teoria da enunciação perspectiva benvenistiana Émile benveniste frança, 1902-1976

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Teoria da Enunciação Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste Émile Benveniste França, 1902-1976 França, 1902-1976

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Page 1: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Teoria da EnunciaçãoTeoria da Enunciação

Perspectiva BenvenistianaPerspectiva BenvenistianaÉmile BenvenisteÉmile Benveniste

França, 1902-1976França, 1902-1976

Page 2: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Benveniste não segue a tradição de Benveniste não segue a tradição de colocar todos os pronomes em uma colocar todos os pronomes em uma mesma categoria (como classe mesma categoria (como classe morfológica). morfológica).

Page 3: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976
Page 4: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Benveniste apresenta uma nova Benveniste apresenta uma nova divisão: divisão:

- - pronomes que pertencem à sintaxe, pronomes que pertencem à sintaxe, como anáforas (ele, ela, aquele, sua...)como anáforas (ele, ela, aquele, sua...)

- - pronomes que pertencem às pronomes que pertencem às instâncias do discurso, como signos instâncias do discurso, como signos que são atualizados na instância do que são atualizados na instância do discurso pelo locutor (eu – tu)discurso pelo locutor (eu – tu)

Page 5: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Instância de discursoInstância de discursoeueu – – tutu

(pessoas do discurso)(pessoas do discurso)

Instância linguísticaInstância linguísticaeleele

(não-pessoa)(não-pessoa)

““tu” em Port.: você (Vossa Mercê, Vosmecê), o tu” em Port.: você (Vossa Mercê, Vosmecê), o Senhor, o Doutor, vocês, vós...Senhor, o Doutor, vocês, vós...

Page 6: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Analise os pronomesAnalise os pronomes

Page 7: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

eu – pessoa subjetivaeu – pessoa subjetiva tu – pessoa não-subjetivatu – pessoa não-subjetiva ele – não pessoaele – não pessoa

(eu)

(tu)

(ele)

Page 8: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

EuEu

homem => indivíduo => locutor => pessoa => homem => indivíduo => locutor => pessoa => “eu” “eu”

Principalmente em textos faladosPrincipalmente em textos falados O enunciado que tem “eu” inclui nele mesmo o O enunciado que tem “eu” inclui nele mesmo o

locutorlocutor Não tem uma única referência. Cada “eu” tem Não tem uma única referência. Cada “eu” tem

sua referência própria – o ser único que enunciasua referência própria – o ser único que enuncia

Page 9: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976
Page 10: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

EuEu ““Eu” é aquele que enuncia a Eu” é aquele que enuncia a

presente instância de discurso que presente instância de discurso que contém a instância linguística “eu”contém a instância linguística “eu”

Isso pode ser explícito ou implícito no Isso pode ser explícito ou implícito no enunciadoenunciado

Page 11: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Instância do DiscursoInstância do Discurso enunciado subjetivo = pessoaenunciado subjetivo = pessoa EuEu AquiAqui AgoraAgora HojeHoje OntemOntem AmanhãAmanhã na próxima semanana próxima semana há três diashá três dias este/isto (correlato: este/isto (correlato:

esse/isso)esse/isso)

A partir do ponto em que está A partir do ponto em que está o “eu”o “eu”

Signos vazios se tornam Signos vazios se tornam plenos em cada novo discursoplenos em cada novo discurso

Signos ligados ao Signos ligados ao exercícioexercício da da língua, quando o indivíduo se língua, quando o indivíduo se apropria da línguaapropria da língua

Instância da HistóriaInstância da História enunciado objetivo = não enunciado objetivo = não

pessoapessoa EleEle LáLá então (=naquele momento)então (=naquele momento) no mesmo diano mesmo dia na vésperana véspera no dia seguinteno dia seguinte na semana seguintena semana seguinte três dias antestrês dias antes aquele/aquiloaquele/aquilo

Referência sintática a outros Referência sintática a outros elementos do texto (anáforas)elementos do texto (anáforas)

Page 12: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

DêixisDêixis se define em relação à instância do discurso se define em relação à instância do discurso

sob a dependência do “eu” que aí se enuncia.sob a dependência do “eu” que aí se enuncia. é contemporânea da instância de discurso é contemporânea da instância de discurso

que tem o “eu”, é dependente do euque tem o “eu”, é dependente do eu

DêiticosDêiticos são formas vazias que são são formas vazias que são preenchidas a cada enunciação. Nelas o preenchidas a cada enunciação. Nelas o sujeito refere à sua pessoa. Ex.: aqui, vir, sujeito refere à sua pessoa. Ex.: aqui, vir, hoje, este...hoje, este...

Page 13: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

LinguagemLinguagem não é instrumento de comunicação – não é instrumento de comunicação –

Isso significaria o homem separado Isso significaria o homem separado da linguagemda linguagem

“ “A linguagem está na natureza do A linguagem está na natureza do homem, que não a fabricou.”homem, que não a fabricou.”

é própria do homem, faz parte dele, é própria do homem, faz parte dele, não há separação homem-linguagemnão há separação homem-linguagem

Page 14: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

LinguagemLinguagem É na linguagem e É na linguagem e

pela linguagem pela linguagem que o homem se que o homem se constitui como constitui como sujeito.sujeito.

A linguagem só é A linguagem só é possível porque possível porque cada locutor se cada locutor se apresenta como apresenta como sujeito no discurso.sujeito no discurso.

Page 15: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Saussure e BenvenisteSaussure e Benveniste

SaussureSaussure – língua X fala / língua = repertório – língua X fala / língua = repertório de signos e sistema de combinaçõesde signos e sistema de combinações

Benveniste:Benveniste: língua assumida pelo homem na fala sob a língua assumida pelo homem na fala sob a

condição da intersubjetividadecondição da intersubjetividade língua = se manifesta nas instâncias de língua = se manifesta nas instâncias de

discursodiscurso discurso = linguagem posta em açãodiscurso = linguagem posta em ação A linguagem contém as formas linguísticas A linguagem contém as formas linguísticas

apropriadas à expressão da subjetividade.apropriadas à expressão da subjetividade.

Page 16: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Saussure: árvore = entidade lexical Saussure: árvore = entidade lexical Signo: som + conceitoSigno: som + conceito Benveniste: eu = não é um conceito, não se Benveniste: eu = não é um conceito, não se

refere a um indivíduo particularrefere a um indivíduo particular ““eu” – não tem um conteúdo/referente como eu” – não tem um conteúdo/referente como

“árvore”; não designa um único indivíduo“árvore”; não designa um único indivíduo Se refere ao ato de discurso individual no qual Se refere ao ato de discurso individual no qual

é pronunciado, e lhe designa o locutor. E o é pronunciado, e lhe designa o locutor. E o locutor se enuncia como sujeito.locutor se enuncia como sujeito.

Page 17: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Subjetividade:Subjetividade: capacidade do locutor para se propor capacidade do locutor para se propor

como sujeito (no discurso, pela linguagem)como sujeito (no discurso, pela linguagem)

Page 18: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

““eu” se refere ao ato de discurso eu” se refere ao ato de discurso individual no qual é pronunciado e individual no qual é pronunciado e lhe designa o locutorlhe designa o locutor

sua referência é sempre atual sua referência é sempre atual (agora) e só pode ser identificado na (agora) e só pode ser identificado na instância de discursoinstância de discurso

““eu” é do nível pragmático da eu” é do nível pragmático da linguagem: signo + sujeito que linguagem: signo + sujeito que emprega o signoemprega o signo

Page 19: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Diferenças entre alguns Diferenças entre alguns verbos:verbos:

1ª. pessoa para falar de si X 1ª. pessoa 1ª. pessoa para falar de si X 1ª. pessoa para falar de um assunto ou para agirpara falar de um assunto ou para agir

noção de presente (tempo verbal): noção de presente (tempo verbal): coincidência do acontecimento descrito coincidência do acontecimento descrito com a instância de discursocom a instância de discurso

presente = (gramática) o tempo em que presente = (gramática) o tempo em que se está = (teoria da enunciação) o tempo se está = (teoria da enunciação) o tempo em que se falaem que se fala

Page 20: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

(eu) sofro = descrição de si(eu) sofro = descrição de si (eu) estou sentindo que o tempo vai mudar = (eu) estou sentindo que o tempo vai mudar =

descrição de si + hipótesedescrição de si + hipótese (eu) acho que o tempo vai mudar = hipótese – (eu) acho que o tempo vai mudar = hipótese –

modalizador: nem V, nem Fmodalizador: nem V, nem F (eu) suponho que o tempo vai mudar = hipótese(eu) suponho que o tempo vai mudar = hipótese (eu) garanto que o tempo vai mudar = não é (eu) garanto que o tempo vai mudar = não é

descrição de si, é hipótese ou ato de faladescrição de si, é hipótese ou ato de fala (eu) prometo = não é descrição de si, é ato de (eu) prometo = não é descrição de si, é ato de

falafala (eu) juro = não é descrição de uma ação, é a (eu) juro = não é descrição de uma ação, é a

ação de comprometer-seação de comprometer-se (ele) jura = descrição de uma ação – o “ele” não (ele) jura = descrição de uma ação – o “ele” não

fica comprometidofica comprometido

Page 21: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Ato de falaAto de fala só existe no enunciado porque foi só existe no enunciado porque foi

instaurado pelo eu no instante da instaurado pelo eu no instante da enunciação, ou seja, é cumprido no enunciação, ou seja, é cumprido no momento da enunciaçãomomento da enunciação

Page 22: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Aponte possíveis referentes (pessoas Aponte possíveis referentes (pessoas do discurso, momento, lugar) para do discurso, momento, lugar) para cada um dos dêiticos dos enunciados cada um dos dêiticos dos enunciados a seguir a partir de diferentes a seguir a partir de diferentes situações de enunciação:situações de enunciação:

1) Eu estou aqui. 1) Eu estou aqui.

2) Vim ontem. 2) Vim ontem.

Page 23: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Imagine o diálogo entre A e B nas duas Imagine o diálogo entre A e B nas duas situações e aponte os referentes das situações e aponte os referentes das palavras em negrito:palavras em negrito:

A: A: Preciso Preciso falarfalar com com a senhoraa senhora.. B: B: Acabei Acabei de chegar. de chegar. EsperaEspera, que , que eueu já já

falo contigofalo contigo. .

Situação 1: O funcionário A chega à diretoria Situação 1: O funcionário A chega à diretoria às 9 horas da manhã e fala com a diretora B.às 9 horas da manhã e fala com a diretora B.

Situação 2: A cliente A telefona à Situação 2: A cliente A telefona à cartomante B às 5 horas da tarde.cartomante B às 5 horas da tarde.

Page 24: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

3 movimentos de análise:3 movimentos de análise:

SubjetividadeSubjetividade

IntersubjetividadeIntersubjetividade

IntercambialidadeIntercambialidade

Page 25: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

SubjetividadeSubjetividade

O sujeito se constitui O sujeito se constitui lingüisticamente pela enunciação lingüisticamente pela enunciação do do eueu no enunciado. no enunciado.

O O eueu se constitui como locutor no se constitui como locutor no seu enunciado e institui um seu enunciado e institui um tutu, seu , seu interlocutor. interlocutor.

Page 26: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

IntersubjetividadeIntersubjetividade O O eueu é o centro da enunciação. Só existe o é o centro da enunciação. Só existe o

tutu em função de um em função de um eueu.. O O eueu instaura o instaura o tutu.. Só existe um Só existe um eueu porque existe um porque existe um tutu.. A consciência de si mesmo só é possível A consciência de si mesmo só é possível

se expermentada por contraste.se expermentada por contraste.

Page 27: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

IntercambialidadeIntercambialidade O O eueu e o e o tutu trocam de posição trocam de posição

durante um diálogo.durante um diálogo.

Page 28: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

o sujeito remete a si mesmo como o sujeito remete a si mesmo como eueu no discurso e propõe o no discurso e propõe o tutu como como seu ecoseu eco

o o tutu é exterior ao é exterior ao eueu, mas o , mas o eueu só só existe porque instaura o existe porque instaura o tutu..

eueu – transcende (é superior) ao – transcende (é superior) ao tutu eueu e e tutu: dois polos numa realidade : dois polos numa realidade

dialética, ou seja, numa relação dialética, ou seja, numa relação mútuamútua

Page 29: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

Eleni Jacques Martins. Eleni Jacques Martins. Enunciação e Enunciação e diálogodiálogo..

Sobre o Sobre o eleele: conteúdo representativo da : conteúdo representativo da enunciação, enunciado. Passa a ser visto enunciação, enunciado. Passa a ser visto como elemento integrante e constituidor da como elemento integrante e constituidor da enunciação. enunciação.

Não só o Não só o eueu e o e o tutu estão na relação estão na relação semântica, mas também o semântica, mas também o eleele. O . O eueu (quem (quem diz) só se constitui como sujeito de discurso e diz) só se constitui como sujeito de discurso e só institui o só institui o tutu (para quem diz) como seu (para quem diz) como seu interlocutor em função de um interlocutor em função de um ele ele (o que é (o que é dito).dito).

A não-pessoa (A não-pessoa (eleele) é elemento constitutivo ) é elemento constitutivo da relação interpessoal. da relação interpessoal.

Page 30: Teoria da Enunciação Perspectiva Benvenistiana Émile Benveniste França, 1902-1976

eueu tutu

eleele