universidade do oeste de santa catarina unoesc … · dedico esse trabalho a todos(as) aqueles ......

81
UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA UNOESC ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO VANDERLEIA RODRIGUES DA SILVA SEIDEL RELAÇÕES ENTRE O PRONATEC E O ENSINO MÉDIO REGULAR JOAÇABA 2015

Upload: buiphuc

Post on 12-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA – UNOESC

ÁREA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

PROGRAMA DE MESTRADO EM EDUCAÇÃO

VANDERLEIA RODRIGUES DA SILVA SEIDEL

RELAÇÕES ENTRE O PRONATEC E O ENSINO MÉDIO REGULAR

JOAÇABA

2015

2

VANDERLEIA RODRIGUES DA SILVA SEIDEL

RELAÇÕES ENTRE O PRONATEC E O ENSINO MÉDIO REGULAR

Dissertação de Mestrado apresentada ao

Programa Mestrado em Educação da

Universidade do Oeste de Santa Catarina,

como requisito parcial à obtenção do grau

Mestre em Educação.

Orientadora: Profª Drª Leda Scheibe

Joaçaba

2015

3

Dedico esse trabalho a todos(as) aqueles(las) que não se curvam

diante das dificuldades. Que veem em si próprio o caminho da

metamorfose para um mundo mais justo, modificando primeiramente

a si próprio.

4

RESUMO

O presente trabalho orientou-se pela seguinte problematização: O Pronatec representa uma

mediação significativa para estudantes, matriculados neste programa nacional da educação

profissional, completar sua formação no Ensino Médio? Tem como objetivo verificar esta

mediação por meio de um aprofundamento teórico e de estudo empírico exploratório que

focaliza os estudantes de Cursos Técnicos/Pronatec do SENAI/Videira/SC,

concomitantemente matriculados no Ensino Médio Regular na Escola de Educação Básica

Governador Lacerda. Para a realização do estudo, foram inicialmente privilegiados autores

que abordam as relações entre a educação e o trabalho dentro de uma visão histórico crítica,

tais como: Saviani (2007); Kuenzer (2007); Tomazi (2010) e outros. Tais estudos referem-se

ao trabalho como princípio educativo e apontam para uma concepção politécnica de educação.

Após abordar historicamente a questão do trabalho e sua relação com a educação, com ênfase

no ensino médio e profissionalização nesta etapa do ensino, o texto expõe e analisa os

objetivos do Pronatec e sua concomitância com o Ensino Médio, destacando a inserção do

Sistema “S”/Paraestatal na parceria da oferta do Pronatec e suas ilações. Apresenta finalmente

a investigação empírica exploratória. Os procedimentos metodológicos desta investigação

ancoraram-se nos pressupostos da pesquisa qualitativa, e focalizaram o diálogo com os alunos

assim como um questionário individualizado, utilizando um roteiro com base em 05 (cinco)

categorias selecionadas para o estudo: i) satisfação ou não com a frequência aos cursos do

Pronatec; ii) motivos que levaram à realização do curso na modalidade Pronatec; iii) O

Papel da Bolsa/auxílio para a Continuidade de Cada Estudante do Pronatec para dar

Continuidade, de Forma Concomitante, ao Curso Regular de Ensino Médio; iv) relação dos

conhecimentos aprendidos no ensino médio com os do Pronatec; e v) Percepções sobre a

continuidade dos estudos. As respostas obtidas evidenciaram que o Pronatec é visto de forma

positiva de uma maneira geral pelos estudantes pesquisados, pois estão recebendo formação

e/ou orientação profissional gratuita, eis que os custos do curso são subsidiados pela União.

Apenas uma minoria dos sujeitos participantes, no entanto, considerou a bolsa de estudo

como a maior motivação para a realização do ensino médio em concomitância com o

Pronatec, o que pode indicar um sentimento generalizado entre os estudantes das escolas

públicas de que precisam de uma qualificação profissional para a sua sobrevivência. Não

5

escapa à sua compreensão que é no ensino superior que estão as maiores possibilidades ao

afirmarem também o desejo de continuar os seus estudos. A superação do dualismo

educacional no ensino médio, teorizada por autores como Saviani que advogam o princípio da

politecnia, entendimento ao qual nos filiamos, se encontra, todavia, ainda longe de ser

alcançada por um programa no qual a concomitância dos cursos é preservada, não estando

presente, ainda, a integração entre a educação para o trabalho e a formação geral dos

estudantes da educação básica.

Palavras-chave: Políticas públicas para educação básica; Ensino Médio; Educação e trabalho;

Pronatec.

6

ABSTRACT

This work was guided by the following questioning: The Pronatec represents a significant

mediation for students enrolled in this national program of professional education, to

complete their education in high school? It aims to verify this mediation through a theoretical

development and empirical exploratory study that focuses on the students of technical

courses/Pronatec of SENAI/Videira/SC concurrently enrolled in high Regular Education in

“Basic Education School Governor Lacerda”. For the study, they were initially privileged

authors that address the relationship between education and work within a historical-critical

vision such as: Saviani (2007); Kuenzer (2007); Tomazi (2010) and others. These studies

refer to the work as an educational principle and point to a polytechnic conception of

education. After historically address the issue of work and its relationship to education, with

an emphasis on high school and professional education in this step, the text presents and

analyzes the objectives of Pronatec and its concurrence with the high school, highlighting the

inclusion of paraestatal “S” System in partnership over Pronatec and its conclusions. Finally

presents the empirical exploratory research. The methodological procedures of this research is

anchored on the assumptions of qualitative research, and focused dialogue with students as

well as an individualized questionnaire, using a script based on five (05) categories selected

for the study: : i) satisfaction or not with the frequency to Pronatec courses; ii) reasons wich

led the courses in Pronatec mode; iii) the function of the scholarship over the continuity of

each student of Pronatec, in concomitantly form, to stand away in the regular course of high

school; iv) ratio of knowledge learned in high school with the Pronatec; and v) perceptions

over the continuing studies. The responses showed that the Pronatec is viewed positively in

general the students surveyed because they are receiving training and/or free professional

guidance, behold, the travel costs are subsidized by the federal government. Only a minority

of subjects participating considered the scholarship like the biggest motivation for performing

high school in concomitance with Pronatec, which may indicate a widespread feeling among

students of public schools that need a professional qualification for their survival. Nit eludes

its grasp is that in higher education that are the more likely to also affirm too their desire to

continue their studies. Overcoming the educational dualism in high school, theorized by

authors such as Saviani who advocate the principle of polytechnic, understanding to which we

join in, is, however, still far from being achieved by a program in which the concurrence of

the courses is preserved, not It is present also the integration of education for work and

general education of students of basic education.

Keywords: Public policies for basic education; High School; Education and work; Pronatec.

7

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Instituições e atores envolvidos na execução do PRONATEC ............................... 41

Figura 2 - As modalidades de atendimento se diversificam: .................................................... 49

Figura 3 - O foco de análise para a construção dos currículos se altera: .................................. 49

Figura 4 - O perfil da clientela muda no momento em que se diversificaram as modalidades:

.................................................................................................................................................. 49

Figura 5 - O ambiente pedagógico sofre tênue expansão no seu conceito com a entrada do

Estudo Dirigido. ....................................................................................................................... 49

Figura 6: Localização da moradia (zona urbana/rural). ............................................................ 61

Figura 7: Gênero dos estudantes entrevistados......................................................................... 61

Figura 8: Motivos que o Levaram a Realizar Cursos na Modalidade Pronatec ....................... 63

Figura 9: O Papel da Bolsa/auxílio para a Continuidade de Cada Estudante do Pronatec para

dar Continuidade, de Forma Concomitante, ao Curso Regular de Ensino Médio ................... 64

Figura 10: Relação dos conhecimentos aprendidos no Ensino Médio com os do Pronatec ..... 65

8

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Taxa de analfabetismo no Brasil (1940/1960) em % ............................................... 48

Tabela 2: Taxa de frequência à escola da população de 15 a 17 anos por gênero - Brasil 2004

e 2012 ....................................................................................................................................... 62

9

LISTA DE SIGLAS

ACIAV Associação Comercial Industrial e Artesãos de Videira

CEDEIC Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio

CNE Conselho Nacional de Educação

CGU Controladoria Geral da União

EMIEP Ensino Médio Integrado à Educação Profissional

e-Tec Educação Profissional e Tecnológica na modalidade de educação a distância

DKW Dampf-Kraft-Wagen

DR Direção Regional

FIESC Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina

Fies Fundo de Financiamento Estudantil

FNM Frente Nacional Mizo

GERED Gerência Regional de Educação

IDORT Instituto de Organização Racional do Trabalho

Inep Instituto Nacional de Ensino e Pesquisa

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MDA Ministério do Desenvolvimento Agrário

MEC Ministério da Educação

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

OIT Organização Internacional do Trabalho

PNE Plano Nacional de Educação

PIPMO Programa Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra

PL Projeto de Lei

PNQ Programa Nacional de Qualificação

Pronatec Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

PRONERA Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária

PSDB Partido da Social Democracia Brasileira

SAEDE Serviço de Atendimento Educacional Especializado

SC Santa Catarina

SEBRAE Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SENAI Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial

10

SENAC Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SENAR Serviço nacional de Aprendizagem Rural

SENAT Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte

SESC Serviço Social do Comércio

SESI Serviço Social da Indústria

SINASEFES Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica e

Profissional

SETEC Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

TCC Trabalho de Conclusão de Curso

UNOESC Universidade do Oeste de Santa Catarina

VEMAG Veículos e Máquinas Agrícolas S/A

11

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 12

2. TRABALHO E EDUCAÇÃO ........................................................................................... 20

2.1. A NATUREZA DO TRABALHO E SUA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA .................... 21

2.2. A EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE E SUA RELAÇÃO COM O ENSINO

MÉDIO NO BRASIL ............................................................................................................... 30

2.3. O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E A CONCEPÇÃO DE

POLITECNIA COM BASE EM SAVIANI (2003) .................................................................. 33

3. O PRONATEC E SUA CONCOMITÂNCIA COM O ENSINO MÉDIO .................... 37

4. O SENAI NO CONTEXTO DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL:

UM PERCURSO QUE VAI DESDE A ADEQUAÇÃO DO HOMEM AO

DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA NACIONAL ATÉ A SUA ADEQUAÇÃO AO

MERCADO DE TRABALHO ............................................................................................... 44

5. “HORA” DE OUVIR OS ALUNOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

GOVERNADOR LACERDA - PRONATEC: FACILITA A PERMANÊNCIA/

CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO REGULAR? ........................................................... 55

5.1. UNIVERSO INTITUCIONAL DOS ALUNOS ENVOLVIDOS NA PESQUISA ........... 55

5.1.1. Escola de Educação Básica Governador Lacerda ................................................ 56

5.1.2 . SENAI – Unidade de Videira/SC ........................................................................... 57

5. 2. PRONATEC: ALUNOS MATRICULADOS EM CURSOS DO PRONATEC TEM SUA

PERMANÊNCIA/ CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO REGULAR FACILITADO? ......... 58

5.2.1. Análise das respostas apresentadas nos questionários ......................................... 61

5.2.1.1. Dados de identificação dos estudantes: .............................................................. 61

5.2.1.2. Satisfação ou não com relação à frequência aos cursos do Pronatec ................ 62

5.2.1.3. Motivos que o Levaram a Realizar Cursos na Modalidade Pronatec ................ 63

5.2.1.4. O Papel da Bolsa/auxílio para a Continuidade de Cada Estudante do Pronatec

para dar Continuidade, de Forma Concomitante, ao Curso Regular de Ensino Médio . 64

5.2.1.5. Relação dos conhecimentos aprendidos no Ensino Médio e os do Pronatec ..... 65

5.2.1.6. Percepções sobre a Continuidade dos Estudos ................................................... 66

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 69

7. REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 73

APÊNDICE 01 – ROTEIRO MÍNIMO DE QUESTÕES PARA ENTREVISTAS ......... 79

12

1. INTRODUÇÃO

"O importante da educação não é apenas formar um mercado de trabalho, mas

formar uma nação, com gente capaz de pensar." (José Arthur Giannotti).

A presente Dissertação de Mestrado tem como tema a iniciativa do governo federal

vinculada ao ensino médio, que é a formação profissional de jovens, o Pronatec (Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego), instituído pela Lei nº 12.513, de 26 de

outubro de 2011 (BRASIL, 2011).

A temática veio à tona particularmente por ter entre as minhas atividades docentes, a

de Professora de Ensino Médio do SENAI na Unidade de Videira/SC e do Ensino Médio da

Rede Pública do Estado de Santa Catarina na Unidade de Ensino da Escola de Educação

Básica Governador Lacerda.

Convivendo nesses ambientes educacionais, com diferentes interesses e

estratificações econômicas envolvidas, além de diferentes faixas etárias, percebi em 2012 uma

“avalanche” de matrículas para cursos profissionalizantes do SENAI/SC.

Em uma síntese empírica e superficial, dialogando com os ingressos nos cursos

profissionalizantes, intuí que frequentavam os cursos, em regra, motivados pela possibilidade

de receber uma verba mensal em contrapartida. Percebi também vários questionamentos por

parte de pais e estudantes da rede privada, eis que estes estavam impedidos de realizarem

matrícula em cursos técnicos via Pronatec.

Assim, entendi ser relevante realizar a presente investigação, pois a mesma poderá

trazer elementos para a ampliação do conhecimento sobre o entrelaçamento da educação

profissional, via Pronatec, e a conclusão do ensino médio como proposição para a educação

dos jovens, um dos objetivos deste programa educacional. O Pronatec, instituído pela Lei

12.513/11, tem como objetivos:

I - expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional

técnica de nível médio presencial e a distância e de cursos e programas de formação

inicial e continuada ou qualificação profissional;

II - fomentar e apoiar a expansão da rede física de atendimento da educação

profissional e tecnológica;

III - contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público, por meio da

articulação com a educação profissional;

IV - ampliar as oportunidades educacionais dos trabalhadores, por meio do

incremento da formação e qualificação profissional;

13

V - estimular a difusão de recursos pedagógicos para apoiar a oferta de cursos de

educação profissional e tecnológica. (BRASIL, 2011).

Segundo a legislação o Pronatec atende prioritariamente: estudantes do ensino médio

da rede pública, inclusive da educação de jovens e adultos; trabalhadores; beneficiários dos

programas federais de transferência de renda; e estudantes que tenham cursado o ensino

médio completo em escola da rede pública ou em instituições privadas na condição de bolsista

integral, nos termos do regulamento (BRASIL, 2011).

Jahn (2011) indica que dados estatísticos dão conta de provar que a educação

brasileira sofre com um índice de evasão expressivo no ensino médio, ao mesmo tempo em

que os egressos do ensino médio sofrem com a inexistência de chances profissionais.

Evidencia-se, portanto, na análise realizada por este autor, a existência de dois problemas

específicos centrais vinculados à educação média regular recebida: evasão e aplicabilidade

dos estudos, na cadeia sócio produtiva.

Alguns índices esclarecem esses dois problemas. Segundo pesquisa do Instituto

Unibanco junto à rede estadual paulista, de cada 100 alunos que terminam o ensino

fundamental na idade correta, apenas 83 ingressam no ensino médio. E na sequência percebe-

se a evasão gritante: dos 83, apenas 47 concluem o ensino médio em três anos (JAHN, 2011).

Programas governamentais em todo o mundo e mais recentemente no Brasil tem

identificado essa problemática e tem apontado o ensino profissionalizante como forma de

amenização desses dois problemas (JAHN, 2011).

É sabido que o Brasil tem baixo índice na educação profissional. Aqui a educação

profissional no ensino médio responde a apenas 14% das matrículas, enquanto na Áustria são

77%, na Alemanha são 58%, na França 44%, 42% na China e 37% no Chile. Algumas

iniciativas do governo federal vêm buscando resolver, ou antes, amenizar este cenário,

particularmente desde 2004, com propostas que apontam para um ensino médio mais flexível

e integrado à educação profissional (JAHN, 2011).

Este cenário leva a uma grave preocupação e a buscar refletir sobre o tema. Reporto-

me particularmente ao cenário presente no momento em que a Lei nº 12.513/11, que instituiu

o Pronatec, foi aprovada: a existência quase absoluta de cursos profissionalizantes

concomitantes ao ensino médio ou subsequentes a este ensino, embora com a Lei 5.154/04

(BRASIL, 2004), tenham sido possibilitados, além da realização desses cursos, os cursos

14

integrados (Ensino Médio Integrado à Educação Profissional – EMIEP). O documento base

desta lei, explica que “... a extrema desigualdade socioeconômica obriga grande parte dos

filhos da classe trabalhadora a buscar a inserção no mundo do trabalho visando complementar

o rendimento familiar ou mesmo a auto sustentação muito antes dos 18 anos de idade”

(MOURA, 2013).

A citada lei (Lei 5.154/04) determina, portanto, que os cursos de profissionalização, na

etapa do ensino médio, podem ser de três ordens: concomitante, subsequente e integrados

(BRASIL, 2004). Embora as políticas de formação de nível federal tenham acentuado na

última década a criação de cursos de EMIEP, de ensino médio integrado à educação

profissional, estes ainda estão longe de alcançar uma matrícula considerável, e de atender à

grande população de jovens que, cada vez mais, precisa cursar o ensino médio e também

necessita de profissionalização.

Ainda que haja um debate expressivo no país a respeito da necessidade de

profissionalizar o trabalhador brasileiro com qualificação cultural, científica e ética, o que só

estaria sendo atendido por cursos capazes de integrar de certa forma tal formação, prevalece

em determinados setores da sociedade, particularmente vinculados ao sistema empresarial, a

ideia de formações mais rápidas e diretamente fornecedoras de mão de obra para o sistema

produtivo.

É neste contexto rapidamente formulado que se instituiu a iniciativa recente do

governo federal, de formar trabalhadores, vinculada ao ensino médio, por meio do Pronatec,

instituído pela já citada Lei nº 12.513/11.

Entende-se que esta iniciativa de grande porte no país1, envolvendo várias

instituições de ensino2, precisa ser acompanhada e discutida pelos educadores brasileiros nos

1 Na segunda semana de junho de 2014 a presidente Dilma Rousseff anunciou que a 2ª fase do Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) tem como meta ofertar 12 milhões de vagas nos

próximos quatro anos. Segundo a Presidente serão 12 milhões de vagas em 220 cursos técnicos e 646 cursos de

qualificação a partir de 2015, distribuídas por todos os estados do país, em parcerias com diversas instituições de

ensino e qualificação profissional. (PRONATEC: Inscrições Pronatec 2015. Disponível em:

http://www.pronatec2015.org/inscricoes-pronatec-2015/. Acessado em: 14/03/1015).

2Expansão da Rede Federal. A Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica está presente em

todos os estados brasileiros, com mais de 350 unidades em funcionamento. [...]. Programa Brasil

Profissionalizado. [...] Rede e-TecBrasil. [...] Rede e-Tec Brasil são oferecidos gratuitamente cursos técnicos e

de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional, na modalidade a distância. [...] Acordo de

Gratuidade com os Serviços Nacionais de Aprendizagem O Acordo de Gratuidade tem por objetivo ampliar,

progressivamente, a aplicação dos recursos do SENAI, do SENAC, do SESC e do SESI, [...]. FIES Técnico e

15

seus mais diversos aspectos. Assim, pretende-se com este estudo contribuir para as análises

referentes ao Pronatec proposto pelo MEC em 2011, vinculado à Política de Educação

Profissional Técnica de nível médio, problematizando mais especificamente um dos seus

pressupostos: contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público, por meio da

articulação com a educação profissional.

Como base para as análises, apontou-se inicialmente o contexto do Decreto nº

5.154/04 (BRASIL, 2004); as Diretrizes e Bases da Educação Nacional (BRASIL, 1996); e o

referencial teórico baseado nos autores histórico-críticos que tomam a relação educação e

trabalho como eixo para o estudo das políticas de escolarização voltadas ao ensino médio, tais

como: Ciavatta (2011) Kuenzer (2007); Saviani (2011), dentre outros.

Em análise ao texto da Lei nº 12.513/2011 que instituiu o Pronatec, evidencia-se de

forma expressa que este programa, embora executado pela União, esta tem autorização para

transferir recursos também para entes privados sem fins lucrativos:

Art. 1º É instituído o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego -

PRONATEC, a ser executado pela União, com a finalidade de ampliar a oferta de

educação profissional e tecnológica, por meio de programas, projetos e ações de

assistência técnica e financeira (sem grifo no original).

[...]

Art. 6º Para cumprir os objetivos do Pronatec, a União é autorizada a transferir

recursos financeiros às instituições de educação profissional e tecnológica das redes

públicas estaduais e municipais ou dos serviços nacionais de aprendizagem

correspondentes aos valores das bolsas-formação de que trata o inciso IV do art. 4o

desta Lei.

[...]

Art. 8º O Pronatec poderá ainda ser executado com a participação de entidades

privadas sem fins lucrativos, devidamente habilitadas, mediante a celebração de

convênio ou contrato, observada a obrigatoriedade de prestação de contas da

aplicação dos recursos nos termos da legislação vigente (sem grifo no original).

[...]. (BRASIL, 2011).

Assim, o Sistema “S” está ocupando um protagonismo relevante na política de

educação profissional3 proposta pelo Pronatec, eis que este sistema passou a executar parte

dos cursos custeados pela União no contexto do Pronatec.

Empresa FIES [...]. Bolsa-Formação [...] (PRONATEC. Objetivos e iniciativas, disponível em:

http://pronatec.mec.gov.br/institucional-90037/objetivos-e-iniciativas. Acessado em 09/08/2014).

3A educação profissional no Brasil teve seu início de institucionalização no período Imperial, [...]. Com o

advento da República, a característica assistencialista do ensino profissionalizante começou a alterar-se.

16

Convencionou-se chamar de Sistema “S” no Brasil as seguintes instituições: Serviço

Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial (SENAI), Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR) e Serviço Nacional

de Aprendizagem do Transporte (SENAT).

No presente estudo optou-se por analisar os cursos do SENAI, instituição na qual estão

inseridos os estudantes focalizados no estudo empírico. Ente paraestatal conceituado na

categoria de Serviços Sociais Autônomos, o SENAI é uma instituição privada brasileira de

interesse público, sem fins lucrativos, com personalidade jurídica de direito privado. Um de

seus principais objetivos é apoiar áreas industriais por meio da formação de recursos humanos

e da prestação de serviços técnicos e tecnológicos.

O SENAI trata-se, portanto, de uma instituição de ensino que busca com os seus

cursos preparar os estudantes para o mercado de trabalho. O SENAI é qualificado para atuar

em diferentes setores da indústria e do comércio, destacando-se que cada unidade de ensino

tem autonomia para implantar os seus cursos.

Instituído pelo Decreto 4.048 de 22 de janeiro de 1942, no governo de Getúlio Vargas,

o SENAI passou a ter como objetivo principal explicitado, a formação de mão-de obra para a

indústria brasileira. O SENAI foi criado, portanto, para atender uma determinada elite e ao

processo de industrialização do Brasil (o qual estava então iniciando).

Considerando o já exposto, esta Dissertação aborda como tema de estudo o

entrelaçamento entre o ensino profissionalizante (Pronatec) e o ensino médio, num contexto

de mediação4 entre formação humanística e técnica. Orientou-se pela seguinte

problematização: O Pronatec representa uma mediação significativa para estudantes,

Contudo, foi somente na Era Vargas (1930-1945), que a educação do trabalhador mereceu atenção contínua e

sistematizada. Esta política decorreu de significativas mudanças sociais, das quais faz parte o avanço da

industrialização, que exigiram maior atenção à educação profissional, [...]. Nesse contexto, foi criado o SENAI –

(Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) com o objetivo de formar trabalhadores para a indústria. Essa

escola do trabalho – SENAI –, seguindo o projeto político modernizador do governo vigente, teve na pessoa do

engenheiro Roberto Mange, seu principal mentor. Atualmente, o SENAI é a maior instituição de ensino

profissionalizante do Brasil. Desde sua criação, mais de 45,4 milhões de pessoas matricularam-se, dentre as

quais um número superior a 30 milhões fizeram cursos na instituição. (CAMARGOS, 2011. p. 1-6).

4 “[...] O conceito de mediação indica que nada é isolado”. Implica, então, o afastamento de oposições

irredutíveis e sem síntese superadora. Por outro lado, implica uma conexão dialética de tudo o que existe, uma

busca de aspectos afins, manifestos no processo em curso (CURY, 1995, p. 43).

17

matriculados neste programa nacional da educação profissional, completar sua formação no

Ensino Médio?

O objetivo desta dissertação consistiu, portanto, em analisar o Pronatec e se este

programa pode representar uma mediação significativa para estudantes completar sua

formação no Ensino Médio. Para tanto, além de discutir a relação entre educação e trabalho

numa perspectiva histórico-crítica, conhecer o contexto no qual se delineou e se implementa o

programa, foi realizado um estudo exploratório de natureza qualitativa focalizando um grupo

de alunos de cursos na modalidade Pronatec do SENAI/Videira/SC concomitantemente

matriculados no Ensino Médio regular na Escola de Educação Básica Governador Lacerda.

Foram delineados os seguintes objetivos específicos para a realização do estudo:

a) Discutir a questão do trabalho e sua relação com a educação, com ênfase no ensino

médio e ensino profissionalizante, com base em autores histórico-críticos;

b) analisar os objetivos do Pronatec e sua concomitância com o Ensino Médio;

c) compreender a inserção do Sistema “S” /Paraestatal, particularmente do SENAI, na

parceria da oferta do Pronatec e suas ilações;

d) identificar, entre estudantes dos cursos do Pronatec no SENAI/Videira, a mediação

que se estabelece entre a realização deste curso com sua permanência e conclusão no Ensino

Médio regular.

O foco da investigação empírica realizada consistiu então em verificar se os estudantes

que cursam concomitantemente ao Ensino Médio regular e cursos na modalidade Pronatec

têm sua permanência e conclusão da Educação Básica facilitada. Após esta Introdução, para

análise do entrelaçamento entre educação profissional, ensino médio e a formação do ser

humano, no segundo capítulo foi esquadrinhado o referencial teórico, entabulando um diálogo

com autores como: Camargos (2011) Ciavatta (2005), Jonh (2011), Saviani (2011), Tomazi

(2010), dentre outros. Ciavatta (2005), por exemplo, no livro “Ensino Médio Integrado –

Concepção e Contradições” destaca que uma formação humanística busca garantir ao

adolescente, ao jovem e ao adulto trabalhador o direito a uma formação completa para a

leitura do mundo e para a atuação como cidadão pertencente a um país, integrado dignamente

à sua sociedade política.

No terceiro capítulo foi apresentada a base normativa (Pronatec/Ensino Médio),

conservada sua devida articulação com o referencial teórico. Foram perquiridos os seguintes

18

documentos: a Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 1988); as Leis nº 9.394/96 (BRASIL,

1996); a Lei nº 5.154/04 (BRASIL, 2004) e a Lei nº 12. 513/11 (BRASIL, 2011).

Abordou-se no quarto capítulo a história do sistema “S” com destaque para a origem

do SENAI, instituição na qual os estudantes protagonistas desta dissertação estão inseridos.

Para este último aspecto, buscamos informações basicamente em Camargos (2011) e na obra

de Silva (1999).

Já no quinto capítulo foi exposto o resultado de um estudo empírico realizado com um

grupo de estudantes de cursos na modalidade Pronatec do SENAI/Videira/SC

concomitantemente matriculados no Ensino Médio regular na Escola de Educação Básica

Governador Lacerda, também de Videira/SC, nos 2º e 3º anos.

Inicialmente foi realizado o levantamento de quantos e quais os estudantes que

concomitantemente frequentam cursos no SENAI/Videira modalidade Pronatec e que estão

regularmente matriculados no 2º e 3º ano na Escola de Educação Básica Governador Lacerda.

Feito este levantamento, e estando já em realização o estudo teórico a respeito da

temática, foi organizado um roteiro de questões para a orientação da investigação junto aos

estudantes, a partir de 05 (cinco) categorias orientadoras, quais sejam: i) satisfação ou não

com a frequência aos cursos do Pronatec; ii) motivos que levaram à realização do curso na

modalidade Pronatec; iii) o papel da bolsa/auxílio para a continuidade de cada estudante do

Pronatec para dar continuidade, de forma concomitante, ao curso regular de ensino médio; iv)

relação dos conhecimentos aprendidos no ensino médio com os do Pronatec; e v) percepções

sobre a continuidade dos estudos (Apêndice 01).

Estas categorias foram discutidas com os estudantes durante o diálogo estabelecido

com os estudantes durante a investigação. Dada esta característica, considerou-se que o estudo

contemplou não apenas a resposta ao questionário, individual, mas também um diálogo com o

grupo de estudantes.

O roteiro de questões foi disponibilizado no site www.brworks.com.br/pronatec/. Os

estudantes dos segundos e terceiros anos do período matutino (com matriculas concomitante,

ou seja, estudantes matriculados no ensino médio regular que no contra turno frequentam

cursos na modalidade Pronatec) inicialmente dirigiram-se ao laboratório de informática

localizado nas dependências internas da Escola de Educação Básica Governador Lacerda,

receberam as boas vindas da pesquisadora e, em seguida foram orientados a acessarem o link

19

onde se encontravam as questões a serem respondidas. Na sequência o diálogo foi entabulado

(tendo como base o roteiro de questões disponíveis no site). Os próprios estudantes

registravam as suas repostas. Para finalizar este processo as respostas foram salvas e

encaminhadas via e-mail ([email protected]) para a pesquisadora. Os dados coletados

estão disponibilizados em gráficos no capítulo cinco.

As respostas ao questionário foram analisadas (ver cap.5)

Realizadas as análises individuais em um segundo momento da etapa empírica,

busquei construir uma síntese analítica que, segundo Trivinõs (1987) a descrição analítica

compreende o momento em que os documentos são submetidos a uma análise, levando em

consideração as hipóteses e o referencial teórico. A partir dessa síntese analítica ordenamos

uma síntese conclusiva.

20

2. TRABALHO E EDUCAÇÃO

Como este estudo tem a finalidade de verificar a mediação representada por um

programa de profissionalização no sentido dos estudantes do ensino médio realizar e

completar a sua formação escolar básica, neste capítulo desenvolveu-se um referencial teórico

para a compreensão e análise da integração entre o trabalho e a educação escolar.

Inicia com uma reflexão sobre a natureza do trabalho humano, e sua constituição na

história da humanidade, evidenciando momentos diversos na sua compreensão e na sua

presença na educação.

O paralelismo entre a educação profissionalizante e a educação geral que caracterizou

o percurso educacional brasileiro é demonstrado no subitem seguinte, no qual fica evidente a

sua separação no percurso escolar, apesar de algumas tentativas de aproximação no sentido de

sua superação no que diz respeito ao ensino médio. Focalizou-se também a presença do

Estado, seu papel mais ou menos determinante nos encaminhamentos políticos e educacionais

da nação para melhor compreensão do processo que define os rumos do tema estudado.

No modelo capitalista adotado pela maioria dos países do mundo após a crise e queda

do sistema feudal tem-se a presença do Estado5, pessoa jurídica que possui um corpo

burocrático para administrar o patrimônio público, como as estradas, os portos, a saúde, as

comunicações, os transportes e também o sistema educacional, entre outros setores. Os atos

políticos e a ação do Estado estão presentes na vida de todos os seres humanos

cotidianamente, inclusive ajustando a educação escolar conforme a ideologia hegemônica que

está no poder.

As relações entre trabalho e educação sob o ponto de vista da politecnia finalizam o

capítulo, indicando uma forma superadora da dicotomia que tem caracterizado esta relação.

5 [...] entendido como meio pelo qual se superou o originário estágio natural em que viviam os homens [...]. Os

direitos naturais (vida, liberdade, saúde e propriedade) da humanidade em seu estágio de vida natural sustentam

a construção do direito positivo, ou seja, aquele que advém do contrato entre os homens. (MARTINS e

GROPPO, 2010, p. 11 e 12).

21

2.1. A NATUREZA DO TRABALHO E SUA CONSTITUIÇÃO HISTÓRICA

A estreita relação entre trabalho e educação origina-se na própria constituição do

homem enquanto tal. Segundo Saviani (2007), para definir o que é o homem e como ele se

constitui há que se considerar esta estreita e fecunda relação entre a educação e o trabalho. Por

meio do trabalho, nos informa este autor, o homem adapta a natureza às suas necessidades. A

existência humana, contudo, não é constituída por uma dádiva natural, mas aprendida, e isso

ocorre pela educação. O que diferencia os homens dos demais animais é que estes últimos se

adaptam a realidade natural, enquanto os homens necessitam continuamente produzir sua

subsistência, e, assim, buscando adaptar a natureza a si, ou seja, transformá-la para facilitar a

sua existência. Nesse sentido, o diferencial é o trabalho humano, que não se caracteriza como

sendo qualquer atividade desenvolvida, mas sim como uma ação consciente, que antecipa

mentalmente uma finalidade, uma ação adequada.

A existência humana, portanto, alude primeiramente ao trabalho material. Entretanto,

como o processo de domínio da subsistência material implica em antecipar os objetivos reais,

isso significa conhecer o trabalho imaterial. Para Saviani a natureza da educação tem a ver

justamente com o trabalho imaterial (SAVIANI, 2011).

Nas comunidades mais primitivas, a educação coincidia de forma mais direta com o

trabalho material, pois prevalecia nesse período o modo de produção comunal, tudo era feito

em comum, numa unidade aglutinadora sendo que os homens se apropriavam coletivamente

dos meios de produção ao mesmo tempo em que aprendiam e ensinavam as novas gerações.

Já na antiguidade grega e romana, na qual prevalecia o modo de produção escravista, e a mão-

de-obra escrava garantia a produção suficiente para suprir as necessidades da população,

começa a surgir o dualismo educacional, ou seja, a institucionalização da educação, a escola6

para os homens livres, proprietários, com ensinamentos centrados na oratória, na arte e em

atividades intelectuais; e a escola para os escravos, os serviçais, local onde aprendiam o

próprio processo de trabalho (SAVIANI, 2007).

6 “A palavra escola deriva do grego e σχολή e significa, etimologicamente, o lugar do ócio, tempo livre. Era,

pois, o lugar para onde iam os que dispunham de tempo livre. Desenvolveu-se, a partir daí uma forma específica

de educação, em contraposição àquela inerente ao processo produtivo. Pela sua especificidade, essa nova forma

de educação passou a ser identificada com a educação propriamente dita, perpetrando-se a separação entre

educação e trabalho. ” (SAVIANI, 2007, p.155).

22

Como na sociedade greco-romano, também a sociedade feudal era constituída

daqueles que trabalhavam (os servos, os camponeses livres e os aldeãos) e dos que viviam do

trabalho dos outros (senhores feudais e os membros do clero). Neste período a educação passa

a ter forte influência da Igreja Católica, com as escolas anexas às catedrais ou aos mosteiros

(TOMAZI, 2010).

Ainda no sistema feudal intensificou-se o que pode denominar-se de cadeia produtiva,

o que foi gerando o excedente de produção e em consequência a troca, desencadeando o

surgimento das bases do sistema capitalista, (mercantilismo), no qual o processo produtivo

concentra-se nas cidades e não no campo, na indústria e não na agricultura. Rompe-se com a

sociedade baseada no direito natural, consuetudinário e o que passa a ser relevante, segundo

Saviani (2007), é o direito contratual, positivado.

Com a emergência do mercantilismo e o fim do sistema medieval o trabalho mudou de

configuração: se antes era visto como algo penoso, agora passou aos poucos a ser

considerado, pelas diferentes instituições, algo positivo, algo que dignifica o homem. Assim,

por exemplo:

a) a igreja passou a considerar o trabalho como algo divino, quem não trabalhasse não seria

abençoado;

b) os governantes passaram a penalizar os que não trabalhassem considerando-os vagabundos;

c) os empresários desenvolveram regras rígidas no interior das indústrias estabelecendo

horário de chegada e saída e;

d) as escolas passaram a disseminar a ideia de que o trabalho era essencial para a sociedade e

de que quem não trabalhasse “levava sempre a pior” (TOMAZI, 2010, p. 42).

Com o impacto dessas transformações o modo de produção capitalista vai se

consolidado e permitindo a ascensão de uma nova classe social, a burguesia, que aos poucos

se torna a classe dominante de um sistema baseado no novo modo de produção. As

transformações que foram ocorrendo a partir da ascensão da burguesia como classe dominante

vão abrir espaço para a ocorrência de um processo que passou a ser denominado de

Revolução Industrial7, pela importância que vai adquirindo a indústria na sua concretização.

7A Revolução Industrial foi um processo histórico iniciado na Inglaterra no século XVIII, principalmente, sendo

comumente associado ao início do modo de produção capitalista. Essa revolução consistiu primordialmente no

desenvolvimento de novas técnicas de produção de mercadorias, com uma nova tecnologia, e em uma nova

forma de divisão social do trabalho. [...] Durante o século XIX, novos mercados consumidores e de fornecimento

de matérias-primas foram conquistados no que se convencionou chamar de imperi,alismo. Por outro lado, novos

23

Com o sistema de maquinaria implantado exige-se um mínimo de conhecimento de

cunho geral inclusive do indivíduo trabalhador, para “conviver” no ambiente de produção.

Institui-se neste contexto a educação de formação geral (escola primária), como uma

exigência para toda a população. Neste mesmo contexto surgem as escolas

profissionalizantes, organizadas no âmbito das próprias empresas, nestas escolas era ofertado

conhecimento de cunho específico, eis que o processo de produção passou a exigir mão de

obra especializada em reparos, ajustes, adaptações das máquinas. Portanto, ocorreu a

bifurcação da educação: a de formação geral e a profissionalizante. Tal processo foi assim

definido por Saviani (2007):

A introdução da maquinaria eliminou a exigência de qualificação específica, mas

impôs um patamar mínimo de qualificação geral, equacionado no currículo da escola

elementar. Preenchido esse requisito, os trabalhadores estavam em condições de

conviver com as máquinas, operando as sem maiores dificuldades. Contudo, além do

trabalho com as máquinas, era necessário também realizar atividades de

manutenção, reparos, ajustes, desenvolvimento e adaptação a novas circunstâncias.

Subsistiram, pois, no interior da produção, tarefas que exigiam determinadas

qualificações específicas, obtidas por um preparo intelectual também específico.

Esse espaço foi ocupado pelos cursos profissionais organizados no âmbito das

empresas ou do sistema de ensino, tendo como referência o padrão escolar, mas

determinados diretamente pelas necessidades do processo produtivo. Eis que, sobre

a base comum da escola primária, o sistema de ensino bifurcou-se entre as escolas

de formação geral e as escolas profissionais. (SAVIANI, 2007, p.159).

Com a ascensão da burguesia ao poder consolidou-se o dualismo educacional: de um

lado a educação para preparar o homem braçal, aquele que opera a máquina e executa as

atividades; por outro lado a educação para a elite, preparada para o domínio teórico, para o

comando (SAVIANI, 2007).

Uma acentuada divisão do trabalho passou a ser uma das características fundamentais

no desenvolvimento do sistema capitalista (sociedade moderna) no século XIX. Com o

aperfeiçoamento continuo do sistema produtivo (século XX), desencadeou-se uma divisão de

países investiram na industrialização, principalmente na Europa Ocidental e os EUA, ampliando o espaço

geográfico da Revolução Industrial. Com as descobertas do petróleo e outros produtos na área química, bem

como a eletricidade e o aço, um novo surto industrial se verificou no final do século XIX, conhecido como

Segunda Revolução Industrial. [...] Uma Terceira Revolução Industrial é apontada com o aprimoramento da

tecnologia informacional, principalmente depois da década de 1970. (PINTO, Tales dos Santos. Revolução

Industrial e início do capitalismo).

24

trabalho muito bem articulada, encadeada e sistematizada, com produção em série e consumo

em massa, cuja organização denominou-se fordismo8 (TOMAZI, 2010).

[...] Fordismo e taylorismo passaram a ser usadas para identificar um mesmo

processo: aumento de produtividade com o uso mais adequado possível de horas

trabalhadas, por meio do controle das atividades dos trabalhadores, divisão e

parcelamento das tarefas, mecanização de parte das atividades com a introdução da

linha de montagem e um sistema de recompensas e punições conforme o

comportamento dos operários no interior da fábrica. [...]. Com Ford e Taylor, a

divisão do trabalho passou pelo planejamento vindo de cima, não levando em conta

os operários. [...]. (TOMAZI, 2010, p. 49-50).

A Revolução Industrial fez a escola vincular-se, de um certo modo, ao mundo da

produção, e permitiu o aprofundamento da separação dos homens em dois grandes blocos:

aqueles das profissões braçais, para tanto a formação era limitada à execução das tarefas; e

aqueles das profissões intelectuais, com formação ampla e teórica, preparados para o domínio

das diferentes esferas da sociedade. Assim, segundo Saviani (2007), o homem passou a ter

uma preparação básica para sua adaptação e convívio na sociedade de classes. Com a

ampliação da escolarização e sua extensão, um maior número de jovens alcança os estudos

que correspondem hoje ao ensino médio, mas dependendo de suas possibilidades econômicas

e sociais finalizam seus estudos com um ensino profissionalizante (técnico) para ser então

mão-de-obra especializada, ou seguem seus estudos gerais recebendo uma formação mais

ampla. Segundo o autor:

Terminada a formação comum propiciada pela educação básica, os jovens têm

diante de si dois caminhos: a vinculação permanente ao processo produtivo, por

meio da ocupação profissional, ou a especialização universitária (SAVIANI, 2007,

p.160).

Para Frigotto, Ciavatta e Ramos (2005), a dualidade que foi se estabelecendo no

sistema capitalista também divide o mundo. De um lado os países ditos desenvolvidos que

“ditam” as estratégias educacionais, as inovações e novas técnicas de produção. Para estes há

8[...] numa referência a Henry Ford (1863-1947). Foi ele quem, a partir de 1914, implantou em sua fábrica de

automóveis um modelo que seria seguido por muitas outras indústrias. [...]. Frederick Taylor (1865-1915), em

seu livro Princípios de administração científica, propunha a aplicação de princípios científicos na organização

do trabalho, buscando maior racionalização do processo produtivo. Com as mudanças introduzidas por Henry

Ford em sua fábrica, as expressões fordismo e taylorismo passaram a ser usadas para identificar o mesmo

processo [...]. (TOMAZI, 2010. p. 49).

25

a efetiva articulação da educação básica com a formação profissional, com qualidade,

emancipadora e de cunho universal. Por outro lado, há os países que operacionalizam as

estratégias, com acentuada desigualdade de acesso e qualidade questionável de educação. No

caso específico do Brasil, a educação enquadra-se na segunda classificação de países,

inclusive com o controle linear do Sistema “S” na educação profissionalizante. Estes autores

declaram que:

No caso brasileiro, de um modo especial, pesa uma herança histórica da cultura "dos

coronéis e bacharéis", de forte estigma escravocrata e de uma perspectiva

filantrópica de educação profissional. Do ponto de vista da gestão, o Brasil é um

caso singular de controle quase unidimensional da educação profissional, pelo

patronato do Sistema “S’ (FRIGOTTO, CIAVATTA e RAMOS, 2005, p. 4).

O processo de “exploração e manipulação” nos diferentes segmentos econômicos,

políticos, culturais etc., por parte de alguns países (hemisfério norte) é histórico, situação que

se prolonga no tempo, e se efetiva cada vez mais com a globalização ou mundialização nos

dias atuais (após as décadas de 1950). Os países mais ricos ditam os padrões culturais,

tecnológicos, educacionais, estéticos etc., e passam a exigir através de organismos

internacionais o cumprimento de metas. Portanto, a essência do ser humano que é o trabalho

muitas vezes é manipulada em nome do lucro, eis que se exige muito mais do que a

transformação da natureza, inclusive desprezando-se seus limites e provocando danos à

natureza tais como a extinção da flora e da fauna. Neste contexto são negociados ou impostos

acordos internacionais entre países ricos (hemisfério norte) e países mais pobres (hemisfério

sul), em geral com a ajuda de uma elite local. Grande parte da população que participa da

produção do país, mas com acesso a uma educação deficitária, acaba aceitando como sendo

normal essa situação. Ainda neste contexto podem ser enquadrados os programas e currículos

educacionais, pensados, sobretudo por uma elite, que busca legitimar e manter o status quo.

Assim, para a maioria, basta a educação para a empregabilidade. (FRIGOTTO, CIAVATTA e

RAMOS, 2005).

A crise e queda do sistema feudal e a ascensão da burguesia como classe social

dominante traz também a presença do Estado9, pessoa jurídica que possui um corpo

9 [...] entendido como meio pelo qual se superou o originário estágio natural em que viviam os homens [...]. Os

direitos naturais (vida, liberdade, saúde e propriedade) da humanidade em seu estágio de vida natural sustentam

26

burocrático para administrar o patrimônio público, como as estradas, o sistema educacional,

os portos, a saúde, as comunicações, os transportes e outros tantos setores. Não é possível

entender as políticas de formação sem nos reportamos à compreensão do papel do Estado na

sociedade atual.

A concentração e a centralização de poder, mais acentuado ou não, caracterizam

diferentes formas de Estado. Interessante para compreender esta temática, no entanto,

pensamos que cabe discutir, nem que seja de forma mitigada, o pensamento de alguns autores

sobre a origem do Estado e suas diferentes formas. Dentre eles destacam-se, segundo Martins

e Groppo (2010), Hobbes, John Locke, Jean Jacques Rousseau entre outros.

Assim, Hobbes, que possuía uma visão pessimista do estado da natureza, entendeu que

viver-se-ia num estado de guerra, sem a presença forte do Estado, tal como o entendemos

hoje. O homem agiria como lobo do próprio homem, sem o controle racional do homem. Para

superar o estado de natureza, este autor considera a necessidade de criar o Estado, num pacto

importante para o início da vida civil, abolindo a guerra e as impunidades. Considerava,

portanto, que o poder do Estado controlado por um soberano se justificaria, pois, a ditadura de

um é preferível à ditadura de todos (MARTINS e GROPPO, 2010).

Já Locke, outro teórico que se destaca na discussão do Estado, diferente de Hobbes,

não possuía uma visão pessimista do estado de natureza. Mas entendia que este, para não ser

um estado de guerra, mas um estado de paz, necessitaria de um “terceiro” para julgar seus

conflitos. Assim, o surgimento do contrato permitiria a presença de um terceiro

imprescindível para a decisão das lides surgidas na vida social (BITTAR, 2002). Para Locke,

portanto, o “Estado Civil é erigido para garantir a vigência e proteção dos direitos naturais

que correriam grande perigo, no estado de natureza, por encontrarem-se totalmente

desprotegidos” (BITTAR, 2002, p.232).

Já para Rousseau o Estado surge a partir de um contrato social, de um pacto, uma

deliberação conjunta. “O contrato social possui o respaldo da vontade geral, que não se

constitui meramente da somatória das vontades particulares, mas que se coloca na posição de

representar o interesse comum” (BITTAR, 2002, p.241).

Estando os atos políticos e a ação do Estado presente na vida de todos os seres

humanos cotidianamente, inclusive ajustando o ensino conforme a ideologia hegemônica que

a construção do direito positivo, ou seja, aquele que advém do contrato entre os homens. (MARTINS e GROPPO, 2010, p. 11 e 12).

27

está no poder, apresentamos ainda que de forma breve as diferentes formas de Estado que,

embora tenham uma história que os diferencia, são formas recorrentes no processo social em

andamento.

Assim, o Estado absolutista, implantado primeiramente em Portugal no final do século

XIV, caracterizava--se principalmente pela alta concentração de poderes. Assumia o controle

das atividades econômicas e também a responsabilidade de centralizar e praticar a justiça e de

cuidar do contingente militar (TOMAZI, 2010). Como reação ao absolutismo e visando os

interesses da burguesia bem como do capital industrial, emergiu no século XVIII o

liberalismo. Tendo como valores primordiais o individualismo, a liberdade e a defesa da

propriedade privada (MARTINS e GROPPO, 2010).

O Estado liberal e seus valores assenta-se na famosa fórmula laissez-faire, laissez-

passer (deixai fazer deixar passar), deixando expressa a concepção de que o Estado não

intervém nas atividades econômicas privadas, assim o mercado se autorregula, a mão

invisível, de acordo com Adam Smith (MARTINS e GROPPO, 2010).

No final do século XIX, a concepção liberal começa a ruir e cai por terra com a

Primeira Guerra Mundial. Segundo Martins e Groppo (2010), em decorrência, dentre outros

motivos, da intensa concorrência entre as empresas, vão desaparecendo aquelas de pequeno

porte, compradas pelos grandes complexos empreendedores. O grande capital, cada vez mais

concentrado na mão de poucos, provoca a concorrência entre países e não entre empresas,

desencadeando a primeira grande conflito mundial (1914/1918), conflito que se deu entre as

nações imperialistas.

A partir da Primeira Guerra Mundial instauraram-se duas novas formas de organização

estatal: o fascismo (organizado primeiramente na Itália e depois na Alemanha com o

nazismo); e o socialismo (teve início em 1917 na Rússia) (TOMAZI, 2010).

O Estado fascista e o nazista defendiam a plena adesão de todos ao regime, e seus

líderes supremos não admitiam qualquer forma de oposição ao governo. Os meios de

comunicação são controlados pelo governo. Já o Estado socialista, segundo Tomazi (2010),

caracterizou-se por uma economia planificada e, por meio de um partido único, previa a

inexistência de classes sociais.

Após a Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945), disseminou-se nos países de base

capitalista a forma de organização estatal conhecida como Estado de Bem-Estar Social ou

28

Estado Social. Esse modelo pretendeu enfrentar dois interesses antagônicos: por um lado o

interesse do capital buscando se fortalecer e apresentar uma alternativa para construção de

uma ordem econômica e, por outro lado, o movimento dos trabalhadores que exigiam

melhores condições de vida (TOMAZI, 2010).

O Estado de Bem-Estar Social tem como característica a intervenção estatal nas

atividades econômicas, subsidiando-as, regulando-as e investindo em educação, saúde,

transporte coletivo, moradia, com a intenção de proporcionar um mínimo de bem-estar social

e econômico à população em geral, mesmo que numa situação contraditória em relação ao

desenvolvimento do capitalismo.

Após a crise do petróleo10 ocorrida particularmente na década de 1970 (hoje este

continua a representar um problema para um mundo que estabeleceu sua tecnologia, ainda em

grande parte dependente do petróleo), ocorreu uma nova mudança na organização estatal.

Além do desemprego acentuado, as empesas multinacionais precisavam se expandir,

aumentava o endividamento dos países em desenvolvimento e intensificavam-se as greves e

reinvindicações. Neste cenário nasceu o que se convencionou chamar de Estado Neoliberal,

um Estado mínimo, ou seja, um estado em que se privilegia o individualismo, as

privatizações, a livre iniciativa, o livre mercado, o poder de consumo como forma de

realização pessoal, dentre outras características (TOMAZI, 2010).

Enquanto forma de Estado hodierno vivenciamos o que ficou conhecido como pós-

neoliberal, que se desencadeou como consequência da política inerente ao Estado neoliberal,

pois se tem de um lado o crescimento econômico e de outro o aumento considerável da

desigualdade social11. Contrariando a ideologia neoliberal de que o Estado deve intervir

10 No início da década de 1970, os principais países produtores do Oriente Médio, como Arábia Saudita, Irã,

Iraque e Kuwait começam a regular as exportações do óleo às nações consumidoras. Mas o choque vem mesmo

em 1973, por motivações políticas. Literalmente, o petróleo árabe vira arma contra o mundo ocidental,

principalmente os Estados Unidos e países europeus que declararam apoio a Israel na Guerra do Yom Kippur

(Dia do Perdão) contra Egito e Síria. As retaliações causam pânico global: em 16 de outubro, as vendas para os

EUA, maiores importadores mundiais, e para a Europa são embargadas; a produção sofre firme redução em

tempos de alta demanda, forçando o preço do barril a subir cerca de 400% em três meses, de US$ 2,90, em

outubro de 1973, para US$ 11,65, em janeiro do ano seguinte. (IPEA. Petróleo: da crise aos carros flex). 11 Segundo dados da Comissão Econômica para América Latina – Cepal, entre 1980 a 2000, a pobreza cresceu

de forma significativa na região, tendo passado de 40% para 44% da população; a taxa de desemprego aumentou

de 6% para 9%, ou seja, eram 6 milhões de desempregados em 1980, aumentando para 17milhões em 2000, e

ainda houve queda na qualidade do emprego devido às inúmeras pessoas que trabalham no setor informal. Já a

Organização Pan-americana de Saúde informou, por volta de 2000, que 218 milhões de pessoas não têm

proteção à saúde, 100 milhões carecem de serviços básicos de saúde, e 82 milhões de crianças não têm acesso a

programas de vacinação. Conforme informações, em torno de 30 mil crianças morrem no mundo por causas

29

minimamente na economia, que o mercado se autorregula, estoura em 2008 a crise econômica

que iniciou nos Estados Unidos e, com efeito-dominó, prejudicou as economias do mundo

todo, necessitando novamente a intervenção do Estado, este inclusive injetando dinheiro

público para recuperar empresas privadas evitando a falência e em consequência demissões,

aumentando o desemprego e consequentemente a pobreza (MATOS e BUFFON, 2011).

É nesse cenário, descrito de forma muito breve e quase simbólica, que se situa também

o desenvolvimento histórico das relações entre o trabalho e a educação na escola brasileira,

com reflexos particularmente importantes no que diz respeito à formação dos estudantes no

ensino médio, etapa de ensino na qual se dá mais especificamente a divisão entre os

trabalhadores que se dirigem às tarefas manuais e aqueles que ascendem ás posições mais

intelectualizadas do trabalho e, portanto mais bem remuneradas.

No próximo item será abordado, ainda que de forma muito sintética, o

desenvolvimento da educação profissionalizante no Brasil, a partir de um período em que

houve uma maior atenção a esta educação por parte das autoridades governamentais. Nos

limites dessa pesquisa, nem toda a evolução histórica da educação profissionalizante e sua

relação com o ensino médio no Brasil puderam ser trazidas para o debate. Selecionou-se,

portanto, o seu desenvolvimento mais aproximado do momento atual para propiciar melhor a

sua compreensão.

relacionadas à pobreza; na América Latina, quase metade da população é pobre; em 1999, as 200 pessoas mais

ricas do mundo possuíam 1,135 bilhão de dólares, enquanto a soma do PIB total dos 582 milhões de habitantes

dos 49 países mais pobres era de apenas 146.000 milhões; no Brasil, 10% da população mais rica se apropriam

de 46% da renda nacional, enquanto metade da população possui apenas 15% dessa renda. Apesar de a água ser

elemento essencial ao ser humano, 1,3 bilhão de pessoas não tem água potável e morre anualmente por infecção

direta causada por ela; 828 milhões de pessoas nos países em desenvolvimento têm fome crônica, e 2 bilhões

apresentam deficiência em micronutrientes e sais minerais. Portanto, desde 1980 a pobreza não está retroagindo,

mas aumentando. Os índices de exclusão e pobreza crescem de modo surpreendente em vez de diminuírem. Na

União Europeia, segundo estimativas da Comissão de Bruxelas, em 1975 havia 38 milhões de pobres, em 1985, 44 milhões, em 1992, 53 milhões, em 1998, 57 milhões, e em 2001 o número havia aumentado para 65 milhões.

Ou seja, de 1975 a 2001 (26 anos) houve um aumento estimado em 71% de pessoas pobres na União Europeia.

Isso ocorreu porque o projeto contemporâneo da globalização acentua a interdependência das economias

nacionais na esfera do grande conjunto mundial, gerando uma “brasilização” na União Europeia e nos demais

países desenvolvidos (MATOS e BUFFON,, 2011, p. (7).

30

2.2. A EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE E SUA RELAÇÃO COM O ENSINO

MÉDIO NO BRASIL

Um marco para compreender a evolução da educação profissionalizante no país pode

ser o que passa a ocorrer após a década de 1930, por meio das Reformas Capanema12 de 1942

e 1943, quando a educação profissionalizante foi de alguma forma efetivamente contemplada.

Daí resultou a criação do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI). Com o

Decreto-lei 4.984 de 21 de novembro de 1942 (BRASIL, 1942), possibilitou-se a criação de

escolas de aprendizes de responsabilidade das empresas que possuíssem mais de cem

trabalhadores, permitindo-se ainda a articulação dessas escolas com o SENAI, eis que a

finalidade era dar formação profissional aos seus trabalhadores.

Segundo Kuenzer (2007), a educação no Brasil historicamente constitui-se numa

categoria “dualista estrutural”, na qual há nítida demarcação de processo educacional

vinculada ao dualismo de classe social: uma educação para as elites e outra para os

trabalhadores. Neste contexto os cursos profissionalizantes eram destinados àqueles que não

fossem à universidade, basicamente os jovens menos favorecidos.

O dualismo educacional parece começar a atenuar com a Lei de Diretrizes e Bases nº

4.024 de 20 de dezembro de 1961, a qual pretendeu diminuir a discriminação em desfavor do

ensino profissional, colocando este em grau de equivalência com o ensino secundário. Ou

seja, esta lei estabeleceu uma equivalência entre o curso profissionalizante e o ensino

secundário, permitindo a ambos o patamar de ingresso ao curso superior. O dualismo, no

entanto, embora mexido, persistiu assim como persiste até hoje. Os currículos que

12 Gustavo Capanema [...], promulgou as leis orgânicas do ensino, conhecidas como Reformas Capanema. Com

isso, embora por reformas parciais, toda a estrutura educacional foi reorganizada. As Reformas Capanema foram

baixadas por meio de oito decretos: a) Decreto-lei n. 4.048, de 22 de janeiro de 1942, que criou o SENAI; b)

Decreto-lei n. 4073, de 30 de janeiro de 1942, Lei Orgânica do Ensino Industrial; c) Decreto-lei n. 4.244, de 9 de

abril de 1942: Lei Orgânica do Ensino Secundário; d) Decreto-lei n. 6.141, de 28 de dezembro de 1943: Lei

Orgânica do Ensino Comercial; e) Decreto-lei n. 8.529, de janeiro de 1946: Lei Orgânica do Ensino Primário; f)

Decreto-lei n. 8.530, de 2 de janeiro de 1946: Lei Orgânica do Ensino Normal; g) Decreto-lei n. 8.621, de 10 de

janeiro de 1946, que criou o Senac e h) Decreto-lei n. 9.613, de 20 de agosto de 1946: Lei Orgânica do Ensino

Agrícola. [...]. Do ponto de vista da concepção, o conjunto das reformas tinha caráter centralista, fortemente

burocratizado, separando o ensino secundário, destinado às elites condutoras, do ensino profissional, destinado

ao povo conduzido e concedendo apenas ao ramo secundário a prerrogativa de acesso a qualquer carreira de

nível superior; corporativista, pois vinculava estreitamente cada ramo ou tipo de ensino às profissões e aos

ofícios requeridos pela organização social. (SAVIANI, 2011, p. 268/270).

31

efetivamente preparavam para cursar o ensino superior não eram os dos cursos

profissionalizantes.

Posteriormente, já sob “escudo” do regime militar e principalmente para satisfazer

uma demanda econômica de mão-de-obra qualificada, foi sancionada a Lei nº 5.692/71

(BRASIL, 1971), que pretendeu uma verdadeira reforma educacional ao estabelecer a

obrigatoriedade de profissionalização para todos os alunos que cursavam o ensino médio. A

partir da vigência dessa norma deveria ocorrer a superação do dualismo (escola técnica e

escola secundária), pois as séries iniciais permitiriam a formação geral (continuidade)

enquanto que as séries finais do ensino médio passaram a ter um cunho profissionalizante

(terminalidade). Destaca-se que esta norma foi aplicada à rede pública. A rede privada de

ensino continuou a ofertar ensino propedêutico (objetivo principal acesso aos cursos

superiores), fator esse que gerou acentuada desigualdade, eis que os estudantes que possuíam

certa condição financeira migravam para o ensino privado provocando verdadeira

desvalorização do ensino público. Assim, neste período aumentou de forma expressiva a

busca pelo ensino médio (segundo grau) nas redes privadas de ensino.

Com o fim do regime militar e o processo de redemocratização do Brasil (iniciado em

1985), a educação também passou por modificações, com destaque para a Constituição de

1988 e a “nova” LDB (Lei nº 9.394/96), vigente atualmente, já com algumas emendas. O

ensino médio passou a ser configurado como uma etapa da educação básica, sua etapa final.

Ao aluno é facultado escolher entre ensino médio profissionalizante ou então ensino médio

propedêutico, mas também, segundo esta legislação, ficava permitido preparar o estudante

para o trabalho por meio do ensino médio, desde que não lhe fosse negada a formação geral:

Art. 36º. O currículo do ensino médio observará o disposto na Seção I deste Capítulo

e as seguintes diretrizes:

[...]

§ 2º. O ensino médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepará-lo

para o exercício de profissões técnicas (BRASIL, 1996).

Pouco depois, porém, pelo Decreto-Lei 2.208/97, o governo tomou a posição de só

permitir a oferta do ensino profissionalizante em caráter concomitante ou subsequente ao

ensino médio, sem permitir a equivalência e a integração da educação geral com a profissional

num mesmo curso. Houve, portanto, com este decreto, uma efetiva separação entre o que

passou a ser chamado de Educação Básica e o ensino profissionalizante.

32

Segundo Martins (2000) o Decreto 2.208/97 caracterizou-se como uma política

educacional neoliberal (forma de Estado adotada no Brasil), que atendeu às pressões das

gestões mundiais pela manutenção do capitalismo e a necessária reprodução da dualidade

existente na sociedade.

Posteriormente, em 2004, já durante o governo denominado popular, sob a égide do

Partido dos Trabalhadores, houve uma mudança em relação ao decreto citado por meio de

outro decreto, agora em vigor (Decreto nº 5.154 de 23 de julho de 2004, já citado

anteriormente) que, além de manter a oferta dos cursos técnicos de ensino médio nas

modalidades concomitante (para quem está cursando o ensino médio regular com duas

matrículas) e subsequente (para aqueles que já terminaram o ensino médio), permite a

educação integrada (educação profissional e ensino médio sob uma mesma matrícula).

Esta possibilidade de integrar o ensino profissional à formação regular na última etapa

do ensino básico foi uma reivindicação que vinha sendo articulada desde a elaboração da nova

LDB/1996 pelo movimento de educadores vinculados a uma visão histórico-crítica da

educação e, portanto, críticos ao desenvolvimento de uma concepção capitalista da relação

educação e trabalho, favorecedora da dualidade educacional. Estes educadores, representados

aqui neste trabalho por autores tais como Saviani, Kuenzer, Ciavatta (2005), Jonh (2011),

Moura (2013), tomam como ponto de partida para sua elaboração conceitual a respeito da

organização do ensino médio e da educação profissionalizante, a teorização da politecnia

como visão de educação superadora da desarticulação entre educação geral e trabalho. No

próximo item apresentamos uma discussão a respeito desta teorização.

Há ainda a considerar que, como nos alertam Kuenzer e Graboswski (2006), a partir

dos anos de 1980 intensificou-se a relação entre ciência, tecnologia e sociedade, com

consequências para a educação profissionalizante: o desenvolvimento da microeletrônica

passou a exigir um trabalhador com domínio do trabalho intelectual (antes pertencente

somente à elite), com capacidade para atuar em situações conhecidas como também nas

imprevistas, com criatividade e rapidez.

Os mesmos autores também nos informam que a gestão da educação profissional no

Brasil está fracionada, ou seja, está sob a reponsabilidade de vários órgãos: A rede de escolas

técnicas está sob a responsabilidade do Ministério da Educação (MEC); a formação dos

trabalhadores, pelo Programa Nacional de Qualificação (PNQ), está sob a égide do Ministério

33

do Trabalho e Emprego (MTE); a educação no campo está dividida entre o MEC e o

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) por meio do PRONERA; ao Ministério da

Ciência e Tecnologia está afeta a política de formação tecnológica do país e os nove Sistemas

“S” estão afetos ao Ministério da Agricultura (SENAR), Ministério da Indústria e Comércio

(SEBRAE), Ministério da Ação Social (SESI e SESC), Ministério do Trabalho (SENAI e

SENAC), além do Pró-jovem, que se vincula à Secretaria Geral do Governo (KUENZER e

GRABOWSKI, 2006).

A educação profissional no Brasil, portanto, segundo os autores, carecia de

reponsabilidade constitucional expressa, que assegurasse recursos ou fundos para a sua

manutenção e desenvolvimento. A educação profissionalizante ficou durante muito tempo na

dependência das dotações orçamentárias ou de programas especiais financiados por convênios

internacionais (KUENZER e GRABOWSKI, 2006).

Uma das grandes mudanças a ser considerada ainda em relação à temática em tela foi

a Lei 12.513/11 a qual resta ser contextualizada no capítulo três.

2.3. O TRABALHO COMO PRINCÍPIO EDUCATIVO E A CONCEPÇÃO DE

POLITECNIA COM BASE EM SAVIANI (2003)

“Politecnia, literalmente, significaria múltiplas técnicas, multiplicidade de técnicas, e

daí o risco de se entender esse conceito como a totalidade das diferentes técnicas

fragmentadas, autonomamente consideradas” (SAVIANI, 2003). No entanto, na tradição da

teorização marxista, segundo este autor, politecnia não corresponde nem ao seu significado

literal e também não como um sinônimo de profissionalização do ensino médio. Politecnia diz

respeito à articulação entre o trabalho manual e intelectual, ao domínio do trabalho de forma

ampla, ou seja, ao processo todo, à sua essência. Consequentemente, é uma concepção que vai

além do entendimento do trabalho como algo que pode ser simplesmente treinado e/ou

adestrado para atividade repetitiva, manual:

Politecnia diz respeito ao domínio dos fundamentos científicos das diferentes técnicas

que caracterizam o processo de trabalho produtivo moderno. Está relacionada aos

fundamentos das diferentes modalidades de trabalho e tem como base determinados

princípios, determinados fundamentos, que devem ser garantidos pela formação

politécnica. Por quê? Supõe-se que, dominando esses fundamentos, esses princípios,

o trabalhador está em condições de desenvolver as diferentes modalidades de

34

trabalho, com a compreensão do seu caráter, da sua essência. Não se trata de um

trabalhador adestrado para executar com perfeição determinada tarefa e que se

encaixe no mercado de trabalho para desenvolver aquele tipo de habilidade.

Diferentemente, trata-se de propiciar-lhe um desenvolvimento multilateral, um

desenvolvimento que abarca todos os ângulos da prática produtiva na medida em que

ele domina aqueles princípios que estão na base da organização da produção moderna

(SAVIANI, 2003, p. 140).

Um projeto que abarque a formação politécnica, portanto, corresponde à superação da

fragmentação do conhecimento, envolve articulação entre o manual e intelectual,

desencadeando uma formação completa, que vai além de saber fazer, que contempla a

compreensão do seu funcionamento.

Embora não haja total consenso entre os marxistas quanto ao conceito do termo

politecnia, assumimos neste estudo a posição encaminhada por Saviani e os outros autores já

citados para a nossa orientação teórica. Segundo Saviani (2003, p. 144) na abordagem

marxista o conceito de politecnia “implica a união entre escola e trabalho ou, mais

especificamente, entre instrução intelectual e trabalho produtivo”. Já para Manacorda, autor

também marxista, italiano, citado por Saviani (2003) há distinção entre os termos

politecnismo e tecnologia. Segundo Manacorda, nos informa Saviani, é o termo tecnologia

que compreende a união entre teoria e prática, enquanto que o politecnismo corresponderia à

disponibilidade para os diversos trabalhos e suas variantes.

Na obra intitulada “O Capital” escrito por Karl Marx, segundo Saviani (2003)

encontra-se referência a termos como “escolas politécnicas e agronômicas” e também às

“escolas de ensino profissional” onde os filhos dos operários recebem algum ensino

tecnológico e são iniciados no manejo prático dos diferentes instrumentos de produção. Essas

afirmações, segundo o autor, teriam levado Manacorda a entender que “politecnia” refere-se

às escolas ofertadas pela burguesia aos operários, onde de forma mitigada, estariam presentes

conteúdos pedagógicos desenvolvidos na educação tecnológica.

Em que pesem as considerações entabuladas por Manacorda em relação aos termos

ensino politécnico e ensino tecnológico, entende-se que em Marx, as expressões são

equivalentes. No período de Marx o termo tecnologia era usado de forma não muito

expressiva na economia e quase inaplicável no contexto pedagógico ofertado pela burguesia.

No entanto, esse cenário se modificou acentuadamente, enquanto o termo politecnia caiu

35

quase em desuso, mantido apenas nas escolas ligadas a atividade produtiva. No ramo das

engenharias o termo tecnologia foi definitivamente adotado pela concepção dominante.

Na tradição socialista a concepção politecnia foi preservada, sendo uma das formas de

distinguir a sua visão educativa daquela que é ofertada pela concepção burguesa dominante

(SAVIANI, 2003).

Para Saviani (2003) a expressão “escola politécnica” e suas derivações “ensino

politécnico”, “instrução politécnica”, etc., compreende sim uma educação que busca a partir

do desenvolvimento do capitalismo e de sua crítica, superar a postura burguesa de educação,

portanto, a instrução politécnica representa uma concepção crítica a uma educação que

mantém o status quo.

Historicamente e politicamente o termo politecnia se encontra em pauta no âmbito

pedagógico, sendo a concepção de educação que busca a partir da própria realidade

capitalista, a superação da percepção burguesa de educação.

[...] as transformações que vêm se processando na base material da Sociedade

capitalista desde os anos 70 do século XX, correntemente denominada “Terceira

Revolução Industrial”, “Revolução da Informática”, “Revolução Microeletrônica”

ou “Revolução da Automação”, vêm promovendo a transferência não apenas das

funções manuais para as máquinas, como ocorreu na Primeira Revolução Industrial,

mas também as funções intelectuais. [...] (SAVIANI, 2003, p.148).

A “Terceira Revolução Industrial”, “também conhecida como “Revolução da

Informática”, ‘Revolução Microeletrônica” ou “Revolução da Automação” desencadeou

inúmeras mudanças, gerando não somente a substituição das funções manuais pela

maquinaria, mas também por exigir o desenvolvimento de um indivíduo com qualificação

geral, sendo necessária para a sua formação, uma escola unitária que desenvolva ao máximo

as suas potencialidades, conduzindo para o desenvolvimento pleno de suas faculdades

intelectuais-espirituais. Com a produção sendo cada vez mais automatizada, e auto

regulamentada, desencadeia-se o processo do “reino da liberdade”, o indivíduo é liberado do

fazer, passa para a esfera do não-trabalho, generaliza-se o direito ao lazer, ao tempo livre

(SAVIANI, 2003).

Há, no entanto, a necessidade de buscar uma forma social para que todos os homens

possam se beneficiar do imenso desenvolvimento das forças produtivas provocado pela

maquinaria ao longo dos tempos e que foram obtidas com muito sofrimento pelo conjunto da

36

humanidade ao longo de sua existência. Na busca pela superação das estratificações não se

pode prescindir da educação, que numa proposta de ensino politécnico poderá contribuir para

superar as divisões sociais.

Em que pese a existência de diversos entendimentos em relação ao termo politecnia,

adoto para fins de estudo na Dissertação em tela o entendimento apresentado por Saviani que

em síntese compreende a articulação entre o trabalho manual e intelectual de forma plena,

conhecendo o processo todo, sua essência. Assim a formação contribuirá para o

desenvolvimento de um indivíduo consciente e não apenas treinado/adestrado para atividade

repetitiva, e se fizer isso, fará de forma consciente e livre.

Sintetizando, cabe entender que, segundo os autores que como Saviani advogam uma

compreensão da politecnia como um horizonte para pensar a educação na etapa do ensino

médio, manter a dualidade entre o conhecimento e o trabalho manual é próprio da concepção

capitalista burguesa, a qual espera que os trabalhadores só dominem os conhecimentos

necessários para a sua prática, limitando-se a isso uma vez que o conhecimento mais amplo

destina-se aos que devem conceber e controlar o processo de trabalho. A noção de politecnia

compreende que, na organização do ensino médio não cabe envolver múltiplas habilitações

para cobrir todas as formas de atividade na sociedade, mas sim organizar as atividades

educativas “de modo que se possibilite a assimilação não apenas teórica, mas também prática,

dos princípios científicos que estão na base da organização moderna” (SAVIANI, 2003, p.

141).

37

3. O PRONATEC E SUA CONCOMITÂNCIA COM O ENSINO MÉDIO

Neste capítulo, apresentamos inicialmente os aspectos históricos e legais do Programa

Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego- Pronatec, fazendo menção ao PL (Projeto

de Lei) que antecedeu a Lei 12.513/11 que o implementou, visando compreender a tramitação

e os arranjos que a antecederam.

Na sequência é dado espaço para a discussão dos aspectos gerais do ensino médio e

do ensino profissionalizante e a relação entre o Pronatec e o ensino médio.

Antes de abordar os objetivos, ações, estratégias e parcerias do Pronatec, relatamos

brevemente o processo de tramitação do Projeto de Lei (PL) que instituiu este programa,

mostrando as articulações que o antecederam. O deslinde do PL será apresentado com base na

obra “Pronatec: múltiplos arranjos e ações para ampliar o acesso à educação profissional”, de

autoria de Cassiolatto e Garcia (2014).

A presidenta da república Dilma Rousseff encaminhou em 28 de abril de 2011 à

Câmara dos Deputados mensagem com o PL. A leitura em plenário pela Mesa Diretora foi

realizada no dia seguinte (29 de abril de 2011), passando a tramitar em caráter de urgência13.

O PL foi apalavrado às Comissões de Trabalho e Serviço Público, Educação e Cultura,

Finanças e Tributação, Constituição e Justiça e de Cidadania e recebeu o nº 1.209/2011.

A Mesa Diretora apreciou e indeferiu requerimento apresentado ao Plenário em 11 de

maio de 2011 o qual pleiteava que o PL fosse apreciado também pela Comissão de

Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio (CEDEIC).

O PL nº 1.209/2011 ao ser analisado nas comissões foi ampliado, recebeu novos

artigos com incidência na matéria. Recebeu oficialmente 37 emendas, sendo que três delas

possuíam dupla contagem. Ainda nas comissões foi proposta a realização de audiências

públicas (aconteceram em 06 capitais Salvador, Brasília, Belém, Natal, Goiânia e Recife) e a

rejeição de 19 emendas.

Por diversas sessões o PL 1.209/11 deixou de ir à votação, ultrapassando assim os 45

dias regulamentares. Diante do atraso na apreciação o PL do Pronatec foi novamente colocado

13 Artigo 64, §1o e §2o, quando o presidente da República solicita urgência para a apreciação de projetos de sua

iniciativa, e a Câmara e o Senado não se manifestam contrariamente, cada um deles terá 45 dias sucessivamente

para colocar a matéria em votação, sob pena de sobrestar todas as demais deliberações legislativas da respectiva

casa” (CASSIOLATTO e GARCIA, 2014, p. 21).

38

em caráter de urgência pelo presidente da Câmara. Urgência defendida por diferentes

parlamentares14.

O PL nº 1.209/11com atraso de 67 dias seguiu em urgência, foi ao plenário na sessão

deliberativa de 31 de agosto de 2011. Nessa única sessão foi aprovada a redação final,

assinada pelo deputado Jorginho Mello (PSDB-SC). Em 06 de setembro de 2011, após pouco

mais de quatro meses de tramitação, a Mesa Diretora remeteu o PL aprovado ao Senado

Federal para apreciação.

A leitura em plenário no Senado do PL nº 1.209/11 foi em 08 de setembro de 2011,

sendo informado que este tramitaria em caráter de urgência sendo apreciado simultaneamente

pelas Comissões de Constituição, Justiça e Cidadania; de Assuntos Econômicos; de Assuntos

Sociais; e de Educação, Cultura e Esporte.

Em 18 de outubro de 2011 o PL foi ao plenário do Senado sendo aprovado com um

voto contrário. Posteriormente foi encaminhado à sanção presidencial, sendo então,

sancionada a Lei 12.513/11 em 26 de outubro de 2011. A tramitação (desde a mensagem

emitida pelo Palácio do Planalto até a publicação no Diário Oficial) transcorreu no período de

seis meses.

Segundo Cassiolatto e Garcia (2014, p.28) a tramitação se deu em caráter de urgência

por atender ao interesse de vários segmentos da sociedade. “Pode-se afirmar que a Lei n.

12.513, de 26 de outubro de 2011, veio atender a um anseio dos trabalhadores pobres e a

satisfazer uma necessidade da estrutura produtora de bens e serviços do país”.

A Lei 12.503/11 dispõe em seu art. 1º Parágrafo Único e 2º seus objetivos e no art. 4º

as ações:

14Se o governo retirar a urgência do PRONATEC, nós teremos votações de projetos, como o que regulamenta a

Emenda Constitucional 29 e o que trata da ampliação do teto do Supersimples. Não havendo a retirada do

PRONATEC, nós ficamos com as medidas provisórias. Há a MP 528/11 e a MP 529/11, que poderão ser votadas

ainda na próxima semana, afirmou Marcos Maia (Agência Câmara Notícias, em 30 de junho de 2011)”. “A

ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, em reunião com parlamentares da

Comissão de Educação enfatizou que o governo tem pressa em cumprir o objetivo do PRONATEC de

profissionalizar pessoas por meio de bolsas aos estudantes, do financiamento do Sistema S ou da expansão das

vagas em escolas públicas. A decisão da presidente Dilma de não retirar a urgência do projeto tem uma

justificativa muito forte. É um projeto grande, ambicioso, que visa capacitar 8 milhões de jovens trabalhadores

até 2014, não pode ficar dormindo. A proposta implica a qualificação de trabalhadores neste momento em que o

país vive um crescimento fantástico, mas em que praticamente podemos dizer que há um “apagão” de mão de

obra, disse.(Agência Câmara Notícias, em 6 de julho de 2011) (CASSIOLATTO e GARCIA, 2014, p.22).

39

Artigo 1º

Parágrafo único. São objetivos do PRONATEC:

I - expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de educação profissional

técnica de nível médio presencial e à distância e de cursos e

programas de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;

II - fomentar e apoiar a expansão da rede física de atendimento da educação

profissional e tecnológica;

III - contribuir para a melhoria da qualidade do ensino médio público, por meio da

articulação com a educação profissional;

IV - ampliar as oportunidades educacionais dos trabalhadores, por meio do

incremento da formação e qualificação profissional;

V - estimular a difusão de recursos pedagógicos para apoiar a oferta de cursos de

educação profissional e tecnológica.

Artigo 2º

O PRONATEC atenderá prioritariamente

I - estudantes do ensino médio da rede pública, inclusive da educação de jovens e

adultos;

II - trabalhadores;

III - beneficiários dos programas federais de transferência de renda; e

IV - estudante que tenha cursado o ensino médio completo em escola da rede

pública ou em instituições privadas na condição de bolsista integral, nos termos do

regulamento.

Artigo 4º

O PRONATEC será desenvolvido por meio das seguintes ações

I - ampliação de vagas e expansão da rede federal de educação profissional e

tecnológica;

II - fomento à ampliação de vagas e à expansão das redes estaduais de educação

profissional;

III - incentivo à ampliação de vagas e à expansão da rede física de atendimento dos

serviços nacionais de aprendizagem;

IV - oferta de Bolsa-Formação, nas modalidades:

a) Bolsa-Formação Estudante; e

b) Bolsa-Formação Trabalhador;

V - financiamento da educação profissional e tecnológica;

VI - fomento à expansão da oferta de educação profissional técnica de nível médio

na modalidade de educação à distância;

VII - apoio técnico voltado à execução das ações desenvolvidas no âmbito do

Programa;

VIII - estímulo à expansão de oferta de vagas para as pessoas com deficiência,

inclusive com a articulação dos Institutos Públicos Federais, Estaduais e Municipais

de Educação; e

IX - articulação com o Sistema Nacional de Emprego. (BRASIL, 2011- sem grifo no

original).

Nos setores educacionais houve também posições contrárias a este programa, dada a

sua característica de profissionalização um tanto limitada no tempo de execução do seu

processo pedagógico. Mais ainda pela possibilidade que foi dada de parceria entre público e o

privado na sua execução.

40

Em defesa do programa foi indicado que este não só apresentava um conjunto de ações

para ampliar o acesso à educação profissional, mas também convergia no sentido de aumentar

a escolaridade dos futuros trabalhadores.

Extrai-se também da norma que há dois tipos de Bolsa-Formação envolvidos: a do

Estudante e a do Trabalhador, percebendo cada estudante em média R$2,00 (dois reais) por

hora estudada. A Bolsa-Formação Estudante é destinada aos alunos regularmente

matriculados no ensino médio público, ofertado na modalidade concomitante. Já quem pode

se beneficiar da Bolsa-Formação Trabalhador são os que estão em condições de

vulnerabilidade social.

Os cursos amparados pelo Pronatec com disponibilidade de Bolsa-Formação podem

ser executados pela Rede Federal de Educação Profissional, Cientifica e Tecnológica, por

Escolas Estaduais e Unidades de Serviços Nacionais de Aprendizagem Integrantes do Sistema

“S”.

Para a modalidade trabalhador são ofertados cursos de Formação Inicial Continuada,

com duração mínima de 160 horas, conhecidos como cursos de qualificação. O MEC

disponibilizou um guia, que atualmente compõe-se de 518 opções de cursos, distribuídos em

13 eixos15 distintos, periodicamente atualizados.

A rede E-Tec16 Brasil também faz parte do Pronatec, que a partir do Decreto nº

7.589/11 tem ampliada a oferta da educação profissional através de cursos à distância. Há

também disponibilidade de financiamento às redes estaduais, que poderão ampliar e equipar

suas instituições através do Brasil Profissionalizado (instituído pelo Decreto no 6.302, de 12

de dezembro de 2007), visando entrelaçar o conhecimento do ensino médio à prática.

Segundo Cassiolatto e Garcia (2014, p.44) “Igualmente merece destaque, nesse

esforço de ampliar e democratizar o acesso à educação profissional de qualidade, o acordo

151. Ambiente e saúde (38 cursos) 2. Controle e processos industriais (102 cursos) 3. Desenvolvimento

educacional e social (29 cursos) 4. Gestão e negócios (24 cursos) 5. Turismo, hospitalidade e lazer (28 cursos) 6.

Informação e comunicação (19 cursos) 7. Infraestrutura (78 cursos) 8. Militar (0) 9. Produção alimentícia (31

cursos) 10. Produção cultural e design (53 cursos) 11. Produção industrial (63 cursos) 12. Recursos naturais (51

cursos) 13. Segurança (2 cursos) (Fonte: SETEC/MEC, apud, CASSIOLATTO e GARCIA, 2014, p.37). 16 A SETEC auxilia tecnicamente a instituição que se candidata para ofertar educação à distância, de acordo com

diretrizes já firmadas para os polos, financia a estruturação de laboratórios, paga bolsa aos tutores presenciais e

aos à distância, aos coordenadores de cursos, coordenadores de polos, mas não financia a infraestrutura física do

polo. Também fazem especialização em educação à distância (já foram abertas 2 mil vagas) para quem está

atuando na rede E-Tec. Ou seja, todo apoio necessário para o funcionamento do polo (CASSIOLATTO e

GARCIA,2014, p.42).

41

com o Sistema S, firmado em 2008, entre o governo federal e, inicialmente, com o SENAI e o

SENAC”.

O acompanhamento na implementação do acordo com o Sistema S é feito pelo MEC e

pelo SETEC (Secretaria de Educação e Tecnológica), com o auxilio do CGU (Controladoria

Geral da União). As Instituições e atores envolvidos na organização e execução do Pronatec

estão apresentados na figura abaixo:

Figura 1 - Instituições e atores envolvidos na execução do PRONATEC

Fonte: Cassiolatto, Garcia (2014).

Notas relativas à figura 517

Em relação ao acordo de gratuidade celebrado entre a União e entidades privadas,

como já sinalizamos anteriormente, há críticas: de um lado afirma-se ser imerecida a

transferência de dinheiro público a instituições privadas; por sua vez, a esfera privada também

critica o ente público, acusando o governo de querer estatizar o sistema.

Vale um pequeno parêntese para tratar do que chegou a ser chamada de a “batalha

do Sistema S”. Quando o MEC propôs que o sistema dedicasse a maior parte dos

recursos que arrecada para ofertar cursos gratuitos de EPT, o empresariado

17 ¹ Ministério do Desenvolvimento Social.

² Ministério do Turismo.

³ Ministério do Desenvolvimento Agrário.

4 Secretaria de Direitos Humanos.

5 Ministério das Comunicações.

6 Ministério da Justiça.

7 Ministério da Previdência Social.

8 Ministério da Cultura.

42

controlador das organizações sindicais patronais reagiu com grande intensidade.

Acusou o governo de querer estatizar o sistema, de transferir recursos privados para

o orçamento público, de comprometer a excelência do ensino propiciado pelas

escolas do sistema.

O MEC reagiu à altura, fazendo um consistente enfrentamento pela mídia e

buscando intensamente o apoio parlamentar. Simultaneamente, empreendeu uma

sequência de reuniões de esclarecimento e pressões com o empresariado

comprometido com o aumento de produtividade. As posições do MEC, sua

capacidade de comunicá-las e de angariar adesões entre os profissionais da área e os

defensores da educação de qualidade levou à obtenção de considerável apoio social.

Na articulação política e no enfrentamento das intransigências de setores do

empresariado e dirigentes do Sistema S, teve papel decisivo o vice-presidente José

Alencar. Líder empresarial de grande projeção, que como político angariou enorme

simpatia popular, jogou o seu peso na obtenção do Acordo de Gratuidade assinado

entre o MEC e as entidades do sistema. Foi uma conquista em uma disputa renhida e

não “a vitória do consenso” (CASSIOLATTO, GARCIA, 2014, p.53).

O Ensino Médio continua sendo um “nó”, um gargalo no sistema educacional

brasileiro. A sua universalização ainda está distante de ser alcançada e os resultados

atualmente apresentados no IDEB – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, não

correspondem ao mínimo esperado. No ano 2014 o Ideb esperado era de 3,9, no entanto, ficou

em 3,7, consideradas as redes pública e particular.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio definidas pela Resolução

CNE/CEB nº 02/2012 (BRASIL, 2012), designam o ensino médio como etapa final da

educação básica e como “um direito social de cada pessoa”. De acordo ainda com a LDB -

Lei nº 9.394/96 (BRASIL, 1996) a missão do ensino médio é consolidar e aprofundar a

bagagem de conhecimento que o estudante já edificou ao longo da trajetória escolar,

prosseguindo posteriormente com seus estudos. O ensino médio também tem a missão de

desencadear a formação ética, o desenvolvimento da autonomia intelectual, do pensamento

crítico e a preparação básica para o trabalho e para a cidadania.

As diretrizes citadas também indicam a necessidade de articular no currículo do ensino

médio quatro dimensões básicas, são elas: o trabalho, a ciência, a tecnologia e a cultura. A

instituição do Pronatec traz justamente a inclusão de dois desses pressupostos básicos do

ensino médio - trabalho e tecnologia, objetivando dar maior possibilidade aos estudantes de

efetivamente cursar esta etapa da educação básica.

O Pronatec foi apresentado no cenário nacional tendo como objetivo geral o aumento

da oferta de educação profissional e tecnológica. No contexto do ensino médio o objetivo

específico consiste em ofertar cursos técnicos em nível médio de forma concomitante ao

43

ensino médio para alunos regularmente matriculados na rede pública estadual de ensino,

inclusive para aqueles matriculados na educação de jovens e adultos: “No âmbito do Pronatec,

serão atendidos, preferencialmente, alunos das 2ª e 3ª séries da rede pública estadual de

ensino e, quando houver proposta pedagógica específica, também poderão ser beneficiados os

alunos da 1ª série” (SAUDESKI, 2012, et al p. 8).

Após três anos de sua implantação, já é possível verificar se houve esta mediação e a

facilitação para o estudante concluir o ensino médio?

44

4. O SENAI NO CONTEXTO DO ENSINO PROFISSIONALIZANTE NO BRASIL:

UM PERCURSO QUE VAI DESDE A ADEQUAÇÃO DO HOMEM AO

DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA NACIONAL ATÉ A SUA ADEQUAÇÃO AO

MERCADO DE TRABALHO

O SENAI é uma das instituições do Sistema “S” que mais tem atuado na oferta de

cursos do Pronatec. A preparação dos trabalhadores para a indústria nacional sempre foi o seu

eixo de atuação. No entanto, tal não ocorreu desvinculado dos momentos pelos quais a própria

indústria foi se desenvolvendo. Cabe destacar que a história do SENAI ilustra de forma quase

simbólica a natureza da formação profissionalizante ao longo de décadas no nosso país. A

oferta de cursos de profissionalização desta instituição é marcada pelos diversos momentos da

história econômica e industrial do Brasil. É com esta compreensão que passamos a relatar,

com base principalmente num trabalho desenvolvido por Uaci Edivaldo Matias da Silva

(SILVA,1999), e intitulado “O SENAI” (Série Formação de Formadores), alguns momentos

dessa história que ilustram o contexto do ensino profissionalizante no país, até a atualidade.

O SENAI foi instituído pelo Decreto 4.048 de 22 de janeiro de 1942, no governo de

Getúlio Vargas, tendo como objetivo principal a formação de mão-de-obra para a indústria

brasileira (CAMARGOS, 2011).

Com a Constituição outorgada por Getúlio Vargas em 1937, tem-se o primeiro passo

para a criação do SENAI. Em seu art. 129, dispõe:

À infância e à juventude, o que faltarem os recursos necessários à educação em

Instituições particulares, é dever da Nação, dos Estados e dos Municípios assegurar,

pela fundação de Instituições Públicas de Ensino, em todos os graus, a possibilidade

de receber uma educação adequada às suas facilidades, aptidões e tendências

vocacionais.

O ensino pré-vocacional e profissional destinado às classes menos favorecidas é, em

matéria de educação, o primeiro dever do Estado. Cumpre-lhe dar execução,

fundando institutos de ensino profissional e subsidiando os de iniciativa dos Estados,

dos Municípios e dos indivíduos ou associações particulares e profissionais.

É dever das indústrias e dos sindicatos econômicos criar, na esfera de sua

especialidade, escolas de aprendizes destinadas aos filhos de seus operários ou de

seus associados. A Lei regulará o cumprimento desse dever e os poderes que

caberão ao Estado sobre essas escolas, bem como os auxílios, facilidades e subsídios

a lhes serem concedidos pelo poder público (BRASIL, 1937).

45

Antes de ser outorgada a Constituição de 1937 ocorreu a crise de 192918 que provocou

dentre outras consequências no Brasil a crise dos cafeicultores, encerrando o grande ciclo

econômico rural do Brasil. Imediatamente começa o processo de industrialização do país, com

a instalação das indústrias de base ou produção com ênfase para a área de metal-mecânica

(ferro, aço, siderurgia, laminação, mineração não-metálica, carvão).

O processo industrial é ainda mais acelerado com o início da Segunda Guerra

Mundial, em 1939: Segundo Silva (1999, p.16),

entre 39 e 44, o crescimento médio da produção da indústria de transformação foi

de 30%, mas a produção de minerais não-metálicos cresceu 107% e a metalúrgica

77%, mudando o perfil da indústria brasileira. A produção industrial supera pela

primeira vez a agrícola.

Esse cenário justifica o fato de em todo o Brasil os cursos iniciais ofertados pelo

SENAI terem se dado na área metal-mecânica. As ocupações da metal-mecânica permeavam

todos os ramos industriais sendo denominadas de “ocupações universais”.

Desde cedo, contudo, o SENAI, dada a aceleração da industrialização no país, passa a

ofertar cursos de pequena duração para a formação de mão de obra. Assim, após 1956,

quando assume o governo do Brasil o presidente Juscelino Kubitschek, seu Plano de Metas

selecionou cinco grandes áreas prioritárias: energia, transporte, indústrias de base, construção

civil (com ênfase na construção da nova capital, Brasília) e educação. Tudo isto distribuído

em trinta e um projetos setoriais. São construídas então usinas hidrelétricas; há abertura de

rodovias; é implantada a indústria automobilística19 etc.

Em São Paulo, por exemplo, foram criados os chamados “cursos de emergências”, ou

seja, cursos com caráter de excepcionalidade, nas áreas de solda, ferraria, caldeiraria,

mecânica, fundição e eletrotécnica. Na sequência, expandiram-se progressivamente e

18 [...] pior crise econômica da história do capitalismo. A bomba estourou na Bolsa de Valores de Nova York. De

repente, o valor das ações começou a despencar. Os investidores correram para vender. E os valores

continuavam despencando. Um abismo que simplesmente levou à falência muitas empresas. [...] A crise se

espalhou por quase todos os cantos. Houve milionários que, de uma hora para outra descobriam que não tinham

mais nada. (SCHMIDT, 2002, p. 117).

19 VEMAG Veículos e Máquinas Agrícolas S/A, FNM Fábrica Nacional de Motores, Willys Overland,

Volkswagen, General Motors, Ford, Mercedes-Benz, DKW sueca, que se associou posteriormente à VEMAG e

Alfa Romeo, que comprou posteriormente a FNM.

46

rapidamente os cursos do SENAI, com ênfase em: cursos de Torneiro Mecânico, Ajustador

Mecânico, Fresador Mecânico, Serralheiro de Bancada, Ferramenteiro entre outros.

O modelo pedagógico dos cursos do SENAI, tanto de Aprendizagem quanto de

Qualificação, originou-se predominantemente a partir dos estudos do IDORT – Instituto de

Organização Racional do Trabalho. Criado em 23 de julho de 1931, em São Paulo, por ele

passaram vários engenheiros e pedagogos que formularam, conceberam e influenciaram o

modelo de Formação Profissional nos seus primórdios.

Assim, escreveu Aldo Mário de Azevedo um dos fundadores do IDORT:

Racionalizar não é transcendência, nem mistério, nem obra sobrenatural. Ao

contrário, está ao alcance de todas as inteligências que queiram acertar pela primeira

vez. Ela pode ser aplicada a todos os processos e atos da vida porque a

racionalização não é mais que usar a inteligência inteligentemente (...) em tudo na

nossa vida de todos os dias há lugar bem extenso e profundo para racionalização (...)

em todas essas operações a razão assume o comando, mas é a ciência, o saber

acumulado que indica os rumos a tomar e fornece os instrumentos hábeis para tal (AMARAL, 1961, apud, SILVA, 1999).

Percebe-se que o modelo pedagógico adotado pelo SENAI em seus cursos foi de

caráter mecanicista, tecnicista, cartesiano, onde as coisas eram estudadas, formatadas e

implantadas com rigor matemático, modelo que sobreviveu por no mínimo quatro décadas.

Embora a Organização Internacional do Trabalho (OIT20) tenha editado em 1939 a

Recomendação 57, que expandia o conceito de Formação Profissional (“preparação do

homem para o trabalho, considerando possíveis adaptações futuras”), o que predominou no

Brasil até as décadas de 50 foi o primeiro conceito editado pela OIT (“Adequação do homem

ao posto de trabalho pelo trabalho. ”).

O método racional na formação de trabalhadores foi difundido no Brasil em várias

instituições de ensino por Roberto Mange (mais tarde também professor do SENAI),

20 A OIT foi criada em 1919, como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial.

Fundou-se sobre a convicção primordial de que a paz universal e permanente somente pode estar baseada na

justiça social. É a única das agências do Sistema das Nações Unidas com uma estrutura tripartite, composta de

representantes de governos e de organizações de empregadores e de trabalhadores. A OIT é responsável pela

formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (convenções e recomendações) As convenções,

uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil

está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho desde sua

primeira reunião. (História. Publicado no site: OIT - Organização Internacional do Trabalho - Escritório no

Brasil. Disponível em: Disponível em: http://www.oitbrasil.org.br/content/hist%C3%B3ria. Acesso em:

02/08/2014).

47

professor da Escola Politécnica de São Paulo, que chegou a assessorar o Ministério da

Educação e Saúde na década de 30.

Entidades recém-criadas adotavam/aplicavam o método científico de racionalização,

quiçá esse fato dava ao SENAI, já na sua origem, a marca e o status de competência técnica.

Para a construção dos currículos, o SENAI adotou as ideias de operações e tarefas.

Surgiram assim as séries metódicas, aplicadas aos cursos de “Aprendizagem de Menores” e

adaptadas aos “Cursos de Qualificação Profissional” do SENAI. Estas Séries Metódicas

foram criadas e experimentadas na Cia. Paulista de Estrada de Ferro, portanto, antefato a

criação do SENAI.

Também se tinha como doutrina vigente a adequação do homem ao posto de trabalho.

Na parte prática do método de ensino o fundamental era a utilização das Séries

Metódicas que devem constituir um sistema progressivo de aquisição da técnica de

trabalho comparável a uma evolução biológica em que o Aprendiz, sem sentir e sem

se cansar, mas com interesse sempre vivo, adquire de forma mais rápida e racional

uma capacidade técnica de produção (SENAI. SP. Relatório 1946, apud,

SILVA, 1999, p. 24).

No período de 1956 a 1962 novas demandas apareceram alavancando a produção

industrial. Foi grande a expansão das atividades do SENAI visando suprir demanda de

trabalho ofertado pela industrialização em várias regiões do Brasil. Também passaram a ser

oferecidos pelo SENAI Programas de Suprimento21, inclusive para supervisores (mestres)

principalmente em decorrência da instalação da indústria automobilística e de autopeças. O

setor de maior demanda neste período era Metalúrgico, Mecânico e Elétrico.

O SENAI passou a operar então em três modalidades de atendimento: Aprendizagem,

Qualificação e Suprimento. Cabe ressaltar que as taxas de analfabetismo no Brasil eram

bastante expressivas e que ainda era ínfima a frequência da mulher nos cursos ofertados pelo

SENAI, isso em função da reduzida participação das mulheres na vida profissional e social. A

Tabela 1 mostra o quadro de analfabetismo então existente:

21 Treinamentos.

48

Tabela 1: Taxa de analfabetismo no Brasil (no período de 1940/1960) em %

Fonte: Almanaque Brasil – 1993-1994, pág. 259, apud, SILVA, 1999, p.26.

Para trabalhar no SENAI no processo de orientação (professores) eram capacitados

instrutores.

O primeiro curso de capacitação de instrutores instalado foi o “Curso de Quadros”, em

São Paulo, iniciado em 1948, com duração de seis meses. Dez anos mais tarde novos

requisitos passaram a ser exigidos para compor o quadro de instrutores. “Foram feitos acordos

internacionais, principalmente com a OIT. Técnicos e Gestores foram preparados na Europa,

notadamente no Centro da OIT em Turim, Itália” (SILVA, 1999, p.27).

Em 10 de janeiro de 1962 foi editado o segundo Regimento do SENAI, Decreto-Lei nº

494. A partir desse regimento o SENAI passa a ser fiscalizado pelo Ministério de Educação e

Cultura.

O SENAI deixou de ser simplesmente escolas de Aprendizagem e passou a ser

concebido e entendido como um sistema: o sistema SENAI. “A administração, inicialmente

centralizada, é passada às mãos dos Departamentos Regionais num processo de

descentralização, sem perder a unicidade de objetivos e propósitos institucionais” (SILVA,

1999, p. 29).

A seguir há um esboço (figuras 2 a 5) resumindo/representando o entendimento

exibido/descrito anteriormente em relação aos aspectos relevantes das circunstâncias do

SENAI desde sua criação até a década de 60, momento no qual além da edição de um novo

decreto ocorre também alteração no contexto econômico e social do Brasil.

TAXA DE ANALFABETISMO NO BRASIL (1940 A 1960)

EM %

Anos Homens Mulheres

1940 57,08 63,30

1950 53,96 60,67

1960 44,19 49,28

49

Figura 2 - As modalidades de atendimento se diversificam:

Fonte: Silva, (1999).

Figura 3 - O foco de análise para a construção dos currículos se altera:

Fonte: Silva (1999).

Figura 4 - O perfil da clientela muda no momento em que se diversificaram as modalidades:

Fonte: Silva (1999).

Figura 5 - O ambiente pedagógico sofre tênue expansão no seu conceito com a entrada do Estudo Dirigido.

Fonte: Silva (1999).

50

No período compreendido entre 1960 a 1984, o Brasil viu acontecer, ainda na década

de 1960 vários movimentos de contestação social desabrochando no mundo, dentre eles

destaca-se: o movimento hippie com a bandeira “Paz e amor” protestando contra qualquer

forma de violência; a metamorfose sexual e os movimentos feministas que ocorrem

particularmente com a descoberta da pílula anticoncepcional; o papel da música, que passou a

ser uma mistura de prazer e protesto; “cabelos longos, calças apertadas e drogas, que

passaram a fazer parte dos movimentos de rebeldia” (SILVA, 1999, p.35). Em paralelo às

contestações sociais também recrudesceram as diferenças ideológicas entre o capitalismo e o

socialismo; é construído o muro de Berlim e a Guerra Fria se intensifica; os Estados Unidos

invadem o Vietnã; explode o movimento estudantil na Europa, destacando-se, em Paris, o

movimento conhecido por “Maio 68”.

O Brasil à sua maneira também atravessa esse momento. Foram eleitos para governar

o país Jânio Quadros e como vice João Goulart. O Presidente Jânio Quadros enfrentou

dificuldades de toda ordem, renunciou após sete meses de governo. A partir daí o Brasil

enfrentou longo período de perturbações e conspirações políticas que desencadearam o golpe

militar de 1964, apoiado pelos Estados Unidos, grandes defensores do modelo capitalista,

regime também adotado no Brasil. Diante do cenário conturbado de 1961 – 1968, interrompe-

se o ciclo de crescimento econômico, foram reduzidos substancialmente os investimentos

tanto públicos quanto privados. Estas transformações atingiram o setor produtivo e seus

impactos se fizeram também presentes no SENAI.

Apesar da alteração do Regimento do SENAI ter sido efetivada em 1962, até 1967

praticamente não foram adotadas medidas significativas que modificassem seu modelo de

formação profissional, ou até a oferta de novos serviços ao mercado. Mas tal situação

começou a modificar-se após 1967: “Se, por um lado, os militares cassaram direitos políticos,

interviram no Congresso, castraram os movimentos estudantis e cercearam as liberdades

individuais de uma maneira geral, por outro lado iniciou-se em 1968 um processo vertiginoso

de crescimento no país que vai até 1980” (SILVA, 1999, p. 37). Certamente esta visão

apresentada por Silva (1999) deixa de contemplar a perda que o país teve com a falta de

democracia que perdurou durante todo o período da ditadura militar, inclusive com o

sacrifício de muitas vidas.

51

Em meio a essa ebulição econômica o SENAI “celebra” dois convênios: O Programa

Intensivo de Preparação de Mão-de-Obra (PIPMO) e o de Formação de Trabalhadores para

Construção Civil. O primeiro convênio com o Ministério de Educação, que posteriormente

passou para o Ministério do Trabalho; o segundo com o Banco Nacional de Habitação e o

Ministério do Trabalho. Esses programas deram ao SENAI experiência significativa na oferta

de treinamentos noturnos em quantidade e diversidade que impactaram a gestão da instituição.

O SENAI passa a atender em suas Unidades Operacionais pessoas e profissionais, não

necessariamente oriundas da indústria, dando-se assim a sua abertura à comunidade.

Outro fato que afetou diretamente o SENAI ocorreu quando foi editada a Lei nº 5.692,

em 1971, que criou o regime de intercomplementaridade, o que significou a possibilidade de

dar aos cursos de Aprendizagem Industrial do SENAI, equivalência ao antigo 1º grau, hoje

ensino fundamental. O processo de ensino e aprendizagem fortaleceu-se no SENAI com esta

equivalência:

A equivalência trouxe para o SENAI condições mais favoráveis ao processo ensino

aprendizagem. Foram contratados novos profissionais em todo o Brasil que

oxigenaram a Instituição, inclusive culturalmente. Disciplinas como Português,

Moral e Cívica, Educação Física e Matemática se somaram a Ciências e Desenho, já

tradicionalmente desenvolvidas nas salas-ambiente do SENAI (SILVA, 1999,

p.38).

Registra-se também que, com esta ocorrência, houve ampliação do ambiente

pedagógico nessa instituição, ao incorporar a presença do professor e não mais apenas a do

instrutor.

Na década de 1970 o SENAI criou as Unidades Móveis, com a intenção de

interiorizar sua atuação. No governo do Presidente Geisel que tomou posse no ano de 1974, a

Instituição se fortaleceu no cenário nacional, ao ter seus laços mais estreitados com o governo

federal. Formalmente o SENAI passou a integrar o “Sistema Nacional de Formação de Mão-

de-Obra”. Segundo Silva (1999, p.41): “Não são mais só as indústrias que mantêm relações

diretas com o SENAI. Ministério do Trabalho, Ministério da Educação, Conselhos Estaduais

de Educação, Centros de Tecnologia e outros passam a fazer parte das relações permanentes

da Instituição”.

52

Outro fator importante para o SENAI foi à promulgação da Lei nº 6.297/75. Esta Lei

possibilitou a dedução do imposto de renda, pela empresa, de parte dos valores investidos em

Formação Profissional, o que significou oferta de treinamentos dentro das próprias empresas.

Novas mudanças para o SENAI ocorreram com o processo de redemocratização do

Brasil, a partir de 1985, quando uma nova Constituição, em 1988 (vigente atualmente, com

algumas Emendas), foi promulgada. Vários questionamentos foram então entabulados pela

comissão e subcomissões que compuseram a Constituinte, tais como: estatizar o Sistema “S”,

e extinguir o SENAI? Criar um fundo único de Educação? Adotar uma gestão tripartite –

indústria, governo e trabalhadores? Entre outros. O SENAI é questionado, não como antes,

em que a discussão era mais técnica, discutiu-se efetivamente o seu papel no sentido de uma

formação profissional.

Ainda segundo Silva (1999), diante do novo cenário nacional e dos questionamentos

que então se colocaram o SENAI procurou se auto-avaliar. A extinção da ditadura militar, a

redemocratização do país, e o próprio processo de globalização que então se acerbava fez com

que assoalhasse suas falhas internas. Conscientizou-se de que algumas mudanças ocorridas no

ambiente eram irreversíveis. Inicialmente foram desencadeadas simultaneamente três ações: i)

expandir e aprofundar a prospecção de mercado, para localizar as novas demandas da

indústria nacional; ii) capacitar os profissionais da Instituição, desenvolvendo competência

para “pensar”, planejar, promover e gerir mudanças e; iii) expandir a “Área de Assistência às

Empresas”.

Percebe-se, portanto, a ocorrência de algumas mudanças estratégicas na atuação do

SENAI: altera-se o seu foco de análise, passando do posto de trabalho para as tendências de

mercado. As demandas do mercado e não mais a indústria isoladamente é o foco mais

centralizado.

Com o objetivo de preparar profissionais para o novo momento foram desenvolvidos

entre os anos de 1988 e 1990 diversos programas de capacitação de pessoal (diretores e

gerentes, supervisores de ensino, técnicos em pesquisa, docentes, etc.,). Vários técnicos foram

encaminhados pelo SENAI para estudar na Europa entre 1989 e 1992 para procederem a

estudos comparativos.

Conforme já indicamos anteriormente, houve a inserção de docentes no SENAI em

substituição aos instrutores, o que não pode ser simplesmente interpretado como uma questão

53

de semântica, mas sim de mudança na formação, que passa a enfatizar o processo de ensino-

aprendizagem e de formação mais ampla dos trabalhadores, para o que passou a ser o

mercado de trabalho e tudo o que isto significa com o advento do neo-liberalismo que foi se

instalando no país na década de 1990.

Em 1994, após ter sido editado o “Plano Decenal de Educação para Todos” pelo MEC

em 1993, representando um conjunto de diretrizes com destaque na educação básica, o

SENAI editou o documento intitulado “SENAI – Desafios e Oportunidades: subsídios para

discussão de uma nova política de Formação Profissional para a indústria no Brasil”. Este

documento representou o início de um novo modelo de Gestão - a Gestão Estratégica, na

formação profissional, para atender a gestão empresarial:

É o tipo de gestão que leva uma empresa a dar atenção especial ao ambiente externo,

avaliando e gerenciando as ameaças e oportunidades por ele colocada. Neste tipo de

gestão, o gerente procura identificar e implementar um posicionamento estratégico

que assegure o futuro da organização, em face das perspectivas antevistas para o

ambiente externo (SILVA, 1999, p.73).

Consolidava-se também neste período, diante do cenário competitivo que se

desenvolvia, os princípios da Qualidade Total22.

Após longa tramitação no Congresso Nacional, em 20 de dezembro de 1996 foi

editada a Lei nº 9.394, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, que

oficialmente reconheceu a formação profissional, acarretando consequências significativas na

prática, eis que não há como profissionalizar sem uma boa base de educação geral. Assim,

infere-se um novo papel ao docente, a de educador, com embasamento, ou então, formação

didática pedagógica. É possível aqui visualizar um maior despertar da indústria para as

questões ideológicas do mercado de trabalho.

Após 1996 alguns Departamentos Regionais do SENAI passaram a se mobilizar para

iniciar a oferta de cursos superiores, seja licenciatura plena ou formação tecnológica.

22 [...] A partir de 1986, com influência da Europa Unida [...] a ideia da Qualidade Total toma corpo na forma da

Série ISO 9000. No Brasil foi criado em 1988 o PEGQ (Programa de Especialização em Gestão da Qualidade),

do Ministério da Indústria e Comércio, antecessor do Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP),

criado em 1990. [...] O SENAI adota a Gestão pela Qualidade Total como ferramenta capaz de promover a

melhoria da qualidade de seus produtos e serviços, a partir do estabelecimento de padrões internos de qualidade

(SILVA, 1999, p. 75/76).

54

Iniciativa que vinha ao encontro das necessidades das empresas que necessitavam de

profissionais com maior escolarização.

O currículo nestes cursos passa a introduzir além de conhecimento técnico-científico

temas transversais (educação ambiental, metrologia, inglês técnico, informática, etc.,).

Segundo o autor:

[...] aprender passa a ser fundamental. Aprender sempre, em qualquer lugar.

As atividades são muitas vezes desenvolvidas em espaços alternativos, não pensados

anteriormente. São as telessalas, as teleconferências, os softwares educacionais, os

simuladores, a realidade virtual, a Internet... (SILVA, 1999, p. 83).

A partir de 1996, o SENAI também implanta na instituição uma Administração

Estratégica cujos pressupostos são análise permanente dos ambientes interno e externo e

planejamento de curto, médio e longo prazo. Este último nunca inferior a dez anos. O plano

estratégico do SENAI (1996-2010) deixou de contemplar somente a educação profissional:

passou a ter igualmente a missão de desenvolver atividades de assessoria técnica e

tecnológica, de informação tecnológica e até de pesquisa aplicada.

Este cenário novamente se modifica com a parceria firmada entre o Governo Federal e

o SENAI, que passa a ofertar/realizar cursos de forma gratuita à comunidade, financiados pela

União, conforme dispõe a Lei 12.513/11, resumidamente apresentado anteriormente.

Após esta apresentação do Senai no contexto do ensino profissionalizante no país e

que evidencia o percurso desta instituição formadora de mão de obra para a industria nacional

e cada vez mais, para o mercado de trabalho, passaremos a evidenciar, no próximo capítulo, o

resultado de um estudo empírico realizado com estudantes do Ensino Médio da Escola de

Educação Básica Governador Lacerda que no contra turno frequentam cursos do programa

Pronatec no SENAI/Videira. Os dados colhidos neste estudo permitirão visualizar algumas

indicações para compreender a mediação que se estabelece entre os cursos ofertados pelo

programa Pronatec e a permanência e a conclusão o Ensino Médio por alunos que cursam a

escola pública.

55

5. “HORA” DE OUVIR OS ALUNOS DA ESCOLA DE EDUCAÇÃO BÁSICA

GOVERNADOR LACERDA - PRONATEC: FACILITA A PERMANÊNCIA/

CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO REGULAR?

Neste capítulo apresentamos o estudo empírico realizado junto aos alunos com a

finalidade de captar suas representações a respeito da mediação entre Pronatec e Ensino

Médio; ou seja: o fato de estarem frequentando cursos na modalidade Pronatec tem facilitado

sua permanência no Ensino Médio Regular?

A abordagem tem como foco os alunos matriculados no 2º e 3º ano do Ensino Médio

Regular da Escola de Educação Básica Governador Lacerda e que concomitantemente

frequentam cursos do Pronatec na Unidade de Videira/SC.

Para dar maior visibilidade ao contexto em que se processou a pesquisa empírica

iniciamos o capítulo apresentando o universo institucional dos alunos envolvidos no estudo

(5.1) com informações sobre a Escola de Educação Básica Governador Lacerda, escola na

qual os estudantes pesquisados realizam o ensino médio regular; e em seguida sobre o

SENAI/Videira/SC, no qual os mesmos estudantes realizam curso vinculado ao programa

Pronatec, já apresentado em capítulo anterior. No item 5.2 são apresentados os resultados de

uma pesquisa com base no diálogo com estes alunos e ainda na resposta a um questionário

que lhes foi solicitado responder.

5.1. UNIVERSO INTITUCIONAL DOS ALUNOS ENVOLVIDOS NA PESQUISA

Os sujeitos envolvidos na pesquisa frequentam dois universos institucionais bastante

distintos, ou seja, o Ensino Médio Regular na Escola de Educação Básica Governador

Lacerda e cursos técnicos ofertados na modalidade Pronatec no SENAI unidade de

Videira/SC. Passamos, a seguir, a discorrer sobre as instituições citadas.

56

5.1.1. Escola de Educação Básica Governador Lacerda

Localizado no Meio Oeste Catarinense, no Vale do Rio do Peixe, o município de

Videira iniciou sua colonização com a abertura da Estrada de Ferro – São Paulo/ Rio Grande

do Sul, em 1908.

Com o transcorrer dos anos, o município tornou-se conhecido como o Vale do Vinho,

pelo cultivo de videiras e a fabricação de vinho - uma das atividades agrícolas desenvolvidas

até hoje, trazida pelos colonizadores italianos.

O movimento econômico do Município está firmado na agroindústria, gerando

crescimento e uma permanente migração, oriunda de municípios e estados próximos. Decorre

daí uma constante atuação dos poderes públicos e de instituições a eles relacionados no que se

refere a oportunizar condições de moradia, saúde e educação. Nesse contexto, a Escola de

Educação Básica Governador Lacerda, por situar-se na zona central do município, tem uma

clientela diversificada, procedente do centro, dos bairros e do interior, o que exige dos

profissionais da instituição um trabalho voltado a essa realidade sócio - cultural.

A Escola de Educação Básica Governador Lacerda, foi criada em 1957, com a

denominação de Grupo Escolar “Imaculada Conceição”, foi estadualizada pelo Decreto n.º498

de 24 de outubro de 1957, tomando para si o nome de uma ilustre figura da Política

Catarinense, o então Governador Lacerda. Crescendo em extensão, em 05 de abril de 1972 é

transformada em Escola Básica Governador Lacerda pelo Decreto n.º 144/72.

Conforme portaria n.º 0017 de 28/03/2000, após a LDB – Lei de Diretrizes e Base da

Educação Nacional de 1996, a Secretaria de Educação (SED) alterou a identificação deste

estabelecimento de ensino para Escola de Ensino Fundamental Governador Lacerda, por ser

uma instituição que apenas atendia à oferta da educação fundamental. Em 2011, com a

implantação do ensino médio a escola passou a se chamar Escola de Educação Básica

Governador Lacerda.

A escola atualmente atende 1025 (um mil e vinte e cinco) alunos, distribuídos em 36

turmas, nos períodos matutino e vespertino de 1ª a 8ª séries (Ensino Fundamental de 09 anos),

8ª séries (Turma de Conclusão do Ensino Fundamental de 08 anos) e 1ª a 3ª séries (Ensino

Médio). Oferece também ensino especializado para Deficientes Auditivos, Visuais e Mentais

(SAEDE Misto). O corpo docente é composto por 70 professores, 01 diretor, 01 assessor de

57

direção, 01 assistente de educação, 01 assistente técnico pedagógico, 05 serventes. A merenda

é terceirizada.

A escola está localizada no Bairro Santa Tereza, bairro essencialmente residencial,

mas também provido de áreas comerciais e de lazer. Quanto ao aspecto comercial, tem dois

supermercados de grande porte, restaurantes, posto de combustível, revenda de carros e lojas.

Próximo à escola encontra-se o Ginásio Municipal de Esportes, a creche do bairro Santa

Tereza, a Escola Municipal Paulo F. Penso e o Centro Comunitário do bairro.

5.1.2 . SENAI – Unidade de Videira/SC

O SENAI Unidade de Videira/SC teve como impulso inicial uma carta, enviada pelo

então presidente da ACIAV – Associação Comercial Industrial e Artesãos de Videira, datado

de 09 de setembro de 1974, endereçada ao Presidente da FIESC – Federação das Indústrias do

Estado de Santa Catarina.

Esta iniciativa propiciou os preparativos para a instalação da Unidade do SENAI no

município de Videira/SC, culminando com a nomeação do Sr. Antonio José Faiting para

dirigir os trabalhos.

Em 25 de julho de 1975 foi implantado o primeiro curso em instalações provisórias

locadas. Em 18 de novembro de 1983 ocorreu a inauguração da Unidade com prédio próprio

em terreno doado pela Prefeitura Municipal, localizado na Rua Josefina Henn, 85 – Bairro

São Cristóvão (onde atualmente desenvolve suas atividades).

Tendo como principal objetivo o atendimento às necessidades da região atua nas áreas

de: Eletromecânica, Mecânica, Eletrotécnica, Informática, Segurança do Trabalho, e

Alimentos, com cursos de Qualificação, Aperfeiçoamento, Aprendizagem Industrial, Ensino

Médio Articulado com a Educação Profissional e Cursos Técnicos.

A Unidade de Ensino conta com uma estrutura física que contempla além das salas

de aula, 07 (sete) laboratórios de ensino, biblioteca, quadra poliesportiva e unidades de

laboratórios móveis.

O SENAI Videira atende também aos municípios vizinhos desta cidade: Pinheiro

Preto, Tangará, Iomerê, Ibiam, Fraiburgo, Monte Carlo, Arroio Trinta e Salto Veloso. Em

58

2013 foi inaugurada a Unidade de Fraiburgo/SC que é uma extensão do SENAI Videira,

porém com autonomia para implantação dos cursos.

Em que pese a Lei 12.513 que instituiu o Pronatec estar vigente a partir de 2011, a

Unidade de Videira teve seus primeiros cursos na modalidade Pronatec implantados em 2012,

sendo incialmente dois cursos técnicos com duração de dois anos e onze cursos de formação

continuada de “curta duração” de 160 a 220 horas.

Atualmente, o programa tem em andamento os cursos de: ajustador mecânico,

desenhista mecânico, eletricista industrial, operador de empilhadeira, torneiro mecânico,

costureiro, soldador processo mig mag. Estes cursos têm duração de 180 horas, são requisitos

para matricular-se ter no mínimo quarto ano completo e a partir dos 15 anos de idade. Os

estudantes devidamente matriculados e frequentando recebem em média um valor de R$8,00

(oito reais) por dia presencial de aula. Também na modalidade Pronatec possui em andamento

cursos com duração que varia entre 1500 a 1600hs, são eles: eletromecânica, mecânica,

eletrotécnica, suporte manutenção de informática, alimentos e segurança do trabalho. Os

estudantes recebem R$8,00 (oito reais) por dia letivo, recebem através de um cartão

disponibilizado pela DR – Direção Regional, para saque do valor correspondente no Banco do

Brasil. Ainda oferta os cursos de informática, alimentos, eletricista industrial, mecânico, com

01 (um) ano de duração, estes na modalidade aprendizagem.

Neste cenário encontram-se os sujeitos selecionados para esta pesquisa e inquiridos

durante o diálogo, os quais responderam ao questionário analisado e apresentado na

sequência.

5. 2. PRONATEC: ALUNOS MATRICULADOS EM CURSOS DO PRONATEC TEM SUA

PERMANÊNCIA/ CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO REGULAR FACILITADO?

Dentre outras razões o Pronatec foi articulado visando aumentar o número de

matrículas, permanência e conclusão do Ensino Médio, conforme exposto anteriormente.

O acompanhamento do desenvolvimento do Pronatec por meio de estudos é uma

necessidade imperativa no sentido de aprimorar o atingimento dos seus objetivos,

considerando também o grande investimento de dinheiro público que está sendo realizado na

sua implementação. Assim, realizamos primeiramente um levantamento de alunos de 2º e 3º

59

anos matriculados no Ensino Médio Regular da Escola Governador Lacerda (anteriormente

apresentada) que concomitantemente frequentam os cursos ofertados pelo SENAI/Videira/SC

na modalidade Pronatec.

Para realizar este levantamento contei com a ajuda da assistente técnico-pedagógica da

Escola de Educação Básica Governador Lacerda, bem como com o apoio da secretária da

escola representante/responsável legal, que nos forneceu os dados (lista) de estudantes

matriculados das turmas do Ensino Médio Regular.

O levantamento nos permitiu constatar que num total de 210 (duzentos e dez alunos)

matriculados no Ensino Médio nas 2ª e 3ª séries no ano de 2014, 26 (vinte e seis) alunos

frequentam concomitantemente cursos na modalidade Pronatec, no contra turno.

Para se chegar a essa conclusão, o procedimento empregado foi de visita às salas de

aulas dos 2ª e 3ª anos. Primeiramente agendei com a assistente técnico-pedagógica minha

visita as salas de aula para realizar o levantamento de quantos e quais eram os estudantes que

frequentavam cursos na modalidade Pronatec no contra turno no SENAI Unidade de

Videira/SC, posteriormente a assistente conversou com os professores dando ciência que eu

iria conversar com os estudantes. Assim, quando estive nas salas de aula fui bem

recepcionada pelos professores, eis que conheciam os motivos da minha presença naquele

período.

Na sequência agendei novamente um horário com a assistente técnico-pedagógica para

dialogar (maneira encontrada para apresentar/explicar o questionário, visualizando os alunos

responderem as questões) com os 26 estudantes identificados durante a visita, com matrícula

concomitante (ensino médio regular e cursos do Pronatec).

Posteriormente foi realizado um diálogo acompanhado de questionário com 21 (vinte e

um) alunos que possuíam ambas as matrículas, automaticamente digitalizando as respostas.

No dia em que fui realizar o diálogo estavam ausentes da aula 05 (cinco) alunos dos 26 que

cursavam concomitantemente Pronatec, assim, os dados coletados objeto de análise,

pautaram-se na resposta de 21 estudantes.

O roteiro das questões que nortearam o diálogo segue em anexo (apêndice 01). As

questões foram classificadas em 05 (cinco) categorias distintas. Tendo como objetivo

fundamental materializar ainda que parcialmente o entendimento dos sujeitos sobre as

questões que foram elaboradas/estruturadas com base na teoria que alimentou a presente

60

pesquisa bem como nas informações já reunidas pela pesquisadora e levando-se em

consideração também os sujeitos envolvidos.

O roteiro de questões que orientaram o diálogo e sobre o qual a pesquisadora solicitou

respostas objetivas foi organizado em torno das seguintes categorias já anteriormente

referidas: i) satisfação com a frequência aos cursos do Pronatec; ii) motivos que levaram à

realização do curso na modalidade Pronatec; iii) o papel da bolsa para frequentar o curso

regular de ensino médio; iv) relação dos conhecimentos aprendidos no ensino médio e os do

Pronatec; v) e percepções sobre a continuidade dos estudos (compõem o apêndice 01).

Este roteiro de questões foi disponibilizado no site www.brworks.com.br/pronatec/. Os

21 estudantes dos segundos e terceiros anos do período matutino inicialmente foram

convidados a dirigir-se ao laboratório de informática localizado nas dependências internas da

Escola de Educação Básica Governador Lacerda, receberam as boas vindas da pesquisadora e,

em seguida, foram orientados a acessarem o link com as questões a serem respondidas. Na

sequência foi entabulado um diálogo com os alunos (tendo como base o roteiro de questões

disponíveis no site). Após este diálogo que focalizou cada uma das categorias os próprios

sujeitos presentes registraram as suas repostas aos questionamentos. Para finalizar as

respostas foram salvas e encaminhadas via e-mail ([email protected]) para a

pesquisadora. Os dados coletados estão disponibilizados em gráficos neste capítulo.

Durante o diálogo percebi que os sujeitos foram bem receptivos, inclusive relatando

em alguns momentos um comparativo dos conhecimentos obtidos nos diferentes

estabelecimentos de ensino, delataram a falta de tempo para atividades extraescolares e

mencionaram o cansaço/sono em alguns períodos. Também confirmaram que estão felizes em

poderem estar estudando no contra turno.

A pesquisa realizada pode ser entendida como um processo de pesquisa exploratória,

com base num diálogo com um grupo de alunos, utilizando um roteiro semiestruturado que

usou também como apoio um questionário objetivo.

61

5.2.1. Análise das respostas apresentadas nos questionários

Os gráficos apresentados representam as respostas dos estudantes ao questionário (que

norteou o diálogo) respondido no momento em que a pesquisadora e sujeitos da pesquisa

dialogavam. Em paralelo segue análise das respostas.

5.2.1.1. Dados de identificação dos estudantes:

Dos vinte e um alunos envolvidos na pesquisa, 90,4% dos estudantes que frequentam

concomitantemente Pronatec e Ensino Médio são da zona urbana e apenas 9,5% residem na

zona rural. Destes 57,1% são mulheres e 42,8% homens.

Figura 6: Localização da moradia (zona urbana/rural).

Fonte: Autora (2014).

Figura 7: Gênero dos estudantes entrevistados

Fonte: Autora (2014).

Os sujeitos pesquisados constituem-se em grande maioria como residentes na zona

urbana pela própria localização da escola e possivelmente também por frequentarem o curso

durante o dia. A escola Govenador Lacerda somente oferta matrícula na modalidade diurna,

prejudicando assim a frequência de um maior número de jovens que residem na zona rural,

62

que, quando estudam, optam por cursar o ensino médio no período noturno, pela necessidade

de ajudar os pais na lavoura durante o dia.

Destaca-se também, um maior número de jovens do sexo feminino entre os estudantes

pesquisado (Figura 7), resultado semelhante ao que ocorre no cenário nacional, conforme se

observa na tabela a seguir:

Tabela 2: Taxa de frequência à escola da população de 15 a 17 anos por gênero - Brasil 2004

e 2012

Ano Total Feminino Masculino

2004 81,9 82,5 81,3

2012 84,2 84,7 83,6

Fonte: MEC/Inep/Deed, apud, Relatório Educação para Todos no Brasil 2000-2015, p. 54.

Segundo dados do Relatório Educação para Todos no Brasil 2000-2015 o maior

percentual de pessoas de 12 a 16 anos que participam da formação de ensino fundamental

anos iniciais e anos finais são do sexo feminino. No que se refere à taxa de frequência à escola da

população de 15 a 17 anos os dados sobre gênero apontam diferença pouco significativa apresentando,

no entanto, maior número de estudantes do sexo feminino.

5.2.1.2. Satisfação ou não com relação à frequência aos cursos do Pronatec

Quando os estudantes foram inquiridos em relação à Satisfação ou não com a

Frequência aos Cursos do Pronatec, 100% das respostas indicaram satisfação.

A satisfação com a frequência aqui apresentada se extrai das respostas dos pesquisados

eis que responderam gostar de ir as aulas, participar das aulas é algo normal/tranquilo e a

“prática” ofertada no curso a qual frequentam satisfaz suas expectativas.

Dados ainda tímidos e regionalizados apontam grau de satisfação considerável com os

cursos na modalidade Pronatec, cita-se a título de exemplo a conclusão apesentada pela

pesquisa/ estudo da Qualidade em Cursos do programa na instituição de ensino Senac

(Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) na unidade Santana do Livramento/RS

(STANISLAW, et al, 2014), ratificando a percepção positiva dos alunos do programa em

relação à qualidade dos cursos prestados pela instituição.

63

[...] A avaliação dos serviços prestados foi positiva, de modo que os alunos

demonstram-se satisfeitos com a qualidade oferecida. Os alunos reconhecem ainda

que as disciplinas dos cursos são validas e que os professores que ministram as aulas

possuem capacitação e qualificação para as funções que desempenham [...]

(STANISLAW, et al. p. 8).

Em que pese o Pronatec ser um programa recente, pesquisas revelam um grau de

satisfação por parte dos estudantes, por estarem apropriando-se de conhecimentos que

associam à teoria a prática e/ou porque percebem determinado grau de utilidade nos cursos

que frequentam.

5.2.1.3. Motivos que o Levaram a Realizar Cursos na Modalidade Pronatec

Já em relação aos motivos que levaram os estudantes a realizar cursos na modalidade

Pronatec, os dados informam que 57,1% dizem frequentar por influência dos pais, 33,3% por

conta própria e os outros 9,5% por influência de amigos (Figura 8).

Figura 8: Motivos que o Levaram a Realizar Cursos na Modalidade Pronatec

Fonte: Autora (2014).

A amostra dos dados apresentados no questionário reflete a circunstância em que o

jovem/adolescente encontra-se inserido, famílias em que os pais estão presentes, comentam,

ratificam a sua própria profissão, influenciam direta ou indiretamente a escolha dos filhos, ou

então, desencadeiam confiança, percepções para que estes realizem suas próprias escolhas.

Mesmo assim, estando os genitores mais ausentes ou não, a influência de amigos é

particularmente presente entre os estudantes. Estudos apontam:

[...] A história familiar é o ponto de partida para a constituição dos conceitos que os

jovens têm de si mesmos, assim como para a compreensão das suas aptidões. As

64

escolhas vivenciadas se dão a partir de modelos familiares, que também acabam

influenciando no juízo de valores do sujeito acerca das profissões [...].

(LUCCHIARI, 1997, apud SANTOS, 2005, p. 59).

Adolescência legalmente falando compreende o período entre os 12 e 18 anos,

incompleto (BRASIL, 2010), fase onde a pessoa está deixando de ser criança, porém ainda

não é um adulto, período de relevante metamorfose biológica, da necessidade de

autoafirmação, de ser admirado/reconhecido pela família/grupo social em que vivem. É

também o momento de escolhas/direcionamento profissional. Essas necessidades além de

desencadear consequências específicas, de certo modo refletem o contexto social em que o

jovem/adolescente está inserido (SANTOS, 2005).

5.2.1.4. O Papel da Bolsa/auxílio para a Continuidade de Cada Estudante do Pronatec para dar

Continuidade, de Forma Concomitante, ao Curso Regular de Ensino Médio

Já em relação ao questionamento sobre o papel da bolsa/auxílio para a continuidade de

cada estudante do Pronatec para dar continuidade, de forma concomitante, ao curso regular de

Ensino Médio, as respostas indicaram que 9,5% frequentam o Pronatec pela contrapartida da

remuneração recebida; 9,5% preferiram não responder a esta questão; enquanto que 80,9%

não consideraram a bolsa como fator mais significativo para continuar também a frequentar o

ensino médio (Figura 9).

Figura 9: O Papel da Bolsa/auxílio para a Continuidade de Cada Estudante do Pronatec para dar

Continuidade, de Forma Concomitante, ao Curso Regular de Ensino Médio

Fonte: Autora (2014).

Em que pese uma parcela considerável (maioria) de estudantes terem respondido

frequentarem o curso na modalidade Pronatec, não pela bolsa que recebem, mas por

65

desejarem orientação profissional, ainda assim, cabe considerar que a bolsa, que não significa

muito dinheiro, apenas uma pequena ajuda e a gratuidade para realização do curso no SENAI

como se escola pública fosse, são indicativos relevantes no cenário de oportunidades

educacionais e consequentemente de dignidade humana.

É fato que há jovens que necessitam da bolsa para a continuidade dos estudos (cursar

o ensino médio regular), situação que se arrasta e que afeta várias gerações. O Brasil tem uma

dívida histórica com parcela da população, herança de um período em que o ser humano era

visto/tratado como “coisa”, onde amparado por lei outro humano poderia dispor do seu corpo

e de sua força de trabalho da forma que melhor lhe conviesse. Após a proibição legal desse

tratamento, essa população passou a ter no discurso tratamento humanitário, no entanto,

desprovidos de qualquer condição financeira razoável para participar/competir na busca de

oportunidades, portanto, a bolsa ofertada pode ser uma maneira de ajudar a reparar tais danos,

de proporcionar oportunidade de prosseguir nos estudos e realizar escolhas profissionais. A

isonomia, no entanto, permanece como utopia. A igualdade desejada, princípio constitucional

desde 1988, não corresponde à realidade, pois, o ponto de partida na busca de oportunidades é

ainda acentuadamente desigual.

5.2.1.5. Relação dos conhecimentos aprendidos no Ensino Médio e os do Pronatec

Analisando as respostas dispostas sobre a relação dos conhecimentos aprendidos no

Ensino Médio e os do Pronatec, 33,3% dos estudantes assinalaram que em regra há relação

entre os conhecimentos aprendidos, já 66,6% negam a existência desta relação (Figura 10).

Figura 10: Relação dos conhecimentos aprendidos no Ensino Médio e os do Pronatec

Fonte: Autora (2014).

66

As respostas dispostas sobre a relação dos conhecimentos aprendidos no Ensino

Médio e os do Pronatec, na qual a maioria dos estudantes (66,6%) nega a existência de

relação entre os conhecimentos ofertados e parcela de estudantes (33,3%) respondeu que há

relação (figura 10), requer uma análise peculiar e mais aprofundada. Vislumbra-se desse

cenário a fragilidade da pergunta apresentada no questionário, dando margem à simplificação,

à apresentação de uma resposta imediatista, desarticulada do contexto complexo em que o

próprio cenário se apresenta em que a formação dos cursos do Pronatec tem uma base

profissionalizante/prática enquanto que o ensino médio regular oferta conhecimento em regra

de cunho propedêutico, formação geral e conceitual. A relação entre a teoria e a prática não é

uma relação linear e que possa ser imediatamente visível.

A educação profissional é definida no Plano Nacional de Educação (PNE), aprovado

pela Lei nº 10.172 (Brasil, 2001) como uma modalidade de ensino paralelo ao ensino regular,

abarca três níveis distintos: básico, técnico e tecnológico. Portanto, tecnicamente observando,

o ensino médio e os cursos profissionalizantes são desvinculados legalmente e a base de

formação de cada categoria é distinta, não sendo possível articular/ associar em sua plenitude

(resposta apresentada pela maioria dos entrevistados) os conhecimentos apreendidos nas

diferentes esferas educacionais.

5.2.1.6. Percepções sobre a Continuidade dos Estudos

De acordo com as repostas dos sujeitos pesquisados todos eles (100%) manifestaram

desejo em continuar estudando, também revelaram unanimemente que pretendem fazer um

curso superior e não outro curso profissionalizante.

Unanimidade de sujeitos acalenta o desejo de continuar seus estudos ingressando em

um curso superior, dado otimista que, no entanto, não corresponde à realidade brasileira. O

acesso ao ensino superior não atinge a todos, o que é evidenciado pelos dados estatísticos que

esclarecem:

Mais de 49% da população adulta (25 anos ou mais) não completaram o curso

fundamental, segundo o Censo 2010 divulgado [...] pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística. No outro extremo, estão apenas 11,3% que têm curso

superior completo. [...]. O nível de instrução cresce na população mais jovem. No

País, 49,3% dos adultos de 25 anos ou mais não têm fundamental completo e apenas

11,3% concluíram o curso superior. Na faixa de 25 a 29 anos, a proporção dos que

67

não têm ensino fundamental completo cai para 28,2% e o superior completo sobe

para 13%. Entre os alunos que estão na universidade, 10,3% já têm o curso superior

completo e fazem outra faculdade. Trinta por cento dos estudantes de nível superior

com 40 anos ou mais já têm outro curso completo e fazem uma nova faculdade

(LEAL, 2012).

Também cabe considerar que este resultado (100% dos pesquisados desejando

prosseguir com os estudos, ingressado em um curso superior) aparentemente simplista, revela

uma realidade: é o ensino superior que propicia no nosso país uma possibilidade de melhores

salários e de reconhecimento social. Segundo Sparta e Gomes (2005) muitos estudantes

vislumbram como única alternativa após a conclusão do ensino médio o acesso a

universidade, assim, forçando o direcionando da formação exclusivamente para prestar o

vestibular, chegando a descaracterizar a formação integral, papel fundamental de formação no

ensino médio.

De acordo com a atual lei de diretrizes e bases da educação (Brasil, 1996), o ensino

médio permite o ingresso no ensino superior, mas não tem como objetivo a

preparação para o concurso vestibular, e sim o desenvolvimento global do educando

e a preparação básica para o trabalho e a cidadania. A educação profissional de nível

médio (cursos técnicos) não pode mais substituir o ensino médio regular, tendo-se

transformado em uma forma de educação continuada [...] O desejo do jovem

brasileiro de ingressar na educação superior não é, em princípio, um problema, [...]. (SPARTA e GOMES, 2005, p. 47).

Portanto, desconstruir esse entendimento consolidado pelo senso comum, de que o

ensino médio tem como objetivo a preparação para o vestibular permanece ainda como um

desafio para os educadores.

Concluindo este item 05, pode-se indicar, que o Pronatec, na visão dos estudantes

pesquisados é visto com perspectivas positivas, o que por si só, pode estar influenciando na

sua permanência no ensino médio regular – receber ao mesmo tempo uma possibilidade de

profissionalização. Não é, portanto, necessariamente a bolsa de estudo que auferem por

estarem frequentando cursos ofertados na modalidade Pronatec que os seguram na escola

média regular.

Todavia, não cabe a um estudo com poucos estudantes, e com base apenas nas

representações destes, afirmar que a mediação (objetivo da norma) vem sendo concretizada.

Que o fato de estarem frequentando cursos do Pronatec (com preparação, conhecimento

técnico para atuar no mercado de trabalho) recebendo a bolsa de estudo em contrapartida,

68

permite-lhes a permanência/conclusão do Ensino Médio Regular no qual o ensino é/deveria

ser abrangente, analítico, crítico, vindo ao encontro de uma formação mais próxima do que

afirmou Saviani (2003) sobre conhecimento politécnico.

Contudo, embora fragmentado em dois cursos, duas matrículas, sua realização

concomitante, independente do que representam os estudantes, permite certa articulação entre

o manual e intelectual, desencadeando uma formação pelo menos mais próxima da integral,

que vai além de saber fazer, e que dá pistas para a compreensão do seu funcionamento.

A conclusão do ensino médio poderá aumentar ao longo dos anos se inserida a

oportunidade de alguma formação profissional ao longo do seu percurso, dada a situação de

classe economicamente desfavorecida da maioria dos alunos que frequentam a escola básica

pública. Com esta conjugação possibilitada pelo Pronatec hoje, maior número de estudantes

tem condições de realizar o ensino médio regular, desencadeando assim um entrelaçamento

entre a norma constitucional e a prática a qual prevê que é dever do Estado garantir educação

básica gratuita dos 04 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua

oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.

Mas sabemos também que isto deveria ser uma situação transitória, ainda distante do

ideal, de uma escola pública de educação básica de qualidade para todos, que preze pelo

princípio da isonomia em todos os aspectos. O trabalho como princípio educativo e a

concepção de politecnia nos permitem visualizar uma situação na qual a escola não se

distancia da vida e da necessidade de sobrevivência de cada um, porém, dando a todos igual

oportunidade de crescimento nas tarefas profissionais, o que depende em grande parte de uma

formação básica sólida.

69

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações que concluem este estudo, expostas a seguir, não têm pretensões

dogmáticas, acabadas, há que considerarmos que representam apenas um modesto recorte na

análise do Pronatec.

Em relação à abordagem que norteou o estudo realizado sobre o Pronatec, recente

programa nacional da educação profissional no país e que focalizou numa abordagem

empírica a mediação que este programa representa para os estudantes de Ensino Médio

completar sua formação, destacamos alguns pontos:

Inicialmente foram explorados aportes teóricos concernentes à natureza do trabalho,

sua evolução histórica e suas relações com a escolarização básica em diversos momentos da

história educacional brasileira. Ao longo deste processo sempre esteve presente uma

extraordinária dualidade acompanhando o desenvolvimento de uma sociedade vinculada ao

modo de produção capitalista, na qual o trabalho intelectual e o trabalho manual

tendencialmente se mantiveram polarizados, e quase determinados pela classe social de

origem dos cidadãos. O que ocorreu nas escolas e nos sistemas de ensino no Brasil

evidentemente não resultou de uma questão unicamente educacional, e sim socialmente

determinada. Mudanças ocorreram ao longo da trajetória econômica no país, principalmente

por obra da sua industrialização. Aos poucos a isonomia escolar avançou na etapa inicial da

escola fundamental, ficando para o ensino médio configurar-se como o momento crucial da

dualidade.

Na abordagem dos aspectos históricos as reflexões apresentadas permitiram verificar

que a metamorfose do processo educacional bem como do trabalho é constante. No entanto,

há questões que, embora precisem contar com mudanças nos sistemas escolares e na sua

organização, não dependem apenas delas. Na prática, aplicado ao Ensino Médio, o dualismo

educacional (educação para o comando ou então educação/formação operacional, treinado

para fazer), se concretiza quando a oferta da formação ignora a isonomia e possibilita às

classes menos privilegiadas formação de cunho meramente técnico, sem preocupação com a

sua formação para a compreensão mais ampla do processo de trabalho, que envolve ciência,

cultura e tecnologia entre outros aspectos. Já as classes mais privilegiadas têm a possibilidade

de formação mais geral, analítica, que lhes permite melhores empregos e consequentemente

melhores condições financeiras.

70

A investigação realizada permitiu-nos visualizar o protagonismo do Sistema “S” no

contexto do ensino profissionalizante brasileiro (instituição que existe paralelamente desde o

início do processo de industrialização do Brasil), mostrando o quanto seu desempenho, desde

sua origem, esteve relacionado, sobretudo à esfera privada, do empresariado. Isso não

significa que em determinados momentos e objetivos tal protagonismo não tenha se articulado

aos objetivos da esfera pública, por meio de parcerias como a que se desenvolve hoje

decorrente da Lei 12.513/11. Esta é uma discussão complexa que envolve as relações do

público e do privado no país, e que tem a sua definição por ora, na Constituição Federal que

permite parcerias e encaminhamento de verbas públicas para atividades vinculadas às

instituições de fórum privado.

A possibilidade de mediação que o Pronatec vem ofertando aos estudantes para que

estes permaneçam e concluam o ensino médio pode tratar-se de uma iniciativa positiva. Eis

que, em paralelo a esta formação geral (ensino médio), o curso técnico profissionalizante,

além do auxílio que propicia com o pagamento de uma modesta bolsa de estudos, significa

uma possibilidade de preparação para um emprego no mundo do trabalho.

Na intenção de minimizar o problema da alta evasão do Ensino Médio, a iniciativa

ofertada pelo Pronatec às vistas de quem é beneficiário do programa parece positiva. Em que

pese que apenas uma minoria dos estudantes sujeitos envolvidos no estudo que realizamos

terem afirmado que dependem da bolsa que auferem para cursar o ensino médio, ainda assim

é relevante o dado, pois demonstra que existe uma parcela da população brasileira que vive

abaixo da margem da pobreza e cuja sobrevivência tem numa bolsa mensal média de R$

160,00 um importante auxílio não só para as necessidades básicas como para poder concluir o

ensino médio regular. Portanto, a mediação de certa forma está ocorrendo, eis que a parcela

da população menos privilegiada economicamente recebe uma ajuda financeira do Estado

subsidiando e facilitando sua permanência/conclusão do Ensino Médio Regular. Na

contramão desse discurso concluímos também que o modelo de Estado vigente (pós-

neoliberal) oferta os cursos na modalidade Pronatec (gratuitos) com o interesse de formar

mão-de-obra um pouco melhor qualificada para operar nas indústrias e no comércio em geral,

servindo de sustentação para o modelo capitalista vigente.

Assim, em suma acreditamos que a iniciativa do governo em ofertar a gratuidade

para os estudantes de cursos técnicos com matrícula no Ensino Médio é positiva num

71

momento de transitoriedade para a possibilidade ainda distante de uma efetiva formação

politécnica dos seus jovens. É um passo importante no sentido de contribuir com uma

formação básica a todos.

Arriscamo-nos a afirmar que o ensino politécnico em sua plenitude ainda é uma

utopia, pois se de um lado temos a escola regular ofertando ensino propedêutico, esta deixa a

desejar no quesito qualidade, na articulação da teoria com a prática, na formação crítica dos

educandos. Por outro lado, o ensino que percebem nos cursos na modalidade Pronatec são

currículos fechados, preparam para operar, para fazer, afastando-se do que propõe Saviani e

do entendimento ao qual nos filiamos de que politecnia consiste em compreender a

articulação entre o trabalho manual e intelectual de forma plena, conhecendo o processo todo,

sua essência. Assim a formação contribuirá para o desenvolvimento de um trabalhador

consciente do seu trabalho, protagonista do processo no qual está inserido, e não apenas

treinado/adestrado para atividades repetitivas, sem autonomia.

Na “contramão” das afirmações anteriormente dispostas (nas quais o Pronatec, às

vistas de quem é beneficiado é um programa positivo), também, há que considerarmos que a

iniciativa do Estado em ofertar cursos na modalidade Pronatec não é de toda desinteressada,

pois visa atender organismos internacionais e principalmente ajustar-se ao modelo capitalista

que tem interesses em mão de obra com diferentes níveis de qualificação e população

consumidora acima de tudo, não necessariamente crítica a este consumo. Portanto, estamos

ainda à distância de um modelo de educação crescentemente desalienada, preocupada com o

meio ambiente e a justiça social.

Encerramos o presente trabalho com uma preocupação e frustração inevitável, pois,

houve ainda que momentaneamente (primeiro semestre de 2015) a título de contenção de

gastos a “interrupção” do pagamento das bolsas para os estudantes matriculados em cursos do

Pronatec (Sistema “S”, SENAI/SC), gerando uma descontinuidade da proposta original no

que se refere à facilitação para os estudantes concluírem o ensino médio regular.

O presente estudo nos permitiu evidenciar que o ensino profissional no Brasil carece

não só de planejamento, recursos, mas de uma concepção mais unificada que permita o seu

desenvolvimento a favor de todos os trabalhadores.

Findamos, considerando que é relevante que outros estudos sejam desenvolvidos no

acompanhamento do programa Pronatec para que o mesmo efetivamente possa representar um

72

passo em frente à escolarização de todos, especialmente daqueles que são considerados

trabalhadores manuais, para que esta dicotomia entre o manual e o intelectual vá se dissipando

cada vez mais. Como nos ensinou Gramsci (1982), todo homem é um intelectual, pois todo

homem pensa. São as relações sociais que hierarquizam o trabalho, dando a determinados

trabalhos maior valorização do que a outros.

73

7. REFERÊNCIAS

ALCANTARA, Alcides de. A entidade SENAI. Rio de Janeiro: SENAI/DN/DT, 1991.

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil de 1937. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao37.htm. Acesso em 01 de ago.

2014.

______. DECRETO-LEI Nº 4.048, DE 22 DE JANEIRO DE 1942. Cria o Serviço

Nacional de Aprendizagem dos Industriários (SENAI). Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Decreto-Lei/1937-1946/Del4048.htm. Acesso em 23 de

jul. 2014.

______. DECRETO-LEI Nº 4.984, DE 21 DE NOVEMBRO DE 1942. Dispõe sobre a

aprendizagem nos estabelecimentos industriais da União, dos Estados, do Distrito Federal e

dos Municípios. Disponível em: http://www2.camara.leg.br/legin/fed/declei/1940-

1949/decreto-lei-4984-21-novembro-1942-415010-publicacaooriginal-1-pe.html. Acesso em

23 de jul. 2014.

______. Lei Nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação

Nacional. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4024.htm. Acesso em 23

de jul. 2014.

______. LEI Nº 5.692, DE 11 DE AGOSTO DE 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino

de 1° e 2º graus, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L5692.htm. Acesso em 23 de jul. 2014.

______. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF, 1988.

Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso

em 23 de jul. 2014.

______. LEI Nº 8.069/90. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras

providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/leis/L8069.htm. Acesso

em: 14/07/1990.

______. Lei Nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf. Acesso em 23 de jul.

2014.

______. DECRETO Nº 2.208 DE 17 DE ABRIL DE 1997. Regulamenta o §2º do art. 36 e

os artigos 39 a 42 da Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e

bases da educação nacional. Disponível em:

http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/dec2208.pdf. Acesso em 23 de jul. 2014.

______. DECRETO Nº 5.154 DE 23 DE JULHO DE 2004. Regulamenta o § 2º do art. 36 e

os arts. 39 a 41 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e

74

bases da educação nacional, e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5154.htm. Acesso em

23 de jul. 2014.

______. EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 59, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2009.

Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias para reduzir,

anualmente, a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas da

União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino de

que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art. 208, de

forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência

dos programas suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao §

4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de

inciso VI. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/

emc59.htm. Acesso em: 23 de jul. de 2014.

______. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

Anísio Teixeira - INEP, Matrículas no ensino superior crescem 3,8%. Censo da Educação

Superior, 2014. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/visualizar/-

/asset_publisher/6AhJ/content/matriculas-no-ensino-superior-crescem-3-8. Acessado em:

22/04/2015.

______. LEI Nº 12.513, DE 26 DE OUTUBRO DE 2011. Institui o Programa Nacional de

Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec); altera as Leis no 7.998, de 11 de janeiro de

1990, que regula o Programa do Seguro-Desemprego, o Abono Salarial e institui o Fundo de

Amparo ao Trabalhador (FAT), no 8.212, de 24 de julho de 1991, que dispõe sobre a

organização da Seguridade Social e institui Plano de Custeio, no 10.260, de 12 de julho de

2001, que dispõe sobre o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior, e no

11.129, de 30 de junho de 2005, que institui o Programa Nacional de Inclusão de Jovens

(ProJovem); e dá outras providências. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2011/Lei/L12513.htm. Acesso em 23

de jul. 2014.

______. Relatório Educação para Todos no Brasil 2000-2015. Disponível em:

https://www.google.com.br/#q=situa%C3%A7%C3%A3o+educacional+brasileira+ensino+m

%C3%A9dio+feminino+masculino+ibge+2010. Acessado em: 20/042010.

CAMARGOS, Filipe Pêgo. Conjuntura histórica da fundação do SENAI e educação

profissional no Brasil. Iniciação Científica, Curitiba, n. 3, 2011.

CANALI, Heloisa Helena Barbosa. A trajetória da educação profissional no Brasil e os

desafios da construção de um ensino médio integrado à educação profissional.

Universidade Federal do Pará. Disponível em:

http://www.portal.fae.ufmg.br/simposionete_old2/sites/default/files/CANALI,Heloisa.pdf.

CARVALHO, Gian Alves. Por uma crítica ao capital humano: utopia e distopias na

formação dos jovens estudantes de Ensino Médio na Grande Florianópolis. Tese de

Doutorado, UFSC, Florianópolis/SC, 2012.

75

CASSIOLATTO, Maria Martha M.C.; Garcia, Ronaldo Coutinho. PRONATEC:

MÚLTIPLOS ARRANJOS E AÇÕES PARA AMPLIAR O ACESSO À EDUCAÇÃO

PROFISSIONAL. Texto para discussão 1919 / Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. -

Brasília: Rio de Janeiro: IPEA, 2014. Disponível em:

http://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/2406/1/TD_1919.pdf. Acesso em: 02/09/2014.

______. O choque teórico da Politecnia. Trabalho, Educação e Saúde, p. 131-152, 2003.

CIAVATA, Maria; RAMOS Marise. Ensino Médio e Educação Profissional no Brasil

Dualidade e fragmentação. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 5, n. 8, p. 27-41, jan./jun.

2011. Disponível em: <http//www.esforce.org.br. Acesso em: 07/09/2014.

CIEGLINSKI, Amanda. Em avaliação Governo federal lança o Pronatec como uma das

respostas à crise do ensino secundário; educadores discutem se programa é capaz de

melhorar a qualidade de ensino. Revista Educação. Agosto/2011. Disponível em:

http://revistaeducacao.uol.com.br/textos/170/artigo234960-1.asp.

CURY, Carlos R. Jamil. Educação e Contradição. 6ª ed., São Paulo: Cortez, 1995.

DUARTE, Cléber. Sociologia a melhor matéria. Disponível em:

http://sociologiamelhormateria.blogspot.com.br. Acessado em: 15/05/2014.

ESTACHESKI, Joice; Oliveira, Rita de Cássia da Silva. Educação profissional a partir dos

cadernos do cárcere: em busca da compreensão. IX ANPED SUL, Seminário de Pesquisa

em 2012.

GRAMSCI. Antônio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Tradução de Carlos

Nelson Coutinho. 4.a edição, 1982. Disponível em:

https://www.google.com.br/search?rls=org.mozilla:en-US:official&client=firefox-

a&q=Ver+Os+intelectuais+e+a+organiza%C3%A7%C3%A3o+da+Cultura%29&gfe_r

d=cr&ei=VTs1VYfhMauX8QfbnYC4DQ&gws_rd=ssl. Acessado em: 20/04/2015.

HISTÓRIA. Publicado no site: OIT - Organização Internacional do Trabalho - Escritório

no Brasil. Disponível em: Disponível em:

http://www.oitbrasil.org.br/content/hist%C3%B3ria. Acesso em: 02/08/2014).

IPEA. Petróleo: da crise aos carros flex. Ano 7. Edição 59. 2010. Disponível em:

http://www.ipea.gov.br/desafios/index.php?option=com_content&view=article&id=2321:cati

d=28&Itemid=23. Acessado em: 15/03/2015.

JANH, Felipe. O Ensino Médio e seus Caminhos. Revista Educação, p.28-41. Mai/211.

KUENZER, Acácia (org.). Ensino médio: Construindo uma proposta para os que vivem

do trabalho. 5ª ed. S. Paulo: Cortez, 2007.

76

KUNZER, Acácia Zeneida e GRABOWSKI, Gabriel. Educação Profissional: desafios para

a construção de um projeto para os que vivem do trabalho. Florianópolis. V,24. P. 297-

318, jan/jun. 2006. http://perspectiva.ufsc.br

JESUS, Antônio Tavares de. O Pensamento e a Prática Escolar de Gramsci. 2ª ed.

Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

LEAL, Luciana Nunes. Só 11,3% da população brasileira adulta têm faculdade, diz

IBGE. Postado em 19 de dezembro de 2012. Disponível em:

http://www.estadao.com.br/noticias/geral,so-11-3-da-populacao-adulta-tem-faculdade-diz-

ibge,975640. Acessado em: 27/05/2015.

LOPES, Eliane Marta Teixeira, FILHO, Luciano Mendes de Faria e VEIGA, Cynthia Greive.

500 anos de educação no Brasil. 3ª ed., Belo Horizonte; Autêntica, 2003.

MARTINS, Marcos Francisco. Ensino Técnico e Globalização: cidadania ou submissão?

Campinas, SP; Autores Associados, 2000.

MARTINS, Francisco Martins e GROPPO, Luís Antônio. Sociedade Civil e educação:

fundamentos e tramas. Campinas, SP: Autores Associados; Americana, SP: Unisal, 2010.

MATOS, Mateus Bassani de e BUFFON, Marciano. Da crise do Estado Social ao Pós-

Neoliberalismo: uma breve história entre dois séculos. Publicado em: EOS – Revista

Jurídica da Faculdade de Direito/Faculdade Dom Bosco. Núcleo de Pesquisa do Curso de

Direito. – V.V Nº 10 – ANO V (jul./dez. 2011) – Curitiba: Dom Bosco, 2007. P. 63-84.

Disponível em:

http://www.dombosco.sebsa.com.br/faculdade/revista_direito/10edicao/index.php. Acessado

em: 12/02/2015.

MAXIMO, Antonio Carlos. Os Intelectuais e a Educação das Massas. Campinas, SP:

Autores Associados, 2000.

MOHR, Naira estela Roesler e VENDRAMIN, Célia Regina. A formação técnico-

profissional no contexto do MST. Revista Educação, Santa Maria, v.33, nº 1, p. 107-126,

jan./abr. 2008. Disponível em: http://www.ufsm.br/ce/revista.

MOURA, Dante Henrique. Educação Básica e Educação Profissional e Tecnológica:

Dualidade Histórica e Perspectivas de Integração. Holos, Ano 23, Vol. 2 – 2007.

http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/11/110. Acesso em:

27/07/2014.

PARO, Vitor Henrique. Capítulo III: Transformação social e educação escolar. In:

Administração escolar: introdução crítica. 17. ed. rev. e ampl. São Paulo: Cortez, 2012.

PINTO, Tales dos Santos. Revolução Industrial e início do capitalismo. Disponível em:

http://www.mundoeducacao.com/historiageral/revolucao-industrial.htm. Acessado em:

11/04/2014.

77

PONCE, Aníbal. Educação e luta de Classes. 6ª ed. São Paulo: Cortez Editora: Autores

Associados, 1986.

PRONATEC: Inscrições Pronatec 2015. Disponível em:

http://www.pronatec2015.org/inscricoes-pronatec-2015/. Acessado em: 14/03/1015.

______. Objetivos e iniciativas. Disponível em: http://pronatec.mec.gov.br/institucional-

90037/objetivos-e-iniciativas. Acessado em 09/08/2014

SALDANHA, Letícia de Luca Wollmann. O Pronatec e a Relação Ensino Médio e

Educação Profissional. IX ANPED SUL Seminário de Pesquisa em Educação da Região Sul,

UFPR. 2012. Acesso em:

http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/1713/141.

Acessado em: 28/07/2014.

SAVIANI, Dermeval. Trabalho e educação: fundamentos ontológicos e históricos. Revista

Brasileira de Educação. v.12 n.34, p.152-180. jan/abril.2007.

______. O Choque Teórico da Politecnia. Trabalho, Educação e Saúde, 1: 131-152, 2003.

______. Sobre a natureza e especificidade da educação. In: Pedagogia histórico-crítica;

primeiras aproximações. 11. ed. rev. Campinas: Autores Associados, 2011. p.11-20.

______. História das Ideias Pedagógicas no Brasil. 3ª ed. rev. Campinas, SP: Autores

Associados, 2011.

SANTOS, Larissa Medeiros Marinho dos. O PAPEL DA FAMÍLIA E DOS PARES NA

ESCOLHA PROFISSIONAL. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 10, n. 1, p. 57-66,

jan./abr. 2005. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v10n1/v10n1a07.pdf. Acessado

em: 21/04/2015.

SCHMIDT, Mario Furley. Nova História Crítica. 2ª ed. ver. e atual. São Paulo: Nova

Geração, 2002.

SEGNINI, Liliana Rolfsen Petrilli. Educação e Trabalho uma Relação tão Necessária

Quanto Insuficiente. São Paulo Perspec. vol.14 no.2 São Paulo Apr./June 2000.

SHIROMA, Eneida Oto; CAMPOS, Roselane Fátima; GARCIA, Rosalba Maria Cardoso.

Decifrar textos para compreender a política: subsídios teórico-metodológicos para

análise de documentos. Perspectiva. Florianópolis, v. 23, n. 02, p.427-446, jul/dez.2005.

SILVA, Uaci Edivaldo Matias da. O SENAI. Série Formação de Formadores. 1999.

SPARTA, Mônica e GOMES, William Barbosa. Importância atribuída ao ingresso na

educação superior por alunos do ensino médio. Universidade Federal do Rio Grande do

78

Sul, Porto Alegre. Rev. bras. orientac. prof v.6 n.2 São Paulo dez. 2005. Disponível em:

http://www.ufrgs.br/museupsi/lafec/16.pdf. Acessado em: 22/04/2015.

STANISLAW, et al. A QUALIDADE DO PRONATEC SOB A ÓTICA DOS ALUNOS.

Convibra 2014. WWW.CONVIBRA.ORG. BUSINESS CONGRESS. Disponível em:

http://www.convibra.org/upload/paper/2014/32/2014_32_10555.pdf. Acessado: 21/04/2015.

TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o Ensino Médio. 2 ed. São Paulo: Saraiva 2010. p.

37-64.

TRIVIÑOS, Augusto N.S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa

qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987.

VILVERT, Juliane da Costa Melo. PRONATEC/BSM: Reflexões Sobre a Relação

Trabalho e Assistência Social. TCC. UFSC, 2013.

79

APÊNDICE 01 – Roteiro mínimo de questões para entrevistas

Dados de Identificação:

Nome:

Idade:

Gênero: Masculino ou Feminino

Localização da moradia – Zona Rural ou Urbana:

Número de Membros que compõem a família:

Profissão dos Pais

Nível de escolarização dos pais

ROTEIRO MÍNIMO DE QUESTÕES PARA ENTREVISTAS

CATEGORIAS:

1. Satisfação ou não com a Frequência aos Cursos do Pronatec:

Você gosta de ir às aulas?

Frequentar o Ensino Médio e em paralelo as aulas do Curso Pronatec é algo normal/tranquilo

ou lhe traz desconforto?

A “prática” ofertada no curso satisfaz suas expectativas com o curso?

2. Motivos que Levaram a Realizar Cursos na Modalidade Pronatec:

Você decidiu sozinho frequentar o curso do Pronatec?

Sua família (pai, mãe, etc.,) colaborou na escolha do curso?

Você frequenta o curso por influencia de algum amigo?

Você frequenta o curso pela bolsa que recebe ou porque deseja prosseguir seus estudos na

área do curso técnico?

80

3. O Papel da Bolsa/auxílio para a Continuidade de Cada Estudante do Pronatec para

dar Continuidade, de Forma Concomitante, ao Curso Regular de Ensino Médio;

Você trabalha ou somente estuda?

Você recebe uma bolsa de estudo por estar frequentando o curso do Pronatec?

Essa bolsa que você recebe possibilita a permanência no Ensino Médio?

Você frequenta o curso porque deseja orientação profissional ou por que em contrapartida

recebe a bolsa?

4. Relação dos conhecimentos aprendidos no Ensino Médio e os do Pronatec:

Existe relação entre os conhecimentos obtidos, reflexões entabuladas nas diferentes

disciplinas do Ensino Médio e do Curso Técnico?

5. Percepções sobre a Continuidade dos Estudos:

Você pretende continuar estudando?

Pretende fazer outro curso profissionalizante ou fazer um curso superior?

Faria um curso superior na área do curso ofertado pelo Pronatec a qual está frequentando?