um século de engenharia mecânica na feup i engenharia...
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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Engenharia Mecânica: Presente e Futuro
Projeto FEUP 2015/2016 – Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica:
Equipa: 1M02-01
Supervisora: Teresa Duarte | Monitores: Filipe Coutinho
Sérgio Moreira
Autores:
Carlos Tártaro Vieira da Silva [email protected] Guilherme Fernando M. C. Gomes [email protected] James Duncan Sinclair Hooton [email protected] Luís Miguel Russo Lopes Santos [email protected] Ricardo Brandão Rodrigues [email protected]
Um Século de Engenharia Mecânica na FEUP
Porto, 2 de novembro de 2015
Um Século de Engenharia Mecânica na FEUP I Engenharia Mecânica: Presente e Futuro
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RESUMO
Com o objetivo de se procurar algumas respostas sobre a engenharia mecânica
e a FEUP (Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto), bem como refletir
sobre os novos desafios, o presente relatório vai incidir sobretudo sobre quatro
grandes pontos: no conceito de engenharia mecânica e sua evolução; no ensino do
Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica na FEUP; na importância e aplicação da
engenharia mecânica e numa reflexão sobre o futuro engenheiro mecânico.
O trabalho iniciar-se-á pelo conceito de engenharia mecânica, fazendo-se, para
tal, um enquadramento da sua evolução e relevância. No ensino da engenharia
mecânica abordar-se-á o modo como o curso está estruturado, da qualidade, quer do
ensino, quer dos seus docentes, do contributo da faculdade na integração do futuro
engenheiro na vida ativa e na relação que a FEUP tem com o exterior, nomeadamente
com as empresas. Na questão da relevância da mecânica, e retomando o
relacionamento da FEUP com o tecido industrial, dão-se alguns exemplos de
aplicações da engenharia mecânica, optando-se por três áreas, todas com projetos
de investigação e desenvolvimento com a colaboração do INEGI (Instituto de Ciência
e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial): indústria automóvel,
também por se considerar uma área apelativa a nível de mercado de trabalho, e a
biomecânica e nanotecnologia por se considerarem áreas de investigação de forte
impacto no futuro. Por fim faz-se uma breve reflexão sobre os desafios do futuro
engenheiro mecânico e do seu posicionamento face ao mundo atual, fazendo-se uma
abordagem prospetiva das três áreas anteriormente abordadas, bem como uma
projeção do futuro da FEUP e do Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica.
Palavras-chave: FEUP, Engenharia Mecânica, ensino, qualidade, INEGI,
futuro.
Um Século de Engenharia Mecânica na FEUP I Engenharia Mecânica: Presente e Futuro
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ÍNDICE
Resumo ................................................................................................................................. 2
Lista de figuras ...................................................................................................................... 4
Introdução .............................................................................................................................. 5
1– Evolução do conceito de Engenharia Mecânica ................................................................ 6
2 – Engenharia Mecânica na FEUP ....................................................................................... 9
2.1. – A Qualidade na FEUP ....................................................................................... 9
2.2. – Estrutura e objetivos do curso de Engenharia Mecânica na FEUP .................. 11
2.3 – A FEUP e o mundo empresarial ....................................................................... 14
3 – Aplicações da engenharia mecânica .............................................................................. 16
3.1. – Indústria automóvel ......................................................................................... 16
3.2. – Biomecânica ................................................................................................... 18
3.3. – Nanotecnologia ............................................................................................... 20
4 – Previsão para o futuro .................................................................................................... 22
4.1. – O engenheiro mecânico do futuro ................................................................... 22
4.2. – Visões prospetivas de algumas aplicações da engenharia mecânica.............. 24
4.2.1. – Indústria automóvel ........................................................................... 24
4.2.2. – Biomecânica...................................................................................... 25
4.2.3. – Nanotecnologia ................................................................................ 26
4.3. – O futuro da FEUP e do Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica ............ 26
Conclusão ............................................................................................................................ 28
Referências Bibliográficas ................................................................................................... 29
Um Século de Engenharia Mecânica na FEUP I Engenharia Mecânica: Presente e Futuro
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Movimento de uma pedra com recurso a uma alavanca ........................................ 6
Figura 2 - Máquina a vapor de Thomas Newcomen, aperfeiçoada depois por James Watt
(1769) .................................................................................................................................... 7
Figura 3 - 1º computador - Colossus ...................................................................................... 7
Figura 4 - Marca de Qualidade EUR-ACE .............................................................................. 9
Figura 5 - INEGI ..................................................................................................................... 9
Figura 6 - Sistema de Gestão da Qualidade ........................................................................ 10
Figura 7 - Professor António Pinto Barbedo de Magalhães .................................................. 10
Figura 8 - Qualidade no MIEM ............................................................................................. 11
Figura 9 - Estrutura do Curso de Engenharia Mecânica na FEUP ....................................... 12
Figura 10 - Competências profissionais a adquirir no fim do Mestrado Integrado de
Engenharia Mecânica .......................................................................................................... 13
Figura 11- Oferta ID&I .......................................................................................................... 13
Figura 12 - Projeto SIMCABLE- Simulação Mecânica de Atuadores por Cabo .................... 13
Figura 13 - Projeto PNGHFT- Nova geração de tanques híbrido de combustível ................. 13
Figura 14 - Projeto AUTO CLASS ........................................................................................ 13
Figura 15- A Biomecânica e as forças no movimento mecânico do corpo humano .............. 13
Figura 16 - Projeto TOOLING EDGE ................................................................................... 13
Figura 17 - Projeto PET II- Equipamento para mamografia utilizando a tecnologia PET ...... 13
Figura 18 - Projeto BIOSPINE- tratamento de patologias da coluna vertebral ..................... 13
Figura 19 - COST- Materiais Nano Compósitos ................................................................... 13
Figura 20 - NANOFLUÍDOS MAGNÉTICOS- Modelação e controlo do processo de
moldação ............................................................................................................................. 13
Figura 21 - Projeto EUCARBON- European Space qualified carbon Fibers and Impregnated
Based Materials ................................................................................................................... 13
Figura 22- Protótipo de veículo autónomo ........................................................................... 13
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INTRODUÇÃO
O que é a engenharia mecânica? Como é que a FEUP ensina e motiva os seus
estudantes? Como é que os integra no mundo empresarial? Qual a relevância da
engenharia mecânica no mundo? E como será o futuro engenheiro mecânico?
O presente relatório, realizado no âmbito no Projeto FEUP, pretende,
fundamentalmente, procurar respostas a estas questões e com isso, adquirir mais
conhecimentos, quer no que diz respeito à FEUP em relação estreita com o Mestrado
Integrado em Engenharia Mecânica, quer com o estado atual da engenharia
mecânica, tentando perceber de que forma a engenharia mecânica tem relevância no
mundo real, bem como fazer-nos despertar para os novos desafios.
Se, no fim do trabalho, o conhecimento adquirido, a curiosidade, a motivação
tiver aumentado, então este terá sido, sem dúvida, um desafio ganho.
Por outro lado, e não menos importante, também se espera que este relatório
ao ser o primeiro trabalho de grupo na FEUP, também ele possa contribuir, de alguma
forma, para melhorar as nossas próprias capacidades e competências.
Um Século de Engenharia Mecânica na FEUP I Engenharia Mecânica: Presente e Futuro
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1 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE ENGENHARIA MECÂNICA
Para Adnan Akay1 (cit. por Barbedo de Magalhães, D. Santos e Falcão e Cunha
2015, XVI) a Engenharia Mecânica é uma engenharia “que trata das preocupações
sociais através da análise, projeto e construção de sistemas, qualquer que seja a sua
dimensão e escala” e, embora atualmente seja o conceito mais aceite, nem sempre
foi assim.
Ao longo da história existem descobertas, invenções, que pela sua importância
e relevância, foram determinantes na evolução da Engenharia Mecânica, constituindo
verdadeiros marcos, pontos de viragem.
É o caso da descoberta e domínio do
fogo que permitiu a invenção, produção e
utilização de ferramentas e utensílios, vindo
mais tarde a ser decisivo para o
desenvolvimento da metalurgia. Nesta altura,
as necessidades básicas de sobrevivência
levavam o homem a criar instrumentos,
sobretudo, que se revelassem úteis no seu
dia-a-dia, dos quais as armas de caça, a alavanca (figura 1) e a roda foram alguns
dos exemplos. Estavam assim dados os primeiros passos na “Engenharia”.
Com o desenvolvimento da linguagem, falada e escrita, o homem ganha outra
capacidade de comunicar e de se relacionar, e com a invenção da agricultura surgem
novas ferramentas e utensílios. A sedentarização dá lugar ao nascimento de aldeias
e cidades, dando-se uma verdadeira revolução tecnológica e social. A invenção da
imprensa transforma completamente a sociedade, permitindo outras experiências e
mais conhecimento. Surgem as estradas, os veículos de transporte (como foi o caso
das embarcações determinantes nos Descobrimentos), as pontes, as habitações, as
canalizações, as máquinas de guerra, etc. Um grande passo na evolução da
engenharia mecânica dá- se com a invenção da máquina a vapor (figura 2), a qual
vem permitir o aparecimento de máquinas para mover equipamentos e para a
1 Professor e Chefe Emérito do Departamento de Engenharia Mecânica da Carnegie Mellon University
Figura 1 - Movimento de uma pedra com recurso a uma alavanca
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indústria, com enormes reflexos no aumento da
produtividade e criação de postos de trabalho, bem
como novos meios de transporte, mais rápidos,
baratos e seguros, como os barcos a vapor e o
comboio, trazendo enormes vantagens, quer no
transporte de mercadorias quer no de passageiros.
Dão-se assim verdadeiras revoluções na área dos
transportes, indústria e mecânica com grandes
impactos sociais, económicos, políticos e culturais.
Assiste-se a uma enorme e acelerado desenvolvimento das indústrias e de
várias engenharias como a metalúrgica, a química e a elétrica, bem como à invenção
do motor de combustão interna dos veículos
motorizados, sobretudo o automóvel. A mobilidade
aumenta de uma forma drástica, surgindo novos
impérios, novos interesses e a luta pelo domínio e poder económico toma grandes
proporções com fortes disputas comerciais, desencadeando as duas grandes guerras
mundiais, alimentadas pelo poder do petróleo.
Outro marco importante em todo o processo da evolução da engenharia
mecânica foi a invenção e o desenvolvimento do computador (figura 3), o qual marcou
outro ponto de viragem, com enormes repercussões culturais, sociais, técnicas e
industriais, assim como a evolução de outras engenharias como a nuclear, a
biomédica, a bioengenharia, etc.
Figura 2 - Máquina a vapor de Thomas Newcomen, aperfeiçoada depois por James Watt (1769)
Figura 3 - 1º computador - Colossus
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A conjugação da grande evolução de todas estas engenharias a par dos
avanços científicos e tecnológicos, dos computadores, da internet e de todos os meios
de comunicação e informação que dispomos, contribuíram decididamente para que
hoje estejam reunidas todas as ferramentas necessárias para um desenvolvimento
económico, social e ambiental sustentável, para isso é no entanto necessário que o
homem assim o queira e que os interesses políticos económicos não se sobreponham.
Hoje a Engenharia Mecânica é de facto muito mais do que simplesmente o
conceito do Webster’s II New College Dictionary, 2001 (cit. por Barbedo de
Magalhães, D. Santos e Falcão e Cunha 2015, XVI) “o ramo da engenharia que trata
da geração e aplicação do calor e do trabalho mecânico, do projeto e utilização de
máquinas e ferramentas”.
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2 – ENGENHARIA MECÂNICA NA FEUP
2.1.– A Qualidade na FEUP
A FEUP é uma instituição que se orgulha em proporcionar aos seus estudantes
um local onde o pensamento criativo, crítico e a inovação são premiados e celebrados,
focando-se em proporcionar um ensino de qualidade, o que contribuiu para que se
tenha tornado na primeira faculdade de engenharia em Portugal reconhecida com o
selo de qualidade EUR-ACE®2 (figura 4), um sistema de acreditação que distingue os
cursos de Engenharia de alta qualidade na Europa e no resto do mundo.
O Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica da FEUP ao obter esta acreditação
em 2008 (SIGARRA 2015 C), que se pauta por critérios de reconhecida exigência com
elevados padrões educacionais, ganhou reconhecimento internacional, permitindo
aos seus estudantes uma mobilidade ímpar, tanto académica como profissional.
O DEMec, Departamento de Engenharia
Mecânica, responsável pelo Mestrado Integrado em
Engenharia Mecânica e o INEGI, (figura 5),
diretamente vocacionado para a investigação e
inovação de apoio à indústria, elevaram a FEUP a
uma outra dimensão de envolvimento com o exterior,
não se limitando a fornecer engenheiros para o
mercado de trabalho, mas também a desenvolver, quer a sua própria investigação,
quer no apoio direto ao tecido industrial, em projetos de investigação,
desenvolvimento e inovação, formando várias parcerias que se têm revestido de uma
enorme importância na engenharia mecânica, quer no campo da investigação, quer
no apoio de estágios e projetos de fim de curso, como são exemplos a Amtrol Alfa, a
2 Selo de qualidade emitido pelo European Network for Accreditation of Engineering Education
Figura 4 - Marca de Qualidade EUR-ACE
Figura 5 - INEGI
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A. Brito, a Adira, a Caetano Bus, a Continental Mabor, a Medmat Innovation, a Frezite,
a Renault, a Refer, etc. Em termos internacionais, o reconhecimento da qualidade da
investigação permite-lhe trabalhar com entidades prestigiadas como a ESA (European
Space Agency), a EDA (European Defence Agency), a Airbus ou a Boeing. O INEGI, com mais de 25 de existência e com
um Sistema de Gestão de Qualidade implantado
(figura 6), conta ainda com duas unidades de
Investigação e Desenvolvimento credenciadas pela
FCT-Fundação para a Ciência e Tecnologia,
nomeadamente a unidade de Mecânica Experimental
e Novos Materiais (EXPMAT) e unidade de Novas Tecnologias e Processos
Avançados de Produção (NOTEPAP), sendo ainda membro do Laboratório Associado
para a Energia, Transportes e Aeronáutica (LAETA). Em termos de produção
científica, e de acordo com o Relatório de Atividades e Contas de 2014 do INEGI, o
número de projetos em curso financiados pela FCT eram 30, e as publicações
científicas, excluindo as citações, 244. Se internacionalmente o INEGI é um centro de
excelência europeu também a qualidade do corpo docente e de investigação do
DEMec está bem patente, tendo contribuindo para que o curso de engenharia na
FEUP tenha sido reconhecido internacionalmente ao obter em 2012 o 7º lugar a nível
europeu e 30º a nível mundial no Ranking de Taiwan, a melhor classificação nacional
para os cursos de Engenharia em todas as áreas científicas.
A qualidade da docência, da qual o Professor António Pinto Barbedo de
Magalhães (figura 7) é um exemplo bem ilustrativo, quer pela sua entrega ao ensino
Figura 6 - Sistema de Gestão da Qualidade
Figura 7 - Professor António Pinto Barbedo de Magalhães
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e a algumas das preocupações que afetam a sociedade, quer pelas obras publicadas,
sendo autor e promotor de vários projetos, também ele “filho” da FEUP, reflete-se
naturalmente na formação dos novos estudantes de engenharia mecânica.
A vontade de estar na vanguarda do conhecimento empurrou a FEUP para a
participação em diversos projetos desenvolvidos globalmente, incentivando
constantemente a participação ativa dos seus alunos em programas de estágio,
permitindo o contacto com novas culturas, bem como formações em contextos
profissionais em parceria com instituições, nacionais e internacionais, mundialmente
reconhecidas.
O DEMec, o INEGI e a Docência são assim sinónimos de Qualidade da
Engenharia Mecânica na FEUP (figura 8).
2.2.– Estrutura e objetivos do curso de engenharia mecânica na FEUP
O curso de engenharia mecânica distingue-se de todos os outros pela grande
diversidade no que diz respeito às saídas profissionais, pela sua exigência, bem como
na formação do próprio individuo no que diz respeito a competências pessoais, o que
permite a garantia a todos aqueles que terminam o curso a estarem mais bem
preparados para os desafios que os avizinham.
Figura 8 - Qualidade no MIEM
QualidadeDOCÊNCIA
DEMecINEGI
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O Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica passou, desde o ano letivo de
2006/2007, a estar de acordo com Declaração de Bolonha3, documento que constituiu
o início do Processo de Bolonha, o qual tem como principal objetivo “introduzir um
sistema mais comparável, compatível e coerente para o ensino superior europeu”
(EUR-Lex 2015). Neste sentido, o curso teve de se adaptar a uma estrutura baseada
em ciclos de estudos e créditos (ECTS), conferindo ao fim de três anos o grau de
Licenciado e ao fim de cinco o grau de Mestre, sendo ainda possível, no final dos cinco
anos, a obtenção do grau de Doutoramento (figura 9).
Deste modo, a FEUP consegue uma estrutura do curso de mecânica que
cumpre na íntegra as indicações da Declaração de Bolonha, promovendo a
empregabilidade e a competitividade internacional do sistema europeu do Ensino
Superior, mantendo ao mesmo tempo um nível de qualidade que lhe era já
reconhecido.
E porque a mobilidade e o contacto com outras culturas são experiências que
a FEUP considera importantes na formação os seus alunos, durante o período de
estudos, os estudantes têm ainda a possibilidade de irem estudar para uma
universidade estrangeira através de vários programas de mobilidade como é caso do
ERASMUS, ERASMUS MUNDUS, MOBILE, entre outros.
Mas na FEUP, a Engenharia Mecânica não acontece só dentro da sala de aula,
pois a ação contínua de palestras, convenções, encontros, proporcionam aos
3 Documento assinado a 19 de junho de 1999 pelos Ministros da Educação de 29 países europeus,
dos quais Portugal faz parte.
3º Ciclo
(180 ECTS)
Doutoramento
(3 anos)
2 º Ciclo
(120 ECTS)
Mestrado
Integrado
(300 ECTS)
MIEM
(5 anos) 1º Ciclo
(180 ECTS
Figura 9 - Estrutura do Curso de Engenharia Mecânica na FEUP
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estudantes outras fontes de conhecimento e experiências importantes na sua
formação.
Pautando-se assim por elevados padrões de exigência, a FEUP considera que
os Engenheiros Mecânicos devem, no final do curso, possuir sólidos conhecimentos
em diversas áreas e que todos os seus estudantes devem adquirir uma série de
competências profissionais que considera básicas para exercerem de uma forma
ética, inteligente e íntegra o seu exercício (figura 10), não esquecendo para isso a
importância da formação contínua (SIGARRA 2015 A).
Por possuírem conhecimentos em muitas áreas, os Engenheiros Mecânicos são
profissionais que podem intervir também em várias atividades/setores e por isso o
leque de saídas profissionais tornam-se também mais vastas:
Construção de equipamentos mecânicos e térmicos (veículos automóveis e
ferroviários, máquinas-ferramentas, estruturas metálicas, caldeiras,
permutadores de calor...);
Ética
Inteligente
Íntegra
Resolver problemas com
competencia técnica
Reconhecer a necessidade e a importancia da experimentação
Comunicar de uma forma eficaz
Participar em equipas
multidisciplinares
Figura 10 - Competências profissionais a adquirir no fim do Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica
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Produção de energia (energia térmica, energia eólica, novas energias,
climatização, qualidade do ar interior...);
Planeamento e de gestão da produção (logística, transportes, manutenção
industrial, gestão de recursos humanos, gestão da qualidade...);
Automação industrial (automatização de linhas de produção, robótica,
sistemas de controlo...);
Desenvolvimento e aplicação de novos materiais (materiais cerâmicos,
compósitos, poliméricos, biomateriais …)
Projeto e desenvolvimento de novos produtos design integrado, ergonomia,
sustentabilidade,…)
Gestão de manutenção e reparação automóvel;
Criação de novas empresas de índole tecnológica;
Avaliação de projetos e consultadoria. (SIGARRA, 2015).
A qualidade dos engenheiros mecânicos que saem formados, fazem com que
mais de 90% dos recém-graduados da FEUP consiga emprego até ao terceiro mês
após conclusão do curso4.
2.3.– A FEUP e o mundo empresarial
Ao longo deste século, uma das grandes mudanças na FEUP passou de facto
pela abertura ao mundo exterior, nomeadamente com o mundo empresarial, relação
que se tem vindo a fortificar com enormes benefícios para a faculdade, para os
estudantes, para as empresas e para a sociedade.
As parcerias com as empresas e associações têm desempenhado um papel
fundamental a vários níveis, desde as palestras, às convenções, encontros, visitas de
estudo, estágios, constituindo muitas vezes verdadeiras rampas de lançamento de
muitos engenheiros mecânicos para o mercado de trabalho, como é o caso da A. Brito,
da Adira, da Amtrol Alfa, da Caetano Bus, da Continental Mabor, etc.
Para além deste tipo de colaboração, e no sentido de criar avanços em prol da
população, a FEUP, através do INEGI, com os seus laboratórios, oficinas e
ferramentas informáticas conseguiu impor-se como um agente importante no apoio às
4 Dados da Brochura MIEM no Sistema de Informação SIGARRA da Universidade do Porto
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empresas desenvolvendo parcerias com várias entidades, quer através de projetos de
investigação e desenvolvimento, quer de consultoria e até mesmo de prestação de
serviços (figura 11).
Muitos têm sido os projetos de investigação e desenvolvimento com aplicações
da mecânica em que o INEGI tem tido um papel de enorme relevância, sendo
praticamente impossível no âmbito deste trabalho falar de todos, pelo que, optou-se
por dar alguns exemplos integrando-os nos três setores que serão abordados no
capítulo seguinte referente às aplicações da mecânica, nomeadamente nas áreas da
indústria automóvel, biomecânica e nanotecnologia.
Fonte: INEGI
Oferta de ID&I no INEGI
Figura 11- Oferta ID&I
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3 – APLICAÇÕES DA ENGENHARIA MECÂNICA
Devido à sua enorme versatilidade a Engenharia Mecânica tem aplicações em
diversas áreas, desde a energia, à metalomecânica, à indústria automóvel e
transportes, ao ambiente, à aeronáutica, à saúde, à nanotecnologia, à biomecânica,
etc. Dada a sua enorme vastidão de aplicações, optou-se, a título de exemplo, por
restringir a três áreas, todas elas com projetos de investigação e desenvolvimento
com a participação do INEGI: indústria automóvel, também por se considerar uma
área apelativa a nível de mercado de trabalho, e a biomecânica e nanotecnologia por
se considerarem áreas de investigação de forte impacto no futuro.
3.1. – Indústria automóvel
A indústria automóvel (e os transportes) revolucionou completamente as
sociedades, assumindo um fator importantíssimo no desenvolvimento económico dos
países, sendo atualmente um dos setores de mercado de maior potência económica
a nível mundial, sendo igualmente uma das indústrias onde o desenvolvimento dos
processos científicos e tecnológicos tem trazido grandes mudanças.
Um dos primeiros avanços que hoje todos consideram normal é a caixa de
mudanças automática, onde um computador assume a função humana e toma a
decisão de mudança de velocidade. Mas existem muitos outros exemplos onde são
bem visíveis a evolução desta indústria: a tentativa de aplicação de caixas negras de
modo a perceber melhor as causas dos acidentes; a possibilidade da aplicação de
lasers e radares de pequeno porte para ajudar o condutor a evitar acidentes; os
progressos nas formas de travagem, como a travagem hidráulica, que aumenta
significativamente o conforto dos utilizadores, bem como os sistemas controlados por
computadores que permitem a travagem automática do carro, quando este se
encontra em locais de grande inclinação. Mais recentemente surgiram os processos
de estacionamento autónomo onde o condutor apenas precisa de posicionar o carro
à frente do lugar de estacionamento e ir mudando a caixa de velocidades da posição
“D” para a “R”, método aliás já utilizado pela marca alemã Mercedes-Benz nos seus
carros topo de gama Classe S. (SUPERINTERESSANTE 2015)
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Este é um dos setores onde o INEGI tem parcerias com várias entidades o que
lhe tem permitido participar e colaborar em diversos projetos de investigação e
desenvolvimento na área da mecânica (figuras 11,12,13).
Fonte: INEGI
Alguns projetos de investigação e desenvolvimento com a colaboração do INEGI
Projeto que consistiu na investigação e desenvolvimento de novas soluções de tanques híbridos de combustível de metal/plástico, com o objetivo de tornar o produto mais competitivo.
O objetivo é desenvolver uma
aplicação informática que
determine os esforços
envolvidos e o rendimento em
transmissões por cabo, com
acionamento manual ou
mecânico.
O objetivo constituía em desenvolver um sistema automatizado de classificação de pneus
Figura 13 - Projeto PNGHFT- Nova geração de tanques híbrido de combustível
Figura 12 - Projeto SIMCABLE- Simulação Mecânica de Atuadores por Cabo
Figura 14 - Projeto AUTO CLASS
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3.2. – Biomecânica
São várias as definições que existem para esta ciência, no entanto, e numa
análise meramente morfológica, “bio” é relativo aos seres vivos, logo Biomecânica
consistirá na aplicação dos princípios da Mecânica aos seres vivos. No fundo, a
Biomecânica dedica-se ao estudo do movimento humano, isto é, à análise e
compreensão dos movimentos mecânicos do corpo humano, aos fatores que os
condicionam e aos seus efeitos (IPB 2015), constituindo atualmente uma das áreas
em maior desenvolvimento.
Ao estar presente em todos os movimentos do dia-a-dia, desde o caminhar, ao
comer, até à prática de desporto de alto rendimento, facilmente se compreende que
se conseguíssemos entender os movimentos mecânicos do corpo humano e o
comportamento das suas estruturas internas, os benefícios poderiam ser enormes,
sobretudo para o desporto, onde os resultados poderiam ser otimizados e os riscos
de lesões reduzidos.
Atualmente a Biomecânica é uma área onde se verificam enormes trabalhos de
pesquisa, nomeadamente ao nível do conhecimento das estratégias e dos
mecanismos que os seres vivos desenvolvem para otimizar a sua resistência sem
comprometer a mobilidade, bem como ao nível da estrutura interna, cujo entendimento
de como o ambiente mecânico influencia as condições físicas das células, poderá ser
determinante para a compreensão de algumas questões ligadas à saúde. Por outro
lado, a utilização de fórmulas matemáticas e simulações computacionais na
Figura 15- A Biomecânica e as forças no
movimento mecânico do corpo humano
Um Século de Engenharia Mecânica na FEUP I Engenharia Mecânica: Presente e Futuro
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biomecânica permite contribuir para a reprodução do comportamento mecânico dos
tecidos vivos, bem como para otimizar o projeto de implantes, reparar fraturas ósseas,
entre outras situações envolvendo o corpo humano. (Barbedo de Magalhães, D.
Santos e Falcão e Cunha 2015).
A Biomecânica é uma ciência que só recentemente começa a chamar a
atenção e a impor-se no campo da investigação mas acredita-se que com grande
impacto num futuro muito próximo.
Também nesta área o INEGI tem vindo a formar parcerias envolvendo
conhecimentos de engenharia mecânica, participando em diversos projetos de
investigação e desenvolvimento (figuras 14, 15 e 16).
Fonte: INEGI
Alguns projetos de investigação e desenvolvimento com a colaboração do INEGI
Desenvolvimento de metodologias de projeto e fabrico de prótese de anca e de próteses maxilo faciais usando a fundição, o forjamento e a conformação plástica de ligas de titânio associadas ao acabamento final por maquinagem convencional e por maquinagem química.
O INEGI assegurou o desenvolvimento dos subsistemas de climatização e robotização do equipamento
Baseado em conhecimentos de biomecânica da coluna vertebral, um dos objetivos será o de permitir o desenvolvimento de ortóteses (coletes) para a correção ou contenção de escoliose.
Figura 16 - Projeto TOOLING EDGE
Figura 18 - Projeto PET II- Equipamento para mamografia utilizando a tecnologia PET
Figura 17 - Projeto BIOSPINE- tratamento de patologias da coluna vertebral
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3.3. – Nanotecnologia
A nanotecnologia é, provavelmente, a área de investigação que atualmente
mais tem suscitado o interesse por parte de toda a comunidade científica e da
sociedade de uma forma em geral.
De acordo com o publicado pela SOKANU- The World`s Best Career Test, “um
engenheiro no ramo da nanotecnologia é uma pessoa que trabalha com os fragmentos
mais pequenos e surpreendentes da ciência. Ele procura aprender novas técnicas e
conceitos que possam revolucionar os ramos da saúde, ciência, tecnologia e mesmo
do meio ambiente, integrando as várias funcionalidades da nanotecnologia,
demonstrando uma forte aptidão para a atenção aos detalhes e um desejo intenso
para o sucesso e inovação”.
As áreas de aplicação da nanotecnologia são muito diversas, desde a nano
medicina, que se foca no fabrico de estruturas moleculares, com o propósito de
tratamento ou prevenção de doenças ou anomalias genéticas, até à área da
alimentação, como é o caso da criação de dispositivos microscópicos nas
embalagens, permitindo avisar o consumidor que o produto já não pode ser
considerado seguro para consumo. Outra área que irá provocar um enorme avanço
na ciência será o ramo dos nano processadores, onde será possível reduzir o tamanho
de um sistema informático, aumentando deste modo a sua eficácia e potência.
Neste campo, Portugal deu já um passo gigantesco que pode trazer grandes
benefícios neste campo de investigação, criando uma filiação com a Espanha, o
Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), localizado na cidade de
Braga. O INL participa em inúmeras investigações com várias empresas, faculdades
e mesmo estudantes, sendo a primeira organização intergovernamental da Europa no
domínio da nano ciência e da nanotecnologia. Neste sentido, e uma vez que está tão
perto da FEUP, pode ser que um dia o INL venha a fazer algum projeto inovador em
parceria com os engenheiros da FEUP.
Embora seja uma área de investigação muito recente, a nanotecnologia tem
evoluído imenso com resultados que se têm traduzido de uma forma muito positiva
em diversos campos.
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Em termos de projetos de investigação e desenvolvimento, existem atualmente
alguns a decorrer com a colaboração do INEGI (figuras 18, 19 e 20).
Fonte: INEGI
Alguns projetos de investigação e desenvolvimento com a colaboração do INEGI
Projeto que tem como objetivo fomentar a investigação e desenvolvimento de materiais nano compósitos, bem como o uso e exploração destes novos materiais, com especial enfase nas PME’s
Projeto que tem como objetivo reduzir a variabilidade da produção de compósitos, reduzindo o desperdício e o custo desses produtos, tendo sido construído para tal um sistema para medição de permeabilidades de forma a estudar o efeito dessas novas resinas no enchimento dos moldes.
Projeto que tem como objetivo principal o desenvolvimento de fibras de carbono para aplicações aeroespaciais, cabendo ao INEGI o desenvolvimento de novos materiais à base de fibras e nanotubos de carbono bem como matérias-primas para outros setores como é o caso do automóvel.
Figura 19 - COST- Materiais Nano Compósitos
Figura 21 - Projeto EUCARBON- European Space qualified carbon Fibers and Impregnated Based Materials
Figura 20 - NANOFLUÍDOS MAGNÉTICOS- Modelação e controlo do processo de moldação
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4 – PREVISÃO PARA O FUTURO
Apesar das inúmeras vantagens, benefícios que todos estes desenvolvimentos
científicos e tecnológicos trouxeram para a sociedade, continuam a existir diversos
problemas, várias questões que carecem de ser resolvidas e a melhor forma de o
conseguir é mantermo-nos na vanguarda da inovação, estabelecer desafios e investir
na formação e educação para assim podermos também melhorar a qualidade de vida.
Neste sentido é extremamente importante a comunicação, a colaboração, a troca de
informações com outras culturas e, sobretudo, com outras áreas de saber de forma a
podermos crescer de uma forma globalmente sustentável.
4.1. – O engenheiro mecânico do futuro
Segundo o Novo Dicionário integral da Língua Portuguesa (2008, p. 619) a
engenharia é a “aplicação dos conhecimentos científicos e empíricos à conceção de
estruturas, dispositivos e meios de transformar e converter os recursos naturais de
modo a contemplar as necessidades humanas”. Como futuros engenheiros, mas,
sobretudo, como inovadores, considera-se os engenheiros mecânicos agentes
fulcrais nas tecnologias que servem a população.
É uma profissão que se encontra representada num espetro enorme da
indústria, tanto tradicional como nova, o que lhe permite ser uma fonte de inovação
em diversas áreas, como é o caso das energias renováveis, onde pode ajudar a criar
e desenvolver novas fontes de energia, bem como ajudar a limpar e melhorar a
eficiência das já existentes.
Atualmente na Universidade de Boston está a ser desenvolvido um estudo com
o objetivo de maximizar as qualidades das lâmpadas LED de luz branca de alta
qualidade, as quais, apesar de comuns, não podem ser utilizadas em diversos locais.
Se este estudo fosse bem-sucedido, iria permitir aos Estados Unidos poupar cerca de
20 mil milhões dólares e reduzir as emissões de dióxido de carbono em 150 milhões
de toneladas anualmente.
Para além da energia, existem muitas outras áreas onde a ação da engenharia
mecânica pode ser extremamente importante como é o caso da agricultura,
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transportes, segurança, saúde, ou mesmo o acesso a recursos naturais, inclusive à
água, bem essencial e que atualmente afeta milhares de pessoas no mundo.
Com o objetivo de fazer uma previsão para os próximos 20 anos, bem como
garantir o desenvolvimento contínuo e sustentável de novas tecnologias, em 2008 a
ASME (American Society of Mechanical Engineers), realizou uma conferência que
reuniu mais de 120 engenheiros e cientistas provenientes de 19 países,
representantes de diversos ramos da indústria, governo e ensino. Nessa conferência,
após alguma deliberação e, no sentido de fornecer algumas soluções para os
problemas predominantes da nossa sociedade, chegaram-se a algumas conclusões
que se consideraram essenciais a reter:
Evoluir de forma sustentável através de novas técnicas e inovações, e
responder às pressões ambientais globais provocadas pelo crescimento
económico;
Estar na vanguarda da implementação de uma abordagem de design de
sistemas;
Envolver-se em colaboração internacional em torno do nosso
conhecimento crítico e das nossas competências;
Criar soluções para a população mundial que vive em condições pouco
favoráveis;
Investir o trabalho das nano e biotecnologia para fornecer soluções em
diversas áreas, entras quais a, saúde, energia e gestão da água. (ASME,
2008).
De facto são muitos os desafios que o mundo atual nos coloca e o engenheiro
mecânico poderá ter um papel preponderante no caminho para a resolução de muitos
dos problemas. Para isso terá de reunir uma série de competências técnicas e
pessoais que lhe permitam conjugar o saber fazer, o saber agir e o saber ser.
A engenharia mecânica tem dado passos gigantescos. Os desenvolvimentos
científicos e tecnológicos na engenharia mecânica, em colaboração com outras áreas
do saber, têm proporcionado instrumentos, máquinas, ferramentas, processos, tem
resolvido uma série de problemas do mundo contemporâneo e tem contribuído de uma
forma inigualável e eficaz para uma melhor qualidade de vida.
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Por outro lado, os ambientes económicos, políticos, sociais e culturais
influenciam as sociedades e as preocupações que nos afetam hoje não são as
mesmas que eram no passado.
Em última análise, o engenheiro mecânico do futuro vai ser aquele que irá
conseguir ter os conhecimentos e as técnicas, ter a capacidade para aplicar os
conhecimentos adquiridos, ser capaz de motivar e mobilizar e ter determinadas
competências pessoais, valores, atitudes, como o respeito, a responsabilidade, o
espirito de equipa e de colaboração.
4.2. – Visões prospetivas de algumas aplicações da engenharia mecânica
4.2.1.– Indústria automóvel
Este é um setor que apesar de já ter tido enormes transformações, devido aos
grandes avanções científicos e tecnológicos, continua a desafiar os investigadores.
Entre as medidas de ajuda ao condutor recentemente desenvolvidas destacam-
se o sistema de Ecall, cuja função é avisar o 112 em caso de acidente permitindo,
tornando assim mais eficaz a assistência médica. Para complementar este sistema
começa-se a estudar a integração de caixas negras, que têm como principal função o
armazenamento de forma indestrutível de toda a informação do veículo, inclusive do
comportamento do condutor.
Recentemente os avanços tecnológicos na indústria automóvel têm-se focado
em tornar o automóvel o mais inteligente e independente possível, não apenas no
âmbito da automatização mas também na criação de sistemas que apoiem na
condução, segurança e, em caso extremo de acidente, que aumentem a rapidez com
que as vítimas são assistidas. Ainda no capítulo da autonomia, os carros do futuro não
irão sequer precisar de volante, acelerador, pedal de travão, nem mesmo condutor
(figura 20). (Revista Quero Saber: Edição Especial, 2015).
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Indo de encontro a um dos grandes desafios deste século e do futuro, também
aqui a sustentabilidade, nomeadamente a ambiental, não poderia ficar esquecida,
tendo-se vindo a fazer, no âmbito da ecologia, grandes esforços para reduzir as
emissões de dióxido de carbono para a atmosfera, como é o caso do célebre sistema
Start&Go que desliga o motor sempre que este se encontra parado. Algo que talvez
se pudesse explorar seria a necessidade de haver tráfego mais fluído, criando
sistemas de comunicação entre o automóvel e as centrais de comunicação.
4.2.2. – Biomecânica
Embora seja evidente o benefício em estudar os sistemas biomecânicos com o
propósito de tirar partido das suas características e estratégias de funcionamento em
sistemas de engenharia, esta é uma área da investigação ainda muito recente, com
muito trabalho pela frente, sendo atualmente muitas as questões que se colocam.
Se por um lado a biomecânica varia de pessoa para pessoa ao depender de
um grande número de fatores como a morfologia, o tipo de alimentação, as condições
de vida, etc., por outro, também ainda não são bem conhecidos os limites do ser
humano, informação que será importante para compreender o organismo humano e,
nesse sentido, permitir melhores métodos de treino, bem como metodologias clínicas
para reabilitação mais eficazes. Outra das questões passa pelas implicações no
Figura 22- Protótipo de veículo autónomo
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envelhecimento da atividade física intensa realizada durante a juventude, cujo
conhecimento é ainda muito escasso.
4.2.3. – Nanotecnologia
No espaço de 50 anos prevê-se que a nanotecnologia vá desempenhar um
papel preponderante no mundo atual nas mais diversas áreas, desde a medicina, à
engenharia aerospacial ou mesmo no conforto doméstico.
Num futuro próximo o ser humano será capaz de tomar um comprimido que
conterá centenas de nano robots que irão ser absorvidos pela corrente sanguínea;
substâncias corporais indesejadas, tal como o colesterol, irão servir de "combustível"
a estes nano robots, os quais irão viajar no sangue, mantendo-nos saudáveis fazendo
o trabalho dos glóbulos vermelhos e brancos. E Isto será apenas o início do que a
nanotecnologia poderá proporcionar.
Os computadores serão mais pequenos e milhares de vezes mais rápidos. Os
ecrãs de televisão deixarão de existir e, em sua substituição, teremos simplesmente
um projetor de tamanho muito reduzido, que será projetado para uma parede,
substituindo os tradicionais écrans de televisão. Isto será possível usando os avanços
da nanotecnologia para fazer biliões de pixéis manoscópicos que mudarão as cores
que vão aparecendo na parede. Beneficiando desta evolução, os programas espaciais
poderão dar passos gigantescos, na medida em que poderá ser possível construir
materiais mais resistentes e combustíveis propulsores muito mais rápidos.
A nanotecnologia permitirá assim a construção de coisas que atualmente
julgamos impossíveis e, o que hoje vimos em muitos filmes de ficção científica, poderá,
amanhã, fazer parte do nosso quotidiano.
4.3. – O futuro da FEUP e do Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica
A FEUP será com certeza ser uma faculdade que primará pela partilha do
conhecimento, pela troca de experiências, apostando decididamente na inovação e
tecnologia dos meios de informação e comunicação.
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Em relação ao INEGI acredita-se num reforço das parcerias com as várias
entidades de modo a permitir, quer uma maior integração dos futuros engenheiros
mecânicos, quer num aumento de projetos de desenvolvimento e inovação em prol da
sociedade.
No que diz respeito ao Mestrado Integrado de Engenharia Mecânica, e
atendendo à importância que a FEUP dá à experimentação, pensa-se que um reforço
na estrutura do curso da carga horária das práticas de algumas unidades curriculares
pudesse trazer ainda melhores resultados para os estudantes. Por outro lado, e
sabendo da atenção que a FEUP tem prestado aos novos desafios que se prendem
com a sustentabilidade, económica, social, ambiental e cultural, e indo de encontro ao
próprio conceito de engenharia mecânica, que tem como objetivo a resolução das
preocupações sociais, pensa-se que uma cadeira na área da sociologia, da cidadania
pudesse contribuir para um acordar mais eficaz para estas questões.
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CONCLUSÃO
A Engenharia Mecânica não é estática, não é hermética, não está isolada,
devendo ter sempre como objetivo final a resolução de preocupações sociais, daí que
atualmente o conceito de engenharia mecânica seja muito mais abrangente.
Ao longo deste século, o ensino da engenharia mecânica na FEUP conseguiu
impor-se como um curso de referência, pautado pela exigência e qualidade e, atenta
aos desafios que iam surgindo, percebeu que o caminho para promover e integrar os
seus estudantes passaria também por abrir-se ao exterior, formando parcerias com
associações e empresas.
Nós vivemos num mundo global, onde as atitudes, os valores também
ganharam uma outra importância, não maior, mas diferente. O perfil técnico do
engenheiro mecânico não pode estar dissociado do perfil comportamental. A
multidisciplinaridade, a comunicação, a colaboração, o sentido de responsabilidade
são competências exigidas ao futuro engenheiro, o qual só conseguirá evoluir se
souber integrar-se, articular-se com outras áreas do saber, de forma a poder
responder aos novos desafios harmoniosamente e de uma forma sustentável.
Nós não podemos adivinhar o futuro mas podemos refletir sobre o mundo que
nos rodeia, sobre as necessidades e tentar prever algumas das dificuldades de forma
a estarmos melhor preparados para os novos e futuros desafios.
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