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1 1. INTRODUÇÃO A globalização econômica, através da integração de mercados e liberação do comércio internacional, é uma realidade. As condições dessa nova ordem determinam profundas mudanças na vida das populações e principalmente sobre o mundo do trabalho, com reflexos no próprio trabalho, níveis de emprego, meio ambiente, níveis de saúde das populações e dos trabalhadores em particular. As profundas mudanças observadas na organização dos processos de trabalho, visando ao aumento da produtividade e redução dos custos e a relação trabalho-saúde dos trabalhadores vem ganhando uma dimensão nova dentro deste processo, geralmente não vêm acompanhadas de melhorias das condições de trabalho. No que se refere à saúde dos trabalhadores, é importante considerar, especificamente nos países do "terceiro mundo", a persistência de antigas formas de produção, e processos artesanais ou mecanizados convivendo com anacrônicas relações de trabalho: trabalho escravo, trabalho infantil, diversas formas de parceria, trabalho informal etc. Estas antigas formas convivem também com novas tecnologias e empresas globalizadas cujas normas e padrões são deliberadamente inferiores aos das matrizes. A coexistência deste duplo padrão de produção se reflete no chamado duplo perfil de morbi-mortalidade. Antigas doenças profissionais intoxicação por chumbo, mercúrio, silicose e outras doenças pulmonares, altos índices de acidentes do trabalho - convivem com uma alta incidência de LER (Lesões por Esforços Repetitivos), câncer e sofrimento mental, entre outras. É concepção dominante de que os problemas de saúde no trabalho devem-se ao descuido dos trabalhadores quanto às normas de segurança. Traz uma abordagem centrada na transferência de responsabilidade para o elo mais fraco do processo produtivo, descontextualizando os aspectos estruturais do processo de trabalho e de seus efeitos sobre o ser humano, a coletividade e o meio ambiente. A importância das inter-relações entre trabalho, meio ambiente e saúde, assim como seus impactos sobre a qualidade de vida da população têm sido cada vez mais explicitados, particularmente no contexto da globalização e da reestruturação produtiva. Do mesmo modo, as questões relativas ao meio ambiente sofrem uma abordagem limitada e, em conseqüência, as situações de risco e os impactos ambientais

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1. INTRODUÇÃO

A globalização econômica, através da integração de mercados e liberação do

comércio internacional, é uma realidade. As condições dessa nova ordem determinam

profundas mudanças na vida das populações e principalmente sobre o mundo do

trabalho, com reflexos no próprio trabalho, níveis de emprego, meio ambiente, níveis

de saúde das populações e dos trabalhadores em particular.

As profundas mudanças observadas na organização dos processos de trabalho,

visando ao aumento da produtividade e redução dos custos e a relação trabalho-saúde

dos trabalhadores vem ganhando uma dimensão nova dentro deste processo, geralmente

não vêm acompanhadas de melhorias das condições de trabalho.

No que se refere à saúde dos trabalhadores, é importante considerar,

especificamente nos países do "terceiro mundo", a persistência de antigas formas de

produção, e processos artesanais ou mecanizados convivendo com anacrônicas relações

de trabalho: trabalho escravo, trabalho infantil, diversas formas de parceria, trabalho

informal etc. Estas antigas formas convivem também com novas tecnologias e empresas

globalizadas cujas normas e padrões são deliberadamente inferiores aos das matrizes.

A coexistência deste duplo padrão de produção se reflete no chamado duplo

perfil de morbi-mortalidade. Antigas doenças profissionais intoxicação por chumbo,

mercúrio, silicose e outras doenças pulmonares, altos índices de acidentes do trabalho -

convivem com uma alta incidência de LER (Lesões por Esforços Repetitivos), câncer e

sofrimento mental, entre outras.

É concepção dominante de que os problemas de saúde no trabalho devem-se ao

descuido dos trabalhadores quanto às normas de segurança. Traz uma abordagem

centrada na transferência de responsabilidade para o elo mais fraco do processo

produtivo, descontextualizando os aspectos estruturais do processo de trabalho e de seus

efeitos sobre o ser humano, a coletividade e o meio ambiente.

A importância das inter-relações entre trabalho, meio ambiente e saúde, assim

como seus impactos sobre a qualidade de vida da população têm sido cada vez mais

explicitados, particularmente no contexto da globalização e da reestruturação produtiva.

Do mesmo modo, as questões relativas ao meio ambiente sofrem uma

abordagem limitada e, em conseqüência, as situações de risco e os impactos ambientais

2

decorrentes dos processos produtivos que afetam o conjunto dos trabalhadores e as

coletividades vizinhas, tendo seus custos transferidos para a sociedade. Nesse processo,

o trabalhador é a principal vítima das conseqüências negativas da deterioração do meio

ambiente interno e externo, sofrendo uma tripla agressão:

• Como trabalhador, ao ocupar determinada função na produção

(industrial, agrícola) ou na prestação de serviços, através da exposição a

métodos de trabalho e substâncias agressivas que contaminam o interior

das indústrias com maior intensidade em função de seu grau de

concentração mais elevado nos próprios locais de trabalho.

• Como cidadão, pela contaminação do solo, água e ar , especialmente se

residir, como ocorre freqüentemente, nas proximidades da indústria ou

das rotas de transporte dos materiais produzidos ou utilizados na

produção.

• Como consumidor, ao utilizar-se de uma série de produtos e serviços dos

quais desconhece as possibilidades tóxicas.

A proteção mais adequada do meio ambiente é aquela que concilia as exigências

da conservação da natureza com as do desenvolvimento econômico e social, dentro da

moderna concepção do desenvolvimento sustentável. Neste sentido, estes princípios

básicos devem nortear promoção do desenvolvimento sustentável e a adoção de uma

política ambiental direcionada à competitividade e não inibidora do crescimento

econômico.

Dentro deste cenário, um modelo produtivo centrado na compatibilização dos

impactos que os mesmos causam ao meio ambiente, à segurança e à saúde do

trabalhador tem tido cada vez mais uma importância crescente.

A proposta apresentada neste estudo de caso é significativa, tendo em vista que

representa uma abordagem para o gerenciamento e o controle dos recursos naturais, que

intervêm nos processos produtivos , tais como água etc..., Bem como de outras perdas

de processo, que geralmente podem ser contabilizadas como perdas de matérias primas.

A abrangência do estudo pretende estender-se até um estágio comparativo entre duas

situações de produção, sendo uma delas “gerenciada e controlada” contrastando com a

não execução destas ações.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A década de 90 caracterizou-se pelo desenvolvimento da chamada Gestão

Ambiental Privada (Magrini, 2001); onde as empresas mobilizaram-se na elaboração da

série de normas ISO 14000: SGA (Sistema de Gestão Ambiental). Tais normas têm

como finalidade prevenir danos ambientais decorrentes de processos produtivos e de

produtos colocados no mercado de consumo. Um gerenciamento referenciado em

normas técnicas, de reconhecimento nacional e internacional, implica no atendimento a

todas as exigências ambientais e permite a avaliação do desempenho do

empreendimento, além de ampliar a possibilidade de troca de experiências e o

aprimoramento de soluções (Fornasari Filho e Coelho, 2002).

A gestão ambiental visa o atendimento a requisitos ambientais; porém, o bom

desempenho de uma gestão ambiental não se esgota apenas em atendimento de

momento. O cuidado ambiental não só impõe a intenção de padrões de qualidade, mas

também o resgate de padrões anteriores à intervenção no meio e o seu aprimoramento. É

importante que a visão gerencial de uma organização contemple a perspectiva da busca

da qualidade ambiental sempre em um patamar superior e que, para tal, o desempenho

ambiental seja avaliado periodicamente, identificando-se eventuais necessidades de

reformulações no sentido da melhoria contínua (Fornasari Filho e Coelho, 2002).

Uma gestão empresarial sustentável implica na redução dos impactos ambientais

decorrentes das atividades da empresa de uma forma economicamente viável, utilizando

uma abordagem prevencionista, dentro do princípio de melhoria contínua.

Até agora, essa forma de pensamento não tem sido suficientemente explorada.

Uma abordagem sistemática de gerenciamento é uma condição sine qua non para

ampliar o escopo de disseminação dessas práticas. (Labodová, 2003).

Cabe ressaltar que, em novembro de 2004, foi lançada a ISO 14001:2004, que

substituiu a versão anterior, de 1996, clarificando alguns pontos e conceitos do texto e

alinhando esta norma com a ISO 9001:2000, facilitando, desta forma a integração dos

sistemas de gestão de qualidade e de meio ambiente.

Hillary (2003) apresenta alguns benefícios apontados por empresas européias

quanto à adoção de um SGA , baseado na ISO 14001:

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- Benefícios organizacionais: possibilidade de combinação com o Sistema de

Gestão da Qualidade baseado na ISO 9001, demonstração de responsabilidade

ambiental e manutenção da documentação legal regularizada, criação de imagem

pública positiva e melhoria da comunicação com as partes interessadas;

- Benefícios financeiros: redução de desperdício de materiais e energia, inserido

em um planejamento de eficiência energética;

- Benefícios para os empregados: melhoria das condições de trabalho e

segurança, das oportunidades de diálogo entre os colaboradores e gerentes e da

qualidade dos treinamentos e qualificação dos empregados;

- Benefícios comerciais: Ganho de novos clientes e satisfação dos já existentes,

além de descontos junto às seguradoras.

Quanto à questão da SST (saúde e segurança do trabalho) a implantação de um

sistema de gestão eficiente que contemple esses aspectos, ou seja, com as ferramentas e

o acompanhamento adequado em uma empresa possibilita à mesma atingir bons níveis

quanto aos riscos a que os trabalhadores estarão expostos, minimizando a possibilidade

de ocorrência de danos à integridade física e saúde dos mesmos. É certo, contudo, que a

simples adoção de um SGSST (Sistema de Gestão de saúde e segurança do trabalho),

não surtirá efeito imediato na redução do número e gravidade de acidentes e doenças

decorrentes do trabalho. Contudo, a sua implantação produzirá, na maioria dos casos,

uma melhoria na imagem da organização diante das partes interessadas (De Cicco,

2004c), garantindo que existe um comprometimento da alta administração para atender

às disposições de sua política e objetivos; é dada maior ênfase à prevenção do que às

ações corretivas; há um direcionamento para uma melhoria contínua do processo

produtivo quanto ao aspecto de SST.

Além do aspecto institucional, relativo à imagem da organização, com a

implantação de SGSST benefícios podem ser auferidos, do ponto de vista financeiro,

com a redução de passivos trabalhistas decorrentes de processos oriundos de acidentes e

doenças relacionados ao trabalho.

A diretriz atualmente em voga para as questões de SST é a OHSAS 18001:1999

(Occupational, Health and Safety Assessment Series), cujo significado é Especificação

para Sistemas de Gestão de Saúde Ocupacional e Segurança. Essa referência foi

elaborada com base na norma inglesa BS 8800:1996 e em outros documentos de

diversas entidades nacionais de normalização e certificadoras. Possui a vantagem de,

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como no caso da ISO 14001, ser compatível quanto à seqüência de procedimentos, à

ISO 9001.

Atualmente, a tendência quanto à implantação de sistemas de gestão em diversos

tipos de organizações empresariais é a “unificação” das diferentes áreas de

gerenciamento, passando ao chamado Sistemas de Gestão Integrados. Tal fato deve-se a

diversos fatores, como a compatibilidade das normas de referência utilizadas como

diretrizes para a implantação dos sistemas de gestão. Como já foi dito, a ISO 9001

(Qualidade), ISO 14001 (Meio Ambiente) e OHSAS 18001 (Saúde e Segurança do

Trabalho) possuem a mesma base. As três fundamentam-se no princípio da melhoria

contínua e no ciclo PDCA (Plan – Do – Check – Act), como visto no trabalho de

(Labadová, 2003), onde é apresentado um modelo de integração de sistemas de gestão

de qualidade, meio ambiente, saúde e segurança do trabalho. Ela comenta que a

integração de sistemas separados é possível pela estruturação do planejamento

caracterizado pelo clássico ciclo PDCA e um sistema de análise de risco apropriado.

Entretanto, problemas específicos relacionados ao Meio Ambiente e SST devem

receber maior atenção.

O termo SGI (“Sistema de Gestão Integrado”) pode englobar diferentes facetas

da gestão corporativa. Usualmente, SGI pode ser descrito como a combinação de

gerenciamento da qualidade e do meio ambiente, mas também alguns sistemas

consistem no gerenciamento ambiental e de saúde e segurança do trabalho. Entretanto, a

combinação mais abrangente encontrada na literatura integra o gerenciamento do

processo de qualidade e meio ambiente com a gestão da saúde e segurança dos

trabalhadores, sendo esta a abordagem que está em conformidade com GQT (gestão

pela qualidade total), (Labodová, 2003).

Geralmente, as normas ISO 14001 e OHSAS 18001 têm sido utilizadas por

empresas de grande porte2. Isso se deve ao fato de que tais empresas possuem

disponibilidade de recursos financeiros e humanos para investimentos na implantação

de sistemas de gestão ambiental e de SST “certificáveis” por tais normas e diretrizes.

A atividade humana tem causado prejuízo à natureza, através dos lixos, esgotos,

dejetos químicos de industriais e de mineração sem controle.

Uma das primeiras iniciativas oficiais no Brasil, de controle emissões foi

introduzida pelo decreto 76.389 de 03/10/1975 pela presidência da república, do qual

observa-se:

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No Art. 1º :

Para as finalidades do presente Decreto, considera-se poluição industrial qualquer alteração das propriedades físicas, químicas ou biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de energia ou de substância sólida, líquida ou gasosa, ou combinação de elementos despejados pelas indústrias, em níveis capazes, direta ou indiretamente, de:

I - prejudicar a saúde, a segurança e o bem-estar da população;

II - criar condições adversas às atividades sociais e econômicas;

III - ocasionar danos relevantes à flora, à fauna e a outros recursos naturais.

Art. 3º A Secretaria Especial do Meio Ambiente - SEMA - órgão do Ministério do Interior, proporá critérios, normas e padrões para o território nacional, de preferência em base regional, visando evitar e corrigir os efeitos danosos da poluição industrial.

Parágrafo único. No estabelecimento de critérios, normas e padrões acima referidos, será levada em conta a capacidade autodepuradora da água, do ar e do solo, bem como a necessidade de não obstar indevidamente o desenvolvimento econômico social do País.

Art. 4º Os Estados e Municípios, no limite das respectivas competências, poderão estabelecer condições para o funcionamento das empresas, inclusive quanto à prevenção ou correção da poluição industrial e da contaminação do meio ambiente, respeitados os critérios, normas e padrões fixados pelo Governo Federal.

Parágrafo único. Observar-se-á sempre, no âmbito dos diferentes níveis de governo, a orientação de tratamento progressivo das situações existentes, estabelecendo-se prazos razoáveis para as adaptações a serem feitas e, quando for o caso, proporcionando alternativa de nova localização, com apoio do setor público.

Art. 5º Além das penalidades definidas pela legislação estadual e municipal, o não cumprimento das medidas necessárias à prevenção ou correção dos inconvenientes e prejuízos da poluição do meio ambiente sujeitará os transgressores:

a) à restrição de incentivos e benefícios fiscais concedidos pelo poder público;

b) à restrição de ilhas de financiamento em estabelecimentos de crédito oficias;

c) à suspensão de suas atividades.

Parágrafo único. A penalidade prevista na letra c do artigo anterior é da competência exclusiva do Poder Público Federal, nos casos previstos no artigo 10 deste Decreto.

Art. 6º A suspensão de atividades, prevista no artigo 52 deste decreto, será apreciada e decidida no âmbito da Presidência da República, por proposta do Ministério do Interior, ouvido o Ministério da Indústria e do Comércio.

Art. 7º Em casos de grave e iminente risco para vidas humanas e para recursos econômicos, os Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios poderão adotar medidas de emergência visando reduzir as atividades poluidoras das indústrias, respeitada a competência exclusiva do

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Poder Público Federal de determinar ou cancelar a suspensão do funcionamento de estabelecimento industrial, prevista no artigo 2º do Decreto-Lei nº 1.413, de 14 de agosto 1975.

A seguinte providencia oficial do governo ficou estabelecida pela lei 6.803 de 2/07/1980 que dispões sobre o zoneamento industrial em áreas críticas de poluição , onde em seu Art. 9º. Estabelece:

Art. 9º. O licenciamento para implantação, operação e ampliação, de estabelecimentos industriais, nas áreas críticas de poluição, dependerá da observância do disposto nesta Lei, bem como do atendimento das normas e padrões ambientais definidos pela SEMA, pelos organismos estaduais e municipais competentes, notadamente quanto às seguintes características dos processos de produção:

I - emissão de gases, vapores, ruídos, vibrações e radiações;

II - riscos de explosão, incêndios, vazamentos danosos e outras situações de emergência;

III - volume e qualidade insumos básicos, de pessoal e de tráfego gerados;

IV - padrões de uso e ocupação do solo;

V - disponibilidade nas redes de energia elétrica, água, esgoto, comunicações e outros;

VI - horários de atividade.

Parágrafo único. O licenciamento previsto no <caput> deste artigo é da competência dos órgãos estaduais de controle da poluição e não exclui a exigência de licenças para outros fins.

Os últimos critérios legais a respeitodo assunto foram estabelecidos pela Lei 9.605 , de 12.02.1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas aplicáveis às condutas e atividades lesivas à segurança do meio ambiente. Dita lei, conhecida como Lei dos Crimes Ambientais, representa significaivo avanço na tutela do ambiente, por inaugurar uma sistematização das sanções administrativas e por tipificar organicamente os crimes ecológicos. Esta lei inova , também , por colocar a pessoa jurídica , como sujeito ativo do crime ecológico e os gestores da empresa podem ser acionados criminalmente1.

2.1 Controle da Poluição

O nível de controle - necessário ou imposto - é freqüentemente definido em

termos de melhor tecnologia disponível, cuja determinação depende de dois fatores

primordiais: informação disponível e condições econômicas.

Inicialmente é necessário caracterizar as diferentes formas de contaminação do

meio ambiente causada pela atividade humana. Existem essencialmente três situações

1 MILARÉ, Edis – direito do ambiente – editora revista dos tribunais – 2ª. Ed.

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de poluição, cada uma delas característica do estágio de desenvolvimento social e

industrial, de acordo com ( Braile, 1979).

- Primeiro estágio: poluição patogênica. Neste estágio, as exigências quanto à

qualidade da água são relativamente pequenas, tornando-se comuns as enfermidades

veiculadas pela água. O uso de estações de tratamento de água e sistemas de adução

podem prevenir os problemas sanitários neste estágio.

- Segundo estágio: poluição total. Este estágio define-se como aquele em que os

corpos receptores tornam-se realmente afetados pela carga poluidora que recebem

(expressa como sólidos em suspensão e consumo de oxigênio). Embora neste estágio, a

“saúde” do corpo receptor seja diretamente afetada, os prejuízos a saúde da população

podem ser reduzidos se existirem estações eficientes de tratamento de água e de esgotos.

Este estágio normalmente ocorre durante o desenvolvimento industrial e o crescimento

das áreas urbanas. A tecnologia existe como medida terapêutica. Os países que ainda

estão na fase de poluição total, podem emergir desta situação, investindo maciçamente

nas instalações de tratamento de efluentes.

- Terceiro estágio: poluição química. Este estágio somente agora está sendo

identificado. É o estágio da poluição insidiosa, causada pelo contínuo uso da água. O

consumo de água aumenta em função do aumento da população e da produção

industrial. Cada dia é maior a quantidade de água retirada dos rios e maior e mais

diversa a poluição neles descarregada. Com o aumento da reutilização da água, surgem

problemas gerados pelos sólidos dissolvidos, que podem tornar a água imprópria para os

usuários de jusante, a menos que sejam adotados métodos avançados e custosos de

tratamento de despejos e de água de abastecimento. Tais águas conterão traços de

compostos orgânicos, que poderão acarretar problemas de gosto e odor, ou outros ainda

piores à saúde. Os compostos químicos mais sofisticados (como, por exemplo, os

organofosforados, policlorados e bifenóis, usados na indústria e agricultura) causam

preocupações, uma vez que não podem ser detectados rapidamente nas baixíssimas

concentrações em que geralmente ocorrem.

O terceiro estágio de poluição está associado a uma sociedade de

desenvolvimento onde os padrões de vida estão continuamente se elevando.

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2.2 Natureza dos Despejos Industriais

Na indústria, de modo geral, a água pode ser matéria prima que se junta a outras

para criar produtos acabados, ou ser utilizada como meio de transporte, como agente de

limpeza em sistemas de refrigeração, como fonte de vapor e produção de energia (

Braile, 1979 )

2.2.1 Características Físicas

As principais características físicas das águas residuárias são: seu

conteúdo de sólidos totais, os quais são compostos de material flutuante,

material coloidal e material em solução; temperatura, cor, odor e turbidez.

2.2.1.1 Sólidos Totais

O conteúdo dos sólidos totais de um despejo é definido como toda

a matéria que permanece como resíduo após evaporação à temperatura de

103º a 105ºC. O material que possui significativa pressão de vapor nesta

temperatura é perdido durante a evaporação e não é definido como

sólido. Sólidos totais, ou resíduos da evaporação, podem ser classificados

como sólidos em suspensão ou sólidos filtráveis.

2.2.1.2 Temperatura

A temperatura das águas residuárias é um parâmetro de grande

importância devido a seu efeito na vida aquática. A elevação de

temperatura por lançamento de despejos industriais aquecidos, por

exemplo, pode causar danos à espécies de peixes existentes no curso de

água. Além disso, o oxigênio é menos solúvel em água quente do que em

água fria ( a água a 0ºC contém uma concentração de 14 mg/l de

oxigênio; a 20ºC 9 mg/l, a 35ºC menos que 7 mg/l).

A elevação da temperatura também produz estimulação das

atividades biológicas, resultando em consumo de oxigênio, justamente na

ocasião em que a água passa a conter menos esse elemento. Por isso, as

condições sanitárias dos cursos de água tendem a se agravar durante o

verão.

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Um aumento súbito na temperatura de cursos de água, por outro

lado, poderá resultar em alta taxa de mortalidade na vida aquática. Além

disso, temperaturas anormalmente, elevadas podem causar o

florescimento de fungos e plantas aquáticas indesejáveis.

2.2.1.3 Cor

A cor é provocada por corantes orgânicos e inorgânicos.

2.2.1.4 Odor

Os odores são provocados por gases produzidos pela

decomposição da matéria orgânica. São produzidos, também, por

contaminantes como o fenol, mercaptana, substâncias tanantes, etc.

2.2.1.5 Turbidez

É um outro parâmetro indicativo da qualidade de águas

residuárias com relação a material coloidal.

2.2.2 Características Químicas

Os compostos orgânicos são normalmente constituídos de uma

combinação de carbono, hidrogênio e oxigênio e, em alguns casos, nitrogênio.

Outros importantes elementos, tais como enxofre, fósforo e ferro podem

também estar presentes. Os principais grupos de substâncias orgânicas

encontrados em águas residuárias são proteínas, carboidratos, gorduras e óleos.

Além destes, as águas residuárias podem conter grande número de diferentes

moléculas orgânicas sintéticas cujas estruturas variam de simples a

extremamente complexas. Exemplos típicos são os surfactantes, fenóis e

pesticidas agrícolas. O número destes compostos aumenta anualmente, pois é

sempre maior o número de moléculas que estão sendo sintetizadas.

A presença destas substâncias vem complicando o tratamento de esgotos,

devido às fracas possibilidades de serem decompostas biologicamente.

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2.2.2.1 Conteúdo de Matéria Orgânica

2.2.2.1.1 DBO

Demanda Bioquímica de Oxigênio – O parâmetro mais

usual de medição de poluição orgânica aplicado às águas

residuárias é a DBO 5 dias (DBO5).

Esta determinação envolve a medida do oxigênio

dissolvido utilizada pelos microrganismos na oxidação

bioquímica da matéria orgânica.

A DBO é então empregada na determinação da quantidade

aproximada de oxigênio que será necessária para oxidar

biologicamente a matéria orgânica presente.

Para se obter resultados significativos, a amostra a analisar

precisa ser convenientemente diluída a fim de que nutrientes e

oxigênio estejam presentes durante o período de incubação. Caso

haja necessidade, a água de diluição é semeada com uma cultura

bacteriana à matéria orgânica presente na água. A cultura que é

utilizada para a preparação da água de diluição contém grande

número de bactérias saprófitas que oxidam a matéria orgânica.

Além disso, estas culturas contem certas bactérias autotróficas

que oxidam a matéria não carbonácea.

O período de incubação é, usualmente, de cinco dias a

20ºC, porém, pode-se usar outros períodos e temperaturas. Depois

da incubação, o oxigênio dissolvido da amostra é medido e a

DBO calculada.

A oxidação bioquímica é um processo vagaroso. Dentro

de um período de vinte dias, a oxidação é de 95 a 99% do total e

de 60 a 70% num período de cinco dias.

2.2.2.1.2 DQO

Demanda Química de Oxigênio – Este teste também é

utilizado para medir o conteúdo de matéria orgânica de águas

residuárias e águas naturais. O oxigênio equivalente da matéria

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orgânica que pode ser oxidado é medido usando-se um agente

oxidante em meio ácido (dicromato de potássio).

O teste de DQO é sobremaneira precioso na medida da

matéria orgânica em despejos que contenham substâncias tóxicas

à vida. A DQO em um despejo é, em geral, mais alta do que a

DBO, em virtude da maior facilidade com que grande número de

compostos pode ser oxidado por via química do que por via

biológica.

Para muitos tipos de despejos é possível correlacionar a

DQO com a DBO. Isto é vantajoso, pois a DQO é determinada

em apenas três horas, ao passo que a determinação da DBO leva

cinco dias.

2.2.3 Conteúdo de Matéria Inorgânica

Os principais parâmetros de caracterização dos despejos são:

2.2.3.1 PH

A concentração hidrogeniônica é um importante parâmetro

de qualidade de despejos industriais. A faixa de concentração

adequada para a existência de vida é muito estreita e crítica. Os

despejos com concentração inadequada do íon hidrogênio são

difíceis de se tratar por métodos biológicos.

2.2.3.2 Oxigênio Dissolvido

O oxigênio dissolvido é necessário para a respiração de

microrganismos aeróbios bem como outras formas aeróbias de

vida. A quantidade de oxigênio que pode estar presente na água é

regulada por vários fatores, tais como: a solubilidade do gás, a

pressão parcial do gás na atmosfera, a temperatura, salinidade,

sólidos em suspensão, etc.

Como a taxa das reações bioquímicas que utilizam

oxigênio aumenta com a elevação da temperatura, os níveis de

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oxigênio dissolvido tendem a ser mais críticos nos meses de

verão. A presença de oxigênio dissolvido em águas residuárias é

desejável por prevenir formação de substâncias mal cheirosas.

2.3 Interpretação de Analises Sanitárias de Despejos Industriais

(Segundo Braile, 1979).

2.3.1 Nível 1

Análises sanitárias (físico-químicas)

Ensaios auxiliares

Neste nível de atividade, só se pode obter uma visão genérica das

características do despejo e uma estimativa dos problemas sanitários de sua

disposição. As análises sanitárias podem, quando associadas a pequenos ensaios

auxiliares, fornecer também informações primárias sobre critérios gerais de

tratamentos possíveis para as águas residuárias.

2.3.2 Nível 2

Instalações-piloto – Neste nível de atividade estudam-se com maiores

detalhes as características dos tratamentos possíveis de serem aplicados à água

residuária. Em princípio, todos os problemas a serem enfrentados na futura

estação, deverão ser antevistos na estação-piloto, resultando os critérios de

“processo” da instalação final.

As instalações-piloto são recomendadas principalmente quando da

ocorrência de:

- despejos com processo de tratamento ainda não satisfatoriamente

conhecido;

- despejos reunidos de várias indústrias mascarando suas características

de origem;

- quando houver necessidade de grande eficiência no futuro tratamento;

- quando se prevê grande vazão de água residuária ocasionando

instalações de grande porte e alto custo.

14

2.3.3 Nível 3

- Ensaios biológicos – Neste nível de atividade, procura-se estudar (por

exemplo, com uso de aquário com peixes e, se possível, com o maior número de

espécies de microflora e microfauna do futuro curso de água receptor), como o

meio biológico do futuro corpo de água receptor responderá ao lançamento da

água residuária.

Nas atividades do nível 1 reconhece-se o despejo; nas do nível 2

determina-se com detalhes o melhor método de tratamento e no nível 3 verifica-

se se ele é necessário.

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3. METODOLOGIA

1. Análise do processo produtivo – Nesta fase, foram realizados os estudos da

produção industrial, (Fluxograma do Processo de Produção de Sucos Cítricos, anexo).

2. Determinação dos pontos de coleta de amostras dos efluentes – Nesta fase,

foram escolhidos os pontos críticos de descartes, em função das suas vazões e cargas

poluidoras, (Figuras 1 e 2).

3. Coleta das amostras dos efluentes – Nesta fase, uma vez determinados os

pontos críticos foram realizadas coletas dos efluentes em horários que representavam os

valores mais desfavoráveis do ponto de vista de cargas e volumes poluentes.

4. Analises laboratoriais – Nesta fase, as amostras coletadas na planta são

encaminhadas a laboratório de analises químicas para determinação de seus parâmetros

de interesse.

5. Diagnosticar os problemas através dos resultados das análises laboratoriais –

Nesta fase, de posse dos resultados das análises, foi composto um perfil dos descartes

mais significativos do ponto de vista de poluição, que seriam tratados.

6. Elaboração de um plano de ação – A fase de estabelecimento de um plano de

ação contemplou a execução de procedimentos e um planejamento de modificações a

serem implementadas na planta.

7. Implementar o plano de ação – Uma vez elaborado o plano de ação, foi

adotado um cronograma para sua execução, envolvendo: treinamento de pessoal,

rotinas, procedimentos e modificações na planta.

8. Verificação dos resultados – Uma vez implantado o plano de ação, e após

estarem estabilizados os novos parâmetros de descartes, voltaram-se a realizar análises

sob amostragens, para verificação das modificações e impactos das medidas adotadas.

9. Padronização dos procedimentos – Nesta fase final do estudo, foram inseridos

no sistema de gestão da qualidade e meio ambiente, novos procedimentos e documentos

testemunhais (evidências), dos novos resultados obtidos. Tratou-se também de incluir

estes procedimentos no (PDCA) do sistema de gestão e melhoria contínua do processo

produtivo da empresa.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

O presente estudo foi realizado numa planta de produção de sucos cítricos, a

qual, foi projetada para uma capacidade de esmagamento de 150.000 caixas de laranjas

por dia. O processo é totalmente automatizado no que diz respeito as operações de

produção, existindo um sistema supervisório, dedicado a controlar os principais fluxos

e segmentos do mesmo.

O processo visa como objetivo prioritário a produção de sucos, concentrados, e

seus produtos correlatos tais como óleo da casca ( peel oil ), polpa cítrica congelada ,

óleos essenciais fases aquosa e oleosa.

Como sub-produtos e resultado do reaproveitamentos de sólidos tais como:

bagaço e casca, são gerados Óleo Delimonene , e Pellets Cítricos.

4.1 Etapas do Estudo de Gerenciamento e Perdas Industriais

4.1.1 Primeira Etapa: Diagnóstico

Na primeira etapa, através do conhecimento do lay-out da indústria, é

feito a identificação e o mapeamento de todas as linhas de água que alimentam a

indústria e os pontos de consumo das linhas que transportam os efluentes para

fora da indústria.

Os processos industriais de todos os setores produtivos da empresa são

observados, coletando-se amostras dos pontos geradores de efluentes e perdas

industriais, caracterizando-os quantitativa e qualitativamente, quanto às suas

propriedades físicas, químicas e biológicas, através da coleta e análise de

amostras no período de operação normal da indústria.

De todos as etapas do processo industrial, foram medidas as vazões nos

pontos de coleta antes da implantação do plano de ação, as quais estão

representadas na tabela 1.

17

Tabela 1 - Vazões medidas antes do plano de ação

Tabela 2 - Cargas poluidoras medidas antes do plano de ação

PONTOS DO PROCESSO VAZÃO (m3/dia)

1 LAVADORES DE FRUTAS 1.400,00 2 EXTRATORAS DE SUCO 400,00 3 ELABORAÇÃO DE POLPAS 150,00 4 EVAPORADORES 325,00 5 CENTRÍFUGAS 50,00 6 ULTRAFILTRAÇÃO 104,00 7 FABRICA DE SUB-PRODUTOS 1.948,00 8 VAZÃO TOTAL 4.377,00

PONTOS DO PROCESSO

CARGA POLUIDORA (ton DQO/dia)

1 LAVADORES DE FRUTAS 2,19 2 EXTRATORAS DE SUCO 4,60 3 ELABORAÇÃO DE POLPAS 15,10 4 EVAPORADORES 40,00 5 CENTRÍFUGAS 10,95 6 ULTRAFILTRAÇÃO 1,95 7 FABRICA DE SUB-PRODUTOS 36,20 8 CARGA ORGÂNICA TOTAL DESCARTADA 110,99

18

4.1.2 Segunda Etapa: Elaboração do Plano De Ação

A partir dos resultados encontrados no diagnóstico (1ª Etapa),

conjuntamente com os supervisores e responsáveis técnicos da indústria,

construiu-se um Plano de Ação para a solução das não-conformidades

encontradas, nesta etapa foram identificadas as metas possíveis de atingir, bem

como um cronograma de atividades, estimando-se um nível de investimento

para eventuais ajustes para o processo industrial.

De maneira geral, as medidas que foram sugeridas e implantadas foram

conduzidas sob a ótica de dois objetivos. Um deles foi o de reduzir a geração

dos efluentes, pela redução da vazão de águas de utilidades e o outro o de

segregação de efluentes com alto índice de carga orgânica, de modo a impedir a

sua diluição, facilitando assim o tratamento, e enquadrando-o dentro dos

parâmetros compatíveis com um grau de maior eficiência da estação de

tratamento. Obviamente que estas medidas refletiram também na utilização de

um volume menor dos recursos água e energia e produtos químicos para o

tratamento.

4.1.2.1 Águas De Limpeza

O Processo existente contemplava mangueiras de grande vazão e

baixa pressão. Foram substituídas por um sistema de limpeza com

bombas de alta pressão e bicos de alto impacto, e baixíssima vazão.

4.1.2.2 Segregação dos Efluentes

Para os efluentes de grande carga poluidora, foram criados

métodos de condução para tratamento em separado, com a instalação de

reservatórios e linhas especiais para a condução destes efluentes.

4.1.2.3 Reaproveitamento das Etapas de Limpeza do Sistema de

Evaporação – Para Geração de Suco Concentrado

Foram alterados os set-points de processo, bem como o

fluxograma de controle para acionamento de válvulas direcionadoras do

19

fluxo de limpeza, de modo a realizá-las em série, com a recuperação de

soda cáustica destas vazões.

4.1.2.4 Canalização de Águas Pluviais

Foram construídas redes de águas pluviais, impedindo-as assim

de contribuir para a diluição das cargas poluidoras.

Após a implantação do plano de ação foram realizadas novas

medições nos mesmos pontos obtendo-se os valores representados na

tabela 3. Conforme pode-se observar, os valores reduziram

significativamente, 41% de redução nos lavadores de frutas, 36% de

redução nas extratoras de suco, 73% de redução na elaboração de polpas,

61% de redução nos evaporadores, 76% na redução nas centrifugas, 76%

na ultrafiltração e 32% na fabrica de sub-produtos, perfazendo um total

de 4.377 m3/dia, correspondendo a 40% de redução na planta de

produção como um todo.

PONTOS DO PROCESSO VAZÃO (m3/dia)

1 LAVADORES DE FRUTAS 820,00 2 EXTRATORAS DE SUCO 256,00 3 ELABORAÇÃO DE POLPAS 40,50 4 EVAPORADORES 126,75 5 CENTRÍFUGAS 12,00 6 ULTRAFILTRAÇÃO 24,96 7 FABRICA DE SUB-PRODUTOS 1.324,00 8 VAZÃO TOTAL 2.604,21

Tabela 3 – Vazões medidas após o plano de ação

Após a implantação do plano de ação foram realizadas novas

medições nos mesmos pontos, para carga poluidora, obtendo-se os

valores representados na tabela 4. Conforme pode-se observar, os valores

reduziram significativamente, 10% de redução nos lavadores de frutas,

40% de redução nas extratoras de suco, 25% de redução na elaboração de

polpas, 35% de redução nos evaporadores, 10% na redução nas

centrifugas, 15% na ultrafiltração e 15% na fabrica de sub-produtos,

20

perfazendo um total de 110,99 ton DQO/dia, correspondendo a 24% de

redução na planta de produção como um todo.

PONTOS DO PROCESSO

CARGA POLUIDORA (ton DQO/dia)

1 LAVADORES DE FRUTAS 1,97 2 EXTRATORAS DE SUCO 2,76 3 ELABORAÇÃO DE POLPAS 11,32 4 EVAPORADORES 26,00 5 CENTRÍFUGAS 9,85 6 ULTRAFILTRAÇÃO 1,65 7 FABRICA DE SUB-PRODUTOS 30,70 8 CARGA ORGÂNICA TOTAL DESCARTADA 84,25

Tabela 4 – Cargas poluidoras medidas após o plano de ação

-500

500

1500

2500

3500

4500

PONTO POLUIDOR

VAZÕES MEDIDAS M3/DIA

ANTES 1400 400 150 325 50 104 1948 4377

DEPOIS 820 256 40,5 126,8 12 24,96 1324 2604

LAV. EXTR.

POLP.

EVAP

CENT.

U.F. S.P. TOTAL

Figura 1 – Representação gráfica das vazões antes e após plano de ação

Na representação gráfica da figura 1, podemos observar que o ponto critico analisado no processo referente a fábrica de sub-produtos, apresentou uma redução de 32%.

21

0102030405060708090

100110120

PONTO POLUIDOR

Carga Poluidora (Kg/dia DQO)

ANTES 2,19 4,6 15,1 40 10,95 1,95 36,2 111

DEPOIS 1,97 2,76 11,32 26 9,85 1,65 30,7 84,25

LAV. EXTR. POLP.

EVAP CENT.

U.F. S.P. TOTAL

Figura 2 – Representação gráfica das cargas poluidoras antes e após plano de ação

Na representação gráfica da figura 4, podemos observar que o ponto critico analisado no processo referente aos evaporadores, apresentou uma redução de 35%.

4.1.3 Terceira Etapa: Execução do Plano de Ação

A execução do plano de ação seguiu as propriedades definidas no

cronograma da etapa anterior, inclusive com o treinamento de pessoal que se

estendeu por todo o organograma em datas e horários também previamente

definidos no cronograma.

O treinamento de pessoal abrangeu todas as etapas do Programa, com a

discussão das metas, resultados atingidos e na definição, apresentação e

reconhecimento dos Procedimentos a serem elaborados.

O Plano de Ação, foi acompanhado pelo período de um mês, com o

objetivo de monitorar as atividades programadas.

22

4.1.3.1 Descartes, Antes e Após a Realização do Estudo e

Implantação do Plano de Ação.

4.1.3.1.1 Reduções nas Vazões

O descarte diário do processo reduziu-se de 4377 m3 de efluentes

descartados por dia , para 2604 m3/dia, propiciando assim uma redução

de 40,50% no consumo de água, (Figura 1) ou (Tabelas 1 e 3).

4.1.3.1.2 Reduções nas Cargas Poluidoras

Descartadas

A Carga poluidora descartada pelo processo, reduziu-se de 110,9

ton DQO/dia , para 84,4 Ton DQO/dia, conseguindo-se uma redução de

23,9% na carga poluidora total, (Figura 2) ou (Tabelas 2 e 4).

4.1.4 Quarta Etapa: Verificação

Efetuadas verificações dos processos industriais, com a coleta e análise

dos mesmos pontos amostrados na 1ª Etapa, porém agora já com as correções de

manuseio e processo, executadas pelo plano de ação, (Diagnóstico).

A verificação, e a reavaliação dos pontos geradores de efluentes e perdas

industriais indicou a eficiência do plano implantado,

4.1.5 Quinta Etapa: Padronização

Uma vez que as metas foram atingidas e as não conformidades

resolvidas, prosseguiu-se com a elaboração dos Procedimentos para se evitar

um retorno ao estado inicial. Nesta etapa, foram descritos todos os passos para se

manter em condições mais ideais possíveis, cada ponto da indústria que direta ou

indiretamente estiveram envolvidos no uso da água ou manipulação da matéria-

prima.

23

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo de amostragem dos efluentes industriais consiste de uma ação

conjunta entre os técnicos designados para a coleta de amostras e o pessoal operacional

da unidade. Sabendo-se que os processos são contínuos e monitorados por via

informatizada, o trabalho de retirada de amostras deve ser autorizado pelo comando de

operações, tendo em vista que para os diferentes estágios do processo produtivo, a

identificação é feita através de sensores que monitoram parâmetros tais como a vazão, a

temperatura, o PH, além de outros.

A liberação de trabalho, para a atividade de coleta de amostras é normalmente

precedida de uma retirada de permissão de trabalho e de uma APR, (Avaliação

Preliminar de Riscos), onde são consideradas todas as possíveis interferências e

impactos da atividade solicitada.

Os equipamentos de proteção individual utilizados nesta operação devem

atender à NR-6. Sendo a operação sujeita a respingos de líquido agressivo, tendo em

vista que as limpezas periódicas são feitas com a adição de soda cáustica através das

próprias tubulações de processo, foram utilizados : botas em PVC, capa com capuz em

PVC, mascara facial integral, capacete, luvas de PVC .

Melhorias do ponto de vista operacional, proporcionando maior segurança aos

operadores da estação de tratamento dos efluentes industriais, refletiram-se

principalmente pela regularização das vazões a serem tratadas, tendo em vista que com

a segregação das águas pluviais, estas parcelas foram desviadas da ETE. Antes destas

ações aconteciam transbordamentos dos efluentes que chegavam à estação de

tratamento, e conseqüentemente obrigando aos operadores entrarem em contato com os

contaminantes dos despejos. Outra vantagem resultou em maior segurança para os

operadores que ficou caracterizada pela uniformidade mantida dos contaminantes tais

como a soda cáustica , em concentrações e vazões controladas através de uma melhoria

na programação das limpezas automáticas, feitas através de um sistema supervisório.

Antes de haver esta melhoria nas programações de limpezas internas (CIPs),

aconteciam momentos de transbordamentos dos tanques equalizadores.

Do ponto de vista de melhorias conseguidas para o meio ambiente e para a

comunidade registraram-se uma melhoria na qualidade do corpo receptor dos despejos

24

tratados . Alguns núcleos de agricultores, situados às margens do rio, que utilizam sua

água para irrigação e para alimentação de alguns animais, foram beneficiados com a

não contaminação de produtos horti-granjeiros, reduzindo os riscos de contaminação

das populações que se alimentam com estes produtos, bem como com a redução dos

riscos à saúde de animais domésticos,ou que contribuem para a subsistência dos

agricultores.

O estudo realizado mostrou, pela medição dos parâmetros envolvidos, a

melhoria da adaptação de um processo produtivo à preservação do meio ambiente, e

redução dos aspectos agressores e perturbadores da segurança ambiental.

Ficou comprovado também, por testes de medição do Oxigênio Dissolvido, no

corpo receptor dos efluentes tratados, que a qualidade de vida no corpo hídrico afetado

melhorou (Tabela 5).

A primeira mensuração de depuração do corpo receptor foi feita antes da

execução e implantação do estudo e plano de ação e a segunda após a sua implantação.

Sendo o oxigênio dissolvido em um corpo hídrico, um indicador aceitado

internacionalmente como provedor de vida do meio ambiente, constatamos que o

gerenciamento de perdas e poluição industrial é um instrumento fundamental para

utilização das industrias que querem integrar-se a um processo produtivo com

desenvolvimento sustentável.

AMOSTRAGEM DO CORPO RECEPTOR DE DESPEJO INDUSTRIAL

DISTANCIA (m) 100 200 300 400 500

ANTES(mg/l) 0,79 0,10 0,10 0,34 0,47

DEPOIS(mg/l) 1,50 2,30 3,50 4,00 5,30

Tabela 5 – Medição de oxigênio dissolvido a juzante do lançamento do despejo industrial, antes e depois do plano

25

ESTUDO DE AUTO DEPURAÇÃO DO RIO

0

1

2

3

4

5

6

DISTANCIA DO PONTO DE LANÇAMENTO

OX

IGÊN

IO D

ISS

OLV

IDO

(mg/

l)

O2 DISSOLVIDO ANTES 0 0,79 0,10 0,10 0,34 0,47

O2 DISSOLVIDO DEPOIS 0 1,50 2,30 3,50 4,00 5,30

DISTANCIA (m)

100 200 300 400 500

DEPOIS

ANTES

Figura 3 – Representação gráfica da auto depuração do corpo receptor dos despejos industriais

O escopo do presente trabalho ficou delimitado ao estudo dos efluentes líquidos

gerados considerando-se como o seu destino final, um corpo receptor, como um rio, por

exemplo. De uma forma similar poderão ser realizados outros estudos dirigidos ao

campo da ferti-irrigação. Nesta hipótese, poderiam ser estudados os efluentes e suas

possibilidades de utilização como adubos, integrando-os à produção agrícola, uma vez

corrigidas algumas de suas características, como por exemplo, o seu PH, e realizando-se

algumas modificações quanto às suas modalidades de condução dentro do processo de

produção.

26

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARROS, R. T. V. Manual de saneamento e proteção ambiental para os municípios. Belo Horizonte: Escola de engenharia da UFMG, 1995.

BRAILE, P. M. ;CAVALCANTI, J. E. W. A Manual de tratamento de águas residuárias industriais. São Paulo: CETESB, 1979.

DERSIO, J. C. Introdução ao controle de poluição ambiental. 2ª ed. São Paulo: Signus Editora, 2000.

FORNASARI FILHO, Nilton; COELHO, Luciano Rodrigues. Aspectos Ambientais do Comércio Internacional. FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. São Paulo, 2002. 86 p.

HILLARY, Ruth, 2003, “Environmental management systems and the smaller enterprise” , in journal of cleaner production, n 12 (2004), pp. 561 – 569.

LABODOVÁ, Alena, 2003. “Implementing integrated management systems using a risk analysis based approach”, in: Journal of Cleaner Production, n. 12 (2004), pp. 571-580.

MACEDO, R. K. Gestão Ambiental: Os instrumentos básicos para gestão ambiental de territórios e de unidades produtivas. Rio de Janeiro: ABES, AIDIS, 1994.

MAGRINI, Alessandra, 2001, “Política e Gestão Ambiental: Conceitos e Instrumentos” in: Gestão Ambiental de Bacias Hidrográficas, Rio de Janeiro, COPPE / UFRJ, pp. 9–19.

MILARÉ, E. Direito do ambiente: doutrina, pratica, jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora revista dos tribunais, 2001.

MOTTA, S. Preservação de recursos hídricos. Rio de Janeiro: ABES, 1988.

SEGURANÇA E MEDICINA DO TRABALHO, Manuais de legislação Atlas. São Paulo: Editora Atlas S. A.,2004.

DE CICCO, Francesco, 2004c. “A OHSAS 18001 e a Certificação de Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde do Trabalho”. QSP, São Paulo.

27

ANEXO

28

29

GLOSSÁRIO DE TERMOS TÉCNICOS

BS 8800:1996

Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST)

DBO

Demanda Bioquímica de Oxigênio

DQO

Demanda Química de Oxigênio

GQT

Gestão pela qualidade total

ISO 9001:2000

Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ) - Requisitos

ISO 14001:2004

Sistemas de Gestão Ambiental (SGA) - Especificação e Diretrizes para uso

LER

Lesões por Esforços Repetitivos.

OHSAS 18001:1999

Sistemas de Gestão da Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST)

PDCA

Plan – Do – Check – Ac

SA 8000:1997

Responsabilidade Social (SGRS)

SGA

Sistema de Gestão Ambiental.

SGI

Sistema de Gestão Integrado

30

SGSST

Sistema de Gestão de saúde e segurança do trabalho

SST

Saúde e segurança do trabalho