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0 UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ TAYNARA SOARES NUNES O SEGURO DE VIDA E SUAS DIVERGÊNCIAS JURÍDICAS Biguaçu 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

TAYNARA SOARES NUNES

O SEGURO DE VIDA E SUAS DIVERGÊNCIAS JURÍDICAS

Biguaçu 2009

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TAYNARA SOARES NUNES

O SEGURO DE VIDA E SUAS DIVERGÊNCIAS JURÍDICAS

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI , como requisito parcial a obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientadora: Profa. MSc. Marciane

Zimmermann Ferreira

Biguaçu 2009

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TAYNARA SOARES NUNES

O SEGURO DE VIDA E SUAS DIVERGÊNCIAS JURÍDICAS

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito, da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração: Direito Civil

Biguaçu, 19 de novembro de 2009.

Profa. MSc. Marciane Zimmermann Ferreira UNIVALI – Campus de Biguaçu

Orientadora

Profa. Tânia Margarete de Souza Trajano UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

Prof. Pedro Joaquim Cardoso Junior UNIVALI – Campus de Biguaçu

Membro

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Dedico este trabalho a meu amado pai, José Gonzaga Nunes, homem incrível

e pai maravilhoso, verdadeiramente o maior mestre que tenho.

E minha querida mãe, Ezenilda Soares Nunes, que sempre acreditou em mim,

dando força nessa longa caminhada, e que nunca perdeu a fé.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, primeiramente pela dádiva da vida, e ao seu filho, Jesus Cristo,

pela esperança e misericórdia, que se renova a cada manhã.

Ao meu irmão, Karlyle Soares Nunes, com quem sempre pude contar,

apesar de todas as nossas diferenças.

Aos meus sobrinhos, Lara Nunes e Vitor Nunes, que me contagiam com a

alegria de criança nos momentos mais críticos.

Ao meu namorado, por toda compreensão e paciência, que de uma forma

toda especial me deu força e coragem para chegar até aqui.

A todos os meus amigos de perto, que estiveram ao meu lado nesses

cinco anos de faculdade, em especial, minha amiga Marcia Maria Martins, por cada

palavra de força, momentos bons de festas e de dedicação, onde pude buscar apoio

na certeza da ajuda.

Aos meus amigos de longe, que estiveram do meu lado, transmitindo

confiança e apoio para conclusão deste trabalho, e que me deram a certeza do

significado da verdadeira amizade.

Aos Mestres de Direito, que sempre estiveram ao meu lado nesses anos,

transmitindo conhecimentos, em especial a minha Orientadora Marciane

Zimmermann Ferreira, que acreditou em minha capacidade, e que me deu total

suporte para conclusão deste trabalho.

A todos que direta ou indiretamente contribuíram para este trabalho, meus

sinceros agradecimentos.

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"Permanecei firmes e adiante.

Nunca, jamais desanimeis, embora venham ventos contrários"

Santa Paulina

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, 19 novembro de 2009.

Taynara Soares Nunes

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RESUMO

A presente monografia tem por escopo investigar as divergências jurídicas oriundas das relações contratuais no que tange especificamente o seguro de vida, identificando qual o entendimento do Tribunal de Justiça de Santa Catarina e Tribunais Superiores sobre o tema. O problema formulado questiona qual tem sido o entendimento da jurisprudência a cerca das controvérsias jurídicas relativas aos contratos de seguro de vida no que se refere à cobertura em caso de suicídio e doença preexistente, bem como, o prazo prescricional da ação e os efeitos da mora. A atividade securitária tomou vulto nos últimos anos e as lides tem sido frequentes. Muitas seguradoras embasadas em Resoluções da Superintendência de Seguros Privados (SUSEP) têm negado a cobertura em caso de suicídio alegando premeditação do segurado quando firmou o contrato, todavia, discute-se o pagamento do capital quando o segurado se suicida nos dois primeiros anos de vigência do seguro, sob a influência de uma patologia mental. As seguradoras também têm negado o pagamento do capital sob a argumentação da preexistência de doença no momento da contratação do seguro alegando que o segurado não há declarou na proposta por dolo. À aplicação do instituto da prescrição também é bastante controvertida. O Código Civil de 2002 fixou o prazo de um ano enquanto o Código de Defesa do Consumidor determina que a prescrição ocorre em cinco anos. Com relação há prescrição há ainda divergência quanto ao início da contagem do prazo, bem como, se há ou não interrupção no mesmo. Quanto à mora discute-se se a seguradora deve notificar por escrito o segurado ou a simples falta de pagamento é suficiente para o rompimento do contrato e também qual o número de parcelas em atraso constituem efetivamente mora. Empregando-se o método dedutivo, entendido como aquele que parte do geral para o específico, estabeleceu-se como ponto de partida o estudo do contrato de seguro, posteriormente tratou-se do contrato de seguro de pessoas, para então enfrentar a problemática, qual seja, as divergências jurídicas dos contratos de seguro de vida.

Palavras-chave: Seguro de vida. Suicídio do segurado. Doença preexistente do

segurado. Prescrição. Mora.

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ABSTRACT

This monograph is to investigate the scope of legal disagreements arising from contractual relations with respect specifically identifying life insurance which the understanding of the Court of Santa Catarina and Superior Courts on the subject. The problem formulated questions which have been understanding about the case of legal disputes relating to contracts of life insurance with respect to coverage in case of suicide and preexisting conditions, and the tolling of action and the effects of late. Activity became significant with security in recent years and ends and has been frequent. Many insurers based on published Resolution of the Superintendency of Private Insurance (SUSEP) have denied coverage in the event of suicide alleging premeditation when the insured signed the contract, however, discusses the payment of principal when the insured commits suicide within the first two years of insurance, under the influence of a mental pathology. Insurance companies also have denied the payment of the premium under the reasoning of the preexisting disease at the time of contracting the insurance claiming that the insured is not stated in the proposal by deceit. In the implementation of the Institute of the prescription is also quite controversial. The Civil Code of 2002 set a deadline of one year as the Code of Consumer Protection determines that the limitation is five years. Regarding the limitation period is still disagreement as to the beginning of the period, and, whether or not the same interruption. The live debate as to whether the insurer must notify in writing the insured or the simple failure to pay is enough to break the contract and also to determine the number of installments in arrears are actually live. By employing the deductive method, understood as that part of the general to the specific, established himself as a starting point to study the contract, then this was the contract of insurance people, and then tackle the problems, which is, the differences of legal contracts for life insurance.

Keywords: Life insurance. Suicide of the insured. Previous illness of the insured.

Prescription. Late.

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ROL DE CATEGORIAS

Apólice:

“[...] apólice é o documento que tem a finalidade de extremar o conteúdo do contrato

entabulado entre segurado e companhia seguradora.”1

Beneficiário:

“O beneficiário é a pessoa física, jurídica, ou de personificação anômala, que

desfruta dos benefícios concedidos pelo contrato de seguro.”2

Contrato:

“[...] é um negócio jurídico por meio do qual as partes declarantes, [...],

autodisciplinam os efeitos patrimoniais que pretendem atingir, segundo a autonomia

das suas próprias vontades.”3

Contrato de seguro:

“O Seguro é o contrato em que uma parte (sociedade seguradora) se obriga,

mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo da outra parte

(segurado), contra riscos pré-determinados (CC, art. 757).”4

Contrato de seguro de pessoas:

“[...] é o contrato que tem por objetivo garantir ao segurado ou aos seus beneficiários

o pagamento de determinada soma em dinheiro no caso de algum evento danoso

afetar a sua vida ou saúde.”5

Contrato de seguro de vida:

“[...] contrato de seguro de vida é aquele em que a duração da vida humana serve

de base para cálculo do prêmio devido ao segurador, para que este se obrigue a 1 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. São Paulo: Saraiva, 2008. p.130-131 2 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 3 GAGLIANO, Pablo Stolze. RODOLFO FILHO, Pamplona. Novo curso de Direito Civil: contratos. 2. ed. rev., atual e reform. São Paulo: Saraiva, 2006. V. IV. p. 11 4 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 17. ed. rev. e atual. de acordo com a nova Lei de falências. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 582 5 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. Florianópolis: OAB/SC, 2005. p.208

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pagar uma indenização de forma de um capital ou uma renda determinada ao

beneficiário, por morte do segurado, [...].”6

Mora:

“Mora é uma situação jurídica temporária, geradora de responsabilidade civil

aumentada, na qual se encontra o devedor que não cumpre ou credor que não

recebe, culposa ou dolosamente, no modo, tempo ou lugar previsto pela obrigação.”7

Prêmio:

“[...] o valor total pago pelo segurado ao segurador, para que aquele goze de

tranqüilidade em relação ao objeto do risco, [...]. Prêmio, portanto, é o preço do

seguro.”8

Prescrição:

“[...] prescrição é a perda da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade

defensiva, em consequência do não-uso delas, durante um determinado espaço de

tempo.” 9

Segurado:

“[...] pessoa física ou jurídica, que, através do pagamento do preço do seguro, o

prêmio, adquire uma garantia sobre interesse segurável, transferindo ao segurador o

risco, objeto da apólice do seguro.”10

Suicídio:

“O suicídio é a deliberada destruição da própria vida.”11

6 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 17 7 SOUZA NETO, João Baptista de Mello e; CLÁPIS, Alexandre Laizo. Direito Civil: obrigações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. (Série Fundamentos Jurídicos). p. 159-160. 8 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p 41 9 BEVILÁQUA, Clóvis. [apud] VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil. p. 573 10 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas: negativa de pagamento das seguradoras. Curitiba: Juruá, 2008. p. 44 11 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal: parte especial – dos crimes contra a pessoa e dos crimes contra o sentimento religioso e contra o respeito aos mortos (arts. 121 a 212). 6. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. v. 2. p.85

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 13

1 CONTRATO DE SEGURO ................................................................ 16

1.1 BREVE HISTÓRICO DO CONTRATO DE SEGURO ..................................................... 16

1.2 CONCEITO .................................................................................................................... 21

1.3 PRINCÍPIOS BASILARES DO CONTRATO DE SEGURO ............................................ 23

1.4 CLASSIFICAÇÃO .......................................................................................................... 26

1.4.1 Contrato Bilateral ou sinalagmático ........................................................................ 27

1.4.2 Contrato Oneroso ..................................................................................................... 28

1.4.3 Contrato Consensual ................................................................................................ 28

1.4.4 Contrato Nominado................................................................................................... 29

1.4.5 Contrato de Adesão .................................................................................................. 29

1.4.6 Contrato Aleatório .................................................................................................... 30

1.5 ELEMENTOS E REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO DE SEGURO ............. 31

1.5.1 Elementos .................................................................................................................. 31

1.5.1.1 Segurador ................................................................................................................ 31

1.5.1.2 Segurado ................................................................................................................. 32

1.5.1.3 Estipulante ............................................................................................................... 33

1.5.1.4 Beneficiário .............................................................................................................. 33

1.5.1.5 Prêmio ..................................................................................................................... 34

1.5.1.6 Risco ........................................................................................................................ 36

1.5.1.7 Co-Seguro ............................................................................................................... 37

1.5.2 Requisitos ................................................................................................................... 38

1.6 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO SEGURADO E DA SEGURADORA ........................... 39

1.7 FASES E INSTRUMENTO DO CONTRATO .................................................................. 42

1.7.1 Proposta .................................................................................................................... 42

1.7.2 Apólice e/ou bilhete de seguro ................................................................................ 44

1.8 A APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONDUMIDOR A ATIVIDADE SEGURITÁRIA .................................................................................................................... 46

1.9 MODALIDADES DE SEGURO ....................................................................................... 48

1.9.1 Seguro de dano ......................................................................................................... 49

1.9.2 Seguro de pessoa ..................................................................................................... 51

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1.10 EXTINÇÃO DO CONTRATO ....................................................................................... 51

2 DO CONTRATO DE SEGURO DE PESSOA .................................... 54

2.1 BREVE HISTÓRICO ...................................................................................................... 54

2.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS .............................................................................. 56

2.3 MODALIDADES DO SEGURO DE PESSOAS .............................................................. 60

2.3.1 O seguro de vida tradicional .................................................................................... 60

2.3.2 O seguro de vida em caso de sobrevivência .......................................................... 64

2.3.3 O seguro misto .......................................................................................................... 66

2.3.4 O seguro de vida em grupo ...................................................................................... 66

2.3.5 O seguro de acidentes pessoais .............................................................................. 72

2.4 DO CONTRATO DO SEGURO DE PESSOAS .............................................................. 74

2.4.1 Contrato individual ................................................................................................... 74

2.4.2 Contrato coletivo ...................................................................................................... 75

2.5 SINISTRO NO SEGURO DE PESSOAS ....................................................................... 75

2.6 COBERTURA DO SEGURO DE PESSOAS .................................................................. 78

2.7 BENEFICIÁRIO DO CONTRATO DE SEGURO DE PESSOAS ..................................... 83

2.8 EXTINÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO DE PESSOAS ........................................... 84

2.9 DA POSSIBILIDADE DE ARBITRAGEM ....................................................................... 86

3 O SEGURO DE VIDA E SUAS DIVERGÊNCIAS JURÍDICAS ........... 89

3.1 SUICÍDIO ....................................................................................................................... 90

3.2 DOENÇA PREEXISTENTE ......................................................................................... 100

3.3 PRESCRIÇÃO NO SEGURO DE VIDA ....................................................................... 107

3.3.1 Prescrição dos segurados ..................................................................................... 110

3.3.2 Prescrição dos beneficiários ................................................................................. 117

3.4 MORA NO PAGAMENTO DO PRÊMIO DO SEGURO ................................................ 120

CONCLUSÃO ..................................................................................... 129

REFERÊNCIAS .................................................................................. 135

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INTRODUÇÃO

Trata-se de trabalho acadêmico de conclusão de Curso de Direito

(Monografia) sobre seguro de vida e suas divergências no âmbito jurídico.

O problema da pesquisa questiona qual tem sido o entendimento da

doutrina e da jurisprudência a cerca das controvérsias jurídicas relativas aos

contratos de seguro de vida no que se refere à cobertura em caso de suicídio e

doença preexistente, bem como, o prazo prescricional da ação e os efeitos da mora.

O motivo da escolha do presente tema deu-se em virtude do exercício

profissional na área de seguros a partir do qual se vislumbrou que com mais

frequência as seguradoras têm negado o pagamento do capital alegando doença

preexistente, morte decorrente de suicídio, prescrição do direito do segurado e/ou

beneficiário, e ainda, em decorrência da mora no contrato. Em razão das negativas,

muitos segurados têm adentrado em juízo contra as seguradoras, o que enseja o

presente estudo.

A importância da pesquisa encontra-se, principalmente, pela grande

repercussão do contrato de seguro de vida no âmbito social.

A presente pesquisa possui como objetivos, primeiramente institucional,

cuja finalidade é produzir uma Monografia para obtenção do título de bacharel em

Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí; geral, tem por escopo investigar qual o

posicionamento da jurisprudência e da doutrina, quanto ao dever de indenizar

quando a seguradora alega doença preexistente do segurado ou morte decorrente

de suicídio. E ainda a aplicação do instituto da prescrição e os efeitos da mora no

contrato. E específicos, distinguir o contrato de seguro das demais espécies de

contrato; distinguir o contrato de danos do contrato de pessoas e analisar as

especificidades do contrato de seguro de vida; verificar se há legalidade nas

negativas das seguradoras em pagar o capital segurado, em caso de suicídio, sob

alegação de premeditação do segurado quando firmou o contrato, ou sob a

argumentação da preexistência de doença no momento da contratação do seguro,

alegando que segurado agiu de má-fé, investigar em que prazo ocorre à prescrição

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da ação que tem por objeto o contrato de seguro; e investigar se a simples falta de

pagamento de uma parcela configura mora, e é suficiente, por si só, para o

rompimento do contrato.

O método de abordagem utilizado na Monografia foi o dedutivo, entendido

como aquele que se parte do geral para o específico. Estabeleceu-se como ponto de

partida o estudo do contrato de seguro, posteriormente abordou-se o contrato de

seguro de pessoas, para então enfrentar a problemática, quais sejam as

divergências jurídicas no contrato de seguro de vida.

Será utilizada a técnica de documentação indireta, através da pesquisa

documental, que envolverá o estudo de Leis, Circulares e Resoluções da

Superintendência de Seguros Privados (SUSEP), bem como, jurisprudências

principalmente do Tribunal de Justiça de Santa Catarina e Tribunais Superiores

sobre o tema, e da pesquisa bibliográfica em livros e artigos, que versem sobre o

assunto do presente trabalho, a fim de se alcançar o objetivo proposto.

Nesse sentido, visando à consecução dos objetivos acima, a monografia

foi disposta em três capítulos.

O primeiro capítulo destinar-se-á a estudar o contrato de seguro, iniciando

com um breve histórico, trazendo posteriormente o conceito de contrato de seguro,

os princípios basilares que norteiam tal negócio jurídico, sua classificação frente à

doutrina, seus requisitos e elementos de validade, a caracterização das figuras do

segurado, seguradora, estipulante e beneficiário, que compõem os pólos do

contrato, elencando os direitos e deveres do segurador e da seguradora. Analisar-

se-á ainda as fases e instrumentos para realização do contrato, bem como a

aplicação do Código de Defesa do Consumidor na relação securitária, a divisão das

modalidades de seguro em seguro de dano e seguro de pessoas, finalizando com as

formas de extinção do negócio jurídico.

O segundo capítulo limita-se ao estudo do contrato de seguro de pessoas,

trazendo primeiro um breve histórico, em seguida o conceito e as características

peculiares desse contrato, elencando posteriormente as modalidades de seguro de

pessoas, dividindo-o em seguro de vida, seguro vida por sobrevivência, seguro de

vida em grupo e seguro de acidentes pessoais. Na sequência especificará as

coberturas desse contrato, a ocorrência, e regulamentação do sinistro em todas as

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modalidades de seguro de pessoas, a instituição dos beneficiários, as hipóteses de

extinção desse negócio jurídico, encerrando com a possibilidade prevista em lei do

arbitramento no contrato de seguro de pessoas.

O terceiro capítulo abordará, portanto, com especificidade o seguro de

vida e suas divergências no âmbito jurídico. Inicialmente analisará a negativa da

seguradora em pagar o valor devido, sob fundamento da ocorrência do suicídio

premeditado, e a alegação de doença preexistente. E ainda, o questionamento

acerca do instituto da prescrição e quanto à mora.

O trabalho acadêmico assim encerra-se com a conclusão, na qual são

oferecidos pontos destacados durante o estudo de cada capítulo.

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1 CONTRATO DE SEGURO

O presente capítulo tem por objetivo principal analisar o contrato de

seguro. Será abordado inicialmente, um breve histórico acerca de sua criação, o

conceito disposto na doutrina, os princípios norteadores deste contrato, a

classificação frente à doutrina, os elementos e requisitos essenciais de validade, os

direitos do segurado e da seguradora, as fases do contrato e seus instrumentos, a

aplicação do Código de Defesa do Consumidor na relação contratual, as

modalidades de seguro e sua extinção. Esses tópicos por hora abordados servirão

para subsidiar o apreciador com uma noção a cerca do contrato de seguro de modo

geral, para posteriormente adentrar no contrato de seguro de pessoas, objeto do

segundo capítulo, que dará, por conseguinte, impulso ao terceiro capítulo, que versa

sobre seguro de vida e suas divergências.

1.1 BREVE HISTÓRICO DO CONTRATO DE SEGURO

Nota-se que se perdeu no tempo a data do primeiro negócio jurídico que

teve por objetivo o seguro de um bem.12

“A história do seguro é muito antiga e nasceu da necessidade que o

homem tem de se proteger contra o perigo, do medo dos acontecimentos

imprevisíveis e perda dos bens.” 13

Duas teorias traduzem o surgimento do seguro no contexto histórico. A

primeira é a Teoria dos cameleiros e o deserto inóspito, e a segunda é a Teoria dos

fenícios e o mar revolto.14

A Teoria dos cameleiros explica o surgimento do seguro para proteger

cameleiros nômades, que precisavam percorrer grandes regiões desérticas, para

prática de suas atividades mercantis. Como os camelos representavam o mais 12 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 1 13 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro: interpretação doutrinária e jurisprudencial. Campinas: LZN Editora, 2002. p. 3 14 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 2

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importante instrumento destinado ao sustento dos indivíduos que praticavam aquela

atividade, e era comum a morte desses animais, em virtude do grande caminho

percorrido, e consequentemente, grande era a despesa do cameleiro com essa

morte, sentiu-se a necessidade de dirimir tais despesas. Foi, portanto, para evitar

que a morte de um camelo recaísse em prejuízo apenas de uma pessoa, que os

cameleiros firmavam acordos mútuos, para que diante de um sinistro, todos

arcassem junto com o prejuízo.15

Já na Teoria dos fenícios, o surgimento teria ocorrido para reduzir os

prejuízos advindos de suas embarcações em meio ao mar revolto.

“[...] Se por ventura, algum prejuízo fosse sofrido por alguns dos

integrantes do grupo, o dano seria recomposto através da participação de todos os

navios em certo percentual previamente ajustado”.16

Nota-se desta forma, a alto grau de mutualidade que rondou o seguro nos

seus mais remotos sinais.

No século XII, tem-se notícia do surgimento de “uma nova modalidade de

seguro, agora já formalizada, o ‘Contrato de Dinheiro a Risco Marítimo’, entre o

navegador e um financiador.”17 Neste tipo de seguro, um capitalista emprestava

dinheiro aos empresários de uma embarcação marítima, caso a viagem fosse bem

sucedida, o valor era devolvido acrescido de juros. Caso contrário, se houvesse

algum prejuízo, ou acidente, nenhum reembolso era devido ao capitalista.18

Todavia, segundo Oliveira:

Essa evolução passou pela cobrança de compensação pelos riscos assumidos pelo capitalista, até chegar à desvinculação da cobertura contra o risco do contrato de empréstimo, com a promessa de pagamento, condicionada ao pagamento do prêmio correspondente, caso o risco se concretizasse. Surgia, desta forma, o contrato de seguro, em meados do século XIII.19

Entretanto, há autores que divergem ainda quanto o surgimento do

contrato de seguro. Segundo Silva, o surgimento se deu no século XIV, com as

15 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 2 16 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 3 17 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 3 18 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 3-4 19 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 4

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primeiras apólices de seguro da qual se tem conhecimento, a de Pisa, em 1385, e a

e Florença, em 1397.20

De toda sorte, mesmo com essa grande aceitabilidade do seguro já em

meados do século XIII e XIV, o seu grande desenvolvimento se deu na Renascença.

Mas, com a grande evolução marítima da época, o seguro concentrava ainda seus

riscos mais na atividade marítima.21

Com essa expansão, em virtude do seguro marítimo e da própria

atividade marítima, foi surgindo à necessidade da proteção de outros bens. Uma

prova dessa grande necessidade encontra-se na Europa, em meados do século

XVII, “no registro de uma nova modalidade de seguro, o terrestre, engrenado para

suprir as necessidades do povo inglês, que se deparou com um incêndio de

gigantescas proporções”.22

Esse seguro terrestre surgiu em 1666, em decorrência do grande incêndio

que marcou a história de Londres, com proporções que destruiu cerca de 13.200

casas, deixando mais de 20.000 pessoas desabrigadas, ficando conhecido na

história como o Grande Incêndio Londriano.23

Tem-se, portanto, que desse trágico fato, “foi criado então o mais antigo

seguro terrestre, o seguro contra incêndio.”24

Em contra partida, “[...] as operações securitárias no Brasil tiveram início

retardado, não obstante a maturidade do instituto além-mar.”25 Tem-se notícia de

que as atividades securitárias no país iniciam-se em meados do ano 1808, com a

abertura dos portos às nações estrangeiras.

Esse período inicial é marcado pela fundação (1808), na Bahia, da Companhia de Seguros Boa-Fé, a primeira seguradora brasileira. O seguro então praticado regia-se pelas “Regulações da Casa de Seguro de Lisboa”[...]. À época, já se permitia o funcionamento de seguradores estrangeiros em nosso país.26

20 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 9 21 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 9 22 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 11 23 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 24 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 4 25 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 12 26 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 25-26

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Segundo Oliveira, a primeira seguradora estrangeira a atuar no país, teria

sido a portuguesa Garantia, do Porto, e a segunda, teria sido a Royal Insurance.27

Antes da criação de normas brasileiras, o mercado de seguro nacional era

dominado pelas companhias de seguro estrangeiras, principalmente pelas

portuguesas já com atuação no país, que agiam de acordo com suas normas, e

inclusive, transferiam para suas matrizes do exterior, os excedentes de sua

capacidade dentro do Brasil.28

De acordo com Silva:

Registra a história que até metade do século XIX o Brasil não apresentou uma legislação própria que tratasse de construir normas a respeito e, por conta dessa ausência de regras nacionais, os contratos de seguro seguiam tão-somente as convenções atinentes às normas de contratos em geral com especial atenção ao princípio de origem romana de que o contrato faz lei entre as partes.29

As primeiras regras que trataram do comércio brasileiro datam de 25 de

junho de 1850, o Código Comercial Brasileiro, “que proibia o seguro sobre a vida de

pessoas livres, admitindo-o, contudo, sobre a vida de escravos, por serem eles

objeto de propriedade”. Nota-se que em virtude desta permissão, é dessa época o

surgimento da Cia de Seguros Mútuos sobre a Vida de Escravos, fundada em

1858.30

Todavia, mesmo com a proibição, tem-se notícia de que o seguro sobre a

vida de pessoas livres também era praticado, através da seguradora Cia.

Tranqüilidade, contrariando aquela proibição.31

Apenas em 10 de dezembro de 1901, que surge a primeira

regulamentação específica a respeito do seguro sobre a vida da pessoa, pelo

Decreto n. 4.270, conhecido com Regulamento Murtinho, que criou por sua vez a

Superintendência Geral de Seguros. Em seguida, em virtude do alto grau de

oposição instituído por aquele regulamento em relação as seguradores estrangeiras

continuarem agindo dentro do país, começou haver uma forte oposição, motivo pelo

27 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 5 28 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. 29 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 13 30 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 5 31 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 5

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qual aquele Decreto veio a ser alterado pelo Decreto n. 5.072, de 12 de dezembro

de 1902, reduzindo consideravelmente o nível de oposição instituído naquele.32

Quanto aos seguros terrestres, entre os quais se inclui o seguro de vida, sua regulamentação inicial foi feita pelo Decreto n. 4270, de 16 de dezembro de 1901, modificado, ao depois, pelo art. 3º, VIII, da Lei n. 1616, de 30 de dezembro de 1906. Medida importante, entretanto, foi a trazida pelo Decreto n. 5.072, de 12 de dezembro de 1903, que submeteu as companhias de seguro à autorização para funcionar no País.33

Após, em 1º de janeiro de 1916, foi promulgado o primeiro Código Civil

Brasileiro, que tratou dos seguros em geral, com exceção dos Marítimos, que

possuíam regulamentação própria. Este Código regulamentava o contrato em 45

artigos, dispostos do 1.432 a 1.476. Todavia, outros diplomas legais completavam

esses dispositivos.34

A partir de 1932, o governo começou a eliminar todo o privilégio das

seguradoras estrangeiras que atuavam no país.

[...], quando o país atravessava um período político de exceção, o governo acabou com o privilégio, até então estabelecido a favor das seguradoras estrangeiras, de transferirem livremente parte de suas operações para as matrizes. [...] O novo regulamento (Dec. – lei 2.063, de 07.03.1940) trouxe consigo uma série de dispositivos, restringindo as operações das seguradoras estrangeiras com prazo marcado para nacionaliza-se ou cessar suas operações no território nacional.35

Em 1934 foi criado o Departamento Nacional de Seguros Privados e

Capitalização, regulado pelo Decreto n. 24. 783. Em 1939, foi criado o Instituto de

Resseguros do Brasil.36

Esse órgão foi divisor de águas no progresso do seguro nacional, vez que permitiu às seguradoras brasileiras, inclusive àquelas de menos potencial econômico, assumir grandes riscos, os quais passaram a ser garantidos pelo ressegurador. 37

E mais,

Em 7.3.1940 foi baixado o Decreto-lei nº 2.063, regulando as operações de seguros nos moldes da nacionalização, de

32 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 5 33 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. 30. ed. atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2004. p. 335 34 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2004. V. 3. p. 383 35 ALVIM apud SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 27 (grifos no original) 36 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 5-6 37 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 28

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conformidade com as disposições contidas na Constituição do denominado Estado Novo, promulgada em 1937. Em 23.11.1966 foi editado o Decreto-lei nº 73, dispondo sobre o Sistema Nacional de Seguros Privados e regulando as operações de seguros e resseguros, bem como criando o Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), extinguindo o Conselho Nacional de Seguros Privados e Capitalização (DNSPC) e criando, no seu lugar, a Superintendência de Seguros Privados (SUSEP).38

Em 1971 foi criada a FUNENSEG, (Fundação Escola Nacional de

Seguros), instituição destinada ao ensino de seguros a interessados na carreira,

bem como a divulgação da instituição do seguro.39

Em 1988 foi promulgada a Constituição da República Federativa do

Brasil, e nota-se que no capítulo destinado ao Sistema Financeiro ouve o cuidado de

regulamentar a atividade de seguros. Posteriormente com a Emenda Constitucional

40 de 29.05.2003, suprimiu-se tal regularização, de modo que a Constituição deixou

de tratar matéria securitária, “[...] no que respeita à autorização e funcionamento dos

estabelecimentos de seguro, resseguro, previdência e capitalização, bem como, do

órgão oficial fiscalizador.”40

Posteriormente, com o advento do Código Civil de 2002, atual e vigente

no país, dedicou-se um capítulo específico para tratar do seguro e suas

peculiaridade, dividindo a matéria em 46 artigos (757 a 802) os quais perfazem a

base de estudo para o presente trabalho.

1.2 CONCEITO

Após a entrada em vigor do Código Civil de 2002, o conceito de seguro foi

alterado, bem como sua disposição dentro do Diploma Legal, sendo reservado um

capítulo específico para abordar o tema, qual seja Capítulo XV – do seguro.

Abrindo as disposições do seguro, o artigo 757 do referido Diploma, traz o

conceito de contrato de seguro, que serve de base para os demais dispositivos que

38 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 6 39 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Teoria Geral do Seguro I. Supervisão e coordenação metodológica da Superintendência de Tecnologia Educacional. Assessoria técnica de Wagner Attina Xavier. Rio de Janeiro: Funenseg, 2002. p. 10 40 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 29

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seguem no texto legal, in verbis: “Art. 757. Pelo contrato de seguro, o segurador se

obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado,

relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados”.41

Desta forma, o seguro é um meio pelo qual o segurador se obriga,

mediante o pagamento de um prêmio, mensal ou anual, ressarcir ao segurado,

dentro dos limites daquilo contratado, o prejuízo ocasionado por um sinistro. 42

Segundo Gonçalves, “considera-se contrato de seguro aquele pelo qual

uma das partes, denominada segurador, mediante recebimento de um ‘prêmio’, a

‘garantir interesse legítimo’ da outra, intitulada segurado [...]”. 43

Já na concepção de Coelho:

O seguro é o contrato em que uma parte (sociedade seguradora) se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo da outra parte (segurado), contra riscos pré-determinados (CC, art. 757).44

Hemard traz a seguinte contribuição:

[...] o seguro é uma operação pela qual, mediante o pagamento de uma pequena remuneração, uma pessoa, o segurado, se faz prometer, para si ou para outrem, no caso de realização de um evento determinado a que se dá o nome de risco, uma prestação de uma terceira pessoa, o segurador, que assumindo um conjunto de riscos, os compensa de acordo com as leis da estatística [...]. 45

Nota-se, que pouco varia no conceito de contrato de seguro, dentre os

autores. Destacando-se a semelhança a cerca do que necessita para caracterização

do contrato de seguro, o que seja dois pólos e um risco determinado.

41 BRASIL. Código Civil. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009 42 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contrato de Seguro. p. 6-7 43 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro: contratos e atos unilaterais. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. V.3, p. 475 (grifo no original) 44 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. p. 582 45 HEMARD Joseph apud SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 30

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1.3 PRINCÍPIOS BASILARES DO CONTRATO DE SEGURO

Antes de adentrar na matéria, pertinente torna-se conceituar o que vem a

ser princípio para o ordenamento jurídico brasileiro. Ávila conceitua que:

Os princípios são normas imediatamente finalísticas, primariamente prospectivas e com pretensão de complementaridade e de parcialidade, para cuja aplicação se demanda uma avaliação da correlação entre o estado de coisas a ser promovido e os efeitos decorrentes da conduta havida como necessária à sua promoção46.

Da mesma forma como os contratos em geral, o contrato de seguro é

regido por alguns princípios indispensáveis. Quais seguem:

a) Princípio da função social do contrato

Este princípio está ligado diretamente à vontade das partes de contratar,

todavia, sem causar prejuízo a quem não participa do contrato.

Assim, a função social do contrato, além de ser um fim a ser perseguido pelos contraentes, deve também ser um instrumento voltado à garantia de que a liberdade das partes não prejudicará os interesses daqueles que não participam diretamente do contrato. Portanto, a liberdade dos contratantes não é absoluta, mas deverá adequar-se à função social presente nas deliberações individuais.47

Nota-se, todavia, que este princípio em destaque não deve ser analisado

separadamente, nem tão pouco, deve ser excluído da analise do contrato, “[...] sob

pena de desfigurar seus próprios objetivos, [...]”.48Assim, o contrato ao ser

celebrado, deve além de suprir uma necessidade das partes, trazerem alguma

utilidade social, de modo que os interesses próprios venham a encaixar-se no

interesse de toda uma coletividade.

Desta forma, nenhum acordo produzirá efeitos e prevalecerá se contrariar

algum preceito de ordem pública. Portanto, a função social do contrato impõe certa

demarcação à autonomia das partes contratantes, que deverá estar voltada para os

limites da sociedade.49

46 ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos princípios jurídicos, 6. ed. São Paulo, 2006. p.78-79. 47 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 63 48 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 64 49 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das relações contratuais e extracontratuais. 23. ed., rev. e atual. de acordo com a reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. V.3. p. 24

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b) Princípio da força obrigatória dos contratos (Pacta Sund Servanda)

Com base nesse princípio, o que ficou pactuado torna-se Lei entre as

partes. Todavia, tal princípio aplicado ao seguro, encontra-se limitado perante o

Código de Defesa do Consumidor, haja vista se tratar de um contrato de adesão,

muitas vezes de difícil entendimento pelo contratante.50

Assim:

Em que pese o rigor do pacta sund servanda, sempre que os contratos olvidarem os direitos do segurado, por meio de cláusulas abusivas, o princípio da obrigatoriedade deverá ser relativizado para que desta forma seja imposto o equilíbrio entre os contratantes.51

Assim, as obrigações estipuladas no contrato deverão ser cumpridas, sob

pena de responder o inadimplente com seu patrimônio. Isto porque, uma vez

celebrado o contrato entre as partes de forma livre, este passa a fazer parte do

mundo jurídico, e goza de proteção estatal para garantia de sua execução.52

c) Princípio da boa-fé contratual

O princípio da boa-fé contratual é entendido como norteador de todos os

contratos jurídicos. “A questão da boa-fé atine mais propriamente à interpretação

dos contratos.”53 Estipulado pelo art. 422 do Código Civil de 200254, por este

princípio, as partes ficam obrigadas a agirem com estrita fidelidade e boa-fé diante

do contrato.

Sobre o tema disserta Silva:

A boa-fé, no sentido do artigo supra, exprime a idéia de que as partes dentro do âmbito pré-contratual e contratual devem agir de modo a preservar, no âmbito das tentativas, execução e conclusão do contrato, uma perfeita sintonia com o equilíbrio da vontade individual e as diretrizes legais voltadas à preservação da ordem jurídica.55

Nota-se que o contrato de seguro, assim como demais contratos jurídicos,

além de atingir as partes contratantes, atinge todo um contexto social. Desta forma,

50 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 71 51 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 73 52 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das relações contratuais e extracontratuais. 2007. p. 29 53 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. V. 2. p. 374 54 “Art. 422 do CC/2002. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” (BRASIL. Código Civil. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 55 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 64

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o contrato tem seus efeitos imediatos entre as partes, e ainda, é capaz de alcançar

de forma mediata todo um contexto social.56

Assim, a análise desse princípio deve ser feita de modo a serem

examinadas as condições em que o contrato foi celebrado, o momento em que foi

firmado, o nível sociocultural e situação econômica dos contratantes.57

Engloba este princípio dois ângulos diferentes, quais sejam da boa-fé

objetiva e subjetiva. “A boa-fé subjetiva leva em conta a convicção psíquica do

sujeito no tocante ao universo externo, parte, pois, do interno para o externo.”58

Nesse tipo de boa-fé, aquele que manifesta sua vontade, crê que sua conduta é

correta pelo seu nível de conhecimento a cerca do negocio jurídico pactuado.

No sentido inverso, a boa-fé objetiva, “[...] parte de um padrão de conduta

comum, do homem médio [...]. Desse modo, a boa-fé objetiva se traduz de forma

mais perceptível como uma regra de conduta [...]”.59 Assim, portanto, com base na

boa-fé deve-se ater mais à intenção das partes, do que aquilo que propriamente

ficou descrito no acordo, de modo que as partes devem agir com lealdade e

confiança mútua.60

d) Princípio da autonomia da vontade

Em destaque neste princípio, tem-se que a autonomia da vontade

“representa a liberdade de contratar ou não contratar com quem quer que seja,

abrangendo, inclusive, o conteúdo da disposição da vontade”.61

Todavia, deve-se levar em conta que tal autonomia não ocorre de forma

absoluta, haja vista que o seu limite é ditado pelo interesse social, segundo reza o

art. 421 do Código Civil de 2002, e pelos preceitos protecionistas do Código de

Defesa do Consumidor.62

56 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 57 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p.374 58 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 68 59 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p.376 60 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das relações contratuais e extracontratuais. 2007. p. 36 61 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 69 62 “Art. 421 do CC/2002. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do contrato.” (BRASIL. Código Civil. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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e) Princípio da revisão dos contratos

Tal princípio visa evitar desproporções onerosas para uma das partes

contratantes. De acordo com Silva:

Há de se observar que a aplicabilidade do princípio da revisão dos contratos por onerosidade excessiva reclama prestação excessivamente onerosa para uma das partes, representando imensa vantagem para a outra, e, ainda, acontecimentos não comuns e, portanto, imprevisíveis.63

Portanto, uma vez configurando vantagem para apenas um dos

contratantes, o acordo deve ser revisto, de modo que não venha a onerar

excessivamente apenas uma das partes, ferindo preceitos do Código de Defesa do

Consumidor.

f) Princípio da Supremacia da Ordem Pública

Este princípio acaba por fortalecer a idéia da função social do contrato,

isto porque ninguém pode pactuar algo que venha a afetar o equilíbrio social.

Assim, todos os contratos, inclusive o de seguro, “[...] deverão obedecer

as premissas destinadas à preservação da ordem pública”. Desta forma, quando um

interesse privado colidir com interesse público, este prevalecerá.64

1.4 CLASSIFICAÇÃO

A classificação dos contratos é uma criação doutrinária, com a finalidade

de facilitar o exercício interpretativo.65

Segundo Venosa:

A classificação dos contratos, examinando suas respectivas características e natureza, não tem utilidade meramente teórica. É questão propedêutica66 e pré-requisito do exame de qualquer

63 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 74 64 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 76 65 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 66 “Da preposição grega pro e paideutikós, quer exprimir, propriamente, ensino preliminar ou introdutivo.[...] é geralmente empregado no sentido de introdução ou conjunto de noções preliminares necessárias ao conhecimento de uma ciência ou de uma disciplina.” (SILVA, De Plácido e.

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contrato. De acordo com a espécie de contrato sob exame na prática jurídica, há distintas consequências com variadas formas de interpretação e enfoque da posição das partes e do objeto contratado.67

Desta forma, tem-se que os contratos de seguro, podem classificar-se em:

contrato bilateral, oneroso, consensual, nominado e de adesão.68 E ainda, encontra-

se classificado entre os contratos aleatórios.69

1.4.1 Contrato Bilateral ou sinalagmático

Esta classificação refere-se à prestação recíproca do contrato, ou seja,

“[...] são os que, no momento de sua leitura, atribuem obrigações a ambas as partes,

ou para todas as partes intervenientes.”70

Se tratando de contrato de seguro, tal classificação definiu-se pela

reciprocidade de obrigação do segurado e segurador. Desta forma, pode-se afirmar

que:

É um contrato de natureza bilateral, por gerar obrigações para o segurado e para o segurador, já que o segurador deverá pagar a indenização, se ocorrer sinistro, e o empregado deve continuar a pagar o prêmio, sob pena de o seguro caducar.71

Portanto, a bilateralidade está ligada as prestações recíprocas, que no

momento da contratação atribui a ambas as partes prestações a serem cumpridas.72

Vocabulário Jurídico. Atualizadores: Nagibi Slaibi e Gláucia Carvalho. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 1114). 67 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p.386 68 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 79 69 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 386 70 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p.390 71 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 5. ed. rev., ampli. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei. N. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2003. p. 445 72 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p.408

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1.4.2 Contrato Oneroso

Diz-se que o contrato é oneroso quando gera despesa patrimonial para

uma das partes contratantes, e que trazem vantagens para ambos os lados.73

Segundo leciona Venosa, o contrato de seguro se encaixa nessa

classificação porque cada uma das partes busca uma vantagem diferente com o

pacto. Portanto, é oneroso já que ambas as partes buscam uma vantagem

econômica, o segurado busca a proteção contra um risco, e o segurador, em contra

partida, recebe um valor pré-determinado para garantia de indenização, caso

concretize esse risco.74

“A vantagem econômica auferida pelo segurador é óbvia, pois constitui o

preço do seguro (prêmio). Já o segurado só receberá sua vantagem em pecúnia,

caso venha a concretizar-se o risco”.75 Desta forma, ambos os contratantes acabam

por perceber alguma vantagem mediante o pacto realizado.

1.4.3 Contrato Consensual

Tem-se por consensual o aperfeiçoamento do contrato pelo mero

consentimento, seja este formal ou não.76

Embora o legislador expresse que o contrato não obriga, enquanto não reduzido a escrito, a doutrina é homogenia em considerá-lo consensual, porque essa formalidade não é da substância do ato, tendo apenas caráter probatório. O seguro surge do acordo de vontades. O contrato conclui-se com o consentimento das partes.77

Destarte, os contratos de seguro se realizam pela simples anuência e

vontade das partes, não dependendo para sua contratação maiores formalidades.

Hoje, sua formalização vai além da conversa pessoalmente com a apresentação do

73 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das relações contratuais e extracontratuais. 2007. p.175 74 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 386 75 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 47 76 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 77 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 386

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produto as vistas do segurado, podendo ser comercializado até mesmo por telefone.

Exige-se apenas, prova escrita para comprovar sua existência, entendendo a

jurisprudência que o comprovante de pagamento do prêmio já se consubstancia em

prova legítima.78

Desta forma, o contrato de seguro, não necessita de grandes

formalidades para sua concretização, dependendo apenas da vontade mútua das

partes contratantes, o que o torna, portanto, um contrato consensual.79

1.4.4 Contrato Nominado

Contratos nominados são aqueles previstos em Lei, ou seja, aqueles que

o próprio texto legal comina nome específico.80

O Código Civil de 2002 regulamenta vinte e três tipos de contratos,

tratados no Capítulo XV, dentre os quais se encontra o contrato de seguro, dividido

em seguro de dano e seguro de pessoas.81

1.4.5 Contrato de Adesão

São de adesão aqueles contratos que se encontram predispostos ao

comprador.82

No contrato de seguro, o segurado já recebe o negócio pronto, com

apenas alguns campos em branco a serem preenchidos. “Este então não participa

78 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. 79 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 49 80 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 81 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro: teoria das obrigações contratuais e extracontratuais. 22. ed., rev. e atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10. 406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2006. p. 92 82 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro.

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da sua elaboração nem das condições gerais, [...]. O fato, de serem adicionadas

cláusulas manuscritas ou datilografadas não lhe retira essa característica [...].”83

É um contrato de adesão porque a quase totalidade de suas cláusulas

são definidas pela ordem jurídica vigente ou por órgãos governamentais como o

Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP), restando às partes pouca margem

de negociação.84

Assim, o contrato de seguro é um contrato que se apresenta pronto ao

cliente, onde este poderá apenas interferir na escolha do plano que pretende

adquirir, valores de cobertura, prazo de vigência.

1.4.6 Contrato Aleatório

Quanto a esta classificação a doutrina é bastante divergente. Antemão

destaca-se que “[...] o termo aleatório, do latim aleatprius, foi incorporado à

linguagem jurídica no mesmo sentido do vocabulário latino: designa tudo o que se

prende ao acaso ou ao jogo se sorte”.85

Venosa entende que: “É contrato tipicamente aleatório, porque sua

origem gira em torno do risco. A prestação de pagar a indenização subordina-se a

evento futuro e incerto”.86

Martins complementa que o contrato de seguro é aleatório, pois se

encontra firmado na ocorrência ou não de um evento futuro e incerto, seja quanto à

data da ocorrência, seja quanto à sua realização.87

Em contra partida, de acordo com os ensinamentos de Silva, os contratos

de seguro devem ser entendidos como contratos comutativos. Esse autor discorda

83 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 387 84 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 85 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 91 86 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 386 87 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro: comentado conforme as disposições do Código Civil, Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p. 20

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de tal classificação como aleatório, sob a afirmação de que, “a álea, em verdade,

incide sobre o sinistro e não sobre a prestação do segurador”.88

1.5 ELEMENTOS E REQUISITOS DE VALIDADE DO CONTRATO DE

SEGURO

Os elementos essenciais para validade do contrato de seguro não

encontra unanimidade dentre os doutrinadores.

Já os requisitos restringem-se aos objetivos, subjetivos e formais. Cabe

destacar inicialmente os elementos, elencando cada um deles.

1.5.1 Elementos

A relação contratual derivada do seguro possui vários elementos

primordiais a sua caracterização, quais sejam: segurador, segurado, estipulante,

beneficiário, prêmio, risco,89 e o Co-Seguro.90

1.5.1.1 Segurador

O parágrafo único do art. 757, do Código Civil de 2002, preceitua que:

“somente pode ser parte no contrato de seguro, como segurador, entidade para tal

fim legalmente autorizada”.91

Logo, “só poderá contratar como segurador pessoa jurídica devidamente

autorizada pelo governo federal para operar no ramo [...]”.92 Portanto, o segurador é 88 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 82 89 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 90 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 46 91 BRASIL. Código Civil. Vade Mecum. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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aquele que mediante recebimento do valor acordado assume o risco de indenizar

quando da contratação de um seguro.

Conforme ensina Silva:

A companhia seguradora faz parte do rol de sociedade que, no Brasil, dependem de autorização de funcionamento do Poder Executivo para o exercício de suas atividades empresariais. Nesse contexto, o segurador participante do contrato de seguro deverá, antes do início das suas atividades, obter autorização de funcionamento do atual Ministério da Fazenda, que se dará por meio da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP.93

Neste sentido regulamenta o Decreto-Lei n. 73 de 21 de novembro de

1966, no seu art. 74, in verbis:

“A autorização para funcionamento será concedida através de Portaria do

Ministério de Indústria e do Comércio, mediante requerimento firmado pelos

incorporadores, dirigidos ao CNSP e apresentado por intermédio da SUSEP.”94

O segurador está sujeito a fiscalização da Superintendência de Seguros

Privados, e exerce a função de captação de recursos na economia, de modo a

constituir-se num administrador de fundos destinados ao pagamento de obrigação

ao segurado.95

Outra questão relevante em relação ao segurador está no fato de “[...] as

seguradoras não estarem sujeitas à falência ou recuperação judicial”96, por

disposição da Lei de Falências. Além do mais, as seguradoras é defeso explorarem

qualquer outro meio de atividade, ficando restrita a comercialização de seguros.97

1.5.1.2 Segurado

Do outro lado do pólo da relação contratual está à figura do segurado,

“[...] ou seja, pessoa física ou jurídica, que, através do pagamento do preço do

92 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 2006. p. 445 93 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 86 94 BRASIL. Decreto-lei nº 73, de 21 de novembro de 1966. Disponível em: < http://www.susep.gov.br/textos/Decreto-Lei73-66-mai09.pdf>. Acesso em 15 ago 2009. 95 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. 96 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 43 97 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 2006.

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seguro, o prêmio, adquire uma garantia sobre interesse segurável, transferindo ao

segurador o risco, objeto da apólice do seguro.”98

Ressalva-se apenas, o disposto no art. 109 do Decreto-Lei n. 2.603 de 07

de março de 1940, que proíbe que menores de 14 (quatorze) anos contratem seguro

de vida, independente de representação.99

1.5.1.3 Estipulante

Em alguns casos, aquele que contrata o seguro não é efetivamente o

segurado, surgindo, portanto, a figura do estipulante do seguro. Não é figura

obrigatória em todos os contratos de seguro. São mais freqüentes nos casos de

seguro de vida em grupo. “Neste sentido, frisa-se que o estipulante é aquele que

contrata o seguro com o segurador em nome do segurado.”100

O estipulante é aquele que negocia diretamente com a seguradora, paga

o seguro, ou simplesmente recolhe o valor e repassa à seguradora, mas não

responde pelo valor devido por esta aos segurados.101

1.5.1.4 Beneficiário

O beneficiário de um seguro será aquele designado pelo segurado para

receber o valor de indenização acordado no contrato, quando da sua falta.

Todavia, “[...] nem todos poderão ser beneficiários; [...]”.102 Neste sentido,

ressalta-se que num seguro de vida, o segurado não pode instituir como beneficiário

concubina ou cúmplice, conforme art. 1.801, III103 do Código Civil de 2002.104

98 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 44 99 BRASIL. Decreto-Lei n. 2. 063, de 7 de março de 1940. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/126722/decreto-lei-2063-40>. Acesso em: 10 out. 2009 100 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 89 101 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 102 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 448

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Assim, conforme leciona Silva:

O beneficiário é a pessoa física, jurídica, ou de personificação anômala, que desfruta dos benefícios concedidos pelo contrato de seguro. É, portanto, aquele que detém legítimo interesse sobre o bem da vida presente na relação jurídica securitária. Geralmente o beneficiário confunde-se com a pessoa do segurado. Todavia, possível que o favorecido de eventual cobertura securitária seja pessoa diversa do contratante, como é corriqueiro nos seguros de vida com o evento morte.105

Entretanto, pode ocorrer que não seja nomeado beneficiário no contrato

de seguro. Nesse caso o valor a ser pago frente à ocorrência de um sinistro será

devido aos herdeiros legais, seguindo-se a ordem da vocação hereditária.106

Outra peculiaridade em relação aos beneficiários é a possibilidade de

substituição pelo segurado, desde que, não seja para cumprimento de alguma

obrigação. Tal possibilidade encontra amparo legal no art. 791107 do Código Civil de

2002.108

1.5.1.5 Prêmio

O prêmio é o valor devido pelo segurado, ao segurador, em decorrência

do risco assumido. “Destarte, tem-se que o valor total pago pelo segurado ao

103 “Art. 1.801 do CC/2002. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários: [...]. III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 104 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 2006. 105 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 90-91 106 “Art. 1.829 do CC/2002. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte: I – aos descendentes, em concorrência com o cônjuge, [...]; II – aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III – ao cônjuge sobrevivente; IV – aos colaterais.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 107 “Art. 791 do CC/2002. Se o segurado não renunciar a faculdade, ou se o seguro não tiver como causa declarada a garantia de alguma obrigação, é licita a substituição do beneficiário, por ato entre vivos ou de última vontade. Parágrafo único. O segurador, que não for cientificado oportunamente da substituição, desobrigar-se-á pagando o capital segurado ao antigo beneficiário.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 108 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro.

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segurador, para que aquele goze de tranquilidade em relação ao objeto do risco, é

denominado de prêmio. Prêmio, portanto, é o preço do seguro.”109

“O prêmio é fixo e, em geral, vem determinado no contrato. Quem

estabelece é o segurador, sob a vigilância do Estado, tendo em vista a extensão do

risco que assume.”110

O prêmio é elemento de suma importância, pois acaba por criar um fundo

comum para a própria seguradora, ou seja, sem esse fundo seria impossível o

pagamento de sinistros, despesas de administração, etc.111

E mais, conforme preceitua o art. 758 do Código Civil de 2002112,

O prêmio é tão importante que o documento comprobatório do seu pagamento, mesmo na hipótese de ausência de apólice ou de bilhete do seguro, valerá como presunção de existência de contrato de seguro entre segurado e segurador. 113

O pagamento do prêmio, conforme art. 764 do Código Civil de 2002 é

uma obrigação do segurado, e é devido mesmo que não ocorra o fato danoso.

Assim, diante da inadimplência do segurado114, a seguradora não está adstrita a

pagar a indenização.115 No entanto, por se tratar a inadimplência de assunto de

grande controvérsia no mundo jurídico, será objeto de estudo com mais prioridade

no capítulo terceiro deste trabalho.

109 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 41 110 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 339 111 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Teoria Geral do Seguro I. Supervisão e coordenação metodológica da Superintendência de Tecnologia Educacional. Assessoria técnica de Wagner Attina Xavier. Rio de Janeiro: Funenseg, 2002. p. 32 112 “Art. 758 do CC/2002. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 113 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 96 114 “Art. 758 do CC/2002. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do bilhete do seguro, e na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do respectivo prêmio.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 115 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro.

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1.5.1.6 Risco

Tem-se inicialmente que o risco é o elemento principal do seguro, pois

reflete no seu próprio objeto.116

“Pode-se, portanto, formular o seguinte conceito para o risco no seguro:

acontecimento possível, futuro, incerto ou de data incerta e, em regra, fortuito e

lícito.”117

Desta forma, conforme art. 757 do Código Civil de 2002, o risco é

assumido pela seguradora, mediante o correto pagamento do prêmio pelo segurado.

Um ponto relevante em relação ao risco do seguro, diz respeito ao

agravamento intencional pelo segurado, conforme preceitua o art. 768 do mesmo

Diploma Legal, já que perderá o segurado direito a garantia instituída pelo seguro se

agravar intencionalmente o risco.

A título de exemplo, considera-se um agravo intencional um segurado que

dirige seu carro em alta velocidade numa corrida ilícita (racha).

Todavia, o risco não intencional, por sua vez, tem tratamento diferenciado

perante o Código Civil, conforme preceitua art. 769 e parágrafos, in verbis:

Art. 769. O segurado é obrigado a comunicar ao segurador, logo que saiba, todo incidente sustentável de agravar consideravelmente o risco coberto, sob pena de perder o direito à garantia, se provar que silenciou de má-fé. §1º. O segurador, desde que o faça nos quinze dias seguintes ao recebimento do aviso da agravação do risco sem culpa do segurado, poderá dar-lhe ciência, por escrito, de sua decisão de resolver o contrato. §2º. A resolução só será eficaz trinta dias após a notificação, devendo ser restituída pelo segurador a diferença do prêmio.118

Com base no artigo supracitado, tem-se que o segurado, “[...] na hipótese

em que ocorrer o considerável agravamento do risco, por motivos alheios a sua

vontade, tem a obrigação de informar a nova circunstância fática ao segurador

[...]”.119

116 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 338 117 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 40 118 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 119 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 112

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Logo, a diferença entre agravamento intencional e não intencional tem

grande relevância para o mundo jurídico. Nessa última hipótese, o segurado após

avisar à seguradora, tem um prazo de quinze dias para ficar aguardando a

comunicação acerca da resolução ou não do contrato. Optando pela resolução, esta

só passará a valer após trintas dias da notificação do segurado, com o direito deste,

de receber de volta a diferença do pagamento do prêmio.120

1.5.1.7 Co-Seguro

Na forma do art. 761 do Código Civil de 2002, “quando o seguro for

assumido em co-seguro, a apólice indicará o segurador que administrará o contrato

e representará os demais, para todos os seus efeitos”.121

O co-seguro, portanto, vem a ser uma forma de dividir o risco assumido

por uma seguradora líder, com outras congêneres. Ou seja, ocorre uma distribuição,

uma pulverização da responsabilidade contratada. A seguradora líder será a

responsável por toda manutenção que eventualmente precise ser feita no contrato,

bem como pela percepção e distribuição do prêmio as demais seguradoras, de

acordo com a participação de cada uma.122

O prêmio percebido é racionado entre os seguradores, de acordo com a

cota de responsabilidade assumida por cada um.123

Ressalta-se, contudo, que essa operação não tem presunção de

solidariedade dentre as seguradoras, vez que, nos termos do art. 256 do Código

Civil de 2002 a solidariedade deve ser decorrente de lei.124 Todavia, quando não

forem repassadas ao segurado todas as informações referentes à operação do co-

seguro, presumir-se-á a solidariedade, em virtude da proteção consumerista.125

120 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 121 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 122 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 46 123 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 194 124 “Art. 265 do CC/2002. A solidariedade não se presume; resulta da lei ou da vontade das partes.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 125 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 196

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1.5.2 Requisitos

Os requisitos de validade do contrato de seguro encontram amparo legal

no art. 104 do Código Civil de 2002, e são divididos em subjetivos, objetivos e

formais.126 Tal dispositivo legal prescreve os requisitos de forma geral, para todos os

negócios jurídicos. Assim, para esse ter validade depende de agente capaz, objeto

lícito, determinado, ou ao menos, determinável pelo gênero e espécie, e forma

prescrita e não proibida em lei127.

O requisito subjetivo diz respeito à capacidade do agente. Portanto, “para

ser segurado será necessária a capacidade civil. Qualquer pessoa poderá fazer

seguro de vida, e em qualquer valor, pessoalmente ou por meio de

representante”.128

Ressalta-se, conforme já abordado, o disposto no Decreto-Lei n. 2.603 de

1940, que alude que menores de 14 (quatorze) anos não podem contratar seguro de

vida, independente de representação.

Todavia, “[...] é perfeitamente possível aos incapazes figurarem como

segurados em um negócio de seguro, desde que assistidos ou representados por

quem de direito”.129

A respeito da capacidade civil, o art. 3º do Código Civil de 2002, preceitua

aqueles absolutamente incapazes, in verbis:

Art. 3º. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade.

Todavia, destaca-se que esses são considerados incapazes para prática

de atos da vida civil sozinhos, motivo pelo qual devem ser representados.130

126 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 2006. 127 “Art. 104 do CC/2002. Art. 104. A validade do negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito possível, determinado ou determinável; III – forma prescrita e não defesa em lei”. (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 128 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 447 129 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 44

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O requisito objetivo do contrato de seguro está ligado ao objeto do

contrato, preceituado no inciso II, do art.104 do Código Civil de 2002. Não poderá

ser objeto de negócio jurídico pactos contrários a lei e aos princípios que o norteiam,

por exemplo, seguro sobre algo ilícito. Igualmente, deve ser algo possível, física ou

juridicamente.131

Além do mais, ainda quanto ao objeto, estes devem ser no mínimo

passíveis de determinação132, para que possam ser fruto do contrato.133

E por último, o requisito formal, que cuida quanto à forma do contrato,

prevista no inciso III, do art.104 do Código Civil de 2002, onde alude que o contrato

de seguro deve obedecer a uma forma prescrita em lei para ter validade e produzir

efeitos jurídicos. Porquanto, “o ordenamento pátrio, como regra, anela pela liberdade

das formas, de modo que o formalismo é exceção à regra”.134

O contrato de seguro regra geral deverá apresentar forma escrita, onde

constarão todos os dados do segurador, do segurado, bem como do seguro e dos

beneficiários.135

1.6 DIREITOS E OBRIGAÇÕES DO SEGURADO E DA SEGURADORA

Inicialmente tem-se que as principais obrigações do segurado são três, a

de pagar o prêmio, a de abster-se de agravar o risco, e a de comunicar a ocorrência

do sinistro.136

No tocante a primeira obrigação, de pagar o prêmio, tem-se que é dever

primordial do segurado, e deve ser efetuado no ato de recebimento da apólice, salvo

convenção que estipule o contrário.137

130 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 131 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 132 “Art. 243 do CC/2002. A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 133 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p.61 134 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 62 135 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 454 136 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 342 137 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 342

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“É obrigação do segurado não agravar os riscos, salvo se o contrato o

autorizou expressamente.”138 Essa segunda obrigação encontra amparo legal no art.

768 do Código Civil de 2002139, e diz respeito ao agravo intencional do segurado,

que procede de maneira contrária ao estipulado no contrato, criando um

desequilíbrio ao negócio jurídico pactuado. Esse agravo por sua vez, pode resultar

na perda do direito de ser indenizado diante de um sinistro.140

Outra obrigação que cabe ao segurado é a de comprovar a existência do

sinistro perante o segurador. Assim, deve levar ao conhecimento do segurador, a

ocorrência do fato danoso, e tomar as devidas providências para dirimir maiores

consequências.

Há sinistros que comprovam materialmente, mediante documentos expedidos pela autoridade pública ou por terceiros. Por sua vez haverá, por exemplo, necessidade de certidão de boletins metereológicos para comprovação de intempéries, por exemplo. Mesmo fatos notórios, no âmbito do seguro, devem em princípio, ser comprovados.141

Em contraprestação as obrigações, têm-se os direitos do segurado frente

o contrato pactuado com a seguradora. Não obstante, o segurado terá o direito de

receber além da indenização devida, a reparação do dano, até os limites do

contrato. Além do mais, o segurado faz jus ao direito de receber o reembolso de

despesas realizadas por interesse da seguradora; exigir quando a redução do risco

for considerável, a revisão do prêmio ou a resolução do contrato; bem como, não

poderá ver seu prêmio aumentado, mesmo que reste agravado o risco, por força

alheia a sua vontade, como uma epidemia global.142

No outro pólo do contrato, encontram-se as obrigações básicas do

segurador, qual seja, “a de pagar os prejuízos decorrentes do risco assumido”,143

bem como, restituir em dobro o segurado em caso de má-fé de sua parte, defender o

segurado e tomar todas as providências cabíveis, a fim de eliminar ou dirimir

maiores riscos.144

138 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 404 139 “Art. 768 do CC/2002. O segurado perderá o direito à garantia se agravar intencionalmente o risco objeto do contrato.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 140 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. 141 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 404 142 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 475-476 143 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade p. 344 144 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 480-481

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A primeira obrigação do segurador encontra amparo legal no art. 776 do

Código Civil de 2002, conforme preceitua que “o segurador é obrigado a pagar em

dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido, salvo se convencionada a

reposição da coisa”.145

Nota-se que essa expressão “pagar em dinheiro” relativiza-se diante da

ocorrência do sinistro e do tipo de seguro contratado. Isso porque, em se tratando de

seguro de automóvel, a reparação do veículo torna-se normalmente possível. Já no

caso de seguro de vida, o pagamento no caso de morte será em dinheiro aos

beneficiários, pela impossibilidade de restituição da vida.146

Além do mais, o demora no pagamento do valor devido pelo segurador ao

segurado, importa em atualização monetária dos valores, conforme art. 772 do

Código Civil de 2002.147

Todavia, excluem do dever do segurador de pagar:

O dolo de parte do segurado em seu dever de informação, e no agravamento do risco ou provocação de sua ocorrência; a existência de seguro anterior, sobre o mesmo bem e por seu valor integral; e o descumprimento das obrigações contratuais pelo segurado, primordialmente o não-pagamento do prêmio.148

Desta forma, mesmo se tratando de obrigação primordial do segurador o

pagamento da indenização, este pode abster-se de fazê-lo, quando houver

descumprimento do segurado com seus deveres.

Os direitos do segurador findam-se em receber o prêmio pago pelo

segurado, a fim de garantir-lhe o risco; excluir-se em alguns casos do pagamento da

indenização, como acima mencionado; opor ao seu favor todos os meios de defesa

que lhe assistir; sub-rogar-se no direito de cobrar do responsável pelo sinistro,

quando pagar a indenização ao segurado; atualizar o prêmio, diante do agravamento

do risco pelo segurado; além de merecer lealdade e boa-fé por parte do segurado,

quando da contratação do seguro.

145 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 146 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. 147 “Art. 772 do CC/2002. A mora do segurador em pagar o sinistro obriga à atualização monetária da indenização devida [...].” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 148 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 406

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1.7 FASES E INSTRUMENTO DO CONTRATO

A contratação do seguro, de forma geral, ocorre mediante a apresentação

da proposta ao segurado, com todos os benefícios do seguro, bem como prêmio a

ser pago, calculado de acordo com a idade do contratante e o capital que deseja

adquirir.

Após a efetivação da venda, o segurado então procederá ao

preenchimento da proposta, com todos os seus dados pessoais, com base na mais

estrita boa-fé. Em alguns casos, o comprovante do seguro é a cópia da própria

proposta, chamada também de bilhete de seguro. Na grande maioria dos contratos

de seguros, essa proposta é encaminhada a seguradora, para eventual confirmação

da venda e emissão da apólice, que será o comprovante do segurado, e nela

conterá também todos os dados do seguro, do próprio segurado e indicação do

beneficiário.

Como se observa dois instrumentos norteia de forma primordial a relação

contratual do seguro, quais sejam proposta e apólice e/ou bilhete de seguro.149

1.7.1 Proposta

A proposta vem a ser a fase pré-contratual da negociação do seguro.

[...] é o instrumento jurídico pelo qual o segurado apresenta ao segurador o pedido de cobertura do risco que pretende garantir, e no qual constem todos os elementos necessários para bem nortear o segurador quanto ao perfeito enquadramento do risco, bem como a fixação do preço do prêmio.150

O segurado que preencher a proposta de seguro deve fazê-la com a mais

estrita veracidade, em observância do princípio da boa-fé, sob pena da perda do

direito a indenização. “Neste sentido, vale dizer, a proposta não é contrato, mas um

instrumento destinado à apresentação de um conjunto de declarações do

149 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 408 150 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 33

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proponente, que, até se prove em contrário, são verdadeiros”.151 De modo que, com

base no Código de Defesa do Consumidor, essa proposta com todas suas ofertas

farão parte integral do contrato, não podendo segurado e/ou segurador se absterem

de cumprirem alguma das suas cláusulas.152

A proposta deve ser, via de regra escrita, conforme preceitua o art. 759 do

Código Civil de 2002, in verbis: “a emissão da apólice deverá ser precedida de

proposta escrita com a declaração dos elementos essenciais do interesse a ser

garantido e do risco”.153

No entanto, conforme autorização expressa do Decreto-Lei n. 73 de 21 de

novembro de 1966, art. 10, em alguns casos a contratação do seguro poderá ser

verbalmente, mediante solicitação do interessado.154

A proposta de seguro é vinculativa e obrigatória, não sendo obrigado o

segurador a aceitar o risco, mas tendo, porém, o prazo para analise da aceitação de

quinze dias, fixados pelo art. 2º da Circular da SUSEP n. 251, de 15 de abril 2004.155

Não se manifestando a seguradora nesse prazo, presume-se aceito tacitamente o

risco da proposta. No caso da não aceitação, esta deve ser formalmente por escrito,

seguida da justificativa da recusa.156

A seguradora poderá ainda, na fase pré-contratual, exigir que se proceda

à vistoria no bem a ser segurado, principalmente no caso de seguro de veículos.

“Além da confirmação da existência do bem, a companhia seguradora, por meio da

vistoria prévia, também toma conhecimento do estado de conservação do bem.”157

Todavia, essa vistoria prévia não é elemento obrigatório do contrato,

sendo facultado à seguradora exigi-lo. No entanto, uma vez dispensada à vistoria a

151 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 124 152 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie 153 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 154 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 155 “Art. 2º A sociedade seguradora terá o prazo de 15 (quinze) dias para manifestar-se sobre a proposta, contados a partir da data de seu recebimento, seja para seguros novos ou renovações, bem como para alterações que impliquem modificação do risco.” (SUSEP. Circular n. 251 de 15 de abril de 2004. Disponível em <http://www.susep.gov.br/textos/circ251.htm>. Acesso em: 02 jun. 2009). 156 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie 157 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 127

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seguradora assume como verdadeiros todos os risco descritos na proposta, não

podendo usar como argumento de defesa a falta dessa vistoria.158

“Por fim, anota-se que a aceitação da proposta culminará na expedição

da apólice de seguro que representa o vínculo contratual entre segurador e

segurado.”159

Depois de preenchida a proposta, analisada e aceita pela seguradora,

essa será processada, e dela será emitida uma apólice de seguro.

1.7.2 Apólice e/ou bilhete de seguro

A apólice é o documento que tem por finalidade consubstanciar o

conteúdo acordado entre segurado e seguradora, é o contrato propriamente dito,

contendo todas as cláusulas e condições, a cobertura, prêmio, beneficiários e

anexos. Assim, a apólice consiste na promessa de pagamento, caso venha

acontecer o risco previsto no contrato.160

Assim

A apólice de seguro é o instrumento do contrato que regula as convenções ajustadas entre o segurado e o segurador. A apólice deve consignar todos os riscos assumidos pelo segurador, o valor do objeto segurado, o prêmio devido ou pago pelo segurado e todas as demais estipulações que forem objeto do contrato e nele ajustadas.161

Desta forma a apólice vem a ser a formalização da proposta. Nela devem

vir expresso tudo que ficou acordado entre segurado e segurador. Desta forma,

conforme art. 758 do Código Civil de 2002, o contrato de seguro será provado pela

exibição da apólice ou bilhete. In verbis:

158 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 159 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 130 160 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo código civil. Rio de Janeiro, Forense, 2007. p. 21 161 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p.120

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“Art. 758. O contrato de seguro prova-se com a exibição da apólice ou do

bilhete de seguro, e, na falta deles, por documento comprobatório do pagamento do

respectivo prêmio.”162

A apólice pode ser nominativa, à ordem ou ao portador, conforme art. 760

do Código Civil de 2002.163

Nominativa é a apólice transmissível por meio de cessão e identifica o

próprio segurado; já à ordem, é aquela que se transfere por meio de endosso no

próprio documento, enquanto que a apólice ao portador se transmite pela simples

tradição, ou seja, o direito de receber a indenização será daquele de deter o

documento em mãos.164

O bilhete de seguro, por hora citado nos artigos transcritos, estão

submetidos às mesmas regras da apólice. No entanto, possui algumas

características que o diferenciam da apólice.

O campo de atuação do bilhete está mais limitado, sendo utilizado nos

ramos do seguro que não exijam tanta formalidade, haja vista que o bilhete dispensa

a proposta, sendo ele por si, a comprovação pré-contratual e pós-contratual. É

aplicado no caso de seguros de acidentes pessoais, seguro DPVAT e incêndio

residencial.165

O bilhete de seguro, “[...] é o resultado do esforço legislativo em

simplificar e ampliar a contratação”. É, portanto, mais restrito e limitado a seguros de

massa, porque obedecem a padrões que nivela todos os segurados.166

162 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 163 “Art. 760 do CC/2002. A apólice ou bilhete de seguro serão nominativos, à ordem ou ao portador, e mencionarão os riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o nome do segurado e o do beneficiário. Parágrafo único. No seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não poderão ser ao portador.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 164 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo código civil. p. 43 165 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. 166 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 411

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1.8 A APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONDUMIDOR A

ATIVIDADE SEGURITÁRIA

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 elencou entre

os direitos fundamentais do cidadão a defesa do consumidor. O Código de Defesa

do Consumidor (CDC), Lei n. 8.078, de 11 de setembro de 1990, teve sua origem,

portanto, com base nesse dispositivo constitucional.167

O Código de Defesa do Consumidor estipula que estão sujeitos a sua

tutela todos os chamados contratos de consumo, o qual se entende aquele formado

pela existência de um consumidor, um fornecedor e um produto e/ou serviço.168

Por consumidor, tem-se a definição legal descrita no art. 2º do Código de

Defesa do Consumidor de 1990, in verbis:

Art. 2º. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.169

Já o fornecedor, conforme preceito legal descrito no art. 3º do Diploma

Legal vem a ser:

[...] toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestações de serviços.170

Entende-se por produto “[...] qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou

imaterial”, conforme parágrafo primeiro do art. 3º do Código de Defesa do

167 CARLINI, Angélica L. [et al]. Cadernos de seguro: pesquisa. Coordenação de Antonio Carlos Teixeira Barbosa [et al]. Rio de Janeiro: FUNENSEG, 2006. 168 SCHAEFER, Fernanda. Responsabilidade civil dos planos & seguros de saúde. 5ª reimp. Curitiba: Juruá, 2008 169 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 170 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 20096. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Consumidor de 1990171, e por “serviço172 qualquer atividade fornecida a terceiros,

mediante remuneração, desde que não seja de natureza trabalhista.”173

Por preencher tais requisitos, e “por disposição expressa do CDC, o

contrato de seguro é uma modalidade de contrato de consumo.”174 Sendo assim,

aplica-se à relação de seguro o que couber do Código de Defesa do Consumidor e,

portanto, merece todo tratamento especial o segurado, que representam os

consumidores da relação contratual, parte hipossuficiente do acordo.

Sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor as relações de

seguros manifesta-se o Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

Ação de cobrança. Seguro. Rejeição de preliminar de prescrição. Relação de consumo. Aplicabilidade do art. 27 do CDC. Prazo prescricional qüinqüenal. Mérito. Descumprimento contratual. Ausência de notificação à seguradora acerca do sinistro. Desnecessidade. Pretensão exaustivamente resistida em contestação. Argumento afastado. Recurso conhecido e desprovido. É irrecusavelmente de consumo a relação jurídica que se estabelece entre a seguradora e o segurado, sujeita, pois, a normatização especial trazida pelo Código de Defesa do Consumidor. [...].175 (grifos)

Pela equiparação do segurado a consumidor, têm-se os direitos desse

garantido pelo Código de Defesa do Consumidor.

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços considerados perigosos ou nocivos; II – a educação e divulgação sobre o consumo adequado dos produtos e serviços, [...]; III – a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, [...];

171 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 20096. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 172 “Art. 3º, § 2º do CDC/1990. Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das reclamações de caráter trabalhista.” (BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 20096. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 173 ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 40 174 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 92 175 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Primeira Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2005.037981-4, de Tubarão. Relator: Carlos Adilson Silva. Florianópolis, 18 de junho de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qID=AAAGxaAAHAAA5KJAAB&qTodas=2005.037981-4&qFrase=&qUma=&qCor=FF0000>. Acesso em: 28 ago. 2009

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IV – a proteção contra a publicidade enganosa e abusiva, métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como práticas e cláusulas abusivas ou impostas no fornecimento de produtos e serviços; V – a modificação de cláusulas contratuais que estabeleçam prestações desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente onerosas; VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos; VII – acesso aos órgãos judiciários e administrativos, [...]; VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiência; IX – VETADO; X – a adequada e eficaz proteção dos serviços públicos em geral.176

Outra questão que reflete dessa equiparação a relação de consumo, está

consubstanciada na ilegalidade de cláusulas abusivas no contrato de seguro, como

por exemplo, estipular prazo de carência superior a dois anos, cobrar prêmio

excessivamente alto em virtude da profissão que o segurado exerce ou estipular

cláusula de renuncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza no

negócio. Por se tratarem de contratos com cláusulas de adesão, essas devem estar

adstritas ao Código de Defesa do Consumidor, sob pena de serem declaradas

nulas177 de pleno direito.178

1.9 MODALIDADES DE SEGURO

Duas são as modalidades de seguro previstas no Código Civil de 2002, o

seguro de dano e o seguro de pessoas, artigos 778 e seguintes.

176 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 177 “Art. 424 do CC/2002. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente a direito resultante da natureza do negócio.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 178 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas.

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1.9.1 Seguro de dano

Antes do Decreto n. 61.589/67, essa categoria era conhecida como

seguros de ramos elementares. Mesmo com a nova nomenclatura introduzida pelo

Código Civil de 2002, é comum ainda algumas seguradoras utilizarem o antigo

nome.179

“O seguro de dano (ou de “ramos elementares”) tem por objeto os

interesses relacionados com o patrimônio, [...], obrigações, saúde e integridade

física do segurado.”180

Desta forma, tem-se que esses seguros têm natureza indenizatória, pois

são voltados à recomposição do bem do segurado diante da ocorrência do sinistro,

devendo esse fazer prova dos danos sofridos.181 Esse caráter indenizatório, pode

ser observado no art. 778 do Código Civil de 2002182, que abre a sessão do seguro

de dano.

Por este motivo, não é permitido ao segurado contratar pelo valor integral,

dois seguros sobre o mesmo bem, nem segura-lo pelo valor superior ao seu real,

pois caso sobrevindo o sinistro originaria o enriquecimento ilícito do segurado. E por

este motivo, mas vantajoso seria para o segurado que sobreviesse o acidente com o

objeto, diminuindo, por conseguinte, seu interesse na conservação do bem.183

Todavia, “permitida está à cumulação de seguros, a duplicidade de

seguros ou a realização de dois seguros em seguradoras diversas, de uma mesma

coisa, desde que o valor dos dois seguros não seja superior ao do bem

segurado”.184 Essa cumulação por hora, tem o papel de integralizar o valor do bem,

e deve ser previamente informado a seguradora da intenção de firmar novo contrato,

conforme prescreve art. 782 do Código Civil de 2002.

179 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 180 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. p. 491 181 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 182 “Art. 778 do CC/2002. Nos seguros de dano, a garantia prometida não pode ultrapassar o valor do interesse segurado no momento da conclusão do contrato, sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação penal que caso couber.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 183 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 184 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 468

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Art. 782. O segurado que, na vigência do contrato, pretender obter novo seguro sobre o mesmo interesse, e contra o mesmo risco junto a outro segurador, deve previamente comunicar sua intenção por escrito ao primeiro, indicando a soma por que pretende segurar-se, a fim de se comprovar a obediência no art. 778.185

Uma vez assumido o risco do seguro pelo segurador, este ficará

responsável pela indenização dos danos mediatos e imediatos.186 Assim:

Nas espécies de seguro de dano, segundo orientação do Código Civil, ‘o risco do seguro compreenderá todos os prejuízos resultantes ou conseqüentes, como sejam os estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o dano, ou salvar a coisa’ (art 779).187

Destaca-se que nem todo risco será coberto pelo seguro, excetuando os

vícios intrínsecos não declarados ao tempo da contratação para o segurador,

conforme exposto no art. 784 do Código Civil de 2002188.189

Nesse tipo de seguro, é possível que ocorra a alienação da coisa

segurada, desde que no contrato não haja cláusula expressa em contrário.190

Como modalidade do seguro de dano, destaca-se os seguros de

automóveis, residenciais, de responsabilidade civil obrigatórios, dentre outros.191

Este último vem preceituado no art. 788 do Código Civil de 2002, in verbis:

Nos seguros de responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao terceiro prejudicado. Parágrafo único. Demandado em ação direta pela vítima do dano, o segurador não poderá opor a exceção de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a citação deste para integrar o contraditório.192

“O seguro de responsabilidade civil é aquele que o segurador assume os

riscos dos danos que o segurado, em função de ação ou omissão própria, de coisa

ou de pessoa sob sua guarda, possa provocar a outrem.”193

185 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 186 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 187 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 178 188 “Art. 784 do CC/2002. Não se incluem na garantia do sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada, pelo declarada pelo segurado.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 189 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 190 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 191 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 192 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 193 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 180-181

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1.9.2 Seguro de pessoa

Tratado nos artigos 789 a 802 do Código Civil, o seguro de pessoas

Pode ser definido como o contrato pelo qual o segurador se obriga, em contraprestações ao recebimento do prêmio, a pagar ao próprio segurado ou a terceiro, determinada quantia sob forma de capital ou renda, quando da verificação do evento previsto.194

Esse tipo de seguro não tem caráter indenizatório ao beneficiário quando

da ocorrência de um sinistro, e nem se poderia ter, haja vista que a vida não tem

preço que possa mensurá-la. Por este motivo, inclusive, que diferente do seguro de

dano, no seguro de pessoas o valor a ser pago é chamado de capital, e não

indenização.195

Por não ter caráter indenizatório, poderá o segurado contratar mais de um

seguro sobre a mesma coisa, não apresentando, portanto, um limite de cobertura,

de modo que o capital segurado é de livre arbítrio, conforme art. 789 do Código Civil

de 2002.196

De toda sorte, esse conteúdo em apreço será objeto de estudo do

capítulo segundo, sendo minuciosamente tratado no momento oportuno.

1.10 EXTINÇÃO DO CONTRATO

Várias são as formas que podem ensejar a extinção do contrato de

seguro, dentre as quais se destaca a extinção pelo decurso de prazo do contrato;

consentimento mútuo das partes; pela ocorrência do risco previsto no contrato; pela

194 SENE, Leone Trida. Seguro de pessoas. p. 69 195 COELHO, Fabio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. 196 “Art. 789 do CC/2002. Nos seguros de pessoa, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, que pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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cessação do risco; pela falta de adimplemento contratual; e por causa de nulidade

ou anulabilidade.197

O contrato de seguro, quando celebrado, vem acordado sob prazo de

vigência, ou seja, as partes no momento da celebração já tomam ciência da data de

início e fim do contrato. Via de regra, o contrato tem vigência de um ano, mas nada

impede que tenha vigência superior a esse período, como ocorre nos seguros de

vida.198 “Decorrido o prazo da apólice, esvai-se a obrigação do segurador.”199

O seguro pode ser extinto igualmente pelo distrato, quando ambas as

partes acordam, por mútuo consentimento, pelo desfazimento do negócio.200

Conforme art. 472 do Código Civil de 2002201, o distrato se dará pela

mesma forma do contrato. Porém, nada impede que um contrato oral seja desfeito

pela forma escrita. O distrato gera efeitos a partir da sua celebração, excetuando-se

as causas em que as partes acordem o contrário.202

Uma vez sobrevindo o sinistro, ou desaparecendo o risco, caducado

também resta o contrato de seguro. Por exemplo, no seguro de vida, vindo a ocorrer

à morte de segurado, extinto resta o contrato, pela falta de risco a continuar sendo

segurado.203

“O inadimplemento contratual de qualquer das partes também pode pôr

fim ao contrato. Rescindindo o pacto, o culpado arcará com os prejuízos que tenha

causado.”204 No entanto, pela grande discussão acerca do assunto, esta tema será

melhor detalhado no terceiro capítulo deste trabalho.

Causas de nulidade e anulabilidade também podem resultar na extinção

do contrato.

[...] é causa de extinção do contrato de seguro a falta de capacidade das partes e, ainda, a não-observância e forma (conforme reza o art. 104 do CC), causando-lhe a nulidade ou anulabilidade do ato. É certo, porém, que o contrato de seguro poderá ser aproveitado caso

197 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 416 198 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 199 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 416 200 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie 201 “Art. 472 do CC/2002. O distrato faz-se pela mesma forma exigida para o contrato.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 202 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direto Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. 203 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 2006. 204 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 417

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a nulidade seja sanada em tempo hábil, o mesmo não ocorrendo com a nulidade absoluta.205

Nulo será, portanto, aquele contrato para garantia de risco proveniente de

ato doloso do segurado, ou beneficiário, nos termos do art. 762 do Código Civil de

2002.206 Conquanto anulável seja aquele contrato que apresente algum vício

passível de ser sanado.207

O presente capítulo abordou de forma concisa o contrato de seguro, que

servirá de base para o estudo do contrato de seguro de pessoas, objeto do próximo

capítulo, que por sua vez, impulsionará a pesquisa do contrato de seguro de vida e

suas divergências jurídicas, foco central do trabalho.

205 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 151 206 “Art. 762 do CC/2002. Nulo será o contrato para garantia de risco proveniente de ato doloso do segurado, do beneficiário, ou de representante de um ou de outro.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 207 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro.

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2 DO CONTRATO DE SEGURO DE PESSOA

O presente capítulo tem como objetivo primordial tratar especificamente

do contrato de seguro de pessoas. Para tanto, primeiramente será realizado um

breve histórico, para em seguida trazer o conceito de seguro de pessoas, suas

principais características e modalidades, os tipos de coberturas, a distinção entre

seguro individual e coletivo, as particularidades quanto o sinistro nesse contrato e,

por fim, as formas de sua extinção. Todo esse conteúdo dará impulso para o terceiro

capítulo que tratará em especifico do seguro de vida e suas controvérsias no mundo

jurídico.

2.1 BREVE HISTÓRICO

A necessidade de sempre se proteger é inerente ao ser humano, desde

os mais primórdios anos da história. As diferentes situações climáticas, os ataques

de animais e mesmo de outros homens, as doenças, a invalidez e a morte

provocaram no homem a necessidade de proteger a si e seus familiares de uma

forma mais concreta.208

A vida em grupo e as moradias minimizaram certos perigos. Entretanto, o

homem observou que ainda persistiam situações que poderiam ocasionar a perda

de seus bens. A idéia do seguro surgiu para reduzir o risco das perdas, notadamente

às comerciais. 209

O seguro de pessoas também deriva da idéia de proteção. Sua aplicação

remonta ao século XIX, tendo sido utilizado inicialmente na versão coletiva, mais

208 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. 209 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006.

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especificamente, no transporte marítimo de escravos. O seguro garantia ao

proprietário uma indenização por cada escravo que morresse durante a viagem.210

No final do século XIX, foram firmados seguros de vida coletivos para

trabalhadores sendo nomeados beneficiários os empregadores.211

No Brasil, o Código Comercial de 1850, foi a primeira legislação a regular

o contrato de seguro e incentivou o surgimento de várias seguradoras que passaram

a explorar tanto o seguro marítimo quanto o terrestre. Destaca-se que o referido

Código determinava a proibição da contratação de seguro sobre a vida de pessoas

livres, excetuando-se os escravos, que nesta época não eram considerados

pessoas.212

Não obstante a expressa disposição proibitiva do Código, o seguro de

vida foi autorizado em 1855, sob a fundamentação de que a proibição se restringia a

cumulação do seguro marítimo com o de vida.213

Em 1905, surgiu um “plano” para os empregados de uma cadeia de

armazéns varejistas, sob uma série de apólices que exigiam exames individuais.

Esse seguro era temporário, renovável automaticamente, e seu prêmio era recolhido

e repassado a seguradora pelo empregador.214

Com a promulgação do Código Civil de 1916, a vida e as faculdades

humanas passaram a ser consideradas objeto segurável, o que foi mantido pelo

Código Civil de 2002. No Código Civil de 1916 o seguro de vida era regulado nos

arts. 1471 a 1476, e se referia apenas a forma tradicional. 215

210 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. 211 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. 212 SUSEP. História do Seguro. Disponível em: < http://www.susep.gov.br/menususep/historiadoseguro.asp>. Acesso em 20 ago. 2008. 213 SUSEP. História do Seguro. Disponível em: < http://www.susep.gov.br/menususep/historiadoseguro.asp>. Acesso em 20 ago. 2008. 214 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. 215 BRASIL. Código Civil e legislação civil em vigor. Organização de Theotonio Negrão e José Roberto Ferreira Gouvea. 26. ed. atual. até 16 de janeiros de 2007.São Paulo: Saraiva, 2007.

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O seguro de vida em grupo surgiu no Brasil apenas em 1929 tendo sido

influenciado pelo modelo norte americano que já estava consolidado naquele

país.216

Em 17 de Julho de 1992 foi promulgada a Circular n. 17 da SUSEP que

instituiu normas para o seguro de vida em grupo, regulando desde o objeto do

contrato até as garantias e capital.217

Com o advento do Código Civil de 2002, passou-se a tratar do seguro de

pessoas numa seção separada do seguro de dano, instituindo peculiaridades

inerentes a essa categoria de seguro. O seguro de pessoas vem apresentado nesse

Diploma Legal nos artigos 789 a 802.218

Em 19 de setembro de 2005, foi instituída a Circular n. 302 da SUSEP,

que dispôs sobre regras complementares de funcionamento e os critérios para

operação das coberturas de risco oferecidas em seguro de pessoas.219

Posteriormente, em 12 de janeiro de 2006 instituiu-se a Circular n. 317 da

SUSEP, que dispõe sobre as regras complementares de funcionamento e os

critérios para operação das coberturas de risco oferecidas em planos de seguros

coletivos de pessoas, que transporta para o que hoje se conhece de seguro de

pessoas, nas mais diversas modalidades.220

2.2 CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

O seguro de pessoas vem descriminado no Código Civil de 2002 nos

artigos 789 a 802, e conforme este Diploma Legal vem a ser o seguro contratado

sobre a vida da pessoa. Pode ser definido como uma contraprestação devida pelo

216 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. 217 SUSEP. Circular n. 17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 218 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 219 SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 220 SUSEP. Circular n. 317, de 12 de janeiro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ317.pdf>. Acesso em 10 de ago. de 2009

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segurador, ao próprio segurado ou terceiro, frente o recebimento de um prêmio,

quando da ocorrência de um sinistro.221

Coelho leciona que esse tipo de contrato cuida, “[...] simplesmente, do

adimplemento de obrigação pecuniária decorrente de contrato de garantia contra

riscos”.222 Assim, advindo o risco, devido é o valor ao segurado ou terceiro.

Kriger Filho colabora com o assunto ao definir seguro de pessoas como

sendo “[...] o contrato que tem por objetivo garantir ao segurado ou aos seus

beneficiários o pagamento de determinada soma em dinheiro no caso de algum

evento danoso afetar a sua vida ou saúde.”223

Outra peculiaridade está no sentido de que no seguro de pessoas, após a

efetivação da proposta, o segurado receberá como comprovante a apólice do seu

seguro, ressalvado apenas os seguros no qual o segurado receberá já no ato da

contratação o seu bilhete de seguro, conforme será explicado no decorrer do

trabalho.

Ressalta-se que nesse tipo de seguro de pessoas, o valor pago ao

beneficiário não tem caráter indenizatório, haja vista que a vida não pode ser

mensurada. A imensurabilidade da vida pode ser observada na Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, quando trata dos Diretos e Garantias

Fundamentais inerentes ao homem, elencando a vida como a primeira delas.224

Desta forma, o valor pago refere-se ao adimplemento de obrigação pecuniária, ou

seja, o valor previsto na apólice e devido pela seguradora em caso de ocorrência de

sinistro não é chamado de indenização, mas sim capital.225

Embora não possua característica propriamente indenizatória, o Código

Civil de 2002 dispõem um conceito unitário para seguro, que numa interpretação

literal do artigo remete a idéia de indenização para todas as modalidades de seguro.

No entanto, conforme ensina Sene, essa natureza indenizatória dos seguros de

pessoas possui peculiaridades que a tornam distintas daquela do seguro de dano.

221 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 73 222 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. p. 493 223 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. Florianópolis: OAB/SC, 2005. p. 208 224 “Art. 5º da CRFB/1988. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, [...].” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 225 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial.

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Nesse tipo de contrato, o bem segurado é a vida, e esta, como mencionado não

pode ser mesurada, restando à indenização como uma forma de compensação pela

falta de um ente querido.226

Por conta disso, nessa modalidade de seguro, não é vedado o sobre-

seguro, como ocorre no seguro de dano. Sobre-seguro é a contratação de mais de

um seguro sobre a mesma pessoa.227 Isso ocorre em virtude de que o bem

assegurado, a vida, não pode ser mensurada, logo, o proponente pode estipular o

capital segurado, contratar mais de um seguro com uma ou diversas

seguradoras.228. Desta forma, um segurado pode contratar um seguro de vida com

uma Seguradora “X”, com capital de R$ 100.000,00, e contratar posteriormente outro

seguro da mesma modalidade, com capital de R$ 300.000,00, com outra

seguradora.

Tão importante é essa modalidade de contrato de seguro, que

impenhorável é a soma dos pagamentos dos prêmios. Isso ocorre em virtude da

natureza jurídica e do fim a que se destina, qual seja trazer segurança para

familiares e/ou terceiros quando da falta do segurado.229

Além do mais, não está esse capital sujeito as dívidas do segurado, nem

tão pouco se considera esse valor para fins de herança.230 Portanto, “o recebimento

pelo beneficiário do capital devido pela seguradora, quando falece o segurado, não

tem a natureza de sucessão”. Por este motivo não incide sobre essa transmissão de

valores o imposto causa mortis. Mas, contudo, uma vez falecendo o beneficiário,

esse valor entra na sucessão, hipótese que se torna herança.231 Neste sentido

leciona Silva:

[...] se o beneficiário receber determinado valor correspondente à apólice de seguro de vida ou de acidentes pessoais, mesmo não

226 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 75 227 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. 228 “Art. 789 do CC/2002. Nos seguros de pessoas, o capital segurado é livremente estipulado pelo proponente, eu pode contratar mais de um seguro sobre o mesmo interesse, com o mesmo ou diversos seguradores.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 229 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. 230 “Art. 794 do CC/2002. No seguro de vida ou de acidentes pessoais para o caso de morte, o capital estipulado não esta sujeito às dividas do segurado, nem se considera herança para todos os efeitos de direito.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 231 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de Direito Comercial. p. 494

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deixando o segurado dívida de qualquer natureza, não haverá comunicação entre a importância agregada ao patrimônio pessoal do favorecido do capital estipulado e as obrigações vincendas ou, até mesmo, vencidas daquele que foi parte no contrato de seguro.232

Ainda neste ditame se manifesta o Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

Direito Civil. Ação de cobrança. Empréstimo bancário atrelado a seguro de vida para cobertura de eventual saldo devedor. Morte do segurado. Instituição bancária que figura como primeira beneficiária na apólice e utiliza a indenização para quitar os débitos do contratante falecido. Capital segurado que não está sujeito às dívidas do segurado. Direito da esposa do de cujus em receber a indenização na sua integralidade. Dever do banco de ressarcir os valores indevidamente apropriados. Inteligência do art. 1.475 do Código Civil de 1916 (correspondente ao art. 794 do atual Código Civil). Sentença mantida. Recurso desprovido. A teor do art. 1.475 do Código Civil de 1916 (correspondente ao art. 794 do atual Código Civil), a indenização proveniente de seguro de vida não está sujeita às dívidas do segurado ou de sua família, não se admitindo que o banco que concede empréstimo ao segurado figure como primeiro beneficiário do seguro para a amortização das dívidas do de cujus.233 (grifos)

Desta forma incontestável a importância dessa modalidade de seguro, em

virtude de sua função social, somada ao caráter alimentar quando da falta do

segurado. Inserem-se neste tipo de seguro fatores geradores de amparo e

tranquilidade a pessoa que contratou e seus familiares ou terceiros beneficiários.

Logo, sua grande relevância social esta ligada intimamente ao auxílio que os

beneficiários terão quando da falta de alguém que lhe dava subsidio para

sobreviver.234

Outra característica forte do seguro de pessoas tange no sentido de que

deve prevalecer a vontade do segurado quando do seu óbito, sendo nula qualquer

cláusula que transacione para pagamento reduzido do capital segurado, conforme

reza art. 795 do Código Civil de 2002.235

232 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 187-188 233 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Terceira Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2006.040311-8, de Canoinhas. Relator: Marcus Tulio Sartorato. Florianópolis, 15 de julho de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2006.040311-8&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAALAAAsabAAC>. Acesso em: 28 ago. 2009 234 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 208 235 “Art. 795 do CC/2002. É nula, no seguro de pessoas, qualquer transação para pagamento reduzido do capital segurado.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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Desta forma, o contrato de seguro de pessoa de que resulte morte ou

incapacidade do segurado tem força de título executivo extrajudicial236 237, para a

cobrança do total assegurado na apólice e/ou bilhete de seguro.238

2.3 MODALIDADES DO SEGURO DE PESSOAS

O contrato de seguro de pessoas, como pôde ser observado tem várias

características próprias, e pode ser desdobrando em dois grandes grupos: seguro de

vida e seguro de acidentes pessoais. Dentro dessas divisões pode-se encontrar

ainda o seguro de vida tradicional, o seguro de vida em caso de sobrevivência, o

seguro misto, seguro de vida em grupo e o seguro de acidentes pessoais.239

Contudo, destaca-se que essa última divisão não encontra unanimidade na doutrina,

sendo que a maioria dos autores citam apenas o primeiro grande desdobramento do

seguro de pessoas.

2.3.1 O seguro de vida tradicional

O seguro de vida teve sua origem em Londres, no ano de 1600, e desde

tal surgimento foi tomando proporções de grande relevância na sociedade, pelo fato

de ser uma forma de garantia deixada para familiares.240

Segundo ensina Rodrigues, o seguro de vida tradicional, ou simplesmente

seguro de vida, é aquele pelo qual o segurador, mediante o recebimento do prêmio

236 “Título executivo extrajudicial – é um título com força exeqüível por si só, ou seja, não depende de uma sentença para executá-lo, ele já autoriza a perseguição executória contra o devedor que nele se nomeia. Assim a qualidade de título executivo extrajudicial depende de expressa definição legal, que tanto pode estar contida no Código de Processo Civil, como em Leis especiais.” ( THEODORO JÚNIOR, Humberto. Processo de Execução. 23. ed. rev. e atual. São Paulo: Universitária do Direito, 2005. p. 150). 237 “Art. 585 do CPC/1973 – São títulos executivos extrajudiciais: III – os contraltos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese a caução, bem como os de seguro de vida.” (BRASIL. Código de Processo Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 238 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 473 239 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 336 240 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 76.

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pelo segurado, fica obrigado ao pagamento de certo capital contratado, quando da

ocorrência do sinistro, ao beneficiário ou na falta, seguindo-se a ordem da vocação

hereditária, como já mencionado em momento oportuno.241

Em linhas gerais:

[...] contrato de seguro de vida é aquele em que a duração da vida humana serve de base para cálculo do prêmio devido ao segurador, para que este se obrigue a pagar uma indenização de forma de um capital ou uma renda determinada ao beneficiário, por morte do segurado, [...].242

Esse tipo de seguro não busca proteção do patrimônio do segurado, mas

sim a tranquilidade de seus familiares e entes queridos, que dele dependam em

vida, garantindo certo valor aos dependentes, quando não mais estiver entre eles.243

O seguro de vida tradicional é comercializado mediante apresentação da

proposta ao segurado, com todos os benefícios que o seguro oferece.

Posteriormente é feito o cálculo do valor do prêmio, de acordo com a idade do

cliente e o capital que o mesmo pretende adquirir. Celebrado o contrato, será a

proposta devidamente preenchida pelo segurado, com base na mais estrita boa-fé, e

posteriormente efetivada para a seguradora, que emitirá a apólice do seguro.

No espelho desta apólice deve constar o número da proposta

anteriormente preenchida; o número que foi gerado para essa apólice; o nome da(s)

seguradora(s); o capital segurado; informações do segurado; natureza e duração do

contrato; início e término da vigência do seguro; prêmio; data da emissão da apólice

e assinatura do Diretor/Presidente da Companhia Seguradora.244

O pagamento do prêmio acordado poderá variar quanto à forma, à

duração e à ocorrência. Em relação à primeira, o pagamento se dará sob a forma de

prêmio único ou parcelas periódicas. Quanto à duração, poderá coincidir com a

duração do contrato ou ser inferior ao prazo deste. No que diz respeito à ocorrência

241 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 345 242 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p.17 243 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 149 244 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p.33

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do pagamento, poderá ocorrer no início ou no final do mês, em regra geral, nada

impedindo, entretanto, que cada seguradora proponha suas datas.245

Importante destacar que nessa modalidade de contrato é possível a

contratação de cobertura para morte natural do segurado e morte acidental, nada

impedindo que se contrate apenas a primeira, ou a segunda. Neste caso, contudo,

não se terá mais o seguro de vida propriamente dito, mas sim, o seguro de

acidentes pessoais.246

É vedada neste tipo de seguro a contratação por menor de 14 (quatorze)

anos de idade, restando a este apenas o direito a constituir um seguro por

sobrevivência247 ou com coberturas relacionadas ao reembolso de despesas.248

Essa modalidade de seguro interessa, via de regra, a três pessoas: o

segurador que assume a obrigação contratual de pagar a indenização pactuada, o

segurado que paga o valor estipulado na apólice, e o beneficiário, que recebe a

indenização devida. Aufere-se, portanto, que o seguro de vida é uma estipulação em

favor de terceiro.249

Todavia, nada impede que ocorra o contrário, terceiro firmando seguro em

favor do estipulante, ou seja, o segurado não participará da contratação, enquanto

que o contratante assume todas as obrigações e se coloca como beneficiário, onde

adquire direito próprio para cobrar do segurador o valor devido como indenização.250

Observa-se que o terceiro contratante deve apresentar um interesse

legível quando da contratação do seguro em favor de outrem, sob pena de falsidade,

245FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p.21 246 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 145 247 “Art. 109. É proibida a estipulação de qualquer contrato de seguro sobre a vida de menores de quatorze anos de idade, sendo, porém, permitida a constituição de seguros pagáveis em caso de sobrevivência, estipulando-se, ou não, a restituição dos prêmios em caso de falecimento do segurado.” (BRASIL. Decreto-Lei n. 2. 063, de 7 de março de 1940. Disponível em: < http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/126722/decreto-lei-2063-40>. Acesso em: 10 out. 2009). 248 “Art. 8º - Para menores de 14 (catorze) anos é permitido, exclusivamente, o oferecimento e a contratação de coberturas relacionadas ao reembolso de despesas, seja na condição de segurado principal ou dependente.” (SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009). 249 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 153 250 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro: de acordo com o Novo Código Civil brasileiro. 2.ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.164

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conforme art. 791 do Código Civil de 2002.251 Assim, “sem interesse legítimo não há

contrato de seguro, haja vista a essencialidade desse componente”.252

Esse interesse deve ser de ordem econômica, como uma dependência

financeira do contratante com o segurado, por exemplo.253 Todavia, o interesse já se

encontra presumido quando o terceiro for cônjuge, ascendente ou ascendente do

segurado, conforme disposto no parágrafo único do art. 970 do Código Civil de 2002.

Na hipótese do parágrafo único, o interesse deve ser de ordem afetiva,

desprovido do interesse econômico, haja vista a grande relação afetiva existente

entre esses. Contudo, uma vez afastada essa presunção afetiva, a eficácia do

seguro dependerá de prova do interesse econômico em manter o contrato.254

Ressalta-se que aquele dispositivo legal refere-se apenas a essa

modalidade de seguro de vida tradicional. No entanto, nada impede que se faça

seguro de sobrevivência por terceiro, pois o segurado irá receber em vida.

É lícito por parte do segurador, no tocante ao seguro de vida, estipular um

prazo de carência, pelo qual não responderá pelo sinistro. Ou seja, durante este

período, mesmo sobrevindo o óbito do segurado, a seguradora se exime de pagar o

capital, embora o segurado esteja pagando o prêmio como contratado. Contudo, em

se tratando de seguro individual a seguradora é obrigada a devolver a reserva

técnica255 já formada ao beneficiário.256 No tocante a estipulação do prazo de

carência cita-se o art. 797 do Código Civil de 2002, in verbis:

Art. 797. No seguro de vida para o caso de morte, é licito estipular-se um prazo de carência, durante o qual o segurador não responde pela ocorrência do sinistro. Parágrafo único. No caso deste artigo o segurador é obrigado a devolver ao beneficiário o montante da reserva técnica já formada.257

251 “Art. 791 do CC/2002. No seguro sobre a vida de outros, o proponente é obrigado a declarar, sob pena de falsidade o seu interesse pela preservação da vida do segurado. Parágrafo único: Até prova em contrário, presume-se o interesse, quando o segurado é cônjuge, ascendente ou descendente do proponente.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 252 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 133 253 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p. 165 254 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p. 165 255 “Reserva técnica é uma parcela do prêmio que o segurado paga a mais, para compensar o que irá pagar a menos, no fim do contrato, [...].” (ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 183). 256 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 145 257 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Esse período de carência estipulado tem sentido pelo fato de que é

natural ao ser humano, quando sente sua existência ameaçada, pensar na

subsistência dos seus dependentes. Assim, “o seguro é naturalmente a instituição

mais visada,” motivo pelo qual o segurador deve se precaver para não tornar sua

carteira de seguro uma falsidade de dados de mortalidade, os quais se levam em

consideração no momento do cálculo do prêmio.258 O seguro de vida, portanto, tem

como objetivo principal a morte involuntária do segurado.259

Destaca-se que a seguradora não esta desonerada a pagar o capital

segurado se o óbito do segurado decorrer da prática de esportes arriscados, bem

como exercício de atividades perigosas, cirurgia, serviço militar, atos de ajuda a

outrem ou riscos oferecidos por meios de transportes.260

2.3.2 O seguro de vida em caso de sobrevivência

O seguro de vida propriamente dito se apresenta mediante duas

modalidades, para o caso de morte do segurado, e para o caso de sobrevivência.261

No seguro por sobrevivência, o direito a percepção do capital segurado

não depende do óbito do segurado, mas sim da sua sobrevivência ao fim do período

estipulado no contrato.

Portanto, “o seguro de vida em caso de sobrevivência é aquele em que se

estipula que o benefício deve ser pago ao próprio segurado, ao fim de certo

tempo”.262

Esta modalidade de seguro obedece aos mesmos requisitos do seguro de

vida tradicional, ou seja, obriga-se o segurado ao pagamento de um prêmio para ter

o direito a percepção do capital contratado. Todavia, neste caso, ao invés de óbito, o 258 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 181 259 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 407 260 “Art. 799 do CC/2002. O segurador não pode eximir-se ao pagamento do seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte ou a incapacidade do segurado provier da utilização de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade em auxílio de outrem.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 261 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p.77 262 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 347

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seguro é contratado com o fim de permanecer o segurado vivo durante a vigência do

seguro, ou seja, sobreviver ao prazo estipulado no contrato. Assim, o fato gerador do

direito de receber o capital não se dá com a morte do segurado, mas sim, com a sua

sobrevivência pelo período contratado.263

Desta forma, “[...] no seguro de sobrevivência, a seguradora assume o

risco de o segurado viver além de determinado prazo, estabelecido em contrato, o

qual se denomina prazo de diferimento.”264

Tzirulnik ensina que:

Nessa modalidade de seguro de vida por sobrevivência há um evidente elemento de risco. Para o segurado, o de não sobreviver ao prazo contratado e “perder” a reserva matemática em seu nome constituída. Para a seguradora, o risco é que sobreviva ao prazo de deferimento um número de segurados superior ao calculado. Verifica-se, pois, que para estabelecer o prêmio individual a ser pago, a seguradora calcula, atuarialmente, quantos da massa de segurados sobreviverão ao prazo do contrato e as reservas matemáticas dos que não sobreviverem e que serão utilizados para pagamento dos benefícios dos sobreviventes. O risco do segurado de “perder” a reserva matemática em seu nome constituída será a possibilidade de contratar um seguro de vida a custo menor.265

Comum nos dias atuais atrelar-se esta modalidade de seguro ao de vida

propriamente dito. Desta forma falecendo o segurado antes do prazo contratado,

fará jus seu beneficiário ao capital segurado de toda forma, ocorrendo o chamado

seguro misto.266

Poderá ocorrer também nesta modalidade de seguro, a substituição, de

comum acordo entre as parte, deste seguro, por outro plano, de seguro de vida

tradicional, resguardadas as devidas indenizações que resultem da alteração.267

263 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p.21 264 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 77 265 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p. 156. 266 SENE, Leone Trida [apud] MARTINS, Fran. Seguro de pessoas. p. 78 267 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. p. 537-538

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2.3.3 O seguro misto

O seguro misto, muito comum na atualidade, é o resultado da junção das

duas modalidades de seguro expostas anteriormente, ou seja, seguro de vida

tradicional e seguro de vida por sobrevivência. Neste contrato, é devido ao

segurado, portanto, o valor do capital ao final do contrato se não advinda à morte, ou

se sobrevier durante o prazo estipulado, os beneficiários receberão da mesma forma

o valor acordado.268

2.3.4 O seguro de vida em grupo

Nas origens, o seguro de vida era contratado apenas na forma individual.

No entanto, com a necessidade de simplificação de um seguro para um grupo de

pessoas, como por exemplo, funcionários de uma empresa, é que seguro de vida

em grupo deu sua alavancada.269

Essa modalidade de seguro surgiu no Brasil em 1929, por meio da

Seguradora Sul América. Mas, foi a partir de 1950 que se efetivou esta modalidade

se seguro, constituindo nos dias atuais num dos principais ramos de seguro

comercializados.270

No entanto, no Brasil, esta modalidade de seguro já se desvirtuou um

pouco das origens, vez que se buscava atender com esse contrato pessoas com

menor capacidade econômica, geralmente assalariada, e ligada a um empregador.

Entretanto, as seguradoras perceberam que havia aqui um campo fértil de lucro, e

foram em busca de alguma forma de burlar esse vínculo, requisito do seguro de vida

em grupo.271

268 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 336 269 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 192 270 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 192 271 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 193

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Foi criado primeiramente como uma forma de supri aquele requisito, os

Clubes de Seguro, onde pessoas se associam e solicitam sua inclusão na apólice

contratada, sem a necessidade de um vínculo empregatício.272

Hoje, contudo, esta necessidade de vínculo foi totalmente superada,

como pode ser vista, por exemplo, pela Circular da SUSEP n. 17, de 17 de julho

1992, que aprova normas para o seguro de vida em grupo, onde instituiu o

denominado grupo classe C, que é caracterizado pelo vínculo associativo ou pela

simples adesão ao plano de seguro.273

Assim, de acordo com aquela Circular, e com a natureza do vínculo dos

segurados com o estipulante, os grupos seguráveis274 podem ser divididos em três

classes:

Art. 14 - Os grupos são classificados de acordo com a natureza do vínculo dos componentes principais com o estipulante, a saber: Classe A – grupos constituídos exclusivamente por componentes de uma ou mais categorias específicas de empregados de um mesmo empregador. Classe B – grupos constituídos exclusivamente por membros de associações legalmente constituídas, em que o sistema de pagamento de prêmio seja exclusivamente o de desconto em folha de salários, [...]. Classe C – grupo de pessoas vinculadas a pessoas jurídicas que admitam a estipulação de seguros através de estatuto ou de decisão administrativa.275

O Código Civil de 2002 trata desta espécie de seguro de pessoas no art.

801, in verbis:

Art. 801 – O seguro de pessoas pode ser estipulado por pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela, de qualquer modo, se vincule. §1º. O estipulante não representa o segurador perante o grupo segurado, e é único responsável, para com o segurador, pelo cumprimento de todas as obrigações contratuais. §2º. A modificação da apólice em vigor dependerá da anuência expressa de segurados que representem três quartos do grupo.276

272 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p.193 273 SUSEP. Circular n. 17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 274 “Art. 13. Por grupo segurável entendem-se os segurados principais, aqueles que mantêm vínculo com o estipulante, e os dependentes do segurado, como cônjuge e os filhos, enteados e menores considerados dependentes do segurado.” (SUSEP. Circular n.17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009). 275 SUSEP. Circular n.17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 276 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Observa-se que na contratação deste seguro, são envolvidos os

seguintes sujeitos: segurado, aquele que adere ao seguro; a seguradora, aquela

pessoa jurídica que assume o risco especificado no contrato, mediante recebimento

do prêmio; o corretor, que faz a intermediação do seguro; os beneficiários, a quem

será paga a indenização prevista no contrato e o estipulante, pessoa física ou

jurídica que contrata a apólice, ficando responsável pela representação dos

segurados frente à seguradora.277

Destaca-se, contudo, que o estipulante do contrato não tem legitimidade

ativa para receber o capital segurado em nome do beneficiário, nem tão pouco esta

o segurado autorizado a cobrar do estipulante o pagamento do capital, em

cumprimento do contrato.278

Além do mais, conforme caput do artigo 801 do Código Civil de 2002, o

seguro de vida em grupo, hoje, pode ser contratado por pessoa jurídica ou física em

proveito de um grupo, que de qualquer forma a ela se vincule.279

Entende Rodrigues que,

O seguro de vida em grupo é o negócio que se estabelece entre um estipulante e a seguradora através do qual aquele se obriga ao pagamento de um prêmio global e aquela se obriga a indenizar pessoas pertencentes a um grupo determinado grupo segurável, pessoas essas ligadas por um interesse comum e cuja relação, variável de momento a momento, é confiada a seguradora.280

Outra característica peculiar deste seguro é a dispensa total de exame

prévio, haja vista ser um seguro que abrange dezenas de segurados, restringindo

apenas a idade para aderir ao seguro, estipulada por cada seguradora. Esse exame

é substituído pelo preenchimento de uma declaração pessoal de saúde pelo

segurado, que servirá como base do contrato, levando-se em consideração a mais

estrita boa-fé do adquirente no preenchimento.281

A formalização desse contrato de seguro de vida em grupo ocorre através

de três instrumentos: a proposta-mestra, cartão-proposta e a apólice-mestra. A

277 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 43 278 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 89 279 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 157 280 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 348 281 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 349

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proposta deve conter a anuência do estipulante ao seguro e assinatura deste e do

corretor; o cartão-proposta é o formulário que será preenchido e assinado pelo

segurado, no qual demonstrará sua adesão ao seguro e indicará beneficiários.282

Já a apólice-mestra, é o documento emitido pela seguradora, após a

efetivação da proposta. Nela deverá conter as condições gerais do seguro, a

indicação do capital segurado, taxas descriminadas por garantia, bem como de

atualizações monetárias, nome do corretor, junto com seu número de registro da

SUSEP, e data de início e fim da vigência do contrato.283 Aufere-se que além desta

apólice-mestra, o segurador deverá emitir um certificado individual a cada segurado,

exceto no caso de capital global, com basicamente os mesmos dados, conforme art.

3º da Circular n. 317, de 12 de janeiro de 2006 da SUSEP, in verbis:

Art. 3º. É obrigatória a emissão e envio ao segurado do certificado individual pela sociedade seguradora no início de seguro de em cada uma das renovações subseqüentes. §1º - O disposto no caput não se aplica no caso de seguro de pessoas com capital global. §2º - O certificado de que trata o caput deste artigo deverá conter os seguintes elementos: I – data de início e término de vigência da cobertura individual do segurado principal e dos segurados dependentes; e II – capital segurado de cada cobertura relativa ao segurado principal e os segurados dependentes, além do prêmio total.284

Destaca-se que para ser criada uma apólice de seguro de vida em grupo,

deverá existir um número mínimo de segurados, variando essa quantia dentre as

seguradoras.285

Nota-se que conforme dispõe o parágrafo segundo do artigo 801 do

Código Civil de 2002, qualquer modificação significativa na apólice-mestra deverá ter

anuência expressa de, no mínimo, três quatros do total do grupo segurado. A título

exemplificativo considera-se mudança significativa aquela que importe em alteração

282 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 66 283 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 66 284 SUSEP. Circular n. 17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 285 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 195

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do capital segurado, da taxa do prêmio, alteração de cláusula de beneficiário, dentre

outras.286

Importante, também destacar que o seguro de vida em grupo pode se

apresentar de duas formas, como contributária, onde o segurado participa do

pagamento do prêmio, ou não-contributária, ficando a cargo do estipulante o

pagamento integral do seguro.287

Segundo ensina Martins, esses seguros “[...] podem ser contratados no

plano temporário ou no plano permanente.” No primeiro, mais comum, geralmente é

contratado por um período de um ano, renovável por outro período igual. Já o

segundo plano visa proteção do beneficiário por toda vida, sem período de vigência

estipulado.288

Ressalta-se que a norma do seguro de vida em grupo estabelece alguns

riscos excluídos da cobertura do contrato, e que se aplicam também as modalidades

de seguro de vida tradicional e misto. Assim, são excluídos os riscos ocorridos em

consequência:

I – do uso de material nuclear para quaisquer fins, incluindo a explosão nuclear provocada ou não, bem como a contaminação radioativa ou exposição a radiações nucleares ou ionizantes. II – de atos ou operações de guerra, declarada ou não, de guerra química ou bacteriológica, de guerra civil, de guerrilha, de revolução, agitação, motim, revolta, sedição, sublevação ou outras perturbações da ordem pública e delas decorrentes. III – de doenças preexistentes à contratação do seguro não declaradas no cartão-proposta, quando este é exigido.289

Destaca-se que o disposto no inciso III, por se tratar de objeto de estudo

da presente monografia, será mais bem abordado no último capítulo deste trabalho.

Nos contratos de seguro de vida em grupo, como visto, é comum a figura

do estipulante. Cabe nesta oportunidade verificar as obrigações deste de acordo

com a Circular da SUSEP n. 107, de 16 de Janeiro de 2004, que altera e consolida

as normas que dispõem sobre a estipulação de seguros, responsabilidade e

obrigações dos estipulantes.

286 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 160 287 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 141 288 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 141 289 SUSEP. Circular n. 17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009.

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Para fins desta norma, o estipulante é a pessoa física ou jurídica que

contrata a apólice coletiva de seguros, responsável pela representação do grupo

frente à seguradora.290

Desta forma, em razão de sua função perante o grupo segurado e perante

a seguradora, o estipulante possui algumas obrigações específicas, a saber:

Art. 3º. Constituem obrigações do estipulante: I - fornecer à sociedade seguradora todas as informações necessárias para a análise e aceitação do risco, previamente estabelecidas por aquela, incluindo dados cadastrais; II - manter a sociedade seguradora informada a respeito dos dados cadastrais dos segurados, alterações na natureza do risco coberto, bem como quaisquer eventos que possam, no futuro, resultar em sinistro, de acordo com o definido contratualmente; III - fornecer ao segurado, sempre que solicitado, quaisquer informações relativas ao contrato de seguro; IV - discriminar o valor do prêmio do seguro no instrumento de cobrança, na forma estabelecida pelo art. 7º desta Resolução, quando este for de sua responsabilidade; V - repassar os prêmios à sociedade seguradora, nos prazos estabelecidos contratualmente: VI - repassar aos segurados todas as comunicações ou avisos inerentes à apólice, quando for diretamente responsável pela sua administração; VII - discriminar a razão social e, se for o caso, o nome fantasia da sociedade seguradora responsável pelo risco, nos documentos e comunicações referentes ao seguro, emitidos para o Segurado; VIII – comunicar, de imediato, à sociedade seguradora, a ocorrência de qualquer sinistro, ou expectativa de sinistro, referente ao grupo que representa, assim que deles tiver conhecimento, quando esta comunicação estiver sob sua responsabilidade; IX- dar ciência aos segurados dos procedimentos e prazos estipulados para a liquidação de sinistros; X – comunicar, de imediato, à SUSEP, quaisquer procedimentos que considerar irregulares quanto ao seguro contratado; XI - fornecer à SUSEP quaisquer informações solicitadas, dentro do prazo por ela estabelecido; e XII - informar a razão social e, se for o caso, o nome fantasia da sociedade seguradora, bem como o percentual de participação no risco, no caso de co-seguro, em qualquer material de promoção ou propaganda do seguro, em caráter tipográfico maior ou igual ao do estipulante.291

É ainda expressamente vedado ao estipulante, conforme artigo 4º da

referida Circular, cobrar do segurado, quaisquer outros valores referentes ao seguro,

além daqueles especificados pela seguradora; rescindir o contrato sem anuência do

290 SUSEP. Circular n. 107, de 16 de janeiro de 2004. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ107.pdf>. Acesso em 11 set. 2009. 291 SUSEP. Circular n. 107, de 16 de janeiro de 2004. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ107.pdf>. Acesso em 11 set. 2009.

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grupo; efetuar propaganda e promoção do seguro sem autorização da seguradora e

dos segurados e vincular a contratação da apólice a qualquer de seus produtos.292

2.3.5 O seguro de acidentes pessoais

Antemão, destaca-se que o conceito de acidentes pessoais vem definido

na Resolução n. 117 de 22 de dezembro 2004, da CNSP, que altera e consolida as

regra de funcionamento e os critérios para operação das coberturas de risco

oferecidas em plano de seguro de pessoas. In verbis:

Art. 5º. Considerar-se-ão, para efeitos desta Resolução, os conceitos abaixo: I - acidente pessoal: o evento com data caracterizada, exclusivo e diretamente externo, súbito, involuntário, violento, e causador de lesão física, que, por si só e independente de toda e qualquer outra causa, tenha como consequência direta a morte, ou a invalidez permanente, total ou parcial, do segurado, ou que torne necessário tratamento médico, observando-se que: a) incluem-se nesse conceito: a.1) o suicídio, ou a sua tentativa, que será equiparado, para fins de indenização, a acidente pessoal, observada legislação em vigor; a.2) os acidentes decorrentes de ação da temperatura do ambiente ou influência atmosférica, quando a elas o segurado ficar sujeito, em decorrência de acidente coberto; a.3) os acidentes decorrentes de escapamento acidental de gases e vapores; a.4) os acidentes decorrentes de seqüestros e tentativas de seqüestros; e a.5) os acidentes decorrentes de alterações anatômicas ou funcionais da coluna vertebral, de origem traumática, causadas exclusivamente por fraturas ou luxações, radiologicamente comprovadas.293

Ressalta-se que com relação à alínea a.1, que trata da equiparação do

suicídio a morte acidental, melhor será abordado no próximo capítulo, em virtude de

ser objeto de estudo do presente trabalho.

Assim, o seguro de acidentes pessoais é “[...] aquele contrato que o

segurado ajusta uma indenização para o caso de ser vitimado por acidente”.294 Ou

292 SUSEP. Circular n. 107, de 16 de janeiro de 2004. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ107.pdf>. Acesso em 11 set. 2009. 293 CNSP. Resolução n. 117, de 22 de dezembro de 2004. Disponível em < http://www.susep.gov.br/textos/resol117-04.pdf>. Acesso em: 20 set 2009. 294 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. p. 336

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seja, o segurado contrata o seguro mediante o pagamento do prêmio, porém, os

beneficiários só farão jus ao valor do capital se vier aquele a falecer ou ficar inválido

em virtude de algum acidente.

Por acidente pessoal entende-se, portanto, um evento com data e

ocorrência bem caracterizados, externo, involuntário, inesperado, repentino e

violento, causador de lesão física que tenha como efeito direto a morte ou invalidez

permanente do indivíduo, ou que torne necessário intenso tratamento médico.

Compreende-se ainda nesse conceito os danos físicos decorrentes da ação da

atmosfera e da temperatura do ambiente sob o acidentado, do escapamento

acidental de gases e vapores, seqüestro ou tentativa deste, dentre outros danos

ocasionados em virtude do acidente.295

Ensina Alvim que no seguro de acidentes pessoais:

[...], busca o segurado, movido pelo senso de previdência, suprir sua própria atividade quando afetada pelo risco que pode torná-lo inválido permanentemente. Não aparece aí qualquer noção de lucro ou de interesse material, mas uma forma de não ser pesado a outrem ou de não sacrificar o bem-estar de seus familiares.296

Nesta modalidade de seguro, como via de regra, o segurado quando da

contratação, já recebe como comprovante o seu bilhete de seguro. Ou seja, uma via

da proposta já é entregue ao segurado, dispensada a confecção da apólice

posteriormente.

Neste tipo de seguro há uma lista de risco não cobertos, ressaltando-se

principalmente: doenças preexistentes, complicações decorrentes da realização de

exames, cirurgias, atos de operação de guerra, competição de veículos,

complicações decorrentes do uso de álcool, drogas, parto ou aborto e suas

consequências, furações, ciclones, maremotos, ou outras manifestações da

natureza, ou ainda choques anafiláticos.297

Esse seguro pode ainda ser contratado mediante duas formas: seguro de

acidentes pessoais individual (API) e seguro de acidentes pessoais coletivo (APC). 295 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 79 296 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 150 297 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 85

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No primeiro, emite-se um único bilhete de seguro, contratado por um único

segurado, nada impedindo que seja contratado por terceiro em favor do segurado,

seguindo as regras do art. 790 do Código Civil de 2002. E o APC, caracteriza-se

pela existência de um estipulante, que comanda o seguro em favor do grupo, os

representado perante a seguradora. Esse seguro muito se assemelha ao seguro de

vida em grupo, distinguindo-se deste por prever apenas a cobertura decorrente de

acidente.298

2.4 DO CONTRATO DO SEGURO DE PESSOAS

O contrato de seguro de pessoas como observado até o momento tem

como objeto a vida do ser humano, e destaca-se pela grande importância na

atualidade, vez que é uma garantia deixada pelo segurado aos familiares e/ou

terceiros, com ligação meramente afetiva ou mesmo, total dependência financeira.

Esse seguro pode ser contratado de duas formas: individual ou coletivo.299

2.4.1 Contrato individual

O contrato individual é aquele firmado apenas por um contratante, em

favor de terceiro, ou deste em favor do segurado. Neste contrato há apenas uma

pessoa segurada, a seguradora e o terceiro beneficiário.300

Este tipo de contrato é comumente visto nas espécies de seguro de vida

tradicional e no seguro de acidentes pessoais individual.

298 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 87 299 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 392 300 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil.

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2.4.2 Contrato coletivo

O seguro coletivo ou em grupo, vem a ser o contrato firmado em favor de

um conjunto de pessoas, nominados ou somente referidos pelo gênero, como por

exemplo, o seguro para os funcionários de uma associação.301

Nessa modalidade têm-se o seguro de vida em grupo e o seguro de

acidentes pessoais coletivos, que em muito se assemelham. Distinguem-se na

cobertura específica de cada um, onde o primeiro possui cobertura para morte por

qualquer causa, como cobertura básica, e o segundo prevê apenas a cobertura para

morte acidental.

2.5 SINISTRO NO SEGURO DE PESSOAS

Antemão ressalta-se que sinistro é a concretização do risco previsto no

contrato, seja a morte do segurado ou a invalidez decorrente de acidente ou

doença.302

Diante da concretização do sinistro, a seguradora, para garantir o

interesse dos segurados e beneficiários, deve precaver-se de um mínimo de

cautelas. “Estas cautelas são tomadas pela seguradora mediante um procedimento

próprio identificado por regulamentação (ou liquidação) de sinistro.”303

Assim, imediatamente após a ocorrência do evento sinistro, o segurado

ou beneficiário notificará a seguradora, através do chamado aviso sinistro304, onde

transmitirá todas as informações relacionadas ao evento, sob pena de perder o

301 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 392 302 FUNENSEG. Teoria Geral do Seguro I. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de José Antonio Menezes Varanda. 3. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2004. p. 48 303 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 138 304 “Aviso de sinistro: procedimento prévio destinado a impulsionar a indenização decorrente de risco coberto.” (SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 138).

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direito a indenização, conforme art. 771 do Código Civil de 2002.305 Cabe destacar

que este artigo encontra-se na parte geral do Capítulo referente ao seguro,

aplicando assim as duas modalidades previstas no Diploma Legal, ou seja, seguro

de dano e seguro de pessoas. Assim, por “imediatamente” entende-se o mais breve

possível, e deve ocorrer pelo meio de comunicação mais rápido e acessível. “Tem o

segurador necessidade de saber da ocorrência, não só para tomar as providências

de pagamento da indenização, como conhecer as circunstâncias de que se revestiu

o acontecimento, [...]”.306

No entanto, há de se salientar que nos seguros de pessoas, diferente dos

seguros de dano, onde o aviso pode ser dar por telefone, a notificação a seguradora

deve ocorrer por escrito, para que essa possa tomar conhecimento do óbito ou da

invalidez do cliente.

Além de avisar o mais breve possível a seguradora do evento acontecido,

o segurado tem a obrigação de, sempre que possível, tomar providências para

dirimir maiores consequências, de acordo com a parte final do art. 771 do Código

Civil de 2002.

Após o aviso de sinistro, será montado um processo de sinistro, que é o

conjunto de documentos necessários para que a seguradora possa liquidar o exato

valor da indenização. O processo de sinistro irá examinar a cobertura, os

procedimentos, o cálculo da indenização e toda documentação exigida.307

O processo de sinistro, via de regra, abrange três etapas primordiais, qual

seja apuração de danos, regulação e liquidação.

A apuração de danos que consiste basicamente no levantamento da causa, natureza e extensão do sinistro; A regulamentação na qual é feita a análise dos documentos relativos ao risco, ao seguro e ao sinistro; A liquidação é a etapa final do processo de sinistro na qual é efetivado o pagamento da indenização cabível ou o encerramento do

305 “Art. 771 do CC/2002. Sob pena de perder à indenização, o segurado participará o sinistro ao segurador, logo que o saiba, e tomará as providências imediatas para minorar-lhe as conseqüências. Parágrafo único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no contrato, as despesas de salvamento conseqüente ao sinistro.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 306 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 67 307 FUSENSEG. Teoria Geral do Seguro I. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de José Antonio Menezes Varanda. 3. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2004. p. 48

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processo sem indenização, quando não há o que pagar, ou seja, é a execução das conclusões da Regulação.308

No seguro de pessoas, o processo de sinistro reunirá todos os

documentos necessários para comprovação do óbito do segurado, ou da invalidez

decorrente de acidente ou doença. Nos casos de seguro por sobrevivência,

precisará da simples comprovação de que se findou o contrato sem a morte do

contratante.

De acordo com cada tipo de seguro e de sinistro ocorrido, a seguradora

emitirá uma lista com todos os documentos necessários para abertura do processo,

resguardando-se do direito de solicitar documentos complementares ao segurado ou

beneficiário, caso venha a sentir necessidade de maiores esclarecimentos.309

Destaca-se que a última etapa da regulamentação do sinistro,

denominada liquidação, deverá ocorrer no prazo de 30 (trinta) dias, a contar do

recebimento de toda documentação básica, ou do último documento complementar

eventualmente solicitado, sob pena de incidência de juros de mora a partir do

término do prazo, conforme orientação firmada da Resolução nº. 117 do CNSP, in

verbis:

Art. 50. [...] § 1º. O prazo para a liquidação dos sinistros de que trata o caput será de no máximo 30 (trinta) dias, contados a partir da entrega de todos os documentos básicos previstos nas condições gerais, ressalvado o disposto no parágrafo 2o deste artigo. § 2º. Deverá ser estabelecido que no caso de solicitação de documentação e/ou informação complementar, na forma prevista no “caput” deste artigo, o prazo de que trata o parágrafo anterior será suspenso, reiniciando sua contagem a partir do dia útil subseqüente àquele em que forem completamente atendidas as exigências. § 3º. Deverá ser estabelecido que o não pagamento do capital segurado no prazo previsto nos parágrafos 1º e 2º deste artigo, implicará aplicação de juros de mora a partir desta data, sem prejuízo de sua atualização, nos termos da legislação específica.310

Todavia, deve-se sempre buscar preservar ao máximo a vida privada do

segurado, nunca causando situações vexatórias ao cliente, ou seja, deve-se levar

sempre em conta o princípio da mínima invasão na vida privada do segurado, isto

308 FUNENSEG. Teoria Geral do Seguro I. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de José Antonio Menezes Varanda. 3. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2004. p. 48 309 CNSP. Resolução n. 117, de 22 de dezembro de 2004. Disponível em < http://www.susep.gov.br/textos/resol117-04.pdf>. Acesso em 20 set 2009. 310 CNSP. Resolução n. 117, de 22 de dezembro de 2004. Disponível em < http://www.susep.gov.br/textos/resol117-04.pdf>. Acesso em 20 set 2009.

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porque a vida privada é o bem maior do homem, garantido pela Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, no seu art. 5º, X311, in verbis:

Art. 5º da CF/1988 – Todos são iguais perante a lei, [...]. X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.312

Assim, “[...] a regulamentação do sinistro deverá atender a um mínimo de

critérios éticos voltados a salvaguardar os direitos do segurado enquanto

participante de uma relação securitária”.313

Nesse momento, imperioso consignar que a exposição da vida íntima do

cliente a circunstâncias vexatórias durante a regulamentação do processo de

sinistro, abre oportunidade para a composição de danos materiais e morais

decorrentes de ato ilícito. Além do mais, é sabido que a liquidação do sinistro é um

direito da seguradora, mas que deve ser realizada observados os limites da vida

íntima do segurado.314 No entanto, destaca-se que tal assunto será abordado com

mais precisão no próximo capítulo.

Todavia, em fase de liquidação, pode ocorrer que a seguradora não se

convença do fato ocorrido, conforme descrito no processo de sinistro, vindo a negar

o pagamento, sob fundamentação própria. Esse assunto, no entanto, por se tratar de

um dos focos do trabalho, será melhor abordado no capítulo seguinte, dentre as

negativas da seguradora de pagar o capital devido.

2.6 COBERTURA DO SEGURO DE PESSOAS

A cobertura num contrato de seguro vem a ser aquilo que está garantido

na apólice e/ou bilhete de seguro. Essa cobertura pode ser estabelecida de duas

formas, imediata ou deferida.315

311 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 141 312 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 313 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 141 314 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 142 315 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e

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Na primeira, a cobertura do seguro já tem início a partir da aceitação da

proposta do seguro, ainda que dependa de posterior período de carência. Essa

modalidade é a mais comum, e ocorre geralmente nos contratos com cobertura para

morte e invalidez. Já na modalidade deferida, depende o seguro de um prazo de

deferimento para iniciar, estabelecido no contato. Nessa modalidade tecnicamente

não há período de carência, vez que o mesmo é suprido pelo prazo deferido. Esta

modalidade é encontrada com mais frequência nos seguros por sobrevivência.316

Conforme art. 4º da Circular n. 302 da SUSEP, as coberturas desse tipo

de seguro são divididas em básica e adicional.317

Destaca-se aqui que garantia básica é a principal de um plano de seguro,

sem ela o contrato não pode ser realizado. Nela é oferecida a garantia principal de

acordo com cada ramo de seguro, e é nela que são agregadas as coberturas

adicionais, acessórias e especiais. O art. 2º, §§ 1º e 3º da Circular n. 17 da SUSEP é

taxativo ao dispor que “a garantia básica é a morte. O seguro não pode ser

contratado sem garanta básica.”318

As garantias adicionais e acessórias são aquelas em que o segurado

paga a mais pelos riscos extras que deseja contratar, garantindo-se assim desses

riscos que por ventura lhe venham ocorrer. Já as garantias especiais representam

as garantias definida em função da necessidade de um segurado em específico, que

em função do grau agravado pelo exercício de seu cargo, requer provisões

matemáticas distintas e/ou taxas diferenciadas.319

Importante ressalvar que em termos de cobertura pouco diferenciamos

seguro de vida tradicional, acidentes pessoais e seguro de vida em grupo. “O

Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 26 316 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 26 317 SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 318 SUSEP. Circular n. 17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 319 FUNENSEG. Teoria Geral do Seguro I. Supervisão e coordenação metodológica da Superintendência de Tecnologia Educacional. Assessoria técnica de Wagner Attina Xavier. Rio de Janeiro: Funenseg, 2002. p. 71

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diferencial é que nos seguros em grupo há um conjunto de garantias, algumas das

quais somente neles encontráveis.”320

As coberturas que podem ser contratadas no seguro de vida estão

descritas no art. 2º da Circular da SUSEP n. 17 de julho de 1992. A primeira

cobertura é a básica, de morte por qualquer causa, e a ela são adicionadas as

demais garantias, in verbis:

Art. 2º. As garantias do seguro dividem-se em básica e adicionais. [...] § 2º - São garantias adicionais: I – INDENIZAÇÃO ESPECIAL DE MORTE POR ACIDENTE – IEA é a garantia de pagamento de um capital proporcional ao da garantia básica,limitando a 100% desta, em caso de morte por acidente. II – INDENIZAÇÃO PERMANETE TOTAL OU PARCIAL POR ACIDENTE – IPA é a garantia do pagamento de uma indenização proporcional a garantia básica, limitada a 200% desta, relativa a perda, redução ou a impotência funcional definitiva, total ou parcial, de um membro ou órgão em virtude de lesão física, causada por acidente. III – INVALIDEZ PERMANENTE TOTAL POR DOENÇA – IPD é a antecipação da indenização relativa à garantia básica em caso de invalidez permanente total, consequência de doença.321

Ressalta-se que em se tratando de seguro de vida em grupo, essas

coberturas adicionais só podem ser concebidas para a totalidade do grupo

segurado.322

A título exemplificativo, a indenização especial por acidente ocorre da

seguinte forma: o segurado tem uma garantia básica de R$ 10.000,00, e é

contratada uma garantia adicional para o caso de acidente de R$ 5.000,00, (essa

cobertura pode chegar até 100% da garantia básica, ou seja, R$ 10.000,00), se o

segurado vier então a falecer decorrente de algum acidente, o beneficiário receberá

na totalidade R$ 15.000,00, ou seja, a soma das duas coberturas.

No caso da cobertura adicional por invalidez permanente total ou parcial

por acidente, o segurado goza do direito de contratá-la até o dobro da garantia

320 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 210 321 SUSEP. Circular n.17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 322 “Art. 2º,§ 5º: As garantias adicionais somente podem ser concedidas para a totalidade do grupo segurado.” (SUSEP. Circular n.17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009).

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básica. No entanto, ela não é acrescida à cobertura por morte, como ocorre no caso

acima.323

No tocante a invalidez permanente por doença, o segurado receberá o

valor referente à indenização da cobertura básica, quando por motivo de doença não

se pode esperar recuperação ou reabilitação daquele. Essa indenização não é

somada, portanto, a garantia básica, ela é a antecipação desta, e será paga de uma

só vez, ou em até 24 parcelas mensais.324

No seguro de vida em grupo há ainda a possibilidade da adição de mais

duas coberturas suplementares, a de inclusão de cônjuge e inclusão de filhos. Na

primeira, o cônjuge, uma vez contratada esta garantia, tem direito a todas as

coberturas do seguro, exceto a invalidez permanente por doença. Na inclusão de

filhos, a situação se restringe um pouco, sendo permitida apenas nos grupos Classe

A325, que tenham no seguro a cláusula de inclusão de cônjuge e os filhos terão

apenas a garantia da cobertura básica.326

Destaca-se que em caso de seguro de acidentes pessoais a cobertura

básica restringe-se somente a morte acidental e invalidez total ou parcial por

acidente. Nesta última cobertura, o segurado receberá um valor de acordo com o

grau de invalidez e o membro atingido, valores esses que vêem estipulados em

forma de porcentagem na própria proposta de adesão. Ressalta-se que danos de

natureza meramente estética, que não diminua o funcionamento do órgão, bem

como a perda de dentes, não estão incluídos nesta cobertura327.328

323 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 48 324 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 49-50 325 “Classe A – grupos constituídos exclusivamente por componentes de uma ou mais categorias específicas de empregados de um mesmo empregador.” (SUSEP. Circular n.17, de 17 de julho de 1992. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ17.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009). 326 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 50-51 327 “Art. 12 [...] § 7º - A perda de dentes e os danos estéticos não dão direito a indenização por invalidez permanente.” (SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009). 328 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e

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No seguro de acidentes pessoais podem ser incluídas as coberturas

adicionais de Diárias de Incapacidade Temporária (DIT) e Despesas Médico-

Hospitalares.329

A primeira consiste no pagamento de diárias a contar da ocorrência e

caracterização da incapacidade contínua e ininterrupta do segurado de continuar

laborando. Já as despesas médico-hospitalares dizem respeito ao reembolso das

despesas com tratamento decorrente do acidente, nos trinta primeiros dias contados

da data do sinistro. Esta garantia cobre ainda as despesas dentárias, em virtude do

acidente.330

Importante ressaltar que o seguro de pessoas, via de regra, não garante o

reembolso de despesa médico hospitalar, nem tão pouco despesa com funeral do

segurado, conforme art. 802 do Código Civil de 2002, in verbis:

“Não se compreende nas disposições desta Seção a garantia de

reembolso de despesas hospitalares ou de tratamento médico, nem o custeio das

despesas de luto e de funeral do segurado.”331 Essas coberturas poderão, contudo,

ser somadas na forma de garantia adicional no contrato, porém sendo nulo o

contrato principal, aquela deixa de existir também.332

O seguro de vida tradicional, não difere muito daquilo já mencionado.

Incluindo nessa modalidade a cobertura básica de morte por qualquer causa,

cobertura básica dessa modalidade de contrato, invalidez total ou parcial por

acidente e permanente por doença, observada as restrições de cada contrato. E

ainda a cobertura por sobrevivência, para os seguros desta modalidade.333

Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 82-83 329 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 83 - 84 330 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 83 - 84 331 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 332 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria geral das obrigações contratuais e extracontratuais. 2006. 333 FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006. p. 20

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2.7 BENEFICIÁRIO DO CONTRATO DE SEGURO DE PESSOAS

Como já analisado no primeiro capítulo deste trabalho, o beneficiário é

aquela pessoa física ou jurídica, que desfruta do capital contratado no seguro. No

seguro de pessoas, o beneficiário é, portanto, aquele indivíduo indicado ou não pelo

segurado, que receberá o capital quando da ocorrência do evento sinistro.334

No seguro de pessoas é facultado ao segurado proceder à substituição de

beneficiário estipulado na apólice, por ato entre vivos ou de última vontade,

conforme art. 791 do Código Civil de 2002, desde que esse seguro não tenha como

finalidade a garantia de alguma obrigação.

O artigo acima citado remete ao entendimento de que a alteração e

designação de beneficiário podem ocorrer a título gratuito, via de regra, ou a título

oneroso. Neste, não há a possibilidade de alteração por parte do segurado, pois o

contrato esta diretamente vinculado a um negócio jurídico. Já a título gratuito,

caracteriza-se pela vontade unilateral do segurado, absoluta, de modo que a

seguradora e/ou beneficiários não podem interferir na escolha e nomeação

desses.335

Todavia, para que proceda a alteração, a seguradora precisa ser

notificada, conforme parágrafo único do artigo mencionado, sob pena de pagar ao

antigo beneficiário o capital devido frente um sinistro, não restando ao novo

beneficiário, portanto, direito de reclamar esse valor.336

Ainda no tocante aos beneficiários, os artigos 792337 e 793 do Código Civil

de 2002 trazem outras peculiaridades. O primeiro dispositivo legal convenciona que

na falta de beneficiário o capital segurado será pago metade ao cônjuge não

separado de fato, e o restante, conforme a ordem da vocação hereditária, disposta 334 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p.90 335 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro: de acordo com o novo Código Civil Brasileiro. 2. Ed. rev., atual. a ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p.169-170 336 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 186 337 “Art. 792 - Na falta de indicação da pessoa ou beneficiário, ou se por qualquer motivo não prevalecer a que for feita, o capital segurado será pago por metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da vocação hereditária. Parágrafo único. Na falta das pessoas indicadas neste artigo, serão beneficiários os que provarem que a morte do segurado os privou dos meios necessários a subsistência.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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no art. 1.829 daquele Diploma Legal. E ainda, numa possibilidade mais difícil de

acontecer, na falta de todos esses, receberá o capital aquele que provar que

dependia para sobrevivência do de cujus.338

Já o art. 793 do Código Civil de 2002339 estipula que é valida a instituição

de companheiro como beneficiário, desde que o segurado esteja separado

judicialmente ou de fato. Neste ditame percebe-se à grande proteção dada a

entidade familiar, reconhecendo mais uma vez a legitimidade Constitucional da

União Estável.

No tocante a aceitação do companheiro como beneficiário, tem-se ainda

certa discussão na doutrina acerca do concubinato. Prevalece o entendimento que

este não pode ser estipulado como beneficiário.340 Corroborando com o assunto

Silva entende que com a imposição legal do companheiro “[...] pretende-se preservar

a família, de modo que as relações adulterinas não sejam contempladas com a

destinação do capital segurado.”341

2.8 EXTINÇÃO DO CONTRATO DE SEGURO DE PESSOAS

A extinção do contrato de seguro em geral, ocorre de seis maneiras, que

são perfeitamente utilizadas no contrato de seguro de pessoas. Pelo decurso do

prazo de vigência; por consentimento mútuo dos contratantes; pela ocorrência do

evento sinistro; pela inexecução das obrigações pactuadas; pelo distrato e por

causas de nulidade ou anulabilidade.342

Nos seguros de pessoas, a forma mais comum de extinção do contrato é

pela ocorrência do sinistro. De uma forma geral, ocorrendo o fato gerador que

enseja a percepção da indenização, sendo este avisado à seguradora, e feita à

338 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p.71 339 “Art. 793 do CC/2002. É valida a instituição do companheiro como beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era separado judicialmente, ou já se encontrava separado de fato.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 340 “O Concubinato vem conceituado no art. 1.727 do Código Civil de 2002 como as relações não eventuais entre um casal de sexo oposto, impedidos de constituir casamento.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 341 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 187 342 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 416

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posterior liquidação do seguro, extingue-se automaticamente o contrato de seguro,

pois resta extinto a objeto do contrato.

Outra forma de extinção do contrato de seguro de pessoas se dá pelo fim

do prazo estipulado no contrato, isto porque em quase toda sua totalidade os

seguros de pessoas são celebrados com prazo de vigência, excetuando os seguros

de vida tradicional, acidentes pessoais, sem prazo determinado.343

Uma peculiaridade do seguro de vida em grupo é que, algumas

seguradoras exigem que se deve manter sempre um número mínimo de segurados,

baixando esse número, resolve-se o contrato. No entanto, há de se salientar que

quando da ocorrência desse fato, a seguradora antes de resolver o contrato deve

avisar ao grupo segurado, para que este adote as devidas providências.344

Resolve-se também pela falta de repasse do prêmio pelo estipulante a

seguradora, posto que este, nos coletivos, é responsável pelo repasse do prêmio à

seguradora. Todavia, essa é uma questão de grande divergência no mundo jurídico

e será mais bem abordada no próximo capítulo desta monografia, pois, [...] “como

visto, essa obrigação é do estipulante e não dos segurados, pelo que a mora

daquele não afeta o direito destes à garantia”.345

Assim, a seguradora quando da ocorrência da mora, deverá antes de

resolver o contrato comunicar aos segurados, para que estes tomem ciência da

extinção do contrato e do motivo que levou a tal resolução. No caso de seguro

contributivo346, os segurados gozam do direito de exigir do estipulante o valor

recolhido ou a regularização do seguro.

Outra forma comum de extinção do contrato é o distrato, previsto no art.

472 do Código Civil de 2002, onde reza que: “o distrato faz-se pela mesma forma

exigida para o contrato”.347

343 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 209 344 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 209 345 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 209 346 “Prêmio contributivo é quando o segurado, nos contratos coletivos, contribui para o pagamento do seguro, repassando ao estipulante o valor, para que esse efetue o pagamento junto à seguradora.” (FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006.) 347 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Na definição de Beviláqua, “[...] é o acordo entre as partes contratantes, a

fim de extinguir o vínculo obrigacional estabelecido pelo contrato.”348

Logo, o distrato do contrato de seguro de pessoas, far-se-á na forma

escrita, de acordo com a vontade dos contratantes.349 O distrato poderá ocorrer via

oral também, nos casos excepcionais de contratos feitos por telefone, onde a

empresa seguradora entra em contato com o cliente oferecendo o produto, de

acordo com sua necessidade e condição.

2.9 DA POSSIBILIDADE DE ARBITRAGEM

O instituto da Arbitragem, trazido pela Lei 9.307, de 23 de setembro de

1996, consiste na possibilidade de as partes, com base na liberdade de contratar e

no primado da solução pacífica dos conflitos de interesses particulares, elejam uma

terceira pessoa, um árbitro350, que não coincide com a figura do juiz, com fim de

dirimir o conflito pendente.351

O árbitro, por sua essencialidade, desempenha na atividade, a mesma

função do juiz togado, submetendo-se as mesmas e idênticas responsabilidades.352

Assim, “o árbitro é juiz de fato e de direito, e a sentença que proferir não fica sujeita

a recurso ou a homologação pelo Poder Judiciário.”353

Assim, nos dizeres de De Plácido e Silva,

Arbitragem derivado do latim arbiter (juiz, louvado, jurado), [...], é, na linguagem jurídica, especialmente empregado para significar o

348 BEVILÁQUA, Clóvis. [apud] RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações univalaterais da vontade. 30. ed. atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei n. 10.406, de 10-1-2002). São Paulo: Saraiva, 2004. V. 3. p. 91 349 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações univalaterais da vontade. 350 “Art. 13. Pode ser árbitro qualquer pessoa capaz e que tenha a confiança das partes.” (BRASIL. Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L9307.htm>. Acesso em: 10 out. 2009). 351 BAZO, Michelle Cristina. A arbitragem e os princípios constitucionais . Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 467, 17 out. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5827>. Acesso em: 21 set. 2009. 352 VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos contratos. p. 545 353 (BRASIL. Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L9307.htm>. Acesso em: 10 out. 2009).

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processo que se utiliza, a fim de se dar solução a litígio ou divergência, havida entre duas ou mais pessoas.354

De acordo com o art. 1º daquela lei supracitada, somente poderá ser

objeto de arbitragem o litígio relativos a direitos patrimoniais disponíveis355. Logo,

por direitos patrimoniais disponíveis entendem-se aqueles que podem ser

considerados em sua expressão econômica, ou seja, possuem valor específico, seja

um bem determinado, seja o patrimônio de uma pessoa.356

Assim, por ser permitida ao contrato de seguro de pessoas, a utilização

desse instituto encontra previsão legal no art. 85 da Circular nº. 302 da SUSEP, in

verbis:

Art. 85. A cláusula compromissória de arbitragem, quando inserida nas condições contratuais de seguro, deverá obedecer às seguintes disposições: I – estar redigida em negrito e conter a assinatura do segurado, na própria cláusula ou em documento específico, concordando expressamente com a sua aplicação; II – conter as seguintes informações: a) que é faculdade do segurado aderir ou não; b) que ao concordar com a aplicação desta cláusula, o segurado estará se comprometendo a resolver todos os seus litígios com a sociedade seguradora por meio de Juízo Arbitral, cujas sentenças têm o mesmo efeito que as sentenças proferidas pelo Poder Judiciário; c) que é regida pela Lei no 9.307, de 23 de setembro de 1996.357

Assim, pela interpretação do artigo aufere-se que existe a possibilidade

de arbitramento nos contratos de seguro, deste de que prevista no contrato de

seguro.

Importante confrontar com essa informação que o Código de Defesa do

Consumidor, prevê como cláusula abusiva, nula de pleno direito, a cláusula que

determine a utilização da arbitragem de forma compulsória.358

354 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 129 355 “Art. 1º. As pessoas capazes de contratar poderão valer-se da arbitragem para dirimir litígios relativos a direitos patrimoniais disponíveis.” (BRASIL. Lei 9.307, de 23 de setembro de 1996. Dispõe sobre a arbitragem. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Leis/L9307.htm>. Acesso em: 10 out. 2009). 356 BAZO, Michelle Cristina. A arbitragem e os princípios constitucionais . Jus Navigandi, Teresina, ano 8, n. 467, 17 out. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5827>. Acesso em: 21 set. 2009. 357 SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 358 “Art. 51 do CDC/1990. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: VII – determinem a utilização compulsória de arbitragem.” (BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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Como observado por todo exposto, o seguro de pessoas é dividido em

duas modalidades principais, seguro de vida e seguro de acidentes pessoais, que se

subdividem em outras modalidades. Por se tratar de foco do trabalho, no próximo

capítulo serão abordadas as principais divergências que envolvem o contrato de

seguro de vida, nas suas diversas formas.

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3 O SEGURO DE VIDA E SUAS DIVERGÊNCIAS JURÍDICAS

O seguro de vida, como já analisado, é uma espécie de seguro de

pessoas, e vem a ser o seguro sobre a incerteza do tempo de vida do homem. Essa

modalidade de seguro pode ser dividida em: seguro de vida tradicional, seguro de

vida por sobrevivência e seguro misto.359

No primeiro, o risco coberto é exclusivamente a morte do contratante; no

segundo, o risco se concretiza com a sobrevivência do segurado até o final do

contrato, já o último, é a junção desses dois seguros, gerando direito ao segurado e

ao beneficiário, de receber o capital segurado, pela morte ou pela sobrevivência do

contratante até o final do prazo estipulado.360

Desta forma, nessa espécie de seguro, o pagamento do capital segurado

pela seguradora, ao próprio segurado, ou ao beneficiário, por esse escolhido, fica na

dependência do óbito ou sobrevivência do contratante.361

O seguro de vida é comercializado mediante a apresentação, pelo

corretor, ao cliente, da proposta do seguro, evidenciando todos os seus benefícios.

O corretor, com o conhecimento da idade do futuro segurado, calculará o prêmio que

essa pagará, de acordo com a cobertura pretendida. Acordada a venda, o corretor

auxiliará o cliente no preenchimento da proposta, e enviará essa para a seguradora,

que processará os dados, analisará o risco proposto, e mandará emitir a apólice de

seguro.

Ocorre que, no amplo mundo das relações securitárias, alguns assuntos

são temas de fundadas discussões no Ordenamento Jurídico brasileiro. No entanto,

o presente trabalho limita-se ao estudo das divergências jurídicas acerca do contrato

de seguro de vida, com cobertura exclusiva por morte do segurado, por

sobrevivência, e o pagamento por invalidez do segurado. Desta forma, será

abordado neste capítulo às contradições envolvendo o dever da seguradora de

359 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p. 789 360 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p. 789 361 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 132

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indenizar o beneficiário, quando o segurado se suicida; a negativa362 das

seguradoras sob alegação de doença preexistente; a incidência da mora no contrato

de seguro, e a prescrição do direito de ação, quando a seguradora nega o sinistro,

pleiteado na via administrativa.

3.1 SUICÍDIO

No âmbito do contrato de seguro de vida, muito se questiona na doutrina

e na jurisprudência, o dever ou não da seguradora de indenizar o beneficiário,

quando a morte do segurado resulta de suicídio. Para melhor elucidar a divergência

a cerca da cobertura do contrato de seguro em caso de morte decorrente de suicídio

faz-se necessário um breve estudo do que vem a ser este instituto.

De início, importante destacar que o suicídio tomou diversas conotações

no decorrer dos séculos. Existiram momentos na história, na Grécia pré-cristã, em

que o homem precisava pedir autorização para se matar, pois não possuía decisão

sobre sua própria vida.363

Na Roma antiga, durante a República, as regras acerca do suicídio eram

parecidas com aquela dos gregos. Desta forma, o suicídio era reprovado, visto como

forma de demonstração de enfraquecimento do indivíduo, e só eram autorizados a

retirar a própria vida, aqueles que apresentassem suas razões pessoais, as quais

eram analisadas pelo Senado.364

Nota-se que nessa época era muito forte a influência da Religião na

sociedade. O suicídio era tido como um ato injusto, não digno, extremamente

reprovável. O suicida não tinha direito a receber rituais de velório e enterro. Na Idade

362 “Negativa: Não indenizar aquilo que foi pactuado no contrato; negar pagamento da indenização quando da ocorrência do fato danoso, coberto pelo seguro.” (FUNDAÇÃO ESCOLA NACIONAL DE SEGUROS. Seguro de pessoas: vida individual, vida em grupo e acidentes pessoais. Supervisão e coordenação metodológica da Diretoria de Ensino e Produtos; assessoria técnica de Danilo de Souza Sobreira. 8. ed. Rio de Janeiro: Funenseg, 2006.) 363 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009. 364 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009.

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Média, essas punições se intensificaram ainda mais. Nessa época surgiram os

Tribunais Eclesiásticos, responsáveis por julgar se a morte ocorrera por suicídio ou

não. Tal tribunal considerava que somente nos casos de loucura agressiva, estaria o

indivíduo suicida isento de ter seu corpo vilipendiado.365

Com o Renascimento, e a forte influencia do Iluminismo, a recriminação

ao suicida começou a diminuir. Com a Revolução Francesa veio à primeira

desincriminação do suicídio na Europa Moderna, tanto que não há menção dessa

prática no Código Penal Francês, nem tão pouco no Código Napoleônico de 1810.366

A partir da Revolução Industrial, já no século XIX, a força do homem,

unida a praticidade das máquinas ditavam o andamento da sociedade. Ao lado do

Positivismo, com fortes regras e proibições sociais, o suicídio passou a ser

considerado ato de vergonha, recusado e mantido em segredo, pois era visto como

uma patologia mental.367

Posteriormente, no início do Século XX, o suicídio passou a ser objeto de

estudo da Psiquiatria, sendo visto realmente como uma patologia.368

Na Idade Contemporânea, o fato suicídio merece ainda as mais variadas

formas de pesquisas e interpretação, além da psiquiátrica, a Sociológica e Filosófica.

Assim, esse entendimento de patologia passou a ser também da igreja, retirando a

responsabilidade moral exclusiva do suicida.369

365 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009. 366 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009. 367 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009. 368 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009. 369 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009.

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Assim, com o passar dos tempos os países formam deixando de

considerar o suicídio como crime, inclusive o último país a abolir a criminalização da

conduta foi à Inglaterra, em 1961.370

Não obstante a breve evolução histórica acima referida, o suicídio é

considerado até os dias de hoje como um tabu da sociedade, sendo condenado

ainda moralmente por todos.371

No Brasil a inviolabilidade do direito a vida é assegurada no caput do

artigo 5º, bem como em seu inciso III, da Constituição da República Federativa do

Brasil de 1988372. Ambos os artigos visam à proteção da integridade do corpo

humano, resguardando-a de possíveis violações. Assim, é um direito fundamental

inerente ao ser humano. Ninguém pode dispor de sua vida, livremente, da maneira

que melhor entender. Portanto, a interrupção da vida deve se dar unicamente pela

morte natural e involuntária.373

Desta forma, o princípio da inviolabilidade visa proteger o corpo humano

contra outros, motivo que explica ser o suicídio uma expressão trágica de uma

deliberação pessoal, individual e livre.374

No ensinamento de Jacques Robert:

‘O respeito à vida humana é a um tempo uma das maiores idéias de nossa civilização e o primeiro princípio da moral médica. É nele que repousa a condenação do aborto, do erro ou da imprudência terapêutica, a não-aceitação do suicídio. Ninguém terá o direito de dispor da própria vida, [...]’375.

370 RIBEIRO, Daniel Mendelski. Suicídio: critérios científicos e legais de análise. Jus Navegandi, Teresina, ano 8, n. 423, 3 set. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5670>. Acesso em: 24 ago. 2009. 371 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 163 372 “Art. 5º da CRFB/1988. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, [...]; III – ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante.” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 373 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. p. 85 374 AIETA, Vânia Siciliano. Os Princípios da Constituição de 1988. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2001. p. 294 375 ROBERT, Jacques [apud] SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26. ed. rev. e atual. nos termos da Reforma Constitucional n. 48, de 10.9.2005. São Paulo: Melheiros, 2006. p. 198

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Na definição de De Plácido e Silva, “Suicídio, do latim suicidium, de sui (a

si) e caedere (matar), é a auto-eliminação, ou a morte da pessoa provocada por ela

própria, voluntariamente, [...]”.376

Nos dizeres de Capez, “o suicídio é a deliberada destruição da própria

vida. Suicida, segundo o Direito, é somente aquele que busca direta e

voluntariamente a própria morte”.377

Para Kriger Filho, “consiste o suicídio na morte provocada pela própria

pessoa, de forma voluntária ou involuntária”.378

O suicídio é, portanto, uma maneira voluntária ou involuntária de retirar a

própria vida, entretanto, é visto apenas como um fato antijurídico379 e sua prática

não é punida pelo Código Penal brasileiro.

No entendimento de Capez ele não é punido por razões de índole político-

criminal. Político pelo fato de não se poder submeter um cadáver a processo, e

consequentemente a pena. E criminal, no sentido de que a pena restaria inútil, vez

que o indivíduo não teme nem sequer a retirada da sua própria vida. E mais, uma

vez imposta uma sanção no cadáver, como, confisco de bens, essa refletiria

imediatamente sobre os herdeiros, ferindo o princípio constitucional da

personalidade da pena380.381

Por outro lado, quem induz, instiga ou auxilia outrem na prática do

suicídio é enquadrado no art. 122 do Código Penal, sendo punido com reclusão

de até 6 (seis) anos.382

Importante, antemão, ressaltar a diferença entre os tipos de suicídio

acima elencado, haja vista que a maioria da doutrina e a jurisprudência sinalizam de

376 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 1344 377 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. p.85 378 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. Florianópolis: OAB/SC, 2005. p. 244 379 “Fato antijurídico é uma contradição entre uma conduta e o ordenamento jurídico. Assim, o fato típico, é um fato que ajustado ao tipo penal, é antijurídico, contrário a Lei.” (MIRABETE, Julio Fabbrini. Manual de Direito Penal: parte geral, arts. 1º a 120 do CP. 21. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p.73). 380 “Art. 5º, XLV, da CRFB/1988. Nenhuma pena passará da pessoa do condenado, [...].” [BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009]. 381 CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. p. 85 382 “Art. 122 do CP/1940. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça: Pena – reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consumar; ou reclusão, de um a três anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.” (BRSIL, Código Penal. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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que é necessário investigar se o suicídio ocorreu de maneira voluntária ou

involuntária.

No suicídio voluntário, o agente comete o ato com perfeita consciência, e

são objeto de prova nesses casos, cartas de despedida, bem como, pedidos de

desculpas.383 Assim, voluntário é aquele suicídio cometido com verdadeiro e único

intuito de retirar a própria vida, com perfeita consciência.

Já o suicídio involuntário, caracteriza-se pelo estado emocional

extremamente abalado do agente, que comete o ato sob violenta emoção.

Involuntário, é, portanto, o suicídio “[...] praticado em razão de força irresistível ou

sob impulso de insopitável violência de ordem física ou moral, com capacidade de,

pela sua intensidade, retirar a natureza de ato livre e consciente do agente”.384

Desta forma, na hipótese de suicídio involuntário, “[...] a morte pode ser

caracterizada como resultante de força maior, uma verdadeira patologia em que o

fim da vida se dá por causa de distúrbios ou anormalidade psíquicas irresistíveis,

ainda que momentâneas.”385

No âmbito do Direito Contratual, mas precisamente no contrato de seguro

de vida, a prática do suicídio é apontada como excludente do pagamento do capital

segurado. O art. 798 do Código Civil de 2002, assim dispõe:

Art. 798. O beneficiário não tem o direito ao capital estipulado quando o segurado se suicidar nos primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, [...]. Parágrafo único. Ressalvada a hipótese prevista neste artigo, é nula a cláusula contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio do segurado.386

Assim, numa interpretação literal do artigo supra citado, percebesse que

não há relevância se o suicídio é premeditado ou não. Desde que cumprido os dois

anos de carência do seguro, a seguradora não pode eximir-se do dever de pagar o

capital segurado.387

Esse tempo de dois anos iniciais do contrato, visto como período de

carência, pelo qual se outorga ao segurador o direito de negar o pagamento da

383 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p. 148 384 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 245 385 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 245 386 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 387 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 167

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indenização, é conhecido como “regra da indisputabilidade”, pertencendo inclusive à

legislação de outros países, que igualmente estipulam essa carência.388

Logo, sobrevindo dois anos da contratação, não há que se questionar o

pagamento da indenização ao beneficiário, sendo devido em qualquer das

modalidades do suicídio. Isto porque, presume-se que ninguém contratará um

seguro visando se matar somente depois de dois anos. Assim, de acordo com

Venosa, com essa carência cumprida, afasta-se a premeditação de fraude por parte

do segurado.389

Além do mais, de acordo com a Circular 302 da SUSEP, não pode ser

pactuado entre os contratantes, cláusulas que excluam o suicídio, após os dois

primeiros anos de vigência do seguro.390

Todavia, há posicionamentos na doutrina e na jurisprudência que

entendem haver cobertura mesmo antes do término do período de carência. Sobre o

assunto foram editadas as Súmulas 105 do Supremo Tribunal Federal e a Súmula

61, do Superior Tribunal de Justiça, in verbis:

Súmula n. 105 do STF: Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período contratual da carência não exime o segurador do pagamento do seguro.391

Súmula n. 61 do STJ: O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado.392

É importante ressaltar, com base nas Súmulas acima transcritas que, a

premeditação para ser caracterizadora da negativa da seguradora, deve ser provada

como ocorrida a tempo da contratação, e não do efetivo cometimento do suicídio.

Assim, conforme se extraí do julgado do Superior Tribunal de Justiça, a

premeditação referida pela Súmula 61 é aquela existente no instante da contratação

do seguro, e não no momento do sinistro. Logo, é necessário que se diferencie a

388 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 245 389 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: contratos em espécie. p. 408 390 “Art. 60. Não pode ser estipulada entre as partes cláusula que exclua o suicídio ou sua tentativa, após os primeiros dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua recondução depois de suspenso.” (SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009). 391 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 105. Disponível em: < http://www.dji.com.br/normas_inferiores/regimento_interno_e_sumula_stf/stf_0105.htm>. Acesso em: 20 set. 2009 392 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 61. Disponível em : < http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=341>. Acesso em: 20 set. 2009

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premeditação do suicídio ao tempo da contratação do seguro, da premeditação ao

tempo do ato em si.393

Assim, a premeditação ao tempo da contratação do seguro, como o nome

já indica, é aquela aquisição feita com má-fé, com intuito de fraudar à seguradora,

pois o indivíduo já contrata o seguro visando se matar logo após. Já o suicídio ao

tempo do ato em si, ocorre quando a pessoa, resolver retirar sua vida, pouco antes

de realizar o ato, sem influência da contratação do seguro de vida.

Portanto, com base na interpretação literal dos dispositivos acima

apontados a lei obriga a indenização somente após o período de carência, não

tendo mais relevância após esse prazo, se o suicídio se deu voluntaria ou

involuntariamente.

Neste sentido, manifesta-se ainda Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

Apelação cível - ação ordinária de cobrança de indenização de seguro - morte do segurado - requerimento da indenização pelas beneficiárias - negativa da seguradora - cometimento de suicídio - alegativa afastada - morte acidental não premeditada comprovada - aplicação das súmulas 105 do STF e 61 do STJ- dever de a seguradora indenizar a importância cabível às beneficiárias - condenação mantida. O suicídio involuntário (não premeditado), por decorrer de circunstância trágica e inesperada, causando imensa dor aos familiares, corresponde à morte acidental, independentemente de o ato ter sido praticado pela própria vítima ou por terceiro. "Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período contratual não exime o segurador do pagamento do seguro" (STF, Súmula 105). "O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado" (STJ, Súmula 61).[...] (grifos)394

393 “Recurso especial. Seguro de vida. Embargos de declaração. Ausência de omissão, contradição ou obscuridade. Ausência de prequestionamento. Suicídio não-premeditado. Acidentes pessoais. - Os embargos de declaração são corretamente rejeitados quando o acórdão recorrido aprecia os temas levantados pelas partes, não havendo omissão, contradição ou obscuridade. - O prequestionamento dos dispositivos legais tidos como violados constitui requisito essencial para admissibilidade do recurso especial. - O suicídio não premeditado à época da contratação do seguro deve ser considerado abrangido pelo conceito de acidente para fins de seguro.” (grifos). (BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Terceira Turma). Recurso especial nº 472.236 - RS (2002/0133358-0). Relator: Ministra Nancy Andrighi. Brasília, 15 de maio de 2003. Disponível em < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp?livre=(('RESP'.clap.+ou+'RESP'.clas.)+e+@num='472236')+ou+('RESP'+adj+'472236'.suce.)>. Acesso em 02 out. 2009). 394 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Segunda Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2008.012288-1, de Caçador. Relator: Mazoni Ferreira. Florianópolis, 26 de junho de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qID=AAAGxaAAIAAA7HEAAA&qTodas=2008.012288-1&qFrase=&qUma=&qCor=FF0000>. Acesso em: 15 set 2009

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Também neste sentido segue julgado do Tribunal de Justiça de São

Paulo:

Ação de cobrança. Seguro de vida. Suicídio involuntário ou não premeditado. Previsão de pagamento de indenização. Procedência. Reconhecida a morte do segurado por suicídio involuntário, cabível se mostra a indenização nos termos do seguro contratado. Cabimento da indenização. Compreensão do impulso insopitável com obliteração da higidez mental. Em circunstâncias que não comprovam livre de dúvida a premeditação do ato que levou a vítima ao suicídio, compreensível até o insopitável impulso que possa ter obliterado a higidez mental e a livre consciência do suicida, o que dá como certo o dever de reparação decorrente do seguro de vida, pela presunção de morte involuntária e tipicamente não natural. Relação de consumo. Boa-fé presumida do segurado. Dúvida. Cabe à seguradora a prova de eventual ou implícita má-fé na data do fato gerador. Tratando-se de contrato de adesão regido pelo Código de Defesa do Consumidor, a dúvida, se existente, deve ser resolvida, no caso, em favor dos beneficiários.395(grifos)

Pelos julgados acima, aufere-se a importância da não caracterização da

premeditação do suicídio. Assim, a falta de comprovação pela seguradora de que o

segurado planejou a morte, obriga a indenizar a família ou terceiro instituído como

beneficiário, em virtude da força do contrato.

No que se refere o prazo de carência, Diniz se manifesta no sentido de

que não se exclui a responsabilidade da seguradora de pagar o capital, ainda que o

segurado tenha cometido suicídio nos dois primeiros anos da vigência do contrato,

se restar comprovado que o mesmo estava inconsciente devido seu estado

mental.396

Sene ressalta que:

O fato de se estabelecer, por meio de lei, um prazo de carência, não modifica em nada a realidade fática do suicídio involuntário, que continua sendo produto de uma depressão profunda ou de alienação mental, que retira do indivíduo todo e qualquer controle sobre suas ações, o levando ao cometimento de atos, absolutamente impensados em seu estado normal.397

Além do mais, os autores que defendem que a indenização é devida nos

dois primeiros anos do seguro, no caso de suicídio involuntário, apóiam-se na

395 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo (Trigésima quarta Câmara de Direito Privado). Apelação com Revisão 1095050000. Relator(a): Irineu Pedrotti. São Paulo, 06 de julho de 2009. Disponível em: < http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/confereCodigo.do>. Acesso em: 15 set 2009 396 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria das relações contratuais e extracontratuais. 2006. p. 537 397 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 171

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Jurisprudência dos Tribunais Superiores, e no art. 5º da Resolução n. 117 de

2004398, da CNSP, que equiparam o suicídio nessa modalidade, a morte

acidental399, e sendo assim, não há que se falar em negativa de pagamento.

Assim, manifesta-se o Superior Tribunal de Justiça:

Processual civil. Embargos de declaração. Súmula 07 do STJ. Não incidência. Seguro de vida. Suicídio. Súmula 61 do STJ. Efeitos modificativos. 1. "O suicídio não premeditado à época da contratação do seguro deve ser considerado abrangido pelo conceito de acidente para fins de seguro" (REsp 472.236/RS, 3ª Turma, Min. Nancy Andrighi, DJ de 23.06.2003). 2. Tendo em conta que, na hipótese vertente, a seguradora não fez prova de que o marido da autora já havia premeditado o suicídio quando realizou o contrato de seguro, deve ser aplicado irrestritamente o Enunciado 61 da Súmula do STJ, in verbis: "O seguro de vida cobre o suicídio não premeditado". 3. Embargos de declaração acolhidos, com efeitos modificativos, para conhecer do agravo de instrumento e, desde logo, dar provimento ao recurso especial, restabelecendo a sentença.400 (grifos)

Destaca-se ainda, que quando a seguradora faz a alegação fundada na

premeditação do segurado, quando do cometimento do suicídio, essa atraí para si o

ônus de provar o alegado401, conforme disposto no art. 333, II, do Código de

Processo Civil de 1973, in verbis: “O ônus da prova incube: [...] II – ao réu, quando à

existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor”.402

Nos dizeres de Theodoro Junior, “esse ônus consiste na conduta

processual exigida da parte para que a verdade dos fatos por ela arrolados seja

admitida pelo juiz.” Assim, não há uma obrigatoriedade de provar o que foi dito, há

398 “Art. 5º. Considerar-se-ão, para efeitos desta Resolução, os conceitos abaixo: I - acidente pessoal: o evento com data caracterizada, exclusivo e diretamente externo, súbito, involuntário, violento, e causador de lesão física, que, por si só e independente de toda e qualquer outra causa, tenha como conseqüência direta a morte, ou a invalidez permanente, total ou parcial, do segurado, ou que torne necessário tratamento médico, observando-se que: a) incluem-se nesse conceito: a.1) o suicídio, ou a sua tentativa, que será equiparado, para fins de indenização, a acidente pessoal, observada legislação em vigor.” (CNSP. Resolução n. 117, de 22 de dezembro de 2004. Disponível em < http://www.susep.gov.br/textos/resol117-04.pdf>. Acesso em: 20 set 2009). 399 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 167 400 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Quarta Turma). EDcl no AgRg no Ag 545475 / MG Embargos de Declaração no Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2003/0154135-0. Relator: Ministro Carlos Fernando Mathias. Brasília, 02 de outubro de 2008. Disponível em <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=EDcl+no+AgRg+no+Ag+545475&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=1>. Acesso em 10 set. 2009. 401 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 187 402 BRSIL, Código Processo Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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apenas um ônus de mostrar que aquilo alegado consiste na realidade, sob pena de

perder a causa. “Isto porque, segundo máxima antiga, fato alegado e não provado é

o mesmo que fato inexistente.”403

Neste entendimento acerca da inversão do ônus da prova para seguradora, manifesta-se o Superior Tribunal de Justiça.

Agravo regimental no agravo de instrumento. Seguro. Suicídio. Não Premeditação. Responsabilidade da seguradora. Agravo regimental Improvido. 1. O suicídio não premeditado ou involuntário, encontra-se abrangido pelo conceito de acidente pessoal, sendo que é ônus que compete à seguradora a prova da premeditação do segurado no evento, pelo que se considerada abusiva a cláusula excludente de responsabilidade para os referidos casos de suicídio não premeditado. Súmula 83/STJ Precedentes. 2. "Salvo se tiver havido premeditação, o suicídio do segurado no período contratual de carência não exime o segurador do pagamento do seguro." Súmula 105/STF. 3. Agravo regimental improvido. (grifos)404

E mais, segue entendimento também do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina.

Cobrança. Contrato de seguro de vida em grupo. Suicídio. Negativa de pagamento da indenização. Alegada a exclusão do risco em virtude da aplicação do art. 798 do Código Civil. Impossibilidade. Cumprimento do período de carência. Segurado acometido de depressão. Premeditação e voluntariedade do ato não comprovadas. Ônus que competia à seguradora nos termos do art. 333, II, do CPC. Dever de indenizar configurado. Aplicação das súmulas 61 do STJ e 105 do STF. Sentença mantida. Recurso desprovido. 1. É consabido que a voluntariedade do suicídio não se presume, sendo imprescindível que a seguradora comprove, de forma cabal, que tal fato foi consciente e livremente criado pelo segurado, sob pena de afronta às súmulas 61 do STJ e 105 do STF. 2. Quando o suicídio ocorre sob influência de distúrbios mentais ou psicológicos, não se pode considerar que o segurado agiu em seu juízo perfeito e, portanto, caracterizada está a involuntariedade e a ausência de premeditação. (grifos)405

403 THEODORO JUNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil e processo de conhecimento. 44. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2006. p. 462 404 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Quarta turma). Processo AgRg no Ag 868283 / MG Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2007/0058250-9. Relator(a): Ministro Hélio Quaglia Barbosa (1127).Brasília, 27 de novembro de 2007. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/toc.jsp>. Acesso em: 15 set. 2009 405 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Terceira Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2009.004069-2, de São Bento do Sul. Relator: Marcus Tulio Sartorato. Florianópolis, 10 de março de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2009.004069-2&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&

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Percebe-se, portanto, que parcela da doutrina, bem como, da

jurisprudência entende que o suicídio involuntário é coberto ainda que no período de

carência, pela patologia a qual se encontrava o segurado.

Todavia, do outro lado, há quem defende que o suicídio, em qualquer das

suas formas, exime a seguradora de pagar o capital segurado, antes de concluído o

período de carência, apoiado na interpretação literal da norma.

Para Alvim não interessa a diferenciação da espécie de suicídio em

nenhuma hipótese, excluindo totalmente a responsabilidade da seguradora nos dois

primeiros anos do seguro. O único fato, portanto, que interessa, na concepção do

autor é o tempo decorrido, da contratação do seguro, até a eventual ocorrência do

fato ensejador do recebimento da indenização.406

Neste mesmo sentido, se manifesta Kriger Filho, salientando que se o

suicídio ocorrer nos dois primeiros anos do contrato, “[...] não cabe mais discutir se o

evento fatídico foi premeditado ou não, perdendo o beneficiário automaticamente o

direito à indenização.”407

Entende ainda o referido autor que a morte ocorrida por suicídio, há

menos de dois anos de vigência do seguro, exonerará totalmente o segurador do

dever de pagar aos beneficiários o valor da indenização.408

Assim, acerca das divergências sobre o assunto, aufere-se que, o suicídio

pode ser cometido voluntária ou involuntariamente. E ainda, pode ocorrer durante ou

após o período de carência estipulado no contrato.

3.2 DOENÇA PREEXISTENTE

Outra divergência jurídica é aquela que discute a legalidade da negativa

da seguradora em pagar o capital devido, sob alegação de doença preexistente do

qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAJAAA0x5AAC>. Acesso em: 25 set 2009 406 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 189 407 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 246 408 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 246

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segurado, ao tempo da contratação do seguro.

Antemão, cabe ressaltar que doença preexistente não é uma terminologia

médica. Assim, não existe um conceito na Medicina para esse termo, nem tão pouco

no âmbito jurídico. O que se pode caracterizar, entretanto, é o termo inicial da

doença e dos sintomas, que nem sempre coincidem no tempo, isto porque

determinadas doenças permanecem no organismo sem se manifestar por diversos

anos.409

Destarte, a incógnita do termo abre-se um questionamento acerca da

legalidade das negativas das seguradoras por doença preexistente.

Na sua maioria, as seguradoras defendem que a negativa no pagamento

do capital é ato munido de legalidade, e vêem negando o pagamento de indenização

sob alegação de má-fé do contratante, quando do preenchimento da proposta de

seguro.

Isto porque, uma vez omitida informações do real estado de saúde do

segurado, a seguradora sem conhecer a proporção do risco a ser assumido, estipula

o prêmio tendo como base aquelas respostas fornecidas pelo segurado, que se

fossem verdadeiras, em muito interferiria no valor a ser pago e na aceitação do risco

proposto.

Neste ditame, cita-se julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina,

que aduz que aquele que omite dolosamente informação, no momento do

preenchimento da proposta, perde o direito ao valor coberto no seguro. Salienta-se

antemão que os artigos citados nas jurisprudências referem-se ao Código Civil de

1916, que tem correspondente direto no Código Civil atual (arts. 765 e 766).

Civil. Contrato de seguro de vida. Morte da segurada. Indenização negada pela seguradora. Moléstia preexistente. Exames médicos comprovando doença em data anterior à contratação do seguro. Obrigação de indenizar afastada. Prequestionamento. Desnecessidade de manifestação acerca de todas as alegações da parte. Recurso provido. A seguradora exime-se da obrigação de indenizar quando o mal gerador do sinistro tem íntima relação com doença preexistente à contratação do seguro de vida, pois, nos termos do artigo 1.444 do Código Civil de 1916, quem não é sincero e omite, dolosamente,

409 SANTOS, Esther Maria Brighenti dos. O conceito de doença preexistente nos contratos de planos de saúde. Jus Navigandi. Teresina, ano 8, n. 297, 30 abr. 2004. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=5134>. Acessado em: 07 ago. de 2009.

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informações a respeito de sua higidez física ao aderir ao contrato, perde o direito ao valor do seguro. [...] (grifos)410

No julgado acima, a seguradora eximiu-se de pagar a indenização

pactuada, vez que restou comprovado, por laudos e provas testemunhais, que a

segurada sabia ser portadora da doença ao tempo da contratação do seguro, e agiu

de má-fé, não elencando a patologia que possuía. Ressalta-se que para ser alegada

a má-fé, como no caso acima, a doença que a segurada possui ao tempo da

contratação do seguro, deve ter íntima ligação com seu óbito posteriormente.

E mais, neste mesmo sentido, segue outro julgado do Tribunal de Justiça

de São Paulo, que aduz que na contratação do seguro, o contratante deve agir com

a mais estrita boa fé, sob pena de perder o direito ao capital acordado.

Seguro de vida e acidentes pessoais - ação de cobrança - doença preexistente - indenização indevida - recurso provido. Na contratação de seguro o segurado deve guardar a mais estrita boa-fé, cientificando a seguradora de sua condição de saúde de molde a propiciar a esta a avaliação do risco assumido. Risco este de evento futuro, denominado de sinistro e que dá ensejo ao recebimento da indenização contratada. No caso de incapacidade preexistente, por conseguinte, não há amparo securitário, mesmo que a seguradora não tenha feito exame admissional ou avaliação prévia. (grifos)411

Ainda neste sentido, segue outro julgado de Santa Catarina, onde aduz

que a seguradora esta isenta de pagar o capital segurado, quando comprovada a

má-fé do segurado, omitindo intencionalmente a doença que sabe ser portador.

Apelação cível - ação de cobrança de seguro - contrato de seguro de vida em grupo - morte do segurado - requerimento da indenização pela beneficiária - negativa do pagamento da indenização prevista na apólice - alegação de doença preexistente - reclamo aforado contra decisão que julgou improcedente o pedido da autora - argumento de desconhecimento da gravidade da enfermidade refutado - omissão do segurado na prestação de informações à seguradora sobre a doença previamente constatada - má-fé demonstrada nos autos - aplicação dos arts. 765 e 766 do Código Civil - dever de indenizar inexistente - decisum mantido - recurso desprovido.

410 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Segunda Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2008.071960-8, de Blumenau. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Florianópolis, 19 de junho de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2008.071960-8&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAKAAA482AAE>. Acesso em: 10 de set 2009. 411 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo (Trigésima primeira Câmara de Direito Privado). Apelação com Revisão 1073006001. Relator(a): Paulo Ayrosa. Campinas, 24 de março de 2009. Disponível em: <http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=3585963>. Acesso em: 10 set 2009

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A seguradora está isenta da obrigação de indenizar quando comprovada, à época da celebração do contrato, a má-fé do segurado ou a omissão intencional acerca de doença preexistente. "A seguradora exime-se da obrigação de indenizar quando o mal gerador do sinistro tem íntima relação com doença preexistente à contratação do seguro de vida, pois, a teor do artigo 1.444 do Código Civil de 1916, quem não é sincero e omite, dolosamente, informações a respeito de sua higidez física ao aderir ao contrato, perde o direito ao valor do seguro" (TJSC - Ap. Cív. n. 2007.010466-0, de Quilombo, Des. Luiz Carlos Freyesleben, j. 1º-11-2007). (grifos)412

Nota-se, portanto, com base nas decisões colacionadas, que a não

declaração do segurado, no momento do preenchimento da proposta, da doença

que sabe ser portado, exime a seguradora da responsabilidade de pagar, pois fere o

princípio da Boa-fé contratual.

Ressalta-se que a boa-fé, tratada do item 1.3 do primeiro capítulo, é

elemento indispensável na realização de qualquer contrato. Tal importância pode ser

observada nos dispositivos do Código Civil de 2002, que aludem sobre a relevância

da boa fé na interpretação dos negócios jurídicos, art. 113413, e na sua execução,

art. 422414.415

Desta forma, a boa-fé de que trata o art. 422 do Código Civil de 2002,

exprime a idéia de que os contratantes devem agir de modo a preservar a execução

e a conclusão do contrato, com a maior fidelidade possível.416

Nos dizeres pertinentes de Kriger Filho, este princípio se faz mais

importante ainda, quando se trata de contrato de seguro.417

412 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Segunda Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2009.017677-7, de Turvo. Relator: Mazoni Ferreira. Florianópolis, 29 de maio de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2009.017677-7&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAIAAA7NpAAV>. Acesso em: 06 set. 2009. 413 “Art. 113 do CC/2002. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.” (BRASIL. Código Civil. Vade Mecum. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 414 “Art. 422 do CC/2002. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.” (BRASIL. Código Civil. Vade Mecum. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 415 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. O contrato de seguro. p.73 416 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p.64 417 “Art. 765 do CC/2002. O segurado e o segurador são obrigados a guardar na conclusão e na execução do contrato, a mais estrita boa-fé e veracidade, tanto a respeito do objeto como das

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Se a boa fé se faz imprescindível nos contratos em geral, com mais razão deve ser fazer no contrato de seguro, uma vez que a sinceridade e a verdade constituem-se na base primeira da declaração de vontade que o origina, [...].418

Assim, pode-se auferir, conforme ensina Silva, que o contrato de seguro

munido de boa-fé tem seus efeitos imediatos entre as partes, e ainda, é capaz de

gera reflexo mediato no contexto social em qual ele é inserido e celebrado.419

No entanto, há de se destacar que há entendimentos em sentido

contrário. Logo, o simples fato de o segurado ser portador de doença a época do

preenchimento da proposta, não pode resultar em direta negativa de pagamento,

isto porque a ignorância do segurado em relação à doença, o fazia crer que possuía

uma boa saúde. Assim, resta claro que a negativa deve ser fundada em prova lícita,

de que o segurado sabia que estava doente.420

Isto porque, nos negócios jurídicos, há a presença da boa-fé presumida,

enquanto que a má-fé deve ser provada. Logo, sem a comprovação desta, não há

que se falar em recusa de pagamento, por parte da seguradora.421

Neste mesmo norte, em julgado recente, o Tribunal de Justiça de Santa

Catarina alude que não há o que se falar em excludente de responsabilidade da

seguradora em pagar o capital acordado, quando não restar comprovado que o

segurado já sabia ser portador da doença que posteriormente ocasionou seu óbito,

quando celebrou o contrato. No caso julgado, a segurada era portadora de câncer

de mama, e havia feito uma cirurgia para retirada de um nódulo, seis anos antes da

contratação do seguro. Quando resolveu contratar a apólice, a mesma já estava

curada, ou ao menos, acreditava estar. Fato este que não comprova, portanto, a má-

fé da contratante. Além do mais, os julgadores do aludido Tribunal, argumentaram

que a lide trata-se de questão consumerista ancorada em contrato de adesão, e por

este motivo, deve ser interpretada de forma mais favorável ao hipossuficiente, ou

seja, ao beneficiário. Assim, resta a seguradora obrigada a pagar ao beneficiário o

circunstâncias e declarações a ele concernentes.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 418 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 84 419 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 65 420 BERNARDI, Raquel Grellet Pereira. A doença preexistente e a boa-fé objetiva no contrato de seguro de vida. Jus Navigandi. Teresina, ano 11, n. 1240, 23 nov. 2006. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9200>. Acesso em: 07 ago. 2009. 421 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 65

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valor estipulado, pela morte da segurada, em razão da não comprovação da má-

fé.422

Deve-se, portanto, presumir-se sempre pela mais estrita boa-fé do

segurado no momento da declaração pessoal de saúde. E destaca-se aqui, que na

prática, frente a gama de contratos pactuados, as propostas são simplesmente

assinadas pelo segurado, e preenchida pelo corretor, que diante da comodidade

preenche as propostas negando qualquer doença preexistente.

Não há que se falar, portanto, em negativa quando do preenchimento

dessa proposta pelo corretor, sob alegação de má-fé do segurado, pois assim,

restaria a família penalizada, por culpa de terceiro. No entanto, restaria aos

beneficiários comprovar que a pessoa agiu de boa-fé e não preencheu a proposta a

próprio punho, acreditando na palavra do corretor que vendeu a proposta. Todavia,

sabe-se da dificuldade de provar esta alegação, pois seria preciso provar que

realmente a proposta não foi preenchida pelo segurado, e sim pelo corretor

dolosamente.

Além do mais, muitas doenças, por seu caráter silencioso, permanecem

no organismo por muitos anos, sem se manifestar.

Um exemplo dessas doenças silenciosas, na qual a pessoal pode

conviver por diversos anos sem que se tenha conhecimento, ou ainda, mesmo tendo

conhecimento, mantém uma vida normal, pelas características da patologia, é a 422 “Apelação cível. Embargos à execução de título extrajudicial. Contrato de seguro de vida e acidentes pessoais em grupo. Morte natural da segurada. Negativa da seguradora em indenizar. Alegação de doença preexistente na época da contratação. Exame prévio não exigido. Má-fé da segurada não configurada. Honorários advocatícios. Redução. Observância do disposto nos §§ 3.º e 4.º do art. 20 do Código de Processo Civil. Recurso provido parcialmente. I - É ônus processual da seguradora fazer a prova inversa (fato desconstitutivo do direito do autor), qual seja, a circunstância de que a segurada já era, no momento da contratação do seguro de vida em grupo, portadora da doença que, posteriormente, ocasionou o seu óbito. Ademais, presume-se a boa-fé da segurada ao assinar e preencher o questionário prévio acerca do seu estado de saúde, dentre outras informações prestadas nessa seara, sendo perfeitamente possível, e não raro, o desconhecimento acerca de alguma doença grave que fosse portadora, cabendo à seguradora, por conseguinte, a realização de exames prévios de saúde. Assim, não há falar em exclusão de responsabilidade contratual se a seguradora não prova que a segurada realmente estava acometida de alguma moléstia grave e que tinha conhecimento de tal fato ao tempo da assinatura da proposta securitária, agindo, pois, de má-fé.[...]”422 (grifos) (SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Primeira Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2006.028012-5, de Capinzal. Relator: Joel Figueira Júnior. Florianópolis, 17 de julho de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2006.028012-5&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAHAAA5BDAAB>. Acesso em: 10 set 2009).

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AIDS, sigla para Acquired Immune Deficiency Syndrome, podendo ainda ser usada a

sigla SIDA, que expressa o nome da doença em português: Síndrome da

Imunodeficiência Adquirida. Uma doença decorrente da infecção pelo vírus HIV,

sigla em inglês para Human Immunodeficiency Virus, que se traduz para o português

como Vírus da Imunodeficiência Adquirida.423

Além do mais, há que se ressaltar, que quando a seguradora nega a

indenização, é emitida automaticamente uma carta explicativa, direcionada aos

beneficiários. Está carta até chegar às mãos dos beneficiários, passa por uma

infinidade de pessoas do âmbito administrativo da Empresa seguradora, que, por

conseguinte tomam conhecimento do teor da correspondência. Questiona-se neste

caso se não fere o Princípio da Inviolabilidade da vida privada do de cujos, garantia

Constitucional prevista no art. 5º, X, in verbis:

Art. 5º. [...] X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano moral decorrente de sua violação;424

Além do mais, é imperioso que se tratando de direito da seguradora a

regulamentação do processo de sinistro, este deve ser realizado respeitando ao

máximo a intimidade do cliente. Logo, quem expõe outrem à situação vexatória

incide na oportunidade de composição de danos morais e materiais, decorrentes de

ato ilícito, incidindo, portanto, nos artigos 186 e 187 do Código Civil de 2002425. In

verbis:

Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligencia ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico e social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.426

Ressalta-se neste sentido, entendimento do Superior Tribunal de Justiça,

que destaca que a omissão do segurado sobre ser portador do vírus HIV, ao tempo

da contratação do seguro, não é fato que por si só induz a má-fé contratual.

423 MINISTÉRIO DA SAÚDE. Guia de vigilância epidemiológica: Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília: SVS, 2007. 424 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 425 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de Direito de Seguro. p. 142 426 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Civil. Seguro. Doença preexistente. Conhecimento prévio. Longevidade do segurado após a contratação. Indenização devida. I. Inobstante a omissão do de cujus sobre ser portador da AIDS ao tempo da contratação do seguro, não se é de presumir a má-fé se o mesmo sobreviveu, por longos anos mais, renovando sucessivamente a apólice, demonstrando que possuía, tanto à época, como ainda por bastante tempo, estado de saúde e vida praticamente normais. II. Recurso especial conhecido e provido.427 (grifos)

Além do mais, conforme Medida Provisória nº 2.177-44/2002, que alterou

a Lei nº 9.656/98 em seu art. 11, a seguradora tem o prazo de 24 (vinte e quatro)

meses da assinatura do contrato, para provar que o segurado tinha conhecimento

prévio de ser portador de alguma doença ou lesão preexistente.428

Assim, se neste prazo não houver a comprovação do conhecimento, não

poderá mais fazê-lo, sendo obrigada a indenizar os beneficiários.

Portanto, com base no acima exposto, verifica-se que a seguradora goza

do direito de negar o pagamento do sinistro, desde que provada à má-fé do

segurado. Conquanto os beneficiários tem o direito de receber o valor devido, em

razão da presunção da boa-fé inerente as relações contratuais.

3.3 PRESCRIÇÃO NO SEGURO DE VIDA

No âmbito do contrato de vida, muito se questiona acerca do prazo para

interpor ação, quando da negativa de pagamento de sinistro pela seguradora.

Todavia, antes de adentrar ao assunto, cabe fazer algumas ressalvas e um breve

reporte histórico acerca desse instituto.

427 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (Quarta Turma). Processo REsp 399455 / RS Recurso Especial 2001/0188484-8. Relator(a): Ministro Aldir Passarinho Junior (1110). Brasília, 19 de dezembro de 2002. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=399455&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=5>. Acesso em: 20 out 2009 428 BRASIL. Lei 9.656 de 3 de junho de 1998. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9656.htm>. Acesso em: 05 out.2009.

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A prescrição era desconhecida nessa atual forma no Direito Romano.

Naquela época vigorava o princípio de que as ações eram perpétuas, não havia

preocupação com tempo para requerer o direito em juízo. 429

Na história do Direito, o tempo sempre foi fator primordial, exercendo

importante influência sobre as relações jurídicas, extinguindo e criando direitos. Foi

dessa concepção que surgiu então a prescrição, na sua forma mais primitiva, na

época da Lei das XII Tábuas.430

As primeiras manifestações foram na usucapião, que também teve sua

origem no Direito Romano, admitindo-se que o decurso do tempo pudesse

transformar o simples possuidor de boa-fé em proprietário431. E no Direito de

Família, onde haviam certas formalidades para concretizar o casamento, sob pena

de nulidade, a qual, era superada pelo decurso do prazo de um ano de convivência

conjugal. Assim, havendo convivência conjugal continua por mais de um ano,

sanada estava à pendência, e convalidado restava o ato.432

Foi, portanto, na evolução desses institutos e na idéia de que nenhum

direito a ação poderia perdurar eternamente, que hoje se tem a prescrição na sua

forma conhecida.433

Nas palavras de De Plácido e Silva, prescrição deriva

Do latim praescripitio, de praescribere (prescrever, escrever antes, donde determinar ou prefixar), em sentido geral, na harmonia com a sua etimologia, quer o vocabulário exprimir a regra, o princípio, a norma ou o preceito, que se escreve antes, para que, por eles, se conduzam ou se façam as coisas.434

Assim, na definição de Beviláqua tem-se que a “[...] prescrição é a perda

da ação atribuída a um direito, e de toda a sua capacidade defensiva, em

consequência do não-uso delas, durante um determinado espaço de tempo”.435

Rodrigues corrobora com o assunto, desdobrando a prescrição em:

429 WALD, Arnoldo. Direito Civil: introdução e parte geral. 10. ed. rev. e ampl. e atual. de acordo com o Novo Código Civil. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 226. 430 WALD, Arnoldo. Direito Civil. p. 226. 431 WALD, Arnoldo. Direito Civil. p. 226 432 VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil: parte geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006. V. 1. p. 572-573. 433 VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil: parte geral. p. 573. 434 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. p. 1084 435 BEVILÁQUA, Clóvis. [apud] VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil. p. 573

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a) inércia do credor, ante a violação de um seu direito; b) por um período de tempo fixado na lei; c) conduz à perda da ação de que todo o direito vem munido, de modo a privá-lo de qualquer capacidade defensiva.436

Portanto, a regra geral é que toda a ação é prescritível. Há de ressaltar,

no entanto, que há ações que por sua natureza não prescrevem. Nessas exceções,

não se acham sujeitas ao limite temporal as ações envolvendo direito da

personalidade, tais qual a vida, a honra, o nome, a liberdade, a nacionalidade, bem

como, as ações de estado de família, cita-se, por exemplo, a investigação de

paternidade437. Destaca-se, que por sua característica, os bens públicos são

protegidos da usucapião, e desta forma também são imprescritíveis.438

Porém, como a regra geral remete a limitação do tempo para pleitear em

juízo direitos que o agente acredita possuir, o art. 189 do Código Civil de 2002 assim

preceitua: “violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela

prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.”439

Oportuno neste momento trazer a diferença entre a prescrição ordinária,

elencada pelo art. 205 do Código Civil de 2002, e a prescrição especial, definida

pelo Código de Defesa do Consumidor.

A primeira é também conhecida por prescrição comum, sendo seu prazo

decenal, tanto para as lides pessoais, como reais, vez que ambas são ações

patrimoniais. E a prescrição especial é aquela em que a norma jurídica estatui

prazos menores, pela conveniência de reduzir o prazo decenal, para possibilitar a

garantia de direitos específicos.440

No entanto, destaca-se que em matéria de seguro de vida, esse instituto

da prescrição é rodeado de controvérsia jurídica, tanto no que se refere à prescrição

dos segurados, quanto à prescrição atinente aos beneficiários, conforme segue

explanação.

436 RODRIGUES, Silvio. Direito Civil: parte geral. 34. ed. atual. de acordo com o novo Código Civil (Lei nº 10.406, de 10-1-2002). V. 1. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 324 437 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Súmula n. 149. É imprescritível a ação de investigação de paternidade, mas não é a de petição de herança. Disponível em: < http://www.stf.jus.br/portal/cms/verTexto.asp?servico=jurisprudenciaSumula&pagina=sumula_101_200>. Acesso em: 12 de set. 2009. 438 VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil: parte geral. p. 575 439 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 440 DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil brasileiro: teoria geral do direito civil. 24. ed. rev. e atual. de acordo com a Reforma do CPC. São Paulo: Saraiva, 2007. V. 1. p. 400

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3.3.1 Prescrição dos segurados

Uma questão de grande controvérsia no mundo jurídico diz respeito à

prescrição no contrato de seguro de vida, quando se trata de ação proposta pelo

próprio segurado. Caberá a prescrição neste caso, para o próprio segurado em caso

de seguro de vida por sobrevivência, e no caso de invalidez do segurado.

O art. 206 do Código Civil de 2002 traz a prescrição para o contrato de

seguro da seguinte forma:

Art. 206. Prescreve: §1º em um ano: II – a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contando o prazo: a) Para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta pelo terceiro prejudicado, ou da data que este indeniza, com anuência do segurador; b) Quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão.441

Destaca-se que no que concerne ao seguro de vida, é utilizada a alínea

“b” do artigo supracitado, haja vista a peculiaridade do seguro de responsabilidade

civil descrito na alínea “a”.

Desta forma, o prazo começa a contar a partir do fato gerador da

pretensão, conforme descrito no artigo, ou seja, do fato que enseja o início do direito

de ação. Assim, cabe nesse momento identificar qual seja esse fato gerador do

direito de ação do segurado.

No entendimento de Kriger Filho o fato gerador da pretensão do segurado

é a recusa da seguradora ao pagamento da indenização pleiteada no âmbito

administrativo. Assim, uma vez negado o pagamento do capital segurado pela

seguradora, independente do motivo, aberto restaria à contagem do prazo

prescricional. Pois do contrário, o tempo em que o processo de sinistro estaria sob

análise da seguradora, já estaria correndo prazo prescricional, o que, nas palavras

do autor, não ocorre, pois resta suspenso442 este prazo.443

441 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 442 “Suspensão da prescrição – o prazo transcorrido antes de suspensa a prescrição aproveita ao devedor. Assim, ao reiniciar a contagem do tempo, aquele prazo transcorrido se adiciona ao novo, continuando a contagem de onde parou.” (VENOSA, Silvo de Salvo. Direito Civil: parte geral. p. 336)

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Corroborando com o assunto Tzirulnik destaca que com a ocorrência do

sinistro, gera automaticamente o dever para o segurado de comunicar a seguradora,

através do aviso de sinistro. Cumprido este ônus, a pretensão do segurado surgirá

no momento em que a seguradora negar o cumprimento de suas obrigações

contratuais, ou ainda, se demorar injustificadamente na resposta. “Nessa linha,

enquanto não houver negativa não surge propriamente à pretensão, pois não

caracterizada violação.”444

Todavia, em se tratando de invalidez do segurado, o entendimento acerca

do início do prazo é outro. Nesse caso o fato gerador da pretensão do segurado é a

data em que esse teve conhecimento da incapacidade para continuar laborado, e

não da negativa da seguradora de pagar o capital devido, conforme enunciado da

Súmula 278 do Superior Tribunal de Justiça: “O termo inicial do prazo prescricional,

na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da

incapacidade laboral”.445

Nesse seguimento, destaca-se entendimento do Superior Tribunal de

Justiça:

Seguro de vida e acidentes pessoais. Prescrição ânua. Recusa de pagamento. Suspensão. - A Súmula 101 diz que "a ação do segurado em grupo contra a seguradora prescreve em um ano". O prazo prescricional, no entanto, tem início da data em que o segurado tem conhecimento inequívoco da incapacidade (Súmula 278), permanecendo suspenso entre a comunicação do sinistro e a da recusa do pagamento da indenização (Súmula 229). - O prazo prescricional, portanto, tem início quando o segurado toma conhecimento da incapacidade, e não da recusa do pagamento da indenização pela seguradora.446 (grifos)

Logo, há fundamentos de que o prazo inicia-se com o conhecimento pelo

segurado do fato gerador de seu direito, bem como entendimento de que começa a

contar apenas após a negativa da seguradora de pagar o capital devido.

443 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro no Código Civil. p. 216 444 TZIRULNIK, Ernesto. Contrato de seguro. p. 217 445 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 278. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=123>. Acesso em: 08 out 2009. 446 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Terceira Turma). AgRg no Ag 590716 / MG Agravo Regimental no Agravo de Instrumento 2004/0029927-3. Relator: Ministro Humberto Gomes De Barros (1096). Brasília, 26 de outubro de 2006. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=prescri%E7%E3o+anua+do+seguro+de+vida&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=4>. Acesso em: 08 out 2009

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Assim, após a verificação do fato gerador do direito do segurado, reporta-

se ao entendimento de que resta suspenso o prazo da prescrição durante a análise

do processo de sinistro, pela seguradora, conforme Súmula 229 do Superior Tribunal

de Justiça, in verbis: “O pedido do pagamento de indenização à seguradora

suspende o prazo de prescrição até que o segurado tenha ciência da decisão.”447

Ressalta-se que, há julgados entendendo que poderá também ocorrer à

interrupção do prazo prescricional durante a interposição do processo de sinistro

pelo segurado. Em julgado recente, o Superior Tribunal de Justiça entendeu que a

resposta da seguradora poderá configurar causa interruptiva do prazo prescricional,

quando por qualquer ato inequívoco importe reconhecimento do direito do autor.

Assim extraí-se parte do corpo do acórdão:

Não há dúvida, portanto, que o pedido de indenização formulado pelo segurado tem efeito suspensivo. Esse efeito, contudo, é inerente apenas à apresentação do comunicado pelo segurado. Há de se considerar, em contrapartida, que a resposta da seguradora pode, eventualmente, caracterizar causa interruptiva do prazo prescricional, notadamente aquela prevista no art. 172, V, do CC/16 (atual art. 202, VI, do CC/02), qual seja, a prática de ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe reconhecimento do direito pelo devedor.448

Destaca-se, todavia, que após a negativa, eventuais pedidos de

reconsideração e re-análise pela seguradora não obsta o tempo prescricional.449

Assim, quando o segurado, inconformado com a decisão que lhe fora imposta pela

seguradora, pede que a mesma re-análise seu processo, de modo a rever sua

decisão, o prazo prescricional já começa a contar, da data da negativa, não restando

suspenso ou interrompido novamente.

Outro ponto relevante está no prazo da prescrição, isto porque há visível

controvérsia na jurisprudência e na doutrina acerca da utilização do prazo descrito

no Código Civil de 2002, e o prazo aludido pelo Código de Defesa do Consumidor.

Assim, no que tange ao seguro de vida, há entendimento doutrinário e

jurisprudencial no sentido de prevalecer à prescrição ânua do art. 206 do Código 447 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 229. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=173>. Acesso em: 12 de set 2009. 448 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Terceira Turma). REsp 875637 / PR Recurso Especial 2006/0176370-9. Relator: Ministra Nancy Andrighi (1118). Brasília, 19 de março de 2009. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200601763709&dt_publicacao=26/03/2009>. Acesso em: 08 out 2009 449 TZIRULNIK, Ernesto. Contrato de seguro. p. 217

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Civil de 2002, conflitante com entendimentos de que por se tratar de relação

consumerista, deve prevalecer o de cinco anos prazo previsto no art. 27 do Código

de Defesa do Consumidor.

Tzirulnik manifesta-se a favor do prazo de um ano, sendo de acordo pela

prevalência do Código Civil de 2002, e alude que: “O prazo estabelecido para a

extinção das pretensões entre segurados e seguradoras é de 1 (um) ano. Não foram

estabelecidas exceções, [...]”450

Alvim também entende neste sentido, alertando que após a negativa da

seguradora em indenizar o segurado se inicia o prazo ânuo para prescrição do

direito desse.451

Neste contexto foi emitida a Súmula 101 do Superior Tribunal de Justiça,

in verbis: “A ação de indenização do segurado em grupo contra a seguradora

prescreve em um ano.”452 Destaca-se que tal entendimento está mais direcionado

para a modalidade de seguro de vida em grupo, não obstante sua utilização também

nos contratos individuais.

Embasando este assunto, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina possui

entendimento de que prescreve em um ano a pretensão do segurado, e alude que

não configura cerceamento de defesa se o Juiz julgar antecipada a lide por

convencimento da prescrição.

Processual Civil e Civil. Cerceamento de defesa inocorrente. Ação de cobrança. Contrato de seguro de vida em grupo. Cobertura para invalidez total e permanente. Prescrição ânua configurada. Precedentes do STJ. Exegese do art. 206, § 1º, CC. Inversão dos ônus sucumbenciais. Recurso provido. O juiz não viola a Constituição Federal nem o Código de Processo Civil, por cerceamento de defesa, ao antecipar o julgamento da lide sem ouvir testemunhas ou produzir prova pericial quando tem à sua disposição provas bastantes para firmar o seu convencimento. "Em caso de recusa da seguradora ao pagamento da indenização contratada, o prazo prescricional da ação que a reclama é de um ano, nos termos do art. 178, § 6º, II, do Código Civil de 1916. Inaplicável o lapso prescricional de cinco anos, por não se enquadrar a espécie no conceito de 'danos causados por fato

450 TZIRULNIK, Ernesto; CAVALCANTI, Flávio Queiroz Bezerra; PIMENTEL, Ayrton. [apud] MESSINA, Adyr Pecego. Contrato de seguro. p. 215 451 ALVIM, Pedro. O seguro e o novo Código Civil. p. 187 452 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula n. 101. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/sumulas/doc.jsp?livre=%40docn&&b=SUMU&p=true&t=&l=10&i=301>. Acesso em: 12 de set. 2009

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do produto ou serviço' (acidente de consumo). Precedentes do STJ" (STJ, Ministro Barros Monteiro).453 (grifos)

Assim, com o mesmo entendimento da prescrição ânua fundada no

Código Civil de 2002, segue julgado do Tribunal de Justiça de São Paulo:

Seguro de vida e acidentes pessoais. Ação de cobrança cumulada com indenização por dano moral. Pedido fundado em invalidez. Prescrição anua. Contagem a partir do efetivo conhecimento da incapacidade, que se suspendeu no período compreendido entre a comunicação do sinistro e a recusa da seguradora. Prescrição configurada. Agravo provido. E de um ano o prazo prescricional para a ação do segurado em grupo reclamar da seguradora o pagamento da prestação respectiva (STJ, Súmula 101) O prazo, no caso, teve início na data em que o segurado tomou conhecimento inequívoco da existência da incapacidade, ou seja, quando do deferimento da aposentadoria por invalidez e ficou suspenso no período em que se aguardou a apreciação por parte da seguradora (STJ, Súmula 229), mas já se esgotara ha meses quando da propositura da ação o reconhecimento da prescrição, por decorrência lógica, determina a improcedência do pedido de condenação ao pagamento de reparação por dano moral que o tinha por pressuposto.454 (grifos)

Portanto, há forte e fundado entendimento pela aplicação de prazo

prescricional previsto no Código Civil de 2002, não sendo, todavia, esse

entendimento pacífico. Vez que, em contra partida, há entendimento que a

prescrição para o segurado do contrato de seguro de vida, rege-se pelo Código de

Defesa do Consumidor, por se tratar de relação consumerista embasada em

contrato de adesão. Assim:

Art. 27. Prescreve em cinco anos a pretensão a reparação pelos danos causados por fato do produto ou do serviço prevista na Seção II deste Capítulo, iniciando-se a contagem do prazo a partir do conhecimento do dano e de sua autoria.455

Neste ditame cita-se Cavalieri Filho, que entende pela aplicação desse

Diploma Legal nas relações securitárias em sua totalidade, inclusive no que tange a

453 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Segunda Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2007.057016-8, de Herval D'Oeste. Relator: Luiz Carlos Freyesleben. Florianópolis, 31 de março de 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2007.057016-8&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&pageCount=10&qID=AAAGxaAAJAAAoKyAAH>. Acesso em: 22 ago. 2009 454 SÃO PAULO. Tribunal de Justiça de São Paulo (Trigésima primeira Câmara de Direito Privado). Agravo de Instrumento 1256201005. Relator(a): Antonio Rigolin. São Paulo, 02 de junho de 2009. Disponível em: <http://esaj.tj.sp.gov.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=3708283>. Acesso em: 18 ago. 2009 455 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009

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prescrição, por se tratar o seguro de vida de mero contrato de adesão. Assim,

conforme o autor,

O Código do Consumidor estabeleceu prazo prescricional único de cinco anos para todos os casos de pretensão à reparação de danos causados por fato de produto e do serviço. E como esse Código se aplica à atividade securitária, temos como certo que o prazo para o segurado exercer a sua pretensão contra o segurador, tratando-se de relação de consumo, não é mais de um ano, [...], mas sim, de cinco anos.456

Cabe neste momento trazer a distinção, de acordo com o Código de

Defesa do Consumidor, do que venha a ser dano causado por fato de produto e do

serviço, para melhor esclarecer a incidência deste Diploma Legal no contrato de

seguro.

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. § 1º. O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração a circunstâncias relevantes, entre as quais: I – sua apresentação; II – o uso e os riscos eu razoavelmente deles se esperam; III – a época em que foi colocado em circulação.

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. § 1º. O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele dope esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais: I – o modo de seu fornecimento; II – o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III – a época em que foi fornecido.457

Assim, haverá incidência do Código Consumerista quando o seguro de

vida valer-se de defeito seja na apresentação pelo corretor, havendo assim, falhas

desse no repasse das informações ao cliente, seja na época em que ele foi colocado

em circulação, refletindo o momento histórico na sua execução.

456 SENE, Leone Trida. [apud] CAVALIERI FILHO, Sérgio. Seguro de Pessoas. p. 148 457 BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Vade Mecum. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Defendendo a prescrição qüinqüenal prevista no Código de Defesa do

Consumidor, e corroborando com a visível controvérsia, segue julgado do Tribunal

de Justiça de Santa Catarina:

Embargos de declaração. Omissão e contradição. Requisitos do artigo 535, do código de processo civil presentes. Decisão monocrática proferida por relator, com base no artigo 557, § 1º-a, do mesmo Diploma Legal. Julgamento pela câmara cível. Havendo obscuridade, contradição ou omissão a ser sanada na decisão monocrática proferida pelo relator, com fulcro no artigo 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil, imprescindível o julgamento dos embargos declaratórios pela Câmara Cível competente. Processual civil. Ação de cobrança de seguro. Beneficiária genitora do segurado. Lapso prescricional de cinco anos. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor. Em matéria de seguro, o lapso prescricional a observar-se é o qüinqüenal especificamente constante do Código de Defesa e Proteção do Consumidor (art. 27, CDC), afastada a tese de prescrição ânua (art. 178, §6°, II, CC/16), a qual, de resto, não se teria como configurada na hipótese. (AC n. 2005.035349-4, de São Joaquim, rela. Desa. Maria do Rocio Luz Santa Ritta, DJ de 24-1-2008) [...]458 (grifos)

E mais, segue julgado do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro:

Agravo de Instrumento. Contrato de seguro. Ação ordinária pleiteando complementação de indenização securitária em razão de invalidez por acidente. Alegação de prescrição da ação. Matéria controvertida sobre que norma adotar, se a do artigo 27, do Código de Defesa do Consumidor ou a do artigo 178, § 6º, II do Código Civil de 1.916, mantido no artigo 206, § 1º, II, "b" do atual Código Civil. Aplicação do Código Consumerista. Prescrição qüinqüenal. O Código de Defesa do Consumidor é Lei Especial e derroga a Lei Geral, no caso o Código Civil. Recurso improvido.459 (grifos)

Importante destacar que o julgado acima assegura a utilização do Código

de Defesa do Consumidor por se tratar de Lei Especial, que rege o contrato, e deve,

portanto, prevalecer em relação à norma geral descrita no Código Civil de 2002.

458 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Primeira Câmara de Direito Público). Embargos de Declaração em Apelação Cível n. 2007.012089-1, de Capital. Relator: Carlos Prudêncio. Florianópolis, 10 de março de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2007.012089-1&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAIAAA04MAAG>. Acesso em: 18 ago. 2009 459 RIO DE JANEIRO. Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (Décima primeira Câmara Civil). Agravo de Instrumento nº 2004.002.16202. Relator: DES. Luiz Eduardo Rabello. Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2006. Disponível em <http://www.tj.rj.gov.br/scripts/weblink.mgw>. Acesso em: 18 ago. 2009

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Desta forma, é visível a grande divergência acerca da prescrição em

matéria de seguro de vida. Há entendimentos de que o prazo para a prescrição

inicia-se com a negativa da seguradora em pagar o valor devido, e a entendimento

de que o prazo começa com o conhecimento pelo segurado, do fato gerador da

pretensão.

Assim, há contradição também no efetivo prazo prescricional, divergindo

entre a aplicação do Código Civil de 2002 e o Código Consumerista.

3.3.2 Prescrição dos beneficiários

Outro ponto debatido dentre a doutrina é a prescrição referente aos

beneficiários do contrato de seguro de vida tradicional.

Relembra-se que a figura do beneficiário é distinta da do segurado. Este é

o que firma o contrato com o segurador, que vêm descritos na apólice como

contratante. Já aqueles, são os beneficiados da indenização quando da ocorrência

de um fato danoso com segurado. 460

Nas palavras de Sene, no que tange a “[...] prescrição, torna-se

imprescindível a presente distinção, pois enquanto desiguais na relação securitária,

segurado e beneficiário recebem tratamento jurídico desigual.”461

Assim, procedida à distinção, e adentrando efetivamente na prescrição,

cita-se a divergência em três nortes, o art. 74 da Circular da SUSEP n. 302, o art.

206, §3º, IX, do Código Civil de 2002, que é incisivo em estipular que prescreve em

três anos a pretensão do beneficiário, bem como do terceiro prejudicado, no caso

dos seguros de responsabilidade civil,462 e o art. 205 deste mesmo Diploma Legal.

460 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 140 461 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 140 462 “Art. 206 do CC/2002. Prescreve: [...] §3º - Em três anos: [...] IX – a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso do seguro de responsabilidade civil obrigatório.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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No que se refere ao disposto no art. 74 da Circular da SUSEP n. 302, in

verbis: “É vedada a inclusão de cláusula nas condições contratuais que disponha

sobre a fixação de prazo máximo para a comunicação de sinistro."463 Pela leitura do

artigo não há de se considerar prazo prescricional algum, ficando a cargo de normas

gerais que regulamente o caso.

No tocante ao art. 206 do Código Civil de 2002, mesmo com a efetiva

afirmação do referido artigo em ressaltar o seguro de responsabilidade civil, alguns

autores entendem pela aplicação do prazo de três anos a todos os outros ramos de

seguro.

Neste norte, Sene ensina que, aos beneficiários atingidos pelo Código

Civil de 1916, continua valendo a regra desse Diploma, que previa a prescrição em

20 anos. Porém, nos contratos firmados na vigência do Código Civil de 2002, há de

se entender pela prescrição trienal. Nas palavras do autor

Diversamente da Lei anterior, o Código de 2002 trouxe dispositivo específico regulando a prescrição para o beneficiário do seguro de pessoas. Os longos 20 (vinte) anos foram reduzidos drasticamente. Agora, segundo o texto do art. 206, §3º, IX, são necessários apenas 03 (três) anos para perecer o direito de ação do beneficiário frente ao segurador.464

Em contra partida, há entendimento que o Código Civil de 2002 apenas

regula a prescrição dos beneficiários do seguro de responsabilidade civil obrigatório,

omitindo-se a regular dos demais ramos de seguro, ficando estes a cargo da regra

geral da prescrição, por não ser possível interpretação extensiva.

Assim, os defensores desta corrente apóiam-se na máxima de que por se

tratar de matéria de prescrição não se admite interpretação extensiva ou

ampliativa.465

Logo, para Kriger Filho impossível torna-se a aplicação aos beneficiários

do seguro de vida, o disposto naquele artigo, “[...] donde se pode concluir que para

este a prescrição deve seguir a regra geral contida no artigo 205, [...]”466

Segundo Alvim, continuam, portanto, os beneficiários, exceto do ramo do

seguro de responsabilidade civil, sujeitos a prescrição comum de dez anos, do art. 463 SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009 464 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 143 465 SANTOS, Carvalho dos [apud] KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro do Código Civil. p. 17 466 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro do Código Civil. p. 217

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205 do Código Civil de 2002, in verbis: “A prescrição ocorre em dez anos, quando a

lei não lhe haja fixado prazo menor.”467

Neste sentido, corroborando com o tema, o Tribunal de Justiça do Estado

de Santa Catarina entende que a figura do beneficiário não deve ser confundida com

a do segurado, e, nem tão pouco se deve interpretar a prescrição de forma

extensiva, devendo, portanto, ser aplicada a regra geral da prescrição no que tange

os beneficiários do seguro de pessoas.

Cobrança. Contrato de seguro de vida em grupo. Ação promovida pelo cônjuge da de cujus. Aventada prescrição ânua (art. 178, § 6º, II, do CC/1916). Não incidência. Beneficiário do contrato de seguro que não se confunde com a própria segurada. Limitação de direito que deve ser interpretada restritivamente. Aplicação da prescrição vintenária na hipótese. Exegese do art. 177 do Código Civil de 1916. Preliminar afastada. Negativa de cobertura ao argumento de preexistência de doença (câncer). Insubsistência. Ré que não fez prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor, limitando-se a fazer alegações. Exegese do art. 333, II, do Código de Processo Civil. Prévio exame não exigido no ato da contratação. Responsabilidade da seguradora evidenciada. Obrigação desta de efetuar o pagamento da indenização no patamar acordado (R$ 70.000,00). Sentença mantida. Recurso desprovido. 1. "O terceiro beneficiário do seguro de vida em grupo não se sujeita ao prazo ânuo da prescrição (art. 178, § 6º, II, do CC), uma vez que não se confunde ele com a figura do segurado. Interpretam-se restritivamente as regras concernentes à prescrição" (REsp nº 174.728, Min. Barros Monteiro). 2. A seguradora que obtém, no momento da contratação ou renovação do seguro, autorização expressa no sentido de obter informações médicas, clínicas e hospitalares acerca do estado de saúde do segurado e não diligencia neste sentido naquela oportunidade, preferindo assim agir tão-somente por ocasião do pleito administrativo de pagamento da indenização, o faz por conta e risco próprio, não lhe sendo lícito negar o pedido formulado pelo beneficiário, particularmente depois de receber o prêmio respectivo por anos. 468 (grifos)

Desta forma, em se tratando de beneficiários de seguro de vida, há

entendimentos em dois seguimentos: pela utilização da prescrição trienal, prevista

no art. 206 do Código Civil de 2002. Ou pela aplicação da regra geral de dez anos

do art. 205, do mesmo Diploma Legal. 467 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 468 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Terceira Câmara de Direito Civil). Apelação Cível n. 2009.015805-4, de Joinville. Relator: Marcus Tulio Sartorato. Florianópolis, 23 de junho de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2009.015805-4&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAIAAA7BeAAF>. Acesso em: 22 set. 2009

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3.4 MORA NO PAGAMENTO DO PRÊMIO DO SEGURO

A grande relevância deste assunto, frente o Ordenamento Jurídico

brasileiro, se finda no cancelamento arbitral, por parte da seguradora, do contrato de

seguro, em razão de atraso no pagamento do prêmio. Ocorre que a legislação não

estipula quantas parcelas, ou o que de atraso precisa o segurado incorrer para

restar em mora.

Assim, inicialmente cabe fazer alguns apontamentos no que tange o

prêmio e a mora, para o Direito Civil. Como já abordado em momento oportuno, o

prêmio vem a ser o preço pago pelo segurado, como garantia ao que fora contratado

no seguro. O prêmio é, portanto, a prestação a cargo do segurado.469

Em contraprestação a essa obrigação do segurado, a seguradora se

obriga ao pagamento do capital a esse, quando da ocorrência do risco previsto no

contrato. É desta forma, um contrato bilateral, envolvendo obrigações recíprocas

entre os contratantes, assim a prestação de um deles possui justificativa de ser na

do outro. Portanto, a seguradora assume o risco em virtude do comprometimento do

segurado em cumprir sua parte no contrato.470

Assim, prevê o art. 757 do Código Civil de 2002 que o segurador se

obriga, pelo contrato de seguro, a garantir interesse legítimo do segurado, ao passo

que ao segurado se impõe a obrigação de pagar o valor estipulado471.

Logo, por se tratar o pagamento do prêmio um dever do segurado, que

por hora justifica o dever da seguradora de indenizá-lo, alude o art.763 do Código

Civil de 2002 que: “Não terá direito à indenização o segurado que estiver em mora

no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.”472

Necessário neste momento, ante tal preceito legal, definir o que vem a ser

esta mora no pagamento do seguro.

469 TZIRULNIK, Ernesto. Contrato de seguro. p.38 470 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro do Código Civil. p. 74 471 “Art. 757 do CC/2002. Pelo contrato de seguro, o segurador se obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a coisa, contra riscos predeterminados.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 472 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009.

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Antemão, há de se observar que o conceito de mora seja talvez o mais

complexo de definição dentro da doutrina pertinente ao Direito das Obrigações. A

mora é, em si, uma situação fática, na qual o devedor da obrigação se encontra.473

O Código Civil de 2002, no seu art. 394, conceitua mora da seguinte

forma: “considera-se em mora o devedor que não efetuar o pagamento e o credor

que não quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a convenção

estabelecer”.474

A mora é desta forma, uma espécie de inadimplemento contratual, com

alguns requisitos além do tempo: forma e lugar de cumprimento da obrigação.

Assim, o devedor que descumprir com sua obrigação pactuada incorrerá em mora.

Portanto, nota-se com a leitura do artigo supra transcrito, que a mora não está

limitada apenas no atraso do pagamento da dívida, mas também na possibilidade de

imputar ao devedor a responsabilidade pelo atraso da dívida e no interesse do

credor em receber a dívida, na sua forma estipulada de pagamento, no tempo e local

acordados.475

Pode-se definir mora, portanto, como sendo uma

‘[...] situação jurídica temporária, geradora de responsabilidade civil aumentada, na qual se encontra o devedor que não cumpre ou credor que não recebe, culposa ou dolosamente, no modo, tempo ou lugar previsto pela obrigação.’476

Ressalta-se que se trata de situação jurídica temporária, e não definitiva.

Assim, ou há o retorno a normalidade, com o cumprimento da obrigação, ou a

convolação para o estágio de inadimplemento absoluto, não podendo o devedor se

manter nesta condição permanentemente. Logo, a mora é um estágio que se

473 GAZALLE, Gustavo Kratz. O conceito da mora na teoria contratual moderna. 2006. 96 f. Dissertação (apresentada ao final do curso de Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: < http://www.bibliotecadigital.ufrgs.br/da.php?l=bebadf33addef3fc&loc=2007&nrb=000546306>. Acesso em: 10 set. 2009 474 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 475 GAZALLE, Gustavo Kratz. O conceito da mora na teoria contratual moderna. 2006. 96 f. Dissertação (apresentada ao final do curso de Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: < http://www.bibliotecadigital.ufrgs.br/da.php?l=bebadf33addef3fc&loc=2007&nrb=000546306>. Acesso em: 10 set. 2009 476 SOUZA NETO, João Baptista de Mello e; CLÁPIS, Alexandre Laizo. Direito Civil: obrigações. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2007. (Série Fundamentos Jurídicos). p. 159-160.

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localiza entre a normalidade do cumprimento da obrigação pactuada, e a inexecução

absoluta.477

Na definição de Brito, a mora vem a ser “[...] a falta de execução ou

cumprimento da obrigação no momento em que se torna exigível.”478

Assim, no que tange aos contratos de seguro de vida, há de se ressaltar

que a primeira vista do texto legal do art. 763 do Código Civil de 2002479, aufere-se

que o segurado perde de imediato todo e qualquer direito decorrente do contrato de

seguro, a partir do momento em que deixa de pagar integralmente, ou uma das

parcelas do contrato. Esse entendimento firma-se com mais ênfase quando

analisado juntamente com o art. 397, daquele mesmo Diploma Legal, que prevê que

“o inadimplemento da obrigação positiva e líquida, no seu termo, constitui de pleno

direito em mora o devedor”480.481

Além do mais, prevê Circular da SUSEP n. 302, que a falta de pagamento

do prêmio, nos prazos estipulados, poderão acarretar o cancelamento da apólice, a

partir do primeiro dia útil de cobertura a que se refere o pagamento.482 E não

ocorrendo o cancelamento imediato, a seguradora goza de algumas atitudes, como

forma de precaução, conforme art. 42 da referida Circular, in verbis:

Art. 42. No caso de não ocorrer o cancelamento imediato da apólice ou do certificado individual por inadimplência do segurado ou do estipulante deverá ser adotada uma das seguintes hipóteses pelas sociedades seguradoras: I – cobertura dos sinistros ocorridos durante o período de inadimplência, com a consequente cobrança do prêmio devido ou, quando for o caso, seu abatimento da indenização paga ao(s) beneficiário(s); ou

477 SOUZA NETO, João Baptista de Mello e; CLÁPIS, Alexandre Laizo. Direito Civil. p. 159 478 MARTINS, João Marcos Brito. O contrato de seguro. p.58 479 “Art. 763 do CC/2002. Não terá direito a indenização o segurado que estiver em mora no pagamento do prêmio, se ocorrer o sinistro antes de sua purgação.” (BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009). 480 BRASIL. Código Civil. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009. 481 SCARPASSA, Marco Antonio. O contrato de seguro e a mora do segurado relativa ao pagamento do prêmio. Jus Navegandi, Teresina, ano 10, n. 1204, de 18 out. 2006. Disponível em: <HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9057>. Acesso em: 09 set. 2009 482 “Art. 41. O não pagamento do prêmio por parte do segurado ou estipulante nos prazos estipulados nas condições contratuais poderá acarretar o cancelamento da apólice ou certificado individual, a partir do primeiro dia de vigência do período de cobertura a que se referir a cobrança.” (SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009).

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II – não cobertura dos sinistros ocorridos durante o período de adimplência, sendo vedada a cobrança dos prêmios referentes a este período.483

Todavia, há de se ressaltar que o atraso no pagamento da dívida pelo

segurado, pode se dar de duas formas: parcial, quando deixa de pagar um das

parcelas, ou absoluta, quando feito em pagamento único, deixa de efetivá-lo na data

estabelecida. Assim, pela sua natureza distinta, merece tratamento diferenciado

cada uma das formas de inadimplemento484.

Desta forma, quando a inadimplência do segurado for absoluta, conforme

explica Silva, não resta dúvidas quanto à interpretação do texto da lei. Neste caso,

fácil é o entendimento de que carece do direito de receber o capital devido o

segurado/beneficiário que estiver em mora absoluta com seu contrato de seguro.485

Todavia, quando da inadimplência parcial do prêmio, ou inadimplência de

apenas uma parcela, a questão não é incisiva, gerando certa controvérsia na

doutrina e jurisprudência. Isto porque, em se tratando de inadimplência fracionada,

diferentes entendimentos vêm surgindo, no sentido de perde ou não o direito a

indenização. Uma parcela da jurisprudência entende que se mostra muito drástica à

medida que impõe a perda total do direito a indenização pela simples mora de uma

fração do prêmio total.486

Nas palavras pertinentes de Kriger Filho, o legislador regrediu ao prever a

perda pura do direito à indenização ou capital em caso de atraso no pagamento da

parcela, isso porque, o contrato de seguro envolve uma matéria de forte interesse

social.487

Ao passo desse tema, têm-se então no âmbito Jurídico situações que

constituem em mora automaticamente o devedor, tal como na promessa de compra

e venda de imóvel, relativamente à mora do compromissário. Todavia, essa opção

legislativa não foi implementada no que concerne ao contrato de seguro.488

483 SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009. 484 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. 485 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. p. 98 486 SILVA, Ivan de Oliveira. Curso de direito do seguro. 487 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro do Código Civil. 488 SCARPASSA, Marco Antonio. O contrato de seguro e a mora do segurado relativa ao pagamento do prêmio. Jus Navegandi, Teresina, ano 10, n. 1204, de 18 out. 2006. Disponível em: <HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9057>. Acesso em: 09 set. 2009

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Primeiro segue o entendimento de que se deve procurar sempre

conservar ao máximo o negócio jurídico realizado, assim, deve-se buscar salvar o

que for possível num contrato. O princípio do adimplemento substancial, por vez,

equivale ao descumprimento de parte mínina da obrigação, irrisória. Logo, não deve

ser resolvido o contrato por este motivo, já que “é necessário, para a resolução do

contrato, que ocorra inadimplemento capaz de afetar substancialmente o direito do

credor da prestação, [...]”.489

Além do mais, a forma mais comum de atraso no pagamento do prêmio

do seguro, se dá pela morte do segurado, e seria drástico de mais cancelar um

seguro por mora do segurado, justamente quando da ocorrência do sinistro, fato que

gera automaticamente o direito do beneficiário de pleitear a indenização devida.

Assim, ao rescindir o contrato de seguro pela inadimplência parcial do

prêmio, a seguradora esta ferindo diretamente o preceito do art. 51 do Código de

Defesa do Consumidor de 1990490, deixando o segurado em desvantagem

manifestamente exagerada.

Destarte, a resolução do contrato deve obrigatoriamente respeitar os

preceitos do Código de Defesa do Consumidor, que não permite a resolução do

contrato de forma unilateral, requerendo assim, a constituição em mora do segurado,

através de prévia notificação.491

Além do mais, conforme Decreto n. 60.459, de 13 de março de 1967, que

regulamentou o Decreto-Lei n. 73, de 21 de novembro de 1966, a obrigação de

pagar o prêmio iniciará a partir da data prevista no contrato, restando suspensa a

cobertura, até que se efetue o pagamento devido. Ou seja, conforme este decreto,

não é cancelado o seguro imediatamente. Este se dará apenas quando o

pagamento não for efetuado no prazo.492

489 SCARPASSA, Marco Antonio. O contrato de seguro e a mora do segurado relativa ao pagamento do prêmio. Jus Navegandi, Teresina, ano 10, n. 1204, de 18 out. 2006. Disponível em: <HTTP://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=9057>. Acesso em: 09 set. 2009 490“Art. 51 do CDC/1990 – São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou equidade.” (BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009) 491 SENE, Leone Trida. Seguro de Pessoas. p. 137 492 “Art. 6º. A obrigação do pagamento do prêmio pelo segurado vigerá a partir do dia previsto na apólice ou bilhete de seguro, ficando suspensa a cobertura do seguro até o pagamento do prêmio e demais encargos. §1º. O prêmio será pago no prazo fixado na proposta. [...] §5º. A falta de

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Corroborando com o assunto, Kriger Filho assevera que as seguradoras

são detentoras de grande poder econômico, perfeitamente capazes de lançar mão

dos meios ordinários para fazer valer seus direitos, como a via executiva para cobrar

do segurado o prêmio atrasado. Desta forma, mostra-se incisiva de mais a

orientação que impõe a perda do direito a indenização sem, ao menos, uma prévia

notificação do débito em aberto ao segurado moroso.493

Neste contexto, convém destacar julgado do Superior Tribunal de Justiça,

que assevera que para se constituir a mora do segurado, deve-se anteriormente

notificá-lo.

Seguro de vida. Atraso no pagamento. Ausência de interpelação. - Normalmente, para que se caracterize mora no pagamento de prestações relativas ao prêmio é necessária a interpelação do segurado. Mero atraso não basta para desconstituir a relação contratual. - A cláusula de cancelamento do seguro sem prévia notificação deixa de se abusiva, se o segurado permanece em mora há mais de 15 (quinze) meses. - Em homenagem à boa-fé e à lógica do razoável, atraso superior a um ano não pode ser qualificado como "mero atraso no pagamento de prestação do prêmio do seguro" (REsp 316.552/PASSARINHO, grifei). A ausência de interpelação por parte da seguradora não assegura, no caso, o direito à indenização securitária. (grifos)494

E ainda,

Contrato de seguro de vida em grupo. Legitimidade passiva da instituição financeira pertencente ao mesmo grupo econômico da seguradora. Atraso no pagamento do prêmio. Cancelamento automático do contrato. Impossibilidade. Necessidade de interpelação do Segurado para constituí-lo em mora. I - Detém legitimidade passiva para responder à ação de cobrança proposta pelos beneficiários do segurado, o banco líder do grupo econômico a que pertence a companhia seguradora, já que se utilizou de sua logomarca, do seu prestígio e de suas instalações, além de seus próprios empregados, para a celebração do contrato de seguro. Precedentes. II - "O mero atraso no pagamento de prestação do prêmio do seguro não importa em desfazimento automático do contrato,

pagamento do prêmio no prazo previsto no parágrafo 1º deste artigo determinará o cancelamento da apólice.” (BRASIL. Decreto n. 60.459, de 73 de março de 1967. Disponível em: < http://www.mp.sp.gov.br/portal/page/portal/cao_consumidor/legislacao/leg_seguros/Dec60459-67.doc>. Acesso em: 05 out 2009). 493 KRIGER FILHO, Domingos Afonso. Seguro do Código Civil. p.79 494 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça (Terceira Turma). Processo REsp 842408 / RS Recurso Especial 2006/0114069-7. Relator(a): Ministro Humberto Gomes De Barros (1096). Brasília, DF, 16 de novembro de 2006. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=seguro+de+vida+mora&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=5>. Acesso em: 23 ago. 2009.

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para o que se exige, ao menos, a prévia constituição em mora do contratante pela seguradora, mediante interpelação". (REsp 316.449/SP, DJ 12/04/2004). Recurso não conhecido.495 (grifos)

E mais, ainda nesse ditame segue jurisprudência do Tribunal de Justiça

do Estado de Santa Catarina:

Apelação cível - ação ordinária - furto de veículo em zona azul - legitimidade passiva da aflov para compor a lide - administração e operacionalização de espaço público - delegação de serviço público - cobrança de preço público - responsabilidade da administração pública - art. 37. § 6º CRFB- culpa não demonstrada - contrato de seguro - não pagamento de uma parcela do prêmio - fato que por si só não suspende ou cancela o contrato - dever de pagar - recurso conhecido e provido em parte496. (grifos)

Portanto, como se observa, não cancela o contrato a mora de apenas

uma parcela do prêmio do seguro, dependendo de uma prévia notificação do

segurado.

Além do mais, uma questão que se mostra ambígua esta no fato de a Lei

não dispor quantas parcelas, ou o que de atraso configura a inadimplência do

segurado, deixando a cargo das condições gerais de cada contrato de seguro. Esse

período de atraso, mas ainda com cobertura, é conhecido como prazo de

tolerância.497

Neste contexto segue julgado do Tribunal de Justiça de Santa Catarina:

Apelação cível. Ação de cobrança. Seguro de vida. 1. Aplicação do CDC. Negativa de pagamento. Rescisão imediata por inadimplemento do segurado. Cláusula abusiva. Ofensa ao art. 51, XI e XV, daquele Diploma. Nulidade. 2. Comunicação prévia do segurado para purgação da mora. Ausência. Prova que incumbia à ré. Art. 333, II, do CPC. 3. Cláusulas restritivas. Ausência de

495 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. (Terceira Turma) Processo REsp 434865 / RO Recurso Especial 2002/0052398-3. Relator(a): Ministro Castro Filho (1119). Brasília, 13 de setembro de 2005. Disponível em: < http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?livre=REsp+434865&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=5>. Acesso em: 06 set. 2009. 496 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça de Santa Catarina (Quarta Câmara de Direito Público). Apelação Cível n. 2007.062143-4. Relator: José Volpato de Souza. Florianópolis, 28 de novembro de 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=2007.062143-4.&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAALAAAywUAAB>. Acesso em: 06 set 2009. 497 “Art. 42. [...] § 1º. O prazo de tolerância e/ou suspensão de que tratam, respectivamente, os incisos I e II deste artigo deverão ser especificados nas condições gerais do plano.” (SUSEP. Circular n. 302, de 19 de setembro de 2005. Disponível em <www.susep.gov.br/ textos/circ302.pdf>. Acesso em 10 ago. 2009).

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destaques. Não vinculação do consumidor. Responsabilidade da seguradora. Reforma da sentença. Recurso provido. 1. A relação entre segurado e segurador é nitidamente uma relação de consumo, nos termos do 3o, § 2o, do Código de Defesa do Consumidor, mormente se avença por adesão. Logo, tendo em conta os preceitos insertos nos §§ 3o e 4o do art. 54 do CDC, o clausulado deverá estar destacadamente redigido, em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor. 2. "Para que se caracterize mora no pagamento de prestações relativas ao prêmio é necessária a interpelação, do segurado. Mero atraso não basta, para desconstituir a relação contratual". (STJ. REsp 318408/SP. Terceira Turma. Rel. Min. HUMBERTO GOMES DE BARROS. Decisão em 06/09/2005). 3. "Nas relações de consumo, o consumidor só se vincula às disposições contratuais em que, previamente, lhe é dada a oportunidade de prévio conhecimento, nos termos do artigo 46 do Código de Defesa do Consumidor". (STJ. REsp 485760, RJ. Quarta Turma. Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira. Decisão em 17/06/2003).498

Com base no julgado supra colacionado, em que a autora da ação

pleiteava o direito a percepção do capital segurado pela morte de seu cônjuge, o

referido Tribunal entendeu pela nulidade da cláusula do contrato que previa o

cancelamento do seguro por falta de pagamento da primeira parcela, ou pela

inadimplência consecutiva de duas parcelas do prêmio, por ferirem preceitos do

Código Consumerista, bem como, preceito Constitucional previsto no art. 5º da

Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988.499 No entendimento da

turma julgadora, não há como ter a certeza de que o segurado ao tempo da

contratação do seguro era conhecedor da referida cláusula, ademais, ressalta a

turma que essa cláusula não apresenta os devidos destaques do Código

Consumerista, por se tratar de norma limitadora, encontrando-se simplesmente

dentre as demais cláusulas contratuais.

Assim, ressalta o presente julgado também que o prévio aviso é

indispensável para caracterização da mora do segurado.

498 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça (Terceira Câmara Civil). Apelação Cível n. 2007.040434-0, de Timbó. Relator: Henry Petry Junior. Florianópolis, 03 de junho de 2008. Disponível em: < http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?qTodas=inadimpl%EAncia++no+seguro+de+vida&qFrase=&qUma=&qNao=&qDataIni=&qDataFim=&qProcesso=&qEmenta=&qClasse=&qRelator=&qForo=&qOrgaoJulgador=&qCor=FF0000&qTipoOrdem=relevancia&pageCount=10&qID=AAAGxaAAKAAAsW0AAC>. Acesso em: 18 out. 2009. 499 “Art. 5º. [...]. XXXII – O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.” (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecum. Organização de Anne Joyce Angher. 6. ed. São Paulo: Rideel, 2009).

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Portanto, como se pode auferir, a mora do segurado somente poderá ser

caracterizada mediante prévia notificação, respeitadas as cláusulas do Código de

Defesa do Consumidor que norteia essa relação contratual. Assim, o simples

cancelamento arbitral da seguradora constitui em cláusula nula e abusiva.

Assim, com base em todo o exposto, segue as considerações gerais

sobre o tema, de modo a trazer contundentes reflexões do assunto estudado.

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CONCLUSÃO

O ordenamento jurídico brasileiro norteia todas as relações contratuais

existentes. Com foco no contrato de contrato de seguro de vida é possível visualizar

algumas divergências na doutrina e jurisprudência, que acabam por causar certa

insegurança jurídica para os contratantes, ou mesmo terceiro íntima mente

interessado.

Para analisar essas controvérsias fez-se necessário o estudo inicialmente

de um breve histórico acerca dos contratos de seguro, de onde se auferiu que o

contrato nasceu da necessidade do homem de proteger seus bens, como no caso

da Teoria dos Cameleiros e dos Fenícios em meio o mar revolto.

Com base nesse estudo pode verificar-se que o contrato de seguro vem a

ser um contrato firmado entre segurador e segurado, onde mediante o pagamento

de um prêmio por esse, a seguradora garante o pagamento de uma indenização ao

beneficiário ou ao próprio segurado, dependendo do contrato.

O contrato de seguro é contemplado pelo Código Civil, dividido em dois

grandes ramos, qual seja: seguro de dano e seguro de pessoa. O primeiro visa à

proteção de algum bem, e tem como respaldo a indenização desse bem, ou a

reparação dos danos causados. Nessa modalidade não é permitida a contratação

mais de um seguro sobre o mesmo bem. O seguro de pessoa, por sua vez, tem

como objeto a proteção da vida do segurado. Essa modalidade de seguro não visa o

pagamento de uma indenização, posto que a vida não possa ser mensurada, e

sendo assim, pode ser contratado mais de um seguro para a mesma pessoa. Esta

categoria visa, portanto, o pagamento de um capital contratado na apólice de

seguro.

O seguro de modo geral possui uma gama de classificações na doutrina,

divergindo apenas no que tange ser um contrato aleatório ou comutativo. Assim,

diante da contradição, há de se entender por se tratar de aleatório, haja vista a

incerteza na concretização do risco contratado. Logo, pode o evento sinistro ocorrer

a qualquer tempo, sem o segurado esperar.

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O segundo capítulo da presente monografia abordou de forma concisa o

seguro de pessoas, modalidade de seguro que abrange os seguros de acidentes

pessoais e os seguros de vida, em todas as suas formas.

O seguro de pessoas vem a ser o seguro sobre a vida de alguém, onde

mediante o pagamento de um prêmio, a seguradora se obriga a pagar para o próprio

segurado, ou para terceiro, uma quanta determinada, conhecida como capital

segurado.

Uma característica desta modalidade de seguro se finda no fato ser

considerado impenhorável a soma dos prêmios pagos pelo segurado, haja vista a

natureza jurídica que possui, de segurança para os beneficiários quando da falta de

uma pessoa importante.

Além do mais, aufere-se que o capital segurado, uma vez percebido pelo

beneficiário fica isento de qualquer dívida da pessoa de segurado, e não considera

para nenhum fim, herança, motivo que não incide sobre esse valor o imposto causa

mortis.

Na modalidade de seguro de vida, podem-se encontrar três categorias:

seguro de vida tradicional, seguro de vida por sobrevivência e seguro misto. O

primeiro, foco central do estudo deste trabalho, é o seguro onde a cobertura principal

é a de morte. É o seguro contratado pelo segurado e favor de um terceiro. Nada

impedindo, contudo, que uma vez provado o interesse, terceiro contrate seguro para

o segurado, estipulando-se como beneficiário.

A segunda modalidade é o seguro contratado visando a sobrevivência do

segurado ao fim do período de contratação. Assim, sobrevivendo o contratante até o

final do período de vigência do seguro, este receberá o capital segurado.

O seguro misto por sua vez, é a junção destas duas modalidades, onde o

segurado receberá o capital ao fim do período estipulado no seguro, ou sobrevindo

seu óbito, o beneficiário receberá o valor devido.

Assim, incontestável é a importância do seguro de vida, posto sua grande

função social, ligada íntima mente ao auxílio aos beneficiários quando da falta de

alguém que lhe dava subsidio para sobreviver.

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O seguro de vida pode ser constituído individualmente, ou e grupo. Este

último é o seguro contratado por um estipulante, em favor de um grupo segurável.

Ressalta-se que não é obrigatório haver um vínculo empregatício entre os

segurados e estipulantes, mas um vínculo de qualquer natureza, como integrantes

de uma mesma associação.

Outra modalidade de seguro de pessoas é o seguro de acidentes

pessoais. Neste seguro, beneficiário só fará jus ao capital devido, se o segurado vier

a falecer em razão de algum acidente.

No seguro de pessoas, quando da ocorrência do sinistro, necessita-se

que seja montando um processo administrativo, que será analisado pela seguradora,

para que esta possa liquidar o valor devido ao segurado, ou beneficiário.

De acordo com cada modalidade de seguro, a seguradora emitirá uma

lista de documentos necessários, que o segurado ou beneficiário precisará reunir

para provar a ocorrência do sinistro, e, por conseguinte receber o capital segurado.

Ocorre que muitas seguradoras vêm negando o pagamento do capital

segurado, nos seguros de vida em razão de alegação de doença preexistente, da

ocorrência de suicídio, de forma arbitrária.

Logo, o terceiro capítulo, foco do presente trabalho, abordou com ênfase

quatro das grandes divergências envolvendo o seguro de vida. A primeira delas, o

suicídio, onde se questiona a excludente da responsabilidade da seguradora, em

indenizar o beneficiário do suicida, nos dois primeiros anos do contrato.

Assim, aufere-se que a seguradora apóia-se para negar o pagamento do

capital segurado, na norma do Código Civil que estipula que o pagamento, em caso

de suicídio, será devido apenas após cumprimento do período de carência. No

entanto, ocorre que o instituto do suicídio trata-se de uma patologia, em que o

agente, na sua grande maioria das vezes, age sob forte distúrbio psicológico. Logo,

é incabível a norma que prejudique o beneficiário, com base nos preceitos do

Código de Defesa do Consumidor, vez que dele é retirado o direito de receber o

valor segurado, no momento em que está mais debilitado, pela falta do segurado,

que em inúmeras vezes é o que ajuda no sustento da família.

Assim, o suicídio não premeditado deve ser pago independente do

cumprimento do período de carência estipulado na apólice de seguro. Isto porque,

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agindo sob forte distúrbio mental o segurado não possui discernimento sobre sua

atitude, não podendo os beneficiários arcar com tal consequência irreversível. Logo,

não há que se falar em exigir cumprimento de período de carência de alguém sem

capacidade de discernimento.

Ressalta-se, entretanto, que essa falta de capacidade não há que gerar

nenhuma nulidade no contrato de seguro, haja vista que o segurado possuía total

capacidade no tempo da contratação, vindo a adquirir a patologia posteriormente.

O segundo ponto de grande controvérsia no seguro de vida, se finda na

alegação pela seguradora de doença preexistente do segurado ao tempo da

contratação do seguro. Assim, muitas seguradoras vêm alegando, no momento do

pagamento do sinistro, que o segurado veio a falecer por doença já existente a

época da contratação de seguro, e a omitiu, de má-fé, quando do preenchimento da

proposta.

Ocorre que muitas propostas de seguros são simplesmente assinadas

pelo contratante, e preenchidas posteriormente pelo corretor de seguro. Este por sua

vez, pela comodidade e agilidade, preenche toda a proposta negando a existência

de qualquer doença no segurado. Assim, não há como penalizar o beneficiário por

um erro do corretor, que não instruiu o segurado no preenchimento do contrato de

seguro.

Além do mais, muitos segurados, em virtude da doença, que age de

forma silenciosa, sem apresentar sintomas, não sabem que são portadores de tal

patologia. Logo, não há que se falar em má-fé do segurado, haja vista a ignorância

deste a respeito da doença que é portador. Assim, há de ser presumida em todo

contrato a boa fé dos contratantes, ao passo que a má-fé deve ser sempre provada,

e não simplesmente alegada.

Logo, uma vez alegada à má-fé do segurado, a seguradora

automaticamente fica a cargo de provar, ocorrendo o ônus da prova. Uma vez não

restada provada a alegação feita, não há que se falar em negativa, em razão da boa

fé presumida do contratante. Além do mais, quando a seguradora não solicita ao

tempo da contratação do seguro, exames pré-contratuais, assume todo o risco

declarado pelo segurado, não podendo questioná-lo posteriormente.

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Além do mais, determinadas doenças, por seu alto grau de recriminação

pela sociedade, como a AIDS, devem ser tratadas de modo diferenciado, a fim de

evitar exposição do segurado e da própria família. Ao passo que essa negativa

acaba por ferir o princípio Constitucional da privacidade da vida íntima. Posto que,

ao negar esse pagamento, a seguradora emitirá uma carta explicativa endereçada

aos beneficiários. Ocorre que até esta carta chegar ao conhecimento desses, passa

por inúmeras pessoas, do âmbito administrativo da Empresa Seguradora. Assim, a

privacidade, que até então era mantida em sigilo pela família e pelo próprio

segurado, acaba por ser de conhecimento de todos.

Portanto, a simples negativa da seguradora por doença preexistente, não

exclui a responsabilidade da mesma de pagar a indenização aos beneficiários,

devendo a mesma provar a má-fé do contratante ao tempo da assinatura da

proposta.

A terceira divergência abordada no presente trabalho trata do instituto da

prescrição no seguro de vida. Antes de adentrar no prazo propriamente dito,

ressalta-se que o fato gerador da pretensão do segurado pode ocorrer de duas

formas, com a negativa da seguradora em indenizar ou com o conhecimento do fato

gerador do direito de receber o capital segurado.

O que parece mais pertinente por hora, é aceitar que o prazo inicia-se a

partir da negativa da seguradora, pois só com esse acontecimento é que o segurado

poderá valer-se de outros meios que não somente o administrativo, para fazer valer

seu direito, posto que até então, o segurado ou beneficiário acreditava que ia

receber o valor devido, sem nenhum maior empecilho.

Adentrado-se efetivamente no prazo da prescrição, há de observar que o

ponto divergente esta na utilização do Código Civil, que prevê prescrição anua, ou a

utilização do Código de Defesa do Consumidor, que prevê a prescrição em cinco

anos, para os casos que versam sobre relação consumerista.

Nota-se que o contrato de seguro de vida, objeto do presente estudo,

trata-se de contrato puramente de adesão, onde o cliente em nada pode interferir

nas cláusulas contratuais, sendo claramente a parte hipossuficiênte do contrato.

Logo, há de prevalecer à prescrição quinquenal, pela manifesta vantagem ao

segurado.

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No tocante aos beneficiários, também há divergência quanto à aplicação

do prazo prescricional. Logo, divergem-se a doutrina e a jurisprudência a respeito da

prescrição trienal, ou a prescrição de dez anos, ambas previstas no Código Civil.

Nesta matéria, há de se entender pela prevalência da prescrição de dez

anos, regra geral do Código Civil, prevista no at. 205, pelo fato de a prescrição

trienal ser direcionada aos seguros de responsabilidade civil obrigatório, e assim,

não deve a matéria de prescrição ser interpretada extensivamente.

O último ponto abordado no terceiro capítulo da presente monografia

restringe-se a incidência da mora no contrato de seguro de vida. Divergem doutrina

e jurisprudência acerca do cancelamento do contrato pelo simples atraso de uma

parcela do seguro, sem uma prévia notificação do segurado.

Neste ponto, há de prevalecer o entendimento de que independente da

quantidade de parcelas em atraso, o segurado só poderá ser constituído em mora, e

ter seu seguro efetivamente cancelado após a efetiva notificação, para que assim o

mesmo tome ciência que está inadimplente com o seu contrato de seguro de vida.

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REFERÊNCIAS

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