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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT FACULDADE DE ECONOMIA - FE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E DESENVOLVIMENTO REGIONAL “REJEITOS DAS ATIVIDADES GARIMPEIRAS DA REGIÃO DE ALTO COITÉ - POXORÉU/MT: ESTUDO PARA APROVEITAMENTO ECONÔMICO” Anésia Ribeiro Viana Filha Cuiabá – MT/2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT

FACULDADE DE ECONOMIA - FE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E

DESENVOLVIMENTO REGIONAL

“REJEITOS DAS ATIVIDADES GARIMPEIRAS DA REGIÃO DE

ALTO COITÉ - POXORÉU/MT: ESTUDO PARA APROVEITAMENTO

ECONÔMICO”

Anésia Ribeiro Viana Filha

Cuiabá – MT/2009

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Anésia Ribeiro Viana Filha

“REJEITOS DAS ATIVIDADES GARIMPEIRAS DA REGIÃO DE ALTO COITÉ -

POXORÉU/MT: ESTUDO PARA APROVEITAMENTO ECONÔMICO”

Dissertação apresentada a Faculdade de Economia

da Universidade Federal de Mato Grosso como um

dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em

Economia, no Programa de Pós-Graduação em

Agronegócios e Desenvolvimento Regional.

Orientação: Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta

Co-orientação: Profa. Dra. Rúbia Ribeiro Viana.

Cuiabá – MT/2009

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Dedicatória

Dedico este trabalho as pessoas que mesmo distante fisicamente, nunca deixaram de está ao meu lado em todos os momentos, dos mais tranqüilos aos mais difíceis, sempre com uma palavra de incentivo e otimismo. Assim, este trabalho é dedicado ao meu pai João Antônio Viana, Maria Vilma Viana, Gislene Ribeiro Viana e a toda minha família e de maneira especial a Edson Pereira Aguiar pela compreensão, principalmente durante o último ano.

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AGRADECIMENTOS

Para a realização desta dissertação, várias pessoas contribuíram decisivamente, com

apoio intelectual e/ou afetivo, em cada passo dessa trajetória, tornando possível a realização e

conclusão dessa dissertação. O envolvimento de todos, de maneira individual ou coletiva, foi

decisivo para dar continuidade, ao permitir transpor obstáculos comuns a todo processo de

produção cientifica e ingressar em ambientes antes desconhecidos. Foram muitas as pessoas e

instituições que contribuíram para a concretização desta dissertação, a todas gostaria de

registrar meus agradecimentos.

Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta, primeiramente por ter mais uma vez acreditado

em um projeto meu e, ainda por lembra sempre que não há limite entre diferentes áreas de

atuação para adquirir conhecimento e, diante de tal argumento pude sanar dificuldades e

conquistar metas propostas. Agradeço pelas sugestões, discussões, direcionamento, apoio e

confiança depositada em mim e em meu trabalho, peculiaridades essenciais de um orientador.

Sou imensamente grata pela orientação durante os anos de trabalho e por ter chamado minha

atenção para o tema desenvolvimento, cujos exemplos de comprometimento com o tema

jamais esquecerei.

Profa. Dra. Rúbia Ribeiro Viana, pelo estímulo em momentos difíceis e ainda pelas

sugestões e comentários, desde o primeiro rascunho do pré-projeto e a cada passo ao longo

desta caminhada, que muito contribuíram na elaboração de um trabalho de qualidade.

Agradeço por ter me incentivado a não desistir de meu crescimento pessoal, intelectual e

cientifico. Obrigada, sua experiência e serenidade, me ajudou nos momentos de dificuldade e

dúvida frente aos caminhos a seguir.

Profa. Dra. Gislaine Amorés Battineli, pela colaboração, questionamentos e

comentários que muito contribuíram para o término deste trabalho. Obrigada sua ajuda foi

essencial na etapa final.

Prof. Benetido Dias Pereira, por me apresentar a história de Poxoréu e Alto Coité, ao

disponibilizar o livro que constituiu a base para esta dissertação. Ainda sou grata pelo

primeiro contato com o pessoal de Alto Coité, o que facilitou a pesquisa de campo, em

especial, a aplicação dos questionários.

Prof. Dr. Arturo Alejandro Zavala, pela atenção e orientação quando precisei definir a

amostragem para a pesquisa socioeconômica. Sua ajuda foi de grande valia para definir a

melhor amostra a ser trabalhada no curto espaço de tempo.

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iv

Ao colega e amigo Eliezer Pereira pela receptividade e por compartilhar suas

experiências da área econômica. Obrigada por ter dedicado um pouco do seu tempo e

contribuir para meus conhecimentos.

Aos bolsistas do Laboratório Multi-Usuário de Técnicas Analíticas, Hudson A.

Queiros, Tatiane Salles, Thaís Cardoso, Luana Laiane e Sirlane Naves pelas horas dedicadas a

preparação das amostras e realização das análises químicas. Ainda agradeço Tatiane e Thaís

pela colaboração na etapa de campo, contribuindo de maneira fundamental para a pesquisa.

Ao técnico do Departamento de Recursos Minerais José Nunes, pelo auxílio na

preparação das amostras.

A população de Alto Coité, pela afável hospitalidade e disponibilidade, que muito

contribuíram possibilitando a realização da pesquisa. Agradeço em especial, as famílias que

participaram de forma direta permitindo a entrada do pesquisador em seus lares, respondendo

ao questionário e relatando suas memórias, histórias e experiências. Agradecimentos também

são devidos ao Sr. Lú por ter nos acompanhado durante visitas as áreas de garimpos.

Em Poxoréu expresso meus agradecimentos a pessoas de órgãos municipais e outras

instituições por disponibilizar informações persistentes ao trabalho. Sr. Gaudêncio Amorim,

Secretaria da Administração, Sr. João de Souza e Garibaldi, Secretaria Municipal de

Agricultura, Mineração e Assuntos Fundiários. Outras pessoas a quem sou grata: Sra. Maria

Pina, presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Poxoréu, Sra. Maria Aparecida, diretora

da Associação dos Garimpeiros de Poxoréu, Sr. Jurandir da Cruz Xavier, por ter

disponibilizado arquivos pessoais para consulta.

Reconheço a importância do apoio das seguintes instituições: CAPES - Coordenação

de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela bolsa de estudo concedida, a qual

possibilitou disponibilizar maior tempo aos estudos. FAPEMAT - Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de Mato Grosso, ao aprovar meu projeto de pesquisa e disponibilizar

recursos financeiros para pesquisa de campo e outros componentes indispensáveis a

realização da dissertação. METAMAT – Companhia Matogrossense de Mineração, na pessoa

do Geólogo Vanderley Magalhães por ter disponibilizado os dados referentes ao orçamento da

oficina de artesanato.

A todos aqueles que de forma direta ou indireta participaram na concretização desta

dissertação. Obrigada, todos foram importantes.

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RESUMO Esta dissertação tem por objetivo estudar a viabilidade dos rejeitos dos garimpos de diamante como alternativa para desenvolvimento socioeconômico da região de Alto Coité, pequena vila do município de Poxoréu no estado de Mato Grosso. A localidade pode ser caracterizada pela decadência econômica e social decorrente do esgotamento das jazidas diamantíferas e da falta de perspectiva de sua população em relação à geração de empregos em conseqüência do esgotamento da exploração diamantífera. Ao buscar o aproveitamento e beneficiamento dos rejeitos na produção de areia industrial, o estudo indicou algumas aplicabilidades fabris, com objetivo de gerar empregos e sugere ainda, através do artesanato, encontrar alternativas de renda para a população. O estudo faz indicações com base em resultados das análises químicas e físicas dos rejeitos, extraídos nos garimpos abandonados. Mostra ainda os aspectos históricos no qual se deu o processo de decadência da região de Poxoréu, cuja atividade garimpeira foi fundamental para o fenômeno de desenvolvimento e subdesenvolvimento municipal. Os resultados das análises sugerem que os rejeitos podem ser utilizados na construção civil, tomando por base as especificações brasileiras para esse fim, assim como para a indústria de vasilhame e fundição. Outras especificações fabris como vidro - cristal, vidros planos, tijolos, telhas, etc. - podem ser considerados, com tratamento magnético ou flotação, para remoção de contaminantes residuais, indesejáveis ao uso recomendado. A presença de ouro em quase todas as amostras das frações analisadas pode gerar o interesse empresarial de mineração a investir na região, gerando formas de emprego. A existência de pedras permite sugerir a fabricação de semi-jóias e peças ornamentais, por apresentarem características visuais que atendem aos padrões de estética aplicados a este ramo artesanal, após terem sido trabalhadas para tal fim. Concluídos os estudos técnicos das propostas recomenda-se que a organização social, cuja característica mais adequada parece ser o associativismo, faça captação de recursos através de financiamento em órgãos públicos federais ou estaduais, que proporcione melhor condição de vida às famílias envolvidas, com redução da migração de jovens, fixação de famílias, geração de renda e ocupação, promoção de maior interação social, além da conscientização e recuperação ambiental. Palavra-Chave: Alto Coité-Poxoréu/MT, Garimpos de Diamantes, Aproveitamento de rejeitos, Desenvolvimento sustentável.

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ABSTRAT This dissertation aims to study the feasibility of the diamond mines refuse as an alternative to socioeconomic development in the Alto Coité region, a small village in the municipality of Poxoréu, a small town of the Mato Grosso State. The locality can be characterized by economic and social decline resulting from perspective lack of its population in relation to the jobs generation as a result of the diamond exploration depletion. To seek the recovery and processing of the refuses in the production of the industrial sand, the study indicated some factories applicability, aiming to create jobs and also suggests, through the handcraft, finding alternative income for the population. The study did indications based on results of the chemical and physical analysis of the refuse, of the diamond abandoned mines. It also shows the historical aspects which gave the process of decay in the Poxoréu region, whose activity of the diamond extraction was crucial for the municipal development and underdevelopment phenomenon. Based on the Brazilian specifications, the analysis results suggest that the refuses can be used in the civil construction, and in the cask industry and in the foundry industry. Other specifications that can be considered are the glass fabrics - crystal, plane glass, bricks, tiles, etc. after the treatment with magnetic or flotation to remove residual contaminants to the recommended use. The presence of gold in almost all fractions of the analyzed samples can generate the interest of a Mine Exploration Company to invest in the mining research at the region, and if the results be satisfactory, will be the possibility of a new employment generating. The presence of the big fragments of the rocks and pebbles of quartz, opal, and others minerals suggests the implantation of the semi-manufacture fabric of the jewelry and ornamental pieces. The treatment of these fragments and pebbles showed visual characteristics that attend the aesthetics standards applied to the craft industry. Concluded the technical studies of the proposals was possible to recommended that the social organization, whose most appropriate character seems to be the partnerships, can get a financial support with federal or state public institution to start the implantation of the one alternative that can offer better life conditions of the Alto Coité families. This alternative can reduce the young people migration, can to help the families fixation at the place, can generate founds and employment, promoting greater social interaction, and can will permit the environment education and recuperation. Keywords: Alto Coité-Poxoréu/MT, diamonds mine, employment the refuses, tenable development.

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... ii

AGRADECIMENTOS ............................................................................................................iii

RESUMO................................................................................................................................... v

ABSTRACT .............................................................................................................................vi

LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................x

LISTA DE TABELAS............................................................................................................xii

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS...........................................................................xiv CAPÍTULO 1:INTRODUÇÃO............................................................................................. 15

1.1 A garimpagem e os garimpos .......................................................................................... 17

1.1.1 Aspectos organizacionais e tecnológicos dos garimpos .............................................. 17

1.1.2 Aspectos econômicos e sociais e ambientais ................................................................ 20

1.2 Área de estudo................................................................................................................... 24

1.2.1 Colonização e garimpagem........................................................................................... 24

1.2.2 A ecomonia regional ...................................................................................................... 26

1.3 Ojetivos e abordagens ...................................................................................................... 28

1.4 Importância econômica dos rejeitos do setor mineral .................................................. 29

1.5 Organização do trabalho ................................................................................................. 35

CAPITULO 2: METODOLOGIA ........................................................................................ 36

2.1 Pesquisa bibliográfica....................................................................................................... 37

2.1.1 Conhecimento da área de estudo ................................................................................ 38

2.1.2 Procedimentos adotados para elaboração de questionário ...................................... 38

2.2 Etapas de campo ...............................................................................................................41

2.2.1 Levantamento preliminar da área de estudo .............................................................. 42

2.2.2 Reconhecimento e coleta de amostras dos rejeitos ..................................................... 42

2.2.3 Visita a área de estudo para entrevistas e aplicação do questionário....................... 43

2.2.3.1 Aplicação do questionáriojunto à população de Alto Coité.................................... 93

2.2.3.2 Aplicaçãp do questionário junto à prefeitura e sindicato dos garimpeiros .......... 93

2.2 Etapas de laboratório .......................................................................................................45

2.3.1 Análise granulométrica .................................................................................................45

2.3.2 Análise petrográfica ...................................................................................................... 45

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viii

2.3.3 Análise química.............................................................................................................. 46

2.3.4 Laminação e Polimento ................................................................................................. 46

2.4 Etapas de sistematização dos dados................................................................................ 46

2.4.1 Tabulação dos dados para o diagnóstico socioeconômico.......................................... 47

CAPÍTULO 3: FUNDAMENTOS BÁSICOS DO ESTUDO ............................................. 48

3.1 Fases do desenvolvimento ................................................................................................ 51

3.2 Crescimento e Desenvolvimento econômico................................................................... 51

3.3 Concepções e discussões sobre desenvolvimento ........................................................... 54

3.4 Novas concepções de desenvolvimento econômico ........................................................ 58

3.4.1 Endogenia do desenvolvimento .................................................................................... 60

3.4.2 Desenvolvimento local integrado e sustentável ........................................................... 66

CAPÍTULO 4: PERFIL SOCIOECONÔMICO E PERSPECTIVAS DE ALTO

COITÉ......................................................................................................................................71

4.1 Contextualizações geral do município de Poxoréu e do distrito Alto Coité.................71

4.1.1 O município.................................................................................................................... 72

4.1.2 O distrito......................................................................................................................... 76

4.2 Resultados da pesquisa com moradores de Alto Coité.................................................. 78

4.2.1 Perfil dos entrevistados ................................................................................................. 79

4.2.2 Caracterização das famílias.......................................................................................... 84

4.2.3 Caracterização dos domicílios ...................................................................................... 88

4.2.4 A garimpagem e os garimpos ....................................................................................... 89

4.2.4.1 Caracterização dos garimpos .................................................................................... 90

4.2.4.2 Os moradores e os garimpos...................................................................................... 93

CAPÍTULO 5: CARACTERIZAÇÃO DOS REJEITOS DE DIAMANTES................... 97

5.1 Descrição dos depósitos .................................................................................................... 98

5.2 Estudos granulométricos................................................................................................ 101

5.2.1 Estudos macroscópicos e microscópicos .................................................................... 107

5.3 Análise geoquímica ......................................................................................................... 108

5.4 Discussões dos resultados............................................................................................... 112

CAPÍTULO 6: RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO EM

ALTO COITÉ....................................................................................................................... 115

6.1 Políticas e modelos de desenvolvimento........................................................................ 115

6.2 Propostas de desenvolvimento para Alto Coité ........................................................... 119

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ix

6.1.2 Implantação de uma cooperativa para confecção de peças artesanais................... 121

6.2.2 Implantação de planta industrial para produção de areia artificial/industrial..... 123

6.2.3 Recuperação da área degradada pela garimpagem em Alto Coité......................... 125

CAPÍTULO 7: CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 132

REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 135

ANEXOS ............................................................................................................................... 143

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x

LISTA DE FIGURAS

Figura 01: : Mapa localizaçao de Poxoréu e Alto Coité...................................................... 24

Figura 02: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio, urbana ou

rural 1970, 1980, 1991, 2000, 2007 e 2008............................................................................. 50

Figura 03: Idade dos entrevistados de Alto Coité................................................................ 50

Figura 04: Estado de origem dos entrevistados ................................................................... 54

Figura 05: Tempo de permanência dos entrevistados em Alto Coité ................................ 69

Figura 06: Grau de escolaridade por sexo dos moradores de Alto Coité.......................... 24

Figura 07: Nível de escolaridade dos entrevistados............................................................. 50

Figura 08: Nível de escolaridade dos entrevistados............................................................. 50

Figura 09: Tempo de recebimento da aposentadoria.......................................................... 54

Figura 10: Percentual de entrevistados que possuem ou não possuem habilidade manual69

Figura 11: Número de moradores por residências .............................................................. 24

Figura 12: Percentual das famílias que possuem algum membro que mora em outra

localidade................................................................................................................................. 50

Figura 13: Situação dos membros das famílias que foram embora................................... 50

Figura 14: Escolaridade dos membros da família ............................................................... 54

Figura 15: Nível de renda mensal das famílias pesquisadas............................................... 69

Figura 16: Tempo de recebimento do programa bolsa família .......................................... 24

Figura 17: Tipologia dos domicílios ..................................................................................... 50

Figura 18: Domicílios atendidos por saneamento básico.................................................... 50

Figura 19: Percentual de entrevistados que trabalharam/trabalham em garimpos ........ 54

Figura 20: Percentual dos membros das famílias dos entrevistados que trabalharam ou

trabalham em garimpos ......................................................................................................... 69

Figura 21: Percentual de entrevistados que acham que vale a pena ter garimpos na

região ..................................................................................................................................... ..24

Figura 22: Mapa geológico da área de estudo...................................................................... 50

Figura 23: Imagens de campo, mostrando diferentes aspectos das áreas exploradas por

garimpeiros manuais e mecanizados..................................................................................... 50

Figura 24: Perfil esquemático representativo de um corte de um terreno in situ a região

de Alto Coité….54

Figura 25: Formas elaboradas para identificar o grau de arredondamento dos grãos... 24

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xi

Figura 26: Gráfico mostrando a distribuição granulométrica, em percentagem, das

amostras analisadas................................................................................................................ 50

Figura 27: amostras de seixos polidas para aproveitamento em peças ornamentais e

semi-jóias ................................................................................................................................. 50

Figura 28: Representação gráfica do grau de esfericidade das frações areia encontradas

nas amostras estudadas.......................................................................................................... 50

Figura 29: Fotomicrografia de lâminas de grãos das amostras ......................................... 50

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xii

LISTA DE TABELAS

Tabela 01: População e taxa de crescimento demográfico do município de Poxoréu 1970,

1980, 1991 e 2000 a 2008 ....................................................................................................... 28

Tabela 02: Evolução do PIB a preços constantes do município de Poxoréu, 2002 a 200530

Tabela 03: Valor agregado bruto do município por setor de atividade, 2005 .................. 34

Tabela 04: Evolução do PIB per capita do município de Poxoréu, 2002 a 2005............... 37

Tabela 05: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio:

Urbano/rural, 2007 e 2008 .................................................................................................... 47

Tabela 06: Domicílios ocupados por localização do distrito de Alto Coité, 2008 ............. 48

Tabela 07: Resultados dos estudos granulométricos em massa, porcentagem simples e

acumulada ............................................................................................................................... 52

Tabela 08: Caracterização quanto ao grau de esfericidade das amostras da região de

Alto Coité................................................................................................................................. 53

Tabela 09: Composição química, em % de peso, de areias de quartzo para vasilhame de

vidro ......................................................................................................................................... 60

Tabela 10: Composição química, em % peso e propriedades físicas, para vidros planos,

vasos de cristal e fibra de vidro ............................................................................................. 61

Tabela 11: Resumo de especificações química e granulométrica de areias industriais . . 62

Tabela 12: Resultados de análises químicas das amostras in natura dada em % peso .... 65

Tabela 13: Resultados de análises químicas das amostras na fração 1.19 mm dada em %

peso........................................................................................................................................... 70

Tabela 14: Resultados de análises químicas das amostras na fração 0,5mm dada em %

peso........................................................................................................................................... 70

Tabela 15: Resultados de análises químicas das amostras na fração argila ..................... 75

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xiii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS

BGS - BRITISH GEOLOGICAL SURVEY

CETEM – CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL

CPRM – COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS

DIT – DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA

CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE

LAMUTA – LABORATÓRIO MULTI-USUÁRIO EM TÉCNICAS ANALÍTICAS

PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO

SEPLAN – SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇAO

GERAL

ZEE – ZONEAMNETO ECONÔMICO E ECOLÓGICO

ZSEE- ZONEAMNETO SOCIOECONÔMICO E ECOLÓGICO

USGS – UNITED STATES GEOLIGICAL SURVEY

PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO

PRORENDA – PROJETO DE APOIO AOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS NO

ESTADO DE PERNAMBUCO.

VAB - VALOR AGREGADO BRUTO

SEDENE – SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE

OMU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

DLS – DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL

DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO E SUSTENTÁVEL

DNPM – DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇAO MINERAL

MATEMAT – COMPANHIA MATO-GROSSENSE DE MINERAÇÃO

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xiv

BNDES – BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL

IDH – ÍNDICE DESENVOLVIMENTO HUMANO

GTZ – AÊNCIA DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ALEMÃ

PSF – PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

SCPK - SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO DO PROCESSO DE KIMBERLEY

SEBRAE – SISTEMA BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

ONG – ORANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL

OMS – ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE

SLI – SISTEMA LOCAL INTEGRADO

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CAPÍTULO 1

INTRODUÇÃO E RELEVÂNCIA DO TEMA

O processo de ocupação da região de Poxoréu/MT é antigo. Data do final do século

XIX, precisamente de 1879, e tinha por finalidade explorar o potencial agropecuário da

região, sobretudo, as terras devolutas, destinando-as à criação de gado. Contudo, foi somente

em 1919 que aconteceu o povoamento, do território que hoje integra o município de Poxoréu.

As primeiras descobertas dos depósitos diamantíferos na região acorreram a partir de

1924 na área de Pombas, todavia a partir de 1926 as atividades garimpeiras foram realizadas

no Vale do Rio Poxoréu e nos vales dos rios afluentes - Coité, Areia e Jácomo e, em rios

menores da bacia. Por quase um século a área foi objeto da exploração garimpeira, exaurindo

por volta do início dos anos 90. Na área de Alto Coité, provavelmente, a descoberta de

diamante, ocorreu no final de 1929 e início de 1930, de modo específico, no rio Coité, situado

a nordeste da cidade. A área de Alto Coité é considerada a mais expressiva zona de garimpos

de Poxoréu. Antes desta data, a exploração ocorria à margem do rio Poxoréu, designadamente

no sopé do Morro da Mesa (Baxter, 1988) e Almeida e Alves (In: Schmaltz, 1983).

Na fase inicial das descobertas de diamantes na região de Poxoréu a extração foi

realizada, de modo precário e desordenada, e em pequena escala utilizando batéia, picaretas e

pás como instrumento de trabalho. Nas décadas posteriores inicia-se uma exploração em

escala maior, mas ainda sem sistematização, até a década de 60. Entre os anos de 1940 e

1970, houve a introdução das primeiras bombas a motor diesel e dragas nos garimpos da

região, o que favoreceu um aumento da estrutura desordenada. De acordo com Baxter (1988),

em 1949 havia 4 bombas a motor operando na região de Poxoréu.

A partir de meados dos anos de 1960, houve um declínio desta atividade, tanto em

lucratividade como em números de pessoas envolvidas, apesar de no período 1973/74

existirem nove dragas em funcionamento. Mesmo com o empobrecimento da atividade, no

final de 21 anos, houve investimento em equipamentos mecanizados dobrado a quantidade

destes equipamentos nos garimpos de Poxoréu. Houve em 1978 uma tentativa de reativação

eficaz da exploração dos diamantes na região com introdução de novas dragas, o que levou a

uma nova corrida de garimpeiros para a região. Nos anos 1980 até início dos anos 1990,

registrou-se grande fluxo de empresários e garimpeiros e, segundo cadastro da prefeitura já no

início dos anos 80 existia 180 dragas e aproximadamente 5.000 garimpeiros no município

(Rocha, In Baxter,1988). Entretanto, não foram obtidos bons resultados, devido ao

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16

esgotamento das jazidas, o que levou os garimpeiros a partirem para outros lugares.

Embora as jazidas estejam praticamente exauridas, alguns garimpeiros ainda persistem

nas atividades de garimpagem. E, essa atividade que foi fundamental para o crescimento e

desenvolvimento da economia do município nas décadas passadas, ainda mantém certa

importância, embora não mais possua participação expressiva na economia do município.

1.1 A garimpagem e os garimpos

Conquanto a garimpagem seja um “métier”1 tradicional, ao longo do tempo ela se

transformou, devido às mudanças das técnicas de extração, bem como pelas transformações

ocorridas nas relações de trabalho e, ainda, devido aos diferentes tratamentos dados pelo

Estado. A atividade garimpeira de ouro e diamante no Brasil, no século XXI, caracterizada de

prospecção aluvionar e monchão, persiste como importante segmento da mineração, ao

considerar a produção aurífera e diamantífera. Essa importância revela-se pela fonte de

assimilação de mão-de-obra e geração de renda, apesar de se observar nos últimos anos,

várias transformações do ponto de vista tecnológico e da incorporação de equipamentos.

Desse modo, o mundo do garimpo ainda persiste e está longe de desaparecer e, embora

leis que regulamentam a atividade garimpeira tenham sido aprovadas e, muitos garimpos

serem mecanizados, um grande número deles ainda mantém as características do seu

surgimento e, continuam à margem da lei.

1.1.1 Aspectos organizacionais e tecnológicos dos garimpos

O garimpo de subsistência, por natureza, não é uma atividade regular e muito menos

uma operação econômica. De acordo com suas características, está mais próximo à coleta e

intercâmbio que para economia de mercado. Seus resultados indicam que ocorre como

geração de renda para provimento pessoal e familiar, bastante próximo da "economia de

subsistência”, sem geração de excessos formadores de ativos. No lugar dos garimpos

artesanais de subsistência, vem surgindo um novo tipo de garimpo bem mais estruturado e

com bases empresariais. Estes novos garimpos caracterizam-se por meio das novas relações

de trabalho, da divisão e organização institucional, sendo que essa nova modalidade da

1 Métier: o seu conceito deve ser entendido como um modo particular de organização e de divisão do trabalho, estruturado em um conjunto de saberes práticos, ligados às “manhas do ofício” e irreprodutíveis pela educação formal, consolidado pela experiência e reproduzido pelos mais experientes.

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atividade garimpeira tem exigido do trabalhador maior especialização, uma vez que se tornou

mais complexa como qualquer atividade empresarial (Costa, 2002).

As formas de organização de trabalho da atividade de garimpagem no Brasil possuem

uma trajetória histórica. Apresentam diferenças marcantes em relação a outras formas de

organização do trabalho de mineração. Constata-se desde o século XVIII a extração mineral

caracteriza-se por formas distintas de organização do trabalho. De acordo com Marta (2000,

2001) e Tilly e Tilly (1998 apud Costa, 2007), há três grupos de formas predominantes de

organização produtiva da extração mineral conhecidas historicamente no contexto brasileiro:

o garimpo artesanal (manual), o garimpo semimecanizado e as grandes empresas mineradoras.

Cada um apresentando processos de trabalho, formas de conhecimento e estruturas de

cooperação e autoridade particulares.

O garimpo artesanal ou a lavra artesanal possui duas formas predominantes de

organização: o garimpo manual e o garimpo semimecanizado. O garimpo manual, que ainda

persiste de forma residual e em determinadas regiões do país se constitui numa atividade

econômica com características de economia de subsistência, caracterizando-se pela

marginalidade legal. Este tipo de lavra diferencia-se pela total falta de maquinários, de

sondagem e pela utilização de ferramentas como bateia ou peneira, ralos, picaretas e pás. É

uma atividade que requer baixíssimo capital e nenhuma tecnologia, embora exija grande

persistência por parte do garimpeiro. Mais de 90% das áreas onde se localizam os garimpos

manuais não possuem concessão ou licença de exploração, vivem na clandestinidade2. Neste

tipo de garimpo, as técnicas primitivas utilizadas no passado, mantêm praticamente

incorruptíveis, constituem em empreendimento individual e itinerante, realizado por grupos

independentes, às vezes familiares (Marta, 2000, 2001; Tilly; Tilly, 1998 apud Costa, 2007).

O garimpo semimecanizado surgiu a partir dos anos 80 motivado pelo

desenvolvimento das técnicas e processos de trabalho dos garimpos artesanais. Possui

também caráter itinerante e tem como principal elemento diferenciador do garimpo manual o

uso de equipamentos movidos, normalmente a óleo diesel e raramente à eletricidade. Estes

equipamentos consistem de pequenas bombas que ajudam no desmonte hidráulico e,

pequenos jiques que fazem à concentração dos minerais pesados em diferentes peneiras com

diferentes faixas granulométricas. Estes equipamentos foram adaptados à atividade

2 Entende por clandestinidade ou informalidade “uma ação econômica desenvolvida à margem do poder legalmente instituído, sendo neste sentido, excluída da proteção das leis, ou seja, uma atividade produtiva de bens e serviços que se desenvolve paralelamente à economia formal”. No empreendimento informal, os acordos são realizados na sua maioria como bens lícitos, embora sob modalidades de ação econômica não sujeitas, ou seja, resistentes à regulação estatal.

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garimpeira, podendo ser encontrados em outros tipos de atividade extrativa, como areia, ouro

e gemas, elevando a produtividade se comparada aos garimpos manuais. Em termos gerais, a

extração diamantífera por meio de garimpagem é pequena, pois as grandes reservas são

exploradas por empresas que trabalham na legalidade, sendo detentoras de alvarás, licenças

ambientais e outorgas d´água (Marta, 2000, 2001; Tilly; Tilly, 1998 apud Costa, 2007).

De acordo com os autores, as relações de trabalho nos garimpos, são estabelecidas por

meio de um sistema de confiança mútua. Contudo, são relações verticalizadas, coordenadas

pelos proprietários dos equipamentos que determinam as tarefas a serem executadas e a forma

de remuneração dos garimpeiros. Os locais de extração mecanizada, tal como os dos garimpos

manuais, são determinados por saberes adquiridos no trabalho, ao longo do tempo, em sua

maioria repassada por garimpeiros mais antigos. Estes garimpos possuem investimento de

capital fixo, aplicados necessariamente em bombas a motor, mas às vezes em ferramentas e

tratores. Estes garimpos são alvos de fiscalização dos órgãos ambientais, pelo elevado poder

de destruição do meio ambiente provocado pela ação desregrada dos mesmos.

Ainda de acordo com Marta op.cit e Tilly e Tilly op. cit., as empresas mineradoras,

com lavra industrial, constituem-se de grandes empresas altamente mecanizadas, com

sistemas de dragas flutuantes que removem grandes quantidades de cascalho para apuração.

Através da prospecção geológica, avalia a jazida em seu prenúncio e análise, o que permite

retirar grande quantidade de minerais e gemas. Além disso, a prospecção permite reduzir as

precariedades do terreno, o planejamento e avaliação dos resultados econômicos da lavra.

Logo, visa diminuir os riscos do empreendimento, conseqüentemente, possibilitando um

maior retorno financeiro que pode ser caracterizado como êxito empresarial. Estas empresas

quando submetidas a uma racionalidade capitalista, arriscam tornar mínimos e controláveis os

imprevistos peculiares da exploração das lavras.

Este tipo de organização de extração mineral diferencia-se integralmente dos garimpos

anteriormente descritos, por adquirirem concessão de grandes extensões de terras com jazidas

já conhecidas ou previstas em estudos adequados. Segundo Tilly e Tilly op.cit., nestas

organizações as relações de trabalho são semelhantes às quaisquer outros empreendimentos

capitalistas. Este grupo possui um elevado potencial de degradação ambiental, bem maior que

o observado nas áreas de garimpo, o que leva a ter maior rigor e intensificação da fiscalização

por parte dos órgãos ambientais dos Estados.

Apesar das mudanças ocorridas na atividade de garimpagem e do empobrecimento de

algumas jazidas, a atividade continua presente em algumas regiões do Brasil, dentre as quais

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pode-se citar a região de Poxoréu/MT. A manutenção revela-se em alguns casos, significante

para a base da economia regional e local, por ser responsável por grande assimilação de mão-

de-obra desocupada e despreparada. A rigor, a exploração de atividade mineral – independe

do bem a ser explorado -, em várias regiões constitui-se na única atividade produtiva, sendo

fortalecida pelo desemprego recorrente da pecuarização intensiva e da mecanização agrícola,

nas regiões próximas, tornando a falta de emprego uma realidade das regiões. Portanto,

garimpar torna-se praticamente a única fonte de trabalho remunerado possível.

Os depósitos de diamantes da região de Poxoréu/MT são explorados por garimpeiros

por meio de lavra artesanal - garimpo manual ou semimecanizado. Esses garimpos, dentre os

quais estão os de Alto Coité, não dispõem de estudos geológicos orientados, para determinar

parâmetros apropriados para exploração e gestão ambiental dos rejeitos. A falta destes estudos

faz com que os garimpos não sejam aproveitados em todas as potencialidades dos depósitos,

sobretudo, no que reflete à atividade econômica tanto a curto e longo prazo. Isto acarreta

inviabilização do aproveitamento adequado da área, o que ocasiona menor produtividade e

rentabilidade da atividade, sem considerar os danos causados ao meio ambiente. De forma

direta ou indireta observa-se na paisagem esburacada e desnivelada, decorrentes da atividade

extrativista, a irregularidade dos resultados econômicos.

Deve-se registrar que as áreas garimpadas são difíceis de serem recuperadas. Durante a

extração do mineral a área utilizada para escavações e são modificadas em toda sua extensão,

com destruição da vegetação natural, das características físico-químicas dos solos, além de

interferir nos cursos d’água e alterar o habitat da fauna e de outros caracteres ambientais.

Em Alto Coité, como em todo o resto do município de Poxoréu/MT, a exploração da

atividade extrativista não foi diferente. Neste distrito, os garimpos de diamantes continuam a

ser explorados de forma artesanal e desordenados, sem nenhum estudo geológico. Essa forma

de organização dos garimpos, não permite introdução de novas tecnologias, novos conceitos

ambientais e segurança do trabalho na extração mineral. Esse processo é de difícil e lenta

implantação. Como decorrência do processo extrativista em Alto Coité, pode-se ver a

extensão da degradação ambiental, refletida nas pilhas de rejeitos, grandes catas e

assoreamento de rios e córregos, deixados ao longo de décadas da atividade na área.

1.1.2 Aspectos econômicos e sociais e ambientais

O extrativismo predatório dos diamantes, sem nenhuma preocupação ambiental, nem

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aproveitamento adequado dos diamantes e esgotamento das jazidas, levou a região de

Poxoréu/MT, sobretudo, o distrito de Alto Coité ao empobrecimento. A decadência

socioeconômica do município ocorreu após exaustão das atividades de extração de diamante,

notadamente, na década de 1990. A exaustão dos garimpos, além de trazer ineficiência

econômica deixou grande volume de resíduos que poderão ser utilizados como matéria-prima

com agregação de valor.

O garimpo de diamante gera grande concentração de resíduos ao longo de toda a sua

atividade, principalmente porque uma grande quantidade de material é removida para a

extração, de uma ou outra pedra. Para a área de estudo, não há estudos quantitativos destes

rejeitos, mas sabe-se que são bastante significativos e carecem de análises quantitativas e

qualitativas, para viabilizar o seu aproveitamento, visando novas possibilidades de emprego e

renda para a população local, assim como a recuperação das áreas degradadas.

Em Poxoréu e Alto Coité, observa-se que um dos importantes fatores da extração

garimpeira atual, seja artesanal ou semimecanizada, está no fato da exploração se concentrar,

comumente, nas imediações de antigas áreas produtoras quando da época áurea do diamante.

A característica peculiar da atividade é possibilitar o aproveitamento de ocorrências de

diamante que não são do interesse das empresas de mineração, devido à baixa concentração

de diamantes na região. Muitas vezes, as próprias características geológicas dos depósitos não

justificam que maiores investimentos em pesquisa mineral e em lavra (Costa, 2002).

Na extração de diamantes, grande volume de material é removido, desde argila até

cascalhos, com diâmetro superior a 10 cm. Este material é constituído de minerais, como

turmalinas, safiras e outros, até fragmentos de rochas de gêneses diferentes, que são

depositados aleatoriamente nas pilhas de rejeito. Os fragmentos de rochas e minerais são

descartados, por não possuir valor comercial significativo para os garimpeiros, que sonham

em encontrar grandes pedras (gemas) de diamante.

Em Alto Coité, essa prática dos garimpeiros não é diferente. Os garimpeiros ao

retirarem o material no qual está o diamante separam apenas o diamante, sejam de baixo ou

alto valor comercial, não consideram minerais tais como turmalinas, ônix, safiras, granadas,

rutilo, que são encontrados junto os diamantes. Muitos desses minerais poderiam ser

utilizados como produto secundário, mas o desconhecimento mercadológico relacionado a

estes minerais, por parte dos garimpeiros, os mesmos são descartados ou comercializados por

preços irrisórios. Acrescenta a esse fenômeno, ausência de uma clara cadeia produtiva ou

cadeia de valor, que parece ser o motivo de desestímulo para recuperação e beneficiamento,

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não somente destes minerais, como dos demais rejeitos provenientes da garimpagem, que

possuem valor comercial.

Até o presente, nenhum estudo foi desenvolvido visando conhecer o volume de

rejeitos removidos desde o início da exploração garimpeira em Alto Coité, que data da década

de 1930, mas sabe-se que é uma quantidade bem significativa e possível de quantificação.

Esses rejeitos estão dispostos em todas as áreas garimpadas, ocupando áreas de pastagem e de

agricultura e inviabilizando estas atividades, devido principalmente à presença de grandes

catas e também devido ao assoreamento que dá origem a voçorocas e ravinas.

O que fica evidente ao primeiro olhar é que grandes áreas ocupadas anteriormente por

florestas de mata nativa, bem como margens de rios ocupadas por matas ciliares, áreas de

nascentes e leitos de córregos e rios, encontram-se intensamente devastados, indicando que a

recuperação ambiental da área demanda tempo e custos relativos. A disposição aleatória dos

rejeitos também contribui para aumentar os problemas ambientais, pois, quando expostos às

intempéries, estes rejeitos geram materiais: um material durável de difícil desagregação e

outro com fácil desagregação aumentando o assoreamento dos rios ao serem carreados

durante as chuvas. Conhecer o potencial deste material para possíveis aplicações na indústria

poderia diminuir em parte os danos ambientais da área.

É consenso que as áreas garimpadas carecem de iniciativas voltadas para sua

organização e fortalecimento institucional, uma vez que se caracterizam por atividades de

mineração informais constituídas por atores que buscam uma oportunidade de inserção social,

oriundos principalmente das regiões mais pobres do Brasil. O maior desafio para a gestão

pública em relação à atividade de mineração e garimpagem no Brasil, depois das

vulnerabilidades econômicas, sociais, institucionais e ambientais, reside nas dificuldades de

acesso às reservas minerais, pelo fato destas áreas localizarem-se, geralmente, em regiões de

baixa densidade populacional (Barreto et. al., 2002; Barreto, 2003).

Mais de três séculos depois do início da atividade extrativista da mineração, as

condições de vida e trabalho dos garimpeiros caracterizam uma situação de exclusão social

causada pela carência de investimentos públicos, principalmente em saúde e educação. Foi

somente a partir da Constituição Federal, promulgada em 1988, que o garimpo passou a ser

reconhecido pelo poder público, como atividade econômica relevante e, foi após esse

reconhecimento que ocorreu à regulamentação de uma legislação específica para o subsetor,

impulsionando, inclusive, seu cooperativismo (Barreto, 2000).

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Apesar das mudanças ocorridas no setor após a promulgação da Constituição de 1988,

as atividades de garimpagem caracterizam-se por atividades informais e constituídas por

atores que buscam, através da exploração mineral de pequena escala e artesanal, a

oportunidade de inserção social. Quando ocorreu a crise da garimpagem, a partir da exaustão

de reservas e da intensificação da fiscalização adequada, as áreas atingidas sofreram de forma

mais dramática o agravamento socioeconômico. Segundo a BRASIL/DNPM (1993), as

condições adversas de vida e trabalho, adicionadas às dificuldades de obtenção de

suprimentos e de venda apropriada dos produtos, sob forte coibição, favoreciam a coesão

grupal, como também o desenvolvimento de traços culturais próprios.

Em Alto Coité como em todo o município de Poxoréu, esse agravamento explicitado

pelo BRASIL/DNPM op. cit. é devido às condições de vida e do trabalho rudimentar e quase

subumano dos garimpeiros que permanecem antagônicas e caracterizadas pela ausência de

infra-estrutura e de estudos preliminares, que permitiriam estimar o volume das reservas e

viabilizariam uma exploração legalizada. Do exposto, pode-se observar que os garimpos de

diamantes de Alto Coité, assim como os de outras regiões do país, necessitam de iniciativas

voltadas para a organização, fortalecimento institucional, e legalização.

1.2 Área de estudo

Alto Coité é distrito de Poxoréu. Encontra-se localizado na parte sudeste de Mato

Grosso e noroeste de Poxoréu, na microrregião denominada Tesouro. A principal via de

acesso é a Rodovia MT-130 (asfaltada), que liga a BR-070 (asfaltada), em Primavera do

Leste, ao norte, e a BR-364 (asfaltada), em Rondonópolis, ao sul (Figura 1). A sede municipal

dista aproximadamente 241 km de Cuiabá e 18 km de Alto Coité (via MT-103 e BR-070).

O município de Poxoréu, de acordo com a formação geológica, teve sua origem nas

coberturas não dobradas do fanerozóico, sub-bacia ocidental da Bacia do Paraná.

Estruturalmente esta região faz parte da bacia sedimentar que possui uma parte significativa

conhecida como planalto dos Alcantilados, que é um planalto dissecado, representado por

sedimentos da Formação Aquidauana, grande depositário de diamantes. Vale ressatar que

nesta região de Mato Grosso somente ocorre depósitos de diamantes na série Aquidauana.

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Figura1: Mapa localizaçao de Poxoréu e Alto Coité. Fonte: Brasil ao milionésimo.

1.2.1 Colonização e garimpagem

O princípio de colonização da área que hoje forma o distrito de Alto Coité foi

proporcionado por pessoas que vieram de várias regiões do país, sobretudo, da Bahia,

Maranhão, Minas Gerais e Goiás, que percorreram grandes distâncias em busca do sonho de

riqueza e esperança de uma vida melhor. Esta frente de colonização agrupou-se nas margens

de um rio, e o denominou de Coité e que mais tarde passaria a ser parte da origem do nome do

distrito. Conforme Amorim (2001), a denominação de Coité, advém de um fruto em forma de

circunferência, que muitas vezes serviam de utensílio domestico. Este fruto era encontrado

nas árvores que margeavam o rio e é originária do sertão nordestino, encontrada, sobretudo,

na Bahia. Ainda de acordo com o autor, os desbravadores da área que compõe o distrito,

nomearam o povoado de Alto Coité, em função das árvores de Coité que circundavam as

habitações dos garimpeiros e também em função do nome da primeira comunidade fundada

em 1940 – Currutela do Alto, assim, o povoado recebeu o nome de Alto Coité.

Conforme Almeida e Alves (In: Schmaltz, 1983) foi provavelmente no final de 1929 e

inicio de 1930, que se deu a descoberta de diamantes no ribeirão Coité, situado a nordeste da

cidade de Poxoréu. No inicio da garimpagem não havia um povoado propriamente dito,

somente algumas aglomerações espalhadas às margens do rio. Apesar da descoberta de

diamantes em Alto Coité ter ocorrido no final dos anos de 1920, o povoamento definitivo, não

acontece antes de 1938 ou 1939, e, só por volta do final dos anos de 1940 é que alcança maior

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magnitude, formando a primeira comunidade, com ruas residenciais e comerciais (Almeida;

Alves, In: Schmaltz, 1983; Baxter, 1988).

O povoado de Alto Coité, em 1948, passa a ser distrito criado pela Lei no. 185/1948,

publicada em 18 de novembro em 1948, com território desmembrado do distrito sede da

municipal e de Coronel Ponce. Em 1949, de acordo com o Decreto no. 779/1949, publicado

em 30 de outubro de 1949, o distrito recebe uma área de 1200 hectares, reserva para

Patrimônio3 do povoado.

Pode-se considerar que em Alto Coité houve dois ciclos de garimpagem de diamantes.

O primeiro que perdurou aproximadamente 40 anos, trabalhado totalmente de forma manual,

de 1930 a meados de 1960. O segundo ciclo aconteceu no final da década de 70 e perdurou

até início dos anos 1990. Neste ocorreu à entrada de dragas e bomba a motor que, segundo

relato de antigos moradores, foram cerca de 300 dragas com 07 homens trabalhando em cada

uma e uma recuperação significativa de diamantes. O total de garimpeiros, levando em conta

os garimpeiros que trabalhavam manualmente, correspondeu a 2700 trabalhadores, somente

no distrito (Baxter, 1988). Esta época foi caracterizada por grande movimentação de pessoas,

mas também gerou a perda econômica (cerca de 35%) dos garimpeiros locais, denominados

de meias-praças, que foram substituídos pelas dragas. Nesse sentido, antes recebiam 40% do

valor comercial do diamante, com a entrada do novo garimpo passaram a receber somente

5%, prática que persiste nos dias atuais e, que torna visível a decadência do garimpeiro e o

declínio econômico da comunidade, que ficou abandonada à própria sorte, em um estágio de

nostalgia e sem esperança de um futuro melhor.

No princípio da colonização o crescimento de Alto Coité ocorreu de maneira lenta,

mas, com a descoberta de outros depósitos de diamantes, em várias partes da região houve

uma corrida cada vez maior para esta região.

A população de Alto Coité nas décadas compreendidas entre os anos de 1940 a 1970

foi proporcionada essencialmente pela força dos garimpos. De acordo com os censos

demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE entre os

anos de 1940 a 1970 houve período de oscilação no crescimento populacional. Entre os anos

1950 e 1960, iniciou o decréscimo populacional, sendo que no período 17% da população

evadiu-se, em conseqüência da fraca exploração de diamantes na área do distrito e de novos

garimpos em outras regiões (Baxter, 1988). Todavia, o censo de 1970, mostra um aumento da

3 Patrimônio - terra de propriedade do poder público seja Federal, Estadual ou municipal. O Estado pode alienar uma área para uso comum a fim de garantir o lugar do futuro povoado urbano, quando há real crescimento populacional ou previsão deste crescimento. As terras podem ser devolutas ou privadas.

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população em torno de 32%, em função do 2º ciclo de exploração de diamantes. Vale ressaltar

que não foi registrado nenhum número referente à população do distrito, no censo de 1940. A

população rural de Alto Coité em 1950 correspondia a 68% da população total e em 1970

mais da metade da população vivia na zona urbana, este aumento na zona rural ocorre em

parte como conseqüência do declínio do garimpo, logo há uma tendência da população rural

dirigir para a vila (zona urbana), e ainda pela sobrevivência das funções administrativas na

vila. Além de que este êxodo da zona rural para a urbana é uma tendência a nível nacional, o

que provocou o enfraquecimento do campo ao longo dos anos.

1.2.2 A economia regional

Em termos econômicos, os garimpos foram primordiais senão a única fonte de

economia em Alto Coité. Segundo Baxter (1988), a década de 1930 foi um marco tanto em

número de garimpeiros como na força de trabalho na região de Poxoréu.

Na década de 1950, mais precisamente após 1955 foi, possivelmente, o ápice da

produção mineral, apesar de uma redução bastante significativa no número de garimpeiros e

em sua força de trabalho no período compreendido entre 1946 e 1950. Essa produtividade só

foi possível com a adoção de bombas a motor, o que proporcionou uma escala maior de

mineração, portanto, sendo este o início dos garimpos semimecanizados na região de Poxoréu.

De acordo com o Baxter (1988), no ano de 1951 existiam 66 compradores de

diamantes, os quais estão citados no livro de arrecadação de impostos do município, sendo

que destes 22 estavam localizados em Poxoréu, 9 encontravam em Alto Coité, 4 em Raizinha

e o restante distribuídos em outros garimpos diferenciados, estes números são indicativos da

importância das jazidas de diamantes de Alto Coité.

A partir da segunda metade da década de 1960 a atividade garimpeira na região entrou

em decadência com o empobrecimento de depósitos diamantíferos mais superficiais. No final

da década de 1970 até inicio da década 1990, ocorre um novo período de extensa atividade,

período este, impulsionado pela adoção de equipamentos mecanizados, especialmente no

distrito de Alto Coité. Nesta mesma década, a chegada de empresas de mineração, que

passaram a prospectar diamantes sistematicamente na região, contribuiu para que a produção

alcançasse a maior relevância dos últimos 35 anos, convertendo Poxoréu em um importante

centro produtor nacional. Apesar da relevância, a garimpagem volta a entrar em decadência e

os distritos de Poxoréu foram igualmente afetados, com muitos garimpos desativados.

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Foi a partir da década de 90 que ocorreu o empobrecimento total da economia local da

região, o que provocou o enfraquecimento do município, o que ocasionou um lento e contínuo

processo de expulsão de pessoas para outras regiões do estado e até mesmo do país, em

função do esgotamento das reservas diamantíferas. Este fato gerou o fechamento de muitos

garimpos e conseqüentemente o desemprego quase que em massa dos trabalhadores locais.

Uma das conseqüências foi, também, o aniquilamento dos distritos da área garimpeira de

Poxoréu, os quais lutam contra o fantasma do desaparecimento e ainda resistem mais pela

inércia assegurada pelo desempenho administrativo do poder público do que pela eficácia de

uma abertura econômica coerente, como é caso de Alto Coité.

O fechamento dos garimpos gerou a decadência econômica e social de todo o

município de Poxoréu/MT, pois os garimpos constituíam a maior fonte de emprego e,

conseqüentemente, a queda do poder aquisitivo destas pessoas atingiu, significativamente,

todo o comércio do município. Como conseqüência a evasão populacional do município

mensurada pelo censo 2000 (IBGE, 2008), mostra que entre 1991 - 2000 houve uma taxa

média geométrica de crescimento anual negativo em -1,85 e entre 1996 - 2000 de -2,17%.

Esses fatores fizeram com que, no período de 1960 a 2002, o município sofresse um

processo de êxodo arrastado e ininterrupto, o que provocou o desaparecimento de alguns

distritos. Os distritos que sobreviveram dentre estes, Alto Coité, atravessam uma fase de

decadência bastante representativa desde os anos de 1970. Não obstante, o garimpo tem

resistido a todos os fatores externos alheios a sua vontade. Parece paradoxal que a “riqueza

dos diamantes” possa ter levado essa população ao nível de miséria e exclusão. Certamente,

aspectos técnicos estão ligados àquela forma de exclusão social. Todavia, o padrão histórico

da acumulação da extração mineral artesanal, como a garimpeira é exógena.

Assim, a mineração de diamantes que se constituía como a principal atividade

econômica do município de Poxoréu, e que permaneceu fundamental para o desenvolvimento

da economia do município em décadas passadas, com seu declínio passou a ser substituída

por uma pecuária extensiva de baixa produtividade, agricultura de subsistência, comércio e

serviços subdesenvolvidos. Mesmo mantendo-se a atividade agrícola e pecuária dominante,

não há renda suficiente para alavancar à economia do município, esse fator pode derivar da

resistência dos garimpeiros em desenvolver novas modalidades econômicas, seja pelo seu

despreparo, em função dos aspectos culturais de inaptidão ou por estas atividades não serem

suficientes para geração de empregos para atender aos desempregados. Associado a esses

aspectos faltam expectativas de formação para os jovens, pois no município, a área

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educacional atende apenas até o Segundo Grau, o que causa a migração dos jovens para

centros como Cuiabá e Rondonópolis.

Além do exposto, esta pesquisa se justifica em função do Zoneamento Sócio-

econômico-ecológico – ZSEE do estado de Mato Grosso - Proposta e Minuta de Projeto de

Lei elaborado pela Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato

Grosso - SEPLAN, que indica esta área como umas das áreas com grande potencialidade

mineral para diamantes e da existência do distrito mineiro diamantífero de Alto Coité,

(SEPLAN, 2004). Por conseguinte grande depositário de rejeitos da exploração mineral,

sobretudo, em moldes empresariais, sendo uma área com forte fator para fomento à pesquisa.

1.3 Objetivos e abordagens

O objeto de trabalho é o rejeito dos garimpos da região de Poxoréu-MT, com ênfase ao

distrito de Alto Coité. Nesse sentido procuram-se alternativas que indiquem aproveitamento e

beneficiamento dos rejeitos da exploração dos garimpos de diamantes, para produção de areia

industrial e artificial e, também sua aplicabilidade em diversos segmentos. Nessa perspectiva

verificar a viabilidade socioeconômica da região considerando a necessidade de conservação,

preservação e recuperação do meio natural, o qual irá contribuir para a qualidade ambiental

abalada pelo processo produtivo dos garimpos artesanal e semimecanizado.

De modo especifico, é necessário propor objetivos que auxiliarão na estratégia de

desenvolvimento sustentável da região como: caracterizar os resíduos do ponto de vista físico,

químico, e mineralógico; avaliar quantitativamente os rejeitos existentes dos garimpos de

diamantes e dimensioná-los para aproveitamento e beneficiamento para matéria-prima em

aplicação industrial e artesanal; recomendar estratégia regional e integrada de

desenvolvimento econômico sustentável com alternativas de qualificação da mão-de-obra e,

geração de emprego e renda no distrito de Alto Coité; apontar alternativas de recuperação das

áreas degradadas pelos garimpos.

A relevância da pesquisa está em reconhecer a existência do valor comercial dos

rejeitos provenientes dos garimpos de diamantes e em fortalecer o desenvolvimento

socioeconômico de Alto Coité e região, além de amenizar efeitos ambientais gerados pela

atividade. O desenvolvimento socioeconômico poderá acontecer através do aproveitamento e

beneficiamento dos rejeitos dos garimpos de diamantes direcionando-os como matéria-prima

para produção de novos produtos, apontando sua viabilidade econômica e, os efeitos

ambientais poderão ser reduzidos por meio da recuperação das áreas degradadas, o que ainda

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possibilitará direcioná-las para outras atividades econômicas.

Deste modo, tem-se por hipótese que o aproveitamento e o beneficiamento dos rejeitos

dos garimpos de diamantes de Alto Coité, distrito de Poxoréu/MT, agregarão valor aos

mesmos, o que poderá proporcionar um desenvolvimento socioeconômico para a região, por

meio da geração de emprego e renda, se possível desenvolvendo uma cultura empresarial na

região. Tem-se ainda que ao aproveitar os resíduos dos garimpos de diamante, seja possível

propor alternativas de recuperação das áreas degradadas às quais passando por um processo

de reversão que poderão se transformar em terras produtivas e auto-sustentáveis agregando-

lhes pontos positivos à questão econômica e também ambiental.

Assim, a contribuição deste trabalho está na busca de organizar esforços para apontar

as aspirações da sociedade de Alto Coité e, ao mesmo tempo, propiciar alternativas concretas

para uma nova fase de desenvolvimento regional e local. Em suma, este trabalho coloca-se

como ferramenta para a construção do novo modelo de desenvolvimento econômico,

procurando perceber e ao mesmo tempo influenciar, ainda que de maneira modesta, uma

direção do processo social do qual resultará a concretização de uma possível agregação de

idéias e princípios que orientarão as políticas regionais e locais no futuro.

A idéia de procurar influir no processo social pode parecer audaciosa. Contudo, ao

procurar entendê-lo, busca-se proporcionar alternativas eficazes e lógicas, com vista à

mudança do processo social vigente e a crise instalada, que exige novos elementos no

processo de desenvolvimento. O processo de destruição criadora (Schumpeter, 1985), mostra

que as alterações do processo tecnológico revolucionam de maneira incessante a estrutura

econômica a partir de dentro e, enquanto cria novos elementos, extinguindo os velhos, logo, o

novo não nasce do velho, surge ao seu lado e supera-o. Assim sendo, deve ter em mente que

qualquer novo processo de desenvolvimento, suprime velhos modelos sociais e a conjuntura

econômica constituída e, causa efeito qualitativo no sistema econômico, diferente se o mesmo

ocorresse de forma contínua ou não, difundida no decorrer do tempo. Na ótica de Schumpeter

toda inovação implica, numa "destruição criadora e criação destrutiva", na figura dos

empreendedores criativos, logo, responsáveis pela prosperidade do sistema capitalista.

1.4 Importância econômica dos rejeitos do setor mineral

O extrativismo mineral é uma atividade do setor primário de produção, por

conseguinte, utiliza máquinas e tecnologia avançada na extração dos recursos minerais da

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natureza. A transformação destes recursos em bens econômicos advém da tecnologia de lavra

e exploração, posteriormente aos estudos geológicos adequados e mediante concessão estatal.

A atividade de extrativismo mineral diferencia-se das outras atividades econômicas por sua

importância estratégica na construção civil. A mineração transformou-se em commodities

mercantis, isto é, em mercadoria negociável. A areia e o seixo rolado são uma commodity,

com oscilações valorativas no mercado. Até o momento, a areia é um bem finito e matéria-

prima fundamental e insubstituível, na construção civil. Seu custo total é zero - composto pelo

custo de extração, de transporte e a margem de lucro do minerador e do transportador.

O estado de Mato Grosso possui potencial mineral, de maneira especial, em ouro e

diamantes, explorados em forma de garimpos manuais, semimecanizados e através de

mineradoras com alta tecnologia, sobretudo, nas minas da região norte. Contudo, os depósitos

de diamantes da região de Poxoréu/MT, em especial, no distrito de Alto Coité, são explorados

na forma de garimpos manual e semimecanizado e tem causado grande impacto ambiental.

Conforme definiu o IBAMA (1990), a atividade de mineração apresenta um grau de

impacto ambiental de alta magnitude, devido às modificações físicas e bióticas provocadas

nas áreas de influência direta e indireta de exploração. Como pode ser observado é impossível

minerar sem impactar, no entanto, existem métodos que podem ser implantados para atenuar,

controlar, suavizar e equilibrar tais impactos resultantes das atividades de mineração de modo

geral. Segundo o IBAMA op. cit., recuperar o ambiente degradado significa levá-lo a uma

forma de utilização de acordo com plano preestabelecido para que possa ser possível retornar

o uso do solo, isto implica que uma condição estável será obtida em conformidade com os

valores ambientais, estéticos e sociais da adjacência. Significa também, de acordo com Dias e

Griffith (In: Dias; Mello, 1998), que o espaço degradado terá condições mínimas de

estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, desenvolvendo um novo solo e uma nova paisagem.

A legislação ambiental, a partir da Lei 6938/1981, que instituiu a Política nacional do

Meio Ambiente, e de forma mais contundente a constituição brasileira de 1988, parágrafo 2º,

artigo 255, e a Lei 9605/1998 que trata dos crimes ambientais, determina que empresas

causadoras de impacto ambiental tenham obrigatoriedade de arcar com medidas mitigadoras

destes impactos e ainda medidas que visam recuperar áreas degradadas pela atividade

mineradora. Todavia, a legislação, por sua característica generalista, não especifica os

critérios e os princípios que devem ser considerados para recuperar o ambiente de forma

condizente com suas condições originais, e não levam em conta certas premissas técnicas que

devem ser considerados na fase de recuperação do meio natural (Barreto, 2000).

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Atualmente há grande preocupação com o que fazer com todos os resíduos ou rejeitos

gerados, tanto em processos de extrativismo, quanto os industriais, ou seja, com todos os

resíduos originados pela busca do desenvolvimento econômico. O extrativismo mineral, como

qualquer outro processo gerador de renda para o crescimento e desenvolvimento econômico

eficiente, mesmo tendo características peculiares, também gera grande quantidade de rejeitos,

que embora não tão prejudiciais ao meio ambiente como os resíduos industriais,

principalmente os resíduos químicos, tem ocupado lugar de destaque nos estudos para

aproveitamento de resíduos e para recuperação ambiental conforme legislação especifica.

Segundo Cheriaf e Rocha (1997; 2003), as formas mais usuais de aproveitamento de

rejeitos/resíduos, na maioria das vezes, são realizadas baseadas em aspectos qualitativos como

- textura, forma, granulometria, cor, capacidade de aglutinação. A forma descrita é valida para

o aproveitamento de rejeitos/resíduos sólidos da construção civil. Para os rejeitos da extração

mineral, além dos aspectos citados anteriormente, deve-se levar em conta os fatores

morfológicos e físicos dos minerais presentes. Do mesmo modo, os mesmo processos

utilizados para o aproveitamento e reaproveitamento dos resíduos da construção civil estão

sendo utilizados e aprimorados, para o redirecionamento dos rejeitos sólidos gerados pela

extração mineral, cujas características são semelhantes.

A avaliação do potencial de aproveitamento de resíduos/rejeitos estabelece a

necessidade de identificação de parâmetros estruturais, geométricos e ambientais dos mesmos.

Desde modo, as formas adequadas ao aproveitamento dos resíduos/rejeitos, ou de subprodutos

industriais, empregados como matéria prima secundária, deve procurar abarcar um completo

conhecimento do processo das unidades geradoras e da caracterização completa dos mesmos,

além de identificar o potencial de aproveitamento e as características limitantes do uso e da

aplicação. Em relação aos resíduos e rejeitos sólidos originários do setor da construção civil,

deve-se aprimorar formas de minimização da geração destes durante as diversas etapas da

construção e, sempre que possível, introduzir-los no próprio processo ou unidade de serviço

onde foram gerados (Cheriaf; Rocha, op. cit). Segundo estes pesquisadores, tornar-se

conveniente ressaltar, que existem tecnologias e diferentes procedimentos, mais ou menos

sofisticados, para modernizar a produção de automação, trabalho ou capital intensivo,

processos importados e desenvolvidos no país, tendo uma produção com o reaproveitamento

dos resíduos/rejeitos. Entretanto, a escolha deve ser feita para atingir o máximo de

aproveitamento, ser ambientalmente adequado ao menor custo possível, respeitando sempre

as características socioeconômicas e culturais de cada região.

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Experiências bem-sucedidas de desenvolvimento de produtos para a construção civil, a

produção de rochas decorativas de todos os tipos, a produção de adorno e em projetos

paisagísticos, bem como na produção de areia artificial ou industrial, com o aproveitamento e

o beneficiamento dos rejeitos da atividade mineradora, incorporados como matéria prima, são

impulsionadas, sobretudo, pela legislação ambiental. Alguns tipos de rejeito, provenientes de

atividades mineradoras, têm sido utilizados na produção de areia artificial para diversos usos,

especialmente para a construção civil, enquanto que alguns estudos direcionam seu

aproveitamento e beneficiamento na produção de areia industrial. Quanto à aplicação em

projetos paisagísticos e adornos, estes materiais têm revitalizado espaços degradados e

confinados com texturas, cores, e tons sempre considerando sua harmonia com a natureza.

Os rejeitos gerados na extração e beneficiamento de produtos minerais, tais como as

lavras de pedras preciosas, beneficiamento de rochas ormanentais e outros, tem diversas

possibilidades de uso, como a produção de peças ornamentais, tais como peças para projetos

paisagísticos, denominadas anticatos e seixos ornamentais; peças ornamentais para decoração

de ambientes externos e internos, esculturas; semi-jóias e areias artificiais.

Minerações típicas de agregados direcionadas para a construção civil são portos-de-

areia; lavras de extração de areia em depósitos meta-sedimentares como o quartzito e

pedreiras, em lavra de cascalho em depósitos de material rochoso desagregado, resultante da

alteração e fragmentação natural de rochas cristalinas como arenitos, granito, gnaisse e

basalto, entre outras fontes.

De acordo com as normas da ABNT 6502/80, areia é um material com granulometria

típica entre 0,05 e 2,0 mm e proveniente da desagregação natural ou britamento de rochas,

mais ou menos cimentadas. Praticamente, todas as rochas são passiveis de resultar em areias

pela desagregação mecânica. Porém, são mais favoráveis rochas com altos teores de quartzo.

As areias de quartzo têm ampla aplicação (construção civil e industrial - fundição,

vidro, cerâmica, entre outros). As especificações de areias para a construção civil e para

fundição baseiam-se, essencialmente, na granulometria, com especificações químicas menos

rígidas. Para a indústria de vidro, as exigências, em termos de teores de sílica e de impurezas,

são mais rigorosas, que as usadas para a construção civil.

Devido às especificações, usos e preços, os produtores e consumidores de areia

destinada ao uso como agregado na construção civil diferem bastante daqueles de areia

industrial. As areias para construção são usadas em função de suas propriedades físicas,

enquanto as areias industriais são valorizadas por suas propriedades físicas e químicas (BGS,

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2004, apud Luz; Lins, 2005). A areia industrial, segundo Luz e Lins (2005) apresenta

melhores preços que a areia destinada à construção civil (três a cinco vezes mais), razão pela

qual pode ser transportada a distâncias maiores.

A escassez dos recursos naturais para produção de agregado miúdo, associada ao

aumento da demanda por areia e as crescentes restrições ambientais, levou o mercado

consumidor dos grandes centros urbanos a buscar areias em lavras cada vez mais distantes.

Como conseqüência disso, houve uma elevação do custo final do produto e a degradação de

áreas, como leito de rio. As maiores distâncias de transporte e o maior custo final do produto

em grandes centros urbanos têm criado oportunidades para as instituições de pesquisa e o

setor mineral de agregado no sentido de buscar alternativos viáveis para produção de areia

através de substitutivos naturais ou artificiais, a partir de rejeitos da extração mineral e da

própria construção civil. Dentre as alternativas para substituição do agregado natural

decorrentes de sua produção, têm-se a reciclagem através da utilização de materiais

alternativos, utilização dos finos de britagem como agregado miúdo e a produção da areia a

partir do agregado graúdo (Moura, 2000; Gonçalves, 2005).

A produção de areia artificial como um substituto à areia natural já é uma realidade

nos maiores centros urbanos brasileiros. Segundo Valverde (2003), estima-se que

aproximadamente 9% da areia consumida no Estado de São Paulo é areia artificial. De

maneira alternativa, Mello e Calaes (2003) estimaram que pelo menos uma usina de produção

de areia artificial entrará em operação a cada ano na região metropolitana do Rio de Janeiro.

As mais diversas tecnologias de britagem e classificação têm sido utilizadas na

produção de areia artificial. Com a finalidade de fornecer subsídios à indústria de agregado no

sentido de melhor adequar a tecnologia de produção de areia artificial às condições locais

(disponibilidade de água, tipo de rocha e outros), existe pesquisa do Centro de Tecnologia

Mineral - CETEM com implantação de usina piloto em Minas Gerais e Rio de Janeiro

(Almeida, 2000; Almeida; Sampaio, 2002). No processo de beneficiamento de rochas para a

produção de agregados é gerado um rejeito chamado “fino de britagem”, que também é

conhecido como “areia de brita” ou “areia de pedra britada” ou “pó de pedra”, que são rejeitos

de brita menores que 4.8mm. Segundo Mendes e Soares (1999), esses finos representam, em

massa, cerca de 20% do material processado nas pedreiras.

A produção de areia a partir de pedra britada chamada de areia artificial apresenta-se

também como alternativa, pois esta pode ser produzida, próximo ao mercado consumidor o

que reduz seu custo final. Um fator que vem contribuindo para a substituição da areia natural

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pela areia artificial é o surgimento de equipamentos de britagem capazes de superar a

principal restrição de utilização da areia artificial no concreto e em argamassa, a forma das

partículas. Desta forma, a areia artificial pode ser produzida através de equipamentos de

britagem, como o impactador de eixo vertical. No impactador de eixo vertical a redução do

tamanho do material ocorre por um processo de quebra de rocha contra rocha (Almeida, op.

cit; Almeida; Sampaio, op. cit.). Ainda de acordo com o autor, os finos das pedreiras

devidamente processados podem vir a substituir à areia natural, porém devem possuir algumas

características tais como: distribuição granulométrica, forma e textura superficial adequadas,

resistência mecânica, estabilidade das partículas e ausência de impurezas. Entretanto, os finos

de britagem, devem ser devidamente processados, para que possam substituir à areia natural.

A areia produzida a partir do beneficiamento e que tem como fontes os depósitos de

areia quartzosa, de quartzito e de arenito, é conhecida como areia industrial. Os termos areia

industrial, areia de quartzo, areia quartzosa ou mesmo areia de sílica são atribuídos às areias

que apresentam material de granulometria variada, composto de alto teor de sílica, SiO2, na

forma de quartzo e que passa por processo de beneficiamento utiliza processos de seleção

granulométrica e mineralógica, agregando valor a esses bens minerais (Ferreira; Daitx, 2000).

Ainda de acordo com os autores, geralmente, qualquer material arenoso pode ser

transformado em areia industrial, cujas características encontram-se de maneira implícita as

do depósito original, porém, seu aproveitamento será fundamentalmente determinado pela

economicidade dos produtos obtidos (Ferreira; Daitx, op. cit). Das diversas etapas para

produção de areias industriais a mais importante é a do beneficiamento.

De acordo com (Ferreira, 1997) e (BGS, 2004, apud Luz; Lins, 2005) a areia industrial

é um material importante em vários segmentos industriais, como na fabricação de vidros e na

indústria de fundição; indústria de cerâmica para fabricação de refratários e cimento; indústria

química na fabricação de ácidos e fertilizantes; fraturamento hidráulico para recuperação

secundária de petróleo e gás; como carga e extensores em indústria de tintas e plásticos, e

ainda aplicações não industriais como horticultura e locais de lazer.

As principais fontes da produção de areia industrial no Brasil estão localizadas

principalmente nas regiões sudeste e sul. Na região Sudeste concentra o maior pólo produtor

de areia industrial, sendo a região de Descalvado - SP e Analândia - SP a principal produtora.

Na região Sul existe dez empresas de mineração de areia industrial, tendo o Estado de Santa

Catarina o maior produtor dessa região (Ferreira; Daitx, 2003). Segundo o Anuário Mineral

Brasileiro do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, no ano 2000 foram

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produzidas no Estado de São Paulo aproximadamente 3.380.000 toneladas de areia industrial,

correspondendo à cerca de 80% da produção nacional. O segundo produtor é o Estado de

Santa Catarina, com 265.000 t/a, correspondendo com cerca 77% de toda a produção da

região Sul do país (DNPM, 2001).

Analisando-se a importância do possível aproveitamento dos rejeitos, como as rochas,

seixos, cascalhos, areias e outros elementos provenientes dos rejeitos dos garimpos e

mineração, observa-se seu emprego após beneficiamento em muitos agregados na construção

civil e peças ornamentais onde o custo do agregado é elevado. Isto ocorre por não existe

material perto das obras e principalmente onde existe grande disponibilidade de material

proveniente dos depósitos dos rejeitos de garimpos, constituindo um fator contribuinte para

redução do valor das obras, não só na região como em todo seu entorno.

1.5 Organização do trabalho

O trabalho está estruturado em seis capítulos, considerando como capítulo 1 a

introdução, apresentando problema, justificativa e relevância do tema. No capítulo 2 são

discutidas questões relativas aos materiais e métodos utilizados, tratando da pesquisa

qualitativa e quantitativa, dos procedimentos para coleta e análise de dados.

No Capítulo 3 tem-se a fundamentação básica do estudo que apresenta conceitos e

informações obtidas por meio de extensa revisão bibliográfica, cuja finalidade é fornecer e

elucidar esclarecimento relevante para o desenvolvimento deste trabalho.

O Capítulo 4 aborda questões referentes ao diagnóstico socioeconômico de Poxoréu e

Alto Coité, que se faz imprescindível e oportuno, para conhecimento da área de estudo, uma

vez que não se tem conhecimento de qualquer trabalho que indique o retrato da região,

sobretudo, sobre o distrito de Alto Coité.

O capítulo 5 aborda a caracterização química e mineralógica dos rejeitos, que é a base

para o direcionamento do potencial econômico que poderá levar a compreensão dos fatores

determinantes para mudar o atual estágio social e econômico da região.

O capítulo 6 trata de recomendações para políticas públicas, ações e medidas

destinadas a promover o desenvolvimento socioeconômico do distrito de Alto Coité, tendo

como referencial o quadro identificado e descrido nos capítulos anteriores.

No Capítulo 7, são apresentadas as considerações finais do trabalho e as sugestões de

tópicos a serem futuramente aprofundados a partir dos estudos desenvolvidos.

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CAPÍTULO 2

METODOLOGIA

Este capítulo trata de aspectos metodológicos nas perspectivas tecnológicas e sociais,

relacionadas ao objeto da pesquisa: os rejeitos de garimpo e a população em Alto Coité. Nesse

sentido, desenvolvem-se considerações relativas ao caráter da pesquisa – qualitativo e

quantitativo – tomando as diferentes etapas do processo de investigação.

Desse modo, procurando entender o caráter da pesquisa, propõe-se uma pequena

revisão conceitual quanto aos aspectos técnicos que envolvem a coleta de dados no ambiente

alterado pelo garimpo e seus aspectos qualitativos e quantitativos. Assim, entende-se de

acordo com Cortes (2002) e Minayo (In: Minayo, 2002) que a pesquisa quantitativa é

expressa pela quantidade numérica que reduz muitas distorções interpretativas. Esse tipo de

pesquisa abre diversas possibilidades para construir generalizações, testes de hipótese,

corroboração e improvisação de afirmações e teorias através de ferramentas disponibilizadas

pela estatística, o que permite com maior facilidade modelar e mensurar a realidade. Já o

método de base qualitativa, como se utiliza, procura apreender as dimensões subjetivas da

realidade do ambiente que se observa, levando em conta toda a sua complexidade e

particularidade que os dados quantitativos não conseguem apreender. Nesta abordagem, o

pesquisador procura aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda, interpretando-

os segundo a perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem se preocupar com

representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito.

Assim, de acordo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004) e Goldenberg (1999), a

interpretação, a consideração do pesquisador como principal instrumento de investigação e a

necessidade do pesquisador de estar em contato direto e prolongado com o campo, para captar

os significados dos comportamentos observados, revela características da pesquisa qualitativa.

Deste modo, enquanto os estudos quantitativos procuram seguir com rigor um plano

pré-estabelecido, a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de todo o

desenvolvimento do trabalho. Diferenças existem, mas não significa que sejam dicotômicas.

A metodologia deste estudo constitui-se por pesquisas de caráter qualitativo e

quantitativo, buscando apreender o maior número de observações no objeto de estudo, logo,

esta pesquisa teve inicio com a fase exploratória para discussão dos métodos de pesquisa

apropriados, teorias pertinentes, pressupostos; dando seqüência ao trabalho de campo e

tratamento e, culminou com a análise dos dados obtidos.

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O método utilizado para a pesquisa está estruturado em quatro partes. Na primeira estão

apresentados os métodos da etapa de revisão bibliográfica que procura conhecer autores e

seus estudos que percorreram caminhos do conhecimento da direção pretendida. Na segunda

estão apresentados os procedimentos bibliográficos adotados ao longo do trabalho, dentre os

quais constam o método para levantamento preliminar da área. Ainda nessa parte estão

descritos os procedimentos adotados na pesquisa de campo para coleta de amostras nos

garimpos e aplicação do questionário. Na terceira, após ter sido feita a pesquisa de campo, são

descritos os procedimentos adotados para preparação e análise das amostras dos rejeitos

trabalhados em laboratório e, finalmente, está delineado o método utilizado para formulação

do questionário do diagnóstico socioeconômico.

2.1 Pesquisa bibliográfica

Nesta etapa buscou-se conhecer sobre diversos temas que seriam abordados ao longo

dessa pesquisa, através de trabalhos técnicos, dissertações e teses relativas ao tema abordado

desenvolvidos para região ou áreas correlatas, o que permitiu a obtenção de dados

preliminares cuja finalidade foi fundamentar aspectos relevantes ao estudo. O levantamento

bibliográfico foi base, também, para verificar como essas variáveis se inter-relacionam,

compreendendo tópicos teóricos e empíricos relevantes.

Para orientar a pesquisa bibliográfica, utilizou-se, como ponto de partida, o livro

“Garimpeiros de Poxoréu/MT” como discussão inicial que trata da região de estudo. Nesse

livro a perspectiva é informativa revelando e auxiliando na busca de novas fontes que

discutiram o município de Poxoréu e o distrito Alto Coité. A pesquisa realizada na Biblioteca

Central da Universidade Federal de Mato Grosso identificou poucos estudos sistemáticos

merecendo destaque artigos com objetivo de estudar os aspectos geológicos do município de

Poxoréu e alguns que abordam a origem do povoamento e a garimpagem na região.

Incluiu-se, nesta etapa, amplo estudo que teve como objetivo a busca de dados e

informações referentes à questão de desenvolvimento econômico, sobretudo,

desenvolvimento regional e endógeno, nos acervos da biblioteca central da Universidade

Federal de Mato Grosso – UFMT. Teve ainda consulta em acervo particular, para obtenção de

respostas mais objetivas acerca de elementos conceituais e conhecimento dos processos

utilizados como base do desenvolvimento regional no Brasil e no mundo.

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Os procedimentos utilizados foram: consulta a dados secundários (estudo de

documentos) e dados primários, considerados mais complexos e trabalhosos (visitas técnicas).

Procedeu-se a coleta e sistematização de dados secundários publicados pelo IBGE ou

disponibilizados por instituições de pesquisa. Assim, conheceu-se o acervo do Departamento

Nacional de Produção Mineral – DNPM, da SEPLAN e do IBGE. Naqueles órgãos, obteve-se

informações cujas análises permitiram a compreensão do município e do distrito, bem como

os elementos necessários para atingir os objetivos do estudo.

Os dados primários foram utilizados para nortear o estudo, especialmente ao que

refere o distrito de Alto Coité, por não existir na literatura dados disponíveis referentes ao

mesmo. Neste sentido, também foi de grande importância à coleta de dados específicos do

setor econômico e social, bem como dos rejeitos provenientes da garimpagem em Alto Coité.

2.1.1 Conhecimento da área de estudo

O procedimento utilizado para acepção e conhecimento da área baseou-se, num

primeiro momento, na revisão de literatura especifica sobre a área. Importante nesta etapa foi

o estudo de Baxter (1988) e de técnicas de fotointerpretação adaptadas às análises de imagens

virtuais com descrição da área pautada para o trabalho. Para a fotointerpretação utilizou-se

uma imagem virtual do Google Earth (Anexo I), por meio da qual foi possível observar e ter

conhecimento prévio da dimensão da área trabalhada com garimpagem e conseqüentemente o

volume de rejeitos, e da degradação ocasionada com a extração de diamantes utilizando a

técnica manual e semimecanizada.

Na seqüência foram elaborados mapas de localização e geológico, utilizando-se da

base cartográfica de Poxoréu/MT. A mesorregião de Poxoréu está localizada no sudeste mato-

grossense entre as coordenadas de latitude 15° 50' 14'' S e longitude 54° 23' 21'' W, e

apresenta altitude média de 450 m acima do nível do mar e clima predominante quente com

precipitações anuais de 1750 mm a 1900 mm, distribuída no período de dezembro a fevereiro.

2.1.2. Procedimentos adotados para elaboração de questionário

O levantamento regional consistiu de uma visita à região com vista ao reconhecimento

da área da sede municipal - Poxoréu e do distrito - Alto Coité. Nesta ocasião foi possível ter

conhecimento prévio da população, dos grupos sociais e das instituições locais diretamente

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relacionadas com a dinâmica dos garimpos, seu ambiente social e institucional e com os

órgãos competentes do sistema municipal.

A partir das demandas levantadas na pesquisa bibliográfica e nas primeiras visitas a

campo, foi elaborado o roteiro de entrevistas a ser utilizado na obtenção de dados junto à

população e a alguns órgãos públicos. O processo de elaboração dos questionários (Anexo II)

foi caracterizado por importantes contribuições das diversas áreas do conhecimento, o que

originou a elaboração de um roteiro vasto e variado.

O método adotado para a realização do diagnóstico baseia-se na utilização de dois

pressupostos teórico-metodológicos, os quais compreendem uma abordagem interdisciplinar e

enfoque sistêmico. O emprego deste método no estudo e caracterização da realidade

específica do distrito Alto Coité e do município de Poxoréu/MT permitiu obter um panorama

das inter-relações e interdependências entre os diferentes aspectos que a constituem.

O enfoque sistêmico disponibiliza um instrumental imprescindível para fazer uma

retomada do desenvolvimento do município e do distrito caracterizando a produção mineral e

o aproveitamento dos rejeitos, permitindo assim compreender os mecanismos que são

orientadores e condicionantes da sustentabilidade do distrito e eventualmente do município.

Por conseguinte, este trabalho parte do pressuposto de que toda intervenção em prol do

desenvolvimento dessa região deve levar em consideração as condições de reprodução dos

sistemas naturais e sociais necessárias para o desenvolvimento sustentável dos seres humanos,

especialmente daqueles que estão submetidos a um processo crescente de marginalização e

exclusão do sistema capitalista. Marginalização e exclusão provenientes da pela inabilidade

das pessoas em criar e manter as condições de bem-estar da sociedade envolvida. Segundo

Becker (2002), para que ocorrera melhor compreensão das dinâmicas naturais e sociais, a

realidade da região pode constituir importante ferramenta para subsidiar a elaboração de

políticas efetivas de desenvolvimento que assegurem a representação social da comunidade.

Para a elaboração do questionário aplicado junto à população do distrito Alto Coité -

Poxoréu/MT procurou-se identificar os aspectos familiares, a situação social e econômica da

população, bem como conhecer os aspectos institucionais do município e do distrito. Os

resultados permitiram construir os diagnósticos socioeconômicos, com os quais se determina

a situação social, econômica, tecnológica e socioeconômica da região. Desse modelo

socioeconômico buscam-se soluções para resolver os problemas da qualidade de vida das

pessoas que vivem na região estudada.

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Após a primeira visita à área de estudo, fez-se levantamento para realização do

questionário, com elaboração de um cronograma mínimo de atividades. Este cronograma foi

basicamente dividido nas seguintes etapas: levantamento de questões regionais; elaboração do

roteiro de entrevistas; realização de entrevistas aleatórias em Poxoréu e Alto Coité;

sistematização dos dados secundários; elaboração de uma planilha contendo os dados

coletados; escolha dos indicadores; análise dos resultados obtidos e verificação da

representatividade dos dados obtidos.

Além do questionário direcionado à população de Alto Coité, optou-se também por

questionários a serem aplicados junto aos garimpeiros, aos órgãos públicos (prefeitura e suas

secretarias) e, por fim, à cooperativa dos garimpeiros com sede na cidade de Poxoréu. Esse

questionário teve como objetivo obter o máximo de informações possíveis sobre o município

e, principalmente, do distrito, uma vez que não há dados sistematizados sobre os distritos

especificamente.

A metodologia para a coleta dos dados socioeconômicos utilizou-se de entrevistas semi-

estruturadas, baseados em questionários com questões abertas, o que favoreceu a obtenção do

maior número de informações possíveis dentro do que foi proposto, o que gerou informações

qualitativas. Foram feitas também entrevistas informais, onde os entrevistados discorreram

sobre assuntos ou fatos cotidianos, o que possibilitou informações mais detalhadas, uma vez

que os entrevistados sentiram-se a vontade para relatar suas experiências e perspectivas. As

entrevistas semi-estruturadas garantiram que todos os tópicos, previamente escolhidos e

relacionadas aos aspectos econômicos, sociais, pessoais e outros relevantes para a pesquisa

fossem abordados. Estes tópicos são abordados detalhadamente no capítulo 4.

A entrevista foi dirigida basicamente aos moradores de Alto Coité, mas foram

realizadas, também, entrevistas junto aos ex-garimpeiros que hoje vivem na associação dos

ex-garimpeiros com sede em Poxoréu. Algumas entrevistas foram filmadas e outras gravadas

em áudio, posteriormente todas foram armazenadas em DVDs.

Ao término da fase de coleta de dados nas primeiras visitas, foram escolhidos os

principais indicadores socioeconômico para fundamentar a tipologia de Poxoréu e Alto Coité.

Os indicadores escolhidos foram: população, habitação, educação, saneamento básico (social)

e, produção, comercialização e outros (econômico).

A metodologia aplicada para determinar a porcentagem de casas a serem entrevistadas,

norteou todo o desenvolvimento do capítulo 4 deste trabalho. O erro admissível nesta

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40

metodologia adotado no respectivo trabalho é de no máximo 10%, devido aos recursos

limitados e tempo restrito.

O que facilitou o levantamento socioeconômico foi à possibilidade de se realizar a

investigação no núcleo urbano. Para a realização de uma amostragem, tomou-se o número

total de casas da vila e aplicou-se a fórmula da amostragem que segue:

Sendo:

n = Número de moradias a serem pesquisadas;

N = número total de casas;

Z = valor tabelado proveniente da distribuição normal padrão;

P = Probabilidade de conhecimento da atividade garimpeira;

Q = 1-P;

= erro admissível de 0,1.

Considerando um total de 400 casas no distrito Alto Coité e aplicando a fórmula de

amostragem determinou-se que 53 seria o número representativo de residências a serem

visitadas para que as entrevistas fossem efetuadas. O cálculo foi obtido utilizando o programa

do Excel, considerando vários tipos de erros admissíveis e com diversos graus de confiança.

A escolha por selecionar 53 casas considerou um erro admissível de até 10%, com

confiabilidade de 94%, em função do curto espaço de tempo livre para aplicação dos

questionários e dos poucos recursos financeiros disponíveis.

2.2 Etapas de campo

A pesquisa de campo visou à obtenção de dados primários que foi estruturada em

função dos principais objetivos propostos para este estudo (produção dos rejeitos, diagnóstico

socioeconômico da região, dentre outros aspectos).

Os levantamentos de campo objetivaram a descrição in situ dos garimpos do distrito

Alto Coité, além de servirem para a coleta de amostras dos rejeitos provenientes da atividade

garimpeira. As amostras coletadas foram selecionadas e submetidas a estudos de

caracterização física e química.

O contato prévio com a população de Alto Coité possibilitou a aplicação do

questionário, que foi aplicado aos garimpeiros, à população do distrito, aos dirigentes de

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41

associações comunitárias, o que permitiu a realização de entrevistas semi-estruturadas,

possibilitando o levantamento de dados estatísticos econômicos e sociais da área estudada.

As etapas de campo constaram de avaliação da área, através de visita in loco da área

de estudo, Poxoréu (sede municipal), Alto Coité (distrito) e garimpos de diamantes na região;

registro fotográfico; anotação de alguns dados observados e também adquiridos juntos aos

garimpeiros, sede municipal (prefeitura) e distrito (população); coleta de amostra dos rejeitos

dos garimpos para análise laboratorial.

2.2.1 Levantamento preliminar da área de estudo

A visita preliminar ocorreu em 17 de abril de 2008 buscando o reconhecimento in

loco, constituiu-se de uma pré-avaliação geral da área, ao percorrer as áreas dos garimpos de

diamantes ao entorno de Alto Coité e visita à sede municipal. Além do reconhecimento in

loco da área, esta primeira visita na região foi realizada para manter um primeiro contato com

a população de Alto Coité e conseqüentemente observações e, coleta dos primeiros rejeitos

dos garimpos de diamantes para análise nos laboratórios do Departamento de Geologia da

UFMT. Foi feito registro fotográfico dos rejeitos e do ambiente degradado em conseqüência

da garimpagem desde os primeiros achados de diamantes.

2.2.2 Reconhecimento e coleta de amostras dos rejeitos

A segunda visita ocorreu no dia 10 de julho de 2008, durante uma aula de campo da

disciplina de Geologia Ambiental do Departamento de Geografia da UFMT. Esta visita

aconteceu nos garimpos de diamante nas imediações do distrito Alto Coité, o que

proporcionou um melhor reconhecimento da área ao entorno do distrito a qual é conhecida

pelos moradores e garimpeiros como área do patrimônio dos garimpeiros, mas na realidade

trata-se de uma reserva garimpeira4. A visita possibilitou a coleta de algumas amostras dos

rejeitos e permitiu o registro fotográfico de um garimpo que estava em funcionamento e que

4 Área do Patrimônio ou Reserva garimpeira, é uma reserva oficial com área que inclui depósitos de diamantes e, foi obtida pelo Governo Federal final década 70, mais precisamente em 1979 por meio da Port. Minist. n° 2.230; 12.11.79, para evitar conflitos entre garimpeiros e empresas, sobretudo, as empresas multinacionais que almejaram monopolizar a garimpagem em Alto Coité. A extensão total da área é de 700 hectares. Nas propriedades do Estado não é necessário permissão, nem é pago qualquer percentagem e os direitos outorgados são respeitados, assim, o garimpeiro pode trabalhar onde considerar melhor lhe aprouver.

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trabalhava com draga. Foi possível obter algumas informações referentes ao funcionamento

dos garimpos junto com o garimpeiro que operava a draga.

A última vista na área dos garimpos, ocorreu em setembro de 2008 nos dias 4, 5 e 6 e

possibilitou a coleta de amostras em onze diferentes pontos em diversas áreas nas

proximidades de Alto Coité – reserva garimpeira (antes e depois do rio Coité); Fazenda

Primavera e outras áreas, o que proporcionou conhecer com mais precisão a dimensão das

áreas garimpadas. A localização geográfica das áreas visitadas utilizando-se de um GPS-

Garmin. Estas áreas de garimpos foram escolhidas de maneira aleatória pela localização e

facilidade de acesso.

Por não existir estudos sobre a caracterização dos rejeitos, procurou-se adotar uma

amostragem que melhor refletisse as diferentes condições em que se encontram os garimpos

mais antigos, bem como os atuais. Em cada área de garimpo foram coletadas amostras

aleatórias de cascalho, areia e fragmentos de rochas, que se encontravam depositadas em

pilhas de rejeitos. As amostras foram coletadas de forma aleatória, pois os rejeitos são

depositados aleatoriamente, o que dificulta coleta de forma sistematizada.

Foi realizado também levantamento nos depósitos de rejeito para quantificação e

qualificação do material exposto. Para a qualificação foi realizada coleta de material

selecionado dos tipos de agregados com possível potencial para aproveitamento e

direcionamento para matéria-prima. A quantificação dos rejeitos estimada para a área da

reserva garimpeira foi calculada levando em consideração o tamanho da área por uma

profundidade média de 3 metros.

Nesta fase, foi feita visita à prefeitura e associação dos garimpeiros do município de

Poxoréu e ao distrito Alto Coité, para se obter informações a respeito dos garimpos,

garimpeiros e ex-garimpeiros. Nessa etapa, realizou-se um registro fotográfico e anotações

sobre as condições atuais da vida dos garimpeiros e da população de modo geral.

2.2.3 Visita a área de estudo para entrevistas e aplicação do questionário

A realidade de uma região é composta por vários aspectos como por exemplos sociais,

históricos, culturais, ambientais, geográficos, que ao se interagirem criam uma particularidade

na relação homem-natureza, sociedade e meio natural. Esses aspectos compõem a realidade

do município de Poxoréu/MT e do distrito de Alto Coité e serão mostrados no capítulo 4.

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43

Este estudo resguarda a percepção e o desenvolvimento do município, como sua base

social e econômica, organizado com condicionantes internos e externos. Qualquer região de

mineração e garimpagem se caracteriza por apresentar pouca diversidade em seus modos de

produção, independente de restrições impostas pelo ambiente natural ou pela disponibilidade

de fatores de produção, bem como pelas condições socioeconômicas, as quais estão

condicionadas. Estas considerações permitiram explicitar o questionário utilizado para

obtenção de um diagnóstico socioeconômico da população de Alto Coité, realizado por meio

de entrevistas abertas e aleatórias, junto à população e órgãos públicos municipais.

As entrevistas abordaram questões referentes à identificação e inserção no meio físico e

sócio-econômico; descrição e caracterização do meio natural; estrutura produtiva; dinâmica e

organização do sistema de produção; aspectos econômicos e financeiros; resgate da trajetória

evolutiva do município e dos garimpos de diamantes.

2.2.3.1 Aplicação do questionário junto à população de Alto Coité

As entrevistas realizadas junto à população na área de estudo foram entre os dias 20 a

22 de outubro de 2008, onde foram aplicados 53 questionários na localidade de Alto Coité.

Esta etapa contou com dois entrevistadores que dispunham de um período curto de tempo

para finalizarem as entrevistas e esbarraram em condições adversas, tanto naturais (período de

muita chuva) e na falta de informações dos próprios entrevistados em relação aos assuntos

corriqueiros sobre alguns dados pessoais e familiares, que em alguns casos levou a

morosidade das entrevistas em até 40 minutos.

No mesmo período ocorreram, também, entrevista e filmagem junto a alguns moradores

do distrito, que contaram histórias da época áurea da garimpagem e das contradições daquela

época com os dias atuais. Os moradores discorreram sobre as dificuldades as quais a

população do distrito tem atravessado e a ausência de perspectivas de melhores condições de

vida para os moradores.

2.2.3.2 Aplicação do questionário junto à prefeitura e sindicato dos garimpeiros

A aplicação dos questionários foi realizada nos dias 27 e 28 de novembro de 2008. A

pesquisa foi realizada junto à prefeitura, cooperativa dos garimpeiros, secretarias municipais e

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IBGE local. Além da aplicação deste questionário foi possível fazer uma visita à sede da

Associação dos ex-garimpeiros.

A pesquisa junto a estes órgãos visou obter informações econômicas relevantes sobre

o município, sobretudo, sobre Alto Coité, foco principal deste estudo. Esta pesquisa foi

necessária devido à dificuldade em se obter informações do distrito, pois estas estão sempre

consolidadas junto àquelas do município, sendo quase impossível encontrar informações

separadas dos distritos.

2.2.4 Etapa de sistematização dos dados

A análise dos dados é um processo de categorização e tabulação de respostas a

questões abertas, portanto, uma técnica de pesquisa com vistas a uma descrição objetiva,

sistemática e quantitativa empregada cada vez mais para análise de material qualitativo obtido

através de entrevistas de pesquisa (Machado, 1991). A qualidade das análises e a interpretação

das informações obtidas são dependentes da qualidade dos processos que foram seguidos.

Este contexto deve ser considerado como um dos principais requisitos, no sentido de garantir

a relevância dos resultados a serem divulgados e, de preferência, socializados.

Esta etapa aborda os métodos empregados para análise dos dados provenientes das

entrevistas e das análises técnicas e econômicas. A interpretação destes dados permitirá

sugerir propostas para oportunizar geração de emprego e renda no Distrito de Alto Coité.

2.2.4.1 Tabulação dos dados

O diagnóstico regional e local foi possível após levantamento de dados que versa sobre

a situação econômica e social da região com vista ao reconhecimento da área do município de

Poxoréu e do distrito Alto Coité junto à população, grupos sociais e instituições locais

diretamente relacionadas com a dinâmica do sistema municipal.

Após a coleta dos dados, concernentes à situação socioeconômica e ambiental da região,

a partir das questões levantadas e com base nas respostas obtidas nas entrevistas, procedeu-se

à tabulação e o tratamento dos resultados obtidos, ou seja, a compilação dos valores

ponderados, utilizando a estatística descritiva para interpretação, sendo este um instrumento

básico para análise dos dados. A utilização de uma ferramenta própria à análise sistêmica,

que é a tipologia, completa os instrumentos metodológicos empregados nesta pesquisa.

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45

Após inferência e a interpretação dos dados obteve-se o valor de maior freqüência

(moda ou média ponderada) para cada fator considerado no questionário. Em seguida, foi

estabelecido parâmetros para classificação das diferentes formas de ocorrência.

Assim, procedeu-se a tabulação dos dados, de acordo com as respostas subdivididas

em diagnóstico social e econômico. Posteriormente, fez-se uma nova tabulação, onde se

observou a moda ou a média em cada item de análise.

Por meio deste procedimento foi possível obter informações relevantes ao processo

socioeconômico de Alto Coité, além de corroborar com o levantamento socioeconômico do

município. As informações, junto à população, foram utilizadas para formatar a dinâmica da

pobreza, formular um diagnóstico socioeconômico do município e do distrito e ainda

diagnosticar os níveis de deterioração social, econômico da área urbana e o ambiental ao

entorno dos garimpos e do distrito.

2.3 Etapas de laboratório

A etapa de laboratório é um conjunto de vários fatores, que envolve deste a preparação

das amostras e aquisição de dados analíticos através de varias técnicas.

Esta etapa constou neste trabalho para sintetizar a realização da parte experimental e

foi utilizada para análise dos rejeitos dos garimpos de diamantes de Alto coité. As análises

foram importantes instrumentos para verificar a viabilidade de aproveitamento e

beneficiamento dos rejeitos e apontar seu direcionamento para fins econômicos.

Os trabalhos de laboratório foram realizados em três etapas (seleção e preparação de

amostras, aquisição de dados analíticos e interpretação de dados). Todas as análises foram

realizadas nos laboratórios do Departamento de Recursos Minerais da UFMT.

Inicialmente, as amostras foram levadas para o laboratório de sedimentologia onde

passaram por um processo de separação granulométrica, descrição petrográfica, seleção para

análises químicas e estudos de viabilidade econômica. Os ensaios de laboratório adotados

estão descritos abaixo.

2.3.1 Análise granulométrica

As análises granulométricas das amostras selecionadas foram efetuadas por

peneiramento a seco, com tempo fixado em aproximadamente 40 minutos, utilizando-se de

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um conjunto de peneiras da série Tyler com malha (unidade milímetro) 9.52; 4.76; 2.0; 1.68;

1.41; 1.20; 1.19; 1.0; 0.71; 0.250; 0.125; 0.062.

Estes ensaios tiveram como objetivo definir a maturidade dos sedimentos, que

envolvem grau de arredondamento e selecionamento dos mesmos.

Em algumas amostras da fração 0,062 foram realizados estudos de separação de

minerais pesados com líquido denso (bromofórmio, d=2,89) para separação de minerais

pesados para posterior confecção de lâminas visando à identificação dos mesmos.

2.3.2 Análise petrográfica

Neste trabalho foram confeccionadas lâminas de grão do material separado por líquido

denso para descrição microscópica dos constituintes minerais, que envolvem estudos de cor,

alterações, etc. A seleção desta granulometria foi função da mesma reter todos os constituintes

minerais presentes numa determinada amostra, além da mesma ser de fácil manuseio ao

microscópio.

Para a descrição das lâminas foi utilizado um microscópio binocular de marca

Olympus, modelo BX 41, acoplado a uma câmera de vídeo para a captura de imagens

utilizando-se o software PixelView Station v. 5.19. Estas análises foram desenvolvidas no

laboratório de microscopia do departamento de Recursos Minerais da UFMT.

2.3.3 Análise química

Foram efetuadas análises químicas nas frações retidas nas peneiras 1,19, 0,50, e na

passante na de 0,062mm, além do material in natura, para análises de elementos maiores

(>1%), menores (<1 e >0,1%) e alguns elementos traços, ou seja, aqueles cuja concentração

nas amostras é abaixo de 0,1%. Para uma das amostras foram realizados ensaios geoquímicos

em todas as frações.

Para tais análises, as amostras foram reduzidas a aproximadamente 1,5 cm, com

utilização de marreta e, após, foram pulverizadas em um moinho de disco marca AMEF,

modelo AMP1-S, que utiliza um sistema pneumático e motor de alta rotação acoplado a um

compressor de ar da marca Schulz com pressão máxima de 8Pa. A pulverização se deu em

uma panela de carbeto de tungstênio, com ciclos de 100 segundos. Finalmente, com o pó de

rocha foram confeccionadas as pastilhas de 2,5 cm com pressão de 15 toneladas.

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As pastilhas foram submetidas às análises químicas semi-quantitativa, no Laboratório

Multi-Usuário em Técnicas Analíticas (LAMUTA) do Departamento de Recursos Minerais,

Geologia UFMT. Todos os elementos foram analisados semi-quantitativamente, através de

um espectrômetro de fluorescência de raios-X por energia dispersiva (EDX), marca Shimadzu,

modelo 700HS, utilizando-se do método Quali-Quant FP, com duas aquisições por amostra

para quantificação dos elementos químicos do (i) Na a Sc e (ii) Ti a U, tendo cada aquisição

um ciclos de varredura de 200 segundos para cada canal de detecção em vácuo e com

colimador de 10 mm.

2.3.4 Laminação e Polimento

Algumas amostras coletadas foram cortadas e polidas sendo que em algumas foram

confeccionadas lâminas de cerca de 1 cm de espessura, e com ambas as faces polidas. Estes

procedimentos visaram identificar a viabilidade das mesmas como amostras ornamentais na

confecção de bijuterias e fabricação de pequenas esculturas, relógios, etc.

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CAPÍTULO 3

FUNDAMENTOS BÁSICOS DO ESTUDO

Este capítulo está embasado em revisões bibliográficas pertinentes ao tema da

dissertação. Desse modo buscaram-se pesquisas acadêmicas nas quais se selecionaram

conceitos, definições e fases do desenvolvimento econômico e sustentável, com vistas à

obtenção de subsídios para responder à questão central da pesquisa: como promover o

desenvolvimento socioeconômico do Distrito de Alto Coité?

A revisão de estudos teóricos e empíricos relacionados ao desenvolvimento

econômico, seja regional ou local, procura tratar o tema polêmico do desenvolvimento

sustentável com base na endogenização dos recursos disponíveis na região, onde ocorreu à

degradação ambiental, econômica e social em função do processo produtivo relacionado à

forma predatória de extração do principal mineral, no caso em questão, o diamante.

Para compreender as várias fases do desenvolvimento no escopo da ciência

econômica, foi necessário discutir historicamente as principais tendências teórico-

metodológicas que influenciaram as diversas concepções, abordagens e discussões sobre o

desenvolvimento econômico. Desse modo não se pode entender a dinâmica e a gênese das

formas do desenvolvimento sem conhecer os fatores que interferiram e, interferem, no

dinamismo socioeconômico em relação ao processo produtivo e sua evolução.

3.1 Fases do desenvolvimento

O desenvolvimento por ser um processo, deve ser entendido em sua dimensão

histórica na transição do passado para o futuro. Baseado em fatos predefinidos deve estar

aberto para a inovação, e de certo modo, à renovação de conceitos e metodologias de trabalho.

Por sua complexidade, cada processo histórico deve ser analisado no seu contexto temporal e

espacial. Logo ao dividi-lo em etapas ou segmentos produtivos e sociais, estudam-se cada

uma delas na sua totalidade, procurando reproduzir as condições gerais do processo. Nessa

perspectiva o entendimento da história econômica regional propicia a compreensão da

economia regional em seus diferentes ciclos e estágios. Assim, através desse resgate se

permite a reconstrução das etapas da economia da região e entende-se seu desenvolvimento e

suas principais mudanças no cenário histórico, elucidando os processos e as crises que

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levaram à transmutação histórica relacionada ao desenvolvimento econômico incorporando a

discussão fragmentada em geral de pouca sensibilidade social.

De acordo com a literatura, pode-se considerar do ponto de vista teórico, que o

desenvolvimento passou por três fases distintas, classificadas conforme o período estudado. A

primeira surge junto com a Ciência Econômica; a segunda após 1945 e a terceira após 1970.

A primeira fase de estudos sobre desenvolvimento refere-se ao período no qual não era

feita distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico. Assim, esses dois conceitos

eram tidos como sinônimos. Nesta fase, nota-se que há duas tendências no que diz respeito à

concepção de desenvolvimento. De um lado estão os economistas que baseavam seus estudos

na lei de Say, que afirma ser a oferta geradora de sua própria procura, predominando a visão a

partir da oferta. Dentre esses economistas tem-se Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill,

cujo enfoque de seus trabalhos é a produção e o crescimento. Para Smith havia uma percepção

otimista relacionada ao campo social e ambiental, considerando a oferta de empregos e a

“ilimitada disponibilidade de recursos naturais” e a Revolução Industrial, em marcha.

Do outro lado, encontram autores, tais como Thomas Malthus, Karl Marx, John

Maynard Keynes e Michael Kalecki, que estão ligados à perspectiva da demanda efetiva e que

questionam a aplicabilidade da lei de Say e os limites sociais impostos pelo otimismo do

crescimento constante especialmente após as crises do final do século XIX e a de 1929.

A segunda fase se inicia logo após a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em

1950. Neste período, surge a teoria do desenvolvimento sob a influência de Keynes, a qual

passa a diferenciar crescimento e desenvolvimento econômico, não utilizando estes conceitos

como sinônimos. A rigor o conceito de Desenvolvimento é utilizado pela primeira vez por

Schumpeter em 1911. Esta nova corrente passou a se preocupar com o crescimento integrado

ao desenvolvimento, utilizando-se de dois mecanismos; por um lado, a síntese entre o

instrumental e as convicções particulares da microeconomia neoclássica, e, por outro, a

macroeconomia keynesiana, dando ênfase a autoridade pública para modificar as questões

sociais. Nessa concepção, merecem destaque os trabalhos de economistas como, C. Clark,

Albert. O. Hirschman, W.A. Lewis, G. Myrdal, W. W. Rostow, T.W. Schultz, Joseph E.

Stiglitz e Charles Kindleberger.

É nessa segunda fase que surge à corrente da Comissão de Estudos para a América

Latina – CEPAL, conhecida como corrente estruturalista que teve sua base de pensamento

keynesiano, sendo liderado por Raúl Prebisch. Os estudiosos da escola cepalina levaram em

consideração as distinções nos termos de troca e as diferentes formas de dependência entre

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países centrais e periféricos, as ênfases dos trabalhos destes incidem, ao mesmo tempo, na

produção e na sociedade, reconhecendo aspectos da Divisão Internacional do Trabalho – DIT

e a necessidade da industrialização dos países da América Latina. Dessa corrente, destacam-se

os estudiosos R. Prebich, Celso Furtado e Anibal Pinto, Osvaldo Sunkel e R. Bielschowsky.

A última fase ocorre a partir da década 1970, evidenciada por uma nova abordagem da

teoria do desenvolvimento, que busca um desenvolvimento que seja sustentável, em seu

sentido mais amplo, isto é, um desenvolvimento baseado em sustentabilidade física

(ecológica/ambiental), econômica (durabilidade ao longo do tempo) e social (inclusiva).

Nesta fase o desenvolvimento econômico incorpora além da questão econômica a

questão social e a preservação ambiental. Essas questões, antes trabalhadas de maneira

unilateral, passam a ter dimensão sistêmica. Merecem destaque nesta perspectiva autores que

têm marcado esse período como Ignacy Sachs, Amartya Sen, Georgescu-Roegen, R.

Constanza, W. Soto e Richard Norgaad. Dentre os pesquisadores brasileiros pode-se destacar

os estudos de R. Abromavay, Charles Muller e José Eli Veiga.

Os autores desta corrente tentam adaptar novos valores e construir novas

interpretações da relação sociedade e meio ambiente, através de novos padrões e dimensões

para o desenvolvimento. Embora existam várias sugestões quanto às dimensões que são

relacionadas com a sustentabilidade, segundo Sachs (1990), podem-se fazer análises com

diferentes dimensões, especialmente, econômica, social, geográfica, cultural e ambiental. Em

2000 este mesmo autor acrescenta mais três dimensões ou critérios de sustentabilidade,

territorial, política nacional e política internacional (Sachs, 2002).

Este período tem dedicado atenção particular ao desenvolvimento local endógeno e ao

desenvolvimento regional endogenizado por economistas como Paul Romer, Robert Lucas,

Henri Bártoli, Vázquez Barquero; no Brasil, encontram-se José Eli Veiga, André Joyal e

Dante P. Martinellil, dentre outros. Tanto pelas perspectivas enunciadas em defesa deste tema,

como pela repercussão apresentada na última década, ao incorporar as dimensões locais e

ambientais, os estudiosos desta nova teoria de desenvolvimento acreditam que este conjunto

de dimensões inter-relacionam e compartilham de um mesmo ideal de desenvolvimento. Estes

estudiosos ainda preservam relação com a economia do desenvolvimento do pós-guerra, em

focar a evolução histórica da sociedade, apesar de incorporar temáticas sociais e ambientais.

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51

3.2 Crescimento e Desenvolvimento econômico

Não existe consenso entre os cientistas sociais sobre o significado do termo

desenvolvimento, que no geral é confundido com crescimento econômico. E, não existe uma

definição que seja consensual sobre desenvolvimento econômico na literatura.

De acordo com Corazza (1991) os economistas clássicos foram os que mais se

aprofundaram na questão do crescimento econômico, ao criar as bases da teoria econômica

moderna. De maneira geral, esses economistas associavam o crescimento da economia à

contínua gênese de excedentes e as crises decorrentes, tratando-os como estados estacionários,

pela forma como eram produzidos, distribuídos entre as classes sociais e à sua acumulação,

com a acumulação do capital vista como fator fundamental para o crescimento econômico.

Kindleberger (1976) fez uma comparação mais objetiva e clara entre desenvolvimento

e crescimento econômico de um país. Para o autor, a distinção entre os termos ocorre de

maneira implícita ou explicita, pois crescimento econômico significa maior produção (mais

insumos e mais eficiência), enquanto o desenvolvimento econômico, por sua vez, implica em

maior produção e junto com ela mudanças nas disposições técnicas e institucionais, isto é,

significa mudanças na estrutura da produção e na alocação de insumos, por setores.

Crescimento e desenvolvimento econômico são, portanto para os clássicos, conceitos

complementares. Enquanto, mais recentemente entende-se que o primeiro significa tão

somente o aumento na produção de bens e serviços e quando se compara um período com

outro, logo após anterior. O segundo conceito associa ao crescimento do produto algumas

melhorias tecnológicas no processo de produção da economia, mudanças estruturais de

maneira a proporcionar uma distribuição mais eqüitativa da renda e, elevação de padrão de

bem-estar da sociedade e preservação ambiental genericamente chamado como bem estar ou

qualidade de vida. A partir do momento em que a sociedade atinge o estágio do

amadurecimento, a tecnologia deixa de ser o objetivo principal do desenvolvimento e muda-se

o foco para a qualidade de vida da sociedade (Rostow, 1974).

Assim, apesar de distintos, os fenômenos crescimento e desenvolvimento se inter-

relacionam e quando alcançados provocam transformações estruturais também distintas.

Ambos são processos que se materializam a longo prazo, mediante a combinação de forças

propulsoras advindas do setor público e dos agentes econômicos privados.

O primeiro economista a evidenciar esse fato foi Schumpeter (1985) ao afirmar que o

desenvolvimento econômico implica em transformações estruturais do sistema econômico e

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que o simples crescimento da renda per capita não assegura o desenvolvimento. O autor

utilizou essa distinção para salientar a ausência de lucro econômico no fluxo circular, onde no

máximo ocorreria crescimento, concluindo que um verdadeiro processo de desenvolvimento

econômico, deve considerar a importância da inovação tecnológica em seu contexto.

Distinguir crescimento de desenvolvimento faz sentido somente a partir de uma

perspectiva em que há aumento da renda per capita sem mudanças profundas na sociedade e,

essa situação teria que ocorrer de forma freqüente e habitual. Mas, o que tem ocorrido em

situações normais é que mudanças tecnológicas e divisão do trabalho que ocorrem com o

aumento da produtividade são sempre acompanhadas por mudanças no plano institucional,

cultural, e estruturais da sociedade. Furtado (1967, 2000) observa que, para que o crescimento

não conduzisse a modificações na estrutura econômica, seria preciso pensar em uma situação

pouco plausível na qual incidisse a expansão simultânea de todos os setores produtivos sem

qualquer aumento da produtividade. Furtado conclui que o crescimento é o aumento da

produção, ou seja, do fluxo de renda ao nível de uma subclasse particularizada, e o

desenvolvimento é o mesmo fenômeno do ponto de vista de suas repercussões no conjunto

econômico de estrutura complexa que inclui o anterior.

A distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico fica clara ao perceber que

o crescimento econômico significa elevado nível de renda per capita, enquanto

desenvolvimento econômico denota a oportunidade de realização de metas e transformação da

vida das pessoas naquilo que almejam. Assim, o desenvolvimento conduz ao processo de

distribuição dos rendimentos do crescimento que devem ser distribuídos igualitariamente para

todos que participaram desta formação de riqueza. Baldwin (1979) vê o desenvolvimento

econômico como uma decorrência direta e imediata do crescimento econômico nacional. Para

o autor, o desenvolvimento da economia é que determina os níveis e taxas de crescimento da

renda per capita nas nações menos desenvolvidas.

Desta forma, torna-se importante separar crescimento econômico do problema de

desenvolvimento, pois o elevado Produto Interno Bruto - PIB per capita não expressa

desenvolvimento econômico, este fator pode ser considerado, uma vez que países com

elevado indicador de riqueza média podem apresentar ao mesmo tempo, indicadores sociais

sofríveis. Conforme comprovados pelos estudos de Sen (2000), apesar de ter como hipótese

que uma maior capacidade de geração de renda auxilia na construção do desenvolvimento, o

que torna a relação entre crescimento e desenvolvimento complexa.

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Sachs (In: Abromovay, 2001) e Veiga (2005a) enfatizaram que o fato do

desenvolvimento não está contido no crescimento econômico não deve ser interpretado em

termos de uma oposição entre crescimento e desenvolvimento. O crescimento econômico se

for repensado de forma adequada, de modo a minimizar impactos ambientais negativos, e

colocado a serviço de objetivos socialmente desejáveis, continua sendo condição necessária

para o desenvolvimento. Sachs afirma que é preciso taxas altas de crescimento econômico

para acelerar a reabilitação social.

Para Feijó (2007b), o crescimento econômico constitui um componente importante

para o desenvolvimento e, que além do crescimento, o desenvolvimento ainda requer políticas

públicas, bem como ações privadas que garantam que os benefícios oriundos do crescimento

alcancem o maior número de pessoas. De tal modo, que a noção de desenvolvimento

econômico tem funcionado com discernimento para analisar se as políticas de crescimento

que vêem acompanhadas de iniciativas sociais conseguiram seus objetivos. A teoria do

desenvolvimento econômico promete um mundo de realizações desde que a sociedade seja

capaz de persistir na sustentação da liberdade democrática e, ainda zelar pelas chamadas

oportunidades de liberdade (Feijó, 2007b; Sen, 2000; Veiga, 2005b).

Diante do que foi exposto, em termos conceituais, o desenvolvimento é um processo

de aperfeiçoamento em relação a um conjunto de valores ou um caráter comparativo com

deferência a esse conjunto, sendo esses valores condições ou ocorrências desejáveis para a

sociedade. Porém, segundo vários atores essa definição pode ser aplicada de maneira mais

abrangente com enfoque avaliativo da condição humana, tanto individual como coletiva.

Contudo, o termo desenvolvimento, de forma isolada, não tem refletido de forma

suficiente todos os campos plausíveis do desenvolvimento humano e da sociedade. Isto

acontece em função de que em certos momentos, há a necessidade de dar ênfase ao aspecto

econômico e, em outros, ser necessário dar enfoque a questão tecnológica, além disso, é

preciso fazer prevalecer o lado cultural, ambiental, político e outros. Ao incorporar outras

variáveis ao desenvolvimento, ocorre o crescimento do homem e da sociedade. Isto coloca o

desenvolvimento do homem e da sociedade no centro da questão do desenvolvimento e

constituem-se em escopo do desenvolvimento (Sachs, 2004). Deste modo, conceitos como,

capital humano e social, passam a fazer parte do cerne do tema do desenvolvimento e,

conseqüentemente, estão inseridos nos debates relacionados com políticas públicas.

Todavia, antes de abordar a nova concepção de desenvolvimento, faz-se necessário

revisar algumas das interpretações teóricas do desenvolvimento ao longo dos anos, onde as

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doutrinas anteriores têm sido repensadas, examinando os problemas do desenvolvimento sob

nova ótica, o que permite revogar preceitos antes pré-estabelecidos.

3.3 Concepções e discussões sobre desenvolvimento

No que tange à concepção e discussão sobre crescimento e desenvolvimento, muitas

foram às interpretações teóricas ao longo dos anos, onde as doutrinas anteriores têm sido

repensadas, examinando os problemas do desenvolvimento sob nova ótica, permitindo

revogar preceitos antes pré-estabelecidos.

O Mercantilismo surge como um campo fértil do pensamento econômico. Segundo

Feijó (2007a) a doutrina do Mercantilismo originou-se na prática dos reis medievais e firmou

como racionalização das políticas intervencionistas já adotadas. Esta doutrina tinha como

principal preocupação econômica a busca do pleno emprego, pois, segundo os mercantilistas

o território deveria ser utilizado para atividades produtivas em agricultura, mineração e

manufatura. Porém, não se deve esquecer que as atividades humanas desta época estavam

focadas no comércio.

No período que antecede a teoria clássica pode-se citar a escola fisiocrata. Esta escola

preocupava-se com problemas relativos ao crescimento e a distribuição como doutrina da

ordem natural. A fisiocracia defendia que a sociedade e a economia em seu sentido restrito

funcionam de acordo com uma ordem natural e que todos os fatos sociais e econômicos estão

ligados a leis inevitáveis. Portanto, procuravam identificar os princípios naturais que

conduzem à produção e acumulação de riquezas e, como ocorria a distribuição da renda e dos

fluxos de gastos, com este último descrito como um processo anual de influência mútua entre

as classes sociais como um fluxo circular (Feijó, op.cit).

O desenvolvimento foi tema importante de autores clássicos. A base do pensamento da

escola clássica é o liberalismo econômico, ora defendido pelos fisiocratas. A teoria clássica

surgiu do estudo dos meios de manter a ordem econômica através do liberalismo e da

interpretação das inovações tecnológicas provenientes da Revolução Industrial. Mas, segundo

Feijó (2007a) os estudos dos teóricos clássicos também estavam voltados para as relações

socioeconômicas entre os homens e sua capacidade de produção.

Dentre os trabalhos desta escola destaca-se o trabalho de Adam Smith de 1776, que

tinha como principal preocupação à dinâmica do crescimento e desenvolvimento econômico,

porém, sua teoria do valor e da distribuição tem recebido maior atenção. Segundo Feijó op.

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cit, Smith entendia que a atividade industrial era capaz de criar valor e ressaltou em sua obra,

Uma investigação sobre a natureza e causa da riqueza das nações, os aspectos responsáveis

pelo desenvolvimento econômico como a acumulação do capital, o crescimento populacional

e a produtividade. A obra de Smith é mais que uma investigação sobre a natureza e as causas

da riqueza das nações, mas uma investigação sobre a natureza e as causas do desenvolvimento

mercantil em regiões em transição desigual e compatível ao capitalismo.

Com relação as atividades humanas, Smith demonstrou que a riqueza das nações

resultava da atuação de indivíduos que age por interesse próprio, promovendo o crescimento

econômico e por conseguinte, beneficia a sociedade. Analisou ainda, a divisão do trabalho

como fator evolucionário e poderoso a propulsionar a economia e, acreditava que a iniciativa

privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental.

A principal reação política e ideológica ao classicismo foi feita pelos socialistas. O

socialismo contestava a ordem natural e a harmonia de interesses, pois há concentração de

renda e exploração do trabalho. Karl Marx é o maior crítico do capitalismo, portanto, o

observava através da dinâmica da lutas de classes, incluindo aí a estrutura de estratificação de

diferentes segmentos sociais. Marx era a favor da intervenção do Estado, por considerá-lo de

fundamental importância para garantir o funcionamento do sistema, logo se opôs à tese de que

o sistema é auto-organizador (Feijó, 2007a; Furtado, 1967).

Contrapondo as escolas anteriores surge a escola neoclássica. A característica desta

escola vem a ser o tratamento proporcional dado às diversas parcelas da renda, portanto, os

neoclássicos trabalham com a ótica e padrões microeconômicos e tratam apenas o lado da

produção. Segundo Prado (1991), com os neoclássicos, a força de trabalho, os recursos

naturais e os meios de produção reprodutíveis são denominados fatores de produção. Com

relação às atividades humanas, os neoclássicos abstraem as classes sociais e juntamente com

elas, suas relações sociais, e trabalha com a relação psicológica entre as pessoas e os bens de

consumo (Feijó, 2007a).

No século XX, a questão do desenvolvimento é trabalhada com grande determinação

por Joseph Schumpeter, ao publicar A teoria do desenvolvimento econômico de 1911. Em sua

obra os aspectos mais relevantes relacionam-se com o moderno conceito de Desenvolvimento

Integral e Sustentável. Schumpeter (1985) classifica o desenvolvimento como um processo de

mudança econômica que aparece dentro do ambiente local, por iniciativa própria, e que tal

mudança foi imposta por agentes externos. O autor considera como desenvolvimento somente

as mudanças ocorridas na vida econômica que surgem das forças endógenas, por iniciativa

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própria. De acordo com o autor, o desenvolvimento econômico deve distinguir as noções de

estática e dinâmica na economia. Distinção se faz necessária uma vez que a dinâmica trabalha

com a noção do fluxo regular da atividade e à estática com a perturbação do ciclo vicioso da

estabilidade provocada pelo investimento a partir das inovações tecnológicas. Estas inovações

acontecem por meio da figura de empreendedor quando usa o capital humano na busca de

atividades inovadoras que ao utilizar recursos da região, formam o capital social. Para o autor

é por meio das inovações, que a economia sai do estado de equilíbrio e entra no processo de

expansão econômico, alterando de maneira considerável as condições prévias de equilíbrio.

Outras concepções e abordagens relacionadas ao desenvolvimento surgem a partir dos

anos de 1940, definindo a moderna teoria econômica do desenvolvimento. A teoria moderna

do desenvolvimento econômico teve seu primeiro ensaio com o trabalho clássico de

Rosenstein-Rodan (1943), contudo, segundo Albert Hirschman (1982) foi a partir dos anos de

1950 que a nova teoria de desenvolvimento ganhou espaço entre os debates sobre

desenvolvimento. Rosenstein-Rodan (1943) mostrou que um país só poderia iniciar a

Revolução Industrial se houvesse demanda por investimentos e taxa de lucro fosse

satisfatória, condição que, no geral, não havia pela falta de complementaridade entre as

diversas empresas e setores industriais.

No pós-guerra passou-se a cogitar e teorizar as condições que haveriam de conduzir ao

esquema de acumulação de capital que proveria o impulso em direção ao progresso. O

desenvolvimento econômico passa a ser o processo de sistemática acumulação de capital e de

incorporação do progresso técnico ao trabalho e ao capital, refletindo em mudanças na

estrutura produtiva de uma economia (Furtado, 1961).

Imediatamente após a II Guerra Mundial, mais precisamente na década de 1950, a

idéia dominante priorizava o capital, por definição e era escasso nas economias menos

desenvolvidas. O tema do subdesenvolvimento foi foco dos trabalhos de Ragnar Nurkse,

Arthur Lewis, Nyrdal Gunnar e Albert Hirschman. Segundo Nurske (1951) as regiões

subdesenvolvidas se comparadas aos países desenvolvidos, não estavam suficientemente

equipados de capital em relação a sua população e seus recursos naturais. Portanto, o autor

aponta a formação do estoque de capital como fundamental e, apresenta os obstáculos ao

desenvolvimento dos países em desenvolvimento. Ainda de acordo com o autor a estagnação

deveria, necessariamente, estar acompanhada de uma teoria de desenvolvimento que

assinalasse as forças capazes de romper o estado de equilíbrio “estagnante’’.

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O estudo de Lewis (1954) assinala a importância da poupança, e propõe um modelo

com extrema elasticidade da mão-de-obra transferida do setor agrícola a custo de subsistência

e define como causas imediatas do desenvolvimento, o esforço para economizar a aplicação

de conhecimento e o capital. Myrdal (1972) em seu trabalho de 1957 alertou que o

desenvolvimento econômico das nações ricas e o das nações pobres jamais convergem. Ao

contrário, divergem, uma vez que, os países pobres estão limitados à produção dos bens

primários de menor valor agregado enquanto que os países ricos usufruem dos lucros

associados à economia de escala.

O trabalho de Hirschman de 1958 destaca ao contrapor a tese do crescimento

equilibrado e argumentar que os problemas de industrialização não promoviam uma solução

simultânea e, sim, favoreciam uma série de soluções seqüenciais. Hirschman escolheu

destacar a necessidade de mecanismos de indução e apontou que o problema fundamental do

desenvolvimento consistia em gerar e canalizar energias humanas na direção desejada.

Cabe ainda destaque os trabalhos de Robert Solow de 1956, Simon Kuznets de 1955.

Solow (1956, In: Feijó, 2007b) introduziu um modelo de estrutura neoclássica, que dominaria

a formalização teórica das idéias de crescimento econômico em longo prazo e em equilíbrio e,

aponta variáveis socioeconômicas que, segundo o autor, caracterizam este estado estacionário.

O modelo enfatizou a importância do capital físico. O modelo de Solow mostra que por

maiores que sejam as taxas do investimento, as economias tendem a convergir para um estado

estacionário em que o volume da capital por habitante permanece em nível constante. Ao

analisar o modelo de crescimento de Solow conclui-se que, além da variável investimento,

para que as economias se desenvolvam, outras variáveis devem ser incorporadas, uma vez que

busca um desenvolvimento que seja consistente e em longo prazo.

O trabalho de Kuznets (1955) tem como hipótese, que o desenvolvimento faz-se

inicialmente à custa do aumento das desigualdades sociais, e que a coesão só surge depois de

consolidado o desenvolvimento. Com relação a esta hipótese, Veiga (2005a) considerou que

Kuznets foi sensato ao discutir os prováveis efeitos de sua preposição básica, ressaltando o

risco de supor que todos os países, necessariamente, percorriam o mesmo caminho para

chegar ao desenvolvimento. Suas interpretações de crescimento econômico têm bases

empíricas o que permitiu compreender melhor o desenvolvimento econômico das nações.

A partir da década de 1960, surgem vários trabalhos sobre os processos de crescimento

e desenvolvimento. O trabalho de Robert Solow progrediu na compreensão dos problemas

identificados no desenvolvimento das nações, bem como os de Simon Schultz que introduziu

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em seus estudos o capital humano e, Paul Romer e Robert Lucas apreenderam a importância

em investimentos em ciência e tecnologia, para se chegar ao desenvolvimento e sair do estado

estacionário, Feijó (2007b). Schultz (1961) destacou-se por ter como foco as nações

subdesenvolvidas e ter proposto a noção de capital humano, que mais tarde seria retomada por

outros economistas entre esses, Gary Becker em 1970 em O capital Humano. Schultz tinha

por conceito que o capital humano que são as habilidades, os conhecimentos e as

competências adquiridas por indivíduos. Com esta definição, os custos relacionados ao

indivíduo, que normalmente são consideradas despesas, passam a configurar como acréscimos

ao estoque de capital humano, e de acordo com alguns autores, migram dos custos associados

à busca de melhores oportunidades.

Lucas (1988) criou um modelo que leva em conta o papel do capital humano no

crescimento econômico. Considerou que o trabalhador pode optar entre obter educação e

produzir. Apenas a segunda atividade influencia o crescimento econômico, mas tal influência

será tanto mais positiva quanto maior tiver sido o investimento em educação. O modelo de

desenvolvimento de Romer (1986, 1990) sugeriu que o progresso técnico é um fator interno,

no qual existe uma percentagem de trabalhadores no processo produtivo, e os restantes estão

no setor de investigação e desenvolvimento. Todavia, essa influência será tanto mais positiva

quanto maior for o nível de progresso técnico, que depende do trabalho efetuado no setor de

investigação e desenvolvimento. Assim, nos modelos de crescimento endógeno como

formulados por Robert Lucas e Paul Romer, o capital humano é introduzido como insumo que

vem promover a adoção e as inovações tecnológicas, chave para o crescimento econômico, e

que traz efeito permanente sobre o crescimento (Clemente; Higachi, 2000).

Diante deste contexto, novas idéias passam a configurar no meio econômico e outras

concepções apareceram para esclarecer as mudanças que ocorreram e ao mesmo tempo tentar

solucionar problemas surgidos no campo econômico do desenvolvimento da economia, dentre

estes o esgotamento do crescimento e baixas taxas de crescimento, aprofundando a

desigualdade de renda e pobreza. Por considerá-las importante para delinear o tema central do

trabalho, estas idéias serão discutidas em um tópico separado.

3.4 Novas concepções de desenvolvimento econômico

Nas últimas décadas, as teorias sobre desenvolvimento econômico sofreram

transformações, provocadas por dois fatores. Por um lado, pela crise e pelo declínio de regiões

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tradicionais na indústria, bem como pelo surgimento de novas alternativas de industrialização

e desenvolvimento regional e local; por outro lado, pelos novos paradigmas no âmbito da

própria teoria macroeconômica do desenvolvimento, essencialmente, as que fazem referência

à teoria do crescimento endógeno que incorporaram nas funções de produção variáveis como

capital humano, social e natural (Martinelli; Joyal, 2004).

A crise econômica da década de 1970 constituiu estímulo para induzir outras formas

de refletir o desenvolvimento. Com o aumento do desemprego e da pobreza, mesmo nos

países de economia desenvolvida entra em descrédito o desenvolvimento, como sinônimo

crescimento e modernização. A partir desta década, o mundo assistiu ao desdobramento das

teorias econômicas, em especial aquelas de desenvolvimento regional, que buscam analisar o

espaço como uma produção social. Estas teorias buscaram desenvolver a economia das

regiões por meio da população local e em favor desta, mas valorizam de forma extrema forças

exógenas a se instalar na região para desencadear o processo de desenvolvimento. Em linhas

gerais, este tipo de desenvolvimento regional ficou conhecido como paradigma de cima para

baixo, devido à presença de forças impulsoras advindas das regiões centrais, ou seja, uma

força exógena a se instalar na região desencadeando o processo de desenvolvimento (Amaral

Filho, 2001; Oliveira; Lima, 2003). Os autores argumentaram que regiões possuidoras de

recursos naturais servem de suporte às políticas econômicas que excluem setores

fundamentais da sociedade local e em particular da sociedade civil.

A abordagem centrada no modelo de desenvolvimento de cima para baixo deixa de

lado, todos os fatores socioculturais, os psicológicos e os sociais que contribuem de forma

decisiva para a dinâmica empresarial e o incremento da riqueza, tanto física quanto humana

de um território. Este desenvolvimento tem no centro o indivíduo e não a pessoa. O sujeito

econômico procura de maneira individual, maximizar a sua utilidade, o lucro. Contudo, o

momento atual requer que agentes econômicos, utilizem mais os processos coletivos em suas

decisões e ações baseadas na cooperação, ou seja, tenhm uma base mais humana em seus

comportamentos econômicos (Cardoso; Ribeiro, In: Becker; Bandeira, 2002).

Assim, torna-se cada vez mais evidente que as abordagens centradas em nível de

abrangência territorial das grandes regiões devem ser substituídas por iniciativas voltadas na

abrangência sub-regional ou local, para que possam ser melhores avaliadas com base em

diagnósticos mais precisos que contemplem as potencialidades de áreas menores, que

apresentam problemática mais homogênea (Bandeira, 1999). Surge então, a necessidade de

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um novo conceito de desenvolvimento capaz de resolver os problemas, sobretudo, em escalas

regionais e locais, quer na abordagem teórica, quer na interferência prática.

Na década de 1980, começou a formar consenso entre os pesquisadores que seria

necessário revisar as estratégias tradicionais da teoria regional adotadas na formulação de

políticas regionais e locais, que considerassem os investimentos em capital físico, social e

humano, bem como em inovação tecnológica, como fatores condicionantes da expansão

econômica de uma região. Então, surge nos anos 80, um novo conceito de desenvolvimento,

denominado de desenvolvimento endógeno, mas somente na década de 1990 ganhou um novo

reforço, devido ao aparecimento de iniciativas locais de emprego que tinham por objetivo

reduzir as taxas de desemprego das economias locais. Desde modo, após esta década, o

desenvolvimento endógeno, tanto regional quanto local vem ganhando espaço em diferentes

esferas, despertando interesse, sobretudo, dos agentes que buscam políticas que visam

alavancar o desenvolvimento econômico, as quais têm se tornado objeto de amplo debate e

que tem impulsionado iniciativas em diversas localidades.

Nesta nova concepção de desenvolvimento econômico, segundo Martinelli; Joyal

(2004), componentes socioculturais tornam-se relevantes. Deste modo, o espaço deixa de ser

considerado como um simples suporte físico das atividades e dos processos econômicos, e

como conseqüência os territórios e as relações entre os atores, as organizações concretas, as

técnicas de produção, o meio ambiente e a mobilização social, passam a ser mais valorizados.

Assim, essa nova concepção sobre desenvolvimento inclui outras variáveis como localidades

e sustentabilidade, além do capital humano e social, são consideradas em escala maior que

ultrapassa o campo ambiental.

Assim, seguindo nesta linha de pensamento, não se surpreende que comece a encontrar

vasta literatura com opiniões acerca das novas estruturas e divisão econômicas que abordam o

desenvolvimento sob este prisma. O próximo tópico tem por finalidade apresentar as

principais idéias dessas teorias do desenvolvimento econômico, de forma a entender a

construção de seu objeto teórico e melhor compreensão da realidade que deseja transformar.

3.4.1 Endogenia do desenvolvimento

Segundo Andrade (1987) é difícil estabelecer o que se traduz por desenvolvimento

regional. Para o autor, é um processo desencadeado por um extenso programa norteado por

vários princípios dentre os quais está inserido o capital de cada região, a população consciente

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e interessada em participar do desenvolvimento, através do estabelecimento de políticas para

esse desenvolvimento. Tais políticas de desenvolvimento econômico implicam em maior

produção e mudanças nas disposições técnicas e institucionais. Neste contexto, as políticas

regionais procuram novos caminhos para se adequar à nova proposta socioeconômica.

Essa nova abordagem mais abrangente busca uma reconstrução conceitual, através do

enfoque regional e local, tendo-se em vista que esta toma um caminho metodológico

semelhante àquele seguido por Hirschman (1960), o qual pode ser caracterizado como um

caminho holístico, sistêmico e evolutivo. Esta metodologia, segundo Martinelli e Joyal

(2004), deve ser utilizada para atingir um padrão ideal de condições e estratégias para

construir um modelo de desenvolvimento regional e local, que seja endógeno e sustentado.

Esta proposta de modelo alternativo de desenvolvimento passa pela ênfase que se deveria

colocar no meio e nas dinâmicas locais. Para os autores, melhoria dos recursos humanos,

organização social, gestão social e empreendedorismo, são pilares fundamentais, quando se

fala em promoção do desenvolvimento baseado em ações locais, na participação e aliança

entre vários segmentos da sociedade.

Esses pilares permitem falar em endogenia do desenvolvimento, pois refere à

capacidade de identificar e promover fatores de desenvolvimento a partir das potencialidades

locais e, por introduzir iniciativas protagonizadas por organizações sociais de uma região ou

território. Deste modo, desenvolvimento endógeno, para Martinelli e Joyal (2004), é definido

como um processo integral de expansão de oportunidades feito com recursos endógenos, isto

é, recursos oriundos da própria região. O desenvolvimento endógeno é determinado ao nível

da menor escala territorial possível e a partir da identidade territorial das populações.

Desenvolvimento com endogenização, seja regional ou local, tem-se constituído referência

básica da defesa de um modelo alternativo de desenvolvimento, distinto da concepção

dominante de uma dinâmica centralizada e uniformizada.

Esse modelo alternativo de desenvolvimento definido como modelo endógeno é

construído de baixo para cima (Martinelli; Joyal, op. cit; Oliveira; Lima, 2003), partindo das

potencialidades socioeconômicas originais. Constitui um processo interno de ampliação

contínua de agregação de valor na produção, que abrange a capacidade de assimilação da

região, com desdobramento da retenção do excedente gerado na economia local ou na atração

de excedentes provenientes de outras regiões. Esse processo tem por objetivo a ampliação do

emprego, do produto e da renda do local ou da região.

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González (1998) considera que é importante fazer a distinção entre desenvolvimento

endógeno, do chamado localizado. Para este autor, o desenvolvimento localizado trata de um

desenvolvimento econômico e social, restrito a um espaço concreto dentro de uma dinâmica

geral cambiante, sendo um processo que afeta todas as estruturas produtivas e sociais e que

distribui por todos os territórios afetados por ele mesmo. Enquanto o desenvolvimento

endógeno envolve todos estes aspectos, mas difere por ser voluntário e compatibilizado ou, no

mínimo, conhecido da sociedade na qual se passa o processo, com introdução de inovações

que geram valor adicional a suas atividades produtivas, diferente daquele em seu entorno.

O desenvolvimento endógeno é caracterizado pela cultura do contexto em que se situa,

sendo considerado como projeto por François Perroux (1961), caminho histórico por Ignacy

Sachs (1993) e pluridimensional por Henri Bartoli (1999). Assim, o desenvolvimento

endógeno pode ser analisado como o conjunto de atividades culturais, econômicas, políticas e

sociais, visto sob a ótica inter-setorial e trans-escalar, onde os atores participam de um projeto

de transformação da realidade local.

Autores como Maillat, Friedman e Vázquez Barquero, salientam o papel central e

mediador da cultura local, na forma e teor do desenvolvimento. Para os autores a cultura

torna-se fundamental na explicação das discrepâncias de crescimento e das dinâmicas

territoriais distintas. Ainda em relação as distorções econômicas entre regiões, Martinelli e

Joyal (2004), utilizaram do desenvolvimento endógeno para identificar e explicar as causas de

crescimento diferenciado, tanto em ritmo como em estilo em certas regiões, sem recorrer a

fatores exógenos ou a fatores de produção assentados na estruturação do trabalho.

Apesar de constituir um movimento de forte conteúdo interno, o desenvolvimento

endógeno está inserido em uma realidade mais ampla e complexa, com a qual interage e da

qual recebe influências e pressões positivas e negativas. Dentro das condições

contemporâneas de globalização e intenso processo de transformação, o desenvolvimento

endógeno representa também alguma forma de integração econômica com o contexto regional

e nacional, que gera e redefine oportunidades e ameaças, o que exige competitividade e

especialização (Buarque; Bezerra 1994; Veiga, 2005b).

Vázquez Barquero (1988) argumentou que uma das relevâncias do desenvolvimento

endógeno consiste na capacidade de cooperação entre seus atores e mostrou ser conveniente

detalhar a análise das formas de cooperação institucional ou voluntária que se produzem entre

eles, desde que o objetivo seja o desenvolvimento local.

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Segundo Martinelli e Joyal (op. cit.) ao buscar o desenvolvimento a partir de uma

perspectiva endógena, significa dar ênfase aos fatores internos capazes de transformar um

impulso externo de crescimento econômico em desenvolvimento para toda a sociedade. Pode-

se dizer que nessa abordagem há certa distância em relação aos pressupostos da racionalidade

puramente econômica e, não aceita os preços e os mercados como os únicos mecanismos

sociais de transmissão de informação ativa. Os autores sugerem que experiências sucedidas de

desenvolvimento endógeno decorrem, quase sempre, de um ambiente político e social

favorável, expresso por uma mobilização com atores sociais das localidades em torno de

determinadas prioridades e orientações básicas de desenvolvimento. Logo, procura

representar a coletividade social ao oferece sustentação e viabilidade política a iniciativas e

ações capazes de organizar as energias e promover dinamização e transformação da realidade.

O desenvolvimento endógeno, em conformidade com Vázquez Barquero (2002), é um

processo de crescimento econômico e de mudança estrutural, liderado pela comunidade local

quando utiliza seu potencial de desenvolvimento e, leva à melhoria do nível de vida da

população, ao qual pode acrescentar que se trata de um processo social integrado ao

econômico. Esse autor considera como um dos pilares da política do desenvolvimento

endógeno, as iniciativas que visam favorecer a propagação das inovações na organização

produtiva da localidade ou do território e do avanço na qualificação dos recursos humanos por

meio da adaptação da oferta de capacitação às necessidades dos diferentes sistemas

produtivos locais. Assim, nesse novo modelo de desenvolvimento, não só a inovação

tecnológica possui papel fundamental, mas também a educação e conhecimento.

Na literatura evolucionista e institucionalista recente, o debate sobre o

desenvolvimento regional e local endogeneizado tem-se dividido em duas grandes tendências:

uma de natureza indutiva e outra dedutiva (Federwisch; Zoller, 1996 apud Amaral Filho,

2001). Os indutivos, geralmente, são descritivos, partem de estudos específicos para mostrar

as particularidades de cada desenvolvimento local. Os dedutivos, comumente, partem de

postulados gerais sobre a dinâmica das organizações territoriais descentralizadas.

Como resultado, a estruturação do modelo alternativo de desenvolvimento regional

sugerido por evolucionistas e institucionalistas, como define Boisier (In: Haddad et. al.,

1988), realiza-se por meio de um processo de organização social regional, e de acordo com

Schmitz (1997), através de ação coletiva. Esse processo de estruturação tem por

particularidade ampliação da base econômica regional e local por meio de atores locais e não

mais pelo planejamento centralizado ou forças puras do mercado.

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O desenvolvimento de um território está em grande medida condicionado pelo seu

potencial endógeno. A possibilidade de converter um território em um ambiente propício ao

desenvolvimento e com um potencial de competitividade, possível de ser empreendido, passa

a ser à base dos modelos de desenvolvimento endógeno. Estes modelos estão baseados no

conjunto de fatores como o capital físico, natural, humano e social, que podem ser objeto de

acumulação e depois de externalidades positivas. Desde modo, o nível de desenvolvimento de

cada território fica condicionado ao volume de acumulação destes fatores (Muñoz, In: Muñoz

1997; Franco, 2000b). Estas externalidades positivas foram objetos dos modelos de Robert

Lucas e Paul Romer. No modelo proposto por Romer (1986, 1990), o pressuposto básico é

que o crescimento econômico de longo prazo origina-se nas externalidades positivas

decorrentes da acumulação de conhecimento tecnológico. O modelo de Lucas (1988)

apresenta uma estrutura similar à do modelo de Romer, porém, a diferença básica é que o

investimento em capital humano proporciona as externalidades positivas, através de aumentos

no nível tecnológico (Clemente; Higachi, 2000).

A política de investimento em capital físico, mais precisamente, em infra-estrutura, é

importante para uma região, por criar condições favoráveis à formação de aglomerações de

atividades mercantis, além de criar externalidades positivas para o capital privado; mas em si

não é suficiente para criar um processo dinâmico de endogeneização do excedente econômico

local, e atrair excedentes de outras regiões (Amaral Filho, 2001).

O capital humano diz respeito à informação, ao conhecimento e à capacidade de criá-

lo. A ampliação do acesso à informação e ao conhecimento, segundo Zapata et. al. (2000),

ocorre por meio de processos educacionais contínuos e provoca mudanças de

comportamentos, transformando as pessoas em agentes produtivos, atores sociais e sujeitos de

existência. Sen (2000) relaciona capital humano à capacidade de cada individuo agir em prol

do desenvolvimento, tornando-os capazes de assumir um papel na sociedade, contribuindo na

construção de uma sociedade mais justa. Entender capital humano desta maneira é considerá-

lo como ponto de partida para transformação dos territórios.

O capital social relaciona-se com a capacidade de organização da sociedade e engloba

as redes de relações entre indivíduos; laços de confiança e obrigações mútuas; cooperação e

solidariedade e bom nível de governo, elementos capazes de estimular normas, contatos

sociais e iniciativas para potencializar o desenvolvimento humano e econômico, com laços

resistentes (Franco, 2000a, 2002; Passador, 2003).

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65

Enquanto o capital humano relaciona ao indivíduo, o capital social tem a ver com o

ambiente social propício ao desenvolvimento. Portanto, criar um ambiente favorável é formar

capital social. Uma sociedade bem alicerçada, com instituições de opinião e interesse ativos,

faz diferença quando se deseja alcançar o desenvolvimento em todas as dimensões. Segundo

Passador (op. cit.) é por meio do capital social que é possível à tomada de decisão

colaborativa que resulta em beneficio a toda comunidade de determinada localidade.

O capital natural se refere às condições ambientais e territoriais. É constituído segundo

Martinelli e Joyal (2004) pela dotação de recursos naturais de um país ou região. Deve leva

em conta que as estruturas ambientais e os recursos naturais são diferentes em cada região,

isto é, cada região possui características próprias que favorecem ou não a atuação do

desenvolvimento. A capacidade territorial expressa qualidades necessárias para o território

funcionar como catalisador das demais variáveis, que proporcionam o desenvolvimento.

Clemente e Higachi (2000) afirmaram que a endogeneização do desenvolvimento

regional refere-se à elevação do nível de vida da população, salientam que essa elevação seja

observada como a elevação do nível de renda que deve ser superior ao crescimento

demográfico. Entretanto, enfocaram que a elevação do PIB per capita não se traduz

necessariamente numa melhor distribuição de renda e nem em garantias para um crescimento

futuro da produção. Esses autores reforçam a importância do crescimento auto-sustentado, o

que significa que o processo de crescimento e desenvolvimento, uma vez desencadeado, deve

apresentar um encadeamento de fases e cada uma deve procurar criar condições necessárias

para fase subseqüente, por meio do planejamento regional.

De acordo com Veiga (2006), diante da necessidade de estruturar o planejamento

regional para que ocorra o desenvolvimento, as recentes abordagens procuram utilizar uma

visão sustentável inter-relacionada e fundamentada em grande parte, nas ciências sociais

aplicadas; nos aspectos da geografia humana e organização do espaço regional e no equilíbrio

para o uso racional do meio ambiente local. Com essas dimensões percebe-se, então, que um

dos pontos que viabilizam o processo de desenvolvimento regional se traduz na aplicação de

um planejamento, considerando a capacidade de harmonizar as formas de articulação local

com uma proposta sustentável que produza raízes na vocação regional e crie uma identidade

da população local em relação à idéia de sustentabilidade.

O desenvolvimento baseado na concepção de endogenia e que pressupõe o

crescimento econômico em longo prazo e com sustentabilidade, dependerá da capacidade

social da região ou localidade em se organizar, associada à ocorrência crescente de fatores

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endógenos e exógenos, dentre os quais pode considerar a autonomia para tomada de decisão;

habilidade regional de captação e reinversão do excedente econômico; inclusão social; ação

ambientalista; sincronismo inter-setorial e territorial do crescimento; astúcia coletiva de

pertencer à região (Boisier, apud Haddad et. al., 1994; Haddad et. al., 1999;).

Deste modo, Haddad (2001) mencionou que a idéia central e a força do processo de

desenvolvimento regional e local residem na capacidade de organização social e políticas da

região e, são constituídas no fator endógeno para transformar o crescimento econômico em

desenvolvimento. Portanto, a fase moderna da economia com modelos de crescimento

econômico de longo prazo tem sido caracterizada por elementos endogenamente gerados e de

decisões racionais dos agentes econômicos em suas atividades diárias. Nesse processo,

crescimento econômico pode ocorrer de maneira sustentada ao longo do tempo, a partir do

momento em que mescla inovações tecnológicas com geração de conhecimento, melhoria

educacional, acúmulo de capital físico, e a difunde a totalidade da população.

3.4.2 Desenvolvimento local integrado e sustentável

O desenvolvimento deve vir da base da sociedade. Decisões que irão afetar a vida de

toda comunidade, não necessitam ser originadas nos meios restritos dos governantes ou da

origem econômica, deve advir, principalmente, da sociedade civil a partir de um processo de

coordenação coletiva. Esse processo institui um potencial, no qual o efeito econômico chegue

a toda esfera política e produza um ciclo de crescimento, vindo na contra mão das exclusões

sociais (Sachs 2004; Veiga, 2005b).

Neste sentido, o desenvolvimento deve ser assumido como processo pessoal e coletivo

de criação de condições de vida e de realização de cada pessoa e de cada agregado social,

num nível considerado satisfatório. O caráter social ou socioeconômico do desenvolvimento

torna-se importante por observar uma interação permanente com a esfera econômica de modo

que assuma as exigências para alcançar a satisfação das necessidades humanas e da realização

de suas aspirações. Desde modo, o desenvolvimento local implica em crescimento econômico

em longo prazo e que traduz em produção igualitária para coletividade (Sachs, 2002, 2007).

Ao assumir o caráter endógeno, o desenvolvimento local dá a entender que os fatores

que estabelecem o progresso estão aprofundados na composição da região. E é unicamente,

pelo caminho, da conservação e manutenção da cultura regional e local, que se consegue

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motivar os agentes locais, inserir novos conceitos, bem como incorporar inovações sem gerar

conflitos diretos com a base sociocultural da região (Franco, 2002; Vázquez Barquero, 1988).

Nesta perspectiva, a cultura local manifesta-se como uma estrutura específica de

interdependências locais, econômicas, sociais e também institucionais, que refletem interesses

locais e que, procuram influenciar a distribuição de benefícios de determinadas regiões

(Cardoso; Ribeiro, In: Becker; Bandeira, 2002). Desta forma, segundo Passador (2002), a

cultura regional, insere como elemento-chave na perspectiva de desenvolvimento. Assim, os

valores construídos a partir da evolução social de cada espaço regional delimitam a trajetória

de crescimento de cada região a longo prazo.

As visões de desenvolvimento local são variadas, assim como as práticas que se

intitulam. Moura et. al. (1999) distinguem duas abordagens nos discursos e práticas, uma

social e outra competitiva. Na social, o combate à exclusão social aparece como a linha

norteadora e as ações tendem focar os pequenos empreendimentos e os segmentos que estão à

margem do grande mercado. Já na competitiva, a ênfase está na inserção competitiva da

cidade/região no mercado e as ações tendem a se dirigir, preferencialmente, para os grandes e

médios empreendimentos. Porém, há um consenso de que o combate à exclusão social é um

critério diferenciador quando se medem as vantagens entre localidades. No entanto, muda a

qualidade da intervenção já que, para a corrente social, o fomento à economia popular assume

caráter estratégico ou exprime um novo aspecto das políticas de combate à pobreza. A idéia

de sustentabilidade, independente do enfoque, vem sendo apresentada como um dos

qualificativos dos modelos de desenvolvimento local.

Para que haja melhor compreensão do desenvolvimento local, deve contextualizar seu

surgimento que, apesar de ter diferentes abordagens, pode defini-lo, conforme (Buarque,

2000, 2002) como processo interno que mobiliza as energias sociais em espaços de pequena

escala (municípios, localidades, microrregiões, etc.) e que esboçam mudanças capazes de

elevar as oportunidades sociais, a viabilidade econômica e as condições de vida da população.

No Brasil, vários programas e projetos de desenvolvimento local vêm sendo

difundidos por agências governamentais e não-governamentais, que agregam ao termo

sustentável como um dos benefícios do desenvolvimento. Destacam neste âmbito, projetos

denominados de Desenvolvimento Local Sustentável (DLS) na região do Nordeste com

atuação conjunta do PNUD e SUDENE; o Programa Comunidade Ativa, destinado a

municípios brasileiros com baixo IDH - Índice de desenvolvimento Humano, de iniciativa do

Governo Federal, e Programa PRORENDA que há mais de dez anos atua em municípios do

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Rio Grande do Sul e, ultimamente, em municípios nordestinos, é coordenado pela Agência de

Cooperação Alemã, a GTZ. Pode-se ainda acrescenta iniciativas voltadas para o DLS, às

iniciativas do BNDES, Banco Nordeste, Caixa Econômica Federal, SEBRAE e de outras

entidades, federais, estaduais e municipais, além de ações de diferentes ONGs.

Os conceitos e as metodologias de DLS, utilizados por estes organismos apresentam

convergências e algumas distinções, porém unificadas pela denominação Desenvolvimento

Local Integrado e Sustentável - DLIS. Vale observar os conceitos apresentados por Sueli

Couto (PNUD e SUDENE) e Markus Brose (GTZ) desta nova concepção. O conceito de

DLIS, segundo Couto (2000) é um processo que se preocupa com a melhoria da qualidade de

vida e bem-estar da população local, conservação do meio ambiente e com a participação

ativa, organizada e democrática da população, de forma consciente, para que por si própria

garanta sua sustentabilidade e continuidade. Para Brose (2000) é um processo de melhoria da

qualidade de vida que depende da complexa e contínua interação entre fatores econômicos,

políticos, sociais e culturais para acontecer e da lenta e gradual formação do capital social.

Vários autores compartilham da mesma opinião e definem que a nova forma de pensar

o desenvolvimento, conduziu ao que hoje é denominado de DLIS, ao incorporar conceitos

como territorialidade, formação de capital social e sustentabilidade. Essa expressão foi

lançada institucionalmente em 1997, porém, o destaque da idéia e dos projetos entre as

políticas de combate ou redução da pobreza, foi a partir de 1990, e envolve atores de

diferentes campos sociais, bem como atores institucionais. A expressão é usada tanto por

autores que enfatizam o papel econômico como componente determinante, quanto por aqueles

que possuem visão mais sistêmica do processo de desenvolvimento (Martinelli; Joyal, 2004).

Neste sentido, DLIS, segundo Moura et. al. (2002) é uma evolução do pensamento

local, proposto como uma forma de desenvolvimento focada na sustentabilidade das

comunidades, adaptados para completar as necessidades imediatas e estimular as vocações

locais, além de provocar o intercambio externo, com vista em suas próprias vocações. Ou

ainda, Segundo Boisier (1996, 1997) pode definir esta nova concepção de desenvolvimento,

como uma forma de inferência ao desenvolvimento que busca o emprego da participação

popular e mobilização dos recursos da sociedade civil juntamente com o Estado e o mercado,

isto é, que estas entidades trabalham em parceria. Este processo decorre da análise da situação

de cada localidade, ao identificar as necessidades peculiares, as potencialidades, as

alternativas vocacionais e a organização dos planos integrados de desenvolvimento.

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Diante do exposto, percebe-se que o conceito de DLIS é totalmente dependente da

participação da sociedade civil. Sendo imprescindível que a população assuma sua condição

de cidadãos ativamente participativos, na construção do futuro em suas localidades. Ou seja,

de acordo com Franco op. cit. o desenvolvimento depende dos fatores que ultrapassam a

disponibilidade de recursos físicos e, englobam os fatores endógenos que formam as

características territoriais e definem o potencial de desenvolvimento das comunidades.

Assim, a nova dinâmica local faz referência aos comportamentos observados em

diferentes atores, chamados para desempenhar papel determinante para o bom

desenvolvimento da economia local, onde os recursos considerados intangíveis passam a

ocupar lugar de destaque. A ênfase é dada aos recursos que podem ser construídos, tais como:

competências, saber fazer, qualificações e outras, em vez dos recursos fornecidos pela

natureza (Maillat; Kébir, 1999 apud Martinelli; Joyal, 2004). É o que deve ter em mente uma

localidade em uma região periférica que sempre dependeu da exploração de recursos naturais

e, quando estes se esgotam e as atividades são enceradas, obrigando a comunidade encontrar

alternativas econômicas capazes de suprir necessidades imediatas e se desenvolver.

Como já foi visto, em um projeto ou programa de transformação social, há

significativo grau de interdependência entre os diversos segmentos que compõe a sociedade -

político, legal, educacional, econômico, ambiental, tecnológico e cultural e os agentes

presentes em diferentes escalas econômicas e políticas, do local ao global. A construção de

um planejamento estratégico que oriente suas ações em longo prazo deve ser articulada pelos

atores existentes em um território e, juntos, trabalham para consolidação dos projetos.

Entretanto, não se trata apenas de políticas públicas, mas de uma nova cultura de ações

voltadas para compor um objetivo em comum (Veiga 2005b).

Um programa ou projeto de desenvolvimento local busca a ampliação de discussões,

nas quais, integram todos os setores da sociedade possam participar para que consigam

apreender um patamar mínimo de renda e qualidade de vida. No âmbito desse processo, os

atores sociais constroem uma visão coletiva da realidade local e de todo o contexto, dirigindo-

se para um futuro desejado e visualizando as ações necessárias para alcançá-lo.

Logo, é fundamental pensar o desenvolvimento local como projeto integrado no

mercado, mas também como produto de relações de conflito, competição, cooperação e

reciprocidade entre atores, interesses e projetos de natureza social, política e cultural. Por

considerá-los assim, autores como Robert Putnam, Michael Woolcock, Henrique Rattner,

Ricardo Abramovay, tratam em seus respectivos campos de estudo, as redes de compromisso

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cívico, as normas de confiança mútua, cooperativismo e associativismo, como fatores

fundamentais do desenvolvimento local. A partir dos pressupostos da relevância da formação

e do desenvolvimento do capital humano e do capital social nas localidades, Passador (2003)

considera que a organização social e relações civis constituem a pedra angular dos processos

de desenvolvimento, que almejam crescimento equilibrado e sustentado em longo prazo.

O desenvolvimento Local Integrado e Sustentável torna-se, um dos possíveis

caminhos para realizar a nova concepção de desenvolvimento em comunidades reais, que

vivem em localidades pobres do interior de todos os países, sobretudo, no Brasil.

Franco (2002), de forma oportuna, coloca que o DLIS como uma estratégia de

desconstrução da cultura pública vigente, uma vez que tal cultura possui características que

devem ser mudadas por apresentar decisões individualistas fortemente sujeitas ao contexto

social, ou seja, uma cultura cujo foco está no indivíduo e, não na pessoa. DLIS dever

incentivar práticas contrárias as vigentes - dinâmica centralizada e padronizada -, mas deve

sim, favorecer a cooperação às organizações e á participação democrática da sociedade.

Do exposto, pode-se dizer que Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável tem

por objetivo proporcionar melhor qualidade de vida e bem-estar às populações e difundi-la às

camadas mais carentes. Nestas condições é necessário pensar o desenvolvimento como

processo de transformação da estrutura social, tendo em conta as dicotomias, a deslocação de

formas de industrialização, o aumento do interesse pelos atores locais e pelas dinâmicas

endógenas. Por isso, recomenda-se a implantação ou o desenvolvimento de projetos

econômicos de caráter estruturante, que envolva uma cadeia de atividades interligadas.

Após essa abordagem sobre desenvolvimento econômico e diante da complexidade

dos problemas socioeconômicos referentes ao distrito de Alto coité, que torna necessário

integrar os diversos atores sociais e organizacionais, chega-se a conclusão que a melhor linha

de desenvolvimento que revela possibilidades de buscar o desenvolvimento e maximizar as

potencialidades do distrito esta na proposta do Desenvolvimento Local Integrado e

Sustentável. A escolha do modelo ocorreu por seu caráter estruturante, o qual busca envolver

e explorar aspectos abrangentes como o econômico, o social, o político e o cultural. Esta

escolha ainda se justifica por ser uma forma de desenvolvimento com capacidade de

promover sempre mobilizações e iniciativas dos atores locais em torno da coletividade, o que

proporciona um desencadeamento do acesso das oportunidades, do dinamismo econômico e

aumento da qualidade de vida de forma sólida e sustentável para a sociedade.

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CAPÍTULO 4

PERFIL SOCIOECONÔMICO E PERSPECTIVAS DE ALTO COITÉ

Neste capítulo apresenta-se uma breve contextualização do município de Poxoréu,

sobretudo, do distrito Alto Coité, em seus aspectos sociais e econômicos. As constatações

obtidas a partir dos dados levantados durante as entrevistas em Alto Coité e nos órgãos

públicos municipais constituem relevante contribuição para a compreensão da realidade do

distrito, com suas características, dificuldades e potencialidades. A análise do cenário

permitiu obter informações que levaram a traçar ações eficazes, no alcance do objetivo de se

melhorar as condições de vida dos habitantes deste vilarejo.

Conhecer a conjuntura real de um país, de uma região, de um Estado ou de um

município ou até mesmo de distritos constitui etapa fundamental para delinear estratégias e

políticas para reverter às desigualdades, atender às necessidades urgentes e aproveitar as

potencialidades de uma região. Conhecer a realidade de um povo torna-se um referencial

relevante para tomar medidas adequadas na resolução de problemas das sociedades, tanto para

instituições públicas e privadas, como também para as organizações não-governamentais.

O estudo apresenta os dados de forma genérica e coerente, gerando visões

panorâmicas da realidade do município de Poxoréu, sobretudo, sobre seu principal distrito,

Alto Coité. Revela originalmente dados importantes em várias áreas, bem como confirma a

existência de grandes desigualdades no território do distrito, o que vem confirmar dados

estatísticos em nível estadual e nacional.

As comprovações obtidas por meio da tabulação dos dados, com emprego da

estatística descritiva, constituem importante contribuição para o conhecimento da realidade do

distrito. Deste modo, trás subsídios para que governantes locais, tanto o municipal quanto o

estadual, tenham como referência um quadro claro e prático da situação existente, os quais

possam nortear ações administrativas mais eficazes, na sua tarefa de melhorar a qualidade de

vida e proporcionar bem-estar a população de Alto Coité.

4.1 Contextualização geral do município de Poxoréu e do distrito Alto Coité

Este tópico limita-se a contextualizar de forma concisa o município e o distrito, objeto

do estudo, nos aspectos demográficos e socioeconômicos. A contextualização do município se

faz necessária uma vez que o distrito de Alto Coité está inserido no seu contexto.

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4.1.1 O município

O município de Poxoréu/MT se estende por 6.326 km2 na região sudeste do estado de

Mato Grosso, correspondendo 0,77% da área de Mato Grosso e com densidade demográfica

de 2,5 hab./km2. Poxoréu possui quatro distritos administrativos, contando o distrito sede

(Poxoréu), Alto Coité, Jarudore e Paraíso de Leste, com Alto Coité configurando como o

principal distrito, não considerando a sede administrativa.

A região antes dominada pela atividade de extração mineral – no caso diamante, passa

por um processo de estagnação com o esgotamento das jazidas diamantíferas que alavancava

a economia regional, o que levou ao declínio definitivo da atividade na década de 90. O

município ainda sofre com as conseqüências econômicas, sociais e estruturais de seu passado

– inclui herança de terras degradadas e inúteis na zona rural e também ao entorno do centro

urbano e ao redor dos distritos que resistiram ao estágio de estagnação que atingiu a região.

Durante a década de 1980, ocorreu um aumento acentuado do número de habitantes do

município com crescimento populacional em torno de 2,3% a.a., em decorrência da

garimpagem que mostrou intensa atividade a partir da introdução de dragas nos garimpos da

região. Logo, com a exaustão dos depósitos diamantíferos, o cenário mudou e, passou a

ocorrer um decréscimo populacional gradativo a partir de então. No período compreendido

entre 1991 e 2000 houve uma queda de 14,9% da população municipal, em conseqüência do

grande êxodo populacional no município, o que pode ser visto na tabela 1. Na tabela 1,

também é possível perceber que até 2006 ocorre êxodo bastante acentuado no município, que

pode ser explicado a partir da ausência de perspectiva de vida da população, que se vê

obrigada a sair para outras localidades à procura de melhores condições de vida. Somente no

ano de 2007 a população de Poxoréu mostra sinais de crescimento.

A população em 2007 era de 17.5925 habitantes e estimada em 17.9856 habitantes para

2008, o que implica em um aumento em torno de 2,2% e reúne 0,6% da população do estado

(IBGE, 2007 e 2008). Atualmente a população urbana corresponde a 68,9% da população

total de Poxoréu (tabela 1). Os dados sobre a urbanização de Poxoréu encontram dispostos na

figura 2. A figura 2 mostra que a urbanização do município ocorre deste a década de 1980, na

qual apresentou 36,1%, um aumento de 9,7% em relação à década anterior. Na década

5Contagem população 2007. População recenseada e estimada, segundo os municípios - Mato Grosso – 2007. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007). Acesso em 17/10/2008. 6 Estimativas da população para 1º de julho de 2008. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (29 de agosto de 2008). Acesso em 17/10/2008.

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seguinte houve um aumento, mas bastante discreto se comparado com a da década anterior. O

aumento foi de 0,08 ao ano o que implica em uma diferença de 9,1% quando comparado com

o do período passado. Nos últimos dois anos a urbanização sofreu um decréscimo de 0,3% ao

ano principalmente aos assentamentos rurais, que procuram trabalhar com agricultura familiar

e também com fazendas de agricultura comercial.

Tabela 1: População e taxa de crescimento demográfico do município de Poxoréu 1970, 1980, 1991 e 2000 a 2008.

População Total 1970 1980 1991 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

27.431 28.054 23.878 20.030

19.533 18.925 18.490 18.056 17.619 17.186 17.592 17.985

Taxa Crescimento (% a.a.) 70/80 80/91

91/00 00/01 01/02 02/0

3 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08

Des

crim

inaç

ão d

o m

unic

ípio

Pox

oréu

2,3 -14,9

-16,1

-2,5

-3,1

-2,3

-2,3

-2,4

-2,5

2,4 2,,3

Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000. Contagem população 2007. IBGE, Estimativa população 2008. SEFAZ/MT, 2001 a 2006

Figura 2: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio, urbana ou rural 1970, 1980, 1991, 2000, 2007 e 2008. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000. Contagem população 2007. IBGE, Estimativas da população para 1º de julho de 2008.

A infra-estrutura na área de saúde e educação do município apresenta razoável

capacidade para atender as necessidades básicas da população, porém, necessita de núcleos

mais equipados para completar estes serviços e, principalmente para atender as necessidades

mais complexas. Segundo o IBGE, os serviços de saúde em 2005 contavam com 12

estabelecimentos – 1 hospital particular/SUS, com 93 leitos, o que atende ao recomendado

pela Organização Mundial de Saúde - OMS (4 leitos por mil habitantes) e 11 unidades

ambulatoriais pública, sendo 1 centro de saúde e 10 postos de saúde, sem internação e que

trabalham apenas com atendimento ambulatorial e primeiros socorros - 10 municipais e 1

federal. Dos estabelecimentos públicos, 9 trabalham com atendimento ambulatorial com

atendimento médico em especialidades básicas, e constam de uma equipe do Programa de

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Saúde da Família - PSF, enfermeira e dentista. Nos distritos estes atendimentos são feitos 1

vez por semana, mas contam como uma equipe permanente do PSF.

Na área educacional no ano de 2007, existiam 28 escolas sendo, 17 para Ensino

Fundamental, 6 para Ensino médio e 5 pré-escolas. Para atender a demanda de 4.870

discentes, contava com 248 docentes, 116 no Ensino Fundamental, 55 Ensino médio e 21 pré-

escolas, disseminados na zona urbana e rural (ensino fundamental), há transporte escolar para

estudantes da zona rural, tanto os das escolas municipais quanto das estaduais. Ainda na área

educacional vale destacar a existência de um colégio agrícola e um da rede salesiana.

Em relação a esses e outros serviços básicos não fornecidos em Poxoréu, estes podem

ser obtidos em centros provedores e que se encontram em melhores condições de

atendimento, a população dirige-se a Primavera do Leste (30 km), Rondonópolis (85 km) e

Cuiabá (290 km), cidades mais próximas e com serviços mais adequados.

Nos aspectos econômicos o município de Poxoréu encerrou 2005, com PIB de

R$197.974.0007, o que corresponde a 0,5% do PIB estadual, ocupando 40º lugar na escala

estadual (tabela 2). Dados do IBGE mostram que o município tem ampliado sua posição no

ranking estadual, uma vez que saiu da posição 44º no ranking de 2002 no âmbito estadual.

Deve ressaltar que nos anos de 2003 e 2004 chegou a ocupar a 38º entre os municípios mato-

grossenses. Verifica aumentos consecutivos em todos os anos analisados, maiores taxas nos

períodos 2002/2003 e 2003/2004, com acréscimo de 33,2% e 32,5%, porem, apesar de ter

havido aumento no ultimo período analisado este não foi significativo, se comparado com

períodos anteriores foi praticamente nulo. A média de aumentos ficou em torno de 22,3%.

Tabela 2: Evolução do PIB a preços constantes do município de Poxoréu, 2002 a 2005.

Produto Interno Bruto (mil R$) Estado e

Município 2002 2003 2004 2005

Mato Grosso 20941060 27888658 36961123 37466137

Poxoréu 108 005 153 198 189 422 197 974

Fonte: IBGE, Contas Nacionais, 2002-2005, 2005.

A economia do município baseia-se na agricultura de cerrado para a agricultura

comercial, onde predomina a cultura de soja, algodão, milho, arroz, sorgo e milheto e, a

pecuária com predominância da pecuária de gado de corte. As demais áreas são agricultáveis

com lavouras de subsistências, trabalhadas com agricultura familiar, onde há predomínio de

7 Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (19 de dezembro de 2007). Acesso em 11 de novembro de 2008.

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assentamentos rurais, registra-se ainda cultura perene - seringueira. A agricultura familiar

trabalha com a fruticultura (cultivos abacaxi, limão, laranja, banana, etc). Portanto, a renda do

município provém, principalmente, da pecuária intensiva e da atividade agrícola comercial e

de subsistência.

Outro aspecto da economia que vale a pena observar é referente ao valor adicionado

bruto - VAB8. Ao observar a tabela 3, pode-se notar que a economia do município é

movimentada pela agricultura cuja participação é de 69,1%, contribuindo com maior parte do

valor agregado do município e 1,2% do VAB do estado. O setor industrial é irrelevante,

contribuindo somente com 4,2% e 0,1% da arrecadação municipal e estadual,

respectivamente. Neste setor existem empresas de exploração de calcário e argila (fabricação

de tijolos), pedreiras e uma indústria de beneficiamento de algodão. O setor terciário

representa 26,9% com estabelecimentos de comércio varejista e atacadista.

Tabela 3: Valor agregado bruto do município por setor de atividade, 2005.

Contas municipais 2002-2005

Valor agregado bruto (mil R$) Estado e Município Agropecuária Indústria Serviços Total

Mato Grosso 10.743.850 6.229.480 16.418.853 33.392.185 Poxoréu 131.214 7.778 50.857 18.9850

Fonte: IBGE, Contas Nacionis, 2002-2005, 2005.

Apesar de ter um desempenho econômico expressivo, como visto anteriormente com

acréscimos sucessivos do PIB ao ano (tabela 2) e do PIB per capita ser R$11.2369, segundo o

IBGE, está abaixo 3,6% da média nacional e próxima de 16% aquém da média estadual. O

PIB per capita em Poxoréu apresentou aumentos consideráveis ao ano (tabela 4). De acordo

com os dados nos períodos analisados, o município registrou acréscimos na renda per capita,

com maior aumento em 2002/2003, em torno de 45%, maior que a média estadual. Apesar de

2004/2005, ter registrado aumento, este ficou em torno de 7%, bem abaixo dos períodos

precedentes, porém, se comparada à renda per capita estadual que registrou decréscimo em

torno de 0,6%, o município obteve bom desempenho no referido período.

Apesar do crescimento do PIB e da renda per capita neste período, a distribuição da

renda não acontece de forma adequada, portanto, não beneficia grande parcela da população,

fazendo com que o município configure entre aqueles que possuem a maioria de sua

8 Valor adicionado bruto, segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2002-2005. Contas Regionais

do Brasil 2002-2005. Acesso em 11 de novembro de 2008. 9 Produto Interno Bruto per capita do Brasil 2002-2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (19 de dezembro de 2007). Acesso em 11 de novembro de 2008.

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população vivendo em condições precárias, este fato decorre do aumento de renda vir

acompanhado de maior concentração de renda. Este fato corrobora que o fato de aumentar a

renda não é suficiente, deve-se e faz-se necessário que haja distribuição justa da mesma.

A região que dependia tradicionalmente da extração de mineral, hoje tenta sobreviver

da pecuária e da agricultura além do turismo que tem crescido em importância nos últimos

anos, beneficiando-se da forte identidade cultural local e de singulares paisagens naturais.

Tabela 4: Evolução do PIB per capita do município de Poxoréu, 2002 a 2005.

Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2002-2005, 2005.

4.1.2 O distrito

Alto Coité é uma pequena comunidade do município de Poxoréu, com população de

pouco mais de dois mil habitantes. Está localizado na parte noroeste do município de

Poxoréu, às margens do rio Coité e é considerado o principal distrito de Poxoréu.

Segundo o IBGE a população do distrito em 2007 era de 233010 habitantes e a

estimativa para 2008 era de 238311 habitantes, ou seja, 13% da população do município

residem na área pertencente ao distrito de Alto Coité (tabela 5).

Tabela 5: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio: Urbano/rural, 2007 e 2008.

População em valor absoluto População em valor relativo (%) 2007 2008 2007 2008

Município/distrito

Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Poxoréu 10390 2065 10622 2111 83,43 16,57 83,42 16,58

Alto Coité 858 1472 879 1504 36,8 63,2 36,8 63,2 Jarudore 514 1511 525 1545 25,4 74,6 25,9 74,1

Paraíso do Leste 366 416 374 425 46,8 53,2 46,8 53,2

Município 12128 5464 12400 5585 68,9% 31,1% 68,9% 32,1%

Fonte: IBGE, estimativa p/2008.

10 Contagem da população 2007. População recenseada e estimada. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), (1º de abril de 2007). Acesso em 5 de novembro de 2008. 11 Estimativas da população para 1º de julho de 2008. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), (29

de agosto de 2008). Acesso em 5 de novembro de 2008.

PIB per capita R$ Estado e Município 2002 2003 2004 2005

Mato Grosso 7928 10341 13445 13365

Poxoréu 5707 8285 10491 11236

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Alto Coité possui atualmente 955 residências, mas somente 710 encontram-se

habitadas, sendo que na zona rural situam-se cerca de 75,6% de imóveis habitáveis, enquanto

na zona urbana este percentual está na faixa de 72,6% (tabela 6). Esta diferença deve-se ao

fato de não existir na vila, trabalho suficiente para ocupar a população economicamente ativa,

assim, a população se vê obrigada a residir no campo onde o mercado de trabalho é maior e,

também se deve aos assentamentos rurais que tem levado um grande contingente para o

campo fazendo o inverso do percorrido nas décadas passadas.

Tabela 6: Domicílios ocupados por localização do distrito de Alto Coité, 2008.

Domicílios por ocupação

Urbana Rural Especificação Total Ocupados Não ocupados Total Ocupados Não ocupados

Vl. Absoluto 405 294 111 550 416 134

Vl. relativo (%) 100 72,6 27,4 100 75,6 24,4 Fonte: IBGE, Estimativa p/ 2008.

A infra-estrutura do distrito é baixíssima, não atendendo às necessidades essenciais

da população que vive no distrito, o que implica que para ter suas necessidades básicas

atendidas a população deve recorrer à sede administrativa, que dispõe infra-estrutura razoável.

Na área da saúde o distrito dispõe de um posto de saúde de assistência familiar (PSF/SUS) e

conjugado a este existe uma farmácia com medicação básica. No PSF de Alto Coité,

trabalham 2 auxiliares de enfermagem responsáveis pelos atendimentos de primeiros socorros

e 3 agentes de saúde que visitam as casas, sendo que cada um faz 8 visitas diárias. Uma vez

por semana, há atendimento médico e, quando necessário os doentes são enviados a Poxoréu.

Ainda semanalmente ocorre a visita de uma enfermeira chefe e um dentista.

A área educacional do distrito conta com uma Escola Estadual de 1º e 2º graus e uma

pré-escola municipal que funciona em uma sala cedida pelo estado. Atualmente a escola está

em reforma e funciona em uma casa cedida por uma ONG que trabalha no distrito. A escola

estadual possuía 227 alunos matriculados em 2008, assistidos por 17 professores, distribuídos

entre o ensino fundamental, 159 alunos, e ensino médio, 68 alunos além da pré-escola com 21

alunos e 1 professor. Existe série com apenas 9 alunos. Este número deve-se ao fato de muitos

pais preferirem que os filhos estudem em escolas da sede municipal.

Na escola de Alto Coité só estudam alunos do próprio vilarejo, os alunos que residem

na zona rural próxima a Alto Coité estudam nas escolas de Poxoréu, e os que encontram

próximos de Primavera do Leste estudam em escolas dessa localidade.

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Este quadro é o reflexo de uma comunidade que sobrevive à margem da sociedade e

sofre as conseqüências do isolamento e abandono do setor público municipal. A falta de

esclarecimento da população também tem influência sobre este quadro, pois muitos pais

preferem mandar os filhos estudar em Poxoréu, talvez por razões de preconceito ou pela busca

de um ensino de melhor qualidade, uma vez, que as escolas de Poxoréu possuem melhor

infra-estrutura, como por exemplo, o Colégio Salesiano e o Colégio Agrícola.

A economia do distrito é mantida pela agricultura, pecuária e mineração. Atualmente

nas terras que integram o distrito de Alto Coité, as atividades econômicas desenvolvidas são a

agricultura (comercial e subsistência), a pecuária (corte e leite), e a mineração (garimpos de

diamantes e pedreiras).

Ao se dividir a área que compõe o município de Poxoréu em norte e sul, o distrito de

Alto Coité localiza-se na porção norte, e segundo informações na Secretaria de Agricultura, é

nesta região, nas proximidades do município de Primavera do Leste, que se localizam os

planaltos, onde está disposta a agricultura comercial do município (soja, algodão, milho,

sorgo e outras), predominando a lavoura de soja.

Na região sul do município, onde estão situados os outros distritos e as áreas de

entorno da sede administrativa, a agricultura é de subsistência, principalmente a fruticultura

praticada nos assentamentos rurais. A pecuária do distrito predomina a pecuária de corte, não

fugindo a regra do município. A mineração sobrevive das pedreiras que se instalaram na

região, sendo uma fonte de geração de emprego e renda, apesar de não contribuir de maneira

eficaz para o desenvolvimento econômico e social no distrito. Não pode-se deixar de

mencionar os garimpos, que mesmo estando em sua pior fase, ainda constituem uma fonte de

renda para muitas famílias residentes na vila.

O setor terciário é pouco representativo, sendo ocupado por poucos estabelecimentos

comerciais voltados essencialmente para a comercialização de produtos alimentícios e bares.

4.2 Resultados da pesquisa junto à população de Alto Coité

Este item apresenta os resultados da pesquisa realizada com moradores de Alto Coité.

Os dados necessários para a concretização do levantamento socioeconômico do distrito foram

obtidos por meio de entrevista, preenchimento de questionário e verificações in loco,

documentadas em arquivo fotográfico e observações. A entrevista foi realizada em

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outubro/2008, com 53 moradores da zona urbana – vila. Nesse levantamento, focalizaram-se

apenas alguns aspectos plausíveis de buscar junto à população de Alto Coité.

O estudo a seguir apresenta os dados de forma geral e reproduz um cenário

panorâmico da realidade de Alto Coité além de revelar aspectos inéditos e importantes em

várias áreas do levantamento feito e, vem confirmar a existência de grandes desigualdades no

território nacional, regional e local.

Os dados analisados visando caracterizar, principalmente, os aspectos sociais dos

habitantes do vilarejo e, procurou-se também estabelecer correlações de alguns fatores físicos

e socioeconômicos com o êxodo populacional para outras localidades, tanto no âmbito

estadual, quanto nacional.

4.2.1 Perfil da população

Com as informações obtidas junto à população de Alto Coité pôde-se traçar o perfil

socioeconômico do distrito. A participação de mulheres na entrevista representou 66%

enquanto a dos homens foi de 34%. Este percentual de pouco menos que o dobro, da

participação feminina se deve, em parte, ao fato dos homens constituírem a força de trabalho e

arcar com o sustento familiar, portanto, estarem ausentes no decorrer do dia. Por outro lado,

dados obtidos nas entrevistas realizadas com moradores, apontaram que 83,3% do sexo

masculino têm idade superior a 60 anos, sendo que 66,7% deste percentual apresentam idade

superior a 70 anos e, embora aposentada, compõem a base de sustentação familiar.

A faixa etária é usada para verificar a estrutura populacional em relação à idade e,

constitui um complemento para monitor a qualidade de vida e bem-estar da população, ao

permitir visualizar aspectos como a média de tempo de vida, e a regularidade, ou não, da

população ao longo do tempo.

A população de Alto Coité pode ser considerada idosa com maior concentração na

faixa etária acima de 50 anos, abrangendo 69,8%. A maioria dos entrevistados declarou ter

idade entre 60 e 79 anos, o que corresponde a 39,6% e, 11,3 declararam ter idade entre 80 e

90 anos. A minoria é de jovens com idade entre 20 a 29 anos, representando somente 7,5%

(figura 3). A representatividade de pessoas com idade superior a 30 anos deve-se ao fato de

que os jovens saem do local de origem em busca de melhores condições de vida, uma vez que

não existe trabalho para atender suas ansiedades de emprego e renda. A baixa

representatividade de grupos mais jovens não surpreende, pois é comum localidades como

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Alto Coité, não conseguir manter os jovens, uma vez que muitos vão à busca emprego e,

também não se deve esquecer a esfera educacional, que geralmente é precária e obriga estes

jovens a buscar alternativas em outros lugares.

Figura 3: Faixa etária dos entrevistados de Alto Coité.

As informações quanto à origem e tempo de permanência estão descritas nas figuras 4

e 5, respectivamente.

O distrito de Alto Coité foi formado por pessoas provenientes de outras regiões do país

e de outros municípios de estado de Mato Grosso. A figura 4 trás a caracterização da origem

da população do distrito. Dentre os principais estados de origem da população, destaca-se a

Bahia com 18,9% e Goiás com 11,3%, Mato Grosso do Sul com 5,7%, os demais estados,

distribuído entre Piauí, Pará, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul contribuem com

11,3%, cada um com 1,9%. Vale ressaltar que Mato Grosso participa com 52,8% da migração

para Alto Coité. Dentro de Mato Grosso e da Bahia existe predominância de regiões em

relação aos lugares de nascimento. Entre os moradores de origem mato-grossense, 42,8 % têm

como principal área de origem o próprio município de Poxoréu. Outro município de origem é

Guiratinga com 17,9%. Os baianos são provenientes principalmente de Barreiras.

Figura 4: Estado de origem dos entrevistados.

Os dados analisados revelaram, ainda, a importância da população baiana para o

distrito, não somente devido à contribuição daqueles que migraram para Alto Coité, mas,

também em função do tempo de permanência no lugar. Quanto ao tempo de permanência

(figura 5), o que se observa é que a maioria reside a mais de 50 anos no distrito, sendo 22,5%.

Em torno de 13%, reside a menos de 5 anos no distrito e, os que nasceram na localidade

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correspondem a 15%. Das pessoas provenientes da Bahia, 90% estão a mais de 30 anos na

localidade e destes 55,6% vivem a mais de 50 anos em Alto Coité. Portanto, mais de 50%

deixaram sua longínqua terra natal a pelo menos 5 décadas, deixando para trás uma vida

sacrificada pela seca e desmandos do coronelismo, sobretudo, aqueles vindos do nordeste,

trazendo consigo sonhos e esperança de uma vida com melhor qualidade.

Figura 5: Tempo de permanência em Alto Coité.

No campo educacional, nota-se que o analfabetismo é maior na população masculina

com 20,8% dos analfabetos, contra 15% do feminino, o que significa que 35,8% dos

entrevistados são analfabetos, fato este que pode ser observado na figura 6. As mulheres

superam os homens em quase todos os níveis escolares, exceto no nível superior.

Ainda relacionado ao nível de escolaridade, à maior proporção está entre os que

possuem o ensino fundamental com 43,5% e, destes a maior proporcionalidade é de

fundamental incompleto até a 4ª série com aproximadamente 21%. O analfabetismo está entre

as pessoas com idade superior a 60 anos e os que possuem o ensino fundamental até a 4ª série

tem mais de 55 anos (figura 7). Pessoas com média de idade de 30 a 38 anos possuem ensino

fundamental e ensino médio completo. É importante ressaltar que no geral o nível de

escolaridade é bastante baixo entre os moradores entrevistados, principalmente em

conseqüência de Alto Coité ter uma população idosa e, desta forma os dados confirmam os

dados nacional e estadual, que demonstram que a população mais idosa configura entre os que

possuem menor escolaridade.

Figura 6: Nível de escolaridade por sexo.

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Figura 7: Nível de escolaridade de todos entrevistados.

Em relação à aposentadoria e pensão, a maior parte das pessoas entrevistadas não é

aposentada e nem pensionista, o que totaliza 58,5%, enquanto que os aposentados em minoria

perfazem 39,8% (figura 8). Entre os aposentados existem duas pessoas que também são

pensionistas. Ainda em relação à aposentadoria vale destacar que 85,7% dos aposentados têm

mais de 70 anos e o restante tem idade compreendida entre 60 e 70 anos, e os não aposentados

25% tem idade superior a 60 anos, sendo 1 com 72 anos.

Figura 8: Percentual de aposentados e pensionistas.

O tempo de aposentadoria está representado na figura 9, no qual é possível observar

que entre os entrevistados, 38% deles, recebem aposentadoria a menos de 5 anos, e somente

19% recebe a mais de 30 anos.

Figura 9: Tempo de recebimento da aposentadoria.

Com relação ao trabalho e renda, um dos fatores que compreende o desenvolvimento

com inclusão social, de acordo com as informações obtidas, somente 32,1% exerce algum tipo

de atividade remunerada, ficando a maioria, ou seja, 67,9% desprovidos de qualquer tipo de

atividade remunerada. Entre os entrevistados estão agentes de saúde, comerciantes,

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merendeira, pequenos produtores rurais, veterinário, tabeliã e outros, mas existem também

pessoas que trabalham como autônomos (fazendas – agricultura e pecuária). Das pessoas que

exercem alguma atividade remunerada 35,3% gostariam de exercer outra atividade, com faixa

etária entre 20 e 45 anos. Os que não gostariam de exercer outra atividade, encontram-se

situados na faixa etária superior a 55 anos.

Outra questão analisada foi a que diz respeito à habilidade da população com trabalhos

manuais e é relevante para uma das proposições finais do trabalho. Os dados referentes à

habilidade manual estão dispostos na figura 10. Somente 39% declararam possuir algum tipo

de habilidade manual, e a maioria (71%) não possui nenhum tipo de habilidade com trabalhos

manuais. O percentual de entrevistados que utiliza algum tipo de trabalho manual ou que não

possuem nenhuma habilidade, encontra-se entre àqueles com idade superior a 60 anos.

Figura 10: Percentual de entrevistados que possuem ou não possuem habilidade manual.

Entre os que executam algum tipo de trabalho manual, existem aqueles que gostariam

de aprender outras modalidades de trabalho manual. Geralmente são pessoas que possuem

idade inferior a 60 anos. Dentre os entrevistados que gostaria de fazer outro tipo de trabalho

artesanal, a maioria gostariam de trabalhar com artesanato relacionado com os rejeitos dos

garimpos. Aqueles que não gostariam de aprender novas técnicas tem idade superior a 60

anos. Dos que não fazem nenhum tipo de artesanato, 64,8%, responderam que gostariam de

trabalhar com algum tipo de artesanato ou qualquer outro trabalho que lhes proporcionasse

algum tipo de remuneração para ajudar na despesa familiar. Entre os trabalhos artesanais

citados pelos entrevistados que se dispôs a aprender técnicas artesanais, os mais citados se

referem aos trabalhos com rejeitos dos garimpos.

Pode-se observar que o que realmente importa para estas pessoas é ter um trabalho que

lhes garanta melhoria no bem-estar, qualidade de vida e realização humana. A sociedade de

Alto Coité busca um desenvolvimento que seja capaz de incorporar a população

marginalizada e que venha reduzir, não somente os desequilíbrios econômicos como também

os sociais que desestabilizam a sociedade como um todo.

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4.2.2 Caracterização das famílias

Com as informações obtidas nas entrevistas pôde-se traçar o perfil das famílias de Alto

Coité. Entre os entrevistados a média de filhos é de 3,3 e, a média de pessoas por domicílios é

de 2,8. O pequeno número de moradores por domicílios reflete a falta de emprego que impera

no distrito, o que obriga muitas pessoas a saírem de seus lares em busca de emprego e,

conseqüentemente, melhores qualidade de vida para si e seus familiares. Estes dados estão

dispostos nas figuras 11, 12 e 13. A figura 11 mostra o número de habitantes por residências,

permitindo observar que 32% moram sozinhos, 24,5% moram em casas com 3 pessoas e

18,9% moram com mais de 5 pessoas. Das residências com um único morador, em 75,6%

todos os outros membros foram embora.

Figura 11: Número de moradores por residências.

De acordo com os dados declarados pelas famílias em 71,7% das residências pelo

menos 1 pessoa reside em outra localidade, seja no próprio estado ou em outros estados, e

destas 39,5% todos os familiares foram embora e 26,3% mais de 3 pessoas das famílias foram

embora (figura 12). O elevado número de pessoas que abandonaram o lugarejo deve-se ao

fator emprego e renda, cujo índice é quase nulo para atender a demanda do distrito, situação

que leva as pessoas a deixarem para trás mulheres, filhos e pais, em busca de um meio de

sobrevivência e de bem-estar, por conseguinte estendê-lo aos familiares que permaneceram

para trás. As pessoas que migram de Alto Coité têm como destino, principalmente, as

localidades próximas ao distrito, assim sendo, a migração ocorre praticamente dentro do

próprio estado, como Primavera do Leste 50%, Cuiabá e Rondonópolis com 15,9% cada. Fora

do estado o local de residência é Goiás, Rondônia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

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Gráfico 12: Percentual das famílias que possuem algum membro que mora em outra localidade.

A figura 13 reforça que a questão de emprego é o que leva as pessoas a saírem para

outras regiões do país. Segundo informações, 73,6% das pessoas que mudaram de Alto Coité

apenas trabalham e 18,4% trabalham e estudam, sendo que somente 8% deixaram a cidade

com o objetivo de apenas estudar. Portanto, a educação não é prioridade entre os moradores

de Alto Coité, e um maior nível de educação é suprimido pelo fator emprego e renda. Isto

ocorre em função do desemprego, pobreza e falta de perspectiva de vida da população. A

profissão das pessoas que migraram, está distribuída entre áreas da saúde, educação

(professor), contador, comerciante, construção civil (pedreiro), fazenda (pecuária e

agricultura), secretaria do lar, motorista, vendas, outros.

Figura 13: Situação dos membros das famílias que foram embora.

Em relação ao nível de estudo dos membros das famílias (figura 14), observou-se que

não há analfabetos em 34% das famílias todos os filhos estudaram somente o ensino

fundamental, em 15% delas todos cursaram ensino médio, 17% cursaram ensino médio e não

concluíram o fundamental, 13,2% possuem membros que cursaram ensino superior e, em

apenas 5,7% todos os membros possuem curso superior. Do total 3,8% não souberam

responder e seis famílias não possuem membros com idade escolar ou não possuem filhos, o

que corresponde a 11,3%. Estas informações dizem respeito somente à escolaridade dos

filhos, pois a maioria os cônjuges somente possuem apenas ensino fundamental.

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Figura 14: Escolaridade dos membros da família.

Com relação ao rendimento, em Alto Coité, verificou-se que o rendimento mensal das

famílias pesquisadas encontra-se a um nível baixo, pois 64,1% recebem de ½ a 1 ½ salário

mínimo, e nestes estão inclusos os benefícios do Governo (bolsa família)12. Na figura 15,

pode-se observar que 8 famílias (9,4%) recebem menos de ½ salário mínimo, foram

considerados rendimentos os benefícios concedidos pelo Governo Federal, 3,8% não possui

rendimento e 24,5% das famílias recebem 2 a 3 salários mínimos. Mas, existem famílias com

rendimento mensal de 4, 5 e 11 salários mínimos, cuja fonte provém de comércio, fazendas e

alugueis. Das famílias entrevistas, em 56,6% pelo menos 1 pessoa exerce atividade

remunerada, sendo 53,3% o próprio entrevistado, em 40% a atividade é exercida por outro

membro da família e somente 1 família, que corresponde a 3,3% mais de 1 pessoa exerce

atividade remunerada. Somente em 30% das casas, os trabalhadores possuem carteira

assinada, a maioria trabalha em outras localidades. Este dado mostra que os empregos, em sua

maioria são temporários ou as pessoas trabalham por conta própria.

Figura 15: Nível de renda mensal das famílias.

(1) Exclusive os rendimentos das pessoas cuja condição na família é aposentada/pensionista. (2) Inclusive as famílias cujos componentes receberam somente em benefícios. (3) Exclusive as famílias sem declaração do valor do rendimento.

Quanto aos rendimentos procedentes dos benefícios concedidos pelo Governo Federal

(bolsa família), vale ressaltar que das famílias entrevistadas somente 14 delas recebem estes

12 Ver Lei nº.10.836, de 09 de janeiro de 2004 e Decreto nº. 5.209, de 17 de setembro de 2004.

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benefícios, o que equivale a 26,42%, ficando a grande maioria desprovida destes benefícios,

isto é, 73,58%. O menor tempo de recebimento do beneficio corresponde a 4 meses, mas

existem famílias que recebem o beneficio há aproximadamente 8 anos. A figura 16 mostra o

tempo equivalente ao recebimento do beneficio pelas famílias beneficiadas. Entre os

entrevistados, 1 recebeu o beneficio por 2 anos, mas perdeu o beneficio no ano da entrevista

(2008) e não soube explicar a causa. Durante a entrevista foi possível notar que as famílias

precisam do beneficio concedido pelo governo, mas por algum motivo, ficaram fora do

programa e não souberam explicar o por quê.

O programa bolsa família é uma transferência de renda a famílias de baixa renda e as

mesmas devem está em situação de pobreza ou de extrema pobreza. Integra a estratégia fome

zero, cuja missão é de assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a

segurança alimentar e nutricional, contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para

a conquista da cidadania pela parcela da população mais vulnerável à fome.

Figura 16: Tempo de recebimento do programa bolsa família.

4.2.3 Caracterização dos domicílios

Em Alto Coité, a questão domiciliar não é diferente de outros lugares do Brasil, e a

maioria da população vive em situação precária e são obrigados a conviver com graves

problemas de moradia e saneamento básico. De acordo com o IBGE um domicílio adequado

deve-se contar critérios como rede de serviços urbanos e canalização interna.

O diferencial de Alto Coité diz respeito ao número de casas próprias, que segundo os

entrevistados, 88,7% possuem casa própria; 7,5% moram de aluguel e 3,8% moram em casa

cedida. A média de cômodos por residência é de 5,2, o que torna as residências razoavelmente

confortáveis, ao considerar a média de moradores por residência - não ultrapassa 3 pessoas.

Quanto à tipologia de construção das residências predomina de edificações de tijolo,

correspondendo a 68%; 56,6% possuem telhado de cerâmica e em torno de 77% tem piso de

cimento (figura 17).

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Figura 17: Tipologia dos domicílios.

Com relação ao saneamento básico, 100% dos domicílios são atendidos com fossa

séptica com sistema de esgoto doméstico e a coleta de lixo acontece uma vez por semana em

todos os domicílios. Apenas 60,4% das moradias possuem banheiro na área interna da casa e

todos responderam que tem abastecimento de água proveniente da rede de serviço da

Sanecap, mas somente 68% possuem canalização interna (figura 18). Todas as residências

possuem energia elétrica, distribuída pela rede Cemat. Apesar de existirem estes serviços

básicos e os mesmos atingirem uma gama considerável da população, foi possível observar

que a questão habitacional está longe de ser adequada em Alto Coité, essencialmente ao que

se refere às edificações. Estas não podem ser consideradas de boa qualidade em sua maioria,

bem como a situação do esgoto doméstico que, embora os moradores tenham declarado a

existência de fossas sépticas, estas não passam de fossas domésticas, construídas nos próprios

quintais das residências, sem nenhum tratamento especifico.

Figura 18: Domicílios atendidos por saneamento básico.

4.2.4 A garimpagem e os garimpos

Como exposto anteriormente, a força de migração e crescimento econômico do

município de Poxoréu e do povoado Alto Coité foi a garimpagem. A população inicial foi

formada por pessoas que vieram de várias regiões do país e de deferentes partes do Estado de

Mato Grosso, sempre movidas pela atração de riqueza fácil e, por conseguinte, melhoria de

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vida para si e seus familiares. No entanto, com o esgotamento dos depósitos de diamantes,

Poxoréu perdeu muito de sua atração como zona garimpeira, o que pode ser constatado com a

observação da decadência e descaso a que estão submetidos seus distritos e, mesmo a sede.

Por ser uma zona de garimpos sentiu-se a necessidade de conhecer a opinião dos

moradores quanto à permanência dos garimpos, trabalho, organização e, especialmente suas

perspectivas em relação aos mesmos. Antes de mostrar os resultados compilados da pesquisa

e obtidos junto aos moradores de Alto Coité, faz-se uma breve caracterização da atual

situação dos garimpos no município, por conseguinte, no distrito.

4.2.4.1 Caracterização dos garimpos

Informações sobre a garimpagem e os garimpos em Poxoréu e Alto Coité, na grande

maioria, são quase impossíveis de serem obtidas, salvo a própria constatação da atividade

garimpeira, tamanho da cava e espessura mínima de cobertura estéril e outras raras exceções

reveladas por garimpeiros que ainda estão na ativa. Esta falta de informação acontece,

principalmente, pelo fato de que a grande maioria dos garimpos está em situação irregular e

também ocorrência de ter pouquíssimos garimpos em funcionamento. A carência de

informações pode ser sanada um pouco junto aos garimpeiros e moradores, porém são

informações prestadas de forma vagas. Dados mais relevantes foram obtidos por observações

de campo e através da Cooperativa dos Garimpeiros se que encontra em fase de estruturação.

Uma síntese das informações cadastradas encontra-se na primeira parte deste tópico; nota-se

uma escassez relativamente a dados de produção diamantífera, comercialização e outros.

O primeiro aspecto que se destaca nos garimpos da região de Poxoréu e Alto Coité é

seu caráter rudimentar, tanto na exploração quanto no aproveitamento do material garimpado,

sendo que sempre ocorrem danos ao meio ambiente, mesmo porque as atividades garimpeiras

sempre foram amparadas no conhecimento empírico dos garimpeiros e nos seus sonhos.

Atualmente, os garimpeiros que ainda persistem, fazem a exploração de novas catas

quase sempre ao lado de catas antigas ou em trechos de aluviões anteriormente explorados e a

maioria deles está em situação irregular perante o DNPM e nos órgãos ambientais. Em

diversos pontos verificou-se mais de uma fase de garimpagem, pois, ao lado de catas

entulhadas e pilhas de cascalho já recobertas por vegetação, foram observadas catas recentes.

Hoje em dia, a realidade do município, bem como de Alto Coité, segue o padrão de outros

municípios que surgiram com a atividade garimpeira.

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Apesar da decadência ao longo do tempo os garimpos ainda resistem, embora

encontrem dificuldades maiores, não só legais como também no que diz respeito às

dificuldades para extração e recuperação, uma vez que os depósitos encontram-se em posições

mais profundas no subsolo. Ainda podem ser encontrados alguns garimpos que trabalham

com dragas (7 garimpeiros) e motor a bomba (4 garimpeiros), além de garimpeiros

trabalhando nos “regos d’água” e nos “monchões”. Segundo dados divulgados pela

Cooperativa de Garimpeiros de Poxoréu existem, atualmente, no município em torno de 1500

garimpos em atividade, sendo que destes 300 encontram-se nos arredores de Alto Coité. Deste

total de homens trabalhando, pouquíssimos estão lotados em um dos quatro garimpos

legalizados da região e, outros em um dos 6 que estão em processo de legalização e que são

do conhecimento da Cooperativa dos Garimpeiros. Estes 10 garimpos estão registrados junto

ao DNPM e à Cooperativa, porém, existem outras áreas legalizadas junto ao DNPM, mas que

não possuem registro na Cooperativa, desta forma o número exato de garimpos legalizados

e/ou em processos de legalização no município de Poxoréu é desconhecido. A falta de

garimpos legalizados junto aos órgãos competentes advém muitas vezes do preço cobrado

para concessão da área, o que fica em torno de R$10.000,00. Em relação aos garimpeiros, a

cooperativa informou que existem 200 garimpeiros registrados, mas somente 42 estão

associados na cooperativa.

Segundo informações adquiridas junto à Secretaria de Agricultura, Mineração e

Turismo de Poxoréu, em 2007, a garimpagem manual superou a garimpagem com máquinas –

motor a bomba e dragas, e a garimpagem com dragas foi menor que a garimpagem a motor,

nestes dois últimos processos ocorre redução do percentual de garimpeiros. Algumas

informações forneceram um número de cerca de 100 dragas e motor a bombas trabalhando na

região, porém no período da pesquisa foi possível encontrar somente 3 garimpos funcionando

com máquinas, 1 draga e 2 motores. Segundo informações adquiridas na última etapa de

campo, a Cooperativa informou que tem poucas dragas em funcionamento, o que vem

comprovar a decadência dos garimpos na região.

Independente de ter ocorrido a “mecanização” dos garimpos na região, seja de maneira

formal ou informal, o fato é que não estabeleceu como fator primordial da garimpagem, sendo

que a mão-de-obra continua sendo o fator primordial dos garimpos, embora seja pouco

valorizada e muitas vezes, explorada. Como em toda região de garimpo, os garimpeiros são

considerados como mão-de-obra de baixo custo, logo, não possuem nenhuma perspectiva. Em

Alto Coité, a organização do trabalho nos garimpos ainda acontece como em décadas

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anteriores, com a seguinte estrutura: donos dos meios de produção, os proprietários da terra, e

os não proprietários (os garimpeiros), existem ainda os garimpos de economia familiar,

normalmente os garimpos manuais e em bom número os garimpos individuais.

Neste tipo de organização, os donos dos meios de produção, geralmente, são

autônomos, o que os beneficia, dando-lhes vantagem sobre os garimpeiros. Este sistema

favorece os donos das máquinas que não assumem nenhuma obrigação com os garimpeiros,

isto acontece em função de não existir qualquer tipo de contrato entre as partes envolvidas, o

que dificulta manter um controle sobre este tipo de atividade.

Como em qualquer atividade econômica, muitas vezes, o capital predomina sobre o

trabalho. Em Alto Coité, como em qualquer região de garimpo, o capital exerce força maior,

nas relações de trabalho. Deste modo, apesar das mudanças impostas pela legislação, os

garimpos ainda vivem na ilegalidade, o que é facilitado pela ausência de uma fiscalização por

parte dos órgãos competentes, tanto estaduais como municipais.

A relação de trabalho nos garimpos de Alto Coité, como em toda a região de Poxoréu,

ocorre de maneira semelhante ao de qualquer outra região garimpeira, ou existe um contrato

informal entre donos de máquinas, garimpeiros, e proprietário da terra, que coloca-se como

um dos atores principais dentro do garimpo. O garimpeiro entra com o trabalho e o dono da

máquina com os meios de produção e a responsabilidade pelos custos da extração, inclusive a

alimentação dos trabalhadores. Nesta sociedade fica estabelecido que o percentual que cabe a

cada um, 10% dono da terra, 35% garimpeiros e o restante ao dono dos maquinários. Quando

o trabalho é feito com draga normalmente, existe um gerente (garimpeiro) e este recebe 3% a

mais que os outros garimpeiros, sendo que cada garimpeiro recebe 5%. As regras são

estabelecidas entre o dono da máquina e os garimpeiros, esses não têm uma relação com o

dono da terra, que se relaciona somente com os donos dos maquinários, por meio da cobrança

de uma taxa para o uso da terra.

Em relação à base econômica da garimpagem do município, houve dois períodos de

apogeu, em termos de produção e comercialização. O primeiro ocorreu na década de 40,

quando foram garimpados vários depósitos antes não explorados e a segunda incidiu na

década de 1980, quando foi extraído um grande volume de diamantes, com a entrada de

maquinários nos garimpos. Após este período, a produção passou a declinar gradativamente, e

o município de Poxoréu sobrevive com problemas de natureza econômicas e sociais, os quais

têm levado a população a cada ano fazer o percurso inverso de outrora, indo à busca de

emprego e renda em outras regiões do país, para proporcionar melhoria no bem-estar e na

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qualidade de vida. O que ficou foi à lembrança daqueles que outrora sonha com uma vida de

fortuna e que somente lhes restaram uma vida sofrida e sem esperança. Segundo relato de

alguns entrevistados era retirado litros de diamantes por semana, e os diamantes eram

encontrados até nos rejeitos deixados pelas dragas. Nesta fase áurea os diamantes eram fáceis

de serem encontrados e dinheiro não faltava, relembram muitos dos entrevistados.

Não foi possível obter informações detalhadas e consistentes sobre a produção e

comercialização dos diamantes de Poxoréu e Alto Coité, as poucas informações advêm da

cooperativa. Segundo a cooperativa a extração mensal de diamantes do município, está na

média de 300 quilates e o preço do quilate varia de R$30,00 a R$1.800,00. A comercialização

de diamantes acontece nos finais de semana e é feito por compradores de várias partes do

país, dentre estes estão compradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e do próprio

estado - Rondonópolis e Cuiabá. No município residem, ainda, 5 compradores, 4 em Poxoréu

e 1 em Alto Coité. Dentre os países compradores dos diamantes de Poxoréu, estão Bélgica,

Emirados Árabes, África do Sul, EUA, Holanda, Angola e Venezuela.

Apesar de existir uma comercialização razoável, segundo informações da Cooperativa

dos Garimpos e da Secretaria de Mineração de Poxoréu, sua representatividade econômica é

baixa, este fato acontece em função da ilegalidade. Mas, espera-se mudança neste quadro a

partir da legalização dos garimpos da região uma vez que para comercializar a produção,

precisará do certificado Kimberley13, que nada mais é do que um atestado de procedência das

pedras, que deve constar dados do garimpo onde foi extraído e do país de origem.

Os garimpos, quando em atividade, contribuem de forma decisiva para melhoria na

qualidade de vida dos garimpeiros e da comunidade, através de sua cadeia produtiva. Mas

hoje, infelizmente, como a maioria dos garimpos está em declínio e as empresas de calcário e

pedreiras, constituídas não conseguem sustentar esta cadeia produtiva em Poxoréu e Alto

Coité. O processo de empobrecimento dessa região reflete o enfraquecimento de todas as

atividades econômicas. Como decorrência da diminuição da atividade garimpeira, a economia

local fica como um todo, prejudicada.

13 O Certificado Kimberley ou selo Kimberley é o Sistema de Certificação do Processo de Kimberley (SCPK), instituído pela ONU, em março de 2002. É essencialmente um mecanismo internacional de certificação de origem de diamantes brutos, classificados nas subposições 7102.10, 7102.21 e 7102.31 do Sistema Harmonizado (SH) de Codificação e Designação de Mercadorias. Destinado à exportação e à importação e visa impedir o financiamento de conflitos pelo seu comércio descrédito do mercado legítimo de diamantes em bruto, impedindo a exportação de remessa de diamantes brutos extraídos de áreas de conflito ou de qualquer área não legalizada pelo Estado-membro e que durante importação, impede a entrada de remessas de diamantes brutos sem o regular. O SCPK foi instituído no Brasil por meio da Lei nº 10.743/2003.

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4.2.4.2 Os moradores e os garimpos

Este tópico discute a concepção dos moradores sobre os garimpos e a suas

expectativas em relação os mesmos.

Os resultados dos dados evidenciam claramente que a melhoria dos padrões de vida

dos municípios e, sobretudo Alto Coité, depende mais de ações públicas e sociais voltadas

para a transformação cultural das comunidades e pessoas e, do que propriamente de

financiamentos públicos intensivos. Assim, em regiões como Alto Coité, não vale

simplesmente financiar, vale muito mais conscientizar. Esta parte focalizou aspectos como

condições da área garimpada, trabalhos no garimpo, e outros.

Com relação ao item trabalho nos garimpos e de acordo com os dados da entrevista,

mais da metade dos pesquisados já trabalharam em garimpo, o que corresponde a 51%, nunca

trabalharam 43,3% e somente 5,7% trabalham nos garimpos (figura 19). Este quadro mostra

com clareza a força dos garimpos em épocas passadas, tanto na proporção da força de

trabalho como na economia, logo, sua decadência na atualidade. Em Alto Coité prevalece o

contraste de riqueza de outrora e a pobreza dominante dos dias atuais.

Figura 19: Percentual de entrevistados que trabalharam/trabalham

em garimpos

A figura 20 mostra o percentual dos membros das famílias (cônjuge ou filho) que tem

ou teve relação com os garimpos. Segundo os entrevistados, em 15,2% das famílias pelo

menos uma pessoa trabalha em garimpo, em quase 40% ninguém trabalha e jamais trabalhou

22,6%. O percentual de famílias em que nenhum membro trabalha é bastante significativo

para uma região de garimpo, isto vem mostrar mais uma vez o empobrecimento da atividade

garimpeira em Alto Coité. Com a tabulação dos dados, foi ainda possível verificar que em

77,4% da casas onde a pesquisa foi desenvolvida, pelo menos uma pessoa da família

trabalhou ou trabalha no garimpo, em 22,6% das casas ninguém trabalha ou trabalhou com

garimpos, na tabulação estão inseridas todas as pessoas da família, inclusive os entrevistados.

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Figura 20: Percentual dos membros das famílias que trabalharam ou trabalham em garimpos.

A seguir é exposta, a visão dos entrevistados, quanto à validade ou não de garimpos na

localidade, sobretudo, em entorno da vila e suas perspectivas em relação aos mesmos (figura

21). Conforme declarado, 77,4% acreditam que é viável ter garimpos em Alto Coité e 22,4%

acham que atualmente os garimpos não correspondem às suas expectativas. Os motivos pelo

qual a grande maioria achar viável a existência de garimpos na região, é por estes ainda

representam à única fonte de renda de muitas famílias, pois o distrito não dispõe de fontes de

emprego e, por conseguinte, não possui alternativa de renda. Do exposto, é fácil entender o

porquê das pessoas solteiras e mesmo aquelas que constituíram famílias, não deixar para trás

suas origens. Estas pessoas acreditam que não sabem fazer outra coisa e não conseguiriam

adaptar a outro estilo de trabalho e tem como destino a vida de garimpagem. Por isso,

persistem em ativar a garimpagem, mesmo sabendo a tarefa árdua que terão de enfrentar,

preferem lutar junto com seus familiares para conseguir uma vida mais justa, com qualidade

de vida, bem-estar e dignidade.

Por outro lado, existem pessoas que acreditam que o garimpo tornou-se uma perda de

tempo, pois na grande maioria das vezes as pessoas trabalham sem conseguir renda para

manter o próprio garimpo. Segundo informação dos próprios garimpeiros tem meses que eles

trabalham sem receber nada, isto acontece pelo fato de trabalharem com porcentagem, o que

significa só receber se conseguirem encontrar diamante.

Figura 21: Percentual de entrevistados que acha viável ter

garimpos na região.

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Outro item abordado durante a pesquisa de campo foi com relação à área degradada e

quantidade de garimpos inativos e até menos ativos na região, bem como aqueles

circunvizinhos da vila. Pois como é de conhecimento, as regiões garimpadas mostram áreas

totalmente destruídas e de difícil recuperação, em Alto Coité não foi diferente. Durante a

pesquisa de campo nas áreas de garimpo foi possível constatar e avaliar a dimensão da

depredação, com assoreamento dos rios, desmate e presença de catas (cavas, poços), alagadas

ou não, ao lado de grandes depósitos de rejeito espalhados por toda área garimpada. Vale

ressaltar a existência de áreas garimpadas ao entorno da vila e até dentro dos quintais de

algumas casas do vilarejo.

Foi possível detectar durante a pesquisa, que a maioria dos entrevistados, que

corresponde 88,7%, não gosta de ver a área como se encontra atualmente e nem tantos

garimpos na área (gráfico19). No entanto, tem aqueles que gostam de ver garimpos na região,

bem como na área próxima a vila, apesar da degradação e transtorno ao meio ambiente.

Os motivos apontados pelos que não gostam da situação atual dos garimpos são os

mais variados. Por um lado, questão econômica, ambiental e de segurança. No âmbito

econômico, devido à desvalorização da área, provocada pela degradação, que impede o

aproveitamento da área para outras atividades; no ambiental, principalmente, pela a mudança

na paisagem natural, ocorrida pela abertura de catas (fendas na terra), que causam impacto

visual, além do assoreamento dos rios. A questão da segurança foi abordada, devido à grande

quantidade e pela profundidade das catas (buracos), que torna a área perigosa, principalmente

para as crianças. As pessoas que declararam gostar de conviver com os garimpos, citaram a

necessidade das famílias, pois a garimpagem é ainda a única alternativa de emprego e renda

para muitas famílias da localidade, e, têm aqueles que vivem das recordações dos tempos

áureos e encontram na paisagem devastada um refúgio para suas lembranças.

Foi perguntado ainda se gostariam de ver as áreas garimpadas recuperadas e todos

responderam que sim sendo que alguns até levantaram algumas propostas: reflorestamento e

área para lazer.

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CAPÍTULO 5

CARACTERIZAÇÃO DOS REJEITOS DE DIAMANTES

Neste capítulo será apresentado à descrição dos rejeitos provenientes da extração de

diamantes dos depósitos aluvionares da região de Alto Coité e os estudos de caracterização

dos mesmos. Estes rejeitos, além de causarem grandes impactos ambientais também geram

impactos visuais descaracterizando a morfologia da região.

Visando eliminar os impactos e suprir a carência econômica e social da região após a

decadência da extração diamantífera, foram desenvolvidos estudos para caracterizar os

rejeitos acumulados de forma aleatória nas imediações do povoado de Alto Coité e

vizinhanças. A caracterização destes rejeitos visou direcioná-los a um aproveitamento

econômico, principalmente na forma de matéria-prima para a produção de areia industrial, o

que poderá ajudar no desenvolvimento sustentável da população de Alto Coité. Um

aproveitamento secundário seria na forma de matéria-prima para a fabricação de peças

ornamentais.

As areias industriais recebem suas denominações em função de suas aplicações na

indústria, determinadas pelas suas características e propriedades, tais como teor de sílica,

pureza, composição química, teor de óxidos de ferro, álcalis, matéria orgânica, perda ao fogo,

umidade, distribuição granulométrica, forma dos grãos e teor de argila (Azevedo; Ruiz, 1990).

No que diz respeito à química ideal de uma amostra, as principais especificações técnicas

referem-se aos teores de: SiO2, Fe2O3, Al2O3, MnO2, MgO, CaO, TiO2 e ZrO2. Quando se

trata de usos específicos, os teores de Cr2O3, Na2O e K2O devem também ser considerados

(Ferreira; Daitx, 2000). Nos EUA, a indústria de vidro responde por 38% do consumo de areia

industrial, seguindo-se a fundição com 20%, fraturamento hidráulico e abrasivo com 5% cada

e 32% em outros usos (USGS, 2004). No Brasil, cerca de 60-65% são destinados à fabricação

de vidro (incluídos cerca de 5% em cerâmica); 30% em fundição e outros usos com 5% do

consumo (Luz; Lins, 2005).

Nos trabalhos de campo foram coletadas 22 amostras das quais apenas 11 foram

selecionadas para os estudos acima mencionados. Essa seleção se deu após uma análise

prévia, que mostrou similaridades entre as amostras. Os estudos de caracterização realizados

constaram de análise granulométrica e geoquímica e seus resultados são descritos a seguir.

A especificação técnica das areias depende do uso industrial das mesmas, tais como

indústria de vidro, cerâmica e seus diferentes ramos, abrasivos, etc.

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5.1 Descrição dos depósitos

Segundo Souza (In: Schobbenhaus; et. al., 1991) os depósitos diamantíferos da região

de Poxoréo/MT podem ser classificados em depósitos recentes e depósitos de terraço e

cascalheira. Os depósitos recentes ocorrem nas planícies de inundação dos rios São João,

Coité, Poxoréo, e outros, enquanto que os depósitos de terraços e cascalheiras encontram-se

localizados nas encostas dos vales dos principais rios.

Ainda segundo Souza (op. cit.), o perfil típico de um depósito diamantífero na região é

constituído, da base para o topo, por um arenito friável (“Bedrock”) de cor vermelho-

amarelada, seguindo-se uma camada de cascalho mineralizado, com espessura em torno de

1,20 metros, composta por seixos de arenito, silexito, ágata e calcedônia. Em alguns locais o

“bedrock” apresenta-se bem preservado e com dureza alta. Acima da camada mineralizada

ocorre uma camada de cascalho estéril, geralmente com seixos de quartzito apresentando

espessura em torno de 0,30 metros. Nas planícies de inundação, acima da camada de cascalho

estéril, ocorre uma camada, ora de areia fina ora de matéria orgânica, com espessura de cerca

de 0,20 metros e recobrindo estes depósitos é possível visualizar um capeamento de areia fina

a média, com espessura variando de 2,0 a 3,0 metros e de coloração avermelhada.

Segundo Almeida e Alves (In: Schmaltz, 1983) os depósitos de terraço apresentam

capeamento que varia de poucos centímetros até 8,0 metros enquanto que a espessura da

camada mineralizada varia de 0,4 a 2,0 m. Os depósitos de cascalheira recobrem encostas e

vales, sendo que a espessura das camadas varia de milímetros a, no máximo 1,0 m. Os

minerais satélites encontrados nestes depósitos diamantíferos são representados por turmalina

(pretinha*14), rutilo, ilmenita e titanita (ferragem*), limonita (feijão*) e coríndon (azulinha*).

Os nomes entre parênteses e com asterístico são nomes dados aos minerais pelos garimpeiros.

Os trabalhos de campo realizados na região foram desenvolvidos em duas áreas

distintas localizadas nas imediações de Alto-Coité, a primeira em área do Patrimônio e a outra

em área da Fazenda Primavera. Uma terceira área foi visitada nas vizinhanças da cidade de

Poxoréu (Figura 22) nas bordas do Rio Areia.

A área de reserva garimpeira (patrimônio) localiza-se nas adjacências do Rio Coité e

bem próximo da Vila a menos de 100 m das casas. Nesta área são encontrados os depósitos

recentes e os de terraço e cascalheira. A área foi intensamente trabalhada por garimpeiros,

encontra-se muito degradada e no local podem ser observados depósitos de rejeitos

14 * Termo utilizado na linguagem garimpeira.

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empilhados em diversas partes (Figura 23) e, também, depressões causadas pela exploração

do diamante por dragas e/ou retro-escavadeiras (Figura 23). Por todo o entorno podem ser

vistos grandes seixos de até 50 cm de diâmetros associados a outros seixos de tamanhos

menores e à areia e argila, caracterizando depósitos mal selecionados, com predomínio da

fração areia. Os seixos são representados por fragmentos de rochas (principalmente

sedimentares - arenitos), quartzo, sílex e outros, normalmente predominam os seixos, de

forma sub-arredondadas, mas, mesmo que raramente, são encontradas formas arredondadas

ou angulosas. As frações inferiores (areia e silte) são compostas principalmente por grãos de

quartzo com pouca contribuição de feldspato e fragmentos de rocha, além de zircão e dos

minerais satélites descritos acima. Pode-se constatar que a área apresenta características

idênticas às descrições de Souza (In: Schobbenhaus; et. al.,1991) para depósitos diamantíferos

que ocorrem na região de Poxoréo.

Figura 22: Mapa geológico da área de estudo (modificado de CPRM, 2004).

Na área da Fazenda Primaverinha, o diamante foi explorado desde a década de 1930,

de forma manual e por dragas, gerando grandes depósitos de rejeitos espalhados por toda a

área (Figura 23). Grandes catas (poços/buracos) foram transformadas em lagoas para criatório

de peixe (Figura 23) e parte do material removido está sendo utilizada como brita. Os

depósitos da área apresentam as mesmas características dos depósitos da área do Patrimônio.

Os depósitos localizados nas bordas do Rio Areia são recentes nos quais podem ser

vistos da base para o topo um nível de areia intensamente compactado (denominada pelos

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garimpeiros de piçarra), de cor amarela-avermelhada, logo acima uma camada de

areia/cascalho mineralizada com cerca de 1,50 metros e, recobrindo o nível mineralizado

ocorre um outro nível de cascalho de cerca de 40 cm de espessura e com seixos de até 20 cm

de diâmetros compostos por fragmentos de rochas, quartzo e sílex. A maioria dos grãos são

sub-arredondados e raramente arredondados ou angulosos, recobrindo tudo, pode-se observar

uma camada de cerca de 20 cm de solo, composto por matéria orgânica e areia (Figura 24).

Figura 23: Imagens de campo, mostrando diferentes aspectos das áreas exploradas por garimpeiros manuais e mecanizados. (A) Vista geral de área retrabalhada, onde se pode observar a presença de várias pilhas de uma areia já lavada e livre de argila. (B) Vista geral de um corte em perfil. Observa-se que existe mistura de diferentes granulometrias. Área a ser garimpada. (C) Pedreira instalada nas imediações da área da reserva garimpeira e que trabalha com material oriundo dos garimpos. (D) Área explorada por draga. (E) Garimpagem manual. (F) Antiga cata abandonada nas margens do Córrego Coité e na área reserva garimpeira. (H) Antiga cata abandonada na área da Fazenda Primavera e transformada em criatório de peixe. (G) Margem do Rio Poxoréu, explorada por garimpeiros. Observar os diferentes níveis granulométricos.

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Material pedogenético, cor branco amarelado, matriz silte-argilosa e com fragmentos de laterita alterada.

Nível conglomerático, material laterítico com muitos fragmentos de quartzo de granulação predominantemente grossa. Composto por finos cristais de diamante em pequena quantidade.

Nível conglomerático mais fino que o anterior, intercalado entre níveis arenosos branco com matriz silte-argilosa, apresenta fragmentos de quartzo (maioria) e laterita.

Nível maciço, silte-argiloso de coloração cinza claro, com fragmentos milimétricos de quartzo.

Nível conglomerático mais grosso que os anteriores, separado da camada de cima por um nível laterítico bem duro (couraça). Composto por fragmentos de rocha máfica, granitóides e grandes fragmentos de quartzo. Neste nível encontra-se boa quantidade de cristais de diamante

Couraça

Material pedogenético, cor branco amarelado, matriz silte-argilosa e com fragmentos de laterita alterada.

Nível conglomerático, material laterítico com muitos fragmentos de quartzo de granulação predominantemente grossa. Composto por finos cristais de diamante em pequena quantidade.

Nível conglomerático mais fino que o anterior, intercalado entre níveis arenosos branco com matriz silte-argilosa, apresenta fragmentos de quartzo (maioria) e laterita.

Nível maciço, silte-argiloso de coloração cinza claro, com fragmentos milimétricos de quartzo.

Nível conglomerático mais grosso que os anteriores, separado da camada de cima por um nível laterítico bem duro (couraça). Composto por fragmentos de rocha máfica, granitóides e grandes fragmentos de quartzo. Neste nível encontra-se boa quantidade de cristais de diamante

Couraça

Figura 24: Perfil esquemático representativo de um corte de um terreno in situ a região de Alto

Coité. 5.2 Estudos granulométricos

Algumas das normas para aproveitamento da areia industrial usam como referência a

forma apresentada pelos grãos, implicando que a recomendação de determinada areia para um

fim específico deve levar em consideração o “grau de arredondamento” do grão. As primeiras

iniciativas para padronizar e fornecer parâmetros comparativos para estudos do grau de

arredondamento foram esboçados por Powers (1953) e, posteriormente, por Pettijohn (1957)

os quais esboçaram uma tabela apresentando as formas e nomenclatura (Figura 25) a serem

adotadas nos estudos de sedimentologia. O grau de arredondamento de um grão considera

apenas a forma externa do mesmo e é subdividido em duas categorias distintas, denominadas

de grãos com alta esfericidade e grãos com baixa esfericidade. As duas categorias são

subdivididas em grãos angular, sub-angular, sub-arredondado, arredondado e muito

arredondado.

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101

Figura 25: Formas elaboradas para identificar o grau de arredondamento dos grãos. (Modificado de Pettijohn,

1957).

Os estudos granulométricos realizados nesse trabalho objetivaram a caracterização do

grau de arredondamento, angulosidade e selecionamento dos grãos de areia, uma vez que são

parâmetros importantes para direcionar o material dos rejeitos a usos específicos e

apropriados, pois o uso industrial que se fará das mesmas depende das propriedades físicas

(estudos granulométricos) e químicas (análises químicas) conforme estabelecidos por

especificações técnicas.

Segundo Nava (1997) grãos angulares da areia favorecem o processo de produção do

vidro, pois a fusão se inicia nas pontas e arestas dos grãos, etc. Referente a tamanho dos

grãos, Ferreira e Daitx (2000) mostraram que as características típicas de areia de quartzo para

a indústria cerâmica estão posicionadas nas faixas granulométricas entre 30 e 140 malhas

(0,60 a 0,105 mm).

No presente estudo também foi avaliado o conteúdo do material silte-argiloso

(representado pela fração do fundo, ou seja, menor que 0,062), por mostrar uma fonte de

contaminação de alumínio, ferro e álcalis (determinados pelos ensaios geoquímicos),

indesejáveis nos materiais para fabricação de areias industriais. A fração síltico-argilosa pode

representar no máximo 20% do minério e constitui-se em um dos principais problemas

ambientais, pois é depositado em grandes bacias de decantação ou despejado diretamente nos

córregos e rios, causando assim o assoreamento dos mesmos. As impurezas estão

representadas por minerais pesados (zircão, ilmenita, magnetita, turmalina, etc), dentre outros

minerais como feldspato, óxidos de ferro e manganês, etc. que são prejudiciais

Alta Esfericidade

Baixa Esfericidade

MuitoAngular Angular

SubAngular

SubArredondado Arredondado

BemArredondado

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102

particularmente na produção de vidro, por introduzirem contaminantes - ferro, manganês,

titânio, na mistura (Ferreira; Daitx, 2003).

Os estudos granulométricos são os primeiros a serem avaliados para caracterização da

areia industrial. Para estes estudos foram selecionadas 11 amostras (Ap-01, Ap-02, Ap-03,

Ap-03-base, Ap-05, Ap-07, Ap-08, Ap-09, Ap-10, Ap-11, Ap-11-base). Exceto as amostras

Ap-3 e Ap-11, coletas nos níveis 3 e 4, respectivamente, da base para o topo, ao longo de um

perfil de cinco níveis granulométricos bem distintos (Figura 24), as demais amostras foram

coletadas aleatoriamente em pilhas de rejeitos aluvionares. Na tabela 7 está impresso o peso e

as porcentagens de cada fração. O gráfico apresentado na Figura 26 mostra a distribuição das

diferentes frações além de possibilitar observar que a distribuição granulométrica concentra-

se em duas modas, uma variando de 9,52 a 2,00mm e a outra de 0,5 a 0,062mm.

Em alguns grãos, na fração seixo maior, foram feitos cortes e polimentos com a

finalidade de estudar a viabilidade dos mesmos, como peça ornamental ou fabricação de semi-

jóias, os resultados estão mostrados na Figura 27.

Os estudos referentes ao grau de arredondamento dos grãos são apresentados na íntegra

no Anexo III. A tabela 8 mostra os resultados do grau de arredondamento das amostras em

relação à esfericidade, evidenciando a predominância das frações concentradas nos limites de

alta esfericidade na maioria das amostras. A amostra Ap2 é a única a mostrar inversão quanto

ao grau de esfericidade, ou seja, nesta amostra prevalecem grãos de baixa esfericidade. Na

amostra AP7 as proporções de grãos com alta e baixa esfericidade são aproximadamente

iguais. A Figura 28 evidencia a relação de esfericidade versus amostra.

Quanto ao grau de arredondamento e selecionamento, é observado, de maneira geral, a

predominância dos grãos angulosos sobre os arredondados nas frações maiores e nas frações

menores, abaixo de 0,125mm, há predominância dos grãos mais arredondados (ver Anexo III,

Tabela 8 e Figura 28).

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103

Tabela 7: Resultados dos estudos granulométricos em massa, porcentagem simples e acumulada.

Amostras Ap1 Ap2 Ap3 Ap5 Ap7

Peneira massa % % massa % % massa % % massa % % massa % % (mm) (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada

> 9,52 332,50 5,72 5,72 0,00 0,00 0,00 132,40 5,99 5,99 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

9,52 708,40 12,18 17,90 1057,20 17,51 17,51 158,30 7,17 13,16 7,20 0,19 0,19 980,50 17,96 17,96

4,76 733,30 12,61 30,50 1341,50 22,21 39,72 86,60 3,92 17,08 16,30 0,42 0,60 230,10 4,21 22,17

2,0 609,80 10,48 40,99 1861,40 30,82 70,54 177,80 8,05 25,13 291,40 7,50 8,10 190,20 3,48 25,66

1,68 109,40 1,88 42,87 175,20 2,90 73,44 39,00 1,77 26,89 114,90 2,96 11,06 41,90 0,77 26,42

1,41 56,45 0,97 43,84 59,80 0,99 74,43 21,60 0,98 27,87 51,70 1,33 12,39 18,10 0,33 26,76

1,19 50,70 0,87 44,71 33,40 0,55 74,99 19,60 0,89 28,76 59,80 1,54 13,93 20,00 0,37 27,12

1,0 94,70 1,63 46,34 31,30 0,52 75,51 26,60 1,20 29,96 70,60 1,82 15,75 9,80 0,18 27,30

0,71 151,57 2,61 48,94 61,30 1,02 76,52 62,80 2,84 32,81 173,90 4,48 20,22 143,30 2,62 29,93

0,500 330,10 5,68 54,62 110,90 1,84 78,36 114,90 5,20 38,01 452,10 11,63 31,86 270,00 4,95 34,87

0,250 1551,20 26,67 81,29 557,20 9,23 87,58 522,90 23,67 61,68 1429,00 36,77 68,63 2045,40 37,46 72,33

0,125 595,00 10,23 91,52 502,00 8,31 95,90 638,90 28,92 90,60 937,40 24,12 92,75 1288,00 23,59 95,92

0,062 459,01 7,89 99,41 205,90 3,41 99,31 191,70 8,68 99,28 237,70 6,12 98,87 201,20 3,69 99,61

< 0.062 34,28 0,59 100,00 41,90 0,69 100,00 16,00 0,72 100,00 43,90 1,13 100,00 21,40 0,39 100,00

P. Total 5816,41 6039,00 2209,10 3885,90 5459,90

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104

Continuação da Tabela 7.

Amostras Ap8 Ap9 Ap10 Ap11

Peneira massa % % massa % % massa % % massa % % (mm) (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada

> 9,52 534,70 12,27 12,27 699,00 17,74 17,74

9,52 239,50 4,23 4,23 0,00 0,00 12,27 106,20 12,23 12,23 772,90 19,61 37,35

4,76 1159,00 20,49 24,73 34,10 0,78 13,06 103,60 11,93 24,16 949,20 24,09 61,44

2,0 2313,30 40,90 65,63 619,60 14,22 27,28 57,80 6,66 30,82 816,20 20,71 82,15

1,68 149,60 2,65 68,27 116,50 2,67 29,95 10,20 1,17 31,99 179,60 4,56 86,71

1,41 77,50 1,37 69,64 59,50 1,37 31,32 7,80 0,90 32,89 79,20 2,01 88,72

1,19 95,10 1,68 71,33 31,10 0,71 32,03 5,40 0,62 33,51 42,40 1,08 89,80

1,0 32,60 0,58 71,90 103,00 2,36 34,40 4,00 0,46 33,97 21,20 0,54 90,33

0,71 28,80 0,51 72,41 148,10 3,40 37,79 14,90 1,72 35,69 10,60 0,27 90,60

0,500 101,30 1,79 74,20 402,80 9,25 47,04 47,10 5,42 41,11 21,80 0,55 91,16

0,250 980,70 17,34 91,54 1344,40 30,86 77,90 262,50 30,23 71,35 87,40 2,22 93,37

0,125 373,80 6,61 98,15 670,50 15,39 93,29 202,50 23,32 94,67 176,60 4,48 97,86

0,0062 89,00 1,57 99,72 242,10 5,56 98,85 34,80 4,01 98,68 74,10 1,88 99,74

fundo 15,60 0,28 100,00 50,30 1,15 100,00 11,50 1,32 100,00 10,40 0,26 100,00

P. Total 5655,80 100,00 4356,70 100,00 868,30 100,00 3940,60 100,00

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105

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

seixos9,52

4,76 2,0

1,68 1,41

1,19 1,0

0,71 0,500

0,250

0,125

0,0062

< 0,0062

Ap1

Ap2

Ap3

Ap5

Ap7

Ap8

Ap9

Ap10

Ap11

Figura 26: Gráfico mostrando a distribuição granulométrica, em percentagem, das amostras analisadas. Observar que existem duas modas bem distintas.

Tabela 8: Caracterização quanto ao grau de esfericidade das amostras da região de Alto Coité.

Alta Esfericidade

Angular Sub-

angular Arredondado Sub-

arredondado Bem

arredondado Total AP1 134 206 62 182 9 593 AP2 58 41 26 50 8 183 AP3 157 126 83 145 6 517 AP5 79 144 154 162 55 594 AP7 21 155 59 114 23 372 AP8 169 92 91 91 17 460 AP9 134 201 100 132 21 588

AP10 134 179 55 129 8 505 AP11 98 141 123 72 33 467

Baixa Esfericidade AP1 42 27 13 22 3 107 AP2 93 132 118 147 27 517 AP3 64 57 36 22 4 183 AP5 25 20 23 24 14 106 AP7 63 132 58 73 2 328 AP8 111 38 36 55 0 240 AP9 19 37 24 30 2 112

AP10 125 55 5 10 0 195

AP11 88 70 47 24 4 233

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106

Figura 27: amostras de seixos polidas para aproveitamento em peças ornamentais e semi-jóias.

Figura 28: Representação gráfica do grau de esfericidade das frações areia encontra

das nas amostras estudadas. 5.2.1 Estudos macroscópicos e microscópicos

A análise macroscópica das amostras coletadas em campo confirmou que os depósitos

aluvionares estudados são constituídos por diferentes formas de sílica (quartzo, calcedônia,

0

100

200

300

400

500

600

700

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11

Alta Esfericidade Baixa Esfericidade

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107

opala, chert) fragmentos de rocha, óxidos (possivelmente goetita, ilmenita, limonita), raros

grãos de granada e safira.

O material retido nas peneiras de 0,25mm a 2,00mm foi caracterizado em lupa binocular

com aumento de 4x e mostrou que a fração areia é composta por quartzo, opala, turmalina,

rutilo, minerais opacos (ilmenita e magnetita), zircão, carbonato, topázio e feldspato, além de

pequenos fragmentos de rocha.

Os estudos microscópicos da fração inferior a 0,062mm mostraram a mesma

mineralogia observada nos estudos macroscópicos, evidenciando apenas o maior grau de

arredondamento dos grãos menores (Figura 29).

Figura 29: Fotomicrografia de lâminas de grãos das amostras (a) Ap10, (b) Ap11 e (c) Ap7, objetiva de 10X, a direita luz plana e a esquerda luz polarizada. Legenda: ox = óxido; qtz = quartzo; rt = rutilo, tur = turmalina e zr = zircão.

5.3 Análise geoquímica

Um terceiro tipo de análise extremamente importante no estudo de caracterização de

materiais para areia nas suas diversas aplicações é a análise química, pois para cada tipo de

aplicação existem normas ABNT que devem ser respeitadas. Ferreira e Daitx (2000)

zr rt

qtz

tur

rt

tur

qtz

(a)

(b)

(c)

qtz rt

ox

ox

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108

mostraram que areia de quartzo para a indústria cerâmica deve conter de 93,5 a 99,8% SiO2;

0,035 a 0,70% Al2O3 e 0,02 a 0,08% Fe2O3, na sua composição química. Nas Tabelas 9, 10 e

11 são dados às especificações químicas e físicas de areia para vasilhame de vidro, vidros

planos, vasos de cristal e fibras de vidro de alguns países e do Brasil.

Tabela 9: Composição química, em % de peso, de areias de quartzo para vasilhame de vidro.

EUA França Reino Unido

New Jersey Oklahoma Califórnia Fontainebleau Loch Aline SiO2 99,66 99,730 92,76 99,650 99,73

Fe2O3 0,025 0,020 0,127 0,020 0,013 Al2O3 0,143 0,090 3,779 0,060 0,057 TiO2 0,027 0,012 0,034 Nd Nd Cão 0,007 < 0,01 0,060 Nd Nd

MgO 0,040 < 0,01 0,017 Nd Nd K2O - - 2,734 - - Na2O - - 0,114 - - P.F. 0,130 0,140 0,373 0,130 0,040

Fonte Harben; Kuzvart (1996); Nd = não disponível.

Tabela 10: Composição química, em % peso e propriedades físicas, para vidros planos, vasos de cristal e fibra de vidro.

Especificações Químicas Especificações Químicas Especificações Químicas Vidro Plano Vasos de Cristal Fibra de Vidro

SiO2 99,5 % min. SiO2 98,5 % min. SiO2 99,0 % min. Fe2O3 0,04 % max. Fe2O3 0,035 % max. Fe2O3 0,50 % max. Al2O3 0,30 % max. Al2O3 0,5 % max. Al2O3 0,30 % max. TiO2 0,10 % max. TiO2 0,03 % max. Na2O 0,10 % max. Cr2O3 2,0 % max. Cr2O3 0,001 % max.. K2O 0,10 % max. Co3O4 2,0 % max. CaO + MgO 0,2 % max LOI + H2O 0,50% Max. MnO2 0,002 % max. ZrO2 0,01 % max. - - H2O 0,05 % max. H2O 0,10 % max. - - Especificações Físicas Especificações Físicas Especificações Físicas

Granulometria (mm/malha)

Acumulo retido (%)

Granulometria (mm/malha)

Acumulo retido (%)

Granulometria (mm/malha)

Acumulo retido (%)

1,18/14 0,0 0,850/20 0,0 0,250/60 0,01 max. 0,850/20 0,01 max. 0,600/30 4,0 max. 0,075/200 0,6 max. 0,425/35 0,10 max. 0,425/35 25,0 max. 0,045/325 3,0 max.

0,106/150 92,0 min. 0,106/150 95,0 min. - - 0,075/200 99,5 min. - - Fonte: Zdunczyk; Linkous (1994)

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109

Tabela 11: Resumo de especificações química e granulométrica de areias industriais (Barbosa; Porphírio, 1993 e Luz; Lins, 2005).

Na Tabela 12 são apresentados os resultados das análises químicas do material in

natura sem nenhum tratamento prévio, ou seja, sem a separação granulométrica, dos quais

não foi analisada a perda ao fogo. Nas tabelas 13 e 14 são mostrados os resultados da fração

areia previamente selecionada (frações 1,19 e 0,50 mm), exceto para a amostra AP1, para a

qual foram realizadas análises em todas as frações para efeito de comparação entre as mesmas

(Anexo IV). Os resultados das análises químicas da fração argila são observados na tabela 15.

Na amostra Ap3, coleta no nível 4 referente ao perfil da Figura 24 é observado o maior

conteúdo de silício e menor em ferro, potássio, manganês, magnésio e cálcio, o que pode estar

relacionado à presença de menor quantidade da fração silte-argila nesse nível.

Comportamento oposto é observado na amostra Ap11, coletada no nível 3, mais argiloso. Dos

demais elementos, não é possível fazer nenhuma correlação entre essas amostras. Esse

resultado, apresentado na amostra Ap11, maiores concentrações de Fe, Mn, Ca, Mg, K e

menor de Si, é esperado, devido à maior concentração de impurezas (principalmente minerais

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110

pesados) estarem contidas nas frações mais finas, neste caso, maior presença dessas frações

no nível 3.

Tabela 12: Resultados de análises químicas das amostras in natura dada em % peso.

Amostra Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 Ap-11

SiO2 96,385 93,390 96,132 95,500 97,306 93,891 95,323 94,338 95,383

Al2O3 1,774 3,282 1,889 3,395 1,320 3,214 3,346 2,716 1,772

Fe2O3 1,510 2,938 1,529 0.474 1,045 2,029 0.626 2,395 2,295

TiO2 0.066 0.162 0.108 0.276 0.073 0.113 0.289 0.142 0.15

MnO Nd nd nd nd nd 0.024 0.014 nd 0.024 MgO Nd nd nd nd nd 0.345 Nd nd nd

K2O 0.033 0.047 0.082 0.107 0.062 0.061 0.17 0.142 0.116

CaO Nd nd nd nd 0.021 0.085 Nd 0.062 0.087

ZrO2 0.041 0.033 0.044 0.084 0.051 0.006 0.093 0.015 0.025

Au2O 0.032 nd nd nd nd nd Nd nd 0.039

V2O5 Nd 0.034 nd 0.024 nd nd Nd 0.032 nd

SO3 0.159 0.115 0.163 0.141 0.123 0.177 0.14 0.158 0.11

nd= não detectado

Tabela 13: Resultados de análises químicas das amostras na fração 1.19 mm dada em % peso.

1,19mm Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 Ap-11 SiO2 94,503 92,827 95,370 95,401 94,581 96,084 95,450 77,579 92,724 Al2O3 2,423 3,929 2,532 2,696 2,804 2,429 2,466 3,577 3,383 Fe2O3 1,085 1,560 0,755 0,738 1,027 0,395 0,910 3,850 1,588 TiO2 Nd 0,122 nd nd 0,060 nd Nd 0,263 0,171 MgO Nd nd nd nd nd nd Nd nd nd MnO Nd nd nd nd nd 0,035 Nd nd 0,022 K2O 0,045 0,064 0,050 0,100 0,043 0,087 0,096 0,146 0,201 CaO Nd nd nd nd nd nd Nd 0,130 0,098 ZrO2 Nd 0,012 0,005 0,004 0,010 nd 0,007 nd 0,009 Au2O 0,013 0,004 0,014 0,006 nd 0,013 0,004 0,009 0,007 V2O5 Nd nd nd nd nd nd Nd 0,034 0,021 Cr2O3 Nd nd nd nd nd nd Nd nd nd SO3 0,382 0,305 0,347 0,323 0,324 0,416 0,335 0,287 0,294 P2O5 Nd nd nd nd nd nd Nd nd nd LOI 1,068 0,926 0,444 0,475 0,654 0,130 Nd 13,608 1,154

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111

Tabela 14: Resultados de análises químicas das amostras na fração 0,5mm dada em % peso.

0,50mm Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 Ap-11

SiO2 95,008 90,892 96,642 96,462 96,221 96,219 96,462 95,795 81,438 Al2O3 2,513 6,086 2,468 2,405 2,468 2,774 2,436 2,675 6,242 Fe2O3 0,329 0,710 0,165 0,221 0,300 0,150 0,293 0,397 4,532 TiO2 0,049 0,204 nd nd nd 0,034 Nd 0,083 0,656 MgO nd nd nd nd nd nd Nd nd 0,656 MnO nd nd nd nd nd nd Nd nd 0,040 K2O nd 0,068 0,026 0,051 0,034 0,031 0,057 0,076 0,251 CaO nd nd nd nd nd nd 0,028 0,051 0,567 ZrO2 0,009 0,016 0,005 nd 0,003 0,004 0,004 0,006 0,011 Au2O 0,004 0,004 0,006 0,005 0,007 0,004 0,005 0,010 0,006 V2O5 nd nd nd nd nd nd Nd nd 0,028 Cr2O3 nd nd nd nd nd nd Nd nd nd SO3 0,388 0,273 0,334 0,318 0,335 0,331 0,331 0,304 0,264 P2O5 nd nd nd nd nd nd Nd nd nd LOI 1,341 1,463 0,059 0,221 0,307 0,165 0,056 0,384 4,776

LOI = perda ao fogo

Tabela 15: Resultados de análises químicas das amostras na fração argila.

Fundo Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 SiO2 91,656 65,033 92,088 87,382 78,000 83751 69,942 57,789 Al2O3 2,569 21,458 5,157 5,868 11,080 8,264 12,209 13,608 Fe2O3 0,968 3,694 0,839 1,672 3143 2,221 6,633 16,335 TiO2 0,062 1025 0,384 0,866 1,993 1,750 2,538 1,975 MgO 0,258 0,258 nd nd nd nd 0,979 2,526 MnO nd nd nd 0,016 0,032 0,046 0,085 0,142 K2O nd 0,201 0,228 0,199 0,199 0,665 0,764 0,759 CaO nd nd 0,026 0,032 nd nd 0,599 1,323 ZrO2 nd 0,109 0,096 0,231 0,901 0,592 0,342 0,027 Au2O 0,006 nd nd nd nd 0,004 nd nd V2O5 nd nd 0,058 nd nd nd nd nd Cr2O3 nd nd nd nd nd nd nd 0,021 SO3 0,301 0,041 0,113 nd nd 0,261 0,098 nd P2O5 nd nd nd nd 0,104 0,182 nd nd LOI 3,902 8,177 1,009 3,733 4,536 2,063 5,812 5,482

5.4 Discussões dos resultados

As principais especificações químicas, para os diferentes usos industriais da areia referem-

se aos teores de SiO2, Fe2O3, Al2O3, MnO2, MgO, CaO, TiO2 e ZrO2, além dos teores de

Cr2O3, Na2O e K2O, que devem ser considerados dependendo da aplicabilidade da areia,

como mostrados nas Tabelas 09, 10 e 11.

Segundo Ferreira e Daixt (2000) os padrões estabelecidos para areia industrial na

construção civil de acordo com a norma NBR-7200/82 são: (i) pureza, cujo teor do material

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na fração inferior a 0,09mm não deve ultrapassar a 5% em peso; (ii) granulometria, areias

com faixa granulométrica inferior a 0,2mm devem representar de 10% a 25% do peso total e;

(iii) forma das partículas, onde as partículas arredondadas e esféricas são mais favoráveis que

os grãos achatados ou longos.

Para fabricação de vidros, segundo Nava (1997) os grãos angulares são mais favoráveis ao

processo de produção, pois a fusão se inicia nas pontas e arestas dos grãos e em relação à

química, a areia deve apresentar um teor elevado de SiO2 (98,5% - vidro comum e > 99% -

vidro plano), baixo teor de Fe2O3 (0,08% para vidro plano, 0,1% para fibra de vidro e 0,3%

para vasilhames de vidro colorido e de material refratário), além de um controle rígido nas

percentagens de Al2O3, CaO, MgO, Na2O, K2O, TiO2, ZrO2 e Cr2O3 e elementos tais como

cobre, níquel e cobalto, que mesmo em níveis de traços, são indesejáveis por produzirem

cores e defeitos no vidro, tornando-o inaceitável no mercado (Harben; Kuzvart, 1996).

Para a indústria de fundição a areia deve ser livre de argilas, apresentar alto teor de sílica

(>98%), e baixos teores de CaO e MgO (Zdunczyk; Linkous, 1994) e a distribuição

granulométrica deve ser estreita com grãos apresentando alta esfericidade. A areia usada na

indústria de abrasivo e jateamento, deve apresentar cerca de 99,5% de SiO2, 0,10% de Al2O3,

0,025% de Fe2O3 e distribuição granulométrica entre 0,053 mm e 0,42 mm (Ferreira; Daitx,

2000).

As análises realizadas nas amostras provenientes da região de Alto Coité e Poxoréu

revelaram duas frações de grãos bem distintas, sendo que nas menores frações os grãos são

mais arredondados do que aqueles observados nas frações maiores, que são mais angulosos.

Considerando os padrões estabelecidos pela indústria de fundição, ou seja, grãos com alta

esfericidade, as amostras Ap2 e Ap7, não satisfazem esta exigência.

As análises químicas do material in natura (Tabela 12) revelaram altos valores de

SiO2, cujos teores ultrapassam 95% na maioria das amostras e baixas concentrações de Al2O3

e Fe2O3, principais contaminantes destas amostras.

As análises realizadas na fração 0,50 mm (Tabela 14) revelaram que as amostras Ap2

e Ap11 mostram menores percentagens de SiO2 e elevadas percentagens de Al2O3 e Fe2O3,

comportamento este observado também na concentração de H2O, o que pode refletir a

presença de maior quantidade de argilomineral provavelmente agregado aos grãos da fração

areia. Na fração 1,19 mm (Tabela 13) observa-se o mesmo comportamento, que se repete

também para a amostra Ap10, sendo que nesta amostra o conteúdo de água é muito elevado.

Os demais elementos analisados mostram comportamento geoquímico semelhante para todas

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113

as amostras e frações. A química da fração argila (Tabela 15) mostrou comportamento

similar, devendo-se destacar que a amostra Ap2 apresenta alto conteúdo de Al2O3, enquanto a

amostra Ap11, apresenta altas concentrações de Fe2O3, implicando na presença de argilas e

oxido de ferro, respectivamente.

Considerando os resultados geoquímicos das amostras e tomando por base as

especificações brasileiras apresentadas por Luz e Lins (2005), todas as amostras podem ser

empregadas na construção civil. Para que o material analisado seja empregado em outras

finalidades deve ocorrer à remoção de ferro e alumínio (indústria de vasilhame) e alumínio

(fundição) na maior parte das frações areia analisadas, exceto para as amostras Ap2 e Ap11,

cujo teor de TiO2 ultrapassa o teor das especificações e é de difícil remoção.

Devido à baixíssima concentração de elementos conhecidos como extremamente

contaminantes - titânio, magnésio, manganês, cromo, potássio, sódio e cálcio, nas amostras

estudadas, caso ocorra tratamento prévio para remoção da argila através de processo de

lavagem e, ainda assim persistir teores elevados de ferro e de alumínio, os mesmo podem ser

removidos através da separação magnética de alta intensidade e/ou por flotação. Estes

tratamentos permitirão obter areia mais pura, cujas concentrações dos diferentes elementos

enquadram-se dentro das especificações para as demais indústrias de vidro (vidros planos,

cristal e fibras), dentre outras.

Um fato, que merece destaque é a presença de ouro em todas as amostras analisadas na

fração 0,5mm, enquanto na fração 1,19mm apenas a amostra Ap7 não mostra a presença de

ouro. Uma investigação mais criteriosa poderá ser feita caso haja interesse de alguma

empresa na área.

Além do material da fração areia apresentar características que favorecem o uso dos

mesmos, como areia industrial, deve-se ressaltar que os grãos maiores (acima de 9,52mm)

poderão ser usados na fabricação de semi-jóias e peças ornamentais, uma vez que algumas

amostras foram polidas e mostraram bons resultados (Figura 27).

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114

CAPÍTULO 6

RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO EM ALTO COITÉ

Um Projeto de Desenvolvimento Econômico deve ter entre seus objetivos o combate à

pobreza e por isso não pode se restringir ao anseio imperativo do crescimento econômico.

Deve antes de tudo, ter como escopo a construção ou reconstrução de uma nação ou região

que possa vir a ser economicamente dinâmica e socialmente justa. Para tanto, acredita-se ser

preciso romper com o padrão de políticas de desenvolvimento implantado até então, no qual o

relevante é o crescimento econômico, ou seja, a variável econômica, e que renega variáveis

como capital humano e social.

Todavia, devem-se buscar políticas de desenvolvimento com modelos e estratégias

que sejam concebidos em ambientes favoráveis às potencialidades produtivas, idealizadas na

perspectiva do local a partir da valorização do território e seus agentes locais. É importante

que sejam orientadas pelo poder público estadual e municipal, sem esquecer, contudo, a esfera

federal. Neste sentido, neste capítulo procurou-se apresentar algumas alternativas de

desenvolvimento econômico para o distrito de Alto Coité que agregue crescimento econômico

com redução da desigualdade, com vistas ao combate a pobreza, ao desemprego e, por

conseguinte, à exclusão social, tendo como participantes diretos os poderes púbicos.

Espera-se que esses modelos possam servir de vetor para a região do Vale do São

Lourenço e as diversas regiões onde o garimpo entrou em decadência e deixou a população

abandonada à própria sorte.

6.1 Políticas e modelos de desenvolvimento

Ao discutir o desenvolvimento em suas dimensões econômica e social, o presente

trabalho aborda a dimensão política, que segundo Friedmann (1996), com essa incorporação

inclui-se a realização de um dos principais objetivos de ação do desenvolvimento. Embasados

na garantia dos direitos humanos, da cidadania e das condições sociais o desenvolvimento

possibilita a prosperidade humana.

A dimensão política do desenvolvimento, conforme Furtado (2000), procura colocar e

alcançar objetivos factíveis, considerando os grupos atuantes de determinada sociedade e suas

aspirações e, desse modo concorrem na utilização sustentável de recursos escassos. Furtado

(2000), afirma ainda que essa dimensão somente seja percebida como tal, se estiver inserida

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115

no discurso ideológico. Assim, a concepção de desenvolvimento de uma sociedade e a

formulação de uma política de desenvolvimento, não pode estar alheia à estrutura social.

Sen (2000) define desenvolvimento como o processo de ampliação da capacidade dos

indivíduos de possuírem as opções de fazerem suas escolhas. O autor relativiza fatores

materiais e indicadores econômicos insistindo na ampliação do horizonte social e cultural.

O ponto de partida para abordar o desenvolvimento econômico, como processo de

inclusão social, é a resposta a um conjunto de questões que impõe e coloca muitas certezas

relativas ao crescimento econômico atual. Segundo Barbosa et. al. (In: Pochamnn, 2004), o

conjunto de questões que conduz a formulação de uma alternativa própria e especifica para o

desenvolvimento econômico, deve ser capaz de induzir o desenvolvimento local e ao mesmo

tempo construir de maneira eficaz a democracia, buscando consenso social em torno dos

objetivos coletivos por meio de políticas de desenvolvimento.

Desde modo, para que ocorra o desenvolvimento, é preciso envolver todas as

dimensões sugeridas por Sachs (2002) como critérios para a sustentabilidade, por meio de

modelos e estratégias de políticas de desenvolvimento de médio e longo prazo.

Porém, um modelo ou uma estratégia de desenvolvimento precisa passar pela

concepção de ambientes adequados para desenvolver o potencial produtivo de uma

localidade, fundamentado na valorização do território e seus atores. A caracterização dos

modelos e das estratégias de desenvolvimento exprime que o Estado deve se reorientar, para

que possa atuar de forma mais descentralizada e em parceria com a sociedade civil e a

iniciativa privada, no sentido de aprimorar os mecanismos de funcionamento dos mercados,

na oferta conjunta de bens e serviços públicos voltados para a coletividade (Haan, 2005).

Esse tipo de política de desenvolvimento, relacionado ao desenvolvimento regional e

local, procura adotar um modelo que tem como meta, sobretudo, as economias periféricas, na

qual os problemas assumem proporções dramáticas e restringem de forma agressiva o

crescimento econômico, impedindo a distribuição de renda.

Todavia, a distribuição de renda decorrente da reorientação do Estado e da

reengenharia institucional, constitui novo padrão de acumulação. Deste modo, não deve ser

resultado exclusivo da interferência direta do Estado através das políticas sociais, mas de uma

estrutura apoiada em diversos atores, em especial, atores locais engajados nos objetivos da

coletividade, o que torna o problema do desenvolvimento complexo (Hann, op. cit.).

Na verdade, qualquer que seja a política de desenvolvimento regional ou local, o ponto

de partida, ocorre a partir do enfretamento dos problemas internos que impedem a sustentação

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do crescimento da região estudada. Sendo assim, a questão do desenvolvimento passa a ser

uma escolha, uma vez que é uma opção interna de cada região e localidade, porém, não deve

esquecer o contato com outras regiões e esferas, sem a qual não é possível alcançar sua

realização. Segundo Paiva, (In: Becker; Bandeira, 2002), é indispensável a qualquer política,

o enfrentamento das desigualdades regionais e locais, através de um diagnóstico

particularizado da economia e da sociedade a ser trabalhada, se possível, deve-se identificar e

sistematizar os conhecimentos em: i) estrutura produtiva atual e os recursos disponíveis e

subutilizados; ii) determinantes do estrangulamento do desenvolvimento e os passos

necessários ao seu rompimento; iii) os anseios da população e o poder de mobilização das

mesmas diante das perspectivas futuras.

O setor público tem papel relevante no processo de desenvolvimento regional e local

nos padrões atuais e, este papel deve ser o de estimulador das inovações, de modo a viabilizá-

las. Assim, o principal papel do setor público é o de manter os elementos que viabilizam a

inovação, tornando-a possível, ou seja, ser um empreendedor. Por ser um empreendedor o

setor púbico tem por obrigação focar nos objetivos econômicos locais de várias maneiras.

Borba (2000) destaca ser necessário estimular a infra-estrutura intelectual; a força de trabalho

habilitada e qualificada; a qualidade de vida apropriada; o ambiente de negócios instigante; a

oferta concreta de capital de risco; o mercado receptivo para novos produtos e processos; o

comprometimento com a modernização industrial; a cultura voltada para a industrialização

com flexibilidade e cooperação; o sistema social que sustenta a inovação e a diversidade.

O papel empreendedor do setor público, segundo Martinelli e Joyal (2004) é a criação

de novos empregos, atuando como empregador, investidor, comprador de serviços e

fornecedor de produtos e serviços; ser interventor direto na economia local ou ser um foco

proativo para a indústria e para a economia local, em busca de novas oportunidades de

desenvolvimento dentro das aptidões e interesses da comunidade. Para esses autores, o setor

público deve proporcionar condições para que a estrutura produtiva local responda de maneira

positiva aos estímulos de integração e cooperação que estão entre os diferentes ambientes da

comunidade local, se estimulados de forma correta, possibilitam a articulação e a cooperação

necessárias para agregar a cadeia produtiva industrial e de bens e serviços da economia local.

De maneira geral, o Governo tem como papel-chave, instigar e agenciar novas formas

de trabalho e produção e, acima de tudo, não permitir a marginalidade15 de pessoas e

15

Marginalidade: Neste caso remete as condições sociais caracterizadas pela privação de recursos socialmente eficientes, ou seja, cidadania limitada, situação cultural própria de pobreza, exclusão do desenvolvimento, não pertencimento ao sistema dominante. A marginalidade pode significar também a incapacidade de incorporação

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117

empresas, mas fazer com que sejam capazes de integrar ao mercado e aos processos

produtivos, encorajando a criatividade e a busca do conhecimento científico e tecnológico. No

processo de mudança da sociedade, no qual o setor público se compromete com o

empreendedorismo, onde a prosperidade é apreendida com crescimento e revitalização

econômica do território, os resultados oriundos advêm das parcerias entre o setor público e

privado e, deve ser fundamentado no apoio da sociedade civil. Portanto, acredita-se que

devem prevalecer estratégias políticas para o desenvolvimento econômico local com a criação

de ligações transparentes e eficientes entre os setores públicos e privados.

Entretanto, o reordenamento e redefinição dos modelos e estratégias organizacionais e

institucionais adotados devem proporcionar desenvolvimento em todas as dimensões,

especialmente, aquelas que visam redução da desigualdade humana, promoção da cidadania e

combate a exclusão social, consolidação da democracia e a defesa dos direitos humanos,

promoção da geração de empregos e das oportunidades de renda.

As iniciativas de políticas de desenvolvimento voltadas de maneira especial para a

dimensão social têm crescido por meio de políticas de geração de emprego e renda, sobretudo,

a nível municipal. Os municípios são as instâncias governamentais, que procuram dar apoio e

promover ações em favor do desenvolvimento econômico (Coelho; Fontes, apud Martinelli;

Joyal, 2004). Essas ações significam desenvolvimento humano e sustentável em longo prazo,

para a grande massa da população marginalizada, ou seja, excluídos do mercado de trabalho.

As localidades fragilizadas econômica e socialmente devem buscar diferentes formas

de se desenvolver e até mesmo de sobreviver. As políticas de desenvolvimento para estas

localidades precisam ter gestão e planejamento estratégico. Essas políticas podem e devem ser

constituídas por atividades complexas e inovadoras que desafiam os problemas das

localidades. Deste modo, a gestão deve buscar alcançar o desenvolvimento, por meio de

planejamento eficaz, estabelecendo áreas prioritárias para o desenvolvimento econômico, ao

mesmo tempo em que atende os anseios da coletividade e gera resultados positivos, tanto

econômicos como social. Assim, desenvolvimento econômico sustentável em nível local,

deve acima de tudo, abrir-se para a possibilidade de transformar o formato e o conteúdo das

políticas públicas em todas as esferas. Assim, deve-se tentar fazê-lo de forma planejada, com

expectativa em longo prazo e da consolidação dos resultados alcançados.

com estabilidade e consistência na estrutura de papéis e posições da nova sociedade urbana que emerge com a industrialização, afirmando um caráter restrito do mercado de trabalho no processo industrial dominante. Isto é, uma massa marginal não absorvível pelo setor hegemônico da economia refletindo uma situação de não integração, de caráter limitado e inconsistente de não pertencimento a estrutura integral da sociedade.

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118

6.2 Proposta de desenvolvimento econômico para Alto Coité

O município de Poxoréu, sobretudo, Alto Coité, por ter originado da garimpagem e

conseguido sobreviver por longo período desta atividade, desenvolveu a aptidão mineral,

ficando o setor industrial sem se desenvolver. Pode-se dizer que a indústria nunca se

desenvolveu, talvez porque nunca tenha sido incentivada. Porém, percebe-se que

recentemente a população do distrito tem despertado e reconhecido a necessidade de medidas

capazes de incentivar o setor industrial para o desenvolvimento do município. Este fato tem

trazido alguns resultados incipientes, como a instalação de algumas pedreiras, mas que não

tem favorecido a população como um todo, além de não aproveitar adequadamente o

potencial mineral do distrito.

Diante deste quadro, o presente trabalho recomenda algumas propostas de políticas de

desenvolvimento que possam minimizar os problemas que o distrito vem atravessando, ou

seja, uma comunidade produtivamente enfraquecida, sem recursos públicos e sem nenhuma

infra-estrutura para absorver os anseios da população. Para tentar minimizar as dificuldades,

este trabalho elaborou algumas propostas que podem ser implantadas futuramente, a fim de

resultados positivos a curto, médio e longo prazo, com ações para “arranque” econômico e

social. As ações visam um desenvolvimento endógeno, integrado e sustentável, gerador de

bem-estar e qualidade de vida à população.

Apesar de Alto Coité possuir um pequeno contingente populacional, é possível arcar

com um pequeno pólo industrial, pois, segundo Martinelli e Joyal (2004) uma localidade não

precisa necessariamente ter um contingente populacional grande para abrigar indústrias

(micro, pequeno e médio porte), necessitam acima de tudo, de infra-estrutura. Para os autores,

a produção de bens primários existentes e os que poderiam ser implantados nessas localidades

receberiam, a partir de programas específicos, incentivos necessários à sua estruturação,

reestruturação e solidificação. Tem-se ainda que o caminho para a industrialização esteja de

certa forma, ligada a oferta de matéria-prima, garantindo produção local.

Baseado na caracterização dos rejeitos de diamantes da região espera-se criar

propostas e medidas, no sentido de definir critérios teóricos e práticos que constituam

instrumentos para a avaliação da realidade da economia mineral e ambiental daquela região.

Com isto, busca uma maneira de contribuir para o desenvolvimento sustentável do Setor

Mineral e que o mesmo possa servir de base para fomentar o desenvolvimento econômico e

social, com vista a amenizar a pobreza e diminuir as desigualdades regionais.

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119

Foi exposto no Capitulo 3, que o desenvolvimento econômico, conforme defendido até

o momento não conseguiu promover de maneira eficaz o desenvolvimento em todas as suas

dimensões, fazendo surgir então, uma Nova Economia do Desenvolvimento que busca um

desenvolvimento baseado na sustentabilidade física (ambiental e econômica) e social. O

desenvolvimento sustentável implica numa transformação do sistema econômico atual, devido

as suas implicações e dificuldades de aplicação, considerando que os sistemas de produção

material, dominantes no mundo, não são sustentáveis, a médio e longo prazo, quando se

avalia os aspectos legais, econômico, social e ambiental. O setor mineral compõe-se um dos

pilares da economia industrial, considerando-se que a maior parte dos bens econômicos, é

resultado do uso direto de matérias-primas ou da modificação de produtos minerais.

Estas propostas poderão ir a favor do Zoneamento-sócio-econômico-ecológico do

Estado de Mato Grosso (ZSEE-MT). Esse programa está de acordo com o Decreto Federal

4.297/2002 – que estabeleceu critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil

(ZEE), onde a União só reconhecerá os ZEE’s estaduais para fins de uniformidade e

compatibilização com as políticas públicas federais, desde que tenham sido aprovados pelas

Comissões Estaduais do ZEE e pelas Assembléias Legislativas. Esse reconhecimento será

feito pela Comissão Coordenadora do ZEE do Território Nacional, de acordo o Consórcio

ZEE Brasil. Segundo informações de jornais e outros veículos de comunicação, este programa

será implantado, no estado, ainda no corrente ano.

Aqui é defendida a necessidade de aprofundar estudos pertinentes à questão, antes da

implantação de qualquer tipo de ação. É relevante ressaltar que todas as propostas

apresentadas só terão validade como desenvolvimento sustentável a partir de políticas

voltadas para sistema de cooperativismo e associativismo.

Dentre as opções observadas após análise dos rejeitos, chegou-se a propostas que

podem ser consideradas simples, bem como as mais complexas. Assim, este trabalho irá tratar

mais especificamente da proposta que se julga mais simples de ser concretizada e lançará

algumas idéias para as propostas com maior grau de complexidade. As propostas buscaram

alternativas que valorizem o potencial da localidade, ou seja, o setor mineral, utilizando os

rejeitos dos garimpos, matéria-prima abundante no distrito além de promover a recuperação e

reabilitar as áreas degradadas em função da atuação desordenada das atividades garimpeiras.

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120

6.2.1 Implantação de uma cooperativa para confecção de peças artesanais

O artesanato tem se afirmado como elemento básico para o desenvolvimento regional

e local. Todavia, o artesanato, por ter multifuncionalidade, deve ser antes de tudo uma

atividade econômica integrada com outras atividades nos processos de desenvolvimento. É

necessário pensar o artesanato de maneira específica, procurando assegurar seu próprio

desenvolvimento e modernização, interagindo-o com outros setores e não isoladamente.

Enquanto que numa perspectiva de desenvolvimento setorial tradicional a preocupação

predominante é a competitividade econômica do setor, numa perspectiva integrada, o mais

importante é sua contribuição para a competitividade territorial de caráter econômico, social,

cultural e ambiental no conjunto dos setores existentes ao nível de um território específico.

Deste modo, deve-se considerar as funções do artesanato como papel social, patrimonial e

cultural, ambiental, pedagógica, recreativa e estética. Realça-se a questão essencial ao

desenvolvimento de comunidades pobres e sem perspectiva, garantindo viabilidade própria

em conjunto com outros campos.

O artesanato ocupa lugar especial no âmbito das atividades econômicas por ser grande

gerador de empreendedorismo e de emprego em micro e pequenas empresas. Conjuga o

potencial econômico e a geração de emprego, além da vertente cultural e turística presente nas

localidades. Assim, não surpreende o apoio ao setor, por parte dos poderes públicos ao longo

das últimas décadas, ao reconhecer seu papel importante para o país e por proclamar ganho

para as localidades em curto prazo.

Um dos objetivos do projeto é trabalhar com os artesãos e transformá-los em um dos

atores principais do desenvolvimento local. A técnica artesanal deve ser ensinada, porém a

idéia é respeitar as características e habilidades dos envolvidos, respeitando as

particularidades. A capacitação e qualificação têm o objetivo de inserir a técnica artesanal

com máquinas e manual, além de ensinar técnicas de comercialização e padrões de tamanho,

fixar preços justos, elaborar etiquetas e se organizar em grupos, portanto, exigem condições

mínimas para a atividade.

Alguns fatores foram observados antes de cogitar trabalhar com artesanato em Alto

Coité: o baixo índice de desenvolvimento humano, falta de fonte de trabalho e emprego e a

presença de matéria-prima presente na região. Durante a pesquisa de campo, o pesquisador

teve oportunidade de conhecer uma pessoa que possui conhecimento da arte com escultura e

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se propôs repassá-lo. Foi possível ainda identificar pessoas que estão dispostas a trabalhar

com artesanato, porém, são necessários incentivos.

Segundo consultores na área de artesanato, geralmente, um projeto é realizado por

meio de um diagnóstico de cada localidade e um plano de trabalho de 18 a 24 meses para ser

concretizado em todas as suas dimensões. Todavia não se deve esquecer que cada projeto é

um projeto, e tem particularidades. Cada projeto possui um esboço que é tomando com base,

porém a forma de estruturá-lo depende muito da comunidade.

Desde modo, considerando as condições diagnosticadas e possíveis, propõe-se a

criação de oficinas artesanais que poderão ser divididas em quatro eixos temáticos: identidade

cultural e cidadania; gestão da produção; produto e relacionamento com o mercado.

O projeto a ser desenvolvido deverá ter o objetivo de formar grupos autônomos para

gerir seus próprios negócios e, desta forma, deve contar com a participação de entidades

locais, ONGs e órgãos de fomento ao desenvolvimento e de capacitação de mão-de-obra, para

implantação, produção, comercialização e gerenciamento, o que implica na realização de

intenso programa de qualificação e capacitação.

Na área de comercialização deve-se apoiar feiras que podem ser visitadas por

comerciantes, empresas ou arquitetos e demais segmentos, isto é, a proposta deve ser

direcionada principalmente para o varejo, além de discutir uma maneira de abordar o

consumidor direto. O projeto deve trabalhar com uma clientela diversificada. Todavia, todo

esse processo deve ser feito sempre respeitando as especificidades do trabalho dos artesãos,

uma vez que o trabalho artesanal não é como uma produção industrial.

O governo municipal está tentando fazer um trabalho semelhante em pareceria com a

cooperativa dos garimpeiros de Poxoréu, porém, tem deixado de lado, as pessoas do distrito,

onde existe maior abundância da matéria-prima para a confecção de seus produtos.

Orçamento16

para implantação da oficina de artesanato para peças ornamentais e semi-jóias

(baseada em sistema de cooperativa)

. Custo máquina e instrumental (6 itens) - R$ 21.360,00

. Materiais de consumo e seqüencial (20 itens) - R$ 3.387,00

. Materiais de segurança e manutenção (11 itens) - R$ 555,50

. Resumo do orçamento - R$ 25.302,50

16 Os dados do orçamento foram fornecidos pela Companhia Mato-Grossense de Mineração – METAMAT.

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. Matéria-prima – parte do rejeito proveniente dos garimpos de diamante (seixos de quartzo,

opala, calcedônia, turmalinas, granada e de diferentes tipos de rocha).

. Infra-estrutura e edificações não foram orçadas: no distrito existem duas casas que poderão

ser usadas para instalação da oficina e sede da cooperativa (pertencente a ONG italiana).

. Inclui compra de veículo (01) e equipamentos para transporte da matéria-prima (não

calculado).

A instalação tem capacidade para comportar 10 trabalhadores com os equipamentos, e

possui capacidade para absorver artesões manuais.

6.2.2 Implantação de planta industrial para produção de areia artificial/industrial.

A disponibilidade de areia e rocha para britagem localizados ao entorno dos grandes

núcleos consumidores, vem declinando dia após dia, em virtude de planejamento inadequado,

problemas ambientais, de zoneamentos restritivos e de usos competitivos do solo. Com a

dificuldade cada vez maior de licenciamento de novas áreas de extração e distanciamento dos

centros urbanos, a possibilidade de exploração está cada vez mais limitada, tornando as

perspectivas de garantia de fornecimento futuro aleatória. O aumento da demanda, associada

às crescentes restrições à sua exploração em áreas próximas aos centros urbanos, tem levado o

mercado a procurar areia em áreas cada vez mais distantes.

Quanto mais distante do mercado consumidor for extraída a areia e a brita mais cara

elas se tornam, pois o do custo do transporte eleva o custo destes produtos de maneira

considerável em até cerca de 70% no custo final. Como a areia e pedra britada se caracterizam

pelo baixo valor e grandes volumes de produção, o transporte é responsável por cerca de 1/3

do custo final da areia e 2/3 do preço final da brita (Valverde, 2006). Outro fator que vem

contribuindo para a substituição da areia natural pela areia artificial e outros materiais

agregados (brita e cascalho) é o surgimento de equipamentos de britagem capazes de superar

a principal restrição de utilização da areia artificial e a brita, oriunda de fontes alternativas,

como a reciclagem de materiais.

Esse quadro tem criado oportunidades para a indústria de agregado no Brasil no

sentido de buscar materiais alternativos à areia natural tais como a produção das chamadas

“areias artificiais” a partir de rejeitos de pedreiras e brita a partir de diferentes rochas e de

demais rejeitos que tenham possibilidades de aproveitamento para este fim.

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O aproveitamento de rejeitos, dentre estes os do setor mineral, tem ocupado lugar de

destaque na área de pesquisa das grandes universidades e centro de pesquisas. A abertura de

mercado para produtos reciclados de qualquer natureza é uma tendência cada vez maior. As

novas tecnologias e pesquisas para aproveitamento e reaproveitamento dos rejeitos que estão

sendo desenvolvidas são um convite para empresas investirem nesta área promissora.

Diante desde contexto, procurou-se estudar a viabilidade de produzir areia artificial

como alternativa ao processo convencional de extração de areia natural, incorporando em uma

única proposta, solução de problemas ambientais causados pelo acúmulo de rejeitos e de

problemas de ordem econômica em função do menor custo da matéria-prima. O

aproveitamento e beneficiamento dos rejeitos dos garimpos de diamantes Alto Coité

vislumbra a possibilidade do emprego destes materiais para produção de areia, sobretudo areia

industrial, para utilização na construção civil, bem como em aplicações industriais, que são

comercialmente vantajosas.

Esta proposta surgiu ao considerar a abundância de matéria-prima (rejeitos) na área

garimpada de Alto Coité, que estima-se ser de cerca de 21.000.000 de toneladas, somente na

área conhecida como patrimônio e de 7.000.000 de toneladas na Fazenda Primaverinha. Não

foi possível fazer estimativa total da área garimpada do distrito e do município.

A proposta consiste em criar um pequeno pólo industrial com implantação de uma

indústria de mineração com uma linha de britagem e outra para produção e beneficiamento de

areias quartzosas, isto é, industrial (ver esquema Anexo V) e conjuntamente indústrias para

aproveitamento final da areia industrial. Assim sendo, a proposta deve ser apoiada nos

esforços de desenvolvimento tecnológico e baseada na diversificação da economia regional e

local, desenvolvendo uma cultura empresarial.

A princípio deverá ser considerada uma planta para beneficiar matéria prima para

construção civil, e posteriormente resultar em projetos completos com beneficiamento de

areia industrial direcionando-a para indústria de fundição e vidro, uma vez que as análises

químicas e físicas apontaram aplicações para esses segmentos.

A proposta prevê estudos e pesquisas para produção de produtos de alta qualidade,

baixo custo e alta produtividade no mercado e, além desenvolver uma areia ecologicamente

correta, que venha ocasionar inúmeros benefícios a todos os envolvidos - setor da construção

civil, industrial, bem como para população de Alto Coité e circunvizinhas, o que contribuirá

positivamente para o futuro da região.

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Para que seja desenvolvido um trabalho de excelência, deve-se contar com uma equipe

de engenheiros e técnicos, preparados e treinados, para proporcionar treinamentos e

capacitação para os profissionais envolvidos no projeto, bem como manter um laboratório

para testes e demais pesquisas em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso.

Propõe-se a instalação de uma indústria formada com capital originado da associação

de garimpeiros, iniciativa do setor público federal e estadual. A administração municipal

poderá contribuir para difundir informações, reduzir custos com impostos e taxas, utilizar o

material produzido, tendo como retorno a redução nos gastos com programas assistencialistas

e a criação de empregos gerando renda, e conseqüentemente, contribuir como um todo para a

economia regional e local.

Desde modo, para execução e implantação desta proposta, será preciso formar

parcerias entre setor público e privado, para que atuando juntos possam promover alternativas

para o desenvolvimento sustentável, buscando soluções que visem minimizar as distorções e

os impactos gerados pela extração mineral, tanto no que diz respeito à área econômica, social

e ambiental em Alto Coité.

Como qualquer proposta, para esta que esta possa ser consolidada será necessário

elaborar um projeto, no qual constarão os detalhes necessários para concretizá-la. Deve

constar estudo de viabilidade técnica, comercial e investimento para implantação e

manutenção de uma indústria direcionada ao aproveitamento e beneficiamento dos rejeitos

para produção de areia industrial e, paralelamente deve constar um projeto complementar com

vista à instalação de indústrias para aproveitamento desta areia em produtos finais, porém,

estudos ambientais devem ser desenvolvidos na área a ser trabalhada.

Esta proposta pode ser complementada futuramente com implantação de indústrias

para fabricação de vidro para diversos usos, utilizando à areia industrial proveniente da

própria usina.

6.2.3 Recuperação da área degradada pela garimpagem em Alto Coité

O extrativismo é uma atividade impactante do meio ambiente, portanto, causa grande

degradação ambiental, além de ser uma das maiores modificadoras da superfície, afetando não

somente a paisagem local, mas o ecossistema de maneira geral.

A atividade garimpeira é polêmica, tanto pela degradação ambiental como pela

degradação visual. Um dos grandes desafios tem sido o de encontrar uma destinação para as

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antigas áreas de mineração e garimpagem, inseridas nas atividades econômicas e sociais de

modo a compatibilizá-las com o contexto regional e local.

Há várias maneiras de extração mineral, seja subterrânea ou a céu aberto. No caso de

Alto Coité os garimpos foram explorados a céu aberto, utilizando-se de cavas para extração

do minério o que produziu incontestáveis danos ao meio ambiente. Fato este que causado

muitas críticas de diversos setores, principalmente, da sociedade civil, em função dos muitos

danos gerados ao meio ambiente como um todo. Porém, essa externalidade negativa do meio

ambiente, associado à falta de proposta de uso futuro para as áreas pós-mineradas, não é

exclusiva desta região, ocorrendo também em outras regiões do país.

Por estas razões, há uma tendência mundial em ocupar as áreas de exploração mineral

e vários são os estudos e iniciativas empregadas para reverter à condição de degradação para

uma forma técnica, social e economicamente viável. Antigas áreas de mineração e

garimpagem têm sido transformadas em áreas que já estão ou futuramente poderão ser

utilizadas como áreas potenciais para desenvolvimento local.

As formas de recuperação de áreas degradadas pela atividade de extrativismo mineral

são infinitas e, muitas vezes está condicionada a função e aos objetivos definidos em cada

espaço. Deve considerar as condições do local, materiais disponíveis, capital para

investimento, opções estratégicas previstas para o seu desenvolvimento, expectativas das

entidades com intervenção local e aspirações das populações envolvidas, que pode ou não

contribuir para a obtenção de uma solução única, que garanta benefícios para toda

comunidade. Assim, em qualquer projeto, deve-se ter conhecimento aprofundado da região

em que se pretende implantá-lo.

As muitas soluções passam por estratégias diferenciadas com a implantação de um

projeto turístico, urbanístico e industrial. Encontrar uma solução que desperte o interesse de

todos os envolvidos no processo depende fundamentalmente do ajuste local, dos diferentes

planos e políticas, e, por vezes, exige sacrifícios na vertente estritamente mineira em prol de

uma solução integrada. A opção de ocupação de uma área deve ser compatível com as formas

de ordenamento que regulamentam a região, isto é, necessita seguir os padrões de

ordenamento do território. Entre os usos possíveis e compatíveis, deve optar por aquele que

traz maior valor, seja econômica, ou socioambiental.

Em Alto Coité, devido às décadas de exploração de diamante, principalmente na

década de 1980, com a introdução de maquinários, a paisagem encontra-se bastante

modificada e, ao longo da área garimpada podem ser visto grande número de catas e de

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algumas lagoas resultantes do final da exploração. A área degradada exige planejamento de

ações integradas, capazes de dar conta das especificidades locais e responder a questões mais

amplas e difíceis, como desmatamento, assoreamento e crateras em todo terreno garimpado.

Assim, propõem-se três alternativas, descritas a seguir, que visam recuperar e

reabilitar as áreas por meio de ações a serem planejadas, projetadas e realizadas de maneira a

minimizar os danos ambientais e ao mesmo tempo criar oportunidades para promover

benéficos sociais e econômicos para a região.

1ª alternativa - Recuperação da área por meio de revegetação e reabilitação visando seu uso

futuro.

Esta proposta consiste na recuperação da área degradada seguida de plantio de mudas.

A proposta pauta-se, principalmente em plantio de espécies nativas. Porém, é preciso lembrar

que nem sempre é possível, dadas às diferenças ambientais existentes entre o habitat natural e

aquele após as transformações que muitas vezes não favorece a vegetação original.

Durante esse trabalho deverão ser fechadas antigas catas procurando deixar a

topografia do terreno o mais próxima possível da original e, após o fechamento das inúmeras

catas, o solo deverá ser trabalhado para receber o plantio de mudas.

No fechamento das catas deve-se procurar manter o empilhamento numa seqüência

crossing up, na qual os grãos maiores concentram-se na base, diminuindo para o topo. Ideal

seria recobrir a área com solo vegetal da região, mas considerando que este material já foi

removido há muito tempo, deverá ser usado adubo para permitir que as sementes e mudas

possam se desenvolver e se fixarem no solo arenoso da região.

Na etapa de plantio alguns itens devem ser considerados, pois recuperar áreas

degradadas ou alteradas pela atividade do homem, ou como conseqüência dessas atividades,

via uso da vegetação, pressupõe o conhecimento de dois componentes fundamentais: o solo e

a própria vegetação. Além disso, é necessário levar em consideração o estresse a que está

submetida à vegetação adjacente às áreas degradadas.

O processo de revegetação deverá proporcionar a recuperação de funções do

ecossistema por meio de adubação do solo, sementes para fixação e plantio de mudas. O

plantio deverá englobar, além de espécies nativas, diferentes espécies com preferência para os

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grupos ecológicos17, tais como leguminosas florestais, frutíferas e exóticas, para compor a

paisagem. A escolha das espécies a serem utilizadas na revegetação deverá está relacionada à

disponibilidade de obtenção de sementes e mudas, sendo que a utilização de espécies nativas

seja reduzida por uma questão de oferta de mercado. Portanto, as mudas a serem utilizadas

deverão ser produzidas em viveiros próprios, especialmente as de espécies nativas.

O projeto deve levar em consideração a natureza arenosa do terreno, a proximidade de

áreas degradadas próximas aos córregos e rios e a presença de casas nas imediações. A

recuperação da topografia da área deve ser seguida da recuperação da mata ciliar, uma vez

que a mesma foi totalmente destruída em função das atividades garimpeiras nas margens dos

córregos e rios da região.

O projeto deverá ainda prevê os custos referentes a equipamentos, mão-de-obra e

materiais diversos. Os custos referentes a equipamentos devem incluir hora/máquina dos

tratores, bem como o custo com os operadores das máquinas. Nos custos com mão-de-obra, é

necessário incluir gastos com salários e encargos com engenheiros, técnicos agrícolas,

ajudantes e demais profissionais envolvidos. Os custos com materiais devem estar incluídos

corretivos de solos, adubos, mudas, sementes, gastos com material para o viveiro e outros. Os

retornos financeiros poderão ser alcançados direcionando estas áreas para outras atividades

econômicas, como, por exemplo, a pecuária, porém é válido ressaltar que este procedimento

será a médio e longo prazo.

2ª alternativa - Recuperação da área visando como o uso futuro à criação de parques e áreas

de lazer e recreação.

Essa alternativa deverá complementar a primeira, mas envolverá, principalmente,

áreas ao entorno da vila, isto é, a área do patrimônio dos garimpeiros.

O distrito Alto Coité, bem como toda a região é desprovido de lazer e cultura. Assim,

esta proposta prever recuperação e reabilitação de parte da área degradada, conjugada ao uso

social. Face, a estes condicionantes optou-se pela implementação de um espaço de recreio e

lazer para a população do distrito e circunvizinhas.

17 Ver critérios utilizados para separar as espécies florestais tropicais em grupos ecológicos (Kageyama; Viana, 1991)

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Durante a fase de recuperação das áreas degradadas às margens dos córregos e rios,

seguido do replantio da mata ciliar, pode-se estudar a possibilidade de transformar alguns

locais nas margens dos córregos em praias de água doce, permitindo assim um fluxo turístico

para a região, o que irá auxiliar no desenvolvimento do distrito.

O plano de recuperação proposto permitirá transformar os espaços degradados e antes

ocupados pela garimpagem opções potenciais de aumento do índice de áreas verdes para

receber espaços lúdicos e atender a área social da região com aproveitamento turístico.

Entretanto, somente atingirão essas funções, contemplando bem-estar, lazer e recreação à

população, quando a conservação e a manutenção forem bem conduzidas pelas políticas

governamentais de gestão e fiscalizadas pela comunidade.

Para a implementação da proposta, as pessoas envolvidas devem fazer um projeto a ser

trabalhado em duas etapas. Na primeira, por meio de um projeto paisagístico pode-se

transformar as áreas degradadas em áreas verdes, recompondo o solo e a paisagem do local

através de arborização, sem deixar que a paisagem fique monótona. Esta fase deverá ser

elaborada por arquitetos, paisagistas e engenheiros florestais, que farão levantamento de

material, com coleta de dados e informações, que serviram de base para a criação do projeto.

Na segunda fase do projeto deve ser elaborada uma estratégia para criação de uma área de

convívio social e turismo. O local deverá ser estruturado para área de lazer e recreação, com

instalação de infra-estrutura.

Os custos associados à infra-estrutura podem ser compensados pelos benefícios que

advêm dos usos posteriores. Estes benefícios podem ser em termos econômicos para toda a

região, a médio e longo prazo, como ganhos sociais e ambientais diretos e indiretos, dotando a

comunidade de espaços dos quais é carente. Para execução e implementação desta alternativa,

os setores públicos e privados devem trabalhar em parceria para possibilitá-la em uma

localidade carente de em infra-estrutura e de projetos estruturantes para a região.

3ª alternativa - Recuperação da área visando como uso futuro à piscicultura.

A proposta prevê a recuperação de cavas abandonadas, para reprodução artificial de

peixes das Bacias Hidrográficas da região, bem como outras espécies adaptadas à região.

A recuperação da área deve considerar a possibilidade de transformar as grandes catas

(poços/cavas) em lagoas para piscicultura, tendo em vista o desenvolvimento auto-sustentável

da região, sobretudo, na área social com geração de emprego e renda. Ainda prevê a

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possibilidade de promover de forma indireta, outras cadeias produtivas na região, dentre estas,

indústria de ração com caroços de algodão, instalada em Poxoréu (produção de ração para

alimentação de peixes).

Apesar de não ter sido concebida para esse fim, já que são resultantes da degradação

pela extração de diamantes, as antigas catas/cavas podem ser utilizadas para implantação de

piscicultura, tanto para criação de peixe para consumo ou como pesca esportiva, em “tanque-

rede ou gaiaolas”18. A pesca esportiva poderá ficar conjugada a área de recreação e lazer para

alavancar o turismo da região.

Porém, antes de iniciar a utilização das catas para a piscicultura, as catas pequenas

deverão ser fechadas e a topografia do terreno como um todo e ao entorno das catas maiores

que serão utilizadas para tanques de criação de peixes, deve ser reconstituída, conforme

alternativa 1. Assim, o terreno deve ser adubado para receber sementes e mudas de espécies,

tanto nativas como de espécie adaptáveis, além da recuperação da mata ciliar.

Esta proposta visa instituir uma associação de piscicultores entre as famílias mais

carentes de Alto Coité, para cultura de peixes em um sistema alternativo, ou seja, criar uma

associação de piscicultores artesanais. Assim, a proposta conta com algumas linhas de

estratégias e ações dentre as quais pode citar cadastramento de famílias participantes, visitas

técnicas para identificação da capacidade da área a ser trabalhada, realização de cursos

específicos para a piscicultura, execução dos povoamentos dos lagos, acompanhamento do

desenvolvimento da atividade piscícola através de avaliação dos produtores.

Esta proposta tem em vista trabalhar com tecnologias que já estão sendo implantadas

em outras regiões, e que tem sido fundamental para alavancar a aprovação e financiamento de

novos projetos, junto aos órgãos e agências de fomento ao desenvolvimento sustentável de

regiões precárias e que necessitam de políticas para geração de emprego e renda.

Contudo, é necessário efetuar um projeto para direcionar de maneira coerente as idéias

levantadas para implantação do programa de piscicultura em Alto Coité. O projeto deverá

pautar-se no Sistema Local de Inovação (SLI) da piscicultura. Portanto, deverá estabelecer

parâmetros para implantação da proposta por meio de quatro componentes – produção,

pesquisa, formação e financiamento19.

18 Tanque-rede ou gaiolas: Em geral são estruturas retangulares que flutuam na água e confinam peixes em seu interior. Equipamento é constituído basicamente por flutuadores (galões, bombonas, bambu, isopor, canos de PVC, etc.) que sustentam submersos na água redes de náilon, plásticos perfurados, arames galvanizados revestidos com PVC ou ainda telas rígidas. 19 Ver Artigo publicado na revista Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro, v. 14. SILVA (2004).

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O SLI é uma forma de organização da produção, envolvendo instituições privadas e

públicas, e que se fundamenta na indispensável localização dos processos produtivos; na

geração de técnicas e produtos combinados com o ambiente físico e econômico; e nas

necessidades dos consumidores alvo. Deste modo, o SLI apóia-se na hipótese de que as

vantagens competitivas da piscicultura em determinada região, dependem essencialmente da

capacidade de construir uma organização produtiva que crie inovações de acordo com as

especificidades locais e de mercado, proporcionando durabilidade à atividade.

Desde modo, propõe-se que deverão desenvolver pesquisas, pré e pós-implantação do

programa e que estas ocorram nas próprias unidades produtivas tendo sempre a participação

de produtores e profissionais envolvidos no processo de piscicultura. Essas pesquisas devem

ser voltadas para os pontos de estrangulamento do sistema produtivo, criando técnicas ou

modelos de organização que possam criar oportunidades e fortalecer a piscicultura na região.

Prevê ainda que todos os envolvidos permaneçam em contínuo processo de atualização

técnica e mercadológico.

O financiamento torna-se necessário, ao considerar que a proposta de implantação da

piscicultura para a região deve estar direcionada, basicamente, aos pequenos e médios

criadores que não possuem recursos para investir em pesquisa-desenvolvimento e formação.

Uma vez que os pequenos e médios piscicultores encontram dificuldades em financiar a

produção e aquisição de equipamentos e insumos, sendo necessária ação pública, o que vem a

ser de grande importância para o desenvolvimento da piscicultura em Alto Coité.

Espera-se que estudos mais aprofundados permitam, no futuro, compatibilizar a

piscicultura intensiva e desenvolver um potencial pesqueiro em Alto Coité.

Estas alternativas podem implantadas individualmente. Contudo, as 3 alternativas não

se excluem, ao contrario seriam muito interessante que fossem implantados conjuntamente,

uma vez que podem se complementarem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste capitulo serão apresentadas as conclusões gerais obtidas a partir da integração e

análises dos dados da pesquisa concernente às condições de vida dos moradores e aos rejeitos

de diamante da região de Alto Coité.

Como visto no capitulo 4, o perfil de Alto Coité e do município de Poxoréu como um todo,

possui características comuns as áreas de garimpo da maioria das regiões do Brasil, nas quais

prevalece o abismo entre ricos e pobres e o não envolvimento do setor público (estadual ou

municipal).

O município de Poxoréu, após o declínio da atividade garimpeira está passando por um

processo de estagnação econômica em virtude principalmente da ausência de outras atividades

que substitua as atividades garimpeiras nas mesmas proporções dos tempos áureos da

exploração diamantífera. A região que dependia tradicionalmente da extração de diamantes,

tenta sobreviver das atividades da agropecuária, porém essa atividade é restrita e não

consegue absorver a mão de obra proveniente dos garimpos. Embora o PIB e a renda per

capita do município tenham conseguido números expressivos, principalmente no período de

2002-2005, o município não consegue fazer transferência de renda mais eqüitativa, e assim,

não consegue diminuir a desigualdade e a pobreza do município.

O distrito de Alto Coité encontra-se em situação econômica mais agravada que outros do

município como um todo, pois a grande concentração de garimpos ocorria nas suas

imediações e, conseqüentemente, com o fechamento dos mesmos. Assim, Alto Coité foi mais

fortemente atingido pelas adversidades econômicas. Este fato gerou a migração da população

mais jovem a outros centros urbanos, em busca de novas oportunidades, e como conseqüência

sofreu significativa perda populacional economicamente ativa. Desse modo, o distrito é

caracterizado por uma população envelhecida, pobre e sem expectativas.

A análise dos rejeitos provenientes da exploração do diamante foi discutida em relação à

hipótese de que o aproveitamento e beneficiamento destes poderão agregar valor e

proporcionar o desenvolvimento da região com a possível geração de emprego e renda.

Assim, as principais conclusões obtidas neste trabalho, concernentes às análises nos resíduos

provenientes da garimpagem do diamante da região de Alto Coité e Poxoréu que permitam

gerar emprego e renda em uma região degradada podem ser enumeradas da seguinte maneira:

1. Considerando os estudos granulométricos, a maioria das amostras pode ser utilizada

tanto para a indústria de fundição, devido à alta esfericidade dos grãos, concentrado

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nas frações maiores, assim como para a fabricação vidro, nas frações menores de

baixa esfericidade, tendo em vista a maior facilidade da fusão se iniciar nas pontas e

arestas dos grãos;

2. As amostras in natura (sem separação granulométrica) mostram concentrações de

SiO2 superior a 95%, tendo como principais contaminantes Al2O3 e Fe2O3, que

variam de 1,77 a 3.34 % e 0,47 a 2,93%, respectivamente.

3. A análise química das frações 1,19 e 0,50 mm varia muito pouco em relação à da

amostra in natura, mostrando pequenas diferenças na percentagem dos elementos

principais, tais como, SiO2, Al2O3 e Fe2O3. Nas amostras Ap2, Ap10 e Ap11, esta

diferença é um pouco mais acentuada, embora seja função da perda ao fogo analisada

nessas frações e não nas amostras in natura. Os demais elementos analisados

mostram comportamento geoquímico semelhante para todas as amostras e frações.

4. Quanto à fração argila, esta mostrou comportamento similar, com exceção das

amostras Ap2 que apresenta alto conteúdo de Al2O3 e Ap11 com altas concentrações

de Fe2O3, o que pode ser conseqüência da presença de argilas e oxido de ferro,

respectivamente.

5. Estes resultados geoquímicos sugerem que todas as amostras podem ser utilizadas para

a construção civil, tomando por base as especificações brasileiras para esse fim.

6. Para o uso na indústria de vasilhame e fundição, o material analisado deve ser

submetido à remoção de ferro e alumínio, respectivamente, para todas as amostras,

exceto para Ap2 e Ap11, cujo teor de TiO2 ultrapassa o teor das especificações e é de

difícil remoção.

7. As amostras estudadas apresentam baixas concentrações de titânio, magnésio,

manganês, cromo, potássio, sódio e cálcio, mesmo sem terem passado por nenhum

tratamento prévio para a remoção máxima da argila, através de processo de lavagem,

o que garantiria menores concentrações desses elementos, uma vez que estão

presentes, principalmente, nos argilo-minerais. A remoção desses contaminantes

através da separação magnética de alta intensidade e/ou por flotação permitirá a

utilização desses rejeitos para fabricação das demais indústrias de vidros, dentre

outros usos.

8. A presença de ouro em quase todas as amostras das frações analisadas pode gerar o

interesse de alguma empresa de mineração a investir na região, o que mudará o

cenário social e econômico da população de Alto Coité.

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9. Amostras analisadas nas frações acima de 9,52mm poderão ser utilizadas na

fabricação de semi-jóias e de peças ornamentais, uma vez que, depois de polidas,

estas amostras mostraram características visuais que atendem aos padrões de estética

aplicados a este ramo artesanal.

10. Quanto ao diagnóstico socioeconômico de Alto Coité, a partir das questões

analisadas ficou evidente que o distrito necessita de assistência por parte do setor

público, mais especificamente no que diz respeito à distribuição de renda e geração

de emprego.

11. Com o diagnóstico da região delineado e após as análises dos rejeitos das atividades

garimpeiras, foi possível esboçar algumas ações que podem ser eficazes no combate

às desigualdades sociais na qual vivem os alto coitenenses. Essas ações podem ser

desenvolvidas, principalmente, com a criação de cooperativas e captação de recursos

através de financiamento em órgãos públicos federais ou estaduais.

12. A implantação de projetos de desenvolvimento local sustentável, tal como sugeridos

no capítulo 06, podem vir a ser o caminho viável para promover o desenvolvimento

sustentável de Alto Coité, a partir de bases produtivas, planejamento e da gestão

local, através da formação de estruturas associativas. Entende-se ainda, que a

introdução de novas tecnologias aplicadas a vocações locais naturais pode

representar um fator importante para o desenvolvimento sustentável, pois possibilita

um incremento econômico e social.

13. A integração entre população local, agentes políticos, estruturas técnicas e de

fomento governamental, entidades da sociedade civil e iniciativa privada em torno de

interesses econômicos e sociais comuns, ao que se pode denominar “Capital Social

Estrutural” cuja capacidade é promover mudanças significativas baseadas em

cooperação mútua e de processos de desenvolvimento local. Assim, a participação e

o aumento no número de organizações comunitárias na localidade, como também o

aumento da participação de membros da própria comunidade na política municipal

são indicadores para o desenvolvimento sustentável da região.

14. Para que as políticas de desenvolvimento sustentável obtenham sucesso é necessário

que a sociedade e o governo local atuem de forma conjunta investindo em tecnologia

e formação humana tanto individual como social.

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ANEXOS

ANEXO I: IMAGEM VIRTUAL DA ÁREA DE ESTUDO.............................................145

ANEXO II: QUESTIONÁRIOS..........................................................................................145

ANEXO III: GRÁFICOS E TABELAS DO GRAU DE ARREDONDAMENTO.........145

ANEXO IV: RESULTADOS DAS ANÁLISES QUIMICAS DA AMOSTRA AP1.......155

ANEXO V: ESQUEMA PLANTA INDUSTRIAL PARA PRODUÇÃO DE AREIA....156

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ANEXO I: IMAGEM VIRTUAL - MAPA

Imagem da área de estudo – vila e área de garimpo.

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ANEXO II: QUESTIONÁRIOS

Este questionário contempla principalmente o fator socioeconômico do distrito de Alto Coité. Os dados foram utilizados para pesquisas e elaboração da Dissertação de Mestrado em Economia, do Programa de Agronegócios e Desenvolvimento Regional na UFMT/MT e suas informações foram serão utilizadas somente para este fim. Esta pesquisa foi parte integrante do diagnóstico socioeconômico do distrito de Alto Coité do município de Poxoréu/MT e teve por objetivos: - traçar o perfil dos moradores; - conhecer a opinião dos moradores sobre os procedimentos adotados para o distrito pelo setor público municipal; - consolidar informações para promover a melhoria das condições de emprego e renda dos moradores. QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO Questionário a ser aplicado junto aos moradores de Alto Coité Responsável: Anésia Ribeiro Viana Filha (Mestranda) - Data:__/__/__Horário:__/__ Dados Pessoais Nome: ____________________ Estado civil: _________________ Local e ano de nascimento: __________________ Local de migração: _________________________ Percurso percorrido até chegar a Alto Coité: ______ Quanto tempo mora na cidade (distrito): _________ Grau de instrução (escolaridade): ______________ É aposentado? _________________ Qual instituição? _________________ Dados das famílias Quantos filhos você tem?_____________________ Qual a escolaridade dos membros da família? ____ Total de pessoas do núcleo familiar? ____________ Quantas pessoas moram com você? _________ Quantas pessoas sua família foram embora? _____ Qual localidade mora atualmente?___________ Estuda ou trabalha?_____________ Em que trabalha as pessoas que foram embora? ___ Seus filhos cursaram ou cursam faculdade?_______ Dados Econômicos das famílias Você trabalha ou trabalhou em garimpo? ________ Alguém em sua casa trabalha em garimpo? ______ Exerce outra atividade remunerada atualmente? ___ Gostaria de trabalharem outra atividade?______ Recebe ou recebeu bolsa auxílio do governo? ___ Qual o tipo de bolsa/auxílio recebe do governo? __

Há quanto tempo recebe esse beneficio? _______ É aposentado ou pensionista? _______________ Quantos aposentados ou pensionistas em casa?____ Quanto tempo recebe aposentadoria/pensão?_ Das pessoas da casa, quantas possuem renda?_____ Qual a faixa de renda mensal das pessoas que moram em sua casa? ___________ Quantas pessoas vivem com a renda familiar?_____ Quantas pessoas possuem carteira assinada? _____ Dados da residência (domicílio) A casa é casa própria?__________________ Tipo de construção (madeira, bloco, tijolos): __ Tipo de piso (cerâmica, madeira, cimento) _____ Nº de cômodos: _________________ Existe banheiro ou sanitário na casa? _________ Existe fossa sanitária? ___________ Existe água encanada? _____________________ A água encanada vai dentro de casa?___________ Existe energia elétrica? _____________________ O é feito com o lixo da residência? __________ Sobre os garimpos Ainda vale a pena ter garimpo na região? ________ Gosta de ver tantos garimpos na região? _______ Gostaria de ver a área de garimpo recuperada? ____ Acredita que os cascalhos podem aproveitados?___ Em quê?__________ Acredita que rochas/pedras podem aproveitadas? __ Habilidade Manual Já fez algum trabalho artesanal? _______________ Que tipo de artesanato? ______________________ Se não gostaria de fazer?______Qual: ________ Questionário para o distrito Alto Coité - aplicado junto à prefeitura Dados de Alto Coité Existe subprefeitura no distrito?_____________ Existe vereador do distrito?_____________ Total população: ______________ Total de casa: ________________ Total de escola (1º e 2º graus):______________ Hospital (posto de saúde): ______________ Total de igrejas: ___________________ Possui saneamento básico? __________________ Possui coleta de lixo urbano? _____________ Existe alguma ONG no distrito?________________ Se existe de onde vêm os recursos financeiros? ___ Quem toma conta dos projetos da ONG?_______ Quais são os projetos dirigidos pela ONG? _______ Dados econômicos de Alto Coité Principal cultura (lavoura) ____________

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Agricultura de subsistência ou de comercial?_____ Animal de corte/leite? ______________________ Total e tipos de indústria? __________________ Total e tipos de comércio? __________________ Total de garimpos diamante: __________________ Há outros tipos de garimpos?______ Quantos? ___ Que outras pedras preciosas no distrito?_________ Quantos garimpos diamantes em atividade? ______ Quantas pessoas trabalham na agricultura? ______ Quantas pessoas trabalham na pecuária? ________ Quantas pessoas trabalham nos garimpos?_______ Quantas pessoas trabalham na indústria? ________ Quantas pessoas trabalham no comércio? ________ Existe alguma cooperativa?________________ Sobre os garimpos Quantos garimpos de diamantes existem? ________ Ainda vale a pena ter garimpo na região? ________ Acredita que os cascalhos podem aproveitados?___ O que pode ser feito com os cascalhos?_________ Existe algum tipo de recuperação dos cascalhos?__ Se existe qual solução encontrada: _____________ O que pode ser feito para recuperar área de garimpo?____________ Questionário para Poxoréu - aplicado junto à prefeitura Dados de Alto Coité Total população: ______________ Total de casa: ________________ Total de escola (1º e 2º graus):______________ Hospital (posto de saúde): ______________ Total de igrejas: ___________________ Possui saneamento básico? __________________ Possui coleta de lixo urbano? ______________ Existe alguma ONG no distrito?________________ Se existe de onde vêm os recursos financeiros? ___ Quem toma conta dos projetos da ONG?_________ Quais são os projetos dirigidos pela ONG? _______ Dados econômicos de Alto Coité Agricultura de subsistência ou de comercial? Principal cultura (lavoura) __________________ Animal de corte/leite? ______________________ Total e tipos de indústria? __________________ Total e tipos de comércio? __________________ Total de garimpos diamante: __________________ Quantos garimpos diamantes estão em atividade? _ Quantas pessoas trabalham na agricultura? _______ Quantas pessoas trabalham na pecuária? _________ Quantas pessoas trabalham nos garimpos? _______ Quantas pessoas trabalham em outros garimpos? __ Quantas pessoas trabalham na indústria? ________ Quantas pessoas trabalham no comércio? ________ Sobre os garimpos Qual tamanho área do patrimônio?_________ Quantos garimpos diamantes existem no patrimônio?__

Como é feita o controle da área patrimônio?______ Quem pode garimpar na área do patrimônio?_____ Existe algum tipo de recuperação dos cascalhos? __ Se existe qual solução encontrada: _____________ O que fazer para recuperar a área de garimpo? ____ Os cascalhos dos garimpos são vendidos para qual estado? _______ Questionário sobre garimpos município Poxoréu e Alto Coité - aplicado junto à cooperativa dos garimpeiros Nome presidente sindicato__________ Quanto tempo existe a cooperativa?___________ Qual função da cooperativa?________________ Quanto tempo existe o sindicato?___________ Quantos garimpeiros são registrados?___________ O que o sindicato faz pelos garimpeiros?_________ Há registro de garimpos atualmente? ________ Quantos garimpos estão registrados?_________ Quantos garimpos existem na área patrimônio?____ Existe beneficio para o garimpeiro registrado?__ Número de garimpos existentes: ____________ No de garimpeiros: ___________________ Dono do garimpo é também dono da draga?______ Qual a porcentagem do dono da draga?__________ Qual a porcentagem do dono do garimpo? _______ Qual porcentagem para cada garimpeiro? ________ Trabalho é feito com dragas ou manualmente? ____ Com draga diminui o número de garimpeiros?____ Quanto recebe o operador da draga? __________ Qual a média de extração diamante por mês? _____ Qualidade do diamante – industrial/gemológico?__ Como ocorre a relação trabalho no garimpo?______ Qual produção atual em Poxoréu/Alto Coité?_____ Maior quantidade já extraída no garimpo: ________ Como é feita a comercialização?______________ Qual preço de comercialização dos diamantes?____ Preço do quilate de diamante:__________________ Principal destino dos diamantes: _______________ Quantos compradores existem em Poxoréu?______ Quantos compradores existem em Alo Coité? ____ Estados compradores de diamantes Poxoréu/Alto Coité_____ Países compradores de diamantes Poxoréu/Alto Coité__________ Principal comprador diamantes de Alto Coité no Brasil: ______________ Principal comprador dos diamantes de Alto Coité no exterior: _______________ Como é feita concessão de garimpos na região? ___ Como é feita concessão de novos garimpos na região?__ Diferença entre garimpo manual/mecanizado?____ Em quais aspectos? ________________ Existem geólogos, engenheiros, geógrafos? ____ É feito um estudo prévio para melhor opção e aproveitamento da lavra? _________ É feito estudo prévio para analisar a viabilidade econômica e ambiental? ____

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ANEXO III: GRÁFICOS E TABELAS GRAU ARREDONDAMENTO

AP-01 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 43 17 0 8 01,68 mm 14 32 9 36 0

1,41 mm 26 33 7 22 0

1,19 mm 15 34 12 30 0

1,00 mm 16 30 17 26 2

0,71 mm 13 32 9 27 2

0,50 mm 7 28 8 33 5

? 134 206 62 182 9

% 22.6 34.7 10.45 30.7 1.52

AP-01 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 26 6 0 0 0

1,68 mm 0 4 2 3 0

1,41 mm 4 4 1 3 0

1,19 mm 2 4 1 2 0

1,00 mm 2 1 4 2 00,71 mm 5 2 4 5 1

0,50 mm 3 6 1 7 2

? 42 27 13 22 3

% 39.25 25.23 12.15 20.56 2.80 AP- 02 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 1 4 3 4 5

1,68 mm 35 1 1 9 01,41 mm 9 14 0 5 2

1,19 mm 7 3 6 9 0

1,00 mm 1 11 2 10 1

0,71 mm 2 2 7 7 0

0,50 mm 3 6 7 6 0

? 58 41 26 50 8

% 31.69 22.40 14.21 27.32 4.37

AP- 02 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 1 35 1 31 15

1,68 mm 7 25 7 15 0

1,41 mm 29 13 13 15 0

1,19 mm 2 33 10 27 3

1,00 mm 40 6 6 20 3

0,71 mm 14 16 24 22 6

0,50 mm 0 4 57 17 0

? 93 132 118 147 27

% 17.99 25.53 22.82 28.43 5.22

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147

AP- 03 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 17 19 18 2 01,68 mm 28 32 2 20 0

1,41 mm 21 24 8 22 1

1,19 mm 13 13 9 20 0

1,00 mm 18 17 18 15 5

0,71 mm 30 21 8 29 0

0,50 mm 30 0 20 37 0

? 157 126 83 145 6

% 30.37 24.37 16.05 28.05 1.16

AP- 03 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 9 12 16 6 1

1,68 mm 10 2 4 2 0

1,41 mm 7 5 4 5 3

1,19 mm 17 20 4 4 0

1,00 mm 8 8 8 3 0

0,71 mm 9 3 0 0 0

0,50 mm 4 7 0 2 0

? 64 57 36 22 4

% 34.97 31.15 19.67 12.02 2.19 AP-05 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 24 27 0 31 01,68 mm 5 23 21 33 8

1,41 mm 7 26 29 28 2

1,19 mm 4 28 24 26 4

1,00 mm 28 14 11 13 8

0,71 mm 8 18 36 14 9

0,50 mm 3 8 33 17 24

? 79 144 154 162 55

% 13.30 24.24 25.93 27.27 9.26

AP-05 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 6 4 1 7 0

1,68 mm 1 3 1 5 0

1,41 mm 2 3 1 2 0

1,19 mm 1 3 3 2 5

1,00 mm 13 3 4 6 0

0,71 mm 2 3 7 1 2

0,50 mm 0 1 6 1 7

? 25 20 23 24 14

% 23.58 18.87 21.70 22.64 13.21

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148

AP- 07 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 6 28 4 12 01,68 mm 11 15 7 13 0

1,41 mm 2 28 2 22 20

1,19 mm 0 19 1 15 0

1,00 mm 2 33 10 27 3

0,71 mm 0 21 12 7 0

0,50 mm 0 11 23 18 0

? 21 155 59 114 23

% 5.65 41.67 15.86 30.65 6.18

AP- 07 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 1 17 1 31 0

1,68 mm 22 22 6 4 0

1,41 mm 4 5 4 12 1

1,19 mm 28 29 2 6 0

1,00 mm 1 11 2 10 1

0,71 mm 6 40 14 0 0

0,50 mm 1 8 29 10 0

? 63 132 58 73 2

% 19.21 40.24 17.68 22.26 0.61 AP- 08 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 20 24 0 13 01,68 mm 28 14 0 15 0

1,41 mm 31 11 4 22 7

1,19 mm 25 24 17 7 3

1,00 mm 22 19 14 9 7

0,71 mm 32 0 0 0 0

0,50 mm 11 0 56 25 0

? 169 92 91 91 17

% 36.74 20.00 19.78 19.78 3.70

AP- 08 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 35 8 0 0 0

1,68 mm 32 11 0 0 0

1,41 mm 15 10 0 0 0

1,19 mm 8 5 7 4 0

1,00 mm 5 4 9 11 0

0,71 mm 10 0 20 38 0

0,50 mm 6 0 0 2 0

? 111 38 36 55 0

% 46.25 15.83 15.00 22.92 0.00

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149

AP- 09 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 21 34 14 25 11,68 mm 26 32 10 22 1

1,41 mm 33 31 1 16 0

1,19 mm 28 32 16 14 2

1,00 mm 11 17 14 9 8

0,71 mm 12 31 15 24 9

0,50 mm 3 24 30 22 0

? 134 201 100 132 21

% 22.79 34.18 17.01 22.45 3.57

AP- 09 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 1 2 1 1 0

1,68 mm 2 4 1 2 0

1,41 mm 2 7 3 7 0

1,19 mm 2 1 2 2 1

1,00 mm 9 15 11 5 1

0,71 mm 1 3 1 4 0

0,50 mm 2 5 5 9 0

? 19 37 24 30 2

% 16.96 33.04 21.43 26.79 1.79 AP- 10 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 30 46 0 11 01,68 mm 19 13 0 7 0

1,41 mm 38 27 13 16 0

1,19 mm 17 13 0 26 0

1,00 mm 11 18 0 18 0

0,71 mm 7 34 19 26 5

0,50 mm 12 28 23 25 3

? 134 179 55 129 8

% 26.53 35.45 10.89 25.54 1.58

AP- 10 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 8 3 0 2 0

1,68 mm 43 18 0 0 0

1,41 mm 3 2 0 1 0

1,19 mm 40 4 0 0 0

1,00 mm 29 24 0 0 0

0,71 mm 1 2 2 4 0

0,50 mm 1 2 3 3 0

? 125 55 5 10 0

% 64.10 28.21 2.56 5.13 0.00

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150

AP- 11 ALTA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 14 21 16 7 01,68 mm 6 25 19 5 0

1,41 mm 10 29 18 8 1

1,19 mm 20 22 20 5 4

1,00 mm 16 12 15 10 5

0,71 mm 21 13 20 15 11

0,50 mm 11 19 15 22 12

? 98 141 123 72 33

% 20.99 30.19 26.34 15.42 7.07

AP- 11 BAIXA ESFERICIDADE

ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado

2,00 mm 10 14 10 6 2

1,68 mm 13 17 11 4 0

1,41 mm 13 10 6 5 0

1,19 mm 10 9 7 2 1

1,00 mm 16 13 8 4 1

0,71 mm 16 2 1 1 0

0,50 mm 10 5 4 2 0

? 88 70 47 24 4

% 37.77 30.04 20.17 10.30 1.72

0

10

20

30

40

2,00 mm1,68 mm1,41 mm1,19 mm1,00 mm0,71 mm0,50 mm

AP 02 - Alta esfericidade

Angular

Sub-angular

Arredondado

Sub-arredondado

Bem arredondado

0

10

20

30

40

50

60

2,00 mm

1,68 mm

1,41 mm

1,19 mm

1,00 mm

0,71 mm

0,50 mm

AP 02 - Baixa esfericidade

Angular

Sub-angular

Arredondado

Sub-arredondado

Bem arredondado

05

101520253035

2,00 mm1,68 mm1,41 mm1,19 mm1,00 mm0,71 mm0,50 mm

AP 07 - Alta esfericidade

Angular

Sub-angular

Arredondado

Sub-arredondado

Bem arredondado

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

2,00 mm

1,68 mm

1,41 mm

1,19 mm

1,00 mm

0,71 mm

0,50 mm

AP 07 - Baixa esfericidade

Angular

Sub-angular

Arredondado

Sub-arredondado

Bem arredondado

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151

0 5

10 15 20 25 30

2,00 mm 1,68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0 , 71 mm 0,50 mm

AP 08 - AP11 Subarredondado - A.E.

AP 8 AP 11

0 2 4 6 8

10 12 14

2,00

mm 1,68

mm 1,41

mm 1,19

mm 1,00

mm 0,71

mm 0 , 50

mm

AP 08 - AP11 Bem arredondado - A.E.

AP 8 AP 11

0 5

10 15 20 25 30 35

2 , 00 mm 1,68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm

AP 08 - AP11 Comparação angular A.E.

AP8 AP11

0 10 20 30 40 50 60

2,00 mm 1 , 68 mm 1,41 mm 1 , 19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm

AP 08 - AP11 Arredondado A.E.

AP 8 AP 11

0 5

10 15 20 25 30 35

2,00 mm 1,68 mm 1 , 41 mm 1,19 mm 1 , 00 mm 0 , 71 mm 0,50 mm

AP 08 - AP11 Comparação sub angular A.E.

AP 8 AP 11

0 5

10 15 20 25 30 35 40

2,00 mm 1 , 68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm

AP 08 - AP11 Angular B.E.

AP 8 AP11

0 5

10 15 20 25

2 , 00 mm

1,68 mm

1,41 mm

1,19 mm

1,00 mm

0,71 mm

0,50 mm

AP 08 AP11 Arredondado B.E.

AP8 AP11

0 0.5

1 1.5

2 2.5

2 , 00 mm

1,68 mm

1 , 41 mm

1,19 mm

1,00 mm

0 , 71 mm

0,50 mm

AP 08 AP11 Bem arredondado B.E.

AP8 AP11

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152

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11

Baixa Esfericidade por amostra

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11

Alta Esfericidade por amostra

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

45.00

1 2 3 4 5

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7

AP8 AP9 AP10 AP11

Alta esfericidade de grão por amostra

0 2 4 6 8

10 12 14 16 18

2 , 00 mm 1,68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm

AP 08 - AP11 Sub angular B.E.

AP 8 AP11

0 5

10 15 20 25 30 35 40

2,00 mm 1,68

mm 1 , 41 mm 1,19

mm 1,00 mm 0,71

mm 0,50 mm

AP 08 AP11 Sub arredondado B.E.

AP 8 AP11

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153

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

1 2 3 4 5

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7

AP8 AP9 AP10 AP11

Alta esfericidade de grão por amostra

0.00

5.00

10.00

15.00

20.00

25.00

30.00

35.00

40.00

45.00

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11

Angular Subangular

arredondado Subarredondado

Bemarredondado

Alta Esfericidade de grãos

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11

Angular Subangular

arredondado Subarredondado

Bemarredondado

Baixa Esfericidade de grãos

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154

ANEXO IV: RESULTADOS DAS ANÁLISES QUÍMICAS

AP

1(2.

0)A

P1(

1.68

)A

P1(

1.41

)A

P1(

1.19

)A

P1(

1.0)

AP

1(0.

75)

AP

1(0.

5)A

P1(

0.25

)A

P1(

0.12

5)

SiO

294

.147

95.3

2695

.408

95.5

1695

.686

96.0

6496

.298

96.0

0094

.357

Al 2O

32.

551

2.62

32.

614

2.44

42.

616

2.66

72.

540

2.85

73.

812

Fe2O

32.

526

1.29

21.

097

1.10

40.

852

0.49

90.

336

0.33

20.

638

TiO

20.

056

00

00.

044

00.

050.

060.

228

K2O

0.07

80

00.

046

0.05

30

00

0

SO

30.

411

0.39

40.

425

0.38

80.

318

0.33

30.

396

0.37

20.

343

ZrO

20

0.01

0.01

10

00

0.00

90

0.17

1

MnO

00.

027

0.03

70

00

00

0

Sm

2O3

00

00.

101

0.08

80

00

0

WO

30.

222

0.31

30.

40.

389

0.33

60.

352

0.29

70.

303

0.37

9

Co 2

O3

00

00

00.

073

0.07

0.06

70.

067

SeO

20

0.00

90

00

00

00

Au 2

O0.

009

0.00

60.

008

0.01

30.

007

0.01

10.

004

0.01

0.00

7

AM

OS

TR

A A

P1

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155

ANEXO V: ESQUEMA PLANTA SEMI-INDUSTRIAL PRODUÇÃO AREIA

A

lime

nta

dor

Co

rre

a tr

an

spo

rta

dora

Pe

ne

ira (p

ara

se

pa

rar f

ração

su

per

ior a

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ia d

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çã

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reia

)

Brita

do

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rio

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reia

)

Pe

ne

ira

ment

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ara

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açõ

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reia

)

Co

rre

a tr

an

sp

ort

ador

a

(fra

ção

su

perio

r a a

reia

)

Co

rre

a tr

an

sp

ort

ador

a

Pe

ne

ira

(pa

ra s

ep

ara

r fra

ção

su

perio

r a

are

ia d

a fr

açã

o a

reia

)

Co

rre

a tr

an

sp

ort

adora

(fra

ção

are

ia )

Brita

do

r ou

mo

inh

o

(ma

teria

l su

pe

rior a

fra

ção

are

ia)

Co

rre

a tr

an

sp

ort

adora

(fra

çã

o s

up

erio

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reia

)

Co

rre

a tr

an

sp

ort

adora

(fra

ção

are

ia )

Co

rre

a tr

an

sp

ort

adora

(fra

ção

are

ia )