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Universidade Federal do Rio de Janeiro A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960 Karilene da Silva Xavier 2016

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960

Karilene da Silva Xavier

2016

ii

A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a 1960

Karilene da Silva Xavier

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa

de Pós-Graduação em Letras Vernáculas da

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ,

como parte dos requisitos necessários para a

obtenção do título de Mestre em Letras

Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientadora: Carolina Ribeiro Serra

Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2016

iii

Xavier, Karilene da Silva.

X3v A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a

1960. / Karilene da Silva Xavier. - Rio de Janeiro: UFRJ, 2016.

xiii, 97 f.:il., tabs., grafs. ; 30 cm.

Orientadora: Carolina Ribeiro Serra.

Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha

Banca: Dinah Maria Insensee Callou.

Banca: Valéria Neto de Oliveira Monaretto.

Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Faculdade de Letras, Programa de Pós-Graduação em

Letras Vernáculas, 2016.

Bibliografia: f. 112 - 115.

1. Língua portuguesa - Pronúncia. 2. Língua portuguesa

Consoantes. 3. Língua portuguesa - Variação. 4. Língua portuguesa

– Português falado. 5. Sociolinguística. 6. Música popular brasileira

– Séc. XX. I. Serra, Carolina Ribeiro. II. Cunha, Cláudia de Souza.

III. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdade de Letras.

IV. Título.

CDD 469.81

iv

A variação do rótico na música popular brasileira: de 1902 a 1960

Karilene da Silva Xavier

Orientadora: Carolina Ribeiro Serra

Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha

Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras

Vernáculas da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do título de Mestre em Letras Vernáculas.

Examinada por:

_______________________________________________________________________

Presidente, Professora Doutora Carolina Ribeiro Serra – Orientadora

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Cláudia de Souza Cunha – Coorientadora

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Valéria Neto de Oliveira Monaretto – UFRGS

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Dinah Maria Isensee Callou – UFRJ

_______________________________________________________________________

Professora Doutora Christina Abreu Gomes – UFRJ, Suplente

_______________________________________________________________________

Professor Doutor João Antonio de Moraes – UFRJ, Suplente

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2016

v

No ano de centenário do Samba, esta

dissertação também é uma homenagem à

música popular brasileira.

“O chefe da folia

Pelo telefone manda me avisar

Que com alegria

Não se questione para se brincar…”

(Pelo Telefone - Donga/ 1916)

vi

Agradecimentos

Agradeço a Deus por ter me guiado para concretizar esta pesquisa durante o

mestrado.

À Carolina Serra pela confiança que em mim depositou e pela competente

orientação. Sou muito grata por ter dedicado seu tempo à produção deste trabalho desde a

iniciação científica. Foi sempre disposta a me ajudar, trazendo ideias, sugerindo

bibliografia, reflexões e mudanças, lendo todos os textos e cobrando quando devia.

Obrigada por me iniciar e me guiar pelos caminhos da pesquisa linguística.

À Cláudia Cunha pela sugestão do tema desta dissertação e pelas orientações.

Muito obrigada e espero que eu tenha conseguido chegar o mais perto possível do que

almejamos realizar.

Aos meus pais, meu porto seguro, por terem acreditado e investido em mim.

Obrigada por todo incentivo, compreensão, paciência e apoio aos meus planos de vida.

Aos professores que me orientaram em seus cursos durante o mestrado, Dinah

Callou, Mônica Orsini, Eliete Silveira, Silvia Vieira, Carlos Alexandre, Célia Lopes e

Valéria Gomes, professora convidada. Por meio deles, pude aprofundar os meus

conhecimentos não só na dissertação mas também na pesquisa linguística. Deixo um

"muitíssimo obrigada" especialmente às professoras Dinah Callou e Jaqueline Peixoto

pelas preciosas contribuições.

Aos Professores titulares e suplentes que compõem a banca avaliadora desta

dissertação, pelo convite e pela disponibilidade de avaliar meu trabalho.

Aos amigos que a pesquisa me trouxe, como a minha "best" Priscila, as meninas

da F308, Gizelly e Aline, e os colegas da F312, Aline, Caio, Ingrid,Vitor e Alan. A todos

vocês, fica meu MUITO OBRIGADA pelas melhores companhias e claro pelos

momentos de descontração com risadas garantidas. Saibam que vocês não são apenas

"amigos acadêmicos" como também pessoas que desejo manter perto de mim por toda a

vida. Também aos amigos que me apoiaram na reta final do mestrado, Gleydson, Evelyn,

Augusto, Carolina e Camila. Obrigada pela força!!!

À CAPES e à FAPERJ pelo financiamento o qual fez com que eu tivesse uma

maior dedicação a esta pesquisa.

vii

SINOPSE

Análise do comportamento variável do rótico em contexto

de coda silábica final, a partir de dados extraídos de canções

gravadas entre 1902 e 1960. Estudo variacionista com a

finalidade de sistematizar a influência de fatores sociais e

linguísticos na escolha de uma variante sobre outras formas.

viii

A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960.

Karilene da Silva Xavier

Orientadora: Carolina Ribeiro Serra

Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha

Resumo da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-graduação em

Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa.

RESUMO

Nesta dissertação, estuda-se o processo de variação do rótico, em coda externa, a partir de

canções gravadas entre 1902 e 1940 por nove intérpretes do gênero masculino, cariocas,

disponibilizadas pelo Instituto Moreira Salles. A análise dos dados de um dos intérpretes,

Vicente Celestino, foi estendida até 1960. Os objetivos são os seguintes: 1) recuperar as

pronúncias do rótico na música; 2) capturar o processo gradual de diferenciação da

realização do segmento; 3) verificar se os intérpretes seguiam normas de canto da época

ou imprimiam às canções características próprias; 4) investigar a atuação do tempo para o

fenômeno e 5) observar a atuação de fatores linguísticos e sociais. Para alcançar os

objetivos estabelecidos, utiliza-se do aparato teórico-metodológico da Sociolinguística

Quantitativa, e as etapas metodológicas compreendem: 1) seleção das canções, audição e

transcrição fonética; 2) análise estatística dos dados e 3) interpretação dos resultados. Os

resultados gerais obtidos a partir de 2858 dados coletados entre 1902 e 1940 são os

seguintes: 1) o tepe é a realização predominante, alcançando 68,3% do total de dados 2) a

vibrante anterior múltipla – a realização padrão para a linguagem dos meios de

comunicação – ocorreu em um percentual inferior do que se esperava, 14,8%; 3) as

fricativas, velar e glotal, ocorreram em um percentual inexpressivo, 1,3% e 4) o

percentual de supressão foi de 15,5%. Os resultados a partir dos dados de Vicente

Celestino revelam sua preferência por vibrantes, simples ou múltipla, por toda a

sequência temporal e diferenças significativas entre sua fala cantada e espontânea.

Palavras-chave: Rótico; Coda final; Músicas; Sociolinguística; Século XX.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2016

ix

A VARIAÇÃO DO RÓTICO NA MÚSICA POPULAR BRASILEIRA: DE 1902 A 1960.

Karilene da Silva Xavier

Orientadora: Carolina Ribeiro Serra

Coorientadora: Cláudia de Souza Cunha

Abstract da Dissertação de Mestrado submetido ao Programa de Pós-graduação em

Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: UFRJ/Faculdade de Letras, 2016, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Língua Portuguesa.

ABSTRACT

This dissertation aims to study the process of rothics variation in final coda, based on

songs recorded by nine male performers from Rio de Janeiro from 1902 to 1940, which

have been provided by Instituto Moreira Salles. The analysis of the data, recorded by

Vicente Celestino, one of the performers, has been extended to the 1960’s. The goals are

the following: 1) to recover the pronunciations of the rothics in songs; 2) to capture the

gradual process of differentiation of the rothics; 3) to check whether the artists followed

the singing standards or whether they transmitted their own characteristics to the songs;

4) to investigate the effect of the time on the process and 5) to observe the influence of

linguistic and social factors. For this purpose, we use the theoretical and methodological

tools of the Quantitative Sociolinguistics, furthermore the methodological steps cover: 1)

the selection of the songs, the hearing and the phonetic transcription; 2) the data statistical

analysis; and 3) the interpretation of the results. The general results collected from 2858

data from 1902 to 1940 are: 1) tepe is the dominant pronunciation and it reaches 68.3% of

the total data; 2) the apical-alveolar multiple vibrant – the predominant pattern language

in media, in general, occurred less than expected, 14.8%; 3) the fricatives, velar and

glottal, occurred in an inexpressive percentage, 1.3%; and 4) the R-deletion percentage

was 15.5%. The results from Vicente Celestino's data reveal his preference for vibrant

sounds, either the single or the multiple ones, throughout the decades and significant

differences between his sung and spontaneous speech.

Keywords: Rothics; Final coda; Songs; Sociolinguistics; Twentieth century.

Rio de Janeiro

Fevereiro de 2016

x

Sumário

RESUMO .................................................................................................................. viii

ABSTRACT .................................................................................................................. ix

Índice de Tabelas, Gráficos, Figuras e Quadros ........................................................... xii

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 14

1 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................. 18

2 APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO .............................................................. 34

2.1. Teoria da Variação e mudança ........................................................................... 34

2.2. Metodologia e corpus ....................................................................................... 40

2.2.1. Etapas metodológicas.................................................................................... 40

2.2.2. Os informantes: nove intérpretes da música popular brasileira ................... 41

2.2.3. A constituição do corpus................................................................................47

2.2.4. O método de recolha dos dados..................................................................... 52

2.2.5. Transcrição e codificação dos dados..............................................................53

2.2.6. Os grupos de fatores...................................................................................... 54

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..................................................... 67

3.1. Distribuição geral das variantes ........................................................................ 68

3.1.1. Verbos e não verbos....................................................................................... 69

3.2. Realização versus não realização ...................................................................... 89

3.2.1. Verbos............................................................................................................ 90

3.2.2. Não verbos..................................................................................................... 93

3.3. Vicente Celestino .............................................................................................. 97

3.3.1- Gravações musicais: de 1902 a 1960............................................................ 97

3.3.2- Entrevista para a Rádio Bandeirantes: 1964..................................................99

3.4. Resumo e discussão geral dos resultados ........................................................ 101

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 108

xi

BIBLIOGRAFIA ...................................................................................................... 110

ANEXOS .................................................................................................................. 114

Anexo 1: Arquivos de especificações .................................................................... 114

Anexo 2: Rodada geral .......................................................................................... 119

Anexo 3: Rodadas dos verbos e dos não verbos ..................................................... 123

Anexo 4: Tabulação cruzada .................................................................................. 145

Anexo 5: Rodada com dados de Vicente Celestino ................................................ 146

Anexo 6: Entrevista de Vicente Celestino .............................................................. 147

xii

Índice de Tabelas, Gráficos, Figuras e Quadros

Tabelas

Tabela 1. Distribuição das variantes de acordo com a classe gramatical............................69

Tabela 2. Distribuição das variantes a depender da década em verbos – 1645 dados.........71

Tabela 3. Distribuição das variantes a depender da década em não verbos –1213 dados..73

Tabela 4. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em verbos – 1645 dados.....................................................................................................................................73

Tabela 5. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em não verbos – 1213 dados.....................................................................................................................................74

Tabela 6. Distribuição das variantes a depender do intérprete em verbos – 1645 dados....75

Tabela 7. Distribuição das variantes a depender do intérprete em não verbos – 1213 dados.....................................................................................................................................76

Tabela 8. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em verbos – 1645 dados.....................................................................................................................................77

Tabela 9. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................77

Tabela 10. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em verbos – 1645 dados............................................................................................................................79

Tabela 11. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................80

Tabela 12. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em verbos – 1645 dados............................................................................................................................81

Tabela 13. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................82

Tabela14. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em verbos – 432 dados..............................................................................................................................84

Tabela 15. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em não verbos – 362 dados...........................................................................................................................85

Tabela 16. Distribuição das variantes a depender da tonicidade da sílaba em não verbos – 1213 dados............................................................................................................................86

Tabela 17. Distribuição de fricativas (glotal e velar) segundo os grupos de fatores extralinguísticos – 39 dados.................................................................................................88

Tabela 18. Peso relativo do fator intérprete em verbos no processo de apagamento do rótico.......................................................................................................................................................90

Tabela 19. Peso relativo do fator gênero musical em verbos no processo de apagamento do rótico.....................................................................................................................................91

Tabela 20. Peso relativo do fator contexto subsequente em verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................92

Tabela 21. Peso relativo do fator década em verbos no processo de apagamento do rótico.....................................................................................................................................92

xiii

Tabela 22. Peso relativo do fator número de sílabas em verbos no processo de apagamento do rótico................................................................................................................................93

Tabela 23. Peso relativo do fator intérprete em não verbos no processo de apagamento do rótico.....................................................................................................................................94

Tabela 24. Peso relativo do fator gênero musical em não verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................94

Tabela 25. Peso relativo do fator vogal antecedente em não verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................95

Tabela 26. Peso relativo do fator consoante subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico...........................................................................................................97

Tabela 27. Peso relativo do fator contexto subsequente em não verbos no processo de

apagamento do rótico...........................................................................................................97

Tabela 28. Apagamento do rótico em verbos e não verbos em diversos estudos............102

Tabela 29. Apagamento do rótico a depender do número de sílabas...............................103

Tabela 30. Apagamento do rótico por década..................................................................106

Gráficos

Gráfico 1. Percentuais referentes à variação do rótico em contexto de coda silábica final – 2858 dados............................................................................................................................67

Gráfico 2. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em verbos – 1645 dados............................................................................................................................69

Gráfico 3. Percentuais referentes à variação do rótico em coda silábica final em não verbos – 1213 dados.........................................................................................................................69

Gráfico 4. Distribuição das variantes em canções de Vicente Celestino no decorrer de cinco décadas........................................................................................................................98

Gráfico 5. Percentuais referentes à variação do rótico na entrevista de Vicente Celestino –

39 dados..............................................................................................................................100

Figuras

Figura 1. Informantes: nove intérpretes da música brasileira............................................43

Figura 2. Fonógrafo...........................................................................................................51

Figura 3. Gramofone................................................................................................. .........51

Figura 4. Exemplo de como as buscas de gravações musicais são realizadas no acervo SophiA Biblioteca do IMS...................................................................................................53

Quadros

Quadro 1. Atuação dos intérpretes por década....................................................................39

Quadro 2. Sistematização do corpus em década, intérprete, gênero musical, canções e número de dados..................................................................................................................52

Quadro 3. Consoantes subsequentes ao rótico.....................................................................65

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

14

INTRODUÇÃO

"Canto com mais alegria para alegrar este

povo..."1

(Ano Novo por Eduardo das Neves/ 1909).

Por mais que a descrição da realização variável do rótico, em posição de coda

silábica final, seja um fenômeno bastante estudado no Português do Brasil (doravante PB)

a partir de corpora gravados de fala espontânea, como atestam os trabalhos de Callou

(1987); Callou et alii (1996, 2002); Brandão, Mota & Cunha (2003); Abaurre & Sândalo

(2003); Hora & Monaretto (2003); Melo (2009); Monaretto (2010); Callou & Serra (2012);

Serra & Callou (2013), dentre outros, trazemos uma nova abordagem tanto do ponto de

vista do corpus a ser utilizado, gravações musicais, quanto do ponto de vista do intervalo

de tempo analisado – entre 1902 e 1960. Até 1940, foram analisadas as canções de nove

intérpretes, e, com relação a um desses intérpretes, Vicente Celestino, que produziu por

mais de cinco décadas, ampliamos essa sequência temporal até 1960. Além disso,

acrescentamos a primeira entrevista concedida por ele à Rádio Bandeirantes em 1964, a

fim de comparar as suas pronúncias.

Dessa forma, o objetivo do trabalho é analisar o comportamento variável do rótico

nesse contexto silábico na fala cantada de intérpretes2 de gênero masculino, cariocas, que

tiveram uma ampla produção musical na primeira parte do século XX. Esse recuo no

tempo nos impele a lançar mão de dados oriundos da discografia, meio praticamente

exclusivo de registro de voz, para a recuperação das pronúncias possíveis do rótico da

época. A análise, então, será desenvolvida a partir de produções musicais disponibilizadas

pelo Instituto Moreira Sales3. Essas gravações possuem um valor não apenas histórico mas

também cultural, que é incalculável, pois são registros no tempo. Constituem, ainda, uma

fonte importante de pesquisa sobre o comportamento linguístico de indivíduos de grandes

centros urbanos4 importantes do país. Vale comentar que, no acervo do Instituto Moreira

1 Em todo início de capítulo desta dissertação, há um trecho de uma das canções do corpus a fim de resgatar a

história da música popular brasileira na primeira metade do século XX, contada por suas canções de maior

sucesso. 2 Eduardo das Neves, Mário Pinheiro, Vicente Celestino, Francisco Alves, Silvio Caldas, Noel Rosa, Mário

Reis, Patrício Teixeira e Orlando Silva. 3 Disponibilizado na seguinte página: http://acervo.ims.com.br/.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

15

Salles, além de cariocas, há intérpretes nascidos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Bahia,

Recife, entre outros estados brasileiros.

Interessa-nos a investigação desse fenômeno, pois o rótico, a depender do contexto

silábico, apresenta "um elevado grau de polimorfismo, prestando-se, exemplarmente, à

caracterização da variação no português do Brasil" (CALLOU et alii, 1996, p. 465),

principalmente em posição de coda silábica final. Assim, a variabilidade do /r/ difere da de

outras consoantes pelo maior número de realizações fonéticas identificadas, pois há, pelo

menos, sete distintas pronúncias possíveis.

Há observações sobre diversos aspectos fonéticos da fala cantada, nenhuma delas,

porém, sistemática, com base em uma quantidade considerável de dados e com o aporte

teórico, instrumental e estatístico de que dispomos atualmente. Desse modo,

apresentaremos também uma contribuição significativa, preenchendo uma lacuna temporal,

já que os resultados de trabalhos de cunho variacionista, a partir de corpora gravados na

década de 1970 até os dias atuais, apontam para o final do processo de mudança de

pronúncia do rótico, pelo menos em alguns dialetos brasileiros.

Havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos

sons na música, tanto de vogais quanto de consoantes. No que se diz respeito à realização

dos róticos, de acordo com o que se lê na literatura, havia uma predominância de

realização da vibrante múltipla anterior, que era considerada a forma padrão para a

linguagem dos meios de comunicação. Em outras palavras, era considerada a variante de

"maior prestígio" (CALLOU & LEITE, 1995, p. 74).

Outra alusão, com relação à pronúncia da fala cantada desse período, são os Anais

do Primeiro Congresso de Língua Nacional Cantada (1938). Esse evento de cunho político

teve o propósito de reformular as normas de dicção de intérpretes da época como também

adotar um padrão para a língua falada. Mesmo que esse encontro tenha sido realizado para

determinar normas apenas para o canto erudito, há, nesses documentos, descrições do que

não poderia ocorrer, pois fazia parte da "pronúncia inculta ou desleixada" (op. cit., p, 90),

podendo ser uma referência à música popular e à língua falada da época. Desse modo,

mesmo que os congressistas não tivessem tanta familiaridade com fonética, eles

descreveram não só aspectos do canto erudito como também do que os intérpretes não

poderiam realizar nas gravações musicais em geral.

Apesar de a fala cantada não ser reflexo direto da fala espontânea, ainda mais em

tempos em que a música gozava de tanta importância social, pelo seu caráter inovador de

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

16

difusão e permanência, acredita-se que seja possível, no fim, abstrair tendências de

pronúncia, principalmente as consideradas mais padrão. Além do mais, será possível

mapear que contextos e que estilos permitiam maior diferenciação em relação a esse

padrão. Assim, há o intuito de sistematizar as variadas pronúncias que essa consoante

possui na fala cantada, porém não podemos deixar de especular como essas poderiam

ocorrer na fala espontânea.

É cabível fazer alguns questionamentos com relação a esse corpus e tentar respondê-

los com o estudo proposto: 1) que pronúncia predominava na fala cantada dos intérpretes da

música brasileira da época em análise? 2) é possível estabelecer relações entre os resultados

encontrados em pesquisas recentes sobre o comportamento do rótico na fala espontânea nas

décadas de 1970, 1990 e, mais atualmente, nos anos 2000, e os resultados encontrados na

música do início do século XX? 3) quando e como começou a ocorrer a diferenciação do

rótico na fala cantada e, principalmente, o apagamento5 do segmento? 4) quais foram os

fatores linguísticos e/ou sociais que condicionaram a variabilidade do rótico na fala cantada

dessa época? 5) o gênero musical poderia favorecer – ou não – a ocorrência de

determinadas pronúncias? 6) havia um padrão de canto utilizado por todos os intérpretes ou

eles se diferenciavam? 7) mudança da realização do segmento em coda silábica final

ocorreu em um processo gradual, como verificamos a sequência que diversos autores

propõem: r x h Ø? e 8) houve um término, alcançando uma regularidade pela

eliminação das variantes que eram concorrentes ou a mudança permaneceu estável?

Com isso, os objetivos mais específicos são seguintes: 1) capturar o processo

gradual de diferenciação da realização do segmento; 2) verificar se os intérpretes seguiam

normas de canto da época ou imprimiam às canções características próprias; 3) investigar a

atuação do tempo para o fenômeno e 4) observar a atuação de grupos de fatores

linguísticos e sociais.

Conta-se, para tanto, com os pressupostos da Teoria da Variação e Mudança

(WEINREICH et alii, 2006 [1968]), sob orientação laboviana (LABOV, 1972 [2008]), para

formalizar a pluralidade de realizações do rótico em posição de coda externa.

Resumidamente, esse modelo teórico-metodológico visa a aliar a observação do

comportamento estrutural da língua aos aspectos sociais que interferem na variação e na

mudança linguística, ou seja, busca capturar a realização real da fala caracterizada por sua

heterogeneidade inerente.

5 Nesta dissertação, também serão usados os termos cancelamento e supressão para se referir a tal processo.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

17

Com base nesse aparato-teórico metodológico e a partir dos questionamentos

acima, é possível levantar algumas hipóteses preliminares: 1) apesar de os intérpretes

terem de seguir um padrão de canto estabelecido na época, cada um apresenta traços

próprios da sua individualidade; 2) os gêneros musicais desempenham um papel relevante

na escolha da pronúncia do rótico pelo intérprete; 3) os grupos de fatores linguísticos

relevantes para a diferenciação do rótico na música são semelhantes aos selecionados em

dados de fala espontânea e 4) o processo de mudança sonora é gradual.

Na organização desta dissertação, faz-se, primeiramente, a revisão de alguns

trabalhos de cunho variacionista com base em corpora de fala espontânea relacionados ao

fenômeno aqui investigado. O segundo capítulo dedica-se à apresentação dos pressupostos

teóricos que serviram de fundamento, em seguida, à descrição da fonte usada para a

constituição do corpus e escolha dos intérpretes, à apresentação dos objetivos mais

específicos, das hipóteses com base nos grupos de fatores aqui investigados e das etapas da

pesquisa, tais como a recolha, a transcrição e a codificação dos dados, e dos grupos de

fatores utilizados. O capítulo três apresenta e discute os resultados obtidos a partir das

rodadas do programa GoldVarb 20016. Nesse capítulo, haverá uma análise de cunho

variacionista que visa a determinar quais os fatores linguísticos e/ou sociais foram

decisivos para o tipo de pronúncia do rótico, inclusive seu cancelamento e, assim,

comparar os resultados aqui encontrados com os de trabalhos revisados no capítulo 1. No

último capítulo, de forma sucinta, encontram-se as considerações finais sobre o estudo,

revelando as conclusões a que chegamos no que diz respeito às expectativas pré-definidas

e as contribuições que esta pesquisa pretende dar ao conhecimento fonético-fonológico da

fala cantada do português brasileiro com relação aos róticos. Por fim, há algumas ideias e

caminhos para uma investigação futura que aprofunde ainda mais essa proposta.

6 GoldVarb 2001 é "um conjunto de programa computacionais de análise multivariada, especificamente

estruturado para acomodar dados de variação sociolinguística" (Guy & Zilles, 2007, p. 105).

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

18

1 REVISÃO DA LITERATURA

"Ela era a rosa do lago, ele o cisne nadador

Como era belo esse dia, que lindo quadro de

amor..."

(A concha do amor por Mário Pinheiro/ 1904)

Para Widdison (1997, p. 187, tradução nossa), "poucos fonemas apresentam maior

variação na composição dos fones que fazem parte de uma classe do que o /r/".7 Dessa

forma, os estudos sobre o comportamento do rótico são numerosos em diversas línguas do

mundo. No PB, essa consoante apresenta formas variadas de pronúncia, gerando uma

maior complexidade, o que o torna objeto de estudo bastante investigado. Hora &

Monaretto (2003, p. 116) já afirmaram que essa elevada quantidade de investigações "se

deve a sua frequência de aparecimento e às múltiplas formas que ele pode assumir sob

esse mesmo rótulo para o símbolo da grafia 'r'".

Em sua dissertação, Clemente (2009) destaca que, a partir do corpus do UCLA

Phonological Segment Inventory Database (MADDIESON, 1980), constata-se que 59%

das 321 línguas reportadas contêm um rótico, ao menos, em seu sistema. Além disso, de

acordo com Lindau (1975), 76% das línguas naturais possuem, pelo menos, um rótico,

sendo que, em 18%, há contraste entre dois ou três realizações.

No que se refere ao processo de apagamento, tal fenômeno tem sido documentado

há bastante tempo na literatura linguística. Callou & Serra (2012) e Huback (2006)

ressaltam que, nas peças portuguesas de Gil Vicente escritas durante o século XVI, ao

caracterizar a fala de personagens, tais como negros, agricultores, escravos, dentre outros,

o dramaturgo exclui o <r> final de verbos, transcrevendo a palavra desta maneira: <falar>

como <falaa>, por exemplo, captando a ideia de poder haver um alongamento vocálico

compensatório à perda da consoante. Nos nomes, o <r> final era grafado,

independentemente do personagem da peça. Em contrapartida, quando o autor representava

o diálogo das personagens portuguesas, usava a grafia padrão, ou seja, conservava a

consoante final em verbos. No PB, Huback (2006, p. 13), em seu artigo, afirma que "a

primeira alusão ao apagamento do (r) pode ser encontrada nos registros de Frei

Francisco dos Prazeres, que, em 1819, anotou as seguintes pronúncias difundidas entre as

7 "Few phonemes exhibit greater variance in the membership of phones that make up an equivalency class

than the phoneme represented by /r/".

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

19

pessoas comuns do Maranhão: botá (botar) e mió (melhor)", nesses exemplos, observa-se

vocábulo de outra classe gramatical além do verbo.

Com relação ao ponto de vista fonético do rótico, Callou & Leite (1995, p. 76)

esclarecem que "[a]s primeiras gramáticas portuguesas pouco informam sobre a sua

pronúncia, preocupando-se apenas em estabelecer a existência de dois tipos, um singelo e

outro dobrado", ou seja, aquele provavelmente é o /r/ brando; este, o /r/ forte. No que se

refere ao dialeto carioca, Câmara Jr (1953) foi um dos primeiros a investigar os róticos.

Para esse autor, no plano fonético, há quatro variantes do /r/ forte. Elas são "uma vibração

múltipla da língua junto à arcada dentária superior; ou uma vibração do dorso da língua

junto ao véu palatino; ou uma tremulação da úvula; ou apenas uma forte fricção de ar na

parte superior da faringe" (CÂMARA JR, 1984, p. 15). Percebe-se, portanto, que ele não

elenca o zero fonético como uma das possíveis variantes.

No PB, essa consoante apresenta, desse modo, inúmeras realizações,

principalmente em posição de coda silábica. Tal fato traz uma elevada complexidade em

defini-las e categorizá-las em um mesmo conjunto denominado rótico, visto que as

variantes se diferenciam tanto no ponto, quanto no modo de articulação. Com isso, cabe

indagar: como é possível haver um grupo que reúna realizações tão distintas, tais como:

vibrantes, fricativas, aproximantes como também a não realização? Para Hora e Monaretto

(2003, p. 116), "agrupá-los assim é apenas uma convenção". Em contrapartida, outros

estudiosos têm apontado que tal grupo parece ter um comportamento regular, revelando,

assim, uma integridade. Em seu trabalho, Lindau (1985) determina peculiaridades que

evidenciam esse fato, tais como:

Róticos ocupam o mesmo lugar em sistemas consonantais e em estruturas

silábicas de diferentes línguas. Em línguas dotadas de onsets complexos, os

róticos tendem a ocorrer próximo ao núcleo da sílaba. Em geral, rs pós-vocálicos

tendem a se tornarem vogais ou a desaparecerem (...). Róticos apresentam efeitos similares no ambiente: vogais antes de r tendem a se alongar, como no Inglês e

no Sueco. (...) Os róticos frequentemente se alternam com outros róticos

(LINDAU, 1985, pp. 157- 158 apud GOLÇAVES, SILVA & WEIRICH, 2013).

Tal tentativa de explicar o porquê de haver uma unidade que forme o grupo

denominado rótico não é nada trivial.

Portanto, essa foi uma breve apresentação a fim de demonstrar a complexidade do

estudo que envolve a classe de segmentos denominada róticos em qualquer língua natural.

Nesse sentido, estudos mais representativos sobre o comportamento do rótico no PB, nas

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20

últimas décadas, revelam resultados bastante interessantes. Há, neste capítulo, uma síntese

de alguns trabalhos sobre o fenômeno aqui analisado, desde um estudo de referência sobre

o tema (CALLOU, 1987) até análises variacionistas mais recentes (CALLOU et alii, 1996;

BRANDÃO, MOTA & CUNHA, 2003; MELO, 2009; CALLOU & SERRA, 2012). Cada

um desses trabalhos será revisto, mostrando a relevância da sua contribuição para a

descrição do comportamento do rótico com base na análise sociolinguística. Por fim, cabe

ressaltar que essa revisão busca restringir resultados com base em corpora gravados no Rio

de Janeiro, apesar de alguns dos trabalhos supracitados terem investigado outros dialetos

além do carioca, a fim de demonstrar uma fronteira dialetal. Essa restrição foi feita devido

ao grande número de trabalhos que têm o rótico como objeto de estudo, dessa forma, vê-se

a necessidade de delimitar a revisão bibliográfica. A seguir, os trabalhos serão revisados

em ordem cronológica de publicação.

Em sua tese de doutorado, Callou (1987) estuda a variação e a distribuição do

rótico na fala urbana culta carioca. Esse trabalho é referência para estudos subsequentes,

principalmente para os que se utilizam do mesmo aparato teórico-metodológico, a

Sociolinguística Quantitativa Laboviana. A autora coleta os dados a partir das entrevistas

do tipo Diálogo entre Informante e Documentador (doravante DID) gravadas na década de

1970 com 55 informantes cariocas do Projeto Norma Urbana Culta (Projeto NURC)8, com

intuito de investigar o comportamento variável do rótico em quatro contextos silábicos:

ataque inicial, ataque intervocálico, coda interna e coda externa.

Esse corpus é estratificado socialmente com critérios que respeitam três variáveis

extralinguísticas: faixa etária (de 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 a 75 anos), área

geográfica de residência (Zona Sul, Zona Norte ou Zona Suburbana) e sexo do informante.

A autora verifica, também, a atuação de grupos de fatores linguísticos, tais como a posição

na sílaba e no vocábulo, o contexto fonológico antecedente, o contexto fonológico

subsequente, a classe morfológica, a tonicidade da sílaba que contém o R, a dimensão do

vocábulo e a pressão paradigmática.

Apesar de esse estudo sistematizar o comportamento do rótico em todos os

contextos silábicos, pretende-se explicitar aqui apenas os resultados no que se refere à

posição do rótico em coda silábica final, a fim de compará-los com os resultados desta

dissertação. De acordo com Callou (1987, p. 138), essa posição silábica:

8 http://www.letras.ufrj.br/nurc-rj/.

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21

revelou-se complexa devido a alguns aspectos que estão sujeitos a discussão: a) o

número relativamente grande de variantes; b) o fato de haver no mesmo contexto

três possibilidades, 1- a forma com R se encontra em posição final absoluta

(seguida de pausa), 2- a forma segue uma palavra iniciada por consoante, 3- a

forma segue uma palavra iniciada por vogal, sendo ou não as mesmas as duas

vogais.

A autora verifica uma mudança na norma de pronúncia no ponto de articulação, que

é uma tendência universal de posteriorização – de vibrante anterior à posterior – e no modo

de articulação – de vibrante à fricativa. Para ela, parece ser possível afirmar que, a partir

dos dados analisados, essa mudança sonora do /r/ forte se encontra em um estágio

avançado, pois ocorrem em um elevado índice a variante aspirada e a supressão do rótico,

levando em conta um processo gradual de mudança: r ʀ x h Ø.

Diferentemente do que era tradicionalmente considerado, há também, na fala

urbana culta, a ausência do rótico final – e, consequentemente, uma simplificação na

estrutura silábica, de CVC para CV. No início do processo, esse fenômeno, de acordo com

Callou & Serra (2012, p. 42):

era considerado um marcador social e, nas peças de Gil Vicente, no século XVI,

era usado para caracterizar a fala de escravos. Essa estratificação fez surgir a hipótese de se tratar de uma mudança de baixo para cima, em termos labovianos

(LABOV, 1994). Pelos séculos seguintes, no entanto, o fenômeno se espalhou

progressivamente por todas as classes sociais e por todos os níveis educacionais,

não sendo mais estigmatizado.

Callou, ao realizar seu estudo, anuncia que seria a primeira vez que o

comportamento variável do rótico é analisado no âmbito da fala urbana culta do Rio de

Janeiro. Os resultados revelam que o processo de apagamento em coda externa, pelo

menos, desde a década de 1970, não está restrito a uma ou a outra classe social.

Com base na transcrição do corpus utilizado em seu trabalho, a autora seleciona

seis variantes que ocorrem no contexto em questão. Elas são: a líquida vibrante anterior

sonora, líquida vibrante posterior sonora, fricativa posterior velar (surda ou sonora),

fricativa posterior laríngea (surda ou sonora), líquida vibrante simples anterior sonora9, e

zero fonético. A partir dos fatos relativos ao /R/, a autora conclui ter havido uma mudança

na norma de pronúncia com duas possibilidades: [h] e Ø, com predominância desta última.

Por esse ser um contexto silábico que apresenta aspectos particulares, a autora

analisa dados de coda final separadamente dos outros contextos. Com relação ao

9 Ocorre apenas diante de vogal.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

22

apagamento do rótico, os grupos de fatores sociais, de modo geral, mostram-se menos

relevantes do que os linguísticos. Cabe ressaltar que a possibilidade de ocorrência do

fenômeno é idêntica para homens e mulheres, não havendo distinção. Quanto à faixa etária

dos informantes, há uma inibição do processo entre os informantes acima de cinquenta

anos, mostrando-se um fenômeno inovador entre os mais jovens além de haver uma

tendência mais conservadora entre os que moram na Zona Suburbana da cidade.

Com relação aos fatores linguísticos, o apagamento teve maior probabilidade de

ocorrência em verbos – peso relativo de .73 em infinitivos e .52 em não infinitivos – do

que em não verbos, revelando que a marca morfossintática afeta a distribuição das

variantes. O contexto subsequente pausa propicia altamente o cancelamento, chegando à

probabilidade de .67, embora nos outros dois contextos – vogal e consoante – a regra se

aplique, visto que obtiveram o peso relativo um pouco maior que .50. Quanto ao contexto

fonológico antecedente ao rótico, a aplicação da regra teve probabilidade superior a .50

quando o segmento se encontra após vogais não arredondadas. Tal resultado levou Callou a

agrupar as vogais segundo o traço [-arred], o qual obteve um peso relativo de .59. Além

disso, os resultados revelaram que quanto maior o tamanho do vocábulo, maior a

probabilidade de aplicação da regra de apagamento: o índice de cancelamento em

trissílabos foi superior (.60) do que em monossílabos e dissílabos. Ao analisar o grupo de

fatores tonicidade, a autora salientou a importância da observação conjunta com a classe

gramatical do vocábulo, isto é, a necessidade de realizar uma tabulação cruzada, já que

verbos são sempre oxítonos. No que respeita à pressão paradigmática10

, os resultados

revelaram que, "quando existe outra forma verbal no paradigma de um mesmo verbo ou de

outro verbo sem o /R/, a frequência e a probabilidade de aplicação da regra variável (de

não realização) é de 75,62% e .516" (CALLOU, 1987, p. 142). Ela finaliza a discussão

relatando que, na década de 1970, "embora a frequência geral de aplicação da regra [de

apagamento] seja de 66,48%, o seu input probabilístico não vai além de .43, o que revela

ainda uma tendência de preservação desse segmento fônico" (op. cit.).

No que se refere à influência de grupos de fatores linguísticos na realização da

fricativa glotal, os resultados revelaram que, quanto menor o número de sílabas, maior a

probabilidade de escolha dessa variante. Além disso, ocorre preferencialmente quando o

rótico se encontra em sílaba acentuada. Com relação à influência de fatores sociais, há

maior ocorrência dessa variante nos dados realizados por mulheres.

10

A autora também ressalta a importância de analisar esse fator levando em conta a classe gramatical, já que

só ocorre em verbos, por exemplo, seguir versus (eu) segui.

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23

Em suma, a autora, a partir da investigação da atuação de grupos de fatores sociais

e linguísticos, observou que houve uma mudança na norma de pronúncia, a qual

corresponde uma diferença no modo e no ponto de articulação do rótico. Esta última

mudança – de anterior para posterior – parece representar uma tendência universal11

e

também pode ter uma explicação articulatória. A realização padrão em coda final parece

estar num estágio avançado do processo de mudança, visto que as realizações que

obtiveram maiores índices de ocorrência foram a fricativa glotal e o zero fonético. Por fim,

existe uma inter-relação de fatores sociais e linguísticos que interferem na mudança em

curso, a qual parece ter sido iniciada na fala feminina.

Outro estudo importante a ser revisado é o de Callou et alii (1996), que analisam o

comportamento do rótico em posição de coda interna e externa, em cinco capitais

brasileiras – Porto Alegre (POA), São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ), Recife (RE) e

Salvador (SSA) – que compõem o Projeto NURC, com gravações da década de 1970. Os

autores utilizam o programa estatístico VarBRul12

para estabelecer uma delimitação dessas

áreas dialetais, como também investigar o condicionamento de outros grupos de fatores

sociais, tais como faixa etária – 25-35 anos, 36-55 anos e 56 em diante – e gênero/sexo, a

partir de gravações não só do tipo DID como também Diálogo entre Dois Informantes

(doravante D2).

São examinadas as seguintes realizações do rótico em coda silábica: vibrante

apical13

múltipla, vibrante apical simples, vibrante uvular, fricativa velar, fricativa glotal

(aspirada), aproximante retroflexa e zero fonético. O percentual dessas realizações se

modifica a depender do contexto silábico e da região de origem do falante.

Resumidamente, a aproximante retroflexa ocorre, com maior frequência, em coda interna e

apenas em SP e POA; as vibrantes múltiplas, apical e uvular, apresentam um percentual

baixo de realização e não ocorrem em RJ, SSA e RE; a vibrante simples é característica da

região sul – em SP, o percentual é elevado em ambos os contextos silábicos e, em POA, a

coda interna apresenta um elevado percentual dessa realização; as fricativas, velar e

aspirada, são características do RJ, SSA e RE, além de serem mais comuns em coda

interna; e o zero fonético comporta-se diferentemente a depender do contexto silábico em

11 Widdison (1997) afirma, em seu artigo, que a mudança da vibrante anterior para uvular, ou seja, a

posteriorização, ocorre em várias línguas da Europa Ocidental, como dialetos do francês, alemão,

dinamarquês, italiano, espanhol, holandês, norueguês, português, sueco, e provençal. 12 O VARBRUL foi criado no início da década de 1970 e desenvolvido por Sankoff & Rousseau com o

objetivo de realizar análises estatísticas de dados linguísticos variáveis. . 13 Nos resultados da presente pesquisa, usamos o termo anterior ao invés de apical.

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todas as regiões, dado que, em coda externa, seu percentual é muito mais significativo.

Dessa forma, existe uma fronteira dialetal entre POA/SP e RJ/SSA/RE, visto que, naqueles

falares, opta-se pelas vibrantes; nestes, pelas fricativas.

A partir desses resultados, os autores subdividem os dados, levando em conta a

análise da coda medial e da coda final separadamente, pois há um comportamento distinto

do rótico a depender do contexto silábico. No estudo, os autores verificaram a atuação de

fatores sociais, como o gênero/sexo e a região de origem, e linguísticos, tais como

tonicidade do vocábulo, tonicidade da sílaba, vogal antecedente, ponto e modo de

articulação do segmento subsequente e classe gramatical.

Iremos nos deter na revisão dos resultados no que respeita à posição de coda

externa do RJ em comparação aos das outras capitais. A distribuição das variantes no

contexto em questão a partir dos dados do dessa capital é a seguinte: vibrante simples

obteve um percentual de 15% dos dados; vibrante uvular, 4%; fricativa velar, 22%;

fricativa aspirada, 12% e o zero fonético, 47%.

Na análise quantitativa dos dados, algumas variáveis foram selecionadas a partir

das rodadas dos dados do RJ. A classe morfológica mostra-se relevante, apresentando os

verbos uma tendência geral de cancelamento: verbos, .72, e não verbos, .08. Também foi

selecionado o grupo de fatores vogal antecedente, pois o apagamento ocorreu de

preferência depois de vogais não arredondadas, vogal central, .75, e vogal anterior, .71,

resultado idêntico aos de SP e POA. Por fim, a dimensão do vocábulo revelou-se relevante

para o processo em questão, pois se confirmou a hipótese de que vocábulos mais extensos

conduzem a uma menor tensão articulatória e, assim, favorecem o enfraquecimento

consonantal. Desta maneira, monossílabos apresentaram peso relativo de .31; dissílabos,

.50; trissílabos, .79 e polissílabos, .81 para o cancelamento do R.

Os autores observam, a partir dos resultados, que informantes do RJ e de SSA

comportam-se de maneira semelhante com relação à pronúncia do rótico em contexto final

de palavra. Todavia, no que se refere à faixa etária, naquela capital, foi verificada uma

variação estável e com um percentual de ocorrência próximo de 50%, e, nesta, os

resultados indicavam uma mudança no sentido de desaparecimento do segmento final.

Com relação aos resultados de apagamento do rótico em final de palavra14

, os

autores concluem que essa regra é lexical, pois o grupo de fatores classe gramatical do

14 É comum, nos estudos sociolinguísticos sincrônicos, verificar o condicionamento da classe morfológica do

vocábulo na supressão do /r/ final. Inúmeros trabalhos com base em corpora orais (CALLOU, 1987;

CALLOU et alii, 1996; MONARETTO, 2010; SERRA & CALLOU, 2013) e escritos (MOLLICA, 2003;

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vocábulo – crucial para a aplicação da regra – foi selecionado em todas as rodadas. Dessa

forma, o artigo traz uma grande contribuição para os estudos sobre o comportamento

variável do rótico, pois relata que a posteriorização do ponto de articulação, acompanhada

de um processo de enfraquecimento e perda, é observada em muitas línguas naturais,

podendo ser analisada sob a ótica neogramática e/ou difusionista.

Com isso, ao agrupar os dados de todas as capitais em uma subdivisão de verbos e

não verbos, observou-se que a distribuição das variantes dependentes é diferente. Nos

nomes, a manutenção é de 83%, enquanto, em verbos, é de 35% apenas. Além disso, a

atuação de outros grupos de fatores pode ser distinta quando se leva em conta rodadas

separadas dos dados de verbos versus não verbos. De um lado, em verbos, o número de

sílabas do vocábulo é neutro para a aplicação da regra, ou seja, em vocábulo de qualquer

dimensão haverá alto índice de apagamento, por outro lado, em não verbos, esse grupo de

fatores foi selecionado como favorecedor do processo de cancelamento, pois em

monossílabos o percentual foi de 2%, aumentando gradativamente até chegar aos 38% em

polissílabos. Para os verbos, foram selecionados apenas os grupos faixa etária e vogal

antecedente e, para os não verbos, os grupos faixa etária, região, dimensão do vocábulo e

gênero. Observa-se o comportamento distinto do rótico a depender da classe gramatical do

vocábulo, desse modo, ao analisar os dados, é necessário distinguir, além da posição

silábica, a classe morfológica.

Esse artigo traz outra importante contribuição, pois os autores discutem se há uma

mudança sonora gradual ou abrupta do segmento. A partir dos resultados, verifica-se que as

realizações do /r/ forte são dialetalmente determinadas. Em outras palavras, de modo geral,

havia uma predominância de vibrante anterior em POA e SP, fricativa velar em SSA e RJ e

aspirada em RE em coda medial. Ao levar em conta que o processo de mudança ocorreu

nesta sequência: r ʀ x h Ø15

, observa-se que aquelas capitais seriam

representativas do início de processo de mudança, essas ocupariam uma posição

intermediária, e esta se encontra quase no último estágio do processo. Todavia, ao verificar

o contexto final de palavra, o processo teria alcançado o último estágio em todas as

capitais. Por conseguinte, é possível pular etapas, isto é, passar de vibrante a zero fonético

COSTA, 2007) confirmam a hipótese de que verbos (infinitivo impessoal) favorecem o apagamento do segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes sofrem apagamento, ou seja, há o apagamento da

marca morfossintática, em que o fonema /r/ é designativo de flexão modo-temporal, restando apenas a marca

prosódica, o acento (CALLOU, 1987). 15 Quando, em um dialeto, a mudança sonora se encontra em um estágio avançado, as fases anteriores podem

não ter deixado vestígios. Por outro lado, é bastante provável encontrar mais evidências de como ocorreu a

mudança quando se encontra no início do processo e, então, acompanhar as futuras etapas.

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26

sem fases intermediárias, como ocorre em POA e SP, ou seja, a mudança se opera gradual

ou abruptamente.

Outra contribuição desse trabalho se refere ao contexto para o cancelamento do

rótico, havendo uma discussão do motivo pelo qual esse segmento pode ser cancelado em

coda e não em ataque. No primeiro contexto, há uma simplificação silábica a qual alcança

o padrão universal, CVC CV, porém, no último, o apagamento gera uma sílaba apenas

com vogal, CV V, deste modo, torna-se possível o encadeamento de vogais de sílabas

adjacentes, o que, segundo os autores, não é desejável nas línguas naturais. Além disso,

eles citam uma tendência em reforçar a explosão silábica e debilitar a implosão (GRANDA

GUTIERREZ, 1966). Por fim, esses resultados demonstram que a metodologia utilizada é

favorável para estudos que têm por objetivo a dialetologia.

Brandão, Cunha & Mota (2003) comparam variedades da língua portuguesa, dados

do PB com os do Português Europeu (doravante PE), mais precisamente a fala da cidade

do Rio de Janeiro e com a de Lisboa. A grande contribuição desse estudo se deve ao fato

de, até o momento da publicação do artigo, não ter havido estudos comparando PE/PB

sobre o tema, visto que, em Portugal, não há tradição variacionista, ou seja, não se dispõe

de estudos mais aprofundados que levem em conta variação e mudança.

O artigo, com base no corpus VARPORT16

, detém-se em investigar a realização

versus não realização do rótico em coda final de palavra, visando a descobrir qual das duas

variedades sofre maior supressão do segmento. Os dados são gravações de indivíduos do

sexo masculino de níveis de escolaridade elementar e superior, os quais são distribuídos

por três faixas etárias – 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 a 70 anos. Esse corpus foi

composto de seis inquéritos para cada modalidade do português, havendo, assim, uma

amostra equilibrada, com 994 dados – 591 referentes ao PE e 403 ao PB.

As autoras levantaram algumas hipóteses com relação ao processo de apagamento

do rótico: a) por ser a estrutura silábica CV considerada um padrão universal nas línguas,

há a tendência do fonema /R/ ser eliminado, no entanto é possível recuperá-lo no PE com a

paragoge17

de um segmento vocálico; b) nessa variedade, há menos cancelamento diante

de palavra iniciada por vogal do que no PB, visto que é aparentemente mais comum o

mudança do segmento na coda da primeira palavra para o ataque no início da palavra que

segue; e c) diante de consoante inicial da palavra seguinte, a regra de cancelamento pode

16 http://www.letras.ufrj.br/varport/. 17 Fenômeno fonético que consiste na adição de um fonema ou sílaba no final de palavra, como em canta[] canta[e].

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27

depender dos traços dessa consoante subsequente e, especificamente, da compatibilidade

os traços do rótico e dessa consoante18

.

Os resultados das rodadas revelaram que o índice de cancelamento no PE é o

contrário do que ocorre no PB, pois, na primeira variedade linguística, foram alcançados

74% de manutenção do rótico contra apenas 22% da segunda. Na distribuição das

variantes, a partir dos dados do PE, observa-se que o R, quando se realiza, só ocorre como

tepe, este, por sua vez, pode ter o reforço de uma vogal seguinte, isto é, não há a ocorrência

de fricativas, muito similar ao que é evidenciado por Callou et alii (1996) para os dados de

POA. No PB, o rótico, quando não sofre apagamento, concretiza-se por meio de uma

consoante fricativa, em geral a aspirada e, mais raramente, fricativa velar ou tepe. Certos

grupos de fatores, sejam sociais ou linguísticos, funcionaram apenas para o PB ou apenas

para o PE, com isso, corrobora-se a ideia de que as duas variedades podem ser estudadas

separadamente para a constituição de um quadro particular de variação e mudança

linguística dos róticos.

A seguir, resumiremos os resultados dos dados do PB, obtidos sob atuação dos doze

grupos de fatores para a aplicação da regra de apagamento, e algumas comparações com os

do PE: 1) a variável nível de escolaridade mostra-se relevante apenas no PB, o que é

demonstrado pelos pesos relativos, pois há uma diferença significativa entre as opções dos

falantes que possuem mais tempo de escolarização (.36) em relação às dos que têm nível

escolar inferior (.62); 2) com relação à faixa etária, esperava-se que na fala dos informantes

mais jovens se encontraria o índice mais elevado de apagamento, de fato, isso ocorre no

PE, todavia não no PB, pois são os falantes da faixa etária intermediária que mais apagam

o rótico (.60); 3) no que refere ao número de sílabas, as autoras formularam a hipótese de

que em monossílabos haveria a tendência a manter o segmento, o que, primeiramente, não

é confirmado no corpus europeu, em que são exatamente esses os vocábulos menores que

mais favorecem o cancelamento (.70), porém, no PB, confirma-se a tendência (.30); 4) a

tonicidade da sílaba – tônica ou átona – mostrou-se relevante nas duas variedades, como

era esperado pelas autoras, assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais sensível ao

apagamento, principalmente porque esse segmento incide sempre na sílaba tônica de

verbos no infinitivo; 5) para a variável contexto antecedente, houve altos índices obtidos

no que se refere à vogal [] – PE: .93; PB: .86 –, que estão condicionados por sua

18

Nessa terceira hipótese, as autoras não especificaram a variedade, portanto, suponhamos que seja válida

para ambas.

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28

ocorrência no item "qualquer" e no primeiro elemento da locução "quer dizer"19

, todavia, é

válido observar que, com relação ao PB, o cancelamento é expressivo após vogais não

arredondadas; 6) para a variável classe gramatical, partiu-se da hipótese de que os verbos,

por questões de ordem morfológica, condicionariam, pelo menos no PB, o cancelamento, o

que foi confirmado nessa variedade, diferentemente do que ocorreu no corpus europeu20

;

7) o grupo pressão paradigmática não mostrou relevância em nenhuma das etapas do

estudo; 8) para o grupo de fatores modo de articulação da consoante seguinte ao rótico,

percebe-se a maior relevância da oclusiva no PE, porém, na variedade brasileira, tal papel é

exercido pela lateral, pela vibrante – com ambas foi categórico o cancelamento – e pela

nasal – (.62); 9) no que se refere ao ponto de articulação da consoante subsequente, partiu-

se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais e alveolares – inibiriam a

aplicação da regra de apagamento, enquanto o restante favoreceria por um processo de

assimilação, porém, em ambas as variedades, as consoantes alveolares são as que mais

propiciam o cancelamento; 10) para o contexto subsequente, a hipótese inicial era a de que

o cancelamento seria inibido pela presença de vogal, tal fato é confirmado no corpus do PE

(.27) e, no PB, a vogal não tem atuação relevante para ocorrência da regra, comportando-se

de forma semelhante à consoante surda e à pausa, além disso, o contexto subsequente

consoante sonora foi o único que obteve peso relativo superior a .50 em ambas as

variedades.; 11) para a natureza da vogal seguinte, nas duas variedades, as vogais

nasalizadas, apesar de ter diferentes pesos, mostram-se relevantes para a aplicação da

regra, e 12) para a variável compósita nível de escolaridade e faixa etária, nos dados do PE,

são os falantes mais jovens, os de nível elementar e os de superior, os que mais cancelam o

rótico, respectivamente, .66 e .64, e, no PB, embora sejam os falantes mais jovens, de nível

elementar, os que mais realizam o apagamento, não há, como no PE, uma uniformidade de

desempenho linguístico na fala standard e não standard, ou seja, no corpus do PB, deve-se

levar em conta as duas variáveis em conjunto para, então, compreender melhor o

comportamento da regra.

19 Nesses itens lexicais, o rótico apresenta alto índice de apagamento nas duas variedades. 20 Os mais índices elevados de apagamento do rótico no PE encontram-se na classe dos quantificadores, constituída pela palavra "qualquer". Há .92 de cancelamento. Vale comentar que a supressão do rótico nesse

pronome é tratada com cautela pelos foneticistas, pois, na história da língua, origina-se da junção do pronome

"qual" com o verbo "quer". Uma evidência morfológica para essa etimologia se da através do plural em que o

morfema -s recai após o pronome "qual" e não no final do vocábulo, "quaisquer", Com isso, esse item

diacrônico é bastante interessante, pois ocorre um alto índice de supressão do <r> final por ser terminado em

verbo.

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29

Por fim, os resultados revelaram que, no PB, a tendência é a de eliminar o rótico e,

deste modo, simplificar a estrutura silábica, otimizando, com isso, o padrão universal CV,

enquanto no PE, a tendência é a de conservar a estrutura CVC. Apesar dessas divergências,

a análise mostra que os fatores condicionantes do cancelamento são, na maioria das vezes,

coincidentes, já que, de um lado, há fatores linguísticos atuantes, relacionados à classe da

palavra e à natureza da vogal subsequente e, de outro, os sociais, relativos à faixa etária.

Outro estudo relevante a ser aqui revisado é o de Melo (2009). A autora disserta

sobre os róticos na fala de três municípios do estado do Rio de Janeiro – Petrópolis,

Itaperuna e Parati – também com base nos parâmetros da Sociolinguística Quantitativa

Laboviana, com auxílio do pacote de programas GoldVarb 2001. Ao observar o

comportamento do rótico, ela leva em conta o contexto de coda silábica (medial e final), e

salienta que, na coleta dos dados, as variantes se restringiram a cinco tipos de ocorrências:

o tepe alveolar, o tepe retroflexo, a fricativa velar (surda ou sonora) e a fricativa glotal

(surda ou sonora) e o zero fonético.

Os corpora, que visam a investigar não apenas o comportamento dos róticos mas

também outros processos fonético-fonológicos21

são compostos por amostras de Discurso

Semidirigido, organizadas pela própria autora, e perguntas diretas do Questionário

Fonético-Fonológico (doravante QFF) do Atlas Linguístico do Brasil (ALiB)22

e, assim,

contempla o estudo do fenômeno em questão. As amostras do Discurso Semidirigido são

compostas, em cada localidade estudada, pela fala de dezoito informantes de escolaridade

básica – até a sétima série do Ensino Fundamental – divididos em ambos os sexos e em

três faixas etárias: 18 a 35 anos, 36 a 55 anos e 56 anos em diante. O Discurso

Semidirigido abarca quatro questões destinadas à produção de textos orais espontâneos e

em todas as entrevistas produziram-se outras perguntas durante cada conversa, que possui

de quarenta minutos a uma hora de duração. Quanto ao QFF do Projeto ALiB, este possui

159 questões, das quais 27 atendem ao foco do comportamento do rótico em coda. Por fim,

ambos os corpora foram constituídos em sua totalidade no ano de 2008.

A revisão dos resultados a ser aqui realizada está restrita à atuação variável do

rótico em coda final, visto que a autora separou os dados por contexto silábico para realizar

as rodadas. A análise sociolinguística revela a ampliação de dois processos a que os róticos

estão expostos: há o processo de enfraquecimento, alargando os domínios em que se acha a

variante glotal, e há o processo de apagamento, cuja ocorrência – ainda que principiante no

21

Santos (2009) disserta sobre o comportamento do /S/ pós-vocálico. 22 www.alib.ufba.br/.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

30

interior de vocábulo – se dá, todavia, pelo mesmo conjunto de fatores responsável pelo

cancelamento do segmento em contexto externo, como o contexto fonológico antecedente

e o número de sílabas. Em outras palavras, em coda final, há franca tendência ao

cancelamento, pois, nas rodadas gerais, a soma percentual é de 92% e, em coda interna, de

apenas 6%. A seguir, serão revisados os resultados do peso relativo dos grupos de fatores

extralinguísticos e linguísticos atuantes na regra de apagamento apenas em coda final, já

que a autora realizou rodadas dos dados por contexto silábico em arquivos diferentes.

No QFF, dois grupos mostraram-se relevantes para justificar os 81% de

cancelamentos em coda final: a localidade Parati, com suas 164 ocorrências, foi a única

com peso relativo preponderante, .69, como também o único fator extralinguístico a ser

selecionado, e a classe gramatical, que revela a tendência ao zero fonético em lexias que

são verbos no infinitivo, atingindo .56 de peso relativo.

No Discurso Semidirigido, o percentual de apagamento foi superior, alcançando

94%. Esse resultado confirma ainda a hipótese de maior vigilância do informante sobre sua

fala em questionários objetivos, como o QFF, utilizado pela autora. Seis grupos de fatores

foram selecionados, o primeiro deles é a vogal que antecede o segmento em foco, das quais

a anterior alta [i] demonstra forte probabilidade de levar ao cancelamento, 0.95 de peso

relativo. Vale comentar que as vogais médias anteriores também obtiveram um peso

relativo acima de .50. Dessa forma, a configuração das vogais que mais favorecem esse

zero é a mesma dos resultados encontrados em Callou (1987) nos dados de falantes cultos:

traço [+ anterior] juntamente com o traço [- arredondado]. Um segundo grupo, já previsto

em outras pesquisas, foi a classe gramatical do vocábulo. O apagamento em verbos no

infinitivo é quase categórico e é o único que alcança relevância em todas as rodadas do

programa estatístico, com peso relativo de .60. O terceiro grupo influenciador da regra foi

a localidade, Parati sendo a localidade onde a aplicação da regra é favorecida. O número de

sílabas do vocábulo foi selecionado como quarto colocado a favor do apagamento –

vocábulos polissílabos obtiveram maior probabilidade de aplicação da regra, .72. Quanto

aos percentuais, há uma gradação clara em não verbos: 1 sílaba: 57% 2 sílabas: 86%

3 sílabas: 89% 4 sílabas: 92%, ou seja, quanto maior o tamanho do vocábulo, maior a

probabilidade de apagamento, pois o segmento seria, em vocábulos maiores, menos

saliente, e, em verbos, a porcentagem de zero é alta independente do número de sílabas,

sempre em 98% ou 99%. O penúltimo grupo de fatores da análise corresponde ao contexto

subsequente, no qual se elencam todas as possibilidades consonantais e vocálicas, além da

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

31

pausa absoluta, isto é, em qualquer dos três casos – vogal, consoante e pausa23

–, a

probabilidade é sempre maior que .50. Entretanto, vê-se aqui o contexto imediato ao R, a

vogal [a] obteve um peso relativo de .94 e a vogal nasal24

, .86. A última colocação, na

ordem de seleção, pertence ao grupo tonicidade da sílaba, para o qual as oxítonas estão

com valor numérico de 0.503. Para chegar ao peso relativo desse grupo de fatores, é

necessário realizar uma rodada apenas com não verbos, visto que verbos são sempre

oxítonos. Tal erro metodológico pode ter influenciado os resultados probabilísticos.

Observamos, então, que, nesse estudo, as variáveis linguísticas se sobrepõem às não

linguísticas no comportamento variável do /R/.

O segundo processo estudado – enfraquecimento ou abrandamento – faz perceber a

preponderância das fricativas glotais sobre todas as ocorrências de manutenção verificadas

nos corpora. Nas duas rodadas binárias feitas entre as duas fricativas – velar e glotal – os

dados de coda externa sequer obtiveram variáveis selecionadas no GoldVarb 2001. Foram

computados 283 dados, dos quais apenas 3% remetem à realização velar. Logo, o resultado

dessa rodada originou uma resposta negativa: nenhum grupo de fatores foi escolhido como

favorecedor da regra25

, ou seja, o contexto de coda externa é francamente favorável às

fricativas glotais. Dessa forma, ambas as amostras possuem altos percentuais para os dois

últimos estágios: a glotalização e o cancelamento. Com isso, os resultados mostram que,

nessas três localidades, o processo de variação e de mudança sonora dos róticos encontra-

se no final daquela sequência gradual já exposta aqui.

O último estudo a ser revisado é o de Callou & Serra (2012). As autoras focalizam

o apagamento do rótico em contexto final de palavra a partir de dados gravados para o

Projeto NURC de duas capitais brasileiras: Rio de Janeiro (RJ) – décadas de 1970 e 1990 –

e Salvador (SSA) – apenas década de 1970. As autoras postulam que o fenômeno em

questão não está apenas condicionado por fatores linguísticos e sociais, mas também tem

relação com o tipo de fronteira prosódica. Assim, a pesquisa também alia o aparato teórico-

metodológico da Sociolinguística Quantitativa Laboviana (LABOV, 1972), para um estudo

em tempo aparente e em tempo real de curta duração – tendência –, ao da teoria da

hierarquia prosódica (SELKIRK, 1984; NESPOR & VOGEL, 1986/ 2007), para a

23 Esse resultado dialoga com a asserção feita por Callou (1987, p. 141) de que a aplicação da regra de

apagamento tem "em qualquer dos três casos, a probabilidade é sempre maior que .50". 24 A autora agrupou todas as vogais nasais em um único fator. 25 Não fica claro qual das variantes foi utilizada como valor de aplicação.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

32

determinação do tipo de fronteira prosódica que teria favorecido o progressivo

cancelamento do rótico.

A primeira base teórica foi usada para observar o comportamento estrutural da

língua em relação aos aspectos sociais que interferem na variação/mudança linguística, e a

segunda, como fundamento para investigar se o processo de cancelamento é condicionado

pela fronteira prosódica à direita da palavra terminada em R. Desse modo, levam em conta

se o segmento encontra-se em fronteira de palavra prosódica (Pω), sintagma fonológico

(PhP) ou sintagma entoacional (IP). Por fim, as autoras pretendiam investigar se esse

mapeamento auxiliaria no entendimento dos altos índices de apagamento em final de

palavra em contraste com os baixos valores do fenômeno em coda silábica medial.

A hipótese principal do estudo é a de que além de fatores linguísticos (classe

gramatical) e sociais (faixa etária e região), a estrutura prosódica desempenharia um papel

importante na atuação do processo, na medida em que o fenômeno em questão seria mais

frequente em níveis mais baixos da hierarquia – fronteira de palavra prosódica.

Os resultados alcançados a partir dos dados do RJ serão revisados a seguir, e os de

SSA serão citados apenas para fins de comparação. Na década de 1970, é possível observar

que o processo de apagamento do rótico não atua da mesma forma nos jovens – 25 a 35

anos – das duas cidades, sendo o índice de frequência em SSA quase o dobro do da cidade

do RJ, 89% contra 46%. Em Callou et alii (1996), verificou-se um número maior de

falantes – não só os jovens – distribuídos por três faixas etárias e foi possível verificar que,

em SSA, há uma nítida curva de mudança em curso e, no RJ, de estabilidade.

Com relação à classe gramatical, ainda na mesma década, podemos dizer que, no

RJ, o processo se encontra a meio termo e, em SSA, quase completo, afetando quase todos

os vocábulos em que o segmento está inserido, não importa se verbo ou não verbo, sempre

acima de 70%. No RJ, por outro lado, a oposição entre verbos e não verbos ainda é

flagrante, 81% de apagamento naqueles e 3% nestes, indo ao encontro de afirmações na

literatura de que o fenômeno seja mais frequente em verbos. A tabulação cruzada de classe

morfológica e década, na fala dos jovens, mostra que a variável condicionadora classe

morfológica vem perdendo força de uma década para a outra, não mais retendo tão

frequentemente o segmento, pois, em 1970, o apagamento em verbos é de 46% contra 3%

em não verbos; em 1990, o apagamento em verbos é de 81% contra 66% em não verbos.

No que diz respeito à estrutura prosódica, procedeu-se a uma análise multivariada

de 232 ocorrências, que revelou que as fronteiras de sintagma fonológico e de sintagma

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

33

entonacional favorecem a preservação do segmento enquanto a fronteira de palavra

favorece o apagamento do rótico. Nessa análise, não foram consideradas as ocorrências em

que o rótico era seguido de vogal ou tenha sido registrado na preposição <por>, o

segmento, nesta palavra, é interpretado como em de posição de coda interna – e não

externa – na medida em que a preposição não recebe basicamente acento e se junta ao

vocábulo subsequente.

Na década de 1970, com relação aos dados do RJ, os níveis mais altos, como os

sintagmas fonológico e entonacional, favoreceriam a manutenção do /R/ e a fronteira mais

baixa, como a palavra prosódica, favoreceria o seu apagamento. Ao chegar à década de

1990, há um processo gradual de mudança que até mesmo as fronteiras dos níveis

prosódicos mais altos não mais inibem o apagamento do /R/ e essa mudança ocorreu mais

rapidamente na capital de SSA. Além disso, mais uma vez, não pôde ser descartada a

oposição entre verbos e não verbos, pois se mantém significante. Na primeira década, no

RJ, o apagamento do rótico em não verbos se restringe à fronteira de palavra prosódica

(Pω). Em SSA, a frequência de apagamento em não verbos atinge 44% em fronteira de

palavra. Em verbos, o processo está praticamente completo em ambas as capitais, nenhuma

fronteira prosódica inibe mais o apagamento.

Por fim, as grandes contribuições deste artigo foram comparar dados de décadas

distintas realizando um estudo em tempo aparente e em tempo real de curta duração –

tendência –, infelizmente os informantes de SSA não foram recontatados na década de

1990. Ademais, há um mapeamento prosódico além de verificar a atuação de grupos de

fatores sociais e linguísticos como geralmente é feito em análise sociolinguística.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

34

2 APARATO TEÓRICO-METODOLÓGICO

"Em vão te procurei,

Notícias tuas não encontrei,

Eu hoje sinto saudades

Daqueles dez mil réis que eu te emprestei..."

(Cordiais saudações por Noel Rosa/ 1931)

2.1. Teoria da Variação e mudança

A língua é um sistema que possui unidades. Por conseguinte, essas se estruturam em

conformidade com as necessidades sociocomunicativas do falante. De acordo com a Teoria

da Variação e Mudança (WEINREICH, LABOV e HERZOG, 1968), também chamada de

Sociolinguística Quantitativa, essa estruturação, em linhas gerais, ocorre de forma

sistemática, visto que é condicionada por aspectos estruturais e sociais. Dessa forma, a

variação da língua não é aleatória, dado que pode ser elucidada pela relação ordenada de

regras variáveis.

É importante ressaltar que os autores supracitados foram aprimorando e sofisticando

o método de análise, visto que os estruturalistas já falavam sobre sincronia e diacronia.

Desse modo, para precursores da Sociolinguística:

[u]ma 'teoria' da mudança linguística, no sentido rigoroso, pode ser vista numa

forma relativamente forte e numa forma fraca. Em sua forma forte, a teoria

preveria, com base numa descrição de uma língua em algum período de tempo, o

curso de desenvolvimento que tal língua seguiria dentro de um intervalo específico. (...) Numa versão mais modesta, uma teoria da mudança linguística

afirmaria simplesmente que toda a língua constantemente sofre alteração, e

formularia fatores condicionantes sobre a transição de um estado da língua para

outro estado imediatamente sucessivo. (WEINREICH, LABOV e HERZOG,

1968, p. 34)

A partir dessa afirmação, observa-se que se focaliza a descrição do uso real da

língua, que ocorre, de modo regular, em um espaço de tempo, e essa alteração de um estado

para o outro sofre influência de fatores, os quais podem ser estruturais e sociais. Esse é,

afinal, objeto de estudo da Sociolinguística que, ao observar a questão da mudança da

língua, conseguiu solucionar lacunas e contradições apresentadas num momento anterior

pelo modelo estrutural-funcionalista. Todavia, apesar desse rompimento com as propostas

das correntes precedentes, tal teoria não nega as contribuições que essas análises oferecem

para compreender os fatos linguísticos. Afinal, teorias existem para se complementarem e

não para serem substituídas por outras.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

35

Para a Sociolinguística – surgida durante a década de 1960, a partir dos postulados

de Uriel Weinreich, William Labov e Marvin Herzog –, a língua é um fato social, e cabe ao

sociolinguista investigá-la no decorrer do tempo. Em Empirical Foundations for a Theory

of Language Change (1968)26

, os autores supracitados apresentam e propõem um modelo

teórico-metodológico. Para eles, a variação linguística consiste em "meios alternativos de

dizer a ‘mesma coisa’, disponíveis a todos os membros da comunidade de fala"

(WEINREICH et alii, 1968, p. 97), ou seja, há várias opções sem mudança de sentido.

Percebe-se, então, que há uma direção para o discernimento da relação entre a língua e a

comunidade de fala que a utiliza, já que é perceptível que a língua tem uma função não

apenas comunicativa como também social. Assim, resolve-se uma das incoerências de

correntes anteriores, que, embora tenham observado a língua como um fato social, não

reconheciam a ação que a sociedade e os falantes são capazes de exercer sobre ela.

Nesse modelo teórico-metodológico, são cruciais os termos variante, variável e

variedade. O primeiro é utilizado para determinar as formas alternativas que estão em

variação, ou seja, uma ou mais estratégias usadas concorrendo na língua sem haver

mudança de significado. A título de ilustração, temos as variantes do rótico, tais como a

fricativa velar, o tepe, a vibrante uvular dentre outras. Com isso, o conjunto das variantes é

nomeado variável dependente, em outras palavras, o próprio fenômeno, que é o objeto

escolhido para estudo pelo sociolinguista, como, por exemplo, o rótico. Chama-se

"dependente", pois não varia de modo isolado, já que depende de outros fatores, os quais

são as variáveis independentes, que podem ser linguísticas ou extralinguísticas, ou seja,

estas constituem o conjunto responsável pela influência sobre a variável dependente. Por

fim, variedade corresponde ao dialeto usado por uma comunidade de fala à qual pertence o

indivíduo.

Para Labov (2008, p. 225), "membros de uma comunidade de fala compartilham um

conjunto comum de padrões normativos mesmo quando encontramos variação altamente

estratificada na fala real". Esses padrões que o autor menciona estão em conformidade com

as avaliações sociais do próprio falante a respeito das variantes linguísticas, que são

julgadas como formas prestigiosas ou depreciadas. Assim, ao observar o uso real da língua

em uma comunidade de fala, uma das contribuições fundamentais da Sociolinguística foi

desenvolver métodos quantitativos para analisar a diversidade da língua, com o intuito de

possibilitar a identificação de fenômenos variáveis, a compreensão dos padrões de variação,

26

Para leitura, utilizamos a versão em português, traduzida por Marcos Bagno: Fundamentos empíricos para

uma teoria de mudança linguística.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

36

já que há uma sistematicidade, e a relação entre essas regras variáveis e parâmetros

linguísticos e sociais, que caracterizam tais comunidades de fala.

Essa identificação ocorre por intermédio de uma análise não apenas quantitativa

como também qualitativa de dados obtidos de língua falada – tanto espontânea quanto

monitorada. Em outros termos, a variação é passível de ser descrita e explicada por meio da

relação dos dados da língua em seu uso real, levando em conta o contexto social e o

linguístico em que o(s) indivíduo(s) convive(m). Assim, além de contabilizar dados, cabe ao

sociolinguista interpretar os resultados, por isso a análise é quantitativa e qualitativa.

Observa-se, então, que a Sociolinguística consolidou a ideia de que a variação ocorre de

forma sistemática e motivada por regras variáveis – linguísticas e sociais –, já que, segundo

Labov (2008), toda variação é condicionada, o que significa afirmar que as formas variantes

estão estruturadas de forma sistemática na gramática que os falantes dominam.

Ainda cabe comentar que a variação linguística pode ser representativa de uma

mudança em progresso, quando uma estrutura passa a ser outra, ou pode ser um padrão, que

se repete por gerações, o qual não ocasiona alterações no sistema linguístico – uma

mudança estável. Esse reconhecimento fez com que Weinreich et alii (1968, p. 188)

afirmassem que "nem toda variação e heterogeneidade na estrutura da língua envolve

mudança, mas toda mudança envolve variação e heterogeneidade". Em outros termos, na

variação entre duas ou mais formas linguísticas para um mesmo significado, uma pode se

sobrepujar outra(s), todavia nem sempre esse é o caso, pois pode haver uma variação

estável, sem que se chegue, de fato, a uma mudança linguística.

Com base nos princípios levantados, os autores, ao verem a língua como

heterogênea, enumeram cinco questões que norteiam a investigação sociolinguística da

mudança em curso: a questão da transição, das restrições, do encaixamento, da

implementação e da avaliação. Em outras palavras, o direcionamento para o tratamento da

variação/ mudança pressupõe respostas para as questões supracitadas.

Com relação à transição, "[a] mudança se dá (1) à medida que um falante aprende

uma forma alternativa, (2) durante o tempo em que as duas formas existem em contato

dentro de sua competência, (3) quando uma das formas se torna obsoleta" (op. cit., p.

122), ou seja, é o desenvolvimento de uma mudança linguística, de um estado para outro,

dentro de um intervalo de tempo em variação. Para resolver esse problema, é necessário

analisar os estágios intermediários e, assim, verificar, como um indivíduo aprende uma

forma alternante, por quanto tempo as variantes coexistem e qual tempo em que uma das

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

37

variantes sobrepuja sobre a outra. É necessário, então, que se verifique o porquê de

determinadas estruturas linguísticas estarem em alternância em certo período e o porquê de

uma forma variante substituir outra.

Quanto às restrições, estas são condições para a mudança. Em um estudo

sociolinguístico, busca-se encontrar as "condições possíveis para mudanças que podem

ocorrer numa estrutura de determinado tipo" (op. cit., p. 36), ou seja, nesse problema,

investigam-se quais os condicionamentos linguísticos e sociais que determinam as

alterações possíveis da língua. Além disso, pode-se aliar a observação do comportamento

estrutural da língua aos aspectos sociais que interferem na variação/mudança e quais fatores

fazem certas mudanças serem consideradas impossíveis, isto é, aqueles que as inibem.

Relacionado ao problema acima, é crucial descobrir "como as mudanças [...] estão

encaixadas na matriz de concomitantes linguísticos e extralinguísticos das formas em

questão" (op. cit., p. 36). Em outros termos, entende-se por encaixamento os contextos que

favorecem um determinado tipo de mudança desencadear outras mudanças na estrutura da

língua, assim há relações em cadeia linguística além de se encaixar "num complexo social,

correlacionada com mudanças sociais" (LABOV, 2008, p 326).

A implementação está relacionada aos fundamentos da mudança. Desta forma, o

sociolinguista busca identificar como a mudança foi iniciada, levando em consideração a

estrutura social e linguística, isto é, quais aspectos específicos desencadearam a mudança

em espaço e tempo determinados. Além disso, cabe responder a seguinte indagação: "por

que as mudanças num aspecto estrutural ocorrem numa língua particular numa dada

época, mas não em outras línguas com o mesmo aspecto, ou na mesma língua em outras

épocas?" (WEINREICH et alii, 1968, p. 37).

Por fim, com relação ao problema da avaliação, os autores fazem o seguinte

questionamento: "como as mudanças observadas podem ser avaliadas – em termos de seus

efeitos sobre a estrutura linguística, sobre a eficiência comunicativa (...) e sobre o amplo

espectro de fatores não representacionais envolvidos no falar?" (op. cit., p. 36). Esse

problema está relacionado ao nível de consciência social dos indivíduos, o qual constitui um

fator a ser considerado para analisar uma mudança de forma positiva ou negativa. Em

outros termos, a avaliação atinge as reações que os falantes desenvolvem quando se dão

conta de que um elemento da sua língua está se alternando com outros elementos ou, de

fato, mudando. São três os meios de detectar a mudança no que respeita às variantes: os

indicadores, os marcadores e os estereótipos.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

38

Com relação às mudanças em curso, estas são difíceis de serem observadas, pois

requerem um acompanhamento das variantes afetadas por um determinado tempo para,

então, verificar se as diferenças são significativas ou se são flutuações irrelevantes. Nesse

aspecto, os manuais sociolinguísticos preveem que as análises podem ser realizadas sob

duas perspectivas: o estudo em tempo real e em tempo aparente.

Esses dois estudos são observações as quais ocorrem por intermédio de gravações de

amostras de fala feitas por um determinado número de indivíduos. Geralmente, há o uso de

entrevistas sobre experiências pessoais, com o intuito de o entrevistado se envolver com o

assunto abordado e, então, produzir um discurso mais espontâneo, fazendo-os esquecerem

da gravação. Dessa maneira, eles se distraem do contexto monitorado depois dos primeiros

cinco minutos de interlocução e, assim, diminui ou evita-se o que Labov (2008) chama de

paradoxo do observador, ou seja, como registrar pessoas falando espontaneamente com a

presença de um entrevistador, o qual pode interferir no estilo de fala do entrevistado.

Portanto, há, de fato, o intuito de desvendar como as pessoas falam naturalmente, quando

não são observadas.

A princípio, a análise da língua em tempo real é uma forma de observar o

desenvolvimento de uma mudança, com base no comportamento linguístico de indivíduos

de uma comunidade de fala em momentos distintos. Labov (2008) subdivide essa análise

em dois estudos: o de tendência e o de painel. No primeiro, há uma investigação inicial em

uma comunidade de fala e, após um intervalo de tempo, há o retorno, a fim de repetir a

investigação com indivíduos que possuem as mesmas características sociais dos primeiros

analisados, possibilitando, com isso, detectar o comportamento linguístico da comunidade

como um todo. Geralmente, esse intervalo de tempo é de uma ou duas décadas. Já no estudo

de painel, o pesquisador também retorna à comunidade analisada, porém "intenta localizar

os mesmos indivíduos que foram informantes do primeiro estudo e controlar quaisquer

mudanças em seu comportamento submetendo-os ao mesmo questionário, entrevista ou

experimento" (LABOV, 1994, p. 142), permitindo, desta forma, identificar, pelo

comportamento estável ou instável do mesmo informante em dois períodos distintos, se há

uma mudança geracional ou uma gradação etária.

A análise em tempo aparente parte da observação do comportamento de indivíduos

de uma comunidade de fala que possuem idades diferentes, geralmente três distintas faixas

etárias. A partir desse estudo, o sociolinguista tenta reconstruir a evolução da língua desde

os mais jovens aos mais idosos. Segundo Leite et alii (2003, p. 88), "[e]ssa distribuição, no

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

39

entanto, por faixas etárias, pode ser apenas aparente e não representar mudanças, de fato,

na comunidade, vindo a constituir um padrão característico de gradação etária que se

repete a cada geração". Para solucionar os problemas derivados da interpretação dos

resultados obtidos, é necessário ter também como base as observações feitas em tempo real,

ou seja, pôr em confronto determinados usos em dois ou mais intervalos de tempo. Nesse

sentido, o presente e o passado articulados permitem elucidar a variação e a mudança que

aconteceram e que estão acontecendo.

Por fim, na presente pesquisa, há um grupo de noves informantes homens nascidos

na cidade do Rio de Janeiro, são de uma época muito próxima entre eles, tinham a mesma

profissão, gravavam suas produções musicais nos mesmos lugares, assim pertenciam a um

mesmo grupo social, porém não tinham exatamente os mesmos estilos musicais e tinham

suas especificidades fonéticas. O desafio, desse modo, reside na forma de como analisar

esses dados, visto que nenhum deles gravou por todo o período das quatro décadas, ou seja,

uns gravaram nas duas primeiras décadas; outros, nas três últimas; outros, apenas por uma

década. Será possível, então, analisar, no decorrer do tempo, o indivíduo e a comunidade,

levando em conta o conjunto de intérpretes por década, visto que alguns não gravaram mais

que uma década, como mostra o quadro abaixo.

Décadas Intérpretes Nascimento Falecimento

1902 - 1910 Eduardo das Neves 1884 1919

Mário Pinheiro 1880 1923

1911 - 1920

Eduardo das Neves 1884 1919

Mário Pinheiro 1880 1923

Francisco Alves 1898 1952

Vicente Celestino 1894 1968

1921 - 1930

Francisco Alves 1898 1952

Vicente Celestino 1894 1968

Patrício Teixeira 1893 1972

Silvio Caldas 1908 1998

Mário Reis 1907 1981

1931 - 1940

Francisco Alves 1898 1952

Vicente Celestino 1894 1968

Patrício Teixeira 1893 1972

Silvio Caldas 1908 1998

Orlando Silva 1915 1978

Noel Rosa 1910 1937

Quadro 1. Atuação dos intérpretes por década

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

40

Percebe-se, no quadro acima, que, mesmo que eles tenham gravado diferentes

gêneros musicais e tenham suas especificidades fonéticas, a amostra é bem homogênea em

relação à idade dos intérpretes. Com base em canções gravadas entre 1902 e 1940,

estendendo o período por mais duas décadas – até 1960 – com gravações de Vicente

Celestino, pretende-se analisar, nesse recorte de tempo, as formas do rótico que se

alternavam na fala cantada, verificando se uma variante sobrepujou a outra ou se houve uma

mudança estável. Esse intérprete foi escolhido, pois iniciou sua carreira na década de 1910 e

encerrou-a na década de 1960, demonstrando uma longa atividade musical.

De acordo com Lucchesi (1998), os estudos sociolinguísticos enfatizam mais as

análises quantitativas. É necessário também, a partir da frequência e da probabilidade,

realizar interpretações qualitativas. Além disso, ambas as análises dos dados depende muito

do conhecimento do pesquisador acerca do fenômeno a ser investigado. Tarallo (1997)

afirma que o sociolinguista deve, a princípio, detalhar o objeto de estudo, revisar a literatura

a fim de ter conhecimento sobre as variantes, como se dá a variação e os possíveis

condicionadores linguísticos e sociais que favorecem e inibem a variação.

Nessa perspectiva, para esta dissertação, a escolha das variáveis independentes, as

hipóteses levantadas, os procedimentos metodológicos adotados estão baseados em

trabalhos realizados anteriormente sobre o comportamento variável do rótico na língua

falada. Dessa forma, os resultados serão interpretados a partir da nossa experiência no

tratamento do fenômeno, a partir de resultados das rodadas estatísticas realizadas em cotejo

com estudos anteriores.

2.2. Metodologia e corpus

A pesquisa cumpre todas as etapas de um estudo baseado na Teoria da Variação e

Mudança. Há a formação do corpus, as etapas de transcrição, codificação e rodadas dos

dados e análise e discussão dos resultados. Ressalta-se a escolha de dados extraídos de

canções, aspecto inovador do trabalho, uma vez que se busca analisar a variação de um

fenômeno fonético-fonológico – a distribuição dos róticos em contexto final de palavra –

em um período em que o acesso a dados de fala gravados é restrito.

2.2.1. Etapas metodológicas

Foram realizadas basicamente cinco etapas: 1) seleção dos principais intérpretes da

época com o recurso a biografias do período em análise; 2) obtenção das canções desses

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41

intérpretes selecionados; 3) transcrição fonética das ocorrências do rótico em contexto de

coda silábica final; 4) realização das rodadas dos dados segundo o modelo da

Sociolinguística Quantitativa, a fim de verificar o condicionamento de fatores estruturais e

sociais com o auxílio do pacote de programas GoldVarb 2001; e 5) interpretação dos

resultados. Essas etapas metodológicas serão elucidadas com mais detalhes a seguir.

2.2.2. Os informantes: nove intérpretes da música popular brasileira

Os intérpretes, ilustrados abaixo, foram os selecionados para a composição do

corpus em função de sua rica produção musical. Todos contribuíram para a formação da

música brasileira da primeira metade do século XX, pois suas canções são consideradas

registros no tempo, com valor incomensurável não apenas cultural, mas também histórico.

Todavia, nem todos aqui selecionados tiveram uma carreira musical que tenha perdurado

por décadas, ou seja, alguns cantores produziram por quatro ou cinco décadas, sendo

possível acompanhá-los ao decorrer do tempo, e outros gravaram por apenas alguns anos.

Há apenas intérpretes homens, pois, de acordo com Severiano & Mello (1997), no

início do século passado, a produção musical foi predominantemente masculina, com isso,

ao recuar no tempo, dados provenientes de intérpretes do gênero feminino tornam-se raros.

Freire & Portela (2010) abordam a atuação de mulheres musicistas no Rio de Janeiro no

final do século XIX e início do XX:

É curioso observar que são relativamente raros os registros na literatura

especializada que revelem participação de mulheres, sobretudo como

compositoras e regentes, nos teatros da época. Essa função não era bem aceita para atuação feminina pela sociedade da época, que parecia ver com

desconfiança a presença feminina nos palcos. A classe social a que pertenciam as

mulheres musicistas que atuaram nos teatros, conforme já mencionado, não era

necessariamente a aristocracia, abrangendo espectro social um pouco mais

amplo, embora caiba ressaltar que as poucas mulheres sobre as quais

encontramos informações sobre sua atuação como compositoras ou regentes

nesses espaços eram, na maioria das vezes, 'bem nascidas'. (FREIRE &

PORTELA, 2010, p. 64)

Dessa maneira, observa-se que, na literatura referente à musicologia brasileira, há

considerável carência de estudos que aprofundem a compreensão do papel exercido pelas

mulheres na música daquela época. É facilmente perceptível uma história marcada pela

predominância de homens, e, então, a presença feminina tem pouquíssimo destaque. Ao

consultar o acervo aqui utilizado, realmente é nítida a escassez de gravações feitas pelo

gênero feminino.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

42

De acordo com Diniz (1984), houve mulheres que conseguiram conquistar certo

espaço profissional, contrariando, portanto, as normas de conduta da época. Elas sofreram

preconceitos e sanções, como foi o caso da compositora e pianista Chiquinha Gonzaga27

que, apesar de toda a discriminação, é considerada por muitos críticos como uma das

fundadoras da música popular brasileira. Para Cardoso (2007, p. 2), as cantoras daquele

período eram vozes sem os seus corpos, e essa rara presença feminina na indústria

fonográfica brasileira nos primeiros anos pode ser explicada pelo fato de que "essa prática

musical era restrita às moças, cujas manifestações artísticas limitavam-se ainda sob um

contexto privado". Não se tem referência na literatura do alcance de sucesso pela música

de cantoras antes da década de 1920, e as poucas que produziram aparecem tratadas com

"Srta." e um pseudônimo, sem informação biográfica alguma. Tal fato é exatamente o que

é encontrado no acervo aqui utilizado: canções de Srta. Odete, Srta. Consuelo, entre outras

cantoras, que eram chamadas de atrizes de teatro musicado, e não de cantoras. Esse foi

mais um motivo de retirá-las desta análise, pois não é confirmada a origem das intérpretes,

provavelmente cariocas, nem a data de nascimento, aproximadamente em determinado ano.

Houve a tentativa de lidar com canções gravadas por vozes femininas em um

trabalho anterior28

apresentado e publicado nos anais de um congresso, porém se percebeu

que os dados de produções musicais realizadas por mulheres realmente eram bastante

escassos no início do século XX; obteve-se uma quantidade de dados muito superior de

produções musicais masculinas. Com isso, de modo a garantir a validação estatística dos

resultados, optou-se por retirar as produções femininas da presente análise.

Sendo assim, com base em informações disponibilizadas no dicionário Cravo

Albim da Música Popular Brasileira29

, que é uma obra de referência para os estudiosos da

música, realizou-se um apanhado geral dos nove intérpretes selecionados para a pesquisa

desenvolvida. Esse dicionário é o único dedicado à música – iniciado em 1995 pela

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), por meio do Departamento

de Letras da Livraria Francisco Alves Editora, com o apoio técnico da Informática e

Engenharia de Sistemas (IES). Na página desse dicionário, é possível pesquisar não só

sobre os intérpretes como também temas, gêneros musicais, artistas em geral,

personalidades, grupos e instrumentos. Os intérpretes selecionados para este estudo

27 Para saber mais informações, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/chiquinha-gonzaga. 28 O trabalho intitulado "Análise sociolinguística do r em coda silábica externa: confrontando vozes

masculinas e femininas na música popular brasileira" aceito para ser publicado nos anais do VIII JEL

Jornadas de Estudos Linguísticos organizado pelo Instituto de Letras da UERJ. 29 Para mais informações, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/apresentacao.

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43

tiveram grande reconhecimento do público na época em que atuaram. Além disso, uns são

lembrados até os dias atuais, havendo regravações e tributos. Todos, sem exceção,

contribuíram, de forma bastante significativa, para a construção da identidade cultural

brasileira. A seguir, há imagens dos intérpretes que foram os informantes desta pesquisa:

Eduardo das Neves Mário Pinheiro Vicente Celestino

Francisco Alves Patrício Teixeira Mário Reis

Silvio Caldas Noel Rosa Orlando Silva

Figura 1. Informantes: nove intérpretes da música brasileira30

30 As imagens dos nove intérpretes foram extraídas das seguintes páginas, respectivamente: http://aochiadobrasileiro.webs.com/Biografias/BiografiaEduardodasNeves.ht/;

http://jornalggn.com.br/blog/laura-macedo/mario-pinheiro-um-dos-pioneiros-da-gravacao-de-discos-no-

brasil/;

http://www.museudatv.com.br/biografias/Vicente%20Celestino.htm/;

http://www.viajandonotempo.com.br/index.php?data_in=200309http://jornalggn.com.br/noticia/a-arte-de-

patricio-teixeira/;

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44

Um dos primeiros intérpretes cariocas a gravar um disco brasileiro foi Eduardo das

Neves31

. Nascido no ano de 1884 e falecido em 1919, foi uma das figuras mais populares

do início do século XX, pois, além de cantar, era compositor e palhaço de circo.

Acompanhado ao violão em suas gravações, em 1895, iniciou a carreira artística

apresentando-se em circos e pavilhões na cidade do Rio de Janeiro. Em 1902, teve sua

primeira composição gravada pelo cantor Bahiano32

, a canção "Santos Dumont", também

conhecida como "A conquista do ar". O intérprete ficou conhecido por escrever e gravar

lundus, na grande maioria, com temática do cotidiano da cidade como "O aumento das

passagens", "O bombardeio", "O cinco de novembro (ou O marechal)", "A guerra de

Canudos", entre muitos outros de mesmo assunto. Em 2000, sua gravação de "Ó Minas

Gerais", escrita em 1912, foi incluída pelo crítico Ricardo Cravo Albin33

na coletânea "As

músicas mais fundamentais do século XX", uma série de seis CDs. Por fim, suas gravações

recobrem as duas primeiras décadas aqui analisadas – de 1902 a 1920.

Conhecido por sua perfeita dicção e por ter a discografia mais extensa realizada do

que qualquer cantor da sua época, Mário Pinheiro34

foi um intérprete muito popular em seu

tempo. Nasceu no ano de 1880 e, em 1904, fez sua primeira gravação para a Odeon,

registrando as modinhas "Carmen" e "Gentil Formosa", de autores desconhecidos. Até

1909, gravou discos para a Casa Edison, os quais obtiveram enorme vendagem, tornando-o

conhecido em todo o Brasil. Em seguida, foi contratado pela gravadora Victor e viajou para

os Estados Unidos e para a Itália a fim de divulgar seu trabalho. De volta ao Brasil, em

1918, gravou novamente para a Casa Edison, mas, com o surgimento de novos intérpretes,

obteve um declínio em sua atividade musical e faleceu logo depois.

Nascido em 1894, Vicente Celestino35

foi um dos intérpretes com carreira mais

longa na música brasileira. O tenor gostava de ouvir Eduardo das Neves no Passeio

http://www.memorial.org.br/2012/09/o-pai-dos-cantores-brasileiros/;

http://www.viajandonotempo.com.br/index.php?data_in=200307/;

http://www.annaramalho.com.br/news/blogs/anna-ramalho/6944-arquivo-nacional-exibe-documentario-

sobre-noel-rosa.html/;

https://dsaviosoares.wordpress.com/2011/06/20/orlando-silva-o-cantor-das-multidoes-poderia-ter-sido-o-

nosso-maradona-na-cancao/. 31 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/eduardo-das-neves/dados-artisticos. 32 Foi um dos cantores mais populares do início do século. Integrou o primeiro grupo de cantores

profissionais da Casa Edison, sendo o primeiro intérprete a gravar um disco brasileiro, o que recebeu o número de ordem 1, do catálogo de 1902, intitulado "Isto é bom", do compositor Xisto Bahia. Para mais

informações sobre o intérprete, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/baiano/dados-artisticos. 33 Escritor, pesquisador de MPB, jornalista, historiador, crítico e radialista. Para mais informações, acessar

esta página: http://www.dicionariompb.com.br/ricardo-cravo-albin. 34

Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/mario-pinheiro/dados-artisticos. 35 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/vicente-celestino/dados-artisticos.

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45

Público, o que influenciou sua decisão de seguir a carreira de cantor, pois, com apenas oito

anos, começou a cantar. Em 1915, lançou seu primeiro disco pela gravadora Odeon,

gravando a valsa "Flor do mal" e logo conquistou o público com sua interpretação.

Continuou a gravar por décadas e, ao todo, sua discografia possui 137 discos em 78

rotações-por-minuto (rpm) com 265 músicas, 10 compactos e 31 LPs. Vale comentar que

duas de suas canções fizeram tanto sucesso que deram tema para dois filmes de enorme

público na época: O Ébrio (1946) e Coração Materno (1951). O intérprete também atuou

em teatro e filmes e ganhou inúmeros prêmios durante sua carreira. Sua belíssima voz de

tenor fez com que o povo o elegesse como "A Voz Orgulho do Brasil". Em 1968, quando

se preparava para gravar um programa de televisão, no qual seria homenageado pelo

Movimento Tropicalista, passou mal e faleceu. Seu corpo foi velado por uma multidão na

Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro e sepultado sob palmas do público. A partir dos

anos noventa, a gravadora Revivendo tem relançado parte de sua obra em CDs. Por fim,

suas gravações recobrem as várias décadas aqui analisadas – de 1915 a 1960.

Francisco Alves36

iniciou a carreia artística em 1918 em um teste musical e, no ano

seguinte, lançou pelo seu primeiro disco interpretando a marcha carnavalesca "O pé de

anjo" e o samba "Fala, meu louro", composições feitas pelo famoso Sinhô37

. Durante a

década de 1920, realizou uma série de gravações mecânicas pela Odeon, fazendo grande

sucesso nos carnavais e, no final desse período, tornou-se o primeiro cantor a gravar no

novo sistema eletrônico. Apenas em 1928, ele registrou, pela mesma gravadora, 62 discos,

em um total de mais de 120 músicas, um recorde para a época. Na década de trinta, iniciou

uma parceira com Mário Reis, rendendo-lhe vários discos. Além disso, Francisco foi o

responsável pelo lançamento de Aurora Miranda, irmã de Carmem Miranda, como cantora;

participou no filme, "Alô, alô, Brasil"; e passou a gravar pela Victor e pela Columbia. Em

1941, retornou à Odeon, gravadora em que permaneceu até 1952, ano de sua morte.

Nascido em 1893, Patrício Teixeira38

foi outro intérprete com grande popularidade

radiofônica entre as décadas de 1920 e 1940. Além disso, foi um especialista no repertório

de canções folclóricas brasileiras, visto que, em sua extensa discografia, há um vasto

repertório de emboladas, toadas sertanejas, entre outros gêneros peculiares da música

brasileira. Dedicou-se também ao ensino de canções brasileiras acompanhadas ao violão,

36 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/francisco-alves/dados-artisticos. 37

Para mais informações, acessar: http://www.dicionariompb.com.br/sinho/dados-artisticos. 38 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/patricio-teixeira/dados-artisticos.

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46

sendo professor de "senhoritas" da elite carioca, como Nara Leão, Linda Batista e Aurora

Miranda.

Outro intérprete que faz parte do conjunto de informantes para esta pesquisa é

Mário Reis39

. Nascido já no século XX, mais precisamente em 1907, também lançou seu

primeiro disco pela Odeon na década de 1920. Nesse momento, a gravação de discos saía

da era mecânica para entrar na era do sistema elétrico com o uso de microfones. Esse novo

processo favoreceu bastante seu estilo, mais simples e coloquial de cantar – diferentemente

do tenor Vicente Celestino, por exemplo – e inaugurou um novo período na história do

canto popular – o da voz pequena. Na década de 1930, formou dupla com Francisco Alves,

com o qual gravou inúmeros discos e participou de filmes musicais. Na década seguinte,

Mário Reis afastou-se da vida artística e retornou apenas em 1951, gravando até 1971.

Silvio Caldas40

, nascido em 1908, iniciou sua carreira musical na década de 1930,

gravando "Tracuá me ferrô" pela gravadora Victor e lançou inúmeras marchas e sambas,

que fizeram sucesso nos carnavais da cidade do Rio de Janeiro. Teve grande popularidade

não só pelos seus discos, mas também em rádios, além de ter sido considerado pela crítica

e pelo público da época um dos quatro grandes cantores da "Era do Rádio". Além disso,

atuou em filmes, como "Favela dos meus amores", de Humberto Mauro, e "Carioca

maravilhosa", de Luís de Barros. Como Vicente Celestino, Silvio Caldas teve uma das mais

longas carreiras artísticas no Brasil, produzindo até o final da década de 1970.

Nascido em 1910, Noel Rosa41

já demonstrava, em sua infância, aptidão para a

música, pois aprendeu a tocar bandolim de ouvido. Sem deixar de lado seu talento musical,

preparou-se para a Faculdade de Medicina, porém abandonou o curso três anos depois. No

final da década de 1920, com os moradores de Vila Isabel e alunos do Colégio Batista,

formou um grupo musical, o Flor do Tempo, para se apresentar apenas em festas locais.

Quando foram convidados para gravar, o grupo foi reformulado, mudando o nome para

Bando de Tangarás. Paralelamente, intérprete escrevia canções e, ainda em 1930, teve seu

primeiro grande sucesso com o samba "Com que roupa?" gravado por ele mesmo. Suas

composições foram gravadas por Francisco Alves, Mário Reis, entre outros famosos

intérpretes de sua época. Ele foi sempre afetado por problemas de saúde, porém não se

afastava da vida boêmia; dessa forma, seu estado agravou-se, levando-o à morte.

39 Informações retiradas desta página: (http://www.dicionariompb.com.br/mario-reis/dados-artisticos. 40

Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/silvio-caldas/dados-artisticos. 41 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/noel-rosa/dados-artisticos.

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47

Por último, Orlando Silva42

, nascido em 1915, começou sua atividade musical

precocemente na década de 1930, estreando com participação no programa de Francisco

Alves na Rádio Cajuti. Com pouquíssimo tempo de carreira, assinou contrato com a RCA

Victor para lançar discos e gravou até o final da década de 1970. Ele foi o primeiro cantor a

ter um programa exclusivo na Radio Nacional, além de participar do filme "Banana da

terra", dirigido por J. Rui, interpretando a marchinha "A jardineira". No final de sua

carreira, entre os anos de 1976 e 1977, gravou vários números para o programa "Brasil

Especial" da TV Globo. O cantor faleceu no ano seguinte, vítima de um ataque cardíaco.

Essa notícia causou grande comoção em âmbito nacional e arrastou uma multidão às ruas

para lhe prestar a última homenagem. Em 1979, foi lançado pelo Museu da Imagem e do

Som (MIS) o LP "Orlando Silva", com as gravações realizadas ao vivo nos programas da

Rádio Nacional.

Desse modo, por meio desse apanhado geral, observa-se que esses intérpretes

mostraram-se determinantes para a formação da música, contribuindo para a construção da

identidade cultural brasileira. Vê-se que grande parte deles não teve atuação somente na

gravação de discos, mas também em rádios e filmes, ou seja, foram os grandes artistas

desse período e, por isso, foram escolhidos para fazerem parte dessa tentativa de recuperar

não apenas as pronúncias do rótico, como também as canções, os gêneros musicais, e os

estilos musicais da época.

2.2.3. A constituição do corpus

Fundado por Walther Moreira Salles43

em 1990, o Instituto Moreira Salles (IMS) é

uma organização sem fins lucrativos que tem o objetivo de promover e de desenvolver

programas culturais. Com base na descrição da história dessa entidade disponibilizada na

sua própria página44

, as atividades são sustentadas pelo Unibanco e, posteriormente, pela

família Moreira Salles, e são realizadas em três cidades: Poços de Caldas, em Minas

Gerais, na cidade do Rio de Janeiro e, mais recentemente, na cidade de São Paulo. O

patrimônio dessa organização é segmentado em quatro distintas áreas – Música, Fotografia,

Literatura e Iconografia –, que estão disponíveis, em grande maioria, para consulta no site

a fim de difundir esses acervos da maneira mais ampla, ágil e sem custo. Essa

42 Informações retiradas desta página: http://www.dicionariompb.com.br/orlando-silva/dados-artisticos. 43 Foi um empresário, banqueiro, diplomata, advogado e ministro da Fazenda do Brasil, no governo João

Goulart. Para mais informações, acessar: http://ims.com.br/ims/explore/artista/walther-moreira-salles. 44 http://www.ims.com.br.

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48

disponibilização requer um trabalho prévio de higienização e digitalização de imagens e

sons, catalogação e, assim, a promoção de exposições e publicações.

Para esta pesquisa, o que nos interessa é o acervo musical, que dá conta dos

primórdios das gravações de canções brasileiras que se inicia com a primeira gravação de

um disco em 1902, o lundu "Isto é bom", composição de Xisto Bahia, passa pelo

nascimento do samba com a gravação de "Pelo telefone" de Donga até o surgimento da

Bossa Nova, um estilo sofisticado e suave, nos fins dos anos 1950. Há inúmeros discos em

78 rpm e um repositório de 80 mil fonogramas, que pertenciam ao acervo de José Ramos

Tinhorão45

. No site do IMS, há uma rádio de internet, a Rádio Batuta46

, que difunde as

gravações musicais e produz documentários sobre grandes compositores e intérpretes.

Além disso, há uma série, A canção no tempo47

, que apresenta um panorama dos principais

sucessos musicais brasileiros, tendo como base os dois volumes de A canção no tempo: 85

anos de músicas brasileiras, livros de autoria dos pesquisadores Jairo Severiano e Zuza

Homem de Mello. Há ainda o acervo SophiA Biblioteca48

, para consulta dos discos.

Na constituição do corpus, a proposta foi selecionar os principais intérpretes

presentes na série A canção no tempo, primeiramente, com audições das gravações

disponibilizadas entre 1902 e 1940 e, assim, delimitar o que iria, de fato, fazer parte da

pesquisa. A partir dessa etapa, nove intérpretes cariocas foram selecionados (cf.: 2.2.2).

Além do Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira, a biografia de alguns foi

consultada em Panorama da música popular brasileira na "Belle époque" de Ary

Vasconcellos.

Com os nove intérpretes selecionados, a partir dessa série que destaca as canções

que fizeram mais sucesso, foram realizadas consultas no acervo de José Ramos Tinhorão

disponibilizado em SophiA Biblioteca, a fim de analisar o máximo de canções gravadas

por eles durante o período de quatro décadas. Esse acervo fornece, para cada intérprete,

informações como rotações do disco, título da música, autoria, imprenta (o local e o ano de

gravação), número do álbum e gênero musical.

Com isso, foram selecionadas 219 gravações musicais de nove intérpretes cariocas

representativos da música reproduzida nas principais gravadoras da cidade do Rio de

45 Jornalista, crítico e pesquisador da história da música popular brasileira. Para mais informações sobre

Tinhorão, acessar as seguintes páginas http://www.dicionariompb.com.br/jose-ramos-tinhorao e

http://ims.com.br/ims/explore/artista/jose-ramos-tinhorao. 46 http://radiobatuta.com.br. 47

http://radiobatuta.com.br/Episodes/view/52. 48 http://acervo.ims.com.br/.

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49

Janeiro no período entre 1902 e 1940. No corpus, há 26 canções gravadas por Eduardo das

Neves, 32 por Mário Pinheiro, 33 por Vicente Celestino, 35 por Francisco Alves, 12 por

Mário Reis, 22 por Patrício Teixeira, 28 por Silvio Caldas, 12 por Noel Rosa, e 19 por

Orlando Silva. Dessa maneira, há uma amostra significativa da diversidade da música

brasileira, contendo diversificados gêneros musicais, tais como valsas, lundus, modinhas,

maxixes, tangos, marchas carnavalescas, entre outros. Como Vicente Celestino foi um

intérprete que produziu por muitas décadas, estendemos essa sequência temporal até 1960

com mais 23 gravações49

suas além de analisar uma entrevista concedida à Rádio

Bandeirantes, realizada em 1964.

Ao todo, foram obtidos 3.252 dados de rótico em contexto de coda final a partir das

audições das canções. Na primeira década, há 540; na segunda década, há 571; na terceira

década, 781; na quarta década, 966. A partir dos dados de Vicente Celestino, há, na quinta

década, 192; e, na última, 202 dados. Observa-se que, à medida que o tempo decorre, o

número de dados aumenta. Em outras palavras, quanto mais se recua no tempo, mais difícil

se torna a construção do corpus, pois, nas primeiras décadas, o número de intérpretes era

escasso. Além disso, os registros musicais não terem uma boa qualidade devido à

simplicidade do processo de gravação mecânica, então algumas produções das primeiras

décadas não foram utilizadas devido ao enorme ruído contido nelas. No final da década de

1920, a gravação de discos entra na era do sistema elétrico, que tinha um custo menor e

uma melhor tecnologia que facilitava a gravação e, com isso, o número de canções

aumenta com o passar do tempo. Além disso, dificilmente são encontradas as letras em

livros e sites das primeiras canções do século XX. Assim, foi necessário, primeiramente,

fazer a audição de cada gravação, transcrever ortograficamente para, então, realizar a

transcrição fonética com a letra da canção em mãos. Por outro lado, encontram-se

facilmente letras – e até cifras – de registros musicais realizados a partir do final da década

de 1920.

É importante comentar, por fim, que esses dados, diferentemente de corpora

sociolinguísticos, não são estratificados socialmente. Houve, então, a preocupação de

buscar e selecionar os principais intérpretes do período, aqueles com maior produtividade

musical e reconhecimento do público. Além disso, houve a preocupação de formar um

corpus apenas com intérpretes cariocas, pois havia artistas de outras regiões do Estado do

49 Selecionamos quatorze canções gravada na década de 1950 e nove na última década.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

50

Rio de Janeiro e de outros estados também, que foram descartados50

. Optou-se, também,

por não utilizar gravações musicais realizadas por mulheres pelos motivos já expostos

anteriormente. O desafio, desse modo, reside na forma de analisar esses dados, visto que os

intérpretes pertencem a distintas faixas etárias. Ademais, nenhum deles gravou por todo o

período das quatro décadas, ou seja, uns gravaram nas duas primeiras décadas, outros

gravaram nas três últimas, outros, apenas por uma década. Esses entraves foram resolvidos

da melhor forma possível e serão descritos nas próximas seções.

Por curiosidade, foi pesquisada brevemente a forma como essas canções eram

gravadas e reproduzidas naquela época. Na virada do século XIX, de acordo com

Gonçalves (2011, p. 106) "a atividade musical na capital federal iniciou seu processo de

expansão e popularização" devido à chegada do fonógrafo – inventado por Thomas Edison

em 1877 – e do gramofone – inventado por Emil Berliner em 1888 –, aparelhos usados

para reprodução de músicas. Sobre os primeiros fonógrafos trazidos por Frederico Figner,

que foi o fundador da Casa Edison, um dos primeiros estúdios de gravação da cidade do

Rio de Janeiro, responsável pela sobrevivência de grande parte da cultura musical

brasileira, o autor comenta que:

as gravações eram feitas a partir da reutilização de cilindros gravados. Como

eram de cera, necessitavam ser previamente raspados e polidos para então

receberem as novas gravações. Em um manuscrito autobiográfico, Figner afirma

que às vezes precisava ficar até a meia-noite para finalizar a raspagem dos

cilindros e deixá-los prontos para receber novas gravações (op. cit., p, 107).

Anos depois, em 1900, surgem os primeiros gramofones no país. A chegada desses

aparelhos mais modernos não eliminou o mercado dos fonógrafos na cidade, porém

"Figner dedicou-se à importação desses aparelhos, pois havia notado que eles

reproduziam os discos em volume mais alto que os cilindros de cera e poderiam ampliar os

seus negócios com a comercialização da música" (op. cit., p. 116). Gonçalves compara as

duas técnicas:

50 Há um trabalho publicado nos Anais do Colóquio Brasileiro de Prosódia da Fala intitulado "A(s)

pronúncia(s) do R final em canções do início do século XX (1902-1920)" em que a região de origem do

intérprete foi levada em conta: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia. Resumidamente, são os intérpretes da Bahia que mais cancelam o rótico em coda silábica final (31%), sendo pequeno o índice de apagamento na

fala cantada dos cariocas (4%) e nulo na fala cantada dos intérpretes do Rio Grande do Sul, havendo um

diálogo com o estudo de Serra & Callou (2013). Esse artigo encontra-se disponibilizado na seguinte página:

http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/anais_coloquio/search/authors/view?firstName=Karilene&m

iddleName=da%20Silva&lastName=Xavier&affiliation=Universidade%20Federal%20do%20Rio%20de%20

Janeiro&country=.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

51

o fonógrafo apresentava algumas desvantagens, como o seu tamanho, seu

complexo manejo e o fato dos cilindros se desgastarem com mais facilidade, o

que prejudicava a qualidade da gravação. Em comparação, o disco é um suporte

mais duradouro, de fácil manipulação, transporte, e oferece melhor qualidade

sonora, fatores que contribuíram para a sua popularização (op. cit., p. 117).

A título de ilustração, a seguir, há imagens51

de ambos os aparelhos usados para

reprodução das produções musicais analisadas nesta dissertação:

Figura 2. Fonógrafo Figura 3. Gramofone

A partir de leituras do Dicionário Cravo Albim, nas primeiras décadas, as gravações

eram feitas com todos juntos, os intérpretes, coro, instrumentistas no estúdio. Em seguida,

eram encaminhadas para a finalização do processo na fábrica da Zonophone localizada na

Alemanha. Já na década de vinte, com o advento da gravação por meios elétricos, surgiu,

enfim, o microfone, melhorando significantemente o qualidade sonora das gravações

musicais.

Por fim, abaixo, há um quadro, o qual sistematiza o corpus constituído para esta

dissertação com os intérpretes, os períodos em que eles gravação, em quais gêneros

musicais, a quantidade de gravações selecionadas do acervo e o número de dados

coletados.

51 Ambas as imagens foram retiradas da seguinte página:

http://www.memoriadaeletricidade.com.br/default.asp?pag=4&codTit1=44302&pagina=destaques/almanaqu

e/invencoes&menu=388&iEmpresa=Menu#44302/. Acesso em 11/2015.

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52

Quadro 2. Sistematização do corpus em década, intérprete, gênero musical, canções e número de dados

2.2.4. O método de recolha dos dados

Após chegar à conclusão de quais intérpretes selecionar para serem representativos

da música da época e com as letras de todas as suas canções em mãos, iniciou-se a etapa de

registrar as informações significativas sobre cada uma delas, como a autoria, a imprenta

(local e ano de gravação), número do álbum e gênero musical. A título de ilustração,

abaixo, há uma das consultas das canções gravadas por Vicente Celestino no acervo de

música de José Ramos Tinhorão do IMS – SophiA Biblioteca.

Décadas Intérpretes Gêneros musicais N° de canções Dados

1902-1910

Eduardo das Neves Lundu, canção, modinha 12 158

Mário Pinheiro Canção, seresta, modinha, fado,

cançoneta, canção, polca, tango-

brasileiro, valsa, lundu, barcarola

26 632

1911-1920

Eduardo das Neves Canção, samba, modinha, toada, valsa,

cançoneta, lundu

14 222

Mário Pinheiro Modinha, cateretê, tango-brasileiro,

seresta

6 105

Francisco Alves Marcha carnavalesca, samba 3 48

Vicente Celestino Canção, modinha, valsa 7 202

1921-1930

Francisco Alves Samba, maxixe, canção, marcha

carnavalesca, tango-brasileiro,

modinha

18 200

Vicente Celestino Modinha, canção, tango-brasileiro,

toada, valsa

8 202

Mário Reis Samba, canção 12 240

Patrício Teixeira Toada, modinha, samba, canção,

embolada

11 73

Silvio Caldas Samba 4 63

1931-1940

Francisco Alves Maxixe, samba, canção, tango-

brasileiro, modinha, marcha

carnavalesca

17 211

Vicente Celestino Seresta, valsa, canção, tango-brasileiro 20 196

Patrício Teixeira Samba, marcha carnavalesca 11 72

Silvio Caldas Samba, marcha carnavalesca, valsa,

seresta, canção

24 173

Noel Rosa Samba 12 112

Orlando Silva Samba, valsa, seresta, marcha

carnavalesca

19 158

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53

Figura 4. Exemplo de como as buscas de gravações são realizadas no acervo SophiA Biblioteca do IMS

O passo a passo da consulta foi o seguinte: 1) acessar a página; 2) selecionar o

campo "intérprete"; 3) escrever o seu nome no espaço em branco ao lado; 4) selecionar a

opção "música"; 5) escolher "José Ramos Tinhorão" no campo dos acervos; 6) registrar as

informações na gravação selecionada e 7) realizar as audições do maior número possível

de gravações de cada intérprete nas décadas aqui analisadas. Por fim, as canções desse

acervo que se encontram também na série A Canção no Tempo estão disponíveis para

download, entretanto, não há a possibilidade de baixar as que não fazem parte dessa série

cronológica, dessa forma, grande parte da audição das canções foi realizada online52

.

2.2.5. Transcrição e codificação dos dados

Para a transcrição fonética dos róticos, foi utilizado o Alfabeto Fonético

Internacional53

. Quando havia dúvida em relação à pronúncia, o dado era também ouvido

por outras duas pessoas treinadas em transcrição fonética, professoras da Faculdade de

Letras da UFRJ, a fim de aferir a consistência da anotação realizada. Em todos os casos em

que não havia condições acústicas apropriadas para a determinação da variante fonética

realizada pelo intérprete, os dados foram descartados. Essa dificuldade se deu,

52 Houve tentativas de obter as gravações a fim de analisar os sons do tipo R em um programa computacional

de análise acústica (Praat – BOERSMA & WEENINK, 2011), mas todas sem sucesso, pois o IMS não

forneceu as gravações. 53 http://web.uvic.ca/ling/resources/ipa/charts/IPAlab/IPAlab.htm.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

54

principalmente, por conta de algum ruído interveniente ou por conta da gravação estar com

volume muito baixo.

A transcrição das realizações do segmento em questão foi realizada ao final da

palavra, como mostra a letra da canção "Ontem ao luar" gravada por Vicente Celestino:

Se tu desejas sabe[] o que é o amo[r] e senti[]

O seu calo[] o amaríssimo travo[r] do seu dulço[]

Sobe o monte a beira ma[] ao lua[]

Ouve a onda sobre a areia lacrima[]

Ouve o silêncio a fala[r] na solidão do calado coração

A pena[] e a derrama[] os prantos seus

Ouve o choro perenal, a do[] silente universal

E a do[r] maio[r] que é a do[r] de Deus

Após transcrever os 2.858 dados entre 1902 e 1940, além dos 394 dados de Vicente

Celestino entre 1940 e 1960, foram criados os arquivos de codificação (cf. anexo 1) no

programa computacional Microsoft Office Word 2007, segundo a metodologia de pesquisa

variacionista. O processamento dos dados foi feito com o pacote de programas GoldVarb

2001. Essa programa fornece informações, tais como: 1) o índice de aplicação da regra

variável; 2) a frequência, os valores percentuais e os pesos relativos das variantes; 3) os

casos categóricos e semicategóricos; 4) as variáveis linguísticas e extralinguísticas atuantes

para a aplicação da regra do fenômeno em estudo em ordem de seleção – do mais atuante

ao menos atuante; e 5) as variáveis não significativas para a análise, aquelas descartadas

pela melhor rodada. Por fim, os grupos de fatores escolhidos para a análise são elencados

na seção a seguir.

2.2.6. Os grupos de fatores

Primeiramente, é necessário delimitar a variável linguística para estudo. Segundo

Labov (2008, p. 97), um fenômeno pode ser considerado variável quando oferece "meios

alternativos de se dizer ‘a mesma coisa’ disponíveis a todos os membros da comunidade de

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

55

fala". A variação pode ocorrer em qualquer nível da gramática e, nesta pesquisa, o

fenômeno a ser investigado ocorre no nível fonético-fonológico.

O procedimento, após a definição da variável linguística dependente, é a

delimitação das variantes possíveis. No presente caso, há, em posição de coda silábica

final, um processo de neutralização que desfaz a oposição distintiva existente entre os

róticos na posição intervocálica – /r/ forte e /r/ fraco. Desta forma, o rótico é a variável

linguística considerada dependente, condicionada por fatores linguísticos e sociais, e estes

– chamados independentes – são os que controlam a sua realização, porque não têm seu

funcionamento condicionado por nenhuma regra.

Antes da recolha dos dados, previa-se que a ocorrência de maior frequência do

rótico fosse a vibrante, seja simples ou múltipla. Não houve ocorrência da vibrante uvular

– realização com a articulação posterior – no contexto silábico aqui analisado, porém foi

observada, assistematicamente, a sua ocorrência em contexto intervocálico. Além das

vibrantes anteriores, simples e múltipla, quatro outras variantes ocorreram nos dados

coletados para esta pesquisa, a fricativa velar, a fricativa glotal (aspirada), o zero fonético e

a aproximante labial. Em outras palavras, ao haver uma pronúncia do rótico, se for

vibrante, será anterior, e, sendo posterior, será fricativa. Os exemplos a seguir ilustram

cada uma dessas variantes encontradas.

A realização da vibrante múltipla anterior, considerada a variante de prestígio no

meio musical, se dá por pequenas vibrações resultantes das oclusões ocasionadas por

repetidos toques da ponta da língua em direção à região alveolar. O trecho abaixo traz

como exemplo dois vocábulos em que houve, ao final da palavra, a pronúncia do R

vibrante múltiplo anterior.

(1) Santificando a minha do[r]

No ilumina[r] dos olhos teus.

("Do sorriso das mulheres nasceram as flores", tango-brasileiro gravado por Vicente

Celestino entre 1921 e 1924, letra de Eduardo Souto).

O tepe ou vibrante anterior simples ocorre quando a ponta da língua toca uma única

vez na região alveolar, ocasionando uma breve obstrução da passagem da corrente de ar na

cavidade oral. No exemplo (2), ocorreu esse tipo de realização do rótico.

(2) Deus, que vive[], que praze[]

Nesta vida que eu teço sem dor[].

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

56

("Os Boêmios", tango-brasileiro gravado por Mário Pinheiro entre 1902 e 1905,

letra de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense).

As pronúncias fricativas, nomeadamente velar e glotal, ocorrem raramente no

corpus. Aquela é produzida a partir de uma fricção na zona do véu palatino; esta, por uma

fricção na zona da laringe. A seguir, há exemplos dessas duas variantes realizadas por

Francisco Alves, em (3) e (4), respectivamente.

(3) Não tens razão

Meu doce amor

Vive[x] cismando.

("Não Sou Baú", samba gravado por Francisco Alves em 1929, letra de Sinhô).

(4) Eu ouço fala[h] que para nosso bem

Jesus já designou que seu Julinho é quem vem.

("Eu ouço falar", samba gravado pro Francisco Alves em 1929, letra de Sinhô).

Há o zero fonético, ausência de qualquer realização do segmento. Nesse caso,

ocorre uma simplificação fonológica, ou seja, uma sílaba travada por uma consoante

(CVC) passa a ter uma estrutura mais simples (CV). Abaixo, há um trecho de uma das

canções em que ocorre esse fenômeno.

(5) Senhores, escutem o que eu vou conta[Ø]

Fui no samba do Maneco convidado pra toca[Ø].

("Balaco-baco", samba gravado por Silvio Caldas em 1930, letra de Rogério

Guimarães).

Por fim, há o único caso de realização de uma aproximante labial no corpus, que

ocorre quando a passagem de ar na cavidade oral é obstruída, porém não o suficiente para

ser uma consoante.

(6) Meu terno branco parece casca de alho,

Foi a deixa dum cadáve[w], de acidente do trabalho.

("Cabide de Mulambo", samba gravado por Patrício Teixeira em 1932, letra de

João da Baiana).

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57

Nesse grande grupo, inserem-se as variáveis independentes que correspondem aos

fatores extralinguísticos e as que pertencem ao nível estrutural, dentre os quais, procuram-

se aquelas que mais propiciam a variação dos róticos em coda silábica final nas produções

musicais. Foram selecionadas, mais especificamente, nove variáveis independentes, sendo

seis de natureza linguística e três de natureza extralinguística. Essa seleção foi feita com

base em pesquisas anteriores sobre o comportamento dos róticos nesse contexto silábico e

em pressupostos gerados a partir do corpus constituído.

Primeiramente, serão elencados os grupos de fatores extralinguísticos54

: década,

gênero musical e intérprete.

a) Década

Período de aproximadamente dez anos foram inseridos para compor o quadro de

variantes independentes, visto que o tempo – seja de curta seja de longa duração – tem

demonstrado relevância em resultados de trabalhos que têm por objetivo investigar o

comportamento variável do rótico. Em outras palavras, para verificar a variação/mudança

de alguma pronúncia, segmentar o corpus em intervalos de tempo é essencial. Foram

agrupadas produções musicais em curtos intervalos de tempo, entre 1902 e 1910, entre

1911 e 1920, entre 1921 e 1930, e, por fim, entre 1931 e 1940, havendo, assim, uma

sequência de tempo de aproximadamente quarenta anos. Vale comentar que, na primeira

década, observa-se que é iniciada em 1902, pois as gravações de discos nos dois primeiros

anos – 1900 e 1901 – não sobreviveram até os dias de hoje. Além disso, como já

mencionado, as gravações de Vicente Celestino foram analisadas até 1960.

Acredita-se que a variante de prestígio, a vibrante anterior múltipla, e a variante que

não era estigmatizada, o tepe, diminuam sua frequência com o passar das décadas devido à

propagação de gêneros musicais mais populares e, com isso, surjam e talvez predominem

variantes mais inovadoras, fricativas e zero fonético, nas décadas finais da sequência

temporal em análise.

b) Gênero musical

Os gêneros musicais são categorias as quais compartilham elementos que definem o

estilo de uma produção musical, a fim de alcançar um público-alvo específico. Ao realizar

54 O grupo de fatores faixa etária tem revelado grande relevância na variação e mudança de distintos

fenômenos fonético-fonológicos. Entretanto, como foi mencionado, verificar o papel desempenhado pela

idade do indivíduo, a partir deste corpus, não é uma tarefa trivial.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

58

as audições, observou-se, assistematicamente, que o comportamento do rótico, em posição

de coda silábica final, poderia variar de acordo com o gênero musical/público-alvo de

determinada gravação. Em outras palavras, havia predominância de certas realizações do

segmento em questão a depender do gênero musical em que determinada composição foi

gravada. Como, por exemplo, há o elevado índice de apagamento do rótico em sambas; por

outro lado, percebeu-se uma frequência menor desse processo em valsas e tangos.

Além disso, o mesmo intérprete realizava certa pronúncia em um gênero musical,

mas deixava de realizar em outros. Vicente Celestino, por exemplo, suprimia o rótico final

em um gênero musical denominado toada, no entanto, esse cancelamento não acontecia no

restante de sua discografia musical. A partir dessas observações, decidiu-se verificar,

sistematicamente, o gênero musical como um grupo de fatores condicionante para o

comportamento variável do rótico, seja para influenciar a regra de apagamento ou motivar

as realizações mais prestigiadas.

As canções aqui utilizadas foram gravadas em diversificados gêneros musicais,

demonstrando que, já no início do século XX, havia uma grande pluralidade de estilos, tais

como valsa, tango-brasileiro, maxixe, samba, marcha carnavalesca, toada, canção,

modinha, hino, cançoneta, lundu, polca, seresta, bolero, barcarola, embolada, entre muitos

outros. Revelavam-se os diversos elementos que compõem um gênero musical, à medida

que eram realizadas as audições, como os seguintes: 1) determinados instrumentos

musicais que fazem parte de um estilo, mas deixam de fazer em outros; 2) a temática da

canção, tais como amor, sertaneja, pátria, entre outros temas; 3) o objetivo da canção,

como o humor, prelúdio, dança, crítica social, entre outros fins; e 4) a estrutura da letra, ou

seja, em alguns gêneros musicais, tais como samba e marcha carnavalesca, há repetição de

refrão, algo que não ocorre em uma valsa, por exemplo.

Cabe ressaltar que os gêneros musicais foram definidos como grupo de fatores a

partir das informações fornecidas pelo dicionário Cravo Albim da música popular

brasileira sobre os elementos que os estruturam e os definem. A seguir, serão apresentadas

algumas informações sobre cada um dos dezesseis gêneros musicais (valsa, tango-

brasileiro, maxixe, samba, marcha carnavalesca, canção sertaneja, canção, modinha, hino,

bolero, cançoneta, lundu, polca, seresta, barcarola, embolada) das gravações selecionadas

para este estudo, com base no dicionário supracitado.

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59

Quanto à valsa55

, esta tem origem europeia e tornou-se conhecida por meio de

Sigismundo Neukomm56

no Congresso de Viena e, posteriormente, nos bailes realizados

pela alta sociedade da época. Em 1816, esse músico veio para o Brasil, onde foi professor

de harmonia e composição do futuro Imperador D. Pedro I; sendo assim, as primeiras

composições brasileiras tiveram por autor o Príncipe.

O tango-brasileiro57

foi apontado por estudiosos como uma variante estilizada do

maxixe, que veio para a música brasileira por meio das composições de Ernesto Nazareth.

No entanto, até usar tal denominação, muitos tangos já haviam sido impressos como outros

gêneros musicais. Musicalmente, na sua raiz, encontram-se elementos da "habanera58

", que

foi introduzida no Brasil pelas companhias de teatro musicado. Além disso, no tango-

brasileiro, incorporaram-se influências de outros gêneros, tais como a polca e o lundu.

O maxixe59

é uma dança urbana, com uma coreografia cheia de movimentos e

requebrados, surgida na cidade do Rio de Janeiro por volta de 1870. Esse gênero musical

teve o seu caráter popular ligado às classes mais baixas da sociedade carioca da época.

Além disso, esse nome era usado para designar coisas de pouco valor.

Quanto ao samba60

, foi um gênero musical nascido nos morros da mesma cidade, a

partir de 1850. Muitas baianas descendentes de escravos alojaram-se nesses locais e uma

delas, a Tia Aciata, principal responsável pelo início do samba carioca. Ao longo dos anos,

esse gênero tem-se apresentado com muitas variantes rítmicas61

, dentre elas: samba-de-

breque, samba-enredo, samba-de-quadra, samba-canção, samba-de-partido-alto, samba de

gafieira, entre outros. Todavia, no início do século XX, o samba definitivamente não era

bem visto pela sociedade, como diz a música de Janet Silva e Haroldo Barbosa “música

barata sem nenhum valor”. Por fim, neste ano, esse gênero musical completa 100 anos de

gravação, visto que "Pelo Telefone", composição de Donga, é considerado o primeiro

samba gravado no ano de 1916.

A marcha carnavalesca62

é caracterizada pelo compasso binário a qual se

popularizou nos blocos de rua da cidade do Rio de Janeiro, seguindo um padrão:

55 http://www.dicionariompb.com.br/valsa/dados-artisticos. 56 Para mais informação sobre Neukomm, acesse a seguinte página: http://www.musicabrasilis.org.br/pt-

br/temas/neukomm-no-brasil. 57 http://www.dicionariompb.com.br/tango-brasileiro/dados-artisticos. 58 Segundo o Priberam Dicionário, habanera é uma "dança originária de Havana (Cuba), a 2/4 e cujo primeiro

tempo é fortemente acentuado" – disponível na seguinte página: http://www.priberam.pt/DLPO/habanera. 59 http://www.dicionariompb.com.br/maxixe/dados-artisticos. 60 http://www.dicionariompb.com.br/samba/dados-artisticos. 61

Para esta pesquisa, optou-se em agrupar essas variantes em apenas samba. 62 http://www.dicionariompb.com.br/marcha-carnavalesca/dados-artisticos.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

60

introdução instrumental e estrofe-refrão. A primeira marcha escrita especialmente para o

carnaval foi "O abre alas", por Chiquinha Gonzaga, que venceu até o concurso. Esse

gênero musical afirmou-se definitivamente a partir da década de 1920, desenvolvendo-se

como gênero característico da classe média carioca, com letras divertidas ou com sátiras

políticas e sociais.

A toada possui composições que trazem um linguajar caipira. Não há informação

sobre esse gênero musical no dicionário aqui utilizado como base, porém se observa que há

um acompanhamento de piano e flauta apenas, e sua letra, em geral, retrata o contexto

social do homem da roça. Entre as várias composições caipiras que compõem esse corpus,

está o clássico "Ideal de Caboclo" de Cornélio Pires.

A canção foi um gênero musical bastante gravado por todo o período aqui

analisado, principalmente por Mário Pinheiro e Vicente Celestino, porém não há

informação alguma sobre esse gênero no dicionário aqui usado como fonte. Com base nas

letras e nas audições, percebe-se que quase sempre apresenta uma estrutura bem definida,

com poesias e temática romântica, e tem acompanhamento de flauta e piano. Dentre as

inúmeras canções gravadas naquele período há uma bastante conhecida, "Ontem ao Luar",

letra de Catulo da Paixão Cearense, que foi regravada diversas vezes nas décadas de 1960 e

1970 e, mais recentemente, por Marisa Monte.

A modinha63

foi um canto urbano de salão, de caráter lírico, que, ao chegar ao

povo, adotou os mesmos ritmos coreográficos de outros gêneros musicais, como os da

valsa e do xote. Os musicólogos ainda discutem, sem chegar a resultados conclusivos, se a

modinha nasceu em Portugal ou no Brasil como também se é de origem popular ou erudita.

O hino é uma marcha de fetio militar. Não há informação sobre esse gênero musical

no dicionário aqui utilizado, todavia observa-se, por meio das composições analisadas, que

há uma exaltação pátria não só ao Brasil como um todo, mas também a cidades e estados

brasileiros. Dessa forma, observa-se que, pelo menos nessa amostra de canções, o hino não

está relacionado ao cântico religioso, como o nome poderia sugerir.

O bolero64

combina raízes espanholas com influências locais de vários países

hispano-americanos. É de origem cubana, porém tornou-se mais conhecido como canção

romântica mexicana. Além disso, esse gênero musical foi de grande influência para

o samba-canção no Brasil.

63

http://www.dicionariompb.com.br/modinha/dados-artisticos. 64 http://www.dicionariompb.com.br/bolero/dados-artisticos.

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61

A cançoneta é canção ligeira. Não há também a sua definição no Dicionário Cravo

Albin, porém é possível comentar que as letras possuem um tom bem-humorado e, na

maioria das vezes, satírico, contendo duplo sentido. Além disso, há uma grande quantidade

de cançonetas gravadas por mulheres no início do século XX, principalmente as de duplo

sentido.

O lundu65

tem origem africana e foi introduzido no Brasil, provavelmente, por

escravos de Angola. Um traço característico desse gênero musical seria o acompanhamento

do som marcado por palmas, em um canto de estrofe-refrão típico da cultura africana. A

primeira produção musical gravada no Brasil foi um lundu, "Isto é bom" de Xisto Bahia.

Além do mais, muitos críticos acreditam que o lundu tenha originado o samba.

A polca66

era dançada em salão com compasso binário, originária da Boêmia.

Chegou ao Brasil em 1845, quando foi mostrada pela primeira vez no teatro São Pedro67

,

no Rio de Janeiro, pelos casais Felipe e Carolina Catton e de Vecchi e Farina. O sucesso da

apresentação foi tão grande que, três dias depois, o primeiro casal abriu um curso de polca

na mesma cidade.

A seresta68

é o mesmo que serenata e com a mesma formação instrumental de um

choro. Esse gênero musical foi a alegria das gerações passadas, pois as serestas eram

realizadas nas ruas, porém, hoje em dia, como muitos gêneros daquela época, está em

decadência nos bairros mais centrais do Rio de Janeiro.

A barcarola69

é uma composição poética bem estruturada, assim como a valsa e a

canção. Além disso, apresenta uma marca folclórica.

A embolada70

é um gênero musical que teve origem no Nordeste brasileiro. Suas

características principais incluem uma melodia declamatória rápida e em intervalos curtos.

A letra tem uma estrutura simples quanto ao número e disposição dos versos em relação à

valsa, por exemplo. Há um estribilho o qual é repetido pelo intérprete e, às vezes, por

vários outros cantores, enquanto aquele improvisa a letra, que geralmente é cômica ou

satírica.

A hipótese inicial em relação aos gêneros musicais é a de que as pronúncias

inovadoras do rótico comecem a se difundir pelas gravações de raízes mais populares,

65 http://www.dicionariompb.com.br/lundu/dados-artisticos. 66 http://www.dicionariompb.com.br/polca/dados-artisticos. 67 Atualmente, é o teatro João Caetano, localizado no centro da cidade do Rio de Janeiro. 68 http://www.dicionariompb.com.br/seresta/dados-artisticos. 69

http://www.dicionariompb.com.br/barcarola/dados-artisticos. 70 http://www.dicionariompb.com.br/embolada/dados-artisticos.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

62

peculiares da música brasileira. Por outro lado, as realizações mais prestigiosas apareciam

nas produções com gêneros musicais de origem mais nobre, as que tinham um público-alvo

mais restrito. Essa é uma hipótese menos robusta, visto que não há um conhecimento

aprofundado dos gêneros musicais daquela época, além de não se poder garantir com

segurança qual era o estilo e o público-alvo de alguns gêneros. Dessa forma, a partir dos

resultados aqui obtidos, ter-se-á um pontapé inicial para futuros estudos que relacionem o

comportamento do rótico a essa variável.

c) Intérprete

Optou-se por averiguar o comportamento do rótico a depender do intérprete, pois

havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na

música, tanto de vogais quanto de consoantes. Desse modo, será verificado se os nove

intérpretes apresentados na seção 2.2.1 seguiam as normas de canto ou se haveria

diferentes escolhas de pronúncia do rótico feitas por eles.

Uns são reconhecidos pelo estilo mais romântico, como Vicente Celestino, e outros

pelo estilo mais boêmio, como Noel Rosa. A hipótese é a de que, mesmo havendo normas

para o canto naquela época, os intérpretes se diferenciavam, pois tinham estilos distintos,

os quais os caracterizaram como artistas únicos. Com isso, acredita-se, que poderiam até se

afastar das normas, assumindo na música características próprias da sua fala ou para se

adequar ao gênero musical da gravação, como os casos de toada.

Com relação aos grupos de fatores linguísticos, foram selecionados aqueles que têm

apresentado resultados relevantes em estudos que investigam o comportamento variável do

rótico em contexto de coda silábica final, principalmente a supressão total do segmento em

questão, em dados de fala espontânea. Espera-se que os mesmos fatores que atuam no

comportamento variável do rótico final na fala espontânea exerçam papel importante

também na variabilidade do segmento na fala cantada. Desse modo, serão elencados os

seguintes grupos de fatores linguísticos: classe gramatical do vocábulo, número de sílabas

do vocábulo, vogal antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente e tonicidade

da sílaba.

a) Classe gramatical do vocábulo

É comum, nos estudos sociolinguísticos com base em corpora de fala espontânea,

verificar o condicionamento da classe morfológica do vocábulo para a supressão do rótico

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

63

final. Inúmeros trabalhos (CALLOU, 1987; CALLOU et alii, 1996; MELO, 2009;

MONARETTO, 2010; CALLOU & SERRA, 2012, SERRA & CALLOU, 2013)

confirmam a hipótese de que verbos no infinitivo impessoal favorecem o apagamento do

segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes tendem a ser canceladas, ou

seja, há o apagamento da marca morfossintática, o fonema /r/ de infinitivo (saber) ou de

subjuntivo (souber), restando apenas a marca prosódica, o acento (CALLOU, 1987).

Para esta dissertação, as classes morfológicas verificadas foram as seguintes: verbo

no infinitivo (querer), verbo flexionado (quer, quiser), substantivo, adjetivo, advérbio,

pronome e preposição. Em seguida, essas classes foram agrupadas em duas: verbos e não

verbos, pois houve casos categóricos nessas quatro últimas classes. Resultados de

pesquisas com base em fala espontânea têm revelado que a melhor decisão metodológica

para investigar o comportamento variável do rótico final é dividir as classes morfológicas

nesses dois grupos.

Como resultados dessas pesquisas têm evidenciado que o apagamento do rótico é

muito mais elevado em verbos do que em não verbos, outro procedimento metodológico

será adotado neste estudo: reunir verbos e não verbos em distintos arquivos, a fim de

realizar rodadas separadas. Por fim, a hipótese é a de que o verbo no infinito, que tende a

favorecer o apagamento do rótico em dados da fala espontânea, atue da mesma forma na

fala cantada.

b) Número de sílabas do vocábulo

A codificação prevê quatro tipos de vocábulos quanto ao número de sílabas: uma

sílaba (monossílabos), duas sílabas (dissílabos), três sílabas (trissílabos) e quatro sílabas ou

mais (polissílabos). Há o intuito de verificar até que ponto a extensão do vocábulo permite

conservar ou não um segmento fônico que termina a palavra, seguindo a hipótese de que

quanto maior o número de sílabas, maior a possibilidade de apagamento do rótico final.

Essa hipótese tem sido testada e confirmada em trabalhos anteriores de cunho variacionista

com base em corpora de fala espontânea (CALLOU, 1987; MELO, 2009; CALLOU &

SERRA, 2012; FARIAS & OLIVEIRA, 2013, dentre outros), que apontam a menor

ocorrência de apagamento do <r> final em vocábulos monossílabos devido à saliência

fônica71

; por outro lado, maior índice do fenômeno em vocábulos mais extensos. Em outras

71

O princípio da saliência fônica tem a seguinte explicação: "as formas mais salientes, e por isto mais

perceptíveis, são mais prováveis de serem marcadas do que as menos salientes" (SCHERRE, 1992, p. 301).

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

64

palavras, seria mais comum o falante cancelar tal segmento em um vocábulo como

"condicionador" do que em "dor", pois há mais massa fônica.

c) Vogal antecedente

Listam-se os sete segmentos vocálicos que precedem o rótico, ou seja, são o núcleo

da sílaba da qual faz parte o segmento em coda, organizados a seguir segundo altura e

localização articulatória, [i e a o u ]. Resultados de trabalhos anteriores, como os de

Callou (1987), Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009), apontam que há maior

probabilidade de aplicação da regra de apagamento quando o contexto fonológico

antecedente é vogal não arredondada, isto é, [i e a]. Portanto, para esta dissertação,

presume-se que, da mesma forma, esse traço vocálico possa condicionar o processo não

apenas de apagamento, mas também de fricatização do rótico.

d) Contexto subsequente

Foram verificados três contextos seguintes ao rótico: vogal, pausa e consoante.

Quando o contexto subsequente é o de vogal inicial da palavra seguinte, pode haver uma

ressilabação, como em mar mar azul (ma - ra - zul), dessa forma, o segmento

concretiza-se como tepe. Pode também haver, todavia, o cancelamento do rótico nesse

contexto, como é regularmente observado na fala espontânea nos dias de hoje.

Em Callou (1987), quando o contexto subsequente é a pausa, há um alto índice de

cancelamento (peso relativo de .67), embora, nos outros dois contextos, vogal e consoante,

a regra se aplique, visto que obtiveram a probabilidade um pouco maior que .50. Todavia,

trabalhos mais recentes como os de Callou & Serra (2012) apontam a pausa como

desfavorecedora do processo em questão.

Por conseguinte, a hipótese inicial é a de que o cancelamento seria, naquela época,

inibido pela presença de vogal no contexto subsequente, uma vez que se trata de um

período distante dos dias atuais em que o processo em questão se encontra em franca

atuação, além da música possuir maior grau de monitoramento. Além disso, por outro lado,

acredita-se, como nos resultados de Callou (1987), que o contexto de pausa seja mais

favorecedor para o processo de cancelamento.

e) Consoante subsequente

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

65

Essa variável contempla todos os segmentos consonânticos que podem estar à

direita do rótico final de palavra, ou seja, as consoantes iniciais do vocábulo seguinte,

como mostra o quadro abaixo.

[m] [n] [p]

[b] [t] [d]

[k] [g] [f]

[v] [s] [z]

[] [] [l]

/ (não se aplica para os casos em que o contexto subsequente é de vogal ou de pausa)

Quadro 3. Consoantes subsequentes ao rótico

Observa-se que os róticos não foram incluídos na codificação. Quando a palavra é

iniciada por <r>, há uma assimilação total com o rótico final. Tal fato ocorre no verso do

lundu "Iazinha" gravado por Eduardo das Neves, "Por revirar dos dedinhos" (po[r]evirar),

dentre outros. Por fim, como em Melo (2009), parte-se da hipótese de que as consoantes

[+anteriores] – labiais e alveolares – inibem a aplicação da regra, enquanto as demais

favorecem o apagamento por conta de haver a possibilidade de assimilação no caso em que

a consoante em coda e a consoante em ataque compartilham o traço [-anterior].

f) Tonicidade da sílaba

Ao separar os dados em verbos e não verbos, após as rodadas iniciais, cabe levar

em conta a relevância da sílaba tônica dos não verbos: oxítono e paroxítono, pois os verbos

são sempre oxítonos. Em geral, os casos de rótico final retratam aquilo que se observa no

sistema: a sua baixa produtividade em sílabas átonas. Com isso, espera-se que, em sílabas

tônicas, o segmento se mostre mais sensível à regra de cancelamento.

As autoras Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009) investigam a tonicidade

da sílaba – tônica ou átona – em seus dados. Nos resultados daquele primeiro trabalho, essa

variável mostrou-se relevante em ambas as variedades – PB e PE – como era esperado

pelas autoras. Assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais sensível ao cancelamento,

obviamente porque esse segmento pertence à sílaba tônica de verbos no infinitivo. Nos

resultados do segundo trabalho, essa também se mostrou uma variável relevante.

Por outro lado, em sua tese, Callou (1987, p. 140), ao analisar tal grupo de fatores,

observou que "as variáveis tonicidade e classe morfológica devem ser analisadas

conjuntamente, pois não podemos esquecer que as formas que apresentam um /R/ em

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

66

sílaba átona são sempre não verbais". Dessa forma, nesta dissertação, haverá a mesma

escolha metodológica desta última autora, ou seja, a tonicidade da sílaba será analisada

apenas em não verbos – adjetivo, advérbio, substantivo, pronome e preposição. Por fim, a

hipótese é a de que ocorram, em maior índice, as vibrantes e as fricativas quando o rótico

se encontra em sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por Brustolin (2008).

Vejamos, no capítulo a seguir, a apresentação dos resultados como também a

discussão.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

67

3 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

"Tornei-me um ébrio e na bebida busco

esquecer

Aquela ingrata que eu amava e que me

abandonou.

Apedrejado pelas ruas vivo a sofrer.

Não tenho lar e nem parentes, tudo

terminou..."

(O ébrio por Vicente Celestino/ 1936)

Terminadas as codificações, obteve-se o total de 2858 dados entre 1902 e 194072,

distribuídos em seis variantes. O tepe aparece como a variante preferencial, que atinge o índice

de 68,3%, a vibrante múltipla anterior e o zero fonético atingem o percentual de 14,9% e

15,5%, respectivamente. As fricativas têm um percentual quase inexpressivo, a velar com 0,1%

e a glotal com 1,2%, como é apresentado no gráfico a seguir.

Gráfico 1. Percentuais referentes à variação do rótico em contexto de coda silábica final - 2858 dados

Observa-se que 1) a norma de uso na fala cantada desses nove intérpretes, na

verdade, é o tepe; 2) há um percentual um pouco maior de ocorrência do zero fonético do

que da vibrante múltipla anterior, a variante de prestígio dos meios de comunicação da

época; 3) fricativas, nomeadamente velar e glotal, não eram variantes muito utilizadas

72 O restante dos dados, a partir de gravações de Vicente Celestino, até 1960, serão analisados à parte.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

68

pelos intérpretes, pois obtiveram um percentual quase nulo; 4) e em um único dado,

ocorreu a aproximante labial, [w], que parece ter sido realizada de forma proposital.

Após essa apresentação da distribuição geral das variantes, é preciso organizar o

modo como a análise será exposta neste capítulo. Haverá duas etapas: a primeira

contempla a distribuição das variantes, em termos absolutos de frequência e percentual de

uso; na segunda etapa, as seis variantes foram reunidas em dois grupos – realização versus

não realização do rótico –, ou seja, vibrantes, fricativas e o único caso de aproximante

labial foram reunidos em oposição ao zero fonético, com o intuito de realizar uma rodada

binária e aferir o peso relativo de atuação de cada variável, tendo em vista mais

propriamente o processo de apagamento. Em ambas as etapas, os dados de verbos e não

verbos foram rodados separadamente e, na etapa dois, os resultados serão apresentados por

ordem de seleção do programa estático aqui utilizado. Por fim, será verificada a pronúncia

do rótico final nas gravações musicais de Vicente Celestino entre 1915 e 1960 e a partir de

uma entrevista concedida à Rádio Bandeirantes, em 1964.

3.1. Distribuição geral das variantes

A princípio, os dados de verbos e não verbos foram organizados em um único

arquivo para, então, realizar as rodadas no programa estatístico. A partir dos resultados da

tabela abaixo, optou-se por uma mudança metodológica: separar verbos de não verbos em

arquivos diferentes. Essa prática é muito comum em trabalhos que têm por o objeto de

estudo o rótico em coda final, pois análises de fala espontânea têm demonstrado que o

fenômeno atua de forma diferente a depender da classe gramatical.

Variantes

Classe gramatical [] [r] [x] [h] Ø [w] Total

Verbo infinitivo 1064

65,7%

158

9,8%

4

0,2%

25

1,5%

368

22,7%

. 1619

100%

Verbo

não infinitivo73

18

69,2%

2

7,7%

. . 6

23,1%

. 26

100%

Substantivo 796

72,2%

231

21%

. 10

0,9%

64

5,8%

1

0,1%

1102

100%

Advérbio 4

100%

. . . . . 4

100%

Adjetivo 25

71,4%

6

17,1%

. . 4

11,4%

. 35

100%

73 Por exemplo: souber, quer.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

69

Preposição 39

61,9%

24

38,1%

. . . . 63

100%

Pronome 7

77,8%

1

11,1%

. .

1

11,1%

. 9

100%

Total 1953

68,3%

422

14,8%

4

0,1%

35

1,2%

443

15,5%

1

.

2858

100%

Tabela 1. Distribuição das variantes de acordo com a classe gramatical

Observa-se, a partir desses resultados, que 1) há casos categóricos em todos os

fatores; 2) há um número parco de dados de advérbio, adjetivo, preposição e pronome; 3)

quanto ao apagamento, os verbos somam percentuais que chegam a passar da metade do

total de dados. Dessa forma, esses foram os motivos para tal decisão metodológica ser

tomada.

3.1.1. Verbos e não verbos

Callou (1987), em sua tese, discute a questão de o apagamento do rótico ocorrer

mais frequentemente em verbos do que em não verbos. Inúmeros estudos subsequentes

sobre o comportamento variável da realização do segmento em coda final comprovaram

que a característica morfossintática afeta a distribuição das variantes, sendo o índice de Ø

mais alto quando representa a marca de infinitivo. Nos dados desta dissertação, a

distribuição das variantes em verbos e em não verbos foi a seguinte:

Gráfico 2. Percentuais referentes à variação do rótico Gráfico 3. Percentuais referentes à variação do rótico

em coda silábica final em verbos – 1645 dados em coda silábica final em não verbos – 1213 dados

Observa-se que 1) a variante de prestígio tem percentual mais elevado em não

verbos, 21,8% contra 9,7% em verbos; 2) o tepe tem um índice elevado em ambos os

gráficos, não importa a classe gramatical; 3) a fricativa velar só ocorre em verbos; 4)

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

70

enquanto a aproximante labial, apenas um dado em não verbos; 5) a fricativa glotal teve

um percentual inexpressivo em ambos os gráficos, porém um pouco mais elevado nos

verbos e 6) o zero fonético teve um percentual superior em verbos, 22,7% contra 5,7%, em

não verbos.

Foram realizadas, portanto, rodadas levando em conta a classe gramatical dos

vocábulos e, com isso, os resultados da frequência e do percentual das variantes serão

apresentados, separadamente, em cada grupo de fatores, década, gênero musical, intérprete,

número de sílabas, vogal antecedente, contexto subsequente, consoante subsequente,

tonicidade da sílaba, comparando verbos (infinitivo e não infinitivo) e não verbos

(substantivo, advérbio, adjetivo, preposição e pronome), apenas, na segunda etapa, haverá

a apresentação das variáveis por ordem de seleção.

a) Década

Optou-se em analisar o comportamento do rótico em curtos intervalos de tempo,

década, como mostra a tabela abaixo.

Variantes

Década [] [r] [x] [h] Ø Total

1902 - 1910 226

84,6%

25

9,4%

. 1

0,4%

15

5,6%

267

100%

1911 - 1920 239

71,3%

50

14,9%

. 11

3,3%

35

10,4%

335

100%

1921 - 1930 235

51,5%

12

2,6%

1

0,2%

11

2,4%

197

43,2%

456

100%

1931 - 1940 382

65,1%

73

12,4%

3

0,5%

2

0,3%

127

21,6%

587

100%

Total 1082

65,8%

160

9,7%

4

0,2%

25

1,5%

374

22,7%

1645

100%

Tabela 2. Distribuição das variantes por década em verbos – 1645 dados

Observa-se que 1) o tepe teve uma queda no percentual com o passar do tempo,

apesar de se manter a variante mais utilizada; 2) a vibrante anterior múltipla teve um

percentual baixo, principalmente entre 1921 e 1930; 3) a fricativa velar só apresentou

percentual nas duas últimas décadas; 4) a fricativa glotal, por outro lado, ocorreu em todas

as décadas e 5) o zero fonético apresentou um aumento década após década, porém teve

um decréscimo na última em relação à década anterior.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

71

Percebe-se que entre 1921 e 1930, houve uma queda de realização das vibrantes

(simples e múltipla) e, ao mesmo tempo, um aumento no percentual do zero fonético. Tal

fato pode estar relacionado à introdução de novos gêneros musicais considerados

manifestações populares, que ganharam popularidade a partir da década de 1920, como o

samba e a marchinha carnavalesca, e à entrada de intérpretes de voz pequena, já que o

novo sistema de gravação os favorecia. Todavia, entre 1931 e 1940, o percentual do zero

fonético decresce, e os das vibrantes aumentam. Uma possível explicação para esse fato

seria que esse mesmo período foi marcado pela maior preocupação em relação às normas

de pronúncia, havendo até um congresso que propunha abolir a zero fonético e fricativas e

que reforçava o uso da vibrante como pronúncia padronizada. Mesmo que esse congresso

tivesse como foco as normas de pronúncia para o canto erudito, pode ter influenciado a

música popular também.

Quanto aos não verbos, percebe-se, na Tabela 3, que 1) o tepe se manteve num

percentual estável com passar do tempo, diferentemente dos verbos; 2) a vibrante anterior

múltipla teve um percentual um pouco maior do que nos verbos, em todas as décadas,

principalmente entre 1921 e 1930; 3) a fricativa glotal ocorreu nas três primeiras décadas;

4) o único dado de aproximante labial ocorreu no último período da análise e 5) o zero

fonético apresentou um percentual inferior ao de verbos em todas as décadas, confirmando

mais uma vez o comportamento diferenciado do cancelamento do segmento a depender da

classe gramatical.

Tabela 3. Distribuição das variantes a depender da década em não verbos – 1213 dados

Observa-se que, assim como nos verbos, o período entre 1921 3 1930 obteve um

percentual mais elevado de apagamento do rótico. Por fim, acreditava-se que a variante de

Variantes

Década [] [r] [h] [w] Ø Total

1902 - 1910 197

72,2%

68

24,9%

2

0,7%

. 6

2,2%

273

100%

1911 - 1920 172

72,9%

56

23,7%

4

1.7%

. 4

1,7%

236

100%

1921 - 1930 250

77,2%

41

12,7%

3

0,9%

. 30

9,3%

324

100%

1931 - 1940 251

66,1%

110

28,9%

. 1

0,3%

18

4,7%

380

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

10

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

72

prestígio, a vibrante anterior múltipla, e a variante que não era estigmatizada, o tepe,

diminuíssem sua frequência com o passar das décadas, devido à propagação de gêneros

musicais mais populares e, com isso, surgissem e talvez predominem variantes mais

inovadoras, nas décadas finais da sequência temporal em análise. Todavia, como foi

revelada nos resultados, essa hipótese não foi confirmada.

Vejamos, a seguir, os resultados relativos ao gênero musical.

b) Gênero musical

Com relação a gênero musical, em verbos, esse grupo de fatores apresentou

resultados relevantes, como mostra a Tabela 5, pois 1) o tepe ocorreu praticamente em

todos os gêneros musicais, exceto em embolada, um gênero musical que só apresentou o

apagamento do R, oito dados; 2) a vibrante anterior múltipla teve percentual superior em

valsa, um gênero musical de raízes mais n; 3) as fricativas tiveram percentual bastante

baixo, porém no samba, um gênero musical popular, ocorrem ambas e 4) o zero fonético

ocorre na maioria dos gêneros musicais, além disso, obteve um percentual elevado em

toada, 67%, gênero peculiar da música brasileira

Variantes

Gênero musical [] [r] [x] [h] Ø Total

Barcarola 4

100%

. . . . 4

100%

Cançoneta 41

93%

3

7%

. . . 44

100%

Canção 100

81%

13

11%

. 2

1,5%

8

6,5%

123

100%

Embolada . . . . 8

100%

8

100%

Fado 7

100%

. . . . 7

100%

Hino 13

65%

5

25%

. . 2

10%

20

100%

Lundu 67

77%

6

6,9%

. . 14

16,1%

87

100%

Marcha

Carnavalesca

34

49%

3

4,5%

. 1

1,5%

31

45%

69

100%

Maxixe 38

79%

3

6%

. . 7

15%

48

100%

Modinha 152

90%

6

9%

. 1

0,5%

1

0,5%

169

100%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

73

Polca 7

87,5%

1

12,5%

. . . 8

100%

Samba 326

51,5%

17

2,7%

4

0,6%

20

3,2%

265

42%

632

100%

Seresta 43

81%

10

19%

. . . 53

100%

Tango

Brasileiro

98

78%

27

21,5%

. . 1

0,5%

126

100%

Toada 11

20%

6

11%

. 1

2%

37

67%

55

100%

Valsa 141

73%

51

27%

. . . 192

100%

Total 1082

65,8%

160

9,7%

4

0,2%

25

1,5%

374

22,7%

1645

100%

Tabela 4. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em verbos – 1645 dados

A tabela a seguir revela que 1) o tepe obteve percentual acima de 50% em todos os

gêneros musicais, exceto em toada, apenas 38%; 2) a variante de prestígio teve percentual

mais elevado novamente na valsa; 3) a fricativa glotal ocorreu em seletos gêneros

musicais, apenas em canção, modinha, seresta, samba e toada; 4) o único caso de [w]

ocorreu em um samba e 5) o zero fonético obteve um percentual elevado em toada, assim

como nos verbos.

Variantes

Gênero Musical [] [r] [h] [w] Ø Total

Barcarola 25

100%

. . . . 25

100%

Canção 132

69%

53

28%

2

1%

. 4

2%

191

100%

Cançoneta 10

83%

2

17%

. . . 12

100%

Fado 6

100%

. . . . 6

100%

Hino 17

56,7

12

40%

. . 1

3,3%

30

100%

Lundu 33

51,5%

26

40,5%

. . 5

8%

64

100%

Marcha

Carnavalesca

55

78,6

4

5,7%

. . 11

15,7%

70

100%

Maxixe 19

86,4%

3

13,6%

. . . 22

100%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

74

Modinha 108

82%

20

15%

2

1,5%

. 2

1,5%

132

100%

Polca 7

78%

2

22%

. . . 9

100%

Samba 205

78%

17

6,5%

3

1%

1

0,5%

37

14%

263

100%

Seresta 37

75,5%

11

22,5%

1

2%

. . 49

100%

Tango

Brasileiro

94

82%

21

18%

. . . 115

100%

Toada 8

38%

3

14%

1

5%

. 2

43%

21

100%

Valsa 114

56%

90

44%

. . . 204

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

10

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

Tabela 5. Distribuição das variantes a depender do gênero musical em não verbos – 1213 dados

Com isso, parece não haver diferenças significativas nos resultados dos verbos e

dos não verbos. Além do mais, o comportamento do rótico varia de acordo com o gênero

musical/público-alvo de determinada gravação, confimando a hipótese levantada. Em

outras palavras, havia predominância de certas realizações do segmento em questão a

depender do gênero musical em que determinada composição foi gravada, como, por

exemplo, o elevado índice de apagamento do rótico em sambas, emboladas, toadas e

marchas, gêneros peculiares do Brasil. Por outro lado, percebeu-se uma frequência menor

do zero fonético em valsas, polcas, serestas, gêneros de raízes mais nobres. Enfim, a partir

dessas observações, confirma-se a hipótese de que o gênero musical, apesar de todos

pertencerem à música popular, atua como um grupo de fatores importante para o

comportamento variável do rótico, seja para influenciar a regra de apagamento ou motivar

as realizações mais prestigiadas

c) Intérprete

Optou-se por averiguar o comportamento do rótico a depender do intérprete, pois

havia, no início do século XX, uma grande preocupação com a dicção de certos sons na

música. Desse modo, foi verificado se os intérpretes seguiam as normas de canto ou se

haveria diferentes escolhas de pronúncia do rótico feitas por eles.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

75

Nos verbos, observa-se, na tabela abaixo, que 1) a maioria dos intérpretes tem o

tepe como norma de uso, exceto Mário Reis e Noel Rosa, com percentual de apenas 28,5%

e 18,3%, respectivamente; 2) a variante de prestígio, por outro lado, não foi tão produtiva,

como, por exemplo, 3,8% na fala cantada de Francisco Alves; 3) as fricativas só aparecem

nas canções de alguns intérpretes além de terem um percentual baixíssimo quando ocorrem

e 4) o zero fonético ocorre no canto de todos os intérpretes, com destaque para Noel Rosa

com percentual de 76,3% do total de dados.

Tabela 6. Distribuição das variantes a depender do intérprete em verbos – 1645 dados

No que se refere aos não verbos, os resultados são apresentados na tabela a seguir:

Variantes

Intérprete [] [r] [h] [w] Ø Total

Eduardo das

Neves

77

55,8%

51

37%

2

1,4

. 8

5,8%

138

100%

Mário Pinheiro 203

81%

43

17%

3

1,2%

. 2

0,8%

251

100%

Vicente Celestino 223 87 1 . 2 312

Variantes

Intérprete [] [r] [x] [h] Ø Total

Eduardo das

Neves

165

72,7%

28

12,3%

. 7

3%

27

12%

227

100%

Mário Pinheiro 192

80,7%

29

12,2%

. 1

0,4%

16

6,7%

238

100%

Vicente Celestino 252

83,7%

42

14%

. . 7

2,3%

301

100%

Francisco Alves 182

63,5%

11

4%

1

0,5%

3

1%

89

31%

286

100%

Patrício Teixeira 52

63,5%

4

5%

. . 26/82

31,5%

82

100%

Mário Reis 45

28,5%

. . 12

7,5%

101

64%

158

100%

Silvio Caldas 116

64,5%

29

16%

. . 35

19,5%

180

100%

Noel Rosa 17

18,3%

. 3

3,2%

2

2,2%

71

76,3%

93

100%

Orlando Silva 61

76,2%

17

21,2%

. . 2

2,5%

80

100%

Total 1082

65,8%

160

9,7%

4

0,2%

25

1,5%

374

22,7%

1645

100%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

76

71,3% 27,8% 0,3% 0,6% 100%

Francisco Alves 123

75%

21

12,8%

. . 20

12,2%

164

100%

Patrício Teixeira 60

78,9%

8

10,5%

. 1

1,3%

7

19,2%

76

100%

Mário Reis 66

73,3%

. 4

4,4%

. 2

22,2%

90

100%

Silvio Caldas 61

66,3%

29

31,5%

. . 2

2,2%

92

100%

Noel Rosa 7

50%

. . . 7

50%

14

100%

Orlando Silva 50

65,8%

25

32,9%

. . 1

1,3%

76

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

10

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

Tabela 7. Distribuição das variantes a depender do intérprete em não verbos – 1213 dados

Observa-se que 1) o tepe ocorre acima de 50% em todos os intérpretes; 2) a

variante de prestígio obteve maiores percentuais do que em verbos; 3) a fricativa glotal não

teve percentual expressivo nem ocorreu em todos os intérpretes; 4) o único caso de [w] foi

realizado por Patrício Teixeira e 5) o zero fonético teve um percentual inferior se

comparado aos dos verbos.

Dessa forma, mesmo havendo normas para o canto, os intérpretes se diferenciavam,

pois tinham diferentes estilos os quais os caracterizaram como artistas únicos, assumindo

na música características próprias da sua fala ou para se adequar ao gênero musical da

gravação, como os casos de canção sertaneja. Além disso, mais uma vez, há um

comportamento distinto a depender da classe gramatical. Por fim, a seguir, será

apresentada a distribuição das variantes de acordo com os grupos de fatores linguísticos.

a) Número de sílabas do vocábulo

A dimensão do vocábulo é um grupo de fatores selecionado com frequência pelo

programa estatístico em trabalhos sobre o comportamento do rótico em coda final. A

seguir, a Tabela 8 mostra o número de ocorrências e o percentual de cada variante a

depender do número de sílabas – uma, duas, três e quatro – em verbos, enquanto a Tabela

9, em não verbos.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

77

Variantes

Número de sílabas [] [r] [x] [h] Ø Total

Uma 151

71%

21

9,8%

2

0,9%

3

1,4%

35

16,5%

212

100%

Duas 672

64,1%

95

9%

1

0,1%

18

1,7%

263

25%

1049

100%

Três 241

68,7%

38

11%

1

0,3%

2

0,6%

69

19,7%

351

100%

Quatro 18

54,5%

6

18%

. 2

6,1%

7

21%

33

100%

Total 1082

65,8%

160

9,7%

4

0,2%

25

1,5%

374

22,7%

1645

100%

Tabela 8. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em verbos – 1645 dados

Observa-se que 1) o tepe possui alta produtividade em qualquer dimensão do

vocábulo, sempre acima de 50%; 2) a vibrante múltipla anterior obteve percentuais um

pouco mais elevados em vocábulos maiores; 3) a fricativa velar apresentou baixa

produtividade em qualquer número de sílabas e teve percentual nulo em polissílabos; 4) a

fricativa glotal, ao contrário, obteve um percentual um pouco maior em polissílabos; 5) o

zero fonético teve uma porcentagem inferior em monossílabos.

Com relação aos não verbos, a tabela abaixo exibe os percentuais.

Variantes

Número de sílabas [] [r] [h] [w] Ø Total

Uma 191

66,3%

87

30,2%

3

0,7%

. 8

2,8%

288

100%

Duas 601

73,3%

158

19,3%

7

0,9%

. 54

6,6%

820

100%

Três 68

84,%

8

9,9%

. 1

1,2%

4

4,9%

81

100%

Quatro 10

41,7%

11

45,8%

. . 3

12,5%

24

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

10

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

Tabela 9. Distribuição das variantes a depender do número de sílabas em não verbos – 1213 dados

Observa-se que há uma clara diferença dos percentuais das variantes a depender do

número de sílabas entre os verbos e os não verbos. A partir dos resultados estatísticos da

Tabela 4, nota-se que 1) o tepe obteve um percentual menor que 50% em polissílabos; 2) a

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

78

vibrante múltipla anterior, por outro lado, obteve um percentual maior em vocábulos de

quatro sílabas; 3) a fricativa glotal teve um índice inexpressivo em todas dimensões do

vocábulo em que apareceu; 4) a aproximante labial ocorreu apenas em um dado, um

trissílabo e 5) o zero fonético apresentou um maior percentual em polissílabos.

Vale ressaltar o percentual do zero fonético dessas duas últimas tabelas. A literatura

linguística explica a menor ocorrência de apagamento em vocábulos monossílabos devido

à saliência fônica. Nota-se que, em verbos, o percentual do processo em questão foi menor

em monossílabos, apesar de não ter sido tão distante dos percentuais que ocorrem nos

outros números de sílabas. Em não verbos, a importância do número de sílabas se mostra

verdadeiramente relevante, ou seja, quanto maior a dimensão vocábulo, maior a

probabilidade de ocorrer o apagamento do segmento, mesmo que não tenha ocorrido de

forma gradual.

Nos trabalhos revisados no capítulo 1, em Callou (1987), os resultados revelaram

que quanto maior a dimensão do vocábulo, maior a probabilidade de aplicação da regra de

apagamento: o percentual de cancelamento foi gradual: 44,81% em monossílabos, 68,23%

em dissílabos e em 75,4% trissílabos. Em Brandão, Mota & Cunha (2003), no que refere

ao número de sílabas, configurou-se a hipótese de que em monossílabos haveria a

tendência a resguardar o segmento: 63% em monossílabos, 89% em dissílabos, 77% em

trissílabos e 81% em monossílabos. Em Melo (2009), no Discurso Semidirigido, quanto

aos percentuais, há uma gradação clara em não verbos: em vocábulos de uma sílaba há um

percentual de 57%, nos de duas, 86%, nos de três, 89% e nos de quatro sílabas, 92%, ou

seja, quanto maior a dimensão do vocábulo, maior a possibilidade de apagamento, pois o

segmento seria, em vocábulos maiores, menos saliente, e, em verbos, a porcentagem de

zero é alta independente do número de sílabas, sempre em 98% ou 99%.

Observa-se que, nos resultados aqui encontrados, os percentuais de apagamento não

são tão elevados quanto aos dos trabalhos revisitados, dado que, na música, a pronúncia era

mais monitorada. Além disso, as gravações ocorreram nas quatro primeiras décadas, época

em que o processo em questão poderia ainda não estar em franca atuação. Todavia, não se

pode deixar de notar que a atuação grupo de fatores dimensão do vocábulo no processo de

apagamento do rótico parece ser a mesma e, com isso, confirma-se a hipótese da saliência

fônica.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

79

b) Vogal antecedente

A vogal que antecede o segmento em foco tem demonstrado forte condicionamento

para o cancelamento do rótico final. Nas duas tabelas, a seguir, há a distribuição das

variantes em verbos e em não verbos.

Variantes

Vogal antecedente [] [r] [x] [h] Ø Total

[i] 105

78,9%

12

9%

. 2

1,5%

14

10,5%

133

100%

[e] 363

67,7%

55

10,3%

3

0,6%

6

1,1%

109

20,3%

536

100%

[] 44

71%

6

9,7%

. 1

1,6%

11

17,7%

62

100%

[a] 564

62,2%

86

9,5%

1

0,1%

16

1,8%

240

26,5%

907

100%

[o] 6

85,7%

1

14,3%

. . . 7

100%

Total 1082

65,8%

160

9,7%

4

0,2%

25

11,5%

374

22,7%

1645

100%

Tabela 10. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em verbos – 1645 dados

Observa-se que não há todos os sete segmentos vocálicos, organizados segundo

altura e localização articulatória do Português além de uns apresentarem grande

produtividade, como [e] e [a], outros não ocorrem com tanta frequência diante do rótico,

como [] e [o], tal fato se deve às conjugações. Quanto aos percentuais, 1) as vibrantes

obtiveram percentual um pouco superior ao de outras variantes quando o contexto

antecedente foi [o]; 2) por outro lado, o percentual do zero fonético é nulo quando esse é o

contexto que o precede e, 3) no que se refere às fricativas, estas tiveram um percentual

inferior e até nulo a depender da vogal precedente.

Variantes

Vogal antecedente [] [r] [h] [w] Ø Total

[i] 9

100%

. . . . 9

100%

[e] 38

69,1%

11

20%

. 1

1,8%

5

9,1%

55

100%

[] 85

69,1%

9

7,3%

. . 29

23,6%

123

100%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

80

[a] 118

68,2%

45

26%

3

1,7%

. 7

4%

173

100%

[] 24

72,7%

6

18,2%

. . 3

9,1%

33

100%

[o] 596

72,7%

193

23,5%

6

0,7%

. 25

3%

820

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

9

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

Tabela 11. Distribuição das variantes a depender do contexto antecedente em não verbos – 1213 dados

Pode-se notar que a vogal [o] teve grande produtividade, diferentemente do que

ocorreu em verbos, além de haver dados com a vogal []. Essas pequenas observações

mostram mais uma vez a relevância de separar os dados de verbos dos de não verbos para a

análise. A respeito dos percentuais das variantes, 1) o tepe teve percentual elevado após

qualquer contexto; 2) a vibrante múltipla teve um percentual baixo depois de [], em

contrapartida e 3) o zero fonético teve um percentual superior exatamente após essa vogal.

Em Brandão, Mota & Cunha (2003), há uma significativa diferença de

comportamento entre vogais [+arred] e [-arred], estas últimas mais favorecedoras para a

eliminação do rótico, fato já destacado por Callou (1987). Nos resultados aqui encontrados,

em verbos, o apagamento é nulo após o contexto de vogal [+arred], ocorrendo apenas após

vogais com o traço [-arred]. Dessa forma, parece ter havido um diálogo com os resultados

dos estudos apontado acima. Em não verbos, o [], uma vogal com traço [-arred], mostra-

se importante para não o apagamento do rótico, chegando ao percentual de 23,6% do total

de dados, e o [o], uma vogal com traço [+arre], obteve o menor percentual, apenas 3%.

Com isso, é possível também realizar uma comparação com os resultados de Brandão,

Mota & Cunha (2003) e Callou (1987). Após observar o grupo de fatores contexto

antecedente, vejamos, a seguir, os resultados relativos ao contexto subsequente.

c) Contexto subsequente

Ao seguir o proposto por Callou (1987), os elementos subsequentes foram

agrupados em três categorias, como mostra a tabela abaixo:

Variantes

Contexto subsequente [] [r] [x] [h] Ø Total

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

81

Consoante 276

64%

55

12,8%

4

0,9%

9

2,1%

87

20,2%

431

100%

Vogal 250

91,5

6

2%

. . 18

6,5%

274

100%

Pausa 556

59,1%

99

10,5%

. 16

1,7%

269

28,6%

940

100%

Total 1082

65,8%

160

9,7%

4

0,2%

25

1,5%

374

22,7%

1645

100%

Tabela 12. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em verbos – 1645 dados

A partir dos resultados da tabela acima, percebe-se que, quanto ao tepe, há um

percentual bastante elevado quando a variante se encontra diante de vogal do vocábulo

subsequente, pois é comum ocorrer uma ressilabação e, então, a consoante realizar-se

como um tepe entre vogais. Desse modo, torna-se bastante válido buscar os poucos dados

de vibrante anterior múltipla e de zero fonético diante de vogal. Todos os dados da

primeira variante foram pronunciados por Vicente Celestino, a seguir os exemplos:

1- Vem luzi[r] ó vem ungir 4- Vem luzi[r] ó vem ungir

2- Vem luzi[r] ó vem ungir 5- E a corre[r] o campônio partiu

3- Vem luzi[r] ó vem ungir 6- Se[r] esse alguém

Parece ter sido um estilo o intérprete pronunciar tal variante diante de vogal, além

de haver quatro ocorrências de um mesmo dado. Quanto ao zero fonético, os dados foram

realizados por Francisco Alves, Noel Rosa e Patrício Teixeira, a seguir os exemplos:

1- Vou viraØ almofadinha 10- Hei de teØ opinião

2- Ou tentaØ a malandragem 11- Se ela vieØ e te trouxer

3- Pra pagaØ o que me fez 12- Se ela vieØ e te trouxer

4- Pra pagaØ o que me fez 13- Que do meu viveØ agora

5- Pra pagaØ o que me fez 14- Só por veØ o teu processo

6- Pra pagaØ o que me fez 15- De iludiØ os coronéis

7- Pra pagaØ o que me fez 16- É mandar fazeØ o despejo

8- Pra pagaØ o que me fez 17- É mandar fazeØ o despejo

9- O meu viveØ é uma sentença 18- É de ficaØ abismado

Por fim, diante de pausa e consoante, a vibrante anterior múltipla teve percentual

similar, 10,5% e 12,8%, respectivamente. O contexto subsequente consoante parece

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

82

favorecer os casos de fricativas, porém os percentuais são muito baixos para se chegar a

alguma conclusão. Quanto ao zero fonético, este teve uma porcentagem um pouco superior

diante de pausa, assim como os resultados de Callou (1987).

Variantes

Contexto subsequente [] [r] [h] [w] Ø Total

Consoante 244

68%

85

26,5%

2

0,6%

. 18

5%

359

100%

Vogal 111

88%

4

4%

. . 10

8%

126

100%

Pausa 515

70,7%

164

22,5%

8

1%

1

0,1%

41

5,6%

728

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

10

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

Tabela 13. Distribuição das variantes a depender do contexto subsequente em não verbos – 1213 dados

Com base na Tabela 13, vemos que, assim como nos verbos, o tepe apresenta um

percentual bastante elevado se encontra diante de vogal, e há poucos casos de vibrante

anterior múltipla e zero fonético antes desse contexto. Dessa forma, também é válido

buscá-los no corpus. Os casos daquela variante foram pronunciados, dessa vez, por

Francisco Alves e Silvio Caldas.

1- Porque lá o lua[r] é diferente 3- Po[r] um amor qualquer

2- O elevado[r] eu não trazia 4- Po[r] um amor qualquer

Quanto aos casos de apagamento, observa-se, a seguir, que alguns dados, como

"flor" e "mulher" se repetem.

1 e 2- Qui avoa di froØ em froØ 7- Mas que mulheØ indigesta

3 e 4- Qui avoa di froØ em froØ 8- Mas que mulheØ indigesta

5- Alívio a esta doØ ao canto de amor 9- Essa mulheØ é ladina

6- Mas que mulheØ indigesta 10- MulheØ iludiu meu coração

Por último, a vibrante anterior múltipla teve percentual similar diante de pausa e

consoante, assim como nos verbos. Os casos de fricativa e aproximante labial foram

inexpressivos para verificar a atuação deste grupo de fatores, e, quanto ao zero fonético,

este teve uma porcentagem superior diante de vogal, diferentemente dos verbos.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

83

Melo (2009), no Discurso Semidirigido, também obteve percentuais bastante

elevados de apagamento diante de vogais, e este grupo de fatores foi selecionado pelo

programa, porém a autora não distingue verbos de não verbos. A hipótese inicial é a de que

o cancelamento seria, naquela época, inibido pela presença de vogal no contexto

subsequente, uma vez que é comum haver uma ressilabação, como em mar ma - ra - zul.

A partir dos resultados aqui encontrados, observa-se que essa hipótese foi parcialmente

confirmada.

Já Callou & Serra (2012) revelam que, na década de 1970, nos dados do Rio de

Janeiro, o apagamento do rótico em não verbos se restringe à fronteira de palavra

prosódica, ou seja, não há apagamento diante de pausa. Todavia, na década de 1990, a

regra avançou em verbos e, em não verbos, o quadro não é tão consistente, talvez pelo

número baixo de ocorrências. Dessa forma, observa-se que tanto as variáveis gramaticais

quanto as prosódicas são menos relevantes, visto que o processo de apagamento se

encontra em franca atuação. Por fim, acreditava-se, como nos resultados de Callou (1987)

e ao contrário dos revelados por Callou & Serra (2012), que o contexto de pausa fosse mais

favorecedor para o processo de cancelamento, e essa hipótese foi parcialmente confirmada.

d) Tipo de consoante subsequente

Ao verificar o contexto consoante subsequente, os resultados foram os seguintes:

Variantes

Consoante subsequente [] [r] [x] [h] Ø Total

[b] 14

53,8%

4

15,4%

. . 8

30,8%

26

100%

[d] 41

63,1%

5

7,7%

4

6,2%

. 12

23,1%

65

100%

[d] 18

81,8%

. . 1

4,5%

3

13,6%

22

100%

[f] 14

82,4

1

5,9%

. . 2

11,8%

17

100%

[g] 2

100%

. . . . 2

100%

[] 2

100%

. . . . 2

100%

[k] 37

61,7%

9

15%

. 2

3,3%

12

20%

60

100%

[l] 5

71,4%

1

14,3%

. . 1

14,3%

7

100%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

84

[m] 23

47,9%

9

18,8%

1

2,1%

. 15

31,2%

48

100%

[n] 46

67,6%

11

16,2%

. . 11

16,2%

68

100%

[p] 15

57,7%

5

19,2%

. . 6

23,1%

26

100%

[s] 28

75,7%

4

10,4%

1

2,7%

. 4

10,4%

37

100%

[t] 17

73,9%

5

21,7%

. 1

4,3%

. 23

100%

[t] . 1

100%

. . . 1

100%

[] 4

66,7%

. . . 2

33,3%

6

100%

[v] 9

40,9%

.

2

9,1%

1

4,5%

10

45,5%

22

100%

Total 275

63,7%

55

12,7%

4

0,9%

9

2,1%

89

20,6%

432

100%

Tabela 14. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em verbos – 432 dados

Observa-se, na Tabela 14, que há muitas células e, desse modo, há alguns casos

categóricos e valores nulos. É possível visualizar que: 1) o tepe teve percentual acima de

50% diante de quase todas as consoantes, exceto antes de [m] e [v]; 2) a vibrante anterior

múltipla teve percentuais maiores diante das anteriores [m], [p] e [t]; 3) a fricativa velar,

diante de consoantes mais anteriores; 4) por outro lado, não se pode chegar a essa

conclusão com relação à fricativa glotal, dado que ocorre diante de consoante posterior [k]

e 5) o zero fonético tem maiores percentuais diante de [b], [m], [] e [v].

No que se refere a essa última variante, os resultados são diferentes dos revelados

por Melo (2009), no Discurso Semidirigido, todavia a comparação não se torna

impraticável. No trabalho da autora, o índice de apagamento foi elevado diante de qualquer

contexto, mesmo que a autora não tenha levado em conta a classe gramatical. No entanto,

ao verificar o peso relativo, a consoante [b] foi selecionada na rodada probabilística, com

.86 para o apagamento. Neste trabalho, essa consoante foi uma das que obtiveram um

percentual superior no processo em questão, como mostra a tabela acima, dessa forma,

resta verificar se esta também favorecerá a aplicação da regra de apagamento.

Quanto à distribuição das variantes em não verbos, a tabela 15 mostra os resultados:

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

85

Variantes

Consoante subsequente [] [r] [h] Ø Total

[b] 1

33,3%

2

66,7%

. . 3

100%

[d] 48

76,2%

10

15,9%

. 3

4,8%

63

100%

[d] 30

78,9%

8

21,1%

. . 38

100%

[f] 23

76,7%

6

20%

. 1

3,3%

30

100%

[g] 2

100%

. . . 2

100%

[] 1

50%

1

50%

. . 2

100%

[k] 34

65,4%

16

30,8%

. 2

3,8%

52

100%

[l] 3

50%

2

33,3%

. 1

16,7%

6

100%

[m] 14

46,7%

14

46,7%

. 2

6,7%

30

100%

[n] 32

74,4%

8

18,6%

. 3

7%

43

100%

[p] 15

75%

5

25%

. . 20

100%

[s] 18

64,3%

10

35,7%

. . 28

100%

[t] 12

57,1%

9

42,9%

. . 21

100%

[t] 4

66,7%

. 2

33,3%

. 6

100%

[] 1

14%

. . 6

86%

7

100%

[v] 6

100%

. . . 6

100%

[z] 3

60%

2

40%

. . 5

100%

Total 247

68,2

95

26,2%

2

0,6%

18

5%

362

100%

Tabela 15. Distribuição das variantes a depender da consoante subsequente em não verbos – 362 dados

Nota-se que: 1) o tepe teve percentual acima de 50% diante de quase todas as

consoantes, porém há um fator que chama atenção, diante de [] obteve-se um percentual

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

86

de 14% apenas; 2) a vibrante anterior múltipla teve um percentual maior que o tepe diante

de [b]; 3) a fricativa glotal só ocorreu diante de [t]; 4) o zero fonético tem maiores

percentuais diante de [l] e [], resultados um tanto diferente dos da Tabela 15.

Partiu-se da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais e alveolares –

inibem a aplicação da regra de apagamento, enquanto as demais favorecem o apagamento

por conta de haver a possibilidade de assimilação no caso em que a consoante em coda e a

consoante em ataque compartilham o traço [-anterior]. Essa hipótese não pôde ser

confirmada, pois, nos verbos, o zero fonético tem maiores percentuais diante das anteriores

[b], [m] e [v].

e) Tonicidade da sílaba

Com relação a esse grupo de fatores, só foram analisados os não verbos, pois o

verbos são sempre oxítonos. Todavia, não foi possível chegar a resultados relevantes, visto

que só houve um caso de paroxítono, "cadáve[w]", o restante é oxítonos, como mostra a

tabela a seguir:

Variantes

Tonicidade da sílaba [] [r] [h] [w] Ø Total

Oxítono 870

72%

264

21%

9

1%

. 69

6%

1212

10

Paroxítono . . . 1

100%

. 1

100%

Total 870

71,7%

264

21,8%

10

0,7%

1

0,1%

69

5,7%

1213

100%

Tabela 16. Distribuição das variantes a depender da tonicidade da sílaba em não verbos – 1213 dados

Por fim, a hipótese de que ocorressem, em maior índice, as vibrantes e as fricativas

quando o rótico se encontra em sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por

Brustolin (2008), não pôde ser confirmada.

Após apresentar nas tabelas acima a distribuição das variantes do rótico, cabe

observar mais atentamente os escassos dados de fricativas – velar e glotal. O baixo

percentual dessas variantes observado no Gráfico 1 poderia ser explicado pelo fato de o

intérprete, que deveria ter "voz grande", nas primeiras décadas da análise, optar por uma

pronúncia com maior sonoridade, ou seja, uma vibrante ao invés de uma fricativa, dado

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

87

que o aparato de gravação ainda era de qualidade ruim. Segundo Diniz (2007, p. 65), "[o]s

recursos técnicos eram precários na época, pois os intérpretes usavam microfones antigos

que necessitavam uma força maior sonora". Mesmo que o Primeiro Congresso de Língua

Nacional Cantada, ocorrido na década de 1930, tenha sido direcionado apenas para o canto

erudito, notamos que os anais desse evento de cunho político serviam também como uma

referência para a música popular. Em seu texto, os congressistas reconhecem que há várias

pronúncias para a consoante em questão e relatam o seguinte:

[O] 'r' final profere-se também de vários modos. No Rio, é geralmente

gargarizado, e insonoro. Corresponde a um 'j' castelhano muito áspero (...); é

mais áspero do que o 'Achlaut' dos alemães, e do que o 'r' grasseyé parisiense.

Por posição, pode sonorizar-se: carne. Há regiões do país onde a mesma letra soa como o 'h' aspirado alemão. Todas essas práticas são evitadas na boa dicção,

porque o 'r' mais perceptível ao ouvido é o vibrante. (ANAIS DO PRIMEIRO

CONGRESSO DE LÍNGUA NACIONAL CANTADA, 1938, p. 337)

Os congressistas concluem que essas realizações, possivelmente fricativas, que

ocorriam na fala espontânea, não deveriam aparecer no canto erudito. Contudo, ao analisar

os resultados coletados para esta dissertação, observa-se que, na música popular,

similarmente, não há uma preferência, por parte dos intérpretes, por essas possíveis

realizações. A justificativa dada pelos congressistas para se evitarem as fricativas diz

respeito à produção de ruídos que essas realizações ocasionam como mostra a afirmação a

seguir:

Mas como foi dito para o caso idêntico do l, é também defeituosa a tendência,

por assim dizer, contrária que consiste em rolar excessivamente o r final, dando-

lhe um valor gutural. Esta última tendência deverá ser energicamente evitada no

canto erudito, por dar à emissão da vogal acentuada um rabo de ruídos,

absolutamente desairoso, prejudicial à pureza da voz. (op. cit., 1938, pp. 90-91).

A partir dos resultados aqui encontrados e dos relatos dos anais para o canto

erudito, percebe-se que realizações posteriores do rótico, as fricativas, não eram bem

aceitas na música da primeira parte do século XX, não importa se é popular ou erudita.

Dessa maneira, ainda que na pesquisa não se tenha podido proceder à análise quantitativa

mais aprofundada das variantes, ou seja, chegar ao peso relativo, dado o pequeno número

de ocorrências, é possível observar a sistematicidade dos grupos de fatores

extralinguísticos, como mostra a tabela abaixo.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

88

Tabela 17. Distribuição de fricativas (glotal e velar) segundo os grupos de fatores extralinguísticos

Nos dados de ambas as realizações, observa-se que, quanto 1) ao intérprete, Mário

Reis é o que mais realiza glotal, enquanto Noel Rosa, a velar, e vale ressaltar que há três

intérpretes que não realizam fricativas; 2) ao gênero musical, as fricativas são mais

produzidas no samba e 3) à década, há um comportamento diferente a depender da

realização, pois, com relação à glotal, há um aumento no percentual e, em seguida um

decréscimo, e, no que se refere à velar, os dados só ocorrem nas duas décadas finais.

Ainda que, nesta pesquisa, não se tenha podido proceder à análise quantitativa

dessas variantes devido ao número parco de dados, é possível perceber a atuação de alguns

fatores. Além disso, será verificado em que medida a ocorrência de vocábulos deve ser

analisada com os condicionamentos linguísticos e sociais apontados nas análises

variacionistas. Dessa forma, optou-se por listar todos os vocábulos em que houve a

realização fricativa. Do total de dados, obtivemos 35 dados de fricativa glotal e, desse

escasso número, há 25 em verbos e dez em não verbos. Nos verbos, há os seguintes dados:

1- Fala[h] de nós é tua sina 14- Para me vale[h]

2- Fala[h] de nós é tua sina 15- A Jesus pra me livra[h]

3- Estou cansado de vive[h] 16- Te ama[h]

4- Fala[h] de nós é tua sina 17- Não posso acredita[h]

5- Fala[h] de nós é tua sina 18- Não posso acredita[h]

Fricativa glotal Fricativa velar

Oco. Perc. Oco. Perc.

Intérprete

Eduardo das Neves 9/35 26% 0/4 .

Francisco Alves 3/35 8% 1/4 25%

Mário Pinheiro 4/35 11% 0/4 .

Mário Reis 16/35 46% 0/4 .

Noel Rosa 2/35 6% 3/4 75%

Vicente Celestino 1/35 3% 0/4 .

Gênero

musical

Samba 23/35 66% 4/4 100%

Modinha 3/35 8% 0/4 .

Toada 2/35 6% 0/4 .

Marcha carnavalesca 1/35 3% 0/4 .

Canção 5/35 14% 0/4 .

Seresta 1/35 3% 0/4 .

Década

1902 - 1910 3/35 8% 0/4 .

1911 - 1920 16/35 46% 0/4 .

1921 - 1930 14/35 40% 1/4 25%

1931 - 1940 2/35 6% 3/4 75%

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

89

6- Vem canta[h] 19- É bem capaz de rouba[h]

7- Quere[h] teu coração 20- Faz o que ela que[h]

8- Que és capaz de pisa[h] 21- Pra te[h] valor a tua jura

9- Eu ouço fala[h] que para o nosso bem 22- Deus eu fiz entrega[h]

10- Eu ouço fala[h] que para o nosso bem 23- Onde é que vamos mora[h]?

11- Teus lábios colori[h] de cintilar 24- Onde é que vamos morar[h]?

12- Que não cansam de fingi[h] 25- Que não gosta de brinca[h]

13- Que conduz-me à luz para se[h]

Em não verbos, há os dados a seguir:

1- Para completa ventura, da serenata no ma[h] 6- Do Senho[h] do Bonfim

2- Tanto amo[h], como eu senti, quando eu ti vi 7- Ao teu canto[h]

3- Todo cheio de lua[h] 8- Eu possa dar-te o amo[h]

4- Rosa do Sarom da co[h] dos alvos lírios 9- Fez tal qual o meu amo[h]

5- Embora o meu pena[h] 10- Como uma flo[h]

É interessante notar que, quanto ao contexto fonológico anterior, em verbos a

variante ocorre depois de vogal [-rec] e, em não verbos, depois de vogal [+arre], além do

mais, certos vocábulos se repetem algumas vezes, tais como <falar> e <amor>. Por fim, se

os dados de fricativa glotal foram parcos, os de velar foram mais ainda, pois há apenas os

seguintes:

1- Vive[x] cismando 3- E vive sem te[x] vintém

2- Mas joga sem te[x] vintém 4- Cigarro pra espanta[x] mosquitos

Nota-se que só ocorrem em verbos, diante de consoantes e depois de vogal [-rec].

Todavia, a quantidade de dados é muito escassa para chegar a resultados conclusivos.

Depois de apresentar nas tabelas anteriores as ocorrências e os percentuais das

variantes do rótico, vejamos, a seguir, os resultados da rodada binária, a fim de observar o

peso relativo dos grupos de fatores no processo de apagamento. Nessa etapa, a rodada dos

verbos e a dos não verbos também foram realizadas separadamente e serão apresentadas

por ordem de seleção do programa estatístico aqui utilizado.

3.2. Realização versus não realização

Em uma segunda etapa da análise dos dados, todas as realizações foram agrupadas,

realização versus a não realização a fim de verificar a aplicação da regra de apagamento do

rótico. Ademais, foram retirados os casos categóricos – os casos em que não há variação –,

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

90

pois os usos foram categóricos. Com isso, será possível realizar uma rodada binária e,

então, chegar ao peso relativo das variáveis independentes atuantes no processo de

apagamento do R. Dessa forma, serão, primeiramente, expostos e analisados os resultados

dos verbos (3.2.1) e, em seguida, os dos não verbos (3.2.2).

3.2.1. Verbos

Na rodada binária, ainda ocorreram casos categóricos em alguns grupos de fatores.

Como é apresentado a seguir, não houve zero fonético, ou seja, apenas a manutenção do

segmento, com: vogal antecedente: [o], tipo de consoante subsequente: [t t g] e gênero

musical: cançoneta, valsa, seresta, fado, polca, barcarola. Por outro lado, não houve

realização, ou seja, apenas o apagamento do segmento com gênero musical: embolada.

Esses casos, então, foram retirados da análise. Na rodada probabilística, os grupos de

fatores vogal antecedente e tipo de consoante subsequente foram descartados da rodada

que o programa selecionou como a melhor. Desse modo, cinco grupos foram selecionados

pelo programa como favorecedores para a regra de apagamento em verbos. Além disso, o

input geral da rodada foi de 0.227.

O primeiro grupo eleito foi intérprete. Esse resultado é bastante interessante, visto

que havia regras de pronúncia para o canto na época, porém os intérpretes se

diferenciavam com relação ao apagamento do R, como mostra a tabela74

abaixo.

Intérprete Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Eduardo das Neves 27/227 12% .53

Mário Pinheiro 16/238 6,7% .56

Vicente Celestino 7/301 2,3% .15

Francisco Alves 89/286 31% .59

Patrício Teixeira 26/82 32% .35

Silvio Caldas 35/180 19,5% .47

Mário Reis 101/158 64% .75

Orlando Silva 2/80 2,5% .20

Noel Rosa 71/93 76,3% .97

Input geral da rodada: 0.227

Tabela 18. Peso relativo do fator intérprete em verbos no processo de apagamento do rótico

74 Nessa tabela e nas outras a seguir, encontram-se as abreviaturas Oco. (ocorrências), Perc. (percentual) e

PR - (peso relativo). Na segunda coluna, há a ocorrência do apagamento e o total de dados; a terceira, por sua

vez, demonstra a porcentagem de aplicação com relação ao total de dados; e a última revela a probabilidade,

a relevância só acontece quando o valor numérico se iguala ou supera .50.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

91

Observa-se que quatro dos nove intérpretes mostram-se favorecedores75

para a

regra de apagamento, com destaque para Noel Rosa com .97 de peso relativo. Por outro

lado, há Vicente Celestino e outros, que não alcançam relevância, pois obtiveram peso

relativo bem abaixo de .50. Por conseguinte, percebe-se que os intérpretes têm suas

particularidades, uns poderiam ter maior preocupação com pronúncia; outros, não.

O segundo fator na ordem de seleção é o gênero musical. Como já mencionado, tal

grupo de fatores foi usado aqui de forma incipiente, assim esse é o primeiro passo para

futuros estudos. Retirados os casos categóricos, sobraram nove gêneros musicais, como

mostra a Tabela 19:

Gênero musical Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Canção 8/123 6,5% .40

Hino 2/20 10% .74

Lundu 14/87 16% .89

Marcha carnavalesca 31/69 45% .84

Maxixe 7/48 14,5% .33

Modinha 1/169 0,6% .05

Samba 265/632 42% .64

Tango-brasileiro 1/125 0,8% .08

Toada 37/55 67,3% .94

Input geral da rodada: 0.227

Tabela 19. Peso relativo do fator gênero musical em verbos no processo de apagamento do rótico

Na tabela acima, observa-se que alguns gêneros musicais superam .50 de peso

relativo, como o hino, o lundu, a marcha carnavalesca, o samba e a toada para a aplicação

da regra. Além disso, o hino só é favorável à aplicação da regra de apagamento no nível de

seleção, ou seja, sob influência de outros grupos de fatores. A partir dessas observações,

percebe-se o gênero musical como um grupo de fatores condicionante para o

comportamento variável do R, seja para influenciar a regra de apagamento ou não. Notou-

se ainda que a supressão possa ocorrer propositalmente a depender do gênero musical.

O terceiro grupo influenciador foi o contexto subsequente. Apenas a pausa, como

mostra a Tabela 20, evidencia-se relevante para a aplicação da regra, dessa forma, esse

resultado dialoga em partes com os revelados por Callou (1987, p.141) de que a regra tem

"probabilidade de aplicar-se independentemente do contexto seguinte (em qualquer dos

75 Os valores dos fatores relevantes para regra de aplicação de apagamento encontram-se em negrito.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

92

três casos [vogal, consoante e pausa], a probabilidade é sempre maior que .50)". A pausa

tem o peso relativo maior assim como nos resultados da autora supracitada, porém os

outros dois contextos não alcançam .50 de probabilidade de aplicação da regra de

apagamento. Ademais, os resultados aqui apresentados vão de encontro aos de Melo (2009,

p. 70), no Discurso Semidirigido, em que, no contexto subsequente, há uma "preferência

pelas vogais quando o /R/ deixou de ser produzido". A seguir, encontram-se os resultados:

Contexto subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Consoante 87/431 20,2% .45

Vogal 18/274 6,6% .14

Pausa 269/940 28,6% .65

Input geral da rodada: 0.227

Tabela 20. Peso relativo do fator contexto subsequente em verbos no processo de apagamento do rótico

O penúltimo fator, na ordem de seleção da rodada, corresponde à década. Nota-se

que apenas o período entre 1921 e 1930 mostra-se favorecedor para a aplicação da regra de

apagamento do rótico, como mostra a tabela a seguir:

Década Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

1902 - 1910 15/267 5,6% .20

1911 - 1920 35/335 10,4% .38

1921 - 1930 197/456 43,2% .79

1931 - 1940 127/587 21,6% .46

Input geral da rodada: 0.227

Tabela 21. Peso relativo do fator década em verbos no processo de apagamento do rótico

Esse valor numérico alto ocorrido entre 1921 e 1930 pode ser explicado pela

predominância de determinados gêneros musicais nessa época. Com isso, decidiu-se por

unir a década a esse grupo para compreender que gêneros musicais ocorrem nesse período.

Por meio da tabulação cruzada (cf. anexo 4), que permite cruzar fatores distintos do

arquivo de células do programa, observou-se que há alto número de apagamento em

toadas, sambas e marchas, gêneros musicais de raízes mais populares.

A última colocação pertence ao número de sílabas, um grupo de fatores geralmente

selecionado, pois há uma gradação das lexias de uma sílaba até as de quatro ou mais

sílabas. Em outras palavras, resultados de estudos sobre o apagamento rótico revelam que

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

93

quanto maior a dimensão do vocábulo maior a probabilidade de aplicação da regra de

apagamento, pois o segmento seria menos saliente.

Nos resultados de Melo (2009), há uma gradação clara das lexias de uma até as de

quatro ou mais sílabas: monossílabos apresentaram peso relativo de .21; dissílabos, 0.51;

trissílabos, 0.62 e polissílabos, 0.71. Os resultados da Tabela 22, a seguir, não mostram tal

gradação, porém, é possível observar que os monossílabos obtiveram um peso relativo

inferior, apenas de .27 de aplicação da regra. Poderíamos afirmar que, assim como na fala

espontânea, há a atuação da saliência fônica na fala cantada, apesar de os polissílabos

apresentarem peso relativo bem abaixo de .50.

Número de sílabas Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Uma 35/212 16,5% .27

Duas 263/1049 25% .55

Três 69/351 19,7% .51

Quatro 7/33 21,2% .30

Input geral da rodada: 0.227

Tabela 22. Peso relativo do fator número de sílabas em verbos no processo de apagamento do rótico

3.2.2. Não verbos

Ao analisar os não verbos, na rodada binária (realização versus não realização),

ainda ocorreram casos categóricos em alguns grupos de fatores, assim como nos verbos.

Assim, não houve zero fonético com: vogal antecedente: [i], tipo de consoante

subsequente: [p v b z s t g t d], tonicidade da sílaba: paroxítona e gênero musical:

cançoneta, valsa, maxixe, tango-brasileiro, fado, polca, barcarola, seresta.

Na rodada probabilística, cinco grupos, como nos verbos, foram escolhidos pelo

programa como favorecedores da regra de apagamento. Todavia, os grupos de fatores

descartados da rodada que o programa selecionou como a melhor foram distintos: número

de sílabas e década. Por fim, o input geral da rodada foi de 0.057.

Como nos verbos, o primeiro grupo eleito foi intérprete, todavia não foram os

mesmos que superaram o valor numérico de .50.

Intérprete Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Eduardo das Neves 8/138 5,8% .35

Mário Pinheiro 2/251 0,8% .23

Vicente Celestino 2/312 0,6% .19

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

94

Francisco Alves 20/164 12% .84

Patrício Teixeira 7/76 9% .76

Silvio Caldas 2/92 2% .65

Mário Reis 20/90 22% .96

Orlando Silva 1/76 1,3% .65

Noel Rosa 7/14 50% .98

Input geral da rodada: 0.057

Tabela 23. Peso relativo do fator intérprete em não verbos no processo de apagamento do rótico

Nos verbos, os intérpretes que superaram o peso relativo de .50 foram Eduardo das

Neves, Mário Pinheiro, Francisco Alves, Mário Reis e Noel Rosa. Já nos não verbos, os

dois primeiros tiveram peso relativo baixo, e Patrício Teixeira, Silvio Caldas e Orlando

Silva obtiveram maior probabilidade de aplicação da regra de apagamento. Desse modo,

observa-se que, além de os intérpretes terem características próprias, pois se diferenciavam

com relação à pronúncia dos róticos, em alguns deles, o rótico ainda têm comportamento

diferente a depender da classe gramatical.

O segundo grupo de fatores selecionado, assim como nos verbos, é o gênero

musical, porém os valores numéricos do peso relativo também foram um tanto diferentes.

Na tabela abaixo, observa-se que a marcha carnavalesca e o samba não alcançaram .50 de

peso relativo, por outro lado, a modinha em não verbos teve maior probabilidade de

aplicação da regra. A toada, em ambas as tabelas, obteve peso relativo bastante elevado.

Esse gênero musical possui composições que trazem um linguajar caipira, em que os

intérpretes mudam a forma de cantar. Tal fato é um forte indicativo de o processo de

apagamento do rótico se tratar de uma mudança "de baixo para cima" em termos

labovianos (LABOV, 1994).

Gênero musical Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Canção 4/191 2% .41

Hino 1/30 3,3% .65

Lundu 5/64 7,8% .87

Marcha carnavalesca 11/70 15,7% .40

Modinha 2/132 1,5% .55

Samba 37/263 14% .36

Toada 9/21 43% .96

Input geral da rodada: 0.057

Tabela 24. Peso relativo do fator gênero musical em não verbos no processo de apagamento do rótico

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

95

Assim como nos verbos, o hino só é favorável à aplicação da regra no nível de

seleção, ou seja, sob influência de outros grupos de fatores, por outro lado, o samba, que é

favorável à aplicação da regra no nível 1, superando .50, ao sofrer influência de outros

grupos de fatores, tem seu peso relativo reduzido para .36. na rodada selecionada.

O terceiro grupo influenciador da regra de apagamento foi a vogal antecedente.

Em Melo (2009), esse foi o primeiro fator a ser selecionado, e apenas as vogais anteriores

superaram .50 de peso relativo, das quais [i] demonstra forte probabilidade de levar ao

cancelamento, .94. Todavia, a autora não levou em conta a classe gramatical, e nos dados

aqui coletados de não verbos, nem houve a terminação -ir. Em Brandão, Mota & Cunha

(2003), sem distinguir verbos de não verbos, há uma marcante diferença de comportamento

entre vogais [+arred] e [-arred], estas últimas mais favorecedoras da eliminação do rótico,

o que já tinha sido observado em Callou (1987), que também não levou em conta a classe

gramatical, a vogal [] obteve maior probabilidade de aplicação da regra, com 0.64. Como

apenas as vogais não arredondadas superam o peso relativo de .50, a autora agrupou as

vogais segundo o traço em questão e obteve resultados interessantes.

Nos resultados da tabela abaixo, não se observa a atuação do traço [-arred] na

aplicação da regra de apagamento do rótico, porém percebe-se que o peso relativo foi

superior em vogais mais baixas, [a], [] e [], quanto ao parâmetro de altura.

Vogal antecedente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

[e] 5/55 9% .59

[] 29/123 23,5% .70

[a] 7/173 4% .79

[] 3/33 9% .71

[o] 25/820 3% .40

Input geral da rodada: 0.057

Tabela 25. Peso relativo do fator vogal antecedente em não verbos no processo de apagamento do rótico

O penúltimo fator da análise corresponde ao tipo da consoante subsequente ao

rótico. Esse foi um grupo de fatores não selecionado na rodada probabilística dos verbos. A

tabela, a seguir, apresenta os resultados:

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

96

Consoante subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

[d] 3/63 5% .55

[f] 1/30 3,3% .26

[k] 2/52 4% .30

[l] 1/6 17% .68

[m] 2/30 7% .44

[n] 3/43 7% .67

[] 6/7 86% .98

Input geral da rodada: 0.057

Tabela 26. Peso relativo do fator consoante subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico

Nota-se que a consoante subsequente [] obteve peso relativo bastante elevado,

entretanto, todos os seis casos, pertencentes ao samba gravado por Francisco Alves, se

repetem, "deixa essa mulheØ chorar". Tal fato, dessa forma, alterou o resultado. Observa-

se, então, que as soantes [l n] são as favorecedoras para aplicação da regra.

A última colocação na ordem de seleção da rodada pertence ao grupo contexto

subsequente. Diferentemente dos resultados encontrados nos verbos, aqui, a pausa e a

vogal se mostram relevantes para a aplicação da regra, como mostra a tabela abaixo:

Contexto subsequente Oco./ Total Perc. P.R. - nível de seleção

Consoante 18/359 5% .12

Vogal 10/126 8% .61

Pausa 41/728 5,5% .70

Input geral da rodada: 0.057

Tabela 27. Peso relativo do fator contexto subsequente em não verbos no processo de apagamento do rótico

A pausa em verbos e em não verbos mostra-se como maior favorecedora para a

regra de apagamento. Além disso, apesar de haver ressilabação do rótico diante de vogal,

houve um maior índice de apagamento em não verbos, o que gerou o valor numérico de .61

de peso relativo. Resultado similar foi encontrado por Melo (2009, p. 70), no Discurso

Semidirigido, em que, no que se refere ao contexto subsequente, há uma "preferência pelas

vogais quando o /R/ deixou de ser produzido", lembrando que a autora não distingue

verbos de não verbos.

É válido retornar aos princípios propostos por Weinreich et alii (1968) para o

estudo da mudança linguística, apresentados na seção 2.1 desta dissertação. A partir das

observações feitas dos resultados aqui explicitados, é possível observar pistas para o

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

97

encaixamento da mudança na estrutura linguística, já que o processo está relacionado à

categoria gramatical do vocábulo, assim como nos resultados em dados de fala espontânea.

Também há pistas para o encaixamento da mudança na estrutura social, visto que o

apagamento do rótico final se vincula ao gênero musical e ao intérprete, como se observou,

por exemplo, que Vicente Celestino, ao gravar uma toada, apaga todos os róticos em final

de palavra, algo que não acontece em outros gêneros gravados por ele.

Por conseguinte, podemos pensar na questão da avaliação, pois o apagamento

realizado por esse intérprete parece ter ocorrido conscientemente, com isso, observa-se o

nível de discernimento dos valores sociais das variantes linguísticas. Essa questão está

relacionada à variação estilística, a qual é evidenciada pelo monitoramento da fala, e o

meio musical que, naquela época, gozava de prestígio social além de haver certas normas

de pronúncia. No entanto, o apagamento do rótico de forma consciente parece não ter

ocorrido por todos os intérpretes. Diferentemente de Vicente Celestino, observou-se que

Noel Rosa, intérprete com estilo mais boêmio, por exemplo, obteve um elevado índice de

apagamento, ou seja, não foi restrito a uma determinada gravação ou a um gênero musical,

mostrando que não teve tanta preocupação em realizar a pronúncia padrão.

3.3. Vicente Celestino

Como foi mencionado na seção 2.2.2, Vicente Celestino, em 1915, lançou seu

primeiro disco pela Odeon, gravando a valsa "Flor do mal", e logo encantou o público com

sua interpretação. O tenor gravou por várias décadas e, ao todo, sua discografia conta com

mais de 265 músicas. Eleito pelo povo como "A Voz Orgulho do Brasil", suas últimas

gravações ocorreram até o ano de 1968. Assim, a longevidade na produção desse intérprete

foi o principal motivo para selecioná-lo a fim de verificar a distribuição das variantes por

ele utilizadas no decorrer de décadas. Serão analisados, portanto, a pronúncia do rótico

final através do tempo, cinco décadas, e o comportamento da realização do segmento

questão a partir de uma entrevista realizada para a Rádio Bandeirantes em 1964.

3.3.1- Gravações musicais: de 1902 a 1960

Foram selecionadas 59 produções musicais gravadas entre os anos de 1915 e 1960.

Até 1940, foram utilizadas as mesmas gravações da rodada geral, todavia foram

acrescentadas 23 que recobrem as duas últimas décadas as quais não fizeram parte da

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

98

primeira rodada. Ademais, houve atenção à quantidade equilibrada de dados por década, ou

seja, em cada período de tempo, há aproximadamente duzentos dados76

, totalizando 994

dados. No gráfico abaixo, observa-se a distribuição e o percentual das variantes do rótico

no decorrer das décadas:

Gráfico 4. Distribuição das variantes em canções de Vicente Celestino no decorrer de cinco décadas

No gráfico acima, há percentuais de três77

realizações do rótico: a vibrante anterior

múltipla, que era a pronúncia recomendada nos meios de comunicação, o tepe e o zero

fonético. Observa-se que 1) a variante de maior prestígio da música ocorreu num

percentual relativamente baixo em todas as décadas, se for levado em conta que essa seria

a norma de uso para representar o rótico em coda silábica final. Cabe ressaltar que, na

segunda década, o percentual foi o mais baixo – 10% do total de dados –, mesma época em

que gêneros musicais de raízes mais populares ganharam espaço para gravações de disco;

na década seguinte, o percentual foi o mais alto, 33% dos dados, mesmo período em que

ocorreu o congresso de língua cantada; 2) o tepe, por outro lado, parece ser a norma de uso

desse intérprete, já que possui um alto percentual de realização nos cinco períodos

analisados - acima de 65% em todas as décadas e 3) o zero fonético teve um percentual de

76 Entre 1915 e 1920, foram recolhidos 202 dados a partir de sete gravações. Entre 1921 e 1930, foram

recolhidos 202 dados a partir de oito gravações. Entre 1931 e 1940, foram recolhidos 196 dados a partir de

dezoito gravações. Entre 1941 e 1950, foram recolhidos 192 dados a partir de quatorze gravações. Por fim,

entre 1951 e 1960, foram recolhidos 202 dados a partir de nove gravações. Para visualizar a rodada, ver

anexo 5. 77 O único dado de fricativa glotal ocorrido entre 1920 e 1931 não foi inserido no gráfico.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

99

4% apenas na segunda década; na primeira década, houve apenas um dado e, nas outras

décadas, foi nulo.

Esse percentual de 4% de apagamento ocorrido na segunda década corresponde a

oito dados de uma mesma gravação, a toada "Ideal de Caboclo" e o de 1%, na primeira,

década ao verbo "sofrer" da valsa "Os que sofrem". Essa toada é uma das pouquíssimas

canções de raízes mais populares gravadas por Vicente Celestino, ou seja, a variante

estigmatizada penetrou em seu repertório musical por meio de uma canção de gênero

musical peculiar do Brasil. Além disso, percebe-se que o apagamento ocorre

propositalmente, podendo ter ocorrido devido à temática sertaneja, pois todos os dados são

de apagamento. Com relação às fricativas – velar e glotal – essas realizações também não

fizeram parte da dicção do intérprete, pois há apenas um caso de realização aspirada na

modinha "Perdão de um coração" no verbo "soluçar". Desse modo, observa-se que há uma

grande preocupação sua em realizar vibrantes. Essas, por sua vez, configuram-se uma

variação estável, pois o quadro de variação tende a se manter ao longo do período.

Por fim, voltando aos princípios propostos por Weinreich et alii (1968, p. 102)

para o estudo da mudança linguística, observam-se pistas para o problema das restrições e

da avaliação a partir das observações acima. Quanto às possíveis restrições para o

apagamento, o gênero musical toada oferece condições para que o processo ocorra ou não

e, quanto à avaliação, a fricativa e o zero fonético deveriam ser evitadas no canto erudito,

dessa forma, o nível de consciência do intérprete, mesmo fazendo parte da música popular,

constitui fator a ser considerado, já que avaliações negativas podem afetar o curso da

variação e mudança linguística. Além do mais, é possível comentar sobre a questão da

transição, quando uma determinada estrutura evolui para outra estrutura. Observa-se que,

no decorrer de várias décadas, o intérprete se manteve rígido quanto à pronúncia do rótico,

ou seja, não houve uma transição de uma pronúncia para outra, fato que pode não ter

ocorrido em sua fala espontânea, como mostram os resultados na próxima seção.

3.3.2- Entrevista para a Rádio Bandeirantes: 1964

A fim de comparar a fala cantada com a fala espontânea de Vicente, foi realizada a

audição e transcrição fonética da primeira entrevista78

desse intérprete para a Rádio

78

A transcrição da fala de Vicente Celestino encontra-se no anexo 6 desta dissertação, e a entrevista está

disponível na seguinte página: https://www.youtube.com/watch?v=ZhcTowo2R_4.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

100

Bandeirantes, ocorrida no dia 23 de agosto de 1964, considerada uma das datas mais

felizes pelo radialista Moraes Sarmento.

Na entrevista, a qual tem duração de aproximadamente vinte minutos, o cantor fala

dos desafios e fatos engraçados de sua longa carreira, que foi iniciada em 1915. Além

disso, há uma breve participação de Orlando Silva, outro intérprete da época, e uma

música. Dessa forma, a partir dessa gravação de valor inestimável, foram coletados 39

dados de rótico em posição de coda final, e o gráfico a seguir mostra os percentuais

referentes à variação.

Gráfico 5. Percentuais referentes à variação do rótico na entrevista de Vicente Celestino - 39 dados

Nota-se uma interessante diferença nos resultados dos gráficos 4 e 5. Neste, há

apenas duas variantes, o tepe e o zero fonético. No início da entrevista, o intérprete fala

pausadamente e demonstra um discurso planejado de agradecimento pelo convite. No

primeiro momento, não ocorre apagamento do R, apenas a pronúncia do tepe, e, após

alguns minutos, Vicente Celestino é descontraído pelo radialista e começa a contar fatos

engraçados sobre sua carreira. A partir daí, o intérprete começa a falar mais rapidamente,

com truncamentos e, consequentemente, surgem os apagamentos do rótico final. Chama a

atenção a ausência da vibrante anterior múltipla, aquela usada por ele em suas produções

musicais. Tal fato mostra que o intérprete parece ter total consciência do uso da variante de

prestígio, pois aparece apenas quando canta.

Por fim, é válido comentar que, quanto à classe gramatical do vocábulo terminado

em rótico, os dados de apagamento são superiores em verbos, 69%, confirmando

novamente a hipótese de que verbos no infinitivo impessoal favorecem o apagamento do

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

101

segmento em questão, pois marcas linguísticas redundantes tendem a ser canceladas, ou

seja, há o apagamento da marca morfossintática, o fonema /r/ infinitivo (saber) ou de

subjuntivo (souber), restando apenas a marca prosódica, o acento (CALLOU, 1987).

3.4. Resumo e discussão geral dos resultados

Nesta seção, há um resumo geral dos resultados obtidos na pesquisa desenvolvida,

realizando mais alguns comentários, a fim de complementar a discussão que foi sendo feita

junto com a descrição e, então, reunir os principais achados.

No que concerne ao processo de apagamento do rótico, que levou em conta a

oposição binária entre o zero fonético e a junção das ocorrências de manutenção, é possível

observar que a atuação dos grupos de fatores linguísticos na aplicação da regra, na grande

maioria das vezes, é similar aos resultados de estudos com base em corpora de fala

espontânea. Desse modo, vejamos, a seguir, uma comparação dos resultados aqui

encontrados com os dos estudos revisados no capítulo 1.

Quanto ao condicionamento da classe morfológica do vocábulo, inúmeros

trabalhos, a partir de gravações de fala espontânea, confirmam a hipótese de que verbos

favorecem o apagamento do segmento em questão. Para esta dissertação, as classes foram

agrupadas em duas: verbos e não verbos. A fim de facilitar a leitura, trazemos novamente

os resultados: 22,7% de apagamento em verbos e 5,6% em não verbos. Observou-se que,

na música da primeira metade do século XX, já era apontado o papel relevante da classe

gramatical para o processo de apagamento do rótico final de palavra. Dessa forma, por

mais que não haja, naquela época, um alto índice do fenômeno, há uma notável diferença

nos resultados, no que diz respeito à classe morfológica.

Em Callou (1987), os resultados, a partir de gravações feitas na década de 1970, já

mostram um percentual mais elevado de apagamento nos dados: em verbos, 81,3%, e, em

não verbos, 38%. Callou & Serra (2012), revisitam os róticos a partir de gravações também

do Projeto NURC. Em 1990, há um aumento nos percentuais, o apagamento em verbos é

de 81% contra 66% em não verbos. Já nos anos 2000, há o trabalho de Brandão, Mota &

Cunha (2003), que revela os seguintes percentuais do processo em questão nos dados de

gravações feitas no RJ: em verbos, 92%, e, em não verbos, 57,5%. Ainda nessa década,

Melo (2009) apresenta resultados, a partir de dois corpora, Questionário Fonético-

Fonológico e Discurso Semidirigido. Naquele, o percentual foi 84% em verbos e 75% em

não verbos; neste, o percentual foi de 98% em verbos e 84% em não verbos.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

102

Vejamos a tabela, a seguir, que traz os percentuais acima em ordem cronológica.

Trabalhos Classe Oco./ Total Perc.

FALA CANTADA

Xavier (nesta pesquisa)

Gravações entre 1902 – 1940

verbos 374/1645 22,7%

não verbos 69/1213 5,6%

FALA ESPONTÂNEA

Callou (1987)

Gravações feitas em 1970

verbos 1132/1391 81,3%

não verbos 284/738 38%

Callou & Serra (2012)

Gravações feitas em 1990

verbos . 81%

não verbos . 66%

Brandão, Mota & Cunha (2003)

Gravações feitas em 2000

verbos 220/240 92%

não verbos 94/163 57,5%

Melo (2009)

Gravações feitas em 2000

verbos 279/320 84%

não verbos 138/184 75%

Melo (2009)

Gravações feitas em 2000

verbos 2639/2689 98%

não verbos 385/454 84%

Tabela 28. Apagamento do rótico em verbos e não verbos em diversos estudos.

A partir do resumo dessa tabela, observa-se que o apagamento do rótico é sempre

superior em verbos, não importa o corpus e a década. Além disso, há um aumento do

percentual à medida que o tempo decorre. Em Farias e Oliveira (2013), com dados do

Projeto NURC gravados na década de 1990 em duas capitais situadas no Nordeste, os

resultados revelam que o apagamento, em verbos, está quase completo, assim, nenhuma

variável inibe mais o processo. Além disso, o fenômeno tem atingido a coda medial, nesses

falares em que a regra é (quase) categórica em coda final. Em outras palavras, à proporção

que os dados gravados se aproximam dos dias atuais, maior a probabilidade de apagamento

do R final em verbos.

Quanto ao número de sílabas do vocábulo, a codificação prevê quatro tipos: uma

sílaba (monossílabos), duas sílabas (dissílabos), três sílabas (trissílabos) e quatro sílabas ou

mais (polissílabos). Houve o intuito de verificar até que ponto a extensão do vocábulo

permitia conservar ou não um segmento fônico que termina a palavra, seguindo a hipótese

de, quanto maior o número de sílabas, maior a possibilidade de apagamento do rótico final.

Essa hipótese foi testada e confirmada nos trabalhos aqui revisados, que apontam a menor

ocorrência de apagamento do <r> final em vocábulos monossílabos; por outro lado, maior

índice do fenômeno em vocábulos mais extensos, havendo, então, uma gradação do

fenômeno. Em Melo (2009), por exemplo, é possível notar a gradação nos não verbos a

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

103

partir dos dados do Discurso Semidirigido: 1 sílaba: 57%; 2 sílabas: 86%; 3 sílabas: 89% e

4 sílabas: 92%. Todavia, nos verbos, a porcentagem de zero é alta, independentemente do

número de sílabas.

Nos resultados aqui encontrados, ao observar vocábulos monossílabos, dissílabos,

trissílabos e polissílabos, percebeu-se que não houve tal gradação. Todavia, foi possível

notar um menor percentual de apagamento do rótico em vocábulos de uma sílaba, tanto nos

verbos quanto em não verbos, confirmando, assim, a hipótese da saliência fônica.

Observou-se, além do mais, que, ao separar os dados por classe gramatical, um percentual

maior em verbos em qualquer dimensão do vocábulo. A tabela 29 retoma tais resultados.

Número de sílabas Classe Gramatical Oco./ Total Perc.

Monossílabos verbos 35/212 16,5

não verbos 8/288 2,8%

Dissílabos verbos 263/1049 25%

não verbos 54/820 6,6%

Trissílabos verbos 69/351 19,7%

não verbos 4/81 4,9%

Polissílabos verbos 7/33 21%

não verbos 3/24 12,5%

Tabela 29. Apagamento do rótico a depender do número de sílabas.

Quanto à vogal antecedente, resultados de trabalhos anteriores, como os de Callou

(1987), Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009), apontam que há maior

probabilidade de aplicação da regra de apagamento quando o contexto fonológico

antecedente é vogal não arredondada, isto é, [i e a]. Nesta dissertação, em verbos, o

percentual de apagamento após o contexto vogal arredondada foi nulo, ou seja, apenas [i e

a] tiveram papel importante no apagamento do rótico. Todavia, em não verbos, os

resultados foram distintos. Houve um índice baixo de apagamento quando a vogal

precedente era [o], mas não quando era []. Além disso, após a vogal não arredondada [i] o

percentual de apagamento foi nulo. Apesar de esse último resultado não ir ao encontro de

trabalhos aqui revisados, pode-se ressaltar a importância de separar verbos de não verbos,

ou seja, essa oposição não deve ser descartada.

No que diz respeito ao contexto subsequente, foram verificados três contextos

seguintes ao rótico: vogal, pausa e consoante. Em Callou (1987), quando o contexto

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

104

subsequente é a pausa, há um alto índice de cancelamento, embora, nos outros dois

contextos, vogal e consoante, a regra se aplique também, visto que obtiveram a

probabilidade um pouco maior que .50. Todavia, trabalhos mais recentes como os de Melo

(2009) e Callou & Serra (2012) apontam a pausa como desfavorecedora do processo em

questão. Naquele estudo, a pausa acaba por ser um dos contextos em que não favorece a

supressão do rótico – em seus resultados o peso relativo é de 0.327. Neste estudo, nos

dados gravados em 1970, a pausa é desfavorecedora para o processo, e, na década de 1990,

pelo menos nos verbos, esse contexto não inibe mais o processo, ou seja, o índice é

elevado em qualquer contexto. Observa-se, então, mais uma vez, a relevância da oposição

da classe gramatical do vocábulo.

Nesta dissertação, a pausa teve um papel relevante para o apagamento do rótico em

verbos, dialogando, assim, com os resultados de Callou (1987). Além disso, a vogal parece

ter inibido o processo, já que é comum haver uma ressilabação, dessa forma, o segmento

que passa a ocupar o contexto intervocálico se concretiza como tepe. Callou e Serra (2012)

optam em não considerar as ocorrências em que o rótico se encontre seguido de vogal,

dado à ressilabação, dessa forma, não há como comparar os resultados. Em Callou (1987),

o contexto subsequente que mais inibe o processo não foi vogal, e, sim, consoante, 67% e

54%, respectivamente. Todavia, em Brandão, Mota & Cunha (2003), a vogal subsequente

não tem atuação relevante para o apagamento, assim como a pausa e consoante surda, ou

seja, apenas a consoante sonora é favorecedora do processo.

Em não verbos, o resultado foi distinto dos verbos, pois exatamente a vogal obteve

um maior percentual de zero fonético, 8%; todavia, a pausa foi a maior favorecedora com

peso relativo de .70. Melo (2009), a partir dos dados do Discurso Semidirigido, observa de

forma diferente o contexto subsequente, pois a autora elenca todas as possibilidades

consonânticas e vocálicas, além da pausa. Em seus resultados, os contextos imediatos ao

rótico vogal [a] e vogal nasal foram os maiores favorecedores para a aplicação da regra de

apagamento, com peso relativo de .94 e .86, respectivamente. Há um diálogo com os

resultados aqui encontrados, porém a autora não distingue a classe gramatical.

No que respeita ao tipo de consoante subsequente, essa variável contempla todos os

segmentos consonânticos que podem estar à direita do rótico final de palavra, ou seja, as

consoantes iniciais do vocábulo seguinte. Melo (2009) e Brandão, Mota & Cunha (2003)

partiram da hipótese de que as consoantes [+anteriores] – labiais e alveolares – inibem a

aplicação da regra, enquanto as demais favorecem o apagamento por conta de haver a

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

105

possibilidade de assimilação no caso em que a consoante em coda e a consoante em ataque

compartilham o traço [-anterior]. Nos resultados de Melo (2009), foi observada, entretanto,

a preferência pelas vogais quando o /R/ deixou de ser produzido e não quando era seguido

de consoante. Brandão, Mota & Cunha (2003), para verificar o condicionamento de

consoante subsequente, agruparam-nas segundo o modo e ponto de articulação. Seus

resultados revelaram que consoantes nasais e alveolares são as favorecedoras para a

aplicação da regra. Nos resultados aqui encontrados, em verbos, essa variável não foi

selecionada pelo programa. Ao contrário, em não verbos, foi selecionada, e as consoantes

[l n ] foram favorecedoras para a aplicação da regra de apagamento. Como é uma variável

que possui muitas células, sempre haverá casos categóricos. Dessa forma, torna-se difícil a

comparação de resultados.

Por fim, com relação à tonicidade da sílaba, ao separar os dados em verbos e não

verbos, assim como Callou (1987) sugere em sua tese, após as rodadas iniciais, cabe levar

em conta a relevância da sílaba tônica dos não verbos: oxítono e paroxítono, pois os verbos

são sempre oxítonos. Em geral, os casos de rótico final retratam aquilo que se observa no

sistema: a sua baixa produtividade em sílabas átonas. Com isso, esperava-se que, em

sílabas tônicas, o segmento se mostrasse mais sensível à regra de cancelamento. Como

houve apenas um dado de paroxítono no corpus, "cadáve[w]", foi impraticável observar a

atuação dessa variável para, então, confirmar ou refutar a hipótese levantada de que teriam

ocorrido, em maior índice, as vibrantes e as fricativas quando o rótico se encontra em

sílaba átona, assim como nos resultados apresentados por Brustolin (2008).

As autoras Brandão, Mota & Cunha (2003) e Melo (2009) investigam a tonicidade

da sílaba – tônica ou átona – em seus dados. Em ambos os estudos, essa variável mostrou-

se relevante, como era esperado pelas autoras. Assim, em sílabas tônicas, o rótico é mais

sensível ao cancelamento, obviamente porque esse segmento pertence à sílaba tônica de

verbos no infinitivo.

Uma das maiores contribuições desta dissertação foi verificar a distribuição das

variantes do rótico a depender do intérprete, do gênero musical e da década, variáveis

impossíveis de comparação com outros trabalhos, dado que não há estudos anteriores que

levem em conta esses grupos de fatores. Os intérpretes, que deveriam seguir certas normas

de dicção naquela época, se diferenciavam bastante. Observou-se que Noel Rosa e Vicente

Celestino, por exemplo, apresentaram resultados distintos, aquele teve peso relativo para

aplicação da regra de cancelamento de .97 em verbos e .98 em não verbos; este, .15 em

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

106

verbos e .19 em não verbos. Assim, apesar de haver normas no canto, cada um traz suas

particularidades da fala para a música. Quanto aos gêneros musicais, tivemos resultados

interessantes. Foi observado que cada intérprete tem preferência por determinados gêneros

musicais, ou seja, uns gravaram uma quantidade maior de valsas e canções; outros, sambas

e marchinhas. Além disso, o intérprete muda a pronúncia do rótico a depender do gênero

musical em que a música será gravada. Há o exemplo de Vicente Celestino, que sempre

pronunciava o segmento, porém, ao gravar uma toada, todos os dados são de apagamento.

Há muito ainda para se estudar sobre essa variável referente à música popular brasileira,

tendo sido dado apenas um pontapé inicial nesta pesquisa. Com relação à década,

preenchemos uma lacuna temporal de 1902 a 1940 e, assim, verificamos que o percentual

de apagamento é relativamente baixo se comparado com os dos trabalhos aqui revisados a

partir de dados de fala espontânea e mais próximos dos tempos atuais. Observou-se que

tanto em verbos quanto em não verbos o percentual do zero fonético apresentou um

aumento década após década, todavia, ao chegar à última década, sofreu um decréscimo.

Os resultados são expostos novamente na tabela abaixo.

Década Classe Oco./ total Perc.

1902 - 1910 verbos 15/267 5,6%

não verbos 6/273 2,2%

1911 - 1920 verbos 35/335 10,4%

não verbos 4/236 1,7%

1921 - 1930 verbos 197/456 43,2%

não verbos 30/324 9,3%

1931 - 1940 Verbos 127/587 21,6

não verbos 18/380 4,7%

Tabela 30. Apagamento do rótico por década.

Tal decréscimo dos percentuais na última década pode ter ocorrido por haver uma

maior preocupação em relação às normas de canto nesse período, reflexo do congresso que

propunha reforçar o uso da vibrante como pronúncia padronizada. Mesmo que tal evento

tivesse como foco as normas do canto erudito, pode ter influenciado a música popular.

Além do mais, de acordo com Prado (2012, p. 69), "[a] década de 1930 deu novo rumo à

rádio", conhecida como a época de ouro. Antes desse período, as condições para as

transmissões eram precárias. As emissoras, como a Rádio Nacional, começaram a se

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

107

espalhar por outros estados do Brasil; assim, o rádio passou a ter reconhecimento nacional.

Pode ter havido, com isso, uma maior pressão para realização de pronúncias padronizadas.

Por fim, é válido retomar os questionamentos feitos na introdução deste trabalho: 1)

que pronúncia predominava na fala cantada dos intérpretes da música brasileira da época

em análise? Observou-se que o tepe foi a pronúncia predominante, com exceção de Noel

Rosa, que apresentou um elevado percentual de supressão do rótico; 2) é possível

estabelecer relações entre os resultados encontrados em pesquisas recentes sobre o

comportamento do rótico na fala espontânea nas décadas de 1970, 1990 e, mais

atualmente, nos anos 2000, e os resultados encontrados na música do início do século XX?

Foi observada a possibilidade de comparação, como, por exemplo, a atuação da classe

morfológica no processo de apagamento do rótico; 3) quando e como começou a ocorrer a

diferenciação do rótico na fala cantada e, principalmente, o apagamento do segmento? Foi

notado que praticamente todas as variantes ocorriam desde a primeira década analisada; na

terceira década, há um aumento no percentual de fricativas e zero fonético, devido à

entrada de intérpretes mais boêmios, como Noel Rosa, e, assim, gêneros musicais de raízes

mais populares, como o samba, toada e marcha; 4) quais foram os fatores linguísticos e/ou

sociais que condicionaram a variabilidade do rótico na fala cantada daquela época? Foi

visto que variáveis linguísticas, como classe gramatical, contexto adjacente e número de

sílabas, foram favorecedoras para a aplicação da regra de apagamento, e variáveis sociais,

como década, intérprete e gênero musical, também apresentaram papel relevante; 5) o

gênero musical poderia favorecer – ou não – a ocorrência de determinadas pronúncias?

Gêneros musicais de raízes mais populares mostraram-se relevantes para a realização de

fricativas e para o processo de apagamento, e aqueles de raízes mais nobres, como

europeias, parecem inibi-lo; 6) havia um padrão de canto utilizado por todos os intérpretes

ou eles se diferenciavam? Apesar de, na maioria das vezes, os intérpretes realizarem a

vibrante simples, cada um imprime às canções características próprias de sua fala; 7) a

mudança da realização do segmento em coda silábica final ocorreu em um processo

progressivo, como verificamos a sequência que diversos autores propõem: r x h

Ø? A mudança parece pular etapas – de vibrante a zero fonético –, devido ao baixo

percentual de fricativas; e 8) houve uma transição, alcançando uma regularidade pela

eliminação das variantes que eram concorrentes ou a mudança permaneceu estável? Não

houve uma transição, pois a vibrante simples permaneceu com elevado percentual no

decorrer das décadas.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

108

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

"Vem caindo a saudade

Dentro do meu coração

Quando a noite do céu vem descendo

Traz consigo a saudade e a ilusão..."

(Carneirinho por Francisco Alves/ 1934)

Nesta dissertação, foi analisada uma amostra de significativa diversidade da nossa

música da primeira metade do século XX, gravações musicais que contribuíram não apenas

para o patrimônio musical como também para a identidade cultural do nosso país. O

objetivo principal foi contribuir para a análise sociolinguística no que diz respeito ao

comportamento do rótico, em contexto de coda silábica final, entre 1902 e 1960,

recobrindo os primórdios da tradição musical brasileira do século XX até um pouco depois

da era de ouro. Com relação aos objetivos mais específicos deste estudo, acredita-se ter

alcançado o que se pretendia. Além disso, a partir dos resultados apontados e discutidos na

seção anterior, foi possível confirmar algumas das hipóteses levantadas no início do

trabalho.

As conclusões a que chegamos ao término desta dissertação podem ser assim

explicitadas: 1) a pronúncia do rótico final de palavra mais usada pelos intérpretes da

música brasileira da época em análise foi o tepe, que demonstrou ser a norma de uso; 2)

apesar de os intérpretes terem de seguir um padrão de canto estabelecido na época, cada

um apresenta traços linguísticos próprios; 3) os gêneros musicais desempenham um papel

relevante na escolha da pronúncia do rótico pelo intérprete; 4) os grupos de fatores

linguísticos relevantes para a diferenciação do rótico na música são praticamente os

mesmos selecionados em dados de fala espontânea e, dessa forma, é possível estabelecer

relações entre os resultados encontrados em pesquisas recentes sobre o comportamento do

rótico na fala espontânea nas décadas de 1970, 1990 e 2000 e 5) a mudança sonora parece

encaminhar-se para um processo que atua da vibrante ao zero fonético, já que o percentual

de fricativas é muito baixo.

Para além desses resultados, as maiores contribuições desta dissertação foram

preencher uma lacuna temporal entre 1902 e 1960 com estudo sobre o comportamento

variável do rótico em coda silábica final e sistematizar as pronúncias do segmento em

questão na fala cantada de conhecidos intérpretes da música popular brasileira. Fica em

aberto, para uma investigação futura, a pesquisa mais aprofundada sobre as características

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

109

dos gêneros musicais, dado que apresentam grande influência na diferenciação do rótico,

assim como averiguar a temática das canções e questões relacionadas ao ritmo e à

versificação. Também resta ser investigada a variação do segmento em outros contextos

silábicos, visto que se observou, de forma assistemática, uma maior ocorrência de

fricativas em ataque silábico, além de alguns casos de vibrante uvular, e não há

apagamento em coda medial, demonstrando também na música o comportamento distinto

do rótico a depender da sua posição na sílaba e na palavra. Além do mais, seria válido

observar a possível fronteira dialetal para a pronúncia do R na música, pois há intérpretes

da Bahia, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul e a análise das outras consoantes

que ocorrem em coda, como /l/ e /S/, dado que se observou assistematicamente que

raramente há a vocalização da lateral e prevalece a pronúncia chiante ao invés da sibilante,

pelo menos entre os intérpretes cariocas investigados.

Por fim, espera-se que esta dissertação tenha contribuído para o conhecimento

amplo da nossa língua, com um estudo de base variacionista sobre o comportamento do

rótico, mais especificamente, na área da fonética e da fonologia. Além disso, foi um prazer

aplicar a análise sociolinguística a uma amostra tão instigante da música popular brasileira.

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

110

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..............................................................................................................................Xavier, K. S.

114

ANEXOS

Anexo 1: Arquivos de especificações

1. Variável dependente

0 Apagamento

1 fricativa glotal

2 fricativa velar

3 vibrante anterior simples

4 vibrante anterior múltipla

Variáveis independentes

2. Classe morfológica

v verbo infinitivo

V verbo não infinitivo

s substantivo

p pronome

d advérbio

a adjetivo

r Preposição

3. Dimensão do vocábulo

1 uma sílaba

2 duas sílabas

3 três sílabas

4 quatro ou mais sílabas

4. Vogal antecedente

a [a]

e [e]

E []

i [i]

o [o]

O []

u [u]

5. Contexto subsequente

c consoante

v vogal

p pausa

6. Consoante subsequente

b [b]ola

k [k]asa

d [d]ado

f [f]aca

g [g]ato

j []ente

l [l]ateral

m [m]ato

n [n]ariz

p [p]ato

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

115

s [s]apato

x []ícara

t [t]atu

v [v]aca

z [z]ebra

c [d]ia

q [t]ia

/ casos em que não se aplica, ou seja, em contexto subsequente de vogal ou de pausa

7. Intérprete

M Mário Pinheiro

E Eduardo das Neves

V Vicente Celestino

F Francisco Alves

N Noel Rosa

S Orlando Silva

R Mário Reis

C Silvio Caldas

T Patrício Teixeira

8. Gênero musical

s Samba (partido alto, batuque e samba-canção)

l Lundu

n Marcha

a Toada

m Maxixe

o Cançoneta

p Polca

t Tango-brasileiro

v Valsa

d Modinha

r Seresta

b Bolero

c Canção

f Fado

g Barcarola

e Embolada

z Hino

9. Década

a 1902 - 1910

b 1911 - 1920

c 1921 - 1930

d 1931 - 1940

e 1941 - 1950

f 1951 - 1960

VERBOS

1. Variável dependente

0 apagamento

1 fricativa glotal

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

116

2 fricativa velar

3 vibrante anterior simples

4 vibrante anterior múltipla

2. Dimensão do vocábulo

1 uma sílaba

2 duas sílabas

3 três sílabas

4 quatro ou mais sílabas

3. Vogal antecedente

a [a]

e [e]

E []

i [i]

o [o]

O []

u [u]

4. Contexto subsequente

c consoante

v vogal

p pausa

5. Consoante subsequente

b [b]ola

k [k]asa

d [d]ado

f [f]aca

g [g]ato

j []ente

l [l]ateral

m [m]ato

n [n]ariz

p [p]ato

s [s]apato

x []ícara

t [t]atu

v [v]aca

z [z]ebra

c [d]ia

q [t]ia

/ casos em que não se aplica, ou seja, em contexto subsequente de vogal ou de pausa

6. Intérprete

M Mário Pinheiro

E Eduardo das Neves

V Vicente Celestino

F Francisco Alves

N Noel Rosa

S Orlando Silva

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

117

R Mário Reis

C Silvio Caldas

T Patrício Teixeira

7. Gênero musical

s Samba (partido alto, batuque e samba-canção)

l Lundu

n Marcha

a Toada

m Maxixe

o Cançoneta

p Polca

t Tango-brasileiro

v Valsa

d Modinha

r Seresta

b Bolero

c Canção

f Fado

g Barcarola

e Embolada

z Hino

8. Década

a 1902 - 1910

b 1911 - 1920

c 1921 - 1930

d 1931 - 1940

e 1941 - 1950

f 1951 - 1960

NÃO VERBOS

1. Variável dependente

0 apagamento

1 fricativa glotal

2 fricativa velar

3 vibrante anterior simples

4 vibrante anterior múltipla

Variáveis independentes

2. Dimensão do vocábulo

1 uma sílaba

2 duas sílabas

3 três sílabas

4 quatro ou mais sílabas

3. Vogal antecedente

a [a]

e [e]

E []

i [i]

o [o]

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

118

O []

u [u]

4. Contexto subsequente

c consoante

v vogal

p pausa

5. Consoante subsequente

b [b]ola

k [k]asa

d [d]ado

f [f]aca

g [g]ato

j []ente

l [l]ateral

m [m]ato

n [n]ariz

p [p]ato

s [s]apato

x []ícara

t [t]atu

v [v]aca

z [z]ebra

c [d]ia

q [t]ia

/ casos em que não se aplica, ou seja, em contexto subsequente de vogal ou de pausa

6. Tonicidade da sílaba

O oxítono tônico

P paroxítono

7. Intérprete

M Mário Pinheiro

E Eduardo das Neves

V Vicente Celestino

F Francisco Alves

N Noel Rosa

S Orlando Silva

R Mário Reis

C Silvio Caldas

T Patrício Teixeira

8. Gênero musical

s Samba (partido alto, batuque e samba-canção)

l Lundu

n Marcha

a Toada

m Maxixe

o Cançoneta

p Polca

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

119

t Tango-brasileiro

v Valsa

d Modinha

r Seresta

b Bolero

c Canção

f Fado

g Barcarola

e Embolada

z Hino

9. Década

a 1902 - 1910

b 1911 - 1920

c 1921 - 1930

d 1931 - 1940

e 1941 - 1950

f 1951 - 1960

Anexo 2: Rodada geral

Number of cells: 1144

Application value(s): 304125

Total no. of factors: 66

Group 3 0 4 1 2 5 Total %

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

1 (2) 3 0 4 1 2 5

v N 1064 368 158 25 4 0 1619 56.6

% 65.7 22.7 9.8 1.5 0.2 0.0 * KnockOut *

V N 18 6 2 0 0 0 26 0.9

% 69.2 23.1 7.7 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

s N 796 64 231 10 0 1 1102 38.6

% 72.2 5.8 21.0 0.9 0.0 0.1 * KnockOut *

d N 4 0 0 0 0 0 4 0.1

% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

a N 25 4 6 0 0 0 35 1.2

% 71.4 11.4 17.1 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

r N 39 0 24 0 0 0 63 2.2 % 61.9 0.0 38.1 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

p N 7 1 1 0 0 0 9 0.3

% 77.8 11.1 11.1 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

2 (3) 3 0 4 1 2 5

1 N 343 43 108 6 2 0 502 17.6

% 68.3 8.6 21.5 1.2 0.4 0.0 * KnockOut *

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

120

2 N 1274 317 251 25 1 0 1868 65.4

% 68.2 17.0 13.4 1.3 0.1 0.0 * KnockOut *

4 N 28 10 17 2 0 0 57 2.0

% 49.1 17.5 29.8 3.5 0.0 0.0 * KnockOut *

3 N 308 73 46 2 1 1 431 15.1

% 71.5 16.9 10.7 0.5 0.2 0.2

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

3 (4) 3 0 4 1 2 5

e N 401 114 66 6 3 1 591 20.7

% 67.9 19.3 11.2 1.0 0.5 0.2

a N 680 247 130 19 1 0 1077 37.7

% 63.1 22.9 12.1 1.8 0.1 0.0 * KnockOut *

E N 129 40 15 1 0 0 185 6.5

% 69.7 21.6 8.1 0.5 0.0 0.0 * KnockOut *

i N 114 14 12 2 0 0 142 5.0

% 80.3 9.9 8.5 1.4 0.0 0.0 * KnockOut *

o N 605 25 193 7 0 0 830 29.0

% 72.9 3.0 23.3 0.8 0.0 0.0 * KnockOut *

O N 24 3 6 0 0 0 33 1.2

% 72.7 9.1 18.2 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

4 (5) 3 0 4 1 2 5

c N 522 105 149 11 4 0 791 27.7

% 66.0 13.3 18.8 1.4 0.5 0.0 * KnockOut *

v N 361 28 11 0 0 0 400 14.0

% 90.2 7.0 2.8 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

p N 1070 310 262 24 0 1 1667 58.3 % 64.2 18.6 15.7 1.4 0.0 0.1 * KnockOut *

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

5 (6) 3 0 4 1 2 5

n N 77 14 19 0 0 0 110 13.8

% 70.0 12.7 17.3 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

m N 37 17 23 0 1 0 78 9.8

% 47.4 21.8 29.5 0.0 1.3 0.0 * KnockOut *

s N 46 4 14 0 1 0 65 8.2

% 70.8 6.2 21.5 0.0 1.5 0.0 * KnockOut *

d N 89 18 15 6 0 0 128 16.1

% 69.5 14.1 11.7 4.7 0.0 0.0 * KnockOut *

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

121

x N 5 8 0 0 0 0 13 1.6

% 38.5 61.5 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

t N 30 0 14 1 0 0 45 5.7

% 66.7 0.0 31.1 2.2 0.0 0.0 * KnockOut *

k N 71 14 24 2 0 0 111 14.0

% 64.0 12.6 21.6 1.8 0.0 0.0 * KnockOut *

j N 3 0 1 0 0 0 4 0.5

% 75.0 0.0 25.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

c N 48 3 8 1 0 0 60 7.5

% 80.0 5.0 13.3 1.7 0.0 0.0 * KnockOut *

b N 15 8 6 0 0 0 29 3.6

% 51.7 27.6 20.7 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

l N 8 2 4 0 0 0 14 1.8 % 57.1 14.3 28.6 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

p N 31 6 10 0 0 0 47 5.9

% 66.0 12.8 21.3 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

v N 15 10 0 1 2 0 28 3.5

% 53.6 35.7 0.0 3.6 7.1 0.0 * KnockOut *

f N 37 3 7 0 0 0 47 5.9

% 78.7 6.4 14.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

q N 4 0 3 0 0 0 7 0.9

% 57.1 0.0 42.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

g N 4 0 0 0 0 0 4 0.5

% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

z N 3 0 2 0 0 0 5 0.6

% 60.0 0.0 40.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

Total N 523 107 150 11 4 0 795

% 65.8 13.5 18.9 1.4 0.5 0.0

––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6 (7) 3 0 4 1 2 5

E N 243 35 79 9 0 0 366 12.8

% 66.4 9.6 21.6 2.5 0.0 0.0 * KnockOut *

F N 304 109 32 3 1 0 449 15.7

% 67.7 24.3 7.1 0.7 0.2 0.0 * KnockOut *

M N 395 18 71 4 0 0 488 17.1

% 80.9 3.7 14.5 0.8 0.0 0.0 * KnockOut *

R N 112 121 0 16 0 0 249 8.7 % 45.0 48.6 0.0 6.4 0.0 0.0 * KnockOut *

N N 24 78 0 2 3 0 107 3.7

% 22.4 72.9 0.0 1.9 2.8 0.0 * KnockOut *

S N 111 3 42 0 0 0 156 5.5

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

122

% 71.2 1.9 26.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

T N 112 33 12 0 0 1 158 5.5

% 70.9 20.9 7.6 0.0 0.0 0.6 * KnockOut *

C N 177 37 58 0 0 0 272 9.5

% 65.1 13.6 21.3 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

V N 475 9 128 1 0 0 613 21.4 % 77.5 1.5 20.9 0.2 0.0 0.0 * KnockOut *

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

7 (8) 3 0 4 1 2 5

l N 100 19 32 0 0 0 151 5.3

% 66.2 12.6 21.2 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

z N 30 3 17 0 0 0 50 1.7

% 60.0 6.0 34.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

o N 51 0 5 0 0 0 56 2.0

% 91.1 0.0 8.9 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

s N 533 302 34 23 4 1 897 31.4

% 59.4 33.7 3.8 2.6 0.4 0.1

d N 260 3 35 3 0 0 301 10.5

% 86.4 1.0 11.6 1.0 0.0 0.0 * KnockOut *

a N 19 46 9 2 0 0 76 2.7 % 25.0 60.5 11.8 2.6 0.0 0.0 * KnockOut *

m N 57 7 6 0 0 0 70 2.4

% 81.4 10.0 8.6 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

v N 256 0 141 0 0 0 397 13.9

% 64.5 0.0 35.5 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

n N 88 42 7 1 0 0 138 4.8

% 63.8 30.4 5.1 0.7 0.0 0.0 * KnockOut *

c N 232 12 65 5 0 0 314 11.0 % 73.9 3.8 20.7 1.6 0.0 0.0 * KnockOut *

t N 193 1 47 0 0 0 241 8.4

% 80.1 0.4 19.5 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

r N 78 0 21 1 0 0 100 3.5

% 78.0 0.0 21.0 1.0 0.0 0.0 * KnockOut *

f N 13 0 0 0 0 0 13 0.5

% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

p N 14 0 3 0 0 0 17 0.6

% 82.4 0.0 17.6 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

g N 29 0 0 0 0 0 29 1.0

% 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

123

e N 0 8 0 0 0 0 8 0.3

% 0.0 100.0 0.0 0.0 0.0 0.0 * KnockOut *

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

8 (9) 3 0 4 1 2 5

a N 424 21 92 3 0 0 540 18.9

% 78.5 3.9 17.0 0.6 0.0 0.0 * KnockOut *

b N 410 39 106 16 0 0 571 20.0

% 71.8 6.8 18.6 2.8 0.0 0.0 * KnockOut *

c N 486 238 42 14 1 0 781 27.3

% 62.2 30.5 5.4 1.8 0.1 0.0 * KnockOut *

d N 633 145 182 2 3 1 966 33.8

% 65.5 15.0 18.8 0.2 0.3 0.1

Total N 1953 443 422 35 4 1 2858 % 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

–––––––––––––––––––––––––––––––––––

TOTAL N 1953 443 422 35 4 1 2858

% 68.3 15.5 14.8 1.2 0.1 0.0

Anexo 3: Rodadas dos verbos e dos não verbos

Number of cells: 602

Application value(s): 0

Total no. of factors: 45

Non-

Group Apps apps Total %

–––––––––––––––––––

1 (3)

1 N 35 177 212 12.9 % 16.5 83.5

2 N 263 786 1049 63.8

% 25.1 74.9

4 N 7 26 33 2.0

% 21.2 78.8

3 N 69 282 351 21.3

% 19.7 80.3

Total N 374 1271 1645

% 22.7 77.3

–––––––––––––––––––

2 (4)

e N 109 427 536 32.7

% 20.3 79.7

a N 240 667 907 55.4

% 26.5 73.5

E N 11 51 62 3.8 % 17.7 82.3

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

124

i N 14 119 133 8.1

% 10.5 89.5

Total N 374 1264 1638

% 22.8 77.2

–––––––––––––––––––

3 (5)

c N 87 344 431 26.2

% 20.2 79.8

v N 18 256 274 16.7

% 6.6 93.4

p N 269 671 940 57.1

% 28.6 71.4

Total N 374 1271 1645

% 22.7 77.3

–––––––––––––––––––

4 (6) n N 11 57 68 16.8

% 16.2 83.8

m N 15 33 48 11.9

% 31.2 68.8

s N 4 33 37 9.2

% 10.8 89.2

d N 15 50 65 16.1

% 23.1 76.9

x N 2 4 6 1.5

% 33.3 66.7

h N 12 48 60 14.9

% 20.0 80.0

c N 3 19 22 5.4

% 13.6 86.4

b N 8 18 26 6.4

% 30.8 69.2

l N 1 6 7 1.7

% 14.3 85.7

p N 6 20 26 6.4

% 23.1 76.9

v N 10 12 22 5.4

% 45.5 54.5

f N 2 15 17 4.2 % 11.8 88.2

Total N 89 315 404

% 22.0 78.0

–––––––––––––––––––

5 (7)

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

125

E N 27 200 227 13.8

% 11.9 88.1

F N 89 197 286 17.4

% 31.1 68.9

M N 16 222 238 14.5

% 6.7 93.3

R N 101 57 158 9.6

% 63.9 36.1

N N 71 22 93 5.7

% 76.3 23.7

S N 2 78 80 4.9

% 2.5 97.5

T N 26 56 82 5.0

% 31.7 68.3

C N 35 145 180 10.9

% 19.4 80.6

V N 7 294 301 18.3

% 2.3 97.7

Total N 374 1271 1645

% 22.7 77.3

–––––––––––––––––––

6 (8) l N 14 73 87 6.5

% 16.1 83.9

z N 2 18 20 1.5

% 10.0 90.0

s N 265 367 632 47.6

% 41.9 58.1

d N 1 168 169 12.7

% 0.6 99.4

a N 37 18 55 4.1

% 67.3 32.7

m N 7 41 48 3.6

% 14.6 85.4

n N 31 38 69 5.2

% 44.9 55.1

c N 8 115 123 9.3

% 6.5 93.5

t N 1 125 126 9.5

% 0.8 99.2

Total N 366 963 1329

% 27.5 72.5

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

126

–––––––––––––––––––

7 (9)

a N 15 252 267 16.2

% 5.6 94.4

b N 35 300 335 20.4

% 10.4 89.6

c N 197 259 456 27.7 % 43.2 56.8

d N 127 460 587 35.7

% 21.6 78.4

Total N 374 1271 1645

% 22.7 77.3

–––––––––––––––––––

TOTAL N 374 1271 1645

% 22.7 77.3

• BINOMIAL VARBRUL • 22/08/2015 13:34:48 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of cell file: .cel

Averaging by weighting factors.

Threshold, step-up/down: 0.050001

Stepping up...

––––– Level # 0 –––––

Run # 1, 1 cells: Convergence at Iteration 2

Input 0.227

Log likelihood = -881.821

––––– Level # 1 –––––

Run # 2, 4 cells:

Convergence at Iteration 4

Input 0.226

Group # 1 – 1: 0.405, 2: 0.535, 4: 0.480, 3: 0.457

Log likelihood = -876.710 Significance = 0.017

Run # 3, 5 cells: Convergence at Iteration 5

Input 0.224

Group # 2 – e: 0.470, a: 0.555, E: 0.428, i: 0.290

Log likelihood = -870.319 Significance = 0.000

Run # 4, 3 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.210

Group # 3 – c: 0.487, v: 0.209, p: 0.601

Log likelihood = -845.948 Significance = 0.000

Run # 5, 13 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.209

Group # 4 – n: 0.422, m: 0.632, s: 0.314, d: 0.531, x: 0.654, h: 0.486, c: 0.374, b: 0.627, l: 0.387, p: 0.531, v:

0.759, f: 0.335

Log likelihood = -873.322 Significance = 0.637

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

127

Run # 6, 9 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.151

Group # 5 – E: 0.432, F: 0.718, M: 0.289, R: 0.909, N: 0.948, S: 0.126, T: 0.724, C: 0.576, V: 0.119

Log likelihood = -655.467 Significance = 0.000

Run # 7, 10 cells:

Convergence at Iteration 7 Input 0.155

Group # 6 – l: 0.511, z: 0.377, s: 0.797, d: 0.031, a: 0.918, m: 0.482, n: 0.816, c: 0.275, t: 0.042

Log likelihood = -709.721 Significance = 0.000

Run # 8, 4 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.193

Group # 7 – a: 0.200, b: 0.328, c: 0.761, d: 0.536

Log likelihood = -788.331 Significance = 0.000

Add Group # 5 with factors EFMRNSTCV

––––– Level # 2 –––––

Run # 9, 33 cells:

Convergence at Iteration 7

Input 0.146

Group # 1 – 1: 0.255, 2: 0.560, 4: 0.406, 3: 0.491

Group # 5 – E: 0.433, F: 0.709, M: 0.275, R: 0.922, N: 0.959, S: 0.126, T: 0.720, C: 0.568, V: 0.114

Log likelihood = -638.693 Significance = 0.000

Run # 10, 41 cells:

Convergence at Iteration 7 Input 0.147

Group # 2 – e: 0.457, a: 0.568, E: 0.260, i: 0.335

Group # 5 – E: 0.431, F: 0.714, M: 0.289, R: 0.922, N: 0.944, S: 0.135, T: 0.709, C: 0.567, V: 0.116

Log likelihood = -643.736 Significance = 0.000

Run # 11, 27 cells:

Convergence at Iteration 7

Input 0.134

Group # 3 – c: 0.483, v: 0.165, p: 0.623

Group # 5 – E: 0.450, F: 0.721, M: 0.288, R: 0.903, N: 0.963, S: 0.131, T: 0.711, C: 0.562, V: 0.108

Log likelihood = -618.503 Significance = 0.000

Run # 12, 95 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.130

Group # 4 – n: 0.381, m: 0.713, s: 0.188, d: 0.639, x: 0.672, h: 0.510, c: 0.304, b: 0.852, l: 0.298, p: 0.436, v:

0.516, f: 0.282

Group # 5 – E: 0.434, F: 0.723, M: 0.289, R: 0.920, N: 0.955, S: 0.096, T: 0.724, C: 0.555, V: 0.117

Log likelihood = -639.642 Significance = 0.130

Run # 13, 41 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.116 Group # 5 – E: 0.354, F: 0.675, M: 0.347, R: 0.895, N: 0.936, S: 0.140, T: 0.430, C: 0.550, V: 0.221

Group # 6 – l: 0.726, z: 0.605, s: 0.636, d: 0.077, a: 0.964, m: 0.443, n: 0.802, c: 0.385, t: 0.135

Log likelihood = -575.506 Significance = 0.000

Run # 14, 18 cells:

No Convergence at Iteration 20

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

128

Input 0.140

Group # 5 – E: 0.600, F: 0.634, M: 0.530, R: 0.786, N: 0.959, S: 0.156, T: 0.620, C: 0.532, V: 0.088

Group # 7 – a: 0.228, b: 0.418, c: 0.760, d: 0.462

Log likelihood = -626.924 Significance = 0.000

Add Group # 6 with factors lzsdamnct

––––– Level # 3 –––––

Run # 15, 114 cells: No Convergence at Iteration 20

Input 0.113

Group # 1 – 1: 0.243, 2: 0.558, 4: 0.362, 3: 0.510

Group # 5 – E: 0.358, F: 0.671, M: 0.310, R: 0.913, N: 0.951, S: 0.153, T: 0.425, C: 0.551, V: 0.208

Group # 6 – l: 0.749, z: 0.605, s: 0.628, d: 0.079, a: 0.967, m: 0.460, n: 0.786, c: 0.399, t: 0.132

Log likelihood = -557.818 Significance = 0.000

Run # 16, 123 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.113

Group # 2 – e: 0.454, a: 0.561, E: 0.254, i: 0.394 Group # 5 – E: 0.359, F: 0.672, M: 0.338, R: 0.910, N: 0.931, S: 0.150, T: 0.423, C: 0.543, V: 0.216

Group # 6 – l: 0.732, z: 0.568, s: 0.639, d: 0.080, a: 0.963, m: 0.456, n: 0.782, c: 0.360, t: 0.141

Log likelihood = -567.488 Significance = 0.001

Run # 17, 104 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.103

Group # 3 – c: 0.458, v: 0.157, p: 0.638

Group # 5 – E: 0.358, F: 0.686, M: 0.308, R: 0.888, N: 0.957, S: 0.156, T: 0.419, C: 0.535, V: 0.222

Group # 6 – l: 0.783, z: 0.649, s: 0.628, d: 0.078, a: 0.965, m: 0.402, n: 0.820, c: 0.399, t: 0.117

Log likelihood = -536.303 Significance = 0.000

Run # 18, 184 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.088

Group # 4 – n: 0.416, m: 0.623, s: 0.166, d: 0.689, x: 0.650, h: 0.498, c: 0.341, b: 0.871, l: 0.324, p: 0.450, v:

0.529, f: 0.199

Group # 5 – E: 0.348, F: 0.690, M: 0.331, R: 0.911, N: 0.947, S: 0.112, T: 0.447, C: 0.526, V: 0.215

Group # 6 – l: 0.754, z: 0.607, s: 0.631, d: 0.077, a: 0.967, m: 0.438, n: 0.805, c: 0.357, t: 0.142

Log likelihood = -558.841 Significance = 0.099

Run # 19, 63 cells:

No Convergence at Iteration 20 Input 0.103

Group # 5 – E: 0.506, F: 0.577, M: 0.640, R: 0.749, N: 0.942, S: 0.151, T: 0.368, C: 0.465, V: 0.181

Group # 6 – l: 0.852, z: 0.690, s: 0.647, d: 0.060, a: 0.931, m: 0.411, n: 0.826, c: 0.389, t: 0.109

Group # 7 – a: 0.185, b: 0.414, c: 0.765, d: 0.489

Log likelihood = -553.284 Significance = 0.000

Add Group # 3 with factors cvp

––––– Level # 4 –––––

Run # 20, 239 cells:

No Convergence at Iteration 20 Input 0.100

Group # 1 – 1: 0.270, 2: 0.550, 4: 0.307, 3: 0.521

Group # 3 – c: 0.478, v: 0.158, p: 0.629

Group # 5 – E: 0.355, F: 0.680, M: 0.281, R: 0.907, N: 0.965, S: 0.172, T: 0.421, C: 0.546, V: 0.206

Group # 6 – l: 0.796, z: 0.673, s: 0.620, d: 0.079, a: 0.967, m: 0.421, n: 0.808, c: 0.410, t: 0.119

Log likelihood = -523.912 Significance = 0.000

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

129

Run # 21, 244 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.101

Group # 2 – e: 0.467, a: 0.549, E: 0.235, i: 0.438

Group # 3 – c: 0.472, v: 0.155, p: 0.633

Group # 5 – E: 0.359, F: 0.683, M: 0.306, R: 0.904, N: 0.954, S: 0.162, T: 0.414, C: 0.525, V: 0.217

Group # 6 – l: 0.781, z: 0.623, s: 0.633, d: 0.078, a: 0.964, m: 0.412, n: 0.806, c: 0.374, t: 0.123

Log likelihood = -529.812 Significance = 0.007

Run # 22, 230 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.165

Group # 3 – c: 0.314, v: 0.176, p: 0.692

Group # 4 – n: 0.398, m: 0.613, s: 0.172, d: 0.710, x: 0.626, h: 0.491, c: 0.321, b: 0.884, l: 0.301, p: 0.466, v:

0.546, f: 0.184

Group # 5 – E: 0.355, F: 0.701, M: 0.295, R: 0.910, N: 0.967, S: 0.115, T: 0.441, C: 0.510, V: 0.207

Group # 6 – l: 0.807, z: 0.647, s: 0.616, d: 0.083, a: 0.968, m: 0.394, n: 0.828, c: 0.371, t: 0.128

Log likelihood = -516.423 Significance = 0.039

Run # 23, 156 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.087

Group # 3 – c: 0.436, v: 0.144, p: 0.654

Group # 5 – E: 0.523, F: 0.600, M: 0.578, R: 0.706, N: 0.968, S: 0.187, T: 0.355, C: 0.463, V: 0.171

Group # 6 – l: 0.874, z: 0.719, s: 0.652, d: 0.058, a: 0.936, m: 0.332, n: 0.850, c: 0.396, t: 0.088

Group # 7 – a: 0.216, b: 0.394, c: 0.788, d: 0.453

Log likelihood = -509.318 Significance = 0.000

Add Group # 7 with factors abcd

––––– Level # 5 –––––

Run # 24, 319 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.083

Group # 1 – 1: 0.272, 2: 0.552, 4: 0.301, 3: 0.512

Group # 3 – c: 0.454, v: 0.143, p: 0.647

Group # 5 – E: 0.530, F: 0.588, M: 0.562, R: 0.747, N: 0.973, S: 0.200, T: 0.356, C: 0.466, V: 0.156

Group # 6 – l: 0.883, z: 0.747, s: 0.645, d: 0.059, a: 0.940, m: 0.338, n: 0.840, c: 0.405, t: 0.089

Group # 7 – a: 0.207, b: 0.384, c: 0.791, d: 0.462

Log likelihood = -497.738 Significance = 0.000

Run # 25, 328 cells: No Convergence at Iteration 20

Input 0.084

Group # 2 – e: 0.469, a: 0.539, E: 0.205, i: 0.514

Group # 3 – c: 0.448, v: 0.138, p: 0.653

Group # 5 – E: 0.522, F: 0.599, M: 0.576, R: 0.740, N: 0.966, S: 0.193, T: 0.358, C: 0.452, V: 0.165

Group # 6 – l: 0.876, z: 0.705, s: 0.659, d: 0.056, a: 0.934, m: 0.333, n: 0.844, c: 0.366, t: 0.091

Group # 7 – a: 0.216, b: 0.398, c: 0.791, d: 0.447

Log likelihood = -501.873 Significance = 0.004

Run # 26, 298 cells:

No Convergence at Iteration 20 Input 0.156

Group # 3 – c: 0.282, v: 0.169, p: 0.710

Group # 4 – n: 0.444, m: 0.610, s: 0.185, d: 0.665, x: 0.704, h: 0.510, c: 0.366, b: 0.826, l: 0.285, p: 0.510, v:

0.484, f: 0.185

Group # 5 – E: 0.518, F: 0.614, M: 0.567, R: 0.765, N: 0.971, S: 0.152, T: 0.375, C: 0.433, V: 0.160

Group # 6 – l: 0.883, z: 0.715, s: 0.640, d: 0.063, a: 0.942, m: 0.333, n: 0.851, c: 0.380, t: 0.098

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

130

Group # 7 – a: 0.215, b: 0.395, c: 0.772, d: 0.470

Log likelihood = -494.832 Significance = 0.183

Add Group # 1 with factors 1243

––––– Level # 6 –––––

Run # 27, 504 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.083 Group # 1 – 1: 0.327, 2: 0.544, 4: 0.283, 3: 0.500

Group # 2 – e: 0.480, a: 0.528, E: 0.300, i: 0.489

Group # 3 – c: 0.456, v: 0.141, p: 0.648

Group # 5 – E: 0.528, F: 0.589, M: 0.561, R: 0.760, N: 0.970, S: 0.202, T: 0.358, C: 0.467, V: 0.154

Group # 6 – l: 0.881, z: 0.730, s: 0.650, d: 0.059, a: 0.938, m: 0.332, n: 0.836, c: 0.392, t: 0.091

Group # 7 – a: 0.210, b: 0.388, c: 0.791, d: 0.457

Log likelihood = -495.432 Significance = 0.203

Run # 28, 446 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.147 Group # 1 – 1: 0.278, 2: 0.547, 4: 0.311, 3: 0.521

Group # 3 – c: 0.297, v: 0.166, p: 0.703

Group # 4 – n: 0.422, m: 0.630, s: 0.232, d: 0.639, x: 0.703, h: 0.504, c: 0.305, b: 0.805, l: 0.251, p: 0.585, v:

0.536, f: 0.174

Group # 5 – E: 0.530, F: 0.603, M: 0.554, R: 0.793, N: 0.976, S: 0.170, T: 0.374, C: 0.441, V: 0.141

Group # 6 – l: 0.894, z: 0.735, s: 0.631, d: 0.064, a: 0.944, m: 0.345, n: 0.840, c: 0.396, t: 0.099

Group # 7 – a: 0.208, b: 0.384, c: 0.776, d: 0.478

Log likelihood = -485.087 Significance = 0.285

No remaining groups significant

Groups selected while stepping up: 5 6 3 7 1

Best stepping up run: #24

––––––––––––––––––––––-

Stepping down...

––––– Level # 7 –––––

Run # 29, 602 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.146

Group # 1 – 1: 0.327, 2: 0.539, 4: 0.295, 3: 0.512

Group # 2 – e: 0.480, a: 0.526, E: 0.321, i: 0.491

Group # 3 – c: 0.299, v: 0.163, p: 0.704 Group # 4 – n: 0.418, m: 0.630, s: 0.248, d: 0.643, x: 0.709, h: 0.498, c: 0.326, b: 0.801, l: 0.244, p: 0.575, v:

0.515, f: 0.173

Group # 5 – E: 0.526, F: 0.604, M: 0.555, R: 0.801, N: 0.974, S: 0.176, T: 0.376, C: 0.441, V: 0.140

Group # 6 – l: 0.892, z: 0.723, s: 0.636, d: 0.063, a: 0.942, m: 0.337, n: 0.837, c: 0.384, t: 0.101

Group # 7 – a: 0.209, b: 0.389, c: 0.777, d: 0.473

Log likelihood = -483.367

––––– Level # 6 –––––

Run # 30, 458 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.152 Group # 2 – e: 0.467, a: 0.538, E: 0.225, i: 0.515

Group # 3 – c: 0.289, v: 0.162, p: 0.709

Group # 4 – n: 0.426, m: 0.615, s: 0.234, d: 0.664, x: 0.713, h: 0.493, c: 0.376, b: 0.821, l: 0.259, p: 0.519, v:

0.467, f: 0.175

Group # 5 – E: 0.517, F: 0.613, M: 0.569, R: 0.786, N: 0.971, S: 0.167, T: 0.376, C: 0.422, V: 0.152

Group # 6 – l: 0.885, z: 0.703, s: 0.646, d: 0.061, a: 0.939, m: 0.333, n: 0.847, c: 0.356, t: 0.101

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

131

Group # 7 – a: 0.213, b: 0.398, c: 0.777, d: 0.465

Log likelihood = -488.846 Significance = 0.013

Run # 31, 446 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.147

Group # 1 – 1: 0.278, 2: 0.547, 4: 0.311, 3: 0.521

Group # 3 – c: 0.297, v: 0.166, p: 0.703

Group # 4 – n: 0.422, m: 0.630, s: 0.232, d: 0.639, x: 0.703, h: 0.504, c: 0.305, b: 0.805, l: 0.251, p: 0.585, v: 0.536, f: 0.174

Group # 5 – E: 0.530, F: 0.603, M: 0.554, R: 0.793, N: 0.976, S: 0.170, T: 0.374, C: 0.441, V: 0.141

Group # 6 – l: 0.894, z: 0.735, s: 0.631, d: 0.064, a: 0.944, m: 0.345, n: 0.840, c: 0.396, t: 0.099

Group # 7 – a: 0.208, b: 0.384, c: 0.776, d: 0.478

Log likelihood = -485.087 Significance = 0.335

Run # 32, 514 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.079

Group # 1 – 1: 0.281, 2: 0.554, 4: 0.360, 3: 0.492

Group # 2 – e: 0.481, a: 0.529, E: 0.410, i: 0.425 Group # 4 – n: 0.421, m: 0.629, s: 0.234, d: 0.629, x: 0.717, h: 0.507, c: 0.339, b: 0.792, l: 0.258, p: 0.563, v:

0.536, f: 0.198

Group # 5 – E: 0.508, F: 0.587, M: 0.579, R: 0.825, N: 0.957, S: 0.152, T: 0.380, C: 0.449, V: 0.158

Group # 6 – l: 0.865, z: 0.670, s: 0.637, d: 0.066, a: 0.941, m: 0.410, n: 0.802, c: 0.374, t: 0.121

Group # 7 – a: 0.204, b: 0.405, c: 0.748, d: 0.498

Log likelihood = -525.728 Significance = 0.000

Run # 33, 504 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.083

Group # 1 – 1: 0.327, 2: 0.544, 4: 0.283, 3: 0.500 Group # 2 – e: 0.480, a: 0.528, E: 0.300, i: 0.489

Group # 3 – c: 0.456, v: 0.141, p: 0.648

Group # 5 – E: 0.528, F: 0.589, M: 0.561, R: 0.760, N: 0.970, S: 0.202, T: 0.358, C: 0.467, V: 0.154

Group # 6 – l: 0.881, z: 0.730, s: 0.650, d: 0.059, a: 0.938, m: 0.332, n: 0.836, c: 0.392, t: 0.091

Group # 7 – a: 0.210, b: 0.388, c: 0.791, d: 0.457

Log likelihood = -495.432 Significance = 0.327

Run # 34, 477 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.191

Group # 1 – 1: 0.475, 2: 0.520, 4: 0.238, 3: 0.482

Group # 2 – e: 0.480, a: 0.539, E: 0.266, i: 0.431 Group # 3 – c: 0.291, v: 0.230, p: 0.681

Group # 4 – n: 0.534, m: 0.584, s: 0.276, d: 0.524, x: 0.654, h: 0.479, c: 0.474, b: 0.605, l: 0.380, p: 0.581, v:

0.590, f: 0.269

Group # 6 – l: 0.823, z: 0.657, s: 0.776, d: 0.033, a: 0.910, m: 0.389, n: 0.814, c: 0.255, t: 0.029

Group # 7 – a: 0.265, b: 0.370, c: 0.747, d: 0.482

Log likelihood = -573.766 Significance = 0.000

Run # 35, 442 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.205

Group # 1 – 1: 0.338, 2: 0.545, 4: 0.312, 3: 0.484 Group # 2 – e: 0.472, a: 0.542, E: 0.321, i: 0.411

Group # 3 – c: 0.325, v: 0.185, p: 0.683

Group # 4 – n: 0.379, m: 0.729, s: 0.259, d: 0.589, x: 0.779, h: 0.509, c: 0.351, b: 0.755, l: 0.216, p: 0.535, v:

0.501, f: 0.249

Group # 5 – E: 0.597, F: 0.641, M: 0.489, R: 0.837, N: 0.978, S: 0.162, T: 0.617, C: 0.516, V: 0.071

Group # 7 – a: 0.272, b: 0.408, c: 0.756, d: 0.446

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

132

Log likelihood = -559.133 Significance = 0.000

Run # 36, 525 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.166

Group # 1 – 1: 0.310, 2: 0.540, 4: 0.304, 3: 0.522

Group # 2 – e: 0.480, a: 0.532, E: 0.378, i: 0.420

Group # 3 – c: 0.321, v: 0.179, p: 0.687

Group # 4 – n: 0.372, m: 0.627, s: 0.230, d: 0.689, x: 0.629, h: 0.482, c: 0.296, b: 0.867, l: 0.256, p: 0.515, v: 0.591, f: 0.167

Group # 5 – E: 0.355, F: 0.695, M: 0.274, R: 0.927, N: 0.970, S: 0.140, T: 0.443, C: 0.523, V: 0.185

Group # 6 – l: 0.821, z: 0.648, s: 0.608, d: 0.086, a: 0.968, m: 0.411, n: 0.808, c: 0.382, t: 0.135

Log likelihood = -504.397 Significance = 0.000

Cut Group # 2 with factors eaEi

––––– Level # 5 –––––

Run # 37, 298 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.156 Group # 3 – c: 0.282, v: 0.169, p: 0.710

Group # 4 – n: 0.444, m: 0.610, s: 0.185, d: 0.665, x: 0.704, h: 0.510, c: 0.366, b: 0.826, l: 0.285, p: 0.510, v:

0.484, f: 0.185

Group # 5 – E: 0.518, F: 0.614, M: 0.567, R: 0.765, N: 0.971, S: 0.152, T: 0.375, C: 0.433, V: 0.160

Group # 6 – l: 0.883, z: 0.715, s: 0.640, d: 0.063, a: 0.942, m: 0.333, n: 0.851, c: 0.380, t: 0.098

Group # 7 – a: 0.215, b: 0.395, c: 0.772, d: 0.470

Log likelihood = -494.832 Significance = 0.000

Run # 38, 363 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.078 Group # 1 – 1: 0.258, 2: 0.558, 4: 0.372, 3: 0.497

Group # 4 – n: 0.426, m: 0.632, s: 0.227, d: 0.625, x: 0.716, h: 0.511, c: 0.312, b: 0.797, l: 0.266, p: 0.569, v:

0.540, f: 0.200

Group # 5 – E: 0.517, F: 0.585, M: 0.588, R: 0.814, N: 0.959, S: 0.144, T: 0.376, C: 0.443, V: 0.160

Group # 6 – l: 0.865, z: 0.683, s: 0.637, d: 0.063, a: 0.943, m: 0.418, n: 0.810, c: 0.385, t: 0.115

Group # 7 – a: 0.200, b: 0.396, c: 0.753, d: 0.501

Log likelihood = -526.826 Significance = 0.000

Run # 39, 319 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.083

Group # 1 – 1: 0.272, 2: 0.552, 4: 0.301, 3: 0.512 Group # 3 – c: 0.454, v: 0.143, p: 0.647

Group # 5 – E: 0.530, F: 0.588, M: 0.562, R: 0.747, N: 0.973, S: 0.200, T: 0.356, C: 0.466, V: 0.156

Group # 6 – l: 0.883, z: 0.747, s: 0.645, d: 0.059, a: 0.940, m: 0.338, n: 0.840, c: 0.405, t: 0.089

Group # 7 – a: 0.207, b: 0.384, c: 0.791, d: 0.462

Log likelihood = -497.738 Significance = 0.285

Run # 40, 327 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.192

Group # 1 – 1: 0.407, 2: 0.529, 4: 0.257, 3: 0.496

Group # 3 – c: 0.295, v: 0.237, p: 0.677 Group # 4 – n: 0.541, m: 0.580, s: 0.245, d: 0.522, x: 0.663, h: 0.490, c: 0.444, b: 0.604, l: 0.398, p: 0.594, v:

0.613, f: 0.286

Group # 6 – l: 0.830, z: 0.679, s: 0.771, d: 0.034, a: 0.915, m: 0.402, n: 0.819, c: 0.262, t: 0.029

Group # 7 – a: 0.265, b: 0.365, c: 0.740, d: 0.492

Log likelihood = -578.429 Significance = 0.000

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

133

Run # 41, 300 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.206

Group # 1 – 1: 0.286, 2: 0.553, 4: 0.341, 3: 0.494

Group # 3 – c: 0.320, v: 0.186, p: 0.685

Group # 4 – n: 0.391, m: 0.722, s: 0.242, d: 0.581, x: 0.781, h: 0.519, c: 0.312, b: 0.765, l: 0.226, p: 0.553, v:

0.516, f: 0.253

Group # 5 – E: 0.612, F: 0.639, M: 0.498, R: 0.821, N: 0.980, S: 0.152, T: 0.616, C: 0.509, V: 0.071

Group # 7 – a: 0.263, b: 0.394, c: 0.762, d: 0.453 Log likelihood = -562.504 Significance = 0.000

Run # 42, 371 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.166

Group # 1 – 1: 0.276, 2: 0.545, 4: 0.319, 3: 0.528

Group # 3 – c: 0.320, v: 0.177, p: 0.688

Group # 4 – n: 0.377, m: 0.632, s: 0.221, d: 0.687, x: 0.625, h: 0.485, c: 0.270, b: 0.871, l: 0.263, p: 0.519, v:

0.603, f: 0.168

Group # 5 – E: 0.356, F: 0.696, M: 0.272, R: 0.923, N: 0.972, S: 0.134, T: 0.444, C: 0.523, V: 0.188

Group # 6 – l: 0.825, z: 0.661, s: 0.606, d: 0.084, a: 0.969, m: 0.419, n: 0.816, c: 0.393, t: 0.130 Log likelihood = -505.979 Significance = 0.000

Cut Group # 4 with factors nmsdxhcblpvf

––––– Level # 4 –––––

Run # 43, 156 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.087

Group # 3 – c: 0.436, v: 0.144, p: 0.654

Group # 5 – E: 0.523, F: 0.600, M: 0.578, R: 0.706, N: 0.968, S: 0.187, T: 0.355, C: 0.463, V: 0.171

Group # 6 – l: 0.874, z: 0.719, s: 0.652, d: 0.058, a: 0.936, m: 0.332, n: 0.850, c: 0.396, t: 0.088 Group # 7 – a: 0.216, b: 0.394, c: 0.788, d: 0.453

Log likelihood = -509.318 Significance = 0.000

Run # 44, 163 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.099

Group # 1 – 1: 0.245, 2: 0.562, 4: 0.375, 3: 0.496

Group # 5 – E: 0.524, F: 0.570, M: 0.606, R: 0.786, N: 0.954, S: 0.160, T: 0.359, C: 0.460, V: 0.167

Group # 6 – l: 0.856, z: 0.694, s: 0.642, d: 0.062, a: 0.938, m: 0.416, n: 0.812, c: 0.399, t: 0.108

Group # 7 – a: 0.191, b: 0.394, c: 0.765, d: 0.496

Log likelihood = -536.847 Significance = 0.000

Run # 45, 200 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.114

Group # 1 – 1: 0.397, 2: 0.532, 4: 0.257, 3: 0.493

Group # 3 – c: 0.434, v: 0.206, p: 0.626

Group # 6 – l: 0.830, z: 0.683, s: 0.772, d: 0.034, a: 0.911, m: 0.400, n: 0.815, c: 0.263, t: 0.029

Group # 7 – a: 0.261, b: 0.365, c: 0.740, d: 0.494

Log likelihood = -585.696 Significance = 0.000

Run # 46, 148 cells:

No Convergence at Iteration 20 Input 0.116

Group # 1 – 1: 0.282, 2: 0.556, 4: 0.328, 3: 0.489

Group # 3 – c: 0.484, v: 0.158, p: 0.626

Group # 5 – E: 0.614, F: 0.636, M: 0.487, R: 0.795, N: 0.979, S: 0.182, T: 0.620, C: 0.537, V: 0.072

Group # 7 – a: 0.266, b: 0.391, c: 0.773, d: 0.441

Log likelihood = -576.163 Significance = 0.000

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

134

Run # 47, 239 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.100

Group # 1 – 1: 0.270, 2: 0.550, 4: 0.307, 3: 0.521

Group # 3 – c: 0.478, v: 0.158, p: 0.629

Group # 5 – E: 0.355, F: 0.680, M: 0.281, R: 0.907, N: 0.965, S: 0.172, T: 0.421, C: 0.546, V: 0.206

Group # 6 – l: 0.796, z: 0.673, s: 0.620, d: 0.079, a: 0.967, m: 0.421, n: 0.808, c: 0.410, t: 0.119

Log likelihood = -523.912 Significance = 0.000

All remaining groups significant

Groups eliminated while stepping down: 2 4

Best stepping up run: #24

Best stepping down run: #39

Number of cells: 505

Application value(s): 0

Knockouts Total no. of factors: 61

Non-

Group Apps apps Total %

–––––––––––––––––––

1 (2)

2 N 54 766 820 67.6

% 6.6 93.4

4 N 3 21 24 2.0

% 12.5 87.5

1 N 8 280 288 23.7 % 2.8 97.2

3 N 4 77 81 6.7

% 4.9 95.1

Total N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

–––––––––––––––––––

2 (3)

o N 25 795 820 67.6

% 3.0 97.0

a N 7 166 173 14.3

% 4.0 96.0

O N 3 30 33 2.7

% 9.1 90.9

e N 5 50 55 4.5

% 9.1 90.9

i N 0 9 9 0.7

% 0.0 100.0 * KnockOut *

E N 29 94 123 10.1

% 23.6 76.4

Total N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

135

–––––––––––––––––––

3 (4)

c N 18 341 359 29.6

% 5.0 95.0

p N 41 687 728 60.0

% 5.6 94.4

v N 10 116 126 10.4 % 7.9 92.1

Total N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

–––––––––––––––––––

4 (5)

j N 0 2 2 0.6

% 0.0 100.0 * KnockOut *

k N 2 50 52 14.4

% 3.8 96.2

m N 2 28 30 8.3

% 6.7 93.3

p N 0 20 20 5.5

% 0.0 100.0 * KnockOut *

s N 0 28 28 7.7

% 0.0 100.0 * KnockOut *

d N 3 60 63 17.4 % 4.8 95.2

l N 1 5 6 1.7

% 16.7 83.3

n N 3 40 43 11.9

% 7.0 93.0

q N 0 6 6 1.7

% 0.0 100.0 * KnockOut *

c N 0 38 38 10.5 % 0.0 100.0 * KnockOut *

f N 1 29 30 8.3

% 3.3 96.7

x N 6 1 7 1.9

% 85.7 14.3

v N 0 6 6 1.7

% 0.0 100.0 * KnockOut *

t N 0 21 21 5.8

% 0.0 100.0 * KnockOut *

b N 0 3 3 0.8

% 0.0 100.0 * KnockOut *

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

136

g N 0 2 2 0.6

% 0.0 100.0 * KnockOut *

z N 0 5 5 1.4

% 0.0 100.0 * KnockOut *

Total N 18 344 362

% 5.0 95.0

––––––––––––––––––– 5 (6)

O N 69 1100 1169 96.4

% 5.9 94.1

A N 0 43 43 3.5

% 0.0 100.0 * KnockOut *

P N 0 1 1 0.1

% 0.0 100.0 * KnockOut *

Total N 69 1144 1213 % 5.7 94.3

–––––––––––––––––––

6 (7)

E N 8 130 138 11.4

% 5.8 94.2

F N 20 144 164 13.5

% 12.2 87.8

M N 2 249 251 20.7

% 0.8 99.2

R N 20 70 90 7.4

% 22.2 77.8

N N 7 7 14 1.2

% 50.0 50.0

S N 1 75 76 6.3

% 1.3 98.7

T N 7 69 76 6.3

% 9.2 90.8

C N 2 90 92 7.6

% 2.2 97.8

V N 2 310 312 25.7

% 0.6 99.4

Total N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

–––––––––––––––––––

7 (8) l N 5 59 64 5.3

% 7.8 92.2

z N 1 29 30 2.5

% 3.3 96.7

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

137

o N 0 12 12 1.0

% 0.0 100.0 * KnockOut *

s N 37 226 263 21.7

% 14.1 85.9

d N 2 130 132 10.9

% 1.5 98.5

a N 9 12 21 1.7

% 42.9 57.1

v N 0 204 204 16.8

% 0.0 100.0 * KnockOut *

n N 11 59 70 5.8

% 15.7 84.3

m N 0 22 22 1.8

% 0.0 100.0 * KnockOut *

t N 0 115 115 9.5

% 0.0 100.0 * KnockOut *

c N 4 187 191 15.7

% 2.1 97.9

r N 0 49 49 4.0

% 0.0 100.0 * KnockOut *

f N 0 6 6 0.5 % 0.0 100.0 * KnockOut *

p N 0 9 9 0.7

% 0.0 100.0 * KnockOut *

g N 0 25 25 2.1

% 0.0 100.0 * KnockOut *

Total N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

–––––––––––––––––––

8 (9) a N 6 267 273 22.5

% 2.2 97.8

b N 4 232 236 19.5

% 1.7 98.3

c N 41 283 324 26.7

% 12.7 87.3

d N 18 362 380 31.3

% 4.7 95.3

Total N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

–––––––––––––––––––

TOTAL N 69 1144 1213

% 5.7 94.3

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

138

Name of new cell file: .cel

• BINOMIAL VARBRUL • 22/08/2015 12:19:51 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

Name of cell file: .cel

Averaging by weighting factors.

Threshold, step-up/down: 0.050001

Stepping up...

––––– Level # 0 –––––

Run # 1, 1 cells:

Convergence at Iteration 2

Input 0.057

Log likelihood = -264.805

––––– Level # 1 –––––

Run # 2, 4 cells:

Convergence at Iteration 5 Input 0.054

Group # 1 – 2: 0.555, 4: 0.716, 1: 0.336, 3: 0.479

Log likelihood = -260.610 Significance = 0.041

Run # 3, 6 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.043

Group # 2 – o: 0.411, a: 0.483, O: 0.689, e: 0.689, E: 0.872

Log likelihood = -235.696 Significance = 0.000

Run # 4, 3 cells: Convergence at Iteration 4

Input 0.056

Group # 3 – c: 0.469, p: 0.500, v: 0.590

Log likelihood = -264.112 Significance = 0.500

Run # 5, 8 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.058

Group # 4 – k: 0.395, m: 0.538, d: 0.449, l: 0.765, n: 0.550, f: 0.360, x: 0.990

Log likelihood = -249.454 Significance = 0.000

Run # 6, 9 cells: Convergence at Iteration 6

Input 0.025

Group # 5 – E: 0.708, F: 0.846, M: 0.241, R: 0.918, N: 0.975, S: 0.345, T: 0.800, C: 0.467, V: 0.203

Log likelihood = -210.804 Significance = 0.000

Run # 7, 8 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.058

Group # 6 – l: 0.577, z: 0.357, s: 0.725, d: 0.199, a: 0.924, n: 0.750, c: 0.257

Log likelihood = -229.219 Significance = 0.000

Run # 8, 4 cells:

Convergence at Iteration 5

Input 0.043

Group # 7 – a: 0.333, b: 0.277, c: 0.763, d: 0.525

Log likelihood = -244.622 Significance = 0.000

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

139

Add Group # 5 with factors EFMRNSTCV

––––– Level # 2 –––––

Run # 9, 31 cells:

Convergence at Iteration 6

Input 0.024

Group # 1 – 2: 0.519, 4: 0.678, 1: 0.439, 3: 0.472

Group # 5 – E: 0.689, F: 0.844, M: 0.245, R: 0.916, N: 0.974, S: 0.347, T: 0.798, C: 0.467, V: 0.210

Log likelihood = -209.929 Significance = 0.630

Run # 10, 43 cells:

Convergence at Iteration 7

Input 0.021

Group # 2 – o: 0.405, a: 0.618, O: 0.550, e: 0.632, E: 0.831

Group # 5 – E: 0.757, F: 0.775, M: 0.255, R: 0.919, N: 0.951, S: 0.420, T: 0.842, C: 0.405, V: 0.207

Log likelihood = -194.689 Significance = 0.000

Run # 11, 27 cells:

Convergence at Iteration 7

Input 0.024 Group # 3 – c: 0.431, p: 0.533, v: 0.509

Group # 5 – E: 0.701, F: 0.853, M: 0.236, R: 0.919, N: 0.977, S: 0.341, T: 0.800, C: 0.469, V: 0.204

Log likelihood = -209.913 Significance = 0.422

Run # 12, 51 cells:

Convergence at Iteration 8

Input 0.024

Group # 4 – k: 0.337, m: 0.427, d: 0.521, l: 0.832, n: 0.656, f: 0.255, x: 0.992

Group # 5 – E: 0.714, F: 0.821, M: 0.247, R: 0.932, N: 0.977, S: 0.383, T: 0.824, C: 0.502, V: 0.184

Log likelihood = -196.043 Significance = 0.000

Run # 13, 33 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.029

Group # 5 – E: 0.258, F: 0.856, M: 0.300, R: 0.935, N: 0.979, S: 0.481, T: 0.615, C: 0.581, V: 0.284

Group # 6 – l: 0.888, z: 0.768, s: 0.433, d: 0.427, a: 0.975, n: 0.571, c: 0.307

Log likelihood = -184.947 Significance = 0.000

Run # 14, 18 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.021

Group # 5 – E: 0.888, F: 0.747, M: 0.492, R: 0.794, N: 0.969, S: 0.294, T: 0.656, C: 0.361, V: 0.144

Group # 7 – a: 0.275, b: 0.227, c: 0.777, d: 0.597 Log likelihood = -205.123 Significance = 0.010

Add Group # 6 with factors lzsdanc

––––– Level # 3 –––––

Run # 15, 88 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.028

Group # 1 – 2: 0.509, 4: 0.747, 1: 0.477, 3: 0.415

Group # 5 – E: 0.238, F: 0.852, M: 0.320, R: 0.930, N: 0.978, S: 0.479, T: 0.604, C: 0.578, V: 0.291

Group # 6 – l: 0.869, z: 0.775, s: 0.449, d: 0.424, a: 0.977, n: 0.588, c: 0.294 Log likelihood = -183.417 Significance = 0.393

Run # 16, 101 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.020

Group # 2 – o: 0.405, a: 0.615, O: 0.562, e: 0.686, E: 0.814

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

140

Group # 5 – E: 0.401, F: 0.834, M: 0.226, R: 0.954, N: 0.974, S: 0.596, T: 0.762, C: 0.585, V: 0.232

Group # 6 – l: 0.864, z: 0.642, s: 0.371, d: 0.576, a: 0.966, n: 0.565, c: 0.340

Log likelihood = -172.446 Significance = 0.000

Run # 17, 86 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.029

Group # 3 – c: 0.444, p: 0.532, v: 0.477

Group # 5 – E: 0.256, F: 0.864, M: 0.306, R: 0.933, N: 0.980, S: 0.494, T: 0.595, C: 0.583, V: 0.276 Group # 6 – l: 0.886, z: 0.753, s: 0.431, d: 0.424, a: 0.975, n: 0.551, c: 0.321

Log likelihood = -183.985 Significance = 0.395

Run # 18, 112 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.025

Group # 4 – k: 0.349, m: 0.482, d: 0.485, l: 0.619, n: 0.695, f: 0.241, x: 0.993

Group # 5 – E: 0.256, F: 0.870, M: 0.280, R: 0.941, N: 0.979, S: 0.573, T: 0.637, C: 0.629, V: 0.249

Group # 6 – l: 0.895, z: 0.787, s: 0.444, d: 0.440, a: 0.978, n: 0.387, c: 0.333

Log likelihood = -172.114 Significance = 0.000

Run # 19, 51 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.024

Group # 5 – E: 0.715, F: 0.696, M: 0.673, R: 0.797, N: 0.960, S: 0.307, T: 0.380, C: 0.364, V: 0.186

Group # 6 – l: 0.809, z: 0.667, s: 0.460, d: 0.413, a: 0.968, n: 0.689, c: 0.311

Group # 7 – a: 0.231, b: 0.155, c: 0.799, d: 0.676

Log likelihood = -178.122 Significance = 0.006

Add Group # 2 with factors oaOeE

––––– Level # 4 ––––– Run # 20, 179 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.019

Group # 1 – 2: 0.449, 4: 0.795, 1: 0.594, 3: 0.581

Group # 2 – o: 0.391, a: 0.636, O: 0.640, e: 0.694, E: 0.840

Group # 5 – E: 0.368, F: 0.837, M: 0.250, R: 0.954, N: 0.975, S: 0.594, T: 0.771, C: 0.578, V: 0.222

Group # 6 – l: 0.845, z: 0.632, s: 0.382, d: 0.599, a: 0.971, n: 0.572, c: 0.319

Log likelihood = -170.055 Significance = 0.191

Run # 21, 196 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.020 Group # 2 – o: 0.402, a: 0.601, O: 0.618, e: 0.706, E: 0.825

Group # 3 – c: 0.415, p: 0.552, v: 0.443

Group # 5 – E: 0.410, F: 0.840, M: 0.246, R: 0.952, N: 0.977, S: 0.603, T: 0.750, C: 0.584, V: 0.212

Group # 6 – l: 0.854, z: 0.592, s: 0.366, d: 0.579, a: 0.967, n: 0.561, c: 0.360

Log likelihood = -171.009 Significance = 0.242

Run # 22, 201 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.018

Group # 2 – o: 0.413, a: 0.621, O: 0.547, e: 0.649, E: 0.788

Group # 4 – k: 0.309, m: 0.520, d: 0.513, l: 0.646, n: 0.680, f: 0.265, x: 0.987 Group # 5 – E: 0.370, F: 0.853, M: 0.212, R: 0.958, N: 0.974, S: 0.660, T: 0.766, C: 0.631, V: 0.213

Group # 6 – l: 0.879, z: 0.690, s: 0.389, d: 0.566, a: 0.970, n: 0.398, c: 0.358

Log likelihood = -163.673 Significance = 0.009

Run # 23, 139 cells:

No Convergence at Iteration 20

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

141

Input 0.017

Group # 2 – o: 0.405, a: 0.635, O: 0.531, e: 0.669, E: 0.807

Group # 5 – E: 0.815, F: 0.677, M: 0.585, R: 0.857, N: 0.949, S: 0.414, T: 0.542, C: 0.369, V: 0.146

Group # 6 – l: 0.770, z: 0.496, s: 0.400, d: 0.567, a: 0.961, n: 0.660, c: 0.348

Group # 7 – a: 0.254, b: 0.148, c: 0.789, d: 0.677

Log likelihood = -166.628 Significance = 0.009

Add Group # 4 with factors kmdlnfx

––––– Level # 5 –––––

Run # 24, 288 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.018

Group # 1 – 2: 0.442, 4: 0.787, 1: 0.611, 3: 0.586

Group # 2 – o: 0.398, a: 0.642, O: 0.632, e: 0.660, E: 0.818

Group # 4 – k: 0.290, m: 0.509, d: 0.512, l: 0.558, n: 0.695, f: 0.295, x: 0.989

Group # 5 – E: 0.348, F: 0.854, M: 0.235, R: 0.957, N: 0.975, S: 0.654, T: 0.773, C: 0.614, V: 0.205

Group # 6 – l: 0.858, z: 0.661, s: 0.407, d: 0.586, a: 0.974, n: 0.409, c: 0.333

Log likelihood = -161.170 Significance = 0.177

Run # 25, 279 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.110

Group # 2 – o: 0.407, a: 0.593, O: 0.713, e: 0.700, E: 0.797

Group # 3 – c: 0.125, p: 0.706, v: 0.618

Group # 4 – k: 0.303, m: 0.448, d: 0.559, l: 0.686, n: 0.672, f: 0.266, x: 0.986

Group # 5 – E: 0.357, F: 0.844, M: 0.235, R: 0.961, N: 0.986, S: 0.658, T: 0.767, C: 0.659, V: 0.192

Group # 6 – l: 0.870, z: 0.656, s: 0.363, d: 0.555, a: 0.967, n: 0.409, c: 0.413

Log likelihood = -155.681 Significance = 0.000

Run # 26, 243 cells: No Convergence at Iteration 20

Input 0.015

Group # 2 – o: 0.411, a: 0.639, O: 0.529, e: 0.638, E: 0.787

Group # 4 – k: 0.305, m: 0.509, d: 0.521, l: 0.677, n: 0.695, f: 0.265, x: 0.980

Group # 5 – E: 0.774, F: 0.721, M: 0.534, R: 0.895, N: 0.942, S: 0.455, T: 0.564, C: 0.408, V: 0.141

Group # 6 – l: 0.801, z: 0.564, s: 0.402, d: 0.581, a: 0.968, n: 0.496, c: 0.365

Group # 7 – a: 0.262, b: 0.147, c: 0.748, d: 0.712

Log likelihood = -160.059 Significance = 0.069

Add Group # 3 with factors cpv

––––– Level # 6 ––––– Run # 27, 383 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.108

Group # 1 – 2: 0.434, 4: 0.737, 1: 0.654, 3: 0.535

Group # 2 – o: 0.391, a: 0.602, O: 0.783, e: 0.723, E: 0.830

Group # 3 – c: 0.122, p: 0.708, v: 0.622

Group # 4 – k: 0.269, m: 0.430, d: 0.560, l: 0.654, n: 0.694, f: 0.306, x: 0.988

Group # 5 – E: 0.341, F: 0.847, M: 0.252, R: 0.962, N: 0.986, S: 0.639, T: 0.780, C: 0.640, V: 0.186

Group # 6 – l: 0.851, z: 0.628, s: 0.376, d: 0.585, a: 0.972, n: 0.417, c: 0.385

Log likelihood = -153.154 Significance = 0.174

Run # 28, 333 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.094

Group # 2 – o: 0.406, a: 0.607, O: 0.700, e: 0.690, E: 0.793

Group # 3 – c: 0.124, p: 0.709, v: 0.605

Group # 4 – k: 0.299, m: 0.442, d: 0.562, l: 0.722, n: 0.684, f: 0.270, x: 0.978

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

142

Group # 5 – E: 0.760, F: 0.701, M: 0.593, R: 0.899, N: 0.967, S: 0.443, T: 0.563, C: 0.431, V: 0.123

Group # 6 – l: 0.824, z: 0.571, s: 0.372, d: 0.556, a: 0.962, n: 0.504, c: 0.412

Group # 7 – a: 0.215, b: 0.169, c: 0.758, d: 0.721

Log likelihood = -152.150 Significance = 0.074

No remaining groups significant

Groups selected while stepping up: 5 6 2 4 3

Best stepping up run: #25 ––––––––––––––––––––––-

Stepping down...

––––– Level # 7 –––––

Run # 29, 441 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.091

Group # 1 – 2: 0.432, 4: 0.747, 1: 0.647, 3: 0.577

Group # 2 – o: 0.389, a: 0.620, O: 0.769, e: 0.712, E: 0.829

Group # 3 – c: 0.124, p: 0.708, v: 0.609

Group # 4 – k: 0.266, m: 0.428, d: 0.558, l: 0.666, n: 0.711, f: 0.312, x: 0.981 Group # 5 – E: 0.746, F: 0.705, M: 0.613, R: 0.901, N: 0.967, S: 0.410, T: 0.583, C: 0.409, V: 0.122

Group # 6 – l: 0.809, z: 0.553, s: 0.383, d: 0.587, a: 0.966, n: 0.510, c: 0.380

Group # 7 – a: 0.202, b: 0.176, c: 0.760, d: 0.723

Log likelihood = -149.738

––––– Level # 6 –––––

Run # 30, 333 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.094

Group # 2 – o: 0.406, a: 0.607, O: 0.700, e: 0.690, E: 0.793

Group # 3 – c: 0.124, p: 0.709, v: 0.605 Group # 4 – k: 0.299, m: 0.442, d: 0.562, l: 0.722, n: 0.684, f: 0.270, x: 0.978

Group # 5 – E: 0.760, F: 0.701, M: 0.593, R: 0.899, N: 0.967, S: 0.443, T: 0.563, C: 0.431, V: 0.123

Group # 6 – l: 0.824, z: 0.571, s: 0.372, d: 0.556, a: 0.962, n: 0.504, c: 0.412

Group # 7 – a: 0.215, b: 0.169, c: 0.758, d: 0.721

Log likelihood = -152.150 Significance = 0.189

Run # 31, 316 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.110

Group # 1 – 2: 0.488, 4: 0.693, 1: 0.530, 3: 0.454

Group # 3 – c: 0.144, p: 0.688, v: 0.628

Group # 4 – k: 0.303, m: 0.488, d: 0.515, l: 0.638, n: 0.711, f: 0.252, x: 0.989 Group # 5 – E: 0.637, F: 0.738, M: 0.644, R: 0.861, N: 0.974, S: 0.350, T: 0.409, C: 0.416, V: 0.165

Group # 6 – l: 0.841, z: 0.730, s: 0.451, d: 0.422, a: 0.974, n: 0.499, c: 0.349

Group # 7 – a: 0.214, b: 0.177, c: 0.757, d: 0.715

Log likelihood = -160.287 Significance = 0.000

Run # 32, 339 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.015

Group # 1 – 2: 0.440, 4: 0.794, 1: 0.604, 3: 0.631

Group # 2 – o: 0.395, a: 0.661, O: 0.616, e: 0.648, E: 0.818

Group # 4 – k: 0.286, m: 0.497, d: 0.517, l: 0.569, n: 0.714, f: 0.299, x: 0.982 Group # 5 – E: 0.757, F: 0.721, M: 0.565, R: 0.892, N: 0.942, S: 0.430, T: 0.575, C: 0.383, V: 0.141

Group # 6 – l: 0.782, z: 0.547, s: 0.416, d: 0.603, a: 0.972, n: 0.510, c: 0.336

Group # 7 – a: 0.245, b: 0.153, c: 0.751, d: 0.718

Log likelihood = -157.514 Significance = 0.000

Run # 33, 372 cells:

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

143

No Convergence at Iteration 20

Input 0.016

Group # 1 – 2: 0.441, 4: 0.779, 1: 0.608, 3: 0.615

Group # 2 – o: 0.386, a: 0.637, O: 0.680, e: 0.702, E: 0.847

Group # 3 – c: 0.395, p: 0.564, v: 0.431

Group # 5 – E: 0.814, F: 0.688, M: 0.672, R: 0.839, N: 0.958, S: 0.397, T: 0.530, C: 0.343, V: 0.119

Group # 6 – l: 0.760, z: 0.460, s: 0.402, d: 0.580, a: 0.963, n: 0.671, c: 0.342

Group # 7 – a: 0.202, b: 0.157, c: 0.811, d: 0.688

Log likelihood = -161.995 Significance = 0.000

Run # 34, 338 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.128

Group # 1 – 2: 0.454, 4: 0.844, 1: 0.570, 3: 0.586

Group # 2 – o: 0.402, a: 0.628, O: 0.697, e: 0.625, E: 0.811

Group # 3 – c: 0.159, p: 0.670, v: 0.655

Group # 4 – k: 0.302, m: 0.580, d: 0.438, l: 0.658, n: 0.733, f: 0.334, x: 0.963

Group # 6 – l: 0.762, z: 0.598, s: 0.618, d: 0.315, a: 0.949, n: 0.547, c: 0.275

Group # 7 – a: 0.270, b: 0.247, c: 0.758, d: 0.606

Log likelihood = -166.487 Significance = 0.000

Run # 35, 317 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.092

Group # 1 – 2: 0.448, 4: 0.693, 1: 0.604, 3: 0.589

Group # 2 – o: 0.390, a: 0.618, O: 0.765, e: 0.651, E: 0.848

Group # 3 – c: 0.118, p: 0.710, v: 0.633

Group # 4 – k: 0.265, m: 0.450, d: 0.535, l: 0.870, n: 0.698, f: 0.311, x: 0.978

Group # 5 – E: 0.890, F: 0.633, M: 0.552, R: 0.838, N: 0.961, S: 0.334, T: 0.771, C: 0.329, V: 0.128

Group # 7 – a: 0.230, b: 0.244, c: 0.775, d: 0.626

Log likelihood = -169.373 Significance = 0.000

Run # 36, 383 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.108

Group # 1 – 2: 0.434, 4: 0.737, 1: 0.654, 3: 0.535

Group # 2 – o: 0.391, a: 0.602, O: 0.783, e: 0.723, E: 0.830

Group # 3 – c: 0.122, p: 0.708, v: 0.622

Group # 4 – k: 0.269, m: 0.430, d: 0.560, l: 0.654, n: 0.694, f: 0.306, x: 0.988

Group # 5 – E: 0.341, F: 0.847, M: 0.252, R: 0.962, N: 0.986, S: 0.639, T: 0.780, C: 0.640, V: 0.186

Group # 6 – l: 0.851, z: 0.628, s: 0.376, d: 0.585, a: 0.972, n: 0.417, c: 0.385

Log likelihood = -153.154 Significance = 0.081

Cut Group # 1 with factors 2413

––––– Level # 5 –––––

Run # 37, 209 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.111

Group # 3 – c: 0.143, p: 0.689, v: 0.626

Group # 4 – k: 0.311, m: 0.478, d: 0.525, l: 0.675, n: 0.701, f: 0.241, x: 0.988

Group # 5 – E: 0.657, F: 0.737, M: 0.636, R: 0.866, N: 0.974, S: 0.356, T: 0.409, C: 0.422, V: 0.161

Group # 6 – l: 0.856, z: 0.731, s: 0.434, d: 0.419, a: 0.972, n: 0.490, c: 0.369

Group # 7 – a: 0.214, b: 0.169, c: 0.759, d: 0.720 Log likelihood = -160.877 Significance = 0.003

Run # 38, 243 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.015

Group # 2 – o: 0.411, a: 0.639, O: 0.529, e: 0.638, E: 0.787

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

144

Group # 4 – k: 0.305, m: 0.509, d: 0.521, l: 0.677, n: 0.695, f: 0.265, x: 0.980

Group # 5 – E: 0.774, F: 0.721, M: 0.534, R: 0.895, N: 0.942, S: 0.455, T: 0.564, C: 0.408, V: 0.141

Group # 6 – l: 0.801, z: 0.564, s: 0.402, d: 0.581, a: 0.968, n: 0.496, c: 0.365

Group # 7 – a: 0.262, b: 0.147, c: 0.748, d: 0.712

Log likelihood = -160.059 Significance = 0.000

Run # 39, 259 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.017 Group # 2 – o: 0.401, a: 0.618, O: 0.602, e: 0.693, E: 0.819

Group # 3 – c: 0.395, p: 0.566, v: 0.425

Group # 5 – E: 0.829, F: 0.687, M: 0.645, R: 0.841, N: 0.957, S: 0.421, T: 0.513, C: 0.360, V: 0.122

Group # 6 – l: 0.777, z: 0.459, s: 0.393, d: 0.556, a: 0.959, n: 0.663, c: 0.368

Group # 7 – a: 0.217, b: 0.155, c: 0.806, d: 0.681

Log likelihood = -164.376 Significance = 0.000

Run # 40, 243 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.131

Group # 2 – o: 0.414, a: 0.610, O: 0.648, e: 0.635, E: 0.782 Group # 3 – c: 0.158, p: 0.674, v: 0.640

Group # 4 – k: 0.320, m: 0.570, d: 0.446, l: 0.763, n: 0.710, f: 0.317, x: 0.960

Group # 6 – l: 0.827, z: 0.641, s: 0.603, d: 0.294, a: 0.940, n: 0.541, c: 0.279

Group # 7 – a: 0.261, b: 0.254, c: 0.759, d: 0.607

Log likelihood = -169.041 Significance = 0.000

Run # 41, 228 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.091

Group # 2 – o: 0.402, a: 0.611, O: 0.715, e: 0.633, E: 0.823

Group # 3 – c: 0.121, p: 0.708, v: 0.626 Group # 4 – k: 0.284, m: 0.464, d: 0.528, l: 0.893, n: 0.679, f: 0.296, x: 0.977

Group # 5 – E: 0.900, F: 0.629, M: 0.538, R: 0.836, N: 0.959, S: 0.351, T: 0.752, C: 0.342, V: 0.129

Group # 7 – a: 0.242, b: 0.242, c: 0.769, d: 0.623

Log likelihood = -170.975 Significance = 0.000

Run # 42, 279 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.110

Group # 2 – o: 0.407, a: 0.593, O: 0.713, e: 0.700, E: 0.797

Group # 3 – c: 0.125, p: 0.706, v: 0.618

Group # 4 – k: 0.303, m: 0.448, d: 0.559, l: 0.686, n: 0.672, f: 0.266, x: 0.986

Group # 5 – E: 0.357, F: 0.844, M: 0.235, R: 0.961, N: 0.986, S: 0.658, T: 0.767, C: 0.659, V: 0.192 Group # 6 – l: 0.870, z: 0.656, s: 0.363, d: 0.555, a: 0.967, n: 0.409, c: 0.413

Log likelihood = -155.681 Significance = 0.074

Cut Group # 7 with factors abcd

––––– Level # 4 –––––

Run # 43, 161 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.122

Group # 3 – c: 0.153, p: 0.678, v: 0.638

Group # 4 – k: 0.317, m: 0.485, d: 0.514, l: 0.630, n: 0.692, f: 0.241, x: 0.993 Group # 5 – E: 0.243, F: 0.869, M: 0.280, R: 0.947, N: 0.988, S: 0.576, T: 0.632, C: 0.649, V: 0.240

Group # 6 – l: 0.899, z: 0.794, s: 0.428, d: 0.422, a: 0.976, n: 0.377, c: 0.366

Log likelihood = -164.563 Significance = 0.002

Run # 44, 201 cells:

No Convergence at Iteration 20

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

145

Input 0.018

Group # 2 – o: 0.413, a: 0.621, O: 0.547, e: 0.649, E: 0.788

Group # 4 – k: 0.309, m: 0.520, d: 0.513, l: 0.646, n: 0.680, f: 0.265, x: 0.987

Group # 5 – E: 0.370, F: 0.853, M: 0.212, R: 0.958, N: 0.974, S: 0.660, T: 0.766, C: 0.631, V: 0.213

Group # 6 – l: 0.879, z: 0.690, s: 0.389, d: 0.566, a: 0.970, n: 0.398, c: 0.358

Log likelihood = -163.673 Significance = 0.000

Run # 45, 196 cells:

No Convergence at Iteration 20 Input 0.020

Group # 2 – o: 0.402, a: 0.601, O: 0.618, e: 0.706, E: 0.825

Group # 3 – c: 0.415, p: 0.552, v: 0.443

Group # 5 – E: 0.410, F: 0.840, M: 0.246, R: 0.952, N: 0.977, S: 0.603, T: 0.750, C: 0.584, V: 0.212

Group # 6 – l: 0.854, z: 0.592, s: 0.366, d: 0.579, a: 0.967, n: 0.561, c: 0.360

Log likelihood = -171.009 Significance = 0.000

Run # 46, 147 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.151

Group # 2 – o: 0.422, a: 0.530, O: 0.690, e: 0.694, E: 0.791 Group # 3 – c: 0.169, p: 0.669, v: 0.614

Group # 4 – k: 0.323, m: 0.577, d: 0.439, l: 0.569, n: 0.666, f: 0.389, x: 0.979

Group # 6 – l: 0.590, z: 0.343, s: 0.719, d: 0.220, a: 0.941, n: 0.585, c: 0.296

Log likelihood = -179.024 Significance = 0.000

Run # 47, 165 cells:

No Convergence at Iteration 20

Input 0.111

Group # 2 – o: 0.401, a: 0.615, O: 0.733, e: 0.640, E: 0.818

Group # 3 – c: 0.125, p: 0.704, v: 0.630

Group # 4 – k: 0.275, m: 0.431, d: 0.566, l: 0.858, n: 0.660, f: 0.290, x: 0.986 Group # 5 – E: 0.730, F: 0.747, M: 0.257, R: 0.937, N: 0.972, S: 0.438, T: 0.869, C: 0.472, V: 0.189

Log likelihood = -175.038 Significance = 0.000

All remaining groups significant

Groups eliminated while stepping down: 1 7

Best stepping up run: #25

Best stepping down run: #42

Anexo 4: Tabulação cruzada

Name of new cell file: .cel

• CROSS TABULATION • 06/12/2015 16:05:00 •••••••••••••••••••••••••••••••••••••••

• Cell file: .cel

• 06/12/2015 16:04:50

• Token file: Untitled.tkn

• Conditions: Untitled.cnd

Group #7 – horizontally.

Group #8 – vertically.

l % z % o % s % d % a % m % v % n % c % t

% r % f % p % g % e % ∑ %

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

146

+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -

- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -

a 0: 14 17: 1 8: 0 0: 0 –: 0 0: 0 –: 0 0: 0 0: 0 –: 0 0: 0 0: 0

0: 0 0: 0 0: 0 0: 0 –| 15 6

-: 67 83: 11 92: 8 100: 0 –: 63 100: 0 –: 9 100: 11 100: 0 –: 32 100: 24

100: 8 100: 7 100: 8 100: 4 100: 0 –| 252 94

∑: 81 : 12 : 8 : 0 : 63 : 0 : 9 : 11 : 0 : 32 : 24 : 8 :

7 : 8 : 4 : 0 | 267

+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -

- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -

b 0: 0 0: 1 12: 0 0: 15 24: 1 1: 17 74: 0 0: 0 0: 0 0: 0 0: 1 3:

0 0: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 35 10

-: 6 100: 7 88: 36 100: 47 76: 72 99: 6 26: 4 100: 55 100: 5 100: 20

100: 33 97: 9 100: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 300 90

∑: 6 : 8 : 36 : 62 : 73 : 23 : 4 : 55 : 5 : 20 : 34 : 9 :

0 : 0 : 0 : 0 | 335

+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -

- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -

c 0: 0 –: 0 –: 0 –: 144 56: 0 0: 20 62: 3 17: 0 0: 14 64: 8 24: 0 0:

0 –: 0 –: 0 –: 0 –: 8 100| 197 43

-: 0 –: 0 –: 0 –: 113 44: 33 100: 12 38: 15 83: 10 100: 8 36: 26 76: 42

100: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –: 0 0| 259 57

∑: 0 : 0 : 0 : 257 : 33 : 32 : 18 : 10 : 22 : 34 : 42 : 0

: 0 : 0 : 0 : 8 | 456

+ - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + -

- - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - - + - - - -

d 0: 0 –: 0 –: 0 –: 106 34: 0 –: 0 –: 4 24: 0 0: 17 40: 0 0: 0 0: 0

0: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 127 22

-: 0 –: 0 –: 0 –: 207 66: 0 –: 0 –: 13 76: 116 100: 25 60: 37 100: 26

100: 36 100: 0 –: 0 –: 0 –: 0 –| 460 78

∑: 0 : 0 : 0 : 313 : 0 : 0 : 17 : 116 : 42 : 37 : 26 : 36

: 0 : 0 : 0 : 0 | 587

+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+––––-+–

–––-+––––-+––––-+––––-+––––-

∑ 0: 14 16: 2 10: 0 0: 265 42: 1 1: 37 67: 7 15: 0 0: 31 45: 8 7: 1

1: 0 0: 0 0: 0 0: 0 0: 8 100| 374 23

-: 73 84: 18 90: 44 100: 367 58: 168 99: 18 33: 41 85: 192 100: 38 55: 115

93: 125 99: 53 100: 7 100: 8 100: 4 100: 0 0| 1271 77

∑: 87 : 20 : 44 : 632 : 169 : 55 : 48 : 192 : 69 : 123 : 126 :

53 : 7 : 8 : 4 : 8 | 1645

Anexo 5: Rodada com dados de Vicente Celestino

7 (8) 4 3 0 1

1 N 46 155 1 0 202 20.3 % 22.4 77.1 0.5 0.0 * KnockOut *

2 N 15 178 8 1 202 20.3

% 7.5 88 4.0 0.5

3 N 60 136 0 0 196 19.7

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

147

% 30.6 69.4 0.0 0.0 * KnockOut *

4 N 49 143 0 0 192 19.4

% 25.5 74.5 0.0 0.0 * KnockOut *

5 N 39 163 0 0 202 20.3

% 19.3 80.7 0.0 0.0 * KnockOut *

Total N 209 775 9 1 994 % 21 78 0.9 0.1

Anexo 6: Entrevista de Vicente Celestino

(Pergunta do radialista) "Boa noite a todos os ouvintes da Rádio Bandeirantes. Eu quero enviar []

daqui deste microfone meu abraço a todos que meu ouvem nesse momento. Sei que estou sendo

ouvido por [] milhares de criaturas de cidades, do interior [], pelas quais eu passei. Passei por []

quase todas as cidades de São Paulo, mas conheço uma a uma. Pena é que não possa continuar [] a

fazer [] a vida que fazia, porque gostaria de tornar [] a correr [0] todo São Paulo. E quero ao

mesmo tempo agradecer [] a Moraes Sarmento a maneira gentil e carinhosa que vem tratando as

minhas músicas e a minha pessoa através desse microfone. Sei disso há muito tempo e há muito

tempo desejava aqui fazer [] uma visita a ele e a todos os componentes dessa emissora. Mas antes

tarde do que nunca, e aqui estou eu, esperando que ele me bombardeie, porque geralmente os

espigues são verbosos, tem a palavra fácil e embrulha os artistas com uma facilidade única, mas eu

vou me defender []."

(Pergunta do radialista) "Não, a valsa é realmente é realmente de Anacleto de Medeiros, a música.

Catulo não pôs letra nessa valsa, não pôs. Pelo menos eu não conheço, e eu conheço quase todo

repertório do Catulo. Sou um dos cantores que mais cantei e canto Catulo. A letra ela não tem

nome de Farrula, tem nome de Jura. (cantando). Essa letra muito pouco conhecida. Conheço eu

porque sou da guarda velha. O Orlando deve conhecer [] um bocadinho. Nem é desse tempo. Pois

bem, não é de Catulo, é de Boneco. O Boneco que fez aquela célebre letra Flor [] do mal.

Domingos Correia. Esse homem fez Flor [] do Mal para uma cançonetista chamada Arminda e ele

matou-se com um chopp. Deixa-me explicar [] o que era chopp. O chopp era uma espécie de

boato. Naquele tempo chamava-se chopp, hoje chama-se boato. Naquele tempo não ficava sedento

na escuridão. Sem ver [] as pessoas como são, como eram. A gente via se eram bonitas, bonitos.

Naquele tempo eram às claras. A gente via se eram bonitos, bonitas. E hoje não. Eu cantava ali

também, cantava por [] farra, não era profissional. Naquele tempo eu era um meninote, e cantava

por [] farra ou pra arranjar [] um namorinho. Não tem importância, porque antes de casar []

comigo ela também namorou.

(Pergunta do radialista) Muito obrigado Orlando. Menino Orlando. 1915. Flor [] do mal. Em disco

mecânico é claro. Naquele tempo, só gravava quem tivesse muita voz, hoje, grava-se até a

..............................................................................................................................Xavier, K. S.

148

respiração, mas naquele tempo não e outra coisa mais o indivíduo não podia errar [], porque, se

errasse, escangalhava a matriz, hoje não, hoje a gente pode errar [] à vontade, voltar [0] 50 vezes,

emendar [0] a fita, o sujeito está rouco canta a primeira parte hoje e vai cantar [0] daqui a 15 dias a

outra parte. Emendam, sabe como é?, naquele tempo não, o camarada tinha que cantar [0] no duro,

se errasse, dava um prejuízo medonho, precisava de um cuidado louco, cuidado louco e muitas

vezes a gente botava os pulmões pela boca, e o sujeito dizia: mais forte, mais forte, mais forte!

nossa mão do céu.

Esse aqui é um repertório antigo, né? E os autores naquele tempo faziam as coisas com amor [0],

né? Olha, o Sertanejo Enamorado é uma canção feita dentro de uma música, uma música de Nazaré

chamada brejeiro. É muito interessante, porque eu canto essa música exatamente como se cantava

essa música naquele tempo. Por muita gente que canta. Não era cantada assim. Como é aquele

gênero Luiz Gonzaga. Era quase que um baião. Era uma toada. Xaxado não. Não conheço esse

gênero de música xaxado. Aliás, o xaxado é uma música da Chiquinha Gonzaga chamada chamada

Corta Jaca. Quando tocava Corta Jaca dançava-se justamente aquela. Foi a Chiquinha Gonzaga que

inventou aquele negócio aquele passo, de ciscar, e depois apareceu como xaxado, mas não é não. É

interessante porque eu canto como se cantava naquele tempo.

(Pergunta do radialista) De ópera? Eu posso dizer [] uma coisa também curiosa aqui de

São Paulo, sabe? A última ópera que cantei foi Aida em 1935 no teatro Santana e a mulher

[] cantou a Lua Cheia que é uma prova de fogo que é um soprano de ...... e ela se saiu

muito bem. E eu cantei Aida, mas, quando a temporada terminou, o empresário não tinha

dinheiro pra nos dar[0], entendeu? Então eu precisava 300 mil reis pra pagar [0] o hotel

aqui na Avenida São João naquele tempo em 1935, 300 mil reis? Não tinha e não tinha

quem me emprestasse. Então a dona do hotel queria ficar com anel da mulher [0],

empenhado. Mas eu não não quis não. Fui então na casa de Otília Amorim e falei com

Jordão, e Jordão me deu os 300 sem o menor [] vale, sem coisa nenhuma, e eu fui paguei

a mulher [0] e fui pra Belo Horizonte cantar [0] também ópera. E minha mulher [0]

também cantava ópera e nunca mais cantei ópera, sabe? Porque ópera é muito bonito pra

celebridades mundiais e mesmo assim hoje eles estão sofrendo cantores, porque os

cantores medíocres de ópera como eu fui, eu falo cantor medíocre em comparação a um

Caruso e a um ....... enfim esses grandes cantores que se tornaram célebres no mundo, eles

ganham muito dinheiro, mas o cantor [] que não tem nome eles morrem de fome, sabe?.

Essa é que é a verdade. Até hoje, razão pela qual eu deixei o teatro. E estou muito satisfeito

com as minhas canções, muito feliz, e o público gosta de mim cantando as canções, e eu

penso que vou morrer [0] só cantando canções.