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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA APARECIDA PEREIRA NUNES A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: EM CASO DE FRAUDE DE BOLETOS NO SISTEMA SELF-SERVICE Tubarão 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

TAYNARA APARECIDA PEREIRA NUNES

A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS:

EM CASO DE FRAUDE DE BOLETOS NO SISTEMA SELF-SERVICE

Tubarão

2021

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TAYNARA APARECIDA PEREIRA NUNES

A RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS:

EM CASO DE FRAUDE DE BOLETOS NO SISTEMA SELF-SERVICE

Monografia apresentada ao Curso de Direito da

Universidade do Sul de Santa Catarina como

requisito parcial à obtenção do título de

Bacharel em Direito.

Linha de pesquisa: Justiça e Sociedade.

Orientador: Prof. Michel Medeiros Nunes, Esp.

Tubarão

2021

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Dedico este trabalho a todos os que me

ajudaram ao longo desta caminhada,

principalmente a Deus e a minha família, em

especial ao meu avô falecido, Pedro, a quem eu

agradeço as bases que me deu para ser a pessoa

que eu sou hoje.

Page 5: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

AGRADECIMENTOS

Agradeço principalmente a Deus, que proporcionou a realização deste trabalho e vem

me proporcionando todos os dias.

À minha família, minha base, em especial a minha mãe Alexandra Ferreira Pereira, por

toda paciência, carinho e amor ao longo desses anos, além de sempre me incentivar na vida

acadêmica, sempre acreditando no meu potencial e me dando forças para caminhar nessa longa

jornada.

Aos professores do curso de Direito da Unisul de Tubarão, que desempenharam com

dedicação as aulas a qual foram ministradas, em especial meus orientadores, professor Michel

Medeiros Nunes e professor Erivelton de Mendonça Fileti por me orientarem e compartilharem

os seus conhecimentos comigo para a confecção desta monografia.

Aos meus amigos, em especial os que fiz durante esta jornada, que durante todos esses

anos me aconselharam e me ajudaram imensamente.

Por fim, agradeço aos colegas de trabalho do escritório, pelo carinho e amparo nesse

tempo de estágio.

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“A menos que modifiquemos à nossa maneira de pensar, não seremos

capazes de resolver os problemas causados pela forma como nos

acostumamos a ver o mundo”. (Albert Einstein)

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso aborda a responsabilidade civil das

instituições financeiras, especialmente, em casos de fraudes de boletos no âmbito virtual através

do sistema self-service do internet banking. A seguinte pesquisa tem por abordagem, a natureza

qualitativa, uma vez que analisa a responsabilidade civil segundo as legislações e

entendimentos jurisprudências e doutrinários. Esta monografia tem por objetivos específicos

explicar a emissão de boletos bancários de forma virtual, pela internet, identificar e abordar os

tipos de responsabilidade civil, por final comparando as legislações brasileiras aplicáveis ao

caso seguidamente pelo entendimento jurisprudencial acerca do tema. Através do estudo

realizado nota-se que a responsabilidade civil das instituições financeiras é objetiva, cabendo-

lhes a reparação e indenização dos eventuais danos realizados na esfera digital.

Palavras-chave: Responsabilidade Civil. Instituições Financeiras. Fraudes Virtuais. Boletos

Fraudados. Internet Banking. Sistema Self-Service.

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ABSTRACT

This undergraduate thesis addresses the civil liability of financial institutions, especially in

cases of bank slip fraud in the virtual environment through the self-service of internet banking.

Following research has a qualitative approach, since it analyzes civil liability according to the

laws and understandings of jurisprudence and doctrine. This undergraduate thesis has the

specific objectives of explaining the issuance of bank slips in a virtual way, through the internet,

identifying and addressing the types of civil liability, finally comparing the Brazilian laws

applicable to the case followed by the jurisprudential understanding on the subject. Through

the study carried out it is noted that the civil liability of the financial institutions is objective,

being responsible for the repair and indemnification of any damages done in the digital sphere.

Keywords: Civil Liability. Financial Institution. Virtual Fraud. Counterfeit Bank Slip. Internet

Banking. Self-Service.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................. 10

2 INTERNET BANKING E O SISTEMA SELF-SERVICE NAS INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS ...................................................................................................................... 14

2.1 INTERNET: BREVE CONCEITO E A EVOLUÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO ... 14

2.2 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: UM BREVE CONCEITO ....................................... 16

2.2.1 Instituições financeiras bancárias ou monetárias .................................................... 16

2.2.1.1 Bancos comerciais ...................................................................................................... 16

2.2.1.2 Cooperativas de crédito .............................................................................................. 17

2.2.2 Instituições financeiras não bancárias ou não monetárias ...................................... 17

2.2.2.1 Banco de investimento ............................................................................................... 17

2.2.2.2 Bancos de desenvolvimento ....................................................................................... 18

2.2.2.3 Sociedades de arrendamento mercantil ...................................................................... 18

2.2.2.4 Sociedades de crédito, financiamento e investimento ................................................ 18

2.2.2.5 Sociedades de crédito imobiliário .............................................................................. 19

2.2.2.6 Associação de crédito imobiliário .............................................................................. 19

2.2.3 Bancos múltiplos .......................................................................................................... 19

2.3 INTERNET BANKING: BREVE CONCEITO E O SISTEMA SELF-SERVICE ........ 20

2.3.1 O sistema self-service .................................................................................................. 21

2.3.1.1 Fraudes nos sistemas virtuais ..................................................................................... 21

2.4 BREVE CONCEITO DE BOLETOS BANCÁRIOS ...................................................... 22

2.4.1 Boleto bancário versus Duplicata e suas naturezas jurídicas ................................. 22

3 RESPONSABILIDADE CIVIL ....................................................................................... 25

3.1 BREVE HISTÓRICO E CONCEITO ............................................................................. 25

3.2 ATOS ILÍCITOS ............................................................................................................. 27

3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL (OU NEGOCIAL) ............................ 28

3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL (OU AQUILIANA) ............ 29

3.5 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ................................................. 29

3.5.1 Ação ou Omissão ......................................................................................................... 30

3.5.2 Culpa ou Dolo .............................................................................................................. 31

3.5.2.1 Imprudência, negligência e imperícia ......................................................................... 32

3.5.3 Nexo de causalidade .................................................................................................... 32

3.5.3.1 Teoria da equivalência das condições ........................................................................ 33

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3.5.3.2 Teoria da causalidade próxima ................................................................................... 34

3.5.3.3 Teoria da causalidade eficiente .................................................................................. 34

3.5.3.4 Teoria da causalidade adequada ................................................................................. 35

3.5.3.5 Causalidade necessária e a teoria do dano direto e imediato ...................................... 35

3.5.4 Dano .............................................................................................................................. 36

3.5.4.1 Dano material ou patrimonial ..................................................................................... 37

3.5.4.2 Dano moral ................................................................................................................. 38

3.5.4.3 Dano estético .............................................................................................................. 39

3.5.4.4 Danos morais coletivos............................................................................................... 40

3.5.4.5 Danos sociais ou difusos ............................................................................................ 41

3.5.4.6 Danos por perda de uma chance ................................................................................. 41

3.5.4.7 Danos pela perda do tempo ........................................................................................ 42

3.5.4.8 Danos pelo lucro ilícito ou lucro da intervenção ........................................................ 43

3.5.4.9 Danos existenciais e danos ao projeto de vida ........................................................... 44

3.6 CATEGORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL ..................................................... 44

3.6.1 Responsabilidade objetiva .......................................................................................... 45

3.6.2 Responsabilidade subjetiva ........................................................................................ 46

3.7 EXCLUDENTES DE ILICITUDE .................................................................................. 46

3.7.1 Exercício regular de direito ........................................................................................ 47

3.7.2 Legitima defesa ............................................................................................................ 47

3.7.3 Estado de necessidade ................................................................................................. 48

3.7.4 Estrito cumprimento do dever legal .......................................................................... 49

3.7.5 Culpa exclusiva ou concorrente da vítima ................................................................ 49

3.7.6 Fato de terceiro ............................................................................................................ 50

3.7.7 Caso fortuito ou de força maior ................................................................................. 51

3.7.8 Cláusula de não indenizar .......................................................................................... 51

4 RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS EM

FRAUDES DE BOLETO NO SISTEMA SELF-SERVICE ............................................... 52

4.1 FRAUDES NO ÂMBITO VIRTUAL: BOLETO FRAUDADO .................................... 52

4.2 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL ......................................................................................... 52

4.3 ANÁLISE DE JULGADOS ............................................................................................ 55

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 58

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 60

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10

1 INTRODUÇÃO

O assunto objeto da presente monografia tem grande importância nos dias atuais do

relacionamento civil da sociedade, a Internet vem se tornando cada vez mais importante e a

cada dia está se tornando um serviço essencial do dia a dia na sociedade.

Esta pesquisa está sendo realizada por faltar dispositivo específico na legislação, e a

maioria das discussões são feitas a partir de entendimentos jurisprudências e doutrinários além

de que este estudo pretende proporcionar um novo olhar a responsabilidade civil das instituições

financeiras, o caso de fraudes ocorre diariamente no país e poucas pessoas sabem sobre o

assunto, sendo pouco discutido na vida acadêmica e jurídica.

Por motivos pessoais e profissionais me identifiquei com assunto pois já fui vítima deste

tipo de fraude e já tive contato com casos semelhantes nesses anos de estudos jurídicos através

dos estágios que realizei, assim percebi que poucas pessoas da parte acadêmica sabiam acerca

do assunto.

Deste modo ao analisar todo o conteúdo, pude observar sobre o assunto e em,

principalmente, conversas com pessoas do meu vínculo social e do curso de Direito, senti a

necessidade de tratar sobre este assunto que é pouco discutido nos âmbitos acadêmicos jurídicos

e também legislativo brasileiro.

Segundo Gustavo Correa, 2002. p. 8, a Internet é um sistema global de rede de

computadores a qual possibilita uma vasta comunicação entre pessoas através de máquinas que

esteja conectada à rede, possibilitando assim trocas de informações de maneira rápida, eficiente

e sem limitação de fronteiras, criando um mecanismo de relacionamento.

Qual é a história da Internet? Qual seu principal conceito?

O direito virtual/digital decorre de relacionamentos comerciais, ou não, no âmbito da

Internet.

A legislação brasileira é insuficiente para tratar sobre os conflitos desses

relacionamentos, o âmbito do direito digital/virtual não possui nenhum tipo de legislação para

regulamentá-la deixando a mercê de entendimentos doutrinários de magistrados e

interpretações de outros códigos.

A legislação brasileira tem diversos âmbitos definidos, por exemplo, Direito Civil com

seus Códigos e lei esparsas, também tem o Direito Penal que na mesma toada do Direito Civil

tem seus códigos específicos e leis complementares, mas será que as legislações criadas são o

necessário para solucionar os problemas civis em sociedade? São apenas os direitos

“reais/físicos” existentes nas relações da vida civil?

Page 12: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

11

Quando há um direito ofendido no âmbito virtual, Internet, há alguma legislação que

o proteja ou indenize-o? Há essa preocupação?

O Código Civil e o Código de Defesa ao Consumidor disciplinam a responsabilidade

civil e seu caráter indenizatório das relações da vida civil. Como surgiu a responsabilidade

civil? Quais seus pressupostos? Quais seus tipos?

A responsabilidade civil alcança até mesmo o âmbito virtual? As relações, sendo

comerciais ou não, virtuais podem ser protegidas pelo Código Civil e o Código de Defesa ao

Consumidor?

Boletos bancários muitas vezes são comparados com duplicatas, mas, não são títulos

de crédito, portanto qual sua natureza jurídica?

Esses boletos podem ser retirados de forma digital em plataformas chamadas self-

service, porém caso haja algum tipo de fraude neste sistema, as instituições financeiras têm a

responsabilidade civil de indenizar?

São respeitados os pressupostos da responsabilidade civil? Qual é tipo de

responsabilidade civil que as instituições financeiras possuem? Necessitam de comprovação de

todos os pressupostos da responsabilidade?

A Internet, isto é, Inter Networking, é uma grande rede de comandos iniciada nos

Estados Unidos da América com a intenção de garantia a comunicação caso houvesse algum

grande ataque.

Com o decorrer dos anos a Internet evoluiu se tornando, atualmente, a maior rede de

comunicação no mundo, a qual começou a “decolar” no fim do século XX.

Com tal evolução – atualmente – conseguimos fazer básicas transações bancárias com

um simples toque, desde a transferência bancárias de valores até pagamentos de boletos em um

simples aplicativo criado pela própria instituição financeira.

Assim, foi criado o sistema self-service, mais conhecido no Brasil como

autoatendimento, um serviço onde pode-se administrar e até emitir boletos diretamente de uma

base de dados oficial da instituição.

Os boletos bancários não são títulos de crédito, mas pode ter a característica de uma

duplicata e ser executado como documento extrajudicial, desde que o boleto de cobrança

bancária esteja acompanhado do instrumento de protesto e comprovante da prestação dos

serviços assim suprindo a necessidade de um título cambiário, conforme entendimento

jurisprudencial.

ALEGADA NULIDADE DA DEMANDA EXPROPRIATÓRIA. TÍTULO

ILÍQUIDO, INCERTO E INEXIGÍVEL. PROTESTO DE BOLETO BANCÁRIO.

DOCUMENTO LASTREADO EM DUPLICATA VIRTUAL. ADMISSIBILIDADE

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12

DESDE QUE PRESENTES A NOTA FISCAL E A PROVA DA ENTREGA DA

MERCADORIA. CONJUNTO PROBATÓRIO QUE DENOTA DE FORMA

INEQUÍVOCA A RELAÇÃO JURÍDICA ESTABELECIDA ENTRE AS PARTES.

HIGIDEZ DO TÍTULO E POSSIBILIDADE DO PROTESTO POR INDICAÇÃO.

PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

SENTENÇA MANTIDA. A apresentação do boleto bancário, acompanhado do

instrumento de protesto e das notas fiscais e respectivos comprovantes de entrega de

mercadoria, supre a ausência física do título cambiário, autorizando o ajuizamento da

ação executiva. Precedentes. 4. Agravo interno a que se nega provimento." (AgInt no

AREsp 1322266/PR, Rel. Min. Raul Araújo, Quarta Turma, j. 23/4/2019).

Como ainda não há uma legislação ou ramo específico para o regular direito digital os

operadores de Direito devem recorrer aos instrumentos doutrinários e jurisprudências de outras

áreas, como exemplo, o Código Civil e o Código de Defesa ao Consumidor.

Ambos os códigos asseguram a responsabilidade civil para reparar os danos causados

no âmbito digital.

Há três pressupostos que a responsabilidade civil se assenta, o dano, culpa e a relação

de causalidade, segundo Gonçalves, 2019, p. 45.

A Responsabilidade Civil se subdivide-se em dois: objetiva e subjetiva.

A responsabilidade civil subjetiva, segundo Gonçalves, 2019, p. 57, quando há a ideia

de culpa.

Gonçalves, 2019, p. 57, ainda afirma que: “A prova da culpa do agente passa a ser

pressuposto necessário do dano indenizável. Dentro desta concepção, a responsabilidade do

causador do dano somente se configura se agiu com dolo ou culpa.”

Já a responsabilidade civil objetiva é quando não se discute a culpa, a satisfação é de

apenas com o dano e o nexo de causalidade, segundo Gonçalves, 2019, p. 57.

Por objetivos gerais esta monografia analisou a responsabilidade civil das instituições

financeiras em caso de boletos fraudados por meio virtual.

Tendo por objetivos específicos explicar a emissão de boletos bancários de forma

virtual, pela internet, identificar os tipos de responsabilidade civil e comparar as legislações

brasileiras com os entendimentos jurisprudenciais.

Esta pesquisa quanto ao nível ou objetivos é de natureza explicativa, uma vez que

pretende identificar fatores e explicar a responsabilidade civil das instituições financeiras.

Quanto a abordagem, é de natureza qualitativa, uma vez que analisa a responsabilidade

civil segundo as legislações e entendimentos jurisprudências e doutrinários.

Quanto ao procedimento utilizado para a coleta de dados, é da natureza documental e

bibliográfica. Documental em razão da utilização das jurisprudências e bibliográfica em razão

dos estudos doutrinários e legislativos.

Page 14: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

13

Os instrumentos e procedimentos utilizados são o de pesquisa bibliográfica e pesquisa

documental.

Por fim, as instituições financeiras têm a responsabilidade civil de indenizar em casos

de boletos fraudados no sistema self-service?

As instituições financeiras possuem a responsabilidade civil objetiva de indenizar e

reparar danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros

no âmbito de operações bancárias, as quais serão melhor abordadas ao longo desta monografia.

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14

2 INTERNET BANKING E O SISTEMA SELF-SERVICE NAS INSTITUIÇÕES

FINANCEIRAS

Neste capítulo será abordado de forma breve como foi criada a Internet e suas evoluções

no brasil e no mundo, também, irá ser tratado sobre a influência da rede internacional de

computadores nas relações bancárias das instituições financeiras na atualidade e seus serviços

através dos aplicativos de internet banking fornecidos aos clientes, tendo por seu tópico

principal o sistema Self-Service.

2.1 INTERNET: BREVE CONCEITO E A EVOLUÇÃO NO BRASIL E NO MUNDO

A Internet pública, conforme Kurose e Ross (2005), é uma rede mundial que conecta

milhões de usuários do mundo todo através de equipamentos, como computadores, TV’s,

telefones celulares, entre outros aparelhos desde que possuem conexão a rede mundial de

computadores.

A Internet, isto é, Inter Networking, tem por seu início em 1969, segundo Paesani

(2014), a internet foi criada com o intuito de ser um sistema de telecomunicação para que

houvesse uma garantia de comunicação caso acontece um ataque nuclear russo em território

Estadunidense e que seus inimigos não tivessem conhecimento sobre tal, foi um projeto do

Departamento de Defesa norte-americano, assim, iriam ter uma grande rede de comando nos

Estados Unidos, posicionados em lugares estratégicos do país. Caso alguma cidade viesse a ser

destruída pelo ataque nuclear ainda assim estaria garantiria a comunicação com as demais

cidades do país e o Departamento de Defesa.

Ainda segundo Paesani (2014), a internet só começou a decolar no fim do século XX,

por volta de 1998, quando as telecomunicações começaram a ser barateadas pelas grandes

empresas especializadas.

Entretanto, no Brasil o início veio de forma diferente, a evolução da história da Internet

no Brasil começou, quando:

[…] uma conexão internacional dedicada e perene ligou a então ainda incipiente

iniciativa brasileira de redes acadêmicas ao mundo. Seus primeiros usuários,

pesquisadores, alunos e professores, tiveram acesso à maravilha do correio eletrônico,

a bases de dados no exterior e, mesmo, ao acesso à rede mundial de computadores.

Não era, ainda, a Internet. A essa só nos conectamos em 1991, ainda sem saber da

magnitude do impacto que estava por vir. (Demi Getschko apud LUCERO, 2009, p.

69)

Page 16: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

15

Em outras palavras, enquanto nos Estados Unidos a criação da internet foi com total

intenção de apenas ser um método de telecomunicações, no Brasil a internet começou a ter

evolução com acessos de acadêmicos para estudos e melhor comunicação através do famoso e-

mail, o correio eletrônico.

Entretanto, mesmo após anos dos primeiros acessos, por volta de 1991, a rede mundial

de computadores, no Brasil, só passou a ter contato com a “verdadeira” internet, de forma

ampla, no início do século XXI, quando lentamente os cidadãos começaram a ter suas redes

individuais em suas casas por meio de roteadores para melhor se comunicarem criando um novo

tipo de relacionamento em sociedade.

Nesta toada, destaca Gustavo Corrêa:

A internet é um sistema global de rede de computadores que possibilita a comunicação

e a transferência de arquivos de uma máquina a qualquer outra máquina conectada na

rede, possibilitando, assim, um intercâmbio de informações sem precedentes na

história, de maneira rápida, eficiente e sem a limitação de fronteiras, culminando na

criação de novos mecanismos de relacionamento. (CÔRREA, 2002, p.8)

A Internet está sempre em aperfeiçoamento, em constante mudança, que visa sempre

interagir e facilitar a comunicação cada vez mais com seus usuários, neste sentido nas palavras

de Manuel Castells:

A internet é um meio de comunicação que permite, pela primeira vez, a comunicação

de muitos com muitos, num momento escolhido, em escala global. Assim como a

difusão da máquina impressora no Ocidente criou o que MacLuhan chamou de a

Galáxia de Gutenberg, ingressamos agora num novo mundo de comunicação: a

Galáxia da Internet. O uso da internet como sistema de comunicação e forma de

organização explodiu nos últimos anos do segundo milênio. (CATELLS, 2003, p.82)

O uso da Internet evoluiu aos longos dos anos aproximando cada vez mais os usuários

de forma virtual, principalmente por redes sociais, mas a internet na atualidade não pode ser

mais resumida apenas em uma troca de comunicação entre seus usuários, o maior dos exemplos,

da atualidade, que pode ser citado é o home-office, que devido a recente pandemia global

causada pelo COVID-19, influenciou ainda mais a sua utilização para que pudesse ser feito as

atividades laborais de forma remota e totalmente digital.

Não apenas as grandes empresas que se desenvolvem através da internet vêm investindo

neste ramo virtual, as instituições financeiras a anos, também, vêm arremetendo-se cada vez

mais nos seus serviços virtuais e remotos, assim utilizando aplicativos que são chamados de

Internet Banking adaptando seus serviços para os do sistema Self-Service, conhecido

popularmente como sistema de autoatendimento.

Page 17: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

16

2.2 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS: UM BREVE CONCEITO

As instituições financeiras possuem como uma principal atuação ser um intermediário

entre um terceiro a qual possui um capital, a quem presta algum tipo de serviço monetário,

assim é definido na Lei Nº 4.595/64 disposto em seu artigo 17, onde traz um breve conceito de

instituição financeira.

Art. 17. Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor,

as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou

acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de

terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de

terceiros. (BRASIL, 1964)

Segundo Brito (2019, pg. 31) as instituições financeiras possuem órgãos reguladores,

os quais fiscalizam se as instituições estão acatando as determinadas normas a serem seguidas,

operando sob regras definidas pelo Banco Central do Brasil.

Instituições financeiras, conforme Niyama e Gomes (2012, pg. 8-15), são divididas em

três: as bancárias ou monetárias, as não bancárias ou não monetárias e os bancos múltiplos.

2.2.1 Instituições financeiras bancárias ou monetárias

Niyama e Gomes (2012, pg. 8-10) ensinam sobre as instituições bancárias e seus

conceitos, eles ainda subdividem as instituições financeiras bancárias ou monetárias em dois:

bancos comerciais e cooperativas de crédito.

2.2.1.1 Bancos comerciais

Conforme Niyama e Gomes (2012, pg. 8-9), conceituam acerca dos bancos comerciais,

que estes são especializados de curto e médio prazos oferecendo um capital de giro para pessoas

jurídicas e físicas.

Instituições especializadas em operações de curto e medo prazos, que oferecem capital

de giro para o comércio, indústria, empresas prestadoras de serviços e pessoas físicas,

bem como concedem crédito rural. (NIYAMA e GOMES, 2012, pg. .8)

Page 18: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

17

Assim dizendo, são bancos mais popularmente conhecidos, como por exemplo as

instituições bancárias como Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil.

2.2.1.2 Cooperativas de crédito

Ao tratar sobre as cooperativas de crédito, nota-se que são instituições financeiras

privadas que possuem sua especialização em assegurar crédito, além de prestar serviços, a seus

associados.

São instituições financeiras privadas, com personalidade jurídica própria

especializadas em propiciar crédito e prestar serviços a seus associados, constituídas

sob a forma de sociedade de pessoas de natureza civil, que se classificam em:

• singulares: mínimo de 20 (vinte) cooperados;

• cooperativas centrais ou federações de cooperativas: formadas por, no mínimo, 3

(três) cooperativas singulares;

• confederação de cooperativas: formadas por, no mínimo, 3 (três) cooperativas

centrais. (NIYAMA e GOMES, 2012, pg. 10)

Assim, os cooperados são como donos, mas ainda são usuário que desfrutam dos

serviços que são oferecidos pelas cooperativas. Um exemplo de cooperativa mais conhecida é

o SICOOB.

2.2.2 Instituições financeiras não bancárias ou não monetárias

Niyama e Gomes (2012, pg. 11-15), ainda ensinam cobre as instituições financeiras não

bancárias ou não monetárias, subdividindo em: Banco de investimento, bancos de

desenvolvimento, sociedades de arrendamento mercantil, sociedades de crédito e

investimentos, sociedades de crédito imobiliários e associação de poupança e empréstimos.

2.2.2.1 Banco de investimento

Os bancos de investimento, segundo Niyama e Gomes (2012, pg. 11), são

especializados, assim como os bancos comerciais, oferecer capital de giro para pessoas físicas

ou jurídicas, entretanto, suas operações financeiras são de médio a longo prazo e também

oferecem capital fixo.

Page 19: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

18

Niyama e Gomes ainda explicam um pouco mais as funções e operações dos bancos de

investimentos.

Dentre as operações especiais, podemos destacar a administração de fundos de

investimento, a distribuição, a intermediação ou a colocação no mercado de títulos e

valores mobiliários, a realização de operações compromissadas, a concessão de fiança

e aval, a realização de operações de câmbio e de compra e venda no mercado físico

de ouro. (NIYAMA e GOMES, 2012, pg. 11)

Exemplos de banco de investimentos conhecido de forma mais popular é o Bradesco

BBI (Banco de Investimento da Organização Bradesco).

2.2.2.2 Bancos de desenvolvimento

Os bancos de desenvolvimentos, segundo Niyama e Gomes (2012, pg. 11) são estaduais,

também especializadas em operações de médio e longo prazo, assim como os bancos de

investimentos, contudo, asseguram a contribuição de recursos para projetos e programas que

tem o destino de desenvolvimento econômico e social do estado a que estejam ligados.

Um exemplo de banco de desenvolvimento é o banco federal BNDES (Banco Nacional

de Desenvolvimento Econômico e Social).

2.2.2.3 Sociedades de arrendamento mercantil

As sociedades de arrendamento mercantil, que possuem suas principais funções ativas

como arrendadora ou locadora são conhecidas como empresas de leasing, conforme Niyama e

Gomes (2012, pg. 12), podem possuir seus objetos os de bens imóveis, de produção nacional

ou estrangeiras, e bens imóveis, adquiridos pela empresa arrendadora ou locadora.

2.2.2.4 Sociedades de crédito, financiamento e investimento

As sociedades de crédito, financiamento e investimento, são mais conhecidas como

“financeiras”, segundo Niyama e Gomes (2012, pg. 13), tem como seu objetivo principal a

concessão de financiamento para aquisição de serviços ou bens, podendo também o

financiamento de capital de giro, refinanciamento de operações de arrendamento mercantil,

aplicação em títulos e valores mobiliários, e depósitos interfinanceiros.

Page 20: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

19

2.2.2.5 Sociedades de crédito imobiliário

Segundo Niyama e Gomes (2012, pg. 14), as sociedades de créditos imobiliários são

especializadas a realizações de operações relativas a incorporação, construção, venda ou

aquisição de habitação, os recursos, principalmente, são capitados por meio de depósitos de

poupanças, emissão de letras imobiliárias e hipotecárias, e também emissão de Certificados de

Depósito Interfinanceiros.

2.2.2.6 Associação de crédito imobiliário

A associação de crédito imobiliário é uma sociedade civil integrante do SBPE

(Sociedade Brasileira de Poupança e Empréstimo), conforme Niyama e Gomes (2012, pg. 14),

possui por seu principal objetivo conceder aquisição de casa própria aos seus associados, captar

e disseminar o hábito da poupança.

2.2.3 Bancos múltiplos

Niyama e Gomes, discutem acerca dos bancos múltiplos, eles ensinam que com a

constituição destes as operações apenas facultadas a bancos comerciais e as instituições

financeiras não bancárias ou não monetárias permitiu-lhes reunir todas as operações em apenas

um banco.

Com a edição da Resolução nº 1.524, de 21 de setembro de 1988, foi autorizada a

constituição de bancos múltiplos, com a finalidade de se realizarem numa única

instituição financeira as operações facultadas a bancos comerciais, bancos de

investimento, bancos de desenvolvimento, sociedades de crédito, financiamento e

investimento e sociedades de crédito imobiliário, sendo-lhes permitido reunir de duas

até quatro das espécies das operações citadas.

Posteriormente, por meio da Resolução no 2.099, de 17 de agosto de 1994, que

implantou no Brasil o modelo de exigência de capital recomendado no “Acordo de

Basileia”, foi autorizada aos bancos múltiplos a constituição da carteira de

arrendamento mercantil. (NIYAMA e GOMES, 2012, pg. 15)

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20

Os bancos múltiplos podem ser privados ou publicas desde que realizem mais de uma

das operações citadas acima. Exemplo de bancos múltiplos são o Santander, Itaú e o Banco do

Brasil.

2.3 INTERNET BANKING: BREVE CONCEITO E O SISTEMA SELF-SERVICE

Internet Banking é um termo inglês utilizado muito popularmente que tem por sua

tradução como “Internet Bancária”.

Como já tratado, as instituições financeiras, tem como principal intenção deixar os

acessos a seus clientes, como atendimentos e serviços, de uma forma mais simples e fácil, vem

investindo cada vez mais na internet através do sistema de autoatendimento (Self-Service)

mediante seus aplicativos virtuais e o Internet Banking.

GOMES (2003) apud Manuel Estrada (2005) traz o conceito técnico sobre o Internet

Banking:

O internet banking representa uma nova modalidade de comércio eletrônico, pela qual

o cliente, valendo-se da internet tem acesso a vários serviços bancários para a

realização de negócios e contratos eletrônicos, os quais, por sua vez, são definidos

como contratos celebrados por meio de programas de computador ou aparelhos com

tais programas, dispensando-se a assinatura codificada ou senha. (GOMES APUD

ESTRADA, 2005, p. 140)

O internet banking traz a facilidade de realizar consultas e movimentações financeiras

em seu banco através de um aplicativo ou site da própria instituição financeira não necessitando

mais do deslocamento para as agências e postos bancários para a solução de problemas, simples

consulta de saldos e/ou extratos, pagamentos com códigos de barras ou até mesmo uma simples

transferência de um valor monetário. Os sites e aplicativos bancários possuem uma diversa

gama de serviços que são realizados remotamente via internet.

Hoje, o internet banking é uma ferramenta necessária no dia a dia, visto que dispensa,

além do deslocamento, as perdas de horas em filas para realizar atendimento, principalmente

agora na época da pandemia por COVID-19 onde os atendimentos presenciais estão precários

devido as altas taxas de contaminação.

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21

2.3.1 O sistema self-service

O sistema self-service, o qual já foi tratado logo acima, é o sistema de autoatendimento.

As instituições financeiras ao adotarem o Internet Banking, começaram a automatização de seus

serviços, implantando assim o serviço de autoatendimento virtual a seus cliente e associados.

A automatização desses serviços vem evoluindo ao longo dos anos de forma gradual.

Ferreira (2008, pg.8), ensina sobre o sistema que: “Isto é, tecnologias em que o cliente

interage sozinho e, directamente, com o prestador do serviço para ele próprio produzir o

serviço.”

Em outros termos, o sistema self-service foi criado com a intenção de facilitar os

serviços que são prestados nas agências bancárias, assim gerando menos gastos as instituições,

como por exemplo, menos funcionários trabalhando nos locais.

O sistema self-service é como se o sistema de atendimento físico e pessoal fosse

industrializado e automatizado na “palma de sua mão” desburocratizando a maioria dos

atendimentos que são realizados presencialmente.

Toda via, as instituições financeiras devem respeitar vários protocolos de segurança

virtual ao disponibilizar seus sistemas self-service para que fraudes e delitos praticados por

terceiros não prejudiquem seus clientes e associados.

2.3.1.1 Fraudes nos sistemas virtuais

O Internet Banking juntamente com o seu sistema de autoatendimento (Self-Service) são

operações bancárias das instituições financeiras, ou seja, respondem por eventuais danos que

ocorram.

Assim, como já supracitado, as instituições financeiras devem ter e respeitar seus

protocolos de segurança ao disponibilizar seus serviços de forma virtual para que impeça

fraudes e delitos de terceiros que possam ocorrer a seus clientes que utilizam as plataformas

digitais.

A legislação brasileira é muitas vezes omissa ao tratar sobre o direito no âmbito virtual,

cabendo o profissional de direito trabalhar com entendimentos jurisprudenciais e doutrinários

aceito pelos órgãos judiciais.

O Superior Tribunal de Justiça já sumulou acerca das fraudes que ocorrem por operações

bancárias, em sua sumula 479 disciplina que as instituições financeiras respondem

objetivamente pelos danos gerados.

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Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos

gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no

âmbito de operações bancárias. (STJ, 2013)

Uns dos exemplos mais populares de fraudes nas operações bancárias virtuais mediante

o Internet Banking, realizadas por terceiros, são aquelas que muitas das vezes envolvem

transferência de dinheiro através de transferência eletrônica ou por via de boletos bancários

com código de barras modificados expedidos diretamente do sistema self-service da instituição

financeira.

O assunto voltará a ser abordado durante o trabalho, onde será exemplificado e aplicado

ao caso.

2.4 BREVE CONCEITO DE BOLETOS BANCÁRIOS

Os boletos bancários, na atualidade, são muito usados como forma de pagamento, pois

é possível realizar o pagamento de quaisquer valores pelo código de barras no documento.

Carvalho (2012) conceitua o boleto bancário como um meio de facilitar o pagamento,

devedor, a ser feito a um terceiro, credor, deixando mais célere as relações mercantis.

O Banco Central do Brasil através do Manual de Normas e Instruções do Banco Central

(MNI), citado por Carvalho (2012), conceitua acerca dos boletos bancários:

Normativamente, o Banco Central do Brasil através do Manual de Normas e

Instruções do Banco Central (MNI), Título 2, Capítulo 13, Seção 3, indica a finalidade

e o conceito do boleto bancário, chamado de bloqueto de cobrança:

“O Bloqueto de Cobrança deve ser utilizado para fins de registro de dívidas em

cobranças nas instituições financeiras, relacionadas com operações de compra e venda

ou de prestação de serviços, inclusive daquelas atinentes a efeitos de cobrança, tais

como duplicatas, notas promissórias, bilhetes ou notas de seguros, de forma a permitir

o pagamento da dívida-objeto em instituição financeira distinta da cobradora.”

(BANCO CENTRAL DO BRASIL apud CARVALHO, 2012)

Em outros termos, o boleto bancário, conforme Carvalho (2012), é um documento que

pode representar uma dívida que consta informações necessárias e que são regulamentados pelo

Banco Central do Brasil.

2.4.1 Boleto bancário versus Duplicata e suas naturezas jurídicas

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O boleto bancário muitas vezes é confundido com a duplicata, um o título de crédito,

entretanto ambos são diferentes e não devem ser confundidos.

Enquanto a duplicata é regida pela Lei nº 5.474/68, o boleto bancário não possui uma

legislação própria, em alguns casos até cabe a equiparação dos dois.

O Superior Tribunal de Justiça, em entendimento jurisprudencial, traz a natureza

jurídica da duplicata.

3. A duplicata é título de crédito causal, vinculado a operações de compra e venda de

mercadorias ou de prestação de serviços, não possuindo a circulação da cártula, via

endosso translativo, o condão de desvincula-la da relação jurídica subjacente.

Tribunal a quo que expressamente consignou a inexistência de causa debendi a

corroborar a emissão dos títulos de crédito. (STJ - Recurso Especial | REsp 1105012,

Relator: Ministro Marco Buzzi (1149), Data de julgamento: 22/10/2013, Órgão

julgador: Quarta Turma - STJ, Data de publicação: 06/12/2013)

Entretanto, conforme Persechini (2008), em razão do desenvolvimento tecnológico,

em especial o virtual, já possuímos um costume de realizar compra e vendas, e/ou prestação de

serviços, nos mundos dos negócios, sem qualquer emissão de duplicatas.

O vendedor ou o prestador de serviços, por meio de seu computador, preenche, com

os dados de uma duplicata inexistente, um formulário virtual disponibilizado por

instituição financeira. Esse procedimento dá origem a um boleto bancário.

Posteriormente, o banco remete esse boleto ao devedor para cobrança, e, na hipótese

de não haver pagamento, a instituição financeira, com a autorização do credor,

protesta tal documento por indicação. Ou seja, apresenta ao cartório o simples aviso

de cobrança, tirando o protesto com base nas informações nele contidas.

(PERSECHINI, 2008)

O Professor Wille Duarte Costa ensina sobre o desuso da duplicata e sua substituição.

[...] o costume já generalizado tem feito com que nenhuma duplicata seja extraída,

mas em lugar dela enviem um "boleto" ou aviso de cobrança, sem assinatura de quem

quer que seja, ficando o devedor sem saber se a Instituição Financeira é mandatária

do sacador, pois não há endosso-mandato; nem se ela é legítima possuidora do título,

uma vez que não há naquele papel qualquer endosso. Aquele "boleto" fere em tudo a

Lei de regência, pois até falsamente diz referir-se a uma duplicata, cujo número indica.

Sua quitação, em verdade, não passa de uma impressão de máquina própria, sem

qualquer assinatura do recebedor. Isto é procedimento ilegal. Esse absurdo, sem

sentido, é que a doutrina marginal tem entendido tratar-se de "duplicata virtual" ou

"duplicata escritural" (COSTA 2006, p. 408).

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Melhor dizendo, os boletos bancários são gerados de forma virtual em plataformas

das instituições financeiras, através do self-service e o internet banking, onde o credor insere os

dados da compra, como objeto e valor, e os dados do devedor para que estas instituições emitem

boletos para que seja realizado o pagamento pelo devedor através do código de barras.

Boleto bancário não possui uma natureza jurídica visto que é carente de legislação

própria pois depende de entendimento jurisprudenciais, assim como já supracitado, os boletos

bancários não são duplicatas logo não são considerados títulos de créditos assim apenas cabe a

equiparação do boleto à duplicata.

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3 RESPONSABILIDADE CIVIL

Neste capítulo será abordado um breve histórico e conceito da responsabilidade civil,

também será visto suas principais características e divisões de categorias, especialmente voltada

as relações e responsabilidade da vida civil no âmbito virtual das instituições financeiras.

3.1 BREVE HISTÓRICO E CONCEITO

Com base na teoria clássica, a responsabilidade civil tem base em três pressupostos:

dano, culpa e a causalidade, conforme Gonçalves (2020, pg. 45) apud Besson.

No começo da humanidade, nos primeiros contatos com o desenvolvimento da vida

civil, o pressuposto culpa era pouco visto, assim afirma Gonçalves (2020, pg. 45), o dano

provocava uma reação imediata instintiva e brutal contra o ofendido.

Melhor dizendo, os primórdios mais agiam do que raciocinavam, levavam-se muito pelo

lado sentimental e a raiva no momento do ocorrido sem se importar se a reação contrária aquele

dano foi ou não compatível com o dano que este provocaria, a conhecida pena por talião, “olho

por olho, dente por dente”.

Se for para comparar com o contemporâneo vemos que, segundo Fernandes (2013, pg.

39), a responsabilidade civil na atualidade tem como princípio de que todo o dano que foi

causada de forma injusta deve ter o direito de ser reparado, ou seja, em comparação aos

primórdios humanos nos não “devolvemos na mesma moeda”, e sim pedimos o ressarcimento

daquele dano para reparar o máximo possível.

Ao longo da evolução, se percebe que quando começou a se desenvolver as soberanias,

os legisladores começaram a vedar as vinganças com as próprias mãos, segundo Gonçalves

apud Silva (2020, pg. 45).

Num estágio mais avançado, quando já existe uma soberana autoridade, o legislador

veda à vítima fazer justiça pelas próprias mãos. A composição econômica, de

voluntária que era, passa a ser obrigatória, e, ao demais disso, tarifada. É quando,

então, o ofensor paga um tanto ou quanto por membro roto, por morte de um homem

livre ou de um escravo, surgindo, em consequência, as mais esdrúxulas tarifações,

antecedentes históricos das nossas tábuas de indenizações preestabelecidas por

acidentes do trabalho. (GONÇALVES 2020, pg. 45 apud SILVA)

Entretanto, como Fernandes (2013, pg. 39) ensina, havia ainda a ausência da construção

de técnica jurídica, em outros termos, não havia o conhecimento e a diferenciação das esferas

da responsabilidade civil da responsabilidade penal.

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Gonçalves (2020, pg. 45-46) dispõe que a diferença entre as duas responsabilidades só

começou a ser diferenciada na era romana, onde começou a dividir-se a pena e a reparação do

dano.

O Estado assumiu assim, ele só, a função de punir. Quando a ação repressiva passou

para o Estado, surgiu a ação de indenização. A responsabilidade civil tomou lugar ao

lado da responsabilidade penal. (GONÇALVES, 2020, pg. 46 apud MAZEAUD)

Fernandes (2013, pg. 48 apud Lima), disciplina que a teoria clássica acerca da culpa,

“que é a armadura da responsabilidade civil extracontratual das legislações”, a qual recebeu do

direito Justiniano a célula-mater, ou seja, a que deu a origem.

Segundo Gonçalves (2020, pg. 46 apud Aguiar), a culpa só começou a ser distinta

quando foi inserida no Código de Napoleão, onde iniciou a percepção da culpa in abstracto e a

distinção entre a culpa delitual e culpa contratual.

A noção da culpa in abstracto e a distinção entre culpa delitual e culpa contratual

foram inseridas no Código de Napoleão, inspirando a redação dos arts. 1.382 e 1.383.

A responsabilidade civil se funda na culpa – foi a definição que partiu daí para inserir‐

se na legislação de todo o mundo. Daí por diante observou‐se a extraordinária tarefa

dos tribunais franceses, atualizando os textos e estabelecendo uma jurisprudência

digna dos maiores encômios. (GONÇALVES 2020, PG. 46 APUD AGUIAR)

Com a evolução da vida civil em sociedade, iniciou-se o entendimento acerca da Teoria

do Risco. Conforme ensina Gonçalves (2020, pg. 47), caso a atividade corra algum risco

perigoso de dano, a qual o agente assume, deverá ser obrigado a ressarcir através de indenização

dos possíveis danos a serem sofridos por terceiros.

Nesta toada, a teoria do risco auxiliou para a evolução da teoria da culpa objetiva.

A responsabilidade objetiva funda‐se num princípio de equidade, existente desde o

direito romano: aquele que lucra com uma situação deve responder pelo risco ou pelas

desvantagens dela resultantes (ubi emolumentum, ibi onus; ubi commoda, ibi

incommoda). Quem aufere os cômodos (ou lucros) deve suportar os incômodos (ou

riscos). (GONÇALVES 2020, pg. 47)

Já no Direito Moderno, conforme afirma Gonçalves (2020, pg. 47) a teoria da

responsabilidade objetiva se observa em duas faces: a teoria do risco, a qual já foi discutida, e

a teoria do dano objetivo.

Pela última, desde que exista um dano, deve ser ressarcido, independentemente da

ideia de culpa. Uma e outra consagram, em última análise, a responsabilidade sem

culpa, a responsabilidade objetiva. Conforme assinala Ripert, mencionado por

Page 28: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

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Washington de Barros Monteiro, a tendência atual do direito manifesta‐se no sentido

de substituir a ideia da responsabilidade pela ideia da reparação, a ideia da culpa pela

ideia do risco, a responsabilidade subjetiva pela responsabilidade objetiva.

(GONÇALVES 2020, pg. 47)

O Direito Civil, juntamente com a responsabilidade civil, evoluiu em três fases distintas,

as quais são abordadas por Fernandes (2012, pg. 52).

Na primeira fase Fernandes (2012, pg. 52), descreve que na primeira fase tratava-se das

Ordenações do Reino, a qual tinha seu principal vetor o Direito Romano.

Entretanto, na segunda fase, já se dá com o Código Criminal do Império, de 1830. Tinha

por principais vetores a reparação natural, quando possível, e a indenização. Assim afirmado

por Fernandes (2012, pg. 52) “A lei abordava a questão dos juros reparatórios, a

transmissibilidade do dever de reparar, e o crédito de indenização dos herdeiros.”

Já terceira fase foi influenciada pelo trabalho de Teixeira Freitas, jurista em seu esboço

do Código Civil, como disposto por Fernandes (2012, pg. 52), Teixeira Freitas se opunha a

responsabilidade civil estivesse geminada a criminal. Ainda, cogitou sobre as normas

orientadoras para a reparação do dano ex delicto. Ainda previu a indenização por via judicial.

O atual Código Civil brasileiro, mantem previsto como principal princípio o da

responsabilidade com base na culpa, assim definindo como ato ilícitos no artigo 186.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito. (BRASIL, 2002)

Aos longos dos anos, mesmo que de forma indireta, a responsabilidade civil teve por

seu grande objetivo a reparação do dano, atualmente a reparação do dano, no Direito Brasileiro,

ocorre geralmente através de indenização.

3.2 ATOS ILÍCITOS

Venosa (2020, sem página) ensina que ao analisar o Código de Direito civil notamos

que fatos, atos e negócios jurídicos, referimos que os atos ilícitos são aqueles atos que podem

emanar de forma direta ou indireta vontade, ocasionando efeitos jurídicos, entretanto esses

efeitos jurídicos são contrários aquilo que estão estabelecidos no ordenamento jurídico

brasileiro.

O ato de vontade, contudo, no campo da responsabilidade deve revestir-se de ilicitude.

Melhor diremos que na ilicitude há, geralmente, uma cadeia ou sucessão de atos

ilícitos, uma conduta culposa. Raramente, a ilicitude ocorrerá com um único ato. O

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ato ilícito traduz-se em um comportamento voluntário que transgride um dever. Como

já analisamos, ontologicamente o ilícito civil não difere do ilícito penal; a principal

diferença reside na tipificação estrita deste último. (VENOSA 2020, sem página)

Neste sentido, o ato ilícito é todos aqueles atos, mesmo feito de forma indireta, que

ocasiona algum efeito jurídico contrário aqueles que são previstos no ordenamento jurídico.

3.3 RESPONSABILIDADE CIVIL CONTRATUAL (OU NEGOCIAL)

A responsabilidade contratual, ou negocial, deriva de quando há algum prejuízo a

terceiros por descumprimento contratual estabelecido e compactuada entre ambos, Gonçalves

da um exemplo acerca da situação.

Por exemplo: quem toma um ônibus tacitamente celebra um contrato, chamado

contrato de adesão, com a empresa de transporte. Esta, implicitamente, assume a

obrigação de conduzir o passageiro ao seu destino, são e salvo. Se, no trajeto, ocorre

um acidente e o passageiro fica ferido, dá‐se o inadimplemento contratual, que

acarreta a responsabilidade de indenizar as perdas e danos, nos termos do art. 389 do

Código Civil. Acontece o mesmo quando o comodatário não devolve a coisa

emprestada porque, por sua culpa, ela pereceu; com o ator, que não comparece para

dar o espetáculo contratado. Enfim, com todas as espécies de contratos não

adimplidos. (GONÇALVES 2020, pg. 60)

Pereira (2018, sem página) ensina que, quando há um contrato, existe o poder positivo

do contratante, logo este dever é relativo à prestação, que por si só já impõe responsabilidade

acerca do objeto compactuado em contrato, ainda afirma que na culpa contratual possui o dever

positivo de adimplir o objeto da avença.

Basta ao demandante trazer a prova da infração, para que se estabeleça o efeito, que é

a responsabilidade do faltoso, uma vez que os demais extremos derivam do

inadimplemento mesmo, pressupondo-se o dano e nexo causal, a não ser que o

acusado prove a razão jurídica do seu fato, ou a escusativa da responsabilidade.

(PEREIRA 2018, sem página)

No caso da responsabilidade das instituições financeiras pode-se notar com frequência

que há uma pactuação contratual entre o cliente e a devida instituição, onde estabelecido pelo

Código Civil, artigo 389, caso a instituição financeira venha a falhar na sua obrigação contratual

o devedor responderá por perdas e danos, mais multa e correção monetária.

Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais

juros e atualização monetária segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e

honorários de advogado. (BRASIL, 2002)

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29

Assim, na responsabilidade contratual a culpa é presumida, cabendo a inversão do ônus

da prova, neste sentido, não cabe a vítima a comprovação do descumprimento contratual, e

assim, cabe ao devedor a comprovação que este não descumpriu com sua obrigação.

3.4 RESPONSABILIDADE CIVIL EXTRACONTRATUAL (OU AQUILIANA)

Como o próprio termo induz, Miragem (2021, sem página), a responsabilidade civil

extracontratual não pressupõe a existência de um negócio jurídico válido onde consta o dever

ou obrigação, caso seja violado, deu como causa de indenização.

Conforme Gonçalves (2020, pg. 60) ensina, na responsabilidade civil extracontratual o

agente infringe um dever legal a qual não possui qualquer vínculo jurídico com a vítima, quando

este prática o ato ilícito.

Um exemplo de responsabilidade civil extracontratual é quando há um acidente veicular

onde causa danos a terceiros, o motorista que possui a culpa tem a obrigação de reparar os danos

causados a terceiro, não possui qualquer contrato onde está estabelecido que o motorista é

obrigado a reparação dos danos, e sim apenas há a previsão legal.

3.5 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Ao tratarmos sobre responsabilidade civil devemos sempre observar o artigo 186 do

Código Civil.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito.

Melhor dizendo, Gonçalves (2020, pg. 64): “O art. 186 do Código Civil consagra uma

regra universalmente aceita: a de que todo aquele que causa dano a outrem é obrigado a repará‐

lo.”

No aludido artigo pode se analisar que possui 4 (quatro) elementos essenciais que

pressupõe a responsabilidade civil, sendo estes:

• Ação ou Omissão;

• Culpa ou dolo do agente;

• Nexo de causalidade;

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• Dano experimentado pela vítima.

Tais pressupostos, vale ressaltar, são essenciais para a responsabilidade civil, os quais

serão mais bem descritos e explicados abaixo.

3.5.1 Ação ou Omissão

O artigo 186 do Códex Civil, o qual já fora supracitado, dispõe que por quaisquer ações

ou omissões de que resultam algum dano a terceiros, cabe a este repará-los.

Gonçalves (2020, pg. 64), ensina que: “A responsabilidade pode derivar de ato próprio,

de ato de terceiro que esteja sob a guarda do agente, e ainda de danos causados por coisas e

animais que lhe pertençam.”

O ato próprio, como já diz, é o ato que o próprio agente produz quaisquer danos a um

terceiro através de sua ação ou omissão. Um exemplo de ato próprio é quando o agente causador

calunia um terceiro lhe imputando falso crime que este tenha feito.

Já um ato de terceiro, é quando o causador do dano é outra pessoa, por exemplo filhos,

tutelados e curatelados, os quais os responsáveis respondem pelos danos gerados. Um exemplo

de um ato de terceiros é quando um filho causa danos a alguém, pelo fato de não poder ser

imputado a responsabilidade pois não é agente capaz, quem responde para a reparação civil são

os seus pais.

Gonçalves, (2020, pg. 65), ensina em torno do ato causado por coisas e animais.

A responsabilidade por danos causados por animais e coisas que estejam sob a guarda

do agente é, em regra, objetiva: independe de prova de culpa. Isto se deve ao aumento

do número de acidentes e de vítimas, que não devem ficar irressarcidas, decorrente do

grande desenvolvimento da indústria de máquinas.

Em outros termos, um exemplo acerca de ato por coisas, é quando uma empresa possui

uma máquina, a qual tem por sua destinação final a prensa de papelões, e seu colaborador acaba

tendo sua mão prensada gerando um dano, assim cabe ao empregador a responsabilidade civil

de reparar o dano gerado de sua máquina ao seu colaborador.

Já um exemplo de ato por animais, é quando um cachorro, na tutela de seu dono, acaba

escapando do local ficava e mordeu um terceiro o ferindo, assim seu dono é responsável a

reparar o dano gerado a este terceiro.

Vale ressaltar, como supracitado por Gonçalves, os atos por coisas ou animais são

responsabilidade objetiva, neste sentido, independe de prova de culpa do dano gerado.

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3.5.2 Culpa ou Dolo

O artigo 186 do Código Civil, já supracitado, como Gonçalves ensina (2020, pg. 65)

traz claramente no início acerca do dolo ao tratar “ação ou omissão voluntária” e logo em

seguida trata acerca da culpa ao dispor “negligência ou imprudência”.

Para haver o dolo necessita da voluntariedade de conduta do agente, ou seja, ensinado

por Miragem (2021, sem página): “A voluntariedade da conduta que se caracteriza como dolosa

compreende tanto o conhecimento do agente sobre a consequência danosa de sua conduta quanto

também de seu caráter antijurídico.”

Nesta toada, o dolo necessita da vontade pessoal do agente, ou seja, que desde o começo do ato,

possuindo a intenção de gerar o dano até a sua finalidade.

Ao tratar da reparação do dolo, existem 2 (duas) teorias, sendo um subjetiva e outra

objetiva, sendo que na primeira a vítima tem que provar o dolo ou culpa stricto sensu, e na

segunda é baseado na teoria do risco, assim afirmado por Gonçalves (2020, pg. 65)

Para obter a reparação do dano, a vítima geralmente tem de provar dolo ou culpa

stricto sensu do agente, segundo a teoria subjetiva adotada em nosso diploma civil.

Entretanto, como essa prova muitas vezes se torna difícil de ser conseguida, o nosso

direito positivo admite, em hipóteses específicas, alguns casos de responsabilidade

sem culpa: a responsabilidade objetiva, com base especialmente na teoria do risco.

Ao tratar sobre a culpa nota-se que ela é inversa ao dano, ou seja, não há vontade ou

intenção de gerar o dano.

Gonçalves (2020, pg. 65) dispõe os tipos de culpa e os explica.

A culpa pode ser, ainda, in eligendo: decorre da má escolha do representante, do

prepos‐to; in vigilando: decorre da ausência de fiscalização; in comittendo: decorre

de uma ação, de um ato positivo; in omittendo: decorre de uma omissão, quando havia

o dever de não se abster; in custodiendo: decorre da falta de cuidados na guarda de

algum animal ou de algum objeto.

Ao tratarmos sobre a culpa no judiciário, o magistrado deve-se manter atento e

imparcial, pois conforme destacado, a culpa é completamente diferente do dolo possuindo uma

delicadeza a mais ao tratar do assunto.

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3.5.2.1 Imprudência, negligência e imperícia

A culpa stricto senso se divide-se em 3 (três) modalidades, estas como mais conhecidas

por imprudência, negligência e imperícia.

Há a imprudência quando o agente não possui cautela e ou cuidado por sua conduta, não

se confunde com conduta omissiva pois a imprudência é contraria a omissão, pois na

imprudência deixa-se de ser cauteloso em suas ações.

Já a negligência é a conduta omissiva a qual fora supracitado, é quando o agente tem o

conhecimento de algo, porém se omitindo ao causar danos a terceiros, continuando sem ter

cuidado ou sem ser cauteloso em seus atos.

A imperícia é a falta de técnica, ou seja, a incapacidade do agente ao realizar uma ação.

Assim ensina Cavalieri Filho (2020, sem página):

A falta de cautela exterioriza-se através da imprudência, da negligência e da imperícia.

Não são, como se vê, espécies de culpa, nem elementos desta, mas formas de

exteriorização da conduta culposa. A imprudência é falta de cautela ou cuidado por

conduta comissiva, positiva, por ação. Age com imprudência o motorista que dirige

em excesso de velocidade, ou que avança o sinal. Negligência é a mesma falta de

cuidado por conduta omissiva. Haverá negligência se o veículo não estiver em

condições de trafegar, por deficiência de freios, pneus etc. O médico que não toma os

cuidados devidos ao fazer uma cirurgia, ensejando a infecção do paciente, ou que lhe

esquece uma pinça no abdômen, é negligente. A imperícia, por sua vez, decorre de

falta de habilidade no exercício de atividade técnica, caso em que se exige, de regra,

maior cuidado ou cautela do agente. Haverá imperícia do motorista que provoca

acidente por falta de habilitação. O erro médico grosseiro também exemplifica a

imperícia.

Um exemplo para melhor visualização da imprudência é a falta de cuidado ou de

precaução ao dirigir em velocidade acima permitida na via.

Já um exemplo para negligência é quando um médico, ao realizar uma cirurgia, esquece

gazes dentro do paciente.

Um exemplo para imperícia é quando engenheiro elétrico assina um projeto de

construção de uma casa. O engenheiro elétrico não tem conhecimento técnico para o fazer, já

que o profissional habilitado para tal atividade é o engenheiro civil.

3.5.3 Nexo de causalidade

O nexo de causalidade é a relação da conduta do agente e o dano causado, Gonçalves

(2020, pg. 65) ensina acerca do assunto:

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33

É a relação de causa e efeito entre a ação ou omissão do agente e o dano verificado.

Vem expressa no verbo “causar”, utilizado no art. 186. Sem ela, não existe a obrigação

de indenizar. Se houve o dano mas sua causa não está relacionada com o

comportamento do agente, inexiste a relação de causalidade e também a obrigação de

indenizar. Se, verbi gratia, o motorista está dirigindo corretamente e a vítima,

querendo suicidar‐se, atira‐se sob as rodas do veículo, não se pode afirmar ter ele

“causado” o acidente, pois na verdade foi um mero instrumento da vontade da vítima,

esta sim responsável exclusiva pelo evento.

Miragem (2021, sem página) destaca sobre o mesmo assunto:

O nexo de causalidade é, atualmente, o grande protagonista da responsabilidade civil.

Trata-se do vínculo lógico entre determinada conduta antijurídica do agente e o dano

experimentado pela vítima, a ser investigado no plano dos fatos, para a identificação

da causa apta a determinar a ocorrência do dano. A identificação do nexo causal não

se admite que se dê como puro arbítrio do intérprete. É atividade de investigação,

exigindo-se fundamento e método para a devida precisão.

No direito brasileiro são adotadas diversas teorias para o nexo da causalidade,

entretanto, as principais, segundo Miragem (2021, sem página), são: “As principais teorias

explicativas do nexo de causalidade analisadas no direito brasileiro são: a) a equivalência das

condições; b) a causalidade próxima; c) a causalidade eficiente; d) a causalidade adequada; e e)

a causalidade necessária e a teoria do dano direto e imediato.”

3.5.3.1 Teoria da equivalência das condições

Esta teoria não é bem aceita no âmbito da responsabilidade civil, entretanto, ainda é

utilizada, não tanto quanto no direito penal. Miragem (2021, sem página) ensina acerca desta

teoria:

Pela teoria da equivalência das condições, não se distingue entre os eventos

integrantes da sucessão de fatos antecedentes ao dano, de modo que todos eles serão

considerados aptos para a definição da imputação de indenizar. É também

denominada teoria da conditio sine qua non (condição sem a qual), e tem vocação

expansiva da relação de causalidade na sucessão cronológica dos acontecimentos, de

modo que qualquer um daqueles que promovem um dos eventos da cadeia causal

poderá ser responsabilizado pelo dano sofrido pela vítima.

Esta teoria é bem complicada visto que tem como objetivo não realizar a distinção entre

os eventos antecedentes do dano, sendo assim, os fatores que contribuíram para o resultado

danoso terão o mesmo “peso” ao serem analisados.

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34

3.5.3.2 Teoria da causalidade próxima

Miragem (2021, sem página apud BACON 1803, ALTERINI e PESSOA JORGE)

ensina acerca dessa teoria:

A causalidade próxima resulta de teoria atribuída a Francis Bacon, que, ao expor a

dificuldade da delimitação da série de causas para determinado evento, sustentou que

para efeitos práticos a identificação da causa que lhe fosse cronologicamente mais

próxima deveria servir à imputação da responsabilidade, sem a necessidade de se

investigarem as causas mais remotas. Sob esta denominação, desenvolve-se

no common law certo prestígio à teoria, ainda que, na prática, a identificação da causa

próxima não se dê apenas pelo critério cronológico, mas apoiada, igualmente, por

outros elementos que a identifiquem como decisiva à realização do dano. Ademais,

porque a última condição é que se considera como dando ao conjunto de causas que

integram a cadeia causal a unidade lógica e finalística que resulta na produção do

dano.

Esta teoria possui diversas críticas, pois conforme Miragem (2021, sem página) afirma:

“Em primeiro lugar, nem sempre é exata a identificação da causa mais próxima ao dano (a

última causa), na investigação sobre a sucessão de fatos que levaram à sua ocorrência. E da

mesma forma, não é possível definir que, em todos os casos, a última será o fator determinante

do dano.”

Um exemplo que possa haver a melhor compreensão acerca desta teoria é quando,

dolosamente ou culposamente, alguém faz a troca de medicações à uma pessoa doente, por uma

substância extremamente toxica, e a enfermeira ignora a troca e mesmo assim faz a aplicação,

e em razão disso o paciente morre.

3.5.3.3 Teoria da causalidade eficiente

Assim como já observado na teoria da equivalência de condições, o juízo da causalidade

observa as diversas causas que possivelmente foi eficiente para o dano considerando como

mesmo “peso” todos os fatos ocorridos, entretanto na teoria da causalidade eficiente, Amorim

(2012) apud Tepedino, sempre haverá um antecedente que será a verdadeira causa do evento.

Como exemplo, podemos citar o fornecido por Alterini, citado por Cruz (2005), no

qual se um indivíduo A empresta um fósforo para B e este coloca fogo numa casa,

segundo o autor, as duas ações são imprescindíveis para que se produza o incêndio.

No entanto, a conduta de quem iniciou o incêndio é a condição mais ativa e eficaz

para o resultado. (AMORIM, 2012, sem página, apud ALTERINI)

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35

Nesta toada, percebe-se para aqueles que defendem a teoria da causalidade eficiente,

possuem uma distinção entre a causa, a condição e ocasião do fato gerador do dano.

3.5.3.4 Teoria da causalidade adequada

Para Miragem (2021, sem página), a causalidade adequada é considerada como um

espécie de teoria individualizadora do nexo de causalidade, orientando as investigações, de

forma abstrata, da sucessão de eventos que antecedem ao evento danoso, se dessas várias

condições que a integram, alguma pode ser elevada ao conceito de causa.

Para tanto, distinguem-se três variantes: a posição subjetiva, pela qual se consideram

as condições que o agente conhecia ou poderia conhecer, faz-se, assim, um juízo de

previsibilidade das condições e a capacidade de identificação das mesmas pelo agente.

Já a posição objetiva tem em consideração não a capacidade de previsão de uma

pessoa determinada, senão um critério de previsibilidade geral, a que uma pessoa

normal devesse prever. Nesse caso, cabe ao intérprete colocar-se em posição como se

o evento danoso ainda não tivesse ocorrido e, a partir daí, avaliar a previsibilidade da

ocorrência do dano, em vista das condições antecedentes. Por fim, uma terceira

posição coloca em destaque uma circunstância genericamente favorável, pela qual se

estabelece a avaliação da previsibilidade do resultado em vista das condições de

prever o resultado danoso por parte de uma pessoa perspicaz, alguém que deva contar

com formação ou informações especializadas, razão pela qual terá superioridade

técnica para o exame da possibilidade ou não de ocorrência do dano. (MIRAGEM,

2021, sem página)

Em outras palavras, a teoria da causalidade adequada é definida pelo evento o qual o

dano teria ocorrido, que caso não ocorresse este evento o dano nunca existiria.

3.5.3.5 Causalidade necessária e a teoria do dano direto e imediato

No direito brasileiro a causalidade necessária é explicada pela teoria do dano direto e

imediato, Miragem (apud Tepedino et al e Silva), ensina acerca do assunto:

Outra teoria explicativa do nexo de causalidade será a da causalidade necessária, que

no direito brasileiro resultou explicitada pela teoria do dano direto e imediato,

ademais, mencionada também como teoria da interrupção do nexo causal. Trata-se

de teoria que conta com muitos defensores no direito brasileiro, sustentada que está

pela exigência de necessariedade da causa para a realização de determinado resultado.

E do ponto de vista legislativo, entre seus defensores, sustenta-se que resulta da

interpretação do art. 1.060 do Código Civil brasileiro de 1916, hoje reproduzido no

art. 403 do Código Civil de 2002.

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Miragem (2021, sem página) apud Alvim, ensina que ao tratarmos de dano imediato é

devido ao intervalo entre a causa e o evento danoso e direto, havendo ou não intervalo.

Segundo a melhor lição doutrinária, trata-se de dano imediato, porque em intervalo

entre a causa e o evento reputado danoso e direto, reputando aquilo que vem em linha

reta, havendo ou não intervalo. Nesse sentido, ao adotar-se a teoria do dano direto e

imediato, não se submete o autor do dano a toda e qualquer consequência de sua

conduta, senão apenas àquelas que sejam diretamente ligadas a ele. Assim, ao mesmo

tempo que apresenta um critério para imputação da responsabilidade, limita a

extensão desta responsabilidade apenas aos danos que decorrerem diretamente da

atuação do agente, ou seja, sem que haja a interposição de qualquer fato natural, ou

que possa ser atribuído à própria vítima, ou a terceiro. Isto é, impede que haja a

responsabilidade ilimitada do autor do primeiro dano.

Neste sentido, a teoria é aplicada quando, por qualquer seja a conduta, o dano é

diretamente ligado a conduta, limitando a responsabilidade para apenas aos danos que o evento

gerou.

Miragem (2021, sem página), para melhor compreensão acerca da causalidade

necessária, dispõe que a causa que servirá de critério para esta imputação da responsabilidade,

caso não existisse, não faria existir o dano.

Mas o que se deve entender por causalidade necessária? Diz-se, nesse caso, que a

causa que servirá de critério para imputação da responsabilidade é aquela que, se não

existisse, não faria existir o dano. Ou seja, se a cadeia causal de acontecimentos tivesse

se rompido pela interrupção do nexo causal, o dano não teria se efetivado. A aparente

vantagem dessa teoria é a de permitir um critério um tanto mais preciso de

identificação da causa, ainda que não se desconheça – como de resto nas situações de

responsabilidade civil – algum grau para a discrição do juiz.

Isto é, caso houvesse algum interrompimento na cadeia causal dos acontecimentos, o

dano não seria efetivado, tendo por princípio a precisão da identificação da causa, mesmo que

esta venha a ser desconhecida, limitando assim, a ideia da reparação civil para apenas o que o

evento gerou de dano.

3.5.4 Dano

Venosa (2020, sem página) ensina acerca do dano, o dano surge quando há um

inadimplemento, podendo ser parcial ou integral, o qual gera o dever de indenizar. Neste sentido

indenizar é o dever da reparação do dano, tanto na responsabilidade contratual quanto na

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responsabilidade extracontratual, para que surja o direito a indenização sempre deverá haver

um prejuízo.

Tanto na responsabilidade contratual, como na extracontratual, para que surja o direito

à indenização, há necessidade de um prejuízo, isto é, um dano avaliável, uma perda,

uma diminuição no patrimônio. Esse prejuízo, afora alguns casos de responsabilidade

objetiva, estudados na responsabilidade aquiliana, deve decorrer de culpa. Mormente

no direito contratual, não havendo culpa, em rigor, não há dever de indenizar. E, por

fim, deve existir um nexo causal, o liame que liga o prejuízo à conduta do agente. O

descumprimento da obrigação é noção que integra o pressuposto do prejuízo.

(VENOSA 2021, sem página)

O dano, propriamente dito, debatido atualmente entre os doutrinadores e legislação

brasileira, pode ser dividido em 9 (nove) modelos, o dano material ou patrimonial, moral,

estético, morais coletivos, sociais ou difusos, perda de uma chance, perda do tempo, lucro ilícito

ou lucro de intervenção e, dano existencial e danos ao projeto de vida.

3.5.4.1 Dano material ou patrimonial

Os danos materiais ou patrimoniais ocorrem quando há um prejuízo ou perda que

atingem patrimônio corpóreo de uma pessoa natural, pessoa jurídica ou ente despersonalizado,

segundo Venosa (2020, sem página).

Os danos patrimoniais devem ser provados por quem os alega, é antiga essa lição.

Nessa seara, são fartas as manifestações doutrinárias e jurisprudenciais no sentido de

que não se pode reparar o dano hipotético ou eventual. Entre os estudiosos ainda

ecoam com profundidade as palavras de Caio Mário da Silva Pereira, segundo as quais

“nem todo dano é ressarcível, diz Alterini. Somente o é aquele que preencher certos

requisitos: certeza, atualidade e subsistência. (...). A doutrina entende que o dano,

como elemento da responsabilidade civil, há de ser atual e certo”. (VENOSA 2020,

sem página apud PEREIRA)

Os danos hipotéticos e eventuais, no âmbito no direito material, em regra não podem ser

reparados, pois não pode haver a presunção do dano, entretanto a legislação brasileira prevê os

danos emergentes e os lucros cessantes.

De todo modo, cabe reafirmar que em algumas situações até se admite o dano

presumido (damnum in re ipsa), mas o que normalmente ocorre é o fato de o autor da

demanda ter contra si o ônus de demonstrá-lo, nos termos do art. 373, inc. I, do Código

de Processo Civil de 2015, na categoria de danos emergentes e lucros cessantes. A

prova, com o Código Civil de 2002, não se refere apenas à existência do dano, mas

também à sua extensão (art. 944), a fim de que o aplicador do direito fixe o quantum

indenitário ou reparatório. (VENOSA 2020, sem página)

Page 39: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

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Assim, o dano emergente é tudo aquilo que foi perdido, neste sentido, aquilo que foi

retirado do patrimônio econômico daquele que sofreu o dano, conforme disposto por Pereira

(2018, sem página) “Na categoria do dano emergente situa-se aquilo que o ofendido

efetivamente perdeu em consequência do fato danoso.”

Já sobre os lucros cessantes, é quando a vítima do dano deixou de lucrar em razão deste,

Pereira (2018, sem página) ensina acerca que: “Na classe do lucro cessante, aquilo que

razoavelmente deixou de ganhar, e o jurisconsulto Paulus enunciava: quantum mihi abest,

quantunque lucrare potui (Digesto, Liv. 46, Tít. VIII, fr. 13).”

Quer dizer o dano material facilmente é comprovado, em comparação por exemplo o

dano moral, visto que decorre de bens patrimoniais corpóreos.

3.5.4.2 Dano moral

O dano moral é um dos danos imateriais, Tartuce (2020, sem página) ensina que os

danos morais se tornaram pacíficos no Brasil com a promulgação da Constituição Federal de

1988, pois, antes delas muitos juristas não aceitavam a reparação do dano moral diante da

dificuldade da sua comprovação e quantificação reparatório.

A tese pela reparabilidade dos danos imateriais tornou-se pacífica no Brasil com a

Constituição Federal de 1988, pelas previsões constantes dos incisos V e X do seu art.

5.º. Antes dela, muitos juristas tinham como impensável aceitar a reparação do dano

moral, diante de grandes dificuldades na sua determinação e quantificação. Com a

Constituição Federal de 1988, houve uma grande evolução do tema, que até

mergulhou em outros âmbitos, caso do Direito do Trabalho e do Direito de Família,

como ainda será desenvolvido neste livro (Capítulos 11 e 9, respectivamente).

O dano moral é mais complicado pois, trata-se de prejuízo “interno” da vítima do evento

danoso, é algo mais íntimo o qual afeta sua moralidade e ou intelectualidade. Não é algo que é

visualizado fisicamente e, também, não possui uma quantificação de dano, não há, por exemplo,

uma tabela de “preços” para cada dor e sofrimento.

Tartuce (2020, sem página) ainda discorre sobre os danos morais objetivos e subjetivos:

O dano moral subjetivo ou provado é aquele que necessita ser demonstrado pela

vítima ou autor da demanda, ônus que lhe cabe. Na minha visão, constitui regra geral

do sistema jurídico brasileiro, especialmente pela posição que prevalece na

jurisprudência superior. Como ainda será aprofundado, o Superior Tribunal de Justiça

tem entendido que o dano moral da pessoa jurídica enquadra-se nessa regra geral. Por

todos os arestos, já adiantando: “para que a execução da medida cautelar de busca e

apreensão seja capaz de causar dano moral indenizável à pessoa jurídica é preciso que

existam comprovadas ofensas à sua reputação, seu bom nome, no meio comercial e

Page 40: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

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social em que atua, ou seja, à sua honra objetiva, o que foi verificado pelo Tribunal

de origem, na espécie” (STJ, REsp 1.428.493/SC, 3.ª Turma, Rel. Min. Nancy

Andrighi, j. 14.02.2017, DJe 23.02.2017).

Por seu turno, o dano moral objetivo ou presumido não necessita de prova. Utiliza-se

a expressão em latim in re ipsa a fim de evidenciar um dano que decorre do simples

fato ou da simples situação da coisa. Entendo que o dano moral presumido não é regra,

mas exceção no nosso sistema, estando presente, por exemplo, nos casos de abalo de

crédito ou abalo moral, protesto indevido de títulos, envio do nome de pessoa natural

ou jurídica para o rol dos inadimplentes (Serasa, SPC), uso indevido de imagem, morte

de pessoa da família ou perda de órgão ou parte do corpo. Na última hipótese, há que

falar também em dano estético presumido (in re ipsa), como ainda será desenvolvido.

Em outros termos, o dano moral subjetivo é aquele dano que necessita da demonstração

da vítima, por exemplo, ao tratar sobre sua própria honra.

Já o dano moral objetivo é quando há a presunção, ou seja, não necessita de prova do

dano, que decorrei de um fato ou situação, como exemplificado logo acima por Tartuce, é

quando ocorre a inscrição indevida de uma pessoa natural ou jurídica nos sistemas de

inadimplentes.

3.5.4.3 Dano estético

Tartuce (2020, sem página) dispõe que os danos estéticos vêm sendo tratados pela

doutrina e pelas jurisprudências como uma modalidade separa do dano imaterial. Pois, diferente

do dano moral, o dano estético afeta mais a pessoa humana como algo corpóreo.

Duas premissas foram utilizadas para essa mudança de paradigma, destacando-se o

dano estético do dano moral. A primeira delas é que haveria uma lesão a mais à pessoa

humana, nos casos de sua presença. A segunda premissa é a da presença de um dano

à imagem que, pelo texto constitucional, tem menção separada do dano moral. Nos

termos do art. 5.º, inc. V, do Texto Maior, “é assegurado o direito de resposta,

proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem”.

(TARTUCE 2020, sem página)

O mesmo jurista ainda traz casos concretos de danos estéticos.

Partindo para os casos concretos, tais danos, em regra, estão presentes quando a pessoa

sofre feridas, cicatrizes, cortes superficiais ou profundos em sua pele, queimaduras,

deformações, lesão ou perda de órgãos internos ou externos do corpo, aleijões,

amputações, entre outras anomalias que atingem a própria dignidade humana. Esse

dano, nos casos em questão, será também presumido (in re ipsa), como ocorre com o

dano moral objetivo. (TARTUCE 2020, sem página)

Page 41: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

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Melhor dizendo, o dano estético não deve ser confundido com o moral, pois como já

citado, o dano moral atinge o íntimo da pessoa, já o dano estético ele atinge a dignidade da

pessoa humana.

3.5.4.4 Danos morais coletivos

Os danos morais coletivos são um tanto controvérsia, Tartuce (2020, sem página) ensina

que:

Os danos morais coletivos surgem como um sério candidato dentro da ideia de

ampliação dos danos reparáveis, merecendo tratamento em separado com relação aos

danos individuais tratados até aqui. O seu conceito é controvertido, mas ele pode ser

denominado como o dano que atinge, ao mesmo tempo, vários direitos da

personalidade, de pessoas determinadas ou determináveis. Essa nossa conceituação

está baseada nas palavras de Carlos Alberto Bittar Filho, que merecem ser transcritas:

“Com supedâneo, assim, em todos os argumentos levantados, chega-se à conclusão

de que o dano moral coletivo é a injusta lesão da esfera moral de uma dada

comunidade, ou seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de valores

coletivos. Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção ao fato de

que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade (maior ou menor), idealmente

considerado, foi agredido de maneira absolutamente injustificável do ponto de vista

jurídico; quer isso dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, em seu

aspecto imaterial. Tal como se dá na seara do dano moral individual, aqui também não

há que se cogitar de prova da culpa, devendo-se responsabilizar o agente pelo simples

fato da violação (damnum in re ipsa)”.

Entretanto, por mais controvérsia seja, a sua previsão na legislação brasileira, para ser

mais exato no Código de Defesa do Consumidor.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,

coletivos e difusos;

Tartuce (2020, sem página) afirma que: “Os danos morais coletivos são, assim, várias

lesões aos direitos da personalidade ao mesmo tempo.”

Em outras palavras, por mais que o direito moral seja individualizado, Tartuce (2020,

sem página) dispõe que: “Deve-se compreender que os danos morais coletivos atingem direitos

individuais homogêneos e coletivos em sentido estrito, em que as vítimas são determinadas ou

determináveis. Por isso, a indenização deve ser destinada a elas, as vítimas do evento danoso.”

Page 42: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

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3.5.4.5 Danos sociais ou difusos

Os danos sociais são facilmente confundidos com os danos morais coletivos, Tartuce

(2020, sem página) apud Azevedo conceitua que: “os danos sociais, por sua vez, são lesões à

sociedade, no seu nível de vida, tanto por rebaixamento de seu patrimônio moral –

principalmente a respeito da segurança – quanto por diminuição na qualidade de vida”.

Assim dizendo, é a função social da responsabilidade civil, como uma proteção ao

direito coletivo da vida em sociedade, como Tartuce (2020, sem página), menciona em sua

obra: “a valorização do nós em detrimento do eu”

Como essa coletividade traz muitas confusões, Tartuce (2020, sem página) em sua obra

diferencia os dois institutos, conforme a seguir, como uma forma de maior esclarecimento

acerca da matéria:

Os danos morais coletivos: Atingem vários direitos da personalidade; Direitos

individuais homogêneos ou coletivos em sentido estrito – vítimas determinadas ou

determináveis; Indenização é destinada para as próprias vítimas.

Os danos morais sociais: Causam um rebaixamento no nível de vida da coletividade

(Junqueira); Direitos difusos – vítimas indeterminadas; Toda a sociedade é vítima da

conduta; Indenização para um fundo de proteção ou instituição de caridade.

Assim, os danos sociais são voltados para os direitos difusos coletivos, onde há várias

vítimas, podendo ser toda a sociedade vítima da conduta, sendo que a reparação, indenização,

é direcionada a fundos de proteção ou instituição de caridade.

3.5.4.6 Danos por perda de uma chance

A perda de uma chance é conceituada por Tartuce (2020, sem página): “A perda de uma

chance está caracterizada quando a pessoa vê frustrada uma expectativa, uma oportunidade

futura, que, dentro da lógica do razoável, ocorreria se as coisas seguissem o seu curso normal.

A partir dessa ideia, como expõem os autores citados, essa chance deve ser séria e real.”

Por exemplo, uma pessoa domiciliada no Rio Grande do Sul conseguiu uma vaga na

Universidade Federal do Acre o qual deveria fazer sua matrícula de forma presencialmente no

dia “x”, logo essa pessoa comprou passagem de avião para o dia, mas a companhia aérea atrasou

e posteriormente cancelou seu voo, assim não conseguiu chegar no dia correto ao estado do

Acre e perdeu a sua vaga na universidade federal.

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Um dos casos mais conhecidos no Brasil é o do programa “Show do Milhão” do canal

de televisão aberta SBT, o qual o jogador perdeu devido a má formulação da pergunta, Tartuce

(2020, sem página) cita em sua obra:

Igualmente em sede de Superior Tribunal de Justiça, a teoria da perda de uma chance,

supostamente, foi aplicada em conhecido julgado envolvendo o programa “Show do

Milhão”, do SBT. Trata-se do precedente superior mais citado nos meios acadêmicos

e obras sobre o tema.

Uma participante do programa, originária do Estado da Bahia, chegou à última

pergunta, a “pergunta do milhão”, que, se respondida corretamente, geraria o prêmio

de um milhão de reais. A pergunta então formulada foi a seguinte: “A Constituição

reconhece direitos dos índios de quanto do território brasileiro? 1) 22%; 2) 2%; 3) 4%

ou 4) 10%”.

A participante não quis responder à questão, levando R$ 500 mil como prêmio. Mas,

na verdade, a Constituição Federal não trata de tal reserva, tendo a participante

constatado que a pergunta formulada estava totalmente errada. Foi então a juízo

requerendo os outros R$ 500 mil, tendo obtido êxito em primeira e segunda instâncias,

ação que teve curso no Tribunal de Justiça da Bahia. O Tribunal da Cidadania

confirmou em parte as decisões anteriores, reduzindo o valor para R$ 125 mil, ou seja,

os R$ 500 mil divididos pelas quatro assertivas, sendo essa a sua real chance de acerto.

Em outros termos, é a perda daquilo que, com total certeza, ganharia algo, e devido ao

evento danoso o impediu.

3.5.4.7 Danos pela perda do tempo

Os danos pela perda do tempo também são vistos, pelos doutrinadores brasileiros, como

uma nova modalidade de dano reparável, separado do dano moral, assim afirmado por Tartuce

(2020, sem página).

Entretanto há correntes distintas de pensamentos acerca deste dano, muitos juristas não

consideram como uma modalidade em si, pois conforme Tartuce (2020, sem página) opina que:

“os acórdãos reconhecem a situação como geradora de danos morais, e não como danos em

separado. Sigo igualmente essa posição. Com o devido respeito, não consigo vislumbrar que o

dano em questão tenha obtido sua emancipação como categoria autônoma, separada do dano

moral, como ocorreu com o dano estético.”

O dano pela perda do tempo, como citado por diversas vezes na obra de Tartuce (2020,

sem página) gera danos morais e não uma modalidade de indenização em si, por exemplo é

caracterizado que o tempo para cancelar a contratação que não mais interessa, como um plano

de operadora de celular, que muitas vezes leva horas gera a indenização é o dano pela perda do

tempo, entretanto a reparação através da indenização é ao dano moral.

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43

Os danos pela perda do tempo não têm previsão legislativa brasileira e ainda tem muitas

controvérsias acerca de ser ou não um tipo de dano moral, assim é bem discutida entre os

juristas.

3.5.4.8 Danos pelo lucro ilícito ou lucro da intervenção

Outra modalidade de dano que vem sendo bem discutida como uma categoria é o dano

pelo lucro ilícito ou lucro de intervenção, Tartuce (2020, sem página) apud Sergio Savi define

que:

Segundo o jurista, “ao intervir na esfera jurídica alheia, normalmente usando,

consumindo ou dispondo dos bens e direitos de outrem, o interventor pode vir a obter

um lucro, denominado doutrinariamente de lucro da intervenção. Este benefício

econômico pode ou não decorrer de um ato que também cause, simultaneamente,

danos ao titular do direito. Quando a intervenção não causar danos ou, causando

danos, o lucro obtido pelo ofensor for superior aos danos causados, as regras da

responsabilidade civil, isoladamente, não serão suficientes enquanto sanção pela

violação de um interesse merecedor de tutela.

Um exemplo famoso de um acontecimento real é o caso da atriz Giovanna Antonelli,

uma determina farmácia de “manipulação” começou a fazer propagandas utilizando-se o nome

e a imagem da atriz, a qual o Superior Tribunal de Justiça julgou e ainda definiu acerca do dano

pelo lucro de intervenção.

RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL. USO INDEVIDO DE IMAGEM. FINS

COMERCIAIS. ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA. ART. 884 DO CÓDIGO

CIVIL. JUSTA CAUSA. AUSÊNCIA. DEVER DE RESTITUIÇÃO. LUCRO DA

INTERVENÇÃO. FORMA DE QUANTIFICAÇÃO.

(...)

3. Além do dever de reparação dos danos morais e materiais causados pela utilização

não autorizada da imagem de pessoa com fins econômicos ou comerciais, nos termos

da Súmula nº 403/STJ, tem o titular do bem jurídico violado o direito de exigir do

violador a restituição do lucro que este obteve às custas daquele.

4. De acordo com a maioria da doutrina, o dever de restituição do denominado lucro

da intervenção encontra fundamento no instituto do enriquecimento sem causa,

atualmente positivado no art. 884 do Código Civil.

5. O dever de restituição daquilo que é auferido mediante indevida interferência nos

direitos ou bens jurídicos de outra pessoa tem a função de preservar a livre disposição

de direitos, nos quais estão inseridos os direitos da personalidade, e de inibir a prática

de atos contrários ao ordenamento jurídico. (Resp Nº 1.698.701, RELATOR:

MINISTRO RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA)

Melhor dizendo, os danos pelo lucro ilícito ou lucro da intervenção configura o

enriquecimento ilícito de terceiro aquele que não é titular do direito usufruído.

Page 45: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

44

3.5.4.9 Danos existenciais e danos ao projeto de vida

Outra modalidade de dano é o danos existenciais e danos ao projeto de vida, Tartuce

(2020, sem página) dispõe que é uma modalidade que vem sem bem discutida no Brasil,

principalmente os danos existenciais na esfera trabalhista. Tartuce (2020, sem página) ainda

cita que:

Tanto isso é verdade que a recente Reforma Trabalhista, ao tratar dos danos

extrapatrimoniais sofridos pelos trabalhadores, reconhece no novo art. 223-B da CLT

que “causa dano de natureza extrapatrimonial a ação ou omissão que ofenda a esfera

moral ou existencial da pessoa física ou jurídica, as quais são as titulares exclusivas

do direito à reparação”.

Tartuce (2020, sem página) ainda dispõe em sua obra que o dano existencial esta

presente em duas situações: “A primeira delas tem relação com o dano projeto de vida da pessoa

humana, que vem a ser frustrado. O segundo é o dano à vida em relação, presente quando há

interferência nas interações íntimas da vítima com outras pessoas, caso de seus familiares.”

Assim, segundo Falcão (2019), o dano existencial é quando a vítima fica privada de

usufruir de seus direitos e gozar dos prazeres de sua vida, um exemplo simples é o direito ao

lazer, já o dano ao projeto de vida é quando a vítima tem expectativas de sua própria vida e os

tem frustrados impedindo de ter seus sonhos e metas realizados.

3.6 CATEGORIAS DA RESPONSABILIDADE CIVIL

A responsabilidade civil pode ser categorizada em duas modalidades, a responsabilidade

objetiva e a responsabilidade subjetiva.

Rizzardo (2019, sem página) traz em sua obra um breve conceito histórico acerca da

responsabilidade objetiva e subjetiva.

Nos meados do século XIX esboçou-se o movimento jurídico contrário à

fundamentação subjetiva da responsabilidade. Sentiu-se que a culpa não abarcava os

numerosos casos que exigiam reparação. Não trazia solução para as várias situações

excluídas do conceito de culpa. Foi a origem da teoria objetiva, que encontrou campo

favorável na incipiente socialização do direito, em detrimento do individualismo

incrustado nas instituições.

Tais modalidades irão ser debatidas a seguir de forma mais aprofundada.

Page 46: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

45

3.6.1 Responsabilidade objetiva

Como já exposto, a responsabilidade civil surge a partir de um evento danoso com o

intuito de reparação e indenização dos eventos deste evento.

Não muito diferente, a responsabilidade objetiva surge a partir de um evento danoso,

advinda de uma prática ilícita ou de uma violação de legislação brasileira, entretanto ao ser

provada e questionada, a responsabilidade objetiva não necessita da aferição de culpa.

Para a caracterização do dever de indenizar devem estar presentes os requisitos

clássicos: ação ou omissão voluntária, relação de causalidade ou nexo causal, dano e,

finalmente, culpa. No tocante especificamente à culpa, lembramos que a tendência

jurisprudencial cada vez mais marcante é de alargar seu conceito. Surgiu, daí, a noção

de culpa presumida, sob o prisma do dever genérico de não prejudicar. Esse

fundamento fez também nascer a teoria da responsabilidade objetiva, presente na lei

em várias oportunidades, que desconsidera a culpabilidade, ainda que não se confunda

a culpa presumida com a responsabilidade objetiva. (VENOSA, 2003)

O Código Civil (BRASIL) dispôs claramente o conceito de responsabilidade objetiva

ao disciplinar em seu artigo 927, parágrafo único.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,

nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo

autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Rizzardo (2019, sem página) conceitua em sua obra acerca da reparação civil pela

responsabilidade objetiva.

Pode-se dizer que a responsabilidade objetiva pela prática de atividade naturalmente

arriscada tem importância social, não se restringindo à realização da justiça entre as

partes envolvidas. Leva a constituir um referencial no desemprenho de atividades

perigosas. Atua como um mecanismo de controle social, buscando resolver pontos de

tensão e de perigo criados por um grande número de serviços e de bens que foram

aumentando na medida da evolução da ciência. Tem como grande elemento de

imposição o ideal de uma vivência segura que vai além ou ultrapassa o mero non

laedere, chamando à responsabilidade todos quantos representam fatores de perigo na

segurança social.

A responsabilidade objetiva não é muito bem aceita pelos juristas, visto que é uma teoria

de risco, pois por mais que a pessoa não tenha culpa esta ficará obrigado a repara-lo, pois, no

âmbito civil a responsabilidade objetiva só pode ser aplicada a poucos casos estipulados em lei,

Page 47: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

46

entretanto na legislação consumerista é muito bem utilizada e aceita, por conseguinte a relação

consumerista muitas vezes são desvantajosas, à vista disso, o próprio código consumerista

define que os fornecedores de serviços ou produtos possuem a obrigação de reparar ao dano,

visto que os fornecedores possuem a culpa presumida.

3.6.2 Responsabilidade subjetiva

A responsabilidade subjetiva é bem conhecida como teoria da culpa, ou seja, como

Gonçalves (2019, pg. 57) afirma, “pressupõe a culpa como fundamento da responsabilidade

civil. Em não havendo culpa, não há responsabilidade.”

Diz‐se, pois, ser “subjetiva” a responsabilidade quando se esteia na ideia de culpa. A

prova da culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável.

Dentro desta concepção, a responsabilidade do causador do dano somente se

configura se agiu com dolo ou culpa. (GONÇALVES 2019, pg. 57)

Isto significa que para a responsabilidade subjetiva deve haver o pressuposto da culpa

ou dolo, devendo assim após de provada ser reparado ou indenizado o evento danoso o qual

gerou a obrigação.

Assim, contrário da responsabilidade objetiva no âmbito civil, a responsabilidade

subjetiva é muito bem adotada pelos juristas, pois apenas após a comprovação do dano que

haverá a obrigação da reparação.

3.7 EXCLUDENTES DE ILICITUDE

Como exposto ao longo deste capítulo, aquele que comete o ato ilícito possui a

obrigação de indenizar caso cause danos a outrem, entretanto, a legislação consumerista e civil

prevê excludentes de ilicitude, conforme artigo 12, §3º do Código de Defesa do Consumidor

(BRASIL) e artigo 188 do Código Civil (BRASIL).

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador

respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos

causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,

construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de

seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua

utilização e riscos.

(...)

§ 3º O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado

quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

Page 48: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

47

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido;

II - a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover

perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as

circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do

indispensável para a remoção do perigo.

Além do mais, as excludentes prevista na legislação são o exercício regular de direito,

legitima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal, culpa exclusiva ou

concorrente da vítima e fato de terceiro, entretanto os doutrinadores trazem outras situações

como caso fortuito ou de força maior e clausula de não indenizar.

3.7.1 Exercício regular de direito

Conforme previsto no Código Civil, aquele que acaba gerando o dano em exercício

regular de direito não constitui como um ato ilícito, logo não possui a obrigação de reparar o

evento danoso.

Tartuce (2020, sem página) em sua obra cita que “O mesmo art. 188, em seu inc. I,

segunda parte, do CC/2002, preconiza que não constitui ato ilícito o praticado no exercício

regular de um direito reconhecido. Trata-se de uma das excludentes do dever de indenizar mais

discutidas no âmbito da jurisprudência nacional.”

Um exemplo de exercício regular de direito é quando há lesões advindas das práticas

esportivas violentas, desde que claro, os atletas respeitem as regras estabelecidas e desde não

seja um abuso no exercício do direito, se não o indivíduo responderá pelos seus atos.

3.7.2 Legitima defesa

O agente que atua em legitima defesa, sendo sua própria ou de terceiros, para defende o

bem jurídico, não tem responsabilidade em indenizar, Tartuce (2020, sem página apud Venosa)

conceitua a legitima defesa.

Nesse sentido, Sílvio de Salvo Venosa leciona que a legítima defesa constitui uma

justificativa para a conduta, devendo ser adotado o mesmo conceito do Direito Penal.

Lembra o doutrinador que a sociedade organizada não admite a justiça com as próprias

mãos, mas acaba reconhecendo situações nas quais o indivíduo pode se utilizar dos

meios necessários para repelir agressão injusta, atual ou iminente, contra si mesmo ou

Page 49: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

48

contra as pessoas que lhe são próximas ou os seus bens. Desse conceito surge a

legítima defesa.

Tartuce (2019, sem página apud Pereira) em sua obra cite os elementos essenciais para

caracterizar a legitima defesa.

Na mesma linha, Caio Mário da Silva Pereira demonstra que na legislação privada

“dispensa-se de definir em que consiste a legítima defesa. Toma de empréstimo o

conceito que é corrente no direito criminal”. Segundo o mesmo renomado

doutrinador, são elementos do instituto: a) a iniciativa de agressão por parte de outrem;

b) a atualidade e iminência da ameaça de dano; c) a proporcionalidade da reação em

face da agressão.

Conforme alegado acima o artigo 25 do Código Penal (BRASIL) conceitua a legitima

defesa.

Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios

necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem

Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-

se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou

risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.

Aliás, logo que disposto na legislação e pelos juristas, a legitima defesa visa a proteção

do bem jurídico desde que não abuse tal instituto.

3.7.3 Estado de necessidade

Como a legitima defesa, o estado de necessidade não vem de uma situação injusta,

estado de necessidade também é conceituado pelo Direito Penal e usado no âmbito civil, o

artigo 24 do Código Penal traz o segundo conceito:

Art. 24 - Considera-se em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de

perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar,

direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-

se.

Tartuce (2019, sem página apud Ustárroz) dispõe acerca das premissas fundamentais

para a análise do estado de necessidade.

Em tese de doutorado que trata da responsabilidade civil por atos lícitos, defendida na

Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Daniel Ustárroz

demonstra doze premissas fundamentais que devem guiar a análise do instituto do

estado de necessidade. São elas: a) o que não pode ser exigido de forma razoável de

Page 50: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

49

uma pessoa não pode ser a ela imposto pelo Direito; b) o estado de necessidade pode

decorrer de fato humano ou natural; c) os interesses em conflito devem estar

protegidos juridicamente; d) o perigo deve ser atual e deve haver probabilidade de

dano, presente e imediata, a um determinado bem jurídico; e) o dano pode ser de

qualquer ordem, material ou imaterial; f) o ato do agente deve ser meio necessário

para preservar o direito ou o bem jurídico envolvido no caso concreto; g) o agente

deve observar os estritos limites da necessidade para a remoção do perigo, pois pode

ser responsabilizado por excesso de conduta; h) pode a atividade ser dirigida ao

salvamento da pessoa ou bem jurídico de outrem; i) a pessoa que tem, por seu ofício,

o dever de enfrentar o perigo não pode invocar a excludente, embora dela “não se

exijam atos de heroísmo”; j) os limites da exigência de sacrifício devem coincidir com

os limites do exercício de sua proteção; k) o estado de necessidade não pode decorrer

da imprevidência do agente; e l) não há legítima defesa contra o ato praticado em

estado de necessidade.

Um exemplo de estado de necessidade é quando um motorista ao ver que irá colidir uma

criança que brincava na rua desvia e acaba batendo em um poste causando danos.

3.7.4 Estrito cumprimento do dever legal

O estrito cumprimento do dever legal ocorre quando o agente do dano no exercício de

sua função acaba ocasionando um evento danoso, desde que nos limites da lei, não é

responsabilizado a reparação.

Nos casos de estrito cumprimento do dever legal, em que o agente é exonerado da

responsabilidade pelos danos causados, a vítima, muitas vezes, consegue obter o

ressarcimento do Estado, já que, nos termos do art. 37, § 6o, da Constituição Federal,

“as pessoas jurídicas de direito público responderão pelos danos que seus agentes,

nessa qualidade, causarem a terceiros”. E o Estado não terá ação regressiva contra o

agente responsável (só cabível nos casos de culpa ou dolo), porque ele estará

amparado pela excludente do estrito cumprimento do dever legal. (GONÇALVES

2019, pg. 719)

Entretanto, por exemplo, uma viatura policial durante uma perseguição acaba batendo

em um veículo de terceiro causando um dano, os policiais não serão responsabilizados, porém,

o Estado tem a obrigação para a reparação e indenização.

3.7.5 Culpa exclusiva ou concorrente da vítima

A culpa exclusiva é quando o evento danoso acontece por culpa da vítima e não do

indivíduo que causou o dano, assim, deixa de existir a obrigação da reparação do dano.

Page 51: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

50

Quando o evento danoso acontece por culpa exclusiva da vítima, desaparece a

responsabilidade do agente. Nesse caso, deixa de existir a relação de causa e efeito

entre o seu ato e o prejuízo experimentado pela vítima. Pode-se afirmar que, no caso

de culpa exclusiva da vítima, o causador do dano não passa de mero instrumento do

acidente. Não há liame de causalidade entre o seu ato e o prejuízo da vítima.

(GONÇALVES 2019, pg. 722)

Já a concorrente ela é bem discutida entre os juristas causando certa “dor de cabeça” a

eles, pois a responsabilidade é dívida entre a vítima e o causador do dano.

Nesses casos, existindo uma parcela de culpa também do agente, haverá repartição de

responsabilidades, de acordo com o grau de culpa. A indenização poderá ser reduzida

pela metade, se a culpa da vítima corresponder a uma parcela de 50%, como também

poderá ser reduzida de 1/4, 2/5, dependendo de cada caso. (GONÇALVES 2019, pg.

723)

A culpa exclusiva ou concorrente da vítima é considerada como excludente de

responsabilidade quando não há o nexo causal do agente com a conduta, ou até mesmo de forma

parcial.

3.7.6 Fato de terceiro

Gonçalves (2019, pg. 726) ensina que nem todo causador do dano é de fato o causador,

pois há a possibilidade de terceiro ser o agente danoso, “Muitas vezes, o ato daquele que

atropela alguém ou causa alguma outra espécie de dano pode não ser o responsável pelo evento,

o verdadeiro causador do dano, mas, sim, o ato de um terceiro.”

Quando, no entanto, o ato de terceiro é a causa exclusiva do prejuízo, desaparece a

relação de causalidade entre a ação ou a omissão do agente e o dano. A exclusão da

responsabilidade se dará porque o fato de terceiro se reveste de características

semelhantes às do caso fortuito, sendo imprevisível e inevitável. Melhor dizendo,

somente quando o fato de terceiro se revestir dessas características, e, portanto,

equiparar-se ao caso fortuito ou à força maior, é que poderá ser excluída a

responsabilidade do causador direto do dano. (GONÇALVES 2019, pg. 727)

Para melhor compreensão, pode-se citar como um exemplo um motorista que conduz

seu carro pela via acaba sendo “cortado” por outro veículo o qual empurra seu carro para outra

pista atingindo um motociclista.

Page 52: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

51

3.7.7 Caso fortuito ou de força maior

O caso fortuito gera a partir de um fato alheio ou algum motivo que dá origem ao

acontecimento, Gonçalves (2019, pg. 737) conceitua como: “O caso fortuito geralmente decorre

de fato ou ato alheio à vontade das partes: greve, motim, guerra.”

Já força maior ocorre por acontecimentos naturais, por exemplo terremotos ou

enchentes.

Segundo Gonçalves (2019, pg. 737) para a configuração do caso fortuito ou de força

maior, deve ver a presença de alguns requisitos.

Na lição da doutrina exige-se, pois, para a configuração do caso fortuito, ou de força

maior, a presença dos seguintes requisitos: a) o fato deve ser necessário, não

determinado por culpa do devedor, pois, se há culpa, não há caso fortuito; e

reciprocamente, se há caso fortuito, não pode haver culpa, na medida em que um

exclui o outro. Como dizem os franceses, culpa e fortuito ces sont des choses que

hurlent de se trouver ensemble; b) o fato deve ser superveniente e inevitável; c) o fato

deve ser irresistível, fora do alcance do poder humano.

O caso fortuito ou de força maior constituem como excludentes de responsabilidade

porque, conforme Gonçalves (2019, pg. 738), afetam a relação de causalidade, rompendo-a,

entre o ato do agente e o dano sofrido pela vítima.

3.7.8 Cláusula de não indenizar

A cláusula de não indenizar também pode ser conhecida como clausula de

irresponsabilidade.

Para Aguiar Dias, “a cláusula ou convenção de irresponsabilidade consiste na

estipulação prévia por declaração unilateral, ou não, pela qual a parte que viria a

obrigar-se civilmente perante outra afasta, de acordo com esta, a aplicação da lei

comum ao seu caso. Visa anular, modificar ou restringir as consequências normais de

um fato da responsabilidade do beneficiário da estipulação” (Da responsabilidade, cit.,

t. 2, p. 702, n. 216). (GONÇALVES 2019, pg. 744 apud DIAS)

Além disso, é um acordo feito entre as partes convencionando ou não a obrigação de

reparação, podendo anular, modificar ou restringir as consequências do fato danoso.

Page 53: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

52

4 RESPONSABILIDADE CIVIL DAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS EM

FRAUDES DE BOLETO NO SISTEMA SELF-SERVICE

As instituições financeiras respondem, de forma objetiva, a eventuais danos a seus

clientes, tal qual será discutido a seguir onde serão apresentadas as legislações aplicadas aos

casos de fraudes no âmbito virtual, como também as jurisprudências acerca do tema.

4.1 FRAUDES NO ÂMBITO VIRTUAL: BOLETO FRAUDADO

As fraudes no âmbito virtual acontecem constantemente, como já citado neste trabalho,

as instituições financeiras devem ter um rigoroso sistema de segurança contra possíveis fraudes

virtuais no internet banking ou aplicativos oficiais das instituições, pois as informações de

clientes que eventualmente “vazem” pode causar um transtorno para ambas as partes.

Os Hackers diariamente tentam achar “furos” nos sistemas de segurança, roubando

dados de clientes e modificando a programação do internet banking ou aplicativo para realizar

certas operações diversas daquela com a programação originária feita pelas instituições.

No caso do presente tema, ocorre da seguinte maneira, o criminoso invade o sistema de

segurança financeiro modificando a operação no internet banking de gerar boletos, esta

modificação afeta o código de barras onde o cliente de boa-fé e totalmente inocente gera através

do sistema self-service (autoatendimento) e realiza o pagamento através do código extraído do

aplicativo ou internet banking vicioso da instituição financeira, entretanto, este pagamento

entra diretamente a alguma conta do criminoso e não a instituição financeira.

Mas de quem é a responsabilidade da reparação civil? Do criminoso? Do cliente que

utilizou o atendimento remoto? Ou da instituição financeira que não atualizou seus protocolos

de segurança e aceitou este criminoso como cliente? Qual a legislação aplicável? E os

entendimentos jurisprudenciais?

As seguintes perguntas irão ser respondidas ao longo dos próximos tópicos.

4.2 LEGISLAÇÃO APLICÁVEL

A legislação brasileira carece de leis específicas, tanto esfera criminal quanto civil, para

acontecimentos no âmbito virtual/digital, assim ao tratarmos sobre a responsabilização dos

acontecimentos na esfera virtual, em muitos casos, vem de entendimentos jurisprudências e de

alguns artigos esparsos da legislação brasileira.

Page 54: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

53

Na própria Constituição Federal Brasileira, artigo 5º, inciso V, é assegurado a

indenização e a reparação civil.

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-

se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à

vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...)

V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização

por dano material, moral ou à imagem;

Principalmente na esfera civil, a responsabilização dessas fraudes virtuais, das

instituições financeiras, são regidas através de entendimentos dos artigos que tratam sobre

responsabilidade civil no código civil.

O primeiro artigo que pode ser tratado, o qual já fora citado neste trabalho, é o artigo

186 que define a reparação e indenização de um evento danoso ao cometer ato ilícito.

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,

violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato

ilícito.

Outro artigo que é aproveitado e utilizado do Código Civil, é o artigo 927, que também

já foi citado. O artigo define a responsabilidade subjetiva, caput, e objetiva, parágrafo único.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica

obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,

nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo

autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.

Já a aplicação do código consumerista às instituições financeiras é sumulada pelo

Superior Tribunal de Justiça.

SÚMULA N. 297. O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições

financeiras

Assim, ao tratar sobre as instituições financeiras aplica-se também alguns artigos do

código consumerista.

As instituições financeiras se enquadram como prestadores de serviços disposto no

artigo 3º.

Page 55: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

54

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou

estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de

produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,

distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.

Assim como no Código Civil, o código consumerista traz a obrigação da reparação dos

danos materiais e morais como direito básico do consumidor.

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais,

coletivos e difusos;

O Código de Defesa do Consumidor também aborda as categorias da responsabilidade

civil, em seu artigo 14 aborda sobre a responsabilidade objetiva.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de

culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à

prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre

sua fruição e riscos.

Tratando sobre a responsabilidade objetiva é esta categoria que as instituições

financeiras se enquadram, em caso de danos que são gerados por fortuito interno em relação a

fraudes e delitos. O Superior Tribunal de Justiça tem por esse entendimento jurisprudencial,

conforme sumula 479.

Súmula 479 - As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos

gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no

âmbito de operações bancárias.

Assim como já abordado no início desde trabalho acerca da segurança que as instituições

financeiras devem ter, o BACEN (Banco Central do Brasil) estabeleceu em sua resolução nº

3.694/09 sobre a prevenção de riscos na contratação de operações e na prestação de serviços

por parte de instituições financeiras e demais instituições autorizadas.

O artigo 1º, inciso II, define a obrigação das instituições financeiras de assegurar a

integridade, a confiabilidade, a segurança e o sigilo das operações realizadas no âmbito interno

das instituições.

Art. 1º As instituições financeiras e demais instituições autorizadas a funcionar pelo

Banco Central do Brasil, na contratação de operações e na prestação de serviços,

devem assegurar:

Page 56: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

55

II - a integridade, a confiabilidade, a segurança e o sigilo das transações realizadas,

bem como a legitimidade das operações contratadas e dos serviços prestados;

Neste sentido, a responsabilidade civil das instituições financeiras em causa de fraudes,

sendo virtual ou não, é contratual categorizada como objetiva, devendo assim ter a obrigação a

reparação e indenização por danos gerados por terceiros, independentemente da existência da

culpa ou não.

4.3 ANÁLISE DE JULGADOS

Conforme a legislação aplicável, a qual fora citada, e a falta de legislação específica

para com o tema, boa parte das decisões judiciais são com base em entendimentos de julgados,

tais quais serão expostos neste tópico.

Muitas das ações que são ingressadas contra as instituições financeiras, em causa de

fraudes virtuais, têm como principal base a reparação do dano material e a indenização ao dano

moral, conforme o entendimento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, os serviços prestados

pelas instituições financeiras são de total responsabilidade desta.

RECURSO INOMINADO - BANCÁRIO - DANOS MORAIS E MATERIAIS -

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS EDUCACIONAIS - CELEUMA

RELACIONADA AO PAGAMENTO DA MENSALIDADE DE JUNHO/18 -

SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA - INSURGÊNCIA AUTORAL -

CAPTURA DO BOLETO RESPECTIVO NO SITE DA INSTITUIÇÃO DE

ENSINO UNISUL E QUITAÇÃO EM CASA LOTÉRICA - SUPOSTA

"CLONAGEM DE BOLETO" NÃO COMPROVADA PELA CASA BANCÁRIA -

ÔNUS QUE LHE INCUMBIA (ART. 373, I, DO CPC) - EVENTUAL

INCONSISTÊNCIA NO PROCESSAMENTO DO PAGAMENTO NÃO

ATRIBUÍVEL À AUTORA - RESPONSABILIDADE DA INSTITUIÇÃO

FINANCEIRA - CULPA IN ELIGENDO - FALHA MANIFESTA NA

PRESTAÇÃO DO SERVIÇO - CIRCUNSTÂNCIA ULTRAPASSOU OS

LIMITES DO MERO ABORRECIMENTO - FALHA QUE RESULTOU NA

NECESSIDADE DA RECORRENTE DE COMPARECER: A DELEGACIA DE

POLÍCIA PARA LAVRATURA DO BOLETIM DE OCORRÊNCIA; UMA VEZ

NA CASA LOTÉRICA PARA AVERIGUAR O OCORRIDO; DUAS VEZES AO

BANCO RÉU; NA UNISUL NO SETOR DE COBRANÇA, DE MATRÍCULAS E

NO JURÍDICO - TEMOR SOFRIDO PELA IMINÊNCIA DA PERDA DA BOLSA

DO PROUNI - VIA CRUCIS COMPROVADA - ABALO ANÍMICO

CONFIGURADO E ARBITRADO EM R$ 4.000,00 (QUATRO MIL REAIS)

CONFORME OS PARÂMETROS DESTA TURMA RECURSAL - SENTENÇA

REFORMADA NO PONTO - RECURSO PROVIDO. (TJSC, Recurso Inominado n.

0304489-06.2018.8.24.0075, de Tubarão, rel. Luis Francisco Delpizzo Miranda,

Primeira Turma Recursal, j. 24-09-2020). (grifo meu)

No caso acima a vítima utilizou-se do sistema self-service de uma instituição de ensino

a qual tinha parceria para pagamento via uma instituição financeira, ao gerar o boleto ocorreu

a fraude no código de barras, segundo o entendimento jurisprudencial a responsabilidade foi da

Page 57: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA TAYNARA …

56

instituição financeira ao falhar com a prestação de serviços contratada, logo coube a tal

instituição financeira a reparação de dano material e reparação ao dano moral, pois não se

tratava de um mero aborrecimento.

O Tribunal de Justiça de Santa Catarina julgou neste ano um processo com fatos,

relativamente, parecido com os da decisão supracitada, também responsabilizando a instituição

financeira de forma objetiva.

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA

DE DÉBITO C/C DANOS MORAIS. INTERLOCUTÓRIO QUE INDEFERIU

PEDIDOS DE SUSPENSÃO DA EXIGIBILIDADE DAS PARCELAS DO

CONTRATO E DE ABSTENÇÃO DE NEGATIVAÇÃO DO AGRAVANTE.

PAGAMENTO ANTECIPADO DE DÍVIDA DE FINANCIAMENTO

CONTRATADO PERANTE A AGRAVADA. EMISSÃO DE BOLETO COM

DADOS DO AGRAVANTE, DA AGRAVADA E DO CONTRATO.

PAGAMENTO QUE REVERTEU EM BENEFÍCIO DE TERCEIRO. FRAUDE

NA EMISSÃO DO BOLETO. NÃO DEMONSTRAÇÃO DE FALTA DE

DILIGÊNCIA POR PARTE DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE

OBJETIVA DA INSTITUIÇÃO FINANCEIRA. FORTUITO INTERNO.

AGRAVANTE VÍTIMA DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO.

MANUTENÇÃO DO PAGAMENTO E INSCRIÇÃO EM ROL DE MAUS

PAGADORES DANOSAS AO AGRAVANTE E CUJA SUSPENSÃO NÃO

PREJUDICA A AGRAVADA. MEDIDAS REVERSÍVEIS CASO A INSTRUÇÃO

APONTE SOLUÇÃO DIVERSA. REQUISITOS DO ART. 300 DO CPC

PRESENTES. DECISÃO REFORMADA. RECURSO PROVIDO. (TJSC, Agravo

de Instrumento n. 5004017-19.2021.8.24.0000, do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina, rel. Marcus Tulio Sartorato, Terceira Câmara de Direito Civil, j. 27-04-

2021). (grifo meu)

Um boleto foi gerado, entretanto o código de barras estava fraudado ocorrendo o dano

material a vítima, o relator da decisão entendeu como logo acima, a responsabilidade foi

objetiva sendo obrigada a reparar e indenizar o dano causado.

Porém não é apenas o Tribunal de Santa Catarina que julgou casos semelhantes, no

Tribunal de Justiça de Minas Gerais, ocorreu uma falha de segurança no internet banking da

instituição financeira causando uma fraude a sua cliente gerando obrigações reparatórias.

INSTITUIÇÃO FINANCEIRA - FALHA DO SERVIÇO -

RESPONSABILIDADE CIVIL CARACTERIZADA - SENTENÇA MANTIDA.

Ao disponibilizar a realização de transações bancárias pela internet, prometendo

segurança, responsabiliza-se civilmente a instituição financeira pelos prejuízos

sofridos por correntistas que tiverem suas contas invadidas por hackers. (TJMG

- Apelação Cível 1.0035.06.082957-5/003, Relator(a): Des.(a) Antônio de Pádua ,

14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 22/08/2007, publicação da súmula em

10/09/2007) (grifo meu).

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O Tribunal de Justiça de São Paulo já julgou acerca da meteria mantendo o entendimento

jurisprudencial dos demais tribunais citados.

RESPONSABILIDADE CIVIL. Danos materiais e morais. Defeito na prestação

do serviço bancário. Movimentações financeiras indevidas realizadas pela

internet. Falha na segurança do serviço bancário disponibilizado aos

correntistas. Verossimilhança das alegações dos consumidores no que tange às

operações impugnadas e que importaram em transferências indevidas pela internet no

valor de R$55.598,64. Admissibilidade da inversão do ônus probatório no caso.

Negligência do banco evidenciada. Ressarcimento determinado. Consideração de

que, conquanto tenha alegado a instituição financeira que as operações bancárias

contestadas foram realizadas mediante a utilização de senha secreta, token[senha

provisória gerada on line] e QR Code, não produziu prova eficaz neste sentido.

Culpa exclusiva dos correntistas não evidenciada. Negligência do banco evidenciada.

Responsabilidade civil configurada. Danos morais caracterizados. Consideração de

que houve também a indevida inclusão do nome da pessoa jurídica autora no cadastro

de inadimplentes. Indenização por danos morais, arbitrada em R$ 10.000,00,

preservada. Aplicação ao caso da diretriz traçada na Súmula n. 479, do Superior

Tribunal de Justiça. Pedido inicial julgado procedente. Sentença mantida. Recurso

improvido. (1010351-91.2019.8.26.0602/SP) (grifo meu).

Neste sentido, o cliente foi lesado por falha de segurança online, sendo assim

responsabilizado a reparação tanto material quanto moral.

O mesmo Tribunal decidiu que a responsabilidade da instituição financeira é objetiva

ao se tratar tanto do acesso de terceiros quanto a proteção dos dados, a qual este teve acesso.

Indenizatória por danos materiais Transações fraudulentas em conta bancária da

autora, após receber telefonema de pessoa que se passou por funcionário do banco

réu, informando a necessidade de atualização do aplicativo do internet banking

Cerceamento de defesa Inocorrência Provas produzidas autorizavam o julgamento

antecipado do mérito, sem necessidade de dilação probatória- Aplicação da legislação

consumerista (súmula 297 do STJ)– Responsabilidade objetiva da ré As instituições

financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno

relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações

bancárias (Súmula 479 do STJ) Fraudador se passou por preposto da instituição

financeira e conhecia dados pessoais e sigilosos da autora - Falha no sistema de

segurança da instituição financeira - Inexistência de culpa exclusiva ou

concorrente da autora Necessidade de ressarcimento integral dos prejuízos

materiais causados à autora Sentença reformada. Recurso da autora provido, negado

o recurso do réu. (1043914-30.2019.8.26.0100/SP) (grifo meu).

Os Tribunais de Justiça brasileiros têm por este posicionamento, ou seja, não há no que

se discutir se houve culpa ou não da instituição financeira, estas respondem objetivamente por

todos os danos causados a seus clientes causados por terceiros no âmbito digital.

dd

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5 CONCLUSÃO

A presente monografia teve como principal escopo analisar a possibilidade da

responsabilização civil das instituições financeiras no âmbito virtual, ou seja, na internet,

através de aplicativos e internet banking oferecidos por esta, em caso de fraudes, em especial a

de boletos bancários gerados por estas através destas plataformas.

A internet teve por seu marco inicial o ano de 1969, constituído primeiramente como

uma função militar, um sistema de comunicação impenetrável o qual somente os Estados

Unidos tinham conhecimento, entretanto ao longo dos anos a internet foi evoluindo até termos,

atualmente, qualquer acesso a ela.

As instituições financeiras tendo por seu maior objetivo a prestação de serviços a seus

clientes e evoluindo acerca do tempo, começou a utilizar a internet como forma de atendimento

a seus clientes de forma remota criando aplicativos e internet banking para atender seus clientes

de forma mais fácil e rápida, sem a necessidade de precisar ir as agencias para fazer simples

operações bancárias, conhecido no Brasil como sistema self-service ou autoatendimento.

A especialidade do trabalho se desenvolveu com a responsabilidade civil das instituições

financeira, principalmente através da emissão dos boletos bancários, este é um título de crédito

causal, entretanto não se caracteriza como tal, ou seja, tem sua equiparação a duplicatas logo

teoricamente e legislativamente não é um título de crédito, ocorrendo a fraude na modificação

do código de barras do documento gerando danos a vítima.

Trazendo-se os conceitos acerca da responsabilidade civil para o tema, buscou-se

estudar acerca da obrigação a reparação e indenização por danos decorrentes de terceiros

mediante fraudes nas plataformas virtuais.

Após o estudo a cada tópico deste trabalho, nota-se que as instituições financeiras têm

a responsabilidade objetiva a reparação do dano de terceiros em suas plataformas digitais, ou

seja, não há discussão acerca da culpa.

Entretanto, carece de legislação específica acerca das ações em meios virtuais,

necessitando de entendimentos e utilização de legislações genéricas do direito brasileiro, além

análise à entendimentos jurisdicionais.

Ainda sobre as legislações aplicáveis e entendimentos jurisprudencial, o Superior

Tribunal de Justiça deixa claro em entendimento sumulado, sumula 479, que as instituições

respondem objetivamente por atos de terceiros por danos gerados por fortuito interno.

Mas, conforme já mencionado, o direito brasileiro carece de legislação específica, tanto

que o Superior Tribunal de Justiça em sua sumula não define o que seria o fortuito interno, não

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citando os sistemas virtuais ou atos virtuais, cabendo os magistrados discutirem acerca do tema

se é ou não um fortuito.

Para a autora deste trabalho monográfico o tema em questão é de grande importância,

visto que em legislação brasileira é pouco citado, entretanto os tribunais estão abarrotados de

processos judiciais acerca dessa matéria.

As questões que mais chamaram a atenção da autora foram as quantidades de casos os

quais buscam recurso, pois na maioria dos casos estudados nos juízes de primeiro grau o

indeferimento ao dano é um tanto quanto peculiar, onde há a aplicação dos entendimentos dos

demais tribunais em sede recursal, provendo assim a obrigação das instituições financeiras.

Entretanto, os juristas e doutrinadores discorrem pouco acerca do tema específico, até

mesmo, os estudantes de direito não conhecem acerca do tema pela falta de discussão.

Verifica-se que o presente trabalho alcançou seus devidos objetivos, visto que cabe a

instituição financeira zelar pela privacidade e seguranças de seus clientes cabendo está a

obrigação de reparar objetivamente os danos por fraudes em seus sistemas virtuais, em especial

a fraude nos códigos de barras dos boletos fraudulentos.

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