universidade federal de mato grosso - ufmt.br · de serviço social e funcionários da universidade...

137
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM POLÍTICA SOCIAL ANA LÚCIA DE SOUZA FAMÍLIAS: PARA ALÉM DE ALIMENTAR E LEVAR. UM OLHAR SOBRE OS PARECERES SOCIAIS EM PROCESSOS DE MEDIDA DE PROTEÇÃO À CRIANÇA E AO ADOLESCENTE CUIABÁ - MT 2011

Upload: vuongxuyen

Post on 06-Nov-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

    INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS E SOCIAIS

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM POLTICA SOCIAL

    ANA LCIA DE SOUZA

    FAMLIAS: PARA ALM DE ALIMENTAR E LEVAR.

    UM OLHAR SOBRE OS PARECERES SOCIAIS EM PROCESSOS DE MEDIDA DE

    PROTEO CRIANA E AO ADOLESCENTE

    CUIAB - MT

    2011

  • ANA LCIA DE SOUZA

    FAMLIAS: PARA ALM DE ALIMENTAR E LEVAR.

    UM OLHAR SOBRE OS PARECERES SOCIAIS EM PROCESSOS DE MEDIDA DE

    PROTEO CRIANA E AO ADOLESCENTE

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Poltica Social do Instituto de Cincias Humanas e Sociais da Universidade Federal de Mato Grosso como requisito parcial obteno do ttulo de Mestre em Poltica Social na rea de Concentrao Poltica Social, Estado, Sociedade e Direitos Sociais, Linha de Pesquisa: Trabalho, Questo Social e Servio Social.

    Orientadora: Professora Doutora Maria de Sousa Rodrigues.

  • Dissertao apresentada Coordenao do Programa de Ps- Graduao em Poltica

    Social - ICHS - UFMT

    _________________________________________________

    Professora Doutora Irenilda ngela dos Santos Examinadora Interna (PPGPS /UFMT)

    _________________________________________________

    Professora Doutora Maria Jacobina da Cruz Bezerra UFMT

    _________________________________________________

    Professora Doutora Maria de Sousa Rodrigues. Orientadora (PPGPS /UFMT)

    Cuiab, ____ de _________________________ de 2011.

  • (CONTRA) ROND

    Por errar,

    Ado trabalhou.

    Por trabalhar.

    Prometeu errou.

    Ados Prometeus.

    Errantes trabalhadores,

    Mulheres e homens

    Portadores do estigma.

    Quem assim determinou?

    Por errar, trabalhar,

    Por trabalhar, errar.

    Mister romper a maldio:

    No mais trabalhar por errar,

    No mais errar por trabalhar.

    Alexandre Antnio Nder (1995)

  • DEDICATRIA

    Dedico esta Dissertao de Mestrado...

    A Ado Rocha (in memoriam) e Laudelina Alves, pais amados que com competncia

    exerceram o poder familiar.

    A Artur e Aretusa, enriquecedores da minha vida, atravs dos quais tenho vivido diariamente

    os encantos e desafios da maternidade.

    A Eva, ngela, Tnia e Lilia, as quatro sabiamente tm conseguido diminuir a distncia

    geogrfica e aquecer o amor fraternal.

    Aos amigos e amigas, daqui e de l, em especial a Jos Luiz de S, racional, confiante,

    perspicaz, que se despediu desta existncia em setembro de 2010. Com ele compartilhei

    momentos bons e outros nem tanto e, principalmente avancei no convvio com as

    diferenas.

    Ao Juiz de Direito Doutor Renato Bonifcio de Melo Dias, Diretor do Frum da Comarca1 de

    Vilhena, por ter acreditado em mim.

    Aos destemidos pioneiros 2, que continuam construindo o Estado de Rondnia.

    s famlias do mundo que, desafiadoramente, exercem o poder familiar.

    1. Comarca o territrio ou circunscrio territorial em que o juiz de direito de primeira instncia exerce sua jurisdio. Para a criao e a classificao das comarcas sero considerados os nmeros de habitantes e de eleitores, a receita tributria, o movimento forense e a extenso territorial dos municpios do estado, conforme legislao estadual. Cada comarca compreender um ou mais municpios, com uma ou mais varas. Fundamentao: Cdigo de Organizao e Diviso Judiciria de cada Estado.

    2. Estrofe do Hino: Cus de Rondnia, letra de Joaquim de Arajo Lima e msica de Jos de Mello e Silva.

  • AGRADECIMENTOS

    A Deus inteligncia suprema causa primeira de todas as coisas.

    Professora Doutora Maria de Sousa Rodrigues, por me orientar, acolher e instigar.

    categoria do Servio Social, da qual tenho o privilgio de pertencer, em especial

    Assistente Social Girleyne Domingos de Souza, parceira no trabalho profissional cotidiano e

    na realizao desta dissertao.

    A Maria Alves, Vanir, Alisson, Adilsson, Antnio, Ancelmo Preusller e a todas as pessoas

    que me acolheram em Cuiab/MT e em Vilhena/RO, durante dez meses, quando vivi uma

    experincia sui generis de cidad sem teto.

    A Simone Alves Rosa, estudante de Gesto Ambiental, estagiria do Programa de Ps

    Graduao em Poltica Social, pela lhaneza no cumprimento das atribuies.

  • AGRADECIMENTOS INSTITUCIONAIS

    Universidade Federal de Mato Grosso

    Direo do Instituto de Cincias Humanas e Sociais e ao Departamento de Servio Social

    da Universidade Federal de Mato Grosso.

    Aos Docentes do Mestrado em Poltica Social, Mestrandas (os), Acadmicas (os) do Curso

    de Servio Social e Funcionrios da Universidade Federal de Mato Grosso.

    Ao Tribunal de Justia do Estado de Rondnia, instituio da qual fao parte h vinte anos,

    onde tenho tido oportunidade de exercer minha profisso e tambm de aprimorar-me.

    Saliento, neste momento, meus agradecimentos a este Tribunal por ter oportunizado minha

    participao no Mestrado em Poltica Social da Universidade Federal de Mato Grosso.

  • RESUMO

    Esta dissertao analisa dois Pareceres Sociais elaborados por Assistentes Sociais lotadas

    no Frum da comarca de Vilhena /Rondnia, com objetivo de observar atravs dos

    contedos neles postos, a compreenso do profissional sobre a realidade social na qual os

    usurios trabalhadores esto inseridos, principalmente no que tange relao dos cuidados

    dos filhos, preconceitos e esteretipos da advindos e a existncia, ou no, de programas

    que venham ao encontro s situaes por eles vivenciadas. Os procedimentos de anlise

    basearam - se nos autores pioneiros que trataram dos fundamentos tericos da Anlise de

    Contedo e de outros autores que readaptaram ou sugeriram complementaes,

    principalmente aps a expanso da pesquisa qualitativa nas cincias humanas e sociais. A

    reviso de literatura sobre famlia, o trabalho, regulaes no trato da infncia e da

    adolescncia brasileira e judicializao baseada em autores clssicos e contemporneos.

    Para a fundamentao dos contedos especficos do Servio Social, utilizaram-se autores

    ps movimento de reconceituao. Os resultados da pesquisa apontaram para a

    interpretao dos fatos pautada na imediaticidade, o que no significa a ausncia do

    comprometimento das Assistentes Sociais com os princpios fundamentais da profisso, o

    aprimoramento profissional e a perspectiva da garantia de direitos. A pesquisa contribuir,

    no contexto da instituio empregadora, para uma maior qualidade nos atendimentos e

    demarcao do Setor de Servio Social, como um espao de busca e pesquisa, alm de

    oportunizar aos Assistentes Sociais que trabalham no campo sociojurdico de outras

    comarcas, um olhar diferente sobre a atuao nesse campo.

    Palavras-Chave: Famlia, Judicializao, Trabalho.

  • ABSTRACT

    This dissertation examines two opinions drafted by the Social Workers Social Forum's

    crowded district of Vilhena / Rondonia, in order to observe through the contents placed

    therein, the understanding about the reality of professional social workers where users are

    located, especially in regard the relation of child care, prejudice and stereotypes arise from

    them and whether or not programs that come against the situations they experienced. The

    analysis procedures were based - were pioneers in the authors who treated the theoretical

    foundations of content analysis and other authors who have suggested additions or realign,

    especially after the expansion of qualitative research in the humanities and social sciences.

    The review of literature on family, work, adjustments in the treatment of childhood and

    adolescence and Brazilian legalization is based on classical and contemporary authors. For

    the foundation of the specific contents of Social Work, the authors used the movement of

    post reconceptualization. The survey results pointed to the interpretation of facts based on

    the immediacy, which does not mean the absence of the involvement of social workers with

    the fundamental principles of the profession, professional advancement and the prospect of

    ensuring direitos.A research will contribute in the context of the employing institution for

    better quality in care and demarcation of the Department of Social Services, as an area of

    search and research, and create opportunities for social workers working in the field of socio-

    juridical other counties, a different view on the activities in this field.

    Keywords: Family, Legalization, Work.

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    5 BEC - 5 Batalho de Engenharia e Construo

    ABEPS - Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social

    AROS - Antecipao de Receitas Oramentrias

    CAERD - Companhia de gua e Esgoto de Rondnia

    CBAS - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais

    CEPAL - Comisin Econmica para Amrica Latina el Caribe

    CERON - Centrais eltricas de Rondnia

    CETREMI - Centros de Triagem de Migrantes

    CFESS - Conselho Federal de Servio Social

    CMN - Conselho Monetrio Nacional

    CNJ - Conselho Nacional de Justia

    CRAS - Centro de Referncia da Assistncia Social

    CRESS - Conselho Regional de Servio Social

    ECA - Estatuto da Criana e do adolescente

    EMBRATEL - Empresa Brasileira de Telecomunicaes S.A.)

    FIERO - Federao das Indstrias do Estado de Rondnia

    FUNABEM - Fundao Nacional do Bem Estar do Menor

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IBRA - Instituto Brasileiro de Reforma Agrria

    ICH - Instituto de Cincias Humanas e Sociais

    IDH - Indice de Desenvolvimento Humano

    INCRA - Instituto de Colonizao e Reforma Agrria

    LBA - Legio Brasileira de Assistncia

    MNMM - Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua

    PETI - Programa de Erradicao do Trabalho Infantil

    PPA - Plano Plurianual

    PROFC - Projeto de Formao para Cidadania

    SAM - Servio de Assistncia ao Menor

    SAP - Sistema de Automatizao de Processos

    SEAPES - Secretaria de Estado da Agricultura, Produo e Desenvolvimento Econmico e

    Social

    SEBRAE - Servio Brasileiro de Apoio s Pequenas e Microempresas

    SESC - Servio Social do Comrcio

  • TJ/RO - Tribunal de Justia do Estado de Rondnia

    UFMT - Universidade Federal de Mato Grosso

    UNIR - Universidade Federal de Rondnia

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 01 - Mapa da Regio Norte do Brasil ........................................................................ 20

    Figura 02 - Mapa do Estado de Rondnia ............................................................................ 26

    Figura 03 - Processos remetidos ao Setor de Servio Social em 2008 ................................ 36

    Figura 04 - Situao dos processos de Medida de Proteo Criana e ao Adolescente

    remetidos ao Setor de Servio Social no ano de 2008 ......................................................... 38

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 01 - Rondnia - Sntese de Indicadores Sociais 2010 .............................................. 25

    Tabela 02 - Aspectos do Municpio de Vilhena/RO .............................................................. 27

    Tabela 03 - Processos remetidos ao Setor de Servio Social em 2008 ............................... 35

    Tabela 04 - Situao dos 82 (oitenta e dois) processos remetidos ao Setor de Servio Social

    no incio da pesquisa ............................................................................................................ 38

    Tabela 05 - Material disponvel para a pesquisa .................................................................. 40

    Tabela 06 - Lotes de processos que foram para sorteio ....................................................... 42

  • LISTA DE ANEXOS

    01 - Ofcio Coord.68/2009/PPGPS ..................................................................................... 129

    02 - Ofcio Ncleo Psicossocial n 005/2010 ...................................................................... 130

    03 - Requerimento Juza da 2 Vara Cvel/JIJ da Comarca de Vilhena/RO .................... 131

    04 - Autorizao da Assistente Social no pesquisadora ................................................... 132

    05 - Lei N 2.779/2009 Prefeitura Municipal de Vilhena .................................................. 133

  • SUMRIO

    INTRODUO ...................................................................................................................... 16

    CAPTULO I

    I - EM MEIO A UM COMPLEXO COMPOSTO DE ENCONTROS, BUSCAS E

    POSICIONAMENTOS NOS DESCOBRIMOS: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA

    DISSERTAO .............................................................................................................. 20

    1.1. O Estado de Rondnia aspectos histricos e sociais ............................................ 20

    1.1.1. O campo sociojurdico no Estado de Rondnia ........................................... 28

    1.2. Trajetria Metodolgica .......................................................................................... 33

    1.2.1- Objeto ........................................................................................................... 33

    1.2.2 - Objetivos ..................................................................................................... 44

    1.2.3 - Justificativa .................................................................................................. 45

    1.2.4 - Tipologia de pesquisa ................................................................................. 46

    1.2.5 - Instrumentais e tcnicas ............................................................................. 49

    1.2.6 - Processamento e Anlise dos dados .......................................................... 50

    CAPITULO II

    II - EVOLUO DE UMA JORNADA DESPROVIDA DE MAPAS E ROTEIROS, MAS

    RECHEADA DE FISCALIZAES E COBRANAS: A FAMLIA, O ESTADO E O

    TRABALHO ..................................................................................................................... 53

    2.1. Apontamentos sobre a origem da famlia ............................................................... 53

    2.2. A repaginao da famlia brasileira sob os auspcios da Poltica Higienista .......... 57

    2.3. A Famlia Contempornea ..................................................................................... 61

    2.4. A incorporao da famlia na proteo social ........................................................ 65

    2.5. A regulao estatal no trato da infncia e da adolescncia no Brasil .................... 76

    2.6. O cotidiano dos provedores: o mundo do trabalho contemporneo ...................... 81

    CAPTULO III

    III - PERCALOS NO CAMINHO. QUANDO OS DIREITOS NO SO ASSEGURADOS .. 85

    3.1. Judicializao: a prerrogativa do Poder Judicirio frente s demais instncias da

    esfera pblica ......................................................................................................... 85

    3.2. A judicializao das expresses da questo social ............................................... 92

    3.3. Os desafios impostos pela judicializao nos processos de trabalho dos assistentes

    sociais do Poder Judicirio ..................................................................................... 95

  • CAPTULO IV

    IV- CHECANDO E DESENVOLVENDO A COMPETNCIA: RESULTADO E ANLISE DA

    PESQUISA ...................................................................................................................... 97

    4.1. Anlise de Contedo do Parecer Social 01 ............................................................ 97

    4.2. Anlise de Contedo do Parecer Social 02 .......................................................... 104

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................................ 112

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .................................................................................... 115

    ANEXOS ............................................................................................................................. 127

  • INTRODUO

    No divagar dos pensamentos da pesquisadora, no raras vezes ao refletir sobre as

    diferentes formas de trabalho, fantasiou o quanto deve ser gratificante ganhar a vida sob

    forma de prazimento, momentos em que se reportava ao poeta, num trabalho de criao, ao

    cair da tarde junto `a natureza exuberante. Ingenuamente, pensava quo diferente o

    cotidiano do Assistente Social que, a todo momento, se v diante da realidade nua e crua.

    Como h engano no olhar ingnuo e, assim como o poeta precisa de um banho de

    realidade, o Servio Social tambm oportuniza momentos de puro enlevo. E sem nenhum

    exagero, a construo da dissertao, dados os desafios e renncias, constitui-se num

    desses momentos, na oportunidade de parar um pouco no meio do caminho e buscar

    respostas para as prprias interrogaes do fazer profissional.

    O tema desta dissertao traz tona preocupaes acumuladas durante mais de

    vinte anos de trabalho profissional no espao ocupacional denominado campo sociojurdico,

    no exerccio de funo tradicionalmente desempenhada pelos Assistentes Sociais,

    concernentes `a elaborao de Pareceres Sociais, a partir de interveno junto s famlias.

    Famlia sujeito privilegiado de interveno do Servio Social desde a gnese da

    profisso no Brasil at a atualidade entendida nesta dissertao como um fato cultural

    historicamente condicionado.

    O titulo, Famlias: Para alm de alimentar e levar Um olhar sobre os Pareceres

    Sociais em processos de Medida de Proteo criana e ao adolescente sugere a

    compreenso do Assistente Social no trabalho junto famlia, no sentido de observar se o

    foco das intervenes concentra-se no emergencial, no qual no tem importncia o antes e

    nem o depois, mas o presente, no vislumbrando o que est alm do aparente.

    Para superar a imediaticidade preciso desvelar a aparncia e estabelecer

    mediaes, trabalhando com a convico e o compromisso de que so necessrias

    mudanas profundas na distribuio da riqueza e na justia social, o que garantir a todos

    as pessoas a cidadania.

    Foram selecionados para a pesquisa Processos de Medida de Proteo Criana e

    ao Adolescente, o que significa que pelo menos para um dos filhos (as) daquela famlia que

    faz parte do processo, foi requerida judicialmente uma ou mais medidas de proteo.

    A opo por esses processos em detrimento de outros se deu por, no mnimo, trs

    razes, a saber: constituem-se na maior demanda remetida ao Servio Social; demonstram

    a questo da judicializao; e, por ltimo so os que mais angustiam e instigam a

  • 17

    pesquisadora no sentido de constatao da no socializao da participao poltica e da

    riqueza socialmente produzida pela classe trabalhadora.

    No universo investigado, a maior porcentagem de famlias monoparental, inclui -

    se no critrio estabelecido pela pesquisadora de que o (a) responsvel exera atividade

    remunerada fora do lar e se v diariamente diante da realidade de no ter onde deixar a

    prole enquanto trabalha.

    Na ausncia de uma pessoa ou instituio que os oriente e supervisione, muitas

    crianas e adolescentes vivenciam situao de risco pessoal e social e passam a ser

    usurios das instituies que compem a rede responsvel pela garantia de direitos.

    Trata-se, portanto, de um estudo dialtico, para o qual se deve colocar no

    movimento de sua evoluo. constatar que o que , nem sempre foi e nem permanecer

    porque no existe nada definitivo.

    Um Parecer Social teve um enfoque na gnese do Servio Social, que,

    contemporaneamente, no tem mais; a famlia de ontem e suas relaes sociais no so as

    mesmas de hoje, e assim a dissertao foi sendo alinhavada tendo-se ao final uma nica

    certeza: que nada est acabado.

    A organizao da dissertao encontra-se estruturada em quatro captulos. Os

    ttulos foram pensados metaforicamente, como os filhos chegam, e a trajetria que se

    percorre com eles at o seguir em frente.

    O primeiro captulo trata do universo estudado, o Estado de Rondnia, seus

    aspectos histricos e sociais, o Municpio de Vilhena, o Poder Judicirio do Estado e o

    Servio Social no Frum de Vilhena.

    Neste captulo, trabalha-se tambm a metodologia utilizada na investigao. No que

    concerne `a natureza a pesquisa se classifica como pesquisa aplicada, considerando que se

    intenta a partir dos resultados contribuir com mais competncia na prestao jurisidicional e

    tambm publicizar a dissertao.

    Quanto abordagem classifica-se como pesquisa qualitativa e procura responder

    aos seus ciclos, que na fase exploratria delimitou-se o objeto do qual se l e escreve, os

    objetivos, posteriormente levantou-se o material documental e, por ltimo, atravs dos

    instrumentais e tcnicas foram processados e analisados os dados, atravs da ordenao,

    classificao e anlise.

    No segundo captulo busca-se, sucintamente situar historicamente a formao da

    famlia e como foi repensada a maneira de tratar os filhos, a ligao com o trabalho, na

    famlia colonial, que sofreu a influncia direta da poltica higienista, que se perpetua at os

    dias atuais e no raras vezes contribui com o olhar moralizante movido por preconceitos.

  • 18

    Num segundo momento procura-se pensar a famlia brasileira na

    contemporaneidade, atravs de sua incorporao no campo da proteo social, atravs das

    duas tendncias predominantes, afamilista e a protetiva.

    Na sequncia, procura-se demonstrar as conquistas mais importantes na rea da

    legislao voltada s crianas e adolescentes, buscando atravs desse conhecimento

    refletir o quanto uma legislao marca novos estgios, mas que, por si s, no garante

    direitos, em razo da existncia de um abismo entre a lei e sua efetivao.

    Finaliza-se o segundo captulo com a categoria trabalho, no qual a famlia

    contempornea encontra-se inserida. Esboa-se uma breve anlise das transformaes no

    mundo do trabalho, a partir de 1973, as quais trouxeram reestruturao na esfera produtiva,

    somadas globalizao financeira e a adoo de polticas neoliberais, o que resultou num

    quadro de extrema vulnerabilidade para a classe trabalhadora dos pases perifricos,

    verificando-se no Brasil um movimento de migrao de trabalhadores para diversas regies,

    incluindo a acelerao da formao do Estado de Rondnia.

    O terceiro captulo trata da judicializao, fenmeno contemporneo que como tal

    passou a ser estudado e mais pesquisado internacionalmente, a partir de 1970 e, no Brasil,

    ps 1988. Materializa-se de acordo com a legislao, organizao econmica, social e

    poltica de cada nao.

    No Brasil, a judicializao fruto de uma sociedade em transformao, na qual a

    democracia representativa vive uma crise, as formas de organizao historicamente

    construdas faliram, a redemocratizao do pas levou as pessoas, individualmente, a

    procurarem mais o judicirio, na expectativa de que seus direitos venham a ser

    reconhecidos.

    Neste eixo, os direitos so forjados em razo das presses exercidas pelas

    sequelas da questo social populao, principalmente a mais pobre que quando

    consciente de que os seus direitos esto sendo violados, busca o judicirio como derradeiro

    lugar para solucionar os problemas. Inserido nesse movimento encontra-se o Assistente

    Social que trabalha no Poder Judicirio que, alm daquelas demandas inerentes ao campo

    de atuao, passa a atuar com a chamada judicializao.

    O quarto e ltimo captulo trata do resultado e anlise da pesquisa, por meio da

    Anlise de Contedo de dois Pareceres Sociais elaborados por Assistentes Sociais que, no

    perodo delimitado para a investigao, integravam o Setor de Servio Social. Estes foram

    transcritos e trabalhados, respeitando o sigilo profissional, e aps seguem-se as etapas

    exigidas pela perspectiva metodolgica adotada: construo da grelha de anlise, unidade

    de registro, unidades de contexto, categorias, categorizao, descrio, inferncia e

    interpretao.

  • 19

    A seguir foram apresentadas as consideraes finais, expressam a significao e

    relevncia desta dissertao, dentro dos limites e compreenso do objeto estudado, tambm

    contribuem para mais um momento vivido na trajetria do exerccio profissional. Para alm

    disso, a dissertao traz a bibliografia utilizada, ampliando as referncias sobre o texto

    acrescidos dos anexos.

  • 20

    CAPTULO I

    EM MEIO A UM COMPLEXO COMPOSTO DE ENCONTROS, BUSCAS E

    POSICIONAMENTOS NOS DESCOBRIMOS: ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA

    DISSERTAO

    No, no tenho o caminho novo. O que tenho de novo o jeito de caminhar

    Tiago de Mello

    1.1 . Estado de Rondnia: aspectos histricos e sociais

    O Estado de Rondnia integra a regio Norte do Brasil, a qual formada por sete

    Estados da federao, Amazonas, Acre, Amap, Par, Rondnia e Tocantins; totalizam 3, 9

    milhes de Km (Fig. 01) . A populao da regio de 15.484.929 (IBGE, 2010) o que

    corresponde a 7, 79% do contingente brasileiro.

    Figura 01: Mapa da Regio Norte do Brasil.

    Fonte: SkyScraperlife.

    A origem da ocupao do atual Estado de Rondnia remonta ao sculo XVII, com a

    penetrao das Bandeiras que objetivavam a procura de ouro, especiarias, madeiras nobres

    e a caa ao ndio. Esse perodo, apesar de no proporcionar uma ocupao econmica efe-

    tiva na regio, deixou em seu rastro os primeiros indcios de agregados populacionais,

  • 21

    centrados principalmente na catequese jesutica e na poltica de conservao de fronteiras.

    (RONDNIA PERFILSOCIOECONMICO INDUSTRIAL, 2003).

    No sculo XIX, com a ocorrncia da Revoluo Industrial aumentou a demanda do

    mercado internacional da borracha, o que provocou um grande estmulo sua produo na

    Amaznia, de onde era nativa. Esse fator desencadearia o Primeiro Ciclo da Borracha,

    entre 1877 e 1912, trazendo como efeito o deslocamento de grande contingente de mo-de-

    obra para sua explorao, o que produziu sensveis transformaes na regio.

    Contribui para isso a seca que assolou o Nordeste entre 1877 e 1880 e a intensa

    propaganda do governo brasileiro e de governos regionais, que acenavam com prmios e

    facilidades para os migrantes, o que so considerados os principais fatores que

    influenciaram a formao dessa corrente migratria, quando Rondnia recebeu mais de oito

    mil homens que se adentraram nos rios e se estabeleceram nos seringais.

    A populao migrante, constituda de retirantes que vivenciavam no estado de

    origem situaes de vulnerabilidade social e pessoal, principalmente quanto escassez de

    alimentos em decorrncia das condies precrias da viagem, enfraqueciam mais ainda e

    aqui esses sujeitos experienciaram as sequelas da questo social3 apresentadas com outras

    particularidades:

    o calor insuportvel [...] a umidade [...] enxame de moscas, dos mosquitos e da abelha a atormentarem aquela gente herica, juntando-se permanentemente, malria endmica, s feridas mais horripilantes e ftidas [...], a promiscuidade nas viagens, a deficincia e muitas vezes a falta absoluta de alimentao, os constantes naufrgios nas cachoeiras [...] a falta absoluta de tratamento mdico, a carncia de remdios... (SILVA, 1984, p. 11).

    No decorrer da Segunda Guerra Mundial, em 1943, a Malsia ficou isolada da Eu-

    ropa devido ocupao do sudeste asitico pelos japoneses, renascendo a importncia dos

    seringais da Amaznia. Dessa poca data a ltima grande leva de migrantes para a regio,

    composta quase que exclusivamente de nordestinos, vinculada explorao da seringueira,

    os denominados Soldados da Borracha.

    Nesse mesmo ano, o Presidente Getlio Vargas criou os territrios federais, entre

    eles o Territrio Federal Guapor, posteriormente Rondnia, constitudo de reas

    desmembradas dos Estados do Amazonas e Mato Grosso (IBGE, 1980). Em 1945 foram

    criados os municpios de Guajar-Mirim, que ocupava toda a regio do Vale do Guapor, e

    Porto Velho, abrangendo toda a regio de influncia da atual BR-364.

    Esse novo ciclo econmico, acompanhado da alterao institucional que ocorreu

    com a criao do Territrio, no gerou efeitos capazes de provocar transformaes

    3. O entendimento sobre o conceito da categoria questo social ser visto no captulo trs da dissertao.

  • 22

    substanciais na regio e nem deixou qualquer sucedneo possvel de provocar a

    incorporao da rea ao espao econmico nacional ((RONDNIA

    PERFILSOCIOECONMICO INDUSTRIAL, 2003). A populao, em 1950, segundo o

    (IBGE, 1980) era de 37.173 habitantes.

    No perodo compreendido entre 1958 e 1970 a economia local se desenvolveu

    sombra da explorao da cassiterita efetuada manualmente, em sua maioria por

    trabalhadores do sexo masculino que migravam sozinhos ou com a famlia e se fixavam

    prximo aos garimpos .

    As condies de vida eram extremamente difceis, muitos no decorrer da viagem

    gastaram o montante que conseguiram juntar no local de origem, geralmente fruto da

    comercializao de mveis e utenslios domsticos, ou da pequena propriedade rural que

    possuam. O valor recebido nos garimpos nem sempre supria as necessidades materiais,

    conviviam com roubos, prostituio, assassinatos, exploraes na comercializao da

    cassiterita e, sobretudo, se no estado as polticas pblicas j no eram suficientes para

    atender `a demanda existente, o expressivo aumento da populao, num curto espao de

    tempo, tornou a acessibilidade extremamente deficitria.

    Em 31 de maro de 1971, atravs da Portaria Ministerial n 195/70, expedida pelo

    Ministrio das Minas e Energia, ocorreu a proibio sumria da garimpagem manual, sob a

    alegao de que o garimpo tinha um percentual de aproveitamento reduzido e inviabilizava a

    explorao complementar mecanizada, economicamente mais rentvel.

    Garimpeiros foram removidos para fora de Rondnia e privilegiou-se um reduzido

    nmero de empresas de grande porte, predominantemente multinacionais, riquezas locais

    deixaram de circular e o resultado econmico da explorao passou a ser aplicado fora do

    Territrio.

    A explorao mecanizada do minrio significou o primeiro impulso industrial no

    Estado, Rondnia passou a ser, no final de 1970, o maior produtor brasileiro de cassiterita,

    com 10.000 toneladas por ano, representando 67, 43% da produo nacional.

    Contudo, deve-se ressaltar que o mineral era exportado na forma bruta, sem

    qualquer beneficiamento industrial, alm de se constituir num setor oligopolizado, o que

    acarretava limitao de emprego e de renda para o Territrio. Sem embargo das desvan-

    tagens econmicas e sociais advindas com a implantao da extrao pelo regime de lavra

    mecanizada, essa atividade se constituiu na primeira experincia de empresa industrial em

    Rondnia.

    Em 1968, a BR-29, hoje 364, foi consolidada e permitiu que a partir de 1970, fosse

    iniciado o ciclo agrcola que acontece at hoje, com maior concentrao no municpio de

    Porto Velho, iniciando a ligao econmica da regio com os centros consumidores do Sul e

    Sudeste brasileiros. Em 1970, Rondnia contava com 113.659 habitantes (IBGE, 1980), dos

  • 23

    quais 84.048 residiam no municpio de Porto Velho; em 1980 atingiu uma populao de

    503.070 e Porto Velho j contava com 20% desse total de habitantes.

    As caractersticas do fluxo migratrio da dcada de 1970 foram diferentes das

    anteriores, nesta os migrantes, principalmente camponeses, vinham em busca de terras

    para a agricultura. Entre os migrantes havia a tentativa de ocupao das reas rurais por

    grandes grupos agro-industriais do centro sul, ocorrendo conflitos entre eles e os antigos

    posseiros.

    O Instituto de Colonizao e Reforma Agrria - INCRA iniciou os projetos oficiais de

    colonizao, porm no conseguiu assentar 1/3 das famlias, justificando-se pela falta de

    verbas para esses projetos. A maior parte desses recursos foi alocada para a rea da

    Transamaznica onde o fluxo migratrio era bem menor. Os problemas sociais advindos

    desse processo foram catastrficos (TEIXEIRA e FONSECA, 2003), entre eles o

    desemprego e suas consequncias.

    As medidas tomadas pelos governantes no atendiam a maioria da populao que

    crescia diariamente, sendo formados novos municpios e ncleos urbanos. As antigas

    formas de extrativismo vegetal foram abandonadas e substitudas por atividades

    econmicas altamente rentveis (IBGE, 1980), a agricultura e a pecuria se desenvolviam,

    mas perdurava o problema bsico de gerao de energia. Todos, a partir desse perodo,

    uniram foras para a criao do Estado de Rondnia, sendo unnimes quanto inadequada

    organizao infra-estrutural e poltico-administrativa dos Territrios Federais, subordinados

    unio.

    Em resposta aos movimentos dos vrios setores, em 17 de agosto de 1981, foi

    encaminhado ao Congresso Nacional, pelo ento Presidente da Repblica Joo Batista

    Figueiredo, o projeto de Lei complementar n 221 e em 22 de dezembro, foi aprovada a Lei

    complementar n 41 criando o Estado de Rondnia, instalado em 04 de Janeiro de 1982,

    nomeado para primeiro Governador o Coronel Jorge Teixeira de Oliveira (TEIXEIRA e

    FONSECA, 2003).

    A partir de 1980, constata-se um decrscimo na taxa de crescimento populacional

    do Estado, dadas s condies gerais do pas e crise econmica, com influncia marcante

    na retrao do capital.

    Sobre o perfil dos migrantes, cerca de 41, 4% encontravam-se na faixa de 15 a 29

    anos, na dcada de 1970, se constituam de jovens solteiros, ou famlias jovens, com filhos

    crianas ou sem filhos e baixa escolaridade. A migrao caracterizava-se por ser

    eminentemente do tipo procedncia rural-destino rural, os brasileiros vinham seduzidos pela

    poltica de distribuio de terras, promovida pelo governo militar sob o lema Integrar para

    no entregar, o que contribuiu para o decrscimo da populao rural de outras regies do

    pas.

  • 24

    Entretanto, esta caracterstica se modificou gradativamente a partir de 1980, a

    migrao de rural-rural passou ser rural-urbana ou mesmo urbana-urbana. Grande parte dos

    migrantes com destino rural passou por um estgio urbano involuntrio, devido

    morosidade do aparelho estatal em realizar os assentamentos ou por dificuldade de

    aquisies de terras particulares.

    De qualquer forma, registram-se a existncia de bolses de misria nos bairros

    perifricos das cidades, situaes de subemprego e fome, alm de sintomas localizados de

    insegurana social. Como regra geral, as cidades no estavam preparadas para suportar os

    impactos do fluxo migratrio, sendo ainda comum a insuficincia de gua tratada, energia

    eltrica e esgotos sanitrios.

    Em razo do alto custo para manter os Centros de Triagem e Migrao e,

    entendendo-se que no havia um fluxo migratrio to intenso, no incio dos anos 1990 o

    governo do Estado optou pela desativao dos CETREMIS Centro de Triagem de

    Migrantes, interrompendo assim um acompanhamento mais efetivo do processo.

    No que tange Administrao Pblica Estadual os reflexos do agravamento da

    crise que se abateu sobre os governos estaduais aps a efetivao do Plano de

    Estabilizao da Moeda, em 1994, se fez sentir de forma ainda mais contundente em

    Rondnia, particularmente por se tratar de um estado de criao recente cuja estrutura

    econmica no est consolidada e tambm porque a esse fato se agregaram dificuldades

    regionais naturais de competitividade e dificuldades gerenciais na esfera poltico-

    administrativa do poder pblico estadual.

    Os grupos familiares tm contribudo desde os primeiros eixos migratrios para o

    desenvolvimento da regio, so grupos empreendedores, alguns que deixaram o estado de

    origem, vendendo os bens que l possuam para investir no prprio negcio na zona urbana

    e rural. Outros vieram com a fora de trabalho e a vontade de viver melhores condies

    daquelas do local de origem.

    Considera-se como positivo, entre outros a implantao do Programa de Aquisio

    de Alimentos PAA, em 2003, que trouxe um novo direcionamento poltica agrcola

    brasileira, pois visava o apoio ao agricultor familiar no momento mais crtico da produo,

    que era o da venda. H sete anos implantado em Rondnia, tem contribudo para que os

    agricultores familiares do estado aumentem suas rendas, consequentemente a qualidade de

    vida deles e dos filhos e propiciem maior desenvolvimento do estado. (CARNIELLO, RICC e

    VALNIER, 2010).

    O nvel de desenvolvimento social4 do estado apresenta grandes desafios que

    podem ser observados na tabela a seguir.

    4. Segundo o IBGE/2010, existe hoje em dia um consenso sobre os critrios de seleo dos aspectos que melhor retratam o estado social de uma nao, j se pode falar de um conjunto mnimo de Indicadores

  • 25

    Tabela 01: RONDNIA - Sntese de Indicadores Sociais 2010 - Uma Anlise das Condies

    de Vida da Populao Brasileira5

    Arranjos familiares residentes em domiclios particulares 2009 474 mil arranjos

    Arranjos familiares, do tipo casal sem filhos, residentes em domiclios particulares 2009 50, 4 %

    Arranjos familiares, do tipo mulher sem cnjuge com filhos, residentes em domiclios particulares 2009 15, 3 %

    Famlias com pelo menos uma criana de 0 a 5 anos de idade 2009 25, 4 %

    Taxa de frequncia escolar das crianas e adolescentes de 6 a 14 anos de idade, pertencentes ao 1 quinto de rendimento mensal familiar per capita 2009

    95, 8 %

    Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raa preta - 2009 14, 3%

    Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raa parda - 2009 10, 8%

    Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raa branca 2009 7, 0 %

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raa - branca 2009 7, 5 %

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raa preta - 2009 6, 5 %

    Mdia de anos de estudo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por cor ou raa - parda - 2009 6, 8%

    Percentual do rendimento mdio das mulheres em relao aos homens, ambos de 16 anos ou mais de idade e ocupados - 2009 67, 0 %

    Percentual do rendimento mdio das mulheres em relao aos homens, ambos de 16 anos ou mais de idade, ocupados e com 12 anos ou mais de estudo 2009

    51, 0%

    Mdia de horas semanais gastas em afazeres domsticos pelos homens de 16 anos ou mais de idade - 2009 11, 1 %

    Mdia de horas semanais gastas em afazeres domsticos pelas mulheres de 16 anos ou mais de idade - 2009 27, 4%

    Fontes: IBGE, Estatsticas do Registro Civil 1999/2008; IBGE, Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais 2009; IBGE, Pesquisa de Oramentos Familiares 2008-2009; IBGE, Pesquisa Nacional de Sade do Escolar 2009; IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios 2008/2009.

    O Estado de Rondnia possui 52 municpios.Vilhena, local onde foi realizada a

    pesquisa do Mestrado em Poltica Social um deles (Fig. 02). Sua emancipao poltico-

    administrativa foi efetivada atravs do artigo 47 da Lei n 6.448 de 11 de outubro de 1977,

    Sociais. Tal conjunto composto por informaes sobre as caractersticas da populao, sobre a dinmica demogrfica, sobre trabalho e rendimento; sobre sade, justia e segurana pblica, educao e condies de vida das famlias.

    5. Fontes: IBGE, Estatsticas do Registro Civil 1999/2008; IBGE, Pesquisa de Informaes Bsicas Municipais 2009; IBGE, Pesquisa de Oramentos Familiares 2008-2009; IBGE, Pesquisa Nacional de Sade do Escolar 2009; IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios 2008/2009.

  • 26

    assinada pelo ento Presidente da Repblica Ernesto Geisel, com reas desmembradas

    dos municpios de Porto Velho e Guajar-Mirim e seu primeiro prefeito efetivo, toma posse

    em 23/11/77. (IBGE, 2010).

    Figura 02: Mapa do Estado de Rondnia.

    Fonte: SkyScraperlife.

    A histria do municpio data do incio do sculo XX, por volta de 1910, com a

    passagem por estas terras da expedio chefiada pelo Tenente Coronel Cndido Mariano

    da Silva Rondon, quando fixou nos campos do Planalto dos Parecis um posto telegrfico, na

    linha Cuiab/Santo Antnio do Alto Madeira, que ligaria as principais cidades da regio

    Oriental do Pas, Cuiab/Porto Velho, construindo milhares de quilmetros de cabos

    telegrficos, que resultaram no surgimento de vilas nas proximidades dos postos (SILVA,

    1984).

    H duas verses sobre a origem do nome Vilhena, cunhado por Rondon, uma diz

    que foi para homenagear seu ex chefe lvaro Coutinho de Melo Vilhena, a outra para

    homenagear um dos tenentes de sua equipe, o engenheiro Antnio Carlos Vilhena (IBGE,

    2010).

    A partir de maro de 1960, passa a se formar o atual ncleo urbano, com a

    instalao do acampamento da firma de Engenharia, construes e comrcio Camargo

    Correa S.A, sendo meses depois, estabelecido oficialmente o trfego rodovirio entre

    Cuiab-Vilhena (IBGE, 2010) .

    Em julho do mesmo ano, o ento Presidente da Repblica, Juscelino Kubitscheck

    inaugura a abertura da BR-29, hoje 364 ligando Braslia a Rio Branco /AC (SILVA, 1984).

  • 27

    Em 1964, ocorreu atravs do IBRA (Instituto Brasileiro de Reforma Agrria), e

    depois INCRA (Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria), a distribuio de

    terras da Unio aos colonos dispostos a adquiri-las e se fixarem na Regio, esse fator atraiu

    migrantes de todos os quadrantes do pas, os quais do inicio criao de gado e

    inaugurao de postos de servios.

    Vilhena entrada da Amaznia Ocidental, por isso a denominao Portal da

    Amaznia Ocidental, seu povoamento foi caracterizado pela maioria dos fatores que

    culminaram no povoamento do Estado, aliado existncia de um clima saudvel, prprio da

    Regio do Planalto.

    Destaca-se como importante plo estratgico, por localizar-se num entroncamento

    rodovirio que interliga todo o cone sul do Estado de Rondnia, do qual fazem parte os

    Municpios de Corumbiara, Cerejeiras, Colorado do Oeste, Cabixi e Pimenta Bueno, assim

    como o Noroeste de Mato Grosso com os Municpios de Aripuan, Juruena, Castanheiras,

    Juna, Brasnorte e Comodoro. Encontra-se a 705 Km (setecentos e um quilmetros) de

    Porto Velho (capital de Rondnia) e a 727 Km (setecentos e vinte e sete quilmetros) de

    Cuiab (capital de Mato Grosso).

    A tabela abaixo demonstra alguns aspectos do municpio de Vilhena.

    Tabela 02: Aspectos do Municpio de Vilhena RO

    Total da populao em 2010/ zona urbana e rural 76.187

    Total da populao urbana/2010 72.212

    Total da populao rural /2010 3.975

    Total de homens /2010 37.779

    Total de mulheres/2010 38.408

    Nascidos vivos registrados- lugar do registro 1, 751

    Produto interno Bruto /2008 PIB per capita a preos correntes 16.218, 78 reais

    Receitas oramentrias realizadas correntes /2008 89.501.235, 95 reais

    Valor do Fundo de participao dos Municpios /2008 FPM 11.608.464, 86 reais

    Nmero de empresas atuantes /2008 2.178

    Total de pessoal assalariado ocupado nas empresas /2008 13.496

    Estabelecimentos de Sade SUS/2009 27

    Matrculas realizadas em 2009 no Ensino Fundamental/ Escolas pblicas e privadas 12.834

    Matrculas realizadas em 2009 no Ensino Mdio / Escolas pblicas e privadas

    2.910

    Matrculas realizadas em 2009 na Educao Infantil / Escolas pblicas e privadas 2.232

    Total de domiclios particulares ocupados /2010 23.466

    Casamentos /2010 450

    Divrcios Judiciais / escritura pblica /2009 65

    Fonte : IBGE Cidades /2010, IBGE Mapa de Pobreza e Desigualdade Municpios brasileiros 2003.

  • 28

    1.1.1. O campo Sociojurdico6 no Estado de Rondnia

    Com a criao do Estado de Rondnia fez - se necessria a instalao do Poder

    Judicirio Estadual em 22/12/81, e atravs da Lei complementar Federal n 041/81 o

    Tribunal de Justia do Estado de Rondnia TJ/RO, no rastro de alguns acontecimentos

    ligados ao auge econmico da borracha.

    O aumento da populao, consequentemente das demandas judiciais, provocou

    alterao das competncias, comarcas e varas criadas. Vinte e cinco comarcas, duas de 1

    entrncia, onze de 2 e doze de 3 e 19 Postos Avanados formam atualmente o Tribunal de

    Justia de Rondnia, sua Estrutura Organizacional: Presidente, Vice-Presidente,

    Corregedor-Geral, Tribunal Pleno, Cmaras Cveis Reunidas, Cmaras Especiais Reunidas,

    1 Cmara Cvel, 2 Cmara Cvel, Cmara Especial, Cmara Criminal, Secretrio Judicirio

    e Secretrio Administrativo. Com isso passam a ser supridas as necessidades na rea.

    A gnese do Servio Social no Judicirio do Estado Rondnia est

    associada:

    [...] atuao da Assistente Social Lindalva Valrio Verosa da Silva, funcionria do antigo Territrio de Rondnia que ingressou no Judicirio em julho de 1980, antes da instalao do Tribunal de Justia de Rondnia, para atender demandas pertinentes a criana e ao adolescente, da Comarca de Porto Velho, sendo que a partir da instalao do Tribunal de Justia do Estado de Rondnia, a mesma passou a trabalhar na Vara de Famlia, rfos e Sucesses (SILVA e PAIVA - DVD Sesses Temticas de Apresentao e Comunicao Oral, 2007).

    Aps a instalao do Tribunal de Justia do Estado de Rondnia foi contratada a

    primeira Assistente Social do quadro de pessoal, Elizete Leite de Arajo Monteiro. Em

    1992, atendendo solicitao do juiz titular da 2 Vara de Famlia, foi lotada a primeira

    Assistente Social para proceder Estudos Sociais das famlias envolvidas nos processos,

    objetivando subsidi-lo nas decises (ABREU e MANETE, 2005, p.2), dessa forma, tem

    incio a atuao de Assistentes Sociais contratados, como j ocorria desde a gnese da

    profisso em outras unidades da federao.

    6. Sobre o termo campo scio jurdico, Fvero (2007 p.2) esclarece que: O termo campo (ou sistema) sociojurdico utilizado enquanto o conjunto de reas de atuao em que as aes do Servio Social se articulam a aes de natureza jurdica, como o sistema judicirio, os sistema penitencirio e prisional, o sistema de segurana, o ministrio pblico, os sistemas de proteo e acolhimento e as organizaes que executam medidas scio-educativas, conforme previstas no Estatuto da Criana e do Adolescente, dentre outros .O termo sociojurdico passou a ser mais conhecido no meio profissional dos assistentes sociais, especialmente a partir de sua escolha como tema da Revista Servio Social e Sociedade n 67 (Cortez Editora), e de uma das sesses temticas do X CBAS Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais /2001, e, ainda, do Encontro Nacional Sociojurdico que ocorreu em Curitiba, em 2004, quando foi discutido o sistema de defesa de direitos nas reas do Judicirio e do Penitencirio.

  • 29

    As novas contrataes foram decorrentes das demandas. Atualmente todas as

    comarcas de 3 e 2 entrncia contam com Ncleos Psicossociais, a maioria integram

    Assistentes Sociais e Psiclogos, as comarcas de 1 entrncia contam apenas com

    Assistentes Sociais. A admisso para ambos os cargos ocorre atravs de concurso pblico.

    No captulo X das Diretrizes Gerais Judiciais do Tribunal de Justia do Estado de

    Rondnia, so especificadas as atribuies dos profissionais do Servio Social e Psicologia,

    conforme art.364 a 378 .

    Art. 369. Os assistentes sociais e psiclogos executaro suas atividades profissionais perante as Varas da Infncia e da Juventude, de Famlia e Sucesses, de Crimes contra Crianas e Adolescentes, Criminais, de Execues Penais e de Juizados Especiais Criminais.

    Para compreender como tm sido operacionalizadas as atribuies foi enviado e-

    mail para os (as) Assistentes Sociais do TJ/RO solicitando a contribuio destes

    profissionais nesse sentido. Trs comarcas responderam solicitao.

    Atravs dos e-mails, contatos telefnicos e informaes repassadas anteriormente

    nos encontros de tcnicos, a realidade das comarcas do interior, quanto s atividades, so

    semelhantes. Processos de todas as varas so encaminhados aos ncleos ou ao Setor de

    Servio Social, quando da ausncia dos ncleos. Cada comarca tem suas prprias

    caractersticas quanto quantidade de processos remetidos, o que depende de um conjunto

    de fatores, entre eles a atuao das redes de proteo, e a importncia, ou no, que os

    operadores do Direito do atuao do Assistente Social, o que remete tambm

    qualidade do trabalho.

    Na capital do estado, os Assistentes Sociais so lotados na Justia da Infncia e

    Juventude, Varas de Famlias, Juizado Especial Criminal, Juizado da Mulher, na sede do

    Tribunal de Justia de Rondnia e na Escola da Magistratura. Essa lotao por varas

    especficas garante ao profissional especializar-se na rea em que atua diariamente.

    Art. 370. Compete aos assistentes sociais e psiclogos fornecer subsdios aos juzes de direito, mediante laudos, relatrios, pareceres ou verbalmente em audincia, bem como desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientao, encaminhamento, palestras, pesquisas, elaborao e desenvolvimento de projetos, trabalhos com grupos, campanhas educativas com a superviso do Juiz titular da Vara em que estiverem lotados.

    Das comarcas que responderam solicitao sobre as atribuies, obtivemos as

    seguintes informaes: algumas realizam todas as mencionadas no artigo anterior e outra

    informou que realiza, alm dos laudos, relatrios e pareceres, avaliaes institucionais com

    elaborao de relatrios e documentos quanto aos servios da rede scio-assistencial. Na

    comarca de Vilhena, a maioria do trabalho das Assistentes Sociais concentra-se no

  • 30

    fornecimento de subsdios aos Juzes de Direito, mediante laudos, relatrios, pareceres ou

    verbalmente em audincia

    Desde 2008, com interrupo no ano de 2010 e retomada em 2011, tem se

    desenvolvido o Programa de Combate e Preveno Violncia Domstica, atravs de

    realizao de Oficinas com os envolvidos nos processos originados a partir da Lei 11.340

    /2007, conhecida com Lei Maria da Penha.

    Quando nas comarcas inexistirem Assistentes Sociais concursadas, as atribuies

    devero ser desenvolvidas por uma Assistente Social nomeada, conforme art. 371.

    Art. 371. Inexistindo psiclogo ou assistente social na comarca, as suas atribuies devero ser desempenhadas por profissional habilitado, nos termos da lei, nomeado pelo juiz da causa. Pargrafo nico. Em nenhuma hiptese pode-se encomendar estudo social ou psicossocial, para instruir processos de habilitao adoo, guarda, tutela ou adoo, aos membros do Conselho Tutelar, ainda que sejam profissionais qualificados na rea de servio social ou psicologia.

    Na comarca de Vilhena j foram encontradas determinaes que contrariam o

    artigo acima citado, o que se caracteriza exerccio ilegal da profisso.

    Os artigos que se seguem dizem respeito responsabilidade tica, Criminal e

    Administrativa do trabalho profissional, conforme pode-se ver a seguir:

    Art. 372. Pelos atos praticados nos processos, os assistentes sociais e psiclogos respondero perante o juiz do feito. Ficaro, porm, administrativamente subordinados ao juiz da vara ou ao diretor do frum, onde estiverem lotados.

    Os Ncleos Psicossociais tm chefia interna, e esto subordinados ao (a) Juiz (a)

    Diretor (a) do Frum.

    Art. 373. Os estudos psicossociais ou sociais sero elaborados a partir dos instrumentais especficos de cada profisso, sendo assegurada a livre manifestao do ponto de vista tcnico.

    Aos Ncleos Psicossociais das comarcas do Estado de Rondnia tem sido

    assegurada a livre manifestao do ponto de vista tcnico, o pluralismo que em hiptese

    alguma pode ser confundido com ecletismo.

    Art. 374. Exclusivo da Psicologia.

    O artigo 375, diz respeito aos instrumentais e atribuies da profisso:

    Art. 375. Compreendem-se como instrumentais na rea de Servio Social, as entrevistas, as anlises do contexto social, as visitas domiciliares/

  • 31

    institucionais, os relatrios, os laudos, os pareces, as tcnicas de mediao, os encaminhamentos e as tcnicas de dinmica de grupo. Art. 376. Os assistentes sociais e psiclogos apresentaro anualmente ao juiz de direito a que estiverem subordinados relatrio de suas atividades.

    A realizao do Relatrio Estatstico anual o momento em que se pode constatar

    quantitativamente o que foi produzido pelos ncleos, avalia-se as condies de trabalho e o

    prprio trabalho e sugere alternativas profissionais e institucionais.

    Art. 377. Durante o atendimento, o assistente social e/ou psiclogo evitar a presena de pessoas que possam comprometer a eficcia dos trabalhos a serem desenvolvidos.

    Os Ncleos Psicossociais tm conseguido cumprir e fazer cumprir o artigo 3 da

    Resoluo CFESS n 493/20067, que dispe sobre as condies ticas e tcnicas do

    exerccio profissional do Assistente Social.

    Em Vilhena o Servio Social j ocupou, diversas salas desde a implantao na

    comarca, a constante busca da garantia das condies de trabalho. As mudanas

    geralmente ocorrem em razo de solicitao dos magistrados, na busca de melhoria da

    prestao jurisdicional das varas de que so titulares. Para as abordagens individuais j se

    utilizou a sala destinada ao setor de Psicologia e o Plenrio do Tribunal do Jri.

    Recentemente o Ncleo Psicossocial passou a ocupar duas salas, em uma permanecem as

    trs Assistentes Sociais e uma Psicloga; a outra destinada aos atendimentos agendados.

    Quando passaram a trabalhar no espao atual, as Assistentes Sociais e Psicloga

    se organizaram, providenciaram a pintura da sala, o que garantiu melhores condies de

    trabalho dos tcnicos e atendimento ao usurio. Tal procedimento criticado por alguns

    setores que tm em mente que enquanto nos mobilizarmos com aes individuais, o Estado

    deixa de cumprir suas obrigaes, o que uma verdade. Mas, por outro lado

    desagradvel trabalhar diariamente num local desmotivador.

    As salas dispem de aparelhos de ar condicionado, mesa para atendimento e outra

    com computador para cada uma integrante da equipe tcnica, cadeiras giratrias e fixas,

    dois armrios fechados, num deles funciona a biblioteca do setor, composta por um acervo

    considervel do Servio Social, um arquivo onde so guardados os materiais tcnicos, de

    carter reservado e uma mesa pequena com trs cadeiras, brinquedos e jogos para as

    crianas.

    As caractersticas gerais do prdio do frum de Vilhena, diferentemente do prdio

    do TJ/RO em Porto Velho, so de falta de ateno, pintura envelhecida, paredes

    descascadas. Quanto s salas, h alguns anos, quando necessrio maior esmero, tm sido

    7. Art. 3 - O atendimento efetuado pelo (a) assistente social deve ser feito com portas fechadas. Disponvel em www.cfess.org.br, acesso em 11/02/2011.

    http://www.cfess.org.br
  • 32

    cuidadas, pelos servidores que trabalham nelas.

    Art. 378. Os prazos para realizao de estudos e elaborao de laudos ou relatrios sero fixados pelo juiz da causa.

    Existem comarcas do Estado de Rondnia, em que o nmero de tcnicos

    suficiente para atender maioria das demandas requisitadas como o caso da comarca de

    Vilhena, que conta com quatro varas cveis, duas criminais e um juizado cvel e criminal,

    sendo que as trs Assistentes Sociais que compem atualmente o quadro, nem sempre

    conseguem elaborar os Relatrios Sociais dentro dos prazos fixados pelos juzes.

    Esses prazos variam entre vinte, trinta e quarenta e cinco dias, exceto os casos de

    urgncia que tm prazos menores, em oposio queles relacionados Lei 11.340 nos

    quais, dada a natureza da interveno, habitualmente so determinados prazos mais

    longos, que oscilam entre cinqenta e sessenta dias. Findos os prazos e, no conseguindo

    o Assistente Social concluir o Relatrio Social, necessrio requerer dilao para o Juiz

    titular do feito.

    Em Vilhena, principalmente quando a equipe no est completa em razo de frias

    ou licenas, so encontrados processos em que constam at trs pedidos de dilao, com

    um perodo temporal aproximado de cinco meses, porque inclui-se a o perodo em que o

    processo retorna ao cartrio onde so cumpridos expedientes, concluso ao (a) juiz (a)

    onde ele (a) despacha, retorna ao cartrio at ser remetido novamente ao Servio Social.

    O agendamento realizado por ordem cronolgica de chegada, seguido de uma

    triagem de acordo com a necessidade e/ou emergncia do caso, em relao ao que est

    ocorrendo com aquela famlia e observado o despacho do (a) juiz (a), onde so

    determinados os prazos. Nesse momento atentado para a existncia, ou no, de pedido

    de dilaes. Num futuro prximo devero ser lotados nos Ncleos Psicossociais das

    comarcas do interior do Estado, tcnicos de nvel mdio para cuidar das demandas

    burocrticas, a exemplo do que ocorre na capital do Estado h vrios anos, o que garantir

    ao Assistente Social trabalhar exclusivamente nas questes especficas.

    O Servio Social foi implantado no Frum de Vilhena/RO, em janeiro de 1991, aps

    aprovao no primeiro concurso pblico realizado pela instituio para essa categoria a

    Assistente Social Ana Lcia de Souza8.

    O perodo da implantao caracterizado pela mudana de paradigmas. Com a

    promulgao da Constituio Federal Promulgada em 1988, que traz em seu bojo um marco

    em relao garantia de direitos criana e ao adolescente, e tambm ampliao dos

    8. Nomeada, na especialidade de Assistente Social, no 1 Concurso Pblico para o emprego de Mdico, Psiclogo e Assistente Social, regidos pela consolidao das Leis do Trabalho DJ 211 de 15/12/1989. Homologado o resultado do concurso pblico, a partir de 09/03/1990 conforme resoluo 002/92 de 10/01/1992. Disponvel em www.tjro.jus.br.

    http://www.tjro.jus.br
  • 33

    espaos scio - ocupacionais do Servio Social, inclusive queles previstos no Estatuto da

    Criana e do Adolescente que iniciava seu perodo de implantao.

    Esse momento de transio da legislao, como caracterstico de todos que

    envolvem mudanas, constitui-se em um desafio, no caso para os responsveis pela

    prestao jurisdicional, principalmente no que tange perspectiva em relao legislao

    pretrita e, no que se refere s questes da categoria do Servio Social, a responsabilidade

    que os profissionais tomam para si, concernentes ao dever de trabalhar com eficincia e

    responsabilidade, ancorados na Lei n 8662/93 que regulamenta a profisso e o Cdigo de

    tica do Assistente Social.

    A realidade dinmica, as situaes que envolvem crianas e adolescentes, que

    tem seus direitos violados, se constituem em uma das demandas mais considerveis.

    Ao iniciar as intervenes, aprofundando nas sequelas da questo social ali postas,

    constata-se que no so raras as violaes ocorridas no mbito familiar, a estreita relao

    entre elas e a ausncia dos responsveis em razo de encontrarem-se no exerccio de

    atividades laborativas.

    No momento em que determinado ao Assistente Social a emisso de um Parecer

    Social, passa a ser presente o questionamento: qual a contribuio desse processo

    metodolgico para a vida daquele usurio e de muitos outros que vivenciam situaes

    anlogas?

    Imbudo de interrogaes, o fazer profissional construdo diariamente no

    movimento da sociedade, e ler e escrever sobre atuao, no caso a elaborao dos

    Pareceres Sociais integrantes dos Processos de Medida de Proteo Criana e ao

    Adolescente mergulhar no prprio trabalho, oportunidade de parar e repensar o que se

    est construindo, e ento entra em cena o desafio desta dissertao, que ligado

    competncia tcnica, porque para fazer um Parecer Social se faz necessrio uma

    pluralidade de saberes, acmulos tericos que perpassam a Universidade e vo sendo

    aprimorados no dia a dia ao longo do tempo em consonncia com as situaes

    apresentadas.

    O item seguinte trata dos caminhos percorridos pela pesquisadora para realizar a

    investigao: a identificao do objeto, objetivos, a justificativa, a tipologia da pesquisa,

    instrumentais e tcnicas, processamento e anlise dos dados.

    1.2 . Trajetria Metodolgica

    1.2.1. Objeto

    A anlise de dois Pareceres Sociais, cada um elaborado por uma das Assistentes

    Sociais lotadas no setor de Servio Social do Frum de Vilhena, no perodo delimitado para

  • 34

    a pesquisa, se constitui no objeto desta dissertao. A unidade numrica foi estabelecida

    pela prpria pesquisadora, pautada na compreenso de que num universo onde

    trabalhavam duas Assistentes Sociais9, talvez a pesquisa no atingisse a dimenso proposta

    se a anlise recasse em um nico Parecer Social.

    Tal entendimento se d no rastro do pluralismo garantido no Cdigo de tica do

    Assistente Social, atravs do respeito s correntes profissionais democrticas existentes e

    suas expresses tericas. Neste norte, se faz necessrio observar tambm, os elementos

    constitutivos do projeto tico-poltico do Servio Social, que ganham visibilidade social por

    meio dos componentes construdos pelos (as) prprios (as) Assistentes Sociais,

    sistematizados por Teixeira e Braz (1999, p. 8):

    A produo de conhecimentos no interior do Servio Social, atravs da qual conhecemos a maneira como so sistematizadas as diversas modalidades prticas da profisso, onde se apresentam os processos reflexivos do fazer profissional e especulativos e prospectivos em relao a ele. Esta dimenso investigativa da profisso tem como parmetro a sintonia com as tendncias terico-crticas do pensamento social j mencionadas. Dessa forma, no cabem ao projeto tico-poltico contemporneo posturas tericas conservadoras, presas que esto aos pressupostos filosficos cujo horizonte a manuteno da ordem.

    Elaborar Pareceres Sociais uma das funes tradicionalmente desempenhadas

    pelos Assistentes Sociais e na pesquisa se materializaram a partir de determinao Judicial

    contida nos processos classificados com a Classe10 Medidas de Proteo criana e ao

    adolescente, as quais respondem ao Ttulo II das Medidas de Proteo, Artigo 98 do

    Estatuto da Criana e do Adolescente, que recomenda: As medidas de proteo Criana

    e ao Adolescente so aplicveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei forem

    ameaados ou violados. Inciso II por falta, omisso ou abuso dos pais ou responsvel.

    A opo pelos Processos de Medida de Proteo Criana e ao Adolescente, em

    detrimento de outros, se deu por, no mnimo, trs razes, a saber: 1 constituem-se na maior

    demanda remetida ao Servio Social, conforme demonstrado na tabela n 03 e corroborado

    na figura n 01; 2 escancaram a questo da judicializao, atravs de expresses da

    questo social que chegam ao judicirio em razo do no alcance dos programas de

    proteo maioria da populao usuria, com nfase nas dificuldades que a famlia

    9. Em 2009 passa a trabalhar no Frum de Vilhena mais uma Assistente Social e uma Psicloga, a primeira transferida e a segunda por aprovao no concurso pblico realizado pelo Tribunal de Justia no ano de 2008. Em 2010 foram criados os Ncleos Psicossociais nas comarcas do interior do Estado de Rondnia, conforme publicao no Dirio da Justia n 135/2010 de 27/07/2010. Integram o Ncleo Psicossocial do Frum de Vilhena atualmente trs Assistentes Sociais e uma Psicloga. Disponvel em www.tjro.jus.br.

    10. Os termos Classe e Assunto so identificados na capa dos processos. A Classe Medida de Proteo criana e ao adolescente substituiu outras nomenclaturas regionais a partir da resoluo n 46 de 18 de dezembro de 2007, do Conselho Nacional de Justia (CNJ), que busca de padronizao nacional unificou algumas tabelas processuais.

    http://www.tjro.jus.br
  • 35

    trabalhadora enfrenta para acompanhar e proteger seus filhos e, 3 so os que mais

    angustiam e instigam a pesquisadora no sentido da constatao da no socializao da

    participao poltica e da no distribuio da riqueza socialmente produzida pela classe

    trabalhadora.

    Tabela n 03: Processos remetidos ao Setor de Servio Social em 200811.

    ORIGEM Total CLASSE 1

    cvel 2

    cvel/JIJ 3

    cvel

    4 Cvel

    1 Crime

    2 Crime

    J.E. N %

    01-Medidas de Proteo Criana e ao adolescente /Pedidos de Providncia

    - 82 - - - - 04 86

    29, 55%

    02- Guarda 15 15 14 19 - - -

    63 21, 65%

    03- Modificao de Guarda 1 4 4 4 - - - 13

    4, 50%

    04- Medidas Protetivas/ Projeto

    - - - - 17 29 - 46

    15, 85%

    05- Ao Penal - - - - 2 - -

    2 0, 68%

    06- Execuo Penal - - - - 1 - -

    1 0, 34%

    07- Inqurito - - - - 1 - -

    1 0, 34%

    08- Habilitao para Adoo - 5 - - - - -

    5 1, 70%

    09- Adoo - 9 - - - - -

    9 3, 10%

    10- Nomeao de Tutor - 1 2 1 - - -

    4 1, 36%

    11- Interdio e Curatela 1 1 1 2 - - -

    5 1, 70%

    12- Ao Ordinria ou Reivindicatria

    2 4 3 3 - - 3 -

    15 5, 20%

    13- Busca e Apreenso 1 - 1 - - - - 2 0, 68%

    14- Homologao de Acordo - - - 1 - - - 1

    0, 34%

    15- Divrcio Direto Litigioso - - 1 - - - -

    1 0, 34%

    16- Carta Precatria 2 13 2 1 - - -

    18 6, 20%

    17- Medidas Scio Educativas

    - 5 - - - - - 5

    1, 70%

    18- Investigao de Paternidade

    1 1 - - - - -

    2 0, 68%

    19- Exonerao de Penso 1 - 1 1 - - -

    3 1, 03%

    11. No perodo que compreendeu a pesquisa foram encontrados 4 processos com a classe Pedidos de Providncia, oriundos do Juizado Especial Civil e Criminal- JESPECIAL, os quais foram enumerados na tabela n 03. Portanto totaliza 82 processos referentes classe de Medida de Proteo Criana e ao adolescente, o que equivale a 28, 3 % dos 291 remetidos ao Servio Social.

  • 36

    ORIGEM Total CLASSE 1

    cvel 2

    cvel/JIJ 3

    cvel

    4

    Cvel 1

    Crime 2

    Crime J.E. N %

    20- Revisional de Alimentos - 1 1 - - - -

    2 0, 68%

    21- Retificao de Registro Pblico

    2 - - - - - -

    2 0, 68%

    22- Suprimento de Consentimento

    - - 1 - - - - 1

    0, 34%

    23-Dissoluo de Sociedade de Fato

    - - - 2 - - - 2

    0, 68%

    24- Separao Judicial - - - 2 - - - 2

    0, 68%

    Total 26 141 31 36 21 29 07 291

    100, 00%

    Fonte: Relatrio Anual de Atividade exerccio 2008 elaborado pelo Setor de Servio Social do Frum de Vilhena, conforme artigo 376 das Diretrizes Judiciais TJ/RO.

    Figura 03: Processos remetidos ao Setor de Servio Social em 2008.

  • 37

    Fonte: Sistematizao da pesquisadora.

    Os referidos processos foram remetidos ao Servio Social no exerccio de 2008,

    pela 2 Vara Cvel, que no Frum de Vilhena cumula a Infncia e Juventude. Tratam da

    violao de Direitos garantidos na Lei 8069/90 Estatuto da Criana e do Adolescente,

    Direito Vida, Sade, liberdade, ao Respeito, Dignidade e Convivncia familiar e

    Comunitria, Educao, Cultura, ao Esporte e ao lazer, Profissionalizao e

    Proteo no trabalho.

    Dentre os direitos violados, optou-se, por necessidade de delimitao e recorte,

    tratar daqueles que ocorrem em razo da omisso dos pais em relao ao dever de

    sustento, guarda e educao dos filhos. As famlias chegam Justia da infncia e

    Juventude, atravs de denncias feitas ao Conselho Tutelar, Promotoria de Justia e

    Delegacia de Polcia.

    Nas denncias so relatadas situaes de crianas e adolescentes que possuem

    reiteradas faltas na escola ou que dela evadiram, descumprem o regimento escolar, passam

    o dia em casa sem a superviso de pessoas adultas, cabendo a elas a responsabilidade de

    cuidar dos irmos mais novos, o preparo das refeies e feitura dos demais trabalhos

    domsticos, convivem com privaes de alimentos, pessoas dependentes de substncias

    entorpecentes e outras situaes caracterizadas como de vulnerabilidade social12 ou de

    risco pessoal e social.

    Como caracterstico do trabalho institucional, os setores so organizados

    burocraticamente para facilitar o agir, o que no diferente para o Setor de Servio Social

    do Frum de Vilhena/RO, que desde sua implantao tem experimentado a execuo das

    aes, baseando-se em Provimentos, orientaes, trocas de experincias, e cursos

    especficos oportunizados pelo Tribunal de Justia do Estado de Rondnia.

    Aps a remessa dos processos ao setor de Servio Social, eles so relacionados

    em um livro prprio e, alternadamente, repassados s Assistentes Sociais para elaborao

    dos Relatrios Sociais. Concludos os Relatrios Sociais, so impressas duas cpias, uma

    delas devolvida juntamente com o processo ao cartrio de origem, no caso a Segunda

    Vara Cvel, a outra permanece nos arquivos do Setor de Servio Social.

    Consta nos referidos arquivos que o Servio Social recebeu no ano de 2008, oitenta

    e dois processos da classe acima mencionada, aps verificao da movimentao junto ao

    12. Dentre os vrios enfoques dados ao termo vulnerabilidade social, observa-se um razovel consenso em torno de uma questo fundamental: a qualidade do termo deve-se a sua capacidade de captar situaes intermedirias de risco localizadas entre situaes extremas de incluso e excluso, dando um sentido dinmico para o estudo das desigualdades, a partir da identificao de zonas de vulnerabilidades que envolvem desde os setores que buscam uma melhor posio social, at os setores mdios que lutam para manter seu padro de insero e bem estar, ameaados pela tendncia precarizao do mercado de trabalho. Tudo isso em confronto com a estrutura de oportunidades existentes em cada pas em um dado momento histrico. DIEESE/2007.

  • 38

    SAP Sistema de Automatizao de Processos Judiciais do TJ/RO at o dia 04/06/2010, a

    situao deles era a seguinte: quarenta e um continuavam em andamento e quarenta e um

    j tinham sido arquivados.

    Aps anotaes concernentes ao local fsico, ou seja, s estantes destinadas

    Justia da Infncia e Juventude, bem como ao nmero de caixas e deslocamento ao Arquivo

    Geral que no se localiza no mesmo prdio do Frum, constatou-se que doze processos

    que constavam como arquivados no Sistema de Acompanhamento de Processos Judiciais

    no estavam mais no local.

    As razes dessa mobilidade devem-se a solicitaes para desarquivamento feitas

    pelo Ministrio Pblico e Advogados, para apensamento a novos feitos, cujos assuntos so

    conexos, ou que a expresso da questo social ali posta que parecia transformada foi

    retomada no sendo atualizada a movimentao.

    Tabela 04: Situao dos 82 (oitenta e dois) processos remetidos ao Setor de Servio Social

    no incio da pesquisa.

    Processos remetidos ao Servio Social Total

    03 Continuam em andamento 41

    04 Constavam no SAP como arquivados, mas no encontrados no arquivo 12

    Arquivados encontrados 29

    Total

    82

    Fonte: Sistematizao da pesquisadora.

    Figura 04: Situao dos processos remetidos ao Setor de Servio Social, no ano de 2008.

    Fonte: Sistematizao da pesquisadora.

    Foram retirados do arquivo 29 (vinte e nove) processos e, entre esses selecionados

  • 39

    para amostra, aqueles que apresentavam quatro critrios estabelecidos a partir das

    interrogaes vivenciadas no campo de interveno constituram-se em subsdios para as

    questes norteadoras da presente investigao. So eles:

    1. Assunto: Abandono intelectual, abandono material, abuso sexual, maus tratos,

    pobreza e uso de substncias entorpecentes, conforme artigos 19, 22, 23, 24,

    53 nico, 70 e 90 inciso IV.

    2. Famlias com filhos e que estes residam com os pais ou s com um deles;

    3. Pais ou um deles inseridos no mercado de trabalho;

    4. Processos j arquivados.

  • 40

    Tabela 05: Material disponvel para a pesquisa.

    N Processos

    Distribuio Assunto Composio Familiar Responsveis Renda da Famlia Valor oriundo do trabalho Benefcios

    Assistenciais Benefcios

    Previd. 01 09/10/2008 Maus tratos Criana e genitores O genitor No informada No informado No No

    02 03/12/2006 Institucionalizao de criana por encontrar-se sozinha no lar

    Genitora, criana e padrasto O padrasto 2, 5 SM 1, 5 SM BPC No

    03 28/11/2007 Institucionalizao de crianas por encontrarem sozinha no lar

    Genitor e duas crianas O genitor No informada No informado No No

    04 01/04/2007 Abandono intelectual e consumo de entorpecentes Genitora, av materna, trs irmos e uma sobrinha No 3 SM No No Sim

    05 17/09/2007 Abandono do lar Um casal acolhedor, trs filhos e a adolescente

    Sim 1, 10 SM 1 SM Bolsa famlia No

    06 31/10/2007 Abandono Intelectual Genitora, trs filhas e padrasto A genitora 2, 5 SM Penso

    alimentcia 1 SM BPC No

    07 10/07/2008 Maus tratos Genitora e duas filhas No 2, 0 SM

    Penso alimentcia e aluguel de imvel

    No No No

    08 06/05/2008 Incluso Genitores e dois filhos O genitor 2, 0 SM 1 SM BPC No

    09 08/08/2008 Maus tratos Genitores e um filho No 2, 0 SM No BPC e Bolsa famlia No

    10 05/03/2008 Institucionalizao de criana em decorrncia da priso dos pais

    Genitores e dois filhos No 01 SM No Bolsa famlia Seguro desem prego

    11 20/08/2008 Descumprimento do Regimento Escolar criana

    Genitora, criana, avs maternos e dois tios

    Sim 2, 0 SM 2, 0 SM No No

    12 24/09/2008 Abandono intelectual adolescente Genitores e dois filhos Os genito res

    2, 0 SM 2, 0 SM No No

    13 08/04/2008 Maus tratos adolescente Genitora, adolescente e padrasto

    Genit ra e padras to

    No informado No informado No No

    14 24/07/2008 Busca e Apreenso de criana Genitora, criana, avs maternos e dois primos A genitora

    1, 0 SM Cesta bsica

    fornecida pelo genitor

    1, 0 SM No No

  • 41

    N Processos

    Distribuio Assunto Composio Familiar Responsveis Renda da Famlia Valor oriundo do trabalho Benefcios

    Assistenciais Benefcios

    Previd.

    15 05/11/2008 Institucionalizao de crianas Genitora e trs filhos No No informado No informado

    No informado

    No informa do

    16 03/10/2008 Medidas scio-Educativas Informado quatro pessoas, sendo dois adultos, uma criana e um adolescente

    Sim No informado No informado No No

    17 21/05/2008 Abandono intelectual criana Genitora e dois filhos A genito ra

    No informa do

    No informa do

    No No

    18 27/03/2008 Abandono do lar- adolescente

    Genitor, um filho dele, madrasta e trs filhos deles

    O genitor No informado No informado No No

    19 11/07/2008 Descumprimento do Regimento Escolar adolescente

    Genitora e companheiro da adolescente

    No No No BPC No

    20 12/07/2006 Institucionalizao de Criana

    Genitores e trs filhos Sim No informado No informado No

    informado No informa

    do

    21 28/03/2007 Problemas de aprendizagem criana

    Genitor, um filho, tia paterna e duas primas

    O genitor e a tia 4, 0 SM 3, 0 SM No Seguro desem prego

    22 17/06/2008 Negligncia criana Genitora e quatro filhos No 1, 5 SM No No Auxlio recluso

    23 14/01/2008 Negligncia criana Genitor, um filho, um amigo, oito conhecidos

    Sim 02 SM 2, 0 SM No No

    24 28/02/2008 Autorizao para adolescente freqentar ensino noturno Genitora, dois filhos e padrasto Sim 2, 0 SM 2, 0 SM No No

    25 27/03/2008 Vulnerabilidade social Genitora e quatro filhas No 0, 25 SM No Bolsa famlia No

    26 28/05/2008 Violncia Domstica Genitora e duas filhas A genitora No informado No informado No

    informado No informa

    do

    27 14/08/2008 Institucionalizao de Criana

    Genitor, dois filhos, avs paternos, dois tios, dois primos e uma tia

    Sim 04 SM 01 SM BPC Aposentadoria

    28 19/06/2008 Baixo rendimento escolar adolescente

    Adolescente e seu companheiro Sim No informado No informado No No

    29 27/06/2008 Descumprimento do Regimento Escolar criana Genitor e um filho O genitor 1, 0 SM 1, 0 SM No No

    Fonte: Sistematizao da pesquisadora realizada em 2010. Includos alm dos critrios estabelecidos os itens renda da famlia e se estas recebem benefcios assistenciais ou previdencirios, os quais j esto configurados no montante da renda familiar. Foram negritados os nmeros 6 e 12 para destacar os processos cujos Pareceres Sociais foram sorteados para Anlise de Contedo.

  • 42

    A partir da leitura flutuante13 do material disponvel, conforme demonstra a tabela,

    os processos eleitos foram submetidos a uma ao preliminar de codificao identificados

    por nmeros de 1 a 29.

    Dentre eles os que atenderam aos critrios estabelecidos foram treze e

    correspondem aos nmeros: 1, 2, 3, 5, 6, 12, 13, 17, 18, 20, 23, 26 e 27. Posteriormente, os

    mesmos foram agrupados em dois lotes, C e D. O lote C continha Relatrios Sociais de uma

    Assistente Social e o D, os de outra.

    Colocaram-se os referidos nmeros em dois recipientes referentes a cada lote, para

    que fosse sorteado e contemplado um Parecer Social de cada uma das Assistentes Sociais,

    lotadas na Instituio, `a poca, conforme demonstrao na tabela 02, e estes constituram-

    se no material a ser estudado atravs da Anlise de Contedo.

    Tabela 06: Lotes de processos que foram para sorteio.

    Assistente Social Processos Sorteado

    C lote 01 01, 05, 12, 17, 23 e 27

    17

    D lote 02 02, 03, 13, 18, 20, 26 e 06 06

    Total de lotes: 02 Total de processos: 13 Total para anlise de contedo: 02

    Fonte: elaborado pela pesquisadora.

    Os Pareceres Sociais sorteados se constituem no objeto de estudo da dissertao

    e se constroem na reunio das questes tericas apresentadas nos Captulos 2 e 3 da

    dissertao e nos resultados e anlises da pesquisa .

    A categoria central dessa relao a da totalidade e a da contradio, porque essa prtica sendo parcial, carrega contradies intrnsecas que, ao mesmo tempo que revelam sua essncia, a ocultam [...] nesse sentido, parte-se do particular para o universal, para que se possa ter uma leitura e uma interveno mais adequada e conseqente sobre o particular (BAPTISTA, 2006, p. 31).

    Abarca-se nele o enfrentamento das expresses da questo social, com as quais o

    Assistente Social se depara cotidianamente no exerccio profissional, os fundamentos

    terico-metodolgicos do Servio Social, um sujeito, um casal, uma famlia, cuja histria

    social a ser conhecida passa, necessariamente, pela sua insero na coletividade.

    Na qualidade de seres sociais, esses sujeitos convivem e sofrem os

    condicionamentos e determinaes da realidade social conjuntural. Viveram ou vivem numa

    famlia, independente da forma ou arranjo que ela assume ou assumiu; mantiveram ou

    13. Imbricada na Anlise de Contedo a Leitura flutuante diz respeito ao primeiro contato que o pesquisador tem com as mensagens, ocasio em que prepara o material de modo a facilitar a sua explorao (SETBAL, 1995, pg. 40).

  • 43

    mantm relao com o trabalho ou o no trabalho, com o meio ambiente, religiosidade,

    manifestaes culturais e outros grupos de pertencimento. (FVERO, 2003).

    Para que o Assistente Social possa dar conta desse enfrentamento, necessrio

    explicar os processos sociais que produzem e reproduzem a questo social e como so

    experimentados pelos sujeitos sociais que as vivenciam em suas relaes sociais cotidianas

    (IAMAMOTO, 2005).

    Isso significa que, para que haja uma ao efetiva sobre uma situao, preciso conhec-la como uma totalidade que tem diferentes dimenses e se relaciona com totalidades maiores. Uma mesma questo envolve dimenses polticas, filosficas, sociolgicas, ecolgicas, demogrficas, institucionais [...], mas isso no implica que o profissional, para apreend-la deva fazer um estudo sociolgico, ou antropolgico, ou filosfico [...] Significa, sim, que o seu conhecimento exige uma abordagem de ordem transdisciplinar, o que demanda diferentes tipos de conhecimentos e de pesquisas, que no se limitam ao especifico da ao profissional e podem se efetivar com a apropriao crtica dos avanos dos saberes construdos pelas cincias (BAPTISTA, 2006, p. 33).

    A fundamentao legal dessa construo est amparada na Lei n 8.662/93, de

    07/06/1993, que dispe sobre a profisso de Assistente Social, na qual dentre as atribuies

    privativas do profissional de Servio Social est a de realizar vistorias, percias tcnicas,

    laudos periciais, informaes e pareceres sobre a matria de Servio Social, corroborado

    pelos artigos 373 e 375 das Diretrizes Judiciais do Tribunal de Justia do Estado de

    Rondnia.

    No Poder Judicirio, instituio onde foi realizada a pesquisa o Parecer Social um

    documento que cumpre a funo de subsidiar o Magistrado.

    O Parecer Social diz respeito a esclarecimentos e anlises, com base em conhecimento especfico do Servio Social, a uma questo ou questes relacionadas a decises a serem tomadas. Trata-se de exposio e manifestao sucinta, enfocando-se objetivamente a questo ou situao social analisada, e os objetivos do trabalho solicitado e apresentado; a anlise da situao, referenciada com fundamentos tericos, ticos e tcnicos, inerentes ao Servio Social - portanto, com base em estudo rigoroso e fundamentado - e uma finalizao, de carter conclusivo ou indicativo. No mbito do Sistema Judicirio, o parecer pode ser emitido enquanto parte final ou concluso de um laudo, bem como enquanto resposta consulta ou determinao da autoridade judiciria a respeito de alguma questo constante em processo j acompanhado pelo profissional (FVERO, 2003 p. 47).

    um saber construdo a respeito da populao usuria dos servios do judicirio, o

    qual pode se constituir numa verdade. As pessoas so examinadas, avaliadas, suas vidas e

    condutas interpretadas e registradas, na trama de uma verdade a respeito delas.

    Transformam-se em instrumentos de poder, ou num saber, convertido em poder de verdade,

  • 44

    que contribui para a definio do futuro de crianas, adolescentes e famlias, na medida em

    que utilizado como uma das provas que compem os autos. FVERO (2003).

    Esses documentos que apresentam, de forma cristalizada pela escrita, as informaes colhidas e as interpretaes realizadas iro intermediar a partir de um norte terico a fala do sujeito, os demais dados obtidos e a anlise realizada, e aquele ou aqueles que sero os leitores, os quais, geralmente, so os agentes que emitiro uma deciso, ou participaro da deciso a respeito dos sujeitos envolvidos na ao judicial (op.cit, p.28).

    na tessitura do fazer profissional dos Assistentes Sociais, na forma da

    interveno imbuda de saberes tcnicos, ideolgicos e cientficos, num processo dialtico,

    que imprescindvel cuidar, para no incorrer em juzos de valor, senso comum, conceitos

    moralizantes entre outros descompassos que em nada contribuem para a garantia de

    direitos.

    1.2.2. Objetivos

    A elaborao de uma dissertao, dadas as devidas propores, contribui para o

    surgimento de reflexes de rumos da interveno profissional, ou Quais as perspectivas

    que se abrem, no reverso da crise, ao Servio Social nesses novos tempos Iamamoto

    (2005, pg. 75) e tambm possibilita:

    entre tantos aspectos um voltar para as prprias questes. E nesse retorno reflexivo, inevitavelmente, necessita-se de fazer uma seleo dos objetivos pessoais, profissionais e institucionais, destacando os motivos e a relevncia de cada um deles (RODRIGUES, 2006, p.110).

    Partindo dessas premissas, so objetivos da dissertao:

    Objetivo Geral - Analisar a compreenso do profissional de Servio Social sobre a

    realidade social na qual os usurios encontram - se inseridos, principalmente em relao

    aos cuidados dos filhos;

    Objetivos Especficos -

    Discutir acerca da temtica da famlia como potencial protetivo de seus filhos;

    Perceber os desafios que a famlia trabalhadora enfrenta no exerccio do poder

    familiar.

    A partir dos objetivos estabeleceram-se as questes norteadoras, que ultrapassam

    o nmero de objetivos porque eles carregam em si uma amplitude maior:

    Os Pareceres Sociais conseguem demonstrar a real implicao da sociedade

    excludente, com bases neoliberais, a qual torna os indivduos cada vez mais

  • 45

    preocupados em garantir as necessidades materiais bsicas daqueles sob sua

    responsabilidade?

    O Assistente Social, ao construir os Pareceres Sociais, se compromete com o

    instrumento de trabalho14, preocupando-se com a devida e necessria

    competncia tcnica, terico-metodolgica, compromisso tico e poltico, alm

    de no posicionar-se, pautado no senso comum, imbudo de preconceitos e

    esteretipos?

    As redes de servios respondem ao que a famlia busca ou so dispersas e no

    pontuais?

    A infncia e adolescncia so protegidas como manda a Lei?

    1.2.3. Justificativa

    Procurou-se nesta investigao pensar a famlia a partir da teoria social de Marx na

    qual o Servio Social esta ancorado h vrias dcadas, porque vem de encontro ao Cdigo

    de tica do Assistente Social, a Lei que regulamenta a profisso e ao seu Projeto tico

    Poltico. Atravs dessa perspectiva, as demandas trazidas pelos usurios so interpretadas

    como expresses de necessidades humanas no satisfeitas, decorrentes da desigualdade

    social inerente organizao capitalista, e no problemas individuais familiares resultado da

    incompetncia dos sujeitos (MIOTO, 2010/96).

    Isto porque no se pode perder de vista que, diariamente, no exerccio do trabalho

    profissional, convive-se, de forma disfarada ou direta, com a viso positivista/ funcionalista

    sobre a famlia, na qual as pessoas isoladamente so as culpadas pelas prprias demandas

    por incompetncia, so casos de famlia.

    Em geral enfatizam-se os altos ndices de maus- tratos produzidos pela famlia, culpando-a de tudo e por tudo. No se aprofunda sobre essa paisagem de violncia e maus tratos sofridos cotidianamente pela famlia: a violncia domstica precisa ser mais bem compreendida (CARVALHO, 2007, p. 15).

    Os jurisdicionados ao buscar as instituies que compem o sistema de garantias

    de direitos, so encaminhados para programas sociais, em sua maioria focalizados, quando

    disponveis, e retomam o viver. No so raros os casos de reincidncia, bem como casos

    em que os adolescentes que foram neg