universidade federal de mato grosso - ufmt.br fileministÉrio da educaÇÃo universidade federal de...

114
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÓRUM DE EJA MATO GROSSO: caminhos iniciais, lutas e conquistas CUIABÁ-MT 2016

Upload: hakhanh

Post on 30-Apr-2019

218 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

FÓRUM DE EJA MATO GROSSO: caminhos iniciais, lutas e conquistas

CUIABÁ-MT

2016

JEFFERSON BENTO DE MOURA

FÓRUM DE EJA MATO GROSSO: caminhos iniciais, lutas e conquistas

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Educação no Instituto de Educação

da Universidade Federal de Mato Grosso como

requisito para a obtenção do título de Mestre em

Educação na Linha de Pesquisa Cultura, Memória

e Teorias em Educação e Memória.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Márcia dos Santos Ferreira

CUIABÁ - MT

2016

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 – Boa Esperança – Cep: 78060900 – CUIABÁ/MT

Tel : 3615-8431/3615-8429 – Email : [email protected]

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO: “FÓRUM DE EJA MATO GROSSO: caminhos iniciais, lutas e conquistas”

AUTOR: Mestrando Jefferson Bento de Moura

Dissertação defendida e aprovada em 25 de maio de 2016.

Composição da Banca Examinadora

Presidente Banca / Orientadora Doutora Márcia dos Santos Ferreira

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinadora Interna Doutora Nilce Vieira Campos Ferreira

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinadora Externa Doutora Maria Margarida Machado

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS/UFG

Examinadora Externa Doutora Maria Emília de Castro Rodrigues

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS/UFG

Examinadora Suplente Doutora Maria da Anunciação Pinheiro Barros Neta

Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CUIABÁ, 25/05/2016

DEDICATÓRIA

Ao meu Deus, por me conceder a capacidade de pensar,

escrever e descrever esse conhecimento;

Aos meus pais, David Bento de Moura e Cleonice Ramos da

Silva Moura, pela origem e sobrevivência do meu ser. Sem eles,

seria impossível essa construção;

A minhas princesas Monalisa e Valentina “elas não falam, mas

seus olhos sempre me dizem coisas”;

In memoriam a Alcides Bento de Moura e Maria Bento de

Moura;

Ao meu grande amigo, irmão e conselheiro Rômulo Amorim,

sem o apoio do mesmo, talvez esse trabalho não fosse realizado.

AGRADECIMENTOS

A muitos tenho que agradecer! Tantos foram aqueles que, sempre, trouxeram incentivos e

motivações para eu prosseguir nesta caminhada. Embora haja a impossibilidade de citar todos

os nomes das pessoas que, de alguma forma contribuíram para esta conquista, fica o meu

reconhecimento a todos, de coração. Esta vitória é minha e de cada um de vocês! Agradeço:

À querida mestra e orientadora, Márcia dos Santos Ferreira, que, com confiança, incentivo,

compreensão e respeito, ofereceu uma orientação atenta e sensível;

Às professoras Nilce Vieira Campos Ferreira, Maria Margarida Machado e Maria Emília de

Castro Rodrigues, por tecerem observações pertinentes que contribuíram para a elaboração

desta dissertação;

.

Aos professores da PPGE por contribuírem com questionamentos e reflexões relativos à

educação, em especial aos professores Elizabeth Figueiredo de Sá, Cândida Soares da Costa,

Celso Luiz Prudente e Ozerina Victor de Oliveira;

À Secretaria do PPGE pela valiosa parceria nos caminhos da instituição acadêmica;

À Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso por conceder a licença para a

qualificação profissional;

À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso por conceder a bolsa de

estudos durante o período de construção deste sonho;

À toda a minha família, em especial à minha Tia Denora, pela confiança e torcida no sucesso

desta empreitada.

Ao Grupo de Pesquisa em História da Educação e Memória - GEM pela oportunidade de

conviver com pessoas que contribuíram com a minha história acadêmica, em especial aos

amigos, Ana Clara, Aparecido Borges, Elton Castro, Fagner Rojas, Janaina Camargo,

Kleberson Oliveira e Marineide Oliveira da Silva.

Aos professores e professoras da CEJA Vera Pereira, em especial a Evandro França, Célia

Arruda pelas valiosas contribuições e incentivo na trajetória deste trabalho.

Pelo estímulo em diferentes momentos e situações: Alexandre Fagundes Cesário, Antônio

Marcos Passos de Mattos, Leandro Moicano, Letícia Aquino da Silva, Kleber Olímpio,

Maicon Douglas Bento de Moura, Maria Luzenira Braz, Michel de Souza Camargo,

Reginaldo Simões, Rosângela Carneiro Góes, Sávio de Brito Costa e Valdelino de Oliveira.

À turma 2014 do mestrado em educação UFMT, por tanta amizade, carinho e por todos os

momentos bonitos e alegres que passamos, além das inúmeras aprendizagens das quais fomos

sujeitos. Fica a certeza de que a distância física nunca irá nos separar.

A todos aqueles que participaram e participam do Fórum Mato-grossense de Educação de

Jovens e Adultos, objeto de pesquisa deste trabalho, por tantos momentos de construção,

participação e amizade. Companheiros que dividem sonhos e buscam alternativas de lutas

pelo direito à educação de jovens e adultos, mas não se esquecem, quando sobra tempo, de

brincar, rir, dançar, divertir, conversar e ser amigos.

Aos amigos do grupo “liga da justiça” no whatsApp: Euzemar Siqueira, Ivana Bognar, Itamar

Bressan, Keila Alves e Osvaldo Pereira.

Aos sujeitos da pesquisa, que tão prontamente atenderam ao convite, feito por mim, para

participarem com suas histórias e memórias sobre o período que vivenciaram no Fórum

Permanente de Debates da Educação de Jovens e Adultos, sem os quais não seria possível este

trabalho.

Não podia deixar de agradecer aos amigos do Bar do Corinthians, ponto de descontração para

esquecer as dificuldades e os momentos de angústia.

Enfim, só me resta dizer muito obrigado a todas e todos. Se me faltou a memória e deixei de

citar alguém aqui, espero que compreendam. Agradeço por terem, de alguma forma,

acreditado em mim, pois só assim é que foi possível a concretização desse trabalho.

“Não somos o que deveríamos ser

Não somos o que queríamos ser

Mas, graça a Deus, não somos o que éramos.”

Martin Luther King

(retirado do Folder do I Seminário Estadual de EJA 2001)

RESUMO

A história da Educação de Jovens e Adultos - EJA é marcada pela luta dos movimentos

sociais em prol do direito à educação, direito negado por muitos anos a esses sujeitos. Este

trabalho tem por objetivo compreender o processo de criação do Fórum Permanente de

Debates da Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso, tendo por base a análise de seu

percurso de implementação durante a década de 1990 até o ano de 2001. A EJA tem por

objetivo reparar uma dívida social e ofertar a este público, excluído do direto ao acesso ao

conhecimento escolarizado, uma educação escolar pautada na emancipação do sujeito. A

década de 1990 foi escolhida como recorte temporal por ser um período marcado por

mudanças importantes no cenário político, econômico e social do país. No campo da EJA

reuniram-se ao longo dessa década diversas instituições e organizações de diferentes setores

na luta pela transformação da situação em que estavam inseridos. Esta mobilização fez com

que surgisse a necessidade de criar espaços de articulação entre os diferentes segmentos que

atuam na modalidade. Em 1996, origina-se uma parceria entre o Estado e a sociedade civil e

consolida-se o movimento dos fóruns de educação de jovens e adultos no Brasil. O primeiro

Fórum instituído foi o do Estado do Rio de Janeiro, considerado o pioneiro, a partir do qual

outros estados começaram a se organizar. A pesquisa documental para a presente dissertação

mobilizou Atas de reuniões do FPDEJA/MT, relatórios dos Seminários Estaduais de

Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso, dos Encontros Nacionais de Educação de

Jovens e Adultos – ENEJAs, entrevistas semiestruturadas, bem como produções teóricas

voltadas ao estudo da modalidade, sobretudo da autoria de Sérgio Haddad, Jane Paiva, Maria

Clara Di Pierro, entre outros. Os dados do estudo da criação do Fórum de EJA em Mato

Grosso, no ano de 2001, permitem estabelecer a trajetória desse movimento e o seu papel na

construção de políticas públicas e educacionais para a modalidade EJA. A organização da luta

tem se concretizado, como revelam os relatórios, pelo apontamento de diretrizes e linhas de

ação para os fóruns nos estados, pela elaboração de moções e carta pública com

reivindicações e proposições, encaminhadas ao poder público no âmbito nacional. O

movimento dos fóruns organiza-se em torno de um objetivo comum e do enfrentamento de

conflitos no âmbito da educação, buscando o entendimento entre os diversos segmentos da

nossa sociedade, para encontrar caminhos que possam qualificar e melhorar as condições de

acesso e da prática da EJA no Brasil. O desenvolvimento desta pesquisa favorece os

profissionais docentes da modalidade EJA para a identificação das características do Fórum,

no momento em que este se afirma como tal, no propósito de garantir a pluralidade de ideias,

sem perder de vista as referências históricas e paradigmáticas fundamentais nos avanços e

recuos da política de EJA em Mato Grosso e no Brasil .

Palavras-chave: Fórum de EJA. Mato Grosso. Política Educacional.

ABSTRACT

The history of Youth and Adult Education - EJA (Portuguese acronym) is marked by the

struggle of the social movements for the right to education, which has been denied for many

years to those subjects. This study aims to understand the process of creation of the “Forum

Permanente de Debates da Educação de Jovens e Adultos” of Mato Grosso, based on the

analysis of its course of implementation during the 1990s until 2001. The EJA objective is to

repair a social debt, offering to the public that has been excluded direct access to

institutionalized knowledge, a escolar education based on the emancipation of the subject.

The decade of 1990 was chosen because during this period important changes happens in the

political, economic, and social field of the country. In the arena of adult education, during

1990s several institutions and organizations from different sectors, gathered around the

struggle for the transformation of the situation that they were living. This mobilization raised

up the necessity to create spaces of coordination between the different segments that operate

in this modality. In 1996 is originated a partnership between the state and civil society and the

movement of the forums of education of youth and adults in Brazil is consolidated. The first

Forum, considered the pioneer, was established the State of Rio de Janeiro, from which other

states began to organize. The documentary research for this thesis considered meetings

minutes of FPDEJA / MT, reports of the State Seminars of Youth and Adult Education of

Mato Grosso, of the National Meetings of Youth and Adult Education - ENEJAs, semi -

structured interviews, as well as theoretical productions about the field, especially written by

Sergio Haddad, Jane Paiva and Maria Clara Di Pierro, among others. The data of creation of

the EJA forum in Mato Grosso, in 2001, allowed to establish the trajectory of this movement

and its role in the construction of public and educational policies for the EJA mode. The

organization of the struggle has been achieved, as the reports show, by the appointment of

guidelines and lines of action for the forums in the states, by preparing motions and public

letter with claims and proposals submitted to the government at the national level. The

movement of the forums is organized around a common objective and the conflicts in

education, linking up in the pursuit of understanding between the various segments of our

society, seeking to find ways that can improve the condition of access and practice for adult

education in Brazil. The development of this research serves to the professional teachers of

EJA modality to identify the characteristics of the Forum, at the time that it is affirmed, in

order to guarantee the plurality of ideas, without losing sight of the historical and

paradigmatic references that were crucial in the advances and retreats of the EJA policy in

Brazil and Mato Grosso.

Keyswords: EJA Forum. Mato Grosso. Educational politics.

12

RESUMEN

La historia de la Educación de Jóvenes y Adultos -EJA está marcada por la lucha de los

movimientos sociales en pro del derecho a la educación, derecho que se les es negado por

muchos años. Este trabajo tiene como objetivo comprender el proceso de creación del Foro

Permanente de Debates de la Educación de Jóvenes y Adultos de Mato Grosso, teniendo

como base el análisis de su periodo de implementación durante la década de 1990 hasta el año

de 2001. La EJA tiene como objetivo reparar una deuda social y ofrecer a este público,

excluido del derecho al acceso al conocimiento escolarizado, una educación escolar fundada

en la emancipación del sujeto. La década de 1990 fue escogida como recorte temporal al estar

marcada por importantes cambios políticos, económico y social del país. En el contexto de la

EJA se reunieron, a lo largo de la década de 1990, diversas instituciones y organizaciones de

diferentes sectores para luchar por la transformación de las condiciones en las que este grupo

se encontraba sumergidos. Esta movilización hizo que surgiera la necesidad de crear espacios

de articulación entre los diferentes sectores que actúan en la modalidad. En 1996 se originó

una asociación entre el Estado y la sociedad civil que consolidó el movimiento de los Foros

de Educación de Jóvenes y Adultos en Brasil. El primer Foro establecido fue el del Estado de

Río de Janeiro, considerado pionero, a partir del cual otros estados comenzaron a organizarse.

Para la presente disertación la investigación documental utilizada recoge actas de reuniones

del FPDEJA/MT; relatorios de los Seminarios Estatales de Educación de Jóvenes y Adultos

de Mato Grosso, de los Encuentros Nacionales de Educación de Jóvenes y Adultos - ENEJAs;

entrevistas semiestructuradas, como también, producciones teóricas sobre los estudios de la

modalidad, resaltando autores como Sérgio Haddad, Jane Paiva, Maria Clara Di Pierro, entre

otros. Los datos del estudio de la creación del Foro de EJA en Mato Grosso en el año de 2001,

permiten establecer la trayectoria del movimiento y su papel en la construcción de políticas

públicas y educativas para la modalidad EJA. La organización de la lucha se centró, como

revelan los relatorios, en el nombramiento de directrices y líneas de acción para los Foros en

los estados, en la elaboración de mociones y cartas públicas con reivindicaciones y propuestas

presentadas al poder público en el ámbito nacional. El movimiento de los Foros se organiza

en torno a un objetivo en común y del enfrentamiento de conflictos en el ámbito educativo,

articulándose en la búsqueda del entendimiento en los diversos sectores de nuestra sociedad,

intentando encontrar caminos que puedan mejorar la calidad de las condiciones de acceso y de

la práctica de EJA en Brasil. El desarrollo de esta investigación favorece a los profesionales

de la educación en la modalidad EJA para la identificación de las características del Foro, en

el momento en que éste se conforma, con el propósito de garantizar la pluralidad de ideas, sin

perder de vista las referencias históricas y paradigmáticas que fueron fundamentales en los

avances y los reveses de la política de EJA en Brasil y en Mato Grosso.

Palabras - clave: Foro de EJA. Mato Grosso. Política Educativa.

13

LISTA DE ABREVIATURAS

ALFA – Projeto de Alfabetização de Adultos

CEAA – Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos

CEE/MT – Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso

CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos

CEJA – Centro de Educação de Jovens e Adultos

CNAEJA – Comissão Nacional de Educação de Jovens e Adultos

CONFINTEA – Conferência Internacional de Educação de Adultos

COOTRADE – Cooperativa Mista de Trabalho Multidisciplinar LTDA

CJA – Coordenadoria da Educação de Jovens e Adultos

CUT – Central Única dos Trabalhadores

EJA – Educação de Jovens e Adultos

ENEJA – Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos

FUNDEF – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de

Valorização do Magistério

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação

FPDEJA – Fórum Permanente de Debates da Educação de Jovens e Adultos

FPDEJA/MT – Fórum Permanente de Debates da Educação de Jovens e Adultos de Mato

Grosso

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

MEC – Ministério da Educação

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

SEDUC/MT – Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

UNEMAT – Universidade Estadual de Mato Grosso

SESI – Serviço Social da Indústria

SENAC/MT – Serviço Nacional do Comércio de Mato Grosso

SINTEP/MT – Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso

ONU – Organização das Nações Unidas

UNDIME/MT – União dos Dirigentes Municipais de Educação de Mato Grosso

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01: Seminário Regional em Cuiabá/MT 72

FIGURA 02: Seminário Regional em Cáceres/MT 72

FIGURA 03: Grupo Interinstitucional responsável pelos Seminários 72

FIGURA 04: Folder do Seminário Estadual de EJA 2001 – Frente 73

FIGURA 05: Folder do Seminário Estadual de EJA 2001 – Verso 74

FIGURA 06: Coordenação Estadual FPDEJA/MT 84

15

LISTA DE QUADROS

Quadro 01: A Construção dos conceitos de Educação de Adultos nas conferências

Internacionais 53

Quadro 02: Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos 60

16

SUMÁRIO

CONSIDERAÇÕES INICIAIS…………………………………………………………..…17

CAPÍTULO I - MOBILIZAÇÕES SOCIAIS PELO DIREITO À EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS ................................................................................................ .33

1.1. A EDUCAÇÃO COMO DIREITO HUMANO E SOCIAL .................................. ….33

1.2. O DIREITO A EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS NA CONSTITUIÇÃO

FEDERAL DE 1988 ....................................................................................................... 41

CAPÍTULO II - O SURGIMENTO DOS FÓRUNS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS BRASIL ..................................................................................................... 52

2.1. DA PREPARAÇÃO DA V CONFINTEA AO SURGIMENTO DOS FÓRUNS DE

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS ...................................................................... 52

2.2. MATO GROSSO NO CONTEXTO DOS PREPARATIVOS A V CONFINTEA .... 61

CAPÍTULO III - FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM MATO

GROSSO……………………………………………………...…………………………...65

3.1. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM MATO GROSSO NO

FINALDÉCADA DE 1990 ............................................................................................. 65

3.2. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A CRIAÇÃO DO

FPDEJA/MT .................................................................................................................. 67

3.3 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO FPDEJA/MT ......................................... 81

CONSIDERAÇÕES FINAIS………………………………………….…………………89

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 988

ANEXOS ..................................................................................................................... 104

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Educação de Jovens e Adultos – EJA não é apenas um direito subjetivo, mas

constitui também uma dívida social, uma luta para acesso ao conhecimento em uma educação

escolar pautada na emancipação do sujeito. Para Chilante e Noma (2009, p. 229) a “EJA é

tratada como uma dívida social a ser reparada, devendo, portanto, assumir a tarefa de estender

a todos o acesso e o domínio da escrita e da leitura como bens sociais, seja na escola, seja fora

dela”.

A luta pela realização do direito à educação escolarizada para jovens e adultos, que

tiveram e continuam com essa possibilidade negada, não é uma novidade no Brasil, mas

somente no final do século vinte vários movimentos sociais se organizaram para conquistar,

de fato, o direito à escolarização. Para efetivação de espaços de debates sobre o direito,

realidade da EJA e a maneira como o país conduzia suas políticas para essa modalidade, os

profissionais da educação, instituições governamentais e não governamentais e a sociedade

civil organizada do Rio de Janeiro mobilizaram-se para a criação do primeiro Fórum de EJA,

no ano de 1996, com o objetivo de construir novas relações para discutir as políticas públicas

educacionais dos vários segmentos desta modalidade de ensino.

O movimento dos Fóruns de EJA no Brasil, conforme explica Duarte (2013, p. 3),

nasceu a partir da “[...] preparação da V Conferência Internacional de Educação de Adultos –

V CONFINTEA. Surge marcado por dois princípios básicos. O primeiro é o da educação

como direito de todos, que se encontra assegurado no art. 205, da Constituição de 1988”.

Após a V CONFINTEA outro princípio passa a ser defendido: o do direito à educação ao

longo da vida.

Jane Paiva (2004) afirma que a criação dos Fóruns foi uma estratégia visando

desconstruir posturas centralizadoras, sedimentadas ao longo da história política brasileira.

Sua consolidação possibilita, no entendimento da autora, a prescrição de uma relação mais

igualitária, fator preponderante para o processo de democratização da educação nas esferas

locais. Representa ainda, segundo ela, um grupo de pressão organizado e permanente em

defesa das peculiaridades da EJA, orientado pela demarcação do espaço político da demanda

potencial dessa modalidade, qual seja: conseguir espaços e recursos para que ações

inovadoras possam ser implementadas.

Outros movimentos nacionais também se tornaram intensos no final dos anos 1990

para o fortalecimento da modalidade, traduzidos para realização do 1º Encontro Nacional de

18

Educação de Jovens e Adultos – ENEJA em 1999 no Rio de Janeiro, com a participação dos

estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e São Paulo, que

já haviam constituído os seus fóruns estaduais de EJA. A partir daí o final dos anos 1990 e

início dos anos 2000 foram marcados pelas ampliações dos fóruns de EJA para todo o

território nacional e das realizações do ENEJA em vários Estados. Atualmente, existem no

Brasil 26 fóruns estaduais e um fórum distrital de EJA.

Em Mato Grosso, o fórum de EJA teve início a partir do ano de 2001, momento em

que o estado passava por uma série de mudanças na oferta de Educação de Jovens e Adultos,

promovidas pela a publicação da resolução 180/00 CEE/MT, que fixou novas normas para

modalidade EJA. A nova resolução estabeleceu no § 1º do 4º artigo que “os órgãos públicos

de educação encaminhassem ao Conselho Estadual de Educação, o Programa de Educação de

Jovens e Adultos, adequado às Diretrizes Nacionais e a esta Resolução”. A resolução é um

dos marcos mais importantes da EJA no estado de Mato Grosso, a partir dela o estado deixou

definitivamente de ofertar ensino supletivo e passou a garantir, pelo menos no campo do

direito, a oferta regular de EJA no período noturno das escolas.

O tema foco do estudo da dissertação integra-se à linha de pesquisa Cultura, Memória

e Teorias em Educação, e tem como objeto de estudo a educação de jovens e adultos e o

objetivo central a compreensão de como se consolidou o movimento do FPDEJA em Mato

Grosso, tomando-se por base a análise de seu percurso histórico de criação, no período de

1990 e 2001.1 Buscou-se, a partir da delimitação do objetivo geral, compreender os

acontecimentos envoltos à temática criação do fórum de EJA em Mato Grosso nesse período,

tendo em vista que no estado a oferta de educação de jovens e adultos passava por mudanças

devido às novas legislações federais e estaduais. Algumas indagações nortearam a pesquisa,

tais como:

1) Quando surgiu e como se configurou o Fórum EJA no Brasil? Como se deu sua

expansão?

2) Quando e como ocorreu o processo de criação do Fórum de EJA em Mato Grosso?

3) Quais as possíveis estratégias de articulação entre a sociedade civil, órgãos

governamentais e não governamentais utilizadas no processo de criação do Fórum

Permanente de Debates da Educação de Jovens e Adultos em Mato Grosso?

1O projeto de pesquisa “O Processo de Criação do Fórum de Educação de Jovens e Adultos e a Política de

Educação Popular no Estado de Mato Grosso”, que originou esta dissertação de Mestrado, foi analisado pelo

Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal de Mato Grosso e aprovado – CAAE nº

33282414.9.0000.5541.

19

4) Como é organizado o Fórum de EJA em Mato Grosso? É similar a algum outro no

país?

Para se chegar a possíveis repostas das indagações, foram traçados alguns objetivos,

tais como:

a) Identificar como ocorreram as discussões em torno da criação do Fórum de EJA no

Brasil, em especial em Mato Grosso;

b) Analisar o contexto histórico-político mato-grossense do período em estudo e as

relações dos movimentos sociais com a oferta de Educação de Jovens e Adultos;

c) Investigar a trajetória do Fórum de EJA e verificar como este implica na definição

das políticas de EJA;

d) Avaliar a constituição do Fórum de EJA em MT, enquanto espaço de discussão,

reivindicação, formação intelectual dos educadores e sua efetivação do direito a Educação de

Jovens e Adultos na sociedade.

O interesse pelo estudo do tema surgiu, a princípio, a partir da trajetória como

educador e pesquisador na área da educação, principalmente na educação de jovens e adultos,

e também pelo envolvimento com movimentos que trabalham a favor do direito à educação

garantida na Constituição, direito esse que se estende a todos os cidadãos residentes no Brasil,

independentemente de sua idade, classe social e etnia. Portanto, este trabalho é fruto de

aprendizados, trabalhos, lutas no campo e vivências tanto como educador em sala de aula

quanto gestor educacional na Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso até o trabalho

na Coordenação Regional do Fórum de EJA de Mato Grosso.

O FPDEJA/MT é uma conquista dos educadores mato-grossenses, que estimula as

discussões sobre temas pertinentes à Educação de Jovens e Adultos, servindo para aproximar

e cooperar com as diversas instituições e organismos que oferecem e são beneficiários da

EJA. É um espaço diferenciado de debates sobre a EJA, o que despertou a atenção, levando a

inúmeras indagações para as quais, antes do acesso ao Fórum não encontrava respostas.

Devido ao processo de questionamentos e de análises sobre as situações e assuntos diversos

relativos à educação de jovens e adultos, este lugar tornou-se foco de aprofundamento dos

estudos, culminando por se constituir o objeto de pesquisa desta dissertação.

A experiência como educador iniciou-se no ano de 2006 no Centro Estadual de

Educação Básica para Jovens e Adultos “Alberto Carazzai” – CEEBJA2, no município de

2Este Estabelecimento de Ensino tem como uma das finalidades a oferta de escolarização de jovens, adultos e

idosos, na forma presencial e com avaliação no processo, que buscam dar continuidade a seus estudos no Ensino

Fundamental e Médio, assegurando-lhes oportunidades apropriadas, consideradas suas características, interesses,

20

Cornélio Procópio, Paraná. O primeiro contato com jovens e adultos, que não tiveram a

oportunidade de estabelecer uma trajetória escolar contínua na infância, rendeu muitas lições,

e, uma delas foi aprender a ouvi-los, investigar os motivos que os afastam da escola e

entender que os estudantes da EJA são considerados sujeitos marginais ao sistema de ensino.

Em 2007, por meio de concurso público, houve a aprovação para o cargo de professor

da educação básica da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso para o município de Cuiabá.

A EJA era a primeira opção de escolha para escola em que iria atribuir o padrão de aulas, mas

infelizmente, no momento da atribuição, não havia vagas em escolas que ofertavam a

modalidade, sendo assim, a opção de escolha foi para a Escola Estadual José Magno, cuja

oferta diurna é de educação básica regular3.

No ano de 2008, com a criação dos Centros de Educação de Jovens e Adultos –

CEJAs4 houve um redimensionamento dos alunos da EJA em alguns municípios de Mato

Grosso. Várias escolas deixaram de ofertar a modalidade EJA e seus alunos foram

encaminhados para concluírem seus estudos nos CEJAs. Diante dessa mudança, parte da

carga horária foi atribuída na Escola Estadual “Marcelina de Campos”, na modalidade EJA. A

escola Marcelina de Campos, cabe destacar, foi uma das poucas unidades que continuaram a

ofertar a modalidade EJA em Cuiabá, após a criação dos CEJAs.

A Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso – SEDUC/MT, por meio da

Coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos – CJA, promoveu uma formação continuada

no início do ano letivo de 2008. A formação foi estendida aos professores que atuavam na

EJA de Cuiabá e também para os professores dos municípios que iniciavam as aulas nos

CEJAs. A formação ocorreu durante os dias 18 a 24 de fevereiro, e teve como pauta: a relação

entre currículo e sujeitos da EJA, avaliação e diversidade na EJA; e organização da EJA no

espaço escolar.

Durante o intervalo da formação, em conversa informal com a palestrante do evento,

professora de matemática da Universidade do Estado de Mato Grosso – Campus Barra do

Bugres, relatei a atuação como professor de matemática e física no atendimento

individualizado no CEEBJA em Cornélio Procópio. A professora considerou interessante,

condições de vida e trabalho, mediante ações didático-pedagógicas Coletivas e Individuais, ficando a critério do

educando escolher a maneira que melhor se adapte às suas necessidades, ou mesmo mesclar estas formas, ou

seja, cursar algumas disciplinas organizadas coletivamente e outras individualmente. 3A expressão “regular” é culturalmente atribuída para aqueles que estão matriculados na faixa etária dita como

correta. Os educadores de EJA têm a compreensão que toda forma de ensino, que esteja regulamentada pelas

legislações vigentes, são regulares. 4A Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso implementou os CEJAs no ano de 2008, com o objetivo de

oferecer uma escola com identidade própria de EJA, diminuindo a evasão escolar causadas pelas formas de

atendimentos que não correspondiam aos anseios dos sujeitos que frequentam a modalidade.

21

pois na estrutura de organização pedagógica do CEJA estava previsto para 2009 o

atendimento individualizado semelhante ao do Paraná. A partir desta conversa, ela se propôs a

abrir um espaço dentro da carga horária de sua oficina para que compartilhasse com os

professores participantes da formação como era a dinâmica desse atendimento no Paraná.

No momento do relato da experiência estavam presentes no auditório do evento o

Gerente Curricular de Educação de Jovens e Adultos – GEJA e a Coordenadora de Educação

de Jovens e Adultos – CJA, ambos da SEDUC/MT. Após o depoimento, ambos

representantes da SEDUC/MT convidaram para atuar como Coordenador da Área de Ciências

da Natureza e Matemática no Centro de Educação de Jovens e Adultos “Almira de Amorim e

Silva”, do município de Cuiabá, bem como para auxiliar a equipe da Coordenadoria de EJA

na elaboração e implementação do atendimento individualizado na proposta pedagógica dos

CEJAs.

O desafio de assumir a Coordenação de Área do CEJA Almira de Amorim e Silva foi

aceito e semanalmente havia reuniões com a equipe da CJA para discutir a proposta

pedagógica dos CEJAs. Em março de 2008, todos os coordenadores dos CEJAs foram

convidados a participar do Encontro Estadual Preparatório para VI CONFINTEA, realizado

no período de 26 a 28 de março de 2008 com a temática “Brasil Educação e Aprendizagem ao

Longo da Vida”. No encontro foi possível conhecer a organização do Fórum de EJA em Mato

Grosso e no Brasil. No período de 23 a 25 de abril de 2008, os coordenadores também

participaram do Encontro Preparatório a VI CONFINTEA da Região Centro Oeste, com o

objetivo de elaborar um diagnóstico dos principais desafios da educação de jovens e adultos

da região centro-oeste. O levantamento desses desafios, os debates e encaminhamentos foram

conduzidos por grupos de trabalhos com os seguintes eixos: Sujeitos da EJA; Estratégias

Didático-pedagógicas da EJA; Intersetorialidade da EJA; e a EJA no Sistema Nacional de

Educação: Gestão, Recurso e Financiamento.

Os encontros preparatórios possibilitaram a visualização de um panorama da EJA nas

esferas, municipal, estadual e federal. A participação nos dois eventos resultou no

envolvimento nas ações do FPDEJA/MT, no polo regional5 Metropolitano do Vale do Rio

Cuiabá e seu Entorno. O fórum de EJA Metropolitano é composto por um coletivo de

entidades envolvidas ou que possuem afinidades com a modalidade EJA. É, também, um

espaço em que se exercita a convivência com as diferenças e com modos de pensar a EJA,

produzindo, democraticamente, respostas a questões que precisam ser tratadas e articuladas

5Devido ao território extenso, o Fórum de EJA de Mato Grosso é dividido em 17 polos regionais.

22

em todo o Estado. O fórum metropolitano, assim, como os outros polos regionais de Mato

Grosso, realiza periodicamente reuniões ampliadas e encontros regionais para debater a oferta

de EJA da região. Em 2009, durante o encontro regional do Fórum Metropolitano, realizado

no auditório da Escola Estadual “Presidente Médici”, ocorreu a eleição para Coordenador

Regional do FPDEJA/MT, função exercida durante o biênio 2009/2010 e 2010/2012.

Em agosto de 2009, a convite, foi possível trabalhar como técnico pedagógico na

equipe da SEDUC/MT, no setor da Coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos de

maneira a possibilitar a convivência diária com aqueles que compunham a Coordenadoria. O

que foi fundamental para as mudanças na vida profissional. Uma vez inserido na equipe da

CJA, deu-se a oportunidade de aprofundar as leituras e estudos na área de educação, em

especial na educação de jovens e adultos e através deste trabalho desenvolveu-se um contato

mais frequente com a modalidade. Uma das atribuições do cargo era prestar apoio e assessoria

pedagógica às escolas e centros que ofertavam a modalidade de EJA, em Mato Grosso.

No ano de 2011, após algumas trocas na Coordenadoria, a Superintendente de

Diversidades Educacionais da SEDUC/MT questionou se haveria interesse em assumir,

temporariamente, a Gerência de Organização de Exames Supletivos. Dessa forma deu-se a

atuação no cargo por um período de seis meses, com o objetivo de implementar no estado de

MT a oferta de exame online, para atender jovens e adultos que não tiveram e não têm

condições de frequentar a escola na oferta presencial.

Pelas características das frentes de trabalho da SEDUC/MT, era necessário atualização

quanto as discussões acerca da EJA, o que levara a participar de inúmeros espaços de debate e

de formação sobre o assunto. O espaço de maior atuação era o Fórum Mato-Grossense de

EJA, tanto na regional metropolitana, como no fórum estadual. No período de 2009 até os

dias atuais, efetivou-se a participação em vários encontros do fórum e formações de EJA

ofertadas pela SEDUC/MT ou pelo Ministério de Educação – MEC.

Durante o período de participação do Fórum, como coordenador regional, dois

momentos cruciais ocorreram e marcaram a trajetória na EJA. O primeiro foi a participação

como delegado do fórum, representando o Estado de Mato Grosso, no XII Encontro Nacional

de Educação de Jovens e Adultos (ENEJA), em Salvador–BA, no ano de 2011. Esse encontro,

realizado anualmente, além buscar contribuir para a ampliação e a melhoria da qualidade da

educação no país, congrega os fóruns estaduais de educação de jovens e adultos do Brasil.

Segundo Dantas (2010, p. 67), “essa articulação nacional passou a gerar novas significações

para os fóruns que ampliaram suas pautas e visões cotidianas restritas às localidades,

alargando ações e conhecimentos sobre a realidade nacional da EJA”.

23

O segundo momento ocorreu no período das discussões de implementação do Exame

Online6 em Mato Grosso, que visavam a regulamentação do Exame a ser oferecido no

Sistema Estadual de Ensino. Havia pontos de tensões nesse período, pois o movimento dos

fóruns regionais de EJA de MT era contrário à oferta do exame nos moldes que estavam

sendo propostos pela SEDUC/MT, que previa a realização do exame online diariamente nos

laboratórios de informática dos CEJAs. O exame online, segundo os representantes dos fóruns

regionais, poderia promover a diminuição do número de matrículas presencias nas escolas de

EJA, visto que estes poderiam realizar a prova do exame a qualquer momento. Paralelo ao

período, mencionado acima, ocupava o cargo da Gerência de Organização de Exames

Supletivos.

O fórum EJA da regional Nova Mutum, médio norte de Mato Grosso, promoveu no

ano de 2011 o Encontro Regional como tema de debates a implementação do exame online

em Mato Grosso. No evento, como representante da SEDUC/MT em uma mesa de debates a

respeito da implantação do exame online, houve o questionamento quanto a fala naquela

ocasião. Uma professora que estava na plenária se levantou e indagou as informações ali

destacadas, salientando que as mesmas defendiam a visão do Estado ao qual estava no

momento representando, mas que ela gostaria de saber a opinião pessoal do professor de EJA.

Foi um momento de intenso conflito, dúvidas sobre a defesa da visão do Estado ou a posição

enquanto educador sobre os problemas acarretados pelo exame online, a ser ofertado

diariamente no CEJA. Momento crucial para reflexão entre o que se diz e o que se pratica.

Segundo Paulo Freire (1996) é fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se

faz, de tal forma que, num dado momento, a fala e a prática sejam expressões de uma mesma

vontade. Em janeiro de 2012, a opção mais coerente foi deixar o cargo de gerente na

secretaria e retornar as atividades de técnico pedagógico na Coordenadoria de Educação de

Jovens e Adultos.

Dessa forma, tanto como delegado do fórum representando o Estado de Mato Grosso,

quanto representante da SEDUC/MT proferia, em muitos casos, o discurso institucional e

guardava as inúmeras interrogações sobre a oferta de educação de jovens e adultos de Mato

Grosso. Essas situações contribuíram para elaboração do projeto de pesquisa de mestrado e

definição das ideias que impulsionaram à realização desse trabalho.

6O Exame Online – Ensino Fundamental e Ensino Médio da Educação Básica é uma oportunidade de

escolarização e possibilidade de inclusão social dos jovens e adultos de Mato Grosso. É realizado pela Secretaria

de Estado de Educação de Mato Grosso – SEDUC/MT, nos laboratório de informática dos Centros de Educação

de Jovens e Adultos.

24

Em julho de 2013, durante a realização do XII Encontro Estadual do FPDEJA/MT,

depois de intensos conflitos na eleição da Coordenação Estadual do FPDEJA/MT, adveio o

convite para fazer parte do grupo eleito para coordenação do biênio 2014/2015. Assim a

função de Assessor Tecnológico permite a atualização da página de Mato Grosso que integra

o Portal dos Fóruns de EJA. Um trabalho relevante às atividades do fórum, pois, conforme

afirma Cunha (2013, p.20), “o Portal dos Fóruns de EJA do Brasil se abre como um espaço de

formação política, articulação, mobilização e organização dos movimentos sociais que

militam pela EJA, numa perspectiva popular libertadora, neste país”.

No início do ano letivo de 2014, depois de atuar em vários espaços na SEDUC/MT,

foi possível retornar para a atividade docente, optando por trabalhar no Centro de Educação

de Jovens e Adultos “Vera Pereira do Nascimento”, no município de Cuiabá, de maneira a

integrar a equipe de elaboração e homologação dos itens que compõem a prova do exame

online.

A concretude dos interesses inerentes à educação de jovens e adultos, em especial ao

fórum de educação de jovens e adultos de Mato Grosso, ganhou expressividade com a

aprovação na seleção para o Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Educação da

Universidade Federal de Mato Grosso, turma 2014. As posições presentes no decorrer desta

pesquisa, conforme apresentado acima, são fruto de diversas experiências e convivências

durante uma significativa caminhada no campo da EJA. São lembranças e ensinamentos que

formaram tanto o autor, quanto o pesquisador, mas principalmente o professor, e que estarão

presentes no decorrer desse texto. Os vários momentos durante a participação em encontros

regionais, estaduais e nacionais – conferências de abertura, mesas redondas, grupos temáticos,

plenárias, além das conversas informais mantidas com outros participantes, proporcionaram o

amadurecimento da proposta de estudo do Fórum Mato-Grossense de Educação de Jovens e

Adultos.

O estudo da constituição do Fórum EJA estabelece a trajetória desse movimento e o

seu papel na luta pela definição de políticas públicas da educação voltadas à modalidade, bem

como a participação do Fórum na busca pelo aperfeiçoamento da prática dos professores, ao

oportunizar espaços para intercâmbio de experiências, com o intuito de fortalecer a oferta de

educação e jovens e adultos no Estado.

A pesquisa foi delineada a partir do interesse de contribuir com o projeto do Centro

Memória Viva de Mato Grosso – CMV, em andamento na UFMT desde 2010, desenvolvido

por pesquisadores do Grupo de Pesquisas em Movimentos Sociais e Educação – GPMSE e do

Grupo de Pesquisas História da Educação e Memória – GEM. O projeto do CMV tem por

25

finalidade pesquisar, preservar e sistematizar as memórias coletivas da Educação de Jovens e

Adultos, Educação Popular e Movimentos Sociais no MT, por meio da coleta, organização,

sistematização de documentos em seus vários suportes, inclusive por meio das histórias orais

dos atores sociais representativos na memória da EJA.

A pesquisa encontra-se situada no campo da História da Educação, pautando-se na

análise de fontes documentais, como relatórios de governo, dos encontros estaduais e reuniões

do FPDEJA/MT realizados no período de criação. Unido às fontes escritas, o projeto avançou

junto à história oral e entrevistas semiestruturadas com os sujeitos que vivenciaram o

processo de criação do fórum permanente de debates da educação de jovens e adultos de Mato

Grosso no período de 1990 a 2001.

A fim de construir uma pesquisa qualitativa e relacional, foram selecionados três

sujeitos, definidos em função de suas participações nas primeiras reuniões de organização do

movimento do fórum mato-grossense de EJA. Esses sujeitos, no momento de criação do

fórum, eram representantes de órgãos do governo de Mato Grosso, representantes de órgãos

não governamentais e representantes da sociedade civil organizada. Todos, durante a década

de 1990 e 2000, exerceram atividades fundamentais na formatação das políticas públicas para

a educação de jovens e adultos em Mato Grosso, principalmente na luta por este espaço de

mobilização que congrega os diferentes sujeitos da EJA. Espaço que busca não somente a

garantia do direito a oferta de EJA nas escolas de MT, mas também, que as metas de melhoria

da qualidade da oferta de alfabetização de jovens e adultos, sejam estabelecidas no Plano

Estadual de Educação de Mato Grosso.

Os nomes escolhidos para as entrevistas seguiram critérios que pudessem dimensionar

dialeticamente o processo de criação do FPDEJA, em Mato Grosso. E considerando a

necessidade de anonimato, bem como de assegurar abrigo às palavras dos entrevistados, os

sujeitos da pesquisa serão identificados por letras e números, da seguinte forma: P1C, P2S e

P3E onde P – professora, 1 – identificação numérica em ordem crescente, C – Coordenação, S

- Secretaria ou E – Escola. As entrevistas tiveram em média de 30 minutos a 1 hora de

duração.

A relação dos entrevistados com o objeto de pesquisa se dá pela história da

implementação do FPDEJA, pois todos os escolhidos contribuíram significativamente para a

dinâmica das discussões. O Anexo I contribui para entender quem são os entrevistados e quais

as credenciais de cada um deles.

A leitura da obra “A democratização inacabável: as memórias do futuro”, de Jean

Rossiaud e Ilse Scherer-Warre (2000, p. 9-35), auxiliou nos procedimentos utilizados para as

26

entrevistas. A introdução do livro permite compreender, de forma didática, como encaminhar

uma entrevista com personagens importantes. Inicialmente, foi feita uma apresentação do

entrevistado (quem é, que cargo exerce ou já exerceu e o que pensa da educação de jovens e

adultos em Mato Grosso e no país). No Anexo I, apresenta-se um roteiro razoavelmente

estruturado, de temas relevantes, composto de três seções. Questões gerais, processo de

criação do FPDEJA/MT e avaliação das políticas públicas de EJA, em Mato Grosso.

A entrevista semiestruturada é aquela na qual, segundo Alves-Mazzotti &

Gewandsznajder (2004, p.168), “o entrevistador faz perguntas específicas, mas também deixa

que o entrevistado responda em seus próprios termos”. Qualifico este como o método mais

indicado, pela sua estruturação, para a investigação aqui disposta, pois apresenta

características que abrangem determinadas especificidades coerentes com a análise proposta.

A realização das entrevistas semiestruturadas considerou as atividades desenvolvidas

pelos entrevistados na história do FPDEJA/MT e evidenciou a necessidade de que o

entrevistado disponibilizasse o maior número de informações, pois buscava-se conhecer

melhor os detalhes das mobilizações pelo direito à educação de jovens adultos,

principalmente focadas no antes, no durante e no depois da constituição do FPDEJA em Mato

Grosso.

Para Ludke (1986) a entrevista semiestruturada se desenvolve a partir de um esquema

básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o entrevistador faça as adaptações

necessárias. Essa autora considera que, nas pesquisas em educação, a entrevista

semiestruturada é mais adequada, na medida em que “as informações que se quer obter, e os

informantes que se quer contatar, em geral professores, diretores, orientadores, alunos e pais

são mais convenientemente abordáveis através de um instrumento mais flexível” (Ludke e

André, 1986, p.34).

A entrevista com representantes de órgãos governamentais e representantes da

sociedade civil organizada também mostraram eficientes na modalidade semiestruturada.

Minayo (1994, p. 57) parte do pressuposto de que “a entrevista semiestruturada é uma técnica

que permite a articulação de perguntas previamente formuladas e dá liberdade ao informante

de expressar suas opiniões e sentimentos”, com o que concordo plenamente.

Ao lado das fontes escritas, as entrevistas ou fontes orais, na medida em foram

realizadas e transcritas, ganharam forma e se constituíram como documentos. O produto final

das entrevistas foi construído a partir da interação entre o pesquisador e entrevistado. Para

Bogdan e Biklen (2006, p. 134), “uma entrevista consiste numa conversa intencional,

geralmente entre duas pessoas, embora por vezes possa envolver mais pessoas”. Optou-se

27

pelo procedimento de entrevista individual semiestruturada , haja vista a necessidade de

estreitar os laços entre pesquisador e pesquisado.

Considerou-se que a presença do entrevistador, atrelada às dificuldades impostas pelo

uso do gravador, é a segunda interferência. Os documentos escritos e orais são constituídos

por determinações que emergem dos campos da objetividade e da subjetividade. O importante

é “[…] usá-los como documentos produzidos historicamente no que eles nos podem oferecer

de subsídios à compreensão do passado e do que este passado se tornou no presente”

(VIDAL, 1990, p. 82).

Além disso, a entrevista possibilitou um maior contato com os entrevistados e

aprofundamento nas questões referentes ao roteiro de entrevista preparado anteriormente. As

entrevistas, iniciaram no mês de junho, se estenderam até maio de 2015, quando foram

gravadas e, posteriormente, transcritas.

Para compreender o momento educacional em que o fórum de educação de jovens e

adultos foi criado em Mato Grosso, na década de 2000, primeiramente foi realizado um

levantamento dos sujeitos envolvidos e quais segmentos eles representavam no processo de

criação. Em 2001, o Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos, realizado entre 06

a 08 de julho, teve cerca de seiscentos participantes, sendo cento e noventa delegados da Rede

Estadual de Ensino e representantes de instituições: Secretaria de Estado de Educação de

Mato Grosso – SEDUC/MT, Universidade Estadual de Mato Grosso – UNEMAT, Pastoral da

Criança, Serviço Social da Indústria – SESI, Serviço Nacional do Comércio – SENAC/MT,

Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso – SINTEP, Conselho

Estadual de Educação – CEE/MT, Central Única dos Trabalhadores – CUT, União dos

Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME/MT e Organização das Nações Unidas para a

Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO.

As dificuldades de acesso à documentos oficiais ou atas do seminário de estadual de

EJA foram constantes. Por isso, novas estratégias foram traçadas para obter a

complementação dos dados, de forma a recorrer às fontes orais, depoimentos dos sujeitos que

vivenciaram o processo de criação do FPDEJA em Mato Grosso.

Posteriormente realizou-se a busca por pesquisas no Brasil e em Mato Grosso, tendo

com objeto de pesquisa o Fórum de EJA. Em Mato Grosso não foi localizada nenhuma

pesquisa tendo como objeto principal o FPDEJA, no entanto alguns trabalhos de Mato Grosso

com a temática de EJA, fazem referências ao FPDEJA dentro de seus capítulos. Dentre esses

trabalhos, destaca-se:

28

a) O professor Leonardo Rodrigues dos Santos em sua dissertação Aspectos do

Raciocínio Proporcional Presentes em Alguns Livros Didáticos de Matemática Produzidos

para a Educação de Jovens e Adultos na Primeira Década dos Anos 2000 – UFMT,

defendida em 2011, faz referência ao FPDEJA/MT, para contextualizar a EJA no estado de

MT nos anos 2000. Santos afirma que o FPDEJA/MT surgiu durante o Seminário de EJA

promovido pela SEDUC/MT, para aprovação do Programa de Educação de Jovens e Adultos

de Mato Grosso. Este Seminário contou com a participação de pesquisadores e estudiosos da

EJA em destaque no cenário nacional. Conforme Santos (2011, p. 48) o fórum em Mato

Grosso “teve sua instalação em junho de 2000 e, a partir dessa data, se consolidou como

entidade que busca a melhoria da qualidade da oferta dessa modalidade, da construção e

fortalecimento da identidade da escola de Educação de Jovens e Adultos, definindo

encaminhamentos e propiciando intervenções necessárias à consecução de seus objetivos”.

b) A dissertação da professora Daniela Bonfim de Castro, defendida no ano de 2014 –

UFMT, intitulada Concepções de Professores Sobre Ensino e Aprendizagem da Geometria

Plana na Educação de Jovens e Adultos dos CEJAs de Cuiabá/MT. Ao realizar um breve

relato histórico da EJA no Brasil, desde o início da alfabetização/catequização indígena até os

dias atuais, a professora considera um dos marcos históricos da EJA no Brasil a criação do

fórum de EJA, como espaço de formação aos educadores de EJA. Castro (2014, p. 31) afirma

que os “fóruns de EJA caracterizam-se como um espaço onde é possível praticar a

convivência com os diferentes modos de pensar sobre a EJA, possibilitando, assim,

discussões e a produção de questões que precisam ser abordadas em nível nacional”.

c) A professora Iara Maria dos Anjos Vieira também considera o Fórum um marco na

história da EJA, na dissertação intitulada Diversidade e Linguagem: Constituição Identitária

dos Sujeitos Antes e Depois da Experiência Educativa no Centro de Educação de Jovens e

Adultos Antônio Casagrande de Tangará da Serra-MT, UNEMAT – 2013, a autora considera

que o FPDEJA “é um espaço de discussão para novas perspectivas que possam realmente

influenciar na construção de políticas públicas que olhem a EJA com suas especificidades”

(VIEIRA, 2013, p. 18).

d) Os estudos do professor Kleber Gonçalves Bignarde indicam que o fórum mato-

grossense de EJA, desde sua criação, tem caminhado em parceria com SEDUC/MT,

realizando ações em conjunto. Em 2003 o FPDEJA/MT se responsabilizou, com o apoio da

SEDUC/MT, a organizar o V Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos (V

ENEJA) em Cuiabá. Conforme Bignarde (2014, p.13):

29

“Motivados pelo sucesso do V ENEJA, o FPDEJA/MT junto com a SEDUC/MT

buscaram uma reflexão da norma e do Programa Estadual de EJA, com o objetivo de

avaliar as dificuldades das escolas, aprofundando a discussão nos processos

qualitativos e de inclusão na EJA, observando como vinham atuando algumas

instituições e movimentos sociais na EJA”.

A dissertação do professor Kleber foi defendida na UFMT em 2013, intitulada A

Organização Curricular na Política de Currículo da EJA para os CEJAs em Mato Grosso de

2008 a 2011.

No Brasil, é possível encontrar diversas dissertações que tomam como objeto de

pesquisa o Fórum de EJA. Os trabalhos encontrados possuem objetivos diferenciados, alguns

desses trabalhos:

a) A dissertação de Eduardo Jorge da Silva, que se transformou no livro Fórum de

Educação de Jovens e Adultos – uma nova configuração publicado pela Editora Universitária

da UFPB, a obra traz a história do Fórum da Paraíba, constituído em 1999.

b) A dissertação de Maria de Fátima Mota Urpia, intitulada “Fórum de EJA Bahia:

Implicação na definição da política pública da educação de jovens e adultos” - PUC/BA,

defendida em 2009, tem como objetivo analisar de que forma o Fórum da EJA Bahia está

implicado na definição da política da EJA, sua questão central relaciona-se às preocupações

referentes à materialização da luta pela efetivação do direito à EJA de trabalhadores em uma

sociabilidade regida pela lógica do capital.

c) A dissertação de Ivana Maria Medeiros de Lima, intitulada O Fórum de Educação

de Jovens e Adultos do Estado da Paraíba: uma avaliação da perspectiva dos participantes

dos primeiros cinco anos de existência (1999-2004) - UFPB, defendida em 2006, busca fazer

uma avaliação dos primeiros cinco anos de existência do Fórum de EJA da Paraíba,

considerando os aspectos detectados pelos sujeitos entrevistados.

d) A dissertação de Fernanda Aparecida Oliveira Rodrigues Silva, intitulada Tópicos

em história recente da EJA: a formação pela vivência e convivência nos fóruns regionais

mineiros” – UFMG, defendida em 2008, utilizou-se de depoimentos dos sujeitos que estão na

secretaria e fazem a organização de dois fóruns regionais de EJA de Minas Gerais, o Fórum

do Leste e do Sudeste. A pesquisa buscou entender os significados dos fóruns para tais

sujeitos e instituições.

e) A dissertação de Aline Cristina da Silva Dantas, Fóruns de Educação de Jovens e

Adultos: Movimentos em Defesa de Direitos e Políticas Públicas Para a Educação de Jovens

e Adultos– UFF, defendida em 2010, averigua a ação dos fóruns de EJA na luta pela educação

de jovens e adultos, bem como identifica a capacidade desta mobilização em interferir na

30

política pública de EJA. A autora procura identificar, nos fóruns, os modos de ação e as

formas de participação na luta pelo direito à educação. O corpus da pesquisa foi constituído

de relatórios e documentos produzidos pelos fóruns, elaborados para e pelos Encontros

Nacionais de Educação de Jovens e Adultos, bem como, a realização de entrevistas com

integrantes do movimento.

f) A dissertação de Luiz Olávio Fonseca Ferreira intitulada AÇÕES EM

MOVIMENTO: Fórum Mineiro de EJA – da participação às políticas públicas– UFMG. A

pesquisa investigou como educadores, frequentadores do Fórum Mineiro de Educação de

Jovens e Adultos, percebiam a participação desta ação coletiva na formulação de políticas

públicas educacionais. Foi realizada uma pesquisa empírica, com uma abordagem qualitativa

e entrevistados sete sujeitos que participavam do Fórum. Além de uma pesquisa documental

nos arquivos da secretaria do Fórum Mineiro e em documentos que tratavam de políticas

públicas para EJA, no Brasil, bem como a pesquisa teórica para subsidiar as discussões sobre

o caráter do Fórum dentro da Sociologia das Ações Coletivas.

Além das dissertações acima, diversos artigos e outras dissertações relacionadas com a

temática do Fórum de EJA foram encontradas, ou ainda com a temática EJA e em

determinadas partes referenciando ao Fórum de EJA. Todos os referenciais bibliográficos

pesquisados contribuíram de forma direta ou indireta no processo de construção deste

trabalho.

Para a realização desta pesquisa fez-se necessária, também, a realização de leituras e

estudos para melhor compreender o campo da EJA, em seus processos de configuração e

reconfiguração. As leituras possibilitam, então, a interpretação de uma parte da história

recente da EJA, a partir dos estudos de Paiva (2005), Di Pierro (2000), Haddad e Di Pierro

(2000), Haddad (2001), Machado (2009), Soares (2005), Ribeiro (2001) que apresentam o

momento atual, os avanços, os limites e os desafios da efetivação de uma educação pública

gratuita, de qualidade para todos, na perspectiva dos jovens e adultos, de maneira continuada

e ao longo da vida.

Este trabalho está organizado em três capítulos, o primeiro, intitulado “Mobilizações

sociais a favor da educação como direito de todos” apresenta alguns aspectos da história da

EJA no Brasil e foi elaborado com o objetivo de traçar as principais características das

políticas públicas educacionais voltadas à EJA, desenvolvidas, sobretudo, a partir da criação

da UNESCO na década de 1940, em seus aspectos políticos, históricos, legais e operacionais.

Observou-se que predominaram nesta área, ao longo da história, ações pontuais e

descontínuas, reservadas à alfabetização e apenas para parte da população. O levantamento

31

bibliográfico para a construção deste capítulo pautou-se em pesquisadores de referência para a

EJA, que investigam as políticas públicas no Brasil, dentre outros estudiosos que estudam

essa modalidade de ensino e demais políticas educacionais, com os fundamentos teóricos

conceituais. O capítulo termina focalizando o debate sobre a efervescência política e social da

década de 1980 e início dos anos de 1990, mais especificamente, as mobilizações de

lideranças de EJA que propiciaram um importante espaço de interlocução, permitindo aos

sujeitos dessa mobilidade uma maior participação nas discussões em relação ao direito à

educação de jovens e adultos.

No segundo capítulo, denominado “O surgimento dos fóruns de educação de jovens e

adultos no Brasil” apresenta-se a organização da sociedade civil em conjunto com o governo

brasileiro para participação da V CONFINTEA. Foram realizados seminários regionais e

nacional, que contaram com a participação dos segmentos envolvidos na Educação de Jovens

e Adultos (secretarias estaduais e municipais, organizações não governamentais, empresas

privadas, universidades, sindicatos etc.). Emprenha-se em apresentar o cenário que forjou o

surgimento dos fóruns de educação de jovens e adultos no Brasil, de modo a explicitar sua

origem, estrutura, funcionamento, compreender sua forma de atuação e ampliação, nas

décadas de 1990 e 2000.

No terceiro capítulo, discute-se a conjuntura política educacional da EJA em Mato

Grosso, do período em estudo, e como se deu o processo de criação do Fórum de EJA neste

estado. Na época, para elaboração de uma proposta de Programa de Educação de Jovens e

Adultos, a SEDUC/MT constituiu por meio da Portaria nº 204/2000, publicada no Diário

Oficial do Estado de 04/01/2001, um grupo de trabalho interinstitucional constituído por

representantes da Secretaria de Estado da Educação – SEDUC, do Conselho Estadual de

Educação – CEE, da União dos Dirigentes Municipais de Ensino – UNDIME, da Secretaria

Municipal de Educação de Cuiabá e dirigentes de escolas que ofertavam educação de jovens e

adultos, com a consultoria da Ação Educativa7. O grupo interinstitucional estabeleceu um

cronograma de ações norteadoras de todo o processo de difusão, discussão e sistematização de

contribuições, para fundamentar o novo paradigma da Educação de Jovens e Adultos no

Estado.

A ideia de constituir um Fórum de EJA em Mato Grosso ocorreu quando

representantes da Comissão Interinstitucional foram participar do II Encontro Nacional de

7 A Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa e Informação é uma associação civil sem fins lucrativos fundada em

1994. Sua missão é promover direitos educativos, culturais e da juventude, tendo em vista a justiça social, a

democracia participativa e o desenvolvimento sustentável. Site: http://www.acaoeducativa.org.br/

32

Jovens e Adultos, realizado em Campina Grande, na Paraíba. Aproveitando o momento de

mudança da legislação estadual de oferta da EJA no estado, a comissão interinstitucional

articulou no ano de 2001 o movimento pró-fórum e, no dia 08 de junho de 2001, apresentou

durante a realização do I Seminário de Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso o

documento intitulado “Carta da Cidadania”, com o propósito de “estabelecer um diálogo entre

as instituições e organismos educacionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos, para

Constituição do Fórum Estadual Permanente de Debates de Educação de Jovens e Adultos”

(MATO GROSSO, 2009, p. 21). Formou-se, então, uma Comissão Provisória que se

responsabilizou pelos encaminhamentos iniciais do Fórum, elaborando, inclusive, a Minuta

do Regimento.

CAPÍTULO I - MOBILIZAÇÕES SOCIAIS PELO DIREITO À EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

Neste primeiro capítulo, apresenta-se a educação de jovens e adultos como um direito

reconhecido ao logo do século XX nas legislações brasileiras, porém negado pelos governos

federais, estaduais e municipais, ou sempre deixado em segundo plano. Busca demonstrar o

cenário de surgimento dos fóruns de EJA, na década de 1990, para compreender as

motivações que impulsionaram a organização de sujeitos da sociedade, na luta não somente

pelo reconhecimento do direito à escolarização de jovens e adultos, mas pela efetivação deste

direito negado, mesmo que legalmente garantido.

Então, a discussão focaliza basicamente na garantia legal, na ideia da educação de

jovens e adultos como um direito humano, tratando ao longo de sua história e na forma como

ela vem se constituindo em termos de direito até o início do século XXI. Busca-se analisar as

tensões entre os movimentos sociais e governos na luta pela qualidade da oferta da EJA,

assim adentrando de forma breve no campo das políticas para mostrar como a conformação

do direito auxilia na resignação das políticas.

1.1. A EDUCAÇÃO COMO DIREITO HUMANO E SOCIAL

A ideia da educação como um direito humano ou a ideia da educação como um direito

social, ganha visibilidade no século XX. Machado e Oliveira (2001) reconhecem esse século

como o que assistiu a ampliação do reconhecimento dos direitos que devem ser garantidos a

cada ser humano e defendem a educação enquanto “um direito social proeminente, como um

pressuposto para o exercício adequado dos demais direitos sociais, políticos e civis.”

(MACHADO e OLIVEIRA, 2001, p.56).

Ainda segundo esses autores, “além de ser um direito social, a educação é um pré-

requisito para usufruir-se dos demais direitos civis, políticos e sociais emergindo como um

componente básico dos Direitos do Homem” (MACHADO e OLIVEIRA, 2001, p.57).

Após os horrores cometidos durante a 2ª Guerra Mundial, o genocídio de pessoas,

promovido por nazistas, a destruição de Hiroshima e Nagazaki, no Japão, pela bomba atômica

lançada pelos Estados Unidos, os países elaboraram um documento com a intenção de

estabelecer normas para uma vida pacífica e digna. O documento foi intitulado Declaração

Universal dos Direitos Humanos, de alcance mundial, estabeleceu regras entre as nações e as

34

políticas internas de cada país. Adotada e proclamada pela Assembleia Geral da Organização

das Nações Unidas – ONU, em 10 de dezembro de 1948, reafirma, no seu artigo 26, que:

1. Toda pessoa tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menos

nos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será

obrigatória. A instrução técnico profissional será acessível a todos, bem

como a instrução superior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da

personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos

humanos e pelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a

compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais

ou religiosos, e coadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da

manutenção da paz.

3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que

será ministrada aos seus filhos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, acordada em 1948, é o principal

marco legal que orienta as ações tomadas pela Organização das Nações Unidas e seus países

membros. Segundo o que rege seu artigo XXVI: “Todo ser humano tem direito à instrução. A

instrução será gratuita, pelo menos nos graus elementares e fundamentais. A instrução

elementar será obrigatória. [...]” (ONU, 2000a, p. 12). Afirma-se que a educação deve

assegurar o pleno desenvolvimento da personalidade, fortalecendo o respeito aos direitos

humanos.

Em 1966, o direito humano à educação reconhecido na Declaração foi transformado

em norma jurídica internacional através, principalmente, do Pacto Internacional dos Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais, que, nos artigos 13 e 14, estabelece:

Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de toda a pessoa à

educação. Concordam que a educação deve visar ao pleno desenvolvimento

da personalidade humana e do sentido da sua dignidade e reforçar o respeito

pelos direitos do homem e das liberdades fundamentais. Concordam também

que a educação deve habilitar toda a pessoa a desempenhar um papel útil

numa sociedade livre, promover compreensão, tolerância e amizade entre

todas as nações e grupos, raciais, étnicos e religiosos, e favorecer as

atividades das Nações Unidas para a conservação da paz. [...]

Todo o Estado Parte no presente Pacto que, no momento em que se torna

parte, não pôde assegurar ainda no território metropolitano ou nos territórios

sob a sua jurisdição ensino primário obrigatório e gratuito compromete-se a

elaborar e adotar, num prazo de dois anos, um plano detalhado das medidas

necessárias para realizar progressivamente, num número razoável de anos,

fixados por esse plano, a aplicação do princípio do ensino primário

obrigatório e gratuito para todos.

35

Os acordos internacionais referentes à ampliação e a garantia do direito à educação

representam um importante avanço na perspectiva de reafirmar o anúncio dos direitos da

pessoa humana à educação. Em relação, especificamente, à situação brasileira, Dias (2007, p.

443) afirma que “não podemos esquecer que, no Brasil, a educação tem a marca histórica da

exclusão, consubstanciada pela enorme desigualdade social que grassa no país, desde a época

de sua colonização até os dias atuais”.

No Brasil, a ideia da educação como direito ganha visibilidade a partir da Constituição

de 1934, que declara, pela primeira vez, no seu Art. 140: “a educação é direito de todos e deve

ser ministrada pela família e pelos poderes públicos”. A genérica denominação “direito de

todos”, na realidade atingia apenas àqueles cuja matrícula em estabelecimentos de ensino

estivesse assegurada e não se aplicava a todas as crianças em idade escolar, mas apenas

àquelas que tinham o acesso à escola (DIAS, 2007).

A formulação do dever do Estado para com o direito à educação de todos surge, pela

primeira vez, na Emenda Constitucional de 1969, em seu Art. 176.

Art. 176. A educação, inspirada no princípio da unidade nacional e nos

ideais de liberdade e solidariedade humana, é direito de todos e dever do

Estado, e será dada no lar e na escola.

Podemos observar no Inciso 3º do art. 176, que a legislação do ensino priorizou como

princípios e normas a oferta de ensino primário, sendo o mesmo obrigatório e gratuito nos

estabelecimentos de ensino, para todos que possuíssem idade de sete aos quatorzes anos.

Mesmo com o direito à educação assegurado nas legislações, é possível perceber, até esse

momento da história da educação brasileira, que o direito a educação pública e gratuita se

restringia somente a educação de crianças, não se estendendo a jovens e adultos.

O direito à Educação de Jovens e Adultos está associado à ideia da educação como

direito humano e social. Este foi estimulado fortemente pela pressão e pelo movimento

internacional que surgiu logo depois da Segunda Guerra Mundial. Após a criação da ONU,

fortaleceram-se os debates para a elaboração da declaração dos direitos humanos, com o

intuito de tentar um acordo internacional para superar os horrores que ocorreram ao longo do

conflito mundial (HADDAD e DI PIERRO, 2000). Nessa perspectiva, normas e

responsabilidades relacionadas aos diretos vinculados à pessoa foram estabelecidas para o

avanço em direção a uma sociedade mais justa, digna e democrática.

Portanto a luta pelo direito a educação de jovens e adultos começa a ganhar espaço no

cenário internacional, no pós-guerra, com a criação da UNESCO (Organização das Nações

36

Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), cujos principais objetivos são: globalizar a

educação; fomentar a paz, através do ponto anterior; promover a livre circulação de

informação entre os países e a liberdade de imprensa; definir e proteger o Patrimônio da

Humanidade Cultural ou Natural (conceito estabelecido em 1972 e que entrou em vigor em

1975); e defender a expressão das identidades culturais. As questões prioritárias são a

educação, o desenvolvimento, a urbanização, a juventude, a população, os direitos humanos, a

igualdade da mulher, a democracia e a paz (HADDAD e DI PIERRO, 2000).

Para Di Pierro (2001, p. 61), a UNESCO defendia o combate ao analfabetismo e a

universalização da educação como estratégia de desenvolvimento econômico e manutenção

da paz. O movimento da UNESCO indicava aos países que não medissem esforços no

combate ao analfabetismo e surge no debate nacional em forma de campanhas de

alfabetização nas diversas Conferências e Seminários.

A UNESCO começou a ofertar várias campanhas de alfabetização vinculadas à ideia

de superação do subdesenvolvimento. Nesse contexto, a educação era tratada como um dos

fatores fundamentais ao desenvolvimento. As informações existentes à época, indicavam que

os países que apresentavam maior escolaridade eram os que tinham melhor qualidade de vida,

assim como países de menor escolaridade eram os menos desenvolvidos.

As campanhas de alfabetização empreendidas no Brasil exprimiam um movimento de

reconhecimento da dívida social existente, que se expressava, entre outros indicadores, em

altos índices de analfabetismo entre a população adulta.

Segundo Beisiegel (2003), um dado importante a ser considerado e relevante na luta

pela educação de adultos é o resultado do recenseamento geral feito em 1940, com uma taxa

de 55% de analfabetos entre adultos com mais de 18 anos.

Neste momento, algumas iniciativas educacionais empreendidas pelo governo federal

fizeram-se presentes:

A década de 40 foi marcada por algumas iniciativas políticas e pedagógicas

que ampliaram a educação de jovens e adultos: a criação e a regulamentação

do Fundo Nacional do Ensino Primário (FNEP); a criação do Instituto

Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP); o surgimento das primeiras obras

dedicadas ao ensino supletivo; o lançamento da Campanha de Educação de

Adolescentes e Adultos (CEAA), e outros. (LOPES; SOUZA, 2007, p. 4)

O Fundo Nacional de Ensino Primário – FNEP (1942) apresentou o avanço

considerável, dentre suas atribuições o apoio ao ensino supletivo para adolescentes e adultos

analfabetos. Outra ação do governo foi a criação do Serviço de Educação de Adultos – SEA,

em 1947, com a finalidade de orientar e coordenar os planos anuais do ensino supletivo para

37

adolescentes e adultos analfabetos. A Campanha de Educação de Adolescentes e Adultos –

CEAA, realizada nas décadas de 40 e 50, definiu a identidade da educação de adultos como

uma forma de campanha nacional de massa, influenciando o início da produção de material

didático específico para o ensino da leitura e da escrita para adultos e fomentou ainda mais a

reflexão e o debate sobre o analfabetismo no Brasil.

Segundo Soares (1996), essas primeiras campanhas foram lançadas por dois motivos,

o primeiro a pressão exercida pela ONU no contexto histórico do pós-guerra. E o segundo

motivo o fim do Estado Novo e início do processo de redemocratização, resultando na

necessidade de ampliação do contingente de eleitores no país.

O clima de entusiasmo da CEAA começou a diminuir na década de 1950, devido às

críticas recebidas que se dirigiam tanto às suas deficiências administrativas e financeiras

quanto à orientação pedagógica e, portanto, antes do final dessa década a campanha se

extinguiu, sobrevivendo apenas a rede de ensino supletivo que havia sido implantada.

(SOARES, 1996),

Ainda nos anos 50, destacaram-se como políticas educacionais para a educação de

jovens e adultos a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER), de 1952 a 1963, e a

Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (CNEA), realizada de 1958 até 1961.

Essas campanhas tinham como propostas a alfabetização, em três meses, dos adultos

analfabetos do país, oferecimento de um curso primário em duas etapas de sete meses, a

capacitação profissional e o desenvolvimento comunitário. Abriu-se, então, a discussão sobre

o analfabetismo e a educação de adultos no Brasil. Nessa época, o analfabetismo era visto

como causa (e não como efeito) do escasso desenvolvimento brasileiro, conforme explica

Ribeiro (1997, p. 20):

Nesse momento, o analfabetismo era concebido como causa e não efeito da

situação econômica, social e cultural do país. Essa concepção legitimava a

visão do adulto analfabeto como incapaz e marginal, identificado psicológica

e socialmente com a criança.

A partir deste momento, iniciou-se um processo de mobilização nacional no sentido de

discutir a educação de jovens e adultos no país. De certa forma, as campanhas conseguiram

alguns bons resultados, no sentido da superação de uma visão preconceituosa a respeito do

adulto não alfabetizado, com base nas discussões que ocorreram sobre o processo de educação

de adultos.

38

Diversas pesquisas passaram a focalizar a capacidade de aprendizagem dos sujeitos

adultos. Conforme Soares (1996), críticas aos métodos de alfabetização empregados pelas

campanhas começaram a ser desenvolvidas, chamando atenção para as precárias condições de

funcionamento das salas de aula, a baixa frequência e aproveitamento dos alunos, a má

remuneração e desqualificação dos professores, a inadequação do programa e do material

didático e a superficialidade do aprendizado, pelo curto período designado para tal. Enquanto

as propostas governamentais eram pautadas em projetos e campanhas que tinham como

objetivo alfabetizar os adultos sem a preocupação de incluí-los no espaço escolar, os

movimentos nacionais e internacionais mobilizaram-se e realizam, em 1949, o I Seminário

Internacional de Educação de Adultos e a I Conferência Internacional sobre Educação de

Adultos (CONFINTEA), na cidade de Helsinque, Dinamarca.

A primeira Conferência foi organizada na esteira da Segunda Guerra Mundial, com a

missão de contribuir para a consolidação da paz mundial e da compreensão internacional

(IRELAND, 2013). Outro objetivo da Conferência era pensar e discutir a Educação de

Adultos e colocar o tema na pauta da educação. Estiveram presentes nesse evento menos de

30 estados membros, totalizando, aproximadamente, 100 participantes.

No Brasil, em 1952, aconteceu a Campanha Nacional de Educação Rural (CNER),

nos moldes das “missões rurais”, que buscavam formar lideranças para operar no

melhoramento da qualidade de vida da comunidade. Para Beisiegel (2003, p. 21), da mesma

forma que as campanhas de erradicação do analfabetismo, “as ‘missões rurais’ atuavam com

prazo limitado nas localidades, em articulação com as autoridades locais, igrejas, associações,

escolas e outros serviços sociais eventualmente existentes”. Ambas tiveram vida breve e

pouco cumpriram com o papel de alfabetizar a população adulta.

Mesmo com todas as iniciativas para mudanças na política educacional do Brasil não

foi possível construir uma proposta metodológica para atender à alfabetização de adultos, ou

seja, não foi apresentado até os anos 1950 nenhum modelo pedagógico específico para essa

área. É possível considerar a década de 60 como o período das luzes para a educação de

jovens e adultos Haddad e Di Pierro (2000a).

No começo dos anos 1960 Paulo Freire (1987) introduz, nos debates da educação de

adultos, uma concepção de conhecimento a partir de um processo que se realiza no contato do

homem com o mundo vivenciado, o qual não é estático, mas dinâmico e em transformação

contínua. Tal concepção de homem e de mundo supera a relação vertical, estabelecendo-se a

relação dialógica. Conforme explica Freire, o diálogo supõe a troca, os homens se educam em

comunhão, midiatizados pelo mundo. Nesse contexto, “o professor já não é aquele que apenas

39

educa, mas o que, enquanto educa, é educado, em diálogo com o aluno, que ao ser educado,

também educa […]” (FREIRE, 1987, p. 39). O conhecimento gerado a partir desse

movimento é crítico, porque é constituído de uma maneira totalmente reflexiva, conduzindo a

ação permanente de (re) significação da realidade com o sujeito de aprendizagem, nela se

posicionando. Desse modo, o saber construído percebe a necessidade de mudar o mundo, pois

o sujeito começa a se ver na condição de ser histórico.

A partir da experiência de Freire, no período de 1959 a 1964, diversas mobilizações

aconteceram no campo da educação de jovens e adultos, como o Movimento de Educação de

Base (MEB), da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o Movimento de

Cultura Popular (MCP), do Recife, os Centro Populares de Culturas (CPC), órgãos culturais

da UNE, a campanha “De Pé no Chão Também se Aprende a Ler”, da Secretaria Municipal

de Educação de Natal, parte desses movimentos e programas funcionou no âmbito do Estado

ou com patrocínio.

Ainda nesse período temos a realização do II Congresso Nacional de Educação de

Adultos, no Rio de Janeiro. Como ressalta Paiva (1973 apud Haddad e Di Pierro, 2000, p.

209), notava-se uma grande preocupação por parte dos educadores em rever as características

singulares e um espaço próprio para tal modalidade de ensino. Essas atividades de educação

popular, mais precisamente a alfabetização do povo foram, quase que todas, iluminadas nas

concepções de Freire, intituladas de libertação ou pedagogia do oprimido.

Conforme Gadotti (2001), a década de 1960, que difundiu a educação de adultos como

educação de base e desenvolvimento comunitário, chegaria ao seu final com duas tendências

mais significativas:

A educação de adultos entendida como educação libertadora, como

“conscientização” (Paulo Freire) e a educação de adultos entendida como

educação funcional (profissional), isto é, o treinamento de mão-de-obra mais

produtiva, útil ao projeto de desenvolvimento nacional dependente

(GADOTTI, 2001, p. 35)

Paulo Freire questiona justamente a ideia de “reposição”, ou seja, de “copiar” o que foi

feito ou o que deveria ter ocorrido no período da infância aos adultos, jovens, pessoas com

uma história de vida, que já tinham passado por um período muito grande de trabalho, de

construção familiar e que não poderiam ser tratadas da mesma forma que uma criança em

processo de escolarização (SILVA, 2007).

Freire discutia a ideia da educação como uma forma assistencial ou como uma doação

de “quem sabe mais” para outro considerado “que sabe menos”, portanto, para Freire a

40

educação não era uma prática assistencial, mas uma prática política, de troca e

empoderamento das pessoas (SILVA, 2007). Essas concepções de Freire foram fundamentais

para marcar a história da educação de adultos, não só no Brasil, mas no mundo inteiro.

Em 1964, todas estas experiências de educação como prática de liberdade que os

movimentos de culturas populares vivenciavam foram reprimidas pelo governo militar e as

pessoas foram afastadas de suas atividades educacionais. A educação brasileira, da mesma

forma que outros setores da vida nacional, foram vítimas de um governo ilegítimo e do

autoritarismo que se instalou no país após o golpe militar. Sobre este momento político e as

possibilidades de mudanças sociais desencadeadas por ações educacionais, Paulo Freire

(1986, p. 44), assim se posicionou:

O que aprendi, refletindo sobre o Golpe de 1964, foi sobretudo uma lição

sobre os limites globais da educação. [...] após 1964, tornei-me mais

consciente dos limites da educação na transformação política da sociedade.

Entretanto, através da educação, podemos de saída compreender o que é o

poder na sociedade, iluminando as relações de poder que a classe dominante

torna obscuras. Também podemos preparar e participar de programas para

mudar a sociedade.

A instituição do regime militar caracterizou-se pela falta de democracia, supressão de

direitos constitucionais, censura, perseguição política e repressão. No decorrer desse processo,

Paulo Freire e muitos outros educadores foram considerados subversivos, presos, exilados e o

método de alfabetização8 de Freire proibido. Entretanto, nos anos subsequentes essa proibição

não impediu que ideias pedagógicas de Freire e seu método de alfabetização se tornassem

paradigmas educacionais para muitos educadores.

Segundo Haddad e Di Pierro (2000, p.114), “a escolarização básica de jovens e adultos

não poderia ser abandonada pelo aparelho do Estado, uma vez que tinha nele um dos canais

mais importantes de mediação com a sociedade”. Nesse sentido, para afirmar sua legitimidade

perante as forças políticas nacionais e internacionais, o governo federal propõe a elaboração

de um programa intensivo de erradicação do analfabetismo e aprova a Lei 5.379, de 15 de

dezembro de 1967, que institui o Movimento Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL.

O MOBRAL tinha como base para seus objetivos, filosofia e plano de ação uma visão

econômica da educação e soluções técnicas para os problemas educacionais, ou seja, a

8 O Método Paulo Freire consiste numa proposta para a alfabetização de adultos desenvolvida pelo educador, o

método nasceu em 1962 quando Freire era diretor do Departamento de Extensões Culturais da Universidade do

Recife onde formou um grupo para testar o método na cidade de Angicos, RN, onde alfabetizou 300 cortadores

de cana em apenas 45 dias, Freire criticava o sistema tradicional, o qual utilizava a cartilha como ferramenta

central da didática para ensinar a leitura e a escrita.

41

educação deveria ser usada para “criar condições para que o homem brasileiro aumentasse sua

produtividade e, consequentemente, sua renda também fosse influenciada pela maior

mobilidade ocupacional” (CORRÊA, 1979, p.54).

A ideia central do Movimento era dedicar-se à alfabetização de adultos, mas expandiu-

se por todo o país no final da década de 70 e ampliou o campo de atuação às quatro primeiras

séries do Ensino Fundamental. No entanto, as metas iniciais previstas ficaram longe de serem

alcançadas. Isso porque o Mobral não alterou as bases do analfabetismo, calcadas

fundamentalmente na estrutura organizacional da educação no país. Além disso, este modelo

foi bastante condenado como proposta pedagógica por preocupar-se apenas com o ensinar a

ler e escrever, sem relação com a formação do homem (MENEZES E SANTOS, 2001).

Paralelo a isso, outra parcela significativa do projeto educacional do regime militar foi

efetivada através do Ensino Supletivo. A Reforma do Ensino instituída pela lei nº. 5.692/71,

pela primeira vez na história da educação, dedicou espaço ao ensino supletivo. (CORRÊA,

1979, p.54). Em 1974, o MEC propôs a implantação dos Centros de Estudos Supletivos que

tinham influências tecnicistas, devido à situação política do país naquele momento. Em 1985,

o MOBRAL foi extinto, dando lugar a Fundação EDUCAR, que apoiava tecnicamente e

financeiramente as iniciativas de alfabetização existentes. Nos anos 1980, foram difundidas

várias pesquisas sobre a língua escrita que, de certa forma, refletiam na EJA.

1.2. O DIREITO A EDUCAÇÃO DE JOVENS ADULTOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

O percurso sócio-histórico da Educação de Jovens e Adultos foi marcado por

enfrentamentos, lutas e embates políticos e pedagógicos, que, a partir da década de 1960, por

meio de ações populares, tiveram na Educação Popular a principal expressão de reivindicação

por uma educação de qualidade para todos. Durante as décadas de 1970, 1980 e parte dos

anos 1990 os movimentos sociais tiveram uma importante participação no processo de

redemocratização. Ganharam expressão significativa, enfrentando vários problemas

concretos, que foram desde a luta contra a inflação, por saúde, educação, moradia, transporte,

passando pelo embate e resistência à ditadura militar, pela luta por Diretas-Já.

Esses movimentos atuaram em diferentes espaços geográficos e políticos e em

diferentes direções, tiveram grande poder de mobilização e organização. Muitas de suas

atuações originaram-se em experiências da Educação Popular, desde grupos de

alfabetização de adultos, passando pelas pesquisas participantes, aos grupos de formação

política, juntamente com processos de construção de sujeitos coletivos. Para Gohn (2009,

42

p.42), tanto a educação popular como os movimentos sociais têm uma espécie de elemento

comum que torna seus objetivos próximos: o fato de trabalharem com as populações

entendidas (ou consideradas) como carentes e marginalizadas da sociedade. A referida

autora parte da hipótese que os movimentos sociais populares são formas renovadas de

educação popular. Isso porque muitos dos fundamentos desses estão baseados na prática do

indivíduo, como a perspectiva da construção de uma consciência de classe. Outro aspecto

apontado por Gohn (2009, p. 47) e que estabelece uma relação entre os programas de

educação popular e movimentos sociais é a parceria com os grupos de assessorias.

O interesse dos movimentos está relacionado à busca de autonomia em sua

organização e relação com outras entidades da sociedade civil e do Estado, orientada para a

formulação de políticas públicas e sociais, alternativas ou complementares às oficiais.

Movimentos que lutavam para preservar sua independência, mas que contavam, no período

focalizado neste estudo, com aliados – assessores técnicos e políticos – solidários às lutas

populares pelo direito à educação, em oposição ao regime militar e comprometidos com a

redemocratização do país (GOHN, 2009).

A relação dos movimentos sociais com a educação de jovens e adultos tem um

elemento de união, a questão da cidadania. Cumpre esclarecer esta categoria, permeada por

várias abordagens, tanto do ponto de vista teórico-metodológico como das visões do

processo de mudança e transformação da sociedade (GOHN, 2009).

É possível destacar dois fatores que marcaram o trabalho educativo desenvolvido

pela sociedade civil no campo da educação de jovens e adultos no final da década de 1970 e

início dos anos de1980. Conforme Haddad (2009, p. 356) o primeiro foi:

[…] o crescimento da diversidade de práticas educativas para além das

pastorais da Igreja católica. Eram os movimentos de bairros, as associações

de moradores e organizações populares, os movimentos sindicais que se

constituíam à margem do movimento sindical oficial, os movimentos de

mulheres e o movimento negro, os movimentos autônomos de luta por

moradia, terra e trabalho.

O autor ainda afirma que, com isso, as experiências de educação popular não se

ativeram apenas às questões materiais de produção e reprodução da vida, voltaram-se também

para os temas relativos ao plano cultural e simbólico, como as relações de gênero, etnia e raça.

(HADDAD, 2009).

Nesse processo de redemocratização da sociedade brasileira, o segundo fato marcante

que envolveu o trabalho da sociedade civil foi:

43

a luta pela construção de um ensino público de qualidade, inclusive para os

jovens e adultos. Com a democratização da sociedade, o próprio movimento

social colocou entre suas demandas a questão da escola pública como

prioridade no campo do empoderamento dos grupos populares. (HADDAD,

2009, p.356).

A preocupação com o reconhecimento da educação dos jovens e adultos como um

direito, e não como compensação ganhou expressão e visibilidade por parte do Poder Público

a partir da redemocratização do país, na década de 1980. A partir dessa redemocratização, em

consequência da abertura política conquistada nesse período, a preocupação com o

reconhecimento de uma educação de jovens e adultos como direito, e não como compensação,

ganhou expressão e visibilidade pelo Poder Público.

Segundo Haddad (2007), é na década de 1980 que o reconhecimento da Educação de

Jovens e Adultos como um direito atingiu a sua plenitude através da Constituição de 1988. O

poder público reconhece a demanda da sociedade brasileira em dar aos jovens e adultos que

não realizaram sua escolaridade, o mesmo direito que os(as) alunos(as) dos cursos regulares

que frequentam a escola em idades próprias ou levemente defasadas. A Constituição Federal

de 1988, pelo menos no plano legal, reconhece o direito à educação de jovens e adultos de

maneira muito clara e inclui o dever do estado. É essa constituição que ampliou o dever com a

educação escolar e estabeleceu um programa para superar o analfabetismo. O que pode ser

observado nos seguintes artigos:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho. [...]

Art. 206. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante ensino

fundamental obrigatório e gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita

para todos os que a ele não tiveram acesso na idade própria (BRASIL, 1988,

p. 121).

A Constituição de 1988 instituiu o dever de assegurar a todos o ensino fundamental

gratuito, inclusive para aqueles que não tiveram acesso na idade própria. Não é uma reposição

de escolaridade, é oferecer uma escola para quem não teve o acesso, uma escola que atenda às

necessidades daqueles sujeitos, ou seja, assim como na educação infantil o ensino

fundamental de pessoas jovens e adultos passou a ser direito constitucional e dever do Estado.

O Parecer nº 11 do Conselho Nacional de Educação, elaborado por Carlos Roberto

Jamil Cury, aponta que é no processo de redemocratização dos anos 1980 que a Constituição

efetivou um passo significativo em direção à uma nova concepção da educação de jovens e de

44

adultos. Para efetivação de tal prerrogativa, foi essencial a presença de segmentos sociais

identificados com a EJA, no sentido de recuperar e ampliar a noção de direito ao ensino

fundamental extensivo aos adultos, já presente na Constituição de 1934 (BRASIL, 2000, p.

21). Nesse mesmo sentido, Paiva (2005) acredita que a Constituição Federal de 1988 fecha o

círculo com relação ao direito da obrigatoriedade escolar.

O texto final da Constituição destinou, pelo prazo de uma década, 50% dos recursos de

impostos vinculados ao ensino de todas as esferas para fazer frente ao analfabetismo,

universalizando o ensino fundamental. A Constituição de 1988 também colocou a superação

do analfabetismo como primeiro objetivo a ser atendido pelo Plano Nacional de Educação.

Apesar das dificuldades para se realizar este direito e o grande esforço necessário para

constituir tais metas, a Constituição firmou uma intencionalidade jurídica e política, abrindo

caminho para políticas públicas que deveriam servir para constituir a justiça social.

A partir da Constituição de 1988, iniciou-se um amplo processo de investimento dos

recursos para implementar programas de educação de adultos, inclusive com a criação da

Fundação Educar, que substitui o antigo MOBRAL, com uma metodologia que trabalha a

partir dos municípios e dos movimentos sociais.

No entanto, segundo Haddad e Di Pierro (2000, p. 120), “em muitos sentidos a

Fundação Educar representou a continuidade do MOBRAL, devem-se computar como

mudanças significativas a sua subordinação à estrutura do MEC e a transformação em órgão

de fomento e apoio técnico, em vez de instituição executora”. Desta forma, a Fundação

Educar passa a apoiar financeiramente e tecnicamente as iniciativas de governos, entidades

civis e empresas a elas conveniadas.

A partir dos anos de 1990, a Educação de Jovens e Adultos começa a sofrer um

processo de esvaziamento das políticas públicas no âmbito do governo federal e com a posse

do Presidente Fernando Collor, a Fundação Educar foi extinta, sob o argumento de

enxugamento da máquina administrativa. Conforme aponta Beisiegel (1997), no governo

Collor, a educação de jovens e adultos analfabetos foi praticamente eliminada das atribuições

educacionais da União.

O Ministro da Educação do governo Collor, o professor, físico e político José

Goldemberg tratou a EJA com desprezo, afirmou que a tentativa de alfabetização de adultos

não diminuiria o índice de analfabetos, ao contrário, perturbaria a ordem social. Beisiegel

(1997) apresentou parte de uma entrevista concedida pelo ministro Goldemberg ao Jornal do

Brasil, em agosto de 1991, na qual explicita essa orientação:

45

O grande problema de um país é o analfabetismo das crianças e não o dos

adultos. O adulto analfabeto já encontrou o seu lugar na sociedade. Pode não

ser um bom lugar, mas é o seu lugar. Vai ser pedreiro, vigia de prédio,

lixeiro ou seguir outras profissões que não exigem alfabetização. Alfabetizar

o adulto não vai mudar muito sua posição dentro da sociedade e pode até

perturbar. Vamos concentrar nossos recursos em alfabetizar a população

jovem. Fazendo isso agora, em dez anos desaparece o analfabetismo.

(JORNAL DO BRASIL, 23/08/1991).

A fala do ministro muda o discurso da inclusão que adquiriu força nos anos de 1980.

O ministro anunciava uma restrição e um estabelecimento de prioridades, o direito universal

para que todos pudessem frequentar a escola foi gradativamente substituído por uma ideia de

prioridades. Já as reformas educacionais promovidas pelo governo Fernando Henrique

Cardoso contrariavam o princípio instituído na Constituição Federal de 1988 em relação à

EJA e veio a, segundo Haddad (2009, p. 3), “desregular o direito recém conquistado”.

A ruptura constitucional no governo Fernando Henrique Cardoso, tanto no primeiro

como no segundo mandato, desobrigou gradativamente a manutenção do ensino fundamental

por parte do governo federal e o compromisso com a superação do analfabetismo. Isto

ocorreu na medida em que, na mudança constitucional, o artigo que mencionava a superação

do analfabetismo foi suprimido, fato que implicou na interrupção de 50% dos recursos, tanto

para a superação do analfabetismo, quanto para o aumento da escolaridade brasileira. Depois

disso, ainda nesse período, criou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino

Fundamental e de Valorização do Magistério – FUNDEF, e passou a vigorar a nova

sistemática de redistribuição dos recursos destinados ao Ensino Fundamental. O FUNDEF

instituído pela Emenda Constitucional nº 14, de setembro de 1996, regulamentado pela Lei nº

9.424, de 24 de dezembro do mesmo ano, e pelo Decreto nº 2.264, de junho de 1997.

Implantado, nacionalmente, em 1º de janeiro de 1998, o FUNDEF não contemplava a EJA e

as matrículas à ela vinculadas.

No ano de 1996, no que diz respeito às políticas públicas relativas à educação de

jovens e adultos, outra ação importante foi à publicação da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDB 9394/96), que estabeleceu uma seção dedicada especificamente à

educação Básica de Jovens e Adultos.

Da Educação de Jovens e Adultos:

Art. 37º. A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não

tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio

na idade própria.

§ 1º. Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos jovens e aos

adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades

46

educacionais apropriadas, consideradas as características do alunado, seus

interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.

§ 2º. O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a permanência do

trabalhador na escola, mediante ações integradas e complementares entre si.

Art. 38º. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que

compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao

prosseguimento de estudos em caráter regular.

§ 1º. Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão:

I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze

anos;

II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos.

§ 2º. Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios

informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.

Entretanto, na visão de alguns pesquisadores/educadores, a LDB não trouxe melhorias

significativas à EJA, “pois apenas dois artigos tratam dessa modalidade de ensino”

(ARELARO; KRUPPA, 2002, p.97). A Lei n. 9394/96 reserva uma pequena seção à EJA e

seu conteúdo, de caráter marcadamente flexível, segundo Rummert (2002, p. 119) revela um

“tratamento insuficiente conferido a essa modalidade de ensino”. Para essa autora, as ações no

campo educacional no Brasil têm se pautado pela relação custo/benefício, o que explica a

posição marginal atribuída à EJA, na LDB. Ressalta como exemplo, o fato de que “nem

mesmo nas Disposições Transitórias a questão do analfabetismo dos jovens e adultos

trabalhadores foi contemplada em qualquer artigo da LDB” (RUMMERT, 2002, p. 120).

A nova lei de diretrizes básicas apresenta pontos de tensão em relação à constituição

de 1988, que é ampla e generosa quanto aos direitos. A LDB de 1996 exprime as ideias de um

movimento para diminuir e não reconhecer esses direitos, e a ideia da universalidade do

direito no campo da educação de jovens e adultos. O primeiro projeto, que foi elaborado pelo

deputado Jorge Hage, atendia as necessidades da EJA, ao apresentar os seguintes elementos:

1. Formula e propõe uma organização mais abrangente da educação, com participação da

sociedade, mais liberdade de expressão e pluralidade das ideias, articulada com o trabalho e as

práticas sociais.

2. Traz uma divisão dos ciclos da educação de forma a garantir um mínimo de 8 anos de

escolaridade para todos, com universalização da educação básica em todos os níveis e

modalidades, e com clara definição do dever do Estado em relação à educação infantil.

3. Assegura, claramente, o direito à gratuidade e a responsabilidade do Estado na educação de

jovens e adultos trabalhadores.

4. Contempla, sem subterfúgios, medidas objetivas e a clara função do Estado no ensino de

caráter especial.

47

5. Define percentuais, formas e prazos para o repasse de verbas destinadas às instituições

educacionais em todos os níveis.

6. É uma lei capaz de mobilizar a comunidade educacional, em virtude de ser expressão das

ideias dos principais agentes educacionais e autoridades dos respectivos setores de ensino.

O que não foi aprovado e prevaleceu a ideia de educação de jovens e adultos como um

processo escolar, contrariando as posições defendidas por educadores da EJA, favoráveis aos

interesses dos trabalhadores, dos jovens e adultos, pensadas do ponto de vista de flexibilidade

de tempo e de espaço, considerando a necessidade de flexibilidade em relação aos horários. A

concepção defendida pelos educadores da EJA a torna muito mais múltipla e diversa do que

simplesmente uma reposição de escolaridade ou um processo acelerado de escolarização,

exige material próprio que respeita as diversas culturas. Em seus estudos Silva e Santos

(2013, p. 53) afirmam que:

O projeto substitutivo de Hage foi aprovado pela Câmara dos Deputados e

encaminhado para o Senado como o PLC 101/93, tendo como relator o

senador Cid Sabóia. Em 1995, um parecer do senador Darcy Ribeiro,

membro da Comissão de Educação do Senado, considerou o projeto advindo

da Câmara como inconstitucional, o que resultou em seu arquivamento

definitivo. Ainda em 1995, o senador Darcy Ribeiro, apoiado pelo MEC,

apresentou outro projeto substitutivo de LDB, que acabou sendo aprovado

como o texto definitivo da lei. Não por acaso, o presidente da República que

sancionou o projeto era Fernando Henrique Cardoso, que havia sido relator

do primeiro projeto de LDB proposto por Darcy em 1992, no Senado.

De acordo com Di Pierro (2000, p. 113-114), a LDB frustrou muitos que trabalhavam

com a EJA, devido às “lacunas, incoerências, estreiteza conceitual, falta de inventividade e

funcionalidade aos interesses privados no ensino”. A autora evidencia como incoerência ou

ambiguidade a retomada do adjetivo supletivo, relegando essa modalidade a um subsistema

paralelo, como já existia na Lei n. 5692/71. Acrescenta, ainda, que o texto atribui

flexibilidade a esta modalidade de ensino, para utilizá-la como forma de aceleração de

estudos, permitindo o acesso a ela através de avaliações de conhecimentos adquiridos de

maneira informal. Outra questão apontada pela autora é a confirmação, pela Lei 9394/96, do

seu caráter utilitarista, quando, no parágrafo 2º do artigo 1º, vincula toda a educação escolar

ao mundo do trabalho e à prática social (DI PIERRO, 2000).

O Brasil, em janeiro de 1997, obteve destaque internacional ao sediar a Conferência

Regional Preparatória da América Latina e Caribe para a V Conferência Internacional sobre

Educação de Adultos (V CONFINTEA), que se realizaria em julho de 1997, na cidade de

Hamburgo, na Alemanha. Com a V CONFINTEA um grande impulso foi concedido para que

48

as diversas iniciativas ligadas à EJA se articulassem, visto que as etapas preparatórias para

essa Conferência possibilitaram um conhecimento, articulação e aproximação de segmentos

envolvidos com a EJA. Segundo Soares (2002, p. 9), “no caso do Rio de Janeiro, os atores

envolvidos com a EJA, propuseram um prosseguimento dos encontros no âmbito estadual,

criando o Fórum de Educação de Jovens e Adultos”.

Diante dessa iniciativa, surgiu um movimento nacional de continuidade da V

CONFINTEA, que se materializou com a criação de fóruns estaduais de EJA. De acordo com

Soares (2002) os fóruns estaduais estavam em funcionamento nos estados do Rio de Janeiro,

Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Paraíba,

Tocantins, Mato Grosso e Alagoas. Naquele momento, existiam comissões pró-constituição

de fóruns em alguns estados, como em Pernambuco, Goiás, Bahia e Ceará. Vale ressaltar que

os fóruns tornaram-se um espaço de pluralidade e vitalidade do que acontece na educação de

jovens e adultos no país.

Pode-se considerar que o final de década de 1990 e a década 2000 foi um período

significativo na história da EJA, com avanços no ponto de vista legislativo da oferta de EJA

paralelo à criação de fóruns estaduais de EJA. Os anos 2000 vão ainda consolidar a efetivação

dos Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos (ENEJAs), realizados pela

primeira vez em 1999, no Rio de Janeiro, e, posteriormente, na Paraíba (2000), São Paulo

(2001), Minas Gerais (2002), Mato Grosso (2003), Rio Grande do Sul (2004), Goiás/Distrito

Federal (2005), Pernambuco (2006), Paraná (2007), Rio de Janeiro (2008). Pará (2009), Bahia

(2011), Rio Grande do Norte (2013) e Goiás (2015). O ano de 2000 marcou a consolidação do

principal documento que regulamenta e normatiza a EJA, e consagra-se no contexto da

Educação Básica de jovens e adultos, a aprovação do Parecer 11/2000 e da Resolução

01/2000, que, sob a responsabilidade do Conselho Nacional de Educação (CNE) apresentam o

novo paradigma para essa modalidade. Sugere: a extinção do uso da expressão “supletivo”; o

restabelecimento do limite etário para o ingresso na EJA (14 anos para o Ensino Fundamental

e 17 anos para o Ensino Médio); a atribuição das funções reparadora, equalizadora e

qualificadora para a EJA e promoção dos docentes para o público específico da EJA; a

contextualização curricular e metodológica de acordo com os princípios de equidade e

diferenças sistematizados pela EJA.

O Parecer do Conselho Nacional de Educação n. 11/2000, documento regulamentador

das Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA no Brasil, proporcionou uma redefinição no

papel dessa modalidade de ensino, ao instituírem-na com as funções reparadora, equalizadora

e qualificadora e não mais com a finalidade de suprir e de compensar a escolaridade para

49

aqueles que foram excluídos do processo escolar e do acesso aos bens culturais que essa

escolarização poderia ter proporcionado. No Parecer nº 11 CNE/CEB/2000, essas funções

estão assim definidas:

[...] a função reparadora da EJA, no limite, significa não só a entrada no

circuito dos direitos civis pela restauração de um direito negado: o direito a

uma escola de qualidade, mas também o reconhecimento daquela igualdade

ontológica de todo e qualquer ser humano. Desta negação, evidente na

história brasileira, resulta uma perda: o acesso a um bem real, social e

simbolicamente importante. Logo, não se deve confundir a noção de

reparação com a de suprimento (BRASIL, 2000, p. 7, grifo do autor).

Ainda, conforme o Parecer nº 11 CNE/CEB/2000:

Esta função reparadora da EJA se articula com o pleito postulado por

inúmeras pessoas que não tiveram uma adequada correlação idade/ano

escolar em seu itinerário educacional e nem a possibilidade de

prosseguimento de estudos. Neste momento a igualdade perante a lei, ponto

de chegada da função reparadora, se torna um novo ponto de partida para a

igualdade de oportunidades.

Mas a função reparadora deve ser vista, ao mesmo tempo, como uma

oportunidade concreta de presença de jovens e adultos na escola e uma

alternativa viável em função das especificidades sócio-culturais destes

segmentos para os quais se espera uma efetiva atuação das políticas sociais

(BRASIL, 2000, p. 9).

A função reparadora refere-se não só à restauração de um direito negado (direito a

uma escola de qualidade), mas também ao reconhecimento da igualdade ontológica de todo e

qualquer ser humano de ter acesso a um bem real, social e simbolicamente importante,

(BRASIL, 2000). Nesse sentido, a função reparadora é complementada pela equalizadora. O

Parecer nº 11 CNE/CEB/2000, esclarece:

A função equalizadora da EJA vai dar cobertura a trabalhadores e a tantos

outros segmentos sociais como donas de casa, migrantes, aposentados e

encarcerados. A reentrada no sistema educacional dos que tiveram uma

interrupção forçada seja pela repetência ou pela evasão, seja pelas desiguais

oportunidades de permanência ou outras condições adversas, deve ser

saudada como uma reparação corretiva, ainda que tardia, de estruturas

arcaicas, possibilitando aos indivíduos novas inserções no mundo do

trabalho, na vida social, nos espaços da estética e na abertura dos canais de

participação. Para tanto, são necessárias mais vagas para estes "novos"

alunos e "novas" alunas, demandantes de uma nova oportunidade de

equalização [ ...] (BRASIL, 2000, p. 9, grifo do autor).

50

O parecer ainda esclarece que, com esse novo conceito, a EJA não pode ser

considerada apenas como um processo inicial de alfabetização, e que deve “buscar formar e

incentivar o leitor de livros das múltiplas linguagens visuais juntamente com as dimensões do

trabalho e da cidadania” (BRASIL, 2000, p. 9). Portanto, fica claro que a demanda da EJA

possui um perfil a ser considerado, haja vista que os estudantes são os menos favorecidos e

necessitam do estudo no intuito de aspirar trabalhar para a própria sobrevivência, em um

mercado de trabalho cada vez mais exigente em relação à escolaridade, correndo o risco

evidente de ficar (ou de permanecer) às margens da sociedade.

A função equalizadora relaciona-se à igualdade de oportunidades que possibilite

maiores condições de acesso e permanência na escola, permitindo aos indivíduos nova

inserção no mundo do trabalho, vida social, espaços da estética e abertura dos canais de

participação (MATO GROSSO, 2013). A terceira função do Parecer nº 11 CNE/CEB/2000,

confirma:

Esta tarefa de propiciar a todos a atualização de conhecimentos por toda a

vida é a função permanente da EJA que pode se chamar de qualificadora.9

Mais do que uma função, ela é o próprio sentido da EJA. Ela tem como base

o caráter incompleto do ser humano cujo potencial de desenvolvimento e de

adequação pode se atualizar em quadros escolares ou não escolares. Mais do

que nunca, ela é um apelo para a educação permanente e criação de uma

sociedade educada para o universalismo, a solidariedade, a igualdade e a

diversidade (BRASIL, 2000, p. 11, grifo do autor).

A função qualificadora passa a ser reconhecida como mais que uma função, o próprio

sentido da EJA, correspondendo às necessidades de atualização e aprendizagem contínuas,

decorrentes dos ideais de uma educação permanente, que tem como base o caráter incompleto

do ser humano, cujo potencial de desenvolvimento e adequação pode se renovar em quadros

escolares ou não-escolares.

A partir do amparo legal e dos compromissos assumidos internacionalmente, a

Educação de Jovens e Adultos foi assegurada como direito à Educação Básica e Continuada a

todos os sujeitos, independente da idade. A educação passa a ser compreendida como direito

humano fundamental e a educação continuada como exigência do aprender por toda a vida,

constituindo o verdadeiro sentido da EJA “por ressignificar os processos de aprendizagem

9Embora não oposta a ela, a função qualificadora não se identifica com a qualificação profissional (nível técnico)

tal como posta no Parecer n.16/99. Isto não retira o caráter complementar da função ora descrita que pode ter

lugar em qualquer momento da vida escolar ou não. Eis porque o nível básico da educação profissional pode ser

uma expressão da função qualificadora tanto quanto aprendizado em vista de uma reconversão profissional.

51

pelos quais os sujeitos se produzem e se humanizam, ao longo de toda a vida” (PAIVA, 2004,

p. 31).

Ao fim, desse breve processo histórico da educação de jovens e adultos no Brasil,

pode-se afirmar que a trajetória histórica da EJA em nosso país sempre esteve relacionada ao

contexto histórico e sociopolítico de cada época. No contexto histórico atual observa-se que

deveras já foi feito, mas ainda há muito o que fazer. Faz-se necessário vislumbrar novos

horizontes na busca da diminuição dos índices de analfabetismo no País, e a EJA, como

modalidade de ensino, deve oferecer uma educação de qualidade com ideais reflexivos e

transformadores.

52

CAPÍTULO II - O SURGIMENTO DOS FÓRUNS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS BRASIL

Neste segundo capítulo, é apresentado o cenário em que se forjou o surgimento dos

Fóruns de Educação de Jovens e Adultos e sua ampliação, nas décadas de 1990 e 2000. Com

o propósito de contribuir para a compreensão das motivações que impulsionaram a

organização de atores da sociedade civil na luta pela educação de jovens e adultos.

O ano de 1996 é o ponto de partida para uma interpretação da história do surgimento

dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos no Brasil e, em especial, do Fórum de Educação

de Jovens e Adultos no estado de Mato Grosso, momento em que o primeiro Fórum de EJA

foi criado no estado do Rio Janeiro, em meio à série de encontros preparatórios que

antecederam a V CONFINTEA, ocorrida em Hamburgo, na Alemanha, em 1997.

Paiva (2004, p.12) afirma que “a experiência mais rica, todavia, na tessitura dessa teia,

tem sido vivida nos movimentos internos do Brasil, de 1996 para cá, com a constituição de

Fóruns de EJA”. Esta afirmação corrobora que a experiência do Fórum no Rio de Janeiro fez

surgir muitas outras. Por intermediação, essencialmente, de seus representantes, o crescimento

dos demais fóruns, em cada estado, contou com a organização e articulação de pessoas

atuantes em instituições envolvidas com essa modalidade educacional. Para Di Pierro (2005),

estes fóruns iniciaram uma mobilização social que pretendia estabelecer resistência à negação

do direito à educação que já havia sido conquistado na Carta Constitucional de 1988.

2.1. DA PREPARAÇÃO DA V CONFINTEA AO SURGIMENTO DOS FÓRUNS DE EDUCAÇÃO DE

JOVENS E ADULTOS

A Conferência Internacional de Educação de Adultos – CONFITEA promovida pela

UNESCO é realizada a cada doze anos, um evento global que mobiliza os envolvidos com a

educação de adultos. Desde 1949, as conferências vêm sendo realizadas em vários países,

com doze anos de intervalo aproximadamente. Assim, até o momento houve seis

Conferências: I – Dinamarca, 1949; II – Canadá,1960; III – Japão, 1972; IV – França, 1985;

V – Alemanha, 1997. A sexta Conferência ocorreu em maio de 2009, pela primeira vez na

América Latina, e foi sediada pelo Brasil. Conforme explicam Ireland e Spezia (2012, p. 9):

Ao longo das últimas seis décadas, a UNESCO promoveu seis Conferências

Internacionais de Educação de Adultos que se tornaram conhecidas mais

recentemente como CONFINTEAs (do francês, Conférence International

esurl’ Educationdes Adultes). As CONFINTEAs têm se estabelecido como

um dos fóruns mais influentes na arena internacional da educação de adultos.

Nos últimos sessenta anos, foram essas Conferências que debateram e

indicaram as grandes diretrizes e políticas globais da educação de adultos

53

para o período entre uma Conferência e a próxima – e, em alguns momentos

mais conturbados, evitaram o desaparecimento da Educação de Jovens e

Adultos (EJA) das pautas políticas em vários países.

Para Feitosa (2012), as Conferências Internacionais de Educação de Adultos foram

importantes espaços de discussões e encaminhamentos de recomendações, pareceres e

procedimentos para EJA, contribuindo significativamente para o fortalecimento desta

modalidade.

Rezende (2008) elaborou um quadro sintético, que focaliza a conceituação da

educação de adultos utilizada ao longo do tempo:

Quadro 01: A Construção dos conceitos de Educação de Adultos nas conferências

internacionais

DATAS CONCEITOS E DEFINIÇÕES

1949 I Conferência Internacional realizada na Dinamarca (1949). Educação

concebida como Educação moral – paralela à educação escolar.

1963 II Conferência Internacional realizada em Montreal (1963). Educação de

Adultos em dois focos distintos: educação como continuação da educação

formal, passa a ser permanente; educação de base ou comunitária.

1972 III Conferência Internacional sobre Educação de Adultos, realizada em Tóquio

(1972), entendida como suplência da educação fundamental.

1985 IV Conferência (1985) em Paris. A Educação de Adultos é caracterizada pela

pluralidade de conceitos, entre eles alfabetização, pós-alfabetização e outros.

1990 Conferência Mundial realizada em Jomtiem (Tailândia) Educação para todos,

educação de adultos concebida como primeira etapa da educação básica.

1997 V Conferência Internacional sobre Educação de Adultos em Hamburgo (1997)

a educação é considerada uma chave para o século XXI.

2009 VI Conferência Internacional sobre Educação de Adultos no Brasil - Elos

perdidos das Metas da Década do Milênio - MDGs – ferramenta

imprescindível para o desenvolvimento. Monitoramento necessário para

garantir ação e implementação.

Fonte: REZENDE, 2008, p. 42

Podemos considerar a V CONFINTEA como um dos pontos de partida do surgimento

dos Fóruns de EJA pelo país, pois teve como propósito estabelecer compromissos e metas que

visavam à superação do analfabetismo, incentivando a escolarização na perspectiva de uma

sociedade mais humana, justa e equitativa, na qual o processo educativo deve acompanhar os

jovens e adultos ao longo de toda a vida.

A V CONFINTEA definiu, de modo mais detalhado, os novos compromissos em

favor do desenvolvimento da educação de jovens e adultos com a participação de órgãos

governamentais e não governamentais, os quais, trabalhando conjuntamente com as políticas

54

públicas de EJA, podem ser efetivados com qualidade. Conforme documento divulgado pela

UNESCO (2000, p. 57):

La importancia de un conferencia de esta magnitud reside en la posibilidad

de que juntos gobiernos y sociedad reflexionen sobre los retos actuales y

futuros de la educación de jóvenes y adultos, de manera que, de conformidad

con las diversas responsabilidades educativas, asuman compromisos

específicos de acción.

De acordo com o foi discutido na V CONFINTEA, no Brasil a responsabilidade de

ação atual para a superação do analfabetismo passa a ser tarefa não apenas da União, mas

também dos Estados, Municípios, organizações não- governamentais e da sociedade civil

como um todo.

A V CONFITEA apresenta a defesa de dois conceitos, a escolarização e a educação

continuada, que resultaram em dois documentos: a Declaração de Hamburgo e a Agenda para

o Futuro (UNESCO, 1997) que sistematizaram e divulgaram os conceitos de educação

continuada ao longo da vida e de necessidades de aprendizagem.

Dessa forma, segundo a Declaração de Hamburgo (2004), o conceito contemporâneo

da educação de adultos:

Engloba todo o processo de aprendizagem, formal ou informal, onde pessoas

consideradas “adultas” pela sociedade desenvolvem suas habilidades,

enriquecem seu conhecimento e aperfeiçoam suas qualificações técnicas ou

profissionais, direcionando-as para a satisfação de suas necessidades e as de

sua sociedade. A educação de adultos inclui a educação formal, a educação

não-formal e o espectro da aprendizagem informal e incidental disponível

numa sociedade multicultural, onde os estudos baseados na teoria e na

prática devem ser reconhecidos (Art. 3). Educação Básica para todos

significa dar às pessoas, independente da idade, a oportunidade de

desenvolver seu potencial, coletivo ou individualmente. [...] É fundamental

que o reconhecimento do direito à educação continuada durante a vida seja

acompanhada de medidas que garantam as condições necessárias para o

exercício desse direito (Art. 9).

O reconhecimento do “Direito à Educação” e do “Direito a Aprender por

toda a vida” é, mais do que nunca, uma necessidade (Art. 12).

A V CONFINTEA traz a ideia do aprender para toda a vida, como também a

ampliação do ensino, através das relações sociais: família, religião, trabalho, partidos

políticos, etc. Frente à manutenção dos índices de analfabetismo no mundo, Soares (2002)

destaca que o direito a aprender por toda a vida é, mais do que nunca, uma necessidade, é o

55

direito de ler e de escrever, de questionar e analisar, ter acesso a recursos e desenvolver e

praticar habilidades e competências individuais e coletivas.

Em contrapartida Paiva (2004) menciona que a opção político-ideológica explicitada

nas propostas de alfabetização desencadeada pelo MEC diverge do consenso firmado na V

CONFINTEA. De acordo com o MEC era preciso corrigir o “desvio” causado pelo fracasso

do Ensino Fundamental de crianças, para acabar com a necessidade da EJA. Para os não

alfabetizados e subescolarizados bastariam os programas compensatórios de assistência

social, como por exemplo, o Programa Alfabetização Solidária.

Dessa forma:

[...] as políticas governamentais não apenas descumpriam oficialmente o

preceito constitucional, como promoviam a exclusão, deixando de garantir

um dos direitos inerentes à condição cidadã a tão largo contingente

populacional mantendo os não alfabetizados como cidadãos pela metade, por

que votam, mas não podem ser votados (PAIVA, 2004, p. 32).

Assim, as políticas centralizadoras do governo federal afastaram da EJA o processo de

educação continuada tão necessário para acompanhar a velocidade e a contemporaneidade do

desenvolvimento das ciências, técnicas, tecnologias, das artes, expressões, linguagens,

culturas, enfim, exigências que o mundo, especialmente a partir do fenômeno da globalização,

conferiu a história.

A história do surgimento e da difusão dos Fóruns de EJA no país toma corpo a partir

de 1996, o ano preparatório para a V Conferência Internacional de Educação de Adultos,

realizada em Hamburgo, na Alemanha, no ano de 1997.

O governo federal, no ano de 1996, instaurou uma metodologia de uniões de trabalho

envolvendo representantes do setor público da educação, universidades, organizações não

governamentais, Sistema S e outros, com o objetivo de mapear ações e instituições envolvidas

com a EJA e produzir documentos que retratassem a situação nacional naquele contexto

histórico. Esse documento, depois de elaborado, seria apresentado pelos representantes

brasileiros participantes da V CONFINTEA, em Hamburgo.

De acordo com Soares (2001, p. 204), as reuniões faziam parte de uma agenda que

contava com a participação de vários segmentos da sociedade brasileira, os quais lutavam pela

EJA. Dentre eles, estavam os governos estaduais e municipais, as universidades e as empresas

da iniciativa privada.

O processo de construção do documento nacional foi coordenado pela Comissão

Nacional de Educação de Jovens e Adultos – CNAEJA, que orientou os estados para que

fizessem seus encontros e seminários preparatórios com a participação da sociedade civil.

56

(HADDAD, 2009, p. 359). Além dos vários encontros estaduais, foram realizados três

encontros regionais e um Seminário Nacional de Jovens e Adultos, em Natal-RN.

A CNAEJA foi instituída pelo Ministério da Educação e do Desporto em junho de

1995, pela Portaria nº 759. Vinculada à Secretaria de Educação Fundamental, “a Comissão

Nacional de Educação de Adultos tinha como atribuição subsidiar a formulação e

implementação de políticas na área de Educação de Jovens e Adultos.” (DIÁRIO OFICIAL

DA UNIÃO, 23/06/1995).

A Comissão Nacional foi composta por representantes da Secretaria de Educação

Fundamental; Conselho Nacional de Secretários de Educação; União dos Dirigentes

Municipais (UNIDIME); Conselhos de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB); Ação

Educativa; Instituto Paulo Freire (IPF); Força Sindical; Central Geral dos Trabalhadores

(CGT); Central Única dos Trabalhadores (CUT); Serviço Social da Indústria (SESI);

Pensamento Nacional das Bases Empresariais (PNBF); Sindicato da Indústria da Construção

Civil (SINDUSCON); Associação das Organizações Não governamentais (ABONG); Rede de

Apoio à Alfabetização na América Latina e no Brasil (RAAAB); Movimento de Educação de

Base (MEB); Confederações das Mulheres no Brasil (CMB); Associação Projeto Educação do

Assalariado Rural Temporário (APEART); Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio

Comunitário (IBEAC); Associação Nacional de Cooperação Agrícola (ANCA).

Os trabalhos do CNEJA ficaram sob a coordenação do diretor do Departamento de

Políticas Educacionais da Secretaria de Educação Fundamental. A Comissão era aberta a

novas representações de instituições e seguimentos sociais, com vistas ao fortalecimento da

política de alianças e parcerias do Plano Nacional de Educação para Todos. Sobre as ações

iniciais da CNEJA, Silva (2005, p. 34) afirma que:

A CNEJA colaborou na divulgação dos eventos preparatórios para a V

CONFINTEA. Sua responsabilidade caracterizou-a como extensão da

sociedade junto ao MEC, para as discussões em torno de políticas para a

EJA. A primeira convocação ocorreu em 04/07/95, na sala de reuniões da

Secretaria de Ensino Fundamental/MEC.

Durante os anos de 1995 e 1996, a CNEJA se reuniu três vezes para debater os

preparativos da Conferência Regional Preparatória para a V CONFINTEA, bem como a

realização de dois encontros regionais, sendo um em Salvador e outro em Curitiba. Conforme

o relatório da reunião da CNEJA (1996 apud SILVA, 2005, p.35), os encontros objetivaram:

57

[…] produzir documentos que subsidiarão o Seminário Nacional. […]Ambos

os encontros serão procedidos de encontros estaduais de que participarão as

três esferas de governo, as universidades e os diversos setores da sociedade

civil (ONGs, associações, sindicatos, movimentos sociais, etc.). Tais

encontros, além de abrir espaço para discussão e formulação das

recomendações dos estados para os encontros regionais, possibilitarão a

indicação dos representantes que deles participarão.

Depois dessa reunião, o Brasil começou a organizar-se para participar da V

CONFINTEA. Ainda nos estudos de Silva (2005), percebe-se que a CNAEJA foi criada no

MEC, mas extrapolou as intenções do próprio Ministério, por apresentar um audacioso caráter

crítico em seus pronunciamentos e acabou sendo destituída.

Conforme Haddad (2009, p. 359), o movimento de educação de adultos viu na V

CONFINTEA uma oportunidade para tornar visível o tema da educação de jovens e adultos

no contexto brasileiro e, também, para tornar seus documentos e acordos firmados como

instrumentos de luta para a garantia do direito constitucional.

Durante a realização do Seminário Nacional de Educação de Jovens e Adultos, em

Natal, Rio Grande do Norte, entre 08 e 10/09/1996, foram apresentados os relatórios dos

encontros que ocorreram nas regiões Nordeste, Sul, Sudeste, Norte e Centro-Oeste. O

diagnóstico da Educação de Jovens e Adultos no Brasil (BRASIL, 2004) revelou vários

desafios, dentre os quais merecem destaque:

O Brasil apresentava um quadro com 19.233.239 de analfabetos absolutos, 20% da

população total com 15 anos ou mais, que totalizava 95.837.043 de habitantes.

Falta de dados atualizados e consistentes sobre a demanda e a oferta de EJA

A equivocada política de marginalização dos serviços de EJA e a prioridade à

educação das crianças e adolescentes têm conduzido a um lugar secundário no interior das

políticas educacionais.

Ausência de políticas públicas mais efetivas de médio e longo prazo, conduzindo à

fragmentação dispersão e descontinuidade dos programas de EJA.

O diagnóstico foi aprovado pelos delegados reunidos no plenário do seminário e

resultou da consolidação dos relatórios dos encontros preparatórios. O documento elaborado

foi intitulado “Documento Final do Seminário Nacional de Educação de Jovens e Adultos” e

foi considerado por Paiva, Machado e Ireland (2004, p. 11) como “uma espécie de balanço

nacional e ‘estado da arte’ do que significava a EJA naquele contexto histórico brasileiro”.

Os representantes da delegação brasileira que participaram da V CONFINTEA

produziram momentos de tensão entre o poder público e a sociedade civil, pois o governo

58

brasileiro não apresentou a versão do documento final aprovado pela plenária no seminário

nacional, realizado no Brasil com a participação da sociedade civil. Ventura (2008, p. 216)

interpreta este fato:

Pelo caráter de denúncia e por explicitar a fragilidade da situação da EJA, o

relatório não foi reconhecido pelo governo de Fernando Henrique Cardoso e,

sendo assim, não foi apresentado na Reunião Regional Latino-americana

preparatória para a V CONFITEA, para a qual havia sido preparado. Porém,

o processo de mobilização nacional desencadeado por estes encontros é

avaliado pelos sujeitos que vivenciaram aquele momento como fundamental

para o surgimento dos Fóruns e dos ENEJAs.

Tal ação do governo causou, assim, grande constrangimento aos representantes da

sociedade civil, presentes na V CONFINTEA. Segundo Haddad (2009, p. 359):

Após o encontro, a coordenadora nacional de EJA, nitidamente favorável à

aliança com a sociedade civil para a garantia dos direitos educativos dos

jovens e adultos, foi afastada e a Comissão Nacional não mais convocada,

em uma evidente atitude de isolar a pressão que a sociedade civil fazia,

claramente insatisfeita com a orientação das políticas na área.

Apesar desses acontecimentos, as mobilizações dos movimentos em prol da educação

de jovens e adultos no Brasil, anteriores a V CONFINTEA, contribuíram para constituir

importantes articulações dos sujeitos envolvidos nesse processo, que culminaram no

surgimento dos Fóruns de Educação de Jovens e Adultos.

Di Pierro (2005, p. 130) afirma que o movimento dos fóruns surge quando ocorre o

acirramento das divergências nascidas nos encontros estaduais e regionais, entre os diferentes

segmentos presentes, no momento que o governo federal assume uma postura autoritária e

intransigente na coordenação das políticas para a educação de jovens e adultos, inclusive o

fechamento do diálogo com a sociedade.

Constitui-se, então, segundo Soares (2002, p. 9), “um movimento nacional de

continuidade da V CONFINTEA, que se materializa na criação de fóruns estaduais de EJA”.

O primeiro deles, o Fórum de Educação de Jovens e Adultos do Rio de Janeiro, foi

uma estratégia de trabalho que, conforme Paiva (2004, p. 36):

contribuiu para a desconstrução de posturas e atitudes centralizadoras,

adquiridas ao longo de muitos anos na sociedade, possibilitando o

estabelecimento de relações mais igualitárias, fator decisivo para um

processo de democratização da educação nas esferas locais, como preconiza

59

a LDB, ao mesmo tempo que representava um grupo de pressão organizada e

permanente, em defesa dos interesses da educação de jovens e adultos.

Já Dantas (2005), por sua vez, define o Fórum do Rio de Janeiro como uma

articulação informal, de diversos segmentos da sociedade civil, na luta pelo direito à

educação:

[...] uma nova institucionalidade, pois é palco de uma forma particular de

ação política. Sua pretensão não é somente cobrar e exigir, mas é construir

coletivamente, junto aos que atuam na EJA e, principalmente, com os que

formulam as políticas para este segmento (DANTAS, 2005, p.7).

Numa perspectiva distinta, Machado (2009a, p. 33) aponta que os fóruns resultaram de

uma mistura de pessoas e instituições que atuam em EJA, tanto no campo dos governos como

no campo dos movimentos e instituições não governamentais. Para a autora — integrante do

movimento — os fóruns constituem uma organização social que congrega representantes do

Estado e da sociedade civil que lutam pela institucionalização de uma política pública de

direito à educação para jovens e adultos.

Em um vídeo disponível no portal dos fóruns de EJA

(http://forumeja.org.br/audiovisualxeneja), Machado (2008) compartilha da opinião que os

fóruns de EJA são espaços políticos:

Os fóruns [...] são um espaço de mobilização, uma instância que congrega os

atores da Educação de Jovens e Adultos. [...] esse espaço do fórum é onde a

gente reúne esses vários atores, esses vários sujeitos, com uma perspectiva

de construir uma política pública num patamar diferenciado de uma série de

outras políticas que vem muito de cima para baixo. O fórum é uma instância

coletiva para a discussão da política e para a construção dos rumos da

política.

Como explicitado em suas concepções, essas instâncias apresentam-se como espaços

cuja essência define-se pelo político, ou seja, espaços que se voltam para a ação política de

sujeitos que discutem e tencionam as políticas públicas de EJA.

A experiência do Fórum, do Rio de Janeiro, fez com que houvesse mobilizações em

outros estados brasileiros a fim de programarem encontros estaduais que reunissem sociedade

civil e Estado para debaterem a oferta de EJA local. No ano de 1998, o fórum tomou corpo

nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Paraíba, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Impulsionado por esses movimentos, foi realizado em 1999, no Rio Janeiro, o I Encontro

Nacional de Educação de Jovens e Adultos, o ENEJA/RIO, que buscou contribuir para a

ampliação e a melhoria da qualidade da educação de jovens e adultos.

Conforme Paiva, Machado e Ireland (2004, p. 12):

60

A energia solidária que se instaurou entre os Fóruns possibilitou a

organização anual de encontros nacionais que, desde 1999, vêm acontecendo

e que, em2004, efetiva a sexta edição. Os Encontros Nacionais de Educação

de Jovens e Adultos (ENEJAs) mantêm a preocupação com o registro das

reflexões produzidas nesses eventos, além de um trabalho cuidadoso de

síntese dessas reflexões, sistematizadas em relatório final, em cada encontro.

Construídos a muitas mãos, publicá-los é também reconhecer o importante

trabalho de cada equipe de relatoria, como guardiã do pensamento

contemporâneo da EJA.

O ENEJA é um espaço significativo para o exercício da convivência com as diferenças

e modos de pensar a EJA. É um espaço para “criar instrumentos de pressão política, que

influenciem nas políticas públicas da educação de jovens e adultos nos âmbitos municipal,

estadual e federal” (ENEJA II, 2000, p. 03). Desde o primeiro, em1999, foram realizados 13

encontros, conforme indicado abaixo:

Quadro 02: Encontros Nacionais de Educação de Jovens e Adultos

ENCONTROS LOCAL DATA/MÊS ANO

I ENEJA Rio de Janeiro/RJ 08 a 10 de setembro 1999

II ENEJA Campina Grande/PB 07 a 09 de setembro 2000

III ENEJA São Paulo/SP 05 a 06 de setembro 2001

IV ENEJA Belo Horizonte/MG 21 a 24 de agosto 2002

V ENEJA Cuiabá/MT 03 a 05 de setembro 2003

VI ENEJA Porto Alegre/RS 08 a 11 de setembro 2004

VII ENEJA Luziânia/GO 31 de agosto a 03 de setembro 2005

VIII ENEJA Recife/PE 30 de agosto a 02 de setembro 2006

IX ENEJA Faxinal do Céu/PR 18 a 22 de setembro 2007

X ENEJA Rio das Ostras/RJ 27 a 30 de agosto 2008

XI ENEJA Belém/PA 17 a 20 de setembro 2009

XII ENEJA Salvador/BA 20 a 23 de setembro 2011

XIII ENEJA Natal/RN 10 a 13 de setembro 2013

Fonte: FPDEJA, 2014.

O ENEJA é composto por representantes dos diversos segmentos que fazem parte dos

Fóruns, tais como: professores de universidades, públicas ou privadas, que atuam com ensino,

pesquisa ou extensão em EJA; governo, nos níveis federal, municipal e estadual; organizações

61

não governamentais (ONGs); movimentos sociais/populares/sindicais que, de alguma forma,

atuam com EJA; Sistema S; professores/educadores que estejam atuando em sala de aula com

EJA na Educação Básica; estudantes de pós-graduação, universitários e alunos da EJA na

educação básica. Representantes desses segmentos, escolhidos pelos Fóruns, constituem a

delegação estadual participante do Encontro Nacional. Conforme destaca Ventura (2008, p.

215):

Cada delegado é representante das deliberações dos seus Fóruns e dos seus

respectivos segmentos. Cabe destacar que cada Fórum tem uma dinâmica

própria; dessa forma, os critérios para a constituição da delegação variam em

função da característica de cada um, não havendo um estatuto ou regimento

único para tal escolha. Da mesma maneira como cada Fórum é autônomo

quanto à forma de composição da sua delegação, cada Fórum é autônomo na

sua estrutura, organização e periodicidade dos encontros, compondo um

quadro bastante variado.

Atualmente, todas as unidades da federação já instituíram o Fóruns de EJA,

constituindo 26 fóruns estaduais, 1 distrital e mais de 50 regionais, somente no estado de

Mato Grosso há 1 fórum estadual dividido em 18 fóruns regionais. Essa expansão nacional

dos fóruns é o resultado de um processo de mobilizações dos sujeitos envolvidos com

modalidade EJA.

2.2. MATO GROSSO NO CONTEXTO DOS PREPARATIVOS A V CONFINTEA

Em maio de 1996, o MEC encaminhou um ofício aos Secretários Estaduais de

Educação, comunicando-lhes dos eventos preparatórios à Conferência Regional Preparatória.

Este documento solicitava a iniciativa e apoio, na promoção de encontros estaduais

preparatórios aos Encontros Regionais (SILVA, 2005, p. 36).

De posse dessa informação, a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso sentiu

a necessidade de sistematizar informações e aprofundar conhecimentos sobre a realidade de

sua prática educativa. Mato Grosso não promoveu encontros estaduais, como sugeriu o MEC.

Em reposta à essa demanda, foi elaborado o projeto “Proposta de serviços para estruturação

de base de dados e análise situacional da educação supletiva da SEDUC/MT” (MONTEIRO,

2000).

O projeto deu origem ao Contrato n. 022/97, firmado entre o Fórum Estadual de

Educação e a Cooperativa Mista de Trabalho Multidisciplinar LTDA – COOTRADE. O

contrato objetivou organizar um relatório de pesquisa referente ao diagnóstico situacional da

62

educação supletiva, ministrada pela rede estadual. O relatório foi elaborado por uma equipe

multidisciplinar composta pelo setor de Educação de Jovens e Adultos da SEDUC/MT, com

enfoque em 1997.

A organização do relatório perfez quatro meses de trabalho, o material foi

sistematizado e publicado no livro “A Educação de Adultos no Mato Grosso: o ensino

supletivo estadual em 1997”, organizado por Silvio Tavares Monteiro e Roselane Soares

Monteiro. No livro há o registro de outros dados que foram entregues à SEDUC/MT.

Não foi possível consultar o relatório final entregue à SEDUC/MT, visto que a atual

gestão da Secretaria alega desconhecer da existência de tal material. O que não é novidade

para EJA, que revela ao longo de sua história inúmeras descontinuidades das políticas

públicas e falta de dados precisos sobre a demanda. O livro organizado por MONTEIRO et al.

(2000, p. 15) afirma que:

A necessidade de gerar, para os técnicos da equipe de EJA, um cadastro

confiável de estabelecimentos que ministram esta modalidade de ensino,

resultou no envio de correspondência à todos os assessores pedagógicos dos

municípios, com a intenção de obter-se dados sobre a quantidade de cursos

de suplência existentes na rede pública (estadual e municipal) de Mato

Grosso e os endereços corretos dos estabelecimentos. Esta atividade

prolongou-se mais do que o esperado, sendo necessário recorrer ao uso de

telefone e fax para organizar o banco de endereços das Escolas de Suplência

como também das Escolas Públicas que ministram cursos de educação

supletiva.

Durante a organização, a equipe encontrou diversos problemas para localizar os dados

da oferta de ensino supletivo realizado em Mato Grosso. Portanto os dados foram extraídos na

Divisão de Microinformática e Estatística (DIE), da SEDUC/MT e do Censo Escolar. Os

mesmos exigiram um esforço de reconstrução a partir de diferentes documentos, desde tabelas

manuscritas a lápis, datilografadas, digitadas, fotocopiadas até a busca de dados junto ao

MEC, numa tentativa de reconstituição do período de 1990 até 1997, visto que a DIE não

possuía informação anterior a 1990 (MONTEIRO et al., 2000, p.13).

Parte do relatório, publicado no livro de 1997, apresenta as principais constatações

resultantes da pesquisa e aponta algumas sugestões para o aperfeiçoamento da Educação de

Jovens e Adultos. A primeira delas compreende:

Os dados coletados demonstram que os alunos dos cursos supletivos são

pobres[…]. Mais especificamente, são jovens pobres, filhos de famílias

pobres e fortemente afetados pelo desemprego ou pela dificuldade de

inserção no mercado de trabalho[…] Existe uma clara correlação positiva

63

entre a pobreza com a idade em que deixou de estudar e consequentemente,

a série que cursava (MONTEIRO et al., 2000, p. 54)

Em termos gerais, lamentavelmente, pode-se confirmar para Mato Grosso o que já era

conhecido na literatura nacional. Conforme afirma Haddad (1992, p. 03):

A EDA (Educação de Adultos), no caso brasileiro, se constituiu mais como

produto da miséria social do que do desenvolvimento. É consequência dos

males do sistema público regular de ensino e das precárias condições de vida

da maioria da população, que acabam por condicionar o aproveitamento da

escolaridade na época apropriada. Este marco condicionante – a miséria

social – que acaba por definir as diversas maneiras de se pensar e realizar a

EDA. É uma educação para os pobres, para jovens e adultos das camadas

populares, para aqueles que são maioria nas sociedades do Terceiro Mundo,

para os excluídos do desenvolvimento e dos sistemas educacionais de

ensino. Mesmo constatando-se que aqueles que conseguem ter acesso aos

programas de EDA são os com “melhores condições” entre os mais pobres,

isto não retira a validade intencional do seu direcionamento aos excluídos.

Outras constatações apresentadas pelo relatório (MONTEIRO et al., 2000, p. 55)

apontam que: A escassez de recursos para a educação de jovens e adultos se manifesta na

pobreza de suas instalações de seus materiais didáticos, de suas estruturas

operacionais; Os docentes não possuem estabilidade – a maioria são

interinos – sem qualificação adequada para atenderem a especificidade do

desafio da EJA. Nada parece indicar que a EJA, ao longo do período

estudado (1990-97), tenha sido considerada uma atividade prioritária nas

ações educacionais do Estado de Mato Grosso.

Após quatro meses de trabalho a equipe interdisciplinar apresentou duas conclusões de

seus trabalhos. A primeira aponta que a Educação de Jovens e Adultos em Mato Grosso não

era prioridade do governo e que não existe um sistema de estatística para a EJA, dificultando

assim o gerenciamento e planejamento das ações pela equipe da EJA. A segunda destaca que

os exames de suplência não possuem interiorizações suficientes, prejudicando os municípios

menores (MONTEIRO et al., 2000).

A partir das constatações e das conclusões a equipe apontou no Relatório as seguintes

sugestões (MONTEIRO et al., 2000, p. 57-62):

a) Deve-se efetuar um esforço para implantar-se um sistema de

informações e estatística, articulado com os atuais, porém que atenda as

especificidades dos cursos e exames de suplência;

b) Os exames são e continuarão sendo a modalidade mais barata de

estender a escolaridade;

c) A falta de material didático unificado e específico para a educação

supletiva é um fator limitante grave e deve ser organizado com urgência um

material específico para EJA elaborado por intelectuais que atuam na

modalidade;

64

d) Deve-se reforçar a articulação entre escolas regulares com o sub-

sistema de EJA da SEDUC/MT e dos municípios. As escolas regulares

devem aprofundar o conhecimento sobre as razões do abandono escolar e

tomarem medidas para diminuírem isto;

e) É prioritária a estruturação de treinamento para os docentes da

suplência. Todos devem ser capacitados em educação de adultos e

posteriormente receberem treinamentos específicos para as suas matérias,

acompanhados de material didático;

f) Os cursos de suplência devem ser aperfeiçoados para atender a

especificidade da EJA.

As sugestões apresentadas no relatório apresentam duas concepções antagônicas de

educação de jovens e adultos. A primeira enfatiza a educação de jovens e adultos como

aceleração de estudos, vista a partir do viés econômico. A segunda evidencia a necessidade de

investimento para obtenção de uma oferta qualificada de EJA.

Observa-se que o Relatório sobre a EJA, no estado de Mato Grosso, configurou-se

como um documento de gabinete, no qual as experiências e leituras em EJA, dos seus autores,

conduziram sua redação. Ressalta-se que no ano seguinte a sua elaboração não foi possível

encontrar registros de mudanças na oferta de EJA.

65

CAPÍTULO III - FÓRUM DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM MATO

GROSSO

Nesse capítulo apresenta-se o processo de criação do Fórum Permanente de Debates

em Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso (FPDEJA/MT), tomando como referência

a realização do I Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso, entre

06 e 08 de junho de 2001, antecedido por seminários regionais. O seminário, em todas as suas

células de organização, envolveu em torno de 600 participantes e representa um dos marcos

mais importantes na participação de profissionais da rede estadual de ensino, universidades,

Pastoral da Criança, Serviço Social da Indústria, Serviço Nacional do Comércio, Sindicato

dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso, Conselho Estadual de Educação,

Central Única dos Trabalhadores, União dos Dirigentes Municipais de Educação e

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura.

A aprovação do Programa Estadual de Educação de Jovens e Adultos e a deliberação

de criação da coordenação provisória, do fórum de EJA de Mato Grosso, representam uma

eminente participação de todos os segmentos e fizeram com que os seiscentos delegados que

discutiram os rumos da educação de jovens e adultos, em Mato Grosso, se tornassem

corresponsáveis por um processo historicamente construído de forma dialética e rica em

possibilidades de participação cidadã.

3.1. A EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS EM MATO GROSSO NO FINAL DÉCADA DE 1990

No final da década de 1990, umas das formas de atendimento a EJA no Estado de

Mato Grosso era o Projeto de Alfabetização de Adultos – ALFA. Segundo as pesquisas

realizadas por Boff (2002), o Projeto ALFA foi implantado no Estado de Mato Grosso, em

1997, para diminuir a dívida social com a população excluída da educação escolar. Boff

(2002, p. 145) afirma que esse projeto tinha por objetivos:

Minimizar os índices de analfabetismo no Estado de Mato Grosso,

resgatando o papel de alfabetização como condição fundamental para uma

inserção social e cultural mais eficaz dos indivíduos; compreender a

alfabetização como uma construção social, no sentido de que a

aprendizagem da leitura e da escrita não fosse limitada apenas à aquisição

técnica e mecânica, mas que envolvesse nesse processo o entendimento da

realidade de inserção do indivíduo, de modo a estabelecer conexões entre o

saber, fruto da experiência, e o saber sistemático universal; e alfabetizar

124.288 jovens e adultos, considerando a faixa etária de 14 a 49 anos, a

partir de 1997.

66

O que chama a atenção no Projeto ALFA é a faixa etária determinada entre 14 a 49

anos. Boff (2002) critica essa delimitação etária, ratificando que o projeto limitava a idade

máxima, justamente na década em que se afirmava uma perspectiva de educação para todos

ao longo de toda a vida, conforme Jomtien, Hamburgo e Dackar.

Boff (2002, p. 145) sistematizou um quadro para mostrar os números de jovens e

adultos alfabetizados pelo Projeto ALFA. De acordo com os dados demonstrados, a meta do

Projeto que consistia em atender 124.288 jovens e adultos estava muito longe de ser efetivada.

O atendimento nos quatro anos de seu desenvolvimento foi de 34.298 jovens e adultos. A

partir do ano 2000, houve outra organização relacionada ao trabalho de Educação de Jovens e

Adultos.

A aprovação da LDB nº 9394/96 e das Diretrizes Curriculares Nacionais, para a EJA,

impuseram aos Estados a reformulação de suas legislações referentes à modalidade. Em Mato

Grosso, este processo iniciou com a elaboração da Resolução n.º 180, aprovada pelo CEE,

homologada em 05 de setembro de 2000, publicada em 04 de outubro do mesmo ano. Esta

resolução estabeleceu as normas para a oferta da EJA no Sistema Estadual de Ensino e

reafirmou a educação com um direito de todos, previstos na Lei Complementar nº 49/98, LDB

e Constituição Federal:

Art. 4º - A oferta da Educação de Jovens e Adultos pressupõe uma política

educacional integrada no contexto do Estado de Mato Grosso, e constitui

direito público subjetivo, conforme Lei Complementar n.º 49/98.

§ 1º - Os órgãos públicos de educação deverão encaminhar ao Conselho

Estadual de Educação, o Programa de Educação de Jovens e Adultos,

adequado às Diretrizes Nacionais e a esta Resolução.

§ 2º - As escolas das redes estadual e municipais que integram o sistema

estadual de ensino encaminharão à Secretaria de Estado de Educação ou ao

respectivo órgão municipal de educação, proposta circunstanciada, de

acordo com os critérios de oferta estabelecidos no Programa previsto no

parágrafo anterior, que posteriormente será encaminhada ao Conselho

Estadual de Educação.

§ 3º - Será facultado às escolas da rede particular de ensino integrar-se

ao Programa de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria de Estado

de Educação. (MATO GROSSO, 2000, s/p. Grifo do autor)

A resolução do CEE garantiu a oferta de EJA e provocou o Estado no sentido de

elaborar um Programa de Educação de Jovens e Adultos adequado às Diretrizes Nacionais de

EJA, estabelecidas pelo Parecer nº 11 de Jamil Cury. Com a resolução e o Programa de EJA

dela decorrente, Mato Grosso extinguiu as Escolas de Suplência e a EJA passava a ser

ofertada pelo estado de forma presencial, com duração de três anos.

67

3.2. O PROGRAMA DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E A CRIAÇÃO DO FPDEJA/MT

O Fórum Permanente de Debates em Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso

surgiu, de forma oficial, durante a realização do I Seminário Estadual de Educação de Jovens

e Adultos, que tinha como objetivo a aprovação da proposta do Programa de Educação de

Jovens e Adultos produzida pelo grupo de trabalho interinstitucional constituído através da

Portaria nº 204/2000 SEDUC/MT, publicada no Diário Oficial do Estado de 04/01/2001. O

grupo foi composto por representantes da Secretaria de Estado da Educação – SEDUC/MT,

do Conselho Estadual de Educação – CEE, da União dos Dirigentes Municipais de Ensino –

UNDIME, da Secretaria Municipal de Educação de Cuiabá e dirigentes de escolas que

ofertam educação de jovens e adultos, com a consultoria da Ação Educativa. O grupo

interinstitucional estabeleceu um cronograma de ações norteadoras de todo o processo de

difusão, discussão e sistematização de contribuições, para fundamentar o novo paradigma da

Educação de Jovens e Adultos no Estado.

Para a compreensão da dinâmica de elaboração do Programa de EJA, é preciso

entender os motivos que levaram o estado a constituir o grupo de trabalho interinstitucional,

responsável por sua elaboração. A ideia do programa nasce com a publicação da Resolução

180, do CEE/MT, de 05 de setembro de 2000.

A Resolução 180 fixa normas para a oferta de educação de jovens e adultos no sistema

estadual de ensino. Esta resolução pode ser considerada um dos mais importantes marcos da

EJA no estado de Mato Grosso. A partir dela que o estado deixou definitivamente de ofertar

ensino supletivo e passou a garantir, ao menos no campo legal, a oferta regular de EJA no

período noturno das escolas.

A ideia de elaborar a resolução surgiu a partir do momento da edição da atual LDB,

Lei 9394/96, que apontou “a necessidade de formular novos entendimentos capazes de

acompanhar o ritmo da sociedade. Sob o ponto de vista da concepção da oferta e ensino de

jovens e adultos, tornou-se tarefa prioritária e relevante para os legisladores de todos os

sistemas de ensino” (MATO GROSSO, 2002, p. 163). Conforme acrescenta o documento:

Daí o esforço concentrado, reuniões, audiências e estudos para refletir,

simultaneamente ao pensamento nacional, novos caminhos para a Educação

de Jovens e Adultos tornaram-se constantes no âmbito deste Conselho,

permitindo o que hoje apresentamos como “produto” ou resultado dessa

construção, a muitas mãos, ou seja, a nova norma para o Sistema Estadual de

Ensino. (MATO GROSSO, 2002, p. 164)

68

Em Mato Grosso, a reformulação da Resolução nº 137/1991-CEE/MT, ajustada pela

Resolução nº 254/1994-CEE/MT, foi realizada a partir dos estudos realizados pelos

conselheiros estaduais, em conjunto com a comissão formada para estudos do Parecer nº

11/2000, da CEB/CNE e sua resolução nº 01/2000, publicada no Diário Oficial da União em

19 de junho de 2000.

A nova resolução estadual busca atender alguns pressupostos basilares do Parecer nº

11 de Jamil Cury, tais como: direito público subjetivo; desaparece a noção de Ensino

Supletivo; cursos de Educação de Jovens e Adultos: um direito a ser resgatado;

aproveitamento e circulação de estudos; e a questão da idade.

Nesse sentindo, a Resolução nº 180/2000-CEE/MT colocou a EJA como modalidade

de oferta regular no Sistema Estadual de Ensino, e sua inclusão na ótica do direito, em relação

ao ensino fundamental, como direito público e subjetivo, é uma conquista e um avanço cuja

efetivação representa um caminho no âmbito da colaboração recíproca e necessidade de

políticas integradas. Assim, “como direito da cidadania, a Educação de Jovens e Adultos deve

ser um compromisso de institucionalização como política pública própria de uma modalidade

dos ensinos fundamental e médio” (MATO GROSSO, 2002, p. 167).

O Programa de Educação de Jovens e Adultos surgiu do 4º artigo da Resolução nº 180-

CEE/MT. O § 1º desta resolução propunha que os órgãos públicos encaminhassem ao

Conselho Estadual de Educação um Programa de Educação de Jovens e Adultos e que esse

documento fosse elaborado à luz da Resolução nº 180/2000-CEE/MT e das diretrizes

nacionais (Parecer nº 11/2000 e Resolução nº 01/2000).

A Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso instituiu, através da Portaria nº

204/2000, o grupo de trabalho interinstitucional para elaboração da proposta do Programa. A

metodologia de trabalho empregada pelo grupo interinstitucional promoveu a realização de

Seminários Regionais sobre o programa a ser implantado. Conforme explica Boff (2002), os

relatórios das discussões e sugestões sobre o projeto à equipe da EJA da SEDUC/MT e à

assessoria culminaram na realização do Seminário Estadual da EJA, na capital do Estado,

Cuiabá, em julho de 2001, cujo objeto principal consistia em estudar e analisar a redação final

sobre o Programa de Educação de Jovens e Adultos bem como a sua aprovação.

Após o seminário estadual, o Conselho Estadual de Educação, por meio da Resolução

nº 177/02CEE/MT, aprovou o Programa da EJA, com as diretrizes e critérios de oferta da

modalidade, por meio de cursos e Exames de Ensino Fundamental e Médio para as escolas

integrantes do Sistema Estadual de Ensino. Embora Mato Grosso tenha conferido amplos

direitos à EJA e a reconheceu em sua legislação, a oferta de formação continuada aos

69

docentes desta modalidade educativa e o financiamento para a execução do Programa não

foram normatizados, de forma que a maioria das Escolas Estaduais de Mato Grosso relutavam

em ofertar a modalidade.

Toda essa movimentação da EJA de Mato Grosso no início dos anos 2000 ocorre após

a nova configuração do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso. A Lei

Complementar nº 49, de 1º de outubro de 1998, com as alterações constantes na Lei

Complementar nº 77/2000, determina que o CEE/MT passa a ser um “órgão normativo,

consultivo do Sistema Estadual de Ensino do Estado de Mato Grosso, e de assessoramento

superior da Secretaria de Estado de Educação, com representação paritária entre o Governo do

Estado e entidades da sociedade civil organizada” (MATO GROSSO, 2002, p. 20). Nesse

sentido, a organização do Conselho Estadual de Educação de Mato Grosso passa a ter em sua

composição um espaço de participação da sociedade civil organizada com garantia da

paridade entre a representação do governo e da sociedade.

O artigo 33 da Lei Complementar nº 49/1998, afirma que cabe ao Conselho Estadual

de Educação:

I - participar da elaboração da Política Educacional do Estado;

II - acompanhar e avaliar a execução da Política Educacional do Estado;

III - participar de elaboração das políticas públicas nas áreas de educação

básica e ensino superior, conjuntamente com órgãos públicos e particulares

que atuam nessas áreas ou que possuem ações específicas nas áreas de

educação infantil, educação indígena, educação especial, educação de jovens

e adultos, formação profissional, básica, técnica e tecnológica;

IV - avaliar o fiscalizar a execução das políticas públicas nas áreas

mencionadas no inciso anterior;

V - normatizar o emitir parecer sobre questões relativas à aplicação da

legislação educacional no âmbito do Estado […] (MATO GROSSO, 2002, p.

11).

A reformulação do CEE/MT pode ser entendida como uma decorrência da

constituição Federal de 1988. Conforme a Constituição, ao afirmar os princípios de

universalização, descentralização e participação:

estabelece as bases jurídicas para a construção de um novo formato de

cidadania política que transcende os limites da delegação de poderes da

democracia representativa e, expressa-se através da constituição de

conselhos paritários como novo lócus de exercício de poder público

(MATO GROSSO, 2002, p. 23).

70

Portanto, a nova configuração do CEE/MT tinha, no início dos anos 2000, como

referência a sociedade civil organizada e buscou desenhar uma forma política que garantisse a

formulação e a continuidade das políticas públicas. Conforme os entrevistados:

O Conselho é reorganizado com a representação da sociedade, ai vem a 49,

e ai que esse grupo, que já pertencia a equipe, começa essas discussões,

então várias pessoas que tinham alguma coisa, alguma identificação com a

EJA, eu, Tania Pasqualini e algumas pessoas ali, Maria Luiza Mirato,

algumas pessoas que gostavam já, a gente começa essa discussão quando a

gente reformula e tudo isso acontece também muito próximo, porque já

tinha a discussão da LDB, que a LDB em 96 tinha sido aprovada, ai já tinha

todo o estudo para o Parecer 11.

Nessa época já participava de algumas discussões no Conselho, a gente

tinha debatido muito as questões da Educação de Jovens e Adultos na

SEDUC/MT, as políticas da educação de adultos, porque a Marlene como

presidente do Conselho, ela era a subsecretária, então ela sentia a

necessidade de levar a discussão, e assim, um pouco provocada pelo pessoal

do Sintep também, e essa época eles tinham baixado um portaria para

regularizar, era como se fosse, eu não me lembro da época, se eu não me

engano era Portaria 13 de 98/99, alguma coisa assim, que ela fazia tipo

como se fosse um provão, colocava todo mundo no mesmo saco e mandava

para frente. (P, 1, C)

Pode-se identificar claramente que a EJA era pauta das reuniões do Conselho Estadual

de Educação e que o Sindicato dos Trabalhadores da Educação buscava provocar a Secretaria

de Estado de Educação para uma oferta de EJA presencial. As novas formas de atuação do

CEE/MT propiciaram um momento oportuno de participação da sociedade civil, não somente

no processo de elaboração da Resolução 180/2000 e, posteriormente, no Programa da EJA,

mas também identificar a participação de conselheiros na criação do fórum EJA em Mato

Grosso.

O processo de criação do Fórum de EJA em Mato Grosso surgiu de forma análoga à

criação do Fórum no Rio Janeiro, em 1996. Assim como em 1996, quando o governo

promoveu seminários regionais e nacionais de educação de jovens e adultos, permitindo que a

sociedade civil participasse do debate preparatório para V CONFINTEA. O movimento do

Fórum em Mato Grosso ocorreu a partir dos seminários regionais e estaduais de educação de

jovens e adultos, envolvendo a sociedade civil e governo, que tinha por objetivo a aprovação

do programa de educação de jovens e adultos.

Conforme já discutido, a Portaria nº 204/2000 instituiu uma comissão para elaboração

do Programa da Educação de Jovens e Adultos. Segundo uma das entrevistadas:

71

A partir do momento que foi aprovado o Parecer 11/2000 foi constituído um

grupo para se propor um programa de EJA que contempla-se o parecer,

porque anteriormente o estado atendia a resolução de oferta do supletivo e

foi constituído esta equipe formado por representantes do CEE/MT,

SEDUC/MT, Sintep, Prefeitura Municipal de Cuiabá e a UNDIME. (P, 2, S)

A comissão, composta por várias entidades, ficou responsável pela organização e

realização do Seminário Estadual de EJA em Mato Grosso, bem como dos seminários

regionais. A comissão interinstitucional era formada pelos seguintes representantes:

Guilherme Luís da Costa – EJA/SEDUC/MT, Alaídes Alves Mendieta – GESTÃO

ÚNICA/SEDUC/MT, Erozina Divino Pimenta Ando – EJA/SEDUC/MT, Euzemar Lopes

Fátima Siqueira – EJA/SEDUC/MT, Joilson Gonçalo Ventura – Escola Manoel Correa de

Almeida/VG, Maria José Pereira de Oliveira – Assessoria Pedagógica/SEDUC/MT , Maria

Luzenira Braz – Educação Indígena/SEDUC/MT, Suely Candido Catharino – CEE/MT, Sueli

R. do Nascimento – Escola Estadual Emília F. de Figueiredo e Tania Tereza Pasqualini –

CEE/MT. Uma das entrevistadas (P, 2, S) afirma que “a comissão teve total autonomia na

elaboração do programa”. Ainda de acordo com a professora:

para se tornar política pública tinha que ter a participação das escolas de

forma geral se criou um cronograma de seminários para gente ir para o

interior e fechar no seminário que aconteceu em 2001, então foi dividido em

vários polos: Sinop, Rondonópolis, Alta Floresta, Cáceres, não estou me

recordando de todos os polos, mas tiveram vários polos, inclusive do lado

do baixo Araguaia e etc. (P, 2, S)

Observa-se nesta fala a preocupação dacomissão em tentar envolver o máximo número

de sujeitos da sociedade civil nos debates acerca da Educação de Jovens e Adultos. Salienta-

se que não foi possível encontrar as atas, registros da realização dos seminários regionais. Os

anais do V Eneja, realizado em Cuiabá no ano de 2003, apresentam as seguintes fotos:

FIGURA 01: Seminário Regional em Cuiabá/MT

72

FIGURA 02: Seminário Regional em Cáceres/MT

FIGURA 03: Grupo Interinstitucional responsável pelos Seminários.

73

O Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos foi realizado no período de 06

a 08 de junho de 2001. O relatório da criação do Fórum de EJA aponta como foi a

participação e as entidades presentes:

O Seminário Estadual de Educação de Jovens e teve cerca de seiscentos

participantes, sendo cento e noventa delegados da Rede Estadual de Ensino,

eleitos em Seminários Regionais e representantes de instituições: Secretaria

de Estado de Educação de Mato Grosso – SEDUC/MT, Universidade

Estadual de Mato Grosso – UNEMAT, Pastoral da Criança, Serviço Social

da Indústria – SESI, Serviço Nacional do Comércio – SENAC DR/MT,

Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso – SINTEP,

Conselho Estadual de Educação – CEE/MT, Central Única dos

Trabalhadores – CUT, União dos Dirigentes Municipais de Educação –

UNDIME/MT e Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

e a Cultura – UNESCO. (MATO GROSSO, 2009, p. 01)

O Seminário contou com a participação de palestrantes de destaque no cenário

nacional da educação de jovens e adultos e abordou diversos temas, como observa-se no

folder no seminário:

FIGURA 04 – Folder do Seminário Estadual de EJA 2001 - Frente

Fonte: Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos - EJA (2001).

74

Figura 05: Folder do Seminário Estadual de EJA 2001 – Verso

Fonte: Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos - EJA (2001).

O seminário adquiriu caráter deliberativo, paritário e com a função de definir e

aprovar o Programa de Educação de Jovens Adultos de Mato Grosso. No folder, é possível

observar que uma das mesas do seminário incluiu como tema central os fóruns estaduais de

educação de jovens e adultos, mediada pelo professor doutor Leôncio Soares, da Universidade

Federal de Minas Gerais. Pode-se observar, também, que o seminário encerrou com a

apresentação da carta para constituição do fórum de discussão permanente de EJA/MT. O

relatório de criação do FPDEJA/MT afirma que:

A Equipe de Organização, além de trazer palestrantes de destaque no cenário

nacional da Educação de Jovens e Adultos, incluiu nesse Seminário a

aprovação do Programa de Educação de Jovens e Adultos para o Estado de

Mato Grosso e a apresentação da Carta para Constituição do Fórum Estadual

Permanente de Debates de Educação de Jovens e Adultos. A citada Carta,

denominada Carta da Cidadania I elaborada e lançada no dia 29 de maio de

2001, pelos participantes da Reunião “Pró-Fórum Estadual Permanente de

Debates da Educação de Jovens e Adultos” (MATO GROSSO, 2009, p. 01).

75

O trecho do relatório indica que, paralelamente à organização do Seminário Estadual

de EJA, existia um grupo de pessoas que se reuniam com intenção de criar em Mato Grosso o

movimento nacional do Fórum de EJA, que, nesse momento, já se fazia presente em vários

estados brasileiros. Sobre este assunto, uma das entrevistadas esclarece:

Existia uma comissão pró-fórum e nessa comissão envolvia além dessa

instituições designadas para construir o programa (SEDUC/MT, CEE,

Unidme, Sintep) a SEDUC/MT era representada pela Gerencia de EJA,

Assessoria Pedagógica e representantes de escolas. O movimento foi trazido

para o Estado de Mato Grosso pela professora Alaídes que representava o

CEE, ela foi numa reunião nacional e ficou sabendo do grande movimento

que acontecia e trouxe a proposta para a SEDUC/MT. Existia na época o

Programa Alfa da SEDUC/MT e quem era parceiro do Alfa era o SESI,

portanto além dessas intuições que eu já falei tinha nessa comissão tinha

também o SESI. A comissão ficou chamada de pró-fórum com o objetivo de

organizar esse momento de constituição do fórum em Mato Grosso. (P, 2, S)

Os membros da comissão constituída para elaboração e organização do programa de

educação de jovens e adultos também conduziam os debates iniciais de constituição do fórum

de EJA de Mato Grosso. Compreendo que a ideia que promoveu as discussões iniciais para

criação do fórum de EJA em Mato Grosso teve como ponto inicial a participação de

representantes de Mato Grosso no II ENEJA realizado na Paraíba.

O segundo ENEJA ocorreu em 2000 e apresentou um caráter eminentemente

pedagógico, buscando aprofundar os conceitos de EJA, analisando as parcerias realizadas

nessa área, além de pensar estratégias de articulação com base nos contextos nacional e

internacional. Conforme um dos documentos dele decorrente:

Como objetivos específicos, o II ENEJA se propôs a: colocar em discussão

os conceitos de alfabetização e parceria que informam diferentes projetos de

educação de pessoas jovens e adultas em curso no país, além da articular os

diversos fóruns estaduais e regionais de EJA. (RELATÓRIO-SÍNTESE II,

2000, p.2).

Dessa forma, houve a discussão, por um lado, do conceito de alfabetização (abordado

em três aspectos: político, prático e de pesquisa) e, por outro, a questão da utilização de

parcerias para execução de políticas na EJA. Sobre este último aspecto, o Relatório-Síntese

destaca que:

Utilizou-se das seguintes categorias para analisar os modelos existentes de

intervenção em políticas públicas: campanhas, programas e projetos. As

campanhas caracterizam-se por ser uma intervenção massiva, intensa, de

76

curta duração, com metas estabelecidas e fortes componentes de

mobilização; os programas são intervenções mais institucionalizadas, de

longo prazo; e os projetos, uma atuação mais pontual, voltada a atender um

grupo social específico. Considerando a história da educação de jovens e

adultos no Brasil e seus resultados, qualquer política pública para este

segmento deve realizar-se por meio de programas sistêmicos que tendam à

educação continuada. (RELATÓRIO-SÍNTESE II, 2000, p.2).

No final do segundo ENEJA, foram discutidos encaminhamentos que buscavam

contribuir com o desenvolvimento da EJA:

Sistematizar e circular as informações inter-fóruns; publicar um documento,

sobre a história de constituição e funcionamento dos Fóruns já existentes;

adotar uma prática de discussão de questões relativas às diversidades

culturais, étnicas e relações de gênero; sair de cada encontro com um

documento crítico (moção) sobre a política de parceria de EJA para ser

encaminhado ao Governo Federal, à Alfabetização Solidária, ao PRONERA,

aos Reitores de Universidades e ao CRUB (Conselho de Reitores das

Universidades Brasileiras); [...] estabelecer uma rede de articulação para a

realização de pesquisas nos Estados onde já existem Fóruns que resgatam a

história e ações de EJA; [...] enfatizar a compreensão de que a EJA não se

restringe ao período de alfabetização, mas que se constitui em um direito e,

portanto, deve se dar ao longo da vida; [...]. (RELATÓRIO-SÍNTESE II,

2000, p.5).

O segundo ENEJA também reforçou a discussão em torno das políticas públicas de

EJA e ratificou, ainda, a criação de outros novos Fóruns.

A participação de Mato Grosso no ENEJA da Paraíba surgiu a partir das comissões

que já existiam no Estado, que elaboraram a resolução nº 180 e estavam no processo de

discussão para elaboração do programa da EJA. Uma das representantes da comissão fora

convidada para participar do ENEJA, junto com a Coordenadora de Educação Jovens e

Adultos da Secretaria de Estado de Educação. Uma das entrevistadas (P, 1, C) esclarece que

sua participação no ENEJA e identificação com a modalidade abriram as portas para que o

diálogo sobre o fórum de EJA, discutido em cenário nacional, fosse realizado em Mato

Grosso, visto que no estado já havia um movimento da sociedade civil em favor da EJA. Ela

complementa:

Então, todos esses movimentos vão acontecendo muito próximos e quando

acontece esse encontro na Paraíba, em Campina Grande. Marlene me

encaminha junto com Coordenadora de EJA para esse encontro, lá eu

conheço Maria Clara de Pierro, Alexandre do Rio de Janeiro, Leôncio de

Belo Horizonte, e várias pessoas de grupo, aquela menina do Rio Jane

Paiva, mas enfim, eu conheço esse pessoal e falava para Coordenadora, “a

gente tem que fazer alguma coisa, porque nós estamos nesse movimento lá

77

em Mato Grosso de estudo da EJA, de reformulação da Resolução e o

Parecer 11, a gente precisa fazer alguma coisa”. (P, 1, C)

Essa situação gerou a possibilidade de trazer as discussões nacionais para Mato

Grosso e criar a comissão pró-fórum no estado, com o apadrinhamento de pessoas de

outros estados, que já tinham o fórum constituído. Conforme a entrevistada:

a gente criou uma comissão provisória para responder por esse Fórum,

fizemos o contato com o grupo que a gente pego, e-mail deles, fizemos

contato, mandamos, e ai eles iam mandando orientações, incentivando,

Maria Clara, Jane e Leôncio sempre foram muito pontuais conosco, sempre

nos ajudando, sempre nos incentivando aqui, ai a gente fez uma primeira

reunião e criamos essa comissão. (P, 1, C)

Diferente de outros estados, a comissão pró-fórum de EJA de Mato Grosso, surgiu

dentro do Conselho de Estado de Educação, Sindicado dos Trabalhadores, Serviço Social

da Industria, União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação e com forte apoio da

Secretaria de Estado de Educação. Segundo uma das participantes deste trabalho:

Alaídes foi a uma reunião e ficou sabendo desse fórum, porque era um

grande movimento que acontecia, então ela que trouxe essa proposta para

SEDUC/MT. E ai, também dentro da SEDUC/MT a gente trabalhava com

um programa que se chamava, programa Alfa e quem financiava o

programa era o Sesi que também entrou nessa comissão, O Sintep,

Conselho, Undime, a SEDUC/MT e também o Sesi, então foi criada essa

comissão com essas representatividades, que era a comissão chamada pró-

fórum, que era para organizar esse momento da constituição do fórum que

você sabe, o fórum é feito por representações, na época o Sesi era muito

forte nacionalmente dentro do fórum, então foi assim, foi constituída a

professora Alaídes ficou a princípio como presidente dessa comissão. (P, 2,

S)

É visível a pouca participação das instituições de ensino superior no momento de

criação do fórum de EJA, em Mato Grosso, sendo a UNEMAT a única instituição que a

princípio participou do processo. De acordo com uma das entrevistadas:

A comissão mandou ofício para várias instituições, como tinha a

representação da Unemat no Conselho, eu conversei muito sério com o

representante da Unemat, falei, “Olha, a gente precisa da participação da

Unemat, é uma instituição formadora que precisa estar aqui”, a mesma

coisa fizemos em uma visita na UFMT, só que na UFMT a gente nunca teve

uma resposta, nem uma participação praticamente, algumas pessoas

participaram efetivamente, mas não como representantes da UFMT, eu

penso que não havia compreensão talvez dos reitores da UFMT, porque

essas pessoas elas iam e conversavam, apesar que isso ano foi num primeiro

momento, isso já foi bem mais para frente, no primeiro momento a gente não

teve nenhuma respostas da UFMT. (P, 1, C)

78

A pouca participação das instituições formadoras fica na contra-mão dos

encaminhamentos e moções da plenária do II ENEJA, que preconiza “Criar, nas

Universidades, espaços de articulação e sistematização de experiências, a fim de contribuir

na discussão e formulação de políticas públicas, bem como na formação e capacitação dos

educadores”. (RELATÓRIO-SÍNTESE II, 2000, p.4).

Compreende-se que o movimento dos Fóruns de EJA se expandiu no Brasil de

diversas maneiras, de acordo com suas especificidades de cada estado. Conforme Silva

(2003), no Rio de Janeiro, por exemplo, o fórum podia ser caracterizado como não-

institucional e informal. No entanto, assinala o autor, esse fórum está vinculado a

Universidade do Estado do Rio de Janeiro, como atividade de extensão, possui um

regimento interno, no qual está expresso o compromisso de várias instituições. Na Bahia, o

Fórum nasce por meio da representante de um grupo de trabalho do SESI, participante do

movimento desencadeado pelos ENEJA, que provocou os membros do Núcleo Temático

Trabalho e Educação da Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia.

O Fórum do Estado da Paraíba foi instalado em 27 de outubro de 1999, no auditório

da Reitoria da Universidade Federal da Paraíba e possui um Grupo Articulador, composto

por pessoas de diferentes segmentos e instituições do Estado. Cabe a este grupo pensar,

planejar e avaliar os encontros acontecidos, bem como escolher o tema a ser discutido em

novos encontros, correlacionando-os ao contexto social. (SILVA, 2003)

Como exposto acima, os Fóruns se constituíram de várias maneiras diferentes, no

estado de Mato Grosso, o Fórum Permanente de Debates de Educação de Jovens e Adultos

- FPDEJA foi instalado no dia 08 de junho de 2001, durante a realização do I Seminário

Estadual de Educação de Jovens e Adultos. No mesmo dia da sua criação, foi apresentado

pela comissão pró-fórum um documento denominado “Carta Cidadania”, com o objetivo

de conclamar as diversas representações presentes na ocasião para a instalação do. O

relatório de criação do FPDEJA/MT afirma que:

De forma uníssona, em 29 de maio de 2001, reunidos no CEE/MT, os

participantes da 2ª Reunião convocada “Pró-Fórum de Discussão

Permanente de Educação de Jovens e Adultos”, entendemos prioridade o

estabelecimento de um diálogo entre as instituições e organismos

educacionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos. E como marco,

lançamos a presente Carta, denominada “da Cidadania”. (MATO GROSSO,

2009, p. 21)

79

A “Carta da Cidadania” ressaltou os seguintes pontos:

Resgate histórico da Educação de Jovens e Adultos em Mato Grosso;

Articulação da política entre os Estados que possuem o Fórum;

consultoria e assessoramento;

Instância de discussão coletiva permanente da escola de EJA;

Espaço de formação continuada de professores de EJA;

Espaço de troca de experiências;

Construção da identidade da EJA;

Mapeamento da Educação de Jovens e Adultos no Estado de Mato Grosso;

Envolvimento das agências formadoras – universidades.

No dia 08 de junho de 2001, a Carta foi apresentada no seminário estadual de EJA,

elaborada pelos membros da comissão pró-fórum que buscavam “estabelecer de um diálogo

entre as instituições e organismos educacionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos,

para Constituição do Fórum Estadual Permanente de Debates de Educação de Jovens e

Adultos” (MATO GROSSO, 2009, p. 21).

Embora a comissão pró-fórum, conjuntamente com a comissão de organização do

programa de EJA, tentou promover e envolver o maior número de atores da EJA com os

encaminhamentos da criação do fórum de EJA, os participantes oriundos dos municípios do

interior do Estado desconheciam os debates realizados sobre a criação do fórum de EJA em

Mato Grosso. Uma das entrevistadas relata essa situação:

Lembro que houve essa discussão, dessa comissão pró-fórum, como o

assunto era novo para nós, porque nem sabíamos da existência de um fórum

de EJA, então eu me lembro dessa comissão nessa discussão, mas como ela

foi organizada, foi constituída, eu não tenho ideia, mas eu lembro que

tinham alguns segmentos participando juntos no seminário em prol dessa

discussão. lembro dessa discussão do fórum de EJA, dessa comissão,

da implantação, do início dessa discussão, eu não me recordo

exatamente dos debates, do meu envolvimento nos debates, até

porque, como eu disse era um momento que eu não conhecia bem

como funcionava esse movimento e eu ainda estava me apropriando

dessa discussão, mas me recordo que houve a instituição desse fórum,

mas como eu estava lá como coordenadora para conhecer a nova

proposta para a modalidade, que a escola iria revolucionar, naquele

momento eu estava mais envolvida como coordenadora e pensando

em uma nova proposta para a oferta da escola, nós estávamos

80

empolgados era com isso e o fórum a gente sentia que a constituição

dele iria ser um movimento em prol da modalidade, mas no momento,

para mim naquela época não era mais importante que a discussão da

proposta. (P, 3, E)

Percebe-se que naquele momento, com tantas mudanças no cenário para

implementação do Programa da EJA, a comissão ainda não dispunha de fôlego e

conhecimentos necessários para promover debates nas escolas acerca do movimento de

criação do Fórum no Estado. Haja vista que o principal objetivo do seminário, de 2001, era o

estudo, debate e aprovação final do programa de EJA. Os representantes das escolas, que

estavam presentes no seminário, buscavam compreender como seria a nova organização da

educação de jovens e adultos, salienta-se que todo o evento estava organizado em torno de

esclarecimentos dessas dúvidas e das sugestões, encaminhadas anteriormente através dos

seminários regionais, equipe de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria e Assessoria do

Programa.

Segundo a assessora do Programa, professora Maria Clara Di Pierro, em palestra

proferida no Seminário Estadual, o programa trabalha com três motivações. (MATO GROSSO,

2009, p. 05):

1- Expandir o atendimento com qualidade, esta, deve dar-se por um processo de

ampliação progressiva da oferta de oportunidades de escolarização, de modo a

atender as quatro metas prioritárias para a Educação de Jovens e Adultos

estabelecidas pela LEI n. 10.172/2001 do Plano Nacional de Educação (PNE);

2- Ajustar a forma de atendimento à nova legislação, ajudando o compasso entre as

Diretrizes Curriculares Nacionais e a forma de atendimento no Estado. As

Diretrizes clarearam o que estava obscuro na LDB, no que se refere a idade para

ingresso na EJA;

3- A terceira motivação é de natureza pedagógica, e consiste em não apenas

desenvolver um processo de adequação das normas, mas adequar o aspecto

pedagógico ao espírito das novas diretrizes.

Os representantes da comissão pró-fórum descreveram na Carta Cidadania que o

programa de EJA se insere em um movimento mais amplo de renovação pedagógica que, na

busca de construção de uma educação emancipatória, democrática, inclusiva e de qualidade,

direciona esforços para a aprendizagem e atribui aos educandos o papel de sujeitos ativos no

processo de construção de conhecimentos.

81

A implantação do Programa de Educação de Jovens e Adultos em Mato

Grosso tem esta meta: convocar a todos os profissionais envolvidos a buscar

novos caminhos, novas possibilidades. Portanto, remete à superação do

“então” ensino supletivo, segundo a perspectiva de reposição – compensação

do que não foi conseguido “na idade própria”. Como direito, não há idade

própria para aprender. Daí, o esforço para concretizar as funções reparadora,

equalizadora e qualificadora, com ênfase nesta última. (MATO GROSSO,

2009, p. 21)

É incontestável que o documento do programa apresentou avanços significativos em

relação às políticas de educação de jovens e adultos anteriormente desenvolvidas no estado de

Mato Grosso. Contudo, no que se diz respeito ao financiamento para execução do programa, o

documento isenta-se de dar qualquer tratamento sobre a matéria. Apenas, devido às cobranças

no Seminário Estadual, é colocado como anexo a reivindicação para que a Secretaria de

Estado de Educação desenvolva uma proposta que assegure o financiamento para a Educação

de Jovens e Adultos no Estado.

3.3 ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DO FPDEJA/MT

Com a instalação do FPDEJA/MT, em 08 de junho de 2001, formou-se, então, uma

Comissão Provisória que se responsabilizou pelos encaminhamentos iniciais do Fórum,

elaborando, inclusive, uma minuta do Regimento. Para Silva (2005), os Fóruns organizam-se

em duas categorias, formal e informal, conforme a diretriz de cada estado. Considera-se

formal aquele que possui algum tipo de regimento interno, por exemplo, do estado do Mato

Grosso e, outrossim, o Fórum da Grande Vitória/ES, que tem suas atividades de secretarias

desempenhadas por alunos bolsistas da UFES.

O Fórum Permanente de Debates de Educação de Jovens e Adultos do Estado de Mato

Grosso, tem como membros fundadores:

Secretaria de Estado de Educação;

Conselho Estadual de Educação;

Universidade do Estado de Mato Grosso;

Pastoral da Criança;

Serviço Social da Indústria;

Serviço Nacional do Comércio;

Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso;

82

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura;

Central Única dos Trabalhadores;

Polos Regionais das Escolas Públicas Estaduais de EJA;

União dos Dirigentes Municipais de Educação.

Segundo o artigo nº. 7 do Regimento Interno, o FPDEJA/MT tem a finalidade de:

Art. 7º Constituem- se finalidades do FPDEJA/MT entre outras, as seguintes:

I - aglutinar esforços permanentes de pensar a Educação de Jovens e

Adultos, à luz das necessidades da sociedade mato-grossense;

II - participar da elaboração, acompanhar e avaliar a execução dos Planos

Estadual e Municipais de Educação no que se refere à Educação Jovens e

Adultos;

III - promover a aproximação e a cooperação entre os diversos segmentos

sociais que oferecem ou são beneficiários da Educação de Jovens e Adultos

de Mato Grosso;

IV - contribuir para a solução de problemas inerentes à Educação de Jovens

e Adultos, promovendo a articulação entre as instituições que oferecem esta

modalidade de ensino e demais instituições;

V - promover debates junto às instituições formadoras, visando à oferta

permanente de formação continuada para os profissionais da Educação de

Jovens e Adultos;

VI - organizar reuniões de estudos, seminários e outros eventos visando, o

aprofundamento de temas de interesse da Educação de Jovens e Adultos;

VII - estimular a cooperação entre Estado e Município na oferta da Educação

de Jovens e Adultos;

VIII - subsidiar os sistemas de ensino na definição das políticas públicas da

Educação de Jovens e Adultos;

IX - apresentar sugestões ao órgão normativo do Sistema Estadual de Ensino

para que seja elaboradas normas para o atendimento da modalidade EJA,

pautados em pesquisas e dados reais das escolas e Centros de Educação de

Jovens e Adultos – CEJAs;

X - desenvolver estudos visando o estabelecimento de critérios para o Exame

de Conclusão do Ensino Fundamental e Médio da EJA;

XI - acompanhar a execução dos programas e projetos de EJA em

desenvolvimento no âmbito do estado de Mato Grosso primando pela

qualidade desses no intuito de efetiva - los como políticas públicas;

XII - incentivar, assessorar, estimular e apoiar a criação de Fóruns de

Debates de EJA no âmbito Regional;

XIII - promover a interlocução com outros fóruns e instituições a fim de

garantir a articulação entre políticas públicas que visem integrar as

dimensões educação e trabalho, indissociáveis à formação de Jovens e

Adultos trabalhadores do campo e da cidade;

XIV - viabilizar espaço para exposição de estudos/pesquisas nos encontros

Regionais e Estadual do FPDEJA/MT;

XV - garantir a representatividade dos sujeitos do campo, da cidade, das

prisões, quilombola, indígena com reconhecimento de gênero, raça com o

viés da inclusão.

83

A primeira reunião da comissão provisória foi realizada somente em fevereiro de

2002, sete meses após a sua criação em 2001. Na ata da reunião observar-se que os debates se

pautaram na Aprovação do Regimento e/ou Estatuto; Definição do Calendário de Reunião;

Eleição e posse da coordenação para o ano de 2002. O Regimento e/ou Estatuto elaborado

pela comissão provisória foi apresentado aos representantes presentes, para apreciação e

aprovação(FPDEJA/MT - Ata nº 1, 2002).

Após a discussão, houve o consenso de que o Fórum Permanente de Debate da

Educação de Jovens e Adultos deverá ser gerido por Regimento e não por Estatuto. O estatuto

caracterizaria uma sociedade civil a qual necessitaria declarar Imposto de Renda, e o

regimento caracteriza um coletivo que se reúne para discutir a Educação de Jovens e Adultos,

a proposta de Regimento foi lida e aprovada (FPDEJA/MT - Ata nº 1, 2002).

O Regimento do FPDEJA/MT apresenta como definição de Fórum, sendo:

“um coletivo de entidades envolvidas com esta modalidade de ensino, de

articulação permanente, com caráter propositivo, consultivo e deliberativo,

sem fins lucrativos, cuja duração é por tempo indeterminado, com sede no

município de Cuiabá, estado de Mato Grosso e normas de funcionamento

definidas neste Regimento” (FPDEJA/MT – Regimento Interno).

Entretanto, o FPDEJA/MT não possui uma sede própria e suas reuniões aconteciam e

acontecem em espaços fornecidos pelas instituições que fazem parte da coordenação estadual.

Conforme o regimento aprovado: “O FPDEJA/MT é constituído por representantes de

instituições governamentais e não governamentais representantes da sociedade civil

organizada, pesquisadores, educadores e educandos que tenham interesse e/ou atuação na

Educação de Jovens e Adultos”. (FPDEJA/MT – Regimento Interno).

Para Dantas (2010), os segmentos são agrupamentos organizados pela inserção de

cada participante em alguma instituição ligada à EJA. Estes segmentos são identificados

como universidade/instituição de nível superior, administração pública, Sistema S,

educadores, organizações não governamentais, educandos, movimentos sociais, sindicatos

etc. A maior ou menor presença, em cada fórum, de um determinado segmento se dá

justamente pela presença de pessoas que estão vinculadas a ele, o que configura um

determinante para as diferenças entre os fóruns.

Após a leitura e aprovação do regimento foi realizada, entre os participantes da

reunião, a primeira eleição da coordenação do FPDEJA/MT:

84

De acordo com o artigo 4º do regimento do Fórum Permanentes de Debates

da Educação de Jovens e Adultos, ocorreu a eleição e posse dos membros

que irão compor a coordenação para o ano de 2002, são eles os seguintes:

Coordenadora: Professsora Alaídes Alves Mendieta – Representante do

Conselho Estadual de Educação do Estado de Mato Grosso. Vice-

Coordenadora: Professora Tânia Tereza Pasqualini – Representante da

Central Única dos Trabalhadores. Secretária: Professora Euzemar Fátima

Lopes Siqueira – Representante da Equipe de Educação de Jovens e Adultos

da Superintendência de Currículo e Gestão Escolar / SEDUC/MT.

(FPDEJA/MT - Ata nº 1, 2002).

A coordenação do fórum de EJA de Mato Grosso, diferentemente do que ocorreu em

outros estados, era composta por vários conselheiros, pois Tânia Pasqualini embora eleita

representante da Central Única dos Trabalhadores também era conselheira. Paiva, Machado e

Ireland (2007, p. 119) afirmam que algumas entidades são menos frequentes nos Fóruns,

como os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação, mas em alguns encontram-se

presentes e atuantes.

Essa característica de conselheiros na coordenação do FPDEJA/MT justifica-se pois

toda discussão no Estado resultou na reformulação da resolução n. 180/00 e aprovação do

Programa de Educação de Jovens e Adultos.

FIGURA 06: COORDENAÇÃO ESTADUAL FPDEJA/MT

Fonte: FPDEJA/MT, 2011

Outra característica do FPDEJA/MT foi a intensa participação da SEDUC/MT na

coordenação. De acordo com as discussões do Programa de EJA, o Estado implementaria,

gradativamente em todo seu território, as novas formas de oferta de EJA, a partir de 2002.

Como a coordenação do fórum, em sua maioria, era composta por servidores estaduais, a

discussão inicial das reuniões se fizeram em torno da disseminação do programa de EJA no

estado e da resolução n. 180/00. Para a disseminação do programa, na segunda reunião do

Fórum foi proposto a realização do II Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos e

sua deliberação pela coordenação do FPDEJA/MT.

Durante uma das reuniões foi sugerido que o seminário deveria ser dividido em

regionais, uma vez que a maior preocupação era com o interior, já que, para os professores de

85

Cuiabá, as informações e os esclarecimentos de dúvidas era mais acessível. O objetivo dos

seminários regionais era diagnosticar como as escolas estavam se organizando para

implantação da Resolução 180/00, do Conselho Estadual de Educação do Estado de Mato

Grosso. (FPDEJA/MT - Ata nº 4, 2002).

Depois dos diálogos nas reuniões, ficou definida a seguinte organização dos

seminários:

O público alvo será proporcional ao número de turmas que a escola oferece,

sendo de quatro professores a um professor e será realizada nos pólos do

CEFAPRO, nos mesmos moldes do seminário realizado no ano de dois mil e

um. Quando da divulgação do Programa da Educação de Jovens e Adultos

de Mato Grosso, deverá envolver as secretarias municipais ficando esta

competência para UNDIME. Foi ressaltado que os CEFAPRO deveram se

envolver mais efetivamente com a proposta do Programa, por se tratar de

uma equipe de formadores. No decorrer dos Seminários serão escolhidos

delegados para estarem participando da Assembléia Geral. Foi solicitado da

equipe de Educação de Jovens e Adultos da SEDUC/MT levantamento das

Escolas Estaduais por pólos do CEFAPRO, assim como os custeios para

realização dos mesmos. (FPDEJA/MT - Ata nº 4, 2002)

Por se tratar de um movimento sem fins lucrativos, o Fórum de EJA não dispõe de

caixa para realização de reuniões, encontros e seminários. Assim, cada estado responsabiliza-

se pela mobilização, busca de parcerias e articulações, sob a égide dos respectivos grupos

articuladores. O Regimento Interno do Fórum do Mato Grosso especifica que “o seu

funcionamento será assegurado com recursos dos organismos representados” (ART. 8º).

Em outros estados existem diferentes maneiras de organização, por exemplo, o Fórum

de São Paulo conta com recursos advindos de contribuição das entidades que o compõem (a

exemplo dos MOVAs e da AEC). Também é cobrada dos participantes uma taxa que lhes

assegura o direito de frequentar as oficinas durante a realização do evento. O Fórum da

Grande Vitória/ES recebe recursos da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal do

Espírito Santo. Já o Fórum de EJA paraibano tem como grande parceiro a Secretaria Estadual

de Educação, através da Coordenadoria de Educação de Jovens e Adultos (COEJA) e as

secretarias municipais de educação de Campina Grande e João Pessoa (SILVA, 2005).

A Coordenação do FPDEJA/MT apresentou a planilha de custos elaborada pela

Equipe de Educação de Jovens e Adultos da SEDUC/MT, abrangendo a capacitação de todos

os professores efetivos e contratados que atendiam a Educação de Jovens e Adultos.

(FPDEJA/MT - Ata nº 5, 2002). A questão do financiamento ficou registrada da seguinte

foram em ata de 2002:

86

Professora Alaídes colocou em discussão a questão dos parceiros tanto para

o Seminário Regional e assim como para o Seminário Estadual e lembrou

que o fórum não é da SEDUC/MT, e que todos deveriam levar às suas

Instituições a ideia para que possam contribuir para realização desses

eventos (FPDEJA/MT - Ata nº 5, 2002)

Percebe-se que havia uma relação entre a coordenação do Fórum e a SEDUC/MT. Ao

investigar essa complexa relação entre fóruns e Estado, constata-se que o diálogo e a disputa

de concepções de EJA permeiam este formato peculiar de construir à política pública.

A proximidade entre o fórum de EJA e a SEDUC/MT alterou a lógica de formulação

das políticas públicas para além da Coordenadoria de EJA da SEDUC/MT e possibilitou aos

sujeitos que militavam no fórum vivenciar uma experiência de participação genuína e de

exercício democrático.

Ao discutir essa questão, Gohn (2002, p. 301) esclarece que, com a ampliação da

relação entre o Estado e a sociedade civil, legitima-se a existência de um espaço ocupado por

uma série de instituições, com o papel de exercer a mediação entre coletivos organizados e

instituições do sistema governamental. Os fóruns, pela ação cotidiana, fomentam a vigência

desse espaço, promovendo em seus encontros momentos de embates e discussões e, em

alguns casos, incorporaram-se exitosas contribuições de suas plenárias às políticas,

principalmente no âmbito nacional.

Considera-se que, nos anos iniciais de implementação do FPDEJA em Mato Grosso, a

relação entre fórum e a Secretaria de Estado de Educação dá concretude à perspectiva de

Estado ampliado de Gramsci (2006), pois o Estado, no sentido estrito gerenciando e

implementando ações, e o fórum contribuindo e tensionando a formulação e o acompanhando

destas ações, estavam gerindo e conduzindo (cada qual com seu papel) a política de EJA em

direção a uma perspectiva genuína do que esperava-se para essa modalidade.

No período de 31 de julho a 02 de agosto de 2002, o Fórum de EJA de Mato Grosso

realizou, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação, o II Seminário Estadual de

Educação de Jovens e Adultos. Com objetivo de oportunizar espaço para intercâmbio de

experiências, projetos e trabalhos sobre a EJA e contribuir para a melhoria da prática da EJA

no contexto mato-grossense, buscando o fortalecimento das escolas, para execução e

implantação de propostas pedagógicas. O II Seminário recebeu mais de trezentos e sessenta

participantes e contou com palestras proferidas por especialistas da área, mesas-redondas,

painéis e relatos de experiências bem sucedidas.

Na ocasião, foi apresentada a “Carta da Cidadania II”, que fez recomendações aos

governos do estado e dos municípios, às universidades, às escolas e aos professores,

87

conclamando a mobilização de todos os envolvidos para refletir, executar, avaliar e apresentar

alternativas para a EJA, na busca da construção solidária pela igualdade, justiça e

solidariedade. A carta apresenta as seguintes reivindicações:

AOS GOVERNOS DO ESTADO E DOS MUNICIPIOS:

Incluir, no Plano Estadual de Educação e Planos Municipais, as metas

nacionais do Programa de EJA;

Valorizar os profissionais de EJA como forma de assegurar a efetivação das

políticas da EJA;

Reconhecer o professor de EJA, como profissional de educação, respeitando-

o em sua dignidade como elemento fundamental para o exercício de sua ação

pedagógica;

Resgatar e garantir a prática das horas atividades do professor, através de

oficinas metodológicas que ajudem a orientar o seu trabalho;

Adotar providências, reconhecendo a necessidade de critérios condizentes de

atribuição de aulas aos professores de EJA, número adequado de alunos por

turma, espaços e recursos mínimos necessários para a execução qualitativa

da oferta de EJA;

Cobrar dos entes federados que honrem o compromisso do regime de

colaboração, estabelecendo fontes de financiamento para a EJA;

Divulgar e explicitar o Programa de EJA, em regime de colaboração com os

municípios, através do Fórum Permanente de Debates da EJA, como forma

de garantir a implementação dos projetos e cursos;

Expandir, com qualidade, o atendimento à demanda de EJA, considerando a

diversidade local e regional e a especificidade de seu alunado;

Fortalecer as equipes de profissionais da SEDUC/MT para executarem ações

de capacitação permanente aos profissionais de EJA, inclusive na própria

escola.

ÀS UNIVERSIDADES:

Garantir e ampliar o oferecimento de cursos de graduação e de pós-

graduação e formação continuada na modalidade de EJA, assim como,

programas de pesquisa e de extensão, nessa modalidade, de forma articulada

com os sistemas de ensino.

ÀS ESCOLAS:

Envidar esforços no sentido de conceber a construção de um PPP para a

escola, garantindo, neste, o respeito e a identidade da oferta de EJA, e sua

demanda específica;

Articular-se com a comunidade e a família, criando laços de integração da

sociedade com a escola;

Estudar os PCNs e as Diretrizes Curriculares Nacionais de EJA, vivenciando

alternativas pedagógicas para a aprendizagem de seus alunos, através da

reflexão coletiva;

Zelar pela aprendizagem de seus alunos, centrando o foco no processo de

aprendizagem, valores e atitudes;

Promover o exercício da cidadania ativa, através do aprender a trabalhar em

grupo, aprender a dialogar e aprender as práticas humanísticas;

Compartilhar através da troca de experiências, os resultados obtidos na

execução das práticas pedagógicas, fortalecendo a interação entre as escolas

de EJA.

AOS PROFESSORES, ESPECIALMENTE:

Considerar a construção coletiva do currículo escolar como um dos

instrumentos de estudo e de reflexão para sua prática pedagógica.

88

A magnitude de ações consubstanciadas na Carta da Cidadania II evidenciou o

empenho das instituições no desenvolvimento do processo de implantação de um modelo

democrático e de ensino de qualidade para jovens e adultos, entende-se que é necessário um

trabalho coletivo para construção de uma Política de Educação de Jovens e Adultos.

A partir de 2003, o Fórum Permanente de Educação de Jovens e Adultos, , com

objetivo de aproximar os protagonistas desse processo, adotou um novo formato das

reuniões: realização de reuniões ampliadas, bimestralmente, intercaladas com reuniões

internas de planejamento e avaliação. Nesse período de atuação, o Fórum Estadual

Permanente de Debates de Educação de Jovens e Adultos vem conquistando novos adeptos e

já se consolidou como entidade que não poupa esforços na busca da melhoria da qualidade,

construção e fortalecimento da identidade da escola de Educação de Jovens e Adultos,

definindo encaminhamentos e propiciando intervenções necessárias à consecução de seus

objetivos.

89

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chega-se, nesse instante, ao que muitos poderiam definir como o desfecho de um

trabalho, ou mesmo, como a conclusão de uma etapa significativa do processo de

investigação. Porém, precisa-se refletir de outra maneira, não ao que se entende como o

final, mas ao que se compreende como o início. O começo de um novo ciclo para abrir a

possibilidade de outras etapas e momentos importantes, bem como novas oportunidades

para aprender e construir novos significados acerca do objeto desse estudo.

Nesta perspectiva, ressalta-se a necessidade de mencionar, ainda, que não chegar ao

fim também é uma forma de reconhecer que nenhuma pesquisa é definitiva e que jamais

houve pretensão de dar conta da complexidade envolvendo as temáticas constituídas como

foco de investigação desse trabalho.

Dessa forma, sem querer, portanto, apresentar um resultado conclusivo e

generalizado, e muito menos tecer julgamentos sobre os aspectos revelados, observados e

analisados sobre as concepções dos sujeitos envolvidos nesse estudo, destaca-se o objetivo

de apresentar algumas respostas e questionamentos obtidos durante o processo de

investigação orientado pelo problema dessa pesquisa: Compreender como se consolidou

o movimento do Fórum Permanente de Debates em Educação de Jovens e Adultos em

Mato Grosso, tomando-se por base a análise de seu percurso histórico de criação, no

período de 1990 e 2001. Quando surgiu e como se configurou o FPDEJA no Brasil?

Como se deu a expansão? Quando e como ocorreu o processo de criação do FPDEJA

em Mato Grosso?

Na busca por respostas que pudessem alcançar os objetivos relacionados à questão

central dessa investigação, defronta-se com algumas dificuldades e limitações que fizeram

pensar, em alguns momentos, na possibilidade de realizar esse trabalho da forma que

havia planejado. Durante o desenvolvimento do estudo houve dificuldades, por exemplo, a

disponibilidade de algumas pessoas para entrevistas, acesso às Atas de reuniões, bem

como, relatórios dos Seminários Estaduais de Educação de Jovens e Adultos que

aconteceram no período.

Felizmente, foi possível constituir os documentos necessários e as entrevistas dos

que foram, e alguns ainda são, membros ativos do FPDEJA/MT e que havia considerado

no projeto de pesquisa. Entretanto, isso não foi tão simples, pois alguns dos sujeitos que

atuaram no FPDEJA/MT em seu momento de criação, optaram por não participar do

90

estudo. Desse modo, somente foram entrevistados três sujeitos que estavam diretamente

ligados à essa pesquisa.

É importante salientar que o processo de criação do FPDEJA/MT não é um

processo simples de ser interpretado, pois são muitas as possibilidades para compreendê-lo

e outras tantas para não assimilar de forma alguma. O percurso feito para explicar este

objeto – FÓRUM DE EJA MATO GROSSO: caminhos iniciais, lutas e conquistas – foi

determinando por sua própria natureza. A compreensão exigiu a opção por um referencial

teórico que levou a aprofundar o conhecimento sobre: educação, políticas públicas,

Educação de Jovens e Adultos no Brasil e Mato Grosso, Fórum EJA do Brasil e Mato

Grosso. Esse estudo permitiu compreender parte da dimensão histórica desse movimento e

seu papel na luta por uma educação de jovens e adultos libertadora.

O direito à Educação de Jovens e Adultos está associado à própria ideia da

educação como direito humano e social. Foi bastante estimulado pela pressão e movimento

internacional que surgiu logo após a Segunda Guerra Mundial. No pós-guerra, com a

criação da UNESCO a luta pelo direito a educação de jovens e adultos começa a ganhar

espaço no cenário internacional.

Bobbio (1992, p. 32) acerca da compressão do significado de direito afirma:

Os direitos do homem são direitos históricos que emergem gradualmente das

lutas que o homem trava por sua própria emancipação e das transformações

das condições de vida que essas lutas produzem. [...] Sabemos hoje que

também os direitos humanos são produtos não da natureza, mas da

civilização humana; enquanto direitos históricos, eles são mutáveis, ou seja,

suscetíveis de transformação e de ampliação.

Os direitos são fruto de um processo histórico, criados para atender necessidades

reais e concretas dos sujeitos. Essas necessidades de um tempo, inegavelmente, passarão

por mudanças, devido às transformações nas condições de vida em sociedade, ou seja, a

afirmação de um direito não se fará de um momento para o outro, mas será fruto de um

processo ligado intimamente às sociedades modernas e estará sempre em mudança de

concepção. No caso da educação de jovens e adultos não é diferente, pois como alerta

Paiva (2006, p. 521):

[...] a história não só registra os movimentos de negação e de exclusão que

atingem esses sujeitos, mas se produzem a partir de um direito conspurcado

91

muito antes, durante a infância, negada como tempo escolar e como tempo

de ser criança a milhões de brasileiros.

A necessidade por educação de jovens e adultos, entre inúmeros motivos, se

produziu pelo direito não assegurado — historicamente sinalizado no âmbito legal, mas

firmado, explicitamente, de forma tardia na recente Constituição Federal — desde a infância.

Também não se pode ignorar a existência de adultos analfabetos e subescolarizados, aliada,

atualmente, à forte produção de jovens não concluintes do sistema regular de ensino que

demandam a modalidade de EJA. Outro elemento que precisa ser considerado, segundo Paiva

(2006), é que os sujeitos da EJA, sobretudo os adultos, não se reconhecem como detentores

deste direito e não os reivindicam para si, embora o façam para seus filhos. São esses

elementos que propiciam a pertinência de movimentos que historicamente lutam pela

educação de jovens e adultos e que, na atualidade, têm como expressão os fóruns de EJA.

Esta pesquisa aponta que os Fóruns de EJA nasceram no Brasil a partir da

preparação para a V CONFINTEA, pois antes deste evento ocorer, os segmentos envolvidos

com a educação de jovens e adultos sentiram a necessidade de debater e refletir sobre a EJA.

A convocação do Ministério da Educação e Cultura (MEC) sugeria que todos os estados

criassem um espaço de discussão para tratar as especificidades da EJA que “o Governo

Federal por vezes aderiu, sem contudo assumir papel protagônico” (DI PIERRO;

GRACIANO, 2003).

O primeiro Fórum realizou-se no estado do Rio de Janeiro, considerado o pioneiro,

a partir do qual outros estados começaram a se organizar. O Relatório-Síntese do I ENEJA

(1999, p. 02) enfatiza que os espaços dos Fóruns se constituem como um espaço para: a

tentativa de despertar o compromisso do educador de EJA; troca de experiências; formação do

educador de jovens e adultos; melhorar a qualidade do processo ensino-aprendizagem;

discussão, análise e intervenção nas políticas de EJA; geração de instrumentos de pressão e

acompanhamento das políticas públicas destinadas à área.

Apesar das dificuldades, os Fóruns têm crescido e contribuído de forma positiva

para a EJA. Sua função englobará os seguintes aspectos: atuar em defesa de uma política

pública governamental para a EJA, de modo integral, amplo, contínuo, em longo prazo,

garantindo o acesso e a permanência dos jovens e adultos na escola regular; assumir o papel

mediador das políticas públicas educacionais para a EJA; fortalecer a EJA no Estado; ampliar

o conhecimento de EJA; definir o que é, como funciona, quais suas necessidades e objetivos;

92

cobrar, intervir e acompanhar as propostas políticas em favor dos menos favorecidos.

(RELATÓRIO - SÍNTESE do XVI Encontro do Fórum, 2003, p.02)

Assim, os Fóruns Estaduais de EJA tiveram um crescimento expressivo no país,

passando de 5 (cinco), em 1999, para 26 (vinte e seis), e um Distrital em 2013. Atualmente, os

encontros nacionais assumiram visibilidade nacional e, a partir de 2009, os ENEJAs

começaram a ocorrer a cada dois anos, devido à necessidade da realização de encontros

regionais, criando assim, nos intervalos dos anos, os Encontros Regionais de Educação de

Jovens e Adultos – EREJA, e alternando com os Seminários Nacionais de Formação10

.

A partir das pautas, a organização da luta se concretizou, como revelam os relatórios,

pelo apontamento de diretrizes e linhas de ação para os fóruns nos estados, elaboração de

moções e carta pública com reivindicações e proposições, encaminhadas ao poder público em

âmbito nacional. O movimento dos fóruns, apesar de se organizar em torno de um objetivo

comum e de enfrentar conflitos no âmbito da educação, se articula para o entendimento entre

os diversos segmentos da nossa sociedade, procurando encontrar os caminhos que possam

qualificar e melhorar as condições de acesso e da prática à EJA.

Os fóruns atuam “na defesa da EJA como política pública […] uma EJA que se abra

aos desafios da intersetorialidade com o mundo cultural, da saúde, dos direitos humanos”

(MACHADO, 2009, p. 21-34), se constituindo “como movimento de resistência pelo direito à

educação e em defesa da expressão da diversidade de sujeitos” (PAIVA, 2009, p.69).

Cabe destacar que o movimento dos fóruns se expressa pela presença em espaços

institucionais e audiências públicas. Instituiu e consolidou seu próprio espaço, que propicia o

encontro e o diálogo de representantes públicos com representantes da sociedade civil,

viabilizando a constante interlocução com os governos municipais e federais. Uma prática

permanente que originou ações relevantes para a EJA.

Esta pesquisa buscou analisar a construção histórica do Fórum de EJA de Mato

Grosso, em que os entrevistados e os documentos permitiram uma reflexão a respeito das

mudanças que ocorreram na oferta da educação de jovens e adultos no estado.

As reflexões sobre as entrevistas e atas de registros das reuniões do Fórum de EJA de

Mato Grosso apontam que o movimento no estado iniciou com um grupo de militantes que

ocupavam cargos nas entidades envolvidas no momento da criação. Um grupo de pessoas que

aproveitaram o momento oportuno para buscar uma escola de qualidade que atendesse a todos

10

O I Seminário Nacional sobre a Formação do Educador de Jovens e Adultos, aconteceu na UFMG, em maio

de 2006. A realização do encontro por meio de um esforço coletivo, que envolveu o Ministério da Educação, seis

universidades públicas mineiras – cinco federais e uma estadual – e a UNESCO, representa a vontade de todos

de iniciar uma profunda mudança nesse quadro, tomando como ponto de partida a formação do educador.

93

que não tiveram condições de estudar e foram excluídas dos bancos escolares, não por culpa

delas, mas, enfim, de todo um sistema excludente do país.

Embora a educação de jovens e adultos aconteça em vários espaços de diferentes

instituições, tanto no I Seminário de Educação de Jovens e Adultos, como no II Seminário

houve a participação em massa dos professores pertencentes à rede estadual de ensino.

Como participante das reuniões e encontros promovidos pelo FPDEJA/MT e professor

de EJA vale ressaltar que ampliação do Fórum de EJA de Mato Grosso acontece na medida

em que estado aumenta sua oferta de EJA, chegando, assim este fórum por determinado

período a contar com dezessete Fóruns Regionais espalhados por todo estado. A criação

desses fóruns regionais facilitou o acesso aos encontros estaduais do Fórum EJA de Mato

Grosso e aos encontros de coordenadores realizados uma vez a cada ano. Até o ano de 2009,

os encontros estaduais eram realizados somente na capital do Estado e, muito em função da

extensão territorial, os militantes do interior tinham dificuldades de locomoção advindas de

tal realidade, a exemplo do Fórum Regional de Confresa, criado em 2007, e localizado a

1.149km de Cuiabá.

A criação dos fóruns regionais possibilitou acesso facilitado às informações sobre os

debates realizados sobre a EJA em âmbito estadual, nacional e mundial, pois passaram a

ocorrer encontros regionais, que reuniam as pessoas ligadas à educação de jovens e adultos de

praticamente todo estado de Mato Grosso. A organização dó Fórum permite que haja um

debate inicial sobre a oferta de EJA na regional, abrangendo todo o polo e somente os

representantes de cada segmento dos regionais participam do encontro estadual.

Para a criação de fóruns Regionais de EJA, a coordenação do Fórum Estadual buscou

uma aproximação em relação às instituições envolvidas com a educação de jovens e adultos,

mobilizando novos parceiros interessados em compor polos, agregando representantes de

municípios próximos para início de estudos e discussões sobre a possibilidade de criar

regionais. Atualmente, no regimento estadual do Fórum de EJA de Mato Grosso, aprovado no

ano de 2015, constam dezessete fóruns regionais: Água Boa; Alta Floresta; Metropolitano do

Vale do Rio Cuiabá e seu Entorno; Barra do Garças; Cáceres; Comodoro; Araguaia/Xingu;

Vale do São Lourenço; Juara; Juína; Matupá; Diamantino; Pontes e Lacerda; Primavera do

Leste; Rondonópolis; Sinop; Tangará da Serra.

Embora no regimento conste dezessete Fóruns Regionais, alguns polos não têm se

reunido nos últimos anos e outros se reúnem uma única vez para eleger os representantes que

participam dos encontros estaduais, entretanto, o Fórum Regional do Araguaia/Xingu antigo

Fórum de Confresa, além de ser um polo Regional dividiu-se em Fóruns Municipais de EJA.

94

Para uma melhor compreensão dos fatores que levam alguns fóruns regionais a se articularem

na luta pela defesa da modalidade e outros não terem a mesma facilidade de articulação é

necessária uma pesquisa qualitativa mais investigativa sobre a criação, estrutura e

funcionamento desses regionais.

Uma hipótese seria o fato que expansão do FPDEJA/MT em regionais ocorreu

juntamente com a criação dos Centros de Educação de Jovens e Adultos no ano de 2007. O

Fórum participou efetivamente da comissão interinstitucional composta pela SEDUC/MT;

SINTEP/MT; CEE/MT; Assessorias pedagógicas e Secretarias Municipais de Educação para

redimensionar a oferta da EJA nos municípios de Mato Grosso e promover a implantação de

Centros de EJA neste estado. O redimensionamento teve por objetivos mapear a demanda de

EJA pontuando a localização de cada unidade escolar que oferta a modalidade EJA, tanto

estadual quanto municipal. Lamentavelmente, o processo de redimensionamento não foi

concluído e os trabalhos passaram a ser executados por outros setores da SEDUC/MT. Nos

últimos anos, com as mudanças da proposta pedagógica dos CEJAs e desaceleração da

expansão, alguns foram inclusive fechados pela SEDUC/MT, e como a maioria dos regionais

estavam diretamente ligados a eles e liderados por diretores, coordenadores e professores,

muitos fóruns deixaram de reunir-se, fato que desarticulou alguns regionais.

Outra constatação feita na trajetória desta pesquisa é a predominância da participação

das pessoas ligadas à rede estadual de ensino nas reuniões do Fórum. Provavelmente isso se

explica pelo fato de que o Fórum iniciou com pessoas ligadas a essa esfera da administração

pública e por ser, a SEDUC/MT, a principal mantenedora do fórum de EJA de Mato Grosso.

As entrevistas demonstraram que o poder público estadual dispensa uma atenção maior às

discussões sobre educação com a sociedade civil, se comparadas aos cuidados despendidos

pelo poder público municipal. Isto explica a efetiva presença de educadores da rede estadual

nas plenárias do Fórum.

Outro fato é a pouca importância que as Secretarias Municipais de Educação atribuem

ao estabelecimento de uma política pública específica para a EJA, o que torna frágil a

presença de pessoas ligadas às Secretarias Municipais nas reuniões do Fórum, fato agravado

pelas dimensões territoriais de Mato Grosso, que conta com cento e quarenta e sete

municípios e quase 1.000km de extensão.

Embora exista uma predominância de participação e atuação de representantes da

Secretaria de Estado de Educação, os entrevistados acreditam que o FPDEJA/MT não se

constitui como um espaço de debates somente de interesse dessa instituição, entretanto, em

alguns espaços de discussão sobre a educação, o FPDEJA/MT não é reconhecido como

95

interlocutor dos debates da modalidade EJA, um exemplo é a pouca participação das

universidades públicas de Mato Grosso nas reuniões e encontros promovidos pelo

FPDEJA/MT, conforme relatos nas entrevistas as universidades não veem a necessidade de

justificar a ausência, fato esse que também exige uma pesquisa mais minuciosa para entender

os motivos da não participação das universidades nas reuniões e encontros.

Ao se discutir o papel do Fórum e as intervenções nas políticas públicas é possível

observar a intervenção do Fórum em Mato Grosso. O Fórum tem contribuído na busca de

políticas públicas realizando encontros mensais, bimestrais, semestrais ou anuais com os

profissionais que atuam na EJA, discutindo e aprofundando as seguintes temáticas: formação

inicial e continuada; financiamento; programas e projetos federais, estaduais e municipais; as

deliberações dos ENEJAs e EREJAs; a questão da evasão na Educação de Jovens e Adultos; a

rotatividade dos professores; exame supletivo e a educação no sistema prisional.

O Fórum Permanente de Debates em Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso é

um espaço que, além de ser consultivo, deliberativo e propositivo também é um espaço de

formação dentro da educação de jovens e adultos de Mato Grosso. Acredita-se que é uma

interlocução entre a modalidade com as diversas instâncias que discutem a educação de

jovens e adultos e às instituições que a ofertam. Espera-se, ainda, buscar uma maior

integração entre as instituições e que todas devem além de reconhecer o seu papel na luta por

uma diminuição dos índices de analfabetismo em Mato Grosso, também realizar uma oferta

de qualidade que atenda às características da demanda.

Por fim, chega-se ao final desta pesquisa com algumas palavras de um jovem senhor,

poeta e aluno da educação de jovens e adultos, Ademildo Teixeira Sobrinho, de Goiânia –

GO, membro do Fórum Metropolitano e do Fórum Estadual Goiano de EJA:

Como aluno EJA que sou, e membro do Fórum Metropolitano de Educação

de Jovens e Adultos, tive muitas oportunidades de aprendizado, as quais me

fizeram militante da EJA, vestindo e defendendo a sua camisa em todos os

momentos.

O poder viajar no imaginário do IV Seminário de Educação Brasileira, por

meio da leitura, e participar de encontros de educação, contribuindo na

solução dos seus problemas, proporcionaram-me uma gama de

conhecimentos das demandas da EJA, criando expectativas, diante das

mudanças que estas demandas estão a cobrar.

Conforta-me, e muito, saber, que a partir da criação e institucionalização dos

Fóruns da EJA, no âmbito de todos os entes federativos, nos quais os

educadores brasileiros passaram a tê-los como excelente ferramenta a

oportunizar- lhes momentos de reflexão e de novas sugestões, para quê, a

educação brasileira venha ocupar de fato, o seu espaço, no cenário mundial

da educação de boa qualidade.

96

Inconvenientes existem, segundo os interesses classistas e ideológicos, das

frentes políticas partidárias e das organizações sociais organizadas, ao se

manifestarem pontuando e defendendo os seus interesses. Nesse momento os

Fóruns da EJA de todo Brasil atuam, não precisamente contrapondo às

classes sociais organizadas, mas sim, traçando parâmetros éticos comuns

para todos, principalmente para os sujeitos, motivo da criação da EJA.

Nesse contexto, o apelo a ser feito aos educadores e educandos de todo

Brasil, é que tenham de fato senso crítico, diante do cenário político

contemporâneo que estamos vivenciando. Que usem os Fóruns da EJA em

todos os entes federativos, para manifestarem o seu ponto de vista e as suas

reivindicações, para que se possa alcançar a almejada melhora educacional.

E para que a educação seja, de fato, democrática, inclusiva, libertadora,

igualitária e laica, conforme idealizou o nosso sonhador maior, Paulo Freire.

As reivindicações oriundas dos Fóruns da EJA de todo Brasil são

apresentadas via Coordenação Nacional do Fórum de Educação de Jovens e

Adultos, para posterior contribuição na construção do Plano Nacional de

Educação.

Na amplitude da atuação da EJA em todo Brasil, aqui estão parte dos seus

deveres. (SOBRINHO, 2015, p. 143)

Sobrinho (2015) foi aluno da Educação de Adolescentes, Jovens e Adultos da Escola

Municipal Presidente Vargas, do município de Goiânia, e agora está cursando o ensino médio

profissionalizante integrado à educação de jovens e adultos no Instituto Federal Goiano, curso

de Técnico em Informática Integrado ao Ensino Médio.

Assim, finda a pesquisa, no que foi possível, mas continua a luta, porque como

escreveu o compositor Geraldo Vandré: “Caminhando e cantando e seguindo a canção.

Somos todos iguais braços dados ou não. Nas escolas nas ruas, campos, construções.

Caminhando e cantando e seguindo a canção”. A luta continua por uma educação de jovens e

adultos libertadores.

97

REFERÊNCIAS

ALVES-MAZZOTTI, Alda Judith; GEWANDSZNAJDER, Fernando. O método nas

Ciências Naturais e Sociais: Pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira

Thomson Leraning, 2004.

AÇAO EDUCATIVA. Carta de Cuiabá. Boletim Informação em Rede. Nº 59, 2003.

Disponível em:

http://forumeja.org.br/sites/forumeja.org.br/files/doc_eneja_cuiaba_2003.pdf, Acesso em:

11/07/2014.

Azevedo, Neroaldo Pontes de. Os encaminhamentos e resoluções da vi conferência

internacional de educação de adultos - CONFINTEA VI. Disponível em: <

http://www.senado.gov.br/comissoes/CE/AP/AP20100707_UNESCO_NeroaldoAzevedo.pdf

> Acesso em 13/11/2015.

BEISIEGEL, Celso de Rui. Considerações sobre a política da união para a educação de

jovens e adultos analfabetos. Disponível

em:<http://anped.org.br/rbe/rbedigital/RBDE04/RBDE04_04_CELSO_DE_RUI_BEISIEGE

L.pdf> Acesso em 14/04/ 2015.

Bignarde, Kleber Gonçalves. A organização curricular (na política de currículo) da EJA

para os CEJAS em Mato Grosso de 2008 a 2011 / Kleber Gonçalves Bignarde. – Cuiabá,

2013. 131f.

BOFF, Leonir Amantino. As Políticas Públicas de Educação de Jovens e Adultos no

Estado de Mato Grosso 1991/2001: Internalidade e Diálogos com o Mundo da Vida dos

Jovens e Adultos. 2002. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação,

Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto

Alegre, 2002.

BOGDAN, R.; BIKLEN, S. Investigação qualitativa em educação: uma introdução à teoria

e aos métodos. Porto Codex- Portugal: Porto, 2006.

BRASIL. Conselho Nacional de Educação. Parecer CEB nº. 11/2000. Diretrizes

Curriculares para a Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC, maio 2000.

BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação

Básica. Parecer 11/2000. Dispõe sobre as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Educação de Jovens e Adultos. Brasília: MEC/CNE/CEB,2000.

_______. Ministério da Educação e Cultura. Lei de Diretrizes e base da Educação Nacional

– LDB. Centro de documentação do Congresso Nacional. Brasília, DF, 1996.

_______. Parâmetros Curriculares Nacionais – Ensino Médio: Ciências da Natureza,

Matemática e suas Tecnologias. Brasília: MEC/SEMT, 1999.

_______. Proposta curricular para a Educação de Jovens e Adultos: segundo segmento

do ensino fundamental (5ª a 8ª série) – Introdução. Brasília: MEC/SEF, 2002 a. v.1.

99

_______. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e

Diversidade. Documento Nacional Preparatório à VI Conferência Internacional de

Educação de Adultos (VI CONFINTEA). Brasília: MEC; Goiânia:FUNAPE/UFG, 2009.

Disponível em: <http://forumeja.org.br/mt/node/65>. Acesso em: 15/06/2014.

_______. Decreto nº 561. Atos Internacionais. Pacto Internacional sobre Direitos

Econômicos, Sociais e Culturais. 1992. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/D0591.htm>, Acesso em:

27/05/2015.

Castro, Daniela Bonfim de. CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE ENSINO E

APRENDIZAGEM DA GEOMETRIA PLANA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS DOS CEJAS DE CUIABÁ/MT. / Daniela Bonfim de Castro. – 2014. 171 f.

CHILANTE, Edinéia Fátima Navarro, NOMA, Amélia Kimiko. Reparação da dívida social

da exclusão: uma função da educação de jovens e adultos no Brasil? Revista HISTEDBR

On-line, Campinas, n. Especial, p 225-237, mai. 2009. Disponível em:

<http://www.histedbr.fae.unicamp.br/revista/edicoes/33e/art14_33esp.pdf>. Acesso em:

10/06/2014.

CUNHA, Cristina Meire. Revista Lugares de Educação [RLE], Bananeiras/PB, v. 3, n. 6, p.

19-37 Jul.-Dez., 2013. Disponível em http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rle> Acesso em

04/05/2015.

Dantas, Aline Cristina de Lima.Fóruns de educação de jovens e adultos: movimentos em

defesa de direitos e políticas públicas para a educação de jovens e adultos. / Aline

Cristina de Lima Dantas. – 2010. 119f.

Dias, Adelaide Alves. Da educação como direito humano aos direitos humanos como

princípio educativo. In: SILVEIRA, Rosa Maria Godoy, et al. Educação em direitos

humanos: fundamentos teórico-metodológicos. João Pessoa: Editora Universitária, 2007. P.

441-456.

DI PIERRO, Maria Clara. As políticas públicas de educação básica de jovens e adultos no

Brasil do período 1985/1999. 2000. 314 f. Tese de Doutorado em História e Filosofia da

Educação – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2000.

_______. Maria Clara Notas sobre a redefinição da identidade e das políticas públicas da

educação de jovens e adultos no Brasil. In: Educação e Sociedade. v. 26, n. 92, out 2005.

_______, Maria Clara; GRACIANO, Mariângela. A educação de jovens e adultos no

Brasil: informe apresentado à Oficina Regional da UNESCO para América Latina y

Caribe. São Paulo, Brasil: Ação Educativa, 2003.

DUARTE, Cláudia Costa. O movimento dos fóruns de EJA: história de construção coletiva da

política pública de EJA. In: Anais...I Congresso Internacional Cátedra da UNESCO da

Educação de Jovens e Adultos, 2013. Disponível em:

100

<http://www.catedraunescoeja.org/GT08/COM/COM015.pdf>. Acesso em: 10/05/2015.

FREIRE, Paulo. Educação e Mudança. 21 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

_______. Pedagogia do Oprimido. 17. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

_______. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de janeiro: Paz e

Terra, 1982.

_______. Pedagogia do Oprimido. 13 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.

_______; SHOR, Ira. Medo e Ousadia – o cotidiano do professor. 3 ed. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1986.

_______. Pedagogia da Autonomia: saberes e necessários à prática educativa. São Paulo:

Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura).

GADOTTI, Moacir. Educação de Jovens e Adultos: correntes e tendências. In: GADOTTI,

Moacir; ROMÃO, José Eustáquio (org.). Educação de Jovens e Adultos: teoria, prática e

proposta. 4. ed. São Paulo: Cortez / Instituto Paulo Freire, 2001. p. 29-39.

GOHN, Maria da Glória Marcondes. Movimentos Sociais e Educação. São Paulo, Ed.

Cortez, 2009. – (Coleção Questões da Nossa Época; V. 5).

______. Movimentos sociais na contemporaneidade. Revista Brasileira de Educação. v. 16

n. 47 maio-ago. 2011. Disponível em:

<http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v16n47/v16n47a05.pdf>. Acesso em: 10/05/2015.

HADDAD, Sergio. Tendências atuais da educação de jovens e adultos. In: Em Aberto.

Brasília, MEC/INEP, ano 11, nº 56, out/dez/92, p. 3.

______, Sérgio; DI PIERRO Maria Clara. Escolarização de Jovens e Adultos. Revista

Brasileira de Educação. mai-ago, n. 014 – ANPED, São Paulo, 2000.

______, Sérgio & DI PIERRO, Maria Clara. (1994). Diretrizes de Política Nacional de

Educação de Jovens e adultos. Consolidação de documentos 1985/1994. São Paulo.

______, Sérgio; PIERRO, Maria Clara Di ; FREITAS, M. V. Perfil do atendimento em

alfabetização de jovens e adultos no Estado de São Paulo. Revista Brasileira de Estudos

Pedagógicos, v. 74, n. 178, p.495-528, 1993.

IRELAND, Timothy D; MACHADO Maria Margarida; IRELAND, Vera Esther J. da Costa.

Os desafios da educação de jovens e adultos: vencer as barreiras da exclusão e da inclusão

tutelada. In: KRUPPA, S. M.MP. (org). Economia Solidária e Educação de Jovens e

Adultos. Brasília: Inep, 2005.

_______, Timothy; MACHADO, Maria Margarida; PAIVA, Jane (org.). Educação de

Jovens e adultos: uma memória contemporânea, 1996-2004. Brasília: UNESCO: MEC,

2004.

101

LEMOS, Marlene Emília Pinheiro de. Proposta Curricular. In: SALTO PARA O FUTURO

– Educação de Jovens e Adultos. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999.

LUDKE, Menga & ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas.

São Paulo: EPU, 1986, p. 1-40. (Coleção: Temas Básicos de Educação e Ensino).

MACHADO, Lourdes Marcelino e OLIVEIRA, Romualdo Portela de. Direito à educação e

legislação de ensino. In: WITTMANN, Lauro Carlos e GRACINDO, Regina Vinhaes (org.)

O estado da arte em política e gestão de educação no Brasil – 1991-1997. Brasília:

ANPAE e Campinas: Autores Associados, 2001.

MACHADO, Margarida. A educação de jovens e adultos no Brasil pós-lei n°. 9.394/96: a

possibilidade de constituir-se como política pública. p. 17-39. In: Em Aberto. vol. 22, n. 82.

Brasília: INEP, nov. 2009a.

MATO GROSSO. Secretaria de Estado de Educação. Orientações Curriculares:

Diversidades Educacionais. Cuiabá: Defanti, 2010. 308p

______. Conselho Estadual de Educação. Resolução CEE nº. 180/2000. Fixa normas para

educação de jovens e adultos. Cuiabá: SEDUC/MT, 2000.

______. Conselho Estadual de Educação. Resolução CEE nº. 177/2002. Programa da

Educação de Jovens e Adultos. Cuiabá: SEDUC/MT, 2002.

______. Fórum Permanente de Debates de Educação de Jovens e Adultos do Estado de

Mato Grosso. Cuiabá: FPDEJA, 2009. Disponível em:

<http://forumeja.org.br/mt/sites/forumeja.org.br.mt/files/hist%C3%B3rico%20eja%20mt.pdf>

Acesso em: 11/07/2014.

MELUCCI, Alberto. A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades

complexas. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001.

MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais Helena dos. Verbete Mobral

(Movimento Brasileiro de Alfabetização). Dicionário Interativo da Educação Brasileira -

Educabrasil. São Paulo: Midiamix, 2001. Disponível em:

<http://www.educabrasil.com.br/mobral-movimento-brasileiro-de-alfabetizacao/>. Acesso

em: 15/04/2016.

MINAYO, Maria Célia de Souza (org.). Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. 16

ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1994, p. 5.

MONTEIRO, Silvio Tavares. et al. A Educação de Adultos no Mato Grosso: o ensino

supletivo estadual em 1997. Cuiabá: COOTRADE, 2000. 103p.

ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Adotada e aprovada em Assembléia Geral da ONU no dia 10 de dezembro de 1947.

Disponível em: <http://www.dhnet.org.br>. Acesso em: 27/05/2015.

102

PAIVA, Jane. Educação de jovens e adultos: direitos, concepções e sentidos / Jane Paiva. -

2005. 480f.

PAIVA, Jane, MACHADO, Maria M, IRELAND, Timothy (orgs) Educação de Jovens e

Adultos: uma memória contemporânea, (1996-2004). Brasília: Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização e Diversidade do Ministério da Educação: Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 2007.

______. Educação de Jovens e Adultos: movimentos pela consolidação de direitos.

Revista eletrônica REVEJA. Revista de Educação de Jovens e Adultos. 2007.

______. et al. Educação de Jovens e Adultos: uma memória contemporânea, 1996-2004.

Brasília: UNESCO/MEC, 2004.

PAIVA, Vanilda Pereira. Educação popular e educação de adultos. 5. ed. São Paulo:

Loyola, 1987. p. 157-298.

REZENDE, Maria Aparecida. Os saberes dos professores da Educação de Jovens e

Adultos: o percurso de uma professora/ Maria Aparecida Rezende. – Dourados, MS: Editora

da UFGD, 2008. 150p.

RIBEIRO, Vera M. Masagão (coordenação e texto final). Educação de Jovens e Adultos:

proposta curricular para o 1º segmento do ensino fundamental. São Paulo: Ação

Educativa; Brasília: MEC, 1997.

ROSSIAUD, Jean & SCHERER-WARREN, Ilse. A democratização inacabável: as

memórias do futuro. Petrópolis, RJ: Vozes, 2000, p. 9-35.

RUMMERT, Sonia Maria. Jovens e Adultos trabalhadores e a escola: a riqueza de uma

relação a construir. In: Gaudêncio Frigotto; Maria Ciavatta. (org). A experiência do trabalho

e a educação básica. Rio de Janeiro: DP&A, p. 117-19. 2002.

SANTOS, Leonardo Rodrigues dos. Aspectos do raciocínio proporcional presentes em

alguns livros didáticos de matemática produzidos para a educação de jovens e adultos

na primeira década dos anos 2000 / Leonardo Rodrigues dos Santos. – 2011. 226f.

SILVA, Eduardo Jorge Lopes da. Fórum de educação de jovens e adultos: uma nova

configuração em movimentos sociais. João Pessoa: Editora Universitária/UFPB, 2005.

162p.

_______, Eduardo Jorge Lopes da. OS FÓRUNS DE EDUCAÇÃO DE JOVENS E

ADULTOS E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A FORMAÇÃO DO EDUCADOR DE EJA.

Pesquisas e Práticas Educativas, 2004. Disponível em:

<http://www.cereja.org.br/arquivos_upload/Eduardo%20Silva_nov2005.pdf> Acesso em:

06/05/2015

SILVA, Antonio Fernando Gouvêa. A busca do tema gerador na práxis da educação

Popular; organizadora: Ana Inês Souza. – Curitiba : Editora Gráfica Popular, 2007.

103

SOARES, Leôncio José Gomes. Educação de Jovens e Adultos. Rio de Janeiro: DP&A,

2002.

SOBRINHO, Ademildo Teixeira. Deveres do Fórum de EJA. MODALIDADE EJA:

O APRENDIZADO PERDIDO A SER ENCONTRADO. Disponível em:

<http://forumeja.org.br/go/node/784>, Acesso em: 26/04/2016.

_______, Leôncio José Gomes. A educação de jovens e adultos: momentos históricos e

desafios atuais. Revista Presença Pedagógica, v.2, nº11, Dimensão, set/out 1996.

UNESCO. Educação de Jovens e Adultos: Uma memória contemporânea, 1996-2004.

Brasília: UNESCO/MEC, 2004. (Coleção educação para todos).

VIEIRA, Iara Maria dos Anjos. Diversidade e linguagem: constituição identitária dos

sujeitos antes e depois da experiência educativa no Centro de Educação de Jovens e

Adultos Antônio Casagrande de Tangará da Serra-MT. Iara Maria dos Anjos Vieira.

Cáceres/MT: UNEMAT, 2013. 94f.

VIDAL, Diana Gonçalves. De Heródoto ao gravador. Histórias da história oral. Revista

Resgate – Interdisciplinar de Cultura do Centro de Memória Unicamp. N 01. 1990. P 77 – 83.

ENTREVISTAS REALIZADAS

P, 1, C. Professora da Rede Estadual de Mato Grosso, Cuiabá – MT. Entrevista realizada em

5/nov/2015. Duração 1 h e 05 min.

P, 2, S. Professora da Rede Estadual de Mato Grosso, Cuiabá – MT. Entrevista realizada em

01/jun/2015. Duração 45 min.

P, 3, E. Professora da Rede Estadual de Mato Grosso, Cuiabá – MT. Entrevista realizada em

10/jun/2015. Duração 1 h e 10 min.

ANEXOS

ANEXO I

QUESTÕES GERAIS

1. Quando e onde iniciou a vivência educacional, o porquê de estar atuando em órgão

governamental?

2. Quando e onde iniciou a vivência educacional, o porquê de estar atuando em órgão não

governamental?

3. Quando e onde iniciou a vivência educacional, o porquê de estar atuando em movimentos

sociais?

4. Início da militância, dificuldades, vitórias, frustações, o que está fazendo?

PROCESSO DE CRIAÇÃO DO FPDEJA/MT

1. Fatos mais importantes do processo de criação do FPDEJA, em Mato Grosso.

2. Atores que tiveram importância no processo de criação do FPDEJA, em Mato Grosso.

3. Maiores obstáculos ao processo de criação do FPDEJA, em Mato Grosso.

4. Diferenças entre direito de oferta e o que estava sendo ofertado de EJA, em Mato Grosso.

5. A importância do FPDEJA, em Mato Grosso.

AVALIAÇÃO DAS POLÍTICAS PUBLICAS DE EJA

1. Avaliação dos resultados concretos de melhoria da oferta de EJA pós criação do FPDEJA

e a importância da continuidade do movimento em Mato Grosso

QUADRO 05: Roteiro de Entrevistas.

ANEXO II

CARTA DA CIDADANIA I

Nada mais significativo e importante para a construção da cidadania do que a

compreensão de que a cultura não existiria sem a socialização das conquistas humanas.

Avulta, neste cenário, a importância da educação, da cultura e da informação como

pilares fundamentais do conhecimento e da cidadania. Conseqüentemente, a escola, como

lócus privilegiado do ensino e da socialização, destaca-se como espaço educativo capaz de

ajudar a formar este cidadão, para que ele possa responder às exigências de uma sociedade em

permanente construção e reconstrução.

Cidadão do mundo - não o de amanhã, mas do atual, da era da informática e da

comunicação. A educação, como uma chave indispensável para o exercício dessa cidadania na

sociedade contemporânea, vai se impondo cada vez mais nestes tempos de grandes mudanças

e inovações nos processos produtivos. Ela possibilita ao indivíduo jovem e adulto retomar seu

potencial, desenvolver suas habilidades, confirmar competências adquiridas na educação

extra-escolar e na própria vida.

As tarefas de ensinar a ler, escrever e contar ampliaram-se muito. O cidadão do mundo

precisa, além dessas habilidades, ser capaz de construir seu próprio conhecimento e buscá-lo

ao longo da vida, adaptar-se a novas situações. E para garantir esse desafio, a escola precisa

incorporar uma nova linguagem.

A implantação do Programa de Educação de Jovens e Adultos em Mato Grosso tem

esta meta: convocar a todos os profissionais envolvidos a buscar novos caminhos, novas

possibilidades. Portanto, remete à superação do “então” ensino supletivo, segundo a

perspectiva de reposição – compensação do que não foi conseguido “na idade própria”. Como

direito, não há idade própria para aprender.

Daí, o esforço para concretizar as funções reparadora, equalizadora e qualificadora,

com ênfase nesta última. O Programa de Educação de Jovens e Adultos se inscreve em um

movimento mais amplo de renovação pedagógica que, na busca de construção de uma

educação emancipatória, democrática, inclusive e de qualidade, direciona esforços para a

aprendizagem e atribui aos educandos o papel de sujeitos ativos no processo de construção de

conhecimentos.

De forma uníssona, em 29 de maio de 2001, reunidos no CEE/MT, os participantes da

2ª Reunião convocada “Pró-Fórum de Discussão Permanente de Educação de Jovens e

106

Adultos”, entendemos prioridade o estabelecimento de um diálogo entre as instituições e

organismos educacionais que atuam na Educação de Jovens e Adultos. E como marco,

lançamos a presente Carta, denominada “da Cidadania”.

Os pontos básicos levantados por essa Comissão Pró-Fórum foram:

- Resgate histórico da Educação de Jovens e Adultos em MT;

- Articulação da Política entre os Estados que possuem Fórum/EJA;

- Papel do Fórum: assessoramento e consultivo;

- Instância de discussão coletiva permanente da escola de EJA;

- Espaço de formação continuada de Professores de EJA;

- Espaço de troca de experiências;

- Construção da identidade de EJA;

- Suporte às escolas de EJA;

- Mapeamento do EJA no estado de Mato Grosso;

- Envolvimento das agências formadoras – universidades.

Irmanados neste propósito, conclamamos as diversas representações presentes na

ocasião do I Seminário Estadual de Educação de Jovens e Adultos, realizado no Hotel

Fazenda, em Cuiabá-MT, no período de 06 a 08 de junho de 2001, para a instalação do Fórum

de Discussão Permanente de EJA, em Mato Grosso.

Cuiabá, 08 de junho de 2001.

107

ANEXO III

REGIMENTO INTERNO

Título I

Do Fórum Estadual

Capítulo I

Da Composição

Art. 1º - O Fórum Estadual Permanente de Debate da Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso

FPDEJA/MT, criado em 08.06.01 é um coletivo de entidades envolvidas com esta modalidade de

ensino, de articulação permanente, com caráter propositivo, consultivo e deliberativo, sem fins

lucrativos, cuja duração é por tempo indeterminado, com sede no município de Cuiabá, Estado de

Mato Grosso e normas de funcionamento definidas neste Regimento.

Parágrafo único. O FPDEJA/MT é constituído por representantes de instituições governamentais e não

governamentais representantes da sociedade civil organizada, pesquisadores, educadores e educandos

que tenham interesse e/ou atuação na Educação de Jovens e Adultos.

Art. 2º - O Fórum Permanente de Debate da Educação de Jovens e Adultos será constituído por:

I – Membros Fundadores;

II – Membros Integrantes.

Art. 3º - São membros Fundadores, os representantes dos organismos governamentais e não

governamentais presentes na Assembléia Geral de criação do Fórum Estadual Permanente de Debate

da Educação de Jovens e Adultos, em 08 de Junho de 2001.

I – Secretaria de Estado de Educação – SEDUC/MT;

II – Conselho Estadual de Educação – CEE/MT;

III – Universidades: Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT;

IV – Pastoral da Criança;

V - Serviço Social da Indústria – SESI/MT;

VI – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial– SENAC/DR/MT;

VII – Sindicato dos Trabalhadores do Ensino Público de Mato Grosso – SINTEP/MT;

VIII – Pólos Regionais das Escolas Públicas dos Municípios de Mato grosso;

IX – Central Única dos trabalhadores – CUT/MT;

X – União dos Dirigentes Municipais de Educação – UNDIME;

XI – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO

Art. 4º - São membros integrantes os representantes das instituições governamentais, e não

governamentais da sociedade civil organizada, pesquisadores, educadores e educandos e

representantes dos Fóruns Regionais.

Art. 5º- Cada membro integrante do FPDEJA/MT deverá representar um único segmento.

Art. 6º- O cadastro dos membros integrantes do Fórum Estadual e Regionais será de responsabilidade

da Coordenação dos fóruns regionais e este remeterá ao FPDEJA.

Capítulo II

Das Finalidades

Art. 7º - Constituem - se finalidades do FPDEJA/MT entre outras, as seguintes:

108

I – aglutinar esforços permanentes de pensar a Educação de Jovens e Adultos, à luz das necessidades

da sociedade mato-grossense;

II – participar da elaboração, acompanhar e avaliar a execução dos Plano Estadual e Municipal de

Educação no que se refere à Educação Jovens e Adultos;

III – promover a aproximação e a cooperação entre os diversos segmentos sociais que oferecem ou são

beneficiários da Educação de Jovens e Adultos de Mato Grosso;

IV – contribuir para a solução de problemas inerentes à Educação de Jovens e Adultos, promovendo a

articulação entre as instituições que oferecem esta modalidade de ensino e demais instituições;

V - propor encaminhamentos relativos à formação inicial de professores para atuação na Educação de

Jovens e Adultos;

VI – organizar reuniões de estudos, seminários e outros eventos visando, o aprofundamento de temas

de interesse da Educação de Jovens e Adultos;

VII – promover debates com as instituições formadoras, visando à oferta permanente de formação

continuada para os profissionais da Educação de Jovens e Adultos;

VIII – estimular a cooperação entre Estado e Município na oferta da Educação de Jovens e Adultos,

inclusive na realização dos Exames Supletivos;

IX – subsidiar os sistemas de ensino na definição das políticas públicas da Educação de Jovens e

Adultos;

X – apresentar sugestões ao órgão normativo do sistema Estadual de Ensino no referente à elaboração

de normas para a Educação de Jovens e Adultos.

XI – desenvolver estudos visando o estabelecimento de critérios para o Exame Supletivo;

XII – acompanhar a execução dos programas e projetos de EJA em desenvolvimento no âmbito do

estado de Mato Grosso.

XIII – incentivar, assessorar, estimular e apoiar a criação de Fóruns de Debates de EJA no âmbito

Regional.

XIX - promover a articulação com outros fóruns e instituições a fim de garantir a articulação entre

políticas públicas que visem integrar as dimensões educação e trabalho, indissociáveis à formação de

Jovens e Adultos.

Título II

Da Organização Funcional

Capítulo I

Da Organização

Art. 8º - O FPDEJA/MT estrutura se da seguinte forma:

I – Coordenação Estadual;

II - Coordenação Regional;

Capítulo II

Do funcionamento

Seção I

Coordenação Estadual

Art. 9º - A Coordenação Estadual é a instância de gerenciamento e execução das ações do

FPDEJA/MT.

Art. 10° - Os membros que comporão a Coordenação Estadual serão eleitos para um mandato de dois

anos, permitida uma recondução, obedecendo a seguinte organização:

I – Coordenador;

II – Vice – Coordenador;

III – Secretário;

IV – Vice -Secretário;

109

V – 05 (cinco) Articuladores;

VI – Assessor Tecnológico;

VII– Vice - Assessor Tecnológico.

Art. 11º - Comporão a Coordenação do Fórum Estadual, membros Fundadores e membros Integrantes

com dois anos de efetiva participação.

Art. 12º - Poderão votar e ser votados na eleição para Coordenação Estadual, os cadastrados no Fórum

Estadual e Fóruns Regionais.

§ 1º - Em caso de afastamento de qualquer membro da Coordenação, o mesmo deverá ser substituído

por seu suplente. Na ausência deste, o FPDEJA-MT poderá indicar seu substituto em reunião

ordinária, devendo ser referendado na próxima assembléia geral.

Seção II

Das Competências

Art. 13º - Compete ao Coordenador do FPDEJA/MT:

I – coordenar o Encontro Estadual e o Encontro de Coordenadores e as reuniões ordinárias e

extraordinárias do FPDEJA/MT;

II – tomar as providências decorrentes dos assuntos aprovados no Encontro Estadual, nos Encontros

Regionais, nas reuniões de Coordenadores e nas reuniões do FPDEJA/MT;

III – representar o FPDEJA/MT e divulgar suas finalidades junto aos diversos segmentos da sociedade

civil;

IV – coordenar e contribuir, anualmente, o plano de trabalho do FPDEJA/MT;

V – convocar para o Encontro Estadual os Fóruns Regionais do FPDEJA/MT;

VI – responsabilizar-se pelo patrimônio e contabilidade geral do FPDEJA/MT;

VII – representar a entidade ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente.

VIII - articular a realização anual, do Encontro Estadual de Educação de Jovens e Adultos.

Art. 14º - Compete ao Vice - Coordenador do FPDEJA/MT:

I – auxiliar o Coordenador nas atribuições pertinentes à função;

II – assumir as funções do Coordenador em suas ausências e impedimentos.

Art. 15º - Compete ao Secretário, às atividades do FPDEJA/MT.

I – elaborar e encaminhar toda a correspondência e documentações pertinentes ao Fórum;

II – manter organizada e arquivada toda a documentação expedida e recebida;

III – lavrar atas e relatórios das reuniões e atividades do Fórum.

Art. 16º -Compete ao Vice – Secretário do FPDEJA/MT:

I – auxiliar a secretário nas funções pertinentes ao cargo;

II – assumir a função do secretário quando este estiver impedido de exercê-lo.

Art. 17º - Compete aos articuladores do FPDEJA/MT:

I – divulgar, acompanhar e estimular os Fóruns: Estadual, Regional, Regional Centro Oeste e

Nacional;

II – Fazer a articulação das atividades desenvolvidas entre o Fórum Estadual e os Fóruns Regionais.

III - Manter atualizado o portal do Fórum com atualização de informações das ações realizadas pelos

Fóruns.

Art. 18º – Compete ao Assessor Tecnológico do FPDEJA/MT:

I – subsidiar a Coordenação (Geral) com informações e conhecimentos sistematizados em assuntos

pedagógicos próprios da Educação de Jovens e Adultos;

II – assessorar a Coordenação Geral e Fóruns Regionais nos assuntos pertinentes à Educação de

Jovens e Adultos.

III - Manter atualizado o portal do Fórum com atualização de informações das ações realizadas pelos

Fóruns.

Art. 19º - Compete ao Vice – Assessor Tecnológico do FPDEJA/MT:

I – auxiliar o Assessor Tecnológico nas funções pertinentes ao cargo;

II – assumir a função do Assessor Tecnológico quando este estiver impedido de exercê-lo.

110

Seção III

Coordenação Regional

Art. 20º - A Coordenação Regional é a instância de estudos e elaboração de pareceres propostos no

Encontro Estadual, gerenciamento e execução das ações do FPDEJA/MT.

Art. 21º - Os membros que comporão a Coordenação Regional serão eleitos no Encontro Regional em

Assembléia Geral para um mandato de dois anos, permitida uma recondução com a seguinte

composição:

I – Coordenador;

II – Vice – Coordenador;

III – Secretário;

IV – Vice -Secretário;

V – Articulador, um por município;

VI – Assessor Tecnológico;

VII– Vice - Assessor Tecnológico.

Art. 22º - Poderão votar e ser votados na eleição para Coordenação Regional, os cadastrados no Fórum

Regional.

§ 1º - Em caso de afastamento de qualquer membro da Coordenação, o mesmo deverá ser substituído

por seu suplente. Na ausência deste, o FPEDEJA-MT poderá indicar seu substituto em reunião

ordinária, devendo ser referendado na próxima assembléia geral.

Seção IV

Das Competências

Art. 23º - Compete ao pólo regional do FPDEJA;

I – reunir-se ordinariamente ou extraordinariamente quando necessário;

II – o pólo regional deverá desenvolver suas ações por meio de subcomissões para assuntos peculiares

conforme dispõem o regimento interno do FPDEJA;

III – Cumprir e fazer cumprir as deliberações do Encontro Estadual;

IV – eleger e organizar estratégias que possibilitem o desenvolvimento de ações de interesse do

FPDEJA;

V - apreciar o plano de trabalho do FPDEJA, proposto pela coordenação estadual;

VI – emitir parecer conclusivo sobre matérias que lhe forem submetidas;

VII – exercer as demais atribuições decorrentes d outros dispositivos deste regimento e as que lhe

venham ser legalmente conferidas;

Art. 24º - Considerando as especificidades do Estado ficam constituídos Pólos Regionais, os

municípios do Estado obedecendo a seguinte divisão: 01. Água Boa, 02. Alta Floresta, 03. Baixada

Cuiabana, 04. Barra do Garças, 05. Cáceres, 06. Comodoro, 07. Confresa, 08. Jaciara, 09. Juara, 10.

Juína, 11. Matupá, 12. Nova Mutum, 13. Pontes e Lacerda, 14. Primavera do Leste, 15. Rondonópolis,

16. São Felix do Araguaia, 17. Sinop, 18. Tangará da Serra

Art. 25º - Compete ao Coordenador do Fórum Regional:

I – coordenar o Encontro Regional e as demais atividades realizadas pelo Fórum;

II – tomar as providências decorrentes dos assuntos aprovados no Encontro Regional, nas reuniões de

formação e reuniões ampliadas;

III – representar o Fórum Regional e divulgar suas finalidades junto aos diversos segmentos da

sociedade civil;

IV – coordenar, anualmente, o plano de trabalho do Fórum Regional;

V – convidar para o Encontro Regional os municípios que integram o Fórum;

VI – responsabilizar-se pelo patrimônio e contabilidade geral;

VII – representar a entidade ativa e passivamente, judicial e extrajudicialmente.

VII - articular a realização anual, do Encontro Regional de Educação de Jovens e Adultos.

Art. 26º - Compete ao Vice - Coordenador:

I – auxiliar o Coordenador nas atribuições pertinentes a função;

111

II – assumir as funções do Coordenador em suas ausências e impedimentos.

Art. 27º - Compete ao Secretário do Fórum Regional.

I – elaborar e encaminhar toda a correspondência e documentações pertinentes ao Fórum;

II – manter organizada e arquivada toda a documentação expedida e recebida;

III – lavrar atas e relatórios das reuniões e atividades do Fórum.

Art. 28º -Compete ao Vice – Secretário do Fórum Regional:

I – auxiliar a secretário nas funções pertinentes ao cargo;

II – assumir a função do secretário quando este estiver impedido de exercê-lo.

Art. 29º - Compete aos articuladores Municipais

I – divulgar, acompanhar e estimular os segmentos à nível municipal participar do Fórum Regional, do

Encontro Estadual, Regional Centro Oeste, Nacional;

II – Fazer a articulação entre as atividades desenvolvidas pelo o Fórum Regional.

III- Manter atualizado o Portal do Fórum com atualização de informações das ações realizadas pelo

Fórum.

Art. 30º – Compete ao Assessor Tecnológico :

I – subsidiar a Coordenação Regional com informações e conhecimentos sistematizados em assuntos

pedagógicos próprios da Educação de Jovens e Adultos;

II – assessorar a Coordenação Regional e com os assuntos pertinentes à Educação de Jovens e

Adultos.

Art. 31º - Compete ao Vice – Assessor Tecnológico :

I – auxiliar o Assessor Tecnológico nas funções pertinentes ao cargo;

II – assumir a função do Assessor Tecnológico quando este estiver impedido de exercê-lo.

Título III

Dos Encontros dos Fóruns

Art. 32º - O FPDEJA/MT na busca de afirmação de política educacional tanto na sua organização

estadual como nos regionais realizam:

I - Encontro de Coordenadores;

II - Encontro Regional;

III - Encontro Estadual;

IV – Reuniões internas;

Capítulo I

Do Encontro de Coordenadores

Art. 34º - O Encontro de Coordenadores do FPDEJA/MT constitui-se pela representação dos Fóruns

Regionais

Art. 35º - O Encontro de Coordenadores realizar-se-á anualmente no primeiro e segundo semestre

antecedendo o Encontro Estadual de Educação de Jovens e Adultos.

Art. 36º - O Encontro de Coordenadores articular-se-á com os encaminhamentos aprovados nos

Fóruns Regionais, Encontro Estadual, EREJA/CO, ENEJA e outros.

Art. 37º - O Encontro de Coordenadores além de instância de estudos fará encaminhamentos que serão

executados no âmbito de cada Fórum Regional.

Capítulo II

Dos Encontros Regionais

Art. 38º - O encontro dos Fóruns Regionais de Mato Grosso será promovido pela coordenação dos

mesmos, constituídas para esse fim, seguindo as orientações estabelecidas em seus regimentos e ainda

pela Coordenação Estadual do FPDEJA/MT.

112

Art. 39º - Os Encontros serão organizados pela Coordenação Regional de acordo com o regimento do

mesmo.

Art. 40º - Cada Pólo Regional organizará seu encontro atendendo o regimento interno, bem como o

Estadual.

Art. 41º - Os Encontros terão a finalidade de contribuir com as políticas públicas brasileira de

Educação Básica.

Art. 42º - Os encontros dos Fóruns Regionais articular-se-ão, com os encaminhamentos aprovados nos

Fóruns Regionais, Encontro Estadual, EREJA/CO, ENEJA e outros.

Art. 43º - Os Encontros dos Fóruns Regional têm o objetivo de oportunizar espaços de discussão para

que os profissionais da educação e a comunidade interessada possam discutir e enriquecer o ensino

para a Educação de Jovens e Adultos.

Art. 44º – Os Encontros dos Fóruns Regionais culminará com uma plenária como instância de

deliberação e eleição de delegados para o Encontro Estadual, respeitando os segmentos.

Art. 45º - A Coordenação Regional deverá apresentar relatório dos encontros em parâmetro e formato

legalmente aceito e recomendado pelo FPDEJA/MT.

Capítulo III

Do Encontro Estadual

Art. 46º - O Encontro Estadual é o espaço de reflexão, deliberação, decisão e avaliação das ações do

FPDEJA/MT.

§1º - O Encontro Estadual é constituído pelos delegados representantes do Fórum Estadual, dos Fóruns

Regionais e convidados.

§2º - Os delegados serão eleitos de acordo com os segmentos que representam.

Art. 47º - O Encontro Estadual culminará com a Assembléia Geral como instância máxima de

deliberações.

Art. 48º - O Encontro Estadual é constituído pelos delegados eleitos nas instâncias do Fórum Estadual

e Fóruns Regionais, com ata registrada.

Parágrafo Único: Os delegados serão eleitos de acordo com os segmentos que representam.

Art. 49º - O Encontro Estadual será organizado pela Coordenação Estadual para esse fim em reunião

do FPDEJA/MT.

Art. 50º - O Encontro Estadual realizar-se-à anualmente, antecedendo ao Encontro Nacional de

Educação de Jovens e Adultos ENEJA.

Art. 51º - Compete ao Encontro Estadual reunido em Assembléia Geral:

I – aprovar e reformular o regimento;

II – eleger a Coordenação do FPDEJA/MT;

III – decidir sobre propostas ou matérias que lhe forem submetidas pelo Fórum ali reunido;

IV – aprovar o relatório anual das atividades;

V – eleger delegados para o Encontro Nacional de Educação de Jovens e Adultos;

VI – aprovar, anualmente, a prestação de contas do FPDEJA/MT

Parágrafo único: Os delegados do Encontro Nacional serão eleitos da seguinte forma:1\3 para a

Coordenação do FPDEJA-MT e Coordenadores Regionais e 2\3 para os membros integrantes e

fundadores.

Capitulo IV

Das reuniões Internas

113

Art. 52º - A Coordenação Estadual do Fórum Estadual de Mato Grosso se reunirá ordinariamente a

cada mês conforme calendário pré estabelecido ou extraordinariamente por convocação do

coordenador.

§ 1º - Poderão ser realizadas reuniões extraordinárias por convocação, mediante requerimento de dois

terços dos seus membros efetivos.

§ 2º - Por delegação do Coordenador do FPDEJA/MT qualquer membro da coordenação estadual

poderá convocar reunião extraordinária.

Art. 53º - Serão realizadas reuniões trimestrais ordinárias entre coordenação e (os) membros dos pólos

regionais com o objetivo de socializar informações das ações.

Art. 54º - As datas e horários das reuniões ordinárias da coordenação serão fixados em calendário

mediante consenso, na primeira reunião ordinária de cada semestre.

Art. 55º - As reuniões do Fórum instalar-se-ão com a presença de dois terços de seus membros, com

direito a voto.

Art. 56º - Qualquer membro do Fórum poderá pedir vistas de matéria em discussão, tendo acesso a

toda documentação pertinente ao assunto, devendo emitir parecer em até 03 (três) dias antes da

reunião ordinária subseqüente.

Art. 57º - Fica assegurado a cada um dos membros participantes das reuniões o direito de manifestar-

se sobre todo e qualquer assunto em discussão, não podendo voltar a ser discutido após aprovação.

Título IV

Dos Direitos e Deveres dos Membros

Art. 58º - São direitos dos Membros do FPDEJA/MT:

I – candidatar-se como membro da Coordenação Estadual e Fóruns Regionais;

II – participar do Fórum Regional, respeitada a indicação da instituição que represente;

III – participar dos Encontros Estadual, Regional e de Coordenadores com direito a voz e voto;

IV – apresentar matérias que considere relevantes para apreciação do Fórum;

V – compor grupos de trabalho, independentemente de sua indicação pelo o Fórum Regional;

VI – fazer uso das informações e conhecimentos articulados ou produzidos pelo Fórum;

VII – participar do FPDEJA/MT e de outros eventos de interesse do Fórum, desde que indicado.

Art. 59º - São deveres dos Membros do FPDEJA/MT:

I – comparecer aos Encontros e participar das atividades deles decorrentes;

II – subsidiar o FPDEJA/MT com informações, conhecimentos, dados e outras contribuições

pertinentes ao trabalho do Fórum;

III – divulgar e articular suas ações;

IV – votar na eleição da Coordenação do Fórum Estadual e dos Fóruns Regionais;

V – votar as matérias apreciadas nos Encontros;

VI – cumprir os dispositivos do seu Regimento Interno e demais deliberações oriundas do Fórum;

VII – zelar pela ética nos assuntos ou matérias no Fórum.

Título V

Disposições Gerais e Transitórias

Capitulo I

114

Art. 60º - O FPDEJA/MT deverá incentivar a criação de Fóruns Regionais, de acordo com as

necessidades de sua atuação.

Art. 61º - Nenhum membro do FPDEJA/MT e dos Fóruns Regionais serão, sob nenhum pretexto,

remunerados.

Art. 62º - O FPDEJA/MT não se responsabiliza pelas obrigações contraídas pelos seus membros e

coordenadores.

Art. 63º - As disposições deste Regimento Estadual podem ser reformuladas a qualquer tempo, por

indicação de seus membros.

Parágrafo Único – As propostas de alterações deste regimento deverão ser aprovadas por metade mais

um de seus membros presentes em Assembléia Geral, por ocasião do Encontro Estadual.

Art. 64º - Após a aprovação do presente Regimento do Fórum Estadual, os Fóruns Regionais terão o

prazo máximo de sessenta dias para elaboração e aprovação de seus .

Art. 65º - Os critérios de eleição, natureza e atividades dos Fóruns Regionais serão definidos em seus

respectivos Regimentos.

Art. 66º - Os casos omissos neste Regimento serão resolvidos pela Coordenação Estadual

conjuntamente com seus respectivos membros e órgãos parceiros.

Art. 67º - Este regimento entra em vigor na data de sua aprovação.

Capítulo II

Dos recursos Financeiros

Art. 68º - Cabe aos membros Fundadores e Integrantes, captar recursos para realização dos encontros,

através de parcerias e doações junto as suas instituições.

Capítulo III

Do Patrimônio e Dos Recursos para Manutenção

Art. 69º - O patrimônio do FPDEJA/MT é constituído nas formas permitidas em lei, por subvenções,

doações, contribuições ou por recursos econômico-financeiros provenientes de receitas eventuais

diversas e destina-se a ações específicas do FPDEJA/MT.

Parágrafo único – Os recursos para manutenção do FPDEJA/MT serão advindos de doações.

Art. 70º - Em caso de extinção do FPDEJA/MT, o patrimônio do mesmo será destinado à instituição

da sociedade civil, com objetivos comuns ad referendum da Assembléia Geral.

Capitulo IV

Disposições Finais

Art. 71º - Os casos omissos neste Regimento serão resolvidos pela Coordenação Estadual

conjuntamente com seus respectivos membros e órgãos parceiros.