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Universidade Federal do Rio de Janeiro
A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960
Karilene da Silva Xavier
2016
ii
A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a 1960
Karilene da Silva Xavier
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa
de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,
como parte dos requisitos necessários para a
obtenção do título de Mestre em Letras
Vernáculas (Língua Portuguesa).
Orientadora: Carolina Ribeiro Serra
Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2016
iii
Xavier, Karilene da Silva.
X3v A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a
1960. / Karilene da Silva Xavier. - Rio de Janeiro: UFRJ, 2016.
xiii, 97 f.:il., tabs., grafs. ; 30 cm.
Orientadora: Carolina Ribeiro Serra.
Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha
Banca: Dinah Maria Insensee Callou.
Banca: Valéria Neto de Oliveira Monaretto.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em
Letras Vernáculas, 2016.
Bibliografia: f. 112 - 115.
1. Língua portuguesa - Pronúncia. 2. Língua portuguesa
Consoantes. 3. Língua portuguesa - Variação. 4. Língua portuguesa
– Português falado. 5. Sociolinguística. 6. Música popular brasileira
– Séc. XX. I. Serra, Carolina Ribeiro. II. Cunha, Cláudia de Souza.
III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras.
IV. Título.
CDD 469.81
iv
A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a 1960
Karilene da Silva Xavier
Orientadora: Carolina Ribeiro Serra
Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha
Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras
Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.
Examinada por:
_______________________________________________________________________
Presidente, Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra – Orientadora
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Cláudia de Souza Cunha – Coorientadora
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Valéria Neto de Oliveira Monaretto – UFRGS
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou – UFRJ
_______________________________________________________________________
Professora Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ, Suplente
_______________________________________________________________________
Professor Doutor João Antonio de Moraes – UFRJ, Suplente
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2016
v
No ano de centenário do Samba, esta
dissertação também é uma homenagem à
música popular brasileira.
“O chefe da folia
Pelo telefone manda me avisar
Que com alegria
Não se questione para se brincar…”
(Pelo Telefone - Donga/ 1916)
vi
Agradecimentos
Agradeço a Deus por ter me guiado para concretizar esta pesquisa durante o
mestrado.
À Carolina Serra pela confiança que em mim depositou e pela competente
orientação. Sou muito grata por ter dedicado seu tempo à produção deste trabalho desde a
iniciação científica. Foi sempre disposta a me ajudar, trazendo ideias, sugerindo
bibliografia, reflexões e mudanças, lendo todos os textos e cobrando quando devia.
Obrigada por me iniciar e me guiar pelos caminhos da pesquisa linguística.
À Cláudia Cunha pela sugestão do tema desta dissertação e pelas orientações.
Muito obrigada e espero que eu tenha conseguido chegar o mais perto possível do que
almejamos realizar.
Aos meus pais, meu porto seguro, por terem acreditado e investido em mim.
Obrigada por todo incentivo, compreensão, paciência e apoio aos meus planos de vida.
Aos professores que me orientaram em seus cursos durante o mestrado, Dinah
Callou, Mônica Orsini, Eliete Silveira, Silvia Vieira, Carlos Alexandre, Célia Lopes e
Valéria Gomes, professora convidada. Por meio deles, pude aprofundar os meus
conhecimentos não só na dissertação mas também na pesquisa linguística. Deixo um
"muitíssimo obrigada" especialmente às professoras Dinah Callou e Jaqueline Peixoto
pelas preciosas contribuições.
Aos Professores titulares e suplentes que compõem a banca avaliadora desta
dissertação, pelo convite e pela disponibilidade de avaliar meu trabalho.
Aos amigos que a pesquisa me trouxe, como a minha "best" Priscila, as meninas
da F308, Gizelly e Aline, e os colegas da F312, Aline, Caio, Ingrid,Vitor e Alan. A todos
vocês, fica meu MUITO OBRIGADA pelas melhores companhias e claro pelos
momentos de descontração com risadas garantidas. Saibam que vocês não são apenas
"amigos acadêmicos" como também pessoas que desejo manter perto de mim por toda a
vida. Também aos amigos que me apoiaram na reta final do mestrado, Gleydson, Evelyn,
Augusto, Carolina e Camila. Obrigada pela força!!!
À CAPES e à FAPERJ pelo financiamento o qual fez com que eu tivesse uma
maior dedicação a esta pesquisa.
vii
SINOPSE
Análise do comportamento variável do rótico em contexto
de coda silábica final, a partir de dados extraídos de canções
gravadas entre 1902 e 1960. Estudo variacionista com a
finalidade de sistematizar a influência de fatores sociais e
linguísticos na escolha de uma variante sobre outras formas.
viii
A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960.
Karilene da Silva Xavier
Orientadora: Carolina Ribeiro Serra
Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha
Resumo da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-graduação em
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa.
RESUMO
Nesta dissertação, estuda-se o processo de variação do rótico, em coda externa, a partir de
canções gravadas entre 1902 e 1940 por nove intérpretes do gênero masculino, cariocas,
disponibilizadas pelo Instituto Moreira Salles. A análise dos dados de um dos intérpretes,
Vicente Celestino, foi estendida até 1960. Os objetivos são os seguintes: 1) recuperar as
pronúncias do rótico na música; 2) capturar o processo gradual de diferenciação da
realização do segmento; 3) verificar se os intérpretes seguiam normas de canto da época
ou imprimiam às canções características próprias; 4) investigar a atuação do tempo para o
fenômeno e 5) observar a atuação de fatores linguísticos e sociais. Para alcançar os
objetivos estabelecidos, utiliza-se do aparato teórico-metodológico da Sociolinguística
Quantitativa, e as etapas metodológicas compreendem: 1) seleção das canções, audição e
transcrição fonética; 2) análise estatística dos dados e 3) interpretação dos resultados. Os
resultados gerais obtidos a partir de 2858 dados coletados entre 1902 e 1940 são os
seguintes: 1) o tepe é a realização predominante, alcançando 68,3% do total de dados 2) a
vibrante anterior múltipla – a realização padrão para a linguagem dos meios de
comunicação – ocorreu em um percentual inferior do que se esperava, 14,8%; 3) as
fricativas, velar e glotal, ocorreram em um percentual inexpressivo, 1,3% e 4) o
percentual de supressão foi de 15,5%. Os resultados a partir dos dados de Vicente
Celestino revelam sua preferência por vibrantes, simples ou múltipla, por toda a
sequência temporal e diferenças significativas entre sua fala cantada e espontânea.
Palavras-chave: Rótico; Coda final; Músicas; Sociolinguística; Século XX.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2016
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A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960.
Karilene da Silva Xavier
Orientadora: Carolina Ribeiro Serra
Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha
Abstract da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-graduação em
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016, como parte dos
requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa.
ABSTRACT
This dissertation aims to study the process of rothics variation in final coda, based on
songs recorded by nine male performers from Rio de Janeiro from 1902 to 1940, which
have been provided by Instituto Moreira Salles. The analysis of the data, recorded by
Vicente Celestino, one of the performers, has been extended to the 1960’s. The goals are
the following: 1) to recover the pronunciations of the rothics in songs; 2) to capture the
gradual process of differentiation of the rothics; 3) to check whether the artists followed
the singing standards or whether they transmitted their own characteristics to the songs;
4) to investigate the effect of the time on the process and 5) to observe the influence of
linguistic and social factors. For this purpose, we use the theoretical and methodological
tools of the Quantitative Sociolinguistics, furthermore the methodological steps cover: 1)
the selection of the songs, the hearing and the phonetic transcription; 2) the data statistical
analysis; and 3) the interpretation of the results. The general results collected from 2858
data from 1902 to 1940 are: 1) tepe is the dominant pronunciation and it reaches 68.3% of
the total data; 2) the apical-alveolar multiple vibrant – the predominant pattern language
in media, in general, occurred less than expected, 14.8%; 3) the fricatives, velar and
glottal, occurred in an inexpressive percentage, 1.3%; and 4) the R-deletion percentage
was 15.5%. The results from Vicente Celestino's data reveal his preference for vibrant
sounds, either the single or the multiple ones, throughout the decades and significant
differences between his sung and spontaneous speech.
Keywords: Rothics; Final coda; Songs; Sociolinguistics; Twentieth century.
Rio de Janeiro
Fevereiro de 2016
x
Sumário
RESUMO .................................................................................................................. viii
ABSTRACT .................................................................................................................. ix
Índice de Tabelas, Gráficos, Figuras e Quadros ........................................................... xii
INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14
1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 18
2 APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO .............................................................. 34
2.1. Teoria da Variação e mudança ........................................................................... 34
2.2. Metodologia e corpus ....................................................................................... 40
2.2.1. Etapas metodológicas.................................................................................... 40
2.2.2. Os informantes: nove intérpretes da música popular brasileira ................... 41
2.2.3. A constituição do corpus................................................................................47
2.2.4. O método de recolha dos dados..................................................................... 52
2.2.5. Transcrição e codificação dos dados..............................................................53
2.2.6. Os grupos de fatores...................................................................................... 54
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................... 67
3.1. Distribuição geral das variantes ........................................................................ 68
3.1.1. Verbos e não verbos....................................................................................... 69
3.2. Realização versus não realização ...................................................................... 89
3.2.1. Verbos............................................................................................................ 90
3.2.2. Não verbos..................................................................................................... 93
3.3. Vicente Celestino .............................................................................................. 97
3.3.1- Gravações musicais: de 1902 a 1960............................................................ 97
3.3.2- Entrevista para a Rádio Bandeirantes: 1964..................................................99
3.4. Resumo e discussão geral dos resultados ........................................................ 101
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 108
xi
BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 110
ANEXOS .................................................................................................................. 114
Anexo 1: Arquivos de especificações .................................................................... 114
Anexo 2: Rodada geral .......................................................................................... 119
Anexo 3: Rodadas dos verbos e dos não verbos ..................................................... 123
Anexo 4: Tabulação cruzada .................................................................................. 145
Anexo 5: Rodada com dados de Vicente Celestino ................................................ 146
Anexo 6: Entrevista de Vicente Celestino .............................................................. 147
xii
Índice de Tabelas, Gráficos, Figuras e Quadros
Tabelas
Tabela 1. Distribuição das variantes de acordo com a classe gramatical............................69
Tabela 2. Distribuição das variantes a depender da década em verbos – 1645 dados.........71
Tabela 3. Distribuição das variantes a depender da década em não verbos –1213 dados..73
Tabela 4. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em verbos – 1645 dados.....................................................................................................................................73
Tabela 5. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em não verbos – 1213 dados.....................................................................................................................................74
Tabela 6. Distribuição das variantes a depender do intérprete em verbos – 1645 dados....75
Tabela 7. Distribuição das variantes a depender do intérprete em não verbos – 1213 dados.....................................................................................................................................76
Tabela 8. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em verbos – 1645 dados.....................................................................................................................................77
Tabela 9. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................77
Tabela 10. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em verbos – 1645 dados............................................................................................................................79
Tabela 11. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................80
Tabela 12. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em verbos – 1645 dados............................................................................................................................81
Tabela 13. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................82
Tabela14. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em verbos – 432 dados..............................................................................................................................84
Tabela 15. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em não verbos – 362 dados...........................................................................................................................85
Tabela 16. Distribuição das variantes a depender da tonicidade da sílaba em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................86
Tabela 17. Distribuição de fricativas (glotal e velar) segundo os grupos de fatores extralinguísticos – 39 dados.................................................................................................88
Tabela 18. Peso relativo do fator intérprete em verbos no processo de apagamento do rótico.......................................................................................................................................................90
Tabela 19. Peso relativo do fator gênero musical em verbos no processo de apagamento do rótico.....................................................................................................................................91
Tabela 20. Peso relativo do fator contexto subsequente em verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................92
Tabela 21. Peso relativo do fator década em verbos no processo de apagamento do rótico.....................................................................................................................................92
xiii
Tabela 22. Peso relativo do fator número de sílabas em verbos no processo de apagamento do rótico................................................................................................................................93
Tabela 23. Peso relativo do fator intérprete em não verbos no processo de apagamento do rótico.....................................................................................................................................94
Tabela 24. Peso relativo do fator gênero musical em não verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................94
Tabela 25. Peso relativo do fator vogal antecedente em não verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................95
Tabela 26. Peso relativo do fator consoante subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................97
Tabela 27. Peso relativo do fator contexto subsequente em não verbos no processo de
apagamento do rótico...........................................................................................................97
Tabela 28. Apagamento do rótico em verbos e não verbos em diversos estudos............102
Tabela 29. Apagamento do rótico a depender do número de sílabas...............................103
Tabela 30. Apagamento do rótico por década..................................................................106
Gráficos
Gráfico 1. Percentuais referentes à variação do rótico em contexto de coda silábica final – 2858 dados............................................................................................................................67
Gráfico 2. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em verbos – 1645 dados............................................................................................................................69
Gráfico 3. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em não verbos – 1213 dados.........................................................................................................................69
Gráfico 4. Distribuição das variantes em canções de Vicente Celestino no decorrer de cinco décadas........................................................................................................................98
Gráfico 5. Percentuais referentes à variação do rótico na entrevista de Vicente Celestino –
39 dados..............................................................................................................................100
Figuras
Figura 1. Informantes: nove intérpretes da música brasileira............................................43
Figura 2. Fonógrafo...........................................................................................................51
Figura 3. Gramofone................................................................................................. .........51
Figura 4. Exemplo de como as buscas de gravações musicais são realizadas no acervo SophiA Biblioteca do IMS...................................................................................................53
Quadros
Quadro 1. Atuação dos intérpretes por década....................................................................39
Quadro 2. Sistematização do corpus em década, intérprete, gênero musical, canções e número de dados..................................................................................................................52
Quadro 3. Consoantes subsequentes ao rótico.....................................................................65
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
14
INTRODUÇÃO
"Canto com mais alegria para alegrar este
povo..."1
(Ano Novo por Eduardo das Neves/ 1909).
Por mais que a descrição da realização variável do rótico, em posição de coda
silábica final, seja um fenômeno bastante estudado no Português do Brasil (doravante PB)
a partir de corpora gravados de fala espontânea, como atestam os trabalhos de Callou
(1987); Callou et alii (1996, 2002); Brandão, Mota & Cunha (2003); Abaurre & Sândalo
(2003); Hora & Monaretto (2003); Melo (2009); Monaretto (2010); Callou & Serra (2012);
Serra & Callou (2013), dentre outros, trazemos uma nova abordagem tanto do ponto de
vista do corpus a ser utilizado, gravações musicais, quanto do ponto de vista do intervalo
de tempo analisado – entre 1902 e 1960. Até 1940, foram analisadas as canções de nove
intérpretes, e, com relação a um desses intérpretes, Vicente Celestino, que produziu por
mais de cinco décadas, ampliamos essa sequência temporal até 1960. Além disso,
acrescentamos a primeira entrevista concedida por ele à Rádio Bandeirantes em 1964, a
fim de comparar as suas pronúncias.
Dessa forma, o objetivo do trabalho é analisar o comportamento variável do rótico
nesse contexto silábico na fala cantada de intérpretes2 de gênero masculino, cariocas, que
tiveram uma ampla produção musical na primeira parte do século XX. Esse recuo no
tempo nos impele a lançar mão de dados oriundos da discografia, meio praticamente
exclusivo de registro de voz, para a recuperação das pronúncias possíveis do rótico da
época. A análise, então, será desenvolvida a partir de produções musicais disponibilizadas
pelo Instituto Moreira Sales3. Essas gravações possuem um valor não apenas histórico mas
também cultural, que é incalculável, pois são registros no tempo. Constituem, ainda, uma
fonte importante de pesquisa sobre o comportamento linguístico de indivíduos de grandes
centros urbanos4 importantes do país. Vale comentar que, no acervo do Instituto Moreira
1 Em todo início de capítulo desta dissertação, há um trecho de uma das canções do corpus a fim de resgatar a
história da música popular brasileira na primeira metade do século XX, contada por suas canções de maior
sucesso. 2 Eduardo das Neves, Mário Pinheiro, Vicente Celestino, Francisco Alves, Silvio Caldas, Noel Rosa, Mário
Reis, Patrício Teixeira e Orlando Silva. 3 Disponibilizado na seguinte página: http://acervo.ims.com.br/.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
15
Salles, além de cariocas, há intérpretes nascidos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia,
Recife, entre outros estados brasileiros.
Interessa-nos a investigação desse fenômeno, pois o rótico, a depender do contexto
silábico, apresenta "um elevado grau de polimorfismo, prestando-se, exemplarmente, à
caracterização da variação no português do Brasil" (CALLOU et alii, 1996, p. 465),
principalmente em posição de coda silábica final. Assim, a variabilidade do /r/ difere da de
outras consoantes pelo maior número de realizações fonéticas identificadas, pois há, pelo
menos, sete distintas pronúncias possíveis.
Há observações sobre diversos aspectos fonéticos da fala cantada, nenhuma delas,
porém, sistemática, com base em uma quantidade considerável de dados e com o aporte
teórico, instrumental e estatístico de que dispomos atualmente. Desse modo,
apresentaremos também uma contribuição significativa, preenchendo uma lacuna temporal,
já que os resultados de trabalhos de cunho variacionista, a partir de corpora gravados na
década de 1970 até os dias atuais, apontam para o final do processo de mudança de
pronúncia do rótico, pelo menos em alguns dialetos brasileiros.
Havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos
sons na música, tanto de vogais quanto de consoantes. No que se diz respeito à realização
dos róticos, de acordo com o que se lê na literatura, havia uma predominância de
realização da vibrante múltipla anterior, que era considerada a forma padrão para a
linguagem dos meios de comunicação. Em outras palavras, era considerada a variante de
"maior prestígio" (CALLOU & LEITE, 1995, p. 74).
Outra alusão, com relação à pronúncia da fala cantada desse período, são os Anais
do Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada (1938). Esse evento de cunho político
teve o propósito de reformular as normas de dicção de intérpretes da época como também
adotar um padrão para a língua falada. Mesmo que esse encontro tenha sido realizado para
determinar normas apenas para o canto erudito, há, nesses documentos, descrições do que
não poderia ocorrer, pois fazia parte da "pronúncia inculta ou desleixada" (op. cit., p, 90),
podendo ser uma referência à música popular e à língua falada da época. Desse modo,
mesmo que os congressistas não tivessem tanta familiaridade com fonética, eles
descreveram não só aspectos do canto erudito como também do que os intérpretes não
poderiam realizar nas gravações musicais em geral.
Apesar de a fala cantada não ser reflexo direto da fala espontânea, ainda mais em
tempos em que a música gozava de tanta importância social, pelo seu caráter inovador de
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
16
difusão e permanência, acredita-se que seja possível, no fim, abstrair tendências de
pronúncia, principalmente as consideradas mais padrão. Além do mais, será possível
mapear que contextos e que estilos permitiam maior diferenciação em relação a esse
padrão. Assim, há o intuito de sistematizar as variadas pronúncias que essa consoante
possui na fala cantada, porém não podemos deixar de especular como essas poderiam
ocorrer na fala espontânea.
É cabível fazer alguns questionamentos com relação a esse corpus e tentar respondê-
los com o estudo proposto: 1) que pronúncia predominava na fala cantada dos intérpretes da
música brasileira da época em análise? 2) é possível estabelecer relações entre os resultados
encontrados em pesquisas recentes sobre o comportamento do rótico na fala espontânea nas
décadas de 1970, 1990 e, mais atualmente, nos anos 2000, e os resultados encontrados na
música do início do século XX? 3) quando e como começou a ocorrer a diferenciação do
rótico na fala cantada e, principalmente, o apagamento5 do segmento? 4) quais foram os
fatores linguísticos e/ou sociais que condicionaram a variabilidade do rótico na fala cantada
dessa época? 5) o gênero musical poderia favorecer – ou não – a ocorrência de
determinadas pronúncias? 6) havia um padrão de canto utilizado por todos os intérpretes ou
eles se diferenciavam? 7) mudança da realização do segmento em coda silábica final
ocorreu em um processo gradual, como verificamos a sequência que diversos autores
propõem: r x h Ø? e 8) houve um término, alcançando uma regularidade pela
eliminação das variantes que eram concorrentes ou a mudança permaneceu estável?
Com isso, os objetivos mais específicos são seguintes: 1) capturar o processo
gradual de diferenciação da realização do segmento; 2) verificar se os intérpretes seguiam
normas de canto da época ou imprimiam às canções características próprias; 3) investigar a
atuação do tempo para o fenômeno e 4) observar a atuação de grupos de fatores
linguísticos e sociais.
Conta-se, para tanto, com os pressupostos da Teoria da Variação e Mudança
(WEINREICH et alii, 2006 [1968]), sob orientação laboviana (LABOV, 1972 [2008]), para
formalizar a pluralidade de realizações do rótico em posição de coda externa.
Resumidamente, esse modelo teórico-metodológico visa a aliar a observação do
comportamento estrutural da língua aos aspectos sociais que interferem na variação e na
mudança linguística, ou seja, busca capturar a realização real da fala caracterizada por sua
heterogeneidade inerente.
5 Nesta dissertação, também serão usados os termos cancelamento e supressão para se referir a tal processo.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
17
Com base nesse aparato-teórico metodológico e a partir dos questionamentos
acima, é possível levantar algumas hipóteses preliminares: 1) apesar de os intérpretes
terem de seguir um padrão de canto estabelecido na época, cada um apresenta traços
próprios da sua individualidade; 2) os gêneros musicais desempenham um papel relevante
na escolha da pronúncia do rótico pelo intérprete; 3) os grupos de fatores linguísticos
relevantes para a diferenciação do rótico na música são semelhantes aos selecionados em
dados de fala espontânea e 4) o processo de mudança sonora é gradual.
Na organização desta dissertação, faz-se, primeiramente, a revisão de alguns
trabalhos de cunho variacionista com base em corpora de fala espontânea relacionados ao
fenômeno aqui investigado. O segundo capítulo dedica-se à apresentação dos pressupostos
teóricos que serviram de fundamento, em seguida, à descrição da fonte usada para a
constituição do corpus e escolha dos intérpretes, à apresentação dos objetivos mais
específicos, das hipóteses com base nos grupos de fatores aqui investigados e das etapas da
pesquisa, tais como a recolha, a transcrição e a codificação dos dados, e dos grupos de
fatores utilizados. O capítulo três apresenta e discute os resultados obtidos a partir das
rodadas do programa GoldVarb 20016. Nesse capítulo, haverá uma análise de cunho
variacionista que visa a determinar quais os fatores linguísticos e/ou sociais foram
decisivos para o tipo de pronúncia do rótico, inclusive seu cancelamento e, assim,
comparar os resultados aqui encontrados com os de trabalhos revisados no capítulo 1. No
último capítulo, de forma sucinta, encontram-se as considerações finais sobre o estudo,
revelando as conclusões a que chegamos no que diz respeito às expectativas pré-definidas
e as contribuições que esta pesquisa pretende dar ao conhecimento fonético-fonológico da
fala cantada do português brasileiro com relação aos róticos. Por fim, há algumas ideias e
caminhos para uma investigação futura que aprofunde ainda mais essa proposta.
6 GoldVarb 2001 é "um conjunto de programa computacionais de análise multivariada, especificamente
estruturado para acomodar dados de variação sociolinguística" (Guy & Zilles, 2007, p. 105).
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
18
1 REVISÃO DA LITERATURA
"Ela era a rosa do lago, ele o cisne nadador
Como era belo esse dia, que lindo quadro de
amor..."
(A concha do amor por Mário Pinheiro/ 1904)
Para Widdison (1997, p. 187, tradução nossa), "poucos fonemas apresentam maior
variação na composição dos fones que fazem parte de uma classe do que o /r/".7 Dessa
forma, os estudos sobre o comportamento do rótico são numerosos em diversas línguas do
mundo. No PB, essa consoante apresenta formas variadas de pronúncia, gerando uma
maior complexidade, o que o torna objeto de estudo bastante investigado. Hora &
Monaretto (2003, p. 116) já afirmaram que essa elevada quantidade de investigações "se
deve a sua frequência de aparecimento e às múltiplas formas que ele pode assumir sob
esse mesmo rótulo para o símbolo da grafia 'r'".
Em sua dissertação, Clemente (2009) destaca que, a partir do corpus do UCLA
Phonological Segment Inventory Database (MADDIESON, 1980), constata-se que 59%
das 321 línguas reportadas contêm um rótico, ao menos, em seu sistema. Além disso, de
acordo com Lindau (1975), 76% das línguas naturais possuem, pelo menos, um rótico,
sendo que, em 18%, há contraste entre dois ou três realizações.
No que se refere ao processo de apagamento, tal fenômeno tem sido documentado
há bastante tempo na literatura linguística. Callou & Serra (2012) e Huback (2006)
ressaltam que, nas peças portuguesas de Gil Vicente escritas durante o século XVI, ao
caracterizar a fala de personagens, tais como negros, agricultores, escravos, dentre outros,
o dramaturgo exclui o <r> final de verbos, transcrevendo a palavra desta maneira: <falar>
como <falaa>, por exemplo, captando a ideia de poder haver um alongamento vocálico
compensatório à perda da consoante. Nos nomes, o <r> final era grafado,
independentemente do personagem da peça. Em contrapartida, quando o autor representava
o diálogo das personagens portuguesas, usava a grafia padrão, ou seja, conservava a
consoante final em verbos. No PB, Huback (2006, p. 13), em seu artigo, afirma que "a
primeira alusão ao apagamento do (r) pode ser encontrada nos registros de Frei
Francisco dos Prazeres, que, em 1819, anotou as seguintes pronúncias difundidas entre as
7 "Few phonemes exhibit greater variance in the membership of phones that make up an equivalency class
than the phoneme represented by /r/".
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19
pessoas comuns do Maranhão: botá (botar) e mió (melhor)", nesses exemplos, observa-se
vocábulo de outra classe gramatical além do verbo.
Com relação ao ponto de vista fonético do rótico, Callou & Leite (1995, p. 76)
esclarecem que "[a]s primeiras gramáticas portuguesas pouco informam sobre a sua
pronúncia, preocupando-se apenas em estabelecer a existência de dois tipos, um singelo e
outro dobrado", ou seja, aquele provavelmente é o /r/ brando; este, o /r/ forte. No que se
refere ao dialeto carioca, Câmara Jr (1953) foi um dos primeiros a investigar os róticos.
Para esse autor, no plano fonético, há quatro variantes do /r/ forte. Elas são "uma vibração
múltipla da língua junto à arcada dentária superior; ou uma vibração do dorso da língua
junto ao véu palatino; ou uma tremulação da úvula; ou apenas uma forte fricção de ar na
parte superior da faringe" (CÂMARA JR, 1984, p. 15). Percebe-se, portanto, que ele não
elenca o zero fonético como uma das possíveis variantes.
No PB, essa consoante apresenta, desse modo, inúmeras realizações,
principalmente em posição de coda silábica. Tal fato traz uma elevada complexidade em
defini-las e categorizá-las em um mesmo conjunto denominado rótico, visto que as
variantes se diferenciam tanto no ponto, quanto no modo de articulação. Com isso, cabe
indagar: como é possível haver um grupo que reúna realizações tão distintas, tais como:
vibrantes, fricativas, aproximantes como também a não realização? Para Hora e Monaretto
(2003, p. 116), "agrupá-los assim é apenas uma convenção". Em contrapartida, outros
estudiosos têm apontado que tal grupo parece ter um comportamento regular, revelando,
assim, uma integridade. Em seu trabalho, Lindau (1985) determina peculiaridades que
evidenciam esse fato, tais como:
Róticos ocupam o mesmo lugar em sistemas consonantais e em estruturas
silábicas de diferentes línguas. Em línguas dotadas de onsets complexos, os
róticos tendem a ocorrer próximo ao núcleo da sílaba. Em geral, rs pós-vocálicos
tendem a se tornarem vogais ou a desaparecerem (...). Róticos apresentam efeitos similares no ambiente: vogais antes de r tendem a se alongar, como no Inglês e
no Sueco. (...) Os róticos frequentemente se alternam com outros róticos
(LINDAU, 1985, pp. 157- 158 apud GOLÇAVES, SILVA & WEIRICH, 2013).
Tal tentativa de explicar o porquê de haver uma unidade que forme o grupo
denominado rótico não é nada trivial.
Portanto, essa foi uma breve apresentação a fim de demonstrar a complexidade do
estudo que envolve a classe de segmentos denominada róticos em qualquer língua natural.
Nesse sentido, estudos mais representativos sobre o comportamento do rótico no PB, nas
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20
últimas décadas, revelam resultados bastante interessantes. Há, neste capítulo, uma síntese
de alguns trabalhos sobre o fenômeno aqui analisado, desde um estudo de referência sobre
o tema (CALLOU, 1987) até análises variacionistas mais recentes (CALLOU et alii, 1996;
BRANDÃO, MOTA & CUNHA, 2003; MELO, 2009; CALLOU & SERRA, 2012). Cada
um desses trabalhos será revisto, mostrando a relevância da sua contribuição para a
descrição do comportamento do rótico com base na análise sociolinguística. Por fim, cabe
ressaltar que essa revisão busca restringir resultados com base em corpora gravados no Rio
de Janeiro, apesar de alguns dos trabalhos supracitados terem investigado outros dialetos
além do carioca, a fim de demonstrar uma fronteira dialetal. Essa restrição foi feita devido
ao grande número de trabalhos que têm o rótico como objeto de estudo, dessa forma, vê-se
a necessidade de delimitar a revisão bibliográfica. A seguir, os trabalhos serão revisados
em ordem cronológica de publicação.
Em sua tese de doutorado, Callou (1987) estuda a variação e a distribuição do
rótico na fala urbana culta carioca. Esse trabalho é referência para estudos subsequentes,
principalmente para os que se utilizam do mesmo aparato teórico-metodológico, a
Sociolinguística Quantitativa Laboviana. A autora coleta os dados a partir das entrevistas
do tipo Diálogo entre Informante e Documentador (doravante DID) gravadas na década de
1970 com 55 informantes cariocas do Projeto Norma Urbana Culta (Projeto NURC)8, com
intuito de investigar o comportamento variável do rótico em quatro contextos silábicos:
ataque inicial, ataque intervocálico, coda interna e coda externa.
Esse corpus é estratificado socialmente com critérios que respeitam três variáveis
extralinguísticas: faixa etária (de 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 a 75 anos), área
geográfica de residência (Zona Sul, Zona Norte ou Zona Suburbana) e sexo do informante.
A autora verifica, também, a atuação de grupos de fatores linguísticos, tais como a posição
na sílaba e no vocábulo, o contexto fonológico antecedente, o contexto fonológico
subsequente, a classe morfológica, a tonicidade da sílaba que contém o R, a dimensão do
vocábulo e a pressão paradigmática.
Apesar de esse estudo sistematizar o comportamento do rótico em todos os
contextos silábicos, pretende-se explicitar aqui apenas os resultados no que se refere à
posição do rótico em coda silábica final, a fim de compará-los com os resultados desta
dissertação. De acordo com Callou (1987, p. 138), essa posição silábica:
8 http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/.
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21
revelou-se complexa devido a alguns aspectos que estão sujeitos a discussão: a) o
número relativamente grande de variantes; b) o fato de haver no mesmo contexto
três possibilidades, 1- a forma com R se encontra em posição final absoluta
(seguida de pausa), 2- a forma segue uma palavra iniciada por consoante, 3- a
forma segue uma palavra iniciada por vogal, sendo ou não as mesmas as duas
vogais.
A autora verifica uma mudança na norma de pronúncia no ponto de articulação, que
é uma tendência universal de posteriorização – de vibrante anterior à posterior – e no modo
de articulação – de vibrante à fricativa. Para ela, parece ser possível afirmar que, a partir
dos dados analisados, essa mudança sonora do /r/ forte se encontra em um estágio
avançado, pois ocorrem em um elevado índice a variante aspirada e a supressão do rótico,
levando em conta um processo gradual de mudança: r ʀ x h Ø.
Diferentemente do que era tradicionalmente considerado, há também, na fala
urbana culta, a ausência do rótico final – e, consequentemente, uma simplificação na
estrutura silábica, de CVC para CV. No início do processo, esse fenômeno, de acordo com
Callou & Serra (2012, p. 42):
era considerado um marcador social e, nas peças de Gil Vicente, no século XVI,
era usado para caracterizar a fala de escravos. Essa estratificação fez surgir a hipótese de se tratar de uma mudança de baixo para cima, em termos labovianos
(LABOV, 1994). Pelos séculos seguintes, no entanto, o fenômeno se espalhou
progressivamente por todas as classes sociais e por todos os níveis educacionais,
não sendo mais estigmatizado.
Callou, ao realizar seu estudo, anuncia que seria a primeira vez que o
comportamento variável do rótico é analisado no âmbito da fala urbana culta do Rio de
Janeiro. Os resultados revelam que o processo de apagamento em coda externa, pelo
menos, desde a década de 1970, não está restrito a uma ou a outra classe social.
Com base na transcrição do corpus utilizado em seu trabalho, a autora seleciona
seis variantes que ocorrem no contexto em questão. Elas são: a líquida vibrante anterior
sonora, líquida vibrante posterior sonora, fricativa posterior velar (surda ou sonora),
fricativa posterior laríngea (surda ou sonora), líquida vibrante simples anterior sonora9, e
zero fonético. A partir dos fatos relativos ao /R/, a autora conclui ter havido uma mudança
na norma de pronúncia com duas possibilidades: [h] e Ø, com predominância desta última.
Por esse ser um contexto silábico que apresenta aspectos particulares, a autora
analisa dados de coda final separadamente dos outros contextos. Com relação ao
9 Ocorre apenas diante de vogal.
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22
apagamento do rótico, os grupos de fatores sociais, de modo geral, mostram-se menos
relevantes do que os linguísticos. Cabe ressaltar que a possibilidade de ocorrência do
fenômeno é idêntica para homens e mulheres, não havendo distinção. Quanto à faixa etária
dos informantes, há uma inibição do processo entre os informantes acima de cinquenta
anos, mostrando-se um fenômeno inovador entre os mais jovens além de haver uma
tendência mais conservadora entre os que moram na Zona Suburbana da cidade.
Com relação aos fatores linguísticos, o apagamento teve maior probabilidade de
ocorrência em verbos – peso relativo de .73 em infinitivos e .52 em não infinitivos – do
que em não verbos, revelando que a marca morfossintática afeta a distribuição das
variantes. O contexto subsequente pausa propicia altamente o cancelamento, chegando à
probabilidade de .67, embora nos outros dois contextos – vogal e consoante – a regra se
aplique, visto que obtiveram o peso relativo um pouco maior que .50. Quanto ao contexto
fonológico antecedente ao rótico, a aplicação da regra teve probabilidade superior a .50
quando o segmento se encontra após vogais não arredondadas. Tal resultado levou Callou a
agrupar as vogais segundo o traço [-arred], o qual obteve um peso relativo de .59. Além
disso, os resultados revelaram que quanto maior o tamanho do vocábulo, maior a
probabilidade de aplicação da regra de apagamento: o índice de cancelamento em
trissílabos foi superior (.60) do que em monossílabos e dissílabos. Ao analisar o grupo de
fatores tonicidade, a autora salientou a importância da observação conjunta com a classe
gramatical do vocábulo, isto é, a necessidade de realizar uma tabulação cruzada, já que
verbos são sempre oxítonos. No que respeita à pressão paradigmática10
, os resultados
revelaram que, "quando existe outra forma verbal no paradigma de um mesmo verbo ou de
outro verbo sem o /R/, a frequência e a probabilidade de aplicação da regra variável (de
não realização) é de 75,62% e .516" (CALLOU, 1987, p. 142). Ela finaliza a discussão
relatando que, na década de 1970, "embora a frequência geral de aplicação da regra [de
apagamento] seja de 66,48%, o seu input probabilístico não vai além de .43, o que revela
ainda uma tendência de preservação desse segmento fônico" (op. cit.).
No que se refere à influência de grupos de fatores linguísticos na realização da
fricativa glotal, os resultados revelaram que, quanto menor o número de sílabas, maior a
probabilidade de escolha dessa variante. Além disso, ocorre preferencialmente quando o
rótico se encontra em sílaba acentuada. Com relação à influência de fatores sociais, há
maior ocorrência dessa variante nos dados realizados por mulheres.
10
A autora também ressalta a importância de analisar esse fator levando em conta a classe gramatical, já que
só ocorre em verbos, por exemplo, seguir versus (eu) segui.
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23
Em suma, a autora, a partir da investigação da atuação de grupos de fatores sociais
e linguísticos, observou que houve uma mudança na norma de pronúncia, a qual
corresponde uma diferença no modo e no ponto de articulação do rótico. Esta última
mudança – de anterior para posterior – parece representar uma tendência universal11
e
também pode ter uma explicação articulatória. A realização padrão em coda final parece
estar num estágio avançado do processo de mudança, visto que as realizações que
obtiveram maiores índices de ocorrência foram a fricativa glotal e o zero fonético. Por fim,
existe uma inter-relação de fatores sociais e linguísticos que interferem na mudança em
curso, a qual parece ter sido iniciada na fala feminina.
Outro estudo importante a ser revisado é o de Callou et alii (1996), que analisam o
comportamento do rótico em posição de coda interna e externa, em cinco capitais
brasileiras – Porto Alegre (POA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (RE) e
Salvador (SSA) – que compõem o Projeto NURC, com gravações da década de 1970. Os
autores utilizam o programa estatístico VarBRul12
para estabelecer uma delimitação dessas
áreas dialetais, como também investigar o condicionamento de outros grupos de fatores
sociais, tais como faixa etária – 25-35 anos, 36-55 anos e 56 em diante – e gênero/sexo, a
partir de gravações não só do tipo DID como também Diálogo entre Dois Informantes
(doravante D2).
São examinadas as seguintes realizações do rótico em coda silábica: vibrante
apical13
múltipla, vibrante apical simples, vibrante uvular, fricativa velar, fricativa glotal
(aspirada), aproximante retroflexa e zero fonético. O percentual dessas realizações se
modifica a depender do contexto silábico e da região de origem do falante.
Resumidamente, a aproximante retroflexa ocorre, com maior frequência, em coda interna e
apenas em SP e POA; as vibrantes múltiplas, apical e uvular, apresentam um percentual
baixo de realização e não ocorrem em RJ, SSA e RE; a vibrante simples é característica da
região sul – em SP, o percentual é elevado em ambos os contextos silábicos e, em POA, a
coda interna apresenta um elevado percentual dessa realização; as fricativas, velar e
aspirada, são características do RJ, SSA e RE, além de serem mais comuns em coda
interna; e o zero fonético comporta-se diferentemente a depender do contexto silábico em
11 Widdison (1997) afirma, em seu artigo, que a mudança da vibrante anterior para uvular, ou seja, a
posteriorização, ocorre em várias línguas da Europa Ocidental, como dialetos do francês, alemão,
dinamarquês, italiano, espanhol, holandês, norueguês, português, sueco, e provençal. 12 O VARBRUL foi criado no início da década de 1970 e desenvolvido por Sankoff & Rousseau com o
objetivo de realizar análises estatísticas de dados linguísticos variáveis. . 13 Nos resultados da presente pesquisa, usamos o termo anterior ao invés de apical.
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todas as regiões, dado que, em coda externa, seu percentual é muito mais significativo.
Dessa forma, existe uma fronteira dialetal entre POA/SP e RJ/SSA/RE, visto que, naqueles
falares, opta-se pelas vibrantes; nestes, pelas fricativas.
A partir desses resultados, os autores subdividem os dados, levando em conta a
análise da coda medial e da coda final separadamente, pois há um comportamento distinto
do rótico a depender do contexto silábico. No estudo, os autores verificaram a atuação de
fatores sociais, como o gênero/sexo e a região de origem, e linguísticos, tais como
tonicidade do vocábulo, tonicidade da sílaba, vogal antecedente, ponto e modo de
articulação do segmento subsequente e classe gramatical.
Iremos nos deter na revisão dos resultados no que respeita à posição de coda
externa do RJ em comparação aos das outras capitais. A distribuição das variantes no
contexto em questão a partir dos dados do dessa capital é a seguinte: vibrante simples
obteve um percentual de 15% dos dados; vibrante uvular, 4%; fricativa velar, 22%;
fricativa aspirada, 12% e o zero fonético, 47%.
Na análise quantitativa dos dados, algumas variáveis foram selecionadas a partir
das rodadas dos dados do RJ. A classe morfológica mostra-se relevante, apresentando os
verbos uma tendência geral de cancelamento: verbos, .72, e não verbos, .08. Também foi
selecionado o grupo de fatores vogal antecedente, pois o apagamento ocorreu de
preferência depois de vogais não arredondadas, vogal central, .75, e vogal anterior, .71,
resultado idêntico aos de SP e POA. Por fim, a dimensão do vocábulo revelou-se relevante
para o processo em questão, pois se confirmou a hipótese de que vocábulos mais extensos
conduzem a uma menor tensão articulatória e, assim, favorecem o enfraquecimento
consonantal. Desta maneira, monossílabos apresentaram peso relativo de .31; dissílabos,
.50; trissílabos, .79 e polissílabos, .81 para o cancelamento do R.
Os autores observam, a partir dos resultados, que informantes do RJ e de SSA
comportam-se de maneira semelhante com relação à pronúncia do rótico em contexto final
de palavra. Todavia, no que se refere à faixa etária, naquela capital, foi verificada uma
variação estável e com um percentual de ocorrência próximo de 50%, e, nesta, os
resultados indicavam uma mudança no sentido de desaparecimento do segmento final.
Com relação aos resultados de apagamento do rótico em final de palavra14
, os
autores concluem que essa regra é lexical, pois o grupo de fatores classe gramatical do
14 É comum, nos estudos sociolinguísticos sincrônicos, verificar o condicionamento da classe morfológica do
vocábulo na supressão do /r/ final. Inúmeros trabalhos com base em corpora orais (CALLOU, 1987;
CALLOU et alii, 1996; MONARETTO, 2010; SERRA & CALLOU, 2013) e escritos (MOLLICA, 2003;
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25
vocábulo – crucial para a aplicação da regra – foi selecionado em todas as rodadas. Dessa
forma, o artigo traz uma grande contribuição para os estudos sobre o comportamento
variável do rótico, pois relata que a posteriorização do ponto de articulação, acompanhada
de um processo de enfraquecimento e perda, é observada em muitas línguas naturais,
podendo ser analisada sob a ótica neogramática e/ou difusionista.
Com isso, ao agrupar os dados de todas as capitais em uma subdivisão de verbos e
não verbos, observou-se que a distribuição das variantes dependentes é diferente. Nos
nomes, a manutenção é de 83%, enquanto, em verbos, é de 35% apenas. Além disso, a
atuação de outros grupos de fatores pode ser distinta quando se leva em conta rodadas
separadas dos dados de verbos versus não verbos. De um lado, em verbos, o número de
sílabas do vocábulo é neutro para a aplicação da regra, ou seja, em vocábulo de qualquer
dimensão haverá alto índice de apagamento, por outro lado, em não verbos, esse grupo de
fatores foi selecionado como favorecedor do processo de cancelamento, pois em
monossílabos o percentual foi de 2%, aumentando gradativamente até chegar aos 38% em
polissílabos. Para os verbos, foram selecionados apenas os grupos faixa etária e vogal
antecedente e, para os não verbos, os grupos faixa etária, região, dimensão do vocábulo e
gênero. Observa-se o comportamento distinto do rótico a depender da classe gramatical do
vocábulo, desse modo, ao analisar os dados, é necessário distinguir, além da posição
silábica, a classe morfológica.
Esse artigo traz outra importante contribuição, pois os autores discutem se há uma
mudança sonora gradual ou abrupta do segmento. A partir dos resultados, verifica-se que as
realizações do /r/ forte são dialetalmente determinadas. Em outras palavras, de modo geral,
havia uma predominância de vibrante anterior em POA e SP, fricativa velar em SSA e RJ e
aspirada em RE em coda medial. Ao levar em conta que o processo de mudança ocorreu
nesta sequência: r ʀ x h Ø15
, observa-se que aquelas capitais seriam
representativas do início de processo de mudança, essas ocupariam uma posição
intermediária, e esta se encontra quase no último estágio do processo. Todavia, ao verificar
o contexto final de palavra, o processo teria alcançado o último estágio em todas as
capitais. Por conseguinte, é possível pular etapas, isto é, passar de vibrante a zero fonético
COSTA, 2007) confirmam a hipótese de que verbos (infinitivo impessoal) favorecem o apagamento do segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes sofrem apagamento, ou seja, há o apagamento da
marca morfossintática, em que o fonema /r/ é designativo de flexão modo-temporal, restando apenas a marca
prosódica, o acento (CALLOU, 1987). 15 Quando, em um dialeto, a mudança sonora se encontra em um estágio avançado, as fases anteriores podem
não ter deixado vestígios. Por outro lado, é bastante provável encontrar mais evidências de como ocorreu a
mudança quando se encontra no início do processo e, então, acompanhar as futuras etapas.
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26
sem fases intermediárias, como ocorre em POA e SP, ou seja, a mudança se opera gradual
ou abruptamente.
Outra contribuição desse trabalho se refere ao contexto para o cancelamento do
rótico, havendo uma discussão do motivo pelo qual esse segmento pode ser cancelado em
coda e não em ataque. No primeiro contexto, há uma simplificação silábica a qual alcança
o padrão universal, CVC CV, porém, no último, o apagamento gera uma sílaba apenas
com vogal, CV V, deste modo, torna-se possível o encadeamento de vogais de sílabas
adjacentes, o que, segundo os autores, não é desejável nas línguas naturais. Além disso,
eles citam uma tendência em reforçar a explosão silábica e debilitar a implosão (GRANDA
GUTIERREZ, 1966). Por fim, esses resultados demonstram que a metodologia utilizada é
favorável para estudos que têm por objetivo a dialetologia.
Brandão, Cunha & Mota (2003) comparam variedades da língua portuguesa, dados
do PB com os do Português Europeu (doravante PE), mais precisamente a fala da cidade
do Rio de Janeiro e com a de Lisboa. A grande contribuição desse estudo se deve ao fato
de, até o momento da publicação do artigo, não ter havido estudos comparando PE/PB
sobre o tema, visto que, em Portugal, não há tradição variacionista, ou seja, não se dispõe
de estudos mais aprofundados que levem em conta variação e mudança.
O artigo, com base no corpus VARPORT16
, detém-se em investigar a realização
versus não realização do rótico em coda final de palavra, visando a descobrir qual das duas
variedades sofre maior supressão do segmento. Os dados são gravações de indivíduos do
sexo masculino de níveis de escolaridade elementar e superior, os quais são distribuídos
por três faixas etárias – 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 a 70 anos. Esse corpus foi
composto de seis inquéritos para cada modalidade do português, havendo, assim, uma
amostra equilibrada, com 994 dados – 591 referentes ao PE e 403 ao PB.
As autoras levantaram algumas hipóteses com relação ao processo de apagamento
do rótico: a) por ser a estrutura silábica CV considerada um padrão universal nas línguas,
há a tendência do fonema /R/ ser eliminado, no entanto é possível recuperá-lo no PE com a
paragoge17
de um segmento vocálico; b) nessa variedade, há menos cancelamento diante
de palavra iniciada por vogal do que no PB, visto que é aparentemente mais comum o
mudança do segmento na coda da primeira palavra para o ataque no início da palavra que
segue; e c) diante de consoante inicial da palavra seguinte, a regra de cancelamento pode
16 http://www.letras.ufrj.br/varport/. 17 Fenômeno fonético que consiste na adição de um fonema ou sílaba no final de palavra, como em canta[] canta[e].
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27
depender dos traços dessa consoante subsequente e, especificamente, da compatibilidade
os traços do rótico e dessa consoante18
.
Os resultados das rodadas revelaram que o índice de cancelamento no PE é o
contrário do que ocorre no PB, pois, na primeira variedade linguística, foram alcançados
74% de manutenção do rótico contra apenas 22% da segunda. Na distribuição das
variantes, a partir dos dados do PE, observa-se que o R, quando se realiza, só ocorre como
tepe, este, por sua vez, pode ter o reforço de uma vogal seguinte, isto é, não há a ocorrência
de fricativas, muito similar ao que é evidenciado por Callou et alii (1996) para os dados de
POA. No PB, o rótico, quando não sofre apagamento, concretiza-se por meio de uma
consoante fricativa, em geral a aspirada e, mais raramente, fricativa velar ou tepe. Certos
grupos de fatores, sejam sociais ou linguísticos, funcionaram apenas para o PB ou apenas
para o PE, com isso, corrobora-se a ideia de que as duas variedades podem ser estudadas
separadamente para a constituição de um quadro particular de variação e mudança
linguística dos róticos.
A seguir, resumiremos os resultados dos dados do PB, obtidos sob atuação dos doze
grupos de fatores para a aplicação da regra de apagamento, e algumas comparações com os
do PE: 1) a variável nível de escolaridade mostra-se relevante apenas no PB, o que é
demonstrado pelos pesos relativos, pois há uma diferença significativa entre as opções dos
falantes que possuem mais tempo de escolarização (.36) em relação às dos que têm nível
escolar inferior (.62); 2) com relação à faixa etária, esperava-se que na fala dos informantes
mais jovens se encontraria o índice mais elevado de apagamento, de fato, isso ocorre no
PE, todavia não no PB, pois são os falantes da faixa etária intermediária que mais apagam
o rótico (.60); 3) no que refere ao número de sílabas, as autoras formularam a hipótese de
que em monossílabos haveria a tendência a manter o segmento, o que, primeiramente, não
é confirmado no corpus europeu, em que são exatamente esses os vocábulos menores que
mais favorecem o cancelamento (.70), porém, no PB, confirma-se a tendência (.30); 4) a
tonicidade da sílaba – tônica ou átona – mostrou-se relevante nas duas variedades, como
era esperado pelas autoras, assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais sensível ao
apagamento, principalmente porque esse segmento incide sempre na sílaba tônica de
verbos no infinitivo; 5) para a variável contexto antecedente, houve altos índices obtidos
no que se refere à vogal [] – PE: .93; PB: .86 –, que estão condicionados por sua
18
Nessa terceira hipótese, as autoras não especificaram a variedade, portanto, suponhamos que seja válida
para ambas.
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28
ocorrência no item "qualquer" e no primeiro elemento da locução "quer dizer"19
, todavia, é
válido observar que, com relação ao PB, o cancelamento é expressivo após vogais não
arredondadas; 6) para a variável classe gramatical, partiu-se da hipótese de que os verbos,
por questões de ordem morfológica, condicionariam, pelo menos no PB, o cancelamento, o
que foi confirmado nessa variedade, diferentemente do que ocorreu no corpus europeu20
;
7) o grupo pressão paradigmática não mostrou relevância em nenhuma das etapas do
estudo; 8) para o grupo de fatores modo de articulação da consoante seguinte ao rótico,
percebe-se a maior relevância da oclusiva no PE, porém, na variedade brasileira, tal papel é
exercido pela lateral, pela vibrante – com ambas foi categórico o cancelamento – e pela
nasal – (.62); 9) no que se refere ao ponto de articulação da consoante subsequente, partiu-
se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais e alveolares – inibiriam a
aplicação da regra de apagamento, enquanto o restante favoreceria por um processo de
assimilação, porém, em ambas as variedades, as consoantes alveolares são as que mais
propiciam o cancelamento; 10) para o contexto subsequente, a hipótese inicial era a de que
o cancelamento seria inibido pela presença de vogal, tal fato é confirmado no corpus do PE
(.27) e, no PB, a vogal não tem atuação relevante para ocorrência da regra, comportando-se
de forma semelhante à consoante surda e à pausa, além disso, o contexto subsequente
consoante sonora foi o único que obteve peso relativo superior a .50 em ambas as
variedades.; 11) para a natureza da vogal seguinte, nas duas variedades, as vogais
nasalizadas, apesar de ter diferentes pesos, mostram-se relevantes para a aplicação da
regra, e 12) para a variável compósita nível de escolaridade e faixa etária, nos dados do PE,
são os falantes mais jovens, os de nível elementar e os de superior, os que mais cancelam o
rótico, respectivamente, .66 e .64, e, no PB, embora sejam os falantes mais jovens, de nível
elementar, os que mais realizam o apagamento, não há, como no PE, uma uniformidade de
desempenho linguístico na fala standard e não standard, ou seja, no corpus do PB, deve-se
levar em conta as duas variáveis em conjunto para, então, compreender melhor o
comportamento da regra.
19 Nesses itens lexicais, o rótico apresenta alto índice de apagamento nas duas variedades. 20 Os mais índices elevados de apagamento do rótico no PE encontram-se na classe dos quantificadores, constituída pela palavra "qualquer". Há .92 de cancelamento. Vale comentar que a supressão do rótico nesse
pronome é tratada com cautela pelos foneticistas, pois, na história da língua, origina-se da junção do pronome
"qual" com o verbo "quer". Uma evidência morfológica para essa etimologia se da através do plural em que o
morfema -s recai após o pronome "qual" e não no final do vocábulo, "quaisquer", Com isso, esse item
diacrônico é bastante interessante, pois ocorre um alto índice de supressão do <r> final por ser terminado em
verbo.
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29
Por fim, os resultados revelaram que, no PB, a tendência é a de eliminar o rótico e,
deste modo, simplificar a estrutura silábica, otimizando, com isso, o padrão universal CV,
enquanto no PE, a tendência é a de conservar a estrutura CVC. Apesar dessas divergências,
a análise mostra que os fatores condicionantes do cancelamento são, na maioria das vezes,
coincidentes, já que, de um lado, há fatores linguísticos atuantes, relacionados à classe da
palavra e à natureza da vogal subsequente e, de outro, os sociais, relativos à faixa etária.
Outro estudo relevante a ser aqui revisado é o de Melo (2009). A autora disserta
sobre os róticos na fala de três municípios do estado do Rio de Janeiro – Petrópolis,
Itaperuna e Parati – também com base nos parâmetros da Sociolinguística Quantitativa
Laboviana, com auxílio do pacote de programas GoldVarb 2001. Ao observar o
comportamento do rótico, ela leva em conta o contexto de coda silábica (medial e final), e
salienta que, na coleta dos dados, as variantes se restringiram a cinco tipos de ocorrências:
o tepe alveolar, o tepe retroflexo, a fricativa velar (surda ou sonora) e a fricativa glotal
(surda ou sonora) e o zero fonético.
Os corpora, que visam a investigar não apenas o comportamento dos róticos mas
também outros processos fonético-fonológicos21
são compostos por amostras de Discurso
Semidirigido, organizadas pela própria autora, e perguntas diretas do Questionário
Fonético-Fonológico (doravante QFF) do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB)22
e, assim,
contempla o estudo do fenômeno em questão. As amostras do Discurso Semidirigido são
compostas, em cada localidade estudada, pela fala de dezoito informantes de escolaridade
básica – até a sétima série do Ensino Fundamental – divididos em ambos os sexos e em
três faixas etárias: 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 anos em diante. O Discurso
Semidirigido abarca quatro questões destinadas à produção de textos orais espontâneos e
em todas as entrevistas produziram-se outras perguntas durante cada conversa, que possui
de quarenta minutos a uma hora de duração. Quanto ao QFF do Projeto ALiB, este possui
159 questões, das quais 27 atendem ao foco do comportamento do rótico em coda. Por fim,
ambos os corpora foram constituídos em sua totalidade no ano de 2008.
A revisão dos resultados a ser aqui realizada está restrita à atuação variável do
rótico em coda final, visto que a autora separou os dados por contexto silábico para realizar
as rodadas. A análise sociolinguística revela a ampliação de dois processos a que os róticos
estão expostos: há o processo de enfraquecimento, alargando os domínios em que se acha a
variante glotal, e há o processo de apagamento, cuja ocorrência – ainda que principiante no
21
Santos (2009) disserta sobre o comportamento do /S/ pós-vocálico. 22 www.alib.ufba.br/.
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30
interior de vocábulo – se dá, todavia, pelo mesmo conjunto de fatores responsável pelo
cancelamento do segmento em contexto externo, como o contexto fonológico antecedente
e o número de sílabas. Em outras palavras, em coda final, há franca tendência ao
cancelamento, pois, nas rodadas gerais, a soma percentual é de 92% e, em coda interna, de
apenas 6%. A seguir, serão revisados os resultados do peso relativo dos grupos de fatores
extralinguísticos e linguísticos atuantes na regra de apagamento apenas em coda final, já
que a autora realizou rodadas dos dados por contexto silábico em arquivos diferentes.
No QFF, dois grupos mostraram-se relevantes para justificar os 81% de
cancelamentos em coda final: a localidade Parati, com suas 164 ocorrências, foi a única
com peso relativo preponderante, .69, como também o único fator extralinguístico a ser
selecionado, e a classe gramatical, que revela a tendência ao zero fonético em lexias que
são verbos no infinitivo, atingindo .56 de peso relativo.
No Discurso Semidirigido, o percentual de apagamento foi superior, alcançando
94%. Esse resultado confirma ainda a hipótese de maior vigilância do informante sobre sua
fala em questionários objetivos, como o QFF, utilizado pela autora. Seis grupos de fatores
foram selecionados, o primeiro deles é a vogal que antecede o segmento em foco, das quais
a anterior alta [i] demonstra forte probabilidade de levar ao cancelamento, 0.95 de peso
relativo. Vale comentar que as vogais médias anteriores também obtiveram um peso
relativo acima de .50. Dessa forma, a configuração das vogais que mais favorecem esse
zero é a mesma dos resultados encontrados em Callou (1987) nos dados de falantes cultos:
traço [+ anterior] juntamente com o traço [- arredondado]. Um segundo grupo, já previsto
em outras pesquisas, foi a classe gramatical do vocábulo. O apagamento em verbos no
infinitivo é quase categórico e é o único que alcança relevância em todas as rodadas do
programa estatístico, com peso relativo de .60. O terceiro grupo influenciador da regra foi
a localidade, Parati sendo a localidade onde a aplicação da regra é favorecida. O número de
sílabas do vocábulo foi selecionado como quarto colocado a favor do apagamento –
vocábulos polissílabos obtiveram maior probabilidade de aplicação da regra, .72. Quanto
aos percentuais, há uma gradação clara em não verbos: 1 sílaba: 57% 2 sílabas: 86%
3 sílabas: 89% 4 sílabas: 92%, ou seja, quanto maior o tamanho do vocábulo, maior a
probabilidade de apagamento, pois o segmento seria, em vocábulos maiores, menos
saliente, e, em verbos, a porcentagem de zero é alta independente do número de sílabas,
sempre em 98% ou 99%. O penúltimo grupo de fatores da análise corresponde ao contexto
subsequente, no qual se elencam todas as possibilidades consonantais e vocálicas, além da
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31
pausa absoluta, isto é, em qualquer dos três casos – vogal, consoante e pausa23
–, a
probabilidade é sempre maior que .50. Entretanto, vê-se aqui o contexto imediato ao R, a
vogal [a] obteve um peso relativo de .94 e a vogal nasal24
, .86. A última colocação, na
ordem de seleção, pertence ao grupo tonicidade da sílaba, para o qual as oxítonas estão
com valor numérico de 0.503. Para chegar ao peso relativo desse grupo de fatores, é
necessário realizar uma rodada apenas com não verbos, visto que verbos são sempre
oxítonos. Tal erro metodológico pode ter influenciado os resultados probabilísticos.
Observamos, então, que, nesse estudo, as variáveis linguísticas se sobrepõem às não
linguísticas no comportamento variável do /R/.
O segundo processo estudado – enfraquecimento ou abrandamento – faz perceber a
preponderância das fricativas glotais sobre todas as ocorrências de manutenção verificadas
nos corpora. Nas duas rodadas binárias feitas entre as duas fricativas – velar e glotal – os
dados de coda externa sequer obtiveram variáveis selecionadas no GoldVarb 2001. Foram
computados 283 dados, dos quais apenas 3% remetem à realização velar. Logo, o resultado
dessa rodada originou uma resposta negativa: nenhum grupo de fatores foi escolhido como
favorecedor da regra25
, ou seja, o contexto de coda externa é francamente favorável às
fricativas glotais. Dessa forma, ambas as amostras possuem altos percentuais para os dois
últimos estágios: a glotalização e o cancelamento. Com isso, os resultados mostram que,
nessas três localidades, o processo de variação e de mudança sonora dos róticos encontra-
se no final daquela sequência gradual já exposta aqui.
O último estudo a ser revisado é o de Callou & Serra (2012). As autoras focalizam
o apagamento do rótico em contexto final de palavra a partir de dados gravados para o
Projeto NURC de duas capitais brasileiras: Rio de Janeiro (RJ) – décadas de 1970 e 1990 –
e Salvador (SSA) – apenas década de 1970. As autoras postulam que o fenômeno em
questão não está apenas condicionado por fatores linguísticos e sociais, mas também tem
relação com o tipo de fronteira prosódica. Assim, a pesquisa também alia o aparato teórico-
metodológico da Sociolinguística Quantitativa Laboviana (LABOV, 1972), para um estudo
em tempo aparente e em tempo real de curta duração – tendência –, ao da teoria da
hierarquia prosódica (SELKIRK, 1984; NESPOR & VOGEL, 1986/ 2007), para a
23 Esse resultado dialoga com a asserção feita por Callou (1987, p. 141) de que a aplicação da regra de
apagamento tem "em qualquer dos três casos, a probabilidade é sempre maior que .50". 24 A autora agrupou todas as vogais nasais em um único fator. 25 Não fica claro qual das variantes foi utilizada como valor de aplicação.
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32
determinação do tipo de fronteira prosódica que teria favorecido o progressivo
cancelamento do rótico.
A primeira base teórica foi usada para observar o comportamento estrutural da
língua em relação aos aspectos sociais que interferem na variação/mudança linguística, e a
segunda, como fundamento para investigar se o processo de cancelamento é condicionado
pela fronteira prosódica à direita da palavra terminada em R. Desse modo, levam em conta
se o segmento encontra-se em fronteira de palavra prosódica (Pω), sintagma fonológico
(PhP) ou sintagma entoacional (IP). Por fim, as autoras pretendiam investigar se esse
mapeamento auxiliaria no entendimento dos altos índices de apagamento em final de
palavra em contraste com os baixos valores do fenômeno em coda silábica medial.
A hipótese principal do estudo é a de que além de fatores linguísticos (classe
gramatical) e sociais (faixa etária e região), a estrutura prosódica desempenharia um papel
importante na atuação do processo, na medida em que o fenômeno em questão seria mais
frequente em níveis mais baixos da hierarquia – fronteira de palavra prosódica.
Os resultados alcançados a partir dos dados do RJ serão revisados a seguir, e os de
SSA serão citados apenas para fins de comparação. Na década de 1970, é possível observar
que o processo de apagamento do rótico não atua da mesma forma nos jovens – 25 a 35
anos – das duas cidades, sendo o índice de frequência em SSA quase o dobro do da cidade
do RJ, 89% contra 46%. Em Callou et alii (1996), verificou-se um número maior de
falantes – não só os jovens – distribuídos por três faixas etárias e foi possível verificar que,
em SSA, há uma nítida curva de mudança em curso e, no RJ, de estabilidade.
Com relação à classe gramatical, ainda na mesma década, podemos dizer que, no
RJ, o processo se encontra a meio termo e, em SSA, quase completo, afetando quase todos
os vocábulos em que o segmento está inserido, não importa se verbo ou não verbo, sempre
acima de 70%. No RJ, por outro lado, a oposição entre verbos e não verbos ainda é
flagrante, 81% de apagamento naqueles e 3% nestes, indo ao encontro de afirmações na
literatura de que o fenômeno seja mais frequente em verbos. A tabulação cruzada de classe
morfológica e década, na fala dos jovens, mostra que a variável condicionadora classe
morfológica vem perdendo força de uma década para a outra, não mais retendo tão
frequentemente o segmento, pois, em 1970, o apagamento em verbos é de 46% contra 3%
em não verbos; em 1990, o apagamento em verbos é de 81% contra 66% em não verbos.
No que diz respeito à estrutura prosódica, procedeu-se a uma análise multivariada
de 232 ocorrências, que revelou que as fronteiras de sintagma fonológico e de sintagma
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entonacional favorecem a preservação do segmento enquanto a fronteira de palavra
favorece o apagamento do rótico. Nessa análise, não foram consideradas as ocorrências em
que o rótico era seguido de vogal ou tenha sido registrado na preposição <por>, o
segmento, nesta palavra, é interpretado como em de posição de coda interna – e não
externa – na medida em que a preposição não recebe basicamente acento e se junta ao
vocábulo subsequente.
Na década de 1970, com relação aos dados do RJ, os níveis mais altos, como os
sintagmas fonológico e entonacional, favoreceriam a manutenção do /R/ e a fronteira mais
baixa, como a palavra prosódica, favoreceria o seu apagamento. Ao chegar à década de
1990, há um processo gradual de mudança que até mesmo as fronteiras dos níveis
prosódicos mais altos não mais inibem o apagamento do /R/ e essa mudança ocorreu mais
rapidamente na capital de SSA. Além disso, mais uma vez, não pôde ser descartada a
oposição entre verbos e não verbos, pois se mantém significante. Na primeira década, no
RJ, o apagamento do rótico em não verbos se restringe à fronteira de palavra prosódica
(Pω). Em SSA, a frequência de apagamento em não verbos atinge 44% em fronteira de
palavra. Em verbos, o processo está praticamente completo em ambas as capitais, nenhuma
fronteira prosódica inibe mais o apagamento.
Por fim, as grandes contribuições deste artigo foram comparar dados de décadas
distintas realizando um estudo em tempo aparente e em tempo real de curta duração –
tendência –, infelizmente os informantes de SSA não foram recontatados na década de
1990. Ademais, há um mapeamento prosódico além de verificar a atuação de grupos de
fatores sociais e linguísticos como geralmente é feito em análise sociolinguística.
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34
2 APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO
"Em vão te procurei,
Notícias tuas não encontrei,
Eu hoje sinto saudades
Daqueles dez mil réis que eu te emprestei..."
(Cordiais saudações por Noel Rosa/ 1931)
2.1. Teoria da Variação e mudança
A língua é um sistema que possui unidades. Por conseguinte, essas se estruturam em
conformidade com as necessidades sociocomunicativas do falante. De acordo com a Teoria
da Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968), também chamada de
Sociolinguística Quantitativa, essa estruturação, em linhas gerais, ocorre de forma
sistemática, visto que é condicionada por aspectos estruturais e sociais. Dessa forma, a
variação da língua não é aleatória, dado que pode ser elucidada pela relação ordenada de
regras variáveis.
É importante ressaltar que os autores supracitados foram aprimorando e sofisticando
o método de análise, visto que os estruturalistas já falavam sobre sincronia e diacronia.
Desse modo, para precursores da Sociolinguística:
[u]ma 'teoria' da mudança linguística, no sentido rigoroso, pode ser vista numa
forma relativamente forte e numa forma fraca. Em sua forma forte, a teoria
preveria, com base numa descrição de uma língua em algum período de tempo, o
curso de desenvolvimento que tal língua seguiria dentro de um intervalo específico. (...) Numa versão mais modesta, uma teoria da mudança linguística
afirmaria simplesmente que toda a língua constantemente sofre alteração, e
formularia fatores condicionantes sobre a transição de um estado da língua para
outro estado imediatamente sucessivo. (WEINREICH, LABOV e HERZOG,
1968, p. 34)
A partir dessa afirmação, observa-se que se focaliza a descrição do uso real da
língua, que ocorre, de modo regular, em um espaço de tempo, e essa alteração de um estado
para o outro sofre influência de fatores, os quais podem ser estruturais e sociais. Esse é,
afinal, objeto de estudo da Sociolinguística que, ao observar a questão da mudança da
língua, conseguiu solucionar lacunas e contradições apresentadas num momento anterior
pelo modelo estrutural-funcionalista. Todavia, apesar desse rompimento com as propostas
das correntes precedentes, tal teoria não nega as contribuições que essas análises oferecem
para compreender os fatos linguísticos. Afinal, teorias existem para se complementarem e
não para serem substituídas por outras.
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35
Para a Sociolinguística – surgida durante a década de 1960, a partir dos postulados
de Uriel Weinreich, William Labov e Marvin Herzog –, a língua é um fato social, e cabe ao
sociolinguista investigá-la no decorrer do tempo. Em Empirical Foundations for a Theory
of Language Change (1968)26
, os autores supracitados apresentam e propõem um modelo
teórico-metodológico. Para eles, a variação linguística consiste em "meios alternativos de
dizer a ‘mesma coisa’, disponíveis a todos os membros da comunidade de fala"
(WEINREICH et alii, 1968, p. 97), ou seja, há várias opções sem mudança de sentido.
Percebe-se, então, que há uma direção para o discernimento da relação entre a língua e a
comunidade de fala que a utiliza, já que é perceptível que a língua tem uma função não
apenas comunicativa como também social. Assim, resolve-se uma das incoerências de
correntes anteriores, que, embora tenham observado a língua como um fato social, não
reconheciam a ação que a sociedade e os falantes são capazes de exercer sobre ela.
Nesse modelo teórico-metodológico, são cruciais os termos variante, variável e
variedade. O primeiro é utilizado para determinar as formas alternativas que estão em
variação, ou seja, uma ou mais estratégias usadas concorrendo na língua sem haver
mudança de significado. A título de ilustração, temos as variantes do rótico, tais como a
fricativa velar, o tepe, a vibrante uvular dentre outras. Com isso, o conjunto das variantes é
nomeado variável dependente, em outras palavras, o próprio fenômeno, que é o objeto
escolhido para estudo pelo sociolinguista, como, por exemplo, o rótico. Chama-se
"dependente", pois não varia de modo isolado, já que depende de outros fatores, os quais
são as variáveis independentes, que podem ser linguísticas ou extralinguísticas, ou seja,
estas constituem o conjunto responsável pela influência sobre a variável dependente. Por
fim, variedade corresponde ao dialeto usado por uma comunidade de fala à qual pertence o
indivíduo.
Para Labov (2008, p. 225), "membros de uma comunidade de fala compartilham um
conjunto comum de padrões normativos mesmo quando encontramos variação altamente
estratificada na fala real". Esses padrões que o autor menciona estão em conformidade com
as avaliações sociais do próprio falante a respeito das variantes linguísticas, que são
julgadas como formas prestigiosas ou depreciadas. Assim, ao observar o uso real da língua
em uma comunidade de fala, uma das contribuições fundamentais da Sociolinguística foi
desenvolver métodos quantitativos para analisar a diversidade da língua, com o intuito de
possibilitar a identificação de fenômenos variáveis, a compreensão dos padrões de variação,
26
Para leitura, utilizamos a versão em português, traduzida por Marcos Bagno: Fundamentos empíricos para
uma teoria de mudança linguística.
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36
já que há uma sistematicidade, e a relação entre essas regras variáveis e parâmetros
linguísticos e sociais, que caracterizam tais comunidades de fala.
Essa identificação ocorre por intermédio de uma análise não apenas quantitativa
como também qualitativa de dados obtidos de língua falada – tanto espontânea quanto
monitorada. Em outros termos, a variação é passível de ser descrita e explicada por meio da
relação dos dados da língua em seu uso real, levando em conta o contexto social e o
linguístico em que o(s) indivíduo(s) convive(m). Assim, além de contabilizar dados, cabe ao
sociolinguista interpretar os resultados, por isso a análise é quantitativa e qualitativa.
Observa-se, então, que a Sociolinguística consolidou a ideia de que a variação ocorre de
forma sistemática e motivada por regras variáveis – linguísticas e sociais –, já que, segundo
Labov (2008), toda variação é condicionada, o que significa afirmar que as formas variantes
estão estruturadas de forma sistemática na gramática que os falantes dominam.
Ainda cabe comentar que a variação linguística pode ser representativa de uma
mudança em progresso, quando uma estrutura passa a ser outra, ou pode ser um padrão, que
se repete por gerações, o qual não ocasiona alterações no sistema linguístico – uma
mudança estável. Esse reconhecimento fez com que Weinreich et alii (1968, p. 188)
afirmassem que "nem toda variação e heterogeneidade na estrutura da língua envolve
mudança, mas toda mudança envolve variação e heterogeneidade". Em outros termos, na
variação entre duas ou mais formas linguísticas para um mesmo significado, uma pode se
sobrepujar outra(s), todavia nem sempre esse é o caso, pois pode haver uma variação
estável, sem que se chegue, de fato, a uma mudança linguística.
Com base nos princípios levantados, os autores, ao verem a língua como
heterogênea, enumeram cinco questões que norteiam a investigação sociolinguística da
mudança em curso: a questão da transição, das restrições, do encaixamento, da
implementação e da avaliação. Em outras palavras, o direcionamento para o tratamento da
variação/ mudança pressupõe respostas para as questões supracitadas.
Com relação à transição, "[a] mudança se dá (1) à medida que um falante aprende
uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato
dentro de sua competência, (3) quando uma das formas se torna obsoleta" (op. cit., p.
122), ou seja, é o desenvolvimento de uma mudança linguística, de um estado para outro,
dentro de um intervalo de tempo em variação. Para resolver esse problema, é necessário
analisar os estágios intermediários e, assim, verificar, como um indivíduo aprende uma
forma alternante, por quanto tempo as variantes coexistem e qual tempo em que uma das
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37
variantes sobrepuja sobre a outra. É necessário, então, que se verifique o porquê de
determinadas estruturas linguísticas estarem em alternância em certo período e o porquê de
uma forma variante substituir outra.
Quanto às restrições, estas são condições para a mudança. Em um estudo
sociolinguístico, busca-se encontrar as "condições possíveis para mudanças que podem
ocorrer numa estrutura de determinado tipo" (op. cit., p. 36), ou seja, nesse problema,
investigam-se quais os condicionamentos linguísticos e sociais que determinam as
alterações possíveis da língua. Além disso, pode-se aliar a observação do comportamento
estrutural da língua aos aspectos sociais que interferem na variação/mudança e quais fatores
fazem certas mudanças serem consideradas impossíveis, isto é, aqueles que as inibem.
Relacionado ao problema acima, é crucial descobrir "como as mudanças [...] estão
encaixadas na matriz de concomitantes linguísticos e extralinguísticos das formas em
questão" (op. cit., p. 36). Em outros termos, entende-se por encaixamento os contextos que
favorecem um determinado tipo de mudança desencadear outras mudanças na estrutura da
língua, assim há relações em cadeia linguística além de se encaixar "num complexo social,
correlacionada com mudanças sociais" (LABOV, 2008, p 326).
A implementação está relacionada aos fundamentos da mudança. Desta forma, o
sociolinguista busca identificar como a mudança foi iniciada, levando em consideração a
estrutura social e linguística, isto é, quais aspectos específicos desencadearam a mudança
em espaço e tempo determinados. Além disso, cabe responder a seguinte indagação: "por
que as mudanças num aspecto estrutural ocorrem numa língua particular numa dada
época, mas não em outras línguas com o mesmo aspecto, ou na mesma língua em outras
épocas?" (WEINREICH et alii, 1968, p. 37).
Por fim, com relação ao problema da avaliação, os autores fazem o seguinte
questionamento: "como as mudanças observadas podem ser avaliadas – em termos de seus
efeitos sobre a estrutura linguística, sobre a eficiência comunicativa (...) e sobre o amplo
espectro de fatores não representacionais envolvidos no falar?" (op. cit., p. 36). Esse
problema está relacionado ao nível de consciência social dos indivíduos, o qual constitui um
fator a ser considerado para analisar uma mudança de forma positiva ou negativa. Em
outros termos, a avaliação atinge as reações que os falantes desenvolvem quando se dão
conta de que um elemento da sua língua está se alternando com outros elementos ou, de
fato, mudando. São três os meios de detectar a mudança no que respeita às variantes: os
indicadores, os marcadores e os estereótipos.
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38
Com relação às mudanças em curso, estas são difíceis de serem observadas, pois
requerem um acompanhamento das variantes afetadas por um determinado tempo para,
então, verificar se as diferenças são significativas ou se são flutuações irrelevantes. Nesse
aspecto, os manuais sociolinguísticos preveem que as análises podem ser realizadas sob
duas perspectivas: o estudo em tempo real e em tempo aparente.
Esses dois estudos são observações as quais ocorrem por intermédio de gravações de
amostras de fala feitas por um determinado número de indivíduos. Geralmente, há o uso de
entrevistas sobre experiências pessoais, com o intuito de o entrevistado se envolver com o
assunto abordado e, então, produzir um discurso mais espontâneo, fazendo-os esquecerem
da gravação. Dessa maneira, eles se distraem do contexto monitorado depois dos primeiros
cinco minutos de interlocução e, assim, diminui ou evita-se o que Labov (2008) chama de
paradoxo do observador, ou seja, como registrar pessoas falando espontaneamente com a
presença de um entrevistador, o qual pode interferir no estilo de fala do entrevistado.
Portanto, há, de fato, o intuito de desvendar como as pessoas falam naturalmente, quando
não são observadas.
A princípio, a análise da língua em tempo real é uma forma de observar o
desenvolvimento de uma mudança, com base no comportamento linguístico de indivíduos
de uma comunidade de fala em momentos distintos. Labov (2008) subdivide essa análise
em dois estudos: o de tendência e o de painel. No primeiro, há uma investigação inicial em
uma comunidade de fala e, após um intervalo de tempo, há o retorno, a fim de repetir a
investigação com indivíduos que possuem as mesmas características sociais dos primeiros
analisados, possibilitando, com isso, detectar o comportamento linguístico da comunidade
como um todo. Geralmente, esse intervalo de tempo é de uma ou duas décadas. Já no estudo
de painel, o pesquisador também retorna à comunidade analisada, porém "intenta localizar
os mesmos indivíduos que foram informantes do primeiro estudo e controlar quaisquer
mudanças em seu comportamento submetendo-os ao mesmo questionário, entrevista ou
experimento" (LABOV, 1994, p. 142), permitindo, desta forma, identificar, pelo
comportamento estável ou instável do mesmo informante em dois períodos distintos, se há
uma mudança geracional ou uma gradação etária.
A análise em tempo aparente parte da observação do comportamento de indivíduos
de uma comunidade de fala que possuem idades diferentes, geralmente três distintas faixas
etárias. A partir desse estudo, o sociolinguista tenta reconstruir a evolução da língua desde
os mais jovens aos mais idosos. Segundo Leite et alii (2003, p. 88), "[e]ssa distribuição, no
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39
entanto, por faixas etárias, pode ser apenas aparente e não representar mudanças, de fato,
na comunidade, vindo a constituir um padrão característico de gradação etária que se
repete a cada geração". Para solucionar os problemas derivados da interpretação dos
resultados obtidos, é necessário ter também como base as observações feitas em tempo real,
ou seja, pôr em confronto determinados usos em dois ou mais intervalos de tempo. Nesse
sentido, o presente e o passado articulados permitem elucidar a variação e a mudança que
aconteceram e que estão acontecendo.
Por fim, na presente pesquisa, há um grupo de noves informantes homens nascidos
na cidade do Rio de Janeiro, são de uma época muito próxima entre eles, tinham a mesma
profissão, gravavam suas produções musicais nos mesmos lugares, assim pertenciam a um
mesmo grupo social, porém não tinham exatamente os mesmos estilos musicais e tinham
suas especificidades fonéticas. O desafio, desse modo, reside na forma de como analisar
esses dados, visto que nenhum deles gravou por todo o período das quatro décadas, ou seja,
uns gravaram nas duas primeiras décadas; outros, nas três últimas; outros, apenas por uma
década. Será possível, então, analisar, no decorrer do tempo, o indivíduo e a comunidade,
levando em conta o conjunto de intérpretes por década, visto que alguns não gravaram mais
que uma década, como mostra o quadro abaixo.
Décadas Intérpretes Nascimento Falecimento
1902 - 1910 Eduardo das Neves 1884 1919
Mário Pinheiro 1880 1923
1911 - 1920
Eduardo das Neves 1884 1919
Mário Pinheiro 1880 1923
Francisco Alves 1898 1952
Vicente Celestino 1894 1968
1921 - 1930
Francisco Alves 1898 1952
Vicente Celestino 1894 1968
Patrício Teixeira 1893 1972
Silvio Caldas 1908 1998
Mário Reis 1907 1981
1931 - 1940
Francisco Alves 1898 1952
Vicente Celestino 1894 1968
Patrício Teixeira 1893 1972
Silvio Caldas 1908 1998
Orlando Silva 1915 1978
Noel Rosa 1910 1937
Quadro 1. Atuação dos intérpretes por década
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40
Percebe-se, no quadro acima, que, mesmo que eles tenham gravado diferentes
gêneros musicais e tenham suas especificidades fonéticas, a amostra é bem homogênea em
relação à idade dos intérpretes. Com base em canções gravadas entre 1902 e 1940,
estendendo o período por mais duas décadas – até 1960 – com gravações de Vicente
Celestino, pretende-se analisar, nesse recorte de tempo, as formas do rótico que se
alternavam na fala cantada, verificando se uma variante sobrepujou a outra ou se houve uma
mudança estável. Esse intérprete foi escolhido, pois iniciou sua carreira na década de 1910 e
encerrou-a na década de 1960, demonstrando uma longa atividade musical.
De acordo com Lucchesi (1998), os estudos sociolinguísticos enfatizam mais as
análises quantitativas. É necessário também, a partir da frequência e da probabilidade,
realizar interpretações qualitativas. Além disso, ambas as análises dos dados depende muito
do conhecimento do pesquisador acerca do fenômeno a ser investigado. Tarallo (1997)
afirma que o sociolinguista deve, a princípio, detalhar o objeto de estudo, revisar a literatura
a fim de ter conhecimento sobre as variantes, como se dá a variação e os possíveis
condicionadores linguísticos e sociais que favorecem e inibem a variação.
Nessa perspectiva, para esta dissertação, a escolha das variáveis independentes, as
hipóteses levantadas, os procedimentos metodológicos adotados estão baseados em
trabalhos realizados anteriormente sobre o comportamento variável do rótico na língua
falada. Dessa forma, os resultados serão interpretados a partir da nossa experiência no
tratamento do fenômeno, a partir de resultados das rodadas estatísticas realizadas em cotejo
com estudos anteriores.
2.2. Metodologia e corpus
A pesquisa cumpre todas as etapas de um estudo baseado na Teoria da Variação e
Mudança. Há a formação do corpus, as etapas de transcrição, codificação e rodadas dos
dados e análise e discussão dos resultados. Ressalta-se a escolha de dados extraídos de
canções, aspecto inovador do trabalho, uma vez que se busca analisar a variação de um
fenômeno fonético-fonológico – a distribuição dos róticos em contexto final de palavra –
em um período em que o acesso a dados de fala gravados é restrito.
2.2.1. Etapas metodológicas
Foram realizadas basicamente cinco etapas: 1) seleção dos principais intérpretes da
época com o recurso a biografias do período em análise; 2) obtenção das canções desses
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41
intérpretes selecionados; 3) transcrição fonética das ocorrências do rótico em contexto de
coda silábica final; 4) realização das rodadas dos dados segundo o modelo da
Sociolinguística Quantitativa, a fim de verificar o condicionamento de fatores estruturais e
sociais com o auxílio do pacote de programas GoldVarb 2001; e 5) interpretação dos
resultados. Essas etapas metodológicas serão elucidadas com mais detalhes a seguir.
2.2.2. Os informantes: nove intérpretes da música popular brasileira
Os intérpretes, ilustrados abaixo, foram os selecionados para a composição do
corpus em função de sua rica produção musical. Todos contribuíram para a formação da
música brasileira da primeira metade do século XX, pois suas canções são consideradas
registros no tempo, com valor incomensurável não apenas cultural, mas também histórico.
Todavia, nem todos aqui selecionados tiveram uma carreira musical que tenha perdurado
por décadas, ou seja, alguns cantores produziram por quatro ou cinco décadas, sendo
possível acompanhá-los ao decorrer do tempo, e outros gravaram por apenas alguns anos.
Há apenas intérpretes homens, pois, de acordo com Severiano & Mello (1997), no
início do século passado, a produção musical foi predominantemente masculina, com isso,
ao recuar no tempo, dados provenientes de intérpretes do gênero feminino tornam-se raros.
Freire & Portela (2010) abordam a atuação de mulheres musicistas no Rio de Janeiro no
final do século XIX e início do XX:
É curioso observar que são relativamente raros os registros na literatura
especializada que revelem participação de mulheres, sobretudo como
compositoras e regentes, nos teatros da época. Essa função não era bem aceita para atuação feminina pela sociedade da época, que parecia ver com
desconfiança a presença feminina nos palcos. A classe social a que pertenciam as
mulheres musicistas que atuaram nos teatros, conforme já mencionado, não era
necessariamente a aristocracia, abrangendo espectro social um pouco mais
amplo, embora caiba ressaltar que as poucas mulheres sobre as quais
encontramos informações sobre sua atuação como compositoras ou regentes
nesses espaços eram, na maioria das vezes, 'bem nascidas'. (FREIRE &
PORTELA, 2010, p. 64)
Dessa maneira, observa-se que, na literatura referente à musicologia brasileira, há
considerável carência de estudos que aprofundem a compreensão do papel exercido pelas
mulheres na música daquela época. É facilmente perceptível uma história marcada pela
predominância de homens, e, então, a presença feminina tem pouquíssimo destaque. Ao
consultar o acervo aqui utilizado, realmente é nítida a escassez de gravações feitas pelo
gênero feminino.
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42
De acordo com Diniz (1984), houve mulheres que conseguiram conquistar certo
espaço profissional, contrariando, portanto, as normas de conduta da época. Elas sofreram
preconceitos e sanções, como foi o caso da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga27
que, apesar de toda a discriminação, é considerada por muitos críticos como uma das
fundadoras da música popular brasileira. Para Cardoso (2007, p. 2), as cantoras daquele
período eram vozes sem os seus corpos, e essa rara presença feminina na indústria
fonográfica brasileira nos primeiros anos pode ser explicada pelo fato de que "essa prática
musical era restrita às moças, cujas manifestações artísticas limitavam-se ainda sob um
contexto privado". Não se tem referência na literatura do alcance de sucesso pela música
de cantoras antes da década de 1920, e as poucas que produziram aparecem tratadas com
"Srta." e um pseudônimo, sem informação biográfica alguma. Tal fato é exatamente o que
é encontrado no acervo aqui utilizado: canções de Srta. Odete, Srta. Consuelo, entre outras
cantoras, que eram chamadas de atrizes de teatro musicado, e não de cantoras. Esse foi
mais um motivo de retirá-las desta análise, pois não é confirmada a origem das intérpretes,
provavelmente cariocas, nem a data de nascimento, aproximadamente em determinado ano.
Houve a tentativa de lidar com canções gravadas por vozes femininas em um
trabalho anterior28
apresentado e publicado nos anais de um congresso, porém se percebeu
que os dados de produções musicais realizadas por mulheres realmente eram bastante
escassos no início do século XX; obteve-se uma quantidade de dados muito superior de
produções musicais masculinas. Com isso, de modo a garantir a validação estatística dos
resultados, optou-se por retirar as produções femininas da presente análise.
Sendo assim, com base em informações disponibilizadas no dicionário Cravo
Albim da Música Popular Brasileira29
, que é uma obra de referência para os estudiosos da
música, realizou-se um apanhado geral dos nove intérpretes selecionados para a pesquisa
desenvolvida. Esse dicionário é o único dedicado à música – iniciado em 1995 pela
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), por meio do Departamento
de Letras da Livraria Francisco Alves Editora, com o apoio técnico da Informática e
Engenharia de Sistemas (IES). Na página desse dicionário, é possível pesquisar não só
sobre os intérpretes como também temas, gêneros musicais, artistas em geral,
personalidades, grupos e instrumentos. Os intérpretes selecionados para este estudo
27 Para saber mais informações, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/chiquinha-gonzaga. 28 O trabalho intitulado "Análise sociolinguística do r em coda silábica externa: confrontando vozes
masculinas e femininas na música popular brasileira" aceito para ser publicado nos anais do VIII JEL
Jornadas de Estudos Linguísticos organizado pelo Instituto de Letras da UERJ. 29 Para mais informações, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/apresentacao.
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43
tiveram grande reconhecimento do público na época em que atuaram. Além disso, uns são
lembrados até os dias atuais, havendo regravações e tributos. Todos, sem exceção,
contribuíram, de forma bastante significativa, para a construção da identidade cultural
brasileira. A seguir, há imagens dos intérpretes que foram os informantes desta pesquisa:
Eduardo das Neves Mário Pinheiro Vicente Celestino
Francisco Alves Patrício Teixeira Mário Reis
Silvio Caldas Noel Rosa Orlando Silva
Figura 1. Informantes: nove intérpretes da música brasileira30
30 As imagens dos nove intérpretes foram extraídas das seguintes páginas, respectivamente: http://aochiadobrasileiro.webs.com/Biografias/BiografiaEduardodasNeves.ht/;
http://jornalggn.com.br/blog/laura-macedo/mario-pinheiro-um-dos-pioneiros-da-gravacao-de-discos-no-
brasil/;
http://www.museudatv.com.br/biografias/Vicente%20Celestino.htm/;
http://www.viajandonotempo.com.br/index.php?data_in=200309http://jornalggn.com.br/noticia/a-arte-de-
patricio-teixeira/;
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44
Um dos primeiros intérpretes cariocas a gravar um disco brasileiro foi Eduardo das
Neves31
. Nascido no ano de 1884 e falecido em 1919, foi uma das figuras mais populares
do início do século XX, pois, além de cantar, era compositor e palhaço de circo.
Acompanhado ao violão em suas gravações, em 1895, iniciou a carreira artística
apresentando-se em circos e pavilhões na cidade do Rio de Janeiro. Em 1902, teve sua
primeira composição gravada pelo cantor Bahiano32
, a canção "Santos Dumont", também
conhecida como "A conquista do ar". O intérprete ficou conhecido por escrever e gravar
lundus, na grande maioria, com temática do cotidiano da cidade como "O aumento das
passagens", "O bombardeio", "O cinco de novembro (ou O marechal)", "A guerra de
Canudos", entre muitos outros de mesmo assunto. Em 2000, sua gravação de "Ó Minas
Gerais", escrita em 1912, foi incluída pelo crítico Ricardo Cravo Albin33
na coletânea "As
músicas mais fundamentais do século XX", uma série de seis CDs. Por fim, suas gravações
recobrem as duas primeiras décadas aqui analisadas – de 1902 a 1920.
Conhecido por sua perfeita dicção e por ter a discografia mais extensa realizada do
que qualquer cantor da sua época, Mário Pinheiro34
foi um intérprete muito popular em seu
tempo. Nasceu no ano de 1880 e, em 1904, fez sua primeira gravação para a Odeon,
registrando as modinhas "Carmen" e "Gentil Formosa", de autores desconhecidos. Até
1909, gravou discos para a Casa Edison, os quais obtiveram enorme vendagem, tornando-o
conhecido em todo o Brasil. Em seguida, foi contratado pela gravadora Victor e viajou para
os Estados Unidos e para a Itália a fim de divulgar seu trabalho. De volta ao Brasil, em
1918, gravou novamente para a Casa Edison, mas, com o surgimento de novos intérpretes,
obteve um declínio em sua atividade musical e faleceu logo depois.
Nascido em 1894, Vicente Celestino35
foi um dos intérpretes com carreira mais
longa na música brasileira. O tenor gostava de ouvir Eduardo das Neves no Passeio
http://www.memorial.org.br/2012/09/o-pai-dos-cantores-brasileiros/;
http://www.viajandonotempo.com.br/index.php?data_in=200307/;
http://www.annaramalho.com.br/news/blogs/anna-ramalho/6944-arquivo-nacional-exibe-documentario-
sobre-noel-rosa.html/;
https://dsaviosoares.wordpress.com/2011/06/20/orlando-silva-o-cantor-das-multidoes-poderia-ter-sido-o-
nosso-maradona-na-cancao/. 31 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/eduardo-das-neves/dados-artisticos. 32 Foi um dos cantores mais populares do início do século. Integrou o primeiro grupo de cantores
profissionais da Casa Edison, sendo o primeiro intérprete a gravar um disco brasileiro, o que recebeu o número de ordem 1, do catálogo de 1902, intitulado "Isto é bom", do compositor Xisto Bahia. Para mais
informações sobre o intérprete, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/baiano/dados-artisticos. 33 Escritor, pesquisador de MPB, jornalista, historiador, crítico e radialista. Para mais informações, acessar
esta página: http://www.dicionariompb.com.br/ricardo-cravo-albin. 34
Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/mario-pinheiro/dados-artisticos. 35 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/vicente-celestino/dados-artisticos.
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45
Público, o que influenciou sua decisão de seguir a carreira de cantor, pois, com apenas oito
anos, começou a cantar. Em 1915, lançou seu primeiro disco pela gravadora Odeon,
gravando a valsa "Flor do mal" e logo conquistou o público com sua interpretação.
Continuou a gravar por décadas e, ao todo, sua discografia possui 137 discos em 78
rotações-por-minuto (rpm) com 265 músicas, 10 compactos e 31 LPs. Vale comentar que
duas de suas canções fizeram tanto sucesso que deram tema para dois filmes de enorme
público na época: O Ébrio (1946) e Coração Materno (1951). O intérprete também atuou
em teatro e filmes e ganhou inúmeros prêmios durante sua carreira. Sua belíssima voz de
tenor fez com que o povo o elegesse como "A Voz Orgulho do Brasil". Em 1968, quando
se preparava para gravar um programa de televisão, no qual seria homenageado pelo
Movimento Tropicalista, passou mal e faleceu. Seu corpo foi velado por uma multidão na
Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e sepultado sob palmas do público. A partir dos
anos noventa, a gravadora Revivendo tem relançado parte de sua obra em CDs. Por fim,
suas gravações recobrem as várias décadas aqui analisadas – de 1915 a 1960.
Francisco Alves36
iniciou a carreia artística em 1918 em um teste musical e, no ano
seguinte, lançou pelo seu primeiro disco interpretando a marcha carnavalesca "O pé de
anjo" e o samba "Fala, meu louro", composições feitas pelo famoso Sinhô37
. Durante a
década de 1920, realizou uma série de gravações mecânicas pela Odeon, fazendo grande
sucesso nos carnavais e, no final desse período, tornou-se o primeiro cantor a gravar no
novo sistema eletrônico. Apenas em 1928, ele registrou, pela mesma gravadora, 62 discos,
em um total de mais de 120 músicas, um recorde para a época. Na década de trinta, iniciou
uma parceira com Mário Reis, rendendo-lhe vários discos. Além disso, Francisco foi o
responsável pelo lançamento de Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda, como cantora;
participou no filme, "Alô, alô, Brasil"; e passou a gravar pela Victor e pela Columbia. Em
1941, retornou à Odeon, gravadora em que permaneceu até 1952, ano de sua morte.
Nascido em 1893, Patrício Teixeira38
foi outro intérprete com grande popularidade
radiofônica entre as décadas de 1920 e 1940. Além disso, foi um especialista no repertório
de canções folclóricas brasileiras, visto que, em sua extensa discografia, há um vasto
repertório de emboladas, toadas sertanejas, entre outros gêneros peculiares da música
brasileira. Dedicou-se também ao ensino de canções brasileiras acompanhadas ao violão,
36 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/francisco-alves/dados-artisticos. 37
Para mais informações, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/sinho/dados-artisticos. 38 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/patricio-teixeira/dados-artisticos.
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46
sendo professor de "senhoritas" da elite carioca, como Nara Leão, Linda Batista e Aurora
Miranda.
Outro intérprete que faz parte do conjunto de informantes para esta pesquisa é
Mário Reis39
. Nascido já no século XX, mais precisamente em 1907, também lançou seu
primeiro disco pela Odeon na década de 1920. Nesse momento, a gravação de discos saía
da era mecânica para entrar na era do sistema elétrico com o uso de microfones. Esse novo
processo favoreceu bastante seu estilo, mais simples e coloquial de cantar – diferentemente
do tenor Vicente Celestino, por exemplo – e inaugurou um novo período na história do
canto popular – o da voz pequena. Na década de 1930, formou dupla com Francisco Alves,
com o qual gravou inúmeros discos e participou de filmes musicais. Na década seguinte,
Mário Reis afastou-se da vida artística e retornou apenas em 1951, gravando até 1971.
Silvio Caldas40
, nascido em 1908, iniciou sua carreira musical na década de 1930,
gravando "Tracuá me ferrô" pela gravadora Victor e lançou inúmeras marchas e sambas,
que fizeram sucesso nos carnavais da cidade do Rio de Janeiro. Teve grande popularidade
não só pelos seus discos, mas também em rádios, além de ter sido considerado pela crítica
e pelo público da época um dos quatro grandes cantores da "Era do Rádio". Além disso,
atuou em filmes, como "Favela dos meus amores", de Humberto Mauro, e "Carioca
maravilhosa", de Luís de Barros. Como Vicente Celestino, Silvio Caldas teve uma das mais
longas carreiras artísticas no Brasil, produzindo até o final da década de 1970.
Nascido em 1910, Noel Rosa41
já demonstrava, em sua infância, aptidão para a
música, pois aprendeu a tocar bandolim de ouvido. Sem deixar de lado seu talento musical,
preparou-se para a Faculdade de Medicina, porém abandonou o curso três anos depois. No
final da década de 1920, com os moradores de Vila Isabel e alunos do Colégio Batista,
formou um grupo musical, o Flor do Tempo, para se apresentar apenas em festas locais.
Quando foram convidados para gravar, o grupo foi reformulado, mudando o nome para
Bando de Tangarás. Paralelamente, intérprete escrevia canções e, ainda em 1930, teve seu
primeiro grande sucesso com o samba "Com que roupa?" gravado por ele mesmo. Suas
composições foram gravadas por Francisco Alves, Mário Reis, entre outros famosos
intérpretes de sua época. Ele foi sempre afetado por problemas de saúde, porém não se
afastava da vida boêmia; dessa forma, seu estado agravou-se, levando-o à morte.
39 Informações retiradas desta página: (http://www.dicionariompb.com.br/mario-reis/dados-artisticos. 40
Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/silvio-caldas/dados-artisticos. 41 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/noel-rosa/dados-artisticos.
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47
Por último, Orlando Silva42
, nascido em 1915, começou sua atividade musical
precocemente na década de 1930, estreando com participação no programa de Francisco
Alves na Rádio Cajuti. Com pouquíssimo tempo de carreira, assinou contrato com a RCA
Victor para lançar discos e gravou até o final da década de 1970. Ele foi o primeiro cantor a
ter um programa exclusivo na Radio Nacional, além de participar do filme "Banana da
terra", dirigido por J. Rui, interpretando a marchinha "A jardineira". No final de sua
carreira, entre os anos de 1976 e 1977, gravou vários números para o programa "Brasil
Especial" da TV Globo. O cantor faleceu no ano seguinte, vítima de um ataque cardíaco.
Essa notícia causou grande comoção em âmbito nacional e arrastou uma multidão às ruas
para lhe prestar a última homenagem. Em 1979, foi lançado pelo Museu da Imagem e do
Som (MIS) o LP "Orlando Silva", com as gravações realizadas ao vivo nos programas da
Rádio Nacional.
Desse modo, por meio desse apanhado geral, observa-se que esses intérpretes
mostraram-se determinantes para a formação da música, contribuindo para a construção da
identidade cultural brasileira. Vê-se que grande parte deles não teve atuação somente na
gravação de discos, mas também em rádios e filmes, ou seja, foram os grandes artistas
desse período e, por isso, foram escolhidos para fazerem parte dessa tentativa de recuperar
não apenas as pronúncias do rótico, como também as canções, os gêneros musicais, e os
estilos musicais da época.
2.2.3. A constituição do corpus
Fundado por Walther Moreira Salles43
em 1990, o Instituto Moreira Salles (IMS) é
uma organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover e de desenvolver
programas culturais. Com base na descrição da história dessa entidade disponibilizada na
sua própria página44
, as atividades são sustentadas pelo Unibanco e, posteriormente, pela
família Moreira Salles, e são realizadas em três cidades: Poços de Caldas, em Minas
Gerais, na cidade do Rio de Janeiro e, mais recentemente, na cidade de São Paulo. O
patrimônio dessa organização é segmentado em quatro distintas áreas – Música, Fotografia,
Literatura e Iconografia –, que estão disponíveis, em grande maioria, para consulta no site
a fim de difundir esses acervos da maneira mais ampla, ágil e sem custo. Essa
42 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/orlando-silva/dados-artisticos. 43 Foi um empresário, banqueiro, diplomata, advogado e ministro da Fazenda do Brasil, no governo João
Goulart. Para mais informações, acessar: http://ims.com.br/ims/explore/artista/walther-moreira-salles. 44 http://www.ims.com.br.
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48
disponibilização requer um trabalho prévio de higienização e digitalização de imagens e
sons, catalogação e, assim, a promoção de exposições e publicações.
Para esta pesquisa, o que nos interessa é o acervo musical, que dá conta dos
primórdios das gravações de canções brasileiras que se inicia com a primeira gravação de
um disco em 1902, o lundu "Isto é bom", composição de Xisto Bahia, passa pelo
nascimento do samba com a gravação de "Pelo telefone" de Donga até o surgimento da
Bossa Nova, um estilo sofisticado e suave, nos fins dos anos 1950. Há inúmeros discos em
78 rpm e um repositório de 80 mil fonogramas, que pertenciam ao acervo de José Ramos
Tinhorão45
. No site do IMS, há uma rádio de internet, a Rádio Batuta46
, que difunde as
gravações musicais e produz documentários sobre grandes compositores e intérpretes.
Além disso, há uma série, A canção no tempo47
, que apresenta um panorama dos principais
sucessos musicais brasileiros, tendo como base os dois volumes de A canção no tempo: 85
anos de músicas brasileiras, livros de autoria dos pesquisadores Jairo Severiano e Zuza
Homem de Mello. Há ainda o acervo SophiA Biblioteca48
, para consulta dos discos.
Na constituição do corpus, a proposta foi selecionar os principais intérpretes
presentes na série A canção no tempo, primeiramente, com audições das gravações
disponibilizadas entre 1902 e 1940 e, assim, delimitar o que iria, de fato, fazer parte da
pesquisa. A partir dessa etapa, nove intérpretes cariocas foram selecionados (cf.: 2.2.2).
Além do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, a biografia de alguns foi
consultada em Panorama da música popular brasileira na "Belle époque" de Ary
Vasconcellos.
Com os nove intérpretes selecionados, a partir dessa série que destaca as canções
que fizeram mais sucesso, foram realizadas consultas no acervo de José Ramos Tinhorão
disponibilizado em SophiA Biblioteca, a fim de analisar o máximo de canções gravadas
por eles durante o período de quatro décadas. Esse acervo fornece, para cada intérprete,
informações como rotações do disco, título da música, autoria, imprenta (o local e o ano de
gravação), número do álbum e gênero musical.
Com isso, foram selecionadas 219 gravações musicais de nove intérpretes cariocas
representativos da música reproduzida nas principais gravadoras da cidade do Rio de
45 Jornalista, crítico e pesquisador da história da música popular brasileira. Para mais informações sobre
Tinhorão, acessar as seguintes páginas http://www.dicionariompb.com.br/jose-ramos-tinhorao e
http://ims.com.br/ims/explore/artista/jose-ramos-tinhorao. 46 http://radiobatuta.com.br. 47
http://radiobatuta.com.br/Episodes/view/52. 48 http://acervo.ims.com.br/.
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49
Janeiro no período entre 1902 e 1940. No corpus, há 26 canções gravadas por Eduardo das
Neves, 32 por Mário Pinheiro, 33 por Vicente Celestino, 35 por Francisco Alves, 12 por
Mário Reis, 22 por Patrício Teixeira, 28 por Silvio Caldas, 12 por Noel Rosa, e 19 por
Orlando Silva. Dessa maneira, há uma amostra significativa da diversidade da música
brasileira, contendo diversificados gêneros musicais, tais como valsas, lundus, modinhas,
maxixes, tangos, marchas carnavalescas, entre outros. Como Vicente Celestino foi um
intérprete que produziu por muitas décadas, estendemos essa sequência temporal até 1960
com mais 23 gravações49
suas além de analisar uma entrevista concedida à Rádio
Bandeirantes, realizada em 1964.
Ao todo, foram obtidos 3.252 dados de rótico em contexto de coda final a partir das
audições das canções. Na primeira década, há 540; na segunda década, há 571; na terceira
década, 781; na quarta década, 966. A partir dos dados de Vicente Celestino, há, na quinta
década, 192; e, na última, 202 dados. Observa-se que, à medida que o tempo decorre, o
número de dados aumenta. Em outras palavras, quanto mais se recua no tempo, mais difícil
se torna a construção do corpus, pois, nas primeiras décadas, o número de intérpretes era
escasso. Além disso, os registros musicais não terem uma boa qualidade devido à
simplicidade do processo de gravação mecânica, então algumas produções das primeiras
décadas não foram utilizadas devido ao enorme ruído contido nelas. No final da década de
1920, a gravação de discos entra na era do sistema elétrico, que tinha um custo menor e
uma melhor tecnologia que facilitava a gravação e, com isso, o número de canções
aumenta com o passar do tempo. Além disso, dificilmente são encontradas as letras em
livros e sites das primeiras canções do século XX. Assim, foi necessário, primeiramente,
fazer a audição de cada gravação, transcrever ortograficamente para, então, realizar a
transcrição fonética com a letra da canção em mãos. Por outro lado, encontram-se
facilmente letras – e até cifras – de registros musicais realizados a partir do final da década
de 1920.
É importante comentar, por fim, que esses dados, diferentemente de corpora
sociolinguísticos, não são estratificados socialmente. Houve, então, a preocupação de
buscar e selecionar os principais intérpretes do período, aqueles com maior produtividade
musical e reconhecimento do público. Além disso, houve a preocupação de formar um
corpus apenas com intérpretes cariocas, pois havia artistas de outras regiões do Estado do
49 Selecionamos quatorze canções gravada na década de 1950 e nove na última década.
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50
Rio de Janeiro e de outros estados também, que foram descartados50
. Optou-se, também,
por não utilizar gravações musicais realizadas por mulheres pelos motivos já expostos
anteriormente. O desafio, desse modo, reside na forma de analisar esses dados, visto que os
intérpretes pertencem a distintas faixas etárias. Ademais, nenhum deles gravou por todo o
período das quatro décadas, ou seja, uns gravaram nas duas primeiras décadas, outros
gravaram nas três últimas, outros, apenas por uma década. Esses entraves foram resolvidos
da melhor forma possível e serão descritos nas próximas seções.
Por curiosidade, foi pesquisada brevemente a forma como essas canções eram
gravadas e reproduzidas naquela época. Na virada do século XIX, de acordo com
Gonçalves (2011, p. 106) "a atividade musical na capital federal iniciou seu processo de
expansão e popularização" devido à chegada do fonógrafo – inventado por Thomas Edison
em 1877 – e do gramofone – inventado por Emil Berliner em 1888 –, aparelhos usados
para reprodução de músicas. Sobre os primeiros fonógrafos trazidos por Frederico Figner,
que foi o fundador da Casa Edison, um dos primeiros estúdios de gravação da cidade do
Rio de Janeiro, responsável pela sobrevivência de grande parte da cultura musical
brasileira, o autor comenta que:
as gravações eram feitas a partir da reutilização de cilindros gravados. Como
eram de cera, necessitavam ser previamente raspados e polidos para então
receberem as novas gravações. Em um manuscrito autobiográfico, Figner afirma
que às vezes precisava ficar até a meia-noite para finalizar a raspagem dos
cilindros e deixá-los prontos para receber novas gravações (op. cit., p, 107).
Anos depois, em 1900, surgem os primeiros gramofones no país. A chegada desses
aparelhos mais modernos não eliminou o mercado dos fonógrafos na cidade, porém
"Figner dedicou-se à importação desses aparelhos, pois havia notado que eles
reproduziam os discos em volume mais alto que os cilindros de cera e poderiam ampliar os
seus negócios com a comercialização da música" (op. cit., p. 116). Gonçalves compara as
duas técnicas:
50 Há um trabalho publicado nos Anais do Colóquio Brasileiro de Prosódia da Fala intitulado "A(s)
pronúncia(s) do R final em canções do início do século XX (1902-1920)" em que a região de origem do
intérprete foi levada em conta: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. Resumidamente, são os intérpretes da Bahia que mais cancelam o rótico em coda silábica final (31%), sendo pequeno o índice de apagamento na
fala cantada dos cariocas (4%) e nulo na fala cantada dos intérpretes do Rio Grande do Sul, havendo um
diálogo com o estudo de Serra & Callou (2013). Esse artigo encontra-se disponibilizado na seguinte página:
http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/anais_coloquio/search/authors/view?firstName=Karilene&m
iddleName=da%20Silva&lastName=Xavier&affiliation=Universidade%20Federal%20do%20Rio%20de%20
Janeiro&country=.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
51
o fonógrafo apresentava algumas desvantagens, como o seu tamanho, seu
complexo manejo e o fato dos cilindros se desgastarem com mais facilidade, o
que prejudicava a qualidade da gravação. Em comparação, o disco é um suporte
mais duradouro, de fácil manipulação, transporte, e oferece melhor qualidade
sonora, fatores que contribuíram para a sua popularização (op. cit., p. 117).
A título de ilustração, a seguir, há imagens51
de ambos os aparelhos usados para
reprodução das produções musicais analisadas nesta dissertação:
Figura 2. Fonógrafo Figura 3. Gramofone
A partir de leituras do Dicionário Cravo Albim, nas primeiras décadas, as gravações
eram feitas com todos juntos, os intérpretes, coro, instrumentistas no estúdio. Em seguida,
eram encaminhadas para a finalização do processo na fábrica da Zonophone localizada na
Alemanha. Já na década de vinte, com o advento da gravação por meios elétricos, surgiu,
enfim, o microfone, melhorando significantemente o qualidade sonora das gravações
musicais.
Por fim, abaixo, há um quadro, o qual sistematiza o corpus constituído para esta
dissertação com os intérpretes, os períodos em que eles gravação, em quais gêneros
musicais, a quantidade de gravações selecionadas do acervo e o número de dados
coletados.
51 Ambas as imagens foram retiradas da seguinte página:
http://www.memoriadaeletricidade.com.br/default.asp?pag=4&codTit1=44302&pagina=destaques/almanaqu
e/invencoes&menu=388&iEmpresa=Menu#44302/. Acesso em 11/2015.
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52
Quadro 2. Sistematização do corpus em década, intérprete, gênero musical, canções e número de dados
2.2.4. O método de recolha dos dados
Após chegar à conclusão de quais intérpretes selecionar para serem representativos
da música da época e com as letras de todas as suas canções em mãos, iniciou-se a etapa de
registrar as informações significativas sobre cada uma delas, como a autoria, a imprenta
(local e ano de gravação), número do álbum e gênero musical. A título de ilustração,
abaixo, há uma das consultas das canções gravadas por Vicente Celestino no acervo de
música de José Ramos Tinhorão do IMS – SophiA Biblioteca.
Décadas Intérpretes Gêneros musicais N° de canções Dados
1902-1910
Eduardo das Neves Lundu, canção, modinha 12 158
Mário Pinheiro Canção, seresta, modinha, fado,
cançoneta, canção, polca, tango-
brasileiro, valsa, lundu, barcarola
26 632
1911-1920
Eduardo das Neves Canção, samba, modinha, toada, valsa,
cançoneta, lundu
14 222
Mário Pinheiro Modinha, cateretê, tango-brasileiro,
seresta
6 105
Francisco Alves Marcha carnavalesca, samba 3 48
Vicente Celestino Canção, modinha, valsa 7 202
1921-1930
Francisco Alves Samba, maxixe, canção, marcha
carnavalesca, tango-brasileiro,
modinha
18 200
Vicente Celestino Modinha, canção, tango-brasileiro,
toada, valsa
8 202
Mário Reis Samba, canção 12 240
Patrício Teixeira Toada, modinha, samba, canção,
embolada
11 73
Silvio Caldas Samba 4 63
1931-1940
Francisco Alves Maxixe, samba, canção, tango-
brasileiro, modinha, marcha
carnavalesca
17 211
Vicente Celestino Seresta, valsa, canção, tango-brasileiro 20 196
Patrício Teixeira Samba, marcha carnavalesca 11 72
Silvio Caldas Samba, marcha carnavalesca, valsa,
seresta, canção
24 173
Noel Rosa Samba 12 112
Orlando Silva Samba, valsa, seresta, marcha
carnavalesca
19 158
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53
Figura 4. Exemplo de como as buscas de gravações são realizadas no acervo SophiA Biblioteca do IMS
O passo a passo da consulta foi o seguinte: 1) acessar a página; 2) selecionar o
campo "intérprete"; 3) escrever o seu nome no espaço em branco ao lado; 4) selecionar a
opção "música"; 5) escolher "José Ramos Tinhorão" no campo dos acervos; 6) registrar as
informações na gravação selecionada e 7) realizar as audições do maior número possível
de gravações de cada intérprete nas décadas aqui analisadas. Por fim, as canções desse
acervo que se encontram também na série A Canção no Tempo estão disponíveis para
download, entretanto, não há a possibilidade de baixar as que não fazem parte dessa série
cronológica, dessa forma, grande parte da audição das canções foi realizada online52
.
2.2.5. Transcrição e codificação dos dados
Para a transcrição fonética dos róticos, foi utilizado o Alfabeto Fonético
Internacional53
. Quando havia dúvida em relação à pronúncia, o dado era também ouvido
por outras duas pessoas treinadas em transcrição fonética, professoras da Faculdade de
Letras da UFRJ, a fim de aferir a consistência da anotação realizada. Em todos os casos em
que não havia condições acústicas apropriadas para a determinação da variante fonética
realizada pelo intérprete, os dados foram descartados. Essa dificuldade se deu,
52 Houve tentativas de obter as gravações a fim de analisar os sons do tipo R em um programa computacional
de análise acústica (Praat – BOERSMA & WEENINK, 2011), mas todas sem sucesso, pois o IMS não
forneceu as gravações. 53 http://web.uvic.ca/ling/resources/ipa/charts/IPAlab/IPAlab.htm.
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54
principalmente, por conta de algum ruído interveniente ou por conta da gravação estar com
volume muito baixo.
A transcrição das realizações do segmento em questão foi realizada ao final da
palavra, como mostra a letra da canção "Ontem ao luar" gravada por Vicente Celestino:
Se tu desejas sabe[] o que é o amo[r] e senti[]
O seu calo[] o amaríssimo travo[r] do seu dulço[]
Sobe o monte a beira ma[] ao lua[]
Ouve a onda sobre a areia lacrima[]
Ouve o silêncio a fala[r] na solidão do calado coração
A pena[] e a derrama[] os prantos seus
Ouve o choro perenal, a do[] silente universal
E a do[r] maio[r] que é a do[r] de Deus
Após transcrever os 2.858 dados entre 1902 e 1940, além dos 394 dados de Vicente
Celestino entre 1940 e 1960, foram criados os arquivos de codificação (cf. anexo 1) no
programa computacional Microsoft Office Word 2007, segundo a metodologia de pesquisa
variacionista. O processamento dos dados foi feito com o pacote de programas GoldVarb
2001. Essa programa fornece informações, tais como: 1) o índice de aplicação da regra
variável; 2) a frequência, os valores percentuais e os pesos relativos das variantes; 3) os
casos categóricos e semicategóricos; 4) as variáveis linguísticas e extralinguísticas atuantes
para a aplicação da regra do fenômeno em estudo em ordem de seleção – do mais atuante
ao menos atuante; e 5) as variáveis não significativas para a análise, aquelas descartadas
pela melhor rodada. Por fim, os grupos de fatores escolhidos para a análise são elencados
na seção a seguir.
2.2.6. Os grupos de fatores
Primeiramente, é necessário delimitar a variável linguística para estudo. Segundo
Labov (2008, p. 97), um fenômeno pode ser considerado variável quando oferece "meios
alternativos de se dizer ‘a mesma coisa’ disponíveis a todos os membros da comunidade de
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55
fala". A variação pode ocorrer em qualquer nível da gramática e, nesta pesquisa, o
fenômeno a ser investigado ocorre no nível fonético-fonológico.
O procedimento, após a definição da variável linguística dependente, é a
delimitação das variantes possíveis. No presente caso, há, em posição de coda silábica
final, um processo de neutralização que desfaz a oposição distintiva existente entre os
róticos na posição intervocálica – /r/ forte e /r/ fraco. Desta forma, o rótico é a variável
linguística considerada dependente, condicionada por fatores linguísticos e sociais, e estes
– chamados independentes – são os que controlam a sua realização, porque não têm seu
funcionamento condicionado por nenhuma regra.
Antes da recolha dos dados, previa-se que a ocorrência de maior frequência do
rótico fosse a vibrante, seja simples ou múltipla. Não houve ocorrência da vibrante uvular
– realização com a articulação posterior – no contexto silábico aqui analisado, porém foi
observada, assistematicamente, a sua ocorrência em contexto intervocálico. Além das
vibrantes anteriores, simples e múltipla, quatro outras variantes ocorreram nos dados
coletados para esta pesquisa, a fricativa velar, a fricativa glotal (aspirada), o zero fonético e
a aproximante labial. Em outras palavras, ao haver uma pronúncia do rótico, se for
vibrante, será anterior, e, sendo posterior, será fricativa. Os exemplos a seguir ilustram
cada uma dessas variantes encontradas.
A realização da vibrante múltipla anterior, considerada a variante de prestígio no
meio musical, se dá por pequenas vibrações resultantes das oclusões ocasionadas por
repetidos toques da ponta da língua em direção à região alveolar. O trecho abaixo traz
como exemplo dois vocábulos em que houve, ao final da palavra, a pronúncia do R
vibrante múltiplo anterior.
(1) Santificando a minha do[r]
No ilumina[r] dos olhos teus.
("Do sorriso das mulheres nasceram as flores", tango-brasileiro gravado por Vicente
Celestino entre 1921 e 1924, letra de Eduardo Souto).
O tepe ou vibrante anterior simples ocorre quando a ponta da língua toca uma única
vez na região alveolar, ocasionando uma breve obstrução da passagem da corrente de ar na
cavidade oral. No exemplo (2), ocorreu esse tipo de realização do rótico.
(2) Deus, que vive[], que praze[]
Nesta vida que eu teço sem dor[].
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56
("Os Boêmios", tango-brasileiro gravado por Mário Pinheiro entre 1902 e 1905,
letra de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense).
As pronúncias fricativas, nomeadamente velar e glotal, ocorrem raramente no
corpus. Aquela é produzida a partir de uma fricção na zona do véu palatino; esta, por uma
fricção na zona da laringe. A seguir, há exemplos dessas duas variantes realizadas por
Francisco Alves, em (3) e (4), respectivamente.
(3) Não tens razão
Meu doce amor
Vive[x] cismando.
("Não Sou Baú", samba gravado por Francisco Alves em 1929, letra de Sinhô).
(4) Eu ouço fala[h] que para nosso bem
Jesus já designou que seu Julinho é quem vem.
("Eu ouço falar", samba gravado pro Francisco Alves em 1929, letra de Sinhô).
Há o zero fonético, ausência de qualquer realização do segmento. Nesse caso,
ocorre uma simplificação fonológica, ou seja, uma sílaba travada por uma consoante
(CVC) passa a ter uma estrutura mais simples (CV). Abaixo, há um trecho de uma das
canções em que ocorre esse fenômeno.
(5) Senhores, escutem o que eu vou conta[Ø]
Fui no samba do Maneco convidado pra toca[Ø].
("Balaco-baco", samba gravado por Silvio Caldas em 1930, letra de Rogério
Guimarães).
Por fim, há o único caso de realização de uma aproximante labial no corpus, que
ocorre quando a passagem de ar na cavidade oral é obstruída, porém não o suficiente para
ser uma consoante.
(6) Meu terno branco parece casca de alho,
Foi a deixa dum cadáve[w], de acidente do trabalho.
("Cabide de Mulambo", samba gravado por Patrício Teixeira em 1932, letra de
João da Baiana).
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57
Nesse grande grupo, inserem-se as variáveis independentes que correspondem aos
fatores extralinguísticos e as que pertencem ao nível estrutural, dentre os quais, procuram-
se aquelas que mais propiciam a variação dos róticos em coda silábica final nas produções
musicais. Foram selecionadas, mais especificamente, nove variáveis independentes, sendo
seis de natureza linguística e três de natureza extralinguística. Essa seleção foi feita com
base em pesquisas anteriores sobre o comportamento dos róticos nesse contexto silábico e
em pressupostos gerados a partir do corpus constituído.
Primeiramente, serão elencados os grupos de fatores extralinguísticos54
: década,
gênero musical e intérprete.
a) Década
Período de aproximadamente dez anos foram inseridos para compor o quadro de
variantes independentes, visto que o tempo – seja de curta seja de longa duração – tem
demonstrado relevância em resultados de trabalhos que têm por objetivo investigar o
comportamento variável do rótico. Em outras palavras, para verificar a variação/mudança
de alguma pronúncia, segmentar o corpus em intervalos de tempo é essencial. Foram
agrupadas produções musicais em curtos intervalos de tempo, entre 1902 e 1910, entre
1911 e 1920, entre 1921 e 1930, e, por fim, entre 1931 e 1940, havendo, assim, uma
sequência de tempo de aproximadamente quarenta anos. Vale comentar que, na primeira
década, observa-se que é iniciada em 1902, pois as gravações de discos nos dois primeiros
anos – 1900 e 1901 – não sobreviveram até os dias de hoje. Além disso, como já
mencionado, as gravações de Vicente Celestino foram analisadas até 1960.
Acredita-se que a variante de prestígio, a vibrante anterior múltipla, e a variante que
não era estigmatizada, o tepe, diminuam sua frequência com o passar das décadas devido à
propagação de gêneros musicais mais populares e, com isso, surjam e talvez predominem
variantes mais inovadoras, fricativas e zero fonético, nas décadas finais da sequência
temporal em análise.
b) Gênero musical
Os gêneros musicais são categorias as quais compartilham elementos que definem o
estilo de uma produção musical, a fim de alcançar um público-alvo específico. Ao realizar
54 O grupo de fatores faixa etária tem revelado grande relevância na variação e mudança de distintos
fenômenos fonético-fonológicos. Entretanto, como foi mencionado, verificar o papel desempenhado pela
idade do indivíduo, a partir deste corpus, não é uma tarefa trivial.
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58
as audições, observou-se, assistematicamente, que o comportamento do rótico, em posição
de coda silábica final, poderia variar de acordo com o gênero musical/público-alvo de
determinada gravação. Em outras palavras, havia predominância de certas realizações do
segmento em questão a depender do gênero musical em que determinada composição foi
gravada. Como, por exemplo, há o elevado índice de apagamento do rótico em sambas; por
outro lado, percebeu-se uma frequência menor desse processo em valsas e tangos.
Além disso, o mesmo intérprete realizava certa pronúncia em um gênero musical,
mas deixava de realizar em outros. Vicente Celestino, por exemplo, suprimia o rótico final
em um gênero musical denominado toada, no entanto, esse cancelamento não acontecia no
restante de sua discografia musical. A partir dessas observações, decidiu-se verificar,
sistematicamente, o gênero musical como um grupo de fatores condicionante para o
comportamento variável do rótico, seja para influenciar a regra de apagamento ou motivar
as realizações mais prestigiadas.
As canções aqui utilizadas foram gravadas em diversificados gêneros musicais,
demonstrando que, já no início do século XX, havia uma grande pluralidade de estilos, tais
como valsa, tango-brasileiro, maxixe, samba, marcha carnavalesca, toada, canção,
modinha, hino, cançoneta, lundu, polca, seresta, bolero, barcarola, embolada, entre muitos
outros. Revelavam-se os diversos elementos que compõem um gênero musical, à medida
que eram realizadas as audições, como os seguintes: 1) determinados instrumentos
musicais que fazem parte de um estilo, mas deixam de fazer em outros; 2) a temática da
canção, tais como amor, sertaneja, pátria, entre outros temas; 3) o objetivo da canção,
como o humor, prelúdio, dança, crítica social, entre outros fins; e 4) a estrutura da letra, ou
seja, em alguns gêneros musicais, tais como samba e marcha carnavalesca, há repetição de
refrão, algo que não ocorre em uma valsa, por exemplo.
Cabe ressaltar que os gêneros musicais foram definidos como grupo de fatores a
partir das informações fornecidas pelo dicionário Cravo Albim da música popular
brasileira sobre os elementos que os estruturam e os definem. A seguir, serão apresentadas
algumas informações sobre cada um dos dezesseis gêneros musicais (valsa, tango-
brasileiro, maxixe, samba, marcha carnavalesca, canção sertaneja, canção, modinha, hino,
bolero, cançoneta, lundu, polca, seresta, barcarola, embolada) das gravações selecionadas
para este estudo, com base no dicionário supracitado.
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59
Quanto à valsa55
, esta tem origem europeia e tornou-se conhecida por meio de
Sigismundo Neukomm56
no Congresso de Viena e, posteriormente, nos bailes realizados
pela alta sociedade da época. Em 1816, esse músico veio para o Brasil, onde foi professor
de harmonia e composição do futuro Imperador D. Pedro I; sendo assim, as primeiras
composições brasileiras tiveram por autor o Príncipe.
O tango-brasileiro57
foi apontado por estudiosos como uma variante estilizada do
maxixe, que veio para a música brasileira por meio das composições de Ernesto Nazareth.
No entanto, até usar tal denominação, muitos tangos já haviam sido impressos como outros
gêneros musicais. Musicalmente, na sua raiz, encontram-se elementos da "habanera58
", que
foi introduzida no Brasil pelas companhias de teatro musicado. Além disso, no tango-
brasileiro, incorporaram-se influências de outros gêneros, tais como a polca e o lundu.
O maxixe59
é uma dança urbana, com uma coreografia cheia de movimentos e
requebrados, surgida na cidade do Rio de Janeiro por volta de 1870. Esse gênero musical
teve o seu caráter popular ligado às classes mais baixas da sociedade carioca da época.
Além disso, esse nome era usado para designar coisas de pouco valor.
Quanto ao samba60
, foi um gênero musical nascido nos morros da mesma cidade, a
partir de 1850. Muitas baianas descendentes de escravos alojaram-se nesses locais e uma
delas, a Tia Aciata, principal responsável pelo início do samba carioca. Ao longo dos anos,
esse gênero tem-se apresentado com muitas variantes rítmicas61
, dentre elas: samba-de-
breque, samba-enredo, samba-de-quadra, samba-canção, samba-de-partido-alto, samba de
gafieira, entre outros. Todavia, no início do século XX, o samba definitivamente não era
bem visto pela sociedade, como diz a música de Janet Silva e Haroldo Barbosa “música
barata sem nenhum valor”. Por fim, neste ano, esse gênero musical completa 100 anos de
gravação, visto que "Pelo Telefone", composição de Donga, é considerado o primeiro
samba gravado no ano de 1916.
A marcha carnavalesca62
é caracterizada pelo compasso binário a qual se
popularizou nos blocos de rua da cidade do Rio de Janeiro, seguindo um padrão:
55 http://www.dicionariompb.com.br/valsa/dados-artisticos. 56 Para mais informação sobre Neukomm, acesse a seguinte página: http://www.musicabrasilis.org.br/pt-
br/temas/neukomm-no-brasil. 57 http://www.dicionariompb.com.br/tango-brasileiro/dados-artisticos. 58 Segundo o Priberam Dicionário, habanera é uma "dança originária de Havana (Cuba), a 2/4 e cujo primeiro
tempo é fortemente acentuado" – disponível na seguinte página: http://www.priberam.pt/DLPO/habanera. 59 http://www.dicionariompb.com.br/maxixe/dados-artisticos. 60 http://www.dicionariompb.com.br/samba/dados-artisticos. 61
Para esta pesquisa, optou-se em agrupar essas variantes em apenas samba. 62 http://www.dicionariompb.com.br/marcha-carnavalesca/dados-artisticos.
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60
introdução instrumental e estrofe-refrão. A primeira marcha escrita especialmente para o
carnaval foi "O abre alas", por Chiquinha Gonzaga, que venceu até o concurso. Esse
gênero musical afirmou-se definitivamente a partir da década de 1920, desenvolvendo-se
como gênero característico da classe média carioca, com letras divertidas ou com sátiras
políticas e sociais.
A toada possui composições que trazem um linguajar caipira. Não há informação
sobre esse gênero musical no dicionário aqui utilizado como base, porém se observa que há
um acompanhamento de piano e flauta apenas, e sua letra, em geral, retrata o contexto
social do homem da roça. Entre as várias composições caipiras que compõem esse corpus,
está o clássico "Ideal de Caboclo" de Cornélio Pires.
A canção foi um gênero musical bastante gravado por todo o período aqui
analisado, principalmente por Mário Pinheiro e Vicente Celestino, porém não há
informação alguma sobre esse gênero no dicionário aqui usado como fonte. Com base nas
letras e nas audições, percebe-se que quase sempre apresenta uma estrutura bem definida,
com poesias e temática romântica, e tem acompanhamento de flauta e piano. Dentre as
inúmeras canções gravadas naquele período há uma bastante conhecida, "Ontem ao Luar",
letra de Catulo da Paixão Cearense, que foi regravada diversas vezes nas décadas de 1960 e
1970 e, mais recentemente, por Marisa Monte.
A modinha63
foi um canto urbano de salão, de caráter lírico, que, ao chegar ao
povo, adotou os mesmos ritmos coreográficos de outros gêneros musicais, como os da
valsa e do xote. Os musicólogos ainda discutem, sem chegar a resultados conclusivos, se a
modinha nasceu em Portugal ou no Brasil como também se é de origem popular ou erudita.
O hino é uma marcha de fetio militar. Não há informação sobre esse gênero musical
no dicionário aqui utilizado, todavia observa-se, por meio das composições analisadas, que
há uma exaltação pátria não só ao Brasil como um todo, mas também a cidades e estados
brasileiros. Dessa forma, observa-se que, pelo menos nessa amostra de canções, o hino não
está relacionado ao cântico religioso, como o nome poderia sugerir.
O bolero64
combina raízes espanholas com influências locais de vários países
hispano-americanos. É de origem cubana, porém tornou-se mais conhecido como canção
romântica mexicana. Além disso, esse gênero musical foi de grande influência para
o samba-canção no Brasil.
63
http://www.dicionariompb.com.br/modinha/dados-artisticos. 64 http://www.dicionariompb.com.br/bolero/dados-artisticos.
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61
A cançoneta é canção ligeira. Não há também a sua definição no Dicionário Cravo
Albin, porém é possível comentar que as letras possuem um tom bem-humorado e, na
maioria das vezes, satírico, contendo duplo sentido. Além disso, há uma grande quantidade
de cançonetas gravadas por mulheres no início do século XX, principalmente as de duplo
sentido.
O lundu65
tem origem africana e foi introduzido no Brasil, provavelmente, por
escravos de Angola. Um traço característico desse gênero musical seria o acompanhamento
do som marcado por palmas, em um canto de estrofe-refrão típico da cultura africana. A
primeira produção musical gravada no Brasil foi um lundu, "Isto é bom" de Xisto Bahia.
Além do mais, muitos críticos acreditam que o lundu tenha originado o samba.
A polca66
era dançada em salão com compasso binário, originária da Boêmia.
Chegou ao Brasil em 1845, quando foi mostrada pela primeira vez no teatro São Pedro67
,
no Rio de Janeiro, pelos casais Felipe e Carolina Catton e de Vecchi e Farina. O sucesso da
apresentação foi tão grande que, três dias depois, o primeiro casal abriu um curso de polca
na mesma cidade.
A seresta68
é o mesmo que serenata e com a mesma formação instrumental de um
choro. Esse gênero musical foi a alegria das gerações passadas, pois as serestas eram
realizadas nas ruas, porém, hoje em dia, como muitos gêneros daquela época, está em
decadência nos bairros mais centrais do Rio de Janeiro.
A barcarola69
é uma composição poética bem estruturada, assim como a valsa e a
canção. Além disso, apresenta uma marca folclórica.
A embolada70
é um gênero musical que teve origem no Nordeste brasileiro. Suas
características principais incluem uma melodia declamatória rápida e em intervalos curtos.
A letra tem uma estrutura simples quanto ao número e disposição dos versos em relação à
valsa, por exemplo. Há um estribilho o qual é repetido pelo intérprete e, às vezes, por
vários outros cantores, enquanto aquele improvisa a letra, que geralmente é cômica ou
satírica.
A hipótese inicial em relação aos gêneros musicais é a de que as pronúncias
inovadoras do rótico comecem a se difundir pelas gravações de raízes mais populares,
65 http://www.dicionariompb.com.br/lundu/dados-artisticos. 66 http://www.dicionariompb.com.br/polca/dados-artisticos. 67 Atualmente, é o teatro João Caetano, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro. 68 http://www.dicionariompb.com.br/seresta/dados-artisticos. 69
http://www.dicionariompb.com.br/barcarola/dados-artisticos. 70 http://www.dicionariompb.com.br/embolada/dados-artisticos.
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62
peculiares da música brasileira. Por outro lado, as realizações mais prestigiosas apareciam
nas produções com gêneros musicais de origem mais nobre, as que tinham um público-alvo
mais restrito. Essa é uma hipótese menos robusta, visto que não há um conhecimento
aprofundado dos gêneros musicais daquela época, além de não se poder garantir com
segurança qual era o estilo e o público-alvo de alguns gêneros. Dessa forma, a partir dos
resultados aqui obtidos, ter-se-á um pontapé inicial para futuros estudos que relacionem o
comportamento do rótico a essa variável.
c) Intérprete
Optou-se por averiguar o comportamento do rótico a depender do intérprete, pois
havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na
música, tanto de vogais quanto de consoantes. Desse modo, será verificado se os nove
intérpretes apresentados na seção 2.2.1 seguiam as normas de canto ou se haveria
diferentes escolhas de pronúncia do rótico feitas por eles.
Uns são reconhecidos pelo estilo mais romântico, como Vicente Celestino, e outros
pelo estilo mais boêmio, como Noel Rosa. A hipótese é a de que, mesmo havendo normas
para o canto naquela época, os intérpretes se diferenciavam, pois tinham estilos distintos,
os quais os caracterizaram como artistas únicos. Com isso, acredita-se, que poderiam até se
afastar das normas, assumindo na música características próprias da sua fala ou para se
adequar ao gênero musical da gravação, como os casos de toada.
Com relação aos grupos de fatores linguísticos, foram selecionados aqueles que têm
apresentado resultados relevantes em estudos que investigam o comportamento variável do
rótico em contexto de coda silábica final, principalmente a supressão total do segmento em
questão, em dados de fala espontânea. Espera-se que os mesmos fatores que atuam no
comportamento variável do rótico final na fala espontânea exerçam papel importante
também na variabilidade do segmento na fala cantada. Desse modo, serão elencados os
seguintes grupos de fatores linguísticos: classe gramatical do vocábulo, número de sílabas
do vocábulo, vogal antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente e tonicidade
da sílaba.
a) Classe gramatical do vocábulo
É comum, nos estudos sociolinguísticos com base em corpora de fala espontânea,
verificar o condicionamento da classe morfológica do vocábulo para a supressão do rótico
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63
final. Inúmeros trabalhos (CALLOU, 1987; CALLOU et alii, 1996; MELO, 2009;
MONARETTO, 2010; CALLOU & SERRA, 2012, SERRA & CALLOU, 2013)
confirmam a hipótese de que verbos no infinitivo impessoal favorecem o apagamento do
segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes tendem a ser canceladas, ou
seja, há o apagamento da marca morfossintática, o fonema /r/ de infinitivo (saber) ou de
subjuntivo (souber), restando apenas a marca prosódica, o acento (CALLOU, 1987).
Para esta dissertação, as classes morfológicas verificadas foram as seguintes: verbo
no infinitivo (querer), verbo flexionado (quer, quiser), substantivo, adjetivo, advérbio,
pronome e preposição. Em seguida, essas classes foram agrupadas em duas: verbos e não
verbos, pois houve casos categóricos nessas quatro últimas classes. Resultados de
pesquisas com base em fala espontânea têm revelado que a melhor decisão metodológica
para investigar o comportamento variável do rótico final é dividir as classes morfológicas
nesses dois grupos.
Como resultados dessas pesquisas têm evidenciado que o apagamento do rótico é
muito mais elevado em verbos do que em não verbos, outro procedimento metodológico
será adotado neste estudo: reunir verbos e não verbos em distintos arquivos, a fim de
realizar rodadas separadas. Por fim, a hipótese é a de que o verbo no infinito, que tende a
favorecer o apagamento do rótico em dados da fala espontânea, atue da mesma forma na
fala cantada.
b) Número de sílabas do vocábulo
A codificação prevê quatro tipos de vocábulos quanto ao número de sílabas: uma
sílaba (monossílabos), duas sílabas (dissílabos), três sílabas (trissílabos) e quatro sílabas ou
mais (polissílabos). Há o intuito de verificar até que ponto a extensão do vocábulo permite
conservar ou não um segmento fônico que termina a palavra, seguindo a hipótese de que
quanto maior o número de sílabas, maior a possibilidade de apagamento do rótico final.
Essa hipótese tem sido testada e confirmada em trabalhos anteriores de cunho variacionista
com base em corpora de fala espontânea (CALLOU, 1987; MELO, 2009; CALLOU &
SERRA, 2012; FARIAS & OLIVEIRA, 2013, dentre outros), que apontam a menor
ocorrência de apagamento do <r> final em vocábulos monossílabos devido à saliência
fônica71
; por outro lado, maior índice do fenômeno em vocábulos mais extensos. Em outras
71
O princípio da saliência fônica tem a seguinte explicação: "as formas mais salientes, e por isto mais
perceptíveis, são mais prováveis de serem marcadas do que as menos salientes" (SCHERRE, 1992, p. 301).
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
64
palavras, seria mais comum o falante cancelar tal segmento em um vocábulo como
"condicionador" do que em "dor", pois há mais massa fônica.
c) Vogal antecedente
Listam-se os sete segmentos vocálicos que precedem o rótico, ou seja, são o núcleo
da sílaba da qual faz parte o segmento em coda, organizados a seguir segundo altura e
localização articulatória, [i e a o u ]. Resultados de trabalhos anteriores, como os de
Callou (1987), Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009), apontam que há maior
probabilidade de aplicação da regra de apagamento quando o contexto fonológico
antecedente é vogal não arredondada, isto é, [i e a]. Portanto, para esta dissertação,
presume-se que, da mesma forma, esse traço vocálico possa condicionar o processo não
apenas de apagamento, mas também de fricatização do rótico.
d) Contexto subsequente
Foram verificados três contextos seguintes ao rótico: vogal, pausa e consoante.
Quando o contexto subsequente é o de vogal inicial da palavra seguinte, pode haver uma
ressilabação, como em mar mar azul (ma - ra - zul), dessa forma, o segmento
concretiza-se como tepe. Pode também haver, todavia, o cancelamento do rótico nesse
contexto, como é regularmente observado na fala espontânea nos dias de hoje.
Em Callou (1987), quando o contexto subsequente é a pausa, há um alto índice de
cancelamento (peso relativo de .67), embora, nos outros dois contextos, vogal e consoante,
a regra se aplique, visto que obtiveram a probabilidade um pouco maior que .50. Todavia,
trabalhos mais recentes como os de Callou & Serra (2012) apontam a pausa como
desfavorecedora do processo em questão.
Por conseguinte, a hipótese inicial é a de que o cancelamento seria, naquela época,
inibido pela presença de vogal no contexto subsequente, uma vez que se trata de um
período distante dos dias atuais em que o processo em questão se encontra em franca
atuação, além da música possuir maior grau de monitoramento. Além disso, por outro lado,
acredita-se, como nos resultados de Callou (1987), que o contexto de pausa seja mais
favorecedor para o processo de cancelamento.
e) Consoante subsequente
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
65
Essa variável contempla todos os segmentos consonânticos que podem estar à
direita do rótico final de palavra, ou seja, as consoantes iniciais do vocábulo seguinte,
como mostra o quadro abaixo.
[m] [n] [p]
[b] [t] [d]
[k] [g] [f]
[v] [s] [z]
[] [] [l]
/ (não se aplica para os casos em que o contexto subsequente é de vogal ou de pausa)
Quadro 3. Consoantes subsequentes ao rótico
Observa-se que os róticos não foram incluídos na codificação. Quando a palavra é
iniciada por <r>, há uma assimilação total com o rótico final. Tal fato ocorre no verso do
lundu "Iazinha" gravado por Eduardo das Neves, "Por revirar dos dedinhos" (po[r]evirar),
dentre outros. Por fim, como em Melo (2009), parte-se da hipótese de que as consoantes
[+anteriores] – labiais e alveolares – inibem a aplicação da regra, enquanto as demais
favorecem o apagamento por conta de haver a possibilidade de assimilação no caso em que
a consoante em coda e a consoante em ataque compartilham o traço [-anterior].
f) Tonicidade da sílaba
Ao separar os dados em verbos e não verbos, após as rodadas iniciais, cabe levar
em conta a relevância da sílaba tônica dos não verbos: oxítono e paroxítono, pois os verbos
são sempre oxítonos. Em geral, os casos de rótico final retratam aquilo que se observa no
sistema: a sua baixa produtividade em sílabas átonas. Com isso, espera-se que, em sílabas
tônicas, o segmento se mostre mais sensível à regra de cancelamento.
As autoras Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009) investigam a tonicidade
da sílaba – tônica ou átona – em seus dados. Nos resultados daquele primeiro trabalho, essa
variável mostrou-se relevante em ambas as variedades – PB e PE – como era esperado
pelas autoras. Assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais sensível ao cancelamento,
obviamente porque esse segmento pertence à sílaba tônica de verbos no infinitivo. Nos
resultados do segundo trabalho, essa também se mostrou uma variável relevante.
Por outro lado, em sua tese, Callou (1987, p. 140), ao analisar tal grupo de fatores,
observou que "as variáveis tonicidade e classe morfológica devem ser analisadas
conjuntamente, pois não podemos esquecer que as formas que apresentam um /R/ em
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
66
sílaba átona são sempre não verbais". Dessa forma, nesta dissertação, haverá a mesma
escolha metodológica desta última autora, ou seja, a tonicidade da sílaba será analisada
apenas em não verbos – adjetivo, advérbio, substantivo, pronome e preposição. Por fim, a
hipótese é a de que ocorram, em maior índice, as vibrantes e as fricativas quando o rótico
se encontra em sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por Brustolin (2008).
Vejamos, no capítulo a seguir, a apresentação dos resultados como também a
discussão.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
67
3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
"Tornei-me um ébrio e na bebida busco
esquecer
Aquela ingrata que eu amava e que me
abandonou.
Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer.
Não tenho lar e nem parentes, tudo
terminou..."
(O ébrio por Vicente Celestino/ 1936)
Terminadas as codificações, obteve-se o total de 2858 dados entre 1902 e 194072,
distribuídos em seis variantes. O tepe aparece como a variante preferencial, que atinge o índice
de 68,3%, a vibrante múltipla anterior e o zero fonético atingem o percentual de 14,9% e
15,5%, respectivamente. As fricativas têm um percentual quase inexpressivo, a velar com 0,1%
e a glotal com 1,2%, como é apresentado no gráfico a seguir.
Gráfico 1. Percentuais referentes à variação do rótico em contexto de coda silábica final - 2858 dados
Observa-se que 1) a norma de uso na fala cantada desses nove intérpretes, na
verdade, é o tepe; 2) há um percentual um pouco maior de ocorrência do zero fonético do
que da vibrante múltipla anterior, a variante de prestígio dos meios de comunicação da
época; 3) fricativas, nomeadamente velar e glotal, não eram variantes muito utilizadas
72 O restante dos dados, a partir de gravações de Vicente Celestino, até 1960, serão analisados à parte.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
68
pelos intérpretes, pois obtiveram um percentual quase nulo; 4) e em um único dado,
ocorreu a aproximante labial, [w], que parece ter sido realizada de forma proposital.
Após essa apresentação da distribuição geral das variantes, é preciso organizar o
modo como a análise será exposta neste capítulo. Haverá duas etapas: a primeira
contempla a distribuição das variantes, em termos absolutos de frequência e percentual de
uso; na segunda etapa, as seis variantes foram reunidas em dois grupos – realização versus
não realização do rótico –, ou seja, vibrantes, fricativas e o único caso de aproximante
labial foram reunidos em oposição ao zero fonético, com o intuito de realizar uma rodada
binária e aferir o peso relativo de atuação de cada variável, tendo em vista mais
propriamente o processo de apagamento. Em ambas as etapas, os dados de verbos e não
verbos foram rodados separadamente e, na etapa dois, os resultados serão apresentados por
ordem de seleção do programa estático aqui utilizado. Por fim, será verificada a pronúncia
do rótico final nas gravações musicais de Vicente Celestino entre 1915 e 1960 e a partir de
uma entrevista concedida à Rádio Bandeirantes, em 1964.
3.1. Distribuição geral das variantes
A princípio, os dados de verbos e não verbos foram organizados em um único
arquivo para, então, realizar as rodadas no programa estatístico. A partir dos resultados da
tabela abaixo, optou-se por uma mudança metodológica: separar verbos de não verbos em
arquivos diferentes. Essa prática é muito comum em trabalhos que têm por o objeto de
estudo o rótico em coda final, pois análises de fala espontânea têm demonstrado que o
fenômeno atua de forma diferente a depender da classe gramatical.
Variantes
Classe gramatical [] [r] [x] [h] Ø [w] Total
Verbo infinitivo 1064
65,7%
158
9,8%
4
0,2%
25
1,5%
368
22,7%
. 1619
100%
Verbo
não infinitivo73
18
69,2%
2
7,7%
. . 6
23,1%
. 26
100%
Substantivo 796
72,2%
231
21%
. 10
0,9%
64
5,8%
1
0,1%
1102
100%
Advérbio 4
100%
. . . . . 4
100%
Adjetivo 25
71,4%
6
17,1%
. . 4
11,4%
. 35
100%
73 Por exemplo: souber, quer.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
69
Preposição 39
61,9%
24
38,1%
. . . . 63
100%
Pronome 7
77,8%
1
11,1%
. .
1
11,1%
. 9
100%
Total 1953
68,3%
422
14,8%
4
0,1%
35
1,2%
443
15,5%
1
.
2858
100%
Tabela 1. Distribuição das variantes de acordo com a classe gramatical
Observa-se, a partir desses resultados, que 1) há casos categóricos em todos os
fatores; 2) há um número parco de dados de advérbio, adjetivo, preposição e pronome; 3)
quanto ao apagamento, os verbos somam percentuais que chegam a passar da metade do
total de dados. Dessa forma, esses foram os motivos para tal decisão metodológica ser
tomada.
3.1.1. Verbos e não verbos
Callou (1987), em sua tese, discute a questão de o apagamento do rótico ocorrer
mais frequentemente em verbos do que em não verbos. Inúmeros estudos subsequentes
sobre o comportamento variável da realização do segmento em coda final comprovaram
que a característica morfossintática afeta a distribuição das variantes, sendo o índice de Ø
mais alto quando representa a marca de infinitivo. Nos dados desta dissertação, a
distribuição das variantes em verbos e em não verbos foi a seguinte:
Gráfico 2. Percentuais referentes à variação do rótico Gráfico 3. Percentuais referentes à variação do rótico
em coda silábica final em verbos – 1645 dados em coda silábica final em não verbos – 1213 dados
Observa-se que 1) a variante de prestígio tem percentual mais elevado em não
verbos, 21,8% contra 9,7% em verbos; 2) o tepe tem um índice elevado em ambos os
gráficos, não importa a classe gramatical; 3) a fricativa velar só ocorre em verbos; 4)
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
70
enquanto a aproximante labial, apenas um dado em não verbos; 5) a fricativa glotal teve
um percentual inexpressivo em ambos os gráficos, porém um pouco mais elevado nos
verbos e 6) o zero fonético teve um percentual superior em verbos, 22,7% contra 5,7%, em
não verbos.
Foram realizadas, portanto, rodadas levando em conta a classe gramatical dos
vocábulos e, com isso, os resultados da frequência e do percentual das variantes serão
apresentados, separadamente, em cada grupo de fatores, década, gênero musical, intérprete,
número de sílabas, vogal antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente,
tonicidade da sílaba, comparando verbos (infinitivo e não infinitivo) e não verbos
(substantivo, advérbio, adjetivo, preposição e pronome), apenas, na segunda etapa, haverá
a apresentação das variáveis por ordem de seleção.
a) Década
Optou-se em analisar o comportamento do rótico em curtos intervalos de tempo,
década, como mostra a tabela abaixo.
Variantes
Década [] [r] [x] [h] Ø Total
1902 - 1910 226
84,6%
25
9,4%
. 1
0,4%
15
5,6%
267
100%
1911 - 1920 239
71,3%
50
14,9%
. 11
3,3%
35
10,4%
335
100%
1921 - 1930 235
51,5%
12
2,6%
1
0,2%
11
2,4%
197
43,2%
456
100%
1931 - 1940 382
65,1%
73
12,4%
3
0,5%
2
0,3%
127
21,6%
587
100%
Total 1082
65,8%
160
9,7%
4
0,2%
25
1,5%
374
22,7%
1645
100%
Tabela 2. Distribuição das variantes por década em verbos – 1645 dados
Observa-se que 1) o tepe teve uma queda no percentual com o passar do tempo,
apesar de se manter a variante mais utilizada; 2) a vibrante anterior múltipla teve um
percentual baixo, principalmente entre 1921 e 1930; 3) a fricativa velar só apresentou
percentual nas duas últimas décadas; 4) a fricativa glotal, por outro lado, ocorreu em todas
as décadas e 5) o zero fonético apresentou um aumento década após década, porém teve
um decréscimo na última em relação à década anterior.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
71
Percebe-se que entre 1921 e 1930, houve uma queda de realização das vibrantes
(simples e múltipla) e, ao mesmo tempo, um aumento no percentual do zero fonético. Tal
fato pode estar relacionado à introdução de novos gêneros musicais considerados
manifestações populares, que ganharam popularidade a partir da década de 1920, como o
samba e a marchinha carnavalesca, e à entrada de intérpretes de voz pequena, já que o
novo sistema de gravação os favorecia. Todavia, entre 1931 e 1940, o percentual do zero
fonético decresce, e os das vibrantes aumentam. Uma possível explicação para esse fato
seria que esse mesmo período foi marcado pela maior preocupação em relação às normas
de pronúncia, havendo até um congresso que propunha abolir a zero fonético e fricativas e
que reforçava o uso da vibrante como pronúncia padronizada. Mesmo que esse congresso
tivesse como foco as normas de pronúncia para o canto erudito, pode ter influenciado a
música popular também.
Quanto aos não verbos, percebe-se, na Tabela 3, que 1) o tepe se manteve num
percentual estável com passar do tempo, diferentemente dos verbos; 2) a vibrante anterior
múltipla teve um percentual um pouco maior do que nos verbos, em todas as décadas,
principalmente entre 1921 e 1930; 3) a fricativa glotal ocorreu nas três primeiras décadas;
4) o único dado de aproximante labial ocorreu no último período da análise e 5) o zero
fonético apresentou um percentual inferior ao de verbos em todas as décadas, confirmando
mais uma vez o comportamento diferenciado do cancelamento do segmento a depender da
classe gramatical.
Tabela 3. Distribuição das variantes a depender da década em não verbos – 1213 dados
Observa-se que, assim como nos verbos, o período entre 1921 3 1930 obteve um
percentual mais elevado de apagamento do rótico. Por fim, acreditava-se que a variante de
Variantes
Década [] [r] [h] [w] Ø Total
1902 - 1910 197
72,2%
68
24,9%
2
0,7%
. 6
2,2%
273
100%
1911 - 1920 172
72,9%
56
23,7%
4
1.7%
. 4
1,7%
236
100%
1921 - 1930 250
77,2%
41
12,7%
3
0,9%
. 30
9,3%
324
100%
1931 - 1940 251
66,1%
110
28,9%
. 1
0,3%
18
4,7%
380
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
10
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
72
prestígio, a vibrante anterior múltipla, e a variante que não era estigmatizada, o tepe,
diminuíssem sua frequência com o passar das décadas, devido à propagação de gêneros
musicais mais populares e, com isso, surgissem e talvez predominem variantes mais
inovadoras, nas décadas finais da sequência temporal em análise. Todavia, como foi
revelada nos resultados, essa hipótese não foi confirmada.
Vejamos, a seguir, os resultados relativos ao gênero musical.
b) Gênero musical
Com relação a gênero musical, em verbos, esse grupo de fatores apresentou
resultados relevantes, como mostra a Tabela 5, pois 1) o tepe ocorreu praticamente em
todos os gêneros musicais, exceto em embolada, um gênero musical que só apresentou o
apagamento do R, oito dados; 2) a vibrante anterior múltipla teve percentual superior em
valsa, um gênero musical de raízes mais n; 3) as fricativas tiveram percentual bastante
baixo, porém no samba, um gênero musical popular, ocorrem ambas e 4) o zero fonético
ocorre na maioria dos gêneros musicais, além disso, obteve um percentual elevado em
toada, 67%, gênero peculiar da música brasileira
Variantes
Gênero musical [] [r] [x] [h] Ø Total
Barcarola 4
100%
. . . . 4
100%
Cançoneta 41
93%
3
7%
. . . 44
100%
Canção 100
81%
13
11%
. 2
1,5%
8
6,5%
123
100%
Embolada . . . . 8
100%
8
100%
Fado 7
100%
. . . . 7
100%
Hino 13
65%
5
25%
. . 2
10%
20
100%
Lundu 67
77%
6
6,9%
. . 14
16,1%
87
100%
Marcha
Carnavalesca
34
49%
3
4,5%
. 1
1,5%
31
45%
69
100%
Maxixe 38
79%
3
6%
. . 7
15%
48
100%
Modinha 152
90%
6
9%
. 1
0,5%
1
0,5%
169
100%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
73
Polca 7
87,5%
1
12,5%
. . . 8
100%
Samba 326
51,5%
17
2,7%
4
0,6%
20
3,2%
265
42%
632
100%
Seresta 43
81%
10
19%
. . . 53
100%
Tango
Brasileiro
98
78%
27
21,5%
. . 1
0,5%
126
100%
Toada 11
20%
6
11%
. 1
2%
37
67%
55
100%
Valsa 141
73%
51
27%
. . . 192
100%
Total 1082
65,8%
160
9,7%
4
0,2%
25
1,5%
374
22,7%
1645
100%
Tabela 4. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em verbos – 1645 dados
A tabela a seguir revela que 1) o tepe obteve percentual acima de 50% em todos os
gêneros musicais, exceto em toada, apenas 38%; 2) a variante de prestígio teve percentual
mais elevado novamente na valsa; 3) a fricativa glotal ocorreu em seletos gêneros
musicais, apenas em canção, modinha, seresta, samba e toada; 4) o único caso de [w]
ocorreu em um samba e 5) o zero fonético obteve um percentual elevado em toada, assim
como nos verbos.
Variantes
Gênero Musical [] [r] [h] [w] Ø Total
Barcarola 25
100%
. . . . 25
100%
Canção 132
69%
53
28%
2
1%
. 4
2%
191
100%
Cançoneta 10
83%
2
17%
. . . 12
100%
Fado 6
100%
. . . . 6
100%
Hino 17
56,7
12
40%
. . 1
3,3%
30
100%
Lundu 33
51,5%
26
40,5%
. . 5
8%
64
100%
Marcha
Carnavalesca
55
78,6
4
5,7%
. . 11
15,7%
70
100%
Maxixe 19
86,4%
3
13,6%
. . . 22
100%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
74
Modinha 108
82%
20
15%
2
1,5%
. 2
1,5%
132
100%
Polca 7
78%
2
22%
. . . 9
100%
Samba 205
78%
17
6,5%
3
1%
1
0,5%
37
14%
263
100%
Seresta 37
75,5%
11
22,5%
1
2%
. . 49
100%
Tango
Brasileiro
94
82%
21
18%
. . . 115
100%
Toada 8
38%
3
14%
1
5%
. 2
43%
21
100%
Valsa 114
56%
90
44%
. . . 204
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
10
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
Tabela 5. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em não verbos – 1213 dados
Com isso, parece não haver diferenças significativas nos resultados dos verbos e
dos não verbos. Além do mais, o comportamento do rótico varia de acordo com o gênero
musical/público-alvo de determinada gravação, confimando a hipótese levantada. Em
outras palavras, havia predominância de certas realizações do segmento em questão a
depender do gênero musical em que determinada composição foi gravada, como, por
exemplo, o elevado índice de apagamento do rótico em sambas, emboladas, toadas e
marchas, gêneros peculiares do Brasil. Por outro lado, percebeu-se uma frequência menor
do zero fonético em valsas, polcas, serestas, gêneros de raízes mais nobres. Enfim, a partir
dessas observações, confirma-se a hipótese de que o gênero musical, apesar de todos
pertencerem à música popular, atua como um grupo de fatores importante para o
comportamento variável do rótico, seja para influenciar a regra de apagamento ou motivar
as realizações mais prestigiadas
c) Intérprete
Optou-se por averiguar o comportamento do rótico a depender do intérprete, pois
havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na
música. Desse modo, foi verificado se os intérpretes seguiam as normas de canto ou se
haveria diferentes escolhas de pronúncia do rótico feitas por eles.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
75
Nos verbos, observa-se, na tabela abaixo, que 1) a maioria dos intérpretes tem o
tepe como norma de uso, exceto Mário Reis e Noel Rosa, com percentual de apenas 28,5%
e 18,3%, respectivamente; 2) a variante de prestígio, por outro lado, não foi tão produtiva,
como, por exemplo, 3,8% na fala cantada de Francisco Alves; 3) as fricativas só aparecem
nas canções de alguns intérpretes além de terem um percentual baixíssimo quando ocorrem
e 4) o zero fonético ocorre no canto de todos os intérpretes, com destaque para Noel Rosa
com percentual de 76,3% do total de dados.
Tabela 6. Distribuição das variantes a depender do intérprete em verbos – 1645 dados
No que se refere aos não verbos, os resultados são apresentados na tabela a seguir:
Variantes
Intérprete [] [r] [h] [w] Ø Total
Eduardo das
Neves
77
55,8%
51
37%
2
1,4
. 8
5,8%
138
100%
Mário Pinheiro 203
81%
43
17%
3
1,2%
. 2
0,8%
251
100%
Vicente Celestino 223 87 1 . 2 312
Variantes
Intérprete [] [r] [x] [h] Ø Total
Eduardo das
Neves
165
72,7%
28
12,3%
. 7
3%
27
12%
227
100%
Mário Pinheiro 192
80,7%
29
12,2%
. 1
0,4%
16
6,7%
238
100%
Vicente Celestino 252
83,7%
42
14%
. . 7
2,3%
301
100%
Francisco Alves 182
63,5%
11
4%
1
0,5%
3
1%
89
31%
286
100%
Patrício Teixeira 52
63,5%
4
5%
. . 26/82
31,5%
82
100%
Mário Reis 45
28,5%
. . 12
7,5%
101
64%
158
100%
Silvio Caldas 116
64,5%
29
16%
. . 35
19,5%
180
100%
Noel Rosa 17
18,3%
. 3
3,2%
2
2,2%
71
76,3%
93
100%
Orlando Silva 61
76,2%
17
21,2%
. . 2
2,5%
80
100%
Total 1082
65,8%
160
9,7%
4
0,2%
25
1,5%
374
22,7%
1645
100%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
76
71,3% 27,8% 0,3% 0,6% 100%
Francisco Alves 123
75%
21
12,8%
. . 20
12,2%
164
100%
Patrício Teixeira 60
78,9%
8
10,5%
. 1
1,3%
7
19,2%
76
100%
Mário Reis 66
73,3%
. 4
4,4%
. 2
22,2%
90
100%
Silvio Caldas 61
66,3%
29
31,5%
. . 2
2,2%
92
100%
Noel Rosa 7
50%
. . . 7
50%
14
100%
Orlando Silva 50
65,8%
25
32,9%
. . 1
1,3%
76
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
10
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
Tabela 7. Distribuição das variantes a depender do intérprete em não verbos – 1213 dados
Observa-se que 1) o tepe ocorre acima de 50% em todos os intérpretes; 2) a
variante de prestígio obteve maiores percentuais do que em verbos; 3) a fricativa glotal não
teve percentual expressivo nem ocorreu em todos os intérpretes; 4) o único caso de [w] foi
realizado por Patrício Teixeira e 5) o zero fonético teve um percentual inferior se
comparado aos dos verbos.
Dessa forma, mesmo havendo normas para o canto, os intérpretes se diferenciavam,
pois tinham diferentes estilos os quais os caracterizaram como artistas únicos, assumindo
na música características próprias da sua fala ou para se adequar ao gênero musical da
gravação, como os casos de canção sertaneja. Além disso, mais uma vez, há um
comportamento distinto a depender da classe gramatical. Por fim, a seguir, será
apresentada a distribuição das variantes de acordo com os grupos de fatores linguísticos.
a) Número de sílabas do vocábulo
A dimensão do vocábulo é um grupo de fatores selecionado com frequência pelo
programa estatístico em trabalhos sobre o comportamento do rótico em coda final. A
seguir, a Tabela 8 mostra o número de ocorrências e o percentual de cada variante a
depender do número de sílabas – uma, duas, três e quatro – em verbos, enquanto a Tabela
9, em não verbos.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
77
Variantes
Número de sílabas [] [r] [x] [h] Ø Total
Uma 151
71%
21
9,8%
2
0,9%
3
1,4%
35
16,5%
212
100%
Duas 672
64,1%
95
9%
1
0,1%
18
1,7%
263
25%
1049
100%
Três 241
68,7%
38
11%
1
0,3%
2
0,6%
69
19,7%
351
100%
Quatro 18
54,5%
6
18%
. 2
6,1%
7
21%
33
100%
Total 1082
65,8%
160
9,7%
4
0,2%
25
1,5%
374
22,7%
1645
100%
Tabela 8. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em verbos – 1645 dados
Observa-se que 1) o tepe possui alta produtividade em qualquer dimensão do
vocábulo, sempre acima de 50%; 2) a vibrante múltipla anterior obteve percentuais um
pouco mais elevados em vocábulos maiores; 3) a fricativa velar apresentou baixa
produtividade em qualquer número de sílabas e teve percentual nulo em polissílabos; 4) a
fricativa glotal, ao contrário, obteve um percentual um pouco maior em polissílabos; 5) o
zero fonético teve uma porcentagem inferior em monossílabos.
Com relação aos não verbos, a tabela abaixo exibe os percentuais.
Variantes
Número de sílabas [] [r] [h] [w] Ø Total
Uma 191
66,3%
87
30,2%
3
0,7%
. 8
2,8%
288
100%
Duas 601
73,3%
158
19,3%
7
0,9%
. 54
6,6%
820
100%
Três 68
84,%
8
9,9%
. 1
1,2%
4
4,9%
81
100%
Quatro 10
41,7%
11
45,8%
. . 3
12,5%
24
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
10
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
Tabela 9. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em não verbos – 1213 dados
Observa-se que há uma clara diferença dos percentuais das variantes a depender do
número de sílabas entre os verbos e os não verbos. A partir dos resultados estatísticos da
Tabela 4, nota-se que 1) o tepe obteve um percentual menor que 50% em polissílabos; 2) a
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
78
vibrante múltipla anterior, por outro lado, obteve um percentual maior em vocábulos de
quatro sílabas; 3) a fricativa glotal teve um índice inexpressivo em todas dimensões do
vocábulo em que apareceu; 4) a aproximante labial ocorreu apenas em um dado, um
trissílabo e 5) o zero fonético apresentou um maior percentual em polissílabos.
Vale ressaltar o percentual do zero fonético dessas duas últimas tabelas. A literatura
linguística explica a menor ocorrência de apagamento em vocábulos monossílabos devido
à saliência fônica. Nota-se que, em verbos, o percentual do processo em questão foi menor
em monossílabos, apesar de não ter sido tão distante dos percentuais que ocorrem nos
outros números de sílabas. Em não verbos, a importância do número de sílabas se mostra
verdadeiramente relevante, ou seja, quanto maior a dimensão vocábulo, maior a
probabilidade de ocorrer o apagamento do segmento, mesmo que não tenha ocorrido de
forma gradual.
Nos trabalhos revisados no capítulo 1, em Callou (1987), os resultados revelaram
que quanto maior a dimensão do vocábulo, maior a probabilidade de aplicação da regra de
apagamento: o percentual de cancelamento foi gradual: 44,81% em monossílabos, 68,23%
em dissílabos e em 75,4% trissílabos. Em Brandão, Mota & Cunha (2003), no que refere
ao número de sílabas, configurou-se a hipótese de que em monossílabos haveria a
tendência a resguardar o segmento: 63% em monossílabos, 89% em dissílabos, 77% em
trissílabos e 81% em monossílabos. Em Melo (2009), no Discurso Semidirigido, quanto
aos percentuais, há uma gradação clara em não verbos: em vocábulos de uma sílaba há um
percentual de 57%, nos de duas, 86%, nos de três, 89% e nos de quatro sílabas, 92%, ou
seja, quanto maior a dimensão do vocábulo, maior a possibilidade de apagamento, pois o
segmento seria, em vocábulos maiores, menos saliente, e, em verbos, a porcentagem de
zero é alta independente do número de sílabas, sempre em 98% ou 99%.
Observa-se que, nos resultados aqui encontrados, os percentuais de apagamento não
são tão elevados quanto aos dos trabalhos revisitados, dado que, na música, a pronúncia era
mais monitorada. Além disso, as gravações ocorreram nas quatro primeiras décadas, época
em que o processo em questão poderia ainda não estar em franca atuação. Todavia, não se
pode deixar de notar que a atuação grupo de fatores dimensão do vocábulo no processo de
apagamento do rótico parece ser a mesma e, com isso, confirma-se a hipótese da saliência
fônica.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
79
b) Vogal antecedente
A vogal que antecede o segmento em foco tem demonstrado forte condicionamento
para o cancelamento do rótico final. Nas duas tabelas, a seguir, há a distribuição das
variantes em verbos e em não verbos.
Variantes
Vogal antecedente [] [r] [x] [h] Ø Total
[i] 105
78,9%
12
9%
. 2
1,5%
14
10,5%
133
100%
[e] 363
67,7%
55
10,3%
3
0,6%
6
1,1%
109
20,3%
536
100%
[] 44
71%
6
9,7%
. 1
1,6%
11
17,7%
62
100%
[a] 564
62,2%
86
9,5%
1
0,1%
16
1,8%
240
26,5%
907
100%
[o] 6
85,7%
1
14,3%
. . . 7
100%
Total 1082
65,8%
160
9,7%
4
0,2%
25
11,5%
374
22,7%
1645
100%
Tabela 10. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em verbos – 1645 dados
Observa-se que não há todos os sete segmentos vocálicos, organizados segundo
altura e localização articulatória do Português além de uns apresentarem grande
produtividade, como [e] e [a], outros não ocorrem com tanta frequência diante do rótico,
como [] e [o], tal fato se deve às conjugações. Quanto aos percentuais, 1) as vibrantes
obtiveram percentual um pouco superior ao de outras variantes quando o contexto
antecedente foi [o]; 2) por outro lado, o percentual do zero fonético é nulo quando esse é o
contexto que o precede e, 3) no que se refere às fricativas, estas tiveram um percentual
inferior e até nulo a depender da vogal precedente.
Variantes
Vogal antecedente [] [r] [h] [w] Ø Total
[i] 9
100%
. . . . 9
100%
[e] 38
69,1%
11
20%
. 1
1,8%
5
9,1%
55
100%
[] 85
69,1%
9
7,3%
. . 29
23,6%
123
100%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
80
[a] 118
68,2%
45
26%
3
1,7%
. 7
4%
173
100%
[] 24
72,7%
6
18,2%
. . 3
9,1%
33
100%
[o] 596
72,7%
193
23,5%
6
0,7%
. 25
3%
820
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
9
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
Tabela 11. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em não verbos – 1213 dados
Pode-se notar que a vogal [o] teve grande produtividade, diferentemente do que
ocorreu em verbos, além de haver dados com a vogal []. Essas pequenas observações
mostram mais uma vez a relevância de separar os dados de verbos dos de não verbos para a
análise. A respeito dos percentuais das variantes, 1) o tepe teve percentual elevado após
qualquer contexto; 2) a vibrante múltipla teve um percentual baixo depois de [], em
contrapartida e 3) o zero fonético teve um percentual superior exatamente após essa vogal.
Em Brandão, Mota & Cunha (2003), há uma significativa diferença de
comportamento entre vogais [+arred] e [-arred], estas últimas mais favorecedoras para a
eliminação do rótico, fato já destacado por Callou (1987). Nos resultados aqui encontrados,
em verbos, o apagamento é nulo após o contexto de vogal [+arred], ocorrendo apenas após
vogais com o traço [-arred]. Dessa forma, parece ter havido um diálogo com os resultados
dos estudos apontado acima. Em não verbos, o [], uma vogal com traço [-arred], mostra-
se importante para não o apagamento do rótico, chegando ao percentual de 23,6% do total
de dados, e o [o], uma vogal com traço [+arre], obteve o menor percentual, apenas 3%.
Com isso, é possível também realizar uma comparação com os resultados de Brandão,
Mota & Cunha (2003) e Callou (1987). Após observar o grupo de fatores contexto
antecedente, vejamos, a seguir, os resultados relativos ao contexto subsequente.
c) Contexto subsequente
Ao seguir o proposto por Callou (1987), os elementos subsequentes foram
agrupados em três categorias, como mostra a tabela abaixo:
Variantes
Contexto subsequente [] [r] [x] [h] Ø Total
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
81
Consoante 276
64%
55
12,8%
4
0,9%
9
2,1%
87
20,2%
431
100%
Vogal 250
91,5
6
2%
. . 18
6,5%
274
100%
Pausa 556
59,1%
99
10,5%
. 16
1,7%
269
28,6%
940
100%
Total 1082
65,8%
160
9,7%
4
0,2%
25
1,5%
374
22,7%
1645
100%
Tabela 12. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em verbos – 1645 dados
A partir dos resultados da tabela acima, percebe-se que, quanto ao tepe, há um
percentual bastante elevado quando a variante se encontra diante de vogal do vocábulo
subsequente, pois é comum ocorrer uma ressilabação e, então, a consoante realizar-se
como um tepe entre vogais. Desse modo, torna-se bastante válido buscar os poucos dados
de vibrante anterior múltipla e de zero fonético diante de vogal. Todos os dados da
primeira variante foram pronunciados por Vicente Celestino, a seguir os exemplos:
1- Vem luzi[r] ó vem ungir 4- Vem luzi[r] ó vem ungir
2- Vem luzi[r] ó vem ungir 5- E a corre[r] o campônio partiu
3- Vem luzi[r] ó vem ungir 6- Se[r] esse alguém
Parece ter sido um estilo o intérprete pronunciar tal variante diante de vogal, além
de haver quatro ocorrências de um mesmo dado. Quanto ao zero fonético, os dados foram
realizados por Francisco Alves, Noel Rosa e Patrício Teixeira, a seguir os exemplos:
1- Vou viraØ almofadinha 10- Hei de teØ opinião
2- Ou tentaØ a malandragem 11- Se ela vieØ e te trouxer
3- Pra pagaØ o que me fez 12- Se ela vieØ e te trouxer
4- Pra pagaØ o que me fez 13- Que do meu viveØ agora
5- Pra pagaØ o que me fez 14- Só por veØ o teu processo
6- Pra pagaØ o que me fez 15- De iludiØ os coronéis
7- Pra pagaØ o que me fez 16- É mandar fazeØ o despejo
8- Pra pagaØ o que me fez 17- É mandar fazeØ o despejo
9- O meu viveØ é uma sentença 18- É de ficaØ abismado
Por fim, diante de pausa e consoante, a vibrante anterior múltipla teve percentual
similar, 10,5% e 12,8%, respectivamente. O contexto subsequente consoante parece
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
82
favorecer os casos de fricativas, porém os percentuais são muito baixos para se chegar a
alguma conclusão. Quanto ao zero fonético, este teve uma porcentagem um pouco superior
diante de pausa, assim como os resultados de Callou (1987).
Variantes
Contexto subsequente [] [r] [h] [w] Ø Total
Consoante 244
68%
85
26,5%
2
0,6%
. 18
5%
359
100%
Vogal 111
88%
4
4%
. . 10
8%
126
100%
Pausa 515
70,7%
164
22,5%
8
1%
1
0,1%
41
5,6%
728
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
10
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
Tabela 13. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em não verbos – 1213 dados
Com base na Tabela 13, vemos que, assim como nos verbos, o tepe apresenta um
percentual bastante elevado se encontra diante de vogal, e há poucos casos de vibrante
anterior múltipla e zero fonético antes desse contexto. Dessa forma, também é válido
buscá-los no corpus. Os casos daquela variante foram pronunciados, dessa vez, por
Francisco Alves e Silvio Caldas.
1- Porque lá o lua[r] é diferente 3- Po[r] um amor qualquer
2- O elevado[r] eu não trazia 4- Po[r] um amor qualquer
Quanto aos casos de apagamento, observa-se, a seguir, que alguns dados, como
"flor" e "mulher" se repetem.
1 e 2- Qui avoa di froØ em froØ 7- Mas que mulheØ indigesta
3 e 4- Qui avoa di froØ em froØ 8- Mas que mulheØ indigesta
5- Alívio a esta doØ ao canto de amor 9- Essa mulheØ é ladina
6- Mas que mulheØ indigesta 10- MulheØ iludiu meu coração
Por último, a vibrante anterior múltipla teve percentual similar diante de pausa e
consoante, assim como nos verbos. Os casos de fricativa e aproximante labial foram
inexpressivos para verificar a atuação deste grupo de fatores, e, quanto ao zero fonético,
este teve uma porcentagem superior diante de vogal, diferentemente dos verbos.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
83
Melo (2009), no Discurso Semidirigido, também obteve percentuais bastante
elevados de apagamento diante de vogais, e este grupo de fatores foi selecionado pelo
programa, porém a autora não distingue verbos de não verbos. A hipótese inicial é a de que
o cancelamento seria, naquela época, inibido pela presença de vogal no contexto
subsequente, uma vez que é comum haver uma ressilabação, como em mar ma - ra - zul.
A partir dos resultados aqui encontrados, observa-se que essa hipótese foi parcialmente
confirmada.
Já Callou & Serra (2012) revelam que, na década de 1970, nos dados do Rio de
Janeiro, o apagamento do rótico em não verbos se restringe à fronteira de palavra
prosódica, ou seja, não há apagamento diante de pausa. Todavia, na década de 1990, a
regra avançou em verbos e, em não verbos, o quadro não é tão consistente, talvez pelo
número baixo de ocorrências. Dessa forma, observa-se que tanto as variáveis gramaticais
quanto as prosódicas são menos relevantes, visto que o processo de apagamento se
encontra em franca atuação. Por fim, acreditava-se, como nos resultados de Callou (1987)
e ao contrário dos revelados por Callou & Serra (2012), que o contexto de pausa fosse mais
favorecedor para o processo de cancelamento, e essa hipótese foi parcialmente confirmada.
d) Tipo de consoante subsequente
Ao verificar o contexto consoante subsequente, os resultados foram os seguintes:
Variantes
Consoante subsequente [] [r] [x] [h] Ø Total
[b] 14
53,8%
4
15,4%
. . 8
30,8%
26
100%
[d] 41
63,1%
5
7,7%
4
6,2%
. 12
23,1%
65
100%
[d] 18
81,8%
. . 1
4,5%
3
13,6%
22
100%
[f] 14
82,4
1
5,9%
. . 2
11,8%
17
100%
[g] 2
100%
. . . . 2
100%
[] 2
100%
. . . . 2
100%
[k] 37
61,7%
9
15%
. 2
3,3%
12
20%
60
100%
[l] 5
71,4%
1
14,3%
. . 1
14,3%
7
100%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
84
[m] 23
47,9%
9
18,8%
1
2,1%
. 15
31,2%
48
100%
[n] 46
67,6%
11
16,2%
. . 11
16,2%
68
100%
[p] 15
57,7%
5
19,2%
. . 6
23,1%
26
100%
[s] 28
75,7%
4
10,4%
1
2,7%
. 4
10,4%
37
100%
[t] 17
73,9%
5
21,7%
. 1
4,3%
. 23
100%
[t] . 1
100%
. . . 1
100%
[] 4
66,7%
. . . 2
33,3%
6
100%
[v] 9
40,9%
.
2
9,1%
1
4,5%
10
45,5%
22
100%
Total 275
63,7%
55
12,7%
4
0,9%
9
2,1%
89
20,6%
432
100%
Tabela 14. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em verbos – 432 dados
Observa-se, na Tabela 14, que há muitas células e, desse modo, há alguns casos
categóricos e valores nulos. É possível visualizar que: 1) o tepe teve percentual acima de
50% diante de quase todas as consoantes, exceto antes de [m] e [v]; 2) a vibrante anterior
múltipla teve percentuais maiores diante das anteriores [m], [p] e [t]; 3) a fricativa velar,
diante de consoantes mais anteriores; 4) por outro lado, não se pode chegar a essa
conclusão com relação à fricativa glotal, dado que ocorre diante de consoante posterior [k]
e 5) o zero fonético tem maiores percentuais diante de [b], [m], [] e [v].
No que se refere a essa última variante, os resultados são diferentes dos revelados
por Melo (2009), no Discurso Semidirigido, todavia a comparação não se torna
impraticável. No trabalho da autora, o índice de apagamento foi elevado diante de qualquer
contexto, mesmo que a autora não tenha levado em conta a classe gramatical. No entanto,
ao verificar o peso relativo, a consoante [b] foi selecionada na rodada probabilística, com
.86 para o apagamento. Neste trabalho, essa consoante foi uma das que obtiveram um
percentual superior no processo em questão, como mostra a tabela acima, dessa forma,
resta verificar se esta também favorecerá a aplicação da regra de apagamento.
Quanto à distribuição das variantes em não verbos, a tabela 15 mostra os resultados:
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
85
Variantes
Consoante subsequente [] [r] [h] Ø Total
[b] 1
33,3%
2
66,7%
. . 3
100%
[d] 48
76,2%
10
15,9%
. 3
4,8%
63
100%
[d] 30
78,9%
8
21,1%
. . 38
100%
[f] 23
76,7%
6
20%
. 1
3,3%
30
100%
[g] 2
100%
. . . 2
100%
[] 1
50%
1
50%
. . 2
100%
[k] 34
65,4%
16
30,8%
. 2
3,8%
52
100%
[l] 3
50%
2
33,3%
. 1
16,7%
6
100%
[m] 14
46,7%
14
46,7%
. 2
6,7%
30
100%
[n] 32
74,4%
8
18,6%
. 3
7%
43
100%
[p] 15
75%
5
25%
. . 20
100%
[s] 18
64,3%
10
35,7%
. . 28
100%
[t] 12
57,1%
9
42,9%
. . 21
100%
[t] 4
66,7%
. 2
33,3%
. 6
100%
[] 1
14%
. . 6
86%
7
100%
[v] 6
100%
. . . 6
100%
[z] 3
60%
2
40%
. . 5
100%
Total 247
68,2
95
26,2%
2
0,6%
18
5%
362
100%
Tabela 15. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em não verbos – 362 dados
Nota-se que: 1) o tepe teve percentual acima de 50% diante de quase todas as
consoantes, porém há um fator que chama atenção, diante de [] obteve-se um percentual
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
86
de 14% apenas; 2) a vibrante anterior múltipla teve um percentual maior que o tepe diante
de [b]; 3) a fricativa glotal só ocorreu diante de [t]; 4) o zero fonético tem maiores
percentuais diante de [l] e [], resultados um tanto diferente dos da Tabela 15.
Partiu-se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais e alveolares –
inibem a aplicação da regra de apagamento, enquanto as demais favorecem o apagamento
por conta de haver a possibilidade de assimilação no caso em que a consoante em coda e a
consoante em ataque compartilham o traço [-anterior]. Essa hipótese não pôde ser
confirmada, pois, nos verbos, o zero fonético tem maiores percentuais diante das anteriores
[b], [m] e [v].
e) Tonicidade da sílaba
Com relação a esse grupo de fatores, só foram analisados os não verbos, pois o
verbos são sempre oxítonos. Todavia, não foi possível chegar a resultados relevantes, visto
que só houve um caso de paroxítono, "cadáve[w]", o restante é oxítonos, como mostra a
tabela a seguir:
Variantes
Tonicidade da sílaba [] [r] [h] [w] Ø Total
Oxítono 870
72%
264
21%
9
1%
. 69
6%
1212
10
Paroxítono . . . 1
100%
. 1
100%
Total 870
71,7%
264
21,8%
10
0,7%
1
0,1%
69
5,7%
1213
100%
Tabela 16. Distribuição das variantes a depender da tonicidade da sílaba em não verbos – 1213 dados
Por fim, a hipótese de que ocorressem, em maior índice, as vibrantes e as fricativas
quando o rótico se encontra em sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por
Brustolin (2008), não pôde ser confirmada.
Após apresentar nas tabelas acima a distribuição das variantes do rótico, cabe
observar mais atentamente os escassos dados de fricativas – velar e glotal. O baixo
percentual dessas variantes observado no Gráfico 1 poderia ser explicado pelo fato de o
intérprete, que deveria ter "voz grande", nas primeiras décadas da análise, optar por uma
pronúncia com maior sonoridade, ou seja, uma vibrante ao invés de uma fricativa, dado
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
87
que o aparato de gravação ainda era de qualidade ruim. Segundo Diniz (2007, p. 65), "[o]s
recursos técnicos eram precários na época, pois os intérpretes usavam microfones antigos
que necessitavam uma força maior sonora". Mesmo que o Primeiro Congresso de Língua
Nacional Cantada, ocorrido na década de 1930, tenha sido direcionado apenas para o canto
erudito, notamos que os anais desse evento de cunho político serviam também como uma
referência para a música popular. Em seu texto, os congressistas reconhecem que há várias
pronúncias para a consoante em questão e relatam o seguinte:
[O] 'r' final profere-se também de vários modos. No Rio, é geralmente
gargarizado, e insonoro. Corresponde a um 'j' castelhano muito áspero (...); é
mais áspero do que o 'Achlaut' dos alemães, e do que o 'r' grasseyé parisiense.
Por posição, pode sonorizar-se: carne. Há regiões do país onde a mesma letra soa como o 'h' aspirado alemão. Todas essas práticas são evitadas na boa dicção,
porque o 'r' mais perceptível ao ouvido é o vibrante. (ANAIS DO PRIMEIRO
CONGRESSO DE LÍNGUA NACIONAL CANTADA, 1938, p. 337)
Os congressistas concluem que essas realizações, possivelmente fricativas, que
ocorriam na fala espontânea, não deveriam aparecer no canto erudito. Contudo, ao analisar
os resultados coletados para esta dissertação, observa-se que, na música popular,
similarmente, não há uma preferência, por parte dos intérpretes, por essas possíveis
realizações. A justificativa dada pelos congressistas para se evitarem as fricativas diz
respeito à produção de ruídos que essas realizações ocasionam como mostra a afirmação a
seguir:
Mas como foi dito para o caso idêntico do l, é também defeituosa a tendência,
por assim dizer, contrária que consiste em rolar excessivamente o r final, dando-
lhe um valor gutural. Esta última tendência deverá ser energicamente evitada no
canto erudito, por dar à emissão da vogal acentuada um rabo de ruídos,
absolutamente desairoso, prejudicial à pureza da voz. (op. cit., 1938, pp. 90-91).
A partir dos resultados aqui encontrados e dos relatos dos anais para o canto
erudito, percebe-se que realizações posteriores do rótico, as fricativas, não eram bem
aceitas na música da primeira parte do século XX, não importa se é popular ou erudita.
Dessa maneira, ainda que na pesquisa não se tenha podido proceder à análise quantitativa
mais aprofundada das variantes, ou seja, chegar ao peso relativo, dado o pequeno número
de ocorrências, é possível observar a sistematicidade dos grupos de fatores
extralinguísticos, como mostra a tabela abaixo.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
88
Tabela 17. Distribuição de fricativas (glotal e velar) segundo os grupos de fatores extralinguísticos
Nos dados de ambas as realizações, observa-se que, quanto 1) ao intérprete, Mário
Reis é o que mais realiza glotal, enquanto Noel Rosa, a velar, e vale ressaltar que há três
intérpretes que não realizam fricativas; 2) ao gênero musical, as fricativas são mais
produzidas no samba e 3) à década, há um comportamento diferente a depender da
realização, pois, com relação à glotal, há um aumento no percentual e, em seguida um
decréscimo, e, no que se refere à velar, os dados só ocorrem nas duas décadas finais.
Ainda que, nesta pesquisa, não se tenha podido proceder à análise quantitativa
dessas variantes devido ao número parco de dados, é possível perceber a atuação de alguns
fatores. Além disso, será verificado em que medida a ocorrência de vocábulos deve ser
analisada com os condicionamentos linguísticos e sociais apontados nas análises
variacionistas. Dessa forma, optou-se por listar todos os vocábulos em que houve a
realização fricativa. Do total de dados, obtivemos 35 dados de fricativa glotal e, desse
escasso número, há 25 em verbos e dez em não verbos. Nos verbos, há os seguintes dados:
1- Fala[h] de nós é tua sina 14- Para me vale[h]
2- Fala[h] de nós é tua sina 15- A Jesus pra me livra[h]
3- Estou cansado de vive[h] 16- Te ama[h]
4- Fala[h] de nós é tua sina 17- Não posso acredita[h]
5- Fala[h] de nós é tua sina 18- Não posso acredita[h]
Fricativa glotal Fricativa velar
Oco. Perc. Oco. Perc.
Intérprete
Eduardo das Neves 9/35 26% 0/4 .
Francisco Alves 3/35 8% 1/4 25%
Mário Pinheiro 4/35 11% 0/4 .
Mário Reis 16/35 46% 0/4 .
Noel Rosa 2/35 6% 3/4 75%
Vicente Celestino 1/35 3% 0/4 .
Gênero
musical
Samba 23/35 66% 4/4 100%
Modinha 3/35 8% 0/4 .
Toada 2/35 6% 0/4 .
Marcha carnavalesca 1/35 3% 0/4 .
Canção 5/35 14% 0/4 .
Seresta 1/35 3% 0/4 .
Década
1902 - 1910 3/35 8% 0/4 .
1911 - 1920 16/35 46% 0/4 .
1921 - 1930 14/35 40% 1/4 25%
1931 - 1940 2/35 6% 3/4 75%
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
89
6- Vem canta[h] 19- É bem capaz de rouba[h]
7- Quere[h] teu coração 20- Faz o que ela que[h]
8- Que és capaz de pisa[h] 21- Pra te[h] valor a tua jura
9- Eu ouço fala[h] que para o nosso bem 22- Deus eu fiz entrega[h]
10- Eu ouço fala[h] que para o nosso bem 23- Onde é que vamos mora[h]?
11- Teus lábios colori[h] de cintilar 24- Onde é que vamos morar[h]?
12- Que não cansam de fingi[h] 25- Que não gosta de brinca[h]
13- Que conduz-me à luz para se[h]
Em não verbos, há os dados a seguir:
1- Para completa ventura, da serenata no ma[h] 6- Do Senho[h] do Bonfim
2- Tanto amo[h], como eu senti, quando eu ti vi 7- Ao teu canto[h]
3- Todo cheio de lua[h] 8- Eu possa dar-te o amo[h]
4- Rosa do Sarom da co[h] dos alvos lírios 9- Fez tal qual o meu amo[h]
5- Embora o meu pena[h] 10- Como uma flo[h]
É interessante notar que, quanto ao contexto fonológico anterior, em verbos a
variante ocorre depois de vogal [-rec] e, em não verbos, depois de vogal [+arre], além do
mais, certos vocábulos se repetem algumas vezes, tais como <falar> e <amor>. Por fim, se
os dados de fricativa glotal foram parcos, os de velar foram mais ainda, pois há apenas os
seguintes:
1- Vive[x] cismando 3- E vive sem te[x] vintém
2- Mas joga sem te[x] vintém 4- Cigarro pra espanta[x] mosquitos
Nota-se que só ocorrem em verbos, diante de consoantes e depois de vogal [-rec].
Todavia, a quantidade de dados é muito escassa para chegar a resultados conclusivos.
Depois de apresentar nas tabelas anteriores as ocorrências e os percentuais das
variantes do rótico, vejamos, a seguir, os resultados da rodada binária, a fim de observar o
peso relativo dos grupos de fatores no processo de apagamento. Nessa etapa, a rodada dos
verbos e a dos não verbos também foram realizadas separadamente e serão apresentadas
por ordem de seleção do programa estatístico aqui utilizado.
3.2. Realização versus não realização
Em uma segunda etapa da análise dos dados, todas as realizações foram agrupadas,
realização versus a não realização a fim de verificar a aplicação da regra de apagamento do
rótico. Ademais, foram retirados os casos categóricos – os casos em que não há variação –,
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
90
pois os usos foram categóricos. Com isso, será possível realizar uma rodada binária e,
então, chegar ao peso relativo das variáveis independentes atuantes no processo de
apagamento do R. Dessa forma, serão, primeiramente, expostos e analisados os resultados
dos verbos (3.2.1) e, em seguida, os dos não verbos (3.2.2).
3.2.1. Verbos
Na rodada binária, ainda ocorreram casos categóricos em alguns grupos de fatores.
Como é apresentado a seguir, não houve zero fonético, ou seja, apenas a manutenção do
segmento, com: vogal antecedente: [o], tipo de consoante subsequente: [t t g] e gênero
musical: cançoneta, valsa, seresta, fado, polca, barcarola. Por outro lado, não houve
realização, ou seja, apenas o apagamento do segmento com gênero musical: embolada.
Esses casos, então, foram retirados da análise. Na rodada probabilística, os grupos de
fatores vogal antecedente e tipo de consoante subsequente foram descartados da rodada
que o programa selecionou como a melhor. Desse modo, cinco grupos foram selecionados
pelo programa como favorecedores para a regra de apagamento em verbos. Além disso, o
input geral da rodada foi de 0.227.
O primeiro grupo eleito foi intérprete. Esse resultado é bastante interessante, visto
que havia regras de pronúncia para o canto na época, porém os intérpretes se
diferenciavam com relação ao apagamento do R, como mostra a tabela74
abaixo.
Intérprete Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Eduardo das Neves 27/227 12% .53
Mário Pinheiro 16/238 6,7% .56
Vicente Celestino 7/301 2,3% .15
Francisco Alves 89/286 31% .59
Patrício Teixeira 26/82 32% .35
Silvio Caldas 35/180 19,5% .47
Mário Reis 101/158 64% .75
Orlando Silva 2/80 2,5% .20
Noel Rosa 71/93 76,3% .97
Input geral da rodada: 0.227
Tabela 18. Peso relativo do fator intérprete em verbos no processo de apagamento do rótico
74 Nessa tabela e nas outras a seguir, encontram-se as abreviaturas Oco. (ocorrências), Perc. (percentual) e
PR - (peso relativo). Na segunda coluna, há a ocorrência do apagamento e o total de dados; a terceira, por sua
vez, demonstra a porcentagem de aplicação com relação ao total de dados; e a última revela a probabilidade,
a relevância só acontece quando o valor numérico se iguala ou supera .50.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
91
Observa-se que quatro dos nove intérpretes mostram-se favorecedores75
para a
regra de apagamento, com destaque para Noel Rosa com .97 de peso relativo. Por outro
lado, há Vicente Celestino e outros, que não alcançam relevância, pois obtiveram peso
relativo bem abaixo de .50. Por conseguinte, percebe-se que os intérpretes têm suas
particularidades, uns poderiam ter maior preocupação com pronúncia; outros, não.
O segundo fator na ordem de seleção é o gênero musical. Como já mencionado, tal
grupo de fatores foi usado aqui de forma incipiente, assim esse é o primeiro passo para
futuros estudos. Retirados os casos categóricos, sobraram nove gêneros musicais, como
mostra a Tabela 19:
Gênero musical Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Canção 8/123 6,5% .40
Hino 2/20 10% .74
Lundu 14/87 16% .89
Marcha carnavalesca 31/69 45% .84
Maxixe 7/48 14,5% .33
Modinha 1/169 0,6% .05
Samba 265/632 42% .64
Tango-brasileiro 1/125 0,8% .08
Toada 37/55 67,3% .94
Input geral da rodada: 0.227
Tabela 19. Peso relativo do fator gênero musical em verbos no processo de apagamento do rótico
Na tabela acima, observa-se que alguns gêneros musicais superam .50 de peso
relativo, como o hino, o lundu, a marcha carnavalesca, o samba e a toada para a aplicação
da regra. Além disso, o hino só é favorável à aplicação da regra de apagamento no nível de
seleção, ou seja, sob influência de outros grupos de fatores. A partir dessas observações,
percebe-se o gênero musical como um grupo de fatores condicionante para o
comportamento variável do R, seja para influenciar a regra de apagamento ou não. Notou-
se ainda que a supressão possa ocorrer propositalmente a depender do gênero musical.
O terceiro grupo influenciador foi o contexto subsequente. Apenas a pausa, como
mostra a Tabela 20, evidencia-se relevante para a aplicação da regra, dessa forma, esse
resultado dialoga em partes com os revelados por Callou (1987, p.141) de que a regra tem
"probabilidade de aplicar-se independentemente do contexto seguinte (em qualquer dos
75 Os valores dos fatores relevantes para regra de aplicação de apagamento encontram-se em negrito.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
92
três casos [vogal, consoante e pausa], a probabilidade é sempre maior que .50)". A pausa
tem o peso relativo maior assim como nos resultados da autora supracitada, porém os
outros dois contextos não alcançam .50 de probabilidade de aplicação da regra de
apagamento. Ademais, os resultados aqui apresentados vão de encontro aos de Melo (2009,
p. 70), no Discurso Semidirigido, em que, no contexto subsequente, há uma "preferência
pelas vogais quando o /R/ deixou de ser produzido". A seguir, encontram-se os resultados:
Contexto subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Consoante 87/431 20,2% .45
Vogal 18/274 6,6% .14
Pausa 269/940 28,6% .65
Input geral da rodada: 0.227
Tabela 20. Peso relativo do fator contexto subsequente em verbos no processo de apagamento do rótico
O penúltimo fator, na ordem de seleção da rodada, corresponde à década. Nota-se
que apenas o período entre 1921 e 1930 mostra-se favorecedor para a aplicação da regra de
apagamento do rótico, como mostra a tabela a seguir:
Década Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
1902 - 1910 15/267 5,6% .20
1911 - 1920 35/335 10,4% .38
1921 - 1930 197/456 43,2% .79
1931 - 1940 127/587 21,6% .46
Input geral da rodada: 0.227
Tabela 21. Peso relativo do fator década em verbos no processo de apagamento do rótico
Esse valor numérico alto ocorrido entre 1921 e 1930 pode ser explicado pela
predominância de determinados gêneros musicais nessa época. Com isso, decidiu-se por
unir a década a esse grupo para compreender que gêneros musicais ocorrem nesse período.
Por meio da tabulação cruzada (cf. anexo 4), que permite cruzar fatores distintos do
arquivo de células do programa, observou-se que há alto número de apagamento em
toadas, sambas e marchas, gêneros musicais de raízes mais populares.
A última colocação pertence ao número de sílabas, um grupo de fatores geralmente
selecionado, pois há uma gradação das lexias de uma sílaba até as de quatro ou mais
sílabas. Em outras palavras, resultados de estudos sobre o apagamento rótico revelam que
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
93
quanto maior a dimensão do vocábulo maior a probabilidade de aplicação da regra de
apagamento, pois o segmento seria menos saliente.
Nos resultados de Melo (2009), há uma gradação clara das lexias de uma até as de
quatro ou mais sílabas: monossílabos apresentaram peso relativo de .21; dissílabos, 0.51;
trissílabos, 0.62 e polissílabos, 0.71. Os resultados da Tabela 22, a seguir, não mostram tal
gradação, porém, é possível observar que os monossílabos obtiveram um peso relativo
inferior, apenas de .27 de aplicação da regra. Poderíamos afirmar que, assim como na fala
espontânea, há a atuação da saliência fônica na fala cantada, apesar de os polissílabos
apresentarem peso relativo bem abaixo de .50.
Número de sílabas Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Uma 35/212 16,5% .27
Duas 263/1049 25% .55
Três 69/351 19,7% .51
Quatro 7/33 21,2% .30
Input geral da rodada: 0.227
Tabela 22. Peso relativo do fator número de sílabas em verbos no processo de apagamento do rótico
3.2.2. Não verbos
Ao analisar os não verbos, na rodada binária (realização versus não realização),
ainda ocorreram casos categóricos em alguns grupos de fatores, assim como nos verbos.
Assim, não houve zero fonético com: vogal antecedente: [i], tipo de consoante
subsequente: [p v b z s t g t d], tonicidade da sílaba: paroxítona e gênero musical:
cançoneta, valsa, maxixe, tango-brasileiro, fado, polca, barcarola, seresta.
Na rodada probabilística, cinco grupos, como nos verbos, foram escolhidos pelo
programa como favorecedores da regra de apagamento. Todavia, os grupos de fatores
descartados da rodada que o programa selecionou como a melhor foram distintos: número
de sílabas e década. Por fim, o input geral da rodada foi de 0.057.
Como nos verbos, o primeiro grupo eleito foi intérprete, todavia não foram os
mesmos que superaram o valor numérico de .50.
Intérprete Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Eduardo das Neves 8/138 5,8% .35
Mário Pinheiro 2/251 0,8% .23
Vicente Celestino 2/312 0,6% .19
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
94
Francisco Alves 20/164 12% .84
Patrício Teixeira 7/76 9% .76
Silvio Caldas 2/92 2% .65
Mário Reis 20/90 22% .96
Orlando Silva 1/76 1,3% .65
Noel Rosa 7/14 50% .98
Input geral da rodada: 0.057
Tabela 23. Peso relativo do fator intérprete em não verbos no processo de apagamento do rótico
Nos verbos, os intérpretes que superaram o peso relativo de .50 foram Eduardo das
Neves, Mário Pinheiro, Francisco Alves, Mário Reis e Noel Rosa. Já nos não verbos, os
dois primeiros tiveram peso relativo baixo, e Patrício Teixeira, Silvio Caldas e Orlando
Silva obtiveram maior probabilidade de aplicação da regra de apagamento. Desse modo,
observa-se que, além de os intérpretes terem características próprias, pois se diferenciavam
com relação à pronúncia dos róticos, em alguns deles, o rótico ainda têm comportamento
diferente a depender da classe gramatical.
O segundo grupo de fatores selecionado, assim como nos verbos, é o gênero
musical, porém os valores numéricos do peso relativo também foram um tanto diferentes.
Na tabela abaixo, observa-se que a marcha carnavalesca e o samba não alcançaram .50 de
peso relativo, por outro lado, a modinha em não verbos teve maior probabilidade de
aplicação da regra. A toada, em ambas as tabelas, obteve peso relativo bastante elevado.
Esse gênero musical possui composições que trazem um linguajar caipira, em que os
intérpretes mudam a forma de cantar. Tal fato é um forte indicativo de o processo de
apagamento do rótico se tratar de uma mudança "de baixo para cima" em termos
labovianos (LABOV, 1994).
Gênero musical Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Canção 4/191 2% .41
Hino 1/30 3,3% .65
Lundu 5/64 7,8% .87
Marcha carnavalesca 11/70 15,7% .40
Modinha 2/132 1,5% .55
Samba 37/263 14% .36
Toada 9/21 43% .96
Input geral da rodada: 0.057
Tabela 24. Peso relativo do fator gênero musical em não verbos no processo de apagamento do rótico
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
95
Assim como nos verbos, o hino só é favorável à aplicação da regra no nível de
seleção, ou seja, sob influência de outros grupos de fatores, por outro lado, o samba, que é
favorável à aplicação da regra no nível 1, superando .50, ao sofrer influência de outros
grupos de fatores, tem seu peso relativo reduzido para .36. na rodada selecionada.
O terceiro grupo influenciador da regra de apagamento foi a vogal antecedente.
Em Melo (2009), esse foi o primeiro fator a ser selecionado, e apenas as vogais anteriores
superaram .50 de peso relativo, das quais [i] demonstra forte probabilidade de levar ao
cancelamento, .94. Todavia, a autora não levou em conta a classe gramatical, e nos dados
aqui coletados de não verbos, nem houve a terminação -ir. Em Brandão, Mota & Cunha
(2003), sem distinguir verbos de não verbos, há uma marcante diferença de comportamento
entre vogais [+arred] e [-arred], estas últimas mais favorecedoras da eliminação do rótico,
o que já tinha sido observado em Callou (1987), que também não levou em conta a classe
gramatical, a vogal [] obteve maior probabilidade de aplicação da regra, com 0.64. Como
apenas as vogais não arredondadas superam o peso relativo de .50, a autora agrupou as
vogais segundo o traço em questão e obteve resultados interessantes.
Nos resultados da tabela abaixo, não se observa a atuação do traço [-arred] na
aplicação da regra de apagamento do rótico, porém percebe-se que o peso relativo foi
superior em vogais mais baixas, [a], [] e [], quanto ao parâmetro de altura.
Vogal antecedente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
[e] 5/55 9% .59
[] 29/123 23,5% .70
[a] 7/173 4% .79
[] 3/33 9% .71
[o] 25/820 3% .40
Input geral da rodada: 0.057
Tabela 25. Peso relativo do fator vogal antecedente em não verbos no processo de apagamento do rótico
O penúltimo fator da análise corresponde ao tipo da consoante subsequente ao
rótico. Esse foi um grupo de fatores não selecionado na rodada probabilística dos verbos. A
tabela, a seguir, apresenta os resultados:
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
96
Consoante subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
[d] 3/63 5% .55
[f] 1/30 3,3% .26
[k] 2/52 4% .30
[l] 1/6 17% .68
[m] 2/30 7% .44
[n] 3/43 7% .67
[] 6/7 86% .98
Input geral da rodada: 0.057
Tabela 26. Peso relativo do fator consoante subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico
Nota-se que a consoante subsequente [] obteve peso relativo bastante elevado,
entretanto, todos os seis casos, pertencentes ao samba gravado por Francisco Alves, se
repetem, "deixa essa mulheØ chorar". Tal fato, dessa forma, alterou o resultado. Observa-
se, então, que as soantes [l n] são as favorecedoras para aplicação da regra.
A última colocação na ordem de seleção da rodada pertence ao grupo contexto
subsequente. Diferentemente dos resultados encontrados nos verbos, aqui, a pausa e a
vogal se mostram relevantes para a aplicação da regra, como mostra a tabela abaixo:
Contexto subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção
Consoante 18/359 5% .12
Vogal 10/126 8% .61
Pausa 41/728 5,5% .70
Input geral da rodada: 0.057
Tabela 27. Peso relativo do fator contexto subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico
A pausa em verbos e em não verbos mostra-se como maior favorecedora para a
regra de apagamento. Além disso, apesar de haver ressilabação do rótico diante de vogal,
houve um maior índice de apagamento em não verbos, o que gerou o valor numérico de .61
de peso relativo. Resultado similar foi encontrado por Melo (2009, p. 70), no Discurso
Semidirigido, em que, no que se refere ao contexto subsequente, há uma "preferência pelas
vogais quando o /R/ deixou de ser produzido", lembrando que a autora não distingue
verbos de não verbos.
É válido retornar aos princípios propostos por Weinreich et alii (1968) para o
estudo da mudança linguística, apresentados na seção 2.1 desta dissertação. A partir das
observações feitas dos resultados aqui explicitados, é possível observar pistas para o
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
97
encaixamento da mudança na estrutura linguística, já que o processo está relacionado à
categoria gramatical do vocábulo, assim como nos resultados em dados de fala espontânea.
Também há pistas para o encaixamento da mudança na estrutura social, visto que o
apagamento do rótico final se vincula ao gênero musical e ao intérprete, como se observou,
por exemplo, que Vicente Celestino, ao gravar uma toada, apaga todos os róticos em final
de palavra, algo que não acontece em outros gêneros gravados por ele.
Por conseguinte, podemos pensar na questão da avaliação, pois o apagamento
realizado por esse intérprete parece ter ocorrido conscientemente, com isso, observa-se o
nível de discernimento dos valores sociais das variantes linguísticas. Essa questão está
relacionada à variação estilística, a qual é evidenciada pelo monitoramento da fala, e o
meio musical que, naquela época, gozava de prestígio social além de haver certas normas
de pronúncia. No entanto, o apagamento do rótico de forma consciente parece não ter
ocorrido por todos os intérpretes. Diferentemente de Vicente Celestino, observou-se que
Noel Rosa, intérprete com estilo mais boêmio, por exemplo, obteve um elevado índice de
apagamento, ou seja, não foi restrito a uma determinada gravação ou a um gênero musical,
mostrando que não teve tanta preocupação em realizar a pronúncia padrão.
3.3. Vicente Celestino
Como foi mencionado na seção 2.2.2, Vicente Celestino, em 1915, lançou seu
primeiro disco pela Odeon, gravando a valsa "Flor do mal", e logo encantou o público com
sua interpretação. O tenor gravou por várias décadas e, ao todo, sua discografia conta com
mais de 265 músicas. Eleito pelo povo como "A Voz Orgulho do Brasil", suas últimas
gravações ocorreram até o ano de 1968. Assim, a longevidade na produção desse intérprete
foi o principal motivo para selecioná-lo a fim de verificar a distribuição das variantes por
ele utilizadas no decorrer de décadas. Serão analisados, portanto, a pronúncia do rótico
final através do tempo, cinco décadas, e o comportamento da realização do segmento
questão a partir de uma entrevista realizada para a Rádio Bandeirantes em 1964.
3.3.1- Gravações musicais: de 1902 a 1960
Foram selecionadas 59 produções musicais gravadas entre os anos de 1915 e 1960.
Até 1940, foram utilizadas as mesmas gravações da rodada geral, todavia foram
acrescentadas 23 que recobrem as duas últimas décadas as quais não fizeram parte da
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
98
primeira rodada. Ademais, houve atenção à quantidade equilibrada de dados por década, ou
seja, em cada período de tempo, há aproximadamente duzentos dados76
, totalizando 994
dados. No gráfico abaixo, observa-se a distribuição e o percentual das variantes do rótico
no decorrer das décadas:
Gráfico 4. Distribuição das variantes em canções de Vicente Celestino no decorrer de cinco décadas
No gráfico acima, há percentuais de três77
realizações do rótico: a vibrante anterior
múltipla, que era a pronúncia recomendada nos meios de comunicação, o tepe e o zero
fonético. Observa-se que 1) a variante de maior prestígio da música ocorreu num
percentual relativamente baixo em todas as décadas, se for levado em conta que essa seria
a norma de uso para representar o rótico em coda silábica final. Cabe ressaltar que, na
segunda década, o percentual foi o mais baixo – 10% do total de dados –, mesma época em
que gêneros musicais de raízes mais populares ganharam espaço para gravações de disco;
na década seguinte, o percentual foi o mais alto, 33% dos dados, mesmo período em que
ocorreu o congresso de língua cantada; 2) o tepe, por outro lado, parece ser a norma de uso
desse intérprete, já que possui um alto percentual de realização nos cinco períodos
analisados - acima de 65% em todas as décadas e 3) o zero fonético teve um percentual de
76 Entre 1915 e 1920, foram recolhidos 202 dados a partir de sete gravações. Entre 1921 e 1930, foram
recolhidos 202 dados a partir de oito gravações. Entre 1931 e 1940, foram recolhidos 196 dados a partir de
dezoito gravações. Entre 1941 e 1950, foram recolhidos 192 dados a partir de quatorze gravações. Por fim,
entre 1951 e 1960, foram recolhidos 202 dados a partir de nove gravações. Para visualizar a rodada, ver
anexo 5. 77 O único dado de fricativa glotal ocorrido entre 1920 e 1931 não foi inserido no gráfico.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
99
4% apenas na segunda década; na primeira década, houve apenas um dado e, nas outras
décadas, foi nulo.
Esse percentual de 4% de apagamento ocorrido na segunda década corresponde a
oito dados de uma mesma gravação, a toada "Ideal de Caboclo" e o de 1%, na primeira,
década ao verbo "sofrer" da valsa "Os que sofrem". Essa toada é uma das pouquíssimas
canções de raízes mais populares gravadas por Vicente Celestino, ou seja, a variante
estigmatizada penetrou em seu repertório musical por meio de uma canção de gênero
musical peculiar do Brasil. Além disso, percebe-se que o apagamento ocorre
propositalmente, podendo ter ocorrido devido à temática sertaneja, pois todos os dados são
de apagamento. Com relação às fricativas – velar e glotal – essas realizações também não
fizeram parte da dicção do intérprete, pois há apenas um caso de realização aspirada na
modinha "Perdão de um coração" no verbo "soluçar". Desse modo, observa-se que há uma
grande preocupação sua em realizar vibrantes. Essas, por sua vez, configuram-se uma
variação estável, pois o quadro de variação tende a se manter ao longo do período.
Por fim, voltando aos princípios propostos por Weinreich et alii (1968, p. 102)
para o estudo da mudança linguística, observam-se pistas para o problema das restrições e
da avaliação a partir das observações acima. Quanto às possíveis restrições para o
apagamento, o gênero musical toada oferece condições para que o processo ocorra ou não
e, quanto à avaliação, a fricativa e o zero fonético deveriam ser evitadas no canto erudito,
dessa forma, o nível de consciência do intérprete, mesmo fazendo parte da música popular,
constitui fator a ser considerado, já que avaliações negativas podem afetar o curso da
variação e mudança linguística. Além do mais, é possível comentar sobre a questão da
transição, quando uma determinada estrutura evolui para outra estrutura. Observa-se que,
no decorrer de várias décadas, o intérprete se manteve rígido quanto à pronúncia do rótico,
ou seja, não houve uma transição de uma pronúncia para outra, fato que pode não ter
ocorrido em sua fala espontânea, como mostram os resultados na próxima seção.
3.3.2- Entrevista para a Rádio Bandeirantes: 1964
A fim de comparar a fala cantada com a fala espontânea de Vicente, foi realizada a
audição e transcrição fonética da primeira entrevista78
desse intérprete para a Rádio
78
A transcrição da fala de Vicente Celestino encontra-se no anexo 6 desta dissertação, e a entrevista está
disponível na seguinte página: https://www.youtube.com/watch?v=ZhcTowo2R_4.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
100
Bandeirantes, ocorrida no dia 23 de agosto de 1964, considerada uma das datas mais
felizes pelo radialista Moraes Sarmento.
Na entrevista, a qual tem duração de aproximadamente vinte minutos, o cantor fala
dos desafios e fatos engraçados de sua longa carreira, que foi iniciada em 1915. Além
disso, há uma breve participação de Orlando Silva, outro intérprete da época, e uma
música. Dessa forma, a partir dessa gravação de valor inestimável, foram coletados 39
dados de rótico em posição de coda final, e o gráfico a seguir mostra os percentuais
referentes à variação.
Gráfico 5. Percentuais referentes à variação do rótico na entrevista de Vicente Celestino - 39 dados
Nota-se uma interessante diferença nos resultados dos gráficos 4 e 5. Neste, há
apenas duas variantes, o tepe e o zero fonético. No início da entrevista, o intérprete fala
pausadamente e demonstra um discurso planejado de agradecimento pelo convite. No
primeiro momento, não ocorre apagamento do R, apenas a pronúncia do tepe, e, após
alguns minutos, Vicente Celestino é descontraído pelo radialista e começa a contar fatos
engraçados sobre sua carreira. A partir daí, o intérprete começa a falar mais rapidamente,
com truncamentos e, consequentemente, surgem os apagamentos do rótico final. Chama a
atenção a ausência da vibrante anterior múltipla, aquela usada por ele em suas produções
musicais. Tal fato mostra que o intérprete parece ter total consciência do uso da variante de
prestígio, pois aparece apenas quando canta.
Por fim, é válido comentar que, quanto à classe gramatical do vocábulo terminado
em rótico, os dados de apagamento são superiores em verbos, 69%, confirmando
novamente a hipótese de que verbos no infinitivo impessoal favorecem o apagamento do
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
101
segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes tendem a ser canceladas, ou
seja, há o apagamento da marca morfossintática, o fonema /r/ infinitivo (saber) ou de
subjuntivo (souber), restando apenas a marca prosódica, o acento (CALLOU, 1987).
3.4. Resumo e discussão geral dos resultados
Nesta seção, há um resumo geral dos resultados obtidos na pesquisa desenvolvida,
realizando mais alguns comentários, a fim de complementar a discussão que foi sendo feita
junto com a descrição e, então, reunir os principais achados.
No que concerne ao processo de apagamento do rótico, que levou em conta a
oposição binária entre o zero fonético e a junção das ocorrências de manutenção, é possível
observar que a atuação dos grupos de fatores linguísticos na aplicação da regra, na grande
maioria das vezes, é similar aos resultados de estudos com base em corpora de fala
espontânea. Desse modo, vejamos, a seguir, uma comparação dos resultados aqui
encontrados com os dos estudos revisados no capítulo 1.
Quanto ao condicionamento da classe morfológica do vocábulo, inúmeros
trabalhos, a partir de gravações de fala espontânea, confirmam a hipótese de que verbos
favorecem o apagamento do segmento em questão. Para esta dissertação, as classes foram
agrupadas em duas: verbos e não verbos. A fim de facilitar a leitura, trazemos novamente
os resultados: 22,7% de apagamento em verbos e 5,6% em não verbos. Observou-se que,
na música da primeira metade do século XX, já era apontado o papel relevante da classe
gramatical para o processo de apagamento do rótico final de palavra. Dessa forma, por
mais que não haja, naquela época, um alto índice do fenômeno, há uma notável diferença
nos resultados, no que diz respeito à classe morfológica.
Em Callou (1987), os resultados, a partir de gravações feitas na década de 1970, já
mostram um percentual mais elevado de apagamento nos dados: em verbos, 81,3%, e, em
não verbos, 38%. Callou & Serra (2012), revisitam os róticos a partir de gravações também
do Projeto NURC. Em 1990, há um aumento nos percentuais, o apagamento em verbos é
de 81% contra 66% em não verbos. Já nos anos 2000, há o trabalho de Brandão, Mota &
Cunha (2003), que revela os seguintes percentuais do processo em questão nos dados de
gravações feitas no RJ: em verbos, 92%, e, em não verbos, 57,5%. Ainda nessa década,
Melo (2009) apresenta resultados, a partir de dois corpora, Questionário Fonético-
Fonológico e Discurso Semidirigido. Naquele, o percentual foi 84% em verbos e 75% em
não verbos; neste, o percentual foi de 98% em verbos e 84% em não verbos.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
102
Vejamos a tabela, a seguir, que traz os percentuais acima em ordem cronológica.
Trabalhos Classe Oco./ Total Perc.
FALA CANTADA
Xavier (nesta pesquisa)
Gravações entre 1902 – 1940
verbos 374/1645 22,7%
não verbos 69/1213 5,6%
FALA ESPONTÂNEA
Callou (1987)
Gravações feitas em 1970
verbos 1132/1391 81,3%
não verbos 284/738 38%
Callou & Serra (2012)
Gravações feitas em 1990
verbos . 81%
não verbos . 66%
Brandão, Mota & Cunha (2003)
Gravações feitas em 2000
verbos 220/240 92%
não verbos 94/163 57,5%
Melo (2009)
Gravações feitas em 2000
verbos 279/320 84%
não verbos 138/184 75%
Melo (2009)
Gravações feitas em 2000
verbos 2639/2689 98%
não verbos 385/454 84%
Tabela 28. Apagamento do rótico em verbos e não verbos em diversos estudos.
A partir do resumo dessa tabela, observa-se que o apagamento do rótico é sempre
superior em verbos, não importa o corpus e a década. Além disso, há um aumento do
percentual à medida que o tempo decorre. Em Farias e Oliveira (2013), com dados do
Projeto NURC gravados na década de 1990 em duas capitais situadas no Nordeste, os
resultados revelam que o apagamento, em verbos, está quase completo, assim, nenhuma
variável inibe mais o processo. Além disso, o fenômeno tem atingido a coda medial, nesses
falares em que a regra é (quase) categórica em coda final. Em outras palavras, à proporção
que os dados gravados se aproximam dos dias atuais, maior a probabilidade de apagamento
do R final em verbos.
Quanto ao número de sílabas do vocábulo, a codificação prevê quatro tipos: uma
sílaba (monossílabos), duas sílabas (dissílabos), três sílabas (trissílabos) e quatro sílabas ou
mais (polissílabos). Houve o intuito de verificar até que ponto a extensão do vocábulo
permitia conservar ou não um segmento fônico que termina a palavra, seguindo a hipótese
de, quanto maior o número de sílabas, maior a possibilidade de apagamento do rótico final.
Essa hipótese foi testada e confirmada nos trabalhos aqui revisados, que apontam a menor
ocorrência de apagamento do <r> final em vocábulos monossílabos; por outro lado, maior
índice do fenômeno em vocábulos mais extensos, havendo, então, uma gradação do
fenômeno. Em Melo (2009), por exemplo, é possível notar a gradação nos não verbos a
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
103
partir dos dados do Discurso Semidirigido: 1 sílaba: 57%; 2 sílabas: 86%; 3 sílabas: 89% e
4 sílabas: 92%. Todavia, nos verbos, a porcentagem de zero é alta, independentemente do
número de sílabas.
Nos resultados aqui encontrados, ao observar vocábulos monossílabos, dissílabos,
trissílabos e polissílabos, percebeu-se que não houve tal gradação. Todavia, foi possível
notar um menor percentual de apagamento do rótico em vocábulos de uma sílaba, tanto nos
verbos quanto em não verbos, confirmando, assim, a hipótese da saliência fônica.
Observou-se, além do mais, que, ao separar os dados por classe gramatical, um percentual
maior em verbos em qualquer dimensão do vocábulo. A tabela 29 retoma tais resultados.
Número de sílabas Classe Gramatical Oco./ Total Perc.
Monossílabos verbos 35/212 16,5
não verbos 8/288 2,8%
Dissílabos verbos 263/1049 25%
não verbos 54/820 6,6%
Trissílabos verbos 69/351 19,7%
não verbos 4/81 4,9%
Polissílabos verbos 7/33 21%
não verbos 3/24 12,5%
Tabela 29. Apagamento do rótico a depender do número de sílabas.
Quanto à vogal antecedente, resultados de trabalhos anteriores, como os de Callou
(1987), Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009), apontam que há maior
probabilidade de aplicação da regra de apagamento quando o contexto fonológico
antecedente é vogal não arredondada, isto é, [i e a]. Nesta dissertação, em verbos, o
percentual de apagamento após o contexto vogal arredondada foi nulo, ou seja, apenas [i e
a] tiveram papel importante no apagamento do rótico. Todavia, em não verbos, os
resultados foram distintos. Houve um índice baixo de apagamento quando a vogal
precedente era [o], mas não quando era []. Além disso, após a vogal não arredondada [i] o
percentual de apagamento foi nulo. Apesar de esse último resultado não ir ao encontro de
trabalhos aqui revisados, pode-se ressaltar a importância de separar verbos de não verbos,
ou seja, essa oposição não deve ser descartada.
No que diz respeito ao contexto subsequente, foram verificados três contextos
seguintes ao rótico: vogal, pausa e consoante. Em Callou (1987), quando o contexto
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
104
subsequente é a pausa, há um alto índice de cancelamento, embora, nos outros dois
contextos, vogal e consoante, a regra se aplique também, visto que obtiveram a
probabilidade um pouco maior que .50. Todavia, trabalhos mais recentes como os de Melo
(2009) e Callou & Serra (2012) apontam a pausa como desfavorecedora do processo em
questão. Naquele estudo, a pausa acaba por ser um dos contextos em que não favorece a
supressão do rótico – em seus resultados o peso relativo é de 0.327. Neste estudo, nos
dados gravados em 1970, a pausa é desfavorecedora para o processo, e, na década de 1990,
pelo menos nos verbos, esse contexto não inibe mais o processo, ou seja, o índice é
elevado em qualquer contexto. Observa-se, então, mais uma vez, a relevância da oposição
da classe gramatical do vocábulo.
Nesta dissertação, a pausa teve um papel relevante para o apagamento do rótico em
verbos, dialogando, assim, com os resultados de Callou (1987). Além disso, a vogal parece
ter inibido o processo, já que é comum haver uma ressilabação, dessa forma, o segmento
que passa a ocupar o contexto intervocálico se concretiza como tepe. Callou e Serra (2012)
optam em não considerar as ocorrências em que o rótico se encontre seguido de vogal,
dado à ressilabação, dessa forma, não há como comparar os resultados. Em Callou (1987),
o contexto subsequente que mais inibe o processo não foi vogal, e, sim, consoante, 67% e
54%, respectivamente. Todavia, em Brandão, Mota & Cunha (2003), a vogal subsequente
não tem atuação relevante para o apagamento, assim como a pausa e consoante surda, ou
seja, apenas a consoante sonora é favorecedora do processo.
Em não verbos, o resultado foi distinto dos verbos, pois exatamente a vogal obteve
um maior percentual de zero fonético, 8%; todavia, a pausa foi a maior favorecedora com
peso relativo de .70. Melo (2009), a partir dos dados do Discurso Semidirigido, observa de
forma diferente o contexto subsequente, pois a autora elenca todas as possibilidades
consonânticas e vocálicas, além da pausa. Em seus resultados, os contextos imediatos ao
rótico vogal [a] e vogal nasal foram os maiores favorecedores para a aplicação da regra de
apagamento, com peso relativo de .94 e .86, respectivamente. Há um diálogo com os
resultados aqui encontrados, porém a autora não distingue a classe gramatical.
No que respeita ao tipo de consoante subsequente, essa variável contempla todos os
segmentos consonânticos que podem estar à direita do rótico final de palavra, ou seja, as
consoantes iniciais do vocábulo seguinte. Melo (2009) e Brandão, Mota & Cunha (2003)
partiram da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais e alveolares – inibem a
aplicação da regra, enquanto as demais favorecem o apagamento por conta de haver a
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
105
possibilidade de assimilação no caso em que a consoante em coda e a consoante em ataque
compartilham o traço [-anterior]. Nos resultados de Melo (2009), foi observada, entretanto,
a preferência pelas vogais quando o /R/ deixou de ser produzido e não quando era seguido
de consoante. Brandão, Mota & Cunha (2003), para verificar o condicionamento de
consoante subsequente, agruparam-nas segundo o modo e ponto de articulação. Seus
resultados revelaram que consoantes nasais e alveolares são as favorecedoras para a
aplicação da regra. Nos resultados aqui encontrados, em verbos, essa variável não foi
selecionada pelo programa. Ao contrário, em não verbos, foi selecionada, e as consoantes
[l n ] foram favorecedoras para a aplicação da regra de apagamento. Como é uma variável
que possui muitas células, sempre haverá casos categóricos. Dessa forma, torna-se difícil a
comparação de resultados.
Por fim, com relação à tonicidade da sílaba, ao separar os dados em verbos e não
verbos, assim como Callou (1987) sugere em sua tese, após as rodadas iniciais, cabe levar
em conta a relevância da sílaba tônica dos não verbos: oxítono e paroxítono, pois os verbos
são sempre oxítonos. Em geral, os casos de rótico final retratam aquilo que se observa no
sistema: a sua baixa produtividade em sílabas átonas. Com isso, esperava-se que, em
sílabas tônicas, o segmento se mostrasse mais sensível à regra de cancelamento. Como
houve apenas um dado de paroxítono no corpus, "cadáve[w]", foi impraticável observar a
atuação dessa variável para, então, confirmar ou refutar a hipótese levantada de que teriam
ocorrido, em maior índice, as vibrantes e as fricativas quando o rótico se encontra em
sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por Brustolin (2008).
As autoras Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009) investigam a tonicidade
da sílaba – tônica ou átona – em seus dados. Em ambos os estudos, essa variável mostrou-
se relevante, como era esperado pelas autoras. Assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais
sensível ao cancelamento, obviamente porque esse segmento pertence à sílaba tônica de
verbos no infinitivo.
Uma das maiores contribuições desta dissertação foi verificar a distribuição das
variantes do rótico a depender do intérprete, do gênero musical e da década, variáveis
impossíveis de comparação com outros trabalhos, dado que não há estudos anteriores que
levem em conta esses grupos de fatores. Os intérpretes, que deveriam seguir certas normas
de dicção naquela época, se diferenciavam bastante. Observou-se que Noel Rosa e Vicente
Celestino, por exemplo, apresentaram resultados distintos, aquele teve peso relativo para
aplicação da regra de cancelamento de .97 em verbos e .98 em não verbos; este, .15 em
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
106
verbos e .19 em não verbos. Assim, apesar de haver normas no canto, cada um traz suas
particularidades da fala para a música. Quanto aos gêneros musicais, tivemos resultados
interessantes. Foi observado que cada intérprete tem preferência por determinados gêneros
musicais, ou seja, uns gravaram uma quantidade maior de valsas e canções; outros, sambas
e marchinhas. Além disso, o intérprete muda a pronúncia do rótico a depender do gênero
musical em que a música será gravada. Há o exemplo de Vicente Celestino, que sempre
pronunciava o segmento, porém, ao gravar uma toada, todos os dados são de apagamento.
Há muito ainda para se estudar sobre essa variável referente à música popular brasileira,
tendo sido dado apenas um pontapé inicial nesta pesquisa. Com relação à década,
preenchemos uma lacuna temporal de 1902 a 1940 e, assim, verificamos que o percentual
de apagamento é relativamente baixo se comparado com os dos trabalhos aqui revisados a
partir de dados de fala espontânea e mais próximos dos tempos atuais. Observou-se que
tanto em verbos quanto em não verbos o percentual do zero fonético apresentou um
aumento década após década, todavia, ao chegar à última década, sofreu um decréscimo.
Os resultados são expostos novamente na tabela abaixo.
Década Classe Oco./ total Perc.
1902 - 1910 verbos 15/267 5,6%
não verbos 6/273 2,2%
1911 - 1920 verbos 35/335 10,4%
não verbos 4/236 1,7%
1921 - 1930 verbos 197/456 43,2%
não verbos 30/324 9,3%
1931 - 1940 Verbos 127/587 21,6
não verbos 18/380 4,7%
Tabela 30. Apagamento do rótico por década.
Tal decréscimo dos percentuais na última década pode ter ocorrido por haver uma
maior preocupação em relação às normas de canto nesse período, reflexo do congresso que
propunha reforçar o uso da vibrante como pronúncia padronizada. Mesmo que tal evento
tivesse como foco as normas do canto erudito, pode ter influenciado a música popular.
Além do mais, de acordo com Prado (2012, p. 69), "[a] década de 1930 deu novo rumo à
rádio", conhecida como a época de ouro. Antes desse período, as condições para as
transmissões eram precárias. As emissoras, como a Rádio Nacional, começaram a se
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
107
espalhar por outros estados do Brasil; assim, o rádio passou a ter reconhecimento nacional.
Pode ter havido, com isso, uma maior pressão para realização de pronúncias padronizadas.
Por fim, é válido retomar os questionamentos feitos na introdução deste trabalho: 1)
que pronúncia predominava na fala cantada dos intérpretes da música brasileira da época
em análise? Observou-se que o tepe foi a pronúncia predominante, com exceção de Noel
Rosa, que apresentou um elevado percentual de supressão do rótico; 2) é possível
estabelecer relações entre os resultados encontrados em pesquisas recentes sobre o
comportamento do rótico na fala espontânea nas décadas de 1970, 1990 e, mais
atualmente, nos anos 2000, e os resultados encontrados na música do início do século XX?
Foi observada a possibilidade de comparação, como, por exemplo, a atuação da classe
morfológica no processo de apagamento do rótico; 3) quando e como começou a ocorrer a
diferenciação do rótico na fala cantada e, principalmente, o apagamento do segmento? Foi
notado que praticamente todas as variantes ocorriam desde a primeira década analisada; na
terceira década, há um aumento no percentual de fricativas e zero fonético, devido à
entrada de intérpretes mais boêmios, como Noel Rosa, e, assim, gêneros musicais de raízes
mais populares, como o samba, toada e marcha; 4) quais foram os fatores linguísticos e/ou
sociais que condicionaram a variabilidade do rótico na fala cantada daquela época? Foi
visto que variáveis linguísticas, como classe gramatical, contexto adjacente e número de
sílabas, foram favorecedoras para a aplicação da regra de apagamento, e variáveis sociais,
como década, intérprete e gênero musical, também apresentaram papel relevante; 5) o
gênero musical poderia favorecer – ou não – a ocorrência de determinadas pronúncias?
Gêneros musicais de raízes mais populares mostraram-se relevantes para a realização de
fricativas e para o processo de apagamento, e aqueles de raízes mais nobres, como
europeias, parecem inibi-lo; 6) havia um padrão de canto utilizado por todos os intérpretes
ou eles se diferenciavam? Apesar de, na maioria das vezes, os intérpretes realizarem a
vibrante simples, cada um imprime às canções características próprias de sua fala; 7) a
mudança da realização do segmento em coda silábica final ocorreu em um processo
progressivo, como verificamos a sequência que diversos autores propõem: r x h
Ø? A mudança parece pular etapas – de vibrante a zero fonético –, devido ao baixo
percentual de fricativas; e 8) houve uma transição, alcançando uma regularidade pela
eliminação das variantes que eram concorrentes ou a mudança permaneceu estável? Não
houve uma transição, pois a vibrante simples permaneceu com elevado percentual no
decorrer das décadas.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
108
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
"Vem caindo a saudade
Dentro do meu coração
Quando a noite do céu vem descendo
Traz consigo a saudade e a ilusão..."
(Carneirinho por Francisco Alves/ 1934)
Nesta dissertação, foi analisada uma amostra de significativa diversidade da nossa
música da primeira metade do século XX, gravações musicais que contribuíram não apenas
para o patrimônio musical como também para a identidade cultural do nosso país. O
objetivo principal foi contribuir para a análise sociolinguística no que diz respeito ao
comportamento do rótico, em contexto de coda silábica final, entre 1902 e 1960,
recobrindo os primórdios da tradição musical brasileira do século XX até um pouco depois
da era de ouro. Com relação aos objetivos mais específicos deste estudo, acredita-se ter
alcançado o que se pretendia. Além disso, a partir dos resultados apontados e discutidos na
seção anterior, foi possível confirmar algumas das hipóteses levantadas no início do
trabalho.
As conclusões a que chegamos ao término desta dissertação podem ser assim
explicitadas: 1) a pronúncia do rótico final de palavra mais usada pelos intérpretes da
música brasileira da época em análise foi o tepe, que demonstrou ser a norma de uso; 2)
apesar de os intérpretes terem de seguir um padrão de canto estabelecido na época, cada
um apresenta traços linguísticos próprios; 3) os gêneros musicais desempenham um papel
relevante na escolha da pronúncia do rótico pelo intérprete; 4) os grupos de fatores
linguísticos relevantes para a diferenciação do rótico na música são praticamente os
mesmos selecionados em dados de fala espontânea e, dessa forma, é possível estabelecer
relações entre os resultados encontrados em pesquisas recentes sobre o comportamento do
rótico na fala espontânea nas décadas de 1970, 1990 e 2000 e 5) a mudança sonora parece
encaminhar-se para um processo que atua da vibrante ao zero fonético, já que o percentual
de fricativas é muito baixo.
Para além desses resultados, as maiores contribuições desta dissertação foram
preencher uma lacuna temporal entre 1902 e 1960 com estudo sobre o comportamento
variável do rótico em coda silábica final e sistematizar as pronúncias do segmento em
questão na fala cantada de conhecidos intérpretes da música popular brasileira. Fica em
aberto, para uma investigação futura, a pesquisa mais aprofundada sobre as características
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
109
dos gêneros musicais, dado que apresentam grande influência na diferenciação do rótico,
assim como averiguar a temática das canções e questões relacionadas ao ritmo e à
versificação. Também resta ser investigada a variação do segmento em outros contextos
silábicos, visto que se observou, de forma assistemática, uma maior ocorrência de
fricativas em ataque silábico, além de alguns casos de vibrante uvular, e não há
apagamento em coda medial, demonstrando também na música o comportamento distinto
do rótico a depender da sua posição na sílaba e na palavra. Além do mais, seria válido
observar a possível fronteira dialetal para a pronúncia do R na música, pois há intérpretes
da Bahia, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul e a análise das outras consoantes
que ocorrem em coda, como /l/ e /S/, dado que se observou assistematicamente que
raramente há a vocalização da lateral e prevalece a pronúncia chiante ao invés da sibilante,
pelo menos entre os intérpretes cariocas investigados.
Por fim, espera-se que esta dissertação tenha contribuído para o conhecimento
amplo da nossa língua, com um estudo de base variacionista sobre o comportamento do
rótico, mais especificamente, na área da fonética e da fonologia. Além disso, foi um prazer
aplicar a análise sociolinguística a uma amostra tão instigante da música popular brasileira.
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
110
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..............................................................................................................................Xavier, K. S.
114
ANEXOS
Anexo 1: Arquivos de especificações
1. Variável dependente
0 Apagamento
1 fricativa glotal
2 fricativa velar
3 vibrante anterior simples
4 vibrante anterior múltipla
Variáveis independentes
2. Classe morfológica
v verbo infinitivo
V verbo não infinitivo
s substantivo
p pronome
d advérbio
a adjetivo
r Preposição
3. Dimensão do vocábulo
1 uma sílaba
2 duas sílabas
3 três sílabas
4 quatro ou mais sílabas
4. Vogal antecedente
a [a]
e [e]
E []
i [i]
o [o]
O []
u [u]
5. Contexto subsequente
c consoante
v vogal
p pausa
6. Consoante subsequente
b [b]ola
k [k]asa
d [d]ado
f [f]aca
g [g]ato
j []ente
l [l]ateral
m [m]ato
n [n]ariz
p [p]ato
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
115
s [s]apato
x []ícara
t [t]atu
v [v]aca
z [z]ebra
c [d]ia
q [t]ia
/ casos em que não se aplica, ou seja, em contexto subsequente de vogal ou de pausa
7. Intérprete
M Mário Pinheiro
E Eduardo das Neves
V Vicente Celestino
F Francisco Alves
N Noel Rosa
S Orlando Silva
R Mário Reis
C Silvio Caldas
T Patrício Teixeira
8. Gênero musical
s Samba (partido alto, batuque e samba-canção)
l Lundu
n Marcha
a Toada
m Maxixe
o Cançoneta
p Polca
t Tango-brasileiro
v Valsa
d Modinha
r Seresta
b Bolero
c Canção
f Fado
g Barcarola
e Embolada
z Hino
9. Década
a 1902 - 1910
b 1911 - 1920
c 1921 - 1930
d 1931 - 1940
e 1941 - 1950
f 1951 - 1960
VERBOS
1. Variável dependente
0 apagamento
1 fricativa glotal
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
116
2 fricativa velar
3 vibrante anterior simples
4 vibrante anterior múltipla
2. Dimensão do vocábulo
1 uma sílaba
2 duas sílabas
3 três sílabas
4 quatro ou mais sílabas
3. Vogal antecedente
a [a]
e [e]
E []
i [i]
o [o]
O []
u [u]
4. Contexto subsequente
c consoante
v vogal
p pausa
5. Consoante subsequente
b [b]ola
k [k]asa
d [d]ado
f [f]aca
g [g]ato
j []ente
l [l]ateral
m [m]ato
n [n]ariz
p [p]ato
s [s]apato
x []ícara
t [t]atu
v [v]aca
z [z]ebra
c [d]ia
q [t]ia
/ casos em que não se aplica, ou seja, em contexto subsequente de vogal ou de pausa
6. Intérprete
M Mário Pinheiro
E Eduardo das Neves
V Vicente Celestino
F Francisco Alves
N Noel Rosa
S Orlando Silva
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
117
R Mário Reis
C Silvio Caldas
T Patrício Teixeira
7. Gênero musical
s Samba (partido alto, batuque e samba-canção)
l Lundu
n Marcha
a Toada
m Maxixe
o Cançoneta
p Polca
t Tango-brasileiro
v Valsa
d Modinha
r Seresta
b Bolero
c Canção
f Fado
g Barcarola
e Embolada
z Hino
8. Década
a 1902 - 1910
b 1911 - 1920
c 1921 - 1930
d 1931 - 1940
e 1941 - 1950
f 1951 - 1960
NÃO VERBOS
1. Variável dependente
0 apagamento
1 fricativa glotal
2 fricativa velar
3 vibrante anterior simples
4 vibrante anterior múltipla
Variáveis independentes
2. Dimensão do vocábulo
1 uma sílaba
2 duas sílabas
3 três sílabas
4 quatro ou mais sílabas
3. Vogal antecedente
a [a]
e [e]
E []
i [i]
o [o]
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
118
O []
u [u]
4. Contexto subsequente
c consoante
v vogal
p pausa
5. Consoante subsequente
b [b]ola
k [k]asa
d [d]ado
f [f]aca
g [g]ato
j []ente
l [l]ateral
m [m]ato
n [n]ariz
p [p]ato
s [s]apato
x []ícara
t [t]atu
v [v]aca
z [z]ebra
c [d]ia
q [t]ia
/ casos em que não se aplica, ou seja, em contexto subsequente de vogal ou de pausa
6. Tonicidade da sílaba
O oxítono tônico
P paroxítono
7. Intérprete
M Mário Pinheiro
E Eduardo das Neves
V Vicente Celestino
F Francisco Alves
N Noel Rosa
S Orlando Silva
R Mário Reis
C Silvio Caldas
T Patrício Teixeira
8. Gênero musical
s Samba (partido alto, batuque e samba-canção)
l Lundu
n Marcha
a Toada
m Maxixe
o Cançoneta
p Polca
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
119
t Tango-brasileiro
v Valsa
d Modinha
r Seresta
b Bolero
c Canção
f Fado
g Barcarola
e Embolada
z Hino
9. Década
a 1902 - 1910
b 1911 - 1920
c 1921 - 1930
d 1931 - 1940
e 1941 - 1950
f 1951 - 1960
Anexo 2: Rodada geral
Number of cells: 1144
Application value(s): 304125
Total no. of factors: 66
Group 3 0 4 1 2 5 Total %
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
1 (2) 3 0 4 1 2 5
v N 1064 368 158 25 4 0 1619 56.6
% 65.7 22.7 9.8 1.5 0.2 0.0 * KnockOut *
V N 18 6 2 0 0 0 26 0.9
% 69.2 23.1 7.7 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
s N 796 64 231 10 0 1 1102 38.6
% 72.2 5.8 21.0 0.9 0.0 0.1 * KnockOut *
d N 4 0 0 0 0 0 4 0.1
% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
a N 25 4 6 0 0 0 35 1.2
% 71.4 11.4 17.1 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
r N 39 0 24 0 0 0 63 2.2 % 61.9 0.0 38.1 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
p N 7 1 1 0 0 0 9 0.3
% 77.8 11.1 11.1 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
2 (3) 3 0 4 1 2 5
1 N 343 43 108 6 2 0 502 17.6
% 68.3 8.6 21.5 1.2 0.4 0.0 * KnockOut *
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
120
2 N 1274 317 251 25 1 0 1868 65.4
% 68.2 17.0 13.4 1.3 0.1 0.0 * KnockOut *
4 N 28 10 17 2 0 0 57 2.0
% 49.1 17.5 29.8 3.5 0.0 0.0 * KnockOut *
3 N 308 73 46 2 1 1 431 15.1
% 71.5 16.9 10.7 0.5 0.2 0.2
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
3 (4) 3 0 4 1 2 5
e N 401 114 66 6 3 1 591 20.7
% 67.9 19.3 11.2 1.0 0.5 0.2
a N 680 247 130 19 1 0 1077 37.7
% 63.1 22.9 12.1 1.8 0.1 0.0 * KnockOut *
E N 129 40 15 1 0 0 185 6.5
% 69.7 21.6 8.1 0.5 0.0 0.0 * KnockOut *
i N 114 14 12 2 0 0 142 5.0
% 80.3 9.9 8.5 1.4 0.0 0.0 * KnockOut *
o N 605 25 193 7 0 0 830 29.0
% 72.9 3.0 23.3 0.8 0.0 0.0 * KnockOut *
O N 24 3 6 0 0 0 33 1.2
% 72.7 9.1 18.2 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
4 (5) 3 0 4 1 2 5
c N 522 105 149 11 4 0 791 27.7
% 66.0 13.3 18.8 1.4 0.5 0.0 * KnockOut *
v N 361 28 11 0 0 0 400 14.0
% 90.2 7.0 2.8 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
p N 1070 310 262 24 0 1 1667 58.3 % 64.2 18.6 15.7 1.4 0.0 0.1 * KnockOut *
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
5 (6) 3 0 4 1 2 5
n N 77 14 19 0 0 0 110 13.8
% 70.0 12.7 17.3 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
m N 37 17 23 0 1 0 78 9.8
% 47.4 21.8 29.5 0.0 1.3 0.0 * KnockOut *
s N 46 4 14 0 1 0 65 8.2
% 70.8 6.2 21.5 0.0 1.5 0.0 * KnockOut *
d N 89 18 15 6 0 0 128 16.1
% 69.5 14.1 11.7 4.7 0.0 0.0 * KnockOut *
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
121
x N 5 8 0 0 0 0 13 1.6
% 38.5 61.5 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
t N 30 0 14 1 0 0 45 5.7
% 66.7 0.0 31.1 2.2 0.0 0.0 * KnockOut *
k N 71 14 24 2 0 0 111 14.0
% 64.0 12.6 21.6 1.8 0.0 0.0 * KnockOut *
j N 3 0 1 0 0 0 4 0.5
% 75.0 0.0 25.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
c N 48 3 8 1 0 0 60 7.5
% 80.0 5.0 13.3 1.7 0.0 0.0 * KnockOut *
b N 15 8 6 0 0 0 29 3.6
% 51.7 27.6 20.7 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
l N 8 2 4 0 0 0 14 1.8 % 57.1 14.3 28.6 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
p N 31 6 10 0 0 0 47 5.9
% 66.0 12.8 21.3 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
v N 15 10 0 1 2 0 28 3.5
% 53.6 35.7 0.0 3.6 7.1 0.0 * KnockOut *
f N 37 3 7 0 0 0 47 5.9
% 78.7 6.4 14.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
q N 4 0 3 0 0 0 7 0.9
% 57.1 0.0 42.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
g N 4 0 0 0 0 0 4 0.5
% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
z N 3 0 2 0 0 0 5 0.6
% 60.0 0.0 40.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
Total N 523 107 150 11 4 0 795
% 65.8 13.5 18.9 1.4 0.5 0.0
––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6 (7) 3 0 4 1 2 5
E N 243 35 79 9 0 0 366 12.8
% 66.4 9.6 21.6 2.5 0.0 0.0 * KnockOut *
F N 304 109 32 3 1 0 449 15.7
% 67.7 24.3 7.1 0.7 0.2 0.0 * KnockOut *
M N 395 18 71 4 0 0 488 17.1
% 80.9 3.7 14.5 0.8 0.0 0.0 * KnockOut *
R N 112 121 0 16 0 0 249 8.7 % 45.0 48.6 0.0 6.4 0.0 0.0 * KnockOut *
N N 24 78 0 2 3 0 107 3.7
% 22.4 72.9 0.0 1.9 2.8 0.0 * KnockOut *
S N 111 3 42 0 0 0 156 5.5
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
122
% 71.2 1.9 26.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
T N 112 33 12 0 0 1 158 5.5
% 70.9 20.9 7.6 0.0 0.0 0.6 * KnockOut *
C N 177 37 58 0 0 0 272 9.5
% 65.1 13.6 21.3 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
V N 475 9 128 1 0 0 613 21.4 % 77.5 1.5 20.9 0.2 0.0 0.0 * KnockOut *
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
7 (8) 3 0 4 1 2 5
l N 100 19 32 0 0 0 151 5.3
% 66.2 12.6 21.2 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
z N 30 3 17 0 0 0 50 1.7
% 60.0 6.0 34.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
o N 51 0 5 0 0 0 56 2.0
% 91.1 0.0 8.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
s N 533 302 34 23 4 1 897 31.4
% 59.4 33.7 3.8 2.6 0.4 0.1
d N 260 3 35 3 0 0 301 10.5
% 86.4 1.0 11.6 1.0 0.0 0.0 * KnockOut *
a N 19 46 9 2 0 0 76 2.7 % 25.0 60.5 11.8 2.6 0.0 0.0 * KnockOut *
m N 57 7 6 0 0 0 70 2.4
% 81.4 10.0 8.6 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
v N 256 0 141 0 0 0 397 13.9
% 64.5 0.0 35.5 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
n N 88 42 7 1 0 0 138 4.8
% 63.8 30.4 5.1 0.7 0.0 0.0 * KnockOut *
c N 232 12 65 5 0 0 314 11.0 % 73.9 3.8 20.7 1.6 0.0 0.0 * KnockOut *
t N 193 1 47 0 0 0 241 8.4
% 80.1 0.4 19.5 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
r N 78 0 21 1 0 0 100 3.5
% 78.0 0.0 21.0 1.0 0.0 0.0 * KnockOut *
f N 13 0 0 0 0 0 13 0.5
% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
p N 14 0 3 0 0 0 17 0.6
% 82.4 0.0 17.6 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
g N 29 0 0 0 0 0 29 1.0
% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
123
e N 0 8 0 0 0 0 8 0.3
% 0.0 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
8 (9) 3 0 4 1 2 5
a N 424 21 92 3 0 0 540 18.9
% 78.5 3.9 17.0 0.6 0.0 0.0 * KnockOut *
b N 410 39 106 16 0 0 571 20.0
% 71.8 6.8 18.6 2.8 0.0 0.0 * KnockOut *
c N 486 238 42 14 1 0 781 27.3
% 62.2 30.5 5.4 1.8 0.1 0.0 * KnockOut *
d N 633 145 182 2 3 1 966 33.8
% 65.5 15.0 18.8 0.2 0.3 0.1
Total N 1953 443 422 35 4 1 2858 % 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
–––––––––––––––––––––––––––––––––––
TOTAL N 1953 443 422 35 4 1 2858
% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0
Anexo 3: Rodadas dos verbos e dos não verbos
Number of cells: 602
Application value(s): 0
Total no. of factors: 45
Non-
Group Apps apps Total %
–––––––––––––––––––
1 (3)
1 N 35 177 212 12.9 % 16.5 83.5
2 N 263 786 1049 63.8
% 25.1 74.9
4 N 7 26 33 2.0
% 21.2 78.8
3 N 69 282 351 21.3
% 19.7 80.3
Total N 374 1271 1645
% 22.7 77.3
–––––––––––––––––––
2 (4)
e N 109 427 536 32.7
% 20.3 79.7
a N 240 667 907 55.4
% 26.5 73.5
E N 11 51 62 3.8 % 17.7 82.3
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
124
i N 14 119 133 8.1
% 10.5 89.5
Total N 374 1264 1638
% 22.8 77.2
–––––––––––––––––––
3 (5)
c N 87 344 431 26.2
% 20.2 79.8
v N 18 256 274 16.7
% 6.6 93.4
p N 269 671 940 57.1
% 28.6 71.4
Total N 374 1271 1645
% 22.7 77.3
–––––––––––––––––––
4 (6) n N 11 57 68 16.8
% 16.2 83.8
m N 15 33 48 11.9
% 31.2 68.8
s N 4 33 37 9.2
% 10.8 89.2
d N 15 50 65 16.1
% 23.1 76.9
x N 2 4 6 1.5
% 33.3 66.7
h N 12 48 60 14.9
% 20.0 80.0
c N 3 19 22 5.4
% 13.6 86.4
b N 8 18 26 6.4
% 30.8 69.2
l N 1 6 7 1.7
% 14.3 85.7
p N 6 20 26 6.4
% 23.1 76.9
v N 10 12 22 5.4
% 45.5 54.5
f N 2 15 17 4.2 % 11.8 88.2
Total N 89 315 404
% 22.0 78.0
–––––––––––––––––––
5 (7)
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
125
E N 27 200 227 13.8
% 11.9 88.1
F N 89 197 286 17.4
% 31.1 68.9
M N 16 222 238 14.5
% 6.7 93.3
R N 101 57 158 9.6
% 63.9 36.1
N N 71 22 93 5.7
% 76.3 23.7
S N 2 78 80 4.9
% 2.5 97.5
T N 26 56 82 5.0
% 31.7 68.3
C N 35 145 180 10.9
% 19.4 80.6
V N 7 294 301 18.3
% 2.3 97.7
Total N 374 1271 1645
% 22.7 77.3
–––––––––––––––––––
6 (8) l N 14 73 87 6.5
% 16.1 83.9
z N 2 18 20 1.5
% 10.0 90.0
s N 265 367 632 47.6
% 41.9 58.1
d N 1 168 169 12.7
% 0.6 99.4
a N 37 18 55 4.1
% 67.3 32.7
m N 7 41 48 3.6
% 14.6 85.4
n N 31 38 69 5.2
% 44.9 55.1
c N 8 115 123 9.3
% 6.5 93.5
t N 1 125 126 9.5
% 0.8 99.2
Total N 366 963 1329
% 27.5 72.5
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
126
–––––––––––––––––––
7 (9)
a N 15 252 267 16.2
% 5.6 94.4
b N 35 300 335 20.4
% 10.4 89.6
c N 197 259 456 27.7 % 43.2 56.8
d N 127 460 587 35.7
% 21.6 78.4
Total N 374 1271 1645
% 22.7 77.3
–––––––––––––––––––
TOTAL N 374 1271 1645
% 22.7 77.3
• BINOMIAL VARBRUL • 22/08/2015 13:34:48 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of cell file: .cel
Averaging by weighting factors.
Threshold, step-up/down: 0.050001
Stepping up...
––––– Level # 0 –––––
Run # 1, 1 cells: Convergence at Iteration 2
Input 0.227
Log likelihood = -881.821
––––– Level # 1 –––––
Run # 2, 4 cells:
Convergence at Iteration 4
Input 0.226
Group # 1 – 1: 0.405, 2: 0.535, 4: 0.480, 3: 0.457
Log likelihood = -876.710 Significance = 0.017
Run # 3, 5 cells: Convergence at Iteration 5
Input 0.224
Group # 2 – e: 0.470, a: 0.555, E: 0.428, i: 0.290
Log likelihood = -870.319 Significance = 0.000
Run # 4, 3 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.210
Group # 3 – c: 0.487, v: 0.209, p: 0.601
Log likelihood = -845.948 Significance = 0.000
Run # 5, 13 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.209
Group # 4 – n: 0.422, m: 0.632, s: 0.314, d: 0.531, x: 0.654, h: 0.486, c: 0.374, b: 0.627, l: 0.387, p: 0.531, v:
0.759, f: 0.335
Log likelihood = -873.322 Significance = 0.637
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
127
Run # 6, 9 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.151
Group # 5 – E: 0.432, F: 0.718, M: 0.289, R: 0.909, N: 0.948, S: 0.126, T: 0.724, C: 0.576, V: 0.119
Log likelihood = -655.467 Significance = 0.000
Run # 7, 10 cells:
Convergence at Iteration 7 Input 0.155
Group # 6 – l: 0.511, z: 0.377, s: 0.797, d: 0.031, a: 0.918, m: 0.482, n: 0.816, c: 0.275, t: 0.042
Log likelihood = -709.721 Significance = 0.000
Run # 8, 4 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.193
Group # 7 – a: 0.200, b: 0.328, c: 0.761, d: 0.536
Log likelihood = -788.331 Significance = 0.000
Add Group # 5 with factors EFMRNSTCV
––––– Level # 2 –––––
Run # 9, 33 cells:
Convergence at Iteration 7
Input 0.146
Group # 1 – 1: 0.255, 2: 0.560, 4: 0.406, 3: 0.491
Group # 5 – E: 0.433, F: 0.709, M: 0.275, R: 0.922, N: 0.959, S: 0.126, T: 0.720, C: 0.568, V: 0.114
Log likelihood = -638.693 Significance = 0.000
Run # 10, 41 cells:
Convergence at Iteration 7 Input 0.147
Group # 2 – e: 0.457, a: 0.568, E: 0.260, i: 0.335
Group # 5 – E: 0.431, F: 0.714, M: 0.289, R: 0.922, N: 0.944, S: 0.135, T: 0.709, C: 0.567, V: 0.116
Log likelihood = -643.736 Significance = 0.000
Run # 11, 27 cells:
Convergence at Iteration 7
Input 0.134
Group # 3 – c: 0.483, v: 0.165, p: 0.623
Group # 5 – E: 0.450, F: 0.721, M: 0.288, R: 0.903, N: 0.963, S: 0.131, T: 0.711, C: 0.562, V: 0.108
Log likelihood = -618.503 Significance = 0.000
Run # 12, 95 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.130
Group # 4 – n: 0.381, m: 0.713, s: 0.188, d: 0.639, x: 0.672, h: 0.510, c: 0.304, b: 0.852, l: 0.298, p: 0.436, v:
0.516, f: 0.282
Group # 5 – E: 0.434, F: 0.723, M: 0.289, R: 0.920, N: 0.955, S: 0.096, T: 0.724, C: 0.555, V: 0.117
Log likelihood = -639.642 Significance = 0.130
Run # 13, 41 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.116 Group # 5 – E: 0.354, F: 0.675, M: 0.347, R: 0.895, N: 0.936, S: 0.140, T: 0.430, C: 0.550, V: 0.221
Group # 6 – l: 0.726, z: 0.605, s: 0.636, d: 0.077, a: 0.964, m: 0.443, n: 0.802, c: 0.385, t: 0.135
Log likelihood = -575.506 Significance = 0.000
Run # 14, 18 cells:
No Convergence at Iteration 20
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
128
Input 0.140
Group # 5 – E: 0.600, F: 0.634, M: 0.530, R: 0.786, N: 0.959, S: 0.156, T: 0.620, C: 0.532, V: 0.088
Group # 7 – a: 0.228, b: 0.418, c: 0.760, d: 0.462
Log likelihood = -626.924 Significance = 0.000
Add Group # 6 with factors lzsdamnct
––––– Level # 3 –––––
Run # 15, 114 cells: No Convergence at Iteration 20
Input 0.113
Group # 1 – 1: 0.243, 2: 0.558, 4: 0.362, 3: 0.510
Group # 5 – E: 0.358, F: 0.671, M: 0.310, R: 0.913, N: 0.951, S: 0.153, T: 0.425, C: 0.551, V: 0.208
Group # 6 – l: 0.749, z: 0.605, s: 0.628, d: 0.079, a: 0.967, m: 0.460, n: 0.786, c: 0.399, t: 0.132
Log likelihood = -557.818 Significance = 0.000
Run # 16, 123 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.113
Group # 2 – e: 0.454, a: 0.561, E: 0.254, i: 0.394 Group # 5 – E: 0.359, F: 0.672, M: 0.338, R: 0.910, N: 0.931, S: 0.150, T: 0.423, C: 0.543, V: 0.216
Group # 6 – l: 0.732, z: 0.568, s: 0.639, d: 0.080, a: 0.963, m: 0.456, n: 0.782, c: 0.360, t: 0.141
Log likelihood = -567.488 Significance = 0.001
Run # 17, 104 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.103
Group # 3 – c: 0.458, v: 0.157, p: 0.638
Group # 5 – E: 0.358, F: 0.686, M: 0.308, R: 0.888, N: 0.957, S: 0.156, T: 0.419, C: 0.535, V: 0.222
Group # 6 – l: 0.783, z: 0.649, s: 0.628, d: 0.078, a: 0.965, m: 0.402, n: 0.820, c: 0.399, t: 0.117
Log likelihood = -536.303 Significance = 0.000
Run # 18, 184 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.088
Group # 4 – n: 0.416, m: 0.623, s: 0.166, d: 0.689, x: 0.650, h: 0.498, c: 0.341, b: 0.871, l: 0.324, p: 0.450, v:
0.529, f: 0.199
Group # 5 – E: 0.348, F: 0.690, M: 0.331, R: 0.911, N: 0.947, S: 0.112, T: 0.447, C: 0.526, V: 0.215
Group # 6 – l: 0.754, z: 0.607, s: 0.631, d: 0.077, a: 0.967, m: 0.438, n: 0.805, c: 0.357, t: 0.142
Log likelihood = -558.841 Significance = 0.099
Run # 19, 63 cells:
No Convergence at Iteration 20 Input 0.103
Group # 5 – E: 0.506, F: 0.577, M: 0.640, R: 0.749, N: 0.942, S: 0.151, T: 0.368, C: 0.465, V: 0.181
Group # 6 – l: 0.852, z: 0.690, s: 0.647, d: 0.060, a: 0.931, m: 0.411, n: 0.826, c: 0.389, t: 0.109
Group # 7 – a: 0.185, b: 0.414, c: 0.765, d: 0.489
Log likelihood = -553.284 Significance = 0.000
Add Group # 3 with factors cvp
––––– Level # 4 –––––
Run # 20, 239 cells:
No Convergence at Iteration 20 Input 0.100
Group # 1 – 1: 0.270, 2: 0.550, 4: 0.307, 3: 0.521
Group # 3 – c: 0.478, v: 0.158, p: 0.629
Group # 5 – E: 0.355, F: 0.680, M: 0.281, R: 0.907, N: 0.965, S: 0.172, T: 0.421, C: 0.546, V: 0.206
Group # 6 – l: 0.796, z: 0.673, s: 0.620, d: 0.079, a: 0.967, m: 0.421, n: 0.808, c: 0.410, t: 0.119
Log likelihood = -523.912 Significance = 0.000
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
129
Run # 21, 244 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.101
Group # 2 – e: 0.467, a: 0.549, E: 0.235, i: 0.438
Group # 3 – c: 0.472, v: 0.155, p: 0.633
Group # 5 – E: 0.359, F: 0.683, M: 0.306, R: 0.904, N: 0.954, S: 0.162, T: 0.414, C: 0.525, V: 0.217
Group # 6 – l: 0.781, z: 0.623, s: 0.633, d: 0.078, a: 0.964, m: 0.412, n: 0.806, c: 0.374, t: 0.123
Log likelihood = -529.812 Significance = 0.007
Run # 22, 230 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.165
Group # 3 – c: 0.314, v: 0.176, p: 0.692
Group # 4 – n: 0.398, m: 0.613, s: 0.172, d: 0.710, x: 0.626, h: 0.491, c: 0.321, b: 0.884, l: 0.301, p: 0.466, v:
0.546, f: 0.184
Group # 5 – E: 0.355, F: 0.701, M: 0.295, R: 0.910, N: 0.967, S: 0.115, T: 0.441, C: 0.510, V: 0.207
Group # 6 – l: 0.807, z: 0.647, s: 0.616, d: 0.083, a: 0.968, m: 0.394, n: 0.828, c: 0.371, t: 0.128
Log likelihood = -516.423 Significance = 0.039
Run # 23, 156 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.087
Group # 3 – c: 0.436, v: 0.144, p: 0.654
Group # 5 – E: 0.523, F: 0.600, M: 0.578, R: 0.706, N: 0.968, S: 0.187, T: 0.355, C: 0.463, V: 0.171
Group # 6 – l: 0.874, z: 0.719, s: 0.652, d: 0.058, a: 0.936, m: 0.332, n: 0.850, c: 0.396, t: 0.088
Group # 7 – a: 0.216, b: 0.394, c: 0.788, d: 0.453
Log likelihood = -509.318 Significance = 0.000
Add Group # 7 with factors abcd
––––– Level # 5 –––––
Run # 24, 319 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.083
Group # 1 – 1: 0.272, 2: 0.552, 4: 0.301, 3: 0.512
Group # 3 – c: 0.454, v: 0.143, p: 0.647
Group # 5 – E: 0.530, F: 0.588, M: 0.562, R: 0.747, N: 0.973, S: 0.200, T: 0.356, C: 0.466, V: 0.156
Group # 6 – l: 0.883, z: 0.747, s: 0.645, d: 0.059, a: 0.940, m: 0.338, n: 0.840, c: 0.405, t: 0.089
Group # 7 – a: 0.207, b: 0.384, c: 0.791, d: 0.462
Log likelihood = -497.738 Significance = 0.000
Run # 25, 328 cells: No Convergence at Iteration 20
Input 0.084
Group # 2 – e: 0.469, a: 0.539, E: 0.205, i: 0.514
Group # 3 – c: 0.448, v: 0.138, p: 0.653
Group # 5 – E: 0.522, F: 0.599, M: 0.576, R: 0.740, N: 0.966, S: 0.193, T: 0.358, C: 0.452, V: 0.165
Group # 6 – l: 0.876, z: 0.705, s: 0.659, d: 0.056, a: 0.934, m: 0.333, n: 0.844, c: 0.366, t: 0.091
Group # 7 – a: 0.216, b: 0.398, c: 0.791, d: 0.447
Log likelihood = -501.873 Significance = 0.004
Run # 26, 298 cells:
No Convergence at Iteration 20 Input 0.156
Group # 3 – c: 0.282, v: 0.169, p: 0.710
Group # 4 – n: 0.444, m: 0.610, s: 0.185, d: 0.665, x: 0.704, h: 0.510, c: 0.366, b: 0.826, l: 0.285, p: 0.510, v:
0.484, f: 0.185
Group # 5 – E: 0.518, F: 0.614, M: 0.567, R: 0.765, N: 0.971, S: 0.152, T: 0.375, C: 0.433, V: 0.160
Group # 6 – l: 0.883, z: 0.715, s: 0.640, d: 0.063, a: 0.942, m: 0.333, n: 0.851, c: 0.380, t: 0.098
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
130
Group # 7 – a: 0.215, b: 0.395, c: 0.772, d: 0.470
Log likelihood = -494.832 Significance = 0.183
Add Group # 1 with factors 1243
––––– Level # 6 –––––
Run # 27, 504 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.083 Group # 1 – 1: 0.327, 2: 0.544, 4: 0.283, 3: 0.500
Group # 2 – e: 0.480, a: 0.528, E: 0.300, i: 0.489
Group # 3 – c: 0.456, v: 0.141, p: 0.648
Group # 5 – E: 0.528, F: 0.589, M: 0.561, R: 0.760, N: 0.970, S: 0.202, T: 0.358, C: 0.467, V: 0.154
Group # 6 – l: 0.881, z: 0.730, s: 0.650, d: 0.059, a: 0.938, m: 0.332, n: 0.836, c: 0.392, t: 0.091
Group # 7 – a: 0.210, b: 0.388, c: 0.791, d: 0.457
Log likelihood = -495.432 Significance = 0.203
Run # 28, 446 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.147 Group # 1 – 1: 0.278, 2: 0.547, 4: 0.311, 3: 0.521
Group # 3 – c: 0.297, v: 0.166, p: 0.703
Group # 4 – n: 0.422, m: 0.630, s: 0.232, d: 0.639, x: 0.703, h: 0.504, c: 0.305, b: 0.805, l: 0.251, p: 0.585, v:
0.536, f: 0.174
Group # 5 – E: 0.530, F: 0.603, M: 0.554, R: 0.793, N: 0.976, S: 0.170, T: 0.374, C: 0.441, V: 0.141
Group # 6 – l: 0.894, z: 0.735, s: 0.631, d: 0.064, a: 0.944, m: 0.345, n: 0.840, c: 0.396, t: 0.099
Group # 7 – a: 0.208, b: 0.384, c: 0.776, d: 0.478
Log likelihood = -485.087 Significance = 0.285
No remaining groups significant
Groups selected while stepping up: 5 6 3 7 1
Best stepping up run: #24
––––––––––––––––––––––-
Stepping down...
––––– Level # 7 –––––
Run # 29, 602 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.146
Group # 1 – 1: 0.327, 2: 0.539, 4: 0.295, 3: 0.512
Group # 2 – e: 0.480, a: 0.526, E: 0.321, i: 0.491
Group # 3 – c: 0.299, v: 0.163, p: 0.704 Group # 4 – n: 0.418, m: 0.630, s: 0.248, d: 0.643, x: 0.709, h: 0.498, c: 0.326, b: 0.801, l: 0.244, p: 0.575, v:
0.515, f: 0.173
Group # 5 – E: 0.526, F: 0.604, M: 0.555, R: 0.801, N: 0.974, S: 0.176, T: 0.376, C: 0.441, V: 0.140
Group # 6 – l: 0.892, z: 0.723, s: 0.636, d: 0.063, a: 0.942, m: 0.337, n: 0.837, c: 0.384, t: 0.101
Group # 7 – a: 0.209, b: 0.389, c: 0.777, d: 0.473
Log likelihood = -483.367
––––– Level # 6 –––––
Run # 30, 458 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.152 Group # 2 – e: 0.467, a: 0.538, E: 0.225, i: 0.515
Group # 3 – c: 0.289, v: 0.162, p: 0.709
Group # 4 – n: 0.426, m: 0.615, s: 0.234, d: 0.664, x: 0.713, h: 0.493, c: 0.376, b: 0.821, l: 0.259, p: 0.519, v:
0.467, f: 0.175
Group # 5 – E: 0.517, F: 0.613, M: 0.569, R: 0.786, N: 0.971, S: 0.167, T: 0.376, C: 0.422, V: 0.152
Group # 6 – l: 0.885, z: 0.703, s: 0.646, d: 0.061, a: 0.939, m: 0.333, n: 0.847, c: 0.356, t: 0.101
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
131
Group # 7 – a: 0.213, b: 0.398, c: 0.777, d: 0.465
Log likelihood = -488.846 Significance = 0.013
Run # 31, 446 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.147
Group # 1 – 1: 0.278, 2: 0.547, 4: 0.311, 3: 0.521
Group # 3 – c: 0.297, v: 0.166, p: 0.703
Group # 4 – n: 0.422, m: 0.630, s: 0.232, d: 0.639, x: 0.703, h: 0.504, c: 0.305, b: 0.805, l: 0.251, p: 0.585, v: 0.536, f: 0.174
Group # 5 – E: 0.530, F: 0.603, M: 0.554, R: 0.793, N: 0.976, S: 0.170, T: 0.374, C: 0.441, V: 0.141
Group # 6 – l: 0.894, z: 0.735, s: 0.631, d: 0.064, a: 0.944, m: 0.345, n: 0.840, c: 0.396, t: 0.099
Group # 7 – a: 0.208, b: 0.384, c: 0.776, d: 0.478
Log likelihood = -485.087 Significance = 0.335
Run # 32, 514 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.079
Group # 1 – 1: 0.281, 2: 0.554, 4: 0.360, 3: 0.492
Group # 2 – e: 0.481, a: 0.529, E: 0.410, i: 0.425 Group # 4 – n: 0.421, m: 0.629, s: 0.234, d: 0.629, x: 0.717, h: 0.507, c: 0.339, b: 0.792, l: 0.258, p: 0.563, v:
0.536, f: 0.198
Group # 5 – E: 0.508, F: 0.587, M: 0.579, R: 0.825, N: 0.957, S: 0.152, T: 0.380, C: 0.449, V: 0.158
Group # 6 – l: 0.865, z: 0.670, s: 0.637, d: 0.066, a: 0.941, m: 0.410, n: 0.802, c: 0.374, t: 0.121
Group # 7 – a: 0.204, b: 0.405, c: 0.748, d: 0.498
Log likelihood = -525.728 Significance = 0.000
Run # 33, 504 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.083
Group # 1 – 1: 0.327, 2: 0.544, 4: 0.283, 3: 0.500 Group # 2 – e: 0.480, a: 0.528, E: 0.300, i: 0.489
Group # 3 – c: 0.456, v: 0.141, p: 0.648
Group # 5 – E: 0.528, F: 0.589, M: 0.561, R: 0.760, N: 0.970, S: 0.202, T: 0.358, C: 0.467, V: 0.154
Group # 6 – l: 0.881, z: 0.730, s: 0.650, d: 0.059, a: 0.938, m: 0.332, n: 0.836, c: 0.392, t: 0.091
Group # 7 – a: 0.210, b: 0.388, c: 0.791, d: 0.457
Log likelihood = -495.432 Significance = 0.327
Run # 34, 477 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.191
Group # 1 – 1: 0.475, 2: 0.520, 4: 0.238, 3: 0.482
Group # 2 – e: 0.480, a: 0.539, E: 0.266, i: 0.431 Group # 3 – c: 0.291, v: 0.230, p: 0.681
Group # 4 – n: 0.534, m: 0.584, s: 0.276, d: 0.524, x: 0.654, h: 0.479, c: 0.474, b: 0.605, l: 0.380, p: 0.581, v:
0.590, f: 0.269
Group # 6 – l: 0.823, z: 0.657, s: 0.776, d: 0.033, a: 0.910, m: 0.389, n: 0.814, c: 0.255, t: 0.029
Group # 7 – a: 0.265, b: 0.370, c: 0.747, d: 0.482
Log likelihood = -573.766 Significance = 0.000
Run # 35, 442 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.205
Group # 1 – 1: 0.338, 2: 0.545, 4: 0.312, 3: 0.484 Group # 2 – e: 0.472, a: 0.542, E: 0.321, i: 0.411
Group # 3 – c: 0.325, v: 0.185, p: 0.683
Group # 4 – n: 0.379, m: 0.729, s: 0.259, d: 0.589, x: 0.779, h: 0.509, c: 0.351, b: 0.755, l: 0.216, p: 0.535, v:
0.501, f: 0.249
Group # 5 – E: 0.597, F: 0.641, M: 0.489, R: 0.837, N: 0.978, S: 0.162, T: 0.617, C: 0.516, V: 0.071
Group # 7 – a: 0.272, b: 0.408, c: 0.756, d: 0.446
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
132
Log likelihood = -559.133 Significance = 0.000
Run # 36, 525 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.166
Group # 1 – 1: 0.310, 2: 0.540, 4: 0.304, 3: 0.522
Group # 2 – e: 0.480, a: 0.532, E: 0.378, i: 0.420
Group # 3 – c: 0.321, v: 0.179, p: 0.687
Group # 4 – n: 0.372, m: 0.627, s: 0.230, d: 0.689, x: 0.629, h: 0.482, c: 0.296, b: 0.867, l: 0.256, p: 0.515, v: 0.591, f: 0.167
Group # 5 – E: 0.355, F: 0.695, M: 0.274, R: 0.927, N: 0.970, S: 0.140, T: 0.443, C: 0.523, V: 0.185
Group # 6 – l: 0.821, z: 0.648, s: 0.608, d: 0.086, a: 0.968, m: 0.411, n: 0.808, c: 0.382, t: 0.135
Log likelihood = -504.397 Significance = 0.000
Cut Group # 2 with factors eaEi
––––– Level # 5 –––––
Run # 37, 298 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.156 Group # 3 – c: 0.282, v: 0.169, p: 0.710
Group # 4 – n: 0.444, m: 0.610, s: 0.185, d: 0.665, x: 0.704, h: 0.510, c: 0.366, b: 0.826, l: 0.285, p: 0.510, v:
0.484, f: 0.185
Group # 5 – E: 0.518, F: 0.614, M: 0.567, R: 0.765, N: 0.971, S: 0.152, T: 0.375, C: 0.433, V: 0.160
Group # 6 – l: 0.883, z: 0.715, s: 0.640, d: 0.063, a: 0.942, m: 0.333, n: 0.851, c: 0.380, t: 0.098
Group # 7 – a: 0.215, b: 0.395, c: 0.772, d: 0.470
Log likelihood = -494.832 Significance = 0.000
Run # 38, 363 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.078 Group # 1 – 1: 0.258, 2: 0.558, 4: 0.372, 3: 0.497
Group # 4 – n: 0.426, m: 0.632, s: 0.227, d: 0.625, x: 0.716, h: 0.511, c: 0.312, b: 0.797, l: 0.266, p: 0.569, v:
0.540, f: 0.200
Group # 5 – E: 0.517, F: 0.585, M: 0.588, R: 0.814, N: 0.959, S: 0.144, T: 0.376, C: 0.443, V: 0.160
Group # 6 – l: 0.865, z: 0.683, s: 0.637, d: 0.063, a: 0.943, m: 0.418, n: 0.810, c: 0.385, t: 0.115
Group # 7 – a: 0.200, b: 0.396, c: 0.753, d: 0.501
Log likelihood = -526.826 Significance = 0.000
Run # 39, 319 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.083
Group # 1 – 1: 0.272, 2: 0.552, 4: 0.301, 3: 0.512 Group # 3 – c: 0.454, v: 0.143, p: 0.647
Group # 5 – E: 0.530, F: 0.588, M: 0.562, R: 0.747, N: 0.973, S: 0.200, T: 0.356, C: 0.466, V: 0.156
Group # 6 – l: 0.883, z: 0.747, s: 0.645, d: 0.059, a: 0.940, m: 0.338, n: 0.840, c: 0.405, t: 0.089
Group # 7 – a: 0.207, b: 0.384, c: 0.791, d: 0.462
Log likelihood = -497.738 Significance = 0.285
Run # 40, 327 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.192
Group # 1 – 1: 0.407, 2: 0.529, 4: 0.257, 3: 0.496
Group # 3 – c: 0.295, v: 0.237, p: 0.677 Group # 4 – n: 0.541, m: 0.580, s: 0.245, d: 0.522, x: 0.663, h: 0.490, c: 0.444, b: 0.604, l: 0.398, p: 0.594, v:
0.613, f: 0.286
Group # 6 – l: 0.830, z: 0.679, s: 0.771, d: 0.034, a: 0.915, m: 0.402, n: 0.819, c: 0.262, t: 0.029
Group # 7 – a: 0.265, b: 0.365, c: 0.740, d: 0.492
Log likelihood = -578.429 Significance = 0.000
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
133
Run # 41, 300 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.206
Group # 1 – 1: 0.286, 2: 0.553, 4: 0.341, 3: 0.494
Group # 3 – c: 0.320, v: 0.186, p: 0.685
Group # 4 – n: 0.391, m: 0.722, s: 0.242, d: 0.581, x: 0.781, h: 0.519, c: 0.312, b: 0.765, l: 0.226, p: 0.553, v:
0.516, f: 0.253
Group # 5 – E: 0.612, F: 0.639, M: 0.498, R: 0.821, N: 0.980, S: 0.152, T: 0.616, C: 0.509, V: 0.071
Group # 7 – a: 0.263, b: 0.394, c: 0.762, d: 0.453 Log likelihood = -562.504 Significance = 0.000
Run # 42, 371 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.166
Group # 1 – 1: 0.276, 2: 0.545, 4: 0.319, 3: 0.528
Group # 3 – c: 0.320, v: 0.177, p: 0.688
Group # 4 – n: 0.377, m: 0.632, s: 0.221, d: 0.687, x: 0.625, h: 0.485, c: 0.270, b: 0.871, l: 0.263, p: 0.519, v:
0.603, f: 0.168
Group # 5 – E: 0.356, F: 0.696, M: 0.272, R: 0.923, N: 0.972, S: 0.134, T: 0.444, C: 0.523, V: 0.188
Group # 6 – l: 0.825, z: 0.661, s: 0.606, d: 0.084, a: 0.969, m: 0.419, n: 0.816, c: 0.393, t: 0.130 Log likelihood = -505.979 Significance = 0.000
Cut Group # 4 with factors nmsdxhcblpvf
––––– Level # 4 –––––
Run # 43, 156 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.087
Group # 3 – c: 0.436, v: 0.144, p: 0.654
Group # 5 – E: 0.523, F: 0.600, M: 0.578, R: 0.706, N: 0.968, S: 0.187, T: 0.355, C: 0.463, V: 0.171
Group # 6 – l: 0.874, z: 0.719, s: 0.652, d: 0.058, a: 0.936, m: 0.332, n: 0.850, c: 0.396, t: 0.088 Group # 7 – a: 0.216, b: 0.394, c: 0.788, d: 0.453
Log likelihood = -509.318 Significance = 0.000
Run # 44, 163 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.099
Group # 1 – 1: 0.245, 2: 0.562, 4: 0.375, 3: 0.496
Group # 5 – E: 0.524, F: 0.570, M: 0.606, R: 0.786, N: 0.954, S: 0.160, T: 0.359, C: 0.460, V: 0.167
Group # 6 – l: 0.856, z: 0.694, s: 0.642, d: 0.062, a: 0.938, m: 0.416, n: 0.812, c: 0.399, t: 0.108
Group # 7 – a: 0.191, b: 0.394, c: 0.765, d: 0.496
Log likelihood = -536.847 Significance = 0.000
Run # 45, 200 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.114
Group # 1 – 1: 0.397, 2: 0.532, 4: 0.257, 3: 0.493
Group # 3 – c: 0.434, v: 0.206, p: 0.626
Group # 6 – l: 0.830, z: 0.683, s: 0.772, d: 0.034, a: 0.911, m: 0.400, n: 0.815, c: 0.263, t: 0.029
Group # 7 – a: 0.261, b: 0.365, c: 0.740, d: 0.494
Log likelihood = -585.696 Significance = 0.000
Run # 46, 148 cells:
No Convergence at Iteration 20 Input 0.116
Group # 1 – 1: 0.282, 2: 0.556, 4: 0.328, 3: 0.489
Group # 3 – c: 0.484, v: 0.158, p: 0.626
Group # 5 – E: 0.614, F: 0.636, M: 0.487, R: 0.795, N: 0.979, S: 0.182, T: 0.620, C: 0.537, V: 0.072
Group # 7 – a: 0.266, b: 0.391, c: 0.773, d: 0.441
Log likelihood = -576.163 Significance = 0.000
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
134
Run # 47, 239 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.100
Group # 1 – 1: 0.270, 2: 0.550, 4: 0.307, 3: 0.521
Group # 3 – c: 0.478, v: 0.158, p: 0.629
Group # 5 – E: 0.355, F: 0.680, M: 0.281, R: 0.907, N: 0.965, S: 0.172, T: 0.421, C: 0.546, V: 0.206
Group # 6 – l: 0.796, z: 0.673, s: 0.620, d: 0.079, a: 0.967, m: 0.421, n: 0.808, c: 0.410, t: 0.119
Log likelihood = -523.912 Significance = 0.000
All remaining groups significant
Groups eliminated while stepping down: 2 4
Best stepping up run: #24
Best stepping down run: #39
Number of cells: 505
Application value(s): 0
Knockouts Total no. of factors: 61
Non-
Group Apps apps Total %
–––––––––––––––––––
1 (2)
2 N 54 766 820 67.6
% 6.6 93.4
4 N 3 21 24 2.0
% 12.5 87.5
1 N 8 280 288 23.7 % 2.8 97.2
3 N 4 77 81 6.7
% 4.9 95.1
Total N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
–––––––––––––––––––
2 (3)
o N 25 795 820 67.6
% 3.0 97.0
a N 7 166 173 14.3
% 4.0 96.0
O N 3 30 33 2.7
% 9.1 90.9
e N 5 50 55 4.5
% 9.1 90.9
i N 0 9 9 0.7
% 0.0 100.0 * KnockOut *
E N 29 94 123 10.1
% 23.6 76.4
Total N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
135
–––––––––––––––––––
3 (4)
c N 18 341 359 29.6
% 5.0 95.0
p N 41 687 728 60.0
% 5.6 94.4
v N 10 116 126 10.4 % 7.9 92.1
Total N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
–––––––––––––––––––
4 (5)
j N 0 2 2 0.6
% 0.0 100.0 * KnockOut *
k N 2 50 52 14.4
% 3.8 96.2
m N 2 28 30 8.3
% 6.7 93.3
p N 0 20 20 5.5
% 0.0 100.0 * KnockOut *
s N 0 28 28 7.7
% 0.0 100.0 * KnockOut *
d N 3 60 63 17.4 % 4.8 95.2
l N 1 5 6 1.7
% 16.7 83.3
n N 3 40 43 11.9
% 7.0 93.0
q N 0 6 6 1.7
% 0.0 100.0 * KnockOut *
c N 0 38 38 10.5 % 0.0 100.0 * KnockOut *
f N 1 29 30 8.3
% 3.3 96.7
x N 6 1 7 1.9
% 85.7 14.3
v N 0 6 6 1.7
% 0.0 100.0 * KnockOut *
t N 0 21 21 5.8
% 0.0 100.0 * KnockOut *
b N 0 3 3 0.8
% 0.0 100.0 * KnockOut *
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
136
g N 0 2 2 0.6
% 0.0 100.0 * KnockOut *
z N 0 5 5 1.4
% 0.0 100.0 * KnockOut *
Total N 18 344 362
% 5.0 95.0
––––––––––––––––––– 5 (6)
O N 69 1100 1169 96.4
% 5.9 94.1
A N 0 43 43 3.5
% 0.0 100.0 * KnockOut *
P N 0 1 1 0.1
% 0.0 100.0 * KnockOut *
Total N 69 1144 1213 % 5.7 94.3
–––––––––––––––––––
6 (7)
E N 8 130 138 11.4
% 5.8 94.2
F N 20 144 164 13.5
% 12.2 87.8
M N 2 249 251 20.7
% 0.8 99.2
R N 20 70 90 7.4
% 22.2 77.8
N N 7 7 14 1.2
% 50.0 50.0
S N 1 75 76 6.3
% 1.3 98.7
T N 7 69 76 6.3
% 9.2 90.8
C N 2 90 92 7.6
% 2.2 97.8
V N 2 310 312 25.7
% 0.6 99.4
Total N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
–––––––––––––––––––
7 (8) l N 5 59 64 5.3
% 7.8 92.2
z N 1 29 30 2.5
% 3.3 96.7
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
137
o N 0 12 12 1.0
% 0.0 100.0 * KnockOut *
s N 37 226 263 21.7
% 14.1 85.9
d N 2 130 132 10.9
% 1.5 98.5
a N 9 12 21 1.7
% 42.9 57.1
v N 0 204 204 16.8
% 0.0 100.0 * KnockOut *
n N 11 59 70 5.8
% 15.7 84.3
m N 0 22 22 1.8
% 0.0 100.0 * KnockOut *
t N 0 115 115 9.5
% 0.0 100.0 * KnockOut *
c N 4 187 191 15.7
% 2.1 97.9
r N 0 49 49 4.0
% 0.0 100.0 * KnockOut *
f N 0 6 6 0.5 % 0.0 100.0 * KnockOut *
p N 0 9 9 0.7
% 0.0 100.0 * KnockOut *
g N 0 25 25 2.1
% 0.0 100.0 * KnockOut *
Total N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
–––––––––––––––––––
8 (9) a N 6 267 273 22.5
% 2.2 97.8
b N 4 232 236 19.5
% 1.7 98.3
c N 41 283 324 26.7
% 12.7 87.3
d N 18 362 380 31.3
% 4.7 95.3
Total N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
–––––––––––––––––––
TOTAL N 69 1144 1213
% 5.7 94.3
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
138
Name of new cell file: .cel
• BINOMIAL VARBRUL • 22/08/2015 12:19:51 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
Name of cell file: .cel
Averaging by weighting factors.
Threshold, step-up/down: 0.050001
Stepping up...
––––– Level # 0 –––––
Run # 1, 1 cells:
Convergence at Iteration 2
Input 0.057
Log likelihood = -264.805
––––– Level # 1 –––––
Run # 2, 4 cells:
Convergence at Iteration 5 Input 0.054
Group # 1 – 2: 0.555, 4: 0.716, 1: 0.336, 3: 0.479
Log likelihood = -260.610 Significance = 0.041
Run # 3, 6 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.043
Group # 2 – o: 0.411, a: 0.483, O: 0.689, e: 0.689, E: 0.872
Log likelihood = -235.696 Significance = 0.000
Run # 4, 3 cells: Convergence at Iteration 4
Input 0.056
Group # 3 – c: 0.469, p: 0.500, v: 0.590
Log likelihood = -264.112 Significance = 0.500
Run # 5, 8 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.058
Group # 4 – k: 0.395, m: 0.538, d: 0.449, l: 0.765, n: 0.550, f: 0.360, x: 0.990
Log likelihood = -249.454 Significance = 0.000
Run # 6, 9 cells: Convergence at Iteration 6
Input 0.025
Group # 5 – E: 0.708, F: 0.846, M: 0.241, R: 0.918, N: 0.975, S: 0.345, T: 0.800, C: 0.467, V: 0.203
Log likelihood = -210.804 Significance = 0.000
Run # 7, 8 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.058
Group # 6 – l: 0.577, z: 0.357, s: 0.725, d: 0.199, a: 0.924, n: 0.750, c: 0.257
Log likelihood = -229.219 Significance = 0.000
Run # 8, 4 cells:
Convergence at Iteration 5
Input 0.043
Group # 7 – a: 0.333, b: 0.277, c: 0.763, d: 0.525
Log likelihood = -244.622 Significance = 0.000
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
139
Add Group # 5 with factors EFMRNSTCV
––––– Level # 2 –––––
Run # 9, 31 cells:
Convergence at Iteration 6
Input 0.024
Group # 1 – 2: 0.519, 4: 0.678, 1: 0.439, 3: 0.472
Group # 5 – E: 0.689, F: 0.844, M: 0.245, R: 0.916, N: 0.974, S: 0.347, T: 0.798, C: 0.467, V: 0.210
Log likelihood = -209.929 Significance = 0.630
Run # 10, 43 cells:
Convergence at Iteration 7
Input 0.021
Group # 2 – o: 0.405, a: 0.618, O: 0.550, e: 0.632, E: 0.831
Group # 5 – E: 0.757, F: 0.775, M: 0.255, R: 0.919, N: 0.951, S: 0.420, T: 0.842, C: 0.405, V: 0.207
Log likelihood = -194.689 Significance = 0.000
Run # 11, 27 cells:
Convergence at Iteration 7
Input 0.024 Group # 3 – c: 0.431, p: 0.533, v: 0.509
Group # 5 – E: 0.701, F: 0.853, M: 0.236, R: 0.919, N: 0.977, S: 0.341, T: 0.800, C: 0.469, V: 0.204
Log likelihood = -209.913 Significance = 0.422
Run # 12, 51 cells:
Convergence at Iteration 8
Input 0.024
Group # 4 – k: 0.337, m: 0.427, d: 0.521, l: 0.832, n: 0.656, f: 0.255, x: 0.992
Group # 5 – E: 0.714, F: 0.821, M: 0.247, R: 0.932, N: 0.977, S: 0.383, T: 0.824, C: 0.502, V: 0.184
Log likelihood = -196.043 Significance = 0.000
Run # 13, 33 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.029
Group # 5 – E: 0.258, F: 0.856, M: 0.300, R: 0.935, N: 0.979, S: 0.481, T: 0.615, C: 0.581, V: 0.284
Group # 6 – l: 0.888, z: 0.768, s: 0.433, d: 0.427, a: 0.975, n: 0.571, c: 0.307
Log likelihood = -184.947 Significance = 0.000
Run # 14, 18 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.021
Group # 5 – E: 0.888, F: 0.747, M: 0.492, R: 0.794, N: 0.969, S: 0.294, T: 0.656, C: 0.361, V: 0.144
Group # 7 – a: 0.275, b: 0.227, c: 0.777, d: 0.597 Log likelihood = -205.123 Significance = 0.010
Add Group # 6 with factors lzsdanc
––––– Level # 3 –––––
Run # 15, 88 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.028
Group # 1 – 2: 0.509, 4: 0.747, 1: 0.477, 3: 0.415
Group # 5 – E: 0.238, F: 0.852, M: 0.320, R: 0.930, N: 0.978, S: 0.479, T: 0.604, C: 0.578, V: 0.291
Group # 6 – l: 0.869, z: 0.775, s: 0.449, d: 0.424, a: 0.977, n: 0.588, c: 0.294 Log likelihood = -183.417 Significance = 0.393
Run # 16, 101 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.020
Group # 2 – o: 0.405, a: 0.615, O: 0.562, e: 0.686, E: 0.814
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
140
Group # 5 – E: 0.401, F: 0.834, M: 0.226, R: 0.954, N: 0.974, S: 0.596, T: 0.762, C: 0.585, V: 0.232
Group # 6 – l: 0.864, z: 0.642, s: 0.371, d: 0.576, a: 0.966, n: 0.565, c: 0.340
Log likelihood = -172.446 Significance = 0.000
Run # 17, 86 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.029
Group # 3 – c: 0.444, p: 0.532, v: 0.477
Group # 5 – E: 0.256, F: 0.864, M: 0.306, R: 0.933, N: 0.980, S: 0.494, T: 0.595, C: 0.583, V: 0.276 Group # 6 – l: 0.886, z: 0.753, s: 0.431, d: 0.424, a: 0.975, n: 0.551, c: 0.321
Log likelihood = -183.985 Significance = 0.395
Run # 18, 112 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.025
Group # 4 – k: 0.349, m: 0.482, d: 0.485, l: 0.619, n: 0.695, f: 0.241, x: 0.993
Group # 5 – E: 0.256, F: 0.870, M: 0.280, R: 0.941, N: 0.979, S: 0.573, T: 0.637, C: 0.629, V: 0.249
Group # 6 – l: 0.895, z: 0.787, s: 0.444, d: 0.440, a: 0.978, n: 0.387, c: 0.333
Log likelihood = -172.114 Significance = 0.000
Run # 19, 51 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.024
Group # 5 – E: 0.715, F: 0.696, M: 0.673, R: 0.797, N: 0.960, S: 0.307, T: 0.380, C: 0.364, V: 0.186
Group # 6 – l: 0.809, z: 0.667, s: 0.460, d: 0.413, a: 0.968, n: 0.689, c: 0.311
Group # 7 – a: 0.231, b: 0.155, c: 0.799, d: 0.676
Log likelihood = -178.122 Significance = 0.006
Add Group # 2 with factors oaOeE
––––– Level # 4 ––––– Run # 20, 179 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.019
Group # 1 – 2: 0.449, 4: 0.795, 1: 0.594, 3: 0.581
Group # 2 – o: 0.391, a: 0.636, O: 0.640, e: 0.694, E: 0.840
Group # 5 – E: 0.368, F: 0.837, M: 0.250, R: 0.954, N: 0.975, S: 0.594, T: 0.771, C: 0.578, V: 0.222
Group # 6 – l: 0.845, z: 0.632, s: 0.382, d: 0.599, a: 0.971, n: 0.572, c: 0.319
Log likelihood = -170.055 Significance = 0.191
Run # 21, 196 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.020 Group # 2 – o: 0.402, a: 0.601, O: 0.618, e: 0.706, E: 0.825
Group # 3 – c: 0.415, p: 0.552, v: 0.443
Group # 5 – E: 0.410, F: 0.840, M: 0.246, R: 0.952, N: 0.977, S: 0.603, T: 0.750, C: 0.584, V: 0.212
Group # 6 – l: 0.854, z: 0.592, s: 0.366, d: 0.579, a: 0.967, n: 0.561, c: 0.360
Log likelihood = -171.009 Significance = 0.242
Run # 22, 201 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.018
Group # 2 – o: 0.413, a: 0.621, O: 0.547, e: 0.649, E: 0.788
Group # 4 – k: 0.309, m: 0.520, d: 0.513, l: 0.646, n: 0.680, f: 0.265, x: 0.987 Group # 5 – E: 0.370, F: 0.853, M: 0.212, R: 0.958, N: 0.974, S: 0.660, T: 0.766, C: 0.631, V: 0.213
Group # 6 – l: 0.879, z: 0.690, s: 0.389, d: 0.566, a: 0.970, n: 0.398, c: 0.358
Log likelihood = -163.673 Significance = 0.009
Run # 23, 139 cells:
No Convergence at Iteration 20
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
141
Input 0.017
Group # 2 – o: 0.405, a: 0.635, O: 0.531, e: 0.669, E: 0.807
Group # 5 – E: 0.815, F: 0.677, M: 0.585, R: 0.857, N: 0.949, S: 0.414, T: 0.542, C: 0.369, V: 0.146
Group # 6 – l: 0.770, z: 0.496, s: 0.400, d: 0.567, a: 0.961, n: 0.660, c: 0.348
Group # 7 – a: 0.254, b: 0.148, c: 0.789, d: 0.677
Log likelihood = -166.628 Significance = 0.009
Add Group # 4 with factors kmdlnfx
––––– Level # 5 –––––
Run # 24, 288 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.018
Group # 1 – 2: 0.442, 4: 0.787, 1: 0.611, 3: 0.586
Group # 2 – o: 0.398, a: 0.642, O: 0.632, e: 0.660, E: 0.818
Group # 4 – k: 0.290, m: 0.509, d: 0.512, l: 0.558, n: 0.695, f: 0.295, x: 0.989
Group # 5 – E: 0.348, F: 0.854, M: 0.235, R: 0.957, N: 0.975, S: 0.654, T: 0.773, C: 0.614, V: 0.205
Group # 6 – l: 0.858, z: 0.661, s: 0.407, d: 0.586, a: 0.974, n: 0.409, c: 0.333
Log likelihood = -161.170 Significance = 0.177
Run # 25, 279 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.110
Group # 2 – o: 0.407, a: 0.593, O: 0.713, e: 0.700, E: 0.797
Group # 3 – c: 0.125, p: 0.706, v: 0.618
Group # 4 – k: 0.303, m: 0.448, d: 0.559, l: 0.686, n: 0.672, f: 0.266, x: 0.986
Group # 5 – E: 0.357, F: 0.844, M: 0.235, R: 0.961, N: 0.986, S: 0.658, T: 0.767, C: 0.659, V: 0.192
Group # 6 – l: 0.870, z: 0.656, s: 0.363, d: 0.555, a: 0.967, n: 0.409, c: 0.413
Log likelihood = -155.681 Significance = 0.000
Run # 26, 243 cells: No Convergence at Iteration 20
Input 0.015
Group # 2 – o: 0.411, a: 0.639, O: 0.529, e: 0.638, E: 0.787
Group # 4 – k: 0.305, m: 0.509, d: 0.521, l: 0.677, n: 0.695, f: 0.265, x: 0.980
Group # 5 – E: 0.774, F: 0.721, M: 0.534, R: 0.895, N: 0.942, S: 0.455, T: 0.564, C: 0.408, V: 0.141
Group # 6 – l: 0.801, z: 0.564, s: 0.402, d: 0.581, a: 0.968, n: 0.496, c: 0.365
Group # 7 – a: 0.262, b: 0.147, c: 0.748, d: 0.712
Log likelihood = -160.059 Significance = 0.069
Add Group # 3 with factors cpv
––––– Level # 6 ––––– Run # 27, 383 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.108
Group # 1 – 2: 0.434, 4: 0.737, 1: 0.654, 3: 0.535
Group # 2 – o: 0.391, a: 0.602, O: 0.783, e: 0.723, E: 0.830
Group # 3 – c: 0.122, p: 0.708, v: 0.622
Group # 4 – k: 0.269, m: 0.430, d: 0.560, l: 0.654, n: 0.694, f: 0.306, x: 0.988
Group # 5 – E: 0.341, F: 0.847, M: 0.252, R: 0.962, N: 0.986, S: 0.639, T: 0.780, C: 0.640, V: 0.186
Group # 6 – l: 0.851, z: 0.628, s: 0.376, d: 0.585, a: 0.972, n: 0.417, c: 0.385
Log likelihood = -153.154 Significance = 0.174
Run # 28, 333 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.094
Group # 2 – o: 0.406, a: 0.607, O: 0.700, e: 0.690, E: 0.793
Group # 3 – c: 0.124, p: 0.709, v: 0.605
Group # 4 – k: 0.299, m: 0.442, d: 0.562, l: 0.722, n: 0.684, f: 0.270, x: 0.978
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
142
Group # 5 – E: 0.760, F: 0.701, M: 0.593, R: 0.899, N: 0.967, S: 0.443, T: 0.563, C: 0.431, V: 0.123
Group # 6 – l: 0.824, z: 0.571, s: 0.372, d: 0.556, a: 0.962, n: 0.504, c: 0.412
Group # 7 – a: 0.215, b: 0.169, c: 0.758, d: 0.721
Log likelihood = -152.150 Significance = 0.074
No remaining groups significant
Groups selected while stepping up: 5 6 2 4 3
Best stepping up run: #25 ––––––––––––––––––––––-
Stepping down...
––––– Level # 7 –––––
Run # 29, 441 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.091
Group # 1 – 2: 0.432, 4: 0.747, 1: 0.647, 3: 0.577
Group # 2 – o: 0.389, a: 0.620, O: 0.769, e: 0.712, E: 0.829
Group # 3 – c: 0.124, p: 0.708, v: 0.609
Group # 4 – k: 0.266, m: 0.428, d: 0.558, l: 0.666, n: 0.711, f: 0.312, x: 0.981 Group # 5 – E: 0.746, F: 0.705, M: 0.613, R: 0.901, N: 0.967, S: 0.410, T: 0.583, C: 0.409, V: 0.122
Group # 6 – l: 0.809, z: 0.553, s: 0.383, d: 0.587, a: 0.966, n: 0.510, c: 0.380
Group # 7 – a: 0.202, b: 0.176, c: 0.760, d: 0.723
Log likelihood = -149.738
––––– Level # 6 –––––
Run # 30, 333 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.094
Group # 2 – o: 0.406, a: 0.607, O: 0.700, e: 0.690, E: 0.793
Group # 3 – c: 0.124, p: 0.709, v: 0.605 Group # 4 – k: 0.299, m: 0.442, d: 0.562, l: 0.722, n: 0.684, f: 0.270, x: 0.978
Group # 5 – E: 0.760, F: 0.701, M: 0.593, R: 0.899, N: 0.967, S: 0.443, T: 0.563, C: 0.431, V: 0.123
Group # 6 – l: 0.824, z: 0.571, s: 0.372, d: 0.556, a: 0.962, n: 0.504, c: 0.412
Group # 7 – a: 0.215, b: 0.169, c: 0.758, d: 0.721
Log likelihood = -152.150 Significance = 0.189
Run # 31, 316 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.110
Group # 1 – 2: 0.488, 4: 0.693, 1: 0.530, 3: 0.454
Group # 3 – c: 0.144, p: 0.688, v: 0.628
Group # 4 – k: 0.303, m: 0.488, d: 0.515, l: 0.638, n: 0.711, f: 0.252, x: 0.989 Group # 5 – E: 0.637, F: 0.738, M: 0.644, R: 0.861, N: 0.974, S: 0.350, T: 0.409, C: 0.416, V: 0.165
Group # 6 – l: 0.841, z: 0.730, s: 0.451, d: 0.422, a: 0.974, n: 0.499, c: 0.349
Group # 7 – a: 0.214, b: 0.177, c: 0.757, d: 0.715
Log likelihood = -160.287 Significance = 0.000
Run # 32, 339 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.015
Group # 1 – 2: 0.440, 4: 0.794, 1: 0.604, 3: 0.631
Group # 2 – o: 0.395, a: 0.661, O: 0.616, e: 0.648, E: 0.818
Group # 4 – k: 0.286, m: 0.497, d: 0.517, l: 0.569, n: 0.714, f: 0.299, x: 0.982 Group # 5 – E: 0.757, F: 0.721, M: 0.565, R: 0.892, N: 0.942, S: 0.430, T: 0.575, C: 0.383, V: 0.141
Group # 6 – l: 0.782, z: 0.547, s: 0.416, d: 0.603, a: 0.972, n: 0.510, c: 0.336
Group # 7 – a: 0.245, b: 0.153, c: 0.751, d: 0.718
Log likelihood = -157.514 Significance = 0.000
Run # 33, 372 cells:
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
143
No Convergence at Iteration 20
Input 0.016
Group # 1 – 2: 0.441, 4: 0.779, 1: 0.608, 3: 0.615
Group # 2 – o: 0.386, a: 0.637, O: 0.680, e: 0.702, E: 0.847
Group # 3 – c: 0.395, p: 0.564, v: 0.431
Group # 5 – E: 0.814, F: 0.688, M: 0.672, R: 0.839, N: 0.958, S: 0.397, T: 0.530, C: 0.343, V: 0.119
Group # 6 – l: 0.760, z: 0.460, s: 0.402, d: 0.580, a: 0.963, n: 0.671, c: 0.342
Group # 7 – a: 0.202, b: 0.157, c: 0.811, d: 0.688
Log likelihood = -161.995 Significance = 0.000
Run # 34, 338 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.128
Group # 1 – 2: 0.454, 4: 0.844, 1: 0.570, 3: 0.586
Group # 2 – o: 0.402, a: 0.628, O: 0.697, e: 0.625, E: 0.811
Group # 3 – c: 0.159, p: 0.670, v: 0.655
Group # 4 – k: 0.302, m: 0.580, d: 0.438, l: 0.658, n: 0.733, f: 0.334, x: 0.963
Group # 6 – l: 0.762, z: 0.598, s: 0.618, d: 0.315, a: 0.949, n: 0.547, c: 0.275
Group # 7 – a: 0.270, b: 0.247, c: 0.758, d: 0.606
Log likelihood = -166.487 Significance = 0.000
Run # 35, 317 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.092
Group # 1 – 2: 0.448, 4: 0.693, 1: 0.604, 3: 0.589
Group # 2 – o: 0.390, a: 0.618, O: 0.765, e: 0.651, E: 0.848
Group # 3 – c: 0.118, p: 0.710, v: 0.633
Group # 4 – k: 0.265, m: 0.450, d: 0.535, l: 0.870, n: 0.698, f: 0.311, x: 0.978
Group # 5 – E: 0.890, F: 0.633, M: 0.552, R: 0.838, N: 0.961, S: 0.334, T: 0.771, C: 0.329, V: 0.128
Group # 7 – a: 0.230, b: 0.244, c: 0.775, d: 0.626
Log likelihood = -169.373 Significance = 0.000
Run # 36, 383 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.108
Group # 1 – 2: 0.434, 4: 0.737, 1: 0.654, 3: 0.535
Group # 2 – o: 0.391, a: 0.602, O: 0.783, e: 0.723, E: 0.830
Group # 3 – c: 0.122, p: 0.708, v: 0.622
Group # 4 – k: 0.269, m: 0.430, d: 0.560, l: 0.654, n: 0.694, f: 0.306, x: 0.988
Group # 5 – E: 0.341, F: 0.847, M: 0.252, R: 0.962, N: 0.986, S: 0.639, T: 0.780, C: 0.640, V: 0.186
Group # 6 – l: 0.851, z: 0.628, s: 0.376, d: 0.585, a: 0.972, n: 0.417, c: 0.385
Log likelihood = -153.154 Significance = 0.081
Cut Group # 1 with factors 2413
––––– Level # 5 –––––
Run # 37, 209 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.111
Group # 3 – c: 0.143, p: 0.689, v: 0.626
Group # 4 – k: 0.311, m: 0.478, d: 0.525, l: 0.675, n: 0.701, f: 0.241, x: 0.988
Group # 5 – E: 0.657, F: 0.737, M: 0.636, R: 0.866, N: 0.974, S: 0.356, T: 0.409, C: 0.422, V: 0.161
Group # 6 – l: 0.856, z: 0.731, s: 0.434, d: 0.419, a: 0.972, n: 0.490, c: 0.369
Group # 7 – a: 0.214, b: 0.169, c: 0.759, d: 0.720 Log likelihood = -160.877 Significance = 0.003
Run # 38, 243 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.015
Group # 2 – o: 0.411, a: 0.639, O: 0.529, e: 0.638, E: 0.787
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
144
Group # 4 – k: 0.305, m: 0.509, d: 0.521, l: 0.677, n: 0.695, f: 0.265, x: 0.980
Group # 5 – E: 0.774, F: 0.721, M: 0.534, R: 0.895, N: 0.942, S: 0.455, T: 0.564, C: 0.408, V: 0.141
Group # 6 – l: 0.801, z: 0.564, s: 0.402, d: 0.581, a: 0.968, n: 0.496, c: 0.365
Group # 7 – a: 0.262, b: 0.147, c: 0.748, d: 0.712
Log likelihood = -160.059 Significance = 0.000
Run # 39, 259 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.017 Group # 2 – o: 0.401, a: 0.618, O: 0.602, e: 0.693, E: 0.819
Group # 3 – c: 0.395, p: 0.566, v: 0.425
Group # 5 – E: 0.829, F: 0.687, M: 0.645, R: 0.841, N: 0.957, S: 0.421, T: 0.513, C: 0.360, V: 0.122
Group # 6 – l: 0.777, z: 0.459, s: 0.393, d: 0.556, a: 0.959, n: 0.663, c: 0.368
Group # 7 – a: 0.217, b: 0.155, c: 0.806, d: 0.681
Log likelihood = -164.376 Significance = 0.000
Run # 40, 243 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.131
Group # 2 – o: 0.414, a: 0.610, O: 0.648, e: 0.635, E: 0.782 Group # 3 – c: 0.158, p: 0.674, v: 0.640
Group # 4 – k: 0.320, m: 0.570, d: 0.446, l: 0.763, n: 0.710, f: 0.317, x: 0.960
Group # 6 – l: 0.827, z: 0.641, s: 0.603, d: 0.294, a: 0.940, n: 0.541, c: 0.279
Group # 7 – a: 0.261, b: 0.254, c: 0.759, d: 0.607
Log likelihood = -169.041 Significance = 0.000
Run # 41, 228 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.091
Group # 2 – o: 0.402, a: 0.611, O: 0.715, e: 0.633, E: 0.823
Group # 3 – c: 0.121, p: 0.708, v: 0.626 Group # 4 – k: 0.284, m: 0.464, d: 0.528, l: 0.893, n: 0.679, f: 0.296, x: 0.977
Group # 5 – E: 0.900, F: 0.629, M: 0.538, R: 0.836, N: 0.959, S: 0.351, T: 0.752, C: 0.342, V: 0.129
Group # 7 – a: 0.242, b: 0.242, c: 0.769, d: 0.623
Log likelihood = -170.975 Significance = 0.000
Run # 42, 279 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.110
Group # 2 – o: 0.407, a: 0.593, O: 0.713, e: 0.700, E: 0.797
Group # 3 – c: 0.125, p: 0.706, v: 0.618
Group # 4 – k: 0.303, m: 0.448, d: 0.559, l: 0.686, n: 0.672, f: 0.266, x: 0.986
Group # 5 – E: 0.357, F: 0.844, M: 0.235, R: 0.961, N: 0.986, S: 0.658, T: 0.767, C: 0.659, V: 0.192 Group # 6 – l: 0.870, z: 0.656, s: 0.363, d: 0.555, a: 0.967, n: 0.409, c: 0.413
Log likelihood = -155.681 Significance = 0.074
Cut Group # 7 with factors abcd
––––– Level # 4 –––––
Run # 43, 161 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.122
Group # 3 – c: 0.153, p: 0.678, v: 0.638
Group # 4 – k: 0.317, m: 0.485, d: 0.514, l: 0.630, n: 0.692, f: 0.241, x: 0.993 Group # 5 – E: 0.243, F: 0.869, M: 0.280, R: 0.947, N: 0.988, S: 0.576, T: 0.632, C: 0.649, V: 0.240
Group # 6 – l: 0.899, z: 0.794, s: 0.428, d: 0.422, a: 0.976, n: 0.377, c: 0.366
Log likelihood = -164.563 Significance = 0.002
Run # 44, 201 cells:
No Convergence at Iteration 20
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
145
Input 0.018
Group # 2 – o: 0.413, a: 0.621, O: 0.547, e: 0.649, E: 0.788
Group # 4 – k: 0.309, m: 0.520, d: 0.513, l: 0.646, n: 0.680, f: 0.265, x: 0.987
Group # 5 – E: 0.370, F: 0.853, M: 0.212, R: 0.958, N: 0.974, S: 0.660, T: 0.766, C: 0.631, V: 0.213
Group # 6 – l: 0.879, z: 0.690, s: 0.389, d: 0.566, a: 0.970, n: 0.398, c: 0.358
Log likelihood = -163.673 Significance = 0.000
Run # 45, 196 cells:
No Convergence at Iteration 20 Input 0.020
Group # 2 – o: 0.402, a: 0.601, O: 0.618, e: 0.706, E: 0.825
Group # 3 – c: 0.415, p: 0.552, v: 0.443
Group # 5 – E: 0.410, F: 0.840, M: 0.246, R: 0.952, N: 0.977, S: 0.603, T: 0.750, C: 0.584, V: 0.212
Group # 6 – l: 0.854, z: 0.592, s: 0.366, d: 0.579, a: 0.967, n: 0.561, c: 0.360
Log likelihood = -171.009 Significance = 0.000
Run # 46, 147 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.151
Group # 2 – o: 0.422, a: 0.530, O: 0.690, e: 0.694, E: 0.791 Group # 3 – c: 0.169, p: 0.669, v: 0.614
Group # 4 – k: 0.323, m: 0.577, d: 0.439, l: 0.569, n: 0.666, f: 0.389, x: 0.979
Group # 6 – l: 0.590, z: 0.343, s: 0.719, d: 0.220, a: 0.941, n: 0.585, c: 0.296
Log likelihood = -179.024 Significance = 0.000
Run # 47, 165 cells:
No Convergence at Iteration 20
Input 0.111
Group # 2 – o: 0.401, a: 0.615, O: 0.733, e: 0.640, E: 0.818
Group # 3 – c: 0.125, p: 0.704, v: 0.630
Group # 4 – k: 0.275, m: 0.431, d: 0.566, l: 0.858, n: 0.660, f: 0.290, x: 0.986 Group # 5 – E: 0.730, F: 0.747, M: 0.257, R: 0.937, N: 0.972, S: 0.438, T: 0.869, C: 0.472, V: 0.189
Log likelihood = -175.038 Significance = 0.000
All remaining groups significant
Groups eliminated while stepping down: 1 7
Best stepping up run: #25
Best stepping down run: #42
Anexo 4: Tabulação cruzada
Name of new cell file: .cel
• CROSS TABULATION • 06/12/2015 16:05:00 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••
• Cell file: .cel
• 06/12/2015 16:04:50
• Token file: Untitled.tkn
• Conditions: Untitled.cnd
Group #7 – horizontally.
Group #8 – vertically.
l % z % o % s % d % a % m % v % n % c % t
% r % f % p % g % e % ∑ %
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
146
+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -
- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -
a 0: 14 17: 1 8: 0 0: 0 –: 0 0: 0 –: 0 0: 0 0: 0 –: 0 0: 0 0: 0
0: 0 0: 0 0: 0 0: 0 –| 15 6
-: 67 83: 11 92: 8 100: 0 –: 63 100: 0 –: 9 100: 11 100: 0 –: 32 100: 24
100: 8 100: 7 100: 8 100: 4 100: 0 –| 252 94
∑: 81 : 12 : 8 : 0 : 63 : 0 : 9 : 11 : 0 : 32 : 24 : 8 :
7 : 8 : 4 : 0 | 267
+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -
- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -
b 0: 0 0: 1 12: 0 0: 15 24: 1 1: 17 74: 0 0: 0 0: 0 0: 0 0: 1 3:
0 0: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 35 10
-: 6 100: 7 88: 36 100: 47 76: 72 99: 6 26: 4 100: 55 100: 5 100: 20
100: 33 97: 9 100: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 300 90
∑: 6 : 8 : 36 : 62 : 73 : 23 : 4 : 55 : 5 : 20 : 34 : 9 :
0 : 0 : 0 : 0 | 335
+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -
- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -
c 0: 0 –: 0 –: 0 –: 144 56: 0 0: 20 62: 3 17: 0 0: 14 64: 8 24: 0 0:
0 –: 0 –: 0 –: 0 –: 8 100| 197 43
-: 0 –: 0 –: 0 –: 113 44: 33 100: 12 38: 15 83: 10 100: 8 36: 26 76: 42
100: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –: 0 0| 259 57
∑: 0 : 0 : 0 : 257 : 33 : 32 : 18 : 10 : 22 : 34 : 42 : 0
: 0 : 0 : 0 : 8 | 456
+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -
- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -
d 0: 0 –: 0 –: 0 –: 106 34: 0 –: 0 –: 4 24: 0 0: 17 40: 0 0: 0 0: 0
0: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 127 22
-: 0 –: 0 –: 0 –: 207 66: 0 –: 0 –: 13 76: 116 100: 25 60: 37 100: 26
100: 36 100: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 460 78
∑: 0 : 0 : 0 : 313 : 0 : 0 : 17 : 116 : 42 : 37 : 26 : 36
: 0 : 0 : 0 : 0 | 587
+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+–
–––-+––––-+––––-+––––-+––––-
∑ 0: 14 16: 2 10: 0 0: 265 42: 1 1: 37 67: 7 15: 0 0: 31 45: 8 7: 1
1: 0 0: 0 0: 0 0: 0 0: 8 100| 374 23
-: 73 84: 18 90: 44 100: 367 58: 168 99: 18 33: 41 85: 192 100: 38 55: 115
93: 125 99: 53 100: 7 100: 8 100: 4 100: 0 0| 1271 77
∑: 87 : 20 : 44 : 632 : 169 : 55 : 48 : 192 : 69 : 123 : 126 :
53 : 7 : 8 : 4 : 8 | 1645
Anexo 5: Rodada com dados de Vicente Celestino
7 (8) 4 3 0 1
1 N 46 155 1 0 202 20.3 % 22.4 77.1 0.5 0.0 * KnockOut *
2 N 15 178 8 1 202 20.3
% 7.5 88 4.0 0.5
3 N 60 136 0 0 196 19.7
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
147
% 30.6 69.4 0.0 0.0 * KnockOut *
4 N 49 143 0 0 192 19.4
% 25.5 74.5 0.0 0.0 * KnockOut *
5 N 39 163 0 0 202 20.3
% 19.3 80.7 0.0 0.0 * KnockOut *
Total N 209 775 9 1 994 % 21 78 0.9 0.1
Anexo 6: Entrevista de Vicente Celestino
(Pergunta do radialista) "Boa noite a todos os ouvintes da Rádio Bandeirantes. Eu quero enviar []
daqui deste microfone meu abraço a todos que meu ouvem nesse momento. Sei que estou sendo
ouvido por [] milhares de criaturas de cidades, do interior [], pelas quais eu passei. Passei por []
quase todas as cidades de São Paulo, mas conheço uma a uma. Pena é que não possa continuar [] a
fazer [] a vida que fazia, porque gostaria de tornar [] a correr [0] todo São Paulo. E quero ao
mesmo tempo agradecer [] a Moraes Sarmento a maneira gentil e carinhosa que vem tratando as
minhas músicas e a minha pessoa através desse microfone. Sei disso há muito tempo e há muito
tempo desejava aqui fazer [] uma visita a ele e a todos os componentes dessa emissora. Mas antes
tarde do que nunca, e aqui estou eu, esperando que ele me bombardeie, porque geralmente os
espigues são verbosos, tem a palavra fácil e embrulha os artistas com uma facilidade única, mas eu
vou me defender []."
(Pergunta do radialista) "Não, a valsa é realmente é realmente de Anacleto de Medeiros, a música.
Catulo não pôs letra nessa valsa, não pôs. Pelo menos eu não conheço, e eu conheço quase todo
repertório do Catulo. Sou um dos cantores que mais cantei e canto Catulo. A letra ela não tem
nome de Farrula, tem nome de Jura. (cantando). Essa letra muito pouco conhecida. Conheço eu
porque sou da guarda velha. O Orlando deve conhecer [] um bocadinho. Nem é desse tempo. Pois
bem, não é de Catulo, é de Boneco. O Boneco que fez aquela célebre letra Flor [] do mal.
Domingos Correia. Esse homem fez Flor [] do Mal para uma cançonetista chamada Arminda e ele
matou-se com um chopp. Deixa-me explicar [] o que era chopp. O chopp era uma espécie de
boato. Naquele tempo chamava-se chopp, hoje chama-se boato. Naquele tempo não ficava sedento
na escuridão. Sem ver [] as pessoas como são, como eram. A gente via se eram bonitas, bonitos.
Naquele tempo eram às claras. A gente via se eram bonitos, bonitas. E hoje não. Eu cantava ali
também, cantava por [] farra, não era profissional. Naquele tempo eu era um meninote, e cantava
por [] farra ou pra arranjar [] um namorinho. Não tem importância, porque antes de casar []
comigo ela também namorou.
(Pergunta do radialista) Muito obrigado Orlando. Menino Orlando. 1915. Flor [] do mal. Em disco
mecânico é claro. Naquele tempo, só gravava quem tivesse muita voz, hoje, grava-se até a
..............................................................................................................................Xavier, K. S.
148
respiração, mas naquele tempo não e outra coisa mais o indivíduo não podia errar [], porque, se
errasse, escangalhava a matriz, hoje não, hoje a gente pode errar [] à vontade, voltar [0] 50 vezes,
emendar [0] a fita, o sujeito está rouco canta a primeira parte hoje e vai cantar [0] daqui a 15 dias a
outra parte. Emendam, sabe como é?, naquele tempo não, o camarada tinha que cantar [0] no duro,
se errasse, dava um prejuízo medonho, precisava de um cuidado louco, cuidado louco e muitas
vezes a gente botava os pulmões pela boca, e o sujeito dizia: mais forte, mais forte, mais forte!
nossa mão do céu.
Esse aqui é um repertório antigo, né? E os autores naquele tempo faziam as coisas com amor [0],
né? Olha, o Sertanejo Enamorado é uma canção feita dentro de uma música, uma música de Nazaré
chamada brejeiro. É muito interessante, porque eu canto essa música exatamente como se cantava
essa música naquele tempo. Por muita gente que canta. Não era cantada assim. Como é aquele
gênero Luiz Gonzaga. Era quase que um baião. Era uma toada. Xaxado não. Não conheço esse
gênero de música xaxado. Aliás, o xaxado é uma música da Chiquinha Gonzaga chamada chamada
Corta Jaca. Quando tocava Corta Jaca dançava-se justamente aquela. Foi a Chiquinha Gonzaga que
inventou aquele negócio aquele passo, de ciscar, e depois apareceu como xaxado, mas não é não. É
interessante porque eu canto como se cantava naquele tempo.
(Pergunta do radialista) De ópera? Eu posso dizer [] uma coisa também curiosa aqui de
São Paulo, sabe? A última ópera que cantei foi Aida em 1935 no teatro Santana e a mulher
[] cantou a Lua Cheia que é uma prova de fogo que é um soprano de ...... e ela se saiu
muito bem. E eu cantei Aida, mas, quando a temporada terminou, o empresário não tinha
dinheiro pra nos dar[0], entendeu? Então eu precisava 300 mil reis pra pagar [0] o hotel
aqui na Avenida São João naquele tempo em 1935, 300 mil reis? Não tinha e não tinha
quem me emprestasse. Então a dona do hotel queria ficar com anel da mulher [0],
empenhado. Mas eu não não quis não. Fui então na casa de Otília Amorim e falei com
Jordão, e Jordão me deu os 300 sem o menor [] vale, sem coisa nenhuma, e eu fui paguei
a mulher [0] e fui pra Belo Horizonte cantar [0] também ópera. E minha mulher [0]
também cantava ópera e nunca mais cantei ópera, sabe? Porque ópera é muito bonito pra
celebridades mundiais e mesmo assim hoje eles estão sofrendo cantores, porque os
cantores medíocres de ópera como eu fui, eu falo cantor medíocre em comparação a um
Caruso e a um ....... enfim esses grandes cantores que se tornaram célebres no mundo, eles
ganham muito dinheiro, mas o cantor [] que não tem nome eles morrem de fome, sabe?.
Essa é que é a verdade. Até hoje, razão pela qual eu deixei o teatro. E estou muito satisfeito
com as minhas canções, muito feliz, e o público gosta de mim cantando as canções, e eu
penso que vou morrer [0] só cantando canções.