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FACULDADE DE PARÁ DE MINAS-FAPAM Curso de Pedagogia Renata Mara de Souza ANALFABETISMO NO BRASIL Pará de Minas-MG Outubro de 2015

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FACULDADE DE PARÁ DE MINAS-FAPAM

Curso de Pedagogia

Renata Mara de Souza

ANALFABETISMO NO BRASIL

Pará de Minas-MG

Outubro de 2015

Renata Mara de Souza

ANALFABETISMO NO BRASIL

Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Pedagogia da Faculdade de Pará de Minas

como requisito parcial para aprovação na disciplina Seminário de Pesquisa.

Orientador: Prof. Juliane Gomes de Oliveira

Pará de Minas – MG Outubro de 2015

RENATA MARA DE SOUZA

ANALFABETISMO NO BRASIL

Monografia apresentada a Coordenação de

Pedagogia da Faculdade de Para de Minas, como requisito parcial para a conclusão do Curso de Pedagogia.

Aprovada em ______/______/______

_________________________________________________________________

Professor

_________________________________________________________________

Professor

RESUMO

O Brasil possui grande extensão territorial, ampla desigualdade social, elevado índice de pobreza. Considerando a importância da sociedade brasileira no cenário mundial, a realização de um estudo para verificar se o país alcançou um índice satisfatório em relação ao analfabetismo nas últimas décadas, tal como verificar a existência de propostas, no âmbito nacional, que objetivaram o aumento da qualidade de vida dos Brasileiros por meio da educação é de extrema importância. Procurar por maneiras eficazes de combater o analfabetismo e sua erradicação por completo , estudar e entender o contexto histórico e econômico desse problema social, e propor soluções possíveis para esse problema nacional, contribuirá consideravelmente na formação de uma sociedade melhor. Neste trabalho, inicialmente será realizada uma revisão bibliográfica sobre o analfabetismo brasileiro e se discutirá algumas relações entre dinâmica demográfica e nível educacional da população a partir do indicador da taxa de analfabetismo a nível nacional, estadual e municipal, baseado em dados do IBGE. Posteriormente verificará também as ações do governo após o Governo de Getúlio Vargas, na redemocratização da alfabetização no Brasil. Por fim, estudará o quadro atual do analfabetismo no país. O estudo concluirá que as altas taxas de analfabetismo observadas no país não estão relacionadas apenas à presença de analfabetos de gerações antigas na população, mas também devido à ineficiência do sistema educacional. Em outras palavras, o analfabetismo brasileiro é resultado tanto da precariedade do seu modelo educacional quanto na demora de ações de melhoria da alfabetização ao longo da segunda metade deste século.

Palavras – Chave: Analfabetismo, Educação, Redemocratização.

AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Juliane Gomes, por toda a atenção dada a mim, pela paciência e por todo

o apoio. Ao Fernando Souza, por ter seguido ao meu lado por toda esta jornada e por ser esta

pessoa incrível que você é. Ao Tiago Silva, por toda a ajuda, e também aos meus familiares,

por acreditarem em mim e por toda a força. Agradeço a todos que contribuíram diretamente

ou indiretamente na construção desde trabalho, pois foram imprescindíveis para a realização

deste sonho.

"A receita para a ignorância é: satisfazer-se com suas próprias opiniões e contentar-se com o seu conhecimento."

ELBERT HUBBARD

SUMÁRIO

LISTA DE SIGLAS ...................................................................................................................... 7

LISTA DE TABELAS................................................................................................................... 8

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 9

METODOLOGIA ....................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1 – HISTÓRICO SOBRE O ANALFABETISMO NO BRASIL .................................. 13

1.1 PERÍODO COLONIALISTA E REPUBLICANO .......................................................... 14

1.2 POPULISMO E PERÍODO DITATORIAL.................................................................... 18

CAPÍTULO 2 – AÇÕES DO GOVERNO NO PROCESSO DE REDEMOCRATIZAÇÃO ............. 23

CAPÍTULO 3 – O ANALFABETISMO NO QUADRO ATUAL BRASILEIRO............................. 26

CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 33

LISTA DE SIGLAS

ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

EJA – Educação de Jovens e Adultos

FAE – Faculdade de Educação

GT – Grupo de Trabalho

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INAF – Índice Nacional de Alfabetismo Funcional

FAPAM – Faculdade de Pará de Minas

FUNDEF – Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do

Magistério

LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

MEC – Ministério da Educação

MEB – Movimento de Educação de Base

MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização

ONG – Organização Não Governamental

ONU – Organização das Nações Unidas

RME – Rede Municipal de Educação

SEA – Serviço de Educação de Adultos do MEC

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância.

LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1: Evolução do Indicador de Analfabetismo da População de 15 a 64

anos. 24

Tabela 3.2: Taxa de Analfabetismo da população de 15 anos ou mais de idade,

segundo as Unidades da Federação e os municípios das capitais 2000/2010. 25

Tabela 3.3: Taxa de Analfabetismo funcional de pessoas de 15 anos ou mais de

idade. 26

Tabela 3.4: Índice de Analfabetismo em cidades do Estado de Minas Gerais no

ano de 2000. 26

Tabela 3.5: População residente, por sexo e situação do domicílio, população

residente de 10 anos ou mais de idade, alfabetizada e taxa de alfabetização em

Pará de Minas.

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INTRODUÇÃO

O Brasil é um país com grande extensão territorial, ampla desigualdade social, elevado

índice de pobreza e possuidor de um índice alto de analfabetismo. Levando em consideração

esse grande número de pessoas com impossibilidade de ler e interpretar, e que são àquelas

consideradas “analfabetas”, a proposta do presente trabalho é fazer um estudo para saber se o

Brasil alcançou um índice satisfatório em relação ao analfabetismo nas últimas décadas, e

verificar a existência de propostas, no âmbito nacional, que objetivaram o aumento da

qualidade de vida dos Brasileiros por meio da educação.

Em uma análise das estatísticas sobre o analfabetismo no Brasil, por meio de

interpretações dos resultados das últimas pesquisas feitas pelo Censo do IBGE 1 no livro

“Indicadores Sociais Municipais: Uma análise dos resultados do universo do Censo

Demográfico 2000”, é perceptível a forte relação existente entre essa condição de baixa

escolaridade e a situação econômico-social de cada região. Os índices de pessoas analfabetas

são mais altos onde existe maior pobreza.

Nesse contexto, a busca por maneiras eficazes de combater o analfabetismo e sua

erradicação por completo é de extrema importância. Estudar esse problema social, entender o

contexto histórico e econômico que levaram ao alto índice, e propor soluções possíveis para

esse problema nacional é um assunto que contribuirá consideravelmente na formação de uma

sociedade melhor e em minha formação como pedagoga – profissional da educação.

O interesse pelo tema alfabetização veio através de uma experiência de vida própria,

visto que fui estudante da EJA – Educação de Jovens e Adultos e minha trajetória na

educação básica foi repleta de desafios e dificuldades, uma vez que tenho uma família que

não me incentivou nos estudos e tive de abandoná-lo por determinado tempo para trabalhar.

Em 2009 resolvi voltar a estudar, notei que a ausência do conhecimento escolar estava

me fazendo falta. Nesse ano tive a oportunidade de realizar um curso integrado de técnico em

Secretariado juntamente com o ensino médio da EJA, na Escola Estadual Torquato de

Almeida, em Pará de Minas/MG. Aceitei o desafio e iniciei o curso. Foi uma experiência

inesquecível e gratificante: pude ter contato com pessoas de várias idades e os mais diversos

conhecimentos de vida, pois todos estavam com o objetivo de estudar e adquirir mais

conhecimentos. O curso teve duração de um ano e seis meses, e após a sua conclusão decidi

1 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Indicadores Sociais Municipais: Uma análise dos resultados do universo do Censo Demográfico 2010: Tabela 28.

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não parar, foi quando decidi que seria uma profissional de educação. Prestei vestibular e fui

aprovada em Pedagogia na FAPAM – Faculdade de Pará de Minas/MG.

Baseado nessa experiência de vida, pude notar a importância de uma educação

inclusiva e de qualidade para minha inserção profissional junto ao mercado de trabalho, como

estudante de Pedagogia, assim, decidi realizar uma pesquisa dentro das políticas públicas da

EJA, focando a questão do aumento da escolaridade para os adultos, visando aprendizado

num tema de grande valia em minha história.

Inicialmente, para a realização desta pesquisa, que trata da verificação dos índices de

analfabetismo no Brasil, será realizado um estudo histórico sobre o analfabetismo dentro do

nosso país. O primeiro capítulo trará os resultados dessa busca, além de determinar, dentro do

período e contexto histórico, a origem do analfabetismo no país.

O segundo capítulo será enfatizado sobre a redemocratização do analfabetismo no

Brasil, com a criação do MOBRAL para a educação de jovens e adultos após o governo de

Getúlio Vargas.

O terceiro capítulo tratará da atual situação do analfabetismo no Brasil: suas causas, as

regiões mais atingidas por essa baixa escolaridade, como tem sido a evolução recente do

analfabetismo (tem aumentado, diminuindo, mudado de forma), quais as consequências que o

analfabetismo traz para as pessoas e para o desenvolvimento do país. Através de dados

colhidos de órgãos federais competentes, e fará análises de sua evolução no Brasil. Para isso,

será realizada pesquisa bibliográfica e estudos baseados em documentos oficiais do governo.

Ir-se-á estudar os principais teóricos que abrangem o tema, além de planilhas e relatórios de

órgãos públicos.

Espera-se, com a realização deste trabalho, contribuir com as pesquisas, e entender a

evolução do analfabetismo no Brasil, e propondo melhorias no atual sistema de ensino no

país.

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METODOLOGIA

Nesta proposta de pesquisa, foram investigadas as taxas de analfabetismo no âmbito

nacional, estadual e municipal brasileiro. Nesse estudo, a revisão da literatura documental foi

o instrumento principal de investigação. A partir de tal objetivo, tornou-se fundamental tomar

como foco de análise o histórico do analfabetismo brasileiro, enfatizando em pesquisas

realizadas pelo INAF e o IBGE, com os resultados de tais analfabetos no país. Esta opção se

justifica porque o método escolhido permite analisar quais foram os avanços para a redução

do analfabetismo desde o governo de Getúlio Vargas, onde foi abordado nesta pesquisa, até

em dias atuais.

É pertinente registrar que a pesquisa foi realizada numa abordagem quantitativa, e com

isso, pode-se verificar onde estão concentrados os maiores índices de analfabetismo regional e

à nível nacional, comparar tais níveis de analfabetismo com a totalidade da população

brasileira, e analisar as ações do governo para a alfabetização de tais indivíduos.

Para a realização desde trabalho, a intenção é verificar o atual quadro do analfabetismo

no Brasil, com base de pesquisa, indivíduos com 15 anos ou mais, grupos etários que

deveriam estar alfabetizados. Foram analisados fatos documentais de pesquisas de diversos

autores, com base no mesmo foco de informação e assim fazer uma breve comparação entre

os dias atuais para que possa assim ter uma contribuição para a resolução, e até ajudar no

combate ao analfabetismo, e analfabetismo funcional.

Soares (2004) nos remete à importância de se alfabetizar letrando, ao dizer que:

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita o letramento. (SOARES, 2004).

Segundo Brito (2003), os resultados de enquetes de hábitos de leitura, por sua vez,

mostram que é senso comum falar que ler é importante e que as pessoas têm o desejo de poder

ler, porém muitos dos que leem não conseguem interpretar o texto lindo. “Saber e poder ler e

escrever é uma condição tão básica de participação na vida econômica, cultural e política que a escola

se tornou um direito fundamental do ser humano, assim como a saúde, moradia e emprego” (BRITO,

2003).

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Por fim, é importante ressaltar que durante todo o curso da pesquisa de análise e

interpretação dos dados coletados, busquei aperfeiçoar as questões elaboradas a princípio,

modificando-as ou incorporando-as em função dos procedimentos utilizados, com o intuito de

identificar novos resultados e assim poder verificar a real situação do país frente ao

analfabetismo da população brasileira.

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CAPÍTULO 1 – HISTÓRICO SOBRE O ANALFABETISMO NO BRASIL

O presente capítulo objetiva fazer um breve histórico sobre o analfabetismo no Brasil

desde o período colonialista, passando pelo período republicano, pelo populismo, período

ditatorial até chegar ao Brasil República. No decorrer dessa contextualização histórica,

pretende-se encontrar a origem e as causas do surgimento do analfabetismo no país. Para tal

entendimento, é primordial recorrermos aos conhecimentos da história da educação e sua

evolução, desde o seu início. Pretende-se avaliar as mudanças ocorridas entre os períodos e

entender a evolução/regressão do processo educativo no decorrer da história.

No contexto da educação, não só no cenário nacional, mas também no mundo como um

todo, nem sempre a educação foi tratada pelos governantes como um direito válido a todas as

pessoas. A luta visando a universalização do ensino é atual e vem crescendo juntamente com

a organização da sociedade, uma vez que, tendo-se mais conhecimento, preparo e ordem, as

pessoas estão aptas a batalhar por seus direitos. Em relação especificamente acesso ao

conhecimento, tem-se discutido mundialmente, tal como em nosso país, uma educação para

todos, respeitando-se as diferenças pessoais e coletivas dos indivíduos. Ainda nessa

conjuntura, propostas de políticas sociais estão sendo discutidas por organizações de grande

influência mundial como a UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação,

Ciência e Cultura, e a UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância (OLIVEIRA,

2011).

A partir de 1990, a qualificação profissional dos trabalhadores começou a ser valorizado,

segundo o relatório apresentado pelo MEC (2001). Deste modo, a capacitação, o

desenvolvimento de habilidades específicas torna-se praticamente uma exigência das

empresas não só para novas contratações, mas também para a manutenção do emprego dos

profissionais já efetivos. Prova disso é a relação percentua l do número de profissionais com

baixa escolaridade no mercado de trabalho no decorrer dos anos, por exemplo, em 1991, esse

tipo de trabalhadores representava cerca de 39% da população ocupada; em 1998, apenas

27,4%, ou seja, decréscimo de praticamente 12% em 7 anos, um número elevado. No mesmo

intervalo de tempo histórico, as pessoas empregadas e com um estudo entre nove e onze anos,

aumentaram sua participação passando de 21% para 28% do total da população ocupada,

representando um acréscimo de 1% ao ano, uma margem considerável dentro do contexto da

educação no Brasil. O relatório aponta também, uma queda marcante da taxa de analfabetismo

na população de 15 anos de idade ou mais. Em 1991, era de 20,1%, em 1996, foi reduzida

para 14,9% e, em 1999, baixou para 13,3%. A taxa de analfabetismo entre os jovens de 15-29

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anos caiu para menos da metade: de 12%, em 1991, passou a 4%, em 1999, ano em que os

analfabetos de 20-24 anos chegavam a 5,9% e, entre 25 e 29 anos, 97,2%. Segundo o

relatório, “com essa redução, as altas taxas de analfabetismo tendem a se tornar um fenômeno

restrito de fato às gerações mais velhas. ” (MEC, 2001, p.13). Ainda na versão deste relatório,

o MEC (2001) desenvolveu várias ações “com o propósito de transformar a EJA em política

pública no sistema de ensino brasileiro. ” (MEC, 2001, p.19).

Dentro do contexto, será possível delinear a evolução histórica do analfabetismo no

Brasil, traçando um perfil do sistema educacional. Através de revisão bibliográfica da

literatura, será descrita a trajetória da educação no Brasil até os dias de hoje, buscando-se a

origem do analfabetismo e procurando alternativas que visem contribuir para a diminuição do

número de pessoas analfabetas no país.

1.1 PERÍODO COLONIALISTA E REPUBLICANO

A educação de jovens e adultos, por ação dos jesuítas, iniciou-se no processo de

colonização através da catequização dos índios que eram obrigados a estudar a religião dos

colonizadores. Segundo Soares e Galvão (2004):

(...) os jesuítas são considerados os principais agentes educativos do Brasil desde sua chegada em 1549 até 1759, quando foram expulsos pelas novas diretrizes da economia e da política portuguesas. (...) A gramática e o catecismo ou a cartilha e o catecismo aparecem frequentemente no mesmo livro. A estrutura desses livretos, muitos dos quais nunca foram publicados, sugere a moralização da leitura- que contém o essencial das normas escritas da religião católica- e a sua memorização por parte do índio-catecúmeno. (SOARES E GALVÃO, 2004, p.29).

Assim, nota-se que a educação para adultos está presente no Brasil desde o período

colonial, a catequização dos escravos também aconteceu, entretanto, poucos estudos acerca

desse tema levam em consideração a alfabetização dos jovens e adultos.

Além de catequisar, os jesuítas ensinavam normas de comportamento e ofícios

necessários para o funcionamento da economia colonial para os índios e os escravos negros,

em seguida, também encarregaram das escolas de humanidades para os coloniais e seus filhos.

Romanelli (2001) menciona que a população, acostumada a trabalhos rurais pesados que não

demandavam conhecimentos técnicos, normalmente não se preocupava com uma educação

formal. Outro fator que gerava ainda menos interesse era o foco da educação totalmente fora

do contexto das necessidades reais da sociedade brasileira. Estudava-se literatura, humanismo

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e faziam-se atividades acadêmicas conforme aquelas iniciadas pelos jesuítas e copiadas pelos

europeus.

Constata-se que após a expulsão dos jesuítas em 1759, não se tem registrado a lgum

documento que comprove algum tipo de alfabetização de adultos. Já o século XIX, o processo

de institucionalização da escola no Brasil “aos poucos, foram-se definindo, com uma maior

precisão, os tempos, os espaços, os saberes, os materiais escolares, a formação e a

profissionalização do professor. ” (SOARES E GALVÃO, 2004, p. 30). A “instrução primária

e gratuita para todos os cidadãos” foi garantida pela primeira constituição brasileira, de 1824.

Mas, compreende-se que o direito não passou das intenções legais, as implantações das

escolas avançaram lentamente ao longo do período, e, além disso, também tem sido pensada

apenas como direito para as crianças, não se observa, em termos de políticas para a educação

de adultos, medidas concretas para sua implementação no nosso país.

Somente em 1834, através do Ato Adicional, iniciou-se políticas nacionais para a

educação de jovens e adultos. No Ato o governo imperial responsabilizou-se pelo direito das

elites, incumbindo as províncias de educarem as pessoas mais carentes. As poucas medidas

tomadas estavam nos esforços das instancias administrativas em preparar os recursos para

abranger o ensino de adultos.

Nesse período era difundida no Brasil a ideia que uma pessoa com baixa ou nenhuma

experiência escolar era inferior àqueles que possuíam acesso à educação, culminando essa

exclusão social com o não direito ao voto às pessoas analfabetas (Lei Saraiva de 9 de janeiro

de 1881). E é justamente nesse momento da história que o assunto relativo à exclusão e

preconceito sofrido determinado tipo de pessoas torna-se uma questão pedagógica, política e

ideológica.

A respeito dos teores contidos nos materiais didáticos da época, o Regime defendia o

ensino com um caráter prático, visto que se pensava na educação como um caminho, uma luz

a ser perseguida rumo ao desenvolvimento do país, logo, a classe menos favorecida

economicamente deveria ter também acesso à educação. As mulheres, deveriam aprender “o

ensino das prendas domésticas, noções de higiene, exercícios de cálculo quanto à

contabilidade do regime doméstico, deveres das mulheres na família e na vida prática.”

(SOARES E GALVÃO, 2004, p.32).

O período imperial também vivenciou-se o desenvolvimento industrial e o processo de

urbanização: “o capitalismo e sua ideologia, o liberalismo, mantiveram desde o início uma

relação ambígua e conflituosa com a escola, a qual se, de um lado, se afigurava necessária, de

um lado, despertava temor.” (FERRARO, 2009, p. 38). Chegamos ao final do Império com o

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sistema de ensino atendendo apenas 250 mil crianças, em uma população total estimada em

14 milhões. Em 1890, 82% da população com idade superior a cinco anos era analfabeto. Os

movimentos de alfabetização e de busca de instrução nasceram somente nesse período de

crescimento industrial com as altas taxas de analfabetismo.

No período republicano, o federalismo indicou a descentralização das políticas de

ensino público nas Províncias e Municípios através de sua primeira Constituição, em 1891.

A nova constituição seguiu a antiga, discriminando uma grande parcela da população,

mantendo a proibição de voto dos analfabetos. Os intelectuais do país, baseados nas ideias

iluministas seguidas nos países desenvolvidos, se sensibilizaram com a vergonhosa situação

do analfabetismo no país onde cerca de 80% dos cidadãos acima de 15 anos eram analfabetos

resolveram tomar medidas. Nesse momento, nota-se o início das medidas pró-alfabetização.

Desde as últimas décadas do século XXI, quanto o analfabetismo se transformou, quase de repente, num problema nacional, sucederam-se inúmeras discursos, juras, projetos, campanhas e até declarações de guerra contra o analfabetismo, acompanhadas de periódicas reformas de ensino. (FERRARO, 2009, p.25).

Dentro desse “novo país” em percurso rumo à igualdade social, onde os cidadãos

teriam direitos iguais, alguns governantes começaram a defender uma nova realidade política

e de educação no território brasileiro. Por exemplo, José Bonifácio defendia o voto a todos,

através do projeto Casansão Sinimbu, afirmando que “nem saber ler e escrever, nem a ciência,

nem a instrução de qualquer natureza, nem vida a que o homem se dedica, o criam e

determinam” (CÂMARA, Anais, 28 abr. 1879, p. 748-762. Acesso em: 15 maio de 2015).

Ainda em defesa da igualdade aos analfabetos, o deputado seguiu argumentando: "pelo

censo e pela exclusão dos analfabetos, o projeto do governo finge mandatários sem mandato,

constituindo uma fração mínima da população senhora de todos os habitantes do Império". E

acrescenta ainda, "eles [os excluídos] não renunciaram o direito de cidadãos brasileiros". Por

fim, conclui:

Em nome da monarquia constitucional representativa; em nome da câmara que vos apoia, e que sem dúvida aceitará contente o vosso projeto modificado, senhores ministros, eu vo-lo peço: não arredeis do trono a confiança da nação, honrai as esperanças do povo, libertando a ação da constituinte. (CÂMARA, Anais, 28 abr. 1879, p. 748-762. Acesso em: 15maio de 2015).

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Pode-se ver que Bonifácio alegava que a exclusão dos analfabetos nas votações não

era justificável em um país que não possuía escolas. Era inaceitável o princípio da capacidade

para votar, seja em si mesma, seja medida pela condição de saber ler e escrever, visto que

votando o cidadão está inserido na escola da conscientização política, logo, educando-se.

Nota-se então, que os renovadores da educação começaram a cobrar do governo a oferta de

ensino a todos os cidadãos do país.

A partir daí o governo republicano fez modificações no sistema de educação,

iniciando-se algumas normatizações e despendendo um pouco de atenção com o estado

precário do ensino básico, porém sem muito compromisso e com um baixo investimento

destinado para esse fim. Após a aprovação da lei várias campanhas em prol da instrução

primária foram feitas, porém não havia unificação com a efetiva criação de uma política

nacional, a preocupação com a educação de jovens e adultos praticamente não se caracterizou

como fonte de um pensamento pedagógico ou de políticas educacionais específicas, o que só

ocorreu em meados da década de 1940. Havia uma preocupação geral com a educação das

camadas populares, comumente vista como o ensino básico apenas das crianças (FERRARO,

2009).

A partir da década de 1920 a busca por uma ampliação do número de escolas tal como

melhoria da qualidade do ensino foi feita através do movimento de educadores e da

população. Assim as condições começaram a ficar adequadas ao desenvolvimento de políticas

públicas para a educação de jovens e adultos. Como exemplo, pode destacar-se a Liga

Brasileira contra o Analfabetismo, originada do Clube Militar do Rio de Janeiro, em 1915; os

intelectuais brasileiros assumiram então o papel de reestruturação da educação do Brasil

terminando com a “ignorância entre a classe pobre” através da educação.

Entretanto, a alfabetização a todos, poderia causar problemas aos próprios intelectuais,

visto que com educação, a classe popular e de baixo poder aquisitivo poderia criar uma

“anarquia social” que poderia passar a requerer seus direitos. Com isso a elite não conseguiria

controlar e governar da forma como sempre faziam. Compreende-se que ao longo da história

o cidadão não alfabetizado é visto como inábil, dependente e culpado pela falta de avanço da

nação.

Para tornar feliz a sociedade e manter contentes as pessoas, mesmo nas circunstâncias mais humildes, é indispensável que a maioria delas sejam, ao mesmo tempo em que pobres, também totalmente ignorantes. O saber amplia e multiplica os nossos desejos, e quanto menos coisas um homem ambicione, tanto mais facilmente se lhe poderão satisfazer as necessidades.

(MANDEVILLE, 2001, apud FERRARO, 2009, p.38).

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Esse trecho reflete o pensamento político-pedagógico de que as mudanças sociais

inerentes ao começo da industrialização no Brasil, ocorridas no final da Primeira República,

eram evidentes e era interessante aos governantes e à elite dominante que os pobres, grande

maioria da população, fossem completamente ignorantes. E se a multidão começasse a

conhecer, estudar, crescer intelectualmente ela lutaria mais em busca de seus objetivos,

sonhos e seus direitos, dificultando o controle total da população até então existente da elite.

(...) ao direito de educação que já se afirmara nas leis do Brasil, com as garantias do ensino primário gratuito para todos os cidadãos, virá agora associar-se da mesma forma como ocorrera em outros países, a noção de um dever do futuro cidadão para com a sociedade, um dever educacional de preparar-se para o exercício das responsabilidades da cidadania. (BEISEGEL, 1974, p.63).

Como pode ser visto, no final do período republicano, vivia-se um paradoxo advindo

do pensamento iluminista. Por um lado, era essência a educação para que o progresso do país

fosse possível, por outro, se a educação alcançasse à maioria da população, seria difícil para o

governo controlar o povo. Assim sendo, a educação nesse período histórico era instrumento

considerado para avaliar o nível social do cidadão.

1.2 POPULISMO E PERÍODO DITATORIAL

No Estado novo, também conhecido como Era Vargas ou período do Populismo, a

partir da Revolução de 1930, ficou marcado no histórico da política nacional, o novo papel do

Estado na Educação. A nova Constituição propôs um Plano Nacional de Educação,

desenvolvido, coordenado e fiscalizado pelo Governo Federal, explicitando as

responsabilidades que os Governos Federal, Estadual e Municipal teriam junto à população.

Foi reafirmado o direito de educação para todos e o dever da Nação para que seja cumprido

esse direito tão essencial à população (HADDAD e PIERRO, 2000).

O Plano Nacional de Educação, previsto pela Constituição de 1934, previa abranger

entre as normas o ensino primário integral gratuito e de frequência obrigatória, sendo

estendido para a modalidade dos adultos. Na história política da educação do país, essa foi a

primeira ação do Governo que reconheceu a modalidade do EJA, dando- lhe uma atenção

especial.

Porém, considerando-se as ações de maneira generalizadas, poucas iniciativas para o

aumento da alfabetização de jovens e adultos foram feitas. Segundo Paiva (1987) houve

grande procura por vagas para o ensino supletivo como consequência do aumento de vagas na

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escola comum ou que atendiam alunos em idade correspondente às séries escolares. Para

Romanelli (2001), esse fenômeno pode ser explicado pelo desenvolvimento do capitalismo

que ocorreu graças ao desenvolvimento industrial vivenciado na época. O capitalismo

industrial por sua vez, impulsionou o surgimento da necessidade de conhecimentos

específicos e aperfeiçoamento da mão de obra para que a inserção no mercado de trabalho

fosse possível. Para Soares e Galvão (2004), os sujeitos analfabetos começaram nesse

momento histórico a se inserir efetivamente em práticas efetivas de escrita e leitura, mesmo

com as tímidas iniciativas oficiais oferecidas pelo Governo Federal para a alfabetização dos

adultos.

Apenas em meados da década de 1940, a educação de adultos firmou-se como um

problema de política nacional. Nota-se que nesse período, surgiram evidências de que a

parcela desfavorecida financeiramente e socialmente da população começa a introduzir-se no

mundo da escrita, entretanto, fora do meio escolar. Percebe-se então, que a educação para

todos ainda estava longe de ser real e as tratativas abordadas nas campanhas e movimentos

relativos à educação continuavam a manter um caráter assistencialista. (SOARES E

GALVÃO, 2004).

Já em 1942, por meio do INEP- Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos institui-se

o Fundo Nacional do Ensino Primário, onde se estabeleceu que 25% dos recursos de cada

auxílio deveriam ser aplicados num plano geral de Ensino Supletivo destina a adolescentes e

adultos analfabetos. Além disso, com o processo contínuo de urbanização as práticas letradas

se tornam crescentes no círculo não escolarizado, “a vivência no mundo urbano e a ocupação

profissional também pareciam decisivos para que esses sujeitos analfabetos e

semialfabetizados se inserissem gradativamente no mundo da cultura escrita. ” (SOARES E

GALVÃO, 2004, p.41).

Com o fim da Segunda Guerra Mundial e o reestabelecimento do Estado Novo

iniciou-se uma intensa campanha nacional contra o analfabetismo. Tal fato tornou-se destaque

levando em consideração o alto índice de analfabetismo observado no período: 56% da

população com mais de 15 anos. Nesse momento histórico criaram-se mais de dez mil turmas

de alfabetização espalhadas pelo Brasil. Mundialmente também se notava grandes

desigualdades entre os países e atenção especial era despendida para investimentos em

educação. A criação da UNESCO, em 1945, após a 2ª Guerra exemplifica bem essa

preocupação mundial.

O governo de Vargas se destaca no campo da educação de jovens e adultos, por trazer

uma expansão dos direitos sociais e da cidadania, com ampla presença de massas populares

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que buscavam uma melhoria da qualidade de vida. A educação passou a ser tratada como

condição essencial para o crescimento e desenvolvimento da nação e não apenas como uma

maneira de crescimento pessoal.

Como resultado dessas iniciativas do governo, os índices de analfabetismo das pessoas

acima de cinco anos de idade para 46,7% no ano de 1960. Os direitos sociais, anteriormente

contidos nas propostas liberais, consolidavam-se como políticas públicas estratégicas visando

incorpora- las a grandes massas urbanas em mecanismos de sustentação política dos governos

nacionais. (HADDAD e PIERRO, 2000).

O período antecedente a ditadura militar (em meados da década de 1950 e nos

primeiros anos da década de 1960), observou-se um avanço mais acelerado da alfabetização

que poderia inclusive ter sido o mais revolucionário na história da alfabetização no Brasil

caso não tivesse sido interrompido e reorientado em parte pelo Regime Militar, que se se guiu

ao golpe de 1964.

Nesse período surgiu Paulo Freire, considerado até os dias atuais, uma referência para

a alfabetização de adultos. Algumas técnicas empregadas por este foram também vivenciadas

no MOBRAL – palavras geradoras ilustradas por codificação -, porém o que caracteriza a

proposta de Freire é seu postulado filosófico-pedagógico através do diálogo e valorização da

cultura do sujeito não-alfabetizado. (FREIRE, 1967).

Para Freire (1967), o cidadão analfabeto necessita apreender a real necessidade do

aprendizado da leitura e da escrita, tornando-se assim parte importante no seu próprio

processo de aprendizagem. Ele cita também que:

A alfabetização é mais do que o simples domínio psicológico e mecânico de técnicas de escrever e ler. É o domínio dessas técnicas, em termos conscientes. É entender o que se lê e escrever o que se entende. É comunicar-se graficamente. É uma incorporação. (FREIRE, 1967, p. 119).

Deste modo, nota-se que para Freire assim como outros educadores populares da

época, a alfabetização era um processo político-pedagógico. Em contrapartida, para o regime

militar e os administradores da educação por ele arranjados, a alfabetização era uma questão

técnica, não política. Mesmo com toda repressão, várias práticas inspiradas na educação

libertadora persistiram no governo militar, mas seu desenvolvimento era feito em locais

ocultos e sigilosos.

O MOBRAL– a Fundação do Movimento Brasileiro de Alfabetização, surgiu no

período da Ditadura Militar, através da Lei 5.379, que não somente extinguiu os movimentos

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políticos de alfabetização e cultura popular, mas também criou outra proposta de alfabetização

de âmbito nacional. Percebeu-se que era necessário provar que a alfabetização deveria ser

tratada como uma questão técnica, de método.

De um governo ou regime que falha na realização do objetivo educacional básico – a alfabetização do povo – não se pode esperar muito em termos de realização de outros objetivos educacionais e sociais. (...) O mesmo Estado que obriga a todos a estar na escola até a idade de 14 anos reduz para 12 anos a idade mínima para ingresso no mercado de trabalho. (FERRARO, 2009, p. 105 e 107).

No final da década de 60, o MOBRAL começa a atender interesses do regime

ditatorial, deixando de ser exclusivamente pedagógico, passando a ser visto como uma forma

de manter controle dos ideais das pessoas através de busca de informações (Paiva, 1982). Em

relação ao método de ensino-aprendizagem, o MOBRAL assumia uma posição

completamente centralizadora, visto que possuía uma gerência pedagógica única responsável

por todo o processo de programação, execução e avaliação do processo de alfabetização. As

diretrizes eram estabelecidas pela Secretaria Executiva, que ficava responsável pelo

treinamento dos alfabetizadores em todo o Brasil.

Acerca dos resultados do Programa, o resultado do Censo de 1980 foi desanimador e

extremamente preocupante, visto que o percentual de 25,5% de analfabetos era quase duas

vezes maiores do que os estimados pelo MOBRAL para o ano de 1977, assim sendo, a

confiabilidade dos indicadores foi colocada em questionamento. Os resultados pouco

expressivos do MOBRAL, tomando por base uma análise mais reflexiva levando-se em

consideração a dinâmica do mercado de trabalho, Ribeiro (1992) diz que:

Fica evidente o caráter puramente ideológico das propostas do MOBRAL. De fato, dificilmente um programa de alfabetização, mesmo que massivo, poderia promover a melhoria na renda das populações mais pobres, quando o modelo de desenvolvimento é excludente e concentrado de renda. Também no que diz respeito à participação social, seria absurdo esperar que os egressos do MOBRAL intensificassem seu exercício de cidadania sob a vigência de uma ditadura que havia reprimido toda a participação popular. (RIBEIRO, 1992, p. 21).

Assim sendo, a partir da análise dos resultados, o MOBRAL apontou que a

alfabetização empreendida no Programa não resultou em mudança de renda e ocupação dos

supostamente alfabetizados, nem numa maior participação em trabalhos comunitários e

associações. Deste modo, o MOBRAL fez a ruptura de uma proposta ligada ao

desenvolvimento do sujeito enquanto crítico e reflexivo sobre sua realidade – propostas dos

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movimentos sociais -, em troca de uma alfabetização ineficiente com objetivos

exclusivamente econômicos.

Destaca-se também que o período de execução do MOBRAL deu início a

regulamentação do ensino supletivo, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional de número 5.692 de 11 de agosto de 1971. Considerado como maior desafio para os

educadores brasileiros, o ensino supletivo trouxe uma nova forma de se pensar a escolarização

não formal. O ensino traria continuidade aos estudantes do MOBRAL assegurando a

conclusão do ensino fundamental. O ensino propunha de acordo com Haddad e Pierro (2000),

“recuperar o atraso, reciclar o presente, formando uma mão-de-obra que contribuísse no

esforço para o desenvolvimento nacional, através de um novo modelo de escola” (HADDAD

e PIERRO, 2000, p.117).

A UNESCO em 1972 fez um documento na III Conferência Internacional de Educação

de Adultos que trazia um levantamento sobre o sentido da EJA no contexto bras ileiro, dando

destaque após a implementação do MOBRAL e o Ensino Supletivo. Pelos dados afirmou-se

que o período militar, pelos Planos desenvolvidos o Estado Brasileiro implementou um

sistema de educação permanente, em que a educação de adultos se tornou prioridade por ser

uma modalidade de ensino capaz de desenvolver o crescimento econômico e progresso de

uma nação. O que se viu na prática com o MOBRAL eram professores despreparados e

alunos que não alcançavam a alfabetização com sucesso.

Todavia, presenciamos no decorrer dos anos a concretização do Ensino Supletivo em

âmbito estadual, porém dando prioridade as séries avançadas do ensino fundamental e ensino

médio, houve poucas iniciativas para a alfabetização de adultos. Sendo assim, o período

militar representou a forma de trazer a ascensão social e o crescimento econômico do país,

com o fim do analfabetismo, porém, o Estado não assumiu a responsabilidade pela gratuidade,

deixando a EJA, mais uma vez, na boa vontade de órgãos privados.

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CAPÍTULO 2 – AÇÕES DO GOVERNO NO PROCESSO DE

REDEMOCRATIZAÇÃO

A partir de 1940, começou-se a detectar altos índices de analfabetismo no país, o que

acarretou a decisão do governo no sentido de criar um fundo destinado à alfabetização da

população adulta analfabeta. Em 1945, com o final da ditadura de Vargas, iniciou -se um

movimento de fortalecimento dos princípios democráticos no país. Com a criação da

UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura), ocorreu,

então, por parte desta, a solicitação aos países integrantes (e entre eles, o Brasil) de se educar

os adultos analfabetos. Devido a isso, em 1947, o governo lançou a 1ª Campanha de Educação

de Adultos, propondo: alfabetização dos adultos analfabetos do país em três meses,

oferecimento de um curso primário em duas etapas de sete meses, a capacitação profissional e

o desenvolvimento comunitário. Abriu-se, então, a discussão sobre o analfabetismo e a

educação de adultos no Brasil. Nessa época, o analfabetismo era visto como causa (e não

como efeito) do escasso desenvolvimento brasileiro. Além disso, o adulto analfabeto era

identificado como elemento incapaz e marginal psicológica e socialmente, submetido à

menoridade econômica, política e jurídica, não podendo, então, votar ou ser votado (CUNHA,

1999).

Segundo SOARES (1996), essa 1ª Campanha foi lançada por dois motivos: o primeiro

era o momento pós-guerra que vivia o mundo, que fez com que a ONU fizesse uma série de

recomendações aos países, entre elas está a de um olhar específico para a educação de adultos.

O segundo motivo foi o fim do Estado Novo, que trazia um processo de redemocratização,

que gerava a necessidade de ampliação do contingente de eleitores no país. Ainda, no

momento do lançamento dessa 1ª Campanha, a Associação de Professores do Ensino Noturno

e o Departamento de Educação preparavam o 1º Congresso Nacional de Educação de Adultos.

O Ministério, então, convocou dois representantes de cada Estado para participarem do

Congresso. O SEA (Serviço de Educação de Adultos do MEC), a partir daí, elaborou e

enviou, para discussões, aos SEAs estaduais, um conjunto de publicações sobre o tema. As

concepções presentes nessas publicações, eram: o investimento na educação como solução

para problemas da sociedade; o alfabetizador identificado como missionário; o analfabeto

visto como causa da pobreza; o ensino de adultos como tarefa fácil; a não necessidade de

formação específica; a não necessidade de remuneração, devido à valorização do

“voluntariado”. A partir daí, então, iniciou -se um processo de mobilização nacional no

sentido de se discutir a educação de jovens e adultos no país. De certa forma, portanto,

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embora a Campanha não tenha tido sucesso, conseguiu alguns bons resultados, no que se

refere a essa visão preconceituosa, que foi sendo superada a partir das discussões que foram

ocorrendo sobre o processo de educação de adultos. Diversas pesquisas, então, foram sendo

desenvolvidas e algumas teorias da psicologia foram, gradativamente, desmentindo a ideia de

incapacidade de aprendizagem designada ao educando adulto.

Com o processo de redemocratização política do país, a reorganização partidária a

promoção de eleições diretas nos níveis subnacionais de governo e a liberdade de expressão e

organização dos movimentos sociais urbanos e rurais alargaram o campo para a

experimentação e a inovação pedagógica na educação de jovens e adultos, que até então eram

desenvolvidas quase que clandestinamente por organizações civis ou pastorais populares das

igrejas, e retornaram visibilidade nos ambientes universitários passando a influenciar

programas públicos e comunitários de alfabetização e escolarização de jovens e adultos.

(OLIVEIRA, 2011).

Além dessa garantia constitucional, as disposições transitórias da Carta Magna

estabelecem um prazo de dez anos durante os quais os governos e as sociedades civis

deveriam concentrar esforços para a erradicação do analfabetismo e a universalização do

ensino fundamental, objetivos aos quais deveriam ser dedicados 50% dos recursos vinculados

à educação dos três níveis de governo. (OLIVEIRA, 2011).

Uma das medidas adotadas em março de 1990, foi a retirada de subsídios estatais,

simultâneos à implementação de um plano heterodoxo de ajuste das contas públicas e controle

da inflação. Eleito para a Presidência da República em 1994 e reeleito em 1998, o governo de

Fernando Henrique Cardoso colocou de lado o Plano Decenal e priorizou a implementação de

uma reforma político institucional da educação pública que compreendeu diversas medidas,

dentre as quais a promulgação da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

(LBD).

A seção dedicada à educação básica de jovens e adultos resultou curta e pouco

inovadora: seus dois artigos reafirmaram o direito dos jovens e adultos trabalhadores ao

ensino básico adequado às suas condições peculiares de estudo, e o dever do poder público

em oferecê- lo gratuitamente na forma de cursos e exames supletivos. A única novidade dessa

seção da Lei foi o rebaixamento das idades mínimas para que os candidatos se submetam aos

exames supletivos, fixadas em 15 anos para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino

médio.

A reforma educacional foi iniciada em 1995, que veio sendo adotados pelo governo

federal e tem por objetivo descentralizar os encargos financeiros com a educação,

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racionalizando e redistribuindo o gasto público em favor do ensino fundamental obrigatório.

Essas diretrizes de reforma educacional reforçam as tendências à descentralização do

financiamento e da produção de serviços.

No ano de 1998, o Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização

do Magistério (FUNDEF), com a aprovação da Lei 9.424, o ensino de jovens e adultos passou

a concorrer com a educação infantil no âmbito municipal e com o ensino médio no âmbito

estadual pelos recursos públicos não capturados pelo FUNDEF.

Ao longo da segunda metade deste século houve um importante movimento de

ampliação da oferta de vagas no ensino público no nível fundamental que transformou a

escola pública brasileira em uma instituição aberta a amplas camadas da população. A

ampliação da oferta escolar não foi acompanhada de uma melhoria das condições do ensino,

de modo que hoje, temos mais escolas, mas sua qualidade ainda é pouco satisfatória.

Em uma pesquisa realizada por Haddad (1997) e Ribeiro (1999), mostrou-se que são

necessários mais de quatro anos de escolarização bem-sucedida para que um cidadão adquira

as habilidades e competências cognitivas que caracterizam um sujeito plenamente

alfabetizado diante das exigências da sociedade contemporânea, o que coloca na categoria de

analfabetos funcionais aproximadamente a metade da população jovem e adulta brasileira.

As conhecidas deficiências do sistema escolar regular público são, sem dúvida,

responsáveis por parte da demanda do público mais jovem sobre os programas de ensino

supletivo. Os dados sobre a defasagem entre a idade e a série, no ensino regular, pela sua

magnitude, apontam nessa direção: em 1996, a Contagem da População (IBGE, 1997)

constatava a existência de 5,3 milhões de pessoas de 15 a 19 anos frequentando a escola em

situação de defasagem de ano ou mais. O índice de defasagem aumenta progressivamente

com a idade, chegando próximo de 90% entre jovens de 18 anos. A entrada precoce dos

adolescentes das camadas mais pobres no mercado de trabalho formal ou informal provocou a

sua transferência para os programas de educação originalmente destinados à população adulta.

Levantamentos realizados em vários estados comprovam essa tendência. Em 1992,

constatava-se que dos alunos do programa municipal de ensino supletivo, 26% tinham até

dezoito anos e 36% tinham entre dezenove e 26 anos (São Paulo, 1992).

Com isso cada vez torna-se evidente que as necessidades básicas de aprendizagem

dessa população só podem ser satisfeitas por uma oferta permanente de programas, sendo

mais ou menos escolarizados, necessitam da institucionalidade e continuidade, superando o

modelo dominante nas campanhas de jovens e adultos no Brasil.

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CAPÍTULO 3 – O ANALFABETISMO NO QUADRO ATUAL BRASILEIRO

No Brasil, os níveis de analfabetismo são relativamente altos, segundo os censos mais

recentes publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e o INAF

(Indicador de Analfabetismo Funcional). Foram verificados as taxas e os níveis de

analfabetismo da população adulta brasileira. Segundo o INAF, que define quatro níveis de

analfabetismo:

Analfabetismo: corresponde à condição dos que não conseguem realizar tarefas

simples que envolvam a leitura de palavras e frases ainda que uma parcela destes

consiga ler números familiares.

Nível rudimentar: corresponde à capacidade de localizar uma informação explícita em

textos curtos e familiares (como, por exemplo, um anúncio ou pequena carta), ler e

escrever números usuais e realizar operações simples, como manusear dinheiro para o

pagamento de pequenas quantias ou fazer medidas de comprimento usando a fita

métrica.

Nível básico: as pessoas classificadas neste nível podem ser consideradas

funcionalmente alfabetizadas, pois já leem e compreendem textos de média extensão,

localizam informações mesmo que seja necessário realizar pequenas inferências, leem

números na casa dos milhões, resolvem problemas envolvendo uma sequência simples

de operações e têm noção de proporcionalidade. Mostram, no entanto, limitações

quando as operações requeridas envolvem maior número de elementos, etapas ou

relações.

Nível pleno: classificadas neste nível estão as pessoas cujas habilidades não mais

impõem restrições para compreender e interpretar textos em situações usuais: leem

textos mais longos, analisando e relacionando suas partes, comparam e avaliam

informações, distinguem fato de opinião, realizam inferências e sínteses. Quanto à

matemática, resolvem problemas que exigem maior planejamento e controle,

envolvendo percentuais, proporções e cálculo de área, além de interpretar tabelas de

dupla entrada, mapas e gráficos. (INAF, 2011).

Podemos observar na tabela 3.1, a evolução dos níveis de analfabetismo no Brasil no

período de 2001 a 2011, onde foram entrevistadas 2000 pessoas com idades entre 15 e 64

anos de idade. Nos levantamentos do INAF Brasil, o intervalo de confiança estimado é de

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95% e a margem de erro máxima estimada é de 2,2 pontos percentuais, para mais ou para

menos, sobre os resultados encontrados no total da amostra.

Tabela 3.1: Evolução do Indicador de Analfabetismo da População de 15 a 64 anos.

Podemos notar que, houve uma pequena queda nos níveis de analfabetismo no Brasil

de 2001 a 2011. Segundo os dados obtidos, no ano de 2001-2002 as taxas de analfabetos da

pesquisa apontam 12%, enquanto em 2011 a taxa de analfabetos cai para 6%. Levando em

consideração que os intervalos da pesquisa são de dez anos, considera-se que a média da

queda de analfabetismo é relativamente lenta.

Na tabela 3.2, a pesquisa foi feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -

IBGE, visando verificar os níveis de analfabetismo no Brasil, em pessoas acima de 15 anos de

idade, segundo as federações e os municípios das capitais brasileira. Os dados foram

coletados nos anos de 2000 a 2010.

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Tabela 3.2: Taxa de Analfabetismo da população de 15 anos ou mais de idade, segundo as

Unidades da Federação e os municípios das capitais 2000/2010.

Segundo as informações da Tabela 3.2, podemos verificar as taxas de analfabetismo

por cada região do Brasil, e, segundo o IBGE (2000-2011), foram verificadas as taxas nos

níveis estaduais e também nas capitais do Brasil. Verificamos que, os Estados com os maiores

índices de analfabetismo são os das regiões nordeste e norte, e deve-se levar em consideração

pela baixa infraestrutura dessas regiões, e por serem um território com índice de pobreza e

carência mais reduzidas, comparadas com as outras regiões do Brasil.

Outra pesquisa realizada pelo IBGE nas regiões brasileiras no período de 1992 a 2002,

sobre a taxa de analfabetismo funcional de pessoas de 15 anos de idade ou mais, obteve-se o

seguinte resultado:

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Tabela 3.3: Taxa de Analfabetismo funcional de pessoas de 15 anos ou mais de idade.

Segundo a Tabela 3.3, as taxas de analfabetos funcionais acima de quinze anos na

região nordeste são de 40,8%, e pode ser considerado preocupante, pois quase a metade da

população estudou até as fases escolares iniciais. Pode-se perceber também, que nesta mesma

região, houve uma queda de 14,4% no período de dez anos, e pode ser considerada

relativamente baixa em comparação com as demais regiões. O estudo das tabelas comparando

a redução do analfabetismo por regiões e com o passar dos anos é de suma importância para

pensarmos nos avanços e nos desafios que ainda temos de solucionar, para que o Brasil

chegue num quadro satisfatório de escolarização e aprendizagem da população jovem e

adulta.

Em outra pesquisa feita pelo IBGE, sobre o índice de analfabetismo em cidades do

Estado de Minas Gerais realizada no ano de 2000, foram coletados os seguintes dados na

tabela seguinte:

Tabela 3.4: Indice de Analfabetismo em cidades do Estado de Minas Gerais no ano de 2000.

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Com base nas informações coletadas na tabela 3.4, a cidade de Belo Horizonte está

com 4,40% no índice de analfabetismo, totalizando 74.409 habitantes, e em comparação com

as cidades seguidas com maiores populações, como Betim, Contagem, Uberlândia e Juiz de

Fora, onde Betim obteve-se 8,20%, Contagem 5,30%, Uberlândia 5% e Juiz de Fora 4,40%.

Belo Horizonte representa um índice de analfabetismo relativamente maior, pois sua

população neste período era de 2.250.000 (IBGE 2000).

Enfatizando o Município de Pará de Minas, no estado de Minas Gerais, em uma

pesquisa realizada pelo IBGE no ano de 2000 para verificar a população de homens e

mulheres com 10 anos ou mais, resididos nas regiões urbanas e rurais e as taxas de

alfabetização da população pará-minense, com base na tabela, os resultados obtidos foram que

no ano da pesquisa, a população de Pará de Minas era de 73.007 habitantes, e a taxa de

alfabetização era de 93,70% que corresponde à 55.752 habitantes alfabetizados. Com essas

informações pode-se compreender que em Pará de Minas ainda corresponde a um grande

índice de analfabetos, comparando-se ao total de habitantes no município – 6,3% de jovens e

adultos analfabetos.

Tabela 3.5: População residente, por sexo e situação do domicílio, população residente de 10 anos

ou mais de idade, alfabetizada e taxa de alfabetização em Pará de Minas.

Frente aos dados obtidos, no Brasil a taxa de analfabetos é muito alta, em relação com

outros países subdesenvolvidos. A área onde mais se localizam, são as regiões com maior

índice de pobreza, como a região nordestina. A região sudeste, foi a que registrou o menor

índice de analfabetos.

Para que seja erradicado completamente o analfabetismo no Brasil, concluímos que

primeiramente deve-se garantir que não haja mais “novos analfabetos”. Não há como resolver

o problema do analfabetismo se não alfabetizarmos as crianças na idade correta. Uma criança

que não aprende a ler e a escrever quando deveria, começará a enfrentar dificuldades para

acompanhar os conteúdos e acabará desistindo da escola. Esses desistentes entrarão para as

estatísticas negativas da reprovação e do abandono escolar.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora tenha sido amplamente discutido, a problemática do analfabetismo ainda

necessita ser estudada e compreendida em quatro aspectos: o econômico-social, ao explorar os

diversos indicadores sociais relacionados ao analfabetismo, o aspecto político, ao desvelar

problemas que tornam o analfabetismo renitente, conhecendo o ponto de vista do próprio

analfabeto e buscando compreender seus desejos e possibilidades; o político educacional, ao

considerar as diferenças regionais existentes no Brasil, e o aspecto organizacional, ao

fomentar os projetos de combate ao analfabetismo pelos diferentes órgãos, bem como pelos

governadores, prefeitos, membros do Legislativo, Secretarias, a fim de que ganhe o corpo e

alma dos educadores e de todos os setores que desenvolvem os projetos de que fomentam a

leitura e o aumento da escolaridade.

Evolução de longo prazo do analfabetismo no Brasil mostra que as altas taxas de

analfabetismo observadas hoje no país não estão relacionadas apenas à presença de

analfabetos de gerações antigas na população. Além dos aspectos essencialmente relacionados

à dinâmica demográfica, há também os relacionados à ineficiência do sistema educacional na

determinação das taxas atuais. Em outras palavras, o analfabetismo hoje é resultado tanto da

insuficiência quanto da demora na melhoria da alfabetização ao longo da segunda metade

deste século. Comparando a outros países não desenvolvidos, o Brasil encontra-se em

situação inferior no que diz respeito às taxas de analfabetismo.

Mantidas as condições atuais que determinam as chances de um indivíduo superar o

analfabetismo, é de se esperar, de acordo com ambos os cenários construídos para projetar a

população analfabeta no futuro, que o Brasil permaneça, com pelo menos uma década de

atraso na queda das taxas totais se compararmos com países vizinhos.

Os dados sobre o alfabetismo, e analfabetismo funcional confirmam que a educação

básica é o pilar fundamental para promover a leitura, o acesso à informação, a cultura e a

aprendizagem ao longo de toda a vida. Assim, para que tenhamos um Brasil com níveis

satisfatórios de participação social e competitividade no mundo globalizado, um primeiro

compromisso a ser reafirmado é com a extensão do ensino fundamental de pelo menos nove

anos a todos os brasileiros, independentemente da faixa etária, com oferta flexível e

diversificada aos jovens e adultos que não puderam realizá- lo na idade adequada. É preciso

também reconhecer que os resultados da escolarização em termos de aprendizagem ainda são

muito insuficientes e que um eixo norteador para a melhoria pedagógica na educação básica

deve ser o aprimoramento do trabalho sobre a leitura e a escrita. É preciso superar a visão de

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que esse é um problema apenas dos professores alfabetizadores e dos professores de

Português.

Grande parte das aprendizagens escolares depende da capacidade de processar

informações escritas, verbais e numéricas, relacionando-as com imagens, gráficos etc. Todos

os educadores precisam atuar de forma coordenada na promoção dessas habilidades, contando

com referências claras quanto a estratégias e estágios de progressão desejáveis ao longo do

processo, para que os avanços possam ser monitorados. Com apoio dos gestores, todos os

professores devem agir sistemática e intensivamente no sentido de desenvolver nos alunos

hábitos e procedimentos de leitura para estudo, lazer e informação, assim como proporcionar

o acesso e a manipulação das fontes: bibliotecas com bons acervos de livros, revistas e

jornais, computador e internet. É preciso reconhecer que a promoção do alfabetismo não é

tarefa só da escola. Os países que já conseguiram garantir o acesso universal à educação

básica estão conscientes de que é necessário também que os jovens e adultos encontrem,

depois da escolarização, oportunidades e estímulos para continuar aprendendo e

desenvolvendo as suas habilidades.

Os programas de dinamização de bibliotecas e inclusão digital são fundamentais e

devem ser levados a sério pelas políticas públicas. Para a população empregada, o próprio

local de trabalho pode ser potencializado como espaço de aprendizagem e, nesse caso, os

empresários têm uma participação importante nos compromissos a ser assumidos. As

empresas podem oferecer e incentivar o uso de acervos de jornais, revistas e livros, assim

como de terminais de acesso à internet para fins de pesquisa, além de ampliar as

oportunidades de participação em programas educativos relacionados ao desenvolvimento

pessoal e profissional dos trabalhadores, dando especial atenção aos que têm menor

qualificação e necessitam de mais apoio para superar a exclusão cultura.

No Brasil, enfrentamos ao mesmo tempo os problemas novos e os antigos. O

analfabetismo absoluto ainda atinge milhões de brasileiros e precisa ser solucionado com

políticas voltadas à superação da pobreza e da exclusão. Ao mesmo tempo, é preciso melhorar

o desempenho dos sistemas de ensino e elevar a qualificação da força de trabalho em todos os

níveis, tendo em vista a participação nos setores de ponta da economia mundial e o

fortalecimento das instituições democráticas.

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