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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A COMUNICAÇÃO NO AMIGOS PARA SEMPRE
Por Zulmira Basílio Costa de Araujo
Orientadora
Prof.ª Mary Sue Carvalho Pereira
Rio de Janeiro
2008
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A COMUNICAÇÃO NO AMIGOS PARA SEMPRE
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Comunicação
Empresarial.
Por: . Zulmira Basílio Costa de Araujo
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais Eliane e Antonio, que tanto me
ajudaram nos momentos mais difíceis e que
tanto fizeram por mim, às minhas irmãs Aline e
Elaine, que me incentivaram a estudar
novamente e tiraram muitas dúvidas durante
esse projeto, à minha avó Silvia, que sempre foi
tão presente, ao meu avô Mario, que assim
como eu gostava de ajudar as pessoas, à Sônia,
que me ajudou a escolher o tema desse projeto,
à Imma, Carol, Flavinha, Nessa por aceitarem
escrever e pela sinceridade em seus
depoimentos sobre o Amigos para Sempre, às
crianças do projeto por me proporcionarem essa
experiência maravilhosa que me fez escrever
essa monografia com tanto carinho, e aos
amigos Melancias e da Cúpula que tantas vezes
foram trocados por livros e computador para que
eu pudesse pesquisar e escrever.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse projeto à minha família, aos meus
amigos, às crianças e aos voluntários da minha
equipe do Amigos para Sempre.
5
RESUMO
Diante de uma sociedade em que muitas vezes não há compaixão ou
amor ao próximo, é muito nobre que um grupo de jovens, voluntários na ONG
Sonhar Acordado, dediquem parte do seu tempo em prol da formação de
crianças carentes através da comunicação.
O Sonhar Acordado possui seis projetos em que os voluntários
trabalham para transformar essas crianças em cidadãos. Neste projeto,
abordamos o Amigos para Sempre, que é um projeto contínuo em que os
voluntários têm encontros mensais com as crianças para transmitir ética e
valores de cidadania para uma melhor formação.
Essas mudanças na vida das crianças são feitas através de atividades
sociais, culturais, desportivas e recreativas. Os voluntários buscam o equilíbrio
e a integração nas atividades, além de levar esperança e alegria.
Durante todo esse projeto de monografia podemos ver como a
comunicação funciona no projeto e como ajuda em seu desenvolvimento. Além
disso, podemos ver que juntando carinho, amor, atenção e diálogo pode ser a
receita para mudar a vida dessas crianças.
6
METODOLOGIA
Durante o processo de produção de monografia foi feita uma pesquisa
bibliográfica, na qual foram feitas várias leituras de livros das áreas de
comunicação, educação e pedagógica.
Além dos livros, se baseia em uma pesquisa de campo, em que
acontecimentos ocorridos auxiliaram na produção desse projeto, por meio de
observação, participação efetiva e na experiência com o grupo.
Vale ressaltar ainda que o projeto conta com a participação de alguns
voluntários, que fizeram seus depoimentos seguindo um roteiro como base,
mas com total liberdade para escrever o que quisessem. Essa participação foi
muito importante para ter uma comprovação dos fatos e opiniões sobre o
projeto.
7
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A Comunicação 12
CAPÍTULO II - Sonhar Acordado 28
CAPÍTULO III - Amigos para Sempre 38
CAPÍTULO IV - As experiências 54
CONCLUSÃO 62
ANEXOS 65
BIBLIOGRAFIA 76
ATIVIDADES CULTURAIS 77
ÍNDICE 78
FOLHA DE AVALIAÇÃO 80
8
INTRODUÇÃO
Este projeto tem como objetivo mostrar como é a comunicação em um
projeto social, neste caso a ONG Sonhar Acordado. Trata-se de vários tipos de
comunicação, como é a comunicação no projeto, a comunicação entre a ONG
e seus voluntários, entre os voluntários e as crianças, entre a ONG e as
instituições assistidas e etc.
Além disso, trata-se das trocas de experiências, e para isso contaremos
com depoimentos de voluntários do projeto.
Abordaremos também o que acontece no projeto, na vida dos
voluntários e na das crianças através da comunicação.
Este projeto em questão é o Amigos para Sempre, que é contínuo, e faz
parte dos projetos da ONG Sonhar Acordado. Sou voluntária nesse projeto há
dois anos e pretendo mostrar como é o projeto e como se pode mudar a vida
das pessoas envolvidas.
O Sonhar Acordado é uma organização essencialmente baseada no
voluntariado. É um grupo de jovens, estudantes e profissionais das mais
diversas áreas, que procura dar o seu melhor, encaixando as necessidades da
juventude ao trabalho filantrópico.
O trabalho voluntário é feito com as crianças de 4 a 12 anos, exceto no
projeto Preparando o Futuro que é feito com adolescentes de 14 a 18 anos.
Os voluntários gastam seu tempo e seu esforço em prol deste projeto
pela simples vontade de ajudar ao próximo, de realizar sonhos. Não só os das
crianças, mas também os dos voluntários, como uma sociedade melhor, sem
preconceitos, mais justa.
9 Com isso o projeto visa aproximar os voluntários da realidade das
crianças para que possam ajudá-las a resgatar sua esperança e para que
sirvam de exemplo a ser seguido, criar laços de amizade e solidariedade entre
as crianças e voluntários.
A missão dos voluntários é formar, educar e ajudar a infância mediante
atividades culturais, sociais, desportivas e recreativas, complementando a
educação formal dessas crianças em sua maioria deficitária em termos de
formação humana.
O Sonhar Acordado conta com seis projetos:
• Dia do Sonho – evento esporádico que nasceu para dar uma
dimensão mágica ao primeiro contato entre a criança e o voluntário. Este dia é
transformado numa grande festa em que grupos de voluntários interagem com
as crianças através de brincadeiras, nas quais são transmitidos sentimentos e
valores necessários à formação da criança.
• Festa de Natal – evento esporádico que conta com todos os elementos
típicos de Natal, criando uma grande e verdadeira festa natalina.
Nesse projeto formam-se grupos de voluntários que vão às instituições
anunciar a festa e escrevem com as crianças as suas cartas endereçadas ao
Papai Noel. Nestas cartas escrevem suas realidades, sonhos e o que
gostariam de ganhar.
No dia do evento as crianças participam de oficinas educativas, assistem
a shows com artistas e atletas famosos, covers de grupos musicais famosos, e
recebem o carinho e a atenção do voluntário, além do presente do Papai Noel.
• Superação – são campanhas e atividades periódicas realizadas nas
comunidades, em instituições ou colégios, com o objetivo de aliar a promoção
de valores à necessidade de humanizar o ambiente em que as crianças vivem.
10 Para isso os voluntários planejam e realizam ações pontuais junto com
profissionais especializados que podem ser na área educacional, institucional,
recreativas ou ligadas às áreas de saúde.
• Sonhando juntos – nesse projeto leva-se alegria e esperança às
crianças de baixa renda internadas com doenças crônicas ou em fase terminal.
Os voluntários se dispõem a enfrentar a realidade das crianças,
desenvolvem atividades educativas e recreativas em hospitais públicos,
sempre em contato com a sua equipe médica. Busca-se realizar os sonhos das
crianças para propiciar um momento único de alegria para com isso levar
esperança e alegria muitas vezes perdida nesses momentos difíceis.
• Preparando o futuro – visa a formação de jovens adolescentes em
situação de risco social, tanto profissional quanto humano. O objetivo é orientar
o jovem carente de acordo com o programa de Aprendizado Mirim e segundo
os princípios de direitos e valores humanos.
• Amigos para Sempre – nesse projeto os jovens voluntários se
comprometem e se propõem a doar às crianças algumas horas de seu tempo
mensalmente.
Durante pelo menos um ano desenvolvem-se atividades que estimulem
a absorção de valores importantes pelas crianças como solidariedade,
honestidade, perseverança, autodomínio, respeito e etc.
Criam-se então laços de amizade e um ambiente saudável para que a
lição seja absorvida pela cabeça e pelo coração das crianças. As equipes
realizam atividades culturais, como museus, peças de teatro, cinemas e etc.;
recreativos, como o Zoológico, circo e etc.; esportivas, como jogo de futebol,
basquete, vôlei e etc., qualquer coisa que bons amigos possam fazer juntos.
11 Essas atividades estão sempre aliadas às dinâmicas de transmissão de
valores e costumam acontecer nos finais de semana, uma vez por mês,
podendo durar de 3 a 5 horas.
E é sobre o Amigos para Sempre que vamos fazer uma abordagem e
nos aprofundar durante esse projeto.
12
CAPÍTULO I
A COMUNICAÇÃO
A comunicação pode ser definida de várias formas diferentes, de acordo
com as suas aplicações e com os estudos dos autores especialistas nesse
assunto.
Segundo Ulisses Infante, a comunicação é um aspecto fundamental da
vida humana. Aliás, cultura e comunicação estão tão profundamente ligadas
que é difícil saber exatamente onde ficam os limites entre uma e outra.
A definição de comunicação no dicionário Aurélio é a seguinte:
Comunicação. [Do lat. Communicatione] S. f. Ato ou
efeito de comunicar (-se). 2. Ato ou efeito de emitir,
transmitir e receber mensagens por meio de métodos
e/ou processos convencionados, quer através da
linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos
ou símbolos, quer de aparelhamento técnico,
especializado, sonoro e/ou visual. 3. P. ext. A ação de
utilizar os meios necessários para realizar tal
comunicação. 4. P. ext. A mensagem recebida por esses
meios. 5. O conjunto de conhecimentos relativos a
comunicação (2), ou que tem implicações com ela,
ministrado nas respectivas faculdades. 6. A capacidade
de trocar ou discutir idéias, de dialogar, de conversar,
com vista ao bom entendimento entre pessoas. 7.
13
Exposição oral ou escrita sobre determinado assunto. 8.
Participação ou aviso de fato ocorrido ou a ocorrer. 9.
Convivência, trato, convívio. 10. Caminho de acesso ou
de ligação; passagem; passadouro. 11. Eng. Elétrôn.
Transmissão de informação de um ponto a outro por
meio de sinais em fios, ou de ondas eletromagnéticas.
[Cf. telecomunicações] ~ V. comunicações. ♦
Comunicação de massa. Comunicação (2) destinada ao
grande público, transmitida pelos meios próprios, como
imprensa, rádio, cinema, televisão, etc., e que consiste,
geralmente, em notícias, programas informativos ou
recreativos, propaganda, etc. (FERREIRA, 1975, p.356)
1.1 – Teorias da Comunicação
O estudo da comunicação trata dos seguintes assuntos:
• Conhecimento – o que acontece quando as pessoas se comunicam
consigo mesmas (autocomunicação) e com outras pessoas.
• Compreensão – como esse conhecimento pode ser utilizado para
expor e interpretar o processo da comunicação na vida diária.
• Experiência – como utilizar esse conhecimento e esta compreensão
para realizar uma comunicação de forma mais efetiva e eficiente.
Cada vez mais as pessoas reconhecem que é preciso possuir uma certa
habilidade para se comunicar com eficácia.
14 No passado a arte de se comunicar (ser capaz de expressar idéias e
opiniões e entender outras pessoas) era baseada apenas no uso “correto” da
linguagem.
O estudo mais profundo da comunicação inclui, além do uso
“apropriado” da linguagem, outras formas de expressão.
A arte da comunicação não é um processo natural ou uma habilidade
com a qual nascemos, nós aprendemos a nos comunicar.
Assim como o rádio, a televisão, o jornal, a internet e etc. são
instrumentos com os quais as pessoas associam a palavra comunicação, mas
assovios, olhares ou acenos de mão também são meios de comunicação.
Com isso, entre os mais diversos meios de comunicação que utilizamos
podemos utilizar os três pontos seguintes:
• Forma de comunicação – é o caminho para se comunicar, como falar,
escrever ou desenhar.
Formas são elementos distintos e separados uns dos outros, tendo seus
próprios sistemas para transmitir mensagens. A escrita utiliza as palavras, que
são marcadas no papel de acordo com a gramática.
• Veículos de comunicação – são os meios de comunicação que
combinam diferentes formas.
Muito do que chamamos formas são meios de comunicação, que
controlamos diretamente, tal como a comunicação não-verbal (gestos,
expressões faciais, maneiras de vestir e etc.).
Os veículos de comunicação muitas vezes implicam o uso de tecnologia
que está longe do controle da maioria das pessoas. Um livro, por exemplo, é
um meio de comunicação que utiliza formas tais como palavras, fotos e
desenhos.
15 • Mídia – são elementos de comunicação de massa de um grupo distinto
dirigindo-se a outro, dentro do mesmo processo, como o rádio, a televisão, o
cinema, jornais, revistas e internet.
Existem outros meios de comunicação em nossa vida diária. Um
exemplo disso são os sinais de trânsito, ou ainda sinais especiais indicando
determinados serviços ou lojas, tais como cabeleireiros, lanchonetes.
Não só aprendemos a nos comunicar, como também usamos a
comunicação para aprender a nos comunicar. É o que acontece nas escolas,
por exemplo.
Nossas experiências, quando crianças, incluem a lembrança de pessoas
falando e gesticulando para nós. Aprendemos como fazer as coisas pela
prática, através da tentativa e do erro. Há quem acredite que nascemos com
alguma experiência básica, a qual nos ajudaria a aprender como falar e a
entender o que nos dizem.
Habilidades como falar e escrever não são naturais. Elas nos são
transmitidas pelos pais, amigos e pela escola. E conforme se vai crescendo,
aprende-se algo das experiências da comunicação porque se compreende que
isso é útil.
O que se aprende com a comunicação tem conseqüências importantes
como os efeitos que a televisão pode exercer sobre as pessoas ou por que as
pessoas têm problemas para se comunicar.
1.2 - Atos de comunicação
Pode-se dividir a comunicação em quatro categorias que são baseadas
no número de pessoas envolvidas no ato da comunicação:
16 • Autocomunicação – comunicação consigo e para você mesmo.
Acontece quando pensamos, ou refletimos sobre algum assunto ou
acontecimento, ou quando escrevemos diários, autobiografias, memórias.
Produzimos e recebemos a nossa própria comunicação.
• Comunicação interpessoal – a comunicação entre pessoas. Pode se
referir a duas pessoas interagindo frente a frente ou quando estão distantes,
mas há situações em que há mais de duas pessoas. Podem-se citar alguns
casos como um telefonema, uma situação entre familiares, um vendedor
falando a vários clientes, uma conversa entre amigos em um bar. A ênfase no
falar e nas formas não-verbais de comunicação constituem características
dessa categoria.
• Comunicação de grupo – a comunicação entre pessoas num grupo e
entre um grupo e outro. Nesta categoria podem-se fazer duas divisões:
pequenos grupos e grandes grupos. Pequenos grupos são diferentes de pares
porque reúnem mais de duas pessoas. Mas também interagem frente a frente.
A família é um pequeno grupo, assim como um grupo de amigos passando a
noite juntos em uma festa ou um grupo de trabalho em reunião.
Grandes grupos são diferentes, não somente porque são maiores, mas
porque estão repetidamente mais vezes juntos ou se reúnem com objetivos e
propósitos que são diferentes dos pequenos grupos. Como exemplo temos
uma audiência de um concerto ou alguma espécie de organização de negócios
ou empresas.
• Comunicação de massa – a comunicação recebida ou utilizada por um
grande número de pessoas. Um concerto ao ar livre para milhares de pessoas
pode ser considerado uma comunicação de massa. O ponto importante é que o
número de pessoas envolvidas é muito maior do que poderia ser um grupo. O
telefone e os correios também são considerados comunicação de massa
porque são utilizados em larga escala, ou seja, por milhões de pessoas.
17 Quando mantemos uma conversação está em andamento uma contínua
troca. Idéias, fatos ou opiniões transformam em palavras trocadas entre uma
pessoa e outra através da fala. Mas ao mesmo tempo temos a comunicação
não-verbal, que é transformada em mensagens.
Quando utilizamos a comunicação afirmamos que ela faz algo por nós. É
dito isso porque a utilizamos quando queremos dar e receber informações,
formar e manter relacionamentos, persuadir as pessoas, conquistar, manter ou
exercer o poder, tomar decisões e etc.
Quando nos comunicamos somos envolvidos em um processo em que
muitas coisas acontecem ao mesmo tempo.
Nos atos de comunicação que realizamos diariamente podemos
perceber a existência dos seguintes elementos:
• emissor, destinador ou remetente – é aquele que envia a mensagem
(pode ser uma única pessoa ou um grupo de pessoas);
• receptor ou destinatário – é aquele a quem a mensagem é endereçada
(também pode ser um indivíduo ou um grupo);
• mensagem – é o conteúdo das informações transmitidas;
• canal de comunicação ou contato – é o meio pelo qual a mensagem é
transmitida (para que haja eficiência nessa transmissão, devemos atrair e
prender a atenção do destinatário);
• código – é o conjunto de signos e de regras de combinação desses
signos utilizado para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o
receptor irá descodificar (para que isso ocorra satisfatoriamente, emissor e
receptor devem dominar o mesmo código);
• referente ou contexto – é o objeto ou a situação a que a mensagem se
refere.
18 Quando se escreve um texto, se exerce um papel de emissor. O
receptor é a pessoa ou grupo a que o texto é dirigido. A mensagem é aquilo
que se está comunicando sobre um objeto ou uma situação, ou seja, o seu
referente. O canal de comunicação é a própria página sobre a qual o texto está
distribuído. Além disso, a mensagem deve provocar interesse do receptor. O
código utilizado é, muito provavelmente, a língua portuguesa. A não ser que se
trate de alguma comunicação em língua estrangeira.
Produzir um texto escrito é promover um ato de comunicação. Ao
realizá-lo deve-se levar em conta todos os elementos envolvidos: o papel de
emissor, as características do receptor, o conhecimento do referente, a
capacidade de elaborar a mensagem, o domínio do código e das condições
que garantem o bom funcionamento do canal comunicativo. Ou seja, a
eficiência do ato comunicativo requer um trabalho consciente e bem executado.
1.3 - Formas e Meios de Comunicação
As formas e meios de comunicação trazem mensagens que permitem
compartilhar pensamentos, sentimentos, opiniões, informações e experiências
com outros. A comunicação, especialmente em nossa convivência diária com
os outros, não se realiza apenas sobre os fatos, ela é também sobre atitudes,
emoções e crenças. São ligações com necessidades pessoais e sociais.
Ao nos comunicar estamos dando e recebendo signos e seus
significados. Mas os signos podem ter mais de um significado: eles significam
diferentes coisas para diferentes pessoas, e os significados se modificam de
acordo com o tempo e o lugar.
Na comunicação não-verbal enviamos e recebemos signos não-verbais
quando estamos juntos aos outros. Esses signos não são palavras, são sinais,
19 gestos que fazemos. Eles também afetam o significado do que queremos dizer
e são realizados de várias formas por nossas mãos, cabeça, face, boca, enfim,
por todo o copo. Ou seja, dizem muito a respeito das nossas atitudes e
sentimentos com os outros.
Os signos não-verbais podem ser classificados em três categorias:
linguagem do corpo, paralinguagem e roupas (maneira de vestir).
A comunicação não verbal tem numerosas características e funções.
Algumas funções ocorrem quando ela é utilizada junto com a linguagem. Por
exemplo, quando alguém fala e levanta a mão para reforçar, com o gesto,
aquilo que se está dizendo. Ou ainda quando uma pessoa fala e gesticula
descrevendo uma criança ou objeto.
Esse tipo de comunicação pode ser considerado ainda um código
primário de comunicação, mais do que a linguagem escrita. E também pode ser
controlada por regras conforme ela é utilizada. Por exemplo, quando uma
pessoa olha para outra com um sorriso, ou ainda quando se aperta a mão de
alguém sorrindo, são gestos de amizade.
Alguns rituais de comunicação não-verbal são muito comuns, como uma
torcida que se manifesta cantando e balançando bandeiras num estádio de
futebol ou quando se bate palmas ao final de um bom espetáculo. E há ainda
os papéis involuntários ou intencionais que a comunicação não-verbal pode
desempenhar, como quando uma pessoa fica ruborizada diante de alguma
situação. Essa reação é involuntária, é um reflexo que não se pode controlar.
A comunicação não-verbal é uma combinação complexa de signos que
transmitimos mesmo quando não estamos falando. Ela mostra nossa
percepção dos outros, e uma significativa parte do que percebemos nos outros
provém dela. Tal comunicação também nos ajuda a construir e manter boas
relações porque nos diz muito sobre as nossas atitudes em relação aos outros,
influenciando a natureza das nossas relações.
20 A fala é outro meio de comunicação entre as pessoas. É também um
código composto de signos e que inclui códigos secundários. Os signos podem
ser utilizados seletivamente, especialmente quando escolhemos um
determinado registro. Signos verbais e não-verbais fazem parte da nossa
cultura.
A fala tem usos particulares. É verdade que várias formas de
comunicação podem ser usadas como meios para satisfazer uma porção de
necessidades. Mas também é verdade que determinadas formas são melhores
que outras. As fotografias, por exemplo, são ótimas para representar aspectos
visuais do mundo. A esse respeito a palavra falada não é tão boa, embora
muitas vezes se tenha que fazer descrições detalhadas em redações, textos ou
livros.
A linguagem falada é muito boa para descrever idéias, opiniões e
argumentos. Tal linguagem é rápida, imediata e flexível. É uma forma de
comunicação que todo mundo utiliza. Qualquer um tem esta habilidade e ela
não exige nenhuma ajuda tecnológica.
Com isto não estamos desvalorizando outras formas e códigos, mas se
fizermos uma lista de coisas e fatos através dos quais usamos palavras para
nos comunicar, é fácil verificar o quanto elas são importantes no processo da
comunicação.
O contato é feito para trocar mensagens e significados, e se refere à
forma de como usamos os meios de contato à nossa disposição.
Utilizamos estratégias quando escolhemos as palavras e os signos não-
verbais com o objetivo de alcançar algum propósito através da comunicação.
Algumas estratégias são utilizadas repetidamente, se tornam hábitos e até
mesmo rituais.
21 Quando tratamos com outra pessoa passamos a representar um
determinado personagem. Atuamos como se estivéssemos em um palco,
adotamos diferentes tipos de personagens para situações diferentes.
Podemos também aprender os sistemas de comunicação para tratar
com outras pessoas. Para que isso se torne eficaz, devemos considerar as
necessidades da outra pessoa, assim como as nossas próprias. Por exemplo,
ser capaz de utilizar estratégias eficazes, de nos apresentar de forma clara,
perceber a nós mesmos e aos outros, estabelecer uma empatia com os outros
e etc.
A percepção se refere aos signos que dizem algo a nosso respeito e a
respeito dos outros. Existem dois elementos na percepção de nós mesmos que
são importantes: a auto-imagem e a auto-estima. Aquilo que pensamos a
nosso respeito certamente afetará a nossa comunicação.
A auto-imagem é aquilo que pensamos que somos, que sempre contém
uma mistura de otimismo e pessimismo. Isso inclui uma noção do próprio físico
e da personalidade. E, por isso, normalmente não nos vemos da mesma forma
que os outros nos vêem. Já a auto-estima é uma boa ou má opinião sobre nós
mesmo. A imagem que temos de nossa pessoa constitui a estima, que afeta a
nossa auto-imagem.
Quando encontramos outra pessoa fazendo dela uma avaliação, tal
avaliação diz respeito à sua personalidade, ao seu estado emocional e às suas
atitudes. Também presumimos algo sobre seus atributos como trabalho, sexo,
status, idade e etc.
Normalmente as pessoas baseiam suas percepções naquilo que se vê e
no que se ouve, principalmente através de signos não-verbais.
A percepção também é um processo contínuo. Quanto mais nos
integramos com a pessoa, mais desenvolvemos a comunicação e mais exatos
serão nossos julgamentos a seu respeito.
22 Percebemos os outros de forma imperfeita porque temos certos
problemas como:
• Projetamos nossos desejos na imagem que formamos dos outros;
• Classificamos os outros em determinadas categorias de forma rápida e
simplória;
• Presumimos coisas e posicionamentos muito facilmente;
• Somos inclinados a nos deixar influenciar pelas primeiras impressões.
Quando nos comunicamos com outras pessoas há vários fatores que
“filtram” as nossas mensagens ou “filtramos” as mensagens recebidas.
No processo de percepção, a forma mais comum de “filtrar” acontece
porque estabelecemos presunções pouco criteriosas.
Além disso, podemos identificar também algumas barreiras na
comunicação. Tais barreiras podem ser classificadas como:
• Barreiras mecânicas - são o resultado de obstruções físicas no
processo da comunicação;
• Barreiras semânticas - se originam de problemas relacionados com o
significado dos signos;
• Barreiras psicológicas - se originam de preconceitos que provocam
uma “filtragem” na mensagem. Isso afeta a codificação da mensagem quando
ela é enviada e a sua decodificação quando ela é recebida.
23 1.4 - Comunicação em grupos
Cada pessoa pertence a uma variedade de grupos, cuja participação
pode ser escolhida por vontade própria, como em grupos de música, de
corrida, de jogos e etc.; ou que não é escolhida por vontade própria, como a
família ou a escola.
Relacionamentos e modelos de comunicação devem se desenvolver
para que o grupo funcione bem. Se não houver interação entre os indivíduos, o
grupo não será formado.
Muitos grupos se formam acidentalmente a partir de pessoas com
gostos iguais. As propostas de tais grupos não são formalmente estabelecidas,
mas seus membros gostam de estar juntos e admiram os contatos sociais que
o grupo proporciona.
Para a criança a referência grupal, primeiramente, será a família. Mas,
ao amadurecer, escolhe outros grupos e com eles se alinha. As pessoas se
preparam para usufruir de uma liberdade individual e aceitar algumas
imposições de normas e comportamentos, o que traz vantagens. Uma delas é
a facilidade de estabelecer comunicação mais fácil com os membros do grupo
a que se pertence.
Tendemos a nos unir a pessoas que aceitem nossa existência como ela
é, e nos ofereçam projetos a nos desenvolver. Tendemos a rejeitar idéias de
pessoas que contradigam ou desafiem aquilo em que acreditamos.
Não podemos esquecer que rotular as pessoas com grupos de
identificação pode criar problemas de comunicação.
24 1.5 - Tipos de grupos
Há diferentes tipos de grupos com diferentes características e
propósitos, que atendem a diferentes necessidades, que podem ser transitórios
ou ocasionais, ou ainda formais e informais. Mas as pessoas em um grupo têm
interesses e propósitos comuns, o que faz com que atuem juntas.
A seguir teremos as definições dos diferentes tipos de grupos:
• Grupo familiar - as crianças não podem escolher a família em que vão
nascer e dependem dos que a cercam para sustentá-la física e
emocionalmente. Esses grupos servem para garantir a segurança e um clima
em que se possa desenvolver e crescer.
Esse é o primeiro grupo a que uma pessoa pertence, e uma parte vital
dele é aprender o uso da linguagem e da comunicação humana.
• Grupos informais de amizade - tem o objetivo de satisfazer importantes
necessidades dos seus integrantes. Todos sabem e reconhecem que as
crianças se desenvolvem brincando com outras crianças e também com
adultos. Pessoas de todas as idades se beneficiam do contato recíproco.
Nesse grupo as pessoas se sentem livres para se comunicar com outras
e se transforma em um grupo seguro e amigável. Tais grupos são chamados
de grupos fraternais porque nele todos são iguais. Normalmente, na medida em
que mudamos de atitude e de comportamento, mudamos também nossos
grupos, já que a tendência de um grupo é se reunir com pessoas de que se
gosta e que são iguais.
• Grupos formais - é um elemento comum a todas as sociedades, que
incluem escola e grupos de colegas, organizações voluntárias, religiosas,
esportivas, literárias, musicais e etc. Pode-se participar desses grupos por
vocação, gosto ou porque dão status.
25 Nesse grupo seus participantes se ajudam mutuamente a desenvolver
suas aptidões individuais, que possibilita relacionamentos com outras pessoas
e com a sociedade em que se vive. Tal processo é chamado de sociabilidade,
que serve para descrever nosso progresso em nos tornar ativos em nossa
sociedade.
Participar de muitos grupos é necessário para desenvolver uma pessoa
na comunicação e na convivência com outras pessoas.
Esses grupos podem ser organizados para produzir bens ou serviços,
gerando lucros, ou para desenvolver boas relações, ajudando a formar a
própria imagem de cada um e sua identidade pessoal, contribuindo para
desenvolver talentos potenciais.
Um grupo de pessoas formado para alcançar determinada tarefa,
assume, no mínimo, o interesse comum dos seus membros. Mas, geralmente,
há muitas diferenças entre seus membros individuais, o que torna seu
relacionamento e comunicação difíceis. Em tais circunstâncias, os membros do
grupo normalmente procuram uma estrutura formal com a qual todos
concordem. Todos devem concordar com os objetivos e intenções, e as
responsabilidades devem ser distribuídas. O grupo deve apresentar uma união.
O centro de tudo deve ser a necessidade de o grupo resolver o seu
problema. Uma pessoa dominadora pode exercer excessiva influência se
opondo à maioria, ou buscando caminhos mais fáceis, ou ainda comandando
discussões.
É possível observar a comunicação nos grupos, que é chamada de
dinâmica de grupo, em dois sentidos: participação e integração.
Pode-se observar a participação e a integração das pessoas nos grupos
vendo quem fala mais, quem fala menos e quem fala a quem.
26 1.6 - Líderes
Nas sociedades que se apresentam como democráticas, o estilo
autocrático, adotado em famílias e/ou trabalhos, não é visto com bons olhos.
Nos grupos democráticos as decisões não são impostas por um dos membros.
Os quatro maiores estilos de liderança de um grupo são:
• Autocrático - uma pessoa impõe as decisões. Tal estilo é tido como
uma norma.
• Liberal - nenhuma pessoa ou subgrupo tem responsabilidade pelas
decisões. Por isso, pouco se alcança e pode gerar confusões.
• Democrático - as iniciativas são bem-vindas e nenhuma pessoa
assume papel dominante. Esses grupos são mais unidos no esforço comum, e
seus membros são considerados parte de um todo, sendo comum o uso de
“nós”. Ou seja, as decisões são tomadas por todos e o grupo elege um líder.
• Coletivo - evita o conceito de liderança e opera como um time de
iguais. Todos têm o mesmo status e poder. As ações e decisões exigem a
concordância e apoio de todos.
1.7 - Linguagem
Na origem de toda a atividade comunicativa do ser humano está a
linguagem, que é a capacidade de se comunicar por meio de uma língua.
Língua é um sistema de signos convencionais usados pelos membros de uma
mesma comunidade. Em outras palavras: um grupo social convenciona e utiliza
um conjunto organizado de elementos representativos.
27 Signo lingüístico é um elemento representativo que apresenta dois
aspectos: um significante e um significado, unidos de forma que são
inseparáveis. Ao ouvir uma palavra reconhecemos os sons que a formam.
Esses sons se identificam com a lembrança deles na nossa memória.
Essa lembrança constitui uma verdadeira imagem sonora armazenada em seu
cérebro ― é o significante do signo (a palavra ouvida). O conceito generalizado
da palavra é o significado do signo.
Como a língua é um patrimônio social, tanto os signos como as formas
de combiná-los são conhecidos e acatados pelos membros da comunidade que
a emprega. Pode-se dizer que a língua é um verdadeiro “contrato” que os
indivíduos de um grupo social estabelecem. Acatados os termos desse
contrato, a comunicação está estabelecida.
Individualmente, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social
de uma maneira particular, personalizada, desenvolvendo assim a fala. Todo
mundo, ao falar e escrever, dá preferência a determinadas palavras ou
construções, seja por hábito, seja por opção consciente. Esse modo particular
que cada um emprega a língua portuguesa é a sua fala. Por mais original e
criativa que a pessoa seja, sua fala deve estar contida no conjunto mais amplo
que é a língua portuguesa. Caso contrário, a pessoa deixará de empregar a
nossa língua e não será mais compreendido pelos membros da nossa
comunidade.
28
CAPÍTULO II
SONHAR ACORDADO
O Sonhar Acordado, originalmente Soñar Despierto nasceu em
Monterrey, no México, em 1998, fruto de um jovem de 19 anos que desejava
fazer algo pelo próximo que fosse interessante e envolvesse a juventude de
forma mais efetiva. Era necessário criar um projeto consistente e eficaz que
tivesse o poder de agregar pessoas dispostas a fazer o bem e ajudar na
formação e desenvolvimento de uma nova sociedade.
O sucesso do projeto, que hoje está presente em várias cidades da
América do Sul, Europa, Estados Unidos e México, além das principais capitais
no Brasil, se deve ao fato de que se propõe algo inusitado e absolutamente
indispensável diante da crise de valores detectada em nossa sociedade.
Damos assistência aos mais carentes no que lhes é mais caro: sua formação
enquanto seres humanos, de valores e princípios éticos. É o que se chama de
educação informal ou cidadã: educar para sociedade.
O Sonhar Acordado tem como objetivo promover valores humanos,
desenvolvendo o indivíduo, especialmente os mais desprotegidos: as crianças.
Além disso, pretende-se envolver os jovens em favor das crianças mais
necessitadas despertando em todos uma consciência social e impulsionando
uma postura ativa às necessidades do próximo.
29 2.1 – Voluntariado
O termo “voluntário” virou modismo no Brasil, provavelmente em
decorrência da iniciativa da ONU de proclamar que 2001 foi o Ano Internacional
do Voluntariado, em atendimento à proposta do governo japonês e de outros
122 outros Estados-membros que tiveram aprovação unânime na 52ª sessão
da Assembléia Geral das Nações Unidas (20/12/1997).
Ajudar aos outros sem esperar remuneração material é
uma ação antiga. A organização desse tipo de trabalho
não é novidade: Santas Casas de Misericórdia nasceram
no século XV e a Cruz Vermelha foi fundada em 1863. O
Greenpeace, a Anistia Internacional e o Programa de
Voluntários da Organização das Nações Unidas existem
há trinta anos. (Folha de São Paulo - 01/04/2001)
A própria ONU explicita que o voluntariado hoje deverá ser
compreendido de maneira diferente. Hoje, não mais são aceitos os conceitos
antigos.
Em 1985, aquela organização considerou o 5 de dezembro como o Dia
Internacional do Voluntário, em homenagem à todos aqueles que doam tempo,
trabalho e talento para causas de interesse social e comunitário.
Millú Villela, presidente do Centro de Voluntariado de São Paulo
sintetiza: A ONU quer que se abandone a era do ter e se passe para a do ser e
fazer.
30 O trabalho voluntário no Brasil já começou e cresceu 42% em dois anos,
mas ainda é pouco. É inegável a existência de programas inovadores como os
de Alfabetização Solidária, Universidade Solidária e Capacitação Solidária, mas
a falta de qualificação dos voluntários nos remete ao passado ― Projeto
Mobral ― não tão remoto, quando houve um planejamento do método a ser
aplicado e material excelente, tanto para divulgação do projeto quanto aquele
que foi distribuído gratuitamente aos alunos.
2.2 - Ética
Em uma sociedade em que a maioria das pessoas hoje em dia sonha
ser bem-sucedida em suas atividades, preocupada somente consigo mesma e
com os seus, com sua conta bancária, com suas posses, seu conforto, suas
vaidades, seu egoísmo, só pensando em levar vantagens em tudo, querendo
saber se dá para “dar um jeitinho”, quanto é que levam nisso e naquilo é muito
nobre que esses jovens doem parte do seu tempo para tentar formar cidadãos
melhores, mais éticos e com valores.
No dicionário, ética pode ser definida como a ciência da moral; o estudo
dos juízos de apreciação referentes a princípios de conduta humana; o
equilíbrio no contato entre as pessoas.
Entre todas as muitas definições há quem diga que para se conhecer a
alma dessa palavra uma evidência não pode ser deixada de lado: é a
reciprocidade interpessoal que estabelece a “eticidade” de nossos
comportamentos e ações.
Segundo Emmanuel Kant, em seu A metafísica dos costumes, definiu
ética como sendo o respeito à dignidade do outro. E o filósofo francês E.
31 Levinas reforça a idéia dizendo que o apelo ético é o rosto do outro, conforme
seu discurso: O rosto do outro me interpela e pede reconhecimento e respeito.
Marilena Chauí, professora de História da Filosofia e de Filosofia Política
na USP, diz que na época da Grécia e Roma antigas, o comportamento ético
era aquele no qual a razão comandava as paixões, dando normas e regras à
vontade para que esta pudesse deliberar corretamente, debaixo de fins tidos
como belos, bons e justos. Ser justo, feliz, sábio, corajoso, generoso, prudente,
honrado era estar em conformidade com a natureza cósmica, social, política,
familiar e individual.
Tudo era muito diferente da nossa realidade atual. Na cidade de agora,
privilegia-se o efêmero e o acidental em lugar do eterno e do essencial. Por
isso, nos dias atuais, quase nada é pensado nos termos da moral antiga, mas
na base da eficácia técnica e do consumo, o que é um dos pontos principais do
comportamento contemporâneo. O que houve foi uma ruptura, uma lenta,
gradual e completa mudança no conceito de ética: saíram os valores do
espírito, entraram os valores tecnológicos.
A filósofa ainda completa:
(...) Onde os objetos são descartáveis, as relações
pessoais e sociais têm a rapidez vertiginosa do ‘fast-
food’, Onde o mercado da moda é dominante e a moda é
regida pelas leis de um mercado extremamente veloz
tanto quanto à produção como ao consumo. Onde o
tempo e o espaço foram de tal modo comprimidos pelos
satélites de telecomunicação e pelos meios eletrônicos,
assim como pelos novos meios de transporte, que o
tempo tornou-se sinônimo de velocidade e o espaço,
passagem vertiginosa e de outros sinais. (NISKIER e
NATHANAEL, 2006, p. 72)
32 2.3 - A Primeira Infância
É na primeira infância que se poderá investir sempre com proveito,
especialmente na educação, saúde e assistência social, para romper o ciclo da
pobreza. Em muitas escolas faltam vagas para crianças de quatro a seis anos,
o que cria uma enorme quantidade de crianças morando na rua.
Os primeiros seis anos de vida de uma criança são decisivos na
formação da personalidade do ser humano. Somos o que virá depois. Partindo
desse princípio freudiano, não muito conhecido das nossas autoridades,
devemos dar uma atenção toda especial à Educação Infantil. O cérebro de uma
criança ganha o seu peso normal exatamente nessa fase.
Se não houver uma alimentação adequada haverá deficiências que
provocarão seqüelas praticamente irreversíveis. A criança deixa de aprender
não porque não queira, ou porque seja mais burra, mas porque não tem um
cérebro adequadamente formado. Ela perde boa parte da sua capacidade de
apreensão de conhecimentos.
Até os dois anos de idade a crianças está no estágio sensório-motor. Ela
brinca e interage com o mundo, assimila as suas experiências e, a partir daí,
passa a entender o mundo que a cerca e vai se adaptando a ele. A partir dessa
idade, essa visão egocêntrica iniciada no estágio sensório-motor vai continuar
com ela até iniciar o momento das operações concretas. Esse estágio,
denominado pré-operacional, é também o momento de brincar e entender o
mundo.
Nesse momento, a criança começa a usar os processos de imitação e a
brincadeira passa a ter o sentido de assimilar o que ela percebe no seu
ambiente. Ela reproduz o seu meio, imita o que vê, e depois já consegue fazer
uma cópia do que não vê representa o que já viu. Por isso, muitas vezes, no
grupo em questão, se vê reproduções da realidade delas na comunidade em
33 que vivem, por exemplo, os meninos imitam os bandidos como se estivessem
com armas nas mãos e as meninas rebolam até o chão como se fossem
dançarinas de funk.
Dos dois aos quatro anos, as crianças gostam de estar com outras
crianças, mas não conseguem abrir mão das suas coisas e acham que tudo
precisa girar em torno delas. Por isso, neste momento, os jogos de regras não
funcionam, embora elas precisem e gostem de cumprir ordens e devem mesmo
auxiliar os adultos em pequenas tarefas. Um exemplo disso é o cartaz de
regrinhas do que se pode ou deve fazer, e do que não pode ou não se deve
fazer que os voluntários e as crianças fizeram juntos em um dos passeios.
Esse cartaz é retomado em todas as atividades e de certa forma dá certo, já
que as crianças melhoraram muito de comportamento e durante as atividades.
Na fase dos quatro aos sete anos mais ou menos, os jogos assumem
um papel definitivo e passa a ter mais seriedade, ficando muito importante na
vida das crianças. Elas passam a gostar de brincadeiras que movimentem o
próprio corpo. Dessa forma, elas desenvolvem mais os músculos, correndo,
brincando, pulando. Os músculos responsáveis pela coordenação motora fina,
que é responsável pelos movimentos da escrita, serão desenvolvidos através
de brincadeiras, em que é necessário rasgar, picar papel, costurar, amassar,
pintar com os dedos e etc. Como exemplo de atividades como essas, as
crianças já fizeram cartazes com as pinturas com tinta guache, atividades de
recortar figuras e colagem e etc. Além de atividades como estátua, vivo e
morto, brincadeiras de roda, batata quente, galinha choca e coelhinho na toca.
Lembrando que em todas as atividades os voluntários interagem e participam
com as crianças.
Para educar de forma lúdica temos de entender o universo das crianças
e compreender o mecanismo do conhecimento. Tratar das inteligências
múltiplas é de real importância para se aplicar o jogo certo à criança certa. A
atividade lúdica deve contribuir no processo de aprendizagem, e não ser um
ato para passar o tempo, sem finalidade pedagógica. E é por isso que as
34 psicólogas da coordenação de formação pesquisam e escolhem as melhores
atividades para ajudar na transmissão os valores às crianças.
Howard Gardner define a inteligência como capacidade para resolver
problemas ou criar produtos que sejam válidos, ou aceitos, em um ou mais
ambientes culturais. Ele afirma que todos têm pelo menos oito inteligências,
relativamente autônomas, que se desenvolvem e combinam entre si, em
múltiplas possibilidades. As oito inteligências mais estudadas até hoje são:
• Lingüística - sensibilidade para sons, significados de palavras, especial
percepção das diferentes funções da linguagem. Consiste na capacidade de
pensar com palavras e de usar a linguagem para expressar e avaliar
significados complexos.
• Musical - habilidade para compor, apreciar e interpretar músicas,
discernir sons, habilidade para perceber sons musicais.
• Lógico-matemática - sensibilidade para padrões, ordem,
sistematização; habilidade para explorar relações, categorias; habilidade para
lidar com séries de raciocínio.
• Espacial - capacidade para perceber o mundo visual e espacial de
forma precisa; habilidade para manipular formas e objetos mentalmente e a
partir de percepções, criar tensão, equilíbrio e composição.
• Cinestésica - habilidade para usar a coordenação motora grossa e fina
em esportes, artes cênicas ou plásticas; controle dos movimentos do corpo e
da manipulação de objetos com destreza.
• Interpessoal - habilidade para entender e responder adequadamente a
humores e temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas.
• Intrapessoal - habilidade de lidar com suas próprias necessidades,
emoções, motivações e desejos. Capacidade de saber lidar consigo mesmo.
35 • Naturalista - consiste em observar padrões na natureza, identificando e
classificando objetos e compreendendo os sistemas naturais e aqueles criados
pelo homem.
2.4 - As Coordenações
Além do Conselho, que é formado pelos responsáveis pelo projeto
social, o Sonhar Acordado conta com muitas Coordenações para manter um
bom desenvolvimento do projeto e uma boa organização.
Hierarquicamente, logo abaixo do Conselho tem a Coordenação Geral,
que se divide em três coordenações: Coordenação Geral EC, Coordenação
Geral EE e Coordenação Jurídica.
A partir daí, a Coordenação Geral de EC se divide entre outras nove
Coordenações Gerais: Coordenação Geral de Formação, Financeira e
Administrativa, Integração; sendo que as outras seis restantes são
Coordenações dos projetos: Dia do Sonho, Amigos para Sempre, Superação,
Sonhando Juntos, Preparando o Futuro e Festa de Natal.
Entre essas Coordenações apenas a do projeto Amigos para Sempre se
subdivide novamente em Coordenação de Integração, Formação, Financeiro e
Instituição. Os líderes de equipe são considerados coordenadores das equipes.
Os líderes e suas equipes terão mais contato com os Coordenadores
que pertencem ao Amigos para Sempre, mas também terão contato com o
Coordenador Geral de Integração.
No caso dos eventos esporádicos, em que os voluntários esporádicos
têm que participar das formações específicas, são os Coordenadores Gerais de
Integração e de Formação que preparam e dão as palestras das formações.
36 2.5 - A comunicação no Sonhar Acordado
A comunicação no Sonhar Acordado é basicamente feita por e-mail e
contatos telefônicos, mas também há contato pessoal.
O Conselho da ONG contacta os Coordenadores, normalmente, por
meio telefônico para marcar as reuniões. Nessas reuniões este grupo, formado
pelo Conselho e os Coordenadores, toma algumas decisões, propõem
mudanças, levam as sugestões e críticas dos demais voluntários e resolvem
problemas.
Após essas reuniões os Coordenadores entram em contato, por meio de
e-mail, com os líderes de equipe e passam as informações e resultados. E daí
os líderes enviam e-mails para os voluntários do seu grupo.
O Sonhar Acordado também entra em contato com os voluntários que
participam de algum os eventos esporádicos, através dos Cordenadores, para
convidá-los a fazer parte dos projetos contínuos. Para isso, os Coordenadores
enviam e-mails-convites a esses voluntários com as descrições dos projetos
contínuos e com as datas das apresentações dos projetos para novos
voluntários.
Além desses contatos, os voluntários têm contato com o Sonhar
Acordado quando há as formações de valores todos os meses, já que tais
formações são feitas na sede da ONG, com a presença dos voluntários,
coordenadores e psicólogas.
Essas formações são a melhor forma de contato e integração entre os
voluntários, pois são nelas que os voluntários podem contar para todos os
presentes como o projeto está se desenvolvendo em cada grupo, como as
crianças estão agindo nos encontros, os possíveis problemas que cada grupo
tem e etc.
37 Além disso, como há a presença das psicólogas da Coordenação de
Formação, os voluntários podem contar com a ajuda delas para resolver e
melhorar problemas comportamentais de algumas crianças.
Já aconteceram problemas em um grupo em que, por exemplo, o pai de
uma das crianças havia sido preso poucos minutos antes do encontro do
grupo. A criança, que já era um pouco levada, ficou completamente revoltada,
batendo nos colegas e xingando os voluntários. Somente depois os voluntários
souberam do ocorrido, mas pediram o auxílio das psicólogas para saber como
agir diante de uma situação como essa.
38
CAPÍTULO III
AMIGOS PARA SEMPRE
O projeto Amigos para Sempre provavelmente é o projeto do Sonhar
Acordado, entre os outros cinco, que mais tem sucesso no seu
desenvolvimento.
Esse projeto é uma etapa contínua que tem como base a preparação
das atividades e encontros mensais com as crianças, busca a formação e a
educação da infância, para isso as atividades tem que transmitir valores.
Através de atividades sociais, culturais, desportivas e recreativas os
voluntários buscam o equilíbrio e a integração nas atividades; além de levar
esperança e alegria, afinal, são crianças carentes, principalmente, de afeto;
Para criar laços com as crianças os voluntários devem dar atenção
personalizada. Aos poucos, cada voluntário se aproximará mais de uma
criança, e deve desenvolver um laço de amizade com ela e então temos o
Amigos para Sempre!
Não sei se é porque a maioria dos voluntários do grupo é de
comunicadores, ou se é porque temos a necessidade de comunicação, mas
pode ser que seja uma mistura de tudo. Usamos a comunicação para a
cooperação porque as necessidades sociais constituem um ponto importante
para levar adiante determinados projetos e trabalhar em conjunto, no nosso
caso formar cidadãos éticos e com valores.
Além disso, também há o lado pessoal e social porque queremos ter
uma boa opinião sobre nós, queremos nos sentir queridos e valorizados, e
39 temos como recompensa sorrisos largos, muitos beijos e abraços ao fim de
cada encontro, como forma de agradecimento.
Ter amigos é uma necessidade pessoal. E é isso que somos dessas
crianças, amigos, que se ajudam mutuamente, que fazem uns e outros se
sentirem bem. A comunicação nos ajuda a conviver com os outros para
conhecê-los e ser conhecidos por eles, é uma força que sustenta e une o
grupo.
O nosso grupo tem o propósito de informar e nos relacionar com as
crianças. Elas são muito queridas pelos voluntários e há sempre uma grande
troca, nós damos e recebemos informações através da nossa participação, o
que para todos é um aprendizado. Ao mesmo tempo em que nós, os
voluntários, damos informações de acordo com os valores que transmitimos às
crianças durante os passeios, elas nos dão informações sobre a vida delas fora
dali, como são as suas vidas em suas casas, com suas famílias, e essas
informações são levadas pelos sentidos à nossa mente e guardadas para
serem acionadas no seu devido tempo. Nós participamos e nos envolvemos
com as experiências de vida do outro. Usamos a comunicação como um
processo de aprendizagem.
3.1 - Instituições
A ONG Sonhar Acordado faz uma pré-seleção com instituições
localizadas em comunidades carentes. A partir daí o voluntário que é o
Coordenador de Instituições vai ao local, apresenta a proposta do projeto à
instituição, e esta avalia tal proposta e dá uma resposta à ONG.
Essas instituições não são instituições de ensino como as escolas do
município do Rio de Janeiro, mas instituições de reforço escolar, que ajudam
40 as crianças a assimilar melhor os conhecimentos adquiridos em suas escolas,
que dão ensino religioso e inserem as crianças no catolicismo.
No momento, o Sonhar Acordado tem seis instituições em vários bairros
no Rio de Janeiro. Tais instituições são Centro Cultural Candelária, na
Mangueira; Centro Educacional cantinho da Natureza, na Ladeira dos
Tabajaras; Orfanato Santa Clara, em Vargem Grande; Marista, no Morro da
Formiga; COFRA, no Morro dos Macacos e Instituto Santa Inês, na Gávea.
Depois desse primeiro contato, as crianças passam a fazer parte do
projeto Amigos para Sempre e são divididas em grupos de acordo com a faixa
etária. Com isso, as crianças passam a ter contato com uma equipe de
voluntários que farão os encontros mensais de transmissão de valores.
3.2 - Equipes
Cada equipe de voluntários é responsável por uma equipe de crianças.
Cada uma terá um líder e deverá ter 12 voluntários, podendo chegar a um
máximo de 15.
Todas as equipes tem a missão de realizar atividades mensais, se
comprometendo no mínimo dois dias por mês:
• Reunião de formação e preparação de atividade (pode ser feito em dias
diferentes)
• Realização da atividade e avaliação da mesma.
A princípio, o voluntário poderia manter o contato com a criança por
telefone ou através de visitas, mas como não estava surtindo efeito, esse tipo
contato foi cancelado. Fora os encontros mensais o grupo todo se reúne
41 quando vão escrever a carta ao Papai Noel e nas festas esporádicas de Dia do
Sonho e Festa de Natal, nas quais cada equipe fica com o seu grupo de
crianças.
Além disso, para manter a segurança das crianças, não é permitido que
um voluntário tire sozinho uma criança da instituição. Sempre que o grupo faz
um encontro, os pais de cada criança recebem uma solicitação de autorização
para este encontro. Sendo que mesmo com essa autorização sempre vai uma
pessoa responsável da instituição para acompanhar o grupo.
A coordenação orientará as atividades que serão realizadas, mas os
voluntários devem buscar dinâmicas e atividades também, de acordo com os
objetivos do Amigos para Sempre.
3.3 - Líder de Equipe
O líder de equipe tem muitas missões no projeto Amigos para Sempre.
Cabe a ele manter uma boa comunicação entre o grupo, além de ter uma
função de motivador. O líder tem uma figura importante no grupo, já que quase
todas as responsabilidades do grupo competem a ele. Com certeza os líderes
são os maiores comunicadores do projeto, pois além da comunicação com a
sua equipe, ele se comunica com o Sonhar Acordado, com todos os
coordenadores, com as instituições e com os locais que são visitados pelo
grupo. Como funções do líder temos os seguintes itens:
• Passar as informações da coordenação geral para os voluntários;
• Marcar e organizar as reuniões de preparação da atividade com a sua
equipe antes da visita;
42 • Atualização dos dados cadastrais do grupo: o líder deve manter os
dados cadastrais dos voluntários de sua equipe atualizados junto à
coordenação do Sonhar Acordado para futuros contatos;
• Atualização da lista das crianças: o líder deve manter a lista das
crianças atualizada com nome e data de nascimento;
• Formação: todo mês, o líder deve lembrar seus voluntários da
formação. Elas acontecem em três datas diferentes. Sempre numa segunda,
quinta e sábado no início de cada mês. O calendário do ano todo já está
definido para que todos possam se programar com a maior antecedência
possível. Basta escolher uma das datas, confirmar a presença com as
coordenadoras de formação e comparecer;
• Data da atividade: após a formação, o líder deve entrar em contato com
a instituição e estabelecer a data e o horário de sua atividade com as crianças.
Depois deve informar a data do encontro ao Sonhar Acordado para um controle
através do e-mail do projeto Amigos para Sempre;
• Relatório da atividade: o relatório que descreve a atividade do Amigos
para Sempre deve ser enviado por e-mail em até 10 dias de sua realização. É o
prazo para a coordenação analisar a atividade, os pontos fortes e os fracos e
solucionar possíveis problemas;
• Reembolso: em conjunto com o relatório, o líder deve entrar em contato
com o Coordenador Financeiro do Amigos para Sempre para entregar as notas
fiscais referentes a sua atividade por e-mail e em cerca de 10 dias este será
feito através de depósito em conta corrente.
Os líderes de equipe têm ainda que manter vivo alguns valores
importantes no grupo:
• Comprometimento: todos os voluntários devem participar ativamente
de todas as atividades do grupo e da formação. O líder deve promover o
comprometimento do grupo porque esses momentos são muito importantes.
43 No momento da formação, para-se para pensar sobre o valor que será
passado para as crianças e a melhor forma de passá-los. E a atividade é o
maior e mais esperado momento com as crianças: coloca-se em prática tudo
que foi planejado;
• Comunicação: manter a equipe informada do andamento de todas as
atividades (escopo, prazo, responsabilidade, custo). Isso vai fazer com que
todos se sintam parte do processo e a boa comunicação promove a união do
grupo. Além do grupo, manter um bom contato com a instituição é primordial.
Ela é o elo entre o grupo e as crianças. O líder tem total apoio dentro do
Sonhar Acordado para que os encontros com as crianças sejam bem-
sucedidos;
• Agilidade na solução de problemas: não se deve deixar para depois
a solução de problema ou uma dúvida do grupo. A agilidade dá a chance de
melhorar os trabalhos;
• Jogo de cintura: dificuldades fazem parte do processo. Não deixar
que os obstáculos influenciem a decisão do líder em ajudar. Assim, deve-se
ter jogo de cintura para burlar os problemas e atingir o objetivo principal, que
é passar os valores para as crianças;
• Firmeza: a sua responsabilidade do líder é fazer com que a atividade
seja um sucesso. Para isso deve-se ser firme na definição de
responsabilidades e na participação efetiva de todo o grupo em todos os
momentos;
• Animar e recompensar: motivação do grupo. O líder deve praticar o
“feedback”: conversar sobre os pontos negativos e positivos das atividades e
depois agradecer o empenho de todos;
• Trabalhar em grupo: o líder deve dividir as tarefas. Todo o grupo é
responsável pelo sucesso da atividade. Deve delegar e cobrar que cada
voluntário cumpra a sua parte em prol do grupo.
44 3.4 - Voluntários
Mesmo com a orientação do coordenador de voluntários de ter apenas
12 voluntários por equipe, e podendo chegar a no máximo 15, o grupo em
questão já chegou a ter 22 voluntários quando o grupo atendido tinha quase 30
crianças. Hoje tem 14 voluntários, mas normalmente tem-se a presença de 10
a 12 pessoas a cada encontro.
Como são crianças de quatro a seis anos muitas vezes temos que
segurá-las pelas mãos, para que não se percam e que não criem tumulto em
locais mais silenciosos ou em que não se pode correr como, por exemplo,
museus, cinemas, teatros e etc.
3.5 - Valores
Os valores que são transmitidos às crianças todos os meses são
planejados e pré-selecionados no ano anterior ao que serão as atividades. As
psicólogas que fazem parte da Coordenação de Formação decidem quais os
valores ainda não foram transmitidos, ou os que não foram muito bem
assimilados pelas crianças ou valores que precisam sempre ser reforçados.
Os valores podem ser morais, de comportamento ou de personalidade.
Neste ano de 2008, as psicólogas montaram um calendário com os valores
para pôr em prática com as crianças a cada mês. Tais valores são:
45 JANEIRO Férias das crianças JULHO Auto-domínio
FEVEREIRO Coragem AGOSTO Humor
MARÇO Amizade SETEMBRO Tolerância
ABRIL Prudência OUTUBRO Generosidade
MAIO Respeito NOVEMBRO Amor
JUNHO Dia do Sonho DEZEMBRO Festa de Natal
3.6 - Encontros
As equipes realizam encontros em que levam as crianças para fazer
atividades culturais, como museus, peças de teatro, centros culturais, cinemas,
Zoológico, circo, jogo de futebol, basquete, vôlei e etc., ou algum lugar que elas
nunca tenham ido para despertar o interesse das crianças. Muitas vezes peca-
se pelo excesso porque os grupos querem escolher lugares em que as
crianças possam se divertir bastante. Até porque muitas vezes elas não têm
condições financeiras de ir a tais lugares.
Essas atividades estão sempre aliadas às dinâmicas de transmissão de
valores e costumam acontecer aos domingos pela manhã, uma vez por mês,
podendo durar de 3 a 5 horas.
A atual liderança do grupo que está sendo estudado tem se dedicado
muito a buscar lugares atrativos e que dêem gratuidade para o grupo todo.
Com isso o grupo inteiro se motiva e os encontros tornam-se mais prazerosos
porque não há a preocupação de ter o dinheiro suficiente para financiar os
encontros.
46 Todas as atividades do ano de 2008 foram incríveis para as crianças.
Somente nesse ano o grupo foi ao Bosque da Barra (março), ao Museu
Histórico Nacional (abril), ao Jardim Botânico (maio), ao Museu Naval (julho) e
ao Circo (agosto) sendo que todas foram gratuitas para todo o grupo. E o
grupo já está em negociações com outros locais para obter a gratuidade nos
próximos encontros.
3.7 - Voluntário também educa
A educação escolar é diferente da familiar, não há como uma substituir a
outra, pois ambas são complementares. Não se pode delegar à escola parte da
educação familiar, pois esta é única e exclusiva, voltada à formação do caráter
e aos padrões de comportamentos familiares. A escola nunca deve absorver a
educação familiar, pois seu objetivo é preparar profissionalmente seus alunos,
cuidando da convivência grupal e social.
Diante da sociedade atual, em que os pais deixam a responsabilidade de
educar seus filhos para a escola, também cabe aos voluntários do Amigos para
Sempre uma parte da educação das crianças envolvidas, já que têm a missão
de formar cidadãos éticos.
Para isso os voluntários devem ter a noção de que educar não é deixar a
criança fazer o que quer, mesmo que o passeio também seja um momento de
diversão. Educar dá mais trabalho do que simplesmente cuidar delas porque é
prepará-las para a vida. A vida da criança é regida pela vontade de brincar, de
fazer algo. A cada momento ela descobre a vida e os valores em um processo
natural de aprendizagem.
47 3.8 - Aprendendo as regras
Muitos pais acham que dizer sim ou aceitar tudo que as crianças pedem
irá compensar a ausência enquanto trabalham fora. Ou simplesmente porque
dizer sim é mais fácil, estão cansados para escutar as reclamações e
choradeiras dos pequenos. Aceitar tudo o que o querido de casa determina é a
porta de entrada para uma má educação por parte dos pais.
O reflexo disso é visto não tão somente dentro de casa, mas o falso
autoritarismo da criança é transportado para o mundo externo, ou seja, à
escola e também nas relações com outras crianças. Muitas vezes temos casos
de total indisciplina e de falta de limites de crianças, fruto de uma educação
refém das normas e determinações do filho. São casos de crianças que
manipulam os adultos.
Essa permissividade gera insegurança e até mesmo agressividade no
comportamento infantil. Já em um ambiente estranho, a criança terá grandes
dificuldades para agir, pois não será a “dona do pedaço”, fazendo com que a
insegurança e a agressividade se transformem em autodefesa.
Algumas atitudes importantes dos pais, e no caso do grupo, dos
voluntários, ou os tios, como mostrar para a criança o que pode e o que não
pode, fazendo com que reconheça sim e o não, ajudam a criança a se
comportar melhor. Ficar bravo quando a criança faz algo errado e mostrar que
ficou feliz quando acerta na sua atitude.
A sociedade vai cobrar limites e nem tudo que a criança quiser vai
conseguir, assim sendo por toda a vida. Estabelecer limites e disciplina requer
paciência e firmeza.
Quando a criança quer algo e recebe um “não”, ela vai insistir para testar
se o que dizem é mesmo pra valer. Mas se a pessoa for firme e mantiver o
48 “não”, a criança vai incorporar como regra. Leva algum tempo, mas ela
aprende.
Para ajudar as crianças a aprender as regras, o grupo fez um cartaz com
as regras que eles devem seguir nos passeios e as crianças colaram as figuras
referentes às regras. Essa atividade permitiu que as crianças participassem da
confecção do mural de regrinhas e que elas pensassem sobre como devem
agir nos encontros.
Esse mural composto de regras essenciais como “não bater nos
amigos”, “não gritar”, “obedecer aos tios nos passeios”, “não andar sozinho”,
“não correr para longe do grupo”, “não pisar na grama e não destruir as
plantas”, “não xingar os amigos”, “jogar o lixo na lixeira” e etc. é relembrado e
mostrado para as crianças em todos os encontros.
3.9 - Aprendendo a ganhar e a perder
O que também acontece muito é os pais deixarem que os filhos ganhem
sempre em jogos e brincadeiras. O que pode ser considerado com uma
proteção ou um agrado, na verdade faz com que a criança tenha dificuldade
em lidar com a frustração. A criança que sempre ganha ao brincar com os pais,
quando brinca com uma criança e perde, fica com raiva do outro e não sabe
lidar com isso.
A criança deve aprender que umas vezes se ganha e outras se perde.
Neste caso, o ideal seria intercalar atividades em que a criança é melhor com
outras em que ela é pior.
49 3.10 - Aprendendo a ficar limpinho
Além disso, como a higiene já foi trabalhada como um valor em um dos
encontros passados, os voluntários aproveitam para reforçar essa idéia e
incentivar as crianças a tomar banho todos os dias, escovar os dentes após as
refeições e etc.
Em todos os encontros as crianças são lembradas que devem lavar as
mãos antes do lanche e escovar os dentes depois, e que devem lavar as mãos
sempre depois de ir ao banheiro.
3.11 - Aprendendo a controlar a raiva
Amigos e irmãos discutem, entram em conflito e partem para a briga.
Algumas vezes os voluntários já enfrentaram situações como essas, mas
sabem que conflitos como esses não devem ser permitidos de jeito nenhum,
pois geram violência. Há crianças que não sossegam enquanto não partem
para a agressão física.
Normalmente elas são contidas pelos voluntários, que devem interferir,
separar as crianças e explicar que não admitem brigas. Depois disso, cada
criança deve pedir desculpas uma à outra e depois elas são colocadas para
fazer alguma atividade juntas, de forma que uma tenha que ajudar a outra.
50 3.12 - Aprendendo a respeitar as diferenças
Ninguém é igual a ninguém. E é exatamente por isso que devemos
respeitar o outro e principalmente a aprender com quem é diferente da gente.
Temos que respeitar o colega que é de outra religião, outro país, outra
condição social, outra cor e etc.
A gente só ensina a respeitar as diferenças se a gente também souber
respeitá-las. Se os pais, ou no caso em questão, os voluntários, tratam a todos
igualmente, independentemente de cor, classe social e etc. as crianças não
vão ter por que fazer diferente.
Há alguns meses havia no grupo uma menina negra, magra, com uma
aparência frágil, e que sempre foi tratada muito bem pelos voluntários, igual às
outras crianças. Mas o grupo observava que algumas crianças se afastavam
dela porque ela era negra. Inclusive outras crianças negras. Ao perceber o
ocorrido, uma voluntária, que também é negra, se aproximou do menino que
insistia em se afastar da menina, chegando a empurrá-la, dizendo que não
queria ficar perto dela porque ela era negra, e perguntou por que ele estava
agindo daquela forma com a menina. Ele respondeu que era porque a menina
era negra. A voluntária, muito sabiamente, perguntou ao menino qual era a cor
do pai dele, da mãe, e inclusive a cor dela mesma que estava conversando
com ele.
Nesse momento o menino percebeu que ele e a sua família também
eram negros, assim como a voluntária que falava com ele. Mas mesmo assim
ainda ousou dizer “mas ela é diferente, é mais preta”. A voluntária ainda
conversou com ele, falou sobre as diferenças, passou o resto do passeio de
mãos dadas com ele, e ainda colocava a menina para fazer atividades junto
com ele para que ele se acostumasse e visse que não havia problema algum
em ser negro e ter contato com negros.
51 Com isso, aos poucos o menino viu que realmente não havia problema
naquilo e passou a não tratar a menina com diferença. Ele viu que ela até podia
ter uma cor diferente da dele, mas que na verdade os dois eram apenas
crianças.
3.13 - Aprendendo a não incomodar
Uma das coisas que incomoda muita gente é quando uma criança
começa a falar alto, cantar, interromper os adultos a qualquer hora. Para os
pais a desculpa é sempre a mesma: meu filho é muito extrovertido.
Criança adora uma atenção e faz tudo para que os adultos fiquem
ligados nela. Precisa aprender, porém, que tem hora para tudo. Ninguém é
platéia para ela o tempo todo. Ela também precisa ter um tempo consigo
mesma, com seus brinquedos, com seus amigos imaginários.
Podemos ensinar às crianças com atitudes. Se o grupo está em um
circo, todos estão prestando atenção e a criança começa a querer chamar a
atenção gritando durante o espetáculo, algum voluntário pode dar um
pouquinho de atenção à garota, perguntar o que é, e em seguida dizer à
criança que naquela hora todos estão assistindo ao espetáculo, que é para ela
prestar atenção também, até porque provavelmente ela nunca foi à um circo,
mas que depois ela vai ter o seu momento de falar. O importante é dar uma
alternativa à criança. Não deixá-la sem fazer nada.
Um intercâmbio com a escola também pode ajudar. Lá ela aprende que
tem hora para cada atividade e também que cada aluno tem a sua vez de falar
ou de ser o centro das atenções. Assim também pode funcionar em casa, nos
encontros com os voluntários e etc.
52 3.14 - Aprendendo a dividir
Muitas vezes observamos também algumas crianças que não querem
dividir alguma coisa como o brinquedo ou doce com outra criança.
Não querer dividir já é um sinal de egoísmo.
Podemos pensar que ela não quer dividir ainda porque ainda é nova, ou
porque não sabe o que é dividir. Mas na idade delas, criança pensa que “o que
é meu, é meu; e o que é dele é nosso”.
Não há desculpa para deixar por isso mesmo quando a criança se
recusa a partilhar. Esse é um conceito que devemos ajudar a criança a
construir desde cedo para que não vire um egocêntrico no futuro. Se ela se
recusa a repartir um doce, o adulto tem todo o dever de entrar em campo, e
fazer a divisão pela criança, mesmo que ela chore.
Normalmente quando fazemos isso a criança fica emburrada e não quer
a metade dela. Quando isso acontece a reação comum é dizer que então vai
dar tudo para o outro. O que não é educativo, pois a criança vai ficar com
raiva. O ideal é dizer que a metade dela vai ficar guardada para quando ela
quiser, pois esse pedaço é só dela. Assim ela entende o sentido de dividir.
Em um dos encontros do Amigos para Sempre em 2007, as crianças
foram em uma exposição do Ziraldo. Como ele é escritor e escreveu vários
livros infantis, os voluntários compraram um livro do Menino Maluquinho e
sortearam entre as crianças.
Para elas aprenderem a dividir, falaram para o ganhador que depois que
ele lesse o livro teria que emprestar aos outros colegas para que todos
pudessem ler também. Quase imediatamente, ele sentou no chão e chamou
alguns colegas para lerem o livro junto com ele. Na hora todos os voluntários
perceberam que o menino que ganhou o livro tinha entendido muito bem o que
53 era dividir. E no encontro seguinte ele foi contar que já tinha emprestado o livro
para vários colegas.
54
CAPÍTULO IV
AS EXPERIÊNCIAS
Trabalhar como voluntário em um projeto social em que a missão é
formar, educar e ajudar a infância levando esperança e alegria às crianças
carentes seguramente é uma experiência gratificante para todos os envolvidos.
E não importa há quanto tempo a pessoa é voluntária, o entusiasmo e o amor
são independentes do tempo.
Uma prova disso são os depoimentos emocionados dos voluntários que
se dispuseram a abrir seus corações para falar das suas experiências no
projeto Amigos para Sempre.
Podemos observar que mesmo com as dificuldades que encontramos
durante esse longo caminho de tentar mudar a vida dessas crianças para
melhor, conseguimos algum sucesso. Apesar de as crianças viverem em um
lugar em que não há muitas oportunidades, visto que há muitas mães solteiras,
pais presos, ou que são traficantes, ladrões ou até mesmo olheiros, muitas
crianças mantêm a pureza, o amor e o carinho com os voluntários.
Os voluntários tiveram um roteiro para se guiar ao escrever seus
depoimentos, mas tiveram total liberdade para falar o que quisessem, de forma
que pudessem escrever naturalmente, sem se preocupar com as perguntas.
A seguir temos os depoimentos de cinco voluntários do projeto Amigos
para Sempre. Vale ressaltar que os depoimentos estão na íntegra e não foram
alterados.
55 4.1 - Depoimento de Flávia Lépori
Sempre pensei em fazer algum tipo de trabalho voluntário. Comecei com
a idéia por influência da minha avó que, junto com uma amiga, montou uma
creche-escola para crianças carentes em Engenheiro Pedreira. Inclusive já fui
lá algumas vezes e ficava impressionada com a dedicação de todos os
voluntários para que tudo desse certo naquele lugar. Era maravilhoso pensar
que aquelas pessoas estavam ali somente pela vontade de ajudar, sem
recompensa, sem benefícios. Sempre tive vontade de trabalhar como
voluntária, mas meu emprego nunca permitiu total dedicação a esse tipo de
trabalho.
Foi aí que conheci o projeto Sonhar Acordado, através de umas amigas.
O que começou apenas como dois eventos, duas vezes por ano se
transformou há 4 meses em um trabalho mensal de ajuda a crianças de
comunidades bem pobres. Graças a amigas que me mostraram que não é tão
grave assim você "abrir mão" de um domingo do seu mês para estar com
aquelas crianças.
Percebi que aquele trabalho, ao invés de um sacrifício mensal era, na
verdade, um momento muito prazeroso de estar com aquelas que crianças. É
muito bom perceber o quanto você pode ensinar àquelas crianças e,
principalmente, o quanto pode aprender com elas.
Cada encontro é uma oportunidade de estar mais próxima delas, de
saber um pouco mais da vida delas e de fazer com que aquele momento seja
um pouco mais especial.
E esse é o real objetivo do projeto: tornar cada encontro especial para
aquelas crianças, fazer com que os voluntários consigam passar coisas
importantes e fazer a diferença na vida daqueles pequenos.
56 Muitas coisas ainda precisam ser ajustadas como: maior participação do
projeto nas atividades diárias das crianças, maior ajuda financeira ao projeto
como patrocínios, apoio e etc., de forma a oferecer mais para aquelas crianças.
Mas começamos há muito pouco tempo. Ainda temos muito o que oferecer e
muitas idéias para acrescentar para melhorarmos cada vez mais o projeto.
4.2 - Depoimento de Immanuela D’Oliveira
Sempre tive vontade de fazer algo voluntário. Acho que começou no
colégio, quando participei de uma campanha de arrecadação de alimentos. A
questão é que faltava aquele empurrãozinho, achar algo com que me
identificasse. A vontade aumentou quando comecei a trabalhar no Portal do
Voluntário, ao ter contato com tantas histórias legais. Há dois anos (em junho
de 2006), por convite de uma amiga, resolvi participar do Dia do Sonho, projeto
esporádico da ONG Sonhar Acordado. Logo depois da festa, resolvemos
montar um grupo do Amigos para Sempre e, desde então, estamos
trabalhando no projeto, com encontros mensais.
O que eu mais gosto de ser voluntária é sentir que posso ser
responsável por um dia legal na vida daquelas crianças. Ver os sorrisos
estampados em suas carinhas não tem preço. E isso me faz acreditar que
podemos mudar um pouquinho da vida delas, da realidade delas que, muitas
vezes, a gente nem conhece totalmente.
Outra coisa que acho interessante em ser voluntária é que sempre achei
que não tinha jeito com crianças... mas sempre fui apaixonada por elas! É claro
que sei que não sou a mais popular dos voluntários... Mas acho que, a cada
encontro, consigo estar um tantinho mais próxima delas e passar um pouco
dos valores.
57 Não acho que esteja dando tão certo como eu esperava. Passar valores
para crianças pequenas é algo difícil, principalmente em ambientes com outros
apelos... é um desafio obter a atenção e a concentração delas... e controlá-las
também, já que, encontrando mensalmente, é praticamente impossível ter
alguma autoridade.
Melhorar o projeto não é tarefa fácil. O problema principal é que somos
muitas cabeças pensando ao mesmo tempo e não temos tanto contato entre os
voluntários quando não estamos com as crianças. Acho que se
conseguíssemos essa "unidade", seria menos complicado lidar com os
problemas durante os encontros. Aos poucos, já estamos conseguindo
melhorar o nosso grupo. Tenho fé.
4.3 - Depoimento de Ana Carolina Santos
Sou voluntária do Sonhar Acordado há 2 anos. A minha motivação para
me tornar voluntária veio de uma necessidade que eu senti, em certo momento
da minha vida, de fazer mais pelas pessoas. Eu estava numa fase tão
abençoada, tendo sucesso e conquistando coisas importantes e era impossível
não pensar no grande número de pessoas que nunca teria a chance de ter tudo
aquilo que eu estava conseguindo, se não fosse pela ajuda de alguém. E era
também uma forma de eu aprender com as histórias e a realidade das pessoas
as quais eu iria "ajudar" (coloco entre aspas, sempre, porque a mais ajudada
nessa história toda sou eu mesma).
Eu gosto muito de ser voluntária, principalmente por trabalhar com
crianças. Todos aqueles clichês sobre a pureza e a inocência de uma criança
são verdade com elas. Têm os rebeldes, que cantam funk proibidão e ficam
simulando tiroteio (infelizmente, é a realidade que os rodeia), mas mesmo
58 esses rebeldes querem o colinho da tia, riem do palhaço no circo, olham pra
você e dizem que você está bonita. Eles são demais!!
É muito prazeroso estar com eles. Vale sempre todo o esforço. E eu sei
que eles gostam de mim também. Minha relação com eles têm sido de muita
troca. A gente brinca junto, conversa. Me sinto meio mãe deles quando
estamos juntos. Esses dias uma chegou me confessando que a mãe bateu
nela e que tinha uma marca de chinelo na barriguinha. Quando vi a marca, tive
que respirar fundo pra não me revoltar e explodir. Uma criança de 5 anos pode
fazer o que for, mas não merece uma marca de chinelo igual aquela!! E é aí
que entra a capacidade que a gente adquire com o projeto, de medir as
palavras e tentar entender o contexto daquela situação. Algumas vezes a mãe
é alcoólatra e tem o costume de bater mesmo. Outras, o pai ou a tia é que são
grosseiros. Enfim, cada realidade é uma e você tem que aprender a lidar com
isso.
O projeto dá certo pelo simples fato de nós percebermos que as crianças
sentem falta dos passeios (que só ocorrem uma vez por mês), sentem falta de
nós (você percebe pelos abraços e beijos apertados) e vc vê que boa parte
deles retém as coisas que nós ensinamos. Claro que sempre podemos
melhorar, como conseguindo um patrocínio melhor que nos permitisse fazer
passeios ainda mais proveitosos, mas tenho certeza que, para a realidade que
temos, nós fazemos um lindo trabalho!
4.4 - Depoimento de Vanessa Ventura
Há pouco mais de dois anos uma amiga falou sobre uma ONG que faria
uma grande festa pra crianças e que precisava de voluntários. Tomada por um
sentimento altruísta me candidatei a participar do evento. A primeira formação
foi palco pro amor à primeira vista que aconteceu entre mim e o Sonhar
59 Acordado. O Dia do Sonho foi maravilhoso e vi que poderia fazer mais, passei
a participar de um grupo do Amigos Para Sempre.
Desde o primeiro encontro faço parte da equipe do lanche e organizo
tudo com o mesmo gosto que as crianças se saboreiam as delícias que
preparo. Acho que sou uma tia engajada, responsável e divertida, pois sempre
tive um retorno muito positivo dos pequenos. Minha intenção é continuar no
projeto por muito e muito tempo.
É um grande prazer fazer parte do Amigos Para Sempre, pois o Sonhar
Acordado me faz sentir segura para lidar com as crianças. O apoio e
esclarecimentos oferecidos pela ONG são incalculáveis. Meu grupo é muito
organizado e esforçado, desempenhamos muito bem nosso papel como
Amigos Para Sempre. Mas às vezes nos empolgamos com as crianças e nos
perdemos com os valores. Acho que se esse é o objetivo maior da ONG,
poderia haver um pouco mais de foco, nosso e dos nossos "instrutores".
No início, a impressão é que nós vamos nos doar e fazer o bem por
aquelas crianças. Mas a cada encontro, tenho certeza de que a doação é
recíproca, enquanto passamos valores e diversão, recebemos carinhos,
ensinamentos e lições de vida. No fim, crescemos todos juntos.
4.5 - Depoimento de Zulmira Basílio
Como eu estava na faculdade, cursava Letras, estava me formando e
fazia estágio com crianças, o que me motivou a ser voluntária no Amigos para
Sempre foi o fato de poder trabalhar com crianças.
Eu já tinha feito estágio com crianças há alguns anos, antes de mudar
de faculdade, mas ainda tinha muito claro na minha cabeça como era bom
60 estar com crianças. Elas conseguiam me transformar em apenas cinco
minutos. Era mágico.
Estou nesse grupo do Amigos para Sempre há dois anos. Algumas
amigas tinham participado do Dia do Sonho, mas eu tive um problema pessoal
e não consegui ir. Quando elas me disseram que iriam formar um grupo, mas
que só podia entrar quem tivesse ido ao Dia do Sonho fiquei triste. Mas
conversamos com uma coordenadora e ela deixou que eu entrasse.
Lembro até hoje que no dia do primeiro encontro, em agosto de 2006,
choveu muito e o nosso passeio ao Parque Lage já estava indo por água
abaixo quando lembrei que no meu prédio tinha um terraço e poderíamos usá-
lo. Na mesma hora liguei para a nossa líder e disse que podiam ir para a minha
casa. Na hora não pensei, mas estava abrindo as portas da minha casa para
pessoas que eu nunca tinha visto na vida. Consegui o telefone de todos do
grupo e um foi ligando para o outro e antes das crianças chegarem ainda
conseguimos limpar o terraço todo. Mesmo com chuva forte, passamos a
manhã brincando com tinta guache e fazendo cartazes. Também tivemos a
presença de uma dentista, que nos deu uma palestra sobre higiene. No fim da
manhã eu estava super cansada com a correria do encontro na minha casa,
mas estava completamente realizada! Nesse dia me apaixonei pelas crianças!
De lá pra cá as crianças eram como um “elixir da alegria” pra mim.
Estava no fim da faculdade e super estressada. Passar uma manhã com as
crianças me deixava de bom humor, eu voltava a ser criança. Assim como é
até hoje. E é por tudo isso que eu adoro ser voluntária. Estar com as crianças,
ter esse envolvimento com elas é maravilhoso. Quando participo da equipe de
transporte então, é melhor ainda. Vou com elas até o local do encontro
conversando sobre a vida delas, cantando algumas músicas, literalmente
“fazendo bagunça”.
Acho que mesmo com todo o nosso esforço ainda há algumas falhas no
projeto. Acho que dá certo, mas que poderia ser ainda melhor. De vez em
quando acontecem algumas coisas que desmotiva o grupo, quando como
61 fomos na festa junina da instituição que elas estudam e um rapaz fortemente
armado ficou nos intimidando, provavelmente porque não sabia quem a gente
era e o que a gente faz pelas crianças que moram lá. Para as crianças isso
tudo é muito normal, afinal, elas moram lá, convivem com armas, traficantes,
bandidos todos os dias. Às vezes o próprio pai é um bandido, ou chefe de
alguma boca de fumo, segundo as próprias crianças.
De certa forma, isso acaba deixando os voluntários com um certo medo
de voltar a ir em festas na comunidade para prestigiá-las ou para buscá-las
para algum encontro.
Acredito que para melhorar um pouco mais o projeto os grupos poderiam
encontrar as crianças pelo menos duas vezes por mês. Acho que assim
conseguiríamos passar mais tempo com elas, para então realmente criar laços
de amizade verdadeiros e poder transmitir melhor os valores. E até pra as
crianças assimilarem os valores de uma forma melhor.
Acho que o grupo poderia ir mais às formações e se unir mais também.
Com isso estaríamos mais organizados e mais preparados para lidar com os
problemas que a gente pode ter. E conseguiríamos tirar as nossas dúvidas
sobre como agir em determinadas situações. Eu sou uma educadora, mas e os
que não são? Como vão saber lidar?
Apesar de tudo, me sinto extremamente realizada como voluntária, como
pessoa e como educadora. Vejo que consigo passar parte das teorias que
aprendi na faculdade para outros colegas do grupo. E posso garantir que
enquanto o grupo existir eu vou participar. Não há dinheiro no mundo que
pague a felicidade que eu sinto no final de cada encontro.
62
CONCLUSÃO
Podemos observar que a comunicação nesse projeto em questão é
baseada na fala e na comunicação não-verbal, através de imagens, desenhos,
gestos e olhares. Muitas vezes só ao esticar o braço a criança já sabe que ela
deve dar a mão para o voluntário.
Podemos dizer que o nosso grupo é um grupo formal, já que os
voluntários envolvidos se ajudam mutuamente para desenvolver suas aptidões
individuais, que possibilita relacionamentos com outras pessoas e com a
sociedade em que se vive. Com ele nos tornamos ativos em nossa sociedade.
Temos um interesse comum e o centro de tudo deve ser a necessidade de o
grupo resolver o seu problema.
Para o Sonhar Acordado há três pontos muito importantes que são o
voluntariado - que é o que motiva as pessoas, as pessoas se doam e dedicam
parte do seu tempo ao projeto, para fazer o bem ao outro, a ética - que os
voluntários tentam transmitir às crianças para que elas se tornem cidadãs com
valores, e a primeira infância - que é a maior preocupação do Sonhar
Acordado, porque é nessa fase em que a cabeça da criança se forma, a sua
personalidade se forma, é o momento de formação da criança como cidadã.
Além disso, temos uma amostra da divisão e responsabilidades na ONG
e como é a comunicação entre o conselho, coordenações e demais voluntários.
Já no Amigos para Sempre apresentamos toda a estrutura começando pelas
instituições, a divisão por equipes, as funções do líder da equipe - que é como
se fosse o coordenador da equipe, os voluntários, os valores que são
transmitidos às crianças, os encontros e a parte mais importante em que
vemos que o voluntário também tem que agir como educador diante de
determinadas situações.
63 Apesar de sempre ter uma professora da instituição presente nos
encontros, elas agem como se não estivessem lá, já que não tomam atitude
alguma diante dos problemas que podem ocorrer. Fica tudo sob a
responsabilidade dos voluntários.
Podemos observar, juntamente com os exemplos, que os voluntários
podem educar, e o fazem. Eles ensinam as regras, que nem sempre se ganha,
mas que também se perde, noções de higiene, que as crianças podem
conseguir controlar a raiva, a respeitar as diferenças, a não incomodar as
outras pessoas que não conhecem, a dividir, entre outras coisas que não foram
citadas. E elas usam o que aprenderam nos encontros, e também no cotidiano
com as suas famílias.
Através dos depoimentos dos voluntários vemos que as crianças não só
aprendem com os voluntários, mas também ensinam. Ensinam a realidade
delas, nos ensina a sorrir de coisas que depois que crescemos não achamos
mais graça, a amar aquelas crianças como se fossem das nossas famílias e
que, a princípio, parecem não saber que existe um mundo fora da comunidade
em que vivem. Elas nos despertam emoções e sentimentos novos, e são muito
queridas pelos voluntários.
Para melhorar ainda mais o desenvolvimento do projeto, cada equipe de
voluntários poderiam se unir mais e fazer, pelo menos, um encontro mensal,
além do encontro com as crianças. Com isso poderiam discutir sobre o grupo e
promover a integração dos voluntários.
Além disso, seria bom se todos se todos os voluntários do Amigos para
Sempre se encontrassem pelo menos uma vez a cada dois ou três meses para
integrá-los, discutir sobre os problemas, até porque o problema de um grupo
pode ser o mesmo problema do outro, e com isso tentariam fazer um trabalho
melhor.
Na teoria, cada equipe teria que se reunir em algum dia anterior ao
encontro para preparar as atividades, decidir qual a dinâmica que vão usar no
64 dia do encontro. Isso infelizmente não acontece nas equipes, mas se fosse
feito na prática, ajudaria muito o grupo que muitas vezes fica perdido sem
saber direito o que fazer.
Podemos concluir que a comunicação no Amigos para Sempre dá certo,
mas como qualquer outra comunicação de qualquer outro lugar tem falhas.
Mas trabalhar com essas crianças é uma experiência gratificante para todos os
voluntários.
Além da sensação gostosa de amor, carinho, satisfação e,
principalmente, de dever cumprido, recebemos uma recompensa maravilhosa
que são os sorrisos, abraços e beijos sinceros nas despedidas e a cada vez
que nos reencontramos. E isso não tem preço.
65
ANEXOS
Índice de anexos
Os anexos a seguir foram utilizados como fonte de pesquisa e como
demonstração da comunicação entre a ONG Sonhar Acordado e os
voluntários, e entre os voluntários do projeto Amigos para Sempre.
Anexo 1 - Convite para o Workshop
Anexo 2 - E-mail convite para participar dos projetos contínuos
Anexo 3 - Convite para a Feijoada de Integração dos Voluntários
Anexo 4 - Newsletter
Anexo 5 - Pesquisa de final de ano do Amigos para Sempre
Anexo 6 - Roteiro para os depoimentos
Anexo 7 - Fotos de alguns encontros
72
ANEXO 5
PESQUISA DE FINAL DE ANO DO AMIGOS PARA SEMPRE
Queridos sonhadores, O ano está terminando e gostaria de compartilhar com vocês como foi importante e gratificante para mim fazer parte do AS nesse ano que passou. Nesses 3 anos que estou no Sonhar Acordado, participar desse projeto com certeza foi a melhor de todas as experiências. Aprendi muito com todos e quero poder ajudá-los sempre no que for preciso. Sei que enfrentamos vários desafios, mas quando chegamos ao final de uma festa como a de ontem, e olhamos para o rostinho das crianças temos certeza que estamos fazendo a diferença. Quero agradecer a cada um de vocês que sonham com a gente e também desejam um mundo melhor!!! Beijos Mariana Mendonça Coordenadora Geral - Amigos para Sempre Sonhar Acordado SOBRE O AMIGOS PARA SEMPRE: 1 – Qual foi a sua melhor atividade no ano que passou?
2 – Quantas atividades sua equipe fez e quantas você participou?
3 – O que você acha das formações? Com que freqüência você participou?
4 – Acha que consegue transmitir os valores para as crianças?
5 – Como você avalia a sua relação e da sua equipe com os coordenadores do Amigos para Sempre? O que você acha que podemos melhorar? 6 – Outros comentários, dúvidas e sugestões SOBRE AS FESTAS ESPORÁDICAS (DIA DO SONHO E FESTA DE NATAL) 7 – Opinião geral sobre o Dia do Sonho:
8 – Opinião geral sobre a Festa de Natal:
9 – O que você acha que ainda podemos mudar para melhorar a participação do Amigos para Sempre nestas festas?
73
ANEXO 6
ROTEIRO PARA OS DEPOIMENTOS
1) O que o motivou a ser voluntário?
2) Há quanto tempo você é voluntário?
3) Você gosta de ser voluntário? Por que?
4) Como é a sua integração com as crianças?
5) Você acha que o projeto está dando certo?
6) Que mudanças poderiam ser feitas para melhorar o projeto?
74
ANEXO 7 FOTOS DE ALGUNS ENCONTROS
Foto 1 - Primeiro encontro - 2006
Foto 2 - Exposição do Ziraldo - 2007
76
BIBLIOGRAFIA
- DIMBLEBY, Richard. Mais do que palavras: Uma introdução a teoria da
comunicação. São Paulo: Summus, 1990.
- FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo dicionário Aurélio. São
Paulo: Nova Fronteira, 1975.
- GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências
múltiplas. Porto Alegre: Artmed, 1993.
- INFANTE, Ulisses. Do texto ao texto. São Paulo: Scipione, 1998.
- MARANHÃO, Diva. Ensinar brincando: a aprendizagem pode ser uma
grande brincadeira. Rio de Janeiro: Wak, 2007.
- MOSCOVICI, Fela. Equipes dão certo. Rio de Janeiro: José Olympio, 2005.
- NISKIER, Arnaldo e NATHANAEL, Paulo. Educação, estágio & trabalho.
São Paulo: Integrare, 2006.
- TIBA, Içami. Quem Ama, Educa!: Formando cidadãos éticos. São Paulo:
Integrare, 2007.
- www.sonharacordado.com.br - acessado em 17/06/2008.
78
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO S 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
A COMUNICAÇÃO 12
1.1 - Teorias da Comunicação 13
1.2 - Atos de Comunicação 15
1.3 - Formas e meios de Comunicação 18
1.4 - Comunicação em grupos 23
1.5 - Tipos de grupo 24
1.6 - Líderes 26
1.7 - Linguagem 26
CAPÍTULO II
SONHAR ACORDADO 28
2.1 - Voluntariado 29
2.2 - Ética 30
2.3 - A Primeira Infância 32
2.4 - As Coordenações 35
2.5 - A Comunicação no Sonhar Acordado 36
CAPÍTULO III
AMIGOS PARA SEMPRE 38
79 3.1 - Instituições 39
3.2 - Equipes 40
3.3 - Líder de Equipe 41
3.4 - Voluntários 44
3.5 - Valores 44
3.6 - Encontros 45
3.7 - Voluntário também educa 46
3.8 - Aprendendo as regras 47
3.9 - Aprendendo a ganhar e a perder 48
3.10 - Aprendendo a ficar limpinho 49
3.11 - Aprendendo a controlar a raiva 49
3.12 - Aprendendo a respeitar as diferenças 50
3.13 - Aprendendo a não incomodar 51
3.14 - Aprendendo a dividir 52
CAPÍTULO IV
AS EXPERIÊNCIAS 54
4.1 - Depoimento de Flávia Lépori 55
4.2 - Depoimento de Immanuela D’Oliveira 56
4.3 - Depoimento de Ana Carolina Santos 57
4.4 - Depoimento de Vanessa Ventura 58
4.5 - Depoimento de Zulmira Basílio 59
CONCLUSÃO 62
ANEXOS 65
BIBLIOGRAFIA 76
ATIVIDADES CULTURAIS 77
ÍNDICE 78