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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE OS PLANOS DE SAUDE À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR E DA LEI 9656/98 Por: Elisangela Santos da Silva Guerra Orientador Prof. William Lima Rocha Rio de Janeiro 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS PLANOS DE SAUDE À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR E DA LEI 9656/98

Por: Elisangela Santos da Silva Guerra

Orientador

Prof. William Lima Rocha

Rio de Janeiro

2010

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

OS PLANOS DE SAUDE À LUZ DO CÓDIGO DE DEFESA DO

CONSUMIDOR E DA LEI 9656/98

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito nas Relações de Consumo. Tem por

objetivo apresentar as mudanças ocorridas nos

contratos de planos de saúde ao longo dos anos,

desde o advento do Código de Defesa do

Consumidor e da Lei n° 9656/98.

Por: .Elisangela Santos da Silva Guerra.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por ter me

fortalecido nessa jornada, a minha

família e amigos pelo incentivo e

apoio,ao Prof.William pela paciência e

orientação.

4

RESUMO

As constantes mudanças na legislação, desde a regulamentação do

setor de planos de saúde pela Lei 9656/98, e a tutela do Código de Defesa do

Consumidor, têm atendido adequadamente os usuários dos planos?

Apesar de existirem ainda muitos abusos praticados pelas operadoras

de planos de saúde, o CDC, bem como a legislação específica têm se

mostrado eficazes na maioria dos casos.

Os consumidores sempre travaram uma verdadeira batalha com as

operadoras dos planos de saúde. Com o advento do CDC e após a

regulamentação do setor, criação da ANS e as sucessivas mudanças ao longo

dos anos, os usuários dos planos de saúde ganharam novos aliados.

Além disso, a própria conscientização do consumidor acerca dos seus

direitos, buscando auxilio do Poder Judiciário,é um outro fator importante que

contribui para que as praticas abusivas sejam combatidas.

Hoje, até podemos comemorar pelas muitas vitórias alcançadas contra

as empresas de planos de saúde em prol dos consumidores, como a

portabilidade, cobertura obrigatória de vários procedimentos, entre outras.

5

METODOLOGIA

O presente trabalho foi desenvolvido através de consulta a livros,

internet, em especial ao portal da ANS - Agencia Nacional de Saúde

Suplementar( www.ans.gov.br), Superior Tribunal de Justiça (www.stj.jus.br) ,

Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor -IDEC( www.idec.org.br ),

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I- Breve histórico da regulamentação dos planos de saúde no

Brasil 10

1.1 Impactos na regulamentação do setor 12

1.2 ANS- Agencia Nacional de Saúde Suplementar 13

1.3 CAMSS- Câmaras de Saúde Suplementar 14

CAPÍTULO II - Os Planos de Saúde 16

2.1 Contratos estabelecidos pela Lei 9656/98 17

2.2 Características dos planos de saúde 18

2.3 Exclusões Para Todos Os Tipos De Planos (Contratos Novos e

Adaptados) 26

2.4 Planos Quanto À Data De Assinatura 27

2.5 Planos Quanto Ao Tipo De Cobertura Assistencial 28

2.6 Planos Quanto À Forma De Contratação 28

2.7 Classificação das Operadoras 29

CAPÍTULO III – Mudanças No Setor De Planos De Saúde E O Combate Às

Praticas Abusivas 31

3.1 Exemplos De Problemas Enfrentados Pelos Consumidores

34

3.2 Algumas Jurisprudências Dos Tribunais Brasileiros A Respeito Das

Clausulas Abusivas 37

3.3 Rol De Procedimentos 41

3.4 Portabilidade De Carências 42

7

CONCLUSÃO 46

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 49

ANEXOS 54

ÍNDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 56

8

INTRODUÇÃO

Após anos sem nenhuma regulamentação no setor de saúde

suplementar, podemos verificar muitas vitórias dos usuários de planos de

saúde, com o advento da Lei 9656/98 e antes disso com o próprio Código de

Defesa do Consumidor, aplicado principalmente em relação às praticas

abusivas.

A segurança do usuário de planos privados de assistência à saúde

aumentou com a regulamentação pela ANS de medidas necessárias à

manutenção da integridade das operadoras e da garantia da continuidade da

prestação dos serviços de assistência contratados.

A Lei 9.656/98 introduziu mudanças muito importantes para o setor

de saúde, estabelecendo regras mais claras nos contratos, assim deu mais

oportunidade ao consumidor de escolher melhor o seu plano.

Mas, como não há legislação perfeita, a nova lei também foi criticada,

haja vista que os direitos concedidos na Lei 9656 não foram estendidos aos

portadores de planos anteriores à sua regulamentação. Por isso, foi necessária

a adaptação dos contratos, através do qual quem possuía plano anterior à Lei

poderia optar pela migração para um plano novo.

Ainda assim, mesmo migrando para novos planos, ocorreram muitas

praticas abusivas por parte das operadoras, como os reajustes por faixa etária,

que eram excessivamente altos e não tinham como ser suportados pelos

9

usuários, principalmente os mais idosos, que se viam num verdadeiro dilema,

ou ficavam sem cobertura de muitos procedimentos ou tinham que pagar

mensalidades caríssimas.

A Lei 9656 regulamentou o reajuste por faixa etária, sendo que a

diferença entre a primeira e a última faixa não poderia ser de mais de seis

vezes. Além disso, o contrato deveria estabelecer os percentuais de reajuste

para cada uma das faixas, permitindo que o consumidor contratasse o plano

adequado a sua condição financeira.

Casos que eram freqüentemente encontrados como atendimento

negado para usuários com doenças pré-existentes, portadores do vírus HIV,

com transtornos psiquiátricos e até mesmo para quem necessitava de

transplantes, hoje, ocorrem em menos quantidade.

O rol de procedimentos obrigatórios cobertos pelos planos muda

freqüentemente, garantindo aos usuários um pouco mais de tranqüilidade, no

momento de precisar do seu plano de saúde.

Além das mudanças na legislação, a conscientização do consumidor

acerca dos seus direitos, foi e continua sendo importante para combater os

abusos cometidos no setor dos planos de saúde.

10

CAPÍTULO I

Breve histórico da regulamentação dos planos de saúde no Brasil

O desenvolvimento dos planos de saúde no Brasil começou entre as

décadas de 40 e 50. Até então, não havia nenhuma regulamentação

especifica.

O mercado foi se expandindo e, em 1988, a Constituição Federal, além

de estabelecer a atribuição do Estado de assegurar o direito à saúde dos

cidadãos pela criação um sistema nacional de saúde, garantiu o setor de

assistência médico-hospitalar, permitindo a oferta de serviços de assistência à

saúde pela iniciativa privada, sob o controle do Estado.

No entanto, até a promulgação da Lei 9.656/98, que definiu as regras

para o funcionamento do setor de saúde suplementar, o Estado brasileiro não

dispunha dos instrumentos necessários para a regulação do ramo de planos

privados de assistência à saúde, já organizado e funcionando há décadas no

país.

A lei, que entrou em vigor em 3 de junho de 1998, instituiu diversas

garantias aos usuários, tais como: tornar obrigatório às operadoras o

11

oferecimento do Plano Referência; proibir a rescisão unilateral de contratos e

submeter à aprovação do governo os índices de reajuste anuais.

Segundo o texto original da Lei 9.656/98, os contratos de prestação de

assistência à saúde assinados antes da regulamentação do setor deveriam ser

adaptados às novas regras em 90 dias da obtenção, pela operadora, da

autorização de funcionamento. Em menos de 30 dias da aprovação da Lei dos

Planos de Saúde, esse prazo foi dilatado para 15 meses da vigência da lei, em

vista da impossibilidade de consecução por, inevitavelmente, acarretar

aumento de preço em função da ampliação de cobertura assistencial, como

determinado no texto legal.

Pouco antes da conclusão do prazo definido na MP 1.685-1, a

adaptação obrigatória dos contratos foi transformada em opção do consumidor

pela MP 1.908-17. Desta forma, os contratos antigos passaram a ter validade

por tempo indeterminado sem que, sob qualquer hipótese, pudessem ser

transferidos a terceiros ou comercializados.

Em 2003 o Supremo Tribunal Federal (STF) se manifestou proferindo,

em caráter liminar, despacho favorável à Adin nº 1.931-98 impetrada pela

Conferência Nacional de Hospitais e Estabelecimentos de Saúde

(CNS),questionando a constitucionalidade de retroatividade da Lei 9.656/98.

Foi definido que os planos antigos só seriam obrigados a cumprir o que

constava no contrato.Naquele mesmo ano, objetivando estimular a adequação

dos contratos antigos, firmados até 2 de janeiro de 1999, a ANS criou o

Programa de Incentivo à Adaptação de Contratos.

A Lei 9.656/98, portanto, é o resultado de muitas negociações iniciadas

no Poder Legislativo após a promulgação da Constituição Federal. Vale

destacar que a sua aprovação no Senado somente foi possível pela introdução

de determinadas alterações no enunciado legal por meio de Medida Provisória

12

- MP, solução política adotada - com a concordância dos atores sociais

envolvidos - para evitar que o setor permanecesse operando sem regras por

mais tempo.

Como marco legal do processo de regulação, portanto, entende-se o

conjunto formado pela Lei 9.656/98 e a MP, que à época tomou a numeração

1.665. Esta MP, republicada várias vezes leva atualmente o número 2177-44.

As regras que orientam o funcionamento do setor (que surgiu em

meados dos anos sessenta e se expandiu significativamente nos anos oitenta)

foram definidas na Lei 9.656/98 e na MP 2.177-44 atualmente em vigor. De

forma complementar à legislação setorial, outras normas foram fixadas pelo

CONSU - Conselho de Saúde Suplementar e posteriormente pela ANS.

O texto legal estabeleceu critérios para entrada, funcionamento e saída

de operação de empresas no setor, discriminou os padrões de cobertura e de

qualidade da assistência e transferiu para o Poder Executivo Federal a

responsabilidade pela regulação da atividade econômica das Operadoras e da

assistência à saúde por elas prestada e o dever de fiscalização do

cumprimento das normas vigentes.

1.1- Impactos da regulamentação

Desde que a Lei 9.656/98 entrou em vigor, as mudanças ocorridas no

setor foram decisivas, sendo que uma das primeiras regras foi o registro

provisório na ANS, que as operadoras precisavam obter para atuar no setor de

planos de saúde. Para que um plano de saúde fosse comercializado, a partir

daquele momento, deveria estar registrado na ANS.

Outro exemplo importante das mudanças introduzidas pela Lei foi a

instituição da obrigatoriedade de informações. Isso permite à ANS promover

diversas análises e, em especial, acompanhar a evolução dos custos, condição

13

essencial para a autorização de aumento das mensalidades dos planos

individuais.

Os contratos de planos de saúde anteriores à lei 9656/98 foram

proibidos de ser comercializados. Com a regulamentação, os contratos

firmados entre usuários e operadoras de planos de saúde passaram a ter a

garantia de assistência a todas as doenças reconhecidas pela Organização

Mundial de Saúde, além de impedimento às restrições de número de consultas

e internações, dentre outros benefícios.

O mesmo aconteceu com os contratos antigos que não podiam ser

rescindidos unilateralmente pela operadora, as internações só podiam ser

encerradas por alta médica e as mensalidades dos planos individuais ou

familiares só poderiam ter aumento, desde que autorizadas expressamente

pela ANS.

Em adição, a legislação definiu os atributos essenciais e específicos

dos planos de saúde que servem de referência para todos os contratos que

venham a ser celebrados. Citado expressamente na Lei 9.656/98, o Plano

Referência é o modelo mínimo de cobertura a ser oferecida pelos planos de

saúde em comercialização.

1.2- ANS- Agencia Nacional de Saúde Suplementar

A AGENCIA NACIONAL DE SAUDE SUPLEMENTAR- ANS tem por

finalidade institucional promover a defesa do interesse público na assistência

suplementar à saúde, regular as operadoras setoriais - inclusive quanto às

suas relações com prestadores e consumidores - e contribuir para o

desenvolvimento das ações de saúde no País.

14

Foi criada pela Lei 9.961/2000 que definiu a sua finalidade, estrutura,

atribuições, sua receita, a vinculação ao Ministério da Saúde e a sua natureza.

O Conselho Nacional de Saúde Suplementar (CONSU) foi órgão antecessor da

ANS, possuindo as mesmas atribuições.

Segundo o Art.1º da lei 9961/2000, a ANS “ é , autarquia sob o regime

especial, vinculada ao Ministério da Saúde, com sede e foro na cidade do Rio

de Janeiro - RJ, prazo de duração indeterminado e atuação em todo o território

nacional, como órgão de regulação, normatização, controle e fiscalização das

atividades que garantam a assistência suplementar à saúde”.

Parágrafo único. A natureza de autarquia especial conferida à ANS é

caracterizada por autonomia administrativa, financeira, patrimonial e de gestão

de recursos humanos, autonomia nas suas decisões técnicas e mandato fixo

de seus dirigentes.

Deveres da ANS

Segundo o artigo 4º. da Lei 9.961/00, entre outras atribuições, são

obrigações da ANS: fiscalizar as atividades das operadoras de planos privados

de assistência à saúde e zelar pelo cumprimento das normas atinentes ao seu

funcionamento; exercer o controle e a avaliação dos aspectos concernentes à

garantia de acesso, manutenção e qualidade dos serviços prestados, direta ou

indiretamente, pelas operadoras de planos privados de assistência à saúde;

fiscalizar a atuação das operadoras e prestadores de serviços de saúde com

relação à abrangência das coberturas de patologias e procedimentos; articular-

se com os órgãos de defesa do consumidor visando a eficácia da proteção e

defesa do consumidor de serviços privados de assistência à saúde, observado

o disposto na Lei no 8.078, de 11 de setembro de 1990 (Código de Defesa do

Consumidor); zelar pela qualidade dos serviços de assistência à saúde no

âmbito da assistência à saúde suplementar.

15

1.3- CAMSS- Câmaras de Saúde Suplementar

A Câmara de Saúde Suplementar foi criada pela Lei 9656/98, e no ano

2000 se tornou órgão permanente e consultivo da ANS.

A razão para que ocorra periodicamente a atualização do rol de

procedimentos, é devido a evolução da medicina, inclusão de procedimentos

mais modernos e de melhor tecnologia,bem, como a exclusão de outros já

ultrapassados.

Desde janeiro de 1999, todos que aderiram aos planos de saúde a partir

daquela data passaram a ter cobertura garantida em vários procedimentos em

saúde. É o chamado rol de procedimentos, que é sempre revisado pelas

Câmaras de Saúde Suplementar( CAMSS) designadas com a participação de

representantes de vários segmentos da sociedade relacionados com

assistência à saúde suplementar e por órgãos do governo.

Compõem a Câmara de Saúde Suplementar, dentre outros órgãos do

governo e entidades representantes do setor de saúde suplementar:

- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DEFESA DO CONSUMIDOR( PROTESTE);

- CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA(CFO)

- MINISTERIO DA JUSTIÇA;

- MINISTERIO DA SAUDE;

-ASSOCIAÇÃO MEDICA BRASILEIRA(AMB).

De acordo com a ANS, desde a regulamentação feita pela lei 9656/98, o

rol de procedimentos passou por diversas mudanças, sendo algumas de suma

importância, como veremos adiante.

16

CAPÍTULO II

OS PLANOS DE SAÚDE

As empresas que atuam nessa área são divididas em três grupos, sendo:

1) Planos de saúde propriamente ditos( empresas de medicina de

grupo)- que oferecem assistência médica por meio de profissionais e

instalações próprias ou conveniadas, podendo também, em alguns

casos, reembolsar despesas. Exemplo: Amil.

2) Seguradoras- possuem hospitais ou médicos, mas credenciam

terceiros para prestar o atendimento, com isso dão ao cliente maior

liberdade de escolha, mas ele paga e depois é reembolsado, tais como:

a Golden Cross, Bradesco e Marítima.

3) Cooperativas médicas- são estruturadas pelos profissionais da área. O

beneficiário é atendido pela rede credenciada pela cooperativa.Ex:

Unimed

Na prática o que vale para o consumidor é que ele tem de pagar uma

mensalidade para ter direito ao serviço prestado. A diferença seria a liberdade

de escolha oferecida pelas seguradoras, mas algumas empresas de medicina

de grupo também fazem isso.

17

A saúde é um direito do cidadão, a ser garantido pelo Estado. O

Estado não garante. Então, as empresas privadas entram na área. Os serviços

privados de saúde deveriam ser um complemento ao sistema público, mas

serão considerados pela população e fazem publicidade nesse sentido como

um substituto.

2.1 Contratos estabelecidos pela Lei 9656/98

A legislação dividiu os contratos coletivos em dois grupos: empresarial e

por adesão.

Contrato coletivo empresarial é aquele firmado com um grupo

delimitado, vinculado à pessoa jurídica (um empregador, uma associação ou

um sindicato), que tem a adesão automática do grupo e pode incluir os

dependentes legais dos membros. Essa modalidade, em geral, está

relacionada com o contrato de trabalho.

Contrato coletivo por adesão é semelhante ao empresarial, no entanto

a adesão é espontânea, sendo opcional também a inclusão de dependentes.

Essa modalidade tem proliferado no mercado de consumo, e nem sempre o

corretor informa ao interessado a natureza jurídica da apólice coletiva. Por

isso, antes da contratação ou mudança de plano questione, pergunte sobre

essa condição ao corretor.

.

Outro fator que torna os planos coletivos mais interessantes às

operadoras consiste no fato de que, para este tipo de contratação a Lei

9.656/98 não proíbe, explicitamente, a suspensão ou rescisão unilateral por

parte da operadora, embora seja essa conduta proibida pelo Código de Defesa

do Consumidor.

18

No caso de planos individuais, não pode haver ruptura ou suspensão do

atendimento, salvo os casos de fraude ou não-pagamento da mensalidade por

período superior a sessenta dias, consecutivos ou não, nos últimos doze

meses de vigência do contrato.

Individual e familiar, são aqueles em que os contratos são feitos

diretamente pelo consumidor, sem intermediação de um empregador, sindicato

ou associação.

2.2 Características dos planos de saúde

Os planos privados de assistência à saúde oferecidos pelas Operadoras

seguem as diretrizes estabelecidas na Lei 9.656/98.

Determinadas características - como a modalidade da contratação, a

data da assinatura, a cobertura assistencial e a abrangência geográfica

submetem os contratos de forma diferenciada à legislação.

A ANS considera seis características básicas como as variáveis de

maior influência a serem consideradas pelo consumidor no momento de

contratar um plano de saúde.

Essas variáveis foram usadas para construir o perfil de plano ideal do

consumidor. São elas:

1) Abrangência - Área geográfica em que a operadora de plano de saúde

se compromete a garantir todas as coberturas de assistência à saúde

contratadas pelo beneficiário. Pode ser:

v Nacional - Compreende cobertura em todo o território nacional.

19

v Grupo de estados - Compreende cobertura em um grupo de dois ou

mais estados que não seja cobertura nacional.

v Estadual - Compreende cobertura em todos os municípios de um

estado.

v Grupo de municípios - Compreende cobertura em um determinado

grupo de municípios situados em um ou mais estados.

v Municipal - Compreende cobertura em apenas um município de apenas

um estado.

2) Cobertura- É o tipo de assistência à qual o consumidor terá direito,

podendo ser:

a) Ambulatorial - Garante consultas médicas em clínicas básicas e

especializadas, apoio diagnóstico, tratamentos e demais procedimentos

ambulatoriais definidos no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde

e em contrato, até 12 (doze) horas de atendimento, sem internação

hospitalar.

Incluem os atendimentos em regime ambulatorial, inclusive exames,

realizados em consultório ou ambulatórios. Este segmento, portanto, não cobre

internação hospitalar.

As coberturas da assistência ambulatorial, alem daquelas previstas na

legislação e no Rol de Procedimentos Médicos para a segmentação

ambulatorial, incluem entre outras:

- Consultas médicas em número ilimitado, realizadas em ambulatório ou

consultório, em todas as especialidades médicas;

20

- Consultas obstétricas para pré-natal, em número ilimitado;

- Serviços de apoio diagnóstico e tratamentos realizados em ambulatório ou

consultório;

- Procedimentos ambulatoriais (inclusive as cirurgias ambulatoriais), mesmo

quando realizadas em ambulatórios de hospital, desde que não caracterizem

internação;

- Cobertura de atendimentos caracterizados como de urgência ou emergência

pelo período de 12 horas;

- Remoção após realização dos atendimentos classificados como de urgência

ou emergência para a continuidade de atenção ao paciente, quando

caracterizada a falta de recursos na unidade ou pela necessidade de

internação;

- Procedimentos ambulatoriais que necessitem de anestesia local, sedação ou

bloqueio, quando realizados em ambulatório;

- Procedimentos considerados especiais, como por exemplo: hemodiálise e

diálise peritorial, quimioterapia ambulatorial, radiologia (megavoltagem,

cobaltoterapia, cesioterapia, eletroterapia, etc.), hemoterapia ambulatorial,

cirurgias oftalmológicas ambulatoriais.

São excluídos da assistência ambulatorial:

- Internação hospitalar;

21

- Procedimentos que, embora não necessitem de internação, precisem de

apoio de estrutura hospitalar por período superior a 12 horas ou de serviços

como recuperação pós-anestésica, UTI, CTI e similares;

- Procedimentos diagnósticos e terapêuticos em hemodinâmica;

- Procedimentos que exijam anestesia, salvo aqueles que podem ser

realizados em ambulatório, com anestesia local, sedação ou bloqueio;

- Quimioterapia intratecal ou as que demandem internação;

- Radiomoldagens, radioimplantes e braquiterapia;

- Nutrição enteral ou parental.

b) Hospitalar - Garante internação hospitalar para os procedimentos definidos

no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde e em contrato.

b.1 ) Plano hospitalar sem obstetrícia

Inclui os atendimentos realizados durante a internação hospitalar. Este plano

não tem cobertura ambulatorial.

Neste plano são cobertos os procedimentos previstos na legislação e no

Rol de Procedimentos Médicos para o segmento hospitalar sem obstetrícia,

incluindo, entre outros:

Internações em unidades hospitalares, inclusive em UTI/CTI, sem limitação de

prazo, valor máximo e quantidade;

Honorários médicos, serviços gerais de enfermagem e alimentação durante o

período de internação;

Exames de diagnóstico e de controle da evolução da doença durante o período

de internação;

Fornecimento de medicamentos, anestésicos, gases medicinais, transfusões,

sessões de quimioterapia realizadas durante o período de internação;

22

Toda e qualquer taxa, incluindo os materiais utilizados, durante o período de

internação;

Toda e qualquer taxa, incluindo os materiais utilizados, durante o período de

internação;

- Remoção do paciente para outra unidade hospitalar, quando

comprovadamente necessária, dentro dos limites da cobertura geográfica

previstos em contrato;

- Despesas do acompanhante para pacientes menores de 18 anos;

- Procedimentos buco-maxilares e procedimentos odontológicos passíveis de

realização em consultório, mas que, por determinação do médico assistente,

necessitem de internação hospitalar;

- Procedimentos considerados especiais, cuja necessidade esteja relacionada

à continuidade de assistência prestada em regime de internação hospitalar,

como por exemplo: hemodiálise e diálise peritonial, quimioterapia, radioterapia,

incluindo radiomoldagem, radioimplante e braquiterapia, hemoterapia, nutrição

parenteral e enteral, procedimentos diagnósticos e terapêuticos em

hemodinâmica; embolizações e radiologia intervencionista, exames pré-

anestésicos e pré-cirúrgicos, fisioterapia, cirurgia plástica reconstrutora de

mama para tratamento de mutilação decorrente de câncer, acompanhamento

clínico no pós-operatório imediato e tardio dos pacientes submetidos a

transplante de rim e de córnea, exceto medicação de manutenção.

São excluídos:

- Consultas ambulatoriais e domiciliares;

- Atendimento obstétrico, como por exemplo, pré-natal e parto;

-Tratamentos e procedimentos ambulatoriais;

-Atendimento para fins de diagnóstico, terapia ou recuperação.

b.2) Plano hospitalar com obstetrícia

23

Inclui os atendimentos realizados durante a internação hospitalar e os

procedimentos obstétricos, como por exemplo, pré-natal e parto.

As coberturas neste plano são aquelas previstas na legislação e no Rol

de Procedimentos Médicos para o segmento hospitalar com obstetrícia,

incluindo, entre outras:

- Procedimentos relativos ao pré-natal e assistência ao parto;

- Partos;

- Coberturas e benefícios para o recém-nascido: cobertura assistencial ao

recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor ou de seu dependente,

durante os primeiros 30 dias após o parto, inscrição assegurada como

dependente ao recém-nascido, filho natural ou adotivo do consumidor, isento

do cumprimento de carência, desde que a inscrição, desde que a inscrição

ocorra no prazo máximo de 30 dias do nascimento ou da adoção.

Vale ressaltar que a cobertura assistencial e a inscrição com isenção de

carência só alcançam o recém-nascido após o cumprimento de 300 dias de

carência pelo titular do plano.

São excluídos neste plano :

- Consultas ambulatoriais e domiciliares;

- Tratamentos e procedimentos ambulatoriais não relacionados ao pré-natal;

- Atendimento para fins de diagnósticos, terapia ou recuperação.

c) Obstétrica - Quando contratada acompanha o plano hospitalar, garantindo

o pré-natal a atenção ao parto e ao recém-nascido e a inclusão do recém-

nascido no plano sem cumprimento de carência. ( vide item b.2)

24

d) Odontológica - Garante assistência odontológica, compreendendo

procedimentos realizados em consultório que estejam definidos no Rol de

Procedimentos e Eventos em Saúde e em contrato.

As coberturas previstas neste plano são aquelas previstas na legislação

e no Rol de Procedimentos Odontológicos, incluindo:

- Consultas e exames clínicos;

- Exames auxiliares ou complementares, solicitados pelo odontólogo

assistente;

- Procedimentos preventivos;

- Procedimentos de dentística (restaurações);

- Endodontia (tratamento de canal);

- Periodontia (tratamentos de gengiva);

- Cirurgias orais menores, assim consideradas as realizadas em ambiente

ambulatorial e sem anestesia geral.

São excluídos da cobertura do plano odontológico:

- Procedimentos de prótese, tratamento ortodôntico e aqueles não listados no

Rol de Procedimentos Odontológicos da ANS.

A cobertura pode ainda combinar dois ou mais tipos de assistência

dentre os expostos acima.

3) Acomodação - Define o padrão de acomodação do leito de internação nos

planos hospitalares. O padrão de acomodação pode ser:

• Individual - garante o direito ao usuário do plano de saúde no

caso de uma internação poder ficar em quarto

particular(apartamento) com banheiro privativo e acompanhante

em tempo integral.

25

• Coletiva - é aquela onde o paciente fica internado com mais três

pessoas no máximo e só garante o direito a acompanhante para

pessoas até 18 anos ou com mais de 59 anos em enfermaria.

3) Fator moderador- é o mecanismo previsto em contrato que inclui a

participação do consumidor no pagamento de um procedimento

realizado ou a ser realizado através do plano de saúde. Dessa forma, o

valor mensal do plano de saúde varia conforme a utilização, podendo

ocorrer de duas maneiras: franquia e co-participação.

4) Faixa de Preço- é o intervalo de preço em que se enquadra o valor

comercial da mensalidade do plano que garante a prestação continuada

dos serviços contratados.

Um mesmo plano pode possuir diferentes faixas de preço,

dependendo do município onde será contratado. Outro fator de influência

decisivo na composição do preço do plano é a faixa etária do beneficiário.

Foram definidas cinco faixas de preço para cada faixa etária, as quais

classificam o plano qualitativamente no universo de planos de saúde

oferecido no mercado brasileiro.

Os valores quantitativos das faixas de preço foram calculados de

acordo com uma metodologia definida pela ANS, a qual expressa as

variações de preço dos planos segundo uma lógica estatística.

5) Plano referência- É a modalidade mais ampla de plano que garante a

assistência ambulatorial, hospitalar e obstétrica em todo o território brasileiro,

com padrão de acomodação enfermaria. É obrigatório para as operadoras

oferecerem o Plano Referência aos consumidores.

26

As Coberturas do plano de referencia são aquelas relacionadas para o

plano com cobertura ambulatorial somadas às previstas para o plano com

cobertura hospitalar com obstetrícia, constantes na legislação e do Rol de

Procedimentos Médicos.

Havendo indisponibilidade de leito em enfermaria nos estabelecimentos

próprios ou credenciados pelo plano, é garantido ao consumidor o acesso à

acomodação em nível superior, sem ônus adicional.

2.3 EXCLUSÕES PARA TODOS OS TIPOS DE PLANOS (CONTRATOS

NOVOS E ADAPTADOS)

De acordo com a legislação, esses procedimentos não são

obrigatoriamente cobertos pelas operadoras de planos de saúde:

- Tratamento em clínicas de emagrecimento (exceto para tratamento de

obesidade mórbida);

- Tratamento em clínicas de repouso, estâncias hidrominerais, clínicas para

acolhimento de idosos, internações que não necessitam de cuidados médicos

em ambiente hospitalar;

- Transplantes, à exceção de córnea e rim;

- Tratamento clínico ou cirúrgico experimental;

- Procedimentos clínicos ou cirúrgicos para fins estéticos;

- Fornecimento de órteses, próteses e seus acessórios, não ligados ao ato

cirúrgico ou para fins estéticos;

- Fornecimento de medicamentos importados, não nacionalizados (fabricados

e embalados no exterior);

- Fornecimento de medicamentos para tratamento domiciliar;

Inseminação artificial;

- Tratamentos ilícitos,antiéticos ou não reconhecidos pelas autoridades

competentes;

27

- Casos de cataclismos, guerras e comoções internas declaradas pelas

autoridades competentes.

2.4 PLANOS QUANTO À DATA DE ASSINATURA

CONTRATO NOVO é o contrato celebrado depois da vigência da Lei

9.656/98. Todos os contratos celebrados a partir de 1º de janeiro de 1999 têm

que ter registro na ANS e estão totalmente sujeitos à nova legislação.

CONTRATO ADAPTADO - É o contrato antigo adaptado às normas

estabelecidas na lei 9.656/98. O contrato adaptado tem que ter registro na

ANS e está totalmente submisso à nova legislação.

CONTRATO ANTIGO- é aquele celebrado antes da vigência da Lei

9.656/98 que não foram adaptados às novas regras estabelecidas. Os

contratos antigos não podem mais ser comercializados. Eles permanecem

válidos apenas para os consumidores que não optarem pela adaptação às

novas regras, mas são intransferíveis (sua transferência é vedada a terceiros

sob qualquer pretexto) e suas condições são garantidas apenas ao titular e aos

dependentes já inscritos. É permitido, somente, a inclusão de novo cônjuge e

filhos.

2.5 PLANOS QUANTO AO TIPO DE COBERTURA ASSISTENCIAL

COBERTURA ASSISTENCIAL é a denominação dada ao conjunto de

direitos (tratamentos, serviços, procedimentos médicos, hospitalares e/ou

odontológicos) a que um usuário faz jus pela contratação de um plano de

saúde.

28

Independente da forma de contratação - contrato individual ou coletivo -

desde a entrada em vigor da Lei 9.656/98, para evitar futuras negativas de

assistência, é obrigatório constar de forma clara no contrato a cobertura

assistencial que está sendo oferecida.

De acordo com a legislação, um plano de saúde pode oferecer dois

tipos de cobertura: a cobertura integral do Plano Referência ou a cobertura

integral por segmento (ambulatorial, hospitalar, hospitalar com obstetrícia ou

odontológico).

A lei não impede, contudo, a comercialização de planos com coberturas

e características superiores às do Plano Referência, como aqueles com

diferentes condições de acomodação ou com cobertura para procedimentos

não obrigatórios como, por exemplo, as cirurgias estéticas.

2.6 PLANOS QUANTO À FORMA DE CONTRATAÇÃO

A Lei reconhece a diferença entre os contratos negociados

exclusivamente por um indivíduo para si e para a sua família e aqueles

negociados para grupos maiores de pessoas.

Individual ou familiar- contrato assinado entre um indivíduo e uma

Operadora de planos de saúde para assistência à saúde do titular do plano

(individual) ou do titular e de seus dependentes (familiar).

Coletivo com patrocinador- Planos contratados por pessoa jurídica

com mensalidade total ou parcialmente paga à operadora pela pessoa jurídica

contratante. Inclui também os contratos mantidos por autogestão em que o

beneficiário paga parcialmente a mensalidade.

29

Coletivo sem patrocinador- Planos contratados por pessoa jurídica

com mensalidade integralmente paga pelo beneficiário diretamente à

operadora.

2.7 CLASSIFICAÇÃO DAS OPERADORAS

Operadoras de Planos de Assistência à Saúde são as empresas e

entidades que atuam no setor de saúde suplementar oferecendo aos

consumidores os planos de assistência à saúde.

A ANS definiu 8 modalidades de operadoras:

1) Administradora: empresas que administram planos ou serviços de

assistência à saúde, mas que não assumem o risco decorrente da

operação desses planos. Podem ser de dois tipos: administradora de

planos, que não possuem rede própria, credenciada ou referenciada;

Administradora de serviços, que podem ou não possuir rede própria.

2) Cooperativa Médica: sociedade de pessoas sem fins lucrativos,

coordenadas por médicos e que oferecem serviços médicos.

3) Cooperativa Odontológica: sociedade de pessoas sem fins lucrativos,

que oferecem serviços odontológicos e são coordenadas

exclusivamente por dentistas.

4) Autogestão: entidades de autogestão que operam serviços de

assistência à saúde empresas que, por intermédio do departamento de

recursos humanos, responsabilizam-se pelo Plano Privado de

Assistência à Saúde destinado, exclusivamente, a oferecer cobertura

30

aos empregados ativos, aposentados, pensionistas e ex-empregados

de uma ou mais empresas, associações de pessoas físicas ou jurídicas,

fundações, sindicatos, entidades de classes profissionais ou

assemelhados.Podem ser patrocinadas ou não patrocinadas.

5) Medicina de Grupo: empresas ou entidades que operam Planos

Privados de Assistência à Saúde, cujas características não se adequem

à definição de administradora, cooperativa médica, autogestão ou

instituição filantrópica.

6) Odontologia de Grupo: empresas ou entidades que operam,

exclusivamente, Plano Odontológicos, exceto as classificadas como

cooperativa odontológica.

7) Instituições Filantrópicas: entidades sem fins lucrativos que tenham

obtido certificado de entidade filantrópica junto ao Conselho Nacional

de Assistência Social (CNAS) e declaração de utilidade pública federal

junto ao Ministério da Justiça ou declaração de utilidade pública

estadual ou municipal junto aos órgãos de governos estaduais e

municipais.

8) Seguradoras Especializadas em Saúde: sociedades com fins

lucrativos que comercializam “seguros de saúde” e que oferecem,

obrigatoriamente, reembolso das despesas médico-hospitalares ou

odontológicas. Os contratos são denominados apólices e devem conter

informações como limites de reembolso, cobertura, abrangência

geográfica, entre outros.

31

CAPÍTULO III

MUDANÇAS NO SETOR DE PLANOS DE SAÚDE E O COMBATE ÀS

PRATICAS ABUSIVAS

Recentemente a 4ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, entendeu ser

abusiva a cláusula contratual que exclui o tratamento da AIDS dos planos de

saúde:

CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL. CONTRATO. PLANO DE

SAÚDE.AIDS. EXCLUSÃO DE COBERTURA. CLÁUSULA POTESTATIVA.

PRECEDENTES. PROVIMENTO. I. É abusiva a cláusula contratual inserta em

plano de assistência à saúde que afasta a cobertura de tratamento da

síndrome de imonudeficiência adquirida (AIDS/SIDA). II. As limitações às

empresas de prestação de serviços de planos e seguros privados de saúde em

benefício do consumidor advindas com a Lei 9.656/98 se aplicam, em

princípio, aos fatos ocorridos a partir de sua vigência, embora o contrato tenha

sido celebrado anteriormente, porquanto cuida-se de ajuste de trato sucessivo

. Precedente.III. Recurso especial provido. REsp 650400 (2004/0051165-9 -

05/08/2010)

32

Em casos assim, o usuário do plano de saúde precisa recorrer à Justiça

para ter seu direito reconhecido. Muitas vezes tem que recorrer até a ultima

instancia, pois nem sempre consegue em primeira instancia o tratamento, ou

procedimento que necessita.

Já é entendimento consolidado do STJ que é abusiva a cláusula que

afasta o tratamento de doenças infectocontagiosas de notificação compulsória,

como a AIDS, que é uma das doenças listadas na Lei n.º 9.656/98cujo o

tratamento é obrigatório.

Outra decisão importante, e já foi objeto da Súmula n.º 302 do mesmo

Tribunal, determinou ser nula a clausula que limita o período de internação dos

pacientes, por ser impossível estipular previamente qual o tempo necessário

para a convalescença.

Sumula n.º302 do STJ: “É abusiva a cláusula contratual de plano de

saúde que limita no tempo a internação hospitalar do segurado

Essa súmula já foi aplicada por analogia em casos onde se concluiu que se

não é possível limitar o tempo de internação, também não se pode limitar

quantidade de sessões de radioterapia ou quimioterapia, por exemplo.

A boa fé de que trata o Art.51, IV do Código de Defesa do Consumidor

é objetiva, está relacionada com honestidade e se desdobra no princípio da

transparência, cuja abrangência alcança a fase pré contratual e antecede o

princípio do equilíbrio contratual. No momento de assinatura do contrato de

plano de saúde, como em qualquer outro,o consumidor deve ter informações

claras, adequadas e suficientes para que exista o equilíbrio contratual. Não

deve haver vantagem excessiva ao fornecedor de serviços em detrimento ao

consumidor. Quando existe desequilíbrio no contrato, ocorrem as clausulas

abusivas( contrárias aos valores éticos da sociedade), que imputam

desvantagem excessiva ao consumidor.

33

Ora, se os contratos de planos de saúde têm natureza de relação de

consumo, e o objetivo desse contrato é a preservação da saúde do aderente,

não há que se falar em negativa das despesas com tratamentos de doenças

graves.

Quanto às práticas abusivas, o CDC descreve-as no Art. 39, e, tal qual

as cláusulas abusivas, o faz exemplificativamente, pois também aqui, emprega

a expressão "dentre outras". No que tange aos planos ou seguros de saúde,

interessa especificamente o inciso V, que considera prática abusiva exigir do

consumidor vantagem manifestamente excessiva. Para identificá-la, deve o

intérprete valer-se da regra do § 1º do Art. 51, que trata da "desvantagem

exagerada" em relação ao consumidor. Ou seja, a que ofende os princípios

fundamentais do sistema jurídico, valendo dizer, a prática que esteja em

desacordo com as finalidades fixadas na norma-objetivo do Art. 4º. Assim,

caracteriza-se a "vantagem manifestamente excessiva" como a que é obtida

por má fé, por malícia, por subterfúgios, embotamento da verdade, publicidade

enganosa.

O Código de Defesa do Consumidor diz que são ilegais, e portanto

nulas, as cláusulas contratuais que estabeleçam obrigações iníquas, abusivas,

que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam

incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade. Para a Lei, é considerada

exagerada, entre outros casos, a vantagem do fornecedor - no caso a

operadora de plano de saúde - , que ofende os princípios fundamentais do

sistema jurídico a que pertence; restringe direitos ou obrigações fundamentais

inerentes à natureza do contrato, ameaçando seu objeto ou o equilíbrio

contratual; e/ou que se mostre excessivamente onerosa para o consumidor,

considerando a natureza e o conteúdo do contrato, o interesse das partes e

outras circunstâncias peculiares ao caso.

34

As regras que restringem o direito à assistência à saúde devem ser

questionadas, uma vez que a natureza desse serviço é exatamente prestar

assistência à saúde do usuário.

O Poder Judiciário tem reconhecido a aplicação do CDC aos planos de

saúde e afastado cláusulas abusivas em reiterados precedentes dos Tribunais

de Justiça (TJ) e do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

3.1 EXEMPLOS DE PROBLEMAS ENFRENTADOS PELOS

CONSUMIDORES

a) Alta hospitalar antes da hora- significa abreviar a duração da internação

hospitalar, inclusive nos casos de UTI, em que o tratamento é mais delicado.

Somente o médico pode decidir quando é hora de o paciente deixar o leito

hospitalar ou ser transferido de uma UTI para um leito comum do hospital.

b) Reajustes de mensalidade sem autorização do governo- essa é uma das

causas mais freqüentes de reclamações do setor. O consumidor deve ser

informado sobre o porcentual a ser aplicado e qual o número do processo

registrado na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), que autoriza o

aumento.

c) Responsabilidade solidária- No caso de erro médico, o STJ tem entendido

que mesmo não havendo responsabilidade direta do plano de saúde, ele deve

ser responsabilizado pela falha do medico credenciado, quando o usuário não

pode escolher o profissional.

35

c) Negativa de cobertura para doenças pré existentes - Consiste em negar

o direito a tratamento de determinadas doenças sob a alegação de que elas já

existiam quando o consumidor contratou o plano de saúde (denominadas

preexistentes). O argumento é usado mesmo quando o diagnóstico do

problema é dado depois da assinatura do contrato. A questão é que, em geral,

não são realizados exames prévios para constatar se a pessoa tem ou não

alguma doença. Vale a declaração assinada pelo consumidor na hora de

adquirir o plano. Na prática, o atendimento não pode ser negado até que se

comprove a verdade dos fatos.

d) Recusa de tratamentos com tecnologias de última geração – se não há

clausula que exclui expressamente a cobertura de determinado procedimento,

e ainda que conste no contrato, a cláusula deve ser destacada, senão a

empresa não pode negar atendimento. O paciente tem direito aos tratamentos

que se valem de tecnologias com as mais recentes aquisições da ciência e da

medicina, ainda não listadas pela Associação Médica Brasileira.

e) Casos de urgência e emergência- Infelizmente ainda existem casos em

que o paciente para ser atendido tem que apresentar uma série de

documentos, ou mesmo a autorização previa do plano. Ainda que haja atraso

na mensalidade, se é um caso de urgência/emergência, o consumidor não

pode ser atendido somente após cumprir os procedimentos burocráticos do

hospital. A exigência de cheque caução, outra pratica abusiva e ilegal, também

é incluída nesse item.

f) Cancelamento unilateral do plano- Há apenas dois casos em que os

contratos individuais de plano de saúde podem ser cancelados, de forma

unilateral, por parte da empresa: fraude (informações falsas) ou falta de

pagamento após sessenta dias.

36

g)Descredenciamento de médico ou hospital -Quando uma empresa

descredencia um médico ou hospital deve comunicar aos clientes e à ANS,

com um prazo de trinta dias de antecedência, providenciando substituição

imediata no mesmo padrão. Não é raro acontecer essa ausência de aviso

prévio, o que prejudica o associado, seja interrompendo o tratamento por

algumas semanas, seja ficando sem o profissional com o qual estabeleceu

uma relação de confiança.

h) Exigência de carência para recém-nascidos - Um filho recém-nascido

pode ser alvo de uma irregularidade: ter atendimento médico recusado sob

argumento de que ele não ainda está inscrito no seguro. A lei garante a

inscrição ao filho recém-nascido como dependente, isento de carências, desde

que ela ocorra no prazo máximo de trinta dias após o nascimento. A criança

cujo parto foi coberto pelo plano de saúde e nasce com doença congênita tem

assistência garantida nos primeiros trinta dias. Se nesse período ela for inscrita

num plano da mesma operadora, não precisará cumprir carência, pagar agravo

nem se submeter à cobertura parcial temporária.

i) Restrições para urgências durante o período de carência -As empresas

não podem estabelecer restrições para os casos de urgência e emergência no

plano referência, que é o mais completo de todos. Dessa forma, o atendimento

nessas situações está garantido depois de 24 horas da assinatura do contrato.

Mesmo para o plano hospitalar o Procon, baseado em parecer da Secretaria

da Saúde, em São Paulo, entende que a cobertura deve ser integral após 24

horas.

j) Considerar algumas cirurgias como estéticas - Já há decisão em vários

tribunais do país no sentido de não considerar algumas cirurgias de varizes,

seios e, especialmente, de obesidade mórbida como estéticas, ao contrário da

avaliação dos administradores dos planos de saúde. Por isso, devem ser

cobertas igualmente pela empresa.

37

3.2 ALGUMAS JURISPRUDENCIAS DOS TRIBUNAIS BRASILEIROS A

RESPEITO DAS CLAUSULAS ABUSIVAS:

SEGURO-SAÚDE. DOENÇA INFECTO-CONTAGIOSA PREEXISTENTE.

RECUSA DE COBERTURA - EXAME PRÉVIO OU MÁ-FÉ DO SEGURADO. 1.

É ilícita a recusa da cobertura securitária, sob a alegação de doença

preexistente à contratação do seguro-saúde, se a Seguradora não submeteu a

segurada a prévio exame de saúde e não comprovou má-fé. (Resp

263.564/SP, Terceira Turma, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJ de

17/05/2004).

AÇÃO INDENIZATÓRIA. DANO MORAL. PLANO DE SAÚDE. RECUSA

INDEVIDA NA COBERTURA DE CIRURGIAS. O reconhecimento, pelas

instâncias ordinárias, de circunstâncias que excedem o mero descumprimento

contratual torna devida a reparação moral. Recurso especial não conhecido.

(REsp 714947/RS. RECURSO ESPECIAL 2004/0182773-7. Rel. Ministro

CESAR ASFOR ROCHA. T4 - QUARTA TURMA. DJ 29.05.2006 p. 256).

CONSUMIDOR E PROCESSUAL CIVIL.SEMEG. PLANO DE SAÚDE

CONTRATADO PELA PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. ENTE

FEDERATIVO QUE ATUA COMO ESTIPULANTE. INTERESSE NA LIDE.

INEXISTÊNCIA. COMPETÊNCIA DA VARA DE FAZENDA PÚBLICA

AFASTADA. ATENDIMENTO MÉDICO. NEGATIVA DE ATENDIMENTO.

EXCLUSÃO DE COBERTURA EM CASO DE ACIDENTE DE TRABALHO.

INEXISTÊNCIA DE CLÁUSULA NO CONTRATO PREVENDO TAL

38

EXCLUSÃO. INADIMPLEMENTO CONTRATUAL. RISCO DE VIDA PARA O

SEGURADO. EXISTÊNCIA. DANO MORAL. VERBA FIXADA COM

MODERAÇÃO. REFORMA. NECESSIDADENão existindo cláusula excluindo a

cobertura em caso de acidente de trabalho, não pode o plano de saúde negar

atendimento ao beneficiário com base em cláusula inexistente. Ainda que

houvesse tal cláusula, a mesma seria abusiva, considerando que o plano foi

contratado pelo empregador com a qual a esposa do recorrido mantém vínculo

empregatício, já que frustra as expectativas do consumidor em ser amparado

em caso de acidentes desta natureza.A situação vivida pelo primeiro apelante

ultrapassou o mero aborrecimento, visto que em razão da recusa de cobertura

foi obrigado a dar continuidade ao tratamento em hospital público, frustrando

todas as suas expectativas de ser atendido em hospital particular através de

plano que estava afeto..Precedentes do TJERJ.Preliminar de incompetência do

juízo afastada. Recurso improvido.(Apelação- 0000011-69.2006.8.19.0210

(2009.001.50923-2ª Ementa -DES. LINDOLPHO MORAIS MARINHO -

Julgamento: 10/11/2009 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL TJ/RJ )

DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO INOMINADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO

DE FAZER CUMULADA COM PEDIDO INDENIZATÓRIO. PLANO DE

SAÚDE. RELAÇÃO DE CONSUMO. DESCONTO DA MENSALIDADE EM

FOLHA DE PAGAMENTO. CELEBRAÇÃO DE ACORDO PARA

PAGAMENTO DE DÉBITO RELATIVO A PARTICIPAÇÃO. NÃO

RECEBIMENTO DO BOLETO. RESCISÃO UNILATERAL DO CONTRATO.

CLÁUSULA ABUSIVA. DANOS MORAIS CONFIGURADOS.

ARBITRAMENTO DA VERBA COMPENSATÓRIA EM IMPORTE RAZOÁVEL

E PROPORCIONAL. SENTENÇA QUE JULGA PROCEDENTES OS

PEDIDOS. DECISÃO MONOCRÁTICA QUE A MANTÉM. A relação em

análise, induvidosamente, é de consumo, o que faz incidir sobre a mesma as

normas protetivas do Código de Defesa do Consumidor que são de ordem

pública e interesse social. Ré que, na condição de prestadora de serviço,

responde de forma objetiva pelos defeitos decorrentes do serviço prestado.

39

Ilicitude no atuar da demandada caracterizada pela rescisão unilateral do

contrato. Autor adimplente quanto a mensalidade. Cláusula de cancelamento

constante do acordo celebrado que se afigura abusiva. Função social do

contrato e boa fé objetiva que restaram inobservados pela demandada. Danos

morais configurados e caracterizados, in re ipsa. Arbitramento da verba

compensatória de forma razoável e proporcional. Desprovimento do recurso.

Apelação- 2ª ementa- (0028692-26.2008.8.19.0001 - DES. CARLOS SANTOS

DE OLIVEIRA - Julgamento: 22/06/2010 - NONA CAMARA CIVEL

PLANO DE SAÚDE. CIRURGIA BARIÁTRICA. NECESSIDADE DE

REALIZAÇÃO DE CIRURGIA PLÁSTICA REPARADORA. INDICAÇÃO

MÉDICA. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DANO MORAL.

CONFIGURAÇÃO. Negativa da ré de cobertura de cirurgia plástica reparadora.

Inicialmente cumpre destacar a aplicação do Código de Defesa do Consumidor

à relação jurídica em questão. Interpretação dos contratos que deve ser feita

num contexto prezando por sua função social, zelando para que não

desrespeitem preceitos de ordem pública, para que não contenham em seu

texto cláusulas abusivas e para que mantenham o efetivo equilíbrio entre as

partes, não sendo fonte de vantagem excessiva ou enriquecimento ilícito de

um dos contratantes à custa do outro e observando, ainda, o princípio da boa

fé objetiva. Tratando-se de contrato de adesão, as cláusulas devem ser

interpretadas da forma mais favorável ao consumidor, uma vez que qualquer

dispositivo contratual que limite o alcance do atendimento médico reclamado

importa em se considerar que tal restrição se afigura abusiva, sendo, portanto,

nula, a teor do artigo 51 do CDC. A toda evidência a cobertura da obesidade

mórbida deve englobar todos os procedimentos médicos necessários ao

tratamento, não se afigurando plausível que o plano de saúde prestador do

serviço recuse-se a cobrir determinado procedimento, garantindo apenas a

cirurgia bariátrica. A cirurgia plástica foi indicada pelo médico da autora como

tratamento necessário à doença que a acomete, sendo tal conclusão acolhida

40

pelo perito nomeado pelo Juízo que, inclusive, afirmou não tratar-se de cirurgia

estética, mas reparadora. Assim, constatada a violação do direito da autora,

faz ela jus a obter provimento que lhe garanta o pleno custeio do tratamento

que o médico responsável julgue ser o mais indicado a sua doença. No que

tange à ocorrência de dano, no caso em análise, a autora encontrava-se

inegavelmente em situação de grande fragilidade física e psicológica em

decorrência dos problemas de saúde apresentados, sendo a recusa da ré em

autorizar a realização de cirurgia fato capaz de gerar sofrimento que vai além

de mero aborrecimento quotidiano, caracterizando o dano moral in re

ipsa..Recurso ao qual se nega seguimento. ( Apelação -0010587-

24.2006.8.19.0210 (2009.001.59852) - 1ª Ementa DES. MARIO ASSIS

GONCALVES - Julgamento: 10/03/2010 - TERCEIRA CAMARA CIVEL TJ/RJ)

CONSUMIDOR. PLANO DE SAÚDE. REDE CREDENCIADA. LEI 9.656/98.

DESCREDENCIAMENTO DE HOSPITAIS DA REDE CONVENIADA.

NECESSIDADE DE PRÉVIA NOTIFICAÇÃO AO CONSUMIDOR. DANO

MORAL. CONFIGURAÇÃO. Da análise dos documentos juntados aos autos,

entretanto, constata-se a indicação do referido hospital como credenciado para

casos de urgência e na categoria "hospital geral". Existência, ainda, de

prontuários médicos que comprovam que a autora fora atendida inúmeras

vezes no mesmo local fato este que leva à conclusão de tratar-se de hospital,

ao menos a princípio, credenciado para atendimento dos conveniados à

empresa ré. Destaque-se, primeiramente, não ter o consumidor direito

subjetivo de impor ao plano de saúde a que se encontra filiado o

credenciamento de determinado médico ou hospital. A Lei 9.656/98, que rege

os planos e seguros privados de assistência à saúde, em seu artigo 17,

parágrafo primeiro, preceitua ser possível a substituição das instituições

credenciadas por outras, desde que mantida equivalência entre estas e com

prévio aviso ao consumidor - trinta dias - da substituição realizada. Tal

comunicação não foi comprovada no presente caso, restando evidenciada a

recusa ilegítima de internação pela ré. Dano moral. Afastamento da incidência

do verbete sumular nº 75 do TJERJ, tendo em vista que, no caso em análise, a

41

negativa em efetuar o atendimento médico-hospitalar gerou sofrimento que vai

além de mero aborrecimento quotidiano, caracterizando o dano moral. O

montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), arbitrado na sentença, mostra-se

compatível com o valor fixado por este Tribunal em casos semelhantes, sendo

consentâneo com a repercussão dos fatos narrados nestes autos e com os

princípios da razoabilidade e da proporcionalidade. Recursos aos quais se

nega provimento. APELACAO - 1ª Ementa 0041449-18.2009.8.19.0001 -

DES. MARIO ASSIS GONCALVES - Julgamento: 22/06/2010 - TERCEIRA

CAMARA CIVEL

3.3 ROL DE PROCEDIMENTOS

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) determina a lista de

consultas, atendimentos, exames e tratamentos com cobertura obrigatória nos

planos de saúde.

Essa lista, denominada Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, é a

referência de cobertura mínima obrigatória para cada segmentação de planos

de saúde (ambulatorial, hospitalar com ou sem obstetrícia e plano referência),

contratados pelos consumidores a partir de 02 de janeiro de 1999. Assim, o rol

define para cada procedimento as segmentações de planos de saúde que

devem ou não cobri-lo.

O rol define também a cobertura obrigatória para odontologia, para os

procedimentos classificados como de alta complexidade e para cirurgias. É

importante observar que procedimentos de alta complexidade e cirurgias são

passíveis de carência temporária de até 24 meses quando indicados no

tratamento de doenças que o contratante do plano saiba ser portador quando

da assinatura do contrato.

Em 07 de junho de 2010, entrou em vigor a nova versão do Rol de

Procedimentos e Eventos em Saúde. A partir dessa data, todos os planos

42

novos (contratados após 1º de janeiro de 1999) devem cumprir a Resolução

Normativa nº 211, publicada em 12 de janeiro de 2010. O Rol 2010 amplia a

cobertura mínima obrigatória para os beneficiários de planos de saúde e passa

a listar, a um só tempo, tanto os procedimentos médicos quanto os

odontológicos. Dentre as alterações previstas, destacam-se a inclusão de

cobertura obrigatória para:

- diversas cirurgias torácicas realizadas por vídeo;

- novas tecnologias, como implante de marcapasso multissítio e pet-scan

oncológico para determinadas indicações;

- transplante alogênico de medula óssea;

- número maior de sessões de fonoaudiologia, terapia ocupacional, psicologia

e nutricionista para determinadas patologias e

- coroa unitária e bloco, no caso de segmentação odontológica.

Sem dúvida, a Lei 9.656/98 trouxe alguns avanços como a definição da

lista da Organização Mundial da Saúde como referência para a cobertura de

procedimentos; o estabelecimento de critérios para a entrada, funcionamento e

saída de empresas no setor; a transferência para a área governamental da

saúde da responsabilidade pela regulação e fiscalização das operadoras, tanto

em relação aos aspectos assistenciais como àqueles ligados à atividade

econômica.

Os aumentos abusivos, as exclusões de coberturas, a falta de

fiscalização do setor, as "quebras" de operadoras e as conseqüências graves

para os usuários, entre muitos outros abusos, continuam aí - de um jeito ou de

outro, para usuários que têm contratos antigos e para os que têm novos.

3.4 PORTABILIDADE DE CARÊNCIAS

43

Uma grande novidade nos últimos tempos no setor de planos de saúde

é a portabilidade, que é a possibilidade do consumidor mudar de plano de

saúde sem precisar cumprir novas carências - prazo em que não se pode

acessar procedimentos como consultas, exames e cirurgias. Ou seja, o

consumidor leva (porta) para o novo plano os prazos de carência que cumpriu

no plano anterior. A portabilidade foi regulamentada pela Agência Nacional de

Saúde Suplementar (ANS) por meio da Resolução Normativa nº 186, de

janeiro de 2009.

A partir de 15 de abril de 2009, os beneficiários de planos individuais de

assistência médica com ou sem odontologia e de planos exclusivamente

odontológicos contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei nº

9.656/98, estão aptos a exercer a portabilidade de carências.

As regras da ANS são restritivas e permitem a portabilidade de carência

somente se:

- o contrato for novo ou adaptado: contratos assinados ou adaptados a partir

de janeiro de 1999;

- o contrato for individual: plano de saúde que o consumidor contrata

diretamente com a operadora, sem intermediação de uma pessoa jurídica

(empresa empregadora, associação, sindicato etc.);

- o consumidor estiver na operadora da qual se pretende sair por pelo menos

dois anos. Se o usuário descobriu que tem doença ou lesão preexistente

depois que assinou o primeiro contrato, o prazo sobe para três anos;

- o consumidor estiver adimplente no plano do qual quer sair;

44

-a operadora da qual o consumidor quer sair não estiver sendo submetida a

alienação compulsória de carteira, oferta pública de cadastro de beneficiários

ou liquidação extrajudicial.

Se o consumidor portou a carência de um plano para outro, terá que

esperar mais 2 anos para exercer esse direito de novo.

Ficam de fora todos os contratos antigos (assinados antes de janeiro de

1999 e não adaptados) e os contratos coletivos. Ou seja, a regra da

portabilidade não vale para 87% dos contratos de planos de saúde.

Segundo as regras da ANS, o consumidor somente pode portar o plano

de saúde sem cumprir novas carências no mês de aniversário de seu contrato

e no mês seguinte.

Caso o consumidor deseje mudar de plano nos demais meses e não

queira ou não possa esperar, deve negociar com a operadora para a qual

pretende ir, a fim de que não sejam exigidas carências ou sejam diminuídas.

A ANS estabeleceu que somente é possível portar carência para planos

de saúde equivalentes ou inferiores ao plano de saúde do qual o consumidor

quer sair.

Em planos de contratação familiar, a portabilidade de carências poderá

ser exercida individualmente por cada beneficiário ou por todo o grupo familiar.

Na hipótese de contratação familiar em que o direito à portabilidade de

carências não seja exercido por todos os membros do grupo, o contrato é

mantido, extinguindo-se o vínculo apenas daqueles que exerceram o referido

direito.

45

A operadora não poderá impor custas adicionais para o consumidor que

está exercendo o seu direito de portabilidade de carências e nem cobrar preço

diferenciado.

A operadora do plano de destino deverá concluir a análise da proposta e

enviar resposta conclusiva e, devidamente justificada, no prazo máximo de 20

dias, informando se o consumidor atende aos requisitos para exercício da

portabilidade. Se a empresa não se manifestar nesse prazo, considera-se que

o consumidor cumpre os requisitos. Aceito o consumidor, o novo contrato do

consumidor entra em vigor no prazo de 10 dias.

Enquanto a portabilidade não for concretizada, o consumidor não perde

seu vínculo com a operadora anterior. Cabe à nova operadora informar à

antiga a data de início da vigência do contrato.

Caso o consumidor não atenda aos requisitos, a operadora do plano de

destino poderá recusar a proposta de adesão pela regra de portabilidade de

carências, tendo o dever de devolver quaisquer valores que tenha recebido.

O consumidor pode negociar com a operadora para a qual pretende ir,

caso as regras de portabilidade não se apliquem ao seu plano, para que não

sejam exigidas carências ou sejam diminuídas.

46

CONCLUSÃO

O consumidor está mais protegido e obteve muitos ganhos em relação

aos planos de saúde. Mas ainda há muitos desafios a serem enfrentados.

A ANS foi criada com o desafio de enfrentar o setor de saúde vindo de

uma realidade completamente diferente da atual. Como não havia regulação,

os usuários dos planos ficavam a mercê das operadoras, sem nenhum

respaldo legal, nada que os defendessem dos abusos cometidos.

Após todos esses anos os consumidores têm muito o que comemorar,

pois o setor passou a ter regras especificas, foi implementada a portabilidade

de carências, permitindo que o consumidor mude o plano sem cumprir novo

período de carências.

47

Ademais, hoje os planos são padronizados, facilitando assim a

comparação da rede credenciada, serviços e os preços das mensalidades

oferecidos pelas operadoras, a obrigatoriedade de atendimento de todas as

doenças, e as constantes mudanças no rol de procedimentos.

Com todos os mecanismos de defesa a seu favor, inclusive a própria

conscientização dos seus direitos, o consumidor passou a buscar auxilio no

junto a ANS, e ao Poder Judiciário contra as irregularidades que sempre

ocorreram, e ainda hoje, apesar da regulamentação, somos surpreendidos

com casos absurdos, de cirurgias ou exames não autorizados,

descredenciamento da rede etc.

Antes da regulamentação dos planos pela Lei 9656/98, as empresas de

planos de saúde, rescindiam unilateralmente os contratos, principalmente nos

casos de idosos ou de pessoas que adoeciam freqüentemente.

Às vezes como ultima opção, a procura pela Justiça para resolver os

conflitos enfrentados pelos consumidores junto as operadoras de saúde, não é

mais exclusividade dos usuários de planos antigo, anteriores à lei 9656, que

sempre tiveram muitos problemas para serem dignamente atendidos pelos

planos.

Muitas vezes, os beneficiários dos planos novos têm que recorrer ao

Judiciário para garantir procedimentos negados pelos planos.

Onze Anos da Lei de Planos de Saúde

Com a regulamentação do setor através da criação da lei 9656 e da

ANS, objetivou-se dirimir os conflitos existentes, mas o que se verifica ainda

hoje, apesar das conquistas obtidas, é que muitos problemas ainda

permanecem, e outros passaram a existir. Uma dessas conquistas é a

portabilidade de carências que estimula a concorrência no setor de saúde

suplementar, dando mais liberdade de escolha aos usuários..

48

O consumidor sabe que os problemas permanecem no setor. Todos que

têm planos de saúde passaram por restrições e abusos ou conhecem alguém

que passou por isso. São negativas de atendimento, demora ou negativa de

liberação de exame/cirurgia, reajustes abusivos, descredenciamentos de

profissionais de saúde, hospitais e laboratórios.

Uma breve retrospectiva aponta para um início sem qualquer proteção

aos usuários desses serviços até a edição do Código de Defesa do

Consumidor (CDC), em 1991. O Código estabeleceu normas para equilibrar

todas as relações de consumo e por isso representou um avanço sem

precedentes na defesa dos usuários de planos de saúde. A partir daí, o Poder

Judiciário pode impedir abusos, como a exclusão da cobertura de doenças

graves, como câncer e Aids, a limitação do número de dias de internação

hospitalar, entre outros, criando significativa jurisprudência favorável aos

consumidores lesados.

Sem dúvida, a Lei 9.656/98 trouxe alguns avanços como a definição da

lista da Organização Mundial da Saúde como referência para a cobertura de

procedimentos; o estabelecimento de critérios para a entrada, funcionamento e

saída de empresas no setor; a transferência para a área governamental da

saúde da responsabilidade pela regulação e fiscalização das operadoras, tanto

em relação aos aspectos assistenciais como àqueles ligados à atividade

econômica.

Os aumentos abusivos, as exclusões de coberturas, a falta de

fiscalização do setor, as "quebras" de operadoras e as conseqüências graves

49

para os usuários, entre muitos outros abusos, continuam aí - de um jeito ou de

outro, para usuários que têm contratos antigos e para os que têm novos.

As mudanças no setor são necessárias e devem ocorrer constantemente, pois

trata-se de saúde, vida.

Diante de tantas questões que dizem respeito à saúde e à vida dos

usuários de planos de saúde, já é tempo de a Agência Nacional de Saúde

Suplementar passar a exercer adequadamente sua função pública, seu papel

regulador e fiscalizador de forma mais eficiente, mais transparente e mais

comprometida com a saúde da população.

ANEXO

Índice de anexos

www.ans.gov.br

50

51

52

53

54

55

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

TRETTEL,Daniela Batalha. Planos de Saúde na visão do STJ e STF. São Paulo:Editora

Verbatim,2009.

FUX, Luiz. Tutela de Urgência de Planos de Saúde.Rio de Janeiro. Editora Espaço

Jurídico,2000

Constituição da República Federativa do Brasil. Serie Legislação Brasileira, Editora Saraiva,

1988.

Código de Proteção e Defesa do Consumidor.Coleção Saraiva de Legislação, Editora Saraiva,

2010.

56

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

RESUMO 4

METODOLOGIA 5

SUMÁRIO 6

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Breve histórico da regulamentação dos planos de saúde no Brasil 10

1.1 - Impactos na regulamentação do setor 12

1.2 – ANS- Agencia Nacional de Saúde Suplementar 13

1.3 CAMSS- Câmaras de Saúde Suplementar 14

CAPÍTULO II

Os Planos de Saúde 16

2.1 Contratos estabelecidos pela Lei 9656/98 17

2.2 Características dos planos de saúde 18

2.3 Exclusões Para Todos Os Tipos De Planos (Contratos Novos e Adaptados)

26

2.4 Planos Quanto À Data De Assinatura 27

2.5 Planos Quanto Ao Tipo De Cobertura Assistencial 28

2.6 Planos Quanto À Forma De Contratação 28

2.7 Classificação das Operadoras 29

CAPÍTULO III

Mudanças No Setor De Planos De Saúde E O Combate Às Praticas Abusivas

31

3.1 Exemplos De Problemas Enfrentados Pelos Consumidores 34

3.2 Algumas Jurisprudências Dos Tribunais Brasileiros A Respeito Das Clausulas

Abusivas 37

3.3 Rol De Procedimentos 41

3.4 Portabilidade De Carências 42

57

CONCLUSÃO 46

ANEXOS 49

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 54

ÍNDICE 55

FOLHA DE AVALIAÇÃO 57

58

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição:

Título da Monografia:

Autor:

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: