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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FACULDADE DE MEDICINA DEPARTAMENTO DE CIRURGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STICTO SENSU EM CIRURGIA WELLIGTON RIBEIRO FIGUEIREDO AVALIAÇÃO DA ANASTOMOSE COLO-CÓLICA COM E SEM PREPARO INTESTINAL. ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÃES Fortaleza 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

FACULDADE DE MEDICINA

DEPARTAMENTO DE CIRURGIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STICTO SENSU EM CIRURGIA

WELLIGTON RIBEIRO FIGUEIREDO

AVALIAÇÃO DA ANASTOMOSE COLO-CÓLICA COM E SEM PREPARO

INTESTINAL. ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÃES

Fortaleza

2012

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WELLIGTON RIBEIRO FIGUEIREDO

AVALIAÇÃO DA ANASTOMOSE COLO-CÓLICA COM E SEM PREPARO INTESTINAL.

ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÃES

Dissertação submetida à Coordenação do

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em

Cirurgia da Universidade Federal do Ceará,

como requisito parcial para obtenção do Grau

de Mestre em Ciências Médico-cirúrgicas.

Orientador: Prof. Dr. Francisco Sérgio

Pinheiro Regadas

FORTALEZA

2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências da Saúde

F493a Figueiredo, Welligton Ribeiro.

Avaliação da anastomose colo-cólica com e sem preparo intestinal. Estudo experimental em

cães. / Wellington Ribeiro Figueiredo. – 2012.

43 f.: il. color., enc.; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências da Saúde,

Faculdade de Medicina, Departamento de Cirurgia, Programa de Pós-Graduação em Cirurgia,

Fortaleza, 2012.

Área de concentração: Metabolismo e Comportamento Biocelular no Estresse.

Orientação: Prof. Dr. Francisco Sérgio Pinheiro Regadas.

1. Cirurgia Colorretal. 2. Complicações Pós-operatórias. 3. Fístula. I. Título.

CDD 617.555

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WELLIGTON RIBEIRO FIGUEIREDO

AVALIAÇÃO DA ANASTOMOSE COLO-CÓLICA COM E SEM PREPARO INTESTINAL.

ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÃES

Dissertação submetida à Coordenação do

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu

em Cirurgia da Faculdade de Medicina da

Universidade Federal do Ceará, como

requisito parcial para obtenção do grau de

Mestre em Ciências Médico-cirúrgicas.

Aprovada em 07/12/2012

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________

Prof. Dr. FRANCISCO SÉRGIO PINHEIRO REGADAS( Orientador)

Universidade Federal do Ceará - UFC

_____________________________________________________________

Profª. Dra. STHELA MARIA MURAD REGADAS

Universidade Federal do Ceará – UFC

_____________________________________________________________

Prof. Dr. RODRIGO DORNFELD ESCALANTE

Universidade de Fortaleza - UNIFOR

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À minha amada Nataniella, pelo constante

amor e mesmo na ausência soube me amar

quando eu mais precisava dando força e

incentivo para vencer esse desafio.

Ao meu Pai Inácio pelo amor, dedicação,

educação, determinação, exemplo de vida e

por tudo aquilo que privou para educar seus

filhos.

À minha Mãe Socorro pelo amor puro, pela

proteção materna, pelas orações e por me

criar “debaixo de suas asas”.

Aos meus queridos irmãos William,

Washington e Clara pelo carinho, afeto ao

longo desses anos e pela nossa “bela

infância”.

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AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Dr. PAULO ROBERTO LEITÃO DE VASCONCELOS, Professor Titular

do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Coordenador do

Programa de Pós-Graduação em Cirurgia da UFC, pela sua atenção e consideração aos

Docentes e Dicentes desta Faculdade.

Ao Prof. Dr. FRANCISCO SÉRGIO PINHEIRO REGADAS, Professor Titular do

Departamento de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará (UFC) orientador desta

dissertação, pela confiança, constante incentivo, dedicação e auxílio; contribuindo de forma

essencial desde a primeira ideia até a concretização deste trabalho.

Ao Prof. Ms. CARLOS RENATO SALES BEZERRA, Coordenador do Internato de

Clínica Cirúrgica da Faculdade Integral Diferencial, que como um pai me estendeu a mão, me

guiou e protegeu desde os primeiros passos como residente até a realização deste trabalho.

Minha eterna gratidão.

Ao Prof. Ms. MIGUEL AUGUSTO ARCOVERDE NOGUEIRA, Coordenador do

Internato e da Clínica Cirúrgica da Faculdade de Ciências Médicas (FACIME-UESPI), pelo

seu grande coração, exemplo de seriedade, honestidade e por me iniciar no meio acadêmico e

científico. Minha eterna gratidão.

À Profa. Dra. SHTELA MURAD REGADAS, professora Adjunta do Departamento

de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará (UFC), pela grande ajuda nas aulas de didática

e por contribuir na minha formação como professor.

Ao Prof. Dr. JOSÉ ALBERTO DIAS LEITE, professor Titular do Departamento de

Cirurgia da Universidade Federal do Ceará (UFC), pelo seu grande e decisivo apoio na parte

experimental do trabalho.

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À Faculdade Integral Diferencial (FACID), em especial ao diretor presidente Prof.

PAULO RAIMUNDO MACHADO VALE e a diretora acadêmica Profa. MARIA JOSECI

LIMA CAVALCANTE VALE pelo apoio na iniciação do meu exercício da docência e pela

ajuda com as bolsas de pesquisa.

À Profa. MARIA DO CARMO BANDEIRA MARINHO, professora da Faculdade

Integral Diferencial, pela amizade e apoio constante na faculdade para a realização desse

trabalho.

Ao Prof. Dr. CHARLLYTON LUIS SENA DA COSTA, coordenador do Curso de

Farmácia da Faculdade Integral Diferencial, pela brilhante contribuição com a análise

estatística do trabalho.

Ao Prof. EDINALDO GONÇALVES DE MIRANDA, Diretor da Faculdade de

Ciências Médicas da Universidade Estadual do Piauí, pelo apoio físico para a realização da

fase experimental do trabalho.

Ao Prof. Dr. FRANCISCO LIMA, professor de Medicina Veterinária da Universidade

Federal do Piauí e CATARINA RAFAELLA, médica Veterinária, pela supervisão da parte

prática do experimento.

Às Secretárias da Pós-Graduação de Cirurgia da Universidade Federal do Ceará que,

pela boa convivência, nos tornamos bons amigos: MARIA LUCIENE VIEIRA DE

OLIVEIRA e MAGDA MARIA GOMES FONTENELE.

Aos amigos ERBERT PORTELA MARTINS FILHO, ex-aluno e médico residente de

cirurgia do Hospital Getúlio Vargas; e CARMEM LAÍS GERVÁSIO, ex-aluna, pelo apoio

constante na fase experimental do trabalho.

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“O pessimista vê dificuldade em cada

oportunidade; o otimista vê oportunidade em

cada dificuldade” (Winston Churcill)

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RESUMO

AVALIAÇÃO DA ANASTOMOSE COLO-CÓLICA COM E SEM PREPARO INTESTINAL.

ESTUDO EXPERIMENTAL EM CÃES. Welligton Ribeiro Figueiredo. Dissertação (Mestrado).

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Cirurgia. Orientador: Professor Titular Francisco

Sérgio Pinheiro Regadas.

Esse estudo avaliou as anastomoses colo-cólicas sem preparo intestinal comparando com

anastomoses realizadas com preparo intestinal prévio. Foram utilizados 42 animais (Canis

familiares) fêmeas, pesando entre 8,4 a 16,9 Kg, clinicamente sadios, oriundos do Canil da

Prefeitura Municipal de Teresina, Piauí. Foram distribuídos em 2 grupos de 21 animais: grupo I

(controle) – animais submetidos ao preparo intestinal com solução glicerinada a 12% via retal

24hs antes do procedimento e grupo II (estudo) – animais submetidos ao procedimento sem

preparo intestinal prévio. Todos os animais de ambos os grupos foram submetidos à laparotomia

com secção do cólon descendente e anastomose primária com fio de polipropileno e

acompanhados no trans e pós-operatório por um médico veterinário, sendo a dieta instituída

quando ocorreu a primeira evacuação. Esses animais foram submetidos à eutanásia no 21º dia de

pós-operatório após anestesia venosa com cloridrato de cetamina e aplicação de cloreto de

potássio a 20% endovenosa; realizou-se nova laparotomia e avaliação da anastomose colo-cólica.

Avaliou-se a evolução clínica, o grau de aderências intestinais e a pressão de ruptura da

anastomose. Utilizou-se o teste T para amostras não pareadas para dados paramétricos e Mann-

Whitney test para dados não paramétricos. Ocorreu um (4,5%) óbito em cada grupo sendo o do

grupo I (controle) no 7º dia pós-operatório devido à deiscência da anastomose colo-cólica e outro

no 10º dia de pós-operatório no grupo II(estudo) devido à infecção de sítio cirúrgico incisional

profunda com deiscência total da parede abdominal. Não foi observado diferença

estatisticamente significante no grau de aderências intestinais entre os grupos. Durante a

realização do teste de pressão de ruptura ocorreu ruptura da anastomose de um animal em cada

grupo e não houve diferença estatisticamente significante entre os grupos (p>0,05). A

anastomose colo-cólica sem preparo intestinal apresentou a mesma segurança e eficácia da

anastomose realizada com preparo prévio.

Palavras-chave: Cirurgia colorretal. Complicações pós-operatórias. Fístula

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ABSTRACT

EXPERIMENTAL EVALUATION IN DOGS OF IMPORTANCE OF BOWEL

PREPARATION ON COLO-COLONIC ANASTOMOSIS. Welligton Ribeiro Figueiredo.

Dissertation (Master). Post-Graduation Program (Sticto Sensu) in Surgery. Federal University

of Ceará: Full Professor Francisco Sérgio Pinheiro Regadas.

The objective of this study was to evaluate the efficacy of colo-colonic anastomosis in dogs

with and without preoperative bowel preparation. The experiment included 42 healthy female

mongrel dogs (Canis familiaris) weighing 8.4-16.9 Kg, supplied by the municipal dog pound

of Teresina, Piauí. The animals were distributed at random in two groups of 21 animals each:

Group I (control) = submitted to bowel preparation with rectal administration of 12% glycerin

solution one day before the procedure, and Group II (study) = without previous bowel

preparation. All animals were submitted to laparotomy with sectioning of the descending

colon and primary anastomosis using polypropylene thread under the peri and postoperative

supervision of a veterinary physician. The animals were allowed access ad libitum to water

and standard feed following the first evacuation. On the 21st postoperative day (POD 21), the

dogs were euthanized with ketamine i.v. followed by 20% potassium chloride i.v., and a

second laparotomy was performed through the same incision in order to evaluate the

anstomosis. In addition, the abdominal cavity was evaluated for adhesions and the burst

pressure of the anastomosis was tested. The unpaired samples were compared with Studentʼs t

test for parametric data and with the Mann-Whitney test for non-parametric data. One animal

in each group (4.5%) died. The death in Group I (control) occurred on POD 7 due to

anastomotic dehiscence. The death in Group II (study) occurred on POD 10 due to deep

incisional infection at the surgical site and complete dehiscence of the abdominal wall. The

groups did not differ significantly with regard to adhesion grade or anastomotic burst pressure

(one specimen burst in each group) (p>0.05). In conclusion, the level of safety and efficacy

was the same for colo-colonic anastomosis with and without previous bowel preparation.

Key words: Colorectal surgery. Postoperative complications. Anastomotic leak

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Conjunto de Esfigomanômetro com pera de insuflação .................................... 20

Figura 2 – Posicionamento do animal no 17 após anestesia ................................................ 22

Figura 3 – Laparotomia mediana trans-umbilical no animal no 16 ..................................... 22

Figura 4 – Identificação do cólon descendente apreendido por clampes intestinais

retos no animal no16 ............................................................................................................ 23

Figura 5 – Realização da colotomia no animal no

16........................................................... 23

Figura 6 – Síntese da colotomia com polipropileno000 em plano único no animal

no 16 ..................................................................................................................................... 24

Figura 7 – Sistema para teste de pressão ruptura confeccionado com segmento

intestinal do animal no 23 .................................................................................................... 25

Figura 8 – Sistema para teste de pressão de ruptura com segmento intestinal

totalmente insuflado a uma pressão de 300mmHg no animal no 23 .................................... 26

Figura 9 – Delineamento do estudo ..................................................................................... 26

Figura 10 – Distribuição do peso entre os grupos ............................................................... 28

Figura 11 – Deiscência parcial da anastomose em cão do grupo I, animal no 12................ 29

Figura 12 – Deiscência da parede abdominal associada a infecção de sítio

cirúrgico com anastomose íntegra em cão do grupo II, animal no 32 ................................. 29

Figura 13 Classificação do preparo intestinal no grupo controle ........................................ 30

Figura 14 – Aderências intestinais grau 2 (KNIGHTLY) no animal no 25 ......................... 30

Figura 15 – Aderências intestinais grau 4 (KNIGHTLY) no animal no 23 ......................... 31

Figura 16 – Distribuição dos animais conforme aderências intra-abdominais .................... 32

Figura 17 – Ruptura da anastomose a uma pressão 300mmHg ........................................... 33

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação do preparo intestinal de O’DWEYR (1989) ................................ 21

Tabela 2 – Índice de Aderências de KNIGTHLY (1962) ................................................... 25

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LISTA DE ABREVIATURAS

cm centímetros

FACID Faculdade Integral Diferencial

FACIME Faculdade de Ciências Médicas

Hs Horas

IM intramuscular

IV intravenoso

Kg quilograma

m metro

min minuto

mg miligrama

ml mililitro

mmHg milímetro de mercúrio

Profa. Professora

Prof Professor

SC subcutânea

UESPI Universidade Estadual do Piauí

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13

2. OBJETIVO .............................................................................................................. 18

3. MATERIAL E MÉTODO ....................................................................................... 19

3.1 Amostra ............................................................................................................. 19

3.2 Mesa cirúrgica ................................................................................................... 19

3.3 Sistema para realização de teste de pressão de ruptura de sutura ...................... 19

3.4 Balança .............................................................................................................. 20

3.5 Anestésicos e drogas utilizados para eutanásia dos animais ............................. 20

3.6 Técnica Operatória ............................................................................................ 20

3.7 Delineamento do estudo .................................................................................... 27

3.8 Parâmetros de avaliação .................................................................................... 27

3.9 Análise estatística .............................................................................................. 28

4. RESULTADOS ....................................................................................................... 29

4.1 Evolução clínica ................................................................................................ 29

4.2 Aderências intestinais ........................................................................................ 31

4.3 Pressão de ruptura da anastomose ..................................................................... 32

5. DISCUSSÃO ........................................................................................................... 34

6. CONCLUSÃO ......................................................................................................... 37

REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 38

ANEXOS ................................................................................................................. 43

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1 INTRODUÇÃO

As cirurgias colorretais com anastomose primária apresentam complicações pós-

operatórias das mais variadas formas de gravidade e morbidade, variando desde uma simples

infecção de sítio cirúrgico à deiscência anastomótica e fístula (FARIA, CAPROSSI,

AGUILAR-NASCIMENTO, 2012). Com isso, a recuperação pós-operatória de pacientes

submetidos a operações envolvendo o cólon e reto continua sendo um grande desafio para o

cirurgião.

Durante muitos anos, várias medidas foram e continuam sendo utilizadas pelos

cirurgiões para evitar ou reduzir esses eventos, dentre eles, a limpeza mecânica do intestino

através de laxantes orais e enemas.

O preparo intestinal é definido como o conjunto de medidas empregadas com

objetivo de conseguir um cólon totalmente livre de resíduos fecais com redução significativa

da flora bacteriana e com mínimo de desconforto e risco para os pacientes (HABR-GAMA et

al., 1981).

Na cirurgia colorretal, o percentual de infecção de sítio cirúrgico pode chegar até

10.0% (GRAVANTE et al., 2008). A maior parte dessas infecções é causada por bactérias

endógenas presentes no conteúdo do cólon aberto durante o procedimento. A flora intestinal

humana, em adultos, é constituída por anaeróbios e aeróbios. Dentre os anaeróbios

predominam as bactérias do gênero Bacterioides, seguidos pelos lactobacilos anaeróbios e

Clostridia. E dentre os aeróbios predominam a Escherichia coli, seguida de Pseudomonas,

Enterococus, Proteus e Klebisiella (TOWNSEND et al., 2007). Os microorganismos

anaeróbios estão presentes em uma concentração de cerca de 1011

organismos viáveis por

grama de fezes secas e em média de 108 para aeróbios (WALDVOGEL, 1978).

A limpeza exaustiva de conteúdo intestinal é ainda considerada um dos fatores

mais importantes na prevenção de complicações pela maioria dos cirurgiões (GÜENAGA,

MATOS, WILLE-JØRGENSEN, 2012). HALSTED (1887) já citava a presença de fezes no

cólon como uma das principais causas de deiscência anastomótica.

Os primeiros estudos mostraram que, ao se esvaziar completamente o cólon, a

contaminação do peritônio e dos tecidos perianastomóticos é reduzida, diminuindo assim as

complicações sépticas e aderências intra-abdominais (HABR-GAMA et al., 1981).

ROSENBERG et al., (1971) avaliaram 87 pacientes segundo o grau de limpeza do

cólon e compararam com a incidência de complicações sépticas: com bom preparo, a

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incidência de deiscência de anastomose foi reduzida de 26,0 para 8,0% e de infecção de

parede de 38,0 para 10.0%.

Da mesma forma IRVIN et al., (1973) observaram um decréscimo na deiscência

de anastomose de 24,0 para 7,0% entre 175 pacientes no grupo que apresentava preparo

intestinal.

Muitos autores como BUFARA (1988) e PITREZ (2003) propõem a associação

de antibioticoprofilaxia e o preparo intestinal prévio como medidas necessárias para profilaxia

e redução das complicações infecciosas em cirurgia colorretal.

Reconheceu-se, portanto, a importância do preparo mecânico e da antissepsia

intestinal e nesse sentido vários esquemas têm sido propostos. A limpeza mecânica por muitos

anos foi conseguida classicamente por meio de dietas, laxativos e lavagens utilizando

diferentes associações de quimioterápicos e soluções.

Os métodos de preparo intestinal começaram a ser propostos em duas opções

básicas: medidas que visam limpar o cólon de sua porção proximal para a distal, aproveitando

o sentido natural do trânsito (preparo anterógrado) ou através de eliminação do conteúdo

intestinal através de lavagens e enemas (preparo retrógrado) (HABR-GAMA et al., 1981).

Na literatura é difícil precisar o momento em que o preparo intestinal pré-

operatório foi instituído na cirurgia colorretal. O preparo mecânico de cólon para cirurgias

eletivas foi proposto pela primeira vez no século passado e tem sido realizado há mais de 100

anos com o objetivo de reduzir ou eliminar o bolo fecal, tentar reduzir infecções e

complicações na linha anastomótica e tornar a cirurgia mais estética (HARES et al., 1982).

Os modelos iniciais de preparo intestinal exigiam que os pacientes

permanecessem internados cerca de cinco dias antes da cirurgia. Recebiam dieta pobre em

resíduos e, dois dias antes da cirurgia, era instituída dieta líquida com laxantes orais e

lavagem retal. Dessa forma, obtinha-se uma excelente limpeza do cólon com um custo de

longo tempo de internação hospitalar e jejum prolongado, gerando desgaste e ansiedade para

o paciente que geralmente apresentava perda de macro-nutrientes e eletrólitos (HABR-

GAMA et al., 1981).

A baixa tolerância dos pacientes a esses métodos iniciais associada à desidratação

e distúrbios hidroeletrolíticos levaram a muitas pesquisas em busca de um melhor preparo e

com menor espoliação do paciente.

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HEWITT et al., (1973) apresentaram um método de preparo intestinal através de

irrigação intestinal contínua com uma solução salina hipertônica. O método foi inicialmente

desenvolvido para tratamento de cólera e posteriormente adaptado para lavagem intestinal

pré-operatória Essa solução era composta por cloreto de sódio, cloreto de potássio e

bicarbonato de sódio. Era infundido um volume de 9 a 13 litros via sonda nasogástrica a uma

velocidade de 75ml/min através de bomba infusora em 2 a 3 horas. O método embora

considerado rápido e econômico, expunha o paciente ao risco de severa retenção de líquidos,

distúrbios hidroeletrolíticos graves e até megacólon tóxico.

Com a finalidade de reduzir a grande quantidade de absorção de água e retenção

de líquidos que ocorre com o a irrigação digestiva de alto débito proposta por HEWITT et al.,

(1973), outras soluções foram testadas. Assim HECKETS-WELLER et al., (1976)

experimentaram pela primeira vez a solução de manitol a 4% ingerido num volume de 5 litros

e obtiveram resultados satisfatórios e com menor retenção hídrica. O manitol é um

oligossacarídeo de alto peso molecular não absorvido pela mucosa intestinal e é utilizado até

os dias atuais. Apresenta a vantagem de não precisar ser administrado por sonda nasogástrica

e de não requerer uma exagerada infusão de líquidos. Pode causar desidratação e levar a uma

produção excessiva de gases com potencial para combustão como o metano e hidrogênio

dentro da luz do cólon e levar à explosão e perfuração (PITREZ, 2003). Hoje é uma

substância ainda muito utilizada com um volume menor e concentrações de 10% a 20%

(ZMORA, PIKARSKY, WEXNER, 2001).

Nos anos 80, a solução de polietilenoglicol foi desenvolvida como método de

preparação oral mecânico do intestino (COHEN et al., 1994). É um laxativo osmótico que

apresenta limpeza satisfatória em até 90,0% dos pacientes e com menor risco de explosão que

o manitol (PITREZ, 2003). Solicita-se que o paciente faça a ingestão de pelo menos 2 a 4

litros da solução além de líquidos adicionais. É a preparação recomendada para pacientes com

insuficiência renal, cirrose, ascite ou insuficiência cardíaca congestiva. Esse tipo de

preparação pode causar cólicas abdominais, náuseas e vômitos, necessitando uso rotineiro de

antieméticos profiláticos (TOWNSEND et al., 2007).

Visando de reduzir a grande quantidade de líquido ingerida com o

polietilenoglicol, foi desenvolvida a solução de fosfato de sódio. Constatou-se que o preparo à

base de fosfato de sódio é bem mais tolerável com maior satisfação e aderência do paciente ao

tratamento (COHEN et al., 1994). Os efeitos colaterais são semelhantes ao polietilenoglicol,

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porém o maior benefício é o volume reduzido de apenas 45ml tomados duas vezes ao dia

(TOWNSEND et al., 2007). Posteriormente desenvolveram-se pílulas de fosfato de sódio para

maior comodidade posológica do paciente (COHEN et al., 1994).

Uma associação de macrogol 3350 e eletrólitos foi proposta mais recentemente

como um laxante isosmótico. Devido ao seu alto peso molecular não é absorvido no trato

digestivo, não é metabolizado em metano e hidrogênio pela flora intestinal. Atua como agente

osmótico não absorvível retendo moléculas de água através de pontes de hidrogênio. O

aumento do bolo fecal com a hidratação promove o estímulo da motilidade intestinal com

menores efeitos irritativos. (NESLON, 2001)

Os métodos de preparo intestinal evoluíram de forma que passaram a ser

utilizados também durante o ato operatório, chamado de preparo intestinal trans-operatório.

DUDLEY et al., (1980) introduziram um método de lavagem intestinal intra-

operatória anterógrada permitindo esvaziamento do cólon. O método começou a ser utilizado

por cirurgiões que se deparavam com o cólon sujo em cirurgias de urgência. VALARINI et

al., (2000) e HENRIQUES et al., (2001) demonstraram eficácia e segurança ao realizar

procedimentos de urgência com anastomose primária e lavagem do cólon durante o ato

operatório. O método proposto por HENRIQUES et al., (2001) necessita de mobilização de

todo o cólon incluindo as flexuras esplênica e hepática e introdução de sonda através do

apêndice com infusão de soro fisiológico. Este método eleva o tempo da cirurgia em pelos

menos 40 minutos e é considerado irrelevante para o autor. Os resultados desses trabalhos

mostraram baixo índice de fístulas e outras complicações infecciosas (VALARINI et al.,

2000)

Durante as últimas décadas vários autores apresentaram em seus estudos que a

remoção das fezes do cólon está associada à redução da morbi-mortalidade pós-operatória em

pacientes submetidos à operação no cólon.

A partir da década de 90, alguns estudos começam a colocar em questão o uso do

preparo intestinal como conduta necessária e até mesmo relatam argumentos favoráveis a sua

omissão (FILLMANN et al., 1995).

A publicação de estudos experimentais (KORUTH et al., 1985) demonstraram

evolução favorável em doentes submetidos à ressecção do cólon esquerdo na urgência com

anastomose primária, sem a realização de qualquer tipo de preparo do cólon e levantaram

dúvidas a respeito da real necessidade da sua realização.

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VALARINI et al., (1998) demonstraram que o preparo mecânico, em algumas

circunstâncias, pode estimular o crescimento bacteriano; pode aumentar a translocação

bacteriana que seria responsável pelas complicações sépticas vistas no pós-operatório das

operações colorretais.

Novos estudos foram surgindo e FILLMANN et al., (1995) apontaram que o

preparo mecânico do cólon não melhora a morbidade pós-operatória e pode até aumentar as

taxas de complicações infecciosas, fístulas e distúrbios hidro-eletrolíticos. Alguns anos

depois, novamente FILLMANN et al., (2001) realizaram um estudo mais profundo com cinco

anos de acompanhamento e relatou taxas menores de infecção e fístula no grupo de pacientes

que não realizou preparo intestinal

Para SCABINI et al., (2010) é possível realizar-se a anastomose sem preparo

intestinal com segurança. Os autores também demonstram que os resultados referentes aos

índices de deiscências e infecções em anastomoses nas cirurgias sem preparo mecânico são

melhores ou iguais aos obtidos entre os que são preparados mecanicamente.

O preparo mecânico do cólon tem sido questionado nos últimos anos. Estudos

recentes demonstraram que o preparo pode ser dispensado na cirurgia colorretal (FARIA,

CAPROSSI, AGUILAR-NASCIMENTO, 2012) e mesmo assim atualmente continua sendo

uma prática executada pela grande maioria dos cirurgiões e coloproctologistas. Dessa forma

podemos inferir que permanece ainda uma dúvida sobre o papel do preparo intestinal na

cirurgia colorretal com anastomose.

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2 OBJETIVO

Avaliar experimentalmente em cães o papel do preparo intestinal na anastomose

colo-cólica.

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19

3 MATERIAL E MÉTODO

3.1 Amostra

Foram utilizados quarenta e dois cães mestiços (Canis familiares), fêmeas, com

peso corporal entre 8,4 a 16,9 Kg, clinicamente sadios, oriundos do Canil da Prefeitura

Municipal de Teresina, Piauí. Foram mantidos em quarentena por 15 dias no biotério de uma

clínica veterinária privada conveniada com a Faculdade de Ciências Médicas da Universidade

Estadual do Piauí.

Os animais permaneceram em canis individuais e foram submetidos à vacinação

antirrábica e exames clínicos acompanhados por um professor médico veterinário, que

acompanhou a realização dos procedimentos cirúrgicos.

Após o período de quarentena, os animais foram submetidos à randomização

utilizando programa Microsoft Excel e divididos em dois grupos com 21 animais:

Grupo I (controle) – animais com preparo intestinal;

Grupo II (estudo) – animais sem preparo intestinal.

3.2 Mesa cirúrgica

Mesa, tipo veterinária, de aço inoxidável, com hastes de metal para contenção dos

animais, medindo 1,5 m de comprimento por 0,6 m de largura.

3.3 Sistema para realização de teste de pressão de ruptura de sutura

Foi construído um sistema de medição de pressão constituído por:

1- Cateter uretral de polietileno nº 8;

2- Esfingmomanômetro (Marca BD®), registro de 0mmHg a 300 mmHg;

3- Conexão em “Y”;

4- Pera com válvula de controle unidirecional de fluxo de ar.

O sistema foi confeccionado unindo-se o esfingmomanômetro à pera por meio de

conexão em “Y” e esta ao cateter de polietileno (Figura 1).

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20

Figura 1 – Conjunto de Esfigomanômetro com pera de insuflação

3.4 Balança

Marca Fillizola® com capacidade para até 110 Kg.

3.5 Anestésicos e drogas utilizados para eutanásia dos animais

Cloridrato de Cetamina (50 mg/ml) e Cloreto de Potássio a 20%

3.6 Técnica Operatória

3.6.1 Preparo pré-operatório

Todos os animais foram mantidos em canis separados, com alimentação padrão

(300 a 500g de ração Purina® para cães adultos por dia, assim como água a vontade) até a

véspera do procedimento. Os animais do grupo I (controle) foram submetidos a preparo pré-

operatório no dia anterior ao procedimento cirúrgico. O preparo foi iniciado na manhã do dia

anterior ao procedimento através de administração de 100ml de solução glicerinada a 12% via

retal através de sonda retal de 14 french de 8/8 horas e receberam nesse dia somente dieta

líquida sem resíduos. Os animais do grupo II (estudo) não realizaram o preparo. Os animais

de ambos os grupos obedeceram a um jejum pré-operatório de 10 horas precedentes ao ato

cirúrgico.

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21

3.6.2 Preparo anestésico e perioperatório

Os animais foram encaminhados ao laboratório de cirurgia experimental da

mesma instituição, sendo administrado antibioticoprofilaxia com Penicilina (40.000U/Kg IM)

e Metronidazol (30mg/Kg IV) no momento do ato anestésico e mantidos o metronidazol de

12/12 horas e a penicilina de 6/6 horas durante as primeiras 24hs após o procedimento.

Mantidos com Meloxicam (0,2mg/Kg SC) de 12/12 horas por 3 dias.

No pré-operatório, foi administrado Tramadol (2mg/Kg IM), o qual foi mantido

de 4/4 horas nas primeiras 24hs de pós-operatório. Foram anestesiados com Propofol

(5mg/Kg IV, lento) seguido da entubação orotraqueal e colocados em ventilação mecânica

com isoflurano em circuito semi-fechado.

Após a anestesia, realizou-se toque retal em todos os animais e classificou-se o

preparo intestinal segundo a classificação proposta por O’DWEYR et al., (1989) conforme

tabela 1. A avaliação do preparo intestinal pelo toque retal foi confirmada após abertura do

cólon durante o procedimento.

Tabela 1 – Classificação do preparo intestinal proposta por O’DWEYR (1989)

Grau Descrição

4 Excelente – Ausência de fezes

3 Bom - Mínimo resíduo fecal

2 Razoável - Fezes liquidas

1 Sujo - Fezes sólidas

Fonte: O’DWEYER et al., 1989

Os animais foram posicionados em decúbito dorsal, fixados à mesa com cordão de

algodão e realizada a tricotomia seguida de antissepsia com iodo povidine degermante e

posteriormente povidine tópico (Figura 2)

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22

Figura 2 – Posicionamento do animal no 17 após anestesia

3.6.3 Procedimento cirúrgico

Realizou-se laparotomia com incisão mediana, trans-umbilical, com

aproximadamente 12 cm de extensão através de diérese da pele, tecido celular subcutâneo,

aponeurose, peritônio. Realizou-se inspeção da cavidade abdominal em busca de

enfermidades hematogênicas e ginecológicas (Figura 3).

Figura 3 – Laparotomia mediana trans-umbilical no animal no 16.

O cólon descendente foi inicialmente identificado a 20cm da margem anal,

apreendido por clampe intestinal reto (Figura 4).

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23

Figura 4 – Identificação do cólon descendente apreendido por clampe intestinal reto no

animal no16.

O mesocólon foi dissecado e realizou-se uma colotomia através de secção com

tesoura de toda a circunferência do cólon no sentido da borda mesocólica para anti-

mesocólica (Figura 5).

Figura 5 – Realização da colotomia no animal no 16.

A colotomia foi fechada em ambos os grupos de maneira semelhante. Foi

realizada uma sutura manual contínua em plano único utilizando fio de polipropileno 000

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(Figura 6). A aponeurose abdominal foi suturada com fio de polipropileno 000 em sutura

contínua em plano único e a pele com mononylon 0000 com pontos separados.

Figura 6 – Síntese da colotomia com fio de polipropileno 000 em plano único no

animal no 16.

3.6.4 Pós-operatório

Os animais foram avaliados nos primeiros 21 dias de pós-operatório quanto à

presença de sinais e sintomas de complicações operatórias e do sítio cirúrgico. Os animais

que foram a óbito antes do 21º dia de pós-operatório foram submetidos à necropsia.

3.6.5 Avaliação da anastomose

Os animais, no 21º dia pós-operatório foram novamente encaminhados ao

laboratório de cirurgia experimental e após administração de Cloridrato de Cetamina

endovenosa, foram submetidos à eutanásia com Cloreto de potássio a 20 % (100mg/kg/IV),

colocados em mesa cirúrgica e, em posição de decúbito dorsal, realizou-se novo procedimento

laparotômico, por incisão mediana, em cicatriz cirúrgica anterior, inspecionaram-se as

anastomoses para avaliação da integridade e presença de fistulas e deiscências. As aderências

intestinais foram visualizadas e classificadas macroscopicamente de acordo com KNIGHTLY

et al., (1962), descrita na tabela 2.

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Tabela 2 – Índice de Aderências de KNIGTHLY (1962)

Grau Descrição

0 Ausência de aderência

1 Aderência única e facilmente separável

2 Aderências em pequena extensão e que se rompem com pequena tração

3 Aderências viscerais extensas que se estendem até a parede

4 Aderências numerosas, extensas e densas que envolvem o mesentério,

intestino, omento e parede abdominal

Fonte: KNIGHTLY et al., 1962

Realizou-se uma colectomia segmentar para exérese do segmento a ser testado, ou

seja, ressecaram-se cerca de 6cm de cólon que envolvia a sutura, aproximadamente 3cm

proximais e 3cm distais à linha de sutura.

O segmento foi então cateterizado em sua porção proximal por sonda uretral

número 8,0; conectada ao sistema para avaliação da pressão de rompimento de sutura, sendo

fixada com dois fios de algodão 00 e a extremidade distal da peça foi clampeada com uma

pinça de Kelly para impedir a saída do ar (Figura 7).

Figura 7 – Sistema para teste de pressão ruptura confeccionado com segmento

intestinal do animal no 23.

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Em seguida, foi insuflado ar, de forma contínua, pela compressão manual sobre a

pera conectada ao dispositivo, distendendo o cólon até o nível pressórico máximo de

300mmHg (Figura 8). Foram analisados o local e os valores da ruptura da síntese cólica.

Figura 8 – Sistema para teste de pressão de ruptura com segmento intestinal totalmente

insuflado a uma pressão de 300mmHg no animal no 23.

3.7 Delineamento do estudo:

Evento Quarentena Procedimento

cirúrgico

Eutanásia

Cronologia dos

eventos

15 dias precedentes

ao procedimento

Cirúrgico

Dia do procedimento

cirúrgico inicial,

grupos controle e de

estudo

21º dia de pós-

operatório

Figura 9 – Cronologia do experimento.

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3.8 Parâmetros de avaliação

Foram avaliados os seguintes parâmetros: peso do animal, preparo do cólon,

evolução clínica dos animais no pós-operatório, grau de aderências intra-abdominais e pressão

de ruptura da anastomose.

3.9 Análise estatística

Os grupos estudo e controle foram comparados entre si para cada um dos

parâmetros informados pelo teste t Student para amostras não pareadas para dados

paramétricos e Mann-Whitney test para dados não paramétricos. Tal procedimento possibilita

inferir se as diferenças observadas nos valores das variáveis são consequência apenas da

variabilidade natural dos sistemas biológicos (diferença estatisticamente não significativa) ou

se a intervenção realizada produziu um efeito de diferenciação entre os grupos o qual

extrapola a variabilidade ao acaso dos sistemas biológicos (diferença estatisticamente

significativa).

O intervalo de confiança adotado foi de 95% (p<0,05), logo, ao realizar os testes

de comparação das variáveis o resultado é sempre sumarizado no valor estatístico “p”

(significância) precisa ter valor menor que 0,05 para que uma diferença seja considerada

estatisticamente significativa.

Os dados foram analisados no programa estatístico GraphPad Prism® 5.0.

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28

4 RESULTADOS

4.1 Peso

O peso dos animais variou de 8,4 a 16,9 Kg. Conforme a figura 10, observou-se

pequena diferença entre os dois grupos estudados mas sem diferença estatisticamente

significante (p>0,05).

PESO CONTROLE PESO ESTUDO0

5

10

15

20

11,86

13,04*

*p=0,3061

Pe

so

do

s a

nim

ais

(K

g)

Figura 10 – Distribuição do peso entre os grupos

4.2 Evolução clínica

Durante a realização do experimento, não foram observadas grandes perdas

sanguíneas e nem intercorrências transoperatórias.

A maioria dos cães, de ambos os grupos, apresentaram evolução clínica

satisfatória, deambulando e aceitando bem a dieta por via oral a partir do primeiro dia de pós-

operatório. A primeira evacuação ocorreu nas primeiras 24 horas de pós-operatório. Não

apresentaram diarreia e/ou vômitos.

Ocorreu um (4,5%) óbito em cada grupo, sendo o do grupo I (controle) no 7º dia

pós-operatório devido à deiscência da anastomose colo-cólica (Figura 11).

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Figura 11 – Deiscência parcial da anastomose em cão do grupo I, animal no 12.

O animal do grupo II (estudo) foi a óbito no 10º dia de pós-operatório devido a

uma infecção de sítio cirúrgico incisional profunda com deiscência total da parede abdominal

com evisceração e anastomose íntegra (Figura 12).

Comparando os grupos entre si, não houve diferença significantemente estatística

com relação à presença de deiscência (p=0.3795).

Figura 12 – Infecção e deiscência da parede abdominal com anastomose íntegra em cão do

grupo II, animal no 32.

Todos os animais do grupo II (estudo) apresentavam o cólon sujo e repleto de

fezes avaliado no momento pelo toque retal e após abertura do cólon na cirurgia. O preparo

intestinal realizado no grupo I (controle) foi eficaz: 70,0% apresentavam um bom preparo; em

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30

30,0% obteve-se um excelente preparo segundo a classificação O´DWEYR et al., (1989) e é

demonstrada na figura 13.

BOM EXCELENTE0

20

40

60

80 70

30

Fre

qu

ên

cia

s (

%)

Figura 13 – Classificação do preparo intestinal no grupo controle.

4.3 Aderências intestinais

As aderências intestinais foram classificadas após abertura da cavidade abdominal

no 21º dia de pós-operatório (figuras 14 e 15) segundo a classificação de KNIGTHLY et al.,

(1962).

Figura 14 – Aderências intestinais grau 2 (KNIGHTLY) no animal no 25

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Figura 15 – Aderências intestinais grau 4 (KNIGHTLY) no animal no 23

Os animais apresentaram as aderências distribuídas conforme a figura 16. Aqueles

do grupo II (estudo) apresentaram uma frequência maior de aderências no grau 2 (35,0%) e

grau 3 (25,0%). Já os animais do grupo I (controle) apresentaram uma distribuição mais

homogênea: 25,0% apresentaram aderências grau 1, 25,0% grau 2, 25,0% grau 3 e 20,0%

grau 4. Observou-se que a frequência do grau de aderências dos animais dos grupos controle e

estudo não apresentaram diferenças estatisticamente significantes (p=0,5685).

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AUSÊNCIA GRAU 1 GRAU 2 GRAU 3 GRAU 40

10

20

30

40ADERÊNCIAS CONTROLE

ADERÊNCIAS ESTUDO*

5 5

25

20

25

35

*p=0,5685

25 25

20

15

Fre

qu

ên

cia

s (

%)

Figura 16 – Distribuição dos animais conforme aderências intra-abdominais

4.4 Pressão de ruptura da anastomose

Ao se realizar insuflação do segmento cólico, houve uma ruptura em cada grupo,

ou seja, 95,0% das anastomoses de ambos os grupos suportaram uma pressão de insuflação de

300mmHg. Uma anastomose dos animais do grupo I (controle) rompeu com 270mmHg e a

outra anastomose dos animais do grupo II (estudo) rompeu com 220mmHg.

Comparando-se os dois grupos, não houve diferença estatisticamente significante

(p=0,9714), conforme figura 17.

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33

0

20

40

60

80

100CONTROLE COM PREPARO

ESTUDO SEM PREPARO

95 95*

5 5

*p=0,9714

SEM ROMPIMENTO ROMPIMENTO

Fre

qu

ên

cia

s (

%)

Figura 17 – Ruptura da anastomose a uma pressão 300mmHg

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5 DISCUSSÃO

Os animais utilizados nesse experimento foram cães fêmeas devido à facilidade

de manuseio e obtenção, semelhança das alças intestinais com humanos e por sua cavidade

pélvica ser de tamanho adequado para a realização do procedimento (REGADAS et al.,2005).

Além de que a sua microflora intestinal, o suprimento sanguíneo e as relações anatômicas do

cólon descendente também são semelhantes em cães e seres humanos (O’DWEYR et al.,

1989).

Os animais do grupo II (estudo) apresentaram um peso maior em relação ao

grupo I (controle), porém o peso não pode ser considerado fator influenciador dos resultados,

pois o grupo estudo apresenta média de peso estatisticamente equivalente ao grupo controle.

O preparo do cólon pode ser realizado de várias maneiras. Os métodos são

propostos em duas opções básicas: medidas que visam limpar o cólon de sua porção proximal

para a distal, aproveitando o sentido natural do trânsito (preparo anterógrado) ou através de

eliminação do conteúdo intestinal através de lavagens e enemas (preparo retrógrado) (HABR-

GAMA et al., 1981). Foi adotado o método retrógado nesse estudo devido a sua maior

facilidade de aplicação e pela dificuldade de administração por via oral de laxantes aos

animais. O preparo do cólon nos animais do grupo I (controle) foi eficaz já que os mesmos

apresentaram um preparo de cólon classificado como excelente (30,0%) e bom (70,0%). Esses

dados demonstraram que se pode conseguir um bom preparo em cães com lavagem retrógrada

do cólon 24hs antes da cirurgia com solução de glicerina a 12,0% (BEZERRA, 2010).

Ainda existe atualmente discussão sobre como confeccionar uma anastomose:

plano único ou dois planos, sutura contínua ou com pontos separados e o melhor fio a ser

utilizado. Neste estudo, foi optado para a confecção da anastomose cólica uma sutura tipo

contínua, em plano único e extra-mucoso. Este é um método simples, rápido e econômico,

promovendo impermeabilidade e pouca reação inflamatória tecidual, sendo tão seguro quanto

à sutura com pontos separados (REGADAS et al., 1990, FIGUEIREDO, 2007). Os fios

monofilamentares são preferíveis aos multifilamentares, pois estes últimos favorecem o

surgimento de infecções, acentuando a reação inflamatória (TORRES NETO et al., 2007). O

fio escolhido foi o polipropileno por ser monofilamentar e com boa força tênsil e não

desencadear grande reação inflamatória (RIBEIRO, 1998).

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O percentual de infecção de sítio cirúrgico em cirurgia colorretal com anastomose

pode chegar até 10.0% (GRAVANTE et al., 2008). ROSEMBERG et al., (1971) e IRVIN et

al., (1973) demonstraram que o preparo intestinal é capaz de reduzir significativamente as

complicações infecciosas. Nesse trabalho observou-se que a taxa de mortalidade foi igual

entre os dois grupos e os óbitos ocorreram por complicações infecciosas. Um animal do grupo

I fez deiscência da anastomose evoluindo com peritonite, com óbito no 7º dia de pós-

operatório. Enquanto um animal do grupo II foi acometido por infecção de sítio cirúrgico

incisional profunda e evoluiu com deiscência total da parede abdominal e óbito no 10º dia de

pós-operatório. Esses resultados apontam que o preparo intestinal mecânico não altera a

mortalidade em cirurgia colorretal com anastomose (FERES et al., 2001; TORRES NETO et

al., 2007; SCABINI et al., 2010).

O colonócito recebe boa parte da sua nutrição através de ácidos graxos livres

intraluminais produzidos por fermentação pelas bactérias do cólon (ZMORA, PIKARSKY,

WEXNER, 2001). Autores relataram que a eliminação ou redução dessas bactérias através do

preparo intestinal pode ser deletéria à cicatrização das anastomoses aumentando a incidência

de deiscências e fístulas (GRAVANTE et al., 2008). Neste estudo observou-se que a única

deiscência da anastomose ocorreu no grupo com preparo intestinal.

A intensidade das aderências é medida indireta da presença de complicações

anastomóticas e por consequência, também medida indireta na cicatrização das anastomoses.

No presente estudo, foi utilizado o parâmetro índice de aderências de Knigthly (KNIGTHLY

et al., 1962). Os valores nesse caso foram percentuais e a comparação ocorreu por meio do

Mann-Whitney test gerando p=0,9112 e determinando que as diferenças entre os grupos não

apresentam significância estatística. Tal achado define que o grau de aderências dos animais

do grupo estudo são equivalentes àqueles dos animais do grupo controle e que este parâmetro

não sofreu intensificação em função das diferenças do preparo intestinal pré-operatório. Esse

dado difere o que era proposto onde se acreditava que a limpeza do cólon reduz a

contaminação do peritônio e dos tecidos perianastomóticos, reduzindo assim a quantidade de

aderências (HABR-GAMA et al., 1981).

Os parâmetros mecânicos são utilizados com frequência em estudos de

cicatrização de suturas intestinais. Um dos métodos mais utilizados é a avaliação da pressão

de ruptura que consiste na distensão de um segmento intestinal com líquido ou gás até que se

desenvolva uma abertura ou ruptura (GONÇALVES, 2005). Para BEZERRA (2010) e

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IKEUCHI et al., (1999), este é um bom parâmetro para avaliação das suturas e ainda com a

vantagem de ser de baixo custo.

Foi utilizado um sistema confeccionado com um esfingnomanômetro conectado à

pera e um cateter por meio de conexão em “Y” que insufla o segmento intestinal a ser testado.

Esse sistema foi proposto por BEZERRA (2010) que comparou o fechamento do coto distal

do cólon através de sutura manual e lacre plástico.

A avaliação foi feita no segmento intestinal onde foi realizada anastomose, sendo

que esta ficou exatamente no centro da peça que foi testada. A pressão de ruptura é um bom

parâmetro para monitorar a cicatrização de anastomoses intestinais, contanto que a

ruptura ocorra na área da anastomose (GONÇALVES, 2005; BEZERRA, 2010).

TORRES NETO et al.,(2007) realizaram um estudo experimental em coelhos e

demonstraram que o preparo intestinal traz maior segurança para a anastomose por aumentar a

concentração de colágeno e melhorar o padrão de entrelaçamento das fibras. Neste estudo,

ocorreu ruptura da linha de sutura em um animal de cada grupo. Observou-se que embora

uma anastomose de um animal do grupo I (com preparo) tenha rompido com 270mmHg e

uma anastomose de um animal do grupo II (sem preparo) com 220mmHg, não existiu

diferença estatisticamente significante (p=0,9714). Isso implica que a frequência com que

ocorreram rupturas nos animais do grupo estudo foram equivalentes àquela dos animais

controle e que esse parâmetro não sofreu intensificação em função de o grupo estudo não ter

sido submetido a preparo intestinal pré-operatório. Analisando esses dados, é possível sugerir

que o preparo intestinal não interferiu macroscopicamente na cicatrização das anastomoses.

A perspectiva atual é que a maioria dos cirurgiões e coloproctologistas ainda não

se sentem seguros em realizar uma cirurgia colorretal com anastomose sem preparo, mesmo

com estudos experimentais, revisões e meta-análises demonstrando que o preparo pode ser

dispensado.

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37

5. CONCLUSÃO

A anastomose colo-cólica sem preparo intestinal prévio apresentou a mesma

segurança e eficácia da anastomose realizada com preparo prévio.

O preparo intestinal pode ser desnecessário na cirurgia colorretal com anastomose.

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REFERÊNCIAS

BEZERRA, C.R.S.; Fechamento do coto distal do cólon sigmóide comparando sutura

contínua com lacre plástico. Estudo experimental em cães. 2010. 47 p. Dissertação

(Mestrado em Cirurgia). Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2010.

BUFFARA , J.R.; BRENNER, S.; SOUZA, F.J.; MARCHESINI, J.B.; MALAFIA, O.

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v.3, n.8, p.94-97. 1988.

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DUDLEY, H.A.F.; RADELIDDE, A.G.; MCGEEHAN, D. Intraoperative irrigation of the

colon to permit primary anastomosis. Br J Surg., n.67, p.80-1, 1980.

FARIA, M.S.M.; CAPOROSSI, C.; AGUILAR-NASCIMENTO, J.E. Colorectal resection

without mechanical colon cleansing: experience with 54 patients. J Coloproctol., n.32, p.123-

126, 2012.

FERES, O.; SANTOS JR, J.C.M.; ANDRADE, J.I. The role of mechanical bowel preparation

for colonic resection and anastomosis: an experimental study. Int J Colorectal Dis., v.16,

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FIGUEIREDO A.F.; Efeitos da Suplementação nutricional com Glicina e com Glutamina

na Cicatrização Colônica em Coelhos. 2007. 65 p. Dissertação (Mestrado em Cirurgia).

Minas Gerais.Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.

FILLMANN, E.E.P.; FILLMANN, L.S.; FILLMANN, H.S. Cirurgia colorretal eletiva sem

preparo. In: Habr-Gama A & Barone B. Atualização em colo-proctologia. São

Paulo, Sociedade Brasileira de Coloproctologia e Associação Latino-americana de

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ANEXO A – Parecer do Comitê de Ética da FACID