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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Claus Baumgarten Milioni
Análise Pedagógica do Movimento Escoteiro
São Paulo 2016
UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
Claus Baumgarten Milioni
Análise Pedagógica do Movimento Escoteiro
Trabalho de Conclusão do Curso de Ciências Biológicas, apresentado ao Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, como requisito para à obtenção do grau de Licenciado em Ciências Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Adriano Monteiro de Castro
São Paulo 2016
Resumo
O presente trabalho teve como objetivo fazer uma análise do pedagógica do
movimento escoteiro. Para tanto foi retirado do site oficial da União dos
Escoteiros do Brasil (UEB) um documento com os Princípios, Organização e
Regras (POR), no qual estão contidos tanto os fundamentos do escotismo,
como o seu programa educativo. A análise foi feita com base no autor norte-
americano John Dewey, sendo suas teorias pedagógicas comparadas às
práticas descritas no documento POR. A pedagogia ativa, a fidelização com a
realidade do jovem e da sociedade e o aumento progressivo da autonomia
viabilizado por vivencias dos jovens foram as principais semelhanças
descritas ao longo do trabalho.
Palavras chave: Escotismo. Pedagogia ativa. Educação não-formal.
Abstract
The following work had the objective of making a pedagogical analysis of the
scout movement (UEB). For the making, the Union of Brazilian Scouts
website provided a document with the Principals, the Organization and the
Rules (POR), in which contain both the fundamentals of scouting, as well as
its educational program. The analysis was done based off the new schoolist
author John Dewez and his pedagogical tears were compared to the practices
described on the POR document. The active pedagogy, the loyalty with the
youngs reality, the society and the progressive raise of the autonomy shown
by previous experiences from the youngs were the principal characteristics
described along the following work.
Key words: Scouting. Active pedagogies. Non formal education.
Sumário
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 4
2. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................. 5
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......................................................... 12
4. ANÁLISE DO PRINCÍPIOS ORGANIZAÇÃO E REGRAS (POR) ....................... 12
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 23
6. REFERÊNCIAS .......................................................................................... 24
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1. INTRODUÇÃO
A educação formal que é veiculada na maioria das escolas do Brasil e
do mundo vem apresentando problemas tanto em seus posicionamentos
referentes ao papel da educação, como na própria estrutura escolar. Na
esperança de encontrar alternativas, não para a escola, mas para a
educação como um todo, os locais de educação não formal cumprem um
papel de extrema relevância.
Ambientes destinados a promover cultura e educação de maneira
menos burocrática e tecnicista, permitem uma interação mais real e direta
com a comunidade e suas necessidades.
O escotismo, que é um movimento de educação não formal,
proporciona um ambiente favorável ao desenvolvimento dos jovens de
maneira cooperativa e ativa. E por esse movimento não ter sido concebido
como projeto educativo, mas ter se tornado inevitavelmente um, é
interessante fazer uma análise pedagógica de seus métodos e princípios.
Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise
pedagógica do programa educativo do movimento escoteiro no Brasil.
A semelhança entre a pedagogia ativa de John Dewey com os
princípios do escotismo no Brasil, motivaram o objetivo deste trabalho.
1. REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Enéas Martins Filho (1935) Baden Powell (BP), teve contato
com diversas culturas e comunidades. Ao longo de suas expedições buscou
ajuntar, com as melhores influencias de cada uma delas, maneiras de formar
homens para servirem ao exército britânico. Foi a partir desta experiência,
que BP, com grande sucesso, adaptou seu método para formar jovens,
naquele momento apenas homens, que contribuíssem como cidadãos dignos
para a sociedade.
É o próprio fundador do movimento quem faz a profissão de
fé desse ecletismo quando declara, que inspiraram seu
método o irlandês Chuhulain, Pedro o Grande, os Zulus, os
Maoris, os Peles Vermelhas, Hahn, John Founds, William
Smith, Thompson Setton, Dar. Beard e muitos outros
(MARTINS FILHO, 1935)
Sendo este um programa educativo tão rico em diversidade de
culturas e pontos de vista, entende-se o porquê de sua aceitação em tantos
países, tendo eles projetos de educação formal tão diversificados.
Gadotti (2012) traz um interessante conceito de Paulo Freire, o de que
toda educação é política, não sendo neutra e implicando em conceitos e
valores de uma determinada época ou visão de mundo. Portanto, apesar de
sua vasta vivência com diversos povos, é necessário levar em conta o
contexto histórico no qual BP foi criado e teve seus princípios construídos,
entendendo o que seria, para ele, criar uma sociedade mais harmônica e
justa.
O fundador do escotismo nasce e é criado na Inglaterra, no período
chamado de “Era Vitoriana”, período de intensa transformação política,
econômica e social inglesa. Como apresentado por Oliveira (2011), naquele
momento assumia o poder a rainha Vitória, visando retomar a credibilidade
da monarquia e seus preceitos morais, éticos e religiosos. Ainda segundo
este autor, era esperado que um homem útil a sociedade fosse aquele que
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valorizasse tradições, mantivesse um espírito patriótico e respeitasse os
valores morais e éticos.
Resquícios desta cultura Vitoriana e o fato de BP ter tido origens
militares, trazem grandes discussões à respeito do escotismo ser visto como
uma militarização da infância. Esta afirmação pode ser mais atrelada à
interpretação do método escoteiro, feita por parte dos grupos no Brasil, do
que ao método escoteiro em si. Martins Filho (1935) comenta isso em um
trecho de seu trabalho:
Mas o sucesso completo, favorecido em parte pelas
condições extra-escolares em que se processa, cabe, sem
dúvida, ao Escotismo, nos países que o souberam aplicar e
compreender (Inglaterra, França, Suiça e Portugal), tal como
foi idealizado pelo fundador do movimento e que não o
transformaram em uma organização pré e para-militar, como
acontece na Alemanha e Itália, ou em uma imitação grotesca
da vida militar, como, infelizmente se nota, em geral entre
nós. (MARTINS FILHO 1935)
Independente desta discussão, o escotismo é entendido como um
movimento extraescolar de educação. Entretanto, a conceituação de
escotismo como prática educativa não deveria fazer sentido para um
participante do movimento escoteiro, já que a aprendizagem neste acontece
de forma tão informal e lúdica, que acaba não sendo entendida como
educação pelos seus participantes. Evidência disso é a maneira que o próprio
BP descreve o escotismo. Um grande jogo ao ar livre.
Essa maneira lúdica de se conceber a educação, contrapõe o sistema
de ensino formal existente em nossas escolas. Para Gaspar (2002), o
sistema de ensino formal é aquele vigente em instituições específicas que
oferecem uma transmissão de determinados conhecimentos, apresentando
cursos em níveis, programas, currículos e diplomas.
Entendendo que a educação formal, aplicada principalmente nas
escolas, não é a única existente, cabe fazer um questionamento. Qual o
papel da educação?
Para John Dewey, segundo Anísio Teixeira (2010)1 a função principal
da educação em toda a sociedade é a de ajudar as crianças a desenvolver
um “caráter”- conjunto de hábitos e virtudes que lhe permitem realizar-se
plenamente, utilizando de seus talentos peculiares a fim de contribuir para o
bem estar de sua comunidade. Esta definição de educação coincide com os
princípios trazidos por BP. Simone Silvestre Santos Freitas (2016) elucida
que a missão do escotismo e contribuir para a educação do jovem, baseado
em sistema de valores que se sustentam na Promessa e na Lei Escoteira,
ajudando a construir um mundo melhor, onde se valorize a realização
individual e a participação construtiva em sociedade. Estas duas propostas
demonstram uma preocupação com a individualidade de cada participante,
trabalhando suas potencialidades, para que, assim, possam contribuir para o
progresso coletivo.
Mizukami (1986) aponta que temos na maioria de nossas escolas uma
abordagem de ensino, definida por ela, como Tradicional. Neste modelo de
educação, o aluno assume um papel completamente passivo no processo de
ensino e aprendizagem. O professor, que detêm todo o conhecimento, tem a
função de transmitir esse conhecimento para seus alunos, que, como define
Becker (1994) em sua pedagogia diretiva, não passam de folhas em branco
prontas para serem preenchidas pelo professor.
Este modelo vigente em nossas escolas restringe as possibilidades de
aprendizagem, não permitindo que a escola, instituição educativa oficial,
atinja os objetivos e cumpra a real função da educação, como definida por
Dewey (TEIXEIRA, 2010).
A comissão internacional sobre educação da UNESCO, coordenada
por Jacques Delors, traz um conceito de educação baseados em quatro
pilares. Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a conviver e
aprender a ser (DELORS, 1999). Esses pilares podem ser relacionados com
o ponto central da pedagogia defendida por Dewey: A educação como
reconstrução da experiência (TEIXEIRA, 2010). Ainda segundo este autor,
para Dewey, a experiência é a constante relação entre dois ou mais corpos,
que ao longo do processo, vão se modificando um em relação ao outro. Não
1 Texto escrito por Anísio Teixeira em 1971, tendo sido usado para a produção do arquivo da coleção educadores do MEC em 2010.
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cabe a educação permitir que o educando aprenda apenas a conhecer
determinado assunto, por ter sido transmitido ativamente pelo educador e
sendo absorvido pelo educando de forma passiva, como é descrito por
Mizukami (1986) em sua abordagem tradicional, ou por Becker (1994) com
sua pedagogia diretiva. Kishimoto (2011) traz a crítica feita por Dewey sobre
a maneira que, comumente, se educam as crianças. Para ele, não se deve
deixar o desenvolvimento dos jovens a mercê do acaso, semelhante à
abordagem humanista, descrita por Mizukami (1986), mas também não deve,
o educador, ser o protagonista no processo de ensino e aprendizagem,
excluindo a participação da criança. Como esta mesma autora descreve ao
tratar a abordagem tradicional ou comportamentalista.
Sendo o escotismo um movimento extraescolar por definição e,
portanto, um complemento à educação formal, torna-se necessária a
distinção entre educação formal, já definida anteriormente, e educação não
formal. Para Gadotti (2005), o não formal é uma educação menos
burocrática, não propõe currículos ou, necessariamente, etapas de
progressão. Ainda para este autor, o não formal ultrapassa os limites da
escola, levando em conta as experiências de vida, desenvolvendo autonomia
no indivíduo.
Assim sendo, o escotismo se enquadra como sistema de educação
não formal, já que as vivências no decorrer do processo fornecem a
possibilidade para que diversos conhecimentos sejam adquiridos e praticados
constantemente. Anísio Teixeira (2010), ao apontar as ideias de Dewey, traz
uma linha de raciocínio que se encaixa com essa proposta do escotismo. A
educação não faz sentido quando ela é concebida como meio de se adquirir
um produto, no caso, o conhecimento. A educação não deve ser vista como
uma preparação para a vida, mas sim como a própria vida. As experiências
vivenciadas por todos os indivíduos levam, inevitavelmente, ao processo
educativo.
Enquanto vivo, eu não estou, agora, preparando-me para vi-
ver e, daqui a pouco, vivendo. Do mesmo modo, eu não
estou em um momento preparando para educar-me e, em
outro, obtendo o resultado dessa educação. Eu me educo por
intermedio de minhas experiencias vividas inteligentemente.
Existe, sem duvida, certo decurso de tempo em cada
experiencia, mas assim as primeiras fases como as ultimas
do processo educativo tem todas igual importancia e todas
colaboram para que eu me instrua e me eduque – instrução e
educação que não são os resultados externos da
experiencia, mas a propria experiencia reconstruída e
reorganizada mentalmente no curso de sua elaboração.
(TEIXEIRA 2010)
Um ponto interessante na proposta de desenvolvimento atrelada ao
escotismo é a progressiva construção da autonomia e independência de
tomada de decisões dos jovens participantes.
Cada etapa de vida do escotismo está atribuída aos chamados
“ramos”, passando desde os pequenos castores2 (4 a 7 anos), que praticam
curtas atividades lúdicas organizadas pelos adultos, cabendo às crianças
apenas participar e se divertir, enquanto aprendem de maneira não formal a
conviver e respeitar o próximo, até o ramo dos Pioneiros (18 a 21 anos), no
qual não existe a figura de um adulto responsável por eles, sendo todas as
atividades escolhidas e organizadas pelos próprios participantes.
Entre esses dois ramos existem os Lobinhos e Lobinhas (7 a 11 anos),
Escoteiros e Escoteiras (11 a 15 anos) e os Sêniores e Guias (15 a 18 anos),
estando a figura do escotista adulto cada vez menos presente e menos
responsável pelas decisões que serão tomadas pelo grupo.
Diferentemente disso, o sistema de ensino formal vigente nas escolas
regulares brasileiras não garante necessariamente um desenvolvimento na
autonomia do aluno. Muitas vezes o conteúdo a ser ministrado em sala
aumenta progressivamente de complexidade, porém a postura tanto do
professor ou professora, quanto a dos alunos e alunas ficam estagnados. Os
jovens são sempre concebidos como indivíduos livres de conhecimentos e
vivências, tendo que assimilar o que o professor ou professora expõe para
eles pelo fato de ter mais estudo sobre aquele determinado assunto. Esse
2 O ramo Castores não foi ainda oficializado no Brasil, portanto não é descrito no documento analisado (POR)
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cenário escolar é amplamente descrito por Freire (2006)3, demonstrando que
além da hierarquia institucional existente em sala de aula, existe também
uma hierarquia em relação à detenção do conhecimento, tornando os jovens
eternamente dependentes dos adultos, por conta da ilusória falta de
conhecimentos necessários para tomarem suas próprias decisões.
Quando analisamos a definição de educação trazida por John Dewey,
“processo de reconstrução e reorganização da
experiencia, pelo qual lhe percebemos mais
agudamente o sentido, e com isso nos habilitamos a
melhor dirigir o curso de nossas experiencias futuras.”
(TEIXEIRA 2010)
percebe-se a preocupação em existir um progresso no processo de
experimentação do jovem. Neste processo de constante reconstrução, as
experiências vividas no passado e presente fornecem conhecimento e
vivências, para que as experimentações futuras sejam feitas com maior
segurança e consciência.
Apresentadas essas características do modelo educativo do escotismo
em comparação ao modelo vigente em nossas escolas, entende-se o porquê
de diversos participantes do movimento terem a utópica ideia de implementar
o método escoteiro nas escolas do país. Essa ideia parece extasiante para
um participante do movimento, que acredita em seu sucesso. Entretanto, a
ideia de se implementar o escotismo em nosso sistema formal de ensino não
condiz com seus ideais, de fato. Primeiramente, o escotismo surge como um
uma proposta de formação extraescolar. Como dito pelo próprio BP, o
escotismo não foi proposto como um movimento para substituir a escola, mas
como uma a oferta de uma distração educativa, motivada em educar a partir
do interesse dos próprios jovens (MARTINS FILHO 1935). Sendo isto
coerente com o que Gadotti (2005) aponta sobre a educação não formal.
Para ele, este tipo de educação apresenta objetivos específicos para
determinados subgrupos da população. Desta forma entendemos que,
3 Primeira edição do “Pedagogia do oprimido” foi lançada em 1996.
diferentemente da educação formal, que é um direito de todos, garantido pela
constituição, o escotismo é facultativo para seus participantes, garantindo
que a motivação de aprender seja interna dos participantes e não imposta por
uma necessidade de cumprimento curricular. Isto condiz com o ideário
deweyano, por acreditar que os professores não podem impor um sentimento
de responsabilidade social e democrática nas crianças, tendo que ser
construído um ambiente favorável para que elas se motivem a isso
(TEIXEIRA, 2010). Portanto não cabe ao movimento escoteiro se encarregar
de práticas escolares, já que o intuito deste não era que houvesse
necessariamente a obtenção de conhecimentos específicos pelos jovens,
mas que fosse estimulado o desejo neles em adquirir esses conhecimentos,
quaisquer que fossem necessários para desfrutar de certa atividade
(NASCIMENTO, 2008).
Quando pensamos esse modelo pedagógico na ótica de Becker
(1994), percebemos a semelhança com sua ideia de pedagogia relacional,
que pressupõe que professor e aluno tenham uma interação dinâmica, na
qual existe a mediação por parte do professor ou professora para motivar os
alunos e alunas a buscarem seus conhecimentos. Entendemos, portanto, que
tanto o movimento escoteiro, quanto a pedagogia de Dewey, podem ser
consideradas pedagogias ativas, tendo como elemento central a experiência.
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2. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Trata-se de um trabalho no qual será feita uma análise do ponto de vista
educacional do Princípios, Organização e Regras (POR). Este é o documento
oficial da União dos Escoteiros do Brasil (UEB), contendo os fundamentos do
escotismo, seu projeto educativo e forma de organização. Este é um
documento de domínio público, disponível no site da UEB, tendo sido
atualizado em janeiro de 2016.
Para tanto, foi realizada uma revisão bibliográfica quanto às práticas
pedagógicas, buscando autores e autoras que abordam a educação formal e
não formal. Foi enfatizada a teoria da pedagogia ativa, marcante da escola
nova, no início do século XX, com especial atenção ao pedagogo John
Dewey. As teorias de Dewey foram retiradas de autores e autoras que
escreveram sobre seus trabalhos e livros.
Para a análise do POR, foi feita uma seleção dos trechos que traziam
considerações relevantes do ponto de vista educativo do movimento
escoteiro, descartando aquelas que traziam apenas especificações técnicas,
que apesar de contribuírem para a ideologia do movimento, não eram
relevantes para a análise em questão.
A estrutura da análise apresenta os trechos do POR a serem analisados
em itálico e em seguida a análise propriamente dita em fonte normal.
Os tópicos do POR escolhidos para análise foram:
Fundamentos do Escotismo.
Programa Educativo.
Os tópicos não foram analisados na íntegra e trechos de outros tópicos foram
usados para embasar algumas análises.
3. ANÁLISE DO PRINCÍPIOS ORGANIZAÇÃO E REGRAS (POR)
REGRA 001 – DEFINIÇÃO DO ESCOTISMO
O Escotismo é um movimento educacional de jovens, sem vínculo a partidos
políticos, voluntário, que conta com a colaboração de adultos, e valoriza a
participação de pessoas de todas as origens sociais, etnias e credos, de
acordo com seu Propósito, seus Princípios e o Método Escoteiro, concebidos
pelo Fundador Baden-Powell e adotados pela União dos Escoteiros do Brasil.
REGRA 002 – PROPÓSITO DO ESCOTISMO
O proposito do Movimento Escoteiro e contribuir para que os jovens
assumam seu proprio desenvolvimento, especialmente do carater, ajudando-
os a realizar suas plenas potencialidades fisicas, intelectuais, sociais, afetivas
e espirituais, como cidadaos responsaveis, participantes e uteis em suas
comunidades, conforme definido pelo seu Projeto Educativo.
Sendo o escotismo um movimento educacional, torna-se essencial
entender qual seria o propósito da educação. Segundo Anísio Teixeira
(2010), o propósito da educação para John Dewey é a de ajudar as crianças
a desenvolver suas próprias potencialidades, a fim de contribuir
positivamente para comunidade em que vivem, denominando esta
capacidade individual de “caráter”. Tanto para Dewey, como para BP, não é
papel da educação fazer com que os jovens assimilem conhecimentos
específicos de forma passiva, mas sim criar um ambiente propício para que
as crianças, cada uma com suas individualidades, tenham vontade de se
desenvolver e atuarem como membros ativos da sociedade.
REGRA 010 – METODO ESCOTEIRO
O Metodo Escoteiro, com aplicacao planejada e avaliada sistematicamente
nos diversos niveis do Movimento, caracteriza-se pelo conjunto dos seguintes
pontos:
a) Aceitacao da Promessa e da Lei Escoteira - todos os membros
assumem, voluntariamente, um compromisso de vivencia da Promessa e da
Lei Escoteira.
b) Aprender fazendo - educando pela acao, o Escotismo valoriza:
- O aprendizado pela pratica;
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- O desenvolvimento da autonomia, baseado na autoconfianca e iniciativa; -
Os habitos de observacao, inducao e deducao.
c) Vida em equipe - denominada nas Tropas de “Sistema de Patrulhas”,
incluindo: - A descoberta e a aceitacao progressiva de responsabilidade;
- A disciplina assumida voluntariamente;
- A capacidade tanto para cooperar como para liderar.
d) Atividades progressivas, atraentes e variadas compreendendo:
- Jogos;
- Habilidades e tecnicas uteis, estimuladas por um sistema de distintivos; -
Vida ao ar livre e em contato com a natureza;
- Interacao com a comunidade;
- Mistica e ambiente fraterno.
e) Desenvolvimento pessoal com orientacao individual, considerando:
- A realidade e o ponto de vista de cada crianca, adolescente ou jovem; - A
confianca nas potencialidades dos educandos;
- O exemplo pessoal do adulto;
- Secoes com numero limitado de jovens e faixa etaria propria.
Um primeiro ponto a ser deixado claro ao se analisar o método
escoteiro é que, diferentemente da educação formal obrigatória, veiculada
nas escolas, o escotismo é um programa facultativo.
Não há maior inimigo do pensamento eficiente que o
interesse dividido. Infelizmente, essa divisão se produz,
frequentemente, na escola. O aluno presta uma atenção
externa, perfunctoria, ao professor, ao livro, a lição, enquanto
os pensamentos ínti- mos se lhe concentram em assuntos de
mais imediato interesse. Sua atenção e atenção de olhos e
ouvidos, mas o cerebro se ocupa de questoes que exercem
imediata atração. Sente-se obrigado a estudar porque
precisa responder a perguntas, passar em um exame, ser
promovido, ou porque deseja agradar ao professor ou aos
pais. (TEIXEIRA 2010)
Isso garante uma melhor adaptação dos seus membros, visto que a
escolha do participante é o que o torna realmente ativo no processo de
aprendizagem. Aprender deve ser prazeroso e significativo para o jovem, e
por mais que o escotismo crie um ambiente que permita uma vasta gama de
direções a seguir, a não participação é também uma escolha. Desta forma, a
aceitação da promessa e lei escoteira passa a ser mais significativa para o
participante.
O “aprender fazendo” e uma prática pedagogica que diferencia muito o
escotismo do método tradicional da educação formal. Segundo Aranha
(2006), a escola nova foi marcada pela educação ativa. Dewey, tendo sido
uma das maiores influências desta vertente pedagógica, pensava que para
se apropriar de determinados conhecimentos, era necessário praticá-los de
forma ativa.
A escola tradicional está organizada para permitir que se
pratiquem certas habilidades mecanicas e certas ideias, sem
cogitar da prática de outros traços morais e emocionais
desejáveis em uma personalidade. Como aprender, de fato,
honestidade, bondade, tolerancia, no regime de “deveres”
marcados para o dia seguinte? So uma situação real da vida,
em que se tenha de exercer determinado traço de caráter,
pode levar a sua prática e, portanto, a sua aprendizagem.
Daí ser necessário que a escola ofereça um meio social vivo,
cujas situaçoes sejam tão reais quanto as de fora da escola
(TEIXEIRA 2010).
A vida em equipe é um princípio fundamental do método escoteiro. No
ensino formal tradicional, alunos vivem suas vidas de forma individual,
desenvolvendo esforços mecânicos e padronizados, tendo esporádicos
eventos para trabalhar em grupo, sendo que a maioria das vezes dividem o
esforço do trabalho, atuando de forma individualista e juntando suas partes
no final. Como elucida Anisio Teixeira (2010), para Dewey, fomentar esse tipo
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de pedagogia estimulava a rivalidade e individualidade, sendo atrofiado o
sentimento social da criança. Ele acreditava que deveriam ser desenvolvidas
as potencialidades individuais dos jovens, para que pudessem contribuir, com
suas singularidades, para o benefício do coletivo. Dewey afirmava que, para
a escola fomentar o espírito social das crianças e desenvolver seu espírito
democrático, precisava organizar-se como comunidade cooperativa
(TEIXEIRA 2010). E isto é exatamente o que a organização escoteira propõe.
O sistema de patrulhas é descrito dentro do POR em diversos momentos,
elucidando a criação de um ambiente cooperativo.
II - As Patrulhas se constituem em base permanente, autonoma e
autossuficiente para a realizacao de excursoes, acampamentos, trabalhos,
jogos, boas acoes, atividades comunitarias e demais atividades escoteiras.
Cada Tropa Escoteira tera, no maximo, cinco patrulhas, desde que
respeitado o efetivo maximo.
I - Cada Patrulha e liderada por um dos seus integrantes, eleito pela propria
Patrulha e nomeado pelo Chefe de Secao para ser Monitor. O Monitor e
auxiliado em suas atribuicoes pelo Submonitor, que pode ser indicado pelo
proprio Monitor ou eleito pela Patrulha, conforme decisao do respectivo
Conselho de Patrulha.
II - O Monitor e o Submonitor nao necessitam ter um mandato de duracao
predeterminada e ocuparao seus cargos segundo avaliacao conduzida pelo
Conselho de Patrulha. O exercicio da lideranca e parte do Programa
Educativo do Ramo Escoteiro e todos devem ter a oportunidade de exerce-la.
III - O Monitor e um jovem que esta desenvolvendo sua capacidade de
lideranca. Como tal, e responsavel pela administracao, disciplina, treinamento
e atividades de sua Patrulha. Preside o Conselho de Patrulha, organiza a
programacao das reunioes e demais atividades, transmitindo aos
companheiros os conhecimentos, habilidades e tecnicas escoteiras. Cabe-lhe
zelar para que seus companheiros distribuam entre si, segundo criterios
proprios de cada Patrulha, as tarefas e os encargos necessarios ao seu bom
funcionamento.
I - O Conselho de Patrulha e a reuniao formal dos membros da Patrulha, sob
a presidencia de seu Monitor, para tratar de todas as tarefas necessarias ao
desenvolvimento de cada Ciclo de Programa e auxiliar na avaliacao da
progressao pessoal de seus integrantes.
II - O Conselho de Patrulha delibera sobre todos os assuntos de interesse da
Patrulha, inclusive suas atividades, admissao de novos membros, problemas
de administracao, treinamento e disciplina.
Sendo assim, a cooperação, o trabalho em equipe, o senso
democrático e de participação ativa não são ensinados aos jovens, mas são
essenciais para que o bom funcionamento do movimento ocorra, tendo que
ser praticados constantemente por eles.
Tendo sido apresentado e analisado os fundamentos do escotismo,
analisaremos em seguida o programa educativo descrito no POR
O Programa Educativo da União dos Escoteiros do Brasil visa atender
essencialmente o Propósito, os Princípios do Escotismo e o Método
Escoteiro, considerando-os pilares fundamentais para a prática escoteira.
São princípios fundamentais do Programa Educativo:
a) Atualizado: o Programa Educativo deve ser produto de uma reflexão
constante sobre as práticas educativas indicadas no Projeto Educativo da
União dos Escoteiros do Brasil e Método Escoteiro;
b) Relevante: deve considerar as características culturais, sociais, políticas e
econômicas da sociedade;
c) Significativo: deve considerar os interesses e satisfazer as necessidades
dos jovens;
d) Protagonismo juvenil: coloca o jovem como sujeito central do processo
educativo. É um programa “de” jovens e nao “para” os jovens. Isso significa
que a implementação do programa se realiza a partir das necessidades e
interesses dos jovens em geral (não somente os jovens integrantes do
Movimento Escoteiro) e conta com sua participação ativa, por considerar que
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eles são os principais agentes de seu próprio desenvolvimento;
e) Para todos: deve atender as necessidades dos jovens de todos os
segmentos da sociedade, devendo ter a flexibilidade necessária para que
possa adaptar-se a diversidade cultural, social, econômica, étnica, religiosa
ou de qualquer outra natureza;
f) Educa para vida: deve dar a oportunidade para que os jovens cresçam
como pessoas, de maneira progressiva, desenvolvendo-se como indivíduos
responsáveis, solidários, autônomos e comprometidos, de acordo com a Lei e
Promessa Escoteira;
g) Unidade na diversidade: apesar das diferentes adaptações para as
realidades locais, o Programa Educativo mantém a sua unidade. Enquanto a
unidade se expressa na fidelidade da aplicação do Propósito, Princípio e
Método Escoteiro, a diversidade se expressa nas distintas realidades onde o
Programa Educativo é aplicado;
h) Autonomia progressiva: deve dar a oportunidade para que os jovens
participem nos processos de tomada de decisão, tanto em âmbito local,
institucional e de sua comunidade, fazendo com que sejam protagonistas das
decisões que afetam suas vidas;
i) Vinculado com a realidade: o Programa Educativo deve ser uma
ferramenta que cria espaços para que os jovens experimentem coisas novas,
de acordo com suas necessidades de crescimento e do meio aonde se
desenvolvem. Por este motivo, os conteúdos do programa não podem ser
alheios à realidade dos jovens, do grupo e do meio onde se aplica, devendo
estar conectado com as frequentes mudanças da sociedade, criando espaços
para que os jovens vivam a realidade, descubram-na e cresçam como
pessoas.
Ao fazer uma análise dos principios do programa educativo deste
documento, percebemos como o vínculo com a realidade e a participação
ativa dos jovens é necessária para a aplicação do método. Para autores da
escolar nova e especialmente John Dewey, a educação se baseia em
processos de experiência que devem refletir a sociedade. Segundo Teixeira
(2010), não cabe à escola preparar o individuo para a vida ou para a
sociedade. Individuo e sociedade não existem de forma isolada, os dois
elementos fazem parte de um processo dinâmico constante, sendo os
processos de aprendizágem, intrinsecos à vida. Desta forma é essencial,
para qualquer projeto educativo, considerar as características culturais,
políticas e econômicas da sociedade, para que, constantemente, exista o
processo de questionamento, reflexão e mudança da mesma. Existindo esta
preocupação com a realidade social da qual os jovens fazem parte, atender
as necessidades de todos, independente de diferenças religiosas, etnicas,
econômicas ou de qualquer outra natureza, tem um papel central na
coerencia deste programa.
Como descrito no documento, ao elucidar a importância do
protagonismo juvenil, o movimento e um programa “de” jovens e não “para”
jovens, por se procupar com as necessidades e interesses dos jovens como
um todo e não apenas aqueles atuantes do movimento escoteiro. Quando
pensamos em pedagogias interacionistas, não nos restringimos somente à
classica interação “professor-aluno” ou “escotista-membro juvenil”, no caso
do escotismo. Como elucida Teixeira (2010), a interação mais importante
para o desenvolvimento da aprendizágem de maneira democrática e
cooperativa é a interação dos jovens com os proprios jovens. Este era um
dos princípios trazidos por Dewey de como deveria se formar um meio
dedicado a educação. Deveria ser a casa de confraternização de todas as
influencias de forma harmonica.
Denominada como “autonomia progressiva” pelos princípios do
programa educativo, esta pode ser observada tanto no andamento das
atividades do dia dia escoteiro, como na enfase educativa dos de cada ramo
descritos no POR.
REGRA 053 – ÊNFASE EDUCATIVA DO RAMO LOBINHO
I - Especialmente concebido para atender às necessidades de
desenvolvimento de crianças de ambos os sexos, na faixa etária
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compreendida entre seis anos e meio e dez anos, o Programa Educativo
aplicado ao Ramo Lobinho concentra sua ênfase educativa no processo de
socialização da criança.
REGRA 066 – ÊNFASE EDUCATIVA DO RAMO ESCOTEIRO
I - Especialmente concebido para atender às necessidades de
desenvolvimento de adolescentes de ambos os sexos na faixa etária
compreendida entre 11 e 14 anos, o Programa Educativo aplicado ao Ramo
Escoteiro concentra sua ênfase educativa no processo de criação e
ampliação da autonomia.
REGRA 084 – ÊNFASE EDUCATIVA DO RAMO SÊNIOR
I - Especialmente concebido para atender às necessidades de
desenvolvimento de jovens de ambos os sexos na faixa etária compreendida
entre 15 e 17 anos, o Programa Educativo aplicado ao Ramo Sênior
concentra sua ênfase educativa no processo de autoconhecimento,
aceitação e aprimoramento das características pessoais, auxiliando o
jovem na formação de sua identidade e a superar os principais desafios
com que se depara nessa etapa da vida.
REGRA 102 – ÊNFASE EDUCATIVA DO RAMO PIONEIRO
I - Especialmente concebido para atender às necessidades de
desenvolvimento de jovens-adultos, de ambos os sexos, na faixa etária
compreendida entre 18 e 21 anos, o Programa Educativo aplicado ao Ramo
Pioneiro concentra sua ênfase educativa no processo de integração do
jovem à sociedade, privilegiando a expressão da cidadania, auxiliando o
jovem a colocar em prática os valores da Promessa e da Lei Escoteiras
no mundo mais amplo em que passa a viver.
Com essas enfases educativas percebemos que não existem
determinados conhecimentos ou habilidades que devem ser adiquiridos pelo
jovem. Não existe um produto final que o jovem almeja alcancar a fim de ser
ou não aprovado, já que não existe o conceito de reprovação ao se passer de
um ramo para o seguinte.
A complexidade das enfases aumenta progressivamente e só
poderiam ser assim, já que é necessário uma gama de vivencias e
experiências para que seja possível progredir na construção das
potencialidades individuais dos participantes. Teixeira (2010) aponta que para
Dewey, o primeiro passo no processo educativo de crescimento é a
imaturidade. Imaturidade esta que representa a força necessário para o
desenvolvimento e nao apenas a impotencia em relação aos desafios. Este
autor não coloca, em momento algum, o adulto como modelo de ser
completo, maduro e simbolo de produto a ser alcancado pela criança. O
desenvolvimento humano, para ele, é indefinido, acontecendo ao longo de
toda a vida, porem no jovem é mais intenso.
Como percebemos no ramo lobinho, a enfase é a de socialização da
criança. Teixeira (2010) elucida que Dewey acreditava que a imaturidade,
característica dos mais jovens, tinha como principais traços a dependencia e
plasticidade. Dependencia, para ele, não se restringe a impotencia, mas seria
a característica de construir relações pessoas, de associar-se, de vive rem
comum. A plasticidade é a caracteristica que permite alterar habitos e seus
proprios atos em virtude de experiências vivenciadas anteriormente. É,
portanto, criar um ambiente no qual a socialização é o foco principal, é de
extrema coerencia nesa fase inicial da vida.
Dentro do programa educativo estão contidos os elementos do
mesmo. Ou seja, como se estrutura esse programa.
REGRA 051 – ELEMENTOS DO PROGRAMA EDUCATIVO
I - Os elementos que integram o Programa Educativo são os seguintes:
a) Organização em Ramos: os Ramos Lobinho, Escoteiro, Sênior e Pioneiro
são definidos a partir de faixas-etárias e fases de desenvolvimento. Cada
Ramo adapta o Método Escoteiro às características evolutivas e às
necessidades específicas da faixa etária;
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b) Áreas de desenvolvimento: considerando que o desenvolvimento do ser
humano ocorre em todas as dimensões de sua personalidade, o Programa
Educativo estabelece seis áreas de desenvolvimento: físico, intelectual,
social, afetivo, espiritual, caráter, para propiciar o desenvolvimento integral;
c) Objetivos educativos e competências: a malha de objetivos educativos
do Movimento Escoteiro confere coerência, continuidade e complexidade
crescente ao processo educativo. Para efeitos de aplicação e avaliação
desse processo, eles se apresentam sob a forma de competências;
d) Sistema de progressão pessoal: oferece aos jovens atividades a realizar
e os estimula na assunção da responsabilidade por seu próprio
desenvolvimento;
e) Instâncias democráticas de tomada de decisão: objetiva dar
possibilidades reais para que os jovens participem nos processos de tomada
de decisão em cada Ramo, considerando o crescente grau de
desenvolvimento da autonomia;
f) Planejamento participativo de atividades: por meio do qual as crianças,
adolescentes e jovens participam junto com os adultos educadores do
processo de planejamento, execução e avaliação da vida em grupo de suas
Seções;
g) Atividades educativas: são aquelas que oferecem aos jovens a
possibilidade de adquirir conhecimento, habilidades e atitudes
correspondentes aos objetivos educativos.
A organização em ramos, como descrito acima, divide os jovens por
faixas etárias e fases do desenvolvimento. Não cabe a esta análise discutir o
que representa cada fase do desenvolvimento e se elas de fato existem. O
fator marcante deste modelo é que existe interação direta e constante entre
jovens de diferentes idades e com diferentes experiências de vida. Na
maioria das escolas os jovens são separados a cada ano. Desta forma, não
existe troca de experiências entre aqueles que vivenciaram mais ou
diferentes experiências. Principalmente por conta do nosso modelo
educacional vigente, submeter os alunos aos mesmos estimulos,
desempenhando as mesmas tarfas e lendo os mesmos livros (TEIXEIRA,
2010).
O “sistema de progressão pessoal”, as “instâncias democráticas de
tomada de decisão” e o “planejamento participativo das atividades” deixam
claro a importância dedicada a evolução pessoal de cada jovem. A
possibilidade dos jovens serem agentes de seu desenvolvimento confere esta
característica marcante de serem trabalhadas as potencialidades dos
mesmo. Cada um explora e se desenvolve de de forma diferente,
contribuindo da melhor forma possivel para o progresso da comunidade.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O intuito deste trabalho foi fazer uma análise pedagógica do
escotismo, tendo como principal referencia o autor e pedagogo norte-
americano John Dewey. Para representar o método escoteiro e seu programa
educativo foi utilizado o POR (Princípios, Organizações e Regras),
documento oficial da União dos Escoteiros do Brasil.
A principal conclusão feita a partir deste trabalho foi a de que o
escotismo busca propiciar um ambiente diverso e regado de estímulos
permitindo que os jovens desenvolvam suas individualidades da melhor
maneira possível. E que a proposta educativa que norteia o movimento
escoteiro se assemelha muito as chamadas pedagogias ativas do início do
século XX, nas quais o jovem é o protagonista no processo de seu
desenvolvimento. Por último, é interessante ressaltar que tanto essas
pedagogias, como o escotismo, tem um compromisso em fazer com que o
processo educativo não seja distante da realidade dos jovens e da
sociedade.
O presente trabalho foi uma análise teórica e teve como base de
dados um documento oficial. Entretanto, muitas vezes o que esta redigido
nos documentos normativos de qualquer instituição, não é o que é aplicado
na prática. Aqueles que já leram projetos politico pedagógicos de escolas
sabem à que me refiro. Sendo assim, uma análise baseada em observações
feitas nas atividades, relatos de participantes e entrevistas com escoteiros e
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escoteiras trariam uma percepção mais fiel da realidade educativa deste
movimento.
5. REFERÊNCIAS
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F. Educação e Realidade. Porto Alegre: Artmed, 1994. p. 89-96.
DELORS, J. et al. Educação: um tesouro a descobrir. In: Relatorio para a
UNESCO da Comissão Internacional sobre educação para o seculo XXI. 2.
ed. São Paulo: Cortez: Brasília-DF. MEC: UNESCO, 1999
GADOTTI, M. A questão da educação formal/não-formal. Sion: Institut
Internacional des Droits de 1º Enfant, p. 1-11, 2005.
GADOTTI, M. Educação popular, educação social, educação comunitária:
conceitos e práticas diversas, cimentadas por uma causa comum.. In:
CONGRESSO INTERNACIONAL DE PEDAGOGIA SOCIAL, 4., 2012, São
Paulo. Proceedings online... Associação Brasileira de Educadores Sociais,
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GASPAR, A. A educação formal e a educação informal em ciências.
Massarani L., Moreira IC, Brito F. orgs, p. 171-183, 2002.
MARTINS FILHO, E. O escotismo como fator educativo. 1935
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática
educativa. São Paulo: Paz e Terra, 2006.
KISHIMOTO, T. M. Apresentação: cultura como meta John Dewey. Pro-
Posições, v. 22, n. 2, p. 209-213, 2011.
FREITAS, S. S. S. O Escotismo E As Práticas Escolares No Brasil.
Disponível em
<http://www.unit.br/hotsites/2011/enc_formacao_professores/arquivos/artigos/
GT_1_ESPACOS_EDUCATIVOS/O_ESCOTISMO_PRATICAS_ESCOLARE
S_BRASIL.pdf>. Acesso em 05 de Nov. 2016.
MIZUKAMI, M.G.N. Ensino: As abordagens do processo. In: MIZUKAMI,
M.G.N. Temas básicos de Educação e Ensino. São Paulo: EPU. 1986.
NASCIMENTO, J. C. A ESCOLA DE BADEN-POWELL. Cultura escoteira,
associação voluntária e escotismo de Estado no Brasil. Rio de Janeiro:
Imago, 2008.
OLIVEIRA, J. R. C. Movimento escoteiro: A vida de Baden Powell e o
nascimento do escotismo. (1907-1908). Vitoria, 2011.
TEIXEIRA, A. A pedagogia de Dewey. In: Coleção educadores MEC. John
Dewey. Brasil: Editora Massangana da Fundação Joaquim Nabuco, 2010. p.
33-55
FOLHA FINAL DE CIÊNCIA
Eu, professor (a) Adriano Monteiro de Castro , estou ciente do conteúdo do
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado pelo aluno (a) Claus Baumgarten
Milioni, com o Título Análise Pedagógica do Movimento Escoteiro a ser
defendido em sessão pública como parte dos requisitos para a obtenção do grau
de bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
_________________________________________________
Assinatura do aluno
_________________________________________________ Assinatura do orientador (a) – Universidade Presbiteriana Mackenzie _____________________________ Local e Data