universidade federal de goiÁs programa … · universidade federal de goiÁs programa de...

112
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento in silico de fármacos para doenças negligenciadas com ênfase no metabolismo energético de Leishmania spp e apicoplasto de Plasmodium falciparum Goiânia 2015

Upload: dinhtuong

Post on 23-Aug-2018

232 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA

TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA

LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA

Reposicionamento in silico de fármacos para doenças negligenciadas com ênfase no metabolismo energético de Leishmania spp e apicoplasto de Plasmodium falciparum

Goiânia

2015

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES E

DISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ ] Dissertação [ x ] Tese 2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor (a): Lourival de Almeida Silva E-mail: [email protected] Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [ x ]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor Professor do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IF Goiano, campus Ceres.

Agência de fomento: Sigla: País: UF: CNPJ: Título: Reposicionamento in silico de fármacos para doenças negligenciadas com ênfase no metabolismo energético de

Leishmania spp e apicoplasto de Plasmodium falciparum. Palavras-chave: Reposicionamento de fármacos, Metabolismo Energético, Leishmania spp; Apicoplasto; Plasmodium

falciparum. Título em outra língua: In silico drug repositioning for neglected tropical diseases with emphasis on energy metabolism

of Leishmania spp and Plasmodium falciparum apicoplast. Palavras-chave em outra língua: Drug Repositioning; Energy metabolismo, Leishmania spp; Apicoplast;

Plasmodium falciparum. Área de concentração: Parasitologia Data defesa: 27/02/2015 Programa de Pós-Graduação: Medicina Tropical Orientador (a): Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra E-mail: [email protected] Co-orientador (a):* Prof. Dr. Pedro Vítor Lemos Cravo e Prof. Dra. Ana Maria de Castro E-mail:

*Necessita do CPF quando não constar no SisPG 3. Informações de acesso ao documento: Concorda com a liberação total do documento [ x ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores, que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando o padrão do Acrobat. _____________________________________ Data: ____ / ____ / _____ Assinatura do (a) autor (a)

1 Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão disponibilizados durante o período de embargo.

Page 3: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

ii

LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA

Reposicionamento in silico de fármacos para doenças negligenciadas com ênfase no metabolismo energético de Leishmania spp e apicoplasto de Plasmodium falciparum

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública da

Universidade Federal de Goiás como requisito para a

obtenção do Título de Doutor em Medicina Tropical e

Saúde Pública.

Orientador: Profº. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra

Co-orientadores: Profº. Dr. Pedro Vítor Lemos Cravo e

Profª. Dra. Ana Maria de Castro

Goiânia

2015

Page 4: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

Ficha catalográfica elaborada automaticamente com os dados fornecidos pelo(a) autor(a), sob orientação do Sibi/UFG.

Silva, Lourival de Almeida Reposicionamento in silico de fármacos para doençasnegligenciadas com ênfase no metabolismo energético deLeishmania spp e apicoplasto de Plasmodium falciparum [manuscrito] / Lourival de Almeida Silva. - 2015. xvi, 96 f.

Orientador: Prof. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra; co-orientadorDr. Pedro Vítor Lemos Cravo; co-orientador Dr. Ana Maria de Castro.Tese (Doutorado) - Universidade Federal de Goiás, Instituto dePatologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) , Programa de PósGraduação em Medicina Tropical e Saúde Pública, Goiânia, 2015. Bibliografia. Apêndice. Inclui siglas, mapas, abreviaturas, tabelas, lista de figuras, lista detabelas.

1. Reposicionamento de fármacos. 2. Metabolismo Energético. 3.Leishmania spp. 4. Apicoplasto. 5. Plasmodium falciparum. I. BarretoBezerra, José Clecildo , orient. II. Lemos Cravo, Pedro Vítor , coorient. III. Título.

Page 5: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

iii

Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública

da Universidade Federal de Goiás

BANCA EXAMINADORA DA TESE DE DOUTORADO

Aluno: Lourival de Almeida Silva

Orientador: Profº. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra

Co-orientadores: Profº. Dr. Pedro Vítor Lemos Cravo e

Profª. Dra. Ana Maria de Castro

Membros:

1. Profº. Dr. José Clecildo Barreto Bezerra – IPTSP/UFG

2. Profº. Dr. Cláudio Carlos da Silva – PUC/GO

3. Profª. Dra. Carolina Horta Andrade – FF/UFG

4. Profª Dra. Elisângela de Paula Silveira Lacerda – ICB/UFG

5. Profº Dr. Clayton Luiz Borges ICB/UFG

Data: 27/02/2015

Page 6: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

iv

Dedico esse trabalho a minha fiel companheira,

esposa e amiga Jucilene de S. R Almeida que sempre

me apoiou e me auxiliou em tudo. Sem ela eu não teria

conseguido. Dedico também as minhas filhas, Beatriz

R. Almeida e Júlia R. Almeida que me alegraram e me

incentivaram nos momentos difíceis.

Page 7: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

v

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo privilégio do recomeço e por me ensinar que os acontecimentos não são precoces ou se atrasam, eles ocorrem no tempo Dele.

Ao professor Dr. José Clecildo Barreto Bezerra pela confiança e lealdade de sua orientação nesse trabalho, e por não ter sido apenas um orientador, mas um amigo e uma inspiração para mim.

Ao professor Dr. Pedro Vítor Lemos Cravo pela paciência, presteza e cumplicidade no auxílio para realização desse trabalho.

A professora Dra. Ana Maria de Castro pela solicitude, gentileza e doçura ao responder os pedidos de ajuda.

A professora Dra. Marina Clare Vinaud pelo apoio, sugestões e críticas feitas ao trabalho.

A biomédica Dra. Tatiane Luiza da Costa pelo imenso esforço empregado na realização dos testes com os fármacos.

Aos secretários da pós-graduação José Clementino e Kariny Soares pela gentiliza e presteza no atendimento de minhas solicitações.

Ao programa de Pós Graduação em Medicina Tropical e Saúde Pública por me oportunizar esse feito.

Ao diretor geral Hélber Souto Morgado e ao diretor de ensino Cleiton Mateus do Instituto Federal Goiano, campus Ceres por terem apoiado a realização desse trabalho.

Page 8: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

vi

SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ..................................................................................................... v

SUMÁRIO ....................................................................................................................... vi

FIGURAS E TABELAS ................................................................................................ viii

FIGURAS E TABELAS DOS ARTIGOS ...................................................................... ix

SIGLAS E ABREVIATURAS ......................................................................................... x

RESUMO ....................................................................................................................... xii

ABSTRACT .................................................................................................................. xiii

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1

1.1 Doenças Tropicais Negligenciadas ........................................................................ 1

1.2 As Leishmanioses .................................................................................................. 5

1.2.1 Ciclo Biológico de Leishmania spp. ................................................................... 5

1.2.2 Formas clínicas .................................................................................................. 7

1.2.3 Epidemiologia e controle .................................................................................... 7

1.2.4 Tratamento e resistência ..................................................................................... 9

1.2.5 Metabolismo energético como alvo de fármacos antileishmania ..................... 14

1.3 Malária ................................................................................................................. 21

1.3.1 Ciclo biológico do Plasmodium sp ................................................................... 21

1.3.2 A doença ........................................................................................................... 24

1.3.3 Epidemiologia e controle .................................................................................. 25

1.3.4 Tratamento e resistência ................................................................................... 27

1.3.5 O apicoplasto e terapia antimalárica ................................................................. 45

1.4 O reposicionamento in silico de fármacos para as leishmanioses e malária ....... 48

2 JUSTIFICATIVA ........................................................................................................ 52

3 OBJETIVOS ................................................................................................................ 53

3.1 Geral ..................................................................................................................... 53

3.2 Específicos ........................................................................................................... 53

4 MÉTODO(S) ............................................................................................................... 54

4.1 Estratégia para identificação de potenciais alvos terapêuticos do metabolismo

energético de Leishmania ........................................................................................... 54

4.2 Estratégia para identificação de potenciais alvos terapêuticos do metabolismo do

apicoplasto de Plasmodium falciparum ...................................................................... 56

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

vii

5 RESULTADOS ........................................................................................................... 60

5.1 Artigo 1 – In Silico Search of Energy Metabolism Inhibitors for Alternative

Leishmaniasis Treatments .......................................................................................... 60

5.2 Artigo 2 – A Systematic in Silico Search for Target Similarity Identifies Several

Approved Drugs with Potential Activity against the Plasmodium falciparum

Apicoplast ................................................................................................................... 60

6 DISCUSSÃO GERAL ................................................................................................ 75

6.1 Fármacos que atuam no metabolismo energético de Leishmania spp ................. 75

6.2 Fármacos que atuam no apicoplasto de P. falciparum ........................................ 77

7 CONCLUSÕES GERAIS .......................................................................................... 80

8 REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 81

9 APÊNDICE ................................................................................................................. 94

Bases de dados consultadas ....................................................................................... 94

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

viii

FIGURAS E TABELAS

Figura 1 Estádios evolutivos de Leishmania amazonensis. Forma promastigota (×1000;

A) e amastigota (B). Amastigotas estão infectando um macrófago ......................... 5

Figura 2 Ciclo de vida de Leishmania spp. causador da leishmaniose............................ 6

Figura 3 Distribuição geográfica das leishmanioses no mundo. A) Leishmanioses

cutânea e cutânea mucosa no Novo Mundo. B) Leishmaniose visceral no Velho e

no Novo Mundo. ....................................................................................................... 8

Figura 4 As principais vias do metabolismo energético em Leishmania major. Reações

da glicólise, que ocorrem no glicossomo no citosol e ciclo de Krebs, na

mitocôndria.. ........................................................................................................... 16

Figura 5 Metabolismo do carbono de Leishmania mexicana nas formas promastigotas

(A) e amastigotas (B)... ........................................................................................... 20

Figura 6 Ciclo biológico do Plasmodium spp.. .............................................................. 24

Figura 7 Mapa da população mundial sob-risco de contrair malária. ............................ 26

Figura 8 Fórmulas moleculares da artemisinina e seus derivados.................................. 30

Figura 9 Esquema para a origem de todos os plastídeos por endossimbiose primária e

secundária.. ............................................................................................................. 46

Tabela 1 DALYs estimadas (em milhões de dólares) das DTNs resultantes da

sobrecarga global de doença, estudo de 2010. ......................................................... 2

Tabela 2 Principais fármacos antimaláricos. World Health Organization. Guideline for

the Treatments of Malaria, Genebra, WHO, 2010. ................................................ 28

Tabela 3 Terapia combinada baseada em artemisinina. World Health Organization.

Guideline for the Treatments of Malaria, Genebra, WHO, 2010. .......................... 32

Tabela 4 Fármacos reposicionados com êxito para novas indicações. ........................... 49

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

ix

FIGURAS E TABELAS DOS ARTIGOS

Artigo 1

Figure 1. Flowchart depicting the overall strategy and results of this work...................62

Table 1. New drug-target associations disclosed in the present study...........................63

Artigo 2

Figure 1. Distribution of the expected apicoplast targets according to their predicted

metabolic function in the apicoplast...............................................................................68

Figure 2. Flowchart summarizing the work pipeline and corresponding results (*denotes

the targets that were discarded on the basis of having chemical affinity to dietary

supplements/nutraceuticals)............................................................................................69

Table 1. Examples of drug-target associations previously determined, that were

correctly identified in the present study..........................................................................70

Table 2. New drug-target associations disclosed in the presente study..........................71

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

x

SIGLAS E ABREVIATURAS

AA Ácido Azelaico

ABCD Anphoterecin B Coloidal Dispersion

ABLC Anphotericin B Lipid Complex

AKT Protein Kinase Threonine

ADP Adenosine Diphosphat

AnA Anphotericin A

AnB Aphotericin B

ATP Adenosine Triphosphat

DesA3 Stearoyl-CoA 9-desaturase

DNA Desoxirribonucleic acid

DALY Disability-Adjusted Life-Years

DTN Doenças Tropicais Negligenciadas

ED50 Half Efective Dose

EUPATHDB Eucariotic Pathogene DataBase Resources

FDA Food and Drug Administration

GBD Global Burden of Disease

G6PD Glucose-6-Phosphat Dehydrogenase

GENE DB Gene DataBase

HIV/AIDS Human immunodeficiency Virus/ Acquride Immunodeficiency

Syndrome

HAP Histo Aspartic Protease

IC50 Half maximal inhibitory concentration

ISO Isonoxil

IPTSP Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública

k-DNA Knetoplastid DNA

LD50 Half maximal Lethal Dose

logP logarithm partition coefficient

LND Lonidamina

LTA Leishmaniose tegumentar americana

LV Leishmaniose Visceral

L-AnB Liposomal Anphotericin B

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

xi

NADPH Nicotinamide Adenine Dinucleotíde Phosphate Hydrogen

N86Y asparagine 86 tyrosine

ONG Organização Não Governamental

OMS Organização Mundial da Saúde

PABA Para-aminobenzoic acid

PfATPase Plasmodium falciparum Adenosine Triphosphatase

PfCYTB Plasmodium falciparum cytochrome b

PfCRT Plasmodiu falciparum chloroquine resistance transporter

PfDHFR Plasmodium falciparum dihydrofolate reductase

PfDHPS Plasmodium falciparum dihydropteroate synthase

PfMDR Plasmodium falciparum multidrug resistance

PfNHE1 Plamodium falciparum sodium/proton exchanger 1

pH Potencial Hidrogeniônico

PMI Phosphomanose Isomerase

PQB Proteína Quinase B PvMDR Plsmodium vivax Multidrug Resistance

RNA Ribonucleic Acide

PLASMODB Plasmodium Genomics Resource DataBase

SinanNET Sistema de informação agravos de notificação

SNP Single Nucleotide polymorfism

STITCH Search Tool for Interactions of Chemicals

TCA Terapia de Combinação baseada na artemesinina

TDR TARGETS Tropical Disease Research Targets

TRITRYpDB Trypanosomatidae DataBase

TTDB Therapeutic Targets DataBase

WHO World Health Organization

Y184F Tyrosine 184 phenylalanine

D1246Y Aspartic acid 1246 Tyrosine

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

xii

RESUMO

As leishmanioses são parasitoses negligenciadas responsáveis por prejuízos físicos,

econômicos e sociais. A malária, embora não seja classificada como negligenciada, é

responsável por altos índices de morbidade e mortalidade, principalmente nos países

africanos. Ao longo dos anos, o tratamento dos infectados tem sido a forma mais eficaz

de controle dessas endemias. Entretanto, os efeitos tóxicos, o alto custo dos fármacos e

a resistência dos parasitos têm sido os maiores desafios enfrentados pela terapêutica das

leishmanioses e da malária. Sendo assim, é urgente a necessidade de desenvolver novos

fármacos que minimizem esses transtornos e contribuam para erradicação dessas

parasitoses. Diante disso, laboratórios acadêmicos, governos e organizações não

governamentais têm apoiado projetos voltados para o reposicionamento de fármacos

aprovados com vistas a reduzir custos e tempo de produção de novos antiparasitários.

No presente trabalho, utilizamos a bioinformática para identificar, buscar e analisar

alvos moleculares do metabolismo energético de Leishmania spp e do apicoplasto de P.

falciparum, visando o reposicionamento in silico de fármacos. Utilizando a base de

dados TDR Targets, identificamos 94 genes e 93 alvos do metabolismo energético de

Leishmania. Em seguida, utilizando a sequência peptídica de cada alvo, interrogamos as

bases de dados Drug Bank e TTD na busca de fármacos. Nossa busca resultou em 44

alvos positivos, dos quais 11 interagiam com 15 fármacos aprovados para uso em

humanos. Utilizamos estratégia semelhante para identificar fármacos antimaláricos que

atuassem especificamente contra o metabolismo do apicoplasto. A base de dados

GeneDB do genoma de P. falciparum foi usada para compilar uma lista de cerca de 600

proteínas com peptídeos sinais do apicoplasto. Cada uma dessas proteínas foi tratada

como potencial alvo de fármaco e sua sequência prevista foi usada para interrogar três

diferentes bases de dados de acesso livre (TT DB, DrugBank e STITCH ) Identificamos

fármacos com potencial de interagir com 47 peptídeos supostamente envolvidos na

biologia do apicoplasto do P. falciparum. Quinze desses alvos hipotéticos são previstos

interagir com fármacos já aprovados para uso clínico, mas que nunca foram avaliados

contra os parasitos da malária. Os nossos resultados sugerem que os fármacos aqui

identificados apresentam potencial para tratamentos das leishmanioses e da malária,

mas que necessitam de validação experimental para confirmar sua eficácia.

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

xiii

ABSTRACT

Leishmaniasis is a neglected tropical disease responsible for physical, economic and

social damages. Even though malaria is not classified as a neglected tropical disease, is

responsible for high morbidity and mortality, especially in African countries. Current

treatments for both diseases face several drawbacks, including the evolution of drug-

resistant parasites, the high cost of major drugs and the high toxicity of others. For these

reasons, there is an urgent need to develop new drugs that minimize these downsides

and, consequently, help eradicate these diseases. To overcome these difficulties, both

academics and pharmaceutical companies are increasingly employing the so-called

“drug repositioning strategy”. Drug repositioning aims to find new applications for

drugs approved for other indications, and has proven valuable for decreasing research

costs as well as to decrease the time required to market the "new" drug. In the present

study, we used bioinformatics to identify and analyze molecular targets of the energy

metabolism of Leishmania spp and of the P. falciparum apicoplast. The energy

metabolism of Leishmania and the apicoplast metabolism have various enzymes that

can be targeted by specific drugs, leading to lower toxicity and more promising

therapies for humans. Using the TDR Targets database, we were able to identify 94

genes and 93 Leishmania energy metabolism targets. We identified 44 positive targets

in these databases, and for 11 of these targets we found drugs already approved for use

in humans. We used a similar strategy to identify antimalarial drugs that acted

specifically against the apicoplast metabolism. The GeneDB database of the P.

falciparum genome was used to compile a list of 600 proteins with apicoplast signal

peptides. Each of these proteins was treated as a potential drug target and its predicted

sequence was used to interrogate three different open access databases (DB TTD,

DrugBank and STITCH ). We identified many drugs with the potential to interact with

47 peptides allegedly involved in apicoplast biology in P. falciparum. Fifteen of these

hypothetical targets are predicted to interact with drugs are already approved for

clinical use, but were never evaluated against malaria parasites. Our results suggest that

the drugs identified here show potential activity against leishmania parasite and malaria,

but need experimental validation to confirm their effectiveness.

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

1 INTRODUÇÃO

1.1 Doenças Tropicais Negligenciadas

As Doenças Tropicais Negligenciadas (DTNs) afetam populações de baixa

renda, politicamente marginalizada e que vivem em zonas rurais e urbanas, cujas

condições de moradia, saneamento e de serviços médicos são muito precárias

(DAUMERIE, DENIS; SAVIOLI, 2010). Essas doenças são causadas por cerca 17

diferentes tipos de parasitos, incluindo as helmintíases: esquistossomose, filariose

linfática, oncocercose, teníase e cisticercose, ancilostomíase, ascaridíase e tricuríase;

protozooses: leishmaniose, doença de Chagas, tripanossomíase africana; bacterioses:

lepra, tuberculose e tracoma e as viroses dengue e raiva (HOTEZ et al., 2014; HOTEZ

PJ, MOLYNEUX DH, FENWICK A, 2007). Essas doenças se distribuem

principalmente em regiões tropicais e afetam cerca de um bilhão de pessoas,

provocando prejuízos econômicos e à saúde das comunidades afetadas.

As DTNs são as principais causas de morbidade e mortalidade nos países da

África, Ásia e América Latina, nos quais se concentram os maiores bolsões de pobreza

do mundo. Todas essas doenças caracterizam-se por apresentar enorme impacto

individual, familiar e comunitário nos países pobres e em desenvolvimento no que diz

respeito à qualidade de vida, perda da produtividade, agravamento da pobreza, bem

como o alto custo dos cuidados com a saúde de longo prazo dos afetados (DAUMERIE,

DENIS; SAVIOLI, 2010).

Assim, os impactos individuais mais comuns relacionados a algumas DTNs são:

a esquistossomose diminui a capacidade cognitiva de crianças, produz má nutrição,

perda de peso e, consequentemente, abandono da escola. A lepra provoca a perda de

membros, discriminação e marginalização social. A tripanossomíase africana (doença

do sono) produz debilidades severas e todos os casos não tratados evoluem para o óbito.

A doença de Chagas compromete o coração, esôfago, estômago e intestinos diminuindo

a qualidade de vida do paciente, incluindo a perda da capacidade de trabalho. A

leishmaniose causa lesões na pele, deformações faciais e na sua variante clínica mais

grave provoca a morte dos pacientes não tratados. A filariose linfática deforma

membros e exclui os afetados do convívio social. A oncocercose produz cegueira e

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

2

incapacita os afetados para o trabalho e vida social (DAUMERIE, DENIS; SAVIOLI,

2010).

Esses efeitos das DTNs são reportados como perda de anos de vida ajustados à

incapacidade (do inglês DALY, Disability-Adjusted Life-Years) e são usados para

analisar o impacto dessas doenças sobre a saúde dos indivíduos. O DALY foi usado pelo

Global Burden of Disease Study 2010 (GBD 2010) como instrumento para avaliar e

comparar local e globalmente o impacto de um número relativo de doenças. A tabela 1

apresenta as DALYs estimadas pelas principais DTNs indicadas no GBD 2010.

Tabela 1 DALYs estimadas (em milhões de dólares) das DTNs resultantes da sobrecarga global de doença, estudo de 2010.

Doenças DALYs

DTNs 26,06 (20.30–35.12)

Esquistossomose 3.31 (1.70–6.26)

Ancilostomíase 3.23 (1.70–5.73)

Ascaridíases 1.32 (0.71–2.35)

Leishmanioses 3.32 (2.18–4.90)

Tripanossomíase Africana 0.56 (0.08–1.77)

Doença de Chagas 0.55 (0.27–1.05)

Tricuríase 0.55 (0.27–1.05)

Lepra 0.006 (0.002–0.11)

Filariose linfática 2.78 (1.8–4.00)

Tracoma 0.33 (0.24–0.44)

Oncocercose 0.49 (0.36–0.66)

Cisticercose 0.50 (0.38–0.66)

Amebíase 2.24 (1.73–2.84)

Criptosporidiose 8.37 (6.52–10.35) Adaptada de : Hotez PJ, Alvarado M, Basáñez M-G, Bolliger I, Bourne R, et al. (2014) The Global Burden of Disease Study 2010: Interpretation and Implications for the Neglected Tropical Diseases. PLoS Negl Trop Dis 8(7): e2865.

Alguns especialistas, entretanto, acreditam que os DALYs não são suficientes

para expressar os prejuízos causados pelas DTNs. Eles alegam que os DALYs não

levam em conta o impacto econômico, social e psicológico causados pelas DTNs

(HOTEZ et al., 2014). Do ponto de vista econômico, os efeitos podem ser diretos ou

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

3

indiretos para os países endêmicos. Os efeitos diretos estão relacionados aos custos com

programas de prevenção, diagnósticos, tratamento dos doentes e internação. Os efeitos

indiretos são aqueles que diminuem produtividade, provocam afastamento temporário

ou permanente do trabalho e geram desemprego (CONTEH; ENGELS; MOLYNEUX,

2010). Na América Latina, é estimado que a doença de Chagas cause a perda de

752.000 dias úteis de trabalho por ano devido as mortes pela doença. No Brasil, as faltas

ao trabalho dos indivíduos afetados pela doença de Chagas provocam uma perda de 5-6

milhões de dólares por ano (CONTEH; ENGELS; MOLYNEUX, 2010).

Assim, questiona-se qual o custo das DTNs para os países afetados e o custo-

benefício produzido pelo tratamento dessas doenças. Algumas DTNs possuem

programas de controle baseados no tratamento preventivo. Os principais exemplos são a

filariose linfática, a esquistossomose, a oncocercose e as geo-helmintíases (ascaridíase,

ancilostomíase e tricuríase). Esses programas recebem apoio de governos locais, de

agências técnicas, das indústrias farmacêuticas, organizações humanitárias e fundações.

Os custos incluem: treinamento, educação em saúde, campanhas de prevenção,

obtenção e distribuição de fármacos. Muitos estudos indicam que custo total para tratar

as DTNs é menor do que aquele destinado aos programas de prevenção e tratamento do

HIV/AIDS, da tuberculose e da e malária (CONTEH; ENGELS; MOLYNEUX, 2010).

Vários fatores contribuem para os baixos custos do controle ou erradicação das

DTNs, dentre eles destacam-se a doação de fármacos pelas indústrias farmacêuticas, a

distribuição simultânea dos fármacos e o trabalho voluntário (CONTEH; ENGELS;

MOLYNEUX, 2010). O custo benefício para evitar as DALYs é um dos mais baixos.

Por outro lado, admite-se que algumas doenças poderiam apresentar um custo mais alto

porque a identificação dos casos e a intervenção ambiental são as mais importantes

ações. Por exemplo, a leishmaniose e triponossomíase africana têm um custo de 12-24 e

11-22 dólares, respectivamente, por DALY evitada. Mas isso só ocorre devido à

contribuição do setor privado e ao baixo preço de alguns fármacos utilizados. Já o custo

para gerenciamento de casos de dengue gira em torno de 716 a 1757 dólares por DALY

evitada e se for voltado para o controle ambiental o custo sobe para 2440 dólares por

DALY evitada (CONTEH; ENGELS; MOLYNEUX, 2010).

Embora as DTNs provoquem um impacto tão grande sobre as populações pobres

e marginalizadas do mundo, somente a partir do ano de 2000 que algumas medidas mais

efetivas começaram ser implementadas. Ironicamente, quando as Nações Unidas

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

4

anunciaram os oito objetivos para o desenvolvimento do Milênio, as DTNs ficaram de

fora. O sexto objetivo apregoava: “Combate ao HIV/AIDS, malária e outras doenças”.

Essa omissão, no entanto, provocou um movimento de cientistas, organizações não

governamentais (ONGs) e fundações no sentido de dar a merecida atenção as DTNs

(BLAKE; ADAMS, 2012).

Deste modo, um pouco mais de uma década, a Organização Mundial da Saúde

(OMS) publicou o Relatório Global de 2010, intitulado “Trabalhando para superar o

impacto global das Doenças Tropicais Negligenciadas”. Essa publicação provocou uma

série de encontros, envolvendo representantes dos governos, ONGs, OMS, cientistas,

indústrias farmacêuticas e a fundação Bill & Melinda Gates num esforço conjunto para

controlar ou erradicar, até 2020, as 11 mais importantes DTNs. As principais ações

envolvem o financiamento de pesquisas para o desenvolvimento de novos fármacos, a

doação de fármacos e as campanhas de prevenção. Esse esforço devem beneficiar cerca

1,4 bilhão de pessoas ao redor do mundo afetadas pelas DTNs..

(http://www.gatesfoundation.org/press-releases/Pages/combating-10-neglected-tropical-

diseases-120130.aspx).

No caso particular da leishmaniose, a OMS pretende detectar 70% de todos os

casos da forma cutânea e tratar pelo menos 90% dos casos detectados no Oeste do

Mediterrâneo até 2015. Para o subcontinente indiano, a OMS deseja alcançar 100% de

detecção e tratamento dos casos de leishmaniose visceral até 2020. Além disso, as

estratégias globais da OMS para o controle da leishmaniose também envolvem os

continente Europeu e as Américas, alcançando mais de 90 países afetados por essa

parasitose (SAVIOLI, 2012).

As DTNs são ainda graves problemas de saúde pública no mundo. Os efeitos

dessas doenças são maiores nos países pobres e desenvolvimento, agravando a pobreza

e reduzindo a esperança de vida. A erradicação ou o controle definitivo das DTNs deve

ser resultado de um esforço coletivo no qual envolve o poder público, os centros de

pesquisa acadêmicos, as indústrias farmacêuticas, bem como as agências de apoio

humanitário.

Page 20: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

5

1.2 As Leishmanioses

As leishmanioses formam um complexo de doenças que afetam mamíferos e são

causadas por cerca de vinte espécies diferentes de protozoários do gênero Leishmania.

A transmissão natural pode ser zoonótica ou antroponótica e ocorre pela picada de

flebotomíneos. Esses insetos pertencem à família Psychodidae, sub-família

Phlebotominae com dois gêneros epidemiologicamente importantes: Phlebotomus e

Lutzomyia. O primeiro, tipicamente representa as espécies do Velho Mundo e, o

segundo, as espécies do Novo Mundo (READY, 2010).

1.2.1 Ciclo Biológico de Leishmania spp.

Leishmania spp. apresenta dois estádios morfofisiológicos distintos (figura 1).

As formas promastigotas são encontradas nos insetos vetores e são alongadas,

flageladas e móveis, enquanto que as formas amastigotas são esféricas, sem flagelo

aparente e são encontradas no interior de macrófagos do sistema retículo-endotelial do

hospedeiro vertebrado (SANTOS et al., 2008).

Figura 1 Estádios evolutivos de Leishmania amazonensis. Forma promastigota (×1000; A) e amastigota (B). Amastigotas estão infectando um macrófago (×1000) (Santos et al. 2008) (domínio público)

A B

Page 21: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

6

O vetor adquire o protozoário ao ingerir macrófagos infectados com a forma

amastigota. No intestino, as formas amastigotas se transformam em promastigotas pro-

cíclicas imaturas, que se multiplicam por divisão binária e, em seguida, transformam-se

em promastigotas metacíclicas infectantes e migram para a probóscide do inseto.

Durante o repasto sanguíneo, essas formas são transmitidas para o hospedeiro

vertebrado. Nesse hospedeiro, as formas promastigotas são fagocitadas por macrófagos

do sistema retículo-endotelial, mediada por receptores específicos. No interior do

vacúolo digestório do macrófago, as formas promastigotas perdem o flagelo e se

transformam em amastigotas (figura 2). Em seguida, se multiplicam e rompem os

macrófagos, provocando novos episódios de fagocitose. Embora esse fenômeno esteja

relacionado diretamente à patogenia das diferentes espécies de Leishmania, o

estabelecimento da doença depende do sucesso da transformação sofrida pelo parasito,

da resposta imunológica do hospedeiro e da virulência do parasito (ROSENZWEIG et

al., 2008; SANTOS et al., 2008).

Figura 2 Ciclo de vida de Leishmania spp. causador da leishmaniose. Adaptado de http://www.cdc.gov/parasites/leishmaniasis/. Página do Centro de Controle de Doenças, governo dos Estados Unidos. Conteúdo de domínio público, conforme política de acesso.

Page 22: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

7

1.2.2 Formas clínicas

As leishmanioses manifestam-se, clinicamente, de três formas. A forma cutânea

caracteriza-se, inicialmente, pelo aparecimento de pápulas eritematosas no local da

picada. Posteriormente, as pápulas aumentam e rompem-se, formando úlceras indolores

com borda bem demarcada e elevada. Após a cura, uma cicatriz profunda toma o lugar

da ferida (MASMOUDI et al., 2013). As principais espécies envolvidas na forma

cutânea são: L. tropica e L. aethiopica. A forma cutaneomucosa é reconhecida pelo seu

comportamento crônico, latente e metastático, caracterizado por lesões secundárias

distantes produzidas pela disseminação do parasito. Essas lesões são encontradas

especialmente na região oral e nasofaringea da face, desfigurando o rosto do paciente.

Diferentemente da forma cutânea, as lesões da forma cutaneomucosa não são auto-

resolvidas e são mais resistente ao tratamento com antimoniais (RONET; BEVERLEY;

FASEL, 2011). As espécies comumente relacionadas são L. (Viannia) braziliensis, L.

mexicana e L. peruviana. Na forma visceral, considerada a mais grave, o parasito é

levado do local de inoculação para o fígado, baço e medula óssea, resultando em perda

de peso e imunossupressão. Sem tratamento adequado, a maioria dos pacientes evolui

para o óbito. As espécies causadoras da leishmaniose visceral são: L. (leishmania)

donovani e L. infantum (SANTOS et al., 2008).

1.2.3 Epidemiologia e controle

As leishmanioses estão entre as endemias de maior impacto socioeconômico nos

países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. São prevalentes em 98 países, três

territórios e cinco continentes (figura 3). Aproximadamente, 1,3 milhão de novos casos

ocorrem anualmente no mundo, dos quais 300.000 são da forma visceral (LV). Mais de

90% dos casos de LV ocorrem em Bangladesh, Brasil, Etiópia, Índia, Nepal e Sudão.

Para a leishmaniose cutânea os países atingidos são Afeganistão, Algéria, Brasil,

Colômbia, Iran, Paquistão e Peru, Arábia Saudita, Síria e Tunísia, enquanto

leishmaniose cutaneomucosa afeta principalmente o Brasil, Peru e Bolívia, totalizando

um milhão de casos. Dos 1,3 milhão de casos estimados, apenas 600.000 são atualmente

relatados nesses países (ALVAR et al., 2012).

Page 23: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

8

O número real de casos não é possível determinar, mas certamente supera os

relatados e possivelmente o estimado (ALVAR et al., 2012). O número de mortes pela

doença é também subestimado em vários desses países. Uma das razões é a morte do

indivíduo antes da doença ser diagnosticada. Entretanto, baseando-se no relato de

alguns países, estima-se que o número de mortes por leishmaniose visceral seja de

20.000 a 40.000 pessoas por ano (ALVAR et al., 2012).

No Brasil, foram relatados 18.226 casos de leishmaniose cutânea em 2013,

sendo que quase três mil casos ocorreram na região Centro-Oeste. Já para a

leishmaniose visceral foram relatados 3.253 casos, com 278 casos notificados na região

Centro-Oeste. O número de mortes por LV foi 233 e 33 no Brasil e no Centro-Oeste,

respectivamente [http://portalsaude.saude.gov.br/index.php/vigilancia-de-a-a-z].

As medidas de controle e prevenção ainda estão restritas ao controle vetorial e

dos reservatórios e ao tratamento dos doentes (SINGH; KUMAR; SINGH, 2012).

Vacinas antileishmania de segunda geração só devem estar disponíveis em 25 anos.

Figura 3 Distribuição geográfica das leishmanioses no mundo. A) Leishmanioses cutânea e cutânea mucosa no Novo Mundo. B) Leishmaniose visceral no Velho e no Novo Mundo. WHO, 2010. Disponível em (http://www.who.int/leishmaniasis/leishmaniasis_maps/en/)

Os vetores das leishmanioses são susceptíveis aos inseticidas usados contra

outros vetores, incluindo malária e filariose. No passado, o uso de DDT reduziu

drasticamente os casos de leishmaniose em várias partes do mundo. O uso de

inseticidas é recomendado onde os flebotomíneos vivem próximo às residências, como

ocorre em várias regiões da Índia e do Oeste da África (CHAPPUIS et al., 2007). O cão

A B

Page 24: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

9

doméstico é o reservatório de maior relevância na epidemiologia da leishmaniose

visceral. Entretanto, as medidas adotadas para o controle da leishmaniose canina ainda

são motivos de muitos debates. Essas medidas envolvem o sacrifício dos cães positivos,

combatida pela sociedade protetora dos animais; o tratamento dos cães infectados, que

induz resistência e é pouco eficaz; vacinação dos cães, também tida como efetiva

(CHAPPUIS et al., 2007). Sendo assim, o tratamento dos indivíduos infectados é a

alternativa mais comum empregada para o controle e erradicação dos diferentes tipos de

leishmaniose.

1.2.4 Tratamento e resistência

Embora tenha ocorrido avanço nas pesquisas em leishmaniose nos últimos anos,

a terapêutica para essa parasitose permaneceu a mesma nas últimas cinco décadas. Ao

longo dos anos, os antimoniais pentavalentes têm sido os fármacos de escolha. Outros

fármacos, como anfotericina B e miltefosina foram introduzidos, visando contornar o

problema de resistência dos parasitos aos antimoniais. Entretanto, esses fármacos são de

alto custo, o que inviabiliza seu uso em saúde pública. Além desses fármacos citados

anteriormente, também são utilizados pentamidina, aminosidina (paromicina),

aluprurinol e itraconazol (AMATO et al., 2007; MASMOUDI et al., 2013; MINODIER;

PAROLA, 2007).

Antimoniais Pentavalentes

Os antimoniais pentavalentes estibogluconato de sódio e antimoniato de

meglumina, nomes genéricos para Pentostam® e Glucantime®, respectivamente, são os

fármacos de escolha para o tratamento das leishmanioses, quando não há relatos de

resistência (MASMOUDI et al., 2013; SINGH; KUMAR; SINGH, 2012). O

estibogluconato de sódio é administrado por via intravenosa ou intramuscular

obedecendo aos seguintes esquemas terapêuticos: 20 mg/kg/dia por 30 dias para

leishmaniose visceral causada por espécies do Velho Mundo; 100-500 mg intralesional

por sessão (1-5 sessões) por 3 a 7 dias para leishmaniose cutânea requerendo terapia

local; 20mg/kg/dia por 20 dias para leishmaniose cutânea requerendo terapia sistêmica e

Page 25: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

10

leishmaniose cutâneo-mucosa. O antimoniato de meglumina possui esquema terapêutico

semelhante (MASMOUDI et al., 2013).

Os efeitos colaterais mais comuns aos antimoniais são náusea, vômitos, diarreia,

dor abdominal, anorexia, mialgia, cefaleia e letargia. Esses sintomas são inerentes ao

tratamento e são dose-independente. Por outro lado, as manifestações tóxicas cardíacas,

hepáticas, pancreáticas e renais aos antimoniais são dose-dependente e surgem na

segunda semana do tratamento (MASMOUDI et al., 2013).

Embora o exato mecanismo de ação desses fármacos seja pouco conhecido,

alguns efeitos dos antimoniais são bem relatados. Essas moléculas são administradas na

forma pentavalentes de pró-fármaco e convertida na sua forma trivalente ativa

(SHAKED-MISHAN et al., 2001; SINGH; KUMAR; SINGH, 2012). A redução

mediada pelo parasito é atribuída à ação de uma redutase, que também está relacionada

à resistência ao fármaco. Essa evidência é corroborada pela observação de que

amastigotas de L. donovani resistentes aos pentavalentes têm baixa atividade de

redutase (SINGH; KUMAR; SINGH, 2012).

Ambas as formas pentavalentes e trivalentes são ativas contra as espécies de

Leishmania e parecem atuar na fragmentação do DNA, na β-oxidação de ácidos graxos

e na fosforilação do ADP. Além disso, parece atuar na inibição da glicólise e da

tripanotiona redutase, uma enzima responsável pela proteção do parasito contra espécies

ativas de oxigênio e nitrogênio (OPPERDOES; MICHELS, 2008; SINGH; KUMAR;

SINGH, 2012).

Anfoterecina B

A Anfotericina B (AnB) é um antibiótico macrolídeo obtido a partir da cultura

Streptomyces nodosus e comercializado com os nomes de Abelcet®, AmBisome®,

Amphocil®, Fungizone®. Esse fármaco é largamente utilizado para o tratamento de

infecções fúngicas, atuando como fungistático ou fungicida, dependendo da dose

administrada. A anfotericina A, produzida pela mesma cultura de bactérias, não é

utilizada em tratamento clínico de infecções fúngicas em razão de sua alta toxicicidade.

Os efeitos colaterais tóxicos observados na terapia com a anfotericina B são atribuídos à

contaminação por anfoterecina A, que não são completamente removidos durante o

Page 26: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

11

processo de purificação (MISHRA; SAXENA; SINGH, 2007; SINGH; KUMAR;

SINGH, 2012).

A AnB é utilizada para tratamento das leishmanioses em regiões onde os

parasitos são resistentes aos antimoniais. No estado de Bihar, conhecida região

endêmica na Índia, a AnB é o fármaco de escolha devido à resistência aos antimoniais.

A AnB atua sobre o ergosterol da membrana celular dos fungos, que também é

encontrado no parasito Leishmania. A membrana celular dos macrófagos também é

afetada devido à presença de colesterol. Entretanto, a AnB possui maior afinidade pelo

ergosterol e, portanto, maior efeito letal. O mecanismo de ação da AnB consiste em se

ligar ao ergosterol da membrana celular do parasito e provocar alterações osmóticas que

culminam na lise celular (MISHRA; SAXENA; SINGH, 2007; SINGH; KUMAR;

SINGH, 2012).

A AnB tem baixa absorção gastrointestinal e por isso é administrada via

parenteral com injeções intravenosas. As doses recomendadas pela Organização

Mundial da Saúde são 1mg/kg em infusões diárias por 20 dias ou infusões em dias

alternados por 30 dias. Os efeitos colaterais agudos comumente observados são

calafrios, febre, anorexia, náuseas, vômitos, cefaleias, mialgia, artralgia e hipotensão.

Efeitos tóxicos graves são observados em infusões rápidas do fármaco, que não são

recomendadas (SINGH; KUMAR; SINGH, 2012).

A AnB possui também formulações lipossomais criadas para minimizar os

efeitos colaterais e aumentar a eficácia do fármaco. Essas formulações lipossomais são

L-AnB ( Ambisome®), AnB dispersão coloidal: ABCD (Amphocil®) e AnB complexo

lipídico: ABLC (Abelcit®). Solomon e colaboradores (2013), demonstraram que a L-

AnB é mais eficaz, melhor tolerada e mais custo efetiva para o tratamento da

leishmaniose cutânea do que os antimoniais (SOLOMON et al., 2013).

Miltefosina

A miltefosina é o fármaco antileishmania mais eficaz atualmente, podendo ser

empregado para o tratamento de todos os tipos de leishmaniose. A miltefosina foi

primeiramente aprovada para uso tópico no tratamento de metástase cutânea do câncer

de mama, embora sua alta efetividade antitripanossomal já tivesse sido demonstrada.

Formulações orais de miltefosina foram também avaliadas para o tratamento de tumores

Page 27: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

12

sólidos, mas foram abandonadas em razão dos fortes efeitos colaterais apresentados

(DORLO et al., 2012).

A miltefosina é comercializada com os nomes de Miltex®, líquido para uso

tópico em humanos; Milteforan®, líquido para uso oral em animais e Impavido®,

formulação sólida para uso humano. Esse último foi recentemente aprovado pelo Food

and Drug Administration (FDA) para o tratamento das três formas clínicas de

leishmaniose. O Impavido® foi o primeiro fármaco aprovado pelo FDA para tratamento

das leishmanioses(http://www.fda.gov/newsevents/newsroom/pressannouncements/).

Miltefosina (hexadecylphosphocholine) pertence à classe dos alquilfosfocolina,

que são ésteres de fosfocolina de álcoois alifáticos de cadeia longa. Esses compostos são

estruturalmente relacionados ao grupo dos alquil-lisofosfotidilcolinas, que são análogos

sintéticos dos lisofosfatidilcolinas ou lisolecitinas, mas sem seu grupo glicerol. A

miltefosina atua como inibidor Akt, também conhecida como Proteína Quinase B

(PQB) (DORLO et al., 2012).

Embora seja o fármaco mais eficaz no tratamento das leishmanioses, a

miltefosina ainda custa muito caro para os países subdesenvolvidos que enfrentam

endemias de leishmaniose. Na Índia, por exemplo, o custo para o tratamento de um

paciente do sexo masculino, com massa corporal de 39 kg é em torno 200 dólares. Nos

países desenvolvidos o valor pode chegar a 3000 euros (DORLO et al., 2012).

A miltefosina age de modo semelhante nas células tumorais e em Leishmania.

Os efeitos atribuídos são apoptose e perturbação da via de sinalização celular

dependente de lipídios, embora o mecanismo preciso seja pouco claro. Nas formas

intracelulares de Leishmania, após a absorção do fármaco, ele atua no metabolismo de

lipídios e na composição da membrana, provoca fragmentação do DNA, induzindo

apoptose e inibe a citocromo c oxidase da mitocôndria (DORLO et al., 2012; SINGH;

KUMAR; SINGH, 2012).

Quanto à resistência dos parasitos Leishmania à miltefosina ainda não há relatos

clínicos ou laboratoriais. Indução de cepas resistentes in vitro já foi obtida, mas não in

vivo. Além disso, o mecanismo no qual o parasito adquire resistência ainda não está

claro. Alguns autores, entretanto, alertam para o risco do surgimento de formas

resistentes de Leishmania à miltefosina em regiões endêmicas, onde o tratamento por

via oral pode induzir a seleção de formas resistentes (DORLO et al., 2012; SINGH;

KUMAR; SINGH, 2012).

Page 28: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

13

Pentamidina

A pentamidina tem sido usada para o tratamento das diferentes formas clínicas

da leishmaniose. Durante muitos anos foi usada para tratamento da LV na Índia, mas

abandonada após o surgimento de cepas resistentes (SINGH; KUMAR; SINGH, 2012).

Entretanto, para o tratamento da leishmaniose cutaneomucosa, a pentamidina

demonstrou excelentes resultados, superando a eficácia do estibogluconato e

apresentando eficácia equivalente à meglumina (AMATO et al., 2007). Esses

resultados, no entanto, não são os mesmos para todas regiões endêmicas, podendo variar

entre as diferentes espécies causadoras.

A pentamidina (Pentacarinat®) é usada em esquemas terapêuticos que

dependem da forma clínica da leishmaniose. Para a forma visceral é usado 4mg/kg de

isetionato de pentamidina, em dias alternados, até um máximo de 10 injeções,

preferencialmente por via intramuscular. Para a forma cutânea emprega-se 4mg/kg de

isetionato de pentamidina, por via intramuscular, a cada três dias (um dia sim, dois não),

num total de 3 injeções. Para a leishmaniose mucocutânea utiliza-se 4mg/kg de

isetionato de pentamidina, por via intramuscular, a cada três dias (um dia sim, dois não),

num total de 5 injeções. Os efeitos colaterais mais comuns são: hipotensão,

hipoglicemia, pancreatite, arritmia cardíaca, leucopenia, trombocitopenia, insuficiência

renal aguda, hipocalcemia e taquicardia ventricular (MASMOUDI et al., 2013; SINGH;

KUMAR; SINGH, 2012).

A pentamidina é uma diamina aromática denominada 4-[5-(4-

carbamimidoylphenoxy) pentoxy] benzenecarboximidamide. Originalmente, foi usada

para tratamento da tripanossomíase africana, mas tem sido usada desde a década de

1930 para o tratamento das leishmanioses (MISHRA; SAXENA; SINGH, 2007). A

redução de sua eficácia e o alto risco de resistência tem diminuído seu uso em algumas

regiões endêmicas, todavia algumas combinações com outros fármacos têm sido

propostas. O mecanismo de ação permanece pouco claro, mas há evidências de que a

pentamidina entra no protozoário Leishmania utilizando transportadores argininina e

poliamina. Sun & Zhang (2008) demonstraram que a pentamidina atua

inespecificamente sobre RNA-t, impedindo a aminoacilação e a tradução gênica (SUN;

ZHANG, 2008).

Page 29: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

14

Paromomicina

A paromomicina é um antibiótico aminociclitol-aminoglicosídeo empregado

para tratamento de infecções bacterianas. Utilizado em terapia combinada ou isolada

demonstrou alta eficácia no tratamento da leishmaniose visceral. Entretanto, era

conhecida por apresentar eficácia reduzida para as formas cutâneas de leishmaniose.

Recentemente, um estudo feito com 31 pacientes com leishmaniose cutânea pós kalazar

tratados com paromomicina demonstrou ser altamente tolerada pelos pacientes,

apresentando efeitos colaterais insignificantes. A eficácia, no entanto, permaneceu

baixa, em torno de 37% de cura (SUNDAR et al., 2014).

A paromomicina foi comparada com anfotericina B para o tratamento de

leishmaniose visceral em estudo multicêntrico de fase 3, realizado em Bihar, Índia. A

paromomicina foi administrada por via intramuscular em doses diárias de 11 mg/kg por

21 dias. Os resultados demonstraram que a paromomicina foi tão eficaz quanto à

anfotericina B (SUNDAR; JHA; THAKUR, 2007). Outro estudo de fase 3 testou a

paromomicina isolada ou combinada com gentamicina em pacientes com leishmaniose

cutânea, causada por Leishmania major na Tunísia. Os resultados comprovaram que

aplicação de creme contendo 15% de paromomicina com ou sem 0,5% de gentamicina

conferiu cura em até 82% dos casos (BEN SALAH et al., 2013).

1.2.5 Metabolismo energético como alvo de fármacos antileishmania

O processo de geração de energia nos seres vivos pode ocorrer na presença ou na

ausência de oxigênio. O processo aeróbico consiste na completa oxidação da glicose em

gás carbônico e água, mediante reações do ciclo de Krebs e da cadeia respiratória,

ambas de ocorrência mitocondrial. Nessa via, o oxigênio age como aceptor final de

elétrons durante o processo chamado de fosforilação oxidativa, no qual ocorre a maior

produção de ATP. Já nos processos fermentativos, a geração de energia não envolve a

participação do oxigênio e as reações não quebram a glicose por completo, o que resulta

em intermediários com potencial energético, tais como etanol e lactato. As fermentações

alcoólicas e lácticas são antecedidas pelas reações de glicólise, que consistem na quebra

Page 30: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

15

da glicose em piruvato. A glicólise ocorre no citosol e é composta de dez reações que

quebram a molécula de glicose em duas moléculas de piruvato.

Nos kinetoplastideos, incluindo o genêro Leishmania, o processo de geração de

energia apresenta algumas peculiaridades, que os tornam diferentes dos demais

organismos. Nos kinetoplastídeos existem três locais onde as reações geradoras de ATP

ocorrem: no citosol, no glicossomo e na mitocôndria (figura 4) (HANNAERT, 2003).

O glicossomo é uma organela membranosa exclusiva dos kinetoplastídeos,

semelhante ao peroxissomo das células animais. Embora apresente outras enzimas ou

sistemas enzimáticos, o glicossomo está intimamente relacionado à geração de energia

por meio da glicólise (HANNAERT, 2003; OPPERDOES; COOMBS, 2007). Nessa

organela, ocorrem os sete primeiros passos da glicólise, que resultam na quebra da

glicose em duas moléculas de 3-fosfoglicerato. As três últimas reações ocorrem no

citosol e culminam na formação de piruvato (OPPERDOES; COOMBS, 2007). O

piruvato, por conseguinte, é oxidado na matriz mitocondrial à acetil-CoA, que reage

com oxaloacetato, iniciando o ciclo de Krebs. O processo é finalizado com cadeia

transportadora de elétrons (BRINGAUD; RIVIÈRE; COUSTOU, 2006) (figura 4).

Diferentemente dos mamíferos que possuem milhares de mitocôndrias, os

kinetoplastídeos apresentam apenas uma mitocôndria. Este fato torna esses protozoários

extremamente dependentes de sua mitocôndria (MEHTA; SHAHA, 2004). A

mitocôndria dos kinetoplastídeos apresenta densidade da matriz, número e forma das

cristas ligeiramente diferentes das mitocôndrias dos mamíferos. A matriz é ocupada

principalmente por moléculas de DNA circulares, denominadas DNA do kinetoplasto

ou k-DNA. O genoma contido nessas moléculas codificam proteínas participantes da

cadeia respiratória e do mecanismo de tradução (FIDALGO; GILLE, 2011). Entretanto,

essas proteínas representam apenas 5% do total encontrado na mitocôndria. Isso

significa que a maioria das proteínas mitocondriais é codificada por genes nucleares,

traduzidas no citoplasma e posteriormente transportadas para a mitocôndria

(FIDALGO; GILLE, 2011)

Page 31: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

16

Figura 4 As principais vias do metabolismo energético em Leishmania major. Reações da glicólise, que ocorrem no glicossomo no citosol e ciclo de Krebs, na mitocôndria. O fluxo de metabólitos entre as duas organelas também é apresentado. Metabólitos são substratos (cinza) ou produtos finais (preto) do metabolismo. Setas grossas representam fluxos metabólicos principais. Vias em azul acreditam-se ser mais importantes em promastiogotas e vias em vermelho acreditam-se ser mais importantes em amastigotas. Abreviações Fru, frutose; GAP, gliceraldeído 3 fosfato; Glc, glicose; H-5-P, hexose 5-fosfato; Man, manose; PEP, fosfoenolpiruvato; PGA, ácido fosfoglicérico; PPP. Enzimas da via pentose-fosfato: 1, hexoquinase; 2, fosfoglicose isomerase; 3, fosfofrutoquinase; 4, frutose bifosfato aldolase; 5, triofosfato isomerase; 6, gliceraldeído-3-fosfato desidrogenase; 7, fosfoglicerato quinase; 8, glicerol-3-fosfato desidrogenase; 9, glicerol quinase; 10, adenilato quinase; 11, glicose-6-fosfato deaminase; 12, manose-6-fosfato isomerase; 13, fosfomanomutase; 14, GDP-manose pirofosforilase; 15, fosfoglicerato mutase; 16, enolase; 17, piruvato quinase; 18, fosfoenolpiruvato carboxinase; 19, malato desidrogenase; 20, fumarato hidratase; 21, NADH-dependente fumarato redutase; 22, enzima málica; 23, alanina aminotransferase; 24, aspartato aminotransferase; 25, piruvato fosfato diquinasese; 26, citrato sintase; 27, 2-cetoglutarato desidrogenase; 28, succinil-CoA ligase; 29, succinato desidrogenase; 30, acetato–succinato CoA transferase; 31, piruvate desidrogenase; 32, citrato liase; 33, acetil-CoA sintetase; 34, via de oxidação prolina; 35, via de oxidação da treonina; 36, ribuloquinase; 37, riboquinase; 38, xiloquinase; 39, proteína amilase-semelhante; 40, proteína sucrase-semelhante. Baseado em Opperdoes e Coombs (2007).

Page 32: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

17

O modo como a Leishmania produz energia a partir dos nutrientes disponíveis

depende do estádio do parasito, portanto do ambiente onde se encontra. As diferenças

morfológicas entre as formas amastigotas e promastigotas de Leishmania refletem, em

essência, diferenças moleculares e bioquímicas. Essas diferenças são responsáveis pela

adaptação do parasito ao mamífero hospedeiro e ao inseto vetor (ROSENZWEIG et al.,

2008). O sequenciamento do genoma das principais espécies de Leishmania, bem como

análise proteômica de alguns genes permitiram conhecer melhor essas diferenças e

deduzir as adaptações de cada estádio no seu ciclo de vida (OPPERDOES; COOMBS,

2007; ROSENZWEIG et al., 2008). Sabe-se, por exemplo, que as condições físico-

químicas em que vivem ambos os estádios são muito diferentes. As formas

promastigotas vivem no intestino dos flebotomíneos em condições de pH levemente

ácido a neutro, enquanto que as formas amastigotas encontram-se em pH ácido no

vacúolo parasitóforo. Outro aspecto importante é a disponibilidade de oxigênio e de

carbono para ambas as formas. Assim, as diferenças metabólicas entre os dois estádios

estão relacionadas, dentre outros fatores, ao tipo de nutriente disponível e como esse

nutriente é utilizado para gerar energia (OPPERDOES; COOMBS, 2007).

O conhecimento atual sobre o metabolismo energético das formas promastigotas

de Leishmania foi obtido a partir de experimentos realizados in vitro e análise

comparativa com as formas promastigotas de T. cruzi e T. brucei, com as quais guardam

semelhanças (OPPERDOES; COOMBS, 2007). Nessas formas, o processo de geração

de energia envolve a glicólise, ciclo de Krebs e cadeia transportadora de elétrons,

embora haja dúvidas quanto ao ciclo de Krebs ser ou não ativo (OPPERDOES;

COOMBS, 2007; VAN HELLEMOND; VAN DER MEER; TIELENS, 1997). As

formas promastigotas utilizam glicose e aminoácidos, mas mudam para ácidos graxos

durante a transição para formas amastigotas. Apesar de uma pequena quantidade de

glicose ser completamente oxidada a CO2, a maior quantidade é fermentada gerando

como produtos finais: acetato, L-alanina, piruvato e succinato (BRINGAUD; RIVIÈRE;

COUSTOU, 2006; OPPERDOES; COOMBS, 2007). A mudança da predileção de

glicose para ácidos graxos durante a transição não está relacionada à privação do

glicídio no interior do vacúolo parasitóforo, mas às diferenças fisíco-químicas dos dois

meios que provocam expressão diferencial de certos genes (SAUNDERS et al., 2014)

Page 33: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

18

Os estudos relacionados ao metabolismo energético das formas amastigotas são

escassos, portanto, muitos aspectos são ainda desconhecidos. Foi demonstrado, no

entanto, que amastigotas obtidas de lesões apresentam baixo consumo de glicose e de

prolina e aumento da β-oxidação de ácidos graxos (OPPERDOES; COOMBS, 2007).

Rozenzweig et al (2008) confirmaram em estudos in vitro que durante diferenciação

tardia de promastigota para amastigota, as enzimas glicolíticas glicossomais aumentam

ligeiramente, enquanto que a expressão de genes codificadores das enzimas citosólicas:

fosfoglicerato mutase, enolase e piruvato quinase sofrem regulação negativa

(ROSENZWEIG et al., 2008).

Por outro lado, as enzimas reguladoras da gliconeogênese, fosfoenolpiruvato

carboxiquinase e frutose 1,6 bifosfatase aumentam significativamente sua expressão,

provando que a gliconeogênese é essencial para a sobrevivência das amastigotas no

vacúolo parasitóforo (ROSENZWEIG et al., 2008). Além disso, tanto as amastigotas

derivadas de lesão quanto às derivadas de cultura acumulam altos níveis de oligômeros

de manose, que funcionam como reserva energética. A liberação desse material tem

papel regulatório nos níveis de glicose-fosfato, no fluxo da glicólise e da via das

pentoses-fosfato (SAUNDERS et al., 2014).

De fato, a β-oxidação é a principal forma de geração de energia nas amastigotas.

Todavia, a Leishmania é incapaz de utilizar ácidos graxos como única fonte de carbono,

por isso utilizam também frutose, manose e glicose. Além disso, o acetil-coA gerado é

co-catabolizado com glicose no ciclo de Krebs que está direcionado para a biossíntese

de glutamato/glutamina (SAUNDERS et al., 2014). Nesse processo, a unidade de dois

carbonos derivada do ácido graxo é combinada com o ácido dicarboxilíco de quatro

carbonos provenientes da fermentação glicossomal do succinato. Isso resulta na

formação de citrato, que é convertido em α-cetoglutarato e glutamato (SAUNDERS et

al., 2014) (figura 5)

Saunders et al (2014) demonstraram também que as amastigotas são altamente

dependentes da síntese mitocondrial de novo de glutamato e glutamina. As amastigotas

utilizam esses aminoácidos para síntese de glutationas/tripanotionas, pirimidinas e

amino glicídios, considerados essenciais para o crescimento e resposta ao estresse do

interior do vacúolo parasitóforo (SAUNDERS et al., 2014).

A compreensão das diferenças metabólicas entre os dois estádios evolutivos de

Leishmania e entre esses estádios e o hospedeiro humano permite identificar potenciais

Page 34: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

19

alvos para a descoberta e desenvolvimento de novos fármacos anti-Leishmania. Como

visto anteriormente, a maioria das reações envolvidas na glicólise ocorre no glicossomo,

organela exclusiva dos Kinetoplastídeos. Essas reações são catalisadas por enzimas bem

conhecidas em ambos os estádios promastigotas e amastigotas. Todavia, a atividade

dessas enzimas não é a mesma em ambos os estádios. As enzimas malato

desidrogenase, fosfoenolpiruvato carboxiquinase e glucose-6- fosfato isomerase, por

exemplo, têm atividade muito maior do que as enzimas hexoquinase, fosfofrutoquinase

e glicose-6-phosfato desidrogenase (OPPERDOES; MICHELS, 2008; SAUNDERS et

al., 2014). Além disso, os nutrientes utilizados por ambos são diferentes, tornando

algumas vias essenciais, como é o caso da gliconeogênese para as formas amastigotas

(OPPERDOES; MICHELS, 2008).

O metabolismo mitocondrial também apresenta alvos específicos para o

desenvolvimento de inibidores seletivos. As enzimas succinil-CoA ligase e

acetato:succinato-CoA transferase, por exemplo, só são encontradas praticamente nos

tripanossomatídeos. Essas enzimas convertem acetil-CoA em acetato, que

posteriormente é utilizado para produzir ATP (VAN HELLEMOND; OPPERDOES;

TIELENS, 1998). Acrescenta-se ao repertório, o complexo I NADH:quinona

oxidoredutase, ausente ou pouco ativa em mamíferos; a fumarato redutase, que converte

succinato em fumarato, encontrada em Leishmania e Trypanossoma (FIDALGO;

GILLE, 2011).

Diferenças observadas no metabolismo energético de mamíferos hospedeiros e

de Leishmania fornecem perspectivas animadoras na busca de fármacos específicos que

atuam contra enzimas do parasito, sem afetar significativamente o metabolismo do

hospedeiro (KAUR et al., 2011; VERLINDE et al., 2001).

Page 35: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

20

Figura 5 Metabolismo do carbono de Leishmania mexicana nas formas promastigotas (A) e amastigotas (B). Maior fonte de carbono (azul) e metabólitos produzidos. Abreviações: αKG, α-cetoglutarato; AcCoA, acetil-CoA; Ala, alanina; Asp, aspartato; Cit, citrato; Fum, fumarato; FA, ácido graxo; G6P, glicose-6-fosfato; G3P, gliceraldeído-3-fosfato; Gln, glutamina; Glu, glutamato; Mal, malato; OAA, oxaloacetato; OAc, acetato; PEP, fosfoenolpiruvato; PPP, via pentose fosfato; Pro, prolina; Pyr, piruvato; SCoA, succinil-CoA; Suc, succinato; TCA, ciclo do ácido tricarboxílico. Adaptada de Saunders et al. (2014).

Page 36: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

21

1.3 Malária

A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium, com cinco

espécies de importância médica: P. falciparum, P. vivax, P. malariae, P. ovale e P.

knowlesi. A espécie P. falciparum causa a malária grave, sendo responsável pela

maioria das mortes pela doença. O P. vivax, embora cause malária não grave, é de

grande importância em razão de sua ampla distribuição e por apresentar um estádio

dormente chamado hipnozoíto, responsável pelas recaídas de malária. Além disso, o P.

vivax é capaz de sobreviver nos mosquitos anofelinos encontrados em altas altitudes e

temperaturas mais baixas (WHO, 2014). No Brasil, não há casos autóctones de malária

por P. ovale e por P. knowlesi. As ocorrências mais comuns são de P. vivax e P.

falciparum e relatos de casos de P. malariae (OLIVEIRA-FERREIRA et al., 2010).

1.3.1 Ciclo biológico do Plasmodium sp

O ciclo do Plasmodium spp requer a participação de dois hospedeiros: um

hospedeiro invertebrado (mosquito) e um hospedeiro vertebrado (aves, répteis ou

mamíferos). Normalmente, o invertebrado é o hospedeiro definitivo, porque nele ocorre

a fase sexuada de reprodução do parasito. Nos tecidos dos vertebrados ocorre a fase

assexuada, por isso são denominados hospedeiros intermediários (ROBERTS, LARRY

S; JANOVY, JOHN; SCHMIDT, 2009).

O ciclo se inicia quando a fêmea anofelina infectada injeta a forma esporozoíta

no hospedeiro humano durante o repasto sanguíneo (figura 6). Em seguida, os

esporozoítos invadem os hepatócitos ou outros órgãos, dependendo da espécie de

Plasmodium. Ao entrar nas células do fígado iniciam o ciclo assexuado denominado

ciclo pré-eritrocítico ou esquizogonia exoeritrocítica primária. No interior dos

hepatócitos, os esporozoítos se transformam em trofozoítos, que passam a se alimentar

do citoplasma da célula hospedeira. Após uma semana, dependendo da espécie, os

trofozoítos sofrem maturação e começam a esquizogonia. Inicialmente, são formados

vários núcleos filhos, transformando o parasito em um esquizonte. Após várias

mudanças no citoplasma e nos núcleos, a esquizogonia termina com a formação dos

Page 37: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

22

merozoítos. Essas formas rompem os hepatócitos, invadem as hemácias e iniciam o

ciclo eritrocítico. No interior das hemácias, os merozoítos se transformam novamente

em trofozoítos que passam apresentar uma forma anelar, resultante da formação de um

grande vacúolo alimentar no citoplasma. Na medida em que o trofozoíto cresce, seu

citoplasma se torna menos visível e os grânulos de hemozoína aparecem mais

destacados. A hemozoína é o produto final resultante da degradação da hemoglobina do

hospedeiro (ROBERTS, LARRY S; JANOVY, JOHN; SCHMIDT, 2009).

Os merozoítos se desenvolvem rapidamente em esquizontes ou merontes. Na

esquizogonia eritrocítica, o citoplasma aglutina-se ao redor do núcleo antes da

citocinese ocorrer. Quando a merogonia termina, os merozoítos rompem as hemácias e

resíduos metabólicos, incluindo a hemozoína, são liberados. Esses compostos são

responsáveis pelos principais sintomas agudos da malária. A maioria dos merozoítos é

destruída pelo sistema imunológico do hospedeiro, mas mesmo assim, a parasitemia

continua alta devido à esquizogonia eritrocítica produzir um grande número de novos

merozoítos. Além disso, a hemozoína é tóxica para os macrófagos, diminuindo sua

eficiência fagocitária. Após indeterminadas gerações, alguns merozoítos entram nos

eritrócitos e se transformam em macrogametócito e microgametócito. Essas formas

variam nas diferentes espécies de Plasmodium e são infectantes para o hospedeiro

definitivo. Se não forem ingeridas pelo mosquito, esses estádios morrem e são

fagocitados pelas células de defesa (ROBERTS, LARRY S; JANOVY, JOHN;

SCHMIDT, 2009)

O ciclo começa no mosquito quando os gametócitos são ingeridos juntos com as

hemácias parasitadas do hospedeiro durante o repasto sanguíneo. As hemácias são

digeridas e os gametócitos são liberados e sofrem transformação. O macrogametócito

forma o macrogameta (feminino), enquanto o microgametócito origina o microgameta

(masculino). O processo de maturação do macrogametócito é acompanhado de

mudanças discretas no núcleo, enquanto que a transformação do microgametócito em

microgameta é bem mais expressiva e é denominada exoflagelação. Após se tornar

extracelular, o núcleo do microgametócito se divide e forma seis a oito núcleos filhos,

cada um dos quais está associado com elementos de um axonema desenvolvido. Após

completar todas as mudanças necessárias, o microgameta nada até encontrar o

macrogameta e fertiliza-o. O zigoto formado alonga-se e torna-se oocineto. O oocineto,

então penetra na membrana peritrófica no intestino do mosquito e migra intracelular e

Page 38: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

23

extracelularmente até a hemocela próxima ao intestino (ROBERTS, LARRY S;

JANOVY, JOHN; SCHMIDT, 2009).

O oocineto evolui para oocisto, que sofre meiose dando origem a massas

nucleares haploides, denominadas esporoblasto. Múltiplas divisões mitóticas do

esporoblasto formam os esporozoítos. Estas formas então migram pelo corpo do

mosquito e quando atingem as glândulas salivares penetram em canais existentes nas

glândulas e podem ser injetados no hospedeiro vertebrado durante o repasto sanguíneo.

O desenvolvimento do esporozoíto ocorre em um período de dez dias a duas semanas,

dependendo da espécie e da temperatura (ROBERTS, LARRY S; JANOVY, JOHN;

SCHMIDT, 2009). Os mosquitos do gênero Anopheles spp são os principais vetores da

malária humana e uma vez infectados permanecem transmitindo a doença por toda a

vida. O gênero Anopheles abriga cerca de 400 espécies, mas apenas 30 espécies são de

importância epidemiológica. No continente africano, a espécie A. gambiae é a mais

importante na transmissão da doença e no Brasil é a espécie A. darlingi. O Plasmodium

pode também ser transmitido por transfusão de sangue, transplante de órgãos,

compartilhamento de seringas entre usuários de drogas, materno-fetal e acidentes de

laboratório (WHO, 2014).

Page 39: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

24

Figura 6 Ciclo biológico do Plasmodium spp. A fêmea do mosquito Anopheles sp adquire o parasito ao alimentar-se de sangue de indivíduos infectados. Após completar o ciclo no mosquito, o protozoário é transmitido para os indivíduos saudáveis nos quais realiza um novo ciclo, passando por vários estádios. Adaptado de http://www.cdc.gov/parasites/malaria/. Página do Centro de Controle de Doenças, governo dos Estados Unidos. Conteúdo de domínio público, conforme política de acesso.

1.3.2 A doença

As manifestações clínicas da malária dependem de fatores relacionados ao

parasito, aos hospedeiros e a fatores geográficos e sociais. Em relação ao parasito são

considerados a resistência aos fármacos utilizados, a taxa de multiplicação, as vias de

invasão, a citoaderência, o polimorfismo antigênico, a variação antigênica e as toxinas

maláricas. Os fatores relacionados aos hospedeiros são: a imunidade, as citocinas pró-

inflamatórias, a idade, a gravidez e a predisposição genética. Acesso ao tratamento,

fatores econômicos e culturais, estabilidade política, intensidade da transmissão na qual

se consideram a espécie transmissora, a sazonalidade e epidemias estão relacionados aos

fatores sociais e geográficos. Todos esses fatores contribuem para as variações clínicas

da malária entre os quadros assintomáticos aos casos mais graves, geralmente fatais

(MILLER et al., 2002).

Page 40: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

25

Todas as espécies de Plasmodium que infectam humanos podem causar febre,

cefaleia, mal-estar, dores musculares, tremores e anemia hemolítica. Mas somente P.

falciparum causa as complicações neurológicas, hipoglicemia, acidose metabólica e

dificuldade respiratória. Esses sintomas, se não administrados corretamente, podem

levar o pacientes à morte, principalmente crianças e mulheres grávidas. O P.

falciparum apresenta cepas virulentas capazes de invadir todos os estádios eritrocíticos

e formas não virulentas que infectam um número limitado de eritrócitos, sendo

responsáveis por quadros clínicos menos severos (MILLER et al., 2002).

As manifestações clínicas da malária grave são reconhecidas por afetar vários

órgãos, incluindo o cérebro. A acidose metabólica é a principal causa dessas

manifestações e o fator responsável pela dificuldade respiratória, que pode levar o

paciente a óbito. A acidose é devido à produção de ácido láctico, atribuída a vários

fatores, incluindo aquele produzido pelo parasito, à insuficiência hepática e a redução da

oxigenação tecidual. Além disso, os pacientes com malária grave podem apresentar

desidratação e choque hipovolêmico causados por alterações vasculares. Outro sintoma

inerente à infecção pelo Plasmodium spp é a anemia, causada pela destruição das

hemácias parasitadas e não parasitadas (MILLER et al., 2002).

1.3.3 Epidemiologia e controle

Estima-se que, globalmente, cerca de 3,4 bilhões de pessoas estão sob o risco de

contrair malária. Em 2012, foram relatados 207 milhões de novos casos e

aproximadamente 627 mil pessoas morreram pela infecção. A doença é endêmica em

104 países, com predomínio dos países africanos nos quais também ocorre o maior

número óbitos pela doença, principalmente menores de cinco anos e mulheres grávidas.

No Brasil, 4,5 milhões de pessoas estão sob alto risco de contrair a infecção e cerca de

2,4 milhões de casos suspeitos foram relatados em 2012. Nesse mesmo ano, o número

de casos confirmados foi, aproximadamente, 243 mil casos, com 64 mortes, o maior das

Américas (figura 7) (WHO, 2014).

Page 41: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

26

Figura 7 Mapa da população mundial sob-risco de contrair malária. World Health Organization, WHO, 2014.

A principal forma de transmissão da malária é a vetorial. Aproximadamente, 400

espécies de mosquitos do gênero Anopheles são capazes de transmitir a doença.

Entretanto, apenas cerca de trinta dessas espécies são de importância epidemiológica

por serem mais susceptíveis à infecção pelo Plasmodium spp. Na África, a principal

espécie é A. gambiae que compreende um complexo composto de seis espécies

indistinguíveis morfologicamente, mas com comportamentos e ecologia bem distintos.

A espécie A. gambiae stricto sensu é a mais perigosa e competente vetora da malária,

por ser altamente antropofílica e susceptível ao P. falciparum. Além disso, tem hábito

endofílico (ato de permanecer no interior das habitações humanas), se reproduz em

coleções de água limpa, cisternas e poços de água (BAYOH et al., 2010). No Brasil, a

principal espécie vetora é A. darlingi, considerada a mais perigosa da América do Sul,

estendendo-se da Venezuela ao sul do Brasil. O A. darlingi tem hábito exofílico, se

reproduz em água limpa dos escombros e da vegetação. Essa espécie costuma invadir as

casas e tem preferência por sangue humano (ROBERTS, LARRY S; JANOVY, JOHN;

SCHMIDT, 2009).

A malária é uma parasitose prevenível e tratável, desde que as medidas

adequadas sejam adotadas. As estratégias de controle empregam o combate vetorial,

através da aplicação de inseticidas no interior das casas e no ambiente externo;

Page 42: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

27

quimioprofilaxia, recomendada para crianças e mulheres grávidas; confirmação da

infecção dos casos suspeitos através do exame parasitológico de sangue e tratamento

adequado dos doentes, por meio da confirmação da espécie causadora e da eventual

resistência dos parasitos aos fármacos utilizados (WHO, 2014).

1.3.4 Tratamento e resistência

O uso apropriado de fármacos para tratar os casos de malária e o uso de

quimioprofiláticos por aqueles que estão sujeitos à infecção são partes integrantes do

controle eficiente da malária nos países endêmicos. Na América do Sul, nativos usavam

chá da casca da Cinchona para aliviar a febre. Descobriu-se depois que esse extrato

continha alcaloides com propriedades antimaláricas eficientes e seguras. O principal

alcaloide extraído da Cinchona foi o quinino, a partir do qual se produziu outros

fármacos antimaláricos (ROBERTS, LARRY S; JANOVY, JOHN; SCHMIDT, 2009).

Na China, extratos de algumas plantas têm sido usados durante séculos para tratar

pacientes com febre. Na década de 1970, um grupo de cientistas chineses descobriu que

o extrato da Artemisia annua era altamente eficiente contra o P. berghei e o P.

cynomolgi. Mais tarde, esse mesmo grupo identificou o princípio ativo da A. annua, um

terpeno que eles denominaram artemisinina, do qual derivam vários compostos

sintéticos de excelente atividade antimalárica (TU, 2011). Os principais fármacos

atualmente utilizados para tratar a malária pertencem a diferentes classes de compostos

químicos, mas que compartilham modos de ação semelhantes. Esquemas monoterápicos

são desencorajados e os combinados são sempre recomendados. A tabela 2 apresenta os

principais fármacos antimaláricos da atualidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda políticas para o tratamento

da malária por região. A terapia de combinação baseada em artemisinina é adotada em

79 dos 88 países nos quais o P. falciparum é endêmico. A cloroquina ainda é utilizada

por alguns países onde não foi detectada resistência, como nas Américas, por exemplo.

Outros 33 países da África e 52 países do globo adotam política de tratamento

preventivo de casos graves com quinina ou arteméter por via intramuscular, ou com

supositórios de artesunato. Para o tratamento de casos graves por P. vivax, 52 dos 58

países com transmissão em curso utilizam primaquina. Outros 13 países, dos 52 citados

Page 43: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

28

anteriormente, recomendam testes para a deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase

antes do tratamento com primaquina (WHO, 2014).

Tabela 2 Principais fármacos antimaláricos. World Health Organization. Guideline for the Treatments of Malaria, Genebra, WHO, 2010.

Fármaco Classe Indicação

Artemesinina e

derivados

Endoperóxido

sesqueterpeno lactona

Tratamento das infecções por P.

falciparum; terapias combinadas

orais para malária não complicada;

artesunato intravenoso para doença

grave.

Cloroquina 4-aminoquinolina Tratamento e quimioprofilaxia de

infecção por parasitos sensíveis

Amodiaquina 4-aminoquinolina Tratamento da infecção por

algumas cepas de P. falciparum

resistentes à cloroquina e em

combinação fixa com o artesunato.

Piperaquina Biquinolina Tratamento da infecção por P.

falciparum em combinação fixa

com di-hidroartemisinina.

Quinina Quinolina metanol Tratamento oral e intravenoso das

infecções por P. falciparum.

Quinidina Quinolina metanol Terapia intravenosa das infecções

graves por P. falcipararum.

Mefloquina Quinolina metanol Quimioprofilaxia e tratamento das

infecções por P. falciparum.

Primaquina 8-aminoquinolina Cura radical e profilaxia terminal

das infecções por P. vivax e P.

ovale; quimioprofilaxia alternativa

para todas as espécies.

Sulfodoxina-

piremetamina

Combinação de

antagonistas do folato

Tratamento das infecções por P.

falciparum resistente à cloroquina,

inclusive com combinação com

Page 44: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

29

artesunato; terapia preventiva

intermitente nas regiões endêmicas.

Atovaquona-

proguanila

Combinação de quinina-

antagonista do folato

Tratamento e quimioprofilaxia da

infecção por P. falciparum

Doxiciclina Tetraciclina Tratamento (com quinina) das

infecções por P. falciparum e

quimioprofilaxia

Halofantrina Fenantreno metanol Tratamento das infecções por P.

falciparum.

Lumefantrina Aril álcool Tratamento da malária por P.

falciparum em combinação com

arteméter.

No Brasil, o Ministério da Saúde disponibiliza gratuitamente o tratamento da

malária em todo território nacional. Os fármacos recomendados visam aos sintomas

clínicos, matando as formas assexuadas sanguíneas; às recaídas tardias, que agem contra

as formas dormentes do fígado (hipnozoítos); à interrupção da transmissão, que atuam

contra as formas sexuadas sanguíneas. O esquema terapêutico utilizado considera a

idade, a espécie de Plasmodium, a gravidade da doença, as condições associadas

(gravidez) e exposição anterior do paciente ao parasito. Os fármacos mais utilizados

são: cloroquina e primaquina, para a malária não complicada ou arteméter e

lumefantrina; artesunato e mefloquina para infecções por P. falciparum. Ainda são

utilizados clindamicina, quinina e artesunato para formas graves de P. falciparum

(BRASIL, 2010).

As políticas adotadas para o tratamento da malária visam aumentar a eficácia,

reduzir custos e evitar a seleção de cepas resistentes aos fármacos utilizados. Quanto à

resistência, os esforços não têm conseguido evitar o surgimento de cepas resistentes aos

antimaláricos. A seguir são discutidos os mecanismos de ação e de resistência dos

principais antimaláricos.

Page 45: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

30

Artemisinina e derivados

A artemisinina é extraída da Artemisia annua utilizada pela medicina popular da

China por milhares de anos para tratar doenças febris, incluindo a malária. A descoberta

se deu na década de 1970, quando um grupo de jovens cientistas chineses, liderados por

Youyou Tu, investigou as propriedades antimaláricas de várias plantas da farmacopeia

chinesa. Após vários ensaios frustrantes, eles identificaram o qinghaosu, Artemisia

annua para os ocidentais, com excelente atividade antimalárica em modelos de malária

animal. Dadas as dificuldades de realizarem ensaios clínicos para novos fármacos,

YouYou Tu e seus colegas ingeriram o extrato para averiguar a segurança para

humanos. Após servirem de cobaias para seus próprios ensaios, eles realizaram testes

em pacientes infectados com P. falciparum e P. vivax e obtiveram excelentes resultados

(TU, 2011).

Encorajados pelos resultados dos ensaios, empreenderam uma busca para

identificar o principio ativo da A. annua. Um ano depois, eles isolaram uma substância

cristalina, incolor de peso molecular de 282 Da, fórmula molecular C15H22O5, com

ponto de fusão entre 156-157 ºC, a qual denominaram artemisinina, o principio ativo do

extrato. A partir desse composto natural, eles produziram ainda outros três compostos

com excelente atividade antimalárica: a di-hidroartemisinina, forma reduzida da

artemisinina; a arteméter, um metil éster solúvel em óleo; e o artesunato, sal

hemissuccinato hidrossolúvel da di-hidroartemisinina (figura 8) (TU, 2011). Desde

então milhões de pessoas com malária na China, Ásia, África e em diversas outras

regiões do mundo têm sido tratadas com a artemisinina e seus derivados semissintéticos

de modo eficiente e seguro.

Figura 8 Fórmulas moleculares da artemisinina e seus derivados.

A artemisinina e seus derivados são esquizonticidas potentes, atuando

rapidamente contra todos os estádios assexuados sanguíneos de todas as espécies de

Plasmodium que afetam humanos. Esses fármacos atuam também direta e indiretamente

Artesunato Di-hidroartemisinina Artemisinina Arteméter

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

31

contra gametócitos, exoflagelação e produção de oocistos de P. falciparum e contra o

desenvolvimento de esquizontes hepáticos de P. yoelii (DELVES et al., 2012).

A artemisinina e seus derivados são administrados por diferentes vias. A di-

hidroartemisinina é administrada por via oral; o arteméter por via oral ou intramuscular;

a artemisinina por via oral ou supositório; o artesunato por via oral, supositório,

intravenosa ou intramuscular. As formulações orais apresentam absorção rápida,

atingindo concentração plasmática entre uma e duas horas e meia-vida de uma a três

horas após administração. Ao passar pelo fígado a artemisinina, artesunato e arteméter

são convertidos em di-hidroartemisinina, a forma ativa do fármaco (DE REVIERS,

2013; REYBURN, 2010). Esses fármacos são bem tolerados, mas alguns efeitos

colaterais são comumente observados, tais como: tonturas, zumbido, reticulopenia,

neutropenia e anormalidades eletrocardiográficas (REYBURN, 2010).

O uso desses fármacos em esquemas monoterápicos é desencorajado pela OMS,

que preconiza a terapia combinada denominada Terapia de Combinação baseada na

Artemisinina (TCA). Uma das razões é a meia-vida curta desses fármacos, responsável

pelas recidivas pós-tratamento. Além disso, a artemisinina e seus derivados não atuam

contra os esquizontes hepáticos, tão pouco atuam contra os hipnozoítos de P. vivax e P.

ovale. Outro fato relevante é desenvolvimento de resistência, muito comum em

esquemas monoterápicos (REYBURN, 2010). Os esquemas combinados recomendados

pela OMS estão apresentados na tabela 3.

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

32

Tabela 3 Terapia combinada baseada em artemisinina. World Health Organization. Guideline for the Treatments of Malaria, Genebra, WHO, 2010.

Esquema terapêutico Notas Formulações.

Arteméter-lumefantrina Formulação conjunta;

primeira linha de

tratamento em regiões com

Plasmodium multidroga

resistentes.

20 mg de arteméter mais

120 mg de lumefantrina.

Artesuntato-amodiaquina Formulação conjunta.

Malária não complicada

em regiões epidêmicas.

25/67,5 mg, 50/135 mg ou

100/270 mg.

Artesunato-mefloquina Formulação conjunta;

primeira linha de

tratamento em regiões com

Plasmodium multidroga

resistentes.

50mg de artesunato e 250

mg de mefloquina.

Di-hidroartemisinina-

piperaquina

Formulação conjunta;

primeira de terapia em

países do sudeste da Ásia.

40 mg de di-

hidroartemisinina e 320 de

piperaquina.

Artesunato-sulfadoxina-

pirimetamina.

Primeira linha de

tratamento em alguns

países.

50 mg de artesunato, 500

mg sulfadoxina e 25 mg

pirimetamina.

Artesunato- tetraciclina

ou doxyciclina ou

clindamicina

Segunda linha de

tratamento em alguns

países.

Sem formulações.

A artemisinina e seus derivados atuam inibindo a enzima adenosina cálcio

trifosfatase, PfATPase. Além disso, suspeita-se que a atividade antimalárica desses

fármacos inclui também a clivagem da ligação endoperóxido, na presença do íon

férrico. Quando essa ligação é quebrada, são liberadas formas reativas de radicais de

carbono que danificam biomoléculas importantes do parasito, incluindo proteínas e

fosfolipídios (O’NEILL; BARTON; WARD, 2010). Ao danificar os fosfolipídios da

membrana do Plasmodium, por exemplo, tais compostos poderiam afetar diferentes

Page 48: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

33

estádios do ciclo de vida do parasito: formas assexuadas sanguíneas, esquizontes

hepáticos, oocistos e microgametócitos, como discutido anteriormente (WHITE, 1997).

A resistência à TCA é a mais temida pelos programas de erradicação da malária.

E, infelizmente, já foi confirmada em várias regiões. Recentemente, foi demonstrado

forte indício de resistência do P. falciparum ao artesunato usado como monoterápico e

combinado com mefloquina. Os ensaios foram conduzidos na fronteira da Tailândia

com o Camboja, em dois estudos randomizados. Os autores compararam a eficácia de

dois tratamentos para a malária não complicada por P. falciparum em duas localidades

vizinhas, uma situada no oeste do Camboja e a outra no nordeste da Tailândia. Os

resultados demonstraram que a susceptibilidade do P. falciparum ao artesunato está

reduzida na região do Camboja, quando comparada à Tailândia. Além disso, a

resistência ficou caracterizada pela baixa redução da parasitemia nos testes in vivo sem

ser acompanhada de redução nos testes susceptibilidade in vitro (DONDORP et al.,

2012). O surgimento de resistência à artemisinina e seus derivados é desastrosa para os

programas de controle da malária, pois são os mais eficientes fármacos antimaláricos

atualmente utilizados.

Cloroquina

Desde a década de 1940, a cloroquina tem sido utilizada como quimioterápico de

escolha, tanto para tratamento como para prevenção de todos os tipos de malária.

Entretanto, o surgimento de cepas resistentes de P. falciparum restringiu seu uso. A

cloroquina é uma 4-aminoquinolina, um sal de fosfato para uso oral. Ela apresenta alta

taxa de absorção, concentração plasmática máxima em poucas horas e é amplamente

distribuída aos tecidos (DE REVIERS, 2013). A cloroquina atua eficientemente contra

esquizontes sanguíneos e é moderamente gametocida para as espécies de P. vivax, P.

malariae e P. ovale. A sua ação, no entanto, não contempla as formas hipnozoítas

hepáticas e, portanto, não evita recidivas da malária (DE REVIERS, 2013).

O mecanismo de ação da cloroquina consiste na ligação do fármaco a hematina,

impedindo a detoxificação de radicais heme livres. Esse efeito provoca o acúmulo de

monômeros de heme que aumentam a permeabilidade da membrana, resultando na

morte do parasito (PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). Atualmente, a

cloroquina é empregada também para o tratamento da artrite reumatoide, lúpus,

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

34

giardíase e hepatite amebiana. Apesar de ser um fármaco seguro, alguns de seus efeitos

tóxicos podem limitar seu uso em mulheres grávidas, idosos e crianças.

A cloroquina tem meia-vida em torno de 60 dias, por isso tem sido usada

também como quimioprofilático. A OMS recomenda a quimioprofilaxia em regiões nas

quais há maior risco de infecção em determinadas épocas do ano. Essa prática mantém

altas concentrações sanguíneas do fármaco, prevenindo os casos graves de malária

(WHO, 2014).

Os primeiros relatos de resistência à cloroquina vieram da fronteira Tailândia-

Camboja e da Colômbia. Suspeita-se que a resistência à cloroquina chegou até à África

via Sudeste da Ásia por volta de 1970. Além disso, é possível que a resistência tenha

emergido independentemente de focos em Papua Nova Guiné e das Filipinas

(PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). O P. falciparum resistente à cloroquina

está presente em praticamente todas as regiões endêmicas e a resistência do P. vivax tem

aumentado ao longo dos anos. O mecanismo proposto para a resistência é uma mutação

no gene que codifica o transportador de cloroquina PfCRT, localizado na membrana do

vacúolo digestivo. A proteína mutante reduz significativamente o afluxo do fármaco

para o vacúolo, diminuindo seu efeito sobre o parasito (FIDOCK et al., 2000). Embora

tenha sido demonstrada a reversibilidade da resistência com uso de verapamil,

desipramina e clorfeniramina, a aplicabilidade clínica dessa estratégia não foi ainda

estabelecida (DE REVIERS, 2013).

A resistência à cloroquina é também atribuída ao gene que codifica o

transportador ABC PfMDR1, possivelmente envolvido na resistência à mefloquina,

lumefantrina, quinina e artemisinina. Foi demonstrado que a redução do número de

cópias desse gene, aumenta a susceptibilidade do P. falciparum a esses fármacos

(SIDHU, 2006). Recentemente, foi sugerido também que a presença da mutação do

gene para o PfCRT e do polimorfismo do gene ABC PfMDR1 existente P. falciparum

podem ser um fator de risco responsável pela redução da eficácia da terapia combinada

arteméter-lumefantrina e artesunato-amodioquina (VENKATESAN et al., 2014).

Amodiaquina e Piperaquina

Amodiaquina é também uma 4-aminoquinolina, semelhante à cloroquina e tem

sido usada por décadas contra a malária. Diferentemente da cloroquina, amodiaquina

Page 50: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

35

tem meia-vida curta, em torno de 3 horas apenas. Por essa razão, sua ação antimalárica é

exercida pelo seu metabólito primário, monodesetilamodiaquina, que tem meia-vida

entre 9 a 18 dias (CHURCHILL et al., 1985). Os efeitos tóxicos da amodiaquina como

antimalárico têm sido debatidos ao longo dos anos. Agranulocitose, anemia aplástica e

hepatotóxicidade têm sido os efeitos mais comuns (NEFTEL; WOODTLY, 1986).

Além desses, outros efeitos colaterais tais como: vômitos, cefaleia e febre têm sido

relatados em esquemas únicos ou combinados. Entretanto, ambos os efeitos são dose-

dependente e são mais comuns em esquemas quimioprofiláticos do que em esquemas

terapêuticos (CAIRNS et al., 2010). A amodiaquina substitui muito bem a cloroquina

em regiões onde há relatos de P. falciparum resistente. Além disso, ela é mais barata e,

portanto, economicamente viável para muitos países pobres onde a malária é um sério

problema de saúde pública (HWANG et al., 2006).

A utilização mais frequente da amodiaquina é em esquemas combinados. A

OMS recomenda amodiaquina mais artesunato para tratar malária por P. falciparum

resistentes aos fármacos mais antigos, principalmente em países africanos. De fato, 17

países africanos utilizam esse esquema terapêutico como primeira ou segunda linha de

tratamento (REYBURN, 2010). Entretanto, tem sido sugerido o esquema terapêutico

amodiaquina mais sulfadoxina-piremetamina por ser mais vantajoso no que diz respeito

a maior disponibilidade dos fármacos, ao baixo custo e a maior familiaridade para os

médicos (HWANG et al., 2006).

O mecanismo de ação e de resistência da amodiaquina são os mesmos da

cloroquina. A resistência à amodiaquina e ao seu metabólito primário tem sido relatada

em vários países africanos, alertando às autoridades sobre o risco da utilização de

esquemas terapêuticos inadequados.

A piperaquina pertence à classe das quinolinas, sendo uma biquinolina de alta

atividade antimalárica. Testes clínicos realizados na China nos ano 1970 demonstram

que a piperaquina apresentava boa tolerância, efeitos colaterais leves, alta eficácia

profilática e rápida ação esquizonticida contra P. falciparum. Mais tarde, estudos

comprovaram que a piperaquina era também eficaz contra isolados de P. falciparum

resistentes à cloroquina. Imediatamente esse fármaco substituiu a cloroquina em muitas

regiões da China com resistência comprovada (BASCO; RINGWALD, 2003).

Infelizmente, a utilização da piperaquina em esquema monoterápico levou à seleção de

cepas resistentes de P. falciparum e seu uso foi descontinuado. Todavia, recentemente, a

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

36

utilização de piperaquina em terapia combinada com di-hidroartemisinina tem sido

fortemente recomendada para o tratamento da malária por P. falciparum resistente à

cloroquina (BASCO; RINGWALD, 2003; FIVELMAN; ADAGU; WARHURST,

2007).

Por ser uma quinolina o mecanismo de ação e de resistência são os mesmos da

cloroquina e da amodiaquina.

Quinina e quinidina

Quinina é um alcaloide extraído de uma árvore sul-americana denominada

Cinchona. É considerado o mais antigo antimalárico, sendo utilizada por nativos do

Peru por séculos. A quinina é usada atualmente para tratar casos graves de malária e

como segunda linha de tratamento em combinação com antibióticos para tratar malária

resistente (PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). A quinidina é um

estereoisômero dextrorrotatório da quinina de atividade antimalárica semelhante. Seu

uso é recomendado para tratamento de infecções graves por P. falciparum.

A quinina administrada por via oral apresenta alta taxa de absorção

gastrointestinal e alcança níveis plasmáticos elevados após poucas horas. Ela se

distribui amplamente nos tecidos, sendo metabolizada no fígado e excretada na urina. A

meia-vida da quinina varia entre 11 e 18 horas nos controles saudáveis e aqueles com

malária grave, respectivamente.

A quinidina tem meia-vida mais curta do que a quinina em razão da menor

afinidade com proteínas plasmáticas (DE REVIERS, 2013). Em ambos os casos, esse

fato contribui para menor resistência do Plasmodium a esses fármacos. Entretanto, já

existem relatos de resistência em algumas regiões do sudeste asiático, principalmente na

fronteira entre o Camboja e a Tailândia (LIM et al., 2013). Suspeita-se que o

mecanismo de ação da quinina e da quinidina seja semelhante ao da cloroquina, embora

ainda não tenha sido demonstrado. (PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). Esses

fármacos atuam contra esquizontes sanguíneos, sendo efetivos contra as quatro espécies

de Plasmodium mais importantes que infectam humanos. Sua ação gametocida, no

entanto, restringe às espécies P. vivax e P. ovale. A quinina e quinidina também não são

efetivas contra os hipnozoítos hepáticos (DE REVIERS, 2013).

Page 52: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

37

Embora o mecanismo de resistência à quinina seja complexo, há evidências

claras que três genes estejam envolvidos no processo: PfCRT e PfMDR1, mencionados

anteriormente e o PfNHE1, ambos codificadores de proteínas transportadoras

localizadas no vacúolo digestivo do parasito (PETERSEN; EASTMAN; LANZER,

2011). O aumento da frequência desses genes, e em particular do polimorfismo do gene

PfNHE1 nas diferentes regiões malarígenas pode comprometer seriamente o futuro da

terapia contra a malária (MÉNARD et al., 2013).

Mefloquina

Quimicamente relacionada com a quinina, a mefloquina é uma 4-quinolina

metanol efetiva contra cepas de P. falciparum resistentes à cloroquina. Ela também é o

fármaco de escolha na quimioprofilaxia de todas as espécies de Plasmodium, apesar de

seus fortes efeitos tóxicos. A administração parenteral da mefloquina não é

recomendada devido à grave irritação local, restringindo sua administração a

comprimidos orais. A mefloquina apresenta alta taxa de absorção intestinal, alcançando

concentrações plasmáticas efetivas em poucas horas. Ela apresenta alta afinidade por

proteínas plasmáticas, distribuindo-se rapidamente pelos tecidos corporais. Por

apresentar baixa taxa de excreção e meia-vida longa (18-20 dias), a mefloquina é

administrada em dose única que varia entre 62,5 mg a 250 mg, dependendo da idade e

da massa corporal do paciente. Essas características farmacológicas fazem da

mefloquina o fármaco quimioprofilático de escolha (DE REVIERS, 2013).

A mefloquina tem forte ação esquizonticida, mas não atua contra gametócitos e

formas dormentes hepáticas. Por essa razão, é recomendada a administração posterior

de primaquina para evitar recidivas (WHO, 2014). Embora o mecanismo de ação da

mefloquina não esteja completamente esclarecido, há evidências de que ela se liga ao

grupo heme no vacúolo digestivo e inibe o mecanismo de detoxificação do parasito.

A resistência à mefloquina está associada ao gene PfMDR1, que codifica a

proteína Pghl localizada na membrana do vacúolo digestivo do P. falciparum. Essa

proteína diminui o efluxo da mefloquina para interior do vacúolo digestivo, impedindo

o encontro do fármaco com seu alvo. A amplificação e superexpressão desse gene têm

sido apontadas como as causas de falhas no tratamento e da resistência in vitro do P.

falciparum à mefloquina (COWMAN; GALATIS; THOMPSON, 1994).

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

38

Recentemente, foi demonstrado que a amplificação do gene MDR1 também ocorre em

P. vivax (KHIM; ANDRIANARANJAKA, 2014). Esses autores apresentaram também

dados epidemiológicos que confirmam que a amplificação do gene PvMDR1 é menos

frequente nas regiões onde a mefloquina nunca foi utilizada (Mandagascar e Sudão) do

aquelas nas quais (Camboja e Guiana Francesa) a mefloquina foi ou ainda é utilizada

para tratamento ou como quimioprofilático (KHIM; ANDRIANARANJAKA, 2014).

Primaquina

A primaquina é utilizada como quimioprofilático e atua eficientemente contra os

hipnozoítos hepáticos de P. vivax e P. ovale, sendo o único fármaco aprovado para esse

fim. É uma 8-aminoquinolina sintética com boa absorção intestinal, atingindo

concentração plasmática máxima em 1 a 2 horas, mas com meia-vida de 3 a 8 horas

apenas (DE REVIERS, 2013). A primaquina atua contra esquizontes teciduais e

gametócitos das quatro espécies de Plasmodium, mas é pouco efetiva contra as formas

assexuadas sanguíneas. O uso de primaquina, no entanto, não é recomendado para

pacientes com deficiência de G6PD, glicose-6-fosfato desidrogenase, devido ao risco de

anemia hemolítica severa (PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). A prevalência

desse fenótipo varia muito nas diferentes regiões de malária endêmica. Por essa razão, a

OMS recomenda o teste de deficiência da G6PD antes da terapia com primaquina

(WHO, 2014).

O mecanismo de ação da primaquina é desconhecido, porém há evidências que

esse fármaco se liga ao PfCRT e inibe o transporte de cloroquina, levando a ação

sinérgica dos dois antimaláricos e à reversão da resistência à cloroquina (PETERSEN;

EASTMAN; LANZER, 2011).

A resistência de esquizontes sanguíneos ao fármaco é de pouca importância

clínica devido a sua fraca atuação contra essas formas. No entanto, a resistência de

esquizontes hepáticos, que poderia produzir prejuízos para terapia da malária, não tem

sido seriamente detectada por mais de 50 anos de uso da primaquina (BAIRD;

HOFFMAN, 2004). Tal fato pode estar relacionado à curta meia-vida ou à ação

gametocida do fármaco. Além disso, relatos de resistência ao fármaco podem estar

relacionados à ausência de uma melhor análise dos fatores de confundimento, tais como

êmese da dose, inadequação da terapia prescrita, tolerância do parasito, resistência à

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

39

cloroquina e reinfecção (BAIRD; HOFFMAN, 2004). Embora seja um assunto

controverso, a resistência do P. vivax à primaquina foi relatada na Nova Guiné, no

sudeste da Ásia e nas Américas Central e do Sul (KRUDSOOD; TANGPUKDEE,

2008; PHILLIPS; KEYSTONE; KAIN, 1996). Por esse razão, as doses usualmente

empregadas para erradicar os hipnozoítos hepáticos tiveram que ser ajustadas. Assim,

atualmente é empregada a dose de 30 mg (padrão 15mg) por dia, por um período de 14

dias.

Para tratamento da malária por P. vivax não complicada emprega-se a cloroquina

combinada com primaquina, para infecções por cepas sensíveis à cloroquina. A

cloroquina elimina as formas sanguíneas e a primaquina mata os esquizontes hepáticos.

Nas regiões onde a prevalência da deficiência de G6PD é moderada, emprega-se dose

de 0,75mg/kg de massa corporal, dada uma vez por semana, durante 8 semanas. Nos

casos de deficiência severa de G6PD a primaquina não é recomendada (REYBURN,

2010). Nas regiões onde é adotada a terapia di-hidroartemisinina mais piperaquina como

primeira linha de tratamento para P. falciparum, pode também ser usada para malária

por P. vivax a combinação com primaquina para a cura radical (REYBURN, 2010).

Sutanto et al (2013) sugeriram a terapia di-hidroartemisina mais piperaquina-

primaquina por apresentar maior tolerabilidade, maior eficácia e maior segurança do

que aquela que emprega a cloroquina (SUTANTO et al., 2013).

Atovaquona

Atovaquona é um análogo da hidroxinaftoquinona estruturalmente relacionado

ao ubiquinol. Embora tenha sido desenvolvido como antimalárico, ela atua também

contra outros parasitos apicomplexa, incluindo Toxoplasma, Theileria e Babesia

(PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). A atovaquona é administrada por via oral,

tem baixa absorção intestinal, mas possui boa afinidade pelas proteínas plasmáticas e

meia-vida de dois a três dias. Devido a seu caráter lipofílico é recomendado que a

administração da atovaquona seja concomitante com o alimento, preferencialmente

gordurosos (DE REVIERS, 2013; REYBURN, 2010). Ela é excretada principalmente

nas fezes, na forma de fármaco inalterado. Ela atua contra as formas assexuadas

sanguíneas, hepáticas e contra o desenvolvimento dos oocistos no mosquito. O

mecanismo de ação consiste na ligação com o citocromo c, interrompendo a cadeia

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

40

transportadora de elétrons (DE REVIERS, 2013; PETERSEN; EASTMAN; LANZER,

2011). A atovaquona é um fármaco bem tolerado, embora febre, cefaleia, insônia,

náusea, diarreia e vômitos sejam os efeitos colaterais recorrentes da terapia

(REYBURN, 2010). Recentemente, uma hidroxinaftoquinona sintética denominada N3,

mostrou alta atividade in vitro para P. falciparum e limitada toxidade para células

humanas (SCHUCK et al., 2013).

O uso da atovaquona como monoterápico não é recomendado em razão de sua

baixa eficácia. Entretanto, o efeito combinado da atovaquona com proguanila sobre P.

falciparum é altamente efetiva, tanto para o tratamento como para profilaxia. O uso

como profilático apresenta vantagem em relação à mefloquina devido ao curto período

de tratamento ao qual o indivíduo se submete ao viajar para regiões não endêmicas. Por

outro lado, o maior custo e a facilidade de desenvolver resistência são pontos negativos

da terapia (DE REVIERS, 2013; PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011).

A resistência do P. falciparum à atovaquona está relacionada a polimorfismo de

nucleotídeo único, snp (single nucleotide polymorphism) do gene que codifica o

citocromo b (PfCYTB), alvo molecular da atovaquona. A monoterapia com atovaquona

apresenta uma das mais altas taxas de indução de resistência durante o tratamento, com

a recrudescência para P. falciparum variando entre 30 a 40%. Essa tem sido uma das

razões pelas quais a atovaquona é administrada com proguanila (PLUCINSKI et al.,

2014).

Inibidores do folato

Sulfadoxina, dapsona, pirimetamina e proguanila são fármacos antifolatos

usados na terapia da malária. Os dois primeiros inibem a enzima di-hidropteroato

sintetase de P. falciparum, codificada pelo gene PfDHPS, enquanto que os dois últimos

inibem a enzima di-hidrofolato redutase, codificada pelo gene PfDHFR. A enzima di-

hidropteroato sintetase é necessária para a conversão do PABA a ácido fólico. Como o

ácido fólico é essencial para síntese, reparo e metilação do DNA do P. falciparum, a

falta desse nutriente dificulta a reprodução do parasito (PETERSEN; EASTMAN;

LANZER, 2011). O ácido fólico (ácido di-hidrofólico), formado na reação anterior, é

substrato da enzima di-hidrofolato redutase, que o converte em ácido tetra-hidrofólico.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

41

Essa molécula, por sua vez, é precursora das bases nitrogenadas purinas e pirimidinas

(PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011).

A combinação sulfadoxina mais pirimetamina foi introduzida na terapia da

malária após o advento da resistência à cloroquina. As características farmacológicas

das sulfadoxina, incluindo absorção, ligação à proteína, distribuição, excreção e

toxidade não estão disponíveis nos melhores compêndios de Farmacologia (DE

REVIERS, 2013) ou bancos de fármacos (LAW et al., 2014)

A pirimetamina pertence à classe das diazinas e subclasse pirimidina. Ela tem

boa absorção intestinal, alta taxa de ligação às proteínas plasmáticas, metabolismo

hepático e meia via de aproximadamente 4 horas. A pirimetamina e sulfadoxina agem

sinergicamente contra as formas evolutivas do Plasmodium. A pirimetamina atua contra

esquizontes sanguíneos e fracamente contra os gametócitos e esquizontes hepáticos. Já a

sulfadoxina é pouco efetiva contra as formas sanguíneas, mas atua eficazmente contra

os esquizontes hepáticos e gametócitos (DE REVIERS, 2013). A combinação foi

considerada altamente efetiva contra P.falciparum resistente à cloroquina. Por ser uma

combinação barata, bem tolerada e administrada em dose única, a pirimetamina-

sulfadoxina deveria ter se tornado uma combinação perfeita para terapia da malária.

Entretanto, o surgimento de casos de resistência em várias regiões restringiu bastante o

seu uso (EMÍLIA et al., 2007; PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011).

A resistência aos antifolatos está relacionada às mutações nos genes PfDHPS e

PfDHFR, citados anteriormente. Ela ocorre em razão do acúmulo do polimorfismo de

nucleotídeo único nesses genes. No gene PfDHFR ocorre três mutações pontuais

envolvendo os códons 51, 59 e 108, conhecidas como DHFR triplo. Já no gene PfDHPS

ocorrem duas mutações nos códons 437 e 540, conhecida como DHPS duplo. Em

conjunto, elas são conhecidas como mutação quíntupla e estão fortemente associadas

com a resistência in vivo e in vitro à pirimetamina-sulfadoxina bem como a resistência

clínica a esses fármacos na África e na Ásia (EMÍLIA et al., 2007; RAMAN et al.,

2010).

A proguanila é um derivado da biguanida metabolizada no fígado pela enzima

citocromo C 450 a seu metabólito ativo cicloguanila. Administrado oralmente na forma

de sal hidroclorídrico, atinge níveis plasmáticos máximos em 5 horas. Ela tem meia-

vida de 16 horas, por isso quando utilizada como profilático deve ser administrada

diariamente. Aproximadamente 50% do fármaco é excretado na urina, dos quais 60%

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

42

são eliminados como fármaco inalterado e 30% na forma cicloguanila e o restante é

perdido nas fezes. A cicloguanila atua contra formas sanguíneas e hepáticas, incluindo

esporozoítos e gametócitos. Na terapia convencional, a proguanila é administrada em

associação com a atovaquona, com a qual tem efeito sinérgico. Como os antimaláricos

em geral, a proguanila não é administrada em esquemas monoterápico por desenvolver

resistência rapidamente. (DE REVIERS, 2013; REYBURN, 2010). A resistência está

relacionada à mutação do gene PfDHFR, o mesmo que confere resistência a

pirimetamina .

Halofantrina e lumefantrina

A halofantrina é um fenantreno metanol administrada na forma de cloridrato de

halofantrina. Ela tem absorção intestinal variável, atinge níveis plasmáticos máximos

em 16 horas, e tem meia-vida de quatro dias (DE REVIERS, 2013). A excreção ocorre

principalmente pelas fezes. Suspeita-se que o mecanismo de ação seja o mesmo da

mefloquina e quinina, sendo efetiva apenas contra as formas assexuadas sanguíneas. A

halofantrina é efetiva contra a maioria das cepas de P. falciparum, embora seu uso seja

limitado em razão da absorção irregular e toxicidade cardíaca (REYBURN, 2010).

Apesar de ser um fármaco bem tolerado, é comum observar no paciente: dor

abdominal, vômito, diarreia, tosse e exantema. Os efeitos tóxicos mais graves são dose-

dependente e incluem arritmias, que podem levar à morte. Ela é contraindicada para

pacientes que receberam mefloquina e para gestantes (REYBURN, 2010).

A lumefantrina é um aril álcool, semelhante à halofantrina, mefloquina e

quinina, com os quais compartilha o mesmo mecanismo de ação. Ela está disponível

apenas em preparações orais em associação com arteméter, sendo usada eficazmente

contra P. falciparum multidroga resistente (REYBURN, 2010). A absorção da

lumefantrina é variável, mas é aumentada pela ingestão de alimentos gordurosos. A

concentração plasmática máxima é alcançada em 10 horas e o fármaco tem meia-vida

terminal de três a cinco dias. Embora seja semelhante com halofantrina, a lumefantrina

não provoca alterações cardíacas, tão pouco produz efeitos tóxicos significativos. Ela é

bem tolerada e os efeitos colaterais mais comuns são: cefaleia, náuseas, desconforto

abdominal e tonturas (DE REVIERS, 2013).

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

43

Dois fatores são comumente relacionados à redução da eficácia ao lumefantrina

na África e na Ásia: o polimorfismo do PfMDR1, principalmente a variante N86 e

amplificação do gene pfMDR1 (PETERSEN; EASTMAN; LANZER, 2011). O

polimorfismo de nucleotídeo único do PfMDR1 resulta na substituição de aminoácidos

na posição 86 (N86Y), 184 (Y184F) e 1246 (D1246Y) e estão relacionados a resistência

da maioria dos antimaláricos, incluindo a terapia combinada baseada em artemisinina.

Recentemente, foi demonstrado que a implementação da combinação lumefandrina-

arteméter como primeira linha de tratamento para P. falciparum na África aumentou a

prevalência da variante N86, incluindo o mutante 184F e do haplótipo triplo N86-184F-

D1246, considerados marcadores moleculares importantes de resistência à terapia

combinada baseada em artemisinina (LOBO et al., 2014). Além disso, ensaios de

campo, in vitro e in vivo sugeriram que a presença do gene selvagem PfCRT em

isolados e cepas de P. falciparum tem sido responsável por falhas no tratamento com

lumefantrina (SISOWATH et al., 2009).

Tetraciclina

As tetraciclinas são antibióticos produzidos por bactérias do gênero

Streptomyces. Na prática clínica são utilizados derivados sintéticos em formulações

orais ou intravenosas, na forma de cloridrato ou fosfatos, ambas solúveis em água. As

tetraciclinas são bacteriostáticos que inibem a síntese proteica, ligando-se ao aminoacil-

RNA. Nesse contexto, elas têm sido usadas para tratar infecções causadas por

Chlamydia, Rickettsia, Mycoplasma, Brucella, Vibrio cholerae. A doxiciclina é um

derivado sintético de meia-vida longa (DE REVIERS, 2013; REYBURN, 2010)

Absorção das tetraciclinas é relativamente alta, variando entre 60 a 80% da dose

ingerida. No entanto, a absorção e a atividade do fármaco podem ser comprometidas em

razão da capacidade de quelar íons metálicos bivalentes (DE REVIERS, 2013). Por isso

certos alimentos, incluindo leite podem prejudicar a absorção do fármaco. Por outro, as

formulações em fosfato têm melhor absorção (DE REVIERS, 2013; REYBURN, 2010).

Após absorção, as tetraciclinas apresentam concentração plasmática máxima entre uma

e três horas, taxa de ligação às proteínas em torno de 65% e meia-vida de 8 horas. A

excreção ocorre principalmente pela urina e o restante via secreção biliar e fezes

(REYBURN, 2010).

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

44

Os efeitos colaterais mais comuns das tetraciclinas são: náusea, vômito e

diarreia. Outras reações tóxicas também são relatadas, tais como boca seca, glossite,

estomatites, disfagia e ulcerações esofágicas. Além disso, as tetraciclinas interferem

com metabolismo do cálcio nos ossos e dentes, comprometendo a formação dessas

estruturas em recém-nascidos e crianças. Por essa razão, as tetraciclinas não são

recomendadas para gestantes, lactantes e crianças menores de oito anos (DE REVIERS,

2013; REYBURN, 2010).

Tetraciclina e doxiciclina são ativas contra as formas assexuadas sanguíneas de

todas as espécies de Plasmodium humana. As combinações recomendadas pela OMS

são: artesunato mais tetraciclina (ou doxiciclina ou clindamicina) e quinina mais

tetraciclina (ou doxiciclina ou clindamicina) usadas como segunda linha de tratamento

da malária não complicada por P. facliparum (REYBURN, 2010). Em 2011, a FDA

aprovou uso de doxiciclina como quimioprofilático para malária por P. falciparum. Ela

é recomendada para viajantes que permanecem por um período de até quatro meses em

regiões onde o P. falciparum é resistente à cloroquina ou pirimetamina-suldoxina (TAN

et al., 2011).

Existem evidências que esses fármacos se ligam à subunidade 16S do RNA

ribossômico do apicoplasto, bloqueando a expressão de seu genoma, resultando na

distribuição de apicoplastos não funcionais aos merozoítos filhos (DAHL et al., 2006).

Page 60: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

45

1.3.5 O apicoplasto e terapia antimalárica

Plastídeos são organelas encontradas em plantas e algas, podendo ser verdes,

vermelhos, amarelos, marrons ou incolores. Os plastídeos coloridos participam do

processo fotossintético por conter pigmentos de clorofila ou carotenoides, enquanto que

os incolores são de reserva energética (MCFADDEN; ROOS, 1999). Essas organelas se

originaram a partir da endossimbiose entre um eucarioto não fotossintetizante e

procariotos semelhantes às cianobactérias atuais. As evidências que corroboram essas

suspeitas são: existência membranas duplas, DNA próprio e sistemas transcricionais e

traducionais independentes (MCFADDEN; ROOS, 1999).

Embora houvesse suspeitas da existência de plastídeos em parasitas humanos, a

evidência mais clara foi demonstrada em 1996 por McFadden et al (MCFADDEN et al.,

1996). Esses autores demonstraram que um DNA circular de 35 kb encontrado em P.

falciparum e Toxoplasma gondii pertencia a uma outra organela, que não a mitocôndria.

Eles descreveram nesses organismos uma estrutura ovoide, situada anteriormente ao

núcleo, com duas ou mais membranas e capacidade de replicação (MCFADDEN et al.,

1996). Mais tarde, essa organela foi reconhecida como um plastídeo e denominada

apicoplasto, por ser encontrada em todos os protozoários do filo Apicomplexa, exceto

Criptosporidium spp (MCFADDEN; ROOS, 1999; MCFADDEN, 2011). O

apicoplasto, diferente dos demais plastídeos, originou-se por endossimbiose secundária,

que consiste na transferência lateral entre inúmeros eucariotos durante o curso da

evolução. Nesse processo, o endossimbionte primário contendo o plastídeo é englobado

e mantido por outros eucariotos sem plastídeos (figura 9) (MCFADDEN; ROOS,

1999).

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

46

Figura 9 Esquema para a origem de todos os plastídeos por endossimbiose primária e secundária. Uma única endossimbiose entre um eucariótico heterotrófico desconhecido (cinza) e uma cianobactéria levou às três linhagens de plastídeos de origem primária (topo). Dois eventos de endossimbiose secundária envolvendo duas diferentes algas verdes e hospedeiros não relacionados levaram aos euglenídeos (azul) e cloraraquiniófitos (amarelo). Uma única endossimbiose entre uma alga vermelha e um hospedeiro heterotrófico levou a todas as algas eucarióticas remanescentes (púrpura). Perda da fotossíntese é comum em muitos dessas linhagens e, nos ciliados, a linhagem inteira não fotossintetizante. Nessas linhagens é desconhecido se os plastídeos se perderam ou se plastídeos ocultos permaneceram. Baseado em Archibald e Keeling (2002).

A evidência da ocorrência de endossimbiose secundária é corroborada pela

existência de quatro membranas, ao invés de duas resultantes da endossimbiose

primária. Todavia, a controvérsia mais difícil de resolver foi a origem do eucarioto

doador do plastídeo (MCFADDEN, 2011). Alguns autores defendiam a origem a partir

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

47

de uma alga verde (FUNES; DAVIDSON; REYES-PRIETO, 2002), enquanto outros

apostavam na endossimbiose de uma alga vermelha (WALLER et al., 2003). Estudos

realizados com Chromera velia, fotossintetizante unicelular que vive em corais, deram

fim a controvérsia (MOORE et al., 2008). A C. velia pertence ao reino

Chromoalveolata, superfilo Alveolata aos quais pertencem também os apicomplexas e

os dinoflagelados. Esses organismos têm um plastídeo fotossintético envolvido por

quatro membranas, derivado de uma alga vermelha (MCFADDEN, 2011; MOORE et

al., 2008). Foi demonstrado que o plastídeo de C. velia, o apicoplasto e o plastídeo dos

dinoflagelados compartilham o mesmo ancestral (JANOUSKOVEC et al., 2010).

Assim, o apicoplasto é resultado do englobamento de uma alga vermelha adquirida

antes dos apicomplexas e dinoflagelados se divergirem (figura 9) (JANOUSKOVEC et

al., 2010).

As funções do apicoplasto não foram ainda completamente esclarecidas.

Todavia, algumas vias metabólicas têm sido propostas e outras confirmadas, tais como:

biossíntese de ácidos graxos e de isoprenoides, síntese do heme para respiração

mitocondrial e produção de aminoácidos aromáticos (MCFADDEN; ROOS, 1999;

MCFADDEN, 2011; RALPH et al., 2004). Sejam quais forem as funções dessa

organela, o apicoplasto é indispensável para reprodução e sobrevivência do P.

falciparum (MCFADDEN, 2011; RALPH et al., 2004). Interferência farmacológica ou

genética no apicoplasto provoca a morte do parasito (MCFADDEN, 2011; RALPH et

al., 2004). Essencialmente, o apicoplasto é uma bactéria dentro de um protozoário. Por

essa razão, vários antibióticos, tais como tetraciclina, doxiciclina e clindamicina são

efetivos contra os parasitos da malária. O mecanismo de ação desses fármacos

permaneceu desconhecido por muito tempo. Atualmente, sabe-se que esses fármacos

bloqueiam a expressão do genoma do apicoplasto, resultando em parasitos com

apicoplastos inativos (DAHL et al., 2006).

Em razão de sua origem e peculiaridades metabólicas, essa organela tem se

tornado alvo promissor para identificação, desenho e produção de novos fármacos

antimaláricos específicos. Tais fármacos poderiam interferir no metabolismo do P.

falciparum sem causar efeitos tóxicos em humanos. Os alvos metabólicos mais visados

no apicoplasto são a replicação do DNA, a transcrição e processamento do RNA, a

tradução, síntese de ácidos graxos e biossíntese de isoprenoides (MCFADDEN; ROOS,

1999; MCFADDEN, 2011; RALPH et al., 2004).

Page 63: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

48

1.4 O reposicionamento in silico de fármacos para as leishmanioses e malária

A terapêutica das leishmanioses e da malária tem enfrentado graves obstáculos,

incluindo a baixa eficácia dos fármacos, a resistência dos parasitos e o alto custo dos

fármacos mais efetivos (NWAKA; HUDSON, 2006). Sendo assim, é urgente a

necessidade de melhorar os fármacos existentes e desenvolver novos fármacos que

garantam a continuidade dos programas de controle dessas endemias.

O processo de descoberta e desenvolvimento de fármacos, em geral, é lento e

muito caro (ADAMS; BRANTNER, 2006). Visando diminuir os custos e o prazo para o

licenciamento de novos fármacos, bem como melhorar sua segurança e eficiência, as

indústrias farmacêuticas e centros de pesquisa acadêmicos têm adotado a estratégia de

reposicionamento de “velhos” fármacos, dando-lhes outras aplicações (OPREA;

MESTRES, 2012; OPREA et al., 2011). A tabela 4 sumariza alguns fármacos já

reposicionados. O reposicionamento é vantajoso porque tais fármacos já estão

aprovados e, em geral, seus aspectos farmacocinéticos e farmacodinâmicos já são

conhecidos.

No que diz respeito às doenças tropicais negligenciadas o interesse das indústrias

farmacêuticas em produzir novos fármacos é menor ainda. Elas alegam que o custo para

pesquisar e desenvolver novos fármacos é alto e a recuperação do investimento e a

lucratividade são de longo prazo (EKINS et al., 2011). Nos últimos anos, entretanto,

grandes indústrias farmacêuticas, bem como a OMS têm investido milhões de dólares

no reposicionamento de fármacos para tratar doenças parasitárias (EKINS et al., 2011).

Em muitos casos, a descoberta do novo uso de um fármaco ocorreu de modo

fortuito ou inesperado. Os exemplos mais conhecidos são a talidomida, sildenafila

(viagra) , bupropiona e a fluoxetina, que atualmente apresentam novas aplicações além

daquelas para as quais foram originalmente aprovados (EKINS; WILLIAMS, 2011;

SARDANA et al., 2011). Entretanto, a farmacologia tem usado cada vez mais

ferramentas computacionais para reposicionar fármacos e utilizá-los para o tratamento

de diferentes doenças (BRAGA et al., 2014).

Page 64: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

49

Tabela 4 Fármacos reposicionados com êxito para novas indicações.

Fármaco Indicação original Nova Indicação

Amantadina Influenza Doença de Parkinson

Anfotericina B Infecções fúngicas Leishmaniose

Aspirina Dor e inflamação Antiplaquetário

Atomoxetina Antidepressivo Déficit de atenção e hiperatividade

Bromocriptina Doença de Parkinson Diabetes mellitus

Bupropiona Depressão Antitabagismo

Colchicina Gota Pericardites recorrentes

Gabapentina Epilepsia Dor neuropática

Metotrexato Câncer Artrite reumatoide, Psoríase

Miltefosina Câncer Leishmaniose

Propranolol Hipertensão Profilaxia da enxaqueca

Ácido retinoico Acne Leucemia promielocítica aguda

Ropinirole Doença de Parkinson Síndrome das pernas inquietas

Zidovudine Câncer HIV/AIDS

Adaptada de Padhy e Gupta, 2011.

A ciência farmacológica sempre dependeu da realização de testes in vitro e in

vivo para descobrir e desenvolver novos fármacos. No entanto, com o avanço da

bioinformática essas atividades foram complementadas pela análise in silico. Assim,

nasceu a farmacologia computacional, terapêutica computacional ou farmacologia in

silico (EKINS; MESTRES; TESTA, 2007). A estratégia in silico utiliza softwares que

capturam, analisam e integram dados biológicos e médicos disponíveis nas variadas

bases de dados de acesso livre da internet ou de outras fontes. Utilizando essa

abordagem é possível construir modelos tridimensionais virtuais ou simulações que

Page 65: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

50

permitem ao pesquisador fazer previsões, sugerir hipótese e contribuir para o avanço na

área médica e farmacêutica, incluindo o reposicionamento de fármacos (ANDRADE;

BRAGA, 2014; EKINS; MESTRES; TESTA, 2007).

A bioinformática é considerada ferramenta crucial para a análise genética e

bioquímica com vistas à descoberta, desenho e validação de novos fármacos contra

diversos patógenos. Utilizando essa ciência é possível tornar mais rápido o processo de

descoberta de novos fármacos, identificando os melhores alvos e simulando

virtualmente a interação entre o fármaco e seu alvo (BRAGA et al., 2014; EKINS;

MESTRES; TESTA, 2007). Além disso, é possível identificar um inibidor específico de

uma molécula chave realizando uma busca nas bases de dados de fármacos existentes na

internet, tais como Drug Bank e Therapeutic Targets. Essas bases de dados

disponibilizam milhares de compostos aprovados ou em fase de testes e os alvos

correspondentes ou hipotéticos. A natureza química do alvo pode ser um lipídio, um

carboidrato ou ácido nucléico, todavia os melhores alvos são aqueles de natureza

proteica (OVERINGTON; AL-LAZIKANI; HOPKINS, 2006). A proteína, por sua vez,

pode ser um receptor, um canal ou uma enzima.

O conhecimento de genômica e de metabolômica de parasitos de interesse

médico aumentou muito, fornecendo enorme número de moléculas que podem ser

usadas como alvos quimioterápicos. O desafio da bioinformática é reduzir esse número

e criar uma lista menor de alvos que são essenciais para sobrevivência do estádio do

parasito que causa a doença em humanos (CROWTHER et al., 2010; MAGARIÑOS et

al., 2012). Além disso, é possível comparar as sequências por alinhamento e verificar a

semelhança entre o alvo desejado e o peptídeo correspondente presente no hospedeiro.

Essa busca por similaridade do alvo permite identificar novos usos para velhos

fármacos (OPREA; MESTRES, 2012).

Vários parasitos de interesse médico já tiveram seus genomas sequenciados,

incluindo Trypanosoma cruzi, Plasmodium spp, Leishmania spp, Schistosoma mansoni,

dentre outros. As informações moleculares sobre esses parasitos encontram-se

disponíveis em bases de dados online. Acessando essas bases de dados é possível

identificar o gene de interesse, o peptídeo correspondente, a via metabólica envolvida e

compará-los com outros organismos. A partir daí é possível simular a ação de

inibidores, desenhar novo inibidor ou reposicionar um fármaco (BRAGA et al., 2014;

MAGARIÑOS et al., 2012).

Page 66: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

51

O processo de investigação de novos fármacos é altamente complexo e

dispendioso que demandam esforços integrados em muitos aspectos importantes

envolvendo inovação, conhecimento, informação e tecnologia. Por isso, compensa

realizar a análise in silico de proteínas-chaves, como as enzimas do metabolismo

energético e do metabolismo do apicoplasto que possam ser alvos de inibidores

seletivos. Essa análise considera essencialidade, drogabilidade, ensaiabilidade,

especificidade/seletividade e importância para o estádio do ciclo de vida do patógeno de

relevância para a saúde humana (CROWTHER et al., 2010).

Page 67: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

52

2 JUSTIFICATIVA

As leishmanioses e a malária são graves problemas de saúde pública em dezenas

de países, incluindo o Brasil. Juntas, essas parasitoses são responsáveis por milhões de

casos, que resultam em deformações, incapacitações e mortes (HOTEZ et al., 2014;

WHO, 2014). Infelizmente, a quimioterapia é praticamente a única forma efetiva de

reduzir a morbidade e a mortalidades provocadas por essas parasitoses. Todavia, o alto

custo, a toxicidade e especialmente a resistência dos parasitos aos principais fármacos

têm sido os maiores desafios enfrentados pela quimioterapia dessas parasitoses

(NWAKA; HUDSON, 2006).

Diante disso, é urgente a necessidade de se desenvolver novos fármacos que

contornem esses problemas. Entretanto, as indústrias farmacêuticas não tem interesse

em investir na pesquisa e na produção de novos fármacos porque os custos são elevados

e o retorno é pouco significativo (ASHBURN; THOR, 2004).

Assim, o reposicionamento de fármacos tem se mostrado uma estratégia valiosa

no sentido de diminuir o tempo e os custos para desenvolvimento de novos fármacos.

No presente trabalho, foi utilizada a estratégia de reposicionamento in silico que

consiste na busca de fármacos aprovados os quais atuam seletivamente sobre alvos

específicos do metabolismo energético de Leishmania spp e do metabolismo do

apicoplasto de Plasmodium falciparum.

A busca por tais fármacos é mediada por excelência devido à existência de bases

de dados sobre fármacos que disponibilizam ferramentas que permitem encontrar

inibidores baseados na similaridade dos alvos. As bases de dados Therapeutic Targets

(TT), Drug Bank, STITCH e PubChem disponibilizam mais de 28 mil fármacos, sendo

que quase quatro mil são aprovados para uso em humanos. Além disso, essas bases de

dados fornecem informações sobre os alvos, os testes realizados, a toxicidade e outros

dados farmacológicos.

Page 68: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

53

3 OBJETIVOS

3.1 Geral

Identificar fármacos aprovados que atuam contra enzimas do metabolismo

energético de Leishmania spp e contra alvos moleculares do metabolismo do

apicoplasto de P. falciparum por meio de uma busca sistemática em bases de dados

sobre fármacos disponíveis.

3.2 Específicos

Identificar na base de dados TDR Targets cada um dos genes

codificadores das enzimas do metabolismo energético, usando como

referência o genoma de Leishmania major;

Obter na base de dados TriTrypDB a sequência peptídica de cada uma

das enzimas do metabolismo energético;

Identificar fármacos anti-leishmania aprovados nas bases de dados

DrugBank e TTD por similaridade do alvo;

Identificar na base dados Gene DB os genes envolvidos no metabolismo

geral do apicoplasto de Plasmodium falciparum;

Obter na base de dados Gene DB e PlasmoDB a sequência peptídica de

cada das proteínas codificadas pelo genoma do apicoplasto;

Buscar nas bases de dados DrugBank, TTD e STITCH fármacos

aprovados que atuam especificamente no apicoplasto de P. falciparum;

Buscar informações adicionais sobre os fármacos aprovados na base de

dados Pubchem.

Page 69: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

54

4 MÉTODO(S)

4.1 Estratégia para identificação de potenciais alvos terapêuticos do metabolismo energético de Leishmania

A lista dos alvos hipotéticos foi obtida a partir da base de dados TDR Targets

(http://tdrtargets.org). A base de dados TDR Targets é um projeto da Organização

Mundial da Saúde que prioriza doenças tropicais negligenciadas. Seus dados são de

livre acesso e fornecem informações genômicas de espécies específicas que permitem

ao usuário identificar e priorizar alvos de interesse (ASLETT et al., 2010;

MAGARIÑOS et al., 2012). Na página inicial selecionamos targets, em seguida, na

primeira aba, selecionamos o patógeno de interesse, L. major. Na aba seguinte, foram

fornecidos filtros baseados em: Name/Annotation, Features, Structures, Expression,

Antigenicity, Phylogenetic distribution, Essentiality, Validation data, Druggability,

Assayability e Bibliographic references. Entretanto, limitamos os filtros para aumentar a

chance de nossa busca retornar resultado esperados. Mesmo assim, nem todos os genes

relacionados ao metabolismo energético foram identificados nessa base de dados. Desse

modo, abrimos a aba Name/Annotation e selecionamos em KEGG high-level pathway a

nossa via metabólica de interesse: metabolismo energético. Em seguida abrimos o filtro

Druggability e selecionamos Druggability index ≥ 0,2 (varia de 0 a 1). A página salvou

automaticamente a pesquisa em my history e disponibilizou os dados em uma tabela

para upload.

Utilizando o nome de cada gene obtido na base de dados TDR Targets,

interrogamos a base de dados TriTrypDB (http://tritrypdb.org/tritrypdb/). Essa base de

dados integra informações genômicas de patógenos da família Trypanosomatidae que

incluem os gêneros Leishmania e Trypanosoma (WISHART et al., 2006). Na página

inicial da TriTrypDB inserimos o nome do gene na caixa Gene ID e clicamos em

search. Conferimos nome e produto de cada gene e extraímos a sequência peptídica

prevista para cada um deles. Nos casos em que o gene codificador de uma enzima

conhecida não fora identificado pela base de dados TDR Targets a busca era feita com o

nome da enzima inserido na caixa Gene Text Search. Cada um dos peptídeos previstos

de Leishmania foi tratado como potencial alvo e sua sequência foi usada para interrogar

duas bases de dados disponíveis na internet que nos forneceram informações básicas

Page 70: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

55

sobre os fármacos, seus alvos primários ou hipotéticos: DrugBank (www.drugbank.ca/),

Therapeutic Target Database (bidd.nus.edu.sg/group/TTD/ttd.asp).

A base de dados DrugBank é de livre acesso e oferece aos seus usuários

informações sobre fármacos (química, farmacêutica e farmacológica) e seus alvos

(sequência, estrutura e via metabólica). Atualmente base contém, aproximadamente,

8.000 fármacos, incluindo 1.700 aprovados pelo FDA (Food and Drug Administration)

e 6.000 fármacos experimentais (LAW et al., 2014; WISHART et al., 2006). A base de

dados TTD contém 2.360 alvos, incluindo 388 bem sucedidos, 461 em triagem clínica,

44 descontinuados e 1.331 alvos em investigação. Quanto aos fármacos são 20.667,

incluindo 2.003 aprovados, 3.147 em triagem clínica, 14.853 fármacos experimentais.

Além disso, fornece informações sobre alvos, tais como sequência, função, via

metabólica, validação e estrutura 3D através de links com outras importantes bases de

dados (CHEN; JI; CHEN, 2002; QIN et al., 2013; ZHU et al., 2012)

Nossa estratégia de busca nas duas bases de dados foi baseada no princípio da

similaridade do alvo, no qual cada comando (enzimas do metabolismo energético de

Leishmania) era comparado por similaridade com todos os alvos de fármacos

conhecidos contidos dentro de cada uma das bases de dados citadas anteriormente. No

caso onde foram identificados alvos de fármacos homólogos, todas as proteínas com um

output Expectation value (E-value) menor do que 1e5 para as três bases de dados foram

listados como potenciais alvos (CROWTHER et al., 2010). Dessa lista, selecionamos

aqueles que interagem com compostos já aprovados para uso clínico em humanos.

Informações adicionais sobre cada um das fármacos foram obtidas na base de dados

PubChem (https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/).

Na base de dados DrugBank escolhemos a opção search, usando sequence

search da barra do menu. A sequência da proteína inquerida foi então introduzida no

formato FASTA e os parâmetros de busca usados foram selecionados automaticamente.

Na página inicial de acesso, selecionamos a opção target similarity search. A

sequência do peptídeo desejado foi introduzida, no formato FASTA, clicando em

seguida no ícone search. Quando os resultados da busca eram positivos, apenas os alvos

com um Expectation value (E-value) menores do que 1e5 foram considerados para

análises adicionais.

Na base de dados PubChem Database escolhemos a aba compound, inserindo

cada uma das fármacos identificadas nas bases de dados Drugbank e TTD citadas

Page 71: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

56

anteriormente. Aqui, o objetivo foi obter informações detalhadas sobre cada composto,

tais como: farmacologia, patentes, propriedades físicas e químicas, além de resultados

de testes biológicos e interações biológicas e vias metabólicas.

Após o trabalho de busca de cada uma das enzimas do metabolismo energético de

Leishmania nas duas bases de dados, todas as proteínas com resultados negativos foram

descartadas, enquanto que os demais alvos previstos para cada base de dados foram

compilados para planilha de alvos obtida no TDR Targets. Os seguintes parâmetros

associados com cada hit positivo foi introduzido na planilha Homologous target(s)

name(s) and target ID(s) (DrugBank and TTD), E-value(s) (DrugBank and TTD), Drug

type(s) (DrugBank, and TTD), Drug name(s) (DrugBank and TTD), Drug ID(s)

(DrugBank) and Toxicity (DrugBank), Drug ID(s) e CID (Pubchem).

Além das informações fornecidas pela base de dados PubChen, buscamos na

literatura, usando PubMED, fármacos aprovadas que nunca foram testadas contra

Leishmania. Interrogamos todas os fármacos associadas com cada hit positivo da nossa

lista. Nossa definição de “avaliação” envolvia testes in vivo e/ou in vitro e quaisquer

espécies de parasito da leishmaniose. Portanto, se uma dado fármaco era observado

como “não testado” significava que não havia publicação e assim um dos seguintes

detalhes de busca era introduzido no PubMED: 1. (drug name [MeSH Terms] OR drug

name [All Fields]) AND (Leishmania [- MeSH Terms] OR Leishmania [All Fields]) and

2. (drug name [MeSH Terms] OR drug name [All Fields]) AND ( Leishmaniasis [MeSH

Terms] OR Leishmaniasis [All Fields]), ou que o(s) estudo(s) recuperado(s) foi(ram)

insuficientemente informativos para inferir a potencial utilidade da fármaco como

leishmanicida.

4.2 Estratégia para identificação de potenciais alvos terapêuticos do metabolismo do apicoplasto de Plasmodium falciparum

Uma lista de proteínas alvos do apicoplasto foi previamente publicada por Ralph

et al, 2004 (RALPH et al., 2004). Para o presente trabalho, essa lista foi consultada e

cada proteína foi transportada para uma planilha. As proteínas foram agrupadas em

colunas, dependendo de sua função prevista e de acordo com a classificação disponível

na página da internet Malaria Parasite Metabolic Pathways

(http://priweb.cc.huji.ac.il/malaria/). Seus códigos de identificação (ID) foram então

Page 72: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

57

recuperados da base dados do P. falciparum do GeneDB e inserido numa coluna

correspondente. Nós checamos a anotação de cada peptídeo previsto e o corrigimos,

quando necessário, de acordo com as anotações atualizadas da base de dados GeneDB.

Em seguida, recuperamos cada sequência de aminoácido prevista e a copiamos para

uma coluna correspondente para cada proteína.

Cada uma das sequências peptídicas previstas de P. falciparum da lista

compilada acima foi tratada como alvo de fármaco hipotético e consequentemente

usado para interrogar três diferentes bases de dados públicas disponíveis na internet.

Essas bases nos forneceram informações básicas dos fármacos e de seus alvos primários

ou hipotéticos: DrugBank (LAW et al., 2014) STITCH (KUHN et al., 2011) e

Therapeutic Target Database (TTD) (QIN et al., 2013). Nossa estratégia de busca nas

três bases de dados foi baseada no princípio da similaridade do alvo, no qual cada

consulta (proteína do apicoplasto de P. falciparum) era comparada por similaridade com

todos os alvos de fármacos conhecidos contidos em cada uma das bases de dados. Nos

casos em que foram identificados alvos de fármacos homólogos, todas as proteínas com

um Expectation value de saída (E-value) menor do que 1e-5 para DrugBank e TTD

foram listados como alvos potenciais. Para a da base dados STICH, uma pontuação

(score) de 0 a 1.0 foi atribuída, ao invés de um Expectation value. Desse modo, apenas

proteínas com uma pontuação acima de 0.7 foram consideradas como alvo. Nós

filtramos um pouco mais todos os alvos positivamente identificados, incluindo numa

lista apenas aquelas proteínas que indicaram interagir com compostos aprovados para

uso clínico em humanos.

Comandos para a base de dados DrugBank

Na página inicial, na opção “search”, selecionamos “sequence search”. Em

seguida, introduzimos a sequência proteica a ser consultada no formato FASTA,

deixando os parâmetros de busca padrão adotados pela base de dados.

Page 73: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

58

Comandos para a base de dados STITCH

Na página inicial, selecionamos a opção ‘‘protein sequence’’. A sequência

peptídica a ser consultada foi então introduzida no formato FASTA e em seguida

clicamos em “Go”. Foram considerados para análise apenas alvos positivos com

pontuação acima de 0.7.

Comandos para a base de dados Therapeutic Targets Database

Na página inicial, foi selecionada a opção ‘‘target similarity search’’. A

sequência proteica a ser consultada foi introduzida na caixa do menu de busca e a opção

“search” foi acionada. Quando positivos, somente resultados com E-value menores do

que 1e-5 foram considerados para análise.

A compilação da Lista de Alvos Previstos

Após submeter cada uma das sequências proteicas de P. falciparum nas três

bases de dados, todos os resultados negativos foram excluídos, enquanto que os alvos

previstos de cada base de dados foram compilados em uma planilha Excel,

posteriormente chamada de lista de alvos previstos. Os seguintes parâmetros associados

com cada “hit” positivo foram colocados nessa planilha: Homologous target(s) name(s)

e target ID(s) (DrugBank and TTD), E-value(s) ou score(s) (DrugBank, STITCH e

TTD), Drug type(s) (DrugBank, STITCH e TTD), Drug name(s), (DrugBank, STITCH e

TTD), Drug ID(s) (DrugBank) e Toxicity (DrugBank). Cada um dos hits positivos foi

mais uma vez interrogado na base de dados TDR targets para seus índices de

drogabilidade, que é uma estimativa da chance de uma proteína ser drogável. Esse

índice varia entre 0 e 1, com o valor de aproximadamente 0,2 correspondendo à média

de drogabilidade. Para fazer isso, clicamos no item targets no menu inicial da página da

base de dados, selecionamos Plasmodium falciparum da lista de patógenos . Em

seguida, filtramos os alvos introduzindo o identificador de cada proteína na caixa

correspondente nas opções de busca Filter targets based on. Após clicar no ícone

search a variável acima foi recuperada e registrada na lista de alvos previstos.

Page 74: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

59

Lista de fármacos ainda não testados contra malária

Finalmente, realizamos uma busca no PubMED por fármacos aprovados que

nunca foram avaliados contra os parasitos da malária, consultando todos os fármacos

associados com cada “hit” positivo da lista. Nossa definição de avaliação envolvia testes

in vivo e in vitro em qualquer espécie de Plasmodium. Portanto, se um dado fármaco era

tido como não testado, significava que não havia registro de publicação após entrar com

os seguintes detalhes de busca no PubMED 1. (drug name [MeSH Terms] OR drug

name [All Fields]) AND (plasmodium [- MeSH Terms] OR plasmodium [All Fields])

and 2. (drug name [MeSH Terms] OR drug name [All Fields]) AND ( malária [MeSH

Terms] OR malária [All Fields]), ou que o estudo (s) retornado foi (ram)

insuficientemente(s) informativo (s) para inferir o potencial do fármaco como

antimalárico.

Page 75: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

60

5 RESULTADOS

5.1 Artigo 1 – In Silico Search of Energy Metabolism Inhibitors for

Alternative Leishmaniasis Treatments

5.2 Artigo 2 – A Systematic in Silico Search for Target Similarity

Identifies Several Approved Drugs with Potential Activity against the

Plasmodium falciparum Apicoplast

Page 76: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

Research ArticleIn Silico Search of Energy Metabolism Inhibitors for AlternativeLeishmaniasis Treatments

Lourival A. Silva,1,2 Marina C. Vinaud,2,3 Ana Maria Castro,1,3

Pedro Vítor L. Cravo,2,3 and José Clecildo B. Bezerra2,3

1 Federal Institute of Education, Science and Technology of Goiania, 76300000 Ceres, GO, Brazil2 Goias Network of Research in Biotechnology and Metabolomics of the Host-Parasite Relationship,Goias Research Support Foundation (FAPEG), 74605050 Goiania, GO, Brazil

3 Institute of Tropical Pathology and Public Health, Federal University of Goias, 74605050 Goiania, GO, Brazil

Correspondence should be addressed to Pedro Vıtor L. Cravo; [email protected]

Received 5 July 2014; Revised 8 August 2014; Accepted 14 September 2014

Academic Editor: Suresh Sundaram

Copyright © Lourival A. Silva et al. This is an open access article distributed under the Creative Commons Attribution License,which permits unrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original work is properly cited.

Leishmaniasis is a complex disease that affects mammals and is caused by approximately 20 distinct protozoa from the genusLeishmania. Leishmaniasis is an endemic disease that exerts a large socioeconomic impact on poor and developing countries.The current treatment for leishmaniasis is complex, expensive, and poorly efficacious. Thus, there is an urgent need to developmore selective, less expensive new drugs. The energy metabolism pathways of Leishmania include several interesting targets forspecific inhibitors. In the present study, we sought to establish which energymetabolism enzymes in Leishmania could be targets forinhibitors that have already been approved for the treatment of other diseases. We were able to identify 94 genes and 93 Leishmaniaenergy metabolism targets. Using each gene’s designation as a search criterion in the TriTrypDB database, we located the predictedpeptide sequences, which in turn were used to interrogate the DrugBank, Therapeutic Target Database (TTD), and PubChemdatabases.We identified 44 putative targets of which 11 are predicted to be amenable to inhibition by drugs which have already beenapproved for use in humans for 11 of these targets. We propose that these drugs should be experimentally tested and potentiallyused in the treatment of leishmaniasis.

1. Introduction

Leishmaniasis affects 12 million people worldwide, andapproximately 350 million people from 98 countries are atrisk of contracting the disease [1]. Leishmaniasis is caused byapproximately 20 distinct species of Leishmania and is trans-mitted by two genera of phlebotomine sandflies: Phlebotomusin the Old World and Lutzomyia in the New World. From aclinical point of view, leishmaniasis is classified as cutaneous,mucocutaneous, or visceral; the latter is a severe form of thedisease that becomes fatal if left untreated [1, 2]. As effectivevaccines are unfortunately not available for either animals orhumans, prevention is restricted to the combat of vectors,control of reservoirs, and treatment of affected individuals[3, 4].

The drugs currently approved for the treatment of leish-maniasis are directed at various molecular targets. Pentava-lent antimonials interfere with the synthesis of DNA, 𝛽-oxidation of fatty acids, phosphorylation of ADP, and inhi-bition of glycolysis. Amphotericin B exhibits a high affinityfor ergosterol, which is an important component of the cellmembrane in fungi and Leishmania. Miltefosine inducesapoptosis as a consequence of its intracellular accumulation.Although paromomycin inhibits cytochrome C in Candidakrusei, its mechanism of action in Leishmania has not yetbeen elucidated; it is believed that its site of action is in themitochondria, where it possibly interferes with the synthesisof proteins by hindering the translocation and recyclingof ribosomal subunits. Pentamidine appears to reduce themembrane potential and inhibits the enzyme topoisomerase

Hindawi Publishing CorporationBioMed Research InternationalArticle ID 965725

61

ARTIGO 1

Page 77: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

2 BioMed Research International

in the mitochondria [5]. However, all of these drugs exhibitserious problems, including drug resistance (antimonials),severe side effects (amphotericin and miltefosine), and aprohibitively high cost for use in a public healthcare setting(paromomycin and miltefosine) [6–8]. For these reasons,there is an urgent need for new drugs against leishmaniasis.

Although drugs may target lipids, nucleic acids, orpolysaccharides, the drugs with the greatest efficacy aredirected against protein targets [9]. The energy metabolismpathways of Leishmania include several protein targets thatare interesting for the development or testing of new drugs[10, 11]. Glycosomes (similar to mammal peroxisomes) andmitochondria are the main sites of energy production inthe promastigote forms of Leishmania. The glycosome isthe site of glycolysis, which consists of seven reactions thatbreak glucose down into two pyruvate molecules, while themitochondria are the sites of the Krebs cycle and oxidativephosphorylation. In addition to glucose, amino acids are alsoimportant sources of energy.The final products of promastig-ote metabolism are carbon dioxide, succinate, pyruvate, D-lactate, alanine, ammonia, andurea [10].The inhibition of oneor more enzymes at each of these metabolic steps representsprogress in the elimination of the parasite.

Prior to targeting a metabolic pathway, its importancefor both the parasite and the host must be taken intoconsideration. The selectivity of inhibitors is also impor-tant, that is, how much they are able to inhibit a para-sitic enzyme without causing any damage to the host [11].Several enzymes in the Leishmania glycolytic pathway havebeen indicated as interesting therapeutic targets, includinghexokinase, fructose-1,6-bisphosphate aldolase, triosephos-phate isomerase, glyceraldehyde-3-phosphate dehydroge-nase, phosphoglycerate kinase, pyruvate kinase, and glycerol-3-phosphate dehydrogenase [11]. However, the followingquestion remains unanswered: which drugs inhibit theseor other enzymes involved in the energy metabolism ofLeishmania?

In general, the strategy for drug development includesboth de novo discovery and the improvement of inhibitorsof individually validated targets. Although this strategy isefficient for the development of new drugs against leishma-niasis, it is time-consuming and expensive. One interest-ing alternative approach is a strategy commonly known asdrug repositioning. Drug repositioning makes use of knowngenomic data to search for drugs already approved for clinicaluse in humans for other diseases and for which the drugtargets are already known. This approach uses the principleof “target homology” and can be put in practice using bioin-formatics drug-target repositories, such as DrugBank [12]andTherapeutic Targets Database [13]. Such chemogenomicsstrategies considerably increase the likelihood of success indrug discovery, cutting down the costs and time spent inthe process of research and development, in comparisonwith “traditional” methodologies. For this reason, pharmaindustries are increasingly using drug repositioning in orderto find alternative applications for their drugs, reducingtime and costs involved in the process of developing newcompounds [14, 15].

In the present study, we used the concept of drugrepositioning to identify new drugs with potential activityagainst Leishmania parasites. We first used genomic datato compile a list of energy metabolism drug targets inLeishmania of possible therapeutic interest. Each of thesepotential targets was then used as query in databases thatinclude information on thousands of therapeutic compoundsactive against specific protein targets, themetabolic pathwaysthat are involved, and the diseases for which they have beentested or for which clinical tests are currently in progress[12, 13, 16–19].

2. Materials and Methods

2.1. Compilation of a List of Potential Leishmania EnergyMetabolismTargets. A list of hypothetic targets was extractedfrom the database TDR Targets (http://tdrtargets.org). TDRTargets is a project of the World Health Organization thatprioritizes neglected tropical diseases.The database has openaccess and provides genomic information on specific speciesthat allows users to identify and prioritize targets of interest[15, 20]. We selected targets on the first page, and in thefirst field, we selected L. major as the pathogenic speciesof interest. The next field provided a filter based on thefollowing: Name/Annotation, Features, Structures, Expres-sion, Antigenicity, Phylogenetic distribution, Essentiality,Validation data, Druggability, Assayability, and Bibliographicreferences. We decided to limit the number of filters toincrease the odds that the search would produce results.Despite this, some of the genes related to Leishmania energymetabolism could not be found in the TDR Targets database.For this reason, we expanded the filter Name/Annotation andchose the option “Energy metabolism” in the field KEGGhigh-level pathway. Next, we expanded the filter Druggabilityand selected a druggability evidence range (which varies fromzero to one) ≥0.2 in the optionDruggability index.This querywas automatically saved in the my history section; the resultswere organized into a table that could be uploaded.

2.2. Identification of Potential Drug Targets in AvailableDrug Databases: General Strategy. We ran searches of thename of each gene identified as TDR Targets in thedatabase TriTrypDB (http://tritrypdb.org/tritrypdb/), whichcontains genomic information on pathogens of the familyTrypanosomatidae, to which the genera Leishmania andTrypanosoma belong [21]. In the TriTrypDB homepage,we wrote the names of the genes in the field Gene IDand selected the search option. We checked each gene’sname and product and extracted their predicted peptidesequences. In the cases of known enzymes whose encodinggenes could not be identified among the TDR Targets, wewrote the enzyme name in the field Gene Text Search torun the search. Every Leishmania predicted peptide wasconsidered as a potential target, and the sequences wereused to run searches in the online databases DrugBank(http://www.drugbank.ca/) andTherapeutic Target Database(TTD) (http://bidd.nus.edu.sg/group/TTD/ttd.asp), which

62

Page 78: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

BioMed Research International 3

provide basic information on drugs and their primary orhypothetical targets.

DrugBank is an open-access database that provides userswith information on drugs (chemical, pharmaceutical, andpharmacological data) and their targets (sequence, structure,and metabolic pathway). The database currently containsdata on approximately 8,000 agents, including 1,700 drugsalready approved by the FDA (Food and Drug Administra-tion) and 6,000 experimental drugs [12, 17, 22]. The TTDstores information on 2,400 targets and approximately 21,000drugs, of which 2,000 are already approved and 460 arecurrently undergoing clinical testing. In addition, it providesinformation on targets, such as sequence, function,metabolicpathway, and three-dimensional structure, through links toother relevant databases [13, 18, 19].

In both databases, our search strategy was based on thetarget-similarity principle, whereby each command (energymetabolism enzymes in Leishmania) was compared by simi-larity to all known drug targets included in all of the above-mentioned databases. Whenever homologous drug targetswere identified, all of the proteins with an output expectationvalue (𝐸-value) less than 1𝐸 − 5 relative to all three databaseswere included in the list of potential targets [14]. From thislist, we selected the targets that interact with compounds thatare already approved for clinical use in humans. Additionalinformation on each drug was obtained from the PubChemdatabase (https://pubchem.ncbi.nlm.nih.gov/).

2.3. Compilation of a List of Predicted Targets. Followingthe search of all of the enzymes involved in Leishmaniaenergy metabolism in the two databases, all of the proteinsfor which the search results were negative were discarded.The remaining predicted targets from each database werecompiled for the target spreadsheet provided by the TDRTar-gets. The following parameters associated with each positivehit were introduced in the spreadsheet: “Homologous tar-get(s) name(s) and target ID(s)” (DrugBank and TTD), “𝐸-value(s)” (DrugBank and TTD), “Drug type(s)” (DrugBankand TTD), “Drug name(s)” (DrugBank and TTD), “DrugID(s)” (DrugBank), “Toxicity” (DrugBank), and Drug ID(s)and CID (PubChem).

2.4. List of Drugs for In Vitro Tests against Leishmania spp.In addition to the information gathered from the PubChemdatabase, we performed a literature search of the PubMeddatabase of approved drugs that have not yet been testedagainst Leishmania. We searched for all of the drugs asso-ciated with each positive hit on our list. Our definition of“test” included in vivo and/or in vitro tests and any speciesof Leishmania. Drugs were classified as “untested” when norelated publication could be found. In these cases, one ofthe following search terms was introduced in PubMed: (1)(“drug name”[MeSH Terms] OR “drug name”[All Fields])AND (“Leishmania”[-MeSH Terms] OR “Leishmania”[AllFields]) and (2) (“drug name”[MeSH Terms] OR “drugname”[All Fields]) AND (“Leishmaniasis”[MeSH Terms] OR“Leishmaniasis”[All Fields]). Drugs were also classified as“untested” when the information provided by the located

94 Leishmania energymetabolism targets

94 peptide sequences

44 positive targets

11 remaining targets

11 targets capable ofinteracting with 15 drugsthat have been approved

33 discarded targets

but not yet testedagainst Leishmania

Figure 1: Flowchart depicting the overall strategy and results of thiswork.

study(ies) was insufficient to infer the potential usefulness ofthe drug as a leishmanicidal agent.

3. Results

3.1. Compilation of a List of Predicted Targets. To clarify theprocedure we used for the identification and selection of theenergy metabolism targets, all of the steps are depicted inFigure 1. We identified 94 genes associated with the energyof Leishmania. All of the products of these genes wereconsidered as potential therapeutic targets. The predictedamino acid sequence of all these peptides was searched basedon target similarity in the databases TTD and DrugBank.

A list of 44 positive hits (approximately 47% of thepredicted peptides corresponding to Leishmania energymetabolism) was generated. Two databases were used toavoid missing important targets because the informationthey contained on drug targets was not the same (Figure 1).We identified 26 predicted targets in TTD, four of whichappeared only in this database, and 40 predicted targets in theDrugBank database, 14 of which were exclusive to it. Twelveof the targets are enzymes that participate in glycolysis and/orthe Krebs cycle, 13 participate in oxidative phosphorylation,and 11 participate in amino acid metabolism.

From the list of positive hits, we selected targets thathad been previously tested in any organism and that had acorresponding commercially available drug. Detailed infor-mation on these targets and the corresponding compounds isprovided in Table 1.

3.2. Untested Drugs. To establish which target-related drugshad been previously tested against leishmaniasis, we per-formed a literature search in the PubMed database, as

63

Page 79: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

4 BioMed Research International

Table 1: New drug-target associations disclosed in the present study.

Drug (brand names) Drug category(ies) Toxicity Leishmania target(s) ID Identity to (𝐸-value) TDRTdruggability

Lonidamine(Doridamina)

Anticancer,antitrypanosomal NA Hexokinase, putative

LbrM.21.0310Hexokinase D(3𝐸 − 54) NA

POLYSIN Antiprotozoal NAATP-dependentphosphofructokinaseLbrM.29.2480

Pyrophosphate-dependent

phosphofructokinase(2.00𝐸 − 06)

NA

Saframycin A Anticancer NA

Glyceraldehyde3-phosphatedehydrogenaseLbrM.30.2950

Glyceraldehyde3-phosphate

dehydrogenase, muscle2𝐸 − 91

NA

NadideChagas disease,

parasitic diseases, andsleeping sickness

No reports of overdose;however, high doses ofNADH (10mg a day ormore) may causejitteriness, anxiety, andinsomnia

Glycerol-3-phosphatedehydrogenaseLbrM.10.0640

Glycerol-3-phosphatedehydrogenase [NAD+],

cytoplasmic2𝐸 − 31

0.2

Sulfacetamide;sulfanilamide;sulfoxone

Bacterial infections

Oral LD50 mouse:16500mg/kg. Side effectsinclude moderate tosevere erythema(redness) and moderateedema (raised skin),nausea, vomiting,headache, dizziness, andtiredness. Higherexposure causesunconsciousness

Phosphomannoseisomerase (PMI)LbrM.32.1750

Mannose-6-phosphateisomerase3𝐸 − 59

0.6

Morantel tartrate,oxantel pamoate, andthiabendazole

Helicobacter pyloriinfection,Maturegastrointestinal

nematode infections,Trichuris trichiura

infection

Overdosage may beassociated with transientdisturbances of visionand psychic alterations

NADH-dependentfumarate reductaseLbrM.34.0820

Fumarate reductaseflavoprotein subunit2.00𝐸 − 13

0.5

CEPHARANTHINE;CONESSINE

Africantrypanosomiasis;Chagas disease;

Leishmania infections;parasitic diseases;

NATrypanothionereductaseLmjF05.0350

Glutathione reductase,mitochondrial6𝐸 − 65

NA

Aciglut, Glusate,Glutacid, Glutamicol,Glutamidex,Glutaminol, andGlutaton

Antibacterial;antitrypanosomal

Glutamate causesneuronal damage andeventual cell death,particularly when theNMDA receptors areactivated. High dosagesof glutamic acid mayinclude symptoms suchas headaches andneurological problems

Aspartateaminotransferase,putative LbrM.24.0370

Aspartateaminotransferase,mitochondrial8𝐸 − 89

0.3

2-Oxopropanoic acid,pyroracemic acid, andacetylformic acid

Bacterial infections Pyruvate kinaseLbrM.34.0010

Pyruvate kinase1.00𝐸 − 117

NA

Succinic acid(Katasuccin, Kyselinajantarova)

NA Oral rat LD50:2260mg/kg

SuccinatedehydrogenaseLmjF15.0990

Succinate dehydrogenase[ubiquinone] iron-sulfursubunit, mitochondrial2𝐸 − 28

NA

64

Page 80: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

BioMed Research International 5

Table 1: Continued.

Drug (brand names) Drug category(ies) Toxicity Leishmania target(s) ID Identity to (𝐸-value) TDRTdruggability

Adenovite,Cardiomone,Lycedan, My-B-Den,Phosaden, andPhosphaden

NA NAAcetyl-coenzyme Asynthetase, putativeLbrM.23.0580

Acetyl-coenzyme Asynthetase, cytoplasmic3𝐸 − 159

0.2

described above. We found that only one of the target-relatedcompounds had been previously tested against leishmaniasis.

4. Discussion

The aim of the present study was to identify drugs thatare specifically active against Leishmania energy metabolismenzymes and have been previously tested against nonparasiticdiseases or other human parasitic diseases. Below, we discussthe identified drugs and their effects on Leishmania energymetabolism.

Lonidamine (Doridamina) (LND, (1-[(2,4-dichloro-phenyl)methyl]-1H-indazole-3-carboxylic acid) was devel-oped as an antispermatogenic agent that proved to be effectiveagainst cells with high metabolic activity, such as cancerand protozoan cells [23, 24]. In tumor cells, LND impairsglycolysis and lactate production by inhibitingmitochondrialhexokinase [23]. This inhibition was achieved with a lethaldose (LD50) of ∼260𝜇M and ∼80𝜇M in L. mexicanapromastigote forms and Trypanosoma cruzi epimastigoteforms, respectively. The mechanism of action of LND wasattributed to inhibition of the energy metabolism [23]. InTrypanosoma brucei, which causes African trypanosomiasis,LND inhibits the enzyme hexokinase in the procyclic formsof the parasite, indicating that hexokinase is a relevanttherapeutic target for LND [25].

Nadide has been approved for the treatment of Parkin-son’s disease, Alzheimer’s disease, and cardiovascular dis-eases (DrugBank data). Recent studies on breast cancerand longevity have revealed the importance of this smallmolecule. Nadide is the commercial form of the NADHmolecule that living organisms produce through the reduc-tion of nicotinamide adenine dinucleotide (NAD).

Appreciation of the importance of this small moleculehas greatly increased since it was discovered at the beginningof the 20th century. The best-known role of NAD is as anelectron carrier in oxidation-reduction reactions. However,several other functions have been attributed to it, includingsignal transduction and protein and DNA modification [26].Recently, [27] reported that NAD+ homeostasis is crucialfor Leishmania biology and virulence. The authors showedthat nicotinamidase, which catalyzes the conversion of nicoti-namide into nicotinic acid, is the key enzyme for the produc-tion of NAD+ from its precursors.Interestingly, the involved

precursors (nicotinamide, nicotinic acid, and nicotinamideriboside) are derived from the host, and nicotinamidasecannot be found in mammals [27].

Sodium sulfacetamide or sulfacetamide is a bacteriostaticagent that is active against sulfonamide-sensitive Gram-negative and Gram-positive bacteria, including Streptococci,Staphylococci, E. coli, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonaspyocyanea, Salmonella spp., Proteus vulgaris, and Nocardia,which are usually isolated in secondary infections of the skin.

The LD50 of sulfacetamide for mice is 16,500mg/kgby the oral route. In humans, the side effects include ery-thema, moderate swelling, nausea, vomiting, and headache.In addition to these side effects, the occurrence of Stevens-Johnson syndrome was reported in HIV-positive patientswho received sulfacetamide drops for eye infections. All ofthese side effects, however, are associated with oral admin-istration or high drug absorption through the skin, mucousmembranes, and the conjunctiva, whereas topical use is notassociated with strong side effects, except in the case ofindividuals with a hypersensitivity to sulfonamide.

Sulfacetamide inhibits mannose-6-phosphate isomerase(also known as phosphomannose isomerase (PMI)), whichis considered the key enzyme in kinetoplastid energymetabolism. PMI catalyzes the isomerization of fructose-6-phosphate into mannose-6-phosphate. As the identity of thekinetoplastid PMI with human PMI is low (𝐸-value = 3𝐸 −59), it represents an interesting target on which to test newdrugs.

5. Conclusions

We identified potential inhibitors of Leishmania energymetabolism by searching the information available indatabases based on the target-similarity principle. Althoughapproved for use in humans, none of the drugs identified haveyet been tested against the parasite Leishmania. In vitro and invivo tests may confirm the efficacy of these drugs, potentiallyleading to their use in the treatment of leishmaniasis.

Appendix

Database Details and Commands

DrugBank Database Commands. In this database, the searchwas initiated by selecting the options “search” and then“Sequence Search” from the toolbar menu. The sequence of

65

Page 81: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

6 BioMed Research International

each protein investigated was entered in FASTA format inthe appropriate field, and the search parameters were selectedautomatically.

TTD Commands. On the homepage of this database, weselected the option “target similarity search.”The sequence ofthe protein being investigated was entered in FASTA formatin the appropriate field, and the option “search” was selected.In the cases with positive search results, only the targetswith an 𝐸-value less than 1𝐸 − 5 were considered for furtheranalysis.

PubChem Database Commands. In this database, the tab“compound” was selected, and every drug identified inDrugBank and TTDwas entered in the appropriate field.ThePubChem database was searched to gather detailed infor-mation on each compound, including the pharmacology,patents, physical and chemical properties, results of biologicaltests, biological interactions, and metabolic pathways.

Conflict of Interests

The authors declare that there is no conflict of interestsregarding the publication of this paper.

References

[1] J. Alvar, I. D. Velez, C. Bern et al., “Leishmaniasis worldwideand global estimates of its incidence,” PLoS ONE, vol. 7, no. 5,Article ID e35671, 2012.

[2] D. O. Santos, C. E. R. Coutinho, M. F. Madeira et al.,“Leishmaniasis treatment—a challenge that remains: a review,”Parasitology Research, vol. 103, no. 1, pp. 1–10, 2008.

[3] B. Chawla and R. Madhubala, “Drug targets in Leishmania,”Journal of Parasitic Diseases, vol. 34, no. 1, pp. 1–13, 2010.

[4] L.M. Fidalgo and L.Gille, “Mitochondria and trypanosomatids:targets and drugs,” Pharmaceutical Research, vol. 28, no. 11, pp.2758–2770, 2011.

[5] N. Singh, M. Kumar, and R. K. Singh, “Leishmaniasis: currentstatus of available drugs and new potential drug targets,” AsianPacific Journal of Tropical Medicine, vol. 5, no. 6, pp. 485–497,2012.

[6] J. Kaur, R. Tiwari, A. Kumar, and N. Singh, “Bioinformaticanalysis of Leishmania donovani long-chain fatty acid-CoAligase as a novel drug target,” Molecular Biology International,vol. 2011, Article ID 278051, 14 pages, 2011.

[7] M. K. Mittal, S. Rai, A. Ravinder, S. Gupta, S. Sundar, andN. Goyal, “Characterization of natural antimony resistance inLeishmania donovani isolates,”TheAmerican Journal of TropicalMedicine and Hygiene, vol. 76, no. 4, pp. 681–688, 2007.

[8] S. L. Croft, S. Sundar, and A. H. Fairlamb, “Drug resistance inleishmaniasis,” Clinical Microbiology Reviews, vol. 19, no. 1, pp.111–126, 2006.

[9] A. L. Hopkins and C. R. Groom, “The druggable genome,”Nature Reviews Drug Discovery, vol. 1, no. 9, pp. 727–730, 2002.

[10] F. R. Opperdoes and P. A.M.Michels, “Themetabolic repertoireof Leishmania and implications for drug discovery,” in Leish-mania, after the Genome, pp. 123–158, Caister Academic Press,Wymondham, UK, 1st edition, 2008.

[11] C. L. Verlinde, V. Hannaert, C. Blonski et al., “Glycolysis asa target for the design of new anti-trypanosome drugs,” DrugResistance Updates, vol. 4, no. 1, pp. 50–65, 2001.

[12] D. S. Wishart, C. Knox, A. C. Guo et al., “DrugBank: a knowl-edgebase for drugs, drug actions and drug targets,”Nucleic AcidsResearch, vol. 36, no. 1, pp. D901–D906, 2008.

[13] F. Zhu, B. Han, P. Kumar et al., “Update of TTD: therapeutictarget database,”Nucleic Acids Research, vol. 38, no. 1, pp. D787–D791, 2009.

[14] N. A. Bispo, R. Culleton, L. A. Silva, and P. Cravo, “A systematicin silico search for target similarity identifies several approveddrugs with potential activity against the Plasmodium falci-parum apicoplast,” PLoS ONE, vol. 8, no. 3, Article ID e59288,2013.

[15] M. P. Magarinos, S. J. Carmona, G. J. Crowther et al., “TDRtargets: a chemogenomics resource for neglected diseases,”Nucleic Acids Research, vol. 40, no. 1, pp. D1118–D1127, 2012.

[16] C. Knox, V. Law, T. Jewison et al., “DrugBank 3.0: a compre-hensive resource for “Omics” research on drugs,” Nucleic AcidsResearch, vol. 39, no. 1, pp. D1035–D1041, 2011.

[17] V. Law, C. Knox, Y. Djoumbou et al., “DrugBank 4.0: sheddingnew light on drug metabolism,” Nucleic Acids Research, vol. 42,no. 1, pp. D1091–D1097, 2014.

[18] X. Chen, Z. L. Ji, and Y. Z. Chen, “TTD: therapeutic targetdatabase,” Nucleic Acids Research, vol. 30, no. 1, pp. 412–415,2002.

[19] F. Zhu, Z. Shi, C. Qin et al., “Therapeutic target database update2012: a resource for facilitating target-oriented drug discovery,”Nucleic Acids Research, vol. 40, no. 1, pp. D1128–D1136, 2012.

[20] G. J. Crowther, D. Shanmugam, S. J. Carmona et al., “Identifi-cation of attractive drug targets in neglected- disease pathogensusing an in Silico approach,” PLoS Neglected Tropical Diseases,vol. 4, no. 8, article e804, 2010.

[21] M. Aslett, C. Aurrecoechea, M. Berriman et al., “TriTrypDB:a functional genomic resource for the Trypanosomatidae,”Nucleic Acids Research, vol. 38, no. 1, Article ID gkp851, pp.D457–D462, 2010.

[22] D. S. Wishart, C. Knox, A. C. Guo et al., “DrugBank: a compre-hensive resource for in silico drug discovery and exploration,”Nucleic Acids Research, vol. 34, pp. D668–D672, 2006.

[23] A. Floridi, M. G. Paggi, S. D’Atri et al., “Effect of lonidamine onthe energy metabolism of Ehrlich ascites tumor cells,” CancerResearch, vol. 41, pp. 4661–4666, 1981.

[24] E. R. Sharlow, T. A. Lyda, H. C. Dodson et al., “A target-basedhigh throughput screen yields Trypanosoma brucei hexokinasesmall molecule inhibitors with antiparasitic activity,” PLoSNeglected Tropical Diseases, vol. 4, no. 4, 2010.

[25] J. W. Chambers, M. L. Fowler, M. T. Morris, and J. C.Morris, “The anti-trypanosomal agent lonidamine inhibitsTrypanosoma brucei hexokinase 1,”Molecular and BiochemicalParasitology, vol. 158, no. 2, pp. 202–207, 2008.

[26] L. Chen, R. Petrelli, K. Felczak et al., “Nicotinamide adeninedinucleotide based therapeutics,” Current Medicinal Chemistry,vol. 15, no. 7, pp. 650–670, 2008.

[27] E. Gazanion, D. Garcia, R. Silvestre et al., “The Leishmanianicotinamidase is essential for NAD+ production and parasiteproliferation,” Molecular Microbiology, vol. 82, no. 1, pp. 21–38,2011.

66

Page 82: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

A Systematic In Silico Search for Target SimilarityIdentifies Several Approved Drugs with Potential Activityagainst the Plasmodium falciparum ApicoplastNadlla Alves Bispo1, Richard Culleton2, Lourival Almeida Silva1, Pedro Cravo1,3*

1 Instituto de Patologia Tropical e Saude Publica/Universidade Federal de Goias/Goiania, Brazil, 2 Malaria Unit/Institute of Tropical Medicine (NEKKEN)/Nagasaki University/

Nagasaki, Japan, 3 Centro de Malaria e Doencas Tropicais.LA/IHMT/Universidade Nova de Lisboa/Lisboa, Portugal

Abstract

Most of the drugs in use against Plasmodium falciparum share similar modes of action and, consequently, there is a need toidentify alternative potential drug targets. Here, we focus on the apicoplast, a malarial plastid-like organelle of algal sourcewhich evolved through secondary endosymbiosis. We undertake a systematic in silico target-based identification approachfor detecting drugs already approved for clinical use in humans that may be able to interfere with the P. falciparumapicoplast. The P. falciparum genome database GeneDB was used to compile a list of <600 proteins containing apicoplastsignal peptides. Each of these proteins was treated as a potential drug target and its predicted sequence was used tointerrogate three different freely available databases (Therapeutic Target Database, DrugBank and STITCH3.1) that providesynoptic data on drugs and their primary or putative drug targets. We were able to identify several drugs that are expectedto interact with forty-seven (47) peptides predicted to be involved in the biology of the P. falciparum apicoplast. Fifteen (15)of these putative targets are predicted to have affinity to drugs that are already approved for clinical use but have neverbeen evaluated against malaria parasites. We suggest that some of these drugs should be experimentally tested and/orserve as leads for engineering new antimalarials.

Citation: Bispo NA, Culleton R, Silva LA, Cravo P (2013) A Systematic In Silico Search for Target Similarity Identifies Several Approved Drugs with Potential Activityagainst the Plasmodium falciparum Apicoplast. PLoS ONE 8(3): e59288. doi:10.1371/journal.pone.0059288

Editor: Fabio T. M. Costa, State University of Campinas, Brazil

Received November 20, 2012; Accepted February 13, 2013; Published March 26, 2013

Copyright: � 2013 Bispo et al. This is an open-access article distributed under the terms of the Creative Commons Attribution License, which permitsunrestricted use, distribution, and reproduction in any medium, provided the original author and source are credited.

Funding: This work was funded by Coordenacao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior/PVE of Brazil (http://www.capes.gov.br/). The funders had norole in study design, data collection and analysis, decision to publish, or preparation of the manuscript.

Competing Interests: The authors have declared that no competing interests exist.

* E-mail: [email protected]

Introduction

Malaria remains a serious public health problem in many

tropical countries [1]. As there is still no effective vaccine available,

treatment and prevention of the disease is primarily based on

antimalarial drug administration and anti-vector measures,

respectively. The efficacy of antimalarial drug treatment is

compromised by the malaria parasite’s ability to develop drug-

resistance, and by the dearth of new and effective antimalarials in

the drug-design pipeline. There is, therefore, an urgent need for

the discovery of new antimalarial drugs.

The main antimalarials presently approved for clinical use act

mainly on two parasite metabolic pathways: haemoglobin

degradation and nucleic acid synthesis. However, with the

exception of artemisinin derivatives, parasite resistance has

evolved and become common for the currently used antimalarial

drugs. One of the underlying phenomena contributing to the

emergence of drug resistance, is that resistance to different drugs is

often controlled by similar molecular mechanisms and conse-

quently the evolution of resistance to one particular compound

may impact on the efficacy of others. For instance, resistance to

quinine-derived drugs, such as mefloquine and lumefantrine, as

well as to the structurally unrelated artemisinin derivatives, has

been shown to be modulated by mutations and/or amplification of

the Multidrug Resistance Protein homologue-1, PfMDR1 [2].

Similarly, resistance to drugs that block parasite nucleic acid

synthesis, such as sulfadoxine, pyrimethamine and proguanil, is

largely conferred by point mutations in genes encoding two

enzymes, dihydrofolate reductase (DHFR) and the dihydroptero-

ate synthase (DHPS) [3].

When considering the design of new antimalarial drugs, it is,

therefore, imperative to investigate alternative antimalarial mo-

lecular targets. One such strategy has focused on the apicoplast, a

non-photosynthetic malarial plastid which was first described in

the 1990’s [4,5] and recently confirmed to have been acquired by

secondary endosymbiosis of a plastid-containing red alga [6]. The

apicoplast’s genome is small (<35 kb), and the organelle harbors

several unique metabolic functions, mostly accomplished by

proteins that are nuclear-encoded and later imported into its

lumen [7]. These unique metabolic features represent an attractive

starting point for therapeutic intervention, since they are mostly of

plant/algal origin, a fact that may heighten the target selectivity of

antimalarial drugs and/or reduce the probabilities of toxicity to

humans. Importantly, previous studies have already confirmed

that the apicoplast is vulnerable to drugs that affect its metabolic

functions, such as replication, nucleic acid metabolism, translation,

fatty acid synthesis and isoprenoid biosynthesis [8].

A conventional drug development strategy may involve both de

novo drug discovery and the improvement of inhibitors of

individually validated targets. Although this process represents

an efficient strategy to develop novel antimalarial drugs, it is

PLOS ONE | www.plosone.org 1 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
ARTIGO 2
lourival
Texto digitado
67
Page 83: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

usually costly and time-consuming. An alternative and/or

complementary approach is to screen existing clinically approved

drugs for previously unidentified antimalarial activity, thus

speeding up the discovery of new therapies. As such drugs are

already approved for use in humans for other purposes, they can

more easily enter human clinical efficacy trials under existing drug

administration guidelines.

There are a number of different publicly available web-based

databases which provide information on thousands of known

therapeutic protein targets, the diseases that they are involved in,

evidence for which pathways they play a role in, and the

corresponding drugs which are directed at each of them. Using

three of these databases, DrugBank [9], STITCH3.1 [10] and

Therapeutic Target Database (TTD) [11], we adopted an in silico

‘‘top-down’’ approach to identify proteins localized to the P.

falciparum apicoplast that may be targeted by drugs which are

already in use in human clinical practice.

Materials and Methods

Compilation of a List of Apicoplast-targeted ProteinsA list of Plasmodium falciparum apicoplast-targeted proteins has

been previously published by Ralph et al, 2004 [7]. The

description of the methods that were used to identify proteins

predicted to contain apicoplast-targeting sequences is detailed in

that paper [7]. For the present work, this list was accessed and

each protein entry was logged on to an Excel file datasheet.

Proteins were grouped consecutively in a datasheet column

depending on their predicted metabolic function and according

to the classification available in the ‘‘Malaria Parasite Metabolic

Pathways’’ web page [12]. Their identification codes (IDs) were

then retrieved from the GeneDB P. falciparum genome database

[13] and logged onto the corresponding column as a clickable

hyperlink. We further checked the annotation of each single

predicted peptide and corrected it, if necessary, according to the

recent updated annotations of the GeneDB database. Next, we

retrieved each individual predicted amino acid sequence and

copied it to the corresponding column for each protein.

Identification of Putative Drug Targets Using PubliclyAvailable Drug Databases Overall Strategy

Each of the P. falciparum predicted protein sequences from the

list compiled above was treated as a putative drug-target and

consequently used to interrogate three different publicly

available web databases that provide synoptic data on drugs

and their primary or putative drug targets: DrugBank [9],

STITCH3.1 [10] and the Therapeutic Target Database (TTD)

[11]. Our search strategy for all three databases was based on

the principle of ‘‘target similarity’’ whereby each query (P.

falciparum apicoplast protein) is compared for similarity with all

known drug targets contained within each of the databases. In

cases where homologous drug targets were identified, all

proteins with an output expectation value (E-value) lower than

1e25 for DrugBank and TTD were listed as potential targets.

In the case of STICH3.1, a score from 0 to 1.0 is given, rather

than an expectation value. Thus, only proteins with a score

above 0.7 were considered potential targets. We further filtered

all positively identified targets through inclusion in the list of

only those proteins that were indicated to interact with

compounds that have already been approved for clinical use

in humans.

Database Commands for DrugBank [9]Starting from the homepage, the option ‘‘search’’ R ‘‘sequence

search’’ was chosen from the toolbar menu. The query protein

sequence was then entered in FASTA format and the remaining

default search parameters were used.

Database Commands for STITCH3.1 [10]Starting from the homepage, the option ‘‘protein sequence’’

from the menu box was clicked. The query protein sequence was

then entered in FASTA format and the ‘‘Go’’ icon was clicked.

When positive results were obtained only targets with a score

above 0.7 were considered.

Database Commands for Therapeutic Targets Database[11]

Starting from the homepage, the option ‘‘target similarity

search’’ from the menu box was clicked. The query protein

sequence was then entered in FASTA format and the ‘‘Search’’

icon was clicked. When positive results were obtained only targets

with an Expectation value (E-value) score lower than 1e25 were

considered for further analyses.

Compilation of the ‘‘Predicted Targets List’’After running each of the P. falciparum protein sequences in the

three databases, all proteins with negative results (negative hits)

were excluded from further analyses, whilst predicted targets from

each database were compiled into a single Excel file, hereafter

named ‘‘predicted targets list’’. The following parameters associ-

ated with each positive hit were entered into the spreadsheet:

‘‘Homologous target(s) name(s) and target ID(s)’’ (DrugBank and

TTD), ‘‘E-value(s) or score(s)’’ (DrugBank, STITCH3.1 and

TTD), ‘‘Drug type(s)’’ (DrugBank, STITCH3.1 and TTD), ‘‘Drug

name(s)’’ (DrugBank, STITCH3.1 and TTD), ‘‘Drug ID(s)’’

(DrugBank) and ‘‘Toxicity’’ (DrugBank).

Each positive hit was further cross-examined in the TDR targets

Database [14] for its ‘‘druggability index’’, which is an estimate of

the likelihood of a protein being druggable and ranges from 0 to

1.0, with a value of <0.2 corresponding to average druggability.

To do this, we clicked on the ‘‘targets’’ item in the web site’s menu

and then ticked ‘‘Plasmodium falciparum’’ from the pathogen species

list. We next filtered targets by entering each protein’s identifier

(ID) in the corresponding box in the ‘‘Filter targets based on’’

search options. After clicking on the ‘‘search’’ icon, the above

variable was retrieved from the target’s page and was subsequently

recorded in the ‘‘predicted targets list’’ file.

List of Drugs Yet to be Tested Against MalariaFinally, we carried out a literature search using PubMED in

order to identify approved drugs that have never been evaluated

against malaria parasites by querying all drugs associated with

each positive hit in the list. Our definition of ‘‘evaluation’’

embraces in vitro and/or in vivo testing and any malaria parasite

species. Therefore if a given drug is noted as ‘‘not tested’’, it means

that no publication records were found after either of the following

search details were entered in PubMED: 1. (‘‘drug name’’[MeSH

Terms] OR ‘‘drug name’’[All Fields]) AND (‘‘plasmodium’’[-

MeSH Terms] OR ‘‘plasmodium’’[All Fields]) and 2. (‘‘drug

name’’[MeSH Terms] OR ‘‘drug name’’[All Fields]) AND

(‘‘malaria’’[MeSH Terms] OR ‘‘malaria’’[All Fields]), or that the

study(ies) retrieved were insufficiently informative to infer the

potential usefulness of the drug as an antimalarial.

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 2 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
68
lourival
Texto digitado
Page 84: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

Results

Schematic SummaryFor ease of understanding, the overall results of this work are

represented as a flow chart in Figure 1, the detailed results of

which are given in the following sections.

Compilation of the ‘‘Predicted Targets’’ ListEach of the Plasmodium falciparum proteins predicted to contain

an apicoplast target signal was entered into a single Excel file as

described in Materials and Methods. A list of a total 595 candidate

target protein sequences was thus compiled and each was

subsequently allocated either of the following predicted metabolic

functions: ‘‘Replication, Transcription and Nucleic acid metabo-

lism’’, ‘‘Translation’’, ‘‘Fatty acid and Phospholipid Metabolism’’,

‘‘Transport’’, ‘‘Antioxidant’’, ‘‘Protein Folding’’, ‘‘Fe-S Cluster

Production’’, ‘‘Porphyrin Biosynthesis’’, ‘‘Post-translational Mod-

ification and Proteolysis’’ and ‘‘Other/unknown function’’ (Table

S1). Each of these protein sequences in the list was interrogated for

target similarity in the three databases used (DrugBank,

STITCH3.1 and TTD), producing a list of a total seventy-two

(72) ‘‘positive hits’’ (<12% of the total predicted apicoplast

peptides) (Table S2). We decided to use all three databanks

because each of them may contain different drug-target datasets

and, consequently, the probability of targets being missed due to

insufficient screening is reduced. Indeed, no single database was

capable of identifying all 72 predicted targets: DrugBank,

STICH3.1 and TTD identified exclusively 45, 8 and 11 predicted

targets, whilst the remaining 8 targets were identified by two or

three of the databases. Detailed information about the predicted

targets and their associated compounds is provided in Table S2.

Approximately one third of the positively identified targets

(N = 25) were predicted to react with compounds belonging to the

‘‘Dietary supplement/nutraceutical’’ class. Since these compounds

are unlikely to exhibit antimalarial activity, these targets and their

associated compounds were excluded from further analyses. The

distribution of the remainder 47 potential targets according to

their predicted metabolic function is depicted in Figure 2. Eighty

percent (80%, N = 38) of these 47 positive hits are distributed

between four main metabolic function groups: ‘‘Replication,

Transcription and Nucleic acid metabolism’’, ‘‘Translation’’,

‘‘Fatty acid and Phospholipid Metabolism’’ and ‘‘Post-translation-

al Modification and Proteolysis’’.

Previously Untested DrugsIn order to evaluate which of the drugs associated with the

predicted targets had been tested against malaria parasites and

which had not, we ran a literature search in PubMed as described

above. Out of a total of 47 positive hits from the list compiled

above, 32 targets were associated with drugs whose activity has

been previously evaluated against malaria parasites. Examples of

some of these drugs and their corresponding targets are given in

Table 1. However, for 15 of the predicted targets, there were a

total of 13 corresponding drugs that have never been experimen-

tally or clinically tested against malaria or whose evaluation

required further studies (Table 2). The metabolic functions

predicted to be targeted by each of these drugs in the apicoplast

are the following: Replication, Transcription and Nucleic acid

metabolism (5 drugs: azelaic acid, lucanthone, bleomycin,

rifabutin and gemcitabine), Fatty acid and Phospholipid Metab-

olism (3 drugs: ethionamide, nitrofurazone and isoxyl) and post-

translational modification and proteolysis (5 drugs: nitroxoline,

gallium nitrate, sulcrafate, remikeren and aliskeren). Two of these

drugs (azelaic acid and sulcrafate) are predicted to interfere with

more than one peptide and one particular predicted target

(plasmepsin X) is expected to have affinity to more than one drug.

The list of these drugs, their targets, associated toxicity (if any) and

each target’s druggability index is depicted in Table 2.

Discussion

The main objective of this work was to identify drugs that have

been approved for clinical use in humans for conditions other than

malaria, which may have the potential to interfere with the

function of the apicoplast. In validation of our approach, all the

main drugs previously shown to target the apicoplast and their

known targets were identified by our methodology (Table S2,

Table 1) and the following illustrative examples are given. The

Figure 1. Flowchart summarizing the work pipeline and corresponding results. (*denotes the targets that were discarded on the basis ofhaving chemical affinity to dietary supplements/nutraceuticals).doi:10.1371/journal.pone.0059288.g001

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 3 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
69
Page 85: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

antibiotics ciprofloxacin and doxycycline and their respective

targets, the apicoplast’s DNA gyrase and small ribosomal subunits

[8], were correctly pinpointed by our approach. Fosmidomycin, a

drug that is known to target the apicoplast’s 1-deoxy-D-xylulose 5-

phosphate reductoisomerase (DOXP) [15,16], was appropriately

identified. Fusidic acid and its likely target, elongation factor G

[17], involved in the process of translation, were correctly

pinpointed and associated. Consequently, we were confident that

our overall strategy for identifying anti-apicoplast drugs is valid.

Following this precondition, we were able to identify thirteen

drugs that have not yet been evaluated against malaria parasites.

These drugs are supposed to inhibit targets that are involved in

metabolic functions of the apicoplast that have been shown to

render the parasite vulnerable to drugs [8]. For this reason we

suggest that the antimalarial activity of at least some of these

compounds should be investigated further. In the ensuing

paragraphs we refer specifically to five of these drugs that we

suggest may be good candidates for antimalarial testing,

highlighting their advantages but also the constraints that may

limit their direct use in vivo.

Azelaic acid (AA) has been shown to interfere with DNA

synthesis in bacteria [18] and its oral toxicity in mice appears to be

low (.5 g/kg, data from DrugBank). In the present work, our

search suggests that AA may be able to interfere with two targets

involved in DNA repair within the P. falciparum apicoplast: a

peptide with a 59-39 exonuclease, N-terminal resolvase domain

(PF3D7_0203900) and a plastid replication-repair enzyme (PREX)

(PF3D7_1411400). Additionally, according to the data available in

the DrugBank database, AA has a log P value of 1.7, indicating

that the drug may diffuse well through biomembranes [8].

Although this property is not a pre-requisite for the success of

drugs targeting the apicoplast’s biology [8], it may come as a

benefit for apicoplast-targeting drugs, which have to cross a total of

six membranes. However, AA is used commercially in the form of

a topically applied cream and thus the practical aspects of testing it

as an antimalarial may present some challenges.

Lucanthone is one of the earliest described schistosomicides [19]

and was predicted to target the apicoplast’s putative AP-

endonuclease (PF3D7_0305600) in the present work. It was later

replaced largely by hycanthone, its active metabolite. Although

there are no records in the literature about the evaluation of

lucanthone’s antimalarial activity, hycanthone has been hypoth-

esized to possess antimalarial activity in a virtual screen against P.

falciparum with an IC50 value below 5 microM [20]. In the present

day lucanthone is used as an anti-cancer agent where it has been

shown to be well tolerated by humans with no hematological or

gastro-intestinal toxicity at clinically tolerated doses (data from

DrugBank). However, this contrasts with earlier suggestions where

in past shistosomiasis treatment with lucanthone was reported to

produce side effects such hepatotoxicity and gastrointestinal

disturbances following intramuscular injection [21].

Isoxyl (Thiocarlide), a thiourea derivative that was used

successfully for the clinical treatment of TB during the 1960s,

has been shown to display significant antimycobacterial activity

in vitro and is effective against multi-drug resistant strains of

Mycobacterium tuberculosis [22]. In Mycobacteria, isoxyl (ISO) has

been shown to inhibit the synthesis of oleic acid and this effect is

directly attributable to the inhibitory effect of the drug on the

membrane-associated stearoyl-coenzyme A (CoA) (D9) desaturase

DesA3 (Rv3229c) [23]. Results from the present work suggest that

isoxyl may also be able to inhibit the P. falciparum apicoplast

homologue (E-value = 2e252), a putative stearoyl-CoA delta 9

desaturase (PF3D7_0511200). Also, ISO has no known side-effects

[24], which makes it highly appropriate for clinical use in humans.

One likely downside of ISO is the fact that it has a high logP value

of <5.8 (http://www.chemspider.com/Chemical-Structure.

2272774.html), which makes it virtually insoluble in water with

consequent poor dissolution and bioavailability when it is

delivered exclusively by the oral route [24].

Figure 2. Distribution of the expected apicoplast targetsaccording to their predicted metabolic function in theapicoplast.doi:10.1371/journal.pone.0059288.g002

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 4 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
lourival
Texto digitado
70
lourival
Texto digitado
Page 86: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

Nitroxoline (synonym 5-Nitroxin) is an active urinary antibac-

terial agent which has been used since 1962 against susceptible

gram-positive and gram-negative organisms commonly found in

urinary tract infections [25]. It has been suggested that its

antibacterial activity may stem from the metal ion complexation

vital for bacterial growth [26]. More recently, it was discovered

that that nitroxoline has antiangiogenic properties, which also

makes it useful as an anti-cancer drug [27]. We found that

Nitroxoline may be able to interfere with the apicoplast-targeted P.

falciparum putative methionine aminopeptidase 1c

(PF3D7_0804400), which is homologous to the human enzyme

and is expected to be involved in proteolysis within the apicoplast.

Interestingly, nitroxiline was tested in early in vitro studies where it

was shown to display exceptional activity against P. falciparum,

exhibiting an ED50 of approximately 63 nM at 48h post-

exposure, a value which reflected roughly 10X higher potency

than quinine sulfate in that same study, under identical conditions

[28]. In addition to what appears to be a level of high potency

in vitro, nitroxoline displays a logP of 1.9 (data from DrugBank),

which should favor its ability to cross the membranes required to

reach its target. Curiously, the assessment of nitroxoline as a

potential antimalarial for clinical use in vivo appears to have never

been followed-up. For all reasons cited, we argue here that

nitroxoline should be prioritized for further evaluations of its

potential value as an antimalarial drug.

Lastly, we refer to sulcrafate, possibly one of the least obvious

drugs to hold antimalarial activity, due to the fact that it is not an

anti-infective agent per se, but rather an anti-ulcer compound.

Sulcrafate is an approved small molecule, which is a basic

aluminum complex of sulfated sucrose and is orally employed for

prevention and treatment of several gastrointestinal diseases

including gastroesophageal reflux, gastric and duodenal ulcer

[29]. Sucralfate acts, at least partially, through inhibition of the

human pepsin A enzyme [30], which was shown here to be

homologous to four P. falciparum plasmepsins localized to the

apicoplast (plasmepsin X: PF3D7_0808200, plasmepsin I (PMI):

PF3D7_1407900, plasmepsin III,histo-aspartic protease (HAP):

PF3D7_1408100 and plasmepsin VII: PF3D7_1033800). Inter-

estingly, halofantrine, a well-known highly effective antimalarial

has been recently suggested to inhibit plasmepsin X, one of

sulcrafate’s predicted targets [31]. Due to its own therapeutic

nature, sulcrafate is only minimally absorbed from the gastroin-

testinal tract (data from DrugBank) and consequently it is unlikely

to reach systemic therapeutic levels in patients treated orally.

However, since sulcrafate is commercially available in powder

form, it may be tested directly after dilution in an appropriate

vehicle in experimental in vivo models of malaria with administra-

tion via a route other than oral, such as intra-venous or intra-

peritoneal.

Besides the drugs highlighted above, eight further drugs are

predicted to be capable of interfering with apicoplast targets

(Table 2). They were not discussed in detail because we envisage

that some of their inherent properties may render them less

suitable than the above as antimalarial agents. For instance,

bleomycin, gemcitabine and gallium nitrate are three anti-

neoplastic agents and for this reason are more likely to cause

severe side-effects/toxicity in humans in case their direct use is

considered. Indeed, although gallium nitrate’s toxicity parameters

are not available, considerable toxicity is expected from bleomycin

and gemcitabine (Table 2). In other cases, such as those of

rifabutin and ethionamide, we considered that the output

expectation value (E-value) for target homology insufficiently

significant to infer the target’s prediction with a high degree of

confidence. Remikeren and aliskeren are two antihypertensive

agents and for that reason, should present increased challenges as

to their short-term applicability as antimalarials.

ConclusionsWe describe a systematic in silico approach to identify drugs that

have been clinically approved for human use, but have never been

evaluated against malaria parasites based on the principle of

‘‘homologous drug target screening’’. In doing so, we were able to

identify thirteen such drugs that we suggest justify evaluation as

antimalarials. We stress the fact that we have no experimental

evidence to suggest that any of the newly identified drugs will

either display antimalarial activity and/or affect the suggested

targets. It also is possible that their in vivo potencies may be

compromised by absorption, distribution, metabolism, excretion

ad toxicity (ADMET) properties or by lack of appropriate

chemical affinity with their putative target(s). Nevertheless,

primary in vitro drug screens may provide insights into their ability

to inhibit parasite growth and, if any promising activities are

disclosed, they could constitute important leads to the discovery of

novel antimalarials.

Table 1. Examples of drug-target associations previously determined, that were correctly identified in the present study.

Drug(s) P. falciparum target(s) ID Identity to (E-value or score) Pathway Reference(s)

Several quinolones DNA GyrAse a-subunit, putative PF3D7_1223300 DNA gyrase subunit A (P72524 -GYRA_STRPN) (1e250)

Replication [8]

Fusidic acid elongation factor G, putativePF3D7_0602400

Elongation factor G (P13551 -EFG_THETH) (8.7e275)

Translation [17]

Tetracycline apicoplast ribosomal protein S14p/S29eprecursor, putative PF3D7_1137500

30S ribosomal protein S14 (P0AG59 -RS14_ECOLI) (7.5e215)

Translation [32]

Fosmidomycin 1-deoxy-D-xylulose 5-phosphatereductoisomerase PF3D7_1467300

0.99 Isoprenoidbiosynthesis

[16]

Triclosan enoyl-acyl carrier reductase PF3D7_0615100 0.99 Fatty acid synthesis [8]

Geldanamycin heat shock protein 90, putative 0.80 Protein folding [33]

Halofantrine plasmepsin VIII PF3D7_1465700 Plasmepsin-2 (P46925 - PLM2_PLAFA)(9e223)

Proteolysis [31]

(codes in brackets represent the target Identity Code of DrugBank. In the cases of Fosmidomycin, Triclosan and Geldanamycin, there are no homologous targetsrepresented because they were identified using STITCH3.1 which uses an algorithm where homologous targets are not displayed).doi:10.1371/journal.pone.0059288.t001

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 5 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
71
lourival
Texto digitado
Page 87: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

Ta

ble

2.

Ne

wd

rug

-tar

ge

tas

soci

atio

ns

dis

clo

sed

inth

ep

rese

nt

stu

dy.

Dru

g(b

ran

dn

am

es)

Dru

gca

teg

ory

(ie

s)T

ox

icit

yP

.fa

lcip

aru

mta

rge

t(s)

IDId

en

tity

to(E

-va

lue

)T

DR

TD

rug

ga

bil

ity

Me

tab

oli

cF

un

ctio

n

Az

ela

ica

cid

(Aze

lex,

Eme

rox

11

10

,Em

ero

x1

14

4,

Eme

ry’s

L11

0,

Fin

ace

a,Fi

ne

vin

,Sk

ino

ren

)

An

tin

eo

pla

stic

Ag

en

tsD

erm

ato

log

icA

ge

nts

Ora

lLD

50

inra

t:.

5g

/kg

59-

39

exo

nu

cle

ase

,N

-te

rmin

alre

solv

ase

-lik

ed

om

ain

,p

uta

tive

PF3

D7

_0

20

39

00

DN

Ap

oly

me

rase

I(P

00

58

2-

DP

O1

_EC

OLI

)(2

e2

12

)N

AD

NA

rep

air

pla

stid

rep

licat

ion

-re

pai

re

nzy

me

(PR

EX)

PF3

D7

_1

41

14

00

DN

Ap

oly

me

rase

I(P

00

58

2-

DP

O1

_EC

OLI

)(4

e2

50

)N

AD

NA

rep

air

Lu

can

tho

ne

(Mir

acil

D,

Mir

aco

l,N

ilod

in,

Scap

ure

n,

Tix

anto

ne

)R

adia

tio

n-S

en

siti

zin

gA

ge

nts

An

tica

nce

rA

ge

nts

Sch

isto

som

icid

es

NA

AP

en

do

nu

cle

ase

(DN

A-(

apu

rin

ico

rap

yrim

idin

icsi

te)

lyas

e),

pu

tati

veP

F3D

7_

03

05

60

0

DN

A-(

apu

rin

ico

rap

yrim

idin

icsi

te)

lyas

e(P

27

69

5-

AP

EX1

_H

UM

AN

)(8

e2

24

)

NA

DN

Are

pai

r

Ble

om

yci

n(B

len

oxa

ne

,B

leo

)A

nti

me

tab

olit

es

An

tib

ioti

cs,

An

tin

eo

pla

stic

Exce

ssiv

ee

xpo

sure

may

cau

sefe

ver,

chill

s,n

ause

a,vo

mit

ing

,m

en

tal,

con

fusi

on

,an

dw

he

ezi

ng

.B

leo

myc

inm

ayca

use

irri

tati

on

toe

yes,

skin

and

resp

irat

ory

trac

t.It

may

also

cau

sea

dar

ken

ing

or

thic

ken

ing

of

the

skin

.It

may

cau

sean

alle

rgic

reac

tio

n.

DN

Alig

ase

1P

F3D

7_

13

04

10

0D

NA

ligas

e1

(P1

88

58

-D

NLI

1_

HU

MA

N)

(4e

21

18

)N

AR

ep

licat

ion

Rif

ab

uti

n(A

lfac

id,

An

sam

ycin

,M

yco

bu

tin

)A

nti

-Bac

teri

alA

ge

nts

An

tib

ioti

cs,

An

titu

be

rcu

lar

LD5

0=

4.8

g/k

g(m

ou

se,

mal

e)

DN

A-d

ire

cte

dR

NA

po

lym

era

seal

ph

ach

ain

,p

uta

tive

PF3

D7

_1

30

76

00

DN

A-d

ire

cte

dR

NA

po

lym

era

seal

ph

ach

ain

(P0

A7

Z4

-R

PO

A_

ECO

LI)

(1e

28

)

NA

Re

plic

atio

n

Ge

mci

tab

ine

(DD

FC,

DFD

C,

Ge

mci

n)

Ge

mci

tab

ine

hyd

roch

lori

de

,G

em

tro

,G

em

zar,

GEO

)

An

tin

eo

pla

stic

Ag

en

tsA

nti

vira

lA

ge

nts

Rad

iati

on

-Se

nsi

tizi

ng

Ag

en

tsA

nti

me

tab

olit

es

Enzy

me

Inh

ibit

ors

Imm

un

osu

pp

ress

ive

Ag

en

ts

Mye

losu

pp

ress

ion

,p

are

sth

esi

as,

and

seve

rera

shw

ere

the

pri

nci

pal

toxi

citi

es,

LD5

0=

50

0m

g/k

g(o

rally

inm

ice

and

rats

)

UM

P-C

MP

kin

ase

,p

uta

tive

PF3

D7

_0

11

15

00

UM

P-C

MP

kin

ase

(P3

00

85

-K

CY

_H

UM

AN

)(9

e2

22

)N

AN

ucl

eic

acid

me

tab

olis

m

Eth

ion

am

ide

(Ae

thio

nam

idu

m,

Ae

tin

a,A

eti

va,

Am

idaz

in,

Am

idaz

ine

,A

tin

a,B

aye

r5

31

2,

Eth

imid

e,

Eth

ina,

Etim

id)

Lep

rost

atic

Ag

en

tsA

nti

tub

erc

ula

rA

ge

nts

Fatt

yA

cid

Syn

the

sis

Inh

ibit

ors

Sym

pto

ms

of

ove

rdo

sein

clu

de

con

vuls

ion

s,n

ause

a,an

dvo

mit

ing

en

oyl

-acy

lca

rrie

rre

du

ctas

eP

F3D

7_

06

15

10

0En

oyl

-[ac

yl-c

arri

er-

pro

tein

]re

du

ctas

e[N

AD

H]

(P0

A5

Y6

-IN

HA

_M

YC

TU

)(4

e2

9)

NA

FAS

Nit

rofu

raz

on

e(A

ctin

-N,

Ald

om

ycin

,A

lfu

cin

,A

mif

ur,

Bab

roci

d,

Be

cafu

razo

ne

,B

iofu

raci

na,

Bio

fure

a,C

he

mo

fura

n,

Ch

ixin

)

An

ti-I

nfe

ctiv

eA

ge

nts

An

ti-I

nfe

ctiv

eA

ge

nts

,Lo

cal

Try

pan

oci

dal

Ag

en

tsA

nti

-In

fect

ive

Ag

en

ts,

Uri

nar

y

Rat

LD5

0=

59

0m

g/k

g;

Alle

rgic

con

tact

de

rmat

itis

isth

em

ost

fre

qu

en

tly

rep

ort

ed

adve

rse

eff

ect

,o

ccu

rrin

gin

app

roxi

mat

ely

1%

of

pat

ien

tstr

eat

ed

.

lipo

amid

ed

eh

ydro

ge

nas

e,

pu

tati

veP

F3D

7_

08

15

90

0G

luta

thio

ne

red

uct

ase

(P0

67

15

-G

SHR

_EC

OLI

)(1

e2

18

)0

.3FA

SA

nti

oxi

dan

t

Iso

xy

l(T

hio

carl

ide

)A

nti

-bac

teri

alag

en

tsN

Ast

ear

oyl

-Co

Ad

elt

a9

de

satu

rase

,p

uta

tive

PF3

D7

_0

51

12

00

Acy

l-C

oA

de

satu

rase

(TT

DS0

05

16

)(2

e2

52

)0

.1FA

S

Nit

rox

oli

ne

(Gal

ino

k,Is

ino

k,N

ice

ne

fort

e,

No

xib

iol,

No

xin

)A

nti

fun

gal

Ag

en

tsA

nti

-In

fect

ive

Ag

en

ts,

Uri

nar

y

NA

me

thio

nin

eam

ino

pe

pti

das

e1

c,p

uta

tive

PF3

D7

_0

80

44

00

Me

thio

nin

eam

ino

pe

pti

das

e1

(P5

35

82

-A

MP

M1

_H

UM

AN

)(2

e2

29

)

0.3

Pro

teo

lysi

s

Ga

lliu

mN

itra

te(G

anit

e)

An

tin

eo

pla

stic

Ag

en

tsN

Ap

rote

inp

ho

sph

atas

e,

pu

tati

veP

F3D

7_

14

69

20

0P

rote

in-t

yro

sin

e-p

ho

sph

ata

se(Q

9S4

27

–Q

9S4

27

_9

GA

MM

)(2

e2

16

)

NA

Ph

osp

ho

ryla

tio

n

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 6 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
72
Page 88: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

Supporting Information

Table S1 List of apicoplast-targeted proteins withpredicted aminoacid (AA) sequences.(XLSX)

Table S2 Predicted targets list. (DB: DrugBank; TTD:

Therapeutic Targets Database: DS: dietary supplement or

nutraceutical. TDRT: Tropical Disease Research Targets; Blank

cells denote that no data was available).

(XLSX)

Acknowledgments

The authors wish to thank Professor Jose Clecildo Barreto Bezerra for his

encouragements throughout the course of this work.

Author Contributions

Conceived and designed the experiments: PC. Performed the experiments:

NB RC LAS PC. Analyzed the data: NB RC PC. Wrote the paper: PC

RC.

References

1. World Health Organization (2011) World Malaria Report 2011. WHO:

Geneva. http://www.who.int/malaria/world_malaria_report_2011/

9789241564403_eng.pdf.

2. Woodrow CJ, Krishna S (2006) Antimalarial drugs: recent advances in

molecular determinants of resistance and their clinical significance. Cell Mol

Life Sci 63(14): 1586–96.

3. Le Bras J, Durand R (2003) The mechanisms of resistance to antimalarial drugs

in Plasmodium falciparum. Fundam Clin Pharmacol 17(2): 147–53.

4. Wilson RJ, Williamson DH, Preiser P (1994) Malaria and other Apicomplexans:

the "plant" connection. Infect Agents Dis 3(1): 29–37.

5. McFadden GI, Reith ME, Munholland J, Lang-Unnasch N (1996) Plastid in

human parasites. Nature 381(6582): 482.

6. Moore RB, Obornık M, Janouskovec J, Chrudimsky T, Vancova M, et al. (2008)

A photosynthetic alveolate closely related to apicomplexan parasites. Nature

451(7181): 959–63.

7. Ralph SA, van Dooren GG, Waller RF, Crawford MJ, Fraunholz MJ, et al.

(2004) Tropical infectious diseases: metabolic maps and functions of the

Plasmodium falciparum apicoplast. Nat Rev Microbiol 2004 Mar;2(3): 203–16.

8. Botte CY, Dubar F, McFadden GI, Marechal E, Biot C (2012) Plasmodium

falciparum apicoplast drugs: targets or off-targets? Chem Rev 112(3): 1269–83.

9. Knox C, Law V, Jewison T, Liu P, Ly S, et al. (2011) DrugBank 3.0: a

comprehensive resource for ‘omics’ research on drugs. Nucleic Acids Res

39(Database issue): D1035–41.

10. Kuhn M, Szklarczyk D, Franceschini A, von Mering C, Jensen LJ, et al. (2012)

STITCH 3: zooming in on protein-chemical interactions. Nucleic Acids Res

40(Database issue): D876–80.

11. Zhu F, Shi Z, Qin C, Tao L, Liu X, et al. (2012) Therapeutic target database

update 2012: a resource for facilitating target-oriented drug discovery. Nucleic

Acids Res 40(D1): D1128–1136.

12. Ginsburg, Hagai. ‘‘Malaria Parasite Metabolic Pathways’’ website. Available:

http://priweb.cc.huji.ac.il/malaria/. Accessed 2013 February 25.

13. GeneDB Plasmodium falciparum genome database. Available: http://www.genedb.

org/Homepage/Pfalciparum. Accessed 2013 February 25.

14. The TDR targets Database. Available: http://www.tdrtargets.org/. Accessed

2013 February 25.

15. Jomaa H, Wiesner J, Sanderbrand S, Altincicek B, Weidemeyer C, et al. (1999)

Inhibitors of the nonmevalonate pathway of isoprenoid biosynthesis as

antimalarial drugs. Science 285(5433): 1573–6.

16. Umeda T, Tanaka N, Kusakabe Y, Nakanishi M, Kitade Y, et al. (2011)

Molecular basis of fosmidomycin’s action on the human malaria parasite

Plasmodium falciparum. Sci Rep: 1: 9.

17. Johnson RA, McFadden GI, Goodman CD (2011) Characterization of two

malaria parasite organelle translation elongation factor G proteins: the likely

targets of the anti-malarial fusidic acid. PLoS One 6(6): e20633.

18. Galhaup I (1989) Azelaic acid: mode of action at cellular and subcellular levels.

Acta Derm Venereol Suppl (Stockh) 143: 75–82.

19. Archer S (1974) Recent progress in the chemotherapy of schistosomiasis. Prog

Drug Res 18: 15–24.

20. Mahmoudi N, de Julian-Ortiz JV, Ciceron L, Galvez J, Mazier D, et al. (2006)

Identification of new antimalarial drugs by linear discriminant analysis and

topological virtual screening. J Antimicrob Chemother 57(3): 489–97.

21. Shekhar KC (1991) Schistosomiasis drug therapy and treatment considerations.

Drugs 42(3): 379–405.

Ta

ble

2.

Co

nt.

Dru

g(b

ran

dn

am

es)

Dru

gca

teg

ory

(ie

s)T

ox

icit

yP

.fa

lcip

aru

mta

rge

t(s)

IDId

en

tity

to(E

-va

lue

)T

DR

TD

rug

ga

bil

ity

Me

tab

oli

cF

un

ctio

n

Su

cra

lfa

te(A

nte

psi

n,

Ap

o-s

ucr

alfa

te,

Car

afat

e,

Sucr

amal

,Su

lcra

te,

Sulc

rate

Susp

en

sio

nP

lus,

Ulc

ar,

Ulc

erb

an,

Ulc

erl

min

,U

lce

rmin

)

An

ti-U

lce

rA

ge

nts

Acu

teo

ral

toxi

city

(LD

50

)in

mic

eis

.8

00

0m

g/k

g.

Th

ere

islim

ite

de

xpe

rie

nce

inh

um

ans

wit

ho

verd

osa

ge

of

sucr

alfa

te.

Sucr

alfa

teis

on

lym

inim

ally

abso

rbe

dfr

om

the

gas

tro

inte

stin

altr

act

and

thu

sri

sks

asso

ciat

ed

wit

hac

ute

ove

rdo

sag

esh

ou

ldb

em

inim

al.

pla

sme

psi

nX

PF3

D7

_0

80

82

00

Pe

psi

nA

(P0

07

90

-P

EPA

_H

UM

AN

)(7

e2

43

)0

.6P

rote

oly

sis

pla

sme

psi

nI

(PM

I)P

F3D

7_

14

07

90

0P

ep

sin

A(P

00

79

0-

PEP

A_

HU

MA

N)

(5e

24

1)

0.8

Pro

teo

lysi

s

pla

sme

psi

nIII

,his

to-a

spar

tic

pro

teas

e(H

AP

)P

F3D

7_

14

08

10

0P

ep

sin

A(P

00

79

0-

PEP

A_

HU

MA

N)

(2e

23

4)

0.8

Pro

teo

lysi

s

pla

sme

psi

nV

IIP

F3D

7_

10

33

80

0P

ep

sin

A(P

00

79

0-

PEP

A_

HU

MA

N)

(2e

22

5)

0.3

Pro

teo

lysi

s

Re

mik

ire

nA

nti

hyp

ert

en

sive

Ag

en

tsP

rote

ase

Inh

ibit

ors

NA

pla

sme

psi

nX

PF3

D7

_0

80

82

00

Re

nin

(P0

07

97

-R

ENI_

HU

MA

N)

(1e

22

6)

0.6

Pro

teo

lysi

s

Ali

skir

en

(Ras

ilez,

Te

ktu

rna)

An

tih

ype

rte

nsi

veA

ge

nts

Th

em

ost

like

lym

anif

est

atio

no

fo

verd

osa

ge

wo

uld

be

hyp

ote

nsi

on

pla

sme

psi

nX

PF3

D7

_0

80

82

00

Re

nin

(P0

07

97

-R

ENI_

HU

MA

N)

(1e

22

6)

0.6

Pro

teo

lysi

s

(NA

:n

ot

avai

lab

le;

cod

es

inb

rack

ets

rep

rese

nt

the

targ

et

Ide

nti

tyC

od

eo

fD

rug

Ban

k.T

oxi

city

dat

ais

cite

dfr

om

Dru

gB

ank;

FAS:

Fatt

yA

cid

Syn

the

sis;

LD5

0:

dru

gd

ose

that

resu

lts

ind

eat

ho

f5

0%

of

the

anim

als)

.d

oi:1

0.1

37

1/j

ou

rnal

.po

ne

.00

59

28

8.t

00

2

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 7 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
73
lourival
Texto digitado
Page 89: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

22. Phetsuksiri B, Baulard AR, Cooper AM, Minnikin DE, Douglas JD, et al. (1999)

Antimycobacterial activities of isoxyl and new derivatives through the inhibitionof mycolic acid synthesis. Antimicrob Agents Chemother 43(5): 1042–51.

23. Phetsuksiri B, Jackson M, Scherman H, McNeil M, Besra GS, et al. (2003)

Unique mechanism of action of the thiourea drug isoxyl on Mycobacteriumtuberculosis. J Biol Chem 278(52): 53123–30.

24. Wang C, Hickey AJ (2010) Isoxyl aerosols for tuberculosis treatment:preparation and characterization of particles. AAPS PharmSciTech 11(2):

538–49.

25. Bergogne-Berezin E, Berthelot G, Muller-Serieys C (1987) [Present status ofnitroxoline]. Pathol Biol (Paris). 35(5 Pt 2): 873–8.

26. Pelletier C, Prognon P, Bourlioux P (1995) Roles of divalent cations and pH inmechanism of action of nitroxoline against Escherichia coli strains. Antimicrob

Agents Chemother 39(3): 707–13.27. Shim JS, Matsui Y, Bhat S, Nacev BA, Xu J, et al. (2010) Effect of nitroxoline on

angiogenesis and growth of human bladder cancer. J Natl Cancer Inst 102(24):

1855–73.

28. Scheibel LW, Adler A (1981) Antimalarial activity of selected aromatic chelators.

II. Substituted quinolines and quinoline-N-oxides. Mol Pharmacol 20(1): 218–

23.

29. Rees WD (1991) Mechanisms of gastroduodenal protection by sucralfate.

Am J Med 91(2A): 58S–63S.

30. Jensen SL, Funch Jensen P (1992) Role of sucralfate in peptic disease. Dig Dis

10(3): 153–61.

31. Friedman R, Caflisch A (2009) Discovery of plasmepsin inhibitors by fragment-

based docking and consensus scoring. ChemMedChem 4(8): 1317–26.

32. Wiesner J, Reichenberg A, Heinrich S, Schlitzer M, Jomaa H (2008) The

plastid-like organelle of apicomplexan parasites as drug target. Curr Pharm Des

14(9): 855–71.

33. Shonhai A (2009) Plasmodial heat shock proteins: targets for chemotherapy.

FEMS Immunol Med Microbiol 58(1): 61–74.

Antimalarial Drugs

PLOS ONE | www.plosone.org 8 March 2013 | Volume 8 | Issue 3 | e59288

lourival
Texto digitado
74
lourival
Texto digitado
lourival
Texto digitado
Page 90: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

75

6 DISCUSSÃO GERAL

No presente trabalho, utilizamos a metodologia de busca sistemática de

alvos de fármacos previstos e hipotéticos do metabolismo energético de Leishmania e

do metabolismo geral do apicoplasto de P. falciparum, visando reposicionar tais

fármacos para o tratamento das leishmanioses e da malária, respectivamente.

Nossa busca baseou-se no principio da similaridade do alvo, que consiste na

identificação de fármacos ou inibidores que atuam contra alvos semelhantes, mas

pertencentes a organismos diferentes. Utilizamos a sequência peptídica de cada alvo

para interrogar as bases de dados: Therapeutic Targets, Drug Bank e STITCH para obter

inibidores ou fármacos aprovados para cada alvo de interesse. Nossa busca resultou em

15 fármacos que atuam especificamente contra enzimas do metabolismo energético

(artigo1) e 13 fármacos inibidores proteicos do metabolismo do apicoplasto de P.

falciparum (artigo 2). Alguns desses fármacos apresentam maior potencial terapêutico e

maior viabilidade para testes in vitro e in vivo, por essas razões, os descrevemos em

detalhes nas seções seguintes.

6.1 Fármacos que atuam no metabolismo energético de Leishmania

spp

A Lonidamina ou Ionidamina (Doridamina) (LND, 1-(2,4-dichlorobenzyl)-1,H-

indazol-3-carboxylic acid) foi desenvolvida como agente antiespermatogênico, mas

provou ser eficaz contra células de alta atividade metabólica, tais como células

cancerígenas e de protozoários (FLORIDI et al., 1981; SHARLOW et al., 2010). Em

células tumorais, LND afeta a glicólise e a produção de lactato pela inibição de uma

hexoquinase ligada à mitocôndria (FLORIDI et al., 1981). Em formas promastigotas de

L. mexicana e epimastigotas de Trypanosoma cruzi, a inibição foi alcançada com LD50

de ~260 M e ~80 M, respectivamente. O mecanismo de ação de LND foi atribuído à

inibição do metabolismo energético (FLORIDI et al., 1981). Em T. brucei, causador da

tripanossomíase africana, foi demonstrado que o LND atua inibindo a hexoquinase de

formas pró-ciclicas desse parasito. Os resultados desse experimento indicam a

Page 91: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

76

hexoquinase como um importante alvo terapêutico para lonidamina (CHAMBERS,

2007).

O Nadide é um fármaco aprovado para o tratamento da doença de Parkinson,

doença de Alzheimer, doença cardiovascular (dados do Drugbank). Mais recentemente,

estudos com câncer de mama e de longevidade têm revelado a importância dessa

pequena molécula. Nadide é a forma comercial da molécula de NADH produzida pelos

seres vivos a partir da redução da Nicotinamida Adenina Dinucleotídeo (NAD).

Desde sua descoberta no começo do século XX até os dias atuais, o

conhecimento da importância dessa pequena molécula aumentou muito. O papel mais

conhecido do NAD é o de transportador de elétrons, nas reações de oxi-redução.

Entretanto, outras funções, tais como transdução de sinal, modificação de proteínas e

DNA, são também atribuídas a ela (CHEN et al., 2008). Recentemente, (GAZANION

et al., 2011) demonstraram que a homeostase do NAD+ é essencial para a biologia e

virulência de Leishmania. Esses autores verificaram que a nicotinaminidase, que

converte a nicotinamida em ácido nicotínico, é a enzima chave para gerar NAD+ a

partir de seus precursores. Interessantemente é que os precursores (nicotinamida, ácido

nicotínico, ribosídeo nicotinamida) são derivados do hospedeiro e a referida enzima não

é encontrada em mamíferos (GAZANION et al., 2011).

Sulfacetamida de Sódio ou sulfacetamida é um bacteriostático que atua contra

bactérias Gram positivas e Gram negativas sensíveis à sulfonamida, geralmente isoladas

de infecções secundárias da pele. Os micro-organismos susceptíveis são Streptococci,

Staphylococci, E. coli, Klebsiella pneumoniae, Pseudomonas pyocyanea, espécies de

Salmonella, Proteus vulgaris, Nocardia. A dose letal oral (LD50) para camundongos é

16500 mg/kg. Para humanos, os efeitos colaterais incluem eritema, edema moderado,

náusea, vômito, cefaleia. Além desses efeitos, a síndrome de Stevens-Johnson foi

relatada em pacientes HIV positivos após receberem gotas de sulfacetamida para

tratamento de infecções oculares. Todos esses efeitos, entretanto, estão relacionados à

administração oral ou alta absorção na pele, mucosas e conjuntivas. O uso tópico da

medicação não produz fortes efeitos colaterais como citados anteriormente, a não ser em

indivíduos com hipersensibilidade à sulfonamida.

A sulfocetamida atua como inibidor da manose-6-fosfato-isomerase (também

conhecida como fosfomanose isomerase, PMI), enzima considerada chave para o

metabolismo energético de Kinetoplastídeos. Essa enzima faz isomerização da frutose-

Page 92: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

77

6-fosfato em manose-6-fosfato. A PMI de Kinetoplastideos tem baixa identidade com a

enzima humana (E value de 3E-59) que a torna um alvo interessante para teste com

novas drogas. 

6.2 Fármacos que atuam no apicoplasto de P. falciparum

O ácido azelaico (AA) atua na síntese de DNA em bactérias (GALHAUP, 1988)

e apresenta baixa toxicidade em modelos animais. No presente trabalho, nossa busca

sugere que o AA interfere com dois alvos envolvidos no reparo do DNA do apicoplasto

de P. falciparum: uma exonuclease 5’- 3’ , resolvase de domínio N-terminal e uma

enzima de replicação e reparo de plastídeo. Além disso, de acordo com as informações

disponíveis na base de dados DrugBank, o AA tem um valor do coeficiente de partição

(logP) de 1,7 , indicando que o fármaco tem alta capacidade de atravessar as membranas

celulares. Embora essa propriedade não seja um pré-requisito para os fármacos que

interferem na biologia do apicoplasto (BOTTÉ; DUBAR; MCFADDEN, 2011), ela

poderia ser vantajosa para aqueles que agem nessa organela, pois teriam que atravessar

seis membranas até atingir a molécula-alvo. Todavia, o AA está disponível

comercialmente apenas na forma de creme de uso tópico e assim, em termos práticos,

testá-lo como antimalárico poderia apresentar alguns desafios.

O Lucantone foi primeiramente descrito como esquistossomicida (ARCHER,

1974) e supostamente atua contra uma AP-endonuclease, um alvo hipotético do

apicoplasto. Posteriormente foi substituído pelo hicantone, seu metabólito primário.

Embora não haja relato na literatura sobre a avaliação antimalárica do lucantone, o

hicantone apresentou atividade antimalárica em screening virtuais contra P. falciparum

com um IC50 abaixo de 5,0 microM (MAHMOUDI et al., 2006). Atualmente, o

lucantone tem sido testado na terapia anticâncer, apresentando boa tolerância em

humanos sem toxicidade hematológica ou gastrointestinal para doses clinicamente

toleradas. Entretanto, isso contrasta com sugestões anteriores nas quais o tratamento da

esquistossomose com lucantone relatava produzir efeitos colaterais tais como:

hepatoxicidade e distúrbios gastrointestinais após administração intramuscular

(SHEKHAR, 1991).

O isoxil (Tiocarlida), um derivado da tioureia, foi amplamente usado durante os

anos 1960 para tratamento clínico da tuberculose e tem demonstrado ser efetivo em

Page 93: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

78

atividade in vitro contra cepas multidroga resistente de Mycobacterium tuberculosis

(PHETSUKSIRI; BAULARD, 1999). Em M. tuberculosis, isonoxil (ISO) atua inibindo

a síntese de ácido oleico e este efeito está diretamente relacionado à ação inibitória do

fármaco a uma desnaturase esteroil-coenzima A associada à membrana, DesA3

(PHETSUKSIRI; JACKSON, 2003). Os resultados do presente trabalho sugerem que o

isoxil é capaz de inibir uma suposta desnaturase esteroil-CoA delta 9 homóloga (valor

de E= 2e252) encontrada no apicoplasto de P. falciparum. Além disso, o ISO não tem

efeitos colaterais conhecidos (WANG; HICKEY, 2010) o que o torna altamente

apropriado para uso clínico em humanos. O aspecto negativo do ISO e que ele tem um

alto valor de logP de aproximadamente 5,8, que o faz virtualmente insolúvel em água

com consequente pobre dissolução e biodisponibilidade quando administrado por via

oral (WANG; HICKEY, 2010)

O nitroxolina (sinônimo 5-Nitroxina) é um agente antibacteriano urinário que

tem sido usado desde 1962 contra organismos gram-positivos e gram-negativos,

comumente encontrados em infecções do trato urinário (BERGOGNE-BEREZIN,

1987). O mecanismo de ação sugerido é a quelação de íons metálicos vitais para o

crescimento bacteriano (PELLETIER; PROGNON; BOURLIOUX, 1995). Mais

recentemente, foi descoberto que a nitroxilina tem propriedades antiangiogênicas, que o

faz útil como fármaco anticâncer (SHIM; MATSUI; BHAT, 2010). Nossos resultados

indicam que a nitroxolina poderia interferir com uma suposta metionina aminopeptidase

1c encontrada no apicoplasto de P. falciparum, que é homóloga da enzima humana e

supõe estar envolvida na proteólise dentro do apicoplasto. Notavelmente, a nitroxilina

demonstrou excepcional atividade in vitro contra P. falciparum exibindo uma Dose

Efetiva (ED50) de aproximadamente 63 nM em 48h pós exposição, um valor que reflete

sensivelmente uma potência 10 vezes mais alta do que o sulfato de quinina neste mesmo

estudo, sob as mesmas condições (SCHEIBEL; ADLER, 1981). Além disso, pelos

resultados observados in vitro, a nitroxilina apresenta um logP de 1.9 o qual poderia

favorecer sua habilidade de atravessar a membrana e alcançar seus alvos. Curiosamente,

a avaliação da nitroxilina como um potencial antimalárico para uso clínico in vivo

parece nunca ter sido investigado. Por essas razões, consideramos que a nitroxilina

poderia ser priorizada para maiores avaliações de seu potencial valor como um fármaco

antimalárico.

Page 94: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

79

Por último, referimos ao sucralfato, possivelmente um dos fármacos de menor

atividade antimalárica, em razão de não ser um agente anti-infectivo propriamente dito,

mas um composto antiúlcera. O sucralfato é uma pequena molécula aprovada,

basicamente formada de sulfato de sacarose e hidróxido de alumínio, administrada

oralmente para a prevenção e tratamento de várias doenças gastrointestinais, incluindo

refluxo gastroesofágico, úlcera gástrica e duodenal (REES, 1991). O sucralfato age,

pelo menos parcialmente, através da inibição da pepsina A humana (JENSEN;

JENSEN, 1992), na qual identificamos aqui ser homóloga a quatro plasmepsinas

localizadas no apicoplasto: plasmepsina X, plasmepsina I, plasmepsina III,

histoaspártico protease (HAP) e plasmepsina VII. Interessantemente, foi recentemente

sugerido que o holofantrine inibe a plasmepsina X, um dos alvos previstos do sucralfato

(FRIEDMAN; CAFLISCH, 2009). Devido a sua própria natureza terapêutica, o

sucralfato tem baixa absorção gastrointestinal e, consequentemente, é improvável que

alcance níveis terapêuticos sistêmicos em pacientes tratados por via oral. Entretanto,

visto que o sucralfato está disponível na forma de pó ele poderia ser testado

diretamente, após ser diluído em veículo apropriado, em modelos experimentais in vivo

com via de administração além da oral, tais como a intravenosa ou intraperitoneal.

Além dos fármacos discutidos acima, mais oito fármacos são previstos ser

capazes de interferir com alvos do apicoplasto. Eles não foram discutidos em detalhes

porque consideramos que algumas de suas propriedades intrínsecas poderiam torná-los

menos adequados do que os agentes antimaláricos discutidos acima. Por exemplo,

bleomicina, gemcitabina e nitrato de galium são três agentes antineoplásicos e por essa

razão são mais prováveis causar efeitos colaterais/toxicidade em humanos em caso de

uso direto. Sendo assim, embora os parâmetros de toxicidade do nitrato de galium não

estejam disponíveis, considerável toxicidade é esperada para a bleomicina e

gemcitabina. Em outros casos, tais como aqueles da rifabutina e etionamida, nós

consideramos que o valor esperado (E-value) para a homologia do alvo é

insuficientemente significante para inferir a previsão do alvo com um alto grau de

confiança. O remikeren e aliskeren são dois agentes hipertensivos, por esta razão, a

aplicabilidade a curto prazo desses fármacos como antimaláricos exigiria maiores

desafios.

Page 95: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

80

7 CONCLUSÕES GERAIS

Utilizando as bases de dados TDR targets, Gene DB, TriTrypDB e PlasmoDB

fomos capazes de identificar 94 genes relacionados ao metabolismo energético de

Leishmania spp e seus produtos, bem como aproximadamente 600 genes e seus

produtos do metabolismo geral do apicoplasto. A partir da sequência de aminoácidos de

cada alvo, identificamos nas bases de dados DrugBank, Therapeutic Targets e Stitch

fármacos aprovados para uso humano que atuassem seletivamente sobre os alvos de

interesse.

Nossa busca baseou-se no princípio similaridade do alvo de fármacos do

metabolismo energético de Leishmania spp e do apicoplasto de P. falciparum. Para o

metabolismo energético de Leishmania spp identificamos 44 alvos capazes de interagir

com moléculas inibidoras e fármacos aprovados. Desse total, 33 alvos foram

descartados por interagir com substância classificadas como nutracêuticas, utilizadas

como suplementos energéticos. Os 11 alvos restantes demonstraram interagir com 15

fármacos aprovados para uso humano e que nunca foram usados para tratamento da

leishmaniose.

Para o metabolismo geral do apicoplasto, 72 alvos apresentaram interação com

inibidores, dos quais 25 foram descartados por apresentar afinidade com suplementos

dietéticos. Os demais 47 alvos foram positivos para fármacos aprovados e não

aprovados e/ou em fase de testes. Desse total, 13 fármacos aprovados para uso humano

demonstraram interagir com 15 alvos do metabolismo geral do apicoplasto.

Nós enfatizamos que não temos evidências experimentais para sugerir que esses

fármacos recém-identificados poderiam apresentar atividade antileishmania ou

antimalárica e/ou afetar os alvos sugeridos. Além disso, é possível que sua efetividade

in vivo pudesse ser comprometida por fatores, tais como: absorção, distribuição,

metabolismo, excreção e toxicidade ou por falta de afinidade química apropriada com

seus supostos alvos. Contudo, triagens de fármacos in vitro poderiam fornecer insights

na sua capacidade para inibir o crescimento do parasito e, se algumas dessas atividades

reveladas forem promissoras, elas poderiam constituir importantes iniciativas para a

descoberta de novos fármacos antileishmania e antimalárico.

Page 96: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

81

8 REFERÊNCIAS

ADAMS, C. P.; BRANTNER, V. V. Estimating the cost of new drug

development: is it really 802 million dollars? Health affairs (Project Hope), v. 25, n.

2, p. 420–428, 2006.

ALVAR, J. et al. Leishmaniasis worldwide and global estimates of its incidence.

PLoS ONE, v. 7, n. 5, p. e35671, jan. 2012.

AMATO, V. S. et al. Treatment of mucosal leishmaniasis in Latin America:

systematic review. The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene, v. 77,

n. 2, p. 266–274, ago. 2007.

ANDRADE, C. H.; BRAGA, R. C. Editorial: drug metabolism, toxicology

experimental determination and theoretical prediction: challenges and perspectives from

a medicinal chemistry point of view. Current topics in medicinal chemistry, v. 14, n.

11, p. 1323–1324, jan. 2014.

ARCHER, S. Recent progress in the chemotherapy of schistosomiasis. Progress

in Drug Research/Fortschritte der Arzneimittelforschung/Progrès des recherches

pharmaceutiques. Birkhäuser Base, p. 15–24, 1974.

ASHBURN, T. T.; THOR, K. B. Drug repositioning: identifying and developing

new uses for existing drugs. Nature reviews. Drug discovery, v. 3, n. 8, p. 673–683,

ago. 2004.

ASLETT, M. et al. TriTrypDB: a functional genomic resource for the

Trypanosomatidae. Nucleic Acids Research, v. 38, n. Database issue, p. D457–462,

jan. 2010.

BAIRD, J.; HOFFMAN, S. Primaquine therapy for malaria. Clinical infectious

diseases, v. 39, p. 1336–1345, 2004.

BASCO, L. K.; RINGWALD, P. In Vitro Activities of Piperaquine and Other 4-

Aminoquinolines against Clinical Isolates of Plasmodium falciparum in Cameroon In

Page 97: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

82

Vitro Activities of Piperaquine and Other 4-Aminoquinolines against Clinical Isolates

of Plasmodium falciparum in Cameroon. Antimicrobial agents and chemotherapy, v.

47, n. 4, p. 1391–1394, 2003.

BAYOH, M. N. et al. Anopheles gambiae: historical population decline

associated with regional distribution of insecticide-treated bed nets in western Nyanza

Province, Kenya. Malaria journal, v. 9, n. 62, p. 1–12, jan. 2010.

BEN SALAH, A. et al. Topical paromomycin with or without gentamicin for

cutaneous leishmaniasis. The New England journal of medicine, v. 368, n. 6, p. 524–

532, 7 fev. 2013.

BERGOGNE-BEREZIN, E. Present status of nitroxoline. Pathologie-biologie,

v. 35, n. 5 Pt 2, p. 873–878, 1987.

BLAKE, R. M.; ADAMS, J. Global Research Report - Neglected Tropical

Diseases. Thomson Reuters Global Research Report, n. June, p. 1–14, 2012.

BOTTÉ, C.; DUBAR, F.; MCFADDEN, G. Plasmodium falciparum apicoplast

drugs: targets or off-targets? Chemical reviews, v. 112, n. 3, p. 1269–1283, 2011.

BRAGA, R. C. et al. Virtual screening strategies in medicinal chemistry: the

state of the art and current challenges. Current topics in medicinal chemistry, v. 14, n.

16, p. 1899–1912, jan. 2014.

BRINGAUD, F.; RIVIÈRE, L.; COUSTOU, V. Energy metabolism of

trypanosomatids: adaptation to available carbon sources. Molecular and biochemical

parasitology, v. 149, n. 1, p. 1–9, set. 2006.

CAIRNS, M. et al. Amodiaquine dosage and tolerability for intermittent

preventive treatment to prevent malaria in children. Antimicrobial agents and

chemotherapy, v. 54, n. 3, p. 1265–1274, mar. 2010.

CHAMBERS, J. W. ET AL. Chapter Three The Anti-Trypanosomal Agent

Lonidamine Inhibits Trypanosoma Brucei Hexokinase. Studies in the Biochemistry

and Cell Biology of Trypanosoma Brucei Hexokinases, n. December, p. 63, 2007.

Page 98: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

83

CHAPPUIS, F. et al. Visceral leishmaniasis: what are the needs for diagnosis,

treatment and control? Nature reviews. Microbiology, v. 5, n. 11, p. 873–882, nov.

2007.

CHEN, L. et al. Nicotinamide adenine dinucleotide based therapeutics. Current

Medicinal Chemistry, v. 15, n. 7, p. 650–670, jan. 2008.

CHEN, X.; JI, Z. L.; CHEN, Y. Z. TTD: Therapeutic Target Database. Nucleic

Acids Research, v. 30, p. 412–415, 2002.

CHURCHILL, F. C. et al. Amodiaquine as a prodrug: importance of

metabolite(s) in the antimalarial effect of amodiaquine in humans. Life sciences, v. 36,

p. 53–62, 1985.

CONTEH, L.; ENGELS, T.; MOLYNEUX, D. H. Socioeconomic aspects of

neglected tropical diseases. Lancet, v. 375, n. 9710, p. 239–247, 16 jan. 2010.

COWMAN, A. F.; GALATIS, D.; THOMPSON, J. K. linked to amplification of

the pfmdrl gene and cross-resistance. Proc. Natl. Acad. Sci., v. 91, n. February, p.

1143–1147, 1994.

CROWTHER, G. J. et al. Identification of attractive drug targets in neglected-

disease pathogens using an in silico approach. PLoS Neglected Tropical Dseases, v. 4,

n. 8, p. e804, jan. 2010.

DAHL, E. L. et al. Tetracyclines specifically target the apicoplast of the malaria

parasite Plasmodium falciparum. Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 50, n. 9,

p. 3124–3131, set. 2006.

DAUMERIE, DENIS; SAVIOLI, L. Working to overcome the global impact of

neglected tropical diseases: first WHO report on neglected tropical diseases. 2010.

DE REVIERS, B. Farmacologia básica e clínica: Lange. [s.l.] AMGH Editora,

2013.

Page 99: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

84

DELVES, M. et al. The activities of current antimalarial drugs on the life cycle

stages of Plasmodium: a comparative study with human and rodent parasites. PLoS

medicine, v. 9, n. 2, p. e1001169, 2012.

DONDORP, A. M. et al. Artemisinin Resistance in Plasmodium falciparum

Malaria. New England Journal of Medicine, v. 361, n. 5, p. 455–467, 2012.

DORLO, T. P. C. et al. Miltefosine: a review of its pharmacology and

therapeutic efficacy in the treatment of leishmaniasis. The Journal of Antimicrobial

Chemotherapy, v. 67, n. 11, p. 2576–2597, nov. 2012.

EKINS, S. et al. In silico repositioning of approved drugs for rare and neglected

diseases. Drug discovery today, v. 16, n. 7-8, p. 298–310, abr. 2011.

EKINS, S.; MESTRES, J.; TESTA, B. In silico pharmacology for drug

discovery: methods for virtual ligand screening and profiling. British journal of

pharmacology, v. 152, n. 1, p. 9–20, set. 2007.

EKINS, S.; WILLIAMS, A. Finding promiscuous old drugs for new uses.

Pharmaceutical Research, v. 28, n. 8, p. 1785–1791, 2011.

EMÍLIA, N. et al. Resistência à sulfadoxina-pirimetamina em Maputo ,

Moçambique : presença de mutações nos genes dhfr e dhps do Plasmodium falciparum

Sulfadoxine-pyrimethamine resistance in Maputo , Mozambique : presence of mutations

in the dhfr and dhps genes of Plasmodiu. Revista da Sociedade Brasileira de

Medicina Tropical, v. 40, n. 4, p. 447–450, 2007.

FIDALGO, L. M.; GILLE, L. Mitochondria and trypanosomatids: targets and

drugs. Pharmaceutical Research, v. 28, n. 11, p. 2758–2770, nov. 2011.

FIDOCK, D. A. et al. Mutations in the P. falciparum Digestive Vacuole

Transmembrane Protein PfCRT and Evidence for Their Role in Chloroquine Resistance.

Molecular Cell, v. 6, n. 4, p. 861–871, out. 2000.

FIVELMAN, Q. L.; ADAGU, I. S.; WARHURST, D. C. Effects of piperaquine,

chloroquine, and amodiaquine on drug uptake and of these in combination with

Page 100: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

85

dihydroartemisinin against drug-sensitive and -resistant Plasmodium falciparum strains.

Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 51, n. 6, p. 2265–2267, jun. 2007.

FLORIDI, A. et al. Effect of Lonidamine on the Energy Metabolism of Ehrlich

Ascites Tumor Cells. Cancer Res, v. 41, p. 4661–4666, 1981.

FRIEDMAN, R.; CAFLISCH, A. Discovery of Plasmepsin Inhibitors by

Fragment Based Docking and Consensus Scoring. ChemMedChem, v. 4, n. 8, p.

1317–1328, 2009.

FUNES, S.; DAVIDSON, E.; REYES-PRIETO, A. A green algal apicoplast

ancestor. Science, v. 298, n. 5601, p. 2155, 2002.

GALHAUP, I. Azelaic acid: mode of action at cellular and subcellular levels.

Acta dermato-venereologica. Supplementum, v. 143, p. 75–82, 1988.

GAZANION, E. et al. The Leishmania nicotinamidase is essential for NAD+

production and parasite proliferation. Molecular Microbiology, v. 82, n. 1, p. 21–38,

out. 2011.

HANNAERT, V. Evolution of energy metabolism and its compartmentation in

Kinetoplastida. Kinetoplastid Biology and Disease, v. 30, p. 1–30, 2003.

HOTEZ, P. J. et al. The global burden of disease study 2010: interpretation and

implications for the neglected tropical diseases. PLoS neglected tropical diseases, v. 8,

n. 7, p. e2865, jul. 2014.

HOTEZ PJ, MOLYNEUX DH, FENWICK A, ET AL. Control of Neglected

Tropical Diseases. The New England Journal of Medicine, v. 357, n. 10, p. 1018–

1027, 2007.

HWANG, J. et al. Chloroquine or amodiaquine combined with sulfadoxine-

pyrimethamine for uncomplicated malaria: a systematic review. Tropical medicine &

international health : TM & IH, v. 11, n. 6, p. 789–799, jun. 2006.

JANOUSKOVEC, J. et al. A common red algal origin of the apicomplexan,

dinoflagellate, and heterokont plastids. Proceedings of the National Academy of

Page 101: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

86

Sciences of the United States of America, v. 107, n. 24, p. 10949–10954, 15 jun.

2010.

JENSEN, S.; JENSEN, P. Role of sucralfate in peptic disease. Digestive

Diseases, v. 10, n. 3, p. 153–161, 1992.

KAUR, J. et al. Bioinformatic Analysis of Leishmania donovani Long-Chain

Fatty Acid-CoA Ligase as a Novel Drug Target. Molecular Biology International, v.

2011, p. 278051, jan. 2011.

KHIM, N.; ANDRIANARANJAKA, V. Effects of Mefloquine Use on

Plasmodium vivax Multidrug Resistance. Emerging infectious diseases, v. 20, n. 10, p.

1637–1644, 2014.

KRUDSOOD, S.; TANGPUKDEE, N. High-dose primaquine regimens against

relapse of Plasmodium vivax malaria. The American journal of tropical medicine

and hygiene, v. 78, n. 5, p. 736–740, 2008.

KUHN, M. et al. STITCH 3: zooming in on protein-chemical interactions.

Nucleic Acids Research, v. 40, n. D1, p. D876–D880, 9 nov. 2011.

LAW, V. et al. DrugBank 4.0: shedding new light on drug metabolism. Nucleic

Acids Research, v. 42, p. D1091–D1097, 2014.

LIM, P. et al. Ex vivo susceptibility of Plasmodium falciparum to antimalarial

drugs in western, northern, and eastern Cambodia, 2011-2012: association with

molecular markers. Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 57, n. 11, p. 5277–

5283, dez. 2013.

LOBO, E. et al. Prevalence of pfmdr1 alleles associated with artemether-

lumefantrine tolerance/resistance in Maputo before and after the implementation of

artemisinin-based combination therapy. Malaria journal, v. 13, n. 1, p. 300, jan. 2014.

MAGARIÑOS, M. P. et al. TDR Targets: a chemogenomics resource for

neglected diseases. Nucleic Acids Research, v. 40, n. Database issue, p. D1118–

D1127, jan. 2012.

Page 102: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

87

MAHMOUDI, N. et al. Identification of new antimalarial drugs by linear

discriminant analysis and topological virtual screening. The Journal of antimicrobial

chemotherapy, v. 57, n. 3, p. 489–497, mar. 2006.

MASMOUDI, A. et al. Old World cutaneous leishmaniasis: diagnosis and

treatment. Journal of Dermatological Case Reports, v. 7, n. 2, p. 31–41, 2013.

MCFADDEN, G. The apicoplast. Protoplasma, v. 248, n. 4, p. 641–650, 2011.

MCFADDEN, G. I. et al. Plastid in human parasites. Nature, v. 381, n. 6582, p.

482, 1996.

MCFADDEN, G.; ROOS, D. Apicomplexan plastids as drug targets. Trends in

microbiology, v. 7, n. 8, p. 328–333, 1999.

MEHTA, A.; SHAHA, C. Apoptotic death in Leishmania donovani

promastigotes in response to respiratory chain inhibition: complex II inhibition results

in increased pentamidine cytotoxicity. The Journal of biological chemistry, v. 279, n.

12, p. 11798–11813, 19 mar. 2004.

MÉNARD, D. et al. Global analysis of Plasmodium falciparum Na(+)/H(+)

exchanger (pfnhe-1) allele polymorphism and its usefulness as a marker of in vitro

resistance to quinine. International journal for parasitology. Drugs and drug

resistance, v. 3, p. 8–19, dez. 2013.

MILLER, L. H. et al. The pathogenic basis of malaria. Nature Reviews …, v.

415, n. 6872, p. 673–679, 2002.

MINODIER, P.; PAROLA, P. Cutaneous leishmaniasis treatment. Travel

Medicine and Infectious Disease, v. 5, n. 3, p. 150–158, maio 2007.

MISHRA, J.; SAXENA, A.; SINGH, S. Chemotherapy of leishmaniasis: past,

present and future. Current Medicinal Chemistry, v. 14, n. 10, p. 1153–1169, 2007.

MOORE, R. B. et al. A photosynthetic alveolate closely related to apicomplexan

parasites. Nature, v. 451, n. 7181, p. 959–963, 2008.

Page 103: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

88

NEFTEL, K.; WOODTLY, W. Amodiaquine induced agranulocytosis and liver

damage. British medical journal (Clinical research ed.), v. 292, n. 6522, p. 721–723,

1986.

NWAKA, S.; HUDSON, A. Innovative lead discovery strategies for tropical

diseases. Nature reviews. Drug discovery, v. 5, n. 11, p. 941–955, nov. 2006.

O’NEILL, P. M.; BARTON, V. E.; WARD, S. A. The molecular mechanism of

action of artemisinin--the debate continues. Molecules (Basel, Switzerland), v. 15, n.

3, p. 1705–1721, mar. 2010.

OLIVEIRA-FERREIRA, J. et al. Malaria in Brazil : an overview. Malaria

Journal, v. 9, n. 115, p. 1–15, 2010.

OPPERDOES, F. R.; COOMBS, G. H. Metabolism of Leishmania: proven and

predicted. Trends in parasitology, v. 23, n. 4, p. 149–158, abr. 2007.

OPPERDOES, F. R.; MICHELS, P. A. M. The metabolic repertoire of

Leishmania and implications for drug discovery. Leishmania, after the genome. Caister

Academic Press, v. 1 ed., p. 123–158, 2008.

OPREA, T. I. et al. Drug Repurposing from an Academic Perspective. Drug

discovery today. Therapeutic strategies, v. 8, n. 3-4, p. 61–69, jan. 2011.

OPREA, T. I.; MESTRES, J. Drug repurposing: far beyond new targets for old

drugs. The AAPS journal, v. 14, n. 4, p. 759–763, dez. 2012.

OVERINGTON, J. P.; AL-LAZIKANI, B.; HOPKINS, A. L. How many drug

targets are there? Nature reviews. Drug discovery, v. 5, n. 12, p. 993–996, dez. 2006.

PELLETIER, C.; PROGNON, P.; BOURLIOUX, P. Roles of divalent cations

and pH in mechanism of action of nitroxoline against Escherichia coli strains.

Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 39, n. 3, p. 707–713, 1995.

PETERSEN, I.; EASTMAN, R.; LANZER, M. Drug-resistant malaria:

molecular mechanisms and implications for public health. FEBS Letters, v. 585, n. 11,

p. 1551–1562, 6 jun. 2011.

Page 104: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

89

PHETSUKSIRI, B.; BAULARD, A. Antimycobacterial activities of isoxyl and

new derivatives through the inhibition of mycolic acid synthesis. Antimicrobial agents

chemother, v. 43, n. 5, p. 1043–1051, 1999.

PHETSUKSIRI, B.; JACKSON, M. Unique mechanism of action of the thiourea

drug isoxyl on Mycobacterium tuberculosis. Journal of Biological Chem, v. 278, n. 52,

p. 53123–53130, 2003.

PHILLIPS, E. J.; KEYSTONE, J. S.; KAIN, K. C. Failure of Combined

Chloroquine and High-Dose Primaquine Therapy for Plasmodium vivax Malaria

Acquired in Guyana, South America. Clinical Infectious Diseases, v. 23, n. 5, p. 1171–

1173, 1 nov. 1996.

PLUCINSKI, M. M. et al. Novel Mutation in Cytochrome B of Plasmodium

falciparum in One of Two Atovaquone-Proguanil Treatment Failures in Travelers

Returning From Same Site in Nigeria. Open Forum Infectious Diseases, v. 1, n. 2, p.

ofu059–ofu059, 14 jul. 2014.

QIN, C. et al. Therapeutic target database update 2014: a resource for targeted

therapeutics. Nucleic Acids Research, p. 1–6, 2013.

RALPH, S. A et al. Tropical infectious diseases: metabolic maps and functions

of the Plasmodium falciparum apicoplast. Nature Reviews. Microbiology, v. 2, n. 3, p.

203–216, mar. 2004.

RAMAN, J. et al. Five years of large-scale dhfr and dhps mutation surveillance

following the phased implementation of artesunate plus sulfadoxine-pyrimethamine in

Maputo Province, Southern Mozambique. The American journal of tropical medicine

and hygiene, v. 82, n. 5, p. 788–794, maio 2010.

READY, P. D. Leishmaniasis emergence in Europe. Euro surveillance, v. 15, n.

10, p. 1–13, 2010.

REES, W. Mechanisms of gastroduodenal protection by sucralfate. The

American journal of medicine, v. 91, n. 2, p. S58–S63, 1991.

Page 105: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

90

REYBURN, H. ET AL. Guidelines for the treatment of malaria, 2nd edition.

WHO, p. 197p, 2010.

ROBERTS, LARRY S; JANOVY, JOHN; SCHMIDT, G. D. Foundations of

parasitology. 8a edition ed.New York, NY: McGraw-Hill, 2009. p. 150–152

RONET, C.; BEVERLEY, S. M.; FASEL, N. Muco-cutaneous leishmaniasis in

the New World. Virulence, v. Volume 2 I, n. December, p. 547–552, 2011.

ROSENZWEIG, D. et al. Retooling Leishmania metabolism: from sand fly gut

to human macrophage. FASEB journal : Official Publication of the Federation of

American Societies for Experimental Biology, v. 22, n. 2, p. 590–602, fev. 2008.

SANTOS, D. O. et al. Leishmaniasis treatment--a challenge that remains: a

review. Parasitology Research, v. 103, n. 1, p. 1–10, jun. 2008.

SARDANA, D. et al. Drug repositioning for orphan diseases. Briefings in

Bioinformatics, v. 12, p. 346–356, 2011.

SAUNDERS, E. C. et al. Induction of a stringent metabolic response in

intracellular stages of Leishmania mexicana leads to increased dependence on

mitochondrial metabolism. PLoS pathogens, v. 10, n. 1, p. e1003888, jan. 2014.

SAVIOLI, D. D. AND L. Accelerating Work to Overcome the Global Impact

of Neglected Tropical Diseases: A Roadmap for ImplementationWorld Health

Organization. [s.l: s.n.].

SCHEIBEL, L.; ADLER, A. Antimalarial activity of selected aromatic chelators

II. Substituted quinolines and quinoline-N-oxides. Molecular pharmacology, v. 20, n.

1, p. 218–223, 1981.

SCHUCK, D. C. et al. Biological evaluation of hydroxynaphthoquinones as anti-

malarials. Malaria journal, v. 12, n. 1, p. 234, jan. 2013.

SHAKED-MISHAN, P. et al. Novel Intracellular SbV reducing activity

correlates with antimony susceptibility in Leishmania donovani. The Journal of

Biological Chemistry, v. 276, n. 6, p. 3971–3976, 9 fev. 2001.

Page 106: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

91

SHARLOW, E. R. et al. A target-based high throughput screen yields

Trypanosoma brucei hexokinase small molecule inhibitors with antiparasitic activity.

PLoS Neglected Tropical Diseases, v. 4, n. 4, p. e659, jan. 2010.

SHEKHAR, K. Schistosomiasis drug therapy and treatment considerations.

Drugs, v. 42, p. 379–405, 1991.

SHIM, J.; MATSUI, Y.; BHAT, S. Effect of nitroxoline on angiogenesis and

growth of human bladder cancer. Journal of the National Cancer Institute, v. 102, n.

24, p. 1855–1873, 2010.

SIDHU, A. Decreasing pfmdr1 copy number in Plasmodium falciparum malaria

heightens susceptibility to mefloquine, lumefantrine, halofantrine, quinine, and

artemisinin. Journal of Infectious Diseases, v. 194, n. 4, p. 528–535, 2006.

SINGH, N.; KUMAR, M.; SINGH, R. K. Leishmaniasis: current status of

available drugs and new potential drug targets. Asian Pacific Journal of Tropical

Medicine, v. 5, n. 6, p. 485–497, jun. 2012.

SISOWATH, C. et al. In vivo selection of Plasmodium falciparum parasites

carrying the chloroquine-susceptible pfcrt K76 allele after treatment with artemether-

lumefantrine in Africa. The Journal of infectious diseases, v. 199, n. 5, p. 750–757, 1

mar. 2009.

SOLOMON, M. et al. Liposomal amphotericin B in comparison to sodium

stibogluconate for Leishmania braziliensis cutaneous leishmaniasis in travelers. Journal

of the American Academy of Dermatology, v. 68, p. 284–289, 2013.

SUN, T.; ZHANG, Y. Pentamidine binds to tRNA through non-specific

hydrophobic interactions and inhibits aminoacylation and translation. Nucleic Acids

Research, v. 36, n. 5, p. 1654–1664, mar. 2008.

SUNDAR, S. et al. Efficacy and Safety of Paromomycin in Treatment of Post-

Kala-Azar Dermal Leishmaniasis. ISRN Parasitology, v. 2014, n. October 2007, p. 1–

4, 2014.

Page 107: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

92

SUNDAR, S.; JHA, T.; THAKUR, C. Injectable paromomycin for visceral

leishmaniasis in India. New England Journal of Medicine, v. 356, n. 25, p. 2571–

2581, 2007.

SUTANTO, I. et al. Randomized, open-label trial of primaquine against vivax

malaria relapse in Indonesia. Antimicrobial agents and chemotherapy, v. 57, n. 3, p.

1128–1135, mar. 2013.

TAN, K. R. et al. Doxycycline for malaria chemoprophylaxis and treatment:

report from the CDC expert meeting on malaria chemoprophylaxis. The American

journal of tropical medicine and hygiene, v. 84, n. 4, p. 517–531, abr. 2011.

TU, Y. The discovery of artemisinin (qinghaosu) and gifts from Chinese

medicine. Nature medicine, v. 17, n. 10, p. 1217–1220, out. 2011.

VAN HELLEMOND, J. J.; OPPERDOES, F. R.; TIELENS, A. G.

Trypanosomatidae produce acetate via a mitochondrial acetate:succinate CoA

transferase. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of

America, v. 95, n. 6, p. 3036–3041, 1998.

VAN HELLEMOND, J. J.; VAN DER MEER, P.; TIELENS, A. G. M.

Leishmania infantum promastigotes have a poor capacity for anaerobic functioning and

depend mainly on respiration for their energy generation. Parasitology, v. 114, n. 4, p.

351–360, abr. 1997.

VENKATESAN, M. et al. Polymorphisms in Plasmodium falciparum

Chloroquine Resistance Transporter and Multidrug Resistance 1 Genes: Parasite Risk

Factors That Affect Treatment Outcomes for P. falciparum Malaria After Artemether-

Lumefantrine and Artesunate-Amodiaquine. The American journal of tropical

medicine and hygiene, v. 91, n. 4, p. 833–843, 1 out. 2014.

VERLINDE, C. L. et al. Glycolysis as a target for the design of new anti-

trypanosome drugs. Drug Resistance Updates, v. 4, n. 1, p. 1–14, fev. 2001.

WALLER, R. et al. Comment on“ A green algal apicoplast ancestor”. Science,

v. 301, n. 5629, p. 49–49, 2003.

Page 108: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

93

WANG, C.; HICKEY, A. Isoxyl aerosols for tuberculosis treatment: preparation

and characterization of particles. AAPS PharmSciTech, v. 11, n. 2, p. 538–549, 2010.

WHITE, N. J. MINIREVIEW Assessment of the Pharmacodynamic Properties

of Antimalarial Drugs In Vivo. Antimicrobial Agents and Chemotherapy, v. 41, n. 7,

p. 1413–1422, 1997.

WHO. World malaria report 2013. World Health Organization, 2014. [s.l:

s.n.].

WISHART, D. S. et al. DrugBank: a comprehensive resource for in silico drug

discovery and exploration. Nucleic Acids Research, v. 34, p. D668–D672, 2006.

ZHU, F. et al. Therapeutic target database update 2012: a resource for

facilitating target-oriented drug discovery. Nucleic Acids Research, v. 40, p. D1128–

1136, 2012.

Page 109: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

94

9 APÊNDICE

Bases de dados consultadas

TDR Targets Database

TriTrypDB

Page 110: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

95

Gene DB

PlasmoDB

Page 111: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

96

Therapeutic Target Database

DrugBank Database

Page 112: UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA … · UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL E SAÚDE PÚBLICA LOURIVAL DE ALMEIDA SILVA Reposicionamento

97

Stitch Database