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Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
Um século de Engenharia Mecânica na FEUP
Projeto FEUP 2015/2016 – Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica:
Coordenador de curso: Teresa Duarte
Equipa 1M02_02:
Supervisor: Teresa Duarte Monitores: Filipe Coutinho | Sérgio Moreira
Estudantes & Autores:
André João Amaral dos Santos [email protected]
João Pedro da Cruz Patrício [email protected]
João Paulo Ribeiro de Sousa [email protected]
Mário Ricardo Costa Moutinho [email protected]
Tiago Manuel Neves da Volta [email protected]
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Resumo
O presente relatório apresenta uma reflexão sobre a engenharia no mundo no passado
século, a evolução pela qual passou, especialmente a Engenharia Mecânica. É exposto o
percurso da engenharia em Portugal, até á criação da Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, e todos os processos que levaram a tal.
Esta reflexão incide em alguns marcos da engenharia, com o interesse de realçar o
grande papel na sociedade no passado século, que por vezes é esquecido. Um papel
muitas vezes benéfico e revolucionário, embora, por vezes, destrutivo.
É apresentado, então, qual deve ser o modelo do engenheiro do futuro, de modo a ter
capacidade de enfrentar os problemas que o atual paradigma social, económico e ambiental
nos apresenta.
De modo a complementar esta visão, são apresentados testemunhos de alumni FEUP
que se encontram atualmente em diversos locais do mundo, e também do professor
Barbedo de Magalhães.
Palavras-Chave
Projeto FEUP, Engenharia mecânica, história da Engenharia até à FEUP, Aula Náutica,
Academia Real de Marinha e Comércio, Academia Politécnica do Porto, Faculdade de
Ciências, Faculdade de Engenharia, Universidade do Porto, Edifício na Rua dos Bragas,
Edifício na Asprela, INEGI, evolução do curso de Engenharia Mecânica na FEUP, técnica,
economia, liderança, ética, inovação, alumni, futuro da Engenharia Mecânica, bio e nano
tecnologia
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Agradecimentos
A nossa equipa não poderia deixar de agradecer a certos membros da comunidade da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
Inicialmente agradecemos à professora Teresa Duarte pela sua dedicação no total
auxílio na realização deste projeto. Agradecemos, também, aos nossos monitores, Filipe
Coutinho e Sérgio Moreira, que sempre se mostraram disponíveis para esclarecimento de
dúvidas e sugestões tanto para o trabalho como na integração na faculdade.
Agradecemos em especial ao professor Barbedo Magalhães que se mostrou prestável a
responder às nossas perguntas e a partilhar o seu conhecimento e experiência de vida, e,
também, aos engenheiros André Afonso e Pedro Oliveira que nos falaram sobre a sua
experiência no mercado de trabalho, bem como a sua perspetiva da engenharia no futuro.
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Índice
Resumo .......................................................................................................................... 2
Palavras-Chave .............................................................................................................. 2
Agradecimentos ............................................................................................................. 3
Lista de imagens ............................................................................................................ 5
1. Introdução.................................................................................................................. 6
2. O que é a Engenharia? ................................................................................................ 7
2.1 A Engenharia em Portugal e criação da FEUP ........................................................... 7
3. O que é a engenharia Mecânica? .............................................................................. 11
4. Os primórdios da energia mecânica ........................................................................ 12
5. Evolução do curso .................................................................................................... 13
5.1 Antes da revolução dos cravos ............................................................................... 13
5.2 Revolução dos cravos e tratado de Bolonha ............................................................ 14
6. INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em Engenharia Mecânica e Engenharia
Industrial ........................................................................................................................... 15
6.1 O que é? ................................................................................................................ 15
6.2 Por que surgiu? ..................................................................................................... 15
6.3 Projeto recentes .................................................................................................... 16
6.4 Associados ............................................................................................................ 16
7. Papel do Engenheiro Mecânico ................................................................................ 17
7.1 Onde intervém o engenheiro mecânico .................................................................. 17
7.2 Vantagens da Engenharia Mecânica ....................................................................... 18
7.3 Limites da Engenharia Mecânica ............................................................................ 18
8. O engenheiro do Século XXI ..................................................................................... 20
9. Problemas do atual sistema de educação ................................................................ 21
10. Testemunho dos alumni FEUP ............................................................................... 22
11. O futuro da engenharia mecânica .......................................................................... 24
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11.1 Características de um engenheiro mecânico de futuro .......................................... 24
11.2 Engenharia e tecnologia no futuro ....................................................................... 25
12. Conclusões ............................................................................................................. 27
Referências bibliográficas ........................................................................................... 28
Anexos ......................................................................................................................... 31
Entrevista a Pedro Oliveira ......................................................................................... 31
Entrevista a André Afonso .......................................................................................... 32
Lista de imagens
Imagem 1 - FEUP na Rua dos Bragas ............................................................................ 9
Imagem 2 - FEUP na Asprela ....................................................................................... 10
Imagem 3 - motor Ferrari V8 ......................................................................................... 11
Imagem 4 - Máquina a vapor de Thomas Savery .......................................................... 12
Imagem 5 - Tratado de Bolonha ................................................................................... 14
Imagem 6 - INEGI ......................................................................................................... 16
Imagem 7 - Papel do Engenheiro Mecânico ................................................................. 17
Imagem 8 - Biomecânica como área que transforma os movimentos humanos em
modelos matemáticos ......................................................................................................... 18
Imagem 9 - Fabrico de Armas de destruição em massa ............................................... 19
Imagem 10 - Atual localização dos alumni da FEUP que estão inscritos no LinkedIn ... 22
Imagem 11 - Exemplo de nano e biotecnologia (nanobots)........................................... 25
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1. Introdução
Este relatório foi realizado pela equipa nº 2 da turma 1M02, do curso de Mestrado
Integrado em Engenharia Mecânica, no âmbito da unidade curricular Projeto FEUP. O tema
proposto foi “Um século de Engenharia Mecânica na FEUP”. Pretende-se, desta maneira,
tomar uma perspetiva crítica analista do passado histórico, de modo a melhor compreender
o presente e planear o futuro, refletindo sobre a engenharia em si. Vai-se também abordar a
evolução no último século, assim como a do próprio ensino da engenharia mecânica, os seus
defeitos e qualidades no passado, presente e objetivos futuros. Dá-se relevo à importância
do engenheiro mecânico na sociedade, mencionando todas as suas áreas de influência, e
como tal a postura que deve ter um engenheiro mecânico de futuro, perante a atualidade.
Para tal, entrou-se em contacto com alumni da FEUP, de modo a conhecer-se melhor a
perspetiva dos jovens engenheiros mecânicos nesta matéria.
A elaboração deste relatório tem como objetivo o desenvolvimento das capacidades de
elaborar relatórios em engenharia e de envolver os alunos participantes no ambiente da
Faculdade de Engenharia. Particularmente, o tema que se trata leva a um envolvimento na
história da FEUP e dá uma noção da evolução do curso na Universidade do Porto.
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2. O que é a Engenharia?
“A Engenharia é a “arte” de aplicar princípios da ciência e da matemática de modo a
resolver problemas do mundo real de forma a melhorá-lo. O que realmente distingue um
engenheiro é a sua capacidade de implementar ideias de uma abordagem eficaz e prática.
Esta capacidade de assumir um pensamento ou ideia abstrata e traduzi-lo em realidade é o
que separa um engenheiro de outros campos da ciência e da matemática. Algumas coisas
onde é notável o trabalho da Engenharia são edifícios, estradas e pontes, veículos (carros,
aviões e barcos), computadores e outros dispositivos eletrónicos.” (What is Engineering s.d.)
“O conceito de engenharia existe desde a antiguidade, a partir do momento em que o
ser humano desenvolveu invenções fundamentais como a roda, e a alavanca. A definição de
engenharia explora princípios básicos da mecânica para desenvolver ferramentas e objetos
utilitários.” (Wikipédia, a enclicopédia livre 2015)
2.1 A Engenharia em Portugal e criação da FEUP
Esquema 1 - Ensino da Engenharia, desde a Aula Náutica até à FEUP
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O Porto era um importante centro de navegação e comércio e os seus habitantes tinham
um espírito mercantil. No entanto, o comércio estava a ser afetado pelos piratas
provenientes do norte de África que assaltavam os navios carregados de mercadorias. Com
o intuito de pôr fim ao problema, os comerciantes do Porto pediram ajuda financeira ao rei
para construir barcos que defendessem as esquadras que saíssem para os portos da
América. Com o início da construção, houve necessidade de instruir pessoas capazes de
comandar e manobrar as referidas naus. Para corresponder a estas necessidades iniciou-se o
ensino da engenharia em Portugal com da Aula Náutica, no Porto, em 1761 (FCUP s.d.).
A Aula Náutica esteve na génese, juntamente com a Aula de Desenho e Debuxo, em
1803, da Academia Real de Marinha e Comércio e são criadas quatro novas aulas:
Matemática, Comércio e duas línguas vivas, Francês e Inglês (FCUP s.d.).
Em 1837, a Academia Politécnica do Porto substituiu a Academia Real da Marinha e
Comércio, em que o ensino era muito mais diversificado, mas formada essencialmente
engenheiros, algo diferente da anterior em que o destaque estava, sobretudo, na formação
de comerciantes e navegantes (Pinto 2011).
“A Academia Politécnica tinha por fim especial o ensino das ciências industriais e destinava-se a
formar engenheiros civis de todas as classes, tais como engenheiros de minas, engenheiros
construtores, engenheiros de pontes e estradas, oficiais de marinha, pilotos, comerciantes,
agricultores e artistas em geral.” (Santos 1996)
Após a implantação da República, em março de 1911, o governo criou a Universidade do
Porto e a Universidade de Lisboa. Foi nesta altura que a Academia Politécnica do Porto se
transformou em Faculdade de Ciências na qual se incluía a Escola de Engenharia (FEUP -
DEM s.d.).
Em 1915 a Escola de Engenharia é convertida em Faculdade Técnica que era autónoma
da Faculdade de Ciências e que continha os cursos de engenharia.
Houve ainda a divisão dos cursos de engenharia em Engenharia Civil, Engenharia de
Minas, Engenharia Mecânica, Engenharia Eletrotécnica e Engenharia Químico-Industrial.
Em 1930, foi fixada a organização dos cursos, constituindo-se assim a Faculdade de
Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).
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Ao comemorar os cem anos da
Academia Politécnica do Porto, é
inaugurado o edifício da Rua dos
Bragas em 1937 (Imagem 1)
(Universidade do Porto 2012).
Em 1955, é decretado um plano
estudos único e obrigatório para as
Faculdades de Ciências (três
primeiros anos) e Faculdade de
Engenharia (três restantes anos).
Em 1970, foi introduzida uma nova reforma no ensino universitário, em que os cursos
sofreram um encurtamento para cinco anos, havendo uma maior autonomia das escolas
para a determinação dos seus planos de estudo.
Com a revolução de 1974, a Faculdade de Engenharia passa a lecionar os cinco anos das
suas Licenciaturas, deixando de caber à Faculdade de Ciências a lecionação dos primeiros
anos, “e muito por força das dificuldades pedagógicas sentidas com esta separação física
dos cursos”.
As leis em vigor não permitiam que a faculdade criasse contratos com empresas, deste
modo foi criado o INEGI, em 1986, que funciona como plataforma de interface entre a
faculdade e o mundo empresarial e industrial (INEGI 2012).
Em 1988 a Lei da Autonomia Universitária veio permitir à Faculdade de Engenharia
“autonomia administrativa, financeira e pedagógica”, podendo assim aprovar os seus
primeiros estatutos (FEUP s.d.).
“Entretanto, em 1970, é criada a licenciatura de Engenharia Metalúrgica, mais tarde
designada Engenharia Metalúrgica e de Materiais. Mais recentemente, foram criadas a
licenciatura em Gestão e Engenharia Industrial (1990) e a licenciatura em Engenharia
Informática e Computação (1994). Atualmente, a FEUP oferece uma Licenciatura e nove
Mestrados Integrados na área da Engenharia” (FEUP s.d.).
Imagem 1 - FEUP na Rua dos Bragas (FEUP s.d.)
Imagem 2 - FEUP na Asprela (Equipa 1M02_2 2015)Imagem 3 - FEUP na Rua dos Bragas (FEUP s.d.)
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Em 2000, a FEUP mudou-se para novas instalações na Asprela (Imagem 2) com
condições substancialmente melhores que as anteriores. Estas instalações têm uma
arquitetura moderna e espaços amplos. Com cerca de 94 mil m2 (o triplo da área das
instalações antigas), o campus é composto por 9 departamentos, mais de 70 unidades
laboratoriais, cantina e diversos restaurantes dispersos pela faculdade. Os espaços verdes
ocupam 23 mil m2 e os cerca de 8 mil estudantes têm à sua disposição uma escola
permanentemente aberta (FEUP 2010).
Imagem 2 - FEUP na Asprela (Equipa 1M02_2 2015)
Imagem 4 - motor Ferrari V8 (Motor Authority 2009)Imagem 5 - FEUP na Asprela (Equipa 1M02_2 2015)
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3. O que é a engenharia Mecânica?
A engenharia mecânica corresponde ao ramo da engenharia relativa ao projeto,
construção, análise, operação e manutenção de sistemas mecânicos. A engenharia mecânica
é responsável pelo projeto e desenvolvimento de peças, máquinas, veículos, sistemas
termodinâmicos e os seus componentes (como, por exemplo, motores, como o da Imagem
3) desde pequenas a grandes dimensões (Veronezzi s.d.).
Essas construções podem estar ligadas a áreas
fundamentais como a produção de energia ou a áreas
mais avançadas como a exploração do espaço.
A engenharia mecânica é de grande importância para
a humanidade pois permite a simplificação e a realização
de coisas que eram impensáveis no passado fazendo uso
dos princípios de movimento, energia e força.
“Os Engenheiros Mecânicos são profissionais que
intervêm em atividades, tais como:
Construção de equipamentos mecânicos e térmicos (veículos automóveis e
ferroviários, máquinas-ferramenta, estruturas metálicas, permutadores de calor...);
Produção de energia (energia térmica, energia eólica, novas energias, climatização,
qualidade do ar interior...);
Planeamento e de gestão da produção (logística, transportes, manutenção industrial,
gestão de recursos humanos, gestão da qualidade...);
Automação industrial (automatização de linhas de produção, robótica...);
Desenvolvimento e aplicação de novos materiais (materiais cerâmicos, compósitos,
poliméricos, biomateriais...);
Projeto e desenvolvimento de novos produtos (design integrado, ergonomia,
sustentabilidade, etc.);
Gestão de manutenção e reparação automóvel;
Criação de novas empresas de índole tecnológica;
Avaliação de projetos e consultadoria.” (FEUP 2013)
Imagem 3 - motor Ferrari V8 (Motor Authority 2009)
Imagem 6 - Máquina a vapor de Thomas Savery ( Institute of Human
Thermodynamics and IoHT Publishing Ltd. s.d.)Imagem 7 -
motor Ferrari V8 (Motor Authority 2009)
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4. Os primórdios da energia mecânica
A engenharia mecânica já existe há milhares de anos e tem evoluído juntamente com a
humanidade. A sua origem deu-se com a criação da roda, talvez a mais importante de todas
as invenções.
As primeiras civilizações criaram também mecanismos que, embora rudimentares,
ainda nos dias de hoje são muito utilizados, como, por exemplo, os relógios.
Da mesma forma, deram um grande contributo os cientistas, que a partir do
Renascimento, impulsionaram descobertas das leis da natureza.
Galileu Galilei explicou vários fenómenos, como a queda dos corpos, o movimento dos
projéteis, a oscilação do pêndulo e sobre o equilíbrio dos líquidos. Isaac Newton conceituou
várias leis da mecânica, como a inércia, a ação das forças e a gravitação do universo.
Tiveram, ainda, importância para o desenvolvimento dos
conhecimentos de mecânica, Rond d’Alembert, que
estudou a mecânica dos fluidos e Blaise Pascal
revolucionou as teorias sobre o vácuo, demonstrando as
leis da pressão atmosférica (Cézar 2013).
A revolução industrial acontece com o surgimento
da máquina a vapor, apesar de esta ter sido criada muito
antes. A primeira máquina a vapor de interesse industrial
(Imagem 4) surge no final do século XVII, idealizada por
Thomas Savery. Esta máquina tinha como função retirar
a água dos poços das minas de carvão (Lombo, et al.
2014) (Cézar 2013).
“Muito do que temos hoje em relação a comodidade, rapidez e facilidades em nosso dia a dia
se devem ao fato da evolução da engenharia mecânica que hoje nos proporciona aviões, carros,
eletrodomésticos e muitas outras coisas que possamos imaginar. Hoje em dia as criações da
engenharia mecânica são praticamente uma necessidade para a sobrevivência da raça humana e é
isso que faz da engenharia mecânica uma ciência tão importante para nós.” (Cézar 2013)
Imagem 4 - Máquina a vapor de Thomas Savery ( Institute of
Human Thermodynamics and IoHT Publishing Ltd. s.d.)
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5. Evolução do curso
O ensino da engenharia mecânica sofreu muitas alterações na Universidade do Porto.
No entanto será salientada a mudança no ensino aquando da passagem da faculdade na Rua
dos Bragas para a Asprela e aquando do Tratado de Bolonha.
5.1 Antes da revolução dos cravos
Na primeira metade do século XX e início da segunda metade do mesmo, o ensino da
engenharia mecânica estava dividido entre a Faculdade de Ciências e a Faculdade de
Engenharia, portanto pode-se dizer que a formação teórica estava sobrevalorizada. Tal pode
se verificar tendo em consideração que o ciclo de estudos consistia em três anos de
formação de base na Faculdade de Ciências, e outros três anos de aplicação na Faculdade de
Engenharia (Silva 2012).
Apesar de tudo, havia menos unidades curriculares e, com isto melhor hipótese de
avaliar o trabalho dos alunos, nomeadamente através de trabalhos laboratoriais e provas
orais que exigem dos alunos qualidades essenciais no mercado de trabalho mas que agora
por falta de tempo já não se realizam.
Devido ao regime político vigente, o ensino superior era fechado ao exterior o que
contribuiu para a falta de IDI (Investigação, Desenvolvimento e Inovação) na faculdade. O
ensino necessitava de profissionais qualificados para darem aulas e que estivessem a par
das últimas tecnologias e desenvolvimentos a nível científico, e de tecnologias nos
laboratórios, necessárias à boa formação de profissionais (Magalhães 2015).
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5.2 Revolução dos cravos e tratado de Bolonha
Após a revolução dos cravos, em abril de 1975, o tempo do ciclo de estudos diminuiu
para cinco anos e as falhas mencionadas foram colmatadas (FEUP s.d.).
"Com a passagem de todo o curso para a FEUP as cadeiras de base passaram a ter
programas e um tipo de exigência mais adequados ao exercício da Engenharia”. (Silva 2012)
A mudança de instalações para a Asprela contribuiu para uma melhoria do ensino do
curso, uma vez que as novas condições de trabalho eram muito melhores que as anteriores,
pois o número de laboratórios e melhores equipamentos.
Contudo foi necessária outra revolução no ensino para
acompanhar as exigências requeridas por um novo mercado
de trabalho que agora é um mercado de trabalho
internacional e multidisciplinar. Assim surgiu o Tratado de
Bolonha (Imagem 5) que introduziu um novo ciclo de estudos
com mais unidades curriculares, todas elas com equivalências
relativamente aos outros países e, para além disso as
matérias das mesmas estão atualizadas e suportadas pelas
tecnologias e desenvolvimentos científicos mais recentes
(Silva 2012).
É, também, importante não deixar de referir que, para o desenvolvimento das
tecnologias mais recentes na faculdade, foi necessário haver um diálogo entre o setor
empresarial e universitário. Isto foi conseguido como se vai referir mais à frente por um
centro de investigação, o INEGI. Deste modo, os estudantes podiam desenvolver ideias e
trabalhar e lançar produtos, com apoio das capacidades deste instituto (Magalhães 2015).
Imagem 5 - Tratado de Bolonha (Lourenço, et al.
2007)
Imagem 6 - INEGI (Equipa 1M02_2
2015)Imagem 5 - Tratado de Bolonha (Lourenço, et al.
2007)
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6. INEGI – Instituto de Ciência e Inovação em
Engenharia Mecânica e Engenharia Industrial
6.1 O que é?
O INEGI é um instituto de novas tecnologias que serve como elo de ligação entre o
ensino universitário e a indústria. Está direcionado para a investigação, inovação e
consequente incorporação da tecnologia desenvolvida no tecido empresarial, exerce ainda
um serviço de consultadoria para diversos mercados e setores de atividade. “Nasceu em
1986 no seio do que são hoje os Departamentos de Engenharia Mecânica (DEMec) e de
Engenharia e Gestão Industrial (DEGI) da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto
(FEUP)” (INEGI 2012) .
6.2 Por que surgiu?
Este instituto surgiu para colmatar a falta de equipamentos, pois na época de 80, por
questões políticas, não era permitido estabelecer contratos entre universidades e
empresas1. Por isso, foi criado o INEGI para servir como plataforma de interface entre a
universidade e a indústria. Esta instituição tem 29 anos de experiência em projetos com
empresas nacionais e internacionais, assumindo assim um papel importante no
desenvolvimento da indústria e economia nacional, uma vez que promove a investigação e
desenvolvimentos de vários projetos em diferentes áreas como os materiais, produção,
energia, manutenção, gestão industrial e ambiente (Magalhães 2015).
1 Em 1988, foi aprovada a Lei da Autonomia Universitária, que permitia que a faculdade tivesse independência
financeira e pudesse, assim, fazer contratos com as empresas. O INEGI, que foi criado com estas funções não foi extinto,
uma vez que passou a desempenhar um papel mais comercial e ativo, sendo possível tirar partido do facto de ser um
instituto privado e trabalhar em cooperação com uma instituição universitária.
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6.3 Projeto recentes
Atualmente o INEGI procura desenvolver um processo de deformação de chapas por
ondas eletromagnéticas este processo tem como objetivo permitir a ligação entre cabos de
alta tensão. Neste processo a chapa atinge velocidades superiores à do som.
Este instituto num passado recente fez parte de projeto internacional que tenha como
objetivo testar um programa que simulava informaticamente a embutição de peças, o qual
permitia saber quais as deformações que iram ocorrer na peça, bem como as zonas de
rotura que uma peça iria apresentar, quando aplicadas determinadas forças.
O INEGI esteve também envolvido no desenvolvimento do sistema de moldação, que
permitiu a obtenção das turbinas para os turbos de marcas conhecidas como a BMW e a
Mercedes. Neste âmbito, tenta, atualmente, a moldação de turbinas em titânio, material
com propriedades mecânicas que iram permitir que as turbinas atingissem o dobro das
rotações quando comparadas com as atuais, possibilitando assim uma redução dos gases
emitidos. O grande problema é que o titânio no estado líquido é reativo como oxigénio,
impondo o desafio de se fazer moldação do mesmo numa atmosfera controlada. Esta é mais
uma das tecnologias que atualmente se tenta desenvolver no INEGI (Barata da Rocha 2015).
6.4 Associados
Atualmente o INEGI (Imagem 6) tem mais de 60
associados onde estão presentes todos os
interessados desde as universidades, associações
empresariais de setores afins com a atividade do
INEGI e entidades públicas e privadas (INEGI s.d.).
Alguns desses sócios são: a AIMMAP (associação
dos industriais metalúrgicos metalomecânicos e afins
de Portugal); a UP; a FEUP; a BOSCH; o BPI; a
CAETANO BUS; o grupo FERPINTA; a SILAMPOS; a
VULCANO; a Toyota Caetano, etc. (INEGI s.d.). Imagem 6 - INEGI (Equipa 1M02_2
2015)
Imagem 7 - Papel do Engenheiro Mecânico (Wonderful Engeneering
2014)Imagem 6 - INEGI (Equipa 1M02_2 2015)
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Imagem 7 - Papel do Engenheiro Mecânico (Wonderful Engeneering 2014)
7. Papel do Engenheiro Mecânico
É de aproveitar este momento de comemoração dos 100 anos de engenharia mecânica
na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto para refletir sobre este percurso
evolutivo do domínio da engenharia pelo Homem.
7.1 Onde intervém o engenheiro mecânico
A influência do engenheiro mecânico é vasta, pois age desde o início de um projeto, na
sua análise, teste e fabrico, de produtos que são utilizados em todas as atividades da
sociedade, ao longo do último século. No desempenho da sua função, usa os princípios de
movimento, energia e força para garantir as funções do produto quanto à segurança,
eficácia, fiabilidade, e assegurar-se que o mesmo seja fabricado a um custo competitivo.
Além disso, o engenheiro Mecânico pode coordenar e integrar grupos de trabalho, na
solução de problemas de engenharia (Imagem 7), englobando aspetos técnicos, económicos,
políticos, sociais, éticos, ambientais e de segurança (Biocio29 2012).
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7.2 Vantagens da Engenharia Mecânica
Muito se pode aprender com a influência das descobertas da engenharia mecânica, quer
na vida quotidiana das pessoas, por exemplo, através da criação de meios de transporte
eficazes, ou de maneira mais indireta, no planeamento e construção das máquinas
presentes em toda a indústria, sem as quais não teríamos acesso a todos os bens que damos
como adquiridos, desde vestuário a automóveis, agora essenciais ao estilo de vida que
adotamos.
A engenharia mecânica encontra-se presente na área da saúde através da biomecânica
(Imagem 8), e, também, na construção de dispositivos capazes de obter melhores resultados
e com novas funcionalidades que permitem novos tratamentos, mais rápidos e mais
eficazes.
7.3 Limites da Engenharia Mecânica
Embora a engenharia mecânica nos consiga trazer imensos benefícios, é necessário que
o engenheiro seja responsável e tenha noção dos limites daquilo que pode fazer com o seu
conhecimento, pois o seu poder destrutivo é potencialmente infinito. Não há exemplo mais
claro que as guerras. Vidas perdidas devido a interesses potenciados pela evolução da
Imagem 8 - Biomecânica como área que transforma os movimentos humanos em modelos matemáticos (TES s.d.)
Imagem 9 - Fabrico de Armas de destruição em massa (Kimball 2015)Imagem 8 - Biomecânica como área que transforma os movimentos humanos em modelos matemáticos (TES s.d.)
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engenharia quer na criação de armas (Imagem 9), ou extração de petróleo, por exemplo.
Desta maneira, é importante perceber que a Engenharia, embora crucial para o ser
humano, só lhe é inteiramente benéfica, havendo sempre um compromisso de parte de
todos os engenheiros envolvidos sem nunca esquecer a sua responsabilidade para com os
outros, como detentores das suas
capacidades de criar e inovar.
Haverá sempre fontes de
corrupção e tentação que cercam
aqueles que possuem o poder de
mudar o mundo, é preciso manter
fidelidade à visão de um mundo
que evolui no sentido do bem
comum (Kimball 2015) (Onion
2014).
Imagem 9 - Fabrico de Armas de destruição em massa (Kimball 2015)
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8. O engenheiro do Século XXI
O engenheiro do século XXI não é um simples técnico que faz o que lhe pedem, mas sim
um visionário que tem a responsabilidade de assegurar o rumo da evolução tecnológica,
perceber as necessidades do Homem e do planeta, e lutar por elas.
Assim definido este novo engenheiro visionário do Séc. XXI, após reflexão sobre o
percurso nos passados 100 anos na FEUP e no mundo, é hora de por olhos no futuro,
procurando satisfazer as necessidades tecnológicas, sociais, económicas e de
sustentabilidade, continuando a formar jovens competentes, cada vez mais
multidisciplinares de acordo com a nova conceção de engenheiro mecânico. Deve, então,
apostar nas energias renováveis e limpas, reduzir o impacto ambiental, melhorar a medicina
através de máquinas que auxiliam a medicina e investimento na nanomecânica, abordar o
problema da escassez de água potável, assegurar um desenvolvimento sustentável, são
apenas alguns exemplos dos maiores dilemas que enfrentamos atualmente.
Tornar-se engenheiro mecânico hoje significa comprometer-se a tomar um papel de
líder na procura de soluções para os atuais e futuros problemas do mundo.
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9. Problemas do atual sistema de educação
Cada vez mais é pedido aos recém-formados de Engenharia mecânica competências
para além dos conhecimentos adquiridos nas unidades curriculares. A faculdade, como
instituição formadora, deve ser capaz de incentivar os seus alunos a participar em projetos e
incentivar o seu empreendedorismo.
A Criatividade, a Iniciativa, a Curiosidade, o Trabalho em equipa, etc. são soft skills que
devem ser desenvolvidas, autonomamente, de forma a permitir que um engenheiro seja
capaz de conhecer o mundo que o rodeia, não só ao nível da engenharia, mas em muitas
outras áreas como a política, os comportamentos sociais, a economia, de forma a permitir
que o seu trabalho seja mais útil e mais aberto, aumentando a qualidade e abrangência do
seu projeto.
De acordo com a opinião do professor A. Barbedo Magalhães as atividades letivas
deveriam ser feitas de forma menos expositiva onde houvesse uma maior interação entre
colegas de modo a suscitar a curiosidade destes pelos conteúdos da engenharia, propondo
um novo modelo de ensino com aulas “abertas”.
Uma outra ideia inovadora do professor Emérito foi a ideia de ser introduzida uma
unidade curricular relacionada com a Biologia. Inicialmente pode parecer uma ideia
estranha, mas, segundo este, é uma ideia de muito valor para a engenharia mecânica, uma
vez que muitas das tecnologias em que a Engenharia Mecânica participa têm um nível muito
grande de semelhança com seres vivos. Por exemplo as células fotovoltaicas são inspiradas
na fotossíntese das plantas.
A qualidade do ensino tem vindo a melhorar de forma muito significativa, porém ainda
está longe de atingir aquele que se espera que seja o ideal (Magalhães 2015).
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10. Testemunho dos alumni FEUP
Contactaram-se engenheiros
mecânicos que se formaram na
FEUP e que, atualmente, se
encontram no mercado de
trabalho a fim de obter a sua
perspetiva sobre que
competências são necessárias
para ser um engenheiro mecânico
de futuro, e que opinião têm sobre o futuro da engenharia mecânica no país no qual se
encontram a trabalhar (Imagem 10), bem como na sua área de trabalho (cf. Anexos).
Quando questionados sobre quais as competências necessárias para ser um engenheiro
mecânico de futuro, todos responderam que o curso é bastante polivalente e que somos
preparados para lidar com as diversas situações. Mas, no entanto, não é apenas as
capacidades técnicas e o conhecimento que fazem de nós um engenheiro de futuro com
sucesso, devemos também ser pró-ativos, versáteis, e respeitar os outros e o ambiente.
Pedro Oliveira, especialização em Energia Térmica e AVAC (aquecimento, ventilação e ar
condicionado) na FEUP. Exerce funções de Engenheiro de Energia na Siemens A.G. na Suíça.
“O nosso curso é bastante polivalente (…). De qualquer forma, penso que proatividade,
espírito crítico, vontade de aprender e muita curiosidade são ingredientes muito
importantes e valorizados num engenheiro”. (Oliveira 2015)
André Afonso, especialização em Gestão de Produção na FEUP, em 2012. Trabalha no
grupo Amorim, diretor industrial de uma unidade industrial nos USA em gestão da produção,
manutenção, melhoria contínua.
“Da minha experiência, aquilo que faz um engenheiro mecânico ser bom ou não é a
capacidade de aprender e de se adaptar a ambientes diferentes, independentemente das
circunstâncias. O background adquirido na FEUP é muito bom e amplo, o que te prepara
para as mais diversas situações”. (Afonso 2015)
Imagem 10 - Atual localização dos alumni da FEUP que estão inscritos no LinkedIn (FEUP 2013)
Imagem 81 - Exemplo de nano e biotecnologia (nanobots) (Johnson 2008)Imagem 90 - Atual localização dos alumni da
FEUP que estão inscritos no LinkedIn (FEUP 2013)
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António Barbedo de Magalhães, Licenciado em Engenharia Mecânica pela FEUP em 1968
e Doutorado em Applied Sciences na Universidade de Gent (Bélgica), em 1973. Professor
Catedrático e Emérito da FEUP, onde desempenhou atividades letivas de Engenharia
Mecânica.
“O engenheiro mecânico de futuro tem de ser capaz de encontrar o problema e de o
resolver em cooperação com outros de diferentes áreas científicas se o problema assim o
exigir; deve combinar o seu conhecimento técnico com capacidade de liderança e de
comunicação; deve ter preocupações políticas, económicas, éticas e ambientais, isto é, deve
ser um engenheiro e um cidadão”. (Magalhães 2015)
Quando interrogados sobre qual o futuro da engenharia mecânica na sua área de
trabalho, todos são unânimes quando referem a situação que a Europa enfrenta,
atualmente, grandes desafios de competitividade. Não há mão-de-obra barata por isso, é
necessário contrabalançar com produtos de elevada qualidade e tecnologicamente mais
avançados, pelo que, as empresas vão necessitar progressivamente de mais mão-de-obra
qualificada para poderem competir com o resto do mundo.
“No país em que me encontro, Suíça, existe uma grande procura de engenheiros mecânicos.
A Europa, em geral, enfrenta grandes desafios ao nível da competitividade global. Como não
temos a vantagem da mão-de-obra barata, temos de compensar com produtos de qualidade
superior. Nesse enquadramento, as empresas vão necessitar, cada vez mais, de mão-de-
obra qualificada, pelo que estou bastante otimista quanto ao futuro da engenharia
mecânica. Contudo, é fundamental que os engenheiros se mantenham atualizados e
tenham sensibilidade para perceberem quais são os novos desafios e de que forma
podemos capitalizar as nossas competências.” (Oliveira 2015)
Um século de Engenharia Mecânica na FEUP Página 24 de 32
11. O futuro da engenharia mecânica
De acordo com um relatório publicado pela Sociedade Norte-Americana de Engenheiros
Mecânicos, ASME, numa previsão da evolução da Engenharia mecânica de 2008 a 2028 um
engenheiro mecânico do futuro deve ser capaz de responder a novos desafios
proporcionados pelo desenvolvimento económico e demográfico e capaz de lidar com os
seus deveres sociais e políticos.
11.1 Características de um engenheiro mecânico de futuro
"Os engenheiros mecânicos devem estar à frente de um desenvolvimento de novas
tecnologias para a remediação ambiental, agricultura, processamento alimentar,
alojamento, transportes, segurança, cuidados de saúde e exploração de água. Fazendo isto,
os engenheiros podem criar soluções sustentáveis que assegurem as necessidades mínimas
e que aumentem a qualidade de vida de todas as pessoas pelo mundo fora" - ASME
Defende-se, ainda que, é importante a criação de parcerias entre o mundo universitário,
a indústria e as entidades governamentais para que sejam desenvolvidas ideias mais
inovadoras, garantindo que as ideias dos jovens possam ser desenvolvidas devido ao
material que têm disponível para o fazer e permite que as empresas possam desafiar os
estudantes a cooperar com as suas equipas.
Por isto pede-se que um engenheiro mecânico seja alguém que tenha muito mais que
conhecimentos técnicos, pede-se um profissional criativo e com vontade de resolver
problemas, devido à multidisciplinariedade que será pedida a cada cidadão do futuro. Este
deve ser capaz de liderar equipas de técnicos de modo a aumentar a produtividade de uma
empresa utilizando conhecimentos de gestão que vai adquirindo ao longo do curso, mas
também a nível pessoal. Um engenheiro líder deve ser previdente e paciente perante os
novos problemas e desafios lançados pelo avançar dos anos.
Deve-se tornar a informação em conhecimento e ter capacidade de desenvolver novas
habilidades. A aprendizagem de um engenheiro deve ser ao longo de toda a vida, uma vez
que vivemos num mundo cada vez mais competitivo, onde a tecnologia evolui de forma
significativa muito rápida.
Um engenheiro mecânico deve trabalhar para as pessoas. Deste modo, também deve
ser solidário perante o grande número de pessoas que vive sem condições de vida, ajudado
Um século de Engenharia Mecânica na FEUP Página 25 de 32
a promover a sustentabilidade e gestão de recursos, como a água e os alimentos, que são
bens básicos que são vitais, tentando desenvolver novos dispositivos que se adequem a
estas necessidades, por isso o pensamento de um engenheiro deve ser restruturado de
modo a que este seja capaz de ter consciência moral perante esta situação. Algo que as
escolas de engenharia devem tentar "ensinar" aos seus alunos (ASME 2008).
"A engenharia mecânica desenvolverá soluções de engenharia que permitam um mundo
mais limpo, mais saudável, mais seguro e mais sustentável" – ASME
O século em que vivemos é um século de cooperatividade, onde os engenheiros devem
trabalhar em equipas multidisciplinares e globais de modo a garantir grande qualidade no
seu trabalho. Devem ser, assim, desenvolvidas novas formas de trabalho cooperativo, um
aspeto que tem vindo a melhor nestes oito anos que passaram desde a escrita do relatório
da ASME. Esta característica é realmente necessária para que se tenha competitividade
perante o grande número de engenheiros que vão sendo formados, em grandes
comunidades, como a China e a Índia (ASME 2008).
11.2 Engenharia e tecnologia no futuro
Como as tecnologias têm vindo a evoluir
rapidamente o registo de patentes não tem
grande utilidade, uma vez que em pouco
tempo se podem tornar completamente
obsoletas. Em vez disso, deve-se lutar pela
partilha de conhecimento de modo a
cooperar com todos os outros engenheiros
O futuro da engenharia mecânica,
provavelmente, está na nano e
biotecnologia que podem resolver
problemas do nosso dia-a-dia, mas também, problemas relacionados com a medicina,
energia, agricultura, etc. A nano e biotecnologia podem ajudar a criar células solares mais
eficientes que produzem energia mais barata e acessível que o petróleo, levar substâncias
químicas (medicamentos) a partes específicas do corpo, aumentar a capacidade de
armazenamento em disco por unidade de volume, produzir hidrogénio para os carros, por
via de seres mecânico-biológicos e produzir nanobots (Imagem 11) capazes de removerem
Imagem 11 - Exemplo de nano e biotecnologia (nanobots) (Johnson 2008)
Um século de Engenharia Mecânica na FEUP Página 26 de 32
células cancerígenas, por exemplo, agarrando-as, algo que de outro modo seria impossível.
O aumento que se prevê da velocidade de processamento pelos computadores e da
internet proporcionará aos engenheiros desenhar sistemas completos de peças em vez de
peças individuais, o que aumentará as capacidades de um engenheiro mecânico. Um
engenheiro poderá fazer simulações e observar como funcionam as coisas que criaram, de
modo a fazer ajustes. Poder-se-á trabalhar em equipa em grandes distâncias, podendo
imprimir as peças na hora para testar. O fabrico aditivo começa a ser uma ferramenta muito
útil aos engenheiros mecânicos e supõe-se que no futuro seja mais frequente de se ver em
escritórios e salas de aula, e mesmo um passatempo.
Como a profissão consegue ser moldável às adaptações que o tempo obriga é
relativamente fácil ao engenheiro mecânico conseguir atingir o desafio que a ASME propõe
para 2028 (ASME 2008).
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12. Conclusões
A engenharia mecânica é um ramo da engenharia muito vasto e de grande
adaptabilidade, por isso tem tido grande sucesso ao longo dos anos.
Na Faculdade de Engenharia os conteúdos têm-se mantido praticamente inalterados,
apesar de terem sido adicionadas bases devido a evolução da tecnologia, por exemplo
desenho assistido por computador, alterando se o modo como os conteúdos são lecionados.
O curso de Engenharia Mecânica promete, realmente, ser um curso com grande
relevância, uma vez que a esta área da engenharia pode-se envolver com a biologia,
criando novos dispositivos capazes de aumentar a qualidade de vida do Homem.
A engenharia mecânica assume um papel fundamental para todos os cidadãos, uma
vez que ela é responsável pela criação e design da maioria da tecnologia que usamos.
O engenheiro mecânico está a ser confrontado com novos desafios de cidadania global
que o obriga a trabalhar em equipas multidisciplinares, a ter um nível de conhecimento
muito mais abrangente e uma consciência ética, moral e política de modo a poder ser um
engenheiro líder.
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Anexos
Entrevista a Pedro Oliveira
Antes de mais, gostaríamos de saber qual a área da engenharia mecânica em que
trabalha e se essa corresponde à sua área de especialização académica?
A minha especialização foi em Energia Térmica e AVAC e sim, faço uso das competências
dessa área no meu dia-a-dia.
Seria interessante se também nos falasse da sua das suas funções na empresa na qual
trabalha.
Atualmente desempenho funções de Engenheiro de Energia na Siemens A.G. na Suíça. A
divisão onde me insiro é responsável pela realização de projetos de performance energética
ou seja, projetos de eficiência ou performance em edifícios e indústria com garantias de
desempenho. As minhas funções específicas prendem-se com a prestação de apoio técnico
especializado a equipas Siemens que desenvolvem estes projetos em vários países Europeus
bem como a validação técnica dos projetos desenvolvidos pelas mesmas equipas.
Quais acha que são as competências fundamentais para ser, atualmente, um bom
engenheiro mecânico?
Essa é uma questão difícil. O nosso curso é bastante polivalente e tenho amigos/colegas
a trabalhar nas mais diversas áreas/funções, pelo que e difícil definir competências
fundamentais. De qualquer forma penso que proatividade, espirito crítico, vontade de
aprender e muita curiosidade são ingredientes muito importantes e valorizados num
engenheiro.
Qual acha que vai ser a futuro da engenharia mecânica na sua área de trabalho e país?
No país em que me encontro existe uma grande procura de engenheiros mecânicos. A
Europa em geral enfrenta grandes desafios ao nível da competitividade global. Como não
temos a vantagem da mão-de-obra barata, temos de compensar com produtos de qualidade
superior e tecnologicamente avançados.
Nesse enquadramento, as empresas vão necessitar, cada vez mais, de mão-de-obra
qualificada, pelo que estou bastante otimista quanto ao futuro da engenharia mecânica.
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Contudo, é fundamental que os engenheiros se mantenham atualizados e tenham
sensibilidade para perceberem quais são os novos desafios e de que forma podemos
capitalizar as nossas competências.
Entrevista a André Afonso
Eu terminei o Mestrado Integrado em Engenharia Mecânica em 2012, a opção que
escolhi foi Gestão da Produção. Realizei a dissertação em ambiente industrial no Grupo
Amorim onde acabaria por ficar a trabalhar. Sempre trabalhei na área ligada a gestão da
produção/gestão de stocks/melhoria continua.
Neste momento sou diretor industrial de uma unidade localizada nos USA, as funções
que desempenho são muito ligadas à gestão da produção, manutenção, melhoria continua e
novos projetos ligados a eficiência operacional.
Da minha experiência aquilo que faz um engenheiro mecânico ser bom ou não é a
capacidade de aprender e de se adaptar a ambientes diferentes independentemente das
circunstâncias. O background adquirido na FEUP é muito bom e amplo o que te prepara para
as mais diversas situações.
Infelizmente Portugal não é um país industrial nem fabril, e por isso o futuro da
engenharia mecânica em Portugal não passa por seguir uma área de projeto mas sim uma
área mais ligada à gestão industrial.