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XL ENCONTRO NACI ONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis” Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020. O Novo Negócio é Circular? análise sob a perspectiva da economia circular e empreendedorismo Edson Luis Kuzma (UNOESC) [email protected] Simone Sehnem (UNOESC) [email protected] Hilka Pelizza Vier Machado (UNOESC) [email protected] Lucila Maria de Souza Campos (UFSC) [email protected] A economia circular é um sistema regenerativo e restaurador que cria oportunidade econômica pela reinvenção dos modelos de negócios e aprimoramentos de processos e produtos. A lógica linear tradicional negligencia a agregação de valor pela utilidade do recurso e pela criação de negócios alinhados com premissas sustentáveis. Neste sentido, o objetivo deste artigo é explorar a relação entre economia circular e empreendedorismo, propor uma agenda de pesquisas futuras para avanço no campo e gerar implicações gerenciais sobre o tema. Desenvolveu-se uma revisão sistemática da literatura revisada por pares indexada nas bases de dados da Scopus, Web of Science, ScienceDirect, Emerald, Google Scholar, Wiley Online Library, Sage, Springer, Taylor and Francis e JSTOR. Os resultados apontam para: i) predominância da lógica causation no ambiente de mercado, ii) atenção voltada a criação de redes de relacionamento e de valor, iii) empreendedorismo direcionado a valorização, iv) foco em inovação na produção, desenvolvimento regional e exploração de falhas de mercado. Propõe-se uma agenda de pesquisa com 12 oportunidades de pesquisa a serem exploradas. A principal contribuição do estudo é consolidar o conhecimento no campo da economia circular e empreendedorismo, ainda pouco explorado. Os resultados fornecem base para gestores e tomadores de decisões quanto às possibilidades de ampliação de negócios e criação de novos modelos pautados na economia circular. Negócios criados em contexto inovador e alinhados aos princípios circulares apresentam potencial e diferencial competitivo, além de contribuírem efetivamente para o alcance da sustentabilidade nos negócios. Palavras-chave: economia circular, empreendedorismo, modelos de negócios circulares, comportamento empreendedor, sustentabilidade.

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  • XL ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”

    Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.

    O Novo Negócio é Circular? análise sob a

    perspectiva da economia circular e

    empreendedorismo

    Edson Luis Kuzma (UNOESC)

    [email protected]

    Simone Sehnem (UNOESC)

    [email protected]

    Hilka Pelizza Vier Machado (UNOESC)

    [email protected]

    Lucila Maria de Souza Campos (UFSC)

    [email protected]

    A economia circular é um sistema regenerativo e restaurador que cria

    oportunidade econômica pela reinvenção dos modelos de negócios e

    aprimoramentos de processos e produtos. A lógica linear tradicional

    negligencia a agregação de valor pela utilidade do recurso e pela

    criação de negócios alinhados com premissas sustentáveis. Neste

    sentido, o objetivo deste artigo é explorar a relação entre economia

    circular e empreendedorismo, propor uma agenda de pesquisas futuras

    para avanço no campo e gerar implicações gerenciais sobre o tema.

    Desenvolveu-se uma revisão sistemática da literatura revisada por

    pares indexada nas bases de dados da Scopus, Web of Science,

    ScienceDirect, Emerald, Google Scholar, Wiley Online Library, Sage,

    Springer, Taylor and Francis e JSTOR. Os resultados apontam para: i)

    predominância da lógica causation no ambiente de mercado, ii) atenção

    voltada a criação de redes de relacionamento e de valor, iii)

    empreendedorismo direcionado a valorização, iv) foco em inovação na

    produção, desenvolvimento regional e exploração de falhas de mercado.

    Propõe-se uma agenda de pesquisa com 12 oportunidades de pesquisa

    a serem exploradas. A principal contribuição do estudo é consolidar o

    conhecimento no campo da economia circular e empreendedorismo,

    ainda pouco explorado. Os resultados fornecem base para gestores e

    tomadores de decisões quanto às possibilidades de ampliação de

    negócios e criação de novos modelos pautados na economia circular.

    Negócios criados em contexto inovador e alinhados aos princípios

    circulares apresentam potencial e diferencial competitivo, além de

    contribuírem efetivamente para o alcance da sustentabilidade nos

    negócios.

    Palavras-chave: economia circular, empreendedorismo, modelos de

    negócios circulares, comportamento empreendedor, sustentabilidade.

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]

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    “Contribuições da Engenharia de Produção para a Gestão de Operações Energéticas Sustentáveis”

    Foz do Iguaçu, Paraná, Brasil, 20 a 23 de outubro de 2020.

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    1. Introdução

    A Economia Circular (EC) prioriza a modificação dos modelos de produção e de consumo

    tradicionais. A lógica linear de processamento focado em usar-dispor-descartar transita para

    sistemas circulares de produção e modelos diferenciados de negócios com objetivo de eliminar

    resíduos e desperdícios de material e energia (JULIANELLI et al., 2020). A transição do

    modelo linear de produção para a gradativa inserção da lógica circular implica e é condicionada

    pela adoção de tecnologia, o que leva à descentralização inteligente da produção, emprego de

    materiais reutilizáveis e extensão do tempo de vida dos produtos (KRAVCHENKO; PIGOSSO;

    MCALOONE, 2020). Nos últimos anos, start-ups foram criadas para atendimento de formas

    inovadoras de consumo. Isso possibilita a criação de categorias novas de mercado por meio de

    negócios inteiramente circulares (Franco & Rodrigues, 2020).

    No entanto, ainda existe um gap na literatura científica que está associado a compreensão de

    como as premissas da economia circular podem ser internalizadas pelo empreendedorismo

    sustentável. Muito embora haja estudo que sinalizem a aproximação dos constructos economia

    circular e empreendedorismo sustentável (BRENDZEL-SKOWERA, 2019; FLYGANSVÆR;

    DAHLSTROM; NYGAARD, 2019), essa aproximação dos conceitos é necessária e demanda

    maior aprofundamento de análise e reflexão de como pode ser feita, benefícios que pode gerar

    para a sociedade e avanços em prol da circularidade de recursos que pode proporcionar.

    Considerando a existência dessa lacuna teórica, este estudo contribui com uma abordagem de

    revisão sobre estudos de criação de negócios e de empreendedorismo, com atenção voltada à

    inserção e consolidação da economia circular como princípio e prática. Não se identificou na

    literatura outro estudo de revisão com esse escopo. É notável que o campo se encontra com

    direção difusa, o que viabiliza e oportuniza o desenvolvimento de uma revisão.

    O objetivo deste artigo é explorar a relação entre economia circular e empreendedorismo e

    propor uma agenda de pesquisas futuras para avanço no campo e gerar implicações gerenciais

    sobre o tema. Para exploração da temática, propõe-se a categorização dos estudos revisados a

    partir de conjuntos de dimensões descritivas e analíticas. Este estudo comporta contribuição

    teórica e gerencial ao analisar o panorama da produção científica sobre economia circular e

    empreendedorismo. O paralelo entre empreendedorismo sustentável e outros empreendedores

    focados na sustentabilidade, como no caso do empreendedorismo social, é diretamente

    associado a gestão das tensões geradas pelas várias formas de criação de valor (DEFOURNY;

    NYSSENS, 2012). Em termos de avanço científico, oportuniza-se que o campo obtenha maior

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    uniformidade e que perspectivas para pesquisas futuras sejam traçadas.

    2. Framework teórico

    O fechamento dos ciclos de produção abrange aspectos econômicos, ambientais e sociais do

    sistema, estimulando e desencadeando o consumo consciente e a utilização racional de

    materiais e energia. É imprescindível ressaltar que não se trata apenas do uso mais consciente

    de recursos e energia, mas da efetiva inserção sistêmica de práticas sustentáveis, do

    desenvolvimento do produto à destinação final no pós-uso (KRISTENSEN; MOSGAARD,

    2020). Isso implica, necessariamente, no planejamento e orientação para resultados a longo

    prazo. O modelo circular de negócios demanda, portanto, a reorganização de processos e das

    parcerias de negócio para criação de uma estrutura que dê suporte e compatibilidade à

    sustentabilidade.

    A literatura sobre a interface entre economia circular e empreendedorismo ainda é limitada

    (HESHMATI, 2017). Pesquisadores atribuem o termo “ecopreneurship” para rotular os

    empresários que pautam seus negócios por atividades ambientalmente orientadas

    (SCHALTEGGER, 2002). Nos negócios orientados pela lógica linear de produção, os lucros

    são o objetivo e foco final. Na concepção circular, além destes inclui-se objetivos ambientais

    como fator que orienta e define os rumos do negócio. Sobretudo, a retenção do valor dos

    recursos nas cadeias de suprimentos.

    Enfrentar os desafios práticos associados à economia circular exige esforço de diversas áreas

    de pesquisa, o que constitui uma questão de abordagem interdisciplinar que pode se concentrar

    em distintos campos. A falta de modelos de negócios alternativos limita a transição para a

    economia circular e fragiliza seu avanço no ambiente empresarial (SANTAGATA et al., 2020).

    O estudo de Dhahri e Omri (2018) sobre negócios ambientalmente orientados revela que o

    empreendedorismo contribui para o desenvolvimento econômico e social, mas exerce efeito

    negativo quanto a dimensão ambiental. A constatação se estende para o constructo da

    sustentabilidade e do alcance do desenvolvimento sustentável. A pesquisa foi desenvolvida em

    20 países em desenvolvimento, o que revela o potencial dicotômico de progresso e recuo ao

    avanço nessas sociedades.

    A adoção da economia circular como forma de proposição de novos negócios enfrenta barreiras

    para sua implementação. As dificuldades no reconhecimento e desenvolvimento de

    oportunidades para modelos de negócios é uma delas (JULIANELLI et al., 2020). Isso ocorre

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    em função da necessidade de mapeamento de alternativas possíveis de serem aproveitadas, visto

    que sem a identificação das oportunidades ou geração de alternativas não se tem campo para

    avanço. Deficiências na aprendizagem empreendedora são elementos condicionantes das

    barreiras. A exploração de novas oportunidades de criação de valor socioambiental passa pela

    geração de capacidade de proteção do meio ambiente e das pessoas (HENRY et al., 2020). Tais

    barreiras devem ser transpostas para corrigir as imperfeições da lógica linear tradicionalmente

    difundida que contribui para a poluição ambiental, premissa fundamental para a incorporação

    da economia circular e potencialização da atividade empreendedora.

    3. Método

    O método adotado é revisão sistemática de literatura. Adotou-se o protocolo de pesquisa

    desenvolvido por Tranfield, Denyer e Smart (2003) que consiste na execução de três etapas

    principais: i) busca e pesquisa nos bancos de dados, ii) triagem e seleção da literatura, iii)

    codificação e análise dos dados. Outras revisões recentes adotam procedimento semelhante

    quanto à seleção, extração e codificação dos dados (ACERBI; TAISCH, 2020; BRESSANELLI

    et al., 2020). Os documentos ficaram restritos a artigos revisados por pares.

    Na primeira etapa foram selecionadas as strings e executadas as buscas nas bases de dados. Os

    termos de busca foram definidos mediante teste das strings utilizadas em outras revisões no

    campo da economia circular e de empreendedorismo. Para maior alcance dos resultados, foram

    inclusas 10 bases para busca dos artigos. A bases adotas foram Scopus, Web of Science,

    ScienceDirect, Emerald, Google Scholar, Wiley Online Library, Sage, Springer, Taylor and

    Francis e JSTOR. Os termos de busca foram associados a variações das palavras-chave

    “economia circular” e “empreendedorismo”. A busca final foi executada nos dias 26 e 27 de

    setembro de 2020, sem nenhuma restrição cronológica. O retorno foi de 2.669 documentos.

    Na segunda etapa procedeu-se a triagem dos artigos e leitura preliminar dos trabalhos. Foram

    adotados os seguintes critérios de exclusão: i) trabalhos com formato ou tipo diferente a article

    ou article in press ii) estudos duplicados ou redundante (apenas um dos estudos encontrados

    foi considerado), iii) estudos publicados em formato resumido, iv) impossibilidade de localizar

    o arquivo do documento na íntegra online, v) estudos escritos em língua diferente a inglês, vi)

    estudos que não abordam economia circular e empreendedorismo, ou cujo foco não esteja

    alinhado ao escopo da pesquisa. A verificação da adequação do estudo ao escopo da pesquisa

    foi executada a partir da leitura dos títulos, resumos e palavra-chave. Após a aplicação dos

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    critérios de exclusão, obteve-se a amostra final de 27 trabalhos inclusos para a análise.

    A terceira etapa compreende a extração dos resultados e categorização com base em argumentos

    teóricos. Os artigos foram explorados para identificar informações pertinentes à caracterização

    do tema e das categorias analíticas. As informações foram extraídas e tabuladas em um banco

    de dados em MS Excel. Os documentos foram recuperados e analisados para a tabulação de

    informações bibliométricas. Após o levantamento das informações descritivas que os resultados

    evidenciaram, definiu-se categorias analíticas para a condução do aprofundamento sobre a

    análise dos resultados, demonstrando as perspectivas e possibilidades para avanço no tema com

    base nas limitações dos estudos pregressos.

    4. Resultados da literatura e categorias de análise

    A discussão dos resultados está segmentada conforme as diferentes dimensões estabelecidas na

    classificação, considerando a seguinte ordenação: 4.1 Tipo de Economia, 4.2 Método de

    Pesquisa, 4.3 Setor Econômico, 4.4 Reconhecimento de Oportunidade, 4.5 Tipo de Relação,

    4.6 Tipo de Empreendedor, 4.7 Foco de Criação, e 4.8 Foco do Estudo.

    4.1 Tipo de economia

    O objetivo dessa categoria é mapear sobre quais contextos que são produzidos estudos que

    contemplem a interface entre economia circular e empreendedorismo. As categorias são

    apresentas conforme a Figura 1.

    Figura 1. Tipo de Economia

    Código: Economia Desenvolvida (1A) – Economia em Desenvolvimento (1B) - Comparação entre Países (1C) –

    Bloco Econômico (1D)

    O nível de desenvolvimento econômico é fator determinante para o tipo e profundidade do

    alcance de ações que são tomadas, quando se analisa o campo da preocupação social e ambiental

    (CARBALLO-PENELA; CASTROMÁN-DIZ, 2015). O tipo de processo, voltado à economia

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    circular, relaciona-se à maturidade da legislação, e sobretudo da propensão de empresas e seus

    stakeholders em assumirem compromissos de racionalização do uso de materiais e energia.

    Além disso, a existência de subsídios, estímulos legais para adesão a economia circular, leis e

    resoluções oficiais do país também contribuem para a adesão das organizações aos pressupostos

    da economia circular.

    4.2 Método

    Em relação aos métodos empregados nas pesquisas, constatou-se que a literatura, em sua

    maioria, é composta por estudos de caso únicos ou múltiplos, sem muita diversidade de outras

    formas ou modalidades de procedimentos de pesquisa, conforme demonstrado na Figura 2. Isso

    é compreensível, já que estamos nos reportando a um tema emergente e que demanda uma

    compreensão em profundidade para viabilizar a sua internalização nas organizações.

    Figura 2. Método de Pesquisa

    Código: Estudo de Caso Único (2A) – Estudo de Múltiplos Casos (2B) – Método Quantitativo (2C)

    Existe, portanto, uma lacuna de pesquisa no que se refere à utilizadas de diferentes métodos de

    pesquisa, assim como da utilização de combinações de métodos. A utilização de pouca

    variabilidade de métodos, com predominância de estudos de caso, sugere que pesquisas

    quantitativas também sejam empregadas, conforme as possibilidades do objeto de pesquisa.

    Dos estudos revisados, 21 são estudos de caso (único ou múltiplo), e 6 utilizam método

    quantitativo.

    4.3 Setor econômico

    A presente categoria tem por objetivo identificar o setor e ramo de atuação das empresas foco

    de análise da revisão sistemática. A Figura 3 apresenta os resultados.

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    Figura 3. Setor Econômico

    Código: Indústria (3A) – Serviços (3B) – Agricultura (3C) – Não se Aplica (4D)

    Dos estudos, a concentração ocorre no setor industrial, sobretudo com o setor de energia,

    energia limpa ou renovável, construção civil, silvicultura e têxtil, totalizando 13 casos. Do setor

    de serviços, são 8 os estudos identificados, na área de tratamento de água e esgoto, lavanderia,

    plataforma de compartilhamento e área da saúde. Outros 2 exemplos são da área da agricultura

    convencional ou urbana. Por fim, 4 estudos compreender setores diversos.

    4.4 Reconhecimento de oportunidade

    A dimensão de reconhecimento de oportunidade fundamenta-se na lógica proposta no estudo

    de Sarasvathy et al. (2003), a qual compreende que são três as visões conceituais que norteiam

    o processo de identificação de oportunidade para empreender. As frequências são registradas

    da Figura 4.

    Figura 4. Reconhecimento de Oportunidade

    Código: Allocative (4A) – Distributive (4B) - Creative (4C)

    A primeira, allocative view, toma a percepção de oportunidade como um processo de

    direcionamento de potencial para a redistribuição de recursos, da perspectiva da oferta ou da

    demanda, de modo que há um movimento de alocação dos recursos existentes. Nesse contexto,

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    Setor Econômico

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    Reconhecimento de Oportunidade

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    foram identificados seis estudos. A segunda, distributive view, está relaciona intimamente ao

    processo de descoberta, sugerindo que as oportunidades de negócios são decorrentes de

    assimetria de informações a respeito do uso de recursos, assim como do resultado de suas

    potenciais combinações possíveis. Com esse perfil, são quinze os estudos revisados. A terceira,

    creative view, relaciona-se ao processo de criação, ressaltando para o fato de que os

    empreendedores buscam maximizar as funções potencialmente úteis dos stakeholders, com o

    fim de estabelecimento de um novo mercado. Com essa lógica, foram identificados seis estudos.

    As três perspectivas são mutuamente exclusivas.

    4.5 Tipo de relação

    A presente categoria guarda relação com a variedade do grau de incerteza dos ambientes de

    mercado, diferenciando-se em causation e effectuation (SARASVATHY, 2001), que podem

    ser visualizados na Figura 5.

    Figura 5. Tipo de Relação

    Código: Causation (5A) – Effectuation (5B)

    A lógica da causação tem base na previsibilidade dos processos, no qual determinado efeito ou

    ambiente é estável, imutável e previsível. Com esse perfil, identificou-se catorze estudos. A

    lógica da efetuação entende essa relação como um processo que começa com um conjunto de

    meios como dado e foca na seleção entre os possíveis efeitos que podem ser criados, tomando

    o ambiente como dinâmico, com elevada incerteza e que demanda alto nível de criatividade.

    Foram revisados seis artigos com essa lógica.

    4.6 Tipo de empreendedor

    A categoria de tipologias de empreendedores, tomada pela perspectiva de Julien (2010),

    considera a inovação como elemento norteador e um traço importante na criação de valor. A

    Figura 6 apresenta a lógica de tipo de empreendedor, conforme o aporte teórico.

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    Tipo de Relação

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    Figura 6. Tipo de Empreendedor

    Código: Reprodução (6A) – Imitação (6B) – Valorização (6C) - Aventura (6D)

    Considerando a argumentação proposta pelo autor, o empreendedor de reprodução muda pouco

    e cria menor valor. O empreendedor de imitação não cria muito valor novo, mas é fortemente

    influenciado por essa criação. O empreendedor de valorização procede mudanças substanciais

    e adota estratégias mais ativas. O empreendedor de aventura cria empresas inovadoras e assume

    riscos consideráveis, podendo inclusive formar um novo setor econômico.

    4.7 Foco de criação

    A categoria de criação engloba distintas composições teóricas relacionadas ao processo de

    instituição do novo àquilo que já está existe. A Figura 7 apresenta a lógica de criação.

    Figura 7. Foco de Criação

    Código: Criação de Empresa (7A) – Criação de Produto/Serviço (7B) – Criação de Redes (7C) – Criação de

    Valor (7D)

    A geração do novo pode ocorrer a partir da criação de valor, criação de um novo produto ou

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    Tipo de Criação

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    serviço, criação de redes ou criação de valor (SHANE, 2000). Dos estudos revisados, são

    múltiplas as possibilidades identificadas para a criação de valor, com maior ênfase para aspectos

    relacionados a criação de valor (15 casos) e de redes (12 casos).

    4.8 Foco de estudo

    A última categoria analítica compreende o foco tomado na condução dos estudos que

    relacionam economia circular e as distintas perspectivas sobre empreendedorismo. Na Figura 8

    estão dispostos os estudos conforme as dimensões.

    Figura 8. Foco de Estudo

    Código: Inovação no Produto (8A) – Exploração de Falha de Mercado (8B) – Incubadoras (8C) – Ecossistema

    Empreendedor (8D) – Desenvolvimento Regional (8E)

    O processo de empreender abarca consigo implicações para a alocação de recursos escassos e

    para o desenvolvimento, perpassando temas amplos de discussão que caracterizam o

    direcionamento dado para a compreensão do empreendedorismo como fenômeno. O estudo

    relaciona a revisão dos papers conforme a lógica dos critérios de inovação no produto,

    exploração de falhas de mercados, empreendedorismo por meio de incubação de empresas,

    ecossistemas empreendedores e na perspectiva de suas contribuições para o desenvolvimento

    regional (JULIEN, 2010; SARASVATHY, 2008; SHANE; VENKATARAMAN, 2000).

    5. Discussão dos resultados

    As evidências do estudo sinalizam que a inter-relação mapeada entre os constructos economia

    circular e empreendedorismo sustentável apresenta estudos pregressos que predominantemente

    foram: elaborados e publicados por autores localizados em países desenvolvidos, são estudos

    de caso ou múltiplos, focam nos setores econômicos indústria ou serviços, adotam a lógica

    causation, reconhecem oportunidades via modelos distributivos, são fomentados por

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    Foco do Estudo

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    empreendedores que imitam outros e dão ênfase na inovação no produto. Desse modo, pode-se

    indagar que oportunidades surgem para o avanço da sinergia entre os conceitos economia

    circular e empreendedorismo sustentável, pautado nesse panorama atual?

    O empreendedorismo sustentável preza por alternativas que possam fomentar o progresso em

    prol da sustentabilidade e alinhado com os objetivos do desenvolvimento sustentável. E a

    economia circular estimula novas alternativas mais limpas, mais eficientes, capazes de

    transformar desperdício em insumos para cadeias de produção. Alternativas que

    desmaterializam materiais obsoletos e os transformam em material útil para fabricar novos

    produtos. Procura reter o valor dos recursos nas cadeias de suprimentos. Ajuda a reduzir o lixo

    e a mostrar possibilidades para gerar mudanças disruptivas nos modelos produtivos

    tradicionais.

    A garantia da sustentabilidade dos negócios a longo prazo e promoção da economia circular

    como uma filosofia que integra a atividade industrial à preservação do meio ambiente devem

    prever a dissociação do aumento da necessidade pelo consumo de recursos do crescimento

    econômico. Requer um redesenho dos sistemas industriais (RAZMINIENE, 2019). Para crescer

    sem comprometer e sem estimular a demanda por produtos virgens, a criação de modelos de

    negócios novos via processo empreendedor é necessária. Os empresário e empreendedores

    podem se fundamentar nos pressupostos da economia circular como uma alternativa ao modelo

    linear de produção e de consumo para efetivar a transição para uma economia circular.

    O reconhecimento das oportunidades para empreender, nesse contexto, é baseado numa

    filosofia que estimula a máxima utilização dos recursos já inseridos nos processos produtivos,

    o fechamento de ciclos de produção e a redução ou eliminação da geração de resíduos de

    produção. Os negócios novos devem ser orientados para integrar sistemas de produção e cadeias

    de fornecedores a fim de acumular e transferir valor ao longo de redes de relacionamento e

    compartilhamento. Rejeitos de produção ou resíduos de um dado processo produtivo podem ser

    reinseridos em outro processo, o que permite a agregação de valor dentro de uma cadeia pela

    transferência. Nesse caso, o resíduo passa a ser recurso para a produção. O valor é gerado e as

    externalidades evitadas, visto que os materiais potencialmente nocivos ao meio não são

    retirados dos ciclos de produção.

    O desenvolvimento de negócios via processo empreendedor gera possibilidade de

    direcionamento à criação de valor, de redes entre fornecedores, de novos produtos ou serviços,

    assim como à criação de empresas nascidas circulares. O acesso à informação e a formação de

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    uma perspectiva de longo prazo reforça a noção de que os empreendedores adquirem maior

    projeção quando conectados em redes. Quanto ao aspecto de fluxos de materiais nos processos

    produtivos, a possibilidade de transferência de carga entre empresas as qualifica para a redução

    de impactos pelo descarte. Em sentido macro, a formulação de regulamentações com a

    definição de metas e responsabilidades a diferentes elos na transição circular permite o

    estabelecimento de orientação sobre como proceder para inovar rumo ao fechamento de ciclos.

    6. Considerações finais, contribuições e limitações da pesquisa

    A criação de novos modelos de negócios orientados pelos princípios da economia circular

    evoluiu substancialmente rumo à obtenção do fechamento dos ciclos de produção, redução de

    emissões e otimização da utilidade dos recursos. As regulamentações a nível de governo para

    fomento de iniciativas e avanço no campo demanda implementação a nível de empresas e de

    produtos. A proposição de negócios inovadores conflui com o esforço no avanço da economia

    circular e inovação da forma como as empresas são transformadas pela transição circular. Esta

    revisão, desenvolvida com o objetivo de explorar a relação entre economia circular e

    empreendedorismo, propor uma agenda de pesquisas futuras para avanço no campo e gerar

    implicações gerenciais sobre o tema contribui para o entendimento da lógica que rege esta

    dinâmica.

    Os artigos foram categorizados em 8 dimensões que agrupam o contexto e a orientação que os

    artigos assumem. Os eixos de análise são segmentados e resumidos quanto a aspectos

    associados aos objetivos, principais achados e resultados das pesquisas, contribuições teóricas

    e práticas para o campo. Os temas centrais nos estudos sobre economia circular e

    empreendedorismo são associados aos seguintes tópicos: i) tipo de economia, que se refere ao

    contexto de desenvolvimento do estudo, ii) método de pesquisa, iii) setor econômico explorado,

    iv) reconhecimento de oportunidade de negócios, associado diretamente à oportunidade de

    empreender, v) tipo de relação, no qual se extrai a lógica de como empreender, vi) tipo de

    empreendedorismo, vii) foco de criação, referente ao processo de criação inerente à ação de

    empreender, viii) foco de estudo, que analisa a área de predomínio do estudo.

    Esta pesquisa contribui ao mapear e organizar os eixos temáticos e as áreas de interesse

    exploradas por estudos com foco em economia circular e empreendedorismo. São descritas e

    analisadas categorias associadas à criação de negócios no contexto circular quanto a elementos

    teóricos próprios do campo. Face à alta dinamicidade e evolução dos temos, uma revisão para

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    consolidação dos avanços teóricos e práticos é relevante, sobretudo para dar fundamento a

    futuros estudos que explorem a temática.

    No aspecto prática, a pesquisa sinaliza aos tomadores de decisões e formadores de políticas

    possibilidades para que a economia circular avance a partir de da criação de novos negócios

    totalmente orientados pelos princípios circulares. Na área da gestão, os principais incrementos

    rumo à EC ocorrer pela proposição de modelos de negócios conscientes e orientados pela

    obtenção de valor sustentável e otimização da utilidade dos recursos. Ambos os temas têm

    relação intrínseca, visto que é possível conferir avanços mútuos pelo seu complemento.

    Agradecimentos

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

    de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.

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