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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ NUESTRA AMÉRICA] Ano 2, n° 2 | 2012, verão ISSN [2236-4846] 76 Uma Nova Perspectiva sobre o Populismo: Ernesto Laclau e a Formação das Identidades Coletivas * Elisa Roubert Lage dos Anjos ** Introdução O populismo, apesar de ter sido um conceito bastante criticado pelas ciências sociais, ainda apresenta grande importância na ciência política, principalmente nos estudos relacionados à América Latina pós 1930. Como movimento, ideologia ou até mesmo como sistema político, o populismo tem uma historiografia abrangente e polêmica. O conceito é analisado a partir de várias teorias que buscam uma explicação para sua implantação, principalmente nos países latinoamericanos, como uma forma de justificar os fatos políticos e sociais ocorridos na história recente do continente. Na busca por uma conceituação do termo, a Teoria da Modernização, na qual caracteriza o populismo como uma forma de ideologia aplicada nos países que estão se industrializando e urbanizando; deu o primeiro impulso na busca de uma explicação para o fenômeno das lideranças carismáticas e sua relação com povo, a partir do êxodo rural no continente que resultou em bruscas mudanças na estrutura social. Como conseqüência dessa abordagem – que analisaremos em detalhe nas próximas páginas - prevaleceu uma versão pejorativa do conceito, tratando-o como uma ideologia utilizada para explorar a “massa popular”, a partir de um líder carismático. Ao longo dos anos 1960 e 1970, outros autores, a partir de diferentes vieses, também contribuíram para essa caracterização do populismo como fator negativo na história latinoamericana (WEFFORT, 1978; IANNI, 1975). Nos anos 1980, houve tentativas de abandonar o conceito (GOMES, 2001; FERREIRA, 2001), desvinculando- o de um conteúdo e, por isso, foram propostos outros artifícios para contextualizar os fatos políticos, como o trabalhismo. Ernesto Laclau, por outro lado, cumpre um importante papel em analisar o populismo a partir de um viés positivado, demonstrando que o populismo é uma * Artigo recebido em maio de 2011 e aprovado para publicação em fevereiro de 2012. ** Mestranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF).

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[REVISTA CONTEMPORÂNEA – DOSSIÊ NUESTRA AMÉRICA] Ano 2, n° 2 | 2012, verão

ISSN [2236-4846]

76

Uma Nova Perspectiva sobre o Populismo:

Ernesto Laclau e a Formação das Identidades Coletivas*

Elisa Roubert Lage dos Anjos**

Introdução

O populismo, apesar de ter sido um conceito bastante criticado pelas ciências sociais,

ainda apresenta grande importância na ciência política, principalmente nos estudos

relacionados à América Latina pós 1930. Como movimento, ideologia ou até mesmo como

sistema político, o populismo tem uma historiografia abrangente e polêmica. O conceito é

analisado a partir de várias teorias que buscam uma explicação para sua implantação,

principalmente nos países latinoamericanos, como uma forma de justificar os fatos políticos e

sociais ocorridos na história recente do continente.

Na busca por uma conceituação do termo, a Teoria da Modernização, na qual

caracteriza o populismo como uma forma de ideologia aplicada nos países que estão se

industrializando e urbanizando; deu o primeiro impulso na busca de uma explicação para o

fenômeno das lideranças carismáticas e sua relação com povo, a partir do êxodo rural no

continente que resultou em bruscas mudanças na estrutura social. Como conseqüência dessa

abordagem – que analisaremos em detalhe nas próximas páginas - prevaleceu uma versão

pejorativa do conceito, tratando-o como uma ideologia utilizada para explorar a “massa

popular”, a partir de um líder carismático. Ao longo dos anos 1960 e 1970, outros autores, a

partir de diferentes vieses, também contribuíram para essa caracterização do populismo como

fator negativo na história latinoamericana (WEFFORT, 1978; IANNI, 1975). Nos anos 1980,

houve tentativas de abandonar o conceito (GOMES, 2001; FERREIRA, 2001), desvinculando-

o de um conteúdo e, por isso, foram propostos outros artifícios para contextualizar os fatos

políticos, como o trabalhismo. Ernesto Laclau, por outro lado, cumpre um importante papel

em analisar o populismo a partir de um viés positivado, demonstrando que o populismo é uma

* Artigo recebido em maio de 2011 e aprovado para publicação em fevereiro de 2012. ** Mestranda em História Social pela Universidade Federal Fluminense (PPGH/UFF).

[UMA NOVA PERSPECTIVA SOBRE O POPULISMO: ERNESTO LACLAU E A FORMAÇÃO DAS

IDENTIDADES COLETIVAS* ELISA ROUBERT LAGE DOS ANJOS]

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ideologia ou um movimento que une as demandas populares por um bem comum e que cria

uma identidade coletiva, acabando com o indivíduo dentro de um estado político.

Laclau é um reconhecido filósofo político, atualmente professor na Universidade de

Essex, na Inglaterra e referência nos estudos sobre lideranças carismáticas e povo. O autor se

envolveu em vários governos nacionalistas populares na América Latina Contemporânea, fez

parte dos jornais do Partido Socialista de Esquerda nos anos 1960 e acompanhou o peronismo

na Argentina. Este último foi o ponto de partida para a sua reflexão política sobre a construção

das identidades coletivas na política nacionalista-popular. O autor defende que a teoria social

deve se tornar mais estratégica, propondo uma desconstrução da estrutura de classe social para

se entender e fundamentar tal sociedade, o autor chama esse processo de análise produtiva da

complexidade das sociedades. Reunindo diferentes referências teóricas, Laclau trata o

populismo de forma positiva e, para isso, desconstrói o estruturalismo tradicional que marca a

abordagem do termo na ciência política.

O populismo é um tema muito importante, não só para refletir sobre os primeiros

passos das nações latinoamericanas como países democráticos, mas também por ser um

conceito que não saiu de moda na política e no senso comum. Continua sendo uma importante

chave interpretativa para a compreensão da política atual, principalmente, quando

consideramos o ressurgimento das lideranças carismáticas e dos movimentos nacionalistas

populares no continente. A preocupação em analisar o populismo a partir da identidade

coletiva é uma forma de enriquecer o estudo do conceito nas sociedades atuais. Jorge Ferreira

(2001) fez uma grande contribuição com um balanço sobre o populismo no Brasil, porém a

historiografia ainda carece de um contato maior com autores latinoamericanos.

Dessa forma, o objetivo deste artigo é discutir a teoria de Ernesto Laclau, no interior de

um quadro mais amplo de reflexões a respeito do populismo com foco na América Latina.

Para tanto, faremos uma breve apresentação do conceito a partir da ciência política e de um

panorama da utilização do mesmo na historiografia brasileira inspirados na caracterização

feita por Jorge Ferreira, em seu artigo O nome e a Coisa: O populismo na política brasileira

(2001) e, por fim, apresentaremos a versão proposta pelo intelectual argentino como um

contraponto às teses que defendem a banalização do conceito.

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O Populismo como Conceito

O conceito de populismo dentro das ciências sociais se reveste de extrema

complexidade devido à multiplicidade de usos do termo. Na sociologia e na ciência política, o

populismo frequentemente é definido como forma de governo, adquirindo conotações bastante

negativas. Na abordagem de conjunturas políticas consideradas populistas, os governantes e

políticos são vistos como grandes demagogos e hábeis manipuladores das classes populares,

visando à obtenção do voto. As classes populares são geralmente concebidas como massa

social amorfa, que ainda não adquiriu consciência de classe e, por esse motivo, são suscetíveis

à dominação e retórica dos que pretendem conquistar ou manter o poder político.

O termo “populista” propriamente dito foi usado originalmente nos Estados Unidos e

na Rússia. Nos EUA, especificamente em meados da década de 1890, em referência ao

Partido do Povo, representando uma ideologia de mobilização de pequenos proprietários

rurais que se opunham à vida urbana. Na Rússia, como movimento “narodnik”, considerado

manifestação de uma ideologia camponesa. Tanto nos EUA como na Rússia, os movimentos

têm em comum a crítica ao capitalismo formulada pelos pequenos produtores rurais que

ficavam fora do desenvolvimento capitalista. Posteriormente, estas ideias são retomadas em

diversas regiões do mundo, adotando diferentes características. No entanto, depois destas

experiências, quase nenhum líder ou movimento se afirmava como populista, pois o termo

ganhou um significado pejorativo por estar associado à demagogia e aos gastos econômicos

exagerados, indicando uma irresponsabilidade política e econômica.

Segundo as abordagens clássicas, o populismo é observado em contextos marcados por

intensos processos de modernização. Esta modernização é o meio pelo qual sociedades

predominantemente agrárias se transformaram em sociedades industriais. A classe camponesa,

antes fixada na vida e no trabalho no campo, é forçada a migrar para as cidades. No meio

urbano, estes camponeses se tornam proletários e, gradualmente, dão origem à classe operária.

Segundo algumas interpretações, a classe camponesa recém-integrada na indústria e no

sistema político ainda não teria adquirido consciência de classe e também não disporia de

meios para se organizar politicamente, logo tal situação provocaria o surgimento de

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IDENTIDADES COLETIVAS* ELISA ROUBERT LAGE DOS ANJOS]

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movimentos políticos nos quais tentariam mobilizar essa nova classe recém integrada,

dispensando a intermediação de associações de classe ou de partidos políticos.

Portanto, na América Latina, o populismo teria surgido como um movimento político

associado ao processo de expansão da indústria e da urbanização, junto com a desintegração

das estruturas de poder das oligarquias rurais. Corresponderia a uma fase de transformações

do Estado capitalista, no qual a burguesia agro-exportadora e a burguesia mineira e comercial

teriam perdido o monopólio do poder político perante o avanço das classes sociais urbanas,

constituídas pela burguesia industrial, camadas médias, proletariado industrial, militares e

intelectuais. Com efeito, este movimento teria sido uma aliança de classes sociais antagônicas,

visando à hegemonia do controle do Estado (IANNI, 1984).

Enquanto os sociólogos iniciaram as pesquisas trabalhando a ideia do impacto do

sistema populista na sociedade, os historiadores começaram contextualizando o surgimento de

tal conceito ou sistema na vida política. No que diz respeito a este último aspecto, a América

Latina, apesar da diversidade de seus países, possui alguns elementos comuns, tais como o

tipo de colonização exploratória, a utilização de mão-de-obra escrava durante um longo

período, a constituição de uma economia agro-exportadora dependente, a existência de classes

dominantes com interesses dissociados dos interesses nacionais e populares e a consolidação

de sistemas político-econômicos excludentes. Todas estas características levaram ao

surgimento do “nacional-estatismo” que ocorreu em grande parte de Nuestra América, no

início do século XX que esteve revestida também por uma função de combater o perigo do

avanço do comunismo.

Segundo Maria Helena Capelato (2001, p. 125), o populismo representava a promessa

de um Estado forte e personalista, aliado a uma legislação social e uma liderança carismática,

que tinha por objetivo combater o perigo da instalação comunista no continente. Após afastar

tal ideologia, a presença de um líder carismático começou a interferir nos interesses das

classes de forma negativa, isto é, aproveitando-se de tal carisma para enganar o povo,

utilizando da confiança popular para alcançar seus objetivos sem dar a assistência necessária

às necessidades da massa.

Jorge Ferreira faz um importante levantamento das principais correntes que refletiram

sobre o fenômeno no continente. Apesar de seu foco ser o Brasil, seu estudo é válido para

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observarmos a evolução do termo ao longo do tempo. Nosso objetivo é esboçar os principais

enfoques teóricos para, em seguida, apresentarmos a hipótese de Ernesto Laclau, tomando a

América Latina como referência para o estudo.

Jorge Ferreira e o Conceito de Populismo em Nuestra América

De acordo com Jorge Ferreira, existem três gerações que explicam o populismo. A

primeira, característica dos anos 1950 e 1960, baseava-se nas ideias de Gino Germani (1966) e

destacava o fracasso da integração social das classes populares no contexto de modernização

das sociedades latinoamericanas, o qual poderia resultar em duas variáveis: por um lado, na

estrutura social e na distribuição da população no território; e, por outro, nos canais de

integração das novas tendências à participação e na velocidade dos processos de mudança que

provocam a mobilização.

Germani defende que a sociedade tradicional na América Latina sofreu uma rápida

urbanização e industrialização. Com isso, as massas populares teriam exigido maior

participação política e a forma encontrada de acabar com os conflitos de classes foi a

implantação/criação de governos nacionais populares. Esta participação política causou

problemas nos canais institucionais clássicos e a solução encontrada para tais problemas

foram as chamadas “revoluções “nacional-populares” ou golpes militares. Tal abordagem se

insere nos marcos da chamada Teoria da Modernização.

O autor explica que o sujeito coletivo fundamental para o surgimento do populismo na

América Latina foi o campesinato. Estes últimos migraram do campo para a cidade e

mesclaram os valores da vida do campo com as forças econômicas que surgiam na cidade;

vieram de uma sociedade sem um governo organizado e ideologia autêntica e serviram de

base para o surgimento de um líder que ajudaria a guiar esse povo para a modernidade: o líder

populista.

Perdura, ao longo do tempo, a idéia [sic] de que, com o processo de urbanização, os indivíduos recém chegados do mundo rural teriam contaminado os antigos operários com suas idéias [sic] tradicionais e individualistas. Sociedades atrasadas, camponeses que vieram para as cidades, igualmente um atraso, e, logo, uma política novamente atrasada, eis

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o ambiente em que teriam proliferado os líderes populistas. (FERREIRA, 2001, p. 67)

A citação de Jorge Ferreira faz referência à teoria de Torcuato Di Tella, que tal como

Germani, sustenta a Teoria da Modernização como princípio explicativo para o populismo. Di

Tella destaca a maneira pela qual a mudança demográfica acabou interferindo no sistema

político, pois a “massa” teria se unido às camadas médias, provocando o surgimento de líderes

oriundos destas últimas e dispostos a manipular a primeira (FERREIRA, 2001, p. 65). É

necessário esclarecer que quando Di Tella refere-se à “massa”, que dizer os camponeses que

migraram do campo somados às camadas médias - que seriam os novos proletários e

operários.

Portanto, “no contexto da transição de uma ‘economia tradicional’, de ‘participação

política restrita’, para uma ‘economia de mercado’ de ‘participação ampliada’; a teoria da

modernização elegeu um ator coletivo central para o surgimento do populismo na América

Latina: os camponeses” (FERREIRA, 2001, p. 65). O eixo central de Di Tella, portanto, foi a

transição da sociedade de um mundo rural para um urbano.

Apesar de não ter criado a Teoria da Modernização, Francisco Weffort também é

considerado por Ferreira como parte desta primeira geração de intérpretes sobre o populismo,

cuja maior característica é ter como foco principal de sua análise a premissa da transição de

sociedades agrárias para modernas e do elemento camponês como a nova face do movimento

operário. Apesar de Weffort ter avançado em relação às abordagens de Di Tella ao relativizar

a questão da manipulação das lideranças carismáticas sobre o povo, inserindo a premissa da

“satisfação” como elemento de fundamental importância para compreender o apoio dado pelo

povo aos líderes, Ferreira acredita que há ainda ambiguidade do estudo.

Weffort critica a versão liberal do populismo, cuja explicação seria a manipulação e a demagogia dos líderes conjugadas à ignorância e ao atraso das massas. Contudo, em outros momentos, contrariando suas próprias críticas à concepção liberal, o texto permite leituras bem diferentes [...] as análises das relações mantidas entre Estado e classe trabalhadora são conduzidas sob certa tensão, sob certa ambiguidade: ora interlocução, ora manipulação (FERREIRA, 2001, p. 78-79).

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Seguindo a linha da Teoria da Modernização, de acordo com o Weffort, o populismo

seria um fenômeno que ocorreu em regiões atingidas pela urbanização, mais especificamente,

na transição do tradicional para o moderno. Surgiu num momento de massificação da

sociedade, desvinculando os indivíduos de seus quadros sociais originais. Seus aspectos

exteriores seriam a demagogia, a emocionalidadde, a verbiagem social, e, especialmente, a

ausência de uma ideologia. O populismo seria então mera exterioridade, fato político sem

conteúdo (WEFFORT: 1978, p. 25)

Ferreira critica tanto os estudos de Weffort, quanto de Germani e suas premissas da

passagem de uma democracia com ”participação limitada” para “ampliada”; num processo de

massificação prematura das massas rurais na vida urbana e no processo político (WEFFORT,

1967). Laclau por outro lado, caracteriza a teoria de Germani como a primeira corrente

coerente explicativa do populismo apesar de também destacar suas limitações:

A explicação de Germani para o populismo [...] resume-se nisto: a incorporação prematura das massas na vida política latinoamericana gerou pressões que extravasaram os canais de absorção e de participação que as estruturas políticas tinham condições de oferecer (LACLAU, 1978, p. 157).

Sobre este aspecto, voltaremos mais a frente. Por ora, é importante mencionar que

Laclau identifica esta corrente como a única que consegue fundamentar suas próprias bases.

Apesar de discordar em vários aspectos, tal como veremos adiante, a mesma não banaliza o

termo, o que é de grande importância para Lalcau.

Voltando à caracterização de Ferreira, a segunda geração correspondeu aos estudos dos

anos 1970 e 1980, que, apesar de inspirados nas ideias de Germani, Di Tella e Weffort,

agregaram também influências do marxismo e da teoria da dependência. Esta geração associa

o populismo ao processo de industrialização substitutiva de importações e às particularidades

do desenvolvimento do capitalismo na América Latina (AGGIO, 2003, p. 152). Neste caso, é

destacada a ausência de autonomia da classe operária e dos setores populares, bem como a

adoção do paradigma europeu como constitutivo da modernidade. Baseia-se no tripé

“repressão, manipulação e satisfação” da geração anterior, substituindo a manipulação pela

persuasão e acabando com o viés da satisfação - ideias influenciadas, principalmente, por

Gramsci.

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Com o pensador italiano, não foi difícil para muitos historiadores reavaliarem a teoria do primeiro populismo. Assim, entre a tríade repressão, manipulação e satisfação em Weffort e a dicotomia repressão e persuasão em Gramsci, a ultima tornou-se mais atraente (FERREIRA, 2001, p. 85).

Octavio Ianni faz parte dessa corrente e sustenta a pejorativização do termo populismo.

O autor destaca a importância das estruturas de poder, das relações de classes e dos

encadeamentos entre relações econômicas e políticas, sendo o populismo um fenômeno

antagônico das classes dentro de uma sociedade em transição do tradicional para o

moderno/urbano. Seria um fenômeno correspondente à forma “subdesenvolvida” ou

“degradada” da organização das atividades políticas, sendo um movimento de manifestações

instáveis politicamente.

Ianni defende, em sua obra A Formação do Estado Populista na América Latina

(1975), a influência do sistema capitalista na formação da estrutura de classes desiguais nos

países subdesenvolvidos. O autor destaca como uma comparação entre os países

latinoamericanos poderia explicar o surgimento do populismo nos mesmos, a partir do

contexto histórico da colonização. Em outras localidades, como ex-colônias europeias na

África e Ásia, o populismo teve características diferentes, tais como priorizar a produção

agrícola e colocar a industrialização como economia secundária ou subordinada. “Em

perspectiva histórica, os fenômenos populistas acontecem na época de crises que abalam ou

mesmo destroem o Estado oligárquico em países latinoamericano” (IANNI, 1975, p.151). É,

nesse sentido, que Ianni define o populismo, como um movimento de manifestações instáveis

politicamente, conduzindo, na maior parte das vezes, a golpes de Estado (IANNI, 1975).

Até aqui, em linhas gerais, a maioria dos estudos sobre o populismo latinoamericano

parte do pressuposto de que os movimentos de massas, os partidos políticos e os governos

populistas seriam fenômenos políticos produzidos no interior de um processo mais amplo da

modernização das sociedades latinas; seriam produto da incapacidade das sociedades de

realizarem a democracia representativa segundo o modelo europeu ou estadunidense.

Finalmente, a terceira geração seria a que Ferreira chama de “colapso do populismo”,

em que autores como Angela de Castro Gomes e o próprio Jorge Ferreira desconstroem o

conceito:

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Para os conservadores, populismo é o passado político brasileiro, são políticos públicos que garantem os direitos sociais dos trabalhadores, são modelos de economia e de sociedade que, na Europa Ocidental, ficaram conhecidos como Estado de Bem Estar Social; outros talvez, diriam que populista é aquele que, diante dos pobres, diz que ser rico é chato. O populista, portanto, é o adversário, o concorrente, o desafeto. O populista é o outro. (FERREIRA 2001, p. 124)

Ambos defendem a ideia de que o populismo é um termo sem conteúdo e passam a

explicar as repercussões políticas latinoamericanas, mais especificamente brasileiras, a partir

de outras chaves interpretativas como o “trabalhismo”. Celso Frederico (1979) ressalta que

mesmo a partir de interpretações convencionais, como a Teoria da Modernização, seja em

ensaios mais refinados como de Weffort ou nos estudos da segunda geração influenciados

pelo marxismo; o populismo é sempre visto como um desvio, uma simples deformação

ideológica, uma falsificação da consciência de classe; os trabalhadores são manipulados e

iludidos, desviando-se de seus “interesses reais”.

De certa maneira, essa geração que desconstrói o populismo se enquadraria no enfoque

que Ernesto Laclau chama de nihilista1, pois nega qualquer validade do conceito. Por outro

lado, apesar disso, Gomes e Ferreira fazem um esforço significativo em construir alternativas

para explicar os acontecimentos na America Latina, mais especificamente no Brasil.

Considerando essa breve trajetória do conceito nas interpretações sobre a experiência

histórica latinoamericana, podemos entender de que forma o termo populismo adquiriu

caracterizações tão pejorativas e como tal conceito é importante para o estudo da Nuestra

América pós 1930. Em outra via, reconhecendo os limites das abordagens anteriores, mas sem

abandonar o conceito, Laclau busca uma solução para o populismo, a partir de uma análise

focada no processo de formação de identidades coletivas.

Ernesto Laclau e as Identidades Coletivas

1 O nihilismo surgiu no final do século XVIII na filosofia alemã, porém só foi defendido com mais êxito a partir de Nietzsche; o termo tem a ver com nada (nihi), nega a existência de um conteúdo no termo. Laclau assim denomina aqueles estudos que banalizam o conceito no sentido de não agregar ao mesmo nenhum conteúdo.

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Conforme mencionamos, a teoria de Ernesto Laclau vai de encontro à conceitualização

pejorativa do populismo e procura agregar um novo sentido ao mesmo, a partir de um viés

positivo, ao invés de descartá-lo como o faz a terceira geração apresentada e representada por

Ferreira. Segundo Francisco Panizza, para Laclau, a ideia central é a construção da identidade

popular, isto é, o populismo nas sociedades democráticas modernas é entendido como uma

ação do povo contra uma estrutura pré-estabelecida de poder e contra ideias e valores

dominantes da sociedade (PANIZZA, 2009, p. 15)

Abordar o populismo seria tomar em seu sentido literal alguns dos legados pejorativos que foram atribuídos e mostrar que eles só podem ser mantidos se, se aceitar como ponto de partida da análise, uma série de pressupostos altamente questionáveis. Os pressupostos pejorativos são: (1) que o populismo é vago e indeterminado tanto ao público que se dirige como a seus princípios políticos; (2) o populismo é mera retórica (LACLAU, 2010, p.91).

Laclau, em sua análise, vai demonstrar como estes pressupostos são equivocados

principalmente quando defende que o populismo é o ato político em si, não podendo ser um

termo vago. Para o autor, o fim do populismo resultaria no fim da política, pois anularia a

divisão social. Em seu livro La Razón Populista (2005), cita como um discurso pode ser

identificado como populista:

A linguagem de um discurso populista- sendo de esquerda ou direita – sempre vai ser impreciso e flutuante: não por alguma falha cognitiva, só porque tenta operar performativamente dentro de uma realidade social que é em grande medida heterogênea e flutuante. Considero este momento de imprecisão – que deveria estar claro, não tem para mim nenhuma conotação pejorativa – como um componente essencial de qualquer operação populista (LACLAU, 2005, p.151).

É importante ressaltar que a heterogeneidade, para o autor, não significa

necessariamente diferenciação. O povo é heterogêneo por ter sido deslocado de áreas distintas,

porém o que o une é o interesse comum. Logo, o discurso é também heterogêneo, pois tenta

alcançar pessoas oriundas desses diferentes lugares.

Na conceitualização do populismo, Laclau se utiliza de artifícios como a psicologia das

massas de Freud, a crítica de Peter Worsley sobre o viés da manipulação e a crítica a respeito

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da Teoria da Modernização para costurar sua abordagem sobre o populismo e a formação das

identidades coletivas. A construção do pensamento de Laclau relativo à divisão de classes e

sua hegemonia é influenciada pelas ideias de Gramsci, elaborada para pensar as relações

sociais sem cair no materialismo vulgar e no idealismo. Sua noção de hegemonia propõe uma

nova relação entre estrutura e superestrutura na análise das sociedades avançadas. Laclau

tenta, assim, expandir a noção gramsciana para o ato de pensar a configuração social (ALVES,

2010, p. 72).

Para Laclau, o populismo teria sido analisado a partir de quatro enfoques

fundamentais, alguns dos quais já tivemos a oportunidade de mencionar anteriormente. O

primeiro deles seria entender o populismo como expressão de uma classe social, a qual é à

base do sistema a que caracteriza, por conseguinte, tanto o movimento como sua ideologia.

Nesse caso populismo pode ser atribuído a classes sociais diferentes, temos como exemplo o

caso latino, russo e o norte americano. O primeiro a mobilização das massas urbanas teria

assumido conotações populistas, sendo considerada uma forma de expressão política e

ideológica da “pequena burguesia” ou de “setores marginais”, confrontando as ideias das

oligarquias locais; no segundo caso o populismo foi considerado essencialmente como

ideologia camponesa ou como base para a exaltação de valores camponeses; no caso

estadunidense, é apresentando como ideologia e como mobilização social de pequenos

fazendeiros.

Laclau discorda de tal corrente, pois acredita que a mesma acaba fugindo mais do que

explicando o fenômeno, pelo fato dos movimentos populistas diferirem entre si. O que tal

enfoque propõe é continuar a falar do movimento, porém sem definí-lo: os casos

latinoamericano e o russo, por exemplo, teriam o populismo como elemento comum e sua

especificidade teria que ser procurada fora e não a partir das bases sociais dos dois

movimentos. Sendo experiências extremamente diferentes, esse enfoque não dá conta das

características particulares de cada caso. Em nome desse elemento comum, o populismo acaba

perdendo sua capacidade de chave interpretativa porque, no final das contas, não quer dizer

nada, perdendo usa particularidade: Tentando explicar um fenômeno distinto desse “algo em

comum”, presente em movimentos sociais diversos, Laclau observa que essa vertente tenta

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IDENTIDADES COLETIVAS* ELISA ROUBERT LAGE DOS ANJOS]

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explicar esse “algo em comum” dos movimentos, porém, por serem oriundos de regiões

diferentes e bases sociais diferentes, tais explicações se perdem (LACLAU,1979, p. 151).

O segundo enfoque é o nihilismo teórico que nos referimos anteriormente, o qual

defende que o conceito “populismo” é destituído de conteúdo e deveria ser eliminado do

vocabulário das ciências sociais. Temos como referência de tal enfoque Jorge Ferreira e Celso

Frederico; ambos acreditam que o populismo deveria ser rejeitado, por não atribuir nada à

classe trabalhadora.

O terceiro enfoque caracteriza o termo como ideologia e não como movimento. Seria o

anti status quo, a desconfiança nos políticos tradicionais, o apelo ao povo e não às classes.

Panizza defende que o anti status quo é essencial no populismo: "Como a plena constituição

de identidade popular exige a derrota política do outro que é considerado para oprimir ou

explorar o povo e, portanto, impedir a sua plena presença" (PANIZZA, 2005, p.3-4).

Assim como Panizza, Ludovico Incisa explica que a capacidade de mobilização que o

populismo consegue apresentar deriva diretamente da sua forma de discurso anti-status quo.

Aqui, a constituição do povo como ator político é feita pela contradição. "É fundamental ter

sempre presente que o conceito de povo não é racionalizado no populismo" (INCISA, 2003, p.

345).

O quarto e último viés é a concepção funcionalista do populismo, produzida pela

assincronia nos processos de transição de uma sociedade tradicional para a sociedade

industrial. Laclau explica tal enfoque a partir da análise do conceito de Gino Germani e

Torcuato Di Tella que também já fizemos referência. O autor tem como ponto de partida a

crítica e a desmistificação da Teoria da Modernização, pois a mesma é base de grande parte

dos estudos tradicionais do populismo.

Apesar de já termos falado da Teoria da Modernização inicialmente, é preciso

recuperar certos pontos, os quais Laclau discorda. Por considerar esta a única teoria coerente –

pois não banaliza o termo e se esforça em fundamentar o conceito -, o autor se foca em uma

crítica construtiva sobre as bases de tal teoria. Conforme mencionamos, essa teoria considera

o populismo como uma ideologia de países em desenvolvimento, pois acredita que a

modernização das sociedades se dá com o populismo. A transição da sociedade tradicional

para a industrial implica em algumas mudanças básicas: modificação no tipo de ação social;

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passagem da institucionalização do tradicional para a institucionalização do moderno/urbano;

e evolução de um conjunto relativamente indiferenciado de instituições para uma

diferenciação de especialização crescente das demandas. Estas etapas de mudança são

consideradas assincrônicas (LACLAU, 1979, p. 154).

Outro ponto chave da teoria de Germani é a questão da mobilização e da integração,

sendo a mobilização um processo pelo qual grupos anteriormente passivos adquirem um

comportamento deliberativo; já a integração é uma mobilização que é realizada a partir de

canais político-institucionais existentes. No caso da América Latina, a mobilização assume

formas aberrantes e anti-institucionais, que constituem a matriz de onde emergem os

movimentos nacionais populares, pois, no continente, ocorreram mecanismos de integração

como sindicatos, legislações e outros. Isso explica o ponto principal de Germani no caso

latinoamericano: a incorporação prematura das massas na vida política gerou pressões que

extravasaram os canais de absorção e de participação que as estruturas políticas não tinham

condições de oferecer.

A primeira critica seria no sentido de Germani e Di Tella considerarem o populismo

como uma etapa do desenvolvimento capitalista enquanto Laclau diz que, apesar de ser menos

frequente, o populismo pode existir em países desenvolvidos. Desse modo, não poderíamos

considerar tal ideologia só em países em desenvolvimento. O autor critica o fato da Teoria da

Modernização defender que quanto mais subdesenvolvida a sociedade, maior chance dela ser

populista e que seria este populismo que levaria à modernização.

A segunda crítica seria em relação aos conceitos de sociedade tradicional e moderna.

Segundo Laclau, tais conceitos não foram construídos teoricamente e não passam da adição

descritiva de traços característicos.

De acordo com Laclau, os autores Germani e Di Tella teriam uma visão teleológica:

Em um pólo situa-se a sociedade tradicional; no outro, a sociedade industrial plenamente desenvolvida. As raízes do populismo devem ser procuradas na assincronia entre os processos de transição de uma para a outra. O populismo constituiria, assim, a forma de expressão política dos setores populares, quando incapazes de criar uma organização autônoma e uma ideologia autônoma de classe (LACLAU, 1979, p. 159).

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IDENTIDADES COLETIVAS* ELISA ROUBERT LAGE DOS ANJOS]

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Essa perspectiva teleológica abordada por Germani e Di Tella possui uma explicação

óbvia, baseando-se no "êxodo rural". Os migrantes que vêm do campo para a cidade, chegam

com uma bagagem ideológica completamente diferente da realidade urbana, tendo dificuldade

de se envolver nas questões políticas da cidade e sendo alvo fácil de uma experiência

populista. A questão apresentada, então, seria o tipo de mentalidade que o sujeito traz da vida

rural, uma mentalidade tradicional que não consegue superar. Logo,

Os assincronismos do processo de desenvolvimento impelem, prematuramente, essas massas para a ação política, como o que a ausência de uma 'consciência de classe' desenvolvida, gera formas de mobilização desviantes e não resulta em uma atividade organizacional autônoma da classe como tal (LACLAU,1979, p. 164).

Isso gera certos problemas para os migrantes: exploração de classe nos novos

empregos, pois foram transformados em proletariados; pressões múltiplas da sociedade

urbana; problemas de habitação, educação e outros aspectos que vão gerar um conflito com a

política e com o Estado. Laclau adverte que tais análises devem procurar o significado dos

elementos ideológicos na estrutura do momento e não em paradigmas ideais, tais como as

estruturas de classes.

O que também é fundamental em sua crítica também é a questão da manipulação:

Finalmente, o abuso das explicações em termos de manipulação que, ou regridem ao puro moralismo (fraude, demagogia) ou, quando se trata de explicar como a manipulação se torna possível, incorre em explicações em termos da dicotomia sociedade tradicional/ sociedade industrial; massas com características tradicionais são, repentinamente, incorporadas à vida urbana, e daí por diante. A conclusão clara é a de que, nesta concepção, o populismo jamais é definido em si mesmo, mas apenas em contraposição a um paradigma (LACLAU, 1979, p. 161).

O autor avança questionando o sentido da “manipulação”, a partir das ideias de Peter

Worsley que explica o significado do populismo, demonstrando como este sentido de

manipulação é incompatível com a sua estratégia teórica. Para Worsley, o populismo não é um

tipo de ideologia a ser comparada com outras, tais como o liberalismo, o comunismo e o

socialismo, mas sim, como uma dimensão da cultura política que pode estar presente em

qualquer movimento ou ideologia. Laclau diz que Worsley está certo ao afirmar que não se

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pode identificar características universais no populismo, pois são movimentos fundamentados

em bases sociais que possuem origens diferentes. No caso latinoamericano, essas bases sociais

seriam em geral os camponeses; nos EUA estaríamos nos referindo a pequenos proprietários;

e assim por diante.

A síndrome populista [...] é muito mais vasta que uma manifestação particular em uma forma ou contexto de uma determinada política, ou de qualquer tipo específico ou sistema político ou tipo de política: democracia, totalitarismo, etc. Isto sugere que o populismo estará melhor considerado como uma dimensão da cultura política geral e não simplesmente como um tipo particular de sistema ideológico ou forma de organização. Como ocorre com todos os “tipos ideais”, pode estar muito próximo a certas culturas e estruturas políticas, como aquelas denominadas até agora como populistas (WORSLEY, 1969, p. 245).

Para buscar um significado para o populismo, Laclau propõe primeiramente

desconstruir um conceito que tenha ideias manipuladoras, como pobreza intelectual, por

exemplo. Para o autor, o populismo é mais que uma tosca operação política e ideológica, mas

sim, um ato performativo dotado de uma racionalidade própria. O populismo é um momento

de transição derivado da imaturidade política dos atores sociais, sendo esses atores a base

social do movimento ou ideologia; significa um espaço político criado para substituir uma

série complexa de diferenças e determinações por uma bruta divisão cujos pólos são

fortemente imprecisos.

Para Laclau, nenhum movimento político ou ideologia vai estar completamente isento

de ser populista, porque de certa forma estará interpretando as ideias do povo contra um

inimigo mediante a construção de uma fronteira social. É neste sentido que Laclau deixa clara

a sua teoria da formação das identidades coletivas, isto é, o populismo, para o autor, seria

qualquer movimento que assegura o “bem estar” ou defesa dos interesses do povo, emergindo

quando a classe, ou ‘demanda’, se opõe ao bloco de poder dominante, durante uma situação de

crise.

No entanto, como entender melhor essa relação entre o povo e ordem política vigente?

De que forma ocorrem essas formações coletivas? Primeiramente, conforme mencionamos,

não se pode generalizar os movimentos, pois apesar de existirem características comuns, as

bases sociais que os fundamentam são diferentes. Além disso, Laclau também afirma que não

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IDENTIDADES COLETIVAS* ELISA ROUBERT LAGE DOS ANJOS]

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é só o discurso com elementos populares que irá caracterizar o populismo, mas sim quando os

elementos populares democráticos apresentarem uma noção antagônica face à ideologia do

bloco dominante (LACLAU, 1979, p. 179).

O populismo significa questionar a ordem institucional mediante a construção de um povo como agente histórico - é dizer, um agente que é o outro em relação a ordem vigente . Mas isso é equivalente ao político [...] só temos política através do gesto que abarca o estado das coisas existentes como um todo sistêmico [...] Esta é a razão pela qual o fim do populismo coincide com o fim da política’ (LACLAU, 2005, p. 49).

O autor explica que enquanto houver política haverá divisão social. Nesse sentido,

quando se refere à política quer dizer em um sentido mais amplo: não somente a praticada

dentro do Estado, mas também aquela que ocorre dentro de uma pequena comunidade ou um

prédio, ou seja, em qualquer lugar onde exista um representante que exerça a mediação da

relação entre as pessoas.

Para Laclau, é o afeto que organiza e compõe o todo social, os laços afetivos garantem

a coesão das massas e, por essa razão, o populismo estaria vinculado à lógica social, sendo um

modo de construir o político. Quando se pensa no populismo de forma banalizada ocorreria

uma difamação da massa.

Para explicar a coesão das massas, Laclau busca em Gustave Le Bon, a forma como

um indivíduo passa a ser um todo dentro da sociedade. Segundo Le Bon, quando o indivíduo

se junta à massa, ele perde sua identidade individual e assume a identidade do todo,

regressando a um estado primitivo de pensar e agir, perdendo sua capacidade crítica. Para

melhor explicar a coesão das massas, Laclau utiliza a explicação de Freud baseada na ideia de

amor e narcisismo para justificar como e de que forma a “massa” se reúne, tornando-se um

todo na sociedade.

Os indivíduos em um grupo se comportam como se fossem homogêneos, toleram a especificidade do outro, se consideram como seu igual e não sentem repulsa em relação a ele. Tal limitação do narcisismo, segundo nosso ponto de vista teórico, só pode ser produzido por esse fator, um vínculo libidinal com outras pessoas (FREUD, 1921 apud LACLAU, 2009, p. 102).

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Para Freud, o indivíduo está vinculado ao social a partir do momento em que nasce,

pois interage durante toda a vida com os outros. O psicólogo explica que a única coisa que

interfere no narcisismo e na psicologia individual é justamente essa relação com o mundo

social que o indivíduo tem desde sempre; uma relação baseada em sentimentos, afetos e,

principalmente, no amor, o qual Freud diz ser o sentimento que mais vincula as pessoas entre

si. Este último aspecto vai interferir na psicologia das massas indiretamente, pois vai fazer

com que o indivíduo acompanhe sempre o social e a multidão. Porém, apesar de serem

elementos significativos para pensarmos na integração do povo como agente histórico, no

âmbito da relação entre o povo e o líder carismático, não é o amor que os conecta, isto é, o

amor não vincula o povo ao líder carismático, da mesma forma que o homem não serve ao

exército por amor ao seu comandante; a “escolha” do líder está vinculada à confiança que o

mesmo transmite ao povo, a partir de seus discursos. O amor e o afeto são originários dessa

vinculação da ‘massa’.

Para entender a lógica do populismo de Laclau, é preciso compreender a lógica da

formação do povo. Este último é formado pela heterogeneidade, o afeto e, principalmente, a

insatisfação das demandas. São estes aspectos que unem o povo por uma ideia comum;

tornando-se um todo homogêneo dentro da sociedade.

Em sua obra La Razón Populista (2005), o autor explica que, para entender a

articulação populista, devemos identificar unidades menores: a questão da “demanda social”,

que está ligada a dois significados: pedido ou reivindicação. No trecho abaixo o autor

exemplifica como uma demanda isolada pode gerar uma demanda satisfeita ou insatisfeita,

levando em consideração que a transformação das demandas vai de acordo com a intervenção

do bloco de poder. No caso citado, a demanda isolada são os migrantes que acabaram de se

estabelecer nas favelas. O autor utiliza uma situação imaginária, porém válida para refletirmos

sobre o caso do populismo na América Latina:

Pensemos em uma grande massa de migrantes agrários que se estabeleceram em favelas localizadas na periferia de uma cidade industrial em desenvolvimento. Surgem problemas de habitação e o grupo de pessoas afetadas pede às autoridades locais, algum tipo de solução (LACLAU, 2005, p. 98).

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No caso acima, a demanda teria resultado em um pedido; se as autoridades atendessem

ao pedido, a demanda ficaria satisfeita; porém, se as autoridades não resolvessem o problema,

a demanda insatisfeita serviria de elemento comum a outros vizinhos e companheiros que

também possuíam problemas e estariam igualmente insatisfeitos; o que iria ocorrer se as

autoridades não tomassem atitudes, é que a demanda insatisfeita iria ganhar cada vez maiores

proporções e esse problema passaria a intervir na relação entre governo e a demanda social.

Laclau diz que aqui haveria a formação de uma fronteira interna e os pedidos

passariam a ser convertidos em reivindicações. A partir da pluralidade das demandas,

constrói-se uma subjetividade social mais ampla que Laclau denomina “demandas populares”

que darão inicio à construção do povo como ator histórico potencial. Este seria o estado

embrionário do populismo, tendo como pressuposto a formação de uma fronteira interna

antagônica separando o povo do poder e a articulação equivalencial de demandas que faz

possível o surgimento do povo. Essa articulação equivalencial é uma articulação valorativa, no

sentido de igualdade de valor para as demandas.

É importante ressaltar que, além das demandas, o povo possui uma estrutura interna

que é o populus e a plebs; “o populus como é dado – como o conjunto de relações sociais tal

como elas factualmente são – se revela a si mesmo como uma falsa totalidade, como uma

parcialidade que é fonte de opressão” (LACLAU, 2005, p. 123). O autor afirma que a

universalidade do populus e a parcialidade da plebs são o local onde descansa a peculiaridade

do povo. A demanda representa, então, um grupo de pessoas ou até mesmo uma comunidade

que forma uma cadeia equivalencial, o populus, na qual as relações sociais representam uma

falsa totalidade, enquanto o plebs seria uma sociedade justa existente no ideal que constrói o

populus verdadeiramente universal. Aqui está contida uma tensão permanente entre a

universalidade e a parcialidade do conceito, sendo o povo, então, uma categoria política. É

essa tensão que dá origem ao discurso populista.

O autor explica que ainda existe um terceiro pressuposto: a unificação de diversas

demandas, alcançado quando a mobilização política está em nível mais elevado:

Todas as dimensões estruturais que são necessárias para elaborar o conceito desenvolvido estão contidas em mobilizações locais as quais nos referimos. Essas dimensões são três: a unificação de uma pluralidade de demandas em

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uma cadeia equivalencial; a unificação de uma fronteira interna que divide a sociedade em dois campos; a consolidação da cadeia equivalencial mediante a construção de uma identidade popular que é qualitativamente algo mais que a simples soma dos laços equivalenciais (LACLAU, 2005, p. 102)

A partir disso, Laclau diz que não há intervenção política que até certo ponto não seja

populista. Não significa dizer, por outro lado, que todos os projetos políticos sejam populistas.

Este último depende da extensão da demanda social envolvida. Logo, entendemos que a

construção do povo como um ator político por excelência, em oposição à administração dentro

de um quadro institucional estável, é o que caracteriza o populismo de Laclau. Desse modo, as

pré-condições para o surgimento do populismo poderiam ser elencadas na seguinte forma: a

formação de uma fronteira interna antagônica separando o povo do poder e uma articulação

equivalencial de demandas que tornam possíveis o surgimento do povo, no qual as identidades

populares requerem correntes equivalenciais de demandas insatisfeitas.

Para Laclau, o populismo não necessariamente implicaria em uma manipulação cínica

ou instrumental por parte dos políticos e tampouco se caracterizaria como uma “constelação

fixa”, mas sim como um arsenal de ferramentas retóricas que podem ter diversos usos

ideológicos.

Considerada assim a formação do povo como agente histórico, a liderança populista se

insere através de uma pessoa fora do sistema, a qual toma partido dos interesses do povo, em

busca de uma mobilização antissistema. Tal mobilização se dá quando o equilíbrio entre o

povo e o bloco de poder é quebrado, geralmente quando não há um instrumento de mediação

para conectar essas demandas populares e o bloco de poder. Isso nos leva a importância do

discurso, mecanismo pelo qual as duas classes são interpeladas, algumas vezes, neutralizando

o antagonismo entre as mesmas. Porém, não se pode considerar um discurso populista só

porque alcança o povo. Na verdade, o populismo surge quando as interpelações populares

democráticas são articuladas por alguma classe contra o bloco de poder dominante em uma

situação de crise, que vai gerar demandas não atendidas de diferentes setores que, por sua vez,

não são incluídas no sistema.

Portanto, o líder carismático, seria aquela pessoa que procura sempre favorecer o bem

estar do povo e que não precisa estar necessariamente na política. Como havíamos dito, o

populismo pode surgir em uma comunidade ou até mesmo em um prédio ou rua; é sempre

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IDENTIDADES COLETIVAS* ELISA ROUBERT LAGE DOS ANJOS]

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uma liderança que conquista a confiança do povo e luta pelos seus interesses e bem-estar. Fica

claro, nesse sentido, como a classe dominada – povo - é o sujeito que expressa seus interesses

e o líder a representa.

Conclusão

Laclau se baseia em diferentes disciplinas para fundamentar sua explicação do

populismo. Para o autor, o conceito não é somente um movimento ou uma ideologia, mas sim,

o processo de construção do político. O que importa, além do desenvolvimento da sociedade e

das formações da classe na caracterização do populismo, é a formação do povo, que, como

vimos, pode ser bem complexa, não partindo de uma estrutura pré-estabelecida como as outras

teorias afirmam.

Laclau explica como o populismo é diferente de uma manipulação do líder sobre a

‘massa’ e como pode estar presente em toda e qualquer sociedade. Trata-se, portanto, de um

movimento positivo, de constituição do povo como agente histórico, que não pode ser

banalizado como tradicionalmente o é.

Laclau argumenta que o populismo deve ser visto como uma categoria de pensamento

político - ontológica - e não ôntica. Portanto, o seu significado deve ser encontrado no modo

de articulação de conteúdos sociais, políticos ou ideológicos (LACLAU, 2009, p. 53).

É possível identificar o populismo como uma lógica política ou uma formação política

e não somente como um tipo de movimento relacionado a uma classe social. Na verdade, sua

articulação política é fundamentada nas demandas insatisfeitas que é formada a partir da plebs

(povo). Laclau explica que o fim do populismo levaria ao fim da política, pois anularia a

divisão social e transformaria a administração política.

A partir da articulação de todas as demandas e da formação do agente “povo”, a

liderança carismática se constituiu na América Latina como um instrumento de mediação que

visava atendê-las. Em outras palavras, em sociedades extremamente vulneráveis no âmbito da

institucionalidade democrática liberal representativa, a liderança carismática se transforma no

meio para que haja o atendimento das demandas formuladas pelo povo contra oligarquias

locais.

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A crítica de Laclau à Teoria Modernização refere-se àquilo que Jorge Ferreira

caracterizou como as duas gerações que sustentam o populismo como uma espécie de ‘rito’ de

passagem da sociedade tradicional para a moderna. Para o autor, o populismo poderia ser

encontrado em países desenvolvidos também. Em síntese, é passível de aparecer em qualquer

contexto marcado por uma fragilidade das instituições representativas em que haja uma

articulação do povo como agente histórico para reivindicar suas demandas.

Segundo Vicente Ribeiro, “para Laclau, o populismo é uma lógica política surgida em

momentos de crise hegemônica que interpela o povo de maneira a exercer ações contrárias ao

bloco de poder dominante. Logo, tal lógica pode operar em movimentos com distintas bases

sociais e orientações ideológicas” (RIBEIRO, 2009). A modernização de uma sociedade não

é, assim, a principal característica para gerar uma política populista, pois a lógica do

populismo está sempre na quebra do equilíbrio entre o povo e o bloco de poder e não na

modernização e desenvolvimento da sociedade. O populismo se originaria da estrutura da base

social e não no caráter da modernização.

Apesar de Laclau montar toda uma estrutura de argumentação a favor de sua teoria,

alguns autores como Oliver Marchat e Diane Raby mostram que tal teoria é passível de

algumas críticas. Raby, por exemplo, diz que Laclau alcançou uma teorização com aspectos

dinâmicos dos movimentos populares, porém seu foco se baseia exclusivamente em um

discurso e está aquém da realidade de uma formação social específica. Já Marchat critica a

generalização do populismo ao torná-lo sinônimo de política.

Uma questão interessante foi levantada por Rafael Ioris (2010), que desenvolveu uma

pesquisa sobre a falta de rigor do uso do conceito populismo. Apesar de Laclau não se

encaixar em tal discurso, Ioris diz “que há uma delimitação bastante rigorosa no conceito de

Laclau, cuja consequência é a ampliação do número de ocorrências nos mais diversos

contextos históricos justamente por não articular tal lógica a nenhum deles particularmente”

(IORIS, 2010).

Lívia Cotrim (2010) questiona que a teoria de Laclau não está tão distante das

tradicionais, somente por analisar o termo de forma positivada. Slavoj Zizek critica o

populismo de Laclau em vários pontos, principalmente no que fiz respeito à noção de

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demanda. Para Zizek, a demanda tal como apresentada por Laclau não capta a verdadeira

natureza da confrontação durante o ato revolucionário (ZIZEK, 2000).

Em síntese, para Laclau, o populismo surge quando há um desequilíbrio na relação

entre o povo e o bloco de poder e a partir de tal situação, surge um líder, preferencialmente

uma pessoa ligada ao povo, com carisma e com a intenção de lutar pelo beneficio do mesmo.

O povo é gerado a partir de demandas insatisfeitas que se unem por um bem comum. A ideia

de sua teoria é resgatar o conceito dentro das ciências sociais e estudá-la não como uma forma

degradada de democracia, mas como um governo que permite ampliar as bases democráticas

da sociedade, sendo uma forma de pensar as identidades sociais, um modo de articular as

demandas, uma maneira de construir o político.

Trata-se, portanto, de uma abordagem oportuna para refletirmos sobre os fenômenos

latinoamericanos, especialmente, no que se refere à articulação do povo como agente histórico

e sua relação com as lideranças carismáticas fugindo de soluções simplistas ou escapistas que

ora reduzem tudo a um viés manipulatório e pejorativo, ora abandonam completamente o

conceito por considerá-lo impregnado de um significante vazio. Ser-se-á possível dissociar o

populismo dos sentidos que lhe são inerentes no senso comum, não sabemos, mas a proposta

de Laclau aponta caminhos alternativos válidos para construirmos uma nova abordagem do

termo.

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