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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL Ponta Grossa - PR 2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

SETOR DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO

PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Ponta Grossa - PR

2012

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KAROLLINE CHRISTINY SZEREMETA DA SILVA

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO

PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Engenharia de Segurança do Trabalho.

Orientador: Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger

Ponta Grossa - PR

2012

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TERMO DE APROVAÇÃO

Karolline Christiny Szeremeta da Silva

AVALIAÇÃO ERGONÔMICA DAS ATIVIDADES DO

PROFESSOR NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do título de Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho na Universidade Estadual de Ponta Grossa, Área de Engenharia de Segurança do Trabalho.

COMISSÃO EXAMINADORA

__________________________________________ Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger (Orientador)

Universidade Estadual de Ponta Grossa __________________________________________

Prof. M. Sc. Flávio Guimarães Kalinowski Universidade Estadual de Ponta Grossa

___________________________________________

Prof. Eng. Luiz Carlos Lavalle Filho Universidade Estadual de Ponta Grossa

Ponta Grossa, 31 de maio de 2012.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, porque ele é fiel e justo para cumprir cada

promessa.

De forma especial, agradeço ao meu orientador, Prof. Dr. Eng. José Adelino Krüger,

pela paciência, confiança, incentivo e amizade. Não poderia ter tido um orientador

mais atencioso.

Aos meus pais pelo suporte e dedicação. Certamente são as pessoas mais

interessadas no meu futuro e sucesso.

A todos aqueles que garantiram que esse trabalho pudesse ser feito. A diretora da

escola por ter autorizado o estudo de caso, e aos professores que contribuíram de

forma direta ou indireta para a conclusão desse trabalho.

Aos meus amigos e namorado que com tanta paciência entenderam minha ausência

nos churrascos, casamentos, e demais comemorações devido à importância desse

trabalho.

Aos queridos mestres do tempo da escola que não apenas ensinaram o caminho

das letras e números, mas que de forma inesquecível marcaram minha vida. Vocês

foram minha inspiração na escolha do tema visto nesse trabalho.

Por último, mas não menos importante pelos professores presentes na banca.

Obrigada por terem tirado um tempo para ler e avaliar este trabalho.

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"Não sois máquinas; Homens é que sois."

(Charles Chaplin)

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SILVA, Karolline Christiny Szeremeta da. Avaliação Ergonômica das Atividades do Professor na Educação Infantil. 2012. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Ponta Grossa.

RESUMO

Esse trabalho buscou realizar uma avaliação ergonômica de uma situação de trabalho dos professores da educação infantil em uma escola particular em uma cidade no interior do Paraná. Para o estudo de caso foram analisados os aspectos significativos foram discutidos a fisiologia, e a biomecânica, além das leis que protegem o trabalhador, entre elas a NR-17 e a CLT. Visando sempre priorizar o trabalho do professor, em especial na educação infantil, que foi o tema central do trabalho. Faz parte dessa pesquisa o questionário respondido por toda a população de professores da educação infantil do município em questão. Entre os principais resultados foram observados má postura, dores, principalmente na coluna, e estresse entre os professores. Também fez parte do objetivo desse trabalho propor melhorias nas condições de trabalho, no que envolva ergonomia e segurança.

Palavras-chave: Professor, ergonomia, educação infantil.

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SILVA , Karolline Christiny Szeremeta da. Ergonomic Evaluation of Activities of the teacher in Early Childhood Education. 2012. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Ponta Grossa.

ABSTRACT

This study attempts to make an ergonomic evaluation of the work situation of teachers in early childhood education in a private school in rural zone of the state of Paraná. The case study analyzed the significant aspects were discussed physiology, and biomechanics, beyond the laws that protect workers, including the NR-17 and CLT. Aiming always to prioritize the work of teachers, especially in early childhood education, which was the central theme of the thesis. Part of this research is the questionnaire answered by the entire population of teachers of early childhood education in the city in question. Among the main results were noticed bad postures, back pains (more often) and stress. It is also part of the objective of this study to suggest improvements in working conditions, involving ergonomics and safety precautions. Key-words: Teacher, ergonomics, early childhood education.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – A coluna vertebral. Fonte: (MÁSCULO ET AL., 2011 P. 171) ............. .....20

Figura 2 – Alavanca de primeiro grau. Fonte: (Sistema de alavancas) ................ .....21

Figura 3 – Alavanca de segundo grau. Fonte: (Sistema de alavancas) ............... .....22

Figura 4 – Alavanca de terceiro grau. Fonte: (Sistema de alavancas) ................. .....22

Figura 5 – À esquerda método squat lifting, e a direita método stoop lifting. Fonte:

(Master Garden) ................................................................................. .....25

Figura 6 – Posição do pescoço: à esquerda ideal, e à direita errada. Fonte:

(Elementu Vitalle) ............................................................................... .....28

Figura 7 – A – Sala de aula nível IV; B – Sala de aula nível V; C – Brinquedoteca; e

D – Playground. ................................................................................... ....31

Figura 8 – Método stoop lifting observado (professoras): à esquerda – nível IV, e à

direita – Nível V .................................................................................. .....34

Figura 9 – Professora segurando carga de 18 kg em pé ..................................... .....35

Figura 10 – Posições mais comuns – Professora Nível IV ................................... .....36

Figura 11 – Posições mais comuns – Professora Nível V .................................... .....36

Figura 12 – Trabalho sentado no playground. – Professora Nível IV ................... .....37

Figura 13 – Professores na Distribuição entre Níveis .......................................... .....38

Figura 14 – Dores Mencionadas pelos Professores ............................................. .....39

Figura 15 – Porcentagem de Queixa de Dores pelos Professores ....................... .....40

Figura 16 – Porcentagem de Frequência de Stress entre os Professores ........... .....41

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico

Fonte: (MÁSCULO ET AL., 2011 p.12).....................................................13

Quadro 2 – Equação de NIOSH revisada (1994) Fonte: (VIEIRA, 2011) ................. 24

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Massa em quilograma dos alunos do Nível IV.........................................32

Tabela 2 – Massa em quilograma dos alunos do Nível V..........................................33

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 12

1.1 Justificativa ......................................................................................................... 13

1.2 Objetivo .............................................................................................................. 14

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................. 15

2.1 NR-17...................................................................................................................15

2.2 Fisiologia do Trabalho..........................................................................................17

2.3. Biomecânica...............................................................................................19

2.3.1 Levantamento de Cargas .........................................................................22

2.3.2 Trabalho em Pé .......................................................................................25

2.3.3 Trabalho Sentado e Antropometria...........................................................26

2.4 Doenças Ocupacionais de Origem Biomecânica.................................................28

2.5 O Professor na Educação Infantil.........................................................................29

3 ESTUDO DE CASO................................................................................................31

3.1 Aspectos Significativos.........................................................................................32

3.1.1 Análise do Levantamento de Cargas........................................................32

3.1.2 Análise do Trabalho em Pé.......................................................................34

3.1.3 Análise do Trabalho Sentado e Antropometria.........................................35

3.1.4 Condições do Trabalho.............................................................................37

3.2 Aspectos Não Significativos .............................................................................. 42

3.3 Sugestões para Melhorias ................................................................................. 43

4 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 46

ANEXO A – QUESTIONÁRIO .................................................................................. 48

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1. INTRODUÇÃO

A ergonomia pode ser definida como o estudo das atividades humanas em

termos de esforço físico, intelectual, relacionamento e dedicação. Essa foi a primeira

definição proposta pelo cientista polonês Wojciech Jastrzebowski, em 1857. A

palavra ergonomia vem do grego, no qual ergo significa trabalho e nomos leis

naturais. Esse conceito tenta agrupar quatro naturezas distintas em apenas uma, a

natureza físico-motora, a estético-sensorial, a mental-intelectual e a espírito-moral.

(MÁSCULO ET AL., 2011 p.9)

O conceito de ergonomia surgiu no século XIX, porém existem indícios da

preocupação com o trabalho eficiente e adequado desde os primórdios, como por

exemplo, os utensílios como a pedra lascada que se adaptavam na tentativa de

melhoria da eficiência de seus devidos fins na caça e na pesca. Outro indício, os

papiros egípcios indicam a preocupação ergonômica com a construção civil. Além de

referencias com posturas inadequadas e deformações apontadas pelo filósofo grego

Platão. (MÁSCULO ET AL., 2011 p.10).

No final do século XIX, inicio do século XX, a primeira publicação sobre

ergonomia foi abordada por F. W. Taylor como estudo de rendimento fisiológico com

equipamentos que permitiam a mensuração do desempenho físico humano. Em

contrapartida, J. Amar sugeria a idéia do homem como transformador de energia,

uma espécie de motor humano. Esse paradigma serviu de inspiração durante a

Revolução Industrial e se consolidou a partir de 1915, quando na Inglaterra foi

formado um comitê para analisar vários aspectos da saúde do trabalhador, formado

por engenheiros, médicos e fisiologistas, os quais foram estudados durante o

período de paz entre as duas guerras mundiais. Outra definição de ergonomia surgiu

no pós-guerra, a qual citava o estudo como a relação entre o homem, o seu trabalho

e o ambiente, aplicando noções de anatomia, fisiologia e psicologia. Tais conceitos

são abrangidos no Quadro 1, a seguir (MÁSCULO ET AL., 2011 p.11).

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Quadro 1 – Principais disciplinas formadoras do pensamento ergonômico clássico (MÁSCULO ET AL., 2011 p.12)

Disciplinas Formadoras Autores

Filosofia (cognição) Platão, Aristóteles

Medicina Ramazzini, Villermé, Tissot

Físico-Química Lavoisier, Coulomb

Fisiologia do Trabalho Amar, Chaveau, Marey

Engenharia do Produto Da Vinci, Vauban, Jacquart

Organização Taylor, Gilbreth, Ford

Em 1947 foi formada a primeira sociedade ergonômica do mundo, nomeada

Ergonomics Research Society, ou seja, Sociedade de Pesquisa Ergonômica, criada

por cientistas ingleses e americanos, que teve como inspiração salvar a vida de

pilotos treinados. Com a mudança drástica de altitude e manobras perigosas, notou-

se ser necessário levar em consideração não somente a o desenvolvimento

mecânico dos aviões, mas também a máquina humana que a operava. Perder um

piloto significava perder anos de treinamento, o que dificultava as operações de

guerra. Na mesma corrente nasceu a ergonomia chamada de Fatores Humanos

(Human Factors & Ergonomics – HFE). O vasto material da HFE incluía leiaute de

postos de trabalho, projeto de cockpits, lista de pontos de verificação etc. Mais tarde,

em 1966, foi formalizada a Análise Ergonômica do Trabalho (AET) pelo cientista

francês Alain Wisner (MÁSCULO ET AL., 2011 p. 12-13).

No Brasil a ergonomia teve berço universitário, sendo o pioneiro no ramo o

professor Sérgio Kehl, da Universidade de São Paulo, no curso de Engenharia de

Produção, o qual abordou o tópico homem e produto. Em 1971 a ergonomia se

tornou disciplina obrigatória em cursos como Design e Desenho Industrial, e em

1975 foi criado o primeiro curso de especialização na área (MÁSCULO ET AL., 2011

p.14-15).

1.1 JUSTIFICATIVA

A escolha desse tema para a monografia se deu pela desvalorização do

professor. O professor é a alma de qualquer instituição de ensino. Com o avanço da

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tecnologia ainda não foi inventada máquina alguma que possa substituir esse

profissional. Por mais que se invista no equipamento das escolas, através da

infraestrutura, serão apenas aspectos materiais acessórios, se comparados ao papel

e à importância do professor.

Apesar da importância desses profissionais na sociedade, é visível que a

carreira do professor não é devidamente reconhecida e valorizada. Começando pelo

salário, sempre abaixo do piso, provocando greves e diversas manifestações. Além

da situação de estresse causada pela vigência do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA). O estatuto visa à proteção da criança e do adolescente, e é

respaldado pelo ordenamento jurídico brasileiro, deixando o professor muitas vezes

em situação de impotência e de risco, pois o aluno se sente poderoso, sendo

agressivo e intocável.

Até mesmo os professores, quando escrevem suas teses e dissertações,

estão geralmente preocupados com o desenvolvimento pedagógico das crianças em

sala de aula. Pouco se fala do papel do professor em sua profissão, deixando

lacunas para discussões sobre como o professor precisa se comportar para a

melhor aceitação dos conteúdos pelos alunos. Dessa forma, o professor deixa de

ser o portador do conhecimento e se transforma em um refém do que lhe é ditado.

Diante disso, fica justificado porque o professor merece estudos visando à melhoria

das condições de trabalho. Um profissional bem tratado torna-se um melhor

profissional.

1.2 OBJETIVO

Esse trabalho tem como objetivo o levantamento da situação de trabalho dos

professores da educação infantil em uma escola particular em uma cidade no interior

do Paraná. Faz parte desse trabalho a avaliação ergonômica da profissão de

professores na educação infantil. Também são propostas melhorias nas condições

de trabalho para esse estudo de caso específico. Considera-se estudo de caso uma

pesquisa empírica, que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu

contexto real. Responde a perguntas como “o quê” e “quanto”, entendendo “como”.

(FOCCA - 2012)

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 NR – 17

A NR-17 é uma Norma Regulamentadora do Ministério do Trabalho e

Emprego específica para ergonomia, criada em 23 de novembro de 1990 pela

Portaria nº 3.751. O processo de criação da norma começou em 1986, quando

surgiram casos de tenossinovite ocupacional, uma espécie de inflamação do tendão

do polegar, comum entre digitadores, o que levou o sindicato da categoria a buscar

recursos para a prevenção de tais lesões (VIEIRA, 2011).

Através de uma equipe constituída por médicos e engenheiros, estudos

ergonômicos foram realizados, nos quais foram verificadas as condições de trabalho

com relação à saúde de trabalhadores, como o pagamento de prêmios por

produção, a ausência de pausas, a prática de horas extras, entre outros. Foi

constatada a presença de fatores que favoreciam o aparecimento de lesões por

esforços repetitivos (LER). Com exceção de aspectos como ruído, temperatura e

luminosidade, o Ministério não tinha regulamentação alguma que pudesse melhorar

as condições de trabalho referentes à ergonomia (VIEIRA, 2011).

Durante os anos de 1988 e 1989 o Ministério do Trabalho, juntamente com a

FUNDACENTRO, realizou em Brasília reuniões nas quais foi criado um projeto de

norma, a qual abordou temas como limite de cadência no trabalho, proibição de

prêmios de produtividade, além da elaboração de critérios de conforto para o

trabalhador, incluindo mobiliário, ambiente térmico, luminoso e sonoro. Ao mesmo

tempo, houve a abertura para sugestões de alteração na nova Norma

Regulamentadora. No segundo semestre de 1989 a equipe decidiu que a norma não

deveria ser aplicada apenas a profissionais no departamento de armazenamento de

dados, pois havia indícios de que a LER era também observada em outros ramos,

além do fato de que uma norma específica para uma área abriria campo para outros

setores exigirem sua própria norma como consequência (VIEIRA, 2011).

Dessa forma a organização de ideias que criavam a Norma

Regulamentadora teve um estudo mais abrangente para incluir todos os tipos de

trabalho, o que foi visto pela equipe como uma forma de se avançar na legislação.

Em março de 1990 foi assinada a alteração das Normas 17 e 5, porém a NR-5 não

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foi aprovada pela classe patronal. Mais tarde, houve uma mudança na NR-17 que

publicava o conteúdo vetado anteriormente (VIEIRA, 2011). Os aspectos gerais da

NR-17 limitam-se ao manuseio de materiais, mobiliário, equipamentos, condições e

organização do trabalho (MÁSCULO ET AL., 2011).

Segundo a NR-17, o critério principal para o manuseio de materiais não está

ligado diretamente à quantidade de carga máxima, mas sim voltada à ausência de

recursos que facilitem essa tarefa. Segundo a Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT, 2012), a carga máxima que pode ser levantada por um homem é de sessenta

quilogramas, enquanto por uma mulher é de vinte quilogramas, porém existem

estudos realizados no exterior com limites de tolerância abaixo dos indicados pela

CLT. De qualquer forma, o mais importante é não comprometer a saúde do

trabalhador, independentemente de seu gênero (MÁSCULO ET AL., 2011).

Com relação à postura, o mais indicado é a mudança constante. Não existe

nenhuma postura fixa que seja adequada. É recomendada a alternância, sendo que

até mesmo trabalhar em pé é aceito, porém quando a maior parte do trabalho é

realizada sentada. A acessibilidade também é um item importante. É necessário

ressaltar que o mobiliário deve ser adaptado às características dos trabalhadores e à

natureza das tarefas (MÁSCULO ET AL., 2011).

Os equipamentos dos postos de trabalho precisam ser adequados, o que

significa que para cada função devem ser analisados e escolhidos instrumentos que

viabilizem o desempenho confortável, seguro e eficiente da função exigida. Além

disso, cada função deve ser estudada para que seja oferecido o suporte adequado

(MÁSCULO ET AL., 2011).

As condições ambientais deveriam proporcionar acima de tudo o conforto no

ambiente de trabalho. Um exemplo disso é citado por Másculo et al. (2011) quando

afirma que acha necessária a comunicação verbal para garantir a segurança no

ambiente de trabalho: “O nível de ruído ambiental, embora situado na faixa dos

limites de tolerância, era suficiente para impedir a boa comunicação verbal em

manobras de operação”. Um ambiente ruidoso aumenta os índices de equívocos no

trabalho. Além dos ruídos devem ser levados em consideração a temperatura, que

deve ser mensurada a partir do tórax do trabalhador, e a luminosidade, que deve ser

aferida não apenas pela quantidade de luz mas também pela refletância dos

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materiais escolhidos, de acordo com a função do trabalhador (MÁSCULO ET AL.,

2011).

A organização do trabalho é definida na NR-17 vagamente, com apenas

alguns elementos observáveis, porém é de boa compreensão. Por ser genérica,

cabe ao engenheiro de produção, ou ao chefe direto, administrar e organizar o

ambiente. Com relação às lesões por esforços repetitivos, sempre que houver dor ou

sobrecarga muscular devem ser incluídas pausas para o descanso, e deve ser

evitada a avaliação por desempenho individual (MÁSCULO ET AL., 2011).

2.2 Fisiologia do Trabalho

A fisiologia do trabalho tem como objetivo estudar os fenômenos do corpo

humano nas situações de trabalho. Dentro da fisiologia, o funcionamento dos

músculos é conhecido como função neuromuscular. Esses movimentos voluntários

são comandados pelo cérebro, que utilizam a medula espinhal como meio de

comunicação entre os músculos e o cérebro. Esse mecanismo é chamado de

sinapse. Entre as propriedades da sinapse encontra-se a fadiga, como a redução da

capacidade de transmissão da sinapse (MÁSCULO ET AL., 2011).

Segundo Másculo et al. (2011), a fadiga é o efeito de um trabalho continuado

que provoca uma redução reversível da capacidade do organismo de uma

degradação qualitativa desse trabalho. Enquanto psicólogos garantem que a fadiga

tenha a ver com a mente do ser humano, os fisiologistas estabelecem maior ênfase

para o funcionamento do organismo. Sendo assim, a fadiga é considerada uma

condição psicossomática que favorece a sensação de cansaço (MÁSCULO ET AL.,

2011).

Entre as possíveis causas da fadiga física estão a monotonia, a duração e

intensidade do trabalho físico, o ambiente inadequado, relacionado à temperatura

elevada, à baixa iluminação ou ao alto nível de ruído, o comprometimento da

alimentação, assim como a deficiência de oxigênio e o esforço físico superior à

capacidade muscular (VIEIRA et al., 2005).

Já a fadiga psíquica não se manifesta de forma localizada, porém tem como

indicadores a sensação de cansaço, o aumento da irritabilidade, o desinteresse e a

maior sensibilidade a certos estímulos, como fome, calor, frio ou má postura. Ocorre

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em situações nas quais prevalece o trabalho mental e pouco esforço físico. Segundo

Vieira et al. (2005), a fadiga psíquica está relacionada a uma série de fatores como

monotonia, motivação, estado geral de saúde e relacionamento social. Os autores

afirmam ainda que em tarefas com excesso de carga mental a fadiga reduz a

precisão na discriminação de sinais, retardando as respostas sensoriais e

aumentando a irregularidade das respostas.

A monotonia consiste na repetição de ações que exigem do organismo uma

situação pobre de estímulos. Seus principais sintomas são a fadiga, a sonolência, a

falta de disposição e o déficit de atenção. Segundo Másculo et al. (2011),

“... a experiência mostra que as atividades repetitivas de longa duração, com mínimo grau de dificuldade, mas sem possibilidade de desligar-se mentalmente de todo o trabalho, ou tarefas de observação de longa duração, pobres em quantidade e diversidade de estímulos, com a obrigação de atenção permanente, são condições que desencadeiam o estado de monotonia” (MÁSCULO ET AL., 2011).

A ampliação de diversificação de tarefas tem como objetivo diminuir a

monotonia e aumentar a qualidade de vida do trabalhador. Através disso a

produtividade também pode ser elevada em longo prazo. Uma simples modificação

pode enriquecer o trabalho e possibilitar o melhor uso das capacidades humanas,

como por exemplo (MÁSCULO ET AL., 2011):

troca de tarefas;

a consideração dos contatos pessoais no trabalho;

pausas curtas e frequentes;

a diferenciação da postura durante as pausas;

condições ambientais adequadas.

Pausa é um período de inatividade intercalada entre períodos de atividade.

As pausas no trabalho podem ser classificadas entre fisiológicas, furtivas ou

organizadas. As pausas fisiologias consistem em intercalar atividades dinâmicas

com atividades de relaxamento. A relação ideal para o trabalho muscular é de um

tempo de trabalho e um tempo equivalente de pausa; quanto ao trabalho mais

pesado, seria a razão de um para um e meio, respectivamente (MÁSCULO ET AL.,

2011).

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Com relação às pausas furtivas, essas são determinadas pelo próprio

trabalhador. Como o próprio nome já diz, é uma maneira de fugir do trabalho, e diz

respeito à autonomia do trabalhador. Normalmente são pouco eficazes, pois

geralmente são mais longas do que o necessário, e de pequeno valor recuperativo

devido ao controle do superior (MÁSCULO ET AL., 2011).

As pausas organizadas são consideradas as melhores, pois são uma forma

do trabalhador ser tratado com dignidade, além de combater as pausas furtivas. Elas

são classificas em pausas curtíssimas, curtas e longas. As curtíssimas, com alto

efeito recuperativo, são aquelas que podem ter lugar entre duas operações numa

linha de produção. As pausas curtas referem-se ao tempo de três a cinco minutos,

intercaladas em um período de uma hora de trabalho leve que exija atenção, ou com

intervalo de tempo de dez minutos em duas horas de trabalho. Quando se trata de

um trabalho pesado, as pausas longas devem ser consideradas, e devem ter o

mesmo intervalo de tempo da atividade em período de trabalho. As refeições não

devem ser consideradas como pausas (MÁSCULO ET AL., 2011). A NR-17, no item

17.6.4, alínea d, garante no mínimo pausas de 10 minutos para 50 minutos

trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho (NR-17, 2012).

2.3 Biomecânica

A biomecânica se preocupa com a análise física dos sistemas biológicos,

examinando, entre outros, os efeitos das forças mecânicas sobre o corpo humano

em movimentos cotidianos, de trabalho (BIOMECÂNICA, 2012). Dentro da mecânica

existe a divisão de estática e dinâmica, sendo o corpo humano considerado como

uma estrutura óssea em equilíbrio do ponto de vista estático, e um sistema de

alavancas no que diz respeito ao ponto de vista dinâmico (MÁSCULO ET AL., 2011).

O esqueleto humano é formado por 208 ossos e se divide em duas partes: o

esqueleto axial, que tem como principal função sustentar o corpo e proteger órgãos

vitais, sendo formado pelo crânio, tórax e coluna vertebral, e o esqueleto

apendicular, formado pelos membros e ossos que ligam o esqueleto apendicular ao

axial. Esses ossos que ligam os esqueletos são chamados de cintura escapular e

pélvica. Nas juntas ocorre o ligamento de dois ou mais ossos, e normalmente

permitem a realização de movimentos, sendo chamadas de articulações. Os ossos

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se mantêm firmes no lugar das articulações através dos ligamentos, cordões

resistentes constituídos por tecido conjuntivo fibroso e sobre eles se unem aos

músculos por um tecido particular, e os tendões que não se contraem (MÁSCULO

ET AL., 2011).

Segundo Másculo et al. (2001), a coluna vertebral, que pode ser observada

na Figura 1, também conhecida como espinha dorsal, é constituída por vértebras

alinhadas e sobrepostas, e sua estrutura é dividida em quatro regiões:

cervical: região do pescoço, composta por sete vértebras extremamente sensíveis;

torácica: corresponde à região dorsal, composta por doze vértebras;

lombar: parte inferior da coluna, composta por cinco vértebras; e

sacrococcígea: essa já uma parte da coluna que integra a cintura pélvica, composta por cinco vértebras e uma terminação óssea específica, o cóccix, formado por quatro vértebras especiais com juntas fixas, a exemplo do que acontece no crânio (MÁSCULO ET AL., 2011).

Figura 1: A coluna vertebral Fonte: (MÁSCULO ET AL., 2011)

A vista anterior da Figura 1 mostra a coluna vertebral na postura reta.

Qualquer desvio lateral é chamado de escoliose. Na ilustração central é mostrada a

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coluna de perfil, apresentando quatro curvaturas muito eficientes no levantamento

de pesos. É possível observar uma lordose na parte cervical, seguida de uma cifose

na área dorsal, uma grande lordose lombar e por fim uma cifose na coluna sacra.

Dessa forma, deve-se evitar levantar cargas com as costas curvadas para não criar

a componente transversal dos esforços na coluna. Quando a coluna é dobrada

através de movimentos de flexão, extensão e flexão lateral são provocados um

estresse compressivo de um lado dos discos e um estresse de tração do outro lado;

já quando é forçada uma rotação na coluna cria-se um estresse tangencial. Na

postura ereta a coluna é submetida comumente à compressão na aplicação de uma

carga (MÁSCULO ET AL., 2011).

Do ponto de vista dinâmico, o corpo trabalha como um sistema de

alavancas, no qual cada movimento depende de pelo menos dois músculos que

trabalham antagonicamente, o que significa que quando um se contrai o outro é

distendido e relaxa, e vice-versa. Na mecânica o corpo possui três tipos de

alavancas: (MÁSCULO ET AL., 2011):

1) alavanca de primeiro grau, também conhecida como interfixa - o apoio se

encontra entre a potência (força) e a resistência. Quanto maior a potência, menor

terá que ser a força para equilibrar a resistência. Um exemplo no corpo humano é o

tríceps, como mostra a Figura 2. Essa alavanca é indicada para transmitir velocidade

e pouca força (Apostila de Ergonomia, 2012).

Figura 2: Alavanca de primeiro grau Fonte: Sistema de alavancas (2012)

2) Quanto à alavanca de segundo grau, ou interpotente, a resistência é superior à

força. Esse tipo de alavanca sacrifica a velocidade para ganhar força, como é o caso

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do músculo posterior da perna, como mostra a Figura 3 (Apostila de Ergonomia,

2012).

Figura 3: Alavanca de segundo grau Fonte: Sistema de alavancas (2012)

3) Na alavanca de terceiro grau, ou alavanca inter-resistente, a intensidade de força

requerida para vencer uma determinada resistência é sempre menor do que o valor

da resistência (Apostila de Ergonomia, 2012). É o tipo de alavanca mais comum no

corpo humano. Embora com o sacrifício da força, os músculos se inserem próximos

às articulações e facilitam a realização dos movimentos, como no caso do bíceps,

como mostra a Figura 4 (Apostila de Ergonomia, 2012).

Figura 4: Alavanca de terceiro grau Fonte: Sistema de alavancas (2012)

2.3.1 Levantamento de Cargas

Existem controvérsias sobre o limite ideal de peso que o trabalhador pode

carregar. Segundo a NR-17, nenhum trabalhador deve administrar carga de peso

que possa prejudicar sua saúde, porém a Norma Regulamentadora não dita a

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quantidade em massa máxima em carga (NR-17, 2012). Em contrapartida, a

Consolidação das Leis do Trabalho (CLT, 2012) prevê no artigo 198: “É de 60 kg

(sessenta quilogramas) o peso máximo que um empregado pode remover

individualmente, ressalvadas as disposições especiais relativas ao trabalho do

menor e da mulher”.

Em 1981, o National Institute for Occupational Safety and Health – NIOSH

desenvolveu uma equação para o manuseio de cargas no trabalho (VIEIRA, 2011).

Esse estudo surgiu como uma ferramenta para combater a lombalgia, que é a

segunda causa de ausência ao trabalho de pacientes acima de 45 anos (MÁSCULO

ET AL., 2011 p. 173). Másculo (org.). (2011) relatam ainda que

“ ...ao levantar 10 kg (o peso de uma criança ou de uma carga leve) estamos fazendo a coluna lombar receber uma carga de cerca de 100 kg. Em decorrência disso, atividades, mesmo moderadas, de trabalho são suscetíveis de estar na origem de dores lombares (MÁSCULO ET AL., 2011).

Em 1991, a equação de NIOSH foi revista, e foram considerados novos

fatores como: a manipulação assimétrica de cargas, a duração da tarefa, a

frequência dos levantamentos e a qualidade da pega. De qualquer forma ambas as

versões levam em consideração os fatores biomecânicos, fisiológicos e psicofísicos

(VIEIRA, 2011).

O critério biomecânico considera o limite de estresse na região lombo-sacra,

para cargas que exigem esforço, porém não são frequentes. A instituição chegou a

considerar 3,4 kN como força limite para o risco de aparecimento de lombalgia

(VIEIRA, 2011).

O critério fisiológico aplica-se a movimentos repetitivos que podem causar

fadiga. Tarefas com levantamentos repetitivos podem exceder as capacidades

normais de energia do trabalhador, diminuindo sua resistência e aumentando a

probabilidade de lesão do trabalhador. Alguns dos limites da capacidade aeróbica

máxima para cálculo do gasto energético levam em consideração que para

levantamentos repetitivos, 9,5 Kcal/min é o máximo que o trabalhador deve gastar

no levantamento. Quando for necessário erguer os braços acima de 75 cm, não

ultrapassará 70% da capacidade aeróbica máxima. As tarefas de duração de uma

hora, de uma a duas horas e de duas a oito horas, não podem superar a capacidade

aeróbica de 50%, 40% e 30%, respectivamente (VIEIRA, 2011).

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O critério psicofísico baseia-se no limite de peso aceitável para uma pessoa

trabalhando em condições determinadas, e pode ser aplicável a todo tipo de tarefa.

Integra os critérios biomecânicos e fisiológicos, mas tende a estimular

demasiadamente o trabalhador a tarefas repetitivas e prolongadas (VIEIRA, 2011).

Esses critérios deram origem à equação de NIOSH, revisada em 1994.

Segundo essa revisão o levantamento de cargas determina o limite de peso

recomendado a partir dos sete fatores citados a seguir, no Quadro 2. Sendo assim, o

índice de risco associado ao levantamento, o quociente entre o peso da carga

levantada e o limite de peso recomendado para condições concretas de

levantamento não devem ultrapassar 1 (um). Quando ultrapassa significa que a

carga levantada tem massa superior ao limite de peso recomendado, ou seja está

acima do limite (VIEIRA, 2011).

Quadro 2 - Equação de NIOSH revisada (1994) Fonte: Vieira (2011)

EQUAÇÃO DE NIOSH REVISADA (1994)

LPR = LC x HM x VM x DM x AM x FM x CM

LPR: limite de peso recomendado

LC = constante de carga

HM: fator de distância horizontal

VM: fator de altura

DM: fator de deslocamento vertical

AM: fator de assimetria

FM: fator de frequência

CM: fator de pega

A constante de carga LC, do inglês load constant, é o limite de peso

recomendado dentro dos parâmetros de conforto, no que diz respeito à postura

simétrica e sem torções do dorso, com um levantamento de carga a menos de 25 cm

de distância do corpo, foi estabelecida segundo os critérios citados acima no valor

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de 23 kg. Através desse valor foram verificadas melhorias na condição de

lombalgias em 70% do público feminino e até 90% do masculino (VIEIRA, 2011).

Figura 5: À esquerda método squat lifting, e a direita método stoop lifting Fonte: Master Garden (2012)

Entre os métodos para levantamento de carga mais comumente utilizados

estão o stoop lifting e o squat lifting como mostra a Figura 5. O stoop lifting, método

com a coluna fletida, o qual corresponde ao abaixamento, é o que apresenta menor

gasto energético, muito utilizado por pessoas que não são treinadas para o

levantamento de peso. O método squat lifting, que significa agachamento em inglês,

reduz a sobrecarga na espinha dorsal. É o mais indicado para proteção da coluna,

porém exige bastante dos músculos dos membros inferiores, aumentando a ação de

forças compressivas nas articulações dos joelhos. Para evitar essa ação é

recomendado colocar alças nos objetos, ou erguê-los a partir de um tablado

(VIEIRA, 2011).

2.3.2 Trabalho em Pé

É na vertical que o corpo humano encontra seu melhor ponto de equilíbrio.

Porém existe um baixo nível de tensão dos músculos em geral (APOSTILA DE

ERGONOMIA, 2012). Segundo Másculo et al., 2011, o ser humano não fica em pé, e

sim se esforça para manter o equilíbrio. A posição prolongada imóvel em pé dificulta

a circulação do sangue nas pernas, aumentando a pressão hidrostática nas veias,

diferentemente de quando o trabalhador está andando, quando as pernas funcionam

como um mecanismo de bombeamento do sangue (MÁSCULO ET AL., 2011).

A posição parado em pé pode provocar inconveniências como: fadiga dos

músculos da panturrilha, dores nos pés, inchaços e até mesmo o aparecimento de

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varizes, além de provocar problemas nas costas, pés e pernas, e agravar os

problemas de coluna já existentes (APOSTILA DE ERGONOMIA, 2012)

Segundo a Nota Técnica nº 060/2001 do Ministério do Trabalho e do

Emprego, o trabalho em pé só pode ser justificado nas seguintes circunstâncias:

a tarefa exige deslocamentos contínuos, como no caso de carteiros e pessoas que fazem rondas;

a tarefa exige manipulação de cargas com peso igual ou superior a 4,5 kg;

a tarefa exige frequentes alcances amplos, para cima, para frente ou para baixo; no entanto, deve-se tentar reduzir a amplitude destes alcances para que se possa trabalhar sentado;

a tarefa exige operações frequüentes em vários locais de trabalho, fisicamente separados;

a tarefa exige a aplicação de forças para baixo, como em empacotamento. (Nota Técnica nº 060/2001)

Toda e qualquer situação diferente das citadas acima é considerada

desconforme e passível de fiscalização (MÁSCULO ET AL., 2011). A NR-17 também

deixa claro que sempre que o trabalho puder ser executado na posição sentada, o

posto de trabalho deve ser planejado ou adaptado para esta posição (NR-17, 2012).

Uma curiosidade é abordada pela revista Super Interessante sobre como o

trabalho muda o corpo, no que diz respeito ao professor, que em média trabalha oito

horas por dia, e na maior parte do tempo em pé. Segundo a revista, o sangue que

circula na parte de baixo do organismo tem dificuldade de correr para cima, devido à

gravidade. O que acaba acontecendo é que o sangue vai ficando nas pernas e nos

pés, o que provocam o aumento das veias para aguentar o maior volume de sangue,

as quais vão ficando tortuosas. Segundo a reportagem, além da deformação da pele

pelas varizes, quando as veias dos pés já estão dilatadas e o sangue fica estagnado

lá, até o pé cresce (SUPER INTERESSANTE, 2012).

2.3.3 Trabalho Sentado e Antropometria

O trabalho sentado traz conforto, evitando posições forçadas no corpo, reduz

o consumo de energia, traz alívio para as pernas, e consequentemente fornece a

melhor circulação do sangue pelos membros. Porém também existem desvantagens

para esse tipo de trabalho, como a flacidez dos músculos da barriga, além da

provável cifose, além de poder causar danos aos membros e à coluna lombar

(MÁSCULO ET AL., 2011).

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A pressão nas nádegas e nas coxas reduz a circulação local, o que pode

provocar formigamento e dormência, além de dor, inchaço etc. Para diminuir esses

problemas é necessário utilizar cadeiras adequadas para o tamanho do trabalhador

(MÁSCULO ET AL., 2011). É aí que entra a antropometria, que é o estudo das

medidas humanas, que são importantes para que sejam determinadas as posturas

ideais para cada posto. Sendo assim, o grande problema da antropometria é que

cada indivíduo tem suas próprias dimensões, o que significa que a altura boa para

uma pessoa, não é a ideal para todas as outras pessoas (APOSTILA DE

ERGONOMIA, 2012)

Segundo Másculo et al. (2011), se o assento for muito alto, toda a coxa

estará fortemente apoiada sobre o assento, inclusive a parte próxima ao joelho,

enquanto os pés ficarão em balanço total ou parcial. Isso pode diminuir a circulação

sanguínea, por espremer os vasos sanguíneos e nervos que estão presentes na

região. Já quando o assento é baixo demais os autores afirmam que uma grande

parte do peso do corpo estará apoiada sobre uma região muito restrita das nádegas,

causando dor no local. Com a diminuição do ângulo do joelho, o mesmo problema

da circulação da cadeira muito alta também se verifica (MÁSCULO ET AL., 2011).

Outro problema está relacionado ao posicionamento das costas nas

cadeiras. A hérnia de disco pode ocorrer não apenas em trabalhos pesados, mas

também em trabalhos leves na posição sentada. Isso se dá pelo enfraquecimento da

parede do disco, consequência da postura forçada. Para amenizar esses impactos

um assento na cadeira ideal seria aquele que fosse móvel e ajustável à altura do

individuo, podendo assim acompanhar o movimento do corpo. Esse instrumento

suporta parte do corpo, diminuindo a pressão sobre a coluna. Um apoio para a parte

inferior da coluna também é bem vindo quando mantém a curvatura a mais natural

possível. Outra sugestão seria um apoio para a cabeça, que ajuda a manter o

pescoço em uma posição mais confortável. Pausas também podem evitar a fadiga

na região da coluna cervical (MÁSCULO ET AL., 2011).

O campo visual do ser humano alcança uma faixa de 30º, sendo dividido em

dois campos: 15º para cima e 15º para baixo. Recomenda-se que quando esteja

inclinado para frente o pescoço atinja no máximo entre 20º e 30º, e quando em

trabalhos prolongados, essa faixa não deve ultrapassar 15º. Com relação aos

membros superiores, segundo Másculo et al. (2011), para prevenir possíveis

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problemas para os ombros, a mesa e o assento devem ser ajustados de forma a

permitir que os ombros permaneçam relaxados, os cotovelos estejam abaixados e

próximos ao corpo (até 15º com braço em ângulos de 85º a 110º). A Figura 6 mostra

a posição ideal para o pescoço com um ângulo de 20º e na parte direita a posição

errada, nesse caso com 50º de inclinação.

Figura 6: Posição do pescoço: ideal à esquerda e errada à direita Fonte: Elementu Vitalle (2012)

Segundo a NR-17 (2012):

“17.3.3 Os assentos utilizados nos postos de trabalho devem atender aos seguintes requisitos mínimos de conforto:

a) altura ajustável à estrutura do trabalhador e à natureza da função exercida;

b) características de pouca ou nenhuma conformação na base do assento;

c) borda frontal arredondada; d) encosto com forma levemente adaptada ao corpo para proteção da

região lombar”.

2.4 Doenças ocupacionais de origem biomecânica

As duas doenças ocupacionais de origem biomecânica encontradas com

maior frequência têm sido as lombalgias e os distúrbios osteomusculares

relacionados ao trabalho, conhecidos pela sigla DORT. Essas doenças são

comumente conhecidas como lesões, que são anormalidades nos tecidos. Existem

dois tipos de lesões: as agudas e as cumulativas (MÁSCULO ET AL., 2011).

A lesão aguda está associada a esforços que excedem o limite de tolerância

na estrutura musculoesquelética, e normalmente aparecem após esforços de grande

intensidade. Por outro lado, a lesão cumulativa relaciona-se com a repetição de

tarefas, e a constante aplicação de força sobre uma estrutura específica. Isso leva

ao desgaste da estrutura, e a redução da tolerância do ponto onde é ultrapassado

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seu limite. Esse tipo de lesão representa maior desgaste de estrutura e tem se

tornado bastante comum em postos de trabalho com tarefas repetitivas (MÁSCULO

ET AL., 2011).

Lombalgia é a dor na região da coluna lombar. É um sintoma e não uma

doença, sendo que 90% da população apresentaram ou vão apresentar pelo menos

um episódio de dor durante a vida. Não difere por gênero, porém com o passar dos

anos as mulheres começam a sentir mais o sintoma devido à menopausa e como

consequência da osteoporose. A lombalgia é a segunda causa de procura médica

causada por doenças crônicas, superando o câncer, o acidente vascular cerebral e

até mesmo a AIDS. Nos países desenvolvidos é a principal incapacidade em

trabalhadores com idade inferior a 45 anos (MÁSCULO ET AL., 2011). Os autores

ainda comentam que

“... trata-se de um problema médico e econômico por seus elevados custos sociais, assistência médica, falta no trabalho, diminuição da produtividade e do número de tarefas cotidianas, substituição de suas atividades por terceiros e afastamento do trabalho, temporário ou definitivo”.

As DORT, conhecidas no passado como Lesões por Esforços Repetitivos

(LER), são lesões cumulativas de esforço excessivo e inadequado em ossos,

nervos, tendões e músculos. São comuns em membros superiores, como mãos,

punhos, braços, antebraços, ombros e coluna cervical. Encontram-se entre as

recomendações para a redução de impactos das DORT a diminuição da pressão em

trabalhos, seja de ordem física ou psicológica, a redução da repetição de tarefas e o

estabelecimento de pausas. Também podem ser promovidos ajustes no posto de

trabalho no que diz respeito aos móveis, que permitam uma postura mais saudável e

confortável, obedecendo às formas antropométricas do trabalhador, dentro das

tarefas abordadas (MÁSCULO ET AL., 2011).

2.5 O Professor na Educação Infantil – O que o professor deve fazer

A educação infantil deve ser realizada de forma em que a criança, depois de

crescida, lembre-se com saudade dessa importante fase de seu passado. Fazem

parte da educação infantil a fantasia, a intuição, a imaginação e a brincadeira. O

lúdico então faz parte importante do trabalho realizado na educação de crianças,

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quando cada brincadeira deve possuir objetivos específicos em uma área de

conhecido (ANPED, 2012). Dessa forma,

“... o papel do professor muda radicalmente, pois o coloca além do centro do processo, como aquele que ensina enquanto as crianças aprendem passivamente; e além da postura de aguardar que as crianças digam o que, como e quando querem aprender. (...) O professor torna-se o agente mediador do processo de ensino-aprendizagem, propondo desafios às crianças a orientando-as a resolvê-los (ABPP, 2012).

Das diversas formas de ensinar, o meio é parte importante do

desenvolvimento das crianças, pois a sala de aula torna-se o espaço mais utilizado,

no qual as crianças passam a maior parte de seu tempo em atividade, inclusive lá

realizando o seu lanche (ANPED, 2012). As salas de aula na educação infantil são

idealizadas para as crianças, e o professor deve adaptar-se à mesma.

Segundo ANPED (2012) não se deve fazer da Educação Infantil uma dura

canção, repetitiva, mecânica, rígida. Sendo assim, o professor tem autonomia para

preparar suas aulas da maneira que lhe parece mais interessante e eficiente no

aprendizado. O educador deve observar o desenvolvimento das crianças, o que

gostam de fazer, o que as chama mais a atenção, o espaço no qual preferem ficar, e

até mesmo os momentos do dia em que ficam mais agitados ou mais tranquilos. O

dia a dia deve ser surpreendente e estimulante (ANPED, 2012).

O professor deve transmitir os seus conhecimentos como transmissor e

monopolizador do espaço, do tempo, das interações e das atividades da sala de

aula. Isso sem ignorar o bem estar das crianças, pois é importante lembrar que as

crianças necessitam de horários flexíveis. Esses devem atender às necessidades

básicas de atividades variadas que potencializem sua aprendizagem e

desenvolvimento.

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3. ESTUDO DE CASO

Esse estudo de caso foi realizado em uma escola particular de educação

infantil, em uma cidade de cerca de trinta mil habitantes no interior do estado do

Paraná. Foi analisado o trabalho de dois professores regentes dos cursos de Nível

IV, com alunos de três a quatro anos, com quatorze alunos matriculados, e Nível V,

com alunos de quatro a cinco anos, com vinte alunos matriculados. A escola

funciona no período vespertino, das treze às dezessete horas, de segunda a sexta-

feira, somando um total de 200 dias letivos por ano. Cada professor faz uso de sua

sala de aula, da brinquedoteca, e do playground que as duas salas compartilham,

como mostra a Figura 7.

Figura 7: A – Sala de aula nível IV; B – Sala de aula nível V; C – Brinquedoteca; e D – Playground

Fonte: A autora (2012)

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Não foi observado um ciclo específico, pois dentro da educação infantil não

devem ser seguidas rotinas rígidas, como abordado anteriormente. Cada professor

tem autonomia para trabalhar da forma que achar mais conveniente, utilizando

qualquer dos espaços citados e mostrados anteriormente. Ambas respondem

diretamente à pedagoga e à diretora responsável pela escola.

3.1 Aspectos Significativos

Entre os aspectos significativos serão analisados o levantamento de cargas

seguindo o conceito de NIOSH, o trabalho em pé, que deve ser evitado, o trabalho

sentado obedecendo aos conceitos apresentados na NR-17 e a antropometria.

Também será abordada a fadiga, no que diz respeito à fisiologia do trabalho.

3.1.1 Análise do Levantamento de Cargas

A carga em questão foi considerada como sendo cada criança, pois na

educação infantil as professoras seguram seus alunos no colo em diversas

situações. Nesse sentido seguem os dados coletados com uma balança digital, com

capacidade para 150 kg, e graduação de 100 g, na Tabela 1, para os alunos do

Nível IV, e na Tabela 4, para os alunos do Nível V:

Tabela 1 – Massa em quilograma dos alunos do Nível IV Nível IV – Massa dos alunos (kg)

14,4

16,0

18,0

18,2

18,6

14,4

17,0

17,2

18,9

19,0

18,7

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20,2

20,4

19,0

É observado na Tabela 2 que todos os alunos estão abaixo dos 23 kg, ou

seja, estão dentro do padrão da equação de NIOSH, sendo desnecessário encontrar

sua média aritmética.

Tabela 2 – Massa em quilograma dos alunos do Nível V Nível V – Massa dos alunos (kg)

17,9

16,4

18,4

19,7

20

19,4

21,2

18,4

21,1

22,5

22,6

18,8

22,0

17,8

21,2

21,0

24,8

22,5

24,5

23,0

Com relação aos alunos do Nível V, a média aritmética da massa corporal

dos alunos matriculados é de:

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Ou seja, a massa média dos alunos no Nível V está de acordo com os

padrões estabelecidos pela NIOSH de massa máxima igual a 23,0 kg. Porém pode-

se observar na Tabela 4 que existem três valores iguais ou superiores aos

recomendados pela instituição; são eles: 23,0 kg; 24,5 kg; e 24,8 kg. De qualquer

maneira, esse valor está em conformidade com a Consolidação das Leis do

Trabalho (CLT).

A postura na qual as professoras seguram as crianças no colo não é ideal.

Elas utilizam o método stoop lifting, que utiliza os músculos das costas e coloca uma

sobrecarga na coluna. Isso pode ser observado na Figura 8, na qual à esquerda é

apresentada a professora do nível IV e à direita a professora do nível V, no momento

em que elas se abaixam para segurar a criança no colo.

Figura 8: Método stoop lifting: à esquerda, professora do nível IV, e à direita professora do nível V Fonte: A autora (2012)

3.1.2 Análise do Trabalho em Pé

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Também foi observado que em um dia comum as professoras passam a

maior parte de seu tempo em pé. Isso inclui distribuir atividades, andar pela sala de

aula, verificar se está tudo em ordem no playground e na brinquedoteca etc., o que

toma cerca de 80% da carga horária, o que significa mais de três horas. Essa

posição, como mencionado anteriormente, dificulta a circulação do sangue nas

pernas.

A Figura 9 mostra a situação na qual a professora do nível IV segura na

posição em pé uma criança de mais ou menos 18 kg. Além da coluna estar

suportando o peso do próprio corpo, existe uma carga de aproximadamente 18 kg

sobre a estrutura da coluna vertebral.

Figura 9: Professora segurando carga de 18 kg em pé Fonte: A autora (2012)

3.1.3 Análise do Trabalho Sentado e Antropometria

O trabalho sentado é o recomendado pela NR-17. Como mencionado

anteriormente, o trabalho do professor é realizado na maior parte de seu tempo em

pé. É por isso que é extremamente importante que, quando sentado, o professor

possa estar em uma posição confortável, de postura ideal.

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Na educação infantil, o professor tem sua própria cadeira, mas em vários

momentos, utiliza a cadeira das crianças, que é significativamente menor do que

uma cadeira para adultos. Dessa forma os joelhos ficam em um ângulo de

aproximadamente 75º, o que aumenta a pressão sobre as nádegas. A cadeira

também tem um encosto menor para as costas, o que não dá suporte para a coluna.

Já na cadeira para adultos, os joelhos de ambas as professoras ficam na posição

correta e os pés alcançam o chão. Existe também apoio para as costas. As Figuras

10 e 11 mostram as posições sentadas mais comuns das professoras, dos níveis IV

e V respectivamente. À esquerda, na posição antropometricamente errada, e à

direita, mais próximo do que é considerado como ideal.

Figura 10: Posições mais comuns – Professora Nível IV Fonte: A autora (2012)

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Figura 11: Posições mais comuns – Professora Nível V Fonte: A autora (2012)

O mesmo acontece no playground, onde muitas vezes as professoras

sentam nos brinquedos com as crianças, como por exemplo em balanças, em vez

de sentar-se no banco próprio. Isso é ilustrado na Figura 12: à esquerda onde as

professoras sentam, e à direita onde elas deveriam se sentar.

Figura 12: Trabalho sentado no playground. – Professora Nível IV Fonte: A autora (2012)

3.1.4 Condições do trabalho

Para verificar as condições de trabalho foi distribuído um questionário em

forma de texto, apresentado no Anexo A, nas escolas municipais e também na

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escola particular da cidade para que todos os professores de educação infantil de

todo o município tivessem a oportunidade de responder. Vinte três professores

contribuíram para o trabalho, atingindo o total de 100% da população de professores

do município.

A idade dos professores varia entre vinte e um a cinquenta e um anos, e as

escolaridades também têm grande variabilidade, desde a formação em Magistério

até Especialista em Educação Infantil. O tempo de exercício da função também é

bem variado, desde professores com dois anos de experiência até a professores que

estão próximos da aposentadoria, com 25 anos. Os professores trabalham do Nível

I, que são crianças no berçário, até Nível V, de crianças que completam cinco anos

durante o ano, ou seja, até o dia 31 de dezembro. Os níveis com maior número de

professores foram o Nível IV e V, referente a mais que 60% da população, como

pode ser observado na Figura 13.

Figura 13: Professores na Distribuição entre Níveis Fonte: A autora (2012)

Quando perguntados sobre o que era bom no trabalho, os professores

também tiveram liberdade para desenvolver suas ideias. Algumas das mais

interessantes foram:

bom relacionamento organizacional (citado 15 vezes);

horário flexível (citado 2 vezes);

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fácil acesso (citado 1 vez);

realização profissional (citada 20 vezes);

aprendizado dos alunos (citado 12 vezes); e

segurança (citada 1 vez).

A mesma liberdade foi dada para o desenvolvimento de ideias quando

perguntados sobre o que era ruim no trabalho, na qual as mais diversas respostas

foram dadas:

salas de aula muito cheias (citadas 2 vezes);

falta de estrutura (citada 3 vezes);

cobranças frequentes da direção e equipe pedagógica (citadas 18 vezes);

choro (mencionado sempre no período de adaptação) (citado 2 vezes);

problemas de aprendizagem dos alunos (citados 5 vezes);

o comprometimento com o trabalho, que acaba deixando pouco tempo para o

lazer (citado 2 vezes);

a limitação das metodologias pedagógicas para a realidade da maioria dos

alunos (citada 10 vezes);

leis que limitam o trabalho do professor (citadas 1 vez); e

baixa remuneração (citada 1 vez).

Algumas declarações merecem ser ressaltadas. Um professor comentou

sobre o sistema educacional, no qual os alunos têm direitos explícitos e seus

deveres negligenciados. Outra professora declarou que a escola hoje assume, ou se

obriga a assumir, funções familiares, até mesmo de carinho, em vista que são filhos

de pais que trabalham muitas horas.

Quando perguntados se sentem dores, onde, e com que frequência, também

houve grande discrepância nas respostas. As respostas foram agrupadas

independentemente da idade dos professores e há quanto tempo realizam a função.

Dos vinte e três entrevistados, vinte e um responderam sentir dores nos mais

diversos lugares, e com variadas frequências. Isso corresponde a 91% dos

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entrevistados. Algumas vezes os professores declararam sentir dores em mais de

um lugar, como pode ser observado na Figura 14.

Figura 14: Dores Mencionadas pelos Professores Fonte: A autora (2012)

A mais citada das dores entre os professores é a dor nas costas. Doze dos

professores entrevistados mencionaram ter dor nas costas, seguidos por oito

professores que afirmaram ter dores de cabeça. As dores musculares

separadamente ficaram em terceiro lugar, primeiramente nas pernas, com 6

professores, nos braços, com 5 professores e nos ombros, com 4 professores.

Porém quando somadas, as dores musculares foram mencionadas por 15 dos

entrevistados, totalizando 43% das queixas. A Figura 15 ilustra essa situação.

Figura 15: Porcentagem de Queixa de Dores pelos Professores

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Fonte: a autora (2012)

A última questão do questionário era se o trabalhador sentia-se estressado

com o trabalho, e o motivo disso. Negaram sentir estresse sete dos professores

entrevistados, sempre justificando que gostam daquilo que fazem. Os outros 16, que

correspondem a quase 70% dos entrevistados disseram sentir estresse por uma

variedade de razões. Entre as razões encontram-se:

choro dos alunos (citado 2 vezes);

problemas pessoais (citados 1 vez);

cansaço (citado 19 vezes);

cobranças frequentes da direção e da equipe pedagógica (citadas 15 vezes);

envolvimento com problemas dos alunos (citado 2 vezes);

falta de integração dos pais (citada 1 vez); e

por se sentirem insignificantes (baixa autoestima) (citada 1 vez).

Também quando questionados em relação ao estresse, algumas

declarações ou desabafos merecem ser comentadas: Como a do professor que

disse: “Há dificuldade de diálogo com pais, que não assumem a responsabilidade de

educar e cuidar integralmente de seus filhos.” Outro se justifica demonstrando

mínima autoestima: “Por mais que nos esforcemos, esse trabalho se torna

insignificante perante a sociedade.” Outro ainda sente-se refém do sistema

educacional: “Na maioria das vezes não temos autoridade para chamar a atenção de

um aluno, com péssimo comportamento, e na escola não há uma atitude que o

limite, que o faça respeitar o ambiente escolar, ficando tudo muito solto e à vontade.

Isso reflete na convivência em sala de aula, e como somos seres humanos tudo tem

um limite, e o psicológico não aguenta.”

No total, 68% dos entrevistados se sentem estressados na frequência que

varia entre às vezes, muitas vezes e sempre. Por outro lado, 32% dos entrevistados

dizem não se sentirem estressados com o trabalho, como mostra a Figura 16.

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Figura 16: Porcentagem de Frequência de Estresse entre Professores fonte: A autora (2012)

Dos entrevistados que disseram ter dores de cabeça, somando oito

professores, apenas cinco disseram se sentirem estressados com o trabalho. Algo

curioso, sendo que nenhum dos entrevistados apontou o barulho como algo ruim no

trabalho, ou fonte de estresse. Segundo Jack Barchas, neuroquímico da

Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, dores de cabeças estão

relacionadas ao estresse. (UNESP - 2012)

3.2 Aspectos Não Significativos

Não foram considerados nesse trabalho os aspectos térmico, luminoso,

sonoro ou cognitivo das situações de trabalho.

Segundo Saliba e Corrêa (2011), o índice de temperatura efetiva não deve

ultrapassar o valor de 28ºC. Porém esse valor não analisa a sobrecarga térmica,

como fatores de tempo de exposição, calor radiante e o que diz respeito à atividade

do trabalhador. Além do mais, a Norma Regulamentadora (NR-15), sobre questões

de higiene do trabalho, não considera as variações climáticas regionais. Nem

tampouco as vestimentas, a idade, a cor da pele, a obesidade etc. Dessa forma,

considera-se somente o calor artificial para fins que possam caracterizar

insalubridade, o que não é o caso de uma sala de aula em temperatura ambiente.

(SALIBA E CORRÊA, 2011). Segundo a NR-17 (2012), no item 5.2-b, é considerada

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índice de temperatura efetiva entre 20ºC e 23ºC. Para manter essa faixa de

temperatura é indicado em dias quentes que ventiladores sejam ligados, além da

abertura de janelas e portas para a circulação do ar. Nos dias frios, roupas

adequadas devem ser utilizadas.

Com relação à luminosidade, a NR-17 cita em seu item 5.3: “Em todos os

locais de trabalho deve haver iluminação adequada, natural ou artificial, geral ou

suplementar, apropriada à natureza da atividade”. Segundo a NBR 5413, item

5.3.13, para escolas a luminosidade das salas de aula deve ser 200 – 300 – 500 lux.

(NBR 5413). Apesar de não ter sido medido esse fator para ser comparada à Norma,

foi considerada uma luminosidade adequada, pois existe luminosidade natural

advinda das janelas, já que o período de trabalho é à tarde, e também artificial para

dias nublados. Além da importância do campo visual durante a realização do

trabalho é relativamente baixa. (NR-17, 2012).

Segundo Saliba e Corrêa (2011) apud Anexo Nº1 – Limites de Tolerâncias

para Ruído Contínuo ou Intermitente, se um empregador trabalhar sem protetor

auricular, em local com ruído de 90 dB(A), a insalubridade será caracterizada

quando o tempo de exposição diário for superior a 4 horas. Levando em

consideração que em uma conversa normal a intensidade oscila entre 60 e 75 dB,

quando alta, o ambiente sonoro não causa danos à audição dos trabalhadores

(AUDIÇÃO, 2012).

E por fim, o ambiente cognitivo, que foi completamente ignorado no trabalho

em questão, pois foge do objetivo da problemática que se propôs analisar. Segundo

Másculo et al., 2001,

“A ergonomia cognitiva também enfoca o ajuste entre habilidades e limitações humanas às maquinas, às tarefas, ao ambiente, mas também observa o uso de certas faculdades mentais, aquelas que nos permitem operar, ou seja, relacionar e tomar decisões no trabalho (MÁSCULO ET AL., 2001).

3.2 Sugestões para Melhorias

Para melhorias em ergonomia e segurança podem ser sugeridas várias

pequenas coisas que podem fazer a diferença para os professores, tornando o

ambiente de trabalho mais confortável e agradável.

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Dentro das salas de aula é recomendada a troca das cadeiras das

professoras por um modelo mais confortável e ergonomicamente correto, de

preferência estofada. A cadeira de madeira não favorece a postura ideal para a

coluna, por ter o apoio para as costas em 90º com relação ao apoio para se sentar,

além de ser de material duro e pouco confortável para as nádegas. O apoio para as

costas também deve ser mais longo, podendo também dar apoio ao pescoço,

quando necessário. Com a troca de cadeiras, as mesas das professoras devem ser

inspecionadas para que o conjunto forneça conforto ao professor. Caso isso não

ocorra, as mesas também devem ser substituídas. Seguindo as recomendações da

NR-17, item 17.3.3, já citado neste trabalho.

Na brinquedoteca não existe mesa especifica para o professor, talvez por se

considerar que o professor fica em pé o tempo todo, ou senta-se no chão, ou nas

cadeiras que são antropometricamente incorretas para um adulto. A sugestão então

seria inserir um móvel adequado para que o professor pudesse se sentar quando

sentisse a necessidade. Uma poltrona ou uma cadeira estofada poderia ser a

solução.

No playground, os professores devem evitar sentar nos balanços, e utilizar o

banco, que pode ser visto à direita da Figura 12. A própria existência do banco perde

o sentido quando este não é utilizado. Para melhorar o conforto, é sugerido forrar o

banco com colchonetes que podem ser manuseados facilmente e não precisam ficar

o tempo todo no playground, expostos a condições climáticas, e sim guardados em

local adequado e de fácil acesso. Outra sugestão para o playground diz respeito à

segurança. A troca da areia por um piso emborrachado pode evitar quedas de

mesmo nível, além de proporcionar mais conforto e ser mais higiênico, evitando o

acumulo de fungos e bactérias, além de manter o ambiente mais limpo.

É também necessário um treinamento adequado que ensine o método

correto para levantamento de cargas. As professoras utilizam o método stoop lifting,

quando deveriam estar utilizando o método squat lifting. Essa simples mudança

pode diminuir significativamente a ocorrência de dores nas costas. Além da proposta

de ginástica laboral para contribuir para a melhoria das condições de saúde.

Outra sugestão é realizar reuniões que tenham o objetivo de valorizar o

professor. Essas podem ser formais, dentro da escola, como também fazer uso de

jantares, palestras etc. Um trabalhador motivado desenvolve um melhor trabalho. As

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cobranças da diretoria e da equipe pedagógica devem ser feitas de formas mais

descontraídas, para que deixem de parecer cobranças, e passem a ser vistas como

ocorrência comum, ou necessidade do trabalho em equipe.

Para cada professora regente existe um professor auxiliar, ou assistente.

Nesse caso as pausas podem ser consideradas uma possibilidade para evitar o

estresse. Além disso, as professoras têm algumas pausas mais longas por semana,

chamadas de hora atividade, durante as quais os alunos saem das salas de aula

para participarem de diversas atividades, como educação física, aula de pintura etc.

Essas pausas também podem ser aproveitadas para combater a fadiga.

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4. CONCLUSÃO

Esse trabalho avaliou alguns aspectos ergonômicos do trabalho do professor

fazendo o estudo de caso baseado na educação infantil de uma escola particular de

uma cidade no interior do estado do Paraná.

Fizeram parte dessa avaliação a biomecânica e a fisiologia do trabalho, além

de ser baseada em termos legais, como a norma regulamentadora de Ergonomia,

NR-17, e a Consolidação das Leis do Trabalho.

Foi observado que com relação ao levantamento de carga os investigados

estão dentro dos padrões estabelecidos pela equação de NIOSH, contudo a postura

utilizada pelas professoras para segurar as crianças no colo não é a ideal, pois elas

utilizam o método “stoop lifting”. No que diz respeito ao trabalho sentado, observou-

se que as cadeiras e bancos não estão adequados ao trabalho dos professores,

sendo sugerida a troca destes.

Esse trabalho também contém informações especificas da escola, através

de fotos e dados. Um questionário foi distribuído a todos os professores de

educação infantil do município, e analisado nesse trabalho. Foi observado que as

dores nas costas, seguidas pelas dores de cabeça, são razão de maior desconforto

entre os professores. O bom relacionamento e o aprendizado dos alunos foram

citados como coisas boas no trabalho, e a cobrança frequente e a limitação

metodológica como coisas ruins. Finalmente conclui-se que cerca de 70% dos

entrevistados sentem-se estressados por cobranças da equipe pedagógica e da

direção, além do cansaço. Sugestões foram feitas com a intenção de melhorar a

qualidade do ambiente de trabalho.

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REFERÊNCIAS ABPP - A importância das interações sociais na educação infantil: um caminho para compreender o processo de aprendizagem. Disponível em: <http://www.abpp.com.br/abppprnorte/pdf/a15silva03.pdf> Acessado em: 01 de maio de 2012. ANPED – Um tempo vivido, uma prática exercida, uma história construída: o sentido do cuidar e do educar. Disponível em: <http://www.anped.org.br/ reunioes/30ra/trabalhos/GT07-3333--Int.pdf> Acessado em: 01 de maio de 2012. Apostila de Ergonomia. Disponível em: <http://www.ergonomianotrabalho.com.br/ artigos/Apostila_de_Ergonomia_2.pdf> Acessado em: 27 de abril de 2012. Audição. Disponível em: <http://www2.uol.com.br/vyaestelar/audicao_surdez.htm> Acessado em: 01 de maio de 2012. Biomecânica. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd113/a-biomecanica-e-a-educacao-fisica.htm> Acessado em 15 de abril de 2012. CLT – Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.cpact.embrapa.br/ cipa/pdf/clt.pdf> Acessado em 28 de abril de 2012. Elementu Vitalle. Disponível em: <http://www.elementuvitalle.com.br/ artigos_itens.html> Acessado em: 01 de maio de 2012. FOCCA – Estudo de caso. Disponível em: < http://www.focca.com.br/cac/textocac/Estudo_Caso.htm> Acessado em: 9 de junho de 2012. MÁSCULO, Francisco Soares; VIDAL, Mario Cesar (org.). Ergonomia: Trabalho Adequado e Eficiente. 1º edição. Rio de Janeiro: Elsevier/ABEPRO, 2011. 648 p. Master Garden. Disponível em: <http://www.mastergardenproducts.com/ gardenerscorner/ knee5.jpg> Acessado em: 28 de abril de 2012. MINISTÉRIO DO TRABALHO E DO EMPREGO. Nota Técnica nº 060/2001. Brasília, 2001. 9 p. NBR 5413. Disponível em: <http://www.labcon.ufsc.br/anexos/13.pdf> Acessado em: 9 de junho de 2012. NR-17 – Norma Regulamentadora – Ergonomia. Disponível em: < http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BE914E6012BEFBAD7064803/nr_17.pdf > Acessado em 28 de abril de 2012.

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SALIBA, Tuffi Messias; CORRÊA, Márcia Angelim Chaves. Insalubridade e Periculosidade – Aspectos Técnicos e Práticos. 10º edição. São Paulo: LTr, 2011. 284 p. Sistema de alavancas. Disponível em: <http://diegoaguiar22.wordpress.com/ 2011/09/28/sistemas-de-alavancas-do-corpo-humano/> Acessado em: 28 de abril de 2012. Super Interessante. Disponível em: <http://super.abril.com.br/saude/como-trabalho-muda-seu-corpo-656185.shtml> Acessado em: 06 de maio de 2012. UNESP – Sintomas do Estresse. Disponível em: < http://www.faac.unesp.br/pesquisa/nos/alegria/estresse/sintomas.htm> Acessado em: 9 de junho de 2012. VIEIRA, Hélio Henrique Monteiro; TAYAMA, Mauri; MUNHOS, Paulo Sergio Faria. Análise ergonômica da atividade de triagem manual de cartas nos correios: um estudo de caso. 2005, 79. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Engenharia de Segurança do Trabalho) – Universidade Estadual de Ponta Grossa, Ponta Grossa, 2005 VIEIRA, Jair Lot. Manual de Ergonomia. 2º edição. São Paulo: Edipro, 2011. 110 p.

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ANEXO A

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM ENGENHARIA DE SEGURANÇA DO TRABALHO

QUESTIONÁRIO

Professor Nível: ____________Escolaridade:_______________________________

Idade: ______________________Data de nascimento:______/______/__________

Há quanto tempo realiza essa atividade? __________________________________

Trabalha quantas horas por dia?_________________________________________

O que é bom no trabalho para você?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

O que é ruim no trabalho para você?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Você sente dores? Onde? Com que frequência?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Você se sente estressado com o trabalho? Por quê?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________