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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE ESCOLA DE MÚSICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA APRENDIZAGEM MUSICAL NA ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFRN Ana Claudia Silva Morais Natal/RN 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

APRENDIZAGEM MUSICAL NA ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFRN

Ana Claudia Silva Morais

Natal/RN

2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

ESCOLA DE MÚSICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

APRENDIZAGEM MUSICAL NA ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFRN

Ana Claudia Silva Morais

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Música da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – UFRN – como requisito

para a obtenção do título de Mestre em Música.

Orientadora: Profª. Dra. Amélia Martins Dias Santa Rosa

Natal/RN

2015

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Dedico este trabalho à minha família (mãe, pai, tia, irmãs e esposo) por todo amor e

carinho doados a mim. Especialmente à minha mãe pelo esforço, perseverança, incentivo e

amor incondicional em toda minha trajetória musical e em minha vida. Amo vocês!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pelo dom da vida, por iluminar meus caminhos e me

fortalecer a cada dia com seu amor e bênçãos divinas.

A minha mãe, Maria das Graças Silva, por seu amor incondicional, por ter motivado

minha história de vida musical, por estar sempre me incentivando a conquistar meus sonhos e

objetivos e me orientando com sabedoria para trilhar as estradas da vida em todo tempo...

À minha tia, Maria de Jesus da Silva, pelo amor, carinho e apoio de todas as horas. Por

nos acompanhar cotidianamente oferecendo disponibilidade e suporte nos estudos, trabalhos e

na vida.

Ao meu pai, Samuel Leandro de Morais, pelo amor, carinho e compreensão durante a

caminhada da vida.

Às minhas queridas irmãs, Maria Conceição e Clarissa Maria pelo amor mútuo, pela

amizade sincera, por saber que posso contar sempre com elas!

Ao meu amado esposo por seu amor, carinho e apoio diários. Pela compreensão,

prontidão e paciência em me ouvir, sempre disposto a ajudar, revisar o texto e a refletir sobre

os diversos aspectos dessa jornada acadêmica.

A minha orientadora, professora Dra. Amélia Martins Dias Santa Rosa, pelo exemplo

de amor e humanidade em seu fazer docente, por seus ensinamentos, paciência e amizade

dispensados durante todo esse percurso acadêmico.

Aos professores André Muniz e Zilmar Rodrigues por oportunizarem a realização

dessa pesquisa no contexto orquestral da UFRN e também por todo carinho, atenção,

confiança e amizade dedicados a mim. André, grata por tudo!

Aos professores Luis Ricardo Silva Queiroz e Carla Santos pelas sábias palavras e

orientações dedicadas com zelo durante a elaboração do trabalho escrito.

A professora Carolina Chaves Gomes por suas orientações durante a docência

assistida, por sua amizade e carinho em momentos de dúvidas na vida acadêmico-profissional

e por tudo!

A Dejadiere (Deja) por ser tão gentil e eficaz em seu fazer, na secretaria da pós-

graduação, nos acompanhando durante essa trajetória acadêmica.

A todos os professores do programa de pós-graduação em música da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) que de modo particular e especial compartilharam

seus conhecimentos, nos incentivando a crescer academicamente e enquanto profissionais.

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Aos demais professores da Escola de Música da UFRN com quem tive satisfação de

conviver e aprender durante todo o tempo em que estudei nessa instituição, desde a minha

infância até hoje.

A todos os participantes da Orquestra Sinfônica da UFRN (equipe administrativa,

apoio, comissão artística e músicos) pela oportunidade de caminharmos juntos, pelo

acolhimento, desprendimento, disponibilidade dos mesmos durante a pesquisa e por

inspirarem esse trabalho.

Aos colegas de curso pela vivência e ajuda mútua em momentos de dúvidas e

incertezas, assim como em momentos de alegria e partilha (Catarina Aracelle, Priscila Gomes,

Marcus Vinicius – Montanha, Ernandes Candeia, Isac Rufino, Jacó Freire, Anderson

Henrique e Washington Nogueira).

Aos alunos do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia – IFRN e colegas

de trabalho dos campi Pau dos Ferros (Glória, Ana Cristina e Alian) e São Paulo do Potengi,

pela amizade, conselhos, compreensão e votos positivos durante essa trajetória.

E a todos que compõem a Escola de Música da UFRN, servidores, alunos/colegas,

terceirizados, enfim, aqueles que direta ou indiretamente contribuem para a minha formação

diariamente. A todos, muito obrigada!

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RESUMO

A música e a educação musical estão presentes no cotidiano das pessoas de diversas formas e

em múltiplos contextos. Neste estudo, destaca-se a formação musical no contexto orquestral

objetivando compreender como acontece a aprendizagem musical na Orquestra Sinfônica da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – OSUFRN. Para atingir esse objetivo, buscou-se

identificar quais atividades são inerentes à OSUFRN, assim como sua estrutura e funcionamento;

observar o desenvolvimento das atividades do grupo, verificando as interações presentes entre os

participantes da orquestra e compreender as diferentes maneiras de se aprender música no contexto

orquestral. O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da

formação instrumental na educação musical, a aprendizagem em si e as relações entre jovens e música

no contexto da aprendizagem na prática musical coletiva. Os procedimentos metodológicos adotados

nesta investigação correspondem à abordagem qualitativa e ao estudo de caso com participantes da

orquestra sinfônica da referida instituição. A coleta de dados foi estabelecida por meio de observações

in loco das atividades desempenhadas pelo grupo, de acordo com sua agenda de ensaios e

apresentações, e de entrevistas semiestruturadas realizadas com o maestro e com participantes que

possuíam mais tempo de experiência na orquestra. Além disso, o uso de fotografias e filmagens

auxiliou em todo o processo de coleta e construção dos dados, permitindo análises posteriores. A

análise e interpretação desses dados foram efetivadas pela técnica de Análise de Conteúdo

apresentando categorias que revelam a aprendizagem musical através de instâncias de aprendizagem

percebidas nos ensaios, concertos, na convivência com o maestro e entre músicos, com professores

colaboradores do projeto e músicos convidados, individualmente, nas viagens e intercâmbios com

outros grupos orquestrais. Desse modo, as atividades desenvolvidas pelo grupo possibilitam uma

formação musical integral que orienta seus componentes a adquirir autonomia de sua aprendizagem,

preparando-os para o futuro profissional.

Palavras-chave: Orquestra Sinfônica. Prática musical coletiva. Aprendizagem musical. Formação

Instrumental.

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ABSTRACT

Music and music education are present in the daily lives of people in different ways and in

multiple contexts. In this study, we highlight the musical training in the orchestral context aiming to

understand how learning music happens in the Symphony Orchestra of the Universidade Federal do

Rio Grande do Norte – OSUFRN. To achieve this goal, we identified all the activities, structure and

functioning in OSUFRN; we have observed the development of activities of the group by checking

the interactions among the participants of the orchestra and the different ways to learn music in that

orchestral context. The research is based on discussions about collective musical practice, instrumental

training in music education, the process of learning and the relationship between young people and

music in the context of collective musical practice learning. Qualitative approach and case study were

used as methodological procedures. Data collection was established by means of on-site observations,

accompanying of the activities, rehearsals and performances of group and semi-structured interviews

with the conductor and some participants with more time in the orchestra. We have also used

photographs and footage that helped us in the procedure collection and construction of data. The

analysis and interpretation of these data were enforced by Content Analysis featuring. It reveals the

musical learning, through learning instances perceived in rehearsals, concerts, in living with the

conductor and between musicians, teachers, employees and guest musicians, individually in travel and

exchanges with other orchestral groups. In this way the activities developed by the group enable a

comprehensive musical education that guides to acquire autonomy in their learning and preparing

them for future careers.

Keywords: Symphony Orchestra. Collective musical practice. Music learning. Instrumental training.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1: Publicações sobre a prática orquestral no contexto da educação musical.... 15

FIGURA 2: EMUFRN (1991).......................................................................................... 24

FIGURA 3: EMUFRN (2004).......................................................................................... 24

FIGURA 4: Barreira utilizada durante a audição da seleção de alunos............................ 26

FIGURA 5: Músicos dispostos atrás das cortinas do palco Onofre Lopes – EMUFRN.. 26

FIGURA 6: Projeto Parcerias Sinfônicas - “Vinícius – uma canção pelo ar”.................. 30

FIGURA 7: Ensaio de naipe (cordas) com regente assistente (Flávia Seabra)................. 37

FIGURA 8: Ensaio geral no auditório Onofre Lopes (EMUFRN)................................... 37

FIGURA 9: Concerto erudito no auditório Onofre Lopes (EMUFRN)............................ 39

FIGURA 10: Concerto com repertório popular em Currais Novos/RN............................. 39

FIGURA 11: Concerto didático.......................................................................................... 41

FIGURA 12: Parcerias Sinfônicas em Currais Novos/RN................................................. 44

FIGURA 13: Concerto no Teatro Riachuelo...................................................................... 45

FIGURA 14: Músicos no hall da EMUFRN (23/10/13)....................................................... 45

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................ 11

CAPÍTULO 1

1

PRÁTICA ORQUESTRAL NA EDUCAÇÃO MUSICAL E A

ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFRN........................................................ 14

1.1

Educação musical e orquestra: levantamento da produção acadêmico-

musical............................................................................................................... 14

1.2 Contexto orquestral......................................................................................... 21

1.3 A orquestra sinfônica da UFRN..................................................................... 23

1.3.1 Estrutura organizacional da OSUFRN............................................................... 27

1.3.2 Parcerias Sinfônicas........................................................................................... 29

1.4 Delimitando o foco de pesquisa....................................................................... 31

CAPÍTULO 2 32

2

ASPECTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO NA

ORQUESTRA SINFÔNICA DA UFRN........................................................ 32

2.1 Abordagem qualitativa e estudo de caso........................................................ 32

2.2 Procedimentos de coleta de dados.................................................................. 33

2.2.1 Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)........................................ 33

2.2.2 Pesquisa documental e bibliográfica.................................................................. 34

2.2.3 Observação participante..................................................................................... 34

2.2.3.1 Observações no ensaio...................................................................................... 35

2.2.3.2 Observações nos concertos................................................................................ 38

2.2.3.3 Observações durante as viagens........................................................................ 42

2.2.4 Diário de Campo................................................................................................ 46

2.2.5 Entrevistas Semiestruturadas............................................................................. 47

2.2.6 Registros fotográficos e gravação em vídeo...................................................... 49

2.3 Organização e análise de dados...................................................................... 50

CAPÍTULO 3 54

3

RELAÇÕES ENTRE PRÁTICA ORQUESTRAL E EDUCAÇÃO

MUSICAL: contribuições teóricas................................................................... 54

3.1 Práticas musicais coletivas.............................................................................. 54

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3.2 Aprendizagem em grupos............................................................................... 57

3.3 As relações entre os jovens e a música........................................................... 60

3.4

Formação instrumental no contexto da escola

especializada..................................................................................................... 64

CAPÍTULO 4 69

4 CONCEPÇÕES E INSTÂNCIAS DE APRENDIZAGEM NA OSUFRN. 69

4.1 Convivência e aprendizagem em grupo......................................................... 72

4.1.1

Aprendizagem nos ensaios e concertos: diversidade sociocultural no

relacionamento com participantes da OSUFRN................................................ 75

4.1.2 Aprendizagem nos ensaios e concertos: ouvir o outro na coletividade............. 79

4.2 Estratégias de formação e interações............................................................. 80

4.2.1 Planejamento e metodologia do maestro........................................................... 82

4.2.2 Aprendizagem individual.................................................................................. 85

4.2.3 Aprendizagem com o maestro e músicos convidados....................................... 87

4.3 Concertos, viagens e intercâmbios................................................................. 92

4.3.1 Aprendizagem nos concertos............................................................................. 93

4.3.2 Viagens e intercâmbios...................................................................................... 96

4.4 Perspectiva de futuro e profissionalização dos músicos............................... 101

CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................... 107

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 111

APÊNDICES.................................................................................................................... 120

APÊNDICE A: Ofício de autorização do maestro para realização da pesquisa................ 121

APÊNDICE B: Termo de autorização do maestro para a utilização de seu nome

real..................................................................................................................................... 122

APÊNDICE C: Termo de autorização da regente assistente para a utilização de sua

imagem............................................................................................................................... 123

APÊNDICE D: TCLE referente à entrevista do maestro.................................................. 124

APÊNDICE E: TCLE referente às entrevistas dos músicos............................................. 125

APÊNDICE F: Roteiro de entrevista semiestruturada do maestro................................... 126

APÊNDICE G: Roteiro de entrevista semiestruturada dos músicos................................. 128

APÊNDICE H: Trabalhos encontrados na literatura pesquisada e categorizados no

contexto orquestral............................................................................................................. 130

ANEXOS........................................................................................................................... 135

ANEXO A: Edital OSUFRN 2014.................................................................................... 136

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ANEXO B: Portaria n.007/2014........................................................................................ 144

ANEXO C: Resolução n.69/82 – CONSUNI – 1982........................................................ 145

ANEXO D: Imagens de divulgação de concertos............................................................. 155

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INTRODUÇÃO

A educação musical é uma área do conhecimento que contempla o ensino e

aprendizagem de música em espaços e contextos diversos. Este estudo dirige-se ao âmbito da

formação instrumental, prática orquestral, desenvolvendo-se no espaço da Orquestra

Sinfônica da Escola de Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – EMUFRN.

Nesse contexto busquei investigar sobre a aprendizagem e as relações interpessoais existentes

em um grupo orquestral específico objetivando compreender como acontece a aprendizagem

musical na Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

Para tanto, a partir dos objetivos específicos delineados foi possível identificar quais

atividades são inerentes à Orquestra Sinfônica da UFRN – OSUFRN; conhecer sua estrutura e

funcionamento; observar o desenvolvimento das atividades cotidianas do grupo; identificar as

interações presentes entre os participantes da orquestra e compreender as diferentes maneiras

de se aprender música no contexto orquestral.

A escolha por este tema de pesquisa se deu pelas relações estabelecidas durante a

minha trajetória musical com a instituição, EMUFRN, e com o grupo orquestral estudado.

Desde sua criação aos dias de hoje, a EMUFRN desenvolve diversas atividades de ensino,

pesquisa e extensão, das quais tive oportunidade de participar ativamente, como o curso da

flauta-doce (Preparatório, Médio e Final), o curso básico em piano e, em seguida, o curso de

percussão erudita no nível básico e técnico. Em nível superior, concluí a graduação em

Licenciatura em Música e Especialização em Educação Musical na Educação Básica,

reingressando posteriormente no Bacharelado com habilitação em percussão. Em comunhão

com as aulas de instrumento, havia na Escola de Música da UFRN formações de grupos

musicais, tais como: grupo de flautas, grupo de percussão, banda sinfônica, big band,

orquestra sinfônica, entre outros. Dentre esses grupos citados, na Orquestra Sinfônica da

UFRN, além de participar do grupo como instrumentista, atuei como diretora administrativa,

função exercida por ter formação em música e também em administração. Daí o interesse e

ligação com o tema proposto, além da facilidade de acesso e admiração pelo trabalho

desenvolvido nesta orquestra.

A partir da prática administrativa e do pensamento pedagógico originado da minha

formação acadêmica, surgiram algumas reflexões acerca desse grupo. Enquanto

instrumentista estava direcionada para o fazer artístico-musical, preocupava-me em estudar as

obras do repertório para executá-las durante os ensaios e apresentações juntamente com os

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colegas da orquestra, principalmente aqueles que compunham o mesmo naipe. Ao iniciar o

trabalho de cunho administrativo, passei a perceber o grupo de maneira diferenciada. Obtive

uma visão mais ampla dos procedimentos necessários para um grupo de grande porte

desenvolver-se com celeridade diante dos processos administrativos, os quais são exigidos por

estar vinculada a uma instituição federal de ensino. E consegui observar os colegas músicos,

bem como seus comportamentos humanos durante as atividades artísticas de maneira global.

Além disso, acompanhava as atividades desempenhadas por eles e apreciava o resultado final

nas apresentações. Contudo, mesmo com pouca proximidade com os colegas, pude perceber

que havia diversas aprendizagens entre as diferentes trocas ali estabelecidas. Por isso, quis

compreender como se dava o processo da construção do saber e da aprendizagem musical

neste grupo de prática musical orquestral.

Sendo assim, esta pesquisa é um estudo de caso norteado pela abordagem qualitativa,

necessária para tratar de questões sociais e humanas. Os dados foram construídos através de

observações das atividades comuns ao grupo, como ensaios, concertos e viagens, e entrevistas

semiestruturadas com o maestro e com os músicos que possuíam mais de um ano de

experiência na orquestra. Por meio dessa vivência com os sujeitos pesquisados, percebe-se

que para alcançar os objetivos performáticos propostos pela formação da orquestra há uma

série de processos intrínsecos ao fazer musical orquestral, como o estudo individual e em

grupo do repertório proposto, a postura exigida durante ensaios e apresentações, a disciplina

com horários, frequências e assiduidades, o desenvolvimento da percepção coletiva, entre

outros aspectos, que podem interferir em um grupo orquestral.

Entender como essas particularidades se efetivam nesse grupo em específico, assim

como compreendê-los nos seus processos de aprendizagem e performance proporcionam

reflexões para a formação musical do participante, estudantes de música, músicos e

educadores musicais acerca da aprendizagem musical no contexto orquestral.

Este trabalho está estruturado em quatro capítulos que foram pensados para descrever

os percursos metodológicos, as dimensões teóricas que orientam o estudo, as conclusões

obtidas a partir do problema de pesquisa, assim como todas as escolhas realizadas durante o

processo investigativo. O primeiro capítulo visa apresentar um levantamento da produção

acadêmico-musical com ênfase em trabalhos relacionados à formação musical em grupos

buscando mapear a presença desta temática nas discussões da área, assim como o histórico,

estrutura e funcionamento da orquestra sinfônica da UFRN a fim de facilitar a compreensão

do leitor sobre o contexto da pesquisa.

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O segundo capítulo apresenta os caminhos metodológicos adotados durante a

investigação, expõe as escolhas dos instrumentos de coleta e construção de dados, bem como

descreve sobre a organização e análise dos dados obtidos na investigação.

O terceiro capítulo apresenta uma reflexão teórica sobre as práticas musicais coletivas,

a aprendizagem em grupos, as relações interpessoais presentes entre o público jovem e a

música, e sobre a formação musical instrumental no contexto da escola especializada. Os

autores selecionados fundamentam e contribuem para este estudo diante da aprendizagem

musical no contexto orquestral, auxiliando no desvelamento e compreensão dos dados

encontrados no campo empírico.

O quarto capítulo trata da apresentação dos resultados gerados a partir da análise e

interpretação dos dados, apontando os principais aspectos e instâncias de aprendizagem na

OSUFRN, e o modo como acontecem sob a perspectiva dos seus participantes. Assim, estes

capítulos objetivam responder ao questionamento inicial da pesquisa: “como acontece a

aprendizagem musical na Orquestra Sinfônica da UFRN?” apresentando as particularidades

desse grupo orquestral, assim como as concepções de seus participantes acerca da

aprendizagem musical e da sua formação musical e profissional.

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CAPÍTULO 1

1 PRÁTICA ORQUESTRAL NA EDUCAÇÃO MUSICAL E A ORQUESTRA

SINFÔNICA DA UFRN

Este capítulo apresenta uma revisão bibliográfica sobre a formação musical

instrumental e a prática orquestral sob a visão da educação musical. Inicialmente, expõe um

panorama da produção científica brasileira a partir de artigos, dissertações e teses sobre a

educação musical no contexto orquestral; em seguida, apresenta a estrutura, histórico e

funcionamento da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte –

UFRN, afim de facilitar a compreensão do leitor sobre o contexto da pesquisa.

1.1 Educação musical e orquestra: levantamento da produção acadêmico-musical

Com a intenção de conhecer os trabalhos desenvolvidos no contexto orquestral,

realizei uma busca sobre essa temática em periódicos da área de música e anais de congressos

científicos nacionais, promovidos pela Associação Brasileira de Educação Musical – ABEM e

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Musica – ANPPOM, assim como em

monografias de especialização, dissertações de mestrado e teses de doutorado, entre os anos

2000 e 2014.

Para a seleção dos trabalhos, tomou-se como critério de escolha, textos que tratassem

de grupos instrumentais cujas atividades musicais são desenvolvidas no contexto orquestral,

observando nos mesmos: título, resumo, objetivos e palavras-chave. Nesta consulta, não

foram contemplados grupos formados por um único tipo de instrumento, como exemplo:

orquestra de violões, orquestra de clarinetes, entre outros, por considerar que melhor se

assemelha ao objeto de estudo grupos com formação instrumental diversa. Desse modo, nas

fontes de pesquisa consultadas foi possível encontrar cinquenta e dois trabalhos publicados.

Os periódicos investigados foram a Revista da ABEM; a OPUS, revista eletrônica da

ANPPOM; a Música Hodie, revista do programa de pós-graduação da Universidade Federal

de Goiás; a Em Pauta, revista do programa de pós-graduação em música da Universidade

Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); a Ictus, periódico do programa de pós-graduação em

música da Universidade Federal da Bahia (UFBA); a revista Claves, do programa de pós-

graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB); a Per Musi, do programa de pós-

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graduação em música da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e Cadernos do

Colóquio, do programa de pós-graduação em música da UNIRIO.

Somente nove artigos foram encontrados com essa temática nesses periódicos. Já nos

anais de eventos nacionais da ABEM e da ANPPOM foram encontrados vinte e quatro

trabalhos que tratam da prática orquestral. Em termos de produções de conclusão de curso,

TCCs e monografias de especialização, dissertações de mestrado e teses de doutorado, foram

encontrados dezenove trabalhos em repositórios online. Estes dados foram organizados em

ordem cronológica, como pode ser verificado no gráfico a seguir.

Fonte: A autora (2014)

A análise do gráfico permite-nos identificar que foram poucos os trabalhos

direcionados à temática do contexto orquestral entre os anos 2001 e 2004, sendo que estes

foram apresentados principalmente em anais de congressos. O gráfico também nos mostra um

crescimento da pesquisa nesse contexto a partir de 2005 com o surgimento de trabalhos

defendidos na pós-graduação, gerando um salto de produção acadêmica no ano de 2012.

Contudo, é possível perceber que a produção científica acerca deste tema ainda é pequena e

instável, pois apresenta descontinuidade no ano de 2008 e nos anos seguintes a 2012 há

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014

Anais 2 2 2 1 2 1 4 1 3 3 3

Periódicos 1 1 2 1 1 1 2

TCC e Pós-graduação 1 1 2 3 2 1 6 2 1

0

1

2

3

4

5

6

7

Qu

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e

Figura 1: Publicações sobre a prática orquestral no contexto da Educação Musical

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16

novamente uma queda significativa da produção. Observa-se também, que alguns trabalhos

encontrados pertencem ao mesmo autor, havendo continuidade do tema pesquisado por estes,

entretanto pouco discutida por autores diversos. Dessa forma, é salutar que haja novas

investigações em torno da temática apresentada.

Ao buscar agrupar os trabalhos em categorias, considerei primeiramente os títulos

relacionados ao contexto orquestral, em seguida, os resumos e as palavras-chave, fazendo a

leitura dos textos quando esses pré-requisitos tornaram-se insuficientes para uma melhor

compreensão do estudo verificado. Contudo, categorizar os trabalhos é uma tarefa acadêmica

árdua, visto que muitos deles se enquadram em mais de uma categoria estabelecida.

Desse modo, foi priorizado o objetivo central das pesquisas desenvolvidas neles,

gerando, portanto, as seguintes categorias1: repertório de orquestra, cujos trabalhos

encontrados nos periódicos tratam especificamente de obras musicais para orquestra e suas

análises; saúde no trabalho do músico cujos artigos tratam de análises e avaliações quanto

aos sistemas auditivo e fisioterapêutico dos músicos; orquestra infanto-juvenil, cujos

estudos descrevem a prática orquestral com integrantes na faixa etária entre a infância e a

juventude; orquestras vinculadas a projetos sociais que compreende os trabalhos de prática

orquestral que visam alcançar crianças e jovens que encontram-se em situações de risco;

orquestra escolar referindo-se aos grupos orquestrais formados em escolas de educação

básica; orquestras universitárias abrangendo os estudos sobre grupos formados no meio

universitário e orquestra sinfônica contemplando trabalhos que explicitam a trajetória de

orquestras sinfônicas e suas relações com a cidade/estado em que estão inseridas, com a

sociedade e com o público atendido por elas, sejam em concertos oficiais ou didáticos.

Cada categoria acima direciona a reflexão para diferentes temas e objetivos. No

entanto, optei por destacar somente aquelas categorias que tratam mais especificamente do

ensino e aprendizagem no âmbito da orquestra. São elas: orquestra infanto-juvenil, orquestras

vinculadas a projetos sociais, orquestra escolar e orquestra universitária.

Na categoria orquestra infanto-juvenil, foram encontrados trabalhos com as

temáticas de musicalização e formação musical em orquestras, nas quais se desenvolve o

trabalho de estudo e pesquisa da música brasileira para a construção do repertório dos grupos

(JOLY, Ilza; SANTIAGO, 2001), assim como a ênfase na implantação de um trabalho de

formação de orquestras para crianças de classes populares. Essa formação é direcionada para

1 Os trabalhos encontrados na pesquisa e delimitados em cada categoria estão dispostos no apêndice H.

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a melhoria da autoestima e inclusão social dessas crianças e de suas famílias (JOLY, Ilza;

SANTIAGO; PENTEADO; JOLY, Maria, 2002).

Kruger e Hentschke (2003) apresentaram em seu artigo um relato de experiência sobre

uma série de concertos didáticos realizados pela Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo

(OSESP) para crianças e adolescentes e Chagas (2007), em sua dissertação, estudou sobre a

orquestra de cordas infanto-juvenil, considerando-a um instrumento metodológico na

educação musical. O autor propõe uma série de exercícios com fins específicos e aborda a

dinâmica do ensaio, planejamento e avaliação no processo de ensino e aprendizagem musical,

utilizando o repertório como meio na formação musical do aluno.

Nos trabalhos de Bozzetto (2010; 2011; 2012; 2014), a pesquisadora trata sobre o

projeto educativo dos pais de crianças e jovens, pertencentes a uma orquestra a partir da

educação musical dos filhos. Especificamente em sua tese de doutorado, Bozzetto (2012)

buscou revelar expectativas e concepções da família sobre aprendizagem musical

desenvolvida com seus filhos, em um projeto que enfatiza a formação de músicos

profissionais. Este trabalho chama atenção ainda, por discorrer sobre a vontade da maioria dos

componentes da orquestra, em manter-se no campo da música e o modo como enxergam suas

formações musicais no presente, almejando o futuro como músicos profissionais.

Os trabalhos relacionados nesta categoria revelam a preocupação dos responsáveis

pelos grupos estudados, como regentes ou professores, com a educação musical de crianças e

adolescentes em formação. No âmbito dos trabalhos encontrados, dois deles foram produzidos

na pós-graduação, os quais consideram as relações estabelecidas no contexto orquestral, o

relacionamento entre os participantes enquanto meio de socialização e o desenvolvimento da

percepção musical do aluno através de sua interação ativa com o grupo.

Na categoria orquestras vinculadas a projetos sociais, encontraram-se trabalhos que

refletiram sobre o modelo do Sistema de Orquestras Infantis e Juvenis da Venezuela – El

Sistema (SÁNCHEZ, 2007) e suas versões em outros países como o Brasil (POLONI, 2012).

Em seu trabalho de especialização, Poloni (2012) analisa como o grupo Neojibá vem obtendo

êxito na condição de projeto sociocultural. Outros textos trataram da interação entre jovens e

práticas da música de concerto no âmbito de um projeto social (ARANTES, 2011) e da

reflexão sobre os aspectos pedagógicos da educação musical de crianças e adolescentes

(TRAMONTE; GRUBISIC, 2012). Grubisic (2012) apresentou sua dissertação de mestrado

intitulada “Projeto orquestra escola: educação musical e prática social” na área de educação

com o objetivo de analisar os aspectos do fazer musical do ponto de vista pedagógico desse

projeto Orquestra Escola, contemplando a literatura da educação musical.

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

18

Nesta categoria, os trabalhos mostram que os projetos sociais são contextos em que a

educação musical se efetiva, atendendo geralmente, pessoas em vulnerabilidade social. Nestes

espaços, além do desenvolvimento musical e artístico, a prática orquestral é associada ao

trabalho coletivo, à sociabilidade e à cidadania, objetivando promover a transformação da

realidade sociocultural por meio da música e a formação integral dos indivíduos.

Na categoria orquestra escolar, Silva, José (2001) relatou sobre as rotinas de ensaios

e composições da Itiberê Orquestra Família apresentando considerações dos integrantes da

orquestra e de outros observadores que têm acompanhado o grupo. No trabalho de Ribeiro

(2010), verificou-se que o mesmo descreveu a trajetória histórica da orquestra experimental

do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina – IFSC, abordando aspectos

políticos, sociais e pedagógicos e Santos, Wilson (2013), expôs em sua dissertação sobre o

ensino coletivo de instrumentos e as orquestras-escola, apresentando estratégias de ensaio

para esses grupos.

Outros autores desenvolveram suas pesquisas sobre a Orquestra Villa-Lobos,

pertencente à escola de educação básica em Porto Alegre – Rio Grande do Sul

(SANCHOTENE, 2011; SANTOS, 2010; 2012; 2013; 2014; SOUTO, 2013), cada um sob um

aspecto particular. Souto (2013) apresentou sua dissertação de mestrado intitulada “Orquestra

Villa-Lobos: o impacto da competência musical no desenvolvimento sociocultural de um

contexto popular” com o objetivo de investigar a relação existente entre o desenvolvimento da

competência musical das crianças que compõem a Orquestra Villa-Lobos e o

desenvolvimento sociocultural da comunidade. E Santos (2013) observou o grupo com a

finalidade de analisar como se configura um modo de ensinar música na escola através da

prática musical em grupo com referência na profissão, desenvolvendo assim, sua tese de

doutorado intitulada “Ensinar música na escola: um estudo de caso com uma orquestra

escolar”.

Nesta categoria observa-se que os trabalhos apresentam grupos formados nos

contextos da escola especializada e na escola de educação básica, descrevendo as estratégias

pedagógicas utilizadas na prática coletiva, o modo de ensinar em grupo e suas implicações na

aprendizagem, bem como as relações estabelecidas durante a dinâmica da convivência em

cada grupo especificamente. Dentre eles, o trabalho de Santos (2013) se destaca por suas

contribuições, apontando em seus resultados que a prática musical coletiva possibilitou

articular a formação artístico-musical com a formação integral dos participantes do grupo

estudado.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

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Na categoria orquestra universitária, encontrei trabalhos relacionados ao ensinar e

aprender no ensaio e a utilização de ferramentas para a melhoria dessas atividades de ensaio

(SILVA, 2012; SANTIAGO; JOLY, Ilza; ALLIPRANDINI, 2002), assim como uma pesquisa

referente à identificação de elementos constitutivos do universo das Orquestras Sinfônicas

Universitárias, tratando dos modelos mais recorrentes dessas formações em universidades

públicas (CARVALHO, 2005). Sobre esse contexto universitário, Joly, Ilza (2004) apresentou

um relato de experiência sobre a orquestra experimental da Universidade Federal de São

Carlos – UFSCar apontando o grupo como um laboratório ativo e mediador de relações

educativas, culturais e sociais, considerando que este pode ser transformado em ação

educadora para o desenvolvimento da cidadania. Joly, Maria, (2007) tratou do mesmo grupo

em sua dissertação de mestrado, destacando em sua análise a aprendizagem musical, humana

e social originadas da convivência de um grupo de músicos amadores e profissionais de

diversas comunidades.

No trabalho de Silva (2012), a autora buscou compreender, em sua dissertação, o

ensinar e aprender música nos ensaios da orquestra com o título: “Ensino/aprendizagem

musical no ensaio: um estudo de caso na orquestra Camargo Guarnieri”. Além disso, buscou

entender os aspectos individuais e coletivos envolvidos no ensaio do grupo, trazendo

reflexões sobre as relações sociais na prática musical em conjunto.

Ainda nesse âmbito de formação universitária, Lima; Vanzella e Freire (2008)

trataram da organização do grupo orquestral de cordas que atua sem regentes; Rocha (2009)

traçou em seus estudos um perfil de projeto didático, tomando como pressuposto o

desenvolvimento da autonomia através de estratégias de cooperação; Morais (2013) refletiu

sobre a prática orquestral de estudantes, diante da percepção de formação musical dos alunos

pesquisados e do público participante dos concertos didáticos e, Viçosa (2014) apresentou em

seu trabalho o planejamento e execução de palestras pré-concerto para a formação musical do

público participante.

Nesta categoria há abordagens diversas, contemplando trabalhos que tratam da

avaliação do quadro acadêmico e administrativo das orquestras universitárias, assim como

estudos sobre aspectos relacionados à formação musical do público externo. No entanto,

cronologicamente, os primeiros trabalhos desenvolvidos na pós-graduação avançaram na

descrição de modelos orquestrais e na apresentação da dinâmica de uma orquestra diante do

mercado de trabalho, mas não trataram especificamente da convivência e aprendizagem de

seus participantes, como observado na dissertação de Joly, Maria (2007).

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Ressalta-se ainda, que dos trabalhos desenvolvidos na pós-graduação, no que concerne

a esta categoria, apenas dois deles direcionam suas reflexões para a aprendizagem musical de

seus participantes, discutindo sobre as práticas musicais, os processos educativos, a

aprendizagem colaborativa e o desenvolvimento da cidadania. Desse modo, compreende-se

que o campo de estudo necessita de novas investigações, pois diante dos trabalhos

apresentados nessas categorias, cada autor efetiva sua análise frente a aspectos inerentes ao

contexto orquestral e/ou de acordo com a formação dos participantes de cada grupo. Estes

trabalhos contribuíram significativamente para o estudo realizado com a OSUFRN ao ampliar

o conhecimento acerca de concepções e serviram de referência para a investigação.

A pesquisa desenvolvida para a escrita desta dissertação se assemelha aos estudos de

Joly, Maria (2007); Santos (2013) e Silva (2012) na medida em que tratam da prática musical

em grupo, da convivência, dos processos de ensino e aprendizagem musical e da

profissionalização do músico, os quais serão discutidos no capítulo de contribuições teóricas.

No entanto, a originalidade desta investigação está no estudo da Orquestra Sinfônica da

UFRN – OSUFRN cujas atividades ainda não haviam sido abordadas em trabalhos

científicos. Além disso, a OSUFRN possui objetivos diferentes dos grupos investigados pelas

autoras citadas, pois se trata de uma orquestra de alunos que tem caráter formativo.

Na OSUFRN as aprendizagens no instrumento acontecem cotidianamente, nas

relações interpessoais, não havendo o estudo deliberado da técnica instrumental, mas a

aplicabilidade dessa técnica através da prática de conjunto em um grupo heterogêneo. Por

esse motivo, faz-se importante a presente investigação, uma vez que explicita e traz ao

universo da academia as atividades, as dinâmicas e as aprendizagens de uma Orquestra

Sinfônica universitária de representatividade regional, cuja prática tem contribuído para

formação de diversos músicos de orquestra em âmbito local, nacional e internacional.

Assim, este estudo assume ligações com a temática e com autores que tratam das

práticas musicais coletivas, em busca de compreender mais a fundo os processos de

aprendizagem musical que ocorrem dentro da OSUFRN. Desse modo, esse tipo de formação

musical pode ser uma ferramenta importante para a educação musical e para a aprendizagem

dos sujeitos que dela participam. Sendo um espaço no qual se trabalha conjuntamente,

promove-se o diálogo e a colaboração entre pares, apresentando-se de maneira efetiva no

desenvolvimento musical instrumental, individual, coletivo, humano e social de seus

participantes.

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1.2 Contexto orquestral

Considerando que há infinitas possibilidades para se desenvolver o fazer musical, este

estudo direciona-se ao fazer musical coletivo, mais especificamente, à orquestra. Ao longo da

história da música houve diversos tipos de formação instrumental, grupos menores como

duetos, trios, quartetos, entre outras formações maiores como as orquestras. Segundo

Carvalho (2005, p. 31), “os gregos denominavam orchestra o espaço semicircular à frente do

palco onde cantava e dançava o coro durante as representações operísticas, sendo finalmente

aplicado ao próprio conjunto de instrumentistas”. No século XVIII, o termo “orquestra” foi

utilizado para designar os conjuntos instrumentais compostos por uma combinação de

instrumentos de cordas e de sopro, sofrendo mudanças até alcançar o formato que

conhecemos na atualidade. Essas mudanças ocorreram durante os períodos históricos,

renascentista, barroco, clássico, romântico e moderno, como diferenciações no número de

instrumentos/instrumentistas presentes no grupo orquestral, repertório executado,

interpretação das obras, entre outros aspectos determinados, por vezes, pelos compositores e

suas obras (CARVALHO, 2005, p. 31-41).

Segundo Hentschke et al. (2005, p. 6), as orquestras podem ser classificadas como

orquestra de câmara, orquestra filarmônica e orquestra sinfônica, pois “variam de acordo com

a diversidade e a quantidade dos instrumentos que os compõem”. A orquestra de câmara

possui poucos componentes, entre oito e vinte músicos com instrumentos diferentes ou apenas

instrumentos da família das cordas, como violinos, violas, violoncelos e contrabaixos. A

orquestra filarmônica e a orquestra sinfônica são maiores, contendo aproximadamente acima

de trinta componentes, ambas com a mesma formação instrumental e com maior variedade de

instrumentos quando comparadas à orquestra de câmara. Lehmann (1998, p. 74), explicita que

a orquestra sinfônica é composta por:

Quatro famílias de instrumentos: as cordas, as madeiras, os metais e a

percussão. As três primeiras compreendem cada uma quatro instrumentos no

mínimo: violinos, violas, violoncelos e contrabaixos nas cordas; flautas,

oboés, clarinetas e fagotes nas madeiras; trompas, trompetes, trombones e

tubas nos metais. A percussão fragmenta-se numa multiplicidade de

instrumentos que vão dos tímpanos ao xilofone, vibrafone, glockenspiel,

pratos, caixa-clara, tan-tans, bombo, triângulo, garrafas, sorenes, etc.

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Mesmo com essa organização em famílias, de acordo com a composição e/ou arranjo

musical, é possível haver a inserção de outros instrumentos que não são comuns à formação

do grupo, como: violão, contrabaixo elétrico, entre outros.

As orquestras possuem características próprias que as diferem de outros grupos

populares, por exemplo, durante suas apresentações “os músicos entram pouco a pouco no

palco [...] todos têm um lugar determinado, os sopros de um lado, as cordas do outro, todos

ficam de pé quando se lhes pedem e sentam-se quando devem” (LEHMANN, 1998, p. 73).

Para iniciar o concerto, os músicos entram e aguardam a entrada do spalla2, músico do

primeiro violino da orquestra, que tem entre suas funções tocar trechos solos, “repassar as

instruções do maestro aos demais músicos e, quando solicitado, até reger no lugar do

maestro” (HENTSCHKE et al., 2005, p. 9). Lehmann (1998) acrescenta sobre a postura e

comportamento desse músico durante a apresentação de uma obra musical ao dizer que:

O spalla demonstra ao público certa autoridade ritual: é ele, por exemplo,

que indica ao oboé o momento de dar o lá, é ele que faz sinal para os

músicos se levantarem quando da chegada do maestro, ou para não o

fazerem em alguns de seus retornos ao palco. Enfim, é ele que o maestro

cumprimenta antes de todos, o público inclusive (LEHMANN, 1998, p. 81).

A figura do spalla no grupo orquestral se efetiva como guia para a tomada de decisões

coletivas ou específicas aos violinos e como exemplo de performance. Esse músico,

especificamente, tem atribuições de liderança, condução e orientação contribuindo com os

demais componentes do grupo.

O nome “orquestra”, no entanto, tem sido utilizado também para definir outros grupos

instrumentais organizados para tocarem juntos. Alguns trabalhos publicados com essa

temática não se restringem à formação instrumental que compõem as orquestras sinfônicas,

filarmônicas ou de câmara, mas sim a um conjunto de instrumentos musicais apresentados em

diversas formações. Como exemplo disso, observa-se a Orquestra Experimental da

Universidade Federal de São Carlos – UFSCar e a Orquestra Villa-Lobos em Porto Alegre –

RS. A primeira é composta por violino, violoncelo, contrabaixo, trompete, bombardino, tuba,

trombone, flautas transversais, clarinete, saxofone, flautas doce (soprano, contralto, tenor e

baixo) xilofones (soprano, contralto e baixo), vibrafone, glokenspiel, gaitas, teclados, piano e

percussão; e a segunda por flautas doce, acordeom, violino, viola, violoncelo, violão,

cavaquinho, teclado e percussão.

2 Spalla é uma palavra italiana que quer dizer “ombro”, a parte do corpo onde se apoia o violino.

Considerado o apoio do maestro (HENTSCHKE et al., 2005, p. 9).

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Ambas as formações contemplam instrumentos que fazem parte da composição de

orquestras sinfônicas, mas também contém outros instrumentos que não são comuns a essa

formação, como as flautas doce, cavaquinho, entre outros. Desse modo, Silva, José (2001, p.

25) considera que a denominação orquestra “parece referir-se mais ao número de músicos e à

variedade da instrumentação que a qualquer analogia com grupos sinfônicos, de dança, big

bands etc.”, e Santos (2013, p. 131) elucida que “a atribuição de ‘orquestra’ ao nome dado ao

grupo [Orquestra Villa-Lobos] está intimamente relacionada ao formato dos grupos

sinfônicos, sobretudo pela maneira como se portam, se vestem, se organizam e agem”,

relacionando a nomenclatura com o comportamento dos músicos do grupo.

1.3 A orquestra sinfônica da UFRN

A Orquestra Sinfônica da UFRN – OSUFRN pertence à Escola de Música da UFRN –

EMUFRN, que é vinculada à Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN3. Apesar

da sua representatividade não foram encontrados trabalhos científicos desenvolvidos sobre

essa orquestra universitária. As informações que serão dispostas a seguir foram extraídas dos

textos dispostos na página online4 da Escola de Música da UFRN, documentos da instituição

e através de dados desvelados durante a pesquisa. Por esse motivo, para entender o

funcionamento da OSUFRN primeiramente é necessário compreender um pouco da história

da Escola de Música da qual faz parte.

A escola de música da UFRN iniciou seu funcionamento no ano de 1962, inicialmente

com atividades curriculares de ensino do instrumento, teoria e solfejo e extracurriculares, a

exemplo dos cursos de iniciação artística, oferecendo a formação instrumental nos níveis:

Preparatório, Médio e Final5. Sua primeira sede situava-se no centro da cidade do Natal/RN, e

em 1991 foi transferida para sua nova sede no setor do Campus Universitário da UFRN, ainda

sem constituir-se como uma escola de ensino superior.

3 Localizada na Av. Passeio dos Girassóis S/N. Campus Universitário – Natal, Rio Grande do

Norte/RN. 4 Site da Escola de Música da UFRN: www.musica.ufrn.br

5 Os cursos Preparatório, Médio e Final foram referenciados nos art.3 e art.15 da Resolução 69/82 –

CONSUNI – 1982 (Anexo C).

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Figura 2: EMUFRN (1991) Figura 3: EMUFRN (2004)

Somente no fim dos anos 1990 foram implantados os cursos de música, o Bacharelado

em 1997 e o Técnico, em 1998. O curso de Licenciatura em Música foi criado em 2004 e em

2010, a pós-graduação em música, na qual foram implantados os cursos de especialização em

Práticas Interpretativas do Século XX e XXI e em Educação Musical na Educação Básica.

Além dos cursos supracitados, em 2013 foi criado o curso de Mestrado em Música, com duas

linhas de pesquisa: Processos e dimensões da formação em Música e Processos e dimensões

da formação artística.

A EMUFRN mantém atualmente diversos grupos, entre eles, a Orquestra Sinfônica da

UFRN, caracterizada como um Grupo Permanente de Arte e Cultura da UFRN e cadastrada

como projeto de extensão universitária6 desde 2011. A OSUFRN participa ainda, anualmente,

do edital de financiamento interno da UFRN, o qual garante que todos os integrantes recebam

uma bolsa para ajuda de custo. E tem como proposta atender ao público interno da Escola de

Música, como alunos dos cursos: técnico, graduação (Licenciatura e Bacharelado) e pós-

graduação com o intuito de favorecer um laboratório provedor de “competências e saberes

específicos ao campo de atuação com supervisão de parcela do corpo docente da Escola de

Música da UFRN” (PROJETO OSUFRN, 2013).

De acordo com os dados coletados na pesquisa, a OSUFRN foi fundada por dois

professores da Escola de Música da UFRN que almejavam a formação de um grupo que

proporcionasse o desenvolvimento das técnicas aprendidas nas aulas de instrumento por meio

6 Edital UFRN/NAC/PROEX Nº 01/2012 correspondente à temporada 2013 e o EDITAL UFRN /

PROEX/NAC Nº 18/2013 para a temporada 2014.

Fonte: EMUFRN Fonte: EMUFRN

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da prática coletiva. Esse grupo foi conduzido pelo atual maestro, André Muniz, até o ano de

2003, quando se afastou para capacitação. Ao retornar, o maestro trabalhou com o grupo em

2008 e permanece à frente da orquestra até o presente momento. Entre o ano de seu retorno e

o corrente ano, o modo de dirigir o grupo sofreu modificações, adotando novas formas de

trabalho, planejamento e perspectivas de desenvolvimento musical.

Até o ano de 2010, participavam da orquestra alunos indicados por seus professores,

sendo selecionados aqueles estudantes com condições técnicas no instrumento para tocar em

grupo. A partir de 2011, o maestro modificou o modo de ingresso na OSUFRN, adotando uma

seleção por mérito através de audições. No ano seguinte, buscando melhorar a organização e

oportunizar que as informações atingissem a todos os alunos, desenvolveu-se um edital

denominado “Edital da Audição Seletiva para Músicos Instrumentistas” (EDITAL OSUFRN,

2014), com o objetivo de normatizar o processo seletivo. Nele, estão dispostas informações

como: datas e prazos, quantidade de vagas disponíveis para cada instrumento (cordas,

madeiras, metais e percussão), excertos de obras orquestrais que os alunos devem estudar com

antecedência para executar no dia da audição, entre outras informações.

Para dar suporte à organização da seleção de músicos durante as audições e para todas

as atividades inerentes ao grupo, foi formada uma equipe administrativa e de apoio garantindo

uma audição idônea. A avaliação é realizada por uma banca composta de três a cinco

professores da Escola de Música da UFRN, entre eles o maestro e professores específicos das

famílias dos instrumentos em execução. No dia estabelecido para a realização da seleção, a

audição é fechada para o público externo, então, no auditório Onofre Lopes – EMUFRN

fecham-se as cortinas do palco e isola-se a visualização da parte inferior não abrangida por

elas, com mesas/birôs impedindo a total visualização dos professores e mantendo o anonimato

dos participantes (Figuras 4 e 5).

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Desse modo, os alunos que obtiverem melhor desempenho no momento da execução

são selecionados para fazerem parte da OSUFRN, sendo definidos também os chefes de naipe

(primeiros instrumentistas de cada naipe) e o spalla do grupo (primeiro violino da família das

cordas), anualmente.

Essa estrutura e formato de funcionamento geram rotatividade dos músicos que

compõem o grupo, sendo comum haver mudanças nos componentes da orquestra e

consequentemente níveis diferenciados de apropriação no instrumento. A cada audição são

avaliados alguns pontos como afinação, precisão rítmica, sonoridade, adequação ao

andamento e estilo composicional durante a execução do excerto orquestral, apenas por meio

do som executado pelo músico. Assim, é possível que durante a audição o estudante fique

alterado emocionalmente, modificando sua performance e resultando provavelmente em um

desempenho de menor qualidade. Dessa forma, a cada ano poderá haver músicos com

diferentes níveis técnicos no grupo, ou seja, alunos mais experientes, concluintes de seus

cursos e alunos iniciantes na habilitação instrumental.

Além disso, as decisões que eram determinadas pelo maestro foram descentralizadas,

pois ele buscou parceria de alguns professores da UFRN com formação em instrumentos que

representassem cada família da orquestra (cordas, madeiras, metais e percussão), formando,

desse modo, uma comissão artística. Esse conjunto de ações e modificações define a estrutura

e funcionamento do grupo atualmente, como será exemplificado a seguir.

Fonte: A autora (2013) Fonte: A autora (2013)

Figura 4: Barreira utilizada durante a audição da

seleção de alunos.

Figura 5: Músicos dispostos atrás das cortinas do

palco Onofre Lopes – EMUFRN.

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1.3.1 Estrutura organizacional da OSUFRN

A orquestra sinfônica da UFRN desempenhava suas atividades contando com as

providências organizacionais do maestro, coordenador do grupo e com apoio da direção da

Escola de Música. A partir de 2011, com a experiência das audições, alguns professores foram

convidados para formar uma comissão efetiva, pois se via a necessidade de estruturar uma

equipe que oferecesse apoio às atividades do grupo. Para alcançar esse objetivo, buscou-se

apoio institucional, solicitando à UFRN via projeto de extensão, bolsas de apoio técnico para

a permanência de uma pessoa responsável pelas ações administrativas do grupo, outra pessoa

para o arquivo e organização das partituras e outros que pudessem garantir a montagem e

desmontagem da estrutura física da orquestra.

Nesse sentido, a estrutura funcional do grupo ficou assim organizada:

a) Direção e comissão artística

A direção é conduzida pelo maestro e professor da UFRN, André Muniz, que atua em

parceria com a comissão artística (PORTARIA 007/2014, 2014). Esses professores que

compõem a comissão artística foram convidados para auxiliarem na seleção de ingresso dos

estudantes no grupo (anualmente), decisões de repertório, conduções de ensaios de naipe e

famílias, orientações voltadas à técnica instrumental de cada aluno, entre outras necessidades,

atuando junto ao grupo em diferentes momentos.

b) Direção administrativa

Coordenada por um bolsista de curso de graduação em música da UFRN, esse setor

em parceria com o maestro, é responsável pelo planejamento, organização, direção e

controle das atividades inerentes à orquestra, relacionando-se diretamente com todos os

outros: direção artística, arquivista, montadores e setores da universidade.

c) Arquivista

O arquivista é um estudante bolsista do curso de graduação em música da UFRN que

tem o papel de preparar e organizar o material necessário para a execução dos músicos. Ele é

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responsável por fazer impressões, cópias e colagens do repertório trabalhado, assim como

acompanhar o grupo em todos os ensaios, apresentações e viagens.

d) Montadores

A orquestra conta com dois estudantes bolsistas do curso de graduação em música da

UFRN para realizar a montagem e desmontagem do palco nos ensaios de naipe, ensaios gerais

e nas apresentações, sendo responsáveis por organizar cadeiras e estantes de acordo com o

repertório e número de participantes em cada obra musical.

Contando com esse suporte e estrutura proporcionada pela UFRN, o grupo realiza três

ensaios semanais: um ensaio com a família dos instrumentos, conduzido pelo professor

pertencente à comissão artística da orquestra ou pelo maestro e seus assistentes (alunos do

curso técnico em regência) e dois ensaios gerais, com todos os músicos juntos no palco do

Auditório Onofre Lopes da EMUFRN. Além desses ensaios estabelecidos pela direção

artística, cada naipe tem autonomia para realizar outros ensaios entre eles mesmos durante a

semana.

Na temporada de 2013, período em que foi realizada a pesquisa, a orquestra foi

formada por dez violinistas, quatro violistas, quatro violoncelistas, um contrabaixista, dois

flautistas, um flautista-pícollo, um oboísta, dois clarinetistas, um fagotista, quatro trompistas,

dois trompetistas, três trombonistas, um tubista e um percussionista, totalizando em trinta e

sete músicos. Eles foram os alunos selecionados na audição, mas devido ao número reduzido

no naipe da percussão e do contrabaixo, foi necessário realizar mais uma audição para compor

o naipe e ainda assim, não houve aprovados. Nessas ocasiões em que há o número reduzido

de participantes em determinado instrumento, é necessário convidar outros instrumentistas,

sendo comum a essa orquestra receber músicos para complementar a quantidade proposta pela

obra musical, como aconteceu com o naipe de percussão e de contrabaixo. Entretanto,

geralmente os músicos convidados são direcionados, principalmente, para os naipes de viola,

oboé e tuba.

Na temporada de 2014, o grupo foi composto por nove violinistas, quatro violistas,

cinco violoncelistas, cinco contrabaixistas, dois flautistas, um flautista-pícollo, um oboísta,

dois clarinetistas, dois fagotistas, quatro trompistas, dois trompetistas, três trombonistas, e três

percussionistas, totalizando em quarenta e três músicos.

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1.3.2 Parcerias Sinfônicas

No ano de 2011, a orquestra foi convidada a participar da parceria entre a UFRN e o

Serviço Social do Comércio – SESC/RN intitulada “Parcerias Sinfônicas”. Esse projeto é

uma ação institucional em prol da valorização da cultura potiguar, realizada por meio da

formação musical e do incentivo ao surgimento de novos talentos.

A proposta tem a intenção de promover parcerias entre o SESC e orquestras, grupos

sinfônicos e camerísticos, solistas, arranjadores, compositores e produtores, de modo a

incentivar a produção musical local, com foco na formação de músicos e de plateia (SESC,

2013). Dessa forma, a parceria contribui com o trabalho realizado pela universidade através

de bolsas para os alunos participantes do grupo e demais bolsistas, assim como manteve em

seu planejamento anual a produção e realização de concertos eruditos, populares e didáticos

para a comunidade.

Os concertos populares têm ganhado bastante evidência na sociedade, visto que a cada

ano o SESC/RN e a UFRN investem e proporcionam um espetáculo que se apresenta em

vários municípios do estado como: Mossoró, Currais Novos, Caicó, Natal, entre outros,

através de uma temática que homenageia cantores e/ou compositores brasileiros com arranjos

inéditos para orquestra e com participação de artistas convidados. Além das apresentações, os

shows são gravados em CD e DVD.

Até o ano de 2014, o projeto realizou quatro edições: em 2011, a parceria promoveu o

show intitulado “Clássicos da MPB” com participação da cantora potiguar Camila Masiso e

músicos convidados que formaram uma banda base (piano, guitarra, contrabaixo, bateria e

saxofone) agregando-os a OSUFRN. No ano de 2012, o show “Clássicos do Baião: tributo a

Gonzagão” convidou outros artistas potiguares como: Krystal, Camila Masiso, Caio Padilha,

Valéria Oliveira, Wigder Valle e o sanfoneiro Zé Hilton, além de músicos para compor a

banda base. Esse show também foi apresentado no SESC Pinheiros, São Paulo (SESC, 2012).

Em 2013, o artista homenageado foi Vinícius de Moraes com o show “Vinícius – uma

canção pelo ar”. A orquestra dividiu o palco com os artistas potiguares: Alzeny Nelo, Erick

Von Sohsten, Hilkélia Carlem, Lysia Condé, com atuação e interpretação de Quitéria Kelly e

Rogério Ferraz e de músicos convidados para compor a banda base. Nessa edição, “o

espetáculo une música, teatro e recursos visuais” (SESC, 2013). Na temporada de 2014, o

projeto Parcerias Sinfônicas desenvolveu sua edição de concertos populares com o espetáculo

chamado “Alpendre”, o qual foi dedicado aos compositores potiguares, em quatro sessões de

apresentações: Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura – CIENTEC/UFRN; Teatro

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Riachuelo, Natal/RN; em Mossoró/RN e Caicó/RN, com a participação dos artistas: Dodora

Cardoso, Galvão Filho, Liz Rosa e músicos convidados (SESC, 2014).

A parceria produziu espetáculos que foram sucesso de crítica e de público, recebendo

nos anos de 2011 e 2012, o “Prêmio Hangar7” de melhor espetáculo. Entretanto, para a

temporada de 2015, a parceria sinfônica não foi renovada. Com essa trajetória, o grupo tem se

consolidado, apresentando-se em outros estados brasileiros incluindo participações na Mostra

Internacional de Música de Olinda (MIMO) e SESC-SP em parceria com a Sinfônica

Heliópolis (ESCOLA DE MÚSICA DA UFRN, 2013).

7 O Prêmio Hangar de Música contempla os destaques do ano anterior da música potiguar e todo o

cenário produtivo do Rio do Grande do Norte, divididos em categorias e escolhidas por júri popular.

Fonte: SESC/RN (2013)

Figura 6: Projeto Parcerias Sinfônicas – “Vinícius – uma canção pelo ar”

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1.4 Delimitando o foco da pesquisa

Partindo de experiências com grupos instrumentais ao longo da minha formação

acadêmica, para ingressar na pós-graduação elaborei o projeto de pesquisa visando discorrer

sobre o ensino e aprendizagem musical dos músicos da orquestra de alunos da UFRN. Além

disso, pretendia pesquisar o impacto dos concertos didáticos para os alunos e professores das

escolas de educação básica que participavam desses eventos, apresentados semestralmente.

Após discussões dialógicas com professores e colegas de curso, percebi que investigar esses

dois universos poderiam demandar mais tempo do que o disponível para realizar a pesquisa.

Fui aconselhada durante as orientações a escolher um deles para direcionar o meu estudo. Foi

então que, baseada na minha curiosidade em compreender um pouco mais sobre o universo

das atividades desempenhadas pelos músicos da OSUFRN, que optei por focar na

aprendizagem dos alunos, componentes da orquestra, partindo do questionamento: como

acontece a aprendizagem musical na Orquestra Sinfônica da UFRN?

A proximidade com o contexto da EMUFRN favoreceu minha inserção no campo e o

contato direto com o fenômeno estudado, não havendo dificuldades ou barreiras para obter os

consentimentos e as autorizações necessárias ao desenvolvimento da pesquisa. Entretanto,

este mesmo fator gerou uma preocupação de que durante a investigação fosse possível atingir

o distanciamento necessário ao olhar do pesquisador, considerando que no campo de pesquisa

“neutralidade é impossível porque o investigador é inevitavelmente uma parte da realidade

que estuda” (BRESLER, 2007, p. 8). Diante disso, a maior dificuldade encontrada durante o

processo de coleta de dados foi o estranhamento de procedimentos que para mim eram

naturais. Desse modo, foi necessário um esforço da minha parte para favorecer esse

distanciamento e consequentemente o desvelamento daquilo que eu queria enxergar.

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CAPÍTULO 2

2 ASPECTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO NA ORQUESTRA

SINFÔNICA DA UFRN

2.1 Abordagem qualitativa e estudo de caso

A pesquisa realizada em um dado local e com um grupo específico aponta

características que a classifica predominantemente como abordagem qualitativa, por discorrer

sobre o assunto de forma subjetiva, porém com o rigor metodológico necessário para estudar

questões sociais, humanas e culturais (GIL, 2009).

Segundo André (2005, p. 16), a abordagem qualitativa “tem suas raízes no final do

século XIX quando os cientistas sociais começaram a indagar se o método de investigação das

ciências físicas e naturais [...] deveria continuar servindo como modelo para o estudo dos

fenômenos humanos e sociais”, visto que predominava a metodologia quantitativa, baseada

em dados estatísticos. Referente a essa conjuntura histórica, Bresler (2007, p. 14) lembra que

por volta de 1980 houve o aparecimento de estudos qualitativos em música, identificando

novas questões, abrindo direções inovadoras para a pesquisa e assim, tornar-se metodologia

aceita no campo da educação musical por volta do ano 2000.

Ao refletir sobre o desenvolvimento da pesquisa e da ciência, a qual esteve centrada

em determinismos que desconsiderava a experiência das pessoas, por exemplo, Freire (2010,

p. 82) considera que “o paradigma de pensamento pós-moderno prioriza a perspectiva

subjetiva, centrada no sujeito, e não o distanciamento objetivo entre um sujeito, que se

pretende neutro e um objeto, externo a ele e distante”. Nesse sentido, através do paradigma de

pensamento pós-moderno identificam-se várias mudanças no âmbito da música e da pesquisa,

o que nos convida a repensar alguns aspectos, como a relativização do campo de pesquisa,

conceitos e métodos; a ampliação dos próprios limites das pesquisas; a valorização da

heterogeneidade, passando a abarcar conteúdos e práticas musicais antes marginalizados, e a

frequente valorização da subjetividade.

Mediante essa concepção de pesquisa busquei compreender os processos de

aprendizagem musical na Orquestra Sinfônica da UFRN entendendo tratar-se de um estudo de

caso por pretender “descrever a situação do contexto em que está sendo feita a investigação”

(GIL, 2009). Para Yin (2010, p. 39) e para Dias (2000, p. 1), o estudo de caso é uma

investigação empírica e “uma estratégia de pesquisa” que visa delimitar um território (de

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pesquisa) e explorá-lo suficientemente para a obtenção dos dados essenciais à investigação,

permitindo maior profundidade nos processos e especificidade do estudo. Esse método “é

utilizado em muitas situações, para contribuir ao nosso conhecimento dos fenômenos

individuais, grupais, organizacionais, sociais, políticos e relacionados” (YIN, 2010, p. 24).

Após definir o método norteador da pesquisa e entendendo que no processo

investigativo é necessário aproximar-se das “pessoas, situações, locais, eventos, mantendo

com eles um contato direto e prolongado” (ANDRÉ, 2005, p. 29), delimitamos os

instrumentos de coleta de dados que seriam satisfatórios para atingir os objetivos do trabalho,

cujos procedimentos serão explicitados a seguir.

2.2 Procedimentos de coleta de dados

2.2.1 Termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE)

Para iniciar minha inserção no campo de estudo elaborei alguns Termos de

Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE – direcionados aos participantes da OSUFRN.

Preocupada com questões éticas e com respeito às pessoas envolvidas na pesquisa, esses

documentos foram elaborados após a leitura de trabalhos produzidos na pós-graduação em

educação musical, sobretudo no contexto orquestral, dispostos nos repositórios online,

servindo como modelos e possibilidades de elaboração desses termos. Sobre isso, Queiroz

(2013, p. 13) elucida que:

[...] é recorrente na pesquisa em música a realização de fotografias,

filmagens e gravações de áudio durante o trabalho de campo. Esses

documentos, produzidos pelos próprios pesquisadores, são, geralmente,

utilizados como material de base analítica, mas também como ilustrações de

textos e/ou outros documentos produzidos. Fontes dessa natureza retratam

situações, instrumentos, performances e outros elementos da música e de

pessoas fazendo música, e, portanto, para serem produzidos, utilizados e/ou

divulgados também necessitam de autorização. É recomendável que todo

pesquisador tenha o respeito e o cuidado devido, solicitando autorização

tanto para realizar os registros, durante a coleta, quanto para utilizá-los em

publicações resultantes do processo investigativo.

Respeitando essas recomendações, os termos elaborados foram utilizados de acordo

com as fases da pesquisa. Para as observações, foram solicitadas autorizações ao maestro,

visando obter a permissão necessária para a realização deste estudo junto à orquestra, fazendo

referência ao nome real do grupo (APÊNDICE A) e ao nome real do maestro durante as

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anotações e redação do texto (APÊNDICE B). Além disso, solicitei autorização de um dos

regentes assistentes (APÊNDICE C) devido à utilização de sua imagem no corpo do trabalho.

Para as entrevistas, os termos de consentimento foram direcionados ao maestro (APÊNDICE

D) e aos músicos selecionados (APÊNDICE E) para fazer uso do material coletado na

investigação, bem como utilizar as imagens em fotografias e vídeos somente para fins de

natureza acadêmico-científica e vinculados à pesquisa de mestrado.

2.2.2 Pesquisa documental e bibliográfica

Para melhor compreender a trajetória do grupo e seu contexto, visitei o site

institucional da EMUFRN buscando dados históricos e documentos sobre a Escola de Música,

enquanto escola especializada em música. Considerando documentos como, o regimento

interno da EMUFRN, editais publicados e portaria publicada pela direção da EMUFRN que

trata da comissão artística da OSUFRN (ANEXO B), pois “para uma apreensão mais

completa do objeto, é preciso levar em conta o contexto em que ele se situa” (LUDKE;

ANDRÉ, 2013, p. 21). A leitura desses dados foi importante para ampliar o conhecimento

acerca do objeto de pesquisa e seu contexto, além de possibilitar segurança à divulgação das

informações, as quais foram analisadas e citadas no corpo do trabalho.

Quanto à pesquisa bibliográfica, além do levantamento de autores e pesquisadores da

área de música e de educação musical relacionados ao contexto orquestral, busquei trabalhos

ligados à temática da aprendizagem, das práticas coletivas em música e da relação jovens e

música. A leitura e reflexão em torno desses textos possibilitaram contribuições teóricas para

a constituição da temática e a fomentação da discussão sobre esse contexto.

2.2.3 Observação Participante

Após consentimento e autorização para adentrar o campo da pesquisa, o primeiro

momento da investigação ocorreu no período de julho a dezembro de 2013, sendo

caracterizado pelo acompanhamento e observação de todas as atividades inerentes ao grupo,

tais como: ensaios, concertos oficiais, concertos didáticos, viagens e momentos de

descontração entre intervalos dos ensaios e durante o percurso das viagens. A escolha por esse

procedimento de pesquisa se deu por considerar que olhar para o processo musical nos

apresenta elementos que contribuem para o entendimento da formação musical e humana dos

indivíduos pesquisados, pois investigar apenas o resultado final do grupo durante suas

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apresentações e concertos não fornecem dados para a compreensão da aprendizagem e da

construção do conhecimento em música.

Nesse sentido, de acordo com Brandão e Streck (2006, p. 113), a observação

participante “trata-se de um método de pesquisa, no qual a participação da coletividade

organizada – no processo de pesquisa – permite uma análise objetiva e autêntica da realidade

social em que o pesquisador é partícipe e aprendiz comprometido no processo”. Com esse

entendimento, observei quarenta e cinco ensaios da orquestra sinfônica da UFRN, onze

concertos oficiais, um concerto didático, acompanhando o grupo em quatro viagens para a

realização de concertos pelo interior do Rio Grande do Norte e na capital da Paraíba/PB.

Durante a convivência com o grupo, estive atenta para visualizar como se desenvolvia a

prática musical coletiva para os participantes e suas relações com o outro diante das

atividades comuns ao grupo.

A minha presença enquanto pesquisadora durante os ensaios, apresentações e viagens

não demonstrou incomodar os participantes da orquestra, possivelmente por ser egressa do

grupo. O contato com eles aconteceu de maneira natural, passando a sensação de que estavam

à vontade e não lembravam que eu estava naquele espaço observando-os. Bogdan e Biklen

(2010, p. 134) dizem que “nos estudos de observação participante, o investigador geralmente

já conhece os sujeitos”, acredito que essa familiaridade entre pesquisadora e pesquisados

garantiu fluidez durante o período de investigação.

Corroborando com esse pensamento, André (2005, p. 28) elucida que “a observação

é chamada de participante porque parte do princípio de que o pesquisador tem sempre um

grau de interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado”, assim, “seria

ingênuo achar que uma pesquisa poderá ser realizada sem interferir, mesmo que

minimamente, na prática e/ou a ação cotidiana do contexto investigado” (QUEIROZ, 2013, p.

12). Desse modo, durante as observações busquei estar atenta aos fazeres do grupo

acreditando que ao acompanhá-los nos ensaios, concertos e viagens seria possível verificar de

forma espontânea as relações entre os músicos, seus comportamentos e aprendizagens.

2.2.3.1 Observações no ensaio

A maioria dos ensaios da orquestra acontece no auditório principal da Escola de

Música, Auditório Onofre Lopes, podendo ser realizado também no hall da EMUFRN ou no

local do concerto, em casos de apresentações fora da Escola de Música. Costumeiramente, o

auditório da EMUFRN permanece aberto durante os ensaios, oferecendo acesso a quem se

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interessar em assisti-los. Por isso é comum ter visitantes temporários no auditório, como

estudantes de música, pais de alunos, amigos dos componentes do grupo, entre outras pessoas,

de modo que os músicos da orquestra estão acostumados com a presença de pessoas diversas.

Os ensaios geralmente são ministrados pelo maestro André Muniz, mas há a

participação de outros regentes. No início das observações, uma das primeiras obras a ser

estudada e, consequentemente, executada no primeiro concerto do segundo semestre letivo

correspondeu à composição de um professor da EMUFRN. Por esse motivo, a orquestra foi

conduzida por ele, que ofereceu sua contribuição explicando como pensou a obra e seu

contexto histórico, esclarecendo alguns trechos musicais e conduzindo os músicos a

interpretarem de acordo com a visão do compositor através de sua regência. Para o

desenvolvimento desse trabalho, regeu e dirigiu os primeiros encontros do segundo semestre

da temporada de 2013 em ensaios que continham apenas os instrumentistas da OSUFRN e,

em outros momentos, além deles, músicos convidados. Sempre com o acompanhamento

atento do maestro André, que, em alguns momentos da dinâmica dos ensaios, também sugeria

aos músicos como realizarem a execução e interpretação dos trechos ensaiados.

Em meados de setembro de 2013 o grupo vivenciou a condução de outro regente,

arranjador e egresso da OSUFRN, ao trabalhar com as músicas que compunham o repertório

popular, em preparação do espetáculo “Vinícius – uma canção pelo ar”. Nessa temporada, a

orquestra contou com o apoio de dois alunos, egressos do curso técnico de regência, os quais

desenvolveram atividades de regentes assistentes da OSUFRN e conduziram o grupo algumas

vezes durante o semestre com a presença do maestro, e em outras oportunidades conduziram

sem o regente.

Os ensaios de naipe aconteciam por famílias. Cordas, madeiras, metais e percussão

foram conduzidos pelo professor membro da comissão artística, correspondente a cada família

de instrumentos, mas na ausência deste, o maestro e/ou seus assistentes realizavam os ensaios

que ocorriam uma vez por semana. Nestes ensaios, os alunos estavam mais próximos do

regente, tiravam suas dúvidas e o condutor do ensaio de naipe tinha possibilidade de orientá-

los de forma mais objetiva e descontraída. Além desses grandes grupos, chefes de naipes

realizavam ensaios na medida em que considerassem necessários. Estes não foram observados

devido à característica de não possuírem dias e horários definidos.

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Figura 7: Ensaio de naipe (cordas) com regente assistente

Fonte: A autora (2013)

Figura 8: Ensaio geral no auditório Onofre Lopes (EMUFRN)

Fonte: A autora (2013)

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2.2.3.2 Observações nos concertos

A maioria dos concertos oficiais da temporada de 2013.2 ocorreu na Escola de

Música da UFRN, apresentando obras contemporâneas, como “A paixão segundo Alcaçus”,

do compositor Danilo Guanais e obras de compositores como Beethoven, Brahms,

Mendelssohn e Mozart. Os concertos observados, em ordem cronológica, foram: XXIII

Abertura do Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música –

ANPPOM, sediado pela EMUFRN em 22 de agosto de 2013; Abertura do IV Festival

Internacional de Música de Câmara, EMUFRN, em 10 de setembro de 2013; Encerramento do

Festival Semana da Música, EMUFRN, com participação de alunos inscritos no festival em

12 de outubro de 2013; Concerto do Parcerias Sinfônicas em Currais Novos/RN em 14 de

outubro de 2013; Concerto OSUFRN e Orquestra de Câmara de Karlsruhe, Teatro Riachuelo

– Natal/RN, em 21 de outubro de 2013 e João Pessoa/PB, UFPB, em 23 de outubro de 2013;

Concerto do Parcerias Sinfônicas na Semana de Ciência, Tecnologia e Cultura –

CIENTEC/UFRN em 25 de outubro de 2013; Concerto do Parcerias Sinfônicas no Teatro

Riachuelo, Natal/RN em duas récitas, em 28 de novembro de 2013; Concerto do Parcerias

Sinfônicas em Mossoró/RN em 03 de dezembro de 2013; IV Concerto Oficial da OSUFRN na

Semana do Violino, EMUFRN, em 12 de dezembro de 2013 e Concerto do Parcerias

Sinfônicas em Caicó/RN em 16 de dezembro de 2013.

Observei que em momentos antes do concerto, os músicos se preparam nos camarins

e nas cochias do teatro/auditório ou nas laterais e por trás do palco aberto, afinando e

aquecendo seus instrumentos, se concentrando, alguns músicos individualmente, outros em

grupos. Para o concerto, seguem-se todos os procedimentos comuns a uma orquestra

sinfônica, os rapazes vestem-se de terno preto e gravata, enquanto as moças de vestidos e

roupas pretas, quando o repertório é erudito. Quando o concerto fazia parte do espetáculo

popular que neste ano homenageou Vinícius de Moraes, a vestimenta foi coerente com o

contexto do poeta carioca, em cores claras – branco ou marfim – para lembrar as praias do

Rio de Janeiro/RJ, cidade onde viveu aquele compositor.

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Figura 9: Concerto erudito no auditório Onofre Lopes (EMUFRN)

Fonte: A autora (2013)

Figura 10: Concerto com repertório popular em Currais Novos/RN

Fonte: A autora (2013)

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O concerto didático planejado para o semestre 2013.2 não aconteceu por

impossibilidade de concordância em uma data comum entre as escolas convidadas e a direção

da orquestra. Por isso, o concerto foi transferido para o mês de abril do ano seguinte. Para que

as escolas participem do concerto didático é necessário que os interessados se comuniquem

com a direção administrativa da orquestra e realizem o agendamento previamente. A partir

dessa solicitação observa-se a disponibilidade de ambos, escolas e orquestra (maestro e

músicos).

No concerto didático observado a orquestra recebeu mais de duzentas crianças,

número que preencheu o auditório com capacidade para duzentos e cinquenta pessoas. Nesse

tipo de concerto, os músicos estão mais à vontade, usam vestimentas como calças e camisetas,

conversam entre si no palco, sorriem entre si e com as crianças ou jovens, contudo, percebi

que esse comportamento não sinaliza que os músicos dão menos importância ao concerto

didático, e sim significa que há um diálogo mais próximo com o público. De acordo com os

dados coletados no campo, descrevo como aconteceu o concerto didático:

O concerto inicia com as boas vindas da diretora administrativa da orquestra,

sua função é dar orientações gerais de como se comportar em uma sala de

concerto, em quais situações é preciso manter o silêncio, informando que

terão oportunidade de tirar dúvidas e fazer perguntas em momento oportuno,

indicado pela direção. Nesse momento a orquestra está disposta no palco e

após as informações iniciais, há a entrada do spalla para afinar o grupo, as

crianças aplaudem e ele agradece. Em seguida os músicos levantam-se para

receber o maestro e as crianças aplaudem novamente, após o agradecimento

do mesmo, cumprimenta o spalla e inicia-se a execução musical com o

primeiro movimento da quinta sinfonia de Beethoven. Após a execução com

muitos aplausos das crianças, a diretora administrativa conduz o diálogo

entre orquestra e crianças. A partir desse momento um representante de cada

naipe levanta-se e apresenta o seu instrumento, identificando o nome,

quantidade de cordas, posição ao tocar, contexto histórico, comparações com

outros instrumentos, vários instrumentos diferentes na mesma família,

informando dados gerais que os caracterizam como pertencentes a uma

família específica dentro da orquestra, além de tocar individualmente para

que o público perceba o som de cada instrumento. Durante a execução

individual alguns músicos receberam aplausos calorosos da plateia,

principalmente quando a canção tocada fazia parte do repertório infantil,

como canções folclóricas ou temas de filmes e desenhos animados. Embora

alguns músicos estivessem, aparentemente, um pouco tímidos, era

perceptível que se sentiam bem em apresentar seus instrumentos,

principalmente por interagirem com as crianças. A cada apresentação das

grandes famílias – cordas, sopros e percussão – a orquestra executou uma

obra musical, em algumas delas o maestro pediu que as crianças

observassem aspectos de dinâmica, maior exposição de famílias ou a

representação da ideia do compositor, exposta para eles antes da execução.

Por fim, o maestro dialogou com as crianças sobre o seu fazer, sobre a

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condução do grupo por meio do gesto, exemplificando com a obra “El

toreador” da ópera Carmen – Bizet, modificando o andamento e a dinâmica

por vezes. Para que as crianças vivenciassem, chamou um menino e uma

menina para reger e os músicos tocaram de acordo com o andamento

estabelecido pela criança. Uma das crianças se destacou conseguindo manter

precisão e andamento, modificando de acordo com sua vontade, com

bastante firmeza, este foi reconhecido pelos colegas com muitos aplausos.

Em seguida, o maestro agradeceu aos professores das escolas convidadas e a

parceria do SESC/RN, finalizando o concerto com música e sendo

aplaudidos de pé pelas crianças (DIÁRIO DE CAMPO, 10.04.2014).

Este concerto didático foi bastante dinâmico e interativo. Todos estavam à vontade

no espaço, caracterizado como sala de concerto. Embora as orientações que antecederam o

concerto tenham chamado atenção para a seriedade do ambiente, as crianças estavam

deslumbradas com a música e com a orquestra. Elas naturalmente, se comunicavam com seus

colegas, sorriam, apontavam para o grupo, aplaudiam, queriam responder as perguntas feitas

pelo maestro, entre outros gestos de satisfação em participar daquele momento. E esse clima

de descontração e encantamento contagiou a todos, músicos, maestro e pesquisadora.

Figura 11: Concerto didático

Fonte: A autora (2014)

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2.2.3.3 Observações durante as viagens

As viagens aconteceram em decorrência do projeto Parcerias Sinfônicas SESC/RN e

EMUFRN apresentando o espetáculo “Vinícius – uma canção pelo ar”, nas cidades de Currais

Novos, Mossoró e Caicó – Rio Grande do Norte, e também devido ao intercâmbio entre

EMUFRN e a Universidade de Karlsruhe – Alemanha, com realização de dois concertos, um

deles na Universidade Federal da Paraíba – UFPB, João Pessoa – Paraíba. Nessas viagens,

estive em contato direto com os componentes do grupo, professores e equipe de apoio da

OSUFRN e do SESC/RN, hospedando-me com eles no mesmo hotel/pousada, dividindo

quarto com musicistas e regente assistente.

A divisão dos componentes era sugerida pela diretora administrativa em consonância

com o hotel/pousada de cada cidade visitada. Sendo assim, sugeriram que eu ficasse no quarto

de componentes com idade semelhante à minha e ao mesmo tempo com pessoas do grupo em

que eu tinha maior afinidade. Em todas as atividades da orquestra fui bem acolhida e inserida

como pertencente à equipe, viajando, hospedando-me e alimentando-me sem custos próprios.

Nas viagens em que seria apresentado “Vinícius – uma canção pelo ar” utilizei a mesma

camiseta que os componentes e equipe da orquestra, doada pelo SESC/RN, com a logomarca

da parceria EMUFRN e SESC/RN, a qual apresenta e divulga o espetáculo enquanto os

músicos ensaiam, fazem a passagem de som e trafegam na cidade.

Nas cidades visitadas em que havia mais tempo de permanência caminhei com

alguns músicos e os acompanhei durante suas atividades em momentos livres. Em outras

viagens mais rápidas8, os acompanhei também durante momentos em que estavam ocupados,

buscando ajudar no que fosse preciso, sempre ao lado do arquivista e da regente assistente,

com quem conversava bastante sobre aspectos gerais do grupo. Assim, selecionei duas

viagens, onde descrevo a partir do diário de campo, o concerto popular de estreia na cidade de

Currais Novos/RN e o concerto erudito em João Pessoa/PB.

9h40 de 13/10/13, partindo da EMUFRN, a viagem com destino a Currais

Novos seguiu tranquila, em três ônibus – dois deles com banda base,

músicos e instrumentos da orquestra, e um micro-ônibus com cantores e

atores. Além destes, um caminhão baú seguiu para Currais Novos no dia

anterior com instrumentos de percussão e contrabaixos acústicos

acompanhados por um servidor na EMUFRN. Durante a viagem, o

SESC/RN providenciou água e lanche para todos. Ao chegar a Currais

Novos, às 12h00 fomos direto para o restaurante almoçar – self-service e

8 Viagens com roteiro definido para chegar à cidade visitada, realizar a passagem de som, tocar no

concerto, pernoitar e voltar a Natal/RN.

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após o almoço retornamos para o ônibus seguindo para o hotel. Alguns

músicos optaram descansar, outros ficaram conversando em seus quartos,

outros na área livre do hotel. Após esse momento de descanso estava

agendado um ensaio no palco às 16h, ministrado pelo maestro e sua

assistente de regência apenas com os instrumentistas. Em seguida, ao

anoitecer, aconteceu a passagem do espetáculo com os cantores e atores

testando som, iluminação, projeção audiovisual e tempo de entradas e saídas

sem interrupções para avaliação e correção posteriormente. Esse teste

simulou o show com cantores e atores com as roupas e maquiagens a serem

utilizadas na estreia e demais espetáculos. Ao finalizar a passagem do show

a maioria dos músicos foram jantar no mesmo local em que almoçaram,

outros procuraram outros locais, pois a noite era livre. No dia seguinte,

14/10/13 os músicos tinham manhã e tarde livres, tempo que foi aproveitado

por alguns chefes de naipe para ensaiar repertório dos próximos concertos,

mas também foi aproveitado para conhecer um pouco da cidade, visitando

praças, feiras, etc. Enquanto caminhava junto com os músicos pelo

município, passava um carro de som anunciando o show que aconteceria à

noite e sempre que o carro passava próximo de nós, os músicos aplaudiam e

vibravam com a divulgação. A noite, às 19h00 houve a passagem de som, os

músicos já saíram do hotel com roupa apropriada para o espetáculo porque

após a passagem, era momento de lanchar e preparar-se para a abertura.

Havia juntamente com a estreia do espetáculo um festival gastronômico

chamado Seridó Sabor e Arte, com stands em frente ao palco representando

restaurantes da região e parque de diversões também próximo ao palco. Os

músicos lancharam e ficaram atrás do palco, próximos aos camarins

conversando em rodas, em grupos, outros foram para frente do palco, outros

foram caminhar próximo ao parque de diversão, enfim, ficaram bem à

vontade, pois às 21h haveria uma abertura com os representantes local,

regional e nacional do SESC/RN e representantes da prefeitura de Currais

Novos celebrando a estreia do espetáculo. Às 21h40, os músicos subiram ao

palco. Durante o concerto, os músicos estavam concentrados em suas

partituras e maestro, mas em algumas músicas os naipes dos metais e

contrabaixos faziam movimentos de acordo com o ritmo executado nas

canções (DIÁRIO DE CAMPO, 13 e 14/10/13).

A cena descrita acima retrata a primeira viagem realizada pela orquestra com

repertório popular em 2013 (Figura 12). Esta foi uma viagem relativamente longa, pois

proporcionou dois dias de convivência em grupo, possibilitando aos músicos a oportunidade

de conhecer a cidade, descansar, estudar e confraternizar-se, além de se apresentarem em

público. O que mais me chamou atenção nessa viagem foi ver a descontração e alegria dos

componentes que ouviram o carro de som anunciar o espetáculo que também seria realizado

por eles. Nesse comportamento espontâneo, demonstraram satisfação pelo trabalho que

desempenham no grupo, ao mesmo tempo em que sentiram a responsabilidade que teriam de

enfrentar em poucas horas.

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Figura 12: Parcerias Sinfônicas em Currais Novos/RN

Fonte: A autora (2013)

No que concerne ao intercâmbio com a Universidade de Karlsruhe, há uma

“cooperação com o Serviço Alemão de Intercâmbio Acadêmico, dentro das atividades do

programa UNIBRAL, que tem proporcionado a circulação de alunos e professores entre a

Hochschule für Musik Karlsruhe e três universidades brasileiras” (EMUFRN, 2013),

ressaltando a UFRN como única universidade participante situada fora da região sudeste.

Assim, celebrando o Ano da Alemanha no Brasil, a Orquestra Sinfônica da UFRN recebeu a

KammerOrchester da HochSchule fur Musik de Karlsruhe – Orquestra de Câmara de

Karlsruhe, Alemanha – para apresentações no Auditório Onofre Lopes – EMUFRN, no teatro

Riachuelo – Natal/RN (Figura 13), dentro do Projeto “Parcerias Sinfônicas” do SESC-RN e

na cidade de João Pessoa/PB (EMUFRN, 2013). Abaixo, descrevo como aconteceu a viagem

que proporcionou o encontro das duas orquestras em João Pessoa/PB.

A orquestra jovem da Universidade de Karlsruhe (Alemanha) estava na

cidade há aproximadamente dois dias, fez ensaio juntamente com a

OSUFRN no dia anterior à viagem, mesclando as posições das estantes entre

os dois grupos, onde as primeiras estantes de todos os instrumentos foram

ocupadas por eles. No dia 23/10/13, antes de seguir viagem, os músicos que

chegaram primeiro esperaram por seus colegas no hall da EMUFRN, alguns

dedilhando seus instrumentos, outros brincando com jogos em rodas e outros

conversando sentados nas cadeiras (Figura 14). Às 17h30, deste dia, os

ônibus saíram em direção a João Pessoa/PB. Durante a viagem os músicos

da OSUFRN conversaram entre si, outros descansaram um pouco. Ao chegar

à UFPB, local do concerto, os músicos alemães passaram alguns trechos do

repertório que iriam tocar sozinhos com seu maestro, enquanto os músicos

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da OSUFRN observavam. Em seguida, as duas orquestras fizeram a

passagem de som, sentindo a acústica da sala de concerto. Antes da

apresentação os músicos lancharam rapidamente e se vestiram para o

concerto a se realizar sob a regência do maestro André Muniz. Após a

apresentação, todos iriam jantar, retornando a Natal/RN posteriormente. No

retorno, cada grupo seguiu em seu ônibus (DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/13).

Na cena acima descrita, percebe-se que de maneira geral, não houve um contato

muito próximo entre os participantes das duas orquestras, cada grupo se relacionou com seus

pares, antes e durante o percurso até chegar a UFPB, local onde se realizaria o concerto,

demonstrando comportamento semelhante no retorno a Natal/RN.

Figura 13: Concerto no Teatro Riachuelo

Figura 14: Músicos no hall da EMUFRN (23/10/13)

Fonte: A autora (2013)

Fonte: SESC/RN.

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2.2.4 Diário de Campo

Para Gerhardt e Silveira (2009), o diário de campo, enquanto técnica de pesquisa foi

utilizado inicialmente pela Antropologia. As autoras apresentam algumas concepções e

contribuições em relação ao uso do diário de campo, direcionadas por outros autores como

Falkembach (1987) e, Beaud e Weber (1998):

Segundo Falkembach (1987), o diário de campo é um instrumento de

anotações, um caderno com espaço suficiente para anotações, comentários e

reflexão, para uso individual do investigador em seu dia a dia. Nele se

anotam todas as observações de fatos concretos, fenômenos sociais,

acontecimentos, relações verificadas, experiências pessoais do investigador,

suas reflexões e comentários [...] é um instrumento muito complexo, que

permite o registro das informações, observações e reflexões surgidas no

decorrer da investigação ou no momento observado. Trata-se do

detalhamento descritivo e pessoal sobre os interlocutores, grupos e

ambientes estudados. É como um “diário de bordo”, onde se anotam, dia

após dia, com estilo telegráfico, os eventos da observação e a progressão da

pesquisa (BEAUD & WEBER, 1998 apud GERHARDT; SILVEIRA,

2009, p. 76).

Nesse sentido, o diário de campo foi utilizado para registrar dados e sistematizar

experiências com o objetivo de analisá-las posteriormente. Considerando não ser uma técnica

isolada, foi construído a partir das observações dos ensaios, concertos e viagens da orquestra

durante o período de imersão no campo com o auxílio de imagens e vídeos. O diário de

campo foi constituído por datas, horários, repertório utilizado, locais de ensaios e concertos,

identificação do regente atuante no momento observado e principalmente reflexões e

comentários sobre os aspectos da aprendizagem observados durante a investigação. As

descrições dos registros foram escritas em ordem cronológica e em tempo real quando

possível, em alguns ensaios, por exemplo. Em outros momentos, principalmente em concertos

e viagens foram descritos posteriormente, subsidiados por recursos audiovisuais e pela

memória recente. Desse modo, durante o acompanhamento das atividades inerentes à

orquestra, as observações foram direcionadas para as formas de se fazer música em grupo,

para o relacionamento entre os músicos e seus professores/regentes e para rotina de uma

orquestra sinfônica jovem.

Essa técnica foi selecionada por sua facilidade de registro das atividades

desenvolvidas pelo grupo estudado, visto que devido ao número de observações e ao tempo de

permanência em campo, não seria difícil perder informações importantes do contexto

pesquisado. Assim, rever o diário de campo foi essencial para a escrita, refletindo

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pensamentos e relembrando conversas pontuais com os participantes no decorrer das

atividades e acompanhamento do grupo.

2.2.5 Entrevistas Semiestruturadas

A entrevista foi o último procedimento metodológico utilizado para a coleta de dados

nesse estudo. Vista por Gerhardt e Silveira (2009, p. 72) como “uma técnica de interação

social, uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca obter dados, e a outra

se apresenta como fonte de informação”. Esse instrumento foi adotado por considerar a

possibilidade de recolher dados que não seriam viabilizados por outros instrumentos como o

questionário ou formulário, por exemplo, pois a subjetividade pode ser transmitida através do

silêncio, de um gesto, de uma expressão, e poderá ser elucidativa e nos dizer muito a respeito

da temática pesquisada.

No entanto, segundo Queiroz (2013, p. 13),

antes da preocupação com o sucesso do trabalho realizado, é preciso buscar a

adequação dos instrumentos utilizados e da sua forma de aplicação ao

universo de pesquisa, refletindo se as perguntas apresentadas e a condução

do trabalho não são invasivas e agridem os pesquisados, violando aspectos

relacionados ao seu contexto cultural, às suas crenças, ideais e princípios.

Nesse sentido, e com essa preocupação, o tipo da entrevista foi definido como

entrevista semiestruturada, caracterizada como flexível. As questões não têm ordem

obrigatória para serem realizadas e podem se apresentar através de uma base de tópicos guia

ou roteiro de questões formuladas pelo pesquisador (APÊNDICE F e G), além de abrir a

possibilidade de se colher novas informações no decorrer da entrevista a respeito do tema em

questão (MATTOS; LINCOLN, 2005). Neste estudo, desenvolveram-se dois roteiros

diferenciados, um voltado para o maestro e diretor artístico do grupo e outro direcionado aos

estudantes, instrumentistas da orquestra.

O roteiro de entrevista destinado ao maestro pretendeu conhecê-lo enquanto

professor e regente, colher informações sobre a formação do grupo, a sua visão artística e

administrativa acerca da prática orquestral, e compreender o olhar pedagógico do mesmo

sobre as práticas desenvolvidas pelo grupo. O roteiro das questões relacionadas aos músicos

buscou as concepções dos mesmos sobre sua aprendizagem no contexto orquestral, visando

saber um pouco mais sobre suas reflexões, sensações e sentimentos, sobre o relacionamento

em grupo com os colegas e obter informações sobre situações que não foram claras apenas

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por meio da observação, pois “a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na

linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma

ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo” (BOGDAN;

BIKLEN, 2010, p. 134).

As entrevistas semiestruturadas foram realizadas com vinte e cinco membros da

orquestra, incluindo o maestro André Muniz, no período entre março e abril de 2014. Devido

à rotatividade anual comum ao grupo, defini como critério de seleção para a realização da

entrevista, convidar todos os músicos que tivessem participado das temporadas de 2013 e

2014, indicando ter vivenciado os fazeres da OSUFRN por minimamente um ano. A partir

dessa definição, identifiquei que seria possível contemplar músicos de todos os naipes e com

tempo de permanência no grupo diferenciados, dado que considerei significativo para a

pesquisa. Assim, para resguardar os pensamentos e reflexões dos músicos e garantir a

liberdade de expressão aos mesmos, optei pelo uso de pseudônimos, solicitando que os

próprios músicos os escolhessem. Alguns entrevistados assim fizeram, outros preferiram

deixar sob minha escolha. Esse procedimento não foi adotado para o maestro e diretor

artístico da orquestra por considerar que o estudo de caso revelaria sua identidade

independentemente da possibilidade de anonimato.

As entrevistas foram agendadas com cada participante, especificando data, hora e

local em que aconteceriam. Todas foram realizadas individualmente na Escola de Música da

UFRN, geralmente em duas salas do primeiro andar, sendo que uma delas não possuía

tratamento acústico, dificultando um pouco a audição da gravação da entrevista, visto que a

câmera capturou também o som de alunos que frequentemente estudam nos corredores da

EMUFRN. Isso, contudo, não impediu de ouvi-los durante as transcrições.

De acordo com Queiroz (2013, p. 13),

outro aspecto importante a ser considerado na realização das entrevistas é a

obtenção de autorização para a inserção da “voz” do pesquisado na

divulgação do trabalho, explicitando qual o uso que será feito desse material,

de que forma será utilizado, em que formato será apresentado etc. [...] É

recomendável que todo pesquisador tenha o respeito e o cuidado devido,

solicitando autorização tanto para realizar os registros, durante a coleta,

quanto para utilizá-los em publicações resultantes do processo investigativo.

Assim, para cada entrevistado tive o cuidado de iniciar a entrevista apenas quando

expliquei que se tratava de uma pesquisa de mestrado, deixando claro o objetivo da mesma,

solicitando a permissão dos entrevistados para gravar em vídeo e para utilizar as informações

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cedidas para fins acadêmicos através do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE). Não encontrei oposições nesse sentido, iniciando a entrevista como uma conversa

para que pudessem expressar suas impressões sobre o contexto orquestral e sobre suas

experiências no grupo, pois segundo Bogdan e Biklen (2010, p. 136), “as boas entrevistas

caracterizam-se pelo facto de os sujeitos estarem à vontade e falarem livremente sobre seus

pontos de vista”.

Para análise das entrevistas, realizei transcrição total dos depoimentos que tiveram

uma média de trinta e oito minutos por entrevistado. Procurei transcrever exatamente o que

foi dito, em seguida tratei da textualização de cada entrevista suprimindo alguns vícios de

linguagem sem interferir no significado da ideia descrita pelos investigados, para

posteriormente, iniciar a categorização, a qual foi etapa fundamental para o entendimento dos

dados coletados, identificando elementos relevantes e pontos em comum nas falas dos alunos

entrevistados.

2.2.6 Registros fotográficos e gravação em vídeo

A utilização dos registros fotográficos e gravações em vídeo aconteceram durante

toda minha permanência em campo, quando fui coletando áudios e imagens durante as

observações da maioria das atividades desenvolvidas pelo grupo estudado. Segundo Bauer e

Gaskell (2012, p. 137), “a imagem, com ou sem acompanhamento de som, oferece um

registro restrito, mas poderoso das ações temporais e dos acontecimentos reais – concretos,

materiais”. Os autores relacionam a fotografia e a gravação em vídeo como a captura de

momentos específicos, no entanto, “a informação visual que não necessita ser nem em forma

de palavras escritas, nem em forma de números” permite percepções e interpretações dos

dados analisados (BAUER; GASKELL, 2012, p. 137).

Acreditando nas contribuições das imagens capturadas durante a investigação, nos

ensaios, a câmera portátil HD ficou fixa em um tripé, posicionada ao fundo do auditório

Onofre Lopes, local onde o grupo ensaia semanalmente, assim como durante as apresentações

no mesmo local. Nestes ensaios e concertos, a câmera ficou posicionada um pouco distante da

orquestra pretendendo não constranger os músicos, nem tampouco tornar-se invasiva, fazendo

uso do recurso zoom para não obter prejuízos na captura das imagens. Em outros ambientes, a

câmera foi posicionada na lateral ou em frente ao palco visando não interromper a

movimentação do grupo durante as apresentações. Em algumas cidades, as imagens não

foram registradas em sua totalidade, pois o número do público apreciador inviabilizou o

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posicionamento do aparelho e, consequentemente, a efetivação da filmagem. Nestes, como

não foi possível o registro em vídeo, ele fora realizado através de fotografias.

Durante as entrevistas, a câmera foi posicionada próxima dos entrevistados para

garantir qualidade visual e sonora, e assim favorecer as transcrições. Além do recurso

audiovisual, as entrevistas foram gravadas também em áudio como segurança dos dados

coletados, prevendo possíveis problemas com a bateria da câmera, de gravação, e/ou outros,

entretanto não foi necessário utilizar-se dos áudios. Ao rever as filmagens e fotografias, os

registros audiovisuais rememoraram entonações vocais, expressões faciais e corporais dos

participantes durante as entrevistas, ensaios e concertos, de modo que contribuíram

efetivamente para a lembrança de possíveis eventos que passaram despercebidos das

anotações de campo, possibilitando visualização e análise com variedade de detalhes, com a

finalidade, ainda, de ilustrar o trabalho final.

2.3 Organização e análise de dados

Após a realização das entrevistas e transcrições iniciei a organização dos dados

coletados separando-os em notas de campo, fruto das observações. As fotografias foram

datadas e relacionadas com o evento registrado (ensaios, concertos e viagens), assim como as

filmagens dessas atividades. As entrevistas gravadas em vídeo e as transcrições do maestro e

músicos da OSUFRN também foram organizadas, pois em concordância com Teixeira (2003,

p. 194),

as pesquisas de natureza tipicamente qualitativa geram um enorme volume

de dados que precisam ser organizados e compreendidos, requerendo assim

um processo continuado em que se procura identificar dimensões, categorias,

tendências, padrões, relações, desvendando-lhes o significado. Esse processo

é complexo, não-linear e implica um trabalho de redução, organização e

interpretação dos dados.

Com essa organização inicial, realizei a leitura das transcrições para a análise de

dados, destacando os elementos que favoreceram a identificação de temas centrais nas falas

dos alunos. Segundo Bardin (2011, p. 97), para o tratamento das entrevistas transcritas “pode

utilizar-se canetas marca-texto, trabalhar com um código alfabético ou numérico, marcas

simbólicas, sublinhar, assinalar com um círculo, ou então tirar partido do tratamento de texto

de um computador... conforme a necessidade”.

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Em concordância com o autor, em cada transcrição destaquei com cores de realce

diferentes aspectos relacionados à aprendizagem no contexto orquestral, visto que havia

repetições de frases e palavras direcionadas para a delimitação de temas centrais. Em seguida,

separei as informações destacadas em outro arquivo de documento pareando por cores os

dados similares, originando outros arquivos, cada um de uma cor, especificando um tipo de

tema relacionado à aprendizagem. Desse modo, foi possível realizar a categorização dos

dados através das entrevistas, apropriando-me dos fundamentos da técnica de análise de

conteúdo (BARDIN, 2011).

Com esse procedimento de análise inicial, algumas frases foram definidas e

classificadas como unidades de análise, foram elas:

a) Aprendizagem no estudo individual

b) Aprendizagem entre músicos

c) Aprendizagem durante o ensaio

d) Aprendizagem nos concertos

e) Aprendizagens e interações por meio das viagens

f) Aprendizagem com o maestro

g) Aprendizagem com músicos convidados

h) Aprendizagem para a formação profissional

Cada unidade de análise nomeou um arquivo que continha as falas dos participantes

da orquestra relacionadas ao tipo de aprendizagem determinado. Após essa seleção e

organização dos dados foi possível agregar as unidades semelhantes ou afins e estabelecer

quatro categorias que resultaram de um roteiro de entrevistas que direcionou os investigados

para o objetivo da pesquisa. As categorias definidas foram nomeadas abaixo:

1. Convivência e aprendizagem em grupo – Contemplando os dados relacionados à

aprendizagem entre músicos nos ensaios e concertos, diante do relacionamento

interpessoal dos participantes da OSUFRN presente na coletividade;

2. Estratégias de formação e interações – Considerando as unidades correspondentes à

aprendizagem individual, aprendizagem com o maestro e aprendizagem com músicos

convidados;

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3. Concertos, viagens e intercâmbios – Abrangendo a aprendizagem nos concertos locais e

concertos realizados em outros municípios e estados, decorrentes das viagens e

intercâmbios;

4. Perspectiva de futuro e profissionalização dos músicos – Contemplando aspectos

relacionados à aprendizagem integral dos participantes da OSUFRN diante da formação e

do futuro profissional do músico.

Essas categorias foram descritas e examinadas de acordo com a análise de conteúdo,

considerada uma técnica para o tratamento de dados que visa identificar o que está sendo dito

a respeito de determinado tema, uma vez que ao trabalhar com o instrumento da entrevista,

cada uma deverá ser tratada em profundidade. De acordo com Bardin (2011, p. 48), a análise

de conteúdo compreende

um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter por

procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das

mensagens indicadores (quantitativos ou não) que permitam a interferência

de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis

inferidas) dessas mensagens.

A organização da análise apresenta três etapas cronológicas no trabalho com o exame

de conteúdo, são elas: a) pré-análise, b) a exploração do material e o tratamento dos

resultados, c) a interferência e a interpretação. A pré-análise consiste na organização do

material, adquirindo-se o embasamento necessário para desenvolver o tema proposto. Nessa

etapa, inicialmente selecionei a literatura que tratava de grupos musicais com foco em grupos

orquestrais. A partir das leituras percebi que a temática da interação, jovens e música e a

formação instrumental seriam necessárias para a compreensão do objeto estudado. Esse

material selecionado me conduziu à próxima fase, correspondente à exploração do material e

ao tratamento dos resultados.

A exploração do material é iniciada na primeira fase, resultando na aplicação das

decisões tomadas, pois o material já se encontra organizado e estruturado, iniciando-se assim,

o aprofundamento do tema proposto e na fase do tratamento dos resultados. Nessa fase, foi

possível definir e destacar citações com cores de realce nos textos e no material coletado

durante a pesquisa, categorizando-os.

A interferência e a interpretação são apoiadas nos materiais de informação

detectados, onde a análise é feita com maior intensidade, pois se o analista tiver à sua

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disposição resultados significativos pode propor interferências e adiantar as interpretações a

propósito dos objetivos previstos ou de descobertas inesperadas (BARDIN, 2011, p.131).

Nesse sentido, as unidades orientaram a análise dos dados e favoreceram o diálogo com a

literatura e a interpretação dos mesmos.

Sendo assim, os procedimentos metodológicos escolhidos para esta investigação

foram relevantes para orientar o olhar da pesquisadora na direção do objetivo central da

pesquisa, promovendo a visualização do contexto orquestral estudado e oferecendo

contribuições significativas para a compreensão da aprendizagem dos músicos da OSUFRN

nas suas diversas atividades. Nesse sentido, ao considerar a experiência vivenciada no campo

e a literatura existente, discute-se a seguir sobre as relações entre a prática orquestral e a

educação musical a partir das contribuições teóricas.

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54

CAPÍTULO 3

Este capítulo apresenta as bases teóricas da pesquisa sobre o conceito de

aprendizagem, dialogando com trabalhos que tratam da aprendizagem musical nas práticas

coletivas e das relações existentes nesse meio de formação, onde os sujeitos interagem entre

si, tornando-se mediadores da aprendizagem na coletividade. Nesse sentido, ressalta a

relevância do meio social e cultural presente no cotidiano das pessoas. Além disso, com

interesse em obter conhecimento sobre o público-alvo dessa investigação, o capítulo apresenta

definições sobre as faixas-etárias dos jovens e suas relações com a música no contexto da

formação musical instrumental em um grupo de prática musical.

3.1 Práticas musicais coletivas

A prática musical coletiva tem sido tema de produções científicas em congressos e

simpósios de educação musical. Essa prática de formação musical já foi estudada em

diferentes aspectos, considerando estudos sobre grupos musicais compostos por instrumentos

distintos e grupos formados para o ensino e aprendizagem de instrumentos específicos, os

quais congregam pessoas com níveis diferentes de apropriação no instrumento, com ideias,

pensamentos e objetivos pessoais diversos. Essa discussão acontece por meio de propostas de

ensino coletivo do instrumento e de metodologias direcionadas para grupos musicais

(CRUVINEL, 2008; MONTANDON; SCARAMBONE, 2012; TOURINHO, 2007), através

de relatos de experiências, estratégias para ensaios de grupos musicais, especificamente

(SANTOS, Wilson, 2013; SILVA, 2012) e para vários tipos de formações musicais coletivas

(BOZZETTO, 2010; GRUBISIC, 2012; JOLY, Ilza; JOLY, Maria, 2011; ROCHA, 2009;

SANTOS, 2013; etc.).

O ensino coletivo do instrumento enquanto prática musical coletiva tem desenvolvido

sua metodologia e possui objetivos de acordo com cada proposta educacional. Sobre isso,

Montandon e Scarambone (2012, p. 52) afirmam que:

O ensino do instrumento em grupo no Brasil tem sido cada vez mais aceito

como forma de desenvolver o conhecimento musical e a execução em um

3

RELAÇÕES ENTRE PRÁTICA ORQUESTRAL E EDUCAÇÃO MUSICAL:

contribuições teóricas.

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55

instrumento. Nas universidades, em projetos sociais, em escolas específicas

e regulares e mesmo no ensino particular, aulas de instrumento em grupo são

usadas com objetivos, formatos, conteúdos, materiais e metodologias

diferenciadas e em constante processo de desenvolvimento.

Estudiosos desse campo trazem em seus textos características que se assemelham às

particularidades encontradas na prática musical coletiva apresentando benefícios dessa

modalidade de ensino, como a democratização do acesso à música, oportunizando a

aprendizagem musical de um maior número de pessoas e a promoção de motivação para os

alunos, pois os mesmos interagem entre si, efetivando uma colaboração mútua durante as

aulas.

Segundo Tourinho (2007, p. 2), a concepção de ensino coletivo está conceituada como

“transposição inata de comportamento humano de observação e imitação para o aprendizado

musical”. Após entrevistar três professores que atuam nessa modalidade, a autora apresenta

seis princípios de aprendizagem do ensino coletivo do instrumento, são eles: 1.Todos podem

aprender a tocar um instrumento; 2. Acreditar que todos aprendem com todos; 3. O ritmo da

aula é planejado e direcionado para o grupo; 4. O planejamento é feito para o grupo, levando-

se em conta as habilidades de cada um; 5. Há autonomia e decisão durante as aulas e

apresentações; 6. Há a eliminação de horários vagos, pois a ausência de um ou dois alunos

não impede a realização da aula (TOURINHO, 2007).

Com esses princípios, observa-se que há a necessidade de empenho tanto do professor

quanto do aluno, visto que ele se preocupa com seu planejamento, favorecendo autonomia

para os alunos e abertura para argumentação e questionamentos. Em contrapartida, estes se

comprometem com a frequência, assiduidade e participação durante as aulas em grupo,

reafirmando que o compromisso de ambos é fundamental para o desenvolvimento das

atividades coletivas. Esses princípios podem aplicar-se a grupos que desenvolvem a prática

musical coletiva, como os grupos instrumentais, os quais também se caracterizam pela prática

do instrumento, havendo diálogos e trocas de saberes entre os participantes, planejamento,

disciplina e compromisso dos envolvidos.

Para grupos musicais nos quais se desenvolve a prática de conjunto, autores

compartilham suas experiências, análises e fazeres quanto às estratégias de ensaios, sugerindo

que professores ou músicos desenvolvam suas práticas com planejamento e consciência das

ações dedicadas ao grupo. Nesse aspecto, Santos, Wilson (2013, p. 2) recomenda que a

divisão do ensaio aconteça em cinco partes: “1. Preparação da sala; 2. Aquecimento; 3. Parte

Central; 4. Intervalo; 5. Resumo”. Em seu trabalho, o autor exemplifica cada etapa de ensaio

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56

com o objetivo de auxiliar pessoas que trabalham a música em conjunto. Outro exemplo de

estudo com foco no ensaio é o trabalho de Silva (2012), que não fez proposições de como

melhorar o ensaio de grupos musicais, mas observou os ensaios de uma orquestra

identificando-os como um espaço social onde se ensina e se aprende música.

Para a autora, o ensino e aprendizagem musical, no ensaio, são processos que

envolvem a consideração do outro na aprendizagem, na qual músicos com diferentes níveis de

aprendizagem e apropriação do instrumento compartilham com o outro e dividem o mesmo

espaço, até que todos toquem juntos (SILVA, 2012, p. 172). O compartilhamento entre os

integrantes de um grupo pretende transformar as diferenças em unidade, uma vez que “a

participação nos grupos musicais possibilita não só o aprendizado instrumental técnico, mas

também um aprendizado pessoal, além de vivências significativas” (GONÇALVES; SILVA;

MACHADO, 2012, p. 644).

Outros estudos apresentam abordagens diversas sobre grupos musicais como

interações em grupo, aspectos socioculturais, entre outros, em diferentes espaços. Nesse

sentido, para Schütz (1971), a música em conjunto não se limita à música produzida por

músicos que conhecem a notação musical, por exemplo, pois não há nenhuma diferença entre

a execução de uma obra por uma orquestra moderna e aquela formada por pessoas que se

assentam à beira do fogo em um acampamento e que cantam arranhando um violão, ou uma

congregação que entoa hinos conduzidos por um órgão. Para o autor, o sistema de notação

musical não passa de um aparelho técnico acidental para o elo social existente entre os

executores, visto que a notação musical é apenas um veículo da comunicação do pensamento

musical.

Entendendo que toda comunicação possível pressupõe uma relação de “sintonia” entre

aquele que comunica e o receptor da comunicação, Schütz (1971, p. 13) acredita que

essa relação faz-se pela repartição recíproca do fluxo da experiência no

tempo do Outro, pela vivência de um presente bem partilhado

conjuntamente, pela experiência dessa proximidade em forma de um “Nós”.

É unicamente no quadro dessa experiência que o comportamento do Outro

chega a uma significação para seu parceiro que com ele entre em sintonia.

Assim, as relações sociais existentes entre os componentes de um grupo musical

determinam a maneira de ser e de se comportar no espaço em que estão inseridos. Nesse

sentido, Rodrigues (2010, p. 16) afirma em sua pesquisa, que “Schütz desenvolveu uma

concepção construtivista que definiu a realidade social como sendo uma construção humana e

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57

que por sua vez, dependia dos significados que damos às ações das pessoas e ou às coisas”

(SCHÜTZ apud RODRIGUES, 2010, p. 16).

As práticas musicais coletivas em contextos de ensino se configuram no espaço em

que envolve músicos em formação, em um ambiente de convivência, promove o

estranhamento nos comportamentos do outro ao mesmo tempo em que abre possibilidades de

trocas de experiências, o respeito às diferenças e incita a competitividade. Além destes, outros

fatores exige dos indivíduos em interação, flexibilidade em meio à diversidade para que haja o

compartilhamento das habilidades musicais e do conhecimento. Assim, de maneira geral,

Menezes (2010, p. 66) afirma que os estudos desenvolvidos com grupos musicais, geralmente,

associam a formação musical à formação humana, uma vez que os processos

educativos implicam desenvolvimento de habilidades de trabalho em equipe,

comunicação, concentração, desembaraço, autoconfiança, respeito,

responsabilidade, contribuindo na formação da personalidade como todo.

Desse modo, os trabalhos citados envolvem pessoas e músicas, e apontaram

características específicas da prática musical coletiva. Nestas práticas de conjunto as pessoas

se relacionam cotidianamente, interagem entre si e determinam o modo de agir no que se

refere às regras de convivência e de trabalho, sobretudo em grupos como orquestras. Esses

estudos serviram de referência para o entendimento de que na convivência coletiva, os

participantes desses grupos são sujeitos ativos no processo de construção do conhecimento,

assim como foi observado no contexto pesquisado nesta dissertação.

3.2 Aprendizagem em grupos

No âmbito da educação musical, a formação instrumental em grupos possui objetivos

pedagógicos e performáticos. Considerando que esta prática musical coletiva envolve

aspectos formativos diversos, entende-se que a aprendizagem perpassa pelos fazeres

intrínsecos ao grupo musical, efetivando-se entre as relações professor e aluno, entre os

alunos, no estudo individual, em meio às relações coletivas, diante das diferenças

socioculturais, dentre outras possibilidades de aprendizagem na prática de conjunto. Por esse

motivo, conhecer conceitos sobre a aprendizagem ajudará a perceber de forma efetiva como

os processos educativos acontecem no contexto orquestral de um grupo específico, a

OSUFRN.

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58

Nesse sentido, diversos autores elaboraram conceitos e teorias sobre a aprendizagem,

buscando defini-la de acordo com suas visões e experimentos. Na obra de Lefrançois (2013),

o autor faz um levantamento e interpretação de algumas teorias e abordagens da psicologia da

aprendizagem. Sob essa perspectiva, define a aprendizagem como “toda mudança

relativamente permanente no potencial de comportamento, que resulta da experiência [...] As

mudanças comportamentais são simplesmente evidências de que a aprendizagem ocorreu”

(LEFRANÇOIS, 2013, p. 6). O autor enfatiza que a aprendizagem não se limita ao ato de

adquirir informação, necessita que haja mudança de comportamento das pessoas, enquanto

resultado da experiência, desconsiderando as mudanças de comportamento biológico.

Uma das teorias citadas por Lefrançois (2013, p. 266-273) corresponde à Teoria

Cultural/Cognitiva de Lev Vygotsky (1896-1934) alicerçada na concepção histórico-cultural

realçando a importância da cultura e das “interações que se estabelecem entre o indivíduo que

aprende e os outros mediadores de uma dada cultura” (LEITE, C. A. R.; LEITE, E. C. R.;

PRANDI, 2009, p. 203). Assim, para Leite et al. (2009, p. 204), “a aprendizagem é um dos

principais objetivos de toda prática pedagógica, e a compreensão ampla do que se entende por

aprender é fundamental na construção de uma proposta de educação”. Sobre o aspecto do

domínio técnico-formal, Nascimento (2003, p. 70) considera que:

As propostas educacionais fundamentadas no novo paradigma do

conhecimento, diferentemente do que ocorria anteriormente, privilegiam a

flexibilidade e a diversidade. A flexibilidade por conta da necessidade de

considerar os diferentes modos de construção da aprendizagem, as diferentes

interações entre o pensamento e o ambiente e a existência de processos

coletivos de construção do saber [...] O reconhecimento de que todos nós

somos produtores de conhecimento e de que o mesmo é fruto das diferentes

interações que o sujeito traça nas suas relações com o ambiente, com os

objetos e com os outros sujeitos sinaliza a importância da superação das

barreiras entre os indivíduos, entre as culturas.

Nascimento (2003) esclarece que o conhecimento é fruto das relações sociais que os

indivíduos estabelecem durante a vida, interagindo com contextos diversos, situações

específicas do cotidiano e com as culturas que constituem a sociedade. Na prática coletiva,

um dos desafios para o aluno é adquirir a habilidade de ouvir a si mesmo e ao outro, de modo

a acompanhar o grupo e a coordenar suas ações individuais e coletivamente. Além disso, o

aluno busca aprimorar sua execução musical por meio das orientações do professor, regente,

colegas de grupo, músicos convidados, entre outros, e desenvolver-se musicalmente. Sobre

esse aspecto Silva, José (2010, p. 3) compartilha sua experiência em um grupo ao relatar que:

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59

Os problemas técnicos que se colocam para cada instrumentista do grupo são

variados e costumam ser comentados como “desafios”, podendo ser vistos

como fonte de motivação e matéria para estudo individual. No entanto, pela

ótica do diretor, o bom desempenho individual não é suficiente; a ênfase na

capacidade de realização coletiva é clara, uma vez que várias das

dificuldades estão relacionadas à execução [...] o efeito musical desejado

sempre depende, portanto, de um ajuste interacional. Assim, ao sugerir

correções durante os ensaios, o que se diz com mais freqüência e veemência

são frases no sentido de "ouvir o outro".

Diante das relações interpessoais presentes nas práticas musicais coletivas, Antunes

(2002, p. 31) conceitua a aprendizagem sob o ponto de vista escolar ao dizer que esta

precisa ser vista como um processo conjunto, compartilhado entre

professores e por seus colegas, a se mostrar progressivamente autônomo na

resolução de tarefas, na transformação de informação em conhecimento, na

interpretação, utilização e transformação de conceitos, na prática de

determinadas iniciativas em múltiplos desafios.

Considerando que na educação formal, os alunos aprendem conteúdos curriculares

determinados, Antunes (2002, p. 29) acredita que a aprendizagem não se trata “de uma

apropriação a partir do nada, mas a partir de experiências, interesses e conhecimentos prévios

que possam dar sentido” a uma aproximação do aluno com os conteúdos para torná-los

próprios e assim, transformá-los. Nesse sentido, Demo (2013, p. 296) acrescenta que “na

prática, aprendemos do que já tínhamos aprendido e conhecemos a partir do que já

conhecíamos”. Para ele,

a aprendizagem é jogo de sujeitos, troca bilateral de teor dialético,

contraponto entre conhecimento e ignorância, autonomia e coerção. Oferece

campo de potencialidades, oportunidades, que se abrem se o sujeito souber

conquistar e a história lhe for complacente em termos de condicionamentos

positivos. Oportunidades dependem das circunstâncias e sobretudo da

iniciativa do sujeito.

Nessa perspectiva, seu texto trata da atualidade de Paulo Freire em torno do

conhecimento e da aprendizagem com o objetivo de ressaltar seu sentido reconstrutivo

político e com isto recuperar a tradição mais consolidada de Freire. Pedro Demo discorre

sobre educação, ensino, aprendizagem e política, apontando que a educação formal continua

reproduzindo conhecimento. Ele acredita que não há uma preocupação propriamente com a

reconstrução do conhecimento e com a aprendizagem de teor político, mas sim com a

absorção reprodutiva, permanecendo, na prática, uma lei do ensino, não da aprendizagem.

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60

Algumas teorias trazidas por Lefrançois (2013) são cognitivas9. Entretanto, na

concepção de Demo (2013), a aprendizagem não se reduz à cognição, pois o envolvimento

emocional, assim como à complexidade da experiência humana, histórica e cultural estão

relacionadas e incorporadas. Dessa maneira, a medida principal da aprendizagem é o saber

pensar e o aprender a aprender, visto que o conhecimento é o resultado da interpretação que

emerge de nossas capacidades de compreender.

O conhecimento acerca dessas teorias da aprendizagem auxilia no entendimento de

que a aprendizagem poderá ocorrer em diferentes campos de atuação e em diversas formas de

relacionamento. No caso da OSUFRN, além das atividades desenvolvidas na escola de música

da UFRN, a maioria dos músicos da orquestra vivencia ou já vivenciou o ensino e a

aprendizagem musical em outros espaços, de acordo com o meio social de cada um, como

igrejas, projetos sociais, na família, entre outros. Diante da convivência em grupo, entende-se

que as relações interpessoais e as experiências socioculturais influenciam nas distintas

maneiras de aprender e de interpretar as informações dispostas no contexto da prática

orquestral.

As ideias conceituais dos autores citados estão relacionadas ao meu fenômeno de

estudo, visto que corroborando com Leite et al. (2009, p. 204), “a aprendizagem é uma

atividade contínua”, o seu conceito “não deve estar restrito ao período escolar”, pois a

aprendizagem se efetiva nas trocas de experiências vividas individualmente, coletivamente,

diante das interações e das relações sociais e humanas. Assim, dentre os autores supracitados,

as ideias de Demo (2013) e de Leite et al. (2009) me ajudaram a olhar para o campo empírico

e compreender como ocorre a aprendizagem no espaço da orquestra sinfônica da UFRN.

Nessa perspectiva, me permitiu observar que por tratar-se de um grupo musical, a prática

coletiva não se limita à aprendizagem musical, mas deixa transparecer a existência de

instâncias de aprendizagem nos diferentes fazeres do grupo como todo.

3.3 As relações entre os jovens e a música

Os músicos da orquestra sinfônica da UFRN têm idades entre quinze e trinta anos, o

que caracteriza um perfil de jovens entre os que atuam no grupo. Sobre essa classificação,

Corti e Souza (2004) refletem sobre juventude e adolescência por meio de análise sociológica,

apontando e discutindo definições estabelecidas por instituições como a Organização das

9

Abordagens teóricas da aprendizagem preocupada com eventos intelectuais, como solução de problemas,

processamento de informações, pensamento e imaginações (LEFRANÇOIS, 2013, p.427).

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61

Nações Unidas – ONU e a Organização Mundial de Saúde – OMS. A primeira considera

como jovens as pessoas entre quinze e vinte e quatro anos e a segunda, entende a adolescência

como um processo fundamentalmente biológico, abrangendo a pré-adolescência entre dez e

catorze anos e a adolescência propriamente dita entre quinze e dezenove anos. Para o Estatuto

da Criança e do Adolescente (ECA), a adolescência é definida como a fase que vai dos doze

aos dezoito anos incompletos, não mencionando nesse documento a juventude (CORTI;

SOUZA, 2004, JANZEN, 2007). Além dessas classificações, Carrano e Dayrell (2013, p. 13)

afirmam que “na América Latina, vai se estabelecendo o consenso de que os jovens devem ser

considerados como tal até os vinte e nove anos, como vimos no Estatuto e na PEC da

Juventude”.

Diante dessas possibilidades etárias, Corti e Souza (2004, p. 11) mencionam que a

juventude é “considerada uma categoria sociológica que implica a preparação dos indivíduos

para o exercício da vida adulta, compreendendo a faixa dos 15 aos 24 anos de idade”. Essa

classificação por faixa-etária não é determinante único, “a classe social do indivíduo, sua

condição étnica e de gênero, sua presença ou não no mercado de trabalho e na escola, seu

local de moradia urbano ou rural – sua situação familiar e sua orientação religiosa”, entre

outros fatores, diferenciam os indivíduos e as juventudes (Ibdem, 2004), pois “inconsistências

numa terminologia mais exata para se fazer referência aos sujeitos (adolescentes ou jovens)

entre a infância e a idade adulta (adolescência ou juventude) corroboram as dificuldades em

se demarcarem com exatidão as fases da vida”, pois essas são construções histórico-

socioculturais que devem ser consideradas (ARROYO, 2010, p. 28).

O termo “juventudes” no plural nos conduz a pensar nas diferentes experiências dos

jovens, assim, em concordância com Arroyo (2010, p. 25), entende-se que “a diversidade do

ser jovem é paradigma contemporâneo nos estudos sobre a juventude e implica interação

desses sujeitos com mundos musicais distintos”. A autora conclui que:

No Brasil, esse aspecto é facilmente identificável no cotidiano: jovens

dedicados à prática da chamada música de concerto criada nos séculos

passados e à música contemporânea; jovens voltados a gêneros musicais

populares forjados por gerações anteriores — choro, samba, congado etc.;

jovens praticantes de música religiosa; práticas musicais coletivas e

individuais diversas, presenciais e virtuais; profissionalização musical; enfim

possibilidades renovadas e criadas de experiências musicais propiciadas

pelas condições tecnológicas e pelas inteligibilidades e sociabilidades

inéditas que estas desencadeiam (ARROYO, 2010, p. 25-26).

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62

Desse modo, a presença da música na vida dos jovens por meio das práticas musicais,

se efetiva de diversas maneiras ampliando as experiências musicais e contribuindo para a

construção da identidade desses jovens nas sociedades contemporâneas, pois de acordo com

Santa Rosa (2012, p. 29), “através das práticas artísticas coletivas, o jovem desenvolve-se

enquanto articulador de ideias e aprimora-se como sujeito social nas interações e no

compartilhamento de experiências”. Corroborando com a autora, Hikiji (2005, p. 163)

acredita que “a prática em conjunto favorece a criação de vínculos afetivos entre os

participantes e acentua redes de sociabilidade”, pois essa dinâmica “contribui para a

ampliação do horizonte social do jovem, sugere o exercício da alteridade – por exemplo, no

encontro com grupos sociais diversos – e resulta na aquisição de habilidades e vivências que

destacam o jovem em seu grupo de origem”. Nesse sentido, Arroyo (2010, p. 36) conclui que:

A diversidade de ser jovem — das trajetórias juvenis, das condições de viver

a juventude — indica que, se as músicas estão significativamente presentes

nessa fase da vida, as interações entre jovens e músicas tanto são variadas e

aceleradamente recriadas — no caso de culturas musicais herdadas —

quanto são inovadas — no caso das condições contemporâneas inéditas de

práticas musicais.

Mas a condição de transitoriedade na experiência juvenil localizada entre a infância e

a fase adulta limita a expectativa de um tempo futuro, remetendo o jovem à possibilidade de

“vir a ser”, na passagem para a vida adulta, o sentido das suas ações no presente (DAYRELL,

2003, CORTI; SOUZA, 2004). Nesse sentido, Dayrell (2003, p. 42) elucida que:

Construir uma noção de juventude na perspectiva da diversidade implica, em

primeiro lugar, considerá-la não mais presa a critérios rígidos, mas sim como

parte de um processo de crescimento mais totalizante, que ganha contornos

específicos no conjunto das experiências vivenciadas pelos indivíduos no seu

contexto social. Significa não entender a juventude como uma etapa com um

fim predeterminado, muito menos como um momento de preparação que

será superado com o chegar da vida adulta.

Nessa fase da vida, o jovem pretende viver o presente, opinar diante das situações

vividas no cotidiano, ser participativo, entender o direcionamento e a condução de

determinadas decisões tomadas sobre eles, ter o direito de escolher, entre outras formas, de

demonstrar que é um indivíduo ativo. Esse posicionamento é característico dessa

transitoriedade juvenil, pois de acordo com a construção sociocultural de cada indivíduo, os

jovens adquirem a capacidade de processar suas experiências de forma relativamente

autônoma, relacionando-se com o mundo social, analisando situações, problemas e realizando

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63

escolhas, com capacidade reflexiva que os permite compreender questões e problemáticas

mais amplas do meio social (CORTI; SOUZA, 2004).

Essa autonomia direciona-se também para a sua aprendizagem. Os jovens enquanto

participantes ativos de sua formação musical individualmente, na relação professor e aluno,

ou em grupo, constroem conjuntamente saberes e conhecimentos estimulados pela

colaboração mútua, desenvolvem a visão crítico-reflexiva, a comunicação e a criatividade em

busca de atingir um objetivo comum, exercitando o respeito ao outro e a troca de experiências

(TRONCARELLI; FARIA, 2014).

Sendo assim, entendendo que a Educação Musical estuda os processos de ensino e

aprendizagem musical, buscando a formação humana e integradora, Santa Rosa (2012, p. 32)

explicita que desde o século XVIII, novas estratégias pedagógicas buscam romper com o

modelo tradicional de ensino e colocar o aluno em uma posição onde ele possa participar

ativamente do seu processo de formação. A autora refere-se à técnica da aprendizagem

colaborativa, a qual considera a interação como base da aprendizagem e desenvolvimento

cognitivo. De acordo com Santa Rosa (2012), para Troncarelli e Faria (2014, p. 433),

a aprendizagem colaborativa estimula a cooperação e a interação, em

detrimento da competitividade e do individualismo. Neste sentido, cada

membro do grupo é responsável tanto pela sua aprendizagem quanto pela do

restante do grupo, ou seja, o êxito do grupo depende de cada um e de todos.

Nesse sentido, acredita-se que o estudo musical na orquestra também pode favorecer a

construção da autonomia, visto que seus componentes tem oportunidade de ensinar, aprender,

cooperar e desenvolver-se mutuamente e colaborativamente, fortalecendo assim vínculos de

amizade e relações interpessoais. Desse modo, ao investigar a aprendizagem musical na

OSUFRN buscou-se compreender também os conhecimentos construídos entre eles,

colaborativamente e não somente aquele considerado tradicional, transmitido pelo maestro

aos seus discípulos. Por se tratar de um contexto predominantemente formado por jovens,

entende-se que as principais relações de aprendizagem acontecem nas trocas do dia a dia,

onde eles vão gradativamente construindo sentido ao conhecimento formal transmitido em

sala de aula. Assim, por esse estudo ser realizado no contexto da orquestra, ele

automaticamente envolve a temática da formação instrumental e o contexto da escola

especializada em música.

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64

3.4 Formação instrumental no contexto da escola especializada

A escola especializada em música é uma instituição que contempla ensino e

aprendizagem musical, em habilitações instrumentais e vocais diversas. Além das aulas de

instrumento, essas escolas são espaços em que se realizam atividades artísticas variadas,

oferecendo cursos distintos, promovendo apresentações musicais, recitais instrumentais e/ou

vocais, concertos de grupos como duos, trios, quartetos, bandas, orquestras, musicais

temáticos, palestras, congressos, festivais de música, dentre outros (MORAIS; GOMES,

2014). E podem ser reconhecidas de duas maneiras, como escolas livres de música e escolas

técnicas públicas.

Sobre as escolas livres de música, Cunha (2009, p. 9) as caracteriza como “escolas de

ensino privado e sem vínculo com redes ou sistemas de ensino público. Os professores, em

muitos casos, são profissionais autônomos com atuação em diversas escolas, tendo, muitas

vezes, atuação concomitante à de músicos intérpretes e compositores”. Diante desse cenário, a

autora elucida que por essas características, as escolas livres de música, enquanto instituições

educativas, “não estão subordinadas às exigências da LDBEN 9.394/96 (BRASIL, 1996), são

livres do controle de agências do Estado ou de instituições religiosas e não conferem diplomas

reconhecidos pelo Ministério de Educação” (CUNHA, 2009, p. 10), possuindo objetivos e

currículos próprios e agindo de acordo com a demanda da comunidade atendida.

As escolas técnicas de música, por sua vez, possuem características diferenciadas,

estão vinculadas ao Ministério da Educação e inseridas no contexto da formação profissional.

Grande parte dessas escolas públicas de ensino de música “buscam estar em consonância com

a legislação específica da área, no sentido de formularem cursos dentro do que prescreve a

legislação” (CORREIA, 2011, p. 32). A escola de música da UFRN, por exemplo, é uma

escola técnica vinculada à Universidade Federal que desempenha atividades de ensino,

pesquisa e extensão em música (REGIMENTO INTERNO EMUFRN, 2008).

Segundo Queiroz (2003, p. 522), nas instituições formais de ensino, a formação

instrumental “começa a sofrer e se beneficiar de mudanças ocorridas no campo pedagógico da

música”, pois o ensino informal, voltado para a prática musical,

tem se estabelecido como um facilitador do processo de ensino e

aprendizagem dentro das escolas de música, fato que se tem fortalecido

principalmente pela procura e inquietação dos atuais professores e

pesquisadores da área, na busca de diferentes processos metodológicos que

possibilitem maior satisfação e facilidade de aprendizagem para o aluno no

processo de Educação Musical.

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65

O autor faz uma explanação acerca das concepções do ensino e aprendizagem de

música na contemporaneidade, fazendo referência a autores e pedagogias do século XX e

XXI. Diante dessa pesquisa bibliográfica, identifica que os “estudiosos atuais, acreditam que a

pedagogia musical deve trabalhar sobretudo com a valorização de aspectos naturais do

indivíduo, a fim de que o ensino nessa área não tenha como base somente técnicas e regras do

ensino tradicional”, mas desenvolva o ser humano em sua totalidade (QUEIROZ, 2003, p.

522).

Nas escolas técnicas de música a formação instrumental poderá ocorrer no nível

médio, na modalidade de educação profissional, e superior. De acordo com Nascimento

(2003, p. 71), “separada da educação básica, porém articulada a ela, a preparação para uma

carreira profissional, nessa proposta, passa a integrar […] a educação profissional, assumindo

uma dimensão diversificadora e flexibilizadora”. Nesta modalidade técnica de nível médio,

Carmona (2012, p. 543) elucida que em decorrência da evolução tecnológica e consequentes

alterações no setor produtivo da economia, novas exigências foram sendo impostas no cenário

educacional brasileiro através de Leis e Decretos, resultando em reformulações curriculares

no ensino técnico. Para as escolas de música e conservatórios a legislação coloca a

“responsabilidade de formar um músico que extrapole a performance, considerando que existe

nos dias atuais um campo de trabalho em expansão para o músico que vai além da

performance” (CARMONA, 2012, p. 544).

No que concerne ao ensino superior, Grings e Hentschke (2013, p. 24) esclarecem que

na dinâmica da formação instrumental, de maneira geral, o curso de formação

possibilita aos alunos que adéquem o repertório a ser estudado ao longo do

período letivo, de acordo com seus interesses, visando o desenvolvimento de

competências-chave para um instrumentista. Além de disciplinas individuais

de instrumento, os alunos cursam disciplinas teórico-práticas, nas quais

convivem com outros estudantes e têm a oportunidade de construir suas

performances, consideradas ideais.

Na formação superior da escola de música da UFRN, há formação instrumental e

vocal através do curso bacharelado e a formação em educação musical por meio do curso

licenciatura. As disciplinas teórico-práticas citadas pelas autoras acima, estão estabelecidas no

currículo e corresponde a “música de câmara I, II, III e IV”, as quais envolvem alunos de

diversos instrumentos/voz para o desenvolvimento da prática de conjunto, no bacharelado. De

maneira geral, o curso está alicerçado em seis áreas do conhecimento: habilitação

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66

(instrumento ou voz), performance, teoria da música, musicologia, metodologia e projetos em

música, exercícios públicos e recitais. Desse modo, de acordo com o projeto político-

pedagógico do curso bacharelado em música da UFRN, as únicas disciplinas obrigatórias, são

justamente as da área de Habilitação e de Exercícios Públicos e Recitais, visto que estas

dizem respeito à

preparação técnica e estilística de repertório e a produção de espetáculo

musical específico, que são as atividades fundamentais na vida profissional

do músico. Nas demais áreas, o aluno tem que cumprir determinado número

de créditos obrigatórios dentre os oferecidos, podendo escolher as disciplinas

que mais se adaptam ao seu perfil pessoal. Essa escolha individual é feita

juntamente com os orientadores acadêmicos e proporciona um diferencial

para cada profissional, embora todos tenham tido acesso a um conjunto

mínimo necessário de conhecimentos nas diversas áreas (PROJETO DE

CURSO, 2006).

Para a licenciatura, em sua estrutura curricular, não se encontram disciplinas

obrigatórias que contemplem o trabalho em grupo, no sentido da música de câmara.

Entretanto, os estudantes podem cursar as disciplinas optativas “prática de conjunto I e II”,

complementar a área de conhecimento instrumental, a qual se diferencia da música de câmara

no bacharelado, mas atinge o objetivo da prática musical em grupo. O curso está alicerçado

nas áreas: conhecimento instrumental, fundamentos teóricos e conhecimento humanístico,

pedagógico e pesquisa. Correspondentes a cada área, o aluno deverá cursar as disciplinas

obrigatórias e com a colaboração de um professor orientador, poderá construir “seu próprio

itinerário curricular, de acordo com o perfil, as necessidades e as tendências que apresenta”

(PROJETO DE CURSO, 2004).

Nesse sentido, a respeito da formação musical de nível superior Queiroz e Marinho

(2005, p. 84), acreditam que os cursos de bacharelado em música, “consolidados em várias

universidades brasileiras, têm cumprido um papel fundamental no país, formando músicos

para atender o mercado de trabalho profissional, capacitando-os para exercer distintas funções

e atuar em diferentes espaços do campo musical em nossa sociedade”, assim como os cursos

de licenciatura em música têm “se preocupado em capacitar profissionais para a atuação na

educação básica, habilitando-os também para ocupar lugares como escolas especializadas de

ensino da música e outros contextos emergentes na sociedade”.

Diante desse contexto, Nascimento (2003) e Carmona (2012) observam que a

formação musical deverá ampliar a visão de seus educandos, direcionando-os para que não se

limitem a execução tecnicista do instrumento musical, pois o campo profissional apresenta

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novas possibilidades e novos espaços de atuação. Estes podem estar relacionados à

performance coletiva, a realização de gravações em estúdios, a produções musicais, entre

outros. Sobre esse aspecto, Nascimento (2003, p. 74) afirma que:

A base dessa formação não pode ser mais estreita a ponto de impedir as

ligações criativas entre perspectivas distintas. Para isso devemos considerar

que o momento atual exige a interação imaginativa entre as tradições

culturais e as novas tecnologias. Somente uma metodologia multidisciplinar

que possibilite ao profissional trabalhar através das fronteiras profissionais,

lidando com conhecimentos que envolvem a administração em artes, a

produção em arte, a inserção das práticas artísticas em projetos integrados,

os multimeios e as multimídias, a conservação de bens culturais, entre

outros, poderá propiciar um tipo de preparação que amplie a autonomia, a

crítica e a atuação em diferentes campos.

Corroborando com Nascimento (2003), Carmona (2012, p. 544) conclui que na

contemporaneidade, “saber agir na e para a diversidade tem sido ponto de bastante destaque,

assim como técnicas de inserção no mercado de trabalho”.

Assim, um dos objetivos para a formação de grupos musicais nessas instituições é

proporcionar a prática musical coletiva aos estudantes, aliando os conhecimentos aprendidos

durante as aulas individuais ou em pequenos grupos de ensino instrumental e vocal à

aplicabilidade dessa aprendizagem musical em conjunto, com instrumentos do mesmo tipo ou

com instrumentos diversos. Por essa diversidade de atividades, Bozon (2000, p. 147) afirma

que a música é um “fenômeno transversal que perpassa todo o espaço de uma sociedade [...]

longe de ser uma atividade unificadora no que concerne todos os ambientes sociais e todas as

classes, a música é o lugar por excelência da diferenciação pelo desconhecimento mútuo”,

pois a formação musical nesses grupos promove relações sociomusicais que são

desconhecidas a priori, geradas a partir da convivência entre pessoas e com a música. Estas

relações são, por vezes, permeadas por conflitos, hierarquias e afetividades que resultam em

conhecimento e aprendizagens.

Desse modo, a formação instrumental na escola especializada e de nível superior,

como ocorre na escola de música da UFRN, compreende especificidades que a diferencia de

outras escolas regulares. O ensino está voltado para a aprendizagem no instrumento

musical/vocal, mas buscando apropriar-se da diversidade de possibilidades que essa formação

inicial poderá oferecer ao estudante, como a atuação em grupos de pequeno porte e grandes

grupos, como uma orquestra. Assim, a preparação do músico não ficará restrita as técnicas

instrumentais/vocais, mas oportunizará uma ampliação de suas perspectivas e o aluno poderá

vivenciar, diante das experiências que essas atividades oferecem, o ensino e aprendizagem

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musical que propõe uma formação integral e humana. Dessa forma, entender o modo como

essa formação é pensada institucionalmente foi importante para compreender o universo

estudado e a maneira como a OSUFRN produz artisticamente. Nesse sentido, foi possível

olhar para os dados e compreender como se aprende na prática musical coletiva desse grupo,

em específico.

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69

CAPÍTULO 4

Apresento neste capítulo os dados coletados em todas as fases da pesquisa como

notas de campo, impressões do maestro e concepções dos músicos acerca da sua experiência e

aprendizagem na prática orquestral da UFRN. Inicialmente, exponho observações e

informações significativas nas falas do maestro, nas quais ele explica e exemplifica o modo de

agir e de fazer música nesse grupo em específico. Em seguida, busquei realizar um diálogo

entre os componentes da OSUFRN e a literatura, objetivando melhor entendimento durante a

análise da pesquisa. Salientando que os nomes dos músicos citados são pseudônimos

escolhidos aleatoriamente por eles ou por mim, mantendo apenas o nome real do maestro.

Nesse sentido, apresento os componentes aqui tratados por pseudônimos, são eles:

Antônio, Bruno, Elias, Edyson, Gil, Ian, Jack, João, Jonatas, Marcos, Maria, Nicolau, Pedro,

Roberto, Rosa, Tásia e Thales. Nas citações diretas dos pesquisados, procurei retratar a

maneira real de como foram expostas suas concepções, deixando, inclusive, alguns desvios do

português padrão – ou mesmo vícios de linguagem –, e, por se tratar de uma pesquisa para o

âmbito acadêmico, fiz pequenos ajustes entre a linguagem coloquial e a linguagem formal.

Entendendo a OSUFRN como um grupo de performance, o maestro do grupo, André

Muniz, explica que a formação de uma orquestra inserida na escola especializada de música

se efetiva como um laboratório, um espaço em que os estudantes possam praticar o que é

desenvolvido nas aulas teóricas e de instrumento. Nesse sentido, Muniz (2014) acredita que

não adianta você dar habilidade instrumental para uma pessoa se ela não

tiver um laboratório para aquilo ali usar. Talvez uma grande falha da

educação musical especializada no Brasil é que a gente copiou o que existia

de mais anacrônico dos conservatórios, em que sentido? No sentido que os

professores sempre estavam formando e fazendo o aluno estudar a parte do

solista do concerto de violino, do concerto de trompete e por ai vai... [...] não

basta você tocar bem, ou você ter bons agentes por trás. Ou você tem

contatos profissionais, ou por melhor que seja a sua atuação como

instrumentista, ela não se sustenta (informação verbal)10

.

O maestro preocupa-se com a formação instrumental quando se oferece apenas aulas

individuais com estudos de técnicas e de concertos solo, preparando o estudante para ser

solista. Considera que esse direcionamento é importante, mas, sem esquecer que há outras

10

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

4

CONCEPÇÕES E INSTÂNCIAS DE APRENDIZAGEM NA OSUFRN

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70

possibilidades de desenvolver as habilidades musicais do aluno através da coletividade. Para

ele,

o grande problema é que as pessoas sentam em uma cadeira de orquestra e

elas nunca tiveram que negociar e hegemonizar arcadas, digitações, tipos de

ataque porque o problema todo era visto só - eu como solista – enquanto

você tem que tocar dentro de um naipe e as coisas tem que ser

homogeneizadas (MUNIZ, 2014) (informação verbal)11

.

Diante da perspectiva da formação de estudantes de música que são preparados para

se tornarem solistas, Castro (2009) entende que há maior probabilidade de o músico tornar-se

instrumentista de orquestra e aponta as funções do maestro enquanto condutor desse grupo. A

partir do texto “L’orchestre dans tous ses éclats: ethnographie des formations symphoniques”

de Bernard Lehmann, escrito em 2005, Castro afirma em sua resenha “Os estilhaços da

orquestra” que o maestro, com seu ouvido mais social que musical (sic), tem como função

principal gerir os antagonismos internos de uma formação sinfônica – integrada por músicos,

segundo Lehmann (2005) “raramente programados para trabalhar no coletivo” (LEHMANN,

2005 apud CASTRO, 2009, p. 25). Para Castro, isso acontece “devido ao isolamento que os

anos de aprendizagem requerem, ainda que a orquestra constitua no desaguar mais provável

de um músico. Formado para ser solista, o músico é destinado a ser ‘tuttista’ durante toda sua

vida” (CASTRO, 2009, p. 25).

O maestro André Muniz (2014) afirma que a orquestra sinfônica da UFRN objetiva

“otimizar a preparação do músico com vias à participação em grupos artístico-musicais em

nível de alta performance” (informação verbal)12. As atividades inerentes à rotina da orquestra

se efetivam com base nesse princípio da prática de conjunto, vislumbrando profissionalização

e sustentabilidade para os estudantes através da formação musical. Para tanto, de acordo com

sua experiência, o maestro identificou que para alcançar esse objetivo seria necessário

estabelecer parcerias com outros profissionais para realizar um trabalho direcionado,

acreditando que “em qualquer projeto de uma orquestra acadêmica, ele só logrará êxito se for

um trabalho coletivo [...] lembrando que nós estamos trabalhando com alunos em formação e

que, portanto, necessitam de acompanhamento” (MUNIZ, 2014) (informação verbal)13

. Por

esse motivo, a OSUFRN é acompanhada por dois professores de cordas (violino e

11

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 12

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 13

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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violoncelo); um professor da área das madeiras, um para os metais e um professor de

percussão. Sobre isso Muniz (2014) elucida que:

O ideal seria que você tivesse uma comissão dentro da orquestra com pelo

menos um professor de cada instrumento que ali participasse. Como isso daí

ainda não é uma realidade que tenha se aproximado a nós, optamos em ter

um professor com expertise em cada uma das famílias. De forma que nós

possamos viabilizar ensaio de naipe, que as pessoas, entre a sua dificuldade

que é inerente ao seu instrumento e depois à sua família possa ser o mais

rapidamente solucionada com vias a otimizar o grande grupo. É isso que a

gente tem buscado, essa eficiência e ao mesmo tempo, que a dificuldade ou a

melhor resolubilidade do que ele tá tocando possa ser acompanhado pelo

professor com expertise para dizer, faz por aqui que você vai economizar

mais tempo, vai sair mais limpo, enfim, otimizar em tempo real (MUNIZ,

2014) (informação verbal)14

.

Os professores designados para orientação e ensaio de naipe atuam também nas

tomadas de decisão, seleção de alunos, sugestões de repertório e algumas vezes acompanham

o grupo em viagens mais distantes. Outro procedimento adotado corresponde à audição que

seleciona músicos para participarem dessa orquestra via processo de audição anual a cada

temporada. Segundo o maestro, esse processo de seleção “é desafiador não só para o aluno,

mas também para os professores que estão envolvidos no trabalho” (MUNIZ, 2014)

(informação verbal)15

. As audições acontecem com vistas ao mercado de trabalho, visando

preparar os músicos para o meio profissional, em decorrência de que, para Muniz,

as orquestras têm se tornado fundações e dentro do seu contrato de trabalho,

está lá que pode ser exigido uma audição sua a qualquer momento, em geral

as orquestras como a Sinfônica de São Paulo, a Sinfônica Brasileira, a

Sinfônica de Minas Gerais, elas tem reaudicionado a cada dois anos. Então,

quando nós trouxemos essa exigência, 1. Era no sentido de, sim, trazer uma

disciplina para o músico para que continuasse estudando, 2. Era preparar a

sua psiquê para que quando ele fosse submetido realmente a uma audição

com trechos de orquestras, com biombos, então se desenvolver com calma

(MUNIZ, 2014) (informação verbal)16

.

Sobre esse aspecto, o diretor artístico do grupo assegura que as audições não são

previsíveis porque mesmo que alguns alunos tenham trabalhado por um ano, vivenciando a

prática de orquestra, na próxima temporada podem concorrer com eles outros estudantes de

outra realidade, de outros estados, possuindo instrumentos melhores, entre outros fatores.

14

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 15

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 16

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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Por essas características, a OSUFRN desempenha suas atividades enquanto

laboratório para a profissionalização de seus componentes, através de uma rotina semelhante a

uma orquestra sinfônica profissional. O critério estabelecido para a tomada de decisões, assim

como direcionamento para comportamentos e práticas coletivas é definido a partir do que é

comum nas orquestras profissionais, postura que foi sendo delineada no decorrer dos anos e

de acordo com as produções, conquistas e avanços do grupo. Desse modo, o interesse da

orquestra parece não se restringir a servir de laboratório para os estudantes, pois é uma

orquestra escola que reproduz o modelo de prática profissional das orquestras sinfônicas. Isso

é perceptível desde o processo de seleção, onde os alunos se apresentam em audição anual e

de acordo com os critérios da seleção, são contemplados aqueles que obtiveram, naquele

momento, melhor desempenho técnico.

O modo como é gerida evidencia a visão que sustenta a proposta desta orquestra,

gerando uma ambiguidade entre a orquestra enquanto laboratório, que propicia a experiência

de prática orquestral e prepara o aluno para o ingresso nesse tipo de grupo, com a

representação idêntica do modelo profissional, desde seu procedimento de seleção e

avaliação. No entanto, ao observar e vivenciar os fazeres desse grupo percebe-se que há

instâncias de aprendizagens inerentes às relações entre pessoas, que possibilitam “examinar

em termos sociais e interpessoais o que existe “por dentro”, “em torno” ou “além” do discurso

sonoro” do grupo (SILVA, José, 2010).

4.1 Convivência e aprendizagem em grupo

Durante as observações e após as entrevistas com os participantes da OSUFRN,

percebi que a rotina da orquestra permite vários momentos e possibilidades de convivência,

sociabilidade e aprendizagem. As atividades inerentes ao grupo propiciam que os músicos

estejam em coletividade, em momentos que os participantes interajam e aprendam uns com os

outros. Eles dialogam sobre suas experiências na prática de orquestra com trocas de

informações específicas de música, assim como muitos deles demonstram amizade com seus

pares, conversando sobre assuntos diversos. Nas falas dos músicos, há relatos acerca de

aprendizagens com o grupo de maneira geral e com os colegas, sobretudo aqueles do mesmo

naipe por conviverem de modo mais próximo. Nesse sentido, Ian (2014) relata:

A gente sempre faz música de câmera em grande escala porque quando você

vai tocar numa camerata, beleza! Só tá você ali. Você toca e você escuta, os

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outros estão muito mais próximos. Agora, quando você está na orquestra é

uma dimensão grande, você tem que prestar atenção em tudo, é um

aprendizado muito bom, é o que leva pra vida né?! [A gente] tem Roberto

[pseudônimo do chefe de naipe] que é super experiente, acho que a galera de

trás aprende quando ele vai falar alguma coisa, o pessoal presta atenção. [...]

Eu acho que não importa o nível [técnico] da pessoa, eu vou aprender com

alguém que tá do meu lado (informação verbal)17

.

Em concordância com a fala de Ian (2014), Santos (2013, p. 122), afirma que a

aprendizagem na orquestra não acontece apenas mediada por um professor ou regente, mas

entre os próprios integrantes através de trocas e da contínua prática de tocar junto com o

colega. Diante dessa comunicação e interação entre pares, descrevo abaixo, uma cena que

ocorreu no início de um ensaio, no Auditório Onofre Lopes:

Às 14h00 inicia-se o ensaio. Spalla afina a orquestra. Sob a condução da

regente assistente, o grupo homenageia um integrante aniversariante, todos

tocaram “Parabéns pra você” e a regente o cumprimentou. Após as

felicitações dos colegas inicia-se o ensaio. Durante a passagem de trechos

musicais, enquanto a regente está trabalhando com o naipe dos violinos,

músicos do naipe de contrabaixos conversam, riem, sem interferir na ordem

e concentração dos outros (DIÁRIO DE CAMPO, 17/07/13).

As interações entre os músicos foram observadas também em outros naipes das

famílias das madeiras, metais e percussão. Enquanto o maestro/regente trabalha trechos

específicos da obra e as intenções interpretativas, os músicos que não estão envolvidos nesse

momento se comunicam, conversam sobre outras questões e tiram dúvidas uns com os outros

rapidamente, de maneira perceptível apenas ao olhar atento, como exemplifica o aluno

Edyson (2014): “pequenas coisas a gente fala, com relação à afinação: 'ah você trocou a nota,

cuidado nessa nota que está baixa', entre nós” (informação verbal)18

. Além desses diálogos,

geralmente, na dinâmica dos ensaios os componentes com menos experiência em orquestra

observam como o colega ou chefe de naipe executa o instrumento e sempre que necessário

busca a imitação para, assim, obter unidade sonora. Para a aluna Rosa (2014), os ensaios

não são como uma aula que tem alguém, um professor ali te dizendo, mas

você está do lado de muitas pessoas que estão fazendo o mesmo que você.

Você vê o que eles estão fazendo e você começa a fazer igual. Eu sinto que o

aprendizado é de imitação, você ver o spalla fazendo ou o seu chefe de naipe

fazendo e você começa a imitar, não é uma coisa passada, explicada, eu tive

17

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 18

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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que buscar sozinha, imitar, adaptar ao que os outros estão fazendo

(informação verbal)19

.

Sobre a imitação, enquanto possibilidade de aprendizagem, Demo (2013) elucida que

um dos achados fundamentais é o estabelecimento do caráter reconstrutivo político da

aprendizagem, pois

mesmo quando queremos imitar, copiar, reproduzir, o fazemos de modo

interpretativo inevitavelmente, porque esta atividade jamais pode ser neutra

[...] aprendizagem é sempre salto, porque, em vez de repetir a situação, a

reconstrói; esta atividade de reconstrução não é apenas biologicamente

marcada, mas igualmente politicamente contextuada, porque se trata de

sujeitos históricos capazes de história própria (DEMO, 2013, p. 130).

O autor afirma que mesmo imitando o outro, cada indivíduo tem capacidade de

deliberar autenticidade na sua prática, de forma que a imitação contribui para o

desenvolvimento da habilidade buscada e para o conhecimento construído. Segundo Hikiji

(2006, p. 124), “a prática musical altera, portanto, a percepção geral que o músico tem de seu

próprio corpo e a forma como esse corpo passa a perceber o mundo”, modificando o modo de

pensar e de agir diante das oportunidades vivenciadas no grupo e individualmente. Sobre essa

percepção Roberto (2014) corrobora com a autora ao dizer que:

Uma coisa que eu particularmente presto muito atenção, em mim

individualmente, é que o meu jeito de tocar na orquestra precisa ser

completamente diferente do meu jeito tocando no meu estudo individual ou

num recital, eu tocando com o piano, ou sozinho porque na orquestra eu

tenho, por exemplo, no meu naipe mais de seis pessoas. E eu preciso fazer

com que o meu som encaixe com o resto do meu naipe. Eu preciso fazer com

que a minha afinação encaixe com o resto do meu naipe e essas coisas são

coisas que as pessoas pensam diferente, eu penso o som diferente de

determinada pessoa e vice-versa. Então, na orquestra eu acho que a gente

aprende. Acho que é uma escola diferente. É saber tocar com os outros

(informação verbal)20

.

O aluno chama a atenção para a sua mudança de postura quando desenvolve a

prática musical em grupo, ao comparar com seu modo de atuar em performances solo,

demonstrando possibilidades de mudanças sonoras e corporais. Assim, diante dos relatos

apresentados, os alunos têm a concepção que aprendem durante a prática musical coletiva.

19

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 20

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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4.1.1 Aprendizagem nos ensaios e concertos: diversidade sociocultural no relacionamento

com participantes da OSUFRN

Na prática orquestral da OSUFRN, os músicos apresentam em seus depoimentos

uma consciência da diversidade de ideias e opiniões presentes no grupo, visto que seus

componentes são diversos e possuem formações socioculturais particulares. Essa diversidade

é relatada principalmente por aqueles que assumem a posição de chefes de naipe, entendendo

que precisam ser flexíveis para que haja consenso e harmonia no naipe, estando abertos para

ouvir e para discernir em situações de conflitos ideológicos. Sobre esse aspecto o aluno

Roberto (2014) reconhece que

a orquestra adiciona bastante porque no meu estudo individual eu tenho as

minhas opiniões, as minhas ideias sobre determinado tipo de música.

Quando estou na orquestra eu tenho sessenta, setenta opiniões diferentes das

minhas e eu preciso levar em conta essas opiniões porque na verdade ela não

é única né, no sentido de que eu não sou o dono da verdade, então quando eu

consigo levar em conta a opinião dos meus colegas, dos meus professores na

orquestra, eu adiciono vocabulário musical pra mim (informação verbal)21

.

Nesse meio, percebe-se que há uma colaboração mútua entre os músicos, pois para o

músico Elias (2014), nas famílias das madeiras e metais, ele consegue visualizar e sentir um

clima de amizade e de parceria ao dizer que “todo mundo se dá bem, todo mundo se fala, todo

mundo se ajuda” (informação verbal)22

. Segundo Silva, José (2010, p. 2), o som produzido

pelos músicos “é uma construção coletiva, e tecnicamente dependente das atitudes dos

músicos” (grifo do autor). Essas atitudes estão relacionadas com o comportamento de seus

participantes, os quais têm autonomia para discernir, avaliar, agir e, consequentemente, buscar

modificar a realidade construída no meio coletivo. Desse modo, existe uma coaprendizagem

entre os músicos, pois o compartilhamento de saberes no cotidiano visa o envolvimento dos

alunos na produção e na formação de redes de aprendizagem colaborativa (COSTA, 2010, p.

1) percebida durante as várias atividades da orquestra.

Contudo, não são todos os músicos e naipes que conseguem manter um bom

relacionamento no grupo em todo tempo, pois vale salientar que em meio à convivência há

momentos em que os ânimos não estão favoráveis. De acordo com Joly, Maria (2007, p. 108),

“o grupo tem regras a serem seguidas, tem trocas de saberes, tem momentos de conflitos,

momentos de compartilhar dificuldades e facilidades”. Assim, o músico Roberto (2014) 21

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 22

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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expressou preocupação com as relações interpessoais e as aprendizagens do seu naipe

revelando que

[...] além de passar coisas como afinação, arcadas, esse tipo de coisa, eu

procuro ver os anseios dos meus colegas, [...] o que eles acham que eles

podem e devem melhorar. [...] eu acho que esse diálogo é importante, [...] eu

priorizo bastante essa troca de opiniões e ideias dentro do ensaio de naipe

porque a gente sempre tem a aprender com os outros. Não só no meu

instrumento, mas o [lado] pessoal. Eu acho que todos nós aprendemos com os

outros na orquestra (informação verbal)23

.

Antônio (2014) e Pedro (2014) são participantes do mesmo naipe e corroboram com

Roberto, acreditam que o aprendizado é sempre válido, defendendo que na convivência com

colegas de naipe é importante que os componentes se respeitem, dando voz a todos com

humildade para escutar e melhorar aquilo que estudam em conjunto. Rosa (2014) acrescenta

que esse relacionamento, a vontade de partilhar com trocas de informações e aprendizagens

dependem das pessoas que compõem o naipe e o grupo de maneira geral, promovendo assim,

uma interatividade, como se observa em sua fala:

Eu não sentia isso antes, mas nesse ano eu estou sentindo que tem uma certa

interatividade entre nós, até porque diminuiu a quantidade [de pessoas na

orquestra], antigamente, acho que tinha mais violinos, esse ano só tem cinco

e a gente tá assim; a comunicação sobre o que a gente tá fazendo tá

acontecendo mais. Eu lembro que antes não, eram muitos violinos e a gente

só tocava e pronto, esse ano alguém pergunta se tá com dúvida... um

pergunta para o outro e a gente se fala entre si nos ensaios, pelo menos esse

ano eu senti [presenciou] certas perguntas que fizeram a mim e eu também já

fiz para outros do lado [mesma estante ou vizinhos de estantes] (informação

verbal)24

.

Ela acredita que a diminuição da quantidade de músicos na orquestra aproximou os

integrantes, tornando a comunicação mais efetiva e presente em seu naipe, pois “a relação dos

músicos com os outros membros do grupo atravessa suas performances” (GONÇALVES;

SILVA; MACHADO, 2012, p. 644). Sobre essas questões de relacionamentos entre os

participantes da orquestra, o maestro André Muniz (2014) acredita que “uma orquestra acaba

reproduzindo bem uma sociedade, é um microcosmo por excelência” (informação verbal)25

.

De acordo com sua visão, observa que existe quase que um inato companheirismo pelas

famílias e apresenta diferenças entre elas.

23

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 24

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 25

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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Cordistas, eles estão o tempo todinho preocupados se o arco vai para baixo

ou vai para cima, mesmo que eles não tenham uma interação pessoal,

desenvolvem esse senso de ter que tocar a mesma melodia pelos cinco

instrumentos das cordas, em que todo mundo esteja com o mesmo nível de

arcada, então começam a se comunicar nessa ideia. As madeiras vão lá e

desenvolvem as coisas por eles, aí a coisa é um pouquinho mais complicada

da família das madeiras para trás. Violinos você tem dez tocando a parte do

primeiro violino, as madeiras são quatro instrumentos, mas cada um com um

tipo de demanda técnica diferenciada, então eles já começam a se comunicar

um pouco mais entre os naipes especificamente, eles pensam no todo quando

se está pensando em ataque e afinação, aí eles até negociam. A mesma coisa

acontecendo com os metais. Pior ainda é a percussão que cada instrumento

tem uma forma de tocar completamente distinta, não tem muitas vezes como

você homogeneizar isso daí porque o peso do instrumento, a membrana ou a

tecla é completamente distinta, a única coisa que os homogeneíza,

efetivamente, é a questão do ritmo (MUNIZ, 2014) (informação verbal)26

.

O maestro esclarece as diferenças que são inerentes às formações instrumentais de

cada família, as quais são estruturas que influenciam na atuação e comportamento dos

músicos em cada naipe ou família. Diante disso, Lehmann (1998, p. 84) aponta em sua

pesquisa que a própria organização da orquestra gera um impacto social hierarquizado e

dividido, pois “as cordas são de longe mais numerosos. Elas são oito vezes mais visíveis que a

percussão, pouco menos do dobro das madeiras e mais do dobro dos metais. As madeiras e os

metais dividem entre si os números intermediários”. Para o autor,

ao lado da hierarquia que distingue os instrumentos conforme sua família,

enxerta-se outro modo de classificação, dessa vez intra-familiar, de

ordenação por tessitura [...] o agudo tem uma existência sonora

individualizada que se identifica e reconhece, enquanto os graves servem

geralmente de base dificilmente identificável, como ocorre com os

contrabaixos (LEHMANN, 1998, p. 85-86).

O estudo de Lehmann (1998) apresenta as hierarquias presentes em uma orquestra

profissional expondo os níveis de importância dado ao maestro e músicos convidados, em

seguida ao spalla, chefes de naipe e por fim aos músicos, chamando atenção para o “ritual” e

representação social desempenhado por estes músicos em concertos e nos bastidores. Esse

“ritual” é comum ao cotidiano da orquestra sinfônica da UFRN, onde seus participantes

experimentam a partilha, a concorrência, a amizade, a hostilidade, o ensino e a aprendizagem,

dentre outras sensações e vivências.

26

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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Considerando que a conduta pessoal de cada indivíduo é fator também determinante

em um relacionamento, Thales (2014) aponta que há um pouco de “arrogância de alguns, [...]

porque você detém conhecimento e ele é só seu [...] não passa pra ninguém” (informação

verbal)27

, pensamento que é compartilhado por outros instrumentistas e relatado por Pedro

(2014) ao dizer que o desentendimento de alguns componentes atrapalha o trabalho no grupo,

“gerando alguns conflitos entre músicos” (informação verbal)28

. Essas observações foram

feitas referindo-se principalmente a naipes maiores, o que, segundo o músico Thales (2014),

diminui as possibilidades de resolver questões, há mais concorrências e desavenças.

Entretanto, durante as observações não presenciei momentos em que desavenças

prevaleceram. Percebi que diante do compromisso assumido com o grupo, os componentes se

esforçaram para colaborar com o colega e alcançar os objetivos coletivos. Segundo Joly,

Maria (2007, p. 106),

os processos educativos e as práticas sociais que se dão no convívio ora

harmonioso, ora conflitante de um grupo tão heterogêneo estão contribuindo

para a formação pessoal e social de seus participantes, educando e

sensibilizando cada um através da convivência resultante do interesse

comum de tocar em uma orquestra.

Em concordância com a autora, e através de dados obtidos durante as observações

percebe-se que as situações de conflitos são também oportunidades de aprendizagem,

requerendo controle emocional, habilidades no trato interpessoal e domínio pessoal,

principalmente para aqueles que exercem funções de liderança no grupo. No âmbito das

relações sociais presentes no grupo, João (2014) acredita que “a convivência faz com que todo

mundo faça amizade um com o outro. Fora da orquestra a gente também tem muito contato

porque paga disciplina junto e, fora isso, no dia a dia a gente também tem muito contato”

(informação verbal)29

. Ainda nesse sentido, Marcos (2014) acredita que essa orquestra é

“feliz” no quesito relacionamento “por ser uma orquestra acadêmica, de uma universidade

onde quase todos prestam o mesmo período [graduação] e possui uma convivência extra

orquestra bem maior. Acho que isso até ajuda quando chega na hora do ensaio” (informação

verbal)30

. Assim como os músicos, Hikiji (2006, p. 130) afirma que:

27

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Em virtude do contato frequente e duradouro, os hábitos, desejos e estados –

de corpo e espírito – dos colegas são conhecidos. A convivência não se

restringe às aulas, ensaios e apresentações: os jovens estudam juntos, saem

juntos, vão a mesma igreja, namoram. A prática em grupo resulta, portanto,

em um compartilhar de valores e tempo que em muito remete à convivência

familiar.

Corroborando com a autora, o convívio entre os estudantes, os relacionamentos, os

desentendimentos, as parcerias e as coaprendizagens são situações comuns à sociedade e estas

adicionam experiências, prontidão, discernimento, desenvolvimento pessoal e social ao grupo

orquestral, construindo assim, uma formação integral e humana.

4.1.2 – Aprendizagem nos ensaios e concertos: ouvir o outro na coletividade

A prática orquestral na OSUFRN desenvolve-se por meio de várias atividades,

nestas, a maioria dos músicos considerou ser um aprendizado constante conseguir ouvir o

outro – colegas de naipe, outros naipes, família instrumental e a orquestra como todo. Os

músicos quando iniciam seus cursos de formação instrumental na Escola de Música da UFRN

têm aulas individuais ou em pequenos grupos, realizam estudos individuais e muitas vezes

apresentam-se com performances solo. Na prática de conjunto, essa postura é modificada e

muitos entrevistados consideraram adquirir aprendizado quanto ao aspecto – ouvir o outro.

Nesse sentido, Edyson (2014) relata sobre sua experiência no grupo.

Antes eu tentava fazer nos ensaios, ouvir e tal, mas nos concertos eu fazia o

meu, entendeu?! Por que além de ter o nervosismo eu estava com medo de

errar então eu ficava focado no meu, mas hoje eu já tenho certo

conhecimento de tanto estar na orquestra que eu já consigo ouvir, dar uma

relaxada e não fico mais nervoso. Pelo amadurecimento, eu já consigo ouvir

todo o meu naipe, tanto as madeiras como tentar fazer o máximo de música

de câmara possível e também ter o contato direto com o regente né! E a

performance melhorou bastante (informação verbal)31

.

A sensação de uma produção coletiva e a importância de conseguir ouvir o outro

representa satisfação em fazer parte do grupo e consequentemente fazer parte da produção

sonora coletiva, esse sentimento foi percebido durante as entrevistas, principalmente ao

lembrar ensaios e concertos. Sobre isso, Ian (2014) expõe: “tem muita coisa que eu aprendo,

tipo observar mais, normalmente pra não ficar com a cara fechada na partitura, prestar mais

31

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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atenção, ouvir mais a galera tocando, é isso que eu aprendo muito” (informação verbal)32

.

Corroborando com ele, Elias (2014) diz que “a maneira de tocar, com a articulação igual é

muito importante. A gente aprende muito com isso também, a tocar em conjunto, em grupo,

atacar todo mundo certo, afinado, então isso pra nossa formação é muito importante”

(informação verbal)33

.

Em concordância com os colegas, Tásia (2014) acredita que uma das principais

habilidades desenvolvidas na convivência em grupo refere-se a conseguir ouvir o outro com a

intenção de adquirir harmonia musical no grupo. Segundo ela, “a questão de se ouvir... Ouvir

pergunta e resposta, ouvir o outro naipe, 'oh agora é o outro naipe que vai tocar', não precisa

nem tá nada especificado, anotado, nem discriminado na partitura desde o início, a questão de

ouvir, né?!” (informação verbal)34

. Maria (2014) acrescenta que é preciso estar com “o ouvido

sensível ao que o chefe de naipe está tocando. Isso é uma aprendizagem que se desenvolve,

acho que não é adquirida estudando sozinho, mas se desenvolve na prática de conjunto”

(informação verbal). Nesse ponto, Silva, José (2010, p. 3) esclarece que o termo “ouvir o

outro” no exercício da prática coletiva, de certo modo corresponde “a uma ‘saída’ de si

mesmo, um ir além da autorreferência, a ideia pode ser efetiva para viabilizar tanto a música

quanto a convivência, ambas feitas do entrelaçamento de muitos elementos, muitas variáveis”.

Desse modo, durante os ensaios, os músicos procuram se ouvir e ouvir os colegas de

grupo, buscando compreender como as músicas são estruturadas, identificando sequências de

entradas instrumentais, momentos de apreciação musical e estabelecendo relações sociais

entre si. Essas são situações que “não estão restritas ao tocar, mas todas as ações referentes ao

fazer música que inclui ouvir, ensaiar, tocar junto com os colegas, preparar o espetáculo”,

entre outras (SANTOS, 2013, p. 152). Essa conduta é inerente ao contexto orquestral e está

presente no cotidiano dos jovens músicos da OSUFRN por meio da convivência cotidiana e

da formação musical instrumental.

4.2 Estratégias de formação e interações

Para o bom funcionamento da orquestra sinfônica da UFRN, maestro, comissão

artística e direção administrativa concordaram em estabelecer regras de convivência para

serem seguidas pelo grupo, espelhando-se em orquestras profissionais, sobretudo orquestras

32

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 33

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 34

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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de referência nacional e internacional. Dentre elas, exige-se pontualidade, frequência e

assiduidade durante as atividades do grupo. Sendo assim, não são permitidos atrasos; se isso

acontecer, o músico terá sua estante ocupada pelos colegas e deverá sentar-se na última

estante de seu naipe para não prejudicar o andamento do ensaio.

A orientação é que os músicos cheguem ao local de ensaio antes do horário

determinado – às 14h00 – pois o spalla iniciará a afinação da orquestra pontualmente.

Aproximadamente às 15h15 o maestro libera os músicos para o intervalo de quinze minutos,

finalizando o ensaio às 16h50. Não se admite também que os músicos faltem aos ensaios e

concertos sem justificativa comprovada, sob pena de serem convidados a deixar o grupo, em

caso de ocorrências repetidas; contudo, salienta-se que esse fato ainda não ocorreu na

orquestra. Sobre essa dinâmica, Maria (2014) explicita que:

Os ensaios realmente começam muito pontuais e eu chego atrasada às vezes,

não sempre. Às vezes eu chego cinco minutinhos e já tá começando. Eu acho

que tá criando um caráter bem de orquestra profissional agora, o pessoal

realmente chega cedo e o spalla afina e depois André começa ou os

assistentes (informação verbal)35

.

Sobre essa disciplina exigida na orquestra, Hikiji (2006, p. 130) expõe realidade

semelhante em sua pesquisa com jovens ao dizer que “na prática orquestral, há horários a

serem respeitados, rituais que devem ser cumpridos, hierarquias conhecidas. Há rotina,

regularidade, planejamento”. A exigência disciplinar presente na prática orquestral suscita que

os músicos se adaptem aos horários estabelecidos no grupo. Na OSUFRN, há aqueles que

demoram um pouco para compreender como funcionam as regras do grupo e chegam cinco,

dez ou quinze minutos atrasados, desconsiderando aqui os atrasos ocorridos por imprevistos.

De acordo com as observações em campo, as regras estão estabelecidas e não

parecem incomodar os componentes do grupo, pelo contrário, alguns colegas ficam chateados

com o atraso ou possibilidade de descompromisso de seus pares, como relatado na fala de

Bruno (2014), “muitos [...] não sabe o que quer da vida. É isso que atrapalha muito”

(informação verbal)36

. Desse modo, acredito que essas normas os ajudam a entender que para

otimizar as atividades inerentes à orquestra é necessário o comprometimento e a organização

nos horários e nas demandas pessoais, para que possam aperfeiçoar o trabalho,

disponibilizando tempo e dedicação às atividades de ensaios semanais, ensaios extras,

concertos e viagens. Essa disciplina exigida no grupo e as ações corretivas propostas pela

35

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 36 Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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OSUFRN assemelham-se às orquestras profissionais, apresentando-se de forma clara no que

concerne a preocupação de formar músicos, preparando-os para o mercado de trabalho. Nesse

sentido, Rosa (2014) afirma que:

Na formação do músico, eu acho que é uma experiência mesmo do que a

gente quer buscar no futuro porque muitos vão sair daqui querendo o

mercado de trabalho orquestral, vão querer fazer provas pra orquestra e tocar

em orquestra. Então, é como se a gente tivesse experimentando aqui como

vai ser tocar nas orquestras profissionais por aí a fora. [Envolvendo] toda

aquela questão de disciplina, de horário, de trabalhar em grupo (informação

verbal)37

.

Assim como Rosa (2014), outros integrantes consideraram importante vivenciar a

experiência musical no contexto orquestral. Para a maioria dos músicos entrevistados, a

rotina, as regras e a dinâmica de atividades presentes no grupo contribuem para a organização

pessoal e adicionam conhecimentos que serão levados adiante, tanto individualmente quanto

profissionalmente, e em diferentes momentos e situações cotidianos.

4.2.1 Planejamento e metodologia do maestro

O repertório da orquestra abrange obras eruditas e populares. Para o repertório

erudito, o maestro André Muniz (2014) revela que ao escolhê-lo, ele e a comissão artística

estão preocupados em oferecer obras que fazem parte da execução de qualquer orquestra do

mundo, então, “quando a gente traz esse ano a ‘5ª Sinfonia de Beethoven’; ‘O novo mundo de

A. Dvorak’; a ‘4ª Sinfonia de Brahms’, essas são peças basilares para qualquer pessoa que

pense em tocar em orquestra no mundo” (informação verbal)38

. Para o repertório popular, a

escolha é realizada conjuntamente, após comunicação entre o maestro e o parceiro SESC-

RN39

, os quais planejam e direcionam a produção do espetáculo anual que envolve a

orquestra, músicos e atores convidados. Nessas apresentações, o repertório é composto por

músicas brasileiras e/ou regionais que até então, já homenageou nomes da Música Popular

Brasileira–MPB, como Luiz Gonzaga, Vinícius de Moraes e compositores potiguares (RN).

A proposta de repertório destinada para a OSUFRN na temporada 2014 revela mais

uma vez a preocupação da direção artística em contemplar obras de referência do contexto

orquestral. Percebe-se que, com a seleção do repertório, buscam preparar os músicos para a

37

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 38

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 39

Lembrando que o SESC-RN não renovou contrato com a EMUFRN em 2015.

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execução das mesmas em qualquer situação, como concursos ou participações em outros

grupos, no Brasil e no mundo. Ao que se refere à maneira do maestro conduzir o grupo com o

repertório selecionado previamente, escrevo a cena a seguir:

Neste ensaio, o maestro se empolgou bastante durante a condução do grupo

fazendo movimentos, gestos enfáticos, com uma postura que chama os

músicos para executarem o que deseja e o grupo tem respondido bem aos

seus comandos [...] Durante a passagem da obra o maestro ensaiou vários

trechos, chamando atenção para as dinâmicas e para o ritmo de um

movimento específico, o qual exigia mais concentração por possuir muitas

síncopes. As 16h35 outros avisos foram dados e finalizou-se o ensaio

(DIÁRIO DE CAMPO, 13/08/2013).

A postura descrita no diário de campo retrata a figura do maestro como alguém que

está preocupado em se fazer entender para alcançar o resultado sonoro almejado. Para isso,

utiliza os recursos técnicos, gestuais e instruções verbais enquanto condutor responsável e

gerenciador do trabalho musical. Sobre essa função de gerência,

a literatura da área evidencia que a principal função da regência é “dirigir”,

“conduzir” as práticas musicais de um conjunto musical, seja ele formado

por instrumentistas ou cantores. Para exercer esta função de “líder” de um

grupo, o regente utiliza, usualmente, uma diversidade de elementos visuais

para sinalizar aos integrantes do grupo diferentes aspectos a serem

observados na prática musical (GRINGS, 2011, p. 16).

Na OSUFRN, o maestro e diretor artístico do grupo André Muniz conduz a orquestra

dividindo a regência dos ensaios com seus assistentes ou compositor/arranjador convidado.

Ao reger os concertos e maioria dos ensaios, direciona-se aos músicos expressando-se com

todo o corpo, chamando atenção para as dinâmicas, ritmo e interpretação das obras. Como a

orquestra se renova a cada ano, ingressam no grupo alunos que nunca haviam vivenciado a

prática orquestral. Pensando nisso, no inicio da temporada de 2014 o maestro experimentou

realizar uma palestra para esse público explicitando como ocorre o funcionamento de uma

orquestra, pois para ele

seria muito bom que dentro do ensaio, além de estar vendo toda questão de

coerência rítmica, parâmetro de afinação, parâmetro de equilíbrio entre as

famílias, coerência estilística, eu também estivesse desenvolvendo uma

poética musical neles, que eles entendessem como é construída e do que se

trata na realidade, a concepção sonora. Pegar todos esses conhecimentos que

estão dentro da história, da análise, da percepção e tentar trazer com todas as

informações, ligando-as realmente dentro de um contexto transdisciplinar.

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Mas no ensaio nem sempre a gente consegue isso daí porque o tempo é

muito exíguo (MUNIZ, 2014) (informação verbal)40

.

O maestro demonstra o desejo de oferecer uma visão ampla acerca da obra e da sua

interpretação, na tentativa de que os alunos possam compreender suas orientações e onde

pretende chegar para a execução da obra completamente. Partindo do princípio de que todos

os alunos, componentes da orquestra, estão matriculados nos cursos, técnico, graduação ou

pós-graduação, os mesmos têm acesso aos conhecimentos da história da música, da análise,

da percepção musical, dentre outras disciplinas que compõem a estrutura curricular. A

orquestra, enquanto prática coletiva, exige que o aluno consiga fazer relações efetivas entre a

teoria e a prática musical. Contudo, nem todos os alunos conseguem unir esses

conhecimentos, essenciais para desenvolvimento das obras estudadas no grupo. Por esse

motivo, durante os ensaios o maestro, enquanto mediador da aprendizagem, procura

contextualizar a obra, mas ainda considera insuficiente estas rápidas informações, percebendo

ser necessário mais tempo para desenvolver nos músicos o entendimento adequado para a

interpretação musical e assim, ir além da execução musical.

Nesse sentido, o regente planeja os ensaios e adota a metodologia de passagem geral

da obra, ou seja, desde o primeiro ensaio faz uma leitura de todos os movimentos da peça

orquestral, objetivando sentir como os músicos se comportam diante das dificuldades técnicas

e como conseguem ultrapassar essas barreiras diante do desafio de executar o todo. Sobre

isso, ele explica que

no primeiro momento quando a gente se debruça sobre um novo repertório

eu tento fazê-lo de uma ponta a outra, com a quantidade de erros que

acontecer, isso daí eu absolutamente não mensuro, tento salvar no braço

muita coisa, mesmo que saia desencontrado e saia com nota errada, a ideia é

que pelo menos as pessoas fiquem na cabeça qual é o nível de força, qual é o

nível de destreza instrumental que aquele repertório vai demandar. Então, se

você já faz na velocidade que ela deverá ser executada ou muito próximo

disso daí, lá no concerto final, isso já gera uma memória no músico. Aquilo

que naturalmente não soou bem, eu começo a fragmentá-las nos primeiros

ensaios. Estes ensaios são realmente para trabalhar pontos. Então, se vamos

fazer uma sinfonia de quatro movimentos, a gente faz dois movimentos num

ensaio e dois em outro, onde se conserta os detalhes ou se faz anotações ou

observações sobre eventuais desequilíbrios pontuais. Isso é importante

inclusive para o músico sentir o quanto de esforço muscular aquilo exige

dele. É importante que ele sinta qual o nível de desgaste e que também ele

desenvolva uma atitude mental para isolar os problemas porque a gente tem

40

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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que estar o tempo todinho olhando pra frente, o erro já passou, só se conserta

nas próximas performances (MUNIZ, 2014) (informação verbal)41

.

Essa metodologia é adotada pelo maestro sempre que há novos repertórios. Salienta-

se que o grupo recebe as partituras das músicas antes dos ensaios destinados a elas,

oportunizando que os estudantes façam a primeira leitura antecipadamente. Sendo assim,

aqueles que conseguem estudar previamente geralmente sentem menos dificuldade com a

passagem do movimento ou da obra por inteiro.

Durante as observações no início do segundo semestre de 2013, percebi que na obra

do compositor Ludwig van Beethoven – Concerto em Ré Maior para violino solo, o maestro

assim o fez. O primeiro e segundo movimento do concerto foram regidos pelos assistentes de

regência sob a observação do maestro, mas me chamou atenção a sonoridade apresentada pelo

grupo, não parecia que ali acontecia o primeiro ensaio da obra. Nesse momento, perguntei ao

arquivista se já haviam ensaiado antes e ele me confirmou que aquele era o primeiro ensaio

daquela peça, com isso, subentendi que a maioria dos músicos estudou antes do ensaio,

durante as férias ou possuem uma boa leitura à primeira vista. (DIÁRIO DE CAMPO,

01/08/13).

Após presenciar momentos como esse, surgiu o interesse em entender como os

alunos estudavam as obras orquestrais visto que isto poderia contribuir positivamente ou

negativamente para o resultado coletivo. Sendo assim, destinei meu olhar para este ponto,

incluindo também esse questionamento nas entrevistas semiestruturadas.

4.2.2 Aprendizagem individual

De acordo com os depoimentos dos músicos, percebi que alguns alunos buscam

estudar antecipadamente suas partes musicais e outros fazem a leitura e o estudo durante os

ensaios, pois cada componente do grupo tem sua maneira de estudar individualmente, é uma

característica pessoal. Para aqueles que procuram estudar previamente, geralmente buscam

informações sobre compositor e obra, e pesquisam vídeos de orquestras renomadas dispostos

na internet, como base de orientação para a execução das peças. Esses músicos relataram que

fazem suas leituras individuais e o acompanhamento da partitura da música juntamente com a

apreciação dos vídeos de orquestra pesquisados, identificando assim, trechos problemáticos

41

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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ou de difícil execução. Essa maneira de estudar e aprender é exemplificada por Marcos (2014)

ao apresentar sua estratégia de aprendizagem individual:

Bem, na minha forma pessoal, eu procuro pesquisar sobre [a música

estudada], se a gente vai tocar Beethoven, como é essa peça de Beethoven?

O que é que acontece? Tento ouvir, pelo menos, umas três versões diferentes

daquilo pra ver qual me agrada e qual ta dentro do contexto que é dito,

historicamente falando [...] se você já faz uma preparação, você consegue

adiantar muita coisa, em vez de sempre ter que esperar o que o maestro vai

falar porque tem muita coisa que é meio que regra, então eu preparo [...] e

quando chega ao ensaio já tem alguma coisa resolvida (informação verbal)42

.

Nesse sentido, Schütz (1971) lembra que a notação musical é convencional, mas é

mais ou menos acidental no processo de comunicação musical. O autor afirma que diante da

partitura, o músico pode ter a possibilidade de ler com facilidade, assim como poderá

conhecer o estilo “típico” da composição, o qual faz parte necessariamente da interpretação,

constituindo um conhecimento prévio da música. Essa antecipação do músico durante o

estudo da obra transforma-se em referência para a interpretação daquilo que poderá encontrar

na composição da obra.

Entretanto, nem todos os músicos preferem estudar antecipadamente, há aqueles que

leem à primeira vista e estudam durante os ensaios, dedicando mais tempo de estudo apenas

quando encontram maiores obstáculos na execução de trechos musicais específicos. Sobre

isso, Nicolau (2014) diz que:

Eu vou direto nos trechos problemáticos e resolvo. Eu resolvo muita coisa

nos horários de ensaio, enquanto o maestro está resolvendo problemas com

outros naipes, outras pessoas, de questão de leitura de notas, dou uma lida,

resolvo rapidinho e depois dou uma passada em casa, uma ou duas, o que for

necessário e o resto vai ser resolvido no ensaio de naipe (informação

verbal)43

.

Essa forma de estudar nos ensaios, citada por Nicolau (2014) foi percebida durante

as observações nas quais identifiquei que alguns componentes fazem leituras de trechos em

pizzicato quase que silenciosamente e outros tiram dúvidas com os colegas de estante.

Jonatas (2014) corrobora com Nicolau (2014) ao afirmar em sua entrevista que também

utiliza o tempo destinado ao ensaio para estudar, ele normalmente chega antes do horário e

sempre aproveita os quinze minutos antes do ensaio para ler as partituras. Para ele, esse

42

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 43

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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tempo é suficiente, pois procura se concentrar durante os ensaios e assim perceber os

problemas que pode encontrar na partitura. Considera ainda que não possui problemas de

leitura, então revisa apenas os trechos de maior dificuldade técnica ao dizer que “nos três ou

quatro compassos que não saía, eu dou uma olhada” (JONATAS, 2014) (informação

verbal)44

.

Nesse sentido, entende-se que cada componente da orquestra busca estratégias de

aprendizagem individual que melhor se identifica e de acordo com seu tempo de apreensão do

conhecimento. Aqueles que não realizam um estudo individual anterior ao ensaio apontam

que sentem alguma dificuldade quanto à disponibilidade de tempo, pois precisam cumprir

com a demanda de peças solo do instrumento, exigidos durante os cursos, além das peças do

repertório da orquestra. Desse modo, o grupo é dividido entre os alunos que incluem as peças

da orquestra em seu estudo diário e alunos que utilizam o próprio ensaio para estudar.

Assim, foi possível visualizar através dos dados que os músicos reconhecem a

importância do estudo individual para a realização de um bom trabalho, mesmo que seja

antecipadamente ou durante o ensaio. Através deste, buscam ouvir e relacionar a música

escrita em sua partitura com os trechos musicais de seus naipes e dos outros naipes, tomando

os colegas como referência de entradas e de contagens, além do direcionamento do maestro,

pois as escolhas individuais possivelmente refletirão na construção ou produção do

conhecimento coletivo.

4.2.3 Aprendizagem com o maestro e músicos convidados

Mediante a metodologia de ensaio adotada pelo maestro, assim como a possibilidade

de convivência dos músicos com outros regentes, os estudantes da OSUFRN foram

convidados a refletir sobre o papel do maestro, durante as entrevistas, enquanto professor e

condutor da prática orquestral, visto que “o regente é o propiciador de um processo coletivo

de aprendizagem musical que tem por objetivo a realização artística” (FIGUEIREDO, 1989,

p. 72). Os alunos fizeram referência à disciplina/regras necessárias ao grupo, a teoria estudada

durante os cursos de formação, a prática coletiva e a performance individual e coletiva

relacionando-as com as ações e orientações do maestro durante os ensaios e concertos. Nesse

sentido, Edyson (2014) relata que o maestro

44

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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sempre ensina além da parte da performance daquela peça, [...] sempre fala

da parte histórica, da parte de análise da peça. O que eu mais aprendo é isso,

a disciplina e várias coisas em termos musicais. [...] eu aprendi outra coisa,

que você não tá sempre [sozinho] na partitura, também tem alguém

auxiliando, ele não tá ali só pra dar entrada, tá ali pelo todo musical

(informação verbal)45

.

Corroborando com Edyson, Tásia (2014) considera que o maestro contribui

efetivamente para a aprendizagem do grupo, pois,

ele tenta abordar todos os estudantes de várias formas, pra se fazer entender.

Num ensaio ele fala assim, aí não deu certo, no outro ensaio ele fala assim...

[...] Ele faz questão de querer que o grupo seja independente dele. Isso é

muito legal. Uma vez no ensaio ele [falou], ‘vou lá pra trás’, ficou lá, ‘quero

só ouvir vocês’, e deixou a gente se virando, é grupo de câmara ali

interagindo, funcionando junto sem a ditadura da batuta e se ouvindo

(informação verbal)46

.

Os estudantes revelam algumas ações que são desempenhadas pelo maestro, o qual

elucida e referencia as obras do repertório com a teoria musical, a história da música, entre

outros elementos que poderão contribuir para o entendimento musical e performático durante

os ensaios. Por vezes, esses conhecimentos são vistos na orquestra antes de serem

apresentados nos cursos de formação, principalmente para os alunos que ingressam na

orquestra no início dos seus estudos. Quando o aluno passa a cursar disciplinas relacionadas à

teoria e à história da música, por exemplo, é possível que consiga relacionar a teoria com a

prática musical vivenciada no contexto orquestral, como disse Gil (2014) “muitas vezes o

professor [em sala de aula] leciona conteúdos da história da música, os períodos, e nós [da

orquestra] temos o privilégio de vivenciar a música com o maestro que está ali também pra

isso, e assim a gente vai amadurecendo” (informação verbal)47

.

A aluna Tásia aponta ainda que o maestro busca fomentar a autonomia dos músicos,

estimulando que eles busquem se ouvir para que a produção sonora seja efetivamente coletiva

e não individualista. Segundo Figueiredo (1989, p. 73),

faz parte da orientação musical, uma formação de conceitos básicos para que

se entenda o porquê de fazer isto desta ou daquela maneira. Além disto,

existe o aspecto da interpretação individual em favor de um resultado

45

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 46

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 47

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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coletivo. Cada ensaio, cada trecho musical nunca terá a mesma realização

(FIGUEIREDO, 1989, p. 73).

De acordo com o autor, percebe-se que o maestro ao apresentar elementos

constitutivos da música, contextualizando a obra e o estilo musical a que pertencem, para que

o grupo entenda “o porquê de fazer isto desta ou daquela maneira” (FIGUEIREDO, 1989, p.

73), os músicos podem fazer uso desse conhecimento para outras obras de outros

compositores de um mesmo período, por exemplo. A compreensão musical aliada à prática

orquestral se efetiva no desenvolvimento performático do músico e na sua autonomia,

traduzindo-se em aprendizagem. De maneira geral, para o maestro André Muniz (2014), o

regente preocupa-se com a execução musical de forma global, pensando na coerência rítmica,

precisão de afinação e no cuidado com o estilo musical.

Considerando a OSUFRN como um espaço de aprendizagem e o maestro enquanto

professor da universidade, ele preocupa-se também, como essas orientações alcançam aos

músicos e como poderão ser conduzidas para o entendimento da concepção interpretativa da

obra estudada. Dessa forma, durante as observações, foi possível visualizar que as figuras do

professor e do regente condutor se misturaram neste contexto orquestral universitário, onde os

alunos tratam o maestro das duas maneiras, professor e regente.

No que concerne à aprendizagem e ao relacionamento com um grupo formado por

jovens, o maestro André Muniz (2014) relatou:

Eu acho que eu não sou um tipo de maestro a versão antiga que acredita

nessa coisa verticalizada. Toda vez que eu entro no ensaio eu tenho a certeza

que eu também aprendo muito e, portanto, eu tento me colocar numa função

de abertura de espírito, de humildade, é óbvio que com setenta cabeças, cada

uma com uma história de vida e com uma necessidade inclusive instrumental

diferenciada, isso daí não significa abrir mão de pulso, não significa abrir

mão de dizer, tem que ser feito isso [...] Então o que acontece, dentro dessa

relação mais horizontalizada, se existe abertura de espírito do outro lado e

que as pessoas não exigem um exercício da força, porque infelizmente,

algumas pessoas, talvez pela adrenalina ou talvez mesmo pela personalidade,

ou pela rebeldia inerente à idade, essas pessoas tem o comportamento um

pouco mais alvoroçado ali dentro e falam na hora indevida, tocam... [...] me

sinto mais à vontade quando você efetivamente está regendo e olha nos

olhos dos músicos e vê que eles estão esperando a sua entrada e que você faz

uma, duas vezes uma passagem, dá sugestões e eles veem que a passagem

saiu melhor e isso está impactando positivamente neles, eles se sentem

melhores por fazer boa música [...] Eu acho que talvez a grande alcunha de

orquestra jovem não é só faixa etária, é a quantidade de tempo que essas

pessoas estão imersas nesse tipo de atividade (informação verbal)48

.

48

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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Embora a OSUFRN conduza suas atividades de acordo com o modelo de uma

orquestra profissional, a visão de ensino que permeia a orquestra e consequentemente o modo

como os alunos aprendem também está relacionado com o comportamento e condução do

maestro no dia a dia do grupo. Nesse sentido, é possível que a relação horizontalizada citada

pelo maestro aconteça principalmente por atuar em uma orquestra-escola, fazendo parte das

atribuições do “regente-professor”. Sendo assim, mesmo que o fazer de quem conduz um

grupo como uma orquestra sinfônica exija domínio, direção e autoridade, a interação dos

estudantes da OSUFRN com o maestro se efetiva de maneira amigável.

Geralmente, minutos antes e após os ensaios, músicos e maestro conversam em

pequenos diálogos, de maneira mais descontraída. Durante o momento do ensaio, a postura do

grupo demonstra um comportamento que exprime respeito às indicações e orientações do

maestro, preservando o silêncio e a concentração em suas partituras. Entretanto, com o olhar

atento é possível visualizar e identificar movimentações nos naipes, trocas de olhares, alguns

risos e conversas.

Nas viagens realizadas pelo grupo, o maestro normalmente viaja no mesmo ônibus

no qual vão os músicos, em clima de descontração e não reprime as brincadeiras comuns dos

jovens. Sobre isso, Elias (2014) relata: “o maestro vai em nosso ônibus [...] a gente aprende

muito com as histórias que ele conta. É uma pessoa que tem uma visão holística das coisas, de

maneira geral. Nessas conversas tem assunto de tudo, é bem eclético!” (informação verbal)49

.

Para Roberto (2014), o aprendizado acontece em tomá-lo como exemplo, ao dizer que

aprende a como liderar um grupo, diante da possibilidade de assim fazer futuramente. Nesse

sentido, a maioria dos entrevistados considera aprender com o maestro em aspectos pessoais e

acadêmicos através de suas observações dentro e fora dos ensaios e apresentações.

Diante das atribuições de organização, planejamento e execução das atividades

inerentes à orquestra, o maestro André Muniz acredita ser um otimizador de eventos distintos,

preocupa-se com a formação dos músicos e considera salutar que o grupo adquira experiência

com outros regentes, estando à disposição para ajudar os alunos a progredirem em um menor

tempo possível (MUNIZ, 2014).

Durante as observações, presenciei a condução orquestral dos assistentes de regência,

de componentes da comissão artística da orquestra e de compositores/arranjadores de obras

específicas, sobre esse aspecto questionei os entrevistados a respeito dessa experiência com

regentes diferentes durante a temporada da OSUFRN. O músico Antônio (2014) expõe que

49

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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tem sido interessante vivenciar a condução de maestros diferentes porque “cada um tem uma

peculiaridade diferente [...] e eu aprendo com o erro deles, com o acerto também, mas sempre

aprendo com certeza” (informação verbal)50

.

A respeito dos músicos convidados, os músicos da OSUFRN consideram importante a

oportunidade de experimentarem as trocas de informações e de saberes que acontecem

naturalmente com a presença de solistas. Considerando que os convidados trazem consigo

uma vasta experiência musical e de performance, interagem com os músicos da orquestra

corporalmente, sugerem maneiras de execução e de interpretação, comunicam-se diretamente

com o naipe em específico ou com o maestro. Quando a OSUFRN recebe convidados

internacionais, a comunicação acontece geralmente em outra língua, mas a tradução é

realizada pelo maestro quando o comentário é direcionado aos músicos. Nesse aspecto, Ian

(2014) considera que:

Os professores da EMUFRN são de “alto nível”, assim como os solistas

convidados, porque você aprende com cada um. Tipo agora [com o músico

convidado], cada nota que ele dava, você tava aprendendo, não sei o que foi

aquilo né, cada frase que ele fazia, você tava aprendendo. O mesmo acontece

com os solistas que vem [para a EMUFRN], você aprende com eles e com as

dicas que eles dão (informação verbal)51

.

O músico Ian (2014) referiu-se ao último concerto ocorrido antes da entrevista cedida

a esta pesquisa. Ao exprimir o mesmo entendimento que Ian (2014), Nicolau (2014) revela

sua percepção sobre este concerto acima citado:

Um solista de alto nível que tá ali... Nesse concerto, eu percebi a

musicalidade dele puxando a minha assim, eu tava fazendo aquilo, as vezes

eu tava fazendo bem inadvertidamente no ensaio, tocando, seguindo as notas

e o resultado sonoro era um, porém quando a gente sente o resultado

musical, que está sendo, ao mesmo tempo que você toca, você ouve, você

gera duas sensações diferentes, que elas em comum, geram uma sensação

única. E sensação única aí é uma ambiguidade né, é uma sensação única por

ser o resultado de duas e é uma sensação única porque é uma experiência

que não é qualquer pessoa que experimenta (informação verbal)52

.

Os músicos parecem encantados com o concerto realizado com o solista convidado e

com todas as sensações que foram possíveis vivenciar ao tocar com um músico de referência,

pois entendem que os músicos convidados são seus pares no fazer artístico e profissional.

Nesse aspecto, Schütz (1971) elucida que os conhecimentos transmitidos por aqueles que

50

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 51

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 52

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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atingiram o prestígio de autenticidade e de autoridade tomam um lugar importante, sobretudo

se eles são grandes mestres entre os intérpretes e os célebres intérpretes de suas obras.

Para os estudantes, a atitude desses músicos convidados e de referência “os influencia

e facilita o aprendizado musical” porque “tocar com gente ‘boa’ os estimula a estudar mais e,

consequentemente, a melhorar suas performances” (GONÇALVES; SILVA; MACHADO,

2012, p. 644). De acordo com minhas observações, todos os convidados foram músicos de

referência com vasta experiência artístico-musical. Essa possibilidade de adquirir novas

experiências com instrumentistas e maestros convidados permite aos músicos diversificar e

ampliar seus conhecimentos acerca da performance, favorecendo conhecer diferentes

interpretações musicais. Isso contribui para a formação deles, preparando-os para o mercado

de trabalho em um futuro profissional e estimulando-os a almejar atingir nível profissional

semelhante aos exemplos de profissionais com quem tiveram contato.

4.3 Concertos, viagens e intercâmbios

No segundo semestre da temporada de 2013, a OSUFRN realizou cinco concertos

com repertório erudito, um concerto didático e cinco concertos com repertório popular, entre

estes quatro deles aconteceram fora da capital, Natal/RN, sendo necessário deslocamento para

o interior do Rio Grande do Norte ou para outro estado.

A orquestra geralmente faz seus concertos oficiais no auditório da Escola de Música

da UFRN, ou seja, no mesmo espaço onde ocorrem os ensaios semanais. Para apreciar a

OSUFRN neste espaço é comum visualizar a formação de fila de espera, minutos antes do

concerto com repertório erudito. Por vezes, parte do público não consegue entrar na sala de

concerto por exceder a quantidade delimitada no espaço e acompanha o grupo através da

transmissão do concerto em um telão exposto no hall da EMUFRN. De acordo com as

observações in loco, o público presente nesses concertos é diverso, composto por amigos e

familiares dos músicos, estudantes de música, professores da Escola de Música da UFRN e

apreciadores da música erudita.

O concerto didático realizado pela OSUFRN também ocorreu no auditório Onofre

Lopes da EMUFRN, recebendo alunos das escolas de educação básica, assim como crianças

de projetos de extensão da EMUFRN. Nos concertos de repertório popular, é necessária uma

produção específica para sua realização, como a montagem de palco, sonorização e

iluminação para cada instrumento, o cenário, entre outros requisitos relevantes. Para a

efetivação do espetáculo, além dos músicos da OSUFRN, foram envolvidos músicos e atores

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convidados. Por esse motivo, ocorreram em ambientes maiores, como teatros ou ambientes

abertos como praças públicas, na capital e no interior do estado do Rio Grande do Norte. O

público presente nessas apresentações de repertório popular poderá ser composto por amigos

e familiares dos músicos, estudantes e professores de música, mas com maior participação de

pessoas comuns, sem vínculos e laços fraternais com a OSUFRN.

4.3.1 Aprendizagem nos concertos

Em dias de concertos eruditos ou populares é perceptível o zelo dos músicos com a

roupa, o cabelo – meninos e meninas, com a maquiagem, pontualidade, a preocupação em

fazer alongamentos corporais e aquecimentos com os instrumentos. O momento que antecede

o concerto é destinado para a concentração e ao mesmo tempo para a descontração, pois os

músicos interagem, conversam, tocam (aquecimento) e aguardam o momento de adentrarem

ao palco, para assim, ocuparem seus lugares. Esse cuidado e apreço com a aparência e com o

corpo nos conduzem a pensar que os músicos consideram o concerto como um momento

importante, significativo, que faz jus a um comportamento diferenciado, entretanto, para além

do que é visto aparentemente, durante a pesquisa identifiquei as concepções desses músicos

sobre esse momento das apresentações.

Para alguns instrumentistas, o concerto é um momento de prova emocional, um teste

de adrenalina, pois muitos ficam apreensivos e nervosos por estarem no palco e sendo vistos

por muitas pessoas, dentre elas, músicos, estudantes e docentes, principalmente em concertos

apresentados no auditório da Escola de Música da UFRN por contemplar esse público

específico e especializado. Os músicos se sentem pressionados a fazer um bom trabalho e essa

cobrança pessoal poderá reverter-se em aprendizagem e experiência ou em ansiedade, a qual

“poderá provocar um impacto negativo na qualidade da execução” (GRINGS; HENTSCHKE,

2013, p. 25) caso não consigam controlar as sensações desse momento, no palco, porém são

situações que também geram aprendizagens. Sobre os concertos, Roberto (2014) reflete:

Eu acho que a coisa mais importante do concerto é a experiência de subir no

palco. É uma experiência que a gente só tem no palco porque é no palco que

você aprende a controlar a adrenalina que você vê o que de fato é suar frio.

No seu estudo individual e no ensaio não tem isso e às vezes se tem é muito

pouco. Mas no concerto é o momento em que a experiência do palco faz com

que aprendamos a controlar a adrenalina e a gente começa saber o que

funciona no palco e o que não funciona no palco e a gente coloca essa

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experiência inclusive no nosso estudo individual seja para as coisas da

orquestra, seja para o meu repertório como solista (informação verbal)53

.

O músico considera importante experimentar e vivenciar o momento do concerto,

mesmo que seja necessário controlar e ultrapassar barreiras e/ou oscilações emocionais. O

concerto também é visto como uma avaliação, o momento de colocar à prova o trabalho

desenvolvido durante os estudos com concentração e disciplina. Nesse sentido, para Rosa

(2014) o concerto é uma cobrança, “você tem que fazer tudo que já fez, sem cometer os erros.

Cometa tudo certo dessa vez!” (informação verbal)54

, corroborando com ela, Marcos (2014)

entende o concerto como uma prova da música de câmara, uma espécie de avaliação de tudo

que se fez durante os ensaios. No entanto, mesmo com esse pensamento de cobrança ambos

consideram que toda vez que sobem ao palco vivenciam algo diferente, reconhecendo que

sempre têm algo para aprender (informação verbal)55

.

Para outros músicos, os concertos são considerados ainda, como oportunidades para

um momento de reflexão e constatação, visto que, teoricamente, acontece no concerto aquilo

que foi trabalhado anteriormente nos ensaios, tanto no aspecto positivo quanto negativo.

Assim, Maria (2014) afirma que:

O que não sai no ensaio não vai sair nos concertos, não adianta você achar

que é mágico e vai sair no concerto, da mesma forma que você toca nos

ensaios, você provavelmente vai tocar no concerto, isso eu aprendi [...]

Então eu tenho me disciplinado muito, porque o concerto é o retrato do

ensaio, você tem que se concentrar muito também (informação verbal)56

.

Diante disso, percebeu-se que, na visão de alguns músicos, para alcançar um bom

desempenho nos concertos é necessário valorizar os processos que o antecedem, como o

estudo individual e os ensaios. Desse modo, aos poucos a performance, a concentração e a

calma será estabelecida durante os ensaios e aplicada similarmente nos concertos. A vivência

no grupo promove reflexões a partir das experiências adquiridas, as quais estão relacionadas

com as mudanças de comportamento durante os processos de aprendizagem musical, pois “a

aprendizagem que advém das relações sociais ajuda a construir os conhecimentos que dão

suporte ao desenvolvimento” (LEITE, et al., 2009, p.205). Além disso, os concertos oferecem

outro tipo de sensação aos músicos, como exemplifica Elias (2014):

53

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 54

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Acho que o calor humano, a plateia, a vibração faz muitíssimo bem e no

ensaio não tem isso! Eu sinto falta disso nos ensaios. O pessoal se

levantando pra lhe prestigiar, batendo palmas pra você, eu acho que isso é

muito gratificante. A cada vez, eu termino o concerto e o público

aplaudindo, parabenizando, isso faz com que eu estude cada vez mais,

procure mais oportunidades como essa. Após o concerto eu procuro estudar

mais, pra ter mais oportunidades como essa, porque é muito bom, me

estimula a estudar mais (informação verbal)57

.

Elias (2014) menciona sua expectativa, enquanto artista, sobre o recebimento do

reconhecimento pelos seus estudos e esforços manifestado em aplausos a cada execução.

Sobre isso Hikiji (2006, p. 93) apresenta que

na análise de projetos de arte-educação realizada pela UNESCO, afirma-se

que a arte permite que os jovens revelem seus talentos para a sociedade, e

que a “interação entre a auto-apreciação e a gratificação pelo

reconhecimento social” é uma referência para a construção da auto-estima”.

Desse modo, os concertos oportunizam a apreciação do público quanto à obra

musical, a interpretação conduzida pelo maestro e a execução instrumental dos componentes

da orquestra, os quais podem apresentar publicamente o seu desempenho musical e

instrumental positivamente, se estiverem preparados e/ou negativamente se não conseguiram

solucionar dificuldades técnicas e emocionais, contudo, além dos concertos e apresentações

oficiais, os músicos mencionaram a importância dos concertos didáticos para a formação do

público (plateia), assim como para a formação dos músicos que compõem a OSUFRN.

De acordo com os músicos, o concerto didático oferecido por uma orquestra

sinfônica é significativo para os alunos convidados, visando à formação de apreciadores

musicais conscientes e críticos, pois para Roberto (2014), “se a gente não forma plateia [...] a

gente não tem quem assistir o concerto oficial, então uma coisa depende da outra, o concerto

didático tem que ser tão bom quanto o concerto oficial. Mesmo que sejam crianças, a gente

educa musicalmente essas crianças” (informação verbal)58

. Sobre a formação do músico,

enquanto instrumentistas da orquestra, Tásia (2014) afirmou que os concertos didáticos são

oportunidades de aprender como dar aula, “porque você dar aula pra criança é diferente de

você dar aula pra adolescente e pra adulto, são abordagens diferentes” (informação verbal)59

.

A aluna comparou o concerto didático a uma aula porque nestas apresentações da orquestra,

57

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 58

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 59

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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os músicos têm a oportunidade de ir à frente do palco e explicar sobre seus instrumentos,

tocar para a plateia e aproximar-se do público.

Ao explicar sobre seus instrumentos, os músicos poderão descobrir inclusive, outras

maneiras de ensinar e de dialogar com as crianças e jovens, participantes dos concertos

didáticos. Esses concertos oportunizam aos músicos aproximar-se do público favorecendo que

assumam uma postura diferenciada, se comparados aos concertos oficiais/eruditos, crítica e

reflexiva ao mencionarem a importância desse trabalho para o publico e para si. Assim, em

concordância com Demo (2013, p. 297) para encontrar significado nas aprendizagens durante

as experiências coletivas é salutar que as pessoas aprendam a conduzir seu estudo, pois não

importa a mera repetição, mas que consigam dirigir seus pensamentos, reflexões e

aprendizagens.

4.3.2 Viagens e intercâmbios

Na convivência do grupo durante todas as atividades inerentes à OSUFRN, observei

que os músicos interagiam entre si, sobretudo em momentos livres e de descontração como as

viagens realizadas pela orquestra. Nem todos gostam de viajar por motivos pessoais diversos,

contudo todos os pesquisados apresentaram seus olhares a esse respeito.

Os destinos das viagens realizadas durante a investigação contemplaram municípios

do interior do Rio Grande do Norte e a capital da Paraíba, João Pessoa. Devido ao tamanho do

grupo, é necessário realizar o deslocamento da orquestra em dois ônibus. Para a maioria dos

músicos, nesses momentos se tornam visíveis algumas divisões no grupo, as quais

ultrapassam a divisão necessária ao deslocamento de todos. Para Rosa (2014), de maneira

geral, a orquestra divide-se entre cordas versus sopros e percussão, como relatou:

São cordas com cordas, [...] madeiras com madeiras, metais com metais [...]

nos ônibus sempre tem essa divisão, [...] sentam os violinos junto com as

violas que são mais próximas, aí sempre são dois ônibus assim, vão os

sopros no outro, que eles são mais apegados entre eles, dá pra ver essa

divisão dentro dos ônibus (informação verbal)60

.

Entretanto, Marcos (2014) tem outra visão a esse respeito. Ele concorda com a

existência de pequenos grupos, mas não acredita que fuja da normalidade de convivência

entre pessoas diferentes, visto que todos são estudantes da mesma universidade e por esse

60

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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motivo, muitos alunos se encontram em outros espaços, como por exemplo, as salas de aula

onde estudam disciplinas teóricas em comum. Segundo ele,

nessa orquestra é bem misturado isso, violinos que andam com violas que

andam com clarinetes que andam com flautas... Essa orquestra é bem feliz

nesse quesito, acho que por ser acadêmica, de uma universidade onde quase

todos prestam o mesmo período, a convivência extra orquestra é bem maior.

Acho que isso até ajuda quando chega na hora do ensaio (informação

verbal)61

.

Para Hikiji (2006, p. 65) esse comportamento e envolvimento entre os participantes

da OSUFRN citado por Marcos (2014) é comum, pois “o fazer musical produz também

comunicações que transcendem o palco, sala de aula ou espaço ritual, marcando relações,

mexendo com valores, determinando modos de agir na imbricada teia social que envolve

músicos e não-músicos”. Diante dessa convivência e relacionamento, Edyson (2014) chamou

atenção para a concorrência entre músicos. De acordo com ele, “tem sempre uma rixa entre

madeiras e cordas, aliás, sopros e cordas” (informação verbal)62

; contudo, acredita que na

OSUFRN há mais colaboração entre os músicos do que rivalidade. Corroborando com ele,

Maria (2014) ratifica que mesmo havendo concorrência entre os músicos, quando o grupo

viaja as diferenças diminuem e todos interagem entre si, nas conversas e brincadeiras. A esse

respeito Roberto (2014) comenta que:

É muito bom pra orquestra e para os músicos poderem viajar, fora que as

viagens da orquestra são uns dos momentos de maior descontração que nós

temos, onde eu posso, por exemplo, brincar com o professor que é o maestro,

de uma forma que eu não posso brincar dentro do ensaio porque ele tem uma

autoridade e eu não posso passar pela autoridade dele, então eu acho que as

pessoas dentro da orquestra com as viagens acabam se conhecendo muito

melhor, podem brincar, podem se chatear umas com as outras para que todos

saibam quais os limites das pessoas, acho isso importante (informação

verbal)63

.

Em concordância com Roberto, Pedro (2014) e Antônio (2014) acreditam que

durante as viagens é possível aprender e trocar conhecimentos com os colegas, assim como

consideram ser uma oportunidade de interação com os mesmos. Antônio (2014) preocupa-se

com sua formação e participa da orquestra almejando adquirir conhecimentos específicos para

utilizá-los futuramente, nesse sentido, observa que durante as viagens é possível conhecer

pessoas de outro naipe e ampliar o conhecimento interpessoal, por exemplo:

61

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 62

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 63

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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Ah, como é que o cara do fagote faz sua palheta, qual o processo, porque ele

usa um copinho de filme com água, essas coisas, acho muito legal saber, [...]

porque mais pra frente um dia, talvez você seja perguntado enquanto

professor [...] e querendo ou não tem que saber (ANTÔNIO, 2014)

(informação verbal)64

.

Além disso, Marcos (2014) considera que essa interação ajuda muito na hora de

tocar, porque “ter intimidade com as pessoas é muito mais prático pra entender o movimento,

a respiração, o sopro que tá saindo”. Por isso, Pedro (2014) conclui que “aprende a cada dia e

a cada viagem, conhece mais as pessoas, às vezes adquire um respeito a mais, troca

conhecimentos, aprende muita coisa!” (informação verbal)65

.

Assim, quando a orquestra viaja para realizar concertos dentro e fora do estado,

momentos de convivência, interações entre os músicos e aprendizagens mais amplas acerca

do universo pessoal dos envolvidos são oportunizados. Para Pedro (2014), “sempre que a

orquestra viaja é muito bacana porque são lugares diferentes e culturas musicais às vezes

diferentes [...] até pela cultura aqui do nordeste, tocar outros estilos diferentes [...] é

interessante passar isso para o público” (informação verbal)66. Dessa forma, os músicos

adquirem também conhecimentos sobre as cidades visitadas, sobre o público presente em cada

apresentação e, assim, ampliam o seu universo pessoal e musical.

Além das viagens realizadas dentro do estado, os alunos citaram por vezes, uma

viagem realizada no ano de 2012 ao Instituto Bacarelli (SP), através do Projeto Parcerias

Sinfônicas, financiado pelo SESC/RN. A programação da viagem visou unir duas orquestras

jovens, a OSUFRN e a Orquestra Heliópolis, ocasião na qual ambas se apresentaram juntas

tocando o repertório do “Clássicos do Baião: tributo a Gonzagão”, em homenagem a Luiz

Gonzaga. O projeto Parcerias Sinfônicas ofereceu apoio à OSUFRN em todos os eventos e

através dessa parceria financiou um espetáculo a cada ano, promovendo recursos para

arranjadores, atores, instrumentistas e cantores convidados, entre outras demandas necessárias

para a realização dos concertos na capital, nas cidades do interior do Rio Grande do Norte e

nesse caso, também em São Paulo/SP.

Muitos alunos comentaram sobre essa viagem porque em seu planejamento envolvia:

ensaios com a Orquestra Heliópolis, dois concertos com o “Clássicos do Baião”, master class

com os professores do Instituto Bacarelli realizando uma permuta com os professores da

64

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 65

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 66

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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UFRN que também ministraram master class com os alunos da Orquestra Heliópolis e tempo

livre para conhecer a cidade de São Paulo. A esse respeito Jack (2014) disse que:

[...] se todas as viagens fossem como aquela, vixe Maria! Seria

insubstituível, porque a gente não só teve bastante tempo pra passear,

conhecer a cidade, mas a gente teve a oportunidade de ter master class com

outros professores né, professores de lá, isso foi bastante importante.

Aprendi várias coisas que eu acho que nunca aprenderia com outros

professores, porque cada professor tem sua metodologia, cada professor

gosta de ressaltar uma coisa diferente e a gente vai pegando coisas diferentes

de cada professor (informação verbal)67

.

Maria (2014) concordou com Jack, mas fez outras observações a respeito desses

intercâmbios entre orquestras. Ela acrescentou que além desse encontro com a orquestra

Heliópolis em São Paulo, no segundo semestre de 2013, a orquestra de câmara de Karlsruhe,

Alemanha, veio ao Brasil fazer intercâmbio com a OSUFRN. São duas orquestras jovens

formadas por alunos universitários, mas em ambas as experiências sentiu que não houve uma

boa comunicação entre as orquestras, com dificuldade de relacionar-se com os jovens músicos

das orquestras e assim potencializar a convivência com trocas significativas de conhecimentos

específicos do seu instrumento, da música e da cultura.

[Em São Paulo] eu conheci a menina que tocou do meu lado, mas ela não

fazia questão de saber nem quem eu era e nem de se comunicar comigo, foi

meio estranho [...] Na Orquestra da Alemanha também, eles estavam num

nível [técnico] super acima do nosso, mas acho que cada um reprimiu um

pouco a oportunidade da gente querer falar com eles. Eu ainda consegui me

comunicar porque falavam inglês e falei um pouco com eles, mas as vezes

eles falavam em alemão [...] Não tinha nem como comparar a gente com eles

[tecnicamente], era só o intercambio da gente aprender com eles. Mas acho

que deu pra observar entendeu!? Hoje a gente faz uma coisa que a gente não

fazia antes, pode prestar atenção! Toda vez que a gente termina de tocar,

você pode ver que os arcos saem do instrumento e sobem. Antes não saía,

acabou a música, ficava assim [descia o braço] e a gente conversando com

os meninos, a gente entrou num consenso de tipo assim, ei toda vez que

tocar, puxe o arco [para cima para simbolizar que] terminou a música... e

antes cada um botava o arco onde quisesse e isso eles ensinaram pra gente.

A gente percebeu neles que o som prolongava desse modo, [...] fora o visual

de que você tá tocando com garra, com gosto (MARIA, 2014) (informação

verbal)68

.

Maria (2014) apresentou comentários reflexivos sobre essas experiências,

considerando-as muito importantes para a formação dos músicos da orquestra, mas com a

67

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014. 68

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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ressalva de que poderiam ter aproveitado mais, talvez com mais comunicação entre os jovens-

alunos-músicos das orquestras, aprenderia com as experiências e histórias de vida de cada um.

Devido ao período da viagem a São Paulo ter ocorrido em 2012, e não me encontrar

em período de observações no campo de estudo, não acompanhei a orquestra da UFRN nesta

viagem, mas foi possível observar o intercâmbio entre a OSUFRN e a Orquestra de Câmara

de Karlsruhe (Alemanha). Sendo assim, de acordo com as observações e relatos dos

entrevistados sobre esse intercâmbio com a orquestra universitária alemã, a pouca fluência na

língua inglesa de parte do grupo e o sentimento de inferioridade técnica contribuiu para que os

músicos da OSUFRN naturalmente não se aproximassem de seus convidados. Muitos músicos

da OSUFRN ficaram tímidos com a apresentação técnica dos alunos alemães e isso gerou

certo constrangimento em alguns componentes, incitando sentimentos e pensamentos

confusos que os distanciaram do relacionamento e compartilhamento de experiências que

poderia ocorrer. Maria (2014) ressalta ainda que é muito comum um clima de rivalidade e

concorrência, mas “essas coisas não criam um ambiente saudável para aprendizagem, criam

um ambiente tenso” (informação verbal)69

.

Desse modo, entende-se que a maneira como cada músico se sente dentro do grupo

pode interferir diretamente nas relações interpessoais. No último concerto das duas orquestras,

OSUFRN e Orquestra de Câmara de Karlsruhe, realizado na Universidade da Paraíba –

UFPB, ambas foram bastante aplaudidas. Após recolhimento do material, partituras e estantes,

todos foram jantar em um dos restaurantes de João Pessoa/PB, em um momento de

confraternização. Durante o jantar, o comportamento era o mesmo, cada orquestra interagia

principalmente entre si, mas ao identificar que havia um piano no espaço, um grupo de

músicos da OSUFRN solicitou ao restaurante a utilização do instrumento e começou a fazer

música brasileira, sobretudo a música regional brasileira, a qual os instrumentistas possuíam

familiaridade e conhecimento.

Os componentes da OSUFRN vibravam com a execução e improvisos de seus

colegas no piano, pandeiro, flauta transversal, trombone e trompete. Apresentando aos

alemães seus conhecimentos, a agilidade na execução dos instrumentos, o ritmo contagiante,

elevando, assim, a autoestima e provocando muitos aplausos das duas orquestras e pessoas

que estavam no restaurante. As músicas executadas nos convidavam a dançar e a nos

confraternizar, sensações que foram transmitidas aos músicos alemães e a seu maestro,

fazendo-os participar, dançar e cantarolar a música brasileira juntamente com os componentes

69

Informação fornecida durante entrevista realizada na EMUFRN, em mar/abr de 2014.

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da OSUFRN. Nesse momento, não era mais possível identificar a divisão entre brasileiros e

alemães, estavam todos juntos, brincando e se divertindo! (DIÁRIO DE CAMPO, 23/10/13).

4.4 Perspectiva de futuro e profissionalização dos músicos

A OSUFRN tem desenvolvido sua prática musical coletiva objetivando participar da

formação musical de jovens músicos pertencentes à educação de nível médio e superior. Essa

prática contribui para o desenvolvimento musical, integral e humano de seus participantes

visto que estimula a convivência em grupo, oportuniza o diálogo com músicos de referência,

favorece o contato com outros públicos e os orienta acerca da prática orquestral brasileira e

mundial.

As atividades desempenhadas pela OSUFRN, como a seleção de instrumentistas

ingressantes, ensaios, concertos, viagens, entre outras, visam oferecer uma formação aos

músicos voltada para o mercado de trabalho do músico, alcançando a profissionalização.

Segundo Kimura et al. (2012, p. 11) “o processo de profissionalização estabelece estreitas

relações com a formação profissional, uma vez que a instituição de uma agência formadora

caracteriza-se como um dos estágios do processo de desenvolvimento das profissões”.

Segundo Hikiji, (2006, p. 67-68), “há também uma cultura específica do aprendizado do

instrumento de orquestra, que implica, em algum momento, a participação do aprendiz em

algum conjunto musical e o aproxima da efetiva possibilidade de profissionalização”.

Para Kimura et al., (2012, p. 11) esse processo corresponde ao “conjunto de

conhecimentos que abrange saberes e competências específicas referentes a um determinado

campo de trabalho, e que o desenvolvimento destes conhecimentos está diretamente ligado ao

processo de formação do profissional”. Nesse sentido, os alunos enxergam que a orquestra é

um dos caminhos para sua formação. Reconhecem que praticam e potencializam o

entendimento dos conteúdos vistos na teoria musical ou nas aulas de instrumento através da

prática de conjunto. Durante as entrevistas com os músicos, os conteúdos citados foram:

afinação, percepção, aprendizagens com os diversos tipos de repertórios (erudito; popular;

regional, brasileiro e estrangeiro); identificação de timbres diferentes, dedilhados, fraseologia

e técnica do instrumento. Sobre estes, os alunos Elias, Thales e Pedro fazem referência com

sua aprendizagem.

Elias (2014) lembra que no seu instrumento, em específico, consegue identificar

conteúdos trabalhados em sala de aula, mas bastante comum durante a prática de orquestra

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como: respiração e ataques. Para Thales (2014), a prática de orquestra é imprescindível para

colocar em prática técnicas aprendidas teoricamente durante o curso de formação como

afinação, articulação, e independência. E Pedro (2014) entende que através do contato

cotidiano com o grupo, aprende-se ainda sobre regência, porque é “como você ser o seu

maestro [...] eu uso muito isso em peças solos que vou tocar, questões de compassos, que a

gente vai vendo a regência e vai conseguindo entender um pouco mais” (informação verbal),

correlacionando assim, seus conhecimentos para além da performance na OSUFRN.

Referente à interpretação musical, os pesquisados concordam que a estética da

música também é vista durante o curso de instrumento, geralmente com o professor ao lado,

mas na orquestra eles ganham essa independência, buscando identificar o caráter de cada obra

e de seus compositores durante seus estudos, antes mesmo da passagem e indicações do

maestro. Por esse motivo, Tásia (2014) acrescenta que não se pode desvincular o conteúdo da

teoria visto nos cursos técnico ou de graduação da prática desenvolvida na orquestra, pois é

importante que cada músico possa utilizá-los, transpondo-os do papel para vivenciá-los na

prática, “então é não separar, ao contrário, acrescentar!” (informação verbal). Desse modo, em

concordância com Silva (2012, p. 126) “pode-se dizer que em qualquer orquestra, a formação

musical e as experiências musicais dos músicos são diversas”.

Além dos conteúdos identificados, outro ponto destacado pelos músicos corresponde

às habilidades necessárias ao convívio social, as quais são vistas como significativas para a

convivência na prática orquestral. Diante disso, os conhecimentos vivenciados no contexto da

orquestra são considerados relevantes para a vida e para o meio profissional. O músico

Marcos (2014) relata que tocar na orquestra é:

Conseguir conviver em sociedade, o que a orquestra ensina muito bem. Tem

que sentar ali, tem que respeitar, é preto, é branco, é homossexual ou não é, é

azul, tem bolinhas amarelas no rosto e... não há um espaço, até pela

proximidade de convivência tão grande, de você ter qualquer tipo de

preconceito, racismo ou qualquer coisa como humano” (informação verbal).

Sobre isso, o maestro André Muniz (2014) também ressalta a temática da

convivência em grupo enquanto reflexo desse convívio em sociedade ao dizer que:

[...] se a gente deixa a parte musical e pensa na sociedade de uma forma um

pouco mais ampla, esse respeito entre os contrários, coisas tão antagônicas,

como o poderio do som do trompete versus a necessidade de agrupamento

dos violinos para fazer frente a isso daí... Essa questão do respeito à

diversidade que pode ser visualizada a partir de uma orquestra sinfônica, eu

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acho que pode ser um grande exemplo pra todo conjunto da sociedade

(informação verbal).

Corroborando com eles, Nicolau (2014) chama atenção para o interesse em

transformar essa diversidade em unidade sonora, referindo-se à variedade de instrumentos

musicais comuns às orquestras, assim como as lideranças e hierarquias presentes no fazer

artístico orquestral:

Olha em geral, tá todo mundo sempre aprendendo a criar uma unidade

sonora do naipe e do grupo porque quando a gente tá tocando em orquestra a

gente segue ao mesmo tempo o chefe de naipe e o maestro. E o resultado é

meio curioso [...] é uma ideia de reflexo, você tá se ouvindo, vendo e

ouvindo os outros. Meio complexo. Tem que ter atenção, concentração,

reflexo, flexibilidade, é muito importante ser flexível na orquestra,

principalmente se você não é líder. Tem muita gente que não tem

flexibilidade e isso acaba impedindo que o nível seja melhor por isso

(informação verbal).

Nicolau (2014) comenta sobre as habilidades necessárias para atingir a unidade

sonora, como saber ouvir, selecionar e absorver as informações presentes durante os ensaios e

apresentações. Desse modo, a maioria dos músicos entende que essa flexibilidade citada por

Nicolau (2014) é relevante para a formação dos mesmos, visto que poderão encontrar

ambiente semelhante após a finalização dos cursos em andamento e o discernimento de como

se comportar nas diversas situações de covivência em grupo poderá ajudá-los em suas

carreiras profissionais. Nesse contexto, diante da perspectiva de futuro profissional, o aluno

analisa que diferentemente do investimento em carreira solo, a orquestra é considerada um

mercado possível e abrangente,

porque você sabe que música é difícil né e o mercado para a performance,

um dos maiores é a orquestra. Então se você for solista, você tem que ser

muito bom! Tem esse negócio de muito bom e tem, tipo – vagas. No

mercado, o que tem vagas é orquestra, pra músico de orquestra (EDYSON,

2014) (informação verbal).

Outro componente da OSUFRN lembra que o futuro reserva incertezas quanto aos

caminhos que serão traçados profissionalmente, mas participar da prática orquestral garante a

preparação necessária para concursos e atuação em possíveis orquestras profissionais, como

explicita abaixo:

Eu acho que [a OSUFRN] com certeza contribui bastante para o meu

desenvolvimento musical, técnico e musical. Obviamente existe pessoas no

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mundo inteiro que preferem não tocar em orquestra e preferem seguir uma

carreira solista, por exemplo, tudo bem. Eu acho importante pra mim e pros

meus colegas que toquemos em orquestra, por mais que futuramente eu não

venha a tocar em orquestra, que por exemplo eu faça um concurso pra

professor na universidade e passe, não precise mais tocar em orquestra. Mas

acho que esse momento é bom pra mim, pra me preparar musicalmente, pra

saber também o que é tocar num grupo com outras cabeças pensantes, não

sei no futuro o que vai acontecer, se eu vou continuar tocando em orquestra,

mas acho que agora é bastante válido como crescimento musical e humano

também (ROBERTO, 2014) (informação verbal).

Diante dessa perspectiva de futuro e de incertezas, relatado por Roberto (2014), Corti

e Souza (2004) lembram que nessa fase da vida os jovens se defrontam com grande

quantidade de alternativas e possibilidades, por isso,

é importante que a sociedade lhe dê oportunidade de conhecer os vários

papéis sociais possíveis de serem desempenhados no futuro, e de ensaiar e

experimentar escolhas nesse sentido. Só assim ele poderá descobrir suas

preferências e aptidões. [...] Faz parte desse processo poder reverter algumas

escolhas feitas, como exercício de autoconhecimento e de ensaio para

algumas decisões futuras. (CORTI; SOUZA, 2004, p. 27).

As autoras salientam que as escolhas efetivadas durante a formação dos jovens

podem assumir caráter definitivo, assim como outras são provisórias e reversíveis, desse

modo, “essa reversibilidade nas escolhas é algo fundamental na vivência juvenil” (CORTI;

SOUZA, 2004, p. 27). Assim, diante da escolha em participar da orquestra sinfônica da

UFRN, almejando construir seu futuro profissional, alguns alunos observaram que a

participação nesse grupo também favorece um contato constante com o repertório de

orquestra e isso os prepara para seleções de músicos efetivos nas orquestras brasileiras,

devido ao fato de o repertório ser trabalhado ao longo do tempo.

Pensando nisso, Thales (2014) acredita ser salutar estudar trechos orquestrais e solos

além do repertório visto durante as aulas instrumentais e durante a prática orquestral porque

“no último concurso pra orquestra que foi feito, eram... das quatro peças solo apresentadas,

três delas eu já tinha tocado e dos oito trechos de orquestra exigidos, eu já conhecia cinco,

[então], facilita muito o trabalho” (informação verbal). Por isso, Marcos (2014), acredita que:

A orquestra, para nós daqui da universidade, soa muito como um laboratório

de orquestra, de emprego. Quando fizermos um concurso vai ser essa

realidade daqui multiplicada por vinte. Vai ser essa realidade de ensaio

demorado e pesado, de chegar e sair na hora sem atraso, de trabalhar, receber

o salário... Se faltou, desconta! Atrasou, desconta! É um laboratório

(informação verbal).

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Corroborando com ele, acerca desse cotidiano orquestral, Gil (2014) relata que na

vida profissional,

você vai ter uma responsabilidade muito grande em orquestras profissionais,

que já vem amadurecendo desde a orquestra da universidade em questões

como horário, preparação de repertório, etc. porque a orquestra em si não se

resume só ao momento daquelas duas ou três horas que o maestro está lá na

frente ensaiando, tem um tempo de preparação antes, individual. Se você não

tiver um costume pra fazer isso, não tiver uma preparação pra isso, quando

chegar num nível profissional, [provavelmente] vai ter muitos problemas. Eu

já participei de orquestras profissionais como [músico] convidado, e via isso

(informação verbal).

Assim, a proximidade com o meio profissional em que os alunos convivem, através

das atividades inerentes a OSUFRN, suscitam uma diversidade de percepções e habilidades

necessárias ao desenvolvimento do grupo. A partir destas, promove-se instâncias de

aprendizagens que consolidam a formação integral de seus participantes. Sobre esse aspecto

Maria (2014) afirma que a prática musical coletiva na orquestra é um aprendizado para a vida,

no sentido em que

você sempre tem que estar respeitando o local em que trabalha [...] Na nossa

vida há hierarquias, e a orquestra também tem essa hierarquia: tem o seu

chefe de naipe, tem o maestro, tem as pessoas que você deve conta

[satisfação], porque se você vai chegar atrasado ou se você não vai poder vir

para o ensaio, você pede orientação a eles, porque eles têm essa

responsabilidade de líderes. Então, eles são seus líderes naquele lugar, que é

um ambiente de trabalho. Você aprende essa formação e [consequentemente]

estará se relacionando bem com as pessoas também. Por que deve ser [muito

chato] tocar numa orquestra em que você não se relaciona bem com a pessoa

que está sentada do seu lado e você vai ter que tá toda vida do lado dela,

tocando do lado dela... Por isso, você tem que criar bons relacionamentos.

Isso é importante pra vida. Além das outras coisas que você acha que ajuda

no seu dia a dia, está a orquestra, tocar na orquestra. Sei lá, desenvolver o

seu intelectual, organizar seus pensamentos, não sei. Acho que tudo isso

colabora para a aprendizagem (informação verbal).

Portanto, participar de um grupo como uma orquestra que exige disciplina,

cumprimento de horários, estudo, dedicação e amplia o universo de conhecimento através de

viagens e intercâmbios, entre outros aspectos, faz com que os alunos vislumbrem objetivos

futuros. Muitos deles não sabem qual será seu futuro profissional, mas desde já, têm

consciência da trajetória que estão trilhando no presente para obter um futuro promissor

enquanto músicos solistas, músicos de orquestras ou docentes. Eles veem e ouvem relatos de

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músicos que escolheram caminhos diversos e como jovens estudantes, se preocupam com o

mercado de trabalho do músico profissional.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Objetivando compreender como acontece a aprendizagem musical na Orquestra

Sinfônica da UFRN foi relevante adquirir conhecimento acerca da origem e estrutura de

funcionamento deste grupo, em específico, inserido na escola especializada de música e no

contexto universitário. Ao longo do trabalho foram discutidos aspectos relacionados ao ensino

e aprendizagem musical no âmbito das práticas musicais coletivas, identificando o público

participante, o espaço em que se desenvolviam estas atividades musicais, os objetivos

propostos e os resultados encontrados para cada investigação da literatura estudada.

Durante esse percurso percebe-se que a produção acadêmico-musical aponta para

direções relacionadas à performance, saúde no trabalho do músico e educação musical. Com

foco na aprendizagem musical me detive a analisar a literatura que tratava da prática musical

coletiva em espaços vinculados a projetos sociais e escolares. Essa análise me permitiu

concluir que esses espaços estudados, sob a perspectiva do contexto orquestral, apresentaram

maneiras de se desenvolver a musicalização em grupo e revelaram as relações presentes na

convivência da prática musical coletiva. Demonstrando que poucos autores tratam sobre o

assunto, ao mesmo tempo que há a continuidade da produção acadêmico-científica dos

mesmos.

Vivenciar os fazeres da OSUFRN foi bastante dinâmico e interessante. Em todo

tempo, durante o acompanhamento do grupo, buscava o olhar da pesquisadora diante das

situações presenciadas. Essa preocupação ajudou para que as reflexões acerca da

aprendizagem se organizassem aos poucos, conduzindo a investigação para o entendimento

das práticas musicais coletivas, das relações e relacionamento dos jovens com a música, e

para a formação musical do instrumentista, sobretudo nesse espaço de ensino especializado.

Embora a orquestra sinfônica da UFRN tenha resultados semelhantes a outros grupos

inseridos no contexto orquestral, apresenta diversas singularidades, encontradas e analisadas

nesta investigação. Nesse sentido e de acordo com Arroyo (2000, p. 16) “o que importa são os

significados locais, isto é, como cada agrupamento humano confere sentido às suas práticas

culturais, incluindo aí as músicas”, pois a autora enfatiza que “os significados dos fazeres

musicais devem ser considerados em relação aos contextos socioculturais e aos processos de

interação social que lhes deram origem”.

Nesta perspectiva, a partir dos dados identificados no campo empírico, foi possível

compreender que a aprendizagem dos músicos da orquestra sinfônica da UFRN acontece em

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diversas instâncias de aprendizagem, como ensaios, concertos, viagens e intercâmbios, nas

relações interpessoais, na convivência com o maestro e com músicos convidados, nos estudos

individuais e coletivos, no compartilhamento de saberes, nas relações sociomusicais, entre

outras, que se desenvolvem no âmbito do contexto orquestral. Em concordância com Silva

(2012, p. 24), as vivências, as construções musicais e de relacionamento produzidas no grupo

é um percurso que passa, dentre muitas outras questões, pela a compreensão do ensino e

aprendizagem musical nesse espaço.

Desse modo, os alunos acreditam aprender durante a prática musical coletiva,

chamando atenção para a identificação de conteúdos musicais relacionados à teoria musical e

à prática coletiva, como a afinação, percepção, assimilação de timbres diferentes, dedilhados,

fraseologia, técnica do instrumento, repertório e a constante necessidade de ouvir o outro.

Aliar aspectos teóricos ao fazer prático do grupo possibilita mudanças de postura e de

comportamento no decorrer das experiências vividas coletivamente, pois as atividades

desenvolvidas pelo grupo contribuem para isso, visando possibilitar uma formação musical

que oriente seus componentes a adquirir autonomia de sua aprendizagem, preparando-os para

o futuro profissional.

A prática musical coletiva se efetiva como um espaço de ensino, aprendizagem,

convivência e sociabilidade, onde seus participantes interagem entre si, dialogam sobre suas

experiências, divergem sobre assuntos de interesse comum, concorrem entre si visando galgar

espaço, visibilidade e oportunidades de empregabilidade. Entretanto, na OSUFRN há

colaboração mútua, compartilhamento de saberes e prevalece a amizade entre eles no

cotidiano. Esta amizade sobressai às possíveis desavenças de convivência nos ensaios de

naipe, ensaios gerais, apresentações e viagens, pois além desse contato, seus participantes se

relacionam no dia a dia universitário entre aulas de instrumento e aulas teóricas de seus

respectivos cursos, mantendo uma relação sociomusical que ultrapassa o convívio no grupo.

Neste espaço, o maestro, por sua vez, preocupa-se em contribuir para a formação

musical integral de seus músicos, oferecendo uma visão ampla acerca do repertório

trabalhado, dos valores e costumes comuns a um grupo orquestral profissional, estimulando-

os a se comportarem como profissionais para que sejam autônomos em sua aprendizagem e

busquem melhorar suas performances diariamente. Em uma função também educacional, o

maestro André pretende que os alunos compreendam suas orientações e busquem se ouvir

para que a produção sonora seja efetivamente coletiva e não individualista. Para isso, planeja

os ensaios e faz uma leitura geral da composição para colaborar com o desempenho dos

músicos frente às dificuldades técnicas e à harmonia do grupo.

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Embora as exigências solicitadas aos músicos sejam semelhantes às orquestras

profissionais, a OSUFRN é um grupo acadêmico, composto por alunos em formação musical,

com diferentes níveis de apropriação técnica em seu instrumento, variando entre iniciantes e

alunos concluintes. Essa diferenciação de formação nos remete a diferentes níveis de

apropriação do conhecimento e de absorção das informações que resulta em disparidade

técnica decorrente do modo de ingresso no grupo. A seleção de músicos instrumentistas

seleciona um número restrito de participantes, mas em contrapartida, oportuniza o ingresso de

jovens iniciantes em seus instrumentos para que possam desenvolver-se dentro do grupo,

adquirindo habilidades e conhecimentos técnicos necessários à atuação em uma orquestra

sinfônica.

Nessa dinâmica e na perspectiva da formação do músico, os componentes da

orquestra, entrevistados, não se incomodam com essa postura profissional adotada no

desenvolvimento das atividades do grupo, pois se preocupam em adquirir experiência

necessária nesse tipo de formação musical. Os dados demonstram ainda, a importância dada

pelos músicos da OSUFRN quanto à possibilidade de conhecer e se relacionar com outros

músicos e maestros de referência musical e profissional. Essa possibilidade de “conhecer

pessoas com experiências de vida diversas das suas dá aos jovens referências, opções: aponta

caminhos, acertos e erros, possibilidades” (HIKIJI, 2005, p.163), pois permite aos estudantes

diversificar e ampliar seus conhecimentos acerca da performance, contribuindo para que se

preparem para o mercado de trabalho.

Dentre as atividades do grupo, as apresentações configuradas como o resultado

sonoro final de todo processo de apropriação e desenvolvimento musical são citadas como um

momento de tensão e ansiedade, entretanto, é um fazer orquestral reconhecido como

significativo para aprender a lidar com o controle emocional e para interagir com o público,

apreciador da música erudita e/ou popular. A aprendizagem por meio dos concertos se

configura também, como outra instância que permite a vivência no grupo, suscita experiências

e mudanças de comportamento durante os processos de aprendizagem, sendo considerado um

momento imprescindível para a formação dos músicos.

O trabalho desenvolvido na OSUFRN visa oferecer uma formação musical que

contemple o desenvolvimento da técnica instrumental em grupo, em nível de alta

performance, objetivando que seus músicos se profissionalizem e atendam as exigências do

mercado de trabalho. Desse modo, pode-se dizer que a OSUFRN busca desenvolvê-los

artisticamente, objetivando melhor desempenho técnico, performático, social, emocional e

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cultural, efetivando-se assim, como uma proposta de educação musical instrumental integral e

humanizadora.

Sendo assim, os dados desta investigação apontaram que a aprendizagem musical se

efetiva na OSUFRN através das instâncias de aprendizagem percebidas nos ensaios (naipe e

geral); concertos (erudito e popular); na convivência com o maestro e entre músicos; com

professores colaboradores do projeto e músicos convidados; individualmente; nas viagens e

intercâmbios com outros grupos orquestrais. Contudo, esta pesquisa não teve a pretensão de

encerrar as discussões da temática, trazendo contribuição no aspecto da aprendizagem no

contexto orquestral, mas consciente de que há outras perguntas e possibilidades de estudo

diante desse grupo.

De maneira geral, a orquestra sinfônica da UFRN apresenta-se como um campo

diversificado e aberto a novas investigações, visto que este é o primeiro estudo realizado

acerca de suas atividades e características. Dentre as possibilidades de pesquisa, acredita-se

que a OSUFRN poderá ser campo empírico para investigações sobre a compreensão da

aprendizagem musical para músicos ingressantes no grupo; as interações existentes na prática

cotidiana; o significado dos concertos didáticos para o público participante, sobretudo para os

alunos das escolas de educação básica, dentre outras não contempladas neste estudo, na

perspectiva de que novos questionamentos surjam a partir desta pesquisa.

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120

APÊNDICES

Page 122: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

121

APÊNDICE A

Ofício de autorização do maestro para a realização da pesquisa

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, André Luiz Muniz Oliveira, diretor artístico e regente titular da Orquestra

Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, através do presente

termo, autorizo a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Música da UFRN, Ana

Claudia Silva Morais, matrícula 2013109684, a realizar sua pesquisa coletando dados

necessários por meio de observações, imagens e vídeos, assim como explicitar e utilizar o

nome real da Orquestra Sinfônica da UFRN em todo e qualquer material de natureza

acadêmico-científica (dissertação, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e

palestras, entre outros).

Abdico, dessa forma, dos nossos direitos, sobre o uso de seu nome, como também,

salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer. Assim subscrevo

este documento.

Natal, ___ de _______ de 2013.

__________________________________________

André Luiz Muniz Oliveira

Page 123: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

122

APÊNDICE B

Termo de autorização do maestro para a realização de seu nome real

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, André Luiz Muniz Oliveira, professor da UFRN, diretor artístico e regente

titular da Orquestra Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,

através do presente termo, autorizo a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Música

da UFRN, Ana Claudia Silva Morais, matrícula 2013109684, a utilizar meu nome real,

assim como dados necessários por meio de observações, imagens e vídeos em todo e qualquer

material de natureza acadêmico-científica (dissertação, publicações, apresentações em

eventos, congressos, aulas e palestras, entre outros).

Abdico, dessa forma, do direito sobre o uso do meu nome, como também, salvo

resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer. Assim subscrevo este

documento.

Natal, ___ de _______ de 2013.

__________________________________________

André Luiz Muniz Oliveira

Page 124: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

123

APÊNDICE C

Termo de autorização da regente assistente para a utilização de sua imagem

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, Flávia Thais Seabra de Medeiros, regente assistente da Orquestra Sinfônica da

UFRN, através do presente termo, autorizo a mestranda do Programa de Pós-Graduação em

Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Ana Claudia Silva

Morais, matrícula 2013109684, a utilizar minha imagem através de fotografias e vídeos

coletados em todo e qualquer material referente à sua pesquisa (dissertação, publicações,

apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras, entre outros), desde que seja de

natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua pesquisa de mestrado.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas imagens,

como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer.

Assim subscrevo este documento.

Natal, de março de 2014.

____________________________________________

Flávia Thais Seabra de Medeiros

Page 125: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

124

APÊNDICE D

TCLE referente à entrevista do maestro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, André Luiz Muniz Oliveira, diretor artístico e regente titular da Orquestra

Sinfônica da UFRN através do presente termo, autorizo a mestranda do Programa de Pós-

Graduação em Música da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Ana

Claudia Silva Morais, matrícula 2013109684, a utilizar o material coletado nessa entrevista,

assim como minha imagem através de fotografias e vídeos coletados em todo e qualquer

material referente à sua pesquisa (dissertação, publicações, apresentações em eventos,

congressos, aulas e palestras, entre outros), desde que seja de natureza acadêmico-científica e

que esteja vinculado à sua pesquisa de mestrado.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas imagens,

como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer.

Assim subscrevo este documento.

Natal, 10 de março de 2014.

____________________________________________

André Luiz Muniz Oliveira

Page 126: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

125

APÊNDICE E

TCLE referente às entrevistas dos músicos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Eu, ____________________________, matrícula _____________________, através

do presente termo, autorizo a mestranda do Programa de Pós-Graduação em Música da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, Ana Claudia Silva Morais,

matrícula 2013109684, a utilizar o material coletado nessa entrevista, assim como minha

imagem através de fotografias e vídeos coletados em todo e qualquer material referente à sua

pesquisa (dissertação, publicações, apresentações em eventos, congressos, aulas e palestras,

entre outros), desde que seja de natureza acadêmico-científica e que esteja vinculado à sua

pesquisa de mestrado.

Abdico, dessa forma, dos meus direitos e de meus descendentes sobre essas imagens,

como também, salvo resguardo qualquer tipo de contestação que por ventura venha ocorrer.

Assim subscrevo este documento.

Natal, de março de 2014.

____________________________________________

Aluno da OSUFRN

Page 127: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

126

APÊNDICE F

Roteiro de entrevista semiestruturada do maestro

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

Entrevista Semiestruturada

Objetivo: Compreender como acontece a aprendizagem musical no contexto da Orquestra

Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

ENTREVISTA COM O MAESTRO

Nome:

Qual é a sua formação acadêmica?

Há quanto tempo trabalha com grupos?

Há quanto tempo é professor da UFRN?

Qual a sua experiência com orquestra? Regeu outras antes ou depois da orquestra da

UFRN?

Fale da origem desta orquestra até os dias de hoje.

Qual a faixa etária dos integrantes?

Como eles ingressam na orquestra?

Quem são as pessoas envolvidas neste trabalho, além de você?

E esse processo de trabalhar com jovens é igual ou diferente de trabalhar com adultos?

Você pode comentar?

Qual a diferença de trabalhar com jovens e com uma orquestra profissional (adulta)?

Qual o objetivo da existência dessa orquestra? A que ela se propõe?

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127

Qual sua preocupação ou compromisso quanto à formação dos componentes?

O que é necessário para fazer música e contribuir com a aprendizagem musical dos

alunos-músicos?

Como desenvolve seu trabalho? Você faz planejamentos? (como decide o que

fazer/como fazer/que estratégias utilizar/que repertórios)

Durante os ensaios você tem intenção de ensinar?

Qual sua percepção quanto ao clima da orquestra, entre os músicos – percebe que há

coleguismo, parceria, entre eles há aprendizagem colaborativa?

Como são os planejamentos para os concertos (tanto oficiais quanto didáticos)?

Por que é significante fazê-los (oficial e didático)?

O que percebe quanto a participação ativa dos músicos, acredita que eles aprendem

com esses concertos?

Como definiria seu papel enquanto diretor artístico e como regente titular de um grupo

jovem?

Por que essa experiência é importante para você?

E por que participar de uma orquestra como essa é importante para os alunos?

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128

APÊNDICE G

Roteiro de entrevista semiestruturada dos músicos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA

Entrevista Semiestruturada

Objetivo: Compreender como acontece a aprendizagem musical no contexto da Orquestra

Sinfônica da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.

ENTREVISTA COM OS MÚSICOS

1. Nome:

2. Idade:

3. Caso queira escolha um pseudônimo para você.

4. Pertence a qual curso na UFRN?

5. Qual é seu instrumento?

6. Já participou de outras orquestras? Quais? E por quanto tempo?

7. Por que quis entrar para a OSUFRN?

8. Como é fazer música na orquestra? O que isso significa para você?

9. Você aprende na orquestra? (O que? Como?)

10. Quais as atividades dessa orquestra?

11. E o que você faz além de tocar seu instrumento, tem alguma função mais específica no

grupo?

12. Pensando antes e depois de fazer parte da orquestra, você pode me dizer o que aprende

nos 1.ensaios (como são?); 2.ensaios de naipe (como são?)

13. Você aprende com o maestro? (o que?)

Page 130: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · O trabalho baseia-se em discussões de autores acerca da prática musical coletiva, da formação instrumental na educação musical,

129

14. Você considera que tem amigos na orquestra? Você aprende com eles?

15. Em relação ao repertório, como você faz para conseguir tocar? (Estuda

individualmente ou somente no grupo)

16. Como são as viagens na orquestra?

17. O que você aprende durante as viagens?

18. E o que aprende com os concertos realizados?

19. Em relação aos dois tipos de concertos – oficiais e didáticos, tem diferença em

participar de cada um?

20. De maneira geral, qual a importância de participar da orquestra para você enquanto

estudante de música e para a formação humana?

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130

APÊNDICE H

Trabalhos encontrados na literatura pesquisada e categorizados no contexto orquestral

REPERTÓRIO DE ORQUESTRA

CHAVES, Armando; RAY, Sônia. Repertório orquestral brasileiro contemporâneo: um

estudo sobre a visão do instrumentista dos naipes de cordas. In.: XIV Congresso da

ANPPOM, Porto Alegre. Anais... Porto Alegre – RS, 2003.

GLÖCKLER, Tobias. O Concerto N.1 para contrabaixo e orquestra de F. A. Hoffmeister:

aspectos históricos, analíticos e de performance. Tradução de Fauto Borém e Larissa

Cerqueira. In.: Per Musi, Belo Horizonte, n.14, 2006, p.93-107.

PITOMBEIRA, Liduino. O serialismo de Camargo Guarnieri no seu Concerto para Piano e

Orquestra N.º 5. In.: Per Musi, Belo Horizonte, n.20, 2009, p.44-53.

RAY, Sônia. Breve Reflexão sobre a performance da obra movimento para contrabaixo e

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ANEXOS

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ANEXO A

Edital OSUFRN 2014

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ANEXO B

Portaria n.007/2014

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ANEXO C

Resolução n.69/82 – CONSUNI - 1982

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ANEXO D

Imagens de divulgação de concertos