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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DÉBORA VICTORETI DEMAY PECULIARIDADES NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE PACIENTES COM SÍNDROME DE DOWN Tubarão 2020

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

DÉBORA VICTORETI DEMAY

PECULIARIDADES NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE

PACIENTES COM SÍNDROME DE DOWN

Tubarão

2020

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DÉBORA VICTORETI DEMAY

PECULIARIDADES NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE

PACIENTES COM SÍNDROME DE DOWN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Odontologia da Universidade do

Sul de Santa Catarina como requisito parcial à

obtenção do título de Bacharel em

Odontologia.

Orientadora: Prof. ª Sandra Teixeira Bittencourt, Msc

Tubarão

2020

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DÉBORA VICTORETI DEMAY

PECULIARIDADES NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE

PACIENTES COM SÍNDROME DE DOWN

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

ao curso de Odontologia da Universidade do

Sul de Santa Catarina como requisito parcial

à obtenção do título de Bacharel em

Odontologia.

Tubarão, 06 de Julho de 2020.

Professora e orientadora Sandra Teixeira Bittencourt, Msc. Universidade do Sul de Santa Catarina

Prof. Wladimir Vinicios Pimenta, Msc.

Universidade do Sul de Santa Catarina

Prof. Aires Antonio de Souza Junior, Esp.

Universidade do Sul de Santa Catarina

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Gostaria de dedicar este trabalho a toda minha

família, em especial minha mãe, meu pai e

meu irmão, por fazerem o possível e o

impossível por mim.

Page 5: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DÉBORA …

AGRADECIMENTOS

Gratidão e admiração pelos ensinamentos da “Tia Sandra” que me mostrou o

quanto é incrível o mundo da odontopediatria. Ela me permitiu ser sua paciente durante 21

anos, sempre me incentivando. Também sou grata por ter me aceito como orientanda. Você é

meu maior exemplo na área para seguir esse caminho.

Grata a todos os professores que fizeram parte dessa minha jornada. Grata aos

professores que aceitaram ser minha banca e me auxiliar. Grata ao professor Wladimir por

abrir as portas do seu consultório e me mostrar a rotina de um odontólogo.

Grata pela minha família, por sempre me fazer seguir em frente e nunca me deixar

desistir de ser uma cirurgiã dentista. Grata pelos melhores vizinhos que eu tive até hoje, tia

Carol, Raulzinho e tio Ka. Obrigada pela paciência que tiveram comigo e por todo apoio.

Grata pela minha mãe e pelo meu pai, que estiveram sempre comigo, que nunca mediram

esforços para me fazer ser o que sou hoje. Por não me deixarem faltar nada. Na saúde ou na

doença, para sempre.

Grata pelo meu irmão que me atura até quando não quer, que topa minhas

loucuras e me deixa de cabelo em pé, afinal, irmão é para isso, sempre vou protegê-lo. Grata

pelo meu namorado, Bruno, pela cumplicidade que temos e por todo apoio. Por me aturar nos

bons e nos maus momentos. Grata por todas as crianças que cuidei como babá. Grata por esse

mundo mágico da pediatria que me encantou. Espero nunca ter que desistir dessa área da qual

sou apaixonada.

Grata pelas amizades que fiz durante a faculdade, pelos amigos que ganhei e que

irão fazer muita falta. Grata às duas duplas de faculdade mais importantes que eu poderia ter,

Arthur e Polly, pelo trabalho de apoio e ajuda, pelos olhares de “me salva” quando o professor

falava algo que não entendíamos, por quando esquecíamos algum material ou por quando

víamos um caso que nunca tínhamos visto. Grata pelos salvamentos e palavras de calma e

conforto em procedimentos de cirurgia, pelos momentos pré clínica em que o jato de água era

nossa melhor arma e pela parceria.

Grata pelas minhas amigas de escola, pelas memórias que tenho, por estarem

sempre presente. Saudades da rotina de ensino médio e fundamental. Saudades delas. Grata

pelo meu anjo, Vô Celso, que lá do céu faz seu trabalho de me cuidar, me abençoar e me

iluminar todos os dias. Grata por ter me ensinado tanto.

Gratidão por todas as oportunidades. Gratidão pela vida.

Page 6: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DÉBORA …

“Talento é dom, é graça. E sucesso nada tem a ver com sorte, mas com determinação

e trabalho” (AUGUSTO BRANCO, 2018).

Page 7: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DÉBORA …

RESUMO

Esta monografia propõe por objetivo analisar, através de revisão bibliográfica, as

características gerais e orais de pacientes com Síndrome de Down, assim como no manejo e

nas técnicas de atendimento. Os pacientes portadores desta Síndrome, que possuem um

cromossomo extra no par 21, apresentam uma elevada incidência de alterações sistêmicas e

orofaciais e necessitam de um tratamento diferenciado na odontologia, isso os torna pacientes

únicos. São características orais pertencentes a esse grupo: a macroglossia ou

pseudomacroglossia; a língua fissurada; palato em forma de ogiva ou em V; e grande

incidência de doença periodontal. Na abordagem ao paciente com síndrome de Down, é

necessário adotar técnicas e estratégias que possam trazer um atendimento odontológico mais

humanizado, e o cirurgião dentista deve procurar estabelecer um vínculo afetivo, criando um

ambiente seguro e de confiança, para assim, obter maior colaboração do paciente no

tratamento.

Palavras-chave: Anomalia. Odontologia. Síndrome de Down.

Page 8: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DÉBORA …

ABSTRACT

This monograph applies to the objective of analyzing, through bibliographic review, as

general and oral resources for patients with Down Syndrome, as well as no treatment and

attendance techniques. Patients with this syndrome, who have an extra chromosome in pair

21, have a high incidence of systemic and orofacial changes and use different treatment in

dentistry, these patients being affected. Oral characteristics belonging to this group are: a

macroglossia or pseudomacroglossia; a fissured tongue; warhead or V-shaped palate; and a

high incidence of periodontal disease. In approaching the patient with Down syndrome, it is

necessary to adopt techniques and strategies that can bring a more humanized dental care, and

the dental surgeon must seek an affective bond, create a safe and trusting environment and,

thus, obtain greater patient collaboration. in treatment.

Keywords: Anomaly. Dentistry. Down syndrome.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 10

2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 12

2.1 OBJETIVO GERAL .................................................................................................... 12

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ....................................................................................... 12

3 METODOLOGIA ........................................................................................................ 13

4 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................................... 14

4.1.1 A SÍNDROME DE DOWN....................................................................................... 14

4.1.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS ............................................................................... 14

4.2 CARACTERÍSTICAS ODONTOLÓGICAS ESPECÍFICAS....................................... 15

4.2.1 MACROGLOSSIA ................................................................................................... 15

4.2.2 LÍNGUA FISSURADA ............................................................................................ 16

4.2.3 PALATO .................................................................................................................. 16

4.2.4 DENTIÇÃO .............................................................................................................. 16

4.2.5 DOENÇA PERIODONTAL ..................................................................................... 17

4.2.6 LESÕES DE CÁRIE ................................................................................................. 17

4.3 MANEJO DO PACIENTE .......................................................................................... 18

5 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 22

6 CONCLUSÃO .............................................................................................................. 26

7 REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 27

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1 INTRODUÇÃO

A Síndrome de Down foi descrita pela primeira vez pelo médico inglês John

Longden Hyden Down, em 1866, sendo também designada naquela época de “idiotia

mongoliana”, devido às semelhanças físicas com a raça mongólica. Mas foi apenas em 1959

que LeJeune e Jacobs demonstraram que esta Síndrome resultava da presença de um

cromossomo extra no par 21, daí o termo Trissomia 21, provocando uma anomalia física e

mental manifestada em vários graus (CARVALHO; CAMPOS; REBELLO, 2010; DESAI,

1997; GONZÁLEZ-AGÜERO et al., 2009; OLIVEIRA et al., 2010; SILVA; DESSEN, 2002;

WUO, 2007).

Os fatores etiológicos que levam ao nascimento de crianças com essa desordem

genética ainda não foram totalmente definidos. Um dos fatores mais frequentemente

associado a essa Síndrome é a idade da mãe, devido ao envelhecimento dos óvulos, o que os

torna mais propensos a alterações. Assim, quanto mais velha for a mãe, maior será a

probabilidade de ter um filho com Síndrome de Down, o que não exclui a possibilidade de

incidência desta desordem em crianças com mães mais jovens (SCHWARTZMAN, 1999;

SILVA; DESSEN, 2002).

Clinicamente pode-se observar nos pacientes com Síndrome de Down uma

dismorfia craniofacial e braquicefalia - cabeça desproporcionalmente grande; rosto

tipicamente hipotônico; a língua tornando-se visível e com a boca permanecendo aberta-

macroglossia relativa; face achatada (base nasal achatada); prega da pele no ângulo interno do

olho (orientação mongolóide das fendas palpebrais) – epicanto; má formação dos pavilhões

auriculares; região occipital achatada; pescoço curto e achatado; baixa estatura podendo-se

observar mãos e pés pequenos e largos (membros curtos); com braquidactilia (dedos curtos e

grossos) e clinodactilia (curvado), especialmente no quinto dedo; pode-se observar também

nariz em forma de sela (CARVALHO; CAMPOS; REBELLO, 2010; MACHO et al., 2008;

MORAES et al., 2007; SANTANGELO et al., 2008; SILVA; DESSEN, 2002).

Esses pacientes especiais, entre os quais estão inclusos os pacientes com

Síndrome de Down, possuem uma série de alterações orais, funcionais e um déficit cognitivo

que podem dificultar os cuidados de saúde e higiene oral (GANEM, 2011; SANTANGELO et

al., 2008).

São observadas nos pacientes com Síndrome de Down inúmeras alterações orais

ao nível do palato, da língua, dos lábios, dos dentes e na saliva. Os hábitos deletérios e a má

oclusão devem também ser considerados como aspetos muito importantes na avaliação buco-

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dental de pacientes com Síndrome de Down (DESAI, 1997; CARVALHO; CAMPOS;

REBELLO, 2010; MACHO et al., 2008; SANTANGELO et al., 2008).

Compreender e interpretar a personalidade do paciente infantil com

Síndrome de Down é fundamental na relação de confiança entre o cirurgião-dentista, paciente

e até família, pois irá favorecer um tratamento tranquilo e com resultados positivos

(KALTENBACH, 1999). E Pilcher (1998), complementa que o cirurgião dentista deve

direcionar a sua abordagem ao nível da compreensão e da comunicação da criança.

Nesta perspectiva, estima-se que hoje, no Brasil, exista pequeno número de

profissionais da área odontológica que atendam esses pacientes. Além disso, o tratamento

odontológico é dificultado pelo pouco conhecimento que possuem das suas principais

características bucais, para determinar os procedimentos clínicos a serem realizados

(SANTANGELO et al., 2008).

Visando um atendimento com conhecimento e qualidade pelos cirurgiões dentistas

a esses pacientes, os quais requerem alguns cuidados especiais, o objetivo deste trabalho foi

descrever, com base na literatura, as características e peculiaridades no atendimento

odontológico a pacientes com Síndrome de Down.

.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Encontrar as características e as peculiaridades voltadas ao atendimento

odontológico de pacientes com Síndrome de Down, descritos com base na literatura.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Relatar as principais características da Síndrome de Down relacionadas à

odontologia;

Descrever o manejo adequado no atendimento odontológico de pacientes com

Síndrome de Down;

Discutir os desafios do atendimento odontológico destes pacientes.

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3 METODOLOGIA

A metodologia desta obra caracterizou em pesquisa de abordagem qualitativa

fundamentada em análises bibliográficas, com a finalidade de esclarecer os principais

métodos para o atendimento a pacientes com Síndrome de Down na odontologia, e a fatores

correlacionados as características apresentadas por estes indivíduos.

Durante o trabalho, realizou-se uma revisão de literatura narrativa em publicações

de diversos autores, através de livros, artigos científicos, monografias e casos clínicos, os

quais estão disponíveis em bases de dados virtuais: PubMed e Google Acadêmico.

Nas buscas em bases de dados virtuais, os idiomas encontrados foram inglês e

português. Sendo assim, utilizou-se as palavras-chave, em português, “comunicação”,

“odontopediatria”, ''odontologia'' e “Síndrome de Down”. Os termos utilizados em inglês

foram “communication”, “Pediatric Dentistry”, ''odontology'' e “Down Syndrome”.

Os dados necessários para a realização da revisão da literatura foram obtidos

através da leitura de artigos na íntegra, e os dados levantados foram agrupados com o objetivo

de sistematizar os achados. As publicações que estivessem de acordo com o objetivo proposto

no trabalho foram selecionadas para o estudo, com o objetivo de elucidar maiores

conhecimentos sobre o tema.

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4 REVISÃO DE LITERATURA

4.1.1 A SÍNDROME DE DOWN

O termo Trissomia 21, resultou da presença de um cromossomo extra no par 21,

demonstrado por Lejeune e Jacobs em 1959, provocando uma anomalia física e mental

manifestada em vários graus. Porém, em 1866, devido ás semelhanças com a raça mongólica,

a Síndrome já havia sido descrita pelo médico inglês John Logden Hyden Down

(CARVALHO; CAMPOS; REBELLO, 2010; DESAI, 1997; GONZÁLEZ-AGÜERO et al.,

2009; OLIVEIRA et al., 2010; SILVA; DESSEN, 2002; WUO, 2007).

O envelhecimento dos óvulos os deixa mais propensos a alterações, a associação

com a idade da mãe e dos óvulos é um dos fatores endógenos frequentemente associado á

probabilidade de um filho com Síndrome de Down (SCHWARTZMAN, 1999; SILVA;

DESSEN, 2002). A possibilidade desta desordem em mães mais jovens não é excluída. É

importante um aconselhamento genético, sobretudo em mães mais velhas (SANTANGELO et

al., 2008; SILVA; DESSEN, 2002).

4.1.2 CARACTERÍSTICAS GERAIS

Os portadores desta Síndrome apresentam um desenvolvimento facial alterado o

que se deve em parte à hipotonia muscular, que acomete inclusivamente o sistema

estomatognático, hiperflexibilidade de todo o corpo (no lactente e na primeira infância) e

envelhecimento precoce. Estas crianças apresentam normalmente um volume cerebral menor

do que as outras crianças incluindo reduções no córtex parietal e no lobo temporal

(CARVALHO; CAMPOS; REBELLO, 2010; MACHO et al., 2008; MORAES et al., 2007;

SILVA; DESSEN, 2005; WUO, 2007).

A deficiência mental é uma das características mais constantes da Síndrome de

Down e irá variar de indivíduo para indivíduo (MACHO et al., 2008). Os indivíduos com a

Síndrome apresentam déficit de atenção causado por alterações neurológicas; déficit de

memória relacionado com a memória auditiva imediata, o que pode afetar o processamento da

linguagem e apresentar também um déficit na memória a longo prazo (WUO, 2007;

VOVOIDIC, 2004).

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Clinicamente pode-se observar em pacientes com Síndrome de Down, uma

dismorfia craniofacial e braquicefalia; a má formação dos pavilhões auriculares; a região

occipital achatada; o pescoço curto e achatado; a baixa estatura podendo-se observar as mãos

e os pés pequenos e largos, com braquidactilia e clinodactilia (CARVALHO; CAMPOS;

REBELLO, 2010; SANTANGELO et al., 2008; MACHO et al., 2008, SILVA; DESSEN,

2002; MORAES et al., 2007).

São referidas, ainda, alterações do sistema endócrinometabólico (Diabetes

mellitus), envolvendo principalmente as glândulas da tiróide (hipotiroidismo); do sistema

hematológico (leucemia); alterações gastrointestinais e defeitos cardíacos (DESAI, 1997;

SANTANGELO et al., 2008; SANZ-SANCHÉZ; BASCONES-MARTINEZ, 2008).

O imunocompromisso é manifestado em infecções recorrentes especialmente de

caráter respiratório como pneumonia e sinusite (SANZ-SÁNCHEZ E BASCONES-

MARTINEZ, 2008). A apneia obstrutiva do sono também é referida em crianças com

Síndrome de Down e ocorre em 50% dos portadores (CHENG et al., 2011).

4.2 CARACTERÍSTICAS ODONTOLÓGICAS ESPECÍFICAS

4.2.1 MACROGLOSSIA

A macroglossia é observada nestes indivíduos e caracteriza-se por um aumento

excessivo da musculatura da língua. Tem origem congênita, podendo ser determinante no

deslocamento de dentes, má oclusão e nos hábitos orais e deletérios (SANTANGELO et al.,

2008).

Macroglossia pode ser considerada relativa quando o espaço encontrado para o

posicionamento da língua é reduzido, vindo do termo de pseudomacroglossia (CARVALHO;

CAMPOS; REBELLO, 2010). A pseudomacroglossia ou macroglossia ocasiona um

movimento lingual impreciso e lento, dificultando a eficácia da língua na deglutição, na

realização de bochechos, na mastigação e na limpeza natural dos dentes (MACHO et al.,

2008).

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4.2.2 LÍNGUA FISSURADA

A língua fissurada é clinicamente manifestada por numerosos e pequenos sulcos

ou ranhuras no dorso da língua que se irradia do sulco central. Geralmente são assintomáticas,

mas apresentam sintomatologia quando restos alimentares ficam acumulados nesses sulcos,

causando irritação e halitose (CARVALHO; CAMPOS; REBELLO, 2010; DESAI, 1997;

SANZ-SÁNCHEZ; BASCONES-MARTINEZ, 2008).

4.2.3 PALATO

O palato apresenta-se geralmente em forma de ogiva, com arcada em V, forma de

abóboda e ocorre insuficiência de palato mole. Pelo seu hipodesenvolvimento no terço médio

da face há uma redução antero-posterior e vertical do palato (SANTANGELO et al., 2008;

DESAI, 1997).

4.2.4 DENTIÇÃO

Nos pacientes com Síndrome de Down é frequente encontrar na dentição

permanente agenesias dentárias, dentes supranumerários e fusões (CARVALHO; CAMPOS;

REBELLO, 2010; MACHO et al., 2008).

A agenesia dos incisivos laterais é a alteração de número mais frequente na

dentição temporária, enquanto na dentição permanente são os terceiros molares, os segundos

pré-molares e os incisivos laterais (DESAI, 1997; MORAES et al., 2007).

Nas crianças com Síndrome de Down, os dentes decíduos podem erupcionar

tardiamente, iniciando pelos 12 e 14 meses de vida e demorar para os dentes entrarem em

oclusão. A ordem de erupção também costuma ser diferente se comparado a crianças que não

possuem a Síndrome e ainda os dentes permanentes anteriores podem demorar até os 9 anos

de idade para erupcionar (DESAI et al., 1997).

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4.2.5 DOENÇA PERIODONTAL

Há grande predominância de doença periodontal, e isso ocorre devido à flacidez

da articulação dento-alveolar, alteração da função leucocitária e diminuição da higiene oral

por conta da dificuldade motora (SANTANGELO et al., 2008).

A doença periodontal atinge tecidos de sustentação e proteção dos dentes,

podendo levar a mobilidade e reabsorção (MARSH; MARTIN, 2005). O índice de

manifestação nos indivíduos com a Síndrome chega em torno de 30 á 40%, sendo a

periodontite aguda a mais comum (CAVALCANTE et al. 2009).

A doença periodontal é agravada decorrente da imunossupressão, tendo estes, as

células de defesa menos eficientes. (GOMES; RIBEIRO, 2009).

4.2.6 LESÕES DE CÁRIE

Castilho e Marta (2010) realizaram uma pesquisa de campo analisando 24

indivíduos com Síndrome de Down, com idade entre um e 48 anos, que teve como objetivo

identificar a incidência de cárie por meio dos índices CPO-D, CPO-S (cariados, perdidos e

obturados por superfície), CEO-D (dentes decíduos cariados, extração indicada e obturados) e

CEO-S (superfície de dentes decíduos cariados, com extração indicada e obturados) dos

pacientes regularmente matriculados em um programa preventivo. Os resultados mostraram

uma baixa incidência de cárie dentária nos indivíduos com Síndrome e de novas lesões,

mostrando, assim, que mantê-los em programas de prevenção auxilia-os na qualidade de vida.

Seguindo este caminho, Areias et al., (2011) realizaram um estudo transversal

com o objetivo de caracterizar os fatores ambientais e os hospedeiros associados à cárie em

pacientes com a Síndrome de Down e seus irmãos sem a Síndrome, com idades entre 6 e 18

anos. Logo, verificaram que quanto maior a idade do paciente, maior é a exposição dos dentes

aos fatores cariogênicos, e que hábitos de higiene e padrões alimentares estão diretamente

relacionados a prevalência de cárie. Esse estudo pôde mostrar que as crianças portuguesas

com Síndrome de Down apresentam uma menor prevalência de cárie comparada às crianças

sem Sídrome. A ingestão de alimentos doces e ácidos foi semelhante entre as crianças com e

sem Síndrome de Down, mostrando que a dieta não é responsável pela diferença no que se

refere à prevalência de cárie entre os dois grupos. Os hábitos de higiene podem explicar a

diferença das taxas, já que os pacientes com Síndrome de Down apresentam maior dificuldade

Page 18: UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA DÉBORA …

18

em realizar a escovação dos dentes sozinhos, precisando da supervisão dos pais, o que torna a

escovação mais eficiente. Outro fator que pode interferir na prevalência da cárie é a erupção

tardia dos dentes, visto que estão expostos a fatores cariogênicos por um menor período de

tempo. Os autores concluíram que as crianças que tem Síndrome de Down tem menores taxas

de cárie em relação às crianças que não apresentam a Síndrome, e que isto poderia estar

relacionado ao retardo na erupção dental, a maior preocupação dos pais com a saúde bucal

dos filhos e os hábitos de higiene.

Uma uma pesquisa de campo realizada com o intuito de relacionar a presença de

cárie com o Ph salivar das pessoas com Síndrome de Down, dividindo os pacientes em dois

grupos: um composto por pacientes com a Síndrome e o outro como grupo controle, que não

apresentava a Síndrome, com a idade de 13 à 26 anos. Os resultados em relação ao Índice

Gengival com os pacientes da Síndrome foi de 2% e em relação ao Índice de O’Leary foi

56%. No grupo de pacientes que não apresentam a Síndrome, os valores foram maiores que

1% em relação ao Índice Gengival e no Índice de O’Leary 49%. Ao avaliar a condição de

saúde bucal, ambos os grupos obtiveram o valor de 4,5, indicando o índice de cárie CPO-D

alto de acordo com a Organização Mundial da Saúde. O Ph dos pacientes com Síndrome de

Down teve uma variação entre cinco e sete, variando entre a referência normal de Ph 6,5. No

grupo com Síndrome de Down a prevalência de cárie foi de 60,5% e no grupo de pacientes

que não apresentam a Síndrome foi de 62,8%. Concluíram então que não há relação entre o

Ph e cárie dentária em nenhum dos dois grupos avaliados (BARRIOS et al., 2014).

Mansur (2019) realizou uma pesquisa em crianças com Síndrome de Down na

cidade de Ajdabiya, na Líbia, avaliando o índice de cárie em crianças com a Síndrome quando

comparadas ao grupo controle. O resultado apontou um menor índice de cárie nas crianças

com a Síndrome de Down quando comparadas ao grupo controle. O autor apontou que

possíveis motivos seriam a erupção tardia, microdontia, agenesias e dentição com espaços

interdentários. Além disso, o baixo índice da doença cárie em crianças nestes pacientes

também pode devido ao seu alto Ph salivar e níveis de bicarbonato. A maior preocupação por

parte dos pais com a saúde bucal das crianças, por estas apresentarem deficiências, pode

também contribuir para esses achados.

4.3 MANEJO DO PACIENTE

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19

A anamnese apresenta papel fundamental dentro da abordagem odontológica,

através dela que o cirurgião dentista obtém informações do início da gravidez até o momento

atual, podendo, assim, analisar a relação entre mãe e filho no aspecto psicossocial e na

importância do vínculo profissional-pais-paciente (CORREA PIRES, 2002).

Além de uma anamnese bem detalhada, é essencial que haja uma relação de

confiança entre as partes. O profissional precisa conhecer a história individual e médica do

paciente, observando suas limitações e comportamento, assim como os de sua família. Além

disso, segundo os autores, a família precisa ser informada sobre a importância da sua

participação e sobre sua conduta e à saúde do paciente (CANCINO et al., 2005).

O planejamento do paciente deve ser divido em quatro partes: Fase sistêmica, a

qual investiga os dados sobre a saúde geral do paciente, sendo possível solicitar exames

complementares a fim de auxiliar no planejamento; Fase preparatória, a qual permite a

adequação do meio bucal, proposição de mudanças nos hábitos do paciente e seus familiares e

remoção de focos de infecção; Fase restauradora, a qual ocasiona o restabelecimento da forma

e função dos dentes, proporcionando uma correta oclusão; Fase de manutenção, a qual se

encarrega de realizar visitas periódicas ao cirurgião dentista, a fim de preservar a saúde bucal

(RODRIGUES; CORREA, 2005).

O tratamento dentário de crianças com Síndrome de Down é quase que totalmente

preventivo, tornando-se necessário a criação de um protocolo clínico. Um organograma de

prevenção oral aos pacientes com Síndrome de Down foi organizado no que diz: 1° Consulta:

Consulta com os pais ou responsáveis para orientar sobre hábitos de higiene oral, dieta e

estado geral, quando é importante terem contato com profissionais da equipe multidisciplinar

envolvido com o paciente; 2° Consulta: motivar os responsáveis para a higiene oral da criança

e sensibilizá-los ao tratamento odontológico; 3° Consulta: Aplicar revelador de placa, realizar

a profilaxia e introduzir uma técnica de escovação descomplicada ao paciente com o objetivo

de obter uma higiene oral mais completa e satisfatória; 4° Consulta: elaborar o plano de

tratamento, reforçando a higiene oral e a técnica ensinada nessa consulta e nas próximas.

(ELIAS, 1995)

O cirurgião dentista deverá considerar se o atendimento será realizado em

ambiente ambulatorial ou hospitalar sob anestesia geral. Já que pacientes com Síndrome de

Down raramente necessitam de atendimento hospitalar, pois com uso de técnicas de

gerenciamento comportamental não farmacológicas geralmente é possível obter a colaboração

do paciente (HADDAD, 2007).

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20

Técnicas de manejo comportamental são necessárias e indispensáveis para o

conforto e segurança do paciente durante o atendimento, e caso estas não atinjam seu

propósito desejado, é necessário fazer uso das técnicas de contenção mecânica, com utilização

de equipamentos específicos. Pode-se dispensar, na maioria das vezes, o uso de anestesia

geral em um ambiente hospitalar para se realizar o tratamento odontológico (BRANDÃO et

al., 2011).

O atendimento de pacientes com Síndrome de Down devem ser sempre realizados

em dupla (cirurgião e auxiliar), e na presença do responsável pelo paciente. O tempo de

consulta, se possível, não deverá ultrapassar de 30 minutos, e o profissional terá que impor

limites ao paciente, não permitindo que este mexa nos equipamentos, instrumentais e

materiais. Materiais como micromotor, caneta de alta rotação, equipamentos de contenção

física, sugador de saliva e abridor de boca devem estar sempre disponíveis e ao alcance do

dentista, e o consultório deve ser equipado com todo arsenal necessário para caso haja uma

possível emergência (HADDAD, 2007).

Para corroborar essa idéia, apresentar fisicamente as partes do consultório aos

pacientes com Síndrome de Down é uma boa dinâmica física, sendo bem estruturada e com o

profissional sempre no domínio da situação. A utilização de jogos do qual a criança vivencia

o tratamento odontológico é uma boa alternativa para uma dinâmica lúdica (VARELLIS,

2005).

Como técnicas de manejo para estes pacientes, ''Falar, mostrar e fazer'' é uma das

técnicas mais utilizadas, que demonstram ao paciente o procedimento que será realizado,

tranquilizando-o durante todo o atendimento. Controlar a voz é outra técnica importante, pois

o ritmo e o tom influenciam no comportamento do paciente. O reforço positivo consiste em

gratificar e elogiar o paciente quando este apresentar uma boa atitude, realizando-o

imediatamente após a atitude desejada, para que fique claro qual o tipo de comportamento

almejado. Utiliza-se a distração para mudar a atenção do paciente do que possa ser

considerado desagradável. Com a modelação, aprende-se por meio da observação. Reforçar e

conduzir o comportamento do paciente mediante o contato, postura e expressão facial é a

técnica da comunicação não-verbal (HADDAD, 2007).

O atendimento a crianças com Síndrome de Down pode se tornar difícil,

dependendo da gravidade da Síndrome, da compreensão do problema, da localização da dor,

da quantidade da dor e de outros problemas orais. Ter um encontro regular com o odontólogo

é importante para a avaliação dos problemas orais, dentários e para um tratamento futuro e

oportuno, pois como resultado, um simples problema dentário pode resultar em um tratamento

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muito complicado para tão pouco tempo. Devido ao baixo nível de colaboração por parte do

paciente, a anestesia geralmente é usada para tratamento, portanto encontrar um cirurgião-

dentista qualificado e experiente no tratamento a esses pacientes pode ter um enorme impacto

no tratamento. Ao planejar tratamento odontológico a esses pacientes, deve-se sempre ser

levada em consideração sua saúde de forma geral, a fim de alcançar uma abordagem mais

interdisciplinar (MOHAMMAD, 2019).

Oliveira e Giro (2011) realizaram uma revisão de literatura para ilustrar a

importância do tratamento precoce em pacientes com necessidades especiais, na qual

precisaram de um tratamento odontológico individualizado devido às limitações de sua

deficiência, seja ela mental, física ou sensorial. As autoras concluíram que quanto mais cedo

os pacientes e familiares procurarem ajuda profissional, maior será a cooperação no

tratamento, e o mais indicado é a procura por um programa de promoção de saúde bucal

voltado para pacientes com necessidades especiais.

Com o conhecimento e conscientização do profissional, há uma melhora na

qualidade de vida do paciente com a Síndrome de Down e que com os avanços da área da

saúde é possível fazer uma inclusão social, tratando o paciente com Síndrome da mesma

maneira que qualquer outro paciente (VILELA et al., 2018).

Além disso, e com o intuito de visar a integração multiprofissional e familiar,

Elias (1995) e Varellis (2005) sugerem a criação de programas de saúde bucal para paciente

portador de necessidade especial. Há uma grande discussão sobre a interação entre diversos

profissionais da saúde, devendo ser estimulado o trabalho em equipe (MACHADO et al.,

2007).

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5 DISCUSSÃO

Os portadores da Síndrome de Down apresentam como característica um

desenvolvimento facial alterado, que se dá, em parte, a hipotonia muscular, acometendo

exclusivamente o sistema estomatognático, a hiperflexibilidade de todo corpo e o

envelhecimento precoce. Carvalho, Campos e Rebello (2010) conceituaram que a redução no

córtex parietal e no lobo temporal são apresentadas, assim como o volume cerebral, que é

menor quando comparado a crianças sem Síndrome. Para Macho et al (2008) a deficiência

mental é uma das características mais constantes da Síndrome de Down e varia a cada

indivíduo. Voivodic (2008) complementa que o déficit de atenção é causado por alterações

neurológicas, e quando relacionado com a memória auditiva, pode apresentar um déficit na

memória em longo prazo, afetando o processamento da linguagem.

Clinicamente, Santagelo et al (2008) relataram, em características dos pacientes

com Síndrome de Down, uma dismorfia craniofacial e braquicefalia; rosto hipotônico; língua

visível e boca aberta; face achatada; má formação dos pavilhões auriculares; região occipital

achatada; pescoço curto e achatado; baixa estatura; braquidactilia e clinodactilia. Sanz e

Bascones (2008) cita alterações do sistema endócrinometabólico, principalmente

hipotireoidismo, do sistema hematológico, alterações gastrointestinais e cardíacos e ressaltam

também que nesses indivíduos as infecções recorrem especialmente por caráter respiratório.

Além disso, Cheng et al (2011) complementaram que a apneia obstrutiva do sono também é

referida em crianças com Síndrome de Dowm.

Para Santangelo et al (2008), a macroglossia caracteriza-se por um aumento

excessivo da musculatura da língua, com origem congênita, ocasionando um movimento

lingual impreciso e lento. Macho et al (2008) concordam no que diz respeito à dificuldade de

deglutição, mastigação e nos hábitos deletérios. Porém em contra partida, Carvalho, Campos e

Rebello (2010) afirmaram que a macroglossia pode ser considerada relativa quando há pouco

espaço encontrado na arcada inferior para o posicionamento da língua, usando o termo

pseudomacroglossia para referir esta alteração.

Bascones et al (2008) afirmaram que a língua fissurada é manifestada por

numerosos e pequenos sulcos no dorso da língua, sendo, geralmente, assintomáticas, sendo

apresentada apenas quando restos alimentares ficam depositados pelos sulcos. Desai (1997)

complementa que o palato encontra-se em forma de V, de abóboda e que possui insuficiência

de palato mole.

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Sobre os dentes, Carvalho, Campos e Rebello (2010) comentaram que é muito

frequente encontrar agenesias de permanentes em pacientes com Síndrome de Down, e Desai

(1997), juntamente com Moraes et al (2007), concordaram e acrescentaram que a agenesia de

incisivos laterais é a mais comum na dentição temporária, e a de incisivos laterais, segundos

pré molares e os terceiros molares, são as agenesias mais comum na dentição permanente. Na

erupção, Desai et al (1997) afirmaram que nas crianças com a Síndrome, os dentes podem

erupcionar tardiamente, começando pelos 12 meses e durando até os 24 meses, e relataram,

também, que os dentes permanentes anteriores podem levar até 9 anos para erupcionarem.

A grande predominância de doença periodontal em pacientes com Síndrome de

Down deve-se, segundo Santangelo et al (2008), à diminuição da higiene oral devido à

dificuldade motora. Gomes e Ribeiro (2019) acrescentaram que a alteração nas células de

defesa, da função leucocitária, também é um motivo da doença periodontal. Marsh e Martin

(2005) complementam dizendo que a doença periodontal atinge os tecidos de sustentação e

proteção dos dentes, podendo levar a mobilidade e reabsorção. Para Cavalcante et al (2009), o

índice de manifestação chega em torno de 30 à 40%, sendo a doença periodontite aguda como

a mais comum.

Uma pesquisa realizada por Castilho e Marta (2010) mostrou que manter os

pacientes com a Síndrome de Down em programas de prevenção auxilia na qualidade de vida

dos mesmos e mostrou a baixa incidência de cárie nesses indivíduos e de novas lesões. Não

houve nenhuma relação entre menor Ph e maior índice de cárie dentária em pacientes com

Síndrome de Down em uma pesquisa realizada por Barrios et al (2014).

Areias et al (2011) realizaram um estudo transversal e verificaram que quanto

maior a idade do paciente, maior a exposição dos dentes aos fatores cariogênicos, e

observaram que os hábitos de higiene e padrões alimentares estão diretamente relacionados à

prevalência de cárie. Além disso, também verificaram que a erupção tardia dos dentes é outro

fator que influência, visto que os dentes estão expostos a fatores cariogênicos por um menor

período de tempo. Em concordância, Mansur (2019), numa pesquisa na Líbia, obteve como

resultado um menor índice de cárie em crianças com a Síndrome quando comparado à

crianças sem Síndrome, e os possíveis motivos seriam a erupção tardia, microdontia,

agenesias, dentição com espaços interdentários, Ph salivar e também a maior preocupação por

parte dos pais com a saúde bucal das crianças.

Analisando o vínculo entre mãe e filho e mostrando a importância da relação

profissional-pais-paciente, o cirurgião deve obter informações do início da gravidez até o

momento atual na anamnese. Correa Pires (2002) e Cancino et al (2005) afirmaram a

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importância da participação familiar e a conduta para uma anamsese bem detalhada, para que

o profissional conheça a história individual e médica do paciente.

O planejamento do paciente deve ser divido em 4 partes, de acordo com

Rodrigues e Corrêa (2005): fase sistêmica, investigando dados gerais de saúde e solicitando

exames; fase preparatória, com adequação do meio bucal e propondo mudança nos hábitos;

fase restauradora, quando se restabelece forma e função dental; e fase de manutenção. Elias

(1995) complementou com um organograma de prevenção dizendo que na 1° consulta deve-

se orientar os pais sobre os hábitos de higiene oral, dieta e estado geral, tendo contato com

uma equipe multidisciplinar; na 2° consulta motiva-se novamente os responsáveis sobre a

higiene oral e sensibilizá-los sobre tratamento odontológico; na 3° consulta deve-se aplicar

revelador de placa e realizar profilaxia, introduzindo uma técnica de escovação

descomplicada ao paciente; na 4° consulta fazer o plano de tratamento, reforçando a higiene

oral e técnica ensinada.

Com o uso de técnicas não farmacológicas é possível obter a colaboração do

paciente com Síndrome de Down, pois eles raramente necessitam de atendimento hospitalar

(HADDAD, 2007). Porém para Brandão et al (2011) pode-se fazer uso de técnicas de

contenção mecânica quando o propósito não é atingido, e que, na maioria dos atendimentos,

dispensa-se o uso de anestesia geral em ambiente hospitalar já que algumas técnicas de

manejo comportamentais são indispensáveis para o conforto e segurança do paciente.

Utilização de jogos para uma dinâmica lúdica, assim como apresentar o

consultório ao paciente com Síndrome de Down é uma boa alternativa (VARELLIS, 2005).

Materiais como micromotor, caneta de alta, sugador, equipamentos de contenção física,

abridor de boca e equipamentos para uma possível emergência devem estar sempre ao alcance

do dentista, além de que os atendimentos devem ser realizados em dupla e na presença de um

responsável do paciente, e o tempo de consulta não deve ultrapassar os 30 minutos,

preferencialmente (HADDAD, 2007).

Uma das técnicas de manejo mais utilizadas é a de ''Falar-mostrar-fazer'', que

demonstra ao paciente o procedimento que irá ser realizado, tranquilizando-o; ''Controle de

voz'' é outra técnica que influência pelo seu ritmo e tom; ''Reforço positivo'' se gratifica e

elogia o paciente quando houver uma boa atitude; na ''Distração'' se muda a atenção do

paciente, por fim a ''Modulação'' se aprende por meio da observação, Haddad (2007)

acrescenta também que reforçar e conduzir o comportamento mediante contato, postura e

expressão facial é a técnica de ''Comunicação não-verbal''.

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A gravidade da Síndrome, a quantidade da dor e problemas orais são fatores que

podem tornar o atendimento difícil para Mohammad (2019), ter um encontro regular com o

dentista é importante para futuros tratamentos complicados e devido ao baixo nível de

colaboração do paciente, a anestesia geralmente é utilizada, também deve-se avaliar a saúde

de forma geral, tendo uma abordagem mais multidisciplinar. Quanto mais cedo os pacientes e

familiares procurarem ajuda profissional, maior será a cooperação no tratamento e para

Oliveira e Gino (2011), o mais indicado é a procura por um programa de promoção de saúde

para pacientes com necessidades especiais. Vilela et al. (2018), também concluíram que

conscientização e conhecimento por parte do profissional tem melhorado a qualidade de vida

do paciente com Síndrome e que com os avanços da área da saúde é possível fazer uma

inclusão social e tratar o paciente da mesma maneira que qualquer outro paciente.

Devendo ser estimulado o trabalho em equipe, deve haver a interação entre

profissionais da área da saúde, Machado et al (2007). Sugerindo a criação de programas de

saúde bucal para pacientes portadores de necessidades especiais, Varellis (2005), visa uma

interação multiprofissional e familiar.

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6 CONCLUSÃO

A Síndrome de Down é uma síndrome de origem cromossômica, em que os seus

portadores apresentam uma elevada incidência de alterações sistêmicas e orofaciais. O que

torna os pacientes com Síndrome de Down únicos são suas características orais,

principalmente macroglossia ou pseudomacroglossia, língua fissurada, palato em forma de

ogiva ou em V e grande incidência de doença periodontal. Para atender essa demanda, muitas

vezes é necessário trabalhar com uma equipe multidisciplinar, sendo também necessário

adotar técnicas e estratégias que possam trazer um atendimento odontológico mais

humanizado para pacientes especiais.

Logo, na abordagem ao paciente, o cirurgião dentista deve procurar estabelecer

um vínculo afetivo com o seu paciente com Síndrome de Down, criando um ambiente seguro

e de confiança, e, assim, obter maior colaboração no tratamento. O acompanhamento dentário

com um profissional da área odontológica é de extrema importância para manter os cuidados

de higiene em dia, diminuindo a chance da necessidade de procedimentos mais complexos.

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