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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ CASSIA GARCIA FURTADO A SEMIÓTICA NO PROCESSO DA ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICA: PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS NO ENSINO DA ARTE CURITIBA 2013

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

CASSIA GARCIA FURTADO

A SEMIÓTICA NO PROCESSO DA ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICA:

PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS NO ENSINO DA

ARTE

CURITIBA

2013

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CASSIA GARCIA FURTADO

A SEMIÓTICA NO PROCESSO DA ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICA:

PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS NO ENSINO DA

ARTE

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado junto ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção de grau de licenciado em Pedagogia. Orientação: Profª. Ma. Maria Francisca Vilas Boas Leffer

CURITIBA

2013

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais que permitiram meus

estudos desde minha infância;

a todos os professores que me ensinaram

conteúdos diversos desde a fase de alfabetização e letramento,

de modo a possibilitar meu ingresso no curso de Pedagogia;

À Prof.ª Mestre Maria Francisca Vilas Boas Leffer,

pela orientação e apoio durante a construção deste

trabalho, que permitiu-me adquirir conhecimentos

valiosos quanto às áreas de Artes, Semiótica e Intersemiótica.

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EPÍGRAFE

“Ao Mestre com carinho”

UMA HOMENAGEM PÓSTUMA AO NOSSO QUERIDO MESTRE DA SEMIÓTICA – Dr. DÉCIO PIGNATARI

Décio Pignatari (1927-2012) – Foi um dos grandes autores da poesia concreta brasileira. Um dos fundadores da Associação Internacional de Semiótica (AIS) em 1969 e da Associação Brasileira de Semiótica (ABS) 1975. Ocupou uma das cadeiras no Mestrado de Comunicação e Linguagem da Universidade Tuiuti do Paraná de 2000 a 2010.

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RESUMO

O objeto deste trabalho é discutir no contexto de bases semióticas, propostas e experiências contemporâneas de práticas pedagógicas no ensino da Arte. As ações que aconteceram no processo da pesquisa trouxeram como objetivos específicos: definir a arte como linguagem e cultura; levantar referências sobre os conceitos de alfabetização estética, semiótica, intersemiótica; e apresentar propostas e experiências de práticas pedagógicas de educadores e arte-educadores concernentes às relações intersemióticas no ensino da arte. Como fonte utiliza a pesquisa bibliográfica e registros pessoais de experiências em salas de aula relacionadas às questões de leituras intersemióticas. A análise das propostas e das experiências de práticas pedagógicas em relação à semiótica e a intersemiótica, permitiu inferir que a semiótica como ciência das linguagens, auxilia no processo de alfabetização estética, e nas discussões contemporâneas no ensino da arte. Isto pode ocorrer por meio de práticas de leituras e releituras às quais permitam a livre-expressão, a prática de posturas interdisciplinares e a criticidade a ser desenvolvida por parte do aluno com a progressiva extensão de conteúdos a serem trabalhados na decodificação e codificação de signos em textos e intertextos. As propostas que foram apresentadas proporcionaram a oportunidade de uma reflexão apurada nas abordagens sobre um olhar mais sensível e crítico relacionado à comunicação, à imaginação e a ampliação de conhecimentos, por meio da apreensão de diferentes signos, os quais permitem representar e dar sentido às coisas do mundo.

Palavras-chave: Semiótica; Inter-Semiótica; e Alfabetização Estética.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 – CARRETEL AZUL DE IBERÊ CAMARGO.................................................39

FIGURA 2 – AMAÚ TURN AROUND DE MIGUEL RIO BRANCO................................39

FIGURA 3 – PÁSSARO DE PAPELÃO DE ALFREDO VOLPI.......................................40

FIGURA 4 – SEM TÍTULO DE JOÃO R. RIPPER...........................................................45

FIGURA 5 – MULHER PASSANDO ROUPA DE FERNANDO V. DA SILVA.................47

FIGURA 6 – LARGO DA ORDEM DE PAUL GARFUNKEL............................................47

FIGURA 7 – AS LAVADEIRAS DE GUIDO VIARO.........................................................48

FIGURA 8 – SEM TÍTULO - DE CAMILA BUTCHER....................................................48

FIGURA 9 – MATERNIDADE DE DI CAVALCANTE......................................................49

FIGURA 10 – SEM TÍTULO - WALTER FIRMO..............................................................51

FIGURA 11 – SEM TÍTULO - EVANDRO TEIXEIRA......................................................52

FIGURA 12 – SEM TÍTULO - LINA FARIA.....................................................................53

FIGURA 13 – SEM TÍTULO - LUIZ BRAGA....................................................................54

FIGURA 14 – GAGARIN - POEMA VISUAL DE CASSIANO RICARDO........................56

FIGURA 15 – GAGARIM – RELEITURA – MARIA FRANCISCA V. B. LEFFER...........57

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................ ........8

2 UM BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DA ARTE NA CONTEMPORANEIDADE: ARTE COMO LINGUAGEM E CULTURA...............................................................................................13

3. ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICA: SENSIBILIDADE E COGNIÇÃO...........17

4 NOS CAMINHOS DA SEMIÓTICA.........................................................27

4.1 INTERSEMIÓTICA: UMA TRADUÇÃO ENTRE SIGNOS.......................31

5 PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, CONCERNENTES ÀS RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS................................................................................37 5.1 LEITOR DE IMAGENS _ “AGORA EU ERA” - A LEITURA DA IMAGEM NA SENSIBILIZAÇÃO E NA EDUCAÇÃO DO OLHAR............38

5.2 LEITURAS INTERSEMIÓTICAS:UMA EXPERIÊNCIA NA DISCIPLINA: METODOLOGIA DO ENSINO DA ARTE II DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ 2009...............43

5.3 POEMA VISUAL - UMA PROPOSTA DE LEITURA.................................54

5.3.1 Produção da leitura intersemiótica: Transcriação ou operação intersemiótica............................................................................................56

5.3.2 Tradução Intersemiótica / Releitura ...................................................... ...57

5.3.3 Memorial Descritivo sobre a Figura 15 - leitura intersemiótica, as relações intertextuais.......................................................................................57 6 ANÁLISE DAS PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS................................................................................59

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................60

REFERÊNCIAS...................................................................................................62

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1 INTRODUÇÃO

No percurso de minha jornada acadêmica no Curso de Pedagogia passei por

diversas experiências, das mais variadas formas de conhecimento. Em meus

estágios obrigatórios e não obrigatórios em educação infantil e anos iniciais do

ensino fundamental, pude perceber a existência do uso muito frequente de leituras

de imagens, e de histórias infantis, como base para a linguagem do desenho, como

forma de releitura. Essas me chamavam a atenção pela motivação, muitas vezes,

visíveis por parte das crianças. Quando tive contato com a Disciplina de

Fundamentos Teóricos e Metodológicos do Ensino da Arte I e II, nesta Universidade,

foi que compreendi, as possibilidades das relações entre as mais variadas formas

linguagens, por meio de leituras intersemióticas. Assim, este Trabalho de Conclusão

de Curso tem uma intencionalidade projetada para o meu futuro profissional, no

trabalho com as crianças. E, ainda, deixar esta pequena contribuição, da minha

produção acadêmica, em meu oitavo período do Curso de Pedagogia, contemplada

com propostas e experiências nesta referida área.

Assim, o objeto da investigação deste trabalho está relacionado à semiótica

no processo de alfabetização estética, nas experiências e práticas pedagógicas

contemporâneas no ensino da arte.

A discussão do tema dar-se-á sobre as relações entre os signos,

configurando o diálogo entre textos verbais e não verbais, na aproximação do

entendimento das propostas trabalhadas no âmbito da educação escolar, tendo em

vista, a aprendizagem significativa oriunda de relações intersemióticas, nas

mediações pedagógicas em termos de apreensão da decodificação e codificação de

signos, compreendendo-se o desenvolvimento da apreciação e valorização de

leituras intertextuais.

Percebe-se que existem dinâmicas de trabalhos relacionados à semiótica e

a intersemiótica, em práticas escolares, quase que diariamente, de forma

espontânea, por parte de professores e alunos. Têm-se, por exemplo: quando os(as)

professores(as) pedem para as crianças desenharem a historinha que acabaram de

ouvir, ela está trazendo uma atividade ou uma dinâmica numa relação que possui

signos e significados diferentes. Ali se está produzindo por meio das linguagens

verbal e visual, relações intersemióticas Por isso, existe uma necessidade de se

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melhor aproveitar as reflexões das crianças, dando-lhes espaço para que possam

ampliar suas leituras de mundo por meio de sinais variados.

Pela prática dos estágios e das observações, foi possível perceber que em

anos iniciais do ensino fundamental há um direcionamento mais incisivo para o

ensino das disciplinas de Matemática e Português, em detrimento das outras áreas

do conhecimento, inclusive, o ensino da Arte. É importante que exista uma

preocupação em relação a esta questão, uma vez que se trata de um trabalho que

possa constituir um suporte escolar que se remete ao exercício da sensibilidade,

criticidade e conscientização das diversas linguagens manifestadas no cotidiano do

estudante.

Assim sendo, a discussão está sobre o campo da semiótica nas relações

intertextuais, da qual, podem ser atingidas de modo benéfico as demais áreas do

conhecimento, via estratégias interdisciplinares, numa esfera multicultural. Essa

prática docente pode ajudar o aluno a tornar-se mais sensível em relação à leitura

das diversas linguagens, criando assim, um pensar estético imerso em uma

contextualização esclarecedora.

Vale destacar que a lingüística trata tão somente dos signos da linguagem

verbal. Já a semiótica, trabalha com toda e qualquer forma de linguagem, de

maneira que a experiência de uma leitura intersemiótica possa facilitar e enriquecer

o processo de desenvolvimento cognitivo da criança, relacionado ao seu cotidiano

na recepção de códigos das mais variadas informações.

Assim, a referida produção acadêmica corresponde à temática “A semiótica

no processo de alfabetização estética”, destacando propostas, experiências e

conteúdos, tratando da semiótica e intersemiótica no contexto de uma visão

contemporânea no ensino da Arte.

Para tanto, a concepção de arte aparecerá como linguagem e cultura, como

produto da relação do homem com a natureza, presente desde suas primeiras

manifestações. Pois é sabido que, em seu percurso de evolução o ser humano, por

meio de símbolos e sinais, foi se relacionando com o seu mundo, criando

alternativas de sobrevivência.

Atualmente, a abordagem contemporânea no ensino da Arte no Brasil é

associada ao desenvolvimento cognitivo. Nesse movimento se afirma a eficiência da

arte para desenvolver formas de pensar, diferenciar, comparar, conceber

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possibilidades, construir e formular hipóteses. Há um esforço para se entender a arte

na educação, em relação à cultura em que se insere, na geração de estudos

significativos. Nesta perspectiva, a educação configura-se de acordo com os seus

quatro pilares, como um processo de aprender a conhecer, aprender a criar,

aprender a viver com o outro e aprender a ser, de modo que ela seja mediatizada

pelo mundo em que se vive, pela cultura influenciada por linguagens, crenças,

necessidades e valores.

Desta forma, as novas tendências contemporâneas em educação

correspondem a desafios para serem empreendidos e indicam novos caminhos num

movimento de desconstrução e reconstrução dos conceitos clássicos, buscando a

efetivação de uma aprendizagem significativa, com o intuito de produzir sentido aos

conteúdos conceituais, procedimentais, factuais e atitudinais ofertados pela escola.

Nessas linhas de tendências, as pesquisas em alfabetização estética vêm

contribuindo para a compreensão da aprendizagem no âmbito do ensino da Arte.

Estas, capazes de apoiar as áreas em que sejam previstos os conhecimentos, em

suas variadas formas de expressão e comunicação, e de compreensão das

mensagens cotidianas, obtidas na natureza e na produção humana. Depreende-se

disto, a necessidade do desenvolvimento de práticas pedagógicas que incentivem,

um esforço oriundo de experiências às quais preparam o aluno para ser

interpretante crítico do mundo, configurando-se, de tal modo, um efeito de

sensibilização estética nas relações entre as diversas linguagens.

Estabelece-se nesta perspectiva, por meio da semiótica, uma ação na qual

se desenvolve a cognição do aluno, em havendo sentido de aprendizado pelos

significados das relações entre as várias expressões do conhecimento humano.

Esta pesquisa trata da Semiótica como possível parceira nas discussões das

práticas pedagógica no ensino da Arte. Assim, ela contempla conceitos de semiótica

e de intersemiótica com base nos estudos remetentes ao ensino desta área do

conhecimento, trazendo a imagem e outras formas de linguagens, como um texto

repleto de sentidos, que tem em seus elementos uma organização presente nas

expressões. De modo que a discussão do tema deu-se sobre as relações entre os

signos, configurando o diálogo entre os diversos textos e intertextos, possíveis de

serem trabalhados no âmbito da educação escolar.

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Sabe-se que num trabalho de conclusão de curso, não se consegue uma

análise mais profunda sobre questões da semiótica e dos seus processos

significativos. O que se pretende aqui é discutir, num contexto de bases semióticas,

propostas contemporâneas no ensino da Arte.

Para estas discussões a pesquisa trouxe como problema, a seguinte

questão: a semiótica como ciência dos signos das linguagens, auxilia no processo

de alfabetização estética, nas propostas contemporâneas no ensino da Arte?

Tem-se como hipótese, de que a semiótica pode enriquecer o processo de

alfabetização estética pelas possibilidades que se dá de entendimento nas

interações dos signos. Pois, trata-se de mediação pedagógica em termos de

apreensão da decodificação e codificação de signos, compreendendo-se a

funcionalidade destes, em diversas linguagens.

Desta forma, esta pesquisa apresenta como objetivo geral: discutir num

contexto de bases semióticas, propostas e experiências contemporâneas de práticas

pedagógicas no ensino da Arte.

Assim, as ações dos objetivos específicos, que aconteceram no processo da

pesquisa para atingir o objetivo principal foram: definir a arte como linguagem e

cultura; levantar referências sobre o conceito de alfabetização estética, semiótica e

intersemiótica; e apresentar experiências e práticas pedagógicas de educadores e

arte-educadores concernentes às relações intersemióticas no ensino da arte.

Os teóricos que sustentaram a pesquisa destacam-se: Lúcia Santaella nas

discussões teóricas da Semiótica e leituras intersemióticas; Charles Sanders Peirce,

nas citações de Santaella, relacionadas ao estabelecimento de uma rede de

classificações dos tipos possíveis de signo; Júlio Plaza, na questão da tradução

intersemiótica como pensamento em signo; Anamelia Bueno Buoro (Org.) nas

análises e definição de alfabetização estética e nas propostas de ensino da arte

contidas no projeto “O leitor de Imagens” do Projeto Arte na Escola, juntamente com

as demais autoras: Beth Kok e Eliana Aloia Atihé; Ana Mae Barbosa nas abordagens

da Arte/Educação contemporânea. Como consulta de documentos: a nova versão da

LDB 9394/96 com a LEI Nº 12.287, DE 13 DE JULHO DE 2010, que estabelece as

diretrizes e bases da educação nacional, no tocante ao ensino da Arte; os

Parâmetros Curriculares Nacionais (1997); também foram analisados registros

particulares concernentes a práticas pedagógicas da professora Maria Francisca

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Vilas Boas Leffer, na Disciplina de Ensino da Arte II, que teve como objetivo

trabalhar leituras intersemióticas como forma de ensaio, para enriquecer o

aprendizado artístico e estético dos(as) futuros(as) pedagogos(as), por meio de

textos visuais numa tradução para a linguagem poética. Ainda relacionada à

pesquisa de registros particulares, foi analisado o material de um trabalho realizado

em 1993, no Curso de Especialização em ARTES – ARTES PLÁTICAS, na

Disciplina de SEMIÓTICA, ministrada pela professora Denise Guimarães da

Universidade Federal do Paraná, promovido pela então Faculdade de Artes do

Paraná, situada na Rua Paula Gomes, no Bairro São Francisco em Curitiba.

Desta forma, a perspectiva teórico-metodológica que orientou esta pesquisa

pode ser caracterizada nos seguintes modos: para atingir os objetivos propostos,

foram realizadas pesquisa bibliográfica e pesquisa em registros e anotações

particulares, com narrativas escritas sobre experiências de leituras intersemióticas

no contexto da educação formal.

Para o desenvolvimento do trabalho e sua divisão, deu-se a estruturação

metodológica da seguinte maneira. A primeira parte apresenta a introdução; a

segunda apresenta a pesquisa bibliográfica, dividindo-se em seções: parte dois está

um breve histórico do ensino da Arte na contemporaneidade, com ênfase na arte

como linguagem e cultura; na terceira seção, a discussão de alfabetização estética –

sensibilidade e cognição; na quarta parte, as questões da semiótica, com a

subseção da intersemiótica como tradução entre signos; na quinta seção foram

apresentadas as propostas e experiências de práticas pedagógicas contemporâneas

desenvolvidas por arte-educadores, concernentes à questão da semiótica na

alfabetização estética; na sexta seção é apresentada a análise das propostas e

experiências de práticas pedagógicas. Como sétima parte, estão as considerações

finais.

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2 UM BREVE HISTÓRICO DO ENSINO DA ARTE NA CONTEMPORANEIDADE – ARTE COMO LINGUAGEM E CULTURA

Faz-se necessário esclarecer primeiramente esta apresentação inicial, de

um breve histórico do percurso do ensino da Arte no Brasil, colocando a arte como

linguagem e cultura, para se chegar às discussões sobre a questão da alfabetização

estética, e a semiótica nesse contexto.

Na concepção de arte como linguagem e cultura, Barbosa (2005) traz para

discussão a questão dos esforços que aconteceram nos últimos anos para se

entender a arte na educação escolar, em relação à cultura e o seu contexto.

A concepção de arte como linguagem e cultura, se faz presente desde as

primeiras manifestações humanas que se tem conhecimento, configurando-se como

produto da relação do homem com o mundo, na organização de alternativas como

meio de sobrevivência e desenvolvimento.

Segundo Barbosa (2005), das discussões em torno da Arte/Educação

contemporânea, nos últimos anos, formou-se vários estudos e debates em relação a

inserção do ensino da Arte no contexto de valores culturais. Os estudos recentes

têm partido de um mesmo ponto: o conceito de arte como experiência, já elaborado,

em 1934 por John Dewey. Esse conceito circulou entre os pragmatistas1 e

fenomenologistas2 com sucesso, mas não teve extensa aceitação entre artistas e

críticos de arte durante o alto modernismo. O pós-modernismo retomou esse

conceito tratando de um contextualismo esclarecedor, que permite a ampliação da

noção de experiência, como argumento cognitivista, e lhe dá uma relevante

densidade cultural.

Barbosa (2005, p. 2) traz as seguintes referenciações:

Elliot Eisner3 estabelece uma taxonomia das visões de Arte/Educação que

persistem na contemporaneidade. Suas conceituações de arte e de educação o aproximam de John Dewey e de Paulo Freire. Conceitua

1 Seguidores da doutrina do experimentalismo de Peirce, porque para ele a experimentação faz parte da

determinação de qualquer proposição justificada. (ABBAGNANO, 2000, p.784). 2 Método de investigação filosófica fundado por Edmund Husserl. Filosofia descritiva da experiência subjetiva.

(ABBAGNANO, 2000, p.784). 3 Elliot Eisner, é professor emérito de Arte e Educação da Faculdade de Educação da Universidade de Stanford.

EUA.

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educação como um processo de aprender como inventar a nós mesmos. Paulo Freire, menos confiante em nossas invenções pessoais, ensinou que a educação é um processo de ver a nós mesmos e ao mundo a volta de nós. Enquanto Eisner enfatiza a imaginação, Paulo Freire valoriza-a, mas sugere diálogos com a conscientização cultural. Para ambos, a educação é mediatizada pelo mundo em que se vive, formatada pela cultura, influenciada por linguagens, impactada por crenças, clarificada pela necessidade, afetada por valores e moderada pela individualidade.

Estes três grandes filósofos da educação alertam sobre a importância da

arte na exploração de múltiplos sentidos e significações, em relação ao contexto do

mundo cultural. Desta maneira, no que tange às tendências contemporâneas, não

há certo ou errado, mas sim, o que é mais ou menos adequado a determinado

contexto, bem como, o que é mais ou menos significativo e/ou inventivo. Para Eisner

(2002), citado por Barbosa (2005, p. 12) dentre as funções da arte na educação que

se destacam até aos dias de hoje, são:

1. auto-expressão criadora; 2. solução criadora de problemas; 3. desenvolvimento cognitivo; 4. cultura visual; 5. ser disciplina; 6. potencializar a performance, acadêmica; 7. preparação para o trabalho.

Barbosa (2005) vai discutir o último item apresentado acima, relacionado-o à

questão da preparação para o trabalho, como sendo uma função apontada pela

ideologia neoliberal. Buscando na história da educação brasileira as ideias liberais

de Rui Barbosa em relação à formação do trabalhador e do cidadão.

Atualmente, a abordagem de Arte/Educação no Brasil é associada ao

desenvolvimento cognitivo. Embora Eisner (2002) citado por Barbosa (2005) afirme

que a visão da Arte/Educação mais fortemente implantada no imaginário popular é

ligada à expressão criadora difusa, interpretada como algo emocional e não racional,

o movimento de Arte/Educação como cognição impõe-se no Brasil.

Barbosa (2005), faz uma importante declaração dizendo o seguinte:

Na realidade não temos uma Arte/Educação subdesenvolvida, mas sim, pensamento próprio. [...] Dialogamos com o próprio esquema com a Proposta Triangular, inspirada em múltiplas experiências estudadas em diferentes lugares. Hibridizamos falando nossa própria linguagem de necessidades, e somos hoje um dos países que junto com Cuba e Chile, estão na liderança do ensino da Arte na América Latina, com um sistema bem desenvolvido de Arte/Educação. (p.14).

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A Proposta Triangular citada por Ana Mae Barbosa, e criada por ela, vai

nortear todo o processo do Ensino da Arte no Brasil, a partir de década de 90 até os

dias de hoje, com a triangulação: História da Arte, Leitura da obra de Arte e o Fazer

Artístico. Essa proposta está em seu livro: “A imagem no ensino da arte”, da Editora

Perspectiva, 1991. Mais tarde a própria autora reorganiza essa triangulação para a

Leitura de Imagem, Produção e Contextualização. Nessa contextualização inserem-

se as questões estéticas, históricas e culturais das produções artísticas.

Assim, nessas questões de ir e vir em relação a uma proposta de ensino da

Arte, Barbosa (2005), chama a atenção para os anos de ditadura no Brasil e o

processo de redemocratização a partir dos anos 80, com a preocupação plural com

a multiculturalidade. Isto é, o respeito que se deveria ter à produção de todas as

classes sociais, tendo como sustentação as teorias de Paulo Freire.

Nesse processo de reorganização da educação brasileira, e com a visão do

pós-modernismo na Arte/Educação, consolida-se o valor do reconhecimento das

diferenças, com a política multicultural que se desenvolveu no Museu de Arte

Contemporânea de São Paulo de 1987 a 1993, em relação à cultura visual do povo.

A partir dos anos 90 se começa a usar a expressão cultura visual para falar das

“mídias” que traçam o pensar do povo. (BARBOSA, 2005).

Nessa progressão histórica sobre o ensino da Arte no Brasil, e a questão da

cultural visual, Barbosa (2005, p. 17) cita a valiosa colaboração de Rudolf Arnheim4,

um dos expoentes da ideia de arte para o desenvolvimento da cognição. Para ele,

perceber é conhecer. Evidenciou-se que a arte depende do julgamento, mas obriga

a algumas regras, que precisam ser conhecidas antes de ousar desafiá-las. Diz a

autora que essas regras são, para Arnheim, a gramática visual subjacente a todas

as operações envolvidas na cognição, como recepção, estocagem e processamento

de informação, percepção sensorial, memória, pensamento, aprendizagem, dentre

outras.

Barbosa (2005, p. 17) refere-se ainda a Arnheim, dizendo que:

4 Rudolf Arnheim (1904-2007), foi um psicólogo alemão behaviorista. Foi professor de Psicologia da Arte em

Harvard. De acordo com suas ideias, seria impossível pensar sem recorrer a imagens perceptivas, uma vez que o pensamento seria algo eminentemente visual ligado assim, à Psicologia da Forma (teoria da Gestalt). Faleceu com 104 anos.

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Acusado de formalista no início dos anos oitenta, na efervescência do pós-modernismo, Arnheim, entretanto, vem sendo recuperado pelos cognitivistas, pois sua gramática visual não se comprazia apenas na forma, mas derivava de uma negociação contextual mental e se dirigia ao contexto perceptual.

Com essas afirmações de Arnheim, Barbosa (2005) vai dizer que hoje, a

abordagem contemporânea de Arte/Educação está associada ao desenvolvimento

cognitivo. Nesse movimento se afirma a eficiência da arte para se desenvolver

formas sutis de pensar, diferenciar, comparar, generalizar e interpretar. Assim, a

função do ensino da Arte é produzir soluções para a vida de modo que sejam

esteticamente prazerosas e socialmente relevantes, buscando-se, desta forma,

desafiar expectativas tradicionais tratando-se da melhor forma de resolver

problemas.

Nesse processo das considerações deve-se ainda analisar que, com a

Constituição Brasileira 1988, tem-se em 1996, a nova Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB nº 9.394/96) que estabeleceu em seu artigo 26, no

parágrafo § 2º o que segue: “O ensino da arte constituirá componente curricular

obrigatório, nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o

desenvolvimento cultural dos alunos”.

Em 2010 acontece a alteração da LDB 9394/96 com a LEI Nº 12.287, DE 13

DE JULHO DE 2010, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, no

tocante ao ensino da Arte. Aparece no seu Art. 26, um acréscimo:

§ 2o O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (grifo nosso).

Vê-se a preocupação do Estado com a obrigatoriedade no ensino da Arte

em relação à questão cultural ampla, mas em particular as expressões regionais.

Com este breve esclarecimento sobre o norteamento da Arte-Educação

brasileira, a próxima seção tratará das discussões sobre a questão da alfabetização

estética na Arte-Educação contemporânea, com discussões das relações de

intertextos nas linguagens artísticas.

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3 ALFABETIZAÇÃO ESTÉTICA - SENSIBILIDADE E COGNIÇÃO

O termo alfabetização estética trata do processo de desenvolvimento da

sensibilidade do receptor em relação aos códigos da linguagem artística e da

natureza. Este conceito confere ler o mundo de forma sensível e cognoscitiva.

Para Buoro (2002) é preciso estar atento para a questão dos diferentes

tempos de leitura e dos modos singulares de observar as múltiplas linguagens, pois

a alfabetização estética trata de um processo que atua sobre a sensibilidade

humana dos leitores, seja em seu lado emocional ou racional.

Nessa mesma linha de discussão, de acordo com Parâmetros Curriculares

Nacionais (1997), temos:

a educação em Arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico e da percepção estética, que caracterizam um modo próprio de ordenar e dar sentido à experiência humana: o aluno desenvolve sua sensibilidade, percepção e imaginação, tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer as formas produzidas por ele e pelos colegas, pela natureza e nas diferentes culturas. (p. 19).

Sabe-se da importância do desenvolvimento da leitura da imagem nas

tendências contemporâneas do ensino da Arte, na decodificação dos signos das

diferentes culturas. Essa importância da leitura de imagens se dá quando, diante de

construções textuais ao nosso redor, precisamos realizar avaliações e tomadas de

decisões das mais diversas possíveis. Para a apreensão e inteligibilidade de uma

imagem é necessária uma ativação de saberes para que se possa atingir a

significação desta, de modo que ela nos seja útil em nosso cotidiano. Se a arte varia

de acordo com os instrumentos, meios e técnicas historicamente situados, varia

também de acordo com as funções sociais e os valores humanos expressos. Diz a

autora que a relevância da alfabetização estética se mostra na possibilidade de

ofertarmos em sala de aula as condições necessárias para que os estudantes

possam desenvolver habilidades e competências que permitam a realização da

produção, fruição e reflexão de conteúdos artísticos, de modo interdisciplinar de

maneira a possibilitar que conteúdos de diversas áreas do conhecimento sejam

acessados na integração da linguagem não-verbal com a linguagem verbal.

(BUORO, 2002).

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Buoro (2002), focaliza em sua obra: “Olhos que pintam: a leitura da imagem

e o ensino da arte” a necessidade de exercer o processo de construção do leitor

com base na ação deste como decifrador do texto de um autor. Há a possibilidade

da vigência do ato de fruição quando ocorre uma leitura significativa para este leitor.

O maior interesse do trabalho de alfabetização estética volta-se para o leitor como

co-produtor do texto a ser lido, à medida que decifra a mensagem do autor,

estabelecendo relações significativas com a obra de arte pelas vias da operação da

leitura.

A construção do leitor deve compreender a sua alfabetização nos elementos

do sistema da linguagem que lhe interessa dominar. Desta forma, se o sistema é

visual, para que o texto possa ser lido, faz-se necessário que o leitor adquira

conhecimento prévio no que diz respeito a organização do sistema de linguagem

visual. Cada linguagem se estrutura por meio de sistemas específicos

Segundo a Santaella (2012), ao explorarmos as tendências de artes

produzidas na atualidade, nos vemos incertos quanto aos limites, aos gêneros às

identidades e as fontes legitimadoras da arte produzida. Junto com a pintura, a

fotografia também coexiste o vídeo, as instalações, as mídias digitais e os tipos mais

variados de atividades. A autora diz, ainda, que a arte atual está emaranhada numa

rede de forças dinâmicas, tanto pré-tecnológicas quanto tecnológicas, locais e

globais. Estes modos têm expandido significativamente os parâmetros que eram

tradicionalmente levados em consideração para definir as práticas artísticas, bem

como, princípios que podiam sancioná-las institucionalmente de acordo com critérios

de valores estabelecidos.

Desta forma, é possível ver uma multiplicidade de práticas artísticas

contemporâneas, as quais demonstram o grau de liberdade ofertado aos artistas,

desprendidos das amarras da arte padronizada e engessada por parâmetros

estabelecidos oficialmente. Em suma, as práticas atuais contextualizam-se e

operacionalizam-se em redes e circuitos intercomunicantes, ou seja, o ecossistema

das artes tem apresentado potencial para abrigar nichos e circuitos que lhes são

próprios, no entanto, numa condição de liberdade em que são permitidas interações

entre estes nichos. (SANTAELLA, 2012).

Atualmente é possível encontrar formas de relações intertextuais em

linguagens artísticas onde podemos lançar mão da Semiótica e Intersemiótica na

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busca da significação de mensagens verbais e não-verbais do ecossistema acima

mencionado.

Ao ingressar na escola o estudante já traz consigo conteúdos prévios

relativos a formas de construção do espaço dos contatos socioculturais e dos

modelos vividos na pré-escola. Hoje em dia, este estudante enfrenta grandes apelos

oriundos da sociedade de consumo. A comunicação feita pela televisão, por

exemplo, a qual está marcada por modelos estereotipados dificultam a construção

de um conhecimento que seja mais significativo. Para isso Buoro (1996) esclarece:

Junto com a valorização da escrita, há o fortalecimento das preocupações da criança com o julgamento de sua produção. É comum um número grande de alunos perguntar ao professor se o seu trabalho de Arte está certo ou errado. A noção de aprovação e reprovação é tão forte, que eles se sentem tolhidos e inseguros para se expressar. O esteriótipo torna-se alternativa facilmente adotada na expressão plástica por se apresentar como forma segura de representação, um modo de não se arriscar, de não se expor. Essa busca de garantia de aprovação resulta em trabalhos mecânicos, acomodados, sem desafios. (BUORO, 1996, p.36)

Buoro (1996), reforça a importância de não impor imagens aos alunos, bem

como, não dar o trabalho de uma criança como exemplo para outra. A autora afirma

ser necessário tomar cuidados com os apelos das imagens veiculadas pela mídia

onde há modelos prontos. Neste caso, as crianças absorvem estas imagens sem

que haja tempo para serem pensadas, e em medida essa influência enriquece ou

destrói a originalidade nata de uma criança. Não se trata de excluir toda a influência

da mídia e manifestações do senso comum, mas sim, de indicar momentos de

massificação para que possamos tornar o aluno mais crítico e criativo.

Buoro (1996) defende que o conhecimento do aluno consiste na

investigação das diferentes faixas etárias, assim como, da descoberta dos

interesses de cada grupo. É preciso favorecer a autoconfiança, a capacidade de

enfrentar desafios, o autoconhecimento e a imaginação criadora, fomentando o

surgimento da criança inventiva. Torna-se imperativo vincular os sujeitos aos objetos

de conhecimento, levando-os a uma construção de sentido. Vale destacar que para

termos uma criança livre e criativa em seu modo de se expressar devemos nos

basear numa linguagem criada sobre ela e para ela na execução de um plano de

ensino. A autora afirma, ainda, que o professor deve estimular a percepção visual, a

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expressão livre e demais processos de cognição do aluno auxiliando no

conhecimento da linguagem da Arte, de maneira a possibilitar a este a ampliação do

conhecimento do mundo e de si próprio.

Buoro (1996), parte da visão de ensino que entende a Arte como sendo de

fato linguagem constituída de um sistema sígnico, a qual possui uma gramática e

uma sintaxe próprias e que, portanto, pressupõe o ensino-aprendizagem do ato da

leitura. A mesma percebe a importância da defesa da Arte como produto do criar e

construir, sendo impulsionada pelo interesse que se nutre tanto do sensível quanto

do racional.

Nessa abordagem contemporânea do ensino da Arte os encaminhamentos

pedagógicos não se tratam de composições certas ou erradas por parte do

estudante. Confere ações educativas ligadas a manifestações expressivas e lúdicas

no âmbito do saber artístico e estético em determinados contextos socioculturais.

Assim, é necessário o desenvolvimento do ato de observar, reconhecer, refletir e

compreender mensagens variadas. A leitura referida abrange tanto a pintura do

artista como o trabalho produzido pelas próprias crianças. O olhar do aluno trata de

observar o(s) signo(s) trazido(s) pelo autor.

A obra de arte deve ser trabalhada de modo que a percepção dos materiais,

das técnicas, das formas, dos estilos e outros, levem à leitura do conteúdo de uma

determinada obra. Assim, a criança aprende a reconhecer, a ler e a recriar a partir

de signos. Isto é, o desenvolvimento de potencialidades ocorre no âmbito da cultura

e da troca, se processando pela articulação entre o repertório imaginário individual e

o repertório cultural grupal.

Buoro (1996) apresenta como objetivos a serem alcançados na ação

pedagógica em Arte segundo as tendências contemporâneas: 1.) valorizar a

expressão singular do aluno, de modo a desenvolver sua percepção visual, bem

como, imaginação criadora, incentivando que o mesmo se sinta parte de uma

cultura; 2.) ampliar o repertório de leituras e construções de imagens a respeito da

Arte e do mundo; e 3.) introduzir o conhecimento da Arte via leitura de obras em

sala, visitas a museus, galerias e ateliês de artistas.

Buoro (1996), ressalta que não se deve apenas trabalhar a História da Arte

com as crianças. Mas, trata-se de apresentar a obra de arte como objeto significativo

o qual está vinculado às leituras de mundo do artista num dado tempo e espaço.

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Também é importante que o aluno saiba que a observação direta da natureza é

fonte valiosa para alimentar ideias e imagens a serem expressas por ele.

A observação direta do mundo permite à criança traduzir signos e adentrar

no mundo do artista relacionando com elementos de seu próprio mundo. Buoro

(1996) declara, ainda, que sempre que possível o artista é apresentado por meio de

algumas obras ao invés de sua biografia. Somente depois de terem realizado o

exercício visual é que a história do artista e de seu tempo é tratada relacionando-a

a(s) obra(s) em questão. As atividades práticas de produção sempre acompanham

esse processo, fazendo parte do ato de ler e descobrir significados, visando

proporcionar relações intersemióticas. A autora defende que a escolha dos materiais

didáticos deve estar de acordo com os conteúdos a serem trabalhados e às

necessidades de cada grupo, no processo de ensino-aprendizagem. Esta seleção

sugere o diálogo entre a leitura de mundo do aluno e do artista, pautado,

essencialmente, na discussão sobre arte como re-apresentação da realidade.

Em relação às técnicas pedagógicas, Buoro (1996) afirma que na sua

experiência, como forma da aprendizagem da Arte e suas relações composicionais,

inicia-se com pinturas modernas e contemporâneas, mesmo percebendo as

dificuldades dos alunos para estabelecer relações significativas da leitura visual

dessas obras.

Observa Buoro (1996)

Não excluímos, contudo, as pinturas de outros períodos, nem qualquer outro tipo de Arte. No processo de trabalho, sempre pode ocorrer um diálogo entre as diversas produções artísticas, pois como já lembrava o professor Amálio Pinheiro em suas aulas: „cruzar linguagens aumenta a capacidade do cérebro de pensar. O cérebro é intersemiótico‟. (BUORO, p.44) (Grifo nosso)

As pinturas trabalhadas no ensino da Arte, por exemplo, podem auxiliar o

aluno a utilizar seu pensamento analógico, criando novas oportunidades de re-

significar, de modo a construir conhecimentos e incorporar a pintura na sua leitura

de mundo. Configura-se, assim, numa forma de conhecimento do mundo que vai

acrescentando outros saberes aos saberes prévios. Neste contexto, a pintura é vista

como objeto estético que dialoga com a originalidade infantil. Os enfoques

essenciais desta proposta educacional estão na observação, análise, imaginação,

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criatividade e expressão; tratando de se respeitar o trabalho do aluno e seu ritmo,

bem como, utilizar o lúdico para que a atividade se torne prazerosa.

Para Buoro (1996) as ações como olhar e descrever objetos; destacar

elementos e estruturas de uma obra; realizar análises, interpretações e expressão

de sentimentos; aprofundar e contextualizar num determinado tempo e espaço os

conteúdos de uma obra e seu artista; criar uma nova arte usando a linguagem verbal

e não-verbal podem fazer parte destas práticas contemporâneas. Concebe-se que,

qualquer aluno seja um crítico em potencial, uma vez que sua criticidade tem base

num contexto social e cultural em que vive cotidianamente onde são estruturados

seus juízos de valor.

Torna-se Interessante o inter-relacionamento de conteúdos, áreas e

disciplinas, de modo que o conhecimento não seja fragmentado. Buoro (2002),

afirma que a intersemiose é uma constante. O ensino de arte a crianças, não

confere apenas o uso de materiais que contenham elementos do universo infantil. É

preciso que existam conteúdos, métodos e abordagens interessantes para se

trabalhar o assunto de maneira a produzir significado.

Considera-se, então, a arte como linguagem e a produção artística como

texto estruturado a partir de relações sintáticas e semânticas. Sendo a produção

artística plena de sentidos, e o seu significado para o estudante é construído por

este sujeito, via percursos gerativos de sentido que vêm à tona do próprio texto e se

movem na direção ao destinatário, tratando-se da relação entre a obra e aquele que

a vê. A leitura de imagens deve partir da premissa de que a arte é uma forma de

linguagem, visto que a produção humana comunica ideias. Logo, o objeto de arte

será considerado como um texto. As pessoas, de maneira geral, possuem

dificuldades para compreender as manifestações dos códigos estéticos. Alguns

alegam não gostar ou não tem interesse por tais objetos. Outros simulam que a

compreensão é tácita e evitam discuti-los. Outros, ainda, realizam interpretações

que se baseiam em critérios extra-estéticos como os pautados pelas emoções ou

pela valoração comercial. (Buoro, 2002)

Desta forma, o significado de um texto corresponde a mais informações e

significação do que a simples soma de suas partes. Cabe, portanto, ao sujeito leitor

perceber e realizar as articulações do conjunto para que possa, de fato,

compreendê-lo.

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Buoro (2002), esclarece que é fundamental que haja um investimento numa

prática que transforme esses sujeitos em interlocutores envolvidos em um

consistente diálogo com o mundo, estimulados por conexões e informações que

circulam entre linguagem verbal e não verbal, de modo globalizante. A autora,

chama a atenção da importância em destacar a presença da imagem como

elemento profundamente significativo, não sendo simplesmente decorativo, por

exemplo, quando inserido na página de um livro. As imagens impõem presenças que

não podem continuar a serem ignoradas ou subestimadas em sua capacidade

comunicativa por educadores e editores. A autora afirma que elas devem ser lidas e

exploradas havendo um ganho evidente para os processos educacionais.

Buoro (2002), cita que muitos autores de livros infantis têm trabalhado a

imagem como texto visual. Ela menciona Ziraldo e Eva Funari os quais são

produtores de livros imagéticos de força e qualidade plásticas. Esse material poderia

ser mais valorizado nas escolas desenvolvendo a competência da leitura de

imagens, de modo que o alunado perceba que a Arte, como linguagem que é, se

constrói de modo significativo. É necessário demonstrar em sala de aula que

existem relações de sentido entre formas e conteúdos que um olhar indagador e

atento é capaz de compreendê-las.

Buoro (2002), chama a atenção para a seguinte questão, em relação à

produção infantil:

Tentamos demonstrar como a obra de arte, signo estético, não ocupa lugar de modelo fechado para a produção artística infantil, desde que as atividades não se reduzam a apenas copiar o trabalho do artista. (1996, p.149)

Por isso a obra de arte não deve cercear a produção da criança, mas, sim, a

obra de arte é viva e provocadora diante daquele que a observa com um olhar vivo e

questionador. Nesta perspectiva, são importantes as práticas de leituras e releituras

na compreensão de diversas obras e artistas. É, assim, interessante o uso da

intertextualidade e possibilidades de cruzamentos de experiências vividas. O ato de

copiar é predominante entre muitos educadores de arte. No entanto, para Buoro

(1996), a verdadeira releitura está centrada na significação da obra de arte, isto é,

tratando da compreensão e contextualização de produções variadas. Este processo

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também auxilia o aluno na construção de sua própria linguagem expressiva e de sua

identidade.

É sabido que o embate do ser humano com a realidade gera a necessidade

de produção da linguagem. A produção e a leitura de textos artísticos requerem um

grande envolvimento com a vida humana. Há um potencial no ser humano que pode

ser ativado pelo educador na medida em que se buscam enfrentar os processos de

massificação da cultura, oriundos da sociedade do consumo, onde muitas vezes são

desperdiçados elementos de sensibilidade e criatividade humana. (BUORO, 2002).

Segundo Buoro (2002), entende-se releitura como sendo a tradução da

significação do objeto como fundamento para uma nova construção, visando com

essa ação, a re-significação do mesmo objeto, ou seja, ressemantizando-os. A

autora defende que toda nova produção oriunda de uma imagem corresponde a

construção de um novo texto no qual o produtor elabora uma interpretação. A

releitura como cópia, todavia, acaba por discriminar alunos que não se sentem

capazes de uma reprodução muito precisa de uma determinada obra, o que gera o

afastamento destes devido ao sentimento de frustração. É importante deixar o aluno

seguro de sua capacidade de construir significados na leitura de uma imagem

dando-lhe informações na quantidade necessária à sua formação. E, indo mais

além, o ensino da Arte deve estar pautado no contato com múltiplas linguagens:

artes visuais, música, dança, artes cênicas, entre outros.

Buoro (2002), afirma que:

Sabemos que poetas, artistas, escritores, cientistas, filósofos - e demais produtores de linguagem - são indivíduos que se destacam nas mais diferentes culturas pelos objetos que constroem e que nos encaminham a refletir e a aprender, diversificando assim nossas relações com a natureza, com outros indivíduos e com questões de nossa existência. Sua preocupação é engendrar narrativas, objetos e imagens com base em um pensar sobre o homem e o mundo, para que, das leituras dessas produções, emirjam questões. Estas, por sua vez, dão lugar ao aprendizado e, por meio dele, à transformação da realidade concreta, num movimento contínuo que tem como via de manifestação as semiotizações dessas mesmas produções. Sendo assim, a arquitetura estabelecida por esses geradores de conhecimento e transformadores do mundo é o que deve se tornar objeto para o sujeito motivado pelo entendimento de suas significações. (p.25)

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Com base na citação acima, o objeto artístico é carregado de significados

nos seus conteúdos históricos e culturais que devem ser revividos pela experiência

estética do espectador. O artista quando produz, ele é pessoalmente tocado por

acontecimentos, percepções e emoções que fazem parte do dia a dia de todos os

homens. Ele processa estes aspectos da realidade, de um dado espaço e tempo,

construindo um objeto cuja intencionalidade se remete a devolver ao coletivo uma

experiência a ser efetivamente (re)vivenciada pelo leitor do texto, em questão. Negar

essa condição para Buoro (2002), consolida-se por nortear, no contexto da prática

pedagógica, a abordagem historicista e biográfica ante a imagem de arte de maneira

a afastar a ideia do objeto de arte como significante capaz de falar por si.

Buoro (2002) esclarece que o educador pode conduzir o processo de

ensino-aprendizagem numa abordagem intersemiótica da arte na medida em que

vier a propor exemplos do cotidiano que aproximem o aluno de um texto artístico e

articulações construídas nos cruzamentos das diversas linguagens analisadas e

seus respectivos significados para este leitor. Se trata de um processo tecido no

entrecruzamento de informações sobre movimentos históricos socioculturais,

artísticos, estilos, materiais, técnicas e temáticas defendidas. Para a autora, é na

intersemiose entre linguagem verbal e não-verbal que o sentido diacrônico e

sincrônico vai sendo gradativamente construído. Entende-se intersemiótica como um

universo marcado por uma organização coerente de elementos que se relacionam

significativamente. Assim, são tecidas redes de significação capazes de construir os

sentidos de uma obra.

Nesta esfera, o educador estará conduzindo o alunado a refletir e descobrir

quem é o artista, e qual é/era o objetivo de sua obra. Assim será possível construir

no alunado um repertório imagético da produção artística de um autor. Buoro (2002)

afirma que, apesar do interesse estar focalizado na formação de leitores de

imagens, o conhecimento sobre História da Arte é imprescindível, atuando como

subsídio para a leitura referida, conferindo visibilidade a obra. O educador, para

tanto, precisa estar atento ao modo como são construídas as relações entre os

sujeitos, os objetos de valor e a percepção de como se operam as transformações

pelo próprio processo de construção discursiva. A abordagem semiótica confere

valor ao objeto artístico. Ou seja, os procedimentos que levam em conta o objeto de

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arte, capaz de conter em si as chaves para sua significação, concebem deste modo,

o valor de texto significante.

Buoro (1996), salienta, que é preciso estimular a imaginação criadora e a

expressão dos alunos trabalhando-se a visão da arte como linguagem e o objeto

artístico como signo novo e produto das leituras de mundo e expressão do artista,

propiciando o desenvolvimento da criatividade e incentivando o potencial cognitivo

das crianças. E, também, possibilitar que este desenvolvimento da criatividade seja

acionado quando estejam diante de situações-problema que ocorrem no dia a dia,

assim como, reconhecer a ação artística como atividade que pode gerar satisfação.

Evidencia, além disso, a importância de conhecer os elementos das diversas

linguagens, relações intersemióticas e conceber a arte, portanto, como forma de

comunicação utilizada e valorizada pela humanidade para a sua qualidade de vida.

Busca-se nesta perspectiva, por meio da semiótica e intersemiótica, uma

ação na qual se desenvolve a cognição do aluno, em havendo sentido de

aprendizado pelos significados das relações que se estabelece entre as várias

expressões do conhecimento humano.

Pesquisas nesta área contribuem para a compreensão da aprendizagem

significativa no âmbito do ensino da Arte e suas respectivas bases, para melhorias

nas suas diversas dimensões criativa, participativa e integrada capazes de apoiar as

áreas em que sejam previstos os conhecimentos, em suas variadas formas de

expressão e comunicação humana, e de compreensão das mensagens cotidianas

obtidas na natureza e na produção humana. Depreende-se disto, a necessidade de

desenvolvimento de atividades pedagógicas, que incentivem um esforço mental

oriundo de experiências, as quais preparem o aluno para ser interpretante crítico do

“mundo”, configurando-se, de tal modo, um efeito de sensibilização estética nas

relações estabelecidas entre as diversas linguagens.

A seguir serão apresentados as discussões sobre a semiótica.

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4 NOS CAMINHOS DA SEMIÓTICA

De acordo com Lúcia Santaella (2005), a semiótica é a ciência dos signos,

que tem por objeto de investigação todas as linguagens possíveis no exame dos

modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e

sentido. O nome semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo ou

literalmente, a ótica dos sinais.

Com base em Santaella (2005), o estar do homem no mundo, como

indivíduo social que é, condiz com uma mediação via uma rede intrincada e plural de

linguagens, de modo que ele se comunica também por meio da leitura e/ou

produção de formas, volumes, massas, interações de forças, movimentos, cores e

outros tantos elementos do “mundo de linguagens”. A autora confere a tese de que

os seres humanos são uma espécie de animal tão complexa quanto são complexas

e plurais as linguagens que os constituem como seres simbólicos. Desta forma, além

da linguagem verbal (escrita e oral), existe concomitantemente uma enorme

variedade de outras linguagens que igualmente se constituem em sistemas sociais e

históricos de representação do mundo. Assim sendo, a linguagem trata de uma

gama incrivelmente intrincada de formas sociais de comunicação e significação.

Destaca esta autora, que nos dois séculos pós-revolução industrial, as invenções de

máquinas capazes de produzir, armazenar e difundir linguagens, como: a fotografia,

o cinema, os meios de impressão gráfica, o rádio, a TV, as fitas magnéticas, etc,

povoaram o cotidiano dos homens. Por esta forma, diariamente são bombardeados

por mensagens que apontam valores diversos de diferentes signos.

Explicando a questão dos signos, como significado de um determinado

objeto, dado pela interpretação do observador, Santaella (2005) aponta para o

seguinte:

Esclareçamos: o signo é uma coisa que representa uma outra coisa: seu objeto. Ele só pode funcionar como signo se carregar esse poder de representar, substituir uma outra coisa diferente dele. Ora, o signo não é o objeto. Ele apenas está no lugar do objeto. Portanto, ele só pode representar esse objeto de um certo modo e numa certa capacidade. Por exemplo: a palavra casa, a pintura de uma casa, o desenho de uma casa, a fotografia de uma casa, o esboço de uma casa, um filme de uma casa, a planta baixa de uma casa, o desenho de uma casa, a maquete de uma casa, ou mesmo o seu olhar para uma casa, são todos signos do objeto casa. (2005, p.58).

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Entende-se então que o objeto pode ser uma forma, uma cor ou uma

palavra, e o significado desses objetos é o signo, aquilo que significa, é a

interpretação que foi gerada a partir do encontro do objeto com o observador.

Na sua obra, O que é Semiótica, Lúcia Santaella (2005, p. 16-71), se refere

à teoria da Semiótica ao renomado cientista e filósofo americano, Charles Sandres

Peirce, que utiliza a Fenomenologia para seu aprofundamento científico.

Considerando-se como experiência tudo aquilo que se impõe sobre nós,

estimulando nosso reconhecimento. Pierce vai dizer que tudo que aparece à

consciência, assim o faz numa gradação de três propriedades que se remetem aos

três elementos formais de toda experiência. Em 1867, ele destacou, como essência

de sua obra, as denominadas categorias: 1.) Qualidade; 2.) Relação e 3.)

Representação, como os três níveis de percepção da imagem. Algum tempo depois

substituiu o termo Relação por Reação e o termo Representação por Mediação. Diz

Santaella que para fins científicos Peirce preferiu a terminologia: Primeiridade, (ver)

Secundidade (ler) e Terceiridade (interpretar), por serem palavras novas e livres de

outros termos de possível existência.

Para Peirce, segundo Santaella (2005), o signo só pode representar seu

objeto contanto que haja um intérprete, justamente, pela mediação do signo. A

definição na noção de interpretante, desta maneira, não se refere ao intérprete do

signo, mas a um processo relacional que se cria na mente do intérprete. Vale

destacar que é a partir da relação de representação que o signo mantém com seu

objeto, que se produz na mente que interpreta, um outro signo que traduz o

significado do primeiro. Ou seja, o significado de um signo é outro signo e assim por

diante, sendo assim feita a verdadeira tradução do primeiro. Por exemplo: quando a

criança desenha o animal da historinha que a professora contou, este fica

interpretada e representado por um signo – o desenho. Trata-se de um desenho

figurativo onde o objeto imediato é a aparência do desenho, no modo como ele

intenta representar por semelhança a aparência do objeto. Se, se trata de uma

palavra, o objeto imediato é a aparência gráfica ou acústica daquela palavra, como

suporte portador de uma lei geral, pacto coletivo ou convenção social que faz com

que essa palavra possa representá-lo mesmo que não possua nenhuma

semelhança real ou imaginária com o objeto.

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Neste contexto lógico tratado por Peirce, o signo tem dois objetos e três

interpretantes. Objeto dinâmico: é o objeto em si próprio. Tudo aquilo sobre o qual

podemos pensar ou falar. O objeto imediato é o objeto tal como está representado.

Aquele aspecto que o signo recorta do objeto dinâmico ao representá-lo, com

respeito ao modo como o objeto dinâmico está representado no signo.

Quanto aos três interpretantes na teoria de Peirce citado por Santaella

(2005, p. 58-59), tem-se o interpretante imediato: consiste naquilo que o signo está

apto a produzir numa mente interpretadora qualquer; o interpretante dinâmico vai

ser o que o signo efetivamente gerar em cada mente singular; e interpretante em

si, consiste no modo como qualquer mente reagiria ao signo, sem juízo de valor.

A partir da divisão lógica das partes que interagem na constituição de todo

signo, conforme Santaella (2005), Peirce estabeleceu uma rede de classificações

dos tipos possíveis de signo. É importante dizer que o exame mais detalhado dessas

classificações feitas por ele pode nos habilitar para a leitura de qualquer processo

sígnico, isto é, desde a linguagem indeterminada das nuvens até uma fórmula

abstrata de uma ciência exata.

Voltando-se, então, para a compreensão da importância da Semiótica na

extensão de nossa leitura de mundo, é necessário refletir sobre certas questões

pertinentes que podem deixar à margem o uso desta ciência no ambiente escolar.

Por um condicionamento histórico, fomos levados a acreditar que as únicas formas

de conhecimento e de interpretação do mundo são aquelas veiculadas pela língua

nativa referida na sua manifestação como linguagem verbal, seja ela oral ou escrita.

Desta maneira, ao privilegiar esta, relegaram para segundo plano os saberes e

conhecimentos que as outras linguagens, as não-verbais, podem possibilitar. Há

uma grande variedade de linguagens que se configuram em sistemas históricos e

sociais de representação do mundo em que vivemos. Isto é, há uma gama de

formas de comunicação e, portanto, de significação que se trata da linguagem verbal

articulada a não-verbal. Sem informação não há mensagem e não há reprodução.

Vale destacar que todo fato cultural, ou prática social são práticas significantes.

Santaella (2005) vai além com as questões do termo linguagens e adverte

que:

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É no homem e pelo homem que se opera o processo de alteração dos sinais (qualquer estímulo emitido pelos objetos do mundo) em signos ou linguagens (produtos da consciência). Nessa medida, o termo linguagem se estende aos sistemas aparentemente mais inumanos como as linguagens binárias de que as máquinas se utilizam para se comunicar entre si e com o homem (a linguagem do computador, por exemplo), até tudo aquilo que, na natureza, fala ao homem e é sentido como linguagem. Haverá, assim, a linguagem das flores, dos ventos, dos ruídos, dos sinais de energia vital emitidos pelo corpo e, até mesmo, a linguagem do silêncio. (SANTAELLA, 2005, p.13)

Desta forma, é possível dizer que as linguagens estão no mundo e nós

estamos imersos nelas. Quanto às imagens, Santaella (2012), defende que essas

podem e devem ser lidas. Podemos chamar de leitor aquele que lê livros, mas

também o que lê imagens. Devemos, assim como já foi dito, incluir o leitor da

diversidade de sinais e signos de nosso cotidiano, tais como sinais de trânsito,

placas de orientação, filmes vistos na TV ou em cinemas, Internet, mapas,

propagandas, obras vistas em museus, entre outros.

É importante decifrar letras, no entanto, além disso, decifrar as relações

entre palavras e imagens as quais podemos ver sua utilidade em nosso cotidiano

como, por exemplo: interpretar cartazes publicitários ou embalagens de produtos

que compramos.

Para Santaella (2012):

[...] não há por que manter uma visão purista da leitura restrita à decifração de letras. Do mesmo modo que, desde o livro ilustrado e as enciclopédias, o código escrito foi historicamente se mesclando aos desenhos, esquemas, diagramas e fotos, o ato de ler foi igualmente expandindo seu escopo para outros tipos de linguagens. Nada mais natural, portanto, que o conceito de leitura acompanhe essa expansão. (p.11)

Segundo Santaella (2012), as escolas costumam negligenciar a

alfabetização visual, quando na verdade poderiam incentivar a exploração da

complexidade de signos que temos em nosso cotidiano. Poderiam estas, levar os

alunos a aguçarem seus olhares, diante de imagens diversas, diferenciando suas

características essenciais na busca de significados da realidade em que vivem, em

suas camadas subjetivas, sociais, estéticas, antropológicas e tecnológicas.

As imagens são chamadas de representações, pois que são criadas e

produzidas pelos seres humanos em determinados contextos sociais. Cumpre

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ressaltar que as imagens diferem de acordo com a finalidade que possuem. A

interpretação de ilustrações de livros, de forma complementar ao conteúdo verbal,

também é de suma importância. Já nas artes, elas podem ter por finalidade aguçar e

ampliar a capacidade perceptiva de nossos estudantes atuando sobre a questão da

sensibilidade. (SANTAELLA, 2012).

Santaella (2012) vai reforçar essa questão de representação de imagens na

arte como produção humana, de variações com significados culturais diferentes,

dizendo que:

Poucos fenômenos são tão difíceis de definir quanto a arte. Uma das razões dessa dificuldade provém do fato de que a arte é uma produção histórica. Isso significa que não existe uma definição universal que dê conta de todas as variações da criação artística no tempo e no espaço. A arte varia de acordo com os instrumentos, meios e técnicas de que historicamente dispõe; varia, também, de acordo com as funções sociais a que se destina e que não são as mesmas em todas as sociedades; varia, ainda, de acordo com os valores humanos que expressa. (p. 26)

Assim, nestes diversos contextos onde a arte, e toda a forma de

comunicação humana se estabelece, em determinado tempo e espaço, pode-se

refletir sobre o papel da Semiótica como agente esclarecedor de toda forma de signo

que o ser humano faz uso, uma vez que as obras artísticas vistas em espaços

próprios de exposição e/ou nas artes vistas no cotidiano, trazem em si conteúdos a

serem lidos tanto em seu aspecto verbal quanto no não-verbal.

Na próxima seção discutiremos as questões da intertextualidade, isto é, a

intersemiótica como traduções entre signos.

4.1 INTERSEMIÓTICA: UMA TRADUÇÃO ENTRE SIGNOS

A partir das questões que foram apresentadas sobre os conceitos de

semiótica como a ciência dos signos, se traz para esse momento, a discussão

da Intersemiótica como tradução entre signos; o estudo semiótico em diferentes

formas ou linguagens, compostas por determinados signos dentro de um contexto

cultural. Assim, as histórias, poesias, livros, ou mesmo filmes, quando são reescritos,

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para uma outra forma de linguagem, requerem adaptações. Ocorre daí uma

tradução intersemiótica (PLAZA, 2008). Essa tradução interpreta certos signos e são

expostos por outros, de acordo com o novo contexto. Este autor defende que a

operação tradutora, vista por ele como trânsito criativo de linguagens, nada tem a

ver com fidelidade, pois ela cria sua própria verdade à medida que ocorre um forte

enlace de diversos momentos produtivos, ou seja, entre passado, presente e futuro,

nas situações que envolvem o fazer humano.

Plaza (2008) esclarece esta concepção da seguinte forma:

A arte não se produz no vazio. Nenhum artista é independente de predecessores e modelos. Na realidade, a história, mais do que simples sucessão de estados reais é parte integrante da realidade humana. A ocupação com o passado é também um ocupar-se com o presente. O passado não é apenas lembrança, mas sobrevivência como realidade inscrita no presente. As realizações artísticas dos antepassados traçam os caminhos da arte de hoje e seus descaminhos. Mas é a visão da história como linguagem e a visão da linguagem como história que nos ajudam a compreender melhor estas relações. (p.2)

É importante considerar que as transformações que se processam nas

estruturas físicas da arte e nos meios de produção artística são compatíveis com as

bases materiais situadas num período e espaço histórico, dando origem às formas

artísticas e aos processos sociais de recepção por parte da sociedade. Isto significa

que, no processo de tradução intersemiótica, o tradutor se situa perante a história

para a eleição entre alternativas de suportes, códigos, formas e convenções. Plaza

(2008), considera que neste processo, o tradutor sofre a influência não somente dos

procedimentos da linguagem, mas também dos diversos meios empregados, uma

vez que neles estão embutidos tanto a história quanto seus elementos e

procedimentos. As artes se transformam, portanto, pela influência dos meios de

produção. Deste modo é possível afirmar que, passado, presente e futuro estão

atravessados pelas antigas e novas tecnologias havendo a combinação de meios,

códigos e linguagens. A tradução é trazida, nesta esfera, como trabalho que envolve

criticidade e criatividade na historicidade dos meios de produção e re-produção.

(PLAZA, 2008).

Entende-se a tradução intersemiótica como sendo circulação, transpasse de

sentidos, sendo a adaptação de formas na citada historicidade, pois o processo de

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semiose - produção de significados - corresponde à transformação de signos em

signos. Neste âmbito, tem-se a tradução intersemiótica como pensamento em

signos, em que a significação de uma representação é outra representação. Plaza

(2008) defende que a “transposição intersemiótica” se trata da passagem de um

sistema de signos para outro, de modo que a tradução pode ser vista como

“transcodificação criativa”.

Assim sendo, na operação de tradução, um signo se traduz em outro, de

modo que a acepção de um signo só pode se dar em outro signo. Mas, é relevante

destacar que na invenção de uma nova linguagem não se visa meramente uma

outra reprodução de realidades pré-existentes em outras linguagens, e sim, a

concepção de novas realidades que contenham novas formas de se trabalhar

conteúdos. O processo de tradução intersemiótica deve, então, contemplar a leitura,

análise e crítica da obra original. Isto inclui determinados aspectos. Quanto a isso

Plaza (2008) traz sua explicação:

[...] o signo estético, quando é traduzido, por um outro signo estético, mantém com este, uma conexão por similaridade e contiguidade por referência. A tradução mantém uma relação íntima com seu original, ao qual deve sua existência, mas é nela que „a vida do original alcança sua expansão póstuma mais vasta e sempre renovada‟. (p. 31-32)

Vê-se então que, no trabalho tradutivo há necessidade de compreender a

importância da existência da conexão entre signos por meio dos processos de

similaridade e contigüidade mencionados, pois, é por meio de ambas que

conseguimos manter uma relação estreita entre a releitura e a obra original de um

artista. Para Plaza (2008), o circulo de signo a signo comporta intervalos que podem

ser preenchidos por um signo. A interpretação precisa ter razoável semelhança com

a obra original não podendo variar muito sem transformar-se em produção diferente.

É necessário que ocorra um diálogo por meio da essência da obra original a ser

interpretada. Tem-se nos princípios da similaridade e contigüidade a

responsabilidade de conexão com a obra original nas relações de semiose –

produção de significado. Há uma relação dialógica entre o signo e o leitor, em que,

no cruzamento entre o que fala e o que ouve, se descobre a linguagem e seus

sentidos.

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É necessário considerar a maneira pela qual cada ser humano recebe em

sua mente a obra original e a ela reage. Isto porque, o trabalho do tradutor, que

tenha características de criatividade, define-se pelos seus conflitos, roteiros e atritos,

em que há ambiguidade de seus leitores. A leitura para a tradução, portanto, não

tem a intenção de captar na estrutura original ofertada a um interpretante que gere

consenso, mas ao contrário, tem o intuito de adentrar no que há de mais essencial

no signo. (PLAZA, 2008).

Plaza (2008) aponta que a tradução pode ser vista como emenda, correção,

externalização e/ou transformação. Traduzir é repensar a configuração de escolhas

do original, transmutando-a numa outra configuração seletiva e sintética. Criação e

tradução se misturam criando o ato de renovar. A tradução trata-se de um processo

de dupla semiose: uma leitura decodificadora e outra de inserção codificadora. Este

autor afirma que, o pensamento contínuo, inteligível, e o sintético, sensível,

desenvolvem-se entrelaçados. Todo ato de traduzir é cognitivo, porém, sua

compreensão começa sempre com um sentimento espontâneo no contato com uma

obra.

O nível cognitivo exige a interpretação por meio de outros códigos para

consolidar a tradução. Esta, em contato com o seu original, processa-se por

inferência associativas, de similaridade e contiguidade, encaminhadas por

experiência sintética progressivamente mais elevada para a condição da

inteligibilidade. (PLAZA; 2008)

Na interpretação entre diferentes sistemas de signos tornam-se relevantes

as relações entre os sentidos, meios e códigos, pois, cada sistema de sinais

constitui-se com base nas especialidades que lhes são características de acordo

com suas raízes, podendo ser articulada com os órgãos de emissão e recepção.

Apresentam-se os sentidos humanos, em sinestesia5, como os meios produtores de

linguagem, os quais traduzem pensamentos no operar e transmitir de informações

estéticas. A obra de arte feita por um artista se configura como extensões dos

sentidos humanos. Para tanto, há modos de aproximação que podem ser feitos em

relação à forma. Para Plaza (2008)

5 Relação subjetiva que se estabelece espontaneamente entre uma percepção e outra que pertença ao domínio de

um sentido diferente. Por exemplo: um perfume que evoca uma cor, um som que evoca uma imagem.

(DICIONÁRIO AURÉLIO, 1986).

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Na Tradução Intersemiótica como transcriação de formas o que se visa é penetrar pelas entranhas dos diferentes signos, buscando iluminar suas relações estruturais, pois são essas relações que mais interessam quando se trata de focalizar os procedimentos que regem a tradução. Traduzir criativamente é, sobretudo, inteligir estruturas que visam à transformação de formas. Três modos de aproximação podem ser feitos em relação à forma, visando a transposição baseada na equivalência nas diferenças. São eles: a captação da norma na forma, como regra e lei estruturante. Segundo, a captação da interação dos sentidos ao nível do intracódigo. Terceiro, a captação da forma como se nos apresenta à percepção como qualidade sincrônica, isto é, como efeito estético entre um objeto e o sujeito. (p. 71)

Com base nesta citação, é possível dizer que são as normas que exercem a

função significante a ser estabelecida nas formas, porque são dadas em convenção

se consolidando em lei estruturante. Estas, por possuírem características de lei e

universalidade, permitem estabelecer uma organização de signos que nos faz

discernir entre o que é semelhante e o que é diferente, permitindo condições para a

configuração de uma síntese. De modo paralelo, no que remete ao segundo modo

de aproximação citado por Júlio Plaza (2008), a captação dos sentidos ao nível do

que se chama de intracódigo, é vista como imprescindível em função de uma

unidade maior que a inclui, isto é, é necessária a comunicação entre os códigos

internos para que o todo se constitua. É por este motivo que se afirma que os

elementos envolvidos são traduzidos sincronicamente como modo de aproximação

em relação à forma, incluindo-se necessariamente, assim, este processamento

intracódigo mencionado. Por exemplo: uma fotografia, um desenho ou uma gravura

podem representar um mesmo objeto.

Plaza (2008), ressalta que, para a mente tradutora, as operações de análise

e síntese contemplam dois níveis de pensamento: o sensível e o inteligível-razão e

emoção. O mesmo aborda também as qualidades e estruturas no uso material de

suportes:

A Tradução Intersemiótica se pauta, então, pelo uso material dos suportes, cujas qualidades e estruturas são os interpretantes dos signos que absorvem, servindo como interfaces. Sendo assim, o operar tradutor, para nós, é mais do que a „interpretação de signos linguísticos por outros não-linguísticos‟. Nossa visão diz mais respeito às transmutações intersígnicas do que exclusivamente à passagem de signos linguísticos para não-linguísticos. (PLAZA, 2008, p.67)

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Assim, no processo de interpretar conteúdos de uma obra, não podemos

desprezar as qualidades e estruturas materiais, uma vez que elas fazem parte do

todo de uma obra, consolidando sua significação. Em suma, a tradução como

operação deve envolver o pensamento em signos num intercurso de sentidos e

transcrição de formas. É preciso, como mencionado, o uso de um processo sintético

nas transformações tradutoras de signos, incluindo-se aquelas que estão entre as

artes da poesia, artes plásticas, cinema, fotografia, videotexto, entre outras. Isto

porque, o trânsito intersemiótico ocorre entre as mais variadas matrizes. (PLAZA,

2008).

Na próxima seção serão apresentadas as experiências e práticas

pedagógicas intersemióticas realizadas por educadores e arte/educadores.

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5 PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS, CONCERNENTES ÀS RELAÇÕES INTERSEMIÓTICAS.

A seguir nas próximas subseções serão apresentadas as experiências e

propostas metodológicas de relações intersemióticas. São narrativas de registros

escritos em livros, e de documentos que ainda não receberam nenhum tratamento

analítico. São dados pessoais como: memorandos de leituras intersemióticas e

experiências de práticas pedagógicas.

Segundo Santaella (2012), toda imagem é um texto que pede para ser lido e

entendido. Uma obra de arte trata de um texto o qual desperta em nós, sentimentos

e pensamentos, de modo que aprendemos a olhar a vida com olhos mais sensíveis,

curiosos e críticos. Vale ressaltar que as obras de artes são textos planejados pelos

artistas com o intuito de provocar a imaginação, discutir problemas, bem como,

inventar caminhos e discutir a realidade numa tendência transformadora. A todo o

momento é possível ler imagens em todos os lugares: na internet, na TV, em jornais,

revistas, livros didáticos, nos museus e nas ruas de nosso bairro. Buscando ler a

obra de um artista conhecemos o ponto de vista do mesmo com relação à realidade

que ele observa.

Como esclarecimento para a questão do intertexto, pode-se perceber que

muitas vezes, numa exposição em museu é considerada a organização das obras a

partir de um tema, para contar histórias aos visitantes. Pode surgir, na junção de

obras de alguns autores, uma mesma temática havendo assim, o aparecimento do

intertexto. É possível que sejam organizadas por serem as mesmas técnicas, estilos,

materiais, métodos ou temas específicos usados pelos artistas. Nesta medida ocorre

o ponto de encontro entre o leitor, as imagens e o mundo. As obras reavivam a

memória provocando a imaginação do leitor. Elas se tratam de marcas da

imaginação e da memória do artista (SANTAELLA, 2012).

A seguir serão apresentadas as experiências e propostas metodológicas de

relações intersemióticas.

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5.1 LEITOR DE IMAGENS – “AGORA EU ERA” - A LEITURA DA IMAGEM NA SENSIBILIZAÇÃO E NA EDUCAÇÃO DO OLHAR

Para esse momento é apresentado propostas de experiências e práticas

pedagógicas intersemióticas. Primeiramente buscou-se no trabalho de Anamelia

Bueno Buoro, Beth Kok e Eliana Aloia Atihé, o livro “Agora eu era”, - O leitor de

Imagens: que faz parte da coleção Arte na Escola da Companhia Editora Nacional -

São Paulo, de 2007.

A Coleção Arte na Escola: O Leitor de Imagens é um projeto do Instituto

Arte na Escola e da Companhia Editora Nacional. Foi criado com o objetivo de

estimular a leitura de imagens da arte produzida no Brasil. Pertencem a essa

coleção 7 livros com os seguintes temas: Cidades, Infância, Natureza, Trabalho,

Formação Étnica, Imaginário e Capital e Trabalho. Nessa proposta há em cada livro,

o diálogo criativo entre três obras de arte. Esse é o ponto de partida para percursos

de leitura e interpretação que instigam o olhar do leitor e o despertam para observar

e compreender as múltiplas imagens que estão ao seu redor. A coleção mostra

jeitos diferentes de pensar e de fazer arte, propondo sentir, imaginar e agir.

As autoras trazem a seguinte mensagem na apresentação de cada livro:

Ler uma imagem é mais do que olhar apressadamente para ela. Toda imagem é um texto que pede para ser lido e compreendido, um texto que desperta em nós sentimentos e pensamentos. Uma imagem puxa outra e, de imagem em imagem, a gente pode aprender a olhar a vida com olhos mais sensíveis, curiosos e críticos. As obras de arte são textos planejados e realizados pelos artistas para provocar a imaginação, discutir problemas, inventar caminhos e transformar realidades. Os livros dessa Coleção convidam a viver algumas experiências, por meio da leitura de imagens da arte produzida no Brasil. Tomara que você leia. Tomara que goste. E comece a ler imagens em todos os lugares: na Internet e na TV, em jornais e revistas, nos museus e na rua... (BUORO; KOK; ATHÉ. 2007, p. 4).

As autoras explicam que o conteúdo desse livro “Agora eu era”, fala da

infância e de alguns jeitos de vivê-la a partir das obras dos artistas: Alfredo Volpi6,

Iberê Camargo7 e Miguel Rio Branco8. Tem-se em comum a temática “Infância” e o

fato de todas as imagens expostas pelos artistas serem figurativas. Isto é, as figuras

6 Alfredo Volpi (1896-1988). Pintor italiano nascido na cidade de Lucca e radicado em São Paulo. Autodidata e

de origem proletária, foi membro mais velho do Grupo Santa Helena. (Dicionário Oxford de Arte). 7 Iberê Camargo (1914-1994). Pintor e gravurista, nascido em Restinga Seca, no Rio Grande do Sul.

8 Miguel Rio Branco, nasceu em 1946 em Las Palmas, nas Ilhas Canárias-Espanha. Filho de diplomata brasileiro.

É pintor, fotógrafo, diretor de cinema, além de criador de instalações e multimídias.

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que podemos reconhecer em “Pássaro de Papelão”, feito por Alfredo Volpi; figuras

misteriosas de “Carretel Azul” de Iberê Camargo; e o registro figurativo da foto feita

por Miguel Rio Branco, “Amaú turn around”; trazem uma narrativa que é tecida no

encontro da temática destas imagens, incentivando a participação dos leitores,

trazendo a possibilidade de estudos intersemióticos.

FIGURA 1-“CARRETEL AZUL”, 1981, de Iberê Camargo. Óleo sobre tela, 25 x 35 cm, Fundação Iberê Camargo, doação Maria Coussirat Camargo, Porto Alegre, RS. Fonte: Projeto Arte na escola – leitor der imagens.

FIGURA 2 - “AMAÚ TURN AROUND”, Miguel Rio Branco Fotografia color. (Ilfochrome print), 1983, 60x90 cm, 8/15, Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis, SC, doada pelo artista.

Fonte: Projeto Arte na escola – leitor de imagens

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FIGURA 3 - “ PÁSSARO DE PAPELÃO”- Alfredo Volpi. Têmpera sobre papel, 1955, 49,8x73 cm. Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, doação Theon Spanudis, São Paulo. Fonte: Projeto Arte na Escola – leitor de imagens

Estas obras, citadas acima, e encontradas no livro “Agora eu era”, se remete

cada uma, à sua maneira, a infância vivida. Assim, cada uma das três obras é um

recorte da experiência do artista funcionando tal como um espelho que reflete um

tanto sobre a visão de mundo de cada autor e dialoga com o leitor dessas imagens.

“As imagens convidam nosso olhar a passear por lembranças e experiências que

podem enriquecer nossas próprias lembranças e experiências”. (BUORO; KOK;

ATIHÉ, 2007, p. 41)

Para uma leitura intertextual, das imagens, (Id, 2007), chamam a atenção

para as músicas “Maninha” e “João e Maria” são duas letras de canções de Chico

Buarque as quais falam de festas populares e brincadeiras se remetendo a

lembranças infantis. Esta aula mostra que o título do mencionado livro, “Agora eu

Era”, é uma expressão retirada do modo com que as crianças falam para se referir

aos personagens de faz de conta que querem se transformar. “João e Maria”

começam dizendo: “Agora eu era herói...” As imagens trazidas por estas obras

convidam a leitura de objetos como amuletos, pássaro de papelão, carretéis, antiga

máquina de costura e vestimentas pobres de uma criança indígena. Trazem a

provável existência de dores de uma infância sofrida. Muitas vezes, trazer à tona a

história de vida pessoal e profissional de um artista pode auxiliar também na leitura

de imagens apresentadas por estes. Isto pode incentivar o olhar curioso, simples,

inventivo e livre de uma criança.

Ainda é destacada na leitura dessas obras, a possibilidade de diálogos com

poesias, móbiles, filmes, entre outros, formando a condição de intertextos. Tendo

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como exemplo, no referido livro, a conversa da poesia, de Fernando Pessoa, em “O

Carro de Pau” e “Crianças Invisíveis” (Itália, 2005), filme produzido por oito

importantes diretores de vários países que trabalham com a temática de crianças em

meio a condições de vida difíceis buscando a superação destas. (Id, 2007).

Segundo Buoro; Kok; Athé (2007), nestas propostas de práticas

pedagógicas, é muito importante que o professor conheça os objetivos da proposta:

1.) desenvolver as habilidades de leitura de seus alunos (da linguagem visual e da linguagem verbal);

2.) educar e sensibilizar olhares que produzem imagens e vivem mergulhados num mundo de imagens;

3.) ampliar repertórios de arte e cultura; 4.) estimular o hábito e o prazer da leitura. (DO ENCARTE DA COLEÇÃO,

p.2)

As autoras ainda sugerem uma proposta metodológica para a leitura da

imagem, adequando as faixas etárias, períodos escolares e a realidade sociocultural

do grupo a ser trabalhado, como segue, em forma de síntese: 1.) Olhar e ver –

atenção para as descobertas que o texto proporciona; 2.) Trocar experiências –

sobre os detalhes observados; 3.) Descrever – buscar os elementos constituintes da

obra; 4.) Analisar: entender a composição e a organização do trabalho do artista. 5.)

Relacionar texto e contexto: A imagem da obra é o texto a ser lido e o contexto é

o conjunto de textos envolvendo a construção do significado desta. 6.) Interpretar: a

partir do texto do artista, cada leitor vai elaborar a sua interpretação, produzindo uma

nova imagem, um novo texto. (DO ENCARTE DO LIVRO, p.2). (Id, 2007)

Ainda com base nos conceitos apresentados pelas autoras acima expostas,

a relação complementar entre linguagem verbal e não verbal oferece-nos uma visão

integral e simultânea de um determinado tema, possibilitando maior compreensão

deste por parte do leitor, e ao mesmo tempo incentivando o exercício da

sensibilidade e da imaginação.

Para as autoras deste projeto, a questão interdisciplinar permeia todo as

dinâmicas desenvolvidas. Vale lembrar que, a leitura de artes em sala de aula

promove simultaneamente a cognição e a imaginação, numa formação da

objetividade e da subjetividade. Ressalta-se que há um grande potencial

interdisciplinar em questão, ou seja, as artes reúnem conhecimentos e saberes de

modo a “costurar” outros, integrando áreas diversas, aprofundando e ampliando

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conteúdos das várias disciplinas. Há, ainda, a possibilidade de se desenvolver

habilidades narrativas, descritivas, analíticas e interpretativas. Trata-se, em suma, de

olhar, perceber, descrever, analisar, relacionar, interpretar e amplificar o significado

de imagens que um ou mais artistas tenham nos apresentado.

Para tanto, Buoro, (2002, p. 236), chama a atenção para o seguinte, em

relação á educação do olhar.

A educação do olhar não deve ser, portanto, nessa perspectiva, associada à simples ação pedagógica, estratégia prevista em planejamentos e inserida no quadro do ensino da arte de forma quase mecânica e burocrática. É ação pedagógica consistente que extravasa as molduras da sala de aula para instalar-se como essência na vida do sujeito, seja ele o educador, seja o aluno ou qualquer outro indivíduo captado por essa órbita, levando-o a romper com as teias do automatismo e da massificação e a instaurar uma nova ordem de percepção, e, portanto, de significação, em suas relações com a realidade. (BUORO, 2002, p.236)

Esta autora defende que a formação de leitores competentes de imagens, no

contexto da escola formal, influenciará em todo o processo de ensino-aprendizagem

tornando-o mais significativo, produtivo e consistente. Promoverá ao aluno um olhar

sensível e aberto ante aos processos de massificação que as culturas imprimem ao

homem urbano, na contemporaneidade, buscando fazer com que veja o mundo com

maior criticidade e nitidez.

Nas questões finais da explanação dessa proposta, deixaremos a seguinte

mensagem das autoras, Buoro; Kok; Atihé, (2007):

Diante do poder da palavra escrita, é preciso estimular o olhar para as imagens, todas elas: do anúncio ao grafite, do desenho animado ao álbum de fotos da família...Isso precisa acontecer para o bem da própria palavra escrita, que se renova e se reinventa quando dialoga com a imagem. (da primeira página do encarte do livro)

A seguir é apresentada uma experiência de uma prática pedagógica

relacionada a abordagens intersemiótica numa proposta que foi trabalhada na

Disciplina de Metodologia do Ensino da Arte II.

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5.2 LEITURAS INTERSEMIÓTICAS – UMA EXPERIÊNCIA NA DISCIPLINA: METODOLOGIA DO ENSINO DA ARTE II DO CURSO DE PEDAGOGIA DA UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ – 2009.

Como forma de colaboração na clarificação de traduções intersemióticas é

apresentado neste momento um trabalho que foi realizado pelos(as) alunos(as) do

5º Período do Curso de Pedagogia da Universidade Tuiuti do Paraná, na Disciplina

de Metodologia do Ensino da Arte II, no ano de 2009, ministrada pela professora

mestra Maria Francisca Vilas Boas Leffer.

Este trabalho teve como base as imagens de reproduções de obras de arte,

de artistas paranaenses do Projeto Museu na Escola. Primeiro material educacional

organizado e produzido para professores e alunos da Rede Municipal de Ensino de

Curitiba, a partir do acervo público dos museus desta cidade. Esse projeto contou

com parceria entre a Fundação Cultural de Curitiba e o Museu Oscar Niemeyer no

ano de 2007. O material tem como objetivo despertar o olhar sensível e reflexivo

sobre o mundo da arte por meio do contato com as reproduções das obras que

compõem o acervo municipal. São imagens da arte reproduzidas em pranchas e em

DVD, reunindo um caderno de estudos para o professor, 100 imagens

bidimensionais, 38 obras tridimensionais de diferentes artistas e épocas e três

mapas que subdividem em diálogos temáticos, localização dos espaços expositivos

que acolhem as obras e um mapa cronológico.

Desta forma, buscou esse material apresentado pela Rede Municipal de

Ensino de Curitiba, para uma das propostas da Disciplina de Metodologia da Arte II

em 2009, tendo como elemento principal de seus objetivos a leitura da imagem e

suas relações de intertextos. Devido a isso, se propôs como objetivo trabalhar

leituras intersemióticas como forma de ensaio, para enriquecer o aprendizado

artístico e estético dos(as) futuros(as) pedagogos(as), meio de textos visuais numa

tradução para a linguagem poética.

Plaza (2008) diz que:

[...] o signo estético, quando é traduzido, por um outro signo estético, mantém com este, uma conexão por similaridade e contiguidade por referência. A tradução mantém uma relação íntima com seu original, ao qual deve sua existência, mas é nela que „a vida do original alcança sua expansão póstuma mais vasta e sempre renovada‟. (p. 31-32)

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Creio que é possível observar nas análises que poderão ser feitas neste

trabalho as conexões de similaridade e contiguidade. Assim, conforme os dados

obtidos, o trabalho aconteceu no relacionamento entre os códigos da linguagem

visual e da literatura, uma tradução entre os signos dentro de um contexto cultural

conforme a representação de mundo do artista, numa adaptação para a linguagem

da poesia. Essa leitura intersemiótica foi a primeira experiência desenvolvida

pelos(as) futuros(as) pedagogos(as). Mas, mesmo assim, percebe-se que houve

criticidade e criatividade na relação entre os signos.

Plaza (2008) diz que a significação de uma representação é outra

representação. Defendendo que a transposição intersemiótica se trata da passagem

de um sistema de signos para outro, de modo que a tradução pode ser vista como

transcodificação criativa. E nesse processo o autor, dá uma importante explicação:

Ao representar, o homem esquematiza o real e materializa seu pensamento em signos os quais são pensados por outros signos em série infinita, pois o próprio „homem é signo‟. Essa atividade de cristalização em signo (a partir de possibilidades e sentimentos), em formas significativas e simbólicas é o que caracteriza a comunicação social e humana. (p. 46).

A partir dessas considerações apresentadas por Plaza (2008) segue a

apresentação das leituras intersemióticas produzidas pelos(as) alunos(as) da

Disciplina: Metodologia do Ensino da Arte II (2009). O trabalho se ocupou de leituras

de reproduções de obras de arte nas técnicas da fotografia e pintura. Estão aqui

representados os trabalhos de todos os(as) alunos(as) que participaram dessa

dinâmica.

LEITURAS INTERSEMIÓTICAS

Maria Francisca Vilas Boas Leffer

(org.)

Alunos do Curso de Pedagogia da FCHLA da UTP

(autoras)

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FIGURA 4 - SEM TÍTULO de João Roberto Ripper (Rio de Janeiro, RJ, 1953) . 35,9x24,6cm. Fotografia. Museu da Fotografia Cidade de Curitiba. Esta foto é do tema: Índios

QUEM FOI?

Olho de longe como papel amassado, vejo essa moça! Você não a vê? Pois, nem se lembra! Esse papel! Pois papel não é! É o rosto de uma mulher! Por que se toca? Com esses olhos profundos, toca o rosto... Ela conhece o mundo! E tanto traço? Sem embaraço, já foi menina, já foi mulher, essa senhora. Será que foi mãe? Mostra o mundo em seu rosto; Mostra a idade por debaixo das mãos. Mas que bela! Aquela velha, já foi mãe? Com a alma clara, com a pele rasa, com mãos grandes, está cansada? Oh! Essa moça, quase menina... Quero aprender com seu olhar. Olha pra mim, será que já foi mãe? Não sei! Em seus olhos vejo a menina, papel amassado, o que há em seu coração? Ana Paula Roque

FRANZINA ÍNDIA

Traços marcados de dura experiência Cada traço esboça uma linha de sapiência Já se foi há muito tempo sua inocência Sofrida índia se debruça por longas horas a olhar sua velha querência Olhos miúdos a divagar sobre o tempo Tem em suas mãos o rosto maduro ao vento Retira do destino seu sustento Cumpre seus últimos anos com muito desalento

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Com expressão de amargor Contempla o céu suspirando rancor Na face cansada, resignação e dor Tenta esquecer em vão os tempos de índia-menina-flor...

Cássia Garcia Furtado A MULHER IDOSA

Vejo uma imagem sim, imagem de uma mulher que já com as mãos cansadas sofridas e desgastadas de tantas lutas enfrentadas. Apresenta a mão enrugada o seu olhar triste desanimado é parecido com o fundo escuro do quadro pintado.

Lucilene I. Kulka MULHER COM A MÃO NO ROSTO Nas mãos e no rosto traz As marcas de uma longa vida. Do olhar triste e perdido traz as marcas sofridas e vividas.

Jéssica Karine Biscouto

SEM TÍTULO

Olhe nestes olhos tão expressivos e marcantes. Onde seus olhos estão olhando? Ou, será que não estão. Quais serão seus pensamentos, deve-se estar distantes, Deve haver tantas lembranças, sentimentos, sonhos... Será que todos os sonhos foram alcançados? Quanta maturidade e experiências nessa vida! Eliane Aparecida Trindade

UMA SENHORA COM A MÃO NO ROSTO

Enquanto seu coração sangra de chorar pela vida. Seu rosto se transforma ao longo dos dias. Rugas que mostram sabedoria. Rugas, essas feitas na saúde e na tristeza, na alegria e na pobreza. Rugas que contemplam a vida vivida com garra e força nos percalços da vida. Mas que mostram o esforço ao longo de cada dia. Dias que transformam a alegria na tristeza Das dificuldades vividas e enfrentadas. Mas, cada ruga construída, com esforços das mãos fortes, rígidas pela dor do trabalho sem fim, de uma contínua luta buscada na sorte. Bruna Roberta Kiper

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FIGURA 5 - MULHER PASSANDO ROUPA. Fernando V. da Silva – Rio de Janeiro, RJ, 1939. 1978, - 22,1x16,7cm, óleo sobre chapa de madeira. Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (Coleção Poty Lazarotto)

MULHER PASSANDO ROUPA

Passando roupa passa o tempo Vai passando sua vida... Na brasa quente, suas mãos sofridas. Percorrem seus pensamentos, seus sonhos... Que vão passando, conforme o tempo perdido. Onde li, imagina sua vida. Não sendo apenas passando roupas de tecidos coloridos. Mas vendo sua vida acontecendo dos sonhos já vividos...

Emanuelle Schmidt Correa

FIGURA 6 - LARGO DA ORDEM. PAUL GARFUNKEL, Fontainebleau, FR, 1900-Curitiba, PR, 1981. – 1957, 63,8x90,7cm, tinta a óleo s/tela. – Museu Metropolitano de arte de Curitiba.

MINHA CIDADE

A tela lembra minha cidade natal berço da civilização paranaense. Enxergo a Igreja ao fundo rodeada de casas do Brasil colonial. Brasil de brasileiros e de todas as raças. Ah! As pedras ao chão... nos lembram dos escravos, escravos que ainda hoje encontramos em nosso rincão. Os cavalos e as mulas nos transportes ao primeiro planalto

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Hoje substituídos por carros velozes com seus sons altos. Carros que transportam nossa produção Carros que voam como o tempo dos tempos que se vão. Que nos traz somente boas lembranças Daquele tempo de antigamente do berço da civilização desse povo paranaense.

Paulo Eduardo Lobo Damaso de Oliveira

FIGURA 7 - AS LAVADEIRAS -GUIDO VIARO Badia Polesine – Província de Rovigo. Veneto, 1897- Curitiba, 1971.. 1944, 74,0x89,0cm, Tinta a óleo sobre tela. MuseuMetropolitano de Arte de Curitiba.

AS LAVADEIRAS Lava, lava, lavadeiras sem descanso e sem razão. Sua história verdadeira Escreve-se com sabão.

Edinete do Rocio Alessi

FIGURA 8 - SEM TÍTULO - CAMILA BUTCHER, (São Paulo, SP, 1951)

. N/datada, 21,2x31,2cm, fotografia em preto e branco.

Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.

PAR DE SAPATOS

Era uma vez um par de sapatos... Que ficou todo estorricado. Depois de um longo dia de trabalho. De tão cansado que estava...

Daiane de Oliveira Ferreira

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OS SAPATOS VELHOS

Os sapatos velhos mostram os caminhos da vida percorridos. Caminhos duros, trabalhosos e sofridos. Mas, também caminhos de carinhos, amizades e amores vividos. Fernanda Gonçalves

FIGURA 9 – MATERNIDADE DI CAVALCANTI (Emiliano Augusto Cavalcanti de Albuquerque e Melo)- Rio de Janeiro, RJ, 1897-1976). 1951, 78,8 x 48,8 cm, guache s/papel. Museu Metropolitano de Arte de Curitiba (Coleção Poty Lazzarotto)

COLO DE MÃE

Colo de mãe é carinho, é afeto, é atenção. É sentir-se pequeninho implorando proteção. Colo de mãe é ternura, é pureza, é alegria. Onde até a vida mais dura não perda sua poesia. Lucivane Pastorio Mazutti

MULHER COM A CRIANÇA NO COLO

A mãe com o filho no colo Demonstra amor paixão e admiração Pelo pequeno ser que seu colo habita. No aconchego do abraço O filho ela toma. Como um ser dependente. Dos teus braços em abraços. Denise F. Cordeiro

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MULHER NEGRA DE DI CAVALCANTI Aqui olhando para você e pensando nas respostas que preciso. Estou meio sem direção. Eu confio em ti, mas sou humana, não consigo mais viver sem saber qual serão os seus sonhos para mim. Sei que está aqui, nunca me abandona, apesar de muitas vezes me sentir sozinha... Você é o que mais desejo. Não consigo imaginar minha vida sem você... Estou apaixonada, tento de todas as formas chamar sua atenção para mim, Eu preciso de ti, sou pequena demais, faço tudo pra te conhecer melhor. Queria dizer várias palavras lindas para mostrar como é a mais importante, mas tenho que dizer que a nossa história vem de muito tempo. Não é uma pequena paixão e nem um momento... é como acordar em um dia e ouvir sua doce voz que me guia. É sobrenatural nosso amor é além do normal, te dou o meu amor. Teus olhos podem ver além dos meus Teu sangue corre hoje em minhas veias, não sei explicar é sobrenatural. Rebeca B. Batista

UM CARINHO DE MÃE

Há! Como é bom um abraço. Um abraço apertado. Uma pessoa do meu lado. Gosto de você no meu coração. Me sentindo como um filho. Tendo em mim uma emoção. Manoelli Wesnievski

MÃE...

Mais que uma mulher... Mais que um apoio... É refugio. É fonte de vida... És humana e carinhosa. E mais bela que uma jóia formosa. Fernanda Barbik

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FIGURA 10 - SEM TÍTULO - WALTER FIRMO. (Rio de Janeiro, RJ, 1937). Não datado, 25,1x37,7cm. Fotografia em preto e branco. Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.

DOÇURAS ANTIGAS

Doce, doce infância... Que saudades da rua de “chão”... Que saudades da vizinhança... Doce, doce infância... Do céu da amarelinha... Das bolinhas de gude na minha mão... Doce, doce infância... Roda viva do pião... Que ainda hoje gira no meu coração...

Cristine Menezes A INFÂNCIA

Nos olhos da criança está a inocência Nos olhos da criança está O tempo da experiência da vida sofrida. Seja qual for a história de vida Cada criança expressa a sua maneira sentida.

Amanda Ataebe Lovato DUAS MENININHAS

Eu a minha amiga ali. De frente para a rua; Um olhar inesperado; Sem saber o que ia passar. Eu e a minha amiga ali; Observando o tempo passar; Sem saber o que esperar; O que ali nós íamos enxergar. Eu e a minha amiga ali; Escutando os estalos da boca da vaquinha; Sem sentir o gosto daquilo que ela comia; Mas sabíamos que ela feliz se encontrava. Eu e a minha amiga ali; Esperando o dia acabar e à noite chegar!!! Para no outro dia voltar!!! Luciane Cristina da Cruz

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ESTREBARIA

Era uma estrebaria... com muitas histórias de vacas leiteiras, bezerros, homens, mulheres e crianças. Era uma estrebaria... cercada por árvores, uma rua, e também duas crianças. Era uma estrebaria... Muito encantada, quantos trabalhadores ali já passaram e quantos famílias alimentadas. Era uma estrebaria... com muitas histórias Das histórias inventadas.

Francieli M. Karachenski

FIGURA 11 - SEM TÍTULO - EVANDRO TEIXEIRA, (Santa Inês, BA, 1945).. Não datada, 22,0x34,4cm, fotografia em preto e branco. Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.

O CASAMENTO

Chegou o grande dia, o dia que sempre esperei. Coloco meu vestido branco “Que linda!” Logo exclamei. Para dar sorte, em tudo acredito algo azul, algo novo. algo velho e algo emprestado não posso ser vista pelo homem amado. Chegou a hora na igreja vou entrar com sinos tocando e todos de pé a mim vão recepcionar. Aceitamo-nos um ao outro em nome de Deus e do amor na alegria e na tristeza na saudade ou na dor. A foto da lembrança

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é para todos mostrar e através desse poema meu casamento contar. Camila Lopes Tonatto

FIGURA 12 - SEM TÍTULO - LINA FARIA (Nova Esperança, Paraná, 1955. Não datada. 45,2x30,2cm, fotografia em cores. Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.

IMAGEM DE UMA JANELA ABERTA COM TRAVESSEIROS E LENÇÓIS

Janela aberta para a vida Aberta para a corrida Corrida dos sonhos ou dos desencantos. Vida, e vida das lembranças.

Deixe o sol entrar pela janela A iluminar a casa bela Da menina que espera Por um amor que a supera. Fernanda Sipriani A JANELA A janela aberta para a vida bela. bela vida, vida bela uma porta aberta. A janela é sempre esperança dela. A janela da vida tem que ser aproveitada. Uma janela da vida tem que ser vivida. O bom da janela aberta é o som da música dela.

Andréa Rúbia Silva

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FIGURA 13 - SEM TÍTULO -LUIZ BRAGA, Belém, PA, 1956. Não datado, 58,0x38,0cm, fotografia em cores. Museu da Fotografia Cidade de Curitiba.

A CASA ANTIGA A casa antiga Com o passar do tempo, Ficou toda esburacada. O ferro velho sempre à espera, Daquela mão que o guiara Pela mesa já cansada e pretinha. Pelo calor do ferro velho e pesado que, Por tristonho, num cantinho ficou todo embaraçado. Maria Viviane Ligeski

Finalizando esta parte das leituras intersemióticas produzidas pelos(as)

alunos(as) do 5º período do Curso de Pedagogia de 2009, deixamos a seguinte

mensagem nas palavras de Anamelia Bueno Buoro.

Uma das funções centrais do ensino da arte na escola deveria ser esta: a de construir leitores sensíveis e competentes para continuar se construindo, adquirindo autonomia e domínio do processo, fazendo aflorar, desse modo, ao toque do próprio olhar, uma sensibilidade de ser-estar-viver no mundo. (2002, p.63)

5.3 POEMA VISUAL – UMA PROPOSTA DE LEITURA

No prosseguimento das apresentações de experiências de leituras

intersemióticas, se traz para esse momento, um trabalho que foi realizado em 1993,

no Curso de Especialização em ARTES – ARTES PLÁTICAS, na Disciplina de

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SEMIÓTICA, ministrada pela professora Dra. Denise Guimarães da Universidade

Federal do Paraná, promovido pela então Faculdade de Artes do Paraná, situada na

Rua Paula Gomes, no Bairro São Francisco em Curitiba. Essa Disciplina teve a

seguinte Ementa: Semiótica: Poesia visual e pintura do séc. XX. Com a seguinte

programação:

I Introdução à Semiótica de Charles Sanders Pierce. Categorias sígnicas. Interpretante do signo. A questão do Ícone. Os dois eixos da linguagem. Linguagem e pensamento lógico e analógico. II Arte e linguagem(s). A função estética da linguagem. Relevo semiótico do texto estético. Proposta de leitura do poema visual como saturação do verbal no pictórico. III Intersemióse: teoria da tradução poética ou transcriação. Poesia visual e pinturas: propostas teóricas e técnicas expressivas afins. IV Práticas intertextuais. Análises de obras : as trocas intercódigos. V Transcriar : experiências criativas (do poema visual à comunicação visual).

Nas anotações das aulas de Semiótica desse Curso de Especialização de

1993, feitas pela então aluna, a professora Maria Francisca Vilas Boas Leffer é

possível ver registros contemplando as questões de leituras intersemióticas, como

por exemplo: o significado de primeiridade – ler do jeito que está (Ícone);

secundidade – vai organizando as palavras (Índice); terceridade – vai interpretar

(símbolo). Isso são os tipos de signos segundo Peirce, já discutidos anteriormente.

Nas folhas, hoje já amareladas pelo tempo, distribuídas em sala de aula,

pela então docente professora Denise Guimarães é possível ler as justificativas e

explicações dos conteúdos de operação intersemiótica, proposta para o trabalho que

aqui posteriormente será apresentado. Como o que segue:

TRANSCRIAÇÃO OU OPERAÇÃO INTERSEMIÓTICA Denise Guimarães O segundo texto é sempre um Interpretante (Peirce) do primeiro porque é produzido como uma síntese intelectual interpretativa. Tenta transmitir a mesma „qualidade de sentimento‟ (Peirce) do texto original, com novos elementos, tentando criar uma nova gramática (Visual, cinematográfica etc). Ver „Translucidação‟ – Haroldo de Campos. „A arte da Tradução Intersemiótica‟ – Júlio Plaza. (In; TRANSCRIAR. S. P. Museu de Arte Contemporânea/USP, 1985) Para a Semiótica, a reprodução icônica procura apresentar (primeiridade) uma percepção particular do objeto (no caso, do primeiro texto), tenta criar uma visão, não o reconhecimento do texto original. (GUIMARÃES, APOSTILA DO CURSO, 1993)

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Para a elaboração do trabalho, a professora Denise Guimarães passa as

seguintes orientações:

Procedimento intersemiótico (método) 1 Apreensão das estruturas básicas do texto primeiro e sua organização em um universo sígnico diferente. 2 Atenção às equivalências e relações possíveis entre os códigos ou os estilos em questão. 3 Captação análoga (Icônica) das grandes metáforas do primeiro texto, na busca das homologias, não da identidade. 4 Preenchimento paradigmática das „vigas-mestras‟ do texto original, ou seja seleção dos motivos ou temas „exemplares‟ (estruturantes básicos) a serem recriados. (GUIMARÃES, APOSTILA DO CURSO, 1993).

ANÁLISE INTERSEMIÓTICA 1 Elementos icônicos do primeiro texto X idem do segundo. 2 Elementos indiciais do primeiro texto X idem do segundo. 3 Elementos simbólicos do primeiro texto X idem do segundo. 4 Características estilísticas do primeiro texto X idem do segundo. 5 Princípios de organização dos textos em confronto: similaridade X contiguidade. 6 Campo antropológico de cada texto (figuras: metáforas, metonímias, antíteses, paradoxos, etc) OBS: No memorial descritivo: justificar a opção pela técnica usada.

5.3.1 Produção de leitura intersemiótica - transcriação ou operação intersemiótica / Leitura do poema visual como saturação do verbal no pictórico.

FIGURA 14 – GAGARIN – (1962) – Poema Visual - e Cassiano Ricardo (1895- 1974) Fonte: Texto tirado dos registros pessoais da professora Maria Francisca Vilas Boas Leffer, quando da participação do Curso de Especialização na Faculdade de Artes do Paraná- 1993, das aulas de Semiótica ministradas pela professora Dra. Denise Guimarães.

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5.3.2 Tradução Intersemiótica / Releitura

FIGURA 15 - GAGARIM- RELEITURA - 1993 Maria Francisca Vilas Boas – 1993 – colagem s/papel. Pesquisa em operações intersemióticas

5.3.3 Memorial Descritivo sobre a Figura 15 - leitura intersemiótica – as relações intertextuais.

Na minha produção procurei a similaridade nos seguintes momentos: usei a cor azul simbolizando o espaço cósmico e a terra, visto que a cor azul é a mais profunda das cores, o olhar penetra sem encontrar obstáculos, e se perde no infinito; o azul dilui-se na atmosfera, é a cor dos mistérios da alma, e diz muito dos mistérios espaciais de Gagarin. Diante do azul a lógica do pensamento consciente cede lugar à fantasia e aos sonhos. A belonave de Gagarin foi por muito tempo o seu sonho e sua fantasia. O azul atira o homem para o infinito e desperta nele o desejo de pureza e de sede do sobrenatural. Segundo Kandinsky, a tendência do azul para a profundidade é tão forte que nas suas tonalidades mais escuras, tornam-se mais intensa e age no íntimo da alma – é o elo de ligação entre o eu e o mundo exterior. Na organização do espaço, trabalhei a divisão áurea, buscando o equilíbrio entre o céu e a terra. A linha vertical simboliza o signo da vida, da atividade, da certeza, da estabilidade, e da masculinidade (de Gagarin). A linha vertical é o símbolo do espírito voltado para cima, da grandeza e da elevação, ela é o signo do direito e do poder. O losango no quadrado subtendido, usado como ponto, no lado direito inferior, é o símbolo primitivo do poder da Criação, do ventre que guarda a vida, dom divino concedido à mulher, e no jogo da similaridade tem a ver com o ovo da ave, com a natureza e com os que vão nascer. Este signo, protegido pelo quadrado masculino, representa o número quatro, simbolizando as quatro partes do poema de Cassiano Ricardo; as quatro estações do ano; os quatro pontos cardeais; e os quatro elementos da natureza: terra, água, fogo e luz. O ponto é o símbolo do início de tudo (a semente), por isso ele se apresenta numa posição ascendente; e também a fim das coisas (o grão de poeira); ele representa a menor substância (átomo, núcleo). O ponto é estático, mas nele está concentrada toda a tensão, de onde desloca o movimento – e o movimento é vida, e vida é cosmo. [...] O ponto quadrado mostra uma relativa imobilidade, os seus vértices podem encontrar-se em múltiplas relações, ele é introvertido cheios de possibilidades. (LEFFER, 1993)

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Nessa mesma linha de reflexões é apresentada uma outra tarefa pela

professora Dra. Denise Guimarães

TAREFA: Pensando no funcionamento dos hemisférios cerebrais; lembrando por que toda o artista é um criador de ícones : por que o poema visual quer transformar o símbolo em ícone? (GUIMARÃES, 1993).

A resposta da então aluna, Maria Francisca Vilas Boas Leffer, com base nos

textos apresentados por (Guimarães, 1993):

Todo poeta sente necessidade de outras palavras, ele luta com o seu hemisfério esquerdo, onde as palavras já estão prontas, organizadas. Ele nunca quer descrever uma coisa, mas sugerir, por isso há necessidade da desautomatização da leitura convencional. Os símbolos por sua vez são sinais convencionais da terceiridade (hemisfério esquerdo); o artista quer buscar no seu processo criativo, a independência e a transformação desses sinais, trabalha portanto, os ícones, que são tipos de signos que sempre sugere alguma coisa (primeiridade, hemisfério direito). Quando o artista precisa representar o objeto concreto, usa-se o símbolo; trabalha o pensamento lógico por contiguidade (hemisfério esquerdo); e os ícones trabalham o pensamento analógico por similaridade (hemisfério direito) ele tem do lado direito a capacidade criativa. Toda criação se dá por similaridade (hemisfério direito) o esquerdo é que vai sistematizar. Portanto, a passagem do poema visual para os ícones é uma transmutação da linguagem verbal para a linguagem formal.

Após essas reflexões relacionadas ao poema visual e verbal, passaremos às

análises dessas propostas que foram apresentadas.

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6 ANÁLISE DAS PROPOSTAS E EXPERIÊNCIAS DE PRÁTICAS

PEDAGÓGICAS.

As propostas aqui apresentadas promoveram oportunidades de um olhar

mais sensível e crítico, relacionadas à comunicação, imaginação e a ampliação de

conhecimentos, por meio da apreensão de diferentes signos, os quais permitem

representar e dar sentido às coisas do mundo.

As obras “Carretel Azul” de Iberê Camargo, “Amaú Turn Around” de Miguel

Rio Branco e “Pássaro de Papelão” de Alfredo Volpi, trouxeram uma mesma

temática: a infância vivida - nos convidando a um diálogo sobre esta temática,

reportando-nos às nossas ideias e sentimentos sobre estas, e nos fazendo remeter

à nossa própria experiência de infância, de tantos momentos vividos e queridos que

tenhamos na lembrança. Estilos, técnicas e elementos artísticos também podem ser

motivos de diálogos entre textos.

Da experiência que tivemos nas aulas de Artes II, no Curso de Pedagogia e

aqui apresentada sobre práticas de leituras intersemióticas foi possível perceber

que, muitas vezes somos tocados por temas universais como raças, etnias, ciclos

vitais, formas de trabalho, condição de maternidade e outros temas vistos nas fotos

expostas nos trabalhos, a da possível tradução intersemiótica. Foi possível perceber

a conexão das forças dos signos visuais para os signos verbais, por meio das

poesias e das reproduções de pinturas e fotografias.

Na proposta de trabalho ofertado em procedimentos específicos do método

de Guimarães (1993), foi possível perceber uma sequência lógica na análise

intersemiótica de elementos icônicos, indiciais e simbólicos nos textos que foram

trabalhados com os princípios de organização destes de similaridade e contiguidade.

Acredito que a interação entre a linguagem verbal e a não-verbal pode ser

explorada na produção de sentidos não só no ensino da Arte, mas nas mais diversas

áreas de conhecimento, melhorando assim, a qualidade do processo de ensino e

aprendizagem.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os teóricos, juntamente com as experiências pedagógicas aqui

apresentadas responderam ao problema da pesquisa. Isto porque, foi possível

discutir por meio das bases Semiótica e da Intersemiótica os fatos que enriquecem o

processo de alfabetização estética quando se oportunizam leituras intertextuais e

suas releituras por meio das interações entre signos.

Nesta pesquisa foi possível compreender conceitos fundamentais que se

remetem aos conteúdos do ensino da Arte na contemporaneidade, e nas suas

discussões com bases semióticas. Estes conceitos tratados nesta pesquisa se

referiram ao problema: “De que forma a Semiótica, como ciência das linguagens,

auxilia no processo de alfabetização estética, concernente às discussões

contemporâneas no ensino da arte?” Como resposta, sustentada nos autores e nas

experiências de práticas pedagógicas, aqui tratados, foi possível dizer que a

Semiótica permite desenvolver um olhar mais sensível e crítico quanto aos

significados dos objetos das diversas linguagens que frequentemente nos assolam

por meio do nosso olhar, sobre as mensagens cotidianas, que nem sempre nos

damos conta de sua importância e necessidade de decodificação.

Do mesmo modo, a Semiótica também nos auxilia no reconhecimento e na

compreensão dos significados dos elementos diversos, encontrados nas produções

artísticas de diversas épocas e culturas. A leitura das diferentes linguagens exige

funções simbólicas a serem decodificadas por parte do leitor. Isto porque, na

constituição de uma obra forma-se um texto a ser lido, dentro de um contexto

histórico e cultural.

As propostas e experiências de práticas pedagógicas contemporâneas

desenvolvidas por educadores e arte-educadores, concernentes à questão da

Semiótica na alfabetização estética trazidas neste trabalho acadêmico, fizeram com

que eu refletisse sobre a importância de valorizar imagens nas mais diversas formas

que são apresentadas no cotidiano escolar das crianças, incluindo-se, por exemplo,

livros didáticos e cartazes vistos nas paredes. Entendo que as imagens surgem na

rotina infantil e nos ambientes escolares e não escolares, de maneira que, se torna

útil a intervenção dos professores quanto aos significados destas, para um olhar

crítico e construtivo. Assim, no que se remete ao processo da pesquisa quanto aos

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objetivos propostos, foi possível discutir em contextos de bases semióticas as

propostas contemporâneas no ensino arte, considerando a arte como linguagem,

história e cultura.

Acredito, que esta pesquisa acrescentará muito em meu trabalho como

pedagoga, pois que, com muita frequência, nessa comunicação cotidiana, as

linguagens verbais e não verbais nos são desafiadoras. As práticas contemporâneas

em artes trazem propostas que podem fornecer subsídios para enriquecer o

entendimento de várias formas de comunicação, nas diversidades de signos.

A Semiótica e a Intersemiótica podem promover o desenvolvimento de um

repertório cultural mais rico e amplo nas práticas de leituras e releituras trabalhadas

nas aulas de artes e de outras áreas do conhecimento. Em suma, nessas reflexões,

concernentes à questão da semiótica na alfabetização estética, considero que foram

de bastante valia, uma vez que permitiram o exercício da atenção, sensibilidade,

criatividade e criticidade ao se ter contato com os signos e seus significados.

Por fim, o uso da Semiótica no cotidiano das práticas escolares, por meio de

leituras de imagens, vistas em livros didáticos de diversas áreas do conhecimento,

cartazes, desenhos infantis, gibis e paralelamente, com leituras de imagens

remetentes a obras de artes podem ampliar o repertório cultural destes numa

produção de significados.

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REFERÊNCIAS

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BUORO, Anamelia B. O olhar em construção: uma experiência de ensino e aprendizagem da arte na escola. 3. ed. São Paulo: Cortez, 1996.

BUORO, Anamelia B. Olhos que pintam: a leitura da imagem e o ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.

BUORO, Anamelia B.; KOK, Beth; ATIHÉ, Eliana A. O leitor de imagens: agora eu era. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2007.

FAZENDA, Ivani C. A. Dicionário em construção: interdisciplinaridade. São Paulo: Cortez, 2001.

PEIRCE, Charles S. Semiótica: estudos. São Paulo: Perspectiva, 1999.

PLAZA, Julio. Tradução intersemiótica. São Paulo: Perspectiva, 2008.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica? São Paulo: Brasiliense, 2005.

SANTAELLA, Lúcia. Leitura de imagens. São Paulo: Melhoramentos, 2012.