de dar ao agente aquilo que o Estado

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deveria oferecer e não oferece, em troca de regalias na prisão.

O sistema penitenciário brasileiro tem como objetivo a ressocialização,

educação e a referente punição ao seu delito. É uma forma de vingança social, pois uma

vez que a autotutela é proibida, o Estado assume a responsabilidade de retaliação dos

crimes, isolando o criminoso para que ele possa refletir sobre os seus atos, alheio a

influências externas. Através da prisão, o infrator é privado da sua liberdade, deixando

de ser um risco para a sociedade.

A superlotação e a falência do sistema penitenciário brasileiro são

assuntos bastante debatidos. Houve um aumento de 113% dos presos de 2000 a 2010, de

acordo com dados do Ministério da Justiça. Combinando isso à falta de investimento e

manutenção das penitenciárias e presídios, tornaram esses verdadeiros depósitos

humanos. Essa situação acaba colaborando com fugas e rebeliões, pois os agentes

penitenciários não conseguem ter controle sobre o tamanho do número de presos.

Uma cela fechada que abriga um número maior de pessoas que a sua

capacidade acarreta em problemas como o calor e a falta de ventilação. A falta de

espaço faz com que os presos precisem se revezar para dormir. O número de colchões é

insuficiente e nem a alternativa de pendurar redes nas celas faz com que todos possam

descansar ao mesmo tempo. Outro problema é a falta de mobilidade, a comida tem que

passar de mão em mão para chegar aos apenados que estão no interior da cela, e a

dificuldade de chegar aos banheiros fazem os presos procurarem alternativas tais como

a utilização das embalagens das marmitas para satisfazer as necessidades e até mesmo

urinar para fora da cela. Não há privacidade alguma em penitenciárias e presídios

superlotados.

Para reduzir o problema da superlotação, foi criada a Lei nº 12.403, de 4

de maio de 2011, possibilitando alternativas à prisão provisória para presos não

reincidentes que cometeram delitos leves com pena privativa de liberdade de até quatro

anos, como fiança e monitoramento eletrônico. Todavia, mesmo com essa medida, ainda

é necessária a construção de novos presídios.

A construção de presídios ainda não é uma prioridade na segurança

pública do Brasil, pois a maioria dos governadores prefere investir em viaturas, o que é

mais visível e que dá votos. A função da cadeia moderna é neutralizar, reinserir e punir.

Não é só punir. Vale a pena, para reduzir a criminalidade em todo o Brasil, investir na

construção de presídios e levar dignidade ao preso. Isso é uma política de segurança

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pública muito eficaz.

Os presos adquirem as mais variadas doenças no interior das prisões, as

mais comuns são a tuberculose e a pneumonia já que são doenças respiratórias, além de

AIDS, hepatite e doenças venéreas. Para serem levados para o hospital necessitam de

escolta da Polícia Militar (PM), o que dificulta ainda mais o tratamento do doente.

Apesar de todo o planejamento da cartilha sobre o Plano Nacional de Saúde no Sistema

Penitenciário, é totalmente duvidosa a concretização de tais projetos, pois já é visto que

neste país é difícil os recursos públicos serem reservados para o que deveriam ser

propriamente destinados.

A AIDS no meio carcerário é muito comum devido à possibilidade de ser

transmitida com o uso de drogas injetáveis, podendo ser considerada como epidemia. A

doença na prisão põe em perigo a vida dos “pacientes” por causa da falta ao acesso de

médicos especialistas em HIV/AIDS e, do acesso limitado a todos os tratamentos

disponíveis e terapias alternativas. Por isso, os prisioneiros com HIV/AIDS não têm as

mesmas taxas de esperança de vida que uma pessoa com HIV/AIDS que vive na parte

externa. Todavia, mais uma vez o Estado deixa a desejar no que diz respeito à saúde

pública, demonstrando assim, que o preso com HIV/AIDS já adquiriu fora da cadeia ou

contagiou-se por alguém que já tinha antes de ser detido.

A leptospirose é uma zoonose (doença de animais) infecciosa febril,

potencialmente grave, causada por uma bactéria, a Lapospira interrogans. Desenvolve-

se em locais propícios à sujeira com presença de umidade, em que o meio é favorável a

multiplicação de ratos e proliferação da bactéria. Com isto, prova-se a exigida

higienização das instalações penitenciárias, bem como, os devidos espaços de tempo

para banhos de sol e a prevenção às demais doenças causadas pelos ratos: peste

bubônica, raiva, sarnas.

Isto prova que a indignação com o descaso da saúde no Sistema

Penitenciário Brasileiro é algo que envolve quem está por dentro das grades, quem

administra as penitenciárias e também as demais pessoas da comunidade em geral.

Um grande problema e que gera muitas consequências negativas ao

sistema penitenciário brasileiro é a má distribuição das verbas. Existem penitenciárias

que permitem uma boa qualidade de vida, às vezes maior até do que a de grande parte

da população de renda baixa, enquanto existem penitenciárias inadequadas até mesmo

para abrigar o número de ocupantes para o qual foram projetadas abrigando quantidades

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absurdas de pessoas, em condições inumanas.

A má remuneração dos agentes penitenciários e o baixo número de

agentes contribuem para corrupção e seu descaso. Com isto, os apenados têm grande

facilidade de burlar as regras, trazendo celulares, drogas, armas, que seriam facilmente

apreendidos caso os procedimentos corretos fossem utilizados. Somando esse fator à

superlotação, é praticamente impossível evitar desastres.

Outro fator que demonstra o descaso com os apenados é a falta de acesso

à justiça. Muitas prisões acumulam Boletins de Ocorrência (BO) não investigados e,

vários condenados não possuem contato com advogados e alguns, inclusive, já

cumpriram a pena, mas continuam presos devido à burocracia e ao descaso do sistema.

Com base no que foi estudado sobre o Sistema Penitenciário brasileiro, o

tratamento dos apenados se torna indigno, uma vez que não são tratados como pessoas

detentoras de direitos e deveres garantidos constitucionalmente, tal como no artigo 5º da

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Na Constituição a dignidade da

pessoa humana é fundamento do Estado Democrático de Direito brasileiro, sendo assim,

o Estado existe em função de todos os cidadãos. Portanto, é inconstitucional violar o

princípio.

O que acaba por acontecer é uma dupla penalização, pois o condenado

leva a prisão propriamente dita e mais o estado de saúde precário que adquire durante o

seu cárcere. O que a lei diz é que o Estado é responsável para com o estado de saúde do

apenado, porém o que ocorre na prática é um descumprimento desse fator. Eles são

deixados ao acaso podendo se contaminar com infecções, vírus etc. A ideia oficial é de

que a saúde é um direito de todos que vivem no Brasil, porém não é o que ocorre na

maioria das penitenciárias.

É importante destacar que além dos presos serem negligenciados no fator

saúde, eles não têm direito a educação. Com isto, o objetivo de ressocializar é ferido.

Presos acabam saindo da cadeia piores do que entraram por viverem em condições sub-

humanas. É notório que a reincidência dos presos é uma variável que depende do tipo de

tratamento para com os mesmos. A superlotação traz, além do calor insuportável, falta

de ventilação e falta de privacidade, doença, sujeira e estresse. Algumas vezes a revolta

com essas condições leva os detentos a cometerem atos violentos e desumanos. Trata-se

apenas de um reflexo do modo como eles estão sobrevivendo.

Outro problema do Sistema Penitenciário Brasileiro é a má distribuição

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de verbas, uma melhor organização desta colocaria em prática os diversos projetos

governamentais para as penitenciárias. Diminuiria assim, a superlotação e melhoraria as

condições de higiene, em busca de atender o princípio da dignidade da pessoa humana.

Com o devido investimento no sistema prisional, a ressocialização e a educação seriam

fatores presentes, onde os presos sairiam capacitados para praticar atividades, como

costurar, desenhar e também trabalhos braçais.

Além disso, deveria haver um reajuste nos salários dos agentes,

derrubando a corrupção e o descaso para com os presos. Com um salário mais

compatível com a função, haveria mais agentes carcerários e a Polícia Militar poderia

fazer seu trabalho de patrulhamento e segurança, ao invés de ter que ajudar a cuidar dos

presos.

De um modo geral, o conhecimento sobre a realidade do Sistema

Penitenciário brasileiro, que é desrespeitoso e desumano, leva a transformação das

concepções sociais. A sociedade, apesar de ouvir sobre os defeitos das penitenciárias,

crê que os detentos merecem punições severas e sofrimento, como tortura, pena de

morte, isolamento carcerário e não necessitam de educação pública. Porém, a

conscientização popular, conforme o princípio da dignidade da pessoa humana leva a

uma noção de que os presos são pessoas e não devem ser tratados com desprezo. Com

esse novo pensamento, a população formará uma opinião de que os delituosos deveriam

ter um julgamento pertinente com a Constituição Federal.

O ECA prevê que, em nenhuma hipótese, os juízes aplicarão a internação

caso haja outra medida adequada diante do ato infracional, como advertências, reparação do

dano, prestação de serviços comunitários, liberdade assistida ou semiliberdade.

O maior número de adolescentes com 16 e 17 anos cumprindo medidas de

internação em 2014 foi registrado no estado de São Paulo: ingressaram pelas unidades da

Fundação Casa 9.423 menores infratores nesta faixa etária. Segundo o levantamento

do G1 do ano passado, há cerca de 207 mil presos no sistema carcerário paulista.

“Nosso sistema socioeducativo e é infinitamente melhor que o sistema

prisional de qualquer lugar do Brasil, porque leva em conta as condições e necessidades da

criança e do adolescente, que estão em fase de amadurecimento e suscetíveis à mudança de

comportamento pela conversa”, entende a presidente da Fundação Casa, Berenice Giannella.

Conforme o ECA, os menores não podem permanecer, “em nenhuma

hipótese”, mais de três anos internados, sendo que a manutenção do menor deve ser revisada

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e fundamentada a cada seis meses.

“Temos 26 milhões de adolescentes no Brasil. Os 23 mil que

estão cumprindo medidas com privação de liberdade

representam 0,08%. Esses casos têm grande exposição e

geram muita comoção, mas é uma parcela ínfima de

adolescentes”, afirmou Pepe Vargas, ministro da secretaria

de Direitos Humanos em debate no Congresso, segundo a

Agência Brasil.

11.1 POPULAÇAO PRISIONAL

O Ministério da Justiça não disponibiliza os números atualizados da

população carcerária do país. Os últimos dados do Departamento Penitenciário Nacional

(Depen), de julho de 2013, apontam que, na época, havia 574.027 presos maiores de idade

no país, enquanto havia 317.733 vagas. Em julho de 2014, o Conselho Nacional de Justiça

(CNJ) divulgou um levantamento apontando que a população carcerária brasileira chegava a

715 mil em maio daquele ano, sendo que mais de 147,9 mil pessoas cumpriam prisão

domiciliar devido ao déficit de vagas no sistema.

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O gráfico acima obtido pelo G1 mostra a evolução do número de presos

brasileiros desde 2005 em comparação com a quantidade de vagas: enquanto a população

carcerária cresce exponencialmente ano a ano, a quantidade de vagas permaneceu

praticamente estacionada no país no período.

12. BASE LEGAL E DOUTRINARIA SOBRE A REDUÇAO DA MAIORIDADE

PENAL

É certo que existem infrações graves praticadas por adolescentes, mas

tratá-los de maneira igual aos adultos significa ignorar a peculiar condição de pessoas

em desenvolvimento que ostentam.

A respeito da mudança de paradigma do Direito Penal Juvenil, ocorrido

com a decadência da etapa do direito penal indiferenciado e com o surgimento da etapa

tutelar do Direito da Criança e do Adolescente no Brasil, em meados de 1920,

escreveu Karina Batista Sposato:

O despertar da consciência social sobre a

necessidade de salvaguardar a integridade física de crianças e

adolescentes gerou severas críticas à permissiva promiscuidade entre

crianças, adolescentes e adultos em estabelecimentos prisionais,

repercutindo num marco fundamental para as práticas sociopenais de

tratamento da infância-adolescência no mundo todo.

Com o advento da Lei nº 4.242/21, o Brasil abandonou o sistema

biopsicológico, adotando-se um critério objetivo de imputabilidade penal - o sistema

biológico - fixando-a em 14 anos de idade, excluindo também qualquer

responsabilização ao menor de 14 anos autor de crime ou contravenção.

Em 1927 foi instituído o Código de Menores, também denominado

Código Mello Mattos, que ganhou destaque pelo fato de ter disposto sobre normas

relativas à assistência aos menores, especialmente os abandonados e os delinquentes.

Até os 14 anos o menor era irresponsável não podendo, desta forma,

receber nenhuma medida de caráter penal. Entre os 14 e os 16 anos o menor ainda era

irresponsável, mas organizava-se um processo para apurar o fato em consequência do

qual se poderia impor medidas de assistência que por vezes acarretaria o cerceamento

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da liberdade. Já entre os 16 e os 18 anos o menor poderia ser considerado responsável,

sofrendo então as penas previstas no Código Penal, com a redução de um terço na

duração da pena privativa de liberdade cabível aos adultos, ficando tais menores

separados dos delinquentes de maior idade.

O Estado, materializado na figura do juiz, sob o discurso de estar

protegendo os interesses das crianças e dos adolescentes e de ter como objetivo a

diminuição dos problemas sociais enfrentados por esses e por suas famílias, adotou

medidas discriminatórias, desumanas e até violentas para com os mesmos. O juiz

determinava a colocação de menores de idade em hospitais, asilos, orfanatos e outros

estabelecimentos congêneres, sem se importar com a peculiar condição de pessoas em

desenvolvimento que os mesmos ostentavam. Esse fato contribuiu muito para acentuar

o problema da exclusão social. Se por um lado o menor devia ser protegido pela

sociedade como um todo, estranhamente ele devia ser contido para não causar danos à

própria ordem social.

Para Emílio Garcia Mendez:

Na realidade, as piores atrocidades da infância se

cometeram muito mais em nome do amor e da compaixão do que da

própria repressão. No amor não há limites, na justiça sim. Por isso,

nada contra o amor quando ele mesmo se apresenta como um

complemento da justiça. Porém, tudo contra o amor quando se

apresenta como um substituto, cínico ou ingênuo, da justiça.

Este preceito resulta menos de um postulado de psicologia científica do

que um critério de política criminal. Ao invés de assinalar o adolescente transviado com

o ferrete de uma condenação penal, que arruinará, talvez irremediavelmente, sua

existência inteira, é preferível, sem dúvida, tentar corrigi-lo por métodos pedagógicos,

prevenindo a sua recaída no malefício. O delinquente juvenil é, na grande maioria dos

casos, um corolário do menor socialmente abandonado, e a sociedade, perdoando-o e

procurando, no mesmo passo, reabilitá-lo para a vida, resgata o que é, em elevada

proporção, sua própria culpa.

A FUNABEM baseou-se na construção de centros especializados

destinados a recepção, triagem, observação e permanência de menores considerados em

situação irregular. Ela, além de servir como meio de controle juvenil, serviu como

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instrumento político e de propaganda da ditadura militar.

12.1 ASPECTOS DAS PRINCIPAIS PROPOSTAS DE EMENDA A

CONSTITUIÇÃO FEDERAL

Setores da Câmara, portanto, querem fazer média com a população.

Outras pesquisas de opinião mostram que cerca de 90% dos brasileiros acreditam no

conto do vigário de que reduzir a idade de responsabilização penal reduziria

criminalidade.

Desse modo, mesmo com o previsível veto do Supremo Tribunal Federal

a uma tentativa de mudança de cláusula pétrea da Constituição, o Congresso passaria à

sociedade a ideia de que tentou fazer o que ela queria, o que, supõem esses políticos

demagogos, render-lhes-ia dividendos políticos.

No Brasil, a imputabilidade penal é fixada a partir dos 18 anos, conforme

consta no artigo 228 da Constituição Federal: “São penalmente inimputáveis os menores

de dezoito anos (…)”. Desse modo, só uma emenda à Carta Magna poderia reduzir a

idade de imputabilidade penal, o que requer uma Proposta de Emenda Constitucional

(PEC).

Vale comentar que, como a Constituição brasileira é rígida, ou seja,

burocratiza e dificulta as tentativas de mudá-la ou emendá-la, qualquer tentativa nesse

sentido implicaria em votação em dois turnos nas duas Casas do Congresso, com

quórum de aprovação de pelo menos 3/5 (três quintos), nos termos do artigo 60, §2º da

Carta Política.

A Constituição reza que há imposições de seu corpo que não podem ser

suprimidas ou emendadas, conforme reza o artigo 60, §4º da Constituição Federal,

sobretudo quando o tema resvala na segurança jurídica do Estado Democrático de

Direito.

“Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

4º – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a

abolir:

I – a forma federativa de Estado;

II – o voto direto, secreto, universal e periódico;

III – a separação dos Poderes;

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IV – os direitos e garantias individuais.”

É no inciso IV que reside a imutabilidade da idade de imputabilidade

penal, pois esse preceito se insere nos direitos e garantias individuais.

A maioridade penal, portanto, não pode ser objeto de deliberação pelo

Congresso.

O Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

(Conanda), anteriormente, já barrou o tema com mandado de segurança no Supremo

Tribunal Federal (STF) para bloquear a tramitação no Congresso da Proposta de

Emenda Constitucional que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos. O instrumento

foi utilizado com base no entendimento de que a medida é inconstitucional, sob o

argumento de que a maioridade penal é uma cláusula pétrea da Constituição.

A ação teve o apoio da Associação Brasileira de Magistrados e

Promotores de Justiça da Infância e da Juventude e foi redigida pelo jurista Dalmo

Dallari. Segundo a Constituição, não pode ser objeto de deliberação emenda tendente a

abolir os direitos e garantias individuais. E não responder criminalmente é direito

individual do menor.

Frequentemente, os defensores da redução da maioridade penal

argumentam que se um jovem de 16 anos pode votar, também pode responder

penalmente como um adulto. Isso é uma falácia. Nessa idade, o voto não é obrigatório e,

o mais importante, a pessoa de 16 anos não pode ser votada, ou seja, não pode se eleger.

Contudo, as principais razões pelas quais não há sentido em reduzir a

idade de imputabilidade penal são as seguintes:

1 – Segundo texto do Padre Joacir Della Giustina, da Pastoral do Menor,

o último Censo revelou que o percentual de adolescentes infratores no Brasil

corresponde a 0,1% da população, ou 20 mil pessoas. Desse contingente, apenas 6 mil

cometeram crimes alta periculosidade. Enquanto existem 87 delitos graves cometidos

por adultos para cada 100 mil habitantes, existem apenas 2,7 infrações graves praticadas

por adolescentes.

2 – Outro argumento bastante usado pelos defensores da redução da

maioridade penal é o de que os criminosos adultos usam menores de idade para cometer

crimes em seu lugar porque, em caso de serem apanhados, não sofreriam penas tão

graves. Isso é uma bobagem extrema porque se estabelecermos a idade penal em 16

anos, os criminosos usarão jovens de 15, 14, 13 anos. Isso se houvesse esse surto de

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crimes cometidos por menores, o que não é verdade.

3 – Ao colocar aspirantes ao crime para cumprir pena com criminosos

seniores, a sociedade estaria aumentando o contingente de criminosos perigosos, já que

o sistema penal brasileiro atua no sentido de punir e não de recuperar os que infringem a

lei, sempre sob aquele conceito estúpido de que criminosos são irrecuperáveis, o que

todos os países mais desenvolvidos já descobriram, há muito, que não é verdadeiro.

4 – A redução da maioridade penal atingiria desigualmente os infratores

de diferentes classes sociais. Todos sabemos que não haveria redução igualitária da

maioridade penal; essa redução seria efetiva para os mais pobres, os filhos das classes

mais abastadas se safariam com bons advogados que o dinheiro pode comprar.

A PEC nº 21 (2013) de autoria do Senador Álvaro Dias, visa a alteração

do artigo 228 da Constituição Federal, a fim de que a maioridade penal seja a partir dos

15 (quinze) anos de idade. Em resumo, fundamenta que o critério utilizado para a

determinação da faixa etária ainda constante no texto constitucional, biológico,

considerou que os indivíduos com idade inferior a 18 (dezoito) anos não possuem

compreensão suficiente para se autodeterminarem perante a sociedade e, portanto, não

podem ser punidos penalmente. Ocorre que, em seu entendimento, tal critério não está

de acordo com a realidade, uma vez que vislumbra-se atualmente que os jovens

possuem compreensão das consequências de suas atitudes de forma bem mais precoce

do que a indicada pela legislação vigente, devido a constante evolução da sociedade.

Ao final da PEC 21 (2013), menciona-se como argumento o fato de o

crime constituir um dos maiores problemas enfrentados pela sociedade, tendo como

autores, em muitas das vezes, indivíduos jovens, menores de 18 (dezoito) anos. Além

disso, justifica a redução no fato do adolescente de 16 (dezesseis) anos poder votar e o

de 14 (quatorze) poder trabalhar, o que indica que os menores de 18 (dezoito) anos

possuem sim capacidade de compreensão de seus atos praticados suficiente para lhes

considerarem imputáveis.

A PEC 33 (2012), que tem como autor o Senador Aloysio Nunes Ferreira

e outros, de forma diversa da PEC tratada anteriormente, visa a alteração do artigo 228,

acrescentando um parágrafo único, onde dispõe a possibilidade do Ministério Público

propor um incidente de desconsideração da inimputabilidade do adolescente que possui

mais de 16 (dezesseis) e menos de 18 (dezoito) anos, devendo observar ainda os

seguintes critérios:

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I - Propositura pelo Ministério Público

especializado em questões de infância e

adolescência;

II - julgamento originário por órgão do judiciário

especializado em causas relativas à infância e

adolescência, com preferência sobre todos os

demais processos, em todas as instâncias;

III - cabimento apenas na prática dos crimes

previstos no inciso XLIII, do art. 5º desta

Constituição, e múltipla reincidência na prática

de lesão corporal grave e roubo qualificado;

IV - capacidade do agente de compreender o

caráter criminoso de sua conduta, levando em

conta seu histórico familiar, social, cultural e

econômico, bem como de seus antecedentes

infracionais, atestado em laudo técnico,

assegurada a ampla defesa técnica por

advogado e o contraditório;

V - efeito suspensivo da prescrição até o

trânsito em julgado do incidente de

desconsideração da inimputabilidade.

VI - cumprimento de pena em estabelecimento

separado dos maiores de dezoito anos. (PEC nº 33, 2012)

Além da observância das especificidades acima mencionadas, os casos

em que poderá ser instaurado o incidente em comento serão determinados através de Lei

complementar.

Esta proposta prevê ainda a alteração do artigo 129 da Constituição

Federal (1988), que trata das atribuições do Ministério Público, modificando o seu

inciso I, acrescentando a competência para propor o incidente de desconsideração da

inimputabilidade do adolescente que possua mais de 16 (dezesseis) anos e menos de 18

(dezoito) anos de idade.

Adentrando na justificação da PEC 33 (2012), infere-se que o projeto

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está pautado, inicialmente, nas inúmeras discussões travadas na sociedade brasileira,

mencionando ainda a existência de diversas propostas de emendas a Constituição que

não prosperaram devido ao desvirtuamento das discussões, onde as posições se

radicalizaram, impedindo a concretização de um acordo.

Mencionam ainda a PEC 478/2007, que tramitou juntamente com mais

seis propostas, sendo que, à todas, foram apresentadas substitutivas. Em seu relatório foi

proposto a redução da maioridade penal para os 16 (dezesseis) anos de idade,

condicionando a imputabilidade dos adolescentes até os 18 (dezoito) anos à capacidade

de compreenderem o caráter ilícito do fato, o que seria determinado por perito nomeado

pelo magistrado.

Na proposta mencionada dentro da PEC 33/2012 foi estabelecido que as

penas pudessem ser substituídas por medidas socioeducativas nos crimes diversos do de

tortura, terrorismo, tráfico ilícito de entorpecentes e dos previstos na Lei 8.072/90

(Crimes Hediondos). Além disso, previu a determinação de cumprimento de pena em

estabelecimento diverso do destinado aos apenados maiores de 18 (dezoito) anos. A

citada proposta foi aprovada na CCJ pelo placar de 12 a 10, o que demonstra a

segmentação das posições, onde todas possuem argumentos concretos e relevantes.

Ainda dentro das justificações da PEC 33 (2012), argumentam que

atualmente vislumbra-se a utilização de menores de idade, por criminosos maiores, na

prática de condutas criminosas, tendo em vista a impunidade que o ECA e Constituição

lhes conferem.

Outro ponto citado que se mostra interessante, são casos reais que

revelam a ineficiência do sistema atual e indicam a capacidade de alguns menores de

idade em compreenderem perfeitamente a complexidade de seus atos delituosos

praticados. Outro dado que foi colacionado nesta PEC e chama a atenção, pois

comprova a alta taxa de reincidência dos adolescentes infratores atualmente, foi uma

pesquisa realizada pelo CNJ, denominada “Panorama Nacional, a Execução das

Medidas Socioeducativas de Internação”, a qual constatou, entre mais de 10 % (dez por

cento) dos jovens internados no país, que 43,3 % (quarenta e três, três por cento) já

haviam sido internados em outra oportunidade. Considerando os processos de execução

de medida socioeducativa em andamento na época, cerca de 14.613, o CNJ chegou a

porcentagem de 54% (cinquenta e quatro por cento) de reincidência. (BRASIL, PEC 33,

2012)

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Em que pese os dados supramencionados, na PEC 33 (2012) ressaltou-se

a qualidade do ECA e necessidade do Estado em promover os meios necessários para

que atenda suas determinações de forma plena, além do que, frisou também que as altas

taxas de reincidência não querem dizer que os adolescentes são irrecuperáveis.

Entretanto, sobrelevou-se que ficou demonstrado a sensação de impunidade que a

legislação especial transmite aos menores e maiores que dela se aproveitam de forma

negativa.

Foi reiterado o caráter pedagógico da proposta, uma vez que os

adolescentes que reincidirem na prática de atos infracionais poderão ter sua

inimputabilidade desconsiderada, trazendo maior insegurança aos mesmos na prática

destas deploráveis condutas. Destacou-se também a intenção em manter o limite de

idade atual, entretanto, possibilitando que possa haver exceções em situações especiais,

sendo a proposta uma norma de eficácia limitada, necessitando de complementação

através de Lei Complementar. (BRASIL, PEC 33, 2012).

A PEC 83 (2011) é justificada, inicialmente, no fato de que ocorreu uma

grande evolução social no país, onde as crianças e adolescentes de hoje possuem bem

mais acesso aos meios de informação, educação e comunicação, de forma que seu

amadurecimento social ocorre cada vez mais cedo, fazendo com que tenham

consciência de seus deveres e direitos cada vez mais cedo e, portanto, estão aptos a

agirem em conformidade com as leis.

Menciona-se ainda o reconhecimento dessa evolução pelo ordenamento

jurídico brasileiro, citando exemplos como a possibilidade do adolescente de dezesseis

anos votar. Citou-se também a redução da maioridade civil ocorrida com o advento do

Código Civil de 2002. De um modo genérico, esta proposta visa o tratamento do maior

de 16 (dezesseis) anos como adulto perante as leis, conferindo-lhe, não só na esfera

penal, mas em todos os ramos do direito, todos os direitos e deveres inerentes aos

plenamente capazes.

A primeira Proposta de Emenda (PEC) foi a de nº171 feita por Benedito

Domingos do partido progressista do DF. Hoje temos 29 propostas na Câmara dos

Deputados e 11 propostas no Senado Federal, sendo que das 40 PECs, 24 falam apenas

sobre a redução para 16 anos as outras falam da redução apenas em crimes específicos,

como crime hediondo ou quando houver reincidência do crime, entre outros.

Mas deve ser observado antes de adentrar na constitucionalidade ou não

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do caso apresentado, que a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) não pode abolir

os direitos e garantias, mas pode ampliar ou modificar, desde que não atinja o núcleo

essencial do artigo. Com isso, se inicia uma discussão jurídica da possibilidade ou não

da redução da idade penal, devendo ser observado que há também uma discussão social

que passo a explanar através das duas correntes.

A corrente que é favorável a redução para 16 anos defende que o núcleo

essencial do artigo 228 é a inimputabilidade, ou seja, a falta de discernimento da criança

e adolescente para entender o caráter ilícito do fato, não tendo nada a ver com a idade

18 anos, podendo ser aumentada ou diminuída. Alguns dessa corrente defendem ainda

que o artigo 228 da CF nem mesmo é uma clausula pétrea.

Parte da opinião pública e dos políticos que fizeram as PECs defendem a

redução penal como forma de coibir a violência que os adolescentes vem causando à

sociedade. Defendendo a tese de que essa inimputabilidade viabiliza uma garantia aos

adolescentes para cometer atos infracionais, pois os jovens entre 16 e 17 anos já tem

total entendimento do que é certo, errado, do que é violência e crime e essa corrente

entende que o jovem não recebe a devida punição, muitas vezes utilizado má-fé por

conta dessa proteção que o ECA resguarda.

Dizem, ainda, que essa redução não se trata de uma vingança repressiva

da sociedade para com os jovens, mas sim de uma medida para o combate relacionados

à violência e insegurança social. Que jovens de 16 anos já podem casar com autorização

dos pais, já podem votar, criar um filho, ter emancipação se tiver economia própria, ter

relação de emprego, ter estabelecimento civil e comercial, mas não podem responder

criminalmente.

A redução é vista por essa corrente, por um ângulo que proporcionará a

sociedade mais segurança e ordem social, pois a sociedade repudia por inteiro

comportamentos que atentam contra a vida e a integridade do ser humano.

Tem a corrente que não é favorável à redução da maioridade penal, pois

diz que o núcleo essencial do artigo é a idade 18 anos, não podendo sofrer alterações,

primeiro porque a constituição é adepta ao critério biológico e segundo por já ter

assinado tratados internacionais para não redução da idade 18 anos, entendendo assim

que toda e qualquer proposta tendente a diminuir é inconstitucional.

Essa corrente entende que há uma imaturidade no adolescente que lhe é

própria, devido a sua formação de mente e valores morais e éticos. E que geralmente

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não atingiu o desenvolvimento físico, emocional e intelectual mudando de mentalidade

constantemente, o que pode acabar o recuperando com mais facilidade. Isso não

significa que ele não saiba o que está fazendo, mas acaba cometendo atos infracionais

por diversos fatores que decorreram em sua vida quando criança como: problemas

psicológicos e psiquiátricos, depressão, rejeição dos pais e dos familiares, transtornos de

conduta, abusos sexuais, morais, falta de estruturação familiar onde ao pais são

dependentes químicos, estão presos. Falta de escolas publicas bem estruturadas, má

influencia de adultos, entre outros fatores.

12.2 A PROPOSTA DE EMENDA CONSTITUCIONAL 173/93

O Projeto de Emenda Constitucional - PEC – 173/93 trás em seus

dispositivos a redução da maioridade dos 18 para os 16 anos, o qual até o ano de 2015

nunca havia sido votado. A proposta tramitava no Congresso há mais de vinte anos e a

ela já foram anexados mais de dez projetos de lei, de 14 deputados diferentes, incluindo

um que estabelece a maioridade aos 14 anos.

O deputado, Benedito Domingos, do PPB, acredita que a redução da

maioridade diminuiria a criminalidade entre os jovens porque isso os faria pensar duas

vezes antes de cometer uma infração. "Você só respeita aquilo que você teme. Se

acreditar que com 17 anos não vai acontecer nada com você, vai praticar o crime",

afirma o Deputado Jair Bolsonaro.

De acordo com uma pesquisa divulgada em setembro pela Agência

Estado, 87,9% dos brasileiros são a favor da redução da idade penal de 18 para 16 anos.

A pesquisa foi realizada nas principais capitais e nas grandes cidades do país, entre os

meses de julho e agosto, pela Toledo & Associados, que ouviu 3,1 mil pessoas.

A mesma pesquisa também apontou que a maioria dos entrevistados é

favorável à pena de morte e à utilização das Forças Armadas nas cidades em alguns

casos, como para combater o tráfico de drogas.

A matéria foi aprovada em primeiro turno no início de julho, com 323

votos favoráveis e 155 contra, sob protestos de deputados contrários à mudança

constitucional. Um texto um pouco mais abrangente havia sido rejeitado pelo plenário

na véspera, mas após uma manobra regimental, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha

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(PMDB-RJ), colocou o tema novamente em votação e o texto acabou passando.

Pela proposta aprovada pela Câmara, os jovens de 16 e 17 anos terão que

cumprir a pena em estabelecimento penal separado dos menores de 16 e maiores de 18.

Após completar 18 anos, eles irão para presídios comuns.

Ocorre, que tal ato realizado pela Câmara dos Deputados, afronta de

forma expressa e violenta as denominadas Clausulas Pétreas, garantias do nosso Estado

Democrático de Direito.

Na madrugada de 1º de julho de 2015, a Câmara dos Deputados rejeitou

um substitutivo que previa a redução da maioridade apenas para crimes previstos

no Inciso 43 do artigo 5 da Constituição Federal (prática da tortura, tráfico de

drogas, terrorismo e crimes hediondos), homicídio doloso, lesão corporal grave, lesão

corporal seguida de morte, roubo com causa de aumento de pena. Foram 303 votos a

favor, 184 contra e três abstenções. O número mínimo de votos para aprovação era 308.

No entanto, Eduardo Cunha, que é favorável à redução, afirmou que a

votação ainda não teria acabado ali, devendo ser votadas outras propostas alternativas

de redução da maioridade, inclusive o texto original, mais rigoroso, que previa a

manutenção da redução para todos os crimes.

Na madrugada de 2 de julho de 2015, a Câmara dos Deputados aprovou a

PEC de redução de 18 para 16 anos a maioridade penal para crimes

hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte, seguindo o texto para

votação em segundo turno, para então seguir para aprovação no Senado Federal. Foram

323 votos a favor (eram necessários 308 votos), duas abstenções e 155 contra. No texto

aprovado, menores de 16 e 17 anos cumprirão a pena em estabelecimento penal

separado dos menores de 16 e maiores de 18.

A Câmara dos Deputados rejeitou na madrugada desta quarta-feira (1º) a

PEC (Proposta de Emenda Constitucional) 171/93, que previa a redução da maioridade

penal de 18 anos para 16 anos de idade para os crimes considerados "graves". No total,

a proposta recebeu 184 votos contra, 303 votos a favor e 3 abstenções - por se tratar de

emenda constitucional, eram necessários 308 votos a favor para que fosse aprovada. A

votação contrária à proposta é vista como um duro golpe ao presidente da Câmara,

Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos principais incentivadores da medida.

Como o texto rejeitado foi o substitutivo apresentado pelo relator Laerte

Bessa (PR-DF), a Câmara poderá votar, ainda nesta quarta-feira, a proposta original

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apresentada pelo ex-deputado federal Benedito Domingos (PR-DF), que prevê a

redução da maioridade penal de 18 para 16 anos de idade para todos os crimes, e não

apenas para os crimes hediondos e outros tipos considerados graves.

Desde que voltou a tramitar na Câmara, a PEC da maioridade penal foi

alvo de inúmeras polêmicas. Organizações em defesa dos direitos humanos como a

Anistia Internacional, Human Rights Watch e organismos internacionais como o Unicef

(Fundo das Nações Unidas para a Infância) se manifestaram contra a medida alegando

que não há indícios de que a redução da maioridade penal iria contribuir para a redução

da violência.

O governo também se posicionou contrário à proposta. Em abril, a

presidente Dilma Rousseff (PT) declarou ser contra a proposta. Em seu perfil no

Facebook, a presidente argumentou que "os adolescentes não são responsáveis por

grande parte da violência praticada no país".

Nesta terça-feira, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que

também diz ser contra a medida, comparou o impacto da redução da maioridade penal a

uma "bomba atômica". "Não vejo consequência só para o governo, vejo para o país. É

uma bomba atômica para o sistema prisional dos Estados", disse.

A derrota da proposta que previa a redução da maioridade penal é vista

como uma vitória do governo, que se articulou junto a setores da oposição, inclusive do

PSDB, para encontrar uma alternativa à PEC.

Entre as medidas apresentadas pelo governo, estão projetos de lei que

alterem o ECA e aumentem as penas de internação a jovens infratores. Hoje, a pena

máxima de internação para um menor de idade é de três anos de reclusão. O governo já

acena com projetos que preveem uma ampliação dessas penas para até oito anos.

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13. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Muito embora os menores de dezoito anos sejam considerados

inimputáveis perante a lei penal, os mesmos estão sujeitos a responsabilização perante a

legislação especial, no caso, o Estatuto da Criança e do Adolescente, instituído pela Lei

n.º8.8.069 de 13 de julho de 1990 (ECA)

É evidente que existe punição e que a inimputabilidade não significa

impunidade já que os adolescentes que praticam atos infracionais ficam regidos pelas

medidas socioeducativas onde são sim responsabilizados pela sua conduta infracional,

ou seja, punidos, nos termos da legislação especial.

Mais do que impossibilidade jurídico-constitucional, a intenção alardeada

por certos partidos de colocarem em tramitação na Câmara Proposta de Emenda

Constitucional (PEC) com o fim de reduzir para 16 anos a idade de responsabilização

penal é um espetáculo cujo objetivo é tirar a atenção da responsabilidade do Estado

sobre os menores, e continuar a punir quem sofre desde sempre com o abandono do

mesmo.

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