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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA GABRIEL DOS SANTOS CABRAL ESTUDO DA GESTÃO HÍDRICA NA INDÚSTRIA DE PRODUTOS DE LIMPEZA Lorena SP 2015

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE

LORENA

GABRIEL DOS SANTOS CABRAL

ESTUDO DA GESTÃO HÍDRICA NA INDÚSTRIA DE PRODUTOS

DE LIMPEZA

Lorena – SP

2015

GABRIEL DOS SANTOS CABRAL

ESTUDO DA GESTÃO HÍDRICA NA INDÚSTRIA DE PRODUTOS

DE LIMPEZA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Escola de Engenharia de Lorena da Universidade

de São Paulo como requisito parcial para

obtenção de título de Engenheiro Químico.

Área de projeto: Tratamento de

efluente.

Orientador: Prof. Adriano Francisco

Siqueira

Lorena – SP

2015

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIOCONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE

Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Automatizadoda Escola de Engenharia de Lorena,

com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Cabral, Gabriel dos Santos Estudo da Gestão Hídrica na Indústria de Produtosde Limpeza / Gabriel dos Santos Cabral; orientadorAdriano Francisco Siqueira. - Lorena, 2015. 54 p.

Monografia apresentada como requisito parcialpara a conclusão de Graduação do Curso de EngenhariaQuímica - Escola de Engenharia de Lorena daUniversidade de São Paulo. 2015Orientador: Adriano Francisco Siqueira

1. Água. 2. Indústria. 3. Limpeza. I. Título. II.Siqueira, Adriano Francisco, orient.

DEDICATÓRIA

A todos que me apoiaram e não me fizeram

desistir do meu sonho

AGRADECIMENTOS

Agradeço а Deus, pois sem ele eu não teria forças para essa longa jornada, agradeço аos meus professores е orientador Adriano Siqueira, que me deu suporte em todos os momentos que precisei e aos meus amigos, que me ajudaram na conclusão da monografia.

À minha família, por sua capacidade de acreditar em mim е investir em mim.

Mãe, seu cuidado е dedicação foi que deram, em alguns momentos, а esperança para seguir. Pai, sua presença significou segurança е certeza de que não estou sozinho nessa caminhada. Irmã, crescer ao seu lado foi uma honra e lição de vida.

À minha noiva Aline, pessoa com quem amo partilhar а vida. Com você, tenho me sentido mais vivo. Obrigado pelo carinho, а paciência е por sua capacidade de me trazer paz na correria de cada semestre.

Aos meus amigos, pelas alegrias, tristezas е dores compartilhadas. Com vocês,

as pausas entre um parágrafo е outro de produção melhora tudo о que tenho produzido na vida.

Gostaria de agradecer especialmente ao meu tio e padrinho, João Bosco Cabral,

que me inspirou a seguir a carreira e me abriu portas para a iniciação dessa monografia. João é uma honra poder ser padrinho do seu filho Ângelo.

RESUMO

CABRAL, G.S. Estudo da gestão hídrica em uma indústria de produtos de limpeza.

2015. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia Química) – Escola de Engenharia

de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2015.

A água é um importante insumo na produção de produtos de limpeza. Devido à crescente

preocupação com as reservas hídricas de nosso país, cresce o interesse em soluções para

diminuir seu consumo e minimizar desperdícios. Observa-se um crescente aumento no

rigor das leis e normas vigentes no país nesse momento, acarretando um alto custo na

obtenção desse recurso e, quando a empresa não segue essas normas, está sujeito a multas

muito pesadas. Por isso é importante para uma empresa que quer alcançar competitividade

no mercado realizar um levantamento de dados sobre o consumo dessa matéria-prima.

Este trabalho de conclusão de curso consiste na elaboração de um balanço hídrico em

uma indústria de produtos de limpeza, visando a otimização do consumo de água, do

tratamento de efluente e a reciclagem do efluente, caracterizando o fechamento do

circuito em alguns casos. Estão descritas as limitações e dificuldades existentes nos atuais

processos da empresa e são apresentadas alternativas para reincorporar a maior parte do

efluente tratado ao processo em atividades como a limpeza do pátio, lavagem de peças/

equipamentos, torres de resfriamento até mesmo o uso em determinados produtos da linha

de produção configurando o reciclo. Conclui-se que a água é de vital importância para

uma indústria do ramo e que existem oportunidades e novas tecnologias que favorecem

uma melhor gestão desse recurso.

Palavras chaves: Água. Indústria. Limpeza.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Vazões médias e de estiagem nas regiões hidrográficas e no país ................ 11 Tabela 2-Valores do coeficiente de carga poluidora (K1) calculado em função das concentrações médias de DQO (Demanda Química de Oxigênio, mg/L) e SST (Sólidos Suspensos Totais mg/L) do efluente liquido do estabelecimento, a ser aplicado sobre a tarifa de esgoto................................................................................................................ 19 Tabela 3-Parâmetros necessários para adequação a tarifa normal de esgoto ................ 20 Tabela 4 - Cesta de Limpeza ......................................................................................... 30 Tabela 5 - Tabela de faturamento com produtos de limpeza ......................................... 31 Tabela 6 - Parâmetros do Efluente Bruto / Resultado da amostra ................................. 47 Tabela 7- Parâmetros do Efluente Tratado / Resultado da amostra............................... 48

LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Contribuição da vazão média nas regiões, em percentagem ......................... 11

Figura 2 - Criticidade das chuvas de janeiro a março entre 2012 e 2014 no Sudeste ... 13

Figura 3 - Parcela dos gastos do brasileiro em um supermercado ................................ 30

Figura 4 - Esquema básico de um sistema de captação de água da chuva .................... 37

Figura 5 - Modelo Auto-Limpante de um Filtro de Água de Chuva ............................. 38

Figura 6 - Separador de Águas de Chuva de Baixo Custo ............................................ 39

Figura 7 - Cointainer de 1.000 Litros ............................................................................ 41

Figura 8 – Funcionamento de um Spray Ball ................................................................ 42

Figura 9 - Estação de tratamento de efluentes ............................................................... 44

Figura 10 - Jar Test com efluente bruto e tratado, antes e após o tratamento – formação

do lodo. ........................................................................................................................... 45

Figura 11 - Leito de secagem aberto ............................................................................. 45

Figura 12 - Escoamento da água presente no lodo ........................................................ 46

Figura 13 - Atual Gestão Hídrica da Indústria de Produtos de Limpeza....................... 50

Figura 14 - Gestão Hídrica Otimizada........................................................................... 51

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Total de Petições no período de 01/01/2009 a 31/12/2013 ..................................... 27

Gráfico 2 - Gráfico de Deferimentos .......................................................................................... 28

Gráfico 3 - Faturamento em % de variação anual de detergente para lavar louça ..................... 29

Gráfico 4 - Gráfico Climático da média anual de temperatura e índice pluviométrico na cidade de Uberlândia .............................................................................................................................. 36

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 10

1.1 – Contextualização ............................................................................................................ 10

1.2 - Justificativa do trabalho .................................................................................................. 13

2- OBJETIVOS ............................................................................................................................... 15

2.1- Objetivo Geral .................................................................................................................. 15

2.2- Objetivos Específicos ........................................................................................................ 15

3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................................ 16

3.1 - Gerenciamento dos recursos hídricos ............................................................................ 16

3.2 - Índice de Qualidade do Efluente ..................................................................................... 17

3.3 - Meios de obtenção de água para fins industriais ........................................................... 21

3.3.1- Concessionárias ......................................................................................................... 21

3.3.2 - Utilização de águas superficiais ............................................................................... 21

3.3.3 - Utilização de águas subterrâneas ............................................................................ 22

3.4 - Tipos de tratamentos de efluentes utilizados nas indústrias ......................................... 24

3.4.1 - Processos de tratamentos físicos ............................................................................. 24

3.4.2 -Processos de tratamentos químicos ......................................................................... 25

3.4.3 - Processos de tratamento biológico .......................................................................... 26

3.5 - Estudo do mercado de produtos de limpeza .................................................................. 27

3.6 - Tendências do mercado da limpeza ................................................................................ 31

3.6.1 - Mercado mundial ..................................................................................................... 31

3.6.2 - Mercado nacional ..................................................................................................... 31

4 - METODOLOGIA ...................................................................................................................... 34

5 - RESULTADO E DISCUSSÕES .................................................................................................... 35

5.1 - Obtenção ......................................................................................................................... 35

5.2 - Utilização ......................................................................................................................... 40

5.3 - Tratamento do efluente .................................................................................................. 42

5.4 – Proposta para melhorias nas empresas analisadas ....................................................... 50

6 – CONCLUSÃO .......................................................................................................................... 52

7 – REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS ................................................................................................ 53

10

1. INTRODUÇÃO

1.1 – Contextualização

A água é o bem mais precioso para a sobrevivência dos seres que vivem no planeta, sem ela a humanidade não seria nada. O corpo humano consegue resistir a sete dias sem comida, mas sem água apenas três, as grandes civilizações se situavam ao lado de grandes rios, estudos da ONU (Organização das Nações Unidas) mostram que a má distribuição da água no mundo está diretamente ligada às desigualdades sociais. Tudo isso mostra a importância desta substância para a sobrevivência e prosperidade da humanidade.

Um recente relatório da ONU mostra que o planeta pode enfrentar déficit de água de até

40% nos próximos 15 anos se não houver uma gestão sustentável desse recurso.

(https://nacoesunidas.org/ate-2030-planeta-pode-enfrentar-deficit-de-agua-de-ate-40-

alerta-relatorio-da-onu/acessado, 23/03/2015)

O Brasil vem tomando importantes decisões a respeito das suas reservas hídricas, elas

constituem cerca de 12% de toda água doce disponível no planeta, mas sua distribuição é

muito heterogênea. Sendo que a região estudada (Região Hidrográfica do Paraná) tem

apenas 6,4% desses recursos e abriga grandes cidades, como Brasília, Curitiba, Goiânia,

Campinas, Campo Grande e Uberlândia, enquanto a maior parte da reserva está na região

Amazônica, que não tem grande população e industrialização como mostra na Tabela 1 e

Figura 1.

11

Tabela 1- Vazões médias e de estiagem nas regiões hidrográficas e no país

Fonte: ANA, Disponibilidades e demandas de recursos hídricos no Brasil, 2005, p.21

Figura 1- Contribuição da vazão média nas regiões, em percentagem

Fonte: ANA, Disponibilidades e demandas de recursos hídricos no Brasil, 2005, p.22

Devido ao mau gerenciamento dos recursos hídricos e a uma forte escassez de chuvas na

região sudeste, o Brasil passa hoje por uma de suas maiores crises hídricas e econômicas,

pois esta região é a de maior desenvolvimento industrial do país.

12

Essa forte escassez de chuvas vem sendo observadas desde o segundo semestre de 2012,

quando foi observado um comportamento pluviométrico bem abaixo da média em

diferentes regiões do País. Foram analisadas 950 estações pluviométricas registradas nos

últimos 30 anos, essas são estações capazes de coletar dados que mostram as

características do clima da região onde ela se localiza.

Análises individuais foram realizadas em cada uma das estações de modo a caracterizar

a magnitude destes eventos em relação ao registrado no histórico. Para avaliar o grau de

excepcionalidade dos eventos de chuva entre 2012 e 2014 em relação ao histórico

registrado nas estações pluviométricas, foram realizados ajustes estatísticos a partir de

distribuições de probabilidade dos acumulados pluviométricos anuais até o ano de 2011,

adotando como referência o ano hidrológico de janeiro a março em cada estação

pluviométrica.

Deste modo, foi possível realizar estimativas dos tempos de retorno esperados para os

anos 2012 a 2014, que foram interpoladas a fim de gerar mapas de tempo de retorno que

representem espacialmente o grau de excepcionalidade dos eventos de cheia e de seca

ocorridos neste período. A Figura 2 ilustra os mapas gerados a partir das estimativas de

magnitude (círculos) e tempo de retorno (manchas coloridas) dos eventos de precipitação

anual de 2012 a 2014 de cada uma das 950 estações pluviométricas analisadas,

considerando o ano hidrológico de outubro a setembro. As cores quentes refletem eventos

de seca, as frias (tons de azuis) eventos de cheia e cores intermediárias representam

condições de normalidade dos eventos de precipitação (ANA Encarte Especial sobre a

Crise Hídrica, 2014).

13

Figura 2- Criticidade das chuvas de janeiro a março entre 2012 e 2014 no Sudeste

Fonte: ANA Encarte Especial sobre a Crise Hídrica, 2014, p.13

Segundo o colunista da Carta Maior, Leonardo Boff, no seu texto “A água no mundo e

sua escassez no Brasil” 02/02/2015:

A atual situação de grave escassez de água potável, afetando boa parte do Sudeste brasileiro onde se situam as grandes cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, nos obrigam, como nunca antes, a repensar a questão da água e a desenvolver uma cultura do cuidado, acolitados por seus famosos erres (r): reduzir, reusar, reciclar, respeitar e reflorestar.

1.2 - Justificativa do trabalho

A região sudeste é fortemente ocupada por grandes polos industriais, não importando o ramo da indústria, sejam elas indústrias de base, intermediarias, de bens de consumo ou de ponta, todas têm envolvida em algum de seus processos a água, com funções que variam desde utilização para resfriamento, esterilização de equipamentos, controle de temperatura e até a própria utilização no produto, dentre muitas outras utilidades.

Este trabalho tem como propósito mostrar a importância da água na indústria,

especificamente no ramo de produtos de limpeza, contextualizando a atual situação das

fontes desse bem renovável, fazendo um levantamento do potencial do mercado,

principais produtos, crescimento e tendências, bem como um levantamento sobre os tipos

de abastecimentos que podem ser explorados, o quanto dessa água é incorporado no

produto e usos indiretos, caracterização do efluente bruto a ser tratado e assim tentar

visualizar possíveis oportunidades de redução de consumo.

14

Na indústria de produtos de limpeza, a água está presente na maior parte dos produtos e

em uma fração significativa, assim como em muitos outros segmentos da indústria. Com

a iminente crise hídrica mundial, devido ao crescimento populacional, grande

industrialização de regiões e grandes períodos de estiagem, é cada vez mais recomendado

implementações de novas soluções para o uso do efluente que outrora era descartado,

caracterizando um fechamento de ciclo.

Com o passar dos anos fica mais evidente a preocupação de grandes nações a respeito da

qualidade de seus rios, alguns exemplos são os rios Sena e Tamisa, que cruzam as capitais

da França e Reino Unido respectivamente e estão a caminho da sua total despoluição.

Seguindo essa linha, o Brasil aplica leis cada vez mais rigorosas a respeito do descarte do

efluente gerado pelas empresas. Sob grandes multas aplicadas em quem não segue essas

leis. As empresas são obrigadas a tratar seus efluentes brutos que podem estar fora dos

padrões especificados pela legislação. Pensando dessa maneira é viável a reutilização

desse efluente tratado com outras funções menos nobres na própria empresa que antes era

usada água tratada.

O trabalho levanta diferentes tipos de tratamento de efluente que estão sendo usado nas

indústrias hoje em dia como:

Filtração

Coagulação/Floculação Química

Tratamento Aeróbio Biológico

Utilização de Raios Ultravioleta para Esterificação

Esterificação com Ozônio

E mostra qual é o mais recomendado economicamente para a função.

Assim esse trabalho tem como motivação contribuir com informações técnicas a respeito

do tratamento de efluente, bem como identificar possíveis oportunidades para economia

e capacitação desse segmento da indústria para se adequar as leis que estão em vigor.

15

2- OBJETIVOS

2.1- Objetivo Geral

Estudo e propostas de melhorias da gestão hídrica em duas indústrias de produtos de limpeza.

2.2- Objetivos Específicos

• Avaliar e identificar os processos em que é empregado o uso de água;

• Identificar oportunidades de economia nesses processos;

• Avaliar a qualidade dos efluentes tratados e sua possível aplicação em

programas de reuso;

• Descrever as práticas que resultarão na redução do consumo de água.

16

3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 - Gerenciamento dos recursos hídricos

O gerenciamento dos recursos hídricos da nação não levantava interesse aos governantes

até pouco tempo atrás, devido à grande disponibilidade de águas superficiais e

subterrâneas de boa qualidade no país sua obtenção e tratamento apresentavam

baixíssimo custo. Assim não existia preocupação com sua captação e seu descarte no meio

ambiente, com isso era frequente o descarte de cargas altamente poluentes diretamente

nos rios levando a contaminação dos mananciais.

O descaso com a qualidade da água começa a mudar a partir do crescimento populacional

e industrial de algumas regiões, isso se deve ao aumento do volume de efluente

contaminado descartado diretamente no meio ambiente e teve como consequência o

comprometimento das fontes de abastecimento. Em 1997 surge a Lei das Águas (Lei nº

9.433/97) que diz em seu Art. 5º, III inciso que os direitos sobre o uso dos recursos

hídricos serão cedidos mediante a uma outorga.

De acordo com o inciso IV, do art. 4º da Lei Federal nº 9.984/2000, compete à Agência

Nacional de Águas (ANA) outorgar, por intermédio de autorização, o direito de uso de

recursos hídricos em corpos de água de domínio da União, bem como emitir outorga

preventiva. Também é competência da ANA a emissão da reserva de disponibilidade

hídrica para fins de aproveitamentos hidrelétricos e sua consequente conversão em

outorga de direito de uso de recursos hídricos.

Essa política se baseia nos princípios do art. 1º da Lei Federal nº 9.433/97 que diz que:

I - A água é um bem de domínio público;

II - A água é um recurso natural limitado, dotado de valor econômico;

III - Em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo

humano e a dessedentação de animais;

IV - A gestão dos recursos hídricos deve sempre proporcionar o uso múltiplo das

águas;

17

V - A bacia hidrográfica é a unidade territorial para implementação da Política

Nacional de Recursos Hídricos e atuação do Sistema Nacional de Gerenciamento de

Recursos Hídricos;

VI - A gestão dos recursos hídricos deve ser descentralizada e contar com a

participação do Poder Público, dos usuários e das comunidades.

3.2 - Índice de Qualidade do Efluente

De acordo com o decreto municipal de Uberlândia N° 13.481, de junho de 2012 capítulo

I

Art. 1° Fica instituído o Programa de Recebimento e Monitoramento de Efluentes Não

Domésticos (PREMEND) no município, destinado às pessoas físicas e jurídicas

instaladas no Município de Uberlândia que produzem e lançam efluentes não domésticos

no Sistema Público de Esgoto.

Sendo assim toda e qualquer empresa que lança efluentes não-domésticos na rede coletora

pertencente ao sistema de esgotamento sanitário do Departamento Municipal de Água e

Esgoto (DMAE), deverá obedecer aos padrões fixados pelo PREMEND e devem seguir

às condições e critérios estabelecidas por normas da ABNT (Associação Brasileira de

Normas Técnicas) como, ABNT/NBR 9800, ABNT/NBR 9898, ABNT/NBR 9897,

ABNT/NBR 13402 e também a COPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental) DN

COPAM n° 89, estes critérios indicam como proceder para o caso do despejo de efluente

industrial.

Os padrões a serem obedecidos estão mostrados no Quadro 1 e Tabelas 2 e 3 a baixo:

18

Quadro 1-Valores do coeficiente de carga poluidora K, a ser aplicado sobre a tarifa de esgoto, em função do ramo de atividade do estabelecimento

Fonte: IBGE/CNAE – Resolução CONCLA 01/2006 de 04 de setembro de 2006.

19

Tabela 2-Valores do coeficiente de carga poluidora (K1) calculado em função das concentrações médias de DQO (Demanda Química de Oxigênio, mg/L) e SST (Sólidos Suspensos Totais mg/L) do efluente liquido do estabelecimento, a ser aplicado sobre a tarifa de esgoto

Fonte: Decreto Municipal de Uberlândia Nº 13.481, de 22 de junho de 2012

Esses valores são calculados pela seguinte fórmula:

� = 0, 6 + 0, 8 ∗ ��� + 0, 6 ∗ (1)

Caso K1 esteja fora dos valores estabelecidos pelo Quadro 1 de acordo com o ramo de

atividade do estabelecimento, a empresa terá o prazo de 12 meses para que faça as

adequações das instalações físicas de acordo com as instruções técnicas. Se o prazo

espirar e as adequações não ocorrerem será aplicado um incremento de 20% ao fator de

carga poluidora vigente.

A empresa procurando atender os índices da Tabela 2passará a ser isenta dos fatores K,

K1 e K2, ou seja, pagará a tarifa normal de esgoto (K=1).

20

Tabela 3-Parâmetros necessários para adequação a tarifa normal de esgoto

Fonte:ABNT/NBR 9800/1987

O trabalho apresentado visa colocar a empresa em uma situação ideal, e tenta reaproveitar

parte dessa água tratada em outros setores do processo na empresa.

21

3.3 - Meios de obtenção de água para fins industriais

3.3.1- Concessionárias

A empresa que é responsável pelo abastecimento da região de Uberlândia é a DMAE

(Departamento Municipal de Água e Esgoto de Uberlândia). Ela fornece uma tabela para

os gastos industriais escalonados conforme abaixo.

Categoria Industrial

De 0 a 30 m³ - tarifa mínima industrial R$ 40,77

De 31 a 3.000 m³ - valor por m³ excedente R$ 2,77

De 3.001 a 10.000 m³ - valor por m³ excedente R$ 2,91

De 10.001 a 35.000 m³ - valor por m³ excedente R$ 3,10

De 35.001 a 50.000 m³ - valor por m³ excedente R$ 3,17

Acima de 50.000 m³ - valor por m³ excedente R$ 3,93

Fonte: DMAE Uberlândia, maio de 2015

Conforme apuramos no correio-eletrônico local (correiodeuberlandia.com.br) o

penúltimo reajuste (abril de 2014) foi de 5,56%, um ano depois no final do mês de maio

de 2015 o novo reajusto já atingiu 9,95% da tarifa anterior, o que é bem acima da taxa de

inflação.

3.3.2 - Utilização de águas superficiais

As águas de mananciais superficiais são frequentemente utilizadas em diversos ramos da

indústria, pois é um recurso de fácil captação. Mas quando se leva em conta o setor de

produtos de limpeza a qualidade da água a ser incorporada no produto é um fator decisivo

para essa tomada de decisão.

As águas superficiais brasileiras cuja vazão volumétrica é favorável para sua captação

estão seriamente poluídas com alto teor de matéria orgânica diluída, com isso são

necessários uma serie de pré-tratamentos para viabilizar seu uso.

22

Oxidação: Injeta-se cloro para oxidar os metais presentes na água, principalmente

o ferro e o manganês para tornar os metais insolúveis em água, permitindo, assim,

a sua remoção nas outras etapas de tratamento.

Coagulação: Adiciona-se sulfato de alumínio e cloreto férrico para que esses

coagulantes aglomerem a sujeira, pode-se adicionar cal no processo para manter

o pH.

Floculação: a floculação é um processo onde movimenta-se a água com o intuito

de facilitar a aglomeração para que os flocos ganhem peso e facilite a decantação.

Decantação: na decantação, os flocos formados anteriormente separam-se da

água, sedimentando.

Filtração: Mesmo depois de decantada a água ainda contém as impurezas na

forma de flocos no fundo ou na superfície do tanque, essa matéria passa por um

filtro que tem a função de remover essas partículas solidas. Os filtros são camadas

de pedras e areia que retêm a matéria sólida.

Desinfecção: Mesmo a água já parentar estar limpa, ela ainda contém germes

nocivos e passa por uma adição de cloro para que seja eliminada garantindo a

qualidade da água.

Correção de pH: A água recebe uma dosagem de cal, que corrige seu pH para

proteger as canalizações das redes e das casas contra corrosão ou incrustação.

Segundo levantamento realizado por José Galizia Tundisi, do Instituto Internacional de

Ecologia, o tratamento de águas oriundas de mananciais superficiais tem um custo que

varia de R$ 0,50 a R$ 100,00 dependendo da região e a implantação dessa opção acaba

sendo inviável (Tundisi, J.G. Recursos Hídricos, 2003).

3.3.3 - Utilização de águas subterrâneas

Cerca de 97% da água doce disponível para uso humano encontra-se no subsolo. No

entanto, a grande maioria da população não leva em consideração sua importância assim

como seus governantes, devido ao fato de ser um recurso “invisível”.

A água subterrânea também não era vista como um recurso capaz de sanar as necessidades

do ramo industrial e de grandes centros urbanos devido a antigas técnicas de construção

de poços e de métodos de bombeamentos primitivos, com o passar do tempo alguns

fatores, como a crescente oferta de energia elétrica e a poluição das fontes hídricas de

23

superfície, desencadearam novas técnicas e novas tecnologias para a obtenção da água,

capacitando perfurações cada vez mais profundas e capacidade de bombeamento com

vazões muito maiores.

Mais da metade da água de abastecimento público no Brasil provém das reservas

subterrâneas na atualidade. A crescente preferência pelo uso desse recurso se deve ao fato

de que, geralmente, apresentam excelente qualidade e menor custo já que diminui a

distância entre o local de consumo e a sua fonte de captação. Entretanto, cuidados devem

ser tomados com eventuais possibilidades de contaminação, tais como: devastação da

cobertura vegetal, uso desenfreado e inadequado do solo, como a utilização excessiva de

agrotóxicos, dentre outras. Há outros cuidados a serem tomados, agora em relação as

obras de captação que devem ser acompanhadas por profissionais capacitados e nos

padrões das normas técnicas, pois, caso contrário podem se tornar possíveis fontes de

contaminação natural ou induzida dos aquíferos (Nacimento, Vinicio M., N&S

Agriconsult, Gestão de Recursos Hídricos, 2015).

Existem algumas vantagens do uso das águas subterrâneas em relação às águas

superficiais, podemos apontar as seguintes:

O custo de sua captação e distribuição é reduzido, devido ao fato de que a captação

pode ser mais próxima da área consumidora.

Por passar por várias camadas sedimentares de rochas porosas há uma maior

proteção contra a poluição, essas camadas servem como um filtro para a água.

Em alguns casos não precisam de nenhum tratamento, o que passa a ser uma

grande vantagem econômica.

A utilização de águas subterrâneas tem crescido de forma acelerada nas últimas décadas.

Isso indica uma forte tendência no mercado, não só para o abastecimento público, mas

também para irrigação de lavouras e utilização nas indústrias. A comprovar esse fato

temos dados do PNRH (Plano Nacional de Recursos Hídricos) de que em 2006 era

estimado no país pelo menos 400 mil poços (Zoby & Matos, 2002).

Isso levanta algumas preocupações relacionadas ao quanto dessa água está disponível e

quando é viável investir em uma perfuração. Vários autores têm realizado estudos

24

levantando dados sobre as diferentes regiões e suas reservas hídricas. Dentre ele

destacam-se Costa (1994) e Mente et. al. (1994).

A exploração está condicionada a três fatores:

a) Quantidade: Relacionada à condutividade hidráulica, que define a maior ou menor

facilidade de movimento das águas no solo através de seus vazios e o coeficiente

de armazenamento dos terrenos, que é a percentagem do volume água encontrada

num determinado volume de rocha somada ao volume de água.

b) Qualidade: A qualidade da água está relacionada a composição das rochas, as

condições climáticas e de renovação das águas.

c) Econômico: A profundidade em que chegamos ao lençol está ligada a viabilidade

da perfuração, já que quanto mais profundo o poço maior será os custos com a

perfuração e o bombeamento.

3.4 - Tipos de tratamentos de efluentes utilizados nas indústrias

Nas indústrias a água pode ser utilizada de diversas formas, tais como: incorporação aos

produtos; limpezas de pisos, tubulações e equipamentos; resfriamento; processos de

separação; consumo humano e uso em sanitários. Muitos desses processos produzem

resíduos que são incorporados à água que será descartada de volta ao meio ambiente. Em

muitos casos a quantidade ou tipo de resíduo não permite seu descarte sem antes um

tratamento adequado de acordo com as normas vigentes na atual legislação.

Podemos definir um tratamento adequado ao efluente de acordo com sua caracterização

e que atenda a necessidade para seu descarte ou reaproveitamento.

Podemos classificar esses tipos de tratamento de três maneiras, tratamento físico,

tratamento químico e tratamento biológico.

3.4.1 - Processos de tratamentos físicos

Os processos de tratamentos físicos são aqueles que têm como característica a separação

de matéria através de processos mecânicos e não envolvem nenhum tipo de reação

química.

Gradeamento: tem como objetivo remover sólidos grosseiros com diâmetro que

sejam retidos por grades que tem como espaçamento médio entre as barras de 0,5

cm a 2 cm. Seu principal objetivo é evitar entupimentos;

25

Peneiramento: com objetivo semelhante ao gradeamento, mas com uma

capacidade de retenção de sólidos de diâmetro maior que 1 mm. As peneiras

devem ser aplicadas principalmente em indústrias que rejeitem resíduos como

fiapos; plásticos; resíduos de alimentos, etc;

Separação água/óleo: processo físico que ocorre por diferença de densidade entre

dois líquidos, os produtos oleosos sendo menos densos tendem a ficar na parte

superior do efluente e são recolhidos na superfície; em casos onde os óleos sejam

mais densos do que a água, estes serão recolhidos pelo fundo do tanque;

Sedimentação: processo onde matéria sólida arrastada junto com a água entra em

tanques onde descansa por um certo período, esse período varia de acordo com o

efluente gerado (no caso de geração de matéria microbiana como o lodo ativo

esse descanso deve ser reduzido pois esse microrganismo pode produzir gases

indesejáveis sob condições anaeróbicas). Processo descrito como de clarificação;

Filtração: Passagem de uma mistura sólido – liquido através de um meio poroso,

sua utilização ganha importância nos filtros de membrana (ultra filtração), hoje

muito utilizados nas indústrias e tem a capacidade de separar microrganismos ou

moléculas orgânicas capazes de configurar cor e toxidade indesejada;

Flotação: Processo muito utilizado para clarificação de efluentes que tem como

vantagem a redução da área necessária, mas tem como desvantagem o custo

operacional devido à mecanização. Processo semelhante a um decantador, mas

que apresenta uma injeção de ar que facilita a flotação do material a ser recolhido,

essa remoção ocorre por raspagem superficial;

3.4.2 -Processos de tratamentos químicos

Os processos químicos são aqueles em que há alguma ação de produtos químicos que

provocarão a separação ou facilitação da remoção do material indesejado.

Clarificação química: nesse processo faz-se a remoção de matéria orgânica

coloidal, incluindo os coliformes, esse processo físico-químico é baseado na

desestabilização dos colóides por coagulação pela ação de calor, agitação e adição

de agentes coagulantes tais como sais de ferro ou alumínio;

Eletrocoagulação: realiza a remoção de matéria orgânica, inclusive de compostos

coloidais, corantes e óleos/ gorduras, esse processo é realizado pela passagem de

uma corrente elétrica pelo efluente que escorre em uma calha eletrolítica

26

provocando reações de oxidação na matéria e a desestabilização de partículas

coloidais;

Cloração para desinfecção: trata-se da adição de cloro (Cl2) a água para sua

desinfecção;

Oxidação por ozônio: semelhante à cloração é usado para desinfecção, com a

vantagem de ser um oxidante mais poderoso e chegando a ser mil e quinhentas

vezes mais rápido e não produz resíduos tóxicos, porem apresenta elevado custo

de manutenção;

Utilização de Raios Ultravioleta para Esterificação: Trata-se de um processo onde

através dos raios ultravioleta microrganismos presentes no efluente sejam

exterminados.

3.4.3 - Processos de tratamento biológico

O tratamento biológico é uma das alternativas mais econômicas e eficientes para a degradação da matéria orgânica de efluentes biodegradáveis. Nesse processo ocorre a ação de agentes biológicos como bactérias, protozoários e algas. Essa degradação pode ocorrer por meio do tratamento biológico aeróbio e anaeróbio.

Processo biológico aeróbio: Nesse processo, o efluente precisa ser submetido a

temperaturas específicas, estar com o pH e oxigênio dissolvido (OD) controlado,

além de obedecer a relação da massa com os nutrientes de Demanda Biológica de

Oxigênio (DBO) que variam com a biota formada em cada estação.

Processo biológico anaeróbico: Entre os sistemas de tratamento anaeróbio,

existem as lagoas anaeróbias, os tanques sépticos, os filtros anaeróbios e os

reatores de alta taxa, capazes de receber maiores quantidades de carga orgânica

por unidade volumétrica, como os reatores UASB

(UpflowAnaerobicSludgeBlanket) ou RAFAs (Reatores Anaeróbios de Fluxo

Ascendente).

No caso da indústria de produtos de limpeza o tratamento biológico passa por algumas dificuldades, devido ao tipo de efluente gerado que carrega altos teores de material desinfetante presente em grande parte dos produtos fabricados.

27

3.5 - Estudo do mercado de produtos de limpeza

Para falar sobre o mercado de produtos de limpeza no Brasil, o Anuário ABIPLA

(Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins) 2014 utilizou de

institutos de pesquisa respeitados no segmento como Nielsen, KantarWorldpanel, Euro

monitor, Mintel, STAHL Vigilância Sanitária Digital.

Os dados levantados pela STAHL permitiram observar a evolução dos pedidos de

regularização de empresas nacionais de produtos saneares.

Gráfico 1 - Total de Petições no período de 01/01/2009 a 31/12/2013

Fonte: ABIPLA/ STAHL, 2014, p. 83

Observando os gráficos constatou-se um crescimento médio de 2% ao ano nas petições,

nos últimos cinco anos, referente às classes técnicas de produtos de limpeza. Como

demonstra o gráfico acima, houve um aumento de 24,6% entre os anos de 2012 e 2013.

De 2010 para 2012 houve uma queda nos pedidos de regularização, isso mostra que com

o passar dos anos ficou cada vez mais criteriosa a exigências, já no próximo ano

verificamos que as empresas se adequaram as novas normas e o número de pedidos

deferidos volta a aumentar como mostra Gráfico 2:

28

Gráfico 2 - Gráfico de Deferimentos

Fonte: ABIPLA/ STAHL, 2014, p. 83

A Nielsen foca sua pesquisa no mercado consumidor, em 2013, considerou o universo de

45 milhões de domicílios, o que corresponde a 165 milhões de indivíduos de sete áreas

geográficas do Brasil.

As categorias que mais cresceram em volume no ano de 2013 foram:

Inseticida armadilha (39%);

Produto para cozinha (24,3%);

Inseticida gás fumigante (16,9%).

E em valor:

Produto para cozinha (26,8%);

Inseticida gás fumigante (18,5%);

Amaciantes para roupas (17,6%).

Os dados apresentados traduzem os novos hábitos de consumo dos brasileiros, que

refletem o aumento do poder aquisitivo e que os consumidores estão adquirindo produtos

que tragam bem-estar e praticidade na limpeza do lar.

Como o trabalho está focado na otimização da gestão hídrica das empresas, iremos

colocar como exemplo o setor de detergente para lavar louça, que é um produto com alta

quantidade de água agregada.

29

“Presente em 100% dos lares, o detergente para lavar louças, é um importante item na limpeza doméstica. A categoria teve um crescimento de 9,6% em faturamento e de 2,2% em volume de vendas, em relação ao ano anterior. A versatilidade do produto e a alta eficiência na remoção de sujeiras e gorduras explicam a expansão. Consideração da ABIPLA Os fabricantes desta categoria investem massivamente na inovação, com lançamentos de embalagens diferenciadas, versões bactericidas, que não agridem a pele, além de novas fragrâncias e cores. Pesquisa recente aponta que os brasileiros preferem lavar louça à mão e por isso as indústrias inovam levando ao mercado produtos com alto poder desengordurante e que ao mesmo tempo proporcionem brilho à louça com o mínimo de esforço”.

Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Limpeza e Afins, Anuário 2014, 9ª

edição, p. 103.

Gráfico 3 - Faturamento em % de variação anual de detergente para lavar louça

Fonte: ABIPLA/Nielsen, 2014, p. 102

Outra pesquisa que se destacou foi a realizada pela Kantar World panel está foca em toda

renda do brasileiro e mostra quanto esse dinheiro é destinado para produtos de limpeza

comparando com outros setores que são encontrados em supermercados, hipermercados,

varejo, porta a porta, dentre outros. A Figura 3 mostra uma percentagem do dinheiro

destinado para a compra de uma cesta que supre todas as necessidades de uma família

brasileira.

30

Figura 3 - Parcela dos gastos do brasileiro em um supermercado

Fonte: ABIPLA/KantarWorldpanel, 2014, p. 132

A Kantar também desenvolveu uma tabela onde mostra uma cesta de limpeza, nela estão

diferentes tipos de produtos, suas frequências na casa dos brasileiros, gasto médio e

frequência de compra. No ano de 2013 foram adicionados três novos produtos água

sanitária + alvejante com cloro, alvejante sem cloro e Purificadores de ar como mostra a

Tabela 4:

Tabela 4 - Cesta de Limpeza

Fonte: ABIPLA/KantarWorldpane, 2014, p.138

31

3.6 - Tendências do mercado da limpeza

3.6.1 - Mercado mundial

A Euro Monitor Internacional desenvolveu análises de contextos globais, nacionais e

locais a respeito de cenários socioeconômicos. Para o segmento de produtos de limpeza,

a pesquisa captou panoramas de crescimento deste nicho conforme seus dados o Brasil

apresenta boa classificação no ranking mundial e permanece no quarto lugar, no entanto

seu faturamento de US$ 7,8 bilhões dentro de uma movimentação global de US$ 154.843

bilhões não é tão expressivo o que demonstra potencial de crescimento. Vide Tabela 5.

Tabela 5 - Tabela de faturamento com produtos de limpeza

Fonte: ABIPLA/Euro Monitor Internacional, 2014, p. 164

Nota-se que a China, nos últimos 5 anos, atingiu um crescimento de 88,6% contra apenas

11,9% do Brasil, como na China o fenômeno do crescimento da classe média é

semelhante ao do país, reforça a tendência de crescimento semelhante ao mercado chinês.

3.6.2 - Mercado nacional

A empresa observou que devido a políticas de benefícios sociais implantadas pelo

governo federal nos últimos dez anos causou um aumento no consumo do setor de

homecare; por exemplo: três décadas, menos de 10% das famílias latino-americanas

possuíam máquina de lavar roupa, em 2013, este número passou para 57%; o que é baixo

se comparados aos dados da Europa Ocidental e da América do Norte, onde os números

estão na casa dos 80%, mostrando que ainda há potencial de crescimento (ABIPLA, p.

165).

32

Há poucas décadas, nos lares brasileiros, as roupas eram lavadas a mão, com sabão em

barra, e posteriormente, as peças eram molhadas na água com sabão em pó para perfumar;

a limpeza não estava associada ao sabão em pó. Com a grande entrada de máquinas de

lavar no Brasil, a maneira de encarar está mudando. Os consumidores optam por utilizar

este item no auxílio da limpeza das roupas e acabam procurando outros produtos, como

o detergente líquido e o amaciante.

Com a modernização do varejo com hipermercados e supermercados que atendem em um

só lugar a todas as necessidades de compra do consumidor, os brasileiros adquirirem

outros gostos, dando oportunidade a novos formatos.

Este é um dado expressivo para o setor de produtos de limpeza, pois, mostra que, com a

entrada de mais famílias na classe média, o setor tende a vender mais.

Um novo marketing surge com esses novos produtos que por serem concentrados ainda

são mal aproveitados pelos consumidores. Campanhas estão sendo feitas para educar o

comprador sobre como utilizar o produto concentrado para que evitem desperdícios e

falta de eficácia do produto

A ABIPLA desenhou e implementou um programa chamado Movimento Limpeza

Consciente que segue o conceito de desenvolvimento sustentável sugerido pela Comissão

Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) da ONU que diz:

O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades, significa possibilitar que as pessoas, agora e no futuro, atinjam um nível satisfatório de desenvolvimento social e econômico e de realização humana e cultural, fazendo, ao mesmo tempo, um uso razoável dos recursos da terra e preservando as espécies e os habitats naturais.

(Relatório Brundtland,1987).

A entidade percebeu que aliar a produção, distribuição, consumo e pós-consumo, às

práticas sustentáveis gera grandes impactos a todos os envolvidos, principalmente à

indústria, que passa a ganhar o reconhecimento do consumidor pelos seus esforços, e

assim, através de inovações incorporadas foram assinados acordos entre a ABIPLA e o

Ministério do Meio Ambiente em 2012.

Para viabilizar o programa, foram selecionadas quatro áreas nas quais seriam

desenvolvidas propostas de redução: produtos químicos em geral, embalagens, emissão

de CO2 e uso de água.

33

Conseguindo identificar os principais problemas e tendências do segmento, a ABIPLA

estruturou o Programa em cinco pilares de ação:

Destinação adequada de embalagens;

Regularização de empresas;

Uso correto de produtos de limpeza;

Compactação e concentração de produtos;

Compras públicas sustentáveis.

A respeito de processos de concentração e compactação dos produtos (que já existem em

diversas partes do mundo para detergentes para roupa e louça, amaciantes e multiuso), foi

destaque na agenda de sustentabilidade da indústria de saneantes.

Sua proposta é clara: é possível fabricar produtos mais concentrados e que tenham o

mesmo ou melhor aproveitamento que os regulares, mas com enormes ganhos ambientais

ao reduzir a presença de insumos químicos e utilizar menor quantidade de água em

sua produção (estudos apontam que os produtos concentrados utilizam em média 78%

menos água que os regulares; se os consumidores mudassem para esses produtos a

economia total em água seria de aproximadamente 36 milhões de litros/ano).

Por conta de se apresentar em embalagens menores, que custam menos e podem ser

transportadas consumindo menos combustível e emitindo menos poluentes além de gerar

menos resíduos no pós-consumo. Esse combinado de soluções beneficia a sociedade e

toda a cadeia de saneantes, que conta com um produto eficaz e com comprovado ganho

ambiental (a embalagem do concentrado utiliza 37% menos de material plástico que a

versão convencional, portanto, é possível transportar mais produtos em um único

caminhão, reduzindo 71% a emissão de CO2).

Fazendo um comparativo:

Na Europa, para um projeto semelhante foram economizados em 2009:

200.000 toneladas de produtos químicos;

5.000 toneladas de embalagens;

10.000 viagens de caminhão.

Nos EUA (Estados Unidos da América) e Canadá em um ano:

9,98 milhões de quilos de embalagem;

2,9 bilhões de litros de água;

255.000 toneladas métricas de CO2.

34

4 - METODOLOGIA

Esse trabalho foi desenvolvido partindo do estudo de caso de duas empresas que se

encontram em Uberlândia e que serviram como modelos para levantamento de dados

sobre o uso da água em uma empresa de produtos de limpeza.

Foram avaliadas a obtenção do recurso água, tratamentos necessários, sua utilização e

técnicas para seu melhor aproveitamento, que foram estudadas seguindo as seguintes

etapas apresentadas:

a) busca de informações e referências bibliograficas sobre o tratamentos de água

e efluentes, bem como tipos de obtenção e a atual situação da disponibilidade

desse recurso na região estudada;

b) avaliação da documentação disponível na empresa que será estudada, desde

os desenhos e plantas, manuais de operação a relatorios de análise sobre

qualidade do efluente e relatório de desempenho;

c) avaliação das instalações para identificar possiveis desperdicios ou

oportunidades de econômia;

d) entrevista com operadores nas áreas de produção, nas ETA/ETE (Estação de

tratamento de água e Estação de tratamento de Efluente) e qualidade,

coletando as informações obtidas;

e) Acompanhamento das operações de fabricação dos produtos e demais

atividades relacionadas com o processo;

f) Descrição das opções que já são utilizadas para conservação e reúso da água

e proposta de alternativas que podem ser implementadas pela empresa;

Com base nesses dados, foram propostas melhorias cujo foco está na otimização da gestão

hídrica de uma empresa de médio porte de produtos de limpeza.

Foram analisadas duas empresas do ramo, “A” e “B”, localizadas no triangulo mineiro.

Essas empresas apresentam diferentes níveis de organização, mas produzem uma linha

de produtos semelhante. Isso é comum nesse setor, pois, para a fabricação desses produtos

não é necessário um grande investimento ou um controle de processo rigoroso.

35

5 - RESULTADO E DISCUSSÕES

Durante as visitas nas empresas “A” e “B” foram observados três pontos distintos ligados a gestão hídrica, que levantam diferentes tipos de abordagem. A primeira é da obtenção desse insumo, onde serão detalhados quais são os meios optados pela maioria das indústrias do ramo e também serão levantadas algumas alternativas que sozinhas não supririam as necessidades das fábricas, mas que serviriam como uma opção de baixo custo para determinadas situações. O segundo ponto importante são as oportunidades de redução no consumo de água dentro da empresa, durante a pesquisa foi observado que as empresas têm uma diferente maneira de abordagem nesse assunto, aqui se mostra algumas soluções que essas empresas fazem ou estudam a possibilidade de implantação. Na terceira parte foi abordado o assunto onde essas empresas apresentam maior dificuldade, o tratamento do efluente. Nessa parte foi mostrado como esse efluente é tratado, para onde é destinado e são propostas alternativas com o intuito de reaproveitar toda água que atualmente é descartada.

Esses três pontos serão destacados a seguir como “Obtenção”, “Utilização” e “Tratamento

do efluente”.

5.1 - Obtenção

A solução mais viável para obtenção da água é por meio de poços artesianos, pois como

foi levantado anteriormente, esse tipo de retirada fornece um insumo de boa qualidade

em altas taxas de retirada de acordo com as outorgas. Esse recurso é utilizado por

empresas que precisam de uma água de boa qualidade e em quantidades volumétricas

expressivas, onde se enquadra a indústria de produtos de limpeza.

As outorgas adquiridas pelas duas empresas limitam a retirada de água nos poços fazendo

com que tenham um limite de retirada de 9,1 m³/hora segundo o documento de outorga.

Isso faz com que as empresas sejam forçadas a procurar alternativas de obtenção desse

recurso. A empresa “A”, considerada uma empresa com maior nível de organização,

recorre à concessionária da cidade para suprir essa demanda, a água proveniente nessa

maneira é destinada única e exclusivamente para fins sanitários como torneiras, banheiros

e restaurante da fábrica, que posteriormente é destinada a uma fossa séptica. Já a empresa

“B” recorre a caminhões pipa da própria empresa que faz viagens a um local não revelado.

Outra maneira que será implementada em breve na segunda empresa (B) é a utilização da

água das chuvas que será captada somente das áreas cobertas da fábrica, a solução de

36

obtenção da água somente dos telhados da fábrica deve-se ao frequente derramamento de

produtos e matérias primas no chão impermeável da fábrica, esses produtos são arrastados

pela água da chuva nas áreas onde não há cobertura e dificulta o tratamento prévio para

sua utilização.

A utilização desse tipo recurso é viável na região, que apresenta bons índices de chuvas

como mostra o gráfico climático da média anual na cidade de Uberlândia mostrado no

gráfico 4.

Gráfico 4 - Gráfico Climático da média anual de temperatura e índice pluviométrico na cidade de Uberlândia

Fonte: Climate-data.org

Observa-se que existem meses de estiagem que são referentes aos meses de inverno, são

nesses meses onde se agrava a falta de água nos reservatórios, mas em relação à redução

de custos na empresa, torna-se viável a implementação desse processo, pois é de

baixíssimo custo.

Esse recurso pode ser tratado de duas maneiras.

Existe um cálculo em que se descarta os primeiros milímetros de precipitação,

pois neles são carregadas as maiores sujidades presentes nos telhados como

galhos de árvores, poeira e fezes de pássaros.

37

Pode ser adicionado um filtro de pedras e areia na entrada do tanque de

armazenamento, com isso os sólidos mais grosseiros são retidos por pedras com

granulometria diferentes e posteriormente à areia.

OBS.: Os dois processos deverão passar por uma cloração, já que bactérias e parasitas

podem estar presentes nos dejetos dos animais e restos de plantas carregados com o

vento.

A opção de descarte dos primeiros milímetros de precipitação deve ser a opção mais

adequada para uma indústria já que garante uma água de melhor qualidade por não

carregar consigo material solúvel, essa água também tem que ser empregada em situações

de menor significância, como por exemplo, uma substituição da alternativa da empresa

“A” com a água da concessionária, com a finalidade de suprir as necessidades sanitárias

da empresa como descargas dos banheiros irrigação dos pátios e lavagem de maquinário

como mostrado na Figura 4.

Figura 4 - Esquema básico de um sistema de captação de água da chuva

Fonte: Sempre Sustentável

A Figura 4 é um exemplo doméstico da captação de água pluvial e segue de maneira

semelhante para implementação em escala industrial fazendo com que sejam aplicadas

pequenas alterações em cada duto de escoamento em toda a empresa de acordo com as

imagens.

38

Figura 5 - Modelo Auto-Limpante de um Filtro de Água de Chuva

Fonte: Sempre Sustentável

Instalando o Filtro de água de chuva auto-limpante qualquer resíduo sólido presente nas

calhas do telhado serão retidas pelas peneiras e jogadas para fora dos dutos devido a

inclinação das mesmas. Posteriormente a água parcialmente filtrada é destinada a um

separador de águas mostrado na Figura 6.

39

Figura 6 - Separador de Águas de Chuva de Baixo Custo

Fonte: Sempre Sustentável

Aqui, o separador funciona com o intuito de descartar os primeiros milímetros de chuva

ou chuvas fracas pois como já foi dito, são nessas águas que estão presentes as menores

partículas como poeira, e grande carga de material solúvel que compromete a qualidade

da água. O separador funciona de maneira simples apresentando um reservatório de cerca

de 1 metro de altura e diâmetro igual ao dos dutos de escoamento das calhas cuja base

apresenta um furo de tamanho proporcional ao duto com a finalidade de descartar os

primeiros milímetros de chuva. Assim toda água que alcança o topo do pequeno

reservatório de contenção é destinada ao um tanque onde é armazenada e clorada para ser

usada em funções menos nobres na empresa.

A água retirada dos poços é tratada da mesma maneira nas duas empresas, após seu

bombeamento o fluxo passa por um filtro de quartzo com 5 granulometrias diferentes e

carvão ativado, para que sejam separadas as impurezas solidas da água, logo após a água

40

passa por pastilhas de cloro que fazem a desinfecção, fazendo com que ela fique livre de

possíveis agentes patogênicos.

5.2 - Utilização

As reações ocorrem em tanques de aço carbono ou Inox de 14 a 16 metros cúbicos por

batelada e depois são envasadas, não há um tratamento prévio da matéria prima, apenas

da água que é retirada do um poço artesiano.

Essa simplicidade na produção possibilita que várias pequenas empresas surjam na

informalidade e que cresçam até terem um médio porte e tentem a regularização, mas

muitas dessas fábricas não têm infraestrutura para se adequarem as novas e rigorosas leis

que estão em vigor, assim como muitas vezes, não há a disponibilidade de espaço físico

para implementar um tratamento adequado para o efluente gerado ou não há uma

organização das linhas de produção, gerando falhas e vazamentos durante os processos.

Durante a visita a “B” ficou evidente esse fato, não há nenhuma otimização e bom

aproveitamento do espaço físico. A empresa foi dividida em diferentes blocos que

surgiram de acordo com o crescimento da mesma, novas linhas de produtos que utilizam,

muitas vezes, matéria prima semelhantes as linhas mais antigas estão localizadas em

diferentes setores da empresa, já a matéria prima é armazenada no fundo da fábrica e é

descarregada por caminhões tanque fora dos perímetros do terreno.

Esse tipo de crescimento descontrolado gerou grande desconforto na empresa, que sofreu

com a implantação das tubulações que passam por toda parte e que dificulta a

identificação de vazamentos ou entupimentos.

A empresa “A” tem seus tanques de produção todos alinhados em um único galpão junto

com as máquinas de envaze e seguido de um galpão onde fica mantida toda matéria-prima

e outro com estoque de vasilhames, rótulos e estocagem dos produtos prontos para venda.

As duas empresas não possuem sopradoras de vasilhames e têm que comprar seus

recipientes prontos de uma terceirizada.

Durante a visita ficou claro uma grande oportunidade de economia, foi observado que

para a produção de um mesmo produto existem diferentes tipos de essências, um exemplo

é a linha de amaciantes que possuem em geral três ou mais tipos de essências. As duas

empresas utilizam apenas um de seus tanques para produção de toda a linha de amaciantes

41

e tem que realizar uma lavagem bruta de acordo com a troca de essência, que é a passagem

de água desde os tanques até as envasadoras.

Essa água carregada de produtos químicos era considerada como efluente na empresa

“A”, mas recentemente houve um novo destino para a mesma. Cerca de 400 litros por

batelada eram considerados como efluente, ou seja, em uma empresa que troque a

essência dos tanques pelo menos uma vez a cada dois dias e tem uma média de 12 tanques

teria no final do dia 2400 litros de efluente a mais para ser tratado, isso é a mesma

quantidade de efluente que a empresa gera hoje sendo gerada apenas nesse processo.

Ao invés de considerar como efluente essa água, a empresa resolveu armazená-la em

diferentes containeres de 1.000 litros (representados na Figura 7), um para cada produto

da lavagem diferente, e posteriormente reincorporá-la no processo junto com as matérias-

primas. Esse volume de fluído não gera alterações no padrão do produto final, já que se

trata do arraste do mesmo material produzido em uma batelada anterior e em uma

quantidade insignificante a ponto de serem alteradas as quantidades dos agentes ativos.

Figura 7 -Cointainer de 1.000 Litros

Mesmo depois dessa limpeza bruta ainda há vestígios da última batelada, incluindo um

forte cheiro da essência usada, mas estudos mostram que essa essência não altera a outra

batelada com diferente fragrância.

Os tanques precisam passar por uma lavagem completa quando atingem um número de 8

a 10 bateladas, dependendo o tipo de tanque (aço-carbono ou Inox) e do tipo de produto.

Para isso a empresa utiliza uma solução de Ácido Sulfâmico3% até 8 % com Lauril Éter

Sulfato de sódio (0,8 %) durante 1,5 horas que é continuamente jogado nas paredes do

42

reator por um spray ball rotativo (mostrado na Figura 8) com a finalidade de retirar as

incrustações que são geradas nos processos. Todas as tubulações e reatores estão sendo

trocados de aço carbono para aço Inox, essa troca facilita a limpeza e aumenta a vida útil

dos mesmos, já que o ataque de soluções corrosivas não tem o mesmo impacto no inox

quanto no aço-carbono.

Figura 8 – Funcionamento de um Spray Ball

Fonte: Adaptada de TexasProcess Technologies

5.3 - Tratamento do efluente

O tratamento realizado pelas duas empresas se semelham e tem a finalidade de clarificar

o efluente bruto gerado pela empresa, promovendo a redução na sua turbidez, cor e carga

orgânica, através da eliminação de sólidos suspensos por meio de processos físico-

químicos.

Para que o processo de clarificação ocorra, 04 etapas são envolvidas no processo

industrial de tratamento de efluentes:

Neutralização

Os sólidos suspensos são partículas insolúveis na água, com velocidades de

sedimentação tão reduzidas que inviabilizam sua decantação natural ao longo do

tempo. Aliado a isso, a maioria destas partículas apresentam sua superfície carregada

eletricamente. A presença de cargas elétricas aumenta a repulsão entre as partículas,

43

dificultando a aglomeração e formação de agregados maiores e de mais fácil

sedimentação. O fenômeno de neutralização consiste exatamente na eliminação

dessas cargas eletrostáticas superficiais, no caso desse tratamento ocorre uma

correção de pH com o objetivo de diminuir a concentração de cargas e facilitar a

formação de aglomerados.

Coagulação

O processo de coagulação está intimamente relacionado ao fenômeno de

neutralização, uma vez que consiste na aglutinação (portanto na aproximação) das

partículas, para que as mesmas se tornem maiores e possam sedimentar rapidamente,

caso que ocorre na indústria pela utilização de cal virgem (óxido de cálcio, Ca(OH)2)

até um pH específico (pH=11,00). A etapa da coagulação é acelerada com a adição

de um coagulador/floculador ácido (policloreto de alumínio – Pac), aumentando a

aglomeração e diminuindo o pH para atuação do floculador.

Floculação

A floculação corresponde a etapa de crescimento dos flocos, após a coagulação.

Durante esta etapa, a velocidade da água deve ser suficiente para promover o contato

entre os coágulos, sem ser demasiadamente alta para não produzir a quebra destes.

No caso, é utilizado especificamente um floculador aniônico (Polímero), com o

intuito de promover uma satisfatória floculação.

Sedimentação

A sedimentação corresponde a fase em que os flocos, com seu tamanho relativamente

aumentado, tendem a decantar. Quanto maior a velocidade de decantação, menor será

o tempo de residência requerido para a água no clarificador. Na sua grande maioria,

a utilização exclusiva de coagulantes e floculantes inorgânicos não permite a

formação de flocos suficientemente densos, determinantes para a obtenção de uma

taxa de sedimentação satisfatória. Nestes casos, a utilização de auxiliares de

floculação, largamente conhecidos como polieletrólitos, mostra-se recomendada.

De forma conceitual expomos quais são as etapas do tratamento de efluentes líquidos da

indústria de produtos de limpeza em geral, porém agora iremos registrar de forma prática

como é realizado este em cada empresa.

44

Empresa “A”

Após completar o reator de 2800L, inicia-se o tratamento: corrigindo o pH com cal (até

um valor de pH=11,0), posteriormente adiciona-se policloreto de alumínio – PAC 1 – da

Laborsan, com a função de iniciar a floculação e diminuir o pH numa faixa de 7,5 - 8,5,

para que ocorra a atuação do polímero aniônico.

Em seguida é adicionado o polímero aumentando os flocos, fazendo estes ficarem pesados

o suficiente para decantarem, em seguida a água límpida é liberada e o lodo gerado

(Figura 10) - cerca de 500 L – é colocado no leito de secagem (Figura 11). Depois de seco

é recolhido por uma empresa especializada em coleta de resíduos sólidos. Essas reações

ocorrem em um tanque de 3.000 litros como mostra a Figura 9.

Figura 9 - Estação de tratamento de efluentes

45

Figura 10 -Jar Test com efluente bruto e tratado, antes e após o tratamento – formação do lodo.

Figura 11 - Leito de secagem aberto

46

Empresa “B”

As duas empresas seguem um tipo de tratamento semelhante diferenciado em pequenos

pontos como: não se sabe se existe um polímero aniônico para auxiliar na floculação, os

processos da ETE (estação de tratamento de efluente) não foram detalhados na visita,

sabemos que existe um processo físico químico com correção de pH com cal virgem e

posteriormente a adição de sulfato de alumínio para floculação. Não existe um leito de

secagem definido, após a decantação a parte onde os flocos sedimentam é retirada e

colocado em containeres de 1.000 litros semelhantes ao da Figura 7, vista anteriormente

com uma peneira fina que retém os flocos e parte da água escorre novamente para o

tratamento como mostra a Figura 12.

Figura 12 - Escoamento da água presente no lodo

O efluente tratado das duas empresas é destinado à estação de tratamento de efluentes

industriais da cidade e a parte solida separada nas ETEs é encaminhada para um aterro

47

industrial de classe II onde é paga uma taxa que varia de acordo com o peso do descartado

material.

Aproximadamente 80% do peso dos flocos gerados é água, isso faz com que os leitos de

secagem sejam a alternativa aconselhável para a indústria, já que toda água que não for

retirada dos flocos será destinada ao aterro industrial e paga a devida taxa por peso de

material.

Parâmetros do efluente

O efluente bruto da empresa “A” foi analisado por uma empresa especializada no dia

13/03/2015 e apresenta as seguintes características básicas mostradas na Tabela 6.

Tabela 6 - Parâmetros do Efluente Bruto / Resultado da amostra

CONAMA 430 – Art. 16 VMP (valores máximos permitidos pelo CONAMA 430/11 de 13 de maio de 2011)

*DBO = Remoção mínima de 60%

Após tratamento físico químico o efluente passa a ter as seguintes características:

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Tabela 7- Parâmetros do Efluente Tratado / Resultado da amostra

Notas:

As seguintes análises foram realizadas no local da amostra: pH (a 25 °C) e Temperatura

LQ/Faixa = Limite de Quantificação ou Faixa de Trabalho

n.a = Não Aplicável

Nota-se que, mesmo após o tratamento, o efluente tratado ainda apresenta DBO e DQO

acima dos limites estabelecidos pela DMAE - Premend (Departamento Municipal de

Água e Esgoto de Uberlândia – Programa de Recebimento e Monitoramento de Efluentes

Não Domésticos).

Isso acaba gerando uma multa mensal que chega a R$ 12.000,00 no caso da empresa “B”

e, visando em se adequar aos padrões estabelecidos, foram sugeridas algumas soluções

que seriam outros processos de tratamento de efluente aliado ao já existente.

Propostas de solução para o problema do efluente:

Uma possível solução seria a instalação de um processo oxidativo avançado (POA).

Recente pesquisa publicada na USP de Lorena estudou a degradação do chorume por

Foto-Fenton solar e apresentou resultados expressivos (Cavalcanti, et Al., 2014)

O chorume tem alta carga de DQO e apresenta também uma DBO considerável para o

estudo, mas ainda não chega aos valores encontrados no efluente do setor de produtos de

limpeza.

A reação Foto-Fenton é baseada na oxidação de compostos orgânicos na presença de

radiação UV e de íon de ferro em condições de pH ácido. Com isso podemos observar

49

que devemos regular o pH do efluente pré-tratado pois ele apresenta pH ligeiramente

alcalino (8,53).

Os resultados desse tipo de tratamento mostraram uma eficiência de 58,2% DBO5

(demanda de matéria biológica de oxigênio consumida ao longo de 5 dias) e 88,7% DQO

o que satisfaria as normas regulamentadas pelo DMAE se os mesmos resultados dos testes

com chorume forem obtidos com o efluente da indústria de material de limpeza. Porém

existe um elevado custo para esse tipo de tratamento, que chega a ser de R$ 126,67 m-3

segundo a pesquisa mais acréscimos inflacionários. Para uma empresa que gera em média

55 m3 de efluente por meses acarretaria um custo mensal de quase R$7.000,00 por mês,

o que é, ainda, mais baixo que o custo da multa paga pela empresa “B”.

Buscando soluções com maior economia surge a alternativa de um processo de

ozonização catalítica com Fe2+ estudada por (Messias, et. Al., 2015) mestranda da

faculdade de engenharia de Lorena.

O estudo trata-se da reação do ozônio (O3) catalisada por íons de Fe2+ para tratar efluente

de uma indústria de produtos alimentícios. Tal efluente tem características semelhantes

ao efluente industrial de produtos de limpeza.

O efluente apresenta alta DQO e DBO e após tratado apresentou uma eficiência de

91,74% e 91% respectivamente. Isso mostra uma alta eficiência aliada a um bom preço,

que chega a aproximadamente R$70,00 m-3 (valores aproximados e corrigidos segundo a

cotação do dólar na época) o que geraria um gasto de aproximadamente R$3.850,00

mensais para a empresa “B”.

A empresa “B” estuda a possibilidade de incorporar o efluente pré-tratado pelo processo

físico químico, já presente na empresa, em um de seus produtos de menor nobreza

fazendo com que todo o efluente gerado seja reciclado em um outro processo, os testes

não apresentaram mudanças comparadas com o produto preparado com água retirada do

poço artesiano, mas ainda aguarda autorização dos órgãos responsáveis.

50

5.4 – Proposta para melhorias nas empresas analisadas

Com base nos estudos levantados sobre a obtenção, utilização e tratamento do efluente com o intuito de realizar uma otimização da gestão hídrica das empresas foi elaborado dois diagramas que mostram como é a atual situação da gestão hídrica e outro como fica a proposta colocada por este trabalho.

Figura 13 - Atual Gestão Hídrica da Indústria de Produtos de Limpeza

Durante esse estudo ficou claro que a água é de vital importância para as empresas do

ramo, pois em grande parte da produção existem cerca de 90% de água incorporada nos

produtos, e os processos ocorrem em bateladas cujos tanques devem ser lavados a cada

troca de produto. Foi proposto aqui a utilização desse efluente gerado na lavagem dos

tanques para produção do próximo lote do mesmo produto que foi feito anteriormente.

Outra oportunidade observada é a captação da água pluvial nas partes cobertas da

empresa, essa água apresenta uma qualidade um pouco inferior, pois pode variar de

acordo com algumas circunstancias citadas no trabalho e por isso é proposto que seja

usada em situações onde não seja exigido um rigor maior na qualidade da mesma.

A maior dificuldade mostrada nesse setor industrial foi referente ao tratamento do

efluente gerado, que se mostrou insuficiente, pois mesmo após o processo físico químico

o efluente ainda apresentava DBO e DQO fora dos padrões permitidos pela legislação

local. Isso gerava multas com valores cada vez mais altos de acordo com a reincidência

no descarte inadequado.

51

Pensando nisso foi feito um levantamento de diferentes tipos de processos de tratamento

de efluentes para diferentes tipos de efluentes, visando à realização de futuros

experimentos com o efluente bruto adequado. O processo que apresenta melhor resultado

aliado ao menor custo foi a ozonização catalisada por Fe2+ e esse deve ser o primeiro

modelo a ser estudado.

Utilizando todas as oportunidades descritas no trabalho e provando ser eficaz a utilização

do ozônio como um tratamento para deixar o efluente dentro das normas vigentes,

podemos pensar em reutilizar a água, que antes era descartada, na produção de alguns

produtos de menor nobreza dentro da empresa como um desengordurante de uso

industrial, pois esse produto não requer uma qualidade especifica da água.

O diagrama (Figura 16) mostra resumidamente como seria a gestão hídrica uma empresa

de produtos de limpeza que opera de maneira otimizada de acordo com as pesquisas

realizadas nessa monografia.

Figura 14 - Gestão Hídrica Otimizada

52

6 – CONCLUSÃO

O trabalho ora apresentado tem como proposta levantar situações de empresas nacionais relacionadas com produtos de limpeza e analisar a gestão dos seus recursos hídricos.

Procurou-se mostrar o enfoque mundial com relação a fabricação, uso e tendências dos

produtos de limpeza, bem como, mostrar os caminhos que estão sendo seguidos com

relação a legislação e controle dessa fabricação.

Realizou-se um trabalho de campo detectando duas empresas do sul de Minas com

características similares as encontradas na maioria das empresas nacionais de médio

porte. Encontramos uma preocupação dos responsáveis pelas empresas com a situação

em que elas se encontravam o que nos facilitou levantar dados e elaborar propostas.

Foi avaliado os processos em que se utiliza a água e identificamos alguns processos que

podem ser utilizados outras fontes de água de menor nobreza

Algumas oportunidades foram relatadas na monografia como a utilização da água da pré-

lavagem, antes descartada, que volta a ser incorporada como parte da água usada na

próxima batelada e a lavagem dos tanques que é feita com uma solução que tem a

capacidade de limpar os tanques em menos tempo e com um menor consumo de água.

Isso resulta em uma grande economia de água e redução do efluente gerado.

Outro ponto avaliado foi a qualidade dos efluentes tratados, que se apresentaram fora dos

padrões da legislação vigente, e foi proposto outros tipos de tratamentos que podem ser

acrescentados ao que já está em operação.

O trabalho atinge o objetivo proposto que é melhorar a gestão hídrica, reduzindo desperdícios, minimizar custos e tornar a empresa compromissada com o meio ambiente e a sociedade que a cerca, referentes ao uso da água.

A monografia deixa como proposta para futuros trabalhos, o estudo dos processos oxidativos avançados no efluente de uma indústria produtos de limpeza.

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7 – REFERÊNCIAS BIBLIGRÁFICAS

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8 de Janeiro de 1997.Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema

Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21

da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que

modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.

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