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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA ALLAN DA SILVA SANTOS RETENÇÃO DO CARBONO DAS EMISSÕES FÓSSEIS EM PILHAS DE BIOMASSA TORRIFICADA São Paulo 2014

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE LORENA

ALLAN DA SILVA SANTOS

RETENÇÃO DO CARBONO DAS EMISSÕES FÓSSEIS EM PILHAS DE

BIOMASSA TORRIFICADA

São Paulo

2014

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ALLAN DA SILVA SANTOS

RETENÇÃO DO CARBONO DAS EMISSÕES FÓSSEIS EM PILHAS DE BIOMASSA

TORRIFICADA

Monografia apresentada como

requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia de

Materiais.

Orientadora: Dra. Rosa Ana Conte

Lorena, 2014

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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE

TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA

FINS DE ESTUDO DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

Assessoria de Documentação e Informação

Escola de Engenharia de Lorena

Santos, Allan da Silva Retenção do carbono das emissões fósseis em pilhas de biomassa torrificada / Allan da Silva Santos; orientadora Dra. Ana Rosa Conte— Lorena, 2014. 73 f.

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão de Graduação do Curso de Engenharia de Materiais. Escola de Engenharia de Lorena da Universidade de São Paulo

1. Dióxido de Carbono 2. Peletas 3. Efeito estufa 4. Energia fóssil. I. Retenção de

carbono das emissões fósseis em pilhas de biomassa torrificada. II. Conte, Rosa

Ana, Orientadora.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, namorada e amigos que me apoiaram em todos os

momentos da minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus orientadores, Prof. Dr. Daltro Pinatti e Prof.ª Dra. Ana Rosa Conte pelas

ideias, aprendizado, colaboração e compreensão no desenvolvimento do trabalho de

graduação.

Aos funcionários, Dainesi, Valdir e Sebastião da instituição pela boa vontade e ajuda

na realização deste trabalho.

Às empresas Madeireira Madersul e Vallourec Florestal pela doação dos materiais

utilizados neste trabalho.

À minha família que sempre esteve ao meu lado

Aos amigos de republica, Vitor Fachini, Vitor Macul, Breno Fonseca, Rafael

Fernandes, Akira Vargas, Victor Bizzi, Rodolfo Peressin, Matheus Morais, Gabriel Padovan

e Caio Morais, com os quais sempre pude contar, seja nos bons ou maus momentos.

Aos amigos da minha cidade natal Eduardo, Anderson, Tales, Fernando, Tarlei,

Augusto, Natalia, Mariana Hummel, Mariana Bastos e Fabienni que estão comigo desde o

ensino fundamental.

Aos amigos da graduação pela amizade, principalmente Renan, Murilo, Marcos,

Renato, Paulinho, Eduardo, Bruno, Amanda, Helena, Geise, Renata, Marina, Mariana

Maffei, Mariah, Mariana de Abreu, Mariana Ongaratto e minha namorada Andressa que

sempre estiveram dispostos a me ajudar.

Agradeço a todos que direta ou indiretamente fizeram parte desse trabalho, seja por

conceitos teóricos ou pelo suporte.

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“Se vi mais longe foi por estar de

pé sobre ombros de gigantes”.

Isaac Newton.

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RESUMO

SANTOS, A.S. Retenção do carbono das emissões fósseis em pilhas de biomassa

torrificada. 2014. 73f. Monografia (Trabalho de Graduação em Engenharia de Materiais) –

Escola de Engenharia de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

As descobertas de novos campos de petróleo e gás natural e as novas tecnologias para

exploração de poços de petróleo, antes dados como esgotados, aumentará significativamente

as reservas de energia fóssil. O sincronismo desta oferta e demanda gerada pela evolução

dos países em desenvolvimento como China e Índia, consequentemente, também aumentará

a emissão de dióxido de carbono (CO2), o qual é considerado um dos gases causadores do

efeito estufa. Os programas da ONU (IPCC, COP’s, Protocolo de Quioto, ...) com intuito de

diminuir as emissões fósseis, não têm apresentado resultados satisfatórios, pois a postura

emocional e descritiva dos ambientalistas assim como o conceito de substituição de uma

forma de energia por outra, deve ser alterada pela integração das energias renováveis e

fosseis (ITERF) visando a um sistema enérgico limpo e sustentável. A energia renovável é

insuficiente para lidar com a demanda crescente hoje existente; já a energia fóssil é poluente,

por isso se torna necessário a integração entre esses dois vetores energéticos No conceito da

ITERF o CO2 não é um gás a ser evitado, mas sim um gás a ser técnico-economicamente

explorado. No presente trabalho é estudada uma nova alternativa para retenção de carbono

das emissões fósseis em pilhas de biomassa torrificada utilizando de resíduos florestais para

a produção de peletas torrificadas. Estas pilhas também poderão atuar como segurança

energética, ou seja, em qualquer crise energética parte das pilhas podem ser parcialmente

consumidas e após, refeitas.

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ABSTRACT

SANTOS, A.S. Retention of fossil carbon emissions in bulks of torrefied biomass. 2014.

73p. Monograph (Undergraduate Work in Materials Engineering) – Escola de Engenharia

de Lorena, Universidade de São Paulo, Lorena, 2014.

The discoveries of new oil fields and natural gas and new technologies for exploration of oil

wells, considered depleted before, will significantly increase the reserves of fossil energy.

Consequently, the synchronism of this supply and demand generated by the evolution of the

developing countries like China and India will increase the emission of carbon dioxide

(CO2), which is considered one of the gases causing the greenhouse effect. In order to reduce

fossil emissions, UN programs (IPCC, COP's, The Kyoto Protocol, ...) have not shown

satisfactory results, because the emotional and descriptive stance of environmentalists as

well as the concept of substitution of one form of energy for another one, shall be amended

by the integration of renewables and fossil (TIRFE) aimed at a clean, sustainable energetic

system. Renewable energy is insufficient to cope with the increasing demand nowadays; but

the fossil energy is polluting, so it becomes necessary the integration between these two

energy vectors. According to TIRFE concept, CO2 is not a gas to be avoided, but a gas to be

techno-economically exploited. In this paper we study a new alternative to carbon

sequestration from fossil emissions in bulks of torrefied biomass using forest residues to

produce torrefied pellets. These bulks may also act as energy security, it means in any energy

crisis a part of the bulks can be partially consumed and after that redone.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1- Consumo de energia por região. Adaptado de BRITISH PETROLEUM, 2014 .. 19

Figura 2- Consumo de energia por fonte. Adaptado de BRITISH PETROLEUM, 2014. .. 20

Figura 3- Projeção do consumo de energia. Adaptado de BRITISH PETROLEUM, 2014.

............................................................................................................................................. 21

Figura 4- Emissões de dióxido de carbono provenientes da energia. Adaptado de EIA,

2013. .................................................................................................................................... 23

Figura 5- O crescimento das emissões de GEE dos BRICS. IEA, 2013 ............................. 24

Figura 6- Emissões de dióxido de carbono por setor. Fonte BRASIL, 2010. ..................... 25

Figura 7- Efeito estufa. Arte D.A Press ............................................................................... 26

Figura 8- Variação na concentração de dióxido de carbono e anomalias. Fonte Braga, 2005.

............................................................................................................................................. 26

Figura 9- Estrutura ITERF. Fonte Pinatti, 2013 .................................................................. 37

Figura 10- Geração de biomassa para produção de H2 e retenção de carbono em pilhas de

celulignina. Fonte Pinatti, 2012. .......................................................................................... 39

Figura 11 - Peletas convencionais. ...................................................................................... 40

Figura 12- Etapas para a produção de peletas. ..................................................................... 41

Figura 13- Peletizadora. Fonte Oliveira, 2012. .................................................................... 43

Figura 14- Balanço de massa e de energia da torrefação. M=unidade de massa; E=unidade

de energia. Adaptado de Bergman, 2005. ............................................................................ 47

Figura 15- Planta de torrefação industrial Pechiney Eletrometalurgia. Fonte Luengo, 2006.

............................................................................................................................................. 49

Figura 16- Planta de torrefação industrial Pillar. Fonte Luengo 2006. ................................ 49

Figura 17- Fluxograma do processo de fabricação de peletas torrificadas. ......................... 50

Figura 18- Misturador mecânico adaptado. ......................................................................... 53

Figura 19- Molde cilíndrico. ................................................................................................ 54

Figura 20- Placa base. .......................................................................................................... 54

Figura 21- Soquete de compactação. ................................................................................... 55

Figura 22- Extrator de corpo-de-prova ................................................................................ 55

Figura 23- Mistura dos materiais. ......................................... Erro! Indicador não definido.

Figura 24- Esquema do ensaio de compactação. ................................................................. 61

Figura 25- Corpo-de-prova moldado. .................................................................................. 62

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Figura 26- Fluxograma resumindo o balanço de massa e energia para retenção de todo

carbono das emissões fósseis. .............................................................................................. 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Consumo mundial de energia por combustível em 2013. Fonte BRITISH

PETROLEUM, 2014. .......................................................................................................... 16

Tabela 2- Comparação entre as composições da matriz energética brasileira, mundial e da

OECD, Fonte BRITISH PETROLEUM, 2014; BRASIL, 2014.......................................... 21

Tabela 3- Projeção das emissões de dióxido de carbono. Fonte EIA, 2013. ....................... 23

Tabela 4- Principais aplicações industriais de CO2. Fonte Xavier, 2007. ........................... 33

Tabela 5- Potenciais no sequestro de carbono. Fonte Borges, 2007. ................................... 34

Tabela 6- Consumo de madeira para fins energéticos, Brasil. Fonte BRASIL 2014. ......... 37

Tabela 7- Norma EN14961. Fonte Rasga, 2013. ................................................................. 45

Tabela 8- Propriedades químicas e físicas das amostras de madeira in natura e torrificada.

Fonte Silva, 2014 ................................................................................................................. 47

Tabela 9- Propriedades energéticas da lenha, cavacos, peletas convencionais e torrificadas

e carvão mineral. Fonte Pinatti, 2012 .................................................................................. 50

Tabela 10 - Composição pré-misturado a frio. Fonte DNER-ES 317/97. ........................... 52

Tabela 11- Emissões de CO2 por tonelada equivalente de petróleo. Fonte BRITISH

PETROLEUM, 2014. .......................................................................................................... 58

Tabela 12- Frações de cada material no corpo-de-prova. .................................................... 60

Tabela 13- Resultados da compactação ............................................................................... 61

Tabela 14- Variação na proporção do alcatrão. ................................................................... 62

Tabela 15- Dados relativos às fontes de energia de origem fóssil. ...................................... 63

Tabela 16- Balanço de massa relativo à retenção de todo carbono fóssil emitido por suas

respectivas fontes. ................................................................................................................ 63

Tabela 17- Balanço de energia em relação à construção de pilhas de peletas torrificadas. . 64

Tabela 18- Balanço de energia em relação à produção de hidrogênio. ............................... 64

Tabela 19- Comparação entre pilhas de celulignina, pilhas de peletas torrificas e pilhas de

peletas convencionais. ......................................................................................................... 69

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LISTA DE SIGLAS

b/a – Barris por ano

BP – British Petroleum

BRICS – Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul

btep – Bilhões de toneladas de equivalência em petróleo.

CAP – Cimento asfáltico de petróleo

CFCs – Clorofluorcarbono

CH4 - Metano

CO – Monóxido de carbono

CO2 – Dióxido de carbono

COP – Conferência das Partes

ECBM – Tecnologia de recuperação de metano em jazidas de carvão

EIA - U.S. Energy Information Administration

EUA – Estados Unidos da América

FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura

GEE – Gases do efeito estufa

H2 – Hidrogênio

H2-GBASC/UTE – Geração de hidrogênio por gaseificação de biomassa em água

supercrítica integrada a uma unidade termoelétrica.

IEA – Agência Internacional de Energia

IPCC - Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas

ITERF – Integração total das energias renováveis e fósseis.

ITERF – Integração total de energia renováveis e fósseis

MBSLT – Massa de biomassa limpa dos troncos

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MDL – Mecanismo de Desenvolvimento Limpo

MPPT – Massa das pilhas de peletas torrificadas

MtCO2 - Milhões de toneladas de dióxido de carbono

mtep - Milhões de toneladas de equivalência em petróleo

N2O – Óxido nitroso

Non-OCDE – Países não membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico.

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

OMN – Organização Metereólogica Mundial

ONU – Organização das Nações Unidas

PCL – Pilhas de celulignina

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

PPC – Pilhas de peletas convencionais

ppm – Partes por milhão

PPT – Pilhas de peletas torrificadas

RB – Refinaria de Biomassa

RCE – Redução certificada de emissão

tC/ano – tonelada de carbono emitida por ano

tep - tonelada de equivalência em petróleo

UNFCCC – Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climática.

VPPT – Volume das pilhas de peletas torrificadas

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SUMÁRIO

1 Introdução .................................................................................................................... 16

2 Revisão bibliográfica ................................................................................................... 19

2.1 O consumo de energia ........................................................................................... 19

2.2 Emissões de CO2 proveniente da queima de combustíveis. .................................. 22

2.3 Efeito Estufa .......................................................................................................... 25

2.4 Acordos e políticas internacionais ........................................................................ 28

2.4.1 Protocolo de Quioto ....................................................................................... 29

2.4.2 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ........................................... 30

2.5 Tecnologias de captura e armazenamento de CO2 ................................................ 31

2.6 Sequestro químico de CO2 .................................................................................... 33

2.7 Sequestro bioquímico de CO2 ............................................................................... 33

2.8 Uso da biomassa como energia ............................................................................. 34

2.9 Integração total das energias renováveis e fósseis (ITERF). ................................ 37

2.10 Tecnologia das pilhas de biomassa (peletas e particulados) torrificadas. ......... 40

2.10.1 Peletas convencionais ................................................................................... 40

2.10.2 Torrefação ...................................................................................................... 46

2.10.3 Peletas torrificadas ........................................................................................ 49

2.10.4 Tecnologia de pavimentação ............................................................................ 51

3 Materiais e Métodos ..................................................................................................... 53

3.1 Ensaio de compactação ......................................................................................... 53

3.1.1 Materiais empregados no ensaio .................................................................... 53

3.1.1 Metodologia ................................................................................................... 55

3.1.2 Determinação da composição da mistura ...................................................... 56

3.2 Balanço de massa e energia para retenção do carbono das emissões fósseis. ....... 57

4 Resultados .................................................................................................................... 60

4.1 Ensaio de compactação ......................................................................................... 60

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4.2 Balanço de massa e energia para retenção do carbono das emissões fósseis. ....... 63

5 Conclusão ..................................................................................................................... 67

6 Referências ..................................................................................................................... 70

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16

1 Introdução

A energia é um bem fundamental para o desenvolvimento econômico de um país. O

aumento da produção e do consumo, o uso crescente de recursos naturais, o crescimento da

população e o aumento do crescimento econômico são fatores favoráveis para o aumento da

demanda por energia. Atualmente as principais fontes energéticas provêm dos combustíveis

fósseis (carvão mineral, petróleo e gás natural), das hidrelétricas, da energia nuclear e das

fontes renováveis, sendo que as fósseis correspondem a mais de 80% do consumo, conforme

tabela 1.

Tabela 1- Consumo mundial de energia por combustível em 2013. Fonte BRITISH PETROLEUM, 2014.

Combustível Mtep

Petróleo 4.185,1

Carvão 3.826,7

Gás Natural 3.020,4

Hidrelétrica 855,8

Energia Nuclear 563,2

Renováveis 279,3

Total 12.730,5

O setor energético é responsabilizado por vários impactos ambientais, sendo os mais

discutidos as alterações climáticas e o aquecimento global. As alterações climáticas têm

ocorrido há milhares de anos no nosso planeta e continuarão a ocorrer. A questão é que, além

dessas alterações climáticas provenientes de causas naturais, pode-se aliar o fato de estas

estarem atualmente amplificadas devido a causas antropogênicas.

Os principais responsáveis por estas alterações no sistema climático são os gases

denominados gases do efeito estufa (GEE) como o dióxido de carbono (CO2), monóxido de

carbono (CO), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e compostos orgânicos, sendo o dióxido

de carbono o principal causador do aumento deste efeito (IPCC, 2007).

As fontes de emissão de dióxido de carbono são, predominantemente, da queima de

combustíveis fósseis para geração de energia. Com o grande desenvolvimento observado em

países como a China e Índia prevê-se que a procura mundial de energia cresça em até 41%

até 2035. A tendência é de que os combustíveis fósseis continuem a ser a fonte primaria de

energia global nas próximas décadas. Desta forma, a previsão é que as emissões sigam

aumentando, chegando, em 2035, a um nível 45% maior do que o atual (EIA, 2013; BP

Outlook, 2013).

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17

As concentrações atmosféricas de CO2 aumentaram quase 100ppm (partes por

milhão) em relação aos seus níveis pré-industriais, atingindo 401 ppm (partes por milhão)

em 2014, segundo a Agência Nacional Oceânica e Atmosférica dos EUA (NOOA).

De acordo com o IPCC é imprescindível diminuir as emissões de CO2 se se quiser

limitar a subida da temperatura de superfície global em 2°C, que foi estabelecido pelo

Protocolo de Quioto. Os governos e instituições como a ONU vêm incentivando programas

de implementação e desenvolvimento de tecnologias de captura e armazenamento de

carbono. Contudo estas tecnologias continuam a ser implementadas de uma forma aleatória

e lenta, possuindo poucos projetos operacionais em níveis comerciais.

Tendo em vista este cenário, o presente trabalho visa mostrar alternativas para estas

questões energéticas, através da integração das energias renováveis e fosseis (ITERF).

Segundo Pinatti (2012) o conceito de substituição das energias fósseis pelas renováveis está

acumulando uma série de frustações como insuficiência para atender à demanda e aumento

dos custos do alimentos, tornando necessário adotar o conceito de ITERF, objetivando um

sistema enérgico limpo e sustentável com a otimização do consumo nos setores residencial,

comercial e industrial.

Este trabalho avança no estudo de quantificar e detalhar a retenção de carbono em

pilhas de biomassa, na forma de peletas, torrificada (PPT) tendo em vista que o CO2 não é

um gás a ser simplesmente evitado ou sequestrado, mas um insumo a ser técnico-

economicamente explorado e retido na superfície terrestre, já que, fatalmente, será retirado

da crosta terrestre e não deve alcançar a troposfera, evitando o efeito estufa que apesar do

consenso geral sobre sua existência, ainda existem alguns questionamentos sobre a

contribuição do homem neste cenário (MOLION, 2005; BRAGA, 2005).

O projeto para formação das PPT terão tecnologia similar à de pavimentação de vias

públicas, no qual as peletas torrificadas e os finos representam os agregados, e o aglutinante,

a emulsão asfáltica. Os aglutinantes podem ser de origem vegetal, como o alcatrão, ou fóssil

desde que não deteriorem e sejam limpos para eventual uso da energia da PPT. Serão feitos

ensaios de compactação das PPT para encontrar a proporção ideal entre os materiais e atingir

a máxima densificação. Também serão feitos cálculos de balanço de massa e energia para a

retenção de todo carbono emitido pelas energias fósseis, partindo do consumo anual e tempo

de vida de suas reservas.

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18

Esta quantificação objetiva formar uma base de dados técnico-econômicos para uma

futura elaboração do projeto de construção de uma pilha piloto de 1 ha de base.

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19

2 Revisão bibliográfica

2.1 O consumo de energia

De acordo com os dados estatísticos da British Petroleum (BP), o consumo mundial

de energia primária teve um aumento de 91,1%, passando de 6,6 bilhões de toneladas em

equivalentes de petróleo (Btep) em 1980 para 12,7 Btep em 2013. A variação média no

crescimento do consumo energético mundial, neste mesmo período, foi de 1,91% a.a. Este

aumento pode ser explicado, em parte, pelo crescimento da população mundial que

aumentou em 52,24% de 1980 a 2009, com uma variação média anual de 2,02%, junto ao

crescimento econômico mundial, que foi em média 2,8% a.a. (BRITISH PETROLEUM,

2014).

As regiões que mais contribuíram para este aumento da demanda de energia foram o

Oriente-Médio e a Ásia-Pacífico que tiveram, respectivamente, variações médias anuais no

consumo energético total de 5,3% e 4,5% a.a., apresentando um aumento no consumo de

495% e 342% entres os anos de 1980 e 2013. O crescimento exponencial da região Ásia-

Pacífico pode ser explicada pelo crescimento populacional e também do econômico que é

de 10,4% a.a. da China nos últimos anos. A América do Norte teve uma variação de 32,2%

entre os anos de 1980 e 2013, impulsionado pelo crescimento do EUA. O menor crescimento

foi da região da Europa e Eurásia, tendo uma variação de 3,5% desde os anos 80. Já a

América do Sul e Central apresentaram um crescimento de 166%, onde o Brasil representou

cerca de 45% deste montante, como pode ser visto na figura 1.

Figura 1- Consumo de energia por região. Adaptado de BRITISH PETROLEUM, 2014

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013

Consumo de energia por região (Mtep)

America do Norte America do Sul e Central Europa e Eurasia

Oriente Médio Africa Ásia Pacífico

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20

Figura 2- Consumo de energia por fonte. Adaptado de BRITISH PETROLEUM, 2014.

Ao longo do tempo não foi apenas o consumo e a produção que mudaram, mas

também a composição da matriz energética mundial, como pode ser observado na figura 2.

Em 1980, o consumo das fontes energéticas de origem fósseis foi de 6 Btep,

representando 91% do total. Esta parcela não mudou muito ao longo dos anos, representando

86,6% no total em 2013. Dentre as fontes de origem fóssil, o maior crescimento foi a do

carvão, seguido do gás natural. As renováveis representaram cerca de 8,9% em 2013, sendo

a energia hidráulica a maior responsável por este montante.

De acordo com os cenários futuros de consumo de energia publicados pela British

Petroleum (BP Outlook, 2013), o consumo mundial deve chegar a 17,5 Btep em 2035, sendo

que mais de 85% do aumento desta demanda ocorrendo devido ao desenvolvimento de

nações não membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (non-

OECD), impulsionado pelo forte crescimento econômico e populacional de países como

China e Índia. Em contraste, os países membros da OCDE apresentarão um crescimento

mais modesto devido ao menor crescimento e quase nenhum aumento populacional, como

pode ser observado na figura 3.

-

2000,0

4000,0

6000,0

8000,0

10000,0

12000,0

14000,0

1965 1969 1973 1977 1981 1985 1989 1993 1997 2001 2005 2009 2013

Consumo de energia por fonte (Mtep)

Petróleo Gás Natural Carvão Nuclear Hidraúlica Outras Renováveis

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21

Figura 3- Projeção do consumo de energia. Adaptado de BRITISH PETROLEUM, 2014.

Enquanto o consumo de energia vai crescer quase 40% até 2035, as parcelas das

diferentes fontes de energia continuará a não mudar significativamente. Consequentemente

mais combustíveis fósseis serão utilizados para atender à demanda de energia, aumentando

as emissões de CO2. Dentre as fontes de origem fóssil, a maior projeção de crescimento é a

do gás natural, resultado do aumento da oferta vindo do gás de xisto produzido nos Estados

Unidos, Canadá e outros países. A energia nuclear e as energias renováveis são as fontes

com maior projeção de crescimento, tendo uma taxa média anual de 2,5%, sustentadas pela

segurança energética, aumento do preço do petróleo e políticas governamentais.

A matriz energética brasileira é considera uma das mais limpas do mundo, em razão

da forte presença de fontes renováveis de energia, como a geração de eletricidade a partir de

fontes hidráulicas e utilização de biomassa como forma de energia. Esta comparação pode

ser vista na tabela 2.

Tabela 2- Comparação entre as composições da matriz energética brasileira, mundial e da OECD, Fonte BRITISH

PETROLEUM, 2014; BRASIL, 2014.

Fontes Brasil (%) Mundo (%) OECD (%)

Petróleo 39,3 32,8 37,2

Gás Natural 12,8 23,7 26,1

Carvão 5,6 30,0 19,2

Energia Nuclear 1,3 4,4 8,0

Hidráulica 12,5 6,7 5,7

Outras renováveis 28,6 2,1 3,5

No Brasil, em 2013, consumiu-se 260,2 Mtep em energia, representando 2,2% do

total de energia consumida no mundo todo. Ao longo dos anos, a matriz energética nacional

também sofreu transformações, em 1940, a lenha e o carvão vegetal representavam 83,34%

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

14000

1990 2000 2010 2020 2030

Consumo de energia primária (Mtep)

OECD Non-OECD

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22

das fontes energéticas consumidas pela população enquanto que, em 2013, não chegou a

10%. Atualmente no Brasil, como no resto do mundo, a maior parcela da energia consumida

é de origem fóssil, representando 63,4%. O detalhe é que a energia renovável tem boa

representação também, de acordo com o Balanço Energético Nacional (BRASIL, 2014), é

de 41,1%.

O Brasil, segundo projeção da IEA (2013), poderá ser um dos grandes exportadores

de petróleo e um dos líderes mundiais na produção de energia devido principalmente a uma

série de recentes descobertas “offshore”. A produção de gás natural aumentará mais de cinco

vezes, permitindo cobrir todas as necessidades domésticas do país em 2030. Este acréscimo

na produção de combustíveis fósseis depende fortemente dos desenvolvimentos em águas

profundas. Apesar da maior disponibilidade e utilização dos combustíveis fósseis, o Brasil

continuará a ter uma das menores intensidades de carbono no mundo, praticamente

duplicando a produção de energia a partir de fontes renováveis em 2035, mantendo uma

quota de 43% na sua matriz energética. As hidrelétricas continuam a ser a espinha dorsal do

setor da energia, embora tenda a diminuir esta dependência devido aos impactos ambientais

caudados na fauna e na flora e ao seu esgotamento. A eólica tem o problema da intermitência

e as tecnologias atuais da solar são de alto custo

2.2 Emissões de CO2 proveniente da queima de combustíveis.

A queima de combustíveis fósseis como o petróleo, gás natural e carvão são os

grandes responsáveis por grande parte das emissões dos gases do efeito estufa. Assim, o

aumento no consumo de energia ao longo os anos, evidenciado acima, é um importante

componente no debate do aumento das emissões de dióxido de carbono.

De acordo com a EIA (2013) as emissões de CO2 relacionadas com o aumento do

consumo da energia aumentará de 31,2 bilhões de toneladas métricas em 2010 para

45,5 bilhões de toneladas métricas em 2040. Grande parte do crescimento das emissões é

devido aos non-OCDE que continuam a depender fortemente dos combustíveis fósseis para

atender ao crescimento acelerado da demanda de energia.

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23

Figura 4- Emissões de dióxido de carbono provenientes da energia. Adaptado de EIA, 2013.

Emissões de dióxido de carbono provenientes do consumo de combustíveis líquidos

derivados do petróleo foram responsáveis por 43% das emissões totais de CO2 em 1990,

36% em 2010 e, segundo projeção da Agência Internacional de Energia (IEA, 2013), serão

de 32% em 2040. Emissões relacionadas ao uso do carvão foram responsáveis por 39% das

emissões totais em 1990, 44% em 2010 e, de acordo com a projeção, chegam a 45% em

2040. O carvão é o combustível fóssil com maior intensidade de carbono e tornou-se a

principal fonte de emissões de dióxido de carbono relacionados com a energia em 2004 e

continua a ser a fonte principal até 2040. As emissões relacionadas com o consumo de gás

natural sobe de 19% em 1990 para 22% em 2040, como pode ser visto na tabela 3.

Tabela 3- Projeção das emissões de dióxido de carbono. Fonte EIA, 2013.

Fontes de Emissões 1990 2010 2020 2030 2040

Petróleo e Derivados (MtCO2) 9.708 11.181 12.275 13.282 14.671

Carvão (MtCO2) 8.769 13.820 16.965 19.561 20.636

Gás Natural (MtCO2) 4.158 6.183 7.195 8.610 10.137

O Brasil emitiu 1,2 milhões de toneladas de CO2 (MtCO2) em 2010, segundo as

estimativas anuais de emissões de gases de efeito estufa no Brasil (BRASIL, 2013). Com a

particularidade de que o sistema energético do País tem um impacto relativamente pequeno

sobre as emissões de gases do efeito estufa. Diferentemente dos países industrializados, no

Brasil, as emissões líquidas estimadas de CO2 é dividida em três grandes setores,

agropecuária, energia e uso de terras e florestas. Em função da elevada participação de

energia renovável na matriz energética brasileira como geração de eletricidade a partir de

hidrelétricas, uso do álcool no transporte, uso de bagaço de cana-de-açúcar e do carvão

0

10000

20000

30000

40000

1990 2000 2010 2020 2030 2040

Projeção do aumento nas emissões de CO2

(MtCO2)

OECD non-OECD

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24

vegetal na indústria. A parcela de emissões de CO2 em função do uso de combustíveis fósseis

no Brasil é relativamente pequena. Além disso, deve-se observar que o consumo energético

brasileiro é ainda modesto, quando comparado aos países industrializados (BRASIL, 2013).

Comparado com a Rússia, China e Índia, as emissões de dióxido de carbono

provenientes da queima de combustíveis no Brasil são pequenas, representando cerca de

1,3% das emissões. A matriz energética do Brasil é uma das mais limpas do mundo, com as

energias renováveis representando 41%.

Figura 5- O crescimento das emissões de GEE dos BRICS. IEA, 2013

O setor de energia engloba as emissões por queima de combustíveis fósseis e

emissões fugitivas. As emissões fugitivas incluem a queima de gás nas tochas de plataformas

e refinarias, e a combustão espontânea de carvão em depósitos e pilhas de rejeito. As

emissões de CO2 do setor de energia representaram, em 2010, 32% das emissões totais de

CO2 no Brasil, tendo aumentado 208% em relação às emissões de 1990. (BRASIL, 2013).

O setor de agropecuária foi responsável pela maior parcela das emissões de CO2

participando com 35% das emissões líquidas totais de CO2 em 2010. O setor agropecuário

engloba as emissões devido à fermentação entérica do gado, manejo de dejetos animais,

solos agrícolas, cultivo de arroz e queima de resíduos agrícolas (BRASIL, 2013).

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25

Figura 6- Emissões de dióxido de carbono por setor. Fonte BRASIL, 2010.

2.3 Efeito Estufa

O efeito estufa é um fenômeno que ocorre quando uma parte da radiação

infravermelho emitida pela superfície terrestre é absorvida por determinados gases presentes

na atmosfera. Como consequência disso, o calor fica retido, não sendo liberado para o

espaço. Este fenômeno, dentro de uma determinada faixa, é de vital importância, pois sem

ele a vida não poderia existir; ele serve para manter o planeta aquecido, garantindo a

manutenção da vida.

O que pode ser catastrófico é o agravamento deste efeito, desestabilizando o

equilíbrio energético do planeta e originando um fenômeno conhecido como aquecimento

global. O IPCC no seu relatório mais recente diz que a maior parte deste aquecimento,

observado durante os últimos 50 anos, se deve muito provavelmente a um aumento dos gases

do efeito estufa.

O efeito estufa tornou-se um dos assuntos preferidos da comunidade técnica,

principalmente pelos efeitos catastróficos previstos para a ecosfera, caso não sejam tomadas

medidas urgentes para evitar sua intensificação. As previsões são as mais variadas, e muitas

delas são bastante questionáveis, pois persistem muitas polêmicas cientificas. Além disso,

muitos fenômenos não foram ainda totalmente compreendidos (BRAGA, 2005).

A emissão destes gases estufas (CO2, metano, óxido nitroso e clorofluorcarbono

CFCs) aumenta a quantidade de energia que é mantida na atmosfera em decorrência da

absorção do calor refletido ou emitido pela superfície do planeta, o que provoca a elevação

da temperatura da atmosfera. Admite-se que, além de provocar modificações climáticas, o

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26

aquecimento da Terra pode causar a elevação do nível dos oceanos, ter impactos na

agricultura e na silvicultura, afetando todas as formas de vida do planeta (BRAGA, 2005).

Figura 7- Efeito estufa. Arte D.A Press

A figura 8 apresenta o aumento observado na concentração de CO2 e a variação na

temperatura da atmosfera, ou anomalia, em relação à média do período entre 1951 e 1980.

Figura 8- Variação na concentração de dióxido de carbono e anomalias. Fonte Braga, 2005.

De 1959 a 2003, a concentração de CO2 aumentou de 316 partes por milhão em

volume (ppmv) para 376 ppmv. Foi constatado que esse acréscimo de CO2 é superior no

hemisfério norte, por causa da maior queima de combustíveis fósseis nessa região.

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27

Esses dados levam à conclusão de que quanto maior a temperatura, maior é a

concentração de CO2. Entretanto estes resultados ainda são duvidosos, por exemplo, como

explicar a diminuição da temperatura média global ocorrida entre 1959 e 1975. Alguns

cientistas acreditam que esses fenômenos estão associados a processos oscilatórios de grande

período, significando que os períodos analisados são extremamente curtos para conclusões

definitivas (BRAGA, 2005).

São quatro os principais gases de efeitos estufa, além de duas famílias de gases

regulados pelo Protocolo de Quioto (BRASIL, 2000):

a) Dióxido de carbono (CO2): É o mais abundante dos GEE, sendo emitido por meio

do uso de combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás natural), também com a

mudança no uso da terra. O CO2 é utilizado como referência para classificar o

poder de aquecimento global dos demais gases de efeito estufa.

b) Gás Metano (CH4): É produzido pela decomposição de matéria orgânica, sendo

encontrado geralmente em aterros sanitários, lixões, reservatórios de hidrelétricas

e também pela criação de gado. Tem o poder de aquecimento global 21 vezes

maior que o CO2.

c) Óxido Nitroso (N2O): Estas emissões resultam, entre outros, do tratamento de

dejetos de animais, do uso de fertilizantes e da queima de combustíveis fósseis.

Possui poder de aquecimento global 310 vezes maior que o CO2.

d) Hexafluoreto de enxofre (SF6): É utilizado principalmente como isolante térmico

e condutor de calor. Gás com o maior poder de aquecimento, é 23.900 vezes mais

ativo que o CO2.

e) Hidrofluorcarbonos (HFCs): Utilizados como substitutos dos clorofluorcarbonos

em aerossóis e refrigeradores. Tem potencial de aquecimento global variando

entre 140 e 11.700 vezes maior que o CO2.

f) Perfluorcarbonos (PFCs): Utilizados como gases refrigerantes, solventes,

propulsores e aerossóis. Tem potencial de aquecimento global variando de 6.500

a 9.200 vezes maior que o CO2.

Atualmente, segundo o 4° Relatório do IPCC, as temperaturas médias globais de

superfície são as maiores dos últimos cinco séculos. A temperatura média global aumentou

cerca de 0,74°C nos últimos cem anos, e caso não se atue neste aquecimento de forma

significativa, espera-se observar um clima bastante incomum, podendo apresentar, por

exemplo, um acréscimo médio da temperatura global de 2ºC a 5,8°C.

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28

Diante deste cenário o controle do efeito estufa passa então, necessariamente, pelo

controle da emissão de CO2. A comunidade científica e os órgãos governamentais vem

desenvolvendo políticas e programas visando à redução da emissão destes gases causadores

do efeito estufa, conforme item 2.4.

2.4 Acordos e políticas internacionais

O aumento da evidência científica sobre a interferência humana no sistema climático

e a crescente preocupação pública com as questões ambientais fizeram com que a mudança

no clima fosse para a agenda política em meados da década de oitenta. A Organização

Meteorológica Mundial (OMN) e o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente

(PNUMA), reconhecendo a necessidades de informações cientificas confiáveis e

atualizadas, estabeleceram o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas)

em 1988.

Em 1990, o IPCC lançou o seu Primeiro Relatório de Avaliação, confirmando que a

mudança do clima era, de fato, uma ameaça e incitando à negociação de um acordo global

para tratar do problema. A Assembleia Geral das Nações Unidas então lançou formalmente

em 1990 as negociações relativas a uma convenção sobre mudança do clima estabelecendo

um Comitê Intergovernamental de Negociação (CIN) para conduzir essas negociações

(BRASIL, 2000).

O CIN, reuniu-se pela primeira vez em fevereiro de 1991, e em maio de 1992

adotaram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do clima (UNFCCC). A

convenção foi aberta a assinaturas no Rio de Janeiro, em 4 de junho de 1992, na Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), a chamada Cúpula

da Terra (BRASIL, 2000).

Para tornar-se parte, o país deve ratificar, aceitar e aprovar a convenção. As partes

reúnem-se regularmente na Conferência das Partes (COP) anual para rever a implementação

da convenção e dar continuidade às discussões sobre a mudança do clima.

A convenção estabelece como objetivo final:

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29

[...] a estabilização das concentrações atmosféricas de gases do efeito estufa

em níveis seguros. Esses níveis devem ser alcançados num prazo que

permita aos ecossistemas adaptarem-se naturalmente à mudança do clima,

que assegura que a produção de alimentos não seja ameaçada e que permita

que o desenvolvimento econômico prossiga de forma sustentável.

(UFCCC, 2008a, p.6)

Para atingir esse objetivo, todos os países conveniados têm o compromisso comum

de tratar da mudança do clima, adaptando-se aos seus efeitos e relatando suas ações

realizadas para implementar a convenção. A convenção é dividida em dois grupos, os países

do Anexo I, chamados Partes do Anexo I, e os que não estão listados nesse anexo, chamado

Partes não-Anexo I.

As Partes do Anexo I são os países industrializados que mais contribuíram para a

mudança climática, ou seja, que possuem emissões per capita mais elevadas e contam com

maior capacidade financeira e institucional para tratar o problema.

Os países em desenvolvimento basicamente formam o grupo das Partes não-Anexo.

Esses países devem relatar em termos mais gerais as suas ações para tratar da mudança do

clima e adaptar-se aos seus efeitos. Os prazos para estas partes são menos rígidos do que

para as Partes do Anexo I

2.4.1 Protocolo de Quioto

Criado durante a COP 3, o Protocolo de Quioto é um anexo à Convenção-Quadro das

Nações Unidas sobre Mudanças do Clima. Neste as Partes do Anexo I comprometem-se com

metas individuais e com a redução de suas emissões de gases de efeito estufa de pelo menos

5% em relação aos níveis de 1990 no período de 2008-2012 (BRASIL, 2000).

O protocolo também estabeleceu três mecanismos inovadores criados para auxiliar

as Partes do Anexo I a reduzir os custos de cumprimento das suas metas de reduções de

emissões (BRASIL, 2009). Estes mecanismos são:

a) Implementação conjunta, trata-se da cooperação das Partes do Anexo I através

de projetos para redução de emissões de GEE. Implica em constituição e

transferência de créditos de emissões do pais em que o projeto está sendo

implementado para o país emissor.

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30

b) Comércio de Emissões, permite-se negociação de cotas de emissão das Partes do

Anexo 1. Países com emissões maiores podem adquirir créditos para cobrir seus

excedentes.

c) Mecanismo de Desenvolvimento Limpo, permite-se que os países do Anexo I

financiem projetos de redução ou comprem reduções de emissões resultantes de

projetos desenvolvidos nas Partes não-Anexos I.

No entanto só entraria em vigor após a data em que pelo menos 55 Partes da

Convenção, envolvendo as Partes incluídas no Anexo I, ratificassem o documento. Assim o

protocolo só entrou em vigor no ano de 2005, quando houve a ratificação da Rússia

(BRASIL, 2000).

2.4.2 Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL)

MDL teve origem na proposta brasileira, Fundo de Desenvolvimento Limpo. Este

mecanismo consiste em projetos implantados em países em desenvolvimento que gerem um

benefício ambiental na forma de um ativo financeiro, denominado Reduções Certificadas de

Emissões. Tais projetos devem implicar reduções de emissões ou remoção de CO2 adicionais

aquelas que ocorreriam na ausência do projeto, garantindo benefícios reais, mensuráveis e

de longo prazo para a mitigação da mudança global do clima (BRASIL, 2009).

Os projetos devem envolver substituição de energia de origem fóssil por outras de

origem renovável, racionalização do uso da energia, atividades de florestamento e

reflorestamento, tratamentos de resíduos, entre outras possibilidades.

A redução de emissões de GEE e/ou o aumento de remoções de CO2 decorrentes da

atividade de projeto são medidas em toneladas de dióxido de carbono equivalente – t CO2e.

Cada tonelada de CO2e reduzida ou removida da atmosfera, devidamente verificada,

corresponde a uma unidade emitida pelo Conselho executivo do MDL, denominada de

Redução Certificada de Emissão (RCE) (BRASIL, 2009).

As RCEs podem ser utilizadas pelas Partes do Anexo I que tenham ratificado o

Protocolo de Quioto como parte do cumprimento de suas obrigações quantificadas de

redução ou limitação de emissões de GEE. Assim, o MDL permite que uma Parte com metas

no âmbito do Protocolo cumpra suas metas a um custo baixo e ao mesmo tempo invista em

Partes não-Anexo I, contribuindo para um desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2009).

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31

2.5 Tecnologias de captura e armazenamento de CO2

De acordo com Medeiros (2008) são duas as principais rotas de processo para a

captura de CO2: a captura pós-combustão, no qual o CO2 deve ser separado do oxigênio e

do nitrogênio e a captura pré-combustão, que requer a separação entre H2 e CO2. Há ainda

uma terceira opção de combustão, chamada Oxyfuel, na qual o oxigênio puro é adicionado

ao combustível em proporção estequiométrica, resultando em um gás de combustão

composto por CO2 e H2O, neste caso o CO2 não precisa ser capturado, mas apenas separado

da água.

Segundo Mofarahi (2008) as tecnologias que podem ser empregadas para a captura

de CO2 são adsorção, separação criogênica, separação por membranas, absorção física e

absorção química.

A adsorção baseia-se na atração entre componentes do gás e sítios ativos no

adsorvente sólido. As tecnologias “pressure swing adsorption” (PSA), “temperature swing

adsorption” (TSA) e “vacum swing adsorption” (VSA) podem ser utilizadas na produção

industrial de hidrogênio e oxigênio, e também para separação do CO2 do gás natural. A

separação criogênica se dá pela liquefação do CO2 a temperatura baixa e pressão elevada,

por vezes seguida de destilação. Essa tecnologia é mais empregada para a purificação de

correntes de alto teor de CO2. A absorção física é aplicável a gases com alta pressão parcial

de CO2 e requer que o gás esteja sob alta pressão (MONTEIRO, 2009).

O processo mais empregado para separar CO2 de gases de combustão é absorção

química, no qual o CO2 reage com um solvente líquido, sendo portanto mais facilmente

carreado pelo mesmo. A absorção química beneficia-se da acidez de CO2, que é levado a

reagir reversivelmente com espécies diluentes básicas, dentre as quais destacam-se as

soluções aquosas de etanolaminas (MONTEIRO, 2009).

O processo de separação por membranas é utilizado para remoção de CO2 do gás

natural, sob alta pressão e em casos de alta concentração deste gás. Em gases de combustão,

a baixa pressão parcial de CO2 acarreta uma força motriz insuficiente para este tipo de

operação. Este processo baseia-se nas diferenças físicas e químicas entre as moléculas que

compõem o gás a ser tratado. Devido a essas diferenças, algumas moléculas permeiam as

membranas mais rapidamente do que outras. Assim, pode-se entender as membranas como

barreiras seletivas entre duas fases (MONTEIRO, 2009).

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32

Após o processo de captura, o CO2 deve ser transportado até uma planta de

destinação, seja para injeção ou reúso. O transporte de CO2 é feito sob alta pressão, estado

supercrítico, por carbodutos. A pressão no ponto inicial do carboduto deve ser alta o

suficiente para que, mesmo com as perdas de pressão ao longo da linha de transmissão, o

fluido atinja o final ainda em estado supercrítico (ASPELUND, 2007).

A injeção de CO2 pode ter diferentes finalidades. Na quase totalidade dos casos, em

operação o CO2 é injetado em poços para aumentar a produção de petróleo (EOR),

facilitando o escoamento. Outra possibilidade é a injeção de CO2 apenas para promover o

armazenamento deste gás, mitigando as emissões. Há ainda casos em que o CO2 é injetado

em jazidas de carvão para deslocar e recuperar metano (ECBM) (MONTEIRO, 2009).

As formações geológicas apropriadas para o armazenamento de CO2 são conhecidas

por sumidouros geológicos de carbono. A capacidade mundial de armazenamento de

diferentes formações é avaliada em aquíferos salinos, de 103 a 104 Gt, poços exauridos e

operações de EOR, 103 Gt e operações ECBM, 10 a 102 Gt (MCCOY, 2008). No Brasil, a

capacidade de armazenamento em aquíferos salinos é de 2000 Gt, em jazidas de carvão,

200 Mt e em campos de produção de petróleo e gás, de pouco menos de 2500 Mt CO2

(KETZER et al., 2007).

Aproximadamente 2800 toneladas diárias se CO2 são capturados, via absorção por

aminas, do gás natural produzido no campo de Sleipner, operado pela Statoil, na Noruega, e

injetados no aquífero salino de Utsira, a 1000 metros de profundidade, de modo a evitar a

emissão daquele gás na atmosfera. O custo desta injeção é muito alto, mas se justifica devido

à multa relacionada à taxa sobre emissão de gases de efeito estufa vigente na Noruega

(MONTEIRO, 2009).

A opção de injeção em campos de produção de petróleo em vias de esgotamento,

além da função de sequestro de carbono, também tem a função de aumentar a produção de

petróleo. A vantagem é que o CO2 aumenta a fluidez do óleo. Como exemplo, pode-se citar

o projeto Weyburn localizado na fronteira entre o Canadá e os Estados Unidos, em

funcionamento desde 2000. Neste projeto o CO2 é capturado em uma planta de gaseificação

de carvão em Beulah (EUA) e transportado por carboduto até o poço de produção em

Weyburn (Canadá) onde é injetado (ZHOU, 2004).

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33

2.6 Sequestro químico de CO2

Uma alternativa ao sequestro geológico de CO2 é seu emprego como matéria-prima

ou co-alimentação para síntese de produtos químicos. O CO2 é uma molécula

termodinamicamente estável em que o carbono se encontra em seu estágio máximo de

oxidação. Assim, as rotas de síntese são normalmente endotérmicas, requerendo fontes de

hidrogênio (MONTEIRO, 2009). Na tabela 4 são mostradas as principais aplicações

industriais do CO2.

Tabela 4- Principais aplicações industriais de CO2. Fonte Xavier, 2007.

Produto Químico Mercado (Mt/ano) t CO2/t produto Fonte de CO2

Uréia 90 65 Industrial

Metanol 24 8 Industrial

Carbonatos Inorgânicos 8 3 Industrial, Natural

Carbonatos Orgânicos 2,6 0,2 Industrial, Natural

Poliuretanos 10 10 Industrial, Natural

A síntese de metanol via hidrogenação do CO2 destaca-se como uma das mais

atrativas aplicações. O metanol pode ser empregado como aditivo para combustíveis ou

como precursor de produtos químicos como metil-metacrilato (MMA), dimetil-tercbutil éter

(MTBE), dimetil carbonato (DMC), dimetil-éter (DME) e olefinas (MONTEIRO, 2009).

Uma questão a ser avaliada nestes processos de sequestro químico é o tempo que o

CO2 permanecerá sequestrado, pois enquanto o gás empregado na síntese da uréia ou

metanol volta para atmosfera em cerca de seis meses, o CO2 empregado na síntese de

carbonatos e poliuretanos podem permanecer séculos sequestrados. Outra questão é que os

processos de utilização de CO2 como matéria-prima demandam energia, também emitindo

CO2 (XAVIER, 2007).

2.7 Sequestro bioquímico de CO2

O sequestro bioquímico é a tecnologia de produção de biomassa através da fixação

de CO2 por organismos fotossintetizantes. A biomassa produzida é processada

bioquimicamente ou termoquimicamente para a geração de energia ou produtos químicos.

A conversão bioquímica, que emprega enzimas e microrganismos, inclui a digestão

anaeróbica e a fermentação. A conversão termoquímica engloba a gaseificação, a pirólise, o

refino hidrotérmico e a combustão.

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34

Wang et al. (2008) estimam que o potencial de CO2 na agricultura, através do cultivo

de vegetais superiores, corresponde de 3 a 6% das emissões fósseis. Borges (2007) indica

que o potencial de sequestro de carbono por reflorestamento é de 3 a 4 tC/ha/a, enquanto o

potencial de biofixação por microalgas pode atingir 36,5 tC/ha/a, conforme tabela 5.

Tabela 5- Potenciais no sequestro de carbono. Fonte Borges, 2007.

Sequestro de CO2 (tC/ha/a)

Oceanos 1 - 4

Lagoas 5 - 8

Reflorestamentos 3 - 4

Microalgas 11 – 36,5

A gaseificação consiste na combustão incompleta da biomassa, na presença de um

oxidante, levando majoritariamente a CO e H2 (gás de síntese). Durante a gaseificação

ocorrem inúmeras reações como as de pirólise, combustão, craqueamento térmico, oxidação

parcial e as reações de gaseificação propriamente ditas. O processo se inicia com a pirólise

da biomassa, a temperatura em torno de 500°C. Da pirólise resultam gases como H2, CO,

CO2 e CH4, alcatrão (compostos aromáticos, alifáticos e polares) e carvão vegetal. Os

produtos da pirólise são então oxidados pelo oxigênio em reações que elevam a temperatura

do meio para cerca de 1000°C. Em temperaturas elevadas, o alcatrão sofre craqueamento

térmico e o carvão vegetal sofre combustão, ambos dando origem a gases, chamados de gás

de síntese. A maior parte das tecnologias de gaseificação é desenvolvida para gerar energia

ou combustíveis secundários (MONTEIRO, 2009).

2.8 Uso da biomassa como energia

A biomassa é uma das principais fontes de energia utilizadas no Brasil. A biomassa

da cana, da lenha e o carvão vegetal representaram 24,5% na oferta de energia interna

brasileira no ano de 2013, sendo a biomassa lenhosa responsável por quase metade desta

oferta, segundo o Balanço Energético Nacional (BRASIL, 2014). Isto deve-se

principalmente as vantagens que o País tem no crescimento de biomassa, como a

incorporação de áreas destinadas à agricultura de energia sem competição com a agricultura

de alimentos, por situar-se, predominantemente, na faixa tropical do planeta recebendo

intensa radiação solar ao longo do ano e por possuir quase 25% da reserva de água doce do

planeta.

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Das biomassas lenhosas, o eucalipto e o pinus têm sido apontados como as melhores

opções para a produção de energia devido a seus altos índices de produtividade e

características energéticas, como densidade e poder calorifico, sendo o gênero Eucalyptus o

mais utilizado no Brasil para a implantação de florestas com fins energéticos (CORTEZ et

al., 2008).

O Brasil tem 5,2 milhões de quilômetros quadrados de florestas nativa, o que

representa 61% de sua área e, segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação

e Agricultura (FAO), 29 mil km² de seu território são reflorestados com eucalipto, o que

coloca o País em segundo lugar, atrás apenas da Índia. O Brasil é o maior produtor de

madeira proveniente de bosques cultivados (sobretudo eucalipto), com mais de

2,9 milhões de ha e uma área plantada de pinus de 1,8 milhões de ha. Estima-se que

1 milhão de ha estão destinados à produção de lenha e carvão vegetal. A maior parte destas

florestas estão situadas na região sudeste e no estado da Bahia, onde os cinco principais

agentes reflorestadores são a indústria de celulose e papel, indústria siderúrgica, indústria de

produtos sólidos da madeira e institutos florestais (CORTEZ et al., 2008).

As florestas dedicadas à produção de energia são chamadas de florestas energéticas.

Este conceito foi introduzido na década de 80 para definir florestas de curta rotação (3 a 5

anos), ou seja, de crescimento rápido, apresentando maior número de plantas por hectare

visando a plantações com grande produção de massa seca em menor área útil (COUTO et

al., 2014).

Estudos mostram que os maiores valores de massa seca por hectare foram obtidos

nos tratamentos com menor área entre plantas. Entretanto, ao aumentar o número de plantas

por hectare, consequentemente aumenta-se a concentração de adubo, aumentando os custos

com o plantio. Segundo Couto (2014) os espaçamentos 3x0,5m em dois anos proporcionam

até 55 toneladas de massa seca por hectares; espaçamentos de 3x1,0m em três anos

proporcionaram até 48 toneladas e espaçamentos de 3x1,5m em quatro anos proporcionaram

45 toneladas, dos quais apresentam custos favoráveis se conduzidos dois ciclos de rebrota

após o primeiro corte.

Outra fonte de aproveitamento de biomassa para energia são os resíduos florestais.

Os resíduos florestais são constituídos por todo aquele material que é deixado para trás na

coleta da madeira, tanto em florestas e bosques naturais como em reflorestamentos, como as

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folhas, galhos e casca, e pela serragem e aparas produzidas no processamento da madeira

(CORTEZ et al., 2008).

Não é fácil a obtenção de dados precisos sobre os resíduos florestais no Brasil já que

o volume e os tipos de pedaços/fragmentos gerados são dependentes de vários fatores, dos

quais se destacam o diâmetro das toras e o uso final das peças serradas. De modo geral, os

resíduos gerados em uma cadeia produtiva de serrados constituem-se de 7% de casca, 10%

de serragem e 28% de pedaços, isso sem considerar as perdas na extração da madeira. Só

com o setor de primeira transformação dos bosques tropicais na região Amazônica, estima-

se que quase 50 milhões de m³ de troncos são transformados em cerca de

20 milhões de toneladas de madeira serrada (CORTEZ et al., 2008).

Os serrados são o principal destino da madeira. Então um mínimo de 18 milhões de

toneladas de resíduos de madeira ficariam nas serrarias. Se essa quantidade for somada aos

resíduos de madeira provenientes do processamento industrial e da exploração florestal

sustentável, a quantidade de resíduos pode chegar a 50 milhões de toneladas/ano (CORTEZ

et al., 2008).

A facilidade de obtenção da madeira aliada à possibilidade de produzir carvão vegetal

com tecnologia rudimentar caracterizou a biomassa florestal como uma fonte de uso tanto

comercial quanto doméstica, potencializando a sua produção e utilização. Ao longo dos

últimos 10 anos, cerca de um terço da madeira para energia no País foi destinada a uso

doméstico e agropecuário; a outra parte destina-se a usos industriais nos setores de

alimentação e bebidas, celulose e papel, ferro-gusa, ferro-ligas e cerâmicas (BRASIL, 2013).

Dentre esses setores, a indústria da celulose utiliza seus próprios resíduos de processo

provenientes da madeira de florestas plantadas de eucalipto para produzir vapor e

eletricidade. Os setores de alimentos, cerâmicas e gesseiras usam a biomassa in natura,

diretamente para produção de calor. O setor que mais utiliza biomassa como fonte de calor

é a siderúrgica, empregando o carvão vegetal como termorredutor no processo industrial. O

segundo maior consumidor de madeira para energia é o industrial, que se subdivide em três

segmentos; cerâmicas, bebidas e alimentos e celulose, sendo responsáveis, respectivamente

por 34%, 29%, 21% do consumo total.

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Tabela 6- Consumo de madeira para fins energéticos, Brasil. Fonte BRASIL 2014.

Consumo 103 t

Produção de carvão vegetal 26.010

Industrial 24.857

Residencial 18.521

Rural 8.513

Outros 1.389

Total 79.290

Para que esse crescimento, no uso da biomassa como energia, continue em expansão

no Brasil, é preciso que, além do avanço tecnológico, sejam desenvolvidos modelos de

gestão que garantam a sustentabilidade técnica, econômica e ambiental como é apresentado

na integração das energias renováveis e fósseis.

2.9 Integração total das energias renováveis e fósseis (ITERF).

A melhor maneira de representar o conceito da ITERF é na forma de uma estrutura

octogonal dividida em três anéis, conforme figura 10. Fontes energéticas posicionadas no

anel externo, vetores e produtos no anel intermediário e o consumo otimizado no anel central,

conforme figura 9.

Figura 9- Estrutura ITERF. Fonte Pinatti, 2013

As fontes energéticas, localizadas no anel exterior, são representadas pelas energias

de origem fóssil, renovável e nuclear. As fósseis como petróleo, gás natural e carvão mineral

são posicionadas no lado esquerdo, já as renováveis como biomassa, solar, eólica e

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hidráulica são posicionadas do lado direito. A energia nuclear é colocada no lado inferior,

pois atualmente é problemática, contudo pode apresentar evoluções com o avanço em

tecnologias de água supercrítica. No lado superior, é colocada a floresta energética que

integra todos estes tipos de energia através da geração de hidrogênio por gaseificação de

biomassa integrada a uma unidade termoelétrica (H2-GBASC/UTE).

Os vetores energéticos podem ser sólidos (carvão mineral, cavacos/peletas de

biomassa), líquidos (petróleo/derivados, etanol, óleos e gás natural liquefeito), gasosos (gás

natural), energia elétrica e H2-GBASC. Este último, usa a biomassa limpa dos troncos

vetorizada na forma de cavacos ou peletas (exportação) para transporte e no ponto final de

consumo é transformada em H2, solucionando os problemas de logística.

As principais características da ITERF são:

a) Geração de Hidrogênio por Gaseificação de Biomassa em Água Supercrítica

integrada com uma unidade termoelétrica (H2-GBASC/UTE)

b) Uso do H2 em grandes mercados, tais como hidrotratamento e

hidrocraqueamento na refinaria de petróleo, conversão de óleos vegetais em

biodiesel pelo processo H-Bio, produção de metanol e dimetil-eter (substituto

do diesel) a partir do carvão mineral ou biomassa, produção de amônia e no

futuro utilização em célula a combustível

c) Geração de CO2 limpo para crescimento de microalgas (óleo vegetal e

proteína)

d) Retenção dos GEE em pilhas de celulignina (PCL) que, neste trabalho, serão

substituídas por biomassa torrificada (peletas e particulados) compactada,

geradas a partir dos resíduos florestais.

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Figura 10- Geração de biomassa para produção de H2 e retenção de carbono em pilhas de celulignina. Fonte Pinatti,

2012.

A figura 10 mostra uma estimativa de área a ser reflorestada para atender à integração

da proposta. Mostra também a energia gerada pelo H2 produzida por GBASC comparada

com a energia total das fontes fósseis e estima o volume de PCL necessárias para reter as

emissões de carbono fóssil geradas pelo consumo da totalidade de suas reservas.

De acordo com os cálculos da figura 10, uma área de 1,3 bilhões de ha de florestas

seria a necessária para o fornecimento de resíduos florestais para produção das pilhas de

celulignina (obtida através do tratamento de pré-hidrólise da biomassa), e geraria biomassa

limpa do tronco para utilização em aplicações nobres como na indústria de celulose, na

indústria madeireira e na produção de H2. O volume total ocupado pelas PCL é igual à soma

dos produtos entre o tempo de vida de cada reserva fóssil pelo seu respectivo volume de PCL

requerido que é equivalente a aproximadamente 30.000 pilhas de 1 km² x 50 m de altura. A

área ocupada por estas florestas representam 17% das terras não agrárias mundiais. A PCL

possui como características a não degradação biológica, é autoportante até centenas de

metros exigindo impermeabilização inferior, superior e lateral. O topo e as laterais inclinadas

podem ser usadas para instalação de fazenda solar (coletor parabólico térmico solar para

aquecimento de ar ou água) e podem ser consideradas uma reserva de energia atuando como

segurança energética (PINATTI, 2013).

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40

O principal problema das tecnologias atuais para geração de energia a partir de fontes

renováveis é a unidirecionalidade, ou seja, cada biomassa gera apenas um produto principal

que tem que pagar todos os custos (matéria-prima, investimento, insumos e mão-de-obra) ao

contrário do que é demonstrado na ITERF, onde há a biomassa é utilizada integralmente

juntamente com os combustíveis fósseis.

2.10 Tecnologia das pilhas de biomassa (peletas e particulados) torrificadas.

2.10.1 Peletas convencionais

As peletas são fontes de energia renovável, limpa e eficiente, resultando em um

combustível sólido a partir de biomassa florestal e de resíduos gerados no processamento da

madeira, permitindo uma combustão com pouca fumaça, liberando menos monóxido de

carbono do que qualquer outro combustível fóssil (RASGA, 2013).

As peletas são granulados cilíndricos densos, da ordem de 6 a 8 mm de diâmetro e

de 10 a 40 mm de comprimento, produzidos a partir de resíduos lenhosos e de desperdícios

da indústria madeireira. Consideradas uma fonte de energia renovável pertencentes à classe

de biomassas, são produzidas com baixo teor de umidade (menor que 10%), permitindo

elevada eficiência na combustão (GARCIA, 2010).

Outra definição encontrada declara que as peletas de madeira são combustíveis

orgânicos de forma cilíndrica, produzidos através de biomassa adensada, proveniente de

serragem e de resíduos, com um poder colorífico superior a 17MJ/kg. As peletas de madeira

tem teor de cinzas abaixo de 0,5% e umidade inferior a 10%, permitindo uma combustão

eficiente de alto valor energético e limpa (PINEWELLS, 2014).

Figura 11 - Peletas convencionais.

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41

As peletas podem ser produzidas por densificação, compactação ou aglomeração da

biomassa florestal, proporcionando uma série de vantagens quando em comparação com a

utilização da biomassa no estado natural, principalmente no que se refere ao armazenamento,

manuseio, facilidade de transporte, uniformização do material, aumento da densidade e

também do poder calorifico.

A utilização destes é favorável ao meio ambiente, pois é neutro em carbono, todo

CO2 emitido na sua queima é recuperado no crescimento da árvore, existindo a compensação.

Emissões tais como NOx, SOx e compostos orgânicos voláteis provenientes do uso de peletas

são menores em comparação com as outras formas de aquecimento e energia, também é

reduzida a emissão de CO2 durante a queima das peletas (GARCIA et al., 2010).

As aplicações para os pellets de madeiras são os mais variados, como fornos de

padarias, fornos cerâmicos, aquecimento de estufas, secagem de grãos, aquecimento de água,

termoelétricas, entre outros.

Basicamente, o processo de produção em uma indústria de peletas envolve as etapas

mostradas na figura 12 (OLIVEIRA, 2012):

Figura 12- Etapas para a produção de peletas.

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1. Preparação da matéria-prima: A matéria prima a ser utilizada no processo é madeira

de origem do processo de limpeza florestal (biomassa lenhosa e residual), resíduos

do processo industrial (madeira serrada, compensados e MDF) ou de floresta de

cunho energético.

2. Picagem de matéria-prima: A picagem industrial da madeira tem por função a

produção de um produto final padronizado. Existem duas tipologias de

processamento, a picagem com equipamento por facas e por martelos.

3. Moagem e trituração: A matéria-prima conforme seu estado de trituração, deve

passar posteriormente para uma fase de moagem, que consiste na diminuição do

tamanho e homogeneização na uniformização da matéria-prima. Esta tarefa pode ser

realizada por um moinho martelo triturador. As partículas resultantes devem

apresentar uma granulometria aproximada de 1 mm para poderem ser processadas.

4. Secagem industrial: O índice máximo de umidade permitido na entrada do moinho

da peletizadora é estimado ao redor de 12-13%. O secador necessita de um gerador

para produzir ar quente, ou seja, calor para realizar o processo de secagem, no qual

podemos usar as próprios peletas para este fim. O sistema de secagem mais usado é

o secador de tambor rotatório.

5. Classificação/Refinação: Para iniciar o processo de peletização, o produto secado

submete-se então à remoção do pó, classificação e refinação de modo que a partícula

seja reduzida ao tamanho máximo de 2mm.

6. Sistema de peletização: Uma vez na peletizadora, o material triturado e moído é

acondicionado mediante o uso de vapor, que contribui para a umidificação

superficial, atuando como lubrificante no processo, contribuindo para que o

aglutinante natural das fibras de madeira, a lignina, atue com maior facilidade. As

partículas então são extrudadas através de uma matriz com furos por onde o material

preparado passa e é cortado nos comprimentos desejados. A peletização emprega

uma matriz giratória, onde pressão interna dos cilindros força a passagem da madeira

através destes orifícios.

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Figura 13- Peletizadora. Fonte Oliveira, 2012.

7. Resfriamento: A linha de produção conclui-se com o resfriamento. O resfriamento é

uma etapa muito importante, pois contribui para que a lignina da madeira alcance a

seu maior potencial aglutinante. O sistema de resfriamento consiste numa câmara

vertical, de onde os pellets caem em fluxo de contracorrentes.

8. Sistema de embalagem e armazenagem das peletas: As peletas, após serem resfriadas

e limpas, passam por um sistema de pesagem e são acomodadas em sacos específicos

personalizados.

As caraterísticas químicas e físicas são critérios básicos para se avaliar a qualidade dos

combustíveis. O primeiro grupo inclui critérios como a concentração de certos elementos

(N, S, CL, As, Cd, Pb, Cu, Hg, Ni, Zn, entre outros), o teor de cinzas, de umidade e o poder

calorífico. As características físicas descrevem os parâmetros visuais e o tipo de

processamento da biomassa (RASGA et al., 2013).

Não existe uma legislação específica no Brasil sobre a produção e comercialização de

peletas de madeira, mas a Agência Nacional do Petróleo (ANP) foi designada para

normatizar e fiscalizar o mercado de biomassas de uma forma geral.

Revisando o histórico da normatização nos países onde o mercado de peletas de madeira

já está consolidado, observam-se as normas alemãs (DIN 51731), austríaca (ONORM 7135),

sueca (SS 18 71 20), italiana (CTI – R 04/5) e estadunidense (Pellets Fuel Institute). Em

2011, o Comitê Europeu de Normatização (CEN) elaborou uma norma-padrão europeia para

combustíveis à base de biomassa, abrangendo o teor das cinzas, a durabilidade e a resistência

mecânica das peletas de madeira, além de padronizar os métodos mais adequados para os

testes a serem aplicados neste tipo de combustível. Esta norma (EN14961) contém seis

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partes. A primeira, EN14961-1, apresenta de forma geral o sistema de classificação para

biomassas sólidas e os procedimentos para comercialização. A EN14961-2 é específica para

peletas de madeira sem destino industrial. A EN14961-3 aborda briquetes de madeira, a

EN14961-4 para cavaco de madeira, a EN14961-5 para a lenha e por último a EN14961-6

refere-se as peletas de biomassa de origem não florestal (RASGA et al., 2013).

A EN14961-2 divide as peletas em três classes, a premium, ENplus-A1, a classe

intermediaria, ENplus-A2 e a classe menos restritiva, EN-B, como mostrado na Tabela 7.

Uma questão a ser destacada desta norma europeia são os valores máximos

permitidos de cloro, menor que 0,02%, o qual as peletas produzidas no Brasil não atende.

No Brasil, as peletas produzidas a partir do eucalipto e do pinus têm em média 0,1% de teor

de cloro. Isto se deve porque a chuva e a neve europeia originam-se da evaporação da região

do Ártico, onde o clima é frio e tem baixa evaporação de compostos de cloro; também a

sublimação do gelo rejeita o sal (composto contendo cloro) na sua solidificação. Já as chuvas

no Brasil originam-se da evaporação tropical do Atlântico e Pacífico, onde o clima é quente

e há alta evaporação de compostos de cloro (maresia). Desta forma o cloro se acumulou ao

longo dos anos nos solos tropicais.

No Brasil, o processo de peletização surgiu depois de 2001, enquanto na Europa já

existe desde a crise do petróleo, final da década de 70. A sua utilização no mercado interno

se restringe a pequenas indústrias e pontos comerciais.

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Pellets (ABIPEL), o país

tem hoje 16 plantas industrias de peletas, mas muitas delas produzindo abaixo da sua

capacidade e outras em fase de construção. Estas empresas juntas são capazes de produzir

mais de 300.000 t/ano, mas sua produção atual atinge menos de 20% dessa capacidade.

Questões tecnológicas como baixa eficiência dos equipamentos utilizados e o alto custo da

produção, potencializado pelo alto custo da matéria-prima e dos transportes, ainda limita a

popularização das peletas no mercado interno. A maior parte das indústrias brasileiras deste

combustível renovável está localizada na região centro-sul do País, onde há grandes áreas

de reflorestamento e fartura de resíduos que podem ser aproveitados no processo de

compactação.

As exportações da indústria brasileira de peletas, até o momento são insignificantes

por três motivos: preço pouco competitivo, custos logísticos e normas europeias rígidas.

Entretanto, o Brasil tem grande potencial para ser um exportador mundial de peletas devido

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as grandes áreas disponíveis para reflorestamentos e produção acelerada de biomassa devido

à intensa radiação solar recebida o ano todo.

Tabela 7- Norma EN14961. Fonte Rasga, 2013.

EN 14961-2 (Peletas para uso não industrial)

Especificação ENplus - A1 ENplus - A2 EN - B

Origem 1.1.3 (Stemwood) e 1.2.1

(Chemically untreated wood

residues)

1.1.1 (Whole trees without roots), 1.1.3 (Stemwood), 1.1.4 (Logging residues),

1.1.6 (Bark) e 1.2.1 (Chemically untreated

wood residues)

1.1 (Forest, plantation and other

virgin wood ), 1.2 (By-products and residues from wood processing

industry) e 1.3 (Used wood )

Dimensões (D, L)

D06, D08 (± 1 mm) D06, D08 (± 1 mm) D06, D08 (± 1 mm)

3,15 mm ≤ L ≤ 40 mm 3,15 mm ≤ L ≤ 40 mm 3,15 mm ≤ L ≤ 40 mm

Máx. 45 mm (1 w-%) Máx. 45 mm (1 w-%) Máx. 45 mm (1 w- % )

Densidade a granel (BD) 3 BD ≥ 600 kg/m

3 BD ≥ 600 kg/m

3 BD ≥ 600 kg/m

Durabilidade mecânica (DU) DU ≥ 97,5 w-% DU ≥ 97,5 w-% DU ≥ 96,5 w-%

Teor de umidade (M) - base úmida M ≤ 10 w-% M ≤ 10 w-% M ≤ 10 w-%

Teor de cinzas (A) - base seca A ≤ 0,7 w-% A ≤ 1,5 w-% A ≤ 3,0 w-%

Poder Calorífico Inferior (Q) - na entrega 16,5 ≤ Q ≤ 19,0 MJ/kg 16,3 ≤ Q ≤ 19,0 MJ/kg 16,0 ≤ Q ≤ 19,0 MJ/kg

(4,6 ≤ Q ≤ 5,3 kWh/kg) (4,5 ≤ Q ≤ 5,3 kWh/kg) (4,4 ≤ Q ≤ 5,3 kWh/kg)

Finos (F) - (< 3,15mm) (*) F ≤ 1% F ≤ 1% F ≤ 1%

Enxofre (S) (S) ≤ 0,03% (S) ≤ 0,03% (S) ≤ 0,04%

Nitrogênio (N) (N) ≤ 0,3% (N) ≤ 0,5% (N) ≤ 1,0%

Cloro (Cl) (Cl) ≤ 0,02% (Cl) ≤ 0,02% (Cl) ≤ 0,03%

Arsênico (As) - base seca (**) (As) < 1 mg/kg (As) < 1 mg/kg ( As) < 1 mg/kg

Cádmio (Cd) - base seca (**) (Cd) < 0,5 mg/kg (Cd) < 0,5 mg/kg ( Cd) < 0,5 mg/kg

Cromo (Cr) - base seca (**) (Cr) < 10 mg/kg (Cr) < 10 mg/kg ( Cr) < 10 mg/kg

Cobre (Cu) - base seca (**) (Cu) < 10 mg/kg (Cu) < 10 mg/kg ( Cu) < 10 mg/kg

Chumbo (Pb) - base seca (**) (Pb) < 10 mg/kg (Pb) < 10 mg/kg ( Pb) < 10 mg/kg

Mercúrio (Hg) - base seca (**) (Hg) < 0,1 mg/kg (Hg) < 0,1 mg/kg ( Hg) < 0,1 mg/kg

Níquel (Ni) - base seca (**) (Ni) < 10 mg/kg (Ni) < 10 mg/kg ( Ni) < 10 mg/kg

Zinco (Zn) - base seca (**) (Zn) < 100 mg/kg (Zn) < 100 mg/kg ( Zn) < 100 mg/kg

Aditivos (***) ≤ 2 w-% ≤ 2 w-% ≤ 2 w-%

Temperatura de fusão das cinzas (DT) (****) DT ≤ 1.200 ºC DT ≤ 1.100 ºC DT ≤ 1.100 ºC

(*) quantidade de finos no portão da fábrica para transporte a granel (no momento do carregamento), e em pequenos (até 20 kg) e grandes sacos (no momento do empacotamento ou

da entrega ao consumidor final); (**) 1.000 mg/kg = 1.00 ppm = 0,1%, "Analysis EN15297 " - Micro elementos;

(***) quantidade de aditivos em relação à massa prensada em base seca, sendo que o tipo (por exemplo, amido, farinha de milho, farinha de batata, óleo vegetal, etc.) e a quantidade

de cada aditivo, devem ser indicados na embalagem do produto; (****) Cinzas para determinar a temperatura de fusão são criadas a partir de 815ºC .

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46

2.10.2 Torrefação

A torrefação é um tratamento não químico, que consiste em submeter a madeira à

temperaturas entre 200 e 300°C a uma pressão atmosférica próxima da ambiente, em

ausência de oxigênio. Nestas condições a umidade é removida e a hemicelulose degradada,

provocando a liberação de ácido acético, frações de fenol e outros compostos de baixo poder

calorifico. A lignina e a celulose também sofrem uma ligeira despolimerização. O material

resultante apresenta características intermediárias entre o carvão e a biomassa in natura.

O processo de torrefação tem como objetivo concentrar a energia da biomassa em

curto tempo e a baixas taxas de aquecimento e temperatura, permitindo reter os voláteis de

maior poder calorífico na própria biomassa.

Segundo Bourgeois (1989), o produto obtido pela degradação térmica parcial da

madeira, conhecido como madeira torrificada, apresenta as seguintes características:

a) Natureza Hidrofóbica: Não reabsorve a umidade durante a armazenagem, e

ao contrário da madeira e do carvão, é estável.

b) Boa concentração de energia: Apresenta em torno de 90% da energia

concentrada da biomassa inicial.

c) Alta densidade: A biomassa torrificadada pode ser usada de forma

compactada, apresentando uma densidade superior a 800kg/m3.

d) Ótimo balanço de durabilidade-friabilidade: A biomassa torrefeita se torna

friável, porém em menor grau que o carvão vegetal, o que facilita o manejo

do material sem perdas consideráveis na forma de finos.

Durante a torrefação, podem ser identificados dois tipos de reações, classificadas em

reações de termocondensação e carbonização. Esta última é cineticamente lenta no domínio

térmico da torrefação, mas pode crescer bruscamente acima de 250°C, com reações

fortemente exotérmicas, podendo conduzir a um aumento descontrolado da temperatura e,

consequentemente, a uma carbonização total do material. Portanto, para garantir que o

processo ocorra normalmente, é necessário retirar este calor gerado durante as reações de

carbonização. Também é recomendado que a torrefação seja executada em uma atmosfera

neutra ou redutiva, para inibir a oxidação ou ignição do material. A termocondensação indica

o processo no qual a madeira é submetida a reações químicas acompanhadas de eliminação

de água e com eventuais reações de descarboxilação interna (BOURGEOIS et al., 1989).

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47

As características da madeira torrificada variam principalmente em função da

temperatura final do processo, mas também são influenciadas pelo tempo de residência,

velocidade de aquecimento e pelas próprias propriedades da biomassa (FELFLI et al., 1999).

Em uma torrefação típica, 70% da massa permanece como produto sólido ao final do

processo, os outros 30% são formados por gases e correspondem por 10% do conteúdo

energético (BERGMAN, 2005). Esse balanço energético pode ser representado pela figura

14.

Figura 14- Balanço de massa e de energia da torrefação. M=unidade de massa; E=unidade de energia. Adaptado de

Bergman, 2005.

São dois os grupos que se destacam na pesquisa sobre torrefação de biomassa, o

Grupo de Combustíveis Alternativos vinculado à UNICAMP e o Laboratório de Painéis e

Energia da Madeira vinculado à Universidade Federal de Viçosa. No último são realizados

estudos, juntamente com a Embrapa Floresta, visando a avaliar o efeito da temperatura de

torrefação nas propriedades energéticas na madeira de Eucalyptus sp, onde foram verificados

efeitos significativos nas propriedades da madeira com o aumento da temperatura de

torrefação, como mostrado na tabela 8.

Tabela 8- Propriedades químicas e físicas das amostras de madeira in natura e torrificada. Fonte Silva, 2014

Propriedade Unidade Controle 170° 220° 260°

Teor de Carbono Elementar % 47,4 47,7 50,4 54,1

Teor de lignina % 32,7 34 41,2 52,2

Umidade % 12,3 9,2 6,5 5,,7

Densidade a granel kg/m3 239 378 385 396

Poder Calorífico Superior kcal/kg 4465,0 4570,2 4772,7 4945,0

Densidade Energética Mcal/m3 882 1440 1593 1727

Comparando a madeira in natura com a madeira torrificada a 260°C observam-se

aumentos no teor de carbono elementar de 47,4% para 54,1%, no teor de lignina de 32,7%

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para 52,2%, no poder colorífico superior de 4465 para 4945 kcal/kg, na densidade a granel

de 239,1 para 396,0 kg/m³, na densidade energética de 882 para 1727 Mcal/m3 e na redução

da umidade de 12,27 para 5,59%. Todas essas mudanças nas propriedades das partículas da

madeira são vantajosas quando a finalidade é a produção de energia.

A torrefação, ao degradar preferencialmente a hemicelulose, concentra os teores de

lignina no material resultante, constituinte estrutural da madeira com maiores proporções de

carbono, por consequência mais energéticos e com características mais hidrofóbicas. Ao

destruir parcialmente a estrutura fibrosa das partículas de madeira, a torrefação as deixa mais

quebradiças. Isso faz com que o material torrificado tenha uma granulometria média inferior

ao material in natura, facilitando uma melhor sobreposição de partículas, aumentando-se a

densidade a granel do material (SILVA, 2014).

Diante deste cenário pode-se afirmar que a torrefação, apresenta um efeito positivo

nas propriedades energéticas da madeira, podendo ser considerado um tratamento

tecnicamente viável e com potencial de exploração. Dentre as principais destinações do

material torrificado estão a produção de peletas e briquetes, a gaseificação e a co-geração de

energia (SILVA, 2014).

No Brasil, atualmente, não há plantas industriais para torrefação de biomassa com

fins energéticos. As principais plantas industriais de torrefação estão implantadas

principalmente na Europa, com destaque para França e Holanda. Basicamente são dois os

diferentes tipos de processo para torrefação.

No primeiro, desenvolvido pela Pechiney Eletrometalurgia, a transferência de calor

se dá por condução entre a biomassa e as superfícies aquecidas do reator, onde as paredes

do forno são aquecidas pelo vapor produzido numa caldeira. Neste método a biomassa

precisa ser seca e picada para uma melhor torrefação. No segundo, desenvolvido pela

Companhia Pillar, a transferência de calor se dá por convecção, no qual o gás de combustão

é forçado a passar através da madeira. Este sistema é constituído por um forno túnel, onde

também se realiza a secagem (LUENGO et al., 2006). Nas figuras 15 e 16 mostram estes

dois processos.

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Figura 15- Planta de torrefação industrial Pechiney Eletrometalurgia. Fonte Luengo, 2006.

Figura 16- Planta de torrefação industrial Pillar. Fonte Luengo 2006.

Recentemente uma tecnologia para secagem de biomassa com vapor superaquecido

está sendo usada também para torrefação. Neste processo, a biomassa é torrefeita através de

vapor superaquecido, no qual é reciclado entre a biomassa e um sistema de aquecimento que

fornece energia necessária para o processo. Esta tecnologia consegue torrificar peças

maiores de madeira, mas necessita-se de maiores investimentos (LUENGO et al., 2006).

2.10.3 Peletas torrificadas

O princípio de fabricação dos pellets torrificados são os mesmos daquele utilizado

para a produção dos pellets convencionais conforme figura 17. A diferença está apenas na

torrefação da biomassa anteriormente ou posteriormente à peletização. No primeiro caso, a

vantagem é a necessidade de menor energia para moagem (refinação) da biomassa, pois a

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torrificada é mais friável do que in natura. No segundo caso, a vantagem é de se obter dois

produtos para comercialização, tanto as peletas torrificadas quanto as convencionais.

Tabela 9- Propriedades energéticas da lenha, cavacos, peletas convencionais e torrificadas e carvão mineral. Fonte

Pinatti, 2012

Propriedades Lenha Cavacos Peletas

Convencionais

Peletas

Torrificadas

Carvão

Mineral

Umidade (%) 30-50 35-45 8-10 1-7 <10

Massa Especifica (kg/m3) 450 300 650 690-740 850

Poder Calorífico Inferior (MJ/kg) 8-12 9-10 17 19-22 25

Densidade Energética (GJ/m3) 6-8 3 11 13-15 21

Figura 17- Fluxograma do processo de fabricação de peletas torrificadas.

Como demonstrado pela tabela 9, as peletas produzidas a partir de biomassa

torrificada apresentam inúmeras vantagens, principalmente energéticas, se comparadas com

as convencionais. Contêm em média, para um mesmo volume, 30% a mais de energia,

aumentando a eficiência energética e diminuindo custos com transporte e armazenamento.

Possuem características hidrofóbicas e não sofrem com ação de micro-organismos

(degradação), favorecendo a manipulação e armazenamento em ambientes externos e

também havendo redução da energia no processo de moagem devido à maior friabilidade da

biomassa torrificada.

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Outro ponto importante é que estudos mostram que as peletas torrificadas não

necessitam de modificações nos sistemas de combustão e que os desempenhos obtidos são

globalmente melhores em termos de rendimento térmico, facilidade de ignição e de menores

índices de emissões poluentes. Desta forma pode-se afirmar que as peletas produzidas a

partir de biomassa lenhosa torrificada apresenta um grande potencial para substituir as

peletas convencionais e a madeira in natura utilizadas em caldeiras domésticas e industriais

para geração de energia em termoelétricas (COUTO, 2014).

2.10.4 Tecnologia de pavimentação

Pavimento é uma estrutura de múltiplas camadas de espessuras finitas, construída

sobre a superfície final de terraplanagem. O pavimento rodoviário classifica-se em dois

tipos, os rígidos representado pelo pavimentos de concreto de cimento Portland e os flexíveis

representado pelo pavimento asfáltico (BERNUCCI et al., 2006).

Os pavimentos asfálticos são aqueles em que o revestimento é composto por uma

mistura constituída basicamente de agregados e ligantes asfálticos. Estes podem ser

associados de duas maneiras, penetração ou por mistura. Por penetração refere-se à aplicação

do material asfáltico e posteriormente o espalhamento e compressão de camadas de

agregados com granulometrias apropriadas. No revestimento por mistura, o agregado é pré-

envolvido com material asfáltico antes da compressão, chamados de pré-misturados, que se

subdividem em a quente ou a frio, o qual será adaptado para este trabalho (BERNUCCI et

al., 2006).

Na composição da mistura asfáltica são utilizados os seguintes materiais:

Pedra, escória ou cascalho rolado, britados nas granulometrias adequadas,

representando o agregado graúdo;

Areia e/ou pó de pedra, de granulometria adequada, representando o agregado

miúdo;

“Filler”, material mineral, pulverizado bem fino, representando o “material

de enchimento”.

Cimento asfáltico de petróleo (CAP) representando o ligante asfáltico.

A obtenção de uma mistura asfáltica envolve a associação de agregado com o ligante

em proporções predeterminadas no projeto de dosagem para produzir uma massa homogênea

de acordo com as especificações e critérios adotados. As misturas são realizadas em usinas

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52

que podem ser estacionárias ou móveis, mediante a um misturador alimentados com silos de

agregados e emulsão asfáltica. As misturas asfálticas são levadas ao local de execução do

pavimento por meio de caminhões transportadores geralmente com báscula traseira. Estas

devem ser lançadas em camada uniforme de espessura e seção transversal definida, pronta

para a compactação que tem a função de aumentar a estabilidade da mistura, reduzir o índice

de vazios e proporcionar uma superfície suave. O lançamento é realizado por

vibroacabadoras e a compactação por rolos compactadores (BERNUCCI et al., 2006).

A composição do pré-misturado a frio deve satisfazer os requisitos da norma DNER-

ES 317/97, conforme tabela 10.

Tabela 10 - Composição pré-misturado a frio. Fonte DNER-ES 317/97.

O equipamento de compressão recomendado para este tipo de revestimento é o de

rolo liso vibratório ou rolo pneumático e rolo metálico liso, tipo tandem. Os rolos

compressores tipo tandem devem ter uma carga de 8 a 12t. Os rolos pneumáticos,

autopropulsores devem ser dotados de pneus que permitam a calibragem de 0,25 a 0,85

MPa.

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53

3 Materiais e Métodos

O trabalho foi conduzido no Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de

Engenharia de Lorena (EEL-USP) e constituiu na realização de ensaios de compactação e

cálculos de balanço de massa e energia das PPT para retenção de carbono das emissões

fósseis ao longo dos anos.

3.1 Ensaio de compactação

3.1.1 Materiais empregados no ensaio

Na produção do corpo-de-prova era previsto a utilização de alguns aglutinantes

(alcatrão, impermeabilizantes, cal/sílica) e biomassa torrificada na forma de peletas e

particulados. Entretanto, não foram encontradas peletas torrificadas no mercado nacional.

Portanto foram utilizadas peletas convencionais doadas pela Madeireira Madersul (São

Paulo), finos de carvão adquiridos na Madeireira Pinhal (São Paulo) e alcatrão vegetal

cedido pela Vallourec Florestal (Minas Gerais).

Como misturador mecânico foi adaptado um recipiente cilíndrico, em PVC, nas

medidas de 200 mm de diâmetro por 720 mm de altura, fixado a uma betoneira, conforme

figura 18.

Figura 18- Misturador mecânico adaptado.

Para o ensaio de compactação foi usada uma prensa hidráulica 200 t EVA e

desenvolvidos/construídos os seguintes componentes:

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54

Um molde cilíndrico para confecção do corpo-de-prova, conforme figura 19;

Figura 19- Molde cilíndrico.

Uma placa base de modo a encaixar perfeitamente ao molde, conforme figura

20;

Figura 20- Placa base.

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Um soquete de compactação composto por duas hastes soldadas a duas

bolachas circulares, conforme figura 21;

Figura 21- Soquete de compactação.

Um extrator de corpo-de-prova, conforme figura 22.

Figura 22- Extrator de corpo-de-prova

3.1.1 Metodologia

A tecnologia de formação da pilha de biomassa torrificada a ser utilizada é similar à

de pavimentação de vias públicas, portanto para os ensaios de compactação foram utilizadas

adaptações das normas já existente para ensaios DNER-ME 107/94 e DNER-ES 317/97,

conforme os procedimento abaixo:

a) Determinadas as porcentagens, em massa de cada material, calcula-se a

quantidade de cada um deles para um corpo de prova com 800,00 g.

b) Pesam-se os materiais nas quantidades de cada fração obtida de acordo com os

cálculos feitos.

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c) Homogeneiza-se a mistura usando misturar mecânico, efetuando a mistura até a

completa cobertura dos agregados.

d) Coloca-se o molde em posição no suporte de compactação (Prensa) acoplado com

a placa base.

e) Despeja-se a mistura de uma só vez no molde, acomodando-a com impactos ao

redor do molde.

f) Molda-se o corpo-de-prova aplicando determinada pressão com o soquete. Então,

é desacoplada a placa base e o molde é invertido. Novamente a placa base é

acoplada ao molde e aplica-se determinada pressão com o soquete.

g) Após a compactação, é retirada a placa base do molde e encaixado o extrator de

corpo-de-prova. Então, aplica-se determinada pressão para retirada do corpo-de-

prova.

h) É então pesado o corpo-de-prova e anotados suas dimensões.

3.1.2 Determinação da composição da mistura

Para determinação da composição da mistura utilizou-se o seguinte método:

a) Calculou-se a porcentagem de vazios existente em certo volume de peletas de

acordo com a equação 1:

𝑉𝑣 =𝑉𝑎 − 𝑉𝑡

𝑉𝑎=

𝑃𝑑

−𝑃𝐷

𝑃𝑑

=𝐷 − 𝑑

𝐷

(1)

Sendo:

Vv = Porcentagem de vazios

Va = Volume aparente das peletas (cm3)

Vt = Volume teórico das peletas (cm3)

P = Massa total das peletas (g)

D = Densidade teórica das peletas (g/cm3)

d = Densidade aparente das peletas (g/cm3)

b) Então, a partir da porcentagem de volume vazios é calculado a quantidade, em

massa, de finos de carvão para preenche-los, de acordo com a equação 2:

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57

𝑀 = 𝑑 × 𝑉𝑣 × 𝑉𝑎

(2)

Sendo:

M = Massa de finos de carvão (g)

d = densidade aparente dos finos de carvão (g/cm3)

Vv = Porcentagem de vazios

Va = Volume aparente das peletas (cm3)

c) A quantidade de aglutinante a ser utilizado na mistura, conforme a literatura de

pavimentação DNER-ES 317/97, é de 4 a 6%. Foi arbitrado um valor de 8% em massa de

alcatrão sobre os 100% da mistura, ou seja:

%𝐴𝑙𝑐𝑎𝑡𝑟ã𝑜 =

8 × 100

108= 7,4%

(3)

Determinada as porcentagens de cada material prossegue-se para a metodologia de

ensaio de compactação descrito no item 3.1.1.

3.2 Balanço de massa e energia para retenção do carbono das emissões fósseis.

O balanço de massa e energia foi feito de acordo com a metodologia já adotada por

Pinatti (2010), a qual será revisada neste item:

a) A atualização dos consumos anuais de combustíveis fósseis e tempo de vida das

reservas são feitos mediante dados estatísticos da British Petroleum (BP, 2014).

A quantidade de carbono fóssil emitido é calculado a partir do consumo anual,

em toneladas equivalentes de petróleo, considerando os fatores de conversão

descritos na tabela 11.

A energia de reserva fóssil é calculada pelo produto entre quantidade presente na

respectiva reserva, em toneladas equivalentes de petróleo, por 42 GJ (quantidade

de energia contida em 1 tep) (BRITISH PETROLEUM, 2014).

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Tabela 11- Emissões de CO2 por tonelada equivalente de petróleo. Fonte BRITISH PETROLEUM, 2014.

Fonte Quant. Consumida (tep) CO2 emitido (t)

Petróleo 1 3,07

Gás Natural 1 2,35

Carvão 1 3,96

b) Encontra-se o volume de PPT (VPPT) necessário para retenção do carbono

emitido por cada fonte fóssil utilizando a equação 4:

𝑉𝑃𝑃𝑇 =𝐸𝑚𝑖𝑠𝑠ã𝑜 (

𝑡𝐶𝑎𝑛𝑜)

𝐷𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑒𝑚 𝑐𝑎𝑟𝑏𝑜𝑛𝑜 (𝑡𝐶𝑚3)

(4)

c) Encontra-se a massa de PPT (MPPT) através da densidade conforme equação 5:

𝑀𝑃𝑃𝑇 = 𝑑𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑃𝑃𝑇 (

𝑡

𝑚3) × 𝑉𝑃𝑃𝑇 (

𝑚3

𝑎𝑛𝑜)

(5)

d) Segundo Brandão (1984) é estimado que 1 ha gera 40 toneladas de biomassa seca

por ano, onde cerca de 16 toneladas sejam de resíduos e 24 de biomassa limpa do

tronco. O primeiro seria destinada a produção de peletas torrificadas. Portanto

calcula-se a área necessária (AF) para produção da massa de PPT através da

equação 6:

𝐴𝐹 =𝑀𝑃𝑃𝑇 (

𝑡𝑎𝑛𝑜)

16 (𝑡

ℎ𝑎. 𝑎𝑛𝑜)

(6)

e) Como é estimado que 1 ha gera 24 toneladas de biomassa seca limpa do tronco,

calcula-se a quantidade de biomassa limpa (MBSLT) gerada a partir de AF de

acordo com a equação 7:

𝑀𝐵𝑆𝐿𝑇 = 𝐴𝐹(ℎ𝑎) × 24 (

𝑡

ℎ𝑎. 𝑎𝑛𝑜)

(7)

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59

f) Estima-se que cada tonelada de biomassa seca limpa do tronco produz 100 kg de

H2 (Pinatti, 2013), calcula-se então a quantidade produzida de H2 (Produção H2)

através da equação 8:

𝑃𝑟𝑜𝑑𝑢çã𝑜 𝐻2 = 𝑀𝐵𝑆𝐿𝑇 (

𝑡

𝑎𝑛𝑜) × 100 (

𝑘𝑔

𝑡)

(8)

g) O H2 produzido pode ser usado para hidrocraqueamento e hidrotratamento na

refinaria de petróleo e para suprir deficiência do metanol do carvão. Estimando-

se que é gasto 51,2 kg de H2 por barril de petróleo calcula-se a quantidade

consumida de H2 multiplicando esses valores pelos seus respectivo consumo, de

acordo com a equação 9:

𝐺𝑎𝑠𝑡𝑜 𝐻2 = 𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 (

𝑏

𝑎) × 𝑔𝑎𝑠𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝐻2 (

𝑘𝑔 𝐻2

𝑏)

(9)

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60

4 Resultados

4.1 Ensaio de compactação

Através dos cálculos mostrados no item 3.1.2 foram encontrados as frações para cada

material, conforme tabela 12.

Tabela 12- Frações de cada material no corpo-de-prova.

Material ρ (g/cm³) (%) g

Peletas 0,612 79,0 632,0

Finos 0,29 13,6 108,8

Alcatrão 1,18 7,4 59,2

ρ = massa específica aparente.

No preparo da mistura, primeira etapa do ensaio de compactação, ao realizar a

mistura de todos os materiais de uma vez (peletas, finos e alcatrão), o alcatrão se juntava ao

material fino formando uma pasta que não se misturava com as peletas e consequentemente,

a peleta não era pré-envolvida totalmente pelo alcatrão. Por este motivo a metodologia foi

modificada, sendo primeiramente realizada a mistura das peletas com o alcatrão (cerca de 3

minutos, variando a posição da betoneira) e posteriormente era adicionado o material fino.

Desta forma foi obtido uma melhor homogeneização da mistura, conforme figura 23.

Figura 23- Mistura dos materiais.

O ensaio de compactação foi feito conforme metodologia do item 3.1.1 e esquema

da figura 24. A pressão de compactação variou-se de 5 em 5, até 35 toneladas, para cada

ensaio. Os resultados, ou seja, a coesão dos corpos de prova obtidos estão apresentados na

tabela 13. Entende-se por coesão como a resistência ao cisalhamento da pilha, quando sobre

ela não atua nenhuma força externa.

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61

Figura 24- Esquema do ensaio de compactação.

Tabela 13- Resultados da compactação

Pressão (toneladas) Tensão (MPa) Coesão do corpo de prova

5 2,6 Nulo

10 5,2 Nulo

15 7,8 Nulo

20 10,4 Razoável

25 13,0 Razoável

30 15,6 Razoável

35 18,2 Moldado

Sendo que, entende-se por coesão

Nulo, quando não há coesão entra os materiais; o corpo-de-prova (CP) se desmancha

após retirada do extrator;

Razoável, quando há mínima coesão; o corpo-de-prova se mantém moldado após

retirada do extrator, mas se desmancha com o manuseio;

Moldado, quando há coesão entre os materiais; o corpo-de-prova se mantém moldado

mesmo após manuseio, como mostrado na figura 25.

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62

Figura 25- Corpo-de-prova moldado.

Como pode ser observado pelos resultados da compactação, a coesão do CP

aumentou com o a pressão. Entretanto, não foi possível a medição de propriedades como

resistência à tração e compressão pois, mesmo apresentando certa coesão, o CP não

apresentou resistência suficiente para o teste. Partindo do pressuposto que a quantidade de

alcatrão poderia influenciar na resistência do CP, esta foi variada para 10% e 15% em relação

ao total da mistura (conforme tabela 14), mantida a mesma pressão de compactação de 35

MPa, o CP continuou a apresentar o mesmo comportamento, não havendo diferença

significativa no resultado.

Tabela 14- Variação na proporção do alcatrão.

Material Ensaio 1 Ensaio 2

(%) g (%) g

Peletas 77,5 600,0 74,1 600,0

Finos 13,4 103,8 12,8 103,86

Alcatrão 9,1 70,4 13,1 105,58

Os principais objetivos do ensaio eram:

a) A compactação da biomassa para utilização desses dados para realizar o cálculo de

balanço de massa e energia referentes à estocagem de carbono em PPT e para isto, o

ensaio se mostrou eficiente;

b) A tecnologia de construção da pilha, o que não foi alcançado;

No CP prensado com 18,2 MPa foi obtida uma massa especifica aparente de 0,784

g/cm³. Comparada com a massa específica aparente da peleta convencional, de 0,612g/cm³,

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houve um aumento de 22%. Estimando-se que haverá a mesma variação para a pilha

formada com peletas torrificadas, a densidade após compactação poderá variar de 0,740

g/cm³ (massa específica aparente da peleta torrificada) para 0,900 g/cm³ (massa específica

aparente da PPT).

4.2 Balanço de massa e energia para retenção do carbono das emissões

fósseis.

De acordo com os cálculos mostrados no item 3.2 e o resultado encontrado para a

massa específica aparente do CP ensaiado foram montadas as tabelas 15, 16, 17 e 18.

Tabela 15- Dados relativos às fontes de energia de origem fóssil.

EF (1015 MJ) C (109) E tC/a (109) TVR (anos)

Petróleo 9,66 33,30 b/a 3,77 50,7

Carvão 24,90 5,74 t/a 4,13 155,2

Gás Natural 7,03 3350 m³/a 1,93 55,4

Total 41,59 9,83

EF = Energia da reserva fóssil, C = Consumo do combustível fóssil, E = Emissão relativa à queima

de combustível fóssil, TVR = Tempo de vida da reserva fóssil.

Tabela 16- Balanço de massa relativo à retenção de todo carbono fóssil emitido por suas respectivas fontes.

Petróleo Carvão Gás Natural Total

Volume PPT (109 m3/a) 7,74 8,48 3,96 20,18

Massa PPT (109 t/a) 6,97 7,63 3,57 18,17

AF (109 ha) 0,483 0,530 0,248 1,261

MBSLT (109 t/a) 11,61 12,72 5,94 30,27

Produção H2 (1012 kg H2/a) 1,16 1,27 0,59 3,02

Gasto H2 (1012 kg H2/a) 1,71 0,92 0,0 2,63

AF = Área de florestas energéticas, MBSLT = Massa de biomassa seca limpa do tronco.

Como pode ser visto na tabela 15, seria necessária a construção de 20,18 m³/a de PPT

para retenção do carbono fóssil emitido anualmente, sendo o carvão responsável pela maior

parcela, 42%. A área de florestas energéticas visando à produção de resíduos para formação

das PPT seria de 1,26 bilhões de ha, aproximadamente 12,6 milhões de km2. Com esta área

seriam produzidos 30,27 Gt/a de biomassa seca limpa dos troncos que se destinados à

produção de H2, produziriam, a uma taxa estimada de 100kg H2/TBS (tonelada de biomassa

seca), 3,02 Gt/a de H2.

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Tabela 17- Balanço de energia em relação à construção de pilhas de peletas torrificadas.

Volume total PPT (1011 m3) Energia total (1015 MJ)

Petróleo 3,925 7,24

Carvão 13,160 24,28

Gás Natural 2,196 4,05

Total 19,281 35,57

De acordo com a tabela 16, o volume total ocupado pelas PPT é igual à soma dos

produtos entre o tempo de vida de cada reserva fóssil pelo seu respectivo volume de PPT

requerido, que seria equivalente a 1.928,1 bilhões de m³, as quais seriam formadas ao longo

dos anos de consumo do combustível fóssil. O consumo de carvão é o maior responsável

pelo volume total de PPT necessário para retenção do carbono das emissões fósseis, cerca

de 68%. Já o consumo do petróleo e do gás natural são responsáveis, respectivamente, por

20 % e 12% do volume total de PPT.

Tabela 18- Balanço de energia em relação à produção de hidrogênio.

Total H2 produzido (1013 kg) Energia total (1015 MJ)

Petróleo 5,89 8,41

Carvão 19,74 28,21

Gás Natural 3,29 4,70

Total 38,77 41,32

Conforme tabela 17, a energia total acumulada na biomassa (PPT + H2) é maior

que a energia total acumulada nas reservas fósseis, indicando que, energeticamente, seria

possível a substituição da energia fóssil pela da biomassa. Porém esta substituição é

técnica, economicamente e logisticamente inviável pelas tecnologias convencionais. Para

isso é necessário a aplicação do conceito da ITERF, com as seguintes premissas.

a) A energia fóssil continuará sendo utilizada, passando parte de sua rentabilidade

para a formação das pilhas de PPT

b) O consumo da energia fóssil continuará sendo convencional em qualquer lugar e

por qualquer tecnologia

c) As PPT seriam formadas preferencialmente nos países tropicais que possuem maior

taxa de crescimento de biomassa.

d) Para segurança energética, parte do carvão mineral seria substituído por PPT com o

aproveitamento dos resíduos de biomassa local. Para isso uma certa quantidade de

PPT seria formada nos países fora da zona tropical.

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e) A formação das PPT estimulará o “greening” mundial e também a ampliação da

economia dos países envolvidos no uso desta tecnologia.

Na figura 26 estão resumidos os resultados dos balanços de massa e energia,

recalculados com os valores da compactação obtidas nesse trabalho.

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Figura 26- Fluxograma resumindo o balanço de massa e energia para retenção de todo carbono das emissões fósseis.

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5 Conclusão

Como é evidenciado pelos dados mundiais, há um crescente aumento na oferta e

demanda das energias de origem fóssil consequentemente do aumento das emissões de CO2.

Muitos são os questionamentos sob o chamado efeito estufa. Órgãos governamentais, como

a ONU e o IPCC tentam provar que o CO2 tem forte influência no aquecimento global; já

pesquisadores independentes afirmam que os tempos estudados são muito curtos para tal

conclusão.

Dada a crescente popularização de que as mudanças climáticas estão ligadas à

emissão dos GEE, é criada uma demanda por tecnologias e ações que visam à mitigação

destas emissões. Portanto a captura, sequestro e retenção de CO2 são cada vez mais

empregados em resposta à imposição pública.

Diante deste cenário, neste trabalho procurou-se estudar um novo conceito de

mitigação de CO2, a retenção de carbono em pilhas de peletas torrificas (PPT), visando a um

levantamento de dados técnicos para uma futura elaboração de projeto de construção de uma

pilha piloto de 1 ha de base. Para isto foi desenvolvido um sistema de compactação baseado

em normas já existentes para pavimentação de vias públicas e através dos resultados

preliminares encontrados foram realizados cálculos de balanço de massa e energia

objetivando estimar o volume de PPT necessário para a retenção de todo carbono emitido

pela fonte de origem fóssil.

Na confecção do corpo de prova, o alcatrão usado como aglutinante não trabalhou

como o esperado, ou seja, o corpo de prova não apresentou resistência suficiente para

realização de testes de tração e compressão para especificação de dados para engenharia de

construção da pilha.

Em trabalhos futuros, é importante haver um estudo sobre a polimerização do

alcatrão para conseguir uma maior resistência do corpo de prova. Na literatura foi encontrado

um estudo em que o alcatrão é polimerizado através da reação catalítica fenol-formaldeído,

na qual os próprios ácidos orgânicos presentes no alcatrão atuam como catalisadores na

reação entre os grupos fenólicos presentes no alcatrão e o aldeído fórmico adicionado

(PELISSARI, 1985).

Caso a densificação estimada para PPT seja concretizada, as PPT surgem como uma

alternativa importante na mitigação do CO2. O volume de 1.928,1 bilhões de m³, é

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aproximadamente igual a 39.000 pilhas de 1km² de base por 50 m de altura, ou seja, ocuparia

uma área de 39.000 km², equivalente a 94,2 vezes a área ocupada pelo município de Lorena,

que é de 414 km². Levando em consideração que as pilhas seriam distribuídas em todo o

mundo, esta área pode ser considerada pequena.

A área de florestas energéticas, que é de 1,26 bilhões de ha, fornecerá os resíduos

para as PPT. Para efeito de comparação, segundo a FAO, a área total mundial de terras

apropriadas para cultivo é de 13,0 bilhões de ha. As florestas naturais e plantadas ocupam

4,0 milhões de ha (30%) desta área e a agricultura, 4,9 milhões de ha (37%).

O volume de PPT, assim como a área de florestas energéticas, podem diminuir ao

longo dos anos devido ao crescimento do uso das energias renováveis em substituição às

fósseis, à melhora na eficiência energética e às contribuições de sequestro de CO2 de

tecnologias já existentes. Por outro lado, as novas descobertas de reservas de combustíveis

fósseis podem aumentar ambas as áreas.

A engenharia de construção empregada nas PPT seria similar à de pavimentação de

vias públicas. A mistura dos materiais seria feita em usinas estacionárias ou móveis,

posteriormente levadas em caminhões basculantes para o local de construção. A mistura

seria lançada, por vibroacabadoras, em camadas uniformes pré-estabelecidas e

posteriormente compactadas através de rolos compactadores. A base, laterais e topo seriam

impermeabilizados com geomembranas de polietileno de alta densidade (PEAD) evitando a

contaminação das pilhas. O topo seria coberto com coletores parabólicos térmicos para

aquecimento de ar e coleta de água da chuva, onde instalações próximas poderiam

beneficiar-se destas vantagens. As pilhas necessariamente precisariam ser construídas

próximas a parques industriais energéticos, como próximas a termoelétricas, para

aproveitamento da logística e infraestrutura já existente.

O custo para construção das PPT possivelmente será menor do que o custo das

tecnologias atuais de sequestro geológico e químico de CO2. Tanto no sequestro geológico

quanto no químico é necessário a etapa de separação e/ou purificação do CO2 de outros

gases, etapa considerada a mais cara de todo o processo de sequestro. Já na PPT esta captura

é feita com custo praticamente nulo, pois a biomassa é um capturador bioquímico natural de

CO2, que posteriormente será retido nas PPT.

Na tabela 19 são mostrados dados para efeito comparativo entre pilhas de celulignina

(PCL), pilhas de peletas torrificadas e pilhas de peletas convencionais (PPC) utilizando as

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mesmas estatísticas de consumo e reserva de energia fóssil. A celulignina é obtida através

do tratamento da biomassa em um reator de pré hidrólise (Pinatti, 2010).

Tabela 19- Comparação entre pilhas de celulignina, pilhas de peletas torrificas e pilhas de peletas convencionais.

ρ (kg/m3) %C (m/m) Volume total (1011 m3) N° de pilhas AF (109 ha)

PCL 1250 55,2 18,24 28.000 1,391

PPT 900 54,1 13,61 39.000 1,261

PPC 780 47,4 25,45 51.000 1,299

ρ = massa específica, AF = área de florestas energéticas.

Comparando-se primeiramente as PPT com as PCL, estas apresentam as mesmas

características de não degradação biológica e hidrofobia, podendo se manter estáveis por

centenas de anos. A PPT possui menor massa específica aparente, portanto um número maior

de pilhas seria necessário para retenção total do carbono fóssil, aproximadamente em 11.000

pilhas, aumentando cerca de 11.000 km² a área utilizada para construção da PPT

A área de florestas para produção de PPT é diminuída em relação à necessária para

produção da PCL, conforme mostrado na tabela 16. Esta diferença é relativa ao

aproveitamento da massa de resíduo florestal gerado. Na PCL, 20% da massa dos resíduos

é perdida na transformação em celulignina, já na PPT, 10% da massa é perdida na

transformação em peletas torrificadas.

A grande vantagem da PPT sobre a PCL está no custo, pois o processo de pré-

hidrólise utilizado para obtenção da celulignina é relativamente alto em comparação com o

processo exigido para transformação dos resíduos em peletas torrificadas.

A formação de pilhas de peletas convencionais (PPC) seria viável por apresentar

valores próximos aos das outras pilhas. Entretanto, o problema deste tipo de pilha é a

facilidade com que a peleta convencional é degrada, podendo não ser estável ao longo dos

anos.

Para que se possa avaliar com maior segurança a viabilidade técnico-econômica das

PPT para retenção do carbono das emissões fósseis, e portanto sua sustentabilidade, são

necessários maiores estudos nesta área, destacando-se o detalhamento da engenharia que

seria empregada na construção pilha, sua real estabilidade química e física e a logística de

produção e construção.

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