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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FARMÁCIA AVALIAÇÃO DOS PARÂMETROS BIOQUÍMICOS, ESTADO NUTRICIONAL E CONDIÇÃO DE ESTRESSE, EM INDIVÍDUOS COM DOENÇAS CRÔNICAS, CONSIDERANDO A PARTICIPAÇÃO DOS MESMOS EM UM PROGRAMA DE PREVENÇÃO PARA DOENÇAS CARDIOVASCULARES. RODRIGO SCHÜTZ FLORIANÓPOLISSC 2009

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  • 1

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FARMCIA

    AVALIAO DOS PARMETROS BIOQUMICOS, ESTADO

    NUTRICIONAL E CONDIO DE ESTRESSE, EM

    INDIVDUOS COM DOENAS CRNICAS, CONSIDERANDO

    A PARTICIPAO DOS MESMOS EM UM PROGRAMA DE

    PREVENO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES.

    RODRIGO SCHTZ

    FLORIANPOLISSC

    2009

  • 2

    UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM FARMCIA

    AVALIAO DOS PARMETROS BIOQUMICOS, ESTADO

    NUTRICIONAL E CONDIO DE ESTRESSE, EM

    INDIVDUOS COM DOENAS CRNICAS, CONSIDERANDO

    A PARTICIPAO DOS MESMOS EM UM PROGRAMA DE

    PREVENO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES.

    rea de Concentrao: Desenvolvimento de estratgias de

    diagnstico e de monitoramento fisiopatolgico e teraputico

    Dissertao apresentada ao

    Programa de Ps Graduao da

    Universidade Federal de Santa

    Catarina como requisito parcial

    obteno do ttulo de Mestre em

    Farmcia.

    Orientadora: Prof. Dra. Geny

    Aparecida Cantos

    FLORIANPOLISSC

    2009

  • 3

    AVALIAO DOS PARMETROS BIOQUMICOS, ESTADO

    NUTRICIONAL E CONDIO DE ESTRESSE, EM

    INDIVDUOS COM DOENAS CRNICAS, CONSIDERANDO

    A PARTICIPAO DOS MESMOS EM UM PROGRAMA DE

    PREVENO PARA DOENAS CARDIOVASCULARES.

    POR

    RODRIGO SCHTZ

    Dissertao julgada e aprovada em

    sua forma final pela Orientadora e

    pelos membros da Banca

    Examinadora, composta pelos

    professores doutores:

    Banca examinadora:

    __________________________________

    Liliete Canes Souza (ACL/CCS/UFSC Membro Titular)

    __________________________________

    Flvia Martinello (ACL/CCS/UFSC Membro Titular)

    __________________________________

    Marcos Jos Machado (ACL/CCS/UFSC Membro Titular)

    __________________________________

    Geny Aparecida Cantos (ACL/CCS/UFSC Membro Titular)

    Prof. Dr Elenara Lemos Senna

    Coordenadora do Programa de Ps-graduao em

    Farmcia da UFSC

    Florianpolis, 03 de Dezembro de 2009.

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    A Deus, por seu amor incondicional e poder soberano. A minha famlia, pais Wilson Schtz e Ftima G.

    Schtz, irm Helen J. Schtz pelo incentivo e crdito.

    A minha namorada Thais por estar sempre ao meu lado nos momentos mais difceis.

    A minha orientadora Prof. Dr Geny A. Cantos pela dedicao, conselhos, disponibilidade, confiana, compreenso,

    sabedoria, pacincia, dignidade e companheirismo aluno-professor.

    Ao Prof. Dr Manoel Lino agradecimentos calorosos pelos esclarecimentos realizados sobre as anlises estatsticas.

    Ao Ncleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Assistncia a Dislipidemia do Hospital Universitrio da Universidade

    Federal de Santa Catarina (NIPEAD/HU/UFSC) pelo acolhimento e

    experincia.

    Aos funcionrios do Laboratrio do Hospital Universitrio da UFSC pela gentileza, colaborao e acesso aos dados

    bioqumicos.

    A educadora fsica Maria Edinia da Rocha pelo trabalho voluntrio de watsu, halliwick e biodanza

    .

    Aos queridos pacientes, que por meio desta obra tornaram-se amigos para toda uma vida.

    Aos membros da Banca Examinadora por aceitarem o convite e, que de alguma forma, foram e sero muito especiais para

    mim.

    Aos professores do Curso de Mestrado pelos ensinamentos.

    Aos colegas de mestrado pela amizade. Obrigado a todos no citados que colaboraram em

    alguma etapa da realizao deste trabalho.

  • 5

    RESUMO

    Este trabalho foi realizado em 2008, em parceria com o Ncleo

    Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Assistncia a Dislipidemia do

    Hospital Universitrio da Universidade Federal de Santa Catarina e com

    o processo holstico hidroteraputico, tcnica watsu/halliwick e

    biodanza

    , oferecido a 26 indivduos que apresentavam doenas crnicas. Os indivduos integrantes deste trabalho tiveram atendimento

    cardiolgico, nutricional e foram classificados de acordo com os fatores

    de risco para doenas cardiovasculares. O monitoramento teraputico foi

    realizado a cada 4 meses por meio de questionrios de estresse e de

    exames bioqumicos. Utilizou-se a ANOVA para estatstica

    multivariada de medidas repetidas. As variveis quantitativas deste

    estudo foram expressas em mdia desvio padro ou percentagens. A

    anlise estatstica foi subdividida de forma descritiva e longitudinal.

    Foram realizadas 48 sesses da referida modalidade de tratamento, e

    cada sesso teve durao de 2 horas e meia. Os resultados desta pesquisa

    mostraram que 69,2% tinham idade como fator de risco. A prevalncia

    inicial e final do tratamento diferenciado evidenciou uma amenizao da

    hipertenso arterial (de 42,30% para 34,61% dos pacientes), do diabetes

    (de 30,76% para 23,07%), sedentarismo (de 23,07% para 0,00%) e do

    tabagismo (de 3,84% para 0,00%). Pelo Escore de Risco de Framingham

    estratificou-se o risco de desenvolver doena arterial coronariana no

    grupo intencional, na qual os resultados foram inicialmente 65,4% dos

    que apresentavam baixo risco, aumentando para 76,9% e finalizando

    com a elevao para 88,5%. Se a nfase for dada ao grupo de alto risco,

    pode-se notar que houve uma reduo de 7,7% para 3,8%. No primeiro

    perodo, 53,84% dos pacientes tinham 6 ou mais fatores de risco

    associados, sendo que ao final houve uma diminuio para 15,38%. Na

    adeso ao tratamento nutricional apenas 34,61% controlavam sua dieta e

    por meio da conscientizao educativa elevou-se este nmero para

    88,46%. Houve uma reduo nos valores de IMC, sendo que 78,56%

    tinham sobrepeso ou obesidade e depois do tratamento esses valores

    passaram para 69,22%. No tocante a condio de estresse 80,76% dos

    indivduos tinham diestresse e ao final do tratamento este valor atenuou-

    se para 19,23% alm da diminuio da utilizao de frmacos

    antidepressivos. Com relao aos parmetros bioqumicos, constatou-se

    um aumento estatisticamente significativo no HDL-C (p=0,001), para

    classificao da dislipidemia no grupo estudado, houve uma

    preponderncia na hipercolesterolemia isolada, contrastando com a

    atenuao da hipertrigliceridemia isolada e aos valores constantes da

  • 6

    hiperlipidemia mista. Houve tambm uma reduo substancial da quarta

    classificao, pois nesta, inicialmente 10 pacientes ou 38,46% tinham

    diminuio isolada da frao HDL-C ou associao ao aumento do TG

    ou LDL-C, chegando ao final do tratamento com apenas um paciente na

    mesma condio. No incio do tratamento a maioria dos pacientes

    apresentou a glicemia de jejum, o cido rico, a creatinina, a ALT e a

    microalbuminria dentro da faixa de normalidade. Ao longo do

    tratamento houve uma minimizao nos valores destes parmetros,

    sendo que para AST, houve valor estatisticamente significativo

    (p=0,000), entre a diferena das mdias. Por conseguinte, dos eletrlitos

    analisados (Na, K, Mg, Ca e Cl), somente o clcio teve uma reduo nas

    mdias. Conclui-se que o programa oferecido aos pacientes que

    participaram deste projeto proporcionou de maneira geral, melhora na

    maioria nos parmetros bioqumicos analisados, estado nutricional e no

    estresse psicolgico. Estes indivduos ampliaram o nvel de

    conscientizao sobre seu modo de viver, sobretudo no que diz respeito

    ao estabelecimento de metas reais alcanveis.

    Palavras-chave: Doenas crnicas, doenas cardiovasculares,

    dislipidemias, fatores de risco coronariano, estresse, preveno,

    reabilitao.

  • 7

    ABSTRACT

    This study was conducted in 2008 in partnership with the

    Interdisciplinar Nucleus for Teaching, Research and Care on

    Hyperlipidemia at the Hospital in Santa Catarina State University, and

    with the holistic process hydrotherapeutic, technical watsu/halliwick and

    biodanza

    , offered to 26 individuals have chronic diseases. Individuals

    members of this study were cardiac care, nutrition and were classified

    according to risk factors for cardiovascular disease. The therapeutic

    monitoring was performed every 4 months using questionnaires of stress

    and biochemical tests. We used a multivariate ANOVA for repeated

    measures. Quantitative variables of this study were expressed as mean

    standard deviation or percentages. Statistical analysis was divided in a

    descriptive and longitudinal. Were carried out 48 sessions of this

    treatment modality, and each session lasted 2 hours and half. Our results

    showed that 69,2% were age as a risk factor. The prevalence of initial

    and final differential treatment showed a softening of hypertension

    (from 42,30% to 34,61%of patients), diabetes (from 30,76% to 23,07%),

    lifestyle (from 23,07% to 0,00%) and smoking (from 3,84% to 0,00%).

    At Risk Score Framingham stratified the risk of developing coronary

    artery disease in the intentional group, in which results were initially

    65,4% of those with low risk, increasing to 76,9% and ending with the

    rise to 88,5%. If the emphasis is given to high-risk group, may be noted

    that there was a reduction of 7,7% to 3,8%. In the first period 53,84% of

    patients had 6 or more associated risk factors, and the end there was a

    decrease to 15,38%. In adherence to nutritional treatment only 34,61%

    controlled their diet and through awareness education increased this

    figure to 88,46%. There was a reduction in BMI, while 78,56% were

    overweight or obese and after treatment these figures were 69,22%. As

    the stress condition 80,76% of subjects had diestress and after the

    treatment attenuated this value to 19,23% in addition to reducing the use

    of antidepressants. Regarding the biochemical parameters, there was a

    statistically significant increase in HDL-C (p=0,001), for classification

    of dyslipidemia in the study group, there was a preponderance in

    isolated hypercholesterolemia, in contrast to the attenuation of isolated

    hypertriglyceridemia and the values shown in mixed hyperlipidemia.

    There was also a substantial reduction in the fourth classification, for

    this, initially 10 patients or 38,46% had isolated reduction in HDL-C or

    association with the increase of TG and LDL-C, reaching the end of

    treatment with only one patient in the same condition. At the beginning

    of treatment most patients had fasting blood glucose, uric acid,

  • 8

    creatinine, ALT and microalbuminuria within the normal range. During

    the treatment there was a minimization in the values of these parameters,

    and for AST, there was a statistically significant (p=0,000) between the

    difference of means. Therefore, analysis of electrolytes (Na, K, Mg, Ca

    and Cl), only calcium had a reduction in the average. Concluded that the

    program offered to patients who participated in this project provided in

    general, improvement in the majority in the biochemical analysis,

    nutritional status and psychological stress. These individuals increased

    the level of awareness about their way of life, especially with regard to

    the establishment of real goals achievable.

    Keywords: Chronic diseases, cardiovascular diseases,

    dyslipidemia, coronary risk factors, stress, prevention, rehabilitation

  • 9

    SUMRIO

    Lista de Tabelas _________________________________________ 11

    Lista de Figuras _________________________________________ 12

    Lista de Abreviaturas _____________________________________ 13

    1. Introduo ____________________________________________ 16

    2. Objetivos _____________________________________________ 20

    2.1 Objetivo geral _________________________________________ 20

    2.2 Objetivos especficos ___________________________________ 20

    3. Fundamentao terica _________________________________ 21

    3.1 Fatores de risco para doenas cardiovasculares _______________ 21

    3.2 Dislipidemias _________________________________________ 21

    3.3 Obesidade e sndrome metablica _________________________ 22

    3.4 Diabetes mellitus ______________________________________ 23

    3.5 Hipertenso arterial sistmica_____________________________ 23

    3.6 Sedentarismo _________________________________________ 24

    3.7 Tabagismo ___________________________________________ 24

    3.8 Estresse psicolgico (diestresse) __________________________ 25

    3.9 Panorama histrico da reabilitao aqutica _________________ 25

    3.10 Efeitos fisiolgicos da gua _____________________________ 26

    3.11 O mtodo watsu ______________________________________ 27

    3.12 O mtodo halliwick ___________________________________ 28

    3.13 O mtodo biodanza

    __________________________________ 28 4. Metodologia___________________________________________ 30

    4.1 Grupo em estudo ______________________________________ 30

    4.2 Fases de avaliao _____________________________________ 30

    a) Fase I ________________________________________________ 31

    b) Fase II _______________________________________________ 31

    c) Fase III _______________________________________________ 31

    4.2 Reunies do ncleo ____________________________________ 31

    4.3 Comit de tica ________________________________________ 32

    4.4 Atendimento cardiolgico e determinao dos fatores de risco ___ 32

    4.4.1 Idade ______________________________________________ 32

    4.4.2 Hipertenso arterial sistmica ___________________________ 33

    4.4.3 Dislipidemia ________________________________________ 33

    4.4.4 Obesidade __________________________________________ 33

    4.4.5 Circunferncia da cintura ______________________________ 33

    4.4.6 Diabetes mellitus _____________________________________ 33 4.4.7 Tabagismo __________________________________________ 34

    4.4.8 Sedentarismo ________________________________________ 34

    4.4.9 Condio de estresse __________________________________ 34

  • 10

    4.5 Atendimento __________________________________________ 34

    4.6 Acompanhamento nutricional _____________________________ 35

    4.7 Coleta de amostras biolgicas _____________________________ 35

    4.8 Exames laboratoriais ____________________________________ 36

    4.9 Atividades hidroterpicas ________________________________ 37

    4.10 Dados qualitativos _____________________________________ 38

    4.11 Anlise estatstica _____________________________________ 39

    5. Resultado e discusso ___________________________________ 40

    5.1 Anlise descritiva ______________________________________ 40

    5.1.1 Fatores de risco ______________________________________ 40

    5.1.2 Fatores de risco no modificveis ________________________ 41

    5.1.3 Fatores de risco modificveis ____________________________ 41

    5.1.4 Estratificao de risco _________________________________ 43

    5.1.5 Associao dos fatores de risco __________________________ 45

    5.1.6 Orientao nutricional _________________________________ 46

    5.1.7 Adeso ao tratamento nutricional _________________________ 47

    5.1.9 Avaliao nutricional __________________________________ 49

    5.2 Dados quantitativos _____________________________________ 49

    5.3 Avaliao nutricional: anlise subjetiva _____________________ 51

    5.4 Condio de estresse ____________________________________ 55

    5.5 Anlise longitudinal dos parmetros bioqumicos _____________ 61

    5.5.1 Perfil lipdico ________________________________________ 61

    5.5.2 Glicemia de jejum ____________________________________ 65

    5.5.3 cido rico __________________________________________ 67

    5.5.4 Creatinina ___________________________________________ 69

    5.5.5 Aspartato aminotransferase e alanina aminotransferase________ 72

    5.5.6 Microalbuminria_____________________________________ 76

    5.5.7 Sdio, potssio, magnsio, clcio e cloretos ________________ 78

    6. Consideraes finais ____________________________________ 80

    7. Concluses ____________________________________________ 83

    8. Referncias bibliogrficas _______________________________ 85

    9. Anexo ________________________________________________ 99

    9.1 Anexo I - Determinao do estado de estresse _______________ 100

    10. Apndices ___________________________________________ 103

    10.1 Apndice A-Aprovao do comit de tica e pesquisa com seres

    humanos _______________________________________________ 104

    10.2 Apndice B-Termo de consentimento livre e esclarecido

    (TCLE) ________________________________________________ 105

    710.3 Apndice C-Artigos cientficos _________________________ 106

    10.4 Apndice D-Trabalhos apresentados em eventos ____________ 108

  • 11

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1: Freqncia e percentual do grupo estudado considerando a

    idade como FR ___________________________________________ 41

    Tabela 2: Associaes de FR no grupo estudado no incio e final do

    tratamento _______________________________________________ 46

    Tabela 3: ndice de massa corporal no grupo estudado ____________ 51

    Tabela 4: Percentual de indivduos com valores alterados para relao

    cintura quadril ___________________________________________ 51

    Tabela 5: Classificao das dislipidemias dos indivduos no incio (I) e

    final (III) ________________________________________________ 63

    Tabela 6: Relao cido rico srico por perodo e sexo do grupo

    estudado ________________________________________________ 69

    Tabela 7: Relao creatinina srica por perodo e sexo do grupo

    estudado ________________________________________________ 71

    Tabela 8: Relao ALT por perodo e sexo do grupo estudado _____ 75

    Tabela 9: Mdia e desvios-padro dos parmetros Na, K, Mg, Ca e

    Cl______________________________________________________79

  • 12

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1: Opes teraputicas visando minimizao dos fatores de

    risco modificveis _________________________________________ 32

    Figura 2: Fatores de risco para DAC do grupo estudado ___________ 42

    Figura 3: Distribuio estratificada de risco coronariano inicial _____ 44

    Figura 4: Distribuio estratificada de risco coronariano

    intermedirio _____________________________________________ 44

    Figura 5: Distribuio estratificada de risco coronariano final ______ 44

    Figura 6: Distribuio do estado nutricional por controle de dieta no

    grupo estudado ___________________________________________ 48

    Figura 7: Distribuio do estado de estresse pela condio de estresse 59

    Figura 8: Concentrao mdia do HDL-C durante o tratamento _____ 63

    Figura 9: Concentrao mdia da glicemia de jejum durante o

    tratamento _______________________________________________ 65

    Figura 10: Concentrao mdia do cido rico durante o tratamento _ 68

    Figura 11: Concentrao mdia da creatinina durante o tratamento __ 70

    Figura 12: Concentrao mdia da AST durante o tratamento ______ 73

    Figura 13: Concentrao mdia da ALT durante o tratamento ______ 74

    Figura 14: Concentrao mdia da microalbuminria durante o

    tratamento _______________________________________________ 77

  • 13

    LISTA DE ABREVIATURAS

    AFIRMAR Avaliao dos Fatores de Risco para Infarto

    Agudo do Miocrdio no Brasil

    AIDS Sndrome da Imunodeficincia Adquirida

    ALT Alanina Aminotransferase

    ANOVA Anlise de varincia

    AST Aspartato Aminotransferase

    AVC Acidente Vascular Cerebral

    C/Q Razo entre Cintura e Quadril

    Ca Clcio

    CC Circunferncia da Cintura

    Cl Cloretos

    CT Colesterol Total

    DAC Doena Arterial Coronariana

    DCV Doenas Cardiovasculares

    DM Diabetes mellitus

    DMII Diabetes mellitus tipo 2

    EDTA cido Etilenodiamino Tetra-actico

    EFR Escore de Risco de Framingham

    FR Fator(es) de Risco

    GOT Transaminase glutmica-oxalactica

    GPT Transaminase glutmica-piruvca

    HAS Hipertenso Arterial Sistmica

    HDL-C Colesterol constituinte da Lipoprotena de

    Alta Densidade

    HMG-CoA redutase 3-hidroxi-3-metilglutaril coenzima A

    redutase

  • 14

    IAM Infarto Agudo do Miocrdio

    IDL Lipoprotenas de densidade intermediria

    IMC ndice de Massa Corporal

    INMETRO Instituto de Metrologia

    INTERHEART

    Risco de Infarto Agudo do Miocrdio

    Associado com Fatores de Risco na

    Populao Global

    K Potssio

    LDL-C Colesterol constituinte da Lipoprotena de

    Densidade Baixa

    Lp(a) Lipoprotena a

    Mg Magnsio

    MRFIT Multiple Risk Factor Intervention Trial

    Na Sdio

    NaCl Cloreto de sdio

    NCEP

    Programa Nacional de Educao sobre o

    Colesterol (National Cholesterol Education

    Program)

    NDM No diabtico

    NIPEAD/HU/UFSC

    Ncleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino

    e Assistncia a Dislipidemia do Hospital

    universitrio da Universidade Federal de

    Santa Catarina

    OMS Organizao Mundial de Sade

    PAD Presso Arterial Diastlica

    PAS Presso Arterial Sistlica

    SASC/HU/UFSC

    Servio de Atendimento a Sade da

    Comunidade Universitria do Hospital

    Universitrio da Universidade Federal de

    Santa Catarina

    SM Sndrome Metablica

    TG Triglicerdeo

  • 15

    VCL Vivncias Corporais Ldicas

    VLDL Lipoprotenas de muito baixa densidade

    WABA World Aquatic Bodywork Association

    WATSU Water Shiatsu

  • 16

    1. INTRODUO

    As doenas crnicas so definidas como afeces de sade que

    acompanham os indivduos por longo perodo de tempo (persistem por

    mais de 3 meses), independentemente da possibilidade de cura, podendo

    apresentar momentos de piora (episdios agudos) ou melhora sensvel.

    Essas doenas incluem tambm todas as condies em que um sintoma

    existe continuamente, e mesmo no pondo em risco a sade fsica da

    pessoa, podem resultar em perda da qualidade de vida ou at na morte

    do paciente. As mais comuns so as doenas cardiovasculares (DCV),

    diabetes mellitus (DM), hipertenso arterial sistmica (HAS), cncer, doenas respiratrias (asma e bronquite), artrite, reumatismo e alguns

    casos de tuberculose. Outros exemplos menos comuns, mas tambm

    representativos, so a sndrome da imunodeficincia adquirida (AIDS),

    insuficincia renal e hansenase. A obesidade , atualmente, tambm

    enquadrada como doena crnica (BARRETO, 2009; SPOSITO et al., 2007).

    Atualmente, as doenas crnicas levam a uma maior demanda por

    frmacos e so as principais causas de mortalidade no mundo. Elas tm,

    em comum, uma evoluo progressiva, causando, muitas vezes,

    limitaes de tarefas simples, sendo necessrio criar formas alternativas

    de terapia para o tratamento das mesmas (WHO, 2009; SERRANO,

    2008; SERRANO et al., 2009).

    Estudos mostram que as doenas crnico-degenerativas, em

    particular s DCV, nas ltimas dcadas, so uma das principais causas

    de morbimortalidade no Brasil, tendo grande importncia

    epidemiolgica, visto seu carter crnico e incapacitante, podendo

    deixar seqelas por toda a vida (SPOSITO et al., 2007). Por outro lado, no incio do sculo XX, as DCV foram

    responsveis por menos de 10% de todas as mortes no mundo. Ao final,

    responsabilizaram-se por quase metade de todas as mortes nos pases

    desenvolvidos e por 25% nos pases em desenvolvimento. Em 2020, as

    DCV sero responsveis por 25 milhes de mortes anualmente e a

    doena arterial coronariana (DAC) ir ultrapassar as doenas infecciosas

    como causa mundial nmero 1 de morte e incapacidade. No Brasil, em

    2003, 27,4% dos bitos foram decorrentes de DCV. Dados do

    Ministrio da Sade apontam que em 2005 ocorreram 1.180.184

    internaes por doenas do corao, com custo global de R$

    1.323.775.008,28 e em dezembro de 2008 as doenas do aparelho

    circulatrio tanto para homens quanto para mulheres, se tornaram a

  • 17

    maior causa de bitos (SBC, 2006; SPOSITO et al., 2007, DATASUS,

    2009).

    Em adio a estas informaes, em 1997, uma equipe de

    profissionais de sade, percebeu que havia um elevado nmero de

    pacientes que passavam pelo setor de cardiologia do Servio de

    Atendimento Comunidade Universitria do Hospital Universitrio da

    Universidade Federal de Santa Catarina (SASC-HU-UFSC). Para

    cardiologia e clnica geral eram encaminhados em torno de 700

    pacientes mensalmente. Assim, nesse mesmo ano, esta equipe

    multiprofissional e interdisciplinar desta universidade comeou a prestar

    atendimento cardiolgico e nutricional aos indivduos dessa comunidade

    universitria, tentando conscientiz-los a mudarem seus hbitos e estilo

    de vida, a fim de melhorar a qualidade de vida dos mesmos. Com o

    tempo surgiu a necessidade de avaliar como estava ocorrendo este

    processo teraputico, surgindo assim o grande projeto intitulado:

    Avaliao da interveno multiprofissional e interdisciplinar na preveno e tratamento de eventos cardiovasculares em uma

    comunidade universitria.

    Os dados levantados por esta equipe exigiram uma ateno

    especial desses profissionais com o intuito de integrar a medicina

    convencional com outros modelos assistenciais, a fim de que se pudesse

    trabalhar com preveno de DCV e controle de estresse, visto que as

    pesquisas realizadas por esta equipe veio mostrar que uma grande

    parcela dos indivduos que participaram do programa apresentavam

    problemas ou sofrimento com o estresse (ROSEIN et al., 2004). Entretanto, muitos fatores influem sobre a maneira de sentir-se ou

    no doente, em especial as caractersticas psicolgicas e culturais

    (PORTO, 2005), havendo necessidade de uma mudana de paradigma

    que abra espao para uma cultura mdica mais abrangente e que atenda

    s reais necessidades do ser humano. Hoje, se exige a mudana da

    cultura mdica que, em nosso meio, tornou-se excessivamente

    medicamentosa e intervencionista, caracterizando-se tecnocntrica

    (BARROS et al., 2006). Em parte, isto acontece porque sentimos falta do toque humano que esperamos de um agente de cura. A medicina

    considerada convencional tem auxiliado no alvio de sintomas e

    tratamento de muitas doenas. Contudo, em especial, o tratamento de

    doenas crnicas e degenerativas necessita de modelos mltiplos de

    medicinas alternativas que integre e harmonize o organismo

    (GOSTAWAMI, 2004).

    Considerando o acima exposto, a equipe de profissionais criou

    assim vrias modalidades de interveno que se ocupasse com a

  • 18

    deteco de sintomas emocionais e recuperao psicolgica. A

    biodanza surgiu em 2002 com intuito de ajudar o equilbrio emocional

    dessas pessoas. Em 2005, o programa vivncias ldicas do corao foi

    agregado ao grande projeto com o objetivo de que o indivduo, por meio

    do ldico, pudesse praticar atividade fsica de forma prazerosa

    (CANTOS et al., 2008). No obstante, em 2005, o programa se estendeu a um grupo de

    indivduos com doenas crnicas, e que enfrentavam uma sucesso de

    desafios. Para trabalhar com este tipo de populao foi necessrio uma

    urgente reflexo acerca dos conceitos sobre qualidade de vida, de como

    a sade percebida, sentida, entendida, bem como, as causas e

    conseqncias de uma vida atribulada e estressante. Diga-se que a

    condio de portador de uma doena crnica requer a sua insero em

    programas de tratamento, reabilitao e de adaptao s novas condio

    e rotina de vida. Com isso, o paciente necessita de observao, controle

    e cuidados especiais da equipe de sade (e de seus familiares) ao longo

    de toda sua vida. Independentemente da teraputica escolhida, o

    portador da doena crnica ter que constantemente lutar contra suas

    incapacidades e avanar no seu processo de cura.

    A hidroterapia (mtodo watsu e halliwick) foi a modalidade de

    tratamento utilizada para esses pacientes que buscavam a recuperao

    fsica e emocional. O mtodo watsu (water shiatsu) foi escolhido por

    ajudar o indivduo a liberar o corpo na gua, flutuar, dissolver tenses,

    silenciar a mente e harmonizar a energia. O halliwick, por possibilitar o

    desenvolvimento de habilidades como respirar e controlar o corpo na

    gua com segurana e alegria. Essas tcnicas protegem os msculos,

    diminuem a tenso, a dor e a fadiga; ampliam o movimento e a

    respirao, melhoram circulao, postura e a disposio; reduzem o

    estresse e a ansiedade; possibilita um sono mais tranqilo e conscincia

    do corpo, desenvolvimento de habilidades de controle do corpo na gua.

    Essas tcnicas, em conjunto, tambm so recomendadas para todos os

    tipos de pessoas (crianas, adolescentes, jovens, adultos e idosos) em

    casos de estresse fsico e mental, medos, osteoporose, problemas

    neurolgicos, ortopdicos, bloqueios emocionais, DCV, etc... (ORSINI

    et al., 2008). Em 2008, as tcnicas de watsu e halliwick tiveram uma

    associao com a biodanza aqutica, o que permitiu o acesso

    realidade por outra via, por outro canal, por outra linguagem, onde a fala

    silenciosa e se prioriza o olhar, o toque, a carcia, o afeto e a

    valorizao de si mesmo com o outro, trazendo a percepo de que

    fazemos parte da totalidade. Esta nova modalidade de atendimento fez

  • 19

    parte do projeto vida com sade: o mtodo watsu e halliwick biodanza

    aqutica como agentes modificadores do diestresse (estresse negativo)

    de indivduos com doenas crnicas. O trabalho foi conduzido de forma

    que as atividades vivenciadas pudessem fortalecer os valores humanistas

    associados recuperao fsica e emocional desses pacientes,

    considerando que essas dimenses devem ser interligadas.

    Um dos grandes desafios enfrentados pela equipe foi interferir

    positivamente no comportamento alimentar do indivduo para que os

    mesmos pudessem efetivar as mudanas necessrias na vida cotidiana.

    Isso acarretou grandes alteraes no modo de pensar e agir desses

    pacientes, modificando, inclusive o componente emocional. Por

    conseguinte, as pesquisas e estudos que sero retratados neste trabalho

    daro nfase na relao entre as condies de estresse e um sistema de

    interveno neste tipo de populao. Esta interveno foi respaldada por

    meio de consultas cardiolgicas, nutricionais, palestras educativas e

    almoos comunitrios.

    Sob esta tica, neste trabalho, sero identificados os fatores de

    risco (FR) na populao em estudo, avaliando e comparando o quadro

    clnico e laboratorial ao longo do tratamento hidroterpico, nutricional,

    multiprofissional e interdisciplinar, considerando a adeso dos mesmos

    ao programa diferenciado. Alguns parmetros bioqumicos e emocionais

    sero alvo da pesquisa os quais sero correlacionados aos aspectos

    mencionados, no perodo de um ano.

  • 20

    2. OBJETIVOS

    2.1 OBJETIVO GERAL

    Avaliar o quadro clnico, laboratorial, estado nutricional e condio de estresse durante o perodo de um ano, num grupo de indivduos

    portadores de doenas crnicas, e seus FR, considerando a participao

    dos mesmos no programa hidroterpico watsu/halliwik e biodanza,

    oferecido pelo NIPEAD-HU-UFSC, de forma que se possa contribuir

    positivamente para modificaes psicofisiolgicas.

    2.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

    Verificar se a interveno teraputica oferecida influenciou na diminuio dos FR modificveis para DAC e no risco de desenvolver

    esta doena.

    Analisar o nmero de FR na populao em estudo, considerando a estimativa de risco para DAC.

    Verificar se houve adeso ao tratamento nutricional e a sua relao com o diagnstico nutricional.

    Relacionar as medidas de avaliao nutricional e o prognstico de risco sade.

    Avaliar a condio de estresse por meio de questionrio especfico ao longo do tratamento oferecido, considerando as percepes dos seus

    integrantes.

    Verificar se o tratamento oferecido proporcionou reduo na medicao utilizada pelo grupo em estudo.

    Verificar a relao entre diestresse e outros FR para DAC.

    Analisar os parmetros bioqumicos dos pacientes em tratamento considerando o sucesso do tratamento interdisciplinar e

    multiprofissional.

  • 21

    3. FUNDAMENTAO TERICA

    3.1 FATORES DE RISCO PARA DOENAS

    CARDIOVASCULARES

    Estudos tm demonstrado que o controle de FR est diretamente

    ligado reduo de DCV (PIRES, 2004; ADA, 2006). Em geral, as

    manifestaes clnicas da DAC tm incio a partir da meia idade

    (INGELSSON et al., 2009). O importante estudo INTERHEARTH, delineado para avaliar de forma sistematizada a seriedade dos FR para

    DAC ao redor do mundo, demonstrou que nove FR: dislipidemias,

    tabagismo, HAS, DM, obesidade abdominal, estresse, dieta, consumo de

    lcool, e sedentarismo, explicaram mais de 90% do risco atribuvel para

    infarto agudo do miocrdio (IAM). De modo surpreendente, o

    tabagismo e dislipidemia compreenderam mais de dois teros deste

    risco, e os fatores psicossociais, obesidade central, DM e HAS tambm

    estavam significativamente associados, mesmo com algumas diferenas

    relativas nas diferentes regies estudadas (YUSUF et al., 2004).

    3.2 DISLIPIDEMIAS

    Estudos populacionais, como o Framingham e o Multiple Risk

    Factor Intervention Trial (MRFIT), demonstram que as principais

    implicaes patolgicas das dislipidemias so a aterosclerose e a DAC

    (LEVI, 2002). A dislipidemia um distrbio do metabolismo que cursa

    com a alterao de uma ou mais fraes dos lpides sricos, quando

    ento alcanam nveis associados com um aumento de risco

    cardiovascular. O aumento de colesterol total (CT), juntamente com a

    elevao da concentrao do colesterol constituinte da lipoprotena de

    densidade baixa (LDL-C), a reduo dos nveis de colesterol

    constituinte da lipoprotena de densidade alta (HDL-C) so FR para

    eventos cardiovasculares, pois tm sido usados como indicadores de

    ateroma e tambm esto associados a acidente vascular cerebral (AVC)

    (SPOSITO et al., 2007; CHAPMAN; PIESTRZENIEWICZ et al., 2008).

    Extensivos estudos prospectivos demonstraram que a HDL-C est

    predominantemente envolvida no transporte reverso do colesterol, tendo

    ento um papel fundamental na proteo cardaca, podendo assim, a

    diminuio da concentrao srica desta lipoprotena, ser um FR isolado

    para DAC (BHALODKAR et al., 2004; TROISI, 2009). Alm disso, a

  • 22

    HDL-C exerce efeito antiinflamatrio e antioxidante na parede

    endotelial (LIBBY, 2001).

    Nveis altos de triglicerdeos (TG), por sua vez, tm papel

    indireto neste processo por determinar partculas de LDL pequenas e

    densas que so mais aterognicas (JENKINS et al., 2003).

    O III Painel de tratamento para adultos do National Cholesterol Education Program (NCEP) e as IV Diretrizes Brasileiras sobre

    Dislipidemias e Preveno da Aterosclerose preconizam que, para

    prevenir a aterosclerose em pacientes que esto sob medicao

    hipocolesterolmica, o valor srico do LDL-C dever ser

  • 23

    paciente tpico caracterizado pela obesidade, vrios graus de

    intolerncia glicose, HAS e dislipidemia. O estilo de vida da

    populao est fortemente ligado incidncia da SM. A epidemia de

    obesidade e sedentarismo so as causas mais provveis da incidncia da

    SM, conseqentemente aumentando o risco de DAC (NAKAZONE et

    al., 2007).

    3.4 DIABETES MELLITUS

    O DM o resultado de uma secreo inapropriada de insulina

    pelas clulas beta pancreticas, de defeitos na ao da insulina ou a

    associao desses dois distrbios. No uma nica doena, mas um

    grupo heterogneo de distrbios metablicos, com etiologias diversas,

    que apresentam em comum a hiperglicemia crnica acompanhada de

    alteraes no metabolismo dos carboidratos, lipdios e protenas (ADA

    2006; SIGAL et al., 2004). Por sua vez, uma das principais sndromes de evoluo crnica que acomete a populao nos dias atuais e a sua

    prevalncia vem crescendo significativamente com o processo de

    industrializao dos ltimos anos (SCHEFFEL et al., 2004). O aumento de DAC em diabticos est bem estabelecido tanto nos DM do tipo 1 quanto no tipo 2, e tem demonstrado que ocorrem alteraes

    significativas nos nveis sricos das fraes lipdicas, dos TG e do CT,

    mesmo em diabticos que controlam seus nveis de glicemia (SBD,

    2007).

    3.5 HIPERTENSO ARTERIAL SISTMICA

    A HAS uma doena crnica que afeta aproximadamente 50

    milhes de pessoas nos Estados Unidos e cerca de um bilho de

    indivduos em todo o mundo, sendo considerado tambm outro grave

    problema de sade pblica (FUCHS, 2006). No Brasil as taxas de

    prevalncia da hipertenso na populao urbana adulta variam de 22,3%

    a 43,9%. Entre os idosos, a prevalncia bastante elevada. A

    mortalidade por DAC aumenta progressivamente com a elevao da

    presso arterial a partir de 115/75mmHg. A alta prevalncia da

    hipertenso e seu poderoso impacto sobre a incidncia de complicaes

    cardiovasculares so indicativos de alta prioridade para a sua preveno

    de acordo com a V Diretrizes Brasileiras de Hipertenso Arterial de

    2006 (SBC, 2006).

    A relao entre HAS e risco de eventos cardiovasculares

    contnua, consistente e independente de outros FR. Quanto mais elevada

  • 24

    a presso arterial, maior a chance de ocorrer IAM, insuficincia

    cardaca, AVC e doena renal. Para indivduos de 40 a 60 anos qualquer

    aumento de 20mmHg na presso arterial sistlica (PAS) ou 10mmHg na

    presso arterial diastlica (PAD) dobra o risco de DCV. Os portadores

    de HAS tm risco de duas a quatro vezes maiores para DCV, quando

    comparados aos normotensos. A PAS responsvel pelo

    comprometimento dos rgos-alvo (corao, crebro e rim), ao passo

    que a PAD est relacionada arteriopatia perifrica (LEWINGTON et

    al., 2002). Na hipertenso os fenmenos psicolgicos assumem especial

    relevncia, pois quase obrigatria a necessidade de se interferir no

    estilo de vida do paciente, incluindo modificaes na alimentao,

    realizao de exerccios fsicos e uso contnuo de medicamentos

    (GORDON et al., 2004; SCHUTZ et al., 2008).

    3.6 SEDENTARISMO

    uma causa comum da maioria das DCV, em termos de sade,

    pois os sedentrios tm o dobro de possibilidade de desenvolver DAC,

    em relao aos indivduos ativos, significando elevado risco relativo.

    Alm disso, contribui para o surgimento das principais doenas crnico-

    degenerativas como: doena aterosclertica coronria, HAS, AVC,

    obesidade, Diabetes mellitus tipo 2, osteoporose e osteoartrose, cncer de clon, mama, prstata e pulmo, ansiedade e depresso (SOFI et al.;

    BEUNZA et al., 2007). Ser sedentrio to arriscado quanto ser tabagista, superando o risco de ser portador de HAS, ter

    hipercolesterolemia e ser obeso. A falta de exerccios fsicos e dieta no

    adequada somam pelo menos 300.000 mortes nos Estados Unidos

    anualmente (WANG, 2004; HASKELL et al., 2007).

    3.7 TABAGISMO

    Indivduos que fumam mais de uma carteira de cigarros ao dia

    tm risco 5 vezes maior de morte sbita do que indivduos no

    fumantes. O fumo pode causar aumento da PAS, disfuno endotelial e

    aterosclerose acelerada, pois anlises revelaram que a nicotina

    desencadeia acelerao da freqncia cardaca e vaso constrio,

    elevando a presso arterial (MARTINEZ et al., 2008). Adicionalmente, o tabagismo colabora para o efeito adverso da

    teraputica de reduo dos lpides sricos e induz resistncia ao efeito de

    drogas anti-hipertensivas e insulina (STRANDBERG et al., 2008).

  • 25

    O uso de cigarros na formao e na evoluo da placa

    aterosclertica capaz de produzir leses endoteliais de forma direta,

    levando a uma maior oxidao da LDL e reduzindo a produo da HDL.

    Os tabagistas apresentam, de forma geral, aproximadamente o dobro da

    taxa geral de mortalidade por causas coronarianas, quando comparados a

    no fumantes. Entretanto, a cessao do uso do fumo parece reduzir

    rapidamente o risco cardiovascular a ele associado (RODRIGUES,

    2008; PASUPATHI et al., 2009).

    3.8 ESTRESSE PSICOLGICO (DIESTRESSE)

    Um dos problemas mais comuns que o ser humano enfrenta, em

    qualquer idade, o estresse, que culmina com um desgaste geral do

    organismo. O desgaste causado por alteraes psicofisiolgicas que

    ocorrem quando a pessoa se v forada a enfrentar uma situao que, de

    um modo ou de outro, irrite, amedronte, excite, confunda, ou mesmo

    faa intensamente feliz (CANTOS et al., 2004).

    Os diferentes fatores estressantes, quando excessivos, podem

    desencadear reaes psicofisiolgicas, alteraes bioqumicas, levando o

    indivduo a uma ruptura do bem estar individual, o que constituiria o

    diestresse. Dentre as situaes patolgicas causadas pelo diestresse

    destacam-se a HAS, palpitaes, dores precordiais, dispnias, tontura,

    sudorese, fadiga, alergias, dores de cabea, depresso e doenas

    cardacas (SPARRENBERGER, 2004; FAVASSA, 2005; CISCLER,

    2009).

    3.9 PANORAMA HISTRICO DA REABILITAO AQUTICA

    Por volta de 500 a.C., a civilizao grega j no via mais a gua

    do ponto de vista do misticismo e comeou a us-la mais logicamente

    para tratamentos fsicos especficos. Escolas de medicina foram criadas

    nas proximidades de muitas estaes de banho, de fontes desenvolvidas

    pela civilizao grega. Hipcrates (460-375 a.C.) usava a imerso em

    gua quente e fria para tratar muitas doenas, incluindo espasmos

    musculares e doenas das articulaes. Hipcrates recomendava

    hidroterapia para o tratamento de uma variedade de doenas, incluindo

    reumatismo, ictercia e paralisia (RUOTI, 2000).

    O ressurgimento da gua como cura no sculo XIX atravs da

    hidroterapia a essa altura na histria continuou a ser de natureza

    essencialmente passiva. As tcnicas de tratamento incluam banhos de

    lenol, compressas midas, banhos frios de frico, banhos sedativos,

  • 26

    banho com o corpo suspenso por uma rede e banhos de dixido de

    carbono. Na ltima parte do sculo XIX e nos primeiros anos do XX, a

    propriedade de flutuabilidade comeou a ser usada para exercitar

    pacientes na gua. Na Europa os spas comearam a tratar distrbios locomotores e reumticos. Em 1989, o conceito da hidroginstica foi

    recomendado e implicava o uso de exerccios dentro da gua e pode ser

    entendido como o mais prximo precursor do conceito atual da

    reabilitao aqutica (DULL, DELISA, 2001).

    Contudo o meio ambiente gua implica automaticamente

    alteraes da regulao cardiopulmonar, do metabolismo e da

    motricidade. Elas so causadas pela presso hidrosttica, pela fora

    ascensora, pela posio do corpo e pela temperatura em geral mais baixa

    em comparao com a do ar. Na gua, reduz-se o peso de um homem de

    70 kg em terra para 6,6 kg, o que deixa de existir uma parte considervel

    do trabalho de apoio e sustentao (RUOTI, 2000). Os efeitos

    fisiolgicos relevantes que a imerso produz estendem-se sobre todos os

    sistemas e a homeostase, que podem ser tanto imediatos quanto tardios.

    Desta forma, a gua pode ser utilizada com fins teraputicos em uma

    ampla variedade de problemas orgnicos. A terapia aqutica parece ser

    benfica no tratamento de pacientes com distrbios neurolgicos,

    musculoesquelticos, cardiopulmonares, entre outros (GIMENES et al.,

    2005; CANDELORO, 2006).

    A compreenso das propriedades fsicas da gua, das alteraes

    fisiolgicas do corpo em imerso, bem como a anlise do movimento

    humano no meio lquido, alm de noes de fisiologia dos sistemas,

    aparelhos e a fisiopatologia das doenas fornecem os subsdios

    necessrios para a elaborao dos objetivos teraputicos e de um plano

    de tratamento baseado na utilizao da gua na facilitao do

    movimento e na recuperao de disfunes (GABILAN et al., 2006; VOLAKLIS, 2007).

    3.10 EFEITOS FISIOLGICOS DA GUA

    Os efeitos fsicos no indivduo surgem imediatamente aps a

    imerso, uma vez que a temperatura, o empuxo e a presso hidrosttica

    ajudam a fornecer uma sensao ttil e de relaxamento, alm de

    melhorar a movimentao articular e diminuir a dor (MANNERKORPI,

    2003).

    Deste modo, as propriedades fsicas da gua em conjunto com o

    calor so responsveis pela maioria das respostas fisiolgicas gerais que

    afetam um grande nmero de sistemas do corpo. Sendo assim, todos os

  • 27

    efeitos supracitados, combinados aos movimentos lentos e rtmicos de

    rotao, alongamentos suaves e prolongados, so capazes de relaxar os

    msculos e beneficiar psicologicamente o paciente pela sustentao

    contnua proporcionada no meio hdrico (DULL, 2001). Dentre os

    recursos teraputicos, o meio hdrico aquecido para reabilitao, tem

    obtido resultados satisfatrios, uma vez que a teraputica desenvolvida

    neste meio inclui, entre outros fatores, a presso hidrosttica, o empuxo,

    a viscosidade e a densidade relativa que interagem de forma benfica

    com as reaes fisiolgicas modificadas pelas condies das doenas

    crnicas (BECKER, 2000).

    3.11 O MTODO WATSU

    O watsu uma tcnica de massagem e bemestar, que utiliza

    gua aquecida e uma variedade de alongamentos e movimentos, de

    forma que o paciente possa relaxar o corpo e a mente, permitindo o

    alvio da dor e do estresse. A partir da sustentao pela gua e um

    contnuo movimento rtmico dos vrios fluxos, o indivduo experimenta

    um relaxamento profundo harmonizando-se com a vida (SHEVCHUK,

    2008).

    Este processo teraputico foi criado nos anos 60 por Harold Dull,

    terapeuta americano e Mestre de Zen Shiatsu. O watsu est bem

    disseminado no mundo e suas aplicaes so amplas. Para trabalhar com

    esta tcnica necessrio participar de cursos e vivncias conferidos pela

    WABA (World Aquatic Bodywork Association). Atualmente o watsu

    praticado em clnicas, hospitais e spas por terapeutas corporais, favorecendo no apenas o massageado, como tambm o massagista,

    numa profunda troca energtica. No watsu o paciente permanece flutuando e a partir dessa postura so realizados alongamentos e

    rotaes do tronco, que auxiliam o relaxamento profundo, vindo por

    meio do suporte da gua e dos movimentos rtmicos dos batimentos

    cardacos (DULL, 2001). O watsu recomendado para todas as pessoas,

    desde crianas a idosos, em casos de estresse fsico e mental, fobias,

    osteoporose, problemas neurolgicos, ortopdicos, bloqueios

    emocionais, DCV entre outros. Por meio de toques sutis, alongamentos

    nos braos, criam-se condies de segurana, mesmo s pessoas que tem

    fobia por gua (MANNERKORPI, 2003).

  • 28

    3.12 O MTODO HALLIWICK

    O mtodo halliwick foi desenvolvido por James McMillan em

    1949, como um mtodo de natao para pessoas com necessidades

    especiais. A principal finalidade das tcnicas de McMillan era ajudar os

    pacientes com incapacidades a tornarem-se mais independentes e

    treinadas para nadar. A nfase inicial do mtodo halliwick era de

    natureza recreativa, com um objetivo de independncia individual na

    gua. Ele associou o seu conhecimento sobre fluidos mecnicos e somou

    isso a conceitos tericos e observaes realizadas com as reaes do

    corpo humano no ambiente aqutico (FAULL, 2005). Este mtodo

    enfatiza as habilidades dos pacientes na gua e no suas limitaes. Essa

    tcnica tem sido usada terapeuticamente por muitos profissionais, de

    forma que o indivduo possa obter a mxima independncia na gua

    (autoconfiana). Por outro lado, as pessoas incapacitadas, beneficiam-se

    com incentivos para melhorar o seu vigor e sua tcnica e, portanto, os

    efeitos so ao mesmo tempo psicolgicos e fsicos (ORSINI et al.,

    2008).

    3.13 O MTODO BIODANZA

    A biodanza

    pode ser definida como sistema de renovao

    orgnica e afetiva que se realiza pela estimulao da funo primordial

    de conexo com a vida, permitindo a cada indivduo integrar-se a si

    mesmo, espcie e ao universo. O princpio biocntrico o primeiro e

    fundamental paradigma da biodanza

    constituindo-se na proposta mais

    avanada e desafiadora do criador deste sistema, Rolando Toro. Isto

    quer dizer que a biodanza

    vincula-se a totalidade por meio da vida,

    em uma dana csmica, onde a pessoa deve ser capaz de mover-se por

    conta prpria, de perceber a si mesmo e a realidade, unificando todos

    os movimentos biolgicos, adaptando-se ao meio natural e a tudo que

    existe (SCHUTZ, 2007; VIOTTI, 2006).

    Por outro lado, ela valoriza as emoes em favor da razo e da

    racionalidade e pelo modo de sentir e pensar toma como referncia a

    vivncia, que o instante vivido de plena realidade. No entanto, as

    vivncias fortalecem os potenciais genticos trabalhado no cerne de

    cinco linhas: vitalidade, afetividade, criatividade, sexualidade,

    transcendncia, resgatando em seu espao e tempo a plenitude da vida.

    Na proposta biocntrica o ser humano se desenvolve por meio da

    interao com o outro (da presena do outro e do grupo), trazendo a

    bagagem de seus conhecimentos e realidades que so explorados e

  • 29

    valorizados, sendo que o vnculo o elemento fundamental na relao

    de desenvolvimento. A expresso de suas vivncias e realidades

    possibilita o indivduo expresso da identidade e ao exerccio da

    cidadania (CANTOS et al., 2008).

  • 30

    4. METODOLOGIA

    4.1 GRUPO EM ESTUDO Inicialmente 26 pacientes foram encaminhados por sugesto

    mdica s atividades aquticas watsu/halliwick e biodanza visto que

    estes eram portadores de dislipidemia e/ou doenas crnicas como

    fibromialgia, artrose, problemas cardiovasculares, DM, HAS, problemas

    renais, labirintite, depresso, alm de cirurgias sseas, obesidade,

    visando reabilitao geral. No obstante, algumas fobias tambm

    foram alvos de tratamento.

    Estes indivduos no foram expostos a riscos. Em dias pr-

    estabelecidos, por meio da comunicao, fez-se meno s atividades

    propostas pelo Ncleo Interdisciplinar de Pesquisa, Ensino e Assistncia

    a Dislipidemia do Hospital Universitrio da Universidade Federal de

    Santa Catarina (NIPEAD-HU-UFSC), dialogando com os pacientes

    selecionados sobre a realidade em que cada profissional atuaria, e da

    responsabilidade e necessidade que cada um teria de tornar concreta

    uma prtica de sade. Realizou-se este dilogo por toda equipe

    multiprofissional e interdisciplinar, tendo fundamento tcnico e

    cientfico. Repassaram-se estas informaes aos indivduos de forma

    clara e objetiva, em conformidade com a realidade de cada um,

    colocando-os a refletir sobre sua qualidade de vida e oportunizando

    opes para que pudessem ter um estilo de vida mais saudvel.

    A contraindicao desta modalidade hidroterpica holstica para

    qualquer afeco na qual o indivduo no esteja hemodinamicamente

    estvel, a exemplo de febre, feridas abertas infectadas e acidente

    vascular enceflico recente. Quanto s principais contraindicaes

    relativas, citam-se arritmia cardaca, angina instvel, infeco urinria

    grave, incontinncia intestinal imprevisvel, doena infecto-contagiosa

    por gua ou ar, sensibilidade a produtos qumicos utilizados na piscina,

    doena arterial perifrica grave e processos inflamatrios (DELISA,

    2001).

    4.2 FASES DE AVALIAO

    O programa teraputico apresentou trs fases de atuao de forma

    a caracterizar segundo a situao do indivduo:

  • 31

    a)FASE I

    Correspondeu o incio do tratamento, onde a finalidade foi

    inspirar a confiana do indivduo, reduzindo a tenso e o medo. A

    equipe interdisciplinar e multiprofissional deu incio ao programa

    aqutico s consultas cardiolgicas e nutricionais, e a realizao de

    exames bioqumicos. Houve ainda esclarecimentos sobre a doena,

    levantando questes psicolgicas de cada indivduo que foram

    evidenciadas, sobretudo, pelas respostas do questionrio sobre estresse.

    Nesta fase j se iniciaram os almoos comunitrios e as palestras

    educativas.

    b) FASE II

    Os objetivos dessa fase foram dar continuidade ao programa

    proposto, reforando o processo de integrao, bem estar psicossocial,

    bem como a consolidao dos FR passveis de serem manipulados. O

    programa foi conduzido de forma a estimular as capacidades orgnicas

    de cada participante, visando readaptao e reintegrao em seu meio

    social.

    c) FASE III

    Foi considerada uma fase em longo prazo e correspondeu ao

    ganho funcional do programa oferecido ao longo de 1 ano. Buscou-se a

    independncia do indivduo.

    Cabe salientar que cada participante realizou as atividades

    propostas de acordo com suas possibilidades e dentro de suas limitaes.

    Na sua maioria foram muito assduos, sendo relevante o ciclo de

    amizades que se formou, onde a ausncia de um foi lembrada e cobrada.

    A porcentagem de pacientes assduos s palestras e atividades aquticas

    foi de 90%.

    4.2 REUNIES DO NCLEO

    O NIPEAD-HU-UFSC foi criado em 2001, sendo formado por

    uma equipe multiprofissional e interdisciplinar que atua h mais de 10

    anos. Este ncleo realizou reunies semanais todas as sextas pela manh

    no SASC-HU-UFSC, com durao de uma hora, nos quais foram

    tratados assuntos referentes organizao do ncleo, andamento das

    atividades de atendimento e pesquisa, decises sobre a temtica a ser

    tratada nas palestras mensais. Alm disso, nessas reunies foram

    apresentados os trabalhos cientficos em eventos locais, regionais e

    nacionais, de artigo a serem publicados e tambm dos temas desta

    dissertao de mestrado. O NIPEAD-HU-UFSC tem como base as

  • 32

    opes teraputicas no controle dos FR modificveis conforme a Figura

    1.

    Figura 1: Opes teraputicas visando minimizao

    dos fatores de risco modificveis (SIXT, 2004).

    4.3 COMIT DE TICA

    O projeto deste estudo obteve aprovao do Comit de tica em

    Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal de Santa

    Catarina UFSC sob o nmero 299/08, de acordo com a Resoluo N

    196, de 10 de outubro de 1996 e Resoluo 251 de 05 de agosto de 1997

    (Apndice A). Todos os pacientes participantes assinaram o termo de

    consentimento livre e esclarecido para a participao do estudo

    (Apndice B).

    4.4 ATENDIMENTO CARDIOLGICO E DETERMINAO

    DOS FATORES DE RISCO

    Os pacientes receberam atendimento cardiolgico onde foram

    avaliados os seguintes FR para DCV: idade, HAS, dislipidemias,

    obesidade, DM, tabagismo, sedentarismo e estresse.

    4.4.1 IDADE

    Considerou-se como FR, pacientes do sexo masculino com idade

    45 anos e 55 anos para mulheres (SPOSITO et al., 2007).

  • 33

    4.4.2 HIPERTENSO ARTERIAL SISTMICA

    As aferies da presso arterial foram realizadas juntamente com

    as consultas nutricionais, por meio um esfingnomanmetro aneride

    BD previamente calibrado pelo Instituto de Metrologia (INMETRO)

    segundo tcnicas padronizadas pela V Diretrizes Brasileiras de

    Hipertenso Arterial de 2006. Os indivduos foram mantidos em

    repouso durante 5 minutos antes da aferio, sendo que o primeiro e

    ltimo rudo de Korotkoff definiram a PAS e a PAD, respectivamente.

    Segundo esta diretriz, observou-se a seguinte classificao para

    indivduos maiores de 18 anos de idade como hipertensos: o paciente

    que apresentou PAS140mmHg e PAD90mmHg, contudo, o paciente

    normotenso, mas que referiu uso de medicao anti-hipertensiva,

    tambm foi classificado como hipertenso (SBC, 2006).

    4.4.3 DISLIPIDEMIA

    De acordo com as IV Diretrizes Brasileiras de Dislipidemias e

    Preveno da Aterosclerose (2007), classificou-se a dislipidemia atravs

    das anlises bioqumicas em: hipercolesterolemia isolada (aumento do

    CT e ou LDL-C); hipertrigliceridemia isolada (aumento isolado dos

    TG); hiperlipidemia mista (aumento do CT e dos TG); diminuio

    isolada do HDL-C ou associada ao aumento dos TG ou LDL-C.

    4.4.4 OBESIDADE

    O ndice de massa corporal (IMC) foi obtido pela diviso da

    massa corporal, em quilogramas, pelo quadrado da estatura, em metros

    (IMC=massa (kg) / estatura2). Pacientes com valor de IMC

  • 34

    4.4.7 TABAGISMO

    O paciente que relatou o hbito de fumar qualquer quantidade de

    cigarros por dia foi considerado tabagista.

    4.4.8 SEDENTARISMO

    A caracterizao do paciente sedentrio realizou-se atravs de

    uma anamnese no momento da consulta mdica pelo cardiologista. As

    questes relacionadas a prticas de exerccios fsicos incluram

    perguntas sobre o tipo de exerccio fsico e a freqncia que realizavam,

    alm do tempo de durao dos mesmos. O estado sedentrio consistiu

    no indivduo que realizava exerccios fsicos menos que duas vezes por

    semana, por no mnimo 30 minutos.

    Com todos estes dados estimou-se atravs do Escore de Risco de

    Framingham (EFR), a probabilidade de ocorrer IAM ou morte por DAC

    no perodo de 10 anos nos indivduos sem diagnstico prvio de

    aterosclerose.

    Pelo ERF os indivduos foram inseridos nas seguintes categorias

    de risco para desenvolver DAC: baixo (20%), seguindo a IV Diretriz Brasileira sobre Dislipidemias

    e Preveno da Aterosclerose (2007).

    A utilizao de frmacos pelos pacientes foram monitoradas e

    inseridas em fichas-arquivo pela cardiologista.

    4.4.9 CONDIO DE ESTRESSE

    Avaliaram-se alguns indicadores da resposta de estresse

    correlacionando com as possveis alteraes bioqumicas neste grupo

    especfico. Agendou-se um dia para que os pacientes respondessem ao

    questionrio de estresse e pudessem ser esclarecidos de eventuais

    dvidas.

    O estado e a condio de estresse foram avaliados de acordo com

    os resultados obtidos do questionrio descrito por Lipp (1996) (Anexo

    I).

    4.5 ATENDIMENTO

    A equipe multiprofissional e interdisciplinar convidou todos os

    pacientes para uma reunio mensal onde se abordaram assuntos

    referentes preveno de DCV, no intuito de conscientiz-los sobre os

    FR e suas associaes, bem como estimul-los a efetuar mudanas no

    estilo de vida. As palestras ocorreram em todas as primeiras sextas-

    feiras do ms.

    Ao todo foram 22 palestras realizadas ao longo do tratamento.

    Contudo, como a maioria das doenas do corao de evoluo crnica,

    de longa durao, o paciente precisa receber explicaes adequadas,

  • 35

    sempre em linguagem acessvel, em nada adiantando fazer explanaes

    detalhadas sobre aspectos que, para compreend-los, necessrio ter

    formao mdica.

    No obstante, em dias estabelecidos, preferencialmente aps a

    coleta e obteno do primeiro resultado dos exames bioqumicos,

    agendaram-se consultas com a nutricionista integrante do NIPEAD,

    setor SASC, onde receberam todas as orientaes pertinentes e,

    juntamente com o executor do projeto realizaram os exames

    antropomtricos (massa corporal-kg, estatura-m, permetro da cintura e

    quadril-cm) e clnicos (somente pela nutricionista).

    4.6 ACOMPANHAMENTO NUTRICIONAL

    A este grupo de pacientes com doenas crnicas, apoiado em

    estratgias de interveno de promoo da sade e preveno, ofereceu-

    se tambm um programa que visou orientar e avaliar uma alimentao

    balanceada. Esta, por sua vez, foi realizada na forma de almoos

    comunitrios, realizados uma vez por ms na residncia de um dos

    indivduos participantes, visando integrao do grupo aliado a hbitos

    alimentares saudveis e a trocas de experincias.

    Visando ao aprimoramento desta etapa, realizou-se com os

    pacientes, sob a superviso da nutricionista, uma visita ao supermercado

    na qual se explorou a viabilizao e adequao de uma dieta balanceada

    individualmente.

    4.7 COLETA DE AMOSTRAS BIOLGICAS

    Com o auxlio dos setores especficos do Laboratrio de Anlises

    Clnicas do Hospital Universitrio, realizaram-se trs coletas de sangue

    de cada paciente a cada quatro meses durante o ano de 2008, na qual se

    agendou pacientes em dias determinados e coletaram-se as amostras

    pelo executor do projeto. Conforme a necessidade de cada paciente,

    outras consultas e exames laboratoriais puderam ser realizados fora do

    cronograma estabelecido.

    De acordo com as IV Diretrizes Brasileiras sobre Dislipidemias e

    Preveno da Aterosclerose de 2007, recomendou-se a cada paciente o

    jejum de 12 a 14 horas, pois intervalos maiores ou menores poderiam

    interferir nos resultados.

    Utilizou-se coleta a vcuo, com gel separador para as dosagens

    bioqumicas.

    Por conseguinte, a amostra de urina para o exame de

    microalbuminria observou-se as seguintes recomendaes: coletou-se a

    primeira urina da manh do dia destinado no laboratrio. Fez-se higiene

  • 36

    da regio genital com gaze, desprezando o incio da mico (primeiro

    jato urinrio) e coletou-se o restante em frasco coletor devidamente

    identificado, onde foi encaminhado ao setor responsvel pelo

    processamento.

    Armazenaram-se e congelaram-se as amostras em uma soroteca.

    4.8 EXAMES LABORATORIAIS

    As dosagens de CT, frao HDL-C, frao LDL-C e TG

    executaram-se utilizando o sistema de qumica clnica Dimension

    da

    DADE BEHRING. A tcnica empregada para o CT, TG e LDL-C

    baseou-se no mtodo enzimtico-colorimtrico bicromtico de ponto

    final automatizado, enquanto a HDL-C utilizou-se do mtodo de

    detergente seletivo acelerador.

    Os valores de referncia para CT e TG foram elevados a partir de

    200mg/dL. A frao HDL considerou-se baixo quando fosse menor que

    40mg/dL e alto quando 60mg/dL. A frao LDL-C encontrou-se

    valores elevados quando ultrapassou a 130mg/dL (SPOSITO et al.,

    2007; GAZI, 2007).

    A glicemia de jejum utilizou-se uma adaptao do mtodo

    hexoquinase-glicose-6-fosfato desidrogenase, sendo os valores

    referenciais normais entre 70 a 100mg/dL.

    A creatinina e o cido rico sricos foram quantitativamente

    determinados utilizando o sistema de qumica clnica Dimension

    da

    DADE BEHRING. A creatinina empregou o mtodo da reao cintica

    de Jeff modificado e seu valor de referncia normal para homens de

    0,8 a 1,3mg/dL e para mulheres 0,6 a 1,0mg/dL. Para o cido rico

    empregou o mtodo modificado da uricase por Kalckar. Seu valor de

    referncia normal para homens e mulheres de 3,5 a 7,2mg/dL e 2,6 a

    6,0mg/dL, respectivamente.

    A microalbuminria (nica destas anlises bioqumicas que

    utilizou a urina para o teste) foi analisado pelo mtodo de nefelometria

    sendo realizado pelo equipamento BMII da DADE-BEHRING, tendo

    como valor de classificao para microalbuminria de at 30mg/dL para

    normalidade.

    A aspartato aminotransferase (AST) cujo valor de referncia

    normal de 15 a 37 U/L e a alanina aminotransferase (ALT) sob a qual

    os valores de referncia normal para homens so de 25 a 64 U/L e para

    mulheres 22 a 56 U/L determinou-se pelo sistema de qumica clnica

    Dimension

    atravs da tcnica de taxa bicromtica.

    O sdio, potssio e cloreto foram determinados pela tecnologia

    do Multisensor Integrado (IMT) de deteco indireta das amostras

  • 37

    QuickLYTE do sistema de qumica clnica Dimension

    com valores de

    referncia normal para o sdio em adultos com idade a 65 anos de 136

    a 145mEq/L e em adultos com a 65 anos 132 a 146mEq/L, para o

    potssio os valores normais consistiu-se para adultos com a 65 anos

    3,3 a 5,1mEq/L e a 65 anos 3,7 a 5,4mEq/L e para cloreto, 100 a

    108mEq/L indicando valores normais.

    O mtodo do clcio seguiu-se de uma reao de clcio-

    ocresolftalena modificado encontrando sua normalidade nos valores de

    8,5 a 10,1mg/dL pelo sistema Dimension

    da DADE BEHRING.

    Empregou-se para a dosagem de magnsio o mtodo modificado

    complexomtrico do azul de metiltimol (MTB) descrito por Connerty,

    Lau e Briggs, cujo valor de referncia normal de 1,8 a 2,4mg/dL

    (SOUZA, 2005).

    Sucessivamente aps as coletas, os indivduos foram convidados

    a retornarem para novas consultas e avaliaes.

    Todos estes dados ficaram arquivados em fichas no consultrio

    da nutricionista e foram repassados ao programa computacional

    Sispron

    .

    4.9 ATIVIDADES HIDROTERPICAS

    Desde a primeira sesso de watsu/halliwick e biodanza, os

    pacientes foram acompanhados por uma profissional de educao fsica

    apta prtica desta modalidade e contou com a assistncia do executor

    do projeto.

    As sesses aconteceram uma vez por semana nas dependncias

    da Polcia Militar-Trindade Florianpolis-SC, em uma piscina aquecida

    durante 2 horas, no sendo necessrio o uso de culos de natao,

    somente a toalha, sunga/mai, chinelo e produtos de higiene pessoal. O

    programa de tratamento previu durao de 12 meses totalizando

    aproximadamente 48 sesses.

    Na tcnica de watsu o alongamento e conscincia do corpo foram

    realizados na gua por meio da terapeuta, da resistncia, dos flutuadores

    e da gua. O corpo foi trabalhado como um todo, utilizando-se de

    rotaes verticais, laterais e combinados dando um clima de confiana e

    descanso. O controle da respirao foi repetidamente enfatizado mesmo

    durante os exerccios especficos para fortalecimento da musculatura

    abdominal, bceps e trceps braquial, glteos, quadrceps, etc.

    Na tcnica do halliwick, primeiramente o indivduo teve um

    tempo de adaptao na piscina aquecida a 30C, de forma a estabelecer

    um clima de confiana. Aos poucos, utilizaram-se caminhadas, corridas,

    brincadeiras de flutuao e mergulhos. Posteriormente foram

  • 38

    empregados movimentos de rotao vertical (da posio deitada para a

    posio em p), rotao lateral (rolar: decbito ventral para decbito

    dorsal), rotao combinada (combinao das duas anteriores em um

    nico movimento). Utilizou-se o equilbrio para manter a posio do

    corpo enquanto o indivduo flutuava em descanso. Em seguida o

    nadador em flutuao foi levado atravs da gua pela turbulncia criada

    pelo grupo. Para a progresso simples o nadador realizou movimentos

    de remadas curtas e na braada bsica, os braos foram movimentados

    lenta e amplamente sobre a gua.

    Na biodanza

    enfatizaram-se as habilidades do indivduo,

    reforando o lado positivo e no a deficincia, dando nfase no prazer,

    colocando atividades em forma de jogos, trabalhando em grupos, visto

    que, os nadadores encorajaram uns aos outros. Cinco linhas de vivncias

    foram trabalhadas: vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e

    transcendncia. Para vitalidade e a criatividade deu-se nfase aos jogos,

    onde realizados como atividades ldicas, em duplas e trios, enfatizou o

    companheirismo, considerando a capacidade integrativa dos

    participantes na busca de solues; a sexualidade foi relacionada com o

    prazer, com a capacidade de desejar buscar e desfrutar das coisas boas

    da vida, da intimidade e do contato corporal; a afetividade relacionou-se

    ao vnculo com o semelhante que se expressou em amizades afetivas,

    encontros, contatos, troca mtua de olhares; a transcendncia foi

    relacionada com a capacidade de ir alm de si mesmo, identificando

    com meio ambiente e com o universo.

    Em todas as sesses houve uma roda de averbao, onde se pde

    compartilhar das experincias vividas e das dificuldades apresentadas.

    A terapia aqutica uma atividade que necessitou de recursos

    especficos, como uma piscina preparada com medidas, profundidade e

    temperatura adequadas e ambiente externo com um profissional

    especializado na atividade. O acompanhamento teraputico incluiu

    consultas cardiolgicas, nutricionais, realizao de almoos

    comunitrios e palestras educativas.

    4.10 DADOS QUALITATIVOS

    Ao NIPEAD-HU-UFSC coube a tarefa de verificar ao final da

    avaliao e por meio de depoimentos a duas perguntas na qual o

    paciente exps sua opinio sobre a modalidade a qual foram inseridos, e

    quanto alimentao diferencialmente adotada.

    1)O que mudou na sua alimentao com o aprendizado dos almoos comunitrios realizados pelo nosso grupo do watsu/halliwick e

    biodanza? D o seu depoimento.

  • 39

    2)O que representa na sua sade essas mudanas alimentares,

    nutritivas e balanceadas?

    4.11 ANLISE ESTATSTICA

    Os efeitos das variveis pesquisadas foram estudados em

    abordagem estatstica multivariada de medidas repetidas utilizando o

    programa SPSS Statitics (Statistical Package for the Social Sciences)

    verso 11.5, licenciada para UFSC.

    As variveis quantitativas deste estudo foram expressas em mdia

    desvios-padro ou percentagens.

    Utilizou-se Post Hoc LSD considerando varincias supostas

    iguais.

    Para realizar a comparao das variveis bioqumicas entre o

    incio e o final do tratamento oferecido pelo NIPEAD-HU-UFSC foi

    utilizado a ANOVA para medidas repetidas, considerando-se

    estatisticamente significativos valores de p 0,05.

  • 40

    5. RESULTADOS E DISCUSSO

    Os desafios para integraes de aes para doenas crnicas

    trazem uma mudana na perspectiva da vida, servindo como um

    elemento positivo para os indivduos buscarem prticas que possam

    promover um viver mais saudvel ou refletindo numa nova maneira de

    encarar a vida. A abordagem desse tema trazer alguns elementos que

    questionam a relao sade e doena. Logo, o reconhecimento de FR se

    faz essencial, uma vez que permite melhor compreenso de sua

    patognese e direciona a elaborao de planos preventivos e

    teraputicos. Portanto, fundamental que se desenvolvam pesquisas

    nessa rea para elucidar os mecanismos determinantes da adeso e as

    estratgias para melhorar o estado geral do paciente (DIAS, 2008).

    5.1 ANLISE DESCRITIVA

    5.1.1 FATORES DE RISCO

    Os FR para DAC tm ganhado novos contornos nos dias atuais

    com o estudo da participao relevante de programas de reabilitao ou

    at por tratamentos diferenciados e terapias alternativas, possibilitando

    intervenes (SBC, 2006). Cabe dizer que os FR apresentam

    caractersticas similares, parciais ou totais, que interferem na adeso ao

    tratamento, tais como cronicidade, necessidade de tratamento para toda

    vida, ausncia de sintomas especficos e hbitos de vida a serem

    modificados. O tratamento no medicamentoso indicado em qualquer

    estgio da doena, associado ou no ao tratamento medicamentoso, um

    recurso eficiente (PIRES, 2004).

    No h uma causa nica para as DCV, mas sabe-se que existem

    FR que aumentam a probabilidade de sua ocorrncia (MARCOPITO et al., 2005). Alguns deles, porm no so controlveis: idade avanada,

    sexo, raa e hereditariedade (YEH et al., 2007). Contudo, h fatores que

    podemos modificar prevenir e tratar, como por exemplo, dislipidemias,

    obesidade, presso arterial elevada, diabetes, tabagismo, nveis elevados

    de estresse e falta de atividade fsica. Embora muitos destes tenham

    atividade aterognica autnoma, a associao de um ou mais fatores tem

    um efeito nefasto sobre o aparelho cardiovascular. Assim, a

    identificao e reconhecimento desses FR apontam num sentido da

    importncia de se prevenir s DVC (VIIKARI-JUNTURA et al., 2008).

  • 41

    5.1.2 FATORES DE RISCO NO MODIFICVEIS

    Alguns FR como sexo e idade so no modificveis, ou seja, que

    no permitem qualquer tipo de ao preventiva, e de maneira geral,

    algumas leses ateromatosas vo se desenvolvendo com o passar do

    tempo, sendo que os homens so mais afetados do que as mulheres,

    sobretudo quando so mais jovens (SAITO et al., 2002).

    Nesta etapa, o grupo intencional em estudo foi constitudo por 6

    (seis) indivduos do sexo masculino e 20 (vinte) indivduos do sexo

    feminino. A idade variou de 24 a 80 anos, tendo obtido os seguintes

    valores para varivel idade. No incio do estudo os valores de mdia e o

    desvios-padro para a varivel idade eram de 53,512,2; sendo que a

    menor idade era de 24 anos e a maior 79. A Tabela 1 demonstra que, de

    acordo com as IV Diretrizes sobre Dislipidemia, 18 pacientes possuem a

    idade como risco cardiovascular.

    Tabela 1: Freqncia e percentual do grupo estudado considerando a

    idade como FR.

    5.1.3 FATORES DE RISCO MODIFICVEIS

    Muitas associaes mdicas reconhecem a obesidade, a

    inatividade fsica e os fatores psicossociais como fatores principais que

    influenciam na decorrncia da DAC (PIEGAS et al., 2003). Segundo

    Aguiar e colaboradores (2008), as dislipidemias, obesidade, HAS, DM,

    tabagismo, nveis elevados de estresse e sedentarismo so FR

    tradicionais j preconizadas pelas principais diretrizes da sade como

    agravantes sobre o aparelho cardiovascular, porm, possivelmente

    controlveis.

    A Figura 2 mostra que inicialmente 23,07% no praticavam

    nenhuma atividade fsica a mais do que a hidroterapia, mas com

    explanaes da importncia de deixar de ser sedentrio este percentual

    reduziu-se a 0,00%. O mesmo aconteceu com o nmero de tabagistas,

    Freqncia(n) Percentual

    Fator de risco 18 69,2%

    Fator de no-risco 08 30,8%

    Total 26 100,0%

  • 42

    42,30%

    34,61%30,76%

    23,07% 23,07%

    0,00%3,84%

    0,00%

    Hipertenso Diabetes Sedentarismo Tabagismo

    Fatores de Risco para DAC

    Prevalncia Inicial Prevalncia Final

    que apesar de ser um s indivduo (3,84%), este tomou a iniciativa de

    reduzir este hbito durante o projeto e eliminando por completo ao final

    do mesmo.

    Em relao HAS importante salientar que os indivduos que

    eram hipertensos mantiveram tais frmacos como base inalterada

    durante os trs perodos de tratamento, ou seja, continuaram utilizando o

    captopril como frmaco, um anti-hipertensivo antagonista do sistema

    renina-angiotensina que atua atravs da inibio da enzima conversora

    de angiotensina I em II, alm da hidroclorotiazida, um agente diurtico.

    Pode-se observar uma diminuio do percentual de pacientes com HAS

    de 42,30 % para 34,61%, ficando abaixo dos valores limtrofes.

    No que diz respeito ao DM, apenas dois indivduos eram

    insulino-dependentes (7,69%), e o restante desta classe utilizava

    predominantemente o hipoglicemiante oral da classe das biguanidas que

    foi o cloridrato de metformina nas doses indicadas e, no entanto,

    reduzidas ao longo de um ano. O grupo iniciou com 30,76% dos

    pacientes diabticos com valores alterados, sendo minimizado a 23,07%.

    Figura 2: Fatores de risco para DAC do grupo estudado

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Biguanida

  • 43

    5.1.4 ESTRATIFICAO DE RISCO

    A doena cardiovascular aterosclertica em termos proporcionais

    responsvel pelo significante impacto nos gastos com sade, devido

    principalmente a um aumento da prevalncia global de alguns dos seus

    principais FR. A identificao dos indivduos assintomticos que esto

    mais predispostos crucial para a preveno efetiva com a correta

    definio das metas teraputicas (SHERIDAN, 2003).

    O EFR permite racionalizar a abordagem preventiva, de forma

    que os valores do perfil lipdico possam ser alcanados. Dentre os

    indivduos de alto risco esto aqueles com manifestaes clnicas de

    doena aterosclertica, hiperlipidemia familiar combinada e diabticos

    (SPOSITO et al., 2007). A hipercolesterolemia, a hipertenso e o tabagismo multiplicam por 10 as chances de desenvolver DAC. Alm

    disso, em pacientes com diabetes do tipo 2, o risco para DAC aumenta

    cerca de duas a quatro vezes, independente do tempo e evoluo da

    doena (ADA, 2006; LOURES-VALE, 2001).

    As Figuras 3, 4 e 5 mostram, respectivamente, a estratificao de

    risco do grupo estudado no incio, durante e ao final do tratamento.

    Pode-se notar inicialmente que 65,4% dos apresentavam baixo risco,

    aumentou para 76,9% e finalizou com a elevao para 88,5%. Se a

    nfase for dada ao grupo de alto risco, pode-se observar que houve uma

    reduo de 7,7% para 3,8%.

    Estudos anteriores realizados por esta mesma equipe com

    pacientes de alto risco cardiovascular demonstraram que o emprego de

    uma abordagem conjunta composta por tratamento clnico aliado a um

    programa de interveno para controle de diversos FR, por meio de

    orientao educativa mais eficaz na reduo da taxa de morbidade e

    mortalidade cardiovascular do que um tratamento exclusivamente

    farmacolgico (CANTOS et al., 2008). Outros estudos mostram que pacientes com alto risco coronariano

    podem ter o risco diminudo por meio de uma preveno secundria

    efetiva, que compreende alm da interveno medicamentosa

    (agregantes antiplaquetrios, estatinas, beta-bloqueadores, inibidores da

    enzima conversora de angiotensina), mudanas de estilo de vida (dieta

    saudvel, cessar o hbito de fumar, fazer atividade fsica regular)

    (SIGN, 2001).

    Para a equipe esses resultados encontrados no grupo estudado so

    bastante expressivos, pois mostra que a abordagem preventiva utilizada

    foi bastante promissora no controle dos FR.

  • 44

    Figura 3: Distribuio estratificada de risco coronariano inicial

    Figura 4: Distribuio estratificada de risco coronariano intermedirio

    Figura 5: Distribuio estratificada de risco coronariano final

  • 45

    5.1.5 ASSOCIAO DOS FATORES DE RISCO

    A DAC apresenta origem multifatorial, considerando que nenhum

    FR a ela relacionado, se analisado de forma isolada, estritamente

    essencial ou suficiente para seu desencadeamento. Quanto maior o

    nmero ou a gravidade dos FR observados, maior a probabilidade de

    morbidade e mortalidade. Estudos demonstram que a existncia de uma

    srie de FR em um mesmo indivduo aumenta a probabilidade de um

    futuro evento cardaco, sendo que a mortalidade por DAC 2,64%

    maior nos indivduos com DM do que nos NDM associando pelo menos

    trs FR (STAMLER et al., 1993).

    Estudos epidemiolgicos bem desenhados como o de coorte de

    Framingham, assim como a Avaliao dos Fatores de Risco para Infarto

    Agudo do Miocrdio no Brasil (AFIRMAR) e reproduzidos

    semelhantemente por outros grupos, permitiram a caracterizao e

    quantificao ponderal de vrios FR cardiovasculares e do efeito aditivo

    da concomitncia de um ou mais fatores. Com base em estudos clnicos,

    observacionais e prospectivos, possvel classificar indivduos de

    acordo com a intensidade e nmero de FR causais ou de acordo com a

    presena de doena cardiovascular manifesta (POLANCZYK, 2005;

    PIEGAS et al., 2003).

    A estimativa do risco de doena aterosclertica resulta do

    somatrio do risco causado por cada um dos FR mais a potenciao

    causada por sinergismo desses fatores. Assim o EFR, indicado pela IV

    Diretriz Brasileira sobre Dislipidemia e Preveno da Aterosclerose

    (2007), estima no s a probabilidade de ocorrer IAM ou morte por

    doena coronria no perodo de 10 anos em indivduos sem diagnstico

    prvio de aterosclerose clnica, mas tambm identifica adequadamente

    indivduos de alto e baixo risco (SHERIDAN, 2003).

    A epidemia de obesidade e doenas associadas como do diabetes

    mellitus tipo 2, HAS e dislipidemia representam um dos maiores

    problemas de sade pblica da atualidade, modificando o estilo de vida,

    sobretudo na populao adulta (GRUNDY et al., 2004; LOURES-VALE, 2001; DATASUS, 2009; MARCOPITO et al.; PORTO, 2005).

    Nossa pesquisa mostra que no incio do tratamento oferecido aos

    pacientes com doenas crnicas, 53,84% tinham 6 ou mais FR

    associados, sendo que ao final do tratamento houve uma reduo do

    nmero desses pacientes para 15,38% (Tabela 2).

  • 46

    Tabela 2: Associaes de FR no grupo estudado no incio e final do

    tratamento*

    *FR considerados: idade, HAS, DM, dislipidemia, controle de dieta,

    estresse, tabagismo, sedentarismo, CQ, IMC. N=nmero de indivduos

    Estudos tm demonstrado que mudanas no estilo de vida

    contribuem de forma efetiva no controle dos FR para DAC (SIGAL et al., 2004). Os mais recentes Guidelines publicados para o DM, HAS e dislipidemia, tm demonstrado que mudanas no estilo de vida em

    conjunto adeso ao tratamento medicamentoso so os padres no

    cuidado e controle das DCV e outras doenas relacionadas a esta

    (GORDON et al.; ALM-ROIJER et al., 2004). Assim, os resultados desta pesquisa mostram a complexidade das respostas a intervenes

    mltiplas.

    5.1.6 ORIENTAO NUTRICIONAL

    Neste trabalho os pacientes foram orientados de que a reduo de

    sdio na dieta produz uma diminuio na presso sistlica de

    hipertensos prevenindo desta forma, o risco de evento cardiovascular.

    Foi explicado que a presena deste elemento e que a adio intencional

    de sal de cozinha, o cloreto de sdio (NaCl), aos alimentos, aumenta

    ainda mais seu teor na dieta (KAPLAN, 2000). O Instituto de Medicina

    Nmero de

    FR

    Incio

    Final

    N % N %

    0 - - 1 3,84% 1 0 0 2 7,69%

    2 1 3,84% 6 23,07%

    3 5 19,23% 3 11,53%

    4 4 15,38% 5 19,23%

    5 2 7,69% 5 19,23%

    6 4 15,38% 1 3,84% 7 5 19,23% 2 7,69%

    8 5 19,23% 1 3,84%

    9 - - - -

    10 - - - -

    Total 26 100% 26 100%

  • 47

    (Food and Nutrition, 2004) adverte que o uso de substitutos do sal

    contendo cloreto de potssio, em substituio ao cloreto de sdio, foi

    recomendado como forma de suplementao de potssio embora alguns

    deles tenham a palatabilidade como fator limitante.

    Quanto ao clcio foi orientado que o baixo consumo desse

    nutriente na dieta pode levar ao desenvolvimento da osteoporose, sendo

    que este risco maior em mulheres na ps-menopausa. Por ser o

    principal constituinte de ossos e dentes, alm de ter papel relevante no

    transporte de ons atravs da membrana celular, contribui de forma

    modesta para a reduo da presso arterial, porm muitas dietas com

    excesso de clcio podem induzir a formao de clculos renais

    (McALISTER et al., 2001; BUZINARO, 2006).

    Contudo, sabidamente a alimentao responsvel pelo

    fornecimento dos antioxidantes. A deficincia diettica de antioxidantes

    e de outras substncias essenciais pode causar estresse oxidativo

    (HALLIWELL, 2006). Dentre tais substncias est o magnsio, mineral que participa do metabolismo energtico, da regulao dos

    transportadores de ons e da contrao muscular. A deficincia diettica

    de magnsio positivamente correlacionada ao aumento da peroxidao

    lipdica e diminuio da atividade antioxidante (NIELSEN, 2006).

    No obstante, pesquisas realizadas pelo NIPEAD-HU-UFSC mostraram

    que pacientes com hipomagnesemia tinham problemas de insnia e

    apresentavam sofrimento ao estresse (ROSEIN et al., 2004).

    Outros estudos apontam ao fato de que pacientes hipertensos com

    hipomagnesemia, quando tratados com dieta rica em magnsio,

    apresentam reduo dos nveis pressricos, o que no ocorre com

    aqueles com nveis normais de Mg (AMORIM, 2008). Como no h

    estudos conclusivos sobre a necessidade de suplementao da dieta do

    hipertenso com potssio, clcio e magnsio, foi orientado que a

    quantidade destes nutrientes deve ser atingida por meio de fontes

    alimentares, uma dieta variada, com frutas, verduras e laticnios com

    baixo teor de gordura e que apresente quantidades apreciveis dos

    mesmos.

    5.1.7 ADESO AO TRATAMENTO NUTRICIONAL

    O tratamento das doenas crnicas requer o envolvimento dos

    cuidadores para que os resultados esperados sejam alcanados. Estamos

    acostumados onde o terapeuta o locutor e o paciente (conforme diz o

    nome) o receptor do contedo. Ferreira e colaboradores (2006) dizem

    que o comportamento de adeso implica em o paciente identificar os

  • 48

    34,61%

    65,38%

    88,46%

    11,54%

    Controle de dieta inicial Controle de dieta final

    Controle de Dieta

    Sim No

    resultados que pretende alcanar e programar contingncias para que

    isto ocorra. Neste sentido, de fundamental importncia que a

    linguagem seja acessvel ao nvel de compreenso do paciente e que se

    considere as questes subjetivas da pessoa envolvida.

    A Figura 6 exibe o resultado em termos de adeso ao tratamento

    nutricional. Observa-se que inicialmente 34,61 % dos pacientes faziam

    controle de sua dieta, e no final do tratamento proposto 88,46%

    passaram a seguir a dieta proposta pela nutricionista da equipe

    multidisciplinar.

    Estes resultados mostram a importncia do diagnstico

    nutricional, e as medidas de interveno no sentido de prevenir a

    incidncia de FR para DCV. Destaca-se dentro deste contexto o vnculo

    e a segurana estabelecidos com a equipe do NIPEAD-HU-UFSC,

    reforando seu compromisso social e tico, responsabilidade,

    envolvimento, cooperao, consenso, dilogo e o esprito participativo.

    Figura 6: Distribuio do estado nutricional por controle de dieta no

    grupo estudado.

  • 49

    5.1.8 AVALIAO NUTRICIONAL

    Por dieta entende-se um conjunto de normas que compem o

    cotidiano alimentar de um indivduo, seja ele sadio ou enfermo. A dieta

    normal ou padro alimentar produto de um aprendizado que comea

    desde o nascimento e associa-se a fatores sociais e econmicos, tendo

    como princpio fundamental o balanceamento dos nutrientes de forma a

    atender s necessidades nutricionais do indivduo (STEEMBURGO,

    2007). Deficincias nutricionais so comuns em pacientes com doenas

    crnicas, sendo que uma adequada avaliao do