uma doce experiência em apicultura

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A apicultora Expedita da Silva Ferraz, de 40 anos, e seus dois filhos; Vitória, de 7 anos e João Victor, de 4 anos, moram na Serra do Inácio, no município de Santa Filomena. A propriedade de 30 hectares foi adquirida em 1992, mas Expedita só se mudou com os pais dela há 16 anos. Contudo, antes da mudança, a família já tinha começado a trabalhar na nova propriedade rural. Quando era jovem, a apicultora morava em outra comunidade, na época que Santa Filomena ainda era distrito de Ouricuri. Expedita conta que naquele tempo tinha uma vida bem mais difícil. Quando ela chegou na propriedade em que mora, só havia uma cisterna quadrada pequena, e ainda assim estava quebrada. Além do acesso à água, outra dificuldade que a família tinha era a ausência de energia na comunidade, problema que só foi resolvido em 1995. “Em relação à água, por e xemplo, tem pessoas por aqui que deixam de comprar pão para construir uma cisterna, a situação nos obriga a isso”, revela Expedita. Ela conta que depois que o inverno passava, todas as fontes de água da comunidade secavam, então foi preciso fazer um barreiro de cimento pequeno para armazenar a água da chuva. Durante muito tempo, a família de Expedita teve que se deslocar quase 10 quilômetros, para buscar água no açude do Amaro. As latas eram trazidas nas carroças dos animais. Quando era possível, eles compravam água de carro pipa. Alguns anos depois, as condições de vida foram melhorando e a apicultora conseguiu recursos para construir uma cisterna de placas com capacidade para armazenar 15 mil litros de água para beber e cozinhar. Com isso, a água do barreiro pequeno ficou sendo utilizada só para as atividades domésticas e produtivas. Aos poucos, Expedita foi percebendo a necessidade de água, e atualmente, ela conta com 6 reservatórios na propriedade construídos com recurso familiar. O último deles foi levantado há 1 ano. Logo quando começou a trabalhar com roça, Expedita plantava feijão, milho, mandioca e mamona em pouca quantidade. O sustento da família era garantido na Feira do Povoado de Socorro, onde ela vendia farinha, goma e feijão. Ela plantava para o consumo e com a renda da comercialização Pernambuco Ano 5 | nº 122 | julho | 2011 Santa Filomena - Pernambuco Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Uma doce experiência em apicultura 1 A agricultora Expedita com os seus filhos; Vitória e João Victor. A família colhendo mandioca na propriedade.

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Page 1: Uma doce experiência em apicultura

A apicultora Expedita da Silva Ferraz, de 40 anos, e seus dois filhos; Vitória, de 7 anos e João Victor, de 4 anos, moram na Serra do Inácio, no município de Santa Filomena. A propriedade de 30 hectares foi adquirida em 1992, mas Expedita só se mudou com os pais dela há 16 anos. Contudo, antes da mudança, a família já tinha começado a trabalhar na nova propriedade rural. Quando era jovem, a apicultora morava em outra comunidade, na época que Santa Filomena ainda era distrito de Ouricuri.

Expedita conta que naquele tempo tinha uma vida bem mais difícil. Quando ela chegou na propriedade em que mora, só havia uma cisterna quadrada pequena, e ainda assim estava quebrada. Além do acesso à água, outra dificuldade que a família tinha era a ausência de energia na comunidade, problema que só foi

resolvido em 1995. “Em relação à água, por e x e m p l o , t e m pessoas por aqui que deixam de comprar pão para construir uma cisterna, a situação nos obriga a isso”, revela Expedita. Ela conta que depois que o inverno passava, todas as fontes de água da comunidade secavam, então foi preciso fazer um barreiro de cimento pequeno para armazenar a água da chuva.

Durante muito tempo, a família de Expedita teve que se deslocar quase 10 quilômetros, para buscar água no açude do Amaro. As latas eram trazidas nas carroças dos animais. Quando era possível, eles compravam água de carro pipa. Alguns anos depois, as condições de vida foram melhorando e a apicultora conseguiu recursos para construir uma cisterna de placas com capacidade para armazenar 15 mil litros de água para beber e cozinhar. Com isso, a água do barreiro pequeno ficou sendo utilizada só para as atividades domésticas e produtivas. Aos poucos, Expedita foi percebendo a necessidade de água, e atualmente, ela conta com 6 reservatórios na propriedade construídos com recurso familiar.

O último deles foi levantado há 1 ano. Logo quando começou a trabalhar com roça, Expedita plantava feijão, milho, mandioca

e mamona em pouca quantidade. O sustento da família era garantido na Feira do Povoado de Socorro, onde ela vendia farinha, goma e feijão. Ela plantava para o consumo e com a renda da comercialização

Pernambuco

Ano 5 | nº 122 | julho | 2011Santa Filomena - Pernambuco

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Uma doce experiência em apicultura

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A agricultora Expedita com os seus filhos; Vitória e João Victor.

A família colhendo mandioca na propriedade.

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do excedente, comprava outros produtos que ela não produzia. A apicultora diz que as mudanças só começaram a acontecer mesmo no ano de 2000, período que as famílias se organizaram para criar uma associação na comunidade. Expedita é sócio-fundadora da Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais e Produtores de Mandioca do Sítio Serra do Inácio.

Em 2004, o grupo de associados conseguiu um projeto de apicultura, através da parceria com o Núcleo de Educadores Populares do Sertão de Pernambuco (Neps). Na oportunidade, 25 sócios/as foram envolvidos/as no projeto, entre elas, Expedita. Inicialmente cada agricultor/a recebeu 5 caixas, como também os equipamentos necessários para desenvolver a atividade produtiva. “A gente participou de um curso composto por 3 etapas, e que explicou desde a captura das abelhas até o manejo. No ano seguinte, eu fiz minha primeira colheita, e desde então, me considero apicultora e sou muito feliz”, resume Expedita.

Como o projeto era comunitário, só havia uma centrífuga para atender todo o grupo, então depois de um tempo, a apicultora não só comprou a própria centrífuga, como também, aos poucos, foi possível comprar o material completo utilizado na atividade. À medida que a dedicação de Expedita aumentava, as condições possibilitavam novas aquisições. Atualmente ela multiplicou o número de caixas e tem aproximadamente 30 em seu apiário. “Ano passado a colheita foi

fraca, mas só esse ano já vendi 306 quilos de mel e apurei quase dois salários mínimos”, detalha a apicultora. A produção é vendida a um atravessador da região, mas ela diz que está vendo a possibilidade de participar de um grupo que acessa o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), do Governo Federal, oportunidade que ela considera ser mais rentável. Atualmente, além dos cultivos de mandioca e milho, Expedita conta com um criatório de galinhas, que contribui com a alimentação familiar. Ela também é professora na comunidade, mas acredita que se todos os anos a florada fosse boa, dava pra sobreviver só da apicultura. Há 1 ano, através de um intercâmbio, ela visitou um entreposto na cidade do Piauí. Na ocasião, ela conheceu todo o processo industrial que envolve a atividade da apicultura.

A apicultora sonha em adquirir mais recursos para ampliar o seu apiário, e também fazer um reflorestamento para pastagem apícola, com o objetivo de diversificar a florada para que as abelhas possam produzir mel o ano inteiro.

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Apoio:

www.asabrasil.org.br

A apicultora fazendo o manejo das abelhas.