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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO – UFMT
FACULDADE DE ECONOMIA - FE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGRONEGÓCIOS E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL
“REJEITOS DAS ATIVIDADES GARIMPEIRAS DA REGIÃO DE
ALTO COITÉ - POXORÉU/MT: ESTUDO PARA APROVEITAMENTO
ECONÔMICO”
Anésia Ribeiro Viana Filha
Cuiabá – MT/2009
Anésia Ribeiro Viana Filha
“REJEITOS DAS ATIVIDADES GARIMPEIRAS DA REGIÃO DE ALTO COITÉ -
POXORÉU/MT: ESTUDO PARA APROVEITAMENTO ECONÔMICO”
Dissertação apresentada a Faculdade de Economia
da Universidade Federal de Mato Grosso como um
dos requisitos para obtenção do Título de Mestre em
Economia, no Programa de Pós-Graduação em
Agronegócios e Desenvolvimento Regional.
Orientação: Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta
Co-orientação: Profa. Dra. Rúbia Ribeiro Viana.
Cuiabá – MT/2009
ii
Dedicatória
Dedico este trabalho as pessoas que mesmo distante fisicamente, nunca deixaram de está ao meu lado em todos os momentos, dos mais tranqüilos aos mais difíceis, sempre com uma palavra de incentivo e otimismo. Assim, este trabalho é dedicado ao meu pai João Antônio Viana, Maria Vilma Viana, Gislene Ribeiro Viana e a toda minha família e de maneira especial a Edson Pereira Aguiar pela compreensão, principalmente durante o último ano.
iii
AGRADECIMENTOS
Para a realização desta dissertação, várias pessoas contribuíram decisivamente, com
apoio intelectual e/ou afetivo, em cada passo dessa trajetória, tornando possível a realização e
conclusão dessa dissertação. O envolvimento de todos, de maneira individual ou coletiva, foi
decisivo para dar continuidade, ao permitir transpor obstáculos comuns a todo processo de
produção cientifica e ingressar em ambientes antes desconhecidos. Foram muitas as pessoas e
instituições que contribuíram para a concretização desta dissertação, a todas gostaria de
registrar meus agradecimentos.
Prof. Dr. José Manuel Carvalho Marta, primeiramente por ter mais uma vez acreditado
em um projeto meu e, ainda por lembra sempre que não há limite entre diferentes áreas de
atuação para adquirir conhecimento e, diante de tal argumento pude sanar dificuldades e
conquistar metas propostas. Agradeço pelas sugestões, discussões, direcionamento, apoio e
confiança depositada em mim e em meu trabalho, peculiaridades essenciais de um orientador.
Sou imensamente grata pela orientação durante os anos de trabalho e por ter chamado minha
atenção para o tema desenvolvimento, cujos exemplos de comprometimento com o tema
jamais esquecerei.
Profa. Dra. Rúbia Ribeiro Viana, pelo estímulo em momentos difíceis e ainda pelas
sugestões e comentários, desde o primeiro rascunho do pré-projeto e a cada passo ao longo
desta caminhada, que muito contribuíram na elaboração de um trabalho de qualidade.
Agradeço por ter me incentivado a não desistir de meu crescimento pessoal, intelectual e
cientifico. Obrigada, sua experiência e serenidade, me ajudou nos momentos de dificuldade e
dúvida frente aos caminhos a seguir.
Profa. Dra. Gislaine Amorés Battineli, pela colaboração, questionamentos e
comentários que muito contribuíram para o término deste trabalho. Obrigada sua ajuda foi
essencial na etapa final.
Prof. Benetido Dias Pereira, por me apresentar a história de Poxoréu e Alto Coité, ao
disponibilizar o livro que constituiu a base para esta dissertação. Ainda sou grata pelo
primeiro contato com o pessoal de Alto Coité, o que facilitou a pesquisa de campo, em
especial, a aplicação dos questionários.
Prof. Dr. Arturo Alejandro Zavala, pela atenção e orientação quando precisei definir a
amostragem para a pesquisa socioeconômica. Sua ajuda foi de grande valia para definir a
melhor amostra a ser trabalhada no curto espaço de tempo.
iv
Ao colega e amigo Eliezer Pereira pela receptividade e por compartilhar suas
experiências da área econômica. Obrigada por ter dedicado um pouco do seu tempo e
contribuir para meus conhecimentos.
Aos bolsistas do Laboratório Multi-Usuário de Técnicas Analíticas, Hudson A.
Queiros, Tatiane Salles, Thaís Cardoso, Luana Laiane e Sirlane Naves pelas horas dedicadas a
preparação das amostras e realização das análises químicas. Ainda agradeço Tatiane e Thaís
pela colaboração na etapa de campo, contribuindo de maneira fundamental para a pesquisa.
Ao técnico do Departamento de Recursos Minerais José Nunes, pelo auxílio na
preparação das amostras.
A população de Alto Coité, pela afável hospitalidade e disponibilidade, que muito
contribuíram possibilitando a realização da pesquisa. Agradeço em especial, as famílias que
participaram de forma direta permitindo a entrada do pesquisador em seus lares, respondendo
ao questionário e relatando suas memórias, histórias e experiências. Agradecimentos também
são devidos ao Sr. Lú por ter nos acompanhado durante visitas as áreas de garimpos.
Em Poxoréu expresso meus agradecimentos a pessoas de órgãos municipais e outras
instituições por disponibilizar informações persistentes ao trabalho. Sr. Gaudêncio Amorim,
Secretaria da Administração, Sr. João de Souza e Garibaldi, Secretaria Municipal de
Agricultura, Mineração e Assuntos Fundiários. Outras pessoas a quem sou grata: Sra. Maria
Pina, presidente da Cooperativa dos Garimpeiros de Poxoréu, Sra. Maria Aparecida, diretora
da Associação dos Garimpeiros de Poxoréu, Sr. Jurandir da Cruz Xavier, por ter
disponibilizado arquivos pessoais para consulta.
Reconheço a importância do apoio das seguintes instituições: CAPES - Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, pela bolsa de estudo concedida, a qual
possibilitou disponibilizar maior tempo aos estudos. FAPEMAT - Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de Mato Grosso, ao aprovar meu projeto de pesquisa e disponibilizar
recursos financeiros para pesquisa de campo e outros componentes indispensáveis a
realização da dissertação. METAMAT – Companhia Matogrossense de Mineração, na pessoa
do Geólogo Vanderley Magalhães por ter disponibilizado os dados referentes ao orçamento da
oficina de artesanato.
A todos aqueles que de forma direta ou indireta participaram na concretização desta
dissertação. Obrigada, todos foram importantes.
v
RESUMO Esta dissertação tem por objetivo estudar a viabilidade dos rejeitos dos garimpos de diamante como alternativa para desenvolvimento socioeconômico da região de Alto Coité, pequena vila do município de Poxoréu no estado de Mato Grosso. A localidade pode ser caracterizada pela decadência econômica e social decorrente do esgotamento das jazidas diamantíferas e da falta de perspectiva de sua população em relação à geração de empregos em conseqüência do esgotamento da exploração diamantífera. Ao buscar o aproveitamento e beneficiamento dos rejeitos na produção de areia industrial, o estudo indicou algumas aplicabilidades fabris, com objetivo de gerar empregos e sugere ainda, através do artesanato, encontrar alternativas de renda para a população. O estudo faz indicações com base em resultados das análises químicas e físicas dos rejeitos, extraídos nos garimpos abandonados. Mostra ainda os aspectos históricos no qual se deu o processo de decadência da região de Poxoréu, cuja atividade garimpeira foi fundamental para o fenômeno de desenvolvimento e subdesenvolvimento municipal. Os resultados das análises sugerem que os rejeitos podem ser utilizados na construção civil, tomando por base as especificações brasileiras para esse fim, assim como para a indústria de vasilhame e fundição. Outras especificações fabris como vidro - cristal, vidros planos, tijolos, telhas, etc. - podem ser considerados, com tratamento magnético ou flotação, para remoção de contaminantes residuais, indesejáveis ao uso recomendado. A presença de ouro em quase todas as amostras das frações analisadas pode gerar o interesse empresarial de mineração a investir na região, gerando formas de emprego. A existência de pedras permite sugerir a fabricação de semi-jóias e peças ornamentais, por apresentarem características visuais que atendem aos padrões de estética aplicados a este ramo artesanal, após terem sido trabalhadas para tal fim. Concluídos os estudos técnicos das propostas recomenda-se que a organização social, cuja característica mais adequada parece ser o associativismo, faça captação de recursos através de financiamento em órgãos públicos federais ou estaduais, que proporcione melhor condição de vida às famílias envolvidas, com redução da migração de jovens, fixação de famílias, geração de renda e ocupação, promoção de maior interação social, além da conscientização e recuperação ambiental. Palavra-Chave: Alto Coité-Poxoréu/MT, Garimpos de Diamantes, Aproveitamento de rejeitos, Desenvolvimento sustentável.
vi
ABSTRAT This dissertation aims to study the feasibility of the diamond mines refuse as an alternative to socioeconomic development in the Alto Coité region, a small village in the municipality of Poxoréu, a small town of the Mato Grosso State. The locality can be characterized by economic and social decline resulting from perspective lack of its population in relation to the jobs generation as a result of the diamond exploration depletion. To seek the recovery and processing of the refuses in the production of the industrial sand, the study indicated some factories applicability, aiming to create jobs and also suggests, through the handcraft, finding alternative income for the population. The study did indications based on results of the chemical and physical analysis of the refuse, of the diamond abandoned mines. It also shows the historical aspects which gave the process of decay in the Poxoréu region, whose activity of the diamond extraction was crucial for the municipal development and underdevelopment phenomenon. Based on the Brazilian specifications, the analysis results suggest that the refuses can be used in the civil construction, and in the cask industry and in the foundry industry. Other specifications that can be considered are the glass fabrics - crystal, plane glass, bricks, tiles, etc. after the treatment with magnetic or flotation to remove residual contaminants to the recommended use. The presence of gold in almost all fractions of the analyzed samples can generate the interest of a Mine Exploration Company to invest in the mining research at the region, and if the results be satisfactory, will be the possibility of a new employment generating. The presence of the big fragments of the rocks and pebbles of quartz, opal, and others minerals suggests the implantation of the semi-manufacture fabric of the jewelry and ornamental pieces. The treatment of these fragments and pebbles showed visual characteristics that attend the aesthetics standards applied to the craft industry. Concluded the technical studies of the proposals was possible to recommended that the social organization, whose most appropriate character seems to be the partnerships, can get a financial support with federal or state public institution to start the implantation of the one alternative that can offer better life conditions of the Alto Coité families. This alternative can reduce the young people migration, can to help the families fixation at the place, can generate founds and employment, promoting greater social interaction, and can will permit the environment education and recuperation. Keywords: Alto Coité-Poxoréu/MT, diamonds mine, employment the refuses, tenable development.
vii
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA ....................................................................................................................... ii
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................iii
RESUMO................................................................................................................................... v
ABSTRACT .............................................................................................................................vi
LISTA DE FIGURAS...............................................................................................................x
LISTA DE TABELAS............................................................................................................xii
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS...........................................................................xiv CAPÍTULO 1:INTRODUÇÃO............................................................................................. 15
1.1 A garimpagem e os garimpos .......................................................................................... 17
1.1.1 Aspectos organizacionais e tecnológicos dos garimpos .............................................. 17
1.1.2 Aspectos econômicos e sociais e ambientais ................................................................ 20
1.2 Área de estudo................................................................................................................... 24
1.2.1 Colonização e garimpagem........................................................................................... 24
1.2.2 A ecomonia regional ...................................................................................................... 26
1.3 Ojetivos e abordagens ...................................................................................................... 28
1.4 Importância econômica dos rejeitos do setor mineral .................................................. 29
1.5 Organização do trabalho ................................................................................................. 35
CAPITULO 2: METODOLOGIA ........................................................................................ 36
2.1 Pesquisa bibliográfica....................................................................................................... 37
2.1.1 Conhecimento da área de estudo ................................................................................ 38
2.1.2 Procedimentos adotados para elaboração de questionário ...................................... 38
2.2 Etapas de campo ...............................................................................................................41
2.2.1 Levantamento preliminar da área de estudo .............................................................. 42
2.2.2 Reconhecimento e coleta de amostras dos rejeitos ..................................................... 42
2.2.3 Visita a área de estudo para entrevistas e aplicação do questionário....................... 43
2.2.3.1 Aplicação do questionáriojunto à população de Alto Coité.................................... 93
2.2.3.2 Aplicaçãp do questionário junto à prefeitura e sindicato dos garimpeiros .......... 93
2.2 Etapas de laboratório .......................................................................................................45
2.3.1 Análise granulométrica .................................................................................................45
2.3.2 Análise petrográfica ...................................................................................................... 45
viii
2.3.3 Análise química.............................................................................................................. 46
2.3.4 Laminação e Polimento ................................................................................................. 46
2.4 Etapas de sistematização dos dados................................................................................ 46
2.4.1 Tabulação dos dados para o diagnóstico socioeconômico.......................................... 47
CAPÍTULO 3: FUNDAMENTOS BÁSICOS DO ESTUDO ............................................. 48
3.1 Fases do desenvolvimento ................................................................................................ 51
3.2 Crescimento e Desenvolvimento econômico................................................................... 51
3.3 Concepções e discussões sobre desenvolvimento ........................................................... 54
3.4 Novas concepções de desenvolvimento econômico ........................................................ 58
3.4.1 Endogenia do desenvolvimento .................................................................................... 60
3.4.2 Desenvolvimento local integrado e sustentável ........................................................... 66
CAPÍTULO 4: PERFIL SOCIOECONÔMICO E PERSPECTIVAS DE ALTO
COITÉ......................................................................................................................................71
4.1 Contextualizações geral do município de Poxoréu e do distrito Alto Coité.................71
4.1.1 O município.................................................................................................................... 72
4.1.2 O distrito......................................................................................................................... 76
4.2 Resultados da pesquisa com moradores de Alto Coité.................................................. 78
4.2.1 Perfil dos entrevistados ................................................................................................. 79
4.2.2 Caracterização das famílias.......................................................................................... 84
4.2.3 Caracterização dos domicílios ...................................................................................... 88
4.2.4 A garimpagem e os garimpos ....................................................................................... 89
4.2.4.1 Caracterização dos garimpos .................................................................................... 90
4.2.4.2 Os moradores e os garimpos...................................................................................... 93
CAPÍTULO 5: CARACTERIZAÇÃO DOS REJEITOS DE DIAMANTES................... 97
5.1 Descrição dos depósitos .................................................................................................... 98
5.2 Estudos granulométricos................................................................................................ 101
5.2.1 Estudos macroscópicos e microscópicos .................................................................... 107
5.3 Análise geoquímica ......................................................................................................... 108
5.4 Discussões dos resultados............................................................................................... 112
CAPÍTULO 6: RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO EM
ALTO COITÉ....................................................................................................................... 115
6.1 Políticas e modelos de desenvolvimento........................................................................ 115
6.2 Propostas de desenvolvimento para Alto Coité ........................................................... 119
ix
6.1.2 Implantação de uma cooperativa para confecção de peças artesanais................... 121
6.2.2 Implantação de planta industrial para produção de areia artificial/industrial..... 123
6.2.3 Recuperação da área degradada pela garimpagem em Alto Coité......................... 125
CAPÍTULO 7: CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................... 132
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 135
ANEXOS ............................................................................................................................... 143
x
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: : Mapa localizaçao de Poxoréu e Alto Coité...................................................... 24
Figura 02: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio, urbana ou
rural 1970, 1980, 1991, 2000, 2007 e 2008............................................................................. 50
Figura 03: Idade dos entrevistados de Alto Coité................................................................ 50
Figura 04: Estado de origem dos entrevistados ................................................................... 54
Figura 05: Tempo de permanência dos entrevistados em Alto Coité ................................ 69
Figura 06: Grau de escolaridade por sexo dos moradores de Alto Coité.......................... 24
Figura 07: Nível de escolaridade dos entrevistados............................................................. 50
Figura 08: Nível de escolaridade dos entrevistados............................................................. 50
Figura 09: Tempo de recebimento da aposentadoria.......................................................... 54
Figura 10: Percentual de entrevistados que possuem ou não possuem habilidade manual69
Figura 11: Número de moradores por residências .............................................................. 24
Figura 12: Percentual das famílias que possuem algum membro que mora em outra
localidade................................................................................................................................. 50
Figura 13: Situação dos membros das famílias que foram embora................................... 50
Figura 14: Escolaridade dos membros da família ............................................................... 54
Figura 15: Nível de renda mensal das famílias pesquisadas............................................... 69
Figura 16: Tempo de recebimento do programa bolsa família .......................................... 24
Figura 17: Tipologia dos domicílios ..................................................................................... 50
Figura 18: Domicílios atendidos por saneamento básico.................................................... 50
Figura 19: Percentual de entrevistados que trabalharam/trabalham em garimpos ........ 54
Figura 20: Percentual dos membros das famílias dos entrevistados que trabalharam ou
trabalham em garimpos ......................................................................................................... 69
Figura 21: Percentual de entrevistados que acham que vale a pena ter garimpos na
região ..................................................................................................................................... ..24
Figura 22: Mapa geológico da área de estudo...................................................................... 50
Figura 23: Imagens de campo, mostrando diferentes aspectos das áreas exploradas por
garimpeiros manuais e mecanizados..................................................................................... 50
Figura 24: Perfil esquemático representativo de um corte de um terreno in situ a região
de Alto Coité….54
Figura 25: Formas elaboradas para identificar o grau de arredondamento dos grãos... 24
xi
Figura 26: Gráfico mostrando a distribuição granulométrica, em percentagem, das
amostras analisadas................................................................................................................ 50
Figura 27: amostras de seixos polidas para aproveitamento em peças ornamentais e
semi-jóias ................................................................................................................................. 50
Figura 28: Representação gráfica do grau de esfericidade das frações areia encontradas
nas amostras estudadas.......................................................................................................... 50
Figura 29: Fotomicrografia de lâminas de grãos das amostras ......................................... 50
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 01: População e taxa de crescimento demográfico do município de Poxoréu 1970,
1980, 1991 e 2000 a 2008 ....................................................................................................... 28
Tabela 02: Evolução do PIB a preços constantes do município de Poxoréu, 2002 a 200530
Tabela 03: Valor agregado bruto do município por setor de atividade, 2005 .................. 34
Tabela 04: Evolução do PIB per capita do município de Poxoréu, 2002 a 2005............... 37
Tabela 05: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio:
Urbano/rural, 2007 e 2008 .................................................................................................... 47
Tabela 06: Domicílios ocupados por localização do distrito de Alto Coité, 2008 ............. 48
Tabela 07: Resultados dos estudos granulométricos em massa, porcentagem simples e
acumulada ............................................................................................................................... 52
Tabela 08: Caracterização quanto ao grau de esfericidade das amostras da região de
Alto Coité................................................................................................................................. 53
Tabela 09: Composição química, em % de peso, de areias de quartzo para vasilhame de
vidro ......................................................................................................................................... 60
Tabela 10: Composição química, em % peso e propriedades físicas, para vidros planos,
vasos de cristal e fibra de vidro ............................................................................................. 61
Tabela 11: Resumo de especificações química e granulométrica de areias industriais . . 62
Tabela 12: Resultados de análises químicas das amostras in natura dada em % peso .... 65
Tabela 13: Resultados de análises químicas das amostras na fração 1.19 mm dada em %
peso........................................................................................................................................... 70
Tabela 14: Resultados de análises químicas das amostras na fração 0,5mm dada em %
peso........................................................................................................................................... 70
Tabela 15: Resultados de análises químicas das amostras na fração argila ..................... 75
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS
BGS - BRITISH GEOLOGICAL SURVEY
CETEM – CENTRO DE TECNOLOGIA MINERAL
CPRM – COMPANHIA DE PESQUISA DE RECURSOS MINERAIS
DIT – DIVISÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA
CEPAL – COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O CARIBE
LAMUTA – LABORATÓRIO MULTI-USUÁRIO EM TÉCNICAS ANALÍTICAS
PIB – PRODUTO INTERNO BRUTO
SEPLAN – SECRETARIA DE ESTADO DE PLANEJAMENTO E COORDENAÇAO
GERAL
ZEE – ZONEAMNETO ECONÔMICO E ECOLÓGICO
ZSEE- ZONEAMNETO SOCIOECONÔMICO E ECOLÓGICO
USGS – UNITED STATES GEOLIGICAL SURVEY
PNUD – PROGRAMA DAS NAÇÕES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO
PRORENDA – PROJETO DE APOIO AOS PEQUENOS PRODUTORES RURAIS NO
ESTADO DE PERNAMBUCO.
VAB - VALOR AGREGADO BRUTO
SEDENE – SUPERINTENDÊNCIA DO DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE
OMU – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
DLS – DESENVOLVIMENTO LOCAL SUSTENTÁVEL
DLIS – DESENVOLVIMENTO LOCAL INTEGRADO E SUSTENTÁVEL
DNPM – DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇAO MINERAL
MATEMAT – COMPANHIA MATO-GROSSENSE DE MINERAÇÃO
xiv
BNDES – BANCO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
IDH – ÍNDICE DESENVOLVIMENTO HUMANO
GTZ – AÊNCIA DE COOPERAÇÃO TÉCNICA ALEMÃ
PSF – PROGRAMA DE SAÚDE DA FAMÍLIA
SCPK - SISTEMA DE CERTIFICAÇÃO DO PROCESSO DE KIMBERLEY
SEBRAE – SISTEMA BRASILEIRO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS
ONG – ORANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL
OMS – ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE
SLI – SISTEMA LOCAL INTEGRADO
15
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO E RELEVÂNCIA DO TEMA
O processo de ocupação da região de Poxoréu/MT é antigo. Data do final do século
XIX, precisamente de 1879, e tinha por finalidade explorar o potencial agropecuário da
região, sobretudo, as terras devolutas, destinando-as à criação de gado. Contudo, foi somente
em 1919 que aconteceu o povoamento, do território que hoje integra o município de Poxoréu.
As primeiras descobertas dos depósitos diamantíferos na região acorreram a partir de
1924 na área de Pombas, todavia a partir de 1926 as atividades garimpeiras foram realizadas
no Vale do Rio Poxoréu e nos vales dos rios afluentes - Coité, Areia e Jácomo e, em rios
menores da bacia. Por quase um século a área foi objeto da exploração garimpeira, exaurindo
por volta do início dos anos 90. Na área de Alto Coité, provavelmente, a descoberta de
diamante, ocorreu no final de 1929 e início de 1930, de modo específico, no rio Coité, situado
a nordeste da cidade. A área de Alto Coité é considerada a mais expressiva zona de garimpos
de Poxoréu. Antes desta data, a exploração ocorria à margem do rio Poxoréu, designadamente
no sopé do Morro da Mesa (Baxter, 1988) e Almeida e Alves (In: Schmaltz, 1983).
Na fase inicial das descobertas de diamantes na região de Poxoréu a extração foi
realizada, de modo precário e desordenada, e em pequena escala utilizando batéia, picaretas e
pás como instrumento de trabalho. Nas décadas posteriores inicia-se uma exploração em
escala maior, mas ainda sem sistematização, até a década de 60. Entre os anos de 1940 e
1970, houve a introdução das primeiras bombas a motor diesel e dragas nos garimpos da
região, o que favoreceu um aumento da estrutura desordenada. De acordo com Baxter (1988),
em 1949 havia 4 bombas a motor operando na região de Poxoréu.
A partir de meados dos anos de 1960, houve um declínio desta atividade, tanto em
lucratividade como em números de pessoas envolvidas, apesar de no período 1973/74
existirem nove dragas em funcionamento. Mesmo com o empobrecimento da atividade, no
final de 21 anos, houve investimento em equipamentos mecanizados dobrado a quantidade
destes equipamentos nos garimpos de Poxoréu. Houve em 1978 uma tentativa de reativação
eficaz da exploração dos diamantes na região com introdução de novas dragas, o que levou a
uma nova corrida de garimpeiros para a região. Nos anos 1980 até início dos anos 1990,
registrou-se grande fluxo de empresários e garimpeiros e, segundo cadastro da prefeitura já no
início dos anos 80 existia 180 dragas e aproximadamente 5.000 garimpeiros no município
(Rocha, In Baxter,1988). Entretanto, não foram obtidos bons resultados, devido ao
16
esgotamento das jazidas, o que levou os garimpeiros a partirem para outros lugares.
Embora as jazidas estejam praticamente exauridas, alguns garimpeiros ainda persistem
nas atividades de garimpagem. E, essa atividade que foi fundamental para o crescimento e
desenvolvimento da economia do município nas décadas passadas, ainda mantém certa
importância, embora não mais possua participação expressiva na economia do município.
1.1 A garimpagem e os garimpos
Conquanto a garimpagem seja um “métier”1 tradicional, ao longo do tempo ela se
transformou, devido às mudanças das técnicas de extração, bem como pelas transformações
ocorridas nas relações de trabalho e, ainda, devido aos diferentes tratamentos dados pelo
Estado. A atividade garimpeira de ouro e diamante no Brasil, no século XXI, caracterizada de
prospecção aluvionar e monchão, persiste como importante segmento da mineração, ao
considerar a produção aurífera e diamantífera. Essa importância revela-se pela fonte de
assimilação de mão-de-obra e geração de renda, apesar de se observar nos últimos anos,
várias transformações do ponto de vista tecnológico e da incorporação de equipamentos.
Desse modo, o mundo do garimpo ainda persiste e está longe de desaparecer e, embora
leis que regulamentam a atividade garimpeira tenham sido aprovadas e, muitos garimpos
serem mecanizados, um grande número deles ainda mantém as características do seu
surgimento e, continuam à margem da lei.
1.1.1 Aspectos organizacionais e tecnológicos dos garimpos
O garimpo de subsistência, por natureza, não é uma atividade regular e muito menos
uma operação econômica. De acordo com suas características, está mais próximo à coleta e
intercâmbio que para economia de mercado. Seus resultados indicam que ocorre como
geração de renda para provimento pessoal e familiar, bastante próximo da "economia de
subsistência”, sem geração de excessos formadores de ativos. No lugar dos garimpos
artesanais de subsistência, vem surgindo um novo tipo de garimpo bem mais estruturado e
com bases empresariais. Estes novos garimpos caracterizam-se por meio das novas relações
de trabalho, da divisão e organização institucional, sendo que essa nova modalidade da
1 Métier: o seu conceito deve ser entendido como um modo particular de organização e de divisão do trabalho, estruturado em um conjunto de saberes práticos, ligados às “manhas do ofício” e irreprodutíveis pela educação formal, consolidado pela experiência e reproduzido pelos mais experientes.
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atividade garimpeira tem exigido do trabalhador maior especialização, uma vez que se tornou
mais complexa como qualquer atividade empresarial (Costa, 2002).
As formas de organização de trabalho da atividade de garimpagem no Brasil possuem
uma trajetória histórica. Apresentam diferenças marcantes em relação a outras formas de
organização do trabalho de mineração. Constata-se desde o século XVIII a extração mineral
caracteriza-se por formas distintas de organização do trabalho. De acordo com Marta (2000,
2001) e Tilly e Tilly (1998 apud Costa, 2007), há três grupos de formas predominantes de
organização produtiva da extração mineral conhecidas historicamente no contexto brasileiro:
o garimpo artesanal (manual), o garimpo semimecanizado e as grandes empresas mineradoras.
Cada um apresentando processos de trabalho, formas de conhecimento e estruturas de
cooperação e autoridade particulares.
O garimpo artesanal ou a lavra artesanal possui duas formas predominantes de
organização: o garimpo manual e o garimpo semimecanizado. O garimpo manual, que ainda
persiste de forma residual e em determinadas regiões do país se constitui numa atividade
econômica com características de economia de subsistência, caracterizando-se pela
marginalidade legal. Este tipo de lavra diferencia-se pela total falta de maquinários, de
sondagem e pela utilização de ferramentas como bateia ou peneira, ralos, picaretas e pás. É
uma atividade que requer baixíssimo capital e nenhuma tecnologia, embora exija grande
persistência por parte do garimpeiro. Mais de 90% das áreas onde se localizam os garimpos
manuais não possuem concessão ou licença de exploração, vivem na clandestinidade2. Neste
tipo de garimpo, as técnicas primitivas utilizadas no passado, mantêm praticamente
incorruptíveis, constituem em empreendimento individual e itinerante, realizado por grupos
independentes, às vezes familiares (Marta, 2000, 2001; Tilly; Tilly, 1998 apud Costa, 2007).
O garimpo semimecanizado surgiu a partir dos anos 80 motivado pelo
desenvolvimento das técnicas e processos de trabalho dos garimpos artesanais. Possui
também caráter itinerante e tem como principal elemento diferenciador do garimpo manual o
uso de equipamentos movidos, normalmente a óleo diesel e raramente à eletricidade. Estes
equipamentos consistem de pequenas bombas que ajudam no desmonte hidráulico e,
pequenos jiques que fazem à concentração dos minerais pesados em diferentes peneiras com
diferentes faixas granulométricas. Estes equipamentos foram adaptados à atividade
2 Entende por clandestinidade ou informalidade “uma ação econômica desenvolvida à margem do poder legalmente instituído, sendo neste sentido, excluída da proteção das leis, ou seja, uma atividade produtiva de bens e serviços que se desenvolve paralelamente à economia formal”. No empreendimento informal, os acordos são realizados na sua maioria como bens lícitos, embora sob modalidades de ação econômica não sujeitas, ou seja, resistentes à regulação estatal.
18
garimpeira, podendo ser encontrados em outros tipos de atividade extrativa, como areia, ouro
e gemas, elevando a produtividade se comparada aos garimpos manuais. Em termos gerais, a
extração diamantífera por meio de garimpagem é pequena, pois as grandes reservas são
exploradas por empresas que trabalham na legalidade, sendo detentoras de alvarás, licenças
ambientais e outorgas d´água (Marta, 2000, 2001; Tilly; Tilly, 1998 apud Costa, 2007).
De acordo com os autores, as relações de trabalho nos garimpos, são estabelecidas por
meio de um sistema de confiança mútua. Contudo, são relações verticalizadas, coordenadas
pelos proprietários dos equipamentos que determinam as tarefas a serem executadas e a forma
de remuneração dos garimpeiros. Os locais de extração mecanizada, tal como os dos garimpos
manuais, são determinados por saberes adquiridos no trabalho, ao longo do tempo, em sua
maioria repassada por garimpeiros mais antigos. Estes garimpos possuem investimento de
capital fixo, aplicados necessariamente em bombas a motor, mas às vezes em ferramentas e
tratores. Estes garimpos são alvos de fiscalização dos órgãos ambientais, pelo elevado poder
de destruição do meio ambiente provocado pela ação desregrada dos mesmos.
Ainda de acordo com Marta op.cit e Tilly e Tilly op. cit., as empresas mineradoras,
com lavra industrial, constituem-se de grandes empresas altamente mecanizadas, com
sistemas de dragas flutuantes que removem grandes quantidades de cascalho para apuração.
Através da prospecção geológica, avalia a jazida em seu prenúncio e análise, o que permite
retirar grande quantidade de minerais e gemas. Além disso, a prospecção permite reduzir as
precariedades do terreno, o planejamento e avaliação dos resultados econômicos da lavra.
Logo, visa diminuir os riscos do empreendimento, conseqüentemente, possibilitando um
maior retorno financeiro que pode ser caracterizado como êxito empresarial. Estas empresas
quando submetidas a uma racionalidade capitalista, arriscam tornar mínimos e controláveis os
imprevistos peculiares da exploração das lavras.
Este tipo de organização de extração mineral diferencia-se integralmente dos garimpos
anteriormente descritos, por adquirirem concessão de grandes extensões de terras com jazidas
já conhecidas ou previstas em estudos adequados. Segundo Tilly e Tilly op.cit., nestas
organizações as relações de trabalho são semelhantes às quaisquer outros empreendimentos
capitalistas. Este grupo possui um elevado potencial de degradação ambiental, bem maior que
o observado nas áreas de garimpo, o que leva a ter maior rigor e intensificação da fiscalização
por parte dos órgãos ambientais dos Estados.
Apesar das mudanças ocorridas na atividade de garimpagem e do empobrecimento de
algumas jazidas, a atividade continua presente em algumas regiões do Brasil, dentre as quais
19
pode-se citar a região de Poxoréu/MT. A manutenção revela-se em alguns casos, significante
para a base da economia regional e local, por ser responsável por grande assimilação de mão-
de-obra desocupada e despreparada. A rigor, a exploração de atividade mineral – independe
do bem a ser explorado -, em várias regiões constitui-se na única atividade produtiva, sendo
fortalecida pelo desemprego recorrente da pecuarização intensiva e da mecanização agrícola,
nas regiões próximas, tornando a falta de emprego uma realidade das regiões. Portanto,
garimpar torna-se praticamente a única fonte de trabalho remunerado possível.
Os depósitos de diamantes da região de Poxoréu/MT são explorados por garimpeiros
por meio de lavra artesanal - garimpo manual ou semimecanizado. Esses garimpos, dentre os
quais estão os de Alto Coité, não dispõem de estudos geológicos orientados, para determinar
parâmetros apropriados para exploração e gestão ambiental dos rejeitos. A falta destes estudos
faz com que os garimpos não sejam aproveitados em todas as potencialidades dos depósitos,
sobretudo, no que reflete à atividade econômica tanto a curto e longo prazo. Isto acarreta
inviabilização do aproveitamento adequado da área, o que ocasiona menor produtividade e
rentabilidade da atividade, sem considerar os danos causados ao meio ambiente. De forma
direta ou indireta observa-se na paisagem esburacada e desnivelada, decorrentes da atividade
extrativista, a irregularidade dos resultados econômicos.
Deve-se registrar que as áreas garimpadas são difíceis de serem recuperadas. Durante a
extração do mineral a área utilizada para escavações e são modificadas em toda sua extensão,
com destruição da vegetação natural, das características físico-químicas dos solos, além de
interferir nos cursos d’água e alterar o habitat da fauna e de outros caracteres ambientais.
Em Alto Coité, como em todo o resto do município de Poxoréu/MT, a exploração da
atividade extrativista não foi diferente. Neste distrito, os garimpos de diamantes continuam a
ser explorados de forma artesanal e desordenados, sem nenhum estudo geológico. Essa forma
de organização dos garimpos, não permite introdução de novas tecnologias, novos conceitos
ambientais e segurança do trabalho na extração mineral. Esse processo é de difícil e lenta
implantação. Como decorrência do processo extrativista em Alto Coité, pode-se ver a
extensão da degradação ambiental, refletida nas pilhas de rejeitos, grandes catas e
assoreamento de rios e córregos, deixados ao longo de décadas da atividade na área.
1.1.2 Aspectos econômicos e sociais e ambientais
O extrativismo predatório dos diamantes, sem nenhuma preocupação ambiental, nem
20
aproveitamento adequado dos diamantes e esgotamento das jazidas, levou a região de
Poxoréu/MT, sobretudo, o distrito de Alto Coité ao empobrecimento. A decadência
socioeconômica do município ocorreu após exaustão das atividades de extração de diamante,
notadamente, na década de 1990. A exaustão dos garimpos, além de trazer ineficiência
econômica deixou grande volume de resíduos que poderão ser utilizados como matéria-prima
com agregação de valor.
O garimpo de diamante gera grande concentração de resíduos ao longo de toda a sua
atividade, principalmente porque uma grande quantidade de material é removida para a
extração, de uma ou outra pedra. Para a área de estudo, não há estudos quantitativos destes
rejeitos, mas sabe-se que são bastante significativos e carecem de análises quantitativas e
qualitativas, para viabilizar o seu aproveitamento, visando novas possibilidades de emprego e
renda para a população local, assim como a recuperação das áreas degradadas.
Em Poxoréu e Alto Coité, observa-se que um dos importantes fatores da extração
garimpeira atual, seja artesanal ou semimecanizada, está no fato da exploração se concentrar,
comumente, nas imediações de antigas áreas produtoras quando da época áurea do diamante.
A característica peculiar da atividade é possibilitar o aproveitamento de ocorrências de
diamante que não são do interesse das empresas de mineração, devido à baixa concentração
de diamantes na região. Muitas vezes, as próprias características geológicas dos depósitos não
justificam que maiores investimentos em pesquisa mineral e em lavra (Costa, 2002).
Na extração de diamantes, grande volume de material é removido, desde argila até
cascalhos, com diâmetro superior a 10 cm. Este material é constituído de minerais, como
turmalinas, safiras e outros, até fragmentos de rochas de gêneses diferentes, que são
depositados aleatoriamente nas pilhas de rejeito. Os fragmentos de rochas e minerais são
descartados, por não possuir valor comercial significativo para os garimpeiros, que sonham
em encontrar grandes pedras (gemas) de diamante.
Em Alto Coité, essa prática dos garimpeiros não é diferente. Os garimpeiros ao
retirarem o material no qual está o diamante separam apenas o diamante, sejam de baixo ou
alto valor comercial, não consideram minerais tais como turmalinas, ônix, safiras, granadas,
rutilo, que são encontrados junto os diamantes. Muitos desses minerais poderiam ser
utilizados como produto secundário, mas o desconhecimento mercadológico relacionado a
estes minerais, por parte dos garimpeiros, os mesmos são descartados ou comercializados por
preços irrisórios. Acrescenta a esse fenômeno, ausência de uma clara cadeia produtiva ou
cadeia de valor, que parece ser o motivo de desestímulo para recuperação e beneficiamento,
21
não somente destes minerais, como dos demais rejeitos provenientes da garimpagem, que
possuem valor comercial.
Até o presente, nenhum estudo foi desenvolvido visando conhecer o volume de
rejeitos removidos desde o início da exploração garimpeira em Alto Coité, que data da década
de 1930, mas sabe-se que é uma quantidade bem significativa e possível de quantificação.
Esses rejeitos estão dispostos em todas as áreas garimpadas, ocupando áreas de pastagem e de
agricultura e inviabilizando estas atividades, devido principalmente à presença de grandes
catas e também devido ao assoreamento que dá origem a voçorocas e ravinas.
O que fica evidente ao primeiro olhar é que grandes áreas ocupadas anteriormente por
florestas de mata nativa, bem como margens de rios ocupadas por matas ciliares, áreas de
nascentes e leitos de córregos e rios, encontram-se intensamente devastados, indicando que a
recuperação ambiental da área demanda tempo e custos relativos. A disposição aleatória dos
rejeitos também contribui para aumentar os problemas ambientais, pois, quando expostos às
intempéries, estes rejeitos geram materiais: um material durável de difícil desagregação e
outro com fácil desagregação aumentando o assoreamento dos rios ao serem carreados
durante as chuvas. Conhecer o potencial deste material para possíveis aplicações na indústria
poderia diminuir em parte os danos ambientais da área.
É consenso que as áreas garimpadas carecem de iniciativas voltadas para sua
organização e fortalecimento institucional, uma vez que se caracterizam por atividades de
mineração informais constituídas por atores que buscam uma oportunidade de inserção social,
oriundos principalmente das regiões mais pobres do Brasil. O maior desafio para a gestão
pública em relação à atividade de mineração e garimpagem no Brasil, depois das
vulnerabilidades econômicas, sociais, institucionais e ambientais, reside nas dificuldades de
acesso às reservas minerais, pelo fato destas áreas localizarem-se, geralmente, em regiões de
baixa densidade populacional (Barreto et. al., 2002; Barreto, 2003).
Mais de três séculos depois do início da atividade extrativista da mineração, as
condições de vida e trabalho dos garimpeiros caracterizam uma situação de exclusão social
causada pela carência de investimentos públicos, principalmente em saúde e educação. Foi
somente a partir da Constituição Federal, promulgada em 1988, que o garimpo passou a ser
reconhecido pelo poder público, como atividade econômica relevante e, foi após esse
reconhecimento que ocorreu à regulamentação de uma legislação específica para o subsetor,
impulsionando, inclusive, seu cooperativismo (Barreto, 2000).
22
Apesar das mudanças ocorridas no setor após a promulgação da Constituição de 1988,
as atividades de garimpagem caracterizam-se por atividades informais e constituídas por
atores que buscam, através da exploração mineral de pequena escala e artesanal, a
oportunidade de inserção social. Quando ocorreu a crise da garimpagem, a partir da exaustão
de reservas e da intensificação da fiscalização adequada, as áreas atingidas sofreram de forma
mais dramática o agravamento socioeconômico. Segundo a BRASIL/DNPM (1993), as
condições adversas de vida e trabalho, adicionadas às dificuldades de obtenção de
suprimentos e de venda apropriada dos produtos, sob forte coibição, favoreciam a coesão
grupal, como também o desenvolvimento de traços culturais próprios.
Em Alto Coité como em todo o município de Poxoréu, esse agravamento explicitado
pelo BRASIL/DNPM op. cit. é devido às condições de vida e do trabalho rudimentar e quase
subumano dos garimpeiros que permanecem antagônicas e caracterizadas pela ausência de
infra-estrutura e de estudos preliminares, que permitiriam estimar o volume das reservas e
viabilizariam uma exploração legalizada. Do exposto, pode-se observar que os garimpos de
diamantes de Alto Coité, assim como os de outras regiões do país, necessitam de iniciativas
voltadas para a organização, fortalecimento institucional, e legalização.
1.2 Área de estudo
Alto Coité é distrito de Poxoréu. Encontra-se localizado na parte sudeste de Mato
Grosso e noroeste de Poxoréu, na microrregião denominada Tesouro. A principal via de
acesso é a Rodovia MT-130 (asfaltada), que liga a BR-070 (asfaltada), em Primavera do
Leste, ao norte, e a BR-364 (asfaltada), em Rondonópolis, ao sul (Figura 1). A sede municipal
dista aproximadamente 241 km de Cuiabá e 18 km de Alto Coité (via MT-103 e BR-070).
O município de Poxoréu, de acordo com a formação geológica, teve sua origem nas
coberturas não dobradas do fanerozóico, sub-bacia ocidental da Bacia do Paraná.
Estruturalmente esta região faz parte da bacia sedimentar que possui uma parte significativa
conhecida como planalto dos Alcantilados, que é um planalto dissecado, representado por
sedimentos da Formação Aquidauana, grande depositário de diamantes. Vale ressatar que
nesta região de Mato Grosso somente ocorre depósitos de diamantes na série Aquidauana.
23
Figura1: Mapa localizaçao de Poxoréu e Alto Coité. Fonte: Brasil ao milionésimo.
1.2.1 Colonização e garimpagem
O princípio de colonização da área que hoje forma o distrito de Alto Coité foi
proporcionado por pessoas que vieram de várias regiões do país, sobretudo, da Bahia,
Maranhão, Minas Gerais e Goiás, que percorreram grandes distâncias em busca do sonho de
riqueza e esperança de uma vida melhor. Esta frente de colonização agrupou-se nas margens
de um rio, e o denominou de Coité e que mais tarde passaria a ser parte da origem do nome do
distrito. Conforme Amorim (2001), a denominação de Coité, advém de um fruto em forma de
circunferência, que muitas vezes serviam de utensílio domestico. Este fruto era encontrado
nas árvores que margeavam o rio e é originária do sertão nordestino, encontrada, sobretudo,
na Bahia. Ainda de acordo com o autor, os desbravadores da área que compõe o distrito,
nomearam o povoado de Alto Coité, em função das árvores de Coité que circundavam as
habitações dos garimpeiros e também em função do nome da primeira comunidade fundada
em 1940 – Currutela do Alto, assim, o povoado recebeu o nome de Alto Coité.
Conforme Almeida e Alves (In: Schmaltz, 1983) foi provavelmente no final de 1929 e
inicio de 1930, que se deu a descoberta de diamantes no ribeirão Coité, situado a nordeste da
cidade de Poxoréu. No inicio da garimpagem não havia um povoado propriamente dito,
somente algumas aglomerações espalhadas às margens do rio. Apesar da descoberta de
diamantes em Alto Coité ter ocorrido no final dos anos de 1920, o povoamento definitivo, não
acontece antes de 1938 ou 1939, e, só por volta do final dos anos de 1940 é que alcança maior
24
magnitude, formando a primeira comunidade, com ruas residenciais e comerciais (Almeida;
Alves, In: Schmaltz, 1983; Baxter, 1988).
O povoado de Alto Coité, em 1948, passa a ser distrito criado pela Lei no. 185/1948,
publicada em 18 de novembro em 1948, com território desmembrado do distrito sede da
municipal e de Coronel Ponce. Em 1949, de acordo com o Decreto no. 779/1949, publicado
em 30 de outubro de 1949, o distrito recebe uma área de 1200 hectares, reserva para
Patrimônio3 do povoado.
Pode-se considerar que em Alto Coité houve dois ciclos de garimpagem de diamantes.
O primeiro que perdurou aproximadamente 40 anos, trabalhado totalmente de forma manual,
de 1930 a meados de 1960. O segundo ciclo aconteceu no final da década de 70 e perdurou
até início dos anos 1990. Neste ocorreu à entrada de dragas e bomba a motor que, segundo
relato de antigos moradores, foram cerca de 300 dragas com 07 homens trabalhando em cada
uma e uma recuperação significativa de diamantes. O total de garimpeiros, levando em conta
os garimpeiros que trabalhavam manualmente, correspondeu a 2700 trabalhadores, somente
no distrito (Baxter, 1988). Esta época foi caracterizada por grande movimentação de pessoas,
mas também gerou a perda econômica (cerca de 35%) dos garimpeiros locais, denominados
de meias-praças, que foram substituídos pelas dragas. Nesse sentido, antes recebiam 40% do
valor comercial do diamante, com a entrada do novo garimpo passaram a receber somente
5%, prática que persiste nos dias atuais e, que torna visível a decadência do garimpeiro e o
declínio econômico da comunidade, que ficou abandonada à própria sorte, em um estágio de
nostalgia e sem esperança de um futuro melhor.
No princípio da colonização o crescimento de Alto Coité ocorreu de maneira lenta,
mas, com a descoberta de outros depósitos de diamantes, em várias partes da região houve
uma corrida cada vez maior para esta região.
A população de Alto Coité nas décadas compreendidas entre os anos de 1940 a 1970
foi proporcionada essencialmente pela força dos garimpos. De acordo com os censos
demográficos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE entre os
anos de 1940 a 1970 houve período de oscilação no crescimento populacional. Entre os anos
1950 e 1960, iniciou o decréscimo populacional, sendo que no período 17% da população
evadiu-se, em conseqüência da fraca exploração de diamantes na área do distrito e de novos
garimpos em outras regiões (Baxter, 1988). Todavia, o censo de 1970, mostra um aumento da
3 Patrimônio - terra de propriedade do poder público seja Federal, Estadual ou municipal. O Estado pode alienar uma área para uso comum a fim de garantir o lugar do futuro povoado urbano, quando há real crescimento populacional ou previsão deste crescimento. As terras podem ser devolutas ou privadas.
25
população em torno de 32%, em função do 2º ciclo de exploração de diamantes. Vale ressaltar
que não foi registrado nenhum número referente à população do distrito, no censo de 1940. A
população rural de Alto Coité em 1950 correspondia a 68% da população total e em 1970
mais da metade da população vivia na zona urbana, este aumento na zona rural ocorre em
parte como conseqüência do declínio do garimpo, logo há uma tendência da população rural
dirigir para a vila (zona urbana), e ainda pela sobrevivência das funções administrativas na
vila. Além de que este êxodo da zona rural para a urbana é uma tendência a nível nacional, o
que provocou o enfraquecimento do campo ao longo dos anos.
1.2.2 A economia regional
Em termos econômicos, os garimpos foram primordiais senão a única fonte de
economia em Alto Coité. Segundo Baxter (1988), a década de 1930 foi um marco tanto em
número de garimpeiros como na força de trabalho na região de Poxoréu.
Na década de 1950, mais precisamente após 1955 foi, possivelmente, o ápice da
produção mineral, apesar de uma redução bastante significativa no número de garimpeiros e
em sua força de trabalho no período compreendido entre 1946 e 1950. Essa produtividade só
foi possível com a adoção de bombas a motor, o que proporcionou uma escala maior de
mineração, portanto, sendo este o início dos garimpos semimecanizados na região de Poxoréu.
De acordo com o Baxter (1988), no ano de 1951 existiam 66 compradores de
diamantes, os quais estão citados no livro de arrecadação de impostos do município, sendo
que destes 22 estavam localizados em Poxoréu, 9 encontravam em Alto Coité, 4 em Raizinha
e o restante distribuídos em outros garimpos diferenciados, estes números são indicativos da
importância das jazidas de diamantes de Alto Coité.
A partir da segunda metade da década de 1960 a atividade garimpeira na região entrou
em decadência com o empobrecimento de depósitos diamantíferos mais superficiais. No final
da década de 1970 até inicio da década 1990, ocorre um novo período de extensa atividade,
período este, impulsionado pela adoção de equipamentos mecanizados, especialmente no
distrito de Alto Coité. Nesta mesma década, a chegada de empresas de mineração, que
passaram a prospectar diamantes sistematicamente na região, contribuiu para que a produção
alcançasse a maior relevância dos últimos 35 anos, convertendo Poxoréu em um importante
centro produtor nacional. Apesar da relevância, a garimpagem volta a entrar em decadência e
os distritos de Poxoréu foram igualmente afetados, com muitos garimpos desativados.
26
Foi a partir da década de 90 que ocorreu o empobrecimento total da economia local da
região, o que provocou o enfraquecimento do município, o que ocasionou um lento e contínuo
processo de expulsão de pessoas para outras regiões do estado e até mesmo do país, em
função do esgotamento das reservas diamantíferas. Este fato gerou o fechamento de muitos
garimpos e conseqüentemente o desemprego quase que em massa dos trabalhadores locais.
Uma das conseqüências foi, também, o aniquilamento dos distritos da área garimpeira de
Poxoréu, os quais lutam contra o fantasma do desaparecimento e ainda resistem mais pela
inércia assegurada pelo desempenho administrativo do poder público do que pela eficácia de
uma abertura econômica coerente, como é caso de Alto Coité.
O fechamento dos garimpos gerou a decadência econômica e social de todo o
município de Poxoréu/MT, pois os garimpos constituíam a maior fonte de emprego e,
conseqüentemente, a queda do poder aquisitivo destas pessoas atingiu, significativamente,
todo o comércio do município. Como conseqüência a evasão populacional do município
mensurada pelo censo 2000 (IBGE, 2008), mostra que entre 1991 - 2000 houve uma taxa
média geométrica de crescimento anual negativo em -1,85 e entre 1996 - 2000 de -2,17%.
Esses fatores fizeram com que, no período de 1960 a 2002, o município sofresse um
processo de êxodo arrastado e ininterrupto, o que provocou o desaparecimento de alguns
distritos. Os distritos que sobreviveram dentre estes, Alto Coité, atravessam uma fase de
decadência bastante representativa desde os anos de 1970. Não obstante, o garimpo tem
resistido a todos os fatores externos alheios a sua vontade. Parece paradoxal que a “riqueza
dos diamantes” possa ter levado essa população ao nível de miséria e exclusão. Certamente,
aspectos técnicos estão ligados àquela forma de exclusão social. Todavia, o padrão histórico
da acumulação da extração mineral artesanal, como a garimpeira é exógena.
Assim, a mineração de diamantes que se constituía como a principal atividade
econômica do município de Poxoréu, e que permaneceu fundamental para o desenvolvimento
da economia do município em décadas passadas, com seu declínio passou a ser substituída
por uma pecuária extensiva de baixa produtividade, agricultura de subsistência, comércio e
serviços subdesenvolvidos. Mesmo mantendo-se a atividade agrícola e pecuária dominante,
não há renda suficiente para alavancar à economia do município, esse fator pode derivar da
resistência dos garimpeiros em desenvolver novas modalidades econômicas, seja pelo seu
despreparo, em função dos aspectos culturais de inaptidão ou por estas atividades não serem
suficientes para geração de empregos para atender aos desempregados. Associado a esses
aspectos faltam expectativas de formação para os jovens, pois no município, a área
27
educacional atende apenas até o Segundo Grau, o que causa a migração dos jovens para
centros como Cuiabá e Rondonópolis.
Além do exposto, esta pesquisa se justifica em função do Zoneamento Sócio-
econômico-ecológico – ZSEE do estado de Mato Grosso - Proposta e Minuta de Projeto de
Lei elaborado pela Secretaria de Planejamento e Coordenação Geral do Estado de Mato
Grosso - SEPLAN, que indica esta área como umas das áreas com grande potencialidade
mineral para diamantes e da existência do distrito mineiro diamantífero de Alto Coité,
(SEPLAN, 2004). Por conseguinte grande depositário de rejeitos da exploração mineral,
sobretudo, em moldes empresariais, sendo uma área com forte fator para fomento à pesquisa.
1.3 Objetivos e abordagens
O objeto de trabalho é o rejeito dos garimpos da região de Poxoréu-MT, com ênfase ao
distrito de Alto Coité. Nesse sentido procuram-se alternativas que indiquem aproveitamento e
beneficiamento dos rejeitos da exploração dos garimpos de diamantes, para produção de areia
industrial e artificial e, também sua aplicabilidade em diversos segmentos. Nessa perspectiva
verificar a viabilidade socioeconômica da região considerando a necessidade de conservação,
preservação e recuperação do meio natural, o qual irá contribuir para a qualidade ambiental
abalada pelo processo produtivo dos garimpos artesanal e semimecanizado.
De modo especifico, é necessário propor objetivos que auxiliarão na estratégia de
desenvolvimento sustentável da região como: caracterizar os resíduos do ponto de vista físico,
químico, e mineralógico; avaliar quantitativamente os rejeitos existentes dos garimpos de
diamantes e dimensioná-los para aproveitamento e beneficiamento para matéria-prima em
aplicação industrial e artesanal; recomendar estratégia regional e integrada de
desenvolvimento econômico sustentável com alternativas de qualificação da mão-de-obra e,
geração de emprego e renda no distrito de Alto Coité; apontar alternativas de recuperação das
áreas degradadas pelos garimpos.
A relevância da pesquisa está em reconhecer a existência do valor comercial dos
rejeitos provenientes dos garimpos de diamantes e em fortalecer o desenvolvimento
socioeconômico de Alto Coité e região, além de amenizar efeitos ambientais gerados pela
atividade. O desenvolvimento socioeconômico poderá acontecer através do aproveitamento e
beneficiamento dos rejeitos dos garimpos de diamantes direcionando-os como matéria-prima
para produção de novos produtos, apontando sua viabilidade econômica e, os efeitos
ambientais poderão ser reduzidos por meio da recuperação das áreas degradadas, o que ainda
28
possibilitará direcioná-las para outras atividades econômicas.
Deste modo, tem-se por hipótese que o aproveitamento e o beneficiamento dos rejeitos
dos garimpos de diamantes de Alto Coité, distrito de Poxoréu/MT, agregarão valor aos
mesmos, o que poderá proporcionar um desenvolvimento socioeconômico para a região, por
meio da geração de emprego e renda, se possível desenvolvendo uma cultura empresarial na
região. Tem-se ainda que ao aproveitar os resíduos dos garimpos de diamante, seja possível
propor alternativas de recuperação das áreas degradadas às quais passando por um processo
de reversão que poderão se transformar em terras produtivas e auto-sustentáveis agregando-
lhes pontos positivos à questão econômica e também ambiental.
Assim, a contribuição deste trabalho está na busca de organizar esforços para apontar
as aspirações da sociedade de Alto Coité e, ao mesmo tempo, propiciar alternativas concretas
para uma nova fase de desenvolvimento regional e local. Em suma, este trabalho coloca-se
como ferramenta para a construção do novo modelo de desenvolvimento econômico,
procurando perceber e ao mesmo tempo influenciar, ainda que de maneira modesta, uma
direção do processo social do qual resultará a concretização de uma possível agregação de
idéias e princípios que orientarão as políticas regionais e locais no futuro.
A idéia de procurar influir no processo social pode parecer audaciosa. Contudo, ao
procurar entendê-lo, busca-se proporcionar alternativas eficazes e lógicas, com vista à
mudança do processo social vigente e a crise instalada, que exige novos elementos no
processo de desenvolvimento. O processo de destruição criadora (Schumpeter, 1985), mostra
que as alterações do processo tecnológico revolucionam de maneira incessante a estrutura
econômica a partir de dentro e, enquanto cria novos elementos, extinguindo os velhos, logo, o
novo não nasce do velho, surge ao seu lado e supera-o. Assim sendo, deve ter em mente que
qualquer novo processo de desenvolvimento, suprime velhos modelos sociais e a conjuntura
econômica constituída e, causa efeito qualitativo no sistema econômico, diferente se o mesmo
ocorresse de forma contínua ou não, difundida no decorrer do tempo. Na ótica de Schumpeter
toda inovação implica, numa "destruição criadora e criação destrutiva", na figura dos
empreendedores criativos, logo, responsáveis pela prosperidade do sistema capitalista.
1.4 Importância econômica dos rejeitos do setor mineral
O extrativismo mineral é uma atividade do setor primário de produção, por
conseguinte, utiliza máquinas e tecnologia avançada na extração dos recursos minerais da
29
natureza. A transformação destes recursos em bens econômicos advém da tecnologia de lavra
e exploração, posteriormente aos estudos geológicos adequados e mediante concessão estatal.
A atividade de extrativismo mineral diferencia-se das outras atividades econômicas por sua
importância estratégica na construção civil. A mineração transformou-se em commodities
mercantis, isto é, em mercadoria negociável. A areia e o seixo rolado são uma commodity,
com oscilações valorativas no mercado. Até o momento, a areia é um bem finito e matéria-
prima fundamental e insubstituível, na construção civil. Seu custo total é zero - composto pelo
custo de extração, de transporte e a margem de lucro do minerador e do transportador.
O estado de Mato Grosso possui potencial mineral, de maneira especial, em ouro e
diamantes, explorados em forma de garimpos manuais, semimecanizados e através de
mineradoras com alta tecnologia, sobretudo, nas minas da região norte. Contudo, os depósitos
de diamantes da região de Poxoréu/MT, em especial, no distrito de Alto Coité, são explorados
na forma de garimpos manual e semimecanizado e tem causado grande impacto ambiental.
Conforme definiu o IBAMA (1990), a atividade de mineração apresenta um grau de
impacto ambiental de alta magnitude, devido às modificações físicas e bióticas provocadas
nas áreas de influência direta e indireta de exploração. Como pode ser observado é impossível
minerar sem impactar, no entanto, existem métodos que podem ser implantados para atenuar,
controlar, suavizar e equilibrar tais impactos resultantes das atividades de mineração de modo
geral. Segundo o IBAMA op. cit., recuperar o ambiente degradado significa levá-lo a uma
forma de utilização de acordo com plano preestabelecido para que possa ser possível retornar
o uso do solo, isto implica que uma condição estável será obtida em conformidade com os
valores ambientais, estéticos e sociais da adjacência. Significa também, de acordo com Dias e
Griffith (In: Dias; Mello, 1998), que o espaço degradado terá condições mínimas de
estabelecer um novo equilíbrio dinâmico, desenvolvendo um novo solo e uma nova paisagem.
A legislação ambiental, a partir da Lei 6938/1981, que instituiu a Política nacional do
Meio Ambiente, e de forma mais contundente a constituição brasileira de 1988, parágrafo 2º,
artigo 255, e a Lei 9605/1998 que trata dos crimes ambientais, determina que empresas
causadoras de impacto ambiental tenham obrigatoriedade de arcar com medidas mitigadoras
destes impactos e ainda medidas que visam recuperar áreas degradadas pela atividade
mineradora. Todavia, a legislação, por sua característica generalista, não especifica os
critérios e os princípios que devem ser considerados para recuperar o ambiente de forma
condizente com suas condições originais, e não levam em conta certas premissas técnicas que
devem ser considerados na fase de recuperação do meio natural (Barreto, 2000).
30
Atualmente há grande preocupação com o que fazer com todos os resíduos ou rejeitos
gerados, tanto em processos de extrativismo, quanto os industriais, ou seja, com todos os
resíduos originados pela busca do desenvolvimento econômico. O extrativismo mineral, como
qualquer outro processo gerador de renda para o crescimento e desenvolvimento econômico
eficiente, mesmo tendo características peculiares, também gera grande quantidade de rejeitos,
que embora não tão prejudiciais ao meio ambiente como os resíduos industriais,
principalmente os resíduos químicos, tem ocupado lugar de destaque nos estudos para
aproveitamento de resíduos e para recuperação ambiental conforme legislação especifica.
Segundo Cheriaf e Rocha (1997; 2003), as formas mais usuais de aproveitamento de
rejeitos/resíduos, na maioria das vezes, são realizadas baseadas em aspectos qualitativos como
- textura, forma, granulometria, cor, capacidade de aglutinação. A forma descrita é valida para
o aproveitamento de rejeitos/resíduos sólidos da construção civil. Para os rejeitos da extração
mineral, além dos aspectos citados anteriormente, deve-se levar em conta os fatores
morfológicos e físicos dos minerais presentes. Do mesmo modo, os mesmo processos
utilizados para o aproveitamento e reaproveitamento dos resíduos da construção civil estão
sendo utilizados e aprimorados, para o redirecionamento dos rejeitos sólidos gerados pela
extração mineral, cujas características são semelhantes.
A avaliação do potencial de aproveitamento de resíduos/rejeitos estabelece a
necessidade de identificação de parâmetros estruturais, geométricos e ambientais dos mesmos.
Desde modo, as formas adequadas ao aproveitamento dos resíduos/rejeitos, ou de subprodutos
industriais, empregados como matéria prima secundária, deve procurar abarcar um completo
conhecimento do processo das unidades geradoras e da caracterização completa dos mesmos,
além de identificar o potencial de aproveitamento e as características limitantes do uso e da
aplicação. Em relação aos resíduos e rejeitos sólidos originários do setor da construção civil,
deve-se aprimorar formas de minimização da geração destes durante as diversas etapas da
construção e, sempre que possível, introduzir-los no próprio processo ou unidade de serviço
onde foram gerados (Cheriaf; Rocha, op. cit). Segundo estes pesquisadores, tornar-se
conveniente ressaltar, que existem tecnologias e diferentes procedimentos, mais ou menos
sofisticados, para modernizar a produção de automação, trabalho ou capital intensivo,
processos importados e desenvolvidos no país, tendo uma produção com o reaproveitamento
dos resíduos/rejeitos. Entretanto, a escolha deve ser feita para atingir o máximo de
aproveitamento, ser ambientalmente adequado ao menor custo possível, respeitando sempre
as características socioeconômicas e culturais de cada região.
31
Experiências bem-sucedidas de desenvolvimento de produtos para a construção civil, a
produção de rochas decorativas de todos os tipos, a produção de adorno e em projetos
paisagísticos, bem como na produção de areia artificial ou industrial, com o aproveitamento e
o beneficiamento dos rejeitos da atividade mineradora, incorporados como matéria prima, são
impulsionadas, sobretudo, pela legislação ambiental. Alguns tipos de rejeito, provenientes de
atividades mineradoras, têm sido utilizados na produção de areia artificial para diversos usos,
especialmente para a construção civil, enquanto que alguns estudos direcionam seu
aproveitamento e beneficiamento na produção de areia industrial. Quanto à aplicação em
projetos paisagísticos e adornos, estes materiais têm revitalizado espaços degradados e
confinados com texturas, cores, e tons sempre considerando sua harmonia com a natureza.
Os rejeitos gerados na extração e beneficiamento de produtos minerais, tais como as
lavras de pedras preciosas, beneficiamento de rochas ormanentais e outros, tem diversas
possibilidades de uso, como a produção de peças ornamentais, tais como peças para projetos
paisagísticos, denominadas anticatos e seixos ornamentais; peças ornamentais para decoração
de ambientes externos e internos, esculturas; semi-jóias e areias artificiais.
Minerações típicas de agregados direcionadas para a construção civil são portos-de-
areia; lavras de extração de areia em depósitos meta-sedimentares como o quartzito e
pedreiras, em lavra de cascalho em depósitos de material rochoso desagregado, resultante da
alteração e fragmentação natural de rochas cristalinas como arenitos, granito, gnaisse e
basalto, entre outras fontes.
De acordo com as normas da ABNT 6502/80, areia é um material com granulometria
típica entre 0,05 e 2,0 mm e proveniente da desagregação natural ou britamento de rochas,
mais ou menos cimentadas. Praticamente, todas as rochas são passiveis de resultar em areias
pela desagregação mecânica. Porém, são mais favoráveis rochas com altos teores de quartzo.
As areias de quartzo têm ampla aplicação (construção civil e industrial - fundição,
vidro, cerâmica, entre outros). As especificações de areias para a construção civil e para
fundição baseiam-se, essencialmente, na granulometria, com especificações químicas menos
rígidas. Para a indústria de vidro, as exigências, em termos de teores de sílica e de impurezas,
são mais rigorosas, que as usadas para a construção civil.
Devido às especificações, usos e preços, os produtores e consumidores de areia
destinada ao uso como agregado na construção civil diferem bastante daqueles de areia
industrial. As areias para construção são usadas em função de suas propriedades físicas,
enquanto as areias industriais são valorizadas por suas propriedades físicas e químicas (BGS,
32
2004, apud Luz; Lins, 2005). A areia industrial, segundo Luz e Lins (2005) apresenta
melhores preços que a areia destinada à construção civil (três a cinco vezes mais), razão pela
qual pode ser transportada a distâncias maiores.
A escassez dos recursos naturais para produção de agregado miúdo, associada ao
aumento da demanda por areia e as crescentes restrições ambientais, levou o mercado
consumidor dos grandes centros urbanos a buscar areias em lavras cada vez mais distantes.
Como conseqüência disso, houve uma elevação do custo final do produto e a degradação de
áreas, como leito de rio. As maiores distâncias de transporte e o maior custo final do produto
em grandes centros urbanos têm criado oportunidades para as instituições de pesquisa e o
setor mineral de agregado no sentido de buscar alternativos viáveis para produção de areia
através de substitutivos naturais ou artificiais, a partir de rejeitos da extração mineral e da
própria construção civil. Dentre as alternativas para substituição do agregado natural
decorrentes de sua produção, têm-se a reciclagem através da utilização de materiais
alternativos, utilização dos finos de britagem como agregado miúdo e a produção da areia a
partir do agregado graúdo (Moura, 2000; Gonçalves, 2005).
A produção de areia artificial como um substituto à areia natural já é uma realidade
nos maiores centros urbanos brasileiros. Segundo Valverde (2003), estima-se que
aproximadamente 9% da areia consumida no Estado de São Paulo é areia artificial. De
maneira alternativa, Mello e Calaes (2003) estimaram que pelo menos uma usina de produção
de areia artificial entrará em operação a cada ano na região metropolitana do Rio de Janeiro.
As mais diversas tecnologias de britagem e classificação têm sido utilizadas na
produção de areia artificial. Com a finalidade de fornecer subsídios à indústria de agregado no
sentido de melhor adequar a tecnologia de produção de areia artificial às condições locais
(disponibilidade de água, tipo de rocha e outros), existe pesquisa do Centro de Tecnologia
Mineral - CETEM com implantação de usina piloto em Minas Gerais e Rio de Janeiro
(Almeida, 2000; Almeida; Sampaio, 2002). No processo de beneficiamento de rochas para a
produção de agregados é gerado um rejeito chamado “fino de britagem”, que também é
conhecido como “areia de brita” ou “areia de pedra britada” ou “pó de pedra”, que são rejeitos
de brita menores que 4.8mm. Segundo Mendes e Soares (1999), esses finos representam, em
massa, cerca de 20% do material processado nas pedreiras.
A produção de areia a partir de pedra britada chamada de areia artificial apresenta-se
também como alternativa, pois esta pode ser produzida, próximo ao mercado consumidor o
que reduz seu custo final. Um fator que vem contribuindo para a substituição da areia natural
33
pela areia artificial é o surgimento de equipamentos de britagem capazes de superar a
principal restrição de utilização da areia artificial no concreto e em argamassa, a forma das
partículas. Desta forma, a areia artificial pode ser produzida através de equipamentos de
britagem, como o impactador de eixo vertical. No impactador de eixo vertical a redução do
tamanho do material ocorre por um processo de quebra de rocha contra rocha (Almeida, op.
cit; Almeida; Sampaio, op. cit.). Ainda de acordo com o autor, os finos das pedreiras
devidamente processados podem vir a substituir à areia natural, porém devem possuir algumas
características tais como: distribuição granulométrica, forma e textura superficial adequadas,
resistência mecânica, estabilidade das partículas e ausência de impurezas. Entretanto, os finos
de britagem, devem ser devidamente processados, para que possam substituir à areia natural.
A areia produzida a partir do beneficiamento e que tem como fontes os depósitos de
areia quartzosa, de quartzito e de arenito, é conhecida como areia industrial. Os termos areia
industrial, areia de quartzo, areia quartzosa ou mesmo areia de sílica são atribuídos às areias
que apresentam material de granulometria variada, composto de alto teor de sílica, SiO2, na
forma de quartzo e que passa por processo de beneficiamento utiliza processos de seleção
granulométrica e mineralógica, agregando valor a esses bens minerais (Ferreira; Daitx, 2000).
Ainda de acordo com os autores, geralmente, qualquer material arenoso pode ser
transformado em areia industrial, cujas características encontram-se de maneira implícita as
do depósito original, porém, seu aproveitamento será fundamentalmente determinado pela
economicidade dos produtos obtidos (Ferreira; Daitx, op. cit). Das diversas etapas para
produção de areias industriais a mais importante é a do beneficiamento.
De acordo com (Ferreira, 1997) e (BGS, 2004, apud Luz; Lins, 2005) a areia industrial
é um material importante em vários segmentos industriais, como na fabricação de vidros e na
indústria de fundição; indústria de cerâmica para fabricação de refratários e cimento; indústria
química na fabricação de ácidos e fertilizantes; fraturamento hidráulico para recuperação
secundária de petróleo e gás; como carga e extensores em indústria de tintas e plásticos, e
ainda aplicações não industriais como horticultura e locais de lazer.
As principais fontes da produção de areia industrial no Brasil estão localizadas
principalmente nas regiões sudeste e sul. Na região Sudeste concentra o maior pólo produtor
de areia industrial, sendo a região de Descalvado - SP e Analândia - SP a principal produtora.
Na região Sul existe dez empresas de mineração de areia industrial, tendo o Estado de Santa
Catarina o maior produtor dessa região (Ferreira; Daitx, 2003). Segundo o Anuário Mineral
Brasileiro do Departamento Nacional de Produção Mineral - DNPM, no ano 2000 foram
34
produzidas no Estado de São Paulo aproximadamente 3.380.000 toneladas de areia industrial,
correspondendo à cerca de 80% da produção nacional. O segundo produtor é o Estado de
Santa Catarina, com 265.000 t/a, correspondendo com cerca 77% de toda a produção da
região Sul do país (DNPM, 2001).
Analisando-se a importância do possível aproveitamento dos rejeitos, como as rochas,
seixos, cascalhos, areias e outros elementos provenientes dos rejeitos dos garimpos e
mineração, observa-se seu emprego após beneficiamento em muitos agregados na construção
civil e peças ornamentais onde o custo do agregado é elevado. Isto ocorre por não existe
material perto das obras e principalmente onde existe grande disponibilidade de material
proveniente dos depósitos dos rejeitos de garimpos, constituindo um fator contribuinte para
redução do valor das obras, não só na região como em todo seu entorno.
1.5 Organização do trabalho
O trabalho está estruturado em seis capítulos, considerando como capítulo 1 a
introdução, apresentando problema, justificativa e relevância do tema. No capítulo 2 são
discutidas questões relativas aos materiais e métodos utilizados, tratando da pesquisa
qualitativa e quantitativa, dos procedimentos para coleta e análise de dados.
No Capítulo 3 tem-se a fundamentação básica do estudo que apresenta conceitos e
informações obtidas por meio de extensa revisão bibliográfica, cuja finalidade é fornecer e
elucidar esclarecimento relevante para o desenvolvimento deste trabalho.
O Capítulo 4 aborda questões referentes ao diagnóstico socioeconômico de Poxoréu e
Alto Coité, que se faz imprescindível e oportuno, para conhecimento da área de estudo, uma
vez que não se tem conhecimento de qualquer trabalho que indique o retrato da região,
sobretudo, sobre o distrito de Alto Coité.
O capítulo 5 aborda a caracterização química e mineralógica dos rejeitos, que é a base
para o direcionamento do potencial econômico que poderá levar a compreensão dos fatores
determinantes para mudar o atual estágio social e econômico da região.
O capítulo 6 trata de recomendações para políticas públicas, ações e medidas
destinadas a promover o desenvolvimento socioeconômico do distrito de Alto Coité, tendo
como referencial o quadro identificado e descrido nos capítulos anteriores.
No Capítulo 7, são apresentadas as considerações finais do trabalho e as sugestões de
tópicos a serem futuramente aprofundados a partir dos estudos desenvolvidos.
35
CAPÍTULO 2
METODOLOGIA
Este capítulo trata de aspectos metodológicos nas perspectivas tecnológicas e sociais,
relacionadas ao objeto da pesquisa: os rejeitos de garimpo e a população em Alto Coité. Nesse
sentido, desenvolvem-se considerações relativas ao caráter da pesquisa – qualitativo e
quantitativo – tomando as diferentes etapas do processo de investigação.
Desse modo, procurando entender o caráter da pesquisa, propõe-se uma pequena
revisão conceitual quanto aos aspectos técnicos que envolvem a coleta de dados no ambiente
alterado pelo garimpo e seus aspectos qualitativos e quantitativos. Assim, entende-se de
acordo com Cortes (2002) e Minayo (In: Minayo, 2002) que a pesquisa quantitativa é
expressa pela quantidade numérica que reduz muitas distorções interpretativas. Esse tipo de
pesquisa abre diversas possibilidades para construir generalizações, testes de hipótese,
corroboração e improvisação de afirmações e teorias através de ferramentas disponibilizadas
pela estatística, o que permite com maior facilidade modelar e mensurar a realidade. Já o
método de base qualitativa, como se utiliza, procura apreender as dimensões subjetivas da
realidade do ambiente que se observa, levando em conta toda a sua complexidade e
particularidade que os dados quantitativos não conseguem apreender. Nesta abordagem, o
pesquisador procura aprofundar-se na compreensão dos fenômenos que estuda, interpretando-
os segundo a perspectiva dos participantes da situação enfocada, sem se preocupar com
representatividade numérica, generalizações estatísticas e relações lineares de causa e efeito.
Assim, de acordo Alves-Mazzotti e Gewandsznajder (2004) e Goldenberg (1999), a
interpretação, a consideração do pesquisador como principal instrumento de investigação e a
necessidade do pesquisador de estar em contato direto e prolongado com o campo, para captar
os significados dos comportamentos observados, revela características da pesquisa qualitativa.
Deste modo, enquanto os estudos quantitativos procuram seguir com rigor um plano
pré-estabelecido, a pesquisa qualitativa costuma ser direcionada, ao longo de todo o
desenvolvimento do trabalho. Diferenças existem, mas não significa que sejam dicotômicas.
A metodologia deste estudo constitui-se por pesquisas de caráter qualitativo e
quantitativo, buscando apreender o maior número de observações no objeto de estudo, logo,
esta pesquisa teve inicio com a fase exploratória para discussão dos métodos de pesquisa
apropriados, teorias pertinentes, pressupostos; dando seqüência ao trabalho de campo e
tratamento e, culminou com a análise dos dados obtidos.
36
O método utilizado para a pesquisa está estruturado em quatro partes. Na primeira estão
apresentados os métodos da etapa de revisão bibliográfica que procura conhecer autores e
seus estudos que percorreram caminhos do conhecimento da direção pretendida. Na segunda
estão apresentados os procedimentos bibliográficos adotados ao longo do trabalho, dentre os
quais constam o método para levantamento preliminar da área. Ainda nessa parte estão
descritos os procedimentos adotados na pesquisa de campo para coleta de amostras nos
garimpos e aplicação do questionário. Na terceira, após ter sido feita a pesquisa de campo, são
descritos os procedimentos adotados para preparação e análise das amostras dos rejeitos
trabalhados em laboratório e, finalmente, está delineado o método utilizado para formulação
do questionário do diagnóstico socioeconômico.
2.1 Pesquisa bibliográfica
Nesta etapa buscou-se conhecer sobre diversos temas que seriam abordados ao longo
dessa pesquisa, através de trabalhos técnicos, dissertações e teses relativas ao tema abordado
desenvolvidos para região ou áreas correlatas, o que permitiu a obtenção de dados
preliminares cuja finalidade foi fundamentar aspectos relevantes ao estudo. O levantamento
bibliográfico foi base, também, para verificar como essas variáveis se inter-relacionam,
compreendendo tópicos teóricos e empíricos relevantes.
Para orientar a pesquisa bibliográfica, utilizou-se, como ponto de partida, o livro
“Garimpeiros de Poxoréu/MT” como discussão inicial que trata da região de estudo. Nesse
livro a perspectiva é informativa revelando e auxiliando na busca de novas fontes que
discutiram o município de Poxoréu e o distrito Alto Coité. A pesquisa realizada na Biblioteca
Central da Universidade Federal de Mato Grosso identificou poucos estudos sistemáticos
merecendo destaque artigos com objetivo de estudar os aspectos geológicos do município de
Poxoréu e alguns que abordam a origem do povoamento e a garimpagem na região.
Incluiu-se, nesta etapa, amplo estudo que teve como objetivo a busca de dados e
informações referentes à questão de desenvolvimento econômico, sobretudo,
desenvolvimento regional e endógeno, nos acervos da biblioteca central da Universidade
Federal de Mato Grosso – UFMT. Teve ainda consulta em acervo particular, para obtenção de
respostas mais objetivas acerca de elementos conceituais e conhecimento dos processos
utilizados como base do desenvolvimento regional no Brasil e no mundo.
37
Os procedimentos utilizados foram: consulta a dados secundários (estudo de
documentos) e dados primários, considerados mais complexos e trabalhosos (visitas técnicas).
Procedeu-se a coleta e sistematização de dados secundários publicados pelo IBGE ou
disponibilizados por instituições de pesquisa. Assim, conheceu-se o acervo do Departamento
Nacional de Produção Mineral – DNPM, da SEPLAN e do IBGE. Naqueles órgãos, obteve-se
informações cujas análises permitiram a compreensão do município e do distrito, bem como
os elementos necessários para atingir os objetivos do estudo.
Os dados primários foram utilizados para nortear o estudo, especialmente ao que
refere o distrito de Alto Coité, por não existir na literatura dados disponíveis referentes ao
mesmo. Neste sentido, também foi de grande importância à coleta de dados específicos do
setor econômico e social, bem como dos rejeitos provenientes da garimpagem em Alto Coité.
2.1.1 Conhecimento da área de estudo
O procedimento utilizado para acepção e conhecimento da área baseou-se, num
primeiro momento, na revisão de literatura especifica sobre a área. Importante nesta etapa foi
o estudo de Baxter (1988) e de técnicas de fotointerpretação adaptadas às análises de imagens
virtuais com descrição da área pautada para o trabalho. Para a fotointerpretação utilizou-se
uma imagem virtual do Google Earth (Anexo I), por meio da qual foi possível observar e ter
conhecimento prévio da dimensão da área trabalhada com garimpagem e conseqüentemente o
volume de rejeitos, e da degradação ocasionada com a extração de diamantes utilizando a
técnica manual e semimecanizada.
Na seqüência foram elaborados mapas de localização e geológico, utilizando-se da
base cartográfica de Poxoréu/MT. A mesorregião de Poxoréu está localizada no sudeste mato-
grossense entre as coordenadas de latitude 15° 50' 14'' S e longitude 54° 23' 21'' W, e
apresenta altitude média de 450 m acima do nível do mar e clima predominante quente com
precipitações anuais de 1750 mm a 1900 mm, distribuída no período de dezembro a fevereiro.
2.1.2. Procedimentos adotados para elaboração de questionário
O levantamento regional consistiu de uma visita à região com vista ao reconhecimento
da área da sede municipal - Poxoréu e do distrito - Alto Coité. Nesta ocasião foi possível ter
conhecimento prévio da população, dos grupos sociais e das instituições locais diretamente
38
relacionadas com a dinâmica dos garimpos, seu ambiente social e institucional e com os
órgãos competentes do sistema municipal.
A partir das demandas levantadas na pesquisa bibliográfica e nas primeiras visitas a
campo, foi elaborado o roteiro de entrevistas a ser utilizado na obtenção de dados junto à
população e a alguns órgãos públicos. O processo de elaboração dos questionários (Anexo II)
foi caracterizado por importantes contribuições das diversas áreas do conhecimento, o que
originou a elaboração de um roteiro vasto e variado.
O método adotado para a realização do diagnóstico baseia-se na utilização de dois
pressupostos teórico-metodológicos, os quais compreendem uma abordagem interdisciplinar e
enfoque sistêmico. O emprego deste método no estudo e caracterização da realidade
específica do distrito Alto Coité e do município de Poxoréu/MT permitiu obter um panorama
das inter-relações e interdependências entre os diferentes aspectos que a constituem.
O enfoque sistêmico disponibiliza um instrumental imprescindível para fazer uma
retomada do desenvolvimento do município e do distrito caracterizando a produção mineral e
o aproveitamento dos rejeitos, permitindo assim compreender os mecanismos que são
orientadores e condicionantes da sustentabilidade do distrito e eventualmente do município.
Por conseguinte, este trabalho parte do pressuposto de que toda intervenção em prol do
desenvolvimento dessa região deve levar em consideração as condições de reprodução dos
sistemas naturais e sociais necessárias para o desenvolvimento sustentável dos seres humanos,
especialmente daqueles que estão submetidos a um processo crescente de marginalização e
exclusão do sistema capitalista. Marginalização e exclusão provenientes da pela inabilidade
das pessoas em criar e manter as condições de bem-estar da sociedade envolvida. Segundo
Becker (2002), para que ocorrera melhor compreensão das dinâmicas naturais e sociais, a
realidade da região pode constituir importante ferramenta para subsidiar a elaboração de
políticas efetivas de desenvolvimento que assegurem a representação social da comunidade.
Para a elaboração do questionário aplicado junto à população do distrito Alto Coité -
Poxoréu/MT procurou-se identificar os aspectos familiares, a situação social e econômica da
população, bem como conhecer os aspectos institucionais do município e do distrito. Os
resultados permitiram construir os diagnósticos socioeconômicos, com os quais se determina
a situação social, econômica, tecnológica e socioeconômica da região. Desse modelo
socioeconômico buscam-se soluções para resolver os problemas da qualidade de vida das
pessoas que vivem na região estudada.
39
Após a primeira visita à área de estudo, fez-se levantamento para realização do
questionário, com elaboração de um cronograma mínimo de atividades. Este cronograma foi
basicamente dividido nas seguintes etapas: levantamento de questões regionais; elaboração do
roteiro de entrevistas; realização de entrevistas aleatórias em Poxoréu e Alto Coité;
sistematização dos dados secundários; elaboração de uma planilha contendo os dados
coletados; escolha dos indicadores; análise dos resultados obtidos e verificação da
representatividade dos dados obtidos.
Além do questionário direcionado à população de Alto Coité, optou-se também por
questionários a serem aplicados junto aos garimpeiros, aos órgãos públicos (prefeitura e suas
secretarias) e, por fim, à cooperativa dos garimpeiros com sede na cidade de Poxoréu. Esse
questionário teve como objetivo obter o máximo de informações possíveis sobre o município
e, principalmente, do distrito, uma vez que não há dados sistematizados sobre os distritos
especificamente.
A metodologia para a coleta dos dados socioeconômicos utilizou-se de entrevistas semi-
estruturadas, baseados em questionários com questões abertas, o que favoreceu a obtenção do
maior número de informações possíveis dentro do que foi proposto, o que gerou informações
qualitativas. Foram feitas também entrevistas informais, onde os entrevistados discorreram
sobre assuntos ou fatos cotidianos, o que possibilitou informações mais detalhadas, uma vez
que os entrevistados sentiram-se a vontade para relatar suas experiências e perspectivas. As
entrevistas semi-estruturadas garantiram que todos os tópicos, previamente escolhidos e
relacionadas aos aspectos econômicos, sociais, pessoais e outros relevantes para a pesquisa
fossem abordados. Estes tópicos são abordados detalhadamente no capítulo 4.
A entrevista foi dirigida basicamente aos moradores de Alto Coité, mas foram
realizadas, também, entrevistas junto aos ex-garimpeiros que hoje vivem na associação dos
ex-garimpeiros com sede em Poxoréu. Algumas entrevistas foram filmadas e outras gravadas
em áudio, posteriormente todas foram armazenadas em DVDs.
Ao término da fase de coleta de dados nas primeiras visitas, foram escolhidos os
principais indicadores socioeconômico para fundamentar a tipologia de Poxoréu e Alto Coité.
Os indicadores escolhidos foram: população, habitação, educação, saneamento básico (social)
e, produção, comercialização e outros (econômico).
A metodologia aplicada para determinar a porcentagem de casas a serem entrevistadas,
norteou todo o desenvolvimento do capítulo 4 deste trabalho. O erro admissível nesta
40
metodologia adotado no respectivo trabalho é de no máximo 10%, devido aos recursos
limitados e tempo restrito.
O que facilitou o levantamento socioeconômico foi à possibilidade de se realizar a
investigação no núcleo urbano. Para a realização de uma amostragem, tomou-se o número
total de casas da vila e aplicou-se a fórmula da amostragem que segue:
Sendo:
n = Número de moradias a serem pesquisadas;
N = número total de casas;
Z = valor tabelado proveniente da distribuição normal padrão;
P = Probabilidade de conhecimento da atividade garimpeira;
Q = 1-P;
= erro admissível de 0,1.
Considerando um total de 400 casas no distrito Alto Coité e aplicando a fórmula de
amostragem determinou-se que 53 seria o número representativo de residências a serem
visitadas para que as entrevistas fossem efetuadas. O cálculo foi obtido utilizando o programa
do Excel, considerando vários tipos de erros admissíveis e com diversos graus de confiança.
A escolha por selecionar 53 casas considerou um erro admissível de até 10%, com
confiabilidade de 94%, em função do curto espaço de tempo livre para aplicação dos
questionários e dos poucos recursos financeiros disponíveis.
2.2 Etapas de campo
A pesquisa de campo visou à obtenção de dados primários que foi estruturada em
função dos principais objetivos propostos para este estudo (produção dos rejeitos, diagnóstico
socioeconômico da região, dentre outros aspectos).
Os levantamentos de campo objetivaram a descrição in situ dos garimpos do distrito
Alto Coité, além de servirem para a coleta de amostras dos rejeitos provenientes da atividade
garimpeira. As amostras coletadas foram selecionadas e submetidas a estudos de
caracterização física e química.
O contato prévio com a população de Alto Coité possibilitou a aplicação do
questionário, que foi aplicado aos garimpeiros, à população do distrito, aos dirigentes de
41
associações comunitárias, o que permitiu a realização de entrevistas semi-estruturadas,
possibilitando o levantamento de dados estatísticos econômicos e sociais da área estudada.
As etapas de campo constaram de avaliação da área, através de visita in loco da área
de estudo, Poxoréu (sede municipal), Alto Coité (distrito) e garimpos de diamantes na região;
registro fotográfico; anotação de alguns dados observados e também adquiridos juntos aos
garimpeiros, sede municipal (prefeitura) e distrito (população); coleta de amostra dos rejeitos
dos garimpos para análise laboratorial.
2.2.1 Levantamento preliminar da área de estudo
A visita preliminar ocorreu em 17 de abril de 2008 buscando o reconhecimento in
loco, constituiu-se de uma pré-avaliação geral da área, ao percorrer as áreas dos garimpos de
diamantes ao entorno de Alto Coité e visita à sede municipal. Além do reconhecimento in
loco da área, esta primeira visita na região foi realizada para manter um primeiro contato com
a população de Alto Coité e conseqüentemente observações e, coleta dos primeiros rejeitos
dos garimpos de diamantes para análise nos laboratórios do Departamento de Geologia da
UFMT. Foi feito registro fotográfico dos rejeitos e do ambiente degradado em conseqüência
da garimpagem desde os primeiros achados de diamantes.
2.2.2 Reconhecimento e coleta de amostras dos rejeitos
A segunda visita ocorreu no dia 10 de julho de 2008, durante uma aula de campo da
disciplina de Geologia Ambiental do Departamento de Geografia da UFMT. Esta visita
aconteceu nos garimpos de diamante nas imediações do distrito Alto Coité, o que
proporcionou um melhor reconhecimento da área ao entorno do distrito a qual é conhecida
pelos moradores e garimpeiros como área do patrimônio dos garimpeiros, mas na realidade
trata-se de uma reserva garimpeira4. A visita possibilitou a coleta de algumas amostras dos
rejeitos e permitiu o registro fotográfico de um garimpo que estava em funcionamento e que
4 Área do Patrimônio ou Reserva garimpeira, é uma reserva oficial com área que inclui depósitos de diamantes e, foi obtida pelo Governo Federal final década 70, mais precisamente em 1979 por meio da Port. Minist. n° 2.230; 12.11.79, para evitar conflitos entre garimpeiros e empresas, sobretudo, as empresas multinacionais que almejaram monopolizar a garimpagem em Alto Coité. A extensão total da área é de 700 hectares. Nas propriedades do Estado não é necessário permissão, nem é pago qualquer percentagem e os direitos outorgados são respeitados, assim, o garimpeiro pode trabalhar onde considerar melhor lhe aprouver.
42
trabalhava com draga. Foi possível obter algumas informações referentes ao funcionamento
dos garimpos junto com o garimpeiro que operava a draga.
A última vista na área dos garimpos, ocorreu em setembro de 2008 nos dias 4, 5 e 6 e
possibilitou a coleta de amostras em onze diferentes pontos em diversas áreas nas
proximidades de Alto Coité – reserva garimpeira (antes e depois do rio Coité); Fazenda
Primavera e outras áreas, o que proporcionou conhecer com mais precisão a dimensão das
áreas garimpadas. A localização geográfica das áreas visitadas utilizando-se de um GPS-
Garmin. Estas áreas de garimpos foram escolhidas de maneira aleatória pela localização e
facilidade de acesso.
Por não existir estudos sobre a caracterização dos rejeitos, procurou-se adotar uma
amostragem que melhor refletisse as diferentes condições em que se encontram os garimpos
mais antigos, bem como os atuais. Em cada área de garimpo foram coletadas amostras
aleatórias de cascalho, areia e fragmentos de rochas, que se encontravam depositadas em
pilhas de rejeitos. As amostras foram coletadas de forma aleatória, pois os rejeitos são
depositados aleatoriamente, o que dificulta coleta de forma sistematizada.
Foi realizado também levantamento nos depósitos de rejeito para quantificação e
qualificação do material exposto. Para a qualificação foi realizada coleta de material
selecionado dos tipos de agregados com possível potencial para aproveitamento e
direcionamento para matéria-prima. A quantificação dos rejeitos estimada para a área da
reserva garimpeira foi calculada levando em consideração o tamanho da área por uma
profundidade média de 3 metros.
Nesta fase, foi feita visita à prefeitura e associação dos garimpeiros do município de
Poxoréu e ao distrito Alto Coité, para se obter informações a respeito dos garimpos,
garimpeiros e ex-garimpeiros. Nessa etapa, realizou-se um registro fotográfico e anotações
sobre as condições atuais da vida dos garimpeiros e da população de modo geral.
2.2.3 Visita a área de estudo para entrevistas e aplicação do questionário
A realidade de uma região é composta por vários aspectos como por exemplos sociais,
históricos, culturais, ambientais, geográficos, que ao se interagirem criam uma particularidade
na relação homem-natureza, sociedade e meio natural. Esses aspectos compõem a realidade
do município de Poxoréu/MT e do distrito de Alto Coité e serão mostrados no capítulo 4.
43
Este estudo resguarda a percepção e o desenvolvimento do município, como sua base
social e econômica, organizado com condicionantes internos e externos. Qualquer região de
mineração e garimpagem se caracteriza por apresentar pouca diversidade em seus modos de
produção, independente de restrições impostas pelo ambiente natural ou pela disponibilidade
de fatores de produção, bem como pelas condições socioeconômicas, as quais estão
condicionadas. Estas considerações permitiram explicitar o questionário utilizado para
obtenção de um diagnóstico socioeconômico da população de Alto Coité, realizado por meio
de entrevistas abertas e aleatórias, junto à população e órgãos públicos municipais.
As entrevistas abordaram questões referentes à identificação e inserção no meio físico e
sócio-econômico; descrição e caracterização do meio natural; estrutura produtiva; dinâmica e
organização do sistema de produção; aspectos econômicos e financeiros; resgate da trajetória
evolutiva do município e dos garimpos de diamantes.
2.2.3.1 Aplicação do questionário junto à população de Alto Coité
As entrevistas realizadas junto à população na área de estudo foram entre os dias 20 a
22 de outubro de 2008, onde foram aplicados 53 questionários na localidade de Alto Coité.
Esta etapa contou com dois entrevistadores que dispunham de um período curto de tempo
para finalizarem as entrevistas e esbarraram em condições adversas, tanto naturais (período de
muita chuva) e na falta de informações dos próprios entrevistados em relação aos assuntos
corriqueiros sobre alguns dados pessoais e familiares, que em alguns casos levou a
morosidade das entrevistas em até 40 minutos.
No mesmo período ocorreram, também, entrevista e filmagem junto a alguns moradores
do distrito, que contaram histórias da época áurea da garimpagem e das contradições daquela
época com os dias atuais. Os moradores discorreram sobre as dificuldades as quais a
população do distrito tem atravessado e a ausência de perspectivas de melhores condições de
vida para os moradores.
2.2.3.2 Aplicação do questionário junto à prefeitura e sindicato dos garimpeiros
A aplicação dos questionários foi realizada nos dias 27 e 28 de novembro de 2008. A
pesquisa foi realizada junto à prefeitura, cooperativa dos garimpeiros, secretarias municipais e
44
IBGE local. Além da aplicação deste questionário foi possível fazer uma visita à sede da
Associação dos ex-garimpeiros.
A pesquisa junto a estes órgãos visou obter informações econômicas relevantes sobre
o município, sobretudo, sobre Alto Coité, foco principal deste estudo. Esta pesquisa foi
necessária devido à dificuldade em se obter informações do distrito, pois estas estão sempre
consolidadas junto àquelas do município, sendo quase impossível encontrar informações
separadas dos distritos.
2.2.4 Etapa de sistematização dos dados
A análise dos dados é um processo de categorização e tabulação de respostas a
questões abertas, portanto, uma técnica de pesquisa com vistas a uma descrição objetiva,
sistemática e quantitativa empregada cada vez mais para análise de material qualitativo obtido
através de entrevistas de pesquisa (Machado, 1991). A qualidade das análises e a interpretação
das informações obtidas são dependentes da qualidade dos processos que foram seguidos.
Este contexto deve ser considerado como um dos principais requisitos, no sentido de garantir
a relevância dos resultados a serem divulgados e, de preferência, socializados.
Esta etapa aborda os métodos empregados para análise dos dados provenientes das
entrevistas e das análises técnicas e econômicas. A interpretação destes dados permitirá
sugerir propostas para oportunizar geração de emprego e renda no Distrito de Alto Coité.
2.2.4.1 Tabulação dos dados
O diagnóstico regional e local foi possível após levantamento de dados que versa sobre
a situação econômica e social da região com vista ao reconhecimento da área do município de
Poxoréu e do distrito Alto Coité junto à população, grupos sociais e instituições locais
diretamente relacionadas com a dinâmica do sistema municipal.
Após a coleta dos dados, concernentes à situação socioeconômica e ambiental da região,
a partir das questões levantadas e com base nas respostas obtidas nas entrevistas, procedeu-se
à tabulação e o tratamento dos resultados obtidos, ou seja, a compilação dos valores
ponderados, utilizando a estatística descritiva para interpretação, sendo este um instrumento
básico para análise dos dados. A utilização de uma ferramenta própria à análise sistêmica,
que é a tipologia, completa os instrumentos metodológicos empregados nesta pesquisa.
45
Após inferência e a interpretação dos dados obteve-se o valor de maior freqüência
(moda ou média ponderada) para cada fator considerado no questionário. Em seguida, foi
estabelecido parâmetros para classificação das diferentes formas de ocorrência.
Assim, procedeu-se a tabulação dos dados, de acordo com as respostas subdivididas
em diagnóstico social e econômico. Posteriormente, fez-se uma nova tabulação, onde se
observou a moda ou a média em cada item de análise.
Por meio deste procedimento foi possível obter informações relevantes ao processo
socioeconômico de Alto Coité, além de corroborar com o levantamento socioeconômico do
município. As informações, junto à população, foram utilizadas para formatar a dinâmica da
pobreza, formular um diagnóstico socioeconômico do município e do distrito e ainda
diagnosticar os níveis de deterioração social, econômico da área urbana e o ambiental ao
entorno dos garimpos e do distrito.
2.3 Etapas de laboratório
A etapa de laboratório é um conjunto de vários fatores, que envolve deste a preparação
das amostras e aquisição de dados analíticos através de varias técnicas.
Esta etapa constou neste trabalho para sintetizar a realização da parte experimental e
foi utilizada para análise dos rejeitos dos garimpos de diamantes de Alto coité. As análises
foram importantes instrumentos para verificar a viabilidade de aproveitamento e
beneficiamento dos rejeitos e apontar seu direcionamento para fins econômicos.
Os trabalhos de laboratório foram realizados em três etapas (seleção e preparação de
amostras, aquisição de dados analíticos e interpretação de dados). Todas as análises foram
realizadas nos laboratórios do Departamento de Recursos Minerais da UFMT.
Inicialmente, as amostras foram levadas para o laboratório de sedimentologia onde
passaram por um processo de separação granulométrica, descrição petrográfica, seleção para
análises químicas e estudos de viabilidade econômica. Os ensaios de laboratório adotados
estão descritos abaixo.
2.3.1 Análise granulométrica
As análises granulométricas das amostras selecionadas foram efetuadas por
peneiramento a seco, com tempo fixado em aproximadamente 40 minutos, utilizando-se de
46
um conjunto de peneiras da série Tyler com malha (unidade milímetro) 9.52; 4.76; 2.0; 1.68;
1.41; 1.20; 1.19; 1.0; 0.71; 0.250; 0.125; 0.062.
Estes ensaios tiveram como objetivo definir a maturidade dos sedimentos, que
envolvem grau de arredondamento e selecionamento dos mesmos.
Em algumas amostras da fração 0,062 foram realizados estudos de separação de
minerais pesados com líquido denso (bromofórmio, d=2,89) para separação de minerais
pesados para posterior confecção de lâminas visando à identificação dos mesmos.
2.3.2 Análise petrográfica
Neste trabalho foram confeccionadas lâminas de grão do material separado por líquido
denso para descrição microscópica dos constituintes minerais, que envolvem estudos de cor,
alterações, etc. A seleção desta granulometria foi função da mesma reter todos os constituintes
minerais presentes numa determinada amostra, além da mesma ser de fácil manuseio ao
microscópio.
Para a descrição das lâminas foi utilizado um microscópio binocular de marca
Olympus, modelo BX 41, acoplado a uma câmera de vídeo para a captura de imagens
utilizando-se o software PixelView Station v. 5.19. Estas análises foram desenvolvidas no
laboratório de microscopia do departamento de Recursos Minerais da UFMT.
2.3.3 Análise química
Foram efetuadas análises químicas nas frações retidas nas peneiras 1,19, 0,50, e na
passante na de 0,062mm, além do material in natura, para análises de elementos maiores
(>1%), menores (<1 e >0,1%) e alguns elementos traços, ou seja, aqueles cuja concentração
nas amostras é abaixo de 0,1%. Para uma das amostras foram realizados ensaios geoquímicos
em todas as frações.
Para tais análises, as amostras foram reduzidas a aproximadamente 1,5 cm, com
utilização de marreta e, após, foram pulverizadas em um moinho de disco marca AMEF,
modelo AMP1-S, que utiliza um sistema pneumático e motor de alta rotação acoplado a um
compressor de ar da marca Schulz com pressão máxima de 8Pa. A pulverização se deu em
uma panela de carbeto de tungstênio, com ciclos de 100 segundos. Finalmente, com o pó de
rocha foram confeccionadas as pastilhas de 2,5 cm com pressão de 15 toneladas.
47
As pastilhas foram submetidas às análises químicas semi-quantitativa, no Laboratório
Multi-Usuário em Técnicas Analíticas (LAMUTA) do Departamento de Recursos Minerais,
Geologia UFMT. Todos os elementos foram analisados semi-quantitativamente, através de
um espectrômetro de fluorescência de raios-X por energia dispersiva (EDX), marca Shimadzu,
modelo 700HS, utilizando-se do método Quali-Quant FP, com duas aquisições por amostra
para quantificação dos elementos químicos do (i) Na a Sc e (ii) Ti a U, tendo cada aquisição
um ciclos de varredura de 200 segundos para cada canal de detecção em vácuo e com
colimador de 10 mm.
2.3.4 Laminação e Polimento
Algumas amostras coletadas foram cortadas e polidas sendo que em algumas foram
confeccionadas lâminas de cerca de 1 cm de espessura, e com ambas as faces polidas. Estes
procedimentos visaram identificar a viabilidade das mesmas como amostras ornamentais na
confecção de bijuterias e fabricação de pequenas esculturas, relógios, etc.
48
CAPÍTULO 3
FUNDAMENTOS BÁSICOS DO ESTUDO
Este capítulo está embasado em revisões bibliográficas pertinentes ao tema da
dissertação. Desse modo buscaram-se pesquisas acadêmicas nas quais se selecionaram
conceitos, definições e fases do desenvolvimento econômico e sustentável, com vistas à
obtenção de subsídios para responder à questão central da pesquisa: como promover o
desenvolvimento socioeconômico do Distrito de Alto Coité?
A revisão de estudos teóricos e empíricos relacionados ao desenvolvimento
econômico, seja regional ou local, procura tratar o tema polêmico do desenvolvimento
sustentável com base na endogenização dos recursos disponíveis na região, onde ocorreu à
degradação ambiental, econômica e social em função do processo produtivo relacionado à
forma predatória de extração do principal mineral, no caso em questão, o diamante.
Para compreender as várias fases do desenvolvimento no escopo da ciência
econômica, foi necessário discutir historicamente as principais tendências teórico-
metodológicas que influenciaram as diversas concepções, abordagens e discussões sobre o
desenvolvimento econômico. Desse modo não se pode entender a dinâmica e a gênese das
formas do desenvolvimento sem conhecer os fatores que interferiram e, interferem, no
dinamismo socioeconômico em relação ao processo produtivo e sua evolução.
3.1 Fases do desenvolvimento
O desenvolvimento por ser um processo, deve ser entendido em sua dimensão
histórica na transição do passado para o futuro. Baseado em fatos predefinidos deve estar
aberto para a inovação, e de certo modo, à renovação de conceitos e metodologias de trabalho.
Por sua complexidade, cada processo histórico deve ser analisado no seu contexto temporal e
espacial. Logo ao dividi-lo em etapas ou segmentos produtivos e sociais, estudam-se cada
uma delas na sua totalidade, procurando reproduzir as condições gerais do processo. Nessa
perspectiva o entendimento da história econômica regional propicia a compreensão da
economia regional em seus diferentes ciclos e estágios. Assim, através desse resgate se
permite a reconstrução das etapas da economia da região e entende-se seu desenvolvimento e
suas principais mudanças no cenário histórico, elucidando os processos e as crises que
49
levaram à transmutação histórica relacionada ao desenvolvimento econômico incorporando a
discussão fragmentada em geral de pouca sensibilidade social.
De acordo com a literatura, pode-se considerar do ponto de vista teórico, que o
desenvolvimento passou por três fases distintas, classificadas conforme o período estudado. A
primeira surge junto com a Ciência Econômica; a segunda após 1945 e a terceira após 1970.
A primeira fase de estudos sobre desenvolvimento refere-se ao período no qual não era
feita distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico. Assim, esses dois conceitos
eram tidos como sinônimos. Nesta fase, nota-se que há duas tendências no que diz respeito à
concepção de desenvolvimento. De um lado estão os economistas que baseavam seus estudos
na lei de Say, que afirma ser a oferta geradora de sua própria procura, predominando a visão a
partir da oferta. Dentre esses economistas tem-se Adam Smith, David Ricardo, Stuart Mill,
cujo enfoque de seus trabalhos é a produção e o crescimento. Para Smith havia uma percepção
otimista relacionada ao campo social e ambiental, considerando a oferta de empregos e a
“ilimitada disponibilidade de recursos naturais” e a Revolução Industrial, em marcha.
Do outro lado, encontram autores, tais como Thomas Malthus, Karl Marx, John
Maynard Keynes e Michael Kalecki, que estão ligados à perspectiva da demanda efetiva e que
questionam a aplicabilidade da lei de Say e os limites sociais impostos pelo otimismo do
crescimento constante especialmente após as crises do final do século XIX e a de 1929.
A segunda fase se inicia logo após a Segunda Guerra Mundial, mais precisamente em
1950. Neste período, surge a teoria do desenvolvimento sob a influência de Keynes, a qual
passa a diferenciar crescimento e desenvolvimento econômico, não utilizando estes conceitos
como sinônimos. A rigor o conceito de Desenvolvimento é utilizado pela primeira vez por
Schumpeter em 1911. Esta nova corrente passou a se preocupar com o crescimento integrado
ao desenvolvimento, utilizando-se de dois mecanismos; por um lado, a síntese entre o
instrumental e as convicções particulares da microeconomia neoclássica, e, por outro, a
macroeconomia keynesiana, dando ênfase a autoridade pública para modificar as questões
sociais. Nessa concepção, merecem destaque os trabalhos de economistas como, C. Clark,
Albert. O. Hirschman, W.A. Lewis, G. Myrdal, W. W. Rostow, T.W. Schultz, Joseph E.
Stiglitz e Charles Kindleberger.
É nessa segunda fase que surge à corrente da Comissão de Estudos para a América
Latina – CEPAL, conhecida como corrente estruturalista que teve sua base de pensamento
keynesiano, sendo liderado por Raúl Prebisch. Os estudiosos da escola cepalina levaram em
consideração as distinções nos termos de troca e as diferentes formas de dependência entre
50
países centrais e periféricos, as ênfases dos trabalhos destes incidem, ao mesmo tempo, na
produção e na sociedade, reconhecendo aspectos da Divisão Internacional do Trabalho – DIT
e a necessidade da industrialização dos países da América Latina. Dessa corrente, destacam-se
os estudiosos R. Prebich, Celso Furtado e Anibal Pinto, Osvaldo Sunkel e R. Bielschowsky.
A última fase ocorre a partir da década 1970, evidenciada por uma nova abordagem da
teoria do desenvolvimento, que busca um desenvolvimento que seja sustentável, em seu
sentido mais amplo, isto é, um desenvolvimento baseado em sustentabilidade física
(ecológica/ambiental), econômica (durabilidade ao longo do tempo) e social (inclusiva).
Nesta fase o desenvolvimento econômico incorpora além da questão econômica a
questão social e a preservação ambiental. Essas questões, antes trabalhadas de maneira
unilateral, passam a ter dimensão sistêmica. Merecem destaque nesta perspectiva autores que
têm marcado esse período como Ignacy Sachs, Amartya Sen, Georgescu-Roegen, R.
Constanza, W. Soto e Richard Norgaad. Dentre os pesquisadores brasileiros pode-se destacar
os estudos de R. Abromavay, Charles Muller e José Eli Veiga.
Os autores desta corrente tentam adaptar novos valores e construir novas
interpretações da relação sociedade e meio ambiente, através de novos padrões e dimensões
para o desenvolvimento. Embora existam várias sugestões quanto às dimensões que são
relacionadas com a sustentabilidade, segundo Sachs (1990), podem-se fazer análises com
diferentes dimensões, especialmente, econômica, social, geográfica, cultural e ambiental. Em
2000 este mesmo autor acrescenta mais três dimensões ou critérios de sustentabilidade,
territorial, política nacional e política internacional (Sachs, 2002).
Este período tem dedicado atenção particular ao desenvolvimento local endógeno e ao
desenvolvimento regional endogenizado por economistas como Paul Romer, Robert Lucas,
Henri Bártoli, Vázquez Barquero; no Brasil, encontram-se José Eli Veiga, André Joyal e
Dante P. Martinellil, dentre outros. Tanto pelas perspectivas enunciadas em defesa deste tema,
como pela repercussão apresentada na última década, ao incorporar as dimensões locais e
ambientais, os estudiosos desta nova teoria de desenvolvimento acreditam que este conjunto
de dimensões inter-relacionam e compartilham de um mesmo ideal de desenvolvimento. Estes
estudiosos ainda preservam relação com a economia do desenvolvimento do pós-guerra, em
focar a evolução histórica da sociedade, apesar de incorporar temáticas sociais e ambientais.
51
3.2 Crescimento e Desenvolvimento econômico
Não existe consenso entre os cientistas sociais sobre o significado do termo
desenvolvimento, que no geral é confundido com crescimento econômico. E, não existe uma
definição que seja consensual sobre desenvolvimento econômico na literatura.
De acordo com Corazza (1991) os economistas clássicos foram os que mais se
aprofundaram na questão do crescimento econômico, ao criar as bases da teoria econômica
moderna. De maneira geral, esses economistas associavam o crescimento da economia à
contínua gênese de excedentes e as crises decorrentes, tratando-os como estados estacionários,
pela forma como eram produzidos, distribuídos entre as classes sociais e à sua acumulação,
com a acumulação do capital vista como fator fundamental para o crescimento econômico.
Kindleberger (1976) fez uma comparação mais objetiva e clara entre desenvolvimento
e crescimento econômico de um país. Para o autor, a distinção entre os termos ocorre de
maneira implícita ou explicita, pois crescimento econômico significa maior produção (mais
insumos e mais eficiência), enquanto o desenvolvimento econômico, por sua vez, implica em
maior produção e junto com ela mudanças nas disposições técnicas e institucionais, isto é,
significa mudanças na estrutura da produção e na alocação de insumos, por setores.
Crescimento e desenvolvimento econômico são, portanto para os clássicos, conceitos
complementares. Enquanto, mais recentemente entende-se que o primeiro significa tão
somente o aumento na produção de bens e serviços e quando se compara um período com
outro, logo após anterior. O segundo conceito associa ao crescimento do produto algumas
melhorias tecnológicas no processo de produção da economia, mudanças estruturais de
maneira a proporcionar uma distribuição mais eqüitativa da renda e, elevação de padrão de
bem-estar da sociedade e preservação ambiental genericamente chamado como bem estar ou
qualidade de vida. A partir do momento em que a sociedade atinge o estágio do
amadurecimento, a tecnologia deixa de ser o objetivo principal do desenvolvimento e muda-se
o foco para a qualidade de vida da sociedade (Rostow, 1974).
Assim, apesar de distintos, os fenômenos crescimento e desenvolvimento se inter-
relacionam e quando alcançados provocam transformações estruturais também distintas.
Ambos são processos que se materializam a longo prazo, mediante a combinação de forças
propulsoras advindas do setor público e dos agentes econômicos privados.
O primeiro economista a evidenciar esse fato foi Schumpeter (1985) ao afirmar que o
desenvolvimento econômico implica em transformações estruturais do sistema econômico e
52
que o simples crescimento da renda per capita não assegura o desenvolvimento. O autor
utilizou essa distinção para salientar a ausência de lucro econômico no fluxo circular, onde no
máximo ocorreria crescimento, concluindo que um verdadeiro processo de desenvolvimento
econômico, deve considerar a importância da inovação tecnológica em seu contexto.
Distinguir crescimento de desenvolvimento faz sentido somente a partir de uma
perspectiva em que há aumento da renda per capita sem mudanças profundas na sociedade e,
essa situação teria que ocorrer de forma freqüente e habitual. Mas, o que tem ocorrido em
situações normais é que mudanças tecnológicas e divisão do trabalho que ocorrem com o
aumento da produtividade são sempre acompanhadas por mudanças no plano institucional,
cultural, e estruturais da sociedade. Furtado (1967, 2000) observa que, para que o crescimento
não conduzisse a modificações na estrutura econômica, seria preciso pensar em uma situação
pouco plausível na qual incidisse a expansão simultânea de todos os setores produtivos sem
qualquer aumento da produtividade. Furtado conclui que o crescimento é o aumento da
produção, ou seja, do fluxo de renda ao nível de uma subclasse particularizada, e o
desenvolvimento é o mesmo fenômeno do ponto de vista de suas repercussões no conjunto
econômico de estrutura complexa que inclui o anterior.
A distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico fica clara ao perceber que
o crescimento econômico significa elevado nível de renda per capita, enquanto
desenvolvimento econômico denota a oportunidade de realização de metas e transformação da
vida das pessoas naquilo que almejam. Assim, o desenvolvimento conduz ao processo de
distribuição dos rendimentos do crescimento que devem ser distribuídos igualitariamente para
todos que participaram desta formação de riqueza. Baldwin (1979) vê o desenvolvimento
econômico como uma decorrência direta e imediata do crescimento econômico nacional. Para
o autor, o desenvolvimento da economia é que determina os níveis e taxas de crescimento da
renda per capita nas nações menos desenvolvidas.
Desta forma, torna-se importante separar crescimento econômico do problema de
desenvolvimento, pois o elevado Produto Interno Bruto - PIB per capita não expressa
desenvolvimento econômico, este fator pode ser considerado, uma vez que países com
elevado indicador de riqueza média podem apresentar ao mesmo tempo, indicadores sociais
sofríveis. Conforme comprovados pelos estudos de Sen (2000), apesar de ter como hipótese
que uma maior capacidade de geração de renda auxilia na construção do desenvolvimento, o
que torna a relação entre crescimento e desenvolvimento complexa.
53
Sachs (In: Abromovay, 2001) e Veiga (2005a) enfatizaram que o fato do
desenvolvimento não está contido no crescimento econômico não deve ser interpretado em
termos de uma oposição entre crescimento e desenvolvimento. O crescimento econômico se
for repensado de forma adequada, de modo a minimizar impactos ambientais negativos, e
colocado a serviço de objetivos socialmente desejáveis, continua sendo condição necessária
para o desenvolvimento. Sachs afirma que é preciso taxas altas de crescimento econômico
para acelerar a reabilitação social.
Para Feijó (2007b), o crescimento econômico constitui um componente importante
para o desenvolvimento e, que além do crescimento, o desenvolvimento ainda requer políticas
públicas, bem como ações privadas que garantam que os benefícios oriundos do crescimento
alcancem o maior número de pessoas. De tal modo, que a noção de desenvolvimento
econômico tem funcionado com discernimento para analisar se as políticas de crescimento
que vêem acompanhadas de iniciativas sociais conseguiram seus objetivos. A teoria do
desenvolvimento econômico promete um mundo de realizações desde que a sociedade seja
capaz de persistir na sustentação da liberdade democrática e, ainda zelar pelas chamadas
oportunidades de liberdade (Feijó, 2007b; Sen, 2000; Veiga, 2005b).
Diante do que foi exposto, em termos conceituais, o desenvolvimento é um processo
de aperfeiçoamento em relação a um conjunto de valores ou um caráter comparativo com
deferência a esse conjunto, sendo esses valores condições ou ocorrências desejáveis para a
sociedade. Porém, segundo vários atores essa definição pode ser aplicada de maneira mais
abrangente com enfoque avaliativo da condição humana, tanto individual como coletiva.
Contudo, o termo desenvolvimento, de forma isolada, não tem refletido de forma
suficiente todos os campos plausíveis do desenvolvimento humano e da sociedade. Isto
acontece em função de que em certos momentos, há a necessidade de dar ênfase ao aspecto
econômico e, em outros, ser necessário dar enfoque a questão tecnológica, além disso, é
preciso fazer prevalecer o lado cultural, ambiental, político e outros. Ao incorporar outras
variáveis ao desenvolvimento, ocorre o crescimento do homem e da sociedade. Isto coloca o
desenvolvimento do homem e da sociedade no centro da questão do desenvolvimento e
constituem-se em escopo do desenvolvimento (Sachs, 2004). Deste modo, conceitos como,
capital humano e social, passam a fazer parte do cerne do tema do desenvolvimento e,
conseqüentemente, estão inseridos nos debates relacionados com políticas públicas.
Todavia, antes de abordar a nova concepção de desenvolvimento, faz-se necessário
revisar algumas das interpretações teóricas do desenvolvimento ao longo dos anos, onde as
54
doutrinas anteriores têm sido repensadas, examinando os problemas do desenvolvimento sob
nova ótica, o que permite revogar preceitos antes pré-estabelecidos.
3.3 Concepções e discussões sobre desenvolvimento
No que tange à concepção e discussão sobre crescimento e desenvolvimento, muitas
foram às interpretações teóricas ao longo dos anos, onde as doutrinas anteriores têm sido
repensadas, examinando os problemas do desenvolvimento sob nova ótica, permitindo
revogar preceitos antes pré-estabelecidos.
O Mercantilismo surge como um campo fértil do pensamento econômico. Segundo
Feijó (2007a) a doutrina do Mercantilismo originou-se na prática dos reis medievais e firmou
como racionalização das políticas intervencionistas já adotadas. Esta doutrina tinha como
principal preocupação econômica a busca do pleno emprego, pois, segundo os mercantilistas
o território deveria ser utilizado para atividades produtivas em agricultura, mineração e
manufatura. Porém, não se deve esquecer que as atividades humanas desta época estavam
focadas no comércio.
No período que antecede a teoria clássica pode-se citar a escola fisiocrata. Esta escola
preocupava-se com problemas relativos ao crescimento e a distribuição como doutrina da
ordem natural. A fisiocracia defendia que a sociedade e a economia em seu sentido restrito
funcionam de acordo com uma ordem natural e que todos os fatos sociais e econômicos estão
ligados a leis inevitáveis. Portanto, procuravam identificar os princípios naturais que
conduzem à produção e acumulação de riquezas e, como ocorria a distribuição da renda e dos
fluxos de gastos, com este último descrito como um processo anual de influência mútua entre
as classes sociais como um fluxo circular (Feijó, op.cit).
O desenvolvimento foi tema importante de autores clássicos. A base do pensamento da
escola clássica é o liberalismo econômico, ora defendido pelos fisiocratas. A teoria clássica
surgiu do estudo dos meios de manter a ordem econômica através do liberalismo e da
interpretação das inovações tecnológicas provenientes da Revolução Industrial. Mas, segundo
Feijó (2007a) os estudos dos teóricos clássicos também estavam voltados para as relações
socioeconômicas entre os homens e sua capacidade de produção.
Dentre os trabalhos desta escola destaca-se o trabalho de Adam Smith de 1776, que
tinha como principal preocupação à dinâmica do crescimento e desenvolvimento econômico,
porém, sua teoria do valor e da distribuição tem recebido maior atenção. Segundo Feijó op.
55
cit, Smith entendia que a atividade industrial era capaz de criar valor e ressaltou em sua obra,
Uma investigação sobre a natureza e causa da riqueza das nações, os aspectos responsáveis
pelo desenvolvimento econômico como a acumulação do capital, o crescimento populacional
e a produtividade. A obra de Smith é mais que uma investigação sobre a natureza e as causas
da riqueza das nações, mas uma investigação sobre a natureza e as causas do desenvolvimento
mercantil em regiões em transição desigual e compatível ao capitalismo.
Com relação as atividades humanas, Smith demonstrou que a riqueza das nações
resultava da atuação de indivíduos que age por interesse próprio, promovendo o crescimento
econômico e por conseguinte, beneficia a sociedade. Analisou ainda, a divisão do trabalho
como fator evolucionário e poderoso a propulsionar a economia e, acreditava que a iniciativa
privada deveria agir livremente, com pouca ou nenhuma intervenção governamental.
A principal reação política e ideológica ao classicismo foi feita pelos socialistas. O
socialismo contestava a ordem natural e a harmonia de interesses, pois há concentração de
renda e exploração do trabalho. Karl Marx é o maior crítico do capitalismo, portanto, o
observava através da dinâmica da lutas de classes, incluindo aí a estrutura de estratificação de
diferentes segmentos sociais. Marx era a favor da intervenção do Estado, por considerá-lo de
fundamental importância para garantir o funcionamento do sistema, logo se opôs à tese de que
o sistema é auto-organizador (Feijó, 2007a; Furtado, 1967).
Contrapondo as escolas anteriores surge a escola neoclássica. A característica desta
escola vem a ser o tratamento proporcional dado às diversas parcelas da renda, portanto, os
neoclássicos trabalham com a ótica e padrões microeconômicos e tratam apenas o lado da
produção. Segundo Prado (1991), com os neoclássicos, a força de trabalho, os recursos
naturais e os meios de produção reprodutíveis são denominados fatores de produção. Com
relação às atividades humanas, os neoclássicos abstraem as classes sociais e juntamente com
elas, suas relações sociais, e trabalha com a relação psicológica entre as pessoas e os bens de
consumo (Feijó, 2007a).
No século XX, a questão do desenvolvimento é trabalhada com grande determinação
por Joseph Schumpeter, ao publicar A teoria do desenvolvimento econômico de 1911. Em sua
obra os aspectos mais relevantes relacionam-se com o moderno conceito de Desenvolvimento
Integral e Sustentável. Schumpeter (1985) classifica o desenvolvimento como um processo de
mudança econômica que aparece dentro do ambiente local, por iniciativa própria, e que tal
mudança foi imposta por agentes externos. O autor considera como desenvolvimento somente
as mudanças ocorridas na vida econômica que surgem das forças endógenas, por iniciativa
56
própria. De acordo com o autor, o desenvolvimento econômico deve distinguir as noções de
estática e dinâmica na economia. Distinção se faz necessária uma vez que a dinâmica trabalha
com a noção do fluxo regular da atividade e à estática com a perturbação do ciclo vicioso da
estabilidade provocada pelo investimento a partir das inovações tecnológicas. Estas inovações
acontecem por meio da figura de empreendedor quando usa o capital humano na busca de
atividades inovadoras que ao utilizar recursos da região, formam o capital social. Para o autor
é por meio das inovações, que a economia sai do estado de equilíbrio e entra no processo de
expansão econômico, alterando de maneira considerável as condições prévias de equilíbrio.
Outras concepções e abordagens relacionadas ao desenvolvimento surgem a partir dos
anos de 1940, definindo a moderna teoria econômica do desenvolvimento. A teoria moderna
do desenvolvimento econômico teve seu primeiro ensaio com o trabalho clássico de
Rosenstein-Rodan (1943), contudo, segundo Albert Hirschman (1982) foi a partir dos anos de
1950 que a nova teoria de desenvolvimento ganhou espaço entre os debates sobre
desenvolvimento. Rosenstein-Rodan (1943) mostrou que um país só poderia iniciar a
Revolução Industrial se houvesse demanda por investimentos e taxa de lucro fosse
satisfatória, condição que, no geral, não havia pela falta de complementaridade entre as
diversas empresas e setores industriais.
No pós-guerra passou-se a cogitar e teorizar as condições que haveriam de conduzir ao
esquema de acumulação de capital que proveria o impulso em direção ao progresso. O
desenvolvimento econômico passa a ser o processo de sistemática acumulação de capital e de
incorporação do progresso técnico ao trabalho e ao capital, refletindo em mudanças na
estrutura produtiva de uma economia (Furtado, 1961).
Imediatamente após a II Guerra Mundial, mais precisamente na década de 1950, a
idéia dominante priorizava o capital, por definição e era escasso nas economias menos
desenvolvidas. O tema do subdesenvolvimento foi foco dos trabalhos de Ragnar Nurkse,
Arthur Lewis, Nyrdal Gunnar e Albert Hirschman. Segundo Nurske (1951) as regiões
subdesenvolvidas se comparadas aos países desenvolvidos, não estavam suficientemente
equipados de capital em relação a sua população e seus recursos naturais. Portanto, o autor
aponta a formação do estoque de capital como fundamental e, apresenta os obstáculos ao
desenvolvimento dos países em desenvolvimento. Ainda de acordo com o autor a estagnação
deveria, necessariamente, estar acompanhada de uma teoria de desenvolvimento que
assinalasse as forças capazes de romper o estado de equilíbrio “estagnante’’.
57
O estudo de Lewis (1954) assinala a importância da poupança, e propõe um modelo
com extrema elasticidade da mão-de-obra transferida do setor agrícola a custo de subsistência
e define como causas imediatas do desenvolvimento, o esforço para economizar a aplicação
de conhecimento e o capital. Myrdal (1972) em seu trabalho de 1957 alertou que o
desenvolvimento econômico das nações ricas e o das nações pobres jamais convergem. Ao
contrário, divergem, uma vez que, os países pobres estão limitados à produção dos bens
primários de menor valor agregado enquanto que os países ricos usufruem dos lucros
associados à economia de escala.
O trabalho de Hirschman de 1958 destaca ao contrapor a tese do crescimento
equilibrado e argumentar que os problemas de industrialização não promoviam uma solução
simultânea e, sim, favoreciam uma série de soluções seqüenciais. Hirschman escolheu
destacar a necessidade de mecanismos de indução e apontou que o problema fundamental do
desenvolvimento consistia em gerar e canalizar energias humanas na direção desejada.
Cabe ainda destaque os trabalhos de Robert Solow de 1956, Simon Kuznets de 1955.
Solow (1956, In: Feijó, 2007b) introduziu um modelo de estrutura neoclássica, que dominaria
a formalização teórica das idéias de crescimento econômico em longo prazo e em equilíbrio e,
aponta variáveis socioeconômicas que, segundo o autor, caracterizam este estado estacionário.
O modelo enfatizou a importância do capital físico. O modelo de Solow mostra que por
maiores que sejam as taxas do investimento, as economias tendem a convergir para um estado
estacionário em que o volume da capital por habitante permanece em nível constante. Ao
analisar o modelo de crescimento de Solow conclui-se que, além da variável investimento,
para que as economias se desenvolvam, outras variáveis devem ser incorporadas, uma vez que
busca um desenvolvimento que seja consistente e em longo prazo.
O trabalho de Kuznets (1955) tem como hipótese, que o desenvolvimento faz-se
inicialmente à custa do aumento das desigualdades sociais, e que a coesão só surge depois de
consolidado o desenvolvimento. Com relação a esta hipótese, Veiga (2005a) considerou que
Kuznets foi sensato ao discutir os prováveis efeitos de sua preposição básica, ressaltando o
risco de supor que todos os países, necessariamente, percorriam o mesmo caminho para
chegar ao desenvolvimento. Suas interpretações de crescimento econômico têm bases
empíricas o que permitiu compreender melhor o desenvolvimento econômico das nações.
A partir da década de 1960, surgem vários trabalhos sobre os processos de crescimento
e desenvolvimento. O trabalho de Robert Solow progrediu na compreensão dos problemas
identificados no desenvolvimento das nações, bem como os de Simon Schultz que introduziu
58
em seus estudos o capital humano e, Paul Romer e Robert Lucas apreenderam a importância
em investimentos em ciência e tecnologia, para se chegar ao desenvolvimento e sair do estado
estacionário, Feijó (2007b). Schultz (1961) destacou-se por ter como foco as nações
subdesenvolvidas e ter proposto a noção de capital humano, que mais tarde seria retomada por
outros economistas entre esses, Gary Becker em 1970 em O capital Humano. Schultz tinha
por conceito que o capital humano que são as habilidades, os conhecimentos e as
competências adquiridas por indivíduos. Com esta definição, os custos relacionados ao
indivíduo, que normalmente são consideradas despesas, passam a configurar como acréscimos
ao estoque de capital humano, e de acordo com alguns autores, migram dos custos associados
à busca de melhores oportunidades.
Lucas (1988) criou um modelo que leva em conta o papel do capital humano no
crescimento econômico. Considerou que o trabalhador pode optar entre obter educação e
produzir. Apenas a segunda atividade influencia o crescimento econômico, mas tal influência
será tanto mais positiva quanto maior tiver sido o investimento em educação. O modelo de
desenvolvimento de Romer (1986, 1990) sugeriu que o progresso técnico é um fator interno,
no qual existe uma percentagem de trabalhadores no processo produtivo, e os restantes estão
no setor de investigação e desenvolvimento. Todavia, essa influência será tanto mais positiva
quanto maior for o nível de progresso técnico, que depende do trabalho efetuado no setor de
investigação e desenvolvimento. Assim, nos modelos de crescimento endógeno como
formulados por Robert Lucas e Paul Romer, o capital humano é introduzido como insumo que
vem promover a adoção e as inovações tecnológicas, chave para o crescimento econômico, e
que traz efeito permanente sobre o crescimento (Clemente; Higachi, 2000).
Diante deste contexto, novas idéias passam a configurar no meio econômico e outras
concepções apareceram para esclarecer as mudanças que ocorreram e ao mesmo tempo tentar
solucionar problemas surgidos no campo econômico do desenvolvimento da economia, dentre
estes o esgotamento do crescimento e baixas taxas de crescimento, aprofundando a
desigualdade de renda e pobreza. Por considerá-las importante para delinear o tema central do
trabalho, estas idéias serão discutidas em um tópico separado.
3.4 Novas concepções de desenvolvimento econômico
Nas últimas décadas, as teorias sobre desenvolvimento econômico sofreram
transformações, provocadas por dois fatores. Por um lado, pela crise e pelo declínio de regiões
59
tradicionais na indústria, bem como pelo surgimento de novas alternativas de industrialização
e desenvolvimento regional e local; por outro lado, pelos novos paradigmas no âmbito da
própria teoria macroeconômica do desenvolvimento, essencialmente, as que fazem referência
à teoria do crescimento endógeno que incorporaram nas funções de produção variáveis como
capital humano, social e natural (Martinelli; Joyal, 2004).
A crise econômica da década de 1970 constituiu estímulo para induzir outras formas
de refletir o desenvolvimento. Com o aumento do desemprego e da pobreza, mesmo nos
países de economia desenvolvida entra em descrédito o desenvolvimento, como sinônimo
crescimento e modernização. A partir desta década, o mundo assistiu ao desdobramento das
teorias econômicas, em especial aquelas de desenvolvimento regional, que buscam analisar o
espaço como uma produção social. Estas teorias buscaram desenvolver a economia das
regiões por meio da população local e em favor desta, mas valorizam de forma extrema forças
exógenas a se instalar na região para desencadear o processo de desenvolvimento. Em linhas
gerais, este tipo de desenvolvimento regional ficou conhecido como paradigma de cima para
baixo, devido à presença de forças impulsoras advindas das regiões centrais, ou seja, uma
força exógena a se instalar na região desencadeando o processo de desenvolvimento (Amaral
Filho, 2001; Oliveira; Lima, 2003). Os autores argumentaram que regiões possuidoras de
recursos naturais servem de suporte às políticas econômicas que excluem setores
fundamentais da sociedade local e em particular da sociedade civil.
A abordagem centrada no modelo de desenvolvimento de cima para baixo deixa de
lado, todos os fatores socioculturais, os psicológicos e os sociais que contribuem de forma
decisiva para a dinâmica empresarial e o incremento da riqueza, tanto física quanto humana
de um território. Este desenvolvimento tem no centro o indivíduo e não a pessoa. O sujeito
econômico procura de maneira individual, maximizar a sua utilidade, o lucro. Contudo, o
momento atual requer que agentes econômicos, utilizem mais os processos coletivos em suas
decisões e ações baseadas na cooperação, ou seja, tenhm uma base mais humana em seus
comportamentos econômicos (Cardoso; Ribeiro, In: Becker; Bandeira, 2002).
Assim, torna-se cada vez mais evidente que as abordagens centradas em nível de
abrangência territorial das grandes regiões devem ser substituídas por iniciativas voltadas na
abrangência sub-regional ou local, para que possam ser melhores avaliadas com base em
diagnósticos mais precisos que contemplem as potencialidades de áreas menores, que
apresentam problemática mais homogênea (Bandeira, 1999). Surge então, a necessidade de
60
um novo conceito de desenvolvimento capaz de resolver os problemas, sobretudo, em escalas
regionais e locais, quer na abordagem teórica, quer na interferência prática.
Na década de 1980, começou a formar consenso entre os pesquisadores que seria
necessário revisar as estratégias tradicionais da teoria regional adotadas na formulação de
políticas regionais e locais, que considerassem os investimentos em capital físico, social e
humano, bem como em inovação tecnológica, como fatores condicionantes da expansão
econômica de uma região. Então, surge nos anos 80, um novo conceito de desenvolvimento,
denominado de desenvolvimento endógeno, mas somente na década de 1990 ganhou um novo
reforço, devido ao aparecimento de iniciativas locais de emprego que tinham por objetivo
reduzir as taxas de desemprego das economias locais. Desde modo, após esta década, o
desenvolvimento endógeno, tanto regional quanto local vem ganhando espaço em diferentes
esferas, despertando interesse, sobretudo, dos agentes que buscam políticas que visam
alavancar o desenvolvimento econômico, as quais têm se tornado objeto de amplo debate e
que tem impulsionado iniciativas em diversas localidades.
Nesta nova concepção de desenvolvimento econômico, segundo Martinelli; Joyal
(2004), componentes socioculturais tornam-se relevantes. Deste modo, o espaço deixa de ser
considerado como um simples suporte físico das atividades e dos processos econômicos, e
como conseqüência os territórios e as relações entre os atores, as organizações concretas, as
técnicas de produção, o meio ambiente e a mobilização social, passam a ser mais valorizados.
Assim, essa nova concepção sobre desenvolvimento inclui outras variáveis como localidades
e sustentabilidade, além do capital humano e social, são consideradas em escala maior que
ultrapassa o campo ambiental.
Assim, seguindo nesta linha de pensamento, não se surpreende que comece a encontrar
vasta literatura com opiniões acerca das novas estruturas e divisão econômicas que abordam o
desenvolvimento sob este prisma. O próximo tópico tem por finalidade apresentar as
principais idéias dessas teorias do desenvolvimento econômico, de forma a entender a
construção de seu objeto teórico e melhor compreensão da realidade que deseja transformar.
3.4.1 Endogenia do desenvolvimento
Segundo Andrade (1987) é difícil estabelecer o que se traduz por desenvolvimento
regional. Para o autor, é um processo desencadeado por um extenso programa norteado por
vários princípios dentre os quais está inserido o capital de cada região, a população consciente
61
e interessada em participar do desenvolvimento, através do estabelecimento de políticas para
esse desenvolvimento. Tais políticas de desenvolvimento econômico implicam em maior
produção e mudanças nas disposições técnicas e institucionais. Neste contexto, as políticas
regionais procuram novos caminhos para se adequar à nova proposta socioeconômica.
Essa nova abordagem mais abrangente busca uma reconstrução conceitual, através do
enfoque regional e local, tendo-se em vista que esta toma um caminho metodológico
semelhante àquele seguido por Hirschman (1960), o qual pode ser caracterizado como um
caminho holístico, sistêmico e evolutivo. Esta metodologia, segundo Martinelli e Joyal
(2004), deve ser utilizada para atingir um padrão ideal de condições e estratégias para
construir um modelo de desenvolvimento regional e local, que seja endógeno e sustentado.
Esta proposta de modelo alternativo de desenvolvimento passa pela ênfase que se deveria
colocar no meio e nas dinâmicas locais. Para os autores, melhoria dos recursos humanos,
organização social, gestão social e empreendedorismo, são pilares fundamentais, quando se
fala em promoção do desenvolvimento baseado em ações locais, na participação e aliança
entre vários segmentos da sociedade.
Esses pilares permitem falar em endogenia do desenvolvimento, pois refere à
capacidade de identificar e promover fatores de desenvolvimento a partir das potencialidades
locais e, por introduzir iniciativas protagonizadas por organizações sociais de uma região ou
território. Deste modo, desenvolvimento endógeno, para Martinelli e Joyal (2004), é definido
como um processo integral de expansão de oportunidades feito com recursos endógenos, isto
é, recursos oriundos da própria região. O desenvolvimento endógeno é determinado ao nível
da menor escala territorial possível e a partir da identidade territorial das populações.
Desenvolvimento com endogenização, seja regional ou local, tem-se constituído referência
básica da defesa de um modelo alternativo de desenvolvimento, distinto da concepção
dominante de uma dinâmica centralizada e uniformizada.
Esse modelo alternativo de desenvolvimento definido como modelo endógeno é
construído de baixo para cima (Martinelli; Joyal, op. cit; Oliveira; Lima, 2003), partindo das
potencialidades socioeconômicas originais. Constitui um processo interno de ampliação
contínua de agregação de valor na produção, que abrange a capacidade de assimilação da
região, com desdobramento da retenção do excedente gerado na economia local ou na atração
de excedentes provenientes de outras regiões. Esse processo tem por objetivo a ampliação do
emprego, do produto e da renda do local ou da região.
62
González (1998) considera que é importante fazer a distinção entre desenvolvimento
endógeno, do chamado localizado. Para este autor, o desenvolvimento localizado trata de um
desenvolvimento econômico e social, restrito a um espaço concreto dentro de uma dinâmica
geral cambiante, sendo um processo que afeta todas as estruturas produtivas e sociais e que
distribui por todos os territórios afetados por ele mesmo. Enquanto o desenvolvimento
endógeno envolve todos estes aspectos, mas difere por ser voluntário e compatibilizado ou, no
mínimo, conhecido da sociedade na qual se passa o processo, com introdução de inovações
que geram valor adicional a suas atividades produtivas, diferente daquele em seu entorno.
O desenvolvimento endógeno é caracterizado pela cultura do contexto em que se situa,
sendo considerado como projeto por François Perroux (1961), caminho histórico por Ignacy
Sachs (1993) e pluridimensional por Henri Bartoli (1999). Assim, o desenvolvimento
endógeno pode ser analisado como o conjunto de atividades culturais, econômicas, políticas e
sociais, visto sob a ótica inter-setorial e trans-escalar, onde os atores participam de um projeto
de transformação da realidade local.
Autores como Maillat, Friedman e Vázquez Barquero, salientam o papel central e
mediador da cultura local, na forma e teor do desenvolvimento. Para os autores a cultura
torna-se fundamental na explicação das discrepâncias de crescimento e das dinâmicas
territoriais distintas. Ainda em relação as distorções econômicas entre regiões, Martinelli e
Joyal (2004), utilizaram do desenvolvimento endógeno para identificar e explicar as causas de
crescimento diferenciado, tanto em ritmo como em estilo em certas regiões, sem recorrer a
fatores exógenos ou a fatores de produção assentados na estruturação do trabalho.
Apesar de constituir um movimento de forte conteúdo interno, o desenvolvimento
endógeno está inserido em uma realidade mais ampla e complexa, com a qual interage e da
qual recebe influências e pressões positivas e negativas. Dentro das condições
contemporâneas de globalização e intenso processo de transformação, o desenvolvimento
endógeno representa também alguma forma de integração econômica com o contexto regional
e nacional, que gera e redefine oportunidades e ameaças, o que exige competitividade e
especialização (Buarque; Bezerra 1994; Veiga, 2005b).
Vázquez Barquero (1988) argumentou que uma das relevâncias do desenvolvimento
endógeno consiste na capacidade de cooperação entre seus atores e mostrou ser conveniente
detalhar a análise das formas de cooperação institucional ou voluntária que se produzem entre
eles, desde que o objetivo seja o desenvolvimento local.
63
Segundo Martinelli e Joyal (op. cit.) ao buscar o desenvolvimento a partir de uma
perspectiva endógena, significa dar ênfase aos fatores internos capazes de transformar um
impulso externo de crescimento econômico em desenvolvimento para toda a sociedade. Pode-
se dizer que nessa abordagem há certa distância em relação aos pressupostos da racionalidade
puramente econômica e, não aceita os preços e os mercados como os únicos mecanismos
sociais de transmissão de informação ativa. Os autores sugerem que experiências sucedidas de
desenvolvimento endógeno decorrem, quase sempre, de um ambiente político e social
favorável, expresso por uma mobilização com atores sociais das localidades em torno de
determinadas prioridades e orientações básicas de desenvolvimento. Logo, procura
representar a coletividade social ao oferece sustentação e viabilidade política a iniciativas e
ações capazes de organizar as energias e promover dinamização e transformação da realidade.
O desenvolvimento endógeno, em conformidade com Vázquez Barquero (2002), é um
processo de crescimento econômico e de mudança estrutural, liderado pela comunidade local
quando utiliza seu potencial de desenvolvimento e, leva à melhoria do nível de vida da
população, ao qual pode acrescentar que se trata de um processo social integrado ao
econômico. Esse autor considera como um dos pilares da política do desenvolvimento
endógeno, as iniciativas que visam favorecer a propagação das inovações na organização
produtiva da localidade ou do território e do avanço na qualificação dos recursos humanos por
meio da adaptação da oferta de capacitação às necessidades dos diferentes sistemas
produtivos locais. Assim, nesse novo modelo de desenvolvimento, não só a inovação
tecnológica possui papel fundamental, mas também a educação e conhecimento.
Na literatura evolucionista e institucionalista recente, o debate sobre o
desenvolvimento regional e local endogeneizado tem-se dividido em duas grandes tendências:
uma de natureza indutiva e outra dedutiva (Federwisch; Zoller, 1996 apud Amaral Filho,
2001). Os indutivos, geralmente, são descritivos, partem de estudos específicos para mostrar
as particularidades de cada desenvolvimento local. Os dedutivos, comumente, partem de
postulados gerais sobre a dinâmica das organizações territoriais descentralizadas.
Como resultado, a estruturação do modelo alternativo de desenvolvimento regional
sugerido por evolucionistas e institucionalistas, como define Boisier (In: Haddad et. al.,
1988), realiza-se por meio de um processo de organização social regional, e de acordo com
Schmitz (1997), através de ação coletiva. Esse processo de estruturação tem por
particularidade ampliação da base econômica regional e local por meio de atores locais e não
mais pelo planejamento centralizado ou forças puras do mercado.
64
O desenvolvimento de um território está em grande medida condicionado pelo seu
potencial endógeno. A possibilidade de converter um território em um ambiente propício ao
desenvolvimento e com um potencial de competitividade, possível de ser empreendido, passa
a ser à base dos modelos de desenvolvimento endógeno. Estes modelos estão baseados no
conjunto de fatores como o capital físico, natural, humano e social, que podem ser objeto de
acumulação e depois de externalidades positivas. Desde modo, o nível de desenvolvimento de
cada território fica condicionado ao volume de acumulação destes fatores (Muñoz, In: Muñoz
1997; Franco, 2000b). Estas externalidades positivas foram objetos dos modelos de Robert
Lucas e Paul Romer. No modelo proposto por Romer (1986, 1990), o pressuposto básico é
que o crescimento econômico de longo prazo origina-se nas externalidades positivas
decorrentes da acumulação de conhecimento tecnológico. O modelo de Lucas (1988)
apresenta uma estrutura similar à do modelo de Romer, porém, a diferença básica é que o
investimento em capital humano proporciona as externalidades positivas, através de aumentos
no nível tecnológico (Clemente; Higachi, 2000).
A política de investimento em capital físico, mais precisamente, em infra-estrutura, é
importante para uma região, por criar condições favoráveis à formação de aglomerações de
atividades mercantis, além de criar externalidades positivas para o capital privado; mas em si
não é suficiente para criar um processo dinâmico de endogeneização do excedente econômico
local, e atrair excedentes de outras regiões (Amaral Filho, 2001).
O capital humano diz respeito à informação, ao conhecimento e à capacidade de criá-
lo. A ampliação do acesso à informação e ao conhecimento, segundo Zapata et. al. (2000),
ocorre por meio de processos educacionais contínuos e provoca mudanças de
comportamentos, transformando as pessoas em agentes produtivos, atores sociais e sujeitos de
existência. Sen (2000) relaciona capital humano à capacidade de cada individuo agir em prol
do desenvolvimento, tornando-os capazes de assumir um papel na sociedade, contribuindo na
construção de uma sociedade mais justa. Entender capital humano desta maneira é considerá-
lo como ponto de partida para transformação dos territórios.
O capital social relaciona-se com a capacidade de organização da sociedade e engloba
as redes de relações entre indivíduos; laços de confiança e obrigações mútuas; cooperação e
solidariedade e bom nível de governo, elementos capazes de estimular normas, contatos
sociais e iniciativas para potencializar o desenvolvimento humano e econômico, com laços
resistentes (Franco, 2000a, 2002; Passador, 2003).
65
Enquanto o capital humano relaciona ao indivíduo, o capital social tem a ver com o
ambiente social propício ao desenvolvimento. Portanto, criar um ambiente favorável é formar
capital social. Uma sociedade bem alicerçada, com instituições de opinião e interesse ativos,
faz diferença quando se deseja alcançar o desenvolvimento em todas as dimensões. Segundo
Passador (op. cit.) é por meio do capital social que é possível à tomada de decisão
colaborativa que resulta em beneficio a toda comunidade de determinada localidade.
O capital natural se refere às condições ambientais e territoriais. É constituído segundo
Martinelli e Joyal (2004) pela dotação de recursos naturais de um país ou região. Deve leva
em conta que as estruturas ambientais e os recursos naturais são diferentes em cada região,
isto é, cada região possui características próprias que favorecem ou não a atuação do
desenvolvimento. A capacidade territorial expressa qualidades necessárias para o território
funcionar como catalisador das demais variáveis, que proporcionam o desenvolvimento.
Clemente e Higachi (2000) afirmaram que a endogeneização do desenvolvimento
regional refere-se à elevação do nível de vida da população, salientam que essa elevação seja
observada como a elevação do nível de renda que deve ser superior ao crescimento
demográfico. Entretanto, enfocaram que a elevação do PIB per capita não se traduz
necessariamente numa melhor distribuição de renda e nem em garantias para um crescimento
futuro da produção. Esses autores reforçam a importância do crescimento auto-sustentado, o
que significa que o processo de crescimento e desenvolvimento, uma vez desencadeado, deve
apresentar um encadeamento de fases e cada uma deve procurar criar condições necessárias
para fase subseqüente, por meio do planejamento regional.
De acordo com Veiga (2006), diante da necessidade de estruturar o planejamento
regional para que ocorra o desenvolvimento, as recentes abordagens procuram utilizar uma
visão sustentável inter-relacionada e fundamentada em grande parte, nas ciências sociais
aplicadas; nos aspectos da geografia humana e organização do espaço regional e no equilíbrio
para o uso racional do meio ambiente local. Com essas dimensões percebe-se, então, que um
dos pontos que viabilizam o processo de desenvolvimento regional se traduz na aplicação de
um planejamento, considerando a capacidade de harmonizar as formas de articulação local
com uma proposta sustentável que produza raízes na vocação regional e crie uma identidade
da população local em relação à idéia de sustentabilidade.
O desenvolvimento baseado na concepção de endogenia e que pressupõe o
crescimento econômico em longo prazo e com sustentabilidade, dependerá da capacidade
social da região ou localidade em se organizar, associada à ocorrência crescente de fatores
66
endógenos e exógenos, dentre os quais pode considerar a autonomia para tomada de decisão;
habilidade regional de captação e reinversão do excedente econômico; inclusão social; ação
ambientalista; sincronismo inter-setorial e territorial do crescimento; astúcia coletiva de
pertencer à região (Boisier, apud Haddad et. al., 1994; Haddad et. al., 1999;).
Deste modo, Haddad (2001) mencionou que a idéia central e a força do processo de
desenvolvimento regional e local residem na capacidade de organização social e políticas da
região e, são constituídas no fator endógeno para transformar o crescimento econômico em
desenvolvimento. Portanto, a fase moderna da economia com modelos de crescimento
econômico de longo prazo tem sido caracterizada por elementos endogenamente gerados e de
decisões racionais dos agentes econômicos em suas atividades diárias. Nesse processo,
crescimento econômico pode ocorrer de maneira sustentada ao longo do tempo, a partir do
momento em que mescla inovações tecnológicas com geração de conhecimento, melhoria
educacional, acúmulo de capital físico, e a difunde a totalidade da população.
3.4.2 Desenvolvimento local integrado e sustentável
O desenvolvimento deve vir da base da sociedade. Decisões que irão afetar a vida de
toda comunidade, não necessitam ser originadas nos meios restritos dos governantes ou da
origem econômica, deve advir, principalmente, da sociedade civil a partir de um processo de
coordenação coletiva. Esse processo institui um potencial, no qual o efeito econômico chegue
a toda esfera política e produza um ciclo de crescimento, vindo na contra mão das exclusões
sociais (Sachs 2004; Veiga, 2005b).
Neste sentido, o desenvolvimento deve ser assumido como processo pessoal e coletivo
de criação de condições de vida e de realização de cada pessoa e de cada agregado social,
num nível considerado satisfatório. O caráter social ou socioeconômico do desenvolvimento
torna-se importante por observar uma interação permanente com a esfera econômica de modo
que assuma as exigências para alcançar a satisfação das necessidades humanas e da realização
de suas aspirações. Desde modo, o desenvolvimento local implica em crescimento econômico
em longo prazo e que traduz em produção igualitária para coletividade (Sachs, 2002, 2007).
Ao assumir o caráter endógeno, o desenvolvimento local dá a entender que os fatores
que estabelecem o progresso estão aprofundados na composição da região. E é unicamente,
pelo caminho, da conservação e manutenção da cultura regional e local, que se consegue
67
motivar os agentes locais, inserir novos conceitos, bem como incorporar inovações sem gerar
conflitos diretos com a base sociocultural da região (Franco, 2002; Vázquez Barquero, 1988).
Nesta perspectiva, a cultura local manifesta-se como uma estrutura específica de
interdependências locais, econômicas, sociais e também institucionais, que refletem interesses
locais e que, procuram influenciar a distribuição de benefícios de determinadas regiões
(Cardoso; Ribeiro, In: Becker; Bandeira, 2002). Desta forma, segundo Passador (2002), a
cultura regional, insere como elemento-chave na perspectiva de desenvolvimento. Assim, os
valores construídos a partir da evolução social de cada espaço regional delimitam a trajetória
de crescimento de cada região a longo prazo.
As visões de desenvolvimento local são variadas, assim como as práticas que se
intitulam. Moura et. al. (1999) distinguem duas abordagens nos discursos e práticas, uma
social e outra competitiva. Na social, o combate à exclusão social aparece como a linha
norteadora e as ações tendem focar os pequenos empreendimentos e os segmentos que estão à
margem do grande mercado. Já na competitiva, a ênfase está na inserção competitiva da
cidade/região no mercado e as ações tendem a se dirigir, preferencialmente, para os grandes e
médios empreendimentos. Porém, há um consenso de que o combate à exclusão social é um
critério diferenciador quando se medem as vantagens entre localidades. No entanto, muda a
qualidade da intervenção já que, para a corrente social, o fomento à economia popular assume
caráter estratégico ou exprime um novo aspecto das políticas de combate à pobreza. A idéia
de sustentabilidade, independente do enfoque, vem sendo apresentada como um dos
qualificativos dos modelos de desenvolvimento local.
Para que haja melhor compreensão do desenvolvimento local, deve contextualizar seu
surgimento que, apesar de ter diferentes abordagens, pode defini-lo, conforme (Buarque,
2000, 2002) como processo interno que mobiliza as energias sociais em espaços de pequena
escala (municípios, localidades, microrregiões, etc.) e que esboçam mudanças capazes de
elevar as oportunidades sociais, a viabilidade econômica e as condições de vida da população.
No Brasil, vários programas e projetos de desenvolvimento local vêm sendo
difundidos por agências governamentais e não-governamentais, que agregam ao termo
sustentável como um dos benefícios do desenvolvimento. Destacam neste âmbito, projetos
denominados de Desenvolvimento Local Sustentável (DLS) na região do Nordeste com
atuação conjunta do PNUD e SUDENE; o Programa Comunidade Ativa, destinado a
municípios brasileiros com baixo IDH - Índice de desenvolvimento Humano, de iniciativa do
Governo Federal, e Programa PRORENDA que há mais de dez anos atua em municípios do
68
Rio Grande do Sul e, ultimamente, em municípios nordestinos, é coordenado pela Agência de
Cooperação Alemã, a GTZ. Pode-se ainda acrescenta iniciativas voltadas para o DLS, às
iniciativas do BNDES, Banco Nordeste, Caixa Econômica Federal, SEBRAE e de outras
entidades, federais, estaduais e municipais, além de ações de diferentes ONGs.
Os conceitos e as metodologias de DLS, utilizados por estes organismos apresentam
convergências e algumas distinções, porém unificadas pela denominação Desenvolvimento
Local Integrado e Sustentável - DLIS. Vale observar os conceitos apresentados por Sueli
Couto (PNUD e SUDENE) e Markus Brose (GTZ) desta nova concepção. O conceito de
DLIS, segundo Couto (2000) é um processo que se preocupa com a melhoria da qualidade de
vida e bem-estar da população local, conservação do meio ambiente e com a participação
ativa, organizada e democrática da população, de forma consciente, para que por si própria
garanta sua sustentabilidade e continuidade. Para Brose (2000) é um processo de melhoria da
qualidade de vida que depende da complexa e contínua interação entre fatores econômicos,
políticos, sociais e culturais para acontecer e da lenta e gradual formação do capital social.
Vários autores compartilham da mesma opinião e definem que a nova forma de pensar
o desenvolvimento, conduziu ao que hoje é denominado de DLIS, ao incorporar conceitos
como territorialidade, formação de capital social e sustentabilidade. Essa expressão foi
lançada institucionalmente em 1997, porém, o destaque da idéia e dos projetos entre as
políticas de combate ou redução da pobreza, foi a partir de 1990, e envolve atores de
diferentes campos sociais, bem como atores institucionais. A expressão é usada tanto por
autores que enfatizam o papel econômico como componente determinante, quanto por aqueles
que possuem visão mais sistêmica do processo de desenvolvimento (Martinelli; Joyal, 2004).
Neste sentido, DLIS, segundo Moura et. al. (2002) é uma evolução do pensamento
local, proposto como uma forma de desenvolvimento focada na sustentabilidade das
comunidades, adaptados para completar as necessidades imediatas e estimular as vocações
locais, além de provocar o intercambio externo, com vista em suas próprias vocações. Ou
ainda, Segundo Boisier (1996, 1997) pode definir esta nova concepção de desenvolvimento,
como uma forma de inferência ao desenvolvimento que busca o emprego da participação
popular e mobilização dos recursos da sociedade civil juntamente com o Estado e o mercado,
isto é, que estas entidades trabalham em parceria. Este processo decorre da análise da situação
de cada localidade, ao identificar as necessidades peculiares, as potencialidades, as
alternativas vocacionais e a organização dos planos integrados de desenvolvimento.
69
Diante do exposto, percebe-se que o conceito de DLIS é totalmente dependente da
participação da sociedade civil. Sendo imprescindível que a população assuma sua condição
de cidadãos ativamente participativos, na construção do futuro em suas localidades. Ou seja,
de acordo com Franco op. cit. o desenvolvimento depende dos fatores que ultrapassam a
disponibilidade de recursos físicos e, englobam os fatores endógenos que formam as
características territoriais e definem o potencial de desenvolvimento das comunidades.
Assim, a nova dinâmica local faz referência aos comportamentos observados em
diferentes atores, chamados para desempenhar papel determinante para o bom
desenvolvimento da economia local, onde os recursos considerados intangíveis passam a
ocupar lugar de destaque. A ênfase é dada aos recursos que podem ser construídos, tais como:
competências, saber fazer, qualificações e outras, em vez dos recursos fornecidos pela
natureza (Maillat; Kébir, 1999 apud Martinelli; Joyal, 2004). É o que deve ter em mente uma
localidade em uma região periférica que sempre dependeu da exploração de recursos naturais
e, quando estes se esgotam e as atividades são enceradas, obrigando a comunidade encontrar
alternativas econômicas capazes de suprir necessidades imediatas e se desenvolver.
Como já foi visto, em um projeto ou programa de transformação social, há
significativo grau de interdependência entre os diversos segmentos que compõe a sociedade -
político, legal, educacional, econômico, ambiental, tecnológico e cultural e os agentes
presentes em diferentes escalas econômicas e políticas, do local ao global. A construção de
um planejamento estratégico que oriente suas ações em longo prazo deve ser articulada pelos
atores existentes em um território e, juntos, trabalham para consolidação dos projetos.
Entretanto, não se trata apenas de políticas públicas, mas de uma nova cultura de ações
voltadas para compor um objetivo em comum (Veiga 2005b).
Um programa ou projeto de desenvolvimento local busca a ampliação de discussões,
nas quais, integram todos os setores da sociedade possam participar para que consigam
apreender um patamar mínimo de renda e qualidade de vida. No âmbito desse processo, os
atores sociais constroem uma visão coletiva da realidade local e de todo o contexto, dirigindo-
se para um futuro desejado e visualizando as ações necessárias para alcançá-lo.
Logo, é fundamental pensar o desenvolvimento local como projeto integrado no
mercado, mas também como produto de relações de conflito, competição, cooperação e
reciprocidade entre atores, interesses e projetos de natureza social, política e cultural. Por
considerá-los assim, autores como Robert Putnam, Michael Woolcock, Henrique Rattner,
Ricardo Abramovay, tratam em seus respectivos campos de estudo, as redes de compromisso
70
cívico, as normas de confiança mútua, cooperativismo e associativismo, como fatores
fundamentais do desenvolvimento local. A partir dos pressupostos da relevância da formação
e do desenvolvimento do capital humano e do capital social nas localidades, Passador (2003)
considera que a organização social e relações civis constituem a pedra angular dos processos
de desenvolvimento, que almejam crescimento equilibrado e sustentado em longo prazo.
O desenvolvimento Local Integrado e Sustentável torna-se, um dos possíveis
caminhos para realizar a nova concepção de desenvolvimento em comunidades reais, que
vivem em localidades pobres do interior de todos os países, sobretudo, no Brasil.
Franco (2002), de forma oportuna, coloca que o DLIS como uma estratégia de
desconstrução da cultura pública vigente, uma vez que tal cultura possui características que
devem ser mudadas por apresentar decisões individualistas fortemente sujeitas ao contexto
social, ou seja, uma cultura cujo foco está no indivíduo e, não na pessoa. DLIS dever
incentivar práticas contrárias as vigentes - dinâmica centralizada e padronizada -, mas deve
sim, favorecer a cooperação às organizações e á participação democrática da sociedade.
Do exposto, pode-se dizer que Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável tem
por objetivo proporcionar melhor qualidade de vida e bem-estar às populações e difundi-la às
camadas mais carentes. Nestas condições é necessário pensar o desenvolvimento como
processo de transformação da estrutura social, tendo em conta as dicotomias, a deslocação de
formas de industrialização, o aumento do interesse pelos atores locais e pelas dinâmicas
endógenas. Por isso, recomenda-se a implantação ou o desenvolvimento de projetos
econômicos de caráter estruturante, que envolva uma cadeia de atividades interligadas.
Após essa abordagem sobre desenvolvimento econômico e diante da complexidade
dos problemas socioeconômicos referentes ao distrito de Alto coité, que torna necessário
integrar os diversos atores sociais e organizacionais, chega-se a conclusão que a melhor linha
de desenvolvimento que revela possibilidades de buscar o desenvolvimento e maximizar as
potencialidades do distrito esta na proposta do Desenvolvimento Local Integrado e
Sustentável. A escolha do modelo ocorreu por seu caráter estruturante, o qual busca envolver
e explorar aspectos abrangentes como o econômico, o social, o político e o cultural. Esta
escolha ainda se justifica por ser uma forma de desenvolvimento com capacidade de
promover sempre mobilizações e iniciativas dos atores locais em torno da coletividade, o que
proporciona um desencadeamento do acesso das oportunidades, do dinamismo econômico e
aumento da qualidade de vida de forma sólida e sustentável para a sociedade.
71
CAPÍTULO 4
PERFIL SOCIOECONÔMICO E PERSPECTIVAS DE ALTO COITÉ
Neste capítulo apresenta-se uma breve contextualização do município de Poxoréu,
sobretudo, do distrito Alto Coité, em seus aspectos sociais e econômicos. As constatações
obtidas a partir dos dados levantados durante as entrevistas em Alto Coité e nos órgãos
públicos municipais constituem relevante contribuição para a compreensão da realidade do
distrito, com suas características, dificuldades e potencialidades. A análise do cenário
permitiu obter informações que levaram a traçar ações eficazes, no alcance do objetivo de se
melhorar as condições de vida dos habitantes deste vilarejo.
Conhecer a conjuntura real de um país, de uma região, de um Estado ou de um
município ou até mesmo de distritos constitui etapa fundamental para delinear estratégias e
políticas para reverter às desigualdades, atender às necessidades urgentes e aproveitar as
potencialidades de uma região. Conhecer a realidade de um povo torna-se um referencial
relevante para tomar medidas adequadas na resolução de problemas das sociedades, tanto para
instituições públicas e privadas, como também para as organizações não-governamentais.
O estudo apresenta os dados de forma genérica e coerente, gerando visões
panorâmicas da realidade do município de Poxoréu, sobretudo, sobre seu principal distrito,
Alto Coité. Revela originalmente dados importantes em várias áreas, bem como confirma a
existência de grandes desigualdades no território do distrito, o que vem confirmar dados
estatísticos em nível estadual e nacional.
As comprovações obtidas por meio da tabulação dos dados, com emprego da
estatística descritiva, constituem importante contribuição para o conhecimento da realidade do
distrito. Deste modo, trás subsídios para que governantes locais, tanto o municipal quanto o
estadual, tenham como referência um quadro claro e prático da situação existente, os quais
possam nortear ações administrativas mais eficazes, na sua tarefa de melhorar a qualidade de
vida e proporcionar bem-estar a população de Alto Coité.
4.1 Contextualização geral do município de Poxoréu e do distrito Alto Coité
Este tópico limita-se a contextualizar de forma concisa o município e o distrito, objeto
do estudo, nos aspectos demográficos e socioeconômicos. A contextualização do município se
faz necessária uma vez que o distrito de Alto Coité está inserido no seu contexto.
72
4.1.1 O município
O município de Poxoréu/MT se estende por 6.326 km2 na região sudeste do estado de
Mato Grosso, correspondendo 0,77% da área de Mato Grosso e com densidade demográfica
de 2,5 hab./km2. Poxoréu possui quatro distritos administrativos, contando o distrito sede
(Poxoréu), Alto Coité, Jarudore e Paraíso de Leste, com Alto Coité configurando como o
principal distrito, não considerando a sede administrativa.
A região antes dominada pela atividade de extração mineral – no caso diamante, passa
por um processo de estagnação com o esgotamento das jazidas diamantíferas que alavancava
a economia regional, o que levou ao declínio definitivo da atividade na década de 90. O
município ainda sofre com as conseqüências econômicas, sociais e estruturais de seu passado
– inclui herança de terras degradadas e inúteis na zona rural e também ao entorno do centro
urbano e ao redor dos distritos que resistiram ao estágio de estagnação que atingiu a região.
Durante a década de 1980, ocorreu um aumento acentuado do número de habitantes do
município com crescimento populacional em torno de 2,3% a.a., em decorrência da
garimpagem que mostrou intensa atividade a partir da introdução de dragas nos garimpos da
região. Logo, com a exaustão dos depósitos diamantíferos, o cenário mudou e, passou a
ocorrer um decréscimo populacional gradativo a partir de então. No período compreendido
entre 1991 e 2000 houve uma queda de 14,9% da população municipal, em conseqüência do
grande êxodo populacional no município, o que pode ser visto na tabela 1. Na tabela 1,
também é possível perceber que até 2006 ocorre êxodo bastante acentuado no município, que
pode ser explicado a partir da ausência de perspectiva de vida da população, que se vê
obrigada a sair para outras localidades à procura de melhores condições de vida. Somente no
ano de 2007 a população de Poxoréu mostra sinais de crescimento.
A população em 2007 era de 17.5925 habitantes e estimada em 17.9856 habitantes para
2008, o que implica em um aumento em torno de 2,2% e reúne 0,6% da população do estado
(IBGE, 2007 e 2008). Atualmente a população urbana corresponde a 68,9% da população
total de Poxoréu (tabela 1). Os dados sobre a urbanização de Poxoréu encontram dispostos na
figura 2. A figura 2 mostra que a urbanização do município ocorre deste a década de 1980, na
qual apresentou 36,1%, um aumento de 9,7% em relação à década anterior. Na década
5Contagem população 2007. População recenseada e estimada, segundo os municípios - Mato Grosso – 2007. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2007). Acesso em 17/10/2008. 6 Estimativas da população para 1º de julho de 2008. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (29 de agosto de 2008). Acesso em 17/10/2008.
73
seguinte houve um aumento, mas bastante discreto se comparado com a da década anterior. O
aumento foi de 0,08 ao ano o que implica em uma diferença de 9,1% quando comparado com
o do período passado. Nos últimos dois anos a urbanização sofreu um decréscimo de 0,3% ao
ano principalmente aos assentamentos rurais, que procuram trabalhar com agricultura familiar
e também com fazendas de agricultura comercial.
Tabela 1: População e taxa de crescimento demográfico do município de Poxoréu 1970, 1980, 1991 e 2000 a 2008.
População Total 1970 1980 1991 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
27.431 28.054 23.878 20.030
19.533 18.925 18.490 18.056 17.619 17.186 17.592 17.985
Taxa Crescimento (% a.a.) 70/80 80/91
91/00 00/01 01/02 02/0
3 03/04 04/05 05/06 06/07 07/08
Des
crim
inaç
ão d
o m
unic
ípio
Pox
oréu
2,3 -14,9
-16,1
-2,5
-3,1
-2,3
-2,3
-2,4
-2,5
2,4 2,,3
Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000. Contagem população 2007. IBGE, Estimativa população 2008. SEFAZ/MT, 2001 a 2006
Figura 2: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio, urbana ou rural 1970, 1980, 1991, 2000, 2007 e 2008. Fonte: IBGE, Censos Demográficos de 1970, 1980, 1991 e 2000. Contagem população 2007. IBGE, Estimativas da população para 1º de julho de 2008.
A infra-estrutura na área de saúde e educação do município apresenta razoável
capacidade para atender as necessidades básicas da população, porém, necessita de núcleos
mais equipados para completar estes serviços e, principalmente para atender as necessidades
mais complexas. Segundo o IBGE, os serviços de saúde em 2005 contavam com 12
estabelecimentos – 1 hospital particular/SUS, com 93 leitos, o que atende ao recomendado
pela Organização Mundial de Saúde - OMS (4 leitos por mil habitantes) e 11 unidades
ambulatoriais pública, sendo 1 centro de saúde e 10 postos de saúde, sem internação e que
trabalham apenas com atendimento ambulatorial e primeiros socorros - 10 municipais e 1
federal. Dos estabelecimentos públicos, 9 trabalham com atendimento ambulatorial com
atendimento médico em especialidades básicas, e constam de uma equipe do Programa de
74
Saúde da Família - PSF, enfermeira e dentista. Nos distritos estes atendimentos são feitos 1
vez por semana, mas contam como uma equipe permanente do PSF.
Na área educacional no ano de 2007, existiam 28 escolas sendo, 17 para Ensino
Fundamental, 6 para Ensino médio e 5 pré-escolas. Para atender a demanda de 4.870
discentes, contava com 248 docentes, 116 no Ensino Fundamental, 55 Ensino médio e 21 pré-
escolas, disseminados na zona urbana e rural (ensino fundamental), há transporte escolar para
estudantes da zona rural, tanto os das escolas municipais quanto das estaduais. Ainda na área
educacional vale destacar a existência de um colégio agrícola e um da rede salesiana.
Em relação a esses e outros serviços básicos não fornecidos em Poxoréu, estes podem
ser obtidos em centros provedores e que se encontram em melhores condições de
atendimento, a população dirige-se a Primavera do Leste (30 km), Rondonópolis (85 km) e
Cuiabá (290 km), cidades mais próximas e com serviços mais adequados.
Nos aspectos econômicos o município de Poxoréu encerrou 2005, com PIB de
R$197.974.0007, o que corresponde a 0,5% do PIB estadual, ocupando 40º lugar na escala
estadual (tabela 2). Dados do IBGE mostram que o município tem ampliado sua posição no
ranking estadual, uma vez que saiu da posição 44º no ranking de 2002 no âmbito estadual.
Deve ressaltar que nos anos de 2003 e 2004 chegou a ocupar a 38º entre os municípios mato-
grossenses. Verifica aumentos consecutivos em todos os anos analisados, maiores taxas nos
períodos 2002/2003 e 2003/2004, com acréscimo de 33,2% e 32,5%, porem, apesar de ter
havido aumento no ultimo período analisado este não foi significativo, se comparado com
períodos anteriores foi praticamente nulo. A média de aumentos ficou em torno de 22,3%.
Tabela 2: Evolução do PIB a preços constantes do município de Poxoréu, 2002 a 2005.
Produto Interno Bruto (mil R$) Estado e
Município 2002 2003 2004 2005
Mato Grosso 20941060 27888658 36961123 37466137
Poxoréu 108 005 153 198 189 422 197 974
Fonte: IBGE, Contas Nacionais, 2002-2005, 2005.
A economia do município baseia-se na agricultura de cerrado para a agricultura
comercial, onde predomina a cultura de soja, algodão, milho, arroz, sorgo e milheto e, a
pecuária com predominância da pecuária de gado de corte. As demais áreas são agricultáveis
com lavouras de subsistências, trabalhadas com agricultura familiar, onde há predomínio de
7 Produto Interno Bruto dos Municípios 2002-2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (19 de dezembro de 2007). Acesso em 11 de novembro de 2008.
75
assentamentos rurais, registra-se ainda cultura perene - seringueira. A agricultura familiar
trabalha com a fruticultura (cultivos abacaxi, limão, laranja, banana, etc). Portanto, a renda do
município provém, principalmente, da pecuária intensiva e da atividade agrícola comercial e
de subsistência.
Outro aspecto da economia que vale a pena observar é referente ao valor adicionado
bruto - VAB8. Ao observar a tabela 3, pode-se notar que a economia do município é
movimentada pela agricultura cuja participação é de 69,1%, contribuindo com maior parte do
valor agregado do município e 1,2% do VAB do estado. O setor industrial é irrelevante,
contribuindo somente com 4,2% e 0,1% da arrecadação municipal e estadual,
respectivamente. Neste setor existem empresas de exploração de calcário e argila (fabricação
de tijolos), pedreiras e uma indústria de beneficiamento de algodão. O setor terciário
representa 26,9% com estabelecimentos de comércio varejista e atacadista.
Tabela 3: Valor agregado bruto do município por setor de atividade, 2005.
Contas municipais 2002-2005
Valor agregado bruto (mil R$) Estado e Município Agropecuária Indústria Serviços Total
Mato Grosso 10.743.850 6.229.480 16.418.853 33.392.185 Poxoréu 131.214 7.778 50.857 18.9850
Fonte: IBGE, Contas Nacionis, 2002-2005, 2005.
Apesar de ter um desempenho econômico expressivo, como visto anteriormente com
acréscimos sucessivos do PIB ao ano (tabela 2) e do PIB per capita ser R$11.2369, segundo o
IBGE, está abaixo 3,6% da média nacional e próxima de 16% aquém da média estadual. O
PIB per capita em Poxoréu apresentou aumentos consideráveis ao ano (tabela 4). De acordo
com os dados nos períodos analisados, o município registrou acréscimos na renda per capita,
com maior aumento em 2002/2003, em torno de 45%, maior que a média estadual. Apesar de
2004/2005, ter registrado aumento, este ficou em torno de 7%, bem abaixo dos períodos
precedentes, porém, se comparada à renda per capita estadual que registrou decréscimo em
torno de 0,6%, o município obteve bom desempenho no referido período.
Apesar do crescimento do PIB e da renda per capita neste período, a distribuição da
renda não acontece de forma adequada, portanto, não beneficia grande parcela da população,
fazendo com que o município configure entre aqueles que possuem a maioria de sua
8 Valor adicionado bruto, segundo as Grandes Regiões e Unidades da Federação - 2002-2005. Contas Regionais
do Brasil 2002-2005. Acesso em 11 de novembro de 2008. 9 Produto Interno Bruto per capita do Brasil 2002-2005. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (19 de dezembro de 2007). Acesso em 11 de novembro de 2008.
76
população vivendo em condições precárias, este fato decorre do aumento de renda vir
acompanhado de maior concentração de renda. Este fato corrobora que o fato de aumentar a
renda não é suficiente, deve-se e faz-se necessário que haja distribuição justa da mesma.
A região que dependia tradicionalmente da extração de mineral, hoje tenta sobreviver
da pecuária e da agricultura além do turismo que tem crescido em importância nos últimos
anos, beneficiando-se da forte identidade cultural local e de singulares paisagens naturais.
Tabela 4: Evolução do PIB per capita do município de Poxoréu, 2002 a 2005.
Fonte: IBGE, Contas Regionais do Brasil 2002-2005, 2005.
4.1.2 O distrito
Alto Coité é uma pequena comunidade do município de Poxoréu, com população de
pouco mais de dois mil habitantes. Está localizado na parte noroeste do município de
Poxoréu, às margens do rio Coité e é considerado o principal distrito de Poxoréu.
Segundo o IBGE a população do distrito em 2007 era de 233010 habitantes e a
estimativa para 2008 era de 238311 habitantes, ou seja, 13% da população do município
residem na área pertencente ao distrito de Alto Coité (tabela 5).
Tabela 5: Distribuição Relativa da População segundo situação de domicílio: Urbano/rural, 2007 e 2008.
População em valor absoluto População em valor relativo (%) 2007 2008 2007 2008
Município/distrito
Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Urbana Rural Poxoréu 10390 2065 10622 2111 83,43 16,57 83,42 16,58
Alto Coité 858 1472 879 1504 36,8 63,2 36,8 63,2 Jarudore 514 1511 525 1545 25,4 74,6 25,9 74,1
Paraíso do Leste 366 416 374 425 46,8 53,2 46,8 53,2
Município 12128 5464 12400 5585 68,9% 31,1% 68,9% 32,1%
Fonte: IBGE, estimativa p/2008.
10 Contagem da população 2007. População recenseada e estimada. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), (1º de abril de 2007). Acesso em 5 de novembro de 2008. 11 Estimativas da população para 1º de julho de 2008. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), (29
de agosto de 2008). Acesso em 5 de novembro de 2008.
PIB per capita R$ Estado e Município 2002 2003 2004 2005
Mato Grosso 7928 10341 13445 13365
Poxoréu 5707 8285 10491 11236
77
Alto Coité possui atualmente 955 residências, mas somente 710 encontram-se
habitadas, sendo que na zona rural situam-se cerca de 75,6% de imóveis habitáveis, enquanto
na zona urbana este percentual está na faixa de 72,6% (tabela 6). Esta diferença deve-se ao
fato de não existir na vila, trabalho suficiente para ocupar a população economicamente ativa,
assim, a população se vê obrigada a residir no campo onde o mercado de trabalho é maior e,
também se deve aos assentamentos rurais que tem levado um grande contingente para o
campo fazendo o inverso do percorrido nas décadas passadas.
Tabela 6: Domicílios ocupados por localização do distrito de Alto Coité, 2008.
Domicílios por ocupação
Urbana Rural Especificação Total Ocupados Não ocupados Total Ocupados Não ocupados
Vl. Absoluto 405 294 111 550 416 134
Vl. relativo (%) 100 72,6 27,4 100 75,6 24,4 Fonte: IBGE, Estimativa p/ 2008.
A infra-estrutura do distrito é baixíssima, não atendendo às necessidades essenciais
da população que vive no distrito, o que implica que para ter suas necessidades básicas
atendidas a população deve recorrer à sede administrativa, que dispõe infra-estrutura razoável.
Na área da saúde o distrito dispõe de um posto de saúde de assistência familiar (PSF/SUS) e
conjugado a este existe uma farmácia com medicação básica. No PSF de Alto Coité,
trabalham 2 auxiliares de enfermagem responsáveis pelos atendimentos de primeiros socorros
e 3 agentes de saúde que visitam as casas, sendo que cada um faz 8 visitas diárias. Uma vez
por semana, há atendimento médico e, quando necessário os doentes são enviados a Poxoréu.
Ainda semanalmente ocorre a visita de uma enfermeira chefe e um dentista.
A área educacional do distrito conta com uma Escola Estadual de 1º e 2º graus e uma
pré-escola municipal que funciona em uma sala cedida pelo estado. Atualmente a escola está
em reforma e funciona em uma casa cedida por uma ONG que trabalha no distrito. A escola
estadual possuía 227 alunos matriculados em 2008, assistidos por 17 professores, distribuídos
entre o ensino fundamental, 159 alunos, e ensino médio, 68 alunos além da pré-escola com 21
alunos e 1 professor. Existe série com apenas 9 alunos. Este número deve-se ao fato de muitos
pais preferirem que os filhos estudem em escolas da sede municipal.
Na escola de Alto Coité só estudam alunos do próprio vilarejo, os alunos que residem
na zona rural próxima a Alto Coité estudam nas escolas de Poxoréu, e os que encontram
próximos de Primavera do Leste estudam em escolas dessa localidade.
78
Este quadro é o reflexo de uma comunidade que sobrevive à margem da sociedade e
sofre as conseqüências do isolamento e abandono do setor público municipal. A falta de
esclarecimento da população também tem influência sobre este quadro, pois muitos pais
preferem mandar os filhos estudar em Poxoréu, talvez por razões de preconceito ou pela busca
de um ensino de melhor qualidade, uma vez, que as escolas de Poxoréu possuem melhor
infra-estrutura, como por exemplo, o Colégio Salesiano e o Colégio Agrícola.
A economia do distrito é mantida pela agricultura, pecuária e mineração. Atualmente
nas terras que integram o distrito de Alto Coité, as atividades econômicas desenvolvidas são a
agricultura (comercial e subsistência), a pecuária (corte e leite), e a mineração (garimpos de
diamantes e pedreiras).
Ao se dividir a área que compõe o município de Poxoréu em norte e sul, o distrito de
Alto Coité localiza-se na porção norte, e segundo informações na Secretaria de Agricultura, é
nesta região, nas proximidades do município de Primavera do Leste, que se localizam os
planaltos, onde está disposta a agricultura comercial do município (soja, algodão, milho,
sorgo e outras), predominando a lavoura de soja.
Na região sul do município, onde estão situados os outros distritos e as áreas de
entorno da sede administrativa, a agricultura é de subsistência, principalmente a fruticultura
praticada nos assentamentos rurais. A pecuária do distrito predomina a pecuária de corte, não
fugindo a regra do município. A mineração sobrevive das pedreiras que se instalaram na
região, sendo uma fonte de geração de emprego e renda, apesar de não contribuir de maneira
eficaz para o desenvolvimento econômico e social no distrito. Não pode-se deixar de
mencionar os garimpos, que mesmo estando em sua pior fase, ainda constituem uma fonte de
renda para muitas famílias residentes na vila.
O setor terciário é pouco representativo, sendo ocupado por poucos estabelecimentos
comerciais voltados essencialmente para a comercialização de produtos alimentícios e bares.
4.2 Resultados da pesquisa junto à população de Alto Coité
Este item apresenta os resultados da pesquisa realizada com moradores de Alto Coité.
Os dados necessários para a concretização do levantamento socioeconômico do distrito foram
obtidos por meio de entrevista, preenchimento de questionário e verificações in loco,
documentadas em arquivo fotográfico e observações. A entrevista foi realizada em
79
outubro/2008, com 53 moradores da zona urbana – vila. Nesse levantamento, focalizaram-se
apenas alguns aspectos plausíveis de buscar junto à população de Alto Coité.
O estudo a seguir apresenta os dados de forma geral e reproduz um cenário
panorâmico da realidade de Alto Coité além de revelar aspectos inéditos e importantes em
várias áreas do levantamento feito e, vem confirmar a existência de grandes desigualdades no
território nacional, regional e local.
Os dados analisados visando caracterizar, principalmente, os aspectos sociais dos
habitantes do vilarejo e, procurou-se também estabelecer correlações de alguns fatores físicos
e socioeconômicos com o êxodo populacional para outras localidades, tanto no âmbito
estadual, quanto nacional.
4.2.1 Perfil da população
Com as informações obtidas junto à população de Alto Coité pôde-se traçar o perfil
socioeconômico do distrito. A participação de mulheres na entrevista representou 66%
enquanto a dos homens foi de 34%. Este percentual de pouco menos que o dobro, da
participação feminina se deve, em parte, ao fato dos homens constituírem a força de trabalho e
arcar com o sustento familiar, portanto, estarem ausentes no decorrer do dia. Por outro lado,
dados obtidos nas entrevistas realizadas com moradores, apontaram que 83,3% do sexo
masculino têm idade superior a 60 anos, sendo que 66,7% deste percentual apresentam idade
superior a 70 anos e, embora aposentada, compõem a base de sustentação familiar.
A faixa etária é usada para verificar a estrutura populacional em relação à idade e,
constitui um complemento para monitor a qualidade de vida e bem-estar da população, ao
permitir visualizar aspectos como a média de tempo de vida, e a regularidade, ou não, da
população ao longo do tempo.
A população de Alto Coité pode ser considerada idosa com maior concentração na
faixa etária acima de 50 anos, abrangendo 69,8%. A maioria dos entrevistados declarou ter
idade entre 60 e 79 anos, o que corresponde a 39,6% e, 11,3 declararam ter idade entre 80 e
90 anos. A minoria é de jovens com idade entre 20 a 29 anos, representando somente 7,5%
(figura 3). A representatividade de pessoas com idade superior a 30 anos deve-se ao fato de
que os jovens saem do local de origem em busca de melhores condições de vida, uma vez que
não existe trabalho para atender suas ansiedades de emprego e renda. A baixa
representatividade de grupos mais jovens não surpreende, pois é comum localidades como
80
Alto Coité, não conseguir manter os jovens, uma vez que muitos vão à busca emprego e,
também não se deve esquecer a esfera educacional, que geralmente é precária e obriga estes
jovens a buscar alternativas em outros lugares.
Figura 3: Faixa etária dos entrevistados de Alto Coité.
As informações quanto à origem e tempo de permanência estão descritas nas figuras 4
e 5, respectivamente.
O distrito de Alto Coité foi formado por pessoas provenientes de outras regiões do país
e de outros municípios de estado de Mato Grosso. A figura 4 trás a caracterização da origem
da população do distrito. Dentre os principais estados de origem da população, destaca-se a
Bahia com 18,9% e Goiás com 11,3%, Mato Grosso do Sul com 5,7%, os demais estados,
distribuído entre Piauí, Pará, São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul contribuem com
11,3%, cada um com 1,9%. Vale ressaltar que Mato Grosso participa com 52,8% da migração
para Alto Coité. Dentro de Mato Grosso e da Bahia existe predominância de regiões em
relação aos lugares de nascimento. Entre os moradores de origem mato-grossense, 42,8 % têm
como principal área de origem o próprio município de Poxoréu. Outro município de origem é
Guiratinga com 17,9%. Os baianos são provenientes principalmente de Barreiras.
Figura 4: Estado de origem dos entrevistados.
Os dados analisados revelaram, ainda, a importância da população baiana para o
distrito, não somente devido à contribuição daqueles que migraram para Alto Coité, mas,
também em função do tempo de permanência no lugar. Quanto ao tempo de permanência
(figura 5), o que se observa é que a maioria reside a mais de 50 anos no distrito, sendo 22,5%.
Em torno de 13%, reside a menos de 5 anos no distrito e, os que nasceram na localidade
81
correspondem a 15%. Das pessoas provenientes da Bahia, 90% estão a mais de 30 anos na
localidade e destes 55,6% vivem a mais de 50 anos em Alto Coité. Portanto, mais de 50%
deixaram sua longínqua terra natal a pelo menos 5 décadas, deixando para trás uma vida
sacrificada pela seca e desmandos do coronelismo, sobretudo, aqueles vindos do nordeste,
trazendo consigo sonhos e esperança de uma vida com melhor qualidade.
Figura 5: Tempo de permanência em Alto Coité.
No campo educacional, nota-se que o analfabetismo é maior na população masculina
com 20,8% dos analfabetos, contra 15% do feminino, o que significa que 35,8% dos
entrevistados são analfabetos, fato este que pode ser observado na figura 6. As mulheres
superam os homens em quase todos os níveis escolares, exceto no nível superior.
Ainda relacionado ao nível de escolaridade, à maior proporção está entre os que
possuem o ensino fundamental com 43,5% e, destes a maior proporcionalidade é de
fundamental incompleto até a 4ª série com aproximadamente 21%. O analfabetismo está entre
as pessoas com idade superior a 60 anos e os que possuem o ensino fundamental até a 4ª série
tem mais de 55 anos (figura 7). Pessoas com média de idade de 30 a 38 anos possuem ensino
fundamental e ensino médio completo. É importante ressaltar que no geral o nível de
escolaridade é bastante baixo entre os moradores entrevistados, principalmente em
conseqüência de Alto Coité ter uma população idosa e, desta forma os dados confirmam os
dados nacional e estadual, que demonstram que a população mais idosa configura entre os que
possuem menor escolaridade.
Figura 6: Nível de escolaridade por sexo.
82
Figura 7: Nível de escolaridade de todos entrevistados.
Em relação à aposentadoria e pensão, a maior parte das pessoas entrevistadas não é
aposentada e nem pensionista, o que totaliza 58,5%, enquanto que os aposentados em minoria
perfazem 39,8% (figura 8). Entre os aposentados existem duas pessoas que também são
pensionistas. Ainda em relação à aposentadoria vale destacar que 85,7% dos aposentados têm
mais de 70 anos e o restante tem idade compreendida entre 60 e 70 anos, e os não aposentados
25% tem idade superior a 60 anos, sendo 1 com 72 anos.
Figura 8: Percentual de aposentados e pensionistas.
O tempo de aposentadoria está representado na figura 9, no qual é possível observar
que entre os entrevistados, 38% deles, recebem aposentadoria a menos de 5 anos, e somente
19% recebe a mais de 30 anos.
Figura 9: Tempo de recebimento da aposentadoria.
Com relação ao trabalho e renda, um dos fatores que compreende o desenvolvimento
com inclusão social, de acordo com as informações obtidas, somente 32,1% exerce algum tipo
de atividade remunerada, ficando a maioria, ou seja, 67,9% desprovidos de qualquer tipo de
atividade remunerada. Entre os entrevistados estão agentes de saúde, comerciantes,
83
merendeira, pequenos produtores rurais, veterinário, tabeliã e outros, mas existem também
pessoas que trabalham como autônomos (fazendas – agricultura e pecuária). Das pessoas que
exercem alguma atividade remunerada 35,3% gostariam de exercer outra atividade, com faixa
etária entre 20 e 45 anos. Os que não gostariam de exercer outra atividade, encontram-se
situados na faixa etária superior a 55 anos.
Outra questão analisada foi a que diz respeito à habilidade da população com trabalhos
manuais e é relevante para uma das proposições finais do trabalho. Os dados referentes à
habilidade manual estão dispostos na figura 10. Somente 39% declararam possuir algum tipo
de habilidade manual, e a maioria (71%) não possui nenhum tipo de habilidade com trabalhos
manuais. O percentual de entrevistados que utiliza algum tipo de trabalho manual ou que não
possuem nenhuma habilidade, encontra-se entre àqueles com idade superior a 60 anos.
Figura 10: Percentual de entrevistados que possuem ou não possuem habilidade manual.
Entre os que executam algum tipo de trabalho manual, existem aqueles que gostariam
de aprender outras modalidades de trabalho manual. Geralmente são pessoas que possuem
idade inferior a 60 anos. Dentre os entrevistados que gostaria de fazer outro tipo de trabalho
artesanal, a maioria gostariam de trabalhar com artesanato relacionado com os rejeitos dos
garimpos. Aqueles que não gostariam de aprender novas técnicas tem idade superior a 60
anos. Dos que não fazem nenhum tipo de artesanato, 64,8%, responderam que gostariam de
trabalhar com algum tipo de artesanato ou qualquer outro trabalho que lhes proporcionasse
algum tipo de remuneração para ajudar na despesa familiar. Entre os trabalhos artesanais
citados pelos entrevistados que se dispôs a aprender técnicas artesanais, os mais citados se
referem aos trabalhos com rejeitos dos garimpos.
Pode-se observar que o que realmente importa para estas pessoas é ter um trabalho que
lhes garanta melhoria no bem-estar, qualidade de vida e realização humana. A sociedade de
Alto Coité busca um desenvolvimento que seja capaz de incorporar a população
marginalizada e que venha reduzir, não somente os desequilíbrios econômicos como também
os sociais que desestabilizam a sociedade como um todo.
84
4.2.2 Caracterização das famílias
Com as informações obtidas nas entrevistas pôde-se traçar o perfil das famílias de Alto
Coité. Entre os entrevistados a média de filhos é de 3,3 e, a média de pessoas por domicílios é
de 2,8. O pequeno número de moradores por domicílios reflete a falta de emprego que impera
no distrito, o que obriga muitas pessoas a saírem de seus lares em busca de emprego e,
conseqüentemente, melhores qualidade de vida para si e seus familiares. Estes dados estão
dispostos nas figuras 11, 12 e 13. A figura 11 mostra o número de habitantes por residências,
permitindo observar que 32% moram sozinhos, 24,5% moram em casas com 3 pessoas e
18,9% moram com mais de 5 pessoas. Das residências com um único morador, em 75,6%
todos os outros membros foram embora.
Figura 11: Número de moradores por residências.
De acordo com os dados declarados pelas famílias em 71,7% das residências pelo
menos 1 pessoa reside em outra localidade, seja no próprio estado ou em outros estados, e
destas 39,5% todos os familiares foram embora e 26,3% mais de 3 pessoas das famílias foram
embora (figura 12). O elevado número de pessoas que abandonaram o lugarejo deve-se ao
fator emprego e renda, cujo índice é quase nulo para atender a demanda do distrito, situação
que leva as pessoas a deixarem para trás mulheres, filhos e pais, em busca de um meio de
sobrevivência e de bem-estar, por conseguinte estendê-lo aos familiares que permaneceram
para trás. As pessoas que migram de Alto Coité têm como destino, principalmente, as
localidades próximas ao distrito, assim sendo, a migração ocorre praticamente dentro do
próprio estado, como Primavera do Leste 50%, Cuiabá e Rondonópolis com 15,9% cada. Fora
do estado o local de residência é Goiás, Rondônia, Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
85
Gráfico 12: Percentual das famílias que possuem algum membro que mora em outra localidade.
A figura 13 reforça que a questão de emprego é o que leva as pessoas a saírem para
outras regiões do país. Segundo informações, 73,6% das pessoas que mudaram de Alto Coité
apenas trabalham e 18,4% trabalham e estudam, sendo que somente 8% deixaram a cidade
com o objetivo de apenas estudar. Portanto, a educação não é prioridade entre os moradores
de Alto Coité, e um maior nível de educação é suprimido pelo fator emprego e renda. Isto
ocorre em função do desemprego, pobreza e falta de perspectiva de vida da população. A
profissão das pessoas que migraram, está distribuída entre áreas da saúde, educação
(professor), contador, comerciante, construção civil (pedreiro), fazenda (pecuária e
agricultura), secretaria do lar, motorista, vendas, outros.
Figura 13: Situação dos membros das famílias que foram embora.
Em relação ao nível de estudo dos membros das famílias (figura 14), observou-se que
não há analfabetos em 34% das famílias todos os filhos estudaram somente o ensino
fundamental, em 15% delas todos cursaram ensino médio, 17% cursaram ensino médio e não
concluíram o fundamental, 13,2% possuem membros que cursaram ensino superior e, em
apenas 5,7% todos os membros possuem curso superior. Do total 3,8% não souberam
responder e seis famílias não possuem membros com idade escolar ou não possuem filhos, o
que corresponde a 11,3%. Estas informações dizem respeito somente à escolaridade dos
filhos, pois a maioria os cônjuges somente possuem apenas ensino fundamental.
86
Figura 14: Escolaridade dos membros da família.
Com relação ao rendimento, em Alto Coité, verificou-se que o rendimento mensal das
famílias pesquisadas encontra-se a um nível baixo, pois 64,1% recebem de ½ a 1 ½ salário
mínimo, e nestes estão inclusos os benefícios do Governo (bolsa família)12. Na figura 15,
pode-se observar que 8 famílias (9,4%) recebem menos de ½ salário mínimo, foram
considerados rendimentos os benefícios concedidos pelo Governo Federal, 3,8% não possui
rendimento e 24,5% das famílias recebem 2 a 3 salários mínimos. Mas, existem famílias com
rendimento mensal de 4, 5 e 11 salários mínimos, cuja fonte provém de comércio, fazendas e
alugueis. Das famílias entrevistas, em 56,6% pelo menos 1 pessoa exerce atividade
remunerada, sendo 53,3% o próprio entrevistado, em 40% a atividade é exercida por outro
membro da família e somente 1 família, que corresponde a 3,3% mais de 1 pessoa exerce
atividade remunerada. Somente em 30% das casas, os trabalhadores possuem carteira
assinada, a maioria trabalha em outras localidades. Este dado mostra que os empregos, em sua
maioria são temporários ou as pessoas trabalham por conta própria.
Figura 15: Nível de renda mensal das famílias.
(1) Exclusive os rendimentos das pessoas cuja condição na família é aposentada/pensionista. (2) Inclusive as famílias cujos componentes receberam somente em benefícios. (3) Exclusive as famílias sem declaração do valor do rendimento.
Quanto aos rendimentos procedentes dos benefícios concedidos pelo Governo Federal
(bolsa família), vale ressaltar que das famílias entrevistadas somente 14 delas recebem estes
12 Ver Lei nº.10.836, de 09 de janeiro de 2004 e Decreto nº. 5.209, de 17 de setembro de 2004.
87
benefícios, o que equivale a 26,42%, ficando a grande maioria desprovida destes benefícios,
isto é, 73,58%. O menor tempo de recebimento do beneficio corresponde a 4 meses, mas
existem famílias que recebem o beneficio há aproximadamente 8 anos. A figura 16 mostra o
tempo equivalente ao recebimento do beneficio pelas famílias beneficiadas. Entre os
entrevistados, 1 recebeu o beneficio por 2 anos, mas perdeu o beneficio no ano da entrevista
(2008) e não soube explicar a causa. Durante a entrevista foi possível notar que as famílias
precisam do beneficio concedido pelo governo, mas por algum motivo, ficaram fora do
programa e não souberam explicar o por quê.
O programa bolsa família é uma transferência de renda a famílias de baixa renda e as
mesmas devem está em situação de pobreza ou de extrema pobreza. Integra a estratégia fome
zero, cuja missão é de assegurar o direito humano à alimentação adequada, promovendo a
segurança alimentar e nutricional, contribuindo para a erradicação da extrema pobreza e para
a conquista da cidadania pela parcela da população mais vulnerável à fome.
Figura 16: Tempo de recebimento do programa bolsa família.
4.2.3 Caracterização dos domicílios
Em Alto Coité, a questão domiciliar não é diferente de outros lugares do Brasil, e a
maioria da população vive em situação precária e são obrigados a conviver com graves
problemas de moradia e saneamento básico. De acordo com o IBGE um domicílio adequado
deve-se contar critérios como rede de serviços urbanos e canalização interna.
O diferencial de Alto Coité diz respeito ao número de casas próprias, que segundo os
entrevistados, 88,7% possuem casa própria; 7,5% moram de aluguel e 3,8% moram em casa
cedida. A média de cômodos por residência é de 5,2, o que torna as residências razoavelmente
confortáveis, ao considerar a média de moradores por residência - não ultrapassa 3 pessoas.
Quanto à tipologia de construção das residências predomina de edificações de tijolo,
correspondendo a 68%; 56,6% possuem telhado de cerâmica e em torno de 77% tem piso de
cimento (figura 17).
88
Figura 17: Tipologia dos domicílios.
Com relação ao saneamento básico, 100% dos domicílios são atendidos com fossa
séptica com sistema de esgoto doméstico e a coleta de lixo acontece uma vez por semana em
todos os domicílios. Apenas 60,4% das moradias possuem banheiro na área interna da casa e
todos responderam que tem abastecimento de água proveniente da rede de serviço da
Sanecap, mas somente 68% possuem canalização interna (figura 18). Todas as residências
possuem energia elétrica, distribuída pela rede Cemat. Apesar de existirem estes serviços
básicos e os mesmos atingirem uma gama considerável da população, foi possível observar
que a questão habitacional está longe de ser adequada em Alto Coité, essencialmente ao que
se refere às edificações. Estas não podem ser consideradas de boa qualidade em sua maioria,
bem como a situação do esgoto doméstico que, embora os moradores tenham declarado a
existência de fossas sépticas, estas não passam de fossas domésticas, construídas nos próprios
quintais das residências, sem nenhum tratamento especifico.
Figura 18: Domicílios atendidos por saneamento básico.
4.2.4 A garimpagem e os garimpos
Como exposto anteriormente, a força de migração e crescimento econômico do
município de Poxoréu e do povoado Alto Coité foi a garimpagem. A população inicial foi
formada por pessoas que vieram de várias regiões do país e de deferentes partes do Estado de
Mato Grosso, sempre movidas pela atração de riqueza fácil e, por conseguinte, melhoria de
89
vida para si e seus familiares. No entanto, com o esgotamento dos depósitos de diamantes,
Poxoréu perdeu muito de sua atração como zona garimpeira, o que pode ser constatado com a
observação da decadência e descaso a que estão submetidos seus distritos e, mesmo a sede.
Por ser uma zona de garimpos sentiu-se a necessidade de conhecer a opinião dos
moradores quanto à permanência dos garimpos, trabalho, organização e, especialmente suas
perspectivas em relação aos mesmos. Antes de mostrar os resultados compilados da pesquisa
e obtidos junto aos moradores de Alto Coité, faz-se uma breve caracterização da atual
situação dos garimpos no município, por conseguinte, no distrito.
4.2.4.1 Caracterização dos garimpos
Informações sobre a garimpagem e os garimpos em Poxoréu e Alto Coité, na grande
maioria, são quase impossíveis de serem obtidas, salvo a própria constatação da atividade
garimpeira, tamanho da cava e espessura mínima de cobertura estéril e outras raras exceções
reveladas por garimpeiros que ainda estão na ativa. Esta falta de informação acontece,
principalmente, pelo fato de que a grande maioria dos garimpos está em situação irregular e
também ocorrência de ter pouquíssimos garimpos em funcionamento. A carência de
informações pode ser sanada um pouco junto aos garimpeiros e moradores, porém são
informações prestadas de forma vagas. Dados mais relevantes foram obtidos por observações
de campo e através da Cooperativa dos Garimpeiros se que encontra em fase de estruturação.
Uma síntese das informações cadastradas encontra-se na primeira parte deste tópico; nota-se
uma escassez relativamente a dados de produção diamantífera, comercialização e outros.
O primeiro aspecto que se destaca nos garimpos da região de Poxoréu e Alto Coité é
seu caráter rudimentar, tanto na exploração quanto no aproveitamento do material garimpado,
sendo que sempre ocorrem danos ao meio ambiente, mesmo porque as atividades garimpeiras
sempre foram amparadas no conhecimento empírico dos garimpeiros e nos seus sonhos.
Atualmente, os garimpeiros que ainda persistem, fazem a exploração de novas catas
quase sempre ao lado de catas antigas ou em trechos de aluviões anteriormente explorados e a
maioria deles está em situação irregular perante o DNPM e nos órgãos ambientais. Em
diversos pontos verificou-se mais de uma fase de garimpagem, pois, ao lado de catas
entulhadas e pilhas de cascalho já recobertas por vegetação, foram observadas catas recentes.
Hoje em dia, a realidade do município, bem como de Alto Coité, segue o padrão de outros
municípios que surgiram com a atividade garimpeira.
90
Apesar da decadência ao longo do tempo os garimpos ainda resistem, embora
encontrem dificuldades maiores, não só legais como também no que diz respeito às
dificuldades para extração e recuperação, uma vez que os depósitos encontram-se em posições
mais profundas no subsolo. Ainda podem ser encontrados alguns garimpos que trabalham
com dragas (7 garimpeiros) e motor a bomba (4 garimpeiros), além de garimpeiros
trabalhando nos “regos d’água” e nos “monchões”. Segundo dados divulgados pela
Cooperativa de Garimpeiros de Poxoréu existem, atualmente, no município em torno de 1500
garimpos em atividade, sendo que destes 300 encontram-se nos arredores de Alto Coité. Deste
total de homens trabalhando, pouquíssimos estão lotados em um dos quatro garimpos
legalizados da região e, outros em um dos 6 que estão em processo de legalização e que são
do conhecimento da Cooperativa dos Garimpeiros. Estes 10 garimpos estão registrados junto
ao DNPM e à Cooperativa, porém, existem outras áreas legalizadas junto ao DNPM, mas que
não possuem registro na Cooperativa, desta forma o número exato de garimpos legalizados
e/ou em processos de legalização no município de Poxoréu é desconhecido. A falta de
garimpos legalizados junto aos órgãos competentes advém muitas vezes do preço cobrado
para concessão da área, o que fica em torno de R$10.000,00. Em relação aos garimpeiros, a
cooperativa informou que existem 200 garimpeiros registrados, mas somente 42 estão
associados na cooperativa.
Segundo informações adquiridas junto à Secretaria de Agricultura, Mineração e
Turismo de Poxoréu, em 2007, a garimpagem manual superou a garimpagem com máquinas –
motor a bomba e dragas, e a garimpagem com dragas foi menor que a garimpagem a motor,
nestes dois últimos processos ocorre redução do percentual de garimpeiros. Algumas
informações forneceram um número de cerca de 100 dragas e motor a bombas trabalhando na
região, porém no período da pesquisa foi possível encontrar somente 3 garimpos funcionando
com máquinas, 1 draga e 2 motores. Segundo informações adquiridas na última etapa de
campo, a Cooperativa informou que tem poucas dragas em funcionamento, o que vem
comprovar a decadência dos garimpos na região.
Independente de ter ocorrido a “mecanização” dos garimpos na região, seja de maneira
formal ou informal, o fato é que não estabeleceu como fator primordial da garimpagem, sendo
que a mão-de-obra continua sendo o fator primordial dos garimpos, embora seja pouco
valorizada e muitas vezes, explorada. Como em toda região de garimpo, os garimpeiros são
considerados como mão-de-obra de baixo custo, logo, não possuem nenhuma perspectiva. Em
Alto Coité, a organização do trabalho nos garimpos ainda acontece como em décadas
91
anteriores, com a seguinte estrutura: donos dos meios de produção, os proprietários da terra, e
os não proprietários (os garimpeiros), existem ainda os garimpos de economia familiar,
normalmente os garimpos manuais e em bom número os garimpos individuais.
Neste tipo de organização, os donos dos meios de produção, geralmente, são
autônomos, o que os beneficia, dando-lhes vantagem sobre os garimpeiros. Este sistema
favorece os donos das máquinas que não assumem nenhuma obrigação com os garimpeiros,
isto acontece em função de não existir qualquer tipo de contrato entre as partes envolvidas, o
que dificulta manter um controle sobre este tipo de atividade.
Como em qualquer atividade econômica, muitas vezes, o capital predomina sobre o
trabalho. Em Alto Coité, como em qualquer região de garimpo, o capital exerce força maior,
nas relações de trabalho. Deste modo, apesar das mudanças impostas pela legislação, os
garimpos ainda vivem na ilegalidade, o que é facilitado pela ausência de uma fiscalização por
parte dos órgãos competentes, tanto estaduais como municipais.
A relação de trabalho nos garimpos de Alto Coité, como em toda a região de Poxoréu,
ocorre de maneira semelhante ao de qualquer outra região garimpeira, ou existe um contrato
informal entre donos de máquinas, garimpeiros, e proprietário da terra, que coloca-se como
um dos atores principais dentro do garimpo. O garimpeiro entra com o trabalho e o dono da
máquina com os meios de produção e a responsabilidade pelos custos da extração, inclusive a
alimentação dos trabalhadores. Nesta sociedade fica estabelecido que o percentual que cabe a
cada um, 10% dono da terra, 35% garimpeiros e o restante ao dono dos maquinários. Quando
o trabalho é feito com draga normalmente, existe um gerente (garimpeiro) e este recebe 3% a
mais que os outros garimpeiros, sendo que cada garimpeiro recebe 5%. As regras são
estabelecidas entre o dono da máquina e os garimpeiros, esses não têm uma relação com o
dono da terra, que se relaciona somente com os donos dos maquinários, por meio da cobrança
de uma taxa para o uso da terra.
Em relação à base econômica da garimpagem do município, houve dois períodos de
apogeu, em termos de produção e comercialização. O primeiro ocorreu na década de 40,
quando foram garimpados vários depósitos antes não explorados e a segunda incidiu na
década de 1980, quando foi extraído um grande volume de diamantes, com a entrada de
maquinários nos garimpos. Após este período, a produção passou a declinar gradativamente, e
o município de Poxoréu sobrevive com problemas de natureza econômicas e sociais, os quais
têm levado a população a cada ano fazer o percurso inverso de outrora, indo à busca de
emprego e renda em outras regiões do país, para proporcionar melhoria no bem-estar e na
92
qualidade de vida. O que ficou foi à lembrança daqueles que outrora sonha com uma vida de
fortuna e que somente lhes restaram uma vida sofrida e sem esperança. Segundo relato de
alguns entrevistados era retirado litros de diamantes por semana, e os diamantes eram
encontrados até nos rejeitos deixados pelas dragas. Nesta fase áurea os diamantes eram fáceis
de serem encontrados e dinheiro não faltava, relembram muitos dos entrevistados.
Não foi possível obter informações detalhadas e consistentes sobre a produção e
comercialização dos diamantes de Poxoréu e Alto Coité, as poucas informações advêm da
cooperativa. Segundo a cooperativa a extração mensal de diamantes do município, está na
média de 300 quilates e o preço do quilate varia de R$30,00 a R$1.800,00. A comercialização
de diamantes acontece nos finais de semana e é feito por compradores de várias partes do
país, dentre estes estão compradores de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, e do próprio
estado - Rondonópolis e Cuiabá. No município residem, ainda, 5 compradores, 4 em Poxoréu
e 1 em Alto Coité. Dentre os países compradores dos diamantes de Poxoréu, estão Bélgica,
Emirados Árabes, África do Sul, EUA, Holanda, Angola e Venezuela.
Apesar de existir uma comercialização razoável, segundo informações da Cooperativa
dos Garimpos e da Secretaria de Mineração de Poxoréu, sua representatividade econômica é
baixa, este fato acontece em função da ilegalidade. Mas, espera-se mudança neste quadro a
partir da legalização dos garimpos da região uma vez que para comercializar a produção,
precisará do certificado Kimberley13, que nada mais é do que um atestado de procedência das
pedras, que deve constar dados do garimpo onde foi extraído e do país de origem.
Os garimpos, quando em atividade, contribuem de forma decisiva para melhoria na
qualidade de vida dos garimpeiros e da comunidade, através de sua cadeia produtiva. Mas
hoje, infelizmente, como a maioria dos garimpos está em declínio e as empresas de calcário e
pedreiras, constituídas não conseguem sustentar esta cadeia produtiva em Poxoréu e Alto
Coité. O processo de empobrecimento dessa região reflete o enfraquecimento de todas as
atividades econômicas. Como decorrência da diminuição da atividade garimpeira, a economia
local fica como um todo, prejudicada.
13 O Certificado Kimberley ou selo Kimberley é o Sistema de Certificação do Processo de Kimberley (SCPK), instituído pela ONU, em março de 2002. É essencialmente um mecanismo internacional de certificação de origem de diamantes brutos, classificados nas subposições 7102.10, 7102.21 e 7102.31 do Sistema Harmonizado (SH) de Codificação e Designação de Mercadorias. Destinado à exportação e à importação e visa impedir o financiamento de conflitos pelo seu comércio descrédito do mercado legítimo de diamantes em bruto, impedindo a exportação de remessa de diamantes brutos extraídos de áreas de conflito ou de qualquer área não legalizada pelo Estado-membro e que durante importação, impede a entrada de remessas de diamantes brutos sem o regular. O SCPK foi instituído no Brasil por meio da Lei nº 10.743/2003.
93
4.2.4.2 Os moradores e os garimpos
Este tópico discute a concepção dos moradores sobre os garimpos e a suas
expectativas em relação os mesmos.
Os resultados dos dados evidenciam claramente que a melhoria dos padrões de vida
dos municípios e, sobretudo Alto Coité, depende mais de ações públicas e sociais voltadas
para a transformação cultural das comunidades e pessoas e, do que propriamente de
financiamentos públicos intensivos. Assim, em regiões como Alto Coité, não vale
simplesmente financiar, vale muito mais conscientizar. Esta parte focalizou aspectos como
condições da área garimpada, trabalhos no garimpo, e outros.
Com relação ao item trabalho nos garimpos e de acordo com os dados da entrevista,
mais da metade dos pesquisados já trabalharam em garimpo, o que corresponde a 51%, nunca
trabalharam 43,3% e somente 5,7% trabalham nos garimpos (figura 19). Este quadro mostra
com clareza a força dos garimpos em épocas passadas, tanto na proporção da força de
trabalho como na economia, logo, sua decadência na atualidade. Em Alto Coité prevalece o
contraste de riqueza de outrora e a pobreza dominante dos dias atuais.
Figura 19: Percentual de entrevistados que trabalharam/trabalham
em garimpos
A figura 20 mostra o percentual dos membros das famílias (cônjuge ou filho) que tem
ou teve relação com os garimpos. Segundo os entrevistados, em 15,2% das famílias pelo
menos uma pessoa trabalha em garimpo, em quase 40% ninguém trabalha e jamais trabalhou
22,6%. O percentual de famílias em que nenhum membro trabalha é bastante significativo
para uma região de garimpo, isto vem mostrar mais uma vez o empobrecimento da atividade
garimpeira em Alto Coité. Com a tabulação dos dados, foi ainda possível verificar que em
77,4% da casas onde a pesquisa foi desenvolvida, pelo menos uma pessoa da família
trabalhou ou trabalha no garimpo, em 22,6% das casas ninguém trabalha ou trabalhou com
garimpos, na tabulação estão inseridas todas as pessoas da família, inclusive os entrevistados.
94
Figura 20: Percentual dos membros das famílias que trabalharam ou trabalham em garimpos.
A seguir é exposta, a visão dos entrevistados, quanto à validade ou não de garimpos na
localidade, sobretudo, em entorno da vila e suas perspectivas em relação aos mesmos (figura
21). Conforme declarado, 77,4% acreditam que é viável ter garimpos em Alto Coité e 22,4%
acham que atualmente os garimpos não correspondem às suas expectativas. Os motivos pelo
qual a grande maioria achar viável a existência de garimpos na região, é por estes ainda
representam à única fonte de renda de muitas famílias, pois o distrito não dispõe de fontes de
emprego e, por conseguinte, não possui alternativa de renda. Do exposto, é fácil entender o
porquê das pessoas solteiras e mesmo aquelas que constituíram famílias, não deixar para trás
suas origens. Estas pessoas acreditam que não sabem fazer outra coisa e não conseguiriam
adaptar a outro estilo de trabalho e tem como destino a vida de garimpagem. Por isso,
persistem em ativar a garimpagem, mesmo sabendo a tarefa árdua que terão de enfrentar,
preferem lutar junto com seus familiares para conseguir uma vida mais justa, com qualidade
de vida, bem-estar e dignidade.
Por outro lado, existem pessoas que acreditam que o garimpo tornou-se uma perda de
tempo, pois na grande maioria das vezes as pessoas trabalham sem conseguir renda para
manter o próprio garimpo. Segundo informação dos próprios garimpeiros tem meses que eles
trabalham sem receber nada, isto acontece pelo fato de trabalharem com porcentagem, o que
significa só receber se conseguirem encontrar diamante.
Figura 21: Percentual de entrevistados que acha viável ter
garimpos na região.
95
Outro item abordado durante a pesquisa de campo foi com relação à área degradada e
quantidade de garimpos inativos e até menos ativos na região, bem como aqueles
circunvizinhos da vila. Pois como é de conhecimento, as regiões garimpadas mostram áreas
totalmente destruídas e de difícil recuperação, em Alto Coité não foi diferente. Durante a
pesquisa de campo nas áreas de garimpo foi possível constatar e avaliar a dimensão da
depredação, com assoreamento dos rios, desmate e presença de catas (cavas, poços), alagadas
ou não, ao lado de grandes depósitos de rejeito espalhados por toda área garimpada. Vale
ressaltar a existência de áreas garimpadas ao entorno da vila e até dentro dos quintais de
algumas casas do vilarejo.
Foi possível detectar durante a pesquisa, que a maioria dos entrevistados, que
corresponde 88,7%, não gosta de ver a área como se encontra atualmente e nem tantos
garimpos na área (gráfico19). No entanto, tem aqueles que gostam de ver garimpos na região,
bem como na área próxima a vila, apesar da degradação e transtorno ao meio ambiente.
Os motivos apontados pelos que não gostam da situação atual dos garimpos são os
mais variados. Por um lado, questão econômica, ambiental e de segurança. No âmbito
econômico, devido à desvalorização da área, provocada pela degradação, que impede o
aproveitamento da área para outras atividades; no ambiental, principalmente, pela a mudança
na paisagem natural, ocorrida pela abertura de catas (fendas na terra), que causam impacto
visual, além do assoreamento dos rios. A questão da segurança foi abordada, devido à grande
quantidade e pela profundidade das catas (buracos), que torna a área perigosa, principalmente
para as crianças. As pessoas que declararam gostar de conviver com os garimpos, citaram a
necessidade das famílias, pois a garimpagem é ainda a única alternativa de emprego e renda
para muitas famílias da localidade, e, têm aqueles que vivem das recordações dos tempos
áureos e encontram na paisagem devastada um refúgio para suas lembranças.
Foi perguntado ainda se gostariam de ver as áreas garimpadas recuperadas e todos
responderam que sim sendo que alguns até levantaram algumas propostas: reflorestamento e
área para lazer.
96
CAPÍTULO 5
CARACTERIZAÇÃO DOS REJEITOS DE DIAMANTES
Neste capítulo será apresentado à descrição dos rejeitos provenientes da extração de
diamantes dos depósitos aluvionares da região de Alto Coité e os estudos de caracterização
dos mesmos. Estes rejeitos, além de causarem grandes impactos ambientais também geram
impactos visuais descaracterizando a morfologia da região.
Visando eliminar os impactos e suprir a carência econômica e social da região após a
decadência da extração diamantífera, foram desenvolvidos estudos para caracterizar os
rejeitos acumulados de forma aleatória nas imediações do povoado de Alto Coité e
vizinhanças. A caracterização destes rejeitos visou direcioná-los a um aproveitamento
econômico, principalmente na forma de matéria-prima para a produção de areia industrial, o
que poderá ajudar no desenvolvimento sustentável da população de Alto Coité. Um
aproveitamento secundário seria na forma de matéria-prima para a fabricação de peças
ornamentais.
As areias industriais recebem suas denominações em função de suas aplicações na
indústria, determinadas pelas suas características e propriedades, tais como teor de sílica,
pureza, composição química, teor de óxidos de ferro, álcalis, matéria orgânica, perda ao fogo,
umidade, distribuição granulométrica, forma dos grãos e teor de argila (Azevedo; Ruiz, 1990).
No que diz respeito à química ideal de uma amostra, as principais especificações técnicas
referem-se aos teores de: SiO2, Fe2O3, Al2O3, MnO2, MgO, CaO, TiO2 e ZrO2. Quando se
trata de usos específicos, os teores de Cr2O3, Na2O e K2O devem também ser considerados
(Ferreira; Daitx, 2000). Nos EUA, a indústria de vidro responde por 38% do consumo de areia
industrial, seguindo-se a fundição com 20%, fraturamento hidráulico e abrasivo com 5% cada
e 32% em outros usos (USGS, 2004). No Brasil, cerca de 60-65% são destinados à fabricação
de vidro (incluídos cerca de 5% em cerâmica); 30% em fundição e outros usos com 5% do
consumo (Luz; Lins, 2005).
Nos trabalhos de campo foram coletadas 22 amostras das quais apenas 11 foram
selecionadas para os estudos acima mencionados. Essa seleção se deu após uma análise
prévia, que mostrou similaridades entre as amostras. Os estudos de caracterização realizados
constaram de análise granulométrica e geoquímica e seus resultados são descritos a seguir.
A especificação técnica das areias depende do uso industrial das mesmas, tais como
indústria de vidro, cerâmica e seus diferentes ramos, abrasivos, etc.
97
5.1 Descrição dos depósitos
Segundo Souza (In: Schobbenhaus; et. al., 1991) os depósitos diamantíferos da região
de Poxoréo/MT podem ser classificados em depósitos recentes e depósitos de terraço e
cascalheira. Os depósitos recentes ocorrem nas planícies de inundação dos rios São João,
Coité, Poxoréo, e outros, enquanto que os depósitos de terraços e cascalheiras encontram-se
localizados nas encostas dos vales dos principais rios.
Ainda segundo Souza (op. cit.), o perfil típico de um depósito diamantífero na região é
constituído, da base para o topo, por um arenito friável (“Bedrock”) de cor vermelho-
amarelada, seguindo-se uma camada de cascalho mineralizado, com espessura em torno de
1,20 metros, composta por seixos de arenito, silexito, ágata e calcedônia. Em alguns locais o
“bedrock” apresenta-se bem preservado e com dureza alta. Acima da camada mineralizada
ocorre uma camada de cascalho estéril, geralmente com seixos de quartzito apresentando
espessura em torno de 0,30 metros. Nas planícies de inundação, acima da camada de cascalho
estéril, ocorre uma camada, ora de areia fina ora de matéria orgânica, com espessura de cerca
de 0,20 metros e recobrindo estes depósitos é possível visualizar um capeamento de areia fina
a média, com espessura variando de 2,0 a 3,0 metros e de coloração avermelhada.
Segundo Almeida e Alves (In: Schmaltz, 1983) os depósitos de terraço apresentam
capeamento que varia de poucos centímetros até 8,0 metros enquanto que a espessura da
camada mineralizada varia de 0,4 a 2,0 m. Os depósitos de cascalheira recobrem encostas e
vales, sendo que a espessura das camadas varia de milímetros a, no máximo 1,0 m. Os
minerais satélites encontrados nestes depósitos diamantíferos são representados por turmalina
(pretinha*14), rutilo, ilmenita e titanita (ferragem*), limonita (feijão*) e coríndon (azulinha*).
Os nomes entre parênteses e com asterístico são nomes dados aos minerais pelos garimpeiros.
Os trabalhos de campo realizados na região foram desenvolvidos em duas áreas
distintas localizadas nas imediações de Alto-Coité, a primeira em área do Patrimônio e a outra
em área da Fazenda Primavera. Uma terceira área foi visitada nas vizinhanças da cidade de
Poxoréu (Figura 22) nas bordas do Rio Areia.
A área de reserva garimpeira (patrimônio) localiza-se nas adjacências do Rio Coité e
bem próximo da Vila a menos de 100 m das casas. Nesta área são encontrados os depósitos
recentes e os de terraço e cascalheira. A área foi intensamente trabalhada por garimpeiros,
encontra-se muito degradada e no local podem ser observados depósitos de rejeitos
14 * Termo utilizado na linguagem garimpeira.
98
empilhados em diversas partes (Figura 23) e, também, depressões causadas pela exploração
do diamante por dragas e/ou retro-escavadeiras (Figura 23). Por todo o entorno podem ser
vistos grandes seixos de até 50 cm de diâmetros associados a outros seixos de tamanhos
menores e à areia e argila, caracterizando depósitos mal selecionados, com predomínio da
fração areia. Os seixos são representados por fragmentos de rochas (principalmente
sedimentares - arenitos), quartzo, sílex e outros, normalmente predominam os seixos, de
forma sub-arredondadas, mas, mesmo que raramente, são encontradas formas arredondadas
ou angulosas. As frações inferiores (areia e silte) são compostas principalmente por grãos de
quartzo com pouca contribuição de feldspato e fragmentos de rocha, além de zircão e dos
minerais satélites descritos acima. Pode-se constatar que a área apresenta características
idênticas às descrições de Souza (In: Schobbenhaus; et. al.,1991) para depósitos diamantíferos
que ocorrem na região de Poxoréo.
Figura 22: Mapa geológico da área de estudo (modificado de CPRM, 2004).
Na área da Fazenda Primaverinha, o diamante foi explorado desde a década de 1930,
de forma manual e por dragas, gerando grandes depósitos de rejeitos espalhados por toda a
área (Figura 23). Grandes catas (poços/buracos) foram transformadas em lagoas para criatório
de peixe (Figura 23) e parte do material removido está sendo utilizada como brita. Os
depósitos da área apresentam as mesmas características dos depósitos da área do Patrimônio.
Os depósitos localizados nas bordas do Rio Areia são recentes nos quais podem ser
vistos da base para o topo um nível de areia intensamente compactado (denominada pelos
99
garimpeiros de piçarra), de cor amarela-avermelhada, logo acima uma camada de
areia/cascalho mineralizada com cerca de 1,50 metros e, recobrindo o nível mineralizado
ocorre um outro nível de cascalho de cerca de 40 cm de espessura e com seixos de até 20 cm
de diâmetros compostos por fragmentos de rochas, quartzo e sílex. A maioria dos grãos são
sub-arredondados e raramente arredondados ou angulosos, recobrindo tudo, pode-se observar
uma camada de cerca de 20 cm de solo, composto por matéria orgânica e areia (Figura 24).
Figura 23: Imagens de campo, mostrando diferentes aspectos das áreas exploradas por garimpeiros manuais e mecanizados. (A) Vista geral de área retrabalhada, onde se pode observar a presença de várias pilhas de uma areia já lavada e livre de argila. (B) Vista geral de um corte em perfil. Observa-se que existe mistura de diferentes granulometrias. Área a ser garimpada. (C) Pedreira instalada nas imediações da área da reserva garimpeira e que trabalha com material oriundo dos garimpos. (D) Área explorada por draga. (E) Garimpagem manual. (F) Antiga cata abandonada nas margens do Córrego Coité e na área reserva garimpeira. (H) Antiga cata abandonada na área da Fazenda Primavera e transformada em criatório de peixe. (G) Margem do Rio Poxoréu, explorada por garimpeiros. Observar os diferentes níveis granulométricos.
100
Material pedogenético, cor branco amarelado, matriz silte-argilosa e com fragmentos de laterita alterada.
Nível conglomerático, material laterítico com muitos fragmentos de quartzo de granulação predominantemente grossa. Composto por finos cristais de diamante em pequena quantidade.
Nível conglomerático mais fino que o anterior, intercalado entre níveis arenosos branco com matriz silte-argilosa, apresenta fragmentos de quartzo (maioria) e laterita.
Nível maciço, silte-argiloso de coloração cinza claro, com fragmentos milimétricos de quartzo.
Nível conglomerático mais grosso que os anteriores, separado da camada de cima por um nível laterítico bem duro (couraça). Composto por fragmentos de rocha máfica, granitóides e grandes fragmentos de quartzo. Neste nível encontra-se boa quantidade de cristais de diamante
Couraça
Material pedogenético, cor branco amarelado, matriz silte-argilosa e com fragmentos de laterita alterada.
Nível conglomerático, material laterítico com muitos fragmentos de quartzo de granulação predominantemente grossa. Composto por finos cristais de diamante em pequena quantidade.
Nível conglomerático mais fino que o anterior, intercalado entre níveis arenosos branco com matriz silte-argilosa, apresenta fragmentos de quartzo (maioria) e laterita.
Nível maciço, silte-argiloso de coloração cinza claro, com fragmentos milimétricos de quartzo.
Nível conglomerático mais grosso que os anteriores, separado da camada de cima por um nível laterítico bem duro (couraça). Composto por fragmentos de rocha máfica, granitóides e grandes fragmentos de quartzo. Neste nível encontra-se boa quantidade de cristais de diamante
Couraça
Figura 24: Perfil esquemático representativo de um corte de um terreno in situ a região de Alto
Coité. 5.2 Estudos granulométricos
Algumas das normas para aproveitamento da areia industrial usam como referência a
forma apresentada pelos grãos, implicando que a recomendação de determinada areia para um
fim específico deve levar em consideração o “grau de arredondamento” do grão. As primeiras
iniciativas para padronizar e fornecer parâmetros comparativos para estudos do grau de
arredondamento foram esboçados por Powers (1953) e, posteriormente, por Pettijohn (1957)
os quais esboçaram uma tabela apresentando as formas e nomenclatura (Figura 25) a serem
adotadas nos estudos de sedimentologia. O grau de arredondamento de um grão considera
apenas a forma externa do mesmo e é subdividido em duas categorias distintas, denominadas
de grãos com alta esfericidade e grãos com baixa esfericidade. As duas categorias são
subdivididas em grãos angular, sub-angular, sub-arredondado, arredondado e muito
arredondado.
101
Figura 25: Formas elaboradas para identificar o grau de arredondamento dos grãos. (Modificado de Pettijohn,
1957).
Os estudos granulométricos realizados nesse trabalho objetivaram a caracterização do
grau de arredondamento, angulosidade e selecionamento dos grãos de areia, uma vez que são
parâmetros importantes para direcionar o material dos rejeitos a usos específicos e
apropriados, pois o uso industrial que se fará das mesmas depende das propriedades físicas
(estudos granulométricos) e químicas (análises químicas) conforme estabelecidos por
especificações técnicas.
Segundo Nava (1997) grãos angulares da areia favorecem o processo de produção do
vidro, pois a fusão se inicia nas pontas e arestas dos grãos, etc. Referente a tamanho dos
grãos, Ferreira e Daitx (2000) mostraram que as características típicas de areia de quartzo para
a indústria cerâmica estão posicionadas nas faixas granulométricas entre 30 e 140 malhas
(0,60 a 0,105 mm).
No presente estudo também foi avaliado o conteúdo do material silte-argiloso
(representado pela fração do fundo, ou seja, menor que 0,062), por mostrar uma fonte de
contaminação de alumínio, ferro e álcalis (determinados pelos ensaios geoquímicos),
indesejáveis nos materiais para fabricação de areias industriais. A fração síltico-argilosa pode
representar no máximo 20% do minério e constitui-se em um dos principais problemas
ambientais, pois é depositado em grandes bacias de decantação ou despejado diretamente nos
córregos e rios, causando assim o assoreamento dos mesmos. As impurezas estão
representadas por minerais pesados (zircão, ilmenita, magnetita, turmalina, etc), dentre outros
minerais como feldspato, óxidos de ferro e manganês, etc. que são prejudiciais
Alta Esfericidade
Baixa Esfericidade
MuitoAngular Angular
SubAngular
SubArredondado Arredondado
BemArredondado
102
particularmente na produção de vidro, por introduzirem contaminantes - ferro, manganês,
titânio, na mistura (Ferreira; Daitx, 2003).
Os estudos granulométricos são os primeiros a serem avaliados para caracterização da
areia industrial. Para estes estudos foram selecionadas 11 amostras (Ap-01, Ap-02, Ap-03,
Ap-03-base, Ap-05, Ap-07, Ap-08, Ap-09, Ap-10, Ap-11, Ap-11-base). Exceto as amostras
Ap-3 e Ap-11, coletas nos níveis 3 e 4, respectivamente, da base para o topo, ao longo de um
perfil de cinco níveis granulométricos bem distintos (Figura 24), as demais amostras foram
coletadas aleatoriamente em pilhas de rejeitos aluvionares. Na tabela 7 está impresso o peso e
as porcentagens de cada fração. O gráfico apresentado na Figura 26 mostra a distribuição das
diferentes frações além de possibilitar observar que a distribuição granulométrica concentra-
se em duas modas, uma variando de 9,52 a 2,00mm e a outra de 0,5 a 0,062mm.
Em alguns grãos, na fração seixo maior, foram feitos cortes e polimentos com a
finalidade de estudar a viabilidade dos mesmos, como peça ornamental ou fabricação de semi-
jóias, os resultados estão mostrados na Figura 27.
Os estudos referentes ao grau de arredondamento dos grãos são apresentados na íntegra
no Anexo III. A tabela 8 mostra os resultados do grau de arredondamento das amostras em
relação à esfericidade, evidenciando a predominância das frações concentradas nos limites de
alta esfericidade na maioria das amostras. A amostra Ap2 é a única a mostrar inversão quanto
ao grau de esfericidade, ou seja, nesta amostra prevalecem grãos de baixa esfericidade. Na
amostra AP7 as proporções de grãos com alta e baixa esfericidade são aproximadamente
iguais. A Figura 28 evidencia a relação de esfericidade versus amostra.
Quanto ao grau de arredondamento e selecionamento, é observado, de maneira geral, a
predominância dos grãos angulosos sobre os arredondados nas frações maiores e nas frações
menores, abaixo de 0,125mm, há predominância dos grãos mais arredondados (ver Anexo III,
Tabela 8 e Figura 28).
103
Tabela 7: Resultados dos estudos granulométricos em massa, porcentagem simples e acumulada.
Amostras Ap1 Ap2 Ap3 Ap5 Ap7
Peneira massa % % massa % % massa % % massa % % massa % % (mm) (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada
> 9,52 332,50 5,72 5,72 0,00 0,00 0,00 132,40 5,99 5,99 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00
9,52 708,40 12,18 17,90 1057,20 17,51 17,51 158,30 7,17 13,16 7,20 0,19 0,19 980,50 17,96 17,96
4,76 733,30 12,61 30,50 1341,50 22,21 39,72 86,60 3,92 17,08 16,30 0,42 0,60 230,10 4,21 22,17
2,0 609,80 10,48 40,99 1861,40 30,82 70,54 177,80 8,05 25,13 291,40 7,50 8,10 190,20 3,48 25,66
1,68 109,40 1,88 42,87 175,20 2,90 73,44 39,00 1,77 26,89 114,90 2,96 11,06 41,90 0,77 26,42
1,41 56,45 0,97 43,84 59,80 0,99 74,43 21,60 0,98 27,87 51,70 1,33 12,39 18,10 0,33 26,76
1,19 50,70 0,87 44,71 33,40 0,55 74,99 19,60 0,89 28,76 59,80 1,54 13,93 20,00 0,37 27,12
1,0 94,70 1,63 46,34 31,30 0,52 75,51 26,60 1,20 29,96 70,60 1,82 15,75 9,80 0,18 27,30
0,71 151,57 2,61 48,94 61,30 1,02 76,52 62,80 2,84 32,81 173,90 4,48 20,22 143,30 2,62 29,93
0,500 330,10 5,68 54,62 110,90 1,84 78,36 114,90 5,20 38,01 452,10 11,63 31,86 270,00 4,95 34,87
0,250 1551,20 26,67 81,29 557,20 9,23 87,58 522,90 23,67 61,68 1429,00 36,77 68,63 2045,40 37,46 72,33
0,125 595,00 10,23 91,52 502,00 8,31 95,90 638,90 28,92 90,60 937,40 24,12 92,75 1288,00 23,59 95,92
0,062 459,01 7,89 99,41 205,90 3,41 99,31 191,70 8,68 99,28 237,70 6,12 98,87 201,20 3,69 99,61
< 0.062 34,28 0,59 100,00 41,90 0,69 100,00 16,00 0,72 100,00 43,90 1,13 100,00 21,40 0,39 100,00
P. Total 5816,41 6039,00 2209,10 3885,90 5459,90
104
Continuação da Tabela 7.
Amostras Ap8 Ap9 Ap10 Ap11
Peneira massa % % massa % % massa % % massa % % (mm) (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada (g) simples acumulada
> 9,52 534,70 12,27 12,27 699,00 17,74 17,74
9,52 239,50 4,23 4,23 0,00 0,00 12,27 106,20 12,23 12,23 772,90 19,61 37,35
4,76 1159,00 20,49 24,73 34,10 0,78 13,06 103,60 11,93 24,16 949,20 24,09 61,44
2,0 2313,30 40,90 65,63 619,60 14,22 27,28 57,80 6,66 30,82 816,20 20,71 82,15
1,68 149,60 2,65 68,27 116,50 2,67 29,95 10,20 1,17 31,99 179,60 4,56 86,71
1,41 77,50 1,37 69,64 59,50 1,37 31,32 7,80 0,90 32,89 79,20 2,01 88,72
1,19 95,10 1,68 71,33 31,10 0,71 32,03 5,40 0,62 33,51 42,40 1,08 89,80
1,0 32,60 0,58 71,90 103,00 2,36 34,40 4,00 0,46 33,97 21,20 0,54 90,33
0,71 28,80 0,51 72,41 148,10 3,40 37,79 14,90 1,72 35,69 10,60 0,27 90,60
0,500 101,30 1,79 74,20 402,80 9,25 47,04 47,10 5,42 41,11 21,80 0,55 91,16
0,250 980,70 17,34 91,54 1344,40 30,86 77,90 262,50 30,23 71,35 87,40 2,22 93,37
0,125 373,80 6,61 98,15 670,50 15,39 93,29 202,50 23,32 94,67 176,60 4,48 97,86
0,0062 89,00 1,57 99,72 242,10 5,56 98,85 34,80 4,01 98,68 74,10 1,88 99,74
fundo 15,60 0,28 100,00 50,30 1,15 100,00 11,50 1,32 100,00 10,40 0,26 100,00
P. Total 5655,80 100,00 4356,70 100,00 868,30 100,00 3940,60 100,00
105
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
seixos9,52
4,76 2,0
1,68 1,41
1,19 1,0
0,71 0,500
0,250
0,125
0,0062
< 0,0062
Ap1
Ap2
Ap3
Ap5
Ap7
Ap8
Ap9
Ap10
Ap11
Figura 26: Gráfico mostrando a distribuição granulométrica, em percentagem, das amostras analisadas. Observar que existem duas modas bem distintas.
Tabela 8: Caracterização quanto ao grau de esfericidade das amostras da região de Alto Coité.
Alta Esfericidade
Angular Sub-
angular Arredondado Sub-
arredondado Bem
arredondado Total AP1 134 206 62 182 9 593 AP2 58 41 26 50 8 183 AP3 157 126 83 145 6 517 AP5 79 144 154 162 55 594 AP7 21 155 59 114 23 372 AP8 169 92 91 91 17 460 AP9 134 201 100 132 21 588
AP10 134 179 55 129 8 505 AP11 98 141 123 72 33 467
Baixa Esfericidade AP1 42 27 13 22 3 107 AP2 93 132 118 147 27 517 AP3 64 57 36 22 4 183 AP5 25 20 23 24 14 106 AP7 63 132 58 73 2 328 AP8 111 38 36 55 0 240 AP9 19 37 24 30 2 112
AP10 125 55 5 10 0 195
AP11 88 70 47 24 4 233
106
Figura 27: amostras de seixos polidas para aproveitamento em peças ornamentais e semi-jóias.
Figura 28: Representação gráfica do grau de esfericidade das frações areia encontra
das nas amostras estudadas. 5.2.1 Estudos macroscópicos e microscópicos
A análise macroscópica das amostras coletadas em campo confirmou que os depósitos
aluvionares estudados são constituídos por diferentes formas de sílica (quartzo, calcedônia,
0
100
200
300
400
500
600
700
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11
Alta Esfericidade Baixa Esfericidade
107
opala, chert) fragmentos de rocha, óxidos (possivelmente goetita, ilmenita, limonita), raros
grãos de granada e safira.
O material retido nas peneiras de 0,25mm a 2,00mm foi caracterizado em lupa binocular
com aumento de 4x e mostrou que a fração areia é composta por quartzo, opala, turmalina,
rutilo, minerais opacos (ilmenita e magnetita), zircão, carbonato, topázio e feldspato, além de
pequenos fragmentos de rocha.
Os estudos microscópicos da fração inferior a 0,062mm mostraram a mesma
mineralogia observada nos estudos macroscópicos, evidenciando apenas o maior grau de
arredondamento dos grãos menores (Figura 29).
Figura 29: Fotomicrografia de lâminas de grãos das amostras (a) Ap10, (b) Ap11 e (c) Ap7, objetiva de 10X, a direita luz plana e a esquerda luz polarizada. Legenda: ox = óxido; qtz = quartzo; rt = rutilo, tur = turmalina e zr = zircão.
5.3 Análise geoquímica
Um terceiro tipo de análise extremamente importante no estudo de caracterização de
materiais para areia nas suas diversas aplicações é a análise química, pois para cada tipo de
aplicação existem normas ABNT que devem ser respeitadas. Ferreira e Daitx (2000)
zr rt
qtz
tur
rt
tur
qtz
(a)
(b)
(c)
qtz rt
ox
ox
108
mostraram que areia de quartzo para a indústria cerâmica deve conter de 93,5 a 99,8% SiO2;
0,035 a 0,70% Al2O3 e 0,02 a 0,08% Fe2O3, na sua composição química. Nas Tabelas 9, 10 e
11 são dados às especificações químicas e físicas de areia para vasilhame de vidro, vidros
planos, vasos de cristal e fibras de vidro de alguns países e do Brasil.
Tabela 9: Composição química, em % de peso, de areias de quartzo para vasilhame de vidro.
EUA França Reino Unido
New Jersey Oklahoma Califórnia Fontainebleau Loch Aline SiO2 99,66 99,730 92,76 99,650 99,73
Fe2O3 0,025 0,020 0,127 0,020 0,013 Al2O3 0,143 0,090 3,779 0,060 0,057 TiO2 0,027 0,012 0,034 Nd Nd Cão 0,007 < 0,01 0,060 Nd Nd
MgO 0,040 < 0,01 0,017 Nd Nd K2O - - 2,734 - - Na2O - - 0,114 - - P.F. 0,130 0,140 0,373 0,130 0,040
Fonte Harben; Kuzvart (1996); Nd = não disponível.
Tabela 10: Composição química, em % peso e propriedades físicas, para vidros planos, vasos de cristal e fibra de vidro.
Especificações Químicas Especificações Químicas Especificações Químicas Vidro Plano Vasos de Cristal Fibra de Vidro
SiO2 99,5 % min. SiO2 98,5 % min. SiO2 99,0 % min. Fe2O3 0,04 % max. Fe2O3 0,035 % max. Fe2O3 0,50 % max. Al2O3 0,30 % max. Al2O3 0,5 % max. Al2O3 0,30 % max. TiO2 0,10 % max. TiO2 0,03 % max. Na2O 0,10 % max. Cr2O3 2,0 % max. Cr2O3 0,001 % max.. K2O 0,10 % max. Co3O4 2,0 % max. CaO + MgO 0,2 % max LOI + H2O 0,50% Max. MnO2 0,002 % max. ZrO2 0,01 % max. - - H2O 0,05 % max. H2O 0,10 % max. - - Especificações Físicas Especificações Físicas Especificações Físicas
Granulometria (mm/malha)
Acumulo retido (%)
Granulometria (mm/malha)
Acumulo retido (%)
Granulometria (mm/malha)
Acumulo retido (%)
1,18/14 0,0 0,850/20 0,0 0,250/60 0,01 max. 0,850/20 0,01 max. 0,600/30 4,0 max. 0,075/200 0,6 max. 0,425/35 0,10 max. 0,425/35 25,0 max. 0,045/325 3,0 max.
0,106/150 92,0 min. 0,106/150 95,0 min. - - 0,075/200 99,5 min. - - Fonte: Zdunczyk; Linkous (1994)
109
Tabela 11: Resumo de especificações química e granulométrica de areias industriais (Barbosa; Porphírio, 1993 e Luz; Lins, 2005).
Na Tabela 12 são apresentados os resultados das análises químicas do material in
natura sem nenhum tratamento prévio, ou seja, sem a separação granulométrica, dos quais
não foi analisada a perda ao fogo. Nas tabelas 13 e 14 são mostrados os resultados da fração
areia previamente selecionada (frações 1,19 e 0,50 mm), exceto para a amostra AP1, para a
qual foram realizadas análises em todas as frações para efeito de comparação entre as mesmas
(Anexo IV). Os resultados das análises químicas da fração argila são observados na tabela 15.
Na amostra Ap3, coleta no nível 4 referente ao perfil da Figura 24 é observado o maior
conteúdo de silício e menor em ferro, potássio, manganês, magnésio e cálcio, o que pode estar
relacionado à presença de menor quantidade da fração silte-argila nesse nível.
Comportamento oposto é observado na amostra Ap11, coletada no nível 3, mais argiloso. Dos
demais elementos, não é possível fazer nenhuma correlação entre essas amostras. Esse
resultado, apresentado na amostra Ap11, maiores concentrações de Fe, Mn, Ca, Mg, K e
menor de Si, é esperado, devido à maior concentração de impurezas (principalmente minerais
110
pesados) estarem contidas nas frações mais finas, neste caso, maior presença dessas frações
no nível 3.
Tabela 12: Resultados de análises químicas das amostras in natura dada em % peso.
Amostra Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 Ap-11
SiO2 96,385 93,390 96,132 95,500 97,306 93,891 95,323 94,338 95,383
Al2O3 1,774 3,282 1,889 3,395 1,320 3,214 3,346 2,716 1,772
Fe2O3 1,510 2,938 1,529 0.474 1,045 2,029 0.626 2,395 2,295
TiO2 0.066 0.162 0.108 0.276 0.073 0.113 0.289 0.142 0.15
MnO Nd nd nd nd nd 0.024 0.014 nd 0.024 MgO Nd nd nd nd nd 0.345 Nd nd nd
K2O 0.033 0.047 0.082 0.107 0.062 0.061 0.17 0.142 0.116
CaO Nd nd nd nd 0.021 0.085 Nd 0.062 0.087
ZrO2 0.041 0.033 0.044 0.084 0.051 0.006 0.093 0.015 0.025
Au2O 0.032 nd nd nd nd nd Nd nd 0.039
V2O5 Nd 0.034 nd 0.024 nd nd Nd 0.032 nd
SO3 0.159 0.115 0.163 0.141 0.123 0.177 0.14 0.158 0.11
nd= não detectado
Tabela 13: Resultados de análises químicas das amostras na fração 1.19 mm dada em % peso.
1,19mm Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 Ap-11 SiO2 94,503 92,827 95,370 95,401 94,581 96,084 95,450 77,579 92,724 Al2O3 2,423 3,929 2,532 2,696 2,804 2,429 2,466 3,577 3,383 Fe2O3 1,085 1,560 0,755 0,738 1,027 0,395 0,910 3,850 1,588 TiO2 Nd 0,122 nd nd 0,060 nd Nd 0,263 0,171 MgO Nd nd nd nd nd nd Nd nd nd MnO Nd nd nd nd nd 0,035 Nd nd 0,022 K2O 0,045 0,064 0,050 0,100 0,043 0,087 0,096 0,146 0,201 CaO Nd nd nd nd nd nd Nd 0,130 0,098 ZrO2 Nd 0,012 0,005 0,004 0,010 nd 0,007 nd 0,009 Au2O 0,013 0,004 0,014 0,006 nd 0,013 0,004 0,009 0,007 V2O5 Nd nd nd nd nd nd Nd 0,034 0,021 Cr2O3 Nd nd nd nd nd nd Nd nd nd SO3 0,382 0,305 0,347 0,323 0,324 0,416 0,335 0,287 0,294 P2O5 Nd nd nd nd nd nd Nd nd nd LOI 1,068 0,926 0,444 0,475 0,654 0,130 Nd 13,608 1,154
111
Tabela 14: Resultados de análises químicas das amostras na fração 0,5mm dada em % peso.
0,50mm Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 Ap-11
SiO2 95,008 90,892 96,642 96,462 96,221 96,219 96,462 95,795 81,438 Al2O3 2,513 6,086 2,468 2,405 2,468 2,774 2,436 2,675 6,242 Fe2O3 0,329 0,710 0,165 0,221 0,300 0,150 0,293 0,397 4,532 TiO2 0,049 0,204 nd nd nd 0,034 Nd 0,083 0,656 MgO nd nd nd nd nd nd Nd nd 0,656 MnO nd nd nd nd nd nd Nd nd 0,040 K2O nd 0,068 0,026 0,051 0,034 0,031 0,057 0,076 0,251 CaO nd nd nd nd nd nd 0,028 0,051 0,567 ZrO2 0,009 0,016 0,005 nd 0,003 0,004 0,004 0,006 0,011 Au2O 0,004 0,004 0,006 0,005 0,007 0,004 0,005 0,010 0,006 V2O5 nd nd nd nd nd nd Nd nd 0,028 Cr2O3 nd nd nd nd nd nd Nd nd nd SO3 0,388 0,273 0,334 0,318 0,335 0,331 0,331 0,304 0,264 P2O5 nd nd nd nd nd nd Nd nd nd LOI 1,341 1,463 0,059 0,221 0,307 0,165 0,056 0,384 4,776
LOI = perda ao fogo
Tabela 15: Resultados de análises químicas das amostras na fração argila.
Fundo Ap-01 Ap-02 Ap-03 Ap-05 Ap-07 Ap-08 Ap-09 Ap-10 SiO2 91,656 65,033 92,088 87,382 78,000 83751 69,942 57,789 Al2O3 2,569 21,458 5,157 5,868 11,080 8,264 12,209 13,608 Fe2O3 0,968 3,694 0,839 1,672 3143 2,221 6,633 16,335 TiO2 0,062 1025 0,384 0,866 1,993 1,750 2,538 1,975 MgO 0,258 0,258 nd nd nd nd 0,979 2,526 MnO nd nd nd 0,016 0,032 0,046 0,085 0,142 K2O nd 0,201 0,228 0,199 0,199 0,665 0,764 0,759 CaO nd nd 0,026 0,032 nd nd 0,599 1,323 ZrO2 nd 0,109 0,096 0,231 0,901 0,592 0,342 0,027 Au2O 0,006 nd nd nd nd 0,004 nd nd V2O5 nd nd 0,058 nd nd nd nd nd Cr2O3 nd nd nd nd nd nd nd 0,021 SO3 0,301 0,041 0,113 nd nd 0,261 0,098 nd P2O5 nd nd nd nd 0,104 0,182 nd nd LOI 3,902 8,177 1,009 3,733 4,536 2,063 5,812 5,482
5.4 Discussões dos resultados
As principais especificações químicas, para os diferentes usos industriais da areia referem-
se aos teores de SiO2, Fe2O3, Al2O3, MnO2, MgO, CaO, TiO2 e ZrO2, além dos teores de
Cr2O3, Na2O e K2O, que devem ser considerados dependendo da aplicabilidade da areia,
como mostrados nas Tabelas 09, 10 e 11.
Segundo Ferreira e Daixt (2000) os padrões estabelecidos para areia industrial na
construção civil de acordo com a norma NBR-7200/82 são: (i) pureza, cujo teor do material
112
na fração inferior a 0,09mm não deve ultrapassar a 5% em peso; (ii) granulometria, areias
com faixa granulométrica inferior a 0,2mm devem representar de 10% a 25% do peso total e;
(iii) forma das partículas, onde as partículas arredondadas e esféricas são mais favoráveis que
os grãos achatados ou longos.
Para fabricação de vidros, segundo Nava (1997) os grãos angulares são mais favoráveis ao
processo de produção, pois a fusão se inicia nas pontas e arestas dos grãos e em relação à
química, a areia deve apresentar um teor elevado de SiO2 (98,5% - vidro comum e > 99% -
vidro plano), baixo teor de Fe2O3 (0,08% para vidro plano, 0,1% para fibra de vidro e 0,3%
para vasilhames de vidro colorido e de material refratário), além de um controle rígido nas
percentagens de Al2O3, CaO, MgO, Na2O, K2O, TiO2, ZrO2 e Cr2O3 e elementos tais como
cobre, níquel e cobalto, que mesmo em níveis de traços, são indesejáveis por produzirem
cores e defeitos no vidro, tornando-o inaceitável no mercado (Harben; Kuzvart, 1996).
Para a indústria de fundição a areia deve ser livre de argilas, apresentar alto teor de sílica
(>98%), e baixos teores de CaO e MgO (Zdunczyk; Linkous, 1994) e a distribuição
granulométrica deve ser estreita com grãos apresentando alta esfericidade. A areia usada na
indústria de abrasivo e jateamento, deve apresentar cerca de 99,5% de SiO2, 0,10% de Al2O3,
0,025% de Fe2O3 e distribuição granulométrica entre 0,053 mm e 0,42 mm (Ferreira; Daitx,
2000).
As análises realizadas nas amostras provenientes da região de Alto Coité e Poxoréu
revelaram duas frações de grãos bem distintas, sendo que nas menores frações os grãos são
mais arredondados do que aqueles observados nas frações maiores, que são mais angulosos.
Considerando os padrões estabelecidos pela indústria de fundição, ou seja, grãos com alta
esfericidade, as amostras Ap2 e Ap7, não satisfazem esta exigência.
As análises químicas do material in natura (Tabela 12) revelaram altos valores de
SiO2, cujos teores ultrapassam 95% na maioria das amostras e baixas concentrações de Al2O3
e Fe2O3, principais contaminantes destas amostras.
As análises realizadas na fração 0,50 mm (Tabela 14) revelaram que as amostras Ap2
e Ap11 mostram menores percentagens de SiO2 e elevadas percentagens de Al2O3 e Fe2O3,
comportamento este observado também na concentração de H2O, o que pode refletir a
presença de maior quantidade de argilomineral provavelmente agregado aos grãos da fração
areia. Na fração 1,19 mm (Tabela 13) observa-se o mesmo comportamento, que se repete
também para a amostra Ap10, sendo que nesta amostra o conteúdo de água é muito elevado.
Os demais elementos analisados mostram comportamento geoquímico semelhante para todas
113
as amostras e frações. A química da fração argila (Tabela 15) mostrou comportamento
similar, devendo-se destacar que a amostra Ap2 apresenta alto conteúdo de Al2O3, enquanto a
amostra Ap11, apresenta altas concentrações de Fe2O3, implicando na presença de argilas e
oxido de ferro, respectivamente.
Considerando os resultados geoquímicos das amostras e tomando por base as
especificações brasileiras apresentadas por Luz e Lins (2005), todas as amostras podem ser
empregadas na construção civil. Para que o material analisado seja empregado em outras
finalidades deve ocorrer à remoção de ferro e alumínio (indústria de vasilhame) e alumínio
(fundição) na maior parte das frações areia analisadas, exceto para as amostras Ap2 e Ap11,
cujo teor de TiO2 ultrapassa o teor das especificações e é de difícil remoção.
Devido à baixíssima concentração de elementos conhecidos como extremamente
contaminantes - titânio, magnésio, manganês, cromo, potássio, sódio e cálcio, nas amostras
estudadas, caso ocorra tratamento prévio para remoção da argila através de processo de
lavagem e, ainda assim persistir teores elevados de ferro e de alumínio, os mesmo podem ser
removidos através da separação magnética de alta intensidade e/ou por flotação. Estes
tratamentos permitirão obter areia mais pura, cujas concentrações dos diferentes elementos
enquadram-se dentro das especificações para as demais indústrias de vidro (vidros planos,
cristal e fibras), dentre outras.
Um fato, que merece destaque é a presença de ouro em todas as amostras analisadas na
fração 0,5mm, enquanto na fração 1,19mm apenas a amostra Ap7 não mostra a presença de
ouro. Uma investigação mais criteriosa poderá ser feita caso haja interesse de alguma
empresa na área.
Além do material da fração areia apresentar características que favorecem o uso dos
mesmos, como areia industrial, deve-se ressaltar que os grãos maiores (acima de 9,52mm)
poderão ser usados na fabricação de semi-jóias e peças ornamentais, uma vez que algumas
amostras foram polidas e mostraram bons resultados (Figura 27).
114
CAPÍTULO 6
RECOMENDAÇÕES DE POLÍTICAS DE DESENVOLVIMENTO EM ALTO COITÉ
Um Projeto de Desenvolvimento Econômico deve ter entre seus objetivos o combate à
pobreza e por isso não pode se restringir ao anseio imperativo do crescimento econômico.
Deve antes de tudo, ter como escopo a construção ou reconstrução de uma nação ou região
que possa vir a ser economicamente dinâmica e socialmente justa. Para tanto, acredita-se ser
preciso romper com o padrão de políticas de desenvolvimento implantado até então, no qual o
relevante é o crescimento econômico, ou seja, a variável econômica, e que renega variáveis
como capital humano e social.
Todavia, devem-se buscar políticas de desenvolvimento com modelos e estratégias
que sejam concebidos em ambientes favoráveis às potencialidades produtivas, idealizadas na
perspectiva do local a partir da valorização do território e seus agentes locais. É importante
que sejam orientadas pelo poder público estadual e municipal, sem esquecer, contudo, a esfera
federal. Neste sentido, neste capítulo procurou-se apresentar algumas alternativas de
desenvolvimento econômico para o distrito de Alto Coité que agregue crescimento econômico
com redução da desigualdade, com vistas ao combate a pobreza, ao desemprego e, por
conseguinte, à exclusão social, tendo como participantes diretos os poderes púbicos.
Espera-se que esses modelos possam servir de vetor para a região do Vale do São
Lourenço e as diversas regiões onde o garimpo entrou em decadência e deixou a população
abandonada à própria sorte.
6.1 Políticas e modelos de desenvolvimento
Ao discutir o desenvolvimento em suas dimensões econômica e social, o presente
trabalho aborda a dimensão política, que segundo Friedmann (1996), com essa incorporação
inclui-se a realização de um dos principais objetivos de ação do desenvolvimento. Embasados
na garantia dos direitos humanos, da cidadania e das condições sociais o desenvolvimento
possibilita a prosperidade humana.
A dimensão política do desenvolvimento, conforme Furtado (2000), procura colocar e
alcançar objetivos factíveis, considerando os grupos atuantes de determinada sociedade e suas
aspirações e, desse modo concorrem na utilização sustentável de recursos escassos. Furtado
(2000), afirma ainda que essa dimensão somente seja percebida como tal, se estiver inserida
115
no discurso ideológico. Assim, a concepção de desenvolvimento de uma sociedade e a
formulação de uma política de desenvolvimento, não pode estar alheia à estrutura social.
Sen (2000) define desenvolvimento como o processo de ampliação da capacidade dos
indivíduos de possuírem as opções de fazerem suas escolhas. O autor relativiza fatores
materiais e indicadores econômicos insistindo na ampliação do horizonte social e cultural.
O ponto de partida para abordar o desenvolvimento econômico, como processo de
inclusão social, é a resposta a um conjunto de questões que impõe e coloca muitas certezas
relativas ao crescimento econômico atual. Segundo Barbosa et. al. (In: Pochamnn, 2004), o
conjunto de questões que conduz a formulação de uma alternativa própria e especifica para o
desenvolvimento econômico, deve ser capaz de induzir o desenvolvimento local e ao mesmo
tempo construir de maneira eficaz a democracia, buscando consenso social em torno dos
objetivos coletivos por meio de políticas de desenvolvimento.
Desde modo, para que ocorra o desenvolvimento, é preciso envolver todas as
dimensões sugeridas por Sachs (2002) como critérios para a sustentabilidade, por meio de
modelos e estratégias de políticas de desenvolvimento de médio e longo prazo.
Porém, um modelo ou uma estratégia de desenvolvimento precisa passar pela
concepção de ambientes adequados para desenvolver o potencial produtivo de uma
localidade, fundamentado na valorização do território e seus atores. A caracterização dos
modelos e das estratégias de desenvolvimento exprime que o Estado deve se reorientar, para
que possa atuar de forma mais descentralizada e em parceria com a sociedade civil e a
iniciativa privada, no sentido de aprimorar os mecanismos de funcionamento dos mercados,
na oferta conjunta de bens e serviços públicos voltados para a coletividade (Haan, 2005).
Esse tipo de política de desenvolvimento, relacionado ao desenvolvimento regional e
local, procura adotar um modelo que tem como meta, sobretudo, as economias periféricas, na
qual os problemas assumem proporções dramáticas e restringem de forma agressiva o
crescimento econômico, impedindo a distribuição de renda.
Todavia, a distribuição de renda decorrente da reorientação do Estado e da
reengenharia institucional, constitui novo padrão de acumulação. Deste modo, não deve ser
resultado exclusivo da interferência direta do Estado através das políticas sociais, mas de uma
estrutura apoiada em diversos atores, em especial, atores locais engajados nos objetivos da
coletividade, o que torna o problema do desenvolvimento complexo (Hann, op. cit.).
Na verdade, qualquer que seja a política de desenvolvimento regional ou local, o ponto
de partida, ocorre a partir do enfretamento dos problemas internos que impedem a sustentação
116
do crescimento da região estudada. Sendo assim, a questão do desenvolvimento passa a ser
uma escolha, uma vez que é uma opção interna de cada região e localidade, porém, não deve
esquecer o contato com outras regiões e esferas, sem a qual não é possível alcançar sua
realização. Segundo Paiva, (In: Becker; Bandeira, 2002), é indispensável a qualquer política,
o enfrentamento das desigualdades regionais e locais, através de um diagnóstico
particularizado da economia e da sociedade a ser trabalhada, se possível, deve-se identificar e
sistematizar os conhecimentos em: i) estrutura produtiva atual e os recursos disponíveis e
subutilizados; ii) determinantes do estrangulamento do desenvolvimento e os passos
necessários ao seu rompimento; iii) os anseios da população e o poder de mobilização das
mesmas diante das perspectivas futuras.
O setor público tem papel relevante no processo de desenvolvimento regional e local
nos padrões atuais e, este papel deve ser o de estimulador das inovações, de modo a viabilizá-
las. Assim, o principal papel do setor público é o de manter os elementos que viabilizam a
inovação, tornando-a possível, ou seja, ser um empreendedor. Por ser um empreendedor o
setor púbico tem por obrigação focar nos objetivos econômicos locais de várias maneiras.
Borba (2000) destaca ser necessário estimular a infra-estrutura intelectual; a força de trabalho
habilitada e qualificada; a qualidade de vida apropriada; o ambiente de negócios instigante; a
oferta concreta de capital de risco; o mercado receptivo para novos produtos e processos; o
comprometimento com a modernização industrial; a cultura voltada para a industrialização
com flexibilidade e cooperação; o sistema social que sustenta a inovação e a diversidade.
O papel empreendedor do setor público, segundo Martinelli e Joyal (2004) é a criação
de novos empregos, atuando como empregador, investidor, comprador de serviços e
fornecedor de produtos e serviços; ser interventor direto na economia local ou ser um foco
proativo para a indústria e para a economia local, em busca de novas oportunidades de
desenvolvimento dentro das aptidões e interesses da comunidade. Para esses autores, o setor
público deve proporcionar condições para que a estrutura produtiva local responda de maneira
positiva aos estímulos de integração e cooperação que estão entre os diferentes ambientes da
comunidade local, se estimulados de forma correta, possibilitam a articulação e a cooperação
necessárias para agregar a cadeia produtiva industrial e de bens e serviços da economia local.
De maneira geral, o Governo tem como papel-chave, instigar e agenciar novas formas
de trabalho e produção e, acima de tudo, não permitir a marginalidade15 de pessoas e
15
Marginalidade: Neste caso remete as condições sociais caracterizadas pela privação de recursos socialmente eficientes, ou seja, cidadania limitada, situação cultural própria de pobreza, exclusão do desenvolvimento, não pertencimento ao sistema dominante. A marginalidade pode significar também a incapacidade de incorporação
117
empresas, mas fazer com que sejam capazes de integrar ao mercado e aos processos
produtivos, encorajando a criatividade e a busca do conhecimento científico e tecnológico. No
processo de mudança da sociedade, no qual o setor público se compromete com o
empreendedorismo, onde a prosperidade é apreendida com crescimento e revitalização
econômica do território, os resultados oriundos advêm das parcerias entre o setor público e
privado e, deve ser fundamentado no apoio da sociedade civil. Portanto, acredita-se que
devem prevalecer estratégias políticas para o desenvolvimento econômico local com a criação
de ligações transparentes e eficientes entre os setores públicos e privados.
Entretanto, o reordenamento e redefinição dos modelos e estratégias organizacionais e
institucionais adotados devem proporcionar desenvolvimento em todas as dimensões,
especialmente, aquelas que visam redução da desigualdade humana, promoção da cidadania e
combate a exclusão social, consolidação da democracia e a defesa dos direitos humanos,
promoção da geração de empregos e das oportunidades de renda.
As iniciativas de políticas de desenvolvimento voltadas de maneira especial para a
dimensão social têm crescido por meio de políticas de geração de emprego e renda, sobretudo,
a nível municipal. Os municípios são as instâncias governamentais, que procuram dar apoio e
promover ações em favor do desenvolvimento econômico (Coelho; Fontes, apud Martinelli;
Joyal, 2004). Essas ações significam desenvolvimento humano e sustentável em longo prazo,
para a grande massa da população marginalizada, ou seja, excluídos do mercado de trabalho.
As localidades fragilizadas econômica e socialmente devem buscar diferentes formas
de se desenvolver e até mesmo de sobreviver. As políticas de desenvolvimento para estas
localidades precisam ter gestão e planejamento estratégico. Essas políticas podem e devem ser
constituídas por atividades complexas e inovadoras que desafiam os problemas das
localidades. Deste modo, a gestão deve buscar alcançar o desenvolvimento, por meio de
planejamento eficaz, estabelecendo áreas prioritárias para o desenvolvimento econômico, ao
mesmo tempo em que atende os anseios da coletividade e gera resultados positivos, tanto
econômicos como social. Assim, desenvolvimento econômico sustentável em nível local,
deve acima de tudo, abrir-se para a possibilidade de transformar o formato e o conteúdo das
políticas públicas em todas as esferas. Assim, deve-se tentar fazê-lo de forma planejada, com
expectativa em longo prazo e da consolidação dos resultados alcançados.
com estabilidade e consistência na estrutura de papéis e posições da nova sociedade urbana que emerge com a industrialização, afirmando um caráter restrito do mercado de trabalho no processo industrial dominante. Isto é, uma massa marginal não absorvível pelo setor hegemônico da economia refletindo uma situação de não integração, de caráter limitado e inconsistente de não pertencimento a estrutura integral da sociedade.
118
6.2 Proposta de desenvolvimento econômico para Alto Coité
O município de Poxoréu, sobretudo, Alto Coité, por ter originado da garimpagem e
conseguido sobreviver por longo período desta atividade, desenvolveu a aptidão mineral,
ficando o setor industrial sem se desenvolver. Pode-se dizer que a indústria nunca se
desenvolveu, talvez porque nunca tenha sido incentivada. Porém, percebe-se que
recentemente a população do distrito tem despertado e reconhecido a necessidade de medidas
capazes de incentivar o setor industrial para o desenvolvimento do município. Este fato tem
trazido alguns resultados incipientes, como a instalação de algumas pedreiras, mas que não
tem favorecido a população como um todo, além de não aproveitar adequadamente o
potencial mineral do distrito.
Diante deste quadro, o presente trabalho recomenda algumas propostas de políticas de
desenvolvimento que possam minimizar os problemas que o distrito vem atravessando, ou
seja, uma comunidade produtivamente enfraquecida, sem recursos públicos e sem nenhuma
infra-estrutura para absorver os anseios da população. Para tentar minimizar as dificuldades,
este trabalho elaborou algumas propostas que podem ser implantadas futuramente, a fim de
resultados positivos a curto, médio e longo prazo, com ações para “arranque” econômico e
social. As ações visam um desenvolvimento endógeno, integrado e sustentável, gerador de
bem-estar e qualidade de vida à população.
Apesar de Alto Coité possuir um pequeno contingente populacional, é possível arcar
com um pequeno pólo industrial, pois, segundo Martinelli e Joyal (2004) uma localidade não
precisa necessariamente ter um contingente populacional grande para abrigar indústrias
(micro, pequeno e médio porte), necessitam acima de tudo, de infra-estrutura. Para os autores,
a produção de bens primários existentes e os que poderiam ser implantados nessas localidades
receberiam, a partir de programas específicos, incentivos necessários à sua estruturação,
reestruturação e solidificação. Tem-se ainda que o caminho para a industrialização esteja de
certa forma, ligada a oferta de matéria-prima, garantindo produção local.
Baseado na caracterização dos rejeitos de diamantes da região espera-se criar
propostas e medidas, no sentido de definir critérios teóricos e práticos que constituam
instrumentos para a avaliação da realidade da economia mineral e ambiental daquela região.
Com isto, busca uma maneira de contribuir para o desenvolvimento sustentável do Setor
Mineral e que o mesmo possa servir de base para fomentar o desenvolvimento econômico e
social, com vista a amenizar a pobreza e diminuir as desigualdades regionais.
119
Foi exposto no Capitulo 3, que o desenvolvimento econômico, conforme defendido até
o momento não conseguiu promover de maneira eficaz o desenvolvimento em todas as suas
dimensões, fazendo surgir então, uma Nova Economia do Desenvolvimento que busca um
desenvolvimento baseado na sustentabilidade física (ambiental e econômica) e social. O
desenvolvimento sustentável implica numa transformação do sistema econômico atual, devido
as suas implicações e dificuldades de aplicação, considerando que os sistemas de produção
material, dominantes no mundo, não são sustentáveis, a médio e longo prazo, quando se
avalia os aspectos legais, econômico, social e ambiental. O setor mineral compõe-se um dos
pilares da economia industrial, considerando-se que a maior parte dos bens econômicos, é
resultado do uso direto de matérias-primas ou da modificação de produtos minerais.
Estas propostas poderão ir a favor do Zoneamento-sócio-econômico-ecológico do
Estado de Mato Grosso (ZSEE-MT). Esse programa está de acordo com o Decreto Federal
4.297/2002 – que estabeleceu critérios para o Zoneamento Ecológico-Econômico do Brasil
(ZEE), onde a União só reconhecerá os ZEE’s estaduais para fins de uniformidade e
compatibilização com as políticas públicas federais, desde que tenham sido aprovados pelas
Comissões Estaduais do ZEE e pelas Assembléias Legislativas. Esse reconhecimento será
feito pela Comissão Coordenadora do ZEE do Território Nacional, de acordo o Consórcio
ZEE Brasil. Segundo informações de jornais e outros veículos de comunicação, este programa
será implantado, no estado, ainda no corrente ano.
Aqui é defendida a necessidade de aprofundar estudos pertinentes à questão, antes da
implantação de qualquer tipo de ação. É relevante ressaltar que todas as propostas
apresentadas só terão validade como desenvolvimento sustentável a partir de políticas
voltadas para sistema de cooperativismo e associativismo.
Dentre as opções observadas após análise dos rejeitos, chegou-se a propostas que
podem ser consideradas simples, bem como as mais complexas. Assim, este trabalho irá tratar
mais especificamente da proposta que se julga mais simples de ser concretizada e lançará
algumas idéias para as propostas com maior grau de complexidade. As propostas buscaram
alternativas que valorizem o potencial da localidade, ou seja, o setor mineral, utilizando os
rejeitos dos garimpos, matéria-prima abundante no distrito além de promover a recuperação e
reabilitar as áreas degradadas em função da atuação desordenada das atividades garimpeiras.
120
6.2.1 Implantação de uma cooperativa para confecção de peças artesanais
O artesanato tem se afirmado como elemento básico para o desenvolvimento regional
e local. Todavia, o artesanato, por ter multifuncionalidade, deve ser antes de tudo uma
atividade econômica integrada com outras atividades nos processos de desenvolvimento. É
necessário pensar o artesanato de maneira específica, procurando assegurar seu próprio
desenvolvimento e modernização, interagindo-o com outros setores e não isoladamente.
Enquanto que numa perspectiva de desenvolvimento setorial tradicional a preocupação
predominante é a competitividade econômica do setor, numa perspectiva integrada, o mais
importante é sua contribuição para a competitividade territorial de caráter econômico, social,
cultural e ambiental no conjunto dos setores existentes ao nível de um território específico.
Deste modo, deve-se considerar as funções do artesanato como papel social, patrimonial e
cultural, ambiental, pedagógica, recreativa e estética. Realça-se a questão essencial ao
desenvolvimento de comunidades pobres e sem perspectiva, garantindo viabilidade própria
em conjunto com outros campos.
O artesanato ocupa lugar especial no âmbito das atividades econômicas por ser grande
gerador de empreendedorismo e de emprego em micro e pequenas empresas. Conjuga o
potencial econômico e a geração de emprego, além da vertente cultural e turística presente nas
localidades. Assim, não surpreende o apoio ao setor, por parte dos poderes públicos ao longo
das últimas décadas, ao reconhecer seu papel importante para o país e por proclamar ganho
para as localidades em curto prazo.
Um dos objetivos do projeto é trabalhar com os artesãos e transformá-los em um dos
atores principais do desenvolvimento local. A técnica artesanal deve ser ensinada, porém a
idéia é respeitar as características e habilidades dos envolvidos, respeitando as
particularidades. A capacitação e qualificação têm o objetivo de inserir a técnica artesanal
com máquinas e manual, além de ensinar técnicas de comercialização e padrões de tamanho,
fixar preços justos, elaborar etiquetas e se organizar em grupos, portanto, exigem condições
mínimas para a atividade.
Alguns fatores foram observados antes de cogitar trabalhar com artesanato em Alto
Coité: o baixo índice de desenvolvimento humano, falta de fonte de trabalho e emprego e a
presença de matéria-prima presente na região. Durante a pesquisa de campo, o pesquisador
teve oportunidade de conhecer uma pessoa que possui conhecimento da arte com escultura e
121
se propôs repassá-lo. Foi possível ainda identificar pessoas que estão dispostas a trabalhar
com artesanato, porém, são necessários incentivos.
Segundo consultores na área de artesanato, geralmente, um projeto é realizado por
meio de um diagnóstico de cada localidade e um plano de trabalho de 18 a 24 meses para ser
concretizado em todas as suas dimensões. Todavia não se deve esquecer que cada projeto é
um projeto, e tem particularidades. Cada projeto possui um esboço que é tomando com base,
porém a forma de estruturá-lo depende muito da comunidade.
Desde modo, considerando as condições diagnosticadas e possíveis, propõe-se a
criação de oficinas artesanais que poderão ser divididas em quatro eixos temáticos: identidade
cultural e cidadania; gestão da produção; produto e relacionamento com o mercado.
O projeto a ser desenvolvido deverá ter o objetivo de formar grupos autônomos para
gerir seus próprios negócios e, desta forma, deve contar com a participação de entidades
locais, ONGs e órgãos de fomento ao desenvolvimento e de capacitação de mão-de-obra, para
implantação, produção, comercialização e gerenciamento, o que implica na realização de
intenso programa de qualificação e capacitação.
Na área de comercialização deve-se apoiar feiras que podem ser visitadas por
comerciantes, empresas ou arquitetos e demais segmentos, isto é, a proposta deve ser
direcionada principalmente para o varejo, além de discutir uma maneira de abordar o
consumidor direto. O projeto deve trabalhar com uma clientela diversificada. Todavia, todo
esse processo deve ser feito sempre respeitando as especificidades do trabalho dos artesãos,
uma vez que o trabalho artesanal não é como uma produção industrial.
O governo municipal está tentando fazer um trabalho semelhante em pareceria com a
cooperativa dos garimpeiros de Poxoréu, porém, tem deixado de lado, as pessoas do distrito,
onde existe maior abundância da matéria-prima para a confecção de seus produtos.
Orçamento16
para implantação da oficina de artesanato para peças ornamentais e semi-jóias
(baseada em sistema de cooperativa)
. Custo máquina e instrumental (6 itens) - R$ 21.360,00
. Materiais de consumo e seqüencial (20 itens) - R$ 3.387,00
. Materiais de segurança e manutenção (11 itens) - R$ 555,50
. Resumo do orçamento - R$ 25.302,50
16 Os dados do orçamento foram fornecidos pela Companhia Mato-Grossense de Mineração – METAMAT.
122
. Matéria-prima – parte do rejeito proveniente dos garimpos de diamante (seixos de quartzo,
opala, calcedônia, turmalinas, granada e de diferentes tipos de rocha).
. Infra-estrutura e edificações não foram orçadas: no distrito existem duas casas que poderão
ser usadas para instalação da oficina e sede da cooperativa (pertencente a ONG italiana).
. Inclui compra de veículo (01) e equipamentos para transporte da matéria-prima (não
calculado).
A instalação tem capacidade para comportar 10 trabalhadores com os equipamentos, e
possui capacidade para absorver artesões manuais.
6.2.2 Implantação de planta industrial para produção de areia artificial/industrial.
A disponibilidade de areia e rocha para britagem localizados ao entorno dos grandes
núcleos consumidores, vem declinando dia após dia, em virtude de planejamento inadequado,
problemas ambientais, de zoneamentos restritivos e de usos competitivos do solo. Com a
dificuldade cada vez maior de licenciamento de novas áreas de extração e distanciamento dos
centros urbanos, a possibilidade de exploração está cada vez mais limitada, tornando as
perspectivas de garantia de fornecimento futuro aleatória. O aumento da demanda, associada
às crescentes restrições à sua exploração em áreas próximas aos centros urbanos, tem levado o
mercado a procurar areia em áreas cada vez mais distantes.
Quanto mais distante do mercado consumidor for extraída a areia e a brita mais cara
elas se tornam, pois o do custo do transporte eleva o custo destes produtos de maneira
considerável em até cerca de 70% no custo final. Como a areia e pedra britada se caracterizam
pelo baixo valor e grandes volumes de produção, o transporte é responsável por cerca de 1/3
do custo final da areia e 2/3 do preço final da brita (Valverde, 2006). Outro fator que vem
contribuindo para a substituição da areia natural pela areia artificial e outros materiais
agregados (brita e cascalho) é o surgimento de equipamentos de britagem capazes de superar
a principal restrição de utilização da areia artificial e a brita, oriunda de fontes alternativas,
como a reciclagem de materiais.
Esse quadro tem criado oportunidades para a indústria de agregado no Brasil no
sentido de buscar materiais alternativos à areia natural tais como a produção das chamadas
“areias artificiais” a partir de rejeitos de pedreiras e brita a partir de diferentes rochas e de
demais rejeitos que tenham possibilidades de aproveitamento para este fim.
123
O aproveitamento de rejeitos, dentre estes os do setor mineral, tem ocupado lugar de
destaque na área de pesquisa das grandes universidades e centro de pesquisas. A abertura de
mercado para produtos reciclados de qualquer natureza é uma tendência cada vez maior. As
novas tecnologias e pesquisas para aproveitamento e reaproveitamento dos rejeitos que estão
sendo desenvolvidas são um convite para empresas investirem nesta área promissora.
Diante desde contexto, procurou-se estudar a viabilidade de produzir areia artificial
como alternativa ao processo convencional de extração de areia natural, incorporando em uma
única proposta, solução de problemas ambientais causados pelo acúmulo de rejeitos e de
problemas de ordem econômica em função do menor custo da matéria-prima. O
aproveitamento e beneficiamento dos rejeitos dos garimpos de diamantes Alto Coité
vislumbra a possibilidade do emprego destes materiais para produção de areia, sobretudo areia
industrial, para utilização na construção civil, bem como em aplicações industriais, que são
comercialmente vantajosas.
Esta proposta surgiu ao considerar a abundância de matéria-prima (rejeitos) na área
garimpada de Alto Coité, que estima-se ser de cerca de 21.000.000 de toneladas, somente na
área conhecida como patrimônio e de 7.000.000 de toneladas na Fazenda Primaverinha. Não
foi possível fazer estimativa total da área garimpada do distrito e do município.
A proposta consiste em criar um pequeno pólo industrial com implantação de uma
indústria de mineração com uma linha de britagem e outra para produção e beneficiamento de
areias quartzosas, isto é, industrial (ver esquema Anexo V) e conjuntamente indústrias para
aproveitamento final da areia industrial. Assim sendo, a proposta deve ser apoiada nos
esforços de desenvolvimento tecnológico e baseada na diversificação da economia regional e
local, desenvolvendo uma cultura empresarial.
A princípio deverá ser considerada uma planta para beneficiar matéria prima para
construção civil, e posteriormente resultar em projetos completos com beneficiamento de
areia industrial direcionando-a para indústria de fundição e vidro, uma vez que as análises
químicas e físicas apontaram aplicações para esses segmentos.
A proposta prevê estudos e pesquisas para produção de produtos de alta qualidade,
baixo custo e alta produtividade no mercado e, além desenvolver uma areia ecologicamente
correta, que venha ocasionar inúmeros benefícios a todos os envolvidos - setor da construção
civil, industrial, bem como para população de Alto Coité e circunvizinhas, o que contribuirá
positivamente para o futuro da região.
124
Para que seja desenvolvido um trabalho de excelência, deve-se contar com uma equipe
de engenheiros e técnicos, preparados e treinados, para proporcionar treinamentos e
capacitação para os profissionais envolvidos no projeto, bem como manter um laboratório
para testes e demais pesquisas em parceria com a Universidade Federal de Mato Grosso.
Propõe-se a instalação de uma indústria formada com capital originado da associação
de garimpeiros, iniciativa do setor público federal e estadual. A administração municipal
poderá contribuir para difundir informações, reduzir custos com impostos e taxas, utilizar o
material produzido, tendo como retorno a redução nos gastos com programas assistencialistas
e a criação de empregos gerando renda, e conseqüentemente, contribuir como um todo para a
economia regional e local.
Desde modo, para execução e implantação desta proposta, será preciso formar
parcerias entre setor público e privado, para que atuando juntos possam promover alternativas
para o desenvolvimento sustentável, buscando soluções que visem minimizar as distorções e
os impactos gerados pela extração mineral, tanto no que diz respeito à área econômica, social
e ambiental em Alto Coité.
Como qualquer proposta, para esta que esta possa ser consolidada será necessário
elaborar um projeto, no qual constarão os detalhes necessários para concretizá-la. Deve
constar estudo de viabilidade técnica, comercial e investimento para implantação e
manutenção de uma indústria direcionada ao aproveitamento e beneficiamento dos rejeitos
para produção de areia industrial e, paralelamente deve constar um projeto complementar com
vista à instalação de indústrias para aproveitamento desta areia em produtos finais, porém,
estudos ambientais devem ser desenvolvidos na área a ser trabalhada.
Esta proposta pode ser complementada futuramente com implantação de indústrias
para fabricação de vidro para diversos usos, utilizando à areia industrial proveniente da
própria usina.
6.2.3 Recuperação da área degradada pela garimpagem em Alto Coité
O extrativismo é uma atividade impactante do meio ambiente, portanto, causa grande
degradação ambiental, além de ser uma das maiores modificadoras da superfície, afetando não
somente a paisagem local, mas o ecossistema de maneira geral.
A atividade garimpeira é polêmica, tanto pela degradação ambiental como pela
degradação visual. Um dos grandes desafios tem sido o de encontrar uma destinação para as
125
antigas áreas de mineração e garimpagem, inseridas nas atividades econômicas e sociais de
modo a compatibilizá-las com o contexto regional e local.
Há várias maneiras de extração mineral, seja subterrânea ou a céu aberto. No caso de
Alto Coité os garimpos foram explorados a céu aberto, utilizando-se de cavas para extração
do minério o que produziu incontestáveis danos ao meio ambiente. Fato este que causado
muitas críticas de diversos setores, principalmente, da sociedade civil, em função dos muitos
danos gerados ao meio ambiente como um todo. Porém, essa externalidade negativa do meio
ambiente, associado à falta de proposta de uso futuro para as áreas pós-mineradas, não é
exclusiva desta região, ocorrendo também em outras regiões do país.
Por estas razões, há uma tendência mundial em ocupar as áreas de exploração mineral
e vários são os estudos e iniciativas empregadas para reverter à condição de degradação para
uma forma técnica, social e economicamente viável. Antigas áreas de mineração e
garimpagem têm sido transformadas em áreas que já estão ou futuramente poderão ser
utilizadas como áreas potenciais para desenvolvimento local.
As formas de recuperação de áreas degradadas pela atividade de extrativismo mineral
são infinitas e, muitas vezes está condicionada a função e aos objetivos definidos em cada
espaço. Deve considerar as condições do local, materiais disponíveis, capital para
investimento, opções estratégicas previstas para o seu desenvolvimento, expectativas das
entidades com intervenção local e aspirações das populações envolvidas, que pode ou não
contribuir para a obtenção de uma solução única, que garanta benefícios para toda
comunidade. Assim, em qualquer projeto, deve-se ter conhecimento aprofundado da região
em que se pretende implantá-lo.
As muitas soluções passam por estratégias diferenciadas com a implantação de um
projeto turístico, urbanístico e industrial. Encontrar uma solução que desperte o interesse de
todos os envolvidos no processo depende fundamentalmente do ajuste local, dos diferentes
planos e políticas, e, por vezes, exige sacrifícios na vertente estritamente mineira em prol de
uma solução integrada. A opção de ocupação de uma área deve ser compatível com as formas
de ordenamento que regulamentam a região, isto é, necessita seguir os padrões de
ordenamento do território. Entre os usos possíveis e compatíveis, deve optar por aquele que
traz maior valor, seja econômica, ou socioambiental.
Em Alto Coité, devido às décadas de exploração de diamante, principalmente na
década de 1980, com a introdução de maquinários, a paisagem encontra-se bastante
modificada e, ao longo da área garimpada podem ser visto grande número de catas e de
126
algumas lagoas resultantes do final da exploração. A área degradada exige planejamento de
ações integradas, capazes de dar conta das especificidades locais e responder a questões mais
amplas e difíceis, como desmatamento, assoreamento e crateras em todo terreno garimpado.
Assim, propõem-se três alternativas, descritas a seguir, que visam recuperar e
reabilitar as áreas por meio de ações a serem planejadas, projetadas e realizadas de maneira a
minimizar os danos ambientais e ao mesmo tempo criar oportunidades para promover
benéficos sociais e econômicos para a região.
1ª alternativa - Recuperação da área por meio de revegetação e reabilitação visando seu uso
futuro.
Esta proposta consiste na recuperação da área degradada seguida de plantio de mudas.
A proposta pauta-se, principalmente em plantio de espécies nativas. Porém, é preciso lembrar
que nem sempre é possível, dadas às diferenças ambientais existentes entre o habitat natural e
aquele após as transformações que muitas vezes não favorece a vegetação original.
Durante esse trabalho deverão ser fechadas antigas catas procurando deixar a
topografia do terreno o mais próxima possível da original e, após o fechamento das inúmeras
catas, o solo deverá ser trabalhado para receber o plantio de mudas.
No fechamento das catas deve-se procurar manter o empilhamento numa seqüência
crossing up, na qual os grãos maiores concentram-se na base, diminuindo para o topo. Ideal
seria recobrir a área com solo vegetal da região, mas considerando que este material já foi
removido há muito tempo, deverá ser usado adubo para permitir que as sementes e mudas
possam se desenvolver e se fixarem no solo arenoso da região.
Na etapa de plantio alguns itens devem ser considerados, pois recuperar áreas
degradadas ou alteradas pela atividade do homem, ou como conseqüência dessas atividades,
via uso da vegetação, pressupõe o conhecimento de dois componentes fundamentais: o solo e
a própria vegetação. Além disso, é necessário levar em consideração o estresse a que está
submetida à vegetação adjacente às áreas degradadas.
O processo de revegetação deverá proporcionar a recuperação de funções do
ecossistema por meio de adubação do solo, sementes para fixação e plantio de mudas. O
plantio deverá englobar, além de espécies nativas, diferentes espécies com preferência para os
127
grupos ecológicos17, tais como leguminosas florestais, frutíferas e exóticas, para compor a
paisagem. A escolha das espécies a serem utilizadas na revegetação deverá está relacionada à
disponibilidade de obtenção de sementes e mudas, sendo que a utilização de espécies nativas
seja reduzida por uma questão de oferta de mercado. Portanto, as mudas a serem utilizadas
deverão ser produzidas em viveiros próprios, especialmente as de espécies nativas.
O projeto deve levar em consideração a natureza arenosa do terreno, a proximidade de
áreas degradadas próximas aos córregos e rios e a presença de casas nas imediações. A
recuperação da topografia da área deve ser seguida da recuperação da mata ciliar, uma vez
que a mesma foi totalmente destruída em função das atividades garimpeiras nas margens dos
córregos e rios da região.
O projeto deverá ainda prevê os custos referentes a equipamentos, mão-de-obra e
materiais diversos. Os custos referentes a equipamentos devem incluir hora/máquina dos
tratores, bem como o custo com os operadores das máquinas. Nos custos com mão-de-obra, é
necessário incluir gastos com salários e encargos com engenheiros, técnicos agrícolas,
ajudantes e demais profissionais envolvidos. Os custos com materiais devem estar incluídos
corretivos de solos, adubos, mudas, sementes, gastos com material para o viveiro e outros. Os
retornos financeiros poderão ser alcançados direcionando estas áreas para outras atividades
econômicas, como, por exemplo, a pecuária, porém é válido ressaltar que este procedimento
será a médio e longo prazo.
2ª alternativa - Recuperação da área visando como o uso futuro à criação de parques e áreas
de lazer e recreação.
Essa alternativa deverá complementar a primeira, mas envolverá, principalmente,
áreas ao entorno da vila, isto é, a área do patrimônio dos garimpeiros.
O distrito Alto Coité, bem como toda a região é desprovido de lazer e cultura. Assim,
esta proposta prever recuperação e reabilitação de parte da área degradada, conjugada ao uso
social. Face, a estes condicionantes optou-se pela implementação de um espaço de recreio e
lazer para a população do distrito e circunvizinhas.
17 Ver critérios utilizados para separar as espécies florestais tropicais em grupos ecológicos (Kageyama; Viana, 1991)
128
Durante a fase de recuperação das áreas degradadas às margens dos córregos e rios,
seguido do replantio da mata ciliar, pode-se estudar a possibilidade de transformar alguns
locais nas margens dos córregos em praias de água doce, permitindo assim um fluxo turístico
para a região, o que irá auxiliar no desenvolvimento do distrito.
O plano de recuperação proposto permitirá transformar os espaços degradados e antes
ocupados pela garimpagem opções potenciais de aumento do índice de áreas verdes para
receber espaços lúdicos e atender a área social da região com aproveitamento turístico.
Entretanto, somente atingirão essas funções, contemplando bem-estar, lazer e recreação à
população, quando a conservação e a manutenção forem bem conduzidas pelas políticas
governamentais de gestão e fiscalizadas pela comunidade.
Para a implementação da proposta, as pessoas envolvidas devem fazer um projeto a ser
trabalhado em duas etapas. Na primeira, por meio de um projeto paisagístico pode-se
transformar as áreas degradadas em áreas verdes, recompondo o solo e a paisagem do local
através de arborização, sem deixar que a paisagem fique monótona. Esta fase deverá ser
elaborada por arquitetos, paisagistas e engenheiros florestais, que farão levantamento de
material, com coleta de dados e informações, que serviram de base para a criação do projeto.
Na segunda fase do projeto deve ser elaborada uma estratégia para criação de uma área de
convívio social e turismo. O local deverá ser estruturado para área de lazer e recreação, com
instalação de infra-estrutura.
Os custos associados à infra-estrutura podem ser compensados pelos benefícios que
advêm dos usos posteriores. Estes benefícios podem ser em termos econômicos para toda a
região, a médio e longo prazo, como ganhos sociais e ambientais diretos e indiretos, dotando a
comunidade de espaços dos quais é carente. Para execução e implementação desta alternativa,
os setores públicos e privados devem trabalhar em parceria para possibilitá-la em uma
localidade carente de em infra-estrutura e de projetos estruturantes para a região.
3ª alternativa - Recuperação da área visando como uso futuro à piscicultura.
A proposta prevê a recuperação de cavas abandonadas, para reprodução artificial de
peixes das Bacias Hidrográficas da região, bem como outras espécies adaptadas à região.
A recuperação da área deve considerar a possibilidade de transformar as grandes catas
(poços/cavas) em lagoas para piscicultura, tendo em vista o desenvolvimento auto-sustentável
da região, sobretudo, na área social com geração de emprego e renda. Ainda prevê a
129
possibilidade de promover de forma indireta, outras cadeias produtivas na região, dentre estas,
indústria de ração com caroços de algodão, instalada em Poxoréu (produção de ração para
alimentação de peixes).
Apesar de não ter sido concebida para esse fim, já que são resultantes da degradação
pela extração de diamantes, as antigas catas/cavas podem ser utilizadas para implantação de
piscicultura, tanto para criação de peixe para consumo ou como pesca esportiva, em “tanque-
rede ou gaiaolas”18. A pesca esportiva poderá ficar conjugada a área de recreação e lazer para
alavancar o turismo da região.
Porém, antes de iniciar a utilização das catas para a piscicultura, as catas pequenas
deverão ser fechadas e a topografia do terreno como um todo e ao entorno das catas maiores
que serão utilizadas para tanques de criação de peixes, deve ser reconstituída, conforme
alternativa 1. Assim, o terreno deve ser adubado para receber sementes e mudas de espécies,
tanto nativas como de espécie adaptáveis, além da recuperação da mata ciliar.
Esta proposta visa instituir uma associação de piscicultores entre as famílias mais
carentes de Alto Coité, para cultura de peixes em um sistema alternativo, ou seja, criar uma
associação de piscicultores artesanais. Assim, a proposta conta com algumas linhas de
estratégias e ações dentre as quais pode citar cadastramento de famílias participantes, visitas
técnicas para identificação da capacidade da área a ser trabalhada, realização de cursos
específicos para a piscicultura, execução dos povoamentos dos lagos, acompanhamento do
desenvolvimento da atividade piscícola através de avaliação dos produtores.
Esta proposta tem em vista trabalhar com tecnologias que já estão sendo implantadas
em outras regiões, e que tem sido fundamental para alavancar a aprovação e financiamento de
novos projetos, junto aos órgãos e agências de fomento ao desenvolvimento sustentável de
regiões precárias e que necessitam de políticas para geração de emprego e renda.
Contudo, é necessário efetuar um projeto para direcionar de maneira coerente as idéias
levantadas para implantação do programa de piscicultura em Alto Coité. O projeto deverá
pautar-se no Sistema Local de Inovação (SLI) da piscicultura. Portanto, deverá estabelecer
parâmetros para implantação da proposta por meio de quatro componentes – produção,
pesquisa, formação e financiamento19.
18 Tanque-rede ou gaiolas: Em geral são estruturas retangulares que flutuam na água e confinam peixes em seu interior. Equipamento é constituído basicamente por flutuadores (galões, bombonas, bambu, isopor, canos de PVC, etc.) que sustentam submersos na água redes de náilon, plásticos perfurados, arames galvanizados revestidos com PVC ou ainda telas rígidas. 19 Ver Artigo publicado na revista Panorama da Aqüicultura, Rio de Janeiro, v. 14. SILVA (2004).
130
O SLI é uma forma de organização da produção, envolvendo instituições privadas e
públicas, e que se fundamenta na indispensável localização dos processos produtivos; na
geração de técnicas e produtos combinados com o ambiente físico e econômico; e nas
necessidades dos consumidores alvo. Deste modo, o SLI apóia-se na hipótese de que as
vantagens competitivas da piscicultura em determinada região, dependem essencialmente da
capacidade de construir uma organização produtiva que crie inovações de acordo com as
especificidades locais e de mercado, proporcionando durabilidade à atividade.
Desde modo, propõe-se que deverão desenvolver pesquisas, pré e pós-implantação do
programa e que estas ocorram nas próprias unidades produtivas tendo sempre a participação
de produtores e profissionais envolvidos no processo de piscicultura. Essas pesquisas devem
ser voltadas para os pontos de estrangulamento do sistema produtivo, criando técnicas ou
modelos de organização que possam criar oportunidades e fortalecer a piscicultura na região.
Prevê ainda que todos os envolvidos permaneçam em contínuo processo de atualização
técnica e mercadológico.
O financiamento torna-se necessário, ao considerar que a proposta de implantação da
piscicultura para a região deve estar direcionada, basicamente, aos pequenos e médios
criadores que não possuem recursos para investir em pesquisa-desenvolvimento e formação.
Uma vez que os pequenos e médios piscicultores encontram dificuldades em financiar a
produção e aquisição de equipamentos e insumos, sendo necessária ação pública, o que vem a
ser de grande importância para o desenvolvimento da piscicultura em Alto Coité.
Espera-se que estudos mais aprofundados permitam, no futuro, compatibilizar a
piscicultura intensiva e desenvolver um potencial pesqueiro em Alto Coité.
Estas alternativas podem implantadas individualmente. Contudo, as 3 alternativas não
se excluem, ao contrario seriam muito interessante que fossem implantados conjuntamente,
uma vez que podem se complementarem.
131
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste capitulo serão apresentadas as conclusões gerais obtidas a partir da integração e
análises dos dados da pesquisa concernente às condições de vida dos moradores e aos rejeitos
de diamante da região de Alto Coité.
Como visto no capitulo 4, o perfil de Alto Coité e do município de Poxoréu como um todo,
possui características comuns as áreas de garimpo da maioria das regiões do Brasil, nas quais
prevalece o abismo entre ricos e pobres e o não envolvimento do setor público (estadual ou
municipal).
O município de Poxoréu, após o declínio da atividade garimpeira está passando por um
processo de estagnação econômica em virtude principalmente da ausência de outras atividades
que substitua as atividades garimpeiras nas mesmas proporções dos tempos áureos da
exploração diamantífera. A região que dependia tradicionalmente da extração de diamantes,
tenta sobreviver das atividades da agropecuária, porém essa atividade é restrita e não
consegue absorver a mão de obra proveniente dos garimpos. Embora o PIB e a renda per
capita do município tenham conseguido números expressivos, principalmente no período de
2002-2005, o município não consegue fazer transferência de renda mais eqüitativa, e assim,
não consegue diminuir a desigualdade e a pobreza do município.
O distrito de Alto Coité encontra-se em situação econômica mais agravada que outros do
município como um todo, pois a grande concentração de garimpos ocorria nas suas
imediações e, conseqüentemente, com o fechamento dos mesmos. Assim, Alto Coité foi mais
fortemente atingido pelas adversidades econômicas. Este fato gerou a migração da população
mais jovem a outros centros urbanos, em busca de novas oportunidades, e como conseqüência
sofreu significativa perda populacional economicamente ativa. Desse modo, o distrito é
caracterizado por uma população envelhecida, pobre e sem expectativas.
A análise dos rejeitos provenientes da exploração do diamante foi discutida em relação à
hipótese de que o aproveitamento e beneficiamento destes poderão agregar valor e
proporcionar o desenvolvimento da região com a possível geração de emprego e renda.
Assim, as principais conclusões obtidas neste trabalho, concernentes às análises nos resíduos
provenientes da garimpagem do diamante da região de Alto Coité e Poxoréu que permitam
gerar emprego e renda em uma região degradada podem ser enumeradas da seguinte maneira:
1. Considerando os estudos granulométricos, a maioria das amostras pode ser utilizada
tanto para a indústria de fundição, devido à alta esfericidade dos grãos, concentrado
132
nas frações maiores, assim como para a fabricação vidro, nas frações menores de
baixa esfericidade, tendo em vista a maior facilidade da fusão se iniciar nas pontas e
arestas dos grãos;
2. As amostras in natura (sem separação granulométrica) mostram concentrações de
SiO2 superior a 95%, tendo como principais contaminantes Al2O3 e Fe2O3, que
variam de 1,77 a 3.34 % e 0,47 a 2,93%, respectivamente.
3. A análise química das frações 1,19 e 0,50 mm varia muito pouco em relação à da
amostra in natura, mostrando pequenas diferenças na percentagem dos elementos
principais, tais como, SiO2, Al2O3 e Fe2O3. Nas amostras Ap2, Ap10 e Ap11, esta
diferença é um pouco mais acentuada, embora seja função da perda ao fogo analisada
nessas frações e não nas amostras in natura. Os demais elementos analisados
mostram comportamento geoquímico semelhante para todas as amostras e frações.
4. Quanto à fração argila, esta mostrou comportamento similar, com exceção das
amostras Ap2 que apresenta alto conteúdo de Al2O3 e Ap11 com altas concentrações
de Fe2O3, o que pode ser conseqüência da presença de argilas e oxido de ferro,
respectivamente.
5. Estes resultados geoquímicos sugerem que todas as amostras podem ser utilizadas para
a construção civil, tomando por base as especificações brasileiras para esse fim.
6. Para o uso na indústria de vasilhame e fundição, o material analisado deve ser
submetido à remoção de ferro e alumínio, respectivamente, para todas as amostras,
exceto para Ap2 e Ap11, cujo teor de TiO2 ultrapassa o teor das especificações e é de
difícil remoção.
7. As amostras estudadas apresentam baixas concentrações de titânio, magnésio,
manganês, cromo, potássio, sódio e cálcio, mesmo sem terem passado por nenhum
tratamento prévio para a remoção máxima da argila, através de processo de lavagem,
o que garantiria menores concentrações desses elementos, uma vez que estão
presentes, principalmente, nos argilo-minerais. A remoção desses contaminantes
através da separação magnética de alta intensidade e/ou por flotação permitirá a
utilização desses rejeitos para fabricação das demais indústrias de vidros, dentre
outros usos.
8. A presença de ouro em quase todas as amostras das frações analisadas pode gerar o
interesse de alguma empresa de mineração a investir na região, o que mudará o
cenário social e econômico da população de Alto Coité.
133
9. Amostras analisadas nas frações acima de 9,52mm poderão ser utilizadas na
fabricação de semi-jóias e de peças ornamentais, uma vez que, depois de polidas,
estas amostras mostraram características visuais que atendem aos padrões de estética
aplicados a este ramo artesanal.
10. Quanto ao diagnóstico socioeconômico de Alto Coité, a partir das questões
analisadas ficou evidente que o distrito necessita de assistência por parte do setor
público, mais especificamente no que diz respeito à distribuição de renda e geração
de emprego.
11. Com o diagnóstico da região delineado e após as análises dos rejeitos das atividades
garimpeiras, foi possível esboçar algumas ações que podem ser eficazes no combate
às desigualdades sociais na qual vivem os alto coitenenses. Essas ações podem ser
desenvolvidas, principalmente, com a criação de cooperativas e captação de recursos
através de financiamento em órgãos públicos federais ou estaduais.
12. A implantação de projetos de desenvolvimento local sustentável, tal como sugeridos
no capítulo 06, podem vir a ser o caminho viável para promover o desenvolvimento
sustentável de Alto Coité, a partir de bases produtivas, planejamento e da gestão
local, através da formação de estruturas associativas. Entende-se ainda, que a
introdução de novas tecnologias aplicadas a vocações locais naturais pode
representar um fator importante para o desenvolvimento sustentável, pois possibilita
um incremento econômico e social.
13. A integração entre população local, agentes políticos, estruturas técnicas e de
fomento governamental, entidades da sociedade civil e iniciativa privada em torno de
interesses econômicos e sociais comuns, ao que se pode denominar “Capital Social
Estrutural” cuja capacidade é promover mudanças significativas baseadas em
cooperação mútua e de processos de desenvolvimento local. Assim, a participação e
o aumento no número de organizações comunitárias na localidade, como também o
aumento da participação de membros da própria comunidade na política municipal
são indicadores para o desenvolvimento sustentável da região.
14. Para que as políticas de desenvolvimento sustentável obtenham sucesso é necessário
que a sociedade e o governo local atuem de forma conjunta investindo em tecnologia
e formação humana tanto individual como social.
134
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142
ANEXOS
ANEXO I: IMAGEM VIRTUAL DA ÁREA DE ESTUDO.............................................145
ANEXO II: QUESTIONÁRIOS..........................................................................................145
ANEXO III: GRÁFICOS E TABELAS DO GRAU DE ARREDONDAMENTO.........145
ANEXO IV: RESULTADOS DAS ANÁLISES QUIMICAS DA AMOSTRA AP1.......155
ANEXO V: ESQUEMA PLANTA INDUSTRIAL PARA PRODUÇÃO DE AREIA....156
143
ANEXO I: IMAGEM VIRTUAL - MAPA
Imagem da área de estudo – vila e área de garimpo.
144
ANEXO II: QUESTIONÁRIOS
Este questionário contempla principalmente o fator socioeconômico do distrito de Alto Coité. Os dados foram utilizados para pesquisas e elaboração da Dissertação de Mestrado em Economia, do Programa de Agronegócios e Desenvolvimento Regional na UFMT/MT e suas informações foram serão utilizadas somente para este fim. Esta pesquisa foi parte integrante do diagnóstico socioeconômico do distrito de Alto Coité do município de Poxoréu/MT e teve por objetivos: - traçar o perfil dos moradores; - conhecer a opinião dos moradores sobre os procedimentos adotados para o distrito pelo setor público municipal; - consolidar informações para promover a melhoria das condições de emprego e renda dos moradores. QUESTIONÁRIO SOCIOECONÔMICO Questionário a ser aplicado junto aos moradores de Alto Coité Responsável: Anésia Ribeiro Viana Filha (Mestranda) - Data:__/__/__Horário:__/__ Dados Pessoais Nome: ____________________ Estado civil: _________________ Local e ano de nascimento: __________________ Local de migração: _________________________ Percurso percorrido até chegar a Alto Coité: ______ Quanto tempo mora na cidade (distrito): _________ Grau de instrução (escolaridade): ______________ É aposentado? _________________ Qual instituição? _________________ Dados das famílias Quantos filhos você tem?_____________________ Qual a escolaridade dos membros da família? ____ Total de pessoas do núcleo familiar? ____________ Quantas pessoas moram com você? _________ Quantas pessoas sua família foram embora? _____ Qual localidade mora atualmente?___________ Estuda ou trabalha?_____________ Em que trabalha as pessoas que foram embora? ___ Seus filhos cursaram ou cursam faculdade?_______ Dados Econômicos das famílias Você trabalha ou trabalhou em garimpo? ________ Alguém em sua casa trabalha em garimpo? ______ Exerce outra atividade remunerada atualmente? ___ Gostaria de trabalharem outra atividade?______ Recebe ou recebeu bolsa auxílio do governo? ___ Qual o tipo de bolsa/auxílio recebe do governo? __
Há quanto tempo recebe esse beneficio? _______ É aposentado ou pensionista? _______________ Quantos aposentados ou pensionistas em casa?____ Quanto tempo recebe aposentadoria/pensão?_ Das pessoas da casa, quantas possuem renda?_____ Qual a faixa de renda mensal das pessoas que moram em sua casa? ___________ Quantas pessoas vivem com a renda familiar?_____ Quantas pessoas possuem carteira assinada? _____ Dados da residência (domicílio) A casa é casa própria?__________________ Tipo de construção (madeira, bloco, tijolos): __ Tipo de piso (cerâmica, madeira, cimento) _____ Nº de cômodos: _________________ Existe banheiro ou sanitário na casa? _________ Existe fossa sanitária? ___________ Existe água encanada? _____________________ A água encanada vai dentro de casa?___________ Existe energia elétrica? _____________________ O é feito com o lixo da residência? __________ Sobre os garimpos Ainda vale a pena ter garimpo na região? ________ Gosta de ver tantos garimpos na região? _______ Gostaria de ver a área de garimpo recuperada? ____ Acredita que os cascalhos podem aproveitados?___ Em quê?__________ Acredita que rochas/pedras podem aproveitadas? __ Habilidade Manual Já fez algum trabalho artesanal? _______________ Que tipo de artesanato? ______________________ Se não gostaria de fazer?______Qual: ________ Questionário para o distrito Alto Coité - aplicado junto à prefeitura Dados de Alto Coité Existe subprefeitura no distrito?_____________ Existe vereador do distrito?_____________ Total população: ______________ Total de casa: ________________ Total de escola (1º e 2º graus):______________ Hospital (posto de saúde): ______________ Total de igrejas: ___________________ Possui saneamento básico? __________________ Possui coleta de lixo urbano? _____________ Existe alguma ONG no distrito?________________ Se existe de onde vêm os recursos financeiros? ___ Quem toma conta dos projetos da ONG?_______ Quais são os projetos dirigidos pela ONG? _______ Dados econômicos de Alto Coité Principal cultura (lavoura) ____________
145
Agricultura de subsistência ou de comercial?_____ Animal de corte/leite? ______________________ Total e tipos de indústria? __________________ Total e tipos de comércio? __________________ Total de garimpos diamante: __________________ Há outros tipos de garimpos?______ Quantos? ___ Que outras pedras preciosas no distrito?_________ Quantos garimpos diamantes em atividade? ______ Quantas pessoas trabalham na agricultura? ______ Quantas pessoas trabalham na pecuária? ________ Quantas pessoas trabalham nos garimpos?_______ Quantas pessoas trabalham na indústria? ________ Quantas pessoas trabalham no comércio? ________ Existe alguma cooperativa?________________ Sobre os garimpos Quantos garimpos de diamantes existem? ________ Ainda vale a pena ter garimpo na região? ________ Acredita que os cascalhos podem aproveitados?___ O que pode ser feito com os cascalhos?_________ Existe algum tipo de recuperação dos cascalhos?__ Se existe qual solução encontrada: _____________ O que pode ser feito para recuperar área de garimpo?____________ Questionário para Poxoréu - aplicado junto à prefeitura Dados de Alto Coité Total população: ______________ Total de casa: ________________ Total de escola (1º e 2º graus):______________ Hospital (posto de saúde): ______________ Total de igrejas: ___________________ Possui saneamento básico? __________________ Possui coleta de lixo urbano? ______________ Existe alguma ONG no distrito?________________ Se existe de onde vêm os recursos financeiros? ___ Quem toma conta dos projetos da ONG?_________ Quais são os projetos dirigidos pela ONG? _______ Dados econômicos de Alto Coité Agricultura de subsistência ou de comercial? Principal cultura (lavoura) __________________ Animal de corte/leite? ______________________ Total e tipos de indústria? __________________ Total e tipos de comércio? __________________ Total de garimpos diamante: __________________ Quantos garimpos diamantes estão em atividade? _ Quantas pessoas trabalham na agricultura? _______ Quantas pessoas trabalham na pecuária? _________ Quantas pessoas trabalham nos garimpos? _______ Quantas pessoas trabalham em outros garimpos? __ Quantas pessoas trabalham na indústria? ________ Quantas pessoas trabalham no comércio? ________ Sobre os garimpos Qual tamanho área do patrimônio?_________ Quantos garimpos diamantes existem no patrimônio?__
Como é feita o controle da área patrimônio?______ Quem pode garimpar na área do patrimônio?_____ Existe algum tipo de recuperação dos cascalhos? __ Se existe qual solução encontrada: _____________ O que fazer para recuperar a área de garimpo? ____ Os cascalhos dos garimpos são vendidos para qual estado? _______ Questionário sobre garimpos município Poxoréu e Alto Coité - aplicado junto à cooperativa dos garimpeiros Nome presidente sindicato__________ Quanto tempo existe a cooperativa?___________ Qual função da cooperativa?________________ Quanto tempo existe o sindicato?___________ Quantos garimpeiros são registrados?___________ O que o sindicato faz pelos garimpeiros?_________ Há registro de garimpos atualmente? ________ Quantos garimpos estão registrados?_________ Quantos garimpos existem na área patrimônio?____ Existe beneficio para o garimpeiro registrado?__ Número de garimpos existentes: ____________ No de garimpeiros: ___________________ Dono do garimpo é também dono da draga?______ Qual a porcentagem do dono da draga?__________ Qual a porcentagem do dono do garimpo? _______ Qual porcentagem para cada garimpeiro? ________ Trabalho é feito com dragas ou manualmente? ____ Com draga diminui o número de garimpeiros?____ Quanto recebe o operador da draga? __________ Qual a média de extração diamante por mês? _____ Qualidade do diamante – industrial/gemológico?__ Como ocorre a relação trabalho no garimpo?______ Qual produção atual em Poxoréu/Alto Coité?_____ Maior quantidade já extraída no garimpo: ________ Como é feita a comercialização?______________ Qual preço de comercialização dos diamantes?____ Preço do quilate de diamante:__________________ Principal destino dos diamantes: _______________ Quantos compradores existem em Poxoréu?______ Quantos compradores existem em Alo Coité? ____ Estados compradores de diamantes Poxoréu/Alto Coité_____ Países compradores de diamantes Poxoréu/Alto Coité__________ Principal comprador diamantes de Alto Coité no Brasil: ______________ Principal comprador dos diamantes de Alto Coité no exterior: _______________ Como é feita concessão de garimpos na região? ___ Como é feita concessão de novos garimpos na região?__ Diferença entre garimpo manual/mecanizado?____ Em quais aspectos? ________________ Existem geólogos, engenheiros, geógrafos? ____ É feito um estudo prévio para melhor opção e aproveitamento da lavra? _________ É feito estudo prévio para analisar a viabilidade econômica e ambiental? ____
146
ANEXO III: GRÁFICOS E TABELAS GRAU ARREDONDAMENTO
AP-01 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 43 17 0 8 01,68 mm 14 32 9 36 0
1,41 mm 26 33 7 22 0
1,19 mm 15 34 12 30 0
1,00 mm 16 30 17 26 2
0,71 mm 13 32 9 27 2
0,50 mm 7 28 8 33 5
? 134 206 62 182 9
% 22.6 34.7 10.45 30.7 1.52
AP-01 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 26 6 0 0 0
1,68 mm 0 4 2 3 0
1,41 mm 4 4 1 3 0
1,19 mm 2 4 1 2 0
1,00 mm 2 1 4 2 00,71 mm 5 2 4 5 1
0,50 mm 3 6 1 7 2
? 42 27 13 22 3
% 39.25 25.23 12.15 20.56 2.80 AP- 02 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 1 4 3 4 5
1,68 mm 35 1 1 9 01,41 mm 9 14 0 5 2
1,19 mm 7 3 6 9 0
1,00 mm 1 11 2 10 1
0,71 mm 2 2 7 7 0
0,50 mm 3 6 7 6 0
? 58 41 26 50 8
% 31.69 22.40 14.21 27.32 4.37
AP- 02 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 1 35 1 31 15
1,68 mm 7 25 7 15 0
1,41 mm 29 13 13 15 0
1,19 mm 2 33 10 27 3
1,00 mm 40 6 6 20 3
0,71 mm 14 16 24 22 6
0,50 mm 0 4 57 17 0
? 93 132 118 147 27
% 17.99 25.53 22.82 28.43 5.22
147
AP- 03 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 17 19 18 2 01,68 mm 28 32 2 20 0
1,41 mm 21 24 8 22 1
1,19 mm 13 13 9 20 0
1,00 mm 18 17 18 15 5
0,71 mm 30 21 8 29 0
0,50 mm 30 0 20 37 0
? 157 126 83 145 6
% 30.37 24.37 16.05 28.05 1.16
AP- 03 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 9 12 16 6 1
1,68 mm 10 2 4 2 0
1,41 mm 7 5 4 5 3
1,19 mm 17 20 4 4 0
1,00 mm 8 8 8 3 0
0,71 mm 9 3 0 0 0
0,50 mm 4 7 0 2 0
? 64 57 36 22 4
% 34.97 31.15 19.67 12.02 2.19 AP-05 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 24 27 0 31 01,68 mm 5 23 21 33 8
1,41 mm 7 26 29 28 2
1,19 mm 4 28 24 26 4
1,00 mm 28 14 11 13 8
0,71 mm 8 18 36 14 9
0,50 mm 3 8 33 17 24
? 79 144 154 162 55
% 13.30 24.24 25.93 27.27 9.26
AP-05 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 6 4 1 7 0
1,68 mm 1 3 1 5 0
1,41 mm 2 3 1 2 0
1,19 mm 1 3 3 2 5
1,00 mm 13 3 4 6 0
0,71 mm 2 3 7 1 2
0,50 mm 0 1 6 1 7
? 25 20 23 24 14
% 23.58 18.87 21.70 22.64 13.21
148
AP- 07 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 6 28 4 12 01,68 mm 11 15 7 13 0
1,41 mm 2 28 2 22 20
1,19 mm 0 19 1 15 0
1,00 mm 2 33 10 27 3
0,71 mm 0 21 12 7 0
0,50 mm 0 11 23 18 0
? 21 155 59 114 23
% 5.65 41.67 15.86 30.65 6.18
AP- 07 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 1 17 1 31 0
1,68 mm 22 22 6 4 0
1,41 mm 4 5 4 12 1
1,19 mm 28 29 2 6 0
1,00 mm 1 11 2 10 1
0,71 mm 6 40 14 0 0
0,50 mm 1 8 29 10 0
? 63 132 58 73 2
% 19.21 40.24 17.68 22.26 0.61 AP- 08 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 20 24 0 13 01,68 mm 28 14 0 15 0
1,41 mm 31 11 4 22 7
1,19 mm 25 24 17 7 3
1,00 mm 22 19 14 9 7
0,71 mm 32 0 0 0 0
0,50 mm 11 0 56 25 0
? 169 92 91 91 17
% 36.74 20.00 19.78 19.78 3.70
AP- 08 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 35 8 0 0 0
1,68 mm 32 11 0 0 0
1,41 mm 15 10 0 0 0
1,19 mm 8 5 7 4 0
1,00 mm 5 4 9 11 0
0,71 mm 10 0 20 38 0
0,50 mm 6 0 0 2 0
? 111 38 36 55 0
% 46.25 15.83 15.00 22.92 0.00
149
AP- 09 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 21 34 14 25 11,68 mm 26 32 10 22 1
1,41 mm 33 31 1 16 0
1,19 mm 28 32 16 14 2
1,00 mm 11 17 14 9 8
0,71 mm 12 31 15 24 9
0,50 mm 3 24 30 22 0
? 134 201 100 132 21
% 22.79 34.18 17.01 22.45 3.57
AP- 09 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 1 2 1 1 0
1,68 mm 2 4 1 2 0
1,41 mm 2 7 3 7 0
1,19 mm 2 1 2 2 1
1,00 mm 9 15 11 5 1
0,71 mm 1 3 1 4 0
0,50 mm 2 5 5 9 0
? 19 37 24 30 2
% 16.96 33.04 21.43 26.79 1.79 AP- 10 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 30 46 0 11 01,68 mm 19 13 0 7 0
1,41 mm 38 27 13 16 0
1,19 mm 17 13 0 26 0
1,00 mm 11 18 0 18 0
0,71 mm 7 34 19 26 5
0,50 mm 12 28 23 25 3
? 134 179 55 129 8
% 26.53 35.45 10.89 25.54 1.58
AP- 10 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 8 3 0 2 0
1,68 mm 43 18 0 0 0
1,41 mm 3 2 0 1 0
1,19 mm 40 4 0 0 0
1,00 mm 29 24 0 0 0
0,71 mm 1 2 2 4 0
0,50 mm 1 2 3 3 0
? 125 55 5 10 0
% 64.10 28.21 2.56 5.13 0.00
150
AP- 11 ALTA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 14 21 16 7 01,68 mm 6 25 19 5 0
1,41 mm 10 29 18 8 1
1,19 mm 20 22 20 5 4
1,00 mm 16 12 15 10 5
0,71 mm 21 13 20 15 11
0,50 mm 11 19 15 22 12
? 98 141 123 72 33
% 20.99 30.19 26.34 15.42 7.07
AP- 11 BAIXA ESFERICIDADE
ABNT Angular Sub-angular Arredondado Sub-arredondado Bem arredondado
2,00 mm 10 14 10 6 2
1,68 mm 13 17 11 4 0
1,41 mm 13 10 6 5 0
1,19 mm 10 9 7 2 1
1,00 mm 16 13 8 4 1
0,71 mm 16 2 1 1 0
0,50 mm 10 5 4 2 0
? 88 70 47 24 4
% 37.77 30.04 20.17 10.30 1.72
0
10
20
30
40
2,00 mm1,68 mm1,41 mm1,19 mm1,00 mm0,71 mm0,50 mm
AP 02 - Alta esfericidade
Angular
Sub-angular
Arredondado
Sub-arredondado
Bem arredondado
0
10
20
30
40
50
60
2,00 mm
1,68 mm
1,41 mm
1,19 mm
1,00 mm
0,71 mm
0,50 mm
AP 02 - Baixa esfericidade
Angular
Sub-angular
Arredondado
Sub-arredondado
Bem arredondado
05
101520253035
2,00 mm1,68 mm1,41 mm1,19 mm1,00 mm0,71 mm0,50 mm
AP 07 - Alta esfericidade
Angular
Sub-angular
Arredondado
Sub-arredondado
Bem arredondado
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
2,00 mm
1,68 mm
1,41 mm
1,19 mm
1,00 mm
0,71 mm
0,50 mm
AP 07 - Baixa esfericidade
Angular
Sub-angular
Arredondado
Sub-arredondado
Bem arredondado
151
0 5
10 15 20 25 30
2,00 mm 1,68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0 , 71 mm 0,50 mm
AP 08 - AP11 Subarredondado - A.E.
AP 8 AP 11
0 2 4 6 8
10 12 14
2,00
mm 1,68
mm 1,41
mm 1,19
mm 1,00
mm 0,71
mm 0 , 50
mm
AP 08 - AP11 Bem arredondado - A.E.
AP 8 AP 11
0 5
10 15 20 25 30 35
2 , 00 mm 1,68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm
AP 08 - AP11 Comparação angular A.E.
AP8 AP11
0 10 20 30 40 50 60
2,00 mm 1 , 68 mm 1,41 mm 1 , 19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm
AP 08 - AP11 Arredondado A.E.
AP 8 AP 11
0 5
10 15 20 25 30 35
2,00 mm 1,68 mm 1 , 41 mm 1,19 mm 1 , 00 mm 0 , 71 mm 0,50 mm
AP 08 - AP11 Comparação sub angular A.E.
AP 8 AP 11
0 5
10 15 20 25 30 35 40
2,00 mm 1 , 68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm
AP 08 - AP11 Angular B.E.
AP 8 AP11
0 5
10 15 20 25
2 , 00 mm
1,68 mm
1,41 mm
1,19 mm
1,00 mm
0,71 mm
0,50 mm
AP 08 AP11 Arredondado B.E.
AP8 AP11
0 0.5
1 1.5
2 2.5
2 , 00 mm
1,68 mm
1 , 41 mm
1,19 mm
1,00 mm
0 , 71 mm
0,50 mm
AP 08 AP11 Bem arredondado B.E.
AP8 AP11
152
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11
Baixa Esfericidade por amostra
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11
Alta Esfericidade por amostra
0.00
5.00
10.00
15.00
20.00
25.00
30.00
35.00
40.00
45.00
1 2 3 4 5
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7
AP8 AP9 AP10 AP11
Alta esfericidade de grão por amostra
0 2 4 6 8
10 12 14 16 18
2 , 00 mm 1,68 mm 1,41 mm 1,19 mm 1,00 mm 0,71 mm 0,50 mm
AP 08 - AP11 Sub angular B.E.
AP 8 AP11
0 5
10 15 20 25 30 35 40
2,00 mm 1,68
mm 1 , 41 mm 1,19
mm 1,00 mm 0,71
mm 0,50 mm
AP 08 AP11 Sub arredondado B.E.
AP 8 AP11
153
0.00
10.00
20.00
30.00
40.00
50.00
60.00
70.00
1 2 3 4 5
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7
AP8 AP9 AP10 AP11
Alta esfericidade de grão por amostra
0.00
5.00
10.00
15.00
20.00
25.00
30.00
35.00
40.00
45.00
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11
Angular Subangular
arredondado Subarredondado
Bemarredondado
Alta Esfericidade de grãos
0.00
10.00
20.00
30.00
40.00
50.00
60.00
70.00
AP1 Ap2 AP3 AP5 AP7 AP8 AP9 AP10 AP11
Angular Subangular
arredondado Subarredondado
Bemarredondado
Baixa Esfericidade de grãos
154
ANEXO IV: RESULTADOS DAS ANÁLISES QUÍMICAS
AP
1(2.
0)A
P1(
1.68
)A
P1(
1.41
)A
P1(
1.19
)A
P1(
1.0)
AP
1(0.
75)
AP
1(0.
5)A
P1(
0.25
)A
P1(
0.12
5)
SiO
294
.147
95.3
2695
.408
95.5
1695
.686
96.0
6496
.298
96.0
0094
.357
Al 2O
32.
551
2.62
32.
614
2.44
42.
616
2.66
72.
540
2.85
73.
812
Fe2O
32.
526
1.29
21.
097
1.10
40.
852
0.49
90.
336
0.33
20.
638
TiO
20.
056
00
00.
044
00.
050.
060.
228
K2O
0.07
80
00.
046
0.05
30
00
0
SO
30.
411
0.39
40.
425
0.38
80.
318
0.33
30.
396
0.37
20.
343
ZrO
20
0.01
0.01
10
00
0.00
90
0.17
1
MnO
00.
027
0.03
70
00
00
0
Sm
2O3
00
00.
101
0.08
80
00
0
WO
30.
222
0.31
30.
40.
389
0.33
60.
352
0.29
70.
303
0.37
9
Co 2
O3
00
00
00.
073
0.07
0.06
70.
067
SeO
20
0.00
90
00
00
00
Au 2
O0.
009
0.00
60.
008
0.01
30.
007
0.01
10.
004
0.01
0.00
7
AM
OS
TR
A A
P1
155
ANEXO V: ESQUEMA PLANTA SEMI-INDUSTRIAL PRODUÇÃO AREIA
A
lime
nta
dor
Co
rre
a tr
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ção
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Co
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ia )